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Bella Paulista: 10 mil itens à venda, 24 horas por dia, para um público diário de 6 mil pessoas tendênc ia Pão com sobrenome Padarias viram grifes, diversificam produtos e serviços e se destacam no ramo da alimentação fora de casa por Mônica Pupo empreendedor | agosto 2011 [email protected] 36 O pão é um alimento milenar, talvez um dos primeiros a ser fabricado pelo homem, em 10 mil a.C. Ao longo do tempo, dois fatores tiveram maior impacto na sua produção: a descoberta do fermento, há 7 mil anos, e a mecanização dos processos, no século 19. Agora, embora as receitas tradicionais continuem na preferência da clientela, as padarias inovam não apenas nos pães, mas principalmente nas estratégias comerciais. Se até algum tempo atrás estes estabelecimentos limitavam-se a vender pão e servir um simples café com leite no balcão, hoje em dia o que se vê são espaços cada vez mais sofisticados, com uma gama variada de produtos e serviços que vão do delivery ao atendimento 24 horas. Valendo-se do estilo de vida agitado das grandes cidades, as panificadoras direcionam o foco para a alimentação fora do lar, concorrendo diretamente com restaurantes, lanchonetes e cafeterias. Ao todo, estima-se que haja atualmen- te 60 mil padarias em todo o País, sendo que 97% são micro e pequenas empresas. As estatísticas confirmam o bom momento do setor de panificação, que em 2010 registrou crescimento de 13,7% e faturamento de R$ 56,3 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip). “A padaria tornou-se um autêntico centro gourmet, oferecendo ao consumidor serviços diferenciados, refeições, delivery, facilidades como internet sem fio, instalações espaçosas, bem iluminadas, atendimento ágil e qualificado”, define Alexandre Pereira, presidente da Abip. Segundo o executivo, foi a partir dos anos 1990 que as padarias brasileiras passaram a investir em produtos e serviços diferenciados. O objetivo era ganhar competitividade num novo ambiente de negócios, já que na época foram extintos o tabelamento do preço do pão e o monopólio do governo sobre a compra e distribuição de trigo. “Paralelamente, as panificadoras precisavam ter instrumentos para enfrentar o assédio das grandes redes de supermercados, que foram absorvendo e Pereira, da Abip: falta de mão de obra qualificada deixa setor com 50 mil vagas abertas provocando a falência de milhares e milhares de pequenos negócios, incluindo mercearias, quitandas, peixarias, verdureiros, açougues, etc.”, diz Pereira. Foi nesse contexto que surgiram empreendimentos como a Bella Paulista, que “A padaria tornou-se um autêntico centro gourmet, oferecendo ao consumidor serviços diferenciados e facilidades como internet sem fio”, diz Pereira um espaço exclusivo para a culinária oriental, com cardápio que lista sushis, sashimis e temakis, além de bufê oriental servido nos dias de semana durante o almoço. Já o serviço à la carte funciona das 16h às 5h. O investimento no restaurante japonês foi de R$ 250 mil, incluindo a adaptação do salão, que ganhou decoração própria. Foram contratados mais dez funcionários e a expecta- tiva da empresa é ampliar a média de movimento da casa para 7 mil pessoas por dia e aumentar o faturamento bruto em 10%. “O crescimento do negócio varia de 10% a 15% ao ano. É um número alto, que acompanha o mercado”, analisa Luzia. De acordo com a gerente, 50% da receita total é obtida através do atendimento às mesas. Além de comida japonesa, a padaria serve porções, sanduíches, sopas, risotos, massas, carnes, sobremesas, sucos e drinques à base de café. Outro serviço que contribui para aumentar o faturamento é o delivery, que também funciona 24 horas por dia, sem pausas. “A ideia é oferecer cada vez mais opções aos clientes, para que consigam resolver seu dia em um só lugar.” A decoração da casa – assinada pela arquiteta Lea Mezher – é inspirada nas boulangeries francesas e composta por materiais recicláveis, madeira de demolição e peças em cobre. Um dos itens que chama a atenção é a fachada, onde os pães e doces são expostos na vitrine como verdadeiros objetos de desejo. O conceito de “grife de pães” popularizou-se a partir dos anos 1990 e hoje é adotado por padarias de todo o País. Inspiradas no exemplo das principais redes brasileiras e estrangeiras, as irmãs Linda empreendedor | agosto 2011 funciona 24 horas por dia nas proximidades da Avenida Paulista, em São Paulo. Fundada em 2002, a panificadora atende diariamente cerca de 6 mil pessoas, que têm à disposição mais de 10 mil itens à venda, que vão muito além de pães e doces, incluindo adega com 200 rótulos de vinhos, bufê de café da manhã e sopas, pizzaria, sorveteria e o recém-inaugurado restaurante japonês. A variedade de serviços e mercadorias busca agradar aos diferentes tipos de clientes. “Eu diria que a padaria é frequentada, no almoço, por donas de casa, executivos e estudantes que trabalham e estudam na área, e, à noite, por famílias e jovens descolados que frequentam as baladas da região, ou que vêm de outras regiões após a balada para se alimentar, atraídos pelas diversas opções que oferecemos”, avalia Luzia Bento, gerente-geral da Bella Paulista. O ponto de venda conta com uma estação de queijos e frios, vindos de diferentes países. Oferece ainda uma seção de hortifrúti, onde é possível escolher entre verduras, legumes e frutas frescas, além de empório com alimentos e especiarias nacionais e importadas como azeites, vinagre balsâmico, bolachas, bombons, geleias, alcaparras, champignons, entre outros. A nova aposta da padaria é a criação de 37 tendênc ia empreendedor | agosto 2011 Santo Trigo: com tíquete médio bem superior ao da venda no balcão, vendas nas mesas representam 50% da receita 38 Cover e Marlene Rocha abandonaram as respectivas carreiras de publicitária e professora universitária para abrir uma panificadora em Florianópolis. A ideia surgiu em 2005, quando as empresárias notaram que o mercado de padarias na capital catarinense ainda era incipiente se comparado ao de cidades como São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. “Como consumidoras, percebemos essa deficiência de estabelecimentos com conceito mais elaborado, pois a maioria das padarias da cidade limitava-se a vender pão de trigo e pão doce; no máximo serviam um café no balcão”, conta Linda sobre a decisão de abrir o negócio. A princípio, a intenção era fabricar pães artesanais e entregá-los em domicílio e sob encomenda para os clientes. “Como eu tinha experiência na organização de eventos, sabia da dificuldade de encontrar bons fornecedores de pães em Florianópolis”, afirma Linda. Mas o projeto tomou novos rumos durante a elaboração do plano de negócios. “Percebemos que seria interessante investir no ponto de venda, seguindo a tendência das padarias-boutique que já são comuns Setor de panificação registrou crescimento de 13,7% e faturamento de R$ 56,3 bilhões em 2010 nas grandes cidades”, relembra Marlene. Fundada em 2005 como “Pão da Casa”, a padaria passou a se chamar “Santo Trigo” no início de 2011. A mudança de nome ocorreu por conta da dissolução da parceria com a antiga sócia, que herdou o direito de uso do nome e a unidade mais antiga da rede, localizada em Coqueiros, região continental de Florianópolis. Às irmãs coube a administração das outras duas unidades, que produzem por mês 45 tipos de pães, como ciabatta, pão italiano, sovado, com queijo e gergelim, além de doces, bolos, salgados e lanches diversos. O layout da loja privilegia a exposição dos pães, que ficam dispostos em uma ampla vitrine posicionada próxima ao balcão. “Só não colocamos a vitrine de pães na fachada porque bate muito sol e prejudica o produto”, informa Marlene. Com crescimento médio de 20% ao ano, a padaria também serve de ponto de encontro para refeições e reuniões de negócios. Para facilitar a vida dos clientes, há serviço de internet wi-fi e cardápio de sopas, cafés, sucos, lanches, pizzas, empadões e doces, todos de fabricação própria. E é justamente o café expresso servido nas mesas Produtos finais melhores exigem aparelhos mais modernos, aquecendo também o mercado de fornecedores de tecnologias e equipamentos Indústria de apoio Os bons resultados do setor de panificação refletem também na indústria de apoio, que inclui fornecedores de matérias-primas, tecnologia e equipamentos. É o caso da Cozil, companhia que atua no ramo de cozinhas profissionais, sediada em Itaquaquecetuba (SP). Embora tenha mais de 25 anos de mercado, foi nos últimos quatro anos que a empresa se de- senvolveu, evoluindo de um galpão de pequeno porte para uma área industrial com 30 mil metros quadrados e 230 colaboradores. “O crescimento das padarias e do food service como um todo também influiu muito no quesito tecnologia e qualidade, levando-nos a abandonar a produção artesanal de peças e partir para a automatização através de corte a laser e dobras CNC, com enormes ganhos de produtividade, acabamento, qualidade final e uniformização de processos”, relata Paulo Brito, gerente comercial da Cozil. Ao todo, a empresa fornece equipamentos para aproximadamente 200 panificadoras espalhadas por todas as regiões do Brasil, “sobretudo nas capitais e cidades médias, onde o crescimento econômico tem aumentado o nível de exigência dos consumidores por produtos finais melhores, influindo diretamente na necessidade do panificador por aparelhos mais modernos”, completa Brito. Entre os itens mais vendidos estão refrigeradores, freezers, chapas, sanduicheiras, fogões e linha de mobiliário, incluindo mesas, estantes e prateleiras em aço inoxidável. A expectativa da fabricante é seguir crescendo no ritmo acelerado do mercado de panificação. “Esperamos crescer 30% ao ano, nos próximos cinco anos, em função do crescimento das panificadoras, da alimentação fora de casa, da forte demanda turística gerada pelos eventos esportivos (Copa e Olimpíadas) e aumento da profissionalização do setor de modo em geral”, avalia Brito. Assim como acontece em outros setores da economia brasileira, um dos entraves ao crescimento do mercado de panificação – que gera 80 mil novos empregos a cada três anos – é a carência de mão de obra qualificada. “Hoje registramos uma demanda de 50 mil postos de trabalho no setor. Ou seja, se tivéssemos 50 mil profissionais qualificados para o trabalho de panificação, estariam imediatamente empregados”, afirma Pereira, da Abip. LINHA DIRETA Abip: www.abip.org.br Bella Paulista: www.bellapaulista.com Cozil: www.cozil.com.br Santo Trigo: www.paodacasa.com.br empreendedor | agosto 2011 que garante a maior lucratividade hoje em dia, representando aproximadamente 50% da receita. “O tíquete médio da mesa é bem maior que o da venda no balcão, por isso ampliamos cada vez mais o cardápio e o serviço aos clientes”, diz Linda. De acordo com a empresária, as padarias são cada vez mais competitivas pois, além da conveniência, são sinônimo de qualidade em alimentação. “Os clientes sabem que na panificadora os alimentos são todos frescos, feitos no dia, o que muitas vezes não acontece em estabelecimentos como confeitarias, lanchonetes e cafeterias, que costumam terceirizar a produção”, explica Marlene. 39
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