hydroma cística
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FETUS – CENTRO DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA FETAL HIGROMA CÍSTICO E LINFANGIOMA WELLINGTON FERREIRA BRUM SÃO PAULO – SP 2011 HIGROMA CÍSTICO E LINFANGIOMA Introdução A gestante quando inicia o seu pré-natal, ela espera que tudo esteja certo com a sua gravidez, como na maioria das gestações, isto é, que o seu filho esteja se desenvolvendo normalmente, não apresentando nenhuma anormalidade. Porém esse momento de felicidade pode se transformar em medo, angústia e preocupação, quando, durante o exame de ultrassonografia, acha-se alguma alteração na gravidez, principalmente quando envolve a estética fetal. Dentre esses achados, estão as patologias de tecido mole que envolvem o sistema linfático, como o higroma cístico e o linfangioma. HIGROMA CÍSTICO Definição O higroma cístico caracteriza-se por formação cística, podendo ser única ou múltipla, proveniente de alteração do sistema linfático, localizando-se mais comumente na região cervical posterior, podendo estar associado à cromossomopatia, principalmente à Síndrome de Turner (45-X). Incidência O higroma cístico pode ser encontrado, no inicio da gestação, na proporção de 1 / 120 gestações, porém ao nascimento a sua incidência é de 1 1/6000 nascimentos, sendo encontrado em 1/875 abortos espontâneos (Roger C. Sanders et al,2002) Etiopatogenia O higroma cístico desenvolve-se a partir de uma falha na drenagem dos sacos linfáticos da jugular para a veia jugular interna, o que leva a uma dilatação dos vasos linfáticos. (Pijpers L et al). Essas formações císticas septadas podem variar de tamanho, podendo atingir grandes dimensões. Os ductos linfáticos dilatados podem fazer compressão sobre a aorta descendente causando alteração no fluxo cardíaco fetal, levando a anomalias cardíacas congênitas em crianças com Síndrome de Turner, sendo a coarctação da aorta a mais comum (Garden A.S. -1986). A completa obstrução dos ductos linfáticos pode estar associada à hidropsia fetal não imune, a qual é frequentemente fatal (Roger C.Sanders, 2002). Diagnóstico pré-natal Feto: O diagnóstico do higroma cístico pode ser feito através da visibilização, através da ultrassonografia, de uma grande massa cística, multiseptada, localizada na região posterolateral do pescoço, bilateral, onde não se observa mudança de posição com a movimentação fetal. Pode-se observar na região da nuca, um espessamento da pele. Nos casos mais graves, a hidropisia pode estar presente, acompanhada de grande derrame pleural, pericárdio e ascite. .(Fig.1) 2 Líquido amniótico: O líquido amniótico encontra-se frequentemente diminuído Placenta: Pode apresentar-se normal ou espessada, hidrópica. Idade gestacional: O crescimento fetal pode estar normal, caso não tenha desenvolvido hidropisia grave. Período de detecção: O higroma cístico pode ser detectado à ultrassonografia já no primeiro trimestre de gestação (ao redor de 10 semanas) (Roger C. Sanders, 2002).(Fig.2) www.mkclinic.com.br Fig.1 Cistos septados nuca fetal Outro importante recurso diagnóstico que a cada dia vem ganhando mais ênfase é a ressonância magnética que possibilita estudar o polo cefálico e a estrutura multicística presente na região posterolateral do pescoço fetal. 3 Higroma cístico 1º trimestre (Fig.2) www.spr.org.br Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial do higroma cístico deve ser feito com a translucência nucal aumentada, onde se observa um espessamento na região da nuca, porém não se visibiliza massa anecóica, cística, multiseptada ao redor do pescoço fetal.(Roger C.Sanders, 202). Outras entidades que também podem trazer dificuldade para o diagnóstico, é o cisto subcorial placentário .Quando o higroma apresenta cistos pequenos ao diagnóstico, deve pensar em encefalocele e meningocele. A encefalocele posterior apresenta-se como uma imagem cística, porém nota-se solução de continuidade com a calota craniana e a meningocele na região cervical apresenta-se também como uma imagem 4 cística, mas que tem solução de continuidade com a coluna vertebral. (Pijpers A.S. et al . 1988). Deve-se fazer o diagnóstico diferencial com a Síndrome da banda amniótica, quando o higroma cístico é visto parcialmente. No 1º trimestre antes da 13ª semana, a não fusão da membrana amniótica, pode ficar adjacente ao feto, e proporcionar uma imagem que pode ser confundida com higroma cístico. (Roger C.Sanders, 202). Diagnóstico diferencial de Higroma cístico Translucência nucal alterada Teratoma cístico benigno Cistos subcoriais placentários Encefalocele Meningocele Não fusão da membrana amniótica antes da 13ª semana Síndrome da banda amniótica Anomalias associadas O higroma cístico pode estar associado à aneuploidias em 65 % a 73% dos casos, sendo na maioria a Síndrome de Turner. Pode também associar-se às trissomias envolvendo os cromossomos 21, 18 e 13. Na presença de higroma cístico com estudo cariótipo normal, deve-se pensar em condição familiar, que podem apontar para Síndrome de Noonan (Autossômica dominante), Síndrome do pterígio múltiplo (Autossômica recessiva), Síndrome de Roberts (Autossômica recessiva) e Síndrome de Pena-Shokeir. (Roger C. Sanders et al., 2002). 5 Conduta pré-natal Aproximadamente 60% dos fetos com higroma cístico apresentam cromossomopatia, sendo a maioria Síndrome de Turner, vindo depois a Síndrome de Down e em menor proporção a Síndrome de Edward. (Roger C.Sanders, 2002). Faz-se necessário oferecer o aconselhamento genético aos pais, onde poderão ter acesso a uma equipe multidisciplinar, para que possam ser informados sobre o curso da alteração fetal encontrada, oferecer a realização do estudo do cariótipo fetal, esclarecer sobre a possibilidade de tratamento, se for o caso, como também orientá-los sobre o prognóstico fetal e oferecer apoio psicológico. Deve-se solicitar ecocardiografia devido à possibilidade cardiopatia associada. Exames ultrassonográficos seriados, a cada 2 a 3 semanas, são necessários devido à possibilidade de evoluir para hidropisia fetal. Quando o higroma cístico apresenta-se estável, sem evolução, deve-se tomar a conduta expectante, fazendo consultas regulares e monitoramento através de exames ultrassonográficos seriados. Assistência neonatal O comprometimento das vias aéreas superiores ao nascimento é infrequente, porque o higroma cístico que se apresenta na linha média da região cervical é normalmente incomum. Entretanto, em alguns casos pode ocorrer grande invasão de estruturas como a língua e faringe, levando ao seu comprometimento. Se durante o pré-natal uma grande massa na região cervical é suspeitada pelo exame ultrassonográfico, o parto deve ser planejado para que ocorra em um centro terciário onde possa contar com uma equipe 6 preparada para o atendimento ao recém-nascido. Normalmente o higroma cístico é facilmente identificável ao exame físico do recém-nascido, mas podese recorrer á tomografia computadorizada ou à ressonância magnética da região da nuca e do tórax superior fetal, para delimitar a sua extensão como também para avaliar a localização anatômica. Prognóstico Quando o diagnóstico do higroma cístico é feito no período prénatal, a mortalidade varia de 50% a 100%, sendo frequentemente associado com hidropisia e alterações cromossômicas. A sua associação com hidropisia fetal tem sido considerada de prognóstico desfavorável e ocorre com uma frequência relativamente elevada (58% a 73%), podendo alcançar mortalidade de até 100%. Na maioria dos casos o óbito intraútero ocorre nos dois primeiros trimestres de gestação, sendo que uma pequena parcela de fetos com cariótipos normais pode sobreviver, porém os portadores de anomalias cromossômicas geralmente não são viáveis. LINFANGIOMA Definição Os linfangiomas são massas císticas, septadas, de tamanhos variados, de natureza benigna e decorrentes da malformação regional dos vasos linfáticos, 7 onde não havendo comunicação do sistema linfático com os vasos venosos, não ocorre a drenagem a linfa, resultando na dilatação cística do sistema linfático, podendo ocorrer em qualquer parte do corpo, mas encontrada principalmente na região da nuca, axila e tórax , não estando associados à idade materna, como também à cromossomopatias. Incidência A ocorrência do linfangioma não tem diferença entre sexo. Representa cerca de 5% das lesões benignas da infância. Pode também ocorrer na vida adulta, porém, metade dos casos são encontrados ao nascimento e cerca de 80% até o segundo ano de vida. Durante a gestação são na maioria das vezes diagnosticados em fetos com 17/18 semanas. Etiopatogenia O linfangioma é decorrente a uma malformação regional dos vasos linfáticos, que não ocorrendo as anastomoses com o sistema venoso, acabam formando tumorações císticas, devido ao desequilíbrio entre a produção e a drenagem da linfa. (Sing S, Baboo ML, Pathak IC, 1991), podendo adquirir o aspecto microcística, macrocística ou ambas. Diagnóstico Pré-natal O diagnóstico é ultrassonográfico a partir do 2º trimestre de gestação, onde 8 podemos visibilizar uma imagem cística, de base larga, de contornos pouco definidos. (Isfer, EV). A realização do Doppler colorido não se visibiliza fluxo sanguíneo. A ultrassonografia 3D é interessante para avaliar o tamanho e o volume da massa. : http://sipresponse.com/index.php?key=linfangioma Diagnóstico diferencial Pode ser feito com a Síndrome de banda amniótica, Síndrome de KlippelTrenaunay-Weber, como também com o hemangioma Anomalia associadas Os linfangiomas vistos no terceiro trimestre, localizados na parte anterior ou anterolateral do pescoço, não estão associados, usualmente, a outras anormalidades ou hidropisia. 9 Conduta pré-natal Deve-se fazer o acompanhamento do linfangioma com exames seriados de ultrassonografia, tanto 2D quanto 3D, para monitorar o crescimento da tumoração. Pode-se também solicitar estudo do tumor através da ressonância magnética para verificar a profundidade da lesão, se está atingindo algum órgão interno, pois esta informação poderá ter efeito direto sobre o prognóstico fetal. Os pais devem ser orientados sobre o curso da anormalidade encontrada, como também sobre as condutas que poderão ser tomadas após o nascimento, colocando-os em contato com uma equipe multidisciplinar, onde poderá ter todas as informações do pediatra, neonatologista, como também o cirurgião pediátrico. Conduta Obstétrica A via de parto vai depender do tamanho que tumoração apresenta, pois se for grande, a via baixa estará inviabilizada, devendo optar-se pela via alta e devendo, se possível, ter no centro cirúrgico um cirurgião pediátrico, caso seja necessário a realização de EXIT, devido ao comprometimento das vias aéreas superiores pela compressão do tumor que pode ocorrer. Assistência neonatal A gestante deve ser encaminhada a um centro terciário onde pode dispor de equipe multidisciplinar preparada para o atendimento adequado ao recém-nato, 10 procurando, com isso, reduzir a morbimortalidade. Os linfangiomas localizados na região cervical podem comprometer as vias aéreas superiores, sendo necessária realização EXIT caso isso ocorra. O tratamento cirúrgico da lesão é o procedimento de escolha. Porém a ressecção cirúrgica da lesão pode apresentar algumas complicações como infecção, recorrência da tumoração, comprometimento de nervos da face e do diafragma, como também lesão da língua, traqueia e laringe. A cicatrização da cirurgia poderá resultar em comprometimento da estética do recém-nascido. O uso do agente esclerosante OK-432 também tem sido usado, injetando 0,1 ml da substância diluída em 10 ml de solução salina intracístico. Os usos de substâncias esclerosantes para tratamento de linfangiomas têm, como principal complicação, a fibrose pulmonar. Pode-se também usar o laser para tratamento do linfangioma. www.doyma.es/revista Linfangioma região lateral do pescoço 11 Prognóstico Os linfangiomas císticos podem regredir espontaneamente intra-útero, principalmente se forem isolados, pequenos e não septados. Durante a sua ressecção, dependendo do comprometimento dos órgãos, pode levar a danos nos nervos faciais como também inervação diafragmática. Pode ocorrer lesão de língua, traquéia, laringe, necessitando de traqueostomia. Pode ser necessário vários procedimentos cirúrgicos para manter o linfangioma controlado, principalmente quando não foi possível, inicialmente, realizar toda a sua ressecção. 12 Referências bibliográficas: Babcook, C.J. - A face e o pescoço fetais. In Callen Ultrassonografia em obstetrícia e Ginecologia, - 4ª edição. Costa, F.S., Dias, R.S.P. Malformações faciais e cervicais fetais. In Ayrton Roberto Pastore. Ultrassonografia em Ginecologia e obstetrícia. 2ª edição. 2010 Garden, A.S, Benzie, R.J, Misken, M. et al. Fetal cystic higroma colli: antenatal diagnosis, significance and management. Am J Obstet Gynecol 154:221,1986 Igai, A.M.K. Malformação de partes moles. In Zugaib et al: Medicina fetal, 2ª edição. 1998 Isfer, E.V., Andrade, M.C.S. Hidropsia fetal não imune. In Luís Carlos Santos,Sonia Regina Figueiredo, Alex Sandro R. de Souza, Marcelo Marques. Medicina fetal. 2008 Pijpers, L., Reuss, A., Stewart, P.A. et al. Fetal cystic higroma prenatal diagnosis and management. Obstet. Gynocol. 72: 223, 1988 Sanders, R.C. et al: Structural fetal abnormalities. 2ª edição, 2002 13 14