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# 132 | abril DE 2014
TENDência O2w
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Ah,
meus
pontos
fracos...
Conheça as
contusões e
problemas
de saúde
que atingem
principalmente
as corredoras
— e saiba como
evitá-los
Por Por Paula Ricupero
ilustrações Luiz Gustavo Bacan
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Com a crescente participação feminina na corrida, os benefícios da
atividade física para a saúde da mulher, como o controle e a manutenção do peso corporal, a melhora do sistema cardiovascular e a
prevenção de doenças — sem contar a redução do estresse e a melhora da autoestima — ganharam destaque. No entanto, a prática sem
orientação especializada, treinos excessivos com intervalos insuficientes de recuperação, dentre outros fatores, fizeram com que aumentasse o número de lesões e problemas de saúde entre as atletas.
É claro que, em qualquer esporte, ambos os sexos estão sujeitos
a se machucar durante o treino ou competição. Porém, algumas
características biológicas intrínsecas às mulheres tornam-nas mais
suscetíveis a algumas lesões e incômodos fisiológicos. Listamos a
seguir uma série de problemas comuns entre as corredoras para
que você possa conhecer melhor o seu corpo e, assim, se prevenir
contra férias forçadas do asfalto.
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Fratura por
estresse
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Responsável por 10% das fraturas esportivas, e podendo representar até 25% entre os corredores (segundo dados apresentados no Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e
Esporte, em 2010), a fratura por estresse é uma microscópica
fissura no osso causada pela sobrecarga e pelo esgotamento
muscular. Ao atingirem a fadiga, os músculos reduzem a absorção do impacto e transferem toda a carga para o osso, o
que pode resultar, com o tempo, em uma microfissura.
Diversos estudos têm indicado que a incidência da fratura
por estresse pode ser muito maior na mulher, porém, segundo Ana Paula Simões, ortopedista e traumatologista do
esporte, é preciso esclarecer essa afirmação. “Em condições
iguais de saúde e de condicionamento físico, ambos têm a
mesma probabilidade de ter a lesão. O que difere um do outro
são condições intrínsecas ao universo feminino envolvendo
fatores hormonais e nutricionais que, quando desregulados,
favorecem o aparecimento da fissura”, explica a especialista.
Na busca pelo corpo perfeito, muitas mulheres associam
exercícios e dietas restritivas, o que pode resultar em uma
combinação de distúrbios: a Tríade da Mulher Atleta (TMA),
que se caracteriza pela desordem alimentar, amenorreia (interrupção do ciclo menstrual) e perda de massa óssea.
Entre as possíveis causas da TMA estão: excesso de treino, baixa gordura corporal, perda de estoques específicos de
gordura (como a localizada no quadril, pernas e nádegas) e
dieta inadequada. “Esses fatores levam a mulher a sofrer
alterações hormonais que desregulam o ciclo, fazendo com
que a absorção de cálcio pelo organismo seja prejudicada e,
consequentemente, ocorra perda óssea”, afirma a ortopedista.
Além de aumentar as chances de uma fratura por estresse, a esportista pode, caso a síndrome não seja tratada, desenvolver osteoporose precoce, pois nem toda a densidade
óssea perdida durante a amenorreia será restaurada.
problemas no
quadril
As lesões de quadril têm como principais fatores o aumento na intensidade e volume do treino e o excesso
de impacto. “Nas corredoras de longas distâncias, os
problemas mais comuns relacionados a essa região
são as tendinites dos músculos, como os adutores e
o reto anterior da coxa, lesões da cartilagem articular,
lesões condrais e fratura por estresse de fêmur”, comenta Ricardo Munir Nahas, coordenador do Centro
de Medicina do Esporte do Hospital 9 de Julho.
Apesar de afetar ambos os sexos, a corredora
está mais suscetível a ter uma lesão de quadril
devido ao diâmetro de sua bacia, que é maior que a
dos homens, e também pela sua tendência natural
a ter joelhos voltados para dentro, em forma de
“X”, conhecido tecnicamente como joelhos valgos.
Uma lesão muito frequente em mulheres é a bursite de trocanter maior (ou trocanteriana), que, segundo alguns autores, pode ocorrer entre quatro e nove
vezes com mais frequência nas atletas. “O trocanter
maior é uma região do fêmur com origem e inserção de músculos muito utilizados na corrida, como
o vasto lateral e os glúteos médio e máximo. Para
proteger o tendão do atrito com o osso, o organismo
tem bolsas (bursas) que evitam a fricção, mas que,
com o excesso de esforço repetitivo, podem sofrer
um processo inflamatório: a bursite”, explica Ricardo.
Para evitar o problema, recomenda-se fazer um
rigoroso aquecimento muscular na região antes do
treino e um efetivo alongamento após o seu término.
É imprescindível, também, que o volume e a intensidade das corridas sejam aumentados sempre gradativamente e respeitando o nível de condicionamento.
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incontinência
TENDência O2w
lesões no
joelho
Outra consequência de a mulher ter um
quadril maior são as alterações biomecânicas que isso causa nos joelhos — e que
favorecem o aparecimento de lesões. Segundo o fisioterapeuta Evaldo D. Bosio Filho, são diversas as contusões que acometem as corredoras, mas a principal delas é a
síndrome patelofemoral (ou condromalácia
patelar), que pode ser definida como um
processo degenerativo da cartilagem que
reveste a patela e os côndilos femorais.
“Esta é uma lesão muito comum e que
atinge mais as atletas. Para cada cinco
mulheres com condropatia patelar, temos
um homem”, afirma. A principal queixa das
corredoras são as dores na região anterior
do joelho, seguidas de sinais clínicos de
crepitação e instabilidade articular (estalos na articulação do joelho), hipotrofia do
quadríceps (perda da massa muscular) e
derrame articular (edema).
Entre os fatores de risco estão: patela
alta, relacionada com o encurtamento do
músculo quadríceps (localizado na região
anterior da coxa); encurtamento dos músculos isquiotibiais (posterior da coxa); fraqueza muscular do quadríceps; alterações
da biomecânica dos membros inferiores (joelho valgo, pé pronado e comprometimento
do alinhamento patelar), entre outros. Além
desses, somam-se a esta lista os treinos
exaustivos, sobrecarga de impacto na articulação e gestos repetitivos de flexão de joelho. Uma boa pedida para fugir do problema
é reforçar a região por meio da musculação.
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Apesar de existirem poucos estudos nacionais com atletas, estima-se que
uma em cada três jovens esportistas pode apresentar incontinência urinária
(IU), principalmente aquelas que praticam atividades de alto impacto, como
as corredoras. Estima-se que 200 milhões de pessoas no mundo apresentam algum tipo de IU. Porém, somente a partir de 1998 esse problema deixou de ser avaliado apenas como um sintoma e passou a ser considerado
uma doença segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID).
A perda involuntária de urina tem origem no aumento da pressão intra-abdominal e no enfraquecimento do assoalho pélvico, formado por
músculos, ligamentos e fáscias e responsável, sobretudo, por sustentar a
bexiga, o útero e o reto. Durante a corrida, o impacto na região é de três a
quatro vezes o peso corporal. Outro fator relacionado é a diminuição nos
níveis de estrógeno, que resulta na redução do tônus muscular.
Uma pesquisa realizada em Portugal com 233 atletas da Universidade do
Porto mostrou que 29% delas apresentam incontinência urinária. O resultado foi semelhante a outro estudo realizado na França, pelo Laboratory of
Functional Exploration of the Nervous System, que demonstrou que entre
as atletas colegiais, 28% apresentavam algum grau de perda de urina.
Apesar de ser frequente entre as esportistas, muitas não procuram ajuda por vergonha ou por acreditarem que é normal perder urina durante o
exercício. “Não é uma condição normal mesmo em estágio leve, pois, mesmo
não oferecendo risco, a incontinência urinária está associada à perda de
qualidade de vida, redução no rendimento e piora na autoestima, podendo levar, inclusive, à depressão”, afirma a ginecologista Andréia Mariane de Deus.
“Muitas pessoas param de se exercitar por conta do problema”, completa.
Tanto a prevenção quanto o tratamento — em casos ainda não avançados
— podem ser feitos pelo fortalecimento da musculatura pélvica, por meio
de exercícios simples de contração e relaxamento dos músculos genitais.
Em casos mais graves, pode ser necessária uma cirurgia − procedimento
que, graças aos avanços tecnológicos, está cada vez menos invasivo.
No site_ Assista ao vídeo sobre a condromalácia
patelar, comum entre as corredoras (http://bit.ly/1idfeuk).
Fontes Ana Paula Simões, ortopedista e traumatologista do esporte, especialista em perna, tornozelo e pé; Ricardo Munir Nahas, coordenador do Centro de Medicina do Esporte do Hospital 9 de Julho de São Paulo; Evaldo D. Bosio Filho, especialista em fisioterapia esportiva
e diretor clínico da Prime Fisioterapia Esportiva; Andréia Mariane de Deus, ginecologista do Hospital Evangélico de Sorocaba (SP).
urinária
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