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verão 2005 trimestral distribuição gratuita
Glastonbury
FIMFA Lx
Cannes
SBSR
Primavera Sound
Indie Lisboa
Forward >>
Curtas de Vila do Conde
Festival de Almada
Vilar de Mouros
Grec e FIB
Sudoeste
Paredes de Coura
Director
Filipe Pedro
Director-adjunto
Gonçalo Guedes Cardoso
editorial
Editora
Ana Serafim
Há qualquer coisa no ar...
Alegrem-se os que lêem na língua de Camões. Animem-se os
representantes de todas as idades, sexos, credos e religiões.
Confortem-se os amantes da aventura, da partida e da chegada, dos bilhetes rasgados, conservados, perdidos ou dobrados,
do pó, da relva, dos palcos, dos WC perfumados. Acordem os
fãs das guitarras estridentes, das multidões, dos mosh pits, dos
encores, das lágrimas, das fotografias, dos isqueiros no ar, das
cabeças a abanar, do zumbido nos ouvidos, dos amores inesperados, dos preservativos oferecidos, dos irritantes mosquitos, do campismo, dos sons nocturnos esquisitos.
Regozijem-se os gulosos das farturas, do mítico Psicológico,
da comida vegetariana, do avestrúguer, da dieta leviana ou do
simples hambúrguer.
Jubilem os amigos das curtas, das longas, dos fotogramas, das
mostras, dos ciclos, das competições, das passadeiras vermelhas, das palmas, dos ursos, dos leões, do suspense, dos prémios e galardões.
Contentem-se os amigos das marionetas, dos fantoches, das
cortinas de veludo, dos actores, da tragédia, do drama e da comédia. Da cor, da nona arte, das vinhetas, das pranchas, dos
balões, dos heróis e dos vilões. Felicitem-se os pivots, as sapatilhas, as meias pontas, as belas cinderelas, coreografias e
mãos nas cinturas delas.
Agucem os olhares para montanhas e mares, limpem as lentes,
objectivas, filtros, luzes, galerias, corredores, imagens e fotografias.
Alegre-se um país adormecido, pessimista e fundido... pelos fogos de verão, pelo medo ao arrastão, pelo negativismo do não,
não não e só não.
Fest Forward, a primeira revista portuguesa exclusivamente dedicada a festivais, foi pensada para esta vasta multidão de
amantes da vida, da liberdade e da festa. Procuramos com este
guia, oferecer uma viagem ao fantástico mundo dos festivais,
sejam eles de música, cinema, teatro, marionetas, BD, dança,
fotografia ou design, em Portugal e no mundo. Fazemo-lo de
uma forma pioneira e atractiva, através de antevisões, reportagens, recomendações de artistas, livros, CDs, DVDs, outros ês
e entrevistas.
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Colaboradores
Ana Baptista, Bárbara Bettencourt, Beatriz Pacheco
Pereira, Fernando Palma Neto, Filipe Araújo, Filipa
Lourenço, Filipa Matos, Hugo Barros, Humberto Fonseca,
João Carlos Callixto, João Paulo Gomes (fotografia), João
Pedro Almeida (fotografia), Lino Ramos, Luís António
Coelho, Luís Bento (fotografia), Márcio Alfama, Mário
Dorminsky, Pedro Gomes (fotografia), Raquel Pinheiro,
Ricardo Duarte, Ricardo Nunes, Rui Gusmão, Sérgio
Diamantino, Sofia Silva
Correspondentes
Alexandre Nunes de Oliveira (Barcelona), Frederic Huiban
(Paris), Luís Mateus (Madrid)
Consultor de edição
Luís P. Oeiras Fernandes
Design Gráfico e Paginação
Filipa Lourenço
LDI - Laboratório de Design Imaginativo (www.ldi.pt)
Imagina Design (www.imaginadesignlab.com)
Impressão
MX3 Artes Gráficas
Registo no ICS
n.º 220 710
Depósito Legal
117 261 / 97
Propriedade
AIFPS
Tiragem
10.000 exemplares
Periodicidade
Trimestral
Distribuição
AIFPS
Contactos
Fest Forward Magazine
Rua do Cerrado do Zambujeiro, n.º 27, 2.º Frente
2610-036 Amadora
Telf. 935 477 327
963 379 383
918 520 771
Email: [email protected]
Publicidade: [email protected]
www.festforward.com
Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob
quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais.
Fest Regards,
Gonçalo Guedes Cardoso
Cinema
Redactores
Cátia Monteiro, João Pedro Correia, Luís Santos Batista,
Mariana Afonso, Pedro Moreira
Capa: Glastonbury 2005 por Filipe Pedro
Teatro
Música
Internacionais
texto: Gonçalo Guedes Cardoso
M.I.A.
Guerrilha sónica
M.I.A. ou Mathangi Arulpragasan é uma filha da revolução. Nascida em Hounslow, Londres, emigrou
para o Sri Lanka, terra natal dos seus antepassados, onde permaneceu insegura e escondida, em
virtude da militância do seu pai na luta pelo separatismo tamil. Foi com 11 anos que regressou a
Surrey, não escapando porém ao confronto diário
com o racismo e a intolerância do mundo ocidental.
Uma licenciatura em arte levou-a a publicar uma monografia que intitulou de M.I.A. Jogando com a sigla, retirada do seu nome e do termo militar “Missed in Action”
(desaparecido em combate), lançou a semente de uma
identidade artística, apoiada na militância pela rebelião
tamil e no combate contra o desaparecimento social.
A transposição dos seus sentimentos de luta e indignação para o meio musical foi congeminada pelos
Elastica, Peaches e Steve Mackey (Pulp), tomando forma no tema “Galang”, a sua bomba de fabrico caseiro
que se tornou no passaporte para a guerrilha sónica do
século XXI. Os estilhaços da explosão tiveram um impacto tal que a editora XL apostou no lançamento da
sua primeira arma de comunicação massiva, o álbum
“Arular”, lançado em Maio de 2005. O seu manifesto
humanamente genuíno marca, em época de guerra,
uma revolução na música contemporânea, enviando
ondas de choque pelo mundo. A crueldade, a vingança
e a violência disparadas na sua música afectam os
mais sensíveis e conservadores e permitem identificála como a artista mais completa do pós 11 de Setembro. Neste combate vale tudo: o uso indiscriminado de
atitude, criatividade, urbanidade, sedução, raiva, indignação, confiança ou energia. As suas balas são únicas,
com um estilo próprio e um design inimitável, não podendo ser encontradas num qualquer catálogo sónico.
Foi através da experimentação, improvisação, entrega
e sofisticação que chegou ao projéctil final. E este provou estar bem afinado. Juntou o Rap de Dizzee Rascal
e Missy Elliott à Electrónica de Basement Jaxx. Acrescentou-lhe uma dose de Ragga em forma de Sizzla e
aparafusou a máquina com o R&B de Ms. Dynamite e
a melodia de Neneh Cherry. Daqui nasceu um ElectroHip-Hop, genuinamente futurista, urbano, com muito
Funk, uso inteligente e divertido do baixo e de batidas
dançáveis. Esta recruta da música construiu, sem dúvida, a guerrilha sónica mais original do ano, com sons
que parecem desintegrar-se a qualquer momento, mas
capazes de refrescar o panorama musical actual.
www.miauk.com
06 Señor Coconut apresenta
texto: Filipe Pedro
foto: Matchbox Design
Hanne Hukkelberg
Pequenas brincadeiras
Primeiro chega a chuva, ouve-se um assobio. Aliás,
ouvem-se sons de diversos ambientes que se entrelaçam numa sonoridade que admite ter tanto de
Jazz como de Pop.
Uma Pop tão melódica quanto experimental, apaixonada e contagiante. Nas entrelinhas, a voz angelical de
Hanne Hukkelberg reporta-nos as suas vivências mundanas, pecados insignificantes, arrependimentos e incertezas, pequenos nada que a deixam insatisfeita,
com a impotência tão humana de não conseguir fazer
tudo aquilo a que se propõe. Digamos que Hanne é exigente, tendo plena consciência do seu próprio valor e
elevando a fasquia face a “Cast Anchor EP” (2003),
com a oferta de uma primeira obra, “Little Things”, claramente fresca de ideias e ambiências. Em 2002 e
2003, enquanto se transportava de bicicleta em Oslo,
Hanne recolhia sons com o objectivo de os levar para
estúdio, onde ela e o produtor Kåre Chr. Vestrheim colaram e editaram as mais diversas gravações. Numa
camada superior, juntaram registos de jam sessions de
copos de vinho, banjo, acordeão e escovas geralmente
usadas para lavar pratos. Elementos de bandas dos
Jaga Jazzist, Kaada, Shining, Kiruna e Exploding
Plastix são posteriormente convidados a conferir uma
certa orgânica instrumental, mais clássica, a “Little
Things”. Na transposição do disco para o palco, Hanne
faz-se acompanhar por cinco talentosos músicos com
uma estranha mistura de instrumentos que transmitem
ao público uma sensação quase atmosférica (Lena
Nymark no saxofone, vozes, glockenspiel e teclados;
Henning Sandsdalen na guitarra e baixo; Peter Baden
na bateria, sampler e roda de bicicleta; Kåre Chr.
Vestrheim nos teclados, banjo e acordeão; Jan Martin
Smørdal na guitarra e casio). Quanto ao seu percurso
biográfico, Hanne nasce em Kongsberg (75 km a oeste
de Oslo) em Abril de 1979. Filha de músicos, canta
desde os três anos e participa em diversos projectos
musicais, do Metal ao Free Jazz, passando pelo Rock.
Em 2003, forma-se em Jazz pela Academia Nacional
de Música em Oslo e, presentemente, reparte o seu
tempo entre Oslo e Berlim. Aos 26 anos é-lhe finalmente reconhecido potencial, com a distribuição internacional de “Little Things”, álbum editado há mais de um
ano na Noruega pela independente Propeller
Recordings. Tanto nas lojas como em concerto, gostávamos de a ver por cá.
www.hannehukkelberg.com
Señor Coconut apresenta 07
texto: Gonçalo Guedes Cardoso
Adam Green
Verde só no nome
«Adam Green foi contratado pela Fest Forward para
combater o défice de confiança, as greves contra o
humor e o fatalismo instalado em Portugal».
Esta citação, ainda que fictícia, serve para ilustrar que
o nova-iorquino de 23 anos foi destinado a vir ao mundo para o encher de esperança e combater os clichés
da sociedade. Com um estilo simples, sem pretensiosismos ou o mainstream bacoco das pop-stars, Adam
Green aparece como o despertador de consciências
para as trivialidades da vida, personificando a ironia na
música.
Green auto-descreve-se como um «tipo meio sério». A
viagem pelo campo do humor leva-nos à década de
90, quando, juntamente com Kimya Dawson, criou um
burburinho na cena underground americana ao fundar
o duo anti-Folk Mouldy Peaches. Adoptando uma
postura mais voraz que lhe valeu uma nova audiência e
maior sofisticação, o jovem Green congelou o sucesso
crescente da banda e lançou o seu primeiro gato a
solo... álbum a solo, “Garfield”, em 2002. No espaço de
três anos teve ainda tempo para editar “Friends of
Mine”, o primeiro álbum gravado num estúdio
profissional e “Gemstone”, ainda em fase de digestão,
através da Rough Trade (a sua editora de sempre).
Adam Green é um daqueles artistas com os quais se
poderá sempre contar para fazer uma música com
qualidade. Ele é uma versão mais sofisticada de
Leonard Cohen e aquilo que Beck já foi. É um cantor
Folk que mistura Indie acústico com Art-Pop, temperado com melodias em forma de Brel, Bacharach ou
Chuck Berry, misturado com a voz inocente, tímida,
melódica e elegante de Neil Hannon (The Divine
Comedy). Capaz de animar os que desesperam em
dias de chuva, todas as suas músicas têm o selo da felicidade. Green tem o dom invejável de escrever sobre
os temas mais horrendos e chatos da forma mais redonda, meiga, cativante e poética. As suas letras são
explícitas, lascivas, irónicas, surrealistas, românticas,
pornográficas, hilariantes e bastante charmosas. Os temas “Carolina” («Carolina, she's from Texas / Red
bricks drop from her vagina») e “Jessica Simpson”
(«Jessica Simpson, you've got it all… wrong / your
fraudulent smile, the way that you faked it the day that
you died») ilustram o estilo perspicaz e o prazer sem
tabus com que encara o jogo das palavras.
Original e subtil, o seu sentido de humor consegue
contaminar até aqueles que colocam elementos decorativos nos automóveis ou escolhem toques polifónicos
como música de eleição.
www.adamgreen.net
08 Señor Coconut apresenta
texto: Mariana Afonso
Broken Social Scene
Caos organizado
Dos KC Accidental surgiram os Broken Social
Scene, um colectivo cujos membros são difíceis de
contar, tal como as colaborações e relações com
outros músicos e compositores. A nova ordem
musical chega-nos de Toronto.
Numa das faixas de “You Forgot It in People” (2002,
pela Arts & Crafts), uma certa voz, conhecida como
Feist, dá um ar da sua graça. “Lover’s Spit” é, provavelmente, uma das canções mais encantadoras dos últimos tempos, em que a versatilidade dos Broken Social
Scene (BSS) se conjuga com a sensualidade e a displicência da cantora canadiana. Será difícil falar dos BSS
como uma banda de um determinado estilo em particular, visto que não se enquadram em qualquer categoria. Embora apenas dez dos seus membros possam
ser considerados o “núcleo duro” do colectivo, entre
guitarristas, saxofonistas, baixistas, teclistas e vocalistas (se bem que a generalidade das canções sejam instrumentais), em palco, os BSS chegam a ser 15 elementos. O projecto nasce em Toronto, quando os
membros errantes dos KC Accidental, que se encontravam regularmente para tocar juntos, começam a formar um conjunto musicalmente mais coeso. A lista de
relações dos BSS não se restringe apenas a Feist, que
chegou mesmo a acompanhá-los em digressão, em
2003. Entre todos os artistas sediados na editora Arts
& Crafts, existe uma colaboração que culmina nos
BSS. Esse sentimento de caos organizado parece fazer
parte do próprio espírito do colectivo, revelando-se em
canções altamente melódicas, na sua maioria instrumentais, e que, em alguns casos, revivem o Rock independente da cena americana de meados dos anos 90.
A sua discografia inclui também os álbuns “Feel Good
Lost” de 2001 e “Beehives” de 2004, estando o colectivo em período de gravações daquele que será o quarto álbum, ainda sem data de lançamento prevista. Até
que tal aconteça, o grupo lança-se numa pequena
tournée pela Europa, que chegou a prever a participação
no Festival Super Bock Super Rock do passado mês de
Maio. Na sua ausência, fica a esperança de passarem
por cá numa eventual promoção do próximo álbum.
www.arts-crafts.ca/bss/
Señor Coconut apresenta 09
texto: Mariana Afonso
The Fiery Furnaces
Exuberância familiar
Para além das comparações com os White Stripes,
os irmãos Eleanor e Matt Friedberger destacam-se
por uma atitude anti-Rock.
Ainda que normalmente sejam considerados um duo, o
facto é que os The Fiery Furnaces incluem mais dois
membros — Andy Knowles e Toshi Yano — mesmo que
a dupla criativa se concentre em Eleanor e Matt. Originários de Oak Park, no Estado de Illinois, os dois
irmãos decidiram partir para Brooklyn no ano de 2000,
altura em que começaram a compor e a actuar como
The Fiery Furnaces. As suas experiências de vida distintas, visto que o seu relacionamento de parentesco
sempre foi distante, juntaram-se às influências de bandas e artistas como Captain Beefheart ou The Velvet
Underground.
A sua criatividade conjunta revela-se em canções quase desconjuntadas, em que a voz de Eleanor Fried-
berger nem sempre acompanha a melodia num sentido
restrito e de uma faixa para outra todas as surpresas
são possíveis. Não é um som previsível, nem tão pouco
feito para agradar a qualquer pessoa, muito embora
surja um culto forte dedicado à banda.
O primeiro álbum, “Gallowsbird´s Bark”, lançado em
2003 pela Rough Trade, é aclamado pela crítica e no
ano seguinte os The Fiery Furnaces lançam “Blueberry
Boat”. Dividindo as opiniões, este trabalho é por um
lado considerado como mais uma peça rara e magistral
da banda e, por outro, um produto sem organização,
sem estrutura.
Entretanto, os irmãos Friedberger continuaram a trabalhar, partindo em tournée com bandas como os Franz
Ferdinand ou os The Shins e lançando as bases para
mais dois álbuns de originais. O seu mais recente trabalho, editado no inicio deste ano, denomina-se “EP” e
junta lados B a algumas novas canções.
www.thefieryfurnaces.com
10 Señor Coconut apresenta
texto: Filipe Pedro
foto: Mia Donovan
Les Georges Leningrad
O esquimó marado
Oriundos de Montreal, Les Georges Leningrad são a
banda canadiana mais significativa do Electro postPunk, sendo muito acarinhados pelos seus invulgares concertos.
Em 2003, editaram o álbum de estreia “Deux Hot Dogs
Moutarde Chou” (como exemplo, ouça-se “Georges
V”, um tema bastante violento) e desde logo causaram
impacto nos EUA, através das actuações na primeira
parte de artistas como Erase Errata, The Gossip, Le
Tigre, The Locust, Magas, Sonic Youth, Trans Am e The
Unicorns. No final de 2004, passam a trio composto
por Poney, Bobo e Mingo e editam o segundo disco de
originais “Sur les traces de Black Eskimo”, claramente
influenciado pelos primeiros concertos da banda.
Temas como “Sponsorships”, “Black Eskimo” ou
“Supa Doopa” resultam bem nas versões de estúdio,
mas atingem a potência máxima ao vivo, onde a mistura de post-Punk e improvisações noisy alcança uma
sonoridade híbrida bastante invulgar. Ao vivo, Les
Georges Leningrad são absolutamente teatrais e inte-
ractivos, e o seu som pode classificar-se como agressivo, distorcido e experimental. A banda resulta da
combinação explosiva da vocalista e teclista Poney P,
que toca e canta de uma forma absolutamente frenética, do uso de samplers, guitarras, segundas vozes e
vestes de super-herói de Mingo L’Indien (trajado a rigor,
como manda o figurino) e ainda da destruição faseada
da bateria pelo mascarado — e rastejante, que não raras vezes perturba a actuação dos seus companheiros
de palco — Bobo Boutin, exímio percussionista e vocalista secundário. Tal como nas actuações dos Atari
Teenage Riot, Fischerspooner, Peaches ou Chicks On
Speed, o público sente a vibração e a intensidade que
transpira do palco, respondendo na mesma moeda, em
permanente ebulição e com a adrenalina elevada ao
expoente máximo. Mesmo quando tal é transmitido via
guerras de água e trocas de outros mimos do género
entre a banda e a audiência. Em plena digressão
europeia, Les Georges Leningrad apresentam-se ao
vivo na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, no próximo dia
23 de Julho. Certamente um espectáculo a não perder.
www.lesgeorgesleningrad.org
Señor Coconut apresenta
11.
texto: Cátia Monteiro
13.º Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde
Contar até treze em japonês
Vila do Conde
2 a 10 Jul | www.curtasmetragens.pt/festival
Este é um festival em que a criatividade aparece
concentrada em sequências de fotogramas com
duração limitada. A curta-metragem começa a ter
junto do público, o reconhecimento que os profissionais do sector lhe conferem desde sempre. E o
facto de ser particularmente atreita à experimentação faz dela uma mais-valia para quem procura nos
festivais uma experiência diferente e audaciosa.
No decorrer de 13 anos, aquele que era um género
com exposição muito reduzida em Portugal alcançou
um patamar de divulgação bastante satisfatório. Um indicador inequívoco dessa tendência é a crescente importância que festivais generalistas dão à curta-metragem, inclusive através da atribuição de prémios, cada
vez mais frequente. Apesar de tudo, as curtas-metragens, pela sua especificidade, continuam a encontrar
alguma resistência à entrada no circuito comercial, pelo
que as mostras, ciclos e festivais de cinema continuam
a desempenhar o papel de expositor por excelência.
Este aspecto assume particular relevância no caso português, que, perante uma reduzida produção cinematográfica, quando comparado com os seus pares europeus, pode encontrar na curta-metragem uma alternativa criativa para autores que não conseguem reunir os
12 Forward Cinema
meios necessários à concretização de filmes com orçamentos mais elevados. Assim, por um lado, uma maior
produção e aceitação da curta-metragem conduzem à
sua crescente presença nos festivais generalistas, que,
no caso das produções nacionais, chegam a alcançar
um número maior de exibições do que as longas-metragens portuguesas — como aconteceu no último
Indie Lisboa, com dez curtas em cartaz e apenas uma
longa-metragem. Por outro lado, um festival especialmente centrado neste género procura complementá-lo
com formas alternativas de abordagem da imagem em
movimento.
Um clube empreededor
O Curtas é um dos habituais casos em que um cineclube esteve na origem de um projecto mais ousado. Um
grupo de amigos já com alguma experiência de trabalho conjunto apercebeu-se do lapso em Portugal no
que dizia respeito a mostras de curtas-metragens. Assim surgiu o Festival de Vila do Conde, que, apesar de
ter por objecto central a curta-metragem, aborda também modelos complementares de expressão artística.
Desde a primeira edição e de modo cada vez mais
abrangente ao longo dos anos, entram no programa
longas-metragens e instalações vídeo, entre outras formas de manipulação da imagem. Esta confluência de
suportes explica-se através da filosofia adoptada pelos
organizadores do festival, que assumem a curta-metragem como, segundo Dario Oliveira, «um universo que
se interliga e tem uma vida conjunta com as longas,
com os documentários, com os vídeos, com tudo o
que se quiser fazer».
O Festival de Curtas de Vila do Conde alcançou na última edição os 18 mil visitantes para o conjunto dos
eventos, com uma afluência de 11 a 12 mil pessoas às
sessões de cinema. O patamar a atingir no futuro ronda
os 20 mil visitantes, um número que confirmaria a maturidade do festival. Quem visita o Curtas são profissionais do sector e um público aficionado, maioritariamente de origem nacional. No âmbito internacional
conseguiu alcançar já uma posição de referência, o
que se comprova pelos diversos convites para integrar
júris e organizar ciclos em festivais de outros países.
A próxima edição, a 13.ª, promete trazer ainda mais novidades ao cartaz, já por hábito bem recheado. Num
programa em que as secções de competição nacional e
internacional ocupam o lugar central, como em qualquer
festival, há oportunidade para divagações alternativas.
Após as sessões, a Solar, uma galeria de arte cinema-
tográfica com programação de cariz regular, reveste-se
de um brilho especial durante o início de Julho e adquire um carácter mais lunar com diversas actividades lúdicas pela noite dentro.
O ano do Japão
A emergência do cinema japonês encontra o seu reflexo no Curtas, num programa transversal dedicado ao
Japão. O programa do “Made in Japan” assenta em retrospectivas de três autores japoneses — Ishii
Katsuhito, Sei Hishikawa e Ishii Sogo — bem como
num programa de curtas recentemente lançadas pela
distribuidora nipónica Open Art, constituído por
videoclips de bandas japonesas. No “Lounge – Made in
Japan” vão ser exibidos pequenos filmes, nomeadamente de género publicitário, que, nas palavras de
Dario, são «coisas mais comerciais, menos artísticas,
que correspondem a um território muito importante no
audiovisual japonês que joga com a cultura Pop, em
que tudo é comércio, em que tudo é vendável».
Se o VJing se tem afirmado cada vez mais no âmbito
da manipulação de imagem em movimento, trilhando
caminho no exemplo dado pelo DJ no campo dos
sons, o Curtas não fica alheado dessa tendência.
Forward Cinema 13
.
Um filme é entregue a um artista da área do vídeo, que
faz uma nova montagem dessa obra em que a música
e as imagens confluem para a obtenção de novos objectos audiovisuais. Esta é a fórmula patente na performance dos músicos e videastas Troublemakers, com o
polémico “Zéro de Conduite” a ser alvo de remontagem.
Num plano semelhante, o filme mudo inglês Picadilly
benificiará de uma banda sonora de excelência, ao
som do melodrama sumptuoso e ardente do Sosho
Quintet, nas vozes de Kalaf e Melo D.
Na secção “Take One!” é dada a oportunidade a alunos
universitários da área do audiovisual de apresentarem
trabalhos realizados no âmbito do curso. Como forma
de complementar esta componente académica serão
leccionados workshops e masterclasses. As matérias
abrangidas pelos workshops variam entre o cinema em
Super 8 e a captação de som.
Outro domínio do Curtas recebeu o nome de “Work in
14 Forward Cinema
Progress”, uma vez que assenta numa reflexão sobre
o festival pelos vários autores a ele ligados, sob
diversas formas de expressão, quer no âmbito da curta
e da longa-metragem, quer na forma de proto-filmes e
instalações-vídeo, entre outros suportes.
Para quem esta edição do Curtas de Vila do Conde,
com sabor a Japão, se apresenta especialmente convidativa, há a possibilidade de se inscrever como
participante, através do site oficial ou por fax. O preço
dos passes varia entre os 45 e os 65 euros, em que o
valor mais elevado inclui o acesso aos filmes concerto
(para além das restantes sessões), e a um desconto de
20% para estudantes.
Em pleno Verão, com as praias cheias como centros
comerciais ao domingo e as cidades debaixo de um
calor insuportável, Vila do Conde pode ser a alternativa
para outras cenas e outros filmes.
texto: Cátia Monteiro
Avanca’05
Avanca cada vez mais
Avanca, Estarreja
27 a 31 Jul | www.avanca.com
A nona edição dos encontros Internacionais de cinema, televisão, vídeo e multimédia, assistiu este
ano a um acréscimo no número de inscrições, recebendo mais de um milhar de obras oriundas dos
cinco continentes.
França, Espanha e Alemanha figuram no topo da lista
com mais candidatos e, pela primeira vez no festival,
surgem obras de países como a Arménia, o Gana ou o
Paquistão, contribuindo para uma variedade temática e
cultural crescentes. No campo das obras nacionais,
perto de 80 trabalhos vão a concurso. O Avanca’05
abrange vários formatos dentro do audiovisual e do
cinema, entre curtas e longasmetragens, documentários televisivos e web movies, sendo
que o programa é constituído em
exclusivo por obras inéditas em
Portugal. Para além das exibições, o
visitante do festival vai poder também
participar em workshops com a presença de
convidados de outros países. A organização está a
cargo do Cineclube de Avanca em colaboração com a
Câmara Municipal de Estarreja e o evento multiplica-se
por vários locais, sempre dentro da vila.
texto: Cátia Monteiro
6.ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira
1.ª Mostra de Cinema Não Europeu de Tavira
Viagem intercontinental
Cineclube de Tavira, Tavira
15 a 26 Jul e 5 a 14 Ago | cineclubetavira.bravepages.com
No regresso da Mostra de Cinema Europeu a Tavira,
alarga-se o âmbito das sessões a outras nacionalidades, com o arranque da primeira Mostra de Cinema Não-Europeu. Uma selecção de filmes que, não
sendo inéditos, primam pela qualidade e variedade.
Apesar de restrito a pólos isolados, o cineclubismo
persiste e dá provas de dinamismo. A 6.ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira inclui o filme “A Melhor Juventude” de Marco Tullio Giordana, uma obra de seis horas
que atravessa a Itália dos anos 60 até à viragem do século, pelos olhos de uma família. No dia 18 de Julho, o
ambiente único dos Claustros do Convento do Carmo
recebe a visita de Neele Vollmar, realizadora de “Meine
Eltern” e no dia 24 o filme de culto de Stanley Kubrick,
“Laranja Mecânica”, sucede à exibição da curta
portuguesa “I’ll See You In My Dreams”, que conta com
a presença do produtor e argumentista Filipe Melo.
Na viagem intercontinental pela sétima arte dá-se o regresso de Chaplin, em “O Grande Ditador”, enquanto
Michael Moore tenta explicar a obsessão norte-americana por armas de fogo em “Bowling for Columbine”.
Um dos filmes brasileiros mais aclamados de sempre,
“A Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, entra
igualmente na vertente não-europeia da mostra, que
decorre entre 5 e 14 de Agosto. Este é apenas um excerto do cartaz, que apresenta outras propostas de vários tempos e lugares, entre filmes recentemente estreados e clássicos de culto, sempre às 21h30.
Forward Cinema 15
.
texto: Luís P. Oeiras Fernandes
foto: Patrick Argirakis
Ligne de fuite
22.º Festival de Almada
A cidade do teatro
Almada e Lisboa
4 a 18 Jul | www.ctalmada.pt
Sem pó nem noites mal dormidas, mas com iguais
doses de drama e público jovem, também o teatro
tem o seu festival de Verão.
O 22.º Festival de Almada apresenta espectáculos de
sete países diferentes e dá a conhecer as principais
companhias do nosso país. Mas a grande estrela do
maior festival de teatro em Portugal é, este ano, o novo
Teatro Municipal de Almada, equipamento construído
de raiz para abrigar a companhia da cidade.
Com duas salas de espectáculo e um restaurante que à
noite se transforma em café-concerto, o teatro tem ainda outra sala só para ensaios, elemento raro, senão inexistente no nosso país. Para além de uma livraria, há a
originalidade de um espaço onde os espectadores poderão deixar as suas crianças durante os espectáculos.
O palco da sala principal está entre os cinco maiores
do país, tem fosso para orquestra e pode receber óperas ou qualquer grande produção. As reduzidas dimensões da sala em relação ao palco permitem as melhores condições visuais e acústicas para teatro, sem ne-
16 Forward Teatro
cessidade de uso de microfones.
Entre as 12 companhias estrangeiras participantes
estará a de Philippe Genty, autor do espectáculo do
Pavilhão da Utopia (agora Atlântico) durante a Expo 98.
Este autor, o mais famoso criador de teatro de marionetas do mundo, traz-nos “Ligne de fuite” (dias 9, 10 e 11).
O prestigiado Odeón-Théâtre de l’Europe, um dos cinco teatros nacionais de França, apresenta “La rose et la
hache” (dias 12, 13 e 14), adaptação da obra “Ricardo
III” pelo italiano Carmelo Bene. Por seu turno, a versão
Shakespearana desta tragédia pode ser vista na encenação do Centro Dramático Galego, verdadeiro teatro
nacional da Galiza (dia 11). Igualmente de Espanha, sobe ao palco “Auto de los cuatro tiempos” de Gil Vicente
(dias 11 e 12), encenado por Ana Zamora, e “11MVozes contra a barbárie” (dia 10), sobre os atentados
de 11 de Março em Madrid.
Do Canadá, estreando a sua digressão pela Europa,
chega “Nous étions assis sur le rivage du monde” (dias
7 e 8), encenação de Denis Marleau sobre o texto de
José Pliya. Itália estará representada por Ascanio
Celestini, que encena e interpreta o seu texto “Rádio
Clandestina” (dias 12, 13 e 14).
Entre a produção nacional, destaca-se o ciclo dos Artistas Unidos dedicado a Jean-Luc Lagarce. Este ciclo
é o pretexto para assistir à estreia de “Music-Hall” (dias
8 a 12 e 14 a 17) ou a oportunidade para rever “Tão só
o fim do Mundo” (dias 12 e 13) e “As regras da arte de
bem viver na sociedade moderna” (dias 5 a 10 e 15, 16
e 17). O encenador da obra em estreia, François
Berreur, o crítico Jean Pierre Han, Jorge Silva Melo e outros estarão presentes num colóquio dedicado ao autor.
Também a Cornucópia, o Teatro dos Aloés, o Teatro
Meridional, a Comuna e outros grupos se associam a
mais uma edição da mostra teatral. Os espectáculos
decorrem em 13 lugares diferentes, em Almada e
Lisboa, incluindo o CCB, a Trindade e a Culturgest.
Passes a 65 euros e a 35 euros para os sub-25.
Outros destaques:
“Os guardas do Museu de Bagdad”,
Teatro dos Aloés, dia 9
“La folie de Salim”,
Abdelkader Alloula, Jamil Benhamamouch, dia 14
“A cabra, ou Quem é Sílvia?”,
Edward Albee, Comuna, dia 17
“A montanha da água lilás”,
Pepetela, Meridional, dias 8 e 9
“Num bairro moderno”,
Cesário Verde, C. T. de Almada, dia 18
“Voluminaires”,
Ale Hop Teatro, dia 15
“Agatha Christie”,
Teatro Praga, dias 5 a 8
“A cadeira”,
Edward Bond, Cornucópia, dias 5 a 10 e 12 a 17
texto: Cátia Monteiro
foto: Robin Ottersen
O calor do Jazz
Neste verão existe um trio de pretextos para ver e
ouvir Jazz na Grande Lisboa. Segue o programa
estival.
Local
data | site
24.º Estoril Jazz
Cascais
1 a 10 Jul | www.projazz.pt
Quase a celebrar as bodas de prata, o Estoril Jazz propõe-nos no Parque Palmela, em Cascais, um cartaz de
inspiração norte-americana, com destaque para Von
Freeman e Roy Haynes. O primeiro, chega-nos de
Chicago e, juntamente com o seu quarteto, abre as
festividades no primeiro dia de Julho. O dia seguinte
recebe o trio de Joey De Francesco, que partilha o
mesmo palco com Houston Person. No dia três, o
quarteto de Peter Cincotti mostra o que é fazer PopJazz de qualidade.
A 8 de Julho destaca-se o Jazz at Palmela Park com a
recém-constituída Charlie Parker Legacy Band e, num
contexto diferente, o baterista de renome Roy Haynes
chega no dia 9 a Portugal com “Fountain of Youth” na
bagagem.
No fecho do festival, sobe ao palco a orquestra de
Count Basie, fazendo perdurar a memória de uma das
lendas mais respeitadas do Swing. Em paralelo, a
pianista Lynne Arriale lança-se numa mini-digressão
por várias salas da Grande Lisboa, de 4 a 7 de Julho,
que incluem o CCB, o Centro Cultural de Cascais, o
Casino Estoril e o Hot Club de Portugal, respectivamente.
2.º Cool Jazz Fest
Cascais, Mafra, Oeiras
10 a 30 Jul | www.cooljazzfest.com
Petiz nas andanças do Jazz e aberto a outros géneros
musicais, o Cool Jazz Fest apresenta-se disperso por
Oeiras, Mafra e Cascais, brindando o público com nomes bem sonantes de vários quadrantes sonoros.
Os bem amados Us3 (dia 10), José Feliciano (dia 12) e
Thievery Corporation (dia 13) estão agendados para a
Casa da Pesca em Oeiras, enquanto o Jardim do Cerco em Mafra acolhe a voz quente e familiar da brasileira
Jaga Jazzist
18 Forward Música
Maria Bethânia (dia 16). A Cidadela de Cascais
converte-se no terceiro palco do Cool Jazz Fest,
recebendo as actuações de Mariza (dia 26), Jamie
Cullum (dia 27) e Marianne Faithfull (dia 30).
Jazz em Agosto
CAM - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
5 a 13 Ago | www.camjap.gulbenkian.org
A mostra de Jazz da Gulbenkian é este ano mais alargada, com 17 eventos a decorrerem no anfiteatro ao ar
livre e no auditório 2 da fundação. Sob o céu estrelado,
actua no dia 5 de Agosto a Globe Unity Orchestra, seguida, no dia 6, pelo Gebhard Ullman’s Ta Lam Zehn e
pelo quinteto norueguês Atomic, no dia 7. Três dias
mais tarde, chegam os Sound Of Choice acompanhados pelo Ixi String Quartet, seguindo-se o V16 Project
de Jerry Granelli no dia 11. A noite de 12 dá lugar aos
noruegueses Jaga Jazzist, enquanto o dia 13 encerra
com os Fast’n’bulbous de Phillip Johnston e Gary Lucas,
colocando Captain Beefheart na via da inspiração.
O auditório 2 da Gulbenkian alberga Jean-Marc Foltz e
Bruno Chevillon, que chegam da França para actuarem
no dia 6, enquanto algumas horas mais tarde Alexander
Von Schlippenbach, Evan Parker e Paul Lovens ocupam o mesmo espaço. No dia 7 é a vez de Jean Luc
Cappozo, Axel Dörner e Herb Robertson subirem ao
palco, seguidos por Irène Schweizer e Pierre Favre,
oriundos da Suíça. Quatro dias depois, o Ensemble
Raum português ocupa o auditório, precedendo a actuação de Mark Dresser, Denman Maroney e Michael
Sarin. No dia 12, Jorge Lima Barreto apresenta os
“Sintagmas do Jazz”, enquanto Hans Koch, Martin
Schütz e Fredy Studer trazem da Suíça um som que
envereda pela Electrónica e pela improvisação acústica. A encerrar, no dia 13, estará Erik Friedlander a solo
no violoncelo, seguido pelo trio Mephista, com senhoras de três continentes diferentes (Europa, América do
Norte e Ásia). No conjunto, as actuações apresentadas
pela Gulbenkian primam pela variedade de estilos, formatos e origens culturais.
texto: Luís Santos Batista
40.º Festival de Sintra
Música e dança
Sintra
10 Jun a 30 Jul | www.cm-sintra.pt
O Município de Sintra recebe este ano o seu 40.º
festival de música e dança. Esta iniciativa, oferece
uma interessante mostra de espectáculos inteiramente dedicados à musica clássica, à dança e à expressão corporal.
Durante os meses de Junho e Julho, será possível assistir a uma variedade de espectáculos divididos entre
o Centro Cultural Olga Cadaval, o Palácio Nacional de
Queluz, o Palácio Nacional de Sintra, a Quinta da
Piedade, os Jardins do Palácio de Seteais, o Parque de
Monserrate, a Quinta da Regaleira, o Palácio Nacional
da Pena e o Penha Longa Hotel & Golf Resort.
Quanto à programação, inscreve-se nos moldes habituais do formato seguido desde 2003, ano em que
passou a integrar com regularidade espectáculos de
música e dança. Na música, as actuações estão a
cargo da Orquestra Gulbenkian, dos solistas Ann
Murray e Graham Johnson, do trio de clarinete, violoncelo e piano composto por Sabine Meyer, Heinrich
Schiff e Leif Ove Andsnes respectivamente, do quarteto de cordas Tacet e de um rol invejável de pianistas
que inclui Nella Maissa, Sequeira Costa, Jean-Yves
Thibaudet, Eleonora Karpoukhova, Dong-Hyek Lim,
Alexander Mogilevsky, Alexander Gurning, Sergio
Tiempo e Mauricio Vallina.
Na dança reconhecem-se as companhias Scottish
Dance Theatre, Compagnie Linga, Compañia Nacional
de Danza 1 (C.N.D.1), Cía Dançem Ester Carrasco,
Ballet du Grand Théâtre de Genève e Compagnia
Aterballetto.
Forward Música 19 .
texto: Gonçalo Guedes Cardoso e Mariana Afonso
Hype@Tejo
Hype muda-se para Lisboa
Doca Pesca, Lisboa
9 Jul | www.musicanocoracao.pt
Após quatro anos consecutivos na Herdade do
Cabeço da Flauta, perto de Sesimbra, o festival
Hype@Meco ruma este ano a Lisboa, atraca na
Doca Pesca, próxima da Torre de Belém, e adopta a
designação de Hype@Tejo.
Chemical Brothers
Esta foi a fórmula encontrada pela Música no Coração,
a promotora do evento, para que o festival se mantenha nos moldes dos anos anteriores e ao mesmo
tempo abarque mais público e acumule maiores
receitas. O motivo mais forte desta metamorfose, ficou
a dever-se aos difíceis acessos e à ausência de
transportes públicos para o Meco. Assim, a ideia surgiu
naturalmente, juntando-se o útil ao agradável: mantémse o conceito do festival, um dos mais populares na
área da música electrónica desde a sua primeira edição
e torna-se mais simples e seguro o acesso do público
ao evento. Para a 5.ª edição, os nomes são condicentes com o hype. Neles incluem-se os regressados
DJs britânicos Chemical Brothers, cuja actuação será
antecedida pelos londrinos Spektrum, pelo brasileiro
DJ Dolores e Aparelhagem e pelos portugueses The
Gift e Blasted Mechanism na Doca Sound. Previsto para o Ice Warehouse está um dj set do consagrado duo
austríaco Kruder & Dorfmeister, que se farão acompanhar ao vivo por Rodney Hunter e Urbs, da G-Stone
Recordings. A animação continuará na Lota Love com
um dj set pelos Dezperados e a responsabilidade de
terminar 11 horas contínuas de música, com vista para
o rio Tejo, estará a cargo dos DJs da Antena 3 e da
Rádio Oxigénio. Os ingressos têm o preço de 30 euros
e no dia 9 as portas abrem-se às 20h para que os
espectáculos comecem uma hora depois.
texto: Luís Santos Batista
6.º Festival do Tejo
O Tejo abre-se ao mundo
Quinta da Marquesa, Azambuja
22 a 24 Jul | www.festivaltejo.com
O Festival do Tejo aparece este ano com imagem e
local renovados. Contrariamente às edições anteriores, a organização abre portas às bandas estrangeiras, deixando de parte o conceito 100% nacional
e desloca-se para a Quinta da Marquesa, na Azambuja, oferecendo melhores condições.
20 Forward Música
Ainda que os nomes propostos sejam recorrentes no
panorama festivaleiro nacional, a qualidade dos mesmos revela-se essencial para que este festival continue
a mostrar que existe. Neste sentido, estão já confirmadas algumas figuras que jogam na primeira divisão dos
campeonatos em que se inserem. São eles os Asian
texto: Pedro Moreira
2.º Festival Benquerença
Um ano depois
Penamacor, Castelo Branco
22 a 24 Jul | www.benquerenca.com
A segunda edição do Festival Benquerença volta a
contar com um cartaz orientado para as sonoridades mais pesadas. A grande novidade é a inclusão de uma banda britânica no evento: os veteranos
Ten Years After.
A primeira noite do festival começa com o Hard Rock
progressivo dos Alluminia. A banda de Torres Vedras irá
apresentar a sua primeira maqueta, gravada no
passado mês de Fevereiro, que conta com o single
“After Hate”. Seguir-se-ão os sintrenses Karma que
levam à praia fluvial de Benquerença um Rock em
português, através do trabalho “Renascer”. Na mesma
noite, sobem ainda ao palco do festival nortenho
os Twenty Inch Burial, uma das grandes promessas do
Hardcore nacional, que acabam de lançar o segundo
álbum “How Much Will We Laugh And Smile”.
A fechar a noite inaugural do evento estarão os
experientes Primitive Reason. Será uma oportunidade
para percorrer os cinco álbuns da banda, com destaque para o novo “Pictures In The Wall”, em que a fusão
do imenso caldeirão de sonoridades incluídas ganha
uma nova dimensão.
Para o início do segundo dia do festival, prevê-se mais
Hardcore com os lisboetas For The Glory e os
albicastrenses Outstanding a prometerem concertos
Dub Foundation, Transglobal Underground, Moonspell,
Blasted Mechanism, Terrakota e The Temple no palco
principal.
O palco secundário estará, por sua vez destinado aos
Ölga, Melo D e Bunnyranch no dia 22 e aos Vicious
Five, Micro Audio Waves e DJ Nelassassin a 23. Para o
último dia, esperam-se as presenças dos vencedores
do último concurso de novas bandas da Azambuja, os
Along Among Thousands, juntamente com os Old
Jerusalem e os Tenaz.
explosivos. Sem precisarem de apresentações, os
Fonzie irão mostrar que em Lisboa também se faz
Punk.
Quarenta anos de carreira com milhões de unidades
vendidas e uma participação no mítico Woodstock, em
1969, são o aperitivo para a grande atracção da noite:
a banda inglesa Ten Years After. Com o jovem Joe
Gooch em substituição de Alvin Lee, este será um
concerto nostálgico, mas que contará também com
alguns temas do novo álbum “Now”.
A exemplo dos dias anteriores, o último dia do Festival
Benquerença começará com as sonoridades pesadas
dos G-Ward e dos My Cubic Emotion. As boas
vibrações tomarão conta do público assim que os
Mercado Negro pisarem o palco, alterando radicalmente o tom do festival. “Mercado Negro”, o primeiro e
único álbum do colectivo de Messias, é o responsável
por trazer a Jamaica a Penamacor.
A fechar o alinhamento estará o Funk dos Squeeze
Theeze Pleeze. A banda portuguesa regressa aos
palcos para apresentar o novo registo de originais “Flat
Line” e espera repetir o grande sucesso alcançado
com “Open”, que incluía o êxito “Ode to a Child”.
Transglobal Underground
Forward Música 21 .
texto: Hugo Barros
7.º Festival Músicas do Mundo
Sines com espírito de aventura
Castelo Medieval, Capela da Mesericórdia, Avenida Vasco da Gama, Centro das Artes, Sines
28 a 30 Jul | www.fmm.com.pt
Kila
Hermeto Pascoal
Alternativo, ou já nem tanto, o Festival Músicas do
Mundo impõe-se cada vez mais pela sua qualidade
e regressa a Sines para três dias de globalização
cultural.
Evento multidisciplinar e para todos, do aventureiro à
família é o conceito base do Festival Músicas do Mundo (FMM), organizado pela Câmara Municipal de Sines.
A cidade acolhe um dos poucos festivais de música em
Portugal que vai muito além dos concertos, apostando
nas exposições, no cinema documental ou em palestras dos músicos participantes. Tudo isto é possível
graças à colaboração com o Centro de Artes, espaço
onde decorrem as actividades multidisciplinares.
O FMM é um caso raro de harmoniosa convivência entre qualidade e popularidade, tendo trazido a Sines, ao
longo dos últimos seis anos, mais de 75 mil pessoas. A
mediatização do festival nasceu de presenças como as
de Femi Kuti, Taraf de Haidouks, Warsaw Village Band,
22 Forward Música
Hedningarna, Kronos Quartet, Tom Zé, Simentera,
Mahotella Queens, Bal Tribal, The Skatalites, Black
Uhuru feat. Sly & Robbie, Clã, Adufe, Brigada Victor
Jara, Cristina Branco, Danças Ocultas e o imparável
David Murray. Com concertos em espaços históricos
como o Castelo e a Capela da Misericórdia, a
valorização do património é outra mais valia do festival.
Para este ano a organização anuncia o programa mais
extenso de sempre. Quinta-feira, dia 28, actua o grupo
argentino 34 Puñaladas, seguido por um projecto português em estreia absoluta que reúne Cristina Branco,
a Brigada Victor Jara e Segue-me à Capela. A festa
continua noite fora com os bósnios Ljiljana Buttler &
Mostar Sevdah Reunion, após os quais se ouvirá a dupla maliana Amadou & Mariam e os romenos Mahala
Raï Banda.
Sexta-feira, dia 29, a música em Sines começa com a
portuguesa Lula Pena e prossegue com Marc Ribot &
The Young Philadelphians (dos EUA), Astrid Hadad (do
México), o brasileiro Hermeto Pascoal e Ba Cissoko (da
Guiné-Conakri).
A última noite, sábado, 30, abre com o quarteto japonês Samurai 4 e continua com os marroquinos The
Master Musicians of Jajouka feat. Bachir Attar, o
projecto KTU (com o finlandês Kimmo Pohjonen), os
irlandeses Kíla e os congoleses Konono n.º 1.
texto: Gonçalo Guedes Cardoso e Luís Santos Batista
foto: David Goldman
15.º Festival Vilar de Mouros
Rock em tempo de vacas magras
Vilar de Mouros, Caminha
29 a 31 Jul | www.vilardemouros.com
O mais mediático de todos os festivais portugueses
parte este ano para a sua 15.ª edição e conta com
uma novidade que é sinónimo da sua relevância e
utilidade para as comunidades local e musical.
Falamos da inauguração do Museu do Festival, que
ficará localizado na praça principal desta aldeia
minhota. O espólio inclui fotografias, vídeos, recortes
de jornal, cordas de guitarra, palhetas, peles de bateria,
baquetas, cartazes e bilhetes, a juntar às obras de arte
pintadas pelos artistas nos seus camarins desde 1999.
As contribuições do público conferem o direito a nome
e o estatuto de mecenas junto do elemento cedido e a
organização prevê o lançamento do cartão de amigos
do museu, com benefícios associados.
Já dentro do recinto do festival, e para além do palco
principal e de um palco secundário, existirão os espaços habituais de restauração variada, uma discoteca,
um cinema, uma tenda de artesanato, merchandising e
várias caixas multibanco.
A novidade ao nível das infra-estruturas assenta na
instalação de urinóis para o público masculino, de
casas de banho em contentores com limpeza regular e
do aumento dos parques de estacionamento para 22.
A segurança nos parques de campismo será
igualmente reforçada e a polícia deverá ser capaz de
conter os arrastões.
Com a primeira edição a ter lugar no longínquo dia 8 de
Agosto de 1971, este festival já viu passar pelo recinto
nomes como Elton John, U2, Stranglers, Echo &
Bunnymen, Stone Roses, Young Gods, Tindersticks,
Iron Maiden ou Skunk Anansie. Também os
portugueses marcaram presença desde o primeiro
momento: a fadista Amália Rodrigues, o histórico duo
Ouro Negro, a banda da Guarda Nacional Republicana,
o falecido Carlos Paredes, os extintos Já Fumega e
Heróis do Mar, os Xutos & Pontapés e os Madredeus.
Para esta edição reconhecem-se o carismático Peter
Murphy, Joe Cocker, Joss Stone, The Charlatans,
Faithless, Blues Explosion, Nightwish, Within
Temptation, Jesus Jones e Porcepine Tree. Garantido
está também o regresso do ex-Led Zeppelin, Robert
Plant and the Strange Sensations.
Em tempo de vacas magras, fica a dúvida, sobre se os
nomes escolhidos, a novidade do
museu, os ares rejuvenescedores e
tranquilos do Minho e o reforço
das estruturas será suficiente para
atrair público em número suficiente.
Para quem tiver capacidade de
compra, os bilhetes estarão à venda
nos locais habituais ao preço de 70 euros
para os quatro dias e 35 euros para cada dia.
Joss Stone
Forward Música 23
texto: Ana Baptista
The (International) Noise Conspirary
Basement Jaxx
9.º Festival Sudoeste
61 razões para ir
Herdade da Casa Branca, Zambujeira do Mar
4 a 7 Ago | www.musicanocoracao.pt
O Sudoeste é o maior festival de música português.
O maior em infra-estruturas, área e pessoas presentes. O parque de campismo, de 12 hectares, já
chegou a albergar 20 mil campistas e a maior enchente de público foi em 2000, ano em que no último dia se atingiu o recorde de 40 mil pessoas.
Por lá já passaram artistas consagrados como Beck,
Blur, Chemical Brothers, Franz Ferdinand, Kraftwerk,
Marilyn Manson, Massive Attack, Peter Murphy, PJ
Harvey, Portishead, Placebo, The Cure, Zero 7… a lista
é imensa.
A aventura começou em 1997, ano em que as infra-estruturas existentes não foram, de longe, suficientes para o elevado número de pessoas. Sem água para banhos, sem iluminação no parque de campismo e com
água e comida a cerca de seis km a pé, o Sudoeste parecia estar condenado a não passar da primeira edição.
Mas, a par de Vilar de Mouros, o primeiro grande festival português, também o evento alentejano vincou pelo espírito aventureiro, pela cultura do desenrasca e
pela certeza de se estar a viver momentos irrepetíveis.
O primeiro Sudoeste foi como um pequeno Woodstock
para a geração que nos anos 90 tinha entre 14 e 25
anos, como Vilar de Mouros o foi para a geração que
nos anos 80 tinha a mesma idade.
Desde então muita coisa mudou. O festival cresceu cada vez mais, melhorou a todos os níveis — oferta, organização, infra-estruturas, condições, transportes,
etc. — e tornou-se numa instituição. Aliás, segundo Álvaro Covões, da Música no Coração, entidade organi-
24 Forward Música
zadora, a música é a terceira razão pela qual as pessoas vão ao Sudoeste. A primeira é o facto de ser «O»
festival Sudoeste. A segunda é a praia, ou melhor, as
praias: Zambujeira do Mar, Carvalhal, Vila Nova de Mil
Fontes, Almograve, Odeceixe, enfim, toda a Costa
Vicentina.
Foi na sequência deste pensamento que a organização
decidiu fazer uma série de alterações ao programa do
festival. Além de já não se chamar Optimus Sudoeste,
uma vez que é a TMN o patrocinador principal do evento, Álvaro Covões quer que a música comece a ter um
papel ainda mais relevante. Assim, este ano o Sudoeste arranca oficialmente a 4 de Agosto, não com a habitual recepção ao campista, mas com um dia de concertos igual aos outros. Para este dia estão já confirmados, não uma banda, mas os Gato Fedorento.
Depois a grande novidade é que existirão três palcos a
funcionar em simultâneo — o palco principal (TMN), o
palco Planeta Sudoeste e o palco Positive Vibes. O último dos três é dedicado ao Reggae e o Planeta Sudoeste terá bandas portuguesas à tarde, ficando a noite por conta dos mais variados artistas, desde os cantautores à Electrónica. «Por isso é que se chama Planeta Sudoeste. É mesmo uma viagem pelo mundo da
música», refere Álvaro Covões. Por sua vez o palco
principal terá entre quatro a cinco bandas por noite, cujo arranque se prevê para as 20h.
Já confirmados (pelo menos, até ao fecho desta edição) estão Emir Kusturica & No Smoking Orchestra e
Sean Paul (dia 4); Oasis, Kasabian, Devendra Banhart,
LCD Soundsystem, Groundation, K-Os, Skank, e Da
foto: Steve Gullick (Devendra Banhart)
Devendra Banhart
Weasel (dia 5); Basement Jaxx, Josh Rouse, Underworld, Seed, Fat Boy Slim, e Ladytron (dia 6); The
(International) Noise Conspiracy, Morgan Heritage,
Athlete, Doves e The Kills (dia 7). Ainda sem data avançada, mas já confirmados, estão os Rinôçérôse e Patrice. Estas bandas estarão espalhadas pelos três palcos
e não confinadas ao palco principal, uma ideia que se
assemelha muito a um festival internacional, mas que
para Álvaro Covões é uma «evolução». O mesmo
The Kills
acrescenta «Não queremos ter 30 ou 40 mil pessoas
todas em frente a um palco». Assim, de acordo com
este responsável, os (Internacional) Noise Conspiracy e
os The Kills deverão actuar no palco Planeta Sudoeste,
enquanto os Oasis, Fat Boy Slim, Da Weasel, Doves e
Kusturica serão algumas das presenças asseguradas
no palco principal. Contas feitas, durante os quatro
dias do Festival Sudoeste 2005 vão actuar 61 bandas.
Sim, 61 bandas! E as praias estão mesmo ali ao lado…
texto: Filipa Matos
Andanças
Por estas andanças
Carvalhais, S. Pedro do Sul
1 a 7 Ago | www.pedexumbo.com/site2005/andancas1.htm
Ir ao Andanças é para muitos um ritual anual. É que
este festival não é só música, não é só dança, não
é só comércio. É um ponto de encontro onde as
pessoas e a natureza se harmonizam, com o pretexto de celebrar a música e a dança tradicional.
Num local paradisíaco, este festival de dança e música
popular de todo o mundo, tem por base a cultura participativa. As pessoas convivem, experimentam,
aprendem, jogam, constroem brinquedos e instrumentos musicais tradicionais, passeiam na serra…
Aqui, o espectador não é um mero elemento passivo,
mas sim parte integrante do festival: participa nos inúmeros workshops de dança da parte da manhã e da
tarde (que vão desde as danças orientais até às tradi-
cionais portuguesas ou africanas) e anima os bailes e
os concertos durante a noite. Os músicos e bailadores
vêm de toda a Europa para a festa. Já fizeram parte do
cartaz os Dazkarieh, as Tucanas, ou os Dobranoch.
Os serviços do evento são assegurados exclusivamente por voluntários, o que faz deste um festival diferente
de todos os outros. O Andanças possui área de campismo (geral e calmo) e cantina (vegetariana e não vegetariana).
Há descontos para jovens até aos 25 anos, membros
das associações colaboradoras e respectivas famílias.
Os bilhetes variam entre os 6 euros por noite, os 23 euros por dia e 90 euros pela totalidade dos sete dias de
Andanças. Um evento único no panorama dos festivais
nacionais.
Forward Música 25 .
texto: Pedro Moreira
13.º Festival Paredes de Coura
Rock in rio Coura
Praia fluvial do Tabuão, Paredes de Coura
15 a 18 Ago | www.paredesdecoura.com
As águas do rio Coura voltam a agitar-se para mais
um Festival Paredes de Coura que este ano
continua a apostar nos grandes nomes do Rock,
sem deixar de lado uma quantidade assinalável de
estreias em solo luso. Faça-se Rock!
Ao contrário do que tem sido habitual nos anos anteriores, este ano a organização do festival deixa de ter a
mão da promotora Música no Coração, passando a haver uma colaboração entre a Tournée (que também organiza o Festival Vilar de Mouros), a Porto Eventos e a
Ritmos. E as diferenças já se fazem notar: um cartaz
bastante alternativo com uma aposta clara em bandas
estreantes e a redução do número de bilhetes colocados à venda para apenas 15 mil unidades, numa
tentativa de melhorar as condições das edições
anteriores.
Quem se dirige a Paredes de Coura depara-se com um
belíssimo anfiteatro natural onde se encontra o palco
principal, que albergará durante três dias os nomes
grandes do cartaz. Embora o alinhamento não seja
ainda totalmente conhecido, sabe-se já que o dia 15
está reservado à recepção aos campistas e que, nas
restantes datas, a música se estenderá pela noite
dentro.
Uma das grandes atracções será certamente o regresso dos Foo Fighters (dia 16), do ex-Nirvana Dave Grohl,
um ano após a enchente no Rock in Rio português. A
26 Forward Música
banda regressa a Portugal para um espectáculo baseado no novo “In Your Honor”, álbum duplo — metade
eléctrico, metade acústico — que inclui o single “Best
Of You”.
As expectativas são também elevadas para o concerto
dos Queens of the Stone Age (dia 17) que, após o despedimento do irreverente baixista Nick Oliveri, são cada
vez mais uma banda à imagem do ruivo Josh Homme.
O novo álbum “Lullabies To Paralyze” mostra isso
mesmo com um som muito negro a fazer lembrar “R”.
Tal como os Foo Fighters, os americanos Pixies (dia 17)
regressam um ano após a actuação em Lisboa no Festival Super Bock Super Rock. A loucura à volta de uma
das bandas mais influentes dos anos 90 já não é a
mesma, mas o culto mantém-se, bem como a curiosidade de ouvir músicas como “Where is My Mind?” ou
“Here Comes Your Man”.
Da Austrália retorna Nick Cave (dia 18), desta vez com
os seus The Bad Seeds, para mais uma intrigante actuação carregada de emoções, como nos habituou
nas últimas passagens por Portugal. O novo álbum de
originais “Abbatoir Blues/The Lyre Of Orpheus” e a
compilação de raridades “B Sides & Rarities” são os
pretextos para a deslocação a terras minhotas.
“Pandemonium” é o que esperam causar os Killing
Joke (dia 18) que voltaram ao activo, depois de mais
uma pausa na carreira, com um novo álbum homónimo. A banda de Jaz Coleman regressa assim aos palcos nacionais após ter ocupado o lugar de banda suporte na digressão que trouxe os Pixies a Portugal.
Outro nome já confirmado é o dos norte-americanos !!!,
também conhecidos por Chk Chk Chk (dia 16), que trazem na bagagem o álbum “Louden Up Now”, editado
em 2004. Mais a norte, do Canadá, vêm os Death From
Above 1979 (dia 16). Também com edição em 2004,
“You're a Woman, I'm a Machine” marca a estreia do
duo constituído pelo baixista Jesse Keeler e pelo baterista Sebastien Grainger. Isso mesmo: Rock sem guitarras eléctricas e com pozinhos de dança.
Para que o ritmo não pare, chegam os nova-iorquinos
The Bravery (dia 16). Vêm apresentar o álbum homónimo recentemente lançado, que inclui os bem conhecidos singles “Unconditional” e “An Honest Mistake”.
“I Predict a Riot” dizem os Kaiser Chiefs (dia 16). E nós
também! A banda inglesa tem assim a oportunidade de
mostrar que “Employment” é algo mais do que um
hype carregado às costas por bandas como os Franz
Ferdinand.
Depois do cancelamento do concerto previsto para a
edição de 2004 do Festival Paredes de Coura, os The
Roots (dia 17) estreiam-se finalmente em Portugal e
muitos serão aqueles à espera de dançar com “Seed”.
Outra banda bastante aguardada são os canadianos
Hot Hot Heat (dia 17). Os autores de “Bandages” devem concentrar a actuação nos dois álbuns mais recentes, “Make Up The Breakdown”, de 2002, e
“Elevator”, acabado de chegar.
Uma das boas surpresas do cartaz são os The Arcade
Fire (dia 17), que contam apenas com um álbum no seu
catálogo, o muito aclamado “Funeral”, lançado em 2004.
Directamente do cinema vem Juliette Lewis (dia 18). A
actriz de “Natural Born Killers” e “Cape Fear” faz-se
acompanhar da sua banda, os The Licks, e do álbum
“You’re Speaking My Language”. A sétima arte exporta
igualmente o actor e realizador norte-americano Vicent
Gallo (dia 18) que, desta feita, representará o papel de
músico, outra das suas muitas facetas.
Em tom de revivalismo, encontramos ainda os MxPx,
uma banda madura da cena Punk-Rock que levará
“Panic” a Paredes de Coura.
Os últimos nomes adicionados a um dos cartazes que
melhor acompanha as tendências musicais do ano, são
os dos portugueses Blind Zero e da banda britânica
Futureheads, num registo próximo do post-Punk.
Haverá também espaço para mais dois palcos:
Songwriters, dedicado aos sons melancólicos dos
grandes escritores de canções da actualidade, e Jazz
na Relva, onde alguns nomes do Jazz acompanham o
final da tarde à beira-rio. Os bilhetes para o festival custam 80 euros (quatro dias) e incluem estadia no acampamento.
texto: Ana Serafim
1.º Festival Internacional de Música de Dança de Ponta Delgada
Dança na ilha
Ponta Delgada, São Miguel, Açores
5 e 6 Ago
Os Açores preparam-se para ficar na rota do
circuito de música de dança internacional. Com um
pequeno grande cartaz, o 1.º Festival Internacional
de Música de Dança de Ponta Delgada promete
agitar o verão insular.
Numa parceria com a Câmara Municipal e a produtora
Bimotor, o evento oferece-nos dois dias de DJ set’s,
contando com nomes como Jazzanova, Kid Loco e
Rainer Truby.
A 5 e 6 de Agosto, Ponta Delgada entrará nos terrenos
da House, Drum’n’Bass, Downbeat, Jazz, Funk e Soul,
passando pelo House Rock dos Rinôçérôse. A dominar
as imagens estará o muito aclamado VJ João Pinto
(Lux).
No pico do Verão, este festival pioneiro vai criar uma
das maiores pistas de dança do país, com capacidade
para três mil pessoas. Para quem quiser mexer o
pezinho, todos os caminhos vão dar ao Coliseu
Micaelense.
Forward Música 27
texto: Ana Serafim
Freedom Festival 2005
Take the formula of freedom
Barragem do Caia, Elvas
18 a 21 Ago | www.freedom-festival.org
Num ano sem Boom animem-se os entusiastas do
Trance. O Freedom Festival chega com a intenção
de se tornar num evento de referência no circuito
dos festivais internacionais.
A ter lugar nas margens da barragem do Caia, a 10 km
de Elvas, o Freedom pretende proporcionar uma experiência única de vivência em comunidade e total liberdade, sempre em plenitude com a natureza. A proposta
é muito refrescante: a pista de dança será montada
num pequeno arquipélago rodeado de água.
A lista de artistas anunciados é explosiva. Destaque para nomes como Raja Ram, Simon Postford, Darksinamurti, G.M.S., 1200 Mics, Infected Mushroom,
Morning Tea Projec e Soul Jackers, entre muitos outros.
Numa organização Crystal Matrix, o festival promete,
para além da música (servida por um PA de 120 mil
watts), uma área de mercado composta por lojas de
comida e de roupa vindas dos quatro cantos do mundo, tenda Chill Out e tendas alternativas. Estarão disponíveis infra-estruturas como um parque de campismo, um parque de estacionamento vigiado, WC, chuveiros e dispositivos de emergência médica para possíveis ocorrências.
Os efeitos visuais estão a cargo de Space Invader,
Nolinx, e Maldek, acompanhados por Bamboo na projecção de hologramas. A fim de criar uma atmosfera
mágica e colorida, foram chamados para as decorações os The Tribe of Frog.
28 Forward Música
O passe de entrada para os quatro dias poderá ser adquirido por 50 euros (pré-venda) ou 70 euros (comprado à porta). Poderão também ser comprados à entrada
do evento bilhetes para três dias (50 euros) e para dois
dias (30 euros). O passe estará igualmente em prévenda no Brasil, Rússia e África do Sul por 35 euros.
Alinhamento completo:
Line Up
G.M.S., 1200 Mics, Infected Mushroom, Hallucinogen, Astrix, Wrecked Machines, Talamasca, Parasense, Xerox and Illumination, Juvenille, Quadra, Shift,
Hujaboy e Seroxat.
Dish Wizzards
Raja Ram, Dino Psaras, Tsuyoshi Suzuky, John Oo
Fleming, Edoardo, Simon Postford, Dede, Dimitri,
Riktam, Bansi, Paul Taylor, XP Voodoo, Celli, Bushman, Karan, Kristian, Darksinamurti, Android, Brian
God, Duniya, Mix-Tech, Ganje, D-Vision e Yakai.
Chillout
OTT, Simon Postford/Raja Ram, Michelle Adamsom,
3rd Ear, Vataff Projec, Morning Tea Projec, Soul
Jackers, Celli, G Spark, Omiq Project, Vaga &
Cocoon, PH Acid, Liquid Shape e Khamars.
texto: Alexandre Nunes de Oliveira
29.º Festival Grec
E ver-se grego por não ir
Barcelona, Espanha
27 Jun a 8 Ago | www.barcelonafestival.com
Na capital da Catalunha o calor chega com a
humidade para tornar o Verão mais infernal. Para
minorar os danos, a cidade oferece praia, vida
nocturna, alvorada no Mediterrâneo e, desde há 29
anos — os mesmos da Democracia — o Festival
Grec, assim chamado por acontecer no fabuloso
anfiteatro homónimo, de formato clássico e ao ar
livre.
Quase três décadas inspiram respeito e, nesse sentido,
o evento aposta em nomes conhecidos e consagrados,
avistando-se lotações esgotadas. A edição deste ano
arranca a 27 de Junho e prossegue até 8 de Agosto.
Passemos-lhe revista.
O Teatro Grego (Grec em catalão) de Barcelona foi
inaugurado em 1929, integrado no recinto da Exposição Universal levada a cabo na colina de Montjuic,
sobranceira à cidade. Desde os tempos da ocupação
romana que a pequena montanha, hoje um parque
florestal cheio de jardins, museus e equipamentos
desportivos (como deveria ser Monsanto em Lisboa),
forneceu pedra para a edificação da urbe. A escolha de
um anfiteatro ao ar livre segundo os antigos cânones
helénicos recaiu exactamente no espaço de uma
pedreira abandonada, compondo um cenário absolutamente mágico e adequado a espectáculos no perío-
30 Forward Internacional
do mais quente do ano.
Terminados os constrangimentos culturais da ditadura
de Franco, com a sua morte em 1975, Barcelona
recuperou o seu lugar de pólo artístico dianteiro do
Estado Espanhol, hoje perfeitamente salvaguardado,
mas que então dependeu de medidas decisivas como
a elaboração de um grande festival de Verão. Existindo
um local mais que perfeito para acolher tal iniciativa, o
certame adoptaria com naturalidade o mesmo apelido
— Grec — para se designar.
Começou por ser um festival de artes cénicas, mas
logo os responsáveis municipais perceberam que era
mais... lucrativo estabelecer também uma programação musical à qual o público, diga-se em verdade,
acede e adere mais facilmente. Actualmente, quando
se fala do Grec, é de facto a música —entendida de
forma abrangente e ecléctica — que ocupa o centro
das atenções.
Seguindo o caminho tomado nas mais recentes
edições, a aposta deste ano é claramente em nomes
consagrados, sejam eles do Jazz, do Rock, da música
espanhola em geral ou até de um paradigma mais próximo da música Clássica — como é o caso de Philip
Glass. O compositor americano faz-se acompanhar do
seu Ensemble, interpretando ao vivo a banda sonora
que escreveu para “Naqoyqatsi” (documental de
fotos: Luis Greenfield pp. 30, 31 Michel Gantner p. 32
Trisha Brown Dance Company
Godfrey Reggio), enquanto o filme é exibido no ecrã.
Será no dia 9 de Julho. Na mesma linha, estão
previstas as actuações da Escola da Ópera de Pequim
(entre 5 e 10 do mesmo mês), cujo exotismo desperta
sempre a curiosidade do público.
Afinal, o Teatro Grec tem quase dois mil lugares e a
organização não se pode permitir ao fracasso das
plateias vazias. De resto, o festival também decorre
noutros locais de grande dimensão, como o Poble
Espanyol, o Teatre Musical ou o antigo Mercat de les
Flors, todos belíssimos espaços situados nas
proximidades de Montjuic.
Para todos os gostos (ou quase)
Outro ponto forte do elenco musical é o mestre italiano
do Jazz boémio e fusionista, Paolo Conte, que subirá
ao palco do Grec no dia 2 de Julho. Pela banda do
Rock, também na vertente autoral, e imediatamente
nos dias seguintes, apresentam-se os britânicos
Marianne Faithfull (3 Jul) e Joe Jackson (4 Jul), bem
como o californiano Brian Wilson (5 Jul), três casos que
dispensam qualquer apresentação.
No mesmo dia em que toca o ex-líder dos Beach Boys
— ocupando o Poble Espanyol —, o cenário do Grec
acolhe um fabuloso duo de flamenco, Martirio y Miguel
Poveda, cantores da nova geração que unem vitalidade
à tradição num espectáculo intitulado “Romance de
Valentía” e que pretende homenagear o subgénero da
copla.
Este constitui o pontapé de saída para o contingente
espanhol (este ano, ao contrário de outros, não há
representação portuguesa nem lusófona), no qual
pontificam ainda Joan Manuel Serrat e Paco Ibáñez. O
primeiro é um clássico da canção ligeira existencial
(entre Jacques Brel e Fausto), que assinará quatro
recitais entre 7 e 10 de Julho. Joga em casa, portanto,
prevêem-se fáceis enchentes. Ibáñez toca numa única
data (12 Jul), apresentando “Nos queda la Palabra”, um
passeio musical inspirado na lírica dos poetas
predilectos deste reconhecido artista.
Ainda na língua castelhana, mas com diferentes sotaques do outro lado do Atlântico, engrandecem o
festival Silvio Rodriguez e as suas magníficas canções
intimistas (26 Jul), o multiculturalismo (palavra de
ordem do festival) de Omar Sosa (17 Jul) e o Hip-Hop
latino dos Orishas (21 Jul). Finalmente, no território do
Jazz, destaca-se a ida do nova-iorquino John Zorn (17
Jul), que se fará acompanhar do seu agrupamento
Masada para uma explosão experimental ou, quem
sabe, outras surpresas. Esta secção do evento
completa-se com umas quantas caras bonitas saídas
da acne, como é o caso da juvenil Joss Stone (25 Jul)
e do bonacheirão Jamie Cullum (16 Jul), que juntam
Forward Internacional 31 .
a imagem cosmetizada a um Jazz vocal infiltrado por
piscadelas de olho Pop.
Vida para além da música
Com a componente musical praticamente resumida a
Julho, o programa do Grec 2005 completa-se com os
espectáculos de teatro e dança contemporânea. No
capítulo da arte dramática, como é habitual, tenta-se
juntar as recriações de clássicos (aqui encabeçados
por “Al Vostre Gust”, original de Shakespeare em
encenação catalã de Salvador Oliva) com experiências
mais contemporâneas — como “Celebració (Festen)”,
adaptação teatral do filme do dinamarquês Thomas
Vinterberg, o primeiro realizado sob os auspícios do
manifesto Dogma. Resta saber se a encenação
também vai seguir as regras do documento/movimento
impulsionado por Lars Von Trier.
A dança vive sobretudo da “prata da casa”, como é o
caso das companhias Roberto Alonso (5 a 7 Jul) e Mal
Escola da Ópera de Pequim
32 Forward Internacional
Pelo (14 a 16 Jul). Farão a vez de vedetas internacionais os bailarinos da Trisha Brown Dance Company de
Nova Iorque, com uma sequência de três coreografias
— com música de John Cage e Dave Douglas — a
cumprir-se no Teatre Grec nas noites de 22 e 23,
igualmente em Julho.
O festival encerrará com outras obras teatrais de
nomeada por autores do Século XX conotados com a
transgressão, tais como Jean Genet e Samuel Beckett.
Do escritor francês, representar-se-á “Estricta
Vigilància” (7 Ago, Teatro Tarantana), pela mão do
director basco Iñaki Garz. Do dramaturgo irlandês,
subirá ao palco “End Game – Fí de Partida”, um título a
delimitar também o final do festival (8 Ago), o qual vai
para a sua terceira década seguro da sua projecção
internacional.
Actividades paralelas também há muitas, como um
picaresco jogo de palhaços e gastronomia, “La Cucina
Dell'Arte”, entre 17 e 26 de Julho. Resta lembrar que o
Jardim do Teatro, espaço já de si muito apetecível em
noites de estio, dispõe de um restaurante, mas o afterhours, ao contrário das últimas edições, não será
animado pelo grupo de Cabaret-Jazz Lisboa Zentral
Café nem por qualquer outro substituto, o que
naturalmente representa uma perda.
Finalmente, umas linhas para castigar os preços que
rondam os 16 euros, no caso do teatro, e os 20 euros
para os espectáculos de dança. A programação de
música é também a mais penalizada neste aspecto,
com bilhetes a encarecerem vertiginosamente à
medida que os lugares se aproximam do palco. Uma
“primeira plateia” para Paolo Conte, Joe Jackson ou
Philip Glass ronda os 45 euros. E não há descontos
cartão-jovem...
O que há, sim — o marketing manda — é a
possibilidade de reservar os bilhetes desde o
estrangeiro, seja pela internet, através dos sites
www.barcelonafestival.com e www.telentrada.com, ou
utilizando o telefone (+34) 934799920.
texto: Filipe Pedro
11.º Festival Internacional de Benicàssim (FIB)
O apelo mediterrânico
Castellón de la Plana, Benicàssim, Espanha
4 a 7 Ago | www.fiberfib.com
Xiu Xiu
Valerá mesmo a pena atravessar a Península Ibérica
de uma ponta a outra para assistir ao FIB? A resposta é afirmativa, não só para os festivaleiros portugueses, como também para os organizadores de
festivais em Portugal.
O FIB é, de longe, o maior festival de música Pop da
Península Ibérica — o Sonar é o maior em número de
actuações, sendo, no entanto, um festival muito mais
específico; já o Primavera Sound revela excelência
apenas no plano da música independente (ambos em
Barcelona, a decorrer anualmente nos meses de Maio
e Junho respectivamente).
O culto ao FIB toma expressão na loja virtual, com a
venda de excelentes CDs e DVDs das edições anteriores, t-shirts, isqueiros, crachás, livros e outras publicações. A própria apresentação da página electrónica,
que se encontra traduzida em inglês, francês, alemão e
italiano, para além dos óbvios valenciano e castelhano,
é uma prova de credibilidade, não sendo de estranhar
que o site do NME tenha vendido mais de quatro mil
entradas ao público inglês.
A pré-venda do bilhete para os quatro dias tem um preço um pouco assustador de 152 euros (175 euros nas
bilheteiras), conferindo, contudo, direito de campismo
entre os dias 1 e 9 de Agosto. Refira-se ainda que
quem chega atempadamente ao FIB tem garantidas
condições mínimas de estadia e férias, com sombras e
espaços verdes. Tudo isto relativamente próximo do
mar Mediterrâneo, cuja temperatura da água se aproxima dos 26º e, não menos importante, da civilização
(supermercados e restaurantes). Como nota negativa,
os valencianos bebem a cerveja em autênticos vasos e
quando chega a hora de despejar os líquidos ingeridos,
as WC portáteis ficam permanentemente lotadas e
pouco ou nada asseadas.
O cartaz deste ano, a dividir por sete palcos
simultâneos, apresenta mais de 120 nomes entre a
novidade e o clássico. Aqui destacamos os Chk Chk
Chk, Ascii.Disko, Basement Jaxx, The Cure, Daniel
Johnston, Devendra Banhart, Dinosaur Jr., Doves,
Erlend Øye, Fischerspooner, Four Tet, Hot Hot Heat,
Joseph Arthur, Kaiser Chiefs, Kasabian, The Kills, Kings
Of Convenience, Ladytron e os LCD Soundsystem.
Reconhecem-se outros nomes que incluem os Lemon
Jelly, Love of Lesbian, Mando Diao, Matthew Herbert,
Maxïmo Park, Mouse On Mars, Nick Cave & The Bad
Seeds, Oasis, Pan Sonic, Peaches, Prefuse 73, Radio
4, The Raveonettes, Roisin Murphy, Tarwater, The
Tears, Underworld, The Wedding Present, Xiu Xiu, Yo La
Tengo e The Zephyrs. Paralelamente, o FIB apresenta
formações, eventos e concursos relacionados com
áreas tão distintas quanto as curtas-metragens, a moda, o teatro, a arte e a dança.
Forward Internacional 33
texto: Filipe Pedro
Live 8
A música pode mudar o mundo v.2
Hyde Park, Londres; Palácio de Versailles, Paris; Siegessäule, Berlim; Circo Massimo, Roma; Museum of Art, Filadélfia; Park
Place, Barrie; Makuhari Messe, Tóquio; Praça Vermelha, Moscovo | 2 Jul | www.live8live.com
A pedido de várias famílias, 20 anos depois do Live
Aid, o mais significativo evento musical dos anos
80, televisionado por mais de dois mil milhões de
pessoas, Bob Geldof contextualiza a ideia ao século
XXI.
Além da óbvia efeméride e do consciencioso apoio de
uma imensa constelação de estrelas (de Bono a Nelson
Mandela, passando por Brad Pitt), parece haver vontade política de agir pelo fim da pobreza.
Todos os dias morrem 50 mil pessoas de causas relacionadas com a pobreza extrema. Morrem de SIDA, de fome, de tuberculose, diarreia e de outras doenças cujos
medicamentos, na Europa, estão acessíveis em qualquer farmácia que se preze, por meia dúzia de euros.
No próximo dia 6 de Julho, oito líderes dos países mais
industrializados do mundo reúnem-se na Escócia para
uma cimeira do G8. George Bush, Tony Blair, Jacques
Chirac, Gerhard Schröder, Silvio Berlusconi, Paul
Martin, Junichiro Koizumi e Vladimir Putin têm lugar
marcado à mesa. Estes senhores terão à sua frente um
plano sugerido pela Comissão para África no sentido
de anular as dívidas dos países mais pobres e simultaneamente duplicar a ajuda e tornar o comércio justo,
para que as débeis economias desses países possam
ter futuro. O Live 8 surge no momento ideal, como força de pressão para que as coisas mudem, através de
oito concertos simultâneos em Londres (Hyde Park),
Paris (Palácio de Versailles), Berlim (Siegessäule), Roma (Circo Massimo), Filadélfia (Museum of Art), Barrie
(Park Place), Tóquio (Makuhari Messe) e Moscovo (Pra-
ça Vermelha). Anteve-se a presença de milhares de
pessoas e milhares de milhões de espectadores e ouvintes através da televisão, internet e rádio.
Quanto ao programa das festas londrino (de longe o
mais interessante), estão confirmadas as actuações de
Annie Lennox, Bob Geldof, Coldplay, The Cure, Elton
John, Joss Stone, Keane, Madonna, Mariah Carey,
Muse, Paul McCartney, Pink Floyd, REM, Robbie
Williams, Scissor Sisters, Snoop Dogg, Snow Patrol,
Sting, Travis, U2 e UB40. Segundo a BBC, estão previstos diversos duetos entre os protagonistas, bem como uma aguardada reunião dos Pink Floyd com o
membro fundador Roger Waters, 24 anos após a separação. Os novos Queen preparam-se para colocar
Portugal no mapa, actuando no Estádio do Restelo a 2
de Julho e emitindo o clássico “Radio Ga-ga” via satélite para o Hyde Park e, consequentemente, para o
mundo inteiro. Os restantes programas incluem nomes
como Andrea Bocelli, Jamiroquai, Manu Chao,
Youssou N’Dour (Paris), A-ha, Brian Wilson, Die Toten
Hosen, Lauryn Hill (Berlim), Faith Hill, Jovanotti, Laura
Pausini, Zucchero (Roma), 50 Cent, Bon Jovi, Dave
Matthews Band, Kaiser Chiefs, Maroon 5, P Diddy,
Sarah McLachlan e Stevie Wonder (Filadélfia). Para a
edição canadiana, em Barrie, estão agendados, entre
outros, Bryan Adams, Barenaked Ladies, Deep Purple
e Motley Crue. A cidade de Tóquio acolhe Björk, McFly
e Good Charlotte. Por sua vez, Moscovo será palco
para os Pet Shop Boys aos quais se juntam várias
bandas russas de renome. Vamos aguardar que tudo
corra pelo melhor e que se faça história.
texto: Gonçalo Guedes Cardoso
T in the Park
Sold out
Balado, Kinross, Reino Unido
9 e 10 Jul | www.tinthepark.com
«Don’t you think T in the Park is the best festival in
the World?» é a pergunta que o próprio festival britânico coloca a quem o visita anualmente. E
admirem-se os mais incrédulos ou os que desconheciam a sua existência, a resposta tem por hábito
ser um redondo «YES!».
34 Forward Internacional
Mantendo o formato de dois dias, adoptado pela maioria dos festivais britânicos, a organização Big Day Out
Ltd juntamente com os seus comparsas da Tennent's
Lager, anunciaram em alta voz a venda de 69 mil lugares em (espantem-se os latinos) Fevereiro de 2005, que
esgotaram imediatamente, sem qualquer nome adiantado. É um claro exemplo de que o artista é um bom
artista, mesmo sem se saber quem ele realmente é.
E aproveitando a maré de números invulgares, serve de
referência notar que o T no parque (desconhecemos a
identidade de T) acolhe a melódica quantia de 170 artistas dispersos por dez palcos. A organização, pouco
dada a histórias da carochinha, sublinha que quem não
tem bilhete para o parque de campismo, bem pode ir
dormir a casa.
texto: Gonçalo Guedes Cardoso
foto: James McCauley
Scissor Sisters
V Festival - Virgin Festival
Fia-te na Virgem
Hylands Park, Chelmsford / Weston Park, Staffordshire, Reino Unido
20 e 21 Ago | www.vfestival.com
Ao celebrar dez anos de existência, este evento de
grande dimensão, entendido como o festival mais
ecológico do Reino Unido, divide-se por dois dias
de Agosto em duas cidades diferentes.
A versão Chelmsford decorre num parque anexo a uma
mansão neo-clássica restaurada do século XVIII, rodeado por um parque. Neste observam-se uma imensidão de árvores, pântanos, jardins, um lago em serpente e uma variedade de plantas e animais que
incluem raposas, esquilos, veados, pica-paus e cotovias, numa obra de grande envergadura que só estará
completa em 2007.
Atendendo a que os bilhetes esgotaram com três meses de antecedência e que no recinto se pode optar
por quatro palcos em simultâneo (V Stage, Second
Stage, JJB Arena, Volvic Stage), é muito improvável
não encontrar no V Festival as bandas que monopolizam o mercado festivaleiro em 2005.
Assim, a forte componente anglo-saxónica facilmente
se fará sentir ao som dos Oasis, Scissor Sisters, Franz
Ferdinand, The Prodigy, The Chemical Brothers,
Embrace, Maroon 5, Ian Brown, Texas, Athlete, The
Zutons, Doves, Kaiser Chiefs, The Music, Robert Plant,
The Roots, Jet, Joss Stone, The Bravery, Ordinary
Boys, Good Charlotte, Dizzee Rascal, Goldfrapp,
Goldie Lookin Chain, Thirteen Senses, The Stands, 2220's, The Polyphonic Spree, The Departure, Tom Vek,
Jem, Estelle e Lucie Silvas.
Forward Internacional 35
texto: Filipe Pedro
foto: Astropolis
Principais festivais do Verão francês
Bretanha com novidade e qualidade
14.º Vielles Charrues
Carhaix, França
22 a 24 Jul | www.vieillescharrues.asso.fr
11.º Astropolis
Brest, França
4 a 6 Ago | www.astropolis.org
15.º La Route du Rock
Saint-Malo, França
12 a 14 Ago | www.laroutedurock.com
Não sendo uma região particularmente abastada, a
Bretanha compõe-se de melómanos apaixonados
que, muitas vezes, com poucos meios, nos oferecem festivais de excelência como o Trans Musicales (em Dezembro), o Vielles Charrues, o Astropolis
e La Route du Rock.
36 Forward Internacional
Quanto a Vielles Charrues, o festival de Carhaix pode
não apresentar o melhor cartaz do Verão, mas o facto
é que a associação homónima organiza o mais popular
festival de França — 180 mil pessoas em três dias. Um
idílico cenário campestre, o convívio e o facto de o passe para os três dias custar apenas 66 euros parece ser
determinante — com direito a campismo de qualidade
e entrada gratuita aos menores de oito anos (no recinto
há um grande cogumelo vermelho no interior do qual
as crianças podem brincar). O ecléctico cartaz inclui
nomes como Deep Purple, Buena Vista Social Club, An
Pierlé, DJ Morpheus (22 Jul), The Sunday Drivers,
Devendra Banhart, Vitalic, Swayzak (23 Jul), Tiken Jah
Fakoly, Blues Explosion, Busdriver e Goldie Lookin’
Chain (24 Jul).
Outro evento de relevo na Bretanha é o pioneiro
Astropolis — o primeiro festival francês especializado
em música Electrónica. Ao longo dos últimos dez anos,
a organização afirma-se resistente a boicotes de ordem
moral, administrativa e financeira, defendendo integralmente a sua concepção de festa total num cenário semelhante ao de uma enorme rave. Um festival feito por
fundamentalistas da Electrónica para apreciadores do
género. A dança promete ser imparável ao som dos
Vive La Fête, Électro Bamako, Elixir Compagnie, BZH
System, Crystal Distorsion (4 Ago), The Hacker, Whitey,
Pat Panik & Netik, Jeff Bock, Trunck & MC Rastiki (5
Ago), Underground Resistance, Miss Kittin, Alter Ego,
Chris Liberator, Marky & MC Stamina, Elisa do Brasil
com DJ Pone & MC Verse e One Self com DJ Vadim (6
Ago).
Por último, a Bretanha alberga ainda o peculiar La
Route du Rock, um festival de música Pop Rock
fresca, com sessões de DJ em modo chill out, na praia,
durante o dia. O local do evento é um famosíssimo forte do século XVIII, perto das não menos famosas praias
de Saint-Malo. O passe do coleccionador (quiçá uma
inovação deste festival) custa 80 euros, incluindo entradas para os três dias em todos os recintos e a t-shirt
oficial. Quanto ao cartaz, inclui nomes como Yo La
Tengo, The Futureheads, Art Brut, Daniel Johnston,
Animal Collective, Thomas Morr (12 Ago), Colder, The
Organ, Camille, Great Lake Swimmers, Christopher
O’Riley (13 Ago), Sonic Youth, The Polyphonic Spree,
Maximo Park, Metric, Boom Bip, Sébastien Schuller e
Mus (14 Ago).
texto: João Pedro Correia
foto: Montreux Jazz Festival
39.º Festival de Jazz de Montreux
Muito para além do Jazz
Montreux, Suiça
1 a 16 Jul | www.montreuxjazz.com
Há quase quatro décadas que o Festival de Jazz de
Montreux vem sendo uma referência. Pelos seus
palcos desfilaram muitos dos que nos possamos
lembrar do meio jazzístico, desde Keith Jarret no
ano de estreia, passando por Miles e chegando aos
electrónicos Jaga Jazzist, mais recentemente. Mas
nos dias de hoje Montreux não é, propriamente,
Jazz, clássico ou vanguardista. É, sim, um caldeirão
multicultural, com espaço para todas as correntes
musicais, original e globalizante, na verdadeira
acepção das palavras.
Dos três dias de concertos em 1967 — ano da
fundação —, o festival prolonga-se agora por duas
semanas e vários palcos, de diferentes tipologias. Em
Montreux não só se agrada a um vasto leque de
público com um cartaz variado, como também se
diferenciam e dinamizam espaços distintos.
No Auditório Stravinski, principal palco do certame,
terão honras de abertura o cantor James Blunt e os
irlandeses The Corrs (dia 1). Seguir-se-ão Billy Preston
e Isaac Hayes (dia 2) bem como Patti Smith e os
americanos Garbage (dia 3).
Os Blues chegam com o veterano B.B. King (dia 4) precedido por Crosby e Steve Earle Solo (dia 5). Lauryn Hill
e Blak Twang compõem o cartaz do dia 6 e Elvis Costello
e a cantora Emiliana Torrini dividem o palco no dia 7.
A 8 e 9 de Julho têm lugar as noites brasileiras, com
Jorge Aragão, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Margareth Menezes e as “MTVzadas” Daniela Mercury e Ivete
Sangalo.
No dia seguinte seguem-se Brian Wilson e Ibrahim
Ferrer. A 11 encontramos Laura Pausini e Lovebugs,
uma noite antes de Apocalyptica e Alice Cooper
subirem ao palco.
Já na recta final, soam os metais, com George Benson
e David Saborn (dia 13). Marcus Miller e Roberta Flack
tocam no dia 14 para uma noite de Funk e Soul. Craig
David e Incógnito sobem ao palco no dia 15 e, no
último dia do festival, o quarteto de Oscar Peterson e o
vencedor do concurso de piano solo da edição de
2004, Robert Botos, fecham a cortina.
Paralelamente e depois das nove da noite, o Miles
Davis Hall apresenta noites temáticas: Reggae, Jazz,
Hip-Hop, Rock, Pop, Soul, Folk, Electrónica e, mais
uma vez, novos sons do Brasil. Falamos por exemplo
de Queens of The Stone Age, Audioslave, Anthony and
the Johnsons, Zap Mama, Saul Williams, Underworld e
da brasileira Cibelle.
Mas Montreux não acaba aqui. No Casino Barrière,
uma vez mais em noites temáticas, prevemos
encontrar Tori Amos, Arturo Sandoval e Chuchu Valdez,
Bobby McFerrin, Dianne Reeves, Al di Meola e McCoy
Tyner com Ravi Coltrane.
Montreux, situada no sopé dos Alpes, tem ainda direito
a um lago no qual inúmeros barcos navegarão ao som
de vários ritmos: da Salsa ao Jazz, passando pelo
Blues e atracando no Brasil ou na Jamaica. Para quem
sofra de enjoo, os comboios serão alternativa,
animados depois das duas da tarde, pela New Orleans
& Golden Pass Jazz Trains. Para dançar, há o Café, por
onde, passarão Laurent Garnier, Llorca e 2ManyDJ’s.
Para conversar, há o Club, noite dentro, com Jazz
ambiente.
Porque Montreux é escola, têm lugar competições de
piano, voz e guitarra, além de diversos workshops e
performances pelas turmas do Conservatório local.
Porque Montreux é recordar, há projecções das
edições passadas.
E porque Montreux é isto, que por palavras não tem
graça, há que ir a Montreux. Se não este ano, para o
próximo. Montreux vale sempre a pena. E a Suíça é a
terra dos chocolates.
Forward Internacional 37
texto: Gonçalo Guedes Cardoso e Sofia Silva
35.º Roskilde Festival
Dinamarca é gente
Roskilde, Dinamarca
30 Jun a 3 Jul | www.roskilde-festival.dk
A cidade dinamarquesa de Roskilde é novamente o
palco escolhido para um dos festivais de Verão
mais carismáticos da Europa. Os números facilmente ilustram a sua grandiosidade: quatro dias de
festa em torno de 150 bandas distribuídas por sete
palcos à volta dos quais se prevê orbitarem 75 mil
pessoas, 20 mil membros do staff e cinco mil
profissionais de informação.
O programa atravessa todos os géneros musicais, bem
como um conjunto interminável de eventos paralelos e
actividades culturais. Em todas as áreas, a aposta em
novos talentos é cumprida com rigor.
O Roskilde tem por missão estar na linha da frente das
tendências estéticas, culturais ou ideológicas. Durante
os dias do evento, a vertente ambiental ecoa anualmente a sua voz pelos ares do mar do Norte na forma
texto: Gonçalo Guedes Cardoso e Sofia Silva
de acções de alerta para um conjunto de temáticas relacionadas com o estado do nosso planeta. A reciclagem
ou a poupança de recursos ambientais são algumas das
muitas iniciativas que decorrem durante a festa.
Com o passar do tempo, a tragédia que assolou o
evento em 2000 (morte por esmagamento de nove pessoas durante o concerto dos Pearl Jam), tem sido minimizada com a ajuda de 20 mil voluntários não pagos
pela organização, um dos motivos pelos quais Roskilde
é hoje um dos festivais mais seguros do mundo e onde
o espírito comunitário se faz verdadeiramente sentir.
Para que se perceba melhor o conceito deste festival internacional, torna-se útil referir que anualmente os lucros
angariados são remetidos para causas humanitárias.
O cartaz de 2005, já fechado, prima uma vez mais pela qualidade, diversidade e acima de tudo contemporaneidade e novidade dos nomes incluídos.
foto: Filipe Pedro
Lowlands
Inundação cultural nas terras baixas
Biddinghuizen, Holanda
19 a 21 Ago | www.lowlands.nl
O Lowlands é hoje sinónimo de tradição e, como
maior festival do país, cabe-lhe a honra de encerrar
o Verão holandês.
Há quase duas décadas, o espaço onde hoje se reúnem durante três dias cerca de 350 artistas em oito pal-
38 Forward Internacional
cos diferentes, estava simplesmente submerso. A exemplo do que acontece em vários pontos da Holanda, a
cidade de Biddinghuizen foi roubada ao mar e num
parque de diversões denominado Six Flags Holland
nasceu e cresceu o festival das terras baixas.
Neste pequeno mundo adaptado, torna-se impossível
descansar, ainda que as condições de campismo sejam de primeira linha e a água corrente jorre de feição,
permitindo a opção por um duche quente ou frio. Aqui
existe papel higiénico em abundância, casas de banho
limpas e a inexistência de filas para que se tenha acesso a todos estes privilégios.
No campo da música, há nomes para quase todas as
letras do alfabeto: Bad Religion, Cheb Balowski, Franz
Ferdinand, Kaiser Chiefs, Lcd Soundsystem, Maximo
Park, Nightwish, Open hand, Pixies, Queens of the
Stone Age, Royksopp, Seed e Vitalic.
O festival não se esgota porém no seu cartaz musical.
Inúmeras iniciativas culturais assumem as mais variadas formas, que vão desde o cinema ao teatro, passando pela stand-up comedy e a pintura até à banda
desenhada e à literatura.
texto: Filipe Pedro
20.º Pukkelpop
A espinal da pop
Hasselt, Kiewit Bélgica
18 a 20 Ago | www.pukkelpop.be
O famoso festival belga Pukkelpop comemora este
ano a 20.ª edição. Como em anos anteriores, este
evento compete directamente com o vizinho muito
similar Lowlands (na Holanda), com o qual partilha
dois dos três dias de cardápio.
Se nas terras baixas do mar do norte a festa parece
mais rija e com direito a noite prolongada, os
flamengos ripostam com uma selecção musical mais
criteriosa.
Pukkel em tradução literal significa espinha, ou seja, ritual de lo habitual, uma boa parte da Pop mais relevante da actualidade passará por Hasselt. Destaque óbvio
para Nick Cave & The Bad Seeds, Pixies, The Prodigy,
Franz Ferdinand, Basement Jaxx, Jello Biafra & The
Melvins, LCD Soundsystem, Royksopp, The Roots,
Morcheeba, The Bravery, Arcade Fire, e Stereo MC’s. A
extensa lista continua e inclui Goldfrapp, Bonnie
‘Prince’ Billy & Matt Sweeney, Roisin Murphy, Fischer-
spooner, Kaiser Chiefs, The Futureheads, Low, Juliette
& The Licks, Hot Hot Heat, The Coral, Matthew Herbert
vs Dani Siciliano, Miss Kittin, Tiga e Maximo Park. Para
quem ainda não está satisfeito, pode sempre optar por
ver Tom Vek, Chk Chk Chk, Mouse On Mars, Goldie
Lookin’ Chain, Vitalic, The Raveonettes, Black Rebel
Motorcycle Club, Adam Green, Ladytron, Four Tet, Amp
Fiddler, The Others, Death From Above 1979, Infadels,
Colder, Patrick Wolf, Art Brut, London Elektricity, entre
muitos outros por anunciar e por dividir entre oito palcos simultâneos.
Em Hasselt, as condições de campismo são muito especiais, com cabines individuais de chuveiros de água
quente, casas de banho asseadas e com água corrente.
Quando comparado com outros festivais de semelhante envergadura na Europa, o Pukkelpop propõe um
preço de pré-venda relativamente em conta, na casa
dos 108 euros (125 euros nas bilheteiras), prometendo
uma experiência verdadeiramente única.
texto: Gonçalo Guedes Cardoso e Sofia Silva
22.º Haldern Pop Festival
Pequeno mas bom
Haldern, Alemanha
5 e 6 Ago | www.haldern-pop.de
O pequeno festival alemão de Haldern Pop conta
anualmente com uma audiência que varia entre os
cinco mil e os oito mil visitantes. Sendo um evento
muito pouco comercial, poucos são também os patrocinadores e o número de actuações. Isso não impede, porém, que esta festa original marque a agenda
alemã, sem interrupções, desde há duas décadas.
Neste mundo reduzido, a decoração ganha relevância,
através das cortinas de veludo no palco, dos vidrinhos
coloridos e dos espelhos encaixados em moldes de
formas trabalhadas que se podem encontrar pelo recinto. A comunidade local gosta de se envolver e a atmosfera é mais leve e relaxada do que nos grandes festivais. O convívio internacional também é promovido,
abrindo-se as portas aos muitos visitantes que chegam
dos países vizinhos, principalmente da Holanda e da
Bélgica.
Para ilustrar o carácter calmo e descontraído deste
evento, a organização do festival envolve-se numa filosofia apoiada num lema que se altera de ano para ano.
Se em 2004 a máxima era “The future is small”, para
este ano a divisa é “No Friday without Monday”.
Falando de música, a organização do Haldern Pop não
pretende ser tão arrojada como os restantes festivais
de peso europeus na procura de figuras conhecidas do
público em geral. Por norma são convidadas bandas
pouco famosas, novos valores e sonoridades experimentais.
Escondido por entre a tranquilidade desta pequena comunidade alemã, o Haldern Pop representa como que
a utopia do pequeno festival onde se sente tudo muito
mais próximo e onde se está perdido no meio de pormenores deliciosos e particularidades que, para o resto
do mundo, são quase que um segredo.
Forward Internacional 39
texto: Cátia Monteiro
Indie Lisboa - Ross Kaufmann
A arte pela vida
www.indielisboa.com
O “oscarizado” "Born Into Brothels" foi escolhido
para o arranque do segundo Festival Internacional
de Cinema Independente de Lisboa. Um retrato dos
bordeis de Calcutá, que pontuou a mostra do festival, maioritariamente ficcional, com uma nota de
realidade. Eis o motivo encontrado para uma singular conversa com o realizador Ross Kaufmann.
Exibições, entrevistas, exposições. Esta tem sido a sequência vivida por Zana Briski e Ross Kaufmann entre
viagens de avião que os levam a diferentes festivais de
cinema, alternando com as actividades da fundação
Kids With Cameras. O esforço resulta de um carinho
especial que nutrem pelas crianças e por um documentário que implicou uma entrega absoluta. É agora curioso saber que, de início, Ross Kaufmann estava relutante em reunir-se a Zana Briski, que se encontrava há
vários anos a viver num dos bordeis para documentar
em fotografia a vida das prostitutas de Calcutá. As primeiras filmagens, realizadas por Zana, fizeram-no mudar de ideias. Como aquela em que Kochi, «uma rapariga muito tímida, estava a mostrar negativos à sua avó
40 Rewind Cinema
com uma lupa. E ela pegava naquilo como uma profissional. Uma rapariguinha, no meio de um bordel, com
uma lupa e negativos e tão orgulhosa e feliz no seu trabalho». A relação com a fotografia, para além de uma
preocupação autêntica de alguém do exterior, marca
uma viragem na vida das crianças. A câmara fotográfica «permite-lhes expressarem-se, dá-lhes poder e
uma noção de si próprios e do seu valor. Eles transportam para todo o lado esta pequena máquina fotográfica — para eles é dispendiosa — e guardam-na
com as suas vidas, não deixam que ninguém lhe toque
porque sabem que é especial». Apesar de tudo, as
crianças têm uma consciência muito vívida do que se
passa à sua volta, perceptível em palavras como as
que Tapasi profere a certo momento do filme: «temos
de aceitar a vida como sendo triste e dolorosa». Sobre
a forma como isto os afectava estando lá, Ross diz que
«não era tão triste quanto tocante. Bem, era triste, claro, mas a verdade é muito mais poderosa do que a tristeza que possa gerar». Esta postura é clara na forma
como o documentário se desenrola, avesso a sentimentalismos, já que havia «um respeito genuíno, sem
julgamentos. A Zana e eu tínhamos a noção do que poderíamos ser, caso tivéssemos nascido noutro lugar». E
naquele lugar encontraram condições difíceis, uma vez
que as pessoas não estão habituadas a serem filmadas, mas sobretudo uma mudança — para as crianças
e para eles próprios. «Eu estava inactivo, sentia-me incapacitado por tudo aquilo até lá chegar. Então, conheces uma criança e dizes: ‘vamos ver o que é que posso
fazer’. E vale tudo a pena no fim, apesar das dificuldades». Mais do que um filme, "Born Into Brothels" é um
pedaço de Kochi, Tapasi e das outras crianças, e dos
realizadores, que colocaram a arte ao serviço da vida.
Por isso, um novo filme só surgirá quando algo atingir de
novo Ross, ou como o próprio o coloca: «quando sentir
que precisa de mim. Algo que saia do meu coração».
foto: Tapasi
Vencedores Indie Lisboa 2005:
Grande Prémio de Longa-Metragem
“Forest For The Trees” de Maren Ade
Grande Prémio de Curta-Metragem
”Undressing My Mother” de Ken Wardrop
Menções Honrosas do Júri Internacional
Toni Servillo, pela sua interpretação no filme
“Le Conseguenze Dell’ Amore” de Paolo Sorrentino
”Everything Was Life”, curta-metragem de Ellie Land
Prémio Tóbis para Melhor Filme Português
“Adriana” de Margarida Gil
Prémio de Melhor Fotografia para Filme Português
”Um Homem” de Laurent Simões
foto: Gour
Prémio 2: Onda Curta
“Fare Bene Mikles” de Christian Angeli
“Phantom Limb” de Jay Rosenblatt
“Undressing My Mother” de Ken Wardrop
Menção Honrosa do Júri Onda Curta
“Compassos De Espera” de Pedro Paiva
Prémio Amnistia Internacional
“North Korea, A Day In The Life” de Pieter Fleury
Prémio do Público Longa-Metragem
”Private” de Saverio Costanzo
Prémio do Público Curta-Metragem
“Home Game” de Marti Lund
Prémio IndieJunior (Curta-Metragem de Animação)
“Flatlife” de Jonas Geirnaert
foto: Tapasi
Rewind Cinema 41
texto: Filipa Lourenço
FIMFA Lx5 - Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas
“Las tribulaciones” de um festival
www.geocities.com/tarumb
Uma vez mais Lisboa recebeu as marionetas. Mas o
colorido e a música deste festival poderão ter
chegado ao fim.
No Largo do Chiado, coube a “Barti”, pequeno músico
versátil e de temperamento turbulento fazer as honras
da casa. Enquanto captava a atenção de transeuntes
indiferentes, nos bastidores, o cenário não era tão sedutor. De facto, foi com perplexidade que A Tarumba, a
companhia organizadora do festival, recebeu a notícia
alguns meses antes do seu afastamento pelo Ministério
da Cultura dos concursos de Apoio Sustentado às Artes do Espectáculo.
Na verdade, esta edição esteve em sério risco de não
acontecer. Luís Vieira, Director Artístico do FIMFA Lx
explica que só houve festival porque «tínhamos compromissos internacionais, parcerias em vias de consolidação e, sobretudo, porque o público merecia um festival de marionetas».
Este ano, foi a companhia organizadora que pagou a
quase totalidade das facturas, mas a mesma fonte
deixa o aviso: «não temos capacidade para fazer isto
assim, é impossível, está fora de questão!»
A eliminação do apoio que o ministério atribuía através
do Instituto das Artes impossibilitou iniciativas como a
co-produção que estava prevista com a companhia
Teatro de Ferro.
Por não haver a desejada capacidade de auto-financiamento, o futuro é ainda uma incógnita. Luís Vieira espera «que o Estado não meta a cabeça na areia e olhe
para a importância do projecto». Acrescenta que «estas
coisas deviam ser feitas de uma forma profissional,
com planeamento, pois só assim poderemos ter as
companhias que queremos no festival».
Festejar enquanto dura
Mas, ainda que possa ter sido a última, a edição de
2005 mostrou bem a vitalidade desta outra arte cénica.
Com um sabor a sete partidas, houve grupos das mais
variadas origens. De Espanha, pelas mãos dos
Hermanos Oligor chegou-nos “Las tribulaciones de
Virginia”, a magia de um espaço intimista onde quase
tudo teve sabor a partilha e a confidência. Virginia, a
bailarina, mudou a vida de Valentin e terá certamente
mudado a de quem passou pelo Museu da Marioneta.
A Rainha das Cores
42 Rewind Teatro
Com uma óbvia componente educativa, “Louis,
l'enfant de la nuit”, de Israel, conta a história da
criação da escrita Braille através do percurso de vida
do seu inventor. A força de um pequeno ser corporizada num material frágil e vulnerável: o papel.
O que há no interior de uma porca britânica (“Pig”)?
Geralmente vísceras. Porém, nem tudo o que parece é.
Num jogo de aparências, as pessoas tornam-se leitões
e partem à descoberta de um mundo “interior” perfeito.
Pela segunda vez no festival, a Hachioji Kuruma Ningyo
Puppet Theater trouxe a tradição nipónica com a sua
técnica única de manipulação de marionetas: Kuruma
Nigyo. Traduzindo por miúdos, trata-se de marionetas
sobre rodas, isto é, os manipuladores comandam os
bonecos sentados numa espécie de carrinho.
Malwida é “A rainha das cores”, uma deliciosa e humorada soberana que nos transporta energicamente
pelo seu reino, através da cor. A história, adaptada do
livro homónimo de Jutta Bauer, torna-se, neste espectáculo alemão, um autêntico livro vivo.
Igualmente pela segunda vez no festival, Stephen
Mottram, do Reino Unido, presenteou-nos, em
“Organillo”, com uma belíssima metáfora visual. Pelas
suas mãos, num misto entre criador e ilusionista, somos literalmente mergulhados pelo tortuoso caminho
da concepção.
Festival descentralizado
Mas Lisboa não foi a única cidade a receber o FIMFA.
As parcerias com o Teatro Viriato, Teatro Aveirense e
com a Transforma possibilitaram às cidades de Viseu,
Aveiro e Torres Vedras acolher também alguns eventos.
Uma iniciativa que só este ano teve visibilidade.
Montemor-o-Novo também foi contemplada, mas nu-
Las Tribulaciones de Virginia
ma perspectiva de formação. De facto, esta edição já
se tinha iniciado com uma primeira ilha de formação
nessa cidade, durante duas semanas, nos meses de
Fevereiro e Março. Privilegiando a relação entre escola
e artes cénicas, desenvolveram-se acções com alunos
e professores do primeiro e segundo ciclos.
Também em Montemor-o-Novo, mas já em período
normal, foi criada uma residência de criação artística
pela companhia Pseudonymo Teatro. Este projecto, ao
qual a organização pretende dar continuidade, culminará com a estreia, no próximo ano, do espectáculo
“Os Dias de Espuma”, baseado na obra “A espuma dos
dias” do escritor francês Boris Vian.
«Transdisciplinar e pluridisciplinar», segundo Luís
Vieira, a marioneta «é sobretudo um terreno de experimentação e de criação de novas propostas estéticas,
ao qual muitos artistas plásticos, gente do teatro e da
dança vão buscar coisas». Em nove dias, dez companhias combateram, explica o responsável, «um certo
preconceito em relação à marioneta e um desconhecimento profundo daquilo que é o seu movimento contemporâneo». Terá sido esta quinta edição um adeus
ou um até breve?
Rewind Teatro 43
texto: João Pedro Almeida e Luís Santos Batista
Primitive Reason
Audioslave
11.º Super Bock Super Rock
Rock & Roll é fonte de juventude
www.musicanocoracao.pt
Preservando o mesmo formato da edição de 2004,
quer na estrutura organizativa, quer no local
escolhido (Parque Tejo, junto à Ponte Vasco da Gama), o 11.º Festival Super Bock Super Rock passou
no exame, mas sem excelência.
Durante os dias 27, 28 e 29 de Maio, o espaço ribeirinho que desde o ano passado acolhe o festival de Lisboa com maior número de participantes, foi suficiente
para albergar os cerca de 15 mil festivaleiros diários
presentes. O rótulo Rock na garrafa manteve-se intacto
e os intervenientes de palco cumpriram a missão com
demasiada discrição e poucos exageros. A nota mais
positiva segue para os stage managers portugueses
que foram essenciais no cumprimento rigoroso dos horários e combateram a já velha rotina das esperas e horários incertos. Outro aspecto positivo foi, sem dúvida,
o da adequação do recinto às necessidades dos festivaleiros. Este ano os líquidos jorraram sem que houvessem filas de espera ou rupturas de stock e as cabines de WC portáteis fizeram bem o escoamento. Nota
igualmente favorável para a larga área de restauração,
onde nunca faltou lugar sentado, para as tendas de
merchandise com preços adequados e para o modesto
espaço de entretenimento que incluiu uma sempre apinhada pista de carrinhos-de-choque. Igualmente requisitada foi a tenda de Hip-Hop da MTV, adoptada por
muitos como o terceiro palco do festival. Nos outros
dois impôs-se uma vez mais a alternância, sendo que
no palco Quinta dos Portugueses, utilizado apenas pelas bandas nacionais, os concertos foram mais reduzi-
44 Rewind Música
dos. Aqui ficou de novo provado que a música em Portugal tem saúde e recomenda-se. Por ordem de entrada em palco actuaram os Primitive Reason, The
Temple, Blasted Mechanism, Blend, Boss AC,
Flipsyde, Fonzie, Expensive Soul, Loto, The Gift,
More Than a Thousand, RAMP, Bunnyranch,
WrayGunn e Blind Zero.
Do palco principal fica o resumo de algumas
actuações na noite de estreia.
Os Incubus centraram-se no seu material mais pesado. "Megalomaniac" ou "Nice to Know You" foram pontuados por momentos mais atmosféricos e tribais marcados pelas desgarradas percussivas de Brandon
Boyd no djambé. De modo a afirmarem a brutalidade e
emotividade do seu som, os System of a Down tocaram "ATWA", "Cigaro" e "Bounce". O sentido de humor,
sempre presente, revelou-se em interlúdios quase
Disco-Sound (com Serj Tankian a utilizar um vocoder),
ou mesmo na constante interactividade entre os membros da banda. Liam Howlett quis provar que, ao vivo,
os Prodigy são ainda uma força a ter em conta. Com a
ajuda de Keith Flint e do regressado Maxim, as novas
composições ganharam outro fôlego, mais feroz e
enérgico.
No segundo dia as sonoridades mudaram de tom e o
Funk, o Soul, o Hip-Hop e a Electrónica dominaram.
A banda norueguesa Turbonegro estreou-se em Portu-
fotos: Luís Bento
Iggy Pop
gal com todo o seu esplendor gay/S&M, primando pela
originalidade através de um Rock & Roll tingido de
glam com letras homo-eróticas. Em "Sell Your Body", o
público recebeu centenas de notas em forma de dólar
com o rosto do guitarrista Euroboy e os comentários do
vocalista Hank sobre a sua origem portuguesa fizeram
as delícias da plateia, aturdida e maravilhada pelo efeito de novidade. Os suecos The Hives, envergando
smokings brancos, deram um espectáculo muito pensado de comédia, encenação com uma auto-promoção constante, embora não pretensiosa. A mistura étnica dos Black Eyed Peas, a sua sonoridade ecléctica,
os atributos físicos dos seus membros e muita energia
atraiu inúmeros espectadores. Fergie agitou a população masculina, apresentando dotes de diva e Will.i.am
acrescentou o seu número de Stomp, acabando tudo
em festa. No caso dos New Order, o destaque vai para
a permanente evocação do fantasma de Ian Curtis. 25
anos após a sua morte, o vocalista dos Joy Division
conseguiu levar às lágrimas alguns dos fãs mais dedicados. Estreando-se em Portugal, os pioneiros da
Pop dançável dos anos 80 agitaram a multidão com
velhos clássicos e temas contemporâneos, tendo ainda
tempo para praticar golpes de karaté nos operadores
de camera de uma televisão mundial. Moby teve uma
performance cativante, com os habituais discursos politicamente correctos entre canções. As surpresas
aconteceram com a versão em guitarra acústica de
"Ring of Fire" de Johnny Cash (resultante de uma falha
no equipamento) e com a interpretação de "Walk On
The Wild Side" por Laura Dawn.
O último dia do festival foi, quase por inteiro, dedicado ao Metal.
Com uma precisão cirúrgica, os Slayer mostraram ser
das bandas mais consistentes e demolidoras no palco
SBSR, sabendo honrar a fama dos seus espectáculos.
De destacar a irrepreensível prestação do regressado
Dave Lombardo. Foram muitas as bocas de espanto
perante a poderosa descarga de puro Rock que Iggy
Pop & The Stooges debitaram no recinto. Atitude, talento, garra, uma provocante audácia e uma cabeleira
loira sempre bem cuidada, mostraram que os 60 anos
de idade refinaram a sua personalidade. Iggy dançou,
pulou, puxou pelo público e até conseguiu preparar
uma pequena invasão ao palco, provando que o Rock
& Roll é fonte de juventude. Com os Audioslave ficou
patente que nem sempre a reunião dos melhores
nomes faz as melhores bandas. Apesar dos elevados
recortes técnicos e da singular vocalização de Cornell,
não ultrapassaram os limites do previsível. Não fosse a
recuperação de “Black Hole Sun”, ou o épico “Killing in
The Name” e teríamos a sensação plena de um dejávu. Atrasado cerca de 20 minutos para a cerimónia, o
“reverendo” Marilyn Manson e os seus acólitos vestiram a pele de estrelas góticas e vampirescas de Hollywood, apostando numa postura excessivamente cosmética, com sabor a plástico e desmesuradamente encenada. O set musical, em formato de best of, soou
pouco original, mas foi a fórmula perfeita para desencadear entusiasmo na plateia, que resistiu até ao fim.
Rewind Música 45
texto: Beatriz Pacheco Pereira
Cannes
Uma Palma explicável
www.festival-cannes.fr
Chegou ao fim mais uma edição do festival de
Cannes e não se pode dizer que não tenha ficado
um certo amargo de boca. O palmarés foi mais uma
vez inesperado.
Ninguém pensava que os irmãos belgas Dardenne pudessem repetir a proeza de ganhar uma segunda Palma de Ouro, depois de “Rosette”, nem os consagrados
nomes que entraram na secção competitiva vão
esquecer o desaire por que se saldou esta sua
participação no maior festival de cinema do mundo.
Nem Cronenberg, nem Wim Wenders, nem Lars von
Trier, nem Jim Jarmush, nem Michael Haneke, nem
Amos Gitai, nem Gus van Sant, nomes já firmados na
história do cinema contemporâneo, pensariam voltar
para casa de mãos a abanar, a favor dos filmes realistas e algo deprimentes de baixo orçamento dos irmãos
belgas ou do recém chegado realizador Tommy Lee
Jones com os seus “Três Enterros de Melquiades
Estrada”, vencedor do prémio de argumento e de actor
principal. Mas há explicações possíveis.
Antes de mais o júri: Emir Kusturica, o realizador com
duas Palmas de Ouro por “O Papá está em Viagem de
Negócios” e “Underground” e conhecido pelo seu
cinema inseparável da política; Nandita Das, uma actriz
indiana, com um trabalho social importante nas ONG;
Faith Akin, realizador alemão de origem turca e por-
Jean Pierre & Luc Dardenne
46 Rewind Internacional
tanto também muito sensível às questões sociais; Toni
Morrison, a primeira escritora negra a obter o Prémio
Nobel da Literatura em 1993; Benoit Jacquot, um
francês, antigo assistente de Marguerite Duras; Salma
Hayek, a actriz mexicana, cuja luta pela obtenção do
papel de Frida Kahlo ficou célebre; Javier Bardem,
actor espanhol que contacta directamente com
problemas políticos e sociais graves; John Woo que
não conta muito para as conclusões a que
pretendemos chegar, e, finalmente a grande realizadora
Agnès Varda, francesa e mulher de grandes causas.
Analisando o júri no seu conjunto, e sabendo que a
Palma foi atribuída ao filme “L’Enfant”, não é difícil
compreender a escolha. A grande maioria dos jurados
escolheria sempre um filme de elevado empenhamento
social. E o outro possível candidato, “Batalla en el
Cielo” de Carlos Reygadas era demasiado cru e de
âmbito mais restrito, já para não falar das cenas de
sexo explícito. De afastar, portanto.
Mas afinal o que tem o filme dos irmãos Dardenne de
superior face às restantes mostras a concurso? Pouco.
E muito.
A história, resumida, não tem nada de especial. Um
jovem de 20 anos, de fraca cabeça, poucos estudos,
nenhum dinheiro e acabado de ser pai, tenta vender o
bébé para arranjar dinheiro. De uma enorme
infantilidade e com uma ligeireza de costumes
impressionante, nos subúrbios feios da grande urbe, o
jovem é um retrato da própria mãe que, numa breve
cena, explica tudo. A ausência de valores, a pobreza e
a irresponsabilidade aparecem pinceladas em
segundos, a reforçar o que acontece em quase todas
as outras cenas do filme. E de embrulhada em
embrulhada, o jovem acaba no único sítio que o poderá
proteger de si próprio e lhe poderá fazer compreender
a sua vida arruinada — a prisão.
No plano da realização, não há falhas. Sempre na linha
de um cinema neo-realista, paira um clima de
inquietação numa clara ligação ao espectador. Mas o
que fez decidir o júri não foram só os méritos
cinematográficos de “L ‘Enfant”. Quanto a mim, foi o
seu conteúdo altamente revelador de um mal de vivre
social que existe na juventude de quase todas as
grandes cidades europeias (e também por cá) e que faz
acreditar num futuro bem sombrio e inculto. E no filme
não existem grande crimes, homens à procura de si
próprios e das suas raízes, nem mistérios a resolver,
por muito interessantes que eles pudessem ser. Isso,
como já percebemos, não era para este júri
verdadeiramente essencial.
Há também outro modo de ver a escolha da Palma de
Ouro. Ganharam novamente os franceses. O filme tem
a escola francesa, é falado em francês e fazia parte do
grande número de filmes em competição — mais de
metade — que contava com um financiamento francês.
Nunca será porém uma obra de grande sucesso
comercial e prevê-se que desapareça rapidamente das
salas. É um filmezinho bem feito, com preocupações
universais, sim, mas pouco mais. E daqui a dois, três
anos, quem se lembrará dele? Mas se houver algum
valor de bilheteira, decerto ficará pela Europa.
O festival acabou. Com ele chegaram ao fim a guerra
das filas de espera para entrar nas salas, a arrogância
dos empregados do Palais, a exploração descarada
em toda a cidade e as preocupações com a segurança.
A propósito, a cidade de Cannes contou com câmaras
de vigilância em todo o perímetro do festival (mais de
cem), tal foi o volume de roubos nas ruas. Desta vez os
hotéis também foram visados, a exemplo do que
aconteceu com um amigo meu, cujo quarto foi totalmente “limpo”. O desespero era evidente. O material
que se acumula em Cannes é fundamental para o
trabalho de um profissional de cinema. Este roubo
poderá ter sido levado a cabo por um qualquer
delinquente, como poderia ter sido o protagonista da
Palma de Ouro desta 58.ª edição do Festival de
Cannes, o que não deixa de ser irónico. A vida, como o
cinema, ou então, o contrário.
Finda a festa, até para o ano.
L’Enfant
Rewind Internacional 47
texto: Cátia Monteiro
Primavera Sound 2005
A reforma da nova ordem
www.primaverasound.com
A quinta edição deste festival espanhol veio confirmar a sua crescente relevância no roteiro de melómanos inveterados de todo o mundo. Reunindo
bandas de referência e respectivos discípulos em
palcos coexistentes, o Primavera Sound proporciona anualmente uma aula de História musical com
actualização no presente e pistas para o futuro.
Maio esgota-se numa Barcelona imersa em calor e cultura. No entanto, à chegada ao Fórum, local de encontros festivaleiros, o termómetro marca menos alguns
graus, por via da proximidade ao mar. Facto a que nos
tornamos alheios quando a música ocupa os seis palcos do recinto e o público se entrega a danças mais ou
menos sincronizadas. O mosh pit é praticamente inexistente, à excepção da actuação de Iggy e dos seus
Stooges. Em geral são preferidos os diversos espaços
relvados e as massagens relaxantes em stands do recinto. Outros momentos de pausa são empregues a explorar a feira discográfica ou a reabastecer a massa
corporal nas barracas de comes & bebes. Percebida a
atmosfera, mergulhe-se então nas ondas sonoras…
Pela old school jogaram os veteranos New Order, que
encontraram nos clássicos e numa homenagem a Ian
48 Rewind Internacional
Curtis via "Transmission" uma explosão de emotividade e energia do público, contrastante com o maior relaxamento em palco. Apesar da fraca recepção de “Get
Ready”, insistiram no álbum em pose provocatória, alternando com êxitos como “Regret” ou “Bizarre Love
Triangle”.
Quem não deixou a idade afectar a performance, fazendo inveja a muitos dos seus alunos, foram os Gang
of Four, que, no seu post-Punk, incorporaram martelos
batendo na chapa, guitarras arremessadas contra o
chão e danças espasmódicas. Findo o concerto, os
despojos da guerra sonora, em forma de uma guitarra
inutilizada, foram disputados pelos fãs.
Os Sonic Youth actualizaram o nome em distorções infindáveis de guitarra e a postura Rock com laivos de
sensualidade, assumida por Kim Gordon, arrancou um
repetido “you’re the one” ao tema “Pattern Recognition”.
Para uma celebração do passado, os Echo & The
Bunnymen aterraram no auditório, incitando o público
a trocar as cadeiras por um lugar em pé junto do palco.
"Nothing Lasts Forever" fundiu-se com "Take a Walk on
the Wild Side" de Lou Reed, numa actuação mais profissional do que emotiva.
A solo, Kristin Hersh dominou com primor a guitarra,
fotos: Filipe Pedro
que, em "Your Dirty Answer", encontrou a resposta
mais vibrante do público. Faltou, porém alguma extensão comunicativa no espaço que mediou as canções.
Quem abdicou quase na totalidade das palavras foram
os Tortoise, que no auditório se depararam com as
condições ideais para um set multi-instrumental cuja
palete melódica oscilou entre tons quentes e frios, ilustrados por vídeos projectados num ecrã de fundo.
Na secção das novidades os Dogs Die In Hot Cars depararam-se com uma recepção de dimensões inesperadas. A pose tímida e algumas falhas na voz e instrumentos denunciaram uma carreira ainda curta, da qual
se espera em palco o dinamismo do álbum. Micah P.
Hinson surpreendeu pela força da voz e pelo ar alucinado com que cantou os seus confrontos com a vida,
incluídos em “The Gospel of Progress”.
O norueguês Sondre Lerche levantou a voz em "Faces
Down", comprovando a vitalidade dos cantautores modernos, acompanhado por uma banda igualmente talentosa, entre as cordas, o sopro e uma bateria.
A versatilidade dos Arcade Fire, que até em capacetes
de motociclista e na estrutura metálica do palco encontraram instrumentos de percussão, obtiveram do público coros e palmas recheados de entusiasmo.
Enquanto os M83 preenchiam o ar com ruído Rock
pontuado com Electrónica, os olhos cerraram-se e a
mente percorreu inúmeros estratos do conhecimento e
da percepção numa posição introspectiva.
Também os Piano Magic apelaram a essa dimensão
imaginária onde os sons serviram de inspiração às di-
vagações da mente, com imagens de árvores a invocarem a natureza.
A onda peace & love foi encabeçada pelos Mercury
Rev, cujo impacto visual revelou-se quase tão intenso
quanto o aparato sinfónico do som. "The Dark is
Rising" estabeleceu o belo paradoxo.
Em "Slaveship", Josh Rouse fez o Sol brilhar, depois de
um concerto menos intenso, apesar dos óculos escuros.
They Might be Giants instalaram a festa com melodias
bem-dispostas e tiradas irónicas que Erlend Øye prolongou até de madrugada com misturas sonoras improváveis e uma simpatia bonificada.
Entretanto o Sol nascia mais uma vez, embora a Lua
ainda se vislumbrasse no céu, e ficava já a saudade de
um festival que ainda não tinha terminado.
O encerramento oficial do Primavera Sound mudou a
localização do X no mapa dos festivaleiros, que passou
a ser marcado no Club Apolo, no centro de Barcelona.
Os Broken Social Scene assinaram a última actuação
e mesmo sem Leslie Feist conseguiram ser demasiados para o palco intimista do Apolo — mas nunca demasiados para os nossos ouvidos —, alternando a posição e o instrumento entre e durante as músicas. Um
final calmo para um festival em que os gostos musicais
se atropelaram entre palcos diferentes e em que o cardápio acelerou o ritmo de absorção sonora até ao limite. Agora, finalmente, o tempo para digerir os sons desta Primavera.
Rewind Internacional 49
texto e fotos: Filipe Pedro
Glastonbury Festivals
E tudo a lama levou...
www.glastonburyfestivals.co.uk
Alguns media referem-se a Glastonbury como a
mãe de todos os festivais. De facto, é essa a sensação que fica uma vez que dentro do próprio festival
há muitos pequenos festivais a pedirem e merecerem atenção, e não apenas os de música.
Há 35 anos, Michael Eavis, um visionário agricultor
com alguns hectares nas proximidades da aldeia de
Pilton (55 km a sul de Bristol), pôs mãos à obra na criação do Festival Glastonbury. Durante os anos 70 o bilhete tinha o preço simbólico de uma libra (quando não
era gratuito), sempre com nomes carismáticos e um
culto crescente que eclodiu no final dos anos 80.
Presentemente Glastonbury dispõe de uma perspectiva universal de culturas e artes performativas. Digamos
que nada que algum dia tenhamos visto se compara à
dimensão e diversidade patente no local em questão.
Mais de 20 palcos simultâneos oferecem-nos teatros
de rua e de palco, instalações, filmes, conferências
pelos direitos humanos e Make Poverty History, stand
up comedy, artes circenses, concertos de artistas em
início de carreira, de Música do Mundo, Jazz, Acústica,
Pop, Rock, Electrónica ou Independente.
Quanto ao campismo, cada indivíduo ou família tem o
livre arbítrio de escolher a vizinhança, quer seja perto
de um jardim paradisíaco, quer seja perto da zona de
medicina alternativa e espiritual, das actividades cir-
50 Rewind Internacional
censes e teatrais, do cinema, e, naturalmente, da música (seja ela qual for). Algo que pode parecer estranho
aos nossos olhos é o elevado número de crianças e recém-nascidos no recinto, devidamente acompanhados pelos pais. Há inclusive um parque infantil
interactivo com dezenas de actividades motoras sem
o uso de energia que não a humana. Aliás, a
consciencialização para um mundo melhor passa
pelas óbvias dicas ecológicas, onde as acções que
fomentam a poupança energética, a reciclagem, a não
poluição do ambiente e a gestão dos recursos hídricos
estão na ordem do dia. Procurando recriar o ambiente
africano, faltam chuveiros, há frequentes quebras no
abastecimento de água e as latrinas não dispõem das
condições mínimas. Tudo isto, parece péssimo, mas
não deixa de ser uma lição de vida, ainda que para nós
possa constituir um choque absoluto. Além disso, tal
como em anos anteriores, fortes chuvadas inundaram
a enorme quinta onde o evento se realiza. O
resultado? Milhares de tendas afundaram-se ou tornaram-se barcos, flutuando sem destino pelo recinto,
enquanto os seus donos, com água pela cintura,
tentavam salvar os seus pertences. Horas depois, já
sem chuva não houve nada a fazer, a lama escorreu
em doses industriais tornando ingratas as caminhadas, mesmo com galochas.
Os Concertos
O palco John Peel – justa homenagem ao brilhante radialista dos novos talentos, desaparecido a 25 de Outubro de 2004 — pautou-se pela qualidade da terrorista
musical M.I.A., pelo cantautor americano Willy Mason e
pela diversão dos Art Brut, Maximo Park e M83.
Swami, Smith & Mighty e Daddy G (dos Massive
Attack) foram os nomes incontornáveis do palco
Raízes, enquanto que os Freestylers, Plump DJs,
Stereo MCs, Two Lone Swordsmen, The Bays e Marky,
Patife, Stamina & Cleveland Watkiss constituíram
propostas obrigatórias nas tendas electrónicas (um
autêntico micro-festival com diversas zonas chill out).
Por outro lado, Jason Webley, one man show (voz, sapateado, garrafa com terra e acordeão), foi a sensação
do palco Novos Talentos, enquanto os Hayseed Dixie
(paródia Folk aos australianos AC/DC) deixavam saudades depois da actuação no palco Avalon.
A uma larga distância desses dois palcos, Tom Vek, Hot
Hot Heat, The Others, Bloc Party, Royksopp, Fatboy
Slim, Kasabian, Martha e Rufus Wainwright e Ian Brown
marcararm presença no palco Other.
Na sexta-feira e no que diz respeito à Pirâmide, o palco
principal, o Pop Rock simpático dos Killers contrastou
com a sujidade sonora dos manos White Stripes. Jack
e Meg mostraram perícia e presença na apresentação
ao vivo dos temas do novo álbum, “Get Behind Me
Satan”. No sábado, ironia em letras com muita qualidade foi a proposta dos 12 elementos do Hip-Hop endiabrado dos Goldie Lookin Chain. Seguiram-se as alucinações dos Kaiser Chiefs, cujo vocalista deu uns passos de dança com um dinossauro insuflável. Chris
Martin e os restantes Coldplay ofereceram-nos um
excelente concerto com base no recém-editado “X &
Y”. Para além do momento acústico a la U2, ficou-lhe
bem fazer uma cover de um tema popular da australiana
Kylie Minogue (que cancelou Glastonbury por motivos de
saúde) durante o encore. Já no domingo a música foi
outra. Um Brian Wilson em nítido slow motion arrastou
multidões, os Garbage parecem ter regressado à boa
forma de 1998, os Primal Scream rodaram os clássicos
em fase menor da carreira e os Basement Jaxx ganharam
a aposta, fechando Glastonbury em grande, com Samba,
House e muita diversão à mistura.
2006 com direito a video
Glastonbury regressa ao contacto com o público em
Junho de 2007. Até lá está prevista a edição de um
documentário sobre o festival, realizado por Julien
Temple, o responsável de “Sex Pistols — Filth & The
Fury”, e agendado para meados de 2006.
Rewind Internacional 51 .
texto: Luís Mateus
Festimad Sur 2005
Pandemónio a sul de Madrid
www.festimad.es
O FestiMad, que até ao ano passado se realizava no
município de Móstoles, mudou-se este ano (27 e 28
Maio) para uma zona ao ar livre com capacidade para
cerca de 20 mil pessoas - o Parque da Cantueña, em
Fuenlabrada (a cerca de 18 km de Madrid). O Festival
já dava que falar ainda antes de começar. O seu cartaz
prometia emoções fortes com nomes como Marilyn
Manson, Slayer, System of a Down, Incubus ou os
Prodigy (que aqui voltaram à sua formação completa,
uma vez que Maxim aceitou actuar com a sua antiga
banda).
Marilyn Manson
No entanto, nem tudo correu bem na edição deste ano.
Devido ao longo período de seca, no local onde os
visitantes deveriam encontrar um espesso tapete
relvado, não existiam mais do que pedras e pó, muito
pó. Os assistentes queixaram-se do mau estado em
que se encontrava o recinto: poucas condições para
campismo, filas intermináveis para conseguir uma garrafa de água e preços excessivos. O espaço geral
contava apenas com três bebedouros, oito duches e
dez casas de banho para a totalidade dos festivaleiros.
Os maiores problemas começaram a tomar forma no
segundo dia do festival (sábado). Durante a actuação
da banda californiana Fu Manchu, uma das coberturas
de um dos palcos cedeu ao forte vento e caiu, obrigando a organização a suspender as actuações. Assim, os
Incubus, os System of a Down e os Prodigy tocaram
cinco horas mais tarde do que o previsto, preferindo
não cancelar os seus concertos, chegando-se a
considerar a possibilidade de estas bandas actuarem
apenas no dia seguinte.
Devido a este incidente, os ânimos exaltaram-se e um
grupo de indivíduos deu início a cenas de vandalismo.
Arremessaram pedras contra as pessoas, destruíram
várias tendas-bar e vandalizaram dois automóveis que
se encontravam em exposição para promover uma
conhecida marca.
Ainda assim, foi possível terminar o festival com todas
as actuações previstas. Os organizadores minimizaram
os problemas ocorridos e limitaram-se a emitir um
pedido de desculpas público, prometendo voltar com
melhores condições no ano que vem. No entanto, a
verdade é que as queixas foram imensas e a imagem
do Festimad encontra-se extremamente denegrida
depois destes acontecimentos.
PUB
Gráfica
52 Pause
texto: Cátia Monteiro
texto: João Pedro Almeida
Logh
Weezer
A Sunset Panorama
Make Believe
Música Activa, 2005
“A Sunset Panorama” foi concebido como um
objecto global, em que cada tema se interliga com os
demais, estabelecendo um equilíbrio entre as
paisagens mais sombrias e a intensidade da luz solar
reflectida pela neve. O álbum abre com um
instrumental e fecha igualmente sem vozes, num
tema solitariamente composto na guitarra de Mattias
Friberg, a ilustrar a vertente mais minimalista da
banda. O entremeio é formado por faixas que
seguem a linha dos álbuns predecessores, revelando
uma fusão de low-fi com impulsos Rock mais pesados do anterior “The Raging Sun”, mas sem nunca
chegar a magoar as cordas vocais de Friberg. Temas
como o single “Destinymanifesto” e ainda “Fell Into
the Well” ou “My Teacher’s Bed” apresentam uma
versão mais rica em melodia e com espaço para
refrões apelativos. “The Big Sleep” é mais despida,
lembrando-nos a importância que os Logh dão a
cada nota e aos silêncios que as medeiam, enquanto
“Bring On The Ether” nos remete para um ritmo lento
e espasmódico, de tensão latente e ausência de
fluidez marcadas. As horas passadas em estúdio,
mais curtas do que nos álbuns anteriores, foram
registadas em vídeo. O DVD que acompanha “A
Sunset Panorama” fornece as faixas integrais com
elevada qualidade de som, embora as opções pouco
claras da equipa de filmagem deixem a imagem
aquém das expectativas. O espírito introvertido dos
Logh confirma-se, apesar do visível investimento
numa imagem mais acessível.
www.logh.se
Geffen/Universal, 2005
O espectador atento por certo se lembrará do vídeo
que em 1994 mostrava um grupo de jovens bem
humorados a tocar no cenário da série “Happy Days”,
a ode a um também já desaparecido “Buddy Holly”. A
banda? Weezer. Estávamos nos anos dourados do
movimento Alternativo-Independente. Os fiéis à
revolução, que tinha na raiva adolescente dos Nirvana
o seu manifesto, encontravam um ponto de escape
Pop no meio de toda a agressividade latente da cena.
Os Weezer eram diversão e tinham Rivers Cuomo, o
líder nerd em que todos aqueles que não eram cool se
reviam. Em 96, com “Pinkerton”, um álbum bem mais
cru que o primeiro (para muitos a obra-prima do grupo
e uma das pedras de toque do movimento Emo), a
banda de Cuomo não recebeu do público uma
reacção equivalente à do álbum anterior. Os Weezer
sofreram crises internas, ficando em pausa, enquanto
os seus membros seguiram projectos paralelos. Será
que os Weezer ainda nos farão acreditar num regresso
aos seus anos dourados com este álbum? É pouco
provável. “Beverly Hills” é um single orelhudo, mas fica
a milhas, em termos de composição, de um “Say it
isn´t so” ou mesmo de um “Island in the Sun”, a canção que os trouxe de volta à ribalta. “Make Believe” é,
no seu conjunto, uma compilação de canções PopRock formatadas e medianas, com o pontual piscar de
olho aos anos 80 (em “This Is Such A Pity”) e um ou
outro momento mais musculado (exemplo de “We Are
All On Drugs”). A segunda metade do álbum melhora
ligeiramente, mas o produto final está ainda longe de
revitalizar a carreira da banda americana. O título diz
tudo: para já, ainda estão só a fingir.
www.weezer.com
Stop Cd’s 53
texto: Gonçalo Guedes Cardoso
Yeah Yeah Yeahs
Tell Me What Rockers
To Swallow
O DVD começa com um concerto ao vivo no Fillmore de São Francisco, onde
são interpretados 22 temas, seis dos quais em forma de bónus, retirados do
álbum de estreia “Fever To Tell” e de anteriores EPs. Realizado por Lance
Bangs, o espectáculo envolto numa aura de sensualidade, espontaneidade e
energia genuína, orbita em torno da carismática, magnética e inimitável Karen
O. As atenções da audiência centram-se na permanente dinâmica e genica da
vocalista, que, rebolando pelo chão, gatinhando, contorcendo-se e praticando
kung-fu, só se compara a Iggy Pop ou a uma partida de ténis musical. Ainda
assim, sobra espaço para o virtuosismo do guitarrista Nick Zinner (com solos
arrepiantes) e para a garantia de serenidade controlada do baterista Brian
Chase. Os extras incluem um documentário focado na digressão nipónica que
o realizador Patrick Daughters intitulou “Japan Behind the Scenes”. Igualmente
atractivo é o documentário dirigido por Spike Jonze que, juntamente com Lance
Bangs, entrevista de uma forma dinâmica e cativante a audiência antes e após
o concerto, obtendo as respostas mais deliciosas. Não foram esquecidos os
vídeos “Maps”, “Date With The Night”, “Pin” e “Y Control” (dirigido por Spike
Jonze). O pacote fica completo com a interpretação do tema-êxito “Maps” nos
MTV Movie Awards de 2004. Se dúvidas ainda existissem, após a ingestão
vitaminada de “Tell Me What Rockers To Swallow”, fica a certeza de que os YYY
são hoje a banda mais trash-flash art-school e inventiva de Nova Iorque, ainda
que se encontrem numa prateleira onde os Strokes, os White Stripes, os Vines
e os Kills também sirvam para encher a barriga.
Universal, 2005
www.yeahyeahyeahs.com
texto: Filipa Matos
Björk
Medúlla Special
Universal, 2005
Em “Medúlla Special”, acompanhamos todo o processo criativo do álbum,
desde o seu nascimento (o embrião que nos é explicado por Björk em
entrevista) até à sua prática (o parto) e inerentes dificuldades (a relação entre
vozes). Sejamos francos, o seu objectivo de fazer um álbum apenas com vozes
e sons humanos, para além de estranho, era difícil e requeria coragem. Os
convidados de Björk envolveram-se numa verdadeira aventura e deram, de
facto, o máximo, confiando num bom resultado. Nesta demanda, descobrimos
que o Homem é capaz de imitar a máquina, seja ela acústica ou electrónica. O
making of de “Medúlla - The inner or deep part of an animal or plant structure”,
é ainda uma viagem ao que de mais profundo existe nos seres vivos: sons
inacreditáveis, que não parecem humanos e que apenas são possíveis através
de uma grande entrega de sentimentos e perda da noção de ridículo. A cantora
islandesa disse, ao conceber este regresso às origens, que pensou no Homem
e na sua energia primitiva de criar, antes de ter entrado na sociedade. E, assim,
Björk foi capaz de se fundir com a música, continuando uma pioneira no campo
musical e conseguindo, de facto, moldá-lo aos seus sonhos, por mais bizarros
que estes sejam. Quanto ao outro DVD, o dos telediscos de “Medúlla”,
facilmente nos deixamos levar pelos universos mágicos das obras plásticas e
visuais presentes em “Oceania”, “Who Is It?”, “Triumph Of A Heart”, “Desired
Constellation” e “Where Is The Line”. Como extra é-nos oferecido o making of
do divertidíssimo “Triumph Of A Heart”, em que se explica o conceito do gato
dançarino. É ver para crer.
www.bjork.com
54 Stop Dvd’s
texto: Luís Santos Batista
O segundo livro de poesia de Fernando Ribeiro, “As Feridas Essenciais”, vem
provar que nem só de música e Moonspell se alimenta o “Eu” criativo e
imaginativo do músico/escritor. Tal como aconteceu na sua primeira obra, este
trabalho é um atrevido convite que nos abre as portas ao mundo decadentista
(e porque não simbolista?) de Fernando Ribeiro. Durante a leitura atenta de “As
Feridas Essenciais”, procurei passear pelas suas páginas de uma forma solta,
descontraída e com o objectivo de tirar o maior prazer da leitura. Não me quis
preocupar com a lógica ou ordem das páginas do livro, não respeitei a sua
criteriosa sequência. Foi neste ritmo de descoberta, poema após poema, que
me propus construir as feridas e gozar da sua essencialidade. Descobri o quão
belo pode ser viajar num simples poema até “Grozny”, que aparece aqui
descrito com alguma frieza mas mesmo assim carregado de algum
romantismo. Meditei no que era sentir o “Toque da Morte”, experimentei as
feridas que o tempo não apaga da nossa memória popular com “Cofre
Aberto”, saboreei o “Último Momento de Sempre” e acabei por me apaixonar
talvez pela mais bela das feridas — sentir como seria acordar em sítios
diferentes. Este livro acaba por ser uma enriquecedora experiência literária em
que o hemisfério de influências de Fernando Ribeiro irrompe de forma
descomprometida e sem nunca colocar em causa a autenticidade criativa do
escritor.
As Feridas Essenciais
Fernando Ribeiro
Edições Quasil, 2005
texto: Luís Santos Batista
A ousadia de ficcionar em banda desenhada a biografia de uma das maiores
referências da literatura de horror, Howard Phillips Lovecraft, acabou por unir
os esforços do argumentista Hans Rodionoff e do veterano Keith Giffen. A
estes juntou-se ainda o artista argentino Enrique Breccia que, através dos seus
desenhos, se encarregou de dar vida às personagens desta história. A notável
recuperação biográfica do criador de Necronomicon, Cthulhu ou da estranha
cidade Arkham é superiormente retratada nesta obra onde não faltam as suas
vertiginosas obsessões, os incontornáveis pesadelos e as alucinantes visões.
Os demónios, a sua mais fiel companhia, são talvez o toque de génio numa
vida em que o grotesco, o tremor e o bizarro enchem os dias da sua atribulada
existência. Esta incrível obra de banda desenhada contou ainda com a
preciosa colaboração do realizador John Carpenter, que assinou o prefácio,
sendo ainda a tradução portuguesa assegurada por Fernando Ribeiro,
também ele um confesso e assumido admirador de toda a literatura
Lovecraftiana.
Lovecraft
Hans Rodionoff, Enrique Breccia, Keith Giffen
Tradução: Fernando Ribeiro
Vertigo-DC Comics / Vitamina BD Edições, 2005
Stop Livros 55
texto: Luís Santos Batista
Entrevista a Fernando Ribeiro
As feridas essenciais
O final do ano 2004 foi amplamente fértil em termos
literários para Fernando Ribeiro, dos Moonspell. A
apresentação do seu livro, “As Feridas Essenciais”,
revela-nos as mais íntimas sensações do autor.
Quase em simultâneo, e com a chancela da BD
Mania, Fernando Ribeiro assina a tradução da biografia em banda desenhada de H. P. Lovecraft.
Parece que neste livro existe uma maior separação
entre o Fernando Ribeiro escritor e o compositor
que nos habituámos a ver nos Moonspell.
Sim, nesse aspecto concordo, pois, hoje em dia, tenho
56 Rec Entrevista
um manancial de recursos literários muito maior do que
tinha quando escrevi o “Como Escavar um Abismo”.
Mas, apesar de as pessoas o pensarem, não é minha
intenção separar as personae. Encaro as coisas fluidamente, sem me preocupar com a vertente Moonspell
ou com a vertente literária. É óbvio que a personagem
ligada à banda ajuda na imposição do meu estilo literário, mas sem misturar ambições. Apesar de a temática
ser praticamente a mesma, pois tudo o que coloco
neste tipo de escrita tem uma mesma origem de influências, noto que a linguagem neste livro progrediu
imenso.
foto: Paulo Moreira
Este livro está então muito mais próximo do Decadentismo que admira, de Baudelaire ou até mesmo
de Álvaro de Campos, por exemplo?
Alguns poemas julgo que sim. É claro que tenho as minhas tendências e é obvio que a escola francesa continua a ser uma grande inspiração para mim. No entanto, as pessoas têm lido o meu livro e parecem mais
sensíveis a essas influências espontâneas do que eu,
que apenas escrevo e não estou a circunscrever qualquer tipo de influência na fase de escrita. Também é
verdade que várias pessoas já disseram que a minha
escrita carrega consigo todas essas influências, inclusive do Álvaro de Campos.
Por exemplo, o poema “Coisas para Fazer Hoje” é um
poema muito Álvaro de Campos. No fundo, tenho as
influências e tento incorporar tudo de uma forma
saudável.
Essa forma saudável consiste em evitar alguns
clichés literários?
Sim, porque não me enquadro em nenhum movimento.
As pessoas conhecem-me como músico e a expectativa em relação à minha poesia é quase inexistente. Isso
acaba por ser muito bom, pois não me liga a nada, não
esperam de mim poesia moderna, urbana ou qualquer
outra etiqueta.
O escritor José Luís Peixoto afirma que consegue,
ao ler o seu livro, experimentar viagens, partidas e
regressos, dentro de nós próprios e para dentro de
nós próprios.
Existem diversos poemas que acabam por carregar essas ideias, mas que, na minha perspectiva só podem
ser tratados parcialmente. O livro, apesar de ser constituído por poesia solta, foi todo ele construído quase
de um modo conceptual. O José Luís foi sensível a esse aspecto e, realmente, existe uma viagem feita de regressos, de rupturas ou de novos caminhos. O poema
“Hoje acordámos em sítios diferentes” sintetiza tudo
isso. É um poema muito curto que simboliza não uma
viagem a um sitio específico, mas como me sinto quando entro em contacto com diferentes lugares, com diferentes culturas e todas as sensações mirabolantes
que me invadem, quer de dentro para fora, quer de fora
para dentro, e que me marcam.
Será então a vontade de comunicar e de escrever
uma das suas feridas mais essenciais?
À luz do título e do seu significado, que se quis fluido e
de compreensão luminosa, os temas e as vontades do
livro são cristalizados nas palavras «as feridas essenciais», isto é, tudo quanto chegue a mim (ou chegue eu
às coisas), seja por que caminho ou transporte. Os
poemas são quase mapas dos avanços, das retiradas
e do lugar onde sempre se fica. Tenho necessidade de
comunicar, de desabafar, sentindo-me tristemente belo
nas palavras. Escrever para publicar é já escrever contando com os outros, com a sua simpatia ou desprezo,
com o seu enfrentar das palavras que eu próprio já enfrentei. Não sei se é bom comunicar ou guardar para
nós, tudo isto é imperfeito, mas sinto algo quando acabo de escrever e isso é o que mais conta enquanto ferida essencial.
Considera as feridas ao nível do nosso conhecimento, do nosso saber, como feridas essenciais?
Não sou obcecado pelo conhecer, aliás, nem sempre
se lê para conhecer, de vez em quando estuda-se para
ignorar ou desconhecer. Interessa-me conhecer o que
os outros já conhecem, aprender e estar atento às coisas e seres que podem chegar até nós e passar a fazer
parte de nós num poema, numa conversa ou num
olhar.
Tem agendado, quase em simultâneo com este seu
livro, o lançamento da biografia em banda desenhada de H. P. Lovecraft, com tradução sua. Como se
envolveu neste projecto?
Foi um desafio muito complexo, não a tradução em si,
mas a tradução no formato que se impunha à BD, que
tem exigências muito complicadas, como a gestão do
espaço dos balões e a dinâmica do texto, uma vez que
existem bastantes diferenças em relação ao texto
literário em que a palavra, de certa forma, é suprema.
Neste caso, perante um texto de banda desenhada, a
palavra tem de se conter para dar lugar à imagem, para
não inflacionar a interpretação do leitor. Depois, encontrei uma pessoa que respeito muito enquanto editor, o
Pedro Silva, que conferiu um grau de dificuldade ao
meu trabalho, um grau de exigência muito positivo, e
com quem aprendi muito. Foi engraçado trabalharmos
os dois porque tínhamos formas diferentes de ler o
Lovecraft e de entender a língua inglesa, o que provocou alguma intensidade na forma como me empenhei.
A ajuda do Pedro também foi determinante para ultrapassar algumas nuances, certas dinâmicas próprias da
banda desenhada.
Provavelmente, irei agora trabalhar numa outra tradução do Lovecraft, literária e não de BD, mas esta aventura foi muito enriquecedora. É para mim um grande orgulho ter a minha contribuição num álbum que considero luxuoso e numa história exemplar e muito bem
desenhada.
Rec Entrevista 57
texto: A.L.
White Stripes
Rock instantâneo
Maio marcou o regresso dos White Stripes ao
airplay americano com o single “Blue Orchid” a ser
inesperadamente lançado apenas um mês após a
sua gravação. Um tema cru e frenético entre o fresco e o clássico, com um pezinho no estranho e o
resto todo no muito bom, a reafirmar os irmãos
White como geniais-radicais, até no método de distribuição da sua música.
Ao que se sabe, “Blue Orchid” foi escrito, gravado e
entregue à editora da banda (V2) em cerca de 18 dias.
A 18 de Abril estava já disponibilizado para download
no iTunes por 0.99 dólares Foi assim, tão simplesmente, que uma música sem vídeo, sem destaque televisivo, sem toques polifónicos, sem hype e, sobretudo,
sem campanha de marketing, entrou no ouvido dos fãs
espalhados por todo o país.
Num universo dominado por majors que determinam
quando os discos são lançados, sem olhar ao momento da sua finalização, este foi, sem dúvida, um feito raro. Não é novidade o ritmo vertiginoso com que
algumas bandas gravam os seus trabalhos, mas vários
dos casos conhecidos indicam um hiato de mais de
seis semanas entre produto final e lançamento.
A música “instantânea” ganha eventual espaço em géneros como o Hip-Hop e o Reggae, mas com registos
que quase nunca são lançados comercialmente e que
são ouvidos por públicos específicos, em mercados e
58 Chupa Chupa
momentos particulares. É na música Country que se
sente mais abertura a este conceito de imediato, como
se pôde notar pelos muitos temas pós-9/11 e pró-guerra que foram gravados e rapidamente postos no ar.
A generalização deste conceito de “instantâneo” poderia mudar de forma positiva a esfera da cultura Pop. Em
vez de pequenas e atabalhoadas estrelas salvas por
mega produções e budgets milionários, poderiam
emergir mais artistas reais, dos que cantam a sua experiência do mundo numa base quotidiana e contactam mais directamente com o público. Menos regidos
por agendas da indústria e lobbys comerciais e mais
predispostos aos desafios e surpresas da espontaneidade. Esta revolução tem na tecnologia digital uma
preciosa e acessível ferramenta.
De salientar que a música “instantânea” era já recurso
do Rock na década de 60, época áurea em que era importante o criativo e o cultural em detrimento do “banal
com meia dúzia de importantes excepções” em que vivemos hoje.
Ainda que não possamos descurar o peso da que pode
ser chamada geração MTV, alegra-nos pensar que serão possíveis meios termos entre a força motriz que
criou o Rock na sua essência de organismo vivo, activo
e interventivo e o stardoom comercial que chega ao público e alimenta a indústria. “Blue Orchid” prova que
não é preciso vender a alma ao diabo.
foto: Patrick Keeler
“Get Behind Me Satan”
Meg White entrevista Jack White
Meg — Jack, estas canções são
sobre ti?
Jack — Não Meg, são sobre ti.
Meg — Isso queria eu.
Jack — Não querias nada. Sabes
que eu não escrevo sobre mim nem
sobre os meus amigos, muito menos
sobre a minha irmã.
Meg — Pensei que talvez tivesses
aberto uma excepção depois de saíres do armário.
Jack — (ronrona)
Meg — Podes falar-me um pouco
sobre a capa do álbum?
Jack — Não sei Meg, podes falar-me
um bocadinho sobre o universo?
Meg — Queres que fale de física
quântica ou de mecânica quântica?
Jack — Cala-te.
Meg — O que significa para ti “Blue
Orchid”?
Jack — A mesma coisa que piza significa para ti.
Meg — Jack, porque é que não consegues estar cool?
Jack — Porque estás a tentar enganar-me outra vez!
Meg — Jack a única coisa que
alguma vez tentei contigo foi nunca
tentar fosse o que fosse.
Jack — Tens razão.
Meg — A tua voz está muito estridente neste álbum, como antigamente.
Jack — Também reparei nisso.
Meg — Queres um cigarro?
Jack — Cala-te.
Meg — Deu-te gozo fazer este disco?
Jack — Dá-me sempre gozo trabalhar contigo Meg.
Meg — Eu sei isso, mas divertiste-te?
Jack — Este disco estava amaldiçoado quando o começámos, e depois entrou nos eixos de repente, já
no final. Nessa altura comecei a gostar, lembras-te?
Meg — Sim, lembro-me.
Jack — Há mais alguma coisa que tu
gostasses de saber?
Meg — Só se estás contente com o
disco.
Jack — Estou sim. Acho que é o disco mais denso que já fizemos. Tu não?
Meg — Cala-te.
Jack — Queres fazer outro?
Meg — hmmmmmm… contigo?
Jack — (ronrona)
2005
Julho
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Lisboa Photo . www.lisboaphoto.pt
13.º Sete Sóis Sete Luas . www.7sois7luas.com
8.º Festival Internacional de Dança em Paisagens Urbanas . http://sapp.telepac.pt/lugaradanca
Festival Grec . www.barcelonafestival.com
40.º Festival de Sintra . www.cm-sintra.pt/Categoria.aspx?COD=FS2005
12.º Festival Internacional de Guitarra de Santo Tirso . www.festivaldeguitarra.org
7.º Festival MUSA . www.criativa.org
Dark Ritual Fest
5.º Festival Trebilhadouro . http://trebilhadouro.com.sapo.pt
5.º FIG - Festival Internacional de Gigantes
Festival de BD de Pinhal Novo
24.º Estoril Jazz . www.projazz.pt
13.º Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde . www.curtasmetragens.pt
22.º Festival de Almada . www.ctalmada.pt
27.º Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim . www.cm-pvarzim.pt
5.º Festival Hype@Tejo . www.musicanocoracao.pt
14.º Jazz no Parque . www.serralves.pt
2.º Cool Jazz Fest . www.cooljazzfest.com
IberRock - Festival Ibérico de Rock . www.iberrock.com
6.ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira . www.cineclubetavira.com
2.º Festival Benquerença . www.benquerenca.com
6.º Festival Tejo . www.festivaltejo.com
4.º Rockoeste . www.rockoeste.com
Avanca’05 . www.avanca.com
7.º Festival Músicas do Mundo . www.fmm.com.pt
15.º Festival Vilar de Mouros . www.vilardemouros.pt
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Música
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BD
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Lisboa Photo . www.lisboaphoto.pt
13.º Sete Sóis Sete Luas . www.7sois7luas.com
8.º Festival Internacional de Dança em Paisagens Urbanas . http://sapp.telepac.pt/lugaradanca
Festival Grec . www.barcelonafestival.com
Andanças . www.pedexumbo.com
Festival de Jazz de Montreux . www.montreuxjazz.com
9.º Festival Sudoeste . www.musicanocoracao.pt
FIB . www.fiberfib.com
Astropolis . www.astropolis.com
Festival Internacional de Música de Dança de Ponta Delgada
Jazz em Agosto . www.camjap.gulbenkian.org
Haldern Pop Festival . www.haldern-pop.de
Festival Sunrise
La Route du Rock . www.laroutedurock.com
13.º Paredes de Coura . www.paredesdecoura.com
Edinburgh International Film Festival . www.edfilmfest.org.uk
Pukkelpop . www.pukkelpop.be
Freedom Festival . www.freedom-festival.org
Lowlands . www.lowlands.nl
V Festival . www.vfestival.com
IV Festival Internacional de Máscaras e Comediantes . www.filipecrawford.com
14.º Noites Ritual Rock
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Internacionais
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Lisboa Photo . www.lisboaphoto.pt
13.º Sete Sóis Sete Luas . www.7sois7luas.com
Festa do Avante . www.pcp.pt/festa-do-avante
6.º Angra Rock . www.angrarock.com
Experimenta Design . www.experimentadesign.pt
London Design Festival . www. londondesignfestival.com
9.º Festival de Cinema Gay e Lésbico . www. lisbonfilmfest.org
Música Viva - Festival Internacional de Electroacustica . www.misomusic.com
Dublin Theatre Festival . www.dublintheatrefestival.com
IV Festival Internacional de Máscaras e Comediantes . www.filipecrawford.com
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Informações para a secção Play devem ser enviadas para [email protected]
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