Técnica de Lichtenstein com Progrip®
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Técnica de Lichtenstein com Progrip®
Susana Domingues e col. - Rev. Port. Cirurgia Ambulatória, 2008; 9: 41-49 Técnica de Lichtenstein com Progrip®-Alternativa a considerar em Cirurgia Ambulatória? Resultados preliminares de um estudo prospectivo. 41 Susana Domingues ** Vitor Simões * Carlos Magalhães ** António Neto ** Manuel Seca *** Lichtenstein REPAIR WITH PROGRIP® MESH-VALID ALTERNATIVE IN DAY-CARE SURGERY? PRELIMINARY RESULTS OF A PROSPECTIVE STUDY Resumo Objectivo- Avaliação prospectiva da nova prótese Progrip® , sua aplicação na técnica de Lichtenstein e possíveis vantagens no contexto de cirurgia ambulatória. Apresentação dos resultados preliminares. Material e Métodos- Estudo prospectivo, após esclarecimento e consentimento informado, incluindo 83 doentes do sexo masculino, correspondendo a 100 hérnias inguinais primárias, operadas consecutivamente em regime ambulatório e submetidas a hernioplastia de Lichtenstein modificada, tendo sido aplicadas alternadamente uma prótese de polipropileno convencional (Grupo1), e uma prótese de Progrip® sem qualquer fixação adicional (Grupo2). Foram estudados os parâmetros: idade, antecedentes de cirurgia da parede abdominal, profissão de risco, risco anestésico, tipo de hérnia, tempo de cirurgia, tempo de colocação de prótese, complicações precoces, dor pósoperatória, tempo de retoma da actividade de vida diária, complicações no 1º mês, retoma da actividade profissional, complicações no 3º mês e grau de satisfação. Os dados foram recolhidos na consulta pré-cirúrgica, acto cirúrgico, no recobro imediato e tardio, contacto telefónico do dia seguinte, consultas após a primeira semana e primeiro mês, e através de inquérito telefónico realizado ao 3º mês, estando programado inquérito telefónico ao 6º mês, 1º, 2º e 5º anos. O tratamento estatístico dos dados foi realizado através do programa SPSS versão 16. Resultados- A idade média dos doentes foi de 52.65 anos, verificando-se no Grupo1 maior percentagem de casos com antecedentes de cirurgia da parede abdominal. Não se observaram diferenças na distribuição de acordo com a presença de profissão de risco ou relativamente ao risco anestésico. Em 38% do Grupo1 e 36% do Grupo2, o defeito era bilateral. Em 44,7 % das hérnias do Grupo1 o defeito era directo, em 31,9% indirecto e 23,4% misto, enquanto que no Grupo2 40% era directo, 44% indirecto e 16% misto. No Grupo1, o tempo médio de cirurgia e de colocação de prótese foi significativamente maior que no Grupo2 (p<0,01). Quando comparadas a presença de complicações precoces, não se verificaram diferenças com significado estatístico entre os dois grupos (p=0,34). Em 76% do Grupo1 a dor pós-operatória foi classificada como ligeira, enquanto que no Grupo2 em 68% foi classificada como nula ou ligeira. Não se verificaram diferenças significativas quanto ao regresso à actividade de vida diária, nem quanto à presença de complicações no final do primeiro mês e do terceiro mês. Quanto ao regresso à actividade profissional, em 51% do Grupo1 e 56.6% do Grupo2, o regresso à actividade profissional ocorreu durante ou no final do primeiro mês. Em ambos os periodos considerados e em ambos os grupos, mais de 95% dos doentes declararam-se muito satisfeitos. Conclusões- Ambas as opções parecem constituir uma boa escolha para o tratamento cirúrgico da hérnia inguinal primária no adulto em regime ambulatório, proporcionando um pós-operatório imediato seguro, baixa taxa de complicações persistentes, e permitindo um regresso precoce às actividades diárias. Os resultados preliminares do nosso estudo, apontam a nova rede Progrip® como uma alternativa segura à clássica rede de Polipropileno, apresentando como vantagem um menor tempo cirúrgico. Palavras Chave Hérnia Inguinal; Técnica Lichtenstein; Progrip; Cirurgia Ambulatória * - Interno Complementar de Cirurgia Geral HGSA / CHPorto ** - Assistente Hospitalar do HGSA / CHPorto *** - Director do Departamento de Ambulatório do HGSA / CHPorto Endereço para correspondência: Susana Domingues Unidade Cirurgia Ambulatória CHP-HSA E-mail: [email protected] 42 Susana Domingues e col. - Rev. Port. Cirurgia Ambulatória, 2008; 9: 41-49 Summary Aim- Presentation of early results of a prospective study comparing Progrip® and conventional polypropylene mesh in Lichtenstein repair of groin hernia. Methods- Consecutive, eighty three male for primary groin hernia reparation were enrolled, corresponding to a hundred groins, with ethical and informed consent protocol. Modified Lichtenstein technique was performed for day-care surgery from April to July. Polypropylene conventional meshes (Group1) and Progrip® meshes (Group2) were implanted alternating in each groin. Several clinical parameters were evaluated and compared between the groups. The data were collected from surgical and consultation records and through telephonic survey after three months. The statistical data was performed using the program SPSS version 16. Results- The average age of patients was 52.65 years, with the Group1 greater in percentage of cases with a history of surgery of the abdominal wall. There were no differences in distribution according to presence of risk profession or for the anesthetic risk. In 38% of Group1 and 36% of Group2, the defect was bilateral. In 44.7% of Group1 the hernia defect was direct, in 31.9% indirect and in 23.4% mixed, while 40% in Group2 was direct, indirect in 44% and in 16% mixed. In Group1, the average time of surgery and placement of meshes was significantly higher than in Group2 (p<0.01). Comparing the presence of early complications, there were no differences with statistical significance between groups (p=0.34). In 76% of Group1 postoperative pain was classified as mild, while in 68% in Group2 was classified as mild or none. There were no significant differences regarding the return to daily activity, neither for the presence of complications in the first month and third month. In 51% of Group1 and 56.6% of Group2, the return to work occurred during or in the first month. In both periods considered, and for both groups, over 95% of patients declared themselves very satisfied with their surgery. Conclusions- Both two types of meshes seem to be feasible options for the surgical treatment of primary groin hernia in adults in an outpatient setting, providing an immediate postoperative insurance without or with mild pain, with low rate of complications, and allowing an early return to daily activities. The new Progrip ® mesh, seems to be a safe alternative to the traditional polypropylene mesh, resulting in a shorter surgical time and showing a similar rate of complications. Keywords Groin Hernia; Lichtenstein Technique; Progrip; Ambulatory Surgery Introdução e Objectivo | A Hérnia Inguinal é uma das patologias encarceramento nervoso no processo de fixação da malha ou cirúrgicas mais frequentes em todo o mundo, estimando-se que é no processo de fibrose decorrente da reparação. No sentido de responsável por cerca de 750000 intervenções/ano nos EUA.3 Com o melhorar a biocompatibilidade, encontram-se em desenvolvimento desenvolvimento nos finais do século 20 das técnicas de reparação e discussão novos materiais e novos métodos de fixação da prótese, sem tensão, ocorreu uma revolução na abordagem deste tipo de de que são exemplos as colas, material reabsorvível para fixação ou patologia, sendo hoje uma intervenção realizada em regime de novas próteses sem necessidade de fixação secundária. ambulatório numa percentagem crescente de casos. Ainda longe Este estudo tem como objectivo a avaliação prospectiva de uma dos 85% registados nos EUA, em Portugal e em 2005, foram realizadas nova prótese (Progrip®), sua aplicação na técnica de Lichtenstein em ambulatório 18% das intervenções por Hérnia Inguinal, sendo e possíveis vantagens em cirurgia ambulatória, comparando-a que no HGSA-Centro Hospitalar do Porto, foram realizadas 69% à prótese convencional de polipropileno. Neste trabalho, são do total (dados do IV Inquérito Nacional de Cirurgia Ambulatória apresentados os resultados preliminares. realizado pela APCA). 1 Material e Métodos | Após esclarecimento e consentimento Na presente época, em que a cirurgia da hérnia é sinónimo, na informado, foram incluídos neste estudo prospectivo, 83 doentes do quase totalidade dos casos, de reparação sem tensão, o cirurgião sexo masculino, correspondendo a 100 hérnias inguinais primárias, tem ao dispor um cada vez mais numeroso leque de materiais, operadas consecutivamente em regime ambulatório no Serviço de dispositivos e técnicas, continuando no entanto, a ser a reparação Cirurgia Ambulatória do HGSA-CHP, com início em 01/04/2008 e final de Lichtenstein, a técnica “golden standard”da abordagem anterior em 12/07/2008. Todas as hérnias foram submetidas a hernioplastia da Hérnia Inguinal. O acumular da experiência conduziu a uma de Lichtenstein modificada, tendo sido aplicadas alternadamente estabilização da taxa de recorrência nos centros especializados, uma prótese de polipropileno monofilamentar macroporosa constituindo a dor crónica a complicação tardia mais frequente e de convencional, com ancoragem contínua com fio Ethibond® 0, e uma mais difícil abordagem, frequentemente subvalorizada, e responsável prótese de Progrip® pré-formada sem qualquer fixação adicional. por incapacidade e diminuição de qualidade de vida importantes.2, 3, 4, 5 As hérnias foram classificadas em dois grupos de acordo com o tipo De natureza neuropática na sua maioria dos casos, é atribuída ao de prótese usada: Grupo1– Polipropileno, Grupo2-Progrip®. Para os Susana Domingues e col. - Rev. Port. Cirurgia Ambulatória, 2008; 9: 41-49 43 dois grupos foram comparados: idade, antecedentes de cirurgia Resultados | O universo deste estudo é constituído por 100 da parede abdominal, profissão de risco, risco anestésico, tipo de hérnias operadas entre Abril e Julho de 2008. Foram constituídos 2 hérnia (directa, indirecta ou mista), tempo de cirurgia, tempo de grupos: Grupo1 : n=50 em que foi aplicada uma malha de polipropileno colocação de prótese, complicações precoces, dor pós-operatória, convencional,e Grupo2:n= 50 em que foi aplicada a nova malha Progrip®. tempo de retoma da actividade de vida diária, complicações no 1º A idade média dos doentes foi de 52.65 anos, o desvio padrão de mês, retoma da actividade profissional, complicações no 3º mês e 15.7 anos e a mediana de 53.0 anos. Não se verificou diferença com grau de satisfação. Os dados relativos à anamnese, ao acto cirúrgico significado estatístico nos dois grupos (fig 1). e ao 1º mês, foram recolhidos na consulta pré-cirúrgica, durante o acto cirúrgico, no recobro imediato e tardio pós-cirúrgico, contacto No Grupo 1 verificou-se uma percentagem significativamente telefónico do dia seguinte, consulta realizada na primeira semana e maior de casos com antecedentes de cirurgia da parede abdominal consulta após o primeiro mês (protocolo 1). Os dados relativos ao 3º (Quadro1). mês foram recolhidos através de inquérito telefónico (protocolo 2), Não se observaram diferenças com significado estatístico na estando programado inquérito telefónico ao 6º mês, 1º, 3º e 5º anos. distribuição dos casos de acordo com presença ou ausência de No Grupo1, foi aplicada uma prótese de polipropileno monofilamentar profissão de risco (Quadro1). macroporosa convencional segundo a técnica de Lichtenstein, com Relativamente ao risco anestésico, no Grupo 1, 20% foram classificados ancoragem continua com fio Ethibond® 0. como ASA I, 64% como ASA II e 16% como ASA III, enquanto que No Grupo2, foi aplicada a nova prótese Progrip®, constituída por 32% dos doentes do Grupo 2 foram classificados como ASA I, 58% uma malha de polipropileno monofilamentar macroporosa, que como ASA II e 10% como ASA III (Quadro 1) tem como característica única ser auto adesiva, não necessitando Em 38% das hérnias do Grupo 1 e em 36% do Grupo 2, foram para a sua fixação de material de sutura. realizados no mesmo acto cirúrgico, correcção simultânea de hérnia Como complicações precoces, entenderam-se as complicações ou inguinal bilateral. Em 62% do Grupo 1 e 64% do Grupo 2 tratava-se intercorrencias detectadas no pós-operatório imediato ou durante de uma hérnia unilateral. Em 44,7 % das hérnias do Grupo 1 o defeito a primeira semana de pós-operatório, incluindo-se a presença de era directo, em 31,9% indirecto e 23,4% misto. Quanto ao Grupo 2, equimose, edema, seroma, hematoma, infecção da ferida operatória 40% apresentaram-se como hérnias directas, 44 % indirectas e 16% e retenção urinária. mistas (Quadro 1). A dor foi considerada em separado, determinada na primeira semana de pós-operatório e no final dos 3 meses, sendo utilizada uma escala A comparação do tempo de cirurgia nos dois grupos, revelou analógica de dor (0-10) e, classificada como Nula (0), Ligeira (1-3), diferenças com significado estatístico (p<0,01). No Grupo1, o Moderada (4-6), Intensa (7-9) e Máxima (10). tempo médio de cirurgia foi de 40,66 minutos (desvio padrão de Por tempo de retoma da actividade de vida diária, entendeu- 12), enquanto que no Grupo2 foi de 29,34 minutos (desvio padrão se o tempo necessário para o restabelecimento da rotina diária de 8,5) (fig2). domiciliária. Os dados recolhidos foram processados e analisados estatisticamente Quadro 1 | no programa SPSS versão 16. GRUPOS Parâmetros Figura 1 | 80 60 IDADE 40 20 progrip polipropileno TipoProtese CIRURGIA ABDOMINAL Sim Não PROFISSÃO DE RISCO Sim Não RISCO ANESTÉSICO ASA I ASA II ASA III TIPO DE HÉRNIA Unilateral Bilateral Direita Esquerda Directa Indirecta Mista Grupo 1 Polipropileno - n(%) Grupo 2 Progrip® - n(%) 13(26%) 37(74%) 9(18%) 41(82%) p<0,001 23(50%) 23(50%) 23(47,9%) 25(52,1%) ns 10(20%) 32(64%) 8(16%) 16(32%) 29(58%) 5(10%) 31(62%) 19(38%) 29(58%) 21(42%) 21(44,7%) 15(31,9%) 11(23,4%) 32(64%) 18(36%) 28(56%) 22(44%) 20(40%) 22(44%) 8(16%) ns ns 44 Susana Domingues e col. - Rev. Port. Cirurgia Ambulatória, 2008; 9: 41-49 Susana Domingues e col. - Rev. Port. Cirurgia Ambulatória, 2008; 9: 41-49 45 46 Susana Domingues e col. - Rev. Port. Cirurgia Ambulatória, 2008; 9: 41-49 O tempo de colocação de prótese foi significativamente menor no o número total de casos, nem quando considerado o subgrupo Grupo 2 (p<0,01), verificando-se um tempo médio de três minutos de doentes operados a hérnia unilateral. No Grupo1 a média de (desvio padrão de 1,3), enquanto que no Grupo1 a média foi de 13,3 regresso sem limitações à actividade de vida diária foi de 4.98 dias, minutos (desvio padrão de 4,6) (fig2). e no Grupo 2 foi de 4.67 (fig 3). Figura 2 | Figura 3 | 70 25 60 20 50 15 Tempo Cirurgia ActivDiária 40 10 30 5 20 0 10 progrip progrip polipropileno TipoProtese polipropileno TipoProtese Quadro 2 | 25 GRUPOS 20 Parâmetros 15 Tempo Prótese 10 5 0 progrip polipropileno TipoProtese Quando comparadas a presença de complicações precoces, não se verificaram diferenças com significado estatístico entre os dois COMPLICAÇÕES PRECOCES Sem Complicações Equimose Edema Seroma Hematoma Infecção Retenção urinária DOR PÓS-OPERATÓRIA Nula (0) Ligeira (1-3) Moderada (4-6) Intensa (7-9) Grupo 1 Polipropileno - n(%) Grupo 2 Progrip® - n(%) 29(58%) 4(8%) 12(24%) 2(4%) 2(4%) 1(2%) 26(52%) 5(10%) 7(14%) 6(12%) 5(10%) 1(2%) - 38(76%) 10(20%) 2(4%) 3(6%) 31(62%) 15(30%) 1(2%) grupos (p=0,34). A complicação mais frequente em ambos os grupos foi o edema, correspondendo a 24% no Grupo1 e a 14% no Grupo2. Apenas um doente desta série apresentou infecção precoce do Não se verificaram diferenças com significado estatístico entre local cirúrgico (Grupo2), que resolveu com drenagem, cuidados de os dois grupos, quando comparadas a presença ou ausência de penso e antibioterapia. Em sete doentes registaram-se hematomas complicações no final do primeiro mês, bem como no final do tendo-se optado em três casos (dois do Grupo1 e um do Grupo2) terceiro mês. Em ambos os periodos a complicação mais frequente por drenagem (Quadro 2). foi a sensação de corpo estranho verificando-se no primeiro período superioridade relativa no Grupo2, tendência que se inverteu no Quanto à dor no pós-operatório, em 76% do Grupo1, a dor foi segundo período considerado. O número de doentes que referiram classificada como ligeira, enquanto que no Grupo2 em 68% foi dor manteve-se estável nos dois periodos. Não se detectaram casos classificada como nula ou ligeira. Em apenas três casos, dois do de infecção persistente ou recorrência (Quadro 3). Quando presente Grupo1 e um do Grupo2, a dor foi classificada como intensa dor no terceiro mês, esta foi classificada como ligeira na totalidade correspondendo no caso do Grupo2 ao doente que apresentou dos doentes do Grupo2, enquanto que no Grupo1, um doente (2,1%) infecção da ferida operatória, e nos dois casos do Grupo1 aos doentes classificou a dor como moderada (Quadro 4). que apresentaram hematoma, um com necessidade de drenagem Quanto ao regresso à actividade profissional, em 51% do Grupo1 e 56.6% (Quadro 2). do Grupo2,o regresso à actividade profissional ocorreu durante ou no final Quando comparados o tempo de regresso à actividade de vida diária, do primeiro mês,enquanto que em 23.4% do Grupo1 e 15.2% do Grupo2, não se verificaram diferenças significativas, nem quando considerado o regresso ocorreu entre o primeiro e o segundo meses (Quadro 5). Susana Domingues e col. - Rev. Port. Cirurgia Ambulatória, 2008; 9: 41-49 Quadro 3 | 47 Discussão e Conclusões | Nos países desenvolvidos, nos últimos trinta anos, a cirurgia em regime de ambulatório é provavelmente GRUPOS Parâmetros Grupo 1 Polipropileno - n(%) Grupo 2 Progrip® - n(%) a área de maior expansão cirúrgica. A centralização da medicina no 34(69.4%) 4(8.2%) 9(18.4%) 2(4.1%) - 25(53.2%) 6(12.8%) 13(27.7%) 3(6.4%) - várias vantagens, como uma menor taxa de complicações pós- 27(58.7%) 4(8.7%) 14(30.4%) 1(2,2%) - 28(62.2%) 6(13.3%) 10(22.2%) 1(2,2%) - COMPLICAÇÕES 1º MÊS Sem Complicações Dor Corpo Estranho Dor+Corpo Estranho Infecção Recorrência COMPLICAÇÕES 3º MÊS Sem Complicações Dor Corpo Estranho Dor+Corpo Estranho Infecção Recorrência utente e as alterações de organização dai decorrentes, apresentam operatórias, menor stress no utente, possibilidade de recuperação no ambiente familiar, regresso precoce às actividades diárias e profissionais, bem como um aumento da acessibilidade dos doentes à cirurgia.9 A cirurgia da hérnia é por todas as suas características, um tipo de cirurgia que apresenta vantagens claras na sua realização em ambulatório, devendo ser considerada neste regime, sempre que cumpridas as condições infra-estruturais hospitalares e os requisitos individuais necessários (recomendações da GREPA 2008). Quadro 4 | GRUPOS Parâmetros Grupo 1 Polipropileno - n(%) Grupo 2 Progrip® - n(%) 41(89.1%) 4(8.7%) 1(2.1%) - 38(84,4%) 7(15.5%) - Dor 3º Mês Nula (0) Ligeira (1-3) Moderada (4-6) Intensa (7-9) A cirurgia da hérnia no adulto é hoje sinónimo, na quase totalidade dos casos, de reparação sem tensão. Independentemente da técnica, o uso de redes sintéticas reduz substancialmente o risco de recorrência herniária. Encontram-se disponíveis no mercado numerosas redes, sendo necessário considerar várias características para a eleição do material ideal (tipo de polímero, tamanho dos poros, tipo de estrutura filamentar, elasticidade, resistência, etc). Quadro 5 | As malhas monofilamentares têm vantagens relativamente às GRUPOS Parâmetros multifilamentares quanto à infecção, e é aceite que materiais de Grupo 1 Polipropileno - n(%) Grupo 2 Progrip® - n(%) 16(34%) 8(17%) 11(23.4%) 1(2.1%) 11(23.4%) 17(37%) 9(19.6%) 7(15.2%) 1(2.2%) 12(26.1%) Retoma Profissional < 30 dias 30 dias 30-60 dias > 60 dias Reformado peso e densidade reduzidos apresentam vantagens relativamente ao desconforto e sensação de corpo estranho no pós-operatório, apresentando como inconveniente uma provável maior recorrência em hérnias de risco. 2, 3, 5, 6, 7 Apesar das numerosas técnicas e dispositivos desenvolvidos, a técnica de Lichtenstein, continua a ser o padrão da reparação da hérnia Em ambos os periodos considerados e em ambos os grupos, mais inguinal por via anterior, beneficiando da experiência acumulada de 95% dos doentes declararam-se muito satisfeitos (fig 4). ao longo dos anos. Comparativamente às técnicas de reparação endoscópica, apresenta uma taxa de recorrência sobreponível, mas está associada a uma menor curva de aprendizagem, menor risco Figura 4 | de complicações sérias e menores custos directos hospitalares, associando-se por outro lado, a uma taxa de dor crónica e sensação de corpo estranho superiores. 2, 3, 4 Polipropileno - 3º mês Progrip - 3º mês No nosso estudo, nos dois Grupos, não foi possível encontrar diferenças significativas no número de complicações e no tempo de regresso à actividade de vida diária e actividade profissional. Ambas as técnicas parecem constituir uma boa opção para o tratamento cirúrgico da hérnia inguinal primária no adulto em regime 100% 98% ambulatório, proporcionando um pós-operatório imediato seguro, com dor nula ou ligeira em mais de 65% dos casos, e permitindo um Satisfeito regresso às actividades diárias em menos de 5 dias. A sensação de Muito Satisfeito corpo estranho é a principal queixa referida pelos doentes em ambos Insatisfeito os grupos, não constituindo uma limitação importante na qualidade de vida, mas referida em 32,6% do Grupo1 e 24,4% do Grupo2 no final 48 Susana Domingues e col. - Rev. Port. Cirurgia Ambulatória, 2008; 9: 41-49 de 3 meses. Não foi registado nenhum caso de recorrência, mas o tempo reduzido de follow-up não permite retirar nenhuma conclusão 4. Parviz K. Amid, M.D., Groin Hernia Repair: Open Techniques , World J. Surg. 29, 1046–1051 (2005) precoce. Sabe-se que 50% das recorrências ocorrem nos primeiros 5 5. Jiirg Metzger, Nick Lutz, Ian Laidlaw, Guidelines for inguinal anos e que a taxa de recorrência esperada após procedimento de hernia repair in everyday practice , Ann R Coll Surg Engl 2001; Lichtenstein clássico varia, em centros com experiência, entre 1-3%, 83: 209-214 constituindo este um dos índices a monitorizar atentamente ao 6. Agarwal BB, Agarwal KA, Mahajan KC, Prospective double-blind longo do tempo do estudo. 2, 3, 7 Poder-se-ia esperar, que a utilização randomized controlled study comparing heavy- and lightweight da nova rede Progrip® nos grandes defeitos herniários conduzisse polypropylene mesh in totally extraperitoneal repair of inguinal a uma recorrência precoce, porém até à data tal não se verificou. hernia: early results., Surg Endosc. 2009 Feb;23(2):242-7. Relativamente à dor, foi referida em 10,8% do Grupo1 e 15,5% do 7. A.Koch, S.Bringman, P. Myrelid, S.Smeds and a. Kald, Randomized Grupo2 no final dos 3 meses, e classificada como ligeira em todos clinical trial of groin hernia repair with titanium-coated os casos excepto num caso do Grupo1 em que foi classificada lightweight mesh compared with standard polypropilene mesh, como moderada (4-6 da escala analógica), encontrando-se estes British Journal of Surgery 2008; 95:1226-1231 resultados de acordo com o esperado na literatura. 2, 3 O tempo 8. Bisgaard T, Bay-Nielsen M, Kehlet H., Re-recurrence after cirúrgico e o tempo de colocação de prótese, no grupo onde foi operation for recurrent inguinal hernia. A nationwide 8-year utilizada a nova prótese Progrip®, foi em média 10 minutos inferior follow-up study on the role of type of repair; Ann Surg. 2008 aos tempos obtidos quando utilizada a rede clássica de Polipropileno. Aug;248(2):347-8 Este facto, pode traduzir-se numa maior rentabilidade da gestão do 9. Cirurgia de Ambulatório: um modelo de qualidade centrado tempo operatório. Considerando o número de cirurgias efectuadas no utente, Relatório Preliminar da Comissão Nacional para o em média num dia de actividade cirúrgica no Serviço de Cirurgia Desenvolvimento da Cirurgia de Ambulatório, 2008; Ambulatória-CHP (período das 8:30Hs às 14:00Hs), a utilização da nova rede poderá permitir a realização de mais 1-2 actos cirúrgicos. A questão dos custos terá de ser levada em consideração, uma vez que a utilização da nova rede acarreta necessariamente maiores custos directos com o material a utilizar, não sendo fácil a contabilização no balanço final do tempo cirúrgico rentabilizado. Como conclusão preliminar deste estudo, podemos afirmar que em Cirurgia Ambulatória, a técnica de Lichtenstein continua a ser uma boa opção para o tratamento da hérnia inguinal primária do adulto, proporcionando um pós-operatório imediato seguro e uma baixa taxa de complicações persistentes, permitindo um regresso precoce às actividades diárias, bem como proporcionando um alto grau de satisfação nos utentes. A nova rede Progrip® parece ser uma alternativa segura à clássica rede de polipropileno, apresentando como vantagem um menor tempo cirúrgico com uma taxa semelhante de complicações. BIBLIOGRAFIA 1. Lemos P., Regalado A, Soares J., Sá Couto P., Domingues S., What Type of Day Surgery Are We Performing in Portugal? Data From The 4th National Survey. Revista Portuguesa de Cirurgia Ambulatória 8:5-34(2007) 2. Inguinal Hernia in the 21st Century: An Evidence-Based Review, Curr Probl Surg 2008 April; 45:261-312 3. Brian Reuben, MD, Leigh Neumayer, MD, MS, Surgical Management of Inguinal Hernia, Advances in Surgery 40 (2006) 299–317