FAMAT em Revista - 13 - Faculdade de Matemática
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Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Matemática FAMAT em Revista ISSN 1806-1958 DEZEMBRO 2009 NÚMERO 13 2 FAMAT em Revista Comitê Editorial: Alessandro Alves Santana Luis Antônio Benedetti Marcos Antônio da Câmara Gabriela Aparecida dos Reis Claiton José Santos Douglas Silva Oliveira Presidente do comitê editorial Coordenador do Curso de Matemática da UFU Representante docente da FAMAT Representante discente do PET-FAMAT Representante discente do PET-FAMAT Representante discente do DAMAT Objetivos: A FAMAT em revista é uma mídia eletrônica publicada em regime semestral pela Faculdade de Matemática da Universidade Federal de Uberlândia. Foi criada pela resolução 04/2003 do Conselho da Faculdade de Matemática, tendo como principal objetivo a divulgação dos trabalhos de iniciação cientíca realizados pelos alunos orientados por docentes da Faculdade de Matemática. Trabalhos de iniciação cientíca de outras unidades acadêmicas da Universidade Federal de Uberlândia, bem como de outras instituições de ensino, também podem ser publicados desde que o conteúdo da pesquisa esteja dentro de uma das áreas da Matemática, a saber, Matemática Pura, Matemática Aplicada, Educação Matemática ou Estatística. INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÃO Os artigos a serem submetidos para publicação na FAMAT em revista deverão ser enviados em LATEX, segundo um modelo disponibilizado no site da revista http://www.famat.ufu.br/revista/ As instruções quanto ao formato das guras e tabelas, bem como as normas para o desenvolvimento dos textos constam no mesmo site. Artigos entregues até o nal do semestre letivo, seguindo o calendário acadêmico de graduação da Universidade Federal de Uberlândia, serão publicados na primeira quinzena do início do semestre letivo subseqüente. As datas do ínicio, bem como do encerramento, dos referidos semestres letivos são apresentados no site da revista. i ii Sumário I Trabalhos de Iniciação Cientíca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Um estudo sobre funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . M. A. Araújo e V. V. Fávaro Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas . . . . . . . . . . A. G. Biase e E. Agustini Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento . . . . . . A. G. Biase e E. Agustini Axiomatizações equivalentes do conceito de topologia. . . . . . . . . . . G. M. R. Pereira e G. M. A. Botelho 1 3 11 35 65 Sobre espaços vetoriais associados a divisores em corpos de funções algébricas 73 L. Y. Tsuchiya, O. N. Silva e C. F. Carvalho Caos em sistemas dinâmicos: Um exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . G. F. M. Domingues e W. S. M. Júnior 89 O problema da construção de polígonos regulares de Euclides a Gauss . . . 101 H. A. Pedroso e J. C. Precioso Método de reconstrução de segunda ordem em malhas não-estruturadas de triângulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 L. D. Lana e A. A. Santana II Trabalhos em Sala de Aula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Explorando os métodos de contagem no jogo senha. . . . . . . . . . . . 133 L. F. Pinheiro, M. A. Araújo, P. F. B. Andrade e R. H. P. Alves Um estudo das permutações caóticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 F. A. Oliveira, G. G. Cunha, G. D. Cunha e T. Medeiros III E o meu futuro prossional, IC em números e eventos . . . . E o meu futuro prossional. . . . . . . . . . . . . . . . . . IC em números . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Eventos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV Reexões sobre o Curso de Matemática . . . . . . . . . . . A disciplina LIBRAS no currículo do curso de Licenciatura em V Problemas e Soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Problemas e Soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI Merece Registro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Merece Registro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 153 155 157 159 161 165 167 169 171 iv Parte I Trabalhos de Iniciação Cientíca Um estudo sobre funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto Maria Angélica Araújo Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Graduanda em Matemática - Programa de Educação Tutorial mariangelica. petmat@ yahoo. com. br Vinícius Vieira Fávaro Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Adjunto I favaro@ famat. ufu. br Resumo: Neste trabalho construímos um exemplo de uma função contínua f: R → R que não é diferenciável em nenhum ponto. Para a construção de tal exemplo, introduzimos alguns conceitos e resultados básicos da Análise Matemática, e aplicamos esses resultados na construção de tal exemplo. Além disso, zemos um breve apanhado histórico do surgimento do problema de encontrar funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto. 1 Introdução Com o surgimento do Cálculo Diferencial, mais precisamente, o conceito de continuidade e diferenciabilidade de funções reais a valores reais, vários problemas naturais aparecem. Para motivar o propósito deste trabalho, vamos estudar alguns problemas: Toda função contínua é diferenciável? Não, por exemplo a função é contínua em p = 0, f (x) = |x|, ∀x ∈ R, não é derivável em p = 0, entretanto, esta função o que nos mostra que uma função pode ser contínua em um ponto sem ser derivável neste ponto. Desse modo, continuidade não implica em diferenciabilidade. Note que tal função não é diferenciável em lim x→ 0+ lim x→ 0− (0, 0). pois os limites laterais abaixo são diferentes: f (x) − f (0) |x| − |0| = =1 x−0 x−0 f (x) − f (0) |x| − |0| = = −1 x−0 x−0 Na gura 1.1 temos o gráco da função tangente no ponto 0, f (x) = |x|. Note que o gráco de f não possui reta 4 FAMAT em Revista Figura 1.1: Exemplo de uma função contínua mas não diferenciável Existe alguma função que não é diferenciável em nenhum ponto? Sim, a função de Dirichlet é um exemplo de função que não é diferenciável em nenhum ponto. A mesma é dada por f (x) = Vamos mostrar que Primeiramente, seja Tome ε= 1 2 > 0. f não é contínua a ∈ R − Q. Então para cada |xδ − a| < δ, f Portanto, O caso não é contínua em a ∈ Q, Portanto se se x∈Q x ∈ (R − Q) em nenhum ponto δ > 0, mas 1, 0, como Q a ∈ R. é denso em R, existe |f (xδ ) − f (a)| = |1 − 0| = 1 > xδ ∈ Q, tal que 1 = ε. 2 a. decorre de maneira análoga usando a densidade de f não é contínua em nenhum ponto de R. Como f não é diferenciável em nenhum ponto de R. R−Q em R. toda função contínua é diferenciável, segue que Note que, nesse exemplo, a função não é diferenciável em nenhum ponto, pois não é contínua em nenhum ponto. Isso motiva a próxima pergunta: Existe alguma função contínua f que não seja diferenciável em innitos pontos? Sim, basta estender por periodicidade a função f (x) = |x| a toda reta, conforme gura 1.2 Agora, trataremos do problema central deste trabalho: Existe uma função f contínua que não seja diferenciável em todos os pontos de R? É fácil percebermos que continuidade não implica em diferenciabilidade; que existem funções que não são diferenciáveis em nenhum ponto; e funções contínuas f que não são diferenciáveis em innitos pontos; mas nossa intuição pode falhar quando nos perguntamos se existe alguma função contínua que não é diferenciável em nenhum ponto de seu domínio. Introdução Universidade Federal de Uberlândia Um estudo sobre funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto Figura 1.2: 5 Exemplo de uma função não diferenciável em innitos pontos De fato, no início do século XIX, muitos matemáticos acreditavam que as funções contínuas tinham derivadas num número signicativo de pontos e alguns matemáticos tentaram dar justicativas teóricas deste fato, como por exemplo A. M. Àmpere em um trabalho publicado em 1806. Mas até o início do século XIX os principais conceitos do Cálculo ainda não tinham uma fundamentação lógica adequada e o trabalho de Àmpere falhava nisso, dadas as limitações das denições de seu tempo. Em 1872, K. Weierstrass publicou um trabalho que chocou a comunidade matemática provando que esta conjectura era falsa. Mais precisamente, ele construiu um exemplo de uma função contínua que não era diferenciável em nenhum ponto. A função em questão, foi denida por w(x) = ∞ X ak cos(bk πx), k=0 onde 0<a<1 e b é um número ímpar tal que ab > 1 + 3π 2 . Este não foi o primeiro exemplo de uma função com tais propriedades; com o tempo, foram encontrados exemplos datados de antes do exemplo de Weierstrass, como os do matemático tcheco B. Bolzano, em torno de 1830 e do matemático suíço C. Cellérier, em torno de 1860. Após o exemplo de Weierstrass, vários outros matemáticos deram suas contribuições construindo exemplos de funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto. Neste trabalho apresentaremos o exemplo devido a van der Waerden, mas para isso precisaremos de alguns resultados básicos da Análise Matemática. 2 Denições e resultados preparatórios Denição 2.1. Seja X ⊂ R. Uma sequência de funções fn : X → R é uma correspondência que n uma função denida de X em R. Dizemos que a sequência de funções para a função f : X → R se para cada x ∈ R, a sequência de números (fn (x)) = (f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x), . . .) converge para o número f (x). Em outras palavras, (fn ) converge para f simplesmente se dado x ∈ X e ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que associa a cada número natural converge simplesmente (ou pontualmente) ∀n > n0 ⇒ |fn (x) − f (x)| < ε. Notação: Denição 2.2. função fn → f simplesmente. Dizemos que a sequência de funções f : X → R, se dado Faculdade de Matemática ε > 0, ∃n0 ∈ N fn : X → R converge uniformemente para uma tal que Denições e resultados preparatórios 6 FAMAT em Revista n > n0 ⇒ |fn (x) − f (x)| < ε, ∀x ∈ X. Notação: u fn → f Denição 2.3. Uma série de funções ∞ X é uma série do tipo fn (x) = f1 (x) + f2 (x) + · · · . n=1 Dizemos que tal série converge pontualmente se para cada x ∈ X a série numérica ∞ (ou a sequência das somas parciais (sn (x))n=1 , onde sn (x) = f1 (x) + · · · + fn (x), P fn (x) converge é convergente). Denição 2.4. Dizemos que a convergência é uniforme, ou que a série de funções converge uniformemente se P a sequência das somas parciais (sn ), onde sn (x) = f1 (x)+· · ·+fn (x), converge uniformemente. Ou seja, ∞ n=1 fn (x) converge uniformemente em ∀n > n0 ⇒ |f (x) − n X X para a soma fn (x)| = | j=1 ∞ X an inteiro positivo se dado ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que fj (x)| < ε, ∀x ∈ X. j=n+1 Teorema 2.1 (Critério de Cauchy para séries numéricas). P que uma série f (x), Uma condição necessária e suciente para seja convergente é que dado qualquer ε > 0, exista n0 ∈ N tal que, para todo p, n > n0 ⇒ |an+1 + an+2 + · · · + an+p | < ε P P Demonstração: Primeiramente, suponha an = S , com soma parcial Sn = nj=1 aj . Daí Sn converge para S , donde segue que (Sn ) é uma sequência de Cauchy. Assim, seja ε > 0 e p ∈ N. Como (Sn ) é de Cauchy, existe n0 ∈ N, tal que m, n > n0 ⇒ |Sn − Sm | < ε. Tome m = n + p, então n > n0 ⇒ m = n + p > n > n0 ⇒ |an+1 + · · · + an+p | = |Sn+p − Sn | < ε Sn = Contrariamente, considere a sequência das somas parciais que ∀ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que , Pn j=1 aj . Assim, segue da hipótese ∀p ∈ N n > n0 ⇒ |Sn − Sn+p | < ε m, n > n0 , m > n ⇒ |Sn − Sm | < ε (SnP ) é uma sequência de Potanto, an é convergente. Logo, Cauchy, o que implica que (Sn ) é convergente. Apresentaremos agora dois resultados que serão usados na construção de nosso exemplo: Teorema 2.2. para f (x), Se uma série de funções contínuas então Teorema 2.3 f P fn (x) converge uniformemente em um intervalo também é contínua. . fn : X → R uma sequência de funções e existam constantes positivas Mn , n ∈ N, tais que |fn (x)| 6 Mn , ∀x ∈ X e ∀n ∈ N. P convergente, então a série fn (x) converge absolutamente e uniformemente em X . (Teste de Weierstrass) Denições e resultados preparatórios Seja suponha que Se P Mn é Universidade Federal de Uberlândia Um estudo sobre funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto Demonstração: Pelo teste da comparação, para cada x ∈ X, 7 temos que P |fn (x)| converge, pois |fn (x)| 6 Mn , ∀x ∈ X, ∀n ∈ N Portanto, P fn (x) converge absolutamente, Teorema 2.1 que existe n0 ∈ N ∀x ∈ X. e P Mn é convergente. ε > 0. Seja P Como Mn é convergente, segue do tal que ∀m > n > n0 ⇒ m X Mj < ε. j=n+1 Assim, ∀x ∈ X e ∀m > n > n0 temos |fn+1 (x) + · · · + fm (x)| 6 |fn+1 (x)| + |fn+2 (x)| + · · · + |fm (x)| m X 6 Mn+1 + Mn+2 + · · · + Mn = Mj < ε. j=n+1 Portanto, segue do Critério de Cauchy para séries de funções que P fn (x) converge uniformemente. Agora estamos aptos a construir uma função contínua que não é diferenciável em nenhum ponto. 3 A função de van der Waerden f0 : R → R, dada por f0 (x) = {x}, onde {x} denota a distância de x ao inteiro mais próximo. Por exemplo, f0 (9, 2) = 0, 2; f0 (−8) = 0; f0 (1, 83) = 0, 17. Agora considere a função f1 (x) = f0 (10x), x ∈ R. Por exemplo f1 (5, 64) = a distância de 56, 4 a 56 que é 0, 4. Da mesma forma denimos f2 (x) como sendo a distância de 100x ao inteiro mais próximo, ou seja, f2 (x) = f0 (100x). Generalizando, temos Consideremos inicialmente a função fk (x) = f0 (10k x), x ∈ R e k = 0, 1, 2, . . . As guras 3.1, 3.2 e 3 representam os grácos das funções f0 , f1 e não é uma tarefa simples desenhar uma reta tangente ao gráco de A partir do gráco de R f2 , f2 . respectivamente. Note que já f0 , vemos que ela é periódica de período 1 (ou melhor, f0 (x+1) = f0 (x), ∀x ∈ ), é contínua e além disso 1 |f0 (x)| 6 , ∀x ∈ R. 2 Denamos agora a seguinte função F (x) = ∞ X fk (x) k=0 Como, ∞ X fk (x) k=0 e 1 P∞ 1 2 k=0 10k R. Em particular, temos que k=0 é contínua e Faculdade de Matemática F P∞ Ffké(x)contínua, Nosso objetivo é mostrar que fk 6 , x ∈ R. (3.1) ∞ 1 1X 1 = 2 2.10k 10k k=0 é uma série convergente, segue do Teste de Weierstrass que a série (3.1) é uniformemente convergente em Como cada 10k ∞ X 10k k=0 10k está bem denida. mas não é derivável em nenhum ponto de converge uniformemente para F (x) em R, R. segue do Teorema A função de van der Waerden 8 FAMAT em Revista Figura 3.1: gráco de f0 Figura 3.2: gráco de Figura 3.3: gráco de A função de van der Waerden f1 f2 Universidade Federal de Uberlândia Um estudo sobre funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto 2.2 que de F é contínua em R. Portanto, nos resta mostrar que R. Para isto, contruiremos uma sequência (xn )∞ n=1 tal que F 9 não é diferenciável em nenhum ponto lim xn = a, n→∞ mas não exista o limite F (xn ) − F (a) . n→∞ xn − a lim Para isto, suponha a = a0 , a1 a2 . . . an . . . , com n∈N e considere xn = a0 , a1 a2 . . . an−1 bn an+1 . . . onde bn = an + 1 se an 6= 4 ou 9 e bn = an − 1 se an = 4 ou an = 9. xn − a = ±10−n . Por exemplo, se a = 0, 27451, temos Assim, x1 x2 x3 x4 = 0, 37451 = 0, 28451 = 0, 27351 = 0, 27461 Para esses exemplos, temos f0 (x3 ) − f0 (a) = −0, 001 f1 (x3 ) − f1 (a) = +0, 01 f2 (x3 ) − f2 (a) = −0, 1 f3 (x3 ) − f3 (a) = 0 fk (x3 ) − fk (a) = 0, k > 3 Generalizando, temos que para n∈N fk (xn ) − fk (a) = ±10k−n , k = 0, 1, . . . , n − 1 fk (xn ) − fk (a) = 0, k > n Assim, ∞ n−1 n−1 k=0 k=0 k=0 X F (xn ) − F (a) X fk (xn ) − fk (a) X ±10k−n = = = ±1. xn − a 10k (xn − a) 10k (±10−n ) Logo, F (xn )−F (a) é um inteiro par, se n for par, ou é um inteiro ímpar se n for ímpar. xn −a Portanto, temos que F (xn ) − F (a) n→∞ xn − a lim não existe. Então, F não é derivável em a, para todo a ∈ R, como queríamos demonstrar. As guras 3 e 3, representam os grácos das somas parciais de e [0.49, 0.51], F para n = 6, nos intervalos respectivamente. Esses grácos dão uma noção de como o gráco de apesar de não ser possível construir o gráco de tal função. Para somas parciais de ca cada vez mais difícil encontrar retas tangentes ao gráco de F F [0, 1] se comporta, cada vez maiores, F. 4 Considerações nais O estudo de funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto é importante não só por ser um problema clássico do Cálculo, mas também por estar conectado com vários outros ramos da matemática; como por exemplo na teoria de fractais e na teoria do caos. Além disso, vários outros resultados interessantes foram obtidos para tais funções, utilizando teoremas clássicos de Topologia. Faculdade de Matemática Considerações nais 10 FAMAT em Revista Um exemplo surpreendente (que estudaremos posteriormente) sobre tais funções é obtido usando o Teorema de Baire. Utilizando este resultado, S. Banach provou que existem muito mais funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto (no sentido de categoria de Baire) do que funções contínuas que são diferenciáveis. Referências Bibliográcas [1] [2] [3] Introdução à Análise Matemática, Edgard Blücher, São Paulo, 2006. Methods of Real Analysis, John Wiley e Sons, New York, 1976. E. L. Lima, Curso de Análise, vol.1, Projeto Euclides, Rio de Janeiro, 2008. G. Ávila, R. Goldberg, Considerações nais Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas Adriele Giareta Biase Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Graduanda em Matemática - PROMAT adrielegbiase@ yahoo. com. br Edson Agustini Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Associado I agustini@ ufu. br Resumo: Este trabalho é uma exposição dos resultados básicos envolvendo Criptograa RSA. Sua base teórica é encontrada na Teoria dos Números, mais precisamente, na manipulação de máximos divisores comuns, fatorações, congruências e métodos para determinar números primos. A Criptograa ciframento e deciframento, nas quais utilizamos da Criptograa RSA Além da Criptograa n = pq , baseia-se na diculdade de fatorar RSA, p com n e q RSA é composta por duas fases: números primos muito grandes. A segurança para obter p e q, que são números muito grandes. os pré-requisitos de Teoria dos Números são expostos nesse trabalho, assim como aplicações em senhas segmentadas e assinaturas digitais. 1 Introdução Nas últimas décadas a necessidade de se proteger informações, de modo que alguém indesejável não tenha acesso ao seu conteúdo, tem sido imperiosa. Uma das maneiras de se criar essa desejada proteção para mensagens é a criptograa. O uso corrente da criptograa é encontrado, por exemplo, em transações bancárias via Internet ou em compras on-line com cartões de crédito. Dessa forma, a criptograa torna-se um agente de segurança em um sistema de comunicações. Criptograa é o estudo de métodos para cifrar (ou modicar) uma mensagem a ser enviada de tal forma que apenas o receptor legítimo consiga interpretá-la. A base matemática da criptograa moderna é a Teoria dos Números, uma vez que o estudo das propriedades dos números inteiros; mais precisamente, a manipulação de máximos divisores comuns, fatorações, congruências e métodos para determinar números primos são fundamentais para se entender criptograa. O método mais conhecido de criptograa é o chamado daremos ênfase nesse trabalho. primos muito grandes p e q n, (Rivest, Shamir, Adleman) [5], ao qual Para implementar esse método, precisamos escolher dois números e, na fase de ciframento de uma mensagem, usamos deciframento da mensagem, precisamos conhecer diculdade de fatorar RSA que é público, para obter p e q. A segurança do método p e q, que são privados. n = pq. Já, para o está justamente na Há dois grandes objetivos nesse trabalho. O primeiro consiste no estudo dos principais resultados de Teoria dos Números, principalmente congruências, que são necessários ao estudo de criptograa em geral. O segundo é o estudo do algoritmo da Criptograa . uma aplicação em assinaturas digitais RSA, a demonstração de sua funcionalidade e Além disso, uma aplicação de sistemas lineares de congruências é abordado: as senhas segmentadas que, embora não use criptograa, ilustra o quanto as congruências podem ser úteis no processo de segurança de informações e valores. Em decorrência do exposto, o trabalho está esquematizado em três grandes partes: 12 FAMAT em Revista - Principais preliminares da Teoria dos Números e algoritmos necessários à compreensão da Cripto- RSA. graa - Processo de ciframento e deciframento de mensagens utilizando a Criptograa RSA. - Aplicações em assinaturas digitais e senhas segmentadas. 2 Preliminares Nessa seção, apresentamos alguns conceitos básicos para o entendimento de métodos de criptograa. Começamos com alguns algoritmos (processos para a resolução de um problema descrito passo a passo), que são bastante úteis para a construção de programas computacionais que visam resolver um dado problema. As proposições apresentadas nessa seção são básicas e suas demonstrações podem ser encontradas em livros introdutórios de Teoria dos Números como, por exemplo, 2.1 [1], [2] , [3] e [6] . Alguns Teoremas e Algoritmos Importantes O Teorema da Divisão de Inteiros Proposição (Teorema de Eudoxius ) Dados a e b inteiros com b 6= 0 então a é um múltiplo de b ou se encontra entre dois múltiplos consecutivos de b 6= 0 existe um inteiro q b, isto é, correspondendo a cada par de inteiros a e b > 0, tal que, para qb ≤ a < (q + 1)b e para b < 0, qb ≤ a < (q − 1)b Teorema (da Divisão de Inteiros ) Sejam a, b ∈ Z, b > 0. Então, existem únicos q, r ∈ Z, 0 ≤ r < b, tais que a = bq + r. Demonstração. Pelo Teorema de Eudoxius, como b > 0, existe q satisfazendo: qb ≤ a < (q + 1) b. Assim, 0 ≤ a − qb e a < qb + b ⇒ a − qb < b. Se denirmos r = a − qb, teremos garantido a existência de q e r. Quanto à unicidade: Vamos supor a existência de outro par q1 e r1 , em que: a = q1 b + r1 com 0 ≤ r1 < b. Temos: qb + r − (q1 b + r1 ) = 0 ⇒ qb − q1 b + r − r1 = 0 ⇒ b(q − q1 ) = r1 − r Introdução (1) Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas Mas como r1 < b e r<b temos |r1 − r| < b. b |q − q1 | = |r1 − r| ⇒ |q − q1 | = De (1) 13 Logo: |r1 − r| < 1 ⇒ |q − q1 | = 0 ⇒ q − q1 = 0 ⇒ q = q1 . b temos: b(q − q1 ) = r1 − r ⇒ b(q − q) = r1 − r ⇒ 0 = r1 − r ⇒ r1 = r. Teorema de Euclides e Algoritmo Euclidiano Denimos o mdc (a, b), O máximo divisor comum de dois inteiros como sendo o maior inteiro que divide Algoritmo Euclidiano mdc calcula o a e a b. e b (a ou b diferente de zero), denotado por (máximo divisor comum) de dois números naturais a e b, a partir da aplicação sucessiva do Teorema de Euclides, enunciado e demonstrado abaixo. Teorema (de Euclides ) Se a, b ∈ N e q, r ∈ N tais que a = bq + r, então mdc (a, b) = mdc (b, r) . Demonstração. Sejam a, b, q, r conforme enunciado. Logo, a = bq + r. d1 = mdc(a, b) Queremos mostrar que d1 = d2 . d1 ≤ d2 . Primeiro, provaremos que existem inteiros u e v Como e Sejam: d2 = mdc(b, r). d1 = mdc(a, b), então d1 divide a e d1 divide b, ou seja, tais que: a = d1 u Substituindo estas expressões para a e b e na relação b = d1 v. a = bq + r, obtemos d1 u = d1 vq + r, ou seja: r = d1 u − d1 vq = d1 (u − vq), d1 também divide b, então d1 é um divisor b e r. Logo, d1 ≤ d2 . De modo análogo, demonstra-se que d1 ≥ d2 . Das duas desiguldades, d1 ≤ d2 e d1 ≥ d2 , segue que d1 = d2 , ou seja ou seja, d1 divide r. Como comum de b e r. Mas d2 é o maior divisor comum entre mdc (a, b) = mdc (b, r) . Algoritmo de Euclides Procedemos da seguinte maneira para calcular o mdc dos naturais a e b: a = bq1 + r1 , 0 ≤ r1 < b, b = r1 q2 + r2 , 0 ≤ r2 < r1 , r1 = r2 q3 + r3 , 0 ≤ r3 < r2 , r2 = r3 q4 + r4 , 0 ≤ r4 < r3 , . . . rn−2 = rn−1 qn + rn , 0 ≤ rn < rn−1 , Faculdade de Matemática Preliminares 14 FAMAT em Revista Esse processo continua até que obtenhamos um rn = 0. Quando isto acontece, temos: mdc(a, b) = mdc (b, r1 ) = mdc (r1 , r2 ) = · · · = mdc (rn−2 , rn−1 ) = mdc (rn−1 , 0) = rn−1 , devido ao Teorema de Euclides. Teorema de Euclides Estendido e Algoritmo Euclidiano Estendido Proposição. Se d, n ∈ Z∗ são tais que d | n, então |d| ≤ |n| . Demonstração. Temos, pela hipótese, d | n ⇒ n = kd k ∈ Z∗ e n 6= 0. com Logo, n = kd ⇒ |n| = |kd| ⇒ |n| = |k| |d| . Suponhamos que |d| > |n| . Logo, |d| = |n| + p com p ∈ N. Assim: |d| = |k| |d| + p ⇒ (|k| − 1) |d| + p = 0. Como (|k| − 1) ≥ 0 temos (|k| − 1) |d| ≥ 0 e p > 0, ou seja, (|k| − 1) |d| + p > 0, uma contradição. Logo, |d| ≤ |n| . Teorema (de Euclides Estendido ) Sejam a, b ∈ N e d = mdc (a, b) . Então, existem α, β ∈ Z tais que: αa + βb = d. Demonstração. Seja β B = {na + mb : m, n ∈ Z} o conjunto de todas as combinações lineares de a e b. Escolhemos α e tais que: c = αa + βb seja o menor inteiro positivo pertencente ao conjunto B. c | a e c | b. Como as demostrações são análogas, mostremos apenas que c | a. c - a. Neste caso pelo Teorema da Divisão de Inteiros, existem q e r tais que a = qc+r Vamos provar que Suponhamos que com 0 < r < c. Portanto: r = a − qc = a − q(αa + βb) = a − qαa − qβb = (1 − qα) a + (−qβ) b. Como 1 − qα e −qβ são inteiros, então o menor elemento positivo de Conclusão: r ∈ B, o que é uma contradição, uma vez que 0<r<c e c é B. c | a. c | b. d é um divisor comum de a e b, De modo similar mostra-se que Como existem inteiros K1 e K2 tais que a = K1 d e b = K2 d. Portanto, c = αa + βb ⇒ c = α (K1 d) + β (K2 d) ⇒ c = d (αK1 + βK2 ) . Logo d | c. Da proposição acima, temos que d ≤ c d é máximo divisor comum, então c = d. (ambos positivos) e como d<c não é possível, uma vez que Preliminares Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas Concluímos então que 15 d = αa + βb. Algoritmo Euclidiano Estendido d, α O algoritmo que fornece e β Primeiramente, vamos calcular o a partir de mdc(a, b). a b e Algoritmo Euclidiano Estendido. é denominado Utilizando o Algoritmo Euclidiano, obtemos, a seqüência de divisões abaixo: a = bq1 + r1 r1 = ax1 + by1 e b = r1 q2 + r2 e r2 = ax2 + by2 r1 = r2 q3 + r3 e r3 = ax3 + by3 . . . rn−3 = rn−2 qn−1 + rn−1 e rn−1 = axn−1 + byn−1 rn−2 = rn−1 qn e rn = 0 Os x1 , ..., xn−1 e y1 , ..., yn−1 são inteiros a determinar. Coloquemos os dados obtidos acima em uma tabela: ∗ ∗ q1 q2 x x−1 x0 x1 x2 y−1 y0 y1 y2 . . . . . . . . . . . . rn−1 qn−1 xn−1 yn−1 restos quocientes a b r1 r2 y Tabela 1 Embora a e b não sejam restos, as duas primeiras linhas da tabela são convenientes, pois nos ajudam a desenvolver o algoritmo. Sendo assim, iremos chamá-las de linhas Vamos desenvolver um algoritmo para determinar as colunas de x e −1 e 0. y, utilizando somente duas linhas sucessivas. Para tanto, é necessário imaginar que temos a tabela preenchida até um certo ponto: a j -ésima linha, por exemplo. Nessa linha, temos rj−2 dividido por rj−1 , ou seja, rj−2 = rj−1 qj + rj ⇒ rj = rj−2 − rj−1 qj Analisando as duas linhas anteriores: a yj−1 , xj−2 e yj−2 , (j − 1)-ésima (3) (j − 2)-ésima linha, encontramos xj−1 , sendo rj−1 = axj−1 + byj−1 Substituindo linha e (2) em (2), e rj−2 = axj−2 + byj−2 . (3) temos rj = axj−2 + byj−2 − (axj−1 + byj−1 )qj ⇒ ⇒ rj = a(xj−2 − xj−1 qj ) + b(yj−2 − yj−1 qj ). Logo, podemos tomar xj = xj−2 − xj−1 qj e yj = yj−2 − yj−1 qj . Temos, portanto, uma fórmula para calcular qualquer linhas sucessivas e yj j−2 e j−1 e o quociente da linha j. xj e yj da tabela, utilizando apenas as duas Para iniciarmos o processo, é necessário ter xj de duas linhas sucessivas e é aqui que utilizamos as duas convenientes primeiras linhas: a = ax−1 + by−1 Faculdade de Matemática e b = ax0 + by0 . Preliminares 16 FAMAT em Revista Nesse caso, os valores triviais para x−1 , y−1 , x0 e y0 , são x−1 = 1, y−1 = 0, x0 = 0 e y0 = 1. Assim, d = mdc (a, b) , ou podemos dar início ao processo e, após executar o algoritmo, tendo descoberto o seja, d = rn−1 , obtemos d = rn−1 = axn−1 + byn−1 , ou seja, α = xn−1 e β = yn−1 . Fatoração Proposição (Teorema da Fatoração Única ) n ≥ 2 Dado um inteiro podemos sempre escrevê-lo de modo único, na forma n = pe11 . . . pekk , sendo 1 < p1 < p2 < p3 < · · · < pk números primos e e1 , e2 , . . . , ek inteiros positivos. Demonstração. Existência da Fatoração. Tendo n n − 1. Se algum destes p1 que achamos desta que ser primo. De fato, seja p1 um inteiro tal que 2 ≤ p1 ≤ n − 1. Suponhamos que p1 0 fator de n e que p1 é um fator (maior do que 1) de p1 . Logo, existem inteiros a e b tais como entrada, tentamos dividir inteiros dividir maneira tem seja o menor n, n por cada um dos inteiros de então achamos um fator de n. 2 a E, além disso, o menor fator que n = p1 a; p1 = p01 b. n = p01 ab. Portanto, p01 também é um fator de n. Como supomos que p1 é o menor fator de n, 0 0 0 concluímos que p1 ≤ p1 . Por outro lado, p1 é fator de p1 o que só pode acontecer se p1 ≤ p1 . Das duas 0 desigualdades segue que p1 = p1 . Assim o único fator de p1 maior que 1 é o próprio p1 . Então, p1 é primo. Logo, Repetimos o procedimento descrito acima em m2 = m1 p2 e repetimos o procedimento para escrever n p1 e encontramos um fator m2 , e assim por diante. mi = pi . Logo, n = p1 p2 . . . pi . n = pe11 . . . pekk , como queríamos. encontramos m1 = Juntando os p0j s p2 de m1 . Após um certo número Tomamos i de etapas, iguais em uma mesma base, podemos Observações. (1) n composto consiste em fazer uma de n − 1, pois um número inteiro não Pelo Teorema da Fatoração Única, um algoritmo para fatorar busca de fatores de n começando por 2 e não precisamos passar pode ter um fator maior que ele próprio. Na verdade não precisamos procurar fatores maiores do que √ n pois o menor fator de o menor fator de n. n, maior que 1, é sempre menor do que ou igual a Então, existe um inteiro positivo a tal que n = f a. √ n. Como De fato, seja f f >1 é o menor fator, certamente f ≤ a ⇒ f 2 ≤ f a ⇒ f 2 ≤ n, que é equivalente a (2) f≤ √ n. A demonstração do Teorema da Fatoração Única permite que elaboremos um algoritmo para encontrar um fator de um número inteiro positivo Algoritmo da Fatoração Etapa Etapa (1): (2): Informe um inteiro positivo Comece com Preliminares n: n. f = 2; Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas n f Etapa (3): Se Etapa (4): (5): Aumente em Etapa Se é inteiro, então f> √ n f f (3) f n. Caso contrário, siga para a Etapa uma unidade e siga para a Etapa então n f irá superar o número n, o algoritmo pára. De fato, n e, portanto, n será primo. de √ (4) . (5) . é primo. Caso contrário, volte para o Etapa Mesmo não encontrando um fator a cada ciclo, é fator de 17 (3) . aumentando f de uma unidade É claro que o algoritmo de fatoração descrito acima é muito ineciente quando estamos tentando fatorar números muito grandes. Abaixo iremos apresentar um algoritmo melhor para o caso de n ser composto por dois fatores primos (mesmo grandes) que não estejam muito distantes um do outro. Algoritmo de Fermat Proposição (Teorema de Fermat ) Seja n natural ímpar. x, y números naturais, ou n Então, n = (x + y) (x − y) = x2 − y 2 , com é primo. Demonstração. n é composto. Logo, n pode ser fatorado na forma n = ab, sendo a ≤ b. Vamos obter n = x2 − y 2 . Suponhamos que existam os naturais x e y. Logo: Suponhamos que naturais x e y tais que n = ab = (x + y)(x − y) = x2 − y 2 . Como x − y ≤ x + y, isto sugere que tomemos a=x−y ⇐⇒ b=x+y b+a x= 2 b + a = 2x ⇐⇒ . b − a = 2y b − a y= 2 n é ímpar, então a e b são ímpares (pois n = ab). Logo, b + a e b − a são pares, conseqüentemente b+a b−a e são inteiros, ou seja x e y são números naturais. Conclusão: se n for composto, então 2 2 2 2 existem x e y naturais tais que n = x − y . Mas O Algoritmo de Fermat é utilizado para encontrar dois fatores a e b de um número natural composto. Esse algoritmo será eciente quando Adotemos bxc , x n tiver um fator primo que não seja muito menor que real positivo, como sendo a parte inteira de √ n ímpar n. x. As etapas do algoritmo são: √ podemos parar. (i) Comece com x = b nc . Se n = x2 , então x é fator de n e √ (ii) Caso contrário, aumente x de uma unidade e calcule y = x2 − n. (iii) Repita a Etapa 2 até encontrar um valor inteiro para primeiro caso, Se n = ab n tem fatores x−y e x + y, n ou até que x seja igual a é primo. n+1 . 2 No é ímpar composto, pelo Teorema de Fermat, existem números naturais x= tais que no segundo, y, n = x2 − y 2 . b+a 2 e y= b−a 2 Encontrando esses valores temos: n = x2 − y 2 = (x + y)(x − y), Faculdade de Matemática Preliminares 18 FAMAT em Revista ou seja, Se n a=x+y e b=x−y é primo, então só podemos ter algoritmo na Etapa a = b, a 6= b, e b = n. Com isto, x= n = ab n+1 2 e isto justica a parada do é composto. (i) pois j √ k √ √ n = aa = a2 = a x= o algoritmo obtém a resposta desejada na Etapa e fatoramos Se a=1 n. (iii) . Voltemos ao caso em que Se são fatores de n. podemos supor que 1 < a < b < n. Veremos que, neste caso, o algoritmo vai parar se forem satisfeitas as desigualdades: √ a + b n+1 < . n ≤ 2 2 (4) Provando a desigualdade da direita: 1 < b ⇒ 1 (a − 1) < b(a − 1) ⇒ a − 1 + b − b < ab − b + 1 − 1 ⇒ a+b n+1 a + b − (b + 1) < n + 1 − (b + 1) ⇒ a + b < n + 1 ⇒ < . 2 2 Considerando agora a desigualdade da esquerda: Sabemos que √ √ b nc ≤ n. Logo, (b + a)2 (b − a)2 (b + a)2 (b − a)2 (b + a)2 − = ab = n ⇒ −n= ⇒ −n≥0⇒ 4 4 4 4 4 n≤ √ a + b √ a+b (b + a)2 ⇒ n≤ ⇒ n ≤ . 4 2 2 √ x é iniciada com o valor b nc e vai sendo aumentada de uma unidade até √ a+b encontrar um inteiro y = x2 − n. Assim, (4) nos garante que, se n for composto, chegaremos a 2 s n+1 a+b a+b 2 b−a . Quando x = , então y = − ab = e o algoritmo pára, antes de chegar a 2 2 2 2 e obtemos os fatores a = x + y e b = x − y de n. No algoritmo, a variável Exemplo Tomemos n = 281675. Aplicando o Algoritmo de Fermat temos: √ √ x = b nc = 281675 = 530. 2 2 Mas x = (530) = 280900 < 281675. Logo, devemos somar em x uma unidade, até encontrarmos um √ n+1 valor para y = x2 − n que seja inteiro, ou até que x seja igual a . Para isso, vamos construir 2 uma tabela: √ x y = x2 − n 531 16, 911535 532 36, 728735 533 49, 132474 534 59 Comecemos com Preliminares Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas Ao desenvolver a quarta linha obtivemos um de n são: a = x + y = 593 Observação. e y 19 x = 534 inteiro. Portanto, Não basta escolher primos grandes para garantir que se escolhermos primos grandes e muito próximos um do outro, então Algorimo de Fermat. De fato, seja n = ab. Se a ≈ b, b−a ⇒y≈0 2 √ 2 2 2 Como n = x − y ⇒ n ≈ x ⇒ n ≈ x, ou seja, de Fermat forneça os fatores de n. y= 2.2 e y = 59. Logo, os fatores b = x − y = 475. n seja difícil de fatorar, n é facilmente fatorado pois pelo temos e x= b+a ⇒x≈a 2 são necessários poucas etapas para que o Algoritmo Congruências Aritmética Modular A seguir, delineamos alguns conceitos de aritmética modular, a base para o desenvolvimento da criptograa moderna. Começamos com a noção de relação de equivalência. Uma relação binária ∼ sobre um conjunto X não vazio é chamada relação de equivalência sobre X, quando satisfaz as três seguintes propriedades: (1) (2) (3) x ∼ x; (reexiva) Se x ∼ y, então y ∼ x; (simétrica) Se x ∼ y e y ∼ z, então x ∼ z. (transitiva) Uma relação binária permite compararmos dois elementos de um conjunto segundo uma dada regra. As relações de equivalência são usadas para classicar os elementos de um conjunto em subconjuntos com propriedades semelhantes denominados classes de equivalência. A classe de equivalência de um elemento x∈X é denotada por x = {y ∈ X : y ∼ x} . Temos ainda que qualquer elemento de uma classe de equivalência é um representante de toda a classe. Destacamos ainda dois resultados muito importantes relacionados ao conjunto equivalência (1) X ∼ X com a relação de : é a união de todas as classes de equivalência. (2) A intersecção de duas classes de equivalência distintas é vazia. Uma relação de equivalência no conjunto dos números inteiros pode ser construída do seguinte modo: dois inteiros a−b a e b, é múltiplo de cuja diferença é um múltiplo de um n e são denotados por Mostremos que a congruência módulo n a, b, c ∈ Z, então: a ≡ a(mod n). De fato, a − a = 0n. (ii) a ≡ b(mod n) =⇒ b ≡ a(mod n). De n ∈ N∗ , são ditos congruentes módulo n se a ≡ b(mod n). é uma relação de equivalência: Sejam (i) fato, a − b = kn e b − a = −(b − a) = −kn =⇒ b ≡ a(mod n); k ∈ Z. (iii) a ≡ b(mod n), b ≡ c(mod n) =⇒ a ≡ c(mod n). Faculdade de Matemática Preliminares 20 FAMAT em Revista De fato, a − b = k1 n e b − c = k2 n. (a − b) + (b − c) = a − c, Como temos (k1 n) + (k2 n) = a − c ⇒ a − c = (k1 + k2 )n, ou seja, a ≡ c(mod n); k1 , k2 ∈ Z. O conjunto de todas as classes de equivalência da relação de congruência módulo por Zn e denominado conjunto dos inteiros módulo n. n em Z é denotado Dessa forma, a classe de equivalência de a é a = {a+kn : k ∈ Z}. Se a ∈ Z, então podemos dividi-lo por n, obtendo q e r inteiros, tais que a = nq + r e 0 ≤ r < n. Daí, a − r = nq , que é múltiplo de n e, então, a ≡ r(mod n). Logo, qualquer inteiro é congruente módulo n a um inteiro entre 0 e n − 1. Assim, os elementos do conjunto quociente de Z na relação de congruência módulo n são: 0, 1, ..., n − 1. Esse conjunto é assim denotado: dada por Zn = {0, 1, ..., n − 1}. Podemos utilizar congruência para calcular o resto da divisão de uma potência por um número qualquer. Vejamos um exemplo: calcular o resto da divisão de Pequeno Teorema de Fermat. consideremos o Teorema (Pequeno Teorema de Fermat ) Se p>1 10135 por 7. Para efetuar esse calculo, é um número primo que não divide o inteiro a, então: ap−1 ≡ 1 (mod p) . Assim, pelo resultado acima, 106 ≡ 1(mod 7). Como 135 = 6.22 + 3, temos: 10135 ≡ (106 )22 103 ≡ 122 103 ≡ 6(mod 7). Logo, o resto da divisão de 10135 por 7 é 6. Nem sempre é tão simples fazer esses cálculos, já que é raro encontramos uma potência que seja congruente a 1, no módulo n. Para tanto, lançamos mão de um método para o cálculo do resto da divisão de uma potência por um número. Repetidos Esse método é conhecido como Método dos Quadrados e será apresentado adiante. Equações Diofantinas equação diofantina Chamamos de a uma equação polinomial (com qualquer número de incógnitas), com coecientes inteiros. Em uma equação diofantina, interessa apenas soluções inteiras. Esses tipos de equações foram abordados pelo matemático grego Diofanto em seu tratado escrito por volta de Proposição. 250 d.C. Daí o fato das equações serem chamadas de Se mdc(a, b) = d, então mdc Demonstração. Pelo Aritmética, = 1. Teorema de Euclides Estendido, mdc(ta, tb) é o menor valor positivo de mtb+ntb (m e n inteiros), que é igual a Como c , b a b , d d diofantinas. a e b tomando Preliminares t vezes o menor valor positivo de são divisíveis por c, temos que c a e ma + nb = t mdc(a, b). c são inteiros. Basta, então b substituir a por c a e b por t = c. Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas No que acabamos de descrever divisor comum Proposição. d, Se c 21 é um divisor comum de a e b. Se tomarmos c como sendo o máximo teremos o resultado desejado. a, b, c, m e n são inteiros c|a e c | b, então c | (ma + mb). Demonstração. Se c | a, então a = K1 c ⇒ am = mK1 c. Se c | b, então b = K2 c ⇒ bn = nK2 c. Somando as equações acima: am + bn = mK1 c + nK2 c ⇒ am + bn = c (mK1 + nK2 ) . Logo, c | (am + bn) . Proposição. Se Demonstração. Como a | bc mdc(a, b) = 1, e mdc(a, b) = 1, a | c. então pelo Teorema de Euclides Estendido, existem n e m tais que na + mb = 1 ⇒ n(ac) + m(bc) = c. Como a | ac e, pela hipótese, a | bc, então a | c. Teorema. (Solução geral de equação diofantina linear com duas incógnitas ) positivos e d = mdc(a, b). Se d - c, Sejam a e b inteiros então a equação diofantina ax + by = c não possui nenhuma solução inteira. Se d|c ela possui innitas soluções e se x = x0 e y = y0 é uma solução particular, então todas as soluções são dadas por: b x = x0 + k d com e y = y0 − a d k k ∈ Z. Demonstração. Se c, d - c, então a equação ax + by = c, não possui solução pois, como d | a e d | b, d deveria dividir a e b. Suponha que d | c. Pelo Teorema de Euclides Estendido, o qual é uma combinação linear de existem inteiros n0 e m0 , tais que: an0 + bm0 = d. Como d | c, existe um inteiro k tal que c = kd. Se multiplicarmos a equação acima por k, teremos: a(n0 k) + b(m0 k) = kd = c, então x0 = (n0 k) e y0 = (m0 k) é uma solução de ax + by = c. Faculdade de Matemática Preliminares 22 FAMAT em Revista x A vericação de e de y é trivial. Se x = x0 + b k d y = y0 − e a d k são soluções, temos a b ab ab ax + by = a x0 + k + b y0 − k = ax0 + k + by0 − k = ax0 + by0 = c. d d d d (x0 , y0 ) e, a partir dela, podemos gerar innitas soluções. Vamos mostrar agora que toda solução da equação ax + by = c é da forma acima. Suponhamos que (x, y) seja uma solução, ou seja, ax+by = c. Como ax0 +by0 = c, então se subtrairmos O que acabamos de encontrar é apenas uma solução particular as duas equações, obtemos: ax + by − ax0 − by0 = a(x − x0 ) + b(y − y0 ) = 0, o que implica Pela hipótese d = mdc(a, b), logo, a(x − x0 ) = b(y0 − y). a b mdc , = 1. d d Portanto, dividindo os dois menbros da última igualdade por d, temos: a b (x − x0 ) = (y0 − y) . d d Logo, b | (x − x0 ) d e, portanto, existe um inteiro b , x − x0 = k d k satisfazendo ou seja: b x = x0 + k d Substituindo: a d a b b a x0 + k − x0 = (y0 − y) ⇒ k = (y0 − y) ⇒ y = y0 − k. d d d d Sistema de Equações Diofantinas Lineares Proposição. Se a, b, c e m são inteiros e ac ≡ bc (mod m) , então a ≡ b (mod m) sendo d = mdc (c, m) . Demonstração. temos ac − bc = c (a − c) = km. Se dividirmos c ac ≡ bc(modm) m m (a − c) = k . Logo, | (a − d) o que implica d d d m a ≡ b mod . d De os dois membros por d, teremos Proposição. Se a e b são inteiros, então a ≡ b(mod m) se, e somente se, existir um inteiro k tal que a = b + km. Preliminares Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas 23 Demonstração. (⇒) Se a ≡ b (mod m) , então m | (a − b) o que implica na existência de um inteiro k tal que a−b = km, isto é, a = b + km. (⇐) Se k satisfaz a = b + km, temos km = a − b, ou seja, que m | (a − b) isto é, a ≡ b(mod m). Proposição. Se m a, b, c e m são inteiros e ac ≡ bc (mod m) , então a ≡ b mod sendo d = mdc (c, m) d Demonstração. tiramos que ac − bc = c(a − b) = km. Se dividirmos os dois membros por d, temos c ac ≡ bc (modm) m (a − b) = k . Logo d d m c (a − b) d d m c e como , = 1, temos d d m (a − b) d De o que implica m . a ≡ b mod d Proposição. inteiros com Se mi a ≡ b (mod m1 ) , a ≡ b (mod m2 ) , ..., a ≡ b (mod mr ) i = 1, 2, 3, ..., r, então sendo a, b, m1 , m2 , ..., mr são positivos, a ≡ b(mod [m1 , m2 , m3 , ..., mr ]), sendo [m1 , m2 , m3 , ..., mr ] o mínimo múltiplo comum de m1 , m2 , m3 , ..., mr . Demonstração. Seja pn o maior primo que aparece nas fatorações de m1 , m2 , m3 , ..., mr . Cada mi , i = 1, 2, 3, ..., r pode, então, ser expresso como mi = pα1 1i pα1 2i . . . pαnni . αji podem ser nulos). α mi | (a − b) , i = 1, 2, 3, ..., r, temos pnji | (a − b) , i = 1, 2, 3, ..., r tomarmos αj = max1≤i≤r {αji } teremos (alguns Como e j = 1, 2, 3, ..., r. Logo, se pα1 1 pα1 2 · · · pαnn | (a − b) . Mas, pα1 1 pα1 2 · · · pαnn = [m1 , m2 , m3 , ..., mr ] , o que implica a ≡ b(mod [m1 , m2 , m3 , ..., mr ]). Faculdade de Matemática Preliminares 24 FAMAT em Revista Proposição. a, b e m inteiros tais que m > 0 e mdc (a, m) = d. No caso em que d - b a congruência ax ≡ b (mod m) não possui nenhuma solução e quando d | b, possui exatamente d soluções incogruentes módulo m. Sejam Demonstração. ax ≡ b (mod m) se, e somente se, existe um inteiro y tal que ax = b + my, ou, o que é equivalente, ax − my = b. Sabemos também que esta equação não possui nenhuma solução caso d - b, e que se d | b ela possui innitas soluções dadas por m a x = x0 − k e y = y0 − k, d d Sabemos que o inteiro x é solução de m ax − my = b. Logo, a congruência ax ≡ b (mod m) k. Como estamos interessados em saber o número de possui innitas soluções dadas por x = x0 − d m m soluções incongruentes, vamos tentar descobrir sob que condições x1 = x0 − k 1 e x2 = x0 − k2 d d são congruentes módulo m. Se x1 e x2 são congruentes, então m m x0 − k1 ≡ x0 − k2 (mod m) . d d sendo que (x0 , y0 ) é uma solução particular de Isto implica m d e como m m , d d k1 ≡ m k2 (mod m) , d o que nos permite o cancelamento de Observemos que m foi substituído por d= m m d m , d temos k1 ≡ k2 (mod d) . . Isto nos mostra que soluções incongruentes serão obtidas ao tomarmos x = x0 − onde k m d k, percorre um sistema completo de resíduos módulo Teorema. (Resto Chinês ) mdc (mi , mj ) = 1, m1 , m2 , m3 , ..., mr i 6= j. Façamos Sejam sempre que d, o que conclui a demonstração. números inteiros maiores que zero e tais que m = m1 m2 m3 ...mr e sejam b1 , b2 , b3 , ..., br , respectivamente, soluções das congruências lineares m y ≡ 1(mod mj ), mj Então o sistema j = 1, 2, 3, ..., r. x ≡ a1 (mod m1 ) x ≡ a2 (mod m2 ) x ≡ a3 (mod m3 ) . . . x ≡ ar (mod mr ) possui solução e a solução é única módulo Preliminares sendo m, sendo m = m1 m2 m3 ...mr . Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas 25 Demonstração. mdc(1, mi ) = 1, temos que x ≡ ai (mod mi ) possui uma única solução que denotaremos m por bi . Se denirmos yi = sendo m = m1 m2 m3 ...mr , teremos mdc (yi , mi ) = 1, uma vez que mi mdc (mi , mj ) = 1 para i 6= j. Assim, temos a garantia de que cada uma das conguências yi x ≡ 1(mod mi ) possui uma única solução que denotaremos por y i . Logo, Do fato, de yi y i ≡ 1 (mod mi ) , i = 1, 2, 3, ..., r. Armamos que o número x dado por x = b1 y1 y1 + b2 y2 y2 + b3 y3 y3 + · · · + br yr yr é uma solução para o sistema de congruências. De fato: x = ai b1 y1 y1 + ai b2 y2 y2 + · · · + ai br yr yr ≡ ai bi yi yi (mod mi ) ≡ ai bi ≡ ci (mod mi ) uma vez que yj é divisível por mi , para i 6= j, yi yi ≡ 1(mod mi ), e bi é solução de x ≡ ai (mod mi ). m. Se x é uma outra solução para x ≡ ai ≡ x(mod mi ) e, sendo mdc (mi , mj ) = 1, obtemos x ≡ x(mod mi ). Logo, mi | (x − x) , i = 1, 2, 3, ..., r. Mas, como mdc (mi , mj ) = 1 para i 6= j temos que Quanto à unicidade, temos que esta solução deve ser única, módulo o nosso sistema, então [m1 , m2 , m3 , ..., mr ] = m1 m2 m3 ...mr . Portanto, m1 m2 m3 ...mr | (x − x) , ou seja x ≡ x(mod m), o que conclui a demonstração. Algoritmo do Teorema do Resto Chinês. Etapa 1 : Etapa 2 : Etapa 3 : Faça Faça Para m = m1 m2 m3 ...mr e passe para a etapa seguinte. m m m m , y2 = , y3 = , · · · , yr = e passe y1 = m1 m2 m3 mr i = 1, 2, 3, ..., r resolva as equações: para a Etapa 3. yi x = 1 (mod mi ) e chame de Etapa 4 : yi = x, sendo 0 ≤ x < mi . Faça x ≡ c1 y1 y1 + c2 y2 y2 + c3 y3 y3 + · · · + cr yr yr (mod m1 m2 m3 ...mr ) . 2.3 Algoritmos para o Cálculo de ae (mod n) Método dos Quadrados Repetidos Como dito anteriormente, o objetivo desse método é calcular a congruência de r e n br módulo n, sendo b, números naturais grandes. Para fazer esse cálculo, é necessário convertermos r= r k P em número binário. Para tanto, suponhamos aj 2j , j=0 sendo aj = 0 ou 1. Faculdade de Matemática Preliminares 26 FAMAT em Revista Algoritmo: bj ; j = 0, ..., k; números naturais (auxiliares). Passo 1) Se a0 = 1, então faça c = b. Senão, faça c = 1. Passo 2) Seja b0 = b. Passo 3) Para cada j = 1, ..., k faça: 2 Calcule bj ≡ bj−1 (mod n) . Se aj = 1, calcule d ≡ cbj (mod n) e faça c = d. Senão deixe c inalterado. r r Passo 4) O número c é côngruo a b módulo n, ou seja, c ≡ b (mod n) . Sejam c, d e Pi Percebemos que na etapa temos i do Passo 3, temos c ≡ br (mod n) . Exemplo. Encontremos a tal que a ≡ br (mod n) , c ≡ b0 sendo j=0 aj 2j (mod n) . b = 227, r = 106 e Assim, ao término do algoritmo, n = 451. Solução. Passando r = 106 para a base binária, temos: 106 = 1101010 = (0.20 + 1.21 + 0.22 + 1.23 + 0.24 + 1.25 + 1.26 ). Logo, k = 6, e a0 = 0, a1 = 1, a2 = 0, a3 = 1, a4 = 0, a5 = 1 a0 6= 1, b0 = 227. Passo 1) Como Passo 2) então e a6 = 1. Seguindo o algoritmo: c = 1. Passo 3) Para j = 1 b1 ≡ 2272 (mod 451) ⇒ b1 = 115 a0 ≡ 1, então d ≡ 1.115(mod 451) ⇒ ⇒ d = 115 ⇒ c = 115 Para j = 4 b4 ≡ 1192 (mod 451) ⇒ b4 = 180 a4 = 0 ⇒ c = 20 j=5 b5 ≡ ⇒ b5 = 379 a0 = 1 ⇒ d ≡ 20.379(mod 451) ⇒ ⇒ d = 364 ⇒ c = 364 Para Para j = 2 b2 ≡ 1152 (mod 451) ⇒ b2 = 146 a2 = 0 ⇒ c = 115 1802 (mod 451) Para j = 6 Para j = 3 b3 ≡ 1462 (mod 451) ⇒ b3 = 119 b6 ≡ 3792 (mod 451) ⇒ b6 = 223 a3 = 1, então d ≡ 115.119(mod 451) ⇒ a6 = 1 ⇒ d ≡ 364.223(mod 451) ⇒ d = 443 ⇒ c = 443 ⇒ d = 20 ⇒ c = 20 Passo 4) Logo, a ≡ br (mod n) ⇒ 443 ≡ 227106 (mod 451). Algoritmo da Exponenciação Outro algoritmo com a mesma nalidade do Algoritmo dos Quadrados Repetidos é o seguinte: Entrada: Saída: P inteiros tal que a, e e n, sendo a, n > 0 e e ≥ 0. ae ≡ P (mod n) , sendo P na forma Etapa 1: Comece com Etapa 2: Se Preliminares E=0 A = a, P = 1 e E = e; ae ≡ P (mod n). Caso então reduzida (0 ≤ P < n). contrário, siga para a Etapa 3; Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas E for ímpar, então atribua a P (E − 1) valor de e vá para a Etapa 5. Caso 2 Etapa 4: Se E for par, então, atribua a E o Etapa 3: Se Etapa 5: Substitua o valor atual de Final: a forma reduzida de A 27 o valor do resto da divisão de AP por n e atribua a E o contrário, vá para a Etapa 4; valor E 2 e siga para a Etapa 5; pelo resto da divisão de A2 por n e volte para a Etapa 2. ae (mod n) . Exemplo. a = 1521, e = 17 e n = 424. Etapa 1: A = 1521, P = 1 e E = 17. Etapa 2: E 6= 0. Etapa 3: E é ímpar. Façamos o resto Seja da divisão de AP por n . Temos 1521 = (424.3) + 249 ⇒ P = 249 e E= Etapa 5: 17 − 1 = 8. 2 (1521)2 = (424.5456) + 97 ⇒ A = 97. E 6= 0. Etapa 3: E é par. Passamos para 8 Etapa 4: E = = 4. 2 2 Etapa 5: (97) = (424.22) + 81. Logo, A = 81. Etapa 2: E 6= 0. Etapa 3: E é par. Passamos para 4 = 2. Etapa 4: E = 2 2 Etapa 5: (81) = (424.15) = 201. Logo, A = 201. Etapa 4. Etapa 2: Etapa 4. E 6= 0. E é par. Passamos para Etapa 2 Etapa 4: E = = 1. 2 2 Etapa 5: (201) = (424.95) = 121. Logo, A = 121. Etapa 2: Etapa 3: 6= 0. E é impar. 4. Etapa 2:E Etapa 3: Façamos o resto da divisão de AP por n. Temos (121.249) = 30129 = (424.71) + 25 ⇒ P = 25 e E= Etapa 5: (121)2 = (424.24) + 225 ⇒ A = 225. Etapa 2: E = 0 =⇒ 15212 ≡ 25 mod(424). Faculdade de Matemática 1−1 = 0. 2 Preliminares 28 FAMAT em Revista 3 Criptograa RSA 3.1 Pré-Codicação Para usarmos o método RSA, [1] números. Chamaremos essa etapa de e [4] , devemos converter uma mensagem em uma seqüência de pré-ciframento. Para efeito de exemplicação, tomemos a seguinte tabela de conversão no pré-ciframento: a 10 s 28 b 11 t 29 c 12 u 30 d 13 v 31 e 14 w 32 f 15 x 33 g 16 y 34 h 17 z 35 i 18 _ 36 j 19 0 37 k 20 1 38 l 21 2 39 m 22 3 40 n 23 4 41 o 24 5 42 p 25 6 43 q 26 7 44 r 27 8 45 9 46 Tabela 2 o O espaço entre palavras será substituído pelo n . 36. 1 Por exemplo, a frase Famat 2007 , é convertida no número 15102210293639373744 A vantagem de se utilizar 2 dígitos para representar uma letra reside no fato de que tal procedimento evita a ocorrência de ambigüidades. Por exemplo, se ab seria 12, mas l também seria Precisamos determinar RSA. Seja 12. a fosse convertido em Logo, não poderíamos concluir se 12 1 seria b em 2, ab ou l. e teríamos que 2 primos distintos, que denotaremos por p e q, que são denominados parâmetros n = pq, que é chamado de módulo RSA. A última etapa no pré-ciframento consiste em separar o número acima em blocos cujos valores sejam menores que n. A mensagem cuja conversão foi feita acima pode ser separada nos seguintes blocos: 15 − 10 − 22 − 10 − 29 − 36 − 39 − 37 − 37 − 44. A maneira de escolher os blocos não é única e não precisa ser homogênea (todos os blocos com o mesmo número de dígitos), mas devemos tomar alguns cuidados como, por exemplo, não começar um bloco com zero, pois isto traria problemas na hora de montar a seqüência recebida (o zero no início do bloco pode não aparecer!). 3.2 Ciframento e Deciframento Passemos ao processo de ciframento. Da subseção acima, temos n = pq com p e q primos. Tomemos Φ (n) = (p − 1) (q − 1) . Seja e < Φ (n) inteiro positivo inversível módulo Φ(n), ou seja, mdc (e, Φ(n)) = 1. expoente de ciframento. O par (n, e) é denominado chave pública de ciframento do sistema RSA. Esse número e é chamado de Agora, cifremos cada bloco obtido no pré-ciframento (subseção anterior). Após o ciframento, os blocos não poderão ser reunidos de modo que não possamos distinguí-los, pois isto tornaria impossível o deciframento da mensagem. 1 Faremos a conversão sem considerar acentos e letras maiúsculas. Criptograa RSA Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas O ciframento de um bloco b será denotado por C(b). 29 Temos que C(b) be é o resto da divisão de por n, isto é, C(b) ≡ be (mod n) . p = 29 e q = 67, então n = 1943. Logo, Φ(n) = 1848. Tomemos e = 701 (observemos que mdc (701, 1848) = 1). Assim, o último bloco, 44, da mensagem anterior é cifrado como o resto da 701 divisão de 44 por 1943. Convertendo 701 em binário e utilizando o método dos quadrados repetidos, Por exemplo, se temos 1317 ≡ 44701 (mod 1943) . Cifrando toda a mensagem, obtemos a seguinte seqüência de blocos: 595 − 155 − 1849 − 155 − 841 − 384 − 1344 − 1168 − 1168 − 1317. Para decifrar uma mensagem cifrada, precisamos de de d, n e do inverso de e módulo Φ(n), que chamaremos ou seja ed ≡ 1 (mod Φ (n)) . (n, d) é denominado chave privada de deciframento do sistema RSA. a = C (b) um bloco da mensagem cifrada, então D(a) será o resultado D(a) é o resto da divisão de ad por n, isto é, O par Seja que do deciframento. Temos D(a) ≡ ad (mod n) . Esperamos que, decifrando os blocos da mensagem cifrada, possamos encontrar a mensagem original, ou seja, D (C(b)) = b. O destinatário da mensagem não precisa, necessariamente, conhecer n decifrá-la; basta conhecer e d. É claro que para calcular d são necessários p e q, p e q para no entanto, o destinatário legítimo da mensagem não precisa conhecê-los. n = 1943 temos d = 29. No exemplo que estamos acompanhando, temos Usando o Algoritmo Euclidiano Estendido, Assim, para decifrar o bloco (utilizando, por exemplo, o 1317 e e = 701. recebido, devemos calcular o resto da divisão de Método dos Quadrados Repetidos ), ou seja, 44: 131729 por 1943 44 ≡ 131729 (mod 1943) . Logo, a seqüência decifrada será 15 − 10 − 22 − 10 − 29 − 36 − 39 − 37 − 37 − 44, que corresponde, via tabela de conversão, à frase Famat 2007. Observação. Pode ocorrer que no cálculo de um valor positivo de d d encontremos um valor negativo. No entanto, é sempre possível tomar utilizando o teorema da solução geral de uma equação diofantina. Vejamos um exemplo com p = 31 q = 47. e No ciframento: Φ (n) = (p − 1) (q − 1) = 30.46 = 1380 n = pq = 31.47 = 1457 Se tomarmos e = 1001 mdc(1001, 1380) = 1) e o primeiro bloco da mensagem anterior, 15, então o deciframento desta mensagem será o resto da divisão de 151001 1001 em um binário e utilizando o Método dos Quadrados Repetidos, temos: (pois temos cujo o número associado é por 1457. Convertendo C (b) ≡ 151001 (mod 1457) 1100 ≡ 151001 (mod 1457) Faculdade de Matemática Criptograa RSA 30 FAMAT em Revista No deciframento: O par então (n, d) é a chave privada da decodicação do sistema RSA. Seja a = C (a) a mensagem codicada, D(a) será o resultado da decodicação. Mas temos que D (a) é o resto da divisão de ad por n, ou seja: D (a) ≡ ad (mod n) . Calculemos o valor de d Algoritmo Euclidiano Estendido, a partir do pois: 1 = Φ (n) k − ed. Usando uma tabela: i −1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Restos Quocientes 1380 1001 379 243 136 107 29 20 9 2 1 0 ∗ ∗ 1 2 1 1 1 3 1 2 4 2 xi 1 0 1 −2 3 −5 8 −29 37 −103 449 yi 0 1 −1 3 −4 7 −11 40 −51 142 −619 Temos d = y9 = −619. Mas não nos interessa trabalhar com valores de d negativos, para isso temos o algoritmo derivado do teorema da solução geral de uma equação diofantina que encontra um valor positivo para d. Algoritmo para reverter valores de d negativos d normalmente. faça d = d + Φ(n)t, para t Etapa 1) Calcular o valor de Etapa 2) Se d < 0, então d = d. inteiro, de tal modo que d > 0. Etapa 3) Faça Logo, para o nosso exemplo anterior: d = −619 + 1380t, para t=1 d = 1380 − 619 ⇒ d = 761 ⇒ d = d = 761 d (positivo), então continua-se o deciframento usando o D (C (b)) = b e, para decifrar não é necessario conhecer os d. Assim, se n = 1457 e e = 1001, basta resolver a equação: Deste modo, após encontrar o novo valor de Algoritmo dos Quadrados Repetidos. valores de p e q, Como então basta conhecer n e D (a) ≡ 1100761 (mod 1457) no qual devemos obter 15 ≡ 1100761 (mod 1457) . No qual era o resultado esperado neste deciframento, que é a mensagem inicial. Criptograa RSA Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas 3.3 31 Demonstração da Funcionalidade do Sistema de Criptograa RSA C(b) é um inteiro e 1 ≤ b < n, então D (C(b)) = b. Na verdade, basta D (C(b)) ≡ b(mod n), pois tanto D (C(b)) quanto b estão no intervalo de 1 a n − 1. Logo, b e D (C (d)) só serão congruentes módulo n se forem iguais. Por isso, b deve ser menor que n e, mesmo Precisamos vericar que se que depois de cifrados, os blocos devem se manter separados. Por denição de D e C, temos: D (C(b)) ≡ (be )d ≡ bed (mod n). Como n = pq, vamos calcular bed (mod p) e bed (mod q) . O cálculo para os dois módulos é análogo; logo, façamos apenas um deles. bed (mod p) . inverso de e (mod Φ (n)), Vejamos o caso de Como d é o temos ed = 1 + kΦ(n) = 1 + k(p − 1)(q − 1). Daí, bed ≡ b(bp−1 )k(q−1) (mod p). Usemos o Pequeno Teorema de Fermat, mas para isto, temos que supor que p - b. Digamos que isto acontece, então bp−1 ≡ 1(mod p), ou seja, bed ≡ b(mod p). Analisando o caso em que p | b, temos que b ≡ 0(mod p). Logo, bed ≡ b(mod p) para qualquer valor de b. bed ≡ b(mod p), analogamente, podemos mostrar que bed ≡ b(mod q). Daí, temos que bed − b é divisível por p e q. Mas, como p e q são primos distintos, isto é, o mdc(p, q) = 1, temos que pq | bed − b . Portanto, como n = pq, concluímos que bed ≡ b(mod n) para qualquer inteiro b. Conclusão: D (C (b)) = b, como queríamos. Como 3.4 A Segurança do Sistema de Criptograa RSA O método RSA ciframento, o par ela. Por isso, o é de chave pública, sendo (n, e), p e q parâmetros do sistema e n = pq. A chave de é a chave pública do sistema. Assim sendo, todos os usuários terão acesso a RSA só será seguro se for difícil de encontrar d a partir de n e e. d, utilizamos Φ(n) e e, mas para obtermos Φ(n), devemos ter p e q, que é a fatoração n. Logo, para quebrar a cifra, devemos conseguir fatorar n, que é um problema extremamente difícil se n for grande. Uma observação interessante é que, se acaso conhecermos Φ (n) , saberemos quem são p e q. De fato: Para encontrar de Φ(n) = (p − 1)(q − 1) = pq − (p + q) + 1 = n − (p + q) + 1 ⇒ p + q = n − Φ(n) + 1. Mas: (p + q)2 − 4n = (p2 + q 2 + 2pq) − 4pq = (p − q)2 ⇒ p p p − q = (p + q)2 − 4n = (n − Φ(n) + 1)2 − 4n Tendo p+q e p − q, obtemos p e q facilmente, tendo assim fatorado Finalmente, a possibilidade de achar mente impossível se equivalentes. n é grande. b, a partir de C (b) ≡ be (mod n) Na verdade, acredita-se que quebrar o No entanto, devemos tomar alguns cuidados, pois se fácil encontrá-los. Ou se, mesmos grandes, utilizando o Algoritmo de Fermat. Faculdade de Matemática n. |p − q| p sem tentar achar d, é pratica- RSA e fatorar n são problemas e q forem pequenos, se torna for pequeno se torna fácil achá-los a partir de n, Criptograa RSA 32 FAMAT em Revista 4 Assinaturas Digitais Uma das aplicações da criptograa são as assinaturas digitais, que possuem um importante papel nas transações bancárias, obtendo assim uma maior segurança, tanto para o cliente, quanto para o banco. Suponhamos que uma empresa realiza transações bancárias por computador. empresa quanto o banco queiram que a mensagem seja cifrada. Mas, como o É óbvio que tanto a RSA é um sistema de criptograa de chave pública, qualquer pessoa poderia enviar uma mensagem para fazer transações bancárias utilizando esse sistema. Por isso, é necessário que a mensagem esteja assinada eletronicamente. Vejamos como mandar uma assinatura pelo deciframento da empresa e Cb e Db RSA. Chamemos de Ce e De as funções de ciframento e as mesmas funções, só que do banco. a um bloco de mensagem que a empresa vai enviar ao banco, o ciframento desse bloco seria Cb (a). Cb (De (a)). Usamos primeiro a função deciframento da empresa ao bloco a e, depois, cifremos o bloco, usando a função ciframento do banco. O banco, ao receber a mensagem Cb (De (a)), aplica a sua função de deciframento, obtendo De (a), e, na seqüência, aplica a função ciframento da empresa, que é pública, para obter o bloco original a. Somente a empresa conhece a função De . Portanto, se a mensagem zer sentido, tem que ter tido origem na empresa, uma vez que a probabilidade de uma pessoa, sem conhecer De , mandar uma Sendo Para que a mensagem vá assinada, ela deve ser mensagem que faça sentido, após ser decifrada pelo banco, é praticamente nula. Assim, o banco pode estar seguro de que a mensagem é verdadeira. 5 Senhas Segmentadas Suponhamos que para abrir o cofre de um determinado banco é necessário conhecer a senha que é um número s. Queremos partir a senha s entre n funcionários do banco. A cada funcionário do banco s, que forma um conjunto S de n pares k ≤ n, previamente escolhido temos: vai ser dado um elemento, alguns dígitos da senha positivos, de modo que, para um inteiro positivo (i) qualquer subconjunto de (ii) L de n limiar k k elementos permite determinar s conhecendo menos de k s. elementos de S, vamos ter utilizar o Teorema do Resto Chinês. L e M o produto dos k−1 maiores números de L. S. Comecemos escolhendo inteiros positivos, dois a dois primos entre si. Determinemos menores números de tem com é extremamente difícil determinar Para construirmos o conjunto um conjunto S de inteiros N, o produto dos k Denimos que este conjunto quando N < s < M. k ou mais elementos de é sempre maior que N k elementos é sempre menor que M. O conjunto S será formado pelos pares da forma (m, sm ) sendo m ∈ L e sm a forma reduzida de s (mod m) . O fato de termos um conjunto com limiar k > 1 implica que s > m, para qualquer m ∈ L. Suponhamos que mais de k funcionários se encontram no banco. Isto é igual a dizer que são conhecidos t dentre os pares de S, onde t ≥ k. Sejam esses pares (m1 , sm1 ) , (m2 , sm2 ) , (m3 , sm3 ) , ..., (mt , smt ) . Observemos que esta condição implica que o produto de e o produto de menos de Vamos resolver o sistema de congruências: x ≡ sm1 (mod m1 ) x ≡ sm2 (mod m2 ) x ≡ sm3 (mod m3 ) . . . x ≡ smr (mod mr ) Assinaturas Digitais Universidade Federal de Uberlândia Criptograa, assinaturas digitais e senhas segmentadas obtendo x0 como solução. De acordo com o 33 Teorema do Resto Chinês, x0 = s(mod m1 m2 . . . mt ). Sabe-se que, como t ≥ k, m1 m2 . . . mt ≥ N > s. Então, o sistema acima tem única solução menor que sistema e s < m1 m2 . . . mt , temos m1 m2 . . . mt . também é solução do módulos de mas não pode ser igual a s. é sempre menor que s. t < k. O problema é que o produto s, s fazendo uma busca. De fato, sabemos que M < s < N e que s satisfaz o sistema anterior, com t < k. Se acharmos uma das soluções x0 do sistema, como x0 < M < s, não encontramos s. Porém, o sistema será satisfeito por s, logo: de menos de L s s = x0 . Mas não é impossível resolver um sistema para o caso em que k Como Assim, a solução do sistema é congruente a Mas será possível encontrar s = x0 + y (m1 m2 . . . mt ) , sendo y um inteiro positivo. Como: N > s > M > x0 , temos M − x0 s − x0 N − x0 ≤ ≤ . m1 m2 . . . mt m1 m2 . . . mt m1 m2 . . . mt Isto equivale a dizer que precisamos fazer uma busca para acharmos o valor correto de y entre, pelo menos, N −M d= m1 m2 . . . mt inteiros. Escolhendo os módulos de modo que encontrar s d seja muito grande, ca praticamente impossível por meio de uma busca. Porém, é sempre possível escolher um conjunto L satisfazendo a todas estas condições. Na verdade os dados iniciais do problema são o número total de funcionários do banco e o número mínimo de funcionários que têm que estar presentes para que o cofre possa ser aberto, isto determina, respectivamente, a quantidade de elementos do conjnto lhemos um conjunto de L de limiar K. de maneira aleatória no entervalo entre calcular S, L Com isto podemos calcular M e N. k de L. Com estes dados, escoM e N como acima, escolhendo s e o limiar Deste modo, teremos todos os dados necessários para que nos informa as senhas a serem distribuídas. A segurança do sistema se baseia no valor de k. Quanto mais alto o valor de k, melhor. Signica que a senha será compartilhada por uma quantidade maior de funcionários do banco, o que torna mais seguro a segurança do sistema, pois teremos mais funcionários de prova para abrir o cofre do banco. Vamos ver um exemplo disso: suponha que no banco existam ao cofre seja necessário, no mínimo, e o limiar deve ser 2. Fazendo L: 2 7 funcionários e que para se ter acesso desses funcionários. Logo, o conjunto L deve ter 7 elementos uma escolha, usando apenas primos pequenos, deteminaremos uma possível escolha para L = {11, 13, 17, 19, 23, 29, 31} . k −1 maiores elementos de L. Como k = 2, temos que M é igual ao maior elemento de L, ou seja, M = 31. O valor de s pode ser escolhido como sendo qualquer inteiro no intervalo que vai de 31 à 143. Digamos que s = 42. Então: O produto dos dois menores inteiros no conjunto é N = 11.13 = 143 e M é o produto dos S = {(11, 31) , (13, 29) , (19, 23) , (23, 19) , (29, 13) , (31, 11) , (37, 5)} . Faculdade de Matemática Senhas Segmentadas 34 FAMAT em Revista Imaginemos que os 2 funcionários que estejam no banco, cuja senha seja (29, 13) e (11, 31) , queiram abrir o cofre. Para isto é necessário resolver o sistema: A solução do sistema é determinamos s, x = 42 + 319k, x ≡ 13(mod 29) . x ≡ 31(mod 11) sendo k um inteiro positivo. Isto é, x ≡ 42 (mod 319) . Assim, que é o valor correto. 6 Discussão e Conclusões Os modernos sistemas de criptograa consistem da principal aplicação de Teoria dos Números, mais especicamente, congruências e números primos. O estudo de números primos é quase tão antigo quanto a própria matemática e teve origem com os antigos gregos. Não obstante, seu estudo ainda é extremamente ativo nos dias atuais, principalmente com o uso de recursos computacionais, e muita pesquisa tem sido desenvolvida por brilhantes matemáticos. O fato da segurança de todo sistema de troca de informações sigilosas estar baseado na diculdade em se fatorar um número composto é, no mínimo, curioso, uma vez que o conceito de fatoração em números primos é algo do conhecimento geral de qualquer estudante de ensino fundamental. Mais curioso ainda é o fato de, mesmo com todo recurso tecnológico e computacional disponível, não existir um algoritmo de fatoração de números compostos grandes que seja pelo menos semi-eciente. A história do ciframento e deciframento da mensagens é, assim como o estudo de números primos, bastante antiga e, sempre houve momentos em que os criadores de crifras estavam à frente dos quebradores de cifras e vice-versa. Mesmo em épocas recentes, como na Segunda Guerra Mundial, temos exemplos de cifras que foram quebradas, mento da Criptograa RSA [7] . No entanto, a partir da década de 1970, com o surgi- e dos diversos sistemas criptográcos dele derivados ou nele inspirados, os cifradores estão à frente dos quebradores de cifras. Referências Bibliográcas [1] Coutinho, S. C. Números Inteiros e Criptograa RSA. Rio de Janeiro, RJ: IMPA - SBM. Série de Computação e Matemática. 1997. Domingues, H. H. Álgebra Moderna. [3] Domingues, H. H. Fundamentos de Aritmética. [4] Mollin, R. A. An Introduction to Cryptography. [5] Rivest, M,; Shamir, A. & Adleman, L. [2] São Paulo, SP: Atual Editora. 1982. São Paulo, SP: Atual Editora. 1991. New York: Chapman & Hall. 2001. A method for obtaining digital signatures and public- key cryptosystems. [6] Comm. ACM, 21 (1978), 120-126. Santos, J. P. O. Introdução à Teoria dos Números. Rio de Janeiro, RJ: Publicação do Inst. de Mat. Pura e Aplicada (IMPA). Coleção Matemática Universitária. 1998. [7] Singh, S. O Livro dos Códigos Senhas Segmentadas . Rio de Janeiro: Editora Record. 2001. Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento Adriele Giareta Biase Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Graduanda em Matemática - PROMAT adrielegbiase@ yahoo. com. br Edson Agustini Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Associado I agustini@ ufu. br Resumo: Nesse trabalho apresentamos um estudo de dois dos sistemas criptográcos mais comuns em sistemas de comunicações: os sistemas ElGamal e Rabin, derivados do sistema criptográco RSA. Também apresentamos algumas técnicas de ciframento, como Criframento de Vigenère, Substituição de Hill, Sistema Merkle-Hellman (MH), Sistema de Rotores e Data Encryption Standard (DES). Para o desenvolvimento desses sistemas criptográcos, introduzimos alguns preliminares de Teoria dos Números, mais precisamente, algoritmos envolvendo números primos e congruências. Procuramos trabalhar com vários exemplos ilustrativos de cada técnica apresentada, com o objetivo de tornar o texto mais compreensivo. Por m, algumas conclusões são apresentadas. 1 Introdução Este trabalho é uma extensão do texto Criptograa, Assinaturas Digitais e Senhas Segmentadas , (1), no qual foi destacada a necessidade moderna de se proteger informações, por meio de criptograa, de modo que alguém indesejável não tenha acesso ao seu conteúdo. O método mais conhecido de criptograa é o chamado RSA (Rivest, Shamir, Adleman) (7) e seus derivados, como o ElGamal e o Rabin (6), aos quais daremos ênfase nesse trabalho. Além desses, há o método D.E.S. - Data Encryption Standard, (10) e (5), também abordado nesse trabalho. O texto está dividido em três partes do seguinte modo: - Preliminares: são alguns resultados de Teoria dos Números, em complemento aos resultados apre- sentados em (1), que são interessantes para o desenvolvimento das seções subseqüentes. Técnicas de Ciframento: onde apresentamos algumas das principais técnicas de ciframento, como a Substituição de Hill, Ciframento de Vigenère, Sistema de Rotores e o Método MH. - Criptograas: (duas seções) onde apresentamos a Criptograa ElGamal, Criptograa Rabin e a Criptograa D.E.S. - 2 Preliminares Os teoremas e as proposições apresentados nessa seção são básicos e suas demonstrações podem ser encontradas em livros introdutórios de Teoria dos Números como, por exemplo, (2) e (4). 36 FAMAT em Revista 2.1 O Pequeno Teorema de Fermat Um resultado bastante útil durante os procedimentos de criptograa e deciframento de mensagens é o teorema enuciado abaixo. Pequeno Teorema de Fermat. então: Se p > 1 é primo e a é um inteiro positivo não divisível por p, ap−1 ≡ 1(mod p). Demonstração. Seja a seqüência de números inteiros positivos entre 1 até p − 1: 1, 2, 3, 4, 5, ..., p − 1. a (mod p), obtem-se R = {x1 , ..., xp−1 } um conjunto xi 6= 0; i = 1, ..., p = 1. Além disso, x1 , x2 , ..., xp−1 são todos distintos. De fato, suponhamos que xi ≡ ia (mod p) e xj ≡ ja (mod p) são tais que xi = xj e i 6= j. Então, ia ≡ ja (mod p) , ou seja, i ≡ j (mod p) . Como 1 ≤ i, j ≤ p − 1, teremos i = j , uma Multiplicando-se cada número dessa seqüência por de resíduos módulo p. Como p não divide a, temos contradição. Portanto, o conjunto R é formado pelo conjunto de inteiros {1, 2, 3, ...p − 1} em alguma ordem. Mul- tiplicando todas essas congrüências encontramos: 1a.2a.3a... (p − 1) a ≡ [1.2.3... (p − 1)] (mod p) ⇒ ap−1 (p − 1)! ≡ (p − 1)! (mod p) . Como (p − 1)! é relativamente primo com p, ap−1 ≡ 1 (mod p) , como queríamos. Observação. ap ≡ a (mod p) é válida quando a é divisível pelo primo p. mdc (a, p) 6= 1 e, como p é primo, então a = bp para algum inteiro A congruência De fato, se positivo b. Logo, ap − a = bp pp − bp = bp pp−1 − b p = kp, ou seja, p divide ap − a, que é equivalente a ap − a ≡ 0 (mod p) , que signica ap ≡ a (mod p) . Exemplo 1: Tomando a = 13 e p = 17 temos: 132 = 169 ≡ 16 (mod 17) 134 = 132 .132 ≡ 16.16 ≡ 256 ≡ 1 (mod 17) Tomando p=3 e a=6 138 = 134 .134 ≡ 1.1 ≡ 1 (mod 17) 1316 = 138 .138 ≡ 1.1 ≡ 1 (mod 17) . temos: ap = 63 = 216 ≡ 6 (mod 3) ≡ a(mod p). Preliminares Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento 2.2 37 O Teorema de Euler Outro resultado interessante para ciframento e deciframento em criptograa é o Teorema de Euler. A Função φ de Euler Para que possamos estudar o Teorema de Euler é preciso recorrer a alguns pré-requisitos importantes na Teoria dos Números, como a Função φ de Euler, denotada por número de inteiros positivos menores do que φ(1) = 1, pois φ(1) Exemplo 2: Seja e que são relativamente primos com não tem signicado, mas é denido para que tenha valor n = 25. 25 relativamente 21, 22, 23 e 24. do que e denida como o n. Por convenção, 1. φ(25) = 20, pois existem vinte números inteiros positivos menores com 25. São eles: 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 19, Temos primos Observemos que para todo número primo Teorema. n φ (n) , n ∈ N, p, temos φ(p) = p − 1. Seja dois números primos p e q , com p 6= q. Então, para n = pq, temos φ(n) = φ(pq) = φ(p)φ(q) = (p − 1) (q − 1) . Demonstração. φ(n) = φ(p)φ(q) consideremos todos {1, 2, 3, ..., (pq − 1)} . Os inteiros desse Para mostrar que os números inteiros positivos menores que que é o conjunto conjunto que são relativamente primos com n, n são dados pelos conjuntos: {p, 2p, 3p, ..., (q − 1) p} e {q, 2q, 3q, ..., (p − 1) q} . Assim, φ(n) = (pq − 1) − [(q − 1) + (p − 1)] = pq − 1 − q + 1 − p + 1 = pq − (q + p) + 1 = (p − 1) (q − 1) = φ(p)φ(q), como queríamos. Teorema de Euler. Se mdc(a, n) = 1, então aφ(n) ≡ 1 (mod n) . Demonstração. Considere o conjunto dos números inteiros positivos menores do que com n, n que são relativamente primos que denotamos por X = x1 , x2 , x3 , ..., xφ(n) . Deste modo, mdc(xi , n) = 1, para i = 1, ..., φ (n) .Mutiplicando cada elemento por a (mod n) , temos o conjunto P = ax1 (mod n) , ax2 (mod n) , ax3 (mod n) , ..., axφ(n) (mod n) . P são inteiros distintos, relativamente primos com n e menores do que n. De axi (mod n) é o resto da divisão de axi por n, portanto, axi (mod n) é menor do que n. Além disso, mdc (xi , n) = 1 signica que xi e n não possuem fatores (6= 1) em comum. Do mesmo modo, como mdc (a, n) = 1, então a e n não possuem fatores (6= 1) em comum. Deste modo, axi e n não possuem Todos os elementos de fato, Faculdade de Matemática Preliminares 38 FAMAT em Revista fatores em comum. Quanto ao fato de serem distintos, temos que se i 6= j, então axi ≡ axj (mod n) , axi (mod n) = axj (mod n) com o que implica xi ≡ xj (mod n) , o que não é possível pois xi 6= xj e xi , xj < n. Desta forma, x1 , ..., xφ(n) e ax1 (mod n) , ax2 (mod n) , ax3 (mod n) , ..., axφ(n) (mod n) representam o conjunto de todos os inteiros menores do que n e que são relativamente primos com n. Assim, temos a igualdade entre esses conjuntos e, portanto, φ(n) Q xi = i=1 i=1 φ(n) Q φ(n) Q axi ≡ φ(n) Q aφ(n) ! xi (mod n) ⇒ xi i=1 i=1 φ(n) Q (axi (mod n)) ⇒ ! ≡ φ(n) Q ! (mod n) ⇒ xi i=1 i=1 aφ(n) ≡ 1 (mod n) , como queríamos. Observação. A congruência aφ(n)+1 ≡ a (mod n) é válida independente de temos a = p1 p2 ...pk . a ser relativamente primo com n. De fato, decompondo a em fatores primos Logo, pelo Teorema de Euler: φ(n) φ(n)+1 p1 ≡ 1 (mod n) ⇒ p1 ≡ p1 (mod n) pφ(n) ≡ 1 (mod n) ⇒ pφ(n)+1 ≡ p (mod n) 2 2 2 ⇒ . . . φ(n) φ(n)+1 pk ≡ 1 (mod n) ⇒ pk ≡ pk (mod n) φ(n)+1 φ(n)+1 φ(n)+1 p2 ...pk φ(n)+1 p1 a Exemplo 3: Sejam a=5 e n = 12. Temos ≡ p1 p2 ...pk (mod n) ⇒ ≡ a (mod n) . φ (12) = 4 e, portanto, aφ(n) = 54 = 625 ≡ 1(mod 12) = 1 (mod n) . Sejam a=4 e n = 15. Temos φ (15) = 8 e, portanto, aφ(n) = 48 ≡ 1(mod 15) = 1 (mod n) . Preliminares Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento 2.3 39 O Algoritmo de Miller-Rabin Não existe um método eciente para determinar se um número é primo ou composto. Dentre os algoritmos que auxiliam nessa questão, existe o chamado Algoritmo de Miller-Rabin. Esse algoritmo é usado para testar se um número grande é primo. Para apresentar o algoritmo é necessário lembrar que todo número ímpar maior do que ou igual a 3 pode ser escrito na forma n = 2k q + 1, com k>0 e q ímpar, sendo, portanto, (n − 1) par. Além disso, mais duas proposições sobre números primos são necessárias. Proposição 1. Se p é primo e a é um inteiro positivo, então a2 ≡ 1 (mod p) se, e somente se, a ≡ 1 (mod p) ou a ≡ −1 (mod p) . Demonstração. (⇒) Como 1 ≡ a2 (mod p), então p | a2 − 1 ⇒ p | (a − 1) (a + 1) ⇒ p | (a − 1) (⇐) Se 1 ≡ a (mod p) , ou p | (a + 1) ⇒ a ≡ 1 (mod p) ou a ≡ −1 (mod p) . então 1.1 ≡ a.a (mod p) ⇒ 1 ≡ a2 (mod p) . Se −1 ≡ a (mod p) , então (−1) (−1) ≡ a.a (mod p) ⇒ 1 ≡ a2 (mod p) , como queríamos. p > 2 um número primo e a um número inteiro tal p − 1 = 2k q com q ímpar ocorre uma das duas possibilidades: (i) aq ≡ 1 (mod p) ; ou m (ii) Existe algum inteiro j, 0 ≤ m < k, tal que a2 q ≡ −1 (mod p) . Proposição 2. Sejam que 1 < a < p − 1. Então, escrevendo Demonstração. Suponhamos que o item (i) não ocorra. Pelo Pequeno Teorema de Fermat, ap−1 ≡ 1 (mod p) . Mas, p − 1 = 2k q. Logo, ap−1 (mod p) = a2 k q (mod p) ≡ 1. Assim, analisando a seqüência de números aq (mod p) , a2q (mod p) , a4q (mod p) , ..., a2 k−1 q k (mod p) , a2 q (mod p) (1) (1) tem o valor 1. Como cada número na seqüência (1) é o quadrado do número anterior, e o item (i) não ocorre, então o primeiro número da lista não é 1. pode-se concluir que o último número da seqüência Faculdade de Matemática Preliminares 40 FAMAT em Revista m a2 Seja o menor q , Pela Proposição 1, 0 ≤ m < k, tal 2m q a (mod p) ≡ −1. com m a2 que q 2 (mod p) ≡ 1, (na pior das hipóteses, m = k − 1). (ii) ocorrer: como a (mod p) < p; j = 0, ..., k; e p − 1 é o único inteiro positivo menor do que p tal que (p − 1) ≡ j −1 (mod p) , então p − 1 = a2 q (mod p) , ou seja, na seqüência (1) existe um elemento igual a p − 1. A demonstração da Proposição 2 ainda fornece uma informação preciosa no caso do item 2j q As considerações feitas acima leva à seguinte situação acerca da Proposição 2: Conclusão: q 2q a , a , ..., a for primo, então ou o primeiro elemento da lista de resíduos 2(k−1) q 2k q ,a (mod n) ; se n com k n − 1 = 2 q; é igual a 1, ou algum elemento da lista é igual a n − 1. Caso a tese não ocorra, não ocorre também a hipótese, ou seja, n é composto (contrapositiva da Proposição 2). Esse é, essencialmente, o Algoritmo de Miller-Rabin que descrevemos abaixo. Convém ressaltar que a tese pode ocorrer sem que a hipótese da Proposição 2 ocorra, pois um número pode ser composto e cumprir a tese, como no exemplo abaixo. Exemplo 4: Para n = 2047 temos n − 1 = 21 . (1023) , ou seja, k=1 e q = 1023. Tomando a=2 temos 21023 (mod 2047) ≡ 1, aq (mod n) ≡ 1. Assim, o composto, pois 2047 = (23) . (84) . ou seja, número 2047 cumpre a tese da Proposição 2, mas é um número Algoritmo de Miller-Rabin n > 2 um inteiro positivo ímpar. 1a Etapa ) Escolha inteiros k e q, com q ímpar, de modo que (n − 1) = 2k q; 2a Etapa) Escolha um inteiro aleatório a, de modo que pertença ao intervalo 1 < a < n − 1; 3a Etapa) Se aq (mod n) ≡ 1, então escreva INCONCLUSIVO (isto é, não se pode armar se n é primo Seja ou composto); 4a Se j = 0 até k − 1 faça: (mod n) ≡ n − 1, então escreva Etapa) Para 2j q a INCONCLUSIVO. Caso contrário, escreva COMPOSTO. 3 Criptograas Conforme introduzido em (1), para criptografar devemos converter uma mensagem em uma seqüência de números. Para efeito de exemplicação, tomemos a seguinte tabela de conversão: a 10 s 28 b 11 t 29 c 12 u 30 d 13 v 31 e 14 w 32 f 15 x 33 g 16 y 34 h 17 z 35 i 18 _ j 19 0 37 36 k 20 1 38 l 21 2 39 m 22 3 40 n 23 4 41 o 24 5 42 p 25 6 43 q 26 7 44 r 27 8 45 9 46 Tabela 1 o O espaço entre palavras será substituído pelo n . 36. As conversões do texto a ser cifrado será feito sem considerar acentos e letras maiúscula. A vantagem de se utilizar 2 dígitos para representar uma letra reside no fato de que tal procedimento evita a ocorrência de ambigüidades. Por exemplo, se fosse convertido em concluir se 12 Preliminares seria a 1 e b em 2, teríamos que ab seria 12, mas l também seria 12. Logo, não poderíamos ab ou l. Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento 3.1 41 A Criptograa Rabin À semelhança da criptograa RSA, temos que determinar duas chaves para a criptograa Rabin: uma pública e outra privada. Geração das Chaves na Criptograa Rabin Na geração das chaves pública e privada da Criptograa Rabin, temos que: Escolher dois números primos p e q distintos e grandes de maneira que p seja próximo de q e p ≡ q ≡ 3 (mod 4) . Calcular n = pq. A chave pública (número que deve ser divulgado para o emissor que são mantidos em sigilo pelo receptor B) é A) é n e a chave privada (números (p, q). Etapa de Ciframento Nesta etapa o emissor A deverá: Obter a chave pública Converter as letras, números e símbolos da mensagem em números supondo n > 46, n do receptor B. m entre 0 e n − 1. (exemplo: a Tabela 1 pode ser utilizada) Para cada número Enviar a mensagem cifrada composta pelos números m, obtido nas conversões acima, calcular c c ≡ m2 (mod n) . dos cálculos acima para o receptor B. Etapa de Deciframento Uma vez que o receptor B recebe a mensagem cifrada composta pelos números Encontrar as quatro raízes quadradas O número O receptor B m, mj com na mensagem original, é um dos j = 1, 2, 3, 4 de c módulo c, então ele deverá: n. mj . deve determinar qual das quatro possibilidades para os mj mensagem é um texto literário, então a tarefa é fácil, pois apenas um dos é a mensagem enviada. Se a mj fará sentido. Entretanto, se o texto não for composto por palavras de um idioma, como por exemplo, uma seqüência aleatória de números e letras, então pode não ser tão fácil determinar o mj correto. Uma maneira para superar este problema é acrescentar redundâncias binárias na mensagem original convertida para a base binária. Para isto, basta repetir uma quantidade xa de dígitos no nal da mensagem. Assim, o mj correto irá reproduzir essas redundâncias, enquanto que é altamente improvável que uma das três outras raízes quadradas mj venha a reproduzir essas redundâncias. Portanto, o receptor B pode escolher corretamente a mensagem enviada. A demonstração da funcionalidade da Criptograa Rabin pode ser encontrada em (6). Antes de apresentarmos um exemplo, enunciaremos a proposição que fornece as quatro raízes quadradas de a módulo Proposição 3. n = pq, Seja para certos a∈N Faculdade de Matemática p e q, utilizadas na etapa de deciframento. e a ≡ z 2 (mod pq) Criptograas 42 FAMAT em Revista sendo p e q primos e p ≡ q ≡ 3 (mod 4) , então existe somente quatro raízes quadradas de z = ±xpa sendo que x, y ∈ Z, q+1 4 + yq p+1 4 a e módulo pq e elas são dadas a seguir: z = ±xpa q+1 4 − yq p+1 4 podem ser obtidos pelo Algoritmo de Euclides Estendido de modo que xp + yq = 1. Exemplo 5: Seja F AM AT _2008 a mensagem a ser cifrada, tomemos p = 179, q = 43 7697. Então, n é a chave pública e (179, 43) é a chave privada. Vamos criptografar a F AM AT . Se utilizarmos a Tabela 1, M corresponde ao m = 22. Representando 22 na base binária: e n = pq = M da letra 0.20 + 1.21 + 1.22 + 0.23 + 1.24 , então m = 10110. Vamos introduzir redundâncias repetindo os quatro últimos digitos, ou seja, temos m0 = 101100110, que equivale ao 358 em decimal. Então: 2 c ≡ (m0 ) (mod 7697) ⇒ c ≡ 128164 (mod 7697) ⇒ c = 5012 e c é enviado ao receptor. c = 5012 módulo 7697. encontramos x e y de modo que: Para decifrar, precisamos de encontrar as quatros raízes quadradas de zando a Proposição 3, pelo Algoritmo de Euclides Estendido Utili- xp + yq = 1, que, neste caso corresponde a: (−6) (179) + (25) (43) = 1, x = −6 e y = 25. c = 5012, temos ou seja, Como m1 ≡ −1074.501211 + 1075.501245 (mod 7697) m2 ≡ − −1074.501211 + 1075.501245 (mod 7697) m3 ≡ 1074.501211 − 1075.501245 (mod 7697) m4 ≡ − 1074.501211 − 1075.501245 (mod 7697) Usando o Método dos Quadrados Repetidos (ver (1)), segue que: 358 ≡ 501211 (mod 7697) 537 ≡ 501245 (mod 7697) . Logo, m1 ≡ (−1074.358 + 1075.537) ≡ 358 (mod 7697) m2 ≡ −358 ≡ 7339 (mod 7339) m3 ≡ (1074.358 − 1075.537) ≡ 7339 (mod 7697) m4 ≡ −7339 ≡ 358 (mod 7697) Criptograas Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento 43 ou seja, m1 = m4 = 358 m2 = m3 = 7339. e Suas representações binárias são: m2 = m3 = 1110010101011 Logo, duas raízes apresentaram redundâncias: m1 = m4 = 101100110. e m1 e m4 . Mas m1 = m4 e, tirando as redundâncias dessas raízes e passando para a base decimal, voltamos para a mensagem original, ou seja, o número 22 que corresponde à letra 3.2 M. A Criptograa ElGamal A Geração de Chaves na Criptograa ElGamal Na geração das chaves da Criptograa ElGamal, temos que: Escolher um número primo grande Selecionar ao acaso um número natural A chave pública é (p, α, αa ) p e um gerador a<p−1 e a chave privada é α do grupo multiplicativo e calcular Z∗p . αa (mod p) . a. Etapa de Ciframento Nesta etapa o emissor A deverá: Obter a chave pública (p, α, αa ) de B. Converter as letras, números e símbolos da mensagem um números supondo p > 46, Escolher ao acaso um número natural Para cada m b, tal que entre 0 e p − 1. (exemplo: b < p − 1. obtido acima, calcular β ≡ αb (mod p) m a Tabela 1 pode ser utilizada) Enviar o ciframento c = (β, γ) de m para e b γ ≡ m (αa ) (mod p) B. Etapa de Deciframento Uma vez que o receptor B recebe a mensagem cifrada c, então deverá: Usar a chave privada para calcular β p−1−a (mod p) . Decifrar Temos m calculando β −a γ (mod p) . β −a γ ≡ α−ab mαab ≡ m (mod p) devido ao Teorema de Fermat. Faculdade de Matemática Criptograas 44 FAMAT em Revista A demonstração da funcionalidade da Criptograa ElGamal pode ser encontrada em (6). Exemplo 6: Seja a frase F AM AT _2008. Tomemos p = ∗ Z1999 . O destinatário B escolhe a chave privada a = 117. 1999 e escolhamos um gerador M b = 503. Usando a Criptograa ElGamal vamos fazer o ciframento e deciframento da letra que corresponde a m = 22 na Tabela 1. A, deve calcular Suponha que o emissor A escolha α=7 de da mensagem, Para cifrar o emissor αa (mod p) = 7117 (mod 1999) . Usando o Algoritmo dos Quadrados Repetidos, encontramos αa = 54. Depois calculamos β ≡ αb (mod p) = 7503 (mod 1999) . Usando o Algoritmo dos Quadrados Repetidos, encontramos β = 300. Em seguida calculamos b γ ≡ m (αa ) (mod p) = 22 (54) 503 (mod 1999) . Usando também o Algoritmo dos Quadrados Repetidos, encontramos Logo, A envia Para decifrar, (β, γ) = (300, 77) B para γ = 77. B. deve: Calcular β p−1−a = 3001999−1−117 (mod 1999) = 3001881 (mod 1999) . Usando o Algoritmo dos Quadrados Repetidos, encontramos Finalmente, B calcula m, β p−1−a = 857. de modo que: m = β −a γ ≡ 857 × 77 (mod 1999) . Ao resolver a congruência acima, encontramos m = 22, o que corresponde à letra M da mensagem inicial enviada. 4 Algumas Técnicas de Ciframento Alguns algoritmos de ciframento fazem uso de três técnicas: transposições, substituições e ciframentos compostos. Transposições Essa técnica de ciframento consiste simplesmente em uma mudança nas letras da mensagem a ser enviada, de acordo com um critério xo estabelecido. Exemplo 7: Suponha que a mensagem seja dividida em blocos de 5 letras e que, em cada um desses blocos, as letras sejam misturadas de acordo com uma permutação, previamente estabelecida. Suponha que esta permutação seja dada por: σ= 1 2 3 4 5 3 1 4 2 5 . Temos então: Texto: F AM AT _2008. Texto dividido em blocos de Texto cifrado: Criptograas M F AAT 5 letras: F AM AT 0_028. _2008. Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento 45 Esse tipo de técnica de ciframento não é aconselhavél, pois a frequência das letras apresentadas no texto cifrado é igual à freqüência das letras do texto original. Quanto menor o bloco mais fácil de descobrir o ordenamento quebrando esse sistema de ciframento. Substituições Nessa técnica de ciframento ocorre apenas a substituição dos símbolos do texto original por outros (ou por números, de acordo com um algoritmo ou uma tabela como, por exemplo, a Tabela 1) mantendo a posição dos símbolos do texto original. A substituição pode ser monoafabética ou polialfabética. No primeiro caso, símbolos iguais da mensagem original são sempre substituídos por um mesmo símbolo. Por exemplo, toda letra substituída pela letra T. dos por símbolos diferentes. Por exemplo, uma letra outra letra A A é sempre No segundo caso, símbolos iguais da mensagem original podem ser substituí- A da mensagem é substituída pela letra da mesma mensagem é substituída pela letra Z e uma J. Substituições monoalfabéticas não são técnicas muito ecientes, pois textos literários cifrados com essa técnica podem ser facilmente decifrados. Isso se deve ao fato de que a freqüencia média com que cada letra é usada em uma língua é mais ou menos constante. Por exemplo, na língua portuguesa, as vogais são mais usadas que as consoantes sendo que a vogal a aparece com mais freqüência. Temos ainda que, quando se tem monossílabo no texto, a probalilidade de ser vogal é maior. consoantes s Exemplo 8: e m (i) Por m, as aparecem com mais frenqüência. Substituindo símbolos por números. Tomemos o texto F AM AT _2008. Utilizando a Tabela 1, temos o texto cifrado 15 10 22 10 29 36 39 37 37 45. (ii) O Ciframento de César: Substituindo símbolo por símbolo. O Ciframento de César de ordem k é uma substituição monoalfabética que consiste em trocar um símbolo da mensagem original pelo símbolo que está k posições depois do símbolo que se deseja trocar. Por exemplo, se k = 2, então F AM AT _2008 é substituída por HCOCV 1422A. A ordem com que as letras são posicionadas é a usual, ou seja: ABCDEF GHIJKLM N OP QRST U V W XY Z _0123456789ABCDE... Ciframentos Compostos O ciframento composto é monoafabético e é obtido por uma mistura das técnicas de transposição e substituição, isto é depende da letra original e também da sua posição no texto. Mesmo que o ciframento composto seja formado de substituições e transposições, este sistema ainda não é seguro. Para um texto grande a diculdade de quebrar o sistema é maior, mas se o texto for pequeno, essa técnica de ciframento torna-se fácil de ser decifrada. Exemplo 9: Vamos supor que o texto original seja dividido em blocos de comprimento 7, como na técnica de transposição, sendo a permutação dada por σ= 1 2 3 4 5 6 7 7 3 5 2 1 6 4 . Caso seja necessário, completamos o último bloco com espaços em branco, representados pelo símbolo _. Além da permutação σ, vamos usar também a técnica de substituição, de acordo com a Tabela 1. Temos então: Faculdade de Matemática Algumas Técnicas de Ciframento 46 FAMAT em Revista F AM AT _2008. Texto: Texto dividido em blocos de 7 letras: F AM AT _2 008_ _ _ _. Texto permutado: 2M T AF _A _8_00__. Texto cifrado: 39222910153610 4.1 36453637373636. Criptograa por Substituição de Hill A Substituição de Hill é polialfabética e assimétrica, ou seja, o algoritmo de ciframento é diferente n, por exemplo n = 3. 3 letras, completando o último bloco, caso seja necessário, com espaços do algoritmo de deciframento. Neste sistema criptográco escolhemos um valor Dividimos o texto em blocos de em branco, representados pelo símbolo _. Ilustraremos esse método por meio de um exemplo. Exemplo 10: Texto: F AM AT _2008. Etapa de ciframento: Vamos dividir o texto em blocos de 3 letras: F AM AT _ 200 8 _ _. A cada letra dos blocos devemos associar os números correspondentes entre 10 e 46 de acordo com uma tabela de substituição como, por exemplo, a Tabela 1. Assim, obtemos o equivalente numérico ao texto: 15 10 22 Escolhemos uma matriz Tn×n , 10 29 36 39 37 37 45 36 36. cujos coecientes sejam todos inteiros e de modo que mdc(det T, k) = 1, k no qual é a quantidade de substituições possíveis de acordo com a Tabela 1 que, neste caso, é k = 37. Por exemplo, tomemos a matriz 5 11 0 T = 9 1 3 . 17 4 2 Assim, mdc(det T, k) = mdc(313, 37) = 1. Vamos considerar cada um dos o vetor Para ti n blocos do texto como sendo um vetor pelo resultado do produto matricial ci = T.ti (mod 37) . ti ; i = 1, ..., n; em Z337 e cifrar Continuando o exemplo, temos: t1 : 5 11 0 15 0 c1 = 9 1 3 10 (mod 37) = 26 . 17 4 2 22 6 Para t2 : 5 11 0 10 36 c2 = 9 1 3 29 (mod 37) = 5 . 17 4 2 36 25 Para t3 : 5 11 0 39 10 c3 = 9 1 3 37 (mod 37) = 18 . 17 4 2 37 34 Algumas Técnicas de Ciframento Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento Para 47 t4 : 5 11 0 45 29 c4 = 9 1 3 36 (mod 37) = 31 . 17 4 2 36 19 O texto cifrado é constituído pelos blocos c1 , c2 , c3 e c4 . No exemplo: 0 26 6 36 5 25 10 18 34 29 31 19. Etapa de deciframento Para decifrar o texto temos que calcular o produto matricial O cálculo da matriz inversa (1) Achar a inversa de T T −1 (mod 37) pode ser feito de acordo com o seguinte roteiro: (sem congruências); No exemplo, temos que a inversa de (2) T −1 .ci (mod 37) . T é: −10 −22 33 1 33 10 −15 . 313 19 167 −94 Na matriz inversa encontrada acima, temos na primeira entrada a11 = Precisamos de b≡ sendo k ∈ Z. a (mod 37) ⇔ bd ≡ a (mod 37) ⇔ bd − a ≡ 0 (mod 37) ⇔ bd − a = 37k, d −10 a11 = . 313 a k = 161. No exemplo temos caso, corresponde a ; d Assim, b.313 + 10 = 37k, que terá solução quando Fazendo o procedimento análogo para cada entrada da matriz, teremos que b = 19, que, neste T −1 (mod 37) é: 19 27 15 15 18 10 . 12 12 1 e, portanto, 5 11 0 19 27 15 1 0 0 9 1 3 . 15 18 10 (mod 37) = 0 1 0 . 17 4 2 12 12 1 0 0 1 Deste modo, o deciframento é feito do seguinte modo: t1 = T −1 .c1 (mod 37) ⇒ 19 27 15 0 792 15 t1 = 15 18 10 26 (mod 37) = 528 (mod 37) = 10 . 12 12 1 6 318 22 De modo análogo, encontramos 4.2 t2 , t3 e t4 que correspondem ao texto original. Ciframento de Vigenère O Ciframento de Vigenère é polialfabético e assimétrico, ou seja, o algoritmo de ciframento é diferente do algoritmo de deciframento. k = (k0 , k1 , ..., kn−1 ) em Zn37 , Nesse ciframento, escolhemos uma chave que é um vetor isto é, um vetor com letras do texto são numeradas : n coordenadas inteiras variando de a 37. As t0 , t1 , t2 , ...tl . Para cifrar o texto, a primeira letra é deslocada de k0 posições e, assim por diante. Ciframento de Vigenère é feito substituindo cada letra do texto t0 t1 t2 , ...tl , ci = 10 + (ti + ki(mod n) ) (mod S) , Faculdade de Matemática 0 por uma letra Ou seja, o ci , onde (2) Algumas Técnicas de Ciframento 48 FAMAT em Revista sendo S o número de símbolos correspondente a uma tabela de codicação. Nesse caso tomando a Tabela 1, como referência, temos Exemplo 11: Texto: S = 37. F AM AT _2008. Substituindo cada letra do texto por uma sequência de números, de acordo com a Tabela 1 temos: F t0 15 A t1 10 M t2 22 A t3 10 T t4 29 _ t5 36 Escolhendo uma chave para o ciframento, por exemplo: Começemos cifrando Como t0 = 15, t0 ≡ F. (2), aplicando 2 t6 39 0 t7 37 0 t8 37 8 t9 . 45 k = (10, 15, 20, 7, 18). temos: c0 = 10 + (t0 + k0(mod 5) ) (mod 37) c0 = 10 + (15 + 10) (mod 37) c0 = 10 + 25 (mod 37) c0 = 35. Logo, F ≡ Z, de acordo com a Tabela 1. Fazendo analogamente para o restante do texto, então o ciframento cará: F AM AT _2008 ≡ ZZF RKJRU H _ Note que nessa criptograa, podemos ter duas letras diferentes do texto levando em duas letras iguais no ciframento. No caso acima, o F e o primeiro A do texto são ambos cifrados como Z. Do mesmo A, primeiro A modo duas letras iguais do texto podem ser levadas em letras diferentes no ciframento, é o caso do que se repete duas vezes no texto, e quando cifrados correspondem a letras diferentes. O do texto corresponde à letra Z e o segundo à letra R. O Ciframento de Vigenère não é muito eciente, pois para que o sistema seja seguro, é preciso que a mensagem seja grande e a chave aleatória que a cifra também. Isto signica que nos dias atuais os computadores teriam que trocar milhões de dígitos de chaves por dia, o que requer um gasto muito grande de tempo. 4.3 Sistemas de Rotores Os sistemas de rotores são equipamentos elétricos compostos por discos (rotores) que tem por nalidade realizar uma substituição mais sosticada. Essa criptograa é polialfabética e simétrica, ou seja, o algoritmo de ciframento e de deciframento são os mesmos. Cada rotor é construído de modo que corresponda, matematicamente, a uma substituição monoalfabética. Nesses rotores são distribuídas, sob a forma de furos, todas as letras, algarismos e símbolos de um determinado alfabeto, de modo que esses furos estejam distribuidos como vértices de polígonos regulares inscritos nos rotores. Esses rotores podem ser girados de k posições, ou seja, girados de um ângulo de k 2π n radianos, sendo n a quantidade total de símbolos do alfabeto. Figura 1: Três rotores. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Máquina_Enigma) Algumas Técnicas de Ciframento Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento Figura 2: 49 Interior da máquina Enigma, utilizada durante a II Guerra Mundial e que utiliza o Sistema de Rotores. (http://users.telenet.be/d.rijmenants/pics/ EnigmaInside.jpg) 1000 i = 0, ..., 999. Além exemplo, t23 corresponde a Para facilitar a construção do equipamento, a mensagem a ser cifrada é dividida em blocos de símbolos. Em cada bloco, denotamos por ti o símbolo que está na i-ésima posição, i1 , i2 e i3 as unidades, dezenas e centenas de i. e i3 = 0. girado de k posições em um determinado sentido disso, indicamos por Por i = 23, i1 = 3, i2 = 2 Quando o sistema é (horário ou anti-horário), temos uma substituição monoalfabética que pode ser descrita como: S 0 = −k + S(ti + k), sendo S uma substituição monoalfabética e ti é um símbolo a ser cifrado, ou ainda S 00 = k + S(ti − k) se o giro for em sentido contrário. Deste modo, todos os cálculos são feitos com mod n. Para exemplicar, suponhamos que temos três rotores nos quais: (i) S1 , S2 e S3 sejam as substituições monoalfabéticas (ii) t = t0 t1 t2 · · · tr−1 o texto a ser cifrado. (iii) c = c0 c1 c2 · · · cr−1 o texto cifrado; com os três rotores em suas posições iniciais; Consideremos ainda uma substituição monoalfabética inicial que chamaremos de monoalfabética R de ordem 2, ou seja, uma transposição (R = R−1 ). IP e uma substituição Assim, o ciframento pode ser feito pela seguinte operação: ci = IP −1 C−i1 S1−1 Ci1 −i2 S2−1 Ci2 −i3 S3−1 Ci3 RC−i3 S3 Ci3 −i2 S2 Ci2 −i1 S1 Ci1 IP (ti ), sendo Cm é uma Substituição de César de ordem (3) m. A chave do segredo do sistema de rotores compõem-se: · · · IP ; substituições S1 , S2 , S3 Pela substituição Pelas e R; Pelas posições iniciais dos rotores; Observação: Pela construção, R é uma involução, ou seja, R2 é a identidade. Deste modo, no esquema acima, cifrar e decifrar é uma só operação. Exemplo 12: Sejam as substituições monoalfabéticas Suponhamos que a palavra F AM AT _2008 S1 , S 2 e S3 , descritas na Tabela 2. se encontre na posição · · · t352 , t353 , t354 , t355 , t356 , t357 , t358 , t359 , t360 , t361 · · · e queremos criptografá-la usando os rotores. Assim, para cifrar a primeira letra teremos os seguintes passos: Faculdade de Matemática Algumas Técnicas de Ciframento 50 FAMAT em Revista F = t352 , então i1 = 2, i2 = 5 e i3 = 3. Aplicando a função (3) , teremos os respectivos passos para cifrar: 1) IP (t352 ) = IP (F ) = H. 2) Ci1 (H) = C2 (H) = J. 3) S1 (J) = B. 4) Ci2 −i1 (B) = C5−2 (B) = C3 (B) = E. 5) S2 (E) = K. 6) Ci3 −i2 (K) = C3−5 (K) = C−2 (K) = I. 7) S3 (I) = C. 8)C−i3 (C) = C−3 (C) = 9. 9) R (9) = K. 10) Ci3 (K) = C3 (K) = N. 11) S3−1 (N ) = J. 12) Ci2 −i3 (J) = C5−3 (J) = C2 (J) = L. 13) S2−1 (L) = N. 14) Ci1 −i2 (N ) = C2−5 (N ) = C−3 (N ) = K. 15) S1−1 (K) = A. 16) C−i1 = C−2 (A) = 8. −1 17) (IP ) (8) = J. Algumas Técnicas de Ciframento Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento S 10 ←→ A 11 ←→ B 12 ←→ C 13 ←→ D 14 ←→ E 15 ←→ F 16 ←→ G 17 ←→ H 18 ←→ I 19 ←→ J 20 ←→ K 21 ←→ L 22 ←→ M 23 ←→ N 24 ←→ O 25 ←→ P 26 ←→ Q 27 ←→ R 28 ←→ S 29 ←→ T 30 ←→ U 31 ←→ V 32 ←→ W 33 ←→ X 34 ←→ Y 35 ←→ Z 36 ←→ − 37 ←→ 0 38 ←→ 1 39 ←→ 2 40 ←→ 3 41 ←→ 4 42 ←→ 5 43 ←→ 6 44 ←→ 7 45 ←→ 8 46 ←→ 9 S1 K F L Z 1 J I S 0 B W P 7 H X T C 4 M G 8 − A N 2 V O 3 R 6 D Y Q 5 E 9 U S2 Q W F − K V 3 J R U C Z 2 L 5 D S 8 G N E 4 T 1 H 7 M I 9 Y X 6 A 0 O B P S3 P 0 Y 6 A M 9 K C N T 2 Z 8 S H X B I O 1 D F U 3 5 Q E V 4 G W J − R 7 L IP S K 2 G 0 H V Q W 8 A 5 F R P Z I C 4 J 9 U E 6 L X T B Y N O M − 7 D 1 3 51 R 2 N Z 6 0 T 1 8 R S 9 V W B 4 5 − I J F 7 L M X 3 C Q E G A Y O P D U H K Tabela 2 Logo, o ciframento da letra F é o J. Para decifrar basta aplicar a mesma função (3) . Vejamos o exemplo: 1) IP (c352 ) = IP (J) = 8. 2) Ci1 (8) = A. 3) S1 (A) = K. 4) Ci2 −i1 (K) = C5−2 (K) = C3 (K) = N. 5) S2 (N ) = L. 6) Ci3 −i2 (L) = C3−5 (L) = C−2 (L) = J. 7) S3 (J) = N. 8)C−i3 (N ) = C−3 (N ) = K. 9) R (K) = 9. Faculdade de Matemática Algumas Técnicas de Ciframento 52 FAMAT em Revista 10) Ci3 (9) = C3 (9) = C. 11) S3−1 (C) = I. 12) Ci2 −i3 (I) = C5−3 (I) = C2 (I) = K. 13) S2−1 (K) = E. 14) Ci1 −i2 (E) = C2−5 (E) = C−3 (E) = B. 15) S1−1 (B) = J. 16) C−i1 = C−2 (J) = H. −1 17) (IP ) (H) = F. Logo ao aplicar a função (3), acontece o deciframento voltando ao texto original, como era esperado. De modo análogo fazemos isto para o restante da mensagem a ser criptografada e obtemos os seguintes resultados: Cifrando o texto: F AM AT _2008 → JAICIX7ESY. E deciframento o texto: JAICIX7ESY → F AM AT _2008. 4.4 O Método MH (Merkle e Hellman) Esse método é monoalfabético e assimétrico pois o algoritmo de ciframento é diferente do algoritmo de deciframento. A segurança do Método MH (Merkle e Hellman) se baseia na diculdade do chamado Problema da Mochila. O Problema da Mochila Dado o vetor a = (a1 , a2 , ..., an ) de coordenadas naturais e b X = (x1 , x2 , ..., xn ) onde cada xi consiste em saber se existe n P também natural, o problema da mochila é 0 ou 1, tal que: ai xi = b. i=1 Exemplo 13: Sejam n = 6, b = 14 e a1 = 2, a2 = 3, a3 = 5, a4 = 7, a5 = 8 e a6 = 12. x1 = 1, x2 = 0, x3 = 1, x4 = 1, x5 = 0 e x6 = 0, Logo, a solução deste problema será dado por n P pois ai xi = b ⇒ 2.1 + 3.0 + 5.1 + 7.1 + 8.0 + 12.0 = 14. i=1 Denimos a chave pública de cada destinatário no Método MH pelo vetor P = (c1 , c2 , ..., cn ) de naturais, onde n ≈ 100. Para cifrar uma mensagem e enviar ao destinatário, o emissor deve consultar a chave pública (c1 , c2 , ..., cn ) P = m do destinatário, conveter cada símbolo da mensagem original em números naturais menores do que 2n e escrevê-lo na base binária, isto é, m = [m1 m2 ...mn ]2 , sendo mi = 0 ou 1. Então, calcula-se P (m) = n P mi ci . i=1 Algumas Técnicas de Ciframento Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento Assim, o trabalho do destinatário em decifrar P (m) 53 é determinar a solução do problema da mochila sabendo-se P = (c1 , c2 , ..., cn ) e P (m). Para que o problema da mochila seja de fácil resolução, a chave pública não pode ser qualquer. Deste modo, para decifrar a mensagem o destinatário deve inicialmente, antes de divulgar a sua chave pública, criar uma seqüência de números naturais s = (s1 , s2 , ..., sn ) e também t k e tais que r P (4) si < sr+1 < t i=1 1≤r <n−1 mdc(k, t) = 1. Assim, a seqüência s = (s1 , s2 , ..., sn ) é essencial para a solução do problema da mochila. O destinatário mantém o vetor s e os valores de t e k secretos e publica o vetor c, dado por para e ci = ksi (mod t) , com 1 ≤ i ≤ n. Além disso, o emissor escolhe e mantém secreto o número l que deve satisfazer a equação: lk (mod t) = 1. Algoritmo para a Resolução do Problema da Mochila Algoritmo da mochila Entrada: (n, (s1 , s2 , ..., sn ) , d) , onde s = (s1 , s2 , ..., sn ) é a seqüência (4) e d ≡ l.P (m) (mod t) . m. Etapa 1: Faça y = d. Etapa 2: Para cada i = n, n−1, n−2, ...1, ou seja, para os valores de i serão atribuídos uma seqüência decrescente de n até 1, faça: (1) Se y < si , então, mi = 0. (2) Se y ≥ si , então faça y = y − si e tome mi = 1. Etapa 3: (1) Se y = 0, então retorne o vetor: m = (m1 , m2 , ..., mn ) . (2) Se y 6= 0, então o problema da mochila não tem solução. Saída: Exemplo 14: Seja a mensagem F AM AT _2008. Associando a mensagem ao números correspondentes na Tabela 1, temos a sequência de números: 15 10 22 10 29 36 39 37 37 45 Passando para a base binária a sequência de números acima, temos: 15 = [001111]2 10 = [001010]2 22 = [010110]2 10 = [001010]2 29 = [011101]2 36 = [100100]2 39 = [100111]2 37 = [100101]2 37 = [100101]2 45 = [101101]2 P = (c1 , c2 , ..., cn ). Para o destinátario seqüência s como em (4). Além disso, k Precisamos agora de determinar a chave pública que será o vetor determinar a chave pública, primeiro ele deverá escolher uma e t, de modo que n P si < t e mdc (k, t) = 1. Para o exemplo escolhemos a sequência: i=1 s = (5, 7, 14, 27, 55, 109) Faculdade de Matemática Algumas Técnicas de Ciframento 54 e FAMAT em Revista k = 50 e t = 229, pois mdc (50, 229) = 1 e t > 5 + 7 + ... + 109 = 217. Temos então a expressão: 50l (mod 229) = 1 ⇒ 229x + 50l = 1. Calculemos o valor de l a partir do Algoritmo Euclidiano Estendido. Colocando os valores em uma tabela: i −1 0 1 2 3 4 5 6 7 Restos Quocientes 229 50 29 21 8 5 3 2 1 ∗ ∗ 4 1 1 2 1 1 1 xi 1 0 1 −1 2 −5 7 −12 19 yi 0 1 −4 5 −9 23 −32 55 −87 Temos l = y7 = −87. Mas não nos interessa trabalhar com valores de l negativos, para isso temos o algoritmo derivado do Teorema da Solução Geral de uma Equação Diofantina que encontra um valor positivo para l (ver (1)): Etapa Etapa 1) 2) l Calcular o valor de Se l < 0, normalmente. então faça: l = l + 229j para j Etapa inteiro de tal modo que 3) Faça l > 0. l = l. Logo, para o exemplo anterior: l = −87 + 229j, para j=1 l = 229 − 87 ⇒ l = 142 ⇒ l = l = 142. Deste modo, após encontrar o novo valor de l (positivo), então continua-se o ciframento e o decifra- mento do Método de MH. c = (c1 , c2 , ..., cn ), Deste modo o destinátario pública o vetor onde n=6 e cujo: ci = ksi (mod t) . Assim temos que a chave pública é P = (21, 121, 13, 205, 2, 183). Logo, a primeira letra da mensagem, que é P (15) = n P F, que corresponde a 15 = [001111]2 é cifrada em mi ci = 0.21 + 0.121 + 1.13 + 1.205 + 1.2 + 1.183 = 403. i=1 Procedendo de modo análogo com os demais símbolos da mensagem, temos 403 2 Algumas Técnicas de Ciframento 328 2 522 226 411 409 409 422. Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento 55 Para decifrar a mensagem o destinatário deve primeiro determinar os valores de d = l.P (m) (mod t) . Para o exemplo vamos ter: Para Para Para Para P (15) P (22) P (36) P (37) então então então então d = 205. d = 89. d = 32. d = 141. Para Para Para Para P (10) P (29) P (39) P (45) então então então então d = 55. d = 157. d = 196. d = 155. Continuando o deciframento do Método MH, vamos começar decifrando a primeira letra da nossa mensagem utilizando para isso o Algoritmo da Mochila. (n, (s1 , s2 , ..., sn ) , d) ,que corresponde a (6, (5, 7, 14, 27, 55, 109) , 205) . 1: Faça y = 205. Etapa 2: Para i = 6 : Como y ≥ s6 , ou seja, y ≥ 109 então faça y = 205 − 109 = 96 e tome m6 = 1. Para i = 5 : Como y ≥ s5 , ou seja, y ≥ 55 então faça y = 96 − 55 = 41 e tome m5 = 1. Para i = 4 : Como y ≥ s4 , ou seja, y ≥ 27 então faça y = 41 − 27 = 14 e tome m4 = 1. Para i = 3 : Como y ≥ s3 , ou seja, y ≥ 14 então faça y = 14 − 14 = 0 e tome m3 = 1. Para i = 2 : Como y < s2 , ou seja, y < 7 então tome m2 = 0. Para i = 1 : Como y < s1 , ou seja, y < 5 então tome m1 = 0. Etapa 3: Como y = 0, então m = [001111]2 = 15, Temos: Etapa que corresponde à letra F. De modo análogo, utilizando o Algoritmo da Mochila para os demais símbolos da mensagem, encontramos os respectivos resultados: [000010]2 , [010110]2 , [000010]2 , [011101]2 , [100100]2 , [100111]2 , [100101]2 , [100101]2 , [101101]2 que correspondem a m = 10, m = 22, m = 10, m = 29, m = 36, m = 39, m = 37, m = 37, m = 45. Formando a mensagem inicial F AM AT _2008. 5 Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard O D.E.S. consiste de um algoritmo de criptograa simétrico e polialfabético com entrada e saída binárias. Sendo assim, uma mensagem a ser enviada deve ser convertida em uma seqüência binária. Assim como em qualquer esquema de criptograa, o algoritmo precisa de duas entradas: a mensagem a ser enviada e, portanto, codicada e a chave, que é a senha que irá manter a transmissão sigilosa. A mensagem original convertida em uma seqüência binária é dividida em blocos 64 M que podem ser de dígitos cada. Faculdade de Matemática Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard 56 FAMAT em Revista Consideremos a função I que permuta a posição dos 64 dígitos do bloco M. Geralmente I é denida por uma tabela. Para efeito de compreensão do algoritmo, chamemos a imagem do algoritmo (geralmente são realizadas (i) Dividamos o bloco N0 64 de Consideremos a função X I (M ) de N0 e descrevamos uma rodada rodadas): dígitos em duas partes: a parte esquerda, que chamaremos de a parte direita que chamaremos de (ii) 16 E0 e D0 . que expande o bloco D0 , de 32 dígitos, para um bloco X (D0 ) de 48 dígitos. Além da expansão, nessa etapa temos também uma permutação de dígitos, uma vez que, à semelhança de (iii) I, X é dada por uma tabela. 48 Consideremos um bloco aleatório de dígitos binários que denotaremos por K1 . Esse bloco é parte das chaves do sistema criptográco (para cada rodada há uma chave). (iv) Uma soma binária dígito a dígito entre X (D0 ) e K1 é realizada. (v) O bloco X (D0 ) + K1 é dividido em blocos B1 , ..., B8 de 6 dígitos cada e, utilizando 8 funções 0 redutoras S1 , ..., S8 . Essas funções transformam Bi de 6 dígitos em blocos Bi de 4 dígitos. De um modo geral, essas funções redutoras são dadas por tabelas e a manipulação dessas tabelas será exemplicada X (D0 ) + K1 é transformado em um de dígitos P é aplicada ao bloco S. abaixo. Deste modo, o bloco (vi) Uma outra permutação (vii) Uma outra soma binária dígito a dígito é feita entre chamada de D1 . (viii) Denimos o bloco E1 como sendo o bloco D0 . (ix) Um novo bloco N1 é formado pela junção do bloco E1 N1 as 16 bloco o bloco S P (S) com o bloco de 32 dígitos. e o bloco D1 E0 . Essa soma é formado acima. N2 , N3 até N16 . Após rodadas, é realizada uma troca de lados em N16 entre os blocos E16 e D16 . Chamemos 0 0 0 essa troca de T. Assim, T (E16 ) = D16 e T (D16 ) = E16 e, temos um novo bloco T (N16 ) = N16 . −1 0 Por m, a inversa da função permutação I, ou seja, I é aplicada em N16 e este é o bloco cifrado, −1 0 que chamaremos de C. Assim, I (N16 ) = C. O bloco é submetido a uma nova rodada conforme descrito acima e obtemos Simplicando, temos a seguinte composta: I (M ) = N0 = E0 D0 ⇒ X ◦ I (M ) = E0 X (D0 ) ⇒ K1 ◦ X ◦ I (M ) = E0 [X (D0 ) + K1 ] = E0 [B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 ] ⇒ S ◦ K1 ◦ X ◦ I (M ) = E0 [S1 (B1 ) S2 (B2 ) ...S7 (B7 ) S8 (B8 )] S ◦ K1 ◦ X ◦ I (M ) = E0 [B10 B20 B30 B40 B50 B60 B70 B80 ] ⇒ S ◦ K1 ◦ X ◦ I (M ) = E0 S ⇒ P ◦ S ◦ K1 ◦ X ◦ I (M ) = E0 P (S) ⇒ E0 ◦ P ◦ S ◦ K1 ◦ X ◦ I (M ) = [E0 + P (S)] ⇒ D0 ◦ E0 ◦ P ◦ S ◦ K1 ◦ X ◦ I (M ) = D0 [E0 + P (S)] ⇒ D0 ◦ E0 ◦ P ◦ S ◦ K1 ◦ X ◦ I (M ) = D0 D1 ⇒ D0 ◦ E0 ◦ P ◦ S ◦ K1 ◦ X ◦ I (M ) = E1 D1 ⇒ D0 ◦ E0 ◦ P ◦ S ◦ K1 ◦ X ◦ I (M ) = N1 . Chamando D0 ◦ E0 ◦ P ◦ S ◦ K1 ◦ X = Z1 , temos: Z1 ◦ I (M ) = N1 . Aplicando 16 rodadas, temos: 0 Z16 ◦ ... ◦ Z1 ◦ I (M ) = N16 ⇒ T ◦ Z16 ◦ ... ◦ Z1 ◦ I (M ) = N16 ⇒ I −1 ◦ T ◦ Z16 ◦ ... ◦ Z1 ◦ I (M ) = C. Chamando I −1 ◦ T ◦ Z16 ◦ ... ◦ Z1 ◦ I = DES, temos: DES (M ) = C. Como o algoritmo é simétrico, para decifrar C, basta aplicá-lo novamente, ou seja: DES (C) = M. Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento Exemplo 15: 151 197 2313 2719 3125 331 737 1143 162 208 2414 2820 3226 432 838 1244 57 Consideremos as seguintes tabelas para construção da criptograa D.E.S.: 591 579 6017 5825 6433 6241 6349 6157 512 4910 5218 5026 5634 5442 5550 5358 354 275 196 117 3312 2513 1714 0915 3620 2821 2022 1223 3428 2629 1830 1031 4036 3237 2438 1639 3844 3045 2246 1447 3952 3153 2354 1555 3760 2961 2162 1363 Tabela 3: Função permutação I 161 159 1417 1325 1233 1141 1049 957 322 3110 3018 2926 2834 2742 2650 2558 83 711 619 527 435 343 251 159 173 219 2515 2921 127 533 939 1345 184 325 2210 211 2616 417 3022 623 228 829 634 1035 1040 1241 1446 1447 Tabela 5: função expansão 433 4111 4419 4227 4835 4643 4751 4559 038 0116 0424 0232 0840 0648 0756 0564 244 645 486 567 2312 6313 4714 5515 2220 6221 4622 5423 2128 6129 4530 5331 2036 6037 4438 5239 1944 5945 4346 5147 1852 5853 4254 5055 1760 5761 4162 4993 Tabela 4: Função permutação I −1 16 312 518 724 930 1136 1342 1548 251 19 1317 2225 262 1810 1418 2326 408 3916 3824 3732 3640 3548 3456 3364 273 1911 3019 2427 154 165 176 212 2013 2114 3120 3221 822 1128 1229 530 Tabela 6: Função permutação 287 315 923 631 298 416 1024 732 P X Também consideremos as tabelas dispostas na posição vertical nas duas próximas páginas, que são rotuladas de Tabelas 7: Seja a mensagem receptor na B Caixas S. F AM AT _2008. Suponhamos que o emissor usando a criptograa D.E.S. Assim, Tabela 1, A A, queira enviar essa mensagem ao associa a mensagem aos números correspondentes obtendo a seqüencia de números: 15 10 22 10 29 36 39 37 37 45, que, respectivamente, na base binária são: 001111 000010 010110 000010 011101 100100 100111 100101 100101 101101. Agrupando a seqüência de bits em blocos de 64 bits temos: M = 0011110000100101100000100111011001001001111001011001011011010000. Note que tínhamos apenas 60 (5) bits. Os bits que caram faltando para completar um bloco de foram obtidos acrescentando-se 4 64 zeros ao nal da seqüência. Logo, para o início do processo, a mensagem passa pela primeira fase que é a função permutação partir da Tabela 3, bits I, I (M ) = N0 = 0010101111100110110010011011100000110010011010110100110000010101. n-ésimo bit de (6) é o m-ésimo bit de (5) , sendo entrada mn da Por exemplo, se n = 1, a o é o 59 . bit de (5) e assim, por diante. O Separando Tabela 3. (6) a no qual é obtida pela seqüência a seguir: em blocos de que m e n Tabela 3 32 (6) estão relacionados de acordo com a fornece m = 59. Logo, o 1o . bit de (6) 32 bits de bloco 32 bits restantes de bloco da direita e denotaremos bits, obtemos dois blocos. Chamaremos os primeiros da esquerda e denotaremos por E0 e os outros por D0 . Assim, E0 = 00101011111001101100100110111000 D0 = 00110010011010110100110000010101 Faculdade de Matemática (7) Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard 58 FAMAT em Revista Para o bloco cia de 32 D0 faremos uma expansão usando a Tabela 5, dada anteriormente. Assim, essa seqüên- bits será transformada em uma nova seqüência com 48 bits, dada por: X (D0 ) = 110110001101000010010101010000110011100101101001. O n-ésimo bit de (8) mn da é o m-ésimo Por exemplo, se a (7) , bit de Tabela 5. n = 1, Tabela 5 entrada fornece sendo que m = 15. m Logo, o e n 1o . (8) estão relacionados de acordo com a bit de (8) é o 15o . bit de (7) e assim, por diante. Consideremos uma seqüência binária de 48 bits, que será a chave (que deve ser mantida em sigilo pelos comunicantes): K1 = 111101101010010010100011000110010110100111010001. Fazendo a soma binária, dígito a dígito, dos 48 bits do bloco X (D0 ) com a chave K1 , temos a nova seqüência: X (D0 ) + K1 = 001011100111010000110110010110100101000010111000. Usaremos agora, as Caixas S ( Tabelas 7 bloco, B2 48 bits para 32 bits 6 bits obtendo: B1 o primeiro ) para comprimir a seqüência acima de binários. Primeiramente, dividiremos a seqüência anterior em blocos de o segundo bloco até o oitavo bloco: 001011 | {z } 100111 | {z } 010000 | {z } 110110 | {z } 010110 | {z } 100101 | {z } 000010 | {z } 111000 | {z }. B1 B3 B4 B5 B6 B7 B8 Si do seguinte modo: x de 0 a 3, que corresponde a uma das quatro linhas de Si . Os quatro dígitos intermediários de Bi formam, em decimal, um número y de 0 a 15, que corresponde a uma das 16 colunas de Si . Assim, localizamos o número sx,y na Tabela Si . O número s é um número de 0 a 15, que em binário, corresponde a uma seqüência Bi0 de quatro dígitos que será colocada no lugar de Bi . Os blocos Bi B2 serão reduzidos a quatro bits cada utilizando-se as Caixas O primeiro e último dígitos de Bi formam, em decimal, um número Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard Universidade Federal de Uberlândia S1 S2 S3 S4 10,0 120,1 90,2 50,3 100,4 150,5 60,6 20,7 80,8 110,9 41,10 40,10 121,11 140,11 11,12 70,12 51,13 120,13 31,14 130,14 82,15 131,15 20,15 40,15 01,9 151,15 151,8 130,14 122,15 91,7 41,14 33,15 111,6 30,13 92,14 31,5 91,13 103,14 01,15 150,15 141,4 50,12 62,13 52,15 61,3 141,12 143,13 81,14 100,14 133,15 21,2 00,11 32,12 30,13 22,14 20,15 101,1 81,11 43,12 121,13 43,14 141,15 71,0 120,10 152,11 50,12 142,13 120,14 42,15 143,15 31,10 03,11 101,12 73,13 111,14 113,15 53,14 90,9 42,10 80,11 02,12 40,13 22,14 142,14 121,9 13,10 71,11 153,12 21,13 23,14 72,13 60,8 12,9 112,11 10,12 12,13 133,13 131,8 123,9 11,10 140,10 63,11 121,12 123,13 43,12 150,7 102,8 60,9 132,10 70,11 112,12 122,12 21,7 73,8 111,9 13,10 41,11 73,12 62,11 80,6 82,7 130,8 82,9 102,11 13,11 111,6 113,7 151,8 33,9 71,10 100,10 63,11 63,10 140,5 22,6 32,8 110,9 132,10 132,10 11,5 63,6 61,7 120,7 123,8 131,9 53,10 52,9 20,4 02,5 10,6 62,7 60,8 72,9 113,9 61,4 53,5 141,6 113,7 11,8 43,9 42,8 70,3 132,4 70,5 92,6 80,7 82,8 73,8 51,3 153,4 131,5 03,6 51,7 103,8 33,7 110,2 112,3 152,5 50,6 152,7 112,7 01,2 93,3 51,4 110,4 93,5 01,6 83,7 32,6 100,1 72,2 20,3 42,4 30,5 92,6 153,6 101,1 143,2 31,3 83,4 151,5 143,6 83,5 10,0 52,1 40,2 102,3 150,4 122,5 102,5 71,0 23,1 91,2 23,3 101,4 93,5 22,4 142,0 90,1 72,2 52,4 103,4 83,0 21,1 103,2 31,3 130,3 13,4 12,3 00,0 122,1 00,2 62,3 123,3 41,0 53,1 91,2 03,3 23,2 12,0 32,2 152,2 143,0 81,1 140,1 153,2 02,1 90,0 02,1 93,1 61,0 33,1 03,0 142,0 92,0 133,0 Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard Faculdade de Matemática 59 Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento Tabela 7 FAMAT em Revista 60 S5 21,0 70,0 153,0 02,0 141,0 60,0 63,1 52,1 91,1 120,1 113,1 42,1 121,1 80,1 53,2 32,2 141,2 00,2 43,2 102,2 01,2 20,2 33,3 152,3 01,3 50,3 83,3 52,3 21,3 120,3 03,4 132,4 111,4 140,4 133,4 132,4 61,4 30,4 93,5 102,5 61,5 30,5 63,5 62,5 111,5 70,5 123,6 62,6 51,6 90,6 03,6 152,6 41,6 00,6 153,7 02,7 121,7 100,7 123,7 22,7 81,7 150,7 133,8 22,8 41,8 10,8 53,8 72,8 101,8 90,8 83,9 142,9 71,9 110,9 143,9 122,9 91,9 10,9 103,10 122,10 31,10 150,10 23,10 32,10 51,10 110,10 43,11 92,11 101,11 60,11 93,11 142,11 151,11 40,11 143,12 12,12 81,12 40,12 13,12 82,12 71,12 140,12 73,13 42,13 131,13 80,13 33,13 112,13 31,13 50,13 13,14 112,14 151,14 20,14 103,14 92,14 11,14 130,14 23,15 72,15 11,15 130,15 73,15 152,15 131,15 100,15 122,15 82,0 63,15 113,0 112,14 30,15 133,14 41,15 130,15 81,15 152,13 60,14 22,15 20,14 03,13 81,14 73,15 71,14 52,12 00,13 92,14 51,13 113,12 21,13 123,14 120,13 42,11 52,13 11,12 13,11 51,12 100,12 03,13 150,12 142,10 140,11 02,12 70,11 73,10 141,11 53,12 151,11 22,9 30,10 82,11 61,10 123,9 31,10 143,11 110,10 102,8 62,10 10,9 53,8 11,9 110,9 33,10 111,9 32,7 50,8 152,9 80,8 143,7 151,8 93,9 91,8 92,6 70,7 102,8 00,7 43,6 131,7 103,8 131,7 12,5 10,6 142,7 41,6 93,5 71,6 13,7 140,6 62,4 90,5 72,6 40,5 83,4 111,5 113,6 141,5 82,3 40,4 32,5 50,4 23,3 121,4 153,5 101,4 132,2 20,3 122,4 31,3 103,2 01,3 63,4 130,3 72,1 80,2 132,3 90,2 33,1 91,2 43,3 01,2 02,0 112,2 60,1 153,0 61,1 120,1 83,2 121,1 150,0 42,1 21,0 101,0 23,1 100,0 12,0 Universidade Federal de Uberlândia Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard S6 S7 S8 133,0 Tabela 7 Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento 61 Por exemplo, no primeiro bloco B1 = 001011, 01, que em decimal é o número 1, ou seja, temos a segunda linha de S1 . Os quatro dígitos do meio de B1 formam o número binário 0101, que em decimal é o número 5, que corresponde à sexta coluna de S1 . Logo, localizamos sx,y = 31,5 , ou seja, s = 3, que em binário é 0011. Assim B1 = 001011 é substituído por B10 = 0011. temos que o primeiro e o último dígitos, 0 e 1, formam o número binário De modo analógo para o restante dos blocos vamos obter: B20 = 1001, B30 = 1101, B40 = 1010, B50 = 0100, B60 = 0101, B70 = 0110, B80 = 0000. Juntando todos os blocos Bi0 , para i = 1, 2, ...8, em uma só seqüência obtemos: S = 00111001110110100100010101100000. Usando a Tabela 6, na seqüência (5) fazemos uma nova permutação da seqüência acima à semelhança da que zemos a qual chamaremos de P (S): P (S) = 01110000010000111000011110101100. Fazendo a soma binária de E0 + P (S) temos: D1 = E0 + P (S) = 01011011101001010100111000010100. Juntando, respectivamente, as seqüências D0 e D1 temos: N1 = 0011001001101011010011000001010101011011101001010100111000010100. Aplicando a troca T dos blocos de 32 dígitos dos lados esquerdo e direito temos: T (N1 ) = N10 = 0101101110100101010011100001010000110010011010110100110000010101. Para nalizar a criptograa vamos utilizar a Tabela 4 I −1 e aplicar a permutação na seqüencia anterior: C = I −1 (N10 ) = 1010110000110101110110100011011001101001100001010011011010000000. Logo essa seqüencia, é a mensagem criptografada. Assim o emissor receptor A envia essa mensagem para o B. Para decifrar a seqüência recebida o receptor criframento. O receptor B aplicará a função I a partir da B deverá proceder de modo análogo ao processo de Tabela 3, que é a primeira fase, e obterá a seqüência a seguir: I (C) = 0101101110100101010011100001010000110010011010110100110000010101. Separando a seqüência anterior em blocos de 32 32 bits, obtemos dois blocos. Chamaremos os primeiros bits de bloco da esquerda, que denotaremos por E0 e os outros 32 bits restantes de bloco da direita, que será denotado por D0 : E0 = 01011011101001010100111000010100 D0 = 00110010011010110100110000010101 Para o bloco D0 faremos a expansão usando a formada em uma nova seqüência com 48 Tabela 5. Assim, a seqüência de 32 bits será trans- bits: X (C) = 110110001101000010010101010000110011100101101001. Faculdade de Matemática Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard 62 FAMAT em Revista Usando a mesma chave K1 de 48 bits que usamos para cifrar a mensagem, dada a seguir: K1 = 111101101010010010100011000110010110100111010001, Fazemos a soma binária desses 48 bits com o bloco da direita D0 e obtemos uma nova seqüência: X (C) + K1 = 001011100111010000110110010110100101000010111000. S Utilizando as Caixas seqüência em blocos de e fazendo os mesmos procedimentos adotados no ciframento, separemos a 6 bits: B1 = 001011 B2 = 100111 B3 = 010000 B4 = 110110 B5 = 010110 B6 = 100101 B7 = 000010 B8 = 111000 Teremos a seguinte redução de 6 bits para 4 bits dada a seguir: B10 = 0011, B20 = 1001, B30 = 1101, B40 = 1010, B50 = 0100, B60 = 0101, B70 = 0110, B80 = 0000. Juntando todos os blocos Bi0 , para i = 1, 2, ...8, em uma só seqüência obtemos: S = 00111001110110100100010101100000. Usando a Tabela 6, chamaremos de da função permutação, na seqüência acima obtemos a seqüência a seguir a qual P (S): P (S) = 01110000010000111000011110101100. Fazendo a soma binária de E0 + P (S) temos: D1 = E0 + P (S) = 00101011111001101100100110111000. Juntando, respectivamente, as seqüências D0 e D1 temos: N1 = 0011001001101011010011000001010100101011111001101100100110111000. Aplicando T: T (N1 ) = N10 = 0010101111100110110010011011100000110010011010110100110000010101. Para nalizar o deciframento vamos aplicar a função I −1 na seqüência anterior chegando em: M = I −1 (N10 ) = 0011110000100101100000100111011001001001111001011001011011010000. Logo, essa seqüência, é a mensagem decifrada. Ou seja, separando essa seqüência em blocos de 6 bits e passando para a base decimal, obtemos os números: 15 10 22 10 29 36 39 37 37 45, que corresponde a mensagem original F AM AT _2008. Nesse exemplo, para simplicar, usamos uma única rodada, mas isso é inseguro. Para oferecer maior segurança e resistência à criptoanálise o ideal é que se realizem várias rodadas, no caso 16 rodadas é o tamanho típico para a criptograa D.E.S. Observação: chaves Tipicamente, na criptograa D.E.S., há um procedimento algorítmico de geração das K1 , ..., K16 a partir de uma única chave K fornecida pelos comunicantes. Neste trabalho não abordamos tal algoritmo. No entanto, o leitor interessado pode encontrá-lo em (10). Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard Universidade Federal de Uberlândia Criptograas ElGamal, Rabin e algumas técnicas de ciframento 63 Referências Bibliográcas [1] Biase, A. G. & Agustini, E. Criptograa, Assinaturas Digitais e Senhas Segmentadas . (to appear in FAMAT em Revista) [2] Coutinho, S. C. Números Inteiros e Criptograa RSA. Rio de Janeiro, RJ: IMPA - SBM. Série de Computação e Matemática. 1997. [3] [4] [5] Domingues, H. H. Álgebra Moderna. Domingues, H. H. Fundamentos de Aritmética. Lucchesi, C. L. Introdução à Criptograa Computacional. São Paulo, SP: Atual Editora. 1982. São Paulo, SP: Atual Editora. 1991. Campinas-SP: Editora da Unicamp. 1986. [6] [7] Mollin, R. A. An Introduction to Cryptography. Rivest, M,; Shamir, A. & Adleman, L. New York: Chapman & Hall. 2001. A method for obtaining digital signatures and public-key cryptosystems. Comm. ACM, 21 (1978), 120-126. [8] Santos, J. P. O. Introdução à Teoria dos Números. Rio de Janeiro, RJ: Publicação do Inst. de Mat. Pura e Aplicada (IMPA). Coleção Matemática Universitária. 1998. [9] [10] Singh, S. O Livro dos Códigos Stallings, W. Criptograa e Segurança de Redes. Faculdade de Matemática . Rio de Janeiro: Editora Record. 2001. a 4 . ed. São Paulo: Peason Prentice Hall. 2007. Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard 64 Criptograa D.E.S. - Data Encryption Standard FAMAT em Revista Universidade Federal de Uberlândia Axiomatizações equivalentes do conceito de topologia Giselle Moraes Resende Pereira Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Graduanda em Matemática - Programa de Educação Tutorial giselle_ mrp@ yahoo. com. br Geraldo Márcio de Azevedo Botelho Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Associado II botelho@ ufu. br Resumo: Esse artigo tem por objetivo apresentar três axiomatizações diferentes, mas equivalentes, do conceito de topologia. Mostraremos que o fato de conjunto aberto ser o conceito básico da topologia apenas uma questão de conveniência, que podemos escolher, por exemplo, o conceito de vizinhança, ou o conceito de conjunto fechado, ou ainda o conceito de fecho de um subconjunto, para ser o conceito básico a partir do qual toda a teoria pode ser desenvolvida. 1 Introdução A topologia de conjuntos é uma área básica e unicadora de boa parte da matemática moderna. Normalmente, o conceito de topologia é introduzido como sendo uma coleção um conjunto X que satisfaz as seguintes condições: o conjunto vazio e X τ de subconjuntos de pertencem a τ, a coleção τ é fechada para uniões arbitrárias e para intereseções nitas. Dessa forma os conjuntos pertencentes a τ são chamados de conjuntos abertos. Daí toda a teoria pode ser desenvolvida, em particular são denidos os conceitos de conjuntos fechados, de vizinhanças e de fecho de subconjuntos de conhecendo-se os abertos de X, conhecemos toda a topologia de X. X. Ou seja, O objetivo do presente trabalho é apresentar três axiomatizações diferentes, mas equivalentes, do conceito de topologia. Mostraremos que o fato de conjunto aberto ser o conceito básico da topologia é apenas uma questão de conveniência, que podemos escolher, por exemplo, o conceito de vizinhança, ou o conceito de conjunto fechado, ou ainda o conceito de fecho de um subconjunto, para ser o conceito básico a partir do qual toda a teoria pode ser desenvolvida. 2 Denições e resultados preparatórios Os conceitos topológicos conhecidos em R, C, Rn , espaços métricos e espaços normados dependem da noção de distância. Como estudar esses conceitos em ambientes desprovidos da noção de distância? A resposta é a denição usual de topologia: Denição 2.1. Seja X um conjunto e τ uma coleção de subconjuntos de X. Dizemos que τ é uma topologia se: 1. O conjunto ∅ e X pertencem a 2. Se A1 , A2 , . . . , An ∈ τ , 3. Se (Aλ )λ∈L então τ. A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An ∈ τ . é uma família arbitrária de conjuntos Aλ ∈ τ , então a união A= [ λ∈L Aλ ∈ τ . 66 FAMAT em Revista Denição 2.2. (X, τ ) Dizemos que é um espaço topológico e os conjuntos de τ são chamados de abertos. Denição 2.3. 1. U ⊆X V x∈A x∈X é um ponto interior de A se existe uma vizinhança 3. O conjunto de todos os pontos interiores de 4. A se existir um conjunto aberto A é chamado interior de τ Ac se é aberto em Sejam Demonstração. contida em A, isto é, A e é denotado por A◦ . É τ. x ∈ X se diz aderente a A se numa vizinhança V V ∩ A 6= ∅ para toda vizinhança V de x. 6. O conjunto dos pontos aderentes a Lema 2.4. x x ∈ V ⊆ U. A ⊆ A. 5. Um ponto isto é, de tal que ◦ é fechado em A, V V x ∈ V ⊆ A. tal que imediato que A ⊆ X. espaço topológico e é dito ser uma vizinhança de 2. O ponto existe (X, τ ) Sejam (X, τ ) A qualquer de é chamado de fecho de espaço topológico e A ⊆ X. Então A, x existem elementos de e é denotado por A. A = A. Da denição decorre imediatamente que todo conjunto está contido no seu fecho, e A ⊆ A. Vejamos que também vale A ⊆ A. Para isso seja x ∈ A. Então para toda vizinhança V de x temos que V ∩ A 6= ∅. Seja V vizinhança de x. Segue que V ◦ é vizinhança de x e, mais ainda, V é vizinhança de y para todo y ∈ V ◦ . Assim V ◦ ∩ A 6= ∅ e portanto existe z ∈ V ◦ e z ∈ A. De z ∈ V ◦ segue que V é vizinhança de z ; e de z ∈ A segue que para toda vizinhança U de z , U ∩ A 6= ∅. Logo, V ∩ A 6= ∅. Portanto, para toda vizinhança V de x temos V ∩ A 6= ∅, isto é, x ∈ A. portanto Lema 2.5. Denição 2.7. fronteira de c A e a A A, (X, τ ) A ⊆ X. A é fechado. c c Demonstração. Para demonstrar este fato, mostremos que A é aberto. De fato, se x ∈ A então c existe V vizinhança de x tal que V ⊆ A , pois do contrário, para toda V vizinhança de x teríamos c que V não estaria contida em A , isto é, V ∩ A 6= ∅. Mas isto quer dizer que x ∈ A = A pelo Lema c c 2.4. Como isso contradiz o fato de que x ∈ A , segue que A é aberto, ou seja, A é fechado. Lema 2.6. Sejam (X, τ ) um espaço topológico e A um subconjunto de X . Então A c = (Ac )◦ . c Demonstração. De fato, x ∈ A se, e somente se, x ∈ / A se, e somente se, existe uma vizinhaça V c de x tal que V ∩ A = ∅ se, e somente se, existe uma vizinhaça V de x tal que V ⊆ A se, e somente c ◦ se, x ∈ (A ) , como queríamos demonstrar. Sejam Sejam espaço topológico e (X, τ ) Então um espaço topológico e que denotaremos por ∂A, A um subconjunto de X. Chamaremos de ao conjunto de pontos que são simultaneamente aderentes a , isto é, ∂A = x ∈ X : x ∈ A e x ∈ Ac = A ∩ Ac . Lema 2.8. isto é, os (X, τ ) espaço topológico e A ⊆ X . Então X é a união disjunta de A◦ , ∂A c c ◦ ◦ conjuntos A , ∂A e A são disjuntos dois a dois e X = A ∪ ∂A ∪ A . Sejam Demonstração. Sejam x um ponto qualquer de X e A ⊆ X. e A c , Então uma e apenas uma das possibili- dades abaixo ocorre: x ∈ V ⊆ A; e neste caso x ∈ A◦ . c (ii) Para toda V vizinhança de x, V ∩ A 6= ∅ e V ∩ A 6= ∅; e neste caso x ∈ A e x ∈ Ac , isto é x ∈ ∂A. c c ◦ (iii) Existe V vizinhança de x tal que V ⊆ A , e portanto x ∈ (A ) . Pelo Lema 2.6 temos que neste c caso x ∈ A . (i) Existe V vizinhança de x tal que Denições e resultados preparatórios Universidade Federal de Uberlândia Axiomatizações equivalentes do conceito de topologia Lema 2.9. (X, τ ) 67 A ⊆ X. A = A. Demonstração. Suponha que A seja fechado. Pelo Lema 2.8 temos que X = A◦ ∪ ∂A ∪ A c com ◦ ◦ ◦ união disjunta, logo A = A ∪ ∂A. Seja x ∈ A. Temos então que x ∈ A ou x ∈ ∂A. Se x ∈ A temos que x ∈ A. Agora, se x ∈ ∂A temos que para toda vizinhança U de x, U tem ao menos um ponto c de A e um de A . Suponha que x ∈ / A. Então x ∈ Ac , que é um conjunto aberto pois A é fechado, e c portanto segue que A é vizinhança de x. Mas como para toda vizinhança U de x, U tem ao menos c c um ponto de A e um de A , segue que A ∩ A = ∅. Como isso é obviamente um absurdo, segue que x ∈ A. Logo temos x ∈ A em ambos os casos, o que completa a demonstração de que A ⊆ A. A outra Sejam espaço topológico e Então A é fechado se e somente se inclusão é óbvia. Reciprocamente, suponha A = A. Como A é fechado pelo Lema 2.5, segue que A também é fechado. Lema 2.10. Sejam (X, τ ) Demonstração. V ∩ B 6= ∅, logo espaço topológico e Se x ∈ A, x ∈ B. Proposição 2.11. Sejam então para toda vizinhança (X, τ ) espaço topológico e B◦ = Demonstração. S A, B ⊆ X . [ A⊆B de B ⊆ X. então A ⊆ B. x, V ∩ A 6= ∅ e como A⊆B segue que Então {A : A é aberto e A ⊆ B} . Vamos começar mostrando que {A : A é aberto e A ⊆ B}. x ∈ B◦. V Se {A : A é aberto e A ⊆ B} ⊆ B ◦ . Seja x ∈ 0 0 A ⊆ B tal que x ∈ A . Segue imediatamente S Então existe um aberto que S B ◦ ⊆ {A : A é aberto e A ⊆ B}. Seja x ∈ B ◦ , então existe uma vi0 0 zinhança V de x tal que x ∈ V ⊆ B . Logo existe um aberto A em X tal que x ∈ A ⊆ V ⊆ B . S Portanto, x ∈ {A : A é aberto e A ⊆ B}. Vamos mostrar agora que Proposição 2.12. Sejam (X, τ ) espaço topológico e B= Demonstração. \ B ⊆ X. Então {F : F é fechado e B ⊆ F } . B ⊆ F . Pelo Lema 2.10 temos T que B ⊆ F . Mas como F é B ⊆ F . Provamos então que B ⊆ {F : F é fechado e B ⊆ F }. T Reciprocamente, seja x ∈ {F : F é fechado e B ⊆ F }. Então x ∈ F para todo F fechado com B ⊆ F . Note que B é fechado pelo Lema 2.9 e B ⊆ B , logo x ∈ B . Seja F fechado com fechado, pelo Lema 2.9 segue que Vejamos que os conjuntos abertos (elementos da topologia) podem ser caracterizados por meio dos conceitos de ponto interior, de interior de um conjunto, de vizinhança e de fecho. São essas caracterizações que nos ensinaram como denir a topologia a partir dos axiomas de fecho e de vizinhança. Proposição 2.13. lógico (a) (b) (c) As seguintes armações são equivalentes para um subconjunto A é aberto. A◦ = A. A é vizinhança do espaço topo- de todos os seus pontos. (d) Todos os pontos de (e) A (X, τ ): A são interiores a A. Ac = Ac . Demonstração. =⇒ (b) Da denição de interior de conjunto é imediato que A◦ ⊆ A. Mostremos que A ⊆ A . Seja x ∈ A. Por hipótese temos que A é um aberto, A ⊆ A e x ∈ A. Logo, A é uma ◦ ◦ vizinhança de x contida em A, isto é x ∈ A . Portanto A = A. (a) ◦ Faculdade de Matemática Denições e resultados preparatórios 68 FAMAT em Revista =⇒ (c) Seja x ∈ A. Então x ∈ A◦ , pois A◦ = A por hipótese. Logo existe V vizinhança de x tal que x ∈ V ⊆ A. Portanto A é uma vizinhança de x. Como x é qualquer, segue que A é vizinhança de (b) todos seus pontos. (c) =⇒ (d) Se A é vizinhança de todos os seus pontos, então para todo x ∈ A existe V aberto, com x ∈ V ⊆ A. Por denição temos que x ∈ A é ponto interior de A. Como x é qualquer, segue que x ∈ A◦ para todo x. Isto é, todos os pontos de A são pontos interiores. (d) =⇒ (b) Por denição é imediato que todos os pontos de A são interiores a A, A◦ ⊆ A. A ⊆ A◦ . Por hipótese temos que x ∈ A temos que x ∈ A◦ . Portanto, A ⊆ A◦ . Falta vericar que isto é para todo =⇒ (e) Por hipótese temos que A◦ = A, logo basta vericar que (A◦ )c = Ac . ◦ c Seja x ∈ (A ) então x ∈ / A◦ isto é, para toda V vizinhança de x temos que V * A e então V ∩ Ac 6= ∅. ◦ c Mas isto quer dizer que x ∈ Ac , e então (A ) ⊆ Ac . c c Seja agora x ∈ A então para toda V vizinhança de x temos V ∩ A 6= ∅ e x ∈ / A◦ , pois se x ∈ A◦ ◦ existiria uma vizinhança V0 de x tal que V0 ⊆ A e então x ∈ / A , ou seja, x ∈ (A◦ )c . Portanto Ac ⊆ (A◦ )c . (b) (e) =⇒ (a) Por hipótese temos que denição temos que A Ac = Ac , então pelo Lema 2.9 segue que Ac é fechado. Logo por é aberto. 3 Resultados Temos então três conceitos denidos usando caracterizações de conjuntos abertos: Conjuntos fechados, Vizinhança e Fecho. Isto é, A ⊂ X é aberto ⇐⇒ Ac é fechado ⇐⇒ A é vizinhança de seus pontos ⇐⇒ Ac = Ac . Começamos mostrando como os conjuntos fechados podem ser a noção básica da topologia. A denição da topologia usando conjuntos fechados é imediata a partir da denição de conjunto fechado como complementar de um conjunto aberto. Teorema 3.1. 1. Sejam X um conjunto e σ uma coleção de subconjuntos de X que satisfaz: ∅, X ∈ σ . 2. Se A1 , A2 , . . . , An ∈ σ , 3. Se (Aλ )λ∈L A1 ∪ A2 ∪ · · · ∪ An ∈ σ . então é uma família arbitrária de conjuntos de σ, então a interseção A= \ Aλ ∈ σ . λ∈L τ = {Ac : A ∈ σ} elementos de σ . Então a coleção exatamente os Demonstração. 1. Mostremos que ∅ e X ∈ τ. c De fato, X = ∅ Por outro lado, é uma topologia em τ X é uma topologia em e nesta topologia os conjuntos fechados são X. e X ∈ σ , logo ∅ ∈ τ . ∅c = X e ∅ ∈ σ , logo X ∈ τ . Denições e resultados preparatórios Universidade Federal de Uberlândia Axiomatizações equivalentes do conceito de topologia 69 A1 , A2 , . . . , An ∈ τ . Então (A1 )c , (A2 )c , . . . , (An )c ∈ σ . (A1 ) ∪ (A2 )c ∪ · · · ∪ (An )c ∈ σ . Como 2. Sejam Por (2) temos que c (A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An )c = (A1 )c ∪ (A2 )c ∪ · · · ∪ (An )c , (A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An )c ∈ σ , segue que (Aλ )λ∈L uma \ família arbitrária segue que (Aλ )c ∈ σ . Como 3. Seja (3) A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An ∈ τ . e portanto τ. de conjuntos de Logo (Aλ )c ∈ σ para todo λ ∈ L. Por λ∈L !c [ = Aλ segue que (Aλ )c , λ∈L λ∈L [ \ Aλ ∈ τ . λ∈L Devemos agora mostrar o fato de que na topologia (X, τ ) um conjunto F é fechado se e somente se F ∈ σ. De fato, F ∈ σ ⇐⇒ F c ∈ τ ⇐⇒ F c é aberto ⇐⇒ F é fechado. Provaremos agora que a noção de fecho de um conjunto também dene a topologia, ou seja, conhecendo os fechos de todos os subconjuntos de X, recuperamos a topologia de X. Os axiomas que denem o fecho de um conjunto são razoavelmente óbvios tendo em vista as propriedades dos fechos de conjuntos. Entretanto, a denição da topologia a partir dos axiomas de fecho não é imediata. É a Proposição 2.13 que nos ensina como proceder: Teorema 3.2. Seja X um conjunto. X , tal que: Considere uma função F : P(X) −→ P(X), onde P(X) é o conjunto das partes de 1. F(∅) = ∅. 2. A ⊆ F(A) 3. F(F(A)) = F(A) 4. F(A ∪ B) = F(A) ∪ F(B) para todo A ⊆ X. para todo A ⊆ X. para todos A, B ⊆ X . τ = {Ac : A = F(A)} temos que τ de A nessa topologia é igual a F(A). Então, denindo A⊆X o fecho Demonstração. Note que, chamando B = Ac é uma topologia de X. Além disso, para cada temos que τ = {Ac : A = F(A)} = {B : B c = F(B c )} . Logo 1. τ = {A : Ac = F(Ac )}. Vejamos que τ é uma topologia em X. ∅ e X ∈ τ. De fato, por (2) temos que de F é P(X). X ⊆ F(X) e a inclusão inversa segue do fato de que o contradomínio Então ∅c = X = F(X) = F(∅c ), e portanto ∅ ∈ τ. F(X c ) = F(∅) = ∅ = X c , Além disso, Faculdade de Matemática e portanto X ∈ τ. Resultados 70 FAMAT em Revista 2. Sejam A1 , A2 , . . . , An ∈ τ . (A1 )c = F(Ac1 ), . . . , (An )c = F(Acn ). Então Aplicando (4) repetidas vezes temos que (A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An )c = (A1 )c ∪ · · · ∪ (An )c = F(Ac1 ) ∪ · · · ∪ F(Acn ) = F((Ac1 ) ∪ (Ac2 )) ∪ F(Ac3 ) ∪ · · · ∪ F(Acn ) = F((Ac1 ) ∪ (Ac2 ) ∪ (Ac3 )) ∪ F(Ac4 ) ∪ · · · ∪ F(Acn ) = ··· = F((Ac1 ) ∪ (Ac2 ) ∪ · · · ∪ (Acn )) = F((A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An )c ), e portanto segue que 3. Seja A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An ∈ τ. (Aλ )λ∈L uma coleção de conjuntos de Aλ ∈ τ c Então para todo λ ∈ L, logo τ. c (Aλ ) = F((Aλ ) ) para todo !c [ !c Por (2) sabemos que vale Basta provar então que Para isso chame B = \ ⊆ Aλ λ∈L (Aλ )c . Então [ Aλ λ∈L !c ! [ F !c ! ⊆F Aλ λ∈L . Aλ λ∈L λ∈L [ Devemos provar que !c ! [ =F Aλ λ ∈ L. [ . !c Aλ ! , isto é, \ F λ∈L (Aλ )c ⊆ λ∈L c B ⊆ (Aλ ) para todo λ ∈ L, \ (Aλ )c . λ∈L e daí c (Aλ ) = B ∪ (Aλ )c λ∈L para todo λ ∈ L. Por (4) segue que Mas isso vale para todo λ ∈ L, F((Aλ )c ) = F(B) ∪ F((Aλ )c ) e portanto F(B) ⊆ F((Aλ )c ). logo ! F \ c (Aλ ) = F(B) ⊆ λ∈L \ F((Aλ )c ) = λ∈L F(A). Isto τ. é, devemos provar que A = F(A) para todo (Aλ )c . λ∈L X A ⊆ X , onde A Devemos agora mostrar que o fecho de um subconjunto qualquer com \ A de na topologia τ coincide denota o fecho de A na topologia Para isso seja A ⊆ X. Pela Proposição 2.12 sabemos que A= isto é, temos \ {F : F é fechado e A ⊆ F } , T A = δ∈L Fδ , onde (Fδ )δ∈L é a família de todos fechados que A ⊆ Fδ , e portanto A ∪ Fδ = Fδ . Por (4) segue que que contém A. Para cada δ ∈ L F(Fδ ) = F(A ∪ Fδ ) = F(A) ∪ F(Fδ ), F(A) ⊆ F(Fδ ). Como Fδ é fechado, então FTδc ∈ τ e portanto temos que Fδ = F(Fδ ). Daí segue F(A) ⊆ Fδ para todo δ ∈ L, e portanto F(A) ⊆ δ∈L Fδ = A. c Para provar a inclusão inversa, usando (3) temos que F(F(A)) = F(A), e daí segue que F(A) ∈ τ , ou seja F(A) é fechado. Por (2), A ⊆ F(A), logo F(A) é um fechado que contém A. Pela Proposição 2.12 sabemos que o menor fechado que contém A é A, logo A ⊆ F(A), o que completa a demonstração de que A = F(A). e portanto Resultados Universidade Federal de Uberlândia Axiomatizações equivalentes do conceito de topologia 71 O último resultado mostra que o conceito de vizinhança também pode ser usado como conceito básico da topologia, ou seja, podemos recuperar a topologia de um conjunto conhecendo as vizinhanças de todos os pontos do conjunto. Assim como no caso anterior, os axiomas de vizi- nhança são decorrência das propriedades que as vizinhanças gozam, e a denição da topologia a partir desses axiomas é feita tendo em vista a equivalência (a) Teorema 3.3. Sejam X um conjunto e ⇐⇒ (c) da Proposição 2.13. µ = {µx }x∈X uma coleção de conjuntos µx de subconjuntos de X que satizfaz: 1. (N1) x∈A A ∈ µx para todo 2. (N2) Se V ⊆X 3. (N3) Se A, B ∈ µx 4. (N4) Para todo e existe X ∈ µx A ∈ µx então A ∈ µx , e tal que para todo A⊆V x ∈ X. então V ∈ µx . A ∩ B ∈ µx . existe B ∈ µx tal que B⊆A e B ∈ µy , para todo τ = {A : A ∈ µx para todo x ∈ A} temos que τ é uma x ∈ X , µx é a coleção de vizinhanças de x nessa topologia, isto é, µx = {U : U é vizinhança de x na topologia τ } para todo x ∈ X . Então, denindo Demonstração. 1. Vejamos que τ é uma topologia em ∅ e X ∈ τ. ∅ ∈ τ , pois do contrário Mais ainda, X ∈ τ por (N1). De fato, existiria x∈∅ y ∈ B. topologia em X e para cada X: tal que ∅∈ / µx , o que é absurdo. A1 , A2 , . . . , An ∈ τ . Então, por denição, A1 ∈ µx1 para todo x1 ∈ A1 , A2 ∈ µx2 para x2 ∈ A2 , . . . , An ∈ µxn para todo xn ∈ An . Logo A1 ∈ µx , A2 ∈ µx , . . . , An ∈ µx , para todo x ∈ A1 ∩A2 ∩· · ·∩An . Aplicando (N3) repetidas vezes segue que para todo x ∈ A1 ∩A2 ∩· · ·∩An , temos que se A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An ∈ µx então A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An ∈ τ . [ Seja (Aλ )λ∈L uma coleção de conjuntos de τ . Dado x ∈ Aλ , existe λ0 ∈ L tal que x ∈ Aλ0 ∈ τ . 2. Sejam todo 3. λ∈L Logo Aλ0 ∈ µx . para todo x∈ Mas [ Aλ0 ⊆ Aλ , [ Aλ , λ∈L [ ou seja λ∈L logo por (N2) segue que [ λ∈L Aλ ∈ µx . Assim [ Aλ ∈ µx λ∈L Aλ ∈ τ . λ∈L µx = {U : U é vizinhança de x na topologia τ } para todo x ∈ X . x ∈ X e U ⊆ X . Suponha que U ∈ µx . Por (N4) existe V ∈ µx tal que V ⊆ U e V ∈ µy para todo y ∈ V . Portanto V ∈ τ , isto é, V é aberto. E por (N1) temos que x ∈ V . Então V é um aberto contendo x e contido em U . Por denição de vizinhança segue que U é uma vizinhança de x. Provamos então que µx ⊆ {U : U é vizinhança de x na topologia τ }. Reciprocamente, suponha que U seja uma vizinhança de x na topologia τ . Então existe um conjunto aberto A tal que x ∈ A ⊆ U . Então A ∈ τ , isto é A ∈ µy para todo y ∈ A. Como x ∈ A temos que A ∈ µx . Como A ⊆ U , por (N2) segue que U ∈ µx , e portanto {U : U é vizinhança de x na topologia τ } ⊆ µx , o que completa a demonstração. Devemos agora mostrar o fato de Sejam Referências Bibliográcas Topology ed. Springer, 1984. a [2] MUNKRES, J. R., Topology, 2 Ed., Prentice-Hall, 2000. [1] JÄNICH, K. Faculdade de Matemática Resultados 72 Resultados FAMAT em Revista Universidade Federal de Uberlândia Sobre espaços vetoriais associados a divisores em corpos de funções algébricas Luciana Yoshie Tsuchiya Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Graduanda em Matemática - Programa de Educação Tutorial luyoshie@ gmail. com Otoniel Nogueira da Silva Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Graduando em Matemática - Programa de Educação Tutorial otonielocf@ yahoo. com. br Cícero Fernandes de Carvalho Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Titular cicero@ ufu. br Resumo: Nesse trabalho apresentaremos resultados sobre certos espaços vetoriais associados a divisores num corpo de funções algébricas de uma variável. Tais espaços são conhecidos como espaços de Riemann-Roch de um divisor. Inicialmente apresentaremos os conceitos básicos da teoria de corpos de funções, como lugares, valorizações, anéis de valorização, etc. Finalmente apresentaremos os teoremas de Riemann e de Riemann-Roch, juntamente com algumas de suas consequências. 1 Introdução F |K de uma variável sobre K é uma extensão de corpos F ⊇ K tal K(x) para algum elemento x ∈ F transcendente sobre K . Por ocorrer Um corpo de funções algébricas que F é uma extensão nita de naturalmente em vários campos da matemática, tais como geometria algébrica, teoria dos números e teoria das superfícies compactas de Riemann seu estudo pode ser feito sobre vários aspectos, sendo que nesse trabalho zemos uma abordagem puramente algébrica. Os resultados que apresentaremos são de grande importância também na teoria dos códigos corretores de erros. De fato, em 1981, o matemático russo Valerii Denisovich Goppa utilizou-os para a construção de uma grande classe de códigos interessantes, sendo que o teorema de Riemann-Roch, naquela teoria, fornece estimativas para os principais parâmetros dos códigos, como dimensão e distância mínima. 2 Conceitos Preliminares Iniciaremos um estudo de alguns conceitos básicos da teoria de corpos de funções algébricas, que são necessários para a compreensão dos resultados que queremos apresentar. Denotaremos por corpo arbitrário. K um 74 FAMAT em Revista 2.1 Corpos de Funções Algébricas Denição 2.1. Um corpo de funções algébricas corpos F ⊇K F K. tal que transcendente sobre de uma variável sobre K(x) é uma extensão algébrica (nita) de Para efeito de abreviação nos referiremos a Denição 2.2. F |K F |K é uma extensão de para algum elemento é algébrico sobre K} K ⊆ K̃ $ F , algebricamente fechado em F K e é claro que (ou que K F |K̃ F |K(z) Exemplo 2.4. racionais; F |K F, é chamado de K . Diremos F ) se K̃ = K . é um corpo de funções sobre é todo o corpo de constantes de Em um corpo de funções algébricas, os elementos de z ∈F podem ser caracterizados da seguinte forma: extensão K̃ F |K . Temos que Proposição 2.3. que é , que é um subcorpo de já que a soma, o produto e o inverso de elementos algébricos são também algébricos. corpo das constantes de x∈F apenas como corpo de funções algébricas. K̃ = {z ∈ F : z Considere o conjunto K F que K é que são transcendentes sobre é transcendente sobre K se, e somente se, a é de grau nito. O exemplo mais simples de um corpo de funções algébricas é o corpo de funções é chamado racional se Cada elemento 0 6= z ∈ K(x) F = K(x) x∈F para algum que é transcendente sobre K. tem uma única representação na forma z=a Y pi (x)ni i onde 0 6= a ∈ K , pi (x) ∈ K[x] os polinômios são mônicos, dois a dois distintos e irredutíveis e 2.2 Anéis de Valorização, Lugares e valorizações discretas Denição 2.5. Um anel de valorização do corpo de funções F |K é um anel O ⊆ F ni ∈ Z. com as seguintes propriedades: (1)K $ O $ F e (2) para todo z ∈ F Proposição 2.6. (a) O temos que Seja O z∈O ou um anel de valorização do corpo de funções O tem zw = 1}. é um anel local, isto é, existe um elemento (b) Seja w∈O 0 6= x ∈ F , (c) Para o corpo Demonstração. K̃ z −1 ∈ O. com então um único ideal maximal F |K . Então acontece o seguinte: P = O \ O∗ , onde O∗ = {z ∈ O| x ∈ P ⇔ x−1 ∈ / O. de constantes de F |K temos (a)Mostremos primeiramente que K̃ ⊆ O P e K̃ ∩ P = {0}. é um ideal, isto é, que se x∈P ∗ xz ∈ P z ∈ O, então existe um w ∈ O e e se x, y ∈ P então x + y ∈ P . Suponha que xz ∈ / P , logo xz ∈ O , então (xz)w = 1 =⇒ x(zw) = 1, e daí como zw ∈ O temos que x ∈ O∗ , o que contraria o fato de x ∈ P . Logo xz ∈ O \ O∗ = P . x x Agora, sem perda de generalidade assumiremos que ∈ O, y 6= 0. Assim 1 + ∈ O e x+y = y y y 1 + xy ∈ P . Portanto P é um ideal de O. tal que Suponha agora, que existirá um x ∈ I, P tal que Conceitos Preliminares não seja maximal, então existirá um ideal x ∈ / P. Disso segue que x ∈ O∗ I, tal que P $ I $ O. Logo w ∈ O tal que e então vai existir um Universidade Federal de Uberlândia Sobre espaços vetoriais associados a divisores em corpos de funções algébricas xw = 1, logo 1 ∈ I, o que implica que Finalmente, provemos que P I = O. Mas isto é um absurdo, logo 75 P é maximal. O. H de O que seja maximal. Temos que H ∩ O∗ = ∅, H ⊂ O \ O∗ = P, mas H é maximal, portanto P = H. é o único ideal maximal de Suponha que exista um outro ideal teríamos 1∈H e H = O. Logo caso contrário 0 6= x ∈ F . Suponhamos que x ∈ P e x−1 ∈ O, logo como P é um ideal de O temos −1 que xx = 1 ∈ P , mas isso é um absurdo, logo x−1 ∈ / O. Reciprocamente se x ∈ / O, então da −1 denição de anel de valorização, x ∈ O . Suponha que x ∈ O∗ , assim existe um w ∈ O∗ tal que xw = 1, ou seja, w = x−1 ∈ O∗ ⊂ O. Mas isso é uma contradição, pois x−1 ∈ / O. Logo x ∈ O\O∗ = P . b) Seja c) Seja z ∈ K̃ . z é algébrico a1 , a2 , ...an ∈ K , tal Como z ∈ / O, como O é K , segue que z −1 também Suponha que um anel de valorização, temos que sobre é algébrico sobre K, z −1 ∈ O. então existem elementos que ar (z −1 )r + · · · + a1 (z −1 ) + 1 = 0. Manipulando a expressão temos, (z −1 )(ar (z −1 )r−1 + · · · + a1 ) = −1 −z, Multiplicando por z = −(ar (z −1 )r−1 + · · · + a1 ) ∈ K[z −1 ] ⊆ O, z ∈ O. Mas que K̃ ⊆ O . daí isso é uma contradição da suposição de que Falta mostrar que e x ∈ K̃ , K̃ ∩P = {0}. Suponha que existe um o que é uma contradição, pois sendo Teorema 2.7. Seja O K̃ z∈ / O. Logo z ∈ O. Assim mostramos x 6= 0 tal que x ∈ K̃ ∩P = {0}. Assim x 6= O∗ um corpo, todos os seus elementos são invertíveis. um anel de valorização do corpo de funções F |K e seja P seu único ideal maximal. Então temos (a) P é um ideal principal. P = tO então cada 0 6= z ∈ F tem uma única representação na forma z = tn u, n ∈ Z e u ∈ O∗ , sendo que se z ∈ O, então n ≥ 0 e se z ∈ / O, então n < 0. (b) Se para algum A prova do teorema depende do seguinte lema. Lema 2.8. O um anel de valorização de um corpo de funções algébricas F |K , seja P seu único 0 6= x ∈ P . Sejam x1 , . . . , xn ∈ P tal que x1 = x e xi ∈ xi+1 P para i = 1, 2, . . . , n − 1. Seja ideal maximal e Então temos n ≤ [F : K(X)] < ∞ Demonstração. Como 0 6= x ∈ P e K, da proposição 2.6 temos transcendente sobre é suciente mostrar que x ∈ K̃ ∩ P = {0}, F |K(x) então, da proposição 2.3 temos que x1 , . . . , x n segue que x ∈ / K̃ , ou seja é uma extensão nita. são linearmente independentes sobre K(x), pois F é um x é Então K(X) espaço vetorial. Suponha então que x1 , . . . , xn sejam linearmente dependentes, assim existe uma combinação não-trivial n P ϕi (x)xi = 0, com ϕi (x) ∈ K(x). i=1 para i = 1, ..., n. Fazendo a multiplicação da equação acima pelo máximo múltiplo comum dos denominadores e dividindo pela menor potência de x que aparece na fatoração dos numeradores, obtemos a equação n X ϕ̃i (x)xi = 0 i=1 Faculdade de Matemática Conceitos Preliminares 76 FAMAT em Revista ϕ̃i (x) ∈ K[x] e x não divide todos ϕ̃i (x). Colocando a1 := ϕ̃i (0), o termo j ∈ 1, ..., n pela condição aj 6= 0 e ai = 0 para todo i > j , temos X X ϕ̃i (x)xi + ϕ̃j (x)xj + ϕ̃i (x)xi = 0 onde todo ϕ̃i (x) constante de e denindo i<j i>j e então obtemos −ϕ̃j (x)xj = X ϕ̃i (x)xi + X i<j ϕ̃j (x) ⊂ K[x] ⊂ O gi (x) ∈ K[x]. com para i = 1, ..., n, xi ∈ xj P Dividindo a equação acima por xj ϕ̃i (x)xi i>j para i < j e ϕ̃i (x) = xgi (x) X ϕ̃i (x) i<j e também i>j P P , pois i<j ϕ̃i xxji ∈ P , já que xi ∈ xj P gi (x)xi ∈ P . Logo ϕ̃j (x) ∈ P . x ∈ P, n P x pois xj ∈P e e ϕ̃i (x) ∈ O ϕ̃j (x) = aj + xgj (x), com aj ∈ K , então aj = ϕ̃j (x) − xgj (x). Como gj (x) ∈ K[x] ⊆ O que xgj (x) ∈ P , logo aj ∈ P ∩ K̃ = {0}. Mas isso é uma contradição pois aj 6= 0. Por outro lado, e ∈P onde xi X x + gi (x)xi . xj x i>j j Observe que toda soma do lado direito pertence a x xj gi (x)xi i > j, obtemos −ϕ̃j = P para temos ϕi (x)xi = 0 é uma combinação linear trivial, ou seja, i=1 são linearmente independentes. Logo ϕi (x) = 0, para i = 1, ..., n e x1 , ..., xn Provemos agora o teorema 2.7 Demonstração. não seja principal e escolha um elemento 0 6= xi ∈ P . Como P 6= x1 O , existe −1 x2 x−1 / O, pois se x2 x−1 1 ∈ 1 ∈ O então x1 (x2 x1 ) ∈ x1 O e daí x2 ∈ x1 O . Então −1 −1 pela proposição 2.6.b temos que x2 x1 ∈ P e então x2 x2 x1 ∈ x2 P e logo x1 ∈ x2 P . Por indução obtemos uma sequência innita (x1 , x2 , x3 , ...) em P tal que xi ∈ xi+1 P para todo i ≥ 1, mas isso é uma contradição, pois pelo lema 2.8, podem existir apenas um número nito de xn com n ∈ N satisfazendo xi ∈ xi+1 P . a) Suponha que x2 ∈ P \ x1 O . P Então z −1 ∈ O, podemos supor que z ∈ O. Se z ∈ O∗ , então z = t z e pronto. Consideremos o caso em que z ∈ P . Existe um m ≥ 1 máximo com z ∈ tm O, já que m−1 o comprimento da sequência x1 = z, x2 = t , ..., xm = t é limitado pelo lema 2.8. m Escreva z = t u com u ∈ O . Então u deve ser um invertível de O , caso contrário u ∈ P = tO , m+1 então u = tw com w ∈ O e z = t w ∈ tm+1 O, o que contradiz a maximalidade de m. Agora n m ∗ n m m −1 n suponha que z = t u e z = t v com m, n ∈ N e u, v ∈ O . Logo t u = t v , e então (t ) t uu−1 = m −1 m −1 m−n −1 m−n ∗ ∗ (t ) t vu =⇒ t = vu , logo t ∈ O , ou seja, t ∈ O . Isso é um absurdo. pois teríamos P =O b) Seja z ∈F com z 6= 0. Como z ou 0 Denição 2.9. de valorização (b) PF = {P tal P de um corpo de funções algébricas é um ideal maximal de algum anel F |K . Todo elemento t ∈ P tal que P = tO é chamado um elemento primo de P . que P é um lugar de F |K } (a) Um lugar O de O é um anel de valorização de F |K e P é seu ideal maximal, então O é unicamente determinado P , isto é, O = {z ∈ F |z −1 ∈ / P } de acordo com a proposição 2.6(b). Isso signica que temos uma bijeção entre os anéis de valorização e os lugares de um corpo de funções. Assim OP := O é chamado de anel de valorização do lugar P . Se por Uma segunda descrição muito útil de lugares é dada em termos de valorização. Conceitos Preliminares Universidade Federal de Uberlândia Sobre espaços vetoriais associados a divisores em corpos de funções algébricas Denição 2.10. Uma valorização discreta de F |K é uma função 77 v : F |K → Z∪{∞} com as seguintes propriedades, (1) (2) (3) (4) (5) v(x) = ∞ ⇔ x = 0, v(xy) = v(x) + v(y) para todo x, y ∈ F , v(x + y) ≥ min{v(x), v(y)} para todo x, y ∈ F , Existe um elemento z ∈ F com v(z) = 1, v(a) = 0 para todo 0 6= a ∈ K . Nesse contexto o símbolo ∞ signica algum elemento que não está em Z tal que ∞ + ∞ = ∞ + n = n + ∞ = ∞ e ∞ > m para todo m, n ∈ Z. De (2) e de (4) segue que v : F |K → Z ∪ {∞} é sobrejetora. A propriedade (3) é chamada desigualdade triangular. Uma versão mais forte da desigualdade triangular que é bastante usada é a seguinte. Lema 2.11 (Desigualdade triangular estrita.). com v(x) 6= v(y). Demonstração. v(x + y) = Então Seja v uma valorização discreta de F |K e seja x, y ∈ F min{v(x), v(y)} v(ay) = v(y), para 0 6= a ∈ K , pois pelas propriedades (2) e (5) de uma v(ay) = v(a) + v(y) = 0 + v(y). Em particular v(−y) = v(−1y) = v(−1) + v(y) = v(y). Como v(x) 6= v(y), assumamos que v(x) < v(y) e suponha que v(x+y) < min{v(x), v(y)}. Então obtemos v(x) = v((x + y) − y) ≥ min{v(x + y), v(y)}, donde segue que v(x) ≥ v(x + y) ou v(x) ≥ v(y). Temos uma contradição. Logo v(x + y) = min{v(x), v(y)} para v(x) 6= v(y). Observe que valorização discreta temos Denição 2.12. Para um lugar P ∈ PF associamos uma função vp : F → Z ∪ {∞} denida da seguinte forma. Escolha um elemento primo t de ∗ com u ∈ OP e n ∈ Z. Dena vP (z) := n e vP (0) := ∞. P. Então todo z ∈ F, z 6= 0, tem uma única representação P e não da escolha do t. t0 um outro elemento primo de P . então P = tO = t0 O. Como t ∈ P , t = t0 w, com w ∈ Op∗ . n 0n n n ∗ Logo, seja z ∈ F , temos que z = t u = t (w u) com w u ∈ Op . z = tn u Observe que essa denição depende apenas de De fato, seja Teorema 2.13. Seja (a) Para algum lugar F |K um corpo de funções, P ∈ PF , a função vP denida então t ∈ t0 O , acima é uma valorização discreta de F |K . logo Além disso temos, OP = {z ∈ F |vP (z) ≥ 0} OP∗ = {z ∈ F |vP (z) = 0} P = {z ∈ F |vP (z) > 0} (b) Um elemento x∈F P se, e somente se, vP (x) = 1. v é uma valorização discreta de F |K . Então o conjunto P := {z ∈ F |K e OP = {z ∈ F |vP (z) ≥ 0} é o seu anel de valorização correspon- é um elemento primo de (c) Por outro lado, suponha que F |vP (z) > 0} é um lugar de dente. Demonstração. (a) É fácil vericar que z ∈ F . Temos ∗ OP = {z ∈ F |vP (z) = 0}. Então seja Faculdade de Matemática que z ∈ OP∗ vP satisfaz as propriedades de uma valorização discreta. se, e somente se, z = t0 z , se, e somente se, vP (z) = 0. Daí Conceitos Preliminares 78 FAMAT em Revista = tn u ∈ F , n ∈ Z e u ∈ O∗ . Temos que w = tn u ∈ P se, e somente w =t u ∈ / O se, e somente se −n < 0 se, e somente se n > 0 se, e somente se vP (w) > 0. Logo P = {z ∈ F |vP (z) > 0}. ∗ Como O = P ∪ O , segue que OP = {z ∈ F |vP (z) ≥ 0}. Seja 0 6= w −1 −n −1 se t ∈ F um elemento primo de P . Então todo z ∈ F tem uma única representação na forma z = t u, com u ∈ OP∗ e n ∈ Z. Seja x ∈ F um outro elemento primo de P . Como x ∈ F temos que x = tm u1 , com m ∈ Z e u1 ∈ OP∗ . Como x é elemento primo de P temos que t = xn u2 , com n ∈ Z ∗ n m nm m ∗ 1 e u2 ∈ OP . Daí x = (x u2 ) u1 , ou seja, x = x (u2 u1 ), com um 2 u1 ∈ OP . Mas x = x 1, então da nm m unicidade da representação temos que mn = 1. Logo vP (x) = vP (x (u2 u1 )) = 1. Reciprocamente 1 ∗ −1 seja t um elemento primo de P . Daí como vP (x) = 1, temos que x = t u, com u ∈ O , daí xu = t. −1 Logo P = tO = xu O = xO. Portanto x ∈ F é um elemento primo de P . (b) Seja n (c) É fácil mostrar que OP OP é um anel. Como F é um corpo, em particular F é um anel, então F. OP é um anel de valorização, ou seja, que K ( O ( F e que para todo z ∈ F −1 temos z ∈ O ou z ∈ O. Para qualquer a ∈ K temos que vP (a) = 0, logo K ⊂ OP . Agora como vP é uma valorização discreta, existe z ∈ F tal que vP (z) = 1, então z ∈ OP , mas z ∈ / OP∗ , como K ⊆ OP∗ , temos que K ( OP . −1 Seja 0 6= x ∈ OP , tal que vP (x) > 0, temos que 0 = vP (1) = vP (xx ) = vP (x) + vP (x−1 ) =⇒ −1 −1 −1 vP (x ) = −vP (x) < 0. Logo x ∈ F , mas x ∈ / OP . Portanto OP ( F . −1 Seja 0 6= z ∈ F . Suponha que vP (z) ≥ 0, logo z ∈ OP . Caso contrário vP (z) < 0, daí vP (z )= −1 −vP (z) > 0 e então z ∈ OP . basta mostrar que é um subanel de Veriquemos então que Mostremos agora que P OP . vP (x) > 0 e vP (y) ≥ 0, é um ideal de x ∈ P e y ∈ OP , então logo vP (xy) = vP (x) + vP (y) > 0. Portanto xy ∈ P . Seja a, b ∈ P . Temos que vP (a + b) ≥ min{vP (a), vP (b)} > 0, logo a + b ∈ P . Portanto P é um ideal de OP . Seja P é maximal. OP , tal que P ( I ⊂ OP . Logo existe um t ∈ I tal que vP (t) = 0. Daí seja x ∈ F 0 ∗ −1 elemento primo de P , então t = x u, com u ∈ O . Temos que t = x0 u−1 , logo vP (t−1 ) = 0 e −1 ∈ OP . Como I é um ideal temos que tt = 1 ∈ I , donde segue que I = OP . Veriquemos que Seja um t−1 I um ideal de P é único. Seja M 6= ∅ um outro ideal maximal de OP , daí como M 6= P , temos que existe um t ∈ M tal que vP (t) = 0. Tome um z ∈ OP , como M é um ideal de OP , temos que tz ∈ M . Daí vP (tz) = vP (t) + vP (z) = 0 + vP (z) = vP (z) e então z ∈ M , donde segue que OP ⊆ M . Logo OP = M . Portanto P é um lugar de F |K e OP é o seu anel de valorização correspondente. Finalmente mostremos que De acordo com o teorema 2.13, lugares, anéis de valorização e valorizações discreta de um corpo de funções são essencialmente a mesma coisa. P um lugar de F |K e seja OP seu anel de valorização. P é um ideal maximal, o anel das classes de resíduos OP /P é um corpo. Para x ∈ OP denimos x(P ) ∈ OP /P como a classe de resíduos de x módulo P . Para x ∈ F \ OP colocamos x(P ) := ∞. Pela proposição 2.6 sabemos que K ⊆ OP e K ∩ P = {0}, então a aplicação de classes de resíduos OP −→ OP /P induz um mergulho canônico de K em OP /P . Observe que esse argumento também se aplica a K̃ em vez de K , então podemos considerar K̃ como Seja Já que Conceitos Preliminares Universidade Federal de Uberlândia Sobre espaços vetoriais associados a divisores em corpos de funções algébricas 79 OP /P . um subcorpo de Denição 2.14. Se P ∈ PF := O \ P é o corpo de classe residual de P . A aplicação x → x(P ) de F em FP ∪ {∞} é chamada de aplicação de (b) grauP := [FP : K] é chamado de grau de P . Um lugar de grau 1 é também chamado de um lugar racional de F |K . (a)FP Pode-se mostrar que Proposição 2.15. Demonstração. grauP ≤ [F : K(X)] < ∞, O corpo K̃ de constantes de Usaremos o fato de que P ∈ PF . Visto que K̃ está [K̃ : K] ≤ [FP : K] < ∞. Escolha um segue que Remark 2.16. Seja P é uma extensão de corpos nita sobre as aplicações de classes de residuais vão de K. o que garante isso é o corolário 2.19, mais adiante. mergulhado em um lugar racional de P. ou seja, o grau de um lugar é sempre nito. F |K PF 6= ∅, classe residual respectiva à FP via aplicação classe de resíduos F |K , isto é, grauP = 1. Então F para K ∪ {∞}. Em particular temos OP → F P , Fp = K , e K é um corpo z ∈ F como uma se algebricamente fechado, então todo lugar é racional e podemos ler um elemento de função; z: Por isso F |K PF P −→ K ∪ {∞} 7−→ z(P ) é chamado de corpo de funções. Os elementos de K acordo com 2.16, são funções constantes. Por essa razão K interpretados como funções de é chamado de corpo de constantes de F. A seguinte terminologia também é justicada por 2.16. Denição 2.17. Dizemos que z um zero de Seja z ∈ F e P ∈ PF . vP (z) < 0. Se vP (z) = m > 0, P é z de ordem m. se de P z é um zero de de ordem m; É possível mostrar que dado um corpo de funções algébricas se z se vP (z) > 0; P é um pólo de vP (z) = −m < 0, P é um pólo F |K temos que PF 6= ∅. O que garante isto é o próximo teorema. Teorema 2.18. que I(R Seja F |K um corpo de funções e seja é um ideal não trivial de Corolário 2.19. Seja F |K R. R um subanel de Então existe um lugar um corpo de funções, menos um pólo e um zero. Em particular z ∈F P ∈ PF F com tal que transcendente sobre K ⊆ R ⊆ F . Suponha I ⊆ P e R ⊆ OP . K. Então z tem pelo PF 6= ∅. A seguinte proposição mostra que o número de zeros de uma função algébrica é nito. Proposição 2.20. Seja F |K um corpo de funções. Seja r X P1 , ..., Pn zeros do elemento x ∈ F. Então vPi (x)grauPi ≤ [F : K(x)]. i=1 2.3 Divisores e Espaços de Riemann-Roch O corpo K̃ de constantes de um corpo de funções algébricas pode ser considerado como um corpo de funções sobre Portanto de agora em diante variável tal que K F |K é uma extensão nita de K e F será sempre denotado como um corpo de funções algébricas de uma é o corpo de constantes completo de Faculdade de Matemática F |K K̃. F |K . Conceitos Preliminares 80 FAMAT em Revista Denição 2.21. F |K . F |K é denido como o grupo abeliano livre o qual é gerado Div(F ). Os elementos de Div(F ) são chamados de divisores de O grupo divisores de F |K pelos lugares de e denotado por Em outras palavras, um divisor é uma soma formal X D= nP P P ∈PF com nP ∈ Z O suporte de e uma quantidade nita de P nP = 0. é denido por SuppD = {P ∈ PF |nP 6= 0} . PP ∈ PF é chamado divisor primo. PD = P com 0 D= nP P e D = n0P P são somados termo a termo, X D + D0 = (nP + n0P )P. Um divisor da forma Dois divisores isto é, P ∈PF Div(F ) X 0 := rP P, O elemento zero do grupo de divisores é o divisor com todos rP = 0. P ∈PF Para Q ∈ PF e D= P nP P ∈ div(F ) denimos vQ (D) := nQ , portanto SuppD = {P ∈ PF |vP (D) 6= 0} e X D= vP (D)P. P ∈suppD div(F ) é denida por D1 ≤ D2 se, e somente se vP (D2 ) ≤ vP (D1 ) para todo P ∈ PF . Se D1 ≤ D2 eD1 6= D2 também escrevemos D1 < D2 . Um divisor D ≥ 0 é chamado de divisor positivo ou efetivo. Uma ordem parcial em O grau de um divisor é denido por grau D := X vP (D)grau P, P ∈PF grau : Div(F ) −→ Z. 0= 6 x ∈ F tem apenas um número e isso produz um homomorzmo de grupos Pode-se mostrar que um elemento nito de zeros e pólos em PF , assim a seguinte denição faz sentido. Denição 2.22. Seja 0 6= x ∈ F e denote por Z e N o conjunto de zeros e de pólos de X em PF respectivamente. Então denimos (x)0 = X vP (x)P o divisor zero de x (2.1) P ∈Z (x)∞ = X (−vP (x))P o divisor pólo de x (2.2) P ∈N (x) := (x)0 − (x)∞ o divisor principal de x (2.3) P Claramente (x)0 ≥ 0, (x)∞ ≥ 0 e (x) = P ∈PF vP (x)P . Observe que se 0 6= x ∈ F é uma constante, isto é, x ∈ K , então vP (x) = 0 para qualquer P ∈ PF , o que implica que (x) = 0. Reciprocamente se (x) = 0 então x é um elemento sem zeros e sem pólos, pelo corolário 2.19 segue então que x não é transcendente sobre K , então x é algébrico sobre K , ou seja x ∈ K̃ = K. Conceitos Preliminares Universidade Federal de Uberlândia Sobre espaços vetoriais associados a divisores em corpos de funções algébricas 81 Denição 2.23. P rinc(F ) := {(x); x ∈ F, x 6= 0} é chamado de grupo dos divisores principais de F |K . Note que P rinc(F ) é um subgrupo de Div(F ), já que para x, y ∈ F ,com x 6= 0 e y 6= 0 temos que (x) − (y) ∈ P rinc(F ), pois P P P P (x) − (y) = P ∈PF vP (x)P − P ∈PF vP (y)P = P ∈PF vP (x)P + P ∈PF −vP (y)P P P = P ∈PF (vP (x) + vP (y −1 ))P = P ∈PF (vP (xy −1 )P = (xy −1 ) ∈ P rinc(F ). Logo P rinc(F ) também é abeliano e portanto é um subgrupo normal de Div(F ), então a seguinte denição faz sentido. Denição 2.24. classe de grupos divisores de quociente O grupo de quocientes Cl(F ) := Div(F )/P rinc(F ) é chamado de F |K . Para um divisor D ∈ Div(F ) o elemento correspondente no grupo é denotado por [D], a classe divisora de D . 0 Dois divisores D, D ∈ Div(F ) são ditos equivalentes, e escrevemos Cl(F ) D ∼ D0 se [D] = [D0 ], isto é, se D = D0 + (x) para algum x ∈ F \ {0}. Nossa próxima denição é de grande importância na teoria de corpos de funções algébricas. Denição 2.25. Para um divisor A ∈ Div(F ) denimos o espaço de Riemann-Roch associado a A por L(A) := {x ∈ F : (x) + A ≥ 0} ∪ {0}. Essa denição vem da seguinte interpretação: se A= r X ni Pi − i=1 s X mj Qj , j=1 ni > 0, mP j > 0, então Ps Pr P (x) + A = ( P ∈Z vP (x)P − P ∈N (−vP )(x)P ) + ( i=1 ni Pi − j=1 mj Qj ) Pr P Ps P , = ( P ∈Z vP (x)P − j=1 mj Qj ) + ( i=1 ni Pi − P ∈N (−vP )(x)P ) daí L(A) consiste de todo elemento x ∈ F tal que i) x tem zeros de ordem ≥ mj em Qj para j = 1, . . . , s e ii) x pode ter pólos somente nos lugares P1 , . . . , Pr com ordem dos pólos em Pi menor ni para i = 1, . . . , r. com ou igual do que Remark 2.26. a) b) Seja x ∈ Div(F ). Então x ∈ L(A) se, e somente se, vP (x) ≥ −vP (A) para todo P ∈ PF . L(A) 6= {0} se, e somente se, existe um divisor A0 ∼ A com A0 ≥ 0. Demonstração. a) Da denição de ordem parcial temos que (x) ≥ −A se, e somente se vP (x) ≥ vP (−A), para todo P ∈ PF , ou seja, x ∈ L(A) se, e somente se, vP (x) ≥ −vP (A) para todo P ∈ PF . 0 b) Se L(A) 6= {0}, existe um 0 6= x ∈ F tal que (x) + A ≥ 0. Colocando A = (x) + A, temos que A0 ∼ A e A0 ≥ 0. Reciprocamente, se A0 ∼ A e A0 ≥ 0 , existe um x ∈ F \ {0} tal que A0 = (x) + A e (x) + A ≥ 0, logo x ∈ L(A). Lema 2.27. a) Seja a ∈ Div(F ). Então temos que L(A) é um espaço vetorial sobre K , A0 é um divisor equivalente a A, então L(A) ' L(A0 ). b) Se Faculdade de Matemática Conceitos Preliminares 82 FAMAT em Revista Demonstração. a) Seja x, y ∈ L(A) e a ∈ K . Então para todo P ∈ PF temos que vP (x + y) ≥ min{vP (x), vP (y)} ≥ −vP (A) e vP (ax) = vP (a) + vP (x) = vP (x) ≥ −vP (A). Logo x + y e ax estão em L(A) pela observação 2.26(a). 0 b) Por hipótese, A = (z) + A , com 0 6= z ∈ F . Considere a aplicação L(A) −→ F ϕ: x 7−→ xz x, y ∈ L(A) e a ∈ K temos que ϕ(x+λy) = (x+λy)z = xz +(λy)z = xz +λ(yz) = ϕ(x)+λϕ(y). (x) + A ≥ 0, logo (x) + (z) + A0 ≥ 0, donde segue que (xz) + A0 ≥ 0 e portanto xz ∈ L(A0 ). Logo essa é uma aplicação K -linear cuja a imagem está contida em L(A0 ). Da mesma maneira L(A0 ) −→ F ϕ0 : x 7−→ xz −1 Dados Além disso, temos que K -linear de L(A0 ) em L(A), pois para x ∈ L(A0 ), temos (x) − (z) + A = (x) + (z −1 ) + A = (xz −1 ) + A ≥ 0. Portanto xz −1 ∈ L(A). é uma aplicação que (x) + A0 ≥ 0, logo Agora note que ϕoϕ0 (x) = ϕ(ϕ0 (x)) = ϕ(xz −1 ) = xz −1 z = x o que implica que ϕ é sobrejetora e ϕ0 é injetora e ϕ0 oϕ(x) = ϕ0 (ϕ(x)) = ϕ0 (xz) = xzz −1 = x. o que implica que ϕ0 é sobrejetora e Além disso toda aplicação Assim ϕ é injetora, logo A<0 a) ϕ e ϕ0 são bijetoras em particular é um homomorsmo. é um homomorsmo bijetor de Lema 2.28. b) Se K -linear ϕ L(A) em L(A0 ), isto é, L(A) e L(A0 ) são isomorfos. L(0) = K , L(A) = {0}. então Demonstração. a) Seja 0 6= x ∈ K , então (x) = 0, logo x ∈ L(0) e K ⊆ L(0). Por outro lado, se 0 6= x ∈ L(0), então (x) ≥ 0. Isso signica que x não possui pólos (pois vP (x) ≥ 0 para qualquer P ∈ PF ), logo pelo corolário 2.19, x ∈ K . Assim L(0) ⊆ K e portanto L(0) = K . b) Suponha que exista um elemento 0 6= x ∈ L(A). Então (x) ≥ −A > 0, o que implica que x possui pelo menos um zero, mas não possui pólos. Mas isso é impossível, logo L(A) = {0}. Nosso próximo objetivo, é mostrar que L(A) é de dimensão nita para qualquer divisor A ∈ Div(F ). Lema 2.29. Seja A, B divisores de F |K com A ≤ B. dim (L(B)/L(A)) Então temos que L(A) ⊆ L(B) e ≤ grau B − grau A . Proposição 2.30. Para cada divisor A ∈ Div(F ) o espaço L(A) é um espaço vetorial sobre K de dimensão nita. Mais precisamente, se A = A+ − A− com os divisores dim L(A) Demonstração. Como A+ = A + A− , A+ e A− positivos, então ≤ grau A+ + 1. temos que A ≤ A+ e daí L(A) ⊆ L(A+ ), é suciente então, mostrar que dim L(A+ ) Temos que 0 ≤ A+ , ≤ grau A+ + 1. então do lema 2.29 segue que dim (L(A+ )/L(0)) Conceitos Preliminares ≤ grau A+ − grau 0 = grau A+ . (2.4) Universidade Federal de Uberlândia Sobre espaços vetoriais associados a divisores em corpos de funções algébricas Tome a aplicação K -linear φ: x ∈ Kerφ se, Kerφ = L(0) = K . Agora observe que x ∈ K. Logo 83 L(A+ ) −→ L(A+ )/L(0) x 7−→ x. e só se φ(x) = 0 se, e só se x = 0 se, e só se x ∈ L(0) se, e só se φ é sobrejetora, isto é Imφ = L(A+ )/L(0). Logo pelo Claramente teorema da Dimensão e Imagem e de 2.4, temos que dim L(A+ ) Denição 2.31. = dim (L(A+ )/L(0)) + dim K = dim (L(A+ )/L(0)) + 1 ≤ grau A+ + 1 Para a ∈ Div(F ) o inteiro `(A) := dimL(A) é chamado de dimensão do divisor A. Um dos mais importantes problemas da teoria de corpos de funções, é calcular a dimensão de um divisor. A solução para esse problema será dada pelo teorema de Riemann-Roch na próxima seção. O próximo teorema nos diz que um elemento 0 6= x ∈ F tem tantos zeros quanto o número de pólos, desde que contados propriamentes. Teorema 2.32. Todo divisor principal tem grau zero. Mais precisamente, seja os divisores zero e pólo de x grau (x)0 Demonstração. x ∈ F |K , (x)0 e (x)∞ respectivamente. Então = grau (x)∞ = [F : K(x)]. r P −vPi (x)Pi , onde Pi , ..., Pr são todos os pólos i=1 −1 de x. Lembremos que Pi , ..., Pr são zeros de x , logo da proposição 2.20 temos que r X Seja n := [F : K(x)] −vPi (x)grauPi = i=1 r X e B := (x)∞ vPi (x−1 )grauPi ≤ [F : K(x−1 )] = [F : K(x)] = n. i=1 n ≤ grau B . u1 , ..., un ∈ F |K(x) e um divisor C ≥ 0 tal que (ui ) + C ≥ 0 para i = 1, ..., n. Mostremos então que escolha uma base Temos que `(lB + C) ≥ n(l + 1), para qualquer l ≥ 0, xi uj ∈ L(lB + C) para 0 ≤ i ≤ l e 1 ≤ j ≤ n, pois (x uj ) + lB + C = (x ) + (uj ) + lB + C = i(x) + (uj ) + lB + C = i((x)0 − (x)∞ ) + (uj ) + l(x)∞ + C = i(x)0 + (i − l)(x)∞ ) + (uj ) + C ≥ 0 Observe que esses elementos são linearmente independentes sobre K , visto que u1 , .., un são linearmente i independentes sobre K(x) e x ∈ K(x) para i = 1, . . . , l ser linearmente independente sobre K . Colocando c := grau C obtemos pela proposição 2.30 que Isso segue imediatamente do fato de i i n(l + 1) ≤ ` L(lB + C) ≤ grau (lB + C) + 1 = lgrau B + c + 1. Assim l(grau B − n) ≥ n − c − 1, para todo l ∈ N. (2.5) ≥ 0, pois se grau B−n < Portanto grau B ≥ n e logo Como o lado direito de (2.5) é independente de l, só podemos ter grau B−n 0, l ≥ 0, existiria l tal que a desigualdade = n, ou seja grau (x)∞ = [F : K(x)]. −1 que (x)0 = (x )∞ , concluímos que como (2.5) não se satisfaria. grau B Visto grau (x)0 Faculdade de Matemática = grau (x−1 )∞ = [F : K(x−1 )] = [F : K(x)]. Conceitos Preliminares 84 FAMAT em Revista Corolário 2.33. a) Seja os divisores A, A0 com A ∼ A0 . b) Se grau A<0 então c) Para um divisor (1) (2) (3) A Então temos `(A) = `(A0 ) e grau A = grau A0 . `(A) = 0. de grau zero, as seguintes armações são equivalentes: A é principal `(A) ≥ 1 `(A) = 1 Demonstração. x ∈ F \ {0}, a) Do lema 2.27 temos que L(A) ' L(A0 ), logo `(A) = `(A0 ). De A = A0 + (x) com temos que grau A = grau (A0 + (x)) = grau A0 + grau (x). = grau A0 + grau (x) = grau A0 . 0 0 0 b) Suponha que `(A) > 0, Pela observação 2.26 existe um divisor A tal que A ∼ A e A ≥ 0, assim 0 grau A = grau A ≥ 0, mas isso contraria a hipótese, logo `(A) = 0. −1 c) (1) ⇒ (2).Se A = (x) é um divisor principal, então x ∈ L(A) pois (x−1 ) + A = −(x) + A = 0 e logo `(A) ≥ 1, já que x 6= 0, (2) ⇒ (3) : Assumamos que `(A) ≥ 1 e grau A = 0, de `(A) ≥ 1, temos que L(A) 6= {0}, então da 0 0 0 0 observação2.26.b segue que A ∼ A para algum A ≥ 0. As condições A ≥ 0 e grau A = 0 implicam 0 0 que A = 0,assim `(A) = `(A ) = `(0) = 1, já que L(0) = K . (3) ⇒ (1) : Suponha que `(A) = 1 e grau A = 0. Escolha 0 6= z ∈ L(A), então (z) + A ≥ 0. Visto −1 que grau ((z) + A) = grau (z) + grau A = 0 + 0 = 0 temos que (z) + A = 0, e logo A = −(z) = (z ). Portanto A é principal. Do teorema 2.32 temos grau (x) =0 e logo grau A Na proposição 2.30 vimos que a inequação `(A) ≤ 1 + grau A ocorre para todo divisor A ≥ 0. De fato (2.6) ocorre para todo divisor de grau maior ou igual a zero. Para vericar isso podemos assumir que A ∼ A0 , A0 ≥ 0, para algum (2.6) `(A) > 0, logo L(A) 6= {0} e pela observação 2.26 temos que então pelo corolário 2.33, `(A) = `(A0 ) ≥ 1 + grau A = 1 + grau A0 . É possível mostrar a existência de um limite inferior para `(A) semelhante à inequação 2.6. É o que garante a próxima proposição. Proposição 2.34. Existe uma constante γ ∈ Z tal que para todos divisores A ∈ DivF o seguinte acontece grau A Temos que γ não depende do divisor Denição 2.35. O gênero g de F |K A, − dim A ≤ γ. ele depende apenas do corpo de funções F |K . é deninido por g := max{grau A − `(A) + 1 : A ∈ Div(F )}. Observe que essa denição faz sentido pela proposição 2.34. Corolário 2.36. O gênero de F |K é um inteiro não negativo Demonstração. Na denição de g, coloque A = 0, então `(0) − dim (0) + 1 = 0, assim g ≥ 0. Teorema 2.37. (Teorema de Riemann) Seja F |K um corpo de funções de genero g. Então temos a) Para todo divisor A ∈ Div(F ), `(A) ≥ grau A + 1 − g, b) Existe um inteiro c, dependendo apenas do corpo de funções F |K , tal que `(A) = grau A + 1 − g, toda vez que grau A ≥ c. Conceitos Preliminares Universidade Federal de Uberlândia Sobre espaços vetoriais associados a divisores em corpos de funções algébricas Demonstração. g ≥ grau A − `(A) + 1, a) Segue da denição de gênero, pois 85 assim `(A) ≥ grau A + 1 − g. b) Escolha um divisor Se grau A ≥c A0 com g = grau A0 − dim A0 + 1 c := grau A0 + g . e seja então `(A − A0 ) ≥ grau(A − A0 ) + 1 − g ≥ c − grau A0 + 1 − g = 1. 0 6= z ∈ L(A − A0 ). Considere o divisor A0 := A + (z), (z) ≥ −A + A0 e daí A0 = A + (z) ≥ A − A + A0 . Assim Então existe um elemento z ∈ L(A − A0 ), logo grau A Assim − `(A) = grau A0 − `(A) A0 ≥ grau A0 − `(A0 =g−1 o qual é ≥ A0 , pois (pelo corolário 2.33) (pelo lema 2.29) `(A) ≤ grau A + 1 − g . 3 O Teorema de Riemann-Roch e suas consequências Iniciamos essa seção apresentando o teorema de Riemann-Roch. Não apresentaremos sua prova, pois a demonstração desse teorema é muito técnica, e envolve alguns conceitos e resultados não desenvolvidos anteriormente, como o conceito de adeles e diferenciais de Weil. Para o leitor interessado em mais detalhes recomendamos a referência [1]. No entanto, provaremos várias consequências desse resultado. Teorema 3.1 . (Teorema de Riemann-Roch) Existe um divisor W tal que ` (A) = grau A + 1 − g + `(W − A). Mais ainda, a igualdade acima vale para todo divisor equivalente a W. Os divisores dessa classe são chamados de divisores canônicos, e temos: grau Denição 3.2. Para um divisor W = 2g − 2 A ∈ Div(F ) e `(W ) = g. o inteiro i(A) := `(A) − grauA + g − 1. é chamado de índice de especialidade de Teorema 3.3. Se A é um divisor de F |K A. de grauA ≥ 2g − 1 então `(A) = grau A + 1 − g Demonstração. Pelo Teorema de Riemann-Roch temos que `(A) = grau A + 1 − g + ` (W − A) onde W é um divisor conônico. Como grau A ≥ 2g − 1 e grau W = 2g − 2, temos que grau (W − A) = 2g − 2 − 2g + 1 = −1 < 0. Segue pelo corolário 2.33, que `(W − A) = 0. E assim `(A) = grau A + 1 − g . Uma primeira consequência importante é que o Teorema de Riemann-Roch caracteriza o gênero assim como a classe de divisores canônicos de Proposição 3.4. Suponha que g0 ∈ Z e F |K . W0 ∈ Div(F ) satisfazendo `(A) = grau A + 1 − g0 + `(W0 − A) para todo A ∈ Div(F ). Então Faculdade de Matemática g0 = g , e W0 (3.1) é um divisor canônico. O Teorema de Riemann-Roch e suas consequências 86 FAMAT em Revista Demonstração. daí `(W0 ) = g0 . Colocando A = 0 temos que `(0) = grau(0)+1−g0 +`(W0 ) e logo 1 = 1−g0 +`(W0 ), A = W0 temos Agora colocando `(W0 ) = grau W0 + 1 − g0 + `(W0 − W0 ) g0 = grau W0 + 1 − g0 + 1 grau W0 = 2g0 − 2. Escolhamos um divisor A com grauA > max{2g −2, 2g0 −2}, W +W ou W0 +W0 . Se 2g −2 > 2g0 −2 então grauA ≥ 2g −2, donde segue que grauA ≥ 2g −1. Agora se 2g0 −2 > 2g −2 então grauA ≥ 2g0 −1 > 2g0 −2 > 2g −2 ≥ 2g −1. Logo pelo teorema 3.3, temos que `(A) = grauA+1−g e por (3.1) temos `(A) = grauA+1−g0 . Portanto g = g0 . Finalmente substituindo A = W em (3.1) temos Seja W F |K . um divisor canônico de para isso basta tomar o divisor canônico `(W ) = grauW + 1 − g0 + `(W0 − W ) g = (2g − 2) + 1 − g + `(W0 − W ) Assim `(W0 − W ) = 1, grau(W0 − W ) = grau(W0 ) − grau(W ) = 2g0 − 2 − (2g − 2) = 0 temos W0 − W é principal, ou seja, W0 − W = (x), para algum x ∈ F/0, isto é, W0 ∼ W , e portanto W0 é canônico. e como pelo corolário 2.33, que W0 = W + (x), logo A seguir temos outra caracterização usual para os divisores canônicos. Proposição 3.5. Um divisor Demonstração. Suponha que B é canônico se e somente se grau(B) = 2g − g e `(B) ≥ g . grauB = 2g − 2 e `(B) ≥ g . Escolha um divisor canônico W , então g ≤ `(B) = grauB + 1 − g + `(W − B) = 2g − 2 + 1 − g + `(W − B) = g − 1 + `(W − B), potanto `(W − B) ≥ 1. Já que grau(W − B) = grau(W ) − grau(B), segue do corolário 2.33 que W ∼ B . Portanto B é canônico. Proposição 3.6. funções com gênero 0, e suponha que existe um divisor A ∈ Div(F ) é racional, ou seja, Seja F |K um corpo de grauA = 1. Então F |K sobre o corpo K . com transcendente Demonstração. Seja g=0 e grauA = 1, como F = K(x) para algum grauA = 1 ≥ 2g − 1 = −1, x tal que x é pelo teorema 3.3 temos que l(A) = grau(A) + 1 − g = 1 + 1 − 0 = 2 0 Proposição 3.7. polo Seja P ∈ PF . A∼A 0 0 A ≥ 0. 0 Visto que `(A ) = `(A) = 2, existe um elemento x ∈ L(A )/K , então (x) 6= 0 e (x) + A ≥ 0. 0 0 0 A ≥ 0 e grauA = 1, isso só é possível apenas se A = (x)∞ o divisor pólo de x. 0 Agora como [F : K(x)] = grau(x)∞ = grauA = 1, pelo teorema 2.32 F = K(x). Agora vamos investigar elementos em F que têm apenas um pólo. Assim, pela observação 2.26, segue que para algum Então para cada 0 n ≥ 2g existe um elemento x∈F Como com o divisor (x)∞ = nP . Demonstração. Como grau((n − 1)P ) = (n − 1)grauP ≥ n − 1 ≥ 2g − 1, então pelo teorema 3.3 temos que `((n − 1)P ) = (n − 1)grauP + 1 − g e `(nP ) = n.grauP + 1 − g Assim `((n − 1)P ) < `(nP ) e logo L((n − 1)P ) $ L(nP ), O Teorema de Riemann-Roch e suas consequências daí todo elemento x ∈ L(nP )/L((n − 1)P ) Universidade Federal de Uberlândia Sobre espaços vetoriais associados a divisores em corpos de funções algébricas 87 nP . x ∈ L(nP ) temos que nP + (x) ≥ 0 ou seja nP + (x)0 − (x)∞ ≥ 0 → (nP − (x)∞ ) + (x)0 e (x)∞ são divisores positivos e supp((x)0 ∩ supp((x)∞ = ∅, só podemos ter tem um divisor de pólo Observe que para (x)0 ≥ 0, como nP − (x)∞ ≥ 0. Como x ∈ / L((n − 1)P ), não temos (n − 1)P + (x)0 − (x)∞ ≥ 0, (x)∞ ≥ 0, isto é, não acontece nP − (x)∞ > 0. Logo só podemos ter nP − (x)∞ = 0, ou seja nP = (x)∞ . ou seja, não é verdade que Denição 3.8. x∈F com Seja P ∈ PF . Um inteiro n ≥ 0 é chamado de ordem (x)∞ = nP . Do contrário, n é chamado de lacuna. Teorema 3.9 (Teorema das lacunas de Weierstrass). lugar de grau um. Então existem exatamente g i1 = 1 Demonstração. pólo de P se existe um elemento F |K tenha gênero g > 0 < i2 < ... < ig em P . E temos Suponha que lacunas i1 (n − 1)P − e P é um ig ≤ 2g − 1. e P é menor ou igual a 2g − 1 e, P , pois 1 ∈ F e temos (1)∞ = 0. Agora veja que se i é uma lacuna em P , então i não é uma ordem de pólo, daí `((i − 1)P )) ≥ `(iP ). Mas como (i−1)P < iP , temos que L((i−1)P ) ⊆ L(iP ) e então `((i−1)P )) ≤ `(iP ), logo só podemos ter L((i − 1)P ) = L(iP ). Reciprocamente se L((i − 1)P ) = L(iP ) temos que dim `((i − 1)P )) = `(iP ), e assim i é uma lacuna em P . Assim temos seguinte caracterização das lacunas em P : Pelo corolário 3.7, temos que qualquer lacuna em temos também que 0 é uma ordem de pólo de i é uma lacuna em P ⇐⇒ L((i − 1)P ) = L(iP ). Considere agora a sequência de espaços vetoriais K = L(0) ⊆ L(P ) ⊆ L(2P ) ⊆ . . . L((2g − 1)P ) onde dim L(0) Como = 1 e dim L((2g − 1)P ) = g pelo (i − 1)P < iP , pelo lema 2.29 temos que (3.2) teorema 3.3. 0 ≤ dim L(iP ) − dim L((i − 1)P ) = dim (L(iP )/L((i − 1)P )) ≤ igrau P − [(i − 1)grau P ] = 1. `(iP ) − 1 ≤ `((i − 1)P ) para todo i. Assim em 3.2 temos exatamente g − 1 números 1 ≤ i ≤ 2g − 1 com L((i − 1)P ) ( L(iP ) e então restam g números 1 ≤ i ≤ 2g − 1 com L((i − 1)P ) = L(iP ), isto é restam g números que são lacunas em P . Finalmente mostraremos que 1 é uma lacuna em P . Suponha que 1 é uma ordem de pólo de P . Como as ordens de pólos formam um semi-grupo aditivo, todo n ∈ N é uma ordem de pólo e então não existirão lacunas, mas isso é uma contradição, pois g > 0. Daí Denição 3.10. Um divisor A ∈ Div(F ) é chamado de não-especial se i(A) = 0; caso contrário A é chamado de especial. Vejamos algumas consequências imediatas desta denição. Remark 3.11. (a) A é não especial se, e somente se, > 2g − 2, então A é não especial. (c) A propriedade de um divisor A ser especial ou não classe [A] de A do grupo de equivalência dos divisores. dim A = grau A + 1 − g . (b) Se grau A especial depende apenas da (d) Divisores canônicos são especiais. (e) Qualquer divisor (f ) Se A A `(A) > 0 e grau A < g é especial. B ≥ A, então B é não especial. com é não especial e Faculdade de Matemática O Teorema de Riemann-Roch e suas consequências 88 Demonstração. FAMAT em Revista (a) Segue diretamente da denição de (b) Segue do teorema 3.3. A∼A 0 0 i(A). 0 0 `(A) = `(A ) e grauA = grauA , donde segue que i(A) = i(A ). (d) Para um divisor canônico W temos que i(W ) = `(W ) − grau(W ) + g − 1 mas pelo teorema de Riemann-Roch, grau(W ) = 2g − 2 e `(W ) = g , daí segue que i(W ) = g − (2g − 2) + g − 1 = 2g − 2g + 2 − 1 = 1, logo W é especial. (e)1 ≤ `(A) = grauA + 1 − g + i(A) ⇒ i(A) ≥ g − grauA > 0 já que grauA < g . Logo A é especial. (c) Vem do fato de se então Referências Bibliográcas [1] H. Stichtenoth. Algebraic Function Fields and Codes, Berlin, Germany: Springer-Verlag, 2008. O Teorema de Riemann-Roch e suas consequências Universidade Federal de Uberlândia Caos em sistemas dinâmicos: Um exemplo Gustavo Franco Marra Domingues Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Graduando em Matemática - Programa de Educação Tutorial gmarra86@ hotmail. com Walter dos Santos Motta Júnior Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Titutar wmotta@ ufu. br Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar um exemplo de uma situação caótica em termos de sistemas dinâmicos discretos. Introduzidos os conceitos de sistemas dinâmicos discretos, órbitas convergentes, divergentes, periódicas e eventualmente periódicas, apresentamos um método de análise gráca de convergência (via diagramas de Lamerey) e estabelecemos uma condição necessária e suciente para que uma órbita seja convergente monotônica ou convergente oscilatória. A seguir, aplicamos o Método de Newton a uma equação polinomial de 2o grau sem raízes reais, e obtivemos uma sequência caótica de números reais. Através de algumas transformações pudemos ver que tal parábola estava relacionada a uma equação da forma f (x) = µx(1 − x), chamada equação logística. A parte nal do trabalho estuda o comportamento de iterações de equações desta família conforme variamos o parâmetro µ de 1 até 4, obtendo convergências, convergências para ciclos e caos. Através de uma esquematização, obtivemos o diagrama de bifurcação, que se trata de um exemplo de uma estrutura fractal. 1 Introdução Nas últimas décadas, a pesquisa em Matemática direcionou sua atenção para certos fenômenos que rapidamente se popularizaram: caos e fractais. Em 1976, R. M. May chamou a atenção da comunidade cientíca para as aplicações de equações de diferenças em estudos de dinâmicas populacionais (ver (5)), desenvolvendo uma metodologia que tornou-se popular e foi aplicado em outras áreas (ver (7), (9), (10)). O presente trabalho se propõe a explorar o comportamento caótico de certas relações de recorrência (também chamadas equações de diferenças). 2 Sistemas Dinâmicos Discretos Vamos fazer algumas considerações iniciais e denir nossos elementos de estudo. Seja uma função. A cada valor x∈R x, f (x), f 2 (x), f 3 (x), ..., f n (x), ... em que f n (x) = f ◦ f ◦ f ◦ ... ◦ f f : R −→ R consideremos a sequência de composições (ou iterações): (n vezes) e f 0 (x) = x. (2.1) Podemos exprimir a equação (1) como sendo a sequência xn+1 = f (xn ) n≥0 com x0 (2.2) dado. Estaremos, assim, interessados em avaliar o comportamento dinâmico de sequências obtidas dessa forma, ou seja, que são obtidas via iterações de funções reais. A grosso modo, um sistema dinâmico discreto consiste do conjunto de todos os estados possiveis, dada uma lei (função) que determina o 90 FAMAT em Revista estado presente em termos dos anteriores. Neste artigo, estaremos interessados apenas aos sistemas dinâmicos discretos do tipo (2.2) acima, ditos homogêneos de 1a ordem, seu comportamento assintótico e situações caoticas envolvendo os mesmos. Mais sobre sistemas dinâmicos pode ser encontrado em (3) e em (8). Exemplo 2.1. Seja f (x) = x3 . A cada valor x0 a sequência xn+1 = f (xn ) = (xn )3 é descrita como segue: n x0 , x30 , x90 , ..., x30 , ... e a natureza asintótica da sequência depende apenas de |x0 | > 1, iguais a x0 . é convergente para 0; se constante com valores x0 . (2.3) |x0 | < 1, x0 = 1, a Neste caso, se a sequência divergirá e, se x0 = 1 ou Denição 2.1. O conjunto denido por Denição 2.2. Dada uma função f, se existe um ponto c em seu domínio tal que dizemos que c x0 , f (x0 ), f 2 (x0 ), ... é chamado de órbita de essa sequência sequência será x0 . f (c) = c, então é um ponto xo de f. Exemplo 2.2. Seja novamente a função f (x) = x3 . Temos que os pontos x = 1, x = −1 e x=0 são pontos xos de f. Podemos chegar a essa conclusão da seguinte forma: x3 = x → x3 − x = 0 → x(x2 − 1) = 0 donde concluímos x = 0, x = 1 ou (2.4) x = −1. Logo, estes três pontos são os pontos xos de f. n xn+1 = f (xn ) com f (xn ) = x3n é xn = x30 , temos que ∞ a órbita de x0 quando este é um ponto xo é da forma {xn }n0 = (x0 , x0 , x0 , ..., x0 , ...). Sabendo que a solução não recorrente para Vamos generalizar a idéia acima, através do seguinte teorema: Teorema 2.1. que admite c Suponha uma sequência recorrente da forma como ponto xo (ou seja, f (c) = c). Então, se xn+1 = f (xn ), onde f x0 = c, a órbita de x0 é uma função real será (c, c, ..., c...). por recorrência, x0 = c. Então, x1 = f (x0 ) = f (c) = c, x2 = f (x1 ) = f (c) = c, xn = f (xn−1 ), xn−1 = x0 , logo, f (xn−1 ) = c. Daí, {xn }∞ n0 = (c, c, c, ..., c, ...). Denição 2.3. Um ponto Demonstração. Seja tal que n f (x) = x x é dito ponto periódico de período x se f n (x) = x. O menor n positivo é dito período principal de x. Naturalmente, os pontos xos de uma função são pontos periódicos de periodo 1. Se um ponto ponto n e, x0 é periódico, sua órbita é dita órbita periódica. Se um não é periódico, mas sua órbita contém algum ponto que é periódico, então dizemos que x é eventualmente periódico. Exemplo 2.3. f (x) = x2 − 1. Vamos tomar x0 = 1. Então, temos que x1 = 0, x2 = 1, x3 = 0, e etc. Então, ambos os pontos x = 1 e x = 0 são pontos periódicos de período 2. Por outro lado, se considerarmos x0 = −1, então x1 = 0, x2 = 1 e repetiremos a sequência anterior. Dessa forma, x = −1 é um ponto eventualmente periódico. Seja Observação: É importante perceber que, apesar de estarmos interessados apenas em recorrência discreta. Todavia, podemos formular, paralelamente a uma situação discreta, um análogo contínuo. Vejamos um exemploplo: Exemplo 2.4. Vamos supor que tenhamos um recipiente com volume V, cheio de água salgada. Suponha que removamos concentração de sal h litros de água, e, em seguida, adicionemos outros h litros de água com c. Sistemas Dinâmicos Discretos Universidade Federal de Uberlândia Caos em sistemas dinâmicos: Um exemplo 91 A(n) a quantidade de sal após n repetições deste processo. Na n-ésima repetição (ou n-ésima A(n) retirada de h litros de água), removemos h litros com concentração para acrescentar outros h V galões com concentração c. Repetindo esse processo muitas vezes, a concentração de sal na água se altera, aproximando-se cada vez mais de c e afastando-se de A(n). Seja Entre uma retirada e outra de água, a variação na quantidade de sal é dada por: A(n + 1) − A(n) = A(n) +c h V (2.5) Esta equação descreve uma variação discreta na quantidade de sal na água. Alternativamente, outra modelagem para o mesmo problema seria a seguinte: vamos supor que estamos adicionando água com concentração c de forma contínua (e, naturalmente, retirando água do recipiente de forma também f (x) uma função que descreva a quantidade de sal na água. Se zermos x = nh (o que é mais adequado, pois x representa a quantidade de água que é adicionada, da mesma forma que nh representa a quantidade de litros de água que adicionamos a cada passo), então temos A(n) = f (x) e A(n + 1) = f (x + h). Portanto, a equação (2.5) pode ser reescrita como: h f (x + h) − f (x) = − f (x) + hc (2.6) v contínua). Seja Dividindo tudo por h, temos: 1 f (x + h) − f (x) = − f (x) + c h v Se zermos h→0 (2.7) (já que estamos num modelo contínuo), teremos: 1 f 0 (x) = − f (x) + c v Vamos agora admitir que c=0 (2.8) (isso signica que a água adicionada ao tanque não tem sal) e v=1 (ou seja, admitir o volume do recipiente como unidade). Temos: f 0 (x) = −f (x) (2.9) Em termos de equações diferenciais, a solução para (2.9) é f (x) = e−x f (x0 ) (2.10) A(n + 1) = (1 − h)A(n) =⇒ A(n) = (1 − h)n A(0) (2.11) x n A(n) = 1 − A(0) n (2.12) No caso discreto, temos Se x = nh, h = x , n daí De (2.10) e (2.12) podemos concluir que lim n→∞ 1− x n = e−x n (2.13) O resultado obtido em (2.13) faz parte do conteúdo das disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, onde é obtido por outros métodos. Com as expressões apresentadas, é possivel concluir que a quantidade de sal na água (admitindo que a água adicionada não possui sal) decresce exponencialmente conforme adicionamos mais água, e que tanto a modelagem discreta quanto a contínua nos permitem chegar à mesma conclusão. Faculdade de Matemática Sistemas Dinâmicos Discretos 92 FAMAT em Revista 3 Análise gráca de comportamento assintótico Nesta seção, estaremos interessados em explorar o comportamento assintótico de alguns tipos de órbitas, sem estabelecer critérios de convergência ou divergência para as sequências de iterações. Dada uma órbita x2 , x2 , ..., xn , xn , ...). (x0 , x1 , x2 , ..., xn , ...), deniremos a sequência "dobrada"da forma (x0 , x0 , x1 , x1 , Se agruparmos estes elementos da sequência dois a dois, formaremos a seguinte sequência de pontos no plano: P0 = (x0 , x0 ), P1 = (x0 , x1 ), P2 = (x1 , x1 ), P3 = (x1 , x2 ), ..., Pn = (xn−1 , xn ), Pn+1 = (xn , xn ). Se dispusermos, então, os segmentos de reta da forma Pi Pi+1 junto com o gráco da função, então obteremos um gráco de Lamerey (ou diagrama de escada, diagrama de Verhulst ou diagrama teiade-aranha; para mais detalhes sobre Grácos de Lamerey, consulte (1), (7), (4); iremos nos referir aos mesmos somente como Grácos de Lamerey), que nos permite uma visualização do tipo de convergência obtida. Observa-se que os pontos de índice par estão sobre a curva sobre a curva y=x e os pontos de índice par estão y = f (x). Exemplo 3.1. Seja f (x) = x3 e seja x0 = 0.8. Se iterarmos essa função 3 vezes da forma que foi descrita anteriormente, obteremos a seguinte sequência: (x0 , x1 , x2 , x3 ) = (0.8, 0.512, 0.1342, 0.0024) (3.1) Teremos então a sequência de pontos dada por: P0 = (0.8, 0.8) P1 = (0.8, 0.512) P2 = (0.512, 0.512) P4 = (0.512, 0.1342) P5 = (0.1342, 0.1342) P6 = (0.1342, 0.0024) P7 = (0.0024, 0.0024) Obtendo o diagrama na Figura 1. Figura 3.1: Gráco de Lamerey para Tal sequência converge para 0 quando n cresce. 3 Considerando a mesma função f (x) = x , mas f (x) = x3 x0 = 1.1, e x0 = 0.8 então teremos (x0 , x1 , x2 , x3 ) = (1.1, 1.331, 2.358, 13.11) (3.2) Vemos a divergência na Figura 2. Esta sequência gerada nunca converge para algum valor real, pois xn+1 > xn , uma vez que |x0 | > 1. O exemplo a seguir mostra como se comporta a sequência que converge de forma não monotônica (ou seja, a sequência oscila entre valores maiores e menores do ponto xo, convergindo para este). Análise gráca de comportamento assintótico Universidade Federal de Uberlândia Caos em sistemas dinâmicos: Um exemplo Figura 3.2: Exemplo 3.2. Seja xn+1 = xn 93 Gráco de Lamerey para f (x) = x3 f (x) = e−x , x > 0. x0 = 1, com Se e x0 = 1.1 então x1 = 0.3679 x2 = 0.6922 x3 = 0.50 x4 = 0.6062 x5 = 0.5454 x6 = 0.5796 x7 = 0.56 x8 = 0.57 x9 = 0.565 Com estes valores, temos o Diagrama de Lamerey da Figura 3. Figura 3.3: Gráco de Lamerey para f (x) = e−x e x0 = 1 Todos os exemplos anteriores foram expostos com funções que admitiam pontos xos. Vamos ver a seguir uma sequência de iterações que tem como lei uma função sem pontos xos. Exemplo 3.3. Seja xn+1 = xn com f (x) = x2 + 0.5. Se x0 = 0.1, então x1 = 0.51 x2 = 0.7601 x3 = 1.0777 x4 = 1.6615 x5 = 3.2607 x6 = 11.1324 Com estes valores, temos o Diagrama de Lamerey da Figura 4. Tal sequência caracteriza-se pela sua divergência, independente de qual x0 seja escolhido. Podemos vericar isso da seguinte forma: Se x2 + 0.5 = x, então x2 − x + 0.5 = 0, e as raizes dessa equação são complexas. Faculdade de Matemática Análise gráca de comportamento assintótico 94 FAMAT em Revista Figura 3.4: Gráco de Lamerey para f (x) = x2 + 0.5 e x0 = 0.1 4 Condições de Convergência Até o momento, exploramos algumas características de convergência para órbitas, sem, no entanto, estabelecer condições para que estas sequências fossem convergentes. O teorema enunciado a seguir estabelece condições necessárias e sucientes para que a convergência de sequências geradas através de iterações de sistemas dinâmicos discretos sejam convergentes. Para a demonstração do mesmo, precisaremos de dois resultados, que aqui serão enunciados como lema, e que cujas demonstrações estão em (11). Lema 4.1 . Seja f uma função c ∈ (a, b) tal que (Teorema do Valor Médio) diferenciável em (a, b). Então, existe f 0 (c) = Lema 4.2 f (b) − f (a) b−a . (Teorema da Permanência do Sinal) e contínua numa vizinhança de sucientemente pequena de x0 . Se [a, b] e (4.1) Seja f uma função real de variável real denida f (x0 ) 6= 0 então f (x) 6= 0 para todo x numa vizinhança x0 . Teorema 4.1. Seja Demonstração. a) Sabemos que xk+1 − x = f (xk ) − f (x). f (x) contínua num intervalo fechado C2 num intervalo I que contenha um ponto x tal que f (x) = x. Se x0 ∈ I e M é um limitante real da forma |f 0 (x)| 6 M < 1 em I, então: a) |xk − x| −→ 0 0 0 00 0 b) Se f (x) 6= 0 ou f (x) = 0 e f (x) 6= 0, e se |x0 − f (x)| for sucientemente pequeno, então a sequência [xn ] será monotônica ou oscilante. contínua, de classe Pelo Teorema do Valor Médio, temos: xk+1 − x = f 0 (ξk )(xk − x) onde ξk está entre xk e x. (4.2) Se colocarmos a igualdade acima em valores absolutos, temos: |xk − x| = |f 0 (ξk )||xk − x| ≤ M |xk − x| (4.3) |xk − x| ≤ M |xk−1 − x| ≤ M 2 |xk−2 − x| ≤ ... ≤ M k |x0 − x| (4.4) Temos: Como M <1 e |x0 − x| é limitado, temos lim M k = 0 (4.5) k→∞ |xk − x| −→ 0. b) Seja f 0 (x) 6= 0. Pelo Lema 2 temos que, numa vizinhança sucientemente 0 0 terá o mesmo sinal de f (x). Assim, de xk+1 − x = f (ξk )(xk − x) temos: e, portanto, Condições de Convergência pequena de x, f 0 (x) Universidade Federal de Uberlândia Caos em sistemas dinâmicos: Um exemplo (i) Se f 0 (x) > 0 e xk ≤ x ⇒ xk+1 ≤ x (ii) Se f 0 (x) > 0 e xk ≥ x ⇒ xk+1 ≥ x. (iii) Se f 0 (x) < 0 e xk ≤ x ⇒ xk+1 ≥ x. (iv) Se f 0 (x) < 0 e xk ≤ x ⇒ xk+1 ≤ x. Como |xk − x| → 0, a convergência será monotônica em (i) e (ii) e será oscilante em (iii) e (iv). Por outro lado, se onde θk está entre 95 ξk f 0 (x) = 0 e x. e f 00 (x) 6= 0, pelo Lema 1, temos: f 0 (ξk ) − f 0 (x) = f 00 (θk )(ξk − x) (4.6) xk+1 − x = f 00 (θk )(ξk − x)(xk − x) (4.7) Assim, f 00 (x) terá o mesmo sinal de f 00 (x) numa vizinhança sucientemente pequena de x. Como (ξk − x)(xk − x) ≥ 0, pois tanto ξk quanto xk são ambos maiores ou menores que x, temos que, se Pelo Lema 2, f 00 (x) > 0 ⇒ xk+1 ≥ x, ∀k f 00 (x) < 0 ⇒ xk+1 ≤ x, ∀k então a sequência x0 , x1 , x2 , ..., será monotônica, independente do sinal de x0 − x. 5 Caos Os resultados e técnicas até aqui abordados serão agora utilizados para estudar como se comporta uma sequência especíca gerada por um sistema dinâmico discreto que, aparentemente, deveria convergir para um valor complexo não real. Todavia, iremos mostrar que esta sequência não segue nenhum padrão de convergência ou divergência, mas cria uma situação "caótica". Neste estudo, utilizaremos o Método de Newton, cuja dedução e argumentação sobre a convergência do mesmo foram omitidas e podem ser obtidos em (6). Maiores detalhes sobre esse tipo de situação caótica em (2). Pelo Método de Newton, temos a sequência: xk+1 = xk − f (xk ) f 0 (xk ) (5.1) x0 é dado num intervalo I e |x−x0 | é sucientemente pequeno (x é tal que f (x) = 0). Admitiremos 0 que esta sequência converge para x quando k −→ ∞, se não existir um número a em I tal que f (a) = 0. Geometricamente, se x é um ponto tal que f (x) = 0, podemos tomar um intervalo I = (x+h, x−h) 0 onde f (x) 6= 0 para todo x em I . Escolhendo x0 em I , traçamos a reta tangente ao gráco em f (x0 ). Como nenhum ponto em I tem derivada nula, esta reta nunca é paralela ao eixo x, logo, existe interseção desta tangente com o eixo. Seja x1 esta interseção. Agora, traçamos a reta tangente ao gráco em f (x1 ). Repetindo esse processo, geramos uma sequência de xi que converge para a raiz. onde Vejamos um exemplo. Exemplo 5.1. Seja f (x) = tg(x), x ∈ (−π, π). xk+1 = xk − tg(0) = 0. x0 = 1. Temos: Sabemos que sequência via Método de Newton que convirja para 0, usando tg(xk ) sec2 (xk ) Vamos produzir uma (5.2) e temos os seguintes elementos da sequência: x1 = 0.54535 x2 = 0.10187 x3 = 0.000703 Podemos visualizar as retas tangentes na Figura 5. Faculdade de Matemática Caos 96 FAMAT em Revista Figura 5.1: Retas tangentes em f (x) = tg(x) Da forma com que foi descrito, o Método de Newton dene um sistema dinâmico. interessados em aplicar o Método de Newton para equações da forma camente, no caso em que b = −1. 2 f (x) = x − b, Estaremos e, mais especi- Sabemos que tal equação não possui raízes reais, e, portanto, o Método de Newton não converge para nenhum valor. Isso não implica divergência. Nosso interesse é, portanto, estudar o comportamento apresentado por essa sequência. Se f (x) = x2 + 1, então f 0 (x) = 2x e portanto o Método de Newton gera uma sequência da forma xk+1 = xk − x2k + 1 2xk (5.3) Vamos considerar alguns exemplos para o sistema dinâmico com (5.3) como função associada. Exemplo 5.2. Considerando (5.3), e x0 = 1, x1 = 1 − x2 não pode ser x0 = −1. Podemos, Dessa forma, tomarmos então temos: 2 12 + 1 =1− =0 2.1 2 (5.4) denido (pois teríamos uma divisão por zero). O mesmo acontece se 1 no entanto, considerar x0 = √ . Então 3 1 x1 = √ − 3 √1 3 2 +1 √2 3 √ 1 1 2 1 3 4 =√ − . = √ − √ = −√ 2 3 3 3 3 3 (5.5) Dessa forma, temos 1 x2 = − √ − 3 − √13 2 −2 √ 3 +1 √ 3 4 1 2 1 1 = −√ + . = −√ + √ = √ 2 3 3 3 3 3 (5.6) 1 1 e, portanto, concluímos que √ e − √ são pontos periódicos de periodo 2. 3 3 Considerando (5.3), e x0 = 2, então temos: x1 = 0.75 x5 = −0.84153 x7 = −0.19993 x11 = 63.7103 x2 = −0.29167 x6 = 0.17339 x8 = 2.4008 x12 = 31.8473 x3 = 1.56845 x7 = −2.79697 x9 = 0.9921 x13 = 15.9079 x4 = 0.46554 x8 = −1.21972 x10 = −0.0078 x14 = 7.9225 A sequência acima não apresenta nenhuma tendência convergente ou divergente aparente. É razoável supor que tal comportamento ocorre pelo Método de Newton não poder convergir para um número complexo. É natural que o método falhe. Doravante, nosso objetivo será conhecer a natureza desta falha. Caos Universidade Federal de Uberlândia Caos em sistemas dinâmicos: Um exemplo 97 y = f (x) = x2 + 1, Se considerarmos que obteremos a sequência denida por yn+1 = x2n+1 + 1. Dessa forma, estaremos analisando a distribuição da sequência sobre o eixo y. Temos: yn+1 = = = = = = Então 2 (xn +1)2 + 2x 2 2 n2 2xn −xn +1 +1 2x n 2 1 1 +1 4 x n − x n xn − 1 2 4 xn − 2 2 2 1 (xn −1) 4 x2n 2 1 yn 4 yn −1 + 1 1 x2n 1 yn2 4 yn − 1 1 . Teremos, yn = zn yn+1 = Vamos executar a mudança de variável (5.7) então: 2 1 1 zn 4 − zn 2 = z → zn+1 = 4zn − 4zn2 → zn+1 = 4 1 zn n +1 zn 1 zn+1 (5.8) É importante notar que, sendo z= então z é sempre diferente de zero, e 1 1 = 2 y x +1 (5.9) z ∈ (0, 1]. A equação (5.8) é um caso particular da equação logística, em uma versão "discretizada". Voltaremos a ela mais tarde. Neste ponto, algumas observações são importantes. É possível vericar que as interseções de (5.8) e a reta diagonal são Se F (z) = 4z − 4z 2 , então F 0 (z) = −8z + 4. Dai, temos z=0 e z= 3 4. F 0 (0) = 4 e F 0 ( 43 ) = −2 e, pelo Teorema 2, temos que essas sequências não convergirão (pois não atendem às hipóteses do mesmo). No entanto, veremos que essas sequências também não divergirão. Se Se Como x −→ ∞ então z −→ 0. 1 z0 = , então z1 = 1 e z2 = 0. 2 z= Todos os outros zn serão zero depois da 2a iteração. 3 4 é ponto xo, pelo Teorema 1, segue que ele é cíclico. Temos: z= x2 1 1 1 ⇒ x2 = ⇒ x = ± √ +1 3 3 (5.10) É importante perceber a relação entre os valores de x acima e os pontos periódicos obtidos no Exemplo 5.2. z0 3 1 e de , pelo gráco de Lamerey na Figura 6. 2 4 Percebemos uma sequência não convergente e não divergente com comportamento muito similar Vamos observar o comportamento caótico de uma sequência de iterações de (5.8) para algum inicial entre 0 e 1, diferente de àquela obtida quanto iteramos a equação (5.3). A essa situação chamaremos de caos. Naturalmente, se produzíssemos mais iterações, continuaríamos gerando mais números caóticos. Como já vimos, os dois pontos xos da parábola possuem derivadas com valor absoluto maior que 1, e, portanto, as hipóteses do teorema não são atendidas. Faculdade de Matemática Caos 98 FAMAT em Revista Figura 5.2: Gráco de Lamerey para zn+1 = 4zn − 4zn2 e x0 = 0.4 com 10 iterações 6 Períodos Quadráticos e Bifurcações Nessa última seção, realizaremos um breve estudo sobre pontos periódicos que surgem em equações do tipo f (x) = µx(1 − x), onde µ é um coeciente real. À família de equações desse tipo daremos o nome de família quadrática ou equação logística. Elas foram introduzidas por May (ver (5)), e se referem à modelagem matemática de populações. Nosso objetivo será vericar que o comportamento de uma sequência gerada por composições sucessivas de uma equação logística varia entre convergência, caos e divergência quando varia o parâmetro µ. Já sabemos que a sequência gerada quando comportamento das sequências para outros valores de µ=4 µ. é de natureza caótica. Vamos analisar o f (x) = µx(1 − x), considerando µ 6= 0. Se µ−1 0 xos são x1 = 0 ou x2 = . Além disso, f (x) = −2µx + µ. Em µ µ−1 µ−1 0 x2 = , temos f = 2 − µ. Pelas condições do Teorema µ µ Primeiramente, vamos encontrar os pontos xos de 2 x = µx − µx x1 = 0 , , então os pontos temos f 0 (0) = µ, e, em (4.1), temos: Se Para 1 < µ < 3, −1 < f 0 (x2 ) < 1, Para µ > 3, a convergência e impossivel (pois f 0 (x1 ) > 3 e f 0 (x2 ) < −1). 0 < µ < 1, 0 < f 0 (x1 ) < 1 , portanto, a sequência converge para 0. logo, a sequência converge para µ−1 . µ No entanto, a sequência pode convergir para ciclos, como veremos no exemplo a seguir. Exemplo 6.1. Na equação f (x) = µx(1 − x) a tabela abaixo relaciona os ciclos para os quais a sequência converge quando alteramos o valor de Períodos Quadráticos e Bifurcações µ. Tomamos as centésima até centésima décima Universidade Federal de Uberlândia Caos em sistemas dinâmicos: Um exemplo 99 sexta iterações, para que tivéssemos uma boa margem de convergência em cada caso. z100 z101 z102 z103 z104 z105 z106 z107 z108 z109 z110 z111 z112 z113 z114 z115 z116 = = = = = = = = = = = = = = = = = µ = 3.4 0.8421 0.4519 0.8421 0.4519 0.8421 0.4519 0.8421 0.4519 0.8421 0.4519 0.8421 0.4519 0.8421 0.4519 0.8421 0.4519 0.8421 µ = 3.5 0.8269 0.5008 0.8749 0.3828 0.8269 0.5008 0.8749 0.3828 0.8269 0.5008 0.8749 0.3828 0.8269 0.5008 0.8749 0.3828 0.8269 Percebemos, assim, que, conforme o parâmetro periódicos de ordem 2, 22 , 23 , etc, vão surgindo. µ = 3.55 0.8278 0.5060 0.8873 0.3548 0.8126 0.5404 0.8816 0.3703 0.8278 0.5060 0.8873 0.3548 0.8126 0.5404 0.8816 0.3703 0.8278 µ = 3.57 0.8398 0.4802 0.8911 0.3464 0.8082 0.5532 0.8823 0.3704 0.8326 0.4975 0.8924 0.3425 0.8040 0.5625 0.8785 0.3809 0.8418 µ cresce em direção a 4, convergências para pontos Percebemos que o surgimento de novos períodos µ pode determinar o surgimento de períodos de ordem 2, 4 ou µ = 3.57 já ca impossível obter pontos de período 16 ou menor. A estamos contemplando um período de ordem 32 ou maior não pode ser feita apenas E, conforme o parâmetro µ cresce, especicamente para valores de µ maiores que é instável; a mínima variaçao em 8. Percebemos que, quando armação de que via esse método. 3.83, ciclos de periodos de ordens diferentes de potências de 2 surgem até que, nalmente, temos uma situação de caos, onde qualquer sequência gerada a partir de iterações não obedece nenhum padrão de convergência, convergência para ciclos ou divergência. O resultado nal de todas as considerações feitas até agora será obtido da seguinte maneira: em um gráco onde o eixo das abcissas corresponde aos valores de para os quais a sequência dos zn µ e o eixo das ordenadas, aos valorez converge. Obteríamos, assim, o Diagrama de Bifurcação (Figura 7). Essa gura é chamada de Diagrama de Bifurcação e é um exemplo de uma estrutura fractal. Quando µ ' 3.83, Teorema 6.1. f existe um ciclo de período 3. É conveniente citar, então, o Teorema de Sarkovskii. Seja f : R → R contíua. Suponha que f tenha um ponto periódico de periodo 3. Então terá pontos periódicos de todos os outros períodos. Este resultado permite perceber que, uma vez que µ > 3.83, teremos uma situação onde periodos de todas as ordens poderão surgir e desaparecer logo em seguida na sequência gerada. A demonstração do teorema, bem como estudos mais aprofundados sobre suas consequências em dinâmicas caóticas podem ser encontradas em (8). 7 Considerações nais Caos e sistemas dinâmicos complexos são áreas de estudo que recentemente têm recebido atenção especial dos pesquisadores. Neste artigo, expusemos alguns tópicos introdutórios sobre dinâmica caótica através de um exemplo - o comportamento do Método de Newton quando aplicado a uma equação com raízes complexas. Não estivemos interessados, portanto, em aprofundar na teoria sobre Sistemas Dinâmicos que elucida muitas das questões que talvez tenham surgido. Em especial, aos interessados são recomendadas as leituras (3) e (8) nas referências bibliográcas. Faculdade de Matemática Considerações nais 100 FAMAT em Revista Figura 6.1: Diagrama de bifurcação Referências Bibliográcas [1] SANDEFUR, James T, "Discrete Dynamical Modeling". The College Mathematics Journal, no. 22, 13-22, 1991. [2] STRANG, Gilbert. "A Chaotic Search for i". The College Mathematics Journal; no.22, 3-11, 1991. [3] HOLMGREN, Richard A. "A rst course in discrete dynamical systems". Ed. Springer-Verlag, 1994. [4] DEVANEY, Robert L. "The Orbit Diagram and the Mandelbrot set". The College Mathematics Journal; no. 22, 23-37, 1991. [5] MAY, R, M. "Mapa Logístico". Nature, 261:469,1976. [6] FRANCO, Neide Bertoldi - "Cálculo Numérico". Ed. Pearson-Prentice Hall. São Paulo-SP, 2000. [7] BASSANEZI, Rodney C. "Ensino-aprendizagem com Modelagem Matemática". Ed. Contexto. São Paulo-SP, 2004. [8] DEVANEY, Robert L. "An Introduction to Chaotic Dynamical Systems". 2a edição, ed. ABP, Colorado, US, 2004. [9] EDELSTEIN-KESHET, Leah. "Mathematical Models in Biology". Ed McGraw Hill, US, 1988. [10] CÂMARA, Fernando Portela. "Dinâmica de Populações". IM-UFRJ. [11] GUIDORIZZI, Luís Hamilton. "Um Curso de Cálculo", vol. 1, 5a edição, ed. LTC. São Paulo, SP, 2001. Considerações nais Universidade Federal de Uberlândia O problema da construção de polígonos regulares de Euclides a Gauss Hermes Antônio Pedroso UNESP - IBILCE - Departamento de Matemática - Campus de São José do Rio Preto Professor Assistente hermes@ ibilce. unesp. br Juliana Conceição Precioso UNESP - IBILCE - Departamento de Matemática - Campus de São José do Rio Preto Professora Doutora precioso@ ibilce. unesp. br Resumo: Entre todos os problemas de construção, o de traçar com régua e compasso o polígono regular de lados sempre teve grande interesse. Para alguns valores de n, por exemplo, n = 3, 4, 5, 6 desde a antiguidade e é parte importante da geometria elementar. O pentágono regular, aparece no livro IV de Os Elementos de Euclides (330 − 275a.C.) n a solução é conhecida (n = 5), por exemplo, e posteriormente, também foi usado nas construções de tábuas trigonométricas. Decidir se um polígono era construtível ou não, só foi possível com o desenvolvimento da álgebra. Para o heptágono regular, (n = 7), foi demonstrado que a construção é impossível. p−ágonos regulares (polígonos de p p = 3 e p = 5. Gauss descobriu 2n que os p−ágonos regulares são construtíveis se, e somente se, p é um número primo de Fermat, isto é, p = 2 +1. Como aplicação desse teorema, será apresentado a construção de Gauss do polígono de 17 lados. Aos dezenove anos, Gauss (1777-1855) investigou a construtibilidade dos lados), sendo p um número primo. Só se conhecia até então a construção para 1 Introdução As construções com régua e compasso apareceram no século V a.C., época dos pitagóricos, e tiveram enorme importância no desenvolvimento da matemática grega. Na Grécia antiga, a palavra número era usada só para os inteiros e uma fração era considerada apenas uma razão entre números, até o aparecimento dos irracionais. Estes conceitos, naturalmente, causavam diculdades nas medidas das grandezas. A noção de número real estava ainda muito longe de ser concebida, mas, na época de Euclides uma idéia nova apareceu. As grandezas, no lugar de serem associadas a números, passaram a ser associadas a segmentos de reta e a álgebra era completamente geométrica, onde a palavra resolver era sinônimo de construir. Em Euclides, o livro IV, trata das construções de certos polígonos, inclusive o pentágono regu- lar que foi muito importante nas construções posteriores de tabelas de cordas (trigonométricas). Até o desenvolvimento da teoria dos números complexos, com a representação gráca, não houve um progresso signicativo nas construções (com régua e compasso) ditas euclidianas. Neste sentido, tem-se a contribuição de Euler (1707-1783), que além de introduzir notações importantes no assunto, desempenhou um papel fundamental na teoria das equações algébricas, pois, quando buscava resposta à questão de como extrair uma raiz enésima de um número complexo, provou que qualquer número complexo não nulo (inclusive os reais) tem exatamente n raízes enésimas. Gauss foi o primeiro a relacionar o problema da construção de polígonos regulares com as raízes xn − 1 = 0, que seriam os vértices de tal polígono inscrito na circunferência. 1796, Gauss construiu, segundo as regras euclidianas, o polígono regular de dezessete da equação Em lados. Desde os gregos antigos os geômetras sabiam construir, com régua e compasso, o triângulo equilátero e o pentágono regular, assim como outros polígonos, cujo número de lados fosse múltiplo de dois, três 102 FAMAT em Revista Figura 1.1: Leonhard Paul Euler (1707-1783) e cinco. Segundo consta, Gauss, sensibilizado com sua descoberta, disse em carta que gostaria de ter o polígono de dezessete lados esculpido em sua lápide, após sua morte. Figura 1.2: Karl Friedrich Gauss (1777-1855) ...com toda certeza eis uma bela gura que poderiam esculpir na pedra sob a qual repousará o meu corpo para o sono eterno..." O propósito deste trabalho é reconstituir etapas importantes das construções geométricas, com régua (sem marcas) e compasso, desde as construções elementares até a construção do polígono de dezessete lados. 2 Construções Geométricas Fundamentais A chave de uma compreensão mais profunda consiste em traduzir os problemas geométricos para a Um r, determinada pelos pontos A e B. Adotando A e 1 para B, cada ponto de r determina um único número real e reciprocamente. segmento AP será construtível a partir de AB se o ponto P, ou, equivalentemente, sua abs- x, for construtível. Assim, em vez de segmentos ou guras construtíveis, considera-se números linguagem algébrica. Para isso, considera-se uma reta a abscissa cissa 0 para construtíveis. Esses segmentos, aparecem com frequência, como lados de um triângulo, como raios de círculos, ou como coordenadas retangulares de certos pontos. Introdução Universidade Federal de Uberlândia O problema da construção de polígonos regulares de Euclides a Gauss 2.1 103 Exemplos de Algumas Construções Básicas OA e AB de comprimentos a e b, respectivamente (segundo a construir a + b, a − b, r.a (em que r é qualquer número racional) , , ab b Dados os segmentos dada), pode-se Adição: e b; então Para construir a + b, e √ a. traça-se uma reta e transporta-se com o compasso as distâncias a OB = a + b. Figura 2.1: Construção de Subtração: OA, uma unidade então a−b OB = a − b. Para , transporta-se OA = a Figura 2.2: Divisão: a , 3 No caso transporta-se e AB = b Construção de OA = a a+b , mas desta vez AB no sentido oposto a a−b sobre uma reta e traça-se uma segunda reta por O. OC = c, e determina-se OD = 3c. Une-se A com OA em B . Os triângulos OBC e OAD são a OB = . 3 Sobre esta, transporta-se um segmento arbitrário D e traça-se desde C AD, OB OB OC 1 = = = a OA OD 3 uma reta paralela a semelhantes, portanto, que corta e Figura 2.3: Construção de Faculdade de Matemática a 3 Construções Geométricas Fundamentais 104 FAMAT em Revista a transporta-se OB = b e OA = a sobre os lados de um ângulo b OD = 1. Desde D traça-se uma paralela a AB , que corta OA em C . Mais geralmente, para se construir O, e sobre Então, OC OB transporta-se será a distância a . b Figura 2.4: Construção do caso geral Multiplicação: sendo p Para construir 3a soma-se a + a + a, a b de forma análoga, pode-se construir pa, qualquer inteiro. Figura 2.5: Construção de A construção de ab 3a encontra-se ilustrada na gura abaixo, onde AD é uma paralela a BC desde A. Figura 2.6: Construção do caso geral ab Destas considerações resulta que os processos algébricos racionais - adição, subtração, multiplicação e divisão de quantidades conhecidas podem efetuar-se por meio de construções geométricas. Raiz quadrada: √Dado um segmento a, pode-se construir também, utilizando só a régua (sem a. Sobre uma reta transporta-se OA = a e AB = 1, traça-se uma circunferência com diâmetro OB = a + 1. Traça-se uma perpendicular a OB por A, a qual corta a circunferência em C . O triângulo OBC tem um ângulo reto em C. marcas) e o compasso Construções Geométricas Fundamentais Universidade Federal de Uberlândia O problema da construção de polígonos regulares de Euclides a Gauss Logo x = AC, [ = ABC \ OCA por serem semelhantes os triângulos retângulos a seguinte relação OAC e CAB, e tem-se, para √ a x = ⇒ x2 = a ⇒ x = a. x 1 Figura 2.7: Construção de 2.2 105 √ a Polígonos Regulares Por aplicação das operações básicas tratadas anteriormente, pode-se considerar agora alguns pro- blemas de construção um pouco mais complicados. Decágono regular: x, está inscrito em uma circun36◦ como pode-se notar na gura abaixo. Os outros dois ◦ ângulos do triângulo devem valer cada um 72 e, portanto, a bissetriz do ângulo A, divide o triângulo OAB em dois triângulos isósceles, cada um com dois lados iguais de comprimento x. O raio do círculo será dividido assim em dois segmentos x e 1 − x. Por ser OAB semelhante ao triângulo isósceles menor 1 x temos = ; ver gura 2.8. x 1−x Supondo que um decágono regular de lado ferência de raio unitário, o ângulo O, vale Figura 2.8: Decágono regular √ Desta proporção deduz-se a equação quadrática √ A outra é − 5+1 2 2 x +x−1 = 0 e uma de suas soluções é x = 5−1 . 2 que é negativa, por esta razão deve ser desprezada. Portanto, é possível construir o decágono regular, transportando-se a corda de comprimento x para a circunferência. Pentágono regular: O pentágono regular pode ser construído, unindo dois a dois os lados do decágono regular. Faculdade de Matemática Construções Geométricas Fundamentais 106 FAMAT em Revista Figura 2.9: Construção dos lados do decágono e do pentágono regulares Os matemáticos gregos chamavam a razão OB : AB do problema anterior de razão áurea, pois con- sideravam que um retângulo cujos os lados estivessem nesta relação era mais agradável esteticamente. Seu valor é 1, 62 aproximadamente. De todos os polígonos regulares inscritos numa circunferência de raio trução mais elementar, pois o comprimento do seu lado será igual a r. r, o hexágono é o de cons- Assim, o hexágono pode ser construído transportando-se a partir de um ponto da circunferência a corda de comprimento r, obtendo assim os seis vértices. Figura 2.10: Hexágono N-ágonos regulares: n-ágono regular pode-se obter o 2n-ágono regular dividindo-se 2π ao meio cada arco de comprimento . Por exemplo, do diâmetro da circunferência (o 2-ágono), n n pode-se construir os polígonos de 4, 8, 16, . . . , 2 lados. Analogamente é possível obter a partir do hexágono os polígonos de 12, 24, 48 . . . lados, e a partir do decágono os polígonos de 20, 40, . . . lados. Proposição 2.1. Se sn A partir do unitária, então o lado do 2n-ágono regular tem Demonstração. De acordo com a gura 2.11, 2 e a área do triângulo n-ágono regular, inscrito na q p comprimento s2n = 2 − 4 − s2n . designa o comprimento do lado do ABD é 1 sn = DE = 2DC , ou seja, DC = sn ; s2n = BD; AB = 2 1 1 BD AD = AB CD. 2 2 2 2 2 2 2 2 Uma vez que AB = AD + BD segue que AD = AB − BD , 1 Substituindo AB = 2 e BD = s2n e CD = sn em (2.1), tem-se 2 Construções Geométricas Fundamentais circunferência (2.1) isto é, AD = = √ AB 2 − BD2 . Universidade Federal de Uberlândia O problema da construção de polígonos regulares de Euclides a Gauss Figura 2.11: Representação de sn e 107 s2n p 1 1 s2n AB 2 − BD2 = sn . 2 2 Portanto, sn = s2n Fazendo s22n = x, Resolvendo esta sn ≤ 2. 2 Como x = s2n , q 4 − s22n ou s2n = s22n (4 − s22n ). (2.2) 2 2 s2n = x(4 − x), ou seja, p −x + 4x − sn = 0. 4 − s2n . Despreza-se a equação obtem-se x = 2 − tem-se solução x = = 2+ p 4 − s2n , pois então s2n = q p 2 − 4 − s2n . (2.3) Observações: 1. É importante notar que de raio 1, tem-se sn < s2n . 2 Por exemplo, no caso do hexágono inscrito na circunferência s3 = s6 Portanto, q √ 4 − s26 = 3 ∼ = 1, 732051. s3 = 0, 866026 < 1 = s6 . 2 2. Da fórmula (2.3) e do fato de que s16 = s32 = 2, deduz-se que r 2− q √ 2 + 2 + 2, n>2 s 2n r 2− = | 2n -ágono s q √ 2 − 2 + 2, s 3. O perímetro do √ (lado do quadrado) é igual a r q √ s8 = 2 − 2, ou mais geralmente, para s4 q √ 2 + 2 + ··· + 2. {z } n−1 raizes quadradas regular inscrito é 2n s2n . Fazendo n tender ao innito, o tende a confundir-se com a circunferência do círculo unitário, que por denição é assim, substituindo n − 1 por m e s r 2 m 2− | Faculdade de Matemática suprimindo o fator 2 q √ 2 + 2 + ··· + 2 → π {z } 2π 2n -ágono . Obtem-se da fórmula quando m → ∞. m raizes quadradas Construções Geométricas Fundamentais 108 FAMAT em Revista Relação entre os lados do pentágono, do hexágono e do decágono regulares: √ foi visto, p s5 = s10 4 − s210 , em que s5 é o lado do pentágono e s10 = Assim, √ s5 = = = ∼ = Logo, 5−1 2 Como já é o lado do decágono. √ ( 5 − 1)2 4− 4 s √ √ 5−1 (5 − 2 5 + 1) 4− 2 4 s √ √ 5 − 1 (10 + 2 5) 2 4 1, 175571. s5 ∼ = 0, 618034 = 1, 175571 , s10 ∼ 5−1 2 s e, portanto, s5 = 0, 5877855 < 0, 618034 = s10 . 2 Proposição 2.2. Os lados de um pentágono, de um hexágono e de um decágono regulares, inscritos na mesma circunferência, formam um triângulo retângulo. B 0 D0 = 2. Determina-se M 0 , o 0 ponto médio de A D e traça-se uma circunferência de raio M E por M , que interceptará o diâmetro B 0 D0 em C 0 , como na gura (2.12). Demonstração. Traça-se uma circunferência de centro 0 0 Figura 2.12: A0 e diâmetro 0 0 s25 = s210 + r2 Assim, M 0 E 02 = A0 E 02 + A0 M 02 r = r+ . 4 √ √ √ 5 5 1 5−1 0 0 Logo, M E = r e, portanto, A0 C 0 = M 0 C 0 − M 0 A0 = r− r= r. 2 0 0 2 2 2 0 0 Como já foi visto, A C é o lado do decágono e A E é o lado do hexágono. Resta 0 0 que C E é o lado do pentágono, ou seja, então mostrar s25 = s210 + r2 , em que s5 é o lado do pentágono, s10 Construções Geométricas Fundamentais é o lado do decágono e r é o lado do hexágono. Universidade Federal de Uberlândia O problema da construção de polígonos regulares de Euclides a Gauss 109 Figura 2.13: Representação dos lados do pentágono (AE) e decágono (AB) 1 x = OC = s10 , AD = s5 2 ADB tem-se Conforme a gura (2.13), No triângulo retângulo AD2 + DB 2 = AB 2 ou e 1 DB = (r − s10 ). 2 1 2 1 s + (r − s10 )2 = s210 . 4 5 4 Então, 1 2 1 2 s + (r − 2rs10 + s210 ) − s210 = 0, 4 5 4 ou seja, s25 = 3s210 + 2rs10 − r2 . OAB e ABC são semelhantes e assim, r x = , isto é, x2 + rx − r2 = 0. x r−x Como já foi visto, os triângulos Como x = s10 , segue que s210 + rs10 − r2 = 0. Substituindo rs10 = r2 − s210 na equação s25 = 3s210 + 2rs10 − r2 , tem-se s25 = s210 + r2 , o que conclui a demonstração. Construção de alguns polígonos regulares: Processo prático 1. Triângulo e hexágono: se M, o ponto médio de perpendicular a BD. Traça-se uma circunferência de centro BO. Assim, A seguir, traça-se o segmento AC AC O e diâmetro BD e determina- passando pelo ponto médio será o lado do triângulo inscrito na circunferência e o raio M e OD será o lado do hexágono. 2. Quadrado e octógono: se OA perpendicular a Traça-se uma circunferência de centro BD. O segmento Considera-se agora, o triângulo no ponto 3. E e ME OAB . AB O e diâmetro BD e considera- é o lado do quadrado inscrito na circunferência. A bissetriz por d interceptará a circunferência O do arco AB será o lado do octógono regular. Pentágono e decágono: Traça-se uma circunferência de centro perpendiculares. Determina-se M, o ponto médio de OD O e diâmetros BD e AC e traça-se uma circunferência de raio M A por M, que interceptará o diâmetro BD em C. Os segmentos AC e OC são respectivamente, os lados do pentágono e do decágono regulares. Faculdade de Matemática Construções Geométricas Fundamentais 110 FAMAT em Revista Figura 2.14: Triângulo e hexágono Figura 2.15: Quadrado e octógono Figura 2.16: Pentágono e decágono 4. Pentadecágono: Traça-se uma circunferência de centro tende um lado do pentadecágono mede ◦ (24 = 60◦ − 36◦ ) 360◦ = 24◦ , 15 O e raio OC. Como o arco que suben- pode-se relacioná-lo aos arcos de 60◦ e 36◦ , que são respectivamente, os relativos aos lados do hexágono e do decágono. Figura 2.17: Pentadecágono Construções Geométricas Fundamentais Universidade Federal de Uberlândia O problema da construção de polígonos regulares de Euclides a Gauss 111 Após a construção por Euclides dos polígonos regulares vistos anteriormente, não houve progresso nesse assunto, até que em 1796 Gauss concluiu o seu trabalho sobre a construção do polígono de 17 lados. Posteriormente, Gauss demonstrou o teorema, a seguir, que exibe quais os possíveis polígonos regulares que são construtíveis segundo as regras euclidianas. Teorema 2.3. Um polígono regular de n lados pode ser construído com régua e compasso se, e somente n = 2α ou n = 2α p1 p2 · · · pr , em que p1 , p2 , · · · , pr β p = 22 + 1 e α e β são números inteiros não negativos. se, são números primos distintos da forma Consequências do Teorema 2.3: 1. É possível construir os seguintes polígonos (até 20 lados): de 3, 4, 5, 6, 8, 10, 12, 15, 16, 17 e 20 17 lados, lados, incluindo todos os construidos por Euclides e com destaque para o polígono de que será apresentado a seguir. 2. Os polígonos regulares de 7 não é um primo p1 = p2 = p3 = 3. mas 27 lados, por exemplo, não são construtíveis, pois 7 = 20 .7, 2β forma 2 + 1; 9 = 20 .3.3, mas p1 = p2 = 3; 27 = 20 .3.3.3, mas 7, 9 da e 3. Os polígonos regulares com um número primo de lados são, portanto, o triângulo e o pentágono, β n = 22 + 1. Como se sabe, n é primo para β = 0, . . . , 4, 5 n = 3, 5, 17, 257, 65.537. Euler mostrou que para β = 5, n é composto, isto é, 22 + 1 = 641 × 6.700.417 e até o momento não foi encontrado outro número primo dessa forma. construidos por Euclides e os de lados ou seja, 3 A construção de Gauss do polígono regular de 17 lados (Heptadecágono) Deve-se ressaltar que antes de Gauss, L. Euler (1707 tem n − 1783) ao demonstrar que qualquer número raízes enésimas, também provou que elas, quando representadas no plano complexo, formam entre si, sucessivamente, ângulos de produz n 2π . n Em outras palavras, a extração da raiz enésima da unidade números complexos, cujas representações grácas formam um polígono regular de inscrito em uma circunferência de raio unitário. Por este motivo, a equação n lados, n x − 1 = = 0 recebeu a XV III e início do denominação de equação ciclotônica e foi intensamente estudada no nal do século século XIX, principalmente pelo jovem Gauss. É interessante observar algumas propriedades das raízes enésimas da unidade. Ao denominá-las por Rk = cos 2kπ 2kπ + i sin , k = 0, . . . , n − 1, nota-se algo curioso; n n tomando R1 = cos como ponto de partida 2π 2π + +i sin n n R2 = R12 ; R3 = R13 ; . . . ; Rn−1 = R1n−1 . Isto ocorre porque, ao se elevar multiplicado por 2, 3, 4, R1 às sucessivas potências inteiras, o ângulo etc. θ = 2π n vai sendo Há ainda outros fatos relacionando as raízes enésimas. Por exemplo: Rn−1 = 1 1 1 ; Rn−2 = ; · · · ; Rn−i = ; R1 R2 Ri R1n−1 = 1 1 1 ; R1n−2 = 2 ; · · · ; R1n−i = i . R1 R1 R1 ou Faculdade de Matemática A construção de Gauss do polígono regular de 17 lados (Heptadecágono) 112 FAMAT em Revista Figura 3.1: Representação das n raízes da unidade Isto acontece porque, para se calcular o inverso de um número complexo de módulo 1, que é o nosso caso, basta inverter o ângulo em relação ao eixo real. Se for considerada qualquer outra raiz, R2 , R3 , R4 = R22 ou R9 = R33 , etc. x = 1, a equação torna-se etc, como ponto de partida, vê-se que, por exemplo, Seja agora a equação x 17 − 1 = 0. Descartando a raiz x16 + x15 + x14 + . . . + x4 + x3 + x2 + x + 1 = 0. Pelo que foi observado sobre as relações entre as raízes da equação acima, pode-se escrever R116 + R115 + R114 + . . . + R13 + R12 + R1 + 1 = 0 ou R16 + R15 + R14 + . . . + R3 + R2 + R1 + 1 = 0. Foi nesse ponto que se fez presente a genialidade de Gauss que usou resultados de suas pesquisas anteriores sobre congruência, um tópico por ele introduzido na teoria dos números. As 16 raízes foram colocadas em uma ordem conveniente e a razão disso pode ser compreendida ao longo da exposição. Tal ordem é R1 , R3 , R9 , R10 , R13 , R5 , R15 , R11 , R16 , R14 , R8 , R7 , R4 , R12 , R2 , R6 . Nesta sequência cada raiz é o cubo da anterior. Por exemplo, 3 (R16 ) = R116 3 = R148 = R117 R117 R114 = R114 . A partir da ordem estabelecida, as raízes foram agrupadas em dois blocos de 8 elementos y1 = R1 + R9 + R13 + R15 + R16 + R8 + R4 + R2 e y2 = R3 + R10 + R5 + R11 + R14 + R7 + R12 + R6 , y1 + y2 = −1. Uma vez que Rm Rn = Rm+n , 2 equação y + y − 4 = 0. e assim, tem-se segue que y1 y2 = 4(y1 + y2 ) = −4 Considerando-se, alternadamente, os termos de y1 e y2 , e, portanto, y1 e y2 satisfazem a encontra-se z1 = R1 + R13 + R16 + R4 , z2 = R9 + R15 + R8 + R2 e w1 = R3 + R5 + R14 + R12 , w2 = R10 + R11 + R7 + R6 . A construção de Gauss do polígono regular de 17 lados (Heptadecágono)Universidade Federal de Uberlândia O problema da construção de polígonos regulares de Euclides a Gauss 113 Assim, ou seja, z1 , z2 e w1 , w2 z1 + z2 = y1 z1 z2 = −1 e w1 + w2 = y2 w1 w2 = −1, satisfazem, respectivamente, às seguintes equações: z 2 − y1 z − 1 = 0 e w2 − y2 w − 1 = 0. z1 da forma v1 = R1 + R16 , v2 = R13 + R4 e nota-se que v1 , v2 satisfazem a equação v 2 − z1 v + w1 = 0 e R1 , R16 satisfazem Finalmente toma-se os termos de v1 + v2 = z1 e v1 v2 = w1 , ou 2 a equação r − v1 r + 1 = 0. seja, Desse modo pode-se encontrar v1 = R1 + resolvendo-se uma série de equações quadráticas. R1 = cos Lembrando que nesse caso, assim R1 1 2π = 2 cos . R1 17 2π 2π + i sin , 17 17 tem-se que, Desse modo pode-se construir um polígono regular de 17 2π 1 2π = cos − i sin = R16 R1 17 17 e lados por um processo em que estão envolvidas somente operações racionais e extrações de raízes quadradas, ou seja, apenas com régua e compasso. 3.1 Construção geométrica do heptadecágono Considera-se inicialmente um círculo unitário e duas perpendiculares aos diâmetros tangenciam o círculo em A e D e se cortam em AB e CD que S. Figura 3.2: Primeira etapa da construção do heptadecágono 1 AE = AS. 4 0 Com centro em E e raio OE traça-se um círculo que corta a reta AS em F e F . Com centro em 0 F e raio F O traça-se um círculo que corta AS em H (fora de F F ), e com centro em F 0 e raio F 0 O 0 0 0 traça-se outro círculo que corta AS em H (entre F e F ). Verica-se agora, que AH = z1 e AH = w1 . 2 De fato; como foi visto anteriormente y1 + y2 = −1 e y1 y2 = −4, ou seja, y + y − 4 = 0 e assim √ √ −1 − 17 −1 + 17 e y2 = . y1 = 2 2 2 2 Por outro lado, como z − y1 z − 1 = 0 e w − y2 w − 1 = 0 tem-se r r 1 1 2 1 1 z1 = y1 + 1 + y1 e w1 = y2 + 1 + y22 . 2 4 2 4 A seguir dividi-se AS em quatro partes iguais e toma-se Com base na gura 3.2, conclui-se: 1. Como 2 2 2 OE = AE + OA = Faculdade de Matemática 1 AS 4 2 1 17 + 1 = AS 2 + 1 = , 16 16 √ então OE = 17 . 4 A construção de Gauss do polígono regular de 17 lados (Heptadecágono) 114 FAMAT em Revista √ 2. AF = EF − EA = OE − EA = √ 17 1 − = 4 4 1 17 − 1 = y1 . 4 2 √ 3. 0 17 1 + AS = 4 4 0 AF = EF + AE = EF + AE = OE − EA = 4. Como 2 2 2 1 y1 2 OF = OA + AF = 1 + 2 √ 17 + 1 1 = − y2 . 4 2 r , então 1 1 + y12 . 4 OF = Do mesmo modo OF 0 = r 1 1 + y22 . 4 Finalmente chega-se às duas conclusões mais importantes: r 1 1 + y12 = z1 4 1 1 AH = AF + F H = y1 + OF = y1 + 2 2 e r 1 1 1 AH = F H − F A = F O − − y2 = 1 + y22 + y2 = w1 . 2 4 2 0 0 0 0 0 Agora, considera-se o plano cujos eixos coordenados são as retas determinadas por e um círculo de diâmetro de DD 0 , em que D = (0, 1) e 0 D = (z1 , w1 ) e cujo centro M SA e por SD é o ponto médio DD0 . Figura 3.3: Segunda etapa da construção do heptadecágono A equação do círculo é x− 2 2 2 w1 + 1 1 + w1 z1 2 z1 2 z2 w1 − 1 + y− = + −1 = 1 + . 2 2 2 2 4 2 Para encontrar as abscissas dos pontos x− z1 2 + 2 G e G0 considera-se y = 0 na igualdade anterior e obtem-se w1 + 1 2 2 w1 − 1 2 = Desenvolvendo um pouco mais, chega-se a equação 0 G são precisamente em que v1 e v2 z12 + 4 2 . x2 − z1 x + w1 = 0, Ge v 2 − z1 v + w1 = 0, ou seja, as abscissas de (já referidos anteriormente) que satisfazem a equação v1 > v2 > 0. Logo, SG = v1 = SG = 2 cos 2π . 17 z1 + p z12 − 4w1 . 2 E assim , como Finalmente pode-se construir o polígono de 17 v1 = R1 + 1 2π = 2 cos , R1 17 tem-se que lados do seguinte modo: A construção de Gauss do polígono regular de 17 lados (Heptadecágono)Universidade Federal de Uberlândia O problema da construção de polígonos regulares de Euclides a Gauss 115 SG = v1 sobre a reta que passa por O e C a partir de O, obtendo-se ON. EncontraP de ON e traça-se P Q perpendicular a ON por P e assim, P Q é o lado do 2π 2π b = 2π . uma vez que ON = 2 cos , ou seja, OP = cos e, portanto, P OQ 17 17 17 Transporta-se se o ponto médio heptadecágono, Figura 3.4: Etapa nal da construção do heptadecágono Referências Bibliográcas [1] Aaboe, A., Episódios da História Antiga da Matemática, 2. ed., Rio de Janeiro: Sociedade Brasi- leira de Matemática, 2002. [2] Bold, B., Famous Problems of Geometry, New York: Dover Publications, 1982. [3] Courant, R. e Robbins, H., Que'es la matemática?, Madrid: Aguilar, S.A. Ediciones, 1964. [4] Dörrie, H., 100 Great Problems of Elementary Mathematics, New York: Dover Publications, 1965. [5] Wagner, E., Construções Geométricas, Coleção do Professor de Matemática, SBM, 1993. Faculdade de Matemática A construção de Gauss do polígono regular de 17 lados (Heptadecágono) 116 FAMAT em Revista A construção de Gauss do polígono regular de 17 lados (Heptadecágono)Universidade Federal de Uberlândia Método de reconstrução de segunda ordem em malhas nãoestruturadas de triângulos Lucas Dias Lana Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Engenharia Mecânica Graduando em Engenharia Mecânica - Programa de Iniciação Cientíca da FAMAT lucasbb@ mec. ufu. br Alessandro Alves Santana Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Adjunto I alessandro@ famat. ufu. br Resumo: Esse artigo tem por nalidade apresentar um estudo sobre uma técnica de reconstrução de alta ordem. Essa reconstrução é baseada em mínimos quadrados, e foi desenvolvida tendo por intuito sua aplicação na resolução numérica de EDPs via método dos volumes nitos. A reconstrução da solução em cada volume de controle é utilizada para calcular os uxos nas faces dos volumes de controle. 1 Introdução Estudar fenômenos físicos muitas vêzes conduz a analisar taxas de variação, derivadas, de uma ou mais propriedades físicas, em relação a variáveis espaciais ou temporais. Tais propriedades físicas podem ser a temperatura, pressão, densidade, velocidade, etc. A modelagem matemática dos referidos fenômenos, por envolverem derivadas, conduz a uma formulação por meio de equações diferenciais. As equações de Navier-Stokes, por exemplo, formam um conjunto de equações diferenciais parciais (EDPs) que governam escoamentos de uidos. Sendo a Matemática uma ferramenta de qualicação e quanticação utilizada por engenheiros no desenvolvimento de projetos, a resolução das equações de Navier-Stokes, em projetos de engenharia que as envolvam, irá fornecer embasamentos para tomadas de decisão na execução dos referidos projetos. Isso por sua vez propicia o melhoramento e avanço tecnológico. A grande maioria das EDPs que aparecem na prática não tem solução via métodos analíticos de resolução. Essa limitação é sua superada utilizando métodos de resolução numérica. Devido a isso, tem sido dado um grande esforço, em várias centros de pesquisa no mundo, no desenvolvimento de métodos ecientes de resolução numérica de EDPs. Um ponto chave nesse desenvolvimento reside na criação de técnicas numéricas que forneçam boas aproximações com baixo custo computacional. Ao longo da história vários métodos foram desenvolvidos. São exemplos: métodos de diferenças nitas (MDF), método dos elementos nitos (MEF) e método dos volumes nitos (MVF). Dentre esses exemplos, o método dos volumes nitos é uma das técnicas mais utilizadas, tanto é que é o método implementado em vários softwares comerciais empregados na resolução numérica de EDPs que governam escoamentos de uidos. O MVF trabalha com um princípio importante da física, que é a conservação da média da propriedade física envolvida na EDP em cada volume de controle. O referido método exige o cálculo dos uxos nas faces do volume de controle. Para realizar esses cálculos é necessária uma técnica de recontrução para que os mesmos possam ser avaliados. Dentre as técnicas de reconstrução existentes, existe uma, apresentada por Gooch (3), que consiste numa reconstrução da solução, baseada em mínimos quadrados, em cada volume de controle. Nessa técnica, a solução é 118 FAMAT em Revista aproximada por um polinômio, o qual é utilizado para obter as aproximações dos uxos nas faces do volume de controle. Assim sendo, o presente trabalho tem por nalidade apresentar um estudo sobre a referida técnica de reconstrução. A referência base para esse estudo é o artigo desenvolvido por Gooch (3). Gooch apresenta reconstruções de segunda, terceira e quarta ordens. reconstrução de segunda ordem. Esse texto é focado na técnica de Os fundamentos do método dos volumes nitos e da técnica de reconstrução serão apresentadas nas seções a seguir. A técnica de reconstrução é implementada em linguagem C e são realizados testes com algumas funções. Além disso, o que é muito importante na implementação de uma técnica numérica, é feita a vericação matemática do código desenvolvido, para constatar se os resultados quanto a ordem corroboram com a teoria do método. 2 Método dos volumes nitos Essa seção tem como objetivo fornecer uma explicação simplicada sobre o MVF relacionado com o que foi feito no presente trabalho. O Método de Volumes Finitos é mais uma forma de se obter uma versão discreta de uma equação diferencial parcial (EDP). Diferentemente de outros métodos, entretanto, ele fundamenta-se em uma abordagem física do problema representado pela EDP. O seu desenvolvimento está intrinsecamente ligado ao conceito de uxo entre regiões, ou volumes adjacentes, onde o uxo de uma grandeza uma fronteira com área A. φ, como massa ou energia, é a quantidade dessa grandeza que atravessa A quantidade líquida de φ que atravessa um volume de controle V, por unidade de tempo é calculada pela integração, sobre essas fronteiras, da diferença entre os uxos que entram e os que saem de V , o que é conseguido de forma mais geral pela integração das EDPs (Bortoli (1), 2000; Fortuna (2), 2000). A aplicação da técnica de volumes nitos permite escrever equações de diferenças que exprimem as relações de conservação de massa e energia. A interpretação física direta resultante da aplicação do MVF, bem como, a possibilidade de aplicá-lo diretamente sobre malhas com espaçamentos nãouniformes são duas de suas vantagens. Além disso, é um método adequado para resolver EDPs denidas em domínios com geometrias complexas empregando malhas não-estruturadas. Isso decorre do fato de que é mais fácil adaptar a um domínio com uma geometria complexa uma malha não-estruturada do que uma malha estruturada. Primeiramente, o método consiste na geração de uma malha, seja estruturada ou não-estruturada. Com o domínio discretizado em um número nito de nós, dentro do mesmo são denidos um número nito de volumes de controle. Os esquemas baseados em MVF são classicados em dois tipos: cellvertex, gura 2.1 e cell-centered, gura 2.2. No primeiro tipo as informações da função incógnita são armazenadas nos próprios nós das malhas. Já no segundo tipo, as informações são armazenadas nos centróides das células da malha. Figura 2.1: Cell-vertex Figura 2.2: Cell-centered O MVF é baseado na formulação integral das EDPs que governam um dado fenômeno físico. Assim sendo, as referidas EDPs devem ser integradas em cada volume de controle por alguma técnica numé- Introdução Universidade Federal de Uberlândia Método de reconstrução de segunda ordem em malhas não-estruturadas de triângulos 119 rica, gerando assim a forma discreta da equação diferencial. A forma como as EDPs são discretizadas irá ditar o método de resolução das equações discretizadas. Dependendo da discretização, pode ser necessário resolver um sistema linear ou uma seqüência de sistemas lineares. Parte do processo de resolução de uma dada EDP via MVF envolve o cálculo dos uxos nas faces do volume de controle. Para isso é necessário que a solução seja reconstruída nas referidas faces, exigindo portanto uma técnica de reconstrução. A próxima seção irá abordar uma técnica de reconstrução baseada em mínimos quadrados, a qual pode ser aplicada para reconstruir a solução das faces do volume de controle. 3 Método de reconstrução de segunda ordem O método de reconstrução de segunda ordem abordado no presente trabalho, é derivado do método de reconstrução de alta ordem elaborado por Gooch (3). Considerando, primeiramente, o valor médio de uma função com valores nos pontos de fronteira e nos centros de uma malha não-estruturada de triângulos, tal método consiste em aproximar a função, em cada volume de controle, por um polinômio baseado na série de Taylor da solução. Para tanto, os coecientes desses polinômios, que são derivadas parciais da função, precisam ser determinados. Esses coecientes são determinados na condição de que o valor médio da solução em cada volume de controle seja preservado. Com isso, a ordem de precisão da reconstrução é diretamente dependente do número de termos da série de Taylor utilizada. Nas próximas subseções, é explicado com mais detalhes, o método de reconstrução citado acima, partindo da reconstrução nos volumes de controle no interior e posteriormente, aplica-se a condição de fronteira de Dirichlet para o tratamento da reconstrução nos volumes de controle na fronteira. O esquema escolhido baseado em MVF para ser utilizado no presente trabalho é o cell-centered, onde as informações são armazenadas nos centróides das células da malha. 3.1 Reconstrução no interior O método de reconstrução de alta ordem, de onde é derivado o método de segunda ordem, consiste em descrever uma função φi , dentro do volume de controle, por uma expansão em série de Taylor independente do MVF ser baseado em cell-vertex ou cell-centered. Considere a expansão em série de Taylor da função φR i (x, y) = φ|i + onde φR i φi em torno do ponto (xi , yi ), ∂φ ∂φ 1 ∂ 2 φ (x − x ) + (y − y ) + (x − xi )2 + i i ∂x i ∂y i 2 ∂x2 i 1 ∂ 2 φ 1 ∂ 3 φ ∂ 2 φ 2 (y − y ) + (x − xi )(y − yi ) + (x − xi )3 + . . . i ∂x∂y i 2 ∂y 2 i 6 ∂x3 i (3.1) é o valor da solução reconstruída, sendo ∂ k+1 φ ∂xk ∂y i as suas derivadas parciais com relação ao ponto (xi , yi ) do volume de controle i. Com isso, observa-se que utilizando essa idéia, reconstruir a solução é, nada mais nada menos que aproximar a solução por um polinômio em duas variáveis. Para determinar esses polinômios, é necessário obter os coecientes que são as aproximações das derivadas parciais presentes na expansão, respeitando os princípios do MVF citado na seção anterior. Com a obtenção dos coecientes usando esses princípios, o polinômio aproximador, que é a solução reconstruída, pode ser utilizado para calcular aproximações da solução exata, e também suas derivadas, em qualquer ponto do volume de controle. Faculdade de Matemática Método de reconstrução de segunda ordem 120 FAMAT em Revista Respeitando o princípio do MVF, que o valor médio i φ̄i da solução φi dentro do volume de controle seja conservado, necessita-se que 1 Ai ZZ φR i dA = φ̄i (3.2) Ai Substituindo a equação (3.1) em (3.2), tem-se 1 Ai ZZ ∂φ ∂φ 1 ∂ 2 φ 2 φ|i + (x − xi ) + (y − yi ) + (x − xi ) + . . . dA = φ̄i ∂x i ∂y i 2 ∂x2 i Ai que simplicando tem a seguinte forma φ|i + ∂φ 1 ∂ 2 φ 2 ∂ 2 φ 1 ∂ 2 φ 2 ∂φ x + xy + x+ y+ y + . . . = φ̄i ∂x i ∂y i 2 ∂x2 i ∂x∂y i 2 ∂y 2 i (3.3) onde, xn y m i 1 = Ai ZZ (x − xci )n (y − yci )m dA (3.4) Ai Com isso, o termo (3.4), que aparece na equação (3.3), é chamado de momento. Seu cálculo é obtido via regras de quadratura, as quais serão explicadas posteriormente. Lembrando-se que a equação restrição (3.3) é de suma importância no método de reconstrução abordado, pois além de tudo, é utilizada para a montagem do sistema linear com o objetivo de obter os coecientes do polinômio aproximador. Para obter uma reconstrução de segunda ordem, necessita-se que 3 coecientes sejam calculados. Tais coecientes, são derivadas parciais da expansão (3.1). E esses coecientes são φ, φx e φy . Para tanto, esses coecientes são obtidos resolvendo um sistema sobredeterminado considerando os princípios do MVF. Primeiramente, a conservação da média φ̄i tem que ser satisfeita dentro do volume de controle, fazendo com que a equação (3.3) seja uma das equações. Em seguida, as outras equações que compõem o sistema são obtidas considerando que o valor médio do polinômio de reconstrução do volume de controle i seja preservado nos volumes de controle vizinhos φR i j. Para que o último princípio citado acima seja garantido, necessita-se que 1 Aj ZZ ¯ φR i dA = φj (3.5) Aj Substituindo agora (3.1) em (3.5), tem-se 1 Aj ZZ ∂φ ∂φ 1 ∂ 2 φ 2 φ|i + (x − xi ) + (y − yi ) + (x − xi ) + . . . dA = φ¯j ∂x i ∂y i 2 ∂x2 i Aj Método de reconstrução de segunda ordem Universidade Federal de Uberlândia Método de reconstrução de segunda ordem em malhas não-estruturadas de triângulos " 1 φ|i + Aj ZZ 121 # 2 ZZ ZZ ∂φ 1 ∂φ 1 ∂ φ 2 (x − xi )dA (y − yi )dA (x − xi ) dA + + + ∂x i Aj ∂y i 2Aj ∂x2 i Aj Aj 1 Aj ZZ Aj 2 ZZ ∂φ 1 ∂ φ 2 (x − xi )(y − yi )dA (y − yi ) dA + + . . . = φ¯j ∂x∂y i 2Aj ∂y 2 i Aj Aj x − xi Para a utilização dos momentos, equação (3.4), substitui-se (x − xj ) + (xj − xi ) e (y − yj ) + (yj − yi ). e y − yi , respectivamente por, Expandindo em série de Taylor, integrando e fazendo as simplicações para a reconstrução de segunda ordem, tem-se φ|i + [xj + (xj − xi )] ∂φ ∂φ +[y j + (yj − yi )] = φ̄j ∂x i ∂y i onde os termos geométricos na equação possui a seguinte forma geral nym ≡ \ x ij 1 Aj ZZ [(x − xj ) + (xj − xi )]n [(y − yj ) + (yj − yi )]m dA Aj nym \ x ij m X n X m n = (xj − xi )l (yj − yi )k xn−l y m−k j k l (3.6) k=0 l=0 Simplicando a equação genérica (3.6) para reconstrução de segunda ordem e esquema cell-centered, tem-se x bij = xj + (xcj − xci ) ybij = y j + (ycj − yci ) Com isso, segue ∂φ ∂φ φ|i + x bij +b yij = φ̄j ∂x i ∂y i (3.7) Portanto, usando a equação restrição (3.3) e a equação (3.7), que representa o valor médio do polinômio de reconstrução φR i (x, y) no volume de controle j vizinho, monta-se um sistema linear sobredeterminado com a seguinte forma Faculdade de Matemática Método de reconstrução de segunda ordem 122 FAMAT em Revista xi yi 1 φ̄i φ wi1 wi1 x bi1 wi1 ybi1 wi1 φ̄i φx = wi2 wi2 x wi2 φ̄i bi2 wi2 ybi2 φy wi3 wi3 x bi3 wi3 ybi3 wi3 φ̄i onde os pesos wij (3.8) usados no sistema são dados por 1 wij = p 2 (xci − xcj ) + (yci − ycj )2 em que, j, wij é o inverso da distância entre os centróides dos volumes (3.9) i em relação aos seus vizinhos tendo por nalidade ponderar as informações pelo o inverso da distância. Isso mostra que, quanto mais longe o volume j estiver do volume de controle dos coecientes na reconstrução da solução em consideração os valores das médias de φ i. i, menor será a inuência deste na obtenção Com isso, nota-se que o método leva em mais nos volumes de controle mais próximos. Como já foi dito, para recosntrução de segunda ordem, o número de volumes de controle vizinhos necessários para realizar a reconstrução no interior é igual ao número de derivadas que precisam ser obtidas na série (3.1). Com isso, para 2a ? ordem, são necessários três vizinhos (Santana ( ), 2007). A subseção a seguir detalha o tratamento de reconstrução na fronteira com condição de fronteira de Dirichlet. Em essência, a idéia básica para essa condição de fronteira, consiste em forçar a reconstrução no contorno adicionando mais restrições na formação do sistema, além da conservação da média 3.2 φ̄. Reconstrução na fronteira Como foi dito, para garantir que a ordem seja preservada no contorno, adiciona-se mais restições na formação do sistema. Tais restrições adicionais, são equações aplicadas nos pontos de Gauss da fronteira. Esses pontos, nada mais são que, as coordenadas dos pontos médios dos lados de cada triângulo na fronteira. O número de pontos, vai depender da ordem de reconstrução utilizado. De acordo com (7), para a reconstrução de segunda ordem, necessita-se de três pontos de Gauss. Com isso, o sistema sobredeterminado envolvido no caso de reconstrução de segunda ordem possui a seguinte forma onde, i, xg e yg , xci e respectivamente. 1 xi yi 1 1 1 (xg − xci ) (yg − yci ) 1 (x2g − xci ) (yg2 − yci ) wi1 wi1 x bi1 wi1 ybi1 wi2 wi2 x bi2 wi2 ybi2 wi3 wi3 x bi3 wi3 ybi3 φ φx = φy φ̄i u1 u2 wi1 φ̄i wi2 φ̄i wi3 φ̄i (3.10) yci , são as coordenadas dos pontos de Gauss e do centróide do volume de controle Já u1 e u2 , são os valores da solução na fronteira, os quais são conhecidos no caso da condição de Dirichlet. Com isso, tem-se que o número de colunas é igual ao número de termos necessários para fazer a reconstrução, uma vez que as soluções dos sistemas fornecem as derivadas necessárias para a aproximação polinomial. Método de reconstrução de segunda ordem Universidade Federal de Uberlândia Método de reconstrução de segunda ordem em malhas não-estruturadas de triângulos 3.3 123 Método da eliminação de Gauss com pivoteamento parcial Para a resolução dos sistemas dados por (3.8) e (3.10), foi utilizado o método da eliminação de Gauss com pivoteamento parcial. Primeiramente, para facilitar para a resolução dos sitemas referidos anteriormente, no sistema Ax = b T multiplica-se ambos os lados pela matriz transposta de A (A ), obtendo AT Ax = AT b gerando assim as chamadas Equações Normais, justicando assim a idéia de que os polinômios aproximadores da solução, em cada volume de controle, são obtidos dentro de um processo de ajuste por mínimos quadrados. O método de eliminação de Gauss é um método direto que consiste em transformar o sistema linear original num sistema linear equivalente com matriz dos coecientes triangular superior, pois estes são de resolução imediata. Dizemos que dois sistemas lineares são equivalentes quando possuem a mesma solução. Além disso, a estratégia de pivoteamento parcial foi escolhida. Isso porque um pivô próximo de zero pode conduzir a resultados totalmente imprecisos, e pivôs próximos de zero dão origem a multiplicadores bem maiores que, por sua vez, origina uma amplicação dos erros de arredondamento (6). A referência (6) apresenta com mais detalhes, os princípios de funcionamento e o algoritmo do método de resolução de sistemas lineares abordado. 3.4 Quadratura Gaussiana Primeiramente, tem-se que no método de volumes nitos necessita-se constantemente aplicar téc- nicas de integração numérica, como por exemplo, em cada volume de controle, a integral dos uxos advectivos e difusivos e, dependendo do problema, tem-se ainda o cálculo das integrais dos termos fonte, também para cada volume de controle. Uma técnica de integração numérica bastante utilizada são os métodos baseados em quadratura gaussiana. Tais métodos possuem a vantagem de produzir boas aproximações com baixo custo computacional. Esses métodos são utilizados aqui para calcular os momentos (3.4), e por conseqüência, os termos geométricos (3.6). Considere o problema de calcular a integral ZZ φ(x, y)dΩ (3.11) Ω em um triângulo, onde a função φ é uma função de qualquer tipo. Dunavant (4) apresenta uma fórmula de cálculo para esse tipo de integral, baseada em quadratura gaussiana, a qual é dada por ZZ φ(x, y)dΩ = N PG X (k) (k) (k) (k) (k) AT wk φ(x(k) g xA + yg xB + zg xC , xg yA + yg yB + zg xC ) (3.12) k=1 Ω onde AT é a área do triângulo onde se calcula a integral. (xA , yA ),(xB , yB ) (k) wg e (xC , yC ) são as coordenadas dos vértices do triângulo. são pesos para os pontos de Gauss. Faculdade de Matemática Método de reconstrução de segunda ordem 124 FAMAT em Revista (k) xg , (k) yg e (k) zg são parâmetros para determinar os pontos de Gauss a partir das coordenadas dos vértices. Os pontos e os pesos de Gauss podem ser obtidos em Dunavant (4). Uma outra fórmula de integração de área de triângulos com precisão de ordem 2, via quadratura gaussiana, é apresentada por (5) e utilizada nesse trabalho, é dada por 3 ZZ φ(x, y)dΩ = AX (k) φ(x(k) m , ym ) 3 (3.13) k=1 Ω Além disso, para o esquema cell-centered , necessita-se o cálculo das coordenadas do centróide do triângulo, que é dado por 3 xc = 1 X (k) xv 3 k=1 onde (k) (k) (xv , yv ) e (k) (k) (xm , ym ) 3 yc = 1 X (k) yv 3 (3.14) k=1 são, os vértices do triângulo e os pontos médios dos lados do mesmo respectivamente. 4 Geração da malha e da estrutura de dados Para geração da malha foi utilizado um software gratuito, desenvolvido no INRIA na França. Esse software é um gerador de malhas triângulares bidimensional, e gera malhas não-estruturadas em vários formatos. Para esse trabalho foi utilizado o formato amdba. O emc2 é ilustrado na gura 4.1. Figura 4.1: Ilustração do emc2 O emc2 gera um arquivo de saída contendo os dados da malha não-estruturada de triângulos. Esses dados são constituídos do número de vértices e triângulos, as coordenadas dos vértices dos triângulos e os vértices que formam cada um dos triângulos. Além disso, fornece informações quanto ao tipo de vértice, isto é, se é um vértice da fronteira ou do interior, bem como, se for um vértice da fronteira, se o mesmo está sob condição de Dirichlet, Neumann ou Robin. Na próxima página temos uma ilustração de uma arquivo no formato amdba Método de reconstrução de segunda ordem Universidade Federal de Uberlândia Método de reconstrução de segunda ordem em malhas não-estruturadas de triângulos 25 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 32 0.000000e+00 0.000000e+00 2.500000e-01 0.000000e+00 5.000000e-01 0.000000e+00 7.500000e-01 0.000000e+00 1.000000e+00 0.000000e+00 0.000000e+00 2.500000e-01 2.500000e-01 2.500000e-01 5.000000e-01 2.500000e-01 7.500000e-01 2.500000e-01 1.000000e+00 2.500000e-01 0.000000e+00 5.000000e-01 2.500000e-01 5.000000e-01 5.000000e-01 5.000000e-01 7.500000e-01 5.000000e-01 1.000000e+00 5.000000e-01 0.000000e+00 7.500000e-01 2.500000e-01 7.500000e-01 5.000000e-01 7.500000e-01 7.500000e-01 7.500000e-01 1.000000e+00 7.500000e-01 0.000000e+00 1.000000e+00 2.500000e-01 1.000000e+00 5.000000e-01 1.000000e+00 7.500000e-01 1.000000e+00 1.000000e+00 1.000000e+00 4 5 10 0 22 21 16 0 1 2 7 0 7 6 1 0 2 3 8 0 3 4 9 0 10 9 4 0 12 11 6 0 9 10 15 0 17 16 11 0 14 15 20 0 16 17 22 0 23 22 17 0 24 23 18 0 19 20 25 0 25 24 19 0 8 7 2 0 9 8 3 0 6 7 12 0 7 8 13 0 13 12 7 0 8 9 14 0 14 13 8 0 15 14 9 0 11 12 17 0 12 13 18 0 18 17 12 0 13 14 19 0 19 18 13 0 20 19 14 0 17 18 23 0 18 19 24 0 Faculdade de Matemática 1 1 1 1 1 1 0 0 0 125 1 1 0 0 0 1 1 0 0 0 1 1 1 1 1 1 Geração da malha e da estrutura de dados 126 FAMAT em Revista Na implementação do processo de reconstrução, a primeira coisa que deve ser feita é leitura desses arquivos amdba, seguida pela geração de uma estrutura de dados contendo, a saber, áreas dos triângulos, triângulos vizinhos a um dado triângulo, coordenadas dos centróides, inverso da distância do centróide de um dado triângulo aos seus triângulos vizinhos, e as coordenadas dos pontos médios dos lados de cada triângulo da malha. Todas essas informações são utilizadas para calcular os momentos, termos geométricos e os sistemas lineares que terão que ser resolvidos para obter as reconstruções. A próxima seção apresenta resultados da implementação do método de reconstrução. O código, elaborado em linguagem C, foi testado com duas funções de teste, e suas reconstruções apresentadas na forma de grácos. 5 Análise de resultados u(x, y) = sin (πx) sin (πy), considerando como [0, 1] × [0, 1]. A malha nesse domínio foi gerada, via A primeira função de teste utilizada foi a função domínio o quadrado unitário quadrado unitário emc2, tomando 10, 20, 40 e 80 divisões em cada lado o quadrado. Fazendo isso, o emc2 gera uma malha não-estrutura de triângulos no domínio considerado. Para cada uma dessas divisões foi feita uma reconstrução, conforme pode ser observado nas guras 5.1, 5.2, 5.3, 5.4. Figura 5.1: Malha 10x10 divisões. Figura 5.2: Malha 20x20 divisões. Figura 5.3: Malha 40x40 divisões. Figura 5.4: Malha 80x80 divisões. Nessas guras pode se observar as sucessivas melhoras na reconstrução, que são os planos em cada triângulo representados pelas linhas vermelhas. Pode ser percebido que cada plano tendo a se ajustar a solução exata a medida que o renamento ocorre. As guras 5.5, 5.6, 5.7, 5.8 apresentam as curvas de nível dessas reconstruções. Pode-se também observar as progressivas melhoras das reconstruções. Geração da malha e da estrutura de dados Universidade Federal de Uberlândia Método de reconstrução de segunda ordem em malhas não-estruturadas de triângulos 127 Figura 5.5: Malha 10x10 divisões. Figura 5.6: Malha 20x20 divisões. Figura 5.7: Malha 40x40 divisões. Figura 5.8: Malha 80x80 divisões. O segundo exemplo para ilustrar a técnica de reconstrução foi realizada com a função cos(5x)sin(10y), u(x, y) = também no quadrado unitário. cujos grácos são apresentados nas guras 5.9, 5.10, 5.11 e 5.12. Figura 5.9: Malha 10x10 divisões. Faculdade de Matemática Figura 5.10: Malha 20x20 divisões. Análise de resultados 128 FAMAT em Revista Figura 5.11: Malha 40x40 divisões. Figura 5.12: Malha 80x80 divisões. O mesmo comportamento, isto é, a progressiva melhora das reconstruções, ocorre a medida que a malha é renada. A próxima seção aborda uma tópico importante no que tange a implementação de métodos numérico, que é a vericação matemática dos valores gerados na execução computacional da técnica numérica em estudo. 6 Vericação de implementação de métodos numéricos Para averiguar se a solução aproximada está retornando resultados com a ordem de precisão do método, necessita-se fazer a chamada vericação. Tal vericação, é de extrema importância quando se trabalha com resolução de EDPs com implementação numérica. Um dos métodos que existem, para fazer a vericação, consiste em montar uma tabela o erro log(n) × log(erro), Z1 Z1 ||e(h)||2 = n é o número de células e u(x, y) a solução exata e p(x, y) 2 1/2 [u(x, y) − p(x, y)] dxdy 0 sendo onde calculado pela norma (6.1) 0 a solução reconstruída, dado pelos polinômios obtidos no processo de reconstrução. Considerando a função do primeiro exemplo, p(x, y), u(x, y) = sen(πx)sen(πy), e suas reconstruções gera-se a tabela e o seu respectivo gráco a seguir. log(n) log(erro) 5.513429 -4.653207 6.895683 -6.049001 8.290544 -7.449610 9.669915 -8.816782 Para obter a ordem, faz-se um ajuste dos dados da tabela por uma reta. A ordem do erro é o módulo do coeciente angular da reta de ajuste. Se o método estiver implementado corretamente, o módulo do coeciente angular terá que ser algum valor próximo de 2, uma vez que estamos trabalhando Análise de resultados Universidade Federal de Uberlândia Método de reconstrução de segunda ordem em malhas não-estruturadas de triângulos 129 com uma técnica de reconstrução de segunda ordem. No problema de teste em questão, o módulo do coeciente angular é 2.003904. Isso mostra que o código implementado está correto, e portanto está de acordo com a teoria apresentada. 7 Conclusões e propostas futuras O estudo, bem como a implementação e execução computacional, da técnica de reconstrução apresentada nesse artigo, foi realizado com funções contínuas e em um domínio com uma geometria regular, no caso, um quadrado unitário. Para essas situações o método funcionou bem e gerou boas aproximações. Como proposta futura, dentre as várias direções possíveis nesse campo, podemos realizar estudos sobre o comportamento da técnica de reconstrução de segunda ordem, apresentada nesse trabalho, envolvendo domínios com geometrias complexas e funções descontínuas. Referências Bibliográcas [1] A. L. Bortoli, Introdução à Dinâmica de Fluidos Computacional , p.134 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000. [2] Fortuna, A. O, Técnicas Computacionais para Dinâmica dos Fluidos Conceitos Básicos e Aplicações , p.426 Edusp, 2000. [3] C.O. Gooch and M.V. Altena, A high-order-accurate unstructured mesh nite-volume scheme for the advection-diusion equation, Journal of Computational Physics, 181:729?752, 2002. [4] D. A. Dunavant , High degree ecient symmetrical gaussian quadrature rules for the triangle, Interna-tional Journal for Numerical Methods in Engineering, 21:1129?1148, 1985. [5] A. Quarteroni, R. Sacco, and F. Saleri , Numerical Mathematics, Springer-Verlag, New York, 2000. [6] M. A. G. Ruggiero e V. L. R. Lopes , Cálculo Numério Aspectos Teóricos e Computacionais , 2a Ed., 1997. [7] M.V. Altena, High-Order Finite Volume Discretisations for Solving a Modied Advection-Diusion Problem on Unstructured Triangular Meshes, University of Waterloo, PhD thesis, 1999. Faculdade de Matemática Conclusões e propostas futuras 130 Conclusões e propostas futuras FAMAT em Revista Universidade Federal de Uberlândia Parte II Trabalhos em Sala de Aula Explorando os métodos de contagem no jogo senha Trabalho apresentado como atividade do PIPE na disciplina Matemática Finita do Curso de Matemática no 1º semestre de 2009 Lucas Fernandes Pinheiro Maria Angélica Araújo Paula Ferreira Borges Andrade Rafael Honório Pereira Alves Resumo: Neste trabalho iremos abordar a utilização da análise combinatória no jogo senha.Um dos nossos objetivos é mostrar como se joga senha e explorar os Métodos de Contagem que existem por trás desse jogo. Outro é vericar que nossa intuição às vezes pode falhar no que diz respeito à análise do histórico do jogador (ao compararmos os resultados de dois chutes, nem sempre o que apresenta mais pinos é o que traz mais informações sobre a senha). 1 Introdução No jogo Senha o desaante seleciona, dentre 6 peças, um conjunto de 4 peças coloridas, chamado senha, com cores distintas duas a duas, e as coloca ordenadamente atrás de uma trave, para que o jogador não as veja. O jogador coloca então no tabuleiro um conjunto de 4 peças coloridas, chamado chute, com cores distintas duas a duas, dentre as mesmas 6 cores, na tentativa de acertar as cores e as posições na senha. A cada chute do jogador, o desaante "responde"colocando, ao lado, p pinos pretos,onde, b pinos brancos representam a quantidade de peças certas e p pinos pretos representam a quantidade de peças certas em posições certas. brancos e erradas, b pinos em posições Por motivo de simplicação, consideremos que as seis cores das peças que podem formar uma senha sejam A, B, C, D, E e F e que b e p sejam a quantidade de pinos brancos e pretos, respectivamente, que o desaante coloca ao lado de cada chute do jogador. Por exemplo, suponha que o desaante tenha escolhido a senha ACF D. Desse modo, o 2 pinos pretos (p = 2). BCF A, e o jogador tenha chutado desaante deve colocar, ao lado do chute do jogador, 1 pino branco (b = 1) e A partir daí, o jogador poderá calcular o número de senhas para o seu novo chute. 2 Conceitos preliminares 2.1 O Princípio aditivo de contagem A1 , A2 , . . . , Ak são conjuntos disjuntos dois a dois e Ai A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ Ak possui n1 + n2 + · · · + nk elementos. Se 2.2 possui ni elementos (i = 1, 2, . . . , k), então O Princípio multiplicativo de contagem Se um evento Ai mi maneiras, com i = 1, 2, . . . , n, m1 · m2 · . . . · mn maneiras diferentes. pode ocorrer de ocorrer em sucessão, de então esses n eventos podem 134 2.3 FAMAT em Revista Permutações simples Denição: Uma permutação simples de n objetos é qualquer agrupamento ordenado desses objetos. Problema clássico sobre permutações simples: De quantas maneiras podemos ordenar em la n objetos distintos? Resolução: Para escolher o primeiro da la temos n possibilidades; para o segundo, n − 1 possibi- n − 2; lidades; para o terceiro, . . . ; para o último da la, temos uma única possibilidade. Portanto, pelo Princípio Multiplicativo de Contagem, o número de las que podem ser formadas com é n · (n − 1) · (n − 2) · . . . · 1 = n! Notação: Pn = n! representa 2.4 o número de permutações simples de n objetos. objetos tomados em um conjunto de n elementos (com n objetos Combinação simples Denição: Cada seleção de p chamada de uma combinação simples de classe p dos n Problema clássico sobre combinações simples:Quantos conjunto com n elementos, sendo n ≥ p) é elementos. subconjuntos de p elementos tem um p ≤ n? Resolução: Inicialmente, coloque em la os n elementos dados, isso pode ser feito de n! maneiras. Tome os p elementos da la para compor a seleção de comporão o segundo grupo). contada n p! · (n − p)! p elementos (consequentemente os Como cada divisão do conjunto em grupos de vezes, temos que o número de subconjuntos de p p e n−p n−p últimos elementos é elementos de um conjunto com elementos é: n! p!(n − p)! Notação: O número de combinações simples de classe Cnp = 2.5 p de um conjunto com n elementos é: n! p!(n − p)! Combinações completas(ou com repetição) Problema clásico sobre combinações completas:Quantas gativos, da equação x1 + x2 + · · · + xn = p, onde p são as soluções, em inteiros não ne- é um inteiro positivo dado? Antes da resolução do problema acima, vamos fazer um pequeno ensaio: Considere a equação x1 + x2 + · · · + xn = 8; veja que (3, 3, 2), (1, 7, 0), (0, 8, 0) são soluções da equao para representar as quantidades assumidas pelas variáveis, e / ção dada. Vamos usar os símbolos para separar os valores das variáveis. Então as soluções que foram citadas anteriormente podem ser representadas da seguinte maneira: (3, 3, 2) −→ ooo/ooo/oo (1, 7, 0) −→ o/ooooooo/ Voltando ao problema, quantos objetos x1 + x2 + · · · + xn = p No total, são n−1+p Conceitos preliminares (o e /) (0, 8, 0) −→ /oooooooo/ são necessários para representar uma solução de ? objetos, onde n−1 é o número de /s e p é o número de os. Universidade Federal de Uberlândia Explorando os métodos de contagem no jogo senha 135 Portanto, o problema consiste em decidir de quantas maneiras os símbolos os irão ocupar p vagas p dentre n − 1 + p vagas, o que pode ser feito de Cn−1+p maneiras. p p p O número de combinações completas é representado por CRn , onde CRn = Cn−1+p . Notação: 2.6 Princípio da inclusão-exclusão Sejam A e B dois conjuntos, então: #(A ∪ B) = #A + #B − #(A ∩ B) Observação: #A representa o número de elementos de um conjunto A. Lema 2.1. Cn0 − Cn1 + Cn2 − Cn3 + · · · + (−1)n Cnn = 0 n P Demonstração. (a + b)n = nk=0 k ak .bn−k (Binômio de Newton) Fazendo a = −1 e b = 1, temos n n X X n n k n−k k 0 = ((−1) + 1) = = k (−1) 1 k (−1) = n k=0 = 2.7 Cn0 − Cn1 + k=0 Cn2 − Cn3 + · · · + (−1)n Cnn Princípio da inclusão-exclusão Generalizado Dados n conjuntos A1 , A2 , . . . , An (A1 ∪ A2 ∪ · · · ∪ An ) = temos: n X #Ai − i=1 X #Ai ∩ Aj + 1≤i<j X #(Ai ∩ Aj ∩ Ak )− 1≤i<j<k≤n − · · · + (−1)n−1 · #(A1 ∩ A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An ) Demonstração. Precisamos mostrar que um elemento que pertença a p conjuntos dados (onde 1 ≤ p ≤ n) é contado exatamente uma vez na fórmula acima. De fato, um elemento que pertença a exatamente p - p = Cp1 - Cp2 - Cp3 dos n conjuntos dados será contado: vezes em vezes em P vezes em P Pn i=1 1≤i<j #Ai #(Ai ∩ Aj ) 1≤i<j<k≤n #(Ai ∩ Aj ∩ Ak ) #(A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An ) que nos dará uma contribuição igual a 1. É do que p conjuntos não dará contribuição alguma. Somando todas E assim sucessivamente até o termo claro que a intersecção com mais essas contribuições, teremos: Cn1 − Cn2 + Cn3 − Cn4 + · · · + (−1)p−1 Cpp Agora, pelo Lema anterior, Cn1 − Cn2 + Cn3 − Cn4 + · · · + (−1)p−1 Cpp = 0 =⇒ =⇒ Cp0 = Cn1 − Cn2 + Cn3 − Cn4 + · · · + (−1)p−1 Cpp =⇒ =⇒ 1 = Cn1 − Cn2 + Cn3 − Cn4 + · · · + (−1)p−1 Cpp Faculdade de Matemática Conceitos preliminares 136 2.8 FAMAT em Revista Permutações caóticas Denição: Uma permutação 1, 2, . . . , n) de a1 , a2 , . . . , an é dita caótica quando nenhum dos se encontra na sua posição original. Isto é, na Notação: Dn i-ésima posição. é o número de permutações caóticas dos elementos a1 , a2 , . . . , an dados. Propriedade 1. O número de permutações caóticas dos elementos a1 , a2 , . . . , an é Dn = n! Demonstração. ai na i-ésima Ai o conjunto das permutações (i = 1, 2, . . . , n). Assim Seja posição Dn = n! − #(A1 ∪ A2 ∪ · · · ∪ An ) = n! − caóticas dos elementos n X − X X Ai + i=1 ai s (i = 1− a1 , a2 , . . . , an 1 1! + 1 2! que tem #(Ai ∩ Aj )− 1≤i<j≤n #(Ai ∩ Aj ∩ Ak ) + · · · + (−1)n #(A1 ∩ A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An ). 1≤i<j<k≤n Agora, (1°) São ..., n = Cn1 termos no primeiro somatório, Cn2 Cnn = 1 no último somatório. termos no segundo somatório, Cn3 no terceiro, (2°) #Ai = (n − 1)! #(Ai ∩ Aj ) = (n − 2)! #(Ai ∩ Aj ∩ Ak ) = (n − 3)! . . . #(A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An ) = 1 Daí, Dn = n! − n(n − 1)! + Cn2 (n − 2)! − Cn3 (n − 3)! + · · · + (−1)n .1 = n! n! n! 1 1 1 (−1)n n n! = n! − + − + · · · + (−1) = n! 1 − + − + · · · + 1! 2! 3! n! 1! 2! 3! n! Um problema envolvendo o conceito de permutações caóticas: Dados n objetos x1 , x2 , . . . , xp , y1 , y2 , . . . , ys Qual o número de permutações dos n objetos que não xam nenhum dos xi (i = 1, 2, . . . , p) na posição original? Resolução: Para solucionar este problema, vamos dividí-lo em vários casos: - Caso nenhum dos objetos que na posição original, temos Dn = Cso · Dn permutações. Cs1 · Dn−1 permu1 tações. De fato, primeiro decidimos quem iremos xar, o que pode ser feito de Cs maneiras, depois permutamos caoticamente os n − 1 objetos restantes, para isso temos Dn−1 possibilidades. 1 Logo, pelo Princípio Multiplicativo de Contagem, o número de permutações é Cs · Dn−1 - Caso apenas um dos Conceitos preliminares yj (j = 1, 2, . . . , s) que na sua posição original, temos Universidade Federal de Uberlândia − 1 3! + ··· + Explorando os métodos de contagem no jogo senha 137 yj (j = 1, 2, . . . , s) quem nas suas posições originais, - Caso exatamente dois dos temos Cs2 ·Dn−2 permutações em estudo. . . . - Caso y1 , y2 , . . . , ys quem nas suas posições originais, temos Portanto, o número de permutações que não xam x1 , x2 , . . . , xp Css · Dn−s permutações. é Cs0 · Dn + Cs1 · Dn−1 + Cs2 · Dn−2 + · · · + Css · Dn−s Mas observe que, 0 Cn−p · Dn + s = n − p. 1 Cn−p Daí, o número acima ca · Dn−1 + 2 Cn−p · Dn−2 + · · · + n−p Cn−p · Dn−(n−p) = n−p X k Cn−p · Dn−k k=0 Exemplo 2.1. nem R Quantos são os anagramas da palavra AM OR que não têm A como primeira letra como última? Primeiro, faremos uma lista dos anagramas: M ORA M ARO M RAO M ROA OM RA ORM A ORAM OARM RM OA RAM O RM AO RAOM ROM A ROAM Contando os anagramas da lista, observamos que são R 14 os que não têm A como primeira letra e como última. Aplicando a fórmula de contagem, observamos que o número de anagramas é: n=4 p=2 n−p=s=2 C20 D4 + C21 D3 + C22 D2 = 1 · +2 · 2 + 1 · 1 = 9 + 4 + 1 = 14 3 Explorando os métodos de contagem no jogo senha Se o desaante escolheu quatro cores, dentre as seis, para elaborar sua senha, podemos garantir que, quando o jogador escolher suas quatro dentre as mesmas seis cores, pelo menos duas cores teriam sido escolhidas por ambos. Isso quer dizer que, pelo menos dois pinos (ou dois brancos, ou dois pretos, ou um branco e um preto) o desaante terá de colocar ao lado de cada chute do jogador. De fato, considere que o desaante tenha escolhido suas quatro cores. Se o jogador tivesse escolhido apenas uma dessas mesmas cores, ou nenhuma delas, ele não teria escolhido quatro cores, logo não formaria uma senha. Assim, o número de pinos que o desaante pode colocar, a cada chute do jogador é ximo, 4. o número de pinos brancos e Para a equação p 2 ≤ b + p ≤ 4, onde b representa o de pinos pretos. b+p = 2, temos CR22 = C32 = 3 soluções em inteiros não negativos, são elas (2, 0), (0, 2) (1, 1). Para a equação e ou, no má- Portanto, podemos contar de quantas maneiras os pinos podem ser colocados pelo desaante. Basta determinar o número de soluções, inteiras e não negativas, de e 2, 3 b+p = 3, temos CR23 = C43 = 4 soluções inteiras não-negativas, que são (3, 0), (0, 3), (2, 1) (1, 2). Faculdade de Matemática Explorando os métodos de contagem no jogo senha 138 FAMAT em Revista Finalmente, o número de soluções, em inteiros não negativos, de (4, 0), (0, 4), (1, 3), (3, 1) Portanto, 2≤b+p≤4 e (2, 2) é CR24 = C54 = 5; representam essas soluções. 3 + 4 + 5 = 12 tem b+p = 4 soluções em inteiros não-negativos. Mas estaríamos precipitados se disséssemos que os pinos brancos e pretos podem ser colocados, pelo desaante, de 12 maneiras, já que não podemos contar com a solução (1, 3) (1 pino branco e 3 pretos), pois se três cores estivessem certas, e em posições certas, resta que a quarta cor também estaria certa, e na posição certa. Assim, o desaante pode colocar os pinos brancos e pretos de 11 formas diferentes, conforme a tabela: Veja que, para b=0 e p = 4, signica que a senha já foi descoberta pelo jogador. Ao preparar sua senha, o desaante deve ter em mente o número de senhas que ele pode fazer. Seria, então, possível estabelecer tal contagem? Mas é claro! Veja que, para escolher a primeira cor, ele tem 6 possibilidades, para a segunda, terceira 4 possibilidades, e 3 5 possibilidades (pois não pode ocorrer repetição de cores), para a possibilidades para a última cor. Portanto, pelo Princípio Multiplicativo de Contagem, o desaante se dispõe de 6 · 5 · 4 · 3 = 360 senhas possíveis. Após preparada a senha, o jogador é induzido a dar seu primeiro chute. Feito isso, o desaante deve colocar uma quantidade de pinos brancos e pinos pretos Sendo b=0 e p = 4, − já foi dito que ele tem 11 formas de fazê-lo. vimos que a senha já está descoberta. Então, vamos analisar os casos menos triviais; o objetivo é descobrir, para cada caso, quantas são as maneiras de o jogador fazer seu segundo chute. a) b=0 e p=3 O jogador sabe que 3 de suas cores estão corretas em posições certas. Assim, ele deve escolher 3, dentre as quatro cores que ele colocou anteriormente, e xá-la na mesma posição, o que pode ser feito de C43 maneiras. A outra cor, então, deve ser substituída por uma das duas que ele não tinha colocado. Portanto, pelo Princípio Multiplicativo de Contagem, ele pode dar seu segundo chute de b) b=0 e C43 · = 4 · 2 = 8 maneiras. p=2 Repetindo o pensamento anterior, o jogador, primeiramente, deve escolher duas das quatro cores, que ele escolheu antes, e xá-las nas mesmas posições, então ele tem C42 de fazê-lo. Depois ele deve empunhar as duas cores que ele não tinha escolhido e colocá-las nos dois espaços vazios, o que pode ser feito de P2 maneiras. Portanto, pelo PMC, C42 · P2 = 6 · 2 = 12 é o número de senhas que poderá fazer no seu novo chute. c) b=1 e p=2 Primeiramente, o jogador deve escolher duas cores e xá-las nas mesmas posições, isso pode ser feito de C42 maneiras. Depois, ele deve selecionar uma da duas peças restantes e mudá-la de posição (ele tem duas maneiras de fazer isso). Por último, ele deve completar seu chute com uma das peças que ele não tinha usado no chute anterior, o que pode ser feito de Logo, pelo PMC, ele tem C42 · 2 · 2 = 6 · 2 · 2 = 24 Explorando os métodos de contagem no jogo senha 2 maneiras. formas de fazer seu chute seguinte. Universidade Federal de Uberlândia Explorando os métodos de contagem no jogo senha d) b=1 139 p=1 e Inicialmente, o jogador deve xar uma das cores na posição inicial, para isso, ele dispõe de C41 possibilidades. Agora, ele deve selecionar uma das três cores restantes, o que pode ser feito de C31 maneiras, e mudá-la de lugar, o que pode ser feito de 2 maneiras. Por m, ele deve colocar P2 C14 · C31 · 2 · P2 = 4 · 3 · 2 · 2 = 48 as duas cores, que ele não tinha escolhido, nos lugares restantes, o que pode ser feito de maneiras. Portanto, pelo PMC, ele pode fazer seu novo chute de maneiras. e) b=2 p=2 e O jogador deve xar duas cores que ele escolheu em suas posições, ele tem C42 jeitos de fazê-lo. Depois ele deve apenas trocar as posições das outras duas cores, ele pode fazer isso de apenas uma maneira. Então, pelo PMC, ele tem f) b=4 C42 · 1 = 6 · 1 = 6 maneiras de fazer seu próximo chute. p=0 e Nesse caso, o jogador deve apenas tirar as cores de suas posições iniciais, então, ele precisasaber qual é o número de permutações caóticas de g) b=3 4 objetos, que é 1 1 1 1 + 2! − 3! + 4! D4 = 4! 1 − 1! = 9. p=1 e De início, o jogador deve xar uma das cores, o que pode ser feito de C41 maneiras. Depois ele deve apenas trocar a posição das cores restantes, de modo que elas não quem na mesma posição, o que pode ser feito de D3 . Logo, pelo PMC, o jogador tem C41 · D3 = 4 · 2 = 8 maneiras de fazer seu segundo chute. h) b=2 p=0 e Primeiro, o jogador tem de selecionar duas cores das que ele tinha escolhido, o que pode ser feito de C42 maneiras. Depois ele deve empunhar as duas cores que ele não tinha utilizado e distribuir as quatro peças que ele tem em mãos de forma que as duas primeiras não quem nas mesmas posições, o que pode ser feito de i) 2 tem C4 · 14 = 6 · 14 = 84 b=3 p=0 e C20 · D4 + C21 · D3 + C22 · D2 = 14. maneiras de fazer seu novo chute. O jogador deve, inicialmente, selecionar C43 Portanto, pelo PMC, o jogador 3 cores das que ele tinha colocado, o que pode ser feito de maneiras. Depois deve selecionar uma das duas cores que ele não tinha escolhido e, por m, 3 objetos em 4 vagas, que é C10 · D4 + C11 · D3 = 1 · 9 + 1 · 2 = 11. 3 fazer sua nova senha de C4 · 2 · 11 = 4 · 22 = 88 maneiras. fazer uma permutação caótica de Portanto, pelo PMC, ele pode j) b=2 e p=1 Primeiramente, o jogador deve escolher uma cor e xá-la na mesma posição, ele pode fazer isto de C41 maneiras. Depois ele deve selecionar duas outras cores dentre as três que sobraram, o que pode ser feito de C32 maneiras, e depois selecionar uma das duas cores que ele não tinha escolhido. Feito isso, ele deve fazer uma permutação caótica das duas primeiras cores em três C10 · D3 + C11 · D2 = 1 · 2 + 1 · 1 = 3. C41 · C32 · 2 · 3 = 4 · 3 · 2 · 3 = 48 maneiras. vagas, o que pode ser feito de dar seu novo chute de Portanto, pelo PMC, ele pode Segue abaixo uma tabela que mostra, para cada quantidade de pinos brancos e pinos pretos, o número de senhas que o jogador poderá fazer em seu segundo chute: 4 Considerações nais Podemos observar, a partir do desenvolvimento deste, que às vezes nos equivocamos em pensar que quanto mais pinos colocados, mais informações se tem sobre a senha (isto é, menor é o número Faculdade de Matemática Considerações nais 140 FAMAT em Revista de senhas compatíveis com o resultado do chute). Mas nem sempre isso ocorre. Veja, por exemplo, b = 0 temos que o número de senhas para um novo chute é menor do que quando consideramos o caso de p = 2 e b = 1. No primeiro caso, o jogador terá 11 possibilidades restantes para fazer sua senha, e no segundo caso terá 23 possibilidades. que no caso p=2 e Tais resultados somente foram concluídos por conta de uma série de aplicações dos conceitos dos Métodos de Contagem, o que mostra a importância e a ampla utilização da Análise Combinatória. Referências Bibliográcas [1] SANTOS, J. P. O. E Outros, Introdução à Análise Combinatória, Editora UNICAMP, Campinas, 1995. [2] MORGADO, A. C. E OUTROS, Análise Combinatória e Probabilidade, Coleção do Professor de Matemática − SBM, Rio de Janeiro, 1991. [3] SANTOS, Rogério C., Explorando a Análise Combinatória no Jogo Senha, Revista do Professor de Matemática no 64, SBM, 2007. Considerações nais Universidade Federal de Uberlândia Um estudo das permutações caóticas Trabalho apresentado como atividade do PIPE na disciplina Matemática Finita do Curso de Matemática no 1º semestre de 2009 Fabrício Alves de Oliveira Gabriel Gomes Cunha Grégory Duran Cunha Tatiane de Medeiros Resumo: Iremos tratar aqui de Permutações Caóticas dando ênfase à abordagem de Euler para este tema. Explicitaremos a dedução da fórmula do cálculo do número de desarranjos para n itens e apresentaremos um método para calcular a probabilidade de ocorrência de uma permutação caótica sem conhecer o número de ocorrências. 1 Introdução A brincadeira de amigo oculto, muito comum em nossa sociedade, traz consigo uma intrigante questão que no séc XVIII motivou o célebre matemático Leonhard Euler a empenhar-se em um engenhoso e surpreendente trabalho com o intuito de solucioná-la. Esta questão conhecida como O Problema das Cartas mal endereçadas consiste em descobrir de quantas formas distintas pode-se colocar n cartas em n envelopes, endereçados a n destinatários diferentes, de modo que nenhuma das cartas seja colocada no envelope correto. Figura 1.1: Leonhard Euler Voltando ao amigo oculto , o problema equivale a investigar de quantas formas diferentes podem sortear aleatoriamente n n pessoas papeizinhos de modo que nenhuma delas sorteie o próprio nome. Estamos diante de um conhecido problema de Análise Combinatória, as Permutações Caóticas. Uma vez resolvido este problema iremos estendê-lo ao cálculo da probabilidade de ocorrência de uma Permutação Caótica, ou seja, investigaremos qual a probabilidade de um sorteio ser bem sucedido na brincadeira do amigo oculto. 142 FAMAT em Revista 2 Número de Permutações Caóticas Denição: Uma permutação de a1 , a2 , · · · , an caótica quando nenhum dos ai0 s é chamada de se encontra na posição original, isto é, na i-ésima posição. desarranjo de a1 , a2 , · · · , an . Dn o número de permutações caóticas, isto é, a quantidade de permutações das n letras a, b, c, · · · nas quais nenhuma delas ocupa sua posição original. Quando n = 1, temos somente uma letra. Logo não existe forma de desarranjá-la e, portanto, D1 = 0. Quando n = 2, podemos desarranjar as letras a e b apenas de uma forma: ba. Assim, D2 = 1. Quando n = 3, podemos permutar as letras a, b, c de 6 maneiras: abc, acb, bac, bca, cab, cba, onde bca e cab são os únicos desarranjos. Portanto, D3 = 2. Continuando a análise de casos particulares, verica-se que D4 = 9 e D5 = 44, mas, a partir daí, as alternativas tornam-se muito numerosas de tal modo que é preciso deduzir matematicamente qual a lei de formação de Dn . Vejamos como Euler raciocinou para encontrar o valor de Dn . Seja a, b, c, d, e, · · · um arranjo inicial de n letras. Rearranjando-as de modo que nenhuma retorne à sua posição original, existem n − 1 opções para a primeira letra, já que ela não pode ser o a. Suponha que a primeira letra seja b. Assim, Dn será dado pelo produto do número de variações das demais letras por n − 1 (já que existem n − 1 opções para a primeira letra). Sendo b a primeira letra de um desarranjo, temos duas Uma permutação com tal característica também é chamada de um Seja possibilidades: 1. A segunda letra é o a. Nesse caso, precisamos rearranjar as n−2 letras restantes de modo que nenhuma volte à sua posição de origem. Ora, esse é o mesmo problema do qual partimos, reduzido de 2 letras, havendo portanto, 2. A segunda letra não é o à direita de b, a. Dn−2 formas de fazê-lo. O problema agora é rearranjar as isso pode ser feito de Dn−1 n−1 letras restantes que carão maneiras. Como os rearranjos das duas alternativas pertencem a conjuntos disjuntos, temos que, quando a primeira letra, existem Dn−1 + Dn−2 desarranjos possíveis. Como há n−1 b é opções para a primeira letra, pelo Princípio Multiplicativo de Contagem temos: Dn = (n − 1)(Dn−1 + Dn−2 ) (2.1) Obtemos assim, uma fórmula de recorrência que resolve o problema, mas tem o inconveniente de não fornecer Fazendo Dn como uma função explícita n = 3 em (2.1), temos: do número n. D3 = 2(D2 + D1 ) ⇒ D3 = 2D2 + 2D1 Reescrevendo a expressão, obtemos: D3 = (−D2 + 3D2 ) + 2D1 ⇒ D3 − 3D2 = −D2 + 2D1 ⇒ D3 − 3D2 = −(D2 − 2D1 ) Analogamente, para n=4 e n = 5, temos: D4 − 4D3 = −(D3 − 3D2 ) D5 − 5D4 = −(D4 − 4D3 ) Logo, para qualquer inteiro n, n ≥ 3, D3 − 3D2 D4 − 4D3 D5 − 5D4 . . . têm-se: = = = −(D2 − 2D1 ) −(D3 − 3D2 ) −(D4 − 4D3 ) . . . Dn − nDn−1 = −(Dn−1 − (n − 1)Dn−2 ) Número de Permutações Caóticas Universidade Federal de Uberlândia Um estudo das permutações caóticas Multiplicando essas n−2 143 igualdades, temos: (D3 − 3D2 )(D4 − 4D3 )(D5 − 5D4 ) · · · (Dn − nDn−1 ) = (−1)n−2 (D2 − 2D1 )(D3 − 3D2 )(D4 − 4D3 ) · · · (Dn−1 − (n − 1)Dn−2 ) ⇒ Dn − nDn−1 = (−1)n−2 (D2 − 2D1 ) Como (−1)n−2 = (−1)n , ∀n ∈ Z e D2 − 2D1 = 1 − 2.0 = 1, logo, substituindo em (2.2): Dn − nDn−1 = (−1)n ⇒ Dn = nDn−1 + (−1)n , Note que (2.3) é verdadeira para n = 2. (2.2) ∀n ≥ 3 De fato, sabemos que 2 D2 = 2D1 + (−1) = 2.0 + 1 = 1. Logo, (2.3) é válida para n = 2. 1 ocorre para n = 1, já que D1 = 1.D0 + (−1) = 1.0 − 1 = −1 6= 0. (2.3) D2 = 1. Por outro lado, Observe ainda, que o mesmo não Da igualdade (2.3), temos: D3 = 3D2 − 1 D4 = 4D3 + 1 = 4(3D2 − 1) + 1 = 4.3D2 − 4 + 1 = 4.3 − 4 + 1 D5 = 5D4 − 1 = 5(4.3 − 4 + 1) − 1 = 5.4.3 − 5.4 + 5 − 1 Observe que: 5.4.3 − 5.4 + 5 − 1 = 5! 1 1 1 1 − + − 2! 3! 4! 5! . Daí, D5 = 5! 1 1 1 1 − + − 2! 3! 4! 5! . D6 = 6D5 + 1 = 6(5.4.3 − 5.4 + 5 − 1) + 1 = 6.5.4.3 − 6.5.4 + 6.5 − 6 + 1 = 6! 1 1 1 1 1 − + − + 2! 3! 4! 5! 6! . Vamos mostrar que: Dn = n! De fato, para n = 2, 1 1 1 1 1 − + − + · · · + (−1)n 2! 3! 4! 5! n! , ∀n ≥ 2 (2.4) tem-se: 1 D2 = 2! = 1, 2! Suponha que (2.4) seja verdadeira para Dn−1 = (n − 1)! que é claramente verdadeira. n − 1, ou seja 1 1 1 1 1 − + − + · · · + (−1)n−1 2! 3! 4! 5! (n − 1)! Daí, multiplicando ambos os membros da igualdade por nDn−1 = n(n − 1)! n: 1 1 1 1 1 − + − + · · · + (−1)n−1 2! 3! 4! 5! (n − 1)! De (2.3), temos que: nDn−1 = Dn − (−1)n Faculdade de Matemática Número de Permutações Caóticas 144 FAMAT em Revista Logo, 1 1 1 1 1 Dn − (−1) = n(n − 1)! − + − + · · · + (−1)n−1 2! 3! 4! 5! (n − 1)! 1 1 1 1 1 n−1 Dn = n! + (−1)n − + − + · · · + (−1) 2! 3! 4! 5! (n − 1)! 1 1 1 1 n 1 Dn = n! , como queríamos. − + − + · · · + (−1) 2! 3! 4! 5! n! n Lembrando que D1 = 0, nalmente, temos que o número procurado é: 1 1 1 1 1 n 1 Dn = n! 1 − + − + − + · · · + (−1) 1! 2! 3! 4! 5! n! ∀n ≥ 1 (2.5) 3 O problema do amigo oculto n elementos, com n ∈ Z+ 1 1 1 1 1 n 1 Dn = n! 1 − + − + − + · · · + (−1) 1! 2! 3! 4! 5! n! Vimos que o número de permutações caóticas de é dado por: Sabendo disso, podemos resolver o seguinte problema: Em uma brincadeira de amigo oculto, na qual n pessoas escrevem seu nome em um pedaço de papel e o depositam num recipiente, de onde cada um retira aleatoriamente um dos pedaços de papel. Qual a probabilidade de ninguém pegar seu próprio nome? Em outras palavras, o problema equivale a: Se um conjunto ordenado de n itens é permutado aleatoriamente, qual a probabilidade que nenhum deles volte à sua posição original? Como o número total de maneiras dos posição de origem é Dn n itens serem permutados sem que nenhum volte à sua e o número total de permutações dos n itens é n!, temos que a probabilidade de ninguém retirar seu próprio nome é dada por: Pn = Dn 1 1 1 1 1 = − + − + · · · + (−1)n n! 2! 3! 4! 5! n! Logo, a resposta do problema do amigo oculto, isto é, a probabilidade de nenhuma das n pessoas retirar o pedaço de papel com seu próprio nome é: Pn = Dn 1 1 1 1 1 = − + − + · · · + (−1)n n! 2! 3! 4! 5! n! A resposta ao problema foi facilmente obtida utilizando-se do fato de conhecermos uma expressão que calcula o Dn . Suponha então, que essa expressão não fosse conhecida. Vejamos como obter a resposta nesse caso, pensando nas permutações de uma forma distinta da anterior. Para facilitar o raciocínio, consideremos um caso particular quando n = 9, ou seja, quando 9 pessoas participam da brincadeira do amigo oculto. Podemos dizer, que cada sorteio, dene uma função f do conjunto das 9 pessoas em si mesmo. f (x) = y signica que x deve presentear y. Como duas pessoas diferentes não podem tirar o mesmo amigo oculto (o sorteio é feito sem reposição), e todas as 9 pessoas serão presenteadas, f é uma bijeção do conjunto A das 9 pessoas sobre si mesmo, ou seja, uma permutação desse conjunto. Alguém será amigo oculto de si mesmo quando existir em Número de Permutações Caóticas Universidade Federal de Uberlândia Um estudo das permutações caóticas A um certo de f. A, x tal que f (x) = x. 145 Na nomenclatura usual de funções, um tal O problema agora consiste em determinar, dentre o total das 9! x é chamado ponto xo permutações dos elementos de quantas são as que têm ponto xo - correspondentes aos sorteios fracassados - e quantas não têm ponto xo - correspondentes aos sorteios que deram certo. Vamos introduzir uma forma de representar as permutações. designar que f (a) = b, Adotando o símbolo a → b para e numerando as pessoas de 1 a 9, uma possível permutação é, por exemplo: 1→8 2→1 3→3 4→9 5→7 6→6 7→4 8→2 9→5 Observe que podemos colocar essas informações na seguinte ordem: 1→8→2→1 3→3 4→9→5→7→4 Note que as pessoas 1; 8; 2; 1 formam, nessa ordem, um ciclo : 6→6 1 presenteia 8, que presenteia 2, que presenteia 1. Representaremos esse ciclo por (182). O mesmo ciclo poderia ser representado também por (821) ou (218), mas não por (128), que signicaria: 1 → 2 → 8 → 1, que é diferente. Situação análoga ocorre com os elementos 4; 9; 5; 7, que formam o ciclo (4957). Os pontos xos 3 e 6 podem ser considerados como ciclos de tamanho 1. Desse modo, essa permutação pode ser representada por: (182) (3) (4957) (6). Repare que, se trocarmos os ciclos de lugar, nada muda nas informações, de modo que a mesma permutação poderia ser representada, por exemplo, por (4957) (6) (3) (182). Já trocar a ordem das pessoas dentro dos ciclos pode alterar ou não a permutação, como vimos. Podemos ainda, representar gracamente as permutações através de seus ciclos. Na situação acima temos: Figura 3.1: Representação gráca das permutações do exemplo anterior Então, podemos concluir que, quando procuramos as permutações que não possuem pontos xos, estamos procurando quais as permutações que não apresentam ciclos de tamanho 1. Temos que a probabilidade procurada é: Pn = Dn , n! onde n é o número de pessoas e Dn o número de permutações do conjunto dessas pessoas, que não têm elementos xos. Para n = 1, 1 → 1, ou, na nossa notação: (1), a qual n = 2, as duas permutações são: (1) (2) e a única permutação que existe é: xo. É claro então que D1 = 0 segunda é caótica; portanto: e Pn = 0 . Para 1 D2 = 1 e P2 = . 2 Para n = 3, existem 6 permutações: tem ponto (12). Só a (1)(2)(3), (1)(23), (2) (13), (3) (12), (123) e (132). Dessas, só as duas últimas não têm ciclos de tamanho 1, isto é, não têm pontos xos. Logo, D3 = 2 e P3 = 1 . 3 Não podemos contar dessa maneira para o caso n = 9, com um total de mais de 300 mil permuta- ções. Vamos então fazer um raciocínio mais sutil, para esse caso. Imaginemos todas as permutações caóticas das 9 pessoas. Fixemos a atenção na pessoa de número 9. Em qualquer das 9! permutações, essa pessoa tem que estar em algum ciclo de tamanho maior que 1 (lembre-se que não há ponto xo numa permutação caótica!). Chamemos então de B9 o número de permutações caóticas (das 9 pessoas) em que a pessoa 9 está num ciclo de tamanho 2, e de ,C9 o número de permutações caóticas (das 9 pessoas) em que a pessoa 9 está num ciclo de tamanho maior que 2. É claro que D 9 = B 9 + C9 . Se tomarmos uma permutação caótica em que 9 esteja num ciclo de tamanho maior que 2 (por exemplo, (15) (3246) (798)) e suprimirmos o 9, obteremos uma permutação caótica das 8 pessoas Faculdade de Matemática O problema do amigo oculto 146 FAMAT em Revista restantes (no exemplo anterior, obteríamos: (15) (3246) (78)); por outro lado, o caminho inverso, ou seja, inserir o 9 nesta permutação caótica das 8 primeiras pessoas, para obter uma permutação caótica das 9 originais, pode ser feito de 8 maneiras diferentes, como vemos no exemplo dado: (195)(3246)(78), ou (159)(3246)(78), ou (15)(39246)(78), ou (15)(32946)(78), ou (15)(32496)(78), ou (15)(32469)(78), ou (15)(3246)(798), ou (15)(3246)(789)). Na realidade, o processo descrito nesse caminho inverso a → b por a → 9 → b. No exemplo, zemos isso, sucessivamente, com as echas 1 → 5, 5 → 1, 3 → 2, 2 → 4, 4 → 6, 6 → 3, 7 → 8, 8 → 7, que são as oito echas da permutação. Portanto, a conclusão é que consiste em substituir cada echa cada permutação caótica de 8 pessoas gera, por esse processo, 8 permutações caóticas de 9 pessoas nas quais a pessoa 9 está num ciclo de tamanho maior que 2, ou seja: C9 = 8D8 . Se tomarmos agora uma permutação caótica em que 9 esteja num ciclo de tamanho igual a 2 (por exemplo, (178) (3426) (59)) e suprimirmos o 9, obteremos não uma permutação caótica das 8 pessoas restantes, e sim uma permutação das 8 pessoas com um único ponto xo (no exemplo anterior, obteríamos: (178) (3426) (5)). Essa pode ser olhada como um ponto xo (no caso, o 5) justaposto a uma permutação caótica das outras 7 pessoas. Como existem 8 candidatos a serem o ponto xo, conclui-se que cada permutação caótica de 7 pessoas gerará, pelo processo de acrescentar o 9 ao ponto xo, 8 permutações caóticas de 9 pessoas nas quais 9 está num ciclo de tamanho 2, ou seja: B9 = 8D7 . Como D9 = C9 + B9 , segue que: D9 = 8D8 + 8D7 . Utilizando raciocínio análogo, em uma brincadeira de amigo oculto com n pessoas, temos que o número de permutações caóticas é dado pela seguinte relação de recorrência: Dn = (n − 1)Dn−1 + (n − 1)Dn−2 Dividindo a equação (3.1) por n! (3.1) temos: Dn (n − 1)Dn−1 (n − 1)Dn−2 = + ⇒ n! n! n! ⇒ Pn = (n − 1)Dn−1 (n − 1)Dn−2 + ⇒ n(n − 1)! n(n − 1)(n − 2)! 1 1 ⇒ Pn = 1 − Pn−1 + Pn−2 ⇒ n n 1 1 ⇒ Pn = Pn−1 − Pn−1 + Pn−2 ⇒ n n ⇒ Pn − Pn−1 1 1 =− Pn−1 + Pn−2 ⇒ n n ⇒ Pn − Pn−1 = −1 n (Pn−1 − Pn−2 ) . Seja: dn = Pn − Pn−1 O problema do amigo oculto (3.2) Universidade Federal de Uberlândia Um estudo das permutações caóticas 147 Daí, dn = Fazendo n=2 −1 n dn−1 (3.3) na equação (3.2), temos: 1 1 1 −0= = 2 2 2! d2 = P2 − P1 = Logo: d2 = 1 2! Daí, de (3.3), temos: −1 d3 = d2 = 3 −1 3 1 −1 −1 = = . 2 6 3! Logo, d3 = −1 3! De (3.3), temos: −1 d4 = d3 = 4 −1 4 −1 3! = 1 4! Logo, d4 = 1 4! . . . dn = (−1)n 1 n! (3.4) Da equação (3.2), temos que: Pn = dn + Pn−1 De (3.4), segue que: Pn = (−1)n ⇒ Pn = (−1)n ⇒ Pn = (−1)n 1 + dn−1 + Pn−2 ⇒ n! 1 1 + (−1)n−1 + dn−2 + Pn−3 ⇒ n! (n − 1)! 1 1 1 + (−1)n−1 + (−1)n−2 + dn−3 + Pn−4 ⇒ n! (n − 1)! (n − 2)! . . . ⇒ Pn = (−1)n Faculdade de Matemática 1 1 1 + (−1)n−1 + (−1)n−2 + · · · + d2 + P1 ⇒ n! (n − 1)! (n − 2)! O problema do amigo oculto 148 FAMAT em Revista ⇒ Pn = (−1)n 1 1 1 1 + (−1)n−1 + (−1)n−2 + · · · + (−1)2 + 0 ⇒ n! (n − 1)! (n − 2)! 2! ⇒ Pn = Assim, obtemos Pn 1 1 1 1 1 − + − + · · · + (−1)n 2! 3! 4! 5! n! através de um processo distinto do visto anteriormente. Euler observou que essa probabilidade praticamente se estabiliza a partir de valores relativamente baixos de n. Por exemplo, P12 = 0, 36787944, Temos que os valores de Pn enquanto P24 = 0, 3678794412, n 1 2 3 4 5 6 Pn 0 0, 5 0, 33333 0, 37500 0, 36667 0, 36806 . . . . . . 12 0, 36787944 . . . . . . 24 0, 3678794412 crescem (cada vez menos) quando diminuem (cada vez menos) quando n n valores muito próximos. passa de ímpar para par, e passa de par para ímpar, sugerindo que Pn deva tender a se aproximar de um certo valor (entre 0,36667 e 0,36806), ora por excesso, ora por falta. E esse estranho número 0,367879441..., quem é ele? 1 . De e ∞ X xn ex = n! n=0 Surpreendentemente, temos que esse número é fato, das séries de potências, temos que: Aplicando o teste da razão, temos: n+1 x n+1 x (n+1)! n! 1 lim lim . n = lim |x| = 0 < 1. n = n→+∞ n→+∞ x n→+∞ (n + 1)! x n+1 n! ∞ X xn ∴ n! n=0 Como ∞ X xn n! n=0 converge ∀x ∈ R, converge, ∀x ∈ R. então podemos denir uma função o intervalo de convergência da série, ou seja, ∞ X xn f (x) = n! n=0 cujo domínio é Df = R. Assim, seja f (x) = 1 + x2 x3 xn + + ··· + + ··· 2! 3! n! Derivando termo a termo, temos que: O problema do amigo oculto Universidade Federal de Uberlândia Um estudo das permutações caóticas f 0 (x) = 1 + x + 149 3x2 nxn−1 + ··· + + · · · = f (x) 3! (n − 1)! ⇒ f (x) = f 0 (x) Logo, f 0 (x) = 1. f (x) Observe que: f 0 (x) = (ln f (x))0 f (x) Assim, (ln f (x))0 = 1. Integrando ambos os termos da igualdade, temos: ln f (x) = x + C ⇒ f (x) = ex+C = ex .k Como f (0) = 1, então: e0 .k = 1 ⇒ k = 1. Logo, f (x) = ex . E, portanto, ∞ X xn xn x2 x3 + + ··· + + ··· = = ex . f (x) = 1 + 2! 3! n! n! n=0 Agora, fazendo x = −1 (3.5) em (3.5), obtemos: ∞ 1 X (−1)n 1 1 1 1 1 1 = = 1 − + − + − + · · · + (−1)n + · · · = 0, 367879441... e n=0 n! 1! 2! 3! 4! 5! n! Portanto, Pn = 1 e como queríamos. Referências Bibliográcas [1] Carneiro, José Paulo C., O problema do amigo oculto, Revista do Professor de Matemática, nº 28 - Sociedade Brasileira de Matemática, 1995. [2] Garbi, Gilberto, Uma pequena pérola de Euler, Revista do Professor de Matemática, nº 50 Sociedade Brasileira de Matemática, 2002. [3] Moreira, Carlos Gustavo T.A., Amigo oculto, Revista do Professor de Matemática, nº 15 - Sociedade Brasileira de Matemática, 1989. [4] Morgado, A. C. e outros, Análise Combinatória e Probabilidade, Coleção do Professor de Matemática - Sociedade Brasileira de Matemática, Rio de Janeiro, 1991. [5] Santos, J. P. O. e outros, Introdução à Análise Combinatória, Editora da UNICAMP, Campinas, 1995. Faculdade de Matemática O problema do amigo oculto 150 O problema do amigo oculto FAMAT em Revista Universidade Federal de Uberlândia Parte III E o meu futuro prossional, IC em números e eventos E o meu futuro prossional. . . Douglas Silva Oliveira Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Graduando em Matemática douglasso1988@ gmail. com Resumo: Neste número da FAMAT em Revista, a seção E o meu futuro prossional? pequena entrevista com o professor Santos Alberto Enriquez Remigio é dedicada a uma sobre as perspectivas prossionais de um matemático aplicado e como o aluno que pretende seguir essa área deve se preparar durante a graduação. Formação Santos Alberto Enriquez Remigio é graduado em Matemática pela Universidad Nacional de Ingeniería, Peru (1996). Seu mestrado foi em Matemática Aplicada com a dissertação intitulada Introdução de Fontes e Sumidouros em Escoamentos Bidimensionais por Intermédio do Método da Fronteira Imersa no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (2000). Defendeu uma tese de doutorado, também em Matemática Aplicada, com o trabalho intitulado Simulação numérica bidimensional da interação uido-estrutura através do Método Físico Virtual na mesma universidade em que fez o mestrado (2005). E para nalizar, concluiu seu pós-doutorado na Universidade Federal de Uberlândia (2007). Atualmente é professor da Faculdade de Matemática da Universidade Federal de Uberlândia. O que é preciso para a formação em Matemática Aplicada ? Para uma boa formação em Matemática Aplicada, o matemático deve conhecer um bom Cálculo, ou seja, ter a idéia de limite, derivada, integral, entre outros conteúdos de cálculo. Saber resolver exercícios e problemas relacionado ao Cálculo é importante, porém é mais do que essencial, na formação de um matemático aplicado, conhecer os conceitos, ter a noção de como funciona cada coisa no Cálculo. Esta ênfase no conhecimento do conteúdo é importante, pois na prática, nos é dado um problema e ninguém nos fala como resolvê-lo. Nosso dever é encontrar uma maneira, um caminho de resolver tal problema. Sabendo como funciona cada tópico da Matemática, ca mais fácil de formular idéias que resolvam o problema proposto. Além do conhecimento em Cálculo, a Álgebra também é muito importante na formação de um matemático aplicado, isto porque a Álgebra é muito importante na área computacional. Dependendo do tipo de aplicação, o matemático deve saber geometria. não a geometria teórica, mas a Geometria Analítica e seus ramos. Mas Atualmente no Brasil, existem duas vertentes na área da Matemática Aplicada. São estas: a parte numérica e a parte teórica em problemas de Física, Química e outras ciências do conhecimento. respeito apenas a métodos numéricos para problemas dados. Matemática Aplicada não se diz Signica também usar a teoria que vemos e aprendemos em Cálculo, Geometria, Álgebra, Análise Funcional e utilizarmos em problemas especícos que abrangem outras áreas como a Física, a Química, a Medicina, a Economia, entre outras. A área em que trabalho precisa ter uma boa carga (conhecimento) computacional e a Álgebra e a Geometria Analítica me ajudam bastante. Para ser um bom prossional em Matemática Aplicada, o aluno deve não apenas ter um bom conhecimento de Cálculo e Álgebra. O aluno deve ter um vasto conhecimento, ou seja, conhecer de tudo um pouco dentro da Matemática, pois não sabemos que problema irá chegar até nós. Já trabalhei em Macaé-RJ em um projeto que envolvia petróleo. O que achei mais interessante foi que tive que usar conceitos matemáticos básicos para o tal projeto. O papel do matemático aplicado é apresentar uma solução àquele problema que lhe foi proposto. Às vezes essa 154 FAMAT em Revista solução pode não ser muito boa, porém não deixa de ser uma solução. No projeto em que trabalhei, eu estava inserido na parte numérica e mesmo assim tive de relembrar de conceitos básicos de cálculo que havia aprendido na graduação. Graças à boa formação, não tive muitos problemas em formular uma solução. Por isso a importância de um matemático aplicado ter um conhecimento amplo dentro e até mesmo fora da Matemática, pois isso facilitará o desenvolvimento de uma solução mais rapidamente. Porém, existe aquele matemático aplicado que trabalha em uma área especíca, o qual chamamos de Especialista. Esses trabalham unicamente em áreas como Estatística, Criptograa, entre outros. Qual o tipo de matemático aplicado o mercado tem procurado ? Hoje em dia, o mercado de trabalho tem procurado mais pelos especialistas. Isto porque eles resolvem com maior facilidade e rapidez os problemas respectivos as suas áreas. Mesmo um especialista, é interessante que este tenha um bom conhecimento do conteúdo matemático em geral, pois caso o especialista não tendo decidido onde irá exercer sua prossão, ele tendo uma um bom conhecimento de conteúdos, este ca possibilitado de exercer em outras áreas que não seja a sua. No geral, o matemático aplicado deve conhecer e ter domínio de um pouco de cada conteúdo matemático. Assim, ele será um bom prossional. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Matemática FAMAT Kuang Hongyu Gustavo Franco Marra Domingues FAMAT Walter dos Santos Motta Júnior FAMAT FACOM FAMAT Rafael Afonso Barbosa Carlos Magno Caetano Silva Maria Angélica Araújo Victor Gonzalo Lopez Neumann Vinícius Vieira Fávaro FAMAT Grégory Duran Cunha Valdair Bonm Sezimária de Fátima Pereira Saramago Rosana Sueli da Motta Jafelice Dulce Mary de Almeida Geraldo Márcio de Azevedo Botelho Marcos Antônio da Câmara Antônio Carlos Nogueira Cícero Fernandes de Carvalho FAMAT FAMAT FACOM FEELT FAMAT FAMAT FAMAT FAMAT FAMAT FAMAT FAMAT FAMAT FEMEC FEMEC FEMEC Ana Carolina Vieira Claiton José dos Santos Cleber Zacarias dos Reis Júnior João Paulo Vieira Bonifácio Lucas Fernandes Pinheiro Luciana Yoshie Tsuchiya Otoniel Nogueira da Silva Fabrício Alves Oliveira Giselle Moraes Resende Pereira Giselle Moraes Resende Pereira Luis Armando dos Santos Júnior Rafael Honório Pereira Alves Cristiano Cunha Oliveira Pedro Humberto Chagas de Mello Adelino Gussoni dos Santos Alonso Sepúlveda Castelhanos Ana Carla Piantella FAMAT Alessandro Alves Santana SESu Bolsa Título Estudo sobre métodos de resolução numérica de EDPs via MVF PROMAT Introdução aos códigos lineares PET-FAMAT SESu Séries numéricas e de funções PICME CNPq Análise real PET-FEELT SESu Análise real PET-FAMAT SESu Introdução ao estudo dos códigos PET-FAMAT SESu Corpos de funções algébricas PET-FAMAT SESu Corpos de funções algébricas PET-FAMAT SESu Curvas de largura constante PET-FAMAT SESu Uma introdução à topologia PET-FAMAT SESu Códigos corretores de erros PET-FAMAT SESu Curvas elípticas e criptograa PET-FAMAT SESu Códigos corretores de erros PROMAT Soluções numéricas de EDPs e aplicações PROMAT Soluções numéricas de EDPs e aplicações PIBIC CNPq Modelagem computacional de problemas de programação linear PIBIC FAPEMIG Curvas de singularidades de robôs manipuladores 3R ortogonais PET-FAMAT SESu Rudimentos de análise matemática e topologia e suas aplicações na teoria das equações diferenciais PET-FAMAT SESu Números algébricos e aplicações PICME CNPq Análise na reta PET-FAMAT SESu Um estudo das funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto PET-FAMAT SESu Técnicas de modelagem (via equações de diferença) ; Sistemas dinâmicos discretos PET-FAMAT Unidade Programa Orientando Gabriela Aparecida dos Reis Orientador IC em números Período 03/09 - 12/09 03/09 - 12/09 03/10 - 02/10 03/09 - 12/09 03/09 - 12/09 03/09 - 02/10 04/09 - 04/10 03/09 - 12/09 03/09 - 02/10 03/09 - 02/10 03/09 - 12/09 03/09 - 12/09 03/09 - 12/09 03/09 - 12/09 03/09 - 12/09 03/09 - 12/09 03/09 - 12/09 03/09 - 12/09 04/09 - 03/10 04/09 - 03/10 08/09 - 07/10 03/09 - 12/09 156 Universidade Federal de Uberlândia FAMAT em Revista Faculdade de Matemática Eventos Título XXII Brazilian Symposium on Computer Graphics Período 11/10/2009 a 17/10/2009 and Image Processing (SIBGRAPI 2009 - Jointly with SBGames 2009) II Workshop de Matemática da UFV 13/10/2009 a 16/10/2009 VII Encontro Regional de Topologia 19/10/2009 a 22/10/2009 IX SEMAT (IX Semana da Matemática) 28/10/2009 a 30/10/2009 Colóquio de Matemática da Região Centro-Oeste 03/11/2009 a 06/11/2009 V Encontro Mineiro de Educação Matemática 13/11/2009 a 15/11/2009 III Enama (Encontro Nacional de Análise Matemática e Aplicações) 18/11/2009 a 20/11/2009 Mathematics & Finance: RIO Research in Options 23/11/2009 a 25/11/2009 ICM 2010 (International Congress of Mathematicians 2010) 19/08/2010 a 27/08/2010 158 Universidade Federal de Uberlândia FAMAT em Revista Faculdade de Matemática Parte IV Reexões sobre o Curso de Matemática A disciplina LIBRAS no currículo do curso de Licenciatura em Matemática Luís Antônio Benedetti Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Titular benedetti@ ufu. br Resumo: Em cada número da FAMAT em Revista, esta seção se propõe a abordar questões que estejam relacionadas ao curso de Matemática, no que a tange estrutura curricular vigente, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases), as reformulações curriculares em andamento e sua inuência no processo de ensino-aprendizagem. O que vem a ser LIBRAS? Trata-se da Língua Brasileira de Sinais que é uma das formas pelas quais a pessoa surda, por ter perda auditiva, pode manifestar sua cultura, compreender e interagir com o mundo e expressar suas experiências visuais. A LIBRAS foi por muito tempo desprestigiada, cando seu uso restrito ao convívio de surdos, como associações e pontos de encontros. Apenas familiares de surdos a aprendiam de forma bem supercial para a comunicação interna. Os primeiros cursos visavam apenas o ensino do vocabulário sem uma orientação didática. Há muito tempo os portadores de deciência auditiva vinham reivindicando o direito do uso da LIBRAS como sua forma de se expressar. Desejavam que a LIBRAS fosse utilizada no espaço escolar como meio de instrução, porém as políticas linguísticas do Brasil sempre coibiram as diversas línguas que aqui coexistiam e promoveram o Português escrito e oral. Os diversos movimentos sociais em favor da adoção de uma língua ocial dos surdos lutaram até que passaram a ser ouvidos e puderam participar das negociações junto aos órgãos governamentais (Quadro, 2006). O decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a lei de LIBRAS, dene várias ações com o objetivo de promover a inclusão social, e reconhece a LIBRAS como língua dos surdos brasileiros. Atualmente o Brasil já a possui como uma língua ocial do país, se bem que as primeiras pesquisas de descrição linguística já fossem publicadas no nal da década de 80 e os livros didáticos e formação de professores a partir de 2000, aproximadamente. No Brasil, a deciência auditiva é denida como a perda bilateral, parcial ou total, de 40 dB ou mais. Uma das ações determinadas no decreto no 5626/2005 é a obrigatoriedade do ensino dessa disciplina em cursos de licenciatura em todo o país. No art.3 estabelece que A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios . A Lilicenciatura em Matemática e nas diferentes áreas de conhecimento fazem parte dos cursos de formação de professores. Além disso, os currículos dos demais cursos de formação superior devem oferecer esta disciplina como optativa. Como o número de docentes com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior ainda é pequeno, o Decreto também estabelece o perl do prossional que deve ministrar esta disciplina, nos próximos dez anos: professor de Libras (usuário dessa língua com curso de pós-graduação ou com formação superior) ou instrutor de Libras (usuário dessa língua com formação de nível médio), ou professor ouvinte bilíngue (Libras - Língua Portuguesa, com pós-graduação ou formação superior) em todos os casos o prossional deve ter certicado obtido por meio de exame de prociência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação. Assim, as instituições de educação superior, devem viabilizar cursos de pós-graduação para a formação de professores para o ensino de Libras e sua interpretação e, nos próximos dez anos, todos 162 FAMAT em Revista os cursos devem ter incluída esta disciplina em seus currículos, iniciando-se nos cursos de Pedagogia e Letras, ampliando-se progressivamente para as demais licenciaturas. O objetivo do Governo com essas medidas é garantir o direito a educação e a inclusão de alunos surdos ou com deciência auditiva, remetendo às instituições federais de ensino a responsabilidade de assegurar a esses alunos o acesso à comunicação, à informação e à educação, através de equipamentos e tecnologias viáveis, proporcionando inclusive serviços de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa em sala de aula e em outros espaços educacionais. Na modalidade de educação à distância, a programação visual dos cursos de nível médio e superior, preferencialmente os de formação de professores, deverá dispor de sistemas de acesso à informação como janela com tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa e subtitulação por meio do sistema de legenda oculta, de modo a reproduzir as mensagens veiculadas às pessoas surdas. Do ponto de vista psicológico, sabe-se que os estudos sobre o processo de aprendizagem apontam à inuência de vários fatores: dos cognitivos e metacognitivos, dos afetivos e emocionais, de desenvolvimento e sociais, contudo no currículo das licenciaturas a disciplina Psicologia da Educação trata da relação entre a aprendizagem e o desenvolvimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos, sem levar em conta características especiais como a deciência auditiva. A disciplina LIBRAS vem preencher uma lacuna considerável auxiliando o processo de aprendizagem, contribuindo para que o egresso possa selecionar e produzir recursos e materiais didáticos, levando em conta tais aspectos da educação especial e adequando metodologias que propiciem o desenvolvimento destes alunos. No âmbito da Universidade Federal de Uberlândia a responsabilidade pela disciplina LIBRAS está a cargo da Faculdade de Educação, porém compete às unidades acadêmicas a reformulação curricular que permita a inserção desta componente curricular em harmonia com o Projeto Pedagógico do Curso e que leve em conta as especicidades de cada área de conhecimento. Particularmente, observam-se diculdades na utilização de LIBRAS no ensino de Matemática, não somente porque o professor de Matemática em geral não tem conhecimento da língua de sinais, mas também em virtude da pouca formação matemática dos professores intérpretes que muitas vezes não têm conhecimento dos conteúdos que deverão traduzir para os alunos surdos, podendo assim prejudicar a aprendizagem, caso tenham alguma dúvida de qual sinal a ser utilizado para uma determinada informação de caráter matemático. Tais diculdades devem ser vencidas na medida em que as pesquisas nessa nova linguagem forem avançando e novos signicados incorporados. Evidentemente a interação entre os professores de matemática e de LIBRAS trará subsídios para o processo de formação e qualicação dos intérpretes que atuam nas aulas. No Ensino fundamental, os professores de surdos costumam considerar que a matemática é a disciplina que menos apresenta diculdades para as suas crianças à exceção dos problemas, cujos entraves são atribuídos, não sem razão, às diculdades óbvias de interpretação dos enunciados (Nogueira e Machado, 1996). A Matemática é a que mais se assemelha em objetivos, conteúdos, metodologia e forma de avaliação à que é tradicionalmente ofertada a alunos ouvintes entre todas as disciplinas presentes na estrutura curricular de uma escola para surdos. Não é raro encontrar alunos surdos que têm sucesso em matemática e fracassam nas demais disciplinas. A adaptabilidade do surdo ca prejudicada em sala de aula por diculdades óbvia de comunicação, que os leva a buscar o isolamento e a proteção do grupo (Nogueira, 1999). O professor da disciplina deve identicar o aluno surdo observando as características que apresenta. Demonstrar conhecimentos sobre a metodologia do ensino para o surdo. Comunicar-se com o surdo. Dominar os aspectos linguísticos da Língua Brasileira de Sinais, como a fonologia, a morfologia e a sintaxe além de discutir o papel social da educação inclusiva. Apresentar instrumentos de comunicação não verbal através de sinais com a pessoa surda. O Projeto Pedagógico do Curso de Matemática deverá passar por uma reformulação que dimensione o perl do egresso, estendendo as competências como forma de mobilizar conhecimentos também através da Educação Especial, que passa a ser necessária para uma atuação prossional com qualidade. Tal reformulação vai além da simples inclusão da disciplina LIBRAS; as diretrizes gerais para o desenvolvimento metodológico do ensino devem ser repensadas para tornar a aprendizagem signicativa também para o aluno especial. Universidade Federal de Uberlândia Neste contexto, o Projeto Integrado de Prática Educativa que Faculdade de Matemática FAMAT em Revista 163 visa articular os conhecimentos teóricos e práticos dos núcleos de formação especíca e pedagógica, terá um papel essencial ao propor atividades que favoreçam a inclusão do aluno através de leituras especiais, da reexão e da resolução de problemas advindos da sua realidade escolar. Portanto, a problemática é extensa, mas as ações tomadas que visem a qualicação da sala de aula no Ensino Básico, em especial nas aulas de Matemática, para a inclusão do surdo, dependerá em muito da formação que daremos ao egresso de nossa Licenciatura, será fundamental buscar formas de interagir teoria e prática e de integrar a LIBRAS com a Língua Portuguesa e Matemática, sem esquecer as múltiplas questões afetivas que integram o pano de fundo desse processo complexo de aprendizado. Referências Bibliográcas [1] Língua Brasileira de Sinais. Brasília. SEESP/MEC, 1998. [2] BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1995. [3] COUTINHO, Denise. LIBRAS e Língua Portuguesa: Semelhanças e diferenças. João Pessoa. Arpoador, 2000. [4] NOGUEIRA, C. M. I. e MACHADO, E. L. O ensino de matemática para decientes auditivos: uma visão psicopedagógica.160p. Relatório Final de Projeto de Pesquisa - Universidade Estadual de Maringá, Maringá/Pr. 1996 [5] NOGUEIRA, C.M.I. As mútuas implicações entre surdez, linguagem e cognição. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO, 13, 2006, Recife. Anais eletrônicos. Recife, 2006. [6] NOGUEIRA, C. M. I. A matemática como contribuição educacional ao desenvolvimento cognitivo da criança surda. In: BERGAMASCHI, R. I.;MARTINS, V. R (Org.). Discursos atuais sobre a surdez: II Encontro a propósito do fazer, do saber e do ser na infância. Canoas: La Salee, 1999, p.159. [7] OLIVEIRA, Janine Soares de. A comunidade surda: perl, barreiras e caminhos promissores no processo de ensino-aprendizagem em matemática. Rio de Janeiro: CEFET, 2005. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática), Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, 2005. [8] Portal de LIBRAS: http://www.libras.org.br/leilibras.php , acesso em: 02/12/2009. [9] QUADRO, Ronice Muller de. Políticas Lingüísticas : O impacto do decreto 5626 para os surdos brasileiros. ESPAÇO, Rio de Janeiro: n. 25/26, p. 19-25, jan./dez., 2006. Faculdade de Matemática Universidade Federal de Uberlândia 164 Universidade Federal de Uberlândia FAMAT em Revista Faculdade de Matemática Parte V Problemas e Soluções Problemas e Soluções Luiz Alberto Duran Salomão Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Adjunto IV salomao@ ufu. br Resumo: Em cada número da FAMAT em Revista, esta seção propõe quatro problemas com a nalidade de desaar o leitor interessado em problemas de matemática. As soluções desses problemas serão publicadas no número subsequente da Revista. Os leitores poderão participar da seção enviando suas soluções para o e-mail do professor Luiz Alberto D. Salomão. As soluções que estiverem claras e corretas serão publicadas e os créditos serão atribuídos aos seus autores. O leitor que der a melhor contribuição para a resolução das questões, em cada número, será premiado com um exemplar do livro Olimpíadas Brasileiras de Matemática, 9ª a 16ª, editado pela Sociedade Brasileira de Matemática. Problemas Problema nº49: Demonstre que, para todo inteiro positivo se escreve somente com os algarismos Problema nº50: 7 e Demonstre que é impossível escolher três inteiros distintos e Problema nº51: Quantos subconjuntos do conjunto Problema nº52: e z que a, b e c tais que a−b | 0 <x≤n e {1, 2, 3, · · · , 30} tem a propriedade de que a 232? Demonstre que a equação com n c − a | a − b. soma de seus elementos seja maior do que x, y existe um múltiplo positivo de 0. b − c, b − c | c − a inteiros n, xn + y n = z n , onde 1 < n ∈ Z, não tem solução em 0 < y ≤ n. Soluções Problema nº45: O conjunto dos conjuntos disjuntos A por b1 , b2 , . . . , bk , e sendo n B . Os primos em A serão representados h + k = n. São formados dois produtos h Y i aα i i=1 onde os d=1 αi e os βi d > pn . 2, 3, 5, . . . , pn é dividido em dois por a1 , a2 , . . . , ah enquanto os de B primeiros números primos são inteiros positivos. Se e k Y bβi i i=1 d divide a diferença desses dois produtos, demonstre que ou Resolução: π1 e π2 , respectivamente. Suponhamos que d 6= 1 e que d seja divisor da diferença π1 − π2 . Seja p o menor fator primo de d. Assim, p também divide a diferença π1 − π2 . Suponhamos, agora, que p ≤ pn . Então, p = pi , para algum i, 1 ≤ i ≤ n, ou seja, p é um dos n primeiros primos. Sem perda de generalidade, digamos que p seja um dos fatores de π1 ,o que quer dizer que p ∈ A; sendo assim, como p divide a diferença π1 − π2 , p também é divisor de π2 , ou seja, p ∈ B . Como A e B são disjuntos, concluímos que p > pn . Como d > p, segue o resultado. Vamos representar os dois produtos referidos no enunciado por 168 FAMAT em Revista Problema nº46: S Dado um ponto O no plano, chame S o disco de centro O e raio 1. Suponha que contenha sete pontos tais que a distância entre dois quaisquer deles seja maior do que ou igual a Demonstre que um dos tais sete pontos é Resolução: {O} Dividamos S O. em sete partes, da seguinte maneira: a primeira parte é o conjunto unitário Sk = z ∈ S; z 6= O, k sete pontos seja O . Pelo e as demais são os conjuntos Suponhamos que nenhum dos π π 3 ≤ arg (z) < (k + 1) 3 , para 0 ≤ k ≤ 5. Princípio da Casa dos Pombos, um dos Sk contém dois dos pontos dados. No entanto, a distância de dois pontos em que 1. Sk é claramente menor do 1. Problema nº47: No interior de um cubo de aresta 15 são dados 11000 pontos. Demonstre que existe uma esfera de raio unitário contendo pelo menos seis dos pontos dados. Resolução: A resolução deste problema emprega uma versão do Princípio da Casa dos Pombos. Inicialmente, vamos dividir o cubo dado em cubinhos contivesse no máximo 5 × 2197 = 10985 5 13 × 13 × 13 = 2197 cubos idênticos. Se cada um desses pontos, o número total de pontos não ultrapassaria o número de pontos; como os pontos dados são em número de 11000, algum desses cubinhos 5 pontos, ou seja, no mínimo 6. Agora, é fácil vericar que é verdadeira a √2 (de fato, ela equivale a dizer que 675 < 676). Portanto, o cubinho que contém 3 2 no mínimo 6 dos pontos dados, está contido em um cubo de aresta √ . Por m, é fácil, através 3 do Teorema de Pitágoras, vericar que a esfera que circunscreve esse último cubo tem raio 1, o que deverá conter mais do que desigualdade 15 13 < conclui a demonstração. Problema nº48: Demonstre que nenhum termo da sequência innita 10001, 100010001, 1000100010001, . . . é primo. Resolução: Vamos representar por un o n-ésimo termo da sequência dada. Inicialmente, vamos u1 = a × b, com b ≤ a, 2 a+b 2 corresponde a escrever 10001 como a diferença de dois quadrados − a−b ; além disso, sendo 2 2 a−b a e b ímpares e congruentes módulo 4, a+b é ímpar e é par. Com essas pistas, por tentativa, 2 2 2 2 vericamos que 10001 = 105 − 32 , o que dá a fatoração 10001 = 137 × 73. Para ver que u2 não tratar de alguns casos particulares. Notemos que qualquer fatoração de é primo, basta ver que a soma de seus algarismos é desenvolver um argumento para mostrar que un 3; logo, u2 é múltiplo de não é primo, quando 2 ≤ n. 3. Vamos, agora, Observemos que un = 104n + 104(n−1) + · · · + 104 + 1 (soma dos termos de uma progressão geométrica que começa 4 com 1 e tem razão 10 ); isso nos permite escrever 2(n+1) 10 + 1 × 102(n+1) − 1 104(n+1) − 1 un = = . 104 − 1 104 − 1 Agora, como un é um número inteiro, após a última fração ser simplicada com o cancelamento do 4 fator 10 − 1, no numerador e no denominador, outros fatores do numerador serão preservados, o que mostra que un não é primo. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Matemática Parte VI Merece Registro Merece Registro Marcos Antônio da Câmara Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática Professor Adjunto IV camara@ ufu. br Resumo: Em cada número da FAMAT em Revista, esta seção propõe destacar os acontecimentos mais impor- tantes relacionados à Faculdade de Matemática no âmbito da graduação e pós-graduação. Mestrado Alunos da turma ingressante 2009 aprovados no Exame de Qualicação do Programa de PósGraduação em Matemática. Disciplinas: Álgebra Linear (dia 12 de agosto de 2009) n Análise no R (dia 14 de agosto de 2009) Aprovados: Carlos Henrique Tognon; Daniela Portes Leal Ferreira; Flávio Fernandes Barbosa Silva; Karla Barbosa de Freitas; Lilyane Gonzaga Figueiredo; Thiago Rodrigo Alves; Túlio Guimarães; Warlisson Inácio de Miranda. Aluna do Mestrado em Matemática que apresentou trabalho em evento cientíco: Aluna: Laís Bássame Rodrigues. Trabalho: Reticulados Hiperbólicos Geometricamente Uniformes Mergulhados Isometricamente em Espaços Euclidianos. Evento: XXXII CNMAC - Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional. Local: Universidade Federal do Mato Grosso - Cuiabá - MT. Data: 08 a 11 de setembro de 2009. Laboratório de Ensino Foi divulgado em 08/09/2009 o resultado do julgamento do EDITAL DE APOIO À MELHORIA DO ENSINO DE GRADUAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - 2009. Sob a coordenação da Profa. Fabiana Fiorezi de Marco Matos, o Núcleo de Educação Matemática submeteu para apreciação o projeto intitulado: O laboratório de ensino de matemática na formação inicial de professores de matemática: reexões teórico-metodológicas. Tal projeto foi contemplado em 98% do total do valor solicitado e visa atender às disciplinas do Curso de Licenciatura em Matemática e à todos os alunos regularmente matriculados no Curso de Matemática de nossa Universidade. 172 FAMAT em Revista O Laboratório de Ensino de Matemática (LEM) da Faculdade de Matemática da Universidade Federal foi criado por meio de um projeto em 1990 por um grupo de professores preocupados com o processo de ensinar e aprender Matemática. Inicialmente o LEM funcionou de maneira precária sem espaço muito denido e com materiais alocados em salas de alguns professores do então Departamento de Matemática. Com o tempo e com as inúmeras contribuições para a sociedade, escolas da região e para os Cursos de Licenciatura e áreas ans, muitas conquistas foram alcançadas e hoje o LEM conta com uma sala mais apropriada para o m a que se destina, situada no Bloco 1F. Ao longo de sua existência o laboratório tem contribuído para a formação inicial e continuada de professores da nossa Região . As ações desenvolvidas têm possibilitado o desenvolvimento de projetos de extensão e pesquisa na área de Educação Matemática. Vale lembrar que o LEM também contribui para o desenvolvimento de estudos, experiências, pesquisas sobre o ensino e aprendizagem da matemática, sobre metodologias de ensino da matemática e troca de saberes docentes com professores de matemática dos diferentes níveis de ensino. Este laboratório é coordenado por um professor da Faculdade de Matemática eleito para um período de dois anos, conforme artigo 3 da resolução da FAMAT, 03/2005 de 17/11/2007. Entre os materiais existentes neste espaço encontram-se materiais didático-pedagógicos, tais como: sólidos geométricos, material dourado, tangram, jogos, quebra-cabeças, vídeos relacionados ao ensino da matemática e uma grande quantidade de livros didáticos de Matemática da Educação Básica. O Laboratório de Ensino de Matemática tem por objetivo o desenvolvimento de estudos e pesquisas no campo da Educação Matemática, bem como uma preocupação com o processo de produção e socialização dos saberes dos futuros professores de Matemática; e, garantir uma contribuição marcante e de qualidade para a Educação Matemática e uma formação didaticamente sólida e de qualidade para os futuros professores de Matemática. O Núcleo de Educação Matemática (NUCEM) espera, mediante o desenvolvimento deste projeto, e outros a este vinculados, poder propiciar condições para que futuros prossionais utilizem de forma reexiva materiais didáticos em sua prática pedagógica, uma vez que o Laboratório de Ensino de Matemática é um espaço rico que possibilita aprimorar a construção de novos conhecimentos relacionados à aprendizagem da Matemática e da prossão docente na Universidade e na Escola. Parabéns à professora Fabiana e a todos que colaboraram para o sucesso desse projeto. OBMEP O Programa de Iniciação Cientíca da OBMEP (PIC-2008) Três mil estudantes premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) no ano de 2008 receberam bolsas de iniciação cientíca júnior para participar do Programa de Iniciação Cientíca da OBMEP (PIC 2008). Na região MG-04, que compreende os polos de Uber- lândia, Passos, Patos de Minas e Pará de Minas, o número desses bolsistas é 127 e as atividades do programa tiveram início em setembro de 2009. Nessa referida região, o número de municípios compreendidos é 40. No trabalho de orientação dos bolsistas mencionados atuam 10 professores orientadores. O coordenador regional de iniciação cientíca da região MG-04 é o professor Luiz Alberto Duran Salomão, da Faculdade de Matemática da Universidade Federal de Uberlândia. As bolsas do PIC da OBMEP tem a duração de um ano. Nesse período, os bolsistas, sob orientação dos professores orientadores, têm oportunidade de desenvolver diversos estudos sobre temas bastante variados da matemática. O material que vem sendo utilizado nesse programa é produzido pela própria OBMEP e está disponível a todos os interessados no site www.obmep.org.br . Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Matemática FAMAT em Revista 173 PET O relatório de AVALIAÇÃO DO ANO 2008 do Programa de Educação Tutorial - PET Matemática, período avaliativo de setembro de 2006 a fevereiro de 2008, emitido pela Secretaria de Educação Superior, apresentou o seguinte resultado: Avaliação do Grupo - ÓTIMA Avaliação do Tutor - ÓTIMA Grupo avaliado sem restrições A composição atual do grupo PETMAT é a seguinte: Tutor: Prof. Marcos Antônio da Câmara Bolsistas: Claiton José Santos Gabriela Aparecida dos Reis Giselle Moraes Resende Pereira Gustavo Franco Marra Domingues Fabrício Alves Oliveira Lucas Fernandes Pinheiro Luciana Yoshie Tsuchiya Luis Armando dos Santos Júnior Maria Angélica Araújo Rafael Afonso Barbosa Rafael Honório Pereira Alves Otoniel Nogueira da Silva Suplente: Grégory Duran Cunha Parabéns a todos que coloboram ou colaboraram com o grupo PETMAT. PIBEG Projetos da FAMAT aprovados no EDITAL 1/2009 - 01/08/09 a 31/12/09 Prof. Janser Moura Pereira Discente Ana Maria Salomão dos Reis Título: Ensino com pesquisa em estatística na universidade Prof. Santos Alberto E. Remigio Discentes: Camila Silva Maia Nádia Moraes Verdun Isis de Almeida Reis Júlia Borges dos Santos Título: Desenvolvimento de material didático computacional para apoio no ensino de tópicos de cálculo diferencial e integral 2 Parabéns aos docentes e discentes envolvidos nos projetos. PIBIC Os professores da FAMAT Geraldo Márcio de Azevedo Botelho, Rogério de Melo Costa Pinto, Marcelo Tavares, Ednaldo Carvalho Guimarães e a professora Sezimária de Fátima Pereira Saramago foram contemplados na seleção de bolsistas para o PIBIC/CNPq - agosto 2009 a julho 2010. Parabéns aos docentes e discentes contemplados. Faculdade de Matemática Universidade Federal de Uberlândia 174 FAMAT em Revista Novos Professores Os professores Janser Moura Pereira, Mirian Fernandes Carvalho Araújo e Vanessa Bertoni foram o aprovados em concurso público e assumiram suas atividades como docentes da FAMAT no 2 semestre de 2009. Parabéns e sejam bem-vindos! FAPEMIG 1 - O professor Cícero Fernades de Carvalho teve o Projeto Pesquisador Mineiro aprovado na FAPEMIG para o período 08/2009 a 07/2011. 2 - A FAPEMIG divulgou o resultado do julgamento do Edital Primeiros Projetos (Jovem Doutor). Na FAMAT foram contemplados os seguintes professores: Aurélia Aparecida de Araújo Rodrigues Título: Análise de sensibilidade de grácos de controle de Np com amostragem dupla Valor: R$13.818,00 Vinícius Vieira Fávaro Título: Teoria de operadores de convolução em diferentes espaços e funções inteiras denidas sobre espaços de Banach Valor: R$15.507,74 3 - Professores da FAMAT com projetos de pesquisa aprovados no Edital Universal da FAPEMIG. Arlindo José De Souza Junior Título: Robótica na educação digital Valor: R$29.820,00 Sezimária De Fátima Pereira Saramago Título: Modelagem matemática do problema de otimização da produção em usinas de açúcar e álcool Valor: R$39.124,43 Parabéns aos professores contemplados. Doutorado A professora Fabiana Fiorezi de Marco Matos defendeu sua tese de doutorado Atividades computacionais de ensino na formação inicial do professor de matemática, no dia 03/07/2009, na Faculdade de Educação da UNICAMP - Campinas. O professor Lúcio Borges de Araújo defendeu sua tese de doutorado em Estatística e Experimentação Agronômica, Seleção e análise dos modelos PARAFC e Tucker e gráco triplot com aplicação em interação tripla, no dia 16/07/2009, na ESALQ/USP - Piracicaba. Parabéns aos professores por mais essa conquista. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Matemática