Volume 3 – Completo - Especialização em Gestão Organizacional e
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Volume 3 – Completo - Especialização em Gestão Organizacional e
Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores Volume 3 Alessandra de Linhares Jacobsen Luis Carlos Cancellier de Olivo Organizadores 2012 ©Fundação José Arthur Boiteux, 2012. FUNDAÇÃO JOSÉ ARTHUR BOITEUX Presidente do Conselho Editorial Luis Carlos Cancellier de Olivo Conselho Editorial Antônio Carlos Wolkmer Eduardo de Avelar Lamy Horácio Wanderley Rodrigues João dos Passos Martins Neto José Isaac Pilati José Rubens Morato Leite Ricardo Stersi UFSC – CCJ – 2º Andar – Sala 216 Campus Universitário – Trindade – Caixa Postal 6510 – Florianópolis / SC Fone: (48) 3233-0390 www.funjab.ufsc.br • [email protected] Ficha catalográfica J92 O Judiciário catarinense na perspectiva dos seus servidores [Recurso eletrônico] / Alessandra de Linhares Jacobsen, Luis Carlos Cancellier de Olivo, oganizadores. – Florianópolis : Fundação Boiteux, 2012. 292p. – (Gestão organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos; v.3) Inclui bibliografía ISBN: 978-85-7840-074-3 Modo de acesso: http://www.funjab.cursoscad.ufsc.br/cejur 1. Poder judiciário – Santa Catarina – Administração. 2. Planejamento estratégico. 3. Gestão de pessoas. 4. Qualidade de vida no trabalho. 5. Competência (Direito judiciário). I. Jacobsen, Alessandra de Linhares. II. Olivo, Luis Carlos Cancellier de. III. Série. CDU: 342.56(816.4) Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071 Coordenação Gráfica: Denise Aparecida Bunn Capa e Diagramação: Annye Cristiny Tessaro (Lagoa Editora) Revisão de Português: Sergio Luiz Meira Sumário Gestão do Judiciário: perspectivas e desafios 5 Alessandra de Linhares Jacobsen Luis Carlos Cancellier de Olivo Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação 15 Cleide Brandt Mauricio Fernandes Pereira A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina 37 Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas Marcos Batista Lopez Dalmau Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina Kátia Regina Bêber Dante Marciano Girardi Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Marcello Campiglia Gilberto de Oliveira Moritz 61 87 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina Márcia Campos Sarturi Alexandre Marino Costa A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão Marlon Negri Wanderley Horn Hulse 133 163 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Marshal Luís Schwalb Luis Moretto Neto 191 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense Thalia Krause Luis Moretto Neto A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina Paulo Werner Kern Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas Nelson José dos Santos Wanderley Horn Hülse 211 241 261 Gestão do Judiciário: perspectivas e desafios Alessandra de Linhares Jacobsen Luis Carlos Cancellier de Olivo Os novos tempos têm trazido perspectivas alternativas para a sociedade e, concomitantemente, intensificado os desafios de gestão. Na ordem do dia, estão “a ruptura do isolamento social, o acesso à informação, o reconhecimento da identidade e o sentimento de pertencimento e o aumento da autoestima” do cidadão (BRONZO, 2010, p. 45)1. Tais avanços revelam-se particularmente positivos para a coletividade, exigindo, contudo, mudanças estruturais e comportamentais por parte das organizações, em decorrência do surgimento de demandas crescentes e diferenciadas dos seus consumidores. Seja no que tange às organizações voltadas à produção de bens ou de serviços, àquelas do setor público, do privado ou do terceiro setor, o cenário é igualmente desafiador. Uma questão central para o enfrentamento deste cenário refere-se à capacidade da organização de se planejar a partir de uma perspectiva estratégica. Posto que, enquanto grande parte das ferramentas e sistemáticas de gestão adotadas concentra-se em um aspecto muito específico do ambiente organizacional, seja relativo às pessoas, aos recursos financeiros ou de produção e mercadológicos, o planejamento estratégico abre espaço não somente para o delineamento do seu futuro, mas, especialmente, para o repensar das suas particularidades – pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades. Este talvez seja o maior ganho ao se imple- 1 BRONZO, C. Políticas públicas de enfrentamento da pobreza: o desafio de conjugar proteção e promoção social. In: FERREIRA, M. A.; EMMENDOERFER, M. L.; GAVA, R. (Org.). Administração pública, gestão social e economia solidária. Viçosa, MG, 2010. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 5 Apresentação mentar tal dispositivo: instigar os que atuam na organização a pensar sobre a sua realidade e a vislumbrar, para ela, possibilidades futuras. Além do mais, para o sucesso de tal medida, é essencial que gestores e colaboradores de todos os níveis de tomada decisão estejam em plena sintonia. Naturalmente, cada qual desenvolvendo o seu papel e cumprindo com as suas responsabilidades, mas buscando o atendimento de um objetivo comum que é, de fato, a sobrevivência e o crescimento da organização à qual pertencem. Neste instante, vale lembrarmos que o planejamento estratégico está inserido na razão da gestão estratégica. Este modelo, diferentemente da administração top-down – praticada até o início da década de 90 –, busca contribuições de atores dos vários níveis de tomada de decisão que compõem a organização e, consequentemente, faz com que todos desenvolvam uma visão estratégica a respeito da relação que a referida entidade estabelece com o meio onde ela se encontra. Observamos, desse modo, que tudo conduz à necessidade do gestor providenciar, para a sua organização, a formulação de uma estratégia adequada, isto é, de um padrão de ações e de alocação de recursos que lhe permita a definição de um posicionamento vantajoso no mercado. Quanto ao assunto, devemos registrar a existência de pontos de vista distintos sobre o conceito de estratégia. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 13)2, por exemplo, propõem em sua famosa obra – Safári de estratégia – dez escolas de pensamento sobre a formulação de estratégia, a maioria das quais “se reflete na prática gerencial”. Mesmo diante da abundância de entendimentos a respeito de um mesmo tema, vale dizermos que este fato não acarreta exatamente uma condição de vulnerabilidade para a abordagem da gestão estratégica. Esta evidência é tratada com muita determinação por Serra et al. (2010)3, ao afirmarem que a “sustentabilidade das empresas parece estar dependente da capacidade de encontrar um posicionamento 2 MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2000. 3 SERRA, F. A. R. Estratégia em diferentes contextos empresariais: fundamentos, modelos e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2010. 6 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Alessandra de Linhares Jacobsen e Luis Carlos Cancellier de Olivo no segmento em que operam” e, para isso, “a formação da estratégia é essencial e, em particular, que na sua formação a empresa vise encontrar formas de se diferenciar e criar valor. Afinal, é a estratégia que dirige a forma como a empresa atua no mercado e a dirige para o sucesso”. Como resultado desse esforço gerencial, tem-se a formulação de planos que, para o setor público, manifestam-se como verdadeiros mapas de ação com a finalidade de guiar a execução das políticas públicas, independentemente do partido político ou do agente público que ocupam o poder. Nesta dimensão, é essencial que tais agentes sejam efetivamente líderes do processo, incorporando e valorizando sugestões e críticas dos seus colaboradores e, sobretudo, atendendo às demandas da sociedade. Este é o verdadeiro sentido da gestão estratégica. É possível compreender, portanto, que para o sucesso da administração pública não basta dispor de recursos suficientes, de informações e de tecnologias avançadas. Mais do que isso, o gestor público precisa estar comprometido com a causa do coletivo, agindo com ética e com base na noção de que a sociedade deve preceder ao indivíduo. Ainda, no que pese ao planejamento estratégico, tal postura estará permeando a missão, a visão e os objetivos do ente público e, também, os instrumentos de controle social. Estas considerações servem para assinalarmos que a produção literária acerca do tema gestão estratégica é vasta, embora sejam mais escassas obras que tratem especificamente do setor público. Partindo dessa premissa, a atual coletânea de artigos inicia oferecendo, como um valioso presente, o relato da experiência vivida pelos colaboradores do poder judiciário de Santa Catarina na implantação do processo de planejamento estratégico, conforme conferimos na sequência. Afortunadamente, as perspectivas apresentadas aqui aos desafios da gestão pública, em especial àquelas relativas ao judiciário, não param por aí. Como resultado dos trabalhos desenvolvidos ao longo de dezoito meses de pesquisa, podemos ter uma visão ampla do poder judiciário catarinense na perspectiva dos seus servidores. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 7 Apresentação Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira, ao analisarem o histórico do planejamento estratégico do poder judiciário de Santa Catarina e o seu processo de implantação, entendem que na busca de um aprimoramento institucional encontra-se o planejamento estratégico com prerrogativas de relevância que contribuem para a melhor prestação de serviço. Diante disso, verificam como ocorreu o processo de implantação do planejamento estratégico no Poder Judiciário de Santa Catarina. Iniciam com o estudo do planejamento estratégico de forma geral; após mostram a parte histórica e colocam considerações construtivas. Também, neste estudo, expõem a ferramenta utilizada, Balanced Scorecard, detectando a importância do correto uso do planejamento estratégico na organização, bem como a relevância nos reflexos do futuro da instituição. Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Baptista Lopez Dalmau, no estudo sobre a avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, sustentam que uma adequada avaliação de desempenho pode dar subsídios à instituição para que esta faça os ajustes necessários em seu planejamento estratégico, representando um instrumento adicional para avaliar o desempenho e o potencial das pessoas, e contribuindo para a tomada de decisões relacionadas às promoções, treinamentos, desenvolvimentos, contratações e melhorias de condições de trabalho. Os autores questionam como funciona a Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina e como esta tem sido utilizada como ferramenta de apoio à gestão. A hipótese originou-se da ideia de que a avaliação é utilizada apenas como instrumento para cumprimento do artigo 41, §1º, III, da Constituição da República Federativa do Brasil, não sendo aproveitada como ferramenta de gestão. O estudo, que tem características qualitativa e descritiva, busca descrever como ocorre a avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, como ferramenta de apoio à gestão no Tribunal. A análise do desenvolvimento do processo de avaliação de desempenho permitiu verificar se esta ferramenta estava sendo adequadamente aproveitada como instrumento de apoio à gestão da organização ou sendo utilizada como instrumento de avaliação de pessoas isolado dos objetivos estratégi8 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Alessandra de Linhares Jacobsen e Luis Carlos Cancellier de Olivo cos O resultado da pesquisa mostrou que a avaliação de desempenho não tem sido adequadamente utilizada como instrumento de apoio à gestão estratégica. Já a questão do treinamento e desenvolvimento de gestores foi o tema estudado por Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi, com o objetivo de analisar a importância da aplicação de programas de capacitação aos gestores do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em especial daqueles que assumirem a função de Chefe de Cartório. Para os autores, no momento ainda não há um treinamento específico para os servidores que assumem essa função. O estudo, realizado através de pesquisa bibliográfica, procurou demonstrar a transformação havida nas organizações públicas brasileiras, retirando-se o foco dos processos burocráticos para introduzir mudanças de valores e comportamentos, dando-se total ênfase ao cidadão, merecedor que é da excelência na prestação de serviços públicos. O sucesso do gerenciamento das organizações depende de “pessoas que saibam lidar com outras pessoas”. E para isso, é necessário que as organizações atualizem seus programas de capacitação e desenvolvimento no âmbito organizacional. Nesse sentido, são imperativas atitudes de inovação, visão e condutas diferenciadas por parte dos administradores do Tribunal, visando à qualificação, capacitação e ao desenvolvimento dos gestores, especialmente dos Chefes de Cartório. É importante para a Instituição, concluem os autores, que essa função seja desempenhada por pessoas qualificadas e capacitadas para desenvolverem e aplicarem conhecimentos de Liderança, Gerenciamento e Motivação, visando, assim, atingir os objetivos organizacionais com excelência, eficácia e credibilidade. Por sua vez, Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz concentram sua pesquisa na qualidade de vida no trabalho na divisão de almoxarifado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Para eles, a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) afeta diretamente a produtividade dos trabalhadores. Neste contexto, os autores identificam o nível de satisfação dos colaboradores – contratados e servidores, na Divisão de Almoxarifado (DAL) do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) – em relação à QVT, a partir da aplicação de um quesO Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 9 Apresentação tionário composto por 33 questões, baseado no modelo proposto por Walton, a 32 colaboradores, cuja metodologia possui enfoque quantitativo através de estudo de caso. Em termos gerais, os resultados obtidos apontam índices de insatisfação em relação aos critérios compensação justa e adequada, e oportunidades de crescimento e segurança, enquanto os critérios condições de trabalho, uso e desenvolvimento das capacidades, integração social na divisão, constitucionalismo, e relevância social do trabalho indicam níveis satisfatórios. A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do núcleo de serventias extrajudiciais de Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina, pesquisa desenvolvida por Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa, analisa a gestão estratégica de pessoas adotada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina no processo de reorganização das atividades deste setor. Os autores realizaram pesquisa bibliográfica objetivando compreender, a partir das discussões promovidas pela moderna Teoria da Administração, os fundamentos da gestão estratégica de pessoas orientada por competências, permitindo que fosse avaliada a adequação entre as competências selecionadas pelo novo modelo de gestão estratégica de pessoas e as atribuições efetivamente desempenhadas de controle, orientação e fiscalização disciplinar dos Serviços Extrajudiciais. O arcabouço teórico estruturado permitiu uma avaliação conjuntural de determinadas práticas procedimentais experimentadas no ambiente organizacional estudado, evidenciando a significativa contribuição deste novo modelo de gestão estratégica de pessoas para a melhoria qualitativa verificada no ambiente organizacional e no desempenho das suas atribuições institucionais. No campo do processo de tomada de decisão, Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse verificam a importância da ferramenta de prospecção de cenários no processo de tomada de decisão. Para atingir o objetivo, abordam o conceito de decisão em administração e o processo decisório, bem como a ferramenta de prospecção de cenários, historiando-a no mundo e no Brasil, para, posteriormente, conceituá-la e apresentar suas características e outros aspectos, findando 10 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Alessandra de Linhares Jacobsen e Luis Carlos Cancellier de Olivo com a análise da sua importância no processo de tomada de decisão. Para tanto, utilizaram os autores da técnica de pesquisa bibliográfica, o método de abordagem indutivo e o método de procedimento monográfico. Concluem que o processo de tomada de decisão é uma das maiores responsabilidades do administrador. Tomar decisões é um processo que pode ser ensinado e treinado. A boa decisão é resultado da qualidade de todo um processo racional. Os estudos prospectivos não têm como objetivo preverem o futuro, mas sim estudarem as diversas possibilidades de futuros plausíveis existentes e prepararem as organizações para enfrentarem qualquer uma delas ou criarem condições para que modifiquem suas probabilidades de ocorrência ou minimizem seus efeitos. A técnica de cenários vem assumindo lugar de extrema importância entre as ferramentas de suporte ao processo de tomada de decisão nas organizações, pois sua utilização permite ao gestor agir com mais confiança e melhor conhecimento da incerteza presente no ambiente organizacional, garantindo que as decisões sejam tomadas com mais qualidade, criatividade, segurança e agilidade. As metas de nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os reflexos isomórficos produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça de Santa Catarina constituem importante contribuição de Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto para avaliar se suas diretrizes produziram reflexos isomórficos na referida Corregedoria-Geral. Para tanto, utilizaram na análise a perspectiva Institucional. Concluem os autores que o reflexo isomórfico da meta de nivelamento se evidencia na concretização das diretrizes aprovadas pelo Conselho Nacional de Justiça no âmbito da Corregedoria-Geral da Justiça, mesmo que de forma limitada, haja vista a competência da matéria a ser analisada na Corregedoria-Geral de Justiça catarinense. No estudo de Thalia Krause e Luis Moretto Neto, sobre a importância da realização de um diagnóstico setorial prévio ao processo de execução de curso de capacitação aos servidores do judiciário, os autores consideram que as organizações, hoje inseridas em um ambiente extremamente dinâmico e turbulento, para alcançarem O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 11 Apresentação com sucesso os seus objetivos, devem mostrar-se proativas, ágeis na adaptação e investirem em desenvolvimento organizacional. Para auxiliar na elucidação dos pontos fracos e pontos fortes e para facilitar a tomada de decisão, o diagnóstico reveste-se de importância fundamental. Sem um correto diagnóstico, qualquer ação programática encontrará dificuldades em localizar seu alvo definido. Assim como as organizações privadas, as instituições públicas também devem investir na adoção de ferramentas de administração. No intuito de observar o princípio constitucional da eficiência, a Justiça Catarinense investe em cursos de capacitação, de atualização e no desenvolvimento constante do seu quadro de pessoal. Neste sentido é de vital importância a realização de um diagnóstico setorial prévio ao processo de execução de curso de capacitação aos servidores do Poder Judiciário Catarinense. Para chegar a esta conclusão os autores utilizaram relatórios de avaliações preenchidos por instrumentos, apresentados pela Academia Judicial, no tocante ao curso intitulado “gerenciamento de rotinas (gestão de processos de trabalho)”, ministrado por instrutores do Programa de Implantação de Serviços Judiciários, no ano de 2010. Perceberam os autores que 88,36 % (oitenta e oito vírgula trinta e seis por cento) das opiniões versavam sobre algo que poderia ter sido feito de modo diferente (melhorado) quando da concretização do evento. Neste norte, a realização de um diagnóstico setorial prévio anterior ao curso mostra-se salutar para a elaboração eficaz do plano de ensino, a escolha adequada do público-alvo, a definição proveitosa da carga horária e do horário do evento, a adoção de estratégias metodológicas profícuas, a utilização de material didático simplificado e voltado para suplantar as deficiências, a escolha certeira dos instrutores etc. Voltada para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, a pesquisa de Paulo W. K. Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus parte do princípio de que, na medida em que crescem as demandas por serviços públicos que compõem os conflitos no Judiciário, impondo ao próprio poder o aumento das estruturas burocráticas para satisfazê-las, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina definiu como missão “realizar Justiça, assegurando 12 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Alessandra de Linhares Jacobsen e Luis Carlos Cancellier de Olivo a todos o acesso, com efetividade na prestação jurisdicional”. Neste norte, a instituição definiu uma política de mobilização de recursos para alcançar os objetivos previamente propostos, que servem de referência e guia para a ação nas Diretorias do Tribunal de Justiça. Assim, cabe aos líderes adotarem atitudes que sejam referência e influência no comportamento de toda a sua equipe, possibilitando as mudanças nos diversos setores administrativos do Tribunal de Justiça para atender à população em seu segmento. Tal atitude positiva por parte dos líderes nos setores administrativos do Tribunal de Justiça, utilizando-se da motivação, liderança e gestão de pessoas como atividade altamente estratégica, irá proporcionar a toda a estrutura judiciária a possibilidade de minimizar o alcance dos resultados esperados pela organização. Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hulse estudam o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que devem possuir os magistrados no desempenho de atividades administrativas. Para os autores, o Magistrado, na função de julgador, principal atribuição de seu cargo, faz uso de um conjunto de competências, tais como: conhecimentos, habilidades e atitudes específicas para realizar esse mister. Porém, alertam, esta é a principal, mas não a única atribuição que ele deve desempenhar. Há necessidade de outro conjunto de competências que deve apresentar, quando se vê na função de gestor público e lhe são exigidas outras capacidades profissionais. Na pesquisa, os autores indicam quais são as competências necessárias para que o Magistrado possa desempenhar uma e outra atribuição. Para tanto, é necessário realizar estudo comparativo entre as competências necessárias ao Magistrado e verificar se estas convivem em harmonia numa mesma pessoa, ou, se pode existir algum antagonismo. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 13 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação Cleide Brandt Mauricio Fernandes Pereira 1Introdução O planejamento estratégico como ferramenta organizacional administrativa torna-se cada vez mais utilizado, em decorrência dos constantes ajustes de mercado e de negócios. A análise estratégica se dá na definição de um foco para a organização; assim, quando encontrados desvios de metas, pode-se encontrar o meio de colocá-los em linha com os objetivos para obter os resultados esperados. Por isto, no âmbito da estratégia, esta se compreende por planos de ação com metas, onde se vão identificando passos necessários e indispensáveis para realizá-las com êxito. Cabe acrescentar que dentre as evoluções tecnológicas, culturais, ecológicas e econômicas, ao longo do tempo é necessário criar adaptações que correspondem aos interesses da instituição e da sociedade. Nesse sentido, o presente estudo pretende alcançar maior entendimento dos principais objetivos e rumos da instituição, já que isso contribui em grande parte no destino e futuro institucional. De início, também convém expor que, tratando-se do estudo do planejamento estratégico de um órgão público, podem-se perceber O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 15 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação diferenças de um planejamento da iniciativa privada, que tem fortes características lucrativas. O que se objetiva com essa pesquisa é estudar o planejamento estratégico e especificamente o planejamento estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina com sua implantação, podendo-se pesquisar e analisar a forma como foi elaborado e seu impacto na organização. Do mesmo modo, pretende-se contribuir com material de cunho histórico e por consequência ampliar a difusão do planejamento estratégico e seus resultados na correta utilização. Conjuntamente, forma-se o intuito de colaborar com um conteúdo analítico do planejamento estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina, onde se possa conhecer a visão institucional, os objetivos estratégicos e seus direcionamentos. Visto que as organizações inovadoras têm buscado implementar sistemas e formas que mais possibilitam se aproximar do sucesso, dessa forma surge o interesse pelo conhecimento do planejamento estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina. Para isso, o artigo está estruturado com três partes. Na primeira, tem-se um estudo preliminar de planejamento estratégico, formando um conhecimento de âmbito geral, para, por conseguinte, estudar o planejamento estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e seu processo de implantação, finalizando com considerações construtivas e conclusões. 2 Preliminar estudo de planejamento estratégico Torna-se necessário criar um notável entendimento de planejamento estratégico, conhecer fundamentações teóricas de diversos autores, para posteriormente adentrar no estudo específico ao qual se propõe este artigo. 16 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira O Planejamento Estratégico vem sendo cada vez mais estudado nas organizações, tornou-se o foco de atenção da boa administração das instituições, volta-se para as medidas positivas que uma empresa poderá adquirir para enfrentar situações e aproveitar as oportunidades em seu ambiente. Em primeiro âmbito a estratégia para alguns autores se tornou uma arte para o crescimento, a qual se torna um meio que possibilita alcançar mais rápido o objetivo, sendo também uma forma ou instrumento de treinamento. Interpreta Maurício Fernandes Pereira: Planejamento é a formulação sistemática de estratégias, ações estratégicas e a escolha da melhor ação no momento certo para a organização [...]. (PEREIRA, 2010, p. 46). Nesse norte, o planejamento estratégico é um processo que envolve questionamentos e reflexões de que rumo deve e pode se dirigir a organização, dentro das variáveis que existem em conjunto com o contexto ambiental para fazer a tomada de decisão. Com isso, estão envolvidos diagnósticos estratégicos que normalmente são feitos pelos integrantes de níveis da instituição, contando com o respaldo de alguns colaboradores. Destaca-se, também: A compreensão do Planejamento Estratégico, com uma percepção do “todo” da organização, ou seja, com uma visão mais ampla sobre o processo de gestão, pensando de maneira mais forte em todo o conjunto de atores e agentes que interferem direta e indiretamente na organização, não pode ser desconsiderada [...]. (PEREIRA, 2010, p. 54). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 17 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação Nesse caso, vem a importância dos objetivos que, quando utilizados de maneira adequada com a visão ampla, serão um bom combustível para o crescimento, já que com os objetivos surgem diversas análises de prioridades e desafios. Quando na prática, o planejamento estratégico é indispensável para descobrir o que realmente se quer, para chegar ao destino almejado, pois consiste numa técnica administrativa que averigua o ambiente, faz consciência das oportunidades e riscos, para estabelecer a direção. Salutar ressaltar que elaboração de planejamento estratégico requer todo um estudo que deve ser bem feito para que não fique apenas como um documento escrito, mas, sim que seja de utilidade para o desempenho da organização. Pois, na prática os objetivos que são gerados a partir de anseios, devem ser concretizados no mínimo com qualidade de tempo e custos financeiros, para se obter determinados benefícios, correspondentes à meta. Como consequência do estudo, cabe trazer conceitos de estratégia de diversos autores para ampliar a compreensão. Assim, para Ohmae (1985) estratégia é o modo pelo qual a empresa procura distinguir-se de maneira positiva da concorrência, usando seus pontos fortes para atender melhor às necessidades dos clientes. Segundo Ansoff (1993), são regras e diretrizes para decisão que orientam o processo de desenvolvimento de uma empresa. Já Pascale e Athos (1982) colocam que é o processo de selecionar oportunidades definidas em termos de pedidos a serem atendidos e produtos a serem oferecidos. Todos levam a definir a importância do uso da estratégia, certas vezes pode até não ser uma estratégia explícita, mas, certamente será necessário para o sucesso um perfil estratégico, que englobe a organização, análises e metas. 18 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira Indispensável colocar que a boa estratégia sempre deverá levar em conta uma opção inteligente, viável, econômica, que saiba utilizar os recursos físicos, financeiros e humanos. Como visto, a velocidade de desenvolvimento da tecnologia e informação faz com que as organizações se preparem cada vez mais para atuar, para aproveitar as oportunidades Tudo isso exige competências na organização com capacidade de avaliar ameaças e oportunidades para lidar com as incertezas nas quais está exposta. Assim, acrescenta: Competência é uma palavra do senso comum, utilizada para designar pessoa qualificada para realizar algo. Seu oposto ou antônimo não apenas implica a negação dessa capacidade, mas também guarda um sentimento pejorativo, depreciativo. (FLEURY; FLEURY, 2000). Nessa linha, compreende-se que a formulação de uma estratégia é algo complexo, uma vez que existe uma multiplicidade de fatores que podem ser internos e externos, para que se faça presente a competência. Segundo Matos e Chiavenato (1999, p.30), o planejamento estratégico apresenta cinco características fundamentais: a. O planejamento estratégico está relacionado com a adaptação da organização a um ambiente mutável. Ou seja, sujeito à incerteza a respeito dos eventos ambientais. Por se defrontar com a incerteza tem suas decisões baseadas em julgamentos e não em dados concretos. Reflete uma orientação externa que focaliza as respostas adequadas às forças e pressões que estão situadas do lado de fora da organização. b. O planejamento estratégico é orientado para o futuro. Seu horizonte de tempo é o longo prazo. Durante o curso do planejamento, a consideração dos problemas atuais é O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 19 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação dada em função dos obstáculos e barreiras que eles possam provocar para um almejado lugar no futuro. c. O planejamento estratégico é compreensivo. Ele envolve a organização como uma totalidade, abarcando todos os seus recursos, no sentido de obter efeitos sinergísticos de todas as capacidades e potencialidades da organização. A resposta estratégica da organização envolve um comportamento global, compreensivo e sistêmico. A participação das pessoas é fundamental nesse aspecto, pois o planejamento estratégico não deve ficar apenas no papel, mas na cabeça e no coração de todos os envolvidos. São eles que o realizam e o fazem acontecer. d. O planejamento estratégico é um processo de construção de consenso. Devido à diversidade dos interesses e necessidades dos parceiros envolvidos, o planejamento deve oferecer um meio de atender a todos na direção futura que melhor convenha para que a organização possa alcançar seus objetivos. Para isso, é preciso aceitação ampla e irrestrita para que o planejamento estratégico possa ser realizado através dessas pessoas em todos os níveis da organização. e. O planejamento estratégico é uma forma de aprendizagem organizacional. Por estar orientado para a adaptação da organização ao contexto ambiental, o planejamento constitui uma tentativa constante de aprender a ajustar-se a um ambiente complexo, competitivo e suscetível a mudanças. Diante disso, no campo estratégico, tem-se que sumariamente é necessário saber onde a instituição está localizada no campo social, para entender o norte para suas ações e estabelecer os objetivos. Existem dois indicadores principais de direção para os quais uma organização é levada: a missão e os objetivos organizacionais. A missão organizacional é a finalidade de uma organização ou a razão de sua existência. Os objetivos são as metas da organização. 20 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira Há outros dois indicadores de direção que, atualmente, as organizações estabelecem: a visão, que é o que as empresas aspiram a ser ou tornar ser, e os valores, que expressam a filosofia que norteia a empresa e que a diferenciam das outras. Então, valores, missão e visão, vão formando bases do planejamento estratégico, onde em forma de tópicos encontra-se uma síntese da organização. Com bases bem definidas e em prática, o planejamento estratégico resulta em vantagens para a instituição, tais como: fluxo de informação e comunicação, direcionamento de trabalho, destinação de recursos, cumprimento de compromisso, interação com o ambiente, orientação para o desenvolvimento, resultados operacionais e orçamentários. 3 Processo de implantação do planejamento estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina O Poder Judiciário de Santa Catarina teve sua primeira experiência com o planejamento no ano de 1997, quando ocorreu a informatização de todas as comarcas e a implantação de um sistema de automação para os processos judiciais. Pela primeira vez foram utilizadas técnicas científicas de planejamento. No entanto, o processo de planejamento estratégico teve início no ano de 2000, com a realização de palestras de sensibilização e pesquisas em diversas regiões do estado para o diagnóstico da instituição e definição da missão, visão, políticas (princípios ou valores) e estratégias. Também no ano de 2000, ocorreu a adoção ao Programa Qualidade no Serviço Público do Governo Federal – PQSP, atualmente denominado de Gespública, com o intuito de aprimorar as práticas administrativas da organização. Para dar apoio às decisões administrativas do Tribunal, foi criado o Conselho de Administração que delibera sobre as áreas: desenO Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 21 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação volvimento humano, justiça e cidadania, planejamento e orçamento, patrimônio e edificações e informática, tendo como membros: o Presidente, o 1º Vice-Presidente, o 2º Vice-Presidente, o 3º Vice-Presidente, o Corregedor Geral da Justiça, o Presidente do Fundo de Reaparelhamento da Justiça, o Presidente do Sistema Financeiro de Conta Única de Depósitos Judiciais sob Aviso à Disposição da Justiça e mais cinco Desembargadores convidados, segundo Resolução n. 03/02-TJ. Seguindo na parte cronológica, no ano de 2002 teve início o Planejamento Estratégico Situacional, método proposto pelo economista chileno Carlos Matus, necessário para o controle de projetos que estavam dando guarida ao Planejamento Estratégico proposto anteriormente. E assim, no decorrer do mesmo ano, desenvolveu-se um sistema (software) chamado Sisproject, que cadastra programas, projetos, operações e ações. O Sisproject documenta informações, serve como registro histórico dos projetos e pode disponibilizar dados na intranet e internet. Mais para frente, já numa versão mais atualizada, o Sisproject também começou a ser utilizado para elaborar e controlar o orçamento do Tribunal. Em 2006, na escolha de uma metodologia para mensurar o desempenho institucional e verificar se o Tribunal estava alcançando seus principais objetivos estratégicos propostos, decidiu-se pela utilização do Balanced Scorecard (BSC). Criada por Kaplan e Norton, o BSC é uma ferramenta que consiste na utilização de sistema que faz medição do desempenho com foco estratégico, abrangendo indicadores não financeiros: aprendizado e crescimento, processos internos, finanças e clientes. A sigla BSC (Balanced Scorecard) traduzida significa “Indicadores Balanceados de Desempenho”, onde o termo balanceado é a utilização de indicadores. Essa metodologia faz com que se descreva o desempenho organizacional, contribuindo na tomada de decisões, possibilitando o direcionamento adequado dos recursos. 22 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira Dentro do que abrange a metodologia BSC, para o Poder Judiciário de Santa Catarina obteve-se os seguintes questionamentos necessários para encontrar as perspectivas: Sociedade: Quais são as demandas sociais que o PJSC deverá atender para caracterizar-se como um Judiciário mais eficiente, reconhecido e respeitado pela sociedade? Procedimentos Internos: Para conseguir atender a tais demandas sociais, em que procedimentos devemos buscar a excelência? Aprendizado e Crescimento: Como nossa organização poderá aprender e inovar para atingir a excelência em seus procedimentos estratégicos? Planejamento e Orçamento: Como os recursos deverão ser alocados para assegurar o investimento em aprendizado e inovação, tornando possível a implementação dos planos estabelecidos? Das respostas saíram os denominados objetivos estratégicos. E assim, a alocação de objetivos estratégicos em cada perspectiva forma o mapa estratégico da instituição. A construção do mapa estratégico do PJSC (Figura 1) ocorreu com o alinhamento das metas do atual plano de gestão às estratégias delineadas por ocasião do Planejamento Estratégico; o mapa foi aprovado pelo Conselho de Administração em março de 2006 e revisto em 2009 (29/2009-TJ/SC), conforme determinação do Conselho Nacional de Justiça (ver figura a seguir): O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 23 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação Figura 1 – Mapa estratégico do PJSC Em junho de 2006, sob orientação do Coordenador de Planejamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), contando com a participação do corpo diretivo do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, a Assessoria de Planejamento promoveu um Workshop para definir os indicadores que melhor comunicassem a intenção de cada objetivo estratégico. A partir de então, foram elaboradas as Matrizes de Controle de cada indicador estratégico, que se apresentam: Perspectiva Sociedade – SO SO 1 – Promover a cidadania, priorizando ações de natureza social SO 1.1 – Tempo para resolução de ações de maior impacto social SO 1.2 – Número de pessoas beneficiadas por serviços ou projetos sociojurídicos 24 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira SO 2 – Facilitar a comunicação e o acesso do cidadão à Justiça SO 2.1 – Índice de matérias institucionais positivas SO 2.2 – Índice de municípios com unidades instaladas SO 3 – Buscar continuamente a satisfação dos usuários SO 3.1 – Índice de satisfação do usuário SO 4 – Fortalecer as relações institucionais SO 4.1 – Número de parcerias estratégicas Perspectiva Procedimentos Internos – PI PI 1 – Fornecer serviços de qualidade, empenhando-se na melhoria contínua PI 1.1 – Percentual de decisões do 1º grau que foram reformadas PI 1.2 – Percentual de decisões do 2º grau que foram reformadas pelo STJ PI 1.3 – Percentual de decisões do 2º grau que foram reformadas pelo STF PI 1.4 – Índice de agilidade no julgamento no 1º grau PI 1.5 – Índice de agilidade no julgamento no 2º grau PI 2 – Racionalizar e normatizar as atividades, melhorando a produtividade PI 2.1 – Produtividade de juízes de 1º grau PI 2.2 – Produtividade de desembargadores e juízes de 2º grau PI 2.3 – Índice de atendimento à demanda no 1º Grau PI 2.4 – Índice de atendimento à demanda no 2º Grau PI 2.5 – Taxa de congestionamento no 1º grau PI 2.6 – Taxa de congestionamento no 2º grau PI 2.7 – Índice de processos antigos no 1º Grau PI 2.8 – Índice de processos antigos no 2º Grau PI 3 – Promover meios não adversariais de solução de conflitos O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 25 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação PI 3.1 – Percentual de acordos realizados pelo sistema não adversarial PI 3.2 – Percentual de conflitos, na área cível, resolvidos por acordo Perspectiva Aprendizado e Crescimento – AC AC 1 – Desenvolver permanentemente conhecimentos, habilidades e atitudes AC 1.1 – Percentual de colaboradores capacitados AC 1.2 – Horas de capacitação por colaborador AC 1.3 – Percentual investido em capacitação AC 2 – Promover inovações tecnológicas AC 2.1 – Número de serviços oferecidos virtualmente aos usuários AC 2.2 – Percentual do orçamento aplicado em inovações tecnológicas AC 2.3 – Índice de disponibilidade de infraestrutura de tecnologia da informação AC 3 – Desenvolver a saúde e o clima organizacional AC 3.1 – Índice do clima organizacional AC 3.2 – Índice de absenteísmo AC 3.3 – Percentual de colaboradores afastados AC 4 – Garantir a infraestrutura apropriada, com responsabilidade socioambiental AC 4.1 – Eficiência operacional AC 4.2 – Índice de sustentabilidade, acessibilidade e segurança física Perspectiva Planejamento e Orçamento – PO PO 1 – Fortalecer a cultura do planejamento, com ênfase na gestão participativa PO 1.1 – Percentual de projetos executados na metodologia de planejamento 26 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira PO 1.2 – Percentual de desconcentração na elaboração do orçamento PO 1.3 – Índice de sucesso na execução dos projetos estratégicos PO 2 – Maximizar o aproveitamento dos recursos para garantir a execução da estratégia PO 2.1 – Índice de execução do orçamento disponibilizado PO 2.2 – Índice de orçamento estratégico Fica evidente que a implementação da estratégia deve levar em conta os elementos da cultura, pessoas, organização e um sistema de controle onde se avaliam os resultados. Para chegar aos objetivos da estratégia, faz-se necessário garantir a implementação do que foi planejado, tornando claro para todos os colaboradores o que se quer alcançar, quais suas tarefas e metas de equipe. A implantação se dá quando do lançamento e conhecimento oficial do documento, o que no PJSC foi realizado com a publicação em site e disponibilização de cartilha informativa. No entanto, sabe-se que se torna necessário um acompanhamento e controle após a implantação: É o momento da implementação do Planejamento Estratégico, de seu acompanhamento e controle. É nesse momento que a organização passa a colher os resultados, ela passa a praticar o processo de Planejamento Estratégico. (PEREIRA, 2010, p. 56). Pois o acompanhamento pode proporcionar a averiguação do desempenho da instituição, verificar se as metas estão sendo atingidas, se estão saindo do papel e se estão proporcionando aprendizado organizacional. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 27 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação Assim, o início do trabalho é a fase de diagnóstico da aplicação destes conceitos, pois o planejamento é mais do que necessário para as organizações atualmente. Portanto, o planejamento teve seu início com a junção e coleta de dados para conhecer o ambiente de atuação; depois foram vistos os objetivos e escolhidas as ações para desenvolver. Por último, o indispensável acompanhamento e avaliação periódica por meio de um sistema de informações gerenciais. 4 Considerações construtivas no processo de implantação do planejamento estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina Notável que com a aplicação do planejamento estratégico ocorrem mudanças rápidas na organização; isso é a causa mais importante do crescimento da utilização do planejamento estratégico, pois, no mínimo, organiza as diretrizes da instituição. Uma das questões que devem estar em constante atenção é saber analisar a diferenciação entre planejamento estratégico e planejamento a longo prazo, pois não são sinônimos. Grande parte da aplicação de planejamento apenas estabelece metas e formula planos para atingir. Assim, a organização gasta demasiado tempo planejando e fazendo prognóstico do futuro. Coloca-se dessa forma, pois, planejar se encaixa com um conjunto de ações para atingir um resultado definido, quando se tem a certeza da situação em que as ações acontecerão e controle quase absoluto dos fatores que asseguram o sucesso no alcance dos resultados. Abaixo ressalta-se: Um marco a ser destacado foi a evolução da previsão para a criação do futuro. No passado, realmente, a questão da previsão era muito forte, ate fazia certo sentido, pois a complexidade dos negócios era muito menor que 28 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira a de hoje. Hoje não se trabalha com previsão e sim com prospecção ou criação de futuro. (PEREIRA, 2010, p. 25). Neste tópico, cabe refletir que não existe um modelo de planejamento estratégico. Já que, em realidade, existem vários modelos eficazes. O detalhe da questão é encontrar qual o modelo que tem melhor adaptação para a sua realidade. Os valores da organização quando bem definidos servem para que todos os colaboradores possam abraçar e levar a instituição adiante, ou seja, impulsionar e ainda ajudar a organização na orientação das atividades. Desse jeito, visualize-se ainda mais a indispensável divulgação do planejamento do Poder Judiciário de Santa Catarina para a possível participação de mais colaboradores, fazendo com que a instituição envolva o maior número de pessoas, ideias e forças para o seu ideal desenvolvimento. Da mesma forma, o capital humano, de vital importância, deve saber e levar consigo as informações do planejamento estratégico. Portanto, novamente se vê que a difusão do planejamento estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina é imprescindível para o progresso da instituição. Atitudes como divulgação na intranet, no hall de entrada são formas de propagar o conhecimento dessa ferramenta institucional. Não se poderia fazer uma instituição bem-sucedida somente por sorte. O gestor deve ter claro como definir metas e estratégias, formando uma questão de cultura organizacional; e isso leva tempo e trabalho para os gestores. Reforça-se que o empenho do planejamento estratégico no Poder Judiciário de Santa Catarina requer dos gestores a qualidade de saber utilizar as técnicas administrativas, bem como as relações humanas para o sucesso do processo. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 29 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação Ainda, é um cuidado constante para o Judiciário que todo o planejamento não fique no papel e tome forma real de impacto na instituição. Também, o planejamento em específicos casos oferece pouco, já que são elaborados documentos, previsões, planos, e cronogramas que ficam por vezes como ilusão intelectual, seguindo o plano, e deixando a oportunidade. Faz-se necessário planejar e projetar o futuro, sendo que são ações que se complementam, onde o projetar decide como agir com o que está acontecendo, e o planejar traduz essas decisões em ações gerenciáveis. O planejamento e a projeção futura devem se juntar até onde seja possível alcançar estratégia de ação e assim focá-la como uma meta. Na abordagem de projeção do futuro, são necessárias medidas de resultado, ou indicadores críticos, que contribuem na medição da estratégia. No entanto, não se pode se iludir apenas com as metas. Desse jeito, as reuniões de planejamento anual que a organização realiza podem causar impedimentos na agilidade para com as mudanças, ameaças e oportunidades. É sabido que elaborar um plano estratégico é um processo exaustivo que, após feito, torna-se difícil de sofrer alterações, mesmo que ocorram relevantes mudanças ambientais durante o ano. No Poder Judiciário de Santa Catarina criou-se uma ferramenta para monitoramento, conforme dito na parte histórica, um sistema específico que cadastra projetos com informações armazenadas em banco de dados, que permite conhecer o andamento e histórico de projetos, para facilitar o gerenciamento, mas é salutar um olhar prático, verdadeiro dos resultados que mostram o sistema. Ainda, pontos de relevância no processo de implementação devem ter sua devida atenção, como o caso da boa comunicação para que todos possam saber o que deve ser feito. Isso também contribui 30 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira para quebrar resistências a mudanças, tornando possível concretizar os objetivos. Pois, para alterar valores e comportamentos na organização, sempre se encontram fortes resistências de grupos internos que não estão preparados para romper formas existentes ante às mudanças que surgem com a implementação. A fase de implementação do planejamento pede medidas estruturais, formas sólidas que dão segurança no processo, tranquilidade no desenvolvimento e implementação das ações almejadas, para encontrar um bom posicionamento futuro da organização. Coloca-se corroborando: Para implementar algo é preciso ter foco – O foco estratégico é “concebido” por alguém e disseminado e executado na organização por uma equipe comprometida e ligada a um lider no processo, apresentando a intenção estratégica da organização. Assim, a estratégia também significa escolha. Essa escolha implica e uma direção e, consequentemente, em um rumo. Esse rumo implica aposta, ou seja, um risco a ser assumido pela organização como um todo para alcançar a recompensa desejada. (ANGELONI; MUSSI, 2008, p. 53). A ferramenta Balanced Scorecard implementada no Poder Judiciário de Santa Catarina é a que traz apoio na implementação do planejamento estratégico e avaliação da estratégia. Pois, necessita ser implementada através de um sistema de gestão estratégica que poderá estabelecer a integração dos processos impulsionadores com o desempenho, criando uma relação entre os resultados operacionais e os resultados sociais. Também, esses resultados devem ser identificados através de indicadores que mostram e marcam os esforços dos envolvidos. O BSC é um importante instrumento de alinhamento entre processos e estratégia, quando associa os fatores de desempenho com O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 31 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação medições de resultado, tendo com isso a oportunidade de utilizar o comprometimento de pessoas nos diversos níveis da organização. Ainda, o BSC, como sistema gerencial implementado no Poder Judiciário de Santa Catarina, serve como mecanismo de integração interna, quando mobiliza colaboradores de variados setores para encontrarem fatos críticos. E daí surgem indicadores que mostraram ações que estão alinhadas ou desalinhadas da direção. Encontra-se a importância das experiências obtidas com a implementação do BSC, acompanhando o desenvolvimento de novos conceitos e tecnologias, usando adequadamente novos métodos, para obtenção de resultados. Conhecido que na maioria das vezes as estratégias encontram dificuldades no processo de implementação, é sempre bom encontrar parcerias com membros da organização e, ainda, gerenciar iniciativas de mudanças que alinharão a organização com a estratégia, de forma a obter comprometimentos e estimular o aprendizado. De forma explicativa, obtêm-se: o planejamento estratégico corresponde ao estabelecimento de um conjunto de providências a serem tomadas pelo executivo para situação em que o futuro tende a ser diferente do passado; entretanto, a empresa tem condições e meios de agir sobre as variáveis e fatores de modo que possa exercer alguma influência; o planejamento é, ainda, um processo contínuo, um exercício mental que é executado pela empresa independentemente de vontade específica de seus executivos” (OLIVEIRA, 2010, p. 42). Exige-se cada vez mais dos gestores a compreensão de que a organização está em meio ao ambiente de incertezas, mudanças e complexidade; isso faz com que desperte o grau de flexibilidade para alcançarem seus propósitos. Fica inviável apenas ter a declaração de missão e valores se não estão voltados para a concretização desta declaração; por isso a ges32 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira tão estratégica cumpre com o papel de avaliar os indicadores para mostrar a realidades dos planos. Ao longo do desenvolvimento do artigo, constata-se que o planejamento estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina para alcançar o efeito almejado necessita do apoio e comprometimento de todo o corpo funcional da instituição, por ocasião da implementação das diversas ações estratégicas dele decorrentes. Neste contexto, o alinhamento é visto como uma etapa de processo e trabalho contínuo, assim como a gestão estratégica, que com seu planejamento estratégico poderá se tornar cada vez mais um processo de aperfeiçoamento para seus rumos. 5Conclusões Este estudo encontrou que o planejamento estratégico é uma grande ferramenta de auxílio à administração, já que permite direcionar ações gerenciais da empresa com um plano previamente estipulado de metas e estratégias, reduzindo, com isso, a possibilidade de tomada de decisões errôneas. O Planejamento Estratégico é um documento extremamente dinâmico na prática da gestão, que contém decisões antes do tempo sobre a linha de atuação que será seguida pela organização para o cumprimento de sua missão. Cabe lembrar que atualmente se utilizam diversas estratégias para gerir a organização, e que há tempos se tinha uma ou duas estratégias, mostrando a complexidade maior e a necessidade da flexibilidade. A utilização da administração estratégica faz com que haja uma compreensão clara do que a instituição realmente é e do que ela representa para a sociedade; faz com que tenha os meios para realização do trabalho que lhe corresponde. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 33 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação Também toda a administração estratégica, com seu planejamento permite cada vez mais uma clara visão, onde se possa canalizar ideais, ordenando as prioridades. O planejamento requer a sábia interpretação entre presente e futuro, pois o bom desempenho de hoje depende de decisões tomadas no passado, e assim as decisões que tomam-se hoje fazem as oportunidades do futuro. O Balanced Scorecard é ferramenta de utilidade para a gestão, pois serve para identificar, monitorar e integrar formas, e aprimorar o desempenho organizacional, onde tem-se a oportunidade de alinhar ações internas para a implementação propícia das estratégias. Ainda, o BSC na organização apresenta ser um veículo facilitador para implantação do planejamento estratégico, em decorrência da capacidade de efetivação de alinhamento através das mensurações que podem ser realizadas. A cultura da organização é indispensável para que o planejamento estratégico funcione devidamente, contando com uma estrutura organizacional lógica e procedimentos com efeito para os resultados. Também, ficou evidente que um dos propósitos do planejamento estratégico é encontrar as formas do momento que possam ser utilizadas para aumentar as oportunidades de alcançar objetivos e metas, ou seja, aumentar as chances de ter as melhores decisões hoje, para refletir positivamente no desenvolvimento do amanhã. Foram citados alguns autores importantes para melhor entendimento e ilustração sobre a gestão estratégica, que em muito puderam contribuir para a reflexão, e que estão diretamente relacionados ao processo de Planejamento Estratégico. Desta forma, percebe-se a importância do estudo, cada vez maior sobre o tema planejamento estratégico, no que se refere às características metodológicas, aos detalhes relacionados com processos de implantação e gerenciamento na organização. 34 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Cleide Brandt e Mauricio Fernandes Pereira Claramente se constata que o planejamento estratégico na prática tem sua importância para a sobrevivência da organização, pois proporciona uma responsabilidade maior para a construção de um direcionamento para a visão almejada. Referências ANGELONI, M. T.; MUSSI, C. C. Estratégias, Formulação, Implementação e Avaliação. São Paulo: Saraiva, 2008. ANSOFF, H. Igor. Do planejamento estratégico à administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1990. ANSOFF, H. Igor. Implantando a administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1993. DEREK, Abell F. Duplo planejamento. HSM Management, São Paulo, n. 16, p.106-114, set./out. 1999. FLEURY, A.; FLEURY, Maria Teresa Leme. Estratégias Empresariais e Formação de Competências. São Paulo: Atlas, 2000. JULIO, Carlos Alberto. A arte da Estratégia. São Paulo: Campus, 2005. MATOS, F. G.; CHIAVENATO, I. Visão e ação estratégica. São Paulo: Makron Books, 1999. OHMAE, Kenichi. O estrategista em ação: A arte japonesa de negociar. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1985. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento Estratégico: Conceitos Metodologia Praticas. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2002. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 35 Histórico do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina e Considerações do Processo de Implantação OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Planejamento Estratégico. São Paulo: Atlas, 2010. PASCALE, R. T., ATHOS, A. G. As artes gerenciais japonesas: métodos e sistemas dos executivos japoneses, adaptados a realidade ocidental. Rio de Janeiro: Record, 1982. PEREIRA, Maurício Fernandes. Planejamento Estratégico. São Paulo: Atlas, 2010. SALIM, Cesar Simões. Construindo Planos de Empreendimentos. Rio de Janeiro: Campus, 2010. SCHWARTZ, Peter. A arte da visão de longo prazo. São Paulo: Best Seller, 2004. TACHIZAWA, Takeshy; RESENDE, Wilson. Estratégia empresarial: tendências e desafios. São Paulo: Makron Books, 2000. VASCONCELLOS, Paulo. Planejamento estratégico. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1979. 36 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas Marcos Batista Lopez Dalmau 1Introdução A era da globalização com a divulgação de informações em tempo real e a abertura de novos mercados impôs às organizações a busca pela competitividade como forma de sobrevivência. Nesse cenário o enfoque dado às pessoas passou de mera força de trabalho para capital humano. Surge a percepção do fator humano como força propulsora do desempenho e do sucesso das organizações. As organizações passaram a observar que a incorporação de novas tecnologias não era sinônimo de sucesso, o qual estaria também atrelado à forma como as pessoas desempenham seu trabalho (PONTES, 2010, p. 18). Surge então a necessidade de verificar se as pessoas de fato estão contribuindo para o alcance dos resultados almejados pelas organizações, se estão agregando valor ao produto final, se estão trabalhando para o desenvolvimento e a manutenção da competitividade organizacional e para tal torna-se indispensável o desenvolvimento de uma metodologia para avaliar o desempenho destas (PONTES, 2010, p. 19). Nesse aspecto, Pontes (2010, p. 20) destaca que a área de Recursos Humanos assumiu um papel mais amplo dentro das organi- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 37 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina zações, tornando-se estratégica, pois, “sem as pessoas com talento, a tecnologia, por mais inovadora, simplesmente não funciona”. O sucesso de uma organização apoia-se necessariamente na competência, na capacidade de inovação e no bom desempenho de sua força de trabalho; por conseguinte, são as pessoas que propiciam as mudanças que mantêm a organização em ritmo evolutivo (LUCENA, 1992, p. 14). Nesse contexto em que as pessoas são reconhecidas como força propulsora do desempenho e do sucesso de uma organização a avaliação de desempenho apresenta-se como importante ferramenta na condução da gestão do desempenho. O Poder Judiciário de Santa Catarina é uma organização que conta com cerca de quatro mil servidores. sendo que aproximadamente mil estão lotados no Tribunal de Justiça – sede do Poder Judiciário, além de sessenta desembargadores e trinta juízes de direito de segundo grau. Estruturalmente o Tribunal de Justiça – sede do Poder Judiciário – está dividido em duas grandes diretorias, vinculadas à Presidência: Diretoria-Geral Judiciária e Diretoria-Geral Administrativa, as quais, por sua vez subdividem-se em outras nove diretorias: de Engenharia e Arquitetura, de Infraestrutura, de Material e Patrimônio, de Orçamento e Finanças, de Recursos Humanos, de Saúde e de Tecnologia da Informação, estas ligadas à Diretoria-Geral Administrativa, bem como as diretorias de: Cadastro e Distribuição Processual, de Documentação e Informações e de Recursos e Incidentes. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina, desde o ano dois mil, conta com uma política de planejamento. Após uma etapa de sensibilização da alta cúpula e dos servidores, foram determinadas a visão e a missão do Poder Judiciário e a partir daí elaborado um planejamento estratégico. Planos de ação foram elaborados para cada área, os quais foram classificados dentro de programas que se caracterizam por grandes linhas de ação voltadas a objetivos comuns do Judiciário. Dentre esses programas que integram as macroatividades do Tribu- 38 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau nal de Justiça está o programa de valorização dos talentos humanos. Uma das perspectivas do planejamento estratégico é o aprendizado e crescimento e sob esta perspectiva um dos objetivos estratégicos da instituição é desenvolver permanentemente conhecimentos, habilidades e atitudes, bem como motivar e comprometer magistrados e servidores com a execução da estratégia do Tribunal de Justiça. Nesse âmbito da gestão de pessoas a avaliação de desempenho, como instrumento cujos objetivos fundamentais são aferir o potencial de cada pessoa para poder determinar sua plena aplicação; perceber e viabilizar uso do potencial das pessoas como importante vantagem competitiva da organização; e oferecer oportunidades de crescimento e condições de participação efetiva de todos os colaboradores na consecução dos projetos da organização, tendo em vista, de um lado, os objetivos organizacionais e, de outro, os objetivos individuais (CHIAVENATO, 2010, p. 122-123), pode ser utilizada como ferramenta de apoio à gestão. Dessa forma questiona-se como funciona a avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina e se esta tem sido utilizada como ferramenta de apoio à gestão. A análise do desenvolvimento do processo de Avaliação de Desempenho permitirá verificar se esta ferramenta está sendo adequadamente aproveitada como instrumento de apoio à gestão do Tribunal de Justiça ou se está sendo utilizada como instrumento de avaliação de pessoas isolado dos objetivos estratégicos. 2 Fundamentação teórica 2.1 Avaliação de desempenho – conceitos Independentemente de a organização possuir ou não um sistema formal de avaliação de desempenho, a contratação, demissão, remanejamento, promoção, treinamento de pessoas ocorre rotineiramente em seu dia a dia e em todas essas ações é feita uma avaliação, O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 39 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina um julgamento que as fundamenta. Então porque não formalizar e balizar essa avaliação? Chiavenato (1999, p. 323) afirma que “toda avaliação é um processo para estimular ou julgar o valor, a excelência, as qualidades de alguma pessoa.” A avaliação do desempenho seria uma apreciação ordenada do desempenho de uma pessoa no cargo e do seu potencial de desenvolvimento. Segundo Bergamini e Beraldo (1988, p. 34), a avaliação de desempenho representa o veículo da estimativa de aproveitamento do potencial humano de toda a organização. Administrar um negócio implica gerir o desempenho. A adoção de um programa de avaliação de desempenho possibilitará a sistematização da gestão do desempenho mediante o uso de uma ferramenta gerencial ou de um processo mais bem estruturado (LUCENA, 1992, p. 19). Alguns dos principais benefícios que a avaliação de desempenho pode proporcionar são: permitir condições de medição do potencial humano no sentido de determinar sua plena aplicação; permitir o tratamento dos recursos humanos como importante vantagem competitiva da organização e cuja produtividade pode ser desenvolvida, dependendo, obviamente, da forma de administração; fornecer oportunidades de crescimento e condições de efetiva participação a todos os membros da organização, tendo em vista, de um lado, os objetivos organizacionais e, de outro, os objetivos individuais. (CHIAVENATO, 2010, p. 124). A avaliação de desempenho pode propiciar vantagens ao avaliado que tem a oportunidade de conhecer seus pontos fortes e fracos de acordo com a sua avaliação, saber o que a organização espera de seu desempenho, dentre outros, bem como, pode trazer benefícios à organização, que poderá avaliar o potencial de seus colaborado- 40 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau res, identificar as necessidades de aperfeiçoamento, enfim, estimular a produtividade e a consecução de seus objetivos (CHIAVENATO, 2010, p. 124). A finalidade da avaliação de desempenho é acompanhar e servir de base para estruturar o desenvolvimento das pessoas dentro da organização, frente aos objetivos propostos e resultados almejados, trazendo benefícios tanto para a organização quanto para as pessoas (PONTES, 1986, p.13). 2.2 Etapas da avaliação de desempenho Em que pesem as variadas formas abordadas pelos autores sobre as etapas de implantação de um programa de avaliação de desempenho, o assunto será abordado com base em seis etapas. 2.2.1Sensibilização Antes de se implantar um programa de avaliação de desempenho é preciso introduzir na organização a cultura da avaliação (LUCENA, 1992, p. 22-233). A rejeição a processos de avaliação é algo culturalmente introduzido nas pessoas desde os bancos escolares onde o indivíduo com menos conhecimento é reprovado (LEANDRO, 2009, p. 15). Muitas organizações ainda utilizam o sistema de avaliação de desempenho “com o objetivo de saber o que o indivíduo não sabe e não qual a potencialidade dele para melhor aproveitamento de seu desempenho”, o que acaba provocando nas pessoas uma rejeição natural à avaliação de desempenho, as quais veem um resultado negativo como sinônimo de perda do posto de trabalho (LEANDRO, 2009, p. 16-17). A falta de conhecimento sobre o programa de avaliação de desempenho, seus objetivos, seu significado, os resultados esperados pode causar algumas reações negativas resultando em resistências e até mesmo na rejeição ao programa (LUCENA, 1992, p. 65). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 41 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina A promoção de reuniões e debates sobre o tema é uma das formas de se introduzir a sensibilização quanto ao programa não olvidando que a postura da Alta Administração é imprescindível “para legitimar e influenciar a decisão e predisposição das pessoas envolvidas” (LUCENA, 1992, p. 67). 2.2.2 Negociação do desempenho A negociação do desempenho visa o estabelecimento prévio do que deve ser avaliado. O que deve ser avaliado na avaliação de desempenho são os resultados alcançados de acordo com os parâmetros de padrões de desempenho negociados e definidos antecipadamente (LUCENA, 1992, p. 19). Lucena (1992, p. 19) afirma que “definir os resultados ou o desempenho esperado de cada empregado significa especificar as atribuições, metas, projetos, atividades, tarefas que compõem o seu campo de responsabilidade profissional.” Os objetivos, as metas a serem alcançadas, devem ser negociados entre o avaliado e a sua chefia, estabelecendo-se os padrões esperados de forma consensual e não imposta (CHIAVENATO, 1999, p. 325). Nesse aspecto Sachs (1995, p. 7) ressalta que “quando as metas são estabelecidas sem a contribuição do funcionário, a motivação para a sua realização é muito menor”. A definição inadequada dos objetivos pode frustrar o sucesso do programa de avaliação de desempenho. Não raro, os objetivos da avaliação de desempenho estão atrelados a ajustes de comportamentos e à promoção por mérito em detrimento do objetivo principal que deveria ser o de indicar ações para diversos processos de gestão dos Recursos Humanos (LUCENA, 1992, p. 40). 42 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau Leandro (2009, p. 19) afirma que a avaliação de desempenho é utilizada basicamente como instrumento-base para as práticas salariais e disciplinares e ressalta que: Somente a partir de uma total transparência dos objetivos da Avaliação de Desempenho e da participação direta do colaborador no processo (não apenas como avaliado, mas também como construtor da avaliação), uma organização poderá alcançar resultados quantitativos e benéficos ao seu desenvolvimento. Os objetivos da avaliação devem expressar com clareza sua importância para a empresa, a sua utilização como ferramenta gerencial e indicar “as responsabilidades da Área de Recursos Humanos, como prestadora de serviços às gerências quanto às ações de sua competência, que deverão acontecer no momento em que se façam necessárias” (LUCENA, 1992, p. 40-41). 2.2.3 Análise da capacitação profissional Quanto à análise da capacitação profissional, esta está diretamente ligada à negociação do desempenho. A identificação da capacitação profissional é necessária para definir os limites dos padrões de desempenho a serem alcançados, pois não seria sensato exigir do avaliado algo para o qual ele não esteja habilitado. A análise da qualificação profissional propicia o dimensionamento da competência exigida de acordo com o negócio da organização e o tipo de contribuição esperada de cada cargo. Mediante essa análise busca-se conhecer o nível de competência ou capacitação profissional adequada para gerar o desempenho esperado. As qualificações profissionais são, portanto, condições para o desempenho (LUCENA, 1992, p. 21). A organização precisa rever de forma permanente suas estruturas e os conteúdos dos cargos para manter sua competitividade em O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 43 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina face das mudanças tecnológicas e das estratégias introduzidas pelos competidores, o que acarreta a necessidade de revisão das exigências de qualificação e de competência profissional, as quais também passam por mudanças que por vezes requerem atualização, reciclagem e mesmo aprendizagem de novos conhecimentos (LUCENA, 1992, p. 30). Portanto, a análise da capacitação profissional dentro do processo de avaliação de desempenho é fundamental e deve ser voltada para os seguintes aspectos: reconhecimento e fortalecimento das qualidades do colaborador; discussão com o colaborador de suas dificuldades e das áreas nas quais este deve melhorar; verificação da necessidade de novos conhecimentos ou habilidades para a execução de alguma tarefa; planejamento de um programa de autodesenvolvimento; provimento dos meios para esse desenvolvimento e negociação das metas de acordo com as possibilidades do colaborador (LUCENA, 1992, p. 30). Os instrumentos mais indicados para subsidiar essa análise são a descrição do cargo e o perfil profissional, ou especificação do cargo (LUCENA, 1992, p. 30). Sobre a diferença entre descrição do cargo e especificação do cargo trazemos a lição de Chiavenato (1999, p. 301): As descrições de cargos relacionam-se a tarefas, os deveres e as responsabilidades do cargo, enquanto as especificações de cargos se preocupam com os requisitos necessários ao ocupante [...] Geralmente, a descrição do cargo relata impessoalmente o conteúdo do cargo, enquanto as especificações do cargo fornecem a percepção da organização a respeito das qualificações humanas desejáveis para o trabalho, expressas em termos de educação, experiência, iniciativa etc. (grifos do autor). Nesse ponto destaca-se a importância da verificação da capacitação do avaliador dentro de um programa de avaliação de desempenho. 44 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau Lucena assevera que “a maior responsabilidade pelo sucesso de um programa de avaliação de desempenho está na competência dos avaliadores” (LUCENA, 1992, p. 25) Um programa de avaliação de desempenho não se restringe ao preenchimento de um formulário de avaliação. A postura gerencial é fundamental. “Os estilos gerenciais predominantes na organização e seus efeitos na administração do trabalho e das pessoas devem ser diagnosticados em profundidade” (LUCENA, 1992, p. 25). Além da análise do perfil dos avaliadores é de suma importância investir na adequada capacitação do avaliador que, em regra, restringe-se a um programa de treinamento para preenchimento dos formulários de avaliação, programa este por vezes adstrito a manuais que ensinam como avaliar é um erro que pode custar o sucesso do processo de avaliação de desempenho (LUCENA, 1992, p. 43). 2.2.4 Acompanhamento do desempenho O acompanhamento do desempenho é fundamental na continuidade do processo de avaliação. O acompanhamento sistemático do desempenho possibilita a condução eficaz do desempenho do colaborador para resultados positivos (LUCENA, 1992, p. 20). O acompanhamento acarreta, ainda, uma aproximação maior entre avaliador e avaliado, melhorando a comunicação no que tange a receber e dar feedbacks e ajustar as prioridades na definição das tarefas. E, ainda, permite ao avaliador verificar se o avaliado está trabalhando na direção dos resultados esperados bem como antecipar-se nas ações necessárias caso o desempenho não esteja alcançando os objetivos negociados (LUCENA, 1992, p. 20). É preciso que a organização, na pessoa do avaliador, mantenha constante diálogo com o avaliado no que tange aos objetivos e metas estabelecidos anteriormente a fim de verificar se os mesmos estão sendo alcançados e quais os obstáculos que possam ter surgido e dificultado o seu alcance (LUCENA, 1992, p. 31). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 45 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina O empregado deve sentir que o objetivo da organização com a avaliação de desempenho não é puni-lo caso as metas não sejam atingidas e sim ajudá-lo a manter o desempenho negociado; isso o fará sentir-se confiante (LUCENA, 1992, p. 31). Lucena (1992, p. 32) destaca que a fase do acompanhamento é a mais extensa na avaliação de desempenho. 2.2.5 Avaliação do desempenho A avaliação do desempenho encerra o processo de avaliação. Se durante o processo de avaliação foi cumprida a fase de acompanhamento do desempenho, com a discussão contínua dos problemas encontrados e reanálise das metas e objetivos propostos com o avaliado, este estará devidamente consciente dos resultados de sua avaliação (LUCENA, 1992, p. 32). A principal característica dessa fase “é possibilitar o confronto entre resultados alcançados e metas estabelecidas” (LUCENA, 1992, p. 32). A ausência de um feedback com um retorno dos resultados pode influir no sucesso do processo de avaliação de desempenho. Quando a leitura dos resultados da avaliação de desempenho não é feita de forma contínua, ao longo do processo, de modo a possibilitar os ajustes necessários ao alcance do desempenho negociado, os resultados tendem a ser tabulados como mero banco de informações que subsidiam políticas de promoção salarial. O não atendimento das recomendações dos avaliadores e a ausência de ações corretivas de eventuais desvios observados ao longo do processo desmerecem a credibilidade do processo de avaliação. A previsão de medidas de desdobramentos após a participação dos colaboradores no programa é fundamental. “A ausência destes desdobramentos costuma causar frustrações aos participantes, principalmente, pelas expectativas geradas por intermédio do próprio processo” (LEANDRO, 2009, p. 18). 46 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau Ainda, se o desempenho deve ser modificado o interessado, que é o avaliado, deve tomar conhecimento da mudança planejada e ficar ciente de por que e como esta ocorrerá; ele “deve receber a retroação adequada e reduzir dissonâncias a respeito de sua atuação na organização” (CHIAVENATO, 1998, p. 329). 2.2.6Comprometimento Se o empregado participou de forma ativa de todas as outras etapas ele estará inteirado do fechamento de sua avaliação tendo como resultado a aceitação da avaliação de desempenho e o consequente comprometimento com esse novo instrumento (LUCENA, 1992, p. 33). Convém destacar que o comprometimento da alta administração também é fundamental para o sucesso de um programa de avaliação de desempenho. Uma situação comumente verificada nas organizações é o baixo nível de envolvimento da alta administração nas questões relativas às pessoas, pois, em regra, esta não vê com clareza o papel da força de trabalho no sucesso do negócio (GIL, 1994, p. 85). Nesse aspecto, outro erro comum é a exclusão dos colabores diretos da alta administração desse processo de avaliação, o que propicia a evolução de uma cadeia de descomprometimento de cima para baixo (LUCENA, 1992, p. 41). Leandro (2009, p. 20) assevera que a implantação de um programa que não tenha o apoio e a adesão da alta cúpula acabará sendo vista com descrédito pelos colaboradores. 3Metodologia O estudo em questão caracteriza-se por uma abordagem qualitativa e descritiva em que se buscou descrever como funciona a avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 47 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina A pesquisa foi desenvolvida mediante pesquisa de campo efetuada no âmbito da Diretoria de Recursos Humanos do Tribunal de Justiça e nas Secretarias do Tribunal Pleno e Órgão Especial, bem como mediante análise de documentos da organização referentes à avaliação de desempenho, e pesquisa bibliográfica em livros publicados a respeito do tema. A pesquisa de campo desenvolvida na Diretoria de Recursos Humanos do Tribunal de Justiça de Santa Catarina restringiu-se especificamente na Seção de Progressão Funcional, à qual compete o controle, acompanhamento e análise do processo de avaliação de desempenho. A coleta de dados foi realizada mediante entrevista com o Chefe da Seção de Progressão Funcional e nas Secretarias do Tribunal Pleno e do Órgão Especial mediante entrevista do avaliador e dos avaliados. A análise dos dados foi feita com base nos manuais da organização que tratam do tema e no conteúdo coletado nas entrevistas. A pesquisa caracterizou-se por estudos transversais em que se buscou descrever a avaliação de desempenho na forma como ocorre hoje no Tribunal de Justiça de Santa Catarina e foi limitada à constatação teórica de como ocorre o processo de avaliação de desempenho. Para tanto foram utilizados dados documentais que descrevem ou trazem informações sobre a avaliação de desempenho, bem como dados coletados mediante entrevistas que descrevem a percepção dos entrevistados sobre o modo como a avaliação é desenvolvida. O estudo limitou-se a analisar como se desenvolve a avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina tendo como universo de pesquisa de campo as Secretarias do Tribunal Pleno e Órgão Especial. 48 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau 4Avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina A avaliação de desempenho no setor público foi introduzida pela Emenda Constitucional n. 19, de 4 de junho de 1998. Referida emenda estabeleceu como condição de perda do cargo para o servidor público estável a insatisfatória avaliação periódica de desempenho, bem como condicionou a aquisição da estabilidade, ao término do estágio probatório, à satisfatória avaliação de desempenho durante aquele período. Vejamos: §1º O Servidor público estável só perderá o cargo: [...] III – mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. [...] §4º Como condição da aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para essa finalidade. No serviço público brasileiro, em regra, a avaliação de desempenho está desvinculada das atividades da área de recursos humanos (GRILLO, 1983, p. 79). A avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina nos moldes em que é aplicada atualmente foi determinada com base nos regramentos contidos na Lei Complementar n. 90/93 – Institui o plano de carreira, cargos e vencimentos do pessoal do Poder Judiciário – e na Resolução n. 11/01-GP – Regulamenta a progressão funcional dos servidores do Poder Judiciário de Santa Catarina. A avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça se propõe a gerir o desempenho na busca da motivação, da qualidade, da pro- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 49 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina dutividade e de resultados positivos de trabalho, trazendo benefícios tanto para a instituição quanto para os servidores. Os manuais de avaliação trazem como objetivos da avaliação de desempenho: valorizar e reconhecer o servidor que faz um trabalho bem feito, permitir o desenvolvimento do servidor em sua carreira, identificar as necessidades de capacitação; possibilitar a cooperação entre servidores e chefias; identificar os servidores que não estão adaptados em determinada área, mas que podem melhorar o desempenho em outra área, contribuir para o crescimento profissional e o desenvolvimento de novas habilidades; reconhecer o bom desempenho do servidor, através da promoção por desempenho. A periodicidade da avaliação é semestral – de junho a novembro e de dezembro a maio – e os avaliadores têm o prazo de dez dias para encaminharem à Seção de Progressão Funcional os formulários de avaliação preenchidos. O período de avaliação foi definido em lei e os manuais procedimentais não trazem a justificativa da escolha do período. É muito delicado avaliar dentro de um período com data específica para entrega dos formulários, pois, dentre as inúmeras atribuições de quem avalia há o preenchimento do formulário, que tende a se tornar meramente burocrático vindo a ocorrer o dito “dia nacional da avaliação”, situação em que o processo de avaliação não é efetivado de forma contínua e sim mediante uma periodicidade regular em que os formulários de desempenho são preenchidos e devolvidos de forma burocrática em um ritual quase sempre condicionado pelos acontecimentos recentes onde o histórico de desempenho do indivíduo no período que antecedeu a avaliação não é considerado (LUCENA, 1992, p. 39-40). São submetidos à avaliação os servidores efetivos que tenham pelo menos noventa dias de efetivo exercício no semestre. O servidor ocupante de cargo em comissão ou no exercício de outras atribuições mediante designação remunerada é dispensado da avaliação. 50 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau Nesse ponto observa-se que os colaboradores diretos da alta administração (cargos de chefia e assessoramento) são excluídos da avaliação, o que pode gerar a cadeia de descomprometimento de cima para baixo, apontada por Lucena (1992, p. 41) como um dos obstáculos ao sucesso do programa de avaliação de desempenho. A avaliação do servidor é feita pelo seu superior hierárquico e também aquele sobreposto hierarquicamente a este, quando houver, mediante procedimento único. Não havendo concordância quanto à avaliação é feita uma média das notas atribuídas por um e outro. A solução aplicada na ocorrência de discordância entre os avaliadores reduz a avaliação de desempenho a mero critério matemático, o que também pode gerar tanto por parte de quem avalia quanto por parte de quem é avaliado um certo descrédito e não comprometimento com a avaliação. São tomadas providências quanto ao resultado da avaliação de desempenho apenas quando o servidor obtém desempenho insuficiente (conceitos 1, 2 ou 3), hipótese em que a Seção de Progressão Funcional, juntamente com avaliador e avaliado, definirá quais as providências cabíveis, ou desempenho ruim ou regular (conceito de 4 a 7), situação em que a Seção de Psicossocial Organizacional, juntamente com o avaliado, fará a análise de que medidas serão necessárias adotar para a melhoria do seu desempenho, como o encaminhamento do servidor para participação em treinamentos, relotação ou mesmo encaminhamento para tratamento médico ou psicológico. A discussão conjunta com avaliador e avaliado em caso de desempenho insuficiente parece adequada. Afinal o avaliado deve participar das soluções e medidas que mais se adequem à melhora de seu desempenho, pois, de acordo com os objetivos dispostos nos manuais de procedimento a avaliação não visa punir aquele que teve mal desempenho e sim encontrar uma forma de desenvolver melhor os potenciais do avaliado. Entretanto, na prática, de acordo os entrevistados, isso não ocorre, pois nem avaliador nem avaliado recebem um retorno da O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 51 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina avaliação. O retorno só ocorre se a nota aplicada foi abaixo da média regular ou se o avaliado questionou burocraticamente a avaliação. De outro modo, no caso de desempenho ruim ou regular a discussão deveria ser realizada também em conjunto com o avaliador e não somente com o avaliado. Ainda, as avaliações consideradas boas também deveriam ser discutidas com avaliador e avaliado. Quem é bom não é ótimo, e é importante verificar o que falta para que a excelência seja alcançada. A discordância da avaliação realizada pelo avaliado deverá ser efetuada mediante preenchimento de formulário específico disponível em banco de dados da intranet. Segundo o avaliado entrevistado, o conhecimento quanto à avaliação que lhe foi feita ocorre somente na hora em que ele assina o formulário de avaliação e, segundo os manuais de orientação, nessa oportunidade o avaliado pode discordar por escrito no próprio formulário ou anexando algum documento. Ou seja, o processo de avaliação foi excessivamente burocratizado distanciando avaliador e avaliado e fugindo ao fim proposto nos manuais, que é de melhorar o desempenho do servidor. Dessa forma, o feedback da avaliação para o avaliado consiste em tomar conhecimento da nota na hora em que assina o formulário. E para o avaliador o retorno ocorre apenas em caso de uma avaliação ruim ou se o avaliado discordar formalmente da avaliação. O retorno das avaliações é fundamental para que avaliador e avaliado percebam a importância da avaliação para a organização e assim sintam-se compromissados com o programa. O Tribunal de Justiça não conta com um programa de treinamento, sensibilização e orientação sobre a avaliação de desempenho; as orientações estão contidas em um banco de dados na intranet em que é possível acessar os manuais de procedimento, do avaliador e do avaliado, os quais trazem de forma didática uma explanação geral sobre prazos, formas de preenchimento, recursos possíveis e medidas cabíveis. 52 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau Destaca-se que o avaliado entrevistado sequer tinha conhecimento da existência desses manuais. Nesse ponto ressalta-se que os programas de treinamento de novos servidores são muito recentes no Tribunal de Justiça estando em fase de implantação em todos os segmentos de cargos, o que significa que a grande maioria dos servidores não foi treinada quando ingressou no Poder Judiciário e não possui o conhecimento de todos os arquivos disponíveis em bancos de dados. A divulgação acaba ocorrendo pelo aprendizado difundido entre colegas no dia a dia. Ademais, os programas de treinamento não abrangem a capacitação para a avaliação de desempenho. A sensibilização no sentido de difundir o conhecimento sobre o programa de avaliação de desempenho é fundamental para o sucesso do programa. Avaliador e avaliado precisam conhecer como funciona um programa de avaliação de desempenho e qual a sua importância para a organização. Somente assim pode-se desenvolver o comprometimento dos participantes. Os critérios de avaliação são definidos por cargo e para tal o quadro geral de servidores foi dividido em quatros grupos assim compostos: a) grupo 1: agente administrativo auxiliar, agente de material e patrimônio, agente de portaria, agente de portaria e comunicação, analista de sistemas, analista de suporte, arquiteto, arte finalista, assistente social, auxiliar de serviços gráficos, bibliotecário, comissário de infância e juventude, contador, desenhista, economista, eletrotécnica, enfermeiro, engenheiro eletricista, enfermeiro, historiador, impressor, médico, odontólogo, oficial da infância e juventude, oficial de justiça, oficial de justiça avaliador, operador de computador, protético, psicólogo, revisor, técnico em enfermagem, técnico em manutenção de computadores, técnico judiciário, técnico judiciário auxiliar e telefonista; b) grupo 2: analista administrativo e analista jurídico; O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 53 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina c) grupo 3: agente de apoio administrativo, agente de cozinha e limpeza, agente de serviços gerais, carpinteiro, eletricista, encanador, fotolitógrafo, garçon, jardineiro, pedreiro e pintor; d) grupo 4: agente operacional de serviços diversos. Os critérios considerados são: a)eficácia – volume de tarefas que o servidor consegue cumprir a cada dia de trabalho; b)cooperação – trabalhos realizados pelo servidor em conjunto com os colegas, com respeito, participação ativa e espírito de equipe; c) conhecimento do trabalho – nível de conhecimento do servidor quanto aos trabalhos desenvolvidos em seu setor; d)disciplina – disposição do servidor em realizar prontamente as tarefas solicitadas e a forma como recebe e cumpre as determinações que convêm ao funcionamento regular da instituição; e)iniciativa – se o servidor apresenta sugestões e ideias para melhorar o trabalho e resolver problemas; f) interesse em autodesenvolver-se – interesse do servidor em adquirir novos conhecimentos que sejam utilizados no seu trabalho; g)liderança – capacidade de coordenar e motivar o grupo na execução de suas tarefas, com respeito às diferenças individuais; h)interesse pelo trabalho – se o servidor desempenha com afinco suas atividades; i) organização – a forma como o servidor organiza seu posto de trabalho e planeja a execução de suas tarefas; j) comunicação – clareza e pertinência do servidor na comunicação verbal e escrita; k)qualidade do trabalho – se o servidor executa suas tarefas com capricho e atenção, evitando erros; 54 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau l) responsabilidade – se o servidor assume a responsabilidade pelos seus atos e cumpre suas obrigações e prazos; m)controle emocional – análise do comportamento do servidor, considerando o seu equilíbrio emocional, autocontrole e a prudência com que este enfrenta situações pessoais ou profissionais que influenciem na execução do trabalho; n)ética profissional – se o servidor atua de acordo com os princípios éticos, cumpre as normas preestabelecidas e cuida do sigilo das informações. Não obstante a divisão em grupos, os critérios constantes dos formulários são idênticos. O que difere um formulário do outro é a exclusão de alguns critérios conforme o grupo de cargos. Assim sendo, no grupo 2 são considerados todos os critérios exceto o “liderança”. No grupo 2 o critério excluído é o “cooperação”. No grupo 3 o “interesse em autodesenvolver-se” não é utilizado e no grupo 4 não são avaliados a “eficácia” e o “interesse em autodesenvolver-se”. Os critérios estão postos há vários anos e não são revisados. Ao término de cada período de avaliação é necessário verificar se os critérios utilizados estão trazendo as respostas que a instituição busca. Também, de acordo com os entrevistados, não são negociados, estão dispostos e devem ser utilizados. Isso pode gerar descrédito e falta de comprometimento, pois o servidor não participa do processo. Ainda, a avaliação não está atrelada de forma direta às exigências do cargo ou à realidade de trabalho do profissional; os critérios são bastante genéricos. Desta forma, ocorre um distanciamento da avaliação aos fins a que se propõe. Nesse ponto, cabe destacar que o Tribunal de Justiça não tem legalmente documentado as especificações dos cargos. O que tem é apenas a descrição dos cargos que geralmente acaba sendo ampliada pela expressão final “e outras atividades correlatas”. A avaliação é feita com a atribuição de conceitos, que recebem pontuação, a cada um dos critérios. Embora o manual de avaliação O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 55 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina sugira a discussão da avaliação entre os avaliadores e com o avaliado, o mero apontamento de uma pontuação acaba fragilizando o processo de avaliação, na medida em que as atribuições diárias induzem ao simples preenchimento do formulário, por ser mais prático. Avaliador e avaliado entrevistados disseram que não há no processo nem uma discussão da avaliação nem o acompanhamento do desempenho. Segundo os entrevistados, de um modo geral a avaliação de desempenho é vista apenas como procedimento burocrático necessário à progressão funcional por desempenho que traz impacto apenas se não for realizada ou se as notas das avaliações forem ruins ou insuficientes. 4.1 Análise e sugestões Considerando a análise realizada, mostra-se importante realizar um levantamento de como a avaliação é efetivamente vista por avaliadores e avaliados e a partir dos resultados colhidos formular um programa que busque: esclarecer o que é o programa de avaliação de desempenho; sensibilizar avaliadores e avaliados da importância do programa para o Tribunal de Justiça, mostrando de que forma a adesão ao programa com comprometimento das partes pode auxiliar a instituição na consecução de sua missão; capacitar os avaliadores nessa delicada e importante tarefa de avaliar. Uma revisão nos critérios de avaliação, precedida de uma análise adequada das atribuições dos cargos e funções, com a coleta de sugestão dos avaliadores e avaliados também seria salutar à melhora dessa ferramenta e ao aumento do comprometimento das partes com o programa. A avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, uma ferramenta que bem utilizada pode servir de apoio à gestão, tem sido pouco explorada e o que se verifica é a falta de comprometimento das partes com o programa. 56 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau 5 Considerações finais Conforme explanado, a era da globalização e a abertura de novos mercados mudou o perfil das organizações transformando a busca pela competitividade em fator de sobrevivência destas no mercado. As organizações passaram a observar a necessidade de verificar se as pessoas de fato estão contribuindo para o alcance dos resultados almejados, trabalhando para a manutenção da competitividade organizacional, surgindo então a necessidade de se avaliar as pessoas. A avaliação de desempenho emerge como ferramenta de apoio à gestão na medida em que possibilita a aferição do potencial de cada pessoa e o uso deste como importante vantagem competitiva da organização. Dessa forma o presente estudo verificou como funciona a avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina e seu uso dentro da gestão de pessoas. A proposta da avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça é a de gerir o desempenho na busca da motivação, da qualidade, da produtividade e de resultados positivos de trabalho, trazendo benefícios tanto para a instituição quanto para os servidores, tendo como objetivos a valorização e o reconhecimento do servidor, a identificação das necessidades de capacitação, a cooperação entre servidores e chefias, o desenvolvimento de novas habilidades e crescimento profissional. Foi visto que o Tribunal de Justiça não conta com um programa de treinamento, sensibilização e orientação sobre a avaliação de desempenho; as orientações estão contidas em manuais de procedimento, do avaliador e do avaliado. Um dos entrevistados sequer tinha conhecimento da existência desses manuais. A sensibilização no sentido de difundir o conhecimento sobre o programa de avaliação de desempenho é fundamental para o seu sucesso; e esse é um dos pontos a serem revistos pelo Tribunal de Justiça. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 57 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina A periodicidade da avaliação é semestral e são submetidos à avaliação apenas os servidores efetivos que não sejam ocupantes de cargo em comissão ou estejam no exercício de outras atribuições mediante designação remunerada. A ausência de avaliação das chefias deve ser ponderada para que não ocorra uma cadeia de descomprometimento de cima para baixo. A avaliação do servidor feita pelos dois superiores hierárquicos, quando houver, é positiva, pois olhares diversos sob um mesmo enfoque podem resultar numa avaliação mais próxima da realidade. A discussão conjunta da avaliação, entre avaliadores e avaliado, recomendada, seria a adequada. Não obstante foi visto que na prática, de acordo com os entrevistados, isso não ocorre, pois o retorno sobre a avaliação só é feito se a nota aplicada for abaixo da média regular ou se esta for questionada. Um dos entrevistados afirmou que o conhecimento quanto à avaliação que lhe foi feita ocorre somente na hora em que ele assina o formulário de avaliação. O feedback das avaliações é de suma importância para que haja o comprometimento dos servidores com o programa. Foi visto que os critérios de avaliação constantes dos formulários são idênticos para os diversos cargos em que são aplicados, ou seja a avaliação não é direcionada especificamente para a descrição e especificação dos cargos. A atividade exercida por um técnico na área de recursos humanos difere da atividade exercida por um técnico na área da saúde, logo a avaliação de ambos seria mais adequada se fosse realizada de acordo com as especificações do cargo. De um modo geral, segundo os entrevistados, a avaliação de desempenho é vista apenas como procedimento burocrático necessário à progressão funcional por desempenho que traz impacto apenas se não for realizada ou se as notas das avaliações forem ruins ou insuficientes. Foram feitas algumas sugestões para revisão do programa de avaliação de desempenho mediante um levantamento prévio de como a avaliação é efetivamente vista pelos servidores, para imple58 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Karin Tatiana Gianello Schmitz Arêas e Marcos Batista Lopez Dalmau mentar a cultura da avaliação de desempenho com a sensibilização dos servidores e da alta cúpula quanto ao programa, rever critérios de avaliação e efetuar um levantamento das atribuições dos cargos e funções. A avaliação de desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, uma ferramenta que bem utilizada pode servir de apoio à gestão, tem sido pouco explorada; e o que se verifica é a falta de comprometimento das partes com o programa. Referências BERGAMINI, Cecília Whitaker; BERALDO, Deobel Garcia Ramos. Avaliação de desempenho humano na empresa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1988. CHIAVENATO, Idalberto. Administração de Recursos Humanos, Gestão de pessoas. O novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 1999. _______. Iniciação à Administração de Recursos Humanos. 4. ed. Barueri: Manole, 2010. GIL, Antônio Carlos. Administração de Recursos Humanos: Um Enfoque Profissional. São Paulo: Atlas, 1994. GRILLO, Antônio Nicoló. Recursos Humanos: Novos rumos para a administração pública. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. LEANDRO, Ana Maria. Avaliação de Desempenho. Um programa sem medos. Rio de Janeiro: Wak, 2009. LUCENA, M. D. da S. Avaliação de Desempenho. São Paulo: Atlas, 1992. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 59 A Avaliação de Desempenho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina PONTES, B. R. Avaliação de desempenho: uma abordagem sistêmica. 2. ed. São Paulo: LTR, 1986. _______. Avaliação de desempenho: nova abordagem. 7. ed. São Paulo: LTr, 1999. _______. Avaliação de desempenho: Métodos Clássicos e Contemporâneos, Avaliação por Objetivos, Competências e Equipes. 11. ed. São Paulo: LTR, 2010. SACHS, Randi Toler. Como avaliar o desempenho e a produtividade. Tradução de Sônia Siessere. Rio de Janeiro: Campus, 1995. 60 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina Kátia Regina Bêber Dante Marciano Girardi 1Introdução A Administração Pública brasileira passou nessas últimas décadas por transformações significativas em busca da eficiência na prestação de serviços públicos. Essas transformações pretendem tornar o Estado brasileiro eficiente, rápido, flexível e pronto para atender às “novas demandas sociais”, geradas pela abertura dos mercados, globalização e mudanças nas relações sociais. A partir da implantação do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP), em 1990, começou a haver uma mudança na administração pública brasileira, cujo grande propósito foi transformar as organizações públicas, procurando torná-las cada vez mais preocupadas com o cidadão e não apenas com os seus processos burocráticos internos. Paralelamente, com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, Lei n. 8.078/90, a sociedade tornou-se mais exigente e crítica, e passou a cobrar melhor prestação de serviço por parte das empresas públicas ou privadas. A qualidade no serviço público passou a ser vista como uma prioridade absoluta, impulsionando as organizações públicas a buscarem a excelência no atendimento e na prestação dos serviços. Iniciou-se, com isso, um processo permanente de melhoria da qualidade no atendimento prestado ao cidadão, pois, ao estabelecer O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 61 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina e divulgar padrões de qualidade, as organizações se comprometeram com a excelência do atendimento, tornando-o cada vez mais acessível à população. O principal objetivo atualmente é fazer com que a organização pública passe a considerar o cidadão como parte interessada e essencial ao sucesso da gestão pública, visto que a inclusão do princípio da eficiência no serviço público trouxe novas perspectivas com relação ao aumento da qualidade dos serviços prestados, bem como a redução de custos. Nessa perspectiva, o Programa de Qualidade no Serviço Público vem procurando transformar as organizações públicas brasileiras e orientá-las na direção da qualidade na prestação de serviços ao público, retirando o foco dos processos burocráticos, propondo-se a introduzir no Setor Público as mudanças de valores e comportamentos preconizados pela Administração Pública Gerencial, e, ainda, viabilizar a revisão dos processos internos da Administração Pública com vistas à sua maior eficiência e eficácia. Com base no que foi exposto, o objetivo do presente trabalho é incentivar a aplicação de programas de capacitação aos gestores do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), mais especificamente àqueles que exercem a função de Chefe de Cartório, pois é importante para a Instituição que essa função seja desempenhada por pessoas qualificadas e capacitadas para desenvolverem e aplicarem conhecimentos de Liderança, Gerenciamento e Motivação, visando, assim, alcançar a excelência na prestação dos serviços públicos. O artigo está estruturado da seguinte forma: primeiramente faz-se o histórico das organizações públicas e da cultura gerencial, traçando-se um paralelo entre o “novo e o velho”, destacando-se as transformações e inovações ocorridas nas organizações no mundo contemporâneo ante a burocracia arraigada. Posteriormente, destaca-se a importância das pessoas como elementos vivos e impulsionadores da organização. Em seguida, apresenta-se a dinâmica do setor de Recursos Humanos (RH) nas organizações públicas e o empenho para desvincular-se da imagem burocrática, associada à ineficiência. 62 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi Por fim, delineia-se a importância da capacitação e do desenvolvimento das pessoas que fazem parte das organizações, enfatizando-se as importantes questões relacionadas à Motivação e Liderança. 2 As organizações públicas e a cultura gerencial No contexto das organizações públicas, a luta de forças se manifesta entre o “novo e o velho”, isto é, as transformações e inovações das organizações no mundo contemporâneo ante uma dinâmica e uma burocracia arraigadas. As organizações públicas se deparam com a necessidade do novo, tanto em aspectos administrativos quanto em políticos, buscando estratégias capazes de atingir seus objetivos, que consistem em serviços eficientes à sociedade. As organizações buscam atualmente o desenvolvimento de uma cultura gerencial, com ênfase nos resultados, implicando, consequentemente, na prestação de serviços com maior efetividade e eficiência. O novo modelo propõe-se a promover o aumento da qualidade e da eficiência dos serviços oferecidos pelo Poder Público aos seus clientes: os cidadãos. Segundo Castor e José (1998), a história da administração brasileira é uma repetição monótona da luta entre duas forças: de um lado, uma burocracia formalista, ritualista, centralizadora, ineficaz e adversa às tentativas periódicas de modernização do aparelho do Estado, aliada aos interesses econômicos retrógrados e conservadores, embora politicamente influentes; de outro, as correntes modernizantes da burocracia e seus próprios aliados políticos e empresariais. A primeira quer perpetuar seu controle social e seus privilégios por meio da centralização burocrática, de natureza conservadora e imobilista. As forças modernizantes, por seu turno, industrializadas e abertas ao exterior, exigindo novas missões para o Estado, principalmente na área de ampliação da infraestrutura econômica e social, hoje apontam para a globalização e o liberalismo. De um lado tem-se a burocracia em seu sentido corporativo, centralizadora e, portanto, contrária às mudanças na organização e O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 63 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina nas formas de operar do aparelho do Estado; e de outro, as forças inovadoras, que, não raramente, encontram muita dificuldade para implantar projetos de reforma. Essas forças inovadoras procuram introduzir nas organizações públicas uma cultura de flexibilidade e de gestão empreendedora, que permitam a sua atuação de forma eficiente, num mundo de rápidas transformações. Nesse sentido, Guimarães (2000, p. 125) afirma que “no setor público, o desafio que se coloca para a nova administração pública é como transformar estruturas burocráticas, hierarquizadas e que tendem a um processo de insulamento em organizações flexíveis e empreendedoras”. O mesmo autor afirma que essa transformação só é possível quando ocorrer uma ruptura com os modelos tradicionais de administração dos recursos públicos e introduzir-se uma nova cultura de gestão. Neste cenário de transformações ocorridas nas organizações públicas, ressalta-se a importância da aprendizagem organizacional, investindo-se na formação de líderes para gerir pessoas. A gestão de pessoas tem sido a responsável pela excelência na prestação de serviços de organizações bem-sucedidas e pelo aporte de capital intelectual que simboliza, mais do que tudo, a importância do fator humano em plena Era da Informação. É necessário que também as organizações públicas invistam no capital intelectual, sobrepujando a importância do capital humano em plena Era de Informação. E é por isso que os Chefes de Cartório do TJSC devem ser desenvolvidos e capacitados para se tornarem verdadeiros líderes, capazes de gerir pessoas com eficiência necessária para tornar a sua equipe mais competente e qualificada, refletindo, assim, na prestação de serviços de acordo com os padrões exigidos pela sociedade atual. 64 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi 3 As pessoas como elementos vivos e impulsionadores da organização As pessoas são os elementos vivos e impulsionadores da organização e capazes de dotá-la de inteligência, talento e aprendizagem, indispensável à sua constante renovação e competitividade em um mundo pleno de mudanças e desafios. As pessoas são as parceiras da organização e as únicas capazes de conduzi-la à excelência e ao sucesso (CHIAVENATO, 2008). Quando se colocam organizações e pessoas lado a lado, verifica-se um processo contínuo de troca de competências. A organização transfere seu patrimônio de conhecimentos para as pessoas, enriquecendo-as e preparando-as para enfrentar novas situações profissionais e pessoais, quer na organização, ou fora dela. As pessoas, ao desenvolverem sua capacidade individual, transferem para a organização seu aprendizado, capacitando a organização para enfrentar novos desafios. Esse processo, que é natural em qualquer comunidade, pode ser gerenciado e potencializado com efeitos benéficos para a organização e para as pessoas (DUTRA, 2002). Para o sucesso do gerenciamento das organizações, são necessárias pessoas que saibam lidar com outras pessoas. E para isso é necessário que as organizações reconstruam-se, revigorem e atualizem seus programas de capacitação e desenvolvimento no âmbito organizacional, em conformidade com os novos cenários nos quais estão inseridas. Para que isso ocorra, são imperativas atitudes de inovação, visão e condutas diferenciadas por parte dos gestores diante dos processos de qualificação, capacitação e desenvolvimento de pessoas. O importante é ter pessoas que saibam desenvolver e aplicar conhecimentos, métodos e tecnologias, notadamente as relacionadas com o ser humano, de como tornar as pessoas motivadas para atingirem os objetivos organizacionais, buscando assim a excelência profissional, com eficácia e credibilidade, através da Liderança, Gerenciamento e Motivação. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 65 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina Na lição de Dutra (2002, p. 20): [...] A criação de uma cultura de aprendizagem nas organizações é fundamental para dar respostas a um ambiente exigente, complexo e dinâmico. A existência dessa cultura depende dos vínculos estabelecidos entre as pessoas e a organização. As culturas centradas no comprometimento mútuo, entre pessoas e organização, na gestão participativa e na busca de renovação contínua terão mais chances de sucesso por estarem alinhadas com os valores que vem sendo consolidados em nossa sociedade. O processo de aprendizagem na organização tem que oferecer condições concretas para que as pessoas aprendam a criar sua própria realidade, auxiliando-as a compreenderem o contexto em que vivem e a com ele interagirem por elas próprias (DUTRA, 2002). A partir do referido enfoque, incumbe aos gestores a tarefa de redesenhar as estratégias e ações que envolvam os processos de gestão de pessoas, especialmente o processo de aprendizagem. Nesse sentido, é mister a construção de uma ponte entre os objetivos pessoais e organizacionais, considerando a identificação e o desenvolvimento de competências. (PACHECO, 2005, p. 18). Segundo Davel e Vergara (2001, p. 31), pessoas não fazem somente parte da vida produtiva das organizações. Elas constituem o princípio essencial de sua dinâmica, conferem vitalidade às atividades e processos, inovam, criam, recriam contextos e situações que podem levar a organização a posicionar-se de maneira competitiva, cooperativa e diferenciada com clientes, outras organizações e no ambiente de negócios em geral. 66 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi Por isso as organizações públicas devem aperfeiçoar os processos de aprendizagem dos gestores, em especial dos Chefes de Cartório, no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, para que estes saibam desenvolver e aplicar os conhecimentos, métodos e tecnologias aprendidos, visando tornar os seus colaboradores motivados para atingirem os objetivos organizacionais, buscando, assim, a excelência profissional com eficácia e credibilidade. 4 Gestão estratégica de recursos humanos nas organizações públicas Tradicionalmente, a gestão de Recursos Humanos (RH) no setor público é tratada apenas sob um aspecto legal e operacional que visa atender somente as questões legais, e, segundo Marconi (2011), a inexistência da definição de diretrizes gerais para as políticas de recursos humanos aliada à falta de informatização faz com que a área de RH no setor público continue a possuir uma imagem burocrática, associada à ineficiência. De um modo geral, acaba sendo gerenciada de forma reativa: uma área que apenas responde às demandas de outras áreas e dos funcionários – demandas que parecem estar fora de seu controle. Para Marconi (2011), as atividades mais estratégicas, como a definição de políticas para contratar, capacitar (quando há capacitação) e remunerar funcionários, entre outras, ficam em segundo plano. Por consequência, termina-se atuando sob um modelo de “balcão” para o atendimento pontual das demandas de categorias com maior poder de pressão. Nas últimas décadas, porém, o fator humano vem sendo considerado um diferencial e um dos pilares que sustentam o desempenho das organizações, por isso, práticas modernas de gestão de Recursos Humanos são observadas em muitas organizações, que passaram a considerar as pessoas como essenciais para garantir melhores resultados e colocaram a gestão de Recursos Humanos no centro da sustentabilidade organizacional. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 67 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina Nogueira e Santana (2011, p. 14) destacam que: [...] vivemos um momento em que, de todos os lados, surgem sinais de que a importância da gestão de Recursos Humanos está sendo reavaliada, inclusive esta tendência aparece também nas iniciativas de reforma do setor público. Para Nogueira e Santana (2011), o que se está buscando hoje em meio a um conjunto de reformulações conceituais das reformas do setor público é poder contar com instrumentos adequados para fazer da gestão de recursos humanos do Estado uma função política com efetiva capacidade de regulação, que ajude a formular melhor a missão institucional e a alinhar a capacidade de trabalho interna de acordo com os objetivos e valores estratégicos nela contidos. O fortalecimento da função de RH consolida a Gestão de Pessoas nas organizações. A literatura descreve a função de Recursos Humanos como um conjunto específico de atividades interligadas, sendo essas atividades os processos de RH. A evolução do RH nas organizações resultou na Gestão de Pessoas atual e ampliou o seu papel. A Gestão de Pessoas cumpre função estratégica na organização que reconhece o indivíduo como diferencial competitivo, investindo no conhecimento e no desenvolvimento dos seus profissionais (GIRARDI, 2009). A Administração de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas pode ser caracterizada como “um conjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação de expectativas entre a organização e as pessoas para que ambas possam realizá-las ao longo do tempo” (DUTRA, 1995, p. 37). Desse modo, a Gestão de Pessoas agrega às organizações competitividade, atuando com processos adequados e voltados para o desenvolvimento das pessoas (GIRARDI, 2009). Assim, as organizações públicas precisam desvincular-se da imagem burocrática, associada à ineficiência, devendo adotar uma pos68 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi tura mais eficiente e eficaz, orientada pela satisfação dos cidadãos, a fim de cumprir seu papel social e sua missão. Para tanto, torna-se necessário possuir em seus quadros servidores capacitados e motivados, que prezem pela melhoria contínua e pela excelência na prestação dos serviços, conseguindo assim cumprir os objetivos organizacionais e contribuindo efetivamente com a missão da organização pública. Tais resultados, porém, só serão alcançados a partir da modernização da gestão das organizações públicas, através do desenvolvimento de uma gestão de Recursos Humanos aberta às inovações, que valorize o fator humano, dando maior ênfase aos resultados. Salienta-se, entretanto, que no Tribunal de Justiça de Santa Catarina a capacitação e o desenvolvimento dos servidores não é tarefa do setor de RH. Através da Resolução n. 14/91, de 9 de outubro de 1991, foi criado o Centro de Estudos Jurídicos do Tribunal de Justiça de Santa Catarina – CEJUR/TJSC, com a finalidade de estabelecer a política institucional relativa ao aprimoramento e ao desenvolvimento pessoal e profissional dos magistrados e servidores. O Centro de Estudos Jurídicos constitui-se em serviço auxiliar responsável pelo desenvolvimento humano e profissional dos magistrados e servidores do Poder Judiciário, e tem por finalidade aprimorar o atendimento à sociedade catarinense, garantindo-lhe uma prestação jurisdicional qualificada e eficiente. Compete ao Centro de Estudos Jurídicos, por meio de seus órgãos: I – estabelecer a política institucional relativa ao aprimoramento e ao desenvolvimento pessoal e profissional dos magistrados e servidores; II – desenvolver e supervisionar as atividades científica, acadêmica e de desenvolvimento dos magistrados e servidores; III – proceder a estudos e pesquisas e desenvolver serviços e produtos, visando à melhoria do sistema judiciário; e IV – promover a qualificação e o aprimoramento intelectual e profissional dos magistrados e servidores, mediante constante reciclagem. Além do CEJUR, através da Resolução Conjunta n. 02/09 – GP/ CGJ, de 20 de abril de 2009, foi instituído o Programa de Implantação de Serviços Judiciários, o qual é responsável pela instalação das O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 69 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina novas unidades judiciárias, ficando-lhe inerente, nesse âmbito, a capacitação dos servidores. Verifica-se, assim, que no Tribunal de Justiça de Santa Catarina a capacitação dos servidores não está adstrita ao âmbito do Setor de RH, ficando ao encargo da Academia Judicial nos casos em que for identificada a necessidade de capacitação ou aperfeiçoamento, ou ainda, quando solicitada pelo magistrado da respectiva unidade, bem como do Programa de Implantação de Serviços Judiciários, quando se tratar de instalação de novas unidades jurisdicionais. 5 Capacitação: treinamento e desenvolvimento de pessoas A preocupação das organizações em contar com indivíduos capacitados para o desempenho eficiente de determinada função não é recente. Taylor (1970 apud BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001) já alertava, no início do século passado, para a necessidade de as empresas contarem com homens eficientes, ressaltando que a procura pelos competentes excedia a oferta. Na época, com base no princípio taylorista de seleção e treinamento do trabalhador, as empresas procuravam aperfeiçoar em seus empregados as habilidades necessárias para o exercício de atividades específicas, restringindo-se às questões técnicas relacionadas ao trabalho e às especificações de cargo. Posteriormente, em decorrência de pressões sociais e do aumento da complexidade das relações de trabalho, as organizações passaram a considerar, no processo de desenvolvimento profissional de seus empregados, não somente questões técnicas, mas também aspectos sociais e comportamentais relacionados ao trabalho (BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001). Dentro do contexto da administração pública, a capacitação, através das estratégias de treinamento e desenvolvimento, também é componente fundamental no processo de construção do perfil ideal de pessoas para os órgãos públicos (MARCONI, 2011). O ambiente dinâmico das organizações requer o desenvolvimento de ações voltadas à constante capacitação das pessoas, com 70 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi o objetivo de torná-las mais eficazes naquilo que fazem. Tanto é que, com frequência cada vez maior, as empresas vêm desenvolvendo programas de formação, treinamento e desenvolvimento de pessoas, a ponto de muitas empresas decidirem-se pela instalação não apenas de centros de treinamento e desenvolvimento, mas até mesmo de centros educacionais e universidades corporativas (GIL, 2001). Borges-Andrade (2002) define treinamento como ação organizacional planejada, que possibilita a aquisição de habilidades técnicas e comportamentais, assim como contribui com o desenvolvimento de estratégias cognitivas que podem tornar o indivíduo mais apto a desempenhar suas funções atuais ou futuras. Segundo Dessler (2003), treinamento é o conjunto de métodos usados para transmitir aos funcionários novos e antigos as habilidades necessárias para o desempenho do trabalho. Treinamento é o processo educacional de curto prazo, aplicado de maneira sistemática e organizada, através do qual as pessoas aprendem conhecimentos, habilidades e competências em função de objetivos definidos (CHIAVENATO, 2008). A respeito disso, Chiavenato (1990) alega que nem sempre as pessoas sabem exatamente o que fazer no seu trabalho. As empresas precisam ensinar seus empregados a executarem as suas tarefas da maneira como elas consideram corretas. Em outros termos, os empregados precisam ser treinados para poderem executar seu trabalho de acordo com os métodos e processos estabelecidos pela empresa. Por isso, para o citado autor, a finalidade do treinamento é manter todas as pessoas preparadas para o desempenho de seus cargos atuais ou futuros, seja transmitindo-lhes informações e conhecimentos, habilidades ou atitudes. Para Bohlander (2009), o termo treinamento muitas vezes é usado de forma casual a fim de descrever praticamente qualquer esforço da empresa para estimular o aprendizado de seus membros. Muitos especialistas, entretanto, distinguem entre treinamento (mais localizado e orientado para questões concernentes a desempenho no O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 71 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina curto prazo) e desenvolvimento (mais orientado para ampliar as habilidades dos indivíduos para futuras responsabilidades). O Desenvolvimento de Recursos Humanos é a capacidade de aprender novas habilidades, obter novos conhecimentos e modificar atitudes e comportamentos. É uma aptidão que permite uma formidável ampliação da competência profissional de cada pessoa. O desenvolvimento de pessoal é um programa de longo prazo para prover o crescimento profissional das pessoas através de condições externas capazes de realizar gradativamente as potencialidades humanas. Enquanto o desenvolvimento organizacional é sistêmico e abrangente, o desenvolvimento de pessoal é orientado para a carreira de cada pessoa e o seu contínuo desdobramento frente a objetivos de longo prazo. Já o treinamento parte de uma visão microscópica e de curto prazo (CHIAVENATO, 1992). Pacheco (2005, p. 18) conceitua processo de desenvolvimento como sendo: [...] uma linha de crescimento que contempla diversos estágios em que um não retroage ao outro. Uma vez realizado um aprendizado, o indivíduo está preparado para outros desafios, nos quais pode utilizar-se de novos aprendizados que sejam ou não complementares aos propostos anteriormente. É um processo contínuo de crescimento, estruturado em etapas que se superpõe com vistas ao crescimento do indivíduo e dos grupos. O Desenvolvimento das Pessoas inclui o treinamento e vai além; compreende o autodesenvolvimento, processo este que é intrínseco a cada indivíduo. Ele contempla o desenvolvimento da pessoa como um todo, reporta-se às várias formas de aprendizagem e, consequentemente, não se restringe ao ambiente da sala de aula, mas a diferentes espaços e mídias que estão ao alcance de todos (PACHECO, 2005). 72 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi Ainda, na visão de Pacheco, além dessas definições, o desenvolvimento de pessoas engloba experiência, vivência, percepção e, principalmente, a capacidade pessoal de cada um. Trata-se de um processo globalizante, considerando todos os estímulos e conhecimentos absorvidos ao longo de sua trajetória de vida. Para a autora, o desenvolvimento profissional pode ser entendido como o aumento da capacidade da pessoa em agregar valor para a organização. A maior capacidade das pessoas em agregar valor está ligada à capacidade em lidar com atribuições e responsabilidades de maior complexidade. Verifica-se assim, que as mudanças ocorridas no sistema de treinamento e desenvolvimento estão servindo para ressaltar o papel das pessoas como o principal patrimônio das organizações. Já não há como deixar de considerar o capital humano como o mais evidente diferencial competitivo das organizações (GIL, 2001). Assim, as organizações têm de ousar e apontar para direções inéditas, tornando-se necessária uma intervenção na esfera do conhecimento, que proporcione concomitantemente aos profissionais e gestores o entendimento e o desenvolvimento global e sistêmico (PACHECO, 2005). Por fim, ter consciência da abrangência do planejamento estratégico da organização significa considerar a visão, missão e os objetivos a serem alcançados. Com base nos fundamentos estratégicos, é possível definir o modelo de capacitação e desenvolvimento a ser implementado. Dessa maneira, gestores de pessoas terão a oportunidade de formular estratégias que sustentarão seus planos de ação por meio de programas de capacitação e desenvolvimento de pessoas (PACHECO, 2005). Verifica-se assim, diante do ambiente dinâmico das organizações, a importância do desenvolvimento de ações voltadas à constante capacitação das pessoas, em especial dos gestores, com o objetivo de torná-las mais eficazes naquilo que fazem, obtendo-se, consequentemente, melhores resultados. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 73 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina A. Motivação O mundo cada vez mais competitivo dos negócios exige altos níveis de motivação das pessoas. Empregados motivados para realizar seu trabalho, tanto individualmente como em grupo, tendem a proporcionar melhores resultados. A motivação pode ser entendida como o principal combustível para a produtividade da empresa. Os gerentes precisam estar atentos à motivação de seus empregados. Precisam estar aptos para identificar suas necessidades e criar as condições para que as tarefas a eles atribuídas, assim como seu ambiente de trabalho, sejam capazes de satisfazê-los (GIL, 2001). Ainda, na lição de Gil (2001, p. 201): As empresas estão valorizando cada vez mais o comprometimento das pessoas. Os funcionários comprometidos é que vêm sendo convocados para fazer parte das soluções e é exatamente neles que as empresas mais tendem a investir. A motivação, por sua vez, é a chave do comprometimento. É muito mais fácil para as empresas conseguirem pessoas competentes do que comprometidas. Por isso, identificar fatores capazes de promover a motivação dos empregados e dominar as técnicas adequadas para trabalhar com ela vem-se tornando tarefa das mais importantes para os gerentes. A palavra motivação vem do Latim movere (movimento) e diz respeito à energia que alguém despende para atingir aspirações, desejos, desafios e necessidades individuais. Em outras palavras é o impulso interno que leva à ação. A motivação, enfim, pode ser definida como um conjunto de fatores que determinam a conduta de um indivíduo. Para tudo que se faz, seja no trabalho, em casa, na escola é preciso de uma “força”, uma “energia” para realizar tarefas. Segundo Vergas (apud FIORELLI, 2004, p. 118) “motivação é uma força, uma energia que nos impulsiona na direção de alguma coisa que nasce 74 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi de nossas necessidades interiores”. Quando ela acontece, as pessoas tornam-se mais produtivas, atuam com maior satisfação e produzem efeitos multiplicadores. Despertá-la, mantê-la e canalizá-la para os objetivos da organização tem sido preocupação constante dos administradores. Segundo Bueno (1995, p. 37), “sem um motivo, um interesse, não há indivíduo que se mova, assim, cada organização deve ser competente para criar satisfatores capazes de colocar as pessoas em ação, gerando programas de incentivo ao desenvolvimento pessoal e profissional”. Existem muitas teorias sobre motivação e algumas delas reportam sempre à palavra necessidades. Abraham Maslow, em 1943, formulou a mais conhecida teoria que trata sobre as necessidades e motivação humana, a qual foi o ponto de partida para o estudo dos subsequentes relatos sobre o comportamento motivacional. A pirâmide de Maslow nos leva a refletir sobre a importância dos fatores motivacionais dentro da diversidade dos interesses entre os indivíduos que não fazem a mesma coisa pelas mesmas razões. De acordo com essa teoria, o ser humano é motivado por necessidades não atendidas e necessidades menores, que devem ser satisfeitas antes do que as necessidades maiores. São elas: necessidades fisiológicas; necessidades de segurança; necessidades sociais; necessidades de estima; e necessidades de autorrealização. Apesar da ampla aceitação desta teoria, desde a sua publicação, como salienta Bergamini (1997, p. 72), “[...] embora, paradoxalmente, tenha sido apoiada em evidências muito restritas da pesquisa empírica, o seu princípio e enunciado não sofreram praticamente nenhuma comprovação que testasse a sua validade na prática”. Apesar disso, ela perdura como sendo a principal fonte de informação teórica para os pesquisadores do tema motivação. Bergamini (1997, p. 73) justifica esse populismo destacando que “a razão da sua grande aceitação é a simplicidade e a equivalência entre pirâmide hierárquica organizacional e a forma de apresentação também em pirâmide da sequência das necessidades motivacionais”. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 75 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina Minicucci (1995) explica que ao estudar os motivos humanos verifica-se que é por meio da conduta do indivíduo, de forma direta ou não, de forma verbal ou não verbal, que se pode entender os motivos do indivíduo, isto é, as condutas que os levam a agir. A motivação pode ser descrita como o processo de estimular um indivíduo para tomar ações que o levarão ao preenchimento de uma necessidade ou à realização de uma meta desejada (MONTANA; CHARNOV, 1998). Segundo Bergamini (1997), a motivação cobre uma grande variedade de aspectos comportamentais. A diversidade de interesses percebida entre os indivíduos permite aceitar, de forma razoavelmente clara, que as pessoas não fazem as mesmas coisas pelas mesmas razões. É dentro dessa diversidade que se encontra a mais importante fonte de informações a respeito desse fenômeno que mostra até aspectos paradoxais. A perspectiva mais natural para se compreender a motivação humana parece ser aquela que individualiza as pessoas levando em conta a sua história de vida, isto é, aquilo que se denomina de “realidade motivacional do ser”. Se as técnicas de condicionamento podem ser aplicadas a um grande contingente de pessoas ao mesmo tempo, a estratégia de se conseguir trabalhar com pessoas motivadas exige mais dedicação, pois precisa-se conhecer as necessidades de cada um dos subordinados (BERTONI, 1994). A motivação, enfim, é uma força e energia que nos impulsiona na direção de alguma coisa, de forma intrínseca, ou seja, que está dentro de nós, nasce de nossas necessidades interiores. Essa forma de considerar o comportamento motivacional implica o reconhecimento de que ele representa a fonte mais importante da autonomia pessoal, à medida que as pessoas podem, de certa forma, escolher que tipo de ação empreender com base em suas próprias fontes internas de necessidades e não simplesmente responder aos controles impostos pelo meio exterior. 76 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi Por isso, na lição de Vergara (2003, p. 22) “a motivação é intrínseca, também não podemos dizer que motivamos os outros a isso ou aquilo. Ninguém motiva ninguém. Nós é que nos motivamos, ou não”. De acordo com a autora, tudo o que os líderes ou gestores podem fazer é estimular, incentivar, provocar nossa motivação. Deve-se, por fim, levar em consideração a existência das diferenças individuais e culturais de cada pessoa quando se fala em motivação. Esse diferencial não só pode afetar significativamente a interpretação de um desejo, como também o entendimento da maneira particular como as pessoas agem na busca dos seus objetivos. As diferenças individuais entre as pessoas dificultam a definição de parâmetros universais que as empresas possam utilizar para motivar as pessoas em igualdade de condições. O que é bom para uma pessoa pode não ser necessariamente para outra, e o que interessa a uma pessoa em determinada época pode não interessá-la depois de algum tempo. Há sempre um componente subjetivo na motivação que provoca uma enorme complicação. As pessoas já trazem dentro de si expectativas pessoais que ativam determinado tipo de busca de objetivos, dificultando para os administradores orientar as pessoas para que determinado trabalho seja feito. A tarefa do administrador, no que diz respeito à motivação, tem sido descrita como sendo a de criar condições para que as pessoas trabalhem motivadas, já que a motivação vem das necessidades internas de cada indivíduo. As pessoas se sentem motivadas pelo fato de serem reconhecidas e tratadas de modo justo, propiciando-se oportunidades de serem ouvidas e aceitas. A oportunidade de novos desafios também é fundamental para que as pessoas se sintam úteis e necessárias no desenvolvimento do trabalho da organização. Nesse contexto, é fundamental o papel da liderança no ambiente organizacional, para estimular, incentivar e provocar motivação nos colaboradores, pois, segundo Chiavenato (1997), a motivação é uma das principais responsabilidades gerenciais. A influência O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 77 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina gerencial sobre seus funcionários exige uma eficaz liderança e uma contínua motivação da equipe, funcionando como um dinamizador e impulsionador do comportamento humano. Logo, a administração deve procurar motivar o funcionário e criar um ambiente ou clima que possibilitem a satisfação individual de necessidades e objetivos organizacionais, por extensão. B. Liderança A liderança é um processo social no qual se estabelecem relações de influência entre pessoas. O núcleo desse processo de interação humana é composto de líder ou líderes, um fato, e um momento social. O processo de liderança se verifica em infinitas situações: na família, na escola, no esporte, na política, no trabalho, na vida pública ou em espaços privados. Ao observar o processo de liderança em qualquer dos espaços sociais, nota-se que toda pessoa é capaz de exercer influência sobre outras e, portanto, que toda pessoa é, potencialmente, um líder. A liderança começa pelo autocontrole, tarefa árdua e complicada ao alcance de poucos. Um bom líder deve conhecer a si mesmo, seus pontos fortes e fracos, procurando viabilizar os primeiros e tentando não tornar pesados demais os segundos, nem para ele mesmo e nem para os demais. A partir daí, ele deve promover as condições adequadas para que surjam outros líderes à sua volta. As pessoas sentem-se estimuladas com o tópico liderança. Administradores de todos os níveis em todos os setores se interessam por essa questão, pois acreditam que a resposta sobre a questão “de que é feito um líder” proporcionará melhora no desempenho da organização e no sucesso das carreiras pessoais. Felizmente, a liderança pode ser ensinada e aprendida. De acordo com Bateman (1998), a liderança parece ser a convocação de habilidades possuídas por uma maioria, mas utilizada por uma minoria. É, porém, algo que pode ser aprendido por qualquer pessoa e ensinado a todos. Liderar consiste em conseguir com que os demais façam o que devem fazer com profunda convicção e, sobretudo, que o façam to78 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi mando a si a responsabilidade para que isso aconteça. Líderes excepcionais têm visão. Conduzem pessoas e organizações em direções que sozinhas não seguiriam. Podem lançar empreendimentos, formar culturas organizacionais, ganhar guerras ou mudar o curso dos eventos; são estrategistas que agarram oportunidades que outros deixam de perceber. A liderança é um processo chave em todas as organizações. O administrador deveria ser um líder para lidar com as pessoas que trabalham com ele. Logo, a liderança não deve ser confundida com direção ou com gerência. Um bom administrador ou gerente pode ser um bom líder, porém um líder nem sempre é um gerente ou administrador. “A liderança é uma forma de influência. A influência é uma transação interpessoal em que uma pessoa age para modificar ou provocar o comportamento de outra pessoa, de maneira intencional” (CHIAVENATO, 1999, p. 553). Bergamini (1997) considera que todas as teorias conservam o denominador comum de que a liderança envolve duas ou mais pessoas e se trata de um processo de influência exercido de forma intencional por parte do líder e seus seguidores. A autora situa como desafios centrais da liderança: motivar, inspirar, sensibilizar e comunicar. Para Vergara (2003, p. 83) a “liderança requer humildade suficiente para se aprender, permanentemente, a lidar com indivíduos e grupos, de forma a mobilizá-los para uma causa, no caso, atrelada às escolhas da empresa”. Para a autora a liderança também está associada a estímulos, incentivos, que podem motivar as pessoas para a realização da missão, da visão e dos objetivos empresariais. Conforme Covey (2000), um líder para ser eficaz precisa dirigir grupos diferentes ao bem comum, extraindo dos funcionários uma visão unificadora; ter senso de missão; fortalecer a organização ampliada, estabelecendo um sistema de valores, baseado em princípios duradouros, nos quais serão apoiadas as tomadas de decisão; manter as linhas de comunicação bem abertas, fazendo com que todas as mensagens sejam entendidas; criar sinergia, fazendo com que todas as pessoas foquem no “nós” e não no “eu”; “injetar” a mentalidaO Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 79 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina de da abundância e não da escassez, passando a ideia de que, trabalhamos juntos, através de sistemas que recompensem o trabalho em equipe; e ajudar todos os participantes a se concentrarem no que mais importa para a organização no momento. Existe uma forte relação entre liderança e motivação, visto que a liderança está associada a estímulos e incentivos que podem provocar a motivação nas pessoas, para a realização da missão, visão e dos objetivos da organização. Dessa forma, entende-se que o verdadeiro sentido de liderar está em conhecer a motivação humana, sabendo guiar os indivíduos, estando presente em todas as funções da administração. Para Bergamini (1997, p. 57), [...] quanto mais se aprofunda o estudo da liderança e da motivação humana relacionada com o trabalho, mais se percebe que esses dois temas se cruzam com freqüência cada vez maior. Já se está chegando a um momento, no qual falar de um assunto implica, necessariamente, abordar também o outro. É fundamental, portanto, que os gestores se tornem verdadeiros líderes, com conhecimento sobre a função a ser desempenhada, com boa comunicação e relacionamento interpessoal, e, principalmente, que estejam abertos às mudanças, pois o verdadeiro líder consegue extrair o melhor de qualquer pessoa, visando, dessa forma, alcançar a excelência na prestação dos serviços públicos. A grande missão da atuação do líder em obter sucesso em sua liderança é criar um ambiente no qual as pessoas possam demonstrar suas maiores potencialidades, sentindo-se motivadas e responsáveis diretas pelos resultados alcançados, obtendo assim seguidores em potencial. 80 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi 6 Conclusões O presente trabalho demonstrou que as organizações buscam atualmente o desenvolvimento de uma cultura gerencial, com ênfase nos resultados, implicando, consequentemente, na prestação de serviços com maior efetividade e eficiência. O novo modelo propõe-se a promover o aumento da qualidade e da eficiência dos serviços oferecidos pelo Poder Público aos seus clientes: os cidadãos. O grande desafio para a nova administração pública é transformar estruturas burocráticas, hierarquizadas e que tendem a um processo de insulamento em organizações flexíveis e empreendedoras. E essa transformação só será possível quando ocorrer uma ruptura com os modelos tradicionais de administração dos recursos públicos e introduzir-se uma nova cultura de gestão. Neste cenário de transformações ocorridas nas organizações públicas, ressalta-se a importância da aprendizagem organizacional, investindo-se na formação de líderes para gerir pessoas. Para o sucesso do gerenciamento das organizações, são necessárias pessoas que saibam lidar com outras pessoas, sendo necessário, portanto, que as organizações reconstruam-se e atualizem seus programas de capacitação e desenvolvimento no âmbito organizacional. Para que isso ocorra, são imperativas atitudes de inovação, visão e condutas diferenciadas por parte dos gestores diante dos processos de qualificação, capacitação e desenvolvimento de pessoas. O importante é ter pessoas que saibam desenvolver e aplicar conhecimentos, métodos e tecnologias, notadamente às relacionadas com o ser humano, de como tornar as pessoas motivadas para atingirem aos objetivos organizacionais, buscando assim a excelência profissional, com eficácia e credibilidade, através da Liderança, Gerenciamento e Motivação. É fundamental que os gestores se tornem verdadeiros líderes, com conhecimento sobre a função a ser desempenhada, com boa comunicação e relacionamento interpessoal, e, principalmente, que estejam abertos às mudanças, pois o verdadeiro líder consegue extrair o O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 81 Treinamento e Desenvolvimento de Gestores no Tribunal de Justiça de Santa Catarina melhor de qualquer pessoa, visando, dessa forma, alcançar a excelência na prestação dos serviços públicos. Para que os líderes se sobressaiam em sua função e as organizações obtenham sucesso, elas precisam desenvolver e capacitar os seus gestores para reforçar a proatividade, a boa comunicação, o aculturamento e o comprometimento das pessoas, que são peças fundamentais, para que elas possam desempenhar bem o seu papel dentro da organização. Por isso as organizações públicas devem aperfeiçoar os processos de aprendizagem dos gestores, para que estes saibam desenvolver e aplicar os conhecimentos, métodos e tecnologias aprendidos, visando tornar os seus colaboradores motivados para atingirem os objetivos organizacionais, buscando, assim, a excelência profissional, com eficácia e credibilidade. E é por isso que o Tribunal de Justiça de Santa Catarina deve desenvolver, capacitar e investir na qualidade de seus gestores, especialmente dos Chefes de Cartório ao assumirem a função, tornando-os verdadeiros líderes, capazes de gerir pessoas com eficiência necessária para tornar a sua equipe mais competente e qualificada, demonstrando, assim, aos jurisdicionados a seriedade dos trabalhos prestados pelo Poder Judiciário de Santa Catarina em todos os rincões deste Estado. Referências BATEMAN, Thomas S.; SNELL, Scott A. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998. BERGAMINI, Cecilia Whitaker. Motivação nas organizações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997. BERTONI, Bartira. Reengenharia Humana – Preparando o Indivíduo para Mudança. 3. ed. Salvador: Casa da Qualidade, 1994. 82 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Kátia Regina Beber e Dante Marciano Girardi BOHLANDER, George. Administração de Recursos Humanos. 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Porém, apesar dessa preocupação permanecer até os dias de hoje, existe a tendência a um tratamento mais humanizado. De fato, Fernandes (1996 apud BARROS, 2002), corrobora essa tendência quando diz que apesar de a preocupação voltada para organizar o trabalho ter sido uma constante desde o advento da administração científica, só recentemente as empresas vêm se preocupando com a satisfação do trabalhador na execução de suas tarefas, como requisito para atingirem altos índices de produtividade. Pilatti (2008) aponta também para o alto custo humano do trabalho concebido nos moldes da Revolução Industrial, o qual mesmo com os benefícios gerados à sociedade tornou-se inaceitável, tendo as organizações que buscar, portanto, formas de trabalho que produzissem resultados efetivos do ponto de vista humano, aliados com alta eficiência. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 87 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Por fim, segundo Messerschmidt (2008), são os fatores intangíveis que se tornaram diferenciais competitivos importantes nos dias de hoje, onde a preocupação com o ambiente e as condições de trabalho têm recebido cada vez mais atenção por parte das organizações. Apesar da existência nas organizações dessa preocupação com a qualidade de vida de seus trabalhadores, verifica-se a possibilidade dos mesmos estarem deixando de sentir bem-estar no ambiente de trabalho. Logo, este artigo partiu da preocupação em se avaliar como está a qualidade de vida dos colaboradores da Divisão de Almoxarifado – DAL, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina – TJSC, a fim de sugerir melhorias nas condições de trabalho, na prevenção de doenças e na política de recursos humanos da instituição, de modo que se estimule a motivação interna, possibilitando alcançar a excelência nos serviços prestados por aqueles, proporcionado com isso satisfação e qualidade de serviços ao PJSC (Poder Judiciário de Santa Catarina) como um todo e, consequentemente, à sociedade em geral. São características marcantes da DAL a existência de uma rotina e de um constante esforço físico por parte da maioria dos colaboradores, principalmente dos auxiliares de almoxarifado (contratados), os quais não só no curto prazo, mas também num futuro próximo, devido às características do trabalho exercido na área de estocagem da divisão, poderão elevar consideravelmente o nível de absenteísmo e licenças por problemas de saúde. A importância prática e teórica deste artigo apoia-se na proposição de reformulações do trabalho em si, objetivo principal das ações implicadas na Qualidade de Vida no Trabalho – QVT, que garantam maior eficácia e produtividade e, igualmente, atendam às necessidades básicas dos colaboradores, com ênfase no desenvolvimento do indivíduo. Em outras palavras, este artigo objetiva avaliar a QVT na DAL do TJSC, identificando o grau de satisfação de seus colaboradores – servidores e contratados, a fim de propor ações que visem à solução 88 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz de problemas do cotidiano, resultantes da compreensão do objeto de estudo e da aplicabilidade do conhecimento obtido. Considerando-se que é o colaborador quem detém o conhecimento sobre a sua própria Qualidade de Vida no Trabalho, a pesquisa utilizou a percepção dos próprios ocupantes dos postos/cargos de trabalho para o levantamento dos aspectos organizacionais, ambientais e comportamentais, a fim de avaliar as práticas de gerenciamento. Portanto, a técnica de coleta de dados utilizou-se da abordagem quantitativa, feita através da aplicação de um questionário (Anexo) com questões objetivas e um espaço para comentários. O instrumento de pesquisa foi elaborado através do método baseado na escala do tipo Likert, com os seguintes valores: 1 – Totalmente Insatisfeito; 2 – Insatisfeito; 3 – Indiferente; 4 – Satisfeito; e 5 – Totalmente Satisfeito; objetivando enfatizar o quanto um aspecto é mais ou menos favorável e buscando eximir ao máximo o condicionamento às respostas indecisas (FELIPE; CORREIA; SILVEIRA, 2006). Foram igualmente coletadas informações sobre tempo de empresa, idade e escolaridade dos colaboradores, visando um melhor conhecimento dos participantes, além da percepção de cada respondente sobre QVT. O questionário foi formulado com base no modelo de Walton (1973) e as perguntas foram divididas conforme os fatores de QVT, buscando-se abranger as dimensões que melhor se adaptassem à realidade da divisão e da organização. Como os dados coletados são de natureza nominal ou categórica, verificou-se a frequência e calculou-se a porcentagem de cada categoria ou subgrupo em relação ao total. A pesquisa teve como característica o estudo transversal, que forneceu uma descrição dos elementos estudados em um dado ponto no tempo, já que os dados foram coletados em um único período – junho de 2011. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 89 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Segundo TIMOSSI et al. (2009), o modelo de Walton (1973) é um dos mais aceitos e utilizados pelos pesquisadores brasileiros, apesar de sua aplicabilidade ser problemática por causa da linguagem, sendo comum que colaboradores, ao responderem ao instrumento, apresentem dificuldades em interpretar e entender o modelo, em virtude da utilização de termos e expressões técnicas. A ausência de perguntas diretas e específicas para a definição de cada critério pode tornar a aplicabilidade do modelo dificultosa, motivo pelo qual optou-se por uma linguagem mais simples e direta, permitindo que o entendimento das questões que compuseram o instrumento fosse facilitado. 2 Qualidade de Vida no Trabalho Os primeiros estudos, bem como a noção de Qualidade de Vida no Trabalho – QVT, surgiram em 1950 na Inglaterra, sendo atribuídos a Eric Trist e colaboradores, que estudaram as consequências sociopsicológicas da mecanização no ambiente de trabalho, a fim de demonstrar as ligações existentes entre as relações sociais, os comportamentos individuais e o conjunto das estruturas sociais no local de trabalho, segundo Vieira (1996 apud MESSERSCHMIDT, 2008), ou seja, buscando um modelo para agrupar o trinômio indivíduo/trabalho/organização (BARROS, 2002). Os estudos de QVT têm se mostrado a grande esperança das organizações para atingirem um alto nível de produtividade, sem se esquecerem da motivação e satisfação dos indivíduos, que passaram a ser percebidos como o ativo mais importante das empresas, aos quais têm sido proporcionadas melhores condições de trabalho, visando garantir maior eficácia e produtividade e, simultaneamente, o atendimento das suas necessidades básicas, conforme enfatiza Walton (1973 apud BARROS, 2002). Nos dias de hoje, a cultura organizacional de cada empresa deve impreterivelmente incorporar a necessidade do estabelecimento de uma parceria com o seu elemento humano, passando-se a falar, 90 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz portanto, mais em QVT, cujo paradigma terá de ser absorvido e operacionalizado nas organizações, estando diretamente ligado e dependente das condições ambientais construídas em seus interiores, habitat das pessoas que aí interagem (RIEGER, 2002). Logo, a preocupação com o ambiente e as condições de trabalho vêm recebendo uma maior atenção das organizações, já que a melhoria das condições de vida e de saúde impactam direta ou indiretamente na produtividade das pessoas e, consequentemente, nos resultados obtidos pelas organizações, de acordo com Limongi-França e Oliveira (2005 apud MESSERSCHMIDT, 2008). Pinheiro, Pilatti & Pedroso (2009) destacam a importância da avaliação da QVT, já que valoriza a relação trabalho-homem de forma recíproca tanto para as organizações como para os trabalhadores, pois o elemento central das pesquisas nessa área advém da importância que o trabalho desempenha na vida das pessoas e do seu impacto, podendo levar à satisfação ou à frustração, sendo a insatisfação e a desmotivação para o trabalho penosas tanto às organizações quanto ao trabalhador, enfatiza Merino (2004 in OLIVEIRA, 2006). De maneira geral, os estudos de QVT têm por objetivo principal a propositura de reformulações em nível do trabalho, visando garantir maior eficácia e produtividade, bem como o atendimento das necessidades básicas dos trabalhadores. De fato, FERNANDES (1996) conceitua QVT como “a gestão dinâmica e contingencial de fatores físicos, tecnológicos e sócio-psicológicos que afetam a cultura e renovam o clima organizacional, refletindo-se no bem-estar do trabalhador e na produtividade da empresa.” TIMOSSI et al. (2009) destacam os modelos mais frequentemente usados para se avaliar a QVT, sendo eles os de Walton (1973); Hackman e Oldham (1975); Westley (1979); Werther e Davis (1983); e Nadler e Lawler (1983), enquanto LIMONGI-FRANÇA e KANIKADAN (2006) citam ainda os de Belanger (1983); e Huse e Cummings (1985). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 91 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina O modelo de Walton (1973), apesar de sua anterioridade, é um dos mais aceitos e utilizados na literatura, devido à amplitude de seus oito critérios com suas respectivas dimensões (Quadro 1), que permitem uma análise de diversos pontos pelos trabalhadores, procurando identificar aqueles considerados positivos ou negativos e, que afetam de maneira mais significativa o trabalhador em seu trabalho, podendo ser aplicado através de um questionário ou mesmo uma entrevista (RECHZIEGEL; VANALLE, 1999; MESSERSCHMIDT, 2008; TIMOSSI et al., 2009). CRITÉRIOS DIMENSÕES 1 – Compensação justa e adequada 1 – Renda adequada ao trabalho 2 – Equidade interna 3 – Equidade externa 2 – Condições de trabalho 4 – Jornada de trabalho 5 – Ambiente físico seguro e saudável 3 – Uso e desenvolvimento de capacidades 4 – Oportunidade de crescimento e segurança 5 – Integração social na empresa 6 - Constitucionalismo 6 – Autonomia 7 – Significado da tarefa 8 – Identidade da tarefa 9 – Variedade da habilidade 10 – Retroinformação 11 – Possibilidade da carreira 12 – Crescimento profissional 13 – Segurança de emprego 14 – Igualdade de oportunidades 15 – Relacionamento 16 – Senso comunitário 17 – Respeito às leis e direitos trabalhistas 18 – Privacidade pessoal 19 – Liberdade de expressão 20 – Normas e rotinas 7 – Trabalho e espaço total de vida 21 – Papel balanceado do trabalho 8 – Relevância social do trabalho 22 – Imagem da empresa 23 – Responsabilidade social pelos serviços 24 – Responsabilidade social pelos produtos 25 – Responsabilidade social pelos empregados Quadro 1 – Modelo de Walton para aferição de QVT Fonte: VIEIRA (1996) 92 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz O critério compensação justa e adequada avalia se o colaborador recebe o suficiente para viver dignamente e atender às suas necessidades pessoais e sociais, e se a remuneração percebida é similar tanto em relação aos colegas de instituição como ao mercado de trabalho. Condições de trabalho é o critério que, além de avaliar o ambiente físico quanto ao seu conforto e à sua organização para o desempenho das atividades laborais pelos colaboradores, mede também a quantidade de trabalho por turno e a disponibilidade de equipamentos para a sua devida execução. No critério uso e desenvolvimento das capacidades são verificados os níveis de liberdade e independência dos colaboradores na execução de suas tarefas; de satisfação na utilização de suas habilidades e conhecimentos; de importância da atividade desempenhada para si e para a sociedade; e de retroinformação acerca de seus trabalhos e ações. Oportunidade de crescimento e segurança é o critério que se refere às possibilidades que a instituição oferece em termos de carreira, de crescimento pessoal, e de segurança na manutenção do emprego aos seus colaboradores. O critério integração social na organização avalia os graus de estratificação hierárquica, de apoio mútuo (senso de comunidade), de franqueza interpessoal, de ausência de preconceitos e de respeito às individualidades, existentes na organização. No critério constitucionalismo é mensurado o grau em que os direitos dos trabalhadores são cumpridos na instituição; os pontos de vista expressados sem represálias; e as normas e regras estabelecidas com clareza. Em relação ao critério trabalho e espaço total de vida mede-se o equilíbrio entre a vida pessoal do colaborador e a jornada de trabalho, a qual não deve absorver todo o seu tempo e a sua energia em detrimento de outras esferas da vida, como a social e a familiar (VIEIRA, 1996; MESSERSCHMIDT, 2008). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 93 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Por fim, o critério da relevância social do trabalho verifica a percepção do colaborador com relação à organização onde ele atua, ou seja, à sua visão sobre a própria instituição, à responsabilidade social da instituição na comunidade, bem como à qualidade da prestação de seus serviços. 3 Nível de Satisfação dos Colaboradores da Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina Com o objetivo de avaliar a QVT na DAL do TJSC para propor ações que venham a possibilitar melhorias, todos os colaboradores, inclusive os servidores ocupantes de cargos de chefia, fizeram parte da população alvo, aos quais foi explicado o objetivo do trabalho, tendo sido assegurado o anonimato de todos os participantes. Quando da aplicação do questionário (Anexo 1), a DAL do TJSC contava com 38 (trinta e oito) colaboradores, estando 34 (trinta e quatro) no auxílio e/ou respondendo diretamente às chefias de divisão e às três de seção, sendo 9 (nove) pertencentes ao grupo de servidores, dos quais 6 (seis) estavam diretamente envolvidos com a administração do almoxarifado, enquanto 3 (três) eram agentes operacionais de serviços diversos – motoristas, dando apoio à coleta e distribuição dos materiais; e 25 (vinte e cinco) pertencentes ao grupo de contratados – terceirizados, dos quais 3 (três) eram digitadores e 22 (vinte e dois), auxiliares de serviços gerais. Desses últimos, 5 (cinco) estavam alocados na SRM (Seção de Recebimento de Materiais), 4 (quatro) na SCE (Seção de Controle de Estoque), 6 (seis) na SCDM (Seção de Conferência e Distribuição de Materiais), 2 (dois) no recebimento de cartuchos usados e devolvidos, 1 (um) na recepção do estoque, 3 (três) na limpeza e 1 (um) na cozinha. Os órgãos que integram o Poder Judiciário de Santa Catarina – PJSC, são o Tribunal de Justiça, os Tribunais do Júri, os Juízes de Direito e os Juízes Substitutos, a Justiça Militar, os Juizados Especiais 94 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz e as Turmas de Recursos, os Juízes de Paz e outros órgãos instituídos em lei. O Tribunal de Justiça – TJSC, órgão máximo da justiça estadual com sede na capital do Estado de Santa Catarina – Florianópolis, e jurisdição em todo o território estadual, é uma instituição com aproximadamente cento e vinte anos de atuação junto à sociedade catarinense. Possuidor de grande estrutura física, o TJSC é composto por quatro prédios: a Capela Ecumênica Santa Catarina de Alexandria, o Tribunal Pleno, a Torre I e a Torre II, tendo a obra quase 17 mil metros quadrados de área construída, a qual abriga os atuais 60 desembargadores, nomeados dentre os magistrados de carreira, advogados e membros do Ministério Público, além dos mais de 1.200 servidores atuando em diferentes áreas, tais como administrativa, de saúde, engenharia, informática, gráfica, limpeza e manutenção, entre outras. Para o exercício das atividades jurisdicionais, o território catarinense constitui seção judiciária única, fracionada, para efeitos da administração da Justiça, em 3 subseções, 9 regiões, 40 circunscrições, 111 comarcas e 183 comarcas não instaladas. O PJSC, a fim de realizar Justiça, assegurando a todos o acesso, com efetividade na prestação jurisdicional – Missão, e ser reconhecido como um Judiciário eficiente, célere e respeitado pela Sociedade – Visão, conta com quase quinhentos magistrados (455) e mais de oito mil e setecentos servidores (8.791). Todas essas pessoas são responsáveis pelos serviços oferecidos pelo PJSC e, para a execução de suas atividades, tanto os magistrados como os servidores recebem todo o material necessário da Divisão de Almoxarifado (DAL), pertencente à Diretoria de Material e Patrimônio (DMP), uma das sete diretorias que compõem a Diretoria Geral Administrativa – DGA. A rotina de reposição dos materiais de expediente às unidades requisitantes ocorre a partir das Requisições de Materiais – RM, lançadas através da Intranet por servidores autorizados em cada uma O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 95 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina daquelas unidades, as quais são inicialmente avaliadas e processadas pela Seção de Controle de Estoque (SCE) da DAL, para posterior atendimento dos materiais requisitados e liberados. Por fim, a Seção de Conferência e Distribuição de Materiais (SCDM) da DAL confere os itens relacionados nas RM com os materiais atendidos e retirados do estoque, a fim de enviá-los às suas respectivas unidades requisitantes. Na DAL, atualmente, trabalham ao todo 43 (quarenta e três) colaboradores, sendo 14 (quatorze) servidores e 29 (vinte e nove) contratados – terceirizados, cujo cargo/função de 18 (dezoito) deles foi alterado para auxiliar de almoxarifado. Dentre suas atividades estão: o recebimento e a análise da qualidade dos materiais entregues no almoxarifado; o controle da reposição, bem como da retirada dos materiais do estoque; a conferência, o carregamento e a distribuição dos materiais às unidades requisitantes do PJSC. Portanto, o problema de pesquisa partiu da preocupação em se avaliar a QVT dos colaboradores da DAL, tendo em vista que as características do trabalho exercido na divisão com relação ao manuseio de materiais de consumo (expediente) e permanentes (móveis e equipamentos de informática) envolvem serviços de carga e descarga; transporte e acondicionamento; pesagem, empacotamento, contagem e rotulagem dos volumes para os destinatários; organização do estoque; conservação e limpeza dos equipamentos sob sua responsabilidade, bem como dos materiais estocados; e, principalmente, transporte individual de materiais pesados; o que pode afetar a qualidade de vida daqueles, não somente no curto prazo, mas também no médio e no longo prazos. Os resultados são frutos da análise do questionário (Anexo 1) aplicado aos colaboradores – servidores e contratados (terceirizados), da Divisão de Almoxarifado do TJSC no mês de junho de 2011. Foram distribuídos 38 (trinta e oito) questionários, mas devolvidos 32 (trinta e dois), os quais representam mais de 84% do posicio96 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz namento dos colaboradores da DAL sobre QVT, sendo 11 (onze) pertencentes ao grupo dos servidores (85%) e 21 (vinte e um) ao grupo dos contratados (84%). 3.1 Perfil dos colaboradores O perfil dos respondentes referente à faixa etária, grau de instrução e tempo de TJSC será apresentado a seguir. 3.1.1 Faixa etária Verifica-se que do total de colaboradores, 11 (35,5%) têm entre 18 e 29 anos de idade, seguidos por outros 10 respondentes (32,3%) com idade entre 30 e 39 anos. Porém, quando analisados em separado, somente 1 servidor (9,1% deste grupo) encontra-se nesta faixa etária, enquanto que 10 contratados (50% do grupo de terceirizados) possuem entre 18 e 29 anos de idade (Grafico. 1). Em relação às faixas etárias restantes, o número de servidores e de contratados é similar entre os grupos. Gráfico 1: Faixa etária dos colaboradores – servidores e contratados – da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 97 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina 3.1.2 Grau de instrução Nota-se que o nível médio completo (28,1% do total) equiparase ao nível superior completo (28,1%) entre os colaboradores do almoxarifado, porém é acompanhado de perto por aqueles com ensino fundamental incompleto (21,9%). Estas três categorias representam a grande maioria dos colaboradores (78,1%) (Gráfico 2). Gráfico 2: Grau de instrução dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 Entretanto, ao se analisar os grupos separadamente, verifica-se que o nível superior é representado fundamentalmente pelo grupo dos servidores, sendo que 8 integrantes (72,7%) deste grupo têm o 3º grau completo, ou seja, praticamente 3/4 do total dos servidores. Em contrapartida, o grupo dos contratados possui 8 respondentes (38,1%) com o 2º grau completo, seguidos por 6 (28,6%) que não possuem o 1º grau completo, ambos totalizando 2/3 (66,7%) do total dos contratados. No caso dos cursos superiores completo e incompleto encontrados nesse último grupo, cabe salientar que se tratam de 2 dos 3 digitadores (9,6% dos contratados). 98 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz 3.1.3 Tempo de TJSC Gráfico 3: Tempo de TJSC dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 Conforme o gráfico acima (Gráfico 3), verifica-se que 45,5% dos servidores (5 pessoas) têm mais de 10 anos no TJSC, mas nenhum tem menos de um ano de trabalho, devido provavelmente à estabilidade profissional oferecida pelo regime estatutário, que possibilita a estes profissionais trabalharem por longos períodos numa mesma instituição. Por outro lado, constata-se que 45% (9 pessoas) têm entre 1 e 5 anos de TJSC no grupo dos contratados, mas nenhum tem mais de 10 anos, denotando dentre outros aspectos, a instabilidade gerada pelo regime celetista. Quando estes grupos são considerados em conjunto, observa-se que 71% (22 colaboradores) têm entre 1 e 10 anos de TJSC, tendo metade destes (11 pessoas) entre 1 e 5 anos, enquanto outra metade possui entre 6 e 10 anos de judiciário. Apesar do percentual de servidores que têm mais de 10 anos de TJSC (45,5%) ser o mesmo daqueles que têm entre 30 e 39 anos de idade e, do percentual dos que têm entre 6 e 10 anos de trabalho O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 99 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina no judiciário (36,4%) ser o mesmo daqueles com idade entre 40 e 49 anos, isto não quer dizer que são necessariamente os mesmos respondentes em ambos os casos. 3.2 Posicionamento dos colaboradores 3.2.1 Entendimento por QVT A questão sobre o que era entendido por QVT foi respondida por 65,6% dos colaboradores, sendo 9 servidores (81,8%) e 12 contratados (51,7%). Os fatores do Modelo de Walton são citados conforme a tabela abaixo (Tabela 1). Tabela 1: Número de citações pelos colaboradores dos critérios do Modelo de Walton NÚMERO DE CITAÇÕES Contratados Servidores Total CRITÉRIOS 1 - Compensação justa e adequada 2 - Condições de trabalho 3 - Uso e desenvolvimento das capacidades 4 - Oportunidade de crescimento e segurança 5 - Integração social na empresa 6 – Constitucionalismo 7 - Trabalho e espaço total de vida 8 - Relevância social do trabalho 4 6 2 6 6 12 5 5 10 1 2 3 7 1 2 0 6 1 0 0 13 2 2 0 Percebe-se que integração social na empresa é o critério mais citado pelos colaboradores, quando questionados sobre qual o entendimento pessoal por QVT, seguido pelos critérios condições de trabalho e uso e desenvolvimento das capacidades. O critério menos associado à QVT foi relevância social do trabalho, denotando que os mesmos não associam as ações sociais do PJSC e a qualidade dos serviços prestados como influenciadores da sua QVT. 100 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz 3.2.2 QVT em Geral Ao serem questionados sobre como veem a QVT na DAL do TJSC, 22,6% dos colaboradores optaram pela resposta central, ou seja, indiferente. Porém, enquanto 38,7% responderam estarem satisfeitos, este mesmo percentual de colaboradores se diz insatisfeito com a QVT da divisão (Gráfico 4). Gráfico 4: Nível de satisfação da QVT em geral dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 Quando analisados os grupos em separado, verifica-se que 54,5% dos servidores estão insatisfeitos, 36,4% satisfeitos e apenas 9,1% são indiferentes à sua QVT. Em contrapartida, 40,0% dos contratados estão satisfeitos com a QVT em geral na DAL e, dos 60,0% restantes, metade está insatisfeita e a outra metade é indiferente. Tabela 2: Média do nível de satisfação em relação à QVT QVT em geral na DAL do TJSC Contratados Servidores Geral 2,95 2,64 2,84 Em relação à satisfação com a QVT em geral na DAL do TJSC avaliada pela média (Tabela 2), a partir de uma escala que variou de O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 101 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina 1 a 5, onde de 1,00 a 2,99 = insatisfeito; igual a 3,00 = indiferente; e de 3,01 a 5,00 = satisfeito, constatou-se que todos os colaboradores (média de 2,84), indistintamente, estão insatisfeitos com a sua QVT, estando o grupo dos servidores (2,64) mais insatisfeito do que o grupo dos contratados (2,95), o que será provavelmente confirmado ao serem analisados os critérios do Modelo de Walton um a um. 3.3 Compensação justa e adequada O critério compensação justa e adequada mensurou a QVT dos colaboradores em relação à sua remuneração pelo trabalho desenvolvido. A maioria dos colaboradores da DAL do TJSC (58,9%) está insatisfeita com o salário que recebe para executar o seu trabalho, 25,3% mostram-se satisfeitos e 15,8% são indiferentes (Gráfico 5). Gráfico 5: Nível de satisfação do critério compensação justa e adequada dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 Considerando-se os grupos separadamente, verifica-se que entre os servidores 48,5% estão insatisfeitos com a questão remuneratória, 42,4% mostram-se satisfeitos e somente 9,1% são indiferentes. Por sua vez, a insatisfação em relação ao salário sobe para 64,5% en102 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz tre os contratados, seguida por 19,4% que são indiferentes e restando apenas 16,1% que se dizem satisfeitos com os seus percebimentos. Tabela 3: Médias do nível de satisfação em relação aos critérios de QVT MÉDIAS CRITÉRIOS Contratados Servidores Geral 2,32 3,22 3,03 2,86 2,56 3,10 3,33 3,03 3,22 2,80 3,18 2,94 3,24 3,10 3,30 3,19 3,12 3,21 3,09 2,58 3,20 3,14 3,23 2,90 1 - Compensação justa e adequada 2 - Condições de trabalho 3 - Uso e desenvolvimento das capacidades 4 - Oportunidade de crescimento e segurança 5 - Integração social na divisão 6 - Constitucionalismo 7 - Trabalho e espaço total de vida 8 - Relevância social do trabalho Realmente, quando analisadas as médias do nível de satisfação em relação aos critérios de QVT do Modelo de Walton (Tabela 3), corrobora-se a insatisfação (média de 2,56) dos colaboradores em geral, quanto ao critério compensação justa e adequada. Tabela 4: Médias do nível de satisfação em relação às dimensões de QVT CRITÉRIO – Compensação justa e adequada DIMENSÕES Salário compatível com o trabalho executado Salário perante o mercado de trabalho Benefícios oferecidos pelo TJSC MÉDIAS Contrats. Servids. Geral 2,00 2,05 2,90 3,18 3,09 2,82 2,41 2,41 2,87 Quando analisados em separado, verifica-se que o grupo dos servidores encontra-se satisfeito (3,03), apesar da sua insatisfação em relação à dimensão benefícios oferecidos pelos TJSC (média de 2,82). Já a insatisfação (2,32) do grupo dos contratados deve-se prioritariamente às dimensões salário recebido pelo trabalho executado O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 103 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina (média de 2,00) e salário perante o mercado de trabalho (2,05), conforme tabela anterior (Tabela 4). 3.4 Condições de trabalho Este critério analisou a QVT em relação às condições existentes no local de trabalho. Gráfico 6: Nível de satisfação do critério condições de trabalho dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 O percentual de colaboradores satisfeitos (43,3%) é superior ao de insatisfeitos (33,1%) ou indiferentes (23,6%) com as condições de trabalho, onde executam suas atividades (Gráfico 6). Porém, constata-se uma inversão nos níveis de satisfação entre os grupos, uma vez que 47,7% dos servidores mostram-se insatisfeitos com as condições de trabalho, estando 36,4% satisfeitos e 15,9% indiferentes, enquanto 47,0% dos contratados estão satisfeitos, 27,7% indiferentes e 25,3% insatisfeitos. Quando analisadas as médias do nível de satisfação em relação ao critério condições de trabalho do Modelo de Walton (Tabela 3), atesta-se a satisfação dos colaboradores em geral com média de 3,10. 104 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz Contudo, ao se analisar os grupos em separado, comprova-se que a insatisfação dos servidores (média de 2,86) neste critério (vide Tabela 3), deve-se basicamente às dimensões condições do ambiente físico em geral (2,36) e organização do ambiente (2,45), conforme tabela abaixo (Tabela 5). Da mesma forma, apesar da média do nível de satisfação de 3,22 (Tabela 3) entre os contratados ser superior até mesmo à média geral, constata-se a existência de insatisfação (2,81) com as condições do ambiente físico de trabalho (Tabela 5), denotando que esta dimensão requer uma maior atenção por parte da instituição. Tabela 5: Médias do nível de satisfação em relação às dimensões de QVT CRITÉRIO – Condições de trabalho DIMENSÕES MÉDIAS Contrats. Servids. Condições do ambiente físico de trabalho Organização do ambiente Equipamentos disponíveis para a execução do trabalho Carga de trabalho Geral 2,81 3,24 2,36 2,45 2,66 2,97 3,19 3,36 3,25 3,65 3,27 3,52 Para os servidores, o ambiente de trabalho na área administrativa encontra-se insatisfatório, devido principalmente à presença de carpete por sobre o piso, o que acumula poeira e serve de abrigo a agentes alergênicos; à pouca iluminação e ventilação naturais advindas das parcas janelas externas; à má distribuição das ilhas de trabalho (mesas) em decorrência do projeto arquitetônico ruim, bem como das redes elétrica, telefônica e de informática improvisadas. Por outro lado, a insatisfação dos contratados para com o ambiente de trabalho na área de estocagem refere-se ao desconforto térmico, pois a temperatura do ar chega a 30ºC na estação do verão, mesmo após a instalação de uma manta isolante térmica aluminizada que reduziu em cerca de 6ºC a temperatura máxima de 36ºC atingida anteriormente (DALPRÁ; MOSCARDINI JÚNIOR, 2008). Outro aspecto negativo apontado por esse autor é a baixa circulação de ar (ventilação) no galpão da DAL, devido à existência de poucas e desencontradas janelas que dificultam a formação de fluxos de ar satisO Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 105 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina fatórios, agravada ainda mais pela presença de prateleiras ou portapaletes em frente àquelas. Ambos os grupos de colaboradores – servidores e contratados – estão satisfeitos em relação aos equipamentos disponibilizados e à carga de trabalho, conforme demonstram as médias do nível de satisfação na Tabela 5. 3.5 Uso e desenvolvimento das capacidades O critério em questão avaliou a QVT com relação às oportunidades que são oferecidas pelo TJSC aos seus colaboradores para que os mesmos apliquem suas aptidões e conhecimentos. Em termos gerais, praticamente metade dos colaboradores da DAL (48,9%) está satisfeita com o critério uso e desenvolvimento das capacidades (Gráfico 7), 1/4 (26,3%) está insatisfeito e o quarto restante (24,7%) é indiferente à este critério. Curiosamente, os dois grupos – servidores e contratados, apresentam os mesmos percentuais, ou seja, acima de 2/5 (43,9%) estão satisfeitos, 1/3 (33,3%) está insatisfeito e pouco mais de 1/5 (22,7%) de cada grupo é indiferente com relação ao critério em questão. Gráfico 7: Nível de satisfação do critério uso e desenvolvimento das capacidades dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 106 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz De fato, a satisfação encontrada entre os colaboradores da DAL com o critério uso e desenvolvimento das capacidades é igualmente comprovada através das médias do nível de satisfação apresentadas anteriormente (Tabela 3), cujos valores são de 3,22 para o grupo todo de colaboradores e de 3,33 e 3,02 para os grupos de contratados e servidores, respectivamente. Através das médias do nível de satisfação em relação às dimensões do critério em pauta, verifica-se que os colaboradores estão, de forma geral, satisfeitos com a autonomia na execução das atividades (3,53), com as tarefas executadas (3,75) e com o grau de responsabilidade exigido pelo trabalho (3,50), de acordo com a tabela a seguir (Tabela 6). Os contratados estão mais satisfeitos com a execução de suas tarefas (3,86), bem como com a autonomia para executá-las (3,71), do que os servidores (3,55 e 3,18), mas este último grupo está mais satisfeito com a responsabilidade exigida no seu trabalho (3,73) do que o primeiro (3,38). Tabela 6: Médias do nível de satisfação em relação às dimensões de QVT CRITÉRIO – Uso e desenvolvimento capacidades DIMENSÕES MÉDIAS Contrats. Servids. Geral 3,71 3,86 3,18 3,55 3,53 3,75 3,38 3,73 3,50 3,10 2,55 2,91 2,85 2,64 2,77 3,05 2,55 2,87 Autonomia para a execução das atividades Tarefas executadas Grau de responsabilidade exigido pelo trabalho Incentivo para o desenvolvimento de habilidades Oportunidades para participar de treinamentos e cursos Informações fornecidas pelos superiores sobre o trabalho De algum modo, a satisfação demonstrada pelos colaboradores da DAL com as dimensões expostas anteriormente denota que a própria natureza das atividades desenvolvidas na divisão possibilita às mesmas serem executadas de diversas formas, conforme o indivíduo deseje se organizar; que os colaboradores têm, de certa maneira, ciO Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 107 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina ência das tarefas que lhes competem; e que tais atividades exigem um grau de responsabilidade que é compatível com suas funções. Em contrapartida, existe uma insatisfação dos colaboradores como um todo em relação às dimensões incentivo para desenvolver habilidades (2,91), retroinformação pelos superiores (2,87) e oportunidades para participar de treinamentos e cursos (2,77), cuja insatisfação por esta última é compartilhada pelos dois grupos – servidores (2,64) e contratados (2,85), conforme mostrado na Tabela 6. Apesar da autonomia ser uma dimensão satisfatória, uma vez que os colaboradores têm a oportunidade de utilizarem o próprio conhecimento para a execução de suas atividades, poucas são as chances do desenvolvimento de novas habilidades, devido ao fato das tarefas serem extremamente repetitivas, o que torna, portanto, insatisfatória esta última dimensão. A insatisfação dos colaboradores com a dimensão relativa à participação em cursos e treinamentos, não obstante a maior atenção por parte do TJSC que, através da Academia Judicial, tem procurado realizar cursos específicos para cada área, inclusive com temas propostos pelos próprios trabalhadores, deve-se fundamentalmente à recente implantação desta política pelo TJSC que, mesmo após os parcos investimentos e as raras oportunidades proporcionadas aos servidores no passado, ainda não é estendida para todos e, principalmente, não contempla de forma isonômica os contratados (terceirizados) no presente. Em relação à retroinformação, mesmo que haja semestralmente avaliações de desempenho dos servidores, estes permanecem insatisfeitos com o retorno dado pelos superiores hierárquicos sobre o andamento de seus trabalhos. 3.6 Oportunidade de crescimento e segurança Este critério mede a QVT em relação às oportunidades que a instituição oferece para o desenvolvimento e crescimento pessoal de seus colaboradores. 108 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz No total, 45,2% dos colaboradores estão satisfeitos com o critério oportunidade de crescimento e segurança, seguidos por 40,3% que estão insatisfeitos e 14,5% que são indiferentes (Gráfico 8), o que não é corroborado pelo valor médio de 2,94 do nível de satisfação geral apresentado na Tabela 3. Quando os grupos são analisados separadamente, verifica-se também no gráfico abaixo (Gráfico 8) que metade dos servidores (50,0%) se apresenta satisfeita, 27,3% insatisfeitos e 22,7% indiferentes. Porém, verifica-se o contrário com os contratados, estando quase metade deles (47,5%) insatisfeita, apesar de terem um percentual bastante próximo de indivíduos satisfeitos (42,5%) no tocante às oportunidades de progressão e estabilidade, restando apenas 10,0% de indiferentes. Da mesma forma, as médias apresentadas pelos grupos isoladamente (Tabela 3), confirmam a satisfação dos servidores (média de 3,18), bem como a insatisfação dos contratados (2,80) para com este critério. Gráfico 8: Nível de satisfação do critério oportunidade de crescimento e segurança dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 Quanto às duas dimensões relacionadas ao critério oportunidade de crescimento e segurança, os valores das médias do nível de satisfação demostram um antagonismo entre aquelas bastante grande, O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 109 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina quais sejam a incontestável insatisfação de todos os colaboradores (média de 2,35), no que concerne às oportunidades de progressão profissional, e a evidente satisfação dos mesmos (3,52 de média), no que tange à estabilidade empregatícia proporcionada pela instituição, de acordo com a Tabela 7. O número maior de servidores insatisfeitos com o seu crescimento na instituição deve-se, fundamentalmente, ao fato do TJSC possuir um Plano de Cargos e Salários – PCS, que não possibilita grandes progressões verticais e, no caso dos trabalhadores contratados, a insatisfação decorre da completa inexistência de qualquer tipo de motilidade vertical, ou seja, é totalmente nula a possibilidade de ascensão profissional àqueles. Tabela 7: Médias do nível de satisfação em relação às dimensões de QVT CRITÉRIO – Chance de crescimento e segurança DIMENSÕES Oportunidade de progresso profissional na instituição Estabilidade no emprego MÉDIAS Contrats. Servids. Geral 2,35 2,36 2,35 3,25 4,00 3,52 Como “a estabilidade é a garantia de permanência no serviço público, conferida ao servidor efetivo, após transpor o estágio probatório” (SANTA CATARINA, 2011) e, sendo o TJSC uma organização que oferece estabilidade profissional, a maioria dos servidores está satisfeita com esta dimensão. De forma idêntica, e mesmo que não adquirida a sua garantia, aos contratados é conferida uma certa estabilidade, desde que cumpram com as suas obrigações. 3.7 Integração social na divisão O objetivo deste critério é mensurar a integração social entre os colaboradores no ambiente de trabalho. A análise do critério integração social na divisão apresenta um índice de satisfação de 50,0% do total de colaboradores, seguido por 110 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz 33,0% de insatisfeitos e 17,0% de indiferentes (Gráfico 9). Dentre os servidores, praticamente metade encontra-se satisfeita (49,2%) com este aspecto, cujo percentual em muito se aproxima daquele encontrado dentre os contratados (50,4%). Em compensação, a insatisfação é maior no grupo dos servidores (41,5%) do que no dos contratados (28,5%), mas a indiferença nestes últimos atinge 21,2% dos indivíduos, enquanto apenas 9,2% daqueles primeiros estão indiferentes neste quesito. Realmente, tais níveis de satisfação são enfatizados pelas médias obtidas e apresentadas na Tabela 3, onde o valor de 3,20 referese aos colaboradores em geral e, especificamente, de 3,24 para o grupo dos contratados e de 3,12 para o dos servidores. Gráfico 9: Nível de satisfação do critério integração social na divisão dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 A maioria dos colaboradores está satisfeita com os relacionamentos interpessoais estabelecidos entre si, seja com as chefias (média de 3,84), seja com os colegas (3,68), conforme a tabela seguinte (Tabela 8). Portanto, pode-se inferir que o nível de satisfação para com estas dimensões, resulta do constante contato das chefias com os seus colaboradores, o que acaba gerando um elevado grau de conhe- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 111 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina cimento sobre o trabalho a ser realizado, e do bom relacionamento entre todos, através do clima de amizade e respeito que existe entre os mesmos. O desenvolvimento do trabalho em equipe e o clima de trabalho apresentam médias satisfatórias de 3,06 e 3,03, respectivamente (Tabela 8). Pode-se afirmar, então, que a satisfação presente em tais dimensões decorre do fato de haver um ambiente de ajuda mútua para o bom funcionamento dos setores, a fim de atingir os objetivos, e da maioria dos colaboradores trabalhar junto há certo tempo, o que propicia uma maior liberdade de expressão dentro dos grupos e, consequentemente, da divisão como um todo. Apesar dos níveis de satisfação do critério em pauta serem prioritariamente favoráveis, a insatisfação aparece nas dimensões igualdade de tratamento (média de 2,66), onde ambos os grupos apresentam-se bastante insatisfeitos neste quesito, com médias de 2,55 e 2,71, respectivamente, para servidores e contratados; e reconhecimento do trabalho realizado, com média de 2,90 para os colaboradores em geral, cuja insatisfação se deve fundamentalmente à média dos servidores (2,73), contra uma média de indiferença (3,00) dos contratados, consoante os valores mostrados na Tabela 8. Tabela 8: Médias do nível de satisfação em relação às dimensões de QVT CRITÉRIO - Integração social no trabalho DIMENSÕES Relacionamento com a chefia imediata Relacionamento com os colegas Igualdade de tratamento entre as pessoas Desenvolvimento do trabalho em equipe Reconhecimento do trabalho realizado Clima de trabalho 112 MÉDIAS Contrats. Servids. Geral 3,90 3,65 2,71 3,10 3,00 3,05 3,70 3,73 2,55 3,00 2,73 3,00 3,84 3,68 2,66 3,06 2,90 3,03 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz 3.8Constitucionalismo Este critério mede o grau em que os direitos dos colaboradores são respeitados pelo TJSC. A maior parte dos colaboradores (42,6%) está satisfeita com o critério constitucionalismo, seguida por 30,9% de indiferentes e 26,6% de insatisfeitos, como mostra o gráfico a seguir (Gráfico 10). No caso somente dos servidores, quase metade (48,5%) encontrase satisfeita com este critério, restando 27,3% que estão insatisfeitos e 24,2%, indiferentes. Por sua vez, no grupo do contratados, quase 2/5 (39,3%) estão satisfeitos, praticamente 1/3 (30,9%) é indiferente e pouco mais de 1/4 (26,6%) encontra-se insatisfeito com este aspecto. Gráfico 10: Nível de satisfação do critério constitucionalismo dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 Da mesma forma, as médias observadas dos níveis de satisfação (vide Tabela 3) vão ao encontro do exposto anteriormente, sendo de 3,14 o valor médio geral, de 3,21 para o grupo dos servidores e de 3,10 para o dos contratados, denotando assim uma satisfação com este fator por parte dos colaboradores como um todo. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 113 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Todavia, todos os colaboradores da DAL do TJSC se mostram insatisfeitos (média de 2,57) com a dimensão cumprimento das leis trabalhistas, independentemente do regime de trabalho a que estão submetidos, isto é, mesmo sendo servidores estatutários ou contratados celetistas, ambos os grupos apresentam, respectivamente, valores médios de 2,36 e 2,68 em relação aos níveis de satisfação, de acordo com a tabela abaixo (Tabela 9). No mais, tanto os colaboradores no seu todo, como os contratados e servidores em separado, estão satisfeitos com as duas outras dimensões liberdade de expressão e clareza nas decisões do referido critério, visto que nos três grupos todas as médias são superiores ao valor mínimo de 3,24 (Tabela 9). Estes índices de satisfação são devidos muito provavelmente à liberdade que os colaboradores possuem para manifestar as suas opiniões, além do próprio clima de trabalho favorecer não somente uma maior liberdade de expressão, como também uma melhor comunicação entre os colegas. Tabela 9: Média do nível de satisfação em relação às dimensões de QVT CRITÉRIO - Constitucionalismo DIMENSÕES Respeito às leis trabalhistas pela instituição Liberdade de expressão no ambiente de trabalho Clareza nas decisões de demissão MÉDIAS Contrats. Servids. Geral 2,68 2,36 2,57 3,38 3,55 3,44 3,24 3,73 3,41 3.9 Trabalho e espaço total de vida O critério em questão tem por objetivo avaliar o equilíbrio entre as vidas pessoal e laboral dos colaboradores. 114 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz Gráfico 11: Nível de satisfação do critério trabalho e espaço total de vida dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 Numa análise geral, fica demonstrado que metade dos colaboradores (50,0%) está satisfeita com o critério trabalho e espaço total de vida, 30,6% estão insatisfeitos e 19,4% são indiferentes (Gráfico 11). Como o trabalho desenvolvido na divisão é rotineiro e envolve em grande parte esforço físico, permite aos colaboradores não levarem preocupações para além do horário de expediente, possibilitando-lhes, portanto, a execução de outras atividades que são complementares às suas vidas pessoais. O percentual de servidores satisfeitos (40,9%) com este critério é o mesmo de insatisfeitos, estando 18,2% deste grupo indiferentes. Por sua vez, 55,0% dos contratados estão satisfeitos, 25,0% insatisfeitos e 20,0%, indiferentes. Todavia, quando analisadas as médias do nível de satisfação em relação às dimensões deste mesmo critério, verifica-se que todos indistintamente estão satisfeitos (média de 3,23), bem como os grupos isoladamente – contratados (3,30) e servidores (3,09), consoante valores apresentados na Tabela 3. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 115 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Tabela 10: Média do nível de satisfação em relação às dimensões de QVT CRITÉRIO – Trabalho e espaço total de vida DIMENSÕES Tempo disponível para realizar atividades de lazer Condições físicas e psicológicas para realizar atividades de lazer após o expediente MÉDIAS Contrats. Servids. Geral 3,60 3,18 3,45 3,00 3,00 3,00 De fato, a satisfação é reforçada pelas médias verificadas na dimensão tempo disponível para lazer, onde no grupo dos contratados o valor é de 3,60 e, no dos servidores, 3,18 (Tabela 10). Como a Divisão de Almoxarifado do TJSC não funciona em finais de semana, nem em feriados, os colaboradores dispõem de tempo livre para as suas vidas pessoais, quer seja para o lazer, quer seja para o convívio familiar e/ou com os amigos. Além disso, os colaboradores desenvolvem as suas atividades laborais somente no período vespertino e dificilmente têm de ficar após o expediente. Contudo, através das médias obtidas na dimensão condições físicas e psicológicas para lazer após expediente constata-se uma indiferença nos dois grupos, cujos valores são iguais a 3,00 (Tabela 10). 3.10 Relevância social do trabalho Tal critério mede a QVT quanto à percepção dos colaboradores em relação à responsabilidade social da instituição perante à sociedade e a qualidade dos serviços por ela prestados. O critério relevância social do trabalho apresenta um maior percentual (47,3%) de colaboradores que é indiferente a ele, seguido de 26,4% para ambos, satisfeitos e insatisfeitos (Gráfico 12). Mesmo analisados em separado, cada um dos grupos possui o maior percentual de indivíduos indiferentes a este critério – 48,5% e 46,6%, respectivamente para servidores e contratados. Porém, dentre os servidores 42,4% estão insatisfeitos, enquanto 36,2% dos contratados se dizem satisfeitos e, de forma inversa, somente 9,1% daqueles primeiros estão satisfeitos, restando 17,2% destes últimos insatisfeitos. 116 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz Gráfico 12: Nível de satisfação do critério relevância social do trabalho dos colaboradores – servidores e contratados, da Divisão de Almoxarifado do TJSC em junho/2011 Isto significa dizer que como se trata de uma atividade-meio e, estando a DAL muito distante da atividade-fim do Poder Judiciário, que é a prestação jurisdicional à sociedade, grande parte dos colaboradores não percebe a responsabilidade social da instituição e nem a qualidade de seus serviços. Em relação à média do nível de satisfação, verifica-se que os colaboradores da divisão estão insatisfeitos (média de 2,90) com o critério da relevância social do trabalho (Tabela 3). A análise isolada dos grupos mostra que o baixo valor da média (2,58) encontrado dentre os servidores é que influencia o valor médio geral, apesar do nível de satisfação dentre os contratados ser positivo (média de 3,19). Tabela 11: Média do nível de satisfação em relação às dimensões de QVT CRITÉRIO – Relevância social do trabalho DIMENSÕES MÉDIAS Contrats. Servids. Geral 2,95 2,73 2,87 3,63 2,45 3,00 3,00 2,55 2,84 Imagem interna da instituição (como os colaboradores a veem) Imagem externa da instituição (como a comunidade a vê) Ações sociais promovidas pela instituição O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 117 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina De acordo com os dados da Tabela 11, os colaboradores estão insatisfeitos com as dimensões imagem interna da instituição (média de 2,87) e ações sociais promovidas pela instituição (2,84), além de serem indiferentes à imagem externa da instituição (3,00). Somente os contratados estão satisfeitos (3,63) com uma das dimensões deste critério: a imagem externa da instituição, ou seja, a forma com que as pessoas de fora veem o TJSC. Por outro lado, este mesmo grupo é indiferente (3,00) às ações sociais promovidas pelo judiciário e está insatisfeito (2,95) com a visão que ele próprio tem da organização. Já os servidores estão insatisfeitos com todas as dimensões apontadas anteriormente. 3.11 Trabalho no amanhã Quase 4/5 dos colaboradores (78,1%) da DAL do TJSC planejam partir para outra atividade no futuro. Este percentual sobe para 85,7% no grupo dos contratados e cai para 63,6% (quase 2/3) dentre os servidores (Tabela 12). Pode-se associar este fato ao desejo de crescimento profissional da maioria dos colaboradores que, como visto anteriormente, é corroborado pela insatisfação que muitos têm com a dimensão oportunidade de progresso profissional na instituição (Tabela 7) do critério oportunidade de crescimento e segurança (Gráfico 8). Tabela 12: Troca de atividade no futuro Você planeja trocar de atividade no futuro? RESPOSTA CONTRATADOS SERVIDORES Sim Não 85,7% 14,3% 63,6% 36,4% TOTAL 78,1% 21,9% Pouco mais da metade (51,6%) dos colaboradores afirma já ter sofrido ou sofrer com problemas de saúde relacionados ao trabalho executado na divisão, sendo o percentual um pouco maior entre os contratados (55,0%) do que entre os servidores (45,5%), de acordo com os valores apresentados na tabela abaixo (Tabela 13). 118 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz Tabela 13: Problemas de saúde relacionados ao trabalho Você sofre ou já sofreu com problemas de saúde relacionados ao seu trabalho? RESPOSTA CONTRATADOS SERVIDORES TOTAL Sim Não 55,00% 45,00% 45,5% 54,5% 51,6% 48,4% No geral, apesar da faixa etária dos respondentes ser relativamente baixa na DAL, com mais de 2/3 (67,8%) dos colaboradores e cerca de 3/4 (75,0%) dos contratados entre 18 e 39 anos de idade (vide Gráfico 1), alerta-se para o fato da instituição ter de atentar para a taxa de absenteísmo, a qual poderá se elevar no futuro, em decorrência do iminente aumento na quantidade de problemas de saúde que estarão relacionados com os trabalhos ali desenvolvidos. Isto acarretará, impreterivelmente, uma sobrecarga de trabalho na divisão como um todo, mas, principalmente, nos auxiliares de almoxarifado que executam o trabalho braçal de estocagem, atendimento e conferência dos materiais, cuja atividade demanda um esforço físico constante, inclusive o transporte individual de materiais pesados. Tabela 14: Saúde e trabalho ao longo do tempo Você considera que as tarefas e as condições de trabalho oferecidas hoje possibilitam a sua execução sem ocasionar problemas físicos ou psicológicos ao longo do tempo? CONTRATADOS SERVIDORES TOTAL Sim RESPOSTA 25,0% 9,1% 19,4% Não 75,0% 90,9% 80,6% A maioria dos colaboradores (80,6%) afirma que as tarefas e condições de trabalho oferecidas hoje poderão ocasionar problemas físicos ou psicológicos ao longo do tempo. Quase a unanimidade dos servidores (90,9%) acredita que as atividades não poderão ser executadas por muito tempo sem ocasionar problemas de ordem física e/ou psicológica, enquanto a rotina e o elevado esforço físico empenhados na execução das atividades do almoxarifado são fatores determinantes para que 3/4 (75,0%) dos contratados achem o mesmo (Tabela 14). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 119 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina 4.Ações à melhoria da QVT aos colaboradores da DAL do TJSC O objetivo deste trabalho é propor ações que visem à melhoria da QVT aos colaboradores da DAL do TJSC, a partir da avaliação dos questionários de caráter eminentemente quantitativo (Anexo), aplicados para a coleta dos dados. Num primeiro momento, a insatisfação com o critério compensação justa e adequada poderá ser revertido, desde que os contratados passem a receber mais do que somente 1 (um) salário mínimo por mês, haja vista que o cargo de auxiliar de almoxarifado exige daqueles um conhecimento prévio e específico das atividades envolvidas na estocagem de materiais, diferentemente do auxiliar de serviços gerais, que necessita somente de uma habilidade mais prática. Quanto aos servidores, estes poderão ficar menos insatisfeitos com a questão, caso o novo PCS (Plano de Cargos e Salários) seja implantado, o qual dentre outros objetivos elevará os vencimentos e permitirá uma maior ascensão salarial aos trabalhadores do judiciário catarinense, bem como a PEC 190/2007 (Proposta de Emenda à Constituição n. 190, de 2007) seja aprovada, já que um estatuto único aos trabalhadores do judiciário brasileiro favorecerá a unificação de suas carreiras e salários. Em relação ao critério condições de trabalho, verifica-se a necessidade de reformas na área administrativa que impliquem necessariamente na retirada do carpete e a sua substituição por um piso frio; instalação de mais janelas para aumentar a ventilação e iluminação internas; redistribuição das ilhas de trabalho e redefinição das redes elétrica, telefônica e de informática, para melhorar a integração social e permitir um melhor fluxo de trabalho; e retirada de paredes e divisórias desnecessárias, a fim de propiciar melhores fluxos de comunicação e, igualmente, de circulação de ar. Por outro lado, na área de estocagem faz-se imprescindível a colocação de mais janelas e/ou venezianas de grandes frestas em todas as paredes, principalmente na porção superior próxima ao teto, bem como a instalação de mais exaustores eólicos aos já existentes, com o 120 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz intuito de se melhorar a circulação de ar, além de consequentemente se incrementar a iluminação natural no estoque (DALPRÁ; MOSCARDINI, 2008). Outro aspecto bastante relevante apontado pelo grupo dos contratados é a inexistência de um vestiário, ou seja, um local próprio e grande o bastante para trocarem de roupa, bem como de armários espaçosos e arejados o suficiente para guardarem seus sapatos, capas impermeáveis, guarda-chuvas etc. Apesar dos colaboradores estarem satisfeitos com os equipamentos disponíveis, cabe salientar que há uma necessidade premente de revisão e/ou substituição de parte das paleteiras (carrinhos para movimentação de cargas) existentes no almoxarifado, devido ao fato das mesmas serem intensamente utilizadas por todos na área do estoque, não obstante o manuseio descuidado por aqueles e outrem (prestadores de serviço) em alguns momentos. Convém, portanto, imbuir responsabilidade e cooperação nos colaboradores quanto aos cuidados a serem dispendidos com os equipamentos em geral, a fim de se manter minimamente apropriadas as condições de trabalho. O nível de insatisfação encontrado na DAL com o critério uso e desenvolvimento das capacidades poderá converter-se em algo satisfatório, desde que seja implementada como política interna da própria divisão a prática rotineira de intercâmbio dos colaboradores entre as diferentes seções, proporcionando a todos a possibilidade do desenvolvimento de novas habilidades, a fim de se evitar que porventura surja a desídia entre os trabalhadores, decorrente da execução de tarefas extremamente repetitivas nas dependências do almoxarifado. A participação em treinamentos e cursos tem de ser necessariamente fomentada pelo TJSC e amplamente divulgada pela Academia Judicial aos seus colaboradores, quer eles sejam servidores ou contratados, pois a excelência nos serviços prestados pela instituição somente será atingida caso haja uma maior e impreterível capacitação de seus trabalhadores. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 121 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Isto vai ao encontro da Missão “Realizar Justiça, assegurando a todos o acesso, com efetividade na prestação jurisdicional” e Visão “Ser reconhecido como um Judiciário eficiente, célere e respeitado pela Sociedade” do PJSC, constituindo-se inclusive num dos planos de ação que integram as macroatividades do TJSC: o programa Capacitação de magistrados e servidores, que visa “desenvolver permanentemente conhecimentos, habilidades e atitudes” (PODER JUDICIÁRIO DE SANTA CATARINA, 2012). Ressalte-se também a necessidade de constantes retroinformações, ou seja, os superiores hierárquicos devem fornecer constantemente informações aos seus subordinados sobre o andamento de seus trabalhos na divisão, o famoso feedback, a fim de tornarem a dimensão em questão minimamente satisfatória dentre os seus colaboradores. A implantação do novo PCS, que já se encontra em discussão há pelo menos uns dois anos, deve reverter em parte a insatisfação dos servidores efetivos para com as parcas oportunidades de crescimento existentes na instituição e, por conseguinte, na própria divisão, já que este plano traz consigo a possibilidade àqueles de terem maiores chances de ascensão profissional. Infelizmente, tal insatisfação com este quesito é totalmente irreversível no caso do pessoal contratado, pois sendo a terceirização a ausência de pessoalidade e subordinação direta destes trabalhadores com a instituição, ocorre a completa impossibilidade de acesso por parte deles aos quadros funcionais e de carreira do PJSC. A fim de se melhorar o nível de satisfação com relação à dimensão igualdade de tratamento do critério integração social, cabe salientar a importância de se dispensar um tratamento justo e igualitário a todos os colaboradores indistintamente, uma vez que a desigualdade de tratamentos em nada contribui para a manutenção de um ambiente harmônico e agradável, lembrando também que um bom clima de trabalho, além do conhecimento que cada um deve ter de suas próprias responsabilidades, colabora para o atingimento desta isonomia (HAENSSGEN, 2003; MESSERSCHMIDT, 2008). 122 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz Mesmo encontrando-se a dimensão referente ao desenvolvimento do trabalho em equipe num nível satisfatório, há depoimentos que alegam já ter sido melhor a ajuda mútua no passado e, pelo fato da dimensão relacionada ao reconhecimento do trabalho realizado estar em nível insatisfatório, ambos denotam a necessidade de se estimular melhores relações entre os colaboradores, não somente entre os colegas de função e/ou cargo, mas também entre superiores e subordinados. Tendo em vista a insatisfação com o descumprimento das leis trabalhistas por parte das organizações a que estão submetidos contratados e servidores, reitera-se a necessidade de uma participação mais consciente de todos junto aos seus respectivos órgãos representativos, a fim de que se estabeleçam estruturas permanentes de discussão, reflexão e consulta, para que os sindicatos venham a defender de fato os direitos e interesses coletivos ou individuais de suas categorias, inclusive em questões judiciais e/ou administrativas. É inegável, portanto, a importância de um sindicato forte para a valorização profissional, que atende, reivindica e produz resultados para a categoria que representa. Se houver a comunicação e o acesso do cidadão à Justiça; a busca contínua da satisfação dos usuários, através de serviços de qualidade, com celeridade, imparcialidade, probidade, conciliação e ética; em síntese, se forem valorizadas as pessoas, conforme descrito na Missão e Visão do PJSC, certamente a instituição judiciária elevará o nível de satisfação da sociedade, quanto à sua imagem externa. De modo similar, caso a saúde e o clima organizacionais sejam desenvolvidos, bem como os conhecimentos, as habilidades e as atitudes em seus colaboradores; e caso seja promovida a solução de conflitos; racionalizadas e normatizadas as rotinas de trabalho para melhorar a produtividade, a organização judicial também terá perante os seus trabalhadores, quanto à sua imagem interna, um alto nível de satisfação. E as ações sociais promovidas pelo PJSC terão melhores índices de satisfação, desde que promovam a cidadania, priorizando ações O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 123 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina de natureza e cunho sociais, como por exemplo as de combate à violência contra a mulher, às drogas, à exploração sexual de crianças e adolescentes, bem como as de erradicação do trabalho infantil, adoção de crianças, paz no trânsito, entre outras. Por fim, como metade (1/2) dos colaboradores afirma já ter sofrido ou sofrer de problemas decorrentes do trabalho na DAL do TJSC e 4/5 confessam que as tarefas e condições de trabalho oferecidas hoje não possibilitam a sua execução sem ocasionar problemas de saúde no futuro, estas condições irão contribuir para o aumento do nível de absenteísmo, o qual gerará uma sobrecarga de trabalho nos colegas, situação que por sua vez poderá proporcionar ainda mais problemas. Sugere-se, portanto, que haja uma postura preventiva na divisão com a possibilidade do rodízio de tarefas nas seções, bem como entre as seções, além do maior incentivo à participação na ginástica laboral, a partir da sua retomada. O presente estudo corrobora a existência de fatores que interferem na qualidade de vida das pessoas, quando em situação de trabalho, pois pouco resolve preocupar-se exclusivamente com os fatores que são extrínsecos ao ser humano, devendo-se igualmente atentar àqueles que são intrínsecos, como os estados físico, mental e social dos trabalhadores que, em conjunto com os primeiros, afetam a cultura e interferem no clima organizacional, com reflexos na produtividade e satisfação de todos os colaboradores. Referências BARROS, Carlos Alberto Cereja de. Qualidade de Vida no Trabalho. O que vem a ser afinal a Qualidade de Vida no Trabalho? Rio de Janeiro, RJ: Revista CADE-FMJ, ano 4, n. 7, p. 47-49, jul./dez. 2002. 124 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz DALPRÁ, Charles Augusto; MOSCARDINI JÚNIOR, Ernesto. Análise Ergonômica do Trabalho – Almoxarifado do Poder Judiciário de Santa Catarina. Florianópolis, SC: UFSC, 2008, 26 p. Originalmente apresentado como trabalho da disciplina de Ergonomia e Segurança Industrial, Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, 2008. FERNANDES, Eda Conte. Qualidade de Vida no Trabalho: como medir para melhorar. Salvador, BA: Casa da Qualidade, 1996. 122 p. FELIPE, Jussara; CORREIA, Márcia Eliana da Rosa; SILVEIRA, Rosinha. Qualidade de Vida no Trabalho: um estudo de caso nas diretorias do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. São José, SC: IES, 2006. Originalmente apresentado como trabalho de conclusão de curso de Administração com Habilitação em Recursos Humanos, Instituto de Ensino Superior da Grande Florianópolis, 2006. HAENSSGEN, Patrícia. Qualidade de Vida no Trabalho: um estudo de caso na área do transporte coletivo. Porto Alegre, RS: UFRGS, 2003, 55 p. Originalmente apresentado como monografia do programa de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003. LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina; KANIKADAN, Andréa Yumi Sugishita. A construção de um instrumento de coleta de dados a partir do modelo de indicadores biopsicossocial e organizacional – BPSO-96 e do modelo de competências do bem-estar – BEO, sobre gestão de Qualidade de Vida no Trabalho. Porto Alegre, RS: Revista Eletrônica de Administração/UFRGS, ed. 54, v. 12, n. 6, p. 1-26, nov./dez. 2006. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 125 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina MESSERSCHMIDT, Guilherme Stoffel. Qualidade de Vida no Trabalho no Almoxarifado Central do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Porto Alegre, RS: UFRGS, 2008, 93 p. Originalmente apresentado como trabalho de conclusão de curso de Graduação em Administração, Departamento de Ciências Administrativas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008. OLIVEIRA, Alizandra Cristina de. Qualidade de Vida no Trabalho segundo o Modelo Walton: um estudo de caso frente à percepção dos funcionários da Imperador Calçados. São José, SC: Univali, 2006, 91 p. Originalmente apresentado como trabalho de conclusão de curso de Graduação em Administração com Habilitação em Serviços, Centro de Educação, Universidade do Vale do Itajaí, 2006. PILATTI, Luiz Alberto. Qualidade de Vida no Trabalho e a teoria dos dois fatores de Herzberg: possibilidade-limite das organizações. In: VILARTA, R.; GUTIERREZ, G. L. (Orgs.). Qualidade de vida no ambiente corporativo. Campinas, SP: IPES Editorial, 2008. p. 51-62. PINHEIRO, Elisandra Duarte; PILATTI, Luiz Alberto; PEDROSO, Bruno. 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Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Seção Psicossocial Organizacional, Divisão de Acompanhamento e Desenvolvimento de Pessoal, Diretoria de Recursos Humanos. Manual do Novo Servidor. Florianópolis, SC: DAG/TJSC, 2011. 74 p. TIMOSSI, Luciana da Silva; PEDROSO, Bruno; PILATTI, Luiz Alberto; FRANCISCO, Antônio Carlos de. de. Adaptação do Modelo de Walton para avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho. Maringá, PR: Revista da Educação Física/UEM, v. 20, n. 3, 3.trim., p. 395-405 2009. VIEIRA, Adriane. A Qualidade de Vida no Trabalho e o Controle da Qualidade Total. Florianópolis, SC: Editora Insular, 1996. 192 p. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 127 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Anexo QUESTIONÁRIO Prezado(a) colega, O presente questionário tem por propósito avaliar a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), segundo a sua percepção, na Divisão de Almoxarifado (DAL) do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina (TJSC), e fará parte do trabalho de conclusão do curso de Especialização em Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos da UFSC. A pesquisa, baseada no modelo de aferição da Qualidade de Vida no Trabalho de Walton, visa à coleta de dados para a análise da satisfação dos colaboradores em relação aos diversos aspectos que atuam sobre a QVT dessa divisão e a identificação de pontos positivos e negativos no ambiente organizacional, a fim de propor ações corretivas quando essas se fizerem necessárias. Para tanto, você está recebendo um questionário que contém afirmativas sobre aspectos do seu trabalho, onde você deverá ler cada frase atentamente e escolher uma alternativa que melhor traduza a sua opinião. Todos os colaboradores da divisão, inclusive você, participarão fornecendo dados sobre suas próprias percepções acerca do ambiente organizacional. Os dados de identificação e as informações fornecidas por você serão mantidos sob sigilo, sendo analisados em conjunto com as informações fornecidas pelos demais colegas de forma anônima e quantitativa. Portanto, sinta-se totalmente à vontade para responder às questões, pois o que importa é a sua opinião sincera. O presente trabalho depende da colaboração de todos para que a pesquisa corresponda realmente à opinião do grupo! Obrigado. Marcello Campiglia 128 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz Dados de Identificação I.Idade ( ) 18 a 29 anos ( ) 30 a 39 anos ( ) 40 a 49 anos ( ) 50 anos ou mais II.Sexo ( ) masculino ( ) feminino III.Estado Civil ( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) separado(a) ( ) viúvo(a) IV.Escolaridade ( ) fundamental incompleto ( ) fundamental completo ( ) médio incompleto ( ) médio completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo V. Tempo de Serviço ( ) menos de 1 ano ( ) entre 1 e 5 anos ( ) entre 6 e 10 anos ( ) mais de 10 anos O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 129 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina VI. Tempo de TJSC ( ) menos de 1 ano ( ) entre 1 e 5 anos ( ) entre 6 e 10 anos ( ) mais de 10 anos VII. Colaborador ( ) contratado ( ) servidor Leia atentamente cada uma das frases abaixo e assinale com um “X” a alternativa que melhor traduz a sua opinião. 1. Considerando o trabalho que você executa, você está ... com o seu salário. 2. Perante o mercado de trabalho, você está ... com o seu salário. 3. Você está ... em relação aos benefícios oferecidos pelo TJSC aos seus contratados. 4. Você está ... em relação às condições do ambiente físico de trabalho, em geral. 5. Você está ... em relação à organização do ambiente. 6. Você está ... em relação aos equipamentos disponíveis para a execução do seu trabalho. 7. Você está ... em relação à carga de trabalho. 8. Você está ... em relação à sua autonomia para a execução das suas atividades. 9. Você está ... em relação às tarefas executadas. 10. Você está ... em relação ao grau de responsabilidade exigido pelo seu trabalho. 11. Você está ... em relação ao incentivo para o desenvolvimento de habilidades. 130 1 ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito 2 3 4 ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito ( ) ( ) ( ) Insatisfeito Indiferente Satisfeito 5 ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito ( ) Totalmente Satisfeito Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marcello Campiglia e Gilberto de Oliveira Moritz 12. Você está ... em relação às oportunidades para participar de treinamentos e cursos. 13. Você está ... em relação às informações fornecidas pelos superiores sobre o seu trabalho. 14. Você está ... em relação às oportunidades de progresso profissional na instituição. 15. Você está ... em relação à estabilidade no emprego. 16. Você está ... em relação ao relacionamento com a chefia imediata. 17. Você está ... em relação ao relacionamento com os colegas. 18. Você está ... em relação à igualdade de tratamento entre as pessoas. 19. Você está ... em relação ao desenvolvimento do trabalho em equipe. 20. Você está ... em relação ao reconhecimento do trabalho por você realizado. 21. Você está ... em relação ao clima de trabalho. 22. Você está ... em relação ao respeito às leis trabalhistas pela instituição. 23. Você está ... em relação à liberdade de expressão no ambiente de trabalho. 24. Você está ... em relação à clareza nas decisões de demissão. 25. Você está ... quanto ao tempo disponível para realizar atividades de lazer. 26. Você está ... quanto às condições físicas e psicológicas para realizar atividades de lazer após o expediente. 27. Você está ... em relação à imagem interna da instituição (como você a vê). 1 ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito ( ) Totalmente Insatisfeito 2 3 4 5 ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Insatisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Insatisfeito Satisfeito O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 131 Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina 28. Você está ... em relação à imagem externa da instituição (como as pessoas de fora a veem). 29. Você está ... em relação às ações sociais promovidas pela instituição. 30. Você está ... em relação à Qualidade de Vida no Trabalho na Divisão de Almoxarifado do TJSC. 31. Você planeja trocar de atividade no futuro? 32. Você sofre ou já sofreu com problemas de saúde relacionados ao seu trabalho? 33. Você considera que as tarefas e as condições de trabalho oferecidas hoje possibilitam a sua execução sem ocasionar problemas físicos ou psicológicos ao longo do tempo? 1 2 3 4 5 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Insatisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Insatisfeito Satisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente Totalmente Insatisfeito Indiferente Satisfeito Insatisfeito Satisfeito ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não Fonte: MESSERSCHMIDT, Guilherme Stoffel. Qualidade de Vida no Trabalho no Almoxarifado Central do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS, 2008 O que você entende por Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Muito obrigado pela sua contribuição! 132 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina Márcia Campos Sarturi Alexandre Marino Costa 1Introdução O marco regulatório estabelecido a partir da Resolução n. 70/2009 do Conselho Nacional de Justiça, que instituiu o Planejamento Estratégico do Poder Judiciário Nacional, vem contribuindo significativamente para a construção de um novo modelo de gestão administrativa pública nos Tribunais de Justiça Estaduais. Essa nova estrutura administrativa proposta objetiva operacionalizar uma formatação organizacional que auxilie a modernização do judiciário, pela ampliação do acesso à justiça, bem como procura oferecer maior efetividade e celeridade aos processos judiciais e administrativos de sua competência, para que os serviços públicos sejam prestados com maior qualidade, celeridade e eficiência. Nesse contexto, as novas diretrizes organizacionais contidas no Planejamento Estratégico do Poder Judiciário de Santa Catarina conduziram, através da gestão estratégica de pessoas, o processo de reorganização do Núcleo VI – Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina. Nesse processo de reorganização do ambiente de trabalho foi desenvolvida uma nova configuração para a estrutura organizacional funcional, dividida por setores (funcionograma), visando qualificar o desempenho das atri- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 133 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina buições de controle, fiscalização disciplinar e orientação dos serviços extrajudiciais. Este projeto de pesquisa insere-se no debate das reformas pelas quais a administração pública vem passando hodiernamente, visando contribuir com uma discussão teórica sobre o atual modelo de gestão estratégica de pessoas aplicado na reorganização do Núcleo IV da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina. Nesse sentido, procura estabelecer uma leitura das teorias administrativas que abordam a gestão estratégica de pessoas, visando identificar fundamentos, práticas e procedimentos utilizados na construção de um modelo próprio de gestão estratégica de pessoas orientado por competências na Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina. Na avaliação das práticas experimentadas no ambiente organizacional da Corregedoria-Geral da Justiça, selecionadas para comportarem a presente avaliação de inter-relação com as competências dos indivíduos, foi analisada a adequação entre as competências selecionadas mapeadas pelo novo modelo de gestão estratégica de pessoas e as atribuições efetivamente desempenhadas. O presente artigo propõe uma breve discussão sobre a aplicação de determinados modelos de gestão estratégica de pessoas com base em competências, discutidos a partir do arcabouço teórico proposto pelos doutrinadores Dutra (2002), Marras (2000), Dessler (2003), Girardi (2009) e Fleury e Fleury (2004), na tentativa de avaliar o processo de reorganização administrativa experimentado no ambiente organizacional da Corregedoria-Geral da Justiça, para que seja reconhecida uma inter-relação de nexo causal e/ou finalístico que convalide o referencial teórico proposto pela teoria da administração. Nesse sentido, importante salientar que este estudo não tem o propósito de esgotar a amplitude interdisciplinar teórica que circunda a discussão dentro da Teoria da Administração, uma vez que tal enfrentamento mais aprofundado exigiria uma pesquisa bibliográfica mais detalhada, que proporcionasse um diálogo com demais autores das áreas da Psicologia, da Filosofia, da Administração e da Economia. 134 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa 2 A gestão estratégica de pessoas orientada por competências A história da humanidade é marcada por contínuas rupturas paradigmáticas sobre as formas de pensar e entender o ser humano, que produziram reflexos diretos sobre os fundamentos teóricos da administração, sobretudo em relação à administração de recursos humanos, quando a amplitude da compreensão das pessoas passa a prescrever novas formas e maneiras de equacionar a melhor gestão do seu trabalho nas empresas ou órgãos governamentais. Em consequência, a profusão das teorias administrativas promove uma inflacionada reinvenção de teorias aplicadas à administração de recursos humanos, para abarcar a compreensão da gestão de talentos humanos, gestão de colaboradores, gestão de competências e a própria gestão de pessoas (CHIAVENATTO, 2010). Nesse contexto evolutivo da compreensão da pessoa dentro da cultura organizacional, a gestão de recursos humanos vem recebendo atenção destacada no planejamento estratégico de instituições públicas e privadas. A centralidade dos recursos humanos é apontada como uma consequência lógica do novo papel a ser desempenhado pelas pessoas na moderna organização administrativa, como bem fundamenta Girardi (2009, p. 25), ao afirmar que as pessoas são a razão da existência de qualquer organização, devendo a organização trabalhar para elas, por elas e por meio delas. O autor condiciona, ainda, o eficiente funcionamento da organização ao necessário alinhamento das pessoas em torno de um objetivo comum, operacionalizado por meio de uma estratégica e participativa gestão de pessoas. No mesmo sentido entende Chiavenatto (2010, p. 5), ao reconhecer que as organizações funcionam fundamentalmente por meio das pessoas, contudo advertindo que devemos primeiramente observar qual o termo utilizado pela organização para definir quem e o que são as pessoas, sua participação e sua importância efetiva para a organização. A partir destas denominações formuladas e internalizadas pela instituição, poderemos compreender de que maneira as pessoas O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 135 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina devem trabalhar, como são recompensadas, seu papel na consolidação do resultado e qual o seu significado na estrutura do órgão. Essa compreensão sistemática do papel fundamental da pessoa na estrutura organizacional vem consolidando as teorias que focam na gestão de pessoas uma atividade necessária para que a administração dos recursos humanos seja considerada de forma integrada às demais áreas da administração. Por este ângulo de análise, Chiavenatto (2010, p. 9) tem considerado a gestão de pessoas como um conjunto integrado de atividades de especialistas e de gestores, que conjuntamente planejam e operacionalizam novas formas de agregar, aplicar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar pessoas, buscando qualificar as suas competências e gerar competitividade à organização. Deste modo, as atividades desempenhadas pelos especialistas e gestores de recursos humanos devem propiciar uma gestão de pessoas como um processo de gestão descentralizada, apoiada nos demais gestores, pelas atividades-fim e atividades-meio da organização (GIRARDI, p. 23 apud TASHIZAWA; FERREIRA; FORTUNA, 2001), mas sempre atuando sob um comando administrativo integrado. Chiavenatto (2010) ainda preceitua a gestão de pessoas como a área responsável pela identificação, construção e manutenção de talentos por meio de um conjunto integrado de processos, que ao cuidarem do capital humano das organizações, fortalecem o elemento fundamental do seu capital intelectual e a base de seu sucesso ou frustração na consecução de seus objetivos. Esta ideia trazida pela necessária cooperação mútua “organização-pessoa” faz com que a gestão de pessoas seja também conceituada como uma função gerencial que visa à cooperação das pessoas que atuam nas organizações para o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais (GIRARDI, p. 23 apud GIL, 2001, p.17). Neste contexto de análise, a gestão de pessoas passa a estabelecer um conjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação de expectativas entre a organização e as pessoas, para que ambas 136 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa possam realizá-las ao longo do tempo (GIRARDI, p. 24, apud DUTRA, 2002, p.17). A partir da evolução das teorias administrativas de recursos humanos, surge na década de 90, na esteira das teorias da globalização, o conceito de gestão estratégica de pessoas, alinhando conceitos de planejamento estratégico com os ideais trazidos pelas noções de vantagens competitivas, mercados sem fronteiras e pelo novo papel das pessoas e do seu trabalho nesta economia global. Surge o conceito de Gestão Estratégica de Pessoas como uma sequência de ações adotadas com propósito de desenvolver equipes competentes, qualificadas e comprometidas com os objetivos estratégicos da organização, a fim de contribuir para a criação e a manutenção de uma vantagem competitiva sustentável em longo prazo.1 Com a consolidação das teorias da globalização sobre as teorias da administração, a doutrina sobre gestão estratégica de pessoas foi aos poucos se inclinando para reconhecer a fortalecida inter-relação existente entre as almejadas vantagens competitivas organizacionais e o potencial oferecido pelas competências individuais, espacialmente a todos acessíveis e também disputáveis pelas instituições concorrentemente. 2.1 Uma breve introdução sobre o conceito de competência O conceito de competência vem evoluindo historicamente na direção ampliativa do seu conteúdo material, na tentativa de romper-se com as formais acepções teóricas centradas em qualidades estanques do indivíduo, de modo a compreender e situar a ideia de competência com outros três eixos, formados pela pessoa (sua biografia, sua socialização), pela formação educacional e pela experiência profissional dos indivíduos. Neste diapasão de análise, Fleury e 1 Disponível 218.pdf> em: <http://www.ead.fea.usp.br/Semead/8semead/resultado/trabalhosPDF/ O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 137 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina Fleury (2001) definem competência com um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades. Dessler (2003, p. 199), por sua vez, compreende as competências como características demonstráveis da pessoa, incluindo conhecimentos, habilidades e comportamentos que permitam o desempenho de determinadas atividades ou ações. Zarifian (2001) estabeleceu uma distinção de diversos conteúdos em relação às competências organizacionais, indicando uma nova configuração de diferentes áreas do desenvolvimento de competências: competência sobre os processos, relativas aos conhecimentos sobre os processos de trabalho; competências técnicas, direcionadas aos conhecimentos específicos sobre o trabalho que deve ser realizado; competências sobre a organização, disposta em métodos e técnicas para se organizar os fluxos de trabalho, competências de serviço, consistentes no alinhamento das competências técnicas com os interesses dos consumidores; e as competências sociais, vinculadas com as atitudes comportamentais relacionadas com a autonomia, a responsabilização e a comunicação. Considerada essa nova formatação proposta por Zarifian, Fleury e Fleury (2001) afirmam que o desenvolvimento das competências organizacionais está intimamente relacionado ao desenvolvimento das competências individuais e das condições dadas pelo contexto. Sob este prisma de análise e reflexão, as competências – tanto as essenciais como as organizacionais – seriam constituídas a partir da combinação de recursos e de múltiplas competências individuais, de tal forma que o resultado total é maior que a soma das competências individuais. A partir da construção apresentada por Le Boterf (1995, apud Fleury e Fleury, 2001), relacionando o conteúdo conceitual da competência com um saber agir responsável e, como tal, reconhecido pelos outros, Fleury e Fleury (2001) observam a existência de uma associação entre a noção de competência com determinados verbos e expressões, tais como, saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber se engajar, assumir res- 138 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa ponsabilidades e ter visão estratégica. As aptidões relacionadas com as capacidades de mobilizar, integrar recursos, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, para adquirirem o reconhecimento pelos pares, necessitam ser aplicadas em um contexto profissional, razão pela qual os autores sustentam que essas competências não são apenas conhecimentos ou habilidades, são conhecimentos e habilidades em ação. Com base nos conhecimentos produzidos por Le Boterf (1995), Fleury e Fleury (2001) propõem o quadro abaixo, relacionando significados com os verbos apresentados no conceito de competência em análise: Saber agir Saber mobilizar recursos Saber comunicar Saber aprender Saber engajar-se e comprometer-se Saber assumir responsabilidades Ter visão estratégica Saber o que e por que faz. Saber julgar, escolher, decidir. Criar sinergia e mobilizar recursos e competências. Compreender, trabalhar, transmitir informações, conhecimentos. Trabalhar o conhecimento e a experiência, rever modelos mentais; saber desenvolver-se. Saber empreender, assumir riscos. Comprometer-se. Ser responsável, assumindo os riscos e consequências de suas ações e sendo por isso reconhecido. Conhecer e entender o negócio da organização, o seu ambiente, identificando oportunidades e alternativas. Este estudo valeu-se dos “verbos-competências” acima descritos para referenciar a análise de determinadas práticas operadas no âmbito da Reestruturação do Núcleo das Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral de Justiça de Santa Catarina, de modo a demonstrar as inter-relações existentes entre a adoção destas práticas e valorização/eleição de determinadas competências individuais. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 139 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina 2.2 Gestão estratégica de pessoas orientada por competências O estabelecimento de um planejamento estratégico, em processo dinâmico de construção e de readequação, condiciona, dentro das organizações, a busca e o desenvolvimento de competências específicas, para o estabelecimento e a manutenção de vantagens no mercado ou, no caso das instituições públicas, a melhoria contínua na prestação dos serviços públicos. A gestão de pessoas passa a refletir, nessa lógica, a escolha estratégica que é construída a partir do mapeamento dos recursos e das competências organizacionais e da análise do ambiente, considerando-se que as competências organizacionais são formadas a partir das competências individuais na utilização e exploração dos recursos organizacionais. Os autores sustentam que a aprendizagem intrínseca a esse processo cria novas competências individuais em um círculo virtuoso (FLEURY; FLEURY, 2004). Ao proporem um conceito de “competências essenciais” – core competence – definindo competência como a capacidade de combinar, misturar e integrar recursos em produtos e serviços, Prahalad e Hamel (1998) procuram demonstrar que os contornos delineadores dos modelos de competitividade das empresas são estabelecidos pelas dinâmicas inter-relações entre as competências organizacionais e a estratégia competitiva. Considerando que as competências são formadas a partir de recursos e as estratégias são elaboradas a partir de grupos de recursos – competências essenciais – Prahalad e Hamel (1998) sustentam que a implantação de estratégia gera novas configurações de recursos e novas competências que, por sua vez, irão influenciar novamente a formulação da estratégia, como em um círculo sistêmico, que se autoalimenta e dinamicamente se modifica na busca por novas competências e estratégias. A partir de um viés mais funcionalista, Girardi apresenta a gestão de competências como uma das estratégias da gestão de pessoas, a qual visa justamente valorizar as competências que as pessoas já possuem e desenvolver aquelas que são necessárias (GIRARDI, 2009, p. 26). 140 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa No mesmo sentido entende Rabaglio (2004), ao afirmar que a gestão por competências correlaciona-se com o conjunto de ferramentas capazes de promover o contínuo aperfeiçoamento dos conhecimentos, habilidades e atitudes de cada trabalhador pertencente a uma organização ou instituição. Importante frisar o uso elástico e discursivo da expressão “gestão estratégica de recursos humanos” observado por Storey (1989, apud GIRARDI, 2009), para mostrar a complexidade e a negociação de interesses existentes na tomada de decisão por escolhas estratégicas dentro das empresas ou instituições públicas. Ao desenvolver a centralidade estratégica a ser desempenhada pela área de Recursos Humanos, os autores argumentam que uma estratégia de recursos humanos para obter uma força de trabalho altamente comprometida com a organização deve preceder as demais estratégias organizacionais (FLEURY; FLEURY, 2004). 3 A reorganização do ambiente de trabalho orientada por competências A gestão estratégica de pessoas, ao focalizar a avaliação e desenvolvimento de competências, promove uma ruptura administrativa operacionalizada pela reorientação de competências, que pode ser compreendida como um processo que busca estabelecer uma nova sistemática de organização e trabalho (espacial, procedimental e logística), proposta a partir de uma realocação de competências pessoais existentes na instituição, com o intuito de melhorar a prestação dos serviços e contribuir para o aperfeiçoamento dessas competências pessoais. Nesta visão orgânica da cultura organizacional, estabelecem-se planejamentos estratégicos que aportam com dados e avaliações aptas a questionar e operar contínuos processos de reorganização. Estes podem ser vislumbrados como um conjunto de procedimentos e práticas (legais, administrativas e operacionais) previstas e executadas a partir de um plano de reorganização institucional, que, ao propor O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 141 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina uma nova dinâmica de trabalho e de organização, busca modernizar e equacionar estrategicamente as competências, os recursos e as demandas com os objetivos perseguidos pela instituição. Comumente, o processo de reorganização proposto pela gestão estratégica de pessoas orientada por competências prescinde, para sua efetiva execução, de um minucioso mapeamento de competências. Este mapeamento, tecnicamente é conceituado como um levantamento técnico realizado sobre determinada estrutura organizacional, que orientado a partir de uma metodologia adequada (aplicação de questionários, entrevista, análise de currículos, cruzamentos de dados etc.) visa produzir dados qualitativos sobre as pessoas que compõem a instituição, circunstanciando o planejamento estratégico e a tomada de decisões administrativas, legais e operacionais. 3.1 A Reestruturação administrativa pública e a ruptura de paradigmas A transposição desta lógica estabelecida pela teoria empresarial privada para o universo da administração pública carece de uma discussão aprofundada sobre as necessárias rupturas e/ou rompimentos de paradigmas a qual o serviço público oferece resistência para promover. Nesse sentido, a adoção e a implementação de um modelo de gestão em Recursos Humanos que proponha um alinhamento de competências com foco nas estratégias organizacionais, prescinde, na maioria das vezes, da eleição e da execução de um planejamento estratégico institucionalizado, de médio e longo prazo, direcionado para todas as áreas de determinada instituição ou órgão público, no qual se deseje implantar este arcabouço teórico organizacional. Buscando a aplicação de uma estratégia organizacional baseada em competências na administração pública no tocante à área de Recursos Humanos, faz-se necessária uma reavaliação dos modelos e das práticas de seleção, recrutamento, capacitação e realocação, operados pelas agências públicas, ancorados em seculares procedimentos, rotinas e saberes reproduzidos por servidores, por vezes sequer capacitados para exercer tais atividades técnicas. Deste modo, para se avaliar, identificar e cooptar competências (internamente ou exter142 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa namente) é imprescindível que os servidores da área de Recursos Humanos tenham as competências necessárias para o exercício destas atribuições estratégicas, devendo a administração capacitar e desenvolver os servidores lotados no setor. Paralelamente, a área de Recursos Humanos das instituições públicas deve produzir sistematicamente estudos, pesquisas e avaliações de processos, visando recolher informações junto aos servidores, aos operadores do sistema de justiça (caso do TJSC) e junto aos cidadãos (“cliente”, “consumidor”), que são os destinatários dos serviços ou “produtos” públicos. Entre os obstáculos a serem enfrentados para que se promova uma mudança de paradigmas no serviço e na administração públicos, destaca-se a burocracia e o engessamento verificados nos processos e nos procedimentos administrativos operados pelas instituições públicas em sua própria administração, dogmatizados em um emaranhado de estatutos e normas regulamentares internas e externas, de diferentes amplitudes e impositividades administrativas. Sustentando este gargalo administrativo relacionado com a complexidade da burocracia pública, encontramos a cultura do serviço público, reconhecidamente resistente a mudanças em processos, ações, rotinas e saberes questionadores, validando sua resistência no discurso e no pragmatismo operacional, na descontinuidade administrativa, e, sobretudo, nos históricos conflitos sindicais operados entre as classes de servidores. A motivação do administrador público, comumente em desconformidade com o interesse público e com o interesse da administração pública, substitui os critérios teóricos e científicos da estratégia pautada pelas competências, adotando uma estratégia decisória pautada nas relações de poder e dominação existente nos órgãos públicos. Deste modo, orienta-se grande parte da tomada de decisões administrativas, sobretudo aquelas da área de recursos humanos, priorizando critérios ou “competências” distantes da teoria administrativa moderna, para os processos de recrutamento, seleção, capacitação, disposição de chefias e estruturação hierárquica de servidores dentro da instituição pública. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 143 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina Os princípios norteadores da administração pública poderiam auxiliar a aplicação das modernas teorias administrativas nos órgãos públicos, identificando e compatibilizando conhecimentos, processos e saberes técnicos em áreas e serviços públicos carentes de efetividade e eficácia administrativa, por meio da adoção de estratégias organizacionais que possibilitem uma melhor administração da coisa pública. Essa abordagem possivelmente refletiria na melhoria dos serviços públicos prestados, na satisfação profissional e pessoal dos servidores públicos e dos operadores do sistema de justiça, bem como na efetiva distribuição de justiça no caso concreto, em um tempo hábil e de forma compatível com os ordenamentos legais. 4 O processo de reestruturação vicenciado pela Corregedoria-Geral de Justiça de Santa Catarina O Projeto de Reestruturação da Corregedoria-Geral de Santa Catarina tem origem na proposta de metodologia do Projeto de Modernização da Corregedoria-Geral da Justiça, que, ao estabelecer uma gestão correicional, priorizou como objetivo a análise da “estrutura da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina e de seu sistema de gestão”. Buscou-se, com tal propositura inserida no projeto de modernização, reunir conhecimentos teóricos e empíricos para que fosse concebido um modelo de gestão que respondesse aos desafios colocados pelos jurisdicionados e pela sociedade em geral, clientes dos serviços do Poder Judiciário. A proposta de modernização da Corregedoria-Geral da Justiça está sendo efetivada por meio da implementação de um novo modelo de gestão estratégica, focado na melhoria dos seus processos e nas rotinas de trabalho, visando responder às mudanças impostas pela EC 45/04 (com relação à celeridade, eficácia, efetividade e foco no cidadão), de modo a atender seus clientes/usuários na busca da plena satisfação de suas demandas e anseios. A Corregedoria faz parte do Poder Judiciário, o qual opera um efeito organizador sob sua estrutura hierarquizada, de que fazem par144 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa te todos os magistrados e os servidores. É um sistema com qualidades e defeitos, que procura responder aos anseios da sociedade, do jurisdicionado e do cidadão em particular. Não há como entender o Judiciário de forma isolada, com seus órgãos ilhados, porque o sistema não se encontra nas partes, mas no todo, e suas respostas, em muitos casos, dependem de ações conjuntas de diversos órgãos deste todo organizacional. Neste sentido, quanto mais desenvolvido e estruturado for o sistema correicional operado no Tribunal de Justiça, mais eficaz e efetiva será sua tomada de decisão em planejamento, capacitação e operacionalização, no enfrentamento dos problemas específicos encontrados na Justiça de primeiro grau. Theodoro Júnior (2004) destaca que É lastimável, mas não se pode deixar de reconhecer o regime caótico em que os órgãos encarregados da prestação jurisdicional no Brasil trabalham tanto do ponto de vista organizacional, como principalmente em torno da busca de solução para sua crônica inaptidão para enfrentar o problema do acúmulo de processos e da intolerável demora na prestação jurisdicional. Não há o mínimo de racionalidade administrativa, já que inexistem órgãos de planejamento e desenvolvimento dos serviços forenses, e nem mesmo estatística útil se organiza para verificar onde e porque se entrava a marcha dos processos. Para que se aumente a eficácia na atividade pública é preciso transformar administradores em gestores, o que representa, em alguns casos, propor uma desconstrução do modelo de Administração Pública tradicional, oferecendo uma ruptura de transição para um novo modelo de Gestão Pública, com uma nova redistribuição de responsabilidades e atribuições. O Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina vem desenvolvendo seu modelo de gestão estratégica de pessoas através da implementação do Projeto de Reestruturação da Corregedoria-Geral de Justiça, que objetiva compatibilizar as mudan- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 145 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina ças vivenciadas pelas práticas laborais contemporâneas com o consequente estabelecimento de novos padrões de procedimentos e rotinas de trabalho. A ideia é centralizar ações especializadas, de forma a redirecionar demandas congêneres de diferentes setores para uma mesma assessoria, capacitada para dar suporte simultâneo nas áreas de planejamento, projetos e ouvidoria, de modo a também centralizar capacitação e desenvolvimento de habilidades e competências específicas em consonância com cada assessoria ou divisão de apoio. O Projeto de Reestruturação da Corregedoria-Geral de Justiça de Santa Catarina foi planejado e vem sendo executado a partir de orientações trazidas pela gestão estratégica de pessoas, que, ao reconhecer e preconizar determinadas competências pessoais, tem capacidade de reordenar grupos de trabalho para que sejam alcançadas a almejada melhoria dos processos e a otimização de rotinas de trabalho. Para operacionalizar tal reestruturação administrativa, foi proposta uma redistribuição de responsabilidades e atribuições, na qual os administradores absorveram uma nova função específica de gestão de pessoas, que descentralizada procura (re)posicionar estrategicamente os recursos humanos para que desenvolvam da melhor forma suas competências. Confirmou-se a hipótese de que o processo de reestruturação construído por um modelo de gestão estratégica de pessoas legitima a execução de realocações e movimentações de servidores, e ainda impulsiona a identificação de áreas para a lotação de novos servidores concursados. Nesse sentido, os processos de reposicionamento de pessoas dentro das organizações estão evoluindo em direção a um modelo mais interativo e democrático, com formato dialógico, característico dos contemporâneos processos de recrutamento e seleção, conforme entendimento de Marras (2000 apud GIRARDI, 2010, p. 39), ao sustentar que o dimensionamento da seleção vem sendo alterado para além dos requisitos do cargo, buscando adequação do 146 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa profissional à organização em termos culturais de perfil de competências e de potencial futuro, envolvendo habilidades de liderança comprometimento, flexibilidade e outros. A Corregedoria-Geral da Justiça atualmente conta com quatro núcleos de apoio: Núcleo I Orientação Institucional (Judicial) Núcleo II Planejamento, Projetos e Revisão do Código de Normas (Judicial) Núcleo III Correicional, Instrução Disciplinar e Execução Penal (Judicial) Núcleo IV Serventias Extrajudiciais Em termos gerais, segundo o atual organograma do Órgão Censório, constituem-se em atribuições do Núcleo IV a orientação, fiscalização e inspeção de todas as atividades extrajudiciais, bem como o planejamento, os projetos e a revisão do Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça relacionados à matéria do foro extrajudicial. Pela anterior distribuição de competências, percebia-se que as mesmas atribuições do núcleo IV estavam sendo distribuídas entre os três outros núcleos da Corregedoria-Geral da Justiça, no que se refere à matéria judicial. Diante disso, percebeu-se a necessidade mobilizar os recursos internos existentes no núcleo IV, visando estabelecer fluxos e rotinas que melhorassem a organização do trabalho. A partir da reorganização implementada, o Núcleo IV foi reorganizado em setores, utilizando os recursos humanos e estruturais existentes antes da reestruturação operada, sendo proposta nesta remodelagem institucional, de forma lateral, um novo padrão para futuras movimentações de funcionários, com ingresso promovido por novos processos seletivos ou pela simples realocação de servidores de outros setores, desde que possuíssem competências individuais compatíveis com o mapeamento consolidado pela gestão estratégica de pessoas. Tendo por base o organograma da Corregedoria, o núcleo IV foi reordenado em quatro setores, quais sejam: coordenação/orientação O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 147 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina (setor I); inspeção, correição e instrução disciplinar (setor II); planejamento, projetos e revisão do Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça (setor III); e selo de fiscalização (setor IV). Para a promoção da reorganização e readequação conforme as necessidades demandadas pelo núcleo, os servidores ali lotados participaram efetivamente do processo de reestruturação, uma vez que além de proporem um modelo de fluxograma organizacional (comprometimento), foram consultados sobre seu interesse em ser realocados neste ou naquele setor que seria constituído ou reagrupado (setor I, II,III, IV). Ainda, tendo em vista os resultados obtidos com a melhoria na prestação dos serviços extrajudiciais, a partir da mobilização/reorientação dos recursos humanos, há que se destacar a capacidade de saber agir dos servidores lotados no núcleo, que abandonaram uma postura de “faz tudo”, muitas vezes caracterizada pela prestação de serviços com baixo valor agregado ou extemporâneos. Atualmente, a partir da mobilização promovida em torno deste processo de reorientação, o funcionário sabe “o que faz” e “por que faz”. Esse processo de identificação com o trabalho executado foi aos poucos sendo internalizado, sobretudo em virtude de terem sido levadas em consideração as competências essenciais de cada servidor, oferecendo ao gestor substrato para a tomada de decisão acertada. Na época de criação destes Núcleos, foi estabelecida a quantidade de núcleos em conformidade numérica com a quantidade de juízes-corregedores existentes na Corregedoria-Geral da Justiça. Deste modo, a criação dos núcleos, em verdade, ficou atrelada à definição da competência legal de cada juiz, cada qual ficando responsável por seu núcleo, dotado de suas regulamentares competências. Conforme a proposta de reestruturação executada, a atual divisão de competências por magistrado desvincula-se do antigo formato fechado dos Núcleos, estabelecendo-se novas assessorias, divisões e seções para as áreas correspondentes. A proposta de reestruturação pretende dotar a Corregedoria de uma estrutura física e de recursos humanos apta para o exercício de 148 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa todas as atividades inerentes ao Órgão, de forma organizada e transparente, visando satisfazer com efetividade os anseios e as demandas propostas pelos nossos clientes, sejam eles juízes, servidores, advogados, serventuários extrajudiciais, demais operadores do sistema de justiça e a própria comunidade, o cliente final de todos os serviços públicos. 4.1 A avaliação de competências no processo de reestruturação organizacional Nas sociedades contemporâneas, a vida se desenvolve no seio de organizações de variadas tipologias e formatos. De fato, um dos fenômenos mais característicos que a humanidade tem assistido desde a descoberta da máquina a vapor é o notável aumento – em número, tamanho e complexidade – das estruturas organizacionais (GÓMEZ; RIVAS, 1989). Reorganizar é prática comum em toda organização, quando novos arranjos dinâmicos são institucionalizados, alterando-se as estruturas organizacionais reinantes, para o estabelecimento de uma nova configuração de trabalho, conforme as condicionantes, às quais estão submetidas as organizações, vão se reformulando. Visando um novo arranjo organizacional, o processo de reorganização do ambiente de trabalho no Núcleo Extrajudicial da Corregedoria-Geral de Justiça levou em consideração o mapeamento de competências individuais previamente executado pelo órgão, de maneira que o novo formato de redistribuição de atribuições adotado preconizou a realocação de servidores com um perfil desejado pela orientação estabelecida pela gestão estratégica de pessoas. Nesse sentido, a realocação de servidores foi permeada por um processo no qual foram reconhecidos a experiência e os saberes profissionais, como ponto de partida para o estabelecimento de novos fluxos procedimentais internos, bem como para a produção de questionamentos, direcionados às práticas administrativas e operacionais positivadas ou “institucionalizadas” pelas rotinas diárias. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 149 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina O mapeamento das competências necessárias originou-se atrelado às atribuições legais desempenhadas pelo Núcleo das Serventias Extrajudiciais, sendo planejado e executado com a participação direta dos gestores e servidores com lotação local, que primaram por uma redução das discrepâncias entre as competências necessárias à realização das atribuições legais do setor organizacional e as competências existentes no próprio ambiente organizacional. A reestruturação proposta buscou também qualificar o atual processo de gestão do conhecimento, através da ampliação do acesso direcionado a determinadas informações, atuando, também, na difusão e na capacitação dos colaboradores, que, na inversão do processo ensino-aprendizagem, acabam por gerar um feedback positivo, com o compartilhamento de seus saberes, de suas experiências, que realimentam novamente o sistema de informações. 4.2O novo fluxograma organizacional2 e a proposta de especialização de tarefas Para que fossem promovidas a reorganização e a readequação conforme as necessidades demandadas pelo órgão, os servidores lotados participaram efetivamente do processo de reestruturação, com propostas para a gestação do novo modelo de fluxograma organizacional e através das consultas sobre os interesses pessoais de realocação. A partir da mobilização construída em torno deste processo participativo e dialogado, o gestor de pessoas recolheu informações sobre as competências essenciais de cada servidor, que em momento posterior subsidiaram a tomada de decisão nos demais processos de gestão de pessoas, da capacitação ao gerenciamento de carreiras e talentos. Contextualizando a reorganização formulada pelo Tribunal de Justiça a partir da classificação dos processos amplos de gestão de pessoas proposta por Dutra (2002), vislumbramos a utilização das categorias de Reposicionamento, Realocação, Treinamento e Desenvol2 Fluxograma organizacional no Anexo 1. 150 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa vimento, Gestão de Carreira e Avaliação de Desempenho sendo trabalhadas neste processo de gestão estratégica de recursos humanos. A especialização de tarefas de acordo com as habilidades dos servidores, seus conhecimentos e suas experiências objetiva também o aprimoramento dos procedimentos, a agilidade na tramitação dos processos e a melhoria na eficiência das repostas às demandas externas propostas. Desta feita, a estratégia contida nesse modelo de gestão de pessoas orientará a formação de equipes eficazes de trabalho, que estejam aptas para concentrarem e responderem demandas técnicas/operacionais com base nos conhecimentos empíricos, técnicos e metodológicos, enquanto diferencial organizacional (DESSLER, 2003). Por outro lado, verificou-se que a segmentação das atividades desempenhadas no novo modelo adotado favorece a formação de ilhas de informações e de conhecimento, que podem ser prejudiciais ao livre fluxo de informação para a tomada de decisão administrativa. Visando enfrentar tal problema, o núcleo de Serventias Extrajudiciais vem adotando a realização periódica de reuniões informais, nas quais são repassadas a todos os servidores as últimas medidas e decisões adotadas, novos procedimentos e regulamentações, entre outras informações julgadas úteis para o conhecimento de todos os funcionários. A discussão envolvendo movimentos de reestruturação no serviço público comumente é encarada com certa desconfiança pelos servidores públicos, que, respaldados no próprio engessamento das estruturas públicas administrativas e em sua cultura organizacional, constroem zonas de conforto para os seus saberes, oferecendo obstáculos para que se promovam mudanças/rupturas procedimentais e de práticas laborais. A gestão de pessoas é ponto chave neste processo de reestruturação em análise, no qual se pode perceber uma descentralização de determinadas funções típicas de recursos humanos, que desatreladas do modelo de gestão técnico-burocrático, direcionam-se para um modelo mais humano e desenvolvimentista, atuando efetivamente nos O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 151 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina seus processos e como atividade de apoio à gestão estratégica, sobretudo promovendo mudanças por meio da visão sistêmica (GIRARDI, 2010, p. 44). Com efeito, a abordagem sistêmica permite considerar a hipótese de mútua cooperação para que sejam alcançados os objetivos comuns organizacionais e também os anseios individuais de cada servidor, como demonstra Gil (2001, p. 17), ao estabelecer que a “Gestão de Pessoas é a função gerencial que visa à cooperação das pessoas que atuam nas organizações para o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais”. O processo de reestruturação da Corregedoria-Geral de Justiça de Santa Catarina tem sido discutido e debatido entre seus gestores e colaboradores, sendo observado que a necessidade de reordenamento das competências decorre da percepção tanto dos colaboradores internos quanto dos colaboradores externos. Este sistema de dupla pressão pode transformar-se em uma oportunidade para que o Tribunal de Justiça de Santa Catarina possa reavaliar periodicamente seus procedimentos, dentro de um processo de planejamento estratégico com foco na excelência da prestação do serviço público. Sustenta-se que a construção participativa de soluções e procedimentos afeitos às atribuições da Corregedoria de Justiça de Santa Catarina tem agregado valor institucional à organização, emprestando confiança e reconhecimento aos serviços prestados perante à comunidade, à sociedade e aos cidadãos/usuários dos seus serviços. 4.3 A implementação da ferramenta S@E (Sistema de Atendimento do Extrajudicial) e a gestão do conhecimento com base na gestão estratégica de pessoas orientada por competências Através do Processo de Reestruturação, o Núcleo IV da Corregedoria inaugurou um novo padrão para as suas comunicações institucionais e internas. Visando estabelecer novos canais de efetiva comunicação interna e externa, o órgão disponibilizou em seu portal virtual o S@E (Sistema de Atendimento do Extrajudicial). Esta nova ferramenta objetiva dar eficácia ao Código de Normas do Tribunal de 152 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa Justiça de Santa Catarina, quando preceitua a responsabilidade da Corregedoria para a promoção e o oferecimento de suporte técnico e legal de natureza informativa, de forma a orientar e estabelecer padrões e práticas procedimentais, facilitando, lateralmente, os processos de fiscalização e controle dos serviços extrajudiciais. A implementação deste sistema de comunicação direta, via portal virtual do Tribunal de Justiça, originou-se da necessidade de se estabelecer um canal de comunicação de fácil acesso ao usuário final dos serviços, que possibilitasse o envio, por meio de correio eletrônico, de reclamações, dúvidas, sugestões ou requerimento versando sobre matérias afeitas às atividades desempenhadas pelo Núcleo Extrajudicial. A natureza informal e aberta própria das comunicações por correio eletrônico efetuadas na rede mundial de computadores favoreceu o estabelecimento de diálogos menos formais, conformando-se com o novo modelo de comunicação Serviço Público-Cidadão, tendente a uma aproximação cada vez mais institucionalizada, em novos espaços - físicos ou virtuais - de composição e troca de saberes e experiências. Com o estabelecimento deste novo canal de comunicação, de acesso mais democrático e plural, foi possível estabelecer um direcionamento mais organizado das demandas próprias do setor, em compasso com um sistema de prioridades, balizado por uma combinação de critérios de urgência, necessidade e data de postagem. A implementação desta nova sistemática de comunicação vem acompanhada de um rigoroso sistema de protocolo, capaz de gerar referenciais on-line de atendimento e de acompanhamento para as demandas propostas, oferecendo ao servidor e ao Órgão Público a possibilidade de ofertar uma resposta singular, ou mesmo coletiva, nos casos de interesse, oportunidade ou necessidade comum, quando a informação-resposta uniforme é repassada a determinadas coletividades com interesse comum na matéria em questionamento, solicitação ou reclamação. Lateralmente, foi implementado um canal de difusão interna para as respostas realizadas a partir das efetivas demandas ofereciO Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 153 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina das, de modo que todos os servidores do Extrajudicial tenham acesso ao estágio de desenvolvimento das respostas que estão sendo elaboradas, gerando, por consequência, um alimentado banco de dados, de grande utilidade para a tomada futura de decisões administrativas, operacionais e de planejamento estratégico. A notória carência de bancos de dados e de informações sistematizados e atualizados é experimentada em muitas estruturas do Poder Público, indicando a necessidade de se promover um reaparelhamento tecnológico em todos os níveis de gestão, visando um gerenciamento eficaz da informação produzida, e uma análise das carências e gargalos de inteligência e conhecimento existentes. A adoção de ferramentas e programas de tecnologia da informação contribui para a modernização dos serviços prestados pelo Poder Público, e, nesse sentido, devem constar nas rubricas orçamentárias anuais e nos planejamentos estratégicos de médio e longo prazo de todas as Instituições Públicas. Os trabalhos relacionados ao conhecimento e à informação estão gradativamente substituindo os trabalhos tipicamente de produção. Nesse diapasão, a produtividade decorrente do conhecimento e, consequentemente, dos trabalhadores do conhecimento configura-se como um importante fator competitivo da economia mundial (RUSSETTE et al., 2007), havendo a possibilidade de transmutarmos esta lógica para o serviço público, fornecendo uma leitura que empreste valores de eficácia, eficiência e excelência na prestação do serviço público ao “fator competitivo” lateralmente vivenciado da iniciativa privada. Ainda, há a necessidade de investimentos contínuos em projetos de treinamento dos níveis gerenciais, com o objetivo de desenvolverem-se competências comportamentais que gerem impacto no desempenho da mão de obra diretamente envolvida com o conhecimento (CLARK, 2003). O comprometimento dos servidores públicos que operam a interface do correio eletrônico constitui-se em um ponto essencial na gestão deste conhecimento produzido a partir dos fluxos de informações operados pelo S@E, à medida que estimula o compartilhamen- 154 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa to de conhecimento dentro da instituição ou organização. Neste sentido, o comprometimento propulsiona uma forma de internalização do conhecimento e dos valores organizacionais (GIRARDI, 2010 p. 133), que permeia todos os processos de ensino-aprendizagem experimentados nas organizações públicas ou privadas. O estabelecimento de padrões e fluxos para o tratamento das informações e demandas que chegam pelo correio eletrônico do S@E favorece um sistema de informações apto a dar continuidade na prestação dos serviços públicos, abandonando o sistema tradicional de conhecimento vinculado diretamente a determinados servidores, que, quando deslocados ou afastados por algum motivo (doença, férias, licenças), geram uma dependência institucional personalíssima, acarretando a falta de continuidade na prestação do serviço público. O desenvolvimento do ambiente de conhecimento e a própria gestão do conhecimento produzido a partir do Sistema de Atendimento do Extrajudicial foram pensados, planejados e executados com base na seleção/aproveitamento das competências individuais importantes para os processos de comunicação e construção do conhecimento. Desta feita, houve uma gestão compartilhada de pessoas e conhecimentos, construída a partir da troca de saberes dialogada em processos internos da organização. Deste modo, as competências selecionadas para a conformação do perfil do servidor com aptidão para trabalhar e produzir conhecimento junto ao S@E foram balizadas por conhecimentos, habilidades e atitudes (FLEURY; FLEURY, 2000), vinculados às diferentes etapas do processo de gestão do conhecimento organizacional, tais como identificar/mapear, descartar, contribuir/compartilhar, aprender/criar, obter/adquirir, distribuir e utilizar/aplicar (SORDI; AZEVEDO, 2008, p. 394). O perfil profissional do servidor/funcionário que pretender atuar nos setores que estabelecem canais diretos de comunicação com o cidadão/cliente deve exigir habilidades, conhecimentos e atitudes relacionadas com a difusão e o compartilhamento de conhecimentos e informações. Também deverão ser levados em consideração conheO Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 155 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina cimentos em inteligência, fluxos de informação e segurança da informação. Por consequência, a gestão de Recursos Humanos deverá referenciar seus processos de realocação, recrutamento, seleção e capacitação, nas qualidades identificadas com o conteúdo material da competência-verbo “saber comunicar” e “saber transmitir conhecimento”, além de outras, próprias dos seus desmembramentos lógicos (Compreender, trabalhar, empreender, transmitir informações e conhecimentos etc.). 4Conclusão A estruturação e a consequente implementação de um modelo de gestão estratégica de pessoas no Tribunal de Justiça de Santa Catarina auxiliou a execução do Processo de Reorganização Administrativa experimentado pelo Núcleo de Serventias Extrajudiciais, a partir do mapeamento e reorientação de competências, alcançando uma melhora qualitativa no desempenho das atribuições de controle, fiscalização disciplinar e orientação dos serviços extrajudiciais. A leitura de aspectos pontuais presentes no Processo de Reestruturação e a própria avaliação de implementação do Serviço de Atendimento do Extrajudicial, vivenciadas na Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina, indicaram que as competências individuais e organizacionais – reconhecidas e internalizadas em conhecimentos, habilidades e atitudes – são capazes de orientar processos e procedimentos dentro das organizações, e, sobretudo, fornecem subsídios essenciais para a confecção e a reavaliação do planejamento estratégico das instituições públicas. O novo formato de redistribuição de atribuições adotado no Núcleo Extrajudicial da Corregedoria de Justiça deixa nítida a influência trazida pelo prévio mapeamento das competências. A partir de um perfil orientado pela gestão estratégica de Pessoas, os servidores foram realocados por meio de um processo no qual foram reconhe- 156 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa cidos a experiência e os saberes profissionais como ponto de partida para o estabelecimento de novos fluxos procedimentais internos, bem como para a produção de questionamentos direcionados às práticas administrativas e operacionais positivadas ou “institucionalizadas” pelas rotinas diárias. Verificou-se, também, que o mapeamento de competências que foi desenvolvido para substanciar a gestão das pessoas no Projeto de Reestruturação, tem auxiliado como instrumento referencial na gestão das carreiras, competências e talentos, de forma alinhada com os processos de capacitação e treinamento desenvolvidos pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Nesse sentido, a gestão de pessoas poderá condicionar os processos de desenvolvimento de carreiras atreladas a determinadas competências essenciais para o desempenho das atribuições do setor ora reorganizado, que incluem conhecimentos, habilidades e comportamentos propositivos e estratégicos para a organização (DESSLER, 2003). Em que pese a cultura organizacional das instituições públicas ser resistente a mudanças e processos de reorganização, a análise evidenciou que a gestão estratégica de pessoas, quando elaborada de forma propositiva e visando planejar estrategicamente as carreiras, a organização e o dimensionamento das pessoas dentro da organização, empresta legitimidade às decisões relacionadas com a política de relocações e movimentações, na medida em que premia as competências dentro dos processos de desenvolvimento individuais e organizacionais (DUTRA, 2002), que devem ser discutidos em sintonia com os planos de gestão de carreiras. Ao contextualizar as práticas experimentadas no ambiente organizacional da Corregedoria-Geral de Justiça de Santa Catarina, procurou-se compreender o modelo de gestão estratégica de pessoas aplicado no Processo de Reestruturação a partir do substrato teórico da Administração, visando contribuir com o debate em torno da aplicação de modelos teóricos e conceituais da Administração às atividades desenvolvidas pelo poder público. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 157 A gestão estratégica de pessoas no processo de reorganização das atividades do Núcleo de Serventias Extrajudiciais da Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina O recorte espacial de análise proposto para a avaliação de competências individuais em práticas vivenciadas no setor público permite validar a tese de que as organizações caminham para uma gestão por competências individuais e organizacionais como espinha dorsal para o planejamento estratégico das demais áreas das organizações ou instituições, colocando em destaque as atribuições estratégicas que serão desempenhadas pelos setores de Recursos Humanos neste novo modelo de reestruturação organizacional. Entende-se que o avanço da discussão conceitual sobre a gestão estratégica de pessoas orientada por competências, a partir do enfoque relacional das estratégias organizacionais, perpassa diferentes setores/áreas, para se chegar a uma reflexão sobre a posição estratégica e primordial da área de Recursos Humanos nesse novo arranjo organizacional. Diante disso, salienta-se a necessidade de se promover novas políticas e novas práticas de gestão em Recursos Humanos, que incluam a identificação, manutenção e o contínuo desenvolvimento de competências, em constante e dinâmico alinhamento com os objetivos e modelos estratégicos organizacionais implantados ou em desenvolvimento. Referências CLARK, J. Developing competency-driven learning content. Chief Learning Officer, Chicago, v. 5, n. 2, p. 34-37, Sept. 2003. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3. ed. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2010. DESSLER, Gary. Administração de recursos humanos. 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São Paulo: Atlas, 2001. 160 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Márcia Campos Sarturi e Alexandre Marino Costa ANEXO 1: FUNCIONOGRAMA ORGANIZACIONAL O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 161 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão Marlon Negri Wanderley Horn Hulse 1Introdução A velocidade do aumento do conhecimento, assim como sua aplicação como forma de sobrevivência organizacional, implica e resulta em rápidas transformações no ambiente, nem sempre previsíveis, que exigem posturas diferentes dos gestores, colocados diante de ambientes bem mais instáveis que outrora (MORITZ, 2008, p. 69). Assim, para melhorar o enfrentamento de tais mudanças e provocar um salto qualitativo na elaboração das estratégias das organizações e no seu processo de tomada de decisão, a prospecção de cenários representa um recurso significativo para se visualizar e formular situações futuras. Aliás, a prospecção de cenários é um esforço da ciência em sondar o tempo, através de seus atores e de suas variáveis, no sentido de revelar as tendências que devem ser observadas e identificadas no esforço constante do homem em busca de entender e compreender cada vez mais o seu futuro e o seu destino neste universo de complexidade que se verifica (MORITZ et al., 2010, p. 2). Porém, elaborar cenários não é um exercício de predição, mas sim um esforço de fazer descrições plausíveis e consistentes de situações futuras possíveis, apresentando condicionantes do caminho entre a situação atual e cada cenário futuro e destacando os fatores relevantes às decisões que precisam ser tomadas (WRIGHT, 2010, p. 59). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 163 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão Para melhor compreensão da matéria, mas sem o objetivo de esgotá-la, e de verificar se, de fato, o recurso da prospecção de cenários é importante para o processo de tomada de decisão nas organizações, o presente trabalho debruçar-se-á sobre a decisão em administração e o processo decisório, bem como sobre a ferramenta de prospecção de cenários, historiando-a no mundo e no Brasil para, posteriormente, conceituá-la e apresentar, com brevidade, suas características e outros aspectos, findando com a sua importância no processo de tomada de decisão. A presente pesquisa mostra-se relevante na medida em que o processo de tomada de decisão é uma das maiores responsabilidades do administrador de uma organização, de modo que, para que tal processo revele-se mais eficaz e eficiente, é muito importante que o tomador de decisão entenda e controle no maior nível possível o ambiente no qual atua. 2 Revisão da literatura Decisão é o ato ou efeito de decidir. Decidir significa escolher uma dentre várias alternativas de ação que se oferecem para alcançar determinado propósito e renunciar a todas as outras. Toda decisão é, portanto, um processo que envolve simultaneamente escolha e renúncia (ABRAMCZUK, 2009, p. 27). A cadeia de reflexões e ações que se estende entre o instante em que ocorrer a percepção da necessidade de agir e o momento em que se escolhe uma linha de ação é denominada processo de decisão (ABRAMCZUK, 2009, p. 43). A técnica de cenários, que auxilia o administrador no processo de tomada de decisão, é um conjunto formado pela descrição coerente de uma situação futura e pelo encaminhamento imaginado e criado dos acontecimentos que permitem passar da situação de origem à situação futura (GODET, 1993 apud MORITZ; PEREIRA, 2005, p. 2). 164 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse Segundo Schwartz (2006, p. 18), os cenários aparecem pela primeira vez logo após a Segunda Guerra Mundial, como um método de planejamento militar. A Força Aérea dos EUA tentou imaginar o que seu oponente tentaria fazer e preparou estratégias alternativas. Nos anos 60, Herman Kahn, que fizera parte do grupo da Força Aérea, aprimorou os cenários como ferramenta para o uso comercial. A finalidade dos cenários é, consoante Heijden (apud MORITZ et al., 2009, p. 5), “ampliar a compreensão do sistema, identificar os elementos predeterminados e descobrir as conexões entre as várias forças e eventos que conduziam esse sistema, o que levaria a uma melhor tomada de decisão”. 3Metodologia Uma pesquisa ou um estudo pode ser definido como um procedimento racional e sistemático, que tem como objetivo procurar respostas aos problemas propostos (GIL, 2002). Conforme Moretto et al. (2009), diversas classificações, utilizando-se um leque expressivo de autores na área, podem ser usadas para descrever um mesmo estudo, as quais se diferenciam de acordo com as variáveis, técnicas e instrumentos utilizados nas etapas desenvolvidas durante o processo de pesquisa ou de estudo. No tocante ao tipo de estudo, pode-se classificá-lo como sendo qualitativo e predominante descritivo e interpretativo, cujas suposições baseiam-se na ideia de que a realidade social não existe em um sentido concreto, mas isso sim é produto da subjetividade e das experiências dos indivíduos e das organizações (MORITZ et al., 2010, p. 3). Para atingir o objetivo a que se destina esta pesquisa, foram pesquisados livros sobre decisão em administração e processo decisório, sem querer esgotá-los. A seguir, foram feitas pesquisas nos principais livros de cenários prospectivos e nos artigos mais recentes que O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 165 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão abordam as tendências relevantes que irão influenciar o futuro das organizações e da sociedade. Assim, utilizou-se a técnica de pesquisa bibliográfica, o método de abordagem indutivo e o método de procedimento monográfico. Outrossim, o presente artigo cientifico é eminentemente de revisão, pois analisa e discute trabalhos já publicados e está baseado em revisões bibliográficas. A verificação da importância da técnica de prospecção de cenários no processo de tomada de decisão é o objetivo final. Ela foi analisada com base no que já foi escrito sobre o assunto em pauta. Salienta-se, em arremate, que, em função da complexidade do assunto, muitas limitações surgiram ao longo do estudo efetuado e, em decorrência, espera-se que os leitores transformem estas limitações em sugestões para novos estudos e pesquisas neste campo imprevisível de conhecimento que é o futuro. 4 Apresentação e análise dos dados 4.1 Decisão em administração Definir decisão não é tarefa simples. Na literatura sobre processo decisório, dependendo do autor escolhido, a definição de decisão pode incluir ou excluir conceitos auxiliares, ser mais sintética ou detalhada, ampla ou restrita, descritiva ou prescritiva, enfim, pode enveredar por caminhos distintos na viagem do conhecimento, cada um representando particular abordagem do problema e delimitando um dado interesse de análise (YU et al., 2011, p. 4). Objetivamente, tem-se, porém, que decisão é o ato ou efeito de decidir. Decidir significa escolher uma dentre várias alternativas de ação que se oferecem para alcançar determinado propósito e renunciar a todas as outras. Toda decisão é, portanto, um processo que envolve simultaneamente escolha e renúncia (ABRAMCZUK, 2009, p. 27). 166 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse Decidir é um dos atos humanos mais realizados todos os dias, muitas vezes sem a percepção do seu exercício – desde decisões simples e com consequências triviais até casos que, pela complexidade e grande responsabilidade, traduzem momentos marcantes na vida e interferem no sono e na qualidade de vida (YU et al., 2011, p. 3). Ainda, consoante Yu et al. (2011, p. 5): Seja um time de futebol, envolvendo negócios na casa dos milhões, ou uma corporação industrial que decide seus planos estratégicos de crescimento no mercado global, duas premissas tornaram-se reais no decorrer histórico das organizações mundiais: (i) administrar é decidir, e (ii) todas e quaisquer ações precisam ser escolhidas em função de restrições ambientais. As funções administrativas básicas de planejar, organizar, dirigir e controlar, desde quando foram estabelecidas pelos pais da Administração Moderna, Taylor e Fayol, envolvem intrinsecamente o ato de decidir. Analogamente, as atividades organizacionais são essencialmente atividades de tomada de decisão e resolução de problemas, seja qual for o nível hierárquico observado ou a natureza organizacional, possibilitando a constante reorientação de seus objetivos e atividades. Assim, verifica-se que o processo de tomada de decisão é uma das maiores responsabilidades do administrador de uma organização (MORITZ et al., 2009, p. 2). Haverá aqueles que se preparam à exaustão para esse momento, outros que preferem a intuição e a emergência natural de uma luz sobre o problema ou dúvida em questão. Entre os metódicos, time dos primeiros, e os iluminados, representando os segundos, há uma combinação e grande variedade de estilos observada sobre aqueles que decidem nas organizações. Naturalmente, entretanto, todos dirão que decidir não é uma das tarefas mais fáceis no interior da vida organizacional. Evidentemente haverá alguém que dirá que adora decidir, mas provavelmente não gosta de O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 167 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão implementar as decisões e talvez descobrir-se-á que esse é um caso de incompletude organizacional (YU et al., 2011, p. 5-6). Aliás, segundo Yu et al. (2011, p. 21): O decisor deverá estar treinado tecnicamente para operar o processo, mas também para evitar erros de percepção e de julgamento, os quais, quando não identificados e devidamente tratados, aumentam a incerteza da decisão pelo lado de quem deve analisar a interpretar os dados. Portanto, tomar decisões é um processo que pode ser ensinado e treinado. É uma combinação de arte e ciência cujo treinamento permite aumentar a probabilidade dos acertos, vendo-se a qualidade do processo decisório não como uma garantia de sucesso, mas como um conjunto de providências e ações que permitem conscientemente (i) aumentar as chances de sucesso, (ii) minimizar as chances de fracasso e, se mesmo assim, o risco diminuído não evitar o erro, (iii) aprender com ele e não repeti-lo. Em que pesem abordagens mais intuitivas e de criatividade, o foco da Decisão em Administração privilegia o conceito de racionalidade limitada que o prêmio Nobel, Herbert Simon, na década de 1950, estabeleceu claramente como pano de fundo dos processos decisórios nas organizações. Segundo essa perspectiva, a decisão sempre se relaciona a quem decide e às condições da situação que envolve. No lugar da decisão ótima, mas também a considerando como alternativa, discute-se a decisão possível e mais plausível. Novas descobertas vieram depois, a neurociência descobrindo a fonte dos processos intuitivos, o comportamento aparentemente irracional do ser humano em algumas escolhas, enfim, outro Nobel premiou aspectos da tomada de decisão por meio de Daniel Kahneman em 2002, que, com Tversky, desenvolveu pesquisas sobre o comportamento das pessoas em decisões que envolvem riscos. Ambos descobriram que os indivíduos possuem características como tendências ou vieses em seus processos decisórios, o que os torna suscetíveis a erros de julgamento baseados nessas regras ou preferências inconscientes. Uma 168 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse aparente irracionalidade dessas decisões demonstrou aversão do ser humano às meras alusões às perdas. O fato é que, antes de serem abordagens excludentes, a visão normativa, de como se deve proceder no processo de tomada de decisões, e a descritiva, de como elas realmente acontecem na vida e na organizações com as limitações da mente humana, são perspectivas que se complementam e devem ser incluídas em um processo racional de decisão. Afinal, foi a razão que permitiu à Ciência descobrir as limitações da estrita lógica em alguns casos, e também é a mesma Ciência que indica as limitações de tal prática sugerindo como e quando considerar falhas de percepção e sua quantificação em riscos. Essa Ciência é a Ciência da Tomada de Decisão, respeitando a natureza das decisões nas Organizações e suas diversas dimensões (YU et al., 2011, p. 14). 4.2 Processo Decisório A cadeia de reflexões e ações que se estende entre o instante em que ocorrer a percepção da necessidade de agir e o momento em que se escolhe uma linha de ação é denominada processo de decisão (ABRAMCZUK, 2009, p. 43). O sucesso ou fracasso é dado em boa medida pela qualidade do processo de tomada de decisão. Todavia, embora existam casos em que o chamado feeling levou à decisão acertada, ao passo que um grupo de tomadores de decisão envoltos por técnicas e dados e após exaustivas reuniões tomaram o caminho equivocado, é preciso ter cuidado: o fato de haver tais situações outliers pode levar à aproximação do sofisma daqueles que dizem não ser preciso trabalhar, afirmando que há pessoas milionárias graças aos ganhos na loteria. O processo de tomada de decisão deve ser focado do ponto de vista racional, em suas etapas, seus elementos e estratégias, procurando dar ao administrador condições de escolher a melhor abordagem no gerenciamento da tomada de decisão, de forma a aumentar suas probabilidades de sucesso no alcance dos objetivos. Um treinador de futebol, por exemplo, caso escolha os batedores mais qualificados e preparados para as condições daquela partida específica e, ainda, na O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 169 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão sequência mais adequada, aumentará em muito as chances de sucesso. Da mesma forma um executivo, envolto nos cenários possíveis para a economia e o mercado que busca atingir. Entretanto, não se pode garantir que nenhum jogador perderá a penalidade máxima, tampouco o executivo pode garantir 100% de certeza de que não haverá risco algum envolvendo a decisão sobre mercado. A questão é que as opções não são binárias (0 ou 1), no sentido de que a decisão será absolutamente certa ou absolutamente errada. Ou tudo ou nada, como se costuma dizer. Na verdade, as decisões fazem parte de ambientes complexos. Neles surgem variáveis, pessoas, reações, estrutura, controle, sigilo, riscos, recursos, todos envolvidos por informações muitas vezes incertas, aleatórias e não presumíveis, sem olvidar de considerar a existência do próprio acaso. Uma boa decisão leva em conta tudo isso, analisa, disseca, estabelecendo alternativas e prevendo consequências (YU et al., 2011, p. 9-10). Tem-se, pois, como posto, que a boa decisão é resultado da qualidade de todo um processo racional, que pode ser repetido e trará os mesmos resultados de análise nas mesmas condições consideradas. Portanto, não se mede uma boa decisão pelo resultado. Este pode ser fortuito, produto do acaso. Os decisores competentes em busca da boa decisão dedicam-se a levantar os dados para análise e evitar erros de julgamento vinculados a preconceitos ou ideias preconcebidas. Convocam os agentes que devem ser ouvidos a participar do processo. São mediadores de uma dinâmica em que fatos e dados devem interagir em um processo estruturado de onde irão emergir as alternativas que serão avaliadas segundo critérios também definidos nesse processo (YU et al., 2011, p. 16). Heijden (2009, p. 35) reafirma que “a qualidade da decisão não pode ser medida pelo resultado, mas tão-somente pelo modo como se chegou a ela, isto é, por quão habilidoso e vigilante se foi ao se tomar a decisão”. Para tanto, segundo Yu et al. (2011, p. 16), é preciso que se crie uma estrutura de análise que proverá direção aos tomadores de decisão, indicando qual o melhor caminho a seguir, com base em todas 170 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse as influências e variáveis envolvidas. Na referida obra, resume-se a contribuição de diversos autores com a seguinte estrutura básica: a) entender o problema, incluindo contexto ou distintos contextos e cenários possíveis; b) estabelecer critérios de escolha segundo os objetivos do decisor ou da organização; c) criar alternativas e estabelecer influências entre as variáveis das alternativas e dos objetivos; d) coletar informações para estimar as consequências de cada alternativa e para gerar outras alternativas; e) avaliar as alternativas quanto a custos, resultados, riscos e outros objetivos estabelecidos; f) escolher e implementar; e g) acompanhar resultados e se necessário voltar à primeira etapa. Abramczuk (2009, p. 47) adverte, porém, que a apresentação sequencial que se faz do processo de decisão tem caráter didático, jamais o de norma para a prática. Idas e vindas entre estágios não somente ocorrem, mas devem ser feitas em todos os estágios que precedem a decisão final, como forma de refinar a qualidade de coleta e análise das alternativas que serão apresentadas para tal. 4.3 Prospecção de cenários Como visto, o processo de tomada de decisão é uma das maiores responsabilidades do administrador de uma organização. Para que o processo de decisão seja mais eficaz e eficiente é muito importante que o tomador de decisão entenda e controle no maior nível possível o ambiente no qual atua (MORITZ et al., 2009, p. 2). Neste pensar, diversas ferramentas foram desenvolvidas para auxiliar o administrador no processo de tomada de decisão, dentre as quais está a prospecção de cenários. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 171 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão 4.3.1 Escorço histórico Segundo Marcial e Grumbach (2002 apud MORITZ et al., 2010, p. 4), o desejo de conhecer o futuro existe desde o início da humanidade e, na busca por este conhecimento, o homem saía à procura dessas informações com o objetivo de minimizar o risco de suas decisões. Há inúmeras passagens que demonstram a preocupação em conhecer o futuro, conforme relatos no Antigo e Novo Testamento, nas histórias sobre a Idade Média, no Renascimento Italiano, no século XVIII com as obras de Pierre Maupertuis, matemático francês, no século XIX com a revolução industrial na Inglaterra e o surgimento do pensamento racionalista-mecanicista sustentado nas obras de Descartes, Locke, Espinosa, Newton e Darwin e no século XX com o romancista e futurólogo inglês Herbert George Wells, associando fatos do presente com ficção científica (MORITZ et al., 2010, p. 4). Consoante Schwartz (2006, p. 18), porém, os cenários aparecem pela primeira vez logo após a Segunda Guerra Mundial, como um método de planejamento militar. A Força Aérea dos EUA tentou imaginar o que seu oponente tentaria fazer e preparou estratégias alternativas. Nos anos 60, Herman Kahn, que fizera parte do grupo da Força Aérea, aprimorou os cenários como ferramenta para o uso comercial. Ele se tornou o maior futurólogo ou visionário da América, prevendo que o crescimento e a prosperidade seriam inevitáveis. Porém, os cenários atingiram uma nova dimensão no início da década de 70, com o trabalho de Pierre Wack, que era um planejador nos escritórios de Londres da Royal Dutch/Shell, o grupo internacional de petróleo, num novo departamento chamado Grupo de Planejamento. Wack não tinha por objetivo prever o futuro. Sua meta era a liberação dos insights das pessoas. A finalidade dos cenários exploratórios era ampliar a compreensão do sistema, identificar os elementos predeterminados e descobrir as conexões entre as várias forças e eventos que conduziam esse sistema, o que levaria a uma melhor tomada de decisão (MARCIAL; GRUMBACH, 2008, p. 30). 172 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse Heijden (2009, p. 27) complementa que foi Kahn quem adotou o termo “cenário”, com sua associação a Hollywod, como sendo um esboço detalhado de um futuro filme de ficção, reforçando sua afirmação de que o cenário não fazia previsões precisas, mas gerava histórias a serem exploradas. Ademais, o primeiro a empregar a palavra “prospectiva” foi o filósofo e pedagogo Frances Gastón Berger em sua obra A atitude prospectiva, de 1957, estabelecendo como descrever um futuro desejável para o mundo, sendo que Berger propôs o uso do termo “prospectiva” para mostrar a necessidade de uma atitude orientada para o futuro e porque a palavra “previsão” estava demasiadamente impregnada do sentido de profecia. Pretendia, com isso, separar também os conceitos de previsão (construir um futuro à imagem do passado) e prospectiva (em que o futuro é decididamente diferente do passado) (MARCIAL; GRUMBACH, 2008, p. 28). No Brasil, por seu turno, segundo Marcial e Grumbach (2008, p. 31), a prática de elaboração de cenários é relativamente recente. As primeiras empresas a utilizarem tal prática foram o BNDES, a Eletrobras, a Petrobras e a Eletronorte, em meados da década de 1980, em função de operarem com projetos de longo período de maturação, o que exigia uma visão de longo prazo. Complementam que, no final dos anos 1980 e início dos 90, foram feitos outros estudos prospectivos no Brasil. Buarque (1998 apud MARCIAL; GRUMBACH, 2008, p. 31-32) relata as iniciativas do CNPq em 1989, da Finep em 1992 e da Seplan-PR com o Projeto Aridas em 1994, que possuíam diferentes enfoques e cortes setoriais, temáticos ou espaciais. O mesmo autor sugere que a instabilidade e a incerteza em que o Brasil vivia durante esse período foram fatores inibidores da maior difusão das técnicas de construção de cenários. Contudo, argumenta que esse possível comportamento é paradoxal, já que são justamente esses fatores que aumentam a importância e a necessidade de explorar alternativas futuras, afirmando que, “quanto maior a incerteza e a velocidade das transformações, mais necessária se faz a antecipação O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 173 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão de futuros, de modo a preparar as empresas e os governos para as surpresas e descontinuidades”. Ainda, uma nova utilização da técnica prospectiva no Brasil foi coordenada pela antiga Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, que iniciou em 1996 os estudos que geraram, em 1997, os Cenários exploratórios do Brasil 2020 e, em 1998, os Cenários desejados para o Brasil. É preciso destacar que a iniciativa da SAE incentivou a discussão do tema no país. Ademais, outra grande iniciativa foi a do Ipea, em 1997, com o estudo O Brasil na virada do século – trajetória do crescimento e desafios do desenvolvimento (MARCIAL; GRUMBACH, 2008, p. 32). Enfim, consoante os precitados autores (2008, p. 32), com o aumento da incerteza na década de 1990, cresceu significativamente o número de organizações, em todo o mundo, que passaram a utilizar o método de cenários para definir suas estratégias. 4.3.2 Conceito A técnica de cenários, que auxilia o administrador no processo de tomada de decisão, é um conjunto formado pela descrição coerente de uma situação futura e pelo encaminhamento imaginado e criado dos acontecimentos que permitem passar da situação de origem à situação futura (GODET, 1993 apud MORITZ; PEREIRA, 2005, p. 2). Para Schwartz (2006, p. 15), “cenários são uma ferramenta para nos ajudar a adotar uma visão de longo prazo num mundo de grande incerteza”. Cenário é, então, “uma ferramenta para ordenar as percepções de uma pessoa sobre ambientes futuros alternativos nos quais as consequências de sua decisão vão acontecer.” Colocado de outra maneira: “um conjunto de formas organizadas sobre o nosso futuro.” Schoemaker e Heijden (1992 apud MARCIAL; GRUMBACH, 2008, p. 49) lecionam que os cenários são ferramentas que têm por objetivo melhorar o processo decisório, com base no estudo de possíveis ambientes futuros. Não devem ser tratados como previsões ca- 174 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse pazes de influenciar o futuro, nem como histórias de ficção científica montadas somente para estimular a imaginação. Os cenários têm como foco assuntos e informações de grande importância para tomadores de decisão, assim como os elementos previsíveis e imprevisíveis do ambiente que afetam o sistema em que a empresa está inserida. Simpson (1992 apud MARCIAL; GRUMBACH, 2008, p. 49) segue a mesma linha de Schoemaker e Heijden ao definir planejamento baseado em cenários como uma disciplina que gera uma visão mais ampla do ambiente externo, e relata alguns benefícios desse planejamento para as organizações, como o entendimento das percepções dos gerentes e a maior velocidade de decisão. Chama atenção para o fato de que o valor dos cenários não é medido pelo interesse que possam despertar, mas por sua efetiva utilização na tomada de decisões. Cenários, no entanto, adverte Schwartz (2006, p. 17), não são previsões. Simplesmente não é possível prever o futuro com um razoável grau de certeza. Um velho provérbio árabe diz: aquele que prevê o futuro mente, mesmo se disser a verdade. Em vez disso, os cenários são veículos que ajudam pessoas a aprender. Ao contrário da previsão tradicional de negócios ou da pesquisa de mercado, os cenários apresentam imagens alternativas do futuro; eles não extrapolam simplesmente as tendências presentes. Wright et al. (2010, p. 60), por sua vez, aduzem que, “no campo dos estudos do futuro, podem ser identificadas duas áreas de pesquisas que apresentam pressupostos e técnicas distintas, sendo elas a previsão (forecasting) e a prospecção (foresight)”. Nesse sentido, segundo Jouvenel (2000 apud WRIGHT et al., 2010, p. 60), o processo prospectivo apresenta traços essenciais que o distanciam da previsão em geral. Em primeiro lugar, a prospecção usa um enfoque pluridisciplinar de inspiração sistêmica baseado no princípio de que os problemas não podem ser corretamente compreendidos se reduzidos a uma dimensão, como ocorre geralmente quando são abordados a partir de disciplinas acadêmicas distintas. Em vez disso, a prospecção oferece uma abordagem que captura as O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 175 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão realidades em suas totalidades, com todas as variáveis que agem sobre elas, baseada no estudo de todos os fatores e suas interrelações. Heijden (2009, p. 136) também esclarece a diferença entre previsões e cenários: A previsão pressupõe que seja possível prever o futuro com base no que chamamos de uma ‘teoria de variância’, isto é, correlações consistentes e contínuas entre variáveis no ambiente de negócios persistindo ao longo do tempo. Isto está intimamente relacionado com o pressuposto racionalista de que existe uma resposta certa para a questão da estratégia e que a arte de formulá-la é chegar o mais próximo possível dela. A tarefa de prever, portanto, deve ser dada às pessoas com a inteligência e com a capacidade heurística necessárias, uma vez que isso garantirá que a resposta será a mais próxima possível. O planejamento por cenários tem um ponto de partida fundamentalmente diferente. O futuro não é previsível, mas contém incerteza irredutível. No entanto, existe uma estrutura causal subjacente aos eventos e é possível desenvolver uma “teoria de processos” de por que as coisas acontecem da forma que acontecem. Portanto, não existe uma única melhor resposta, mas a estrutura causal implica elementos predeterminados que podem emergir e ser articulados. O planejamento por cenários leva a percepções novas e originais nos eventos que impulsionaram a estrutura subjacente com base na qual a formulação estratégica é possível. No entanto, existe um ponto além do qual não se pode melhorar a precisão. Isto significa que é importante que os tomadores de decisão enfrentem a incerteza irredutível. Fazer uma previsão numa área em que existe incerteza fundamental é perigoso, uma vez que tira do tomador de decisões informações necessárias para se chegar a um decisão responsável. Marcial e Grumbach (2008, p. 18), de igual sorte, assentam que os estudos prospectivos não têm como objetivo prever o futuro, mas 176 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse sim estudar as diversas possibilidades de futuros plausíveis existentes e preparar as organizações para enfrentar qualquer uma delas, ou até mesmo criar condições para que modifiquem suas probabilidades de ocorrência, ou minimizar seus efeitos. Apesar de serem muitas vezes confundidos com previsões ou projeções, tratam-se de estudos do futuro com abordagem completamente diferente. Em resumo, Heijden (2009, p. 139-140) bem elucida a questão: [...] previsão e planejamento por cenários têm finalidades muito diferentes. A pergunta estratégica tem sua origem na incerteza, tanto do ambiente como da organização. Quanto mais longe enxergamos, maior a incerteza. A previsão é útil a curto prazo, no qual as coisas são razoavelmente previsíveis e a incerteza é baixa em comparação à nossa capacidade de prever. Dentro dessa gama, o planejamento racional de ‘prever e controlar’ faz sentido e é necessário. Em muito longo prazo, com baixa previsibilidade, ele não é uma atividade útil. É no futuro intermediário, no qual a incerteza e a previsibilidade são importantes, que o planejamento por cenários faz sua contribuição. Esta também é a tarefa da estratégia. Portanto, a gestão estratégica e o planejamento por cenários estão intimamente ligados. Os cenários podem ajudar a enfrentar a incerteza, de três maneiras especificas: 1. Eles ajudam a organização a compreender melhor o ambiente, permitindo que muitas decisões sejam vistas não como eventos isolados, mas como parte de um processo de ‘oscilações e ciclos’. Dessa maneira, o planejamento por cenários ajuda os gestores a evitar um conservadorismo excessivo, permitindo que assumam riscos ‘calculados’. 2. Os cenários põem em pauta a incerteza estrutural, mostrando à organização que tipos de acidentes ‘estão à espera para acontecer’. Dessa forma, o planejamento por cenários ajuda os gestores a evitar riscos indevidos. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 177 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão 3. Os cenários ajudam a organização a se tornar mais adaptável, pois expande seus modelos mentais, ampliando com isso a capacidade de percepção necessária para reconhecer eventos inesperados e tomar atitudes proativas. Para o Departamento de Prospecção e Planejamento de Portugal (1997 apud WRIGHT et al., 2010, p. 60) pode-se ir mais longe no confronto entre as abordagens da previsão e da prospecção, nos termos do Quadro 1 abaixo: PREVISÃO PROSPECÇÃO Concentra-se nas Certezas; Oculta as Incertezas. Origina projeções sobre um único ponto e lineares. Privilegia as Continuidades. Afirma o primado do Quantitativo sobre o Qualitativo. Oculta os Riscos. Concentra-se nas Incertezas, legitimando o seu reconhecimento. Origina imagens diversas, mas lógicas, do futuro. Leva em consideração as Rupturas. Favorece a Inércia. Parte do que é Simples para o que é Complexo. Adota uma abordagem normalmente setorial. Alia Qualitativo e Quantitativo. Sublinha os Riscos. Favorece uma atitude de Flexibilidade e o espírito de Responsabilidade. Parte do que é Complexo para o que é Simples. Adota uma abordagem global. Quadro 1: Diferenças entre Previsão e Prospecção Fonte: Departamento de Prospecção e Planejamento de Portugal (1997 apud WRIGHT et al., 2010, p. 60) A previsão, conforme mostra a coluna esquerda do Quadro 1, é amplamente apoiada por métodos estatísticos e modelagem econométrica, partindo do pressuposto que o passado é um bom preditor do futuro, podendo-se, portanto, privilegiar continuidades e certezas. Por outro lado, a prospecção, coluna direita do Quadro 1, considera que o futuro pode ser marcado por incertezas e descontinuidades, devendo-se considerá-las em uma abordagem flexível e qualitativa (WRIGHT, 2010, p. 61). 178 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse É importante destacar, por fim, que os cenários prospectivos são plausíveis, surpreendentes e têm o poder de quebrar paradigmas antigos. Criar cenários exige dos tomadores de decisão na organização questionarem seus pressupostos mais profundos sobre como o mundo funciona, para que enxerguem possibilidades de decisão que, de outra forma, seriam perdidas ou ignoradas (MORITZ; PEREIRA, 2005, p. 4). 4.3.3 Características gerais e outros breves aspectos Sinteticamente, o cenário completo, consoante Moritz et al. (2009, p. 5), geralmente contém sete componentes principais: título, filosofia, variáveis, atores, cenas, trajetória e cena final. O título condensa a essência da história, dá a ideia da lógica dos cenários. A filosofia sintetiza a direção fundamental do sistema. As variáveis representam aspectos ou elementos do contexto. Os atores são os indivíduos ou grupos que influenciam e são influenciados dentro do sistema. A cena descreve as relações e como estão organizados os atores e as variáveis. A trajetória descreve o movimento do sistema a partir da cena inicial até a final, não necessariamente de forma regular. Outras características importantes são: visão plural do futuro, ênfase no aspecto qualitativo e capacidade de quebra de modelos mentais. Além destas características, os cenários podem ser classificados em normativos e exploratórios. Os normativos estabelecem primeiro o futuro desejado para depois traçar as trajetórias para alcançá-lo, enquanto os cenários exploratórios simulam futuros possíveis através de certas condições iniciais (MORITZ et al., 2009, p. 5). Diante de tal classificação, é possível construir três hipóteses sobre um cenário. Um cenário de trajetória mais provável, uma variação do otimista do cenário provável e uma variação pessimista do cenário provável. De outro norte, segundo Masini e Vasquez (2000 apud WRIGHT et al., 2010, p. 62), as diferentes escolas de pensamento sobre a elaboração de cenários adotam um conjunto de tipos, conforme mosO Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 179 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão tra o Quadro 2, visto que, em linhas gerais, os cenários podem ser tendenciais ou extrapolativos, normativos ou desejáveis, catastróficos, utópicos e contrastantes: ESCOLAS Cenários Extrapolativos e Normativos: Erich Jantsch Cenários Prováveis e Desejáveis: Escola Francesa Cenários de Primeira e Segunda Geração: Escola Shell-SRI 180 TIPOS E DEFINIÇÕES Cenários Extrapolativos usam dados referentes ao passado e ao presente, tendo em vista o que é possível e provável. Cenários Normativos são projetados do futuro para o presente, retornando ao futuro novamente. Cenários Extrapolativos podem ser também normativos quando, além de contemplar o que é possível e provável, contemplam o que é desejável. Cenários Prováveis correspondem ao que acontecerá no futuro, a partir do conhecimento das atividades dos atores. Cenários Desejáveis indicam o horizonte para o qual se deve direcionar os esforços quando se quer que as coisas se modifiquem significativamente e quando pretende-se ir além dos prognósticos do cenário provável, provendo uma solução para os problemas que emergem do sistema. Cenários de Primeira Geração são usualmente exploratórios e possuem as seguintes características: ajudam a obter um melhor entendimento da realidade e são capazes de levantar de forma melhor as questões; não oferecem auxílio maior para a tomada de decisão; são orientados para o entendimento e não para a ação. Cenários de Segunda Geração são baseados em uma análise sólida da realidade; eles modificam as premissas e suposições de decisores sobre como o mundo funciona e os obriga a reorganizar seus modelos mentais de realidade; são também ferramentas educacionais, pois trabalham nos mecanismos ou no mundo interno dos tomadores de decisões. Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse ESCOLAS TIPOS E DEFINIÇÕES Cenários Tendenciais, Otimistas, Pessimistas e Contrastantes: H. Kahn e Estudos dos Futuros Humano e Social Cenários Tendenciais-Inerciais ou Cenários de Tendência: descrevem o prolongamento da situação presente − o que é presente agora. Não pressupõem mudanças, como se tudo fosse continuar constante, exatamente igual. Cenários Utópicos: descrevem o melhor dos mundos possíveis, qual seria a situação ideal. Apesar de usualmente inatingível, o cenário utópico é o mais desejável, e tem uma proposta altamente didática quando mostra o que não é atingível. Cenários Catastróficos: descrevem o pior dos mundos possíveis, piorando o que foi identificado como cenário tendencial. Cenários Normativos: descrevem uma situação desejável e atingível que melhora o cenário tendencial, estruturando os objetivos para o futuro. São úteis para definir um certo número de metas atingíveis e razoáveis, e para definir os estágios necessários para atingir as metas. Cenários Contrastantes: descrevem diferentes situações a partir de variações em determinadas variáveis-chave. Geralmente são o oposto do cenário tendencial, e apresentam situações extremas. São aqueles construídos como se todas as surpresas, presumidas como improváveis no momento de sua enunciação, acontecessem. Entretanto, eles não são totalmente arbitrários e focam na descoberta por meio da análise racional de relações entre fatos que podem não estar suficientemente visíveis. Quadro 2: Tipos de Cenários Fonte: Masini e Vasquez (2000 apud WRIGHT et al., 2010, p. 63-64) Ainda, conforme Moritz et al. (2009, p. 6), uma questão fundamental é reconhecer que o conceito de “provável” depende de uma série de fatores. A quantidade de informações disponíveis, o comportamento passado de agentes sociais e de determinados processos, o julgamento que cada pessoa faz sobre o que pode acontecer, entre outros aspectos devem ser considerados para que seja possível elaborar conjuntos de relações coerentes e modelar visões de futuro que sejam plausíveis. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 181 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão Em arremate, no que se refere ao método de elaboração, Godet (2000 apud WRIGHT et al., 2010, p. 64) afirma que, na prática, não há um único método para o desenvolvimento de cenários, mas uma variedade de métodos para a construção, sendo alguns simplistas e outros sofisticados. Entretanto, pontua o autor que há um consenso que o termo Método de Cenários somente se aplica para uma abordagem que inclua um número de etapas específicas interrelacionadas – análise de sistemas, retrospectiva, estratégia dos atores e elaboração de cenários. Coates (2000 apud WRIGHT et al., 2010, p. 64) sugere que cenários devem ser elaborados a partir da identificação e definição do universo de preocupação, definição das variáveis que serão importantes para moldar o futuro, identificação dos temas para os cenários e, finalmente, a criação dos cenários. Em linha semelhante, Jouvenel (2000 apud WRIGHT et al., 2010, p. 64) propõe que, basicamente, há cinco estágios para o procedimento prospectivo: definição do problema e escolha do horizonte de tempo, identificação das variáveis e construção do sistema, coleta de dados e elaboração de hipóteses, exploração de futuros possíveis e de escolhas estratégicas. 4.4A ferramenta de prospecção de cenários no processo de tomada de decisão Nas organizações contemporâneas, pode-se constatar uma crescente discussão acerca da necessidade de se utilizarem estudos do futuro, em função do aumento das pressões exógenas, que obrigam-nas a tentar alcançar uma forma apropriada de se relacionar com este ambiente, com objetivo de garantir a sua sobrevivência (MORITZ et al., 2010, p. 3-4). Diante dessa realidade, a Ciência da Administração vem recomendando o uso das ferramentas de Gestão Estratégica, Inteligência Competitiva, Aprendizagem Organizacional e Prospecção de Cenários, para o enfrentamento desse contexto turbulento. Em consequência, a técnica de cenários vem assumindo lugar de extrema relevância entre as ferramentas de suporte ao processo de tomada de 182 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse decisão nas organizações públicas e privadas, já que a sua utilização é uma forma de garantir aos gestores que suas decisões sejam tomadas com mais qualidade, criatividade e intensidade estratégica (MORITZ et al., 2010, p. 4). Schwartz (2006, p. 16), aliás, revela ter usado cenários com alguns dos maiores negócios do mundo e instituições governamentais, ao iniciar um pequeno negócio e até mesmo para tomar decisões pessoais sobre dieta e saúde. Para ele é possível usar cenários para planejar um negócio pequeno, para escolher a educação, para procurar emprego, para avaliar um investimento ou até mesmo para examinar um casamento. Com frequência, os cenários podem ajudar pessoas a tomar melhores decisões, normalmente decisões difíceis que de outra maneira elas não perceberiam ou até negariam. Assim, percebe-se que os cenários propiciam um ambiente que enriquece o debate sobre questões críticas relacionadas com o futuro da organização e permitem que os dirigentes desta tomem decisões de risco com mais transparência. Permitem ainda a identificação de oportunidades e de ameaças ao negócio, promovem o desenvolvimento e a análise de novas opções de futuro frente a mudanças no ambiente externo e propiciam uma visão de futuro que pode ser compartilhada pelos membros da organização (MARCIAL; GRUMBACH, 2008, p. 49). Ou melhor, nas palavras de Schwartz (2006, p. 18), “os cenários permitem que um administrador diga: estou preparado para o que der e vier. É esta capacidade de agir com um sentido conhecido de risco e recompensa que distingue tanto o executivo quanto o indivíduo inteligente dos burocratas ou apostadores”. Para Moritz e Pereira (2005, p. 3), reafirma-se, a técnica de cenários vem assumindo lugar de extrema importância entre as ferramentas de suporte ao processo de tomada de decisão nas organizações, já que sua utilização permite ao gestor agir com mais confiança e melhor conhecimento da incerteza presente no ambiente organizacional, assim garantindo, no processo decisório, que as decisões se- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 183 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão jam tomadas com mais qualidade, criatividade, segurança e, por conseguinte, agilidade. Pontua Huss (1988 apud WRIGHT et al., 2010, p. 61), outrossim, que o resultado mais importante da ferramenta não é predizer exatamente a sequência de eventos, antes disso, deve oferecer entendimento sobre a dinâmica do ambiente, as tendências chaves para monitorar e os limites dos desfechos do futuro para o qual se pretende planejar. Esses insights auxiliam os tomadores de decisão, se não a prever pontos de inflexão, pelo menos a acessá-los quando as condições são corretas para uma mudança estrutural de maior porte. À propósito, a finalidade dos cenários é, consoante Heijden (apud MORITZ et al., 2009, p. 5), “ampliar a compreensão do sistema, identificar os elementos predeterminados e descobrir as conexões entre as várias forças e eventos que conduziam esse sistema, o que levaria a uma melhor tomada de decisão”. Outrossim, na lição de Schwartz (2006, p. 20), “o propósito dos cenários é ajudar você a mudar sua visão da realidade para combinála mais intimamente com a realidade como ela é, e como ela será. O resultado final, entretanto, não é um fotografia precisa do amanhã, e sim melhores decisões sobre o futuro”. Na maior parte das empresas, as grandes decisões relacionadas ao futuro estão ligadas a projetos. Cada projeto é avaliado em relação a um conjunto de, por exemplo, dois ou três cenários; assim, são gerados dois ou três resultados, um para cada cenário, e a decisão a respeito de seguir em frente com o projeto é tomada com base nesses múltiplos resultados possíveis, e não em um número de ir/não ir. O objetivo é desenvolver projetos com probabilidades de retornos positivos sob qualquer um dos cenários. Os cenários em si não constituem o cálculo de decisão que indica seguir ou não seguir em frente com um projeto; são mecanismos para a produção de informações que sejam relevantes para a decisão. As decisões nunca se baseiam no fato de um cenário ser mais provável do que outro; os responsáveis pelos projetos efetuam uma otimização simultânea em relação a vários futuros diferentes que são considerados igualmente plausíveis e 184 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse tratados com o mesmo peso. Dessa maneira, tanto o valor quanto o risco potencial do projeto são avaliados (HEIJDEN, 2009, p. 28). Moritz et al. (2009, p. 7) alertam, porém, que: Após a identificação de fatores relevantes presentes nos cenários, é importante tomar decisões estratégicas para manter-se competitivo quando da efetivação das mudanças previstas. Mesmo sabendo da importância do planejamento, ainda existe muita resistência a mudanças. Muitas vezes os cenários considerados mais irreais pelos executivos são aqueles que realmente se concretizam, e a idéia de mudar o rumo da empresa para se preparar para o futuro só parece coerente quando o futuro chega e ninguém se encontra preparado. A implementação é um problema crucial, pois além de apresentar vários componentes de ordem prática, também apresenta aspectos culturais e psicológicos. Não basta criar cenários e apenas verificar qual o melhor para os objetivos da empresa, é necessário que ocorra a execução das atividades, assim como é fundamental que todos estejam engajados no seu desenvolvimento. A principal dificuldade no alinhamento do planejamento estratégico com a prospecção de cenários está em conscientizar todos os colaboradores da importância de trabalhar com um objetivo em longo prazo. Já na diretoria é possível identificar uma enorme resistência com relação à adoção de mudanças e a aceitação de que é preciso trabalhar em função de um futuro incerto; e se os executivos não forem convincentes, os demais colaboradores também serão resistentes aos novos objetivos. Assim, em arremate, pensar o futuro, procurando prospectar seus possíveis cenários, configura uma habilidade que deve ser desenvolvida na organização. Tal habilidade possibilita ao gestor agir com mais confiança e consistência diante das incertezas do ambiente O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 185 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão organizacional, preparando-o para enfrentar, por exemplo, os desafios decorrentes das rápidas mudanças tecnológicas que podem provocar, dentre outros fatores, grande impacto na atuação das organizações no ambiente (MORITZ, 2008, p. 69). 5Conclusão O processo de tomada de decisão é uma das maiores responsabilidades do administrador. O atual momento pelo qual passam as organizações está envolto num elevado grau de complexidade e velocidade de mudanças jamais visto na história, motivo pelo qual a margem de erro facultado ao gestor contemporâneo no processo de tomada de decisão vem reduzindo drasticamente. Tomar decisões é um processo que pode ser ensinado e treinado. É uma combinação de arte e ciência cujo treinamento permite aumentar a probabilidade dos acertos, vendo-se a qualidade do processo decisório não como uma garantia de sucesso, mas como um conjunto de providências e ações que permitem conscientemente aumentar as chances de sucesso, minimizar as chances de fracasso e, se mesmo assim, o risco diminuído não evitar o erro, aprender com ele e não repeti-lo. A boa decisão é resultado da qualidade de todo um processo racional, que pode ser repetido e trará os mesmos resultados de análise nas mesmas condições consideradas. Portanto, não se mede uma boa decisão pelo resultado. Este pode ser fortuito, produto do acaso. Dentre as ferramentas criadas para auxiliar o administrador no processo de tomada de decisão encontra-se a prospecção de cenários. Os estudos prospectivos, porém, não têm como objetivo prever o futuro, mas sim estudar as diversas possibilidades de futuros plausíveis existentes e preparar as organizações para enfrentar qualquer uma delas, ou até mesmo criar condições para que modifiquem suas 186 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marlon Negri e Wanderley Horn Hulse probabilidades de ocorrência, ou minimizar seus efeitos. Apesar de serem muitas vezes confundidos com previsões ou projeções, tratamse de estudos do futuro com abordagem completamente diferente. O propósito dos cenários é ajudar o administrador a mudar sua visão da realidade para combiná-la mais intimamente com a realidade como ela é, e como ela será. O resultado final, entretanto, não é uma fotografia precisa do amanhã, e sim melhores decisões sobre o futuro. A técnica de cenários vem assumindo lugar de extrema importância entre as ferramentas de suporte ao processo de tomada de decisão nas organizações, já que sua utilização permite ao gestor agir com mais confiança e melhor conhecimento da incerteza presente no ambiente organizacional, assim garantindo, no processo decisório, que as decisões sejam tomadas com mais qualidade, criatividade, segurança e agilidade. Em decorrência, não restam dúvidas de que o uso da ferramenta de prospecção de cenários revela-se extremamente útil aos gestores para se melhorar cada vez mais a qualidade da tomada de decisão. Espera-se, porém, que a técnica não sirva apenas como alerta. É preciso que os tomadores de decisão, ao se depararem com cenários prospectados, ajam conforme o planejado, de modo a valorar a ferramenta, aumentar o nível de acerto no ato decisório e, por conseguinte, fazer com que a organização supere a situação verificada sem maiores problemas. Referências ABRAMCZUK, André A. A prática da tomada de decisão. São Paulo: Atlas, 2009. 151 p. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 187 A Ferramenta de Prospecção de Cenários no Processo de Tomada de Decisão HEIJDEN, Kees Van Der. Planejamento por cenários: a arte da conversação estratégica. 2. ed. Tradução Cristina Bazán e Rodrigo Lopes Sardenberg. Porto Alegre: Bookman, 2009. 392 p. MARCIAL, Elaine Coutinho; GRUMBACH, Raul José dos Santos. Cenários prospectivos: como construir um futuro melhor. 5. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. 228 p. MORETTO, Luís Neto, PACHECO, Andressa Saazaki; COTO, Gabriela Cordioli. Criatividade dentro da Educação: um estudo de caso do Curso de Administração da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. Revista da Ciência de Administração, Florianópolis, v. 11, n. 24, maio-agosto, 2009. MORITZ, Gilberto de Oliveira et al. 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O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 189 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Marshal Luís Schwalb Luis Moretto Neto 1Introdução O presente trabalho tem por escopo realizar um estudo sobre o reflexo isomórfico das metas do Conselho Nacional de Justiça na Corregedoria-Geral da Justiça catarinense, órgão de fiscalização disciplinar, controle e orientação dos serviços forenses. Para tanto, ao analisar a repercussão das metas desde a sua primeira edição, que foi em 2009, até o momento em que foi realizado o artigo em comento, procurou-se verificar quais delas poderiam ter alguma incidência no trabalho realizado pela Corregedoria-Geral. A CGJ está subdivida em setores e as matérias são distribuídas aos Núcleos respectivos. No caso das metas de nivelamento, apenas a n. 2 com edição em 2009, ficou ao encargo do Núcleo 2 da CGJ, uma vez que o foco de suas diretrizes incidem na agilidade de julgamento das ações com mais de quatro anos de distribuição, conforme se verá adiante. A CGJ trabalha com o Sistema de Automação do Judiciário – SAJ, o qual possibilita realizar o controle do andamento processual em todas as comarcas, e, dependendo da situação, dentro do seu planejamento, efetivar as inspeções virtual e/ou física. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 191 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Com relação às metas, por se tratar de matérias que abrangem várias áreas, não só a judicial, outros segmentos do Poder Judiciário catarinense se destacam para atender o seu cumprimento; no caso em questão, a análise ficou restrita à Corregedoria-Geral da Justiça. O Conselho Nacional de Justiça, em maio de 2011, criou o Conselho Nacional das Metas, com o objetivo de propiciar aos Tribunais de Justiça uma maior aproximação no trabalho que vem sendo realizado desde então quanto às metas nacionais, além de criar comissões responsáveis pelas informações e reclamações relativas às metas nacionais para o repasse ao CNJ dos problemas e soluções encontradas a respeito da matéria. Ademais, o artigo estabeleceu os critérios temporais a respeito das metas, e abordou, de forma sucinta, os seus reflexos, mesmo que efêmeros, na CGJ. Após, verificou-se que apenas uma meta teve um contundente reflexo, e, as demais, embora ainda tratando de assunto relacionado com a CGJ, não tiveram repercussão isomórfica no seu âmbito. Para fundamentar o trabalho apresentado, é necessário esclarecer que, com exceção das informações disponibilizadas no sítio do Conselho Nacional de Justiça e da Corregedoria-Geral da Justiça, a pesquisa doutrinária deu-se tão somente quanto à teoria institucional, haja vista a escassez de material doutrinário a respeito do assunto. 2 Teoria institucional De acordo com Prates (2000), a perspectiva institucional é apresentada sob duas vertentes básicas. Uma de cunho mais estruturalista – na qual o ambiente é o único ator estratégico, isto é, o “agente” da ação –, enquanto a outra vertente, fundamentada por um caráter interpretativo, compreende que o ambiente é socialmente construído pela ação de diferentes atores. É esta última perspectiva, a qual salienta a construção social da realidade organizacional, que se adota neste artigo. Para isso, é necessário compreender o desenvolvimento 192 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto da teoria institucional no que concerne às relações ambiente-organização, conforme é abordado a seguir. Ao longo de décadas, a teoria institucional tem focado sua atenção sobre o ambiente sociocultural refletido nas organizações, enfatizando esses elementos para seu estudo. Philip Selznick, ainda em 1950, foi um dos primeiros autores a analisar a sujeição das organizações às pressões e valores oriundos do ambiente, ressaltando que, muitas vezes, os valores institucionais substituem os fatores técnicos na condução das ações organizacionais. Para Selznick (1996, p. 271), a institucionalização deve ser compreendida como a emergência de padrões de interação e de adaptação das organizações em resposta ao ambiente, de maneira que “precisamos saber quais valores interessam em um contexto determinado; como são construídos na cultura e na estrutura social da organização”. Assim, a teoria institucional desenvolve um foco mais substantivo ao considerar que muitas organizações não se confrontam apenas com as demandas de eficiência do ambiente técnico, mas têm nas pressões do ambiente institucional, sociocultural, um aspecto decisivo na condução de suas atividades (SCOTT, 1992). O chamado “novo institucionalismo” surgiu destacando o papel das normas culturais e dos elementos do amplo contexto institucional, como as normas profissionais e a ação do Estado na construção de estruturas e processos organizacionais. E muito da moderna teoria institucional tem como referência o trabalho de Peter Berger e Thomas Luckman (1985) – The social construction of the reality –, original de 1967, argumentando que a realidade social é uma construção humana criada por interação (SCOTT, 1995b, p. 117). Vale salientar que essa realidade não é construída individualmente, mas coletivamente, por meio de cooperação e aceitação social. Trata-se de um processo pelo qual as ações são repetidas e lhes são dados significados similares pelo self e pelos outros – processo este definido como institucionalização (SCOTT, 1995b, p. 117). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 193 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Como salientam Meyer e Rowan (1992), as organizações são direcionadas para incorporar práticas e procedimentos “institucionalizados”, isto é, valores e padrões definidos previamente que são adotados na busca de legitimidade. Por isso, Meyer e Rowan chamam a atenção para os “elementos simbólicos capazes de afetar formas organizacionais independente do fluxo de recursos e dos requerimentos técnicos” (apud SCOTT, 1991, p. 165). A perspectiva institucional salienta a importância dos valores externos para a organização, pressupondo que o ambiente oferece “visões mais ou menos partilhadas do que as organizações deveriam parecer e de como deveriam se comportar” (HATCH, 1997, p. 85). Isso adiciona uma ideia de legitimação na compreensão da ação organizacional na medida em que revela a necessidade de aceitação por parte do ambiente. Igualmente, a partir da ideia de legitimação, DiMaggio e Powell (1991b) ressaltam que as ações das organizações tornam-se homogêneas por intermédio de mecanismos isomórficos em relação ao ambiente institucional. Esses mecanismos são definidos como: 1) coercitivo – referente à influência política e legal; 2) mimético – que se refere à adoção de padrões em resposta à incerteza; e 3) normativo – diz respeito aos padrões profissionais, à profissionalização. Para Meyer e Rowan (1992), o ambiente institucional provê as organizações com regras que definem novas situações e redefinem aquelas existentes, especificando seu significado racional. As regras institucionalizadas seriam estruturadas como, nas palavras de Berger e Luckman (1985), “domínios de significação” – compreendidos por meio de categorias cognitivas e sistemas de crenças – e definidas pela amplitude sociocultural que as aceita como verdadeiras (taken-for-granted) a partir de uma linguagem comum. Por isso, Scott (1995a, p. xv) ressalta a importância de se entender a teoria institucional como uma perspectiva de construção social na qual “a realidade é construída pela mente humana em situações sociais”. Essa tem sido a perspectiva adotada significativamente pelo novo institucionalismo. 194 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto As instituições operam em níveis múltiplos, por meio de processos multifacetados, constituindo-se em estruturas cognitivas, normativas e regulativas e práticas que dão estabilidade e significado para o comportamento social. Essa multiplicidade pode ser compreendida, segundo Scott (1995a), de acordo com uma variedade de ênfases – abordadas no Quadro 1. Quadro 1: As ênfases na teoria institucional Fonte: Scott (1995a, p. 35) A teoria institucional salienta como o contexto ambiental pode modelar as organizações, entretanto, não evidencia como as organizações, enquanto projetos humanos, podem também influenciar o ambiente. De acordo com Scott (1991), não existe no novo institucionalismo um entendimento claro sobre a ação, por isso questões como “por que”, “como” e “onde” as ações são produzidas e as mudanças ocorrem não são devidamente respondidas. Como ressalta Pettigrew (1985), a ação e a mudança no contexto ambiental e organizacional envolvem um quadro complexo de interações em permanente dinâmica. Por sua vez, Machado-da-Silva e Gonçalves (1999) ressaltam que as organizações interagem simultaneamente com seu ambiente à procura de legitimação. Dessa forma, as estratégias escolhidas e as decisões empreendidas são influenciadas por uma inércia ambiental, no que diz respeito à conformidade às regras, às normas e às crenças – mitos – institucionalizadas, em conflito com critérios de eficiência. Assim, criam-se, muitas vezes, gaps entre a estrutura formal e as atividades do trabalho real nas organizações. Essa dinâmica também se refere a uma percepção diferenciada de legitimação e da mudança em relação ao ambiente a partir de sua abrangência técnica e institucional. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 195 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Scott e Meyer (1983, p. 140) compreendem que o ambiente técnico está relacionado com a troca de produtos e serviços no mercado, no qual as organizações são premiadas pela eficiência no controle do processo, enquanto o ambiente institucional caracteriza-se por regras e requerimentos com os quais as organizações devem estar conformadas se quiserem ter legitimidade. Essas duas tipologias do ambiente dão diferentes significados para a racionalidade, no entanto, devem ser compreendidas como facetas de uma mesma dimensão, pois há uma interpenetração entre o ambiente técnico e o institucional na busca de legitimação organizacional (SCOTT, 1991). As organizações, ao adotarem critérios externos de aceitação técnico-institucional, procuram demonstrar seu ajustamento ao ambiente. Para Scott (1995b), essa adoção representa a utilização de estratégias defensivas ou de aproximação, subdivididas em uma tipologia específica, conforme sintetizado no Quadro 2. Quadro 2: Estratégias de legitimação Fonte: Adaptado de Scott (1995b, p. 211-6) Essa relação entre organização e ambiente tende, portanto, a refletir uma conformação defensiva ou de aproximação na qual a orga- 196 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto nização procura uma imagem de legitimidade. Dentro de tal contexto, o uso dessas estratégias parece demonstrar os indícios de um processo de gerenciamento de impressões, desenvolvido pelas organizações para serem reconhecidas como legítimas por seu ambiente. A Teoria Institucional pode ser considerada como recente e em pleno estágio de desenvolvimento. Scott (1987) destaca quatro faces desta teoria: (1) institucionalização como um processo de “inculcar” valores; (2) institucionalização com um processo de criar a realidade; (3) sistemas institucionais como uma classe de elementos e; (4) instituições como esferas sociais distintas. O autor afirma que a primeira face está representada no trabalho de Selznick, o qual via a estrutura organizacional como um veículo adaptativo, moldado em reação às características e exigências dos participantes bem como às influências e pressões do ambiente externo. A segunda face centra-se no argumento de que a ordem social está baseada, fundamentalmente, sobre uma realidade social compartilhada a qual, por sua vez, é uma construção humana resultante de interações sociais. Assim a institucionalização passa a ser vista como um processo social. A terceira face enfatiza que sistemas de crenças institucionalizados constituem uma classe distinta de elementos que podem somar para a existência e/ou elaboração da estrutura organizacional. Desta forma, Scott (1987) salienta as definições de ambiente técnico e ambiente institucional, que fortalecem a ruptura com as abordagens anteriores presas aos aspectos puramente objetivos da realidade organizacional. 3Método O estudo foi realizado com base no método de abordagem indutiva, que é responsável pela generalização, isto é, parte-se de algo particular para uma questão mais ampla, ou seja, geral. Para Lakatos e Marconi (2003, p. 86), indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 197 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. O seu objetivo é “[...] chegar a conclusões mais amplas do que o conteúdo estabelecido pelas premissas nas quais está fundamentado” (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 63). Essa generalização não ocorre por meio das escolhas a priori das respostas, sendo que estas devem ser repetidas, geralmente baseadas na experimentação. Isso significa que a indução parte de um fenômeno para chegar a uma lei geral por meio da observação e de experimentação, descobrindo-se a relação existente entre dois fenômenos para se generalizar. O tema foi desenvolvido por meio da técnica de documentação indireta, mediante pesquisa bibliográfica e documental. Por ser matéria ainda recente, houve dificuldade de pesquisa bibliográfica no tocante às metas do CNJ; o material disponível encontra-se no site daquele órgão. 4 Metas de nivelamento do Conselho Nacional de Justiça As metas de nivelamento do Poder Judiciário foram definidas pela primeira vez no 2º Encontro Nacional do Judiciário, que aconteceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 2009. Ao final do Encontro, os tribunais brasileiros traçaram 10 metas de nivelamento para o Judiciário no ano de 2009. As 10 (dez) metas nacionais de nivelamento que deveriam ser alcançadas pelo Judiciário no ano de 2009 foram: Meta 1: Desenvolver e/ou alinhar planejamento estratégico plurianual (mínimo de 5 anos) aos objetivos estratégicos do Poder Judiciário, com aprovação no Tribunal Pleno ou Órgão Especial. 198 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto Meta 2: Identificar os processos judiciais mais antigos e adotar medidas concretas para o julgamento de todos os distribuídos até 31/12/2005 (em 1º, 2º grau ou tribunais superiores). Meta 3: Informatizar todas as unidades judiciárias e interligá-las ao respectivo tribunal e à rede mundial de computadores (internet). Meta 4: Informatizar e automatizar a distribuição de todos os processos e recursos. Meta 5: Implantar sistema de gestão eletrônica da execução penal e mecanismo de acompanhamento eletrônico das prisões provisórias. Meta 6: Capacitar o administrador de cada unidade judiciária em gestão de pessoas e de processos de trabalho, para imediata implantação de métodos de gerenciamento de rotinas. Meta 7: Tornar acessíveis as informações processuais nos portais da rede mundial de computadores (internet), com andamento atualizado e conteúdo das decisões de todos os processos, respeitado o segredo de justiça. Meta 8: Cadastrar todos os magistrados como usuários dos sistemas eletrônicos de acesso a informações sobre pessoas e bens e de comunicação de ordens judiciais (Bacenjud, Infojud, Renajud). Meta 9: Implantar núcleo de controle interno. Meta 10: Implantar o processo eletrônico em parcela de suas unidades judiciárias. O grande destaque foi a Meta 2, que determinou aos tribunais que identificassem e julgassem os processos judiciais mais antigos, distribuídos aos magistrados até 31/12/2005. Com a Meta 2, o Poder Judiciário começou a se alinhar com o direito constitucional de todos os cidadãos brasileiros que estabelece a duração razoável do processo na Justiça. Foi o começo de uma luta que contagiou o Poder Judiciário do país para acabar com o estoque de processos causadores de altas taxas de congestionamento nos tribunais. Também foram definidas outras metas importantes para or- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 199 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina ganizar o trabalho nas varas de Justiça, informatizar o Judiciário e proporcionar mais transparência à sociedade. Algumas metas traçadas para 2009 foram cumpridas quase totalmente, como a Meta 1, que teve percentual de cumprimento de 98,6%, e a meta 3, que atingiu 96,7%. Mas, apesar do esforço dos tribunais, algumas metas ficaram distantes do ideal, como a meta 2, cumprida em 60,7%, e a meta 5, em 63%. Para auxiliar os tribunais, o CNJ traçou um plano de ação para as metas não cumpridas, que continuaram a ser acompanhadas no ano seguinte. No 3º Encontro Nacional do Judiciário, que aconteceu na cidade de São Paulo, em 2010, foram definidas novas metas para aquele ano. As prioridades estabelecidas no ano anterior, como a agilidade e eficiência da Justiça, continuaram em foco, e os desafios traçados foram ainda maiores. Nessa reunião os dirigentes de todos os segmentos do Sistema de Justiça brasileiro, definiram as 10 (dez) Metas Prioritárias para 2010, assim resumidas: Meta 1: julgar quantidade igual a de processos de conhecimento distribuídos em 2010 e parcela do estoque, com acompanhamento mensal; Meta 2: julgar todos os processos de conhecimento distribuídos (em 1º grau, 2º grau e tribunais superiores) até 31 de dezembro de 2006 e, quanto aos processos trabalhistas, eleitorais, militares e da competência do tribunal do Júri, até 31 de dezembro de 2007; Meta 3: reduzir em pelo menos 10% o acervo de processos na fase de cumprimento ou de execução e, em 20%, o acervo de execuções fiscais (referência: acervo em 31 de dezembro de 2009); Meta 4: lavrar e publicar todos os acórdãos em até 10 dias após a sessão de julgamento; 200 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto Meta 5: implantar método de gerenciamento de rotinas (gestão de processos de trabalho) em pelo menos 50% das unidades judiciárias de 1º grau; Meta 6: reduzir a pelo menos 2% o consumo per capita com energia, telefone, papel, água e combustível (ano de referência: 2009); Meta 7: disponibilizar mensalmente a produtividade dos magistrados no portal do tribunal; Meta 8: promover cursos de capacitação em administração judiciária, com no mínimo 40 horas, para 50% dos magistrados; Meta 9: ampliar para 2 Mbps a velocidade dos links entre o Tribunal e 100% das unidades judiciárias instaladas na capital e, no mínimo, 20% das unidades do interior; Meta 10: realizar, por meio eletrônico, 90% das comunicações oficiais entre os órgãos do Poder Judiciário. A meta 2, por exemplo, passou a abranger o ano de 2006, ou seja, os tribunais deveriam dar conta de julgar todos os processos distribuídos até 31/12/2006. A meta 1 também garantiu mais agilidade à tramitação dos processos, determinando o julgamento de uma quantidade de processos maior do que o número que entrou na Justiça em 2010. As metas nacionais de 2011 foram definidas durante o 4º Encontro Nacional do Judiciário, no Rio de Janeiro, em 7/12/10. As metas foram escolhidas por votação, pelos presidentes de todos os 91 tribunais brasileiros. Foram selecionadas quatro metas para todo Judiciário e uma meta específica para cada segmento de Justiça – Trabalhista, Federal, Militar e Eleitoral, com exceção da Justiça Estadual. Nesse compasso, as metas nacionais do Judiciário para 2011 foram: Meta 1: Criar unidade de gerenciamento de projetos para auxiliar a implantação da gestão estratégica. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 201 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Meta 2: Implantar sistema de registro audiovisual de audiências em pelo menos uma unidade judiciária de primeiro grau em cada tribunal. Meta 3: Julgar quantidade igual a de processos de conhecimento distribuídos em 2011 e parcela do estoque, com acompanhamento mensal. Meta 4: Implantar pelo menos um programa de esclarecimento ao público sobre as funções, atividades e órgãos do Poder Judiciário em escolas ou quaisquer espaços públicos. Quanto às metas por segmento de Justiça, foram assim apresentadas: Justiça Trabalhista Meta 5: Criar um núcleo de apoio de execução. Justiça Eleitoral Meta 6: Disponibilizar nos sites dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) até dezembro de 2011 o sistema de planejamento integrado das eleições. Meta 7: Implantar e divulgar a “carta de serviços” da Justiça Eleitoral em 100% das unidades judiciárias de primeiro grau (Zonas Eleitorais) em 2011. Justiça Militar Meta 8: Implantar a gestão de processos em pelo menos 50% das rotinas administrativas, visando à implementação do processo administrativo eletrônico. Justiça Federal Meta 9: Implantar processo eletrônico judicial e administrativo em 70% das unidades de primeiro e segundo grau até dezembro de 2011. Dentro desse contexto, as metas não atingidas nos anos anteriores continuam em acompanhamento, e quatro delas fazem parte 202 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto da campanha “Compromissos da Justiça com Você em 2011”, quais sejam: •Julgar mais processos do que a quantidade que entrou na Justiça este ano; •Julgar o estoque de processos propostos até 31 de dezembro de 2006 e, quanto aos processos trabalhistas, eleitorais, militares e de competência do tribunal do júri, até 31 de dezembro de 2007; •Após as sessões de julgamento, publicar os acórdãos em até dez dias; •Publicar mensalmente a produtividade dos magistrados no portal do tribunal. 5 Comissão Nacional de Metas O Conselho Nacional de Justiça instituiu uma Comissão Nacional de Metas para definir e acompanhar as metas de desempenho do Poder Judiciário. Instituída pela Portaria n. 44, de 27 de maio de 2011, a Comissão tem a missão de melhorar a interlocução com os tribunais e auxiliar a aprovação, o acompanhamento e a avaliação dos objetivos estipulados por gestores dos tribunais superiores e dos tribunais que integram as cinco subcomissões do projeto. As subcomissões recebem consultas, críticas e proposições relativas ao programa de metas nacionais, além do resultado da sua análise e de suas proposições. Posteriormente, repassam essas informações ao CNJ. Integram as subcomissões nacionais: a Justiça Estadual (composta pelos tribunais de Justiça dos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Territórios, Santa Catarina e Sergipe), a Justiça Federal (com seus cinco tribunais regionais), a Justiça do Trabalho (com os tribunais do Trabalho da 8ª, 13ª, 14ª, 16ª e da 23ª Região), a Justiça Eleitoral (com os tribunais regionais do Amazo- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 203 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina nas, Mato Grosso do Sul, Sergipe, Pernambuco e Minas Gerais), e a Justiça Militar (com os tribunais militares de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo). 6 Reflexos isomórficos na Corregedoria-Geral da Justiça catarinense das metas de nivelamento do CNJ Por intermédio da Resolução Conjunta n. 02/2010 – GP/CGJ, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina e a Corregedoria-Geral de Justiça regulamentaram a criação do Programa Meta 2, tendo como finalidade estabelecer critérios norteadores para que a referida Meta, instituída em 2009, fosse monitorada pela CGJ, em razão da sua importância na atividade-fim. Dessa forma, a CGJ, dentro da sua esfera de atuação, passou a mapear o controle da Meta 2 para que sua abrangência fosse efetivamente supervisionada nas comarcas deste Estado. Ademais, o Programa Meta 2 tem por objetivo priorizar o julgamento dos processos que tenham mais de 4 anos desde a data de sua distribuição, ou seja, aqueles ajuizados até dez/2005. Dentro desse contexto, a Corregedoria-Geral da Justiça disciplinou a matéria e a colocou à disposição da justiça de 1º grau, auxiliando magistrados e servidores no cumprimento da meta 2 (http:// cgj.tjsc.jus.br/intranet/meta2/index.htm). Pode-se observar que, de uma maneira geral, a orientação era para gerar um relatório do Sistema de Automação do Judiciário SAJ/Estatística; nesse caso, existe um submenu específico que produz um relatório de todos os processos Meta 2 que cada unidade do Estado possui, e nele pode localizar os processos apontados, etiquetá-los e dar-lhes tratamento preferencial, de forma, a despachar e sentenciar com prioridade, bem como os demais processos urgentes; e adiantar as audiências necessárias para instruí-los e publicar com mais rapidez os atos produzidos. O avanço foi pequeno nesse ano por se tratar de uma novidade. 204 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto Em 2010, o CNJ incorpora à Meta 2 os processos que foram distribuídos em 2006 e mantém idêntica linha de trabalho de 2009. Dessa forma, o número de processos para serem analisados pela Meta 2 eleva-se consideravelmente, ou seja, por volta de 98.000. Dada à complexidade da matéria, em abril de 2010 a Corregedoria-Geral da Justiça, por intermédio do seu Núcleo II, cria uma equipe formada por servidores do quadro do judiciário catarinense e, em parceria com a Presidência, conforme Resolução Conjunta n. 2/2010 GP-CGJ, passa a monitorar o trâmite processual e agilizar o julgamento das ações judiciais. Assim, os Juízes que atuavam na justiça de 1º grau foram informados sobre a necessidade de estabelecer prazo para o julgamento de todo o acervo da Meta 2 existente em suas unidades. Importante registrar que as varas com mais de 500 processos, na Meta 2, foram destacadas e a partir de julho de 2010, a equipe formada por servidores lotados na CGJ elaborou um plano de ação para agilizar o andamento dos processos nessas varas de maior volume. O projeto, então, reuniu cerca de oito magistrados, os quais foram divididos em sete regiões para julgar referidos processos, bem como dez servidores que colaboraram nos trabalhos dos magistrados referentes à Meta 2 e auxiliaram os cartórios a impulsionar os feitos, além de orientar as chefias de cartório e gabinetes a acompanhar o relatório do SAJ/EST para corrigir eventuais irregularidades. Ademais, estabeleceu-se uma parceria com o projeto mutirão de sentenças coordenado pelo Núcleo I da CGJ para que os processos distribuídos nesse projeto fossem aqueles alcançados pela Meta 2. No ano de 2011, o CNJ não reedita a Meta 2 nos mesmos moldes do ano anterior e dá outro enfoque às metas de nivelamento do judiciário, contudo, encaminha aos Tribunais o comunicado de que as metas estabelecidas em anos anteriores permaneceriam ativas até que ocorresse seu cumprimento. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 205 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Por conta dessa situação, 2 (dois) magistrados catarinenses foram designados para atuarem como gestores do CNJ na Meta 2, no âmbito do Poder Judiciário catarinense. Dessa forma, o Projeto Meta 2 da CGJ estava preparado para atuar de maneira idêntica à realizada no ano anterior, contudo, em razão da pequena quantidade de magistrados e servidores para atuarem diretamente neste programa, a situação se agravou e fez que ele fosse remodelado e passasse a atuar tão somente como consultoria, de forma a manter, ainda, a parceria com o mutirão de sentenças e produzir algumas alterações nesse último. Como consultoria, o Meta 2 foi realizado por servidores integrantes do projeto que se deslocaram para diversas Comarcas e, por intermédio de reuniões realizadas com servidores e magistrados ali lotados, passaram a orientá-los a trabalhar com o SAJ/EST e elaborar planejamento de acordo com a realidade de cada unidade (vara), com a finalidade de impulsionar o andamento dos processos mais antigos, para que eles fossem, em curto espaço de tempo, sentenciados (condição essencial para o processo ser retirado da Meta 2). Quanto ao mutirão de sentenças, por iniciativa da coordenação do Projeto Meta 2 e como a anuência do Juiz-Corregedor do núcleo I da CGJ, foram alterados os termos da Resolução que regulamenta a cooperação dos magistrados em unidades diferentes das suas. Foram distribuídos no 2º semestre de 2011, cerca 1.200 processos para julgamento pelo mutirão de sentenças, com índice de sucesso de 95%. Portanto, com a atuação na forma de consultoria e com os processos julgados pelo mutirão de sentenças, o acervo da Meta 2 em dezembro de 2011 era de 30.685 processos. Vale esclarecer que uma parte significativa desse acervo é composta por processos como inventários, habilitações, falências, usucapião, entre outras, que impedem um avanço ainda mais significativo do projeto. 206 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto No final do mês de novembro/2011, registrou-se o cumprimento de 71% da Meta 2, ainda pendentes de julgamento aproximadamente 31.815 processos distribuídos até 31/12/2006. Necessário considerar, no entanto, que em torno de 10.127 processos dependem única e exclusivamente da iniciativa das partes (inventários, arrolamentos, sobrepartilha, usucapião, divórcio litigioso etc), enquanto outro número considerável aguarda a realização de perícias. Os 31.815 processos da meta 2 que ainda não foram julgados correspondem a 3,42% dos processos de conhecimento em andamento no primeiro grau (928.125). 7Conclusão Ao finalizar o presente trabalho, buscou-se verificar se as metas de nivelamento do Conselho Nacional de Justiça tiveram reflexos na Corregedoria-Geral da Justiça. No caso em comento, nem todas estão relacionadas com o trabalho desenvolvido pela Corregedoria-Geral, por estarem relacionadas com outros tipos de atividade desenvolvidas pelo Tribunal de Justiça. Assim, após várias reuniões realizadas entre a CGJ, Diretorias, Presidência e Assessoria de Planejamento, foram definidos os parâmetros de atuação dos diversos setores, haja vista os prazos estabelecidos pelo CNJ no cumprimento de cada uma das metas. Nesse ponto, em particular, a Corregedoria-Geral e a Presidência do Tribunal de Justiça editaram a Resolução Conjunta n. 02/2010, em que aquela passou a controlar prioritariamente a Meta 2 de 2009 e sua repercussão no cumprimento das diretrizes definidas pelo CNJ. Para tanto, houve a necessidade de se criar um programa de apoio para o trabalho que seria iniciado nas comarcas do Estado. Observa-se que a Meta 2 de 2009 foi mantida nos anos subsequentes, em razão de sua importância no cenário jurídico nacio- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 207 As Metas de Nivelamento do Conselho Nacional de Justiça e os Reflexos Isomórficos Produzidos na Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina nal, pois, apesar dos esforços envidados para agilizar o julgamento do acervo processual detectado, muito ainda tinha para ser feito e a estrutura judiciária precisava receber suporte para finalizar o cumprimento dessas diretrizes. Pode-se perceber que diante das metas relacionadas, a de maior complexidade é a Meta 2 de 2009, porquanto estabelece parâmetros para o julgamento de processos com mais de 4 anos desde a data de sua distribuição. O judiciário catarinense conta com o sistema de informática denominado Sistema de Automação do Judiciário – SAJ, que contribui no controle e distribuição de processos, além do SAJ/EST, que ajuda no controle específico do mapa estatístico dos magistrados quanto à prolação de sentenças, especificamente. Além disso, a Corregedoria-Geral realiza inspeções correicionais de forma planejada que evidenciam o controle, a fiscalização e a orientação quanto ao cumprimento das determinações e diretrizes do Conselho Nacional de Justiça relativas às metas de nivelamento. Para se ter uma ideia, as inspeções virtuais controlam o fluxo dos processos distribuídos aos gabinetes dos juízes e varas, além de gerar um relatório estatístico que ajudará, inclusive, nas promoções dos magistrados. Quando constatados problemas relacionados à inspeção virtual, o setor responsável age para que as providências necessárias sejam tomadas a contento, evitando-se assim que haja descontrole. Importante destacar que a equipe responsável pelo Programa Meta 2 realizou acompanhamento in loco em 66 unidades judiciárias de 14 Comarcas. Dessa forma, é correto afirmar que o reflexo isomórfico da meta de nivelamento se evidencia na concretização das diretrizes aprovadas pelo Conselho Nacional de Justiça no âmbito da Corregedoria-Geral da Justiça, mesmo que de forma limitada, haja vista a competência da matéria a ser analisada na Corregedoria-Geral de Justiça catarinense, conforme se verificou na conclusão deste artigo. 208 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Marshal Luís Schwalb e Luis Moretto Neto Referências BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1985. DIMAGGIO, Paul J.; POWELL, Walter W. 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A percepção precoce destas alterações casuísticas é fundamental ao processo decisório, possibilitando o alinhamento das estratégias, da missão e da visão organizacionais com a realidade fática vivenciada. O que importa é um incremento da vantagem competitiva, uma vez que a organização estará melhor adaptada às necessidades socioambientais a que esteja submetida. Para apurar e dimensionar o processo de mudança, bem como os rumos nos quais repercutirá, o diagnóstico organizacional representa excelente ferramenta caracterizadora dos elementos endógenos e exógenos. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 211 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense O capital humano, espécie de valor interno, assim como os demais elementos da organização, precisa se mostrar adaptável às mudanças. O tema diagnóstico setorial em recursos humanos, portanto, presta-se ao monitoramento e ao controle das atividades desempenhadas pelos colaboradores, especialmente a partir de variáveis coletadas mediante instrumentos de avaliação diversos. O resultado desta análise mais aprofundada pode apontar déficit de pessoal, falta de comunicação interna adequada, problemas de gestão, debilidade nos equipamentos de suporte ou, mesmo, falta de capacidade para o exercício da atividade, quer por razões técnicas, quer por instrução funcional insuficiente. Neste norte, o diagnóstico, justamente por revelar um conhecimento amplo sobre a realidade organizacional, apontando êxitos e deficiências setoriais, serve de base para nortear a construção de um plano de ensino de um curso de capacitação, a melhor didática de repasse do conteúdo, bem como as expectativas dos funcionários, esmiuçando as suas carências técnicas globais. Um treinamento efetivo e direcionado para as reais necessidades do setor contemplado mostra-se mais eficaz e proveitoso, porque saneia as dificuldades e os anseios prementes dos colaboradores atuantes na organização. Da mesma maneira que ocorre com as organizações do segundo e do terceiro setores, o setor público também se mostra vulnerável ao inevitável processo de mudança, particularmente as impulsionadas por fatores de natureza tecnológica. Enquanto as organizações privadas correm o risco de falirem caso não se adaptem à realidade, as instituições públicas podem se tornar obsoletas e desprovidas do caráter de legitimidade social essencial ao segmento produtivo. A capacitação é importante para as organizações de um modo geral, sobretudo na esfera pública, onde vigora o princípio constitucional da eficiência que, em suma, significa fazer o melhor uso possível dos recursos efetivamente disponíveis. Ao seu turno, os cursos de capacitação oferecidos aos servidores do quadro de pessoal do Poder Judiciário do Estado de Santa 212 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto Catarina, em regra, são ministrados sem a identificação prévia das carências do público-alvo. Diante disso, apresenta-se a seguinte problemática de pesquisa: qual a importância de se realizar um diagnóstico setorial prévio ao processo de execução de curso de capacitação aos servidores do Poder Judiciário Catarinense? Os objetivos específicos da pesquisa são: a) fazer levantamento dos dados coletados nas avaliações de curso de capacitação ministrado aos servidores da Justiça de Primeiro Grau, intitulado: curso de gerenciamento de rotinas (gestão de processos de trabalho), realizado no ano de 2010, por instrutores do Programa de Implantação de Serviços Judiciários; b) identificar limites e possibilidades a partir do levantamento relativo a processos de avaliação deste curso de capacitação por parte dos servidores do Poder Judiciário Catarinense; e c) discorrer sobre a relevância do diagnóstico setorial prévio para o sucesso do curso de capacitação aos servidores do Poder Judiciário Catarinense. Este estudo justifica-se pelo princípio constitucional basilar da Administração Pública, esculpido no artigo, 37, caput, o da eficiência. Abarcada por esta premissa, decorre a obrigação de se prestar, à sociedade, um serviço público produtivo, efetivo e de qualidade. Nesta senda, iniciativas de capacitação, treinamento e desenvolvimento de servidores públicos representam importantes meios para a obtenção do objetivo fim, elencado na Magna Carta. A fim de programar um curso direcionado às reais necessidades e deficiências técnicas dos servidores, a realização de um diagnóstico setorial prévio mostra-se bastante oportuna para o cumprimento do desiderato, tudo com o fito de objetivar o sucesso e a eficácia do evento. Com a realização da pesquisa, espera-se obter alguns ganhos para definir uma melhor sistemática de fornecimento de cursos de capacitação aos servidores do Poder Judiciário Catarinense, tais como: identificar dificuldades (pontos fracos) e potencialidades (fatores fortes) do setor contemplado; conhecer previamente o público-alvo, seus anseios e deficiências; adequar o plano de ensino às expectativas dos O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 213 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense participantes; definir convenientemente a carga horária, entre outros. Por oportuno, a oferta de Programas de Capacitação, aperfeiçoamento e qualificação de capital humano, na esfera pública, necessita estar orientada pela busca de eficiência, eficácia e efetividade na prestação de serviços públicos à sociedade em geral. 2 Revisão de literatura 2.1 Desenvolvimento Organizacional (DO) 2.1.1 Contextualização e conceito Mudança organizacional é o conjunto de alterações a que estão submetidas as organizações, no âmbito interno e externo. Ter a capacidade de antever estas mudanças possibilita às organizações fazerem os ajustes internos necessários, adaptando-se a novas realidades, fator importante à prosperidade e ao sucesso organizacional. A mudança pode ensejar adequação de crença, de valores, da missão, da visão e das estruturas da organização. Noutras linhas, a organização muda internamente para se adaptar aos padrões externos e ao mercado competitivo. Robbins (1999) apresenta seis fatores atuantes como desencadeadores do processo de mudança: a natureza da força do trabalho, a tecnologia, os choques econômicos, a concorrência, as tendências sociais e a política mundial. Enfim, a mudança está diretamente relacionada a forças endógenas e exógenas. Endógenos são os aspectos desestabilizadores internos, tais como novos objetivos pessoais dos colaboradores, outros objetivos organizacionais como um todo, comumente desencadeados pela quebra no equilíbrio organizacional. Já, as forças exógenas são as externas, que vêm de fora e provêm do ambiente, tais como as mudanças sociais, políticas e econômicas. As mudanças sociais se relacionam às alterações de crenças, valores, princípios e atitudes que norteiam o comportamento da sociedade. As mudanças políticas são 214 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto determinadas pela ideologia dos detentores do poder. As mudanças econômicas, por sua vez, referem-se à instabilidade das moedas e do câmbio (AMBONI; ANDRADE, 2007). Para o doutrinador Berti (2001, p. 41): Toda a empresa necessita, permanentemente, estar em equilíbrio dinâmico nas suas relações com o mercado. São indicadores deste equilíbrio, a lucratividade, a estabilidade econômico-financeira e o seu desenvolvimento. Qualquer desequilíbrio interno ou externo deverá ser compensado com uma rápida reestruturação interna e inteligente (estratégica); caso contrário, ele irá perdendo sua eficiência, reduzindo gradativamente sua competitividade até tornar-se inviável. Consoante Daft (1999, 442 p.), “no mundo atual em rápida mutação, qualquer empresa que não esteja constantemente desenvolvendo, adquirindo ou adaptando novas tecnologias, provavelmente estará fora do negócio em poucos anos”. Uma vez salientado o contexto dinâmico, as organizações que adotarem uma postura proativa em relação às mudanças, antevendo cenários de instabilidade e de crise, sobressair-se-ão em relação às demais com atitudes meramente reativas. O lema, então, é mudar primeiro. Nas lições de Ulrich (1998, p. 189), “os vencedores não se surpreenderão diante das mudanças imprevistas com que se defrontam; terão desenvolvido a capacidade de adaptar-se, aprender e reagir. Os perdedores gastarão tempo tentando controlar e dominar a mudança em vez de reagir a ela com rapidez”. Aliás, interessante mecanismo auxiliar do processo de mudança é o Desenvolvimento Organizacional (DO). O DO, que surgiu nos anos sessenta, segundo French e Bell (CHIAVENATO, 2006, p. 61), é definido como sendo: O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 215 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense o esforço de longo prazo, apoiado pela alta direção, no sentido de melhorar os processos de resolução de problemas de renovação organizacional, particularmente por meio de um eficaz e colaborativo diagnóstico e administração da cultura organizacional, com ênfase especial nas equipes formais de trabalho, equipes temporárias e culturas intergrupal, com assistência de um consultor facilitador e a utilização da tecnologia das ciências comportamentais, incluindo ação e pesquisa. Existem vários outros conceitos de DO formulados por especialistas, dentre os quais se destacam (JACOBSOHN, s.d.): Beckhard (1969): Esforço planejado, que abrange toda a organização, e administrado do alto, para aumentar a eficiência e a saúde da organização através de intervenções planejadas nos “procedimentos” da organização e usando conhecimentos fornecidos pelas ciências do comportamento. Bennis (1972): Resposta à mudança, uma complexa estratégia educacional que tem por finalidade mudar crenças, atitudes, valores e a estrutura da empresa, de modo que elas possam melhor adaptar-se aos novos mercados, tecnologias e desafios e ao próprio ritmo vertiginoso da mudança. Lawrence & Lorsch (1972): Modificação que conduzirá a um melhor ajustamento entre a organização e as demandas do seu ambiente e/ou a um melhor ajustamento entre a organização e as necessidades dos contribuintes individuais. Zaltman & Duncan (1977): Re-aprendizado do indivíduo ou grupo em resposta a novos requerimentos percebidos de uma determinada situação, exigindo ação e resultando em mudança na estrutura e/ou funcionamento de sistemas sociais. Robbins (1999): Termo usado para compreender um conjunto de intervenções de mudança planejada construídas 216 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto sobre valores democrático-humanistas que buscam aprimorar a eficácia organizacional e o bem-estar do empregado. Neste contexto, o Desenvolvimento Organizacional apresenta-se como um processo interativo de planejamento, ação e avaliação estudado para consolidar a mudança planejada, abrangendo toda a organização e englobando os fatores endógenos e exógenos, visando ao êxito através de alterações estruturais e comportamentais, novas formas de educação direcionada e assimilação de novos hábitos e rotinas de trabalho. Seus objetivos precípuos são a melhoria organizacional contínua e o bem-estar do empregado. 2.1.2 Objetivos do programa, características e os modelos de DO Os objetivos comuns de um programa de DO são (CHIAVENATO, 2006, p. 65): 1) Criação de um senso de identificação das pessoas em relação à organização. Busca-se a motivação juntamente com o comprometimento, compartilhamento de objetivos comuns e o aumento de lealdade. 2) Desenvolvimento do espírito de equipe por meio da integração e da interação das pessoas. 3) Aprimoramento da percepção comum sobre o ambiente externo a fim de facilitar a adaptação de toda a organização. A definição do DO, por outro lado, possui certas características, dentre as quais se destacam: focalização na organização como um todo; orientação sistêmica; agente de mudança; solução de problemas; aprendizagem experiencial; processos de grupo e desenvolvimento de equipes; retroação; orientação contingencial; desenvolvimento de equipes e enfoque interativo (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). A seguir, o entendimento de cada fator. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 217 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense Por focalização na organização como um todo, entende-se a necessidade de envolvimento de todos os colaboradores da organização no processo de mudança e na resolução dos conflitos (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). A orientação sistêmica volta-se para a interação positiva e adequada de todas as partes da organização, fazendo com que trabalhem com eficiência e alta produtividade (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). O agente de mudança serve para direcionar, coordenar ou orientar os processos de mudança em uma organização. Pode ser um consultor interno ou externo (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). No quesito solução de problemas, as deficiências são encontradas através de pesquisa e de diagnóstico e saneadas através de ações corretivas. O ideal seria construir mecanismos de feedback, para viabilizar o aprendizado dos indivíduos e dos grupos a partir de suas próprias experiências (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). A aprendizagem experiencial dá-se no próprio ambiente de trabalho, com a troca de vivências e o compartilhamento de informações profissionais (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). Os processos de grupo e o desenvolvimento em equipe ocorrem por meio de enquetes, discussões em grupo, na tentativa de superar as diferenças individuais em prol do sucesso da organização. Esta prática encoraja a inter-relação entre as pessoas, nelas incutindo responsabilidades pela desenvoltura da empresa no cenário hodierno (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). O DO proporciona retroação, na medida em que promove dados que sustentem a decisão dos gestores, a partir de resultados comportamentais (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). A orientação no DO é contingencial, haja vista que não é um procedimento rígido ou imutável. Pelo contrário, mostra-se bastante flexível e adaptável à realidade de cada empresa em voga (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). 218 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto O DO se materializa com o desenvolvimento de equipes, que atuam de acordo com as suas circunstâncias específicas e com a sua cultura, mas de forma programada. O objetivo é a mudança de cultura organizacional e não apenas a evolução das pessoas (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). Por fim, o DO se constitui de enfoque interativo, ou seja, participativo e comunicativo, objetivando o sucesso na implementação de mudanças (CHIAVENATO, 2006, p. 63-65). Os modelos de DO, ao seu turno, baseiam-se em quatro variáveis principais: ambiente, organização, grupo e indivíduo, que são analisadas em conjunto pelos estudiosos a fim de diagnosticar a situação e traçar um plano de intervenção nos modelos estrutural e comportamental que permita a correlação entre os objetivos organizacionais e individuais (CHIAVENATO, 2006, p. 62). Vários são os modelos de DO propostos. Em primeiro lugar, destaca-se o pioneiro Richard Beckhard (1969), que apregoa que o DO preocupa-se com a mudança e com o aperfeiçoamento, se relacionando a metas de curto e médio prazos da organização. As fases do esforço do DO, para ele, são: 1) diagnóstico da situação atual; 2) planejamento da estratégia para mudança; 3) educação; 4) consultoria e treinamento; e 5) avaliação. O diagnóstico da situação atual consiste na verificação da necessidade de mudança e do estado atual da empresa e deve ser realizado em duas áreas da organização: nos subsistemas que compõem o sistema total e nos procedimentos em vigor. Após os resultados do diagnóstico, define-se um plano de estratégia para a mudança, que pode ser: desenvolvimento de equipes; aprimoramento das relações intergrupais; estabelecimento de metas e planejamento; e treinamento. A fase de educação relaciona-se ao exercício de um esforço puramente educacional, não voltado para a ação. A consultoria e o treinamento, ao seu turno, dão-se através de estudo sobre as práticas atuais ou o planejamento para outras rotinas, a fim de nortear as atividades de um treinamento planejado. A fase de avaliação, por fim, representa a ferramenta de controle, ou seja, O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 219 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense o acompanhamento constante de todas as mudanças implementadas no programa. Mais um modelo de destaque é o proposto por Lawrence e Lorsch (1972), definido em quatro etapas: 1) diagnóstico; 2) planejamento da ação; 3) implementação da ação; e 4) avaliação. O diagnóstico é o levantamento das rotinas e práticas realizadas pela empresa em consonância com o ambiente externo. No planejamento da ação são abordados os métodos de mudança e as fases de sua aplicação. Com a implementação da ação, as mudanças são colocadas em prática, devidamente acompanhadas. Por último, a avaliação encerra o processo de mudança, podendo ensejar um novo planejamento e novas adaptações, em sendo o caso. Outro modelo relevante é o de John Kotter (1996), que leciona acerca da existência de oito etapas para um processo de mudança bem-sucedido: 1) estabelecendo senso de urgência; 2) criando a coalizão guia; 3) desenvolvendo a visão e estratégia; 4) comunicando a visão da mudança; 5) autorizando ações amplas; 6) gerando vitórias de curto prazo; 7) consolidando ganhos e produzindo mais mudança; e 8) ancorando as novas abordagens na cultura. O estabelecimento do senso de urgência passa pela escolha das prioridades das variáveis e pelo processo de sensibilização das pessoas à adoção de ideias de mudança. Criar a coalizão guia significa recrutar uma equipe com poder e credibilidade para comandar o processo. Após, oportuno o desenvolvimento de visão e de estratégia, com a construção de missão e mediante o engajamento de todos na crença de um futuro organizacional mais próspero. Conhecendo os pontos fracos e fortes da organização (âmbito interno) e as ameaças e oportunidades (âmbito externo), uma vez traçada a estratégia para a mudança, salutar que ela seja comunicada, claramente, a todos os integrantes da organização, para que possam se adequar aos comportamentos esperados. O quinto passo consiste em autorizar ações amplas, ou seja, em dar autonomia aos colaboradores, conferindo-lhes o poder de agir de acordo com o planejamento da mudança, quer seja transpondo obstáculos, ou modificando sistemas ou estruturas que não estão alinhados com a visão da mudança, ou encorajando o risco e ideias etc. Como 220 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto o processo evolutivo é longo, comemorar os pequenos avanços é um fator de estímulo à equipe e deve ser integrado nas etapas, para as pessoas que fizeram as vitórias possíveis. Os êxitos gradativos devem ser consolidados e servirem de norte para o início de novos processos de mudança. Por fim, indispensável a incorporação das novas culturas no cotidiano da organização, com o fito de perpetuar as melhorias alcançadas: criação de melhor performance através da orientação do comportamento para o cliente e produtividade; aprimoramento da liderança e da administração efetiva; articulação das conexões entre os novos comportamentos e o sucesso da organização; desenvolvimento de novas formas de garantir o progresso e a sucessão da liderança etc. Interessante citar um outro modelo que adota os moldes convencionais do DO, só que com maior detalhamento: o de Nério Amboni e de Rui Otávio Andrade (2007). Segundo eles, dez são as etapas: 1) decisão da organização sobre utilizar o DO como um processo de mudança; 2) definição do agente de mudança; 3) escolha, contatos iniciais, formatação do relacionamento e papéis; 4) planejamento do processo de mudança; 5) sensibilidade; 6) diagnóstico estratégico da situação; 7) análise e interpretação dos dados e das informações; 8) plano de ações; 9) intervenção; e 10) acompanhamento e avaliação permanente. O processo de Desenvolvimento Organizacional não acontece por si só no que tange ao capital humano. Por isso, as organizações desenvolvem programas de capacitação continuada, como efetivos meios de ajustar as pessoas e suas competências às novas demandas. 2.2 Capacitação: sucinta noção Segundo Chiavenato (1997), na administração de recursos humanos toma-se como referência as pessoas que fazem parte das organizações e nelas desempenham papéis variados. Elas passam a maior parte de seu tempo trabalhando ou vivendo em empresas. Assim, a produção de bens e serviços não pode ser desenvolvida por pessoas que trabalham sozinhas, ou que sejam despreparadas. É o capital humano da organização. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 221 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense No novo conceito de administração de recursos humanos, preponderam três aspectos (DORREGÃO; JUNGES, s.d., p. 41-42): a) as pessoas como seres humanos profundamente diferentes entre si, dotados de personalidade própria, com uma história pessoal particular e diferenciada, possuidores de habilidades e conhecimentos, destrezas e capacidades indispensáveis à adequada gestão dos recursos organizacionais; b) as pessoas não como meros recursos (humanos) organizacionais, mas, principalmente, como elementos impulsionadores da organização e capazes de dotá-la de inteligência, de talento e de aprendizagem indispensáveis à sua constante renovação e competitividade em um mundo pleno de mudanças e desafios; e c) as pessoas como parceiros da organização, capazes de conduzi-la à excelência e ao sucesso. Como parceiros, os indivíduos fazem investimentos na organização, tais como esforço, dedicação, responsabilidade, comprometimento, etc., na expectativa de colherem retornos por meio de salários, incentivos, crescimento profissional, carreira, etc. Capacitação, em linhas simples, é a instrução conferida que visa a aprimorar conhecimentos técnicos e desenvolver habilidades diversas nos instruendos. Capacitar, para o dicionário, é tornar capaz; habilitar; persuadir; convencer (FERREIRA, 2008). Com relação às ações de treinamento e desenvolvimento, todas se caracterizam em três categorias: capacitação, aperfeiçoamento ou desenvolvimento. A capacitação “refere-se às ações de formação de colaboradores para o exercício de funções”. O aperfeiçoamento, “às ações de verticalização numa ou mais especializações e domínios”. O desenvolvimento, ao seu turno, “refere-se ao processo de mobilização de potenciais e talentos, tendo em vista o futuro próximo das demandas da empresa, seu mercado e clientes” (MILIONI, 2004, p. 170). 222 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto O treinamento de pessoal é uma atividade imaginada e conduzida por seres humanos, com o objetivo precípuo comportamental. Tem a missão de agir como instrumento para as ações de desenvolvimento organizacional, ao passo que influencia indivíduos. A tecnologia de procedimentos do treinamento é fortemente influenciada pelas Ciências Sociais em geral: Sociologia, Psicologia Social, Economia, Antropologia, Política e Jurídica (MILIONI, 2004). O profissional de desenvolvimento e treinamento, aliás, deve estar comprometido com os resultados, mostrando a devida sintonia com a essência da sua missão na organização ou na instituição. Resultado é, portanto, o atingimento dos objetivos determinados para nortear o curso das ações nos projetos de treinamento, traduzíveis em lucros, mas que pode ser, também: sensibilização; despertar de interesse para o assunto; suprimento de uma necessidade de informação; contribuição espontânea para determinado perfil de pessoas; cumprimento das responsabilidades sociais (a empresa cidadã, por exemplo); estratégias assistencialistas; ou outras possibilidades, dentro do regime de soberania das entidades que compõem a estrutura social de um país (MILIONI, 2004, p. 9-10). O que não se pode admitir é o desperdício de tempo e de dinheiro. Na empresa privada, o desperdício é ruim para a credibilidade e a carreira de uma pessoa. Já, no setor público, a responsabilidade pelo resultado é maior, uma vez que os recursos financeiros utilizados nos cursos são da sociedade e provenientes do pagamento de tributos (MILIONI, 2004). Não havendo a perspectiva do retorno claro do evento, melhor não executá-lo. Da mesma forma, o curso não deve ser ministrado nos seguintes casos: a) se não forem sabidos, exatamente, os porquês da necessidade de sua realização; b) se o treinamento solicitado pelo cliente interno não apresentar justificativas técnica e financeiramente concretas; c) se for realizado só para “cumprir tabela”; d) se está O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 223 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense em vias de ser viabilizado apenas por modismo; e) se for apenas um capricho da unidade de Treinamento e Desenvolvimento da organização; e f) em havendo dúvidas acerca da efetiva produção de resultados (MILIONI, 2004). Inúmeras são as sugestões de economizadores de dinheiro em projetos, programas e eventos de treinamento e desenvolvimento, tais como: valorização dos instrutores da própria organização; treinamento por objetivos claros; firmar parcerias (em empresas e entidades) e convênios diversos; sistematização da avaliação; envolvimento ativo dos treinandos; realização de diagnóstico; senso crítico na definição de eventos; treinamento com foco nos resultados; aplicação de técnicas compatíveis com o público-alvo; uso de abordagens múltiplas; análise técnica e crítica no levantamento de necessidades de treinamento etc. (MILIONI, 2004). O treinamento pode se dar em três estilos: burocrático, laboratorial e situacional (MILIONI, 2004). No estilo burocrático, parte-se do princípio de que todos os indivíduos são carentes de treinamento, e os programas, consequentemente, têm caráter geral, coletivo. [...] O mecanismo de designação de funcionários que receberão treinamento não considera as necessidades individuais ou setoriais. [...] No conjunto final, vemos o treinamento quantitativamente muito bem, ao passo que em termos qualitativos fica muito a desejar (MILIONI, 2004, p. 43-46). No estilo laboratorial, tem-se o curso ministrado após prospecção cuidadosa do setor, em busca de indicações precisas do que deve ser abordado. “O treinamento pauta sua ação em uma diagnose de necessidades vigentes no organismo empresarial. São consideradas as particularidades de cada segmento da estrutura, e o risco de generalização é bastante diminuído” (MILIONI, 2004, p. 43-46). Já, o estilo situacional é pouco ortodoxo. Nele, os rumos para o programa de treinamento são determinados pela situação atual e por 224 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto suas variáveis, com base num contexto de crises e de mudança. Aqui, há o estímulo à ponderação no comprometimento de verbas para os cursos e programas (MILIONI, 2004). Apresentando-se a capacitação como ferramenta bastante útil do Desenvolvimento Organizacional no tocante ao capital humano, a preparação do curso em todos os seus aspectos, mediante a realização de um diagnóstico, garante maior índice de bons resultados, haja vista que antevê grande parte dos contratempos e minimiza os seus efeitos. 2.3 Diagnóstico setorial 2.3.1 Contextualização e conceito O sucesso de uma organização passa pela avaliação constante de desempenho. E, quando apontadas falhas na sua administração ou na produção dos resultados, salutar a implementação de medidas corretivas e de novas estratégias de ação. Esta avaliação de desempenho dá-se através de um diagnóstico socioeconômico, avaliando cada setor, como um todo. A partir desta coleta de dados, é confeccionado um relatório revelando a estrutura geral da organização, os problemas por ela enfrentados, bem como a sua situação econômica e administrativa. Ao final, após a análise minudente de todos os enfoques abordados no documento, o consultor fornece um parecer noticiando alternativas para direcionar o caminho da organização ao sucesso (BERTI, 2001). Entende-se por problema “o desvio entre o que deveria estar acontecendo (situação esperada) e o que realmente ocorre (situação atual) e que é suficientemente importante para fazer com que alguém pense que o desvio deve ser corrigido, a nível empresarial”. Ele pode ser de natureza estratégica ou de recursos (BERTI, 2001, p. 45). Em ambos os casos, no entanto, as técnicas para identificação e solução de possíveis problemas passam pelas mesmas etapas, quais sejam: O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 225 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense 1) análise da situação atual da empresa; 2) identificação do problema imediato; 3) identificação dos problemas básicos; 4) estabelecimento de uma relação sintoma/causa/ efeito, para os problemas detectados; 5) escolha das alternativas de ação mais viáveis; e 6) elaboração de um plano de ação (BERTI, 2001, p. 45). O diagnóstico organizacional consiste em uma análise da situação do empreendimento, visando identificar as suas potencialidades e fragilidades, considerando fatores internos (por ex. a competência dos empreendedores) e externos (oportunidades e ameaças). Seu objetivo precípuo é “identificar, através de questionamentos objetivos, dificuldades e oportunidades para que a empresa possa crescer e desenvolver, quando ela está equilibrada ou, recuperar e equilibrar-se, quando está com déficit” (DAL-RY, 2011, p. 1). Segundo o doutrinador Leszek Celinski (1994), a expressão “diagnóstico”, incorporada à linguagem científica durante o século XIX, tem origem grega, formando-se a partir da aglutinação dos vocábulos diá, que significa “através de”, com o gnosis, que quer dizer “conhecimento perfeito”. Hodiernamente, o diagnóstico é tido como um instrumento de controle da eficiência organizacional, ao passo que a eficácia organizacional é obtida em sede de auditoria. Em suma, ele é o instrumento utilizado para se mapear a situação global de determinado setor, sob a ótica dos seus gestores, funcionários, clientes internos e externos, como etapa imprescindível para o planejamento. Serve para apurar o levantamento das necessidades e indicar as oportunidades de melhoria. 2.3.2 Pressupostos metodológicos e instrumentos Nas lições do insigne Ernande Monteiro Ferreira (1994), os pressupostos metodológicos são: a) abordar a empresa de forma sistêmica; b) deve envolver diretoria, gerência, chefia, supervisão, subordinados, clientes e consumidores, por entender a organização de forma holística; c) o processo de diagnóstico tem que ser generalis- 226 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto ta, voltado especialmente para as carências da empresa; d) deve ser participativo e espontâneo para que as informações sejam fidedignas; e) os membros envolvidos na análise devem estar relacionados, especificamente, com o objeto de estudo; f) a população-alvo tem que ser representativa, a fim de refletir o total das áreas envolvidas com o propósito do estudo; g) todas as respostas verbais ou escritas devem ser catalogadas e registradas em instrumentos próprios, para se estruturar a amostragem representativa do universo macro da empresa. Os instrumentos de diagnósticos, por sua vez, são: “questionários, entrevistas, conversas informais, análise da Organização, comitê de qualidade total, workshop, brainstorming e observação”. Questionário é um formulário impresso ou escrito utilizado para coletar informações sobre o assunto em pauta e consiste em uma lista de perguntas que será submetida ao crivo de uma ou mais pessoas. A entrevista é um encontro combinado entre duas ou mais pessoas a fim de divulgar ou elucidar atos, ideias, planos etc. Conversas informais são aquelas colhidas mediante a interação não programada entre as pessoas da organização. Inclusive, durante estes diálogos, podem ser reveladas necessidades de treinamento e melhoria de métodos e processos que dificilmente seriam elucidadas de outra maneira. A análise da Organização se verifica quando do estudo das deficiências setoriais, que podem apontar indícios de necessidade de treinamento, tanto individual como grupal. Um comitê de aconselhamento ou da qualidade formado de pessoas responsáveis por uma atividade ou com interesse direto no exercício das funções pode representar aliado importante e preciso na identificação da viabilidade de capacitação (FERREIRA, 1994, p. 13-20). Este comitê ajuda o técnico a analisar problemas operacionais para efeito de treinamento, organizar currículos, auditagem ou avaliar resultados. O pessoal que vai compor o comitê de treinamento deve ser cuidadosamente selecionado. Cada membro deverá estar pessoalmente comprometido com o sucesso da atividade pela qual o comitê é responsável (FERREIRA, 1994, p. 18). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 227 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense A técnica do workshop requer a reunião de um grupo para aprimorar habilidades através de relatos sobre as suas práticas vivenciais. O brainstorming se materializa na coleta de ideias de maneira pouco formal, em resposta a uma indagação previamente formulada. A observação decorre do livre transitar do consultor pela organização, que, ao analisar criticamente os setores, emite parecer conclusivo, a partir do que percebeu (FERREIRA, 1994). Discorrido sobre o instituto do diagnóstico, adentra-se na seara de Poder onde esta pesquisa se concretiza: o Judiciário Catarinense. 2.4 O Poder Judiciário Catarinense: alguns apontamentos Consoante disposto, o artigo 92, VII, da Carta Magna, elenca os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios como integrantes do rol de órgãos do Poder Judiciário (CURIA; WINDT; CÉSPEDES, 2011). A Justiça Estadual comum (ordinária) é composta por juízos de primeiro grau de jurisdição (em regra, singulares), incluídos os Juizados Especiais e a Justiça de Paz, e pelo segundo grau de jurisdição, formalizados pelos Tribunais de Justiça (de regra, colegiados). Nesta esteira, são órgãos do Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina: “o Tribunal de Justiça, os Tribunais do Júri, os Juízes de Direito e os Juízes Substitutos, a Justiça Militar, os Juizados Especiais e as Turmas de Recursos, a Câmara Regional de Chapecó, os Juízes de Paz e outros órgãos instituídos em lei” (Constituição do Estado). Com relação à estrutura e ao funcionamento do Poder Judiciário Catarinense e à carreira da magistratura, o artigo 78, da Constituição Estadual, preleciona que a Lei de Organização Judiciária, de iniciativa do Tribunal de Justiça, disporá sobre as matérias. A sua competência também se encontra definida na Constituição do Estado. A propósito, compete à Justiça Estadual, residualmente, tudo o que não for de competência das Justiças especiais ou especializadas, nem da Justiça Federal (LENZA, 2010). 228 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto Conforme o artigo 5°, do Código de Divisão e Organização Judiciárias do Estado de Santa Catarina, o território do Estado para a administração da justiça divide-se em: “comarcas, distritos e subdistritos, formando, porém, uma só circunscrição para os atos e a competência do Tribunal de Justiça”. No Estado, até janeiro de 2012, foram instaladas cento e onze comarcas (Código de Divisão e Organização Judiciárias do Estado de Santa Catarina). O Tribunal de Justiça, órgão supremo do Poder Judiciário do Estado, com sede na Capital e jurisdição em todo o território do Estado conta, em janeiro de 2012, com sessenta vagas de Desembargadores e com trinta vagas de Juízes de 2° Grau (Composição do Tribunal de Justiça). No tocante ao seu quadro de pessoal, observa o instituído no Plano de Carreira, Cargos e Vencimentos. A respeito, no artigo 23 encontram-se discorridas as hipóteses de progressão funcional no âmbito do Poder Judiciário Catarinense. São elas: a) por desempenho (artigo 24); b) por antiguidade (artigo 25); e c) por aperfeiçoamento (artigos 26 e 27) (Lei Complementar n. 90, de 1° de julho de 1993). Com relação à promoção por aperfeiçoamento, que consiste na ascensão do servidor, de uma para outra referência, no cargo em que estiver investido, consideram-se os critérios abaixo: I – 01 (uma) referência por cursos de atualização ou aperfeiçoamento concluídos, com exigência das seguintes cargas horárias: a) pessoal dos Grupos Ocupacionais de Serviços Diversos e Serviços Auxiliares: 90 (noventa) horas/aula; b) pessoal do Grupo Operacional Atividades de Nível Médio: 120 (cento e vinte) horas/aula; c) pessoal do Grupo Operacional Atividades de Nível Superior: 180 (cento e oitenta) horas/aula. II – pela conclusão de curso de pós-graduação correlacionado com o cargo e área de atuação: O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 229 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense a) 02 (duas) referências, quando se tratar de especialização; b) 03 (três) referências, quando se tratar de mestrados; c) 04 (quatro) referências, quando se tratar de doutorado (Lei Complementar n. 90, de 1° de julho de 1993). Como forma de fomentar a atualização e os estudos constantes e viabilizar a progressão funcional mediante a promoção por aperfeiçoamento, o Tribunal de Justiça oferece bolsas de até setenta por cento para cursos de graduação e de pós-graduação correlatos às áreas de atuação e às funções desempenhadas, na prática, pelo servidor. Ademais, também oportuniza a realização de simpósios variados junto, especialmente, à Academia Judicial. Tal prática de incentivo encontra-se alinhada com as expectativas e recomendações do Conselho Nacional de Justiça, objetivando, com a capacitação, o treinamento e a atualização sequencial do funcionário, a prestação de uma atividade jurisdicional mais célere e de qualidade à população. No entanto, em que pese a disponibilização destes cursos e simpósios, nem sempre eles são programados seguindo todas as etapas sugeridas pelos profissionais da área de Treinamento e Desenvolvimento: estudo do público-alvo; adequação da carga horária; alinhamento do plano de ensino às expectativas dos participantes, à missão e à visão da instituição; diagnóstico setorial prévio para apontar as deficiências do setor contemplado; levantamento das necessidades de treinamento etc. Desta feita, no intento de argumentar acerca da relevância da realização de um diagnóstico preliminar ao curso a ser ministrado, este trabalho encontra guarida. 3 Procedimentos metodológicos Na realização desta pesquisa, o método de abordagem foi o indutivo, que obtém conclusões gerais a partir de premissas individuais. É bastante usual e caracteriza-se por quatro etapas fundamentais: “a 230 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto observação e o registro de todos os fatos; a análise e a classificação dos fatos; a derivação indutiva de uma generalização a partir dos fatos; e a contrastação/verificação”. Desta forma, após as etapas de observação, análise e classificação dos fatos, apresenta-se uma hipótese que soluciona o problema (Conceito de método indutivo). Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam (MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 86). O método de procedimento, ao seu turno, foi o monográfico, criado por Le Play, que “consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações” (MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 108). Isso porque decorreu da observação do que acontece nos cursos de capacitação oferecidos aos servidores do Judiciário Catarinense, observando os fatores que o influenciam e analisando os seus mais variados aspectos. sador A técnica de pesquisa utilizada é a bibliográfica. Aqui, o pesqui- procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos”. A pesquisa bibliográfica é “meio de formação por excelência e constitui o procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 65-66). As fontes bibliográficas, a propósito, são: a) livros de leitura corrente (obras literárias e obras de divulgação); b) livros de referência informativa ou remissiva (dicionários, enciclopédias, anuários, alma- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 231 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense naques); c) publicações periódicas (jornais e revistas); e d) impressos diversos (GIL, 2002). Para a construção do trabalho, manusearam-se livros, dicionário, artigos e revistas especializadas. O recurso utilizado na efetivação da pesquisa foram os resultados de avaliação decorrentes do curso “de gerenciamento de rotinas (gestão de processos de trabalho)”, ministrado por instrutores do Programa de Implantação de Serviços Judiciários, no ano de 2010, e colacionados pela Academia Judicial. 4 Análise e interpretação dos dados 4.1 Levantamento dos dados No ano de 2010, estima-se o montante de 252 (duzentos e cinquenta e dois) participantes do curso de capacitação intitulado: curso de gerenciamento de rotinas (gestão de processos de trabalho), subdivididos em 42 turmas com, aproximadamente, 6 pessoas em cada. Destes participantes, 232 (duzentos e trinta e dois) avaliaram o evento, conforme resultados de avaliação fornecidos pela Academia Judicial. Dos comentários destas pessoas, foram apontados 205 (duzentos e cinco) pontos fracos e/ou oportunidades de melhoria, perfazendo um total de 88,36% (oitenta e oito vírgula trinta e seis por cento) de opiniões acreditando que algo poderia ter sido feito de modo diferente (melhorado) quando da concretização do evento. Conveniente salientar que, após a aplicação de formulário base on-line, outro campo de avaliação é disponibilizado aos avaliadores, que permite sejam agregados os pontos fracos e fortes, de maneira discursiva. Com base nestes comentários extras, a presente pesquisa foi realizada. Oportuno informar ainda que, de uma mesma observação, por vezes e quando cabível, foi extraída mais de uma oportunidade de melhoria ou relato de ponto fraco. A pesquisa indicou os seguintes fatores: 232 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto FATORES Carga horária não satisfatória Maior frequência no oferecimento dos cursos por parte do Poder Judiciário Catarinense O conteúdo programático não saneou as carências Espaço físico e/ou material didático não satisfatório Inviabilidade no horário do curso Inadequação na escolha do público-alvo O curso foi ministrado em época inoportuna Falta de comprometimento dos participantes O curso deveria ter sido ministrado antes de o servidor entrar no exercício das funções QUANTIDADE DE COMENTÁRIOS 68 (sessenta e oito) 48 (quarenta e oito) 29 (vinte e nove) 10 (dez) 21 (vinte e um) 14 (quatorze) 2 (dois) 3 (três) 10 (dez) Fonte: Fatores e dados extraídos dos relatórios de avaliação fornecidos pela Academia Judicial, no tocante ao curso “de gerenciamento de rotinas (gestão de processos de trabalho)”, ministrado por instrutores do Programa de Implantação de Serviços Judiciários, no ano de 2010 A metodologia compreendeu as seguintes etapas: aplicação do instrumento de pesquisa (campo para a coleta de dados on-line) e análise dos resultados e de suas respectivas representações. 4.2Identificação dos limites e possibilidades a partir do levantamento dos dados Do quadro acima, pode-se extrair que os comentários versaram sobre questões estruturais do evento, quais sejam: carga horária não satisfatória (68); maior frequência no oferecimento dos cursos por parte do Poder Judiciário Catarinense (48); o conteúdo programático não supriu as carências (29); inviabilidade no horário do curso (21); inadequação na escolha do público-alvo (14); espaço físico e/ou material didático não satisfatório (10); o curso deveria ter sido ministrado antes de o servidor entrar no exercício das funções (10); falta de comprometimento dos participantes (3); e o curso foi ministrado em época inoportuna (2). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 233 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense A fim de sanear os pontos fracos indicados e implementar as oportunidades de melhoria, propõe-se a aplicação de algumas técnicas e etapas de T&D: FATORES SUGESTÕES Carga horária não satisfatória Maior frequência no oferecimento dos cursos por parte do Poder Judiciário Catarinense O conteúdo programático não saneou as carências Espaço físico e/ou material didático não satisfatório Inviabilidade no horário do curso Inadequação na escolha do público-alvo a) Realização de diagnóstico; e b) aplicação de técnicas compatíveis. a) Senso crítico na definição de eventos; b) realização periódica de levantamento de necessidade de treinamento; c) planejamento estratégico; e d) firmar parcerias e convênios diversos. a) Treinar com foco em resultados; b) uso de abordagens múltiplas; c) treinamento por objetivos claros; d) melhor gestão do tempo; e e) utilização de metodologias variadas. a) Investimento em modernas técnicas de abordagem; e b) melhoria nas condições físicas do local do evento. a) Pesquisa prévia, com os participantes em potencial, acerca do melhor horário para o evento. a) Diagnóstico prévio; e b) análise crítica do levantamento das necessidades de treinamento. O curso foi ministrado em época inoportuna a) Diagnóstico prévio. Falta de comprometimento dos participantes a) Envolvimento ativo dos treinandos; b) utilização de dinâmicas de grupo; e c) conteúdos montados objetivamente. O curso deveria ter sido ministrado antes de o servidor entrar no exercício das funções a) Planejamento estratégico; e b) senso crítico na definição de eventos. Fonte: Adaptada de Milioni (2004) Muitos são os fatores contributivos para o êxito de um curso de capacitação. Inegável, porém, que um planejamento adequado pode prever e solucionar grande parte dos imprevistos. Uma excelente fer- 234 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto ramenta de planejamento, aliás, é o diagnóstico setorial anterior ao evento. 4.3A relevância do diagnóstico setorial prévio para o sucesso do curso de capacitação aos servidores do Poder Judiciário Catarinense O diagnóstico, por construir um conhecimento amplo sobre a realidade organizacional e orientar os administradores a compreenderem-na e a intervirem nas relações, caso necessário, constitui relevante mecanismo preparatório ao Treinamento e Desenvolvimento do capital humano. Após a compilação de um panorama acerca da instituição ou do setor destacado para um curso de capacitação e, uma vez tendo-se ciência (através do relatório de diagnóstico) das carências técnicas a superar, melhor base ter-se-á para a elaboração eficaz do plano de ensino, a escolha adequada do público-alvo, a definição proveitosa da carga horária e do horário do evento, a adoção de estratégias metodológicas profícuas, a utilização de material didático simplificado e voltado para suplantar as deficiências, a escolha certeira dos instrutores (com perfis inclinados para a observância dos anseios da turma), a confecção de um cronograma satisfatório de atuações etc. Com o preenchimento destes fatores, maior a chance de sucesso do evento e de alcance dos resultados pretendidos, mediante a aplicação efetiva, por parte dos instruendos, dos conhecimentos angariados e das habilidades desenvolvidas. Por isso, em homenagem ao princípio constitucional da eficiência, recomenda-se a utilização do diagnóstico anterior a qualquer curso de capacitação a ser ministrado aos servidores do Poder Judiciário Catarinense, objetivando desvendar quais os pontos críticos do setor e a maneira mais adequada de superá-los. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 235 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense 5Conclusão O desenvolvimento organizacional, referido como sinônimo de mudança planejada, consagra-se como um processo interativo de planejamento, ação e avaliação, envolvendo toda a organização, visando à adaptabilidade a novas necessidades e ao ambiente externo, bastante mutável. Para estabelecer este conjunto de intervenções de maneira coerente, a realização de um diagnóstico mostra-se indispensável, uma vez que serve para fazer um mapeamento da situação global da organização sob a ótica de seus proprietários, funcionários, clientes internos e externos, mediante a composição de quatro etapas: formulação do problema; levantamento de informações sobre o problema; análise das informações; e sugestão de ações corretivas futuras. Além disso, o diagnóstico empresarial permite a identificação das ações da organização que precisam ser revisadas com prioridade; o fornecimento dos meios e métodos mais adequados a serem aplicados; a apresentação dos critérios para o desenvolvimento das revisões de processos; e o estabelecimento dos próprios critérios para a validação das revisões. Ele torna possível a compreensão da organização através da análise de várias dimensões: estratégia, tecnologia da informação, estrutura organizacional, processos, recursos humanos, econômico-financeiro, infraestrutura, informações gerenciais etc. Assim como as organizações privadas, as instituições públicas também devem valer-se das ferramentas de administração. Neste enfoque, a valorização do seu capital humano por intermédio do oferecimento de cursos de capacitação, treinamento e desenvolvimento vão ao encontro das práticas incentivadas pelo Conselho Nacional de Justiça. Também nesse quesito, para o sucesso do evento, a realização de um diagnóstico setorial prévio mostra-se bastante salutar, porque serve para apontar as carências da seção, identificar o público-alvo, estabelecer a carga horária apropriada, auxiliar na construção do plano de ensino e na escolha do melhor procedimento metodológico etc. 236 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Thalia Krause e Luis Moretto Neto Haja vista que os recursos financeiros para a realização destes cursos no Poder Judiciário Catarinense advêm, na maior parte, de tributos, pode-se dizer que o dinheiro que custeia é público (da sociedade). Partindo dessa premissa, à luz do princípio constitucional da eficiência (fazer o melhor possível com os recursos de que se dispõe), a busca por resultados plenamente satisfatórios deve ser uma constante. Então, o planejamento eficaz do curso, com todas as suas nuances, mediante a efetivação do diagnóstico e do levantamento de necessidades de treinamento prévios é medida que impera. A partir deles, tendo os servidores extraído o melhor proveito dos ensinamentos repassados no evento, decorrência lógica é a melhoria na presteza e na qualidade da prestação jurisdicional. Referências AMBONI, Nério; ANDRADE, Rui Otávio. Teoria Geral da Administração. Das origens às perspectivas contemporâneas. São Paulo: M. Books do Brasil, 2007. BECKHARD, Richard. Desenvolvimento organizacional: estratégias e modelos. São Paulo: Edgard Blucher, 1969. BERTI, Anélio. Diagnóstico empresarial: teoria e prática. São Paulo: Ícone, 2001. CELINSKI, Leszek. Guia para diagnóstico em Administração de Recursos Humanos: roteiros e instrumentos para qualidade. Petrópolis: Vozes, 1994. CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica. 5. ed, São Paulo: Prentice Hall, 2002. CHIAVENATO, Idalberto. 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Acesso em: 11 jan. 2012. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 239 Análise da Importância da Realização de um Diagnóstico Setorial Prévio ao Processo de Execução de Curso de Capacitação aos Servidores do Poder Judiciário Catarinense Texto anônimo. Conceito de método indutivo. Disponível em:<http://conceito.de/metodo-indutivo>. Acesso em: 11 jan. 2012. ULRICH, Dave. Os campeões de recursos humanos. 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Assim, com a crescente procura por serviços públicos que compõem os conflitos no Judiciário, observados nas últimas décadas, é evidente a importância do estudo da liderança e da motivação na gestão de pessoas, de forma analítica e crítica, visando apresentar a postura dos líderes nas realidades das Diretorias do Tribunal de Justiça frente à descomunal demanda de trabalho no ambiente organizacional do Poder Judiciário. Outrossim, o tema é ainda de atualidade incontestável e urge prementemente um estudo mais profundo sobre o assunto, tendo em vista que trará à gestão de recursos humanos uma visão comprome1 Disponível em: <www.tjsc.jus.br/institucional/assessorias/asplan/missao_visao>. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 241 A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina tedora e eficiente no resultado da missão proposta pela organização, fazendo com que a liderança e a motivação sejam um valioso instrumento gerencial na melhoria do serviço público. Nesse norte, para propiciar a visualização e o entendimento do estudo em questão, o artigo visa apresentar, inicialmente, noções sobre a função do Poder Judiciário e a estrutura administrativa na Secretaria do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, visto que, para a sociedade acompanhar e intervir na administração pública faz-se necessário que tenha noção das funções desempenhadas pelo Poder Judiciário Catarinense. Com esta compreensão, estudar-se-ão em seguida, as teorias da motivação e liderança, procurando mostrar a influência e a responsabilidade que os líderes têm na motivação daqueles que integram sua equipe, como auxiliares na busca do comprometimento organizacional. Quanto aos procedimentos metodológicos, foi escolhida a pesquisa exploratória, posto que mediante levantamento bibliográfico, este método apresentou maior visibilidade e conhecimento para identificar as teorias e conceitos. A escolha pela pesquisa bibliográfica e documental deu-se em virtude da existência de materiais já elaborados, constituídos principalmente por livros, leis, artigos científicos, relatórios e outros materiais que ainda não receberam um tratamento minucioso. A elaboração foi conduzida pelo método dedutivo, posto que o tema exigiu um estudo de autores já consagrados, uma leitura assaz trabalhosa, mas que propiciou uma carga de conhecimento e que tornou a presente pesquisa apta a conduzir o tema proposto. Para identificar a importância da teoria da liderança e motivação no desempenho e comprometimento dos servidores nos resultados esperados pela organização, utilizou-se o método monográfico, objetivando melhor esclarecimento e compreensão da realidade funcional nas Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. 242 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Paulo Werner Kern Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus A coleta de dados foi feita mediante dados secundários, com utilização de doutrinas, artigos, leis, internet e outros documentos que se fizerem necessários para o efetivo desenvolvimento do estudo. 2 Noções sobre a função do poder judiciário e a estrutura administrativa das diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina Os Estados membros, assim como a União, possuem em sua estrutura funcional três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, com o objetivo primordial de atender à sociedade em todos os segmentos. Ora, como se percebe, ficou consagrada a tripartição dos poderes, que por consequência histórica, a Constituição Federal de 1988 em seu art. 2° dispõe que “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si”. Estes, que em suas interações, objetivam o estabelecimento de um mecanismo de controle, buscando o equilíbrio necessário para a realização do bem comum. Destarte, demonstrar-se-á, a seguir, de forma sintética, as funções atribuídas ao Estado, somente no tocante à função desempenhada pelo Poder Judiciário Catarinense, haja vista que as demais se pressupõem conhecidas. Organizado a partir dos artigos 92 a 126 da Constituição Federal, o Poder Judiciário tem por escopo a jurisdição, ou seja, a resolução dos conflitos, das lides, com fundamentos em normas e princípios constantes em nosso ordenamento jurídico (CHIMENTI, 2004). Conforme preceito legal, o Estado pegou para si, mediante o Poder Judiciário, o legítimo poder de dizer o direito. Apesar de inerte, ele é obrigado a decidir sempre que for provocado (LENZA, 2002). Assim, verifica-se que a jurisdição é de domínio do Poder Judiciário, pois o Estado retirou do cidadão (pessoa física ou jurídica) O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 243 A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina a faculdade do exercício do direito pelas próprias mãos, como bem leciona Celso Ribeiro Bastos (1998, p. 377). Bem assim, além da jurisdição, sua função típica, o Judiciário exerce função administrativa no que tange a seus órgãos e servidores e legisla quando edita normas e regimentos (BASTOS, 2001). Atualmente, o Poder Judiciário Catarinense compõe-se pelo Tribunal de Justiça, com sede na Capital do Estado de Santa Catarina e jurisdição em todo o território Estadual, e pelas 111 comarcas instaladas distribuídas pelo Estado.2 Por outro lado, existe uma estrutura administrativa, com o objetivo de proporcionar à organização judiciária todo o apoio técnico e administrativo necessários para o desenvolvimento de suas atividades. A função administrativa não existe para realizar a jurisdição, mas para viabilizar os objetivos do Poder Judiciário. Na estrutura administrativa os órgãos estão hierarquizados em cinco níveis, na seguinte ordem de subordinação: • Presidência/Direções Gerais/Diretorias/Divisões/Seções. Destaca-se a seguir, a estrutura administrativa da Secretaria do Tribunal de Justiça Catarinense: 2 Disponível em: <www.tjsc.jus.br/jur/estruturajudiciaria>. 244 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Paulo Werner Kern Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus PRESIDENCIA Coordenadoria de Magistrados Coordenadoria de Execução Penal e Infância e Juventude. Gabinete da Presidência Diretoria-Geral Judiciária Diretoria-Geral Administrativa Diretoria de Cadastro e Distribuição Processual Diretoria de Tecnologia da Informação Diretoria de Documentação e Informações Diretoria de Material e Patrimônio Diretoria de Recursos Incidentes Diretoria de Orçamento e Finanças Diretoria de Engenharia e Arquitetura Diretoria de Infraestrutura Diretoria de Recursos Humanos Diretoria de Saúde Figura 1: Estrutura Administrativa do TJSC Fonte: www.tjsc.jus.br/institucional/organograma/organograma Por oportuno, restou mencionar, que a Lei n. 5.624, de 9 de novembro de 1979 (Código de Divisão e Organização Judiciárias do Estado de Santa Catarina) estabelece no inciso I, do art. 110, que compete ao Juiz de Direito e Diretor do Foro, “Superintender a administração e a polícia do fórum, sem prejuízo da competência dos demais juízes, quanto à polícia das audiências e sessões do jurí.” Nesse sentido, as comarcas, por serem diferentes umas das outras em sua composição, possuem estrutura diferenciada. E, paralelamente à função jurisdicional, realizam-se nos fóruns outras atividades, de caráter meramente administrativo, dirigidas por um Juiz de Direito, denominado Diretor do Foro, que acumula com a função de seu cargo. Com esta compreensão, identificar-se-á a teoria da motivação para verificar a importância da motivação e os aspectos que impactam nas equipes dentro da organização. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 245 A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina 3Motivação Com efeito, não podemos olvidar que as pessoas no ambiente organizacional constituem-se no mais precioso recurso para seu sucesso e continuidade. Sobre o assunto, Coutinho, Delfino e Costa (2012), citando Chiavenato, comentam: [...] as pessoas eram vistas como meros recursos, mas com o avanço tecnológico um novo conceito surgiu em relação às pessoas que por sua vez passaram a serem reconhecidas como o mais precioso recurso de uma organização. Antes o ativo principal era a parte financeira e as pessoas eram passivas na organização, hoje elas fazem parte do ativo, pois, “o capital financeiro deixou de ser o recurso mais importante, cedendo lugar ao conhecimento.” [...] Diante de milhares obstáculos oferecidos por um mercado movido pela competitividade, o desafio de uma organização é manter-se equilibrada entre seus concorrentes. E para isso deverá buscar estratégias no seu recurso mais valioso. Sabe-se que lidar com pessoas é uma tarefa complexa, mas as organizações “dependem delas para atingir seus objetivos e cumprir suas missões.” Com este pensamento houve a reestruturação da área de recursos humanos, a qual passou a desenvolver novas formas de atuação no comportamento humano e na gestão de pessoas, com o intuito de interferir na vida organizacional (FRANZONI e LAPOLLI, 2009). Desta forma, surge a necessidade de tratar os aspectos pessoais de personalidade, individualidade, expectativas, valores, motivação etc. como unidade básica para o estudo das organizações, haja vista que influenciam o indivíduo na corporação. 246 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Paulo Werner Kern Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus Para Kurt Lewin (apud CHIAVENATO) “o ambiente psicológico ou comportamental é o que a pessoa percebe e interpreta acerca de seu ambiente externo”. Vejamos: Mais do que isso, é o ambiente relacionado com suas atuais necessidades. Objetos, pessoas ou situações podem adquirir valências no ambiente psicológico, determinando um campo dinâmico de forças psicológicas. A valência é positiva quando os objetos, as pessoas ou as situações podem ou prometem satisfazer às necessidades presentes do indivíduo e é negativa quando podem ou prometem ocasionar algum prejuízo ou dano. Os objetos, as pessoas ou as situações carregados de valência positiva tendem a atrair o indivíduo, enquanto os de valência negativa tendem a causar-lhe repulsa ou fuga (CHIAVENATO, 1985, p. 70). Como se vê, os servidores devem ser tratados como pessoas e não como simples recurso da organização, haja vista que para possibilitar o alcance e a continuidade dos objetivos previamente propostos pelo Tribunal de Justiça, a organização dependerá do desempenho humano de seus integrantes. Assim, o comportamento dos servidores e suas experiências com o meio em que atuam podem ser descritos, previstos e influenciados, por fatores motivacionais: Além dos componentes diretivos da personalidade que canalizam o processamento da informação, existem os aspectos dinâmicos da personalidade que o motivam. Se, de um lado, os aspectos diretivos explicam “como” é processada a informação que leva as pessoas a um comportamento, de outro, os aspectos dinâmicos explicam o “porquê” desse processamento, isto é, quais são os aspectos motivacionais da personalidade humana que impulsionam o indivíduo, iniciando cada um dos passos do O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 247 A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina processamento da informação (CHIAVENATO, 1985, p. 79). Como dito, a motivação impulsiona um comportamento, podendo gerar no servidor do Tribunal de Justiça um desempenho a favor ou contra os objetivos propostos pela administração. Maximiano leciona sobre o assunto: A palavra motivação (derivada do latim motivus, movere, que significa mover) indica o processo pelo qual um conjunto de razões ou motivos explica, induz, estimula ou provoca algum tipo de ação ou comportamento humano. O comportamento humano sempre é motivado. [...] Motivação para o trabalho é uma expressão que indica um estado psicológico de disposição ou vontade de perseguir um meta ou realizar uma tarefa. Dizer que uma pessoa está motivada para o trabalho significa dizer que essa pessoa apresenta disposição favorável ou positiva para realizar o trabalho (MAXIMIANO, 2000, p. 347). Nestes termos, o conhecimento sobre a motivação possui papel fundamental para compreendermos os fatores que influenciam no desempenho dos servidores, como mola propulsora do desempenho em situações de trabalho. Para CHIAVENATO (1985, p. 79) a motivação impulsiona a pessoa a um comportamento específico. “Esse impulso à ação pode ser provocado por um estímulo externo (provindo do ambiente) e pode também ser gerado internamente nos processos de raciocínio do indivíduo.” De se ver, então, que os servidores são motivados não somente por estímulos econômicos ou salariais, mas por outros fatores que o levam de alguma forma à satisfação de uma ou mais necessidades. 248 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Paulo Werner Kern Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus Nesse processo, a atuação desses profissionais depende de dois grupos de fatores: O comportamento das pessoas em uma organização depende de fatores internos (decorrentes de suas características de personalidade, como capacidade de aprendizagem, de motivação, de percepção do ambiente interno e externo, de atitudes, de emoções, de valores etc) e externos (decorrentes das características organizacionais, como sistema de recompensas e punições, de fatores sociais, de políticas, de coesão grupal existente etc). [...] Todavia, dentre os fatores externos (ou ambientais) que influenciam o comportamento das pessoas, podem-se incluir as pressões dos chefes, as influências dos colegas de trabalho, as mudanças na tecnologia utilizada pela organização, às demandas e pressões da família, os programas de treinamento e desenvolvimento empregados pela organização, as condições ambientais (tanto físicas, como sociais) (CHIAVENATO, 1985, p. 70). De acordo com Maximiano (2000, p. 348 e 357), os motivos internos surgem do próprio indivíduo que se sente atraído por certas coisas e evita outras. Por exemplo, aptidões e habilidades, necessidades e frustrações, atitudes e interesses. Já os motivos externos são os incentivos, estímulos ou influência do ambiente, despertando no indivíduo interesse ou recompensa a ser alcançada. Maximiano (2000, p. 349), outrossim, explica que a motivação é representada pela teorias das necessidades, cujo comportamento humano é motivado pelo estado de carência. Não obstante, segundo Chiavenatto (1985, p. 81-82), a satisfação de algumas necessidades não é estática, pois a motivação possui um ciclo que cria a necessidade, rompendo o equilíbrio do organismo, causando um estado de tensão que conduz a uma ação. Sendo a O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 249 A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina necessidade satisfeita o organismo volta ao estado de equilíbrio inicial até que outro estímulo aconteça. Figura 2: Etapas do ciclo motivacional, envolvendo a satisfação de uma necessidade De outro norte, quando a necessidade não é satisfeita, há um obstáculo impedindo a ação, causando desconforto e frustração, motivando o indivíduo a um comportamento negativo, podendo ter como terceira solução a compensação ou substituição de uma necessidade por outra, evitando-se a frustração (CHIAVENATO, 1985, p. 82). Figura 3: Etapas do ciclo motivacional, com frustração ou compensação, quando há impossibilidade de satisfação da necessidade Além disso, as necessidades humanas estão organizadas numa espécie de hierarquia, desempenhando um papel importante no es- 250 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Paulo Werner Kern Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus tudo do comportamento humano nas organizações. Uma das principais teorias baseia-se na proposta de Abraham Maslow que divide as necessidades humanas em cinco categorias nessa ordem de importância: fisiológicas ou básicas, de segurança, participação, estima e autorrealização (MAXIMIANO, 2000). Figura 4: A hierarquia das necessidades humanas segundo Maslow Chiavenato (1985, p. 83) descreve que a hierarquia das necessidades de Maslow é uma divisão onde o homem tende a satisfazer as necessidades básicas, antes das necessidades de nível mais alto, “sendo que a maior parte das pessoas nas sociedades com elevado padrão de vida tem suas necessidades dos três níveis (fisiológicos, de segurança e sociais) regularmente satisfeitas sem muito esforço e sem muito efeito motivacional”. Além da hierarquia das necessidades de Maslow, Chiavenato (1985, p. 86) descreve a teoria de Herzberg (fatores motivacionais e higiênicos), a qual apresenta pontos de concordância: O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 251 A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina Enquanto Maslow fundamenta sua teoria da motivação nas diferentes necessidades humanas (abordagem infra-orientada). Herzberg alicerça sua teoria no ambiente externo e no trabalho do indivíduo (abordagem extra-orientada). Em um estudo sobre engenheiros e contadores, Herzberg e outros verificaram a evidência de que dois fatores distintos devem ser considerados na satisfação do cargo. Um conjunto de fatores, a que denominou “satisfacientes”, provoca satisfação com o cargo e com as aparentes melhorias no desempenho. Esses fatores geralmente fazem parte integral do desempenho do cargo, e estão relacionadas com as necessidades mais elevadas da hierarquia de Maslow. Os fatores satisfacientes ou motivacionais são: realização, reconhecimento, responsabilidade, crescimento e trabalho e trabalho em si. Já os fatores higiênicos de Herzberg estão relacionados com os três níveis inferiores da hierarquia de Maslow (necessidades básicas, segurança e participação), conforme segue: O outro conjunto de fatores, a que denominou “insatisfacientes”, tende a atuar em uma direção negativa. Se esses fatores se situam em um nível abaixo do “adequado”, em termos de expectativas dos empregados, poderão causar insatisfação. Melhorando esses fatores ou as condições, pode-se remover a insatisfação, com efeitos benéficos. Todavia, elevando as condições acima desse nível adequado, não se obtém nenhuma satisfação e nenhum desempenho elevado com ela associado. Enquanto os fatores satisfacientes são intrínsecos, os insatisfacientes são periféricos e extrínsecos em relação ao cargo em si. Enquanto ótimos, esses fatores apenas evitam a insatisfação, mas, quando precários, provocam insatisfação. È através deles que as organizações têm tradicionalmente tentado motivar seus empregados. Incluem: • Condições de trabalho e conforto; 252 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Paulo Werner Kern Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus • • • • • • Políticas da organização e administração; Relações com o supervisor; Competência técnica do supervisor; Salários; Segurança no cargo; Relação com colegas. Figura 5: A teoria de Herzberg Como vimos, são vários os sistemas motivacionais que compreendem todos os tipos de incentivos e recompensas que as organizações oferecem na tentativa de conseguir o desempenho de seus funcionários. Com esta compreensão, demostrar-se-ão, a seguir, as teorias que norteiam a liderança. 4Liderança Muitas são as teorias e conceitos que discutem sobre a liderança e suas implicações. O certo é que cada vez mais as organizações estão precisando de líderes que possibilitem o alcance dos resultados esperados pela organização. Para Kich e Pereira (2011, p. 149) a liderança é algo difícil de definir, porém fácil de reconhecer quando “uma criança de 12 anos funda um grupo ambientalista e acaba atraindo 25.000 membros; O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 253 A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina quando uma mulher afro-americana se recusa a sentar-se no banco de trás do ônibus; ou quando um poeta tcheco se ergue contra o autoritarismo”. Como podemos observar, o fator liderança adquire importância no estudo dentro do contexto organizacional, pois as equipes precisam ser coordenadas com o intuito de alcançar as metas e objetivos propostos. Além disso, para Kich e Pereira (2011, p. 149) tem-se valorizado os líderes que usam a eficácia de seus recursos (valores e comportamento) no cumprimento das responsabilidades de bem dirigir seus subordinados: Para explicar o fenômeno da liderança, Ulrich (2001), que a considera ao mesmo tempo complexa e simples, faz uma analogia entre ela e o computador. Segundo o autor, o computador parece simples para quem o usa ao digitar um texto, mas na verdade, interiormente, ele se constitui em um sistema muito complexo que poucas pessoas conhecem, assim como a liderança, que, por sua vez, possui a mesma complexidade paradoxal, pois ela se constituiu em uma arte e uma ciência, envolve mudança e estabilidade, utiliza atributos pessoais e requer aprender e desaprender, se baseia em valores e é avaliado pelo comportamento. Contudo, a única definição de líder é aquela em que uma pessoa possui seguidores, sendo capaz de fazer com que eles ajam corretamente. Por isso, um líder não precisa ser necessariamente amado ou admirado, pois “popularidade não é liderança, resultados sim” (DRUCKER apud KICH; PEREIRA, 2011, p. 149). Maximiano (2000, p. 388), também discorre acerca das várias definições sobre liderança: 254 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Paulo Werner Kern Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus Liderança é a realização de uma meta por meio da direção de colaboradores humanos. O homem que comanda com sucesso seus colaboradores para alcançar finalidades específicas é um líder. Um grande líder é aquele que tem essa capacidade dia após dia, ano após ano, numa grande variedade de situações. A liderança consiste em líderes que induzem seguidores a realizar certos objetivos que representam os valores e as motivações – desejos e necessidades, aspirações e expectativas – tanto dos líderes quanto dos seguidores. A genialidade da liderança está na forma como os líderes enxergam e trabalham os valores e motivações tanto seus quanto de seus seguidores. A esse processo de influência, o líder por suas ações motiva pessoas em busca de uma meta comum ou compartilhada, conforme a teoria contingencial apresentada por Vergara (apud KICH e PEREIRA, 2011, p. 149): Teoria contigencial: esta desfoca a atenção da figura do líder para o fenômeno da liderança, alertando que é uma relação, ou seja, não se pode falar em líderes sem falar dos liderados. Além disso, considera o cenário onde as coisas acontecem influenciador do fenômeno da liderança. Além do mais, para Drucker (apud KICH e PEREIRA, 2011, p. 150) a única definição de líder é aquela em que uma pessoa exerce influência sobre outras, valendo lembrar que a posição hierárquica dentro da empresa não faz do executivo um líder. Assim, com base nas relações de líder e liderados, Maximiano (2000, p. 391) descreve três tipos de liderança: Os líderes que arrastam multidões, capazes de conceber uma grande idéia, de juntar uma multidão suficientemente grande para concretizá-la e de pressionar a multidão para que, de fato, a concretize. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 255 A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina Os líderes que interpretam as multidões, hábeis principalmente em tornar claros e explícitos os sentimentos e pensamentos que se encontram na multidão de forma obscura e confusa. Os líderes que representam as multidões limitam-se a exprimir apenas a opinião coletiva, de forma já conhecida e definida. Figura 6: Tipos de líderes e liderados Conforme podemos observar nas teorias, só há o verdadeiro líder quando os liderados estão dispostos a segui-lo espontaneamente para conclusão dos objetivos traçados pela organização. Do contrário, haverá apenas um chefe cuja aceitação nos tipos coercitivos e manipulativos tende ao fracasso e à frustração. Covey (apud KICH e PEREIRA, 2011, p. 152), descreve as qualidades do líder: Um líder para ser eficaz precisa: dirigir grupos diferentes ao bem comum, extraindo dos funcionários uma visão unificadora; ter senso de missão; fortalecer a organização ampliada, estabelecendo um sistema de valores, baseado em princípios duradouros, nos quais serão apoiadas as tomadas de decisão; manter as linhas de comunicação abertas, fazendo com que as pessoas foquem no “nós” e não no “eu”; injetar” a mentalidade da abundância e não da escassez, passando a idéia de que, trabalhando juntos, todos têm a ganhar; encorajar a colaboração e 256 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Paulo Werner Kern Alves Júnior e Ari Dorvalino Schurhaus não a competição, através de sistemas que recompensem o trabalho em equipe; e ajudar todos os participantes a se concentrarem no que mais importa para a organização no momento. A essa atitude positiva, o estudo da liderança adquire uma grande importância dentro do contexto das Diretorias do Tribunal de Justiça, que busca como outras empresas, resultados satisfatórios para atender à população em seu seguimento. E para isso, a liderança pressupõe uma enorme integridade pessoal, para ser referência e influência no comportamento de toda a sua equipe. Assim sendo, os líderes precisam desenvolver habilidades e metodologias que podem ser utilizadas para influenciar e inspirar efetivamente os membros de sua equipe, buscando oportunidades e práticas capazes de desenvolver nas pessoas ações de forma motivadora. 5 Considerações finais Ao fim dessa exposição, foi possível verificar que a liderança é um processo de interação que traz benefícios às diretorias, e ao servidor em particular, à medida que está associado a estímulos e incentivos que podem provocar a motivação para a realização da missão, da visão e dos demais objetivos do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. De acordo com o tema pesquisado, restou claro que no campo das Diretorias, o servidor motivado demonstra um alto grau de disposição para realizar seu trabalho, pois quando reconhece seu líder de maneira positiva, ocorre o processo de interação entre ambos, ocasionando naturalmente o reconhecimento e aceitação da autoridade que o líder necessita para desempenhar seus objetivos. Ademais, o tema é de atualidade incontestável e urge-se premente, na medida em que crescem as demandas por serviços que compõem os conflitos no Poder Judiciário, pois de acordo com as teorias analisadas, podemos perceber que não é a autoridade dos Diretores e Chefes dentro da estrutura da Secretaria do Tribunal de Justi- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 257 A liderança como processo de motivação para o comprometimento organizacional das Diretorias do Tribunal de Justiça de Santa Catarina ça que os fazem líderes, pois conforme Covey (apud KICH; PEREIRA, 2011, p. 150), “a despeito de ocuparem cargos de chefia, não exercem liderança, o máximo que conseguem é serem obedecidos por coação, ou por interesses particulares das pessoas a quem chefiam”. Não podemos olvidar que existem variáveis importantes como salário, benefícios, ambiente seguro e saudável, bom clima organizacional etc. nas unidades do Poder Judiciário que devem ocorrer juntamente com o processo de motivação para que seja atingida a eficácia da liderança, facilitando e desenvolvendo o trabalho em equipe. Com isso, concluímos que a liderança é um passo importante no processo de motivação, pois trará para a gestão de recursos humanos uma visão comprometedora e eficiente no resultado da missão proposta pela organização. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Atualizada até a Emenda Constitucional n. 48, de 10-8-2005. 37. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2005. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. ______. Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. CHIAVENATO, Idalberto. Administração de Recursos Humanos. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1985. 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Acesso em: 21 jan. 2012. 260 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas Nelson José dos Santos Wanderley Horn Hülse 1Introdução Quando se pensa em Juiz, Magistrado, qual seja a imagem que vem à cabeça de qualquer um que faça a reflexão, normalmente se pensa em um cidadão envolto numa névoa de autoridade e rodeado por figuras de balanças e a Deusa da Justiça com os seus olhos vendados, debruçado sobre livros e processos, numa atividade solitária e reflexiva, buscando a melhor solução para o caso que se lhe apresenta. As imagens são relacionadas a julgamentos, à justiça, às decisões; com certeza essa é a essência da atividade. Sabe-se que hoje, mais do que nunca, esse profissional do Direito é antes de tudo, um aplicador das leis; significa que o Estado, através de seu Poder de Legislar determina as regras que devem orientar a vida em sociedade e quando há conflito de interesses e de aplicação destas mesmas regras, faz-se necessário que alguém, isento de interesses e neutro ao conflito, diga com quem está a razão, ou melhor, quem está amparado pelo Direito. Esse é o papel do Magistrado na sociedade: dizer o Direito. Essa é a atribuição precípua de qualquer Magistrado, independente da especialidade e da área que atue, mas o objetivo principal de seu trabalho é pacificar a sociedade, resolvendo os conflitos de interesse, com aplicação da lei posta pelo Estado e que faça referência O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 261 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas aos fatos ocorridos entre os litigantes, com o fim de que todos estejam em paz e que a sociedade conviva com harmonia e o mais tranquila quanto possível. O que poucos pensariam ao refletir sobre a figura do Juiz de Direito é que ele realiza também funções de gestão, de administração pública, que deve preocupar-se com edificações, servidores, orçamentos, licitações, compras, planejamentos, ou seja, todas as funções que um Gestor Público realiza, pois quando estiver atuando em Comarcas de Vara única, ou em Comarcas com mais Varas e ocupar a função de Diretor do Foro, será, sim, um administrador. Pela estrutura atual de organização administrativa do Poder Judiciário dos Estados, o Juiz é o Administrador dos Fóruns e o Desembargador Presidente é o Gestor de todo o Poder Judiciário Estadual. Nesse caso, deve ele ter a competência necessária para realizar suas atribuições principais de julgador, mas também não pode descuidar-se da competência necessária para gerir, pois pode estar à frente de um fórum com uns poucos metros quadrados, dez ou vinte funcionários, ou estar à frente de um prédio de milhares de metros quadrados, centenas de servidores e responsabilidade administrativa. O Poder Judiciário brasileiro está dividido por atribuições pela Constituição Federal, relacionando esferas de jurisdição em que cada uma realiza atribuições para a prestação jurisdicional de forma específica, sempre obedecendo ao estipulado na Lei Maior. A distribuição de atribuições, tanto judicantes quanto administrativas, obedece a critérios que abaixo se relacionam para contextualização do que se objetiva no presente artigo. A Justiça Eleitoral, que, como o próprio nome já determina, tem competência para processar e julgar conflitos específicos em matéria eleitoral, está organizada em Tribunal Superior Eleitoral, Tribunais Regionais Estaduais e Justiça Eleitoral, tratando-se de competência Federal, Estadual ou Municipal, conforme lei própria, de criação e divisão de atribuições. A característica mais marcante, em termos administrativos, é que a Justiça Eleitoral não dispõe de quadro próprio de Magistrados, pois em todas as esferas de julgamento seus membros 262 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse são originariamente pertencentes a outros órgãos da Justiça e, por determinação superior, recebem funções eleitorais por período certo de tempo e remuneração especial para tal desempenho. Para a resolução de conflitos relacionados à área trabalhista, tem-se a justiça especializada, distribuída entre o Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho e as Varas do Trabalho, sendo que possui quadro próprio de julgadores, carreira própria, bem como o acesso através de concurso público específico. Sua atribuição foi ampliada pela Emenda Constitucional n. 45, mas pode-se afirmar que tem como objeto de julgamento ações que envolvam relações de trabalho e alguns outros temas relacionados. Nas questões administrativas internas não se adentrará, tendo em vista que sua organização difere em muito da Justiça Estadual, que será o escopo principal do presente artigo. Há que se considerar a Justiça Militar, que tem atribuições especializadas no trato das questões envolvendo os membros das forças militares, estruturadas e organizadas para o atendimento desta matéria, tanto nos Estados-membros da federação quanto no âmbito Federal. Apenas se registre que nos Estados em que o efetivo não somar um mínimo de vinte mil membros, não haverá Tribunal Militar, caso em que os recursos serão julgados pelos Tribunais de Justiça Estaduais. A Justiça Federal, estruturada a partir de Varas Federais, Tribunais Regionais Federais e Superior Tribunal de Justiça, tem como missão o processamento e julgamento das ações em que a União figurar num dos polos da disputa, seja como parte ativa, seja como parte passiva da ação. A Justiça Federal não está presente em todas as cidades e comarcas do país, caso em que as suas atribuições serão delegadas às Varas da Justiça Estadual e os Recursos serão encaminhados aos Tribunais Regionais Federais, localizados um em cada uma das cinco regiões do País. Considerando-se o exposto, percebe-se que há ainda uma gama imensa de matérias jurídicas que não estão relacionadas às atribuições dos órgãos julgadores apontados acima; a isso se convencionou chamar de matéria residual, e para isso, necessária é a existência de O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 263 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas uma competência residual, ou seja, todas as demais matérias jurídicas não tratadas pelos órgãos acima citados serão julgadas pela Justiça Estadual Comum, que foi o órgão encarregado pela Constituição Federal de 1988 de ser responsável pelo trato de toda a matéria não especializada. Há nesse caso uma gama de matérias que podem ser a esta justiça distribuídas e que demandam uma estrutura maior e todos os recursos disponíveis para fazer frente à demanda que se apresente. Esta esfera de justiça está estruturada em todos os Estados da Federação e compõe-se da Justiça de primeiro grau, localizada nas Comarcas, que podem abranger um ou vários municípios, dependendo para isso da lei de divisão e organização judiciária de cada um dos Estados da Federação. Tratando-se da competência recursal, o que é comum a todos os Estados é a existência do Tribunal de Justiça Estadual, que também tem algumas matérias originárias, ou seja, aquelas em que as ações já iniciam no próprio Tribunal, considerando-se para isso, normalmente, comando da Constituição Federal ou das Constituições Estaduais. Portanto, a Justiça Estadual dos Estados funciona com um Tribunal de Justiça localizado na capital dos Estados-membros da Federação, onde funciona a esfera recursal principal dessa entrância da Justiça; e, as Varas de Julgamento, localizada nas Comarcas, sejam elas compostas de apenas um município, ou de vários, onde as ações de primeira instância de julgamento têm o primeiro contato com o Poder Judiciário. Em Santa Catarina, o Tribunal de Justiça do Estado tem sede em Florianópolis, cento e onze comarcas que atendem todo o território do Estado e uma Câmara de Julgamento Regional localizada na cidade de Chapecó. Quanto à força julgadora, conta o Poder Judiciário de Santa Catarina com sessenta cargos de desembargador, trinta cargos de juiz substituto de segundo grau e trezentos e noventa e sete juízes, distribuídos em comarcas de entrância inicial, final e especial, com atribuições determinadas pela lei de divisão e organização judiciária. 264 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse Nas questões administrativas, o Tribunal de Justiça tem na figura do Desembargador Presidente o seu mandatário maior, que é escolhido dentre os desembargadores, através de eleições para mandatos de dois anos. Nas Comarcas, a função administrativa dos foros fica ao encargo de um dos Magistrados, preferencialmente o mais antigo da Comarca, para mandato de dois anos, quando assume a função de Diretor do Foro. Se a comarca é de Vara única, ou seja, com apenas um Magistrado, certamente esse será o Diretor do Foro. Há que se fazer a observação de que os Juízes com atribuições administrativas nas comarcas desempenham estas cumulativamente às funções judicantes. Exatamente aqui está o mote do estudo que se pretende relatar neste artigo, pois é de conhecimento de todos que o Magistrado, para assumir as suas funções judicantes, passa por rigoroso processo de seleção, através de concurso público de provas e títulos, onde todas as matérias de competência da Justiça Estadual lhe são cobradas, através de aferições de várias maneiras, com questões objetivas das várias áreas jurídicas, e questões subjetivas com casos para os quais terá que redigir sentenças ou formular respostas que lhe exigem conhecimento técnico para o desempenho das funções de julgador. Nesse contexto, conclui-se que o Magistrado que passou no concurso, tomou posse e assumiu as funções tem o conjunto de competências para o desempenho desse mister. Conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para ser julgador lhe são aferidas, exigidas e, portanto, pode-se concluir que está preparado para realizar as tarefas que se lhe apresentarem, mas caso ainda possua deficiências, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, através da Academia Judicial, presta serviço relevante de capacitação e aperfeiçoamento daqueles que estão em início de carreira, mormente nos dois primeiros anos, quando estão em fase de vitaliciamento. A questão que se propõe como objetivo geral do presente trabalho é saber se os Magistrados, tanto os que estão em início da carreira, nas comarcas de Vara única, quanto os de comarcas de entrância final ou especial, onde há várias unidades de julgamento e mais de O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 265 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas um Magistrado, quando no desempenho das funções administrativas, possuem a competência necessária para realizá-las com a mesma qualidade que o fazem na função judicante. Justifica-se exatamente pelo entendimento de que para a atividade principal, judicante, todos estão tecnicamente preparados, são bacharéis em Direito, a grande maioria com cursos de especialização, mestrados, doutorados, experiência profissional e vivência no meio, portanto, efetivamente preparados para julgar. Já a atividade de administrador exige, em outros setores, que seja realizada por profissional formado em Administração, com especializações, mestrados, doutorados específicos para a área para a qual esteja mais voltado, sejam os recursos humanos, sejam as atividades de finanças, de infraestrutura, logística, planejamento, e tantas outras relacionadas ao bem gerir. No setor público, hoje, mais do que nunca, a complexidade e a especificidade das atividades exige profissionais preparados para esse desempenho ser de qualidade e apresentar resultados. Os objetivos específicos estão relacionados a realizar, através da pesquisa, uma relação das competências, ou seja, conhecimentos, habilidades e atitudes que compõem as características do julgador; verificar quais são as exigências para que seja um bom Magistrado. Pesquisar as competências, conhecimentos, habilidades e atitudes do administrador público; verificar as boas qualidades para ser administrador de capacidade, que traga resultados para a organização. Traçar um comparativo entre os dois conjuntos; e verificar a possiblidade de convivência desses dois conjuntos de competências, numa mesma pessoa, ou os possíveis antagonismos que essas características possam apresentar. Por fim, em considerações finais, sugerir ao Poder Judiciário de Santa Catarina, possibilidades para a melhor condução da gestão voltada ao cumprimento da sua missão, tendo na visão a orientação necessária para o cumprimento de seu planejamento estratégico. 266 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse O trabalho se realiza com pesquisa bibliográfica, de onde se retiram os conceitos e as convenções sobre o tema aqui relatado, utilizando-se de comparativos com a iniciativa privada, vez que há pouco material que trate desse assunto de forma específica como o que se busca. Como método de pesquisa, pode-se dizer que foram utilizados dois principais: o método comparativo, no qual se investigam dois fenômenos para identificar semelhanças e diferenças entre eles; e também se pode identificar no trabalho, a utilização do método indutivo, pois a partir de identificar as partes de um fenômeno se busca a possiblidade de uma conclusão geral. 2Competência Quanto se está tratando com termo equívoco, ou seja, aquele sobre o qual se apresenta mais de um significado, há a necessidade de convencionar um conceito dentre os existentes, para ser a base sobre a qual o trabalho se desenvolverá; portanto, primeiro o do Dicionário Eletrônico Aurélio (1999): Competência: [Do lat. tard. competentia.] S. f. 1. Faculdade concedida por lei a um funcionário, juiz ou tribunal para apreciar e julgar certos pleitos ou questões. 2. Qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade. 3. Oposição, conflito, luta. 4. E. Ling. Conhecimento linguístico, parcialmente inato e parcialmente adquirido, que permite a um indivíduo falar e compreender a sua língua. [Cf., nesta acepç., desempenho (5).] u Competência comunicativa. 1. E. Ling. Conhecimento que têm os membros de uma comunidade linguística (q. v.) das regras que tornam o uso linguístico adequado às diferentes situações sociais; competência pragmática. u Competência pragmática. E. Ling. 1. Competência comunicativa. u À competência. 1. À porfia, à compita. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 267 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas No aspecto jurídico o termo competência é utilizado para demonstrar que na esfera da jurisdição cada um dos órgãos pode apreciar e julgar, atribuindo validade às decisões tomadas e obrigando as partes ao nela contido. Já em Direito Administrativo ao referenciar-se competência, trata-se da atribuição determinada por lei para que cada órgão de governo possa realizar determinadas tarefas e atribuições também previstas em lei, sendo que há necessidade de respeitar-se esses limites de atuação previstos, sob pena de invalidade do ato praticado fora desses parâmetros. Ainda dá para considerar competência como a faculdade que cada indivíduo dispõe de exercitar direitos ou de agir para buscar proteção aos seus direitos. De Plácido e Silva, no Vocabulário Jurídico (2002, p. 186), assim define competência: Derivado do latim competentia, de competere (estar em gozo ou no uso de, ser capaz, pertencer ou ser próprio), possui, na técnica jurídica, uma dupla aplicação: a) tanto significa a capacidade, no sentido de aptidão, pela qual a pessoa pode exercitar ou fruir um direito; b) como significa a capacidade, no sentido de poder, em virtude do qual a autoridade possui legalmente atribuição para conhecer de certos atos jurídicos e deliberar a seu respeito. Considerando o objetivo geral da pesquisa, relacionado ao trato administrativo da função de Magistrado, deixam-se de lado as definições jurídicas e parte-se para o campo da Administração, sendo então esta a visão que deve acompanhar o desenvolvimento do presente trabalho. Dos vários conceitos apresentados pelo dicionário, pode-se tomar como indicador o que se refere à Qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; pois é disso que se vai tratar aqui, ou seja, da capacidade que alguém, no caso um Juiz de Direito, tem de realizar determinada tarefa, ou um conjunto delas, especificamente, atividades administrativas, de gestão; porém é certo que apenas esse conceito não é suficiente para 268 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse o aqui proposto; há que se valer também do conhecimento dos doutrinadores, dos doutos da Administração. Na esfera de estudos da administração, ao se tratar de capacidade, vários são os modos de conceituar o termo e vários são os métodos de apurar se alguém possui competência ou não. Veja-se o seguinte texto: No fim da Idade Média, a expressão “competência” era associada essencialmente à linguagem jurídica. Dizia respeito à faculdade atribuída a alguém ou a uma instituição para apreciar e julgar certas questões. Por extensão, o conceito de competência veio a designar o reconhecimento social sobre a capacidade de alguém pronunciar-se a respeito de determinado assunto e, mais tarde, com o advento da Administração Científica, passou a ser utilizado para qualificar o indivíduo capaz de realizar determinado trabalho. A preocupação das organizações em contar com indivíduos capacitados para o desempenho eficiente de determinada função não é recente. Taylor (1970) já alertava, no início do século passado, para a necessidade de as empresas contarem com “homens eficientes”, ressaltando que a procura pelos “competentes” excedia a oferta. À época, baseadas no princípio taylorista de seleção e treinamento do trabalhador, as empresas procuravam aperfeiçoar, em seus empregados, as habilidades necessárias para o exercício de certas funções, restringindo-se a questões técnicas relacionadas ao trabalho e à especificação do cargo. (PIRES, 2005, p. 13). Competência no sentido de exigência para o profissional desempenhar suas atribuições, considerando-se essa perspectiva, nada mais seria do que o conjunto de conhecimentos e habilidades que credenciavam o profissional para a execução de suas tarefas (PIRES, 2005), o que, com o devido respeito, parece ser a forma utilizada ainda hoje pelo Poder Judiciário, sob os aspectos da orientação taylorista, ou seja, exige-se apenas o conhecimento técnico da função de O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 269 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas julgador que será desempenhada pelo Magistrado, sem preocupar-se com outros aspectos, para realizar as seleções e, em alguns Tribunais, as capacitações aplicadas aos Magistrados. Desde os anos setenta do século passado até os dias atuais, o mundo mudou muito, as relações de trabalho ficaram mais complexas, as exigências das organizações, públicas ou privadas, para a contratação e manutenção de empregados modificaram-se juntamente com todo o restante; com isso, aumentaram-se as exigências e, por isso mesmo, não é mais possível que se busque apenas qualificações técnicas; conhecimentos da função considerados isoladamente, já não são suficientes para o desempenho exigido e o atingimento dos resultados que todas as entidades públicas ou privadas precisam alcançar. A iniciativa privada começa antes dos órgãos públicos, mas a exigência de recrutar considerando-se a competência, também deve chegar aos entes de governo; se ainda não ocorreu, vai acontecer, pois a sociedade também está a cada dia mais a exigir resultados, portanto, não há como se ignorarem os avanços, tanto na prática, quanto na perspectiva das teorias e das formas de encarar as conceituações. Nesse caso, o conceito de competência também evoluiu e deixou de ser considerado competente apenas o detentor de qualificação técnica para realizar alguma atividade; exige-se algo mais. De Pires (2005, p. 13), colaciona-se a seguinte afirmação: Em decorrência de pressões sociais e do aumento da complexidade das relações de trabalho, as organizações passaram a considerar, no processo de desenvolvimento de seus empregados, não só conhecimentos e habilidades, mas também aspectos sociais e atitudinais. Algumas concepções, então, começaram a valorizar a atitude como maior determinante da competência. Zarifian (1996), por exemplo, ao definir competência, baseia-se na premissa de que, em ambiente dinâmico e competitivo, não é possível considerar o trabalho como um conjunto de tarefas ou atividades pré-definidas e estáticas. Para esse autor, 270 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse competência significa “assumir responsabilidades frente a situações de trabalho complexas [aliado]... ao exercício sistemático de uma reflexividade no trabalho” (Ibid.), que permita ao profissional lidar com eventos inéditos, surpreendentes e de natureza singular. As exigências da sociedade, no mundo da iniciativa privada, significam mais competidores, competidores mais qualificados, consumidores seletivos, legislações mais severas e outros tantos aspectos de um mundo atual, globalizado e selvagem que não perdoa erros e leva à extinção empresas que não tiverem competência para fazer frente a estas demandas. Há que se levar em conta, então, conhecimento técnico e habilidade para realizar as tarefas, mas agrega-se a esses, a exigência de comportamentos, ou seja, atitudes que sejam favoráveis ao desempenho desejado e, principalmente, ao atingimento dos resultados esperados. Nas organizações de governo, há da mesma forma, exigências atuais que obrigam à competência organizacional e individual, pois certamente não se chegará àquela sem que estes apresentem tal característica. Ser competente, ter competência é exigência para o agente público, seja um simples servidor administrativo, seja ele um Magistrado, executando tarefas de jurisdição ou de administração. Pires, (2005, p. 14), citando Durando (2000), Nisembaum (2000) e Santos (2001), traz a nova conceituação de competência, considerando a complexidade atual das exigências que se apresentam: Sob esta perspectiva, que parece ter aceitação mais ampla tanto no meio acadêmico como no ambiente empresarial, “competências representam combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho profissional, dentro de determinado contexto ou estratégia organizacional. (Destaques do autor). O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 271 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas Não é outro o pensamento de Fleury e Fleury (2001, p. 19), que assim se manifestam, citando Parry (1996), ao afirmar que tal definição é comumente utilizada pelos profissionais de Recursos Humanos: conjunto de conhecimento, habilidades, atitudes, que afetam a maior parte do trabalho de uma pessoa, e que se relacionam com o desempenho no trabalho; a competência pode ser mensurada, quando comparada com padrões estabelecidos e desenvolvida por meio de treinamentos. Este, portanto, será o conceito convencionalmente utilizado neste artigo e que será detalhado para a melhor compreensão do que se quer, ou seja, a competência do Magistrado, quando no desenvolvimento das atividades administrativas. Deve-se então descrever, dentro do conceito, o significado de cada um dos termos que o compõem, tendo assim um melhor esclarecimento do que seja o conceito como um todo. Nos itens abaixo, descreve-se conhecimento, habilidade e atitude e na sequência realiza-se a adequação disso com as atividades desenvolvidas na gestão pública. Conhecimento O ser humano diferencia-se dos demais seres que habitam o planeta Terra por uma série de características que lhe são únicas, entre elas a possibilidade de apropriar-se de saberes e comunicar-se com condições de transmitir esses saberes a outros seres humanos. O conhecimento tem relação com essa possibilidade e realmente diferencia o homem, pois a partir desta característica ele pode transmitir os saberes de geração para geração e principalmente ir acumulando informações, causando com isso desenvolvimento e melhores aplicações. Do dicionário Aurélio Eletrônico (1999) pode-se buscar o que significa o verbete conhecimento, que assim está: 272 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse [De conhecer + -imento.] S. m. 1. Ato ou efeito de conhecer. 2. Ideia, noção. 3. Informação, notícia, ciência. 4. Prática da vida; experiência. 5. Discernimento, critério, apreciação. 6. Consciência de si mesmo; acordo. 7. Pessoa com quem travamos relações. 8. Econ. Documento representativo de mercadoria depositada ou entregue para transporte, e que, se endossado, pode ser negociado como título de crédito. [ V., nesta acepç.: conhecimento de carga e conhecimento de depósito.] 9. Filos. No sentido mais amplo, atributo geral que têm os seres vivos de reagir ativamente ao mundo circundante, na medida de sua organização biológica e no sentido de sua sobrevivência. 10. Filos. Processo pelo qual se determina a relação entre sujeito e objeto. [Cf., nesta acepç., a posteriori, a priori, objeto (9), sujeito (13) e teoria do conhecimento.] 11. Filos. A apropriação do objeto pelo pensamento, como quer que se conceba essa apropriação: como definição, como percepção clara, apreensão completa, análise, etc. 12. Filos. A posição, pelo pensamento, de um objeto como objeto, variando o grau de passividade ou de atividade que se admitam nessa posição. Para as organizações, um colaborador que conheça as técnicas de realização das atividades, que conheça a forma de fazer os produtos, que conheça o funcionamento da empresa, que conheça a organização como um todo, é realmente uma necessidade. O conhecimento está relacionado ao saber que o indivíduo acumula ao longo de sua vida, informações conquistadas nos bancos acadêmicos, informações adquiridas pela experiência de vida, social e profissional, enfim, todas as coisas que o cidadão sabe e que fazem parte de sua individualidade são de suma importância para o seu desempenho dentro de sua organização. O saber é o conhecimento, que cada indivíduo apresenta em sua memória e que carrega consigo quando de sua atuação profissional, portanto, não se pode imaginar alguém que não faça uso do que conhece para a realização de suas atividades e aí pode-se relacionar O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 273 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas vários tipos de saberes, conhecimentos necessários para o bom desempenho pessoal e organizacional. De Pires (2005, p. 17) traz-se a seguinte informação: De acordo com Durand (2000), o conhecimento corresponde a uma série de informações assimiladas e estruturadas pelo indivíduo, que lhe permitem “entender o mundo”. Refere-se ao saber que a pessoa acumulou ao longo da vida. Davenport e Prusak (1998) e Davis e Botkin (1994) explicam que o conhecimento deriva da informação, que, por sua vez, deriva de conjuntos de dados. Segundo esses autores, dados são séries de fatos ou eventos isolados. As informações são dados que, percebidos pelo indivíduo, têm significado e relevância. Por fim, os conhecimentos são conjuntos de informações reconhecidas e integradas pelo indivíduo dentro de um esquema preexistente, causando impacto sobre seu julgamento ou comportamento. Essa dimensão, para Bloom e outros (1979) e Gagné e outros (1988), representa algo relacionado à lembrança de ideias ou fenômenos, a alguma coisa armazenada na memória da pessoa. Os conhecimentos adquiridos pelo indivíduo e por ele utilizados quando na sua atuação dentro de sua organização profissional fazem a diferença em termos de conquista de resultados; somados os conhecimentos pessoais, adquire-se um conhecimento coletivo e que impulsiona a organização na realização de seus objetivos institucionais. Na iniciativa privada isso resulta em lucro e valorização; no campo das atividades públicas resulta em presteza no atendimento de suas funções e satisfação de seus usuários. Habilidade Os autores afirmam que habilidade é o saber fazer, ou seja, é o conhecimento em ação. Apenas saber não é suficiente; o conhecimento precisa ser colocado em movimento para tornar-se utilidade. 274 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse Novamente faz-se uso do Dicionário Aurélio (1999) para melhor entender o termo em tela: Do lat. habilitate. Qualidade de hábil. Notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão específica, pensamento criativo ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes, e capacidade psicomotora. Existem muitos tipos de habilidades, mas através delas o homem adquire proveito; e as utilidades possíveis a partir de suas utilizações trazem progresso, lucros e atingimento de resultados. Pode-se pensar em habilidades eminentemente intelectuais, como resolver equações de álgebra, programar um computador para que faça determinada atividade; organizar, planejar, são habilidades que auxiliam as organizações em todos os aspectos. Não se pode descuidar também de habilidades para as quais se exige destreza manual, pois assim é a habilidade do cirurgião, do artesão do artista. No setor público a habilidade, o saber fazer, muitas vezes está relacionada com o atendimento ao público em suas exigências, aspectos voltados ao cumprimento das leis, na prestação de serviços de utilidade e na realização de atividades que atendam ao objetivo de realizar o bem-estar social e comunitário. Por esses motivos, o agente público, além de conhecer a sua atividade, precisa necessariamente saber fazer, ou seja, transformar os seus conhecimentos em atividades úteis para a população em geral. A habilidade, por sua vez, está relacionada ao saber como fazer algo (GAGNÉ et al., 1988) ou à capacidade de fazer uso produtivo do conhecimento, ou seja, de instaurar conhecimentos e utilizá-los em uma ação (DURAND, 2000). Segundo Bloom e outros (1979), a definição operacional mais comum sobre a habilidade é a de que o indivíduo pode buscar, em suas experiências anteriores, conheci- O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 275 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas mentos, sejam eles de fatos ou princípios ou de técnicas apropriadas, para examinar e solucionar um problema qualquer. As habilidades podem ser classificadas como intelectuais, quando abrangem essencialmente processos mentais de organização e reorganização de informações – por exemplo, em uma conversação ou na realização de uma operação matemática –, e como motoras ou manipulativas, quando exigem fundamentalmente uma coordenação neuromuscular, como na realização de um desenho ou na escrita a lápis, por exemplo (BLOOM et al., 1979 e GAGNÉ et al., 1988 apud PIRES, 2005, p. 17). Voltando-se no tempo, percebe-se que até a década de oitenta ou início dos anos noventa do século passado, a Administração estaria satisfeita no quesito competência, analisando apenas os dois critérios acima descritos, ou dimensões, como gosta de mencionar parte da doutrina, porém, como já referido anteriormente, dada a complexidade do mundo moderno e as exigências das organizações, necessário agregar-se ao conhecimento o saber e a habilidade, o saber fazer; há uma terceira característica para que o termo fique completo e atenda às demandas atuais, ou seja: é necessário ir além e buscar o profissional que conhece, tem habilidade, mas acrescenta a atitude, como o querer fazer. Atitude Querer fazer, sem dúvida nenhuma há uma interdependência dos três aspectos que formam a competência de um indivíduo, pois saber, ter conhecimento é o ponto de partida para que seja possível a execução de qualquer atividade. Ter a informação necessária para fazer; o saber fazer, ou seja, possuir a habilidade necessária para colocar o conhecimento em prática também tem relevância no desempenho de qualquer tarefa, mas o querer fazer, significado mais simples de atitude, é essencial para que tudo vire ação, que seja útil e aplicável. Nesse conceito estão agregados outros termos, como motivação, vontade, trabalho no sentido de ação, de execução, de transfor- 276 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse mar teoria em prática. Pires (2005, p. 17) refere-se ao termo atitude como sendo: terceira dimensão da competência refere-se a aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho (DURAND, 2000). Gagné e outros (1988) comentam que atitudes são estados complexos do ser humano que afetam o comportamento em relação a pessoas, coisas e eventos, determinando a escolha de curso de ação pessoal. Segundo esses autores, as pessoas têm preferências por alguns tipos de atividades e mostram interesse por certos eventos mais que por outros. O efeito da atitude é justamente ampliar a reação positiva ou negativa de uma pessoa, ou seja, sua predisposição em relação à adoção de uma ação específica. Essa última dimensão está relacionada a um sentimento, a uma emoção ou a um grau de aceitação ou rejeição da pessoa em relação aos outros, a objetos ou a situações. Portanto, por analogia, a atitude refere-se ao querer fazer. A vontade de fazer, a atitude de realizar, é o combustível para as realizações, pois algum servidor público ou o empregado de uma empresa privada pode ser o detentor de todo o conhecimento necessário à execução de sua atividade, pode ter toda a habilidade necessária para a atribuição que lhe compete, mas esta não será efetivada se ele não apresentar o querer fazer, a vontade, partir concretamente para a ação e assim agir. Os aspectos sociais de interesse e motivação estão relacionados às características pessoais do indivíduo e não se pode obrigar alguém a querer alguma coisa. Funcionários munidos de conhecimentos, habilidades e que demonstrem atitudes em relação à busca pelos resultados institucionais é o que se quer em qualquer organização nos dias atuais e o que se deve considerar como competência, tanto na hora de recrutar, avaliar ou manter os recursos humanos em qualquer tipo de atividade. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 277 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas Conhecer, saber; ter habilidade, saber fazer; atitude, querer fazer é igual à competência, mas isso por si só não determina nada; precisa-se verificar ainda, para os efeitos do estudo que se quer, o que se deve conhecer, que habilidade se deve apresentar e que atitudes são as necessárias para se considerar a competência do Magistrado. Isso é o que se busca no estudo a partir dos próximos itens. 3 A competência do julgador Que o Magistrado desempenha, ao longo de sua carreira no Poder Judiciário as funções de julgador e de administrador é fato conhecido, comentado por Lenza (2010, p. 398), que assim se manifesta a respeito do tema: A teoria da “tripartição dos Poderes”, exposta por Montesquieu, foi adotada por grande parte dos Estados Modernos, só que de maneira abrandada. Isso porque, diante das realidades sociais e históricas, passou-se a permitir maior interpenetração entre os poderes, atenuando a teoria que pregava uma separação pura e absoluta dos mesmos. Dessa forma, além do exercício das funções típicas (predominantes), inerentes e ínsitas à sua natureza, cada órgão exerce outras funções atípicas (de natureza típica de outros órgãos). [...] Judiciário. Função típica. Julgar (função jurisdicional), dizendo o direito no caso concreto e dirimindo os conflitos que lhe são levados, quando da aplicação da lei. Função atípica. Natureza legislativa: regimento interno de seus tribunais (art.96, I, “a” da Constituição Federal). Natureza Executiva: Administra, v.g., ao conceder licenças e férias aos magistrados e servidores (art. 96, I, “f” da Constituição Federal). (sem grifos no original). Para o desempenho da primeira tarefa, qual seja a função típica jurisdicional, o grupo de conhecimentos, habilidades e atitudes que deve apresentar o Magistrado está relacionado a atividades eminen278 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse temente individualizadas, até mesmo egoísticas, poder-se-ia afirmar, pois ligadas à exigência de independência no julgamento, à imparcialidade e à necessidade de não se deixar, o Magistrado, influenciar por outras impressões, a não ser àquelas provindas do conjunto probatório apresentado no processo, que resultará na sua convicção formada por seu sentir a respeito de quem está tutelado pelo direito, considerando as provas carreadas aos autos. Apreendendo da lição de Fleury e Fleury (2001, p. 188), para bem desenvolver o seu mister, o Magistrado deve apresentar as características de saber agir, saber o que e por que faz, saber julgar, escolher, decidir, saber comunicar, saber desenvolver-se. Todas essas qualidades estão relacionadas à definição de competência apresentada no trabalho acima citado, mas uma vez referenciadas estas qualificações pessoais ao Magistrado, conclui-se que o ato de julgar é por demais complexo e de grande relevância social, porém solitário, essencialmente solitário, pois do seu sentir individualizado e pessoal nasce a peça processual necessária e definitiva para a resolução do processo, qual seja, a sentença. Todos os conhecimentos técnicos da função de juiz, necessários ao seu objetivo final de pacificar a sociedade, distribuir a justiça e cumprir a função jurisdicional do Estado estão ligados à ciência do Direito e por ela o Magistrado é preparado, treinado e desenvolve-se, através da educação formal e continuada, de sua experiência social e profissional, participando de um processo de aprendizagem sem fim, que começa nos bancos escolares, passa pela Universidade e continua por toda a carreira, sejam em cursos de pós-graduação, sejam em capacitações realizadas pela organização a que pertence. 4 A competência do administrador O Magistrado é um Agente Público que desempenha missão dupla e para o desempenho da sua segunda tarefa, ou seja, a função de gestor público, exige-se dele conhecimentos, habilidades e atitudes diversas daquelas que dizem respeito à atribuição típica que realiza. O O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 279 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas Julgador, ao executar também atribuições de gestor não pode despir-se do seu mister principal, mas precisa, sim, acrescentar às suas competências outros conhecimentos, habilidades e atitudes que sejam transformados em capacidade de administrador público. O que se vê na maioria dos casos é a improvisação, ou seja, indivíduos com aquele conjunto de competências voltado para a missão de julgadores, serem lançados à própria sorte no desempenho da função de gestão, sem que lhes sejam proporcionados conhecimentos, habilidades e atitudes de gestor. Disso resultam algumas possibilidades: ou se tem um péssimo administrador, ou o Magistrado se vê obrigado a adquirir o necessário para seu próprio desempenho no decorrer do trabalho. Na realidade acaba acontecendo um “aprender fazendo”, um adquirir mais da experiência do que de algum treinamento, capacitação ou educação formal, voltados para a gestão pública. O problema é que, com isso, tem-se improviso, amadorismo e, como acontece nesses casos, ocorre também muito do que se pode chamar de “errar fazendo”, ocasionando as mais variadas perdas para o erário público, pois se desperdiça mão de obra, recursos financeiros, tempo e, principalmente, há descontentamento de usuários com a qualidade do serviço prestado. Nos concursos públicos para o cargo de Juiz de Direito, início da carreira da maioria dos Magistrados, (não todos, porque alguns membros dos Tribunais pertencem ao quinto constitucional e não prestaram concurso público para o cargo de Juiz), lhes é exigido um enorme leque de competências voltadas à sua função principal, e logo no início da carreira, ainda como Juízes Substitutos, o Magistrado recém-aprovado no concurso público já precisaria desempenhar o papel de gestor público, de ordenador de despesas e de administrador, apenas tendo contato com isso tudo exatamente no momento em que se via na condição de Diretor de Foro de alguma Comarca do interior do Estado. 280 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse O gestor público deve ser movido por outra plêiade de competências, relacionadas à ciência da Administração e que, segundo Fleury e Fleury (2001, p. 188), define-se assim: Competência: um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. O que significam os verbos expressos neste conceito? O quadro a seguir (inspirado na obra de Le Boterf) propõe algumas definições. Saber agir, saber o que e porque faz, saber julgar, escolher e decidir. Saber mobilizar recursos. Criar sinergia e mobilizar recursos e competências. Saber comunicar. Compreender, trabalhar, transmitir informações, conhecimentos. Saber aprender. Trabalhar o conhecimento e a experiência, rever modelos mentais; saber desenvolver-se. Saber engajar-se e comprometer-se. Saber apreender, assumir riscos. Comprometer-se. Saber assumir responsabilidades. Ser responsável, assumindo os riscos e conseqüências de suas ações e sendo por isso reconhecido. Ter visão estratégica. Conhecer e entender o negócio da organização, o se ambiente, identificando oportunidades e alternativas. As atribuições são de complexidade reconhecida pela ciência da Administração e o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para o administrador exigem dele condições que o permitam encaminhar-se ao encontro de pessoas, motivá-las; e deve ter a capacidade de bem comunicar-se, possuir meios para compreender as dificuldades, as necessidades de treinamento; deve ser o condutor e o orientador para que aqueles que com ele trabalham possam ultrapassar os seus próprios limites de conhecimento e capacidades, ou, no mínimo, deve o administrador competente ser sensível para entender que os seres humanos são dotados de qualidades e fraquezas. O administrador público precisa de capacidade para trabalhar em equipe, mas não como mero membro da equipe; precisa, sim, ser O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 281 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas o seu líder, fazer o trabalho de condutor do grupo de pessoas da organização, fazer com que haja produtividade, objetivo final de qualquer organização, seja pública ou privada. Nesse campo do conhecimento humano não dá para fazer improvisações; é preciso conhecimento formal, treinamento, desenvolvimento e um processo de aprendizagem continuado que leve em consideração os avanços das ciências e as mutações da sociedade. Ao comentar em seu artigo Construindo o Conceito de Competência, na página 186, Fleury e Fleury (2001) assim se manifestam: O conceito de competência, que emerge da literatura francesa dos anos 90, procurava ir além do conceito de qualificação. Zarifian (1999) foca três mutações principais no mundo do trabalho, que justificam a emergência do modelo de competência para a gestão das organizações: A noção de incidente, aquilo que ocorre de forma imprevista, não programada, vindo a perturbar o desenrolar normal do sistema de produção, ultrapassando a capacidade rotineira de assegurar auto-regulação; isto implica que a competência não pode estar contida na pré-definições da tarefa; a pessoa precisa estar sempre mobilizando recursos para resolver as novas situações de trabalho. Percebe-se que a realidade se apresenta para o administrador exatamente como bem lecionou o artigo citado, pois as situações que extrapolam a rotina, que saem da contumácia do dia a dia, requerem posicionamentos e decisões do gestor organizacional que lhe exigem competência e capacidades específicas e complexas. Ainda considerando o aprendizado encaminhado pelos professores mencionados, relacionado à competência, colhe-se do texto: Comunicação: comunicar significa compreender o outro e a si mesmo; significa entrar em acordo sobre os objetivos organizacionais, partilhar normas comuns para a sua gestão. Serviço: a noção de serviço, de atender a um 282 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse cliente externo ou interno da organização precisa ser central e estar presente em todas as atividades; para tanto, a comunicação é fundamental. O trabalho não é mais o conjunto de tarefas associadas descritivamente ao cargo, mas se torna o prolongamento direto da competência que o indivíduo mobiliza em face de uma situação profissional cada vez mais mutável e complexa. Esta complexidade de situações torna o imprevisto cada vez mais cotidiano e rotineiro. (FLEURY; FLEURY, 2001, p. 186). Por todas estas afirmações pode-se constatar facilmente que há clara diferença de exigências para o desempenho eficiente e eficaz de uma e de outra atividade a que se submete o Magistrado, quando na condição de julgador ou quando desempenha o grupo de atividades relacionadas à gestão pública. 5 Um possível antagonismo A percepção do contexto leva a pensar que, o mesmo conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes essenciais à atividade de julgamento, em uma análise perfunctória, talvez seja obstáculo ao bom desempenho da atribuição de gestão, dito isso sem pensar em desqualificar ou diminuir o bom conceito de que gozam e merecem os Magistrados, mas focando-se o olhar para o conjunto de atribuições e, bem assim, o conjunto de capacidades que se faz necessário para cada prática separadamente considerada. Ora, se o olhar se volta às atividades de gestão, percebe-se facilmente que são eminentemente de equipe, ou seja, o Magistrado necessita saber agir, saber o que e por que faz, saber julgar, escolher, decidir, saber mobilizar recursos, criar sinergia e mobilizar recursos e competências, saber comunicar, compreender, trabalhar, transmitir informações, conhecimentos, saber aprender, trabalhar o conhecimento e a experiência, rever, modelos mentais; saber desenvolver-se, saber engajar-se e comprometer-se, saber empreender, comprometer-se, saber assumir responsabilidade, assumir riscos e consequências de suas O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 283 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas ações, ter visão estratégica, conhecer e entender o negócio da organização, o seu ambiente, identificar oportunidades e alternativas; resumindo, necessita saber e praticar todas as atividades relacionadas à gestão em seu contexto o mais amplo possível. Constata-se aí uma possível dicotomia, um desencontro das competências necessárias, ou ao menos, uma carência de competências. Justifica-se analisando que para a atividade de julgador, ocupação principal do Magistrado, eminentemente solitária como dito alhures, ele foi preparado academicamente, existe uma preparação prévia, há uma verdadeira cultura organizacional que o encaminha para um bom desempenho das atribuições que lhe são apresentadas, para que individualmente possa produzir com qualidade, resultando numa alta produtividade da organização como um todo. Justifica-se a afirmação de ser uma atividade individualista até pela forma como os atos judiciais são comunicados, ou seja, o Juiz ao manifestar-se no seu atuar diário trabalha com a comunicação escrita ou verbal sempre em primeira pessoa do singular – são exemplos, “recebo” ou “decido” –, valendo-se da autoridade processual que é, cumprindo exatamente o que deve ser o objeto de seu trabalho: resolver os casos que lhe são apresentados, decidindo e ordenando para que sua decisão se faça valer. A moderna administração não mais admite a figura do chefe que manda, que fala e escreve em primeira pessoa do singular, ordenando e mandando os seus subordinados de forma distante e autoritária; hodiernamente é necessária a figura do líder, daquele que ocupa cargos de hierarquia superior, mas que se engaja nas atividades, utiliza linguagem sempre de forma a chamar a equipe para o trabalho, colocando-se como membro do time e aderindo aos compromissos e metas. Para a atividade de administrador exige-se uma boa quantidade de competências voltadas às tarefas de equipe, de planejamento, de organização de visão estratégica, de liderança sobre pessoas e de desempenho organizacional, características estas que devem ser encontradas nas pessoas que se prepararam para essa função. A formação 284 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse na área da Administração prepara o indivíduo para essas exigências que ele encontrará na vida profissional, porém os advindos da área jurídica, e especialmente os que exercem uma função judicante, não têm, pelo menos em termos acadêmicos, essa formação. Pode-se pensar que, já que o Magistrado está ocupando um cargo relacionado à gestão pública, para fazer com que o conjunto de competências administrativas fosse agregado ao conhecimento técnico jurídico, seria necessário que cada Juiz buscasse agregar conhecimentos e realizasse essa preparação, individualmente, para só depois de seu esforço, assumir as atividades e poder realizá-las com qualidade. Infelizmente não é isso que acontece na prática. Primeiramente o Magistrado não tem a obrigação de estar preparado para isso, pois as exigências para o concurso são da esfera jurídica; depois, ele está em plena atividade judicante, não há na sua agenda, na maioria dos casos, tempo para fazer uma reciclagem na sua própria área; assim, seria exigir muito que ele fosse fazer uma preparação para ser administrador. Então acaba por acontecer que o Magistrado aprende, através de seu esforço, as técnicas voltadas ao exercício da administração da coisa pública, ou pela frequência a cursos preparatórios ou pela experiência profissional adquirida e por conhecimentos agregados às qualificações pessoais. Mas percebe-se a possibilidade de antagonismo, ou um desencontro de capacidades exatamente pela diferença de atividades, pela especificidade de cada área de atuação: se ao julgar a ideia é que o Magistrado seja inflexível aos reclamos das partes e se atenha às provas carreadas aos autos; na atividade Administrativa ele deve ser flexível na condução dos recursos humanos, no sentido de atender às necessidades e características pessoais de cada servidor, para utilizar a pessoa certa no lugar certo e assim conseguir melhores resultados para a instituição e certamente uma melhor qualidade de vida para o funcionário. Na maioria das vezes, o saber e o saber fazer técnico da função de julgar deve estar relacionado ao rigor da lei e a sua aplicação não está à mercê da criatividade do Magistrado, ao contrário, este está O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 285 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas submisso à vontade da lei e deve cumpri-la literalmente. Já o Administrador, em seu saber e saber fazer, no momento de planejar, resolver problemas e ordenar despesas, deve ter como uma das suas atitudes valer-se da criatividade, pois deve inovar, deve buscar caminhos alternativos e formas de realizar diversas para conseguir resultados diferentes e melhores. Aponta-se, portanto, a título de exemplo, alguns antagonismos que podem ocorrer nas duas atividades: utilização de linguagem em primeira pessoa do singular, para o Juiz e no plural para o Administrador; inflexibilidade e imparcialidade para o Juiz, flexibilidade e sensibilidade para o Administrador; formalismo e submissão ao texto legal para o Magistrado e criatividade e inovação para o gestor. 6 Considerações finais Na atualidade, o Tribunal de Justiça, através da Academia Judicial, vem desenvolvendo atividades de capacitação e treinamento dirigidas aos Magistrados, especialmente aos novos, atividades estas que buscam prepará-los para as tarefas de gestão que terão que desempenhar ao longo de suas carreiras. Nítido está que o Poder Judiciário de Santa Catarina já está na fase de produzir conhecimentos e proporcionar a aprendizagem necessária para a melhoria das competências e capacidades dos seus Magistrados e que a consequência natural desse conjunto de atitudes administrativas o levará à melhoria como organização, pois se terá uma melhor gestão do Tribunal de Justiça e bem assim das Comarcas. A cada dia mais se constata a exigência que se apresenta aos Magistrados para o desempenho de sua dupla missão: julgar com celeridade e justiça e administrar com capacidade e competência. Compreendem-se os esforços realizados pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina para preparar os Juízes para essa dupla missão, mas não parece ser a melhor alternativa. Dois caminhos são apontados como possíveis de melhorar a situação existente: ou exige-se 286 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Nelson José dos Santos e Wanderley Horn Hülse formação na área administrativa, além da jurídica, para os candidatos nos concursos públicos para Juiz, ou se separam as atribuições, colocando-se cada profissional na sua área de atuação. Justifica-se a primeira alternativa afirmando-se que, ao se exigir no concurso público de provas e títulos que o cidadão, candidato a Juiz, tenha formação na área administrativa, certamente já se recrutariam Agentes Públicos preparados para a dupla função, pois teriam o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes de Magistrado e também de Administrador; portanto se teria a mesma qualidade na prestação jurisdicional e na gestão dos Tribunais e Fóruns. A segunda alternativa apresentada, que parece ser a mais viável, já utilizada na Justiça Federal, apresenta uma separação total das atividades, pois haveria tanto nos Tribunais quanto nos Fóruns, profissionais da área administrativa com competência do ponto de vista Jurídico, com alçada e poder de decisão para gerir, enquanto os Magistrados estariam concentrados na sua atividade de julgamento, finalidade principal do cargo. Mesmo reservando-se a função de representação para o Magistrado, as funções administrativas de gerência ficariam ao encargo de profissional da área da administração. Para se fazer um comparativo, seria trazer para o Judiciário o modelo praticado pelo parlamentarismo, em que a chefia de Estado fica ao encargo do Presidente ou Monarca, cuja função é de representação e, para a chefia de Governo, um cargo com atribuições de gestor, como seria o caso do Primeiro Ministro. O significativo é que estariam os Magistrados e Desembargadores voltados para a atividade-fim do Poder Judiciário, julgar os processos que lhe são submetidos, podendo voltar seus esforços para a sua área de especialização, enquanto que as atividades administrativas, área-meio, que deve atuar para proporcionar condições para que a área-fim atue, estariam sob a responsabilidade de profissionais especializados na área, com o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes específicas e necessárias para que a gestão pública seja conduzida com a competência que lhe é exigida. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 287 O Conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que Devem Possuir os Magistrados no Desempenho de Atividades Administrativas Conclui-se que o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes de Magistrado são dirigidos para a atividade de julgamento e as competências de administrador podem estar presentes nesses profissionais, mas dependem de esforço extraordinário, sacrifício e muitas vezes sofrimento; já os conhecimentos, habilidades e atitudes para gerir estão mais presentes nos profissionais de administração; portanto, o ideal seria que cada um desempenhasse sua função, sem necessidade de acúmulo pelos Magistrados. Aos Magistrados, a competência para judicar; aos administradores a competência para gerir. Referências Dicionário Aurélio Eletrônico, Século XXI, Versão 3.0 – novembro de 1999. FLEURY, Afonso. FLEURY, Maria Tereza Leme. Estratégias empresariais e formação de competências: um quebra-cabeça caleidoscópico da indústria brasileira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. FLEURY, Maria Tereza Leme; FLEURY Afonso. Construindo o Conceito de Competência. RAC, Edição Especial, 2001. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010. PIRES, Alexandre Kalil et al. Gestão por competências em organizações de governo. Brasília: ENAP, 2005. SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2002. 288 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Sobre os autores Sobre os autores Alessandra de Linhares Jacobsen – Doutora em Engenharia de Produção pela UFSC, professora Adjunta do Departamento de Ciências da Administração da UFSC. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0015765161148627. Alexandre Marino Costa – Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC, professor Adjunto do Departamento de Ciências da Administração da UFSC. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4545141198235587 Ari Dorvalino Schurhaus – Especialista em Recursos Humanos pela FAAP e Gestão no serviço público pela UNISUL e UDESC. Servidor do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. br/0985487777387473 Cleide Brandt – Especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC, graduada em Direito. Servidora do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. Dante Marciano Girardi – Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC, professor Associado do Departamento de Ciências da Administração da UFSC. E-mail: dante.girardi@terra. com.br. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9063469350004410. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 289 Sobre os autores Gilberto de Oliveira Moritz – Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC, professor Associado do Departamento de Ciências da Administração da UFSC. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9935918414343319. Karin Tatiana Gianello Schmitz – Especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC e em Direito do Trabalho pela UNISUL/AMATRA, graduada em Direito pela UNIVALI. Servidora do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. Kátia Regina Beber – Especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC, em Direito Tributário pela UNISUL e em Direito Processual Civil pela UNIDERP, graduada em Direito pela FURB. Servidora do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected] Luis Carlos Cancellier de Olivo – Doutor em Direito do Estado pela UFSC, professor Adjunto no Departamento de Direito da UFSC. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes. cnpq.br/0629323465622136. Luis Moretto Neto – Doutor Engenharia de Produção pela UFSC, professor Associado do Departamento de Ciências da Administração da UFSC. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5353000298059913. Marcello Campiglia – Mestre em Agroecossistemas, especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC, graduado em Ecologia pela UNESP. Servidor do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected] Márcia Campos Sarturi – Especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC, graduada em Direito e em Ciências Sociais pela URI. Servidora do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 290 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Sobre os autores Marcos Baptista Lopez Dalmau – Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC, professor Adjunto do Departamento de Ciências da Administração da UFSC. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4530240320266470. Marlon Negri – Especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC e em Direito Civil pelo CESUSC, graduado em Direito pela UNISUL. Juiz de Direito em Santa Catarina. E-mail: [email protected]. Marshal Luís Schwalb – Especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC e em Direito Processual Civil pelo INCIJUR, graduado em Direito pela UNIPLAC. Servidor do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. E-mail: marshal_ [email protected]. Maurício Fernandes Pereira – Pós-Doutor pela USP e pela Universidade Técnica de Lisboa, Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC, professor Associado do Departamento de Ciências da Administração da UFSC. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1031023823121360. Nelson José dos Santos – Mestrando em Ciência Jurídica pela UNIVALI, especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC, professor da Universidade do Contestado Campus Curitibanos. Servidor do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/5766892796649358. Paulo W. K. Alves Júnior – Especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC, graduado em Direito pela UNISUL. Servidor do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected] Thalia Krause – Especialista em Gestão Organizacional em Tecnologia de Recursos Humanos pela UFSC e em Direito Processual Civil pela UNISUL, graduada em Direito pela UNOCHAPECÓ. Servidora do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 291 Sobre os autores Wanderley Horn Hulse – Mestre em Administração pela UNISUL, graduado em Administração pela UDESC. Servidor do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina E-mail: [email protected]. br. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1937187050454105. 292 Coleção Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos Sobre os organizadores Sobre os organizadores Alessandra de Linhares Jacobsen – Doutora em Engenharia de Produção pela UFSC, professora Adjunta do Departamento de Ciências da Administração da UFSC. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0015765161148627. Luis Carlos Cancellier de Olivo – Doutor em Direito do Estado pela UFSC, professor Adjunto no Departamento de Direito da UFSC. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes. cnpq.br/0629323465622136. O Judiciário Catarinense na Perspectiva dos seus Servidores – Volume 3 293