História e Génese da Canção dos Alemães Música: Franz Josef
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História e Génese da Canção dos Alemães Música: Franz Josef
História e Génese da Canção dos Alemães Música: Franz Josef Haydn (1732-1809) Letra: August Heinrich Hoffmann von Fallersleben (1798-1874) 1. A história atribulada da Canção dos Alemães 2. Génese da letra e da melodia 3. A Canção dos Alemães e o seu caminho para hino nacional 1. A história atribulada da Canção dos Alemães O hino é um cântico solene. Antigamente cabia ao hino nacional venerar sobretudo o respectivo regente no poder – isto pelo menos no século XVIII, quando os primeiros hinos nacionais se tornaram moda. Mais tarde, a maioria dos hinos ainda hoje usados se estabeleceu na sequência de levantes revolucionários ou batalhas de libertação nacional, como aconteceu em França, Polónia e nos EUA. De acordo com isto, a sua força simbólica era grande para os habitantes dos respectivos Estados. De modo que esses cânticos populares simbolizam, até à data, uma tradição nacional sem rupturas e confiante em si. Era diferente a situação na Alemanha após o fim da última guerra mundial: A Lei Fundamental da República Federal da Alemanha de 1949 não estableceu um hino nacional. Embora a intenção tivesse sido totalmente outra na hora do nascimento do hino, trechos da Canção dos Alemães, até então usada, que evocavam uma "Alemanha acima de tudo" - -2situada entre os rios Maas, Memel, Etsch e Belt - não teriam tido mais cabimento no hino nacional alemão. 2. Génese da letra e da melodia O poeta August Heinrich Hoffmann von Fallersleben (1798-1874) era catedrático de literatura. Como democrata radical e partidário dos assim chamados "Freisinnige" (livrespensadores), movimento precursor do liberalismo na Alemanha, acabou perdendo em 1842 , sobretudo por causa das suas manifestações nas "Canções Apolíticas", a cátedra de ciências literárias e linguísticas na Universidade Silesiana Frederico Guilherme de Breslau. Fez os versos da Canção dos Alemães durante suas férias de Verão no mês de Agosto de 1841 na Ilha de Helgoland, na altura ainda pertencente à Inglaterra. Pouco depois, em 4 de Setembro do mesmo ano, o editor Friedrich Campe publicou em Hamburgo a primeira versão impressa. A melodia era adotada do hino "Gott erhalte Franz, den Kaiser, unsern guten Kaiser Franz!" (Deus salve Francisco, o Imperador, nosso bom Imperador Francisco!) de Josef Haydn. Por conseguinte, o hino nacional alemão também remonta, quanto à sua melodia, ao louvor a um monarca. Haydn (1732-1809) compôs a trova em 1796. No dia 12 de Fevereiro de 1797, a canção teve a sua estreia por ocasião do aniversário do regente austríaco Francisco II e passou a ser chamada de "Hino Imperial". Mais tarde, Haydn aproveitou a melodia do "Hino Imperial" na composição do segundo movimento (de variações) do quarteto de cordas op. 76, no 3. Em alusão à melodia em que se inspira, este quarteto tornou-se conhecido como "Quarteto Imperial". Hoffmann von Fallersleben visava com os seus versos a unidade da nação alemã, que naquele tempo parecia mera utopia. Pois o território, onde predominava a língua alemã, se compunha desde 1815 de 39 Estados individuais (um império, cinco reinos, um principado eleitor, sete grão-ducados, dez ducados, onze principados e quatro cidades independentes da autoridade do império), que se tinham juntado na Confederação Germânica, por ocasião do Congresso de Viena. Não havia chefe de Estado comum, nem administração ou legislação uniformes, não havia união económica e aduaneira e tampouco um exército comum. -3Por isso, sobretudo intelectuais críticos reivindicavam publicamente a superação da existência de muitos Estados pequenos e da prepotência dos príncipes e a fundação de um Estado nacional alemão. A canção foi, pela primeira vez, entoada em público no dia 5 de Outubro de 1841, por ocasião duma marcha luminosa em Hamburgo. 3. A Canção dos Alemães e o seu caminho para hino nacional Mesmo assim, a verdadeira popularização da canção "Alemanha, Alemanha acima de tudo" ainda demorou até à fundação do Império germânico por Bismarck em 1871. Não chegou logo a alcançar a categoria de hino nacional. Na altura, a canção "Die Wacht am Rhein" (A Guarda no Reno) foi substituída pelo hino "Heil Dir im Siegerkranz, Herrscher des Vaterlands!" (Salve, ó Senhor da Pátria, coroado de louros!). Além do mais, já naquele tempo, não faltava quem criticasse que a primeira estrofe extrapolava os limites. Pois o Rio Maas ("Meuse" – em francês) atravessava na sua maior parte a França e a Bélgica e o Rio Etsch ("Adige" em italiano) a Itália. O Rio Belt era parte da Dinamarca e o Memel é hoje um rio lituano. A Canção dos Alemães foi cantada oficialmente pela primeira vez em 1890, por ocasião da devolução de Helgoland à Alemanha em troca da ilha africana de Zanzibar. No dia 11 de Agosto de 1922, precisamente 81 anos após o nascimento do hino, o primeiro Governo social-democrata elevou a Canção dos Alemães à categoria de hino nacional, porém, sem usar o próprio termo hino nacional. Friedrich Ebert, o Presidente do Reich Alemão deu a seguinte justificação no âmbito dum discurso comemorativo: "Unidade e Justiça e Liberdade! Este trítono dos versos do poeta deu, em tempos de desunião e opressão internas, expressão ao ardente desejo de todos os alemães; deverá agora acompanhar o nosso árduo caminho para um futuro melhor…" Na República de Weimar, acrescentou-se, por pouco tempo, uma quarta estrofe a essa canção, que logo iria cair em esquecimento. Parece amarga ironia da história terem sido justamente os social-democratas que forneceram a Hitler um hino de Estado cuja primeira estrofe iria ser tão nefastamente abusada. Poucas semanas após a tomada do poder, a liderança nacional-socialista fundiu o hino com uma canção de luta da SA. A partir daí ouvia-se sempre, em circunstâncias oficiais, após a primeira estrofe da Canção dos Alemães (as duas restantes tinham sido proibidas), o "Horst-WesselLied". -4- Com a queda do Reich, a Canção dos Alemães também foi posta no índex. Os aliados proibiram o cantar do hino sob pena de multa. Voltou a ser entoado ilegalmente, pela primeira vez, em 1948 por ocasião dum comício do partido "Deutsche Reichspartei" em Wolfsburg. Pelos vistos, tanto os políticos como as forças de ocupação tinham subestimado a necessidade de perseverança dos alemães neste caso, segundo confessou mais tarde Theodor Heuss, primeiro Presidente da República Federal da Alemanha. Por isso, deputados de vários partidos fizeram uma moção, logo após a fundação da República Federal da Alemanha, no sentido de que todas as três estrofes fossem declaradas parte integrante do hino nacional. Heuss, porém, queria visibilizar o recomeço democrático com a introdução dum novo hino. De modo que, num primeiro passo, substituíu, no mês de Agosto de 1950, a Canção dos Alemães pela melodia "Ich hab’ mich ergeben" (Entreguei-me), incumbindo, ao mesmo tempo, o poeta Rudolf Alexander Schröder e o compositor Carl Orff da missão de criarem um novo hino para os alemães. Orff recusou e Herman Reutter o substituíu na tarefa, compondo o novo hino nacional "Land des Glaubens, deutsches Land" (Terra da fé, terra alemã). A estreia foi no reveillon de 1950. Mas não houve ressonância no povo, a obra não teve aceitação. E pior ainda: Numa sondagem de opinião, no Outono de 1951, três entre quatro alemães ocidentais se pronunciaram a favor da manutenção da Canção dos Alemães como hino nacional. Quase um terço dos entrevistados que eram a favor pleiteou que futuramente a terceira estrofe fosse cantada no lugar da primeira. Assim mesmo, a proibição integral da Canção dos Alemães pelos aliados ainda se mantinha. O Chanceler Federal Konrad Adenauer sentiu-o n a própria pele, já no mês de Abril, quando, ao entoar de forma demonstrativa o hino antigo no Parlamento, causou logo um escândalo político. Mesmo quando grande parte dos deputados, que, emocionados, tinham justado a voz ao canto colectivo, chegaram à terceira estrofe, os Altos Comissários das potências vendedoras, sobressaltados, manifestaram o seu desagrado. Na altura, outros povos ainda associavam com essa melodia excessivamente a sanha xenófoba e hegemónica dos nacionalsocialistas. Porém, nas comemorações dos seus 75 anos, Adenauer tentou, no início do ano de 1951, mover os circunstantes na escadaria dos paços do conselho de Bonn a entoar com ele a terceira estrofe do hino. Na ocasião, a banda de música ainda lhe estragou a festa – pois o hino antigo não constava do seu repertório. Assim mesmo, o Chanceler acabou impondo a sua vontade. Pois o congresso do partido da União Democrata-Cristã (CDU) em Karlsruhe, em Outubro de 1951, aprovou unanimemente a moção de solicitar ao Presidente Federal Heuss que levantasse o banimento da Canção dos Alemães. Ao menos a terceira estrofe deveria -5futuramente poder retomar a tradição alemã. Também num boletim do Governo Federal, Adenauer observou pouco depois que não havia nenhuma outra canção tão arraigada nos corações dos alemães como essa. No mês de Maio, ele finalmente conseguiu impor a sua vontade após troca de correspondência com Heuss: Em actos oficiais voltaria a ser cantada a terceira estrofe da canção de Hoffmann von Fallersleben. A questão de saber se era apenas a terceira estrofe ou toda a canção dos Alemães que assim se elevava novamente à condição de hino nacional seria assunto de discussão entre os juristas ao longo dos 38 anos seguintes – sem resultado. Só em Março de 1990, os juízes do Tribunal Constitucional Federal sentenciaram que apenas a terceira estrofe estava "protegida pelo direito penal". Significa que ainda falta uma lei formal sobre o hino nacional da República Federal da Alemanha. Foi o então Presidente Federal Richard von Weizsäcker que acordou, no mês de Novembro de 1991, numa troca de cartas com o Chanceler Kohl – analogamente à correspondência histórica entre Heuss e Adenauer de há 40 anos atrás – que a terceira estrofe da Canção dos Alemães seria declarada hino da República reunificiada. Fonte: www.bundesregierung.de