O Congresso Brasileiro na Fronteira da Inovação

Transcrição

O Congresso Brasileiro na Fronteira da Inovação
Washington, Cambridge, Londres, San Diego
2011 • 2012 • 2013
O Congresso
Brasileiro
na Fronteira
da Inovação
Um relatório das missões parlamentares
de estudo sobre políticas de inovação
aos Estados Unidos e Europa
[1]
MEMBROS DO CONSELHO DO
WOODROW WILSON CENTER
Nomeado pelo Presidente como
representante do Governo
Federal
PRESIDENTE
Fred P. Hochberg, Presidente e Presidente do
Conselho, Export-Import Bank of the United
States
Thomas R. Nides, Vice-Presidente, Morgan
Stanley
VICE-PRESIDENTE
Sander R. Gerber, Presidente e CEO, Hudson Bay
Capital Management LP
Conselho Consultivo do
Instituto Brasil
DIRETORA, PRESIDENTE E CEO
PRESIDENTE
Jane Harman
Hon. Anthony Harrington
MEMBROS DA SOCIEDADE CIVIL
Presidente do Comitê Executivo, Albright
Stonebridge Group
Timothy Broas, Sócio, Winston & Strawn LLP
John T. Casteen, III, Presidente Emérito,
Universidade da Virgínia
MEMBROS
Dr. Leslie Bethell, Professor Emérito,
University of London
Charles Cobb, Jr., Diretor-Presidente Sênior e
CEO, Cobb Partners Ltd.
Dr. Luis Bitencourt, Professor, National
Defense University
Thelma Duggin, Presidente, Fundação AnBryce
Barry S. Jackson, Diretor-Presidente, The Lindsey
Group e Conselheiro Estratégico,
Mr. Antonio Britto, Presidente, Interfarma
Brownstein Hyatt Farber Schreck
Hon. Luigi Einaudi, Presidente, San Giacomo
Charitable Trust
Nathalie Rayes, Diretora Executiva, Fundação
Azteca América
Dr. Carlos Eduardo Lins da Silva, Editor,
Revista Política Externa
Jane Watson Stetson, Presidente dos Parceiros
do Community Wellness, Centro Médico
Dartmouth-Hitchcock
Dr. Thomas E. Lovejoy, Fellow Sênior, The
United Nations Foundation
Dra. Maria Hermínia Tavares de Almeida,
Professora, Universidade de São Paulo
MEMBROS DO SETOR PÚBLICO
James H. Billington, Bibliotecário do Congresso
John Kerry, Secretário, Departamento de Estado
dos EUA
G. Wayne Clough, Secretário, Smithsonian
Institution
Arne Duncan, Secretário, Departamento de
Educação dos EUA
David Ferriero, Arquivista dos Estados Unidos
Carole Watson, Presidente em Exercício, National
Endowment for the Humanities
[2]
As Seguintes Empresas são Membros
Corporativos do Conselho Consultivo
AES, ALCOA, ALCOA Foundation, AMGEN,
AMYRIS, BUNGE, CHEVRON, COCA-COLA,
COTEMINAS, CUMMINS, EMBRAER,
EXXONMOBIL, GERDAU, MERCK, RAIZEN
Washington, Cambridge, Londres, San Diego
2011 • 2012 • 2013
O Congresso Brasileiro
na Fronteira da Inovação
Um relatório das missões parlamentares
de estudo sobre políticas de inovação
aos Estados Unidos e Reino Unido
Organizado por Paulo Sotero com Michael Darden e Anna Carolina Cardenas
Suporte institucional
[3]
[4]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Prefácio
N
ão é por falta de talentos que o Brasil tem um desempenho ainda acanhado em inovação para uma economia de seu porte. O
país produz cientistas de primeira linha, desde Oswaldo Cruz e
Carlos Chagas. Em décadas recentes, cientistas brasileiros ganharam espaços significativos entre docentes e pesquisadores de grandes universidades
e centros de pesquisas na Europa e nos Estados Unidos. Tem aumentado,
também, o número de brasileiros com formação científica que se destaca
no exterior por sua capacidade de empreender.
Tampouco faltam ao País formuladores e executores de políticas públicas que compreendem que a capacidade de inovar, ou seja, de aplicar
novos conhecimentos na produção de bens, processos e serviços de alto
valor agregado demandados pelo mercado, depende da construção de um
ambiente no qual universidades, empresas, investidores, legisladores e agências reguladoras atuam para aumentar a eficiência e a produtividade da
economia e a riqueza nacional. Entre estes, destacam-se Glauco Arbix, presidente da Finep, a agência federal de fomento à inovação, e ex-presidente
do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), Carlos Américo
Pacheco, reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e ex-secretário-executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia , e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (FAPESP) e ex-reitor da Unicamp. Na década
passada Arbix conduziu um minucioso estudo comparativo para a Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial sobre políticas de inovação em
sete países, incluindo os mais avançados, com o objetivo de identificar os
entraves à inovação no Brasil, as melhores práticas e apontar caminhos.
Não é, pois, por desconhecimento que o Brasil tem tido um desempenho frustrante em inovação. O problema é cultural e político. Ciente disso,
o Brazil Institute do Woodrow Wilson Internacional Center for Scholars
[5]
aceitou o desafio proposto em 2010 pela Interfarma de organizar missões
anuais de parlamentares brasileiros interessados em estudar as políticas públicas e as práticas que lastreiam e estimulam a inovação nos Estados Unidos e na Europa. A proposta foi construída a partir de seis seminários que
realizamos em 2008 e 2009 — em parceria com a empresa de consultoria
estratégica Prospectiva, de São Paulo — dos quais participaram especialistas
americanos e brasileiros, entre estes os acima citados. Um alentado sumário
das exposições e debates — Inovação no Brasil: políticas públicas e estratégias empresariais —, escrito pelo cientista politico Ricardo Sennes, diretor
da Prospectiva, foi publicado online em português e inglês.
Trinta e dois deputados e senadores, entre eles líderes da maioria e da
minoria e presidentes de comissões parlamentares com jurisdição sobre
áreas relevantes à inovação, participaram de três conferências acadêmicas
realizadas entre 2011 e 2013 no Wilson Center, no Massachusetts Institute of Technology, no Brazil Institute do King’s College de Londres e no
Instituto das Américas, sediado na Universidade da Califórnia San Diego.
O Departamento de Estado recebeu a primeira missão. Os embaixadores
do Brasil em Washington, Mauro Vieira, e em Londres, Roberto Jaguaribe,
recepcionaram os parlamentares em suas respectivas residências oficiais, e
o cônsul geral em Los Angeles, Bruno Bath, participou dos trabalhos em
San Diego.
Os deputados e senadores assistiram a cerca de quarenta apresentações
sobre a complexa gama de temas e políticas públicas que afetam as políticas
e estratégias de inovação dos dois lados do Atlântico. A elas, seguiram-se
debates enriquecedores para todos os participantes. Em 2012, diante do
agradecimento ao Brasil feito por Anthony Knapp, do MIT, em tom de
ironia, por preparar excelentes cientistas em suas universidades públicas
que partem para Cambridge, Massachusetts, e outros centros de inovação,
por não verem espaço para usar seus conhecimentos e inovar no próprio
país, um dos parlamentares comentou:“É triste ouvir isso, mas sabemos que
é verdade e que cabe a nós, no Congresso, ajudar a criar um ambiente mais
propício à inovação no Brasil”. Um outro parlamentar fez um comentário
revelador sobre o efeito de sua participação na primeira missão. “Vocês
mexeram com a minha cabeça”, disse ele, em conversa comigo e com o
presidente da Interfarma, Antonio Britto, durante um café da manhã em
Cambridge, em 2012. As três missões parlamentares foram precedidas de
seminários com jornalistas especializados e seguidas de visitas organizadas
pela Interfarma a laboratórios farmacêuticos de empresas afiliadas.
[6]
Apresentamos neste volume uma seleção das palestras, bem como dos
depoimentos de pesquisadores e cientistas empreendedores que trabalham
no fértil espaço situado na fronteira das duas áreas vitais à inovação no
mundo pós-industrial — o das descobertas nos laboratórios das universidades e centros de pesquisas e o da aplicação prática desses conhecimentos por empresas que neles apostam e investem, produzindo soluções para
problemas e desafios reais do dia-a-dia e criando riqueza. Estão aí, para
demonstrar os efeitos da inovação, os equipamentos derivados dos avanços
em tecnologia da informação e em vários campos ciência que há há três
décadas transformam a maneira como as pessoas organizam suas vidas, interagem, trabalham e se divertem em todas as partes de um planeta cada
vez mais integrado.
Este relatório está organizado por temas, em três partes. Na introdução,
Kent Hughes, pesquisador residente do Wilson Center, resume a história
da inovação nos Estados Unidos. A primeira parte trata de temas essenciais
à compreensão das políticas públicas de inovação nos Estados Unidos, Reino Unido e India. A segunda parte consiste em transcrições editadas das
sessões realizadas em 2013 na Universidade da Califórnia em San Diego,
em parceria com o Institute of the Americas. Ela contem um detalhado
relato sobre a transformação da UC San Diego num dos principais centros
de inovação em tecnologia da informação, fármacos e saúde nos Estados
Unidos por cientistas empreendedores que são atores-chave da história da
inovação na Califórnia. A terceira parte descreve os esforços de cooperação
em inovação por instituições oficiais e empresas brasileira e americanas.
O Brazil Institute esperar continuar a assistir os membros do Congresso
brasileiro em seus esforços para estudar as complexas questões de políticas
públicas envolvidas no debate sobre inovação.
Paulo Sotero
Diretor, Brazil Institute, Woodrow Wilson International Center for Scholars
[7]
[8]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
O Brasil desperdiça
oportunidades em inovação
P
rimeiro, olhe-se para as condições do País. Democracia, estabilidade
institucional, segurança jurídica, razoável organização da economia,
extraordinário mercado interno e, mais importante que tudo, um
acelerado crescimento, apesar de tudo, na geração de conhecimento – publicação de papers, formação de doutores, participação acadêmica a nível
mundial, tudo evoluindo fortemente.
Olhe-se agora para o resultado em matéria de inovação. Posição medíocre na geração de patentes, lugar não mais que intermediário nos rankings
de inovação, perda de espaço na pesquisa farmacêutica, crescente dependência de tecnologia em equipamentos médicos e produtos para a saúde.
Por que o Brasil não aproveita seu potencial? Por que, no feliz dizer do
ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Raupp, o Brasil não transforma conhecimento em riqueza? E quais as consequências desse desperdício
no momento em que a mudança no País cria uma população mais idosa,
vítima de doenças mais complexas e, ao mesmo tempo, mais consciente e
mais informada, demandando mais acesso a melhores tratamentos e serviços?
A responsabilidade, cremos, é em primeiro lugar cultural. O Brasil tem
tratado a inovação como uma opção para o crescimento. Cinco séculos de
exportação de commodities e crescimento á base de um poderoso mercado interno geraram a ideia que a inovação é boa mas não é essencial. Nas
Universidades, o pesquisador não tem nem o prestígio nem o incentivo
de outros países. No mundo empresarial, a citação de exemplos positivos
é uma repetição sempre das mesmas empresas e cases, Embrapa e Embraer à frente. Nos governos, ainda que tenhamos avançado, a inovação está
[9]
dividida, diluída e prejudicada pela intervenção de muitíssimos agentes,
programas e projetos.
Neste cenário, a INTERFARMA procurou em 2011 o prestigioso
Woodrow Wilson Center com um desafio: passar a promover missões de
estudos, destinadas a parlamentares e a jornalistas para que possam conhecer, avaliar e discutir políticas públicas de outros países em favor da inovação. E compará-las com o que é feito no Brasil.
Entre as premissas acertadas com a equipe liderada por Paulo Sotero, estavam a presença em cada missão de uma respeitável instituição acadêmica,
o pluralismo na escolha de palestrantes e debatedores de modo que as missões mostrassem as mais diferentes visões sobre o tema da inovação e a partir tanto da perspectiva pública quanto privada, acadêmica ou empresarial.
Quatro anos depois, como esta publicação demonstra, o resultado das
missões é muito positivo.
Os participantes puderam constatar que diante do desafio da inovação,
alguns países, visando atrair a pesquisa, promovem programas agressivos,
no sentido de diminuir a burocracia, reduzir tributação e coordenar ação
dos governos. Contudo, o Brasil está na contramão do mundo. A pesquisa
aqui é quase pecado. Há uma burocracia que estabelece prazos três vezes
maiores do que a média mundial. Isso mostra o ambiente de desperdício
que o mundo acadêmico-científico passa no país. O Brasil já tem algumas
ilhas de excelência, tanto em instituições públicas quanto privadas, como o
Inca, o Einstein, o Sírio-Libanês, a Fiocruz. Mesmo nestes locais, contudo,
poderia estar nascendo mais inovação. São ilhas cercadas de impostos, burocracia e em geral desconectadas com a área privada.
Para sair deste ciclo, o país como um todo terá que escolher uma opção,
mais dia menos dia. Ou levará a sério o jogo da inovação ou se contentará
com um lugar na Série B ou C do campeonato da inovação. Se o Brasil
quiser tomar o caminho da inovação, temos três tarefas inadiáveis. A primeira é mudar a mentalidade dentro das universidades, para que elas se
aproximem do setor privado. Segundo, mudar a mentalidade do setor privado para que ele se aproxime mais do risco na inovação e das academias.
E terceiro, pedir que o governo não atrapalhe com burocracia, tributos e
regulações absurdas. É preciso também melhorar a qualidade de nossa educação no campo das ciências exatas. É um projeto para 20 anos, mas, daqui
até lá, vamos sair dessa posição em que produzimos muitos doutores, muitos papéis e poucas patentes. Outro caminho é continuar onde estamos.
Somos o 19º país em pesquisa clínica no mundo, ao mesmo tempo em que
[ 10 ]
estamos em 6º lugar no mercado farmacêutico. O país é o 156º em termos
de atratividade da inovação. Apenas no campo farmacêutico, em um mercado de US$ 150 bilhões anuais em inovação, o Brasil está recebendo uma
migalha de cerca de US$ 200 milhões. Esta realidade resulta em importação excessiva de tecnologia e insumos. Montamos uma poderosa indústria
de genéricos no país mas 86% deles são produzidos com princípios ativos
trazidos da Índia e China.
A INTERFARMA acredita firmemente que a capacidade criativa brasileira, a melhoria do País no campo acadêmico e a crescente demanda por
serviços e produtos terão de alterar a relação do Brasil com a inovação. E
colocar a questão como parte central, essencial, obrigatória de um projeto
nacional de desenvolvimento.
Nós podemos fazer isso. Não há política de inovação bem sucedida no
mundo que não possa ser aplicada no Brasil. As velozes mudanças mundiais
e as dificuldades do nosso modelo de desenvolvimento indicam que é mais
do que hora de repensar a inovação.
Esperamos que essa publicação contribua para esforços em curso para
por o país nessa direção.
Antônio Britto
Presidente-executivo da Interfarma
[ 11 ]
[ 12 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Resumo
Delegações do Congresso
15
Introdução17
Inovação nos Estados Unidos: A Interação entre História,
Instituições e Cultura Americana – Kent Hughes
Os Debates sobre Políticas
25
Reforma de Patentes
25
O Debate sobre Reforma de Patentes – Jay Thomas
Propriedade Intelectual
31
A Política de Propriedade Intelectual
no Reino Unido – Bill Russel
O Uso da Banda Larga
37
O Plano de Uso da Banda Larga da Comissão Federal de
Comunicação dos EUA – John Horrigan
Competitividade47
Competitividade Internacional em Tecnologia da
Informação e Políticas Americanas de Inovação – Stephen Ezell
Debate sobre Política de Inovação no Reino Unido
55
Inovação Aberta e Descoberta de Drogas – Wen Hwa Lee
Debate sobre Política de Inovação na Índia
67
Inovação em uma Perspectiva Comparativa – Sunil Khilnani
[ 13 ]
Aplicações Práticas: O Papel das Universidades e do Setor Privado em Inovação
Inovação no King’s College
75
75
Professora Denise Lievesley
Inovação na UCSD
81
Panorama Histórico e Papel das Universidades e Instituições de Pesquisa – Mary Walshok, Ivor
Royston, Jeffrey Steindorf & David Hale
81
Apoio à Inovação: Papel do Sistema de Educação e 99
das Universidades Públicas de Pesquisa – Pradeep Khosla
A Comercialização da Pesquisa: Parcerias no Setor Privado – Joseph Panetta, Claudio Joazeiro,
Brent Jacobs & Magda Marquet
111
Abordagem Multidisciplinar e Colaboração: Tendências Futuras – Larry Smarr, Kristiina Vuori
& Larry Goldstein
117
Cooperação Brasil-EUA em Inovação
125
Biologia Sintética, A Nova Fronteira para Inovação: Do Combate à Malária à Produção da Segunda Geração de
Biocombustíveis – Todd Kuiken
125
A Liderança da Biologia Sintética no Brasil – Joel Velasco
133
Colaboração Brasil-EUA: Uma Perspectiva do Setor Privado - Chad Evans
137
Abordando o Imperativo da Inovação e os Desafios do Financiamento Inicial – Charles Wessner
143
Notas Biográficas dos Palestrantes
[ 14 ]
155
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Delegações do Congresso
2011
Senador Aloysio Nunes
(Partido da Social Democracia Brasileira – São Paulo)
Deputado Arnaldo Jardim
(Partido Popular Socialista – São Paulo)
Deputado Arnon Bezerra
(Partido dos Trabalhadores - Ceará)
Deputado Bruno Araújo
(Partido da Social Democracia Brasileira – Pernambuco)
Deputado Cândido Vaccarezza
(Partido dos Trabalhadores – São Paulo)
Deputado Darcísio Perondi
(Partido do Movimento Democrático Brasileiro – Rio
Grande do Sul)
Deputado Duarte Nogueira
(Partido da Social Democracia Brasileira - São Paulo)
Deputado Geraldo Resende
(Partido do Movimento Democrático Brasileiro – Mato
Grosso do Sul)
Deputado Josias Gomes
(Partido dos Trabalhadores – Bahia)
Senador Luiz Henrique da Silveira
(Partido do Movimento Democrático Brasileiro - Santa
Catarina)
Deputado Manuela D’Avila
(Partido Comunista do Brasil – Rio Grande do Sul)
Federal Deputado Maurício Rands
(Partido dos Trabalhadores – Pernambuco) (atualmente filiado
ao Partido Socialista Brasileiro)
Deputado Moreira Mendes
(Partido da Social Democracia Brasileira – Rondônia)
Deputado Nelson Marquezelli
(Partido Trabalhista Brasileiro– São Paulo)
Deputado Onyx Lorenzoni
(DEM (Democratas) – Rio Grande do Sul)
Deputado Renato Molling
(Partido Progressista – Rio Grande do Sul)
Deputado Saraiva Felipe
(Partido do Movimento Democrático Brasileiro - Minas Gerais)
Deputado Walter Feldman
(Partido Socialista Brasileiro – São Paulo)
[ 15 ]
2012
Deputado Bruno Araújo,
Deputado Darcísio Perondi,
Partido da Social Democracia Brasileira – Pernambuco
Partido do Movimento Democrático Brasileiro – Rio Grande
do Sul
Deputado Eduardo Azeredo,
Deputado Alexandre Roso,
Partido da Social Democracia Brasileira – Minas Gerais
Partido Socialista Brasileiro – Rio Grande do Sul
Deputado Rogério Carvalho,
Deputado Amauri Teixeira,
Partido dos Trabalhadores – Sergipe
Partido dos Trabalhadores – Bahia
Senador Wellington Dias,
Deputado Osmar Terra,
Partido dos Trabalhadores – Piauí
Senador Casildo Maldaner,
Partido do Movimento Democrático Brasileiro – Santa Catarina
Deputado Eleuses Paiva,
Partido Social Democrático – São Paulo
Partido do Movimento Democrático Brasileiro – Porto
Alegre
Deputado Cândido Vaccarezza,
Partido dos Trabalhadores – São Paulo
2013
Senador Jorge Viana,
Partido dos Trabalhadores – Acre
Senador Paulo Buaer,
Partido da Social Democracia Brasileira – Santa Catarina
Deputado Bruno Araújo,
Partido da Social Democracia Brasileira – Pernambuco
Deputado Cândido Vaccarezza,
Deputado Darcisio Perondi,
Partido do Movimento Democrático Brasileiro – Rio Grande
do Sul
Deputado Moreira Mendes,
Partido Social Democrático – Roraima
Deputado Walter Ihoshi,
Democratas, São Paulo
Partido dos Trabalhadores – São Paulo
[ 16 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
INTRODUÇÃO
Inovação nos Estados Unidos:
A Interação entre História,
Instituições e Cultura
Americana
KENT HUGHES
Diretor, Programa Global sobre a América e a Economia Global
Q
uero parabenizar os membros da Missão do Congresso Brasileiro
por seu foco em inovação. Se vocês olharem para os desafios que
o mundo, o Brasil e a América enfrentam – segurança alimentar, segurança energética, pandemia de gripe, cadeia de suprimentos – as
respostas para as principais perguntas sobre o futuro exigem uma boa dose
de inovação, tecnologia e ciência. Acredito que vocês escolheram um caminho muito importante para o futuro.
Gostaria de dar um breve panorama sobre o sistema de inovação americano e como ele evoluiu em termos da estrutura básica da economia
americana e como reagiu a crises e a oportunidades. Nunca tivemos nos
EUA um grupo que se sentou e disse, “Assim será o sistema de inovação
do século 21.” Ele evoluiu ao longo do tempo para ser o que permanece
como uma das forças mundiais de influência em inovação. É interessante
ver como a abordagem à inovação mudou à medida que a própria economia americana se desenvolveu e se tornou mais aberta ao exterior e mais
competitiva globalmente.
[ 17 ]
Uma das características mais marcantes da Constituição Americana é
quão pouco ela fala de economia. Mas um dos poucos aspectos específicos
sobre economia da Constituição lida, de fato, com inovação. Se você olhar
o Artigo I Seção 8, verá que o Congresso recebeu explicitamente o poder de promover o progresso da ciência e das artes úteis, ao assegurar, por
um tempo limitado, aos autores e inventores o direito exclusivo aos seus
respectivos textos e descobertas. Em outras palavras, a ideia de patentes e
direitos autorais foi na verdade embutida na Constituição Americana. A
maioria dos americanos não sabe que a primeira patente foi emitida pelo
futuro Presidente Thomas Jefferson, que serviu como um dos três comissários de patentes no período em que foi nosso Secretário de Estado.
Abraham Lincoln também foi um campeão de inovação. Frequentemente ele é citado como tendo dito que patentes “adicionaram o combustível de interesse ao fogo da genialidade.” No meio da Guerra Civil,
Abraham Lincoln deu um passo histórico ao assinar a Lei Morrill, que
estabeleceu as universidades land-grants nos Estados Unidos. Muitas das
mais proeminentes universidades que hoje são as principais universidades
públicas de pesquisa começaram com um land-grant; ou seja, o governo
cedeu terras federais para os estados estabelecerem universidades.
Desde o início elas tinham uma orientação prática. Isso é uma clara
distinção entre o as universidades land-grant e a tradição europeia.Vêem-se
os ecos do foco em agricultura e mecânica nos nomes de algumas das universidades da atualidade. Um exemplo é a Texas A&M (Texas Agricultural
& Mechanical), um dos dois principais sistemas universitários no estado do
Texas. A Guerra Civil americana, um conflito brutal, impulsionou muitos
aperfeiçoamentos em produção. Esse padrão foi repetido à medida que a
América entrou em outras gramde conflitos, como as duas guerras mundiais do século passado.
Na primeira metade do século XX, a inovação tornou-se foi oportunidade, parcialmente estimulada por um senso de necessidade. A inovação
americana foi definitivamente influenciada pela Primeira Guerra Mundial.
Em parte, foi oportunismo dos Estados Unidos, que estando em guerra
com a Alemanha, confiscaram as patentes de indústrias farmacêuticas e
químicas alemãs, o que deu às indústrias americanas uma significativa vantagem na concorrência futura.
Os militares também perceberam na Primeira Guerra Mundial que os
Estados Unidos estavam em desvantagem em termos de comunicação por
radio. O governo movimentou-se e reuniu algumas das principais patentes,
[ 18 ]
o que levou à fundação do que se tornaria a Radio Corporation of America (RCA), que durante muitos anos foi uma proeminente empresa de
eletrônicos nos Estados Unidos. Quando a RCA foi fundada, acredito que
a Marinha dos EUA possuía mais de 30 por cento de suas ações. Isso não
era um plano de longo prazo. Isso aconteceu em função das necessidades
da Primeira Guerra Mundial.
Os Estados Unidos eram diferentes da Europa. Em vez de fundar um
correio público, um sistema de telégrafos e um sistema de telefonia, criamos um monopólio regulamentado: a famosa AT&T; o Sistema Bell.
A A&T fundou os Laboratórios Bell em 1925. Se você conversasse com
líderes do mundo eletrônico de hoje nos Estados Unidos, você descobriria
que os Bell Labs desempenharam um papel muito significativo em muitos
aspectos da evolução da eletrônica. Não era exatamente uma entidade pública, mas também não era uma entidade privada típica.
Ao mesmo tempo, tínhamos um sistema público de saúde em evolução.
Ele começou no final do século XIX com um serviço de saúde pública
que evoluiu ao longo do tempo para o que é hoje o National Institutes of
Health. Havia Institutos Nacionais de Saúde. Havia vários institutos separados que foram fundados ao longo do caminho e então foram reunidos
sob uma organização mais ampla. Isso se tornou uma importante fonte de
recursos para a inovação, e em muitos casos, de inovação em si.
A Segunda Guerra Mundial foi outro marco em termos de evolução
do sistema americano de inovação. Como disse o Presidente Roosevelt
em sua famosa frase, “O Dr. ‘New Deal’ deu lugar ao Dr. ‘Win the War’”.
E depois olhando para trás, para a vitória naquela Guerra – na qual quero reconhecer que o Brasil foi um de nossos aliados e desempenhou um
importante papel na invasão e liberação da Itália –compreendemos como
eram críticas a ciência e a tecnologia, em termos de dar aos Aliados uma
real superioridade militar. Um dos conselheiros científicos de Roosevelt
tornou-se um proeminente conselheiro do Presidente Truman: Vannevar
Bush. Ele escreveu uma proposta seminal intitulada “Ciência: A Fronteira
Sem Fim”, que está na origem da Fundação Nacional de Ciências, que é
desde então a maior fonte de financiamento para a pesquisa em ciências
físicas.
Ao mesmo tempo havia uma consciência de que, como eu disse, a ciência e a tecnologia desempenhavam um papel fundamental em realmente
dar superioridade aos Aliados. Aquilo levou o Departamento de Defesa a
[ 19 ]
também ser uma importante fonte de financiamento para a pesquisa em
ciências físicas.
O capital de investimento começou a aparecer como instituição logo
após a II Segunda Guerra Mundial. O primeiro fundo de capital de investimento foi fundado em Massachusetts, mas continuou a se espalhar e foi
uma das fontes, nem sempre a fonte mais importante, mas uma das fontes
de financiamento de empresas inovadoras menores que têm sido uma característica distinta do sistema de inovação dos Estados Unidos.
Deixe-me avançar agora para 1957. Muitos de vocês se lembrarão do
Sputnik, o sucesso soviético no lançamento do primeiro satélite artificial a
circundar a Terra. Isso foi um grande choque para os Estados Unidos. Em
parte, ele foi visto como um desafio à nossa segurança nacional, mas também foi um importante golpe no orgulho americano. A reação ao Sputnik
foi nacional. Ela incluiu não só o governo nacional, mas também os governos locais e conselhos escolares em todo o país. Todos eles acreditavam
que era crucial enfatizar matemática, ciência e línguas estrangeiras porque
viram isso como um esforço global em relação à União Soviética.
Houve, claro, outras mudanças no âmbito federal que tiveram impacto
significativo no sistema de inovação dos EUA. A instituição que havia sido
estabelecida para promover a força aérea civil se transformou na National
Aeronautics and Space Administration (NASA), e foi esse grupo que ajudou o Presidente Kennedy a cumprir o compromisso de colocar o homem
na lua até o final dos anos 1960.
Depois, a administração estabeleceu uma nova instituição no Departamento de Defesa. Hoje é conhecida como Defense Advanced Research
Projects Administration (DARPA). Com a incumbência de aproveitar as
oportunidades das tecnologias de ponta que apoiariam a missão da segurança nacional dos Estados Unidos, ela também teve enorme impacto no
nosso sistema de inovação aqui e em todo o mundo. Em dado momento a
DARPA achou que era importante facilitar a comunicação entre os laboratórios militares de pesquisa. A Fundação Nacional de Ciências pensou,
“Isso é realmente uma boa ideia. Vamos ver se não conseguimos conectar
as autoridades civis de pesquisa.” Em algum momento isso se tornou uma
instituição em funcionamento mais conhecida hoje como Internet. Vocês
veem o enorme impacto que isso teve aqui, no Brasil, Europa, China – em
todos os cantos do mundo. A DARPA continua a fazer esse tipo de pesquisa de ponta com a diferença de que seu cliente é bem-definido. O seu
[ 20 ]
cliente é o Departamento de Defesa, embora o impacto de suas invenções
tenha aplicações muito mais amplas.
Deixe-me dar um exemplo recente: Dean Kamen, um inventor baseado em Manchester, New Hampshire, recebeu uma solicitação da DARPA
para desenvolver um braço artificial para ser usado por muitos soldados
americanos que retornavam para casa com um membro perdido. Dean teve
sucesso no desenvolvimento de um braço que tem quase todas as funções
de um braço humano: ele é suficientemente sensível; e pode realmente
pegar uma uva sem amassá-la. Embora o objetivo tenha sido os soldados
retornando do Iraque ou do Afeganistão, claramente há enormes aplicações no mundo civil.
A reação ao Sputnik também levou ao que hoje pode parecer surpreendente, mas que foi sem precedentes na época. Como vocês devem saber,
os EUA têm um sistema de educação bem diferente da maioria dos países.
Temos em torno de 16 mil conselhos escolares que têm bastante influência
sobre o que é feito e o que não é feito. Temos milhares de universidades
que estabelecem seus próprios padrões. O governo federal realmente não
tinha envolvimento na educação até o Sputnik. Mas na esteira do Sputnik,
eles estabeleceram o National Defense Education Act [algo como Lei de
Defesa Nacional da Educação], que era direcionada a cientistas, engenheiros e economistas para estudos de graduação. Eu mesmo me beneficiei
daquilo, então acho que foi uma boa ideia.
Uma coisa que também começou a aparecer – e, de novo, de certa
forma foi um desdobramento da atividade de defesa – foram os núcleos
inovadores, agrupamentos de empresas no Vale do Silício e na Rota 128 na
grande Boston. Um elemento dessa ideia de núcleo foi escrito em grande medida pelo Professor Michael Porter na Escola de Administração da
Universidade Harvard. Mais recentemente ele analisou núcleos inovadores
e certamente apontaria para Austin,Texas, como um desses centros. Michigan tem a Automation Alley (uma associação de negócios de tecnologia).
O estado do Oregon tem a Floresta do Silício. Lá há toda uma nova série
de núcleos de inovação que emergiram. O que é diferente e interessante
hoje é que esses núcleos também possuem, em muitos casos, uma conexão
internacional à medida que a pesquisa e a inovação se tornam cada vez
mais uma atividade global.
A próxima evolução real no sistema de inovação da América é oriunda
do desafio japonês dos anos 1980 do qual talvez vocês se lembrem. Muitos
livros populares destacavam o Japão como número um. Havia um senti[ 21 ]
mento de que o Japão estava marchando de uma indústria para outra. Isso
levou a uma verdadeira avaliação de algumas das forças do Japão. Uma era
processo. O Sistema Toyota de produção (Lean Manufacturing) certamente
proporcionou uma vantagem a muitas indústrias japonesas. A tecnologia
de processo foi adotada e adaptada nos EUA. E houve toda uma série
de esforços para aproximar nossas instituições de pesquisa, universidades
e laboratórios do mercado. Uma série de ações foi adotada ao longo dos
anos 1970 e 1980 que permitiram a formação dos laboratórios nacionais
ou criaram incentivos para as universidades trabalharem mais estreitamente
com o setor empresarial como forma de acelerar a chegada das inovações
do laboratório à sala de estar. Em parte isso foi uma reação ao sucesso do
Japão na rapidez da comercialização.
Você pode ver esse tipo de colaboração ainda ocorrendo em âmbito
estadual, onde a maioria dos governadores iria reavaliar sua principal universidade de pesquisa, como uma parte muito importante de seu próprio
crescimento, desenvolvimento e estratégia de criação de empregos.
O sucesso japonês também desencadeou o início de uma reavaliação do
sistema educacional da América. Houve uma famosa publicação que saiu
em 1983 na gestão do Secretário Terrence Bell, Secretário de Educação
do Presidente Reagan. Era intitulada “Uma Nação em Risco” (A Nation
at Risk). Uma das famosas frases daquela publicação foi: “Fosse uma força
estrangeira a impor o sistema de educação da América sobre os Estados,
teria sido encarado como um ato hostil.” Apesar da retórica e da atenção
nacional, na verdade nada aconteceu.
O Presidente George H. W. Bush, o primeiro Presidente Bush queria
ser o presidente da educação. Ele reuniu todos os governadores. Foi apenas
a terceira vez que um presidente promoveu uma reunião com todos os governadores da nação e o foco foi a educação. Os governadores escolheram
o então obscuro governador do Arkansas, para ser seu representante em
educação. Aquele jovem obscuro governador do Arkansas era Bill Clinton.
Ele acabou se tornando presidente dos Estados Unidos. Clinton continuou
o que George H. W. Bush havia começado. George W. Bush fez o mesmo
e apenas agora, após esse longo período de tempo desde 1983, é que nós
desenvolvemos um sistema de padrões nacionais em matemática. É um
exemplo de como respondemos a um desafio, mas não necessariamente
com a rapidez que desejaríamos.
Em 1980 nasceu aqui o que eu chamaria de “movimento de competitividade”. Parte daquilo foi tornar a pesquisa mais disponível ao setor
[ 22 ]
privado que mencionei.Também havia algumas inovações especificamente
públicas: o Programa de Tecnologia Avançada, parceria de extensão de produção – algo parecido com nossa extensão agrícola – que cresceu a ponto
de agora haver uma instalação de extensão de manufatura a menos de duas
horas de cada pequeno fabricante nos Estados Unidos.
Houve um tempo em que, acho eu, a América estava tentada a deitar
em seus louros. Ao final dos anos 1990, o Império Soviético havia desaparecido e a União Soviética em si, desmoronou. A Alemanha teve uma
dificuldade inicial de absorver a República Democrática Alemã. O Japão
lutava com a explosão de uma dupla bolha, e havia um sentimento de que
aquele realmente era o momento americano. Bem, a América acordou
novamente para ver que de fato o mundo havia mudado dramaticamente.
Uma das respostas foi liderada pela coalisão bipartidária no Congresso
dos EUA e pelo setor privado. Um relatório feito pelas Academias Nacionais, “Rising Above de Gathering Storm”, está agora em sua segunda
edição. Isso levou no fim à Lei “America Competes”, novamente concentrada em aspectos de educação, ciências, engenharia e matemática, além de
enfatizar a importância da pesquisa em ciências físicas.
Antes de concluir deixe-me dizer apenas uma palavra sobre a cultura
americana. Eu acho que há alguma coisa diferente sobre a América. Em
muitos aspectos, a diferença aqui é semelhante à diferença no Brasil, em
termos de resto do mundo. Ambos os países são grandes sociedades de
imigrantes. Quando vivi em São Paulo, ela me lembrava da América de
Chicago, onde havia pessoas de todo o mundo, assim como migrantes internos que estavam construindo, industrializando e criando.
Nos EUA sempre tivemos uma ênfase sobre o indivíduo e certo senso
de independência. E isso continua a ser uma realidade ainda hoje. Você
ouviu um eco de como a fronteira continua a ser um elemento de nosso
pensamento quando Vannevar Bush escolheu dizer, “Ciência: A Fronteira
sem Fim”, não a fronteira que havia fechado porque a terra havia sido
exaurida, mas a fronteira que sempre esteve aberta à inovação.
O cowboy ainda é um ícone do pensamento americano e ele era a
representação da mobilidade aqui. Durante muito tempo de nossa história,
fomos um povo muito móvel e adaptável. Começamos totalmente livres
de qualquer monarquia tradicional hereditária e de uma casta de nobres.
Acho que o ex-governador Huey Long, da Louisiana, expressou muito
bem a sensibilidade da América quando ele disse em 1930, “Todo homem
é um rei, mas nenhum homem usa a coroa”. Temos sido abertos para o
[ 23 ]
talento vindo de todos os lugares. Tivemos nosso próprio passado tumultuado, com racismo e embates entre grupos étnicos e assim por diante. De
maneira geral, temos recebido bem o talento e os indivíduos de todo o
mundo, e isso nos trouxe enormes dividendos.
AnnaLee Saxenian, que é como um Boswell do Vale do Silício, observou que em torno de um terço dos negócios no Vale do Silício havia sido
iniciado por imigrantes indianos ou chineses. E isso não inclui imigrantes
de outras partes do mundo. Andy Grove, um imigrante da Hungria que foi
chefe da Intel, é um ótimo exemplo.
Eu acho que a América, como o Brasil, não se define particularmente
por um grupo étnico. Quando viajei pelo Brasil encontrei russos, alemães,
portugueses, é claro, e um grande grupo de pessoas de todas as partes do
mundo. Acredito que essa seja uma força duradoura do Brasil.
Nos EUA temos uma atitude bem particular em relação ao risco. Frequentemente vocês vão ouvir que o Joe ou a Jane no Vale do Silício ganharam sua fortuna na sua sétima empresa. Falhar, em algumas partes do
país, é definido por “não tentar novamente”. Acredito que isso tenha sido
uma força.
Finalmente, quero falar do carrinho de limonada. Não sei se algum de
vocês esteve aqui durante o verão. Se você dirigir pelas ruas de qualquer
bairro americano, você verá crianças pequenas vendendo limonada. Você
verá os orgulhosos pais atrás delas.Vizinhos se aproximarão e dirão “John”,
ou “Jenny, isso é incrível. Você está no caminho certo. Você terá muito
sucesso nos negócios.” Então eu acho que somos um dos poucos países,
que desde o início enfatizam não apenas a democracia – haverá eleição na
primeira série para eleger o presidente da primeira série – mas um sentido
de que os negócios são uma coisa boa. A atividade empreendedora é uma
coisa boa.
[ 24 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
DEBATES SOBRE POLÍTICAS
Reforma de Patentes:
O Debate sobre a
Reforma de Patentes
JAY THOMAS
Professor, Georgetown University Law Center
E
ssa tem sido uma época tumultuada para o Brasil em termos de
patentes. Quando o Brasil entrou na Organização Mundial do Comércio, adotou uma posição de ir imediatamente para as patentes
farmacêuticas; o controverso assunto da revalidação de patentes também
surgiu. Deixa eu lhes contar mais sobre o que está acontecendo nos Estados Unidos em relação à reforma nas patentes e dar uma olhada no que
isso significa potencialmente para o Brasil e suas práticas.
Tenho ouvido bastante sobre as grandes invenções que aparecem a cada
50 anos e as longas ondas e infraestrutura e universidades e um pouco
dos mercados financeiros. Mas pela perspectiva do setor privado, a intervenção número um do governo que leva à inovação são as patentes. Não
estou falando das invenções que surgem a cada 50 anos; estou falando de
novos medicamentos, novas técnicas de telecomunicação, novos aparelhos
que aparecem a cada semana. O sistema de patentes é o principal mecanismo que apoia esse tipo de investimento contínuo em P&D. O sistema
de patentes é uma técnica centenária. O Brasil tem investido há muito
tempo no sistema de patentes. Há leis de patentes desde 1809, e o Brasil
foi um dos primeiros signatários do principal acordo internacional de patentes, a Convenção de Paris no século 19. Custa muito pouco ao governo
[ 25 ]
para mantê-lo, em comparação a um sistema de prêmios. Essencialmente
você precisa apenas administrá-lo na agência de propriedade intelectual.
Ele promove investimentos em P&D, o que por sua vez leva à inovação.
Ele leva à descoberta de tecnologias. Alternativamente, as empresas podem
manter seus produtos e processos em segredo. Através do sistema de patentes, o instrumento da patente é publicado, e qualquer um pode usá-lo.
A única coisa que eu tenho que fazer antes de ir ao Rio é parar na loja
da Apple; e obviamente outras pessoas estão fazendo o mesmo. A propriedade intelectual também é vista como um benefício à comercialização de
tecnologia. Finalmente, as patentes duram apenas um período limitado.
Quando elas expiram, aquela tecnologia vai para domínio público e todo
mundo pode usá-la.
Agora a popularidade do sistema de patentes dos EUA é evidente.Vocês
têm visto algumas estatísticas impressionantes sobre os aumentos na tecnologia; o mesmo se dá em patentes. A taxa de depósitos nos Estados Unidos
em 2010 passou de 500.000 submissões.Trata-se de um marcante aumento
da confiança da indústria no sistema de patentes nos Estados Unidos. O
ano de 2010 marca a primeira vez na história deste país em que tivemos
mais submissões de estrangeiros do que de cidadãos americanos. Estamos
apoiando os esforços inventivos dos nossos colegas estrangeiros, e estamos
vendo mais crescimento proveniente do sistema estrangeiro.
Tendo dito tudo isso, a última atualização significativa da lei americana de patentes foi em 1952. As tecnologias mudaram e as leis podem se
adaptar para crescer com elas. Relatórios significativos tanto da Comissão
Federal de Comércio quanto das Academias Nacionais de Ciências sugeriram reformas para adaptar o sistema de patente para condições modernas
nos EUA. Uma discussão séria começou na nossa legislatura de 2005 e o
Projeto de Lei foi alterado; as potenciais reformas progrediram e foram
alteradas, mas parece que estamos chegando ao final da linha. A lei de Inventos da América passou pelo Senado com uma margem bastante grande.
Se você acompanhar as notícias sobre Washington recentemente é bem
difícil conseguir uma votação de 95 a 5 em praticamente nenhum tema, e
também saiu de nossa câmara baixa da Câmara dos Deputados com uma
votação sólida até agora.
Quais são os objetivos especificamente? Modernizar o sistema de patentes. A tecnologia mudou; ela continua a mudar, mas o sistema de patentes permaneceu relativamente estático. A noção é de que ela precisa ser
modernizada. Precisamos melhorar o ambiente para inovação e manter alta
[ 26 ]
a competitividade industrial dos Estados Unidos. A última vez que realmente pensamos sobre algumas mudanças no nosso sistema de patentes foi
no final dos anos 1970. Nessa época, os Estados Unidos estavam extremamente preocupados com sua competitividade industrial, principalmente
em relação à Alemanha e ao Japão. Aquelas mudanças foram feitas. Parece
ser o momento de tentar mais uma vez. Estamos pensando em adaptar as
melhores práticas de sistemas puros de patentes. Na verdade, a lei dos EUA
ficará um pouco mais parecida com a Lei de Patentes Brasileira – um pouco mais parecida com as práticas europeias que os EUA avaliaram e concordaram em adotar para si mesmos. Um pouco do que faríamos é mudar
para um sistema de prioridade do primeiro inventor.
Como vocês sabem, é incrível quem inventou o avião. Nós achamos
que foram os irmãos Wright; outros países têm seus próprios inventores. É
simplesmente comum que algumas pessoas inventem a mesma tecnologia
mais ou menos ao mesmo tempo. Na maioria dos países, é a primeira pessoa a depositar – a primeira a chegar à agência – que terá sucesso em obter
a patente. Os EUA atualmente passam por um questionamento muito mais
trabalhoso, mais intensivo sobre quem foi o primeiro a inventar. Decidimos
mudar para a norma global. Isso terá impacto sobre as práticas de nossas
empresas, que acharão mais fácil fazer o depósito no Brasil e vice-versa:
empresas brasileiras acharão mais fácil abordar a agência americana. Nossos
parceiros comerciais estrangeiros estavam preocupados que esse sistema do
primeiro a inventar era uma forma de discriminação contra eles porque
as empresas americanas eram muito mais simples e capacitadas para usar o
sistema. Parece que isso agora acabou.
Também estamos falando em melhorar a agência de patentes. Essas são
algumas lições que infelizmente eu poderia transmitir para a sua própria
agência no Rio. O USPTO (Escritório Americano de Marcas e Patentes)
enfrenta desafios extraordinários.Você não pode ter um aumento tão grande em número de depósitos sem encontrar um sério acúmulo. O projeto
de lei permitiria que a agência americana de patentes tivesse maior flexibilidade de práticas para reduzir seu acúmulo, para ter maior interação com
a indústria afetada e também estabelecer escritórios satélites. Atualmente,
como a agência brasileira no Rio, a agência americana está concentrada
em Washington. Nem todo mundo quer viver aqui, então estamos pensando em escritórios que sejam centros de alta tecnologia. Isso permitiria
uma interação entre a comunidade tecnológica e o governo em um nível
muito maior. Isso também permitiria que nossos avaliadores pudessem tra[ 27 ]
balhar não necessariamente em uma cidade em particular. Eles poderiam
trabalhar em casa e ir ao escritório de vez em quando. Também estamos
pensando em reduzir nossos custos de litígios. Como num sistema legal
comum que tem um júri, frequentemente temos litígios bastante caros e
prolongados. Eles tomam muito tempo; eles custam muito dinheiro; e eles
envolvem muitos pontos fundamentais que não são encontrados nos sistemas de patentes de outras jurisdições como o Brasil. Então estamos nos
livrando deles – estamos limpando nosso sistema para torná-lo mais compatível com as normas globais. Essas são coisas para o Brasil pensar, como
os EUA olharam para dentro para tentar melhorar seu sistema de patentes.
Quais são as implicações para o Brasil? Exatamente agora sua agência
de propriedade intelectual tem um tremendo acúmulo. O prazo de proteção de patentes no Brasil é de 20 anos a partir da data de depósito. Isso
significa que você não tem nenhum direito até que a patente seja realmente aprovada. Cada dia [parada] no escritório é um dia perdido no prazo. A
pendência média de depósitos de patentes no Brasil é de aproximadamente
10 anos. Os EUA acham que há crise com um atraso de três anos e meio.
Simplesmente não há uma maneira de uma empresa eletrônica depositar
um pedido de patente e 10 anos depois aquela patente estar efetivamente
no mercado. Em 10 anos as tecnologias mudam completamente. Da mesma forma, qual é o valor de obter uma patente em outras áreas como ciências da vida com tal atraso? Lembrem-se, 10 anos é a média. Biotecnologia,
vacinas e medicamentos estão no lado negativo dessa média.
O escritório brasileiro de patentes tem a honra de ser um escritório
do tratado de cooperação de patentes, então você pode aceitar submissões
sob um determinado tratado. Não há muitos escritórios que conseguem
isso. Mas tente descobrir onde uma patente brasileira está, quem a detém
e o local de sua publicação – essas informações simplesmente não estão
disponíveis. Em nossa moderna época em que a tecnologia deve ser divulgada em partes, vocês estão perdendo esse enorme benefício. Vocês estão
perdendo o benefício da divulgação de tecnologia.Vocês estão pagando o
preço em termos de taxas governamentais para medicamentos, mas não estão obtendo o benefício. Isso é uma coisa que eu penso que deveria mudar.
A experiência na revalidação de patentes mostrou que é uma batalha
constante para as empresas farmacêuticas. Parece que cada mecanismo disponível para o governo tem sido usado para desafiar essas patentes, como
um escritório de patentes bastante determinado e a Advocacia Geral da
[ 28 ]
União. Tem sido uma verdadeira luta para as empresas que estão tentando
comercializar medicamentos inovadores no Brasil.
A proteção de pacotes de dados farmacêuticos foi a última questão que
entrou em detalhada avaliação quando os EUA revisaram seu sistema de
patentes e tentaram arrumar a casa. Assim que isso for feito, começaremos a
olhar para o exterior. Pacotes de dados farmacêuticos consistem em dados
clínicos, os estudos clínicos que são realizados para aprovar os medicamentos. Nesse momento isso pode ser usado no Brasil sem maiores consequências.Você simplesmente preenche a submissão na sua agência reguladora
e a usa sem qualquer tipo de revisão. Isso é inconsistente com o acordo
TRIPS e a OMC. Medicamentos falsificados ainda são um grande problema no Brasil. Mas talvez ainda pior são os medicamentos similares. Os
que possuem uma taxa de biodisponibilidade e absorção próxima, mesmo
que contenham o mesmo ingrediente ativo. Esses dois têm sido um grande
problema em termos de direitos proprietários. Essas são coisas para o Brasil
pensar, assim como os EUA olharam para dentro e tentaram melhorar seu
sistema de patentes.
Certamente, as relações entre nossos países não melhoraram em função
de atitudes como licença compulsória e patentes e os EUA levando suas
preocupações para a Organização Mundial de Comércio, levando a argumentos de retaliação de que a Lei Americana de Patentes é discriminatória.
Do ponto de vista dos inovadores farmacêuticos dos EUA e da Europa,
as licenças compulsórias que são concedidas irão atrasar a introdução dos
medicamentos mais avançados no Brasil. Eles estão preocupados de que
simplesmente serão copiados uma vez aprovada a comercialização. Agora
estamos falando da Administração de Alimentos e Drogas [FDA] e todos os
diferentes pontos de contato. Mas a agência regulatória brasileira não tem
um ponto de contato com o escritório de patentes. Nos EUA, quando há
uma aprovação de um genérico pela Administração de Alimentos e Drogas,
o proprietário da patente é notificado. Na lei brasileira não há nenhuma
cláusula vinculante. Isso leva os inovadores farmacêuticos a ter que policiarem eles mesmos as ruas para procurar similares, farmácias de manipulação
e genéricos.
O USTR vê a OMC e o acordo TRIPS como uma concessão obtida
arduamente. Eles relutarão a desistir disso. Eles recuaram. Há apenas um
acordo da OMC que recebeu emendas desde que a OMC foi formada, e
esse é o acordo TRIPS. Após a Rodada de Doha, os Estados Unidos e outros países desenvolvidos cederam e acrescentaram uma nova habilidade de
[ 29 ]
declarar licenças compulsórias para patentes. Então há um sentimento de
que já temos alguns escorregões em relação ao acordo original. O acordo
TRIPS dá ao Brasil e outros membros da OMC uma capacidade bastante
substancial de declarar licenças compulsórias.
[ 30 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Propriedade Intelectual:
A Política de Propriedade
Intelectual no Reino Unido
BILL RUSSEL
Chefe da Equipe de Relações Bilaterais, Escritório de Propriedade Intelectual
G
ostaria de começar contando a vocês um pouco sobre o Escritório de Propriedade Intelectual e o que fazemos. O IPO do Reino
Unido está estabelecido de forma diferente de muitos escritórios
de propriedade intelectual ao redor do mundo, porque aqui temos marcas,
patentes, projetos, direitos autorais, segredos comerciais, acordos de não
divulgação, tudo sob o mesmo teto, enquanto no Brasil e em outros países
sei que vocês têm um Departamento que lida com patentes e marcas etc. O
governo do Reino Unido tomou essa decisão porque parecia fazer sentido
ter todos os assuntos de propriedade intelectual em um departamento, que
é o departamento de inovação e capacitação empresarial. Nesse escritório
minha função é chefiar a equipe de relações bilaterais, que tem essencialmente dois papéis. Primeiro, trata-se de construir relações individuais com
nossos principais parceiros de PI em todo o mundo, e que são a China,
Índia, os Estados Unidos e, claro, o Brasil. A outra coisa que minha equipe
faz é encontrar maneiras de dar apoio aos negócios. E isso significa como
podemos dar apoio a negócios britânicos que querem ir para o Brasil, mas
também como negócios brasileiros podem ter melhor acesso ao sistema do
Reino Unido por meio do nosso sistema de PI.
Porque a PI é importante para inovação e o que faz o IPO do IPO do
Reino Unido? Acreditamos que PI seja crítica para a economia inovadora,
de intenso conhecimento no Reino Unido.Vou lhes dar alguns fatos e nú[ 31 ]
meros que justificam isso. No Reino Unido, nossa exportação de PI anual,
em 2009, foi de 113 bilhões de libras. São aproximadamente 320 bilhões
de reais. É uma grande quantia de dinheiro que o IPO do Reino Unido
e a PI exportam. Globalmente, estima-se que as patentes e marcas sejam
responsáveis por algo em torno de 600 bilhões de libras, ou cinco por
cento do comércio global. Aqui no Reino Unido em torno de metade de
nossa produtividade é devida à inovação e, claro, a propriedade intelectual
desempenha um papel fundamental nisso. Se você olhar a economia do
Reino Unido, o valor das coisas que fazemos é provavelmente o mesmo
valor das coisas que criamos. Então para nós, criação, ideias e inovação são
em torno de metade dos nossos negócios. Mas o sistema de PI do Reino
Unido também tem seus desafios e oportunidades. Coisas como mudança
climática, acesso a medicina e recursos naturais limitados, tudo isso têm um
impacto tanto globalmente quanto no sistema de PI. Os sistemas de PI em
todo o mundo têm quantidades crescentes de padrões e projetos. Temos a
nova inovação digital que está superando a capacidade dos governos nacionais e da lei de acompanhar o ritmo, e temos mercados globais crescentes
que tornam os regimes nacionais separados de propriedade intelectual cada
vez mais difíceis de serem abordados pelos negócios.
Por isso, o sistema de PI pode ser visto por alguns empreendimentos
como um fator limitante ou restritivo para realizar negócios. Não acreditamos que esse seja o caso. Aqui no IPO do Reino Unido acreditamos que
a PI na realidade ajuda a direcionar a inovação, se isso for feito de forma
adequada. Esse é o ponto importante.
Acreditamos que a PI possibilita que empreendedores coloquem novas ideias no mercado. Ela encoraja pessoas inovadoras a fazer mais. Ela
ajuda as universidades e faculdades a comercializar suas ideias e captar sua
criatividade e levá-las para o mercado. Ela ajuda a disseminar novas tecnologias e coloca novas drogas e medicamentos em linha mais rápido do
que de outras maneiras. Aqui no IPO do Reino Unido temos uma política
abrangente para nosso trabalho internacional, é isso é ter um sistema de
PI efetivo, respeitado que encoraja a inovação e a criatividade, mas que
também possibilita que a economia e a sociedade se beneficiem daquele
conhecimento e daquelas ideias, e essa é a parte importante. Não se trata
de apenas fazer dinheiro.
Trata-se de ter uma economia e uma sociedade que se beneficiam das
ideias e da inovação trazidas por ela. Estabelecemos para nós mesmos três
metas dentro do IPO. Uma é ter um sistema de PI internacional funcio[ 32 ]
nando bem, e isso inclui trabalhar com a organização mundial de propriedade intelectual e enfrentar algumas das questões tradicionais históricas
sobre governança e finanças que encontramos ali. Na Europa estamos trabalhando com nossos parceiros europeus para tentar conseguir um sistema
de patentes da UE e um sistema de cortes de patentes da UE. Também
trabalhamos para encontrar bons regimes nacionais e é isso que minha
equipe faz.Trabalhamos para ter o cumprimento mais efetivo e consistente
das leis de PI em nossos principais mercados, mas também oferecemos
apoio prático para empreendimentos que querem trabalhar no exterior. E
por último buscamos mais desenvolvimento econômico e tecnológico, que
é conseguir resolver algumas das tecnologias de fusões de medicamentos e
de mudanças climáticas e trabalhar com os países menos desenvolvidos no
mundo. E o que o IPO do Reino Unido está fazendo para ajudar nisso?
Em primeiro lugar, temos trabalhado com o comércio e os investimentos
do Reino Unido, com empresas e universidades e todas aquelas organizações internacionais para aumentar a conscientização sobre PI. O Reino
Unido registrou sua primeira patente em 1470, bastante tempo atrás.Vocês
ficarão surpresos em saber do pouco que mudou desde então.
Qual é a porcentagem de negócios do Reino Unido que vocês acham
que têm uma política de PI? Quantas pessoas?
É de 4%. Quatro por cento das empresas do Reino Unido têm uma
política de PI. Isso é impressionante. No Reino Unido, algo como 96 por
cento das empresas não compreendem o valor de sua propriedade intelectual. Elas não entendem o valor de suas patentes, seus projetos, sua marca.
Isso é extraordinário. Então temos trabalhado com a WIPO e o G8 e o
G20 e a Organização Internacional do Comércio para aumentar a conscientização sobre PI. Vocês podem achar que estamos muito na sua frente
na tentativa de conseguir um sistema de PI que funcione, mas claramente
não estamos tão na sua frente. Uma ideia sobre a qual gostamos de falar é o
Lambeth Toolkit, que é um sistema de trabalho coletivo e acordo coletivo.
Porque falamos disso? As pessoas nos falam que as pessoas inovadoras são
cada vez mais móveis; elas não estão presas a um país, assim como o dinheiro também não está. Ciência e tecnologia são uma coisa cada vez mais
internacional, então os sistemas de PI que funcionam bem em um país não
necessariamente funcionam bem em outros. Então em 2003 um grupo de
universidades, empresas e advogados de PI se reuniram para tentar encontrar uma maneira de reduzir o custo de trabalhar juntos, reduzir o tempo
envolvido em negociações delicadas, e aumentar o acesso de universidades
[ 33 ]
e empregadores de pequeno e médio porte, para levar suas ideias para o
mercado. Eles criaram o Lambeth Toolkit. O Lambeth toolkit é uma ideia
do tipo tamanho-único-não-serve-para-todos. Se eu falasse sobre pegar-e-misturar, vocês saberiam o que quero dizer? É como quando você vai a
uma loja de doces e você pega um pouco de cada coisa, mais do que você
gosta mais, e um pouco daquilo outro. É assim que funciona o Lambeth
toolkit. Há cerca de 70 variações diferentes de acordos e modelos que ele
apresenta.
Alguns são para negociações individuais, outros para acordos multinacionais, e alguns são para acordos com vários parceiros. A ideia é que haja
uma caixa de ferramentas na qual você pega aquilo que funciona para você
nesse tipo de acordo, e aquilo outro que funciona nesse tipo de acordo,
e espera-se que entre vocês, vocês consigam formular um contrato que
funcione para universidades, para empresas, para escolas etc. Acreditamos
que isso realmente funcione, e a prova é de uma pesquisa feita em 2009.
Sessenta e dois por cento dos que usaram o toolkit disseram que ele simplificou o processo, 57 por cento disseram que ele economizou tempo, e
33 por cento disseram que ele produziu contratos melhores.
O IPO do Reino Unido tem trabalhado com universidades no Brasil,
na China e na Coreia do Sul, e outros lugares, para fazê-los se interessar
pelo toolkit. Achamos que essa é uma boa maneira de levar inovação para
o mercado de forma mais rápida. Acreditamos que essa é uma boa maneira
de fazer as universidades e as empresas trabalharem bem juntas. As empresas
do Reino Unido dizem que o sistema de PI do Brasil lhes parece difícil de
compreender, que o cumprimento dos direitos não é fácil nem rápido; mas
também dizem a mesma coisa sobre o sistema do Reino Unido. Entretanto,
uma coisa que é diferente entre o sistema do Reino
Unido e o sistema brasileiro é uma coisa chamada Protocolo de Madri,
que é o reconhecimento e o respeito por marcas internacionalmente. Isso
é uma coisa que estávamos muito ansiosos para que o governo brasileiro
considerasse assinar. É uma coisa sobre a qual conversamos com o governo brasileiro e as empresas brasileiras. Eles acham que é uma boa ideia.
Gostaríamos de encorajá-los a pensar nisso. Então como o IPO do Reino
Unido poderia ajudar se é que pode mesmo ajudar? Uma das coisas que
estamos fazendo é ter uma espécie de adido de PI. A China, onde já temos
um adido; Índia onde temos um adido começando nas próximas duas semanas; Brasil, onde estamos buscando um adido agora; e o Sudeste da Ásia.
O adido está lá para ter a experiência e os recursos para disseminar boas
[ 34 ]
ideias e boas práticas entre o sistema de IP do Reino Unido e nossos pares
brasileiros e internacionais. Eles terão a experiência técnica para ajudar a
resolver os problemas de cumprimento e disseminar boas práticas.Também
queremos disseminar aquele acordo de colaboração com universidades e
empresas brasileiras. Gastamos bastante tempo e bastante esforço com as
empresas do Reino Unido falando a elas sobre as maravilhosas oportunidades que o Brasil pode oferecer.
Também oferecemos a oportunidade, que oferecemos agora novamente, de assistência técnica. Se houver alguma coisa que o sistema brasileiro
precisa e que nós temos e podemos oferecer, queremos compartilhar. Estamos nesse jogo há bastante tempo, sabemos um punhado de coisas, e
estamos preparados para compartilhar. Então a oferta de assistência técnica
com o INPI e outros está aí, se quiserem. Concluindo, pela perspectiva do
governo do Reino Unido, acreditamos que PI e inovação precisam um do
outro. Se não há inovação, não há necessidade de ter um sistema de PI. Se
não há um sistema de PI, não há interesse de inovar. E se não há interesse
em inovar, não há inovação, e a espiral continua. Espero trabalhar mais e
mais com os nossos pares brasileiros.
[ 35 ]
[ 36 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Implantação de Banda Larga:
Plano de Implantação de
Banda Larga da Comissão
Federal de Comunicação
JOHN HORRIGAN
Vice-Presidente para Pesquisa de Políticas, Technet
O
Plano Nacional de Banda Larga foi ordenado pela legislação de
incentivos aprovada pelo Congresso logo após a posse do Presidente Obama. Ela levou a FCC a produzir, em um ano, o Plano
Nacional de Banda Larga. Solicitamos prorrogação de um mês do prazo,
então ele não foi entregue no aniversário de um ano da lei de incentivo,
mas sim em 17 de março de 2010.
Por que fazer um Plano Nacional de Banda Larga? Primeiro, há uma
ideia neste país de que os Estados Unidos estão a reboque de outros países
em termos de banda larga. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), estávamos em quarto
lugar em penetração de banda larga por 100 pessoas nos anos 2001-2002.
Aproximadamente uma década atrás, os EUA estavam quase no topo da
classificação segundo essa métrica de progresso de banda larga, e tem sido
um constante declínio desde então. Hoje estamos em torno do 14º lugar
no mundo em termos de penetração por cem habitantes. Em termos de
qualidade da rede, há um estudo feito pela Cisco e a Escola de Negócios
de Oxford que põe os EUA em 15º em velocidade de rede. Então há um
sentimento de que os EUA não estão indo tão bem quanto deveriam em
banda larga e essa foi uma forte razão para desenvolver o plano.
[ 37 ]
Outra razão é a crença generalizada de que uma banda larga melhor
é melhor para a economia. Isso pode ter dois efeitos: um é o benefício
econômico direto. Se há investimento público em banda larga, isso é uma
oportunidade para a criação de empregos já que as pessoas serão contratadas para administrar a infraestrutura e operar os serviços. Um benefício
indireto, e indiscutivelmente um efeito ainda maior, é que com banda larga
melhor você tem uma melhor plataforma de inovação em seu país.Velocidades mais rápidas, implantação mais disseminada, maiores taxas de adoção,
espera-se, estimularão o espírito empreendedor das pessoas, criarão novos
negócios, e também possibilitarão que os negócios existentes prestem serviços de maneira mais efetiva e mais eficiente.
O terceiro pilar importante do desenvolvimento do plano de banda
larga era a noção de que banda larga é uma ferramenta para lidar com
importantes desafios da sociedade, como saúde e educação. Ao desenvolver
o Plano de Banda Larga, sempre fomos claros em dizer que uma banda
melhor não iria resolver o problema dos serviços de saúde nos Estados
Unidos. Melhor banda larga em si não irá melhorar os resultados na educação nos Estados Unidos. Mas à medida que soluções abrangentes são
desenvolvidas nessas e em outras áreas, a banda larga pode ser uma parte
muito útil da solução.
Vamos falar sobre o que o plano revelou e recomendou. Primeiro,
como resolver o problema quando estávamos realmente fazendo o plano
na FCC? Uma frase que foi repetida com frequência durante o desenvolvimento do plano foi “baseado em dados”. O Plano Nacional de Banda
Larga em si, que é um documento de 376 páginas, é bastante baseado em
dados, sólido em fornecimento de informações que apoiaram as várias
recomendações feitas.
Em um nível alto, estabelecemos um amplo objetivo que chamamos
de “100 por 100”, que quer dizer que em 2020 o plano tem a ambição de
prever e espera que haverá conexões de 100 megabits para 100 milhões de
casas nos Estados Unidos. Esses 100 milhões representam em torno de 90
por cento de todos os domicílios nos EUA. De um nível hoje de aproximadamente 65 ou 67 por cento de pessoas com banda larga em casa nos
Estados Unidos, nosso objetivo é não apenas aumentar a adoção de banda
larga para 90 por cento, mas aumentar dramaticamente a velocidade da infraestrutura que atenderá as casas das pessoas para 100 megabits em relação
à velocidade típica de hoje em torno de seis megabits por segundo.
[ 38 ]
O que você pode fazer com 100 megabits por segundo que você não
pode fazer hoje? Muitas vezes, quando se faz essa pergunta, particularmente para operadoras de banda larga nos Estados Unidos, a resposta será
“a demanda do consumidor ainda não é tanta assim”. O uso típico de um
consumidor típico exige hoje em torno de seis megabits por segundo – o
que significa que o usuário típico de Internet nos Estados Unidos é alguém usando e-mail, Facebook, vídeos, e carregando conteúdo. A velocidade de carregar conteúdo é tipicamente em torno de metade da taxa de
velocidade para descarregar.
A noção de que há uma enorme demanda para 100 megabits hoje
não encontra justificativa quando se olha para os casos de uso típico dos
americanos. A resposta que você poderá obter de um engenheiro, alguém
que tem uma longa experiência de Internet, é que tem sido histórico o
fato de que quando você fornece velocidades maiores haverá inovadores
na ponta mais sofisticada, com sua imaginação aguçada por essa velocidade
extra para desenvolver mais aplicativos inovadores. Então é essa noção de
expectativa de que mais velocidade irá animar os inovadores a fazer mais
coisas que levarão a demanda em direção a usos que tirem vantagem dos
100 megabits por segundo. E você vai encontrar pessoas nos Estados Unidos que consideram os 100 megabits por segundo um objetivo conservador. Eles o chamam de objetivo conservador ambicioso. Algumas pessoas
acham que devemos ter um gigabit por segundo para as casas das pessoas. E
só como adendo o Google está prometendo fazer isso em Kansas City com
a concorrência da FTTH (fibra-para-o-lar, na sigla em inglês) do Google
concluída recentemente.
Estabelecemos esse ambicioso plano e tentamos definir onde estamos
hoje em relação a três dimensões: a implantação de infraestrutura; a adoção
de banda larga entre os consumidores; e como a banda larga pode ser usada para esses fins nacionais que eu já mencionei. Então vamos falar sobre
infraestrutura. O que encontramos quando tentamos comparar a infraestrutura hoje nos Estados Unidos? Descobrimos que aproximadamente 95
por cento dos domicílios nos EUA possuem pelo menos um fornecedor
de banda larga fixa para sua casa. Na maioria dos casos é DSL, ou serviço
com modem a cabo. Descobrimos que 80 por cento têm acesso a dois fornecedores de serviço fixo; de novo, isso é em DSL ou cabo.
Nos Estados Unidos a empresa Verizon fornece o FIOS, um serviço de
fibra ótica doméstica. Isso chega provavelmente a apenas 2 ou 3 por cento
dos usuários de banda larga americanos. Em torno de dois a três por cento
[ 39 ]
não serão Verizon, mas a incidência de fibra ótica doméstica nos EUA é
bastante pequena. Nossa análise mostrou que se quiséssemos ligar os restantes 5 por cento do território dos EUA – ou os 5 por cento restantes dos
domicílios, eu diria – estima-se que isso custaria 24 bilhões de dólares para
chegar a áreas tipicamente remotas, rurais, onde atualmente não há acesso
à banda larga fixa. Estima-se que isso custaria no plano de banda larga,
24 bilhões de dólares. Em termos do que acontece em outros ambientes,
em termos de infraestrutura de banda larga, a lei de incentivos alocou 7,2
bilhões de dólares em infraestrutura. Qual é a comparação disso com os
investimentos do setor privado em infraestrutura de banda larga? Em torno de 30 bilhões de dólares são investidos anualmente em banda larga nos
Estados Unidos pelo setor privado. Essa é a história em infraestrutura fixa.
Em termos de espectro, o Plano Nacional de Banda Larga gasta um
bom tempo falando sobre o que vimos como uma preocupante crise de
espectro. Há uma crescente demanda por espectro nos EUA que em larga
escala é provocada pelos aparelhos que muitos de nós carregamos nos bolsos ou que estão bem na nossa frente nesse momento, smart phones, que
usam muito mais banda do que os celulares tradicionais. Há muitos usuários de iPad na plateia hoje? As pessoas com iPads são usuários ainda mais
pesados de serviços de dados que usam o espectro e há uma tendência nos
dias de hoje de aumento da adoção de tablets, sejam iPads ou outros produtos. Há uma projeção de que o tráfego sem fio de dados cresça 35 vezes
até o ano 2014, então essa enorme projeção de crescimento da demanda
por dados sem fio é a base para o argumento no Plano Nacional de Banda
Larga de que temos que fazer mais para colocar mais espectro no mercado
nos próximos 10 anos. O Plano de Banda Larga solicita que 500 megahertz
de espectro sejam colocados à disposição nos próximos 10 anos.
O principal mecanismo para fazer isso é uma coisa chamada leilões de
incentivo, que é um assunto palpitante no debate dos círculos de políticas
de telecomunicações nos EUA. Então o que são os leilões de incentivo?
Nos Estados Unidos as emissoras de televisão receberam a concessão de
um espectro para transmitir seus programas. Essa quantidade de espectro
era grande porque anos atrás era necessário ter muito espectro para transmitir sinais de televisão. Os avanços na tecnologia tornaram possível que
as transmissões de TV fossem feitas com uma fração do espectro que as
emissoras e outros licenciados pelo FCC receberam há muitos anos.
O Plano Nacional de Banda Larga diz que até 120 megahertz do espectro poderiam ser liberados se pudéssemos recuperar alguma parte do
[ 40 ]
espectro das emissoras. A ideia é conseguir recuperar uma parte do espectro das emissoras sem realmente prejudicar sua capacidade de transmitir a
programação existente. O problema é que as emissoras não são grandes fãs
dessa ideia. Elas têm o espectro; elas querem mantê-lo. A ideia por trás das
opções de incentivos é dizer às emissoras: se você decidir colocar seu espectro de volta ao domínio público, nós, o governo dos EUA, vamos vender o espectro em leilão para o setor privado e parte da renda irá retornar
para você, a emissora. Esse é o incentivo para as emissoras participarem do
leilão. Quando o espectro for finalmente vendido no mercado comercial,
eles recebem uma parcela da renda. Como eu disse, esse é um assunto
controverso. É preciso que o Congresso aprove uma legislação autorizando
que o FCC conduza esse tipo de leilão. Na verdade o FCC é favorável a
essa abordagem; mas não pode fazer nada sem autorização do legislativo e
isso está pendente no Congresso dos Estados Unidos.
Vamos falar um pouco sobre adoção. Eu disse que 95 por cento dos
domicílios nos Estados Unidos têm acesso a pelo menos um provedor de
banda larga fixa. Isso significa que 95 por cento dos domicílios poderiam
ter serviço de banda larga se quisessem. A pergunta é, quantos decidem
ter banda larga em casa? A resposta vem na pesquisa realizada pelo FCC,
o Departamento Comércio dos EUA, sob minha orientação quando eu
estava no Projeto Pew de Internet: cerca de dois terços dos americanos
têm banda larga em casa. Essa informação em geral causa estranheza em
algumas das plateias para as quais eu falo. As pessoas dizem “Você quer dizer
que as pessoas têm a infraestrutura na porta de casa e ainda assim decidem
não ter banda larga?” E a resposta é sim. Em torno dessa diferença de 28
por cento representam uma considerável fatia da população americana que,
por alguma razão, decidem não ter banda larga em casa.
No Plano de Banda Larga fomos encarregados de descobrir porque os
americanos sem banda larga não têm banda larga, e realizamos um levantamento que nos mostrou que há várias barreiras que as pessoas enfrentam
em relação à adoção de banda larga.
Os americanos pagam em torno de 40 dólares mensais para ter banda
larga. Entre os que não adotam a banda larga, 15 por cento dizem que esse
preço usual de 40 dólares é muito para eles. Outros 10 por cento dos que
não adotam dizem que um computador é muito caro, então não podem
comprar o equipamento para se conectar. E então você ainda tem 22 por
cento dos que não adotam que dizem que não têm conhecimentos de
informática.Você pode ver que em um primeiro momento o custo, seja a
[ 41 ]
conta mensal ou o custo do computador, é bem preocupante e parece que
é inevitável. Mas as pessoas têm outros desafios para se conectarem. A falta
de conhecimentos de informática é uma e o último item é a falta de informação sobre a utilidade da banda larga. As pessoas simplesmente dizem
“Não é para mim, eu não entendo o que eu poderia fazer com banda larga
se eu a tivesse”.
O outro ponto chave é que quando você pergunta às pessoas porque
elas não têm banda larga, as várias razões que aparecem na minha lista por
não terem banda larga tendem a se dividir em grupos. Se você é alguém
que diz que é muito cara, então você provavelmente também mencionará
o fato de que você não tem conhecimentos de informática. Então para
lidar com a lacuna de adoção de banda larga, você não usará simplesmente
o subsídio para reduzir o custo; você terá que oferecer às pessoas uma abordagem abrangente: treinamento, subsídios, e ainda algum tipo de marketing
à moda antiga sobre porque a banda larga é uma coisa prática e útil para
elas. O último terço dos que não adotam é o grupo mais difícil de atingir e
o setor privado acha que é muito caro e trabalhoso tentar conquistar esses
clientes.
Quais são as soluções propostas para tentar eliminar essa lacuna de adoção de banda larga? Se você puder fazer uma parceria com o setor privado,
com os esforços sem fins lucrativos existentes, que já são direcionados para
a promoção de adoção de banda larga para o setor privado, isso pode efetivamente reduzir seu custo de atrair esses clientes difíceis de alcançar. Uma
ideia é criar uma empresa de alfabetização digital. Basicamente contratar
pessoas que treinam aqueles que não têm banda larga sobre como usá-la.
Mobilizar jovens que estão procurando oportunidades de trabalho para
treinar pessoas que não têm conhecimento sobre o uso de banda larga.
Em segundo lugar, desenvolver parcerias público-privadas para treinar não
usuários sobre como usar computadores e a Internet. Essa ideia apareceu
em discussões com pessoas do setor privado quando estávamos desenvolvendo o Plano de Banda Larga. Realizamos 40 seminários públicos sobre
o processo de desenvolvimento do Plano Nacional de Banda Larga, onde
recebemos informações de pessoas de organizações sem fins lucrativos, do
setor privado e outros atores. O seminário público como mecanismo para
unir o apoio do setor privado com o de outros setores da sociedade foi
fundamental.
A Comcast é um bom exemplo de empresa que encontrou o que se
chamou de programa (A Plus) para tentar subsidiar estudantes elegíveis
[ 42 ]
para terem computadores em casa e serviço de banda larga com desconto. E em terceiro lugar, compartilhar melhores práticas em programas de
promoção de adoção em todo o país. Ao averiguar o cenário de iniciativas
para eliminar a lacuna de adoção da banda larga nos Estados Unidos, encontramos muitas discrepâncias. Há alguns lugares onde a comunidade se
movimentou para desenvolver programas de treinamento para as pessoas
usarem banda larga. Outros lugares estão atrasados procurando uma forma de acelerar seus programas para eliminar a lacuna de adoção de banda
larga. Se houvesse um fórum onde se pudessem compartilhar as melhores
práticas, achamos que esse seria um mecanismo útil para eliminar a lacuna de adoção de banda larga. A Comcast teve dificuldade em conseguir
uma empresa de computadores para participar do programa e oferecer um
preço suficientemente baixo de computadores para se conectarem. Mas
se conseguirem superar essa barreira, a Comcast prometeu, acho, fornecer
serviço de banda larga para domicílios elegíveis. Domicílios elegíveis normalmente significam crianças em idade escolar elegíveis para programa de
benefícios como os de merenda escolar. Acho que o número seria 15 dólares por mês para banda larga – bastante abaixo da média que mencionei
de 40 dólares por mês.
Entretanto, em termos de prioridade, você quer a banda larga atingindo o maior número possível de assinantes ou você quer melhorar a rede
em áreas estratégicas de forma que estimule a inovação e o crescimento
econômico? Infelizmente o Congresso dos EUA não nos forneceu orientação sobre isso porque basicamente recomendaram que encontrássemos
formas de promover a adoção universal de banda larga. Em minha opinião,
se eu tivesse que priorizar, eu diria que é importante para o bem-estar e
o crescimento econômico investir estrategicamente na velocidade da rede,
assim você consegue velocidade alta para as áreas onde estará a maioria dos
empreendedores e ter o maior potencial de criação de empregos. Alguém
poderia gastar muito dinheiro para fornecer a maior velocidade de rede na
América rural, mas há relativamente poucos empreendedores nessas áreas
esperando para receber velocidades mais altas e inventar o próximo negócio gerador de empregos. Eles tendem a estar em áreas urbanas, grupos de
talento em torno das universidades e assim por diante.
Em relação aos objetivos nacionais, as áreas em que o Congresso orientou o FCC para observar como aperfeiçoar a banda larga são: energia e
meio ambiente, desempenho do governo, saúde, educação, oportunidade
econômica e segurança pública. O que o Plano de Banda Larga fez foi des[ 43 ]
tacar bons exemplos de todo o país onde a banda larga estava sendo usada
para ajudar as pessoas a gerenciar o uso de energia em casa, por exemplo,
ou para a oferta de saúde.
Após mais ou menos um ano, como está indo o Plano de Banda Larga e o que foi feito? Em termos de infraestrutura, essas são algumas das
iniciativas que apareceram desde o lançamento do Plano de Banda Larga
que ou foram destacadas no Plano de Banda Larga ou receberam mais
incentivo por causa do Plano de Banda Larga. Em um discurso à nação, o
presidente estabeleceu esse objetivo de cobrir 98 por cento do país com a
quarta geração de infraestrutura de alta velocidade sem fio em um prazo
de cinco anos. Esse ambicioso objetivo estabelecido pelo presidente vem
com uma série de componentes. Um é liberar 500 megahertz do espectro,
algo tirado diretamente dos leilões de incentivo do Plano de Banda Larga,
que eu já expliquei o que são.
O Escritório de Gestão e Orçamento estima que os leilões de incentivo
podem levantar 28 bilhões de dólares em receita para o tesouro se implantado corretamente. O plano do presidente na verdade tem algumas ideias
de como gastar esses 28 bilhões, mas também devolver dinheiro ao tesouro.
Propõe-se que três bilhões de dólares vão para um fundo de inovação em
tecnologia sem fio para desenvolver aplicativos móveis direcionados principalmente para alguns daqueles objetivos nacionais que eu mencionei; 5
bilhões de dólares para gastos de infraestrutura rural de alta velocidade; e
10 bilhões de dólares para uma rede de segurança pública. Isso envolve
dar uma porção bastante valiosa do espectro eletromagnético – o assim
chamado Bloco D na banda de 700 megahertz do espectro – para agências
de segurança em todo o país. Assim, eles serão capazes de criar uma rede
nacional inter-relacionada de segurança pública, de forma que bombeiros
de uma região da sua cidade poderiam facilmente não apenas conversar,
mas também comunicar-se com vídeos e dados. Custaria 10 bilhões de
dólares para construir essa infraestrutura e erguer as torres e desenvolver
equipamentos para fazê-la funcionar. Ainda restam, se eu estiver fazendo a
conta certa, quase 10 bilhões para o Tesouro Federal.
E aí, da lei de incentivo vêm 7,2 bilhões de dólares em concessões para
infraestrutura. Muito disso do Departamento de Comércio é para a assim
chamada milha intermediária de rede fibra ótica. A milha intermediária
é a porção da rede de fibra ótica que leva tráfego de seu bairro para as
linhas-tronco de alta velocidade que distribuem tráfego de dados para o
mundo todo. O Departamento de Comércio identificou isso como uma
[ 44 ]
lacuna de infraestrutura nos Estados Unidos. Normalmente há uma infraestrutura decente de banda larga fixa mesmo nas áreas rurais, em regiões
com uma população razoável. O problema é levar aquele tráfego da região
rural densa para a porção principal da infraestrutura de banda larga. Isso
é a chamada milha intermediária. Assim as concessões da ARRA (Lei de
Recuperação e Reinvestimento) ajudaram a lidar com isso. Mas a iniciativa
de conexão sem fio do presidente é um objetivo. Para atingir esse objetivo,
esse elementos específicos – o fundo de inovação sem fio e os 5 milhões
de dólares para alta velocidade rural – são coisas que precisam acontecer.
Em relação a como aumentar a adoção de banda larga, houve um pouco menos de ação no ano seguinte. Há programas sob o programa de incentivos do Departamento de Comércio. Eles são da ordem de 500 bilhões
de dólares combinados que vão para iniciativas sustentáveis de banda larga
que financiam grupos locais criados para treinar pessoas que não têm banda larga sobre como usá-la. Há 250 milhões de dólares para centros públicos de computação para ajudar as bibliotecas a apoiar instituições como a
polícia ou o corpo de bombeiros para fornecer acesso público para pessoas
que não têm banda larga. E houve alguns esforços nascentes para desenvolver parcerias públicas e privadas que eu citei anteriormente.
O FCC acabou de iniciar a reforma do fundo do serviço universal
para tentar canalizar alguns fundos do Fundo de Serviços Universais dos
EUA – que é um fundo de 9 bilhões de dólares anuais direcionados para
infraestrutura e adoção, mas principalmente para infraestrutura de antigas
linhas telefônicas e adoção de serviço telefônico. Não é orientado para uso
de alta velocidade. A reforma desse fundo de 9 milhões de dólares e a permissão para que parte desse fundo seja usada para a promoção de adoção
de banda larga ou desenvolvimento de infraestrutura estão em andamento
e no seu estágio inicial no FCC. A questão da adoção provavelmente recebeu menos atenção no ano seguinte desde o Plano de Banda Larga do que
algumas outras questões. Outras pessoas provavelmente dirão que algumas
das questões sobre o espectro andaram devagar demais também. A velocidade das pessoas pode variar.
Em relação aos propósitos nacionais, essa é uma instância em que o
Plano de Banda Larga estabeleceu alguns objetivos para diferentes áreas do
governo tomarem ações. Desde que o Plano de Banda Larga foi entregue,
alguns esforços foram iniciados em alguns departamentos diferentes. No
Departamento de Educação, por exemplo, houve o desenvolvimento de
um plano nacional de tecnologia sobre como usar tecnologia da informa[ 45 ]
ção de modo mais efetivo nas escolas. Os Institutos Nacionais de Padrões
e Tecnologia (NIST, na sigla em inglês) estão trabalhando em padrões de
desenvolvimentos na matriz inteligente, de forma que a matriz energética
nos Estados Unidos possa ser gerenciada mais efetivamente e que os consumidores tenham a oportunidade de gerenciar seu consumo de energia em
casa. Na segurança pública mencionei essa questão do leilão do Bloco-D
do espectro para ajudar a desenvolver uma rede de banda larga de segurança pública. Isso está andando meio devagar, mas de novo, muitas vezes as
engrenagens do governo andam devagar.
Deixe-me apenas concluir com algumas ideias sobre a questão se o
Plano de Banda Larga vai funcionar. Por um lado, é um documento do
governo bastante pesado com quase 400 páginas que dá muitos detalhes.
Apenas lhes dei uma pequena amostra de como essas recomendações específicas têm sido implantadas no último ano. Mas o capítulo final do Plano
de Banda Larga começa com a seguinte sentença: “Este plano está em beta
e sempre estará”. Isso significa que o plano em si tem que ser constantemente revisado, escrutinizado e revisto se necessário, à medida que a tecnologia muda e outras coisas mudam de acordo com a situação.Você tem
que atualizar seus objetivos e seus processos para atingir esses objetivos à
medida que a situação muda na economia mundial. Eu apenas recomendaria que vocês estabelecessem um processo pelo qual vocês podem colocar
objetivos mais altos se for preciso à medida que a situação muda.
O plano funcionará? Bem, será preciso ter melhores métricas para medir o progresso. Uma coisa com a qual nos deparamos repetidas vezes no
Plano de Banda Larga foi a carência de métricas pra medir fenômenos no
espaço da banda larga. Como as práticas de coleta de dados estatísticos do
governo dos EUA ainda estão presas em grande medida na era industrial,
temos que fazer mais para tentar entender como medir as coisas na era
da banda larga. Em segundo lugar, mudança institucional: tem havido um
interesse incrível entre as autoridades estaduais e locais nos Estados Unidos
sobre como usar a banda larga. Acho que isso se deve em parte, não exclusivamente, mas em parte, ao Plano Nacional de Banda Larga.
Eu falei em diversos eventos após a entrega do Plano de Banda Larga,
onde havia autoridades, municipais, estaduais, que vinham depois e estavam realmente entusiasmados sobre como usar a banda larga para administrar seus governos de forma mais eficiente e promover desenvolvimento
econômico. Muitas cidades têm forças-tarefa nos EUA tentando melhorar
o uso da banda larga e melhorar o entendimento sobre a infraestrutura da
[ 46 ]
banda larga. Esse tipo de mudança institucional tem que acontecer para o
plano de banda larga se tornar real. E finalmente, testemunhei um pouco
disso nas fases iniciais, logo depois da apresentação do Plano de Banda
Larga, mas mais tem que ser feito para sustentar isso.
Você cria um Plano Nacional de Banda Larga para ter uma plataforma
robusta para inovação. Como medir os resultados em inovação a partir de
esforços vindos da banda larga é outro desafio que temos que entender
melhor. É algo sobre o qual temos que ter uma discussão constante. E
finalmente, se o Plano de Banda Larga deve ter um impacto real, então
você quer ver resultados acelerados em termos de ensino para crianças em
idade escolar e empreendedorismo no âmbito estadual e regional. Esses
são indicadores importantes. Não é algo que você irá medir bem um ano
após a entrega do Plano de Banda Larga, mas é algo para ter em mente à
medida que avançamos.
Eu diria ainda que muitos países nesse mundo acreditam que a área
central de seu crescimento deveria estar no setor de exportação de sua
economia. A mensagem de minha apresentação é que, apesar de isso ser
importante, aumentar a produtividade dos setores domésticos não comerciais de sua economia é igualmente importante, se não mais importante.
[ 47 ]
[ 48 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Competitividade:
Competitividade Internacional
em Tecnologia da Informação
e Políticas de Inovação nos
EUA
STEPHEN EZELL
Analista Sênior, Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação
T
ecnologias de Uso Geral (GPT, na sigla em inglês) impulsionam
transformações e crescimento econômico. A maioria das inovações vem gradualmente com mudanças modestas e melhorias em
produtos, processos e modelos de negócios. Mas aproximadamente a cada
meio século surge um novo sistema tecnológico que muda tudo. Na história da raça humana, tivemos em torno de 35 dessas Tecnologias de Uso
Geral. A roda, a prensa de impressão, o navio de três mastros, energia a
vapor, ferrovia, aço, eletricidade, e hoje em dia, tecnologias de informação
e comunicação. O ponto sobre as GPTs é que elas impactam e mudam
virtualmente tudo: o que e como produzimos as coisas; como organizamos
e gerenciamos a produção em nossa sociedade; a localização da atividade
produtiva; a infraestrutura de apoio necessária; e fundamentalmente as leis
e regulamentações necessárias para sustentar a Tecnologia de Uso Geral.
As GPTs também possuem três características principais. Primeiro elas
se tornam universais e incluem tudo. Isso significa que elas se tornam parte
de quase todas as indústrias, produtos e funções. Elas permitem a inovação
em produtos, processos, modelos de negócios e modelos de organização de
[ 49 ]
empresas. Finalmente, elas passam por rápidas reduções de preço e aperfeiçoamentos de desempenho. Tome por exemplo, o pequeno pen drive,
o pen drive de dois gigabits. Ele é parte de nossa vida diária hoje em dia,
certo? Em 1995, quanto custaria a capacidade de armazenagem de cinco
gigabytes? Cinco gigabytes custavam 5.500 dólares em 1995. Então temos
grandes reduções de preços, e mesmo tempo temos grandes melhorias
de desempenho. É claro, isso é simplesmente para capacidade de armazenagem. Imagino que encontraremos a mesma coisa para a capacidade de
processamento de computadores.
Tenho certeza de que vocês conhecem a Lei de Moore, que diz que
o número de transistores que cabem em um microchip dobra a cada dois
anos. Na verdade quando olhamos para o custo de um milhão de instruções de operação de um computador por segundo, é como medimos a
velocidade de microprocessadores. Em 1960, o custo de pedir para um
computador realizar um milhão de instruções por segundo era de 1,1 trilhões de dólares; hoje esse custo é de 13 centavos de dólar.
Para ilustrar esse ponto, o aniversário da minha mulher será em breve,
então escolhi um cartão para ela. É um pequeno cartão bacana com um
microprocessador embutido que toca a música “Unchained Melody” dos
Righteous Brothers, uma canção clássica americana. Comprei esse cartão
por US$ 4,99. Então imagine quanto eu teria pago em 1946 para comprar
esse cartão de aniversário para a minha mulher. Ele teria me custado 4,6
bilhões de dólares em 1946. O primeiro computador foi o ENIAC criado
na Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia. Naquela época Ele foi desenvolvido a um custo de 5,5 milhões de dólares. Esse pequeno cartão é 800
vezes mais potente do que o primeiro computador ENIAC. O cartão tem
mais potência de informática do que existia em todo o mundo em 1955, e
estamos apenas começando.
Vemos tendências semelhantes nos aumentos da velocidade de conectividade de Internet. Podemos olhar para trás, 1992, 1996 e para aqueles
de nós que estavam conectados naquela época, estávamos lidando com
modems muito lentos de discagem. No início dos anos 2000, começamos
a usar linhas DSL, as Linhas Digital Subscriber nos Estados Unidos, com
1,28 megabytes por segundo. Talvez em meados dos anos 2000, estivéssemos na casa de 2,5 megabytes por segundo. Hoje estamos em torno de 6
megabytes, mas esperamos alcançar 100 megabytes por segundo em 2020.
Na verdade, a Verizon e a Comcast estão começando agora a oferecer 40
e 50 megabytes por segundo. Isso significa que nas últimas três décadas a
[ 50 ]
velocidade média de conectividade da Internet residencial aumentou 117
mil vezes. A velocidade do backbone da rede aumentou 18 milhões de
vezes. Isso significa que o mundo tem acesso em tempo real à informação
a qualquer hora em qualquer lugar.
Ao final de 2013, estima-se que haverá 5,5 bilhões de aparelhos ou
sensores em todo o mundo conectados com a Internet.Todo equipamento
de petróleo, plataforma de petróleo, cada avião, cada cabeça de gado estará
conectada em tempo real a uma Rede de informações, e saberemos tudo
o que precisamos saber sobre aquilo instantaneamente. Isso possibilitará a
criação de novos modelos de negócios nunca antes concebidos na história
humana. Pensem no que empresas como Match.com ou eHarmony fizeram para o mundo do romance, ou a Priceline ou a Orbitz fizeram para
a indústria de aviação. Agora podemos agregar oferta e demanda simultaneamente para qualquer produto ou serviço em nível global em tempo
real e colocar preço. A Tecnologia da Informação e Comunicação é um
capital extraordinário que impulsiona a produtividade e o crescimento da
economia.
Um estudo da Nathan Associates descobriu que o capital de TI tem
sete vezes mais impacto no PIB e na produtividade do que o capital não TI
em nações com baixo nível de uso de TI, e em torno de três vezes mais em
países desenvolvidos.Também vemos claramente que a aplicação de tecnologia da informação em empreendimentos estimula o crescimento de sua
produtividade e por isso também seu lucro. Outro estudo descobriu que
em grandes empresas dos EUA cada dólar de capital de TI está associado
com 25 dólares de valor de mercado. Entretanto, cada dólar de capital não
TI, prédios, carros, empilhadeiras, está associado com um dólar em valor.
De fato, em um estudo que analisou 80 mil empresas nos EUA entre 1987
e 2006, cada funcionário adicional de TI em uma grande empresa americana contribuiu com aproximadamente 338 mil dólares de valor para a
empresa. Além disso, um estudo descobriu que dobrar o capital de TI em
uma empresa americana está associado com um aumento de 4 por cento
no crescimento de sua produtividade. Então a aplicação de TIC está impulsionando o crescimento da produtividade e da lucratividade das empresas
nos EUA. Encontramos isso na economia em geral.
Em março de 2010, a ITIF (Information Technology & Innovation
Foundations) divulgou um relatório chamado “A Economia da Internet
após 25 Anos”. Foi em 15 de março de 1985 que o primeiro site comercial
da Internet começou a existir. Estamos na Internet comercial há apenas 25
[ 51 ]
anos. Mas nesses 25 anos quanto valor vocês acham que a Internet agrega
anualmente à economia global? A Internet comercial adiciona 1,5 trilhões
de dólares a cada ano à economia global. Por causa da revolução em TI a
economia dos EUA é 2 trilhões de dólares maior do que seria sem ela, a
cada ano. De fato, um estudo de Eric Bergelson feito em 2008 descobriu
que a TIC contribuiu com algo entre um terço e metade de todo o crescimento de produtividade dos EUA, o que aumentou a economia dos EUA
em 150 bilhões de dólares apenas em 2008.
Quais são as implicações disso do ponto de vista econômico? Em última instância sabemos que as economias crescem com o crescimento de sua
produtividade. Como as economias aumentam sua produtividade? Há duas
maneiras. A primeira é o que chamamos de “aumento da produtividade
geral”. Isso significa aumentar a produtividade em todas as empresas de
todas as indústrias de uma economia. Todos os nossos bancos, estabelecimentos de varejo, hotéis, hospitais, setor comercial, produção, automóveis
e aeronaves; aumentar toda a sua produtividade. A segunda maneira pela
qual as economias podem crescer é alterando a composição de sua economia: o efeito mudança. Isso se faz substituindo indústrias de baixo valor
agregado como call centers, por indústrias de alto valor agregado como
semicondutores ou um centro farmacêutico. Ambos são importantes para
impulsionar crescimento. Entretanto, quando McKinsey estudou essa questão, ele descobriu que o desempenho setorial importa muito mais do que
a combinação de setores em uma economia.
Em seu relatório, chamado “Como competir e crescer”, McKinsey analisou seis países desenvolvidos [EUA, Coreia do Sul, Reino Unido, França,
Alemanha e Japão] e seu crescimento econômico -- seu crescimento em
PIB entre 1995 e 2005 [veja abaixo].
Se tomarmos a taxa média de crescimento de todos os setores em todos
esses seis países em 1995, o que teria sido a melhora de seu crescimento?
Se os níveis de produtividade de todas as indústrias dos EUA crescessem na
média do mundo em desenvolvimento, qual seria a expectativa de crescimento de seu PIB em um período de 10 anos? Para os EUA, o crescimento
esperado do PIB era de 2,3 por cento ao ano. Mas o crescimento dos EUA
acabou sendo de 3,3 por cento ao ano; apesar do aumento esperado do
PIB ser de 2,1 no Japão para o período de 10 anos, seu ganho real foi de
0,4 por cento ao ano. Essencialmente, a razão disso foi porque os EUA
fizeram um trabalho muito melhor de aumentar a produtividade de todos
os setores de sua economia do que seus concorrentes.
[ 52 ]
O desempenho dos setores importa mais do que o mix de setores para o
crescimento do PIB nos países desenvolvidos.
Contribuição para o valor agregado total, 1995-2005
Taxa de crescimento anual composto, %
1 Taxa de crescimento por país calculada como se todos os setores tivessem crescido com uma taxa média de crescimento específica do setor
em todos os países desenvolvidos. 2 Crescimento real por país menos o ritmo de crescimento do mix de setores inicial.
FONTE: Global Insight; análise feita pelo McKinsey Global Institute
McKinsey descobriu exatamente as mesmas tendências mantidas por
países em desenvolvimento [veja abaixo].
Quando olharam para a China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul,
disseram “Se todos os setores da economia brasileira crescerem nas taxas
médias desses outros países em desenvolvimento, então poderíamos esperar
uma taxa anualizada de crescimento entre 1995 e 2005 no Brasil de 5,9
por cento”. No fim, o Brasil cresceu, mas a uma taxa anualizada de apenas
3,5 -- na verdade 2,5 por cento menos do que a composição setorial de
sua economia teria sugerido em 1995. Qual é a causa desse desempenho
abaixo do esperado? A resposta que o estudo de McKinsey encontrou é
que o Brasil não fez um bom trabalho como outros países em aumentar a
produtividade de todos os setores. Essa é uma maneira muito real em que
as economias deveriam se concentrar para crescer.
[ 53 ]
O desempenho dos setores importa mais do que o mix de setores também nos
países em desenvolvimento.
Contribuição para o valor agregado total, 1995-2005
Taxa de crescimento anual composto, %
1 Taxa de crescimento por país calculada como se todos os setores tivessem crescido com uma taxa média de crescimento específica do setor
em todos os países desenvolvidos. 2 Crescimento real por país menos o ritmo de crescimento do mix de setores inicial.
FONTE: Global Insight; análise feita pelo McKinsey Global Institute
Quais são as descobertas sobre crescimento econômico a partir da TIC?
Primeiro, que o aumento da produtividade em todos os setores é mais importante do que alterar a variedade setorial de sua economia. Então o Brasil se movimenta para fazer crescer sua indústria aeroespacial, aeronáutica,
farmacêutica e de biotecnologia, e ferramentas para seu maquinário; isso
tudo é ótimo.Vocês estão fazendo a coisa certa.Vocês precisam disso. Mas
vocês também deveriam focar em alavancar a tecnologia da informação e
comunicação para aumentar a produtividade de suas empresas em todos
os setores da economia. Porque o fato é que quando você olha de onde
vem o valor da tecnologia da informação, você vai ver que 80 por cento
do benefício da TIC vêm de seu uso e apenas 20 por cento do benefício
da TIC vem de sua produção. Por isso, a verdadeira força da TIC está em
usá-la para melhorar a produtividade de todos os setores de sua economia,
particularmente seu uso por empreendimentos que fazem diferença.
[ 54 ]
A ITIF fez um estudo que observou as taxas de crescimento de produtividade entre os Estados Unidos e a Europa entre 1945 e 2010. Descobrimos que no período pós-guerra de 1945 a 1995, a produtividade e as
melhorias europeias eram superiores às dos Estados Unidos. Mas depois de
1995, os EUA aceleraram à frente da Europa em melhorias de produtividade em torno de 1 por cento ao ano. A diferença foi 85 por cento explicada
pelo uso muito mais efetivo da TIC pelas empresas americanas do que
pelas europeias. Com essa análise deveria ficar claro que as barreiras para o
fluxo da TIC apenas prejudicam uma economia.
Os economistas Kaushik e Singh realizaram um estudo sobre os impactos dos impostos de CI na Índia sobre sua economia de 1970 a 1995. Eles
descobriram que para cada dólar em impostos que a Índia aplicava sobre
sua indústria de TIC, a economia sofria uma perda de US$ 1,30. Por quê?
Na tentativa da Índia de desenvolver uma indústria doméstica nativa de
TIC impondo impostos sobre a importação de produtos estrangeiros de
TIC, as empresas em todo o resto da economia indiana acabavam usando
produtos de TIC inferiores. Então seus bancos, seguradoras e companhias
aéreas não tinham os benefícios das tecnologias líderes em informação e
comunicações e sua economia sofria.
Seus vizinhos argentinos taxaram em 33 por cento computadores
importados montados em uma tentativa de estimular a criação de uma
indústria argentina local de computadores. Essencialmente, eles taxam os
computadores montados em 33 por cento, mas mantêm a taxação sobre
componentes importados para computadores como discos rígidos e placas
de circuito integrado etc. muito baixas. Mas o que isso significou é que 33
por cento dos computadores vendidos na Argentina são montados artesanalmente para contornar essas taxas sobre as importações de computadores
montados. O que isso deixa para os consumidores e as empresas argentinas?
Produtos de TIC inferiores que inibem sua capacidade de usar a TIC para
gerar inovação em todo o resto de sua economia. Então a mensagem é que
taxas sobre produtos e equipamentos de TIC são ruins para a economia.
Algumas considerações sobre TIC e políticas de inovação: a ITIF trabalhou bastante tentando explicar para as lideranças internacionais em áreas
críticas para a aplicação de tecnologia da informação, como saúde, governos eletrônicos, sistemas inteligentes de transporte e pagamentos móveis.
Publicamos uma série de quatro relatórios com explicações sobre liderança
em TI em sistemas inteligentes de transporte, TI em saúde, pagamentos
móveis e governos eletrônicos. Sistemas inteligentes de transporte estão
[ 55 ]
trazendo informações em tempo real para seus sistemas de tráfego, com
automóveis capazes de se comunicar com a infraestrutura trazendo informações em tempo real sobre o fluxo de tráfego para o veículo.TI em saúde,
são, obviamente prontuários eletrônicos de saúde; e pagamentos móveis
significa usar seu telefone celular para fazer transferências financeiras, transações bancárias móveis, e governo eletrônico.
Vemos os mesmos grupos de países aparecendo como líderes mundiais:
em sistemas inteligentes de transporte, Japão, Coreia do Sul e Cingapura; o
mesmo acontece em pagamentos móveis; em governo eletrônico, Coreia
do Sul, Dinamarca e Países Baixos; líderes de TI em saúde são Dinamarca,
Finlândia e Suécia. Quem são esses líderes que encontramos nessas diferentes áreas de aplicação de TI e o que eles têm em comum? A resposta é
que eles tiveram estratégias nacionais de TI ou Planos Nacionais de Banda
Larga que remontam a uma década atrás. O Japão introduziu sua estratégia
“e-Japan One” em 2000, atualizou-a com a estratégia “e-Japan Two” em
2003, e apareceu com uma nova Estratégia de Reforma de TI em 2007.
A Coreia do Sul tinha uma espécie de plano mestre de tecnologia da informação presente em todos os setores da sociedade. O ponto é que esses
países têm estratégias nacionais para pensar sobre como a tecnologia da
informação pode ser aplicada para conseguir a transformação de sua sociedade e sua economia em todas as vertentes industriais. Acho que estamos
fazendo essa descoberta agora nos Estados Unidos de que temos que fazer
isso. Mas talvez estejamos um pouco atrasados, e isso explica porque não
somos os líderes mundiais em algumas dessas áreas de aplicação de TI,
como esse conjunto de países.
Descobrimos que uma série de países em todo o mundo tem reconhecido cada vez mais que o crescimento econômico baseado em inovação é
o passo adiante. O Reino Unido, por exemplo, tomou uma decisão consciente de colocar a inovação no centro de sua estratégia de crescimento econômico. Na última década, três dúzias de países introduziram seus
Planos Nacionais de Inovação e Estratégias Nacionais de Inovação para
orientar a inovação na transformação de suas economias. Países que desejam liderar o mundo em crescimento econômico baseado em inovação
precisam pensar sobre o assunto de forma estratégica e precisam desenvolver a capacidade institucional de entender como a inovação estimula sua
economia através de diferentes vertentes como serviços de saúde, educação,
governo, transporte etc.
[ 56 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Debate sobre Política
de Inovação no Reino
Unido: Inovação Aberta e
Desenvolvimento de Novas
Drogas
WEN HWA LEE
Coordenador Científico, Structural Genomics Consortium, Universidade de Oxford
P
rezados membros do Congresso brasileiro, eu gostaria de lhes falar
sobre o SGC (Consórcio de Genômica Estrutural), uma parceria
público-privada da qual sou o Coordenador Científico. Hoje falaremos sobre inovação aberta e como ela pode criar uma revolução na
descoberta de drogas do ponto de vista de um cientista. Em primeiro lugar,
sabemos muito bem qual é o problema: estamos enfrentando uma crise
sem precedentes na criação e descoberta de novos medicamentos. Como
podemos identificar e resolver os gargalos que levam a esse problema?
Uma vez que identificarmos onde estão os gargalos, eu gostaria de lhes
mostrar o modelo que temos usado para resolver o problema. Para finalizar,
eu gostaria de compartilhar com vocês o que o SGC tem feito junto com
o Brasil nessa área.
Inovação não é simplesmente aparecer com novas ideias e descobertas – isso acontece todos os dias. Temos que pensar em inovação como a
transformação dessas ideias em produtos, em algo que irá afetar nossa vida
cotidiana. A forma como nossa área trabalha no momento é a seguinte: os
acadêmicos são responsáveis pela maior parte das descobertas científicas. As
[ 57 ]
universidades que abrigam esses acadêmicos irão então solicitar o registro
da patente para aquela ideia e depois vão vender ou licenciar a patente
para uma indústria farmacêutica, que tem a experiência e a capacidade de
levar essas descobertas para o mercado. Antes de chegar às prateleiras qualquer novo medicamento precisa passar por estudos clínicos e depois, caso
sejam bem-sucedidos, passam pelos processos regulatórios que afinal vão
dizer “sim – está bem – isso é um medicamento / droga real que pode ser
vendido no nosso mercado”. Uma vez que chega nessa fase, o público em
geral pode finalmente ter acesso ao final desse ciclo na forma de algo que
faça sentido – uma droga real.
Entretanto, o atual modelo que acabei de descrever não está funcionando. Isso é quanto se gasta globalmente em pesquisa e tecnologia para
o desenvolvimento de novas drogas. Esse gráfico é de 2008 e representa as
nove maiores indústrias farmacêuticas.
Isso é quanto está sendo investido em pesquisa e desenvolvimento
(P&D) de novos medicamentos, de acordo com relatórios dessas maiores empresas. Em 2010, empresas privadas gastavam US$ 100 bilhões por
ano em P&D. Mas quantos medicamentos reais estão sendo descobertos/
desenvolvidos por ano? Vocês podem ver aqui no gráfico. É um imenso
gargalo. E como a indústria (e a academia) estão lidando com esse gargalo? Injetando ainda mais dinheiro nesse campo na esperança de que a
... mas o modelo atual não está funcionando!
60
52
45
39
30
26
15
13
0
1963
0
1968
1973
1978
1983
1988
Fonte: www.thesgc.org
[ 58 ]
1993
1998
2003
2008
Despesas com P&D (Bilhões USD, 2008)
Aprovações de novos medicamentos
O modelo atual está insustentável
Quanto está sendo investido em pesquisa e desenvolvimento (P&D)
de novos medicamentos
Estados Unidos
16
%GDP
14
12
Suiça
Alemanha
Canadá
10
OECD
Japão
8
6
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
Fonte: OECD Health Data 2009, OECD (http://www.oecd.org/health/healthdata).
inovação seja facilmente escalável: US$ 100 bilhões por ano por empresas
privadas que são aumentados com outros US$ 100 bilhões globalmente,
por fundações e instituições beneficentes que financiam pesquisa biomédica. Então o total de dinheiro chega agora a US$ 200 bilhões por ano.
Considerando os anos anteriores, estamos presenciando um crescimento
exponencial em investimentos. E o que está acontecendo com as novas
drogas descobertas? Continuam em baixa. Em 2010 o FDA aprovou apenas 21 novas drogas. Estimativas conservadoras estabelecem um preço para
cada droga desenvolvida de US$ 1 a US$ 2 bilhões, mas os números acima
sugerem que pode ser mais. O que acontece é que muitas dessas empresas, embora estejam investindo pesadamente, perderão uma média de 25
por cento de sua receita com a perda de patentes. Para fechar as contas,
as empresas farmacêuticas estão fechando laboratórios de P&D de forma
surpreendente. Desde 2010, em torno de 300 mil pessoas perderam seus
empregos na indústria farmacêutica. Não se trata apenas de restruturação
e pessoas inteligentes mudando de empresa – trata-se de acabar com gerações de excelentes pesquisadores treinados na indústria e na academia.
Quando perdem seus empregos, eles não têm para onde ir, já que todas as
farmacêuticas estão reduzindo sua P&D e há muito poucas novas empresas
sendo abertas. As pessoas altamente capacitadas vão acabar abrindo uma
loja no eBay, migrar para o setor financeiro e uma pequena proporção será
absorvida pela academia. Na verdade estamos matando as mentes criativas
[ 59 ]
que estão trazendo essas inovações e essas novas drogas para nós. Os assim
chamados “Analistas Financeiros” de bancos de investimentos estão aconselhando seus investidores a parar de investir em empresas farmacêuticas
que estão fazendo pesquisa porque irão perder dinheiro; é como aconselhar um açougueiro a parar de vender carne.
Estamos passando por uma enorme crise, e obviamente, todas as empresas estão dizendo “precisamos de uma solução, precisamos de inovação!”
Mas onde elas podem encontrar inovação? “Na academia, é óbvio!”
Bem, deixe-me avisá-los de que isso é um grande mito! A academia
NÃO vai salvar a pátria. Este é um gráfico interessante criado por um dos
nossos cientistas no SGC – Prof. Stefan Knapp.
Todos nós sabemos que o projeto genoma nos deu o ‘manual’ da vida.
Sabemos também que ele contém informações para o corpo fazer vários
tipos de diferentes máquinas moleculares altamente especializadas que desempenham todas as funções que sustentam a vida de um organismo vivo
– são as proteínas. De todas essas proteínas, há uma classe chamada de ‘quinases’ e que estão implicadas em vários tipos de câncer. Na verdade essas
quinases são tão importantes que a maioria das drogas modernas para curar
câncer age sobre as quinases. Há aproximadamente 500 tipos de diferentes
quinases no corpo humano e sabe-se que a MAIORIA está implicada no
MITO: Academia vai salvar o dia!
Citações no PubMed
0
5000
10000
WIPO Patentes 2006-2009
15000
Alvo Kinase
1
0
51
51
101
101
151
151
201
251
301
351
401
451
40
80
120
1
201
Top10
251
p38a
SRC
EGFR
PKA
Erk1
KDR
ABL
CDK1
KIT
FMS
301
351
401
451
RNAi
Top10
Aurora
KDR
p38a
cMet
BRAF
CDK2
JAK2
AKT2
GSK3b
Tie2
Driver mutations
Fonte: The (un)targeted cancer kinome. Fedorov O, Müller S, Knapp S. Nat Chem Biol. 2010 Mar; 6(3): 166-169. Too many roads not taken. Edwards
AM, Isserlin R, Bader GD, Frye SV, Wilson TM, Yu FH. Nature. 2011 Feb 10; 470(7333): 163-5.
[ 60 ]
câncer e em outros processos biológicos. Quando um cientista trabalha em
alguma coisa, ele escreve sobre suas descobertas em publicações científicas
para que outros colegas possam usar essas descobertas para desenvolver o
trabalho em novas direções. Quando Stefan e colegas pesquisavam as publicações para contar quantos trabalhos foram publicados sobre cada um
dos 500 tipos de quinases, ele descobriu – surpreendentemente – que a
quase maioria absoluta da pesquisa realizada com quinases cobre apenas
40 ou 50 dos tipos – isso é menos do que 10% de tudo! Isso tem sido
chamado de ‘Efeito Harlow-Knapp’: ninguém está expandindo; ninguém
está tentando pesquisar coisas novas! Por que isso está acontecendo? Há
várias razões – uma é porque na academia quando enviamos um projeto
para um comitê de avaliação, a primeira coisa que irão dizer é “Onde estão
os dados? Não posso investir em pesquisa que não vá conquistar alguma
coisa.” Então se vou trabalhar em pesquisa, terei que ter o suporte de um
financiador, digamos a FAPESP, por exemplo – poderia ser o NIH ou
MRC – não importa – o comportamento é o mesmo: Se estou submetendo uma proposta sobre uma quinase muito bem conhecida – vamos
chamá-la de ‘quinase 1’, os avaliadores receberão uma proposta enorme
com uma detalhada revisão da literatura, citando tudo o que se sabe sobre
a quinase 1. Os avaliadores dirão: “Ótimo – há um monte de informações
e tudo faz sentido porque essa realmente é uma análise bem abrangente”.
Já que todos eles trabalham na mesma quinase 1, os avaliadores provavelmente até dirão: “Ah, deixa eu ver se estão citando meu trabalho. Ah, está
aqui e eles concordam com (minhas) descobertas anteriores; é uma ótima
proposta, então vou financiar essa pesquisa.”
Entretanto, se um colega meu for corajoso suficiente para dizer “Ah, eu
quero fazer algo diferente, então dizem que essa obscura quinase 435 está
envolvida em um tipo de câncer para o qual ainda não temos a cura.” Meu
colega procurará trabalhos anteriores sobre essa publicação e quantos artigos haverá? Apenas dois. Então seu projeto será baseado em poucos dados,
mas isso pode ser crítico e seu projeto terá apenas algumas páginas A4. O
que dirão os avaliadores? É isso mesmo: eles não investirão nessa pesquisa
porque ela é ‘arriscada’ demais. O risco está no cerne das descobertas e da
inovação, mas, meu Deus, os financiadores veem ‘projetos arriscados’ como
fundo perdido.
Alguém pode pensar que isso acontece somente na academia. Cuidado! Dê uma olhada nas patentes submetidas pela indústria farmacêutica
em anos recentes que cubram as quinases. As patentes seguem a mesma
[ 61 ]
tendência ‘inovadora’ da academia e cobrem EXATAMENTE os mesmos
míseros 10% do espaço das quinases. O modelo de ‘inovação’ é meio que
inerentemente falho: trabalham apenas em coisas que já conhecem, que são
‘apostas seguras’ e ‘vitórias garantidas’. Isso atrasa a verdadeira inovação e é
sistêmico. É intra- e internacional, assim se pode imaginar no Brasil, todos
querem trabalhar com todas essas quinases de
‘aposta segura’, como a p38a. Então escrevo um projeto, alguém mais
escreve outro projeto sobre exatamente a mesma coisa. Agora imagine que
um ônibus cheio de cientistas participando de uma conferência sobre quinases sofre um acidente e todo mundo morre: o impacto na produtividade
Etapas da descoberta de fármacos
Hipótese
gerada
Patente (!)
O remédio funciona?
Descob.
Alvo
Descob.
Componente
Otimização
Componente
Componente
Ensaio clínico
Fase
I
Fase
II
Fase
III
Registro
Mercado
(100)
(63)
(39)
(25)
(14)
(8)
(3.5)
(2)
(<2)
$ 500-700 milhões (5-7 anos)
8
$ 1-2 bilhões (mais de 10 anos)
Patente
não
significa
riqueza!
de 100 projetos
dá certo!
O que o sistema atual cria...
USD 500-700 milhões (5-7 anos)
Descoberta
Alvo
Descoberta
Composto
Otimização
Composto
Composto
Ensaios clínicos
Fase
I
Fase
II
Fase Fase
Composto
Otimização
II
I
Descoberta Descoberta
clínicos
aios
Ens
o
post
Com
o ober
Com
tapostDesc
Alvo Descober
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Com
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Fase
Alvo
Composto
Composto Ensaios clíni
cos
I
mposto
Co
ão
zaç
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Descoberta Descoberta Otim
scoberta Oti
saios clínicos
Com
posto
Descoberta De izaçãoto
osto EnFase
Comp
Fase
Alvo
Compostoo
mpos Ensa
Coposto
Com
Alv
ios clínicos
I
II
[ 62 ]
PARE
PARE
Fase
II
Fase
I
PARE
PARE
Fase
II
PARE
científica nessa área seria zero, porque todos os outros em todo o mundo
estão lendo os mesmos artigos científicos, estão fazendo os mesmos experimentos com a p38a, então há uma enorme duplicidade de trabalho em
algo que nem sabemos se irá funcionar ou não!
Mas antes de continuarmos com nossa palestra eu queria apenas lhes
mostrar essa foto. Eu a vi na Wellcome Trust, a maior fundação no Reino
Unido que financia pesquisa biomédica, com um orçamento sem dúvida
maior do que o estabelecido pelo governo britânico na mesma área. A
pintura é chamada de ‘A Parábola dos Cegos’, de Pieter Bruegel. Esse aqui
na frente é o cientista e esses são todos os outros.
Então agora vamos mudar o foco um pouquinho.Vamos dar uma olhada nas fases de desenvolvimento das drogas.
Começamos com um alvo, as quinases, por exemplo, que são um alvo
terapêutico. Agora eu sei qual é a molécula que eu quero atacar no meu
corpo. Qualquer droga que você considerar é uma pequena molécula química que irá se ligar a uma proteína – um alvo. Primeiro, você precisa
definir um alvo, depois um composto químico para modular a atividade
do alvo, depois uma otimização porque às vezes os compostos químicos
são tóxicos ou ainda não adequados como uma droga, então você tem que
fazer acertos para aperfeiçoá-lo e finalmente você otimiza o composto
químico para ser usado em um estudo clínico, que deve ser seguro suficiente para ser testado em pacientes. Depois você tem três fases de estudos
clínicos e precisa passar por todos os reguladores e então finalmente a
droga chega ao mercado.
De 100 projetos iniciados, apenas dois são bem-sucedidos e chegam ao
mercado. Começando com 100 projetos, apenas 8 ultrapassam a fase dois
dos estudos clínicos, que é a fase mais crítica na qual você está testando se
o medicamento realmente funcionará (ou não!) em um paciente doente.
Olhando o cronograma, aqui é onde você tem a geração da hipótese,
onde publicamos os artigos. Então a indústria diz, “Ah, legal, vamos trabalhar nisso”. E aqui no nosso cronograma é quando eles patenteiam essas
ideias. Então nessa fase do nosso cronograma (o estágio da patente), 63 por
cento dos projetos foram bem- sucedidos, mas aqui a verdadeira questão é,
essa droga cura uma doença/condição? Essa questão é respondida na Fase
IIa e apenas 8 por cento dos projetos chegam a esse ponto – ainda que a
patente tenha sido registrada bem ali no começo do cronograma. Do estágio da patente até a fase IIa leva-se de cinco a sete anos. Cada empresa
[ 63 ]
gasta entre US$ 500 e US$ 700 milhões para levar um projeto até a fase
IIa – apenas para descobrir que 92 de 100 desses cronogramas irão falhar!
E agora temos esse mistério: Uma patente não se traduz diretamente
em geração de riqueza, é apenas uma proteção. Aqui o que se vê é que
todo mundo vê as patentes como se elas fossem o equivalente direto dos
lucros. As pessoas se apressam em dizer, “Ah, preciso patentear todos esses
compostos porque um deles pode se tornar uma mina de ouro”. Então
gastam muito tempo e muito esforço para requerer a proteção. E para quê?
Então isso é o que o atual sistema engendra: gastar entre US$ 500 e US$
700 milhões, após cinco ou sete anos, para no final perceber que “Ah, não!
Essa droga não funciona.” Para 92% dos projetos!
Mas fica ainda pior: em virtude de cada empresa usar as patentes para
proteger sua pesquisa inicial, as informações não são compartilhadas. Então
todo mundo está lendo o mesmo artigo, “novas descobertas científicas” e
dizendo “Vou fazer isso na minha empresa e ninguém vai ver!” Em função
de os projetos serem tratados como segredos, todo mundo levará de cinco
a sete anos (e US$ 500-700 milhões) para finalmente descobrir que não
serão bem-sucedidos. Esse quadro é o que eu acredito que representa o
que está acontecendo.
Todos nós aqui no desenvolvimento farmacêutico estamos dizendo,
“Ah, se tivermos a luz, poderemos ver o caminho na escuridão.” Mas não
para alguém que seja cego. A tecnologia e a ciência, elas funcionam, mas
não se a forma como fazemos ciência é alterada.
Conclusão, nosso modelo não está funcionando e uma das principais
razões dessa falha é a falta de compreensão da biologia humana. Muitos
pensam ingenuamente que é muito fácil curar um ser humano considerando apenas uma proteína, mas seres humanos são muito complexos. E
sabemos que não é possível encontrar drogas no isolamento. As empresas
farmacêuticas e a academia são muito boas em coisas diferentes,
então temos que criar um jeito de todo mundo trabalhar junto. Patentes
que são requeridas cedo demais na verdade prejudicam a inovação porque
se você não compartilha as informações e os esforços, todo mundo acabará
com resultados negativos, então será o cego guiando o cego. Temos que
quebrar esse ciclo de falta de compartilhamento e duplicidade. Gostaria de
lhes falar rapidamente sobre nosso modelo, o modelo do SGC. Somos uma
PPP (parceria público-privada sem fins lucrativos). Estabelecemo-nos em
2003 e até agora recebemos mais de US$ 180 milhões em investimentos
do Wellcome Trust, do governo canadense, Genoma Canadá e NIHR no
[ 64 ]
Canadá e essa é a melhor parte. Temos indústrias farmacêuticas, indústrias
farmacêuticas globais, apoiando Pesquisa de Acesso Livre para o público.
Isso por si só é sem precedentes. O SGC é a maior PPP para a descoberta
de drogas no mundo. Ninguém mais tem tantos parceiros trabalhando juntos e fazendo tudo usando o modelo de acesso livre.
Nós (o SGC) publicamos tudo o que fazemos, os resultados e o conhecimento no domínio público sem restrição de uso.Você pode usar do jeito
que quiser. Se você quiser usar nossos dados e tentar garantir uma patente
você pode; se você gostaria de acrescentar algo aos nossos resultados você
pode – não há limite sobre o que você pode fazer com nossos dados! O
que realmente queremos conseguir é promover a compreensão da biologia
em todo o mundo, porque será a partir dali que novos desenvolvimentos
aparecerão e é isso que está faltando no momento. E o nosso principal
ethos é que não iremos requerer patente para qualquer de nossos resultados. Nosso impacto científico e econômico: O SGC sozinho publica
uma média de 1,4 artigos revisados por pares por semana. Posso ouvi-los
dizer – mas vocês são uma organização enorme com um exército de cientistas. Posso lhes dizer que temos aproximadamente 160 cientistas que são
responsáveis por 25 por cento da produção de novas estruturas proteicas
humanas no mundo (que é o mapeamento de todos os átomos que formam uma proteína, um primeiro passo vital em um dos mais importantes
métodos para desenhar uma nova droga).
Além das estruturas, produzimos provas químicas. Elas não são medicamentos ainda, mas pode-se usá-las para testes em câncer, por exemplo, permitindo que os cientistas experimentem e alavanquem a pesquisa em novas
áreas. Com esses dois resultados desvendamos novos alvos terapêuticos.
Já que não patenteamos nada, tornamo-nos um ponto de convergência
científica, permitindo que colaborações sejam estabelecidas muito rapidamente. Qualquer cientista pode dizer ‘ah, esse é um alvo e um projeto muito interessante, então vamos trabalhar juntos em um artigo’. Sem problema,
não precisamos perder tempo com advogados de patentes e podemos ir
direto ao ponto e começar a colaborar!
Para alcançar nossos resultados, também desenvolvemos tecnologia paralela, que também está em domínio público. Como consequência, estamos
gerando empregos, porque há várias empresas que já estão usando tecnologia que desenvolvemos e lançando start-ups. Gerar empregos e compartilhar conhecimento, tudo na ausência de Patentes!
[ 65 ]
Vou lhes dar apenas um exemplo de nosso sucesso mais recente, que
é uma sonda química, e que é uma molécula ferramenta que os pesquisadores vão usar em seus experimentos. Em julho de 2009 nós começamos
e dissemos ao nosso parceiro que queríamos iniciar um projeto em uma
nova área, em que a maioria das empresas farmacêuticas havia dito, “Não
acho que isso irá funcionar. Mas o SGC tem autonomia e nós estamos
financiando vocês justamente para explorar o desconhecido.” Em janeiro de 2010, reunimos dados iniciais e perguntamos a nós mesmos “qual
é o melhor grupo acadêmico para trabalhar e progredir rapidamente?”
Identificamos um grupo em Harvard e os chamamos por telefone para
discutir uma possível colaboração. Já que não estávamos presos a patentes
nem advogados, começamos a trabalhar no dia seguinte. Isso foi em 2010.
Em menos de 12 meses, demonstramos que aquele alvo, aquela proteína,
poderia ser usado em tratamentos e publicamos na revista Nature, que é
sem dúvida a mais respeitada publicação científica.
Quando iniciamos o projeto, um de nossos parceiros farmacêuticos
também começou a avaliar o mesmo alvo, usando nossos dados livres em
conjunto com suas próprias informações internas. Surpreendentemente,
resultados muito animadores saíram dos nossos laboratórios e dos laboratórios da GSK quase ao mesmo tempo, abordando o mesmo alvo. Os achados
foram publicados em dois artigos separados, na mesma edição da Nature:
um do SGC mostrando que nossa sonda era ativa contra uma forma rara
de câncer humano e um artigo da GSK mostrando seu próprio composto
para o mesmo alvo, mas mostrando resultados encorajadores contra inflamação.
Um mês depois começamos a distribuir nossa sonda para quem quisesse realizar um experimento. Em sete meses havíamos distribuído a sonda
para mais de 100 laboratórios no mundo e que foram usadas por outros
cientistas para implicar esse mesmo alvo em dois novos tipos de câncer.
Em outubro de 2012, grupos acadêmicos e industriais em todo o mundo estão trabalhando nessa nova área. Nosso artigo original foi citado em
66 outros artigos, pelo menos duas empresas farmacêuticas têm projetos
nesse campo e duas empresas de biotecnologia estão explorando a tecnologia desenvolvida por nós. Uma empresa de biotecnologia foi criada e
atraiu um investimento de US$ 15 milhões, usando os resultados de apenas
um de nossos projetos.
Tudo isso foi possível em um curto período a partir de uma molécula que não tem qualquer patente. Obviamente, há grandes vantagens no
[ 66 ]
nosso modelo sem patentes para as empresas, para a indústria. As empresas
podem compartilhar conhecimento. Elas podem compartilhar os riscos e
não precisam se preocupar com advogados. Uma das barreiras que existem
dentro da indústria é que quando os cientistas dizem eu gostaria de escrever um artigo e compartilhar boa informação, os advogados dirão não,
temos que proteger isso, aquilo etc. Então isso mostra a perda de tempo e
dinheiro que também são importantes para a indústria.
A principal vantagem de nosso modelo para o governo e agências de
financiamento benemerente é que ele permite investir em criação de conhecimento em fontes livres. O risco e os custos são compartilhados com
a indústria e em última análise semeia o revigoramento da academia com
novas ferramentas, reagentes e dados gerados pelo SGC. A tecnologia adicional também pode ajudar a criar empregos e ‘levantar as águas’ para todos
os cientistas.
Podemos imaginar o impacto que ele terá para o governo brasileiro
uma vez que ele se envolva em um projeto que encontrou um novo medicamento que irá curar câncer?
Concluirei contando a vocês um pouco do que estamos fazendo no
Brasil. O SGC foi a primeira instituição a se unir ao projeto Ciência sem
Fronteiras anunciado pela Presidente Dilma Roussseff para abrigar cientistas brasileiros em nível de pós-graduação. Em 19 de dezembro abrimos a
chamada para propostas para trazer pesquisadores ao Brasil e já temos uma
lista de cientistas que queremos trazer para cá para iniciar nossos projetos
conjuntos de pesquisa. Tudo isso aconteceu em apenas seis meses. Novamente, isso foi possível porque não há advogados envolvidos. Não há
patentes envolvidas. Então a ideia toda é a transferência de conhecimento
na rede entre nós e o Brasil e isso inclui trazer cientistas que estão baseados
aqui para o Brasil para ajudar a desenvolver nosso modelo quando retornarem. E ao mesmo tempo também estamos conhecendo mais cientistas
brasileiros de vários institutos de pesquisa. Por exemplo, até o momento
abrigamos sete cientistas brasileiros que têm feito seu treinamento nos Laboratórios do SGC em Oxford e já alcançaram progresso incrível.
Assim, meu objetivo pessoal como cientista é assegurar que a sociedade
possa usufruir dos benefícios da ciência mais diretamente, mais rapidamente. Tenho um irmão que tem autismo e sei que essa condição ocorre na
minha família. Como cientista e parente de uma pessoa com uma condição
que ainda não tem cura, eu quero saber que a tão necessária inovação pode
realmente acontecer.Todos nós temos ou teremos parentes ou pessoas pró[ 67 ]
ximas que serão diagnosticadas com uma doença incurável como câncer
ou uma doença degenerativa, e como cientista eu não quero esperar por
advogados ou qualquer outra pessoa tomando decisões sobre o que podemos ou não podemos pesquisar para encontrar curas com base apenas em
lucros imaginários.
Para encerrar, penso sobre nós brasileiros como pessoas criativas. Somos criativos e energéticos e generosos e esses são grandes princípios para
a Inovação. O Brasil tem essa excelente oportunidade de dar esse grande
salto, ter o benefício de evitar os caminhos tortuosos e declarar que não
queremos cair nas mesmas armadilhas que atrasam a invenção. Queremos
inovar. O Brasil já fez isso em agricultura e no espaço, e agora o Brasil está
realmente bem posicionado para criar essa inovação na indústria de pesquisa farmacêutica e biológica.
E para mim, não há melhor parceiro do que o Reino Unido para desenvolver essa inovação. A sociedade, a academia e a indústria britânicas
estão todas muito abertas para esse novo conceito. Isso cria algo realmente
único – a abertura que permitirá aos parceiros construir confiança para o
objetivo maior de melhorar nossa vida através da ciência. O Brasil tem essa
oportunidade, essa oportunidade única de mudar seu próprio progresso na
inovação.
[ 68 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Debate sobre Política de
Inovação na Índia: Inovação
em Perspectiva Comparativa
SUNIL KHILNANI
Professor e Diretor do Instituto da Índia, King’s College London
P
ara falar com vocês sobre esse assunto, sou apenas uma pálida representação de minha colega Jahnavi Phalkey, que é especialista. Mas
ela está na Índia, como vocês foram avisados.É muito bom ter vocês
aqui no King. Nós, do Instituto da Índia, acabamos de nos estabelecer este
ano, e agora somos colegas junto com o Instituto do Brasil, de Anthony
Pereira, e realmente esperamos colaborar no King no futuro próximo em
uma série de projetos diferentes, então é muito bom encontrar vocês aqui
e falar com vocês. Vou tentar falar um pouco sobre alguns pontos bem
gerais em relação ao que está acontecendo na Índia na economia e de
forma mais abrangente no campo de pesquisa e algo como capital humano, e depois farei alguns comentários com sugestões sobre possíveis áreas
para colaboração. Como vocês sabem, a Índia tem sido a economia com o
segundo crescimento mais rápido na última década. No momento houve
uma redução, e estima-se que suas taxas de crescimento sejam menores do
que nos últimos dois anos, ao redor de 6%, mas na maior parte da última
década ela foi de 8% ou mais. Esse tem sido um padrão de crescimento
bastante peculiar na Índia. Ela não seguiu o caminho padrão que a maioria
das outras economias seguiu, que é migrar do setor primário para o secundário para ver uma expansão na produção e depois nos serviços. Essa é
mais ou menos a trajetória padrão nas economias. Esse não tem sido o caso
na Índia. O crescimento na Índia tem sido movido por uma expansão do
[ 69 ]
setor de serviços, o que é um incomum, e tem levado alguns a dizer que
a Índia está passando por uma espécie de crescimento precoce. Isso que
dizer que o setor que deveria crescer por último no padrão normal tem
sido na verdade o mais dinâmico na Índia nos últimos 20 e poucos anos.
Esse setor é a indústria de TI, a indústria da tecnologia da informação. Um
resultado, ou subproduto, desse formato peculiar do crescimento da Índia
é o que as economias chamam de crescimento sem empregos. Assim, não
tem havido uma criação suficiente de empregos, de acordo com as necessidades de emprego da Índia, e dadas as taxas de crescimento que está
experimentando. Então na Índia há um enorme superávit de trabalhadores
e a necessidade de capital e investimentos para empregá-los de forma útil.
Esse é apenas um ponto geral para se fazer sobre essa peculiaridade do
crescimento na Índia. A segunda coisa que eu diria é que em anos recentes
houve um reconhecimento por parte da liderança na Índia sobre a necessidade de expandir a base de conhecimento da sociedade indiana, de expandir a educação e distribuir capacitação entre os vários setores da economia.
Agora, isso é uma tarefa imensa. No momento, há um montante razoável de investimentos na Índia em educação avançada e que é relativamente
pequeno, em comparação com outros países. A Índia possui aproximadamente 370 universidades. Para alcançar o objetivo determinado pelo governo de ter 30% da população com educação avançada em 2025, em torno de 1.500 universidades precisam ser criadas nos próximos 12 a 13 anos.
Trata-se de uma tarefa gigantesca, muito dinheiro está sendo colocado
nisso, mas saber se a Índia será capaz ou não de gerar o tipo necessário de
docentes para popular essas universidades é uma grande pergunta. E neste
momento, até mesmo nas universidades já existentes na Índia, há muitas
vagas abertas porque não se consegue encontrar docentes suficientemente
qualificados para assumir esses cargos.
Acontece também que as universidades indianas são muito reguladas
pelo estado. Há uma relutância em permitir que as universidades particulares realmente cresçam. Isso vai ter que mudar agora em função dos
objetivos que a Índia está estabelecendo, mas isso significa que há muita
regulação em torno das universidades.
Uma coisa que eles terão que aceitar são as políticas de ações afirmativas da Índia, políticas de reserva, e isso significa que um número de vagas
para docentes é definido por critérios de ação afirmativa, então nem todas
podem ser preenchidas, necessariamente. Isso é uma questão paralela, mas
podemos voltar a ela.
[ 70 ]
Voltando ao papel da ciência e tecnologia e real inovação; o primeiro
Primeiro Ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, foi uma pessoa sempre interessada em ciências. Ele estudou ciências naturais em Cambridge muito
antes da independência da Índia, em 1947, ou de haver uma tentativa séria
de criar uma espécie de base científica e industrial nacional na Índia. Isso
remonta, eu acho, ao compromisso do movimento nacional de autossuficiência. Era obviamente uma noção gandhiana de autossuficiência de uma
forma diferente, que a Índia deveria ser autossuficiente em suas necessidades básicas, mas havia também esse princípio, ou ética, extensiva a uma
visão mais modernizante de pessoas como Nehru. Então a autossuficiência,
a noção de que a Índia deveria criar sua própria base de ciência e indústria
para ter ao menos sua própria capacidade de defesa, era uma parte bastante
importante do compromisso de Nehru. Se você olhar a história da ciência
na Índia no século 20, já nos anos 1930’s alguns cientistas indianos estavam
envolvidos em pesquisas de alto nível em vários setores, particularmente
em física nuclear e outros campos.
Cientistas como Bhabha, Homi Bhabha, o fundador do programa nuclear civil na Índia, e Saha, outro cientista muito envolvido nisso, começaram a construir seus laboratórios na Índia nos anos 1930’s. Nos anos 1940’s,
a Índia importou um cíclotron no meio da Segunda Guerra Mundial. Era
então o único país não ocidental, o único país fora das potências nucleares
que realmente fez isso, e isso é apenas um indicador de seu compromisso
intelectual, e também o compromisso político de se envolver em pesquisa
básica na Índia. Depois da independência, a Índia, por intermédio do governo de Nehru, e muitas das decisões sobre políticas que fizeram, investiu
pesadamente em pesquisa básica em vários campos, e no estabelecimento
de instituições de pesquisa e de ensino de alto nível. A mais famosa, é óbvio,
foi o Instituto Indiano de Tecnologia, criado nos anos 1950’s.
A Índia criou também a Comissão de Energia Nuclear, com Bhabha
no final dos anos 1950’s, início dos anos 1960’s, e a agência espacial com
Vikram Sarabhai. Espacial, nuclear e outras áreas foram muito importantes
no início.
Isso teve muitos efeitos benéficos e interessantes desde o início. Começou a perder um pouco de sua força nos anos 1980’s quando se tornou
um pouco calcificado por uma série de razões, que não precisamos discutir
agora. Uma instância desses investimentos iniciais foi a criação de uma
densa rede de instituições na cidade de Bangalore. Agora é claro que pensamos em Bangalore como uma história de sucesso em termos de capital
[ 71 ]
privado e empreendedorismo na Índia porque decolou no final dos anos
1980’s. Na verdade o boom de TI não foi coordenado pelo estado, foi uma
criação do empreendedorismo privado. Na verdade, umas das explicações
de porque foi tão bem-sucedido é talvez pelo estado não ter nada que ver
com isso na Índia. Entretanto, é interessante observar o que tornou isso
possível em uma cidade como Bangalore? Como isso aconteceu? Por que
aconteceu ali?
Para essa explicação, vocês precisam voltar no tempo e compreender
os enormes investimentos que foram feitos na cidade nos anos 1950’s.Vocês têm a criação da Hindustan Aeronautics, vocês têm a criação de uma
série de indústrias de engenharia de precisão em Bangalore, vocês têm o
Instituto Nacional de Ciências, vocês têm o Instituto Nacional de Estudos
Avançados, o IIT, uma série de diferentes instituições de pesquisa, e tecnologia e científicas estabelecidas em Bangalore nos anos 1950’s, o que criou
este ambiente favorável para a inovação. Acho que houve uma referência
anterior a essa noção de cluster, e realmente fala-se muito na Índia sobre
esse cluster de especializações. Bangalore foi o exemplo perfeito disso. Ele
foi criado bem no início pelo estado indiano, e os benefícios apareceram
bem mais tarde. Acho que quando se observa o que permitiu que uma
cidade como Bangalore inovasse de forma tão interessante, tem-se que
compreender a história disso. Não foram apenas alguns ajustes nas políticas
vindos de cima.
Estava na verdade enraizado em alguns compromissos e escolhas muito
centrais feitos pelo governo, um pouco depois, e por outros muito antes.
Acho que isso aconteceu ao longo do tempo. Por quê? A Índia é uma
sociedade aberta onde as ideias circulam livremente. Elas não são muito
orientadas pelo governo, há uma cultura intelectual muito aberta e vibrante, e tem sido assim há 60 anos. Acho que isso é um investimento de longo
prazo na democracia, no pluralismo de ideias que começa a mostrar os benefícios mais adiante, e é muito difícil de criar isso a partir do nada. E sabe,
me parece que no final esse é um dos climas mais férteis para uma inovação
viável de longo prazo – o fato de que você vê cientistas, cientistas sociais,
economistas indianos etc., em todas as grandes organizações internacionais
e assim por diante. Há uma espécie de abertura para o fluxo de ideias não
apenas dentro da Índia, mas também entre a Índia e o mundo. Acho que
isso é um fato importante, que a Índia seja uma sociedade aberta em si
mesma, mas também aberta para o mundo, sempre foi, certamente no nível
[ 72 ]
intelectual, no nível da circulação de ideias. E acho que isso, novamente, é
uma espécie de investimento de longo prazo.
Agora, em termos da consciência mais recente do governo sobre o
caráter particular da economia indiana, a necessidade de criar um crescimento mais rico em empregos e assim por diante. Várias iniciativas foram
realizadas. Foi criada a Comissão Nacional do Conhecimento há seis ou
sete anos e que surgiu com suas próprias controvérsias, mas apresentou
um relatório que realmente enfatizou a necessidade de a Índia investir na
criação de conhecimento. Ano passado foi criado o Conselho Nacional de
Inovação, chefiado por um homem chamado Sam Pitroda, que foi pioneiro
na disseminação de telefones na Índia nos anos 1980’s. Ele trabalhou com
Rajiv Gandhi. Não sei se algum de vocês viajou para a Índia antes do final
dos anos 1980’s, mas fazer telefonemas era um pesadelo. Em primeiro lugar
era muito difícil conseguir um telefone. Se você precisasse fazer uma chamada de longa distância, você tinha que agendar etc. Isso foi revolucionado
no final dos anos 1980’s por Sam Pitroda, com políticas que tinham que
ver com suas ideias, que trouxe cabines telefônicas para toda a Índia e que
infundiu o hábito de falar ao telefone, que é uma das coisas que tornaram
os indianos tão ávidos por telefones celulares.
Como vocês sabem, o setor de telefonia móvel está crescendo a um
ritmo muito forte na Índia, e é muito inovador. Há uma série de comissões
e conselhos governamentais que foram criados. Agora, se tiveram ou não
algum efeito direto no momento não está claro. Entretanto, acho que o
grande desafio que a Índia irá enfrentar, se ela se tornar uma produtora de
ciência primária e inovação primária, em vez de ser apenas uma fonte de
terceirização, o grande desafio será o da educação, isso pode criar as mais
altas necessidades de educação que foram identificadas. No momento, a
Índia realiza muita pesquisa terceirizada. Empresas como Boeing, HP, IBM,
todas têm importantes investimentos em pesquisa e instalações de pesquisa
na Índia. Muito dessa pesquisa é feita por encomenda, como era, mas isso
retorna às necessidades de um país. Empresas como HP e Microsoft também possuem grandes operações de pesquisa na Índia.
A pesquisa está começando a ser desenhada de acordo com necessidades indianas mais específicas, e interesses, e claro, uma área em que a Índia
se tornou conhecida é essa noção de inovação frugal de baixa tecnologia. Não o tipo de inovação de alta tecnologia, mas a inovação de baixa
tecnologia em relação a necessidades bem específicas. Particularmente as
necessidades de uma população grande e pobre, que é como maioria dos
[ 73 ]
indianos ainda é, então aqui está. Vocês estão vendo alguns desenvolvimentos muito interessantes, na faixa mais baixa, de indivíduos, empresas
pequenas, oficinas, soluções altamente localizadas que algumas vezes foram
reconhecidas como expandidas, mas muitas vezes permanecem locais, mas
que também têm a possiblidade de expandir. Mas há também as grandes empresas. As maiores empresas da Índia estão começando a investir
em pesquisa desse tipo de inovação de baixa tecnologia. Assim, o melhor
exemplo disso é o automóvel Nano da Tata. Ela teve um início um tanto
tumultuado, mas foi realmente uma tentativa de fazer o oposto do que faz
a Mercedes-Benz. Reduzir um automóvel ao mais básico, fazer as portas o
mais leve possível, tudo o mais leve possível para não ter aquele som pesado
de quando se fecha a porta, então ela realmente diminuiu a tecnologia no
automóvel, o que me parece um tipo de inovação muito interessante, se
você é uma grande empresa querendo atingir um grande mercado.
Outra área que a Tata tem pesquisado é a tentativa de desenvolver purificadores de água baratos. Um dos grandes problemas de saúde na Índia
é a falta de água potável. É possível criar um purificador de água barato,
popular, fácil de usar que não precisa de instruções, que não precisa de
horários definidos etc., mas que é uma coisa objetiva? Outra área que é
bem interessante em termos de inovação é o setor financeiro na Índia. O
surgimento do micro seguro e do micro crédito na Índia começou na Índia nos últimos 20 anos. Mas como levar um sistema extenso de crédito e
seguro de risco para uma sociedade bastante pobre e analfabeta que vive no
campo? Como fazer isso quando não se tem a infraestrutura para fazê-lo?
Isso levou à invenção de formas inovadoras da prática financeira. Há uma
quantidade interessante de inovações em políticas em andamento na Índia.
Vemos inovação não apenas em relação a produtos, ou em ciência pura
ou tecnologia, mas também em outras áreas. Vale a pena dar uma olhada
nisso. Sei que há muito disso acontecendo no Brasil também, e acho que
poderia haver um diálogo muito interessante aí porque se trata de certa
forma de aprender lições e transferi-las de forma bem simples. Há vários
lugares onde a inovação está ocorrendo. Eles tendem a formar corredores
entre as cidades. Bangalore-Mysore, por exemplo, é um corredor muito
interessante onde há muitos clusters desses tipos de organizações e empresas, Infosys etc. Délhi-Jaipur é outro onde isso está acontecendo, Mumbai-Pune é mais um ainda, há esses locais onde cidades-irmãs com duas horas
de distância estão vivenciando vias de comunicação muito interessantes e
onde há muita coisa acontecendo. É aí que as pequenas empresas estão se
[ 74 ]
estabelecendo, onde as grandes empresas estão investindo, e há um tipo de
arquitetura e geografia de informação, e eu acho que a Índia está presenciando algo assim.
Só para finalizar, gostaria de dizer onde eu acho que pode haver alguma complementaridade. Mencionamos agricultura, e a Índia tem muito
para aprender. Parece-me que essa é uma área em que o Brasil poderia
se envolver com a Índia de forma muito criativa e construtiva. O setor
de agricultura na Índia está muito atrasado em relação ao que deveria ser.
Outra área a se considerar seria esse negócio de manejar a biodiversidade,
que ambos possuem, de forma sustentável, e proporcionar um tipo de lucro
sustentável, tanto no âmbito doméstico quanto em termos globais. Parece-me que poderia haver um diálogo interessante aí. Uma terceira área seria
a de inovações em urbanização. Novamente, algumas das maiores cidades
do mundo estão nos nossos dois países, com problemas semelhantes em
contextos muito diferentes. Não importa se as inovações são em forma
de governança, estabelecimento de políticas ou infraestrutura etc.; estou
sugerindo um cenário mais amplo de como se poderia pensar nessas coisas
como inovações não apenas do modo como geralmente é usado.
Para concluir, outro dia fui informado que na rede de profissionais do
LinkedIn, as duas frases mais populares usadas pelas pessoas para descrever a
si próprias são “inovador” e “com extensa experiência”. Não tenho muita
certeza de quanta experiência se pode ter em ser inovador, mas parece
que são populares no domínio pessoal também. Vou encerrar com mais
um pensamento: há muito que se tirar da noção de inovação na Índia, que
se estende por uma série de campos diferentes, não apenas em ciência e
tecnologia. Há um plano para se criar uma universidade nacional de inovação em artes liberais. Vou para Délhi para participar de um comitê que
vai analisar isso, então há uma tentativa de iniciar uma série de áreas que
são vistas como estagnadas na Índia.
[ 75 ]
[ 76 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
APLICAÇÕES PRÁTICAS: O PAPEL DAS
UNIVERSIDADES E DO SETOR PRIVADO
EM INOVAÇÃO
Inovação no King’s College
DENISE LIEVESLEY
Chefe da Escola de Ciências Sociais e Políticas Públicas, King’s College London
V
ou contar um pouco sobre o King’s College, de Londres, e vou
me concentrar particularmente na minha escola porque acredito
que ela é muito relevante para os tópicos de hoje. O King’s College reconhece a importância e tem investido pesadamente em potências
emergentes como o Brasil, não apenas com a criação dos institutos do
Brasil, China e Índia, mas com a internacionalização de toda a escola, com
ênfase em pesquisa de questões globais. Somos uma faculdade com aproximadamente 25 mil estudantes; dois terços do pessoal e dos estudantes estão
em saúde e medicina, então temos escolas de odontologia, medicina, biomedicina, psiquiatria e enfermagem. E um terço está em áreas que chamamos de não saúde, como minha própria escola, a escola de artes e ciências
humanas, a escola de direito e a escola de ciências naturais e matemáticas.
Quando nos estabelecemos como uma universidade, a declaração da
missão era a academia a serviço da sociedade, e penso que esse ethos ainda
diz muito a respeito do que fazemos hoje. Tenho a grande honra de ser
chefe de uma escola de ciências sociais e políticas públicas que é muito
vibrante e interdisciplinar.
Às vezes até dizemos que ela é pós-disciplinar, e trabalhamos em temas
realmente importantes para a sociedade, e temos algumas especialidades
muito particulares que não se vê em outras universidades. A escola abrange
sete departamentos e uma coisa chamada King’s Policy Institute. Cinco de[ 77 ]
partamentos são bastante antigos: um departamento de estudos de guerra,
que estuda a guerra para compreender como elas começam, com o intuito
construir uma sociedade mais pacífica e sustentável; um departamento de
administração com ênfase particularmente em administração pública; um
departamento de educação e estudos profissionais, com ênfase em ensino
escolar, mas também no relacionamento com as profissões; um departamento de geografia que inclui tudo de geografia física a geografia humana
e trabalha principalmente na adaptação às mudanças climáticas, risco e
resiliência; e um departamento muito incomum de estudos de defesa, um
modelo que não existe em outras partes do mundo, eu acho, e que cuida
do desenvolvimento profissional contínuo de todos os militares no Reino
Unido. Assim, temos um importante contrato e em torno de 50 pessoas da
área acadêmica baseadas na faculdade de serviços conjuntos para todos os
militares. Com a patente de tenente coronel ou equivalente, o militar faz
um mestrado conosco em liderança, administração e estratégia.
E temos ainda dois novos departamentos, e pensei que vocês teriam
interesse nisso porque eles são um exemplo de como as universidades podem se adaptar à mudança das necessidades. E esses departamentos foram
montados em decorrência de um senso de importância desses tópicos para
a sociedade. Trata-se de um departamento de economia política que existe
não faz dois anos ainda e foi criado como o único do gênero no Reino
Unido. Nosso novo departamento não é um departamento de economia,
nem é um departamento de política, e menos ainda uma união dessas duas
disciplinas. Na verdade, estamos buscando construir uma nova plataforma
para onde os assuntos convergem e se sobrepõem no estudo das relações
entre instituições, mercados e comportamento. As questões que estamos
enfrentando na Europa em relação à Grécia e Portugal demonstraram a
necessidade de um departamento de economia política e mais acadêmicos
estudando esse assunto.
O outro departamento novinho em folha e que existe há apenas três
meses é de ciências sociais, saúde e medicina. Isso porque a mudança da
natureza dos profissionais de saúde no contexto de novos padrões globais
de treinamento e migração de profissionais de saúde e assistentes sociais
precisa ser estudada. Precisamos estudar a eficiência e o valor em dinheiro
de desenvolver políticas de saúde e atenção social, os desafios de racionalizar o atendimento de saúde, particularmente em uma sociedade que está
envelhecendo, bem como as promessas e perigos da biomedicina avançada. Então, como apoiamos a inovação responsável em biomedicina, e os
[ 78 ]
problemas de levar do laboratório para a aplicação clínica em relação à
genômica, células-tronco, neurociências etc.? Penso que este seja um novo
departamento muito estimulante.
A expansão não se dá apenas com novos departamentos. Também estamos expandindo na escola e em toda a universidade, e nos nossos departamentos já existentes, e uma coisa em particular que eu gostaria de
mencionar é a expansão no nosso departamento de educação em relação
a assuntos relacionados com ciência, tecnologia, engenharia e matemática
(STEM, na sigla em inglês). Temos uma enorme falta neste país de professores bons, com muito treinamento nos níveis escolar e universitário, então
nosso objetivo é tentar cobrir esse déficit.
Antes de falar da UNESCO e de inovação no contexto da UNESCO,
quero falar um pouco sobre o King’s Policy Institute, que foi organizado
pela minha escola, mas que na verdade trabalha em toda a universidade, e
trabalha cada vez mais com outros institutos como o Instituto do Brasil.
Ele está na interface entre a pesquisa acadêmica de alta qualidade e como
fazer diferença no mundo. Trata-se do que atualmente estamos chamando de impacto. Trata-se de compreender quais especializações acadêmicas
temos e com as quais podemos fazer diferença; se nossos problemas de
políticas precisam ser abordados, em políticas e na prática e depois reunir
os acadêmicos com os formuladores de políticas, pessoas da indústria, em
organizações não governamentais, e assim por diante. Tentar desenvolver
relacionamentos frutíferos.
Sua reunião é de grande interesse para mim; anteriormente trabalhei na
UNESCO. Eu era diretora de estatística da UNESCO, e, claro, a UNESCO
é a agência das Nações Unidas que trabalha na interface entre educação, ciência, cultura e comunicação. Como diretora de estatística, uma das minhas
responsabilidades era desenvolver bons sistemas estatísticos para monitorar
e medir o desempenho da educação, pesquisa e desenvolvimento, inclusive
da inovação. Então eu fui responsável pelo desenvolvimento do Manual
de Oslo, que é o manual usado para medir inovação, e tínhamos particular
interesse em fazer isso nas economias emergentes. Então trabalhamos junto
com a OCDE para tentar assegurar que os sistemas estatísticos que estavam
sendo desenvolvidos atendiam as necessidades de todos os países, desde os
de ponta, líderes, até os países em desenvolvimento, mas com ênfase em
economias emergentes. Uma das coisas na qual estamos muito interessados
é toda a questão da inovação, não apenas em termos de desenvolvimento
de novas tecnologias, mas sua aplicação. Acredito que a aplicação era uma
[ 79 ]
prioridade especial, e também a busca de parcerias entre governos, universidades e indústria por meio de coisas como o programa MOST, que era o
programa de transformação social em sociedades.
Ao longo das últimas décadas, muitas agências produziram diferentes
conjuntos de dados e análises sobre o desenvolvimento do conhecimento e
a inovação tecnológica. No âmbito nacional, os países produziram indicadores de ciência e tecnologia, e políticas de ciência e tecnologia e inovação.
Internacionalmente, a OCDE produziu importantes manuais, análises e
recomendações com base no conceito de sistemas de inovação nacional.
Além disso, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, PNUD,
desenvolveu um índice de realização tecnológica como corolário do seu
índice de desenvolvimento humano. A UNESCO produziu relatórios de
ciências que apresentam a evolução da ciência em âmbito global, e a última
edição foi publicada em 2010. Imagino que atualmente estejam trabalhando na edição de 2012. Um contexto para compreender a inovação deve
considerar a presença de instabilidade, desigualdades e heterogeneidades
quando a inovação ocorre em economias emergentes e em desenvolvimento. A natureza transversal da inovação exige coerência entre as políticas
que se espera influenciem a inovação e elas devem encontrar o equilíbrio
entre os âmbitos internacional, nacional e local. Esse é sempre o desafio
para as agências internacionais.
Hoje eu acho que há um consenso geral sobre a importância do conhecimento sobre crescimento econômico e desenvolvimento social, mas
ainda há debates em torno das formas de conhecimento e como medi-las,
e como traduzir esse conhecimento em inovação, e na aplicação prática.
Um dos problemas que encontrei na UNESCO é que muitas medidas de
inovação concentram-se exclusivamente na ciência desenvolvida em instituições formais como as academias e os laboratórios de pesquisa. O conhecimento existente e aquele gerado fora dessas instituições e por meio de
estimulantes relacionamentos não têm sido abordados de forma adequada.
Deixa-me comentar rapidamente sobre três iniciativas da UNESCO que
podem ser de interesse. A primeira é a parceria científica da UNESCO
com universidades e indústria, UNISPAR. Foi lançada em 1993 para melhorar a qualidade das universidades e incentivá-las a se envolverem mais
no processo de industrialização de seus países. Hoje o programa ajuda a
forjar parcerias entre universidades e a indústria e fortalecer a capacidade
de inovação.
[ 80 ]
A segunda iniciativa é o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, estabelecido no Brasil como um
centro da UNESCO, sediado em São Paulo e que apoia países da América
Latina e da África onde se fala português com estudos sobre o progresso e
o impacto de construir sociedades exclusivas de conhecimento por meio
de informação e comunicação. O embaixador do Brasil para a UNESCO
disse que o Centro se tornará uma referência para a construção de capacidade, pesquisa e relacionamento de especialistas e países em desenvolvimento, e que também contribuirá com os programas da UNESCO para
apoiar a criação, o acesso, a preservação e o compartilhamento de informações e conhecimento. Então estou animada em buscar oportunidades nas
quais nós do King poderíamos trabalhar com esse centro, especialmente no
momento em que estamos montando um novo Instituto da África aqui no
King, então eu acho que há oportunidades aí.
E por fim a última iniciativa que foi organizada para apoiar a cooperação sul-sul, e que é um centro criado em Kuala Lumpur na Malásia, e
novamente, acho que há grandes oportunidades de trabalhar com o centro.
Quando eu estava na UNESCO, trabalhei intensamente com o Brasil
para ajudar o país a melhorar e compartilhar o conhecimento em termos
de seus desenvolvimentos educativos com o Paraguai e o Uruguai, por
meio de um programa chamado Indicadores de Educação no Trabalho
com Maria Helena de Magalhães Castro. Ela trabalhou estreitamente conosco na UNESCO naquela época. Então também estou animada em observar como esse novo centro em Kuala Lumpur para a cooperação sul-sul
funcionará e como poderemos facilitar seu trabalho. Muito obrigada pelo
convite de vir falar com vocês.
[ 81 ]
[ 82 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Inovação UCSD: Resumo
Histórico e Papel das
Universidades e Institutos de
Pesquisa
MARY WALSHOK
Vice-Reitora Programas Públicos; Diretora, The Extension School; Co-Fundadora do
CONNECT UCSD
IVOR ROYSTON
Sócio-Gerente Fundador, Forward Ventures
JEFFREY STENDORD
Diretor de Operações, Stanford Consortium
DAVID HALE
Membro do CONNECT & Hybritech
MARY WAKSHOK:
M
eus comentários serão breves como introdução, e depois o
painel será breve porque entendo que vocês são bastante experientes em história da política de ciências nos Estados Unidos. Vocês aprenderam sobre a importância do investimento federal em
pesquisa no pós-guerra que veio com o relatório de Vannevar Bush e o
crescimento da Fundação Nacional de Ciências (NSF, na sigla em inglês)
e os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e todos os financiadores fede[ 83 ]
rais, que mudaram a paisagem das universidades americanas para sempre e
transformaram-nas, em todo o território dos Estados Unidos, em centros
de pesquisa e desenvolvimento com potencial valor para suas economias
regionais. A segunda grande iniciativa federal foi [a Lei] Bayh-Dole de
1980. Ela permitiu que as universidades de pesquisa retivessem os direitos
de comercializar a propriedade intelectual.
Como socióloga, sempre enfatizo a importância da cultura. O fato de
que as pessoas reconheceram nos anos 1980 que o desenvolvimento e a
comercialização de tecnologia poderiam ter valor econômico nos Estados
Unidos foi um grande passo para este país. As pessoas começaram a entender que a ciência e a tecnologia não são apenas homens vestindo jalecos
brancos, mas produtos e processos que podem beneficiar empregos e a
economia.
A Suécia é um bom exemplo para o Brasil, acho. Eles têm sido tremendamente bem-sucedidos em mudar suas políticas, inclusive suas políticas
fiscais, para apoiar a inovação e o empreendedorismo e também para criar
mecanismos nas universidades como no Instituto Karolinska em Estocolmo, que tem uma Fundação através da qual eles transferem tecnologia, e
um grande fundo de investimentos. Um modelo diferente do dos Estados
Unidos, mas um modelo interessante.
Agora a questão interessante que nós como painel vamos abordar é
que desde os anos 1980 houve muitos resultados diferentes em termos de
empresas, inovação, empreendedorismo, criação de nova riqueza, criação
de novos empregos, em toda a América.
Ivor Royston, que falará primeiro, vem de Baltimore, que não tem
tido um resultado tão bom quanto San Diego. Em 1969, San Diego era
considerada como não tendo nada além dos militares, o zoológico e um
campus universitário com cinco anos de idade, que é o que vocês estão
visitando hoje. Minha história de vida como adulta andou em paralelo
com as transformações deste lugar ao longo de 50 anos. É uma extraordinária história de inovação e empreendedorismo, mas também de uma
comunidade que tomou decisões sobre o uso da terra e investimentos
regionais – não estaduais nem federais – na construção de capacidade para
criar empreendimentos de pesquisa e entidades de comercialização que,
combinadas com nosso sucesso em financiamento federal de pesquisas e a
crescente atividade de investimentos em novas empresas na região, ensejou
uma maravilhosa e interessante história de sucesso. Somos como a criança
[ 84 ]
que todos pensavam que não seria capaz de chegar lá. E como vocês podem ver no nosso vídeo, muita coisa aconteceu.
A cultura de inovação e empreendedorismo é extremamente importante quando você tem uma boa política federal, como nós tivemos, e
acesso a significativos fundos federais para pesquisa. E aí cabe à região criar
o ecossistema. E o que eu acho que vocês irão descobrir nessa manhã são
as diversas maneiras pelas quais a região encontrou meios de criar esse
ecossistema.
Tenho aqui três colegas maravilhosos que representam perspectivas
complementares; vamos começar com Ivor e depois passaremos para David e então concluiremos com Jeff. Ivor, eu gostaria que você descrevesse
porque veio para cá quando poderia ter ido para qualquer outro lugar no
país e qual foi sua experiência inicial como membro da escola de medicina
e depois como inventor por trás da tecnologia que a Hybritech comercializou.
IVOR ROYSTON:
O
brigado, Mary. É uma honra estar aqui hoje com vocês. Tive o
prazer de visitar o Brasil em janeiro onde estive com várias pessoas no Rio de Janeiro e em São Paulo para conhecer mais sobre
os potenciais que há lá, e que eu penso que são muitos.Vou restringir meus
comentários à indústria de biotecnologia da qual tenho feito parte.
San Diego é hoje líder mundial em tecnologia sem fio e biotecnologia.
Cresci em Washington, D.C., mas foi em Baltimore que estudei. Baltimore
tem a Universidade Johns Hopkins, que recebe mais dólares federais do
que qualquer universidade no país, mas está em último lugar do empreendedorismo e da indústria de biotecnologia.Voltaremos a isso mais tarde.
O motivo que me trouxe a San Diego após concluir meu pós-doutorado em Stanford foi que recebi uma oferta de emprego do diretor do
Centro de Câncer da UCSD e não havia quase ninguém lá. Isso foi o Dr.
Mendelsohn, que depois se tornaria o diretor do Hospital MD Anderson,
um dos principais centros de câncer no país. Ele iniciou um centro de câncer totalmente novo com apenas um docente a mais e me convidou para
ser o número dois. Naquele momento eu não sabia que eu era um empreendedor ou que tivesse habilidades com startup, mas havia alguma coisa
em mim que sempre quis estar ali no início de um projeto, no coração de
[ 85 ]
alguma coisa nova, e eu soube disso a minha vida inteira. Recebi ofertas de
trabalho em instituições bem estabelecidas na costa Leste, mas a oportunidade aqui em San Diego era a de de construir alguma coisa. Eu não sabia
naquele tempo que eu também estaria contribuindo para a construção de
um núcleo de biotecnologia.
Quando comecei minha pesquisa no Centro de Câncer da UCSD em
1977, nós começamos a trabalhar nessa nova tecnologia de fazer anticorpos
monoclonais (anticorpos puros geneticamente modificados) que acreditávamos que poderia revolucionar como tratamos as doenças, especialmente
câncer, que era minha área de interesse. Quando fizemos aqueles anticorpos comecei a pensar em como iríamos fabricá-los e tratar os pacientes, já
que meu objetivo era levar as descobertas do laboratório para a clínica. Eu
era oncologista clínico com especialização e tinha experiência em pesquisa. Isso me levou a investidores em startups, a Kleiner Perkins Caufield and
Byers. Eles tinham acabado de começar a Genentech na região da Baía de
São Francisco, e eu consegui convencê-los de que eles deveriam começar
uma empresa aqui para desenvolver esses anticorpos monoclonais, e é o
que eles acabaram fazendo.
A empresa, é claro, foi bem-sucedida e continuou a fazer muitas coisas
maravilhosas.Vocês vão ouvir mais sobre isso de David Hale, que se tornou
CEO da Hybritech. No início ele foi chefe de marketing, mas depois se
tornou CEO da empresa e pode falar mais um pouco sobre isso. A principal razão da fama da empresa naquele tempo foi o desenvolvimento de um
teste de PSA que possibilitava o diagnóstico precoce de câncer de próstata
em homens e que revolucionou o tratamento médico do câncer de próstata. Então essa é uma das suas principais contribuições.
Acho que o Brasil tem muitas oportunidades de se colocar na mesma
situação de San Diego de anos atrás. Em primeiro lugar, quando fui ao
Rio, pensei que a cidade era apenas mais uma versão, maior, de San Diego
em termos de paisagem e clima. Além disso, você tem uma impressionante
tecnologia na Universidade Federal do Rio, bem como instituições como
o Instituto Fiocruz. Fiquei muito impressionado e acho que há muito
potencial ali. O motivo pelo qual estou falando isso é que tivemos esse
potencial aqui em San Diego em 1977, mas se não fosse o acesso ao capital
de investimento – que é a indústria na qual trabalho agora – não haveria
indústria de biotecnologia aqui. Biotecnologia exige enormes quantidades
de capital e pessoas que sabem como iniciar empresas, como os investidores
capitalistas.
[ 86 ]
Acesso a capital de investimento é extremamente importante. A Lei
Bayh-Dole à qual Mary se referiu, a capacidade do governo federal de
conceder às universidades toda a responsabilidade de licenciar patentes,
possuir as patentes e licenciá-las, foi extremamente importante. Outra coisa
que eu gostaria de mencionar é a capacidade de professores universitários
como eu de ir lá e abrir uma empresa enquanto continuam a lecionar. Isso
é muito importante. Na Universidade da Califórnia e em quase todas as
universidades e institutos de pesquisa nos Estados Unidos, um professor
pode destinar 20 por cento de seu tempo para atividades externas, o que
inclui consultoria e em muitos casos, como no meu, começar empresas. E
é isso o que acontece, e essa é mais uma razão pela qual os Estados Unidos
se sobressaíram nessa área. Isso leva a toda uma cultura empreendedora que
agora temos em muitas de nossas universidades, como a UCSD e claro lugares famosos como Stanford, MIT e Harvard. Ainda há algumas universidades que não possuem essa cultura empreendedora, e infelizmente minha
escola, a Johns Hopkins, era uma delas, e é por isso que, em minha opinião,
eles não estabeleceram o tipo de núcleo de biotecnologia que temos aqui.
Somos agora considerados número dois no mundo da biotecnologia e é
incrível o que conquistamos em 25 ou 30 anos como grupo de pessoas.
Um dos maiores catalisadores do crescimento da indústria aqui em San
Diego foi quando a Hybritech foi adquirida pela Eli Lilly. Naquele tempo,
virtualmente todos os gerentes e diretores, incluindo David, que não queria
estar em uma grande burocracia ao longo do ano seguinte, deixaram a Eli
Lilly, e cada um começou uma empresa de biotecnologia, dos quais muitos
foram muito bem-sucedidos. Então um grande catalisador do crescimento
de uma empresa é aquele sucesso da primeira empresa, e depois, na verdade, sua aquisição. A mesma coisa aconteceu em São Francisco quando
a Genentech foi adquirida pela Roche, então vemos uma tendência aqui.
Tudo o que você precisa é de um sucesso, e esse sucesso irá criar uma
indústria inteira de empreendedores seriais que querem repetir o entusiasmo de estar no estágio inicial de uma startup, para construir algo novo e
fazer uma contribuição importante para novas tecnologias. Então, no final
eu acabei deixando a medicina acadêmica e decidi que queria ir para o
capital de investimento. Agora que já estou nisso há 20 anos, aprendi alguma coisa. Nunca fiz nenhum curso de administração de empresas, mas
realmente eu queria usar meu tempo para trabalhar com outros empreendedores e ajudá-los a construir seus negócios em medicina especialmente
na área de câncer.
[ 87 ]
DAVID HALE:
M
inha formação inicial foi em biologia e química. Sempre me
concentrei no aspecto do negócio da saúde e ciências da vida;
desenvolvimento, marketing, vendas de produtos como os biotecnológicos, aparelhos médicos, produtos farmacêuticos – não muito no
lado científico, mas mais o lado do desenvolvimento. Como vocês podem
ver na minha biografia, trabalhei na Johnson & Johnson, a grande empresa
mundial, e depois em outra empresa mundial chamada Becton Dickinson.
No entanto, em 1981, fui chamado por um recrutador. Eu morava em Baltimore, Maryland, dirigindo uma empresa e ele me convidou para visitar
uma empresa em San Diego chamada Hybritech e que estava focada na
tecnologia de anticorpos monoclonais que na verdade haviam sido descobertos na Inglaterra alguns anos antes. Então eu disse sim.
Naquela época a Hybritech consistia de algumas pessoas em um trailer
parado em um estacionamento em Torrey Pines Mesa, então não era um
grande instituto. Meu objetivo era pegar a tecnologia sendo desenvolvida
pelos cientistas na Hybritech e transformá-la em um negócio porque eu
acredito que a criação de conhecimento é muito importante, mas também acredito firmemente que pegar ciência, conhecimento e inovação e
transformá-los em produtos é muito importante para a sociedade, o crescimento da indústria e certamente para o aumento da oferta de emprego.
A Hybritech se transformou em uma empresa de sucesso focada em
anticorpos monoclonais para diagnóstico, e em poucos anos estávamos
vendendo nossos produtos nos EUA e na Europa. Depois veio a Lilly,
a grande, enorme empresa farmacêutica, e eles compraram a Hybritech.
Como o Ivor disse, o que aconteceu é que a maioria dos gerentes deixou a
Hybritech e começou novas empresas. Desde a venda da Hybritech para a
Lilly, foram criadas mais de 150 empresas pelos altos executivos da Hybritech. E isso trouxe uma contribuição significativa para o que a Mary falou
em termos de núcleo de ciências da vida em San Diego.
San Diego possui esse enorme núcleo de empresas de ciências da vida,
empresas de diagnósticos, empresas farmacêuticas e empresas de equipamentos médicos – isso começou no final dos anos 70 e hoje são mais de
500 empresas. Então eu gostaria de falar rapidamente sobre o que penso
que é importante em termos de criação de um núcleo. Obviamente ciência
e inovação são o alicerce.Tínhamos isso em San Diego com a Scripps, Salk,
USC, USCD e Burnham. A segunda parte é ter a capacidade e a atitude
[ 88 ]
para transferir essa tecnologia para as empresas. Um lugar como a Johns
Hopkins não tem isso, então Baltimore não tem sido bem-sucedida. Muito disso é porque eles não têm essa cultura empreendedora de transferir
tecnologia para a indústria. Junto com isso vem a proteção à propriedade
intelectual. Nós fomos muito bem-sucedidos logo no início ao convencer
a universidade quanto é importante proteger a propriedade intelectual. O
Ivor já falou sobre o capital de investimento e o fato de que sem ele, não
haveria indústria aqui.
A terceira coisa sobre a qual quero falar é o sistema de apoio.Você tem
que ter esse sistema de apoio, com os escritórios de advocacia e as empresas
de contabilidade que entendem seu negócio e sabem como ajudar você a
construir aquele negócio. Uma das coisas que fizemos bem no início que
teve um tremendo impacto em San Diego foi o desenvolvimento de uma
organização chamada CONNECT. Quando a concebemos, era para dar
apoio à tecnologia e ao empreendedorismo e a transferência de tecnologia
dos laboratórios de pesquisa para as empresas. Desde então, sua missão tem
sido consideravelmente ampliada, mas ainda é para dar apoio à inovação,
transferência de tecnologia, empreendedorismo, e a construção de empresas baseadas em tecnologia.
No início dos anos 1990 também demos um segundo passo e criamos
uma organização chamada BIOCOM, e depois vocês vão ouvir mais sobre
ela de Joe Panetta, mas o propósito da existência da BIOCOM era dar
apoio aos interesses da indústria de biotecnologia junto às autoridades do
governo, fossem elas municipais, estaduais ou nacionais. Eles realizaram um
grande trabalho porque muitas vezes as questões que afetam nossa indústria
não são questões específicas de uma empresa, mas sim da indústria.
A CONNECT patrocina uma série de programas e eu dei uma palestra
sobre criar uma empresa de biotecnologia bem-sucedida e os fatores que
eram importantes para criar uma empresa assim. Havia dois cientistas da
UCSD na plateia que tinham uma tecnologia que eles achavam que era
importante na área cardiovascular. Depois da reunião, entre outras pessoas com as quais conversei, eles me abordaram e indicaram que estavam
interessados em começar uma empresa baseada naquela tecnologia. Conversamos logo depois do programa da CONNECT e acabamos abrindo
duas empresas: uma chamada Gensia que foi muito bem-sucedida ao longo
de bastante tempo, e outra chamada Vigene que foi vendida para a Chiron, uma grande empresa da área de São Francisco. Isso aconteceu como
resultado do encontro da CONNECT. Além disso, ao longo dos anos, a
[ 89 ]
CONNECT patrocinou uma série de encontros com grupos de capital de
investimento que acabaram investindo em empresas com as quais eu estava
envolvido.
A última coisa que eu penso que é muito importante se você está
pensando em criar um núcleo de empresas são os empreendedores. Você
tem que ter pessoas com experiência de compreender como as empresas
são construídas. Quando você tem recursos muito escassos, é importante
que as pessoas entendam como as cosias são feitas com uma quantidade
bem pequena de recursos. A transição para mim de uma empresa grande
para uma empresa pequena foi tremenda. Eu não tinha equipe. Era apenas
eu e mais algumas pessoas. Então ter uma cultura de empreendedorismo
tem sido muito importante em San Diego. Concluindo, colocar todas essas
coisas juntas é o que leva a um núcleo de inovação de sucesso. Obrigado.
JEFFREY STEINDORF:
E
u sei que o Brasil é um país extraordinário. Dados da UNESCO
indicaram ao longo dos últimos anos que o PIB cresceu a uma taxa
eclipsada apenas pela China. Acredito que tenha sido de 33 por
cento de 2009 a 2011, atualmente em sexto lugar no mundo, com projeção
de ter o quarto maior PIB em 25 anos. Estou surpreso, e em muitos aspectos, acredito que o que está acontecendo no Brasil espelha o que aconteceu
aqui, mas em escala muito maior. Por isso estou realmente encantado em
compartilhar algumas de nossas experiências.
Chefiei o planejamento do campus na UCSD por aproximadamente
30 anos, e saí como pós-doutorado em 1977. Algumas das habilidades que
eu desenvolvi ao longo do caminho foram genéricas em termos de fazer
análises e sendo apenas um bom administrador, organizado. Então apliquei
aquelas habilidades para ajudar a montar uma infraestrutura na UCSD, mas
ao fazer isso, o grupo de pessoas com as quais trabalhei era composto por
indivíduos que tinham como seu cerne um desejo de refletir o empreendedorismo do corpo docente. E o que eu gostaria de fazer é usar alguns
minutos para falar da liderança que criou a UCSD, seu etos empreendedor
e depois algumas estratégias de planejamento de capital que usamos ao
longo dos anos.
Como vocês viram no filme, San Diego se desenvolveu muito rapidamente depois da II Guerra Mundial em função do Projeto Manhattan e a
[ 90 ]
parceria governo federal-universidade que surgiu. Depois da guerra estava
claro que a economia nacional do bem-estar e a defesa nacional poderiam
avançar com a consolidação daquela parceria governo federal-universidade,
e em instituições como a Johns Hopkins, Stanford, MIT, Universidade de
Chicago e Universidade da Califórnia havia um aumento do desenvolvimento de atividades de pesquisa realizadas com verbas federais e instalações com verbas federais para pesquisa. Naquele período de tempo em
San Diego, a Salk Institution of Oceanography (SIO) também se beneficiou. A SIO, precursora da UCSD, foi estabelecida em 1912 e durante a
II Guerra Mundial, alguns dos pesquisadores da SIO estiveram envolvidos
em pesquisa do movimento das ondas que ajudou a invasão das praias da
Normandia no Dia D. Estava muito claro de que havia aqui um centro de
excelência científica que tinha aplicabilidade.
Nos anos seguintes, Roger Revelle, que tinha vindo de Harvard para
chefiar a SIO, também estava envolvido no desenvolvimento do United
States Office of Naval Research. Ele era extremamente bem-posicionado
para aproveitar a infraestrutura financiada com verbas federais que estava
sendo desenvolvida naqueles anos. Penso que a liderança de San Diego tem
refletido aquele posicionamento central na rede federal de financiamento
científico. O primeiro CEO foi Revelle e o primeiro reitor foi Herb York,
que havia trabalhado na administração Eisenhower. Ele era um físico que
também havia trabalhado no Projeto Manhattan. Ele foi o primeiro diretor
do Laboratório Nacional de Energia em Livermore. Ele havia sido um dos
fundadores da Agência do Projeto de Pesquisa Avançada em Washington.
Outros reitores incluem Bill McElroy, que era o diretor da Fundação Nacional de Ciências, no governo do Presidente Nixon. McElroy foi sucedido por Dick Atkinson, que era diretor da Fundação Nacional de Ciências
nos governos dos Presidentes Ford e Carter. E os outros reitores eram
todos igualmente bem-posicionados e haviam sido membros da Academia
Nacional de Ciências ou haviam obtido reconhecimento. Por exemplo,
nosso reitor anterior recebeu a Medalha Presidencial de Ciências alguns
anos atrás.
Todas essas pessoas são bem-posicionadas na rede nacional e sabiam
quais eram as prioridades nacionais. Durante os anos iniciais, a noção era:
“Não vamos apenas construir uma universidade – vamos construir uma
universidade focada em pesquisa.” O que foi desenvolvido na UCSD foi
feito de cima para baixo; trazer grandes cientistas que atrairiam grandes
professores, grandes pós-doutorados e grandes estudantes de graduação.
[ 91 ]
Aquele etos de pesquisa foi estabelecido antes de trazer os estudantes de
graduação. As instalações de pesquisa foram construídas e usadas como
o centro que fornecia o incentivo para o desenvolvimento daquela área.
Tudo isso foi incrivelmente bem-sucedido.
Junto com os fundos federais que ajudaram a construir as instalações,
San Diego obviamente também se beneficiou do baby boom, os nascidos
no pós-guerra que deram sustentação à significativa expansão da educação mais avançada na Califórnia e que levou ao desenvolvimento de San
Diego. E, de novo, esse campus foi construído a partir do Scripps, então já
havia um centro de excelência estabelecido aqui e um foco em assuntos
interdisciplinares com envolvimento multidisciplinar. Sempre houve um
método muito criativo que estava refletido no início da escola de medicina de San Diego. Não era apenas uma escola médica, mas era uma escola
médica trabalhando com os pesquisadores básicos em biologia, química e
física de forma que San Diego não estava apenas treinando médicos, mas
estava treinando médicos pesquisadores e imbuindo neles o etos de ir da
bancada ao leito e ao mercado. E, de novo, aquele empreendedorismo que
o Dr. Royston mencionou tem sido contínuo ao longo desses anos.
Em seu início o campus se beneficiou com a oferta de fundos estaduais;
entretanto aquele período acabou com a Guerra do Vietnã. Entramos em
um período de aproximadamente 10 anos sem fundos estaduais, e naquele
ponto precisávamos ser um pouco mais criativos em termos de identificar
outros fundos. Isso foi quando começamos a nos envolver com financiamentos externos. Havia uma boa e robusta base de financiamento, então
aproveitamos algumas oportunidades ali. Mas ao longo dos anos desenvolvemos algumas técnicas, e apesar de elas não serem extraordinariamente
criativas, acho que há algumas boas lições aqui. Passamos aquele ano de
simples financiamento estadual onde tínhamos uma única fonte de financiamento e construímos uma grande parte da infraestrutura inicial para
uma era em que precisávamos organizar rapidamente fundos de diferentes
fontes de financiamento. Era uma combinação de misturar fundos, mas
também alavancar fundos. Por exemplo, o prédio da bioengenharia que
havia sido desenvolvido alguns anos antes foi iniciado com uma doação da
Fundação Whitaker. Naquele ponto o programa de bioengenharia da UC
San Diego estava classificado em primeiro ou segundo lugar pela Academia
Nacional de Ciências, ou logo atrás da Johns Hopkins ou logo na frente
da Johns Hopkins. Um grupo havia atraído aquele financiamento, mas não
suficiente para construir um prédio.
[ 92 ]
Bioengenharia é um assunto que deveria ter sido financiado pelo estado. Apesar de ser uma época em que a economia tinha desacelerado,
fomos capazes de alavancar aquele financiamento da fundação para bioengenharia, dizendo ao estado “Temos uma oportunidade. Essa fundação irá
fornecer praticamente a metade dos fundos para construir um prédio se
vocês nos derem a outra metade.” E na verdade fizemos a mesma coisa com
a fundação. Dissemos à fundação “podemos conseguir metade do estado
se vocês contribuírem com a outra metade”. Pudemos construir o prédio.
Nos primeiros anos, o estado estava fornecendo os fundos para pesquisa na
universidade. A capacidade de fazer isso diminuiu à medida que havia outras demandas para financiamentos no estado da Califórnia. Consequentemente, havia um acordo entre a Universidade da Califórnia e o estado para
alterar um pouco o mecanismo de financiamento. Em virtude de o estado
estar financiando pesquisa e o governo federal também estar financiando
pesquisa, durante muitos anos a universidade devolvia parte do dinheiro
recebido do governo federal para o estado em reconhecimento ao apoio
que havia recebido. Mas quando o estado não podia mais manter o mesmo
nível de financiamento, eles concordaram em permitir que mantivéssemos
todo o dinheiro que recebíamos do governo federal em vez de devolver
uma parte, e na verdade eles nos dariam um crédito para usar aqueles fundos para construir prédios. Era algo conhecido como a Lei de Garamendi.
John Garamendi, que agora é um parlamentar do norte da Califórnia, era
legislador estadual e comissário de seguros que via essa situação como uma
oportunidade de construir instalações. Então temos usado esses fundos indiretos para ajudar a construir prédios e eles nos ajudaram a construir sete
importantes prédios de ciências e engenharia nos últimos anos.
Acho que não há substitutos para liderança e construção de infraestrutura, mesmo que as instalações existentes não estejam completamente
construídas. Acima de tudo, tente reunir as melhores pessoas. Coloque-as
em núcleos. Deixe suas mentes interagir.
DAVID HALE:
N
o final dos anos 1970 e início dos anos 1980, era muito difícil
licenciar tecnologia da maioria das universidades nos EUA. Costumávamos dizer que era quase impossível. Uma das coisas que
mudaram e que realmente ajudaram aquele processo foi a criação de escri[ 93 ]
tórios de transferência de tecnologia em universidades, que eram responsáveis por entender quais tecnologias estavam sendo desenvolvidas e tinham
a responsabilidade principal de interagir com as empresas em relação ao
potencial licenciamento daquela tecnologia para desenvolvimento. Hoje, a
maioria das principais universidades do país tem um desses escritórios de
transferência de tecnologia. O estabelecimento desses escritórios realmente
facilita o processo porque antigamente, as universidades eram muito isoladas e o corpo docente estava interessado apenas em publicar, e não tornar
sua tecnologia disponível para desenvolvimento.
MARY WALSHOK:
E
u gostaria de acrescentar um exemplo. Os dois professores de pesquisa mais importantes da UCSD para a economia daqui, Ivor
Royston e Irwin Jacobs, deixaram a universidade nos anos 1970
porque naquela época era muito difícil ser um acadêmico tradicional e dirigir uma empresa ao mesmo tempo. Talvez vocês gostariam de comentar.
IVOR ROYSTON:
E
u saí da universidade porque ela era, e ainda é, muito burocrática,
e depois de perceber o que poderíamos fazer na Hybritech, senti que poderíamos fazer coisas muito mais rapidamente no setor
privado. Seguindo o que o David disse, tenho certeza de que todos vocês
têm escritórios de transferência de tecnologia nas suas universidades e isso
é muito importante. Entretanto, a questão surge quando você tem que
negociar com o governo. Negociar com o governo brasileiro não pode ser
muito melhor do que negociar com o governo dos Estados Unidos. Antes
era quase impossível conseguir algum licenciamento significativo de forma
rápida, porque negociar para uma startup com o governo dos EUA era extremamente difícil – e eu acho que a mesma coisa vale para o Brasil. O que
tornou a Lei Bayh-Dole possível foi a liderança dada pelo Presidente Reagan. O Presidente Reagan proferiu um discurso em 1981 em que ele disse
que o governo não é bom em licenciar tecnologia – “Não é nosso negócio
licenciar tecnologia.Vamos dar isso para as universidades, onde eles podem
estabelecer escritórios de transferência de tecnologia para fazer isso.” Acho
que no Brasil vocês precisam da liderança de sua presidente. Se ela conse[ 94 ]
guisse se posicionar, imagino que como o Presidente Reagan, talvez todo
mundo se inspirasse em fazer a mudança. Gostaria de ouvir sua opinião.
JEFFREY STEINDORF:
Q
uero fazer um comentário. Com um papel diferente agora no
Consórcio Sanford para Medicina Regenerativa, onde não há
pessoal nem burocracia. Temos um consórcio que inclui a UC
San Diego, o Instituto Salk para Estudos Biológicos, o Instituto de Pesquisa Biomédica Sanford-Burnham, o Instituto de Pesquisa Scripps, e o
Instituto La Jolla para Alergia e Imunologia. Essas são cinco instituições de
classe mundial. O acordo entre os membros do consórcio é que ele não
atuará como uma instituição nem irá usar pessoal para processar transferência de tecnologia e propriedade intelectual. Como resultado disso, cada
investigador principal concordou em obedecer às regras existentes em sua
própria instituição. Ainda estamos lidando com problemas de burocracia,
mesmo tendo uma estrutura relativamente facilitada em função da lei. Por
exemplo, temos dois investigadores principais que estão trabalhando com
empresas que são conhecidas, Fluidyne e Becton Dickson, que querem
trazer pessoas para trabalhar com os investigadores. E nos dois lados da casa,
no setor privado dessas empresas, e das instituições, há uma disposição legalista de colocar os pingos em todos os i’s em toda questão legal potencial
que possa surgir em conjunto com propriedade intelectual, mesmo que a
probabilidade de a propriedade intelectual acontecer em curto prazo ser
relativamente baixa.
Consequentemente, o que estamos tentando fazer é mover o paradigma um pouco e ter as instituições nos dois lados, as instituições de pesquisa e o setor privado, concordando que vamos segurar antecipadamente
considerações legais específicas e detalhamento das prerrogativas e direitos
de propriedade intelectual até que se tornem razoavelmente previsíveis.
Ainda temos que ver se essa abordagem será satisfatória para a área legal nas
respectivas instituições, mas o que estamos tentando fazer é ter o trabalho
feito, ter a ciência feita, e depois lidar com a potencial PI.
Gostaria de fazer só mais um comentário. É fundamental que haja uma
estrutura governamental de apoio, e a meu ver, eu acho que em grande
medida isso existe no Brasil. Meu entendimento é que a porção econômica
bruta de P&D do PIB é mal comparável com a dos Estados Unidos. O que
[ 95 ]
é diferente, entretanto, é que no Brasil eu acho que 70 por cento do apoio
de P&D vêm do governo. Nos Estados Unidos é em torno de 30 por cento. Então aqui se desenvolveu um entendimento no setor privado de qual
é a importância de investir de forma constante, contínua em P&D para
assegurar sua competitividade de longo prazo. Então, à medida que vocês
consigam criar leis ou benefícios fiscais que incentivem aquela atividade,
eu acho que vocês estariam bem servidos.
Em 2012, a UCSD recebeu aproximadamente 18 milhões de dólares
em renda proveniente de licenciamento e transferência de tecnologia. A
universidade tem um orçamento de três bilhões de dólares para ensino e
pesquisa.
Discussão
DARCÍSIO PAULO PERONDI:
E
u vou começar com o que a Mary acabou de mencionar. Há um
provérbio sueco que diz que você nunca deve odiar o lucro e a
riqueza. A riqueza cria negócios, pesquisa, produtos, e empregos.
Acredito que nosso governo está finalmente, embora de forma distante, ouvindo o provérbio sueco. Temos que acreditar no lucro. Essa é uma
das principais questões que o Brasil enfrenta hoje. O governo de vez em
quando acredita no setor privado, mas algumas vezes se distancia dele. No
campo da pesquisa, estamos vendo cada vez mais a união entre governo e
setor privado. Temos um Banco Nacional de Desenvolvimento com um
orçamento maior do que o da Argentina e muitos outros países. O Brasil
precisa resolver dois problemas: o primeiro é acreditar em lucro e riqueza,
e o segundo é conseguir a convergência entre o governo e setor privado.
Entretanto, em termos de pesquisa, o Brasil está indo relativamente
bem. Temos a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola, estabelecida em 1970. Somos o segundo maior país agrícola do mundo e em
breve vamos ultrapassar os Estados Unidos.
Sem dúvida, ainda temos dificuldades básicas para resolver. A mais urgente é a falta de qualidade em educação básica – no nível primário. Contudo, somos um país rico e com tanto potencial. Fomos abençoados com
[ 96 ]
um solo fértil, bom clima, rios, o oceano, e somos a sexta maior economia
do mundo. Vocês têm que acreditar mais em nós e demonstrar sua fé ao
levar suas empresas para o Brasil, seja através da transferência de tecnologia
ou estabelecendo instituições lá.
PAULO ROBERTO BAUER:
G
ostaria de estender meu aplauso ao sucesso alcançado pelo projeto
que vocês estabeleceram em San Diego. O que mais me preocupa
é o processo de adquirir o conhecimento para esse tipo de projeto
aqui e tentar fazer a mesma coisa no Brasil. Isso significaria que teríamos
que esperar trinta ou 40 anos antes de ter sucesso. Apesar de ser bem-vindo e possível estabelecer um modelo como o que aprendemos aqui
hoje, não temos condições de esperar todo esse tempo para ver resultados
concretos. Inegavelmente temos que lançar algum tipo de iniciativa. Por
causa de nosso passado político e econômico, o governo teria que estar
envolvido mais do que aqui nos EUA. Por outro lado, pelo que eu entendo,
a pesquisa realizada aqui em San Diego foi transformada em uma iniciativa
do setor privado. Em outras palavras, ela se transformou em negócio. E se
ela se transformou em negócio nos EUA, então, por extensão ela se transformou em negócio em todo o mundo. Assim, empresas que atualmente
usam tecnologia criada aqui também ganham dinheiro vendendo produtos
ao Brasil.
Isso me leva à pergunta sobre qual é a extensão da parceria estabelecida
entre a universidade, o estado da Califórnia, e as instituições trabalhando
aqui com outros países em todo o mundo. Uma segunda pergunta é o que
pode ser feito no Brasil, nas mesmas bases do que tem sido feito aqui, que
poderia gerar novas pesquisas e que no final seria transferido para os EUA
e vice-versa. Certamente teríamos uma possibilidade de sucesso no cenário brasileiro bem como no cenário global.
MARY WALSHOK:
E
u gostaria de responder às questões sobre a comunidade universitária, levantadas pelo Paulo, já que recentemente terminei um livro
sobre o assunto. Uma porcentagem bem pequena de empresas está
diretamente relacionada com a tecnologia da universidade. Indiretamente
[ 97 ]
temos estudantes da graduação, professores que são consultores científicos,
relações de licenciamento etc. Mas fundamos em torno de 300 empresas
por ano na região no espaço tecnológico – a UCSD representa apenas 12
a 15 delas. A porção mais forte desse projeto está no ecossistema maior.
Organizações intermediárias como a CONNECT e a BIOCOM criam
uma plataforma para o pequeno número de professores empreendedores,
jovens empreendedores e advogados e contadores interessados em empreendedorismo se encontrar. Éramos 24 organizações quando começamos
a CONNECT, e agora são milhares. Acredito que você precise criar um
espaço físico onde as pessoas possam ir a seminários e interagir socialmente
com pessoas da academia e do setor privado.
Assim, em termos de desenvolver esse tipo de ecossistema, a pesquisa
universitária é importante – mas em minha opinião, ter pessoas que ajudem a fazer a ponte entre os acadêmicos e a comercialização é muito mais
importante.
IVOR ROYSTON:
E
u gostaria de fazer um comentário sobre as palavras do senador
Bauer e acrescentar algo em relação às considerações da Mary. Primeiro, concordo que o Brasil seja líder em aeronáutica, agricultura,
energia alternativa, e até mesmo em biocombustíveis. Entretanto, eu tenho
formação em biotecnologia e acabei de voltar do Brasil recentemente, e vi
que em termos de indústria de biotecnologia há muito mais que o Brasil
pode fazer. A indústria de biotecnologia no Brasil é muito pequena. Encontrei alguns empreendedores lá que estão começando a lidar com esse
assunto. Contudo, eu gostaria de dizer a todos os senadores e deputados
que agora é a hora ideal de o Brasil começar a construir sua indústria de
biotecnologia.
Nos EUA o investimento em biotecnologia está diminuindo, e há muitas razões para isso (econômicas, políticas etc.). A biotecnologia é o motor de P&D para os fármacos, e eu sei que há uma ordem no Brasil para
melhorar o serviço de saúde e criar inovação na indústria de medicina.
Hoje é possível identificar tecnologias e produtos nos EUA que podem ser
desenvolvidos no Brasil.
[ 98 ]
DAVID HALE:
S
em dúvidas há oportunidades de estabelecer relacionamentos entre
as startups aqui e as startups certas no Brasil. Em primeiro lugar
isso ajudaria nas transferências de tecnologia, mas também ajudaria
a construir infraestrutura que no final permitiria ao Brasil desenvolver a
cultural empreendedora que temos aqui em San Diego.
BRUNO CALVALCANTI ARAÚJO:
M
uitas vezes no Congresso temos uma percepção bem pequena
sobre como ou se as nossas ações se transformam em algo
efetivo e útil para a sociedade. Eu gostaria de compartilhar
uma história que demonstra porque encontros e reuniões como essa contribuem para algo importante no longo prazo. Em abril tivemos uma conferência no MIT em Boston. Dos estudantes presentes, três eram brasileiros
e 200 eram da Índia e da China. Isso levou a uma discussão sobre a relevância e importância de ter estudantes brasileiros estudando em universidades no exterior. Essa discussão terminou com o esboço de um projeto
que estimula a transferência de estudantes em universidades brasileiras para
universidades de ponta em todo o mundo. Com todos os estudantes aqui
presentes hoje, podemos ver que o projeto foi um sucesso.
As mudanças que precisam ser feitas são muitas vezes conseguidas de
cima para baixo, através de políticas públicas. Entretanto, esses milhares de
estudantes brasileiros estudando em outros lugares vão ajudar a mudar as
universidades brasileiras de baixo para cima. Ao reforçar sua formação, eles
serão capazes de retornar e contribuir mais. Uma das condições para nosso
total apoio a esse projeto era que os brasileiros do programa não poderiam
estudar direito, filosofia, história ou jornalismo – eles tinham que estar em
engenharia, medicina, ciências da saúde e ciências naturais. Sabemos que
avançamos nesse sentido, e sabemos que mais será alcançado quando esses
estudantes brasileiros sentados aqui hoje em San Diego voltarem ao Brasil
e ajudarem a criar mudanças de baixo para cima.
[ 99 ]
MARY WALSHOK:
H
á dados muito bons nos Estados Unidos sobre o papel dos estudantes estrangeiros e imigrantes, não apenas levando uma cultura
empreendedora de volta para sua região, mas também sustentando relacionamentos para os tipos de parcerias mencionadas pelo Ivor e o
David. Quase 50 por cento das empresas do Vale do Silício foram fundadas
por imigrantes e os maiores investimentos em capital de investimento internacional vão para lá. As parcerias se desenvolvem por causa das pessoas.
JORGE VIANA:
N
ão tenho dúvida de que nosso país hoje se afirma diante do
mundo e está determinado a se tornar uma potência mundial
com sua riqueza, seu povo, e seu “jeito brasileiro”. Não tenho
dúvida, também, de que as oportunidades que temos hoje para fazer o
salto em inovação são muito melhores do que as que vocês tiveram décadas atrás na Califórnia. Por isso é importante para nós estar aqui – para
entender como isso aconteceu aqui, e encontrar um jeito de fazer a mesma
coisa acontecer no Brasil. Talvez o maior obstáculo que enfrentamos é a
falta de uma cultura de empreendedorismo. Há uma dependência perene
dos governos. No Brasil, a palavra “riqueza” ainda é um tabu – ainda mais
dentro das universidades brasileiras. O problema é como resolver a equação
de criar uma cultura de empreendedorismo e transformar conhecimento
científico em negócios. Esse foi um passo determinante para vocês – tanto
assim que muitos decidiram deixar as universidades para começarem seus
próprios negócios.
Estamos em uma sala cheia de parlamentares de diferentes partidos e
mesmo assim todos concordamos sobre os problemas que temos hoje no
Brasil. A pauta dos nossos centros de pesquisa é puramente corporativa. Em
anos recentes vimos alguma mudança, entretanto. Na verdade, nosso governo está ajudando a quebrar essa cultura com a iniciativa do Ciência sem
Fronteira. Cem mil estudantes brasileiros irão estudar em universidades e
centros de pesquisa de ponta em todo o mundo, e eles retornarão ao Brasil
com uma visão diferente. Esse é um passo fundamental.
Também penso que há um segundo problema associado com essa cultura. Sempre há um grau de espera e expectativa em relação ao governo. É
como se para que algo aconteça o governo é que tem que fazer. As coisas
[ 100 ]
não acontecem fora do governo como aqui, e isso é tão problemático
quanto a falta de uma cultura empreendedora. Mesmo o investimento em
ciência mostra isso. No Brasil, 70 por cento dos investimentos são feitos
pelo governo, enquanto apenas 30 por cento são feitos pelo setor privado
– exatamente os números opostos aos dos EUA.
Acredito que nosso objetivo, como grupo de parlamentares, é encontrar nossa Lei Bayh-Dole. Nosso desafio é encontrar uma lei que ajudará
nosso país a se tornar competitivo no setor de inovação. Se não alcançarmos isso, nunca seremos um verdadeiro líder mundial.
Gostaria de terminar com duas perguntas. Primeira, uma parceria entre
o setor privado, o centro de pesquisa e o governo brasileiro para realizar
pesquisas sobre a biodiversidade da Amazônia e depois transformar esse conhecimento em negócios seria atraente para vocês? Segunda, como podemos abrir um caminho para cooperação futura entre nossas universidades
no Brasil e a Universidade da Califórnia em San Diego?
IVOR ROYSTON:
C
oncordo plenamente com o Senador Viana. O governo precisa
dar o primeiro passo, que é o equivalente à Lei Bayh-Dole. Por
quê? Porque quando a universidade é responsável pelo licenciamento da tecnologia e não o governo, ela é que receberá a receita, as taxas,
as parcelas de pagamentos, os royalties, participação nas empresas, e depois
a universidade vai tomar a liderança em mudar a cultura empreendedora
porque isso beneficia todo mundo.
Isso é o que aprendemos nos Estados Unidos e porque os escritórios de
transferência de tecnologia são tão ativos e os administradores das universidades são tão favoráveis ao empreendedorismo. Mesmo a Johns Hopkins
hoje tem o chefe de transferência de tecnologia reportando diretamente
ao presidente, porque eles querem fazer essa mudança. O primeiro passo é
o governo, e o primeiro passo é aprovar uma lei equivalente à Lei Bayh-Dole que coloca toda a responsabilidade nas universidades e nos institutos
de pesquisa.
[ 101 ]
[ 102 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Apoiando Inovação: Papel
do Sistema de Educação e
das Instituições Públicas de
Pesquisa
PRADEEK KHOSLA
Reitor, Universidade da Califórnia em San Diego
S
e você olhar para esse país desde 1945 até hoje, é seguro dizer que
nunca na história houve um tempo em que tanta riqueza tenha sido
gerada como resultado de significativos investimentos de um país.
Não apenas tanta riqueza foi gerada, mas também ela melhorou a vida de
muitas pessoas aqui e em todo o mundo. O momento realmente definidor
para a história deste país aconteceu no final da II Guerra Mundial. Durante a guerra gastamos centenas de milhões de dólares tentando fabricar
armas que usavam tecnologias que permitissem não apenas que soubéssemos onde estava o inimigo, mas também confrontá-lo com a força mais
destrutiva possível. Uma vez finda a guerra, o Presidente Truman tinha que
pensar em como usar essa tecnologia em benefício da sociedade e da humanidade. Essa redistribuição do investimento em tecnologia permitiu que
criássemos o que acreditamos ser a Universidade Americana de Pesquisa.
Em reposta à busca que começou com o Presidente Roosevelt para
tornar esse desenvolvimento tecnológico útil para a sociedade, Vannevar
Bush, então diretor do Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico, escreveu um ensaio. Nele, ele disse que as pessoas estavam avançando
a ciência, nesse caso não para a guerra, mas para a saúde, prosperidade e
segurança – como uma nação do mundo moderno. Ele argumentou que a
ciência básica é um pré-requisito – alguém tem que fazer a pesquisa básica,
alguém tem que descobrir as leis da natureza, alguém tem que descobrir
[ 103 ]
como os átomos, as moléculas e a biologia se comportam, e usar essas informações para tornar a vida humana melhor. Mesmo nos anos de guerra
o governo deveria investir em pesquisa nas universidades para atender às
demandas tanto da indústria quanto do governo. Muitos países investem
em pesquisa e têm uma separação entre governo e indústria que é tão clara
que não se é capaz de ver o desenvolvimento econômico decorrentes de
investimentos do governo. Bush continuou argumentando que para fazer
tudo isso era necessário ter os recursos humanos que podem ser desenvolvidos apenas através de bolsas de estudos nas faculdades.
Se você olhar para a história do financiamento federal em pesquisa
você vai ver que ele vai de literalmente zero para algo em torno de 10
milhões de dólares em 1953, e para 140 bilhões de dólares atualmente. Essa
pesquisa teve um impacto muito positivo sobre este país e sobre o resto do
mundo. Se você olhar para o momento definidor em que o mundo começou a ficar mais rico em um ritmo mais rápido, ele coincide com a bolha
ponto-com no final dos anos 1990. Mesmo que os Estados Unidos tenham
sofrido um baque econômico após a explosão ponto-com, o restante do
mundo, inclusive a Índia e a China, continuaram a expandir.
A expansão ponto-com inteira foi baseada na Internet, uma tecnologia
do Departamento de Defesa financiada totalmente pelo governo. Outro
exemplo é a indústria de semicondutores.Toda a noção de semicondutores,
transistores, circuitos integrados etc., saiu de pesquisas puramente governamentais, primeiro nos Laboratórios da AT&T, e depois em todo o país.
Estou tentando enfatizar que a pesquisa do governo teve um impacto
muito grande. Os brasileiros aqui presentes podem estar pensando que isso
é ótimo porque o Brasil gasta muito dinheiro em pesquisa governamental
e em universidades públicas. Entretanto, aponte um país em que há um
Google. Com Google, eu quero dizer tecnologia de pesquisa básica que
tenha sido financiada puramente pelo governo, resultou da tese de doutorado de alguém, e depois se tornou uma empresa de mais de 200 bilhões
de dólares. Não existe esse país. Isso é exclusivo dos EUA e representa o
poder do sistema educacional americano e da política americana em que
educação, transferência de tecnologia, desenvolvimento econômico e desenvolvimento humano, todos eles estão integrados. Isso, entretanto, não
aconteceu por um passe de mágica. Em 1945 o Google seria inimaginável
porque nossas leis de transferência de tecnologia e de propriedade intelectual não eram viáveis. Foram as leis junto com as políticas governamentais
que tornaram o Google possível.
[ 104 ]
Ao comparar as universidades de 1945 às de hoje, vemos que as universidades americanas tornaram-se instituições mais do que apenas educacionais. Elas são agentes de mudanças em vários aspectos. E a educação
é apenas uma ferramenta como agente de mudança. Somos agentes de
desenvolvimento econômico. De fato, se você olhar apenas para os EUA e
perguntar-se quais cidades estão crescendo – você verá que no centro desse
crescimento sempre há uma universidade. Palo Alto e o Vale do Silício não
seriam o que são hoje sem Stanford de um lado da Baía e Berkeley do outro. San Diego não seria San Diego do jeito que é hoje sem a Universidade
da Califórnia San Diego sendo o agente econômico deste lugar. Se você
olhar para a indústria de biotecnologia na UC, praticamente todas as empresas estão ligadas diretamente à UC em San Diego ou a um passo dela.
Há muito poucos países que pensam sobre suas universidades desse
modo tão abrangente. A maioria dos países pensa numa universidade como
oferta de educação. Outros pensam sobre o componente de pesquisa como
sendo um instituto separado que nada tem que ver com ensino. Sete anos
atrás encontrei o Primeiro Ministro de Portugal à época e ele me perguntou o que eles deveriam estar fazendo em termos de pesquisa. Eles já
tinham grandes universidades que produzem grandes Ph.Ds. que depois
vêm para os EUA e trabalham aqui. Então meu conselho foi perguntar o
que deveriam estar fazendo para que esses Ph.Ds., de “qualidade tão alta”
quanto os Ph.Ds. americanos pudessem viver no país, começar empresas e criar desenvolvimento econômico de forma que seu investimento
nesse programa voltasse nos próximos vinte anos em forma de impostos.
Ele ficou muito entusiasmado e nós criamos uma parceria com seis universidades de Portugal. Embora houvesse barreiras culturais, fizemos um
progresso substancial. Trouxemos as pessoas para os EUA e ensinamos-lhes
a pensar sobre transferência de tecnologia, um sistema igual, uma incubadora, capital de investimento, o profissional que tem a capacidade tanto de
ensinar quanto de ser um empreendedor. Na Europa há uma tendência de
ver o ensino e a administração de uma empresa como totalmente incompatíveis, o que é fundamentalmente ruim.
A lição que devemos tirar dessa história é que ser um professor em uma
universidade e ser um empreendedor em uma startup deveria ser possível
sem conflitos de interesses.
Claramente as universidades tiveram um impacto muito grande nos
EUA. Apenas no ano fiscal de 2010, as universidades americanas lançaram
657 novos produtos e 4.284 patentes foram concedidas para invenções, de
[ 105 ]
20.642 patentes registradas. As universidades americanas recebem 2,4 bilhões de dólares de faturamento proveniente de licenciamento e já criaram
650 empresas. O interessante é que 75% dessas empresas estavam localizadas no estado da universidade a partir da qual foram criadas e é isso que
se conecta ao desenvolvimento econômico. Dados disponíveis estimam
2,4 bilhões de dólares em receitas. Parece um número grande, mas se você
olhar para o total de investimento governamental em pesquisa e desenvolvimento esse retorno sobre o investimento é menor do que 2%. Assim,
vocês não devem pensar em receita de licenciamento como a principal
fonte de receita. A verdadeira receita vem de pessoas com uma formação
muito alta e que trabalham para empresas e que criaram novas tecnologias
e novas empresas que geram empregos e vendem produtos no mercado
doméstico e no exterior.
A regra para o sistema da UC San Diego em geral não é diferente
do que o que eu disse. Sem a UC San Diego, San Diego não seria o que
é hoje. Também há outras escolas e organizações que contribuem, como
Sanford-Burnham, o Instituto La Jolla etc., que contribuem para o desenvolvimento econômico. A grande diferença entre nós é que nós temos 30
mil estudantes. A maioria dos lugares que tem pesquisa de alta qualidade
como nós temos, não tem um corpo discente tão substancial.
Temos um programa de pesquisa de um bilhão de dólares ao ano, classificado em sexto lugar no país em termos de dólares federais para pesquisa. Somos o número seis no país em termos de número de membros na
Academia Nacional de Ciências, na Academia Nacional de Engenharia, e
no Instituto de Medicina. Estamos em 15º lugar no mundo em termos de
impacto geral e citações. Este lugar é uma usina muito além de ser apenas
uma universidade. Não há nenhuma outra universidade neste país que eu
lembre que tenha proposto algo como o Instituto das Américas, que é ao
SOBRE ESCOLHER VENCEDORES E PERDEDORES
Em termos de não escolher vencedores e perdedores, o governo fez e ainda faz coisas para evitar o
favorecimento. Embora escolher vencedores e perdedores não estivesse no contexto de tecnologia,
mas mais no contexto de duas empresas trabalhando pelos mesmos resultados – uma seguindo a
abordagem A, a outra seguindo a abordagem B. Estava claro que não iríamos investir em determinada
tecnologia porque era muito dinheiro na indústria privada ou não havia pesquisa de boa qualidade
de forma suficiente. Nesse sentido estávamos escolhendo os investimentos a serem feitos, mas não
estávamos escolhendo uma abordagem em detrimento da outra.
[ 106 ]
mesmo tempo independente e parte de nós. Nosso papel nessa comunidade e no nosso país não é apenas formar estudantes, mas também fazer
pesquisa. Tem a ver com desenvolvimento econômico. Tem a ver com a
atração de outros pensamentos diversos para o nosso campus e fazer parcerias com eles para ter um impacto mais amplo e que não podemos fazer
por causa de nossos princípios e nossa missão.
As principais condições para que inovação e desenvolvimento econômico aconteçam são pesquisa, talento e dinheiro. Sem dúvida tem que
haver pesquisa – como em descobertas, invenções. Tem que haver talento, tanto em termos de fazer a pesquisa quanto no processo de receber
treinamento e ser capaz de trabalhar nas empresas. Além disso, tem que
haver investimento. Nos Estados Unidos, além da Lei Bayh-Dole, também
temos o Programa “Small Business Innovated Research”. Trata-se de um
programa administrado por todas as agências do governo em que a ideia
é que se você gasta uma quantidade X de seu orçamento, uma pequena
porcentagem disso vai obrigatoriamente para pequenas empresas. O programa SBIR, e agora o STTR, o Programa “Small Business Technology
Transfer Research”, criaram empresas. O governo está investindo no que
os investidores capitalistas não investiriam. Então quando penso em investimento governamental, penso em investimento governamental eliminando
ou reduzindo o risco. Como indivíduos, temos menor propensão de investir em algo quando a probabilidade de perder dinheiro está na casa do
90º percentil. Entretanto, o país tem a obrigação de investir com dinheiro
público porque é apenas através de mais investimento que o risco dos investimentos em geral cai. O que ainda precisa ser calculado é quanto você
reduz o risco. O governo americano tem várias políticas e pesquisadores
acadêmicos que ajudam a formar o entendimento de quanto risco há,
quando capitais de risco participam, quando o setor privado participa, e
em que ponto você tem que eliminar esses riscos para várias tecnologias.
Eu gostaria de falar mais um pouco sobre nosso impacto. Se você olhar
para o núcleo de biotecnologia, desde 1991 até agora, o emprego cresceu
50 por cento. Em tecnologia da comunicação, cresceu 70 por cento. Em
tecnologia limpa quase dobrou. Essa é uma área que não existia 20 anos
atrás. Em fabricação de defesa, em virtude das políticas do governo, o emprego está caindo, mas a parte importante é que o total em 2010 é maior
do que em 1991. Há uma nova criação de empregos, o que significa que há
a criação bruta de riqueza e renda no sistema que temos aqui.
[ 107 ]
P) QUAL É A ATUAL PAUTA DA UC SAN
DIEGO COM OS GOVERNOS REGIONAIS E
FEDERAIS?
A UCSD recebe exatamente zero dólar do governo federal, do tipo
não podemos negociar quanto dinheiro eles nos darão. Se conseguimos
um bilhão de dólares por ano para pesquisa e somos o número seis na
lista do governo federal, é porque o governo federal decide investir em
biotecnologia ou engenharia molecular, abrindo as licitações (RFP) para
o país todo. Então nossos professores criam propostas que recebem o financiamento. Isso demonstra que quando você constrói uma universidade
com o objetivo de ser um participante poderoso, a qualidade tem que ser
o critério número um – isso é o que define nossa capacidade de competir
e ganhar.
Temos conversas com o governo estadual sobre quanto eles alocarão
para nós – mas isso não influencia muito a decisão deles. Por exemplo,
recebemos 240 milhões de dólares do estado, que são alocados para formar
30 mil estudantes. Pegamos esse dinheiro e multiplicamos por 15, gerando
3,5 bilhões de dólares, que é nosso orçamento inteiro.
Um bilhão vem de fora. Pagamos aproximadamente 2 bilhões de dólares em salários, o que cria em torno de 180 a 200 milhões de dólares em
impostos estaduais. Então a contribuição bruta do estado para nós é de
apenas 40, 50 ou 60 milhões de dólares. Com esse valor formamos 30 mil
estudantes e ajudamos a construir a grande cidade que é San Diego, onde
os preços de imóveis estão subindo por causa da geração de riqueza. Se
você olhar para nosso impacto total, ele é gigantesco.
[Em Washington, D.C., você ouve o outro lado dessa discussão, o Presidente Obama alegando que os EUA estão perdendo em inovação, pelo
menos em algumas áreas. Há dois ou três milhões de empregos abertos
nos Estados Unidos bem agora sem os recursos humanos necessários para
preenchê-los.]
Todas essas afirmações são verdadeiras, mas precisamos entender as razões por trás delas. Há três milhões de empregos abertos e 10 milhões de
pessoas que estão desempregadas. Acho que a razão disso é um desencontro
de capacidades. Não é que essas pessoas tenham a capacidade e nós estamos
indo para a Índia ou o Brasil para contratar. Essas pessoas não têm a capacidade, em parte porque como indivíduos eles não perceberam a mudança
acontecendo, e em parte porque a mudança aconteceu tão depressa que
[ 108 ]
não houve tempo para elas pensarem sobre isso. É aí que os investimentos
do Presidente Obama em faculdades comunitárias e outros programas de
treinamento profissional são importantes. Algumas dessas pessoas podem
ser treinadas para ocupar outros empregos.
Em relação a perguntas sobre falta de inovação, vou responder com
minha visão pessoal. Há duas coisas acontecendo. Primeiro, pode estar havendo uma desaceleração em inovação. Ainda assim, não acho que seja
tanto assim pela desaceleração em inovação, mas mais pelo fato de estarmos
perdendo terreno. Esse país não está acostumado a ter queda em termos
de padrão de vida, o que aconteceu nos últimos 50 anos. Bem agora o que
estamos vendo é a Índia, China, Brasil e outros países do BRIC aumentando seu padrão de vida muito mais rapidamente do que os EUA. Então
estamos vendo uma redução relativa, mas não absoluta no padrão de vida.
A pergunta é se isso vai levar a uma redução absoluta em algum momento.
Será que algum dia os EUA vão cair para o segundo melhor padrão de vida
em comparação com esses países em desenvolvimento? Acho que é isso o
que o Presidente Obama quer dizer sobre não ter inovação suficiente.
Hoje vemos tantas empresas e empregos sendo criados. Talvez não tanto quanto durante a era ponto-com, mas definitivamente mais do que
cinco anos atrás. Tenho certeza de que estamos avançando. O que vai nos
atrasar é o nosso sistema K-12 [sistema de ensino que inclui desde o jardim da infância até o ensino médio], que acredito que realmente não está
indo bem. Nosso sistema universitário está compensando o sistema K-12.
A maioria das universidades de quatro anos neste país está oferecendo recuperação para estudantes do ensino médio que chegam lá, mas não conseguem competir com os melhores dos melhores.
Agora vou falar sobre globalização. As pessoas sempre me perguntam
“Se a real força dos EUA é o sistema de educação e a cultura e política de
integrar a educação com o desenvolvimento econômico, porque vocês não
mantêm isso como um segredo de propriedade intelectual? E porque vocês compartilham esse segredo com outros países e deixam que eles compitam com vocês?” Minha resposta é: por várias razões. Uma é que essas
coisas podem ser mantidas em segredo por apenas um período de tempo.
A segunda é que se você olhar para o mundo, apenas alguns países estão investindo em pesquisa básica, descobertas e inovação tanto quanto os EUA.
A maior parte da inovação que está ocorrendo em outros países agora é
mais de natureza aplicada, onde o cerne daquela ideia veio de alguma descoberta fundamental da França, Alemanha, Europa, Inglaterra ou dos EUA.
[ 109 ]
A pesquisa de países em desenvolvimento não é do calibre que possa levar a
descobertas fundamentais. Em terceiro lugar, os EUA não têm a capacidade
de continuar investindo em pesquisa pelo resto deste século. Minha visão é
que sete bilhões de pessoas neste mundo têm que ter melhor qualidade de
vida, e por isso cada governo tem a obrigação de investir em pesquisa. Eles
têm obrigação de entender o modelo do sucesso. Isso não quer dizer que
nós temos o único modelo de sucesso, mas este é um que foi comprovado.
Entretanto, esse modelo tem que ser adotado e adaptado. Você não pode
simplesmente replicá-lo porque ele precisa ser modificado culturalmente.
A globalização será importante. Na UC San Diego, temos um grande
interesse em ter certeza de que nossos processos de pensamento, nosso estilo de aprendizado, descoberta e ensino sejam propagados. Acredito, contudo, que o sistema de ensino superior nos EUA, especialmente o sistema de
educação da graduação, ainda esteja intocado. Isto é, não há nenhum país
que chegue sequer perto desse sistema.
Minha esperança é que os países não adotem apenas o sistema de educação dos Estados Unidos, mas o ecossistema holístico que este país desenvolveu e que realmente estimula o crescimento econômico. Quanto mais
rápido outros países enriquecerem, mais rapidamente as pessoas no mundo
chegarão à classe média, melhor será nosso padrão de vida, teremos menos
guerras, menos dificuldades teremos com nossos vizinhos. A globalização
é extremamente importante, e eu não quero dizer apenas em termos dos
EUA exportando para o Brasil, mas também em termos do Brasil exportando ideias para os EUA. Deveria ser uma conversa bilateral.
P) SENADOR PAULO BAUER
Você acredita na possibilidade de globalização de conhecimento através
da pesquisa em universidades ao redor do mundo? Sabemos que sua universidade contribuiu para o desenvolvimento dessa região. Sabemos que a
pesquisa no Brasil ajudou com melhorias na produção agrícola. É possível
integrar isso de forma que a qualidade de vida que os americanos já têm
possa ser passada para outras regiões do mundo nos próximos anos?
PRADEEP KHOSLA:
Os EUA atingiram sua qualidade de vida à custa do consumo de significativos recursos naturais. Se todo mundo começasse a consumir recursos
naturais do modo que os EUA consomem, então o mundo estaria morto
[ 110 ]
em menos de duas décadas. Então, para começar, é impossível para todo
mundo consumir e viver como os americanos fizeram nos últimos cinquenta, sessenta anos. Isso não quer dizer que o futuro não seja brilhante.
Isso quer dizer que o futuro está nas tecnologias renováveis, na reciclagem
e na sustentabilidade. Essas são áreas em que não nos concentramos, e temos que nos concentrar na invenção de novas tecnologias, inventar novas
maneiras de fazer negócios, de forma que o resto do mundo possa consumir de maneira responsável, sustentável. Entretanto, para isso acontecer
investimentos são necessários.
Todos esses investimentos não podem vir somente dos EUA porque
não temos essa quantidade de dinheiro. É por isso que quando falo com
outros países, enfatizo nosso modelo de desenvolvimento de ecossistema
e não no nosso modelo de desperdício de recursos. Promovemos o investimento em pesquisa e pensamento em termos de uma sociedade global
onde uns incentivam os outros.
Além disso, acho que compartilhar tecnologia além das fronteiras é
realmente importante. O que nos limita são nossas leis de propriedade
intelectual e sua implantação.Temos que repensar o que significa patentear
tecnologia nos EUA e não no Brasil, ou patentear algo no Brasil e não na
Índia. Isso será difícil, mas um próximo passo necessário.
P) DEPUTADO MOREIRA MENDES
Estou aqui representando o estado de Roraima, no norte do Brasil.
Quero compartilhar com vocês hoje o fato de que existem dois Brasis. Um
é o Brasil que pode se desenvolver e avançar, e o outro é um Brasil que
tem dificuldade em conseguir isso. O segundo Brasil é representado pela
Amazônia, que é muito fechada, e que o mundo observa com olhos protecionistas, esquecendo que quase 25 milhões de brasileiros vivem ali. Por
causa da pressão internacional, uma redoma de vidro foi colocada naquela
área. Nessa linha de raciocínio, que oportunidades você vê para sua universidade cooperar conosco na Amazônia de forma que ela possa começar
a ser percebida não apenas como uma cobiçada floresta, mas como uma
floresta habitada por cidadãos que têm direitos.
PRADEEP KHOSLA:
A pergunta sobre quais são as oportunidades que a UC San Diego tem
com respeito à tentativa de preservação da Amazônia e ao mesmo tempo
[ 111 ]
criar oportunidades para os cidadãos é desafiadora. É um debate filosófico
que acontece neste país toda hora. A floresta amazônica é um dos maiores
ecossistemas em termos de número de espécies. Um dos grandes projetos
que estamos trabalhando agora é chamado “drugs in the sea” [drogas no
mar] e ele envolve o entendimento da vida marinha, tanto dos mamíferos
quanto da flora, e também entender qual é a composição química e se
qualquer um deles pode curar doenças humanas. Nesse sentido, há uma
necessidade de pesquisa sobre o entendimento de quais são os produtos
naturais dessa floresta que possam ser colhidos de forma sustentável com
um impacto marginal sobre o meio ambiente e qual é o valor que esses
produtos colhidos podem proporcionar para a humanidade em geral.
O setor público, entretanto, inclusive as universidades públicas, têm
acesso a isso – dando uma brecha. Você pode investir em universidades
públicas para entender as capacidades e produtos que existem ali e que
podem ser colhidos de forma sustentável. Depois você pode criar uma política em que, uma vez identificados esses produtos, eles sejam transferidos
imediatamente para o interesse privado, exatamente como faz o governo
dos EUA. Fazendo isso, você ajuda cientistas a serem professores, pesquisadores e empreendedores – respeitando a vontade de seu governo enquanto
respeita as aspirações dos cidadãos em termos de ter uma qualidade de vida
melhor.
P) SENADOR JORGE VIANA:
Você enfatizou o fato de que onde a inovação e o desenvolvimento
foram bem-sucedidos nos EUA, sempre havia um importante centro de
conhecimento por perto. O modelo de inovação usado aqui na UC San
Diego foi bem sucedido, e nos últimos 50 anos, tornou-se uma referência
no mundo. Entretanto, dado o crescimento da população, o mundo não
suporta mais esse modelo de produção e consumo. Se fôssemos implantar
o padrão americano ao redor do mundo, o planeta deixaria de existir. No
Brasil, com o crescimento da população, enfrentamos significativos desafios
em termos de produção de alimentos e recursos naturais. Temos que nos
desenvolver enquanto mudamos o modelo de produção e consumo. Como
vocês estão lidando com essa transformação aqui, nos EUA? Quanto vocês
estão pensando sobre um modelo novo, inovador, que trará oportunidades
para os pobres, mas não representará um risco para o planeta?
[ 112 ]
PRADEEP KHOSLA:
Concordo – precisamos nos concentrar em sustentabilidade. Se não
podemos colher os recursos naturais de forma sustentável nessa terra, não
seremos capazes de cuidar dos sete bilhões de pessoas que temos.
Há duas coisas que a UC San Diego está fazendo a esse respeito. Primeiro, há um grande potencial na chamada co-inovação. Co-inovação significa pegar alguns dos melhores e mais brilhantes pensadores de um lugar
como a UC San Diego e conectá-los com os melhores e mais brilhantes
pensadores de países do terceiro mundo, que entendem a situação no país,
mas não têm acesso à melhor tecnologia disponível para resolver questões
urgentes. Um exemplo disso são aparelhos ortopédicos. Aldeões pobres
na Índia que entendem o material que eles têm disponível, em parceria
com estudantes americanos que entendem as propriedades e tecnologias
desses materiais, trabalharam juntos para criar um pé artificial que custa
20 dólares. Isso é co-inovação – isso explica porque a globalização é tão
importante. Reunir crianças da classe média e classe média baixa do Brasil,
Argentina, Índia ou China, com estudantes dos EUA e criar equipes que
entendem como resolver um problema usando produtos que estão disponíveis localmente é incrivelmente importante.
Um segundo componente é como as novas tecnologias perturbam os
ecossistemas existentes. Quando você desenvolve um aparelho ortopédico
de 20 dólares, é apenas uma questão de tempo até que um aparelho de
10 mil dólares nos EUA se torne inútil. Se isso ocorrer com frequência
suficiente e abrangência suficiente veremos a geração de conhecimento
sustentável, consumo sustentável de recursos, e aumento sustentável de padrão de vida.
[ 113 ]
[ 114 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
A Comercialização de
Pesquisa: Parcerias do Setor
Privado
JOSEPH PANETTA
Presidente, BIOCOM
CLAUDIO JOAZEIRO
Doutor & Professor Assistente, Departamento de Biologia Celular, The Scripps Research Institute
BRENT JACOBS
Diretor Executivo, X&W Global Life Sciences Practice Group
MAGDA MARQUET
Presidente do Conselho, BIOCOM; Co-fundadora, Althea Technologies
BRENT JACOBS:
S
ou corretor imobiliário e muitas vezes as pessoas se perguntam por
que estou envolvido na comunidade de ciências. Trinta e cinco anos
atrás trabalhei bem próximo de um arquiteto chamado Ken Kornberg, cujo pai ganhou o Prêmio Nobel de Química. Ele me motivou a
buscar mais instrução, especificamente nos campos da biologia e de ciências.
A verdade é – a comunidade científica precisa alinhar-se com a comunidade imobiliária ou a ciência não sairá da bancada em direção ao leito.
Há uma falta de conexão entre os dois mundos. No final dos anos 1970,
[ 115 ]
por exemplo, havia em torno de 30 empresas aqui em San Diego – a maioria vinda da academia; UCSD, Scripps, e o La Jolla Cancer Institute (atual
Sanford-Burnham). Quando empreendedores decidiram avançar na construção de novas empresas, eles tiveram que olhar para o setor imobiliário.
Eles sabiam muito pouco sobre como construir essas instituições, qual era
a infraestrutura, e quais eram as leis. Assim, um pequeno grupo que tinha
a formação necessária esteve bastante ocupado no início. Começamos a
observar que muitos desses prédios feitos por cientistas eram uma completa
bagunça. Eles não entendiam as leis, especialmente aquelas específicas de
infraestrutura onde havia produtos químicos. Muitos deles estavam comprando equipamentos usados na Home Depot.
Na verdade tivemos que reformar, demolir e reconstruir algumas dessas
instalações. À medida que mais e mais cientistas e dinheiro chegavam a
San Diego para construir essa indústria, parte da comunidade imobiliária
estava começando a se interessar por essa área. Primeiro, na maioria das
vezes, os cientistas estavam dispostos a pagar acima do preço de mercado.
Eles precisavam do espaço imediatamente e algumas vezes permitiam que
os senhorios recebessem ações das empresas ou garantias. Era um ganho
real para os senhorios até que começaram a perceber que muitas empresas
estavam transformando as estruturas em instalações especializadas, então se
eles fossem à falência, alugar novamente seria difícil. Houve uma rebelião
do setor imobiliária que acabou nos anos 1980, mas que depois retornou
quando empresas abertas, chamadas REITS (Real Estate Investment Trust),
baseadas em Wall Street, decidiram que havia um mercado aqui, e começaram a construir instalações.
No começo era muito mais uma tentativa apressada de montar alguma
coisa que se parecesse com um laboratório.
Mesmo com meus colegas da Hybritech, muitos erros foram cometidos
ao longo do caminho. Hoje finalmente superamos aquelas questões, e um
campo muito específico com pessoas altamente treinadas se desenvolveu.
Temos contadores, arquitetos, e projetistas especializados em laboratórios.
Há pessoas treinadas em produtos perigosos que lidam com licenciamento ou cancelamento de licenciamento radioativo, pessoas que trabalham
especificamente com HVAC, que é muito sofisticado e caro, bem como
diferentes grupos legais que escrevem contratos de locação.
Todas essas especialidades se reuniram e hoje temos uma indústria muito sofisticada. Além disso, em virtude de esses prédios serem tão caros,
temos empresas particulares de Wall Street financiando-os. Hoje eles estão
[ 116 ]
sendo construídos de uma forma que chamamos de genérica. Eles estão
sendo construídos com o que um laboratório típico precisa – espaço de
escritórios, química, biologia, um viveiro etc. Eles tentam construí-los de
uma forma que não é especializada demais. Se eles exigem especialização,
os próprios locatários têm que pagar pelas modificações ou acréscimos. No
total temos cerca de 1,7 milhões de metros quadrados de espaço de laboratório aqui em San Diego.
MAGDA MARQUET:
E
u gostaria de começar contando minha história porque acredito
que seja relevante já que sou uma empreendedora imigrante. Sou
de Andorra, um pequeno país com muito pouca biotecnologia. Estudei na França e depois mudei para a Califórnia com meu marido, que fazia seu pós-doutorado na UCSD na época. A razão porque permanecemos
aqui foi pelo ambiente em que os estrangeiros eram recebidos, recebiam
ajuda e tinham oportunidades.
Trabalhei para várias empresas na indústria, mas depois decidi abrir uma
empresa. Se você colocar isso em contexto, quantos países permitem que
um estrangeiro inicie uma nova empresa? Você vem de uma formação diferente, você tem poucos contatos, e ainda assim você é capaz de encontrar
pessoas que acreditam em você e investem em você. Essa parceria pertence
à cultura dessa região.
Criamos a Althea Technologies com o objetivo de ajudar empresas de
desenvolvimento de drogas a lançar seus produtos no mercado com mais
rapidez. Recentemente ela foi adquirida pela Ajinomoto, uma empresa
global japonesa. Mas manterá intactas suas operações e seus funcionários,
o que é bom para San Diego. Além da Althea Technologies, criamos uma
empresa no campo de “companion diagnostics” [método no qual se desenvolve o medicamento junto com teste diagnóstico que o valide]. Essa ideia
foi concebida em torno da nossa crença de que para conseguir obter os
melhores fármacos para o paciente certo, as áreas de diagnóstico e fármacos têm que dialogar. Também acreditamos firmemente que isso terá um
impacto enorme sobre o custo geral dos serviços de saúde.
Além dessas empresas, também começamos um pequeno fundo alguns
anos atrás para nos ajudar a investir em países pequenos. Conseguimos
começar nossa empresa porque empreendedores e investidores foram nos[ 117 ]
sos mentores e nos deram os fundos para isso, e estamos tentando fazer a
mesma coisa.
Se você olhar para o cenário de empresas em San Diego, há tanta diversidade e convergência. Por exemplo, durante os primeiros tempos da
BIOCOM o principal foco era no desenvolvimento de aparelhos para
desenvolvimento de drogas. Hoje, isso evoluiu e varia de bio-renováveis a
saúde eletrônica, uma convergência entre física e biologia.
Uma pergunta que eu gostaria de colocar é que tipo de aliança podemos fazer com o Brasil? Porque minha formação é como engenheira
bioquímica e porque trabalhei muitos anos com biológicos, acho que o
Brasil tem uma enorme oportunidade nesse campo.
Em termos de reproduzir o que temos em San Diego, é muito importante olhar para os conectores – as pessoas que possibilitaram que isso
acontecesse.
CLAUDIO JOAZEIRO:
S
ou da Bahia, Brasil, mas vim aos EUA para fazer meu doutorado,
depois de estudar na USP (Universidade de São Paulo), e fiquei aqui
desde então. Durante esse período tive experiência profissional na
indústria farmacêutica fazendo pesquisa e desenvolvimento de drogas para
a NOVARTIS. Atualmente sou professor no Scripps Research Institute.
Um dos meus sonhos é transformar cidades brasileiras em futuras San
Diego. Atualmente vou ao Brasil quatro a cinco vezes por ano, envolvido
com o governo federal, governos estaduais e a academia – compartilhando
experiências e conhecimentos que adquiri aqui e ajudando a formular
políticas públicas.
O modelo de pesquisa no Scripps é diferente do que é feito normalmente no Brasil. O Scripps é uma instituição privada sem fins lucrativos,
com mais de 200 professores, quatro dos quais ganhadores do Prêmio Nobel. Temos mais de 2.300 funcionários e somos quase que totalmente dedicados à pesquisa e empreendedorismo. Isso significa que como professor
não estou envolvido no ensino na graduação, o que me permite dedicar
mais tempo à pesquisa e transferência de tecnologia. Outro aspecto único do Scripps é que metade de nosso pessoal é formada por biólogos e a
outra metade por cientistas. Assim, logo que descubro um novo processo
biológico na célula, posso atravessar o corredor e consultar um químico,
[ 118 ]
que me ajudará a desenvolver uma molécula ou droga que possa modular
esse processo e no fim se transformar em uma droga.
Eu gostaria de falar sobre o ambiente de pesquisa e desenvolvimento de drogas no Brasil. Sem dúvida, vimos avanços e mais investimentos
nesse setor. Ainda assim é hora de perguntar – o que está faltando? Quais
elementos nessa infraestrutura ainda estão faltando no Brasil? O senador
Bauer mencionou a dificuldade de replicar o modelo de San Diego em
outros lugares. Concordo – acredito que precisamos de um modelo novo;
um modelo catalisador de desenvolvimento. O governo tem um importante papel a desempenhar como catalisador, que é bem diferente do modelo espontâneo que aconteceu aqui. Dentro desse modelo catalisador de
desenvolvimento, o governo tem o papel de desenvolver leis de propriedade intelectual, diminuir a burocracia envolvida nesse processo relacionado
com a forma como as empresas funcionam, estabelecer incentivos fiscais
e aumentar o investimento público. Tanto o governo federal quanto os
estaduais têm que ajudar a estabelecer a infraestrutura para a pesquisa acontecer bem como a criação de empresas.
Há dois elementos que exigem atenção especial. Primeiro, o componente científico. Não haverá inovação dentro de uma empresa se não houver uma forte presença científica. O Brasil avançou bastante nesse ponto.
Não tenho certeza se concordo que falta aos pesquisadores brasileiros o espírito empreendedor. Acredito que os cientistas brasileiros são tão voltados
aos negócios quanto nossos pares americanos. A aversão à riqueza não é
inexistente na academia americana.Talvez ela tenha apenas se tornado menos frequente, e isso pode ser atribuído a exemplos de sucesso. No Brasil,
há falta de alguns bons exemplos de sucesso. Outro aspecto importante é
o papel do setor privado no empreendedorismo. Nos EUA, quando tenho
um produto que quero levar ao mercado, o capital privado está imediatamente disponível. Muitas vezes, esse capital privado tem muito mais valor
porque o capital público tem pouco ou nenhum acompanhamento.
[ 119 ]
[ 120 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Abordagem Multidisciplinar
e Colaboração:Tendências
Futuras
LARRY SMARR
Diretor Fundador, California Institute for Telecommunications and Information Technology
KRISTIINA VUORI
Presidente e CEO interina, Sanford-Burnham Medical Research Institute; Presidente da
Cátedra Pauline and Stanley Foster; Professora
LARRY GOLDSTEIN
Professor Destacado, Depto. de Medicina Celular e Molecular & Depto. de Neurociências da Escola de Medicina da UCSD; Diretor, Programa de Células-tronco da UC
San Diego; Diretor Científico, Sanford Consortium for Regenerative Medicine; Diretor,
Centro Clínico de Células-tronco, Sanford
LARRY GOLDSTEIN:
M
udei para cá da Universidade Harvard onde eu era professor
titular, e uma das razões pelas quais mudei foi porque esse ambiente me chamou a atenção como construtivamente caótico,
onde se podia interagir e trabalhar com muitas pessoas diferentes fazendo
muitas coisas diferentes e onde havia um fluxo muito livre de ideias. Isso
normalmente não é verdade em organizações tradicionais como Harvard
e o MIT.
[ 121 ]
Outra razão pela qual mudei para a Califórnia foi porque há uma comunidade bastante ativa de capital de investimento e eu tinha me convencido de que os sistemas que havíamos estudado durante alguns anos que
são responsáveis pela movimentação de materiais no interior das células
seriam importantes drogas-alvo para câncer e doenças degenerativas como
ELA e Alzheimer.
Eu estava na Universidade da Califórnia San Diego havia dois anos
quando soube por um colega sobre uma colaboração interessante que ele
havia desenvolvido com um químico de produtos marinhos naturais no
Instituto Scripps de Oceanografia, estudando moléculas de organismos
marinhos estranhos que possuíam efeitos biológicos interessantes. Pensei
que pudesse entrar em contato com essa pessoa e poderíamos procurar
por químicos de aparência engraçada que poderiam ser proto-drogas que
focam nesses sistemas de movimento e estabelecer um portfolio de propriedade intelectual, necessário para atrair investimento, bem como iniciar
o tipo de infraestrutura necessária para começar uma empresa que procuraria drogas nessa área.
Então fiz contato com John Faulkner, um químico marinho que estava muito interessado na ideia de trabalharmos juntos. Ele nunca tinha
ouvido falar sobre mim ou meu trabalho, mas estava aberto a discutir o
assunto. Então convoquei John que começou a nos fornecer moléculas do
Pacífico Sul, particularmente esponjas. Eu tinha um estudante de graduação no meu laboratório desenvolvendo um ensaio bioquímico simples
de alta escala. Descobrimos uma classe de moléculas que tinham efeitos
interessantes nos sistemas que estávamos tentando analisar, e que levaram
ao estabelecimento de um portfolio de propriedade intelectual. As pequenas moléculas que identificamos eram alvos sintéticos razoáveis. Isso na
verdade é uma lição importante: o que você descobre na Amazônia não
tem que necessariamente ser colhido na Amazônia para sempre, porque os
modernos químicos orgânicos sintéticos são inacreditáveis na sua capacidade de sintetizar moléculas incrivelmente exóticas e complicadas. Então
esse é um modelo sustentável nesse sentido. O portfolio de propriedade
intelectual que reunimos atraiu cinco milhões, 15 milhões e depois mais
50 milhões em investimentos ao longo de alguns anos. Agora a empresa é
aberta com ações na NASDAQ. Em vários momentos ela empregou 100
ou 200 pessoas na Califórnia. A empresa é baseada em São Francisco e tem
drogas em avançados estudos clínicos para insuficiência cardíaca e ELA e
miastenia grave e acho que elas vão chegar ao mercado em breve.
[ 122 ]
O ponto que estou fazendo é que você realmente pode construir um
modelo baseado em plantas exóticas e vida animal que poderia ser transferível para a Amazônia.
A pergunta então é quais são os elementos-chaves necessários para algo
assim funcionar e porque funcionou aqui? Acho que não teria funcionado em Harvard ou qualquer outro lugar. Primeiro você tem que ter do
outro lado da linha alguém que queira conversar com você. Em muitas
instituições acadêmicas modernas se você liga para alguém de outro departamento, você tem que primeiro estabelecer uma série de coisas.Você tem
que estabelecer quem é o mais inteligente, quem tem o status mais alto e
quem é mais importante. O que faz as coisas funcionarem por aqui é que
as pessoas não têm uma visão exagerada de seu próprio status e valor. Em
segundo lugar, as pessoas têm que ter razoáveis habilidades de comunicação
para se envolver com pessoas de diferentes disciplinas. E terceiro você tem
que ter uma concentração adequada de diversidade de especialistas. O que
torna La Jolla muito especial é que em menos de 3 quilômetros quadrados
a concentração de talento científico é extraordinária. Ela excede Boston,
excede Nova York, e excede qualquer outro lugar no mundo. Isso é importante quando combinado com a capacidade das pessoas de se comunicar e
o interesse em se comunicar.
Meu quarto ponto é que você precisa de apoio Institucional para cruzar fronteiras. Parte do que John e eu fizemos foi acadêmico, parte foi
transferência de tecnologia e parte foi tentar lançar a ideia de propriedade
intelectual. Assim, você tem que trabalhar em um ambiente onde sua instituição não está colocando barreiras entre departamentos e escolas. John estava no Instituto Scripps de Oceanografia, que era uma unidade acadêmica
completamente diferente do meu departamento na escola de medicina.
Eu gostaria de fazer alguns comentários finais. Ao construir o Sanford
Consoritum of Regenerative Medicine, tentamos construir aquele tipo de
exemplo em uma escala muito maior; colaborações interdisciplinares, multinacionais e uma estrutura para dar suporte a elas em um novo prédio e
instituto. Uma das coisas que aprendemos ao reunir tudo isso foi que você
tem que escolher as pessoas certas. Não é apenas suficiente ser brilhante,
você também tem que ser alguém que, como acabei de mencionar, esteja
interessado em cooperar e colaborar e se comunicar.
Em um último comentário, acho que existe uma tendência no governo
de se pensar que o retorno em impostos pagos ao governo são o único
benefício financeiro. Gostaria de lembrá-los sobre o valor do conceito de
[ 123 ]
benefício indireto. Se seus cidadãos estão todos empregados e ganhando
dinheiro em empreendimentos que aumentem seu padrão de vida, então
você vai estar menos interessado em receitas com impostos. Então o conceito de benefício indireto nesses tipos de empreendimentos é realmente
importante quando você faz investimentos do governo em bem-estar social ou em programas científicos que beneficiarão o público. Outro ponto
é que, quando o governo tem uma quantidade de dinheiro, ele tem que
estabelecer sistemas competitivos baseados em mérito para garantir que
seus investimentos estejam sendo usados com sabedoria. Isso é algo que
tem sido muito importante na história da ciência nos Estados Unidos.
KRISTIINA VUORI:
E
u represento o Sanford-Burnham Medical Research Institute, um
instituto independente, sem fins lucrativos de pesquisa médica, e
nosso objetivo é estudar necessidades médicas não atendidas. Ser
um instituto independente de pesquisa médica implica que não somos
ligados a nenhuma universidade ou hospital e então não temos ensino de
graduação nem atendimento a pacientes. Isso nos permite ter uma missão
muito particular de como conduzir pesquisa médica. Também treinamos a
próxima geração de cientistas, os estudantes de pós-doutorado que vêm até
nós depois de seus cursos regulares. Temos cientistas de mais de 30 países
em nossos institutos.
O fato de sermos um instituto independente de pesquisa permite fazermos pesquisa de qualidade muito alta. Isso tem um preço, entretanto, e
é o fato de sermos um instituto de “uma verba só”. Temos que concorrer
por todo o nosso financiamento. Em torno de 80 por cento de nosso financiamento vêm de verbas federais pelas quais temos que competir, ou
verbas estaduais ou contratos, em torno de 20 por cento vêm de filantropia
e 10 por cento vêm de atividades de transferência de tecnologia. Recebemos nossas taxas de licenciamento, royalties, pagamentos de parcelas das
indústrias farmacêuticas. Assim, nosso modelo de financiamento é bastante
desafiador, mas também muito gratificante e muito empreendedor.
Outra capacidade única que temos é a descoberta e o desenvolvimento
de drogas. Somos como um híbrido entre uma universidade e uma empresa de biotecnologia ou farmacêutica. O benefício de estar em San Diego
é que o ambiente é bastante colaborativo nesse sentido. Trabalhamos com
[ 124 ]
a universidade, outros institutos de pesquisa, empresas de biotecnologia,
farmacêuticas, financiamento com capital de risco e investidores-anjos. San
Diego nos proporciona esse ecossistema único. Meu papel e o papel de
outros líderes nessas organizações é remover as barreiras para colaboração
e mantê-las longe de forma que as pessoas inteligentes possam levar suas
descobertas dos laboratórios para o mercado.
O modelo em San Diego na verdade tem sido tão bem-sucedido que
há uma tentativa de duplicar essa mesma atividade na Flórida. Em 2006,
o então governador Jeb Bush decidiu, em função de o estado da Flórida
ter um superávit financeiro, que ele queria energizar a economia através
de algo além do turismo, então ele escolheu a biotecnologia. Ele analisou
vários modelos e olhou para nós aqui em La Jolla e em San Diego e imaginou se seria possível fazer a mesma coisa na Flórida em um período de
tempo mais curto, com o governo estimulando o financiamento. Fomos
recrutados e agora somos uma organização que funciona nas duas costas,
também em Orlando, Flórida. Recebemos um pacote inicial de 300 milhões de dólares para estabelecer um instituto novinho em folha com o
objetivo de ter 300 investigadores em um período de 10 anos, tornando-nos autossuficientes após esse financiamento inicial do governo. Em outras palavras, alcançar a mesma capacidade que temos aqui para competir
por verbas oficiais, atrair filantropia e obter descobertas em número suficiente sendo levadas para o setor privado para termos a receita em forma
de royalties e pagamentos parcelados. Além disso, nosso objetivo é servir
como âncora para uma cidade médica maior que atrairia hospitais, empresas de biotecnologia, e financiamentos com capitais de risco para Orlando.
Nossos esforços começaram em 2007 e ainda são uma obra em progresso.
LARRY SMARR:
O
Instituto de Telecomunicações e Tecnologia da Informação da
Califórnia (CalIT2) foi chamado pelo governador da Califórnia. Naquela época tínhamos superávit tanto no âmbito federal
quanto estadual e o governador estava tentando descobrir como investir
esse dinheiro. Ele mudou seu foco para a Universidade da Califórnia e
percebeu que, de certa forma, havíamos investido demais em indivíduos
do corpo docente e investido de menos na capacidade de criar equipes
colaborativas que atacariam os problemas reais da Califórnia. Depois ele
[ 125 ]
pediu para o presidente da Universidade da Califórnia, Dick Atkinson, fazer uma competição para criar o que depois se tornaram quatro institutos
com temas diferentes, dos quais nós somos um. Nosso tema é a mudança
exponencial contínua na tecnologia da informação e nanotecnologia e
como isso irá transformar a saúde, o meio ambiente, a energia e a cultura.
O modelo em funcionamento é estrutural. A vertical é formada pelos
professores, o departamento, a escola e o campus. Criamos uma estrutura
horizontal para permitir que se formem parcerias. Encontramos maneiras
para que o químico, o médico e o matemático se juntem e formem uma
equipe, e particularmente, fazemos isso de um jeito que envolva as empresas, tanto as pequenas (startups) quanto as grandes (Ericsson). No nosso
prédio temos instalações para visualização, realidade virtual, nanotecnologia e espaços onde você pode executar projetos multidisciplinares.
Aproximadamente 80 por cento do dinheiro que arrecadamos vêm do
governo federal. Esse é o motor dos Estados Unidos que torna a inovação
continuadamente possível. Mas também ganhamos entre 600 e 800 verbas,
trabalhamos com 300 empresas e trabalhamos com vários departamentos
e professores entre a UC San Diego e a UC Irvine. Muito do que usamos
são redes ópticas para facilitar esse tipo de colaboração à distância.
Além disso, muitos de nossos projetos têm parceiros internacionais, entre eles o Brasil. Por exemplo, montamos uma parceria público-privada
com o surgimento do cinema digital. Tínhamos aproximadamente 100
anos de filmes em película, e nos últimos dez anos, foi tudo transformado
em digital. Agora, na verdade, as empresas que faziam película, como a
Kodak, deixaram de existir. Então reunimos os estúdios de Hollywood e as
universidades que estudam cinema em uma parceria chamada CineGrid.
Desde o início, no entanto, fizemos um projeto internacional, incluindo
universidades ao redor do mundo. Montamos uma demonstração de cinema digital em São Paulo, Brasil, e a estreia foi mundial, com uma plateia
em San Diego e no Japão. Foi a primeira estreia em três continentes de um
filme em redes digitais.
Essa noção de que vivemos em uma tecnologia global de inovação é
importante. Temos que encontrar formas de estabelecer parcerias não apenas entre nossos próprios campi, na comunidade, na indústria, mas também
globalmente. Quase todo projeto de grande porte da CalIT2 tem parceiros
internacionais agora. Isso é o futuro.
[ 126 ]
P) QUANDO VOCÊ OLHA PARA FORA
DOS EUA, ESPECIALMENTE PARA
OS MERCADOS EMERGENTES, QUE
TIPO DE PAÍS VOCÊ ACHA QUE ESTÁ
TRABALHANDO BEM EM INOVAÇÃO,
ESPECIFICAMENTE EM CIÊNCIAS DA
VIDA, E POR QUÊ?
KRISTIINA VUORI:
De maneira bem abrangente, embora meu conhecimento seja mais sobre a América do Norte e a Europa, acho que os lugares onde o apoio à
inovação funciona melhor são aqueles onde o governo entende seu principal papel como catalisador da inovação. Uma vez que chega a alguma coisa
além da atividade catalisadora, é muito difícil sustentar a inovação apenas
com recursos do governo. Tem que haver outros parceiros e participantes no processo inclusive assumindo riscos de avançar com as descobertas.
Acho que a Europa fez isso muito bem, mas tem sido um processo de pensamento com muitos governos se reunindo dentro do contexto da UE. O
Brasil provavelmente é um país grande suficiente para catalisar as coisas por
si só, mas, de novo, a pergunta é quais são as prioridades nacionais?
P) TENHO UMA PERGUNTA PARA LARRY
SMARR SOBRE O CALIT2 E AS REDES
DE BANDA LARGA. A PRESIDENTE DO
BRASIL DILMA ROUSSEFF FALOU SOBRE
O DESEJO DO PAÍS DE TER CONEXÕES
DE BANDA LARGA, MAS PELO QUE EU
ENTENDO O BRASIL É MUITO ISOLADO
DA REDE EXISTENTE QUE VOCÊ
MENCIONOU ANTERIORMENTE. VOCÊ
PODE EXPLICAR UM POUCO MAIS?
LARRY SMARR:
O que eu discuti anteriormente foram as redes ópticas dedicadas a
grandes quantidades de dados, não a Internet compartilhada. Na verdade,
a maior fonte de Tweets vem da Indonésia. A Internet compartilhada é
[ 127 ]
muito mais. Mas no nível de pesquisa, ser capaz de trabalhar com aproximadamente 1000 vezes a largura da banda é o que eu me referia em termos
de redes ópticas. Por serem redes internacionais, você tem que ter ambos
os países participando para que funcione. Essencialmente, qualquer país
pode participar, mas tem que haver um desejo nacional para se conectar a
essa atividade de pesquisa de big data. Não há conexões para a África. Isso
está mudando por causa do telescópio Square Kilometer Array, que ficará
parcialmente na Austrália e parcialmente na África do Sul e outros países
no sul da África. O Brasil tem sido o melhor país da América Latina em se
envolver com essa rede óptica. Trabalhei sete anos para tentar fazer a primeira conexão com o México e isso aconteceu recentemente, enquanto
o Brasil já está lá há vários anos. Eu vejo o Brasil como um dos líderes internacionais em entender a importância de os pesquisadores serem capazes
de ter acesso aos big data seja lá onde forem gerados no mundo e seja lá
com quais colaboradores eles precisarem, quando precisarem. Eu apenas os
incentivo a manter essa liderança.
LARRY GOLDSTEIN:
Historicamente, a Internet em si começou como uma atividade muito
especializada em defesa, informática e pesquisa, e depois ela possibilitou todos esses outros usos. Pode-se especular que ao longo dos próximos cinco a
20 anos alguém irá descobrir um novo uso inovador para esse fluxo de big
data que não previmos, e ele será influenciado socialmente.
LARRY SMARR:
No Japão, por exemplo, existem cerca de 12 a 15 milhões de domicílios
que têm essa fibra óptica diretamente em casa, o que significa que eles têm
capacidade de um bilhão de bits por segundo, enquanto os domicílios na
América têm sorte se conseguirem mais do que alguns milhões de bits por
segundo. O Google, como vocês devem saber, colocou esse tipo de fibra
óptica em todas as casas em Kansas City, então podemos começar a ver esse
próximo nível de inovação.
CHARLES SHAPIRO:
Eu gostaria de continuar seu comentário sobre redes ópticas.Você falou
que o país do outro lado tem que querer participar da rede.Você quer dizer
o governo, ou as instituições de pesquisa, as empresas etc.?
[ 128 ]
LARRY SMARR:
Isso é liderado pelos pesquisadores que querem se juntar como pares
nesse grupo internacional de pesquisadores, mas é geralmente o governo
que financia a conexão com a rede óptica. Então, por exemplo, se fosse
entre o Brasil e os EUA, o Brasil financiaria metade e os EUA financiariam
a outra metade do custo do cabo submarino.
[ 129 ]
[ 130 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Cooperação Brasil-EUA em
Inovação: Biologia Sintética, A
Nova Fronteira para Inovação:
Da Luta Contra a Malária à
Produção da Segunda Geração
de Biocombustíveis
TODD KUIKEN
Assistente de Pesquisa, Projeto sobre Nanotecnologias Emergentes
O
que é “biologia sintética”? Trata-se de uma forma emergente de
bioengenharia, o projeto e a construção de novas peças, aparelhos ou sistemas biológicos.Você pode pensar na biologia sintética como uma derivação da engenharia genética, onde você agora é capaz
de criar novas cepas de DNA geneticamente, pegar diferentes componentes de cepa de DNA e reuni-los de diferentes formas para fazer certas coisas no interior de uma célula viva. O princípio básico é que ele combina
ciência e engenharia para projetar novas funções e sistemas biológicos. Isso
derivou do campo da engenharia. Muitos dos pioneiros nesse campo não
eram biólogos; na verdade eram engenheiros de computação que olharam
para os sistemas biológicos e disseram, “Uau, isso funciona como um sistema de computador, e achamos que podemos redesenhar essas coisas com
base nessas ideias.”
Jay Keasling, um dos primeiros líderes no campo da biologia sintética,
dá uma boa explicação sobre o que estão fazendo. Ele disse “Minha ideia
de biologia sintética é que é a industrialização da biotecnologia. Ela está
fazendo pela biologia e biotecnologia o que outras disciplinas da engenha[ 131 ]
ria fizeram por outros campos: o desenvolvimento de componentes padronizados que são bem caraterizados, que podem ser montados para fazer
um aparelho que irá desempenhar determinada tarefa… A biotecnologia,
da forma com tem sido praticada, tem sido uma série de exclusividades.
Se você olha para todo tipo de novo projeto que aparece em biologia
sintética, ele tende a ser exclusivo naquilo. Não temos componentes padronizados que saem daí, que podem ser usados para o próximo projeto. O
resultado disso é que a biotecnologia ainda é uma disciplina bastante cara
para se trabalhar. É preciso ter bastante pessoal para fazer biotecnologia.
Temos que percorrer o ambiente de patentes porque a biotecnologia derivou basicamente da indústria farmacêutica onde você patenteia, mantém
aquelas patentes com exclusividade e não as compartilha; isso não leva
necessariamente aos tipos de compartilhamento que queremos ter. Mesmo
alguns dos menores, mais triviais, mas mais úteis componentes são patenteados, o que significa que não podem ser usados em importantes aplicações
como produzir um biocombustível de baixo custo ou droga de baixo custo
para o mundo em desenvolvimento.”
Ano passado, quisemos ver quanto o governo dos EUA estava realmente gastando do ponto de vista de pesquisa no campo da biologia sintética
[veja gráfico].
Voltamos até 2005. Em 2008 os números aumentaram bem rápido.
Chega a 260 milhões de dólares por ano o que estão gastando em P&D. A
Total de Fundos dos EUA e da Europa
(apenas aprox. 2% para estudos sobre implicações)
[ 132 ]
maior parte do dinheiro vinha do Departamento de Energia, e o dinheiro
ia direto para a pesquisa de biocombustível. O que era interessante, entretanto, era que uma pequena parte disso e apenas dois por cento do total
iam para a “pesquisa de implicações” – as implicações ambientais do que
poderia potencialmente acontecer usando essas tecnologias e as implicações sociais do que essas novas tecnologias iam produzir.
Meu trabalho no Projeto de Biologia Sintética no Wilson Center envolve monitorar indústrias, universidade e outros atores, como empresas
que também se arriscaram nesse campo. Poderia se dizer que elas entram
em algumas categorias diferentes. Uma das principais é a de biocombustíveis; a outra é o sequenciamento do DNA, que foi o que possibilitou o surgimento da biologia sintética, de forma que os custos de sequenciamento
de DNA caíram rapidamente. Outra nota interessante é que a Monsanto,
uma empresa agrícola, recentemente também financiou esse campo, para
ver se os seus fertilizantes e sementes podem ser desenvolvidos usando essa
técnica ou não.
Em maio de 2010, o laboratório de Craig Venter anunciou que eles haviam feito uma bactéria que tem um genoma artificial, basicamente criando um ser vivo sem ancestrais. Essa história foi capa da The Economist, que
destacou que os computadores e os humanos estão agora representando
Deus. A questão não é se eles realmente criaram vida ou não; a maioria das
pessoas diria que não. O que eles fizeram foi absolutamente extraordinário. Pela primeira vez, eles criaram sinteticamente uma sequência inteira
de DNA. Eles pegaram aquela sequência e a inseriram em uma célula de
uma bactéria. Aquela célula então acolheu o novo código daquele DNA
e começou a se replicar. Então você quase pode pensar nisso como uma
inseminação artificial, onde eles pegaram o código da vida, inseriram-no
em uma casa e depois aquela célula bacteriana pegou aquele novo DNA,
começou a se replicar e criou a nova forma que eles haviam sequenciado. É
um feito extraordinário. Isso terá implicações importantes para esse campo.
Acho que a imprensa e outras pessoas ficaram confusas com a ideia de
que eles criaram uma nova forma de vida, que não é exatamente o que
eles fizeram. Com base nisso, o presidente dos EUA criou uma comissão
de bioética para cuidar de uma enorme gama de questões éticas. Quando
Venter fez o seu anúncio, ele formou sua comissão de bioética para cuidar
diretamente da biologia sintética. Eles tiveram em torno de seis meses de
tempo para apresentar recomendações para o presidente sobre esse novo
campo de biologia sintética que surgia. Quero me concentrar em algumas
[ 133 ]
dessas coisas: revisão da análise de risco e análise de diferenças nas práticas
de avaliação de risco, contenção de monitoramento, e análises de risco. Essas coisas são importantes porque estamos começando a lidar com entidades biológicas. Eles podem ser criados sinteticamente, mas descobrir o que
acontece quando eles são colocados no meio ambiente será um aspecto
importante à medida que esse campo se desenvolve.
Algumas das outras questões que a comissão recomendou é que haja
uma coordenação internacional e diálogo à medida que esse campo cresce.
Formação ética, que também estamos avaliando, é uma questão interessante. Uma das coisas que estamos fazendo é tentar descobrir como mudar o
currículo em uma disciplina de engenharia para começar a pensar sobre
as questões éticas envolvidas na biologia sintética, se você realmente está
criando ou redesenhando organismos vivos. O campo da engenharia em si
tem um curso de ética, mas ele não envolve nada associado com as questões
associadas com biologia.
Dois anos atrás, preparamos um relatório sobre questões éticas em biologia sintética e concluímos que definitivamente aparecerão algumas preocupações éticas relativas à biologia sintética. Elas podem ser divididas em
duas categorias: danos físicos e danos não físicos. Danos físicos são os danos
ambientais, danos em segurança de saúde e danos de proteção; e os danos não físicos são suas preocupações morais e sociais – dentro disso você
pode adotar uma abordagem preventiva ou a abordagem do princípio de
prevenção. Entretanto você terá que definir isso, ou ainda uma abordagem
mais proativa; se você quer lidar com esses assuntos com antecedência ou à
medida que a tecnologia evolui.
O que queremos dizer com esses danos não físicos? Fizemos algumas
perguntas que achamos importantes em relação a esse assunto, e uma é:
Como você distribui as ferramentas necessárias para fazer biologia sintética? Você precisa distribuir a tecnologia para países ao redor do mundo
que podem não ter os recursos para fazer essa tecnologia imediatamente?
Como você distribui os benefícios? Quem irá receber os benefícios de
algumas dessas tecnologias à medida que elas se desenvolvem? Você adota
um modelo, como a Amyris fez, em que de certa forma eles estão dando de
graça a tecnologia em forma de drogas contra a malária para os países em
desenvolvimento, ou você patenteia tudo e assim você pode manter todo o
dinheiro no país ou na empresa que desenvolveu a tecnologia?
Qual é a atitude adequada a ser adotada por nós e em relação ao resto
do mundo? Quais são os benefícios que terei com essa tecnologia e quais
[ 134 ]
são os benefícios para a sociedade como um todo? Realizamos uma série
de grupos de discussão sobre esses assuntos da biologia sintética e perguntamos às pessoas qual é sua reação a essas tecnologias. Interessante é quando
você pergunta se em geral elas se sentem confortáveis com essa tecnologia,
e elas relutam. Mas quando você vai um pouco mais fundo e pergunta
“Como você se sentiria se eu dissesse que essa tecnologia tem o potencial
de curar uma doença específica como câncer?” Elas ficam bem mais confortáveis com a tecnologia.
Isso nos leva à questão de “qual é o benefício para mim e qual é o
benefício para o restante do mundo natural?” Depois você tem as preocupações morais e religiosas. Quando você começa a falar sobre criar nova
vida e redesenhar o que já está por aí, isso definitivamente levanta algumas
preocupações morais e religiosas. O que achei interessante sobre o anúncio
de Craig Venter é que a comunidade religiosa de certa forma adotou um
papel bastante passivo e não vimos muitas objeções. Agora isso pode mudar
à medida que mais disso se desenvolve e você realmente começa a ver mais
formas de vida sintética sendo criadas, mas teremos que esperar e ver como
isso se desenvolve.
Alguns dos danos físicos são em larga medida questões de segurança e
proteção, em relação à saúde ambiental do que acontece com os organismos sintéticos e suas interações com o meio ambiente natural. Qual é o
[efeito disso sobre] a vida humana? Qual é a exposição dos humanos a esses
novos organismos sintéticos que estão aí? Depois você tem preocupações
de biossegurança de que essa tecnologia poderia cair em mãos erradas e
elas poderiam, vamos dizer, criar um vírus Ebola sinteticamente, ou poderiam recriar um vírus antraz. Todas essas questões devem ser abordadas à
medida que a tecnologia se desenvolve.
Eu gostaria de ir um pouco mais fundo nas implicações ambientais. Eu
sou um cientista ambiental por formação, e essa é minha principal área de
atenção. Uma das coisas que descobrimos é que faltam análises de risco
ecológico do ponto de vista da biologia sintética. O que quero dizer com
análise de risco ecológico? Quais são as implicações do que vai acontecer
se esses organismos forem liberados intencionalmente ou se forem liberados acidentalmente? As implicações da biologia sintética são amplas, então
você tem que assumir que muitos desses organismos irão escapar. O que
isso significa quando eles entram no meio ambiente natural? Eles vão interagir com os organismos naturais nos quais eles são livremente baseados?
Esses organismos irão captar as novas sequências de DNA que foram inse[ 135 ]
ridas nesses organismos? O que se ouve muito de alguns dos praticantes é
que eles desenharam o que chamam de “kill switches”. Isso significa basicamente que o organismo foi projetado para se autodestruir uma vez que
entra no meio ambiente para o qual foi especificamente criado para viver.
Isso foi feito por duas razões. Uma foi pelas implicações ambientais de
forma que essas coisas se autodestruiriam se entrassem no meio ambiente
natural. A outra é do ponto de vista da propriedade intelectual. Se você
está pensando em biocombustíveis, por exemplo, e você está criando essas
algas em um tanque; então vem alguém e pega uma porção delas. Eles
podem levá-las e criá-las para si mesmos. Essencialmente, elas devem se
autodestruir se isso acontecer. Há alguma preocupação com isso porque a
biologia sintética é diferente do ponto de vista ambiental. Se você analisar
pelo lado da química sintética, onde há fertilizantes e pesticidas, quando
esses químicos são liberados ou se há um vazamento químico, você pode
recuperá-los porque realmente há algo na água que você pode retirar ou tirar do ar. Agora estamos falando de organismos biológicos reais, e o que eu
acho que a história nos mostrou é que os organismos biológicos tendem a
tentar viver. Eles realmente não querem morrer. Apesar de todos os nossos
melhores esforços para controlá-los ou matá-los, não somos muito bons
nisso. Então isso é algo que se deve olhar com muita atenção quando você
está falando de um organismo biológico que tem o potencial de escapar e
depois cair no mundo natural e interagir com outros organismos.
Há muitas ideias sobre biologia sintética, e nem todas são positivas.
Vou mencionar dois relatórios: “Synthetic Solutions to the Climate Crisis:
The Dangers of Synthetics Biology for Biofuels Production” [Soluções
Sintéticas para a Crise do Clima: Os Perigos da Biologia Sintética para a
Produção de Biocombustíveis], do Friends from the Earth, e o “The New
Biomassters: Synthetic Biology and the Next Assault on Biodiversity and
Livelihoods” [Os Novos Mestres Biológicos: Biologia Sintética e o Próximo Ataque à Biodiversidade e Seres Vivos], do Grupo Et Cetera. Apesar
de terem a tendência de ser ambientalmente mais radicais, esses grupos
na verdade levantam algumas ideias interessantes sobre biologia sintética,
particularmente no domínio dos biocombustíveis e usando técnicas de
biologia sintética para desenvolver novos medicamentos. Eles estão preocupados com questões de apropriações. O que significa se agora mudarmos
de petróleo em larga escala para agricultura em larga escala? Vocês vão
desapropriar agricultores usando essas novas técnicas? Vocês vão colocar
outras pessoas para trabalhar usando essa nova tecnologia? Eu queria falar
[ 136 ]
disso para que as pessoas saibam que há outras ideias por aí e nem todas são
positivas, e esses grupos tendem a ter bastante força.
Eles podem perturbar uma indústria inteira, uma tecnologia inteira, se
o público a rejeitar. Se você olhar para trás e analisar o que ocorreu com
o debate sobre os organismos geneticamente modificados, alimentos e safras OGM, muito daquilo tinha que ver com essas duas organizações que
convenceram o público, particularmente na Europa, a rejeitar a tecnologia.
Isso teve um enorme impacto sobre os agricultores americanos porque eles
não podem vender suas safras na Europa, por exemplo. Então o público e
a sociedade têm um grande papel nessas novas tecnologias em relação a
aceitá-las ou não. A tecnologia pode ter grandes benefícios potenciais, mas
se o público rejeitá-la será inútil.
Quero falar agora sobre o movimento DIYbio (“Do-it-yourself-biology”).É um fenômeno interessante que está crescendo ao mesmo
tempo em que a biologia sintética cresce. Esse é um grupo fundado há
dois ou três anos para ajudar a organizar os esforços de biólogos amadores,
“cidadãos cientistas” e outros praticantes não tradicionais de biologia em
todo o mundo. No site deles você pode ver um mapa de alguns dos vários grupos. Basicamente eles estão começando a adotar diferentes práticas
como o sequenciamento do genoma e engenharia biológica que antes era
acessível apenas nas instituições. Muito disso tem que ver com a queda no
preço do sequenciamento do DNA, que permitiu que pessoas que não sejam estudantes de doutorado entrem nesse campo. Por exemplo, em 2008
havia dois membros, os dois fundadores desse grupo. Dois anos depois, há
mais de 2 mil pessoas nas suas listas, que se autodenominam amadores ou
“cidadãos cientistas”. Há 20 grupos regionais. Eles estão em todo o mundo.
Acredito que há dois localizados no Brasil.
Outro fenômeno que se desenvolveu a partir disso são os chamados
laboratórios comunitários. O primeiro, um laboratório de biotecnologia
funcionando perfeitamente chamado Genspace abriu recentemente no
Brooklin em dezembro. Você pode pensar nisso quase como ser sócio de
uma academia de ginástica, onde você paga uma taxa mensal, e você pode
frequentar esse lugar onde há vários equipamentos de laboratório e fazer
seus próprios experimentos fora de uma universidade ou laboratório de
empresa tradicional. Uma mulher em Boston basicamente sequenciou seu
próprio DNA no quarto de sua casa para saber se ela tinha o promotor
que iria expressar a potencial doença que existe na sua família. Você tem
outras pessoas trabalhando com bactérias de iogurte para lhe dizer se seu
[ 137 ]
iogurte está contaminado. E tem uma startup criada por dois estudantes de
doutorado na Universidade de Michigan. Eles levantaram dinheiro em um
site chamado KickStarter, que é basicamente uma crowdsourcing [técnica
de financiamento coletivo por meio de sites na Internet] para levantar dinheiro, e eles estão enviando kits de biotecnologia para escolas de ensino
médio que não têm essa disciplina, para inspirá-las a trabalhar nesse campo.
Como vocês podem imaginar, há algumas questões bastante significativas em termos de biossegurança e bioproteção associadas com esse movimento. No Wilson Center, fizemos uma parceria com o DYIbio para tentar reunir informações e estabelecer alguns padrões para esse movimento
de forma que eles possam fazer essas coisas de forma segura. Muitas pessoas
envolvidas nisso não são biólogas por formação; não são treinadas em práticas de laboratório; e elas podem não saber o que estão realmente fazendo
ou jogando fora quando terminam a atividade.
Concluo minha apresentação com a competição iGEM, que é a competição International Genetically Engineered Machine. Isso começou no
MIT em 2004, acho, e basicamente, no início do verão, as equipes de
estudantes de graduação recebem um kit com partes biológicas. As partes
biológicas são aquelas peças de DNA que mencionamos anteriormente e
que você monta de diferentes formas para fazer as coisas fazerem coisas, ou
fazê-las fazer coisas diferentes. Eles trabalham na escola durante o verão e
projetam novas partes para construir sistemas biológicos e depois operá-los
no interior de células vivas. Em 2004 havia cinco equipes de cinco escolas,
e era localizado apenas nos EUA. Seis anos depois, eram 130 equipes representando todos os continentes ao redor do mundo. Sou juiz no iGEM.
Julgo os aspectos de saúde ambiental e segurança de todos os projetos das
equipes.
Em 2009, a equipe do Brasil ganhou uma medalha de ouro pelo seu
projeto. É importante que eles tenham condições de receber financiamento porque é dessa forma que você está criando seus cientistas do futuro
nesse novo campo de biologia sintética. Dessa competição já saíram duas
empresas que se formaram diretamente como resultado do trabalho dessas
equipes da graduação. Eles mesmos fazem todo o trabalho durante um período de aproximadamente três meses. Então eu só gostaria de deixar isso
para vocês. Isso foi em 2009. Eles não tiveram uma equipe em 2010, mas
esse ano eles têm, o Brasil tem uma nova equipe da mesma universidade.
Na verdade eles fizeram uma parceria com uma universidade na França.Vai
ser interessante ver o que vai ser desenvolvido por dois países de duas re[ 138 ]
giões diferentes do mundo. Essa competição é uma forma de você formar
novos cientistas a partir de seus próprios países, que depois podem ir para
as indústrias ou para o sistema universitário e ensinar ciência. É algo que
vocês podem prestar atenção. É fácil de financiar. Esses projetos não custam
muito caro e acho que têm um retorno enorme no futuro.
[ 139 ]
[ 140 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
A Liderança em Biologia
Sintética no Brasil
JOEL VELASCO
Vice-Presidente Sênior, Amyris
A
Amyris é uma empresa de produtos renováveis que está aplicando sua plataforma de tecnologia de biologia sintética industrial
para fornecer alternativas sustentáveis para determinados produtos
derivados de petróleo usados nos mercados de especialidades químicas e
combustível para transporte. A empresa trabalha microrganismos, principalmente levedura, e os usa como fábricas vivas em processos de fermentação estabelecidos para converter açúcares vegetais em milhares de moléculas potenciais. De modo simples, a Amyris modificou a mesma levedura
usada para converter cana-de-açúcar em etanol no Brasil para produzir
moléculas de hidrocarboneto com maior valor agregado. Ela decidiu concentrar sua produção no Brasil – principalmente em São Paulo – porque
o país ocupa uma posição de liderança como um dos maiores produtores
de matéria-prima renovável e sustentável, bem como sua abertura para
tecnologias inovadoras de bioenergia.
LIDANDO COM A MALÁRIA
Apesar do foco comercial da Amyris ser o desenvolvimento de combustíveis e químicos renováveis, sua primeira inovação veio em 2005 através do desenvolvimento de uma tecnologia para produzir o ácido artemisínico, um precursor da artemisinina, uma terapia de combate à malária. A
artemisinina é parte de um tratamento altamente eficaz para pacientes com
malária. Os pacientes tomam o tratamento combinado baseado em artemisinina, ou ACT, após terem contraído malária. A malária é uma doença
que pode ser prevenida, curável que tira a vida de mais de um milhão de
[ 141 ]
pessoas por ano. Apenas na África, a malária é responsável por 20% de todas
as mortes infantis, matando 2.000 crianças todos os dias.
Diferentemente de uma vacina que ainda vai demorar anos, a artemisinina já está disponível hoje, embora não em quantidade suficiente. A
incerteza no suprimento de artemisinina, que até agora tem sido derivada
de uma fonte vegetal, a artemisia annua, provoca uma significativa crise de
saúde pública à medida que milhões são acometidos por malária todos os
anos.
Em reconhecimento a esse desafio, a Fundação Bill & Melinda Gates fez uma doação para alavancar a biologia sintética para convertes açúcares vegetais, como os encontrados na cana-de-açúcar, em uma versão
semissintética de artemisinina que poderia aliviar os fabricantes de ACT
da dependência de matéria-prima vegetal e a exposição ao imprevistos
associados com a época da safra. Em 2008, com a comprovação de que a
tecnologia funciona em laboratório, a Amyris fez um acordo para licenciar
nossas cepas de levedura para a produção de ácido artemisínico com a
Sanofi-Aventis, livre de royalties, para fins de produção e comercialização
de drogas baseadas em artemisinina para o tratamento de malária.
Com a tecnologia comprovada e nosso compromisso compartilhado
com nossos parceiros para assegurar que a droga da malária estará disponível para todos os que precisarem dela, a Amyris voltou seu foco para
a produção de químicos e combustíveis renováveis. Agora a Amyris está
empregando ciência inspirada para reduzir a dependência do mundo de
combustíveis fósseis.
SUSTENTABILIDADE = DESEMPENHO
Antes da Amyris, escolher um produto sustentável exigia que os consumidores fizessem uma troca. Na maioria das vezes, eles abriam mão de
desempenho. Alavancando sua plataforma de biologia sintética industrial,
a Amyris está otimizada para oferecer soluções de alto desempenho para
aqueles que buscam alternativas sustentáveis aos combustíveis e químicos
derivados de petróleo.
O primeiro foco comercial da Amyris tem sido a produção de farneseno. Por que farneseno? Porque farneseno é uma molécula de carbono
15 que, com modificações mínimas, pode ser adaptada com flexibilidade
para servir como alternativa a produtos derivados de óleo fóssil em uma
série de mercados. O Biofene®, marca de farneseno renovável da Amyris,
[ 142 ]
pode ser usado na sua forma original ou modificado para fornecer outros
ingredientes renováveis para seis mercados nos quais a empresa está se concentrando: cosméticos, aromatizantes e fragrâncias, lubrificantes industriais,
plásticos e polímeros, produtos de consumo e combustíveis de transporte
como diesel e para aviação.
Outro aspecto atraente do farneseno renovável da Amyris é que podemos usar a cana-de-açúcar como matéria-prima. Apesar de a plataforma da
Amyris poder trabalhar com vários açúcares de origem vegetal, a empresa está focada na cana-de-açúcar brasileira em seus esforços de produção
devido à sua abundância, baixo custo e preços relativamente estáveis. A
cana-de-açúcar é a planta mais eficiente em termos de fotossíntese para
converter luz solar, carbono e água em energia armazenada na forma de
açúcares. E finalmente, claro, hidrocarbonetos oferecem uma série de vantagens interessantes quando comparados com combustíveis fósseis. É biodegradável. Não produz enxofre e tem emissões significativamente mais
baixas do que petróleo. Melhor do que tudo, diferentemente do suprimento finito de combustíveis fósseis, estamos fazendo produtos renováveis
a partir de matéria-prima produzida de forma sustentável.
FAZENDO ACONTECER
A Amyris produz hidrocarboneto renovável aplicando sua plataforma
proprietária de biologia sintética industrial para modificar geneticamente
microrganismos – principalmente levedura – para funcionar como fábricas
vivas. Após a extração de açúcar da cana-de-açúcar em uma usina tradicional, a Amyris emprega um processo de fermentação que usa a cepa de
levedura modificada para converter o açúcar em moléculas-alvo – atualmente é farneseno, mas podem ser outros hidrocarbonetos como isopreno.
Nos últimos anos, a Amyris conseguiu um marcante progresso em termos de tecnologias para lidar com alguns dos principais desafios do mundo.
Atualmente a empresa está produzindo em três locais em três continentes.
Duas fábricas em escala industrial estão sendo construídas no Brasil, onde
estão localizados aproximadamente um quarto dos funcionários da Amyris
e sua fábrica de demonstração de última geração. Nos próximos anos, a
empresa espera continuar seu acelerado crescimento e inovação tanto nos
Estados Unidos quanto no Brasil.
Em um mundo com recursos finitos, temos que resolver os problemas
com soluções que sejam tanto renováveis quanto sustentáveis. A Amyris
[ 143 ]
está comprometida com esse desafio com soluções que não comprometam
o desempenho, acessibilidade e disponibilidade.
[ 144 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Colaboração Brasil-EUA:
Uma Perspectiva do Setor
Privado
CHAD EVANS
Vice-Presidente Sênior, Council on Competitiveness
O
Council on Competitiveness tem um relacionamento com o
Brasil há bastante tempo com alguns parceiros sobre os quais
falarei. Somos uma organização sem fins lucrativos, apartidário,
baseado em Washington, D.C. Nossa missão é muito simples: defender políticas e atividades que promovam o crescimento da produtividade nos
EUA, crescimento do padrão de vida do americano médio e o sucesso dos
produtos e serviços nos mercados globais.
Em 2004 recebemos a visita de Jorge Gerdau, presidente fundador de
uma organização muito semelhante ao nosso próprio Council on Competitiveness. Ele nos desafiou a pensar como poderíamos fazer uma parceria
com o MBC (Movimento Brasil Competitivo) no desenvolvimento de
uma série de projetos. O objetivo desses projetos era aprofundar o relacionamento bilateral de inovação entre os dois países. Em 2005 e 2006
iniciamos uma profunda colaboração, participando das reuniões anuais
do MBC. Em 2006 fizemos, não apenas com o MBC, mas também com
a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), o primeiro
U.S.-Brazil Innovation Summit (Seminário Brasil-EUA de Inovação), realizado em Brasília. Levamos uma delegação de aproximadamente 50 CEOs
e presidentes de universidades dos EUA para um evento promovido por
Gerdau. Por todos os seus objetivos e propósitos, na nossa opinião foi um
sucesso ao aumentar a visibilidade do importante papel da inovação em
ambos os países. O primeiro seminário também foi endossado pelos então
presidentes Lula e Bush. Isso deu os argumentos para mostrar que preci[ 145 ]
sávamos de outro seminário de inovação, organizado pelo Presidente Jack
DeGioia na Universidade Georgetown em setembro último. Entre os dois
seminários, queríamos criar uma conversa e um diálogo mais envolventes
entre os interessados em inovação. Decidimos criar algo novo: os Laboratórios de Aprendizado em Inovação.
Os Laboratórios de Aprendizado em Inovação são seminários de vários
dias que acontecem no Brasil e nos Estados Unidos. São dois os objetivos:
em primeiro lugar, focar no alinhamento das políticas entre as economias
de inovação dos dois países. E mais, importante, o segundo objetivo é que
nós, junto com o MBC e a ABDI, estamos tentando catalisar parcerias
mundiais entre empresas em ambos os países; entre universidades; entre
empresas e universidades; entre o público e o privado. Esse tem sido nosso
objetivo entre 2008 e 2011. Na verdade já realizamos 11 desses laboratórios de aprendizado em ambos os países.
Quero descrever o processo do Laboratório de Aprendizado em Inovação. Começamos em Washington, D.C. em 2008 e em Brasília em agosto
de 2008. De lá, fomos para Porto Alegre em 2009, Chicago, Research
Triangle Park na Carolina do Norte, São Paulo, Vale do Silício, Rio de
Janeiro e Golden, no Colorado. Acabamos de realizar nosso ultimo Laboratório de Aprendizado em Inovação em Phoenix, na Universidade do
Estado do Arizona, em fevereiro último. Cada um desses 11 Laboratórios
de Aprendizado em Inovação é um seminário de vários dias que envolve
de 30 a 50 pessoas de ambas as economias. Seu propósito é passar tempo
junto em conversas moderadas, para levar à catalisação dessas novas parcerias. Quero só dar uma ideia da escala da conversa porque se trata de
aumentar a inovação: estamos lidando com questões do espectro completo
de inovação, desde a própria ideia ou pensamento inovador em si, a ideação, o desenvolvimento de tecnologia, o desenvolvimento dos produtos
e processos. Como você leva aquela inovação ao mercado? E como você
coloca essa inovação em empreendimentos grandes, viáveis e sustentáveis.
Ao lidar com todas essas questões, estamos olhando para pesquisa e
desenvolvimento; o papel que a propriedade intelectual desempenha em
incentivar a atividade empreendedora inovadora; o ambiente das políticas;
o ambiente regulatório; o ambiente administrativo necessário para o ecossistema da inovação funcionar. Desses laboratórios e dessas questões saíram
vários resultados concretos. Há tantas oportunidades entre empresas que
se desenvolveram, mas também algumas parcerias sistêmicas maiores que
quero destacar.
[ 146 ]
Uma das ideias iniciais que apareceram no início de 2009, liderada
pela CEMIG, a empresa elétrica de Belo Horizonte, era o desejo de criar
um produto de demonstração em tecnologia de Matriz Inteligente em
uma cidade irmã. Estamos bem próximos de identificar a comunidade nos
Estados Unidos que será a cidade irmã nesse projeto. Acho que será Richland, em Washington. O que fizemos com a CEMIG foi identificar uma
comunidade de aproximadamente 40 a 50 mil habitantes no Brasil – fora
de Belo Horizonte – e uma cidade de tamanho semelhante nos Estados
Unidos. O Projeto de Demonstração de Matriz Inteligente de Cidades
Irmãs são projetos de investimento conjunto de duas cidades irmãs. Trata-se de intercâmbio de pesquisa, intercâmbio de pessoas e é multissetorial.
Estamos buscando não apenas trazer as empresas de serviços públicos, mas
também as universidades e startups que queiram se envolver. O MBC, o
Council on Competitiveness e a ABDI têm um papel catalisador, para tentar desencadear esse tipo de parceria.
Outro exemplo que está ocorrendo em Porto Alegre é a incubação
conjunta. Esse é um esforço para estimular o desenvolvimento de empreendimentos inovadores em ambos os países. A incubadora em Porto Alegre
irá atrair, servir como mentora e ajudar pequenos e médios empreendedores norte-americanos que querem abrir negócios no Brasil e vice-versa.
O estado do Arizona irá atrair de 10 a 12 startups brasileiras que queiram
entrar nos Estados Unidos, mas precisam de ajuda para desenvolver planos
de negócios e comercialização. Isso é o que gostamos de chamar de situação ganha-ganha para ambas as economias. Estamos buscando expandir
esse modelo de incubação conjunta global para outras universidades em
ambos os países.
Surgiram algumas outras ideias: um conceito aberto de tecnologia limpa pelo qual vamos pensar em como reconhecer e recompensar empresas
iniciantes empreendedoras inovadoras na área de tecnologia e energia limpas. Há muitas outras dessas oportunidades. Acho que o que é interessante
sobre todo o trabalho realizado nos dois seminários – e os 11 laboratórios
que aconteceram entre os dois seminários – é que realmente tentamos
envolver uma série de líderes em cinco grandes oportunidades. A primeira
é a ligação entre energia e água. Colocamos uma pergunta muito simples
para todos os participantes dos laboratórios. Como os nossos dois países
vão inovar juntos para atender a crescente demanda por energia global?
Sabemos que nas próximas duas décadas a demanda por energia global irá
crescer 50%. Desse crescimento e demanda, 80% vão acontecer em países
[ 147 ]
fora da OCDE. O Brasil e os Estados Unidos desempenham um papel de
liderança para cuidar dessa demanda.
A segunda grande pergunta que fizemos para todos os nossos participantes e nossa rede em ambos os países é sobre alimentos. Nossos dois países sozinhos terão que ajudar a resolver o problema de alimentar o mundo
quando a demanda global por comida dobrar em 50 anos. Como faremos
isso? Não há dois países mais bem posicionados para ajudar a resolver esse
enorme desafio.
A terceira questão que todos estamos trabalhando juntos nessa rede
mais ampla é como os nossos dois países irão construir a infraestrutura mais
inteligente, mais resiliente, mais sustentável para uma economia inovadora
no século XXI? O painel antes do nosso falou sobre um desses tipos de
infraestrutura de TI e comunicação móvel. Mas trata-se de mais do que
apenas infraestrutura física; também é infraestrutura de políticas. Como
assegurar que tenhamos o ecossistema de inovação mais ágil, flexível, responsivo que vai atrair e guiar e ajudar os inovadores a prosperar?
Uma quarta questão é como nossos líderes se reunirão para garantir
que tenhamos uma cultura de criatividade, colaboração, inovação mútua
e empreendedorismo. E finalmente, a quinta maior oportunidade em que
estamos trabalhando é a ligação entre produção e serviços: a junção entre
o produto fabricado e o ecossistema de serviços que agregam valor àquele
produto, o que levará a mais crescimento industrial e novos empregos no
século 21. Como os nossos países podem entender isso?
Isso me traz ao lugar de onde partiremos. Nosso próximo laboratório
será em 18 de novembro de 2011 em Porto Alegre. O que vai ser especial
em relação a este evento é que convidaremos conselhos de competitividade de outros 40 países para virem a Porto Alegre ao mesmo tempo. Essa
será uma verdadeira oportunidade para a parceria entre o MBC, a ABD e
o Council on Competitiveness brilhar. E também será uma oportunidade
para expor inovadores de todo o mundo à capacidade do Brasil nessa economia de inovação. Também espero ter algumas das melhores práticas ou
diretrizes sobre propriedade intelectual. Um de nossos objetivos esse ano é
fazer uma série de estudos de caso globais que poderiam ser compartilhados e adotados em muitos países.
Em relação à patente e globalização dos benefícios resultantes de tecnologias inovadoras, eu destacaria que da perspectiva dos membros do
Council on Competitiveness, a joia da coroa para a atividade de inovação é
a patente. Sem a patente, você não verá o tipo de investimento necessário
[ 148 ]
para desenvolver e colocar aquela inovação em escala de mercado. A quebra de patentes tende a desestimular o incentivo para investir nesse tipo de
escala.Você não veria compartilhamento global dos melhores produtos ou
do melhor serviço. Eu acho que essa é uma preocupação muito séria que
eu sei que muitos dos nossos membros têm, e essa é uma conversa contínua
muito franca que temos tido com o Brasil. Nós realizamos nosso primeiro seminário EUA-Brasil em junho de 2007. A patente da droga contra
HIV da Merck havia sido quebrada em maio daquele ano. O primeiro
co-presidente pelo nosso lado para o Seminário de Inovação era o CEO
da Merck. Ele não veio ao seminário em junho. Obviamente, era um mês
após aquilo ter acontecido, então havia tensão. Mas nós tomamos a decisão
de continuar com o Seminário de Inovação.
Também é importante colocar isso em um contexto global. Obviamente que eu acho que os Estados Unidos e o Brasil são os mais importantes, mas vamos dar uma olhada em um país como a China, que há
cinco anos, qualquer um diria que era um violador egrégio dos direitos de
propriedade intelectual, o que provavelmente ainda é verdade hoje em dia.
Mas estamos vendo uma enorme transformação acontecendo na China
com o surgimento de empresas inovadoras que estão exigindo respeito à
propriedade intelectual, e o que levará os mercados globais a avançarem.
Então o debate EUA-Brasil é importante, mas ele terá que acontecer em
uma realidade global. Nós dois podemos ser deixados para trás muito rapidamente por China, Indonésia,Vietnã ou África do Sul. Em 1986, quando
nosso Conselho começou, era uma resposta dos EUA ao Japão. Agora há
dúzias de concorrentes globais para os Estados Unidos ou o Brasil.
Finalmente, teremos mais seminários. Sentimo-nos particularmente gratificados quando o Presidente Obama se reuniu com a Presidente
Rousseff há um mês. Na sua declaração final conjunta eles reconheceram
a força dos seminários de inovação. Eles explicitamente pediram mais. Estamos esperançosos – e vamos trabalhar com ambas as administrações – de
planejar o próximo seminário de inovação no Brasil em 2012, com Gerdau,
o MBC e a ABDI.
[ 149 ]
[ 150 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Falando do Imperativo da
Inovação e dos Desafios do
Financiamento Inicial
CHARLES WESSNER
Diretor, Programa de Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo
S
into-me muito honrado de falar a um grupo tão distinto. Na verdade,
estou muito estimulado por vocês estarem aqui porque um dos temas
da minha apresentação é a importância da interação entre o Brasil e
os EUA. Há também outra premissa da minha apresentação: temos coisas
a aprender uns dos outros. Eu quero enfatizar que nós nos Estados Unidos
temos coisas a aprender.
Estou falando na condição pessoal, não em nome do Centro ou em
nome das Academias Nacionais.
Um dos problemas que temos nos Estados Unidos é que seus colegas [congressistas americanos] são extremamente complacentes. Certa vez
perguntei a um senador veterano quando conversávamos sobre inovação, o
que os colegas dele achavam? De onde eles achavam que vinha nossa força
inovadora? Esse é um homem muito inteligente. Ele fez uma pausa e disse
“Bem, eu acho que eles pensam que é uma providência divina que nós sejamos líderes em tecnologia. E eles esqueceram o que os seus pais fizeram.”
Agora o seu desafio, de acordo com seus colegas, com quem conversei
recentemente em Brasília, é que vocês realmente têm uma tarefa árdua. E
por que é árdua? Bem, é porque vocês estão indo bem. Estive em Ottawa há uma semana e os canadenses estavam dizendo “Temos uma tarefa
realmente difícil aqui. Quanto mais petróleo exportamos, mais difícil fica
manter uma economia diversificada, inovadora.” Uma das perguntas que os
canadenses tinham era “Estamos indo tão bem quanto a Arábia Saudita?”
Ouçam isso: “Estamos indo tão bem quanto a Arábia Saudita em captar o
[ 151 ]
valor de toda a cadeia da indústria de petróleo?” Agora, eu acho que vocês
estão indo melhor do que o Canadá nisso. Mas a pergunta é: como fazer
suficientemente bem?
Outra premissa da minha apresentação é que ninguém tem a chave.
Ninguém entende completamente como a inovação funciona. Há um destacado professor, Richard Nelson, que chama a inovação de “caixa preta
da economia”. Há também um desenho animado que eu quero mostrar,
onde eles têm um cara que faz toda uma série de equações e então há uma
passagem onde ocorre um milagre. Isso de alguma forma é frequentemente
o que falamos em relação às políticas de inovação. Nós não entendemos
completamente o gênio criativo.
Também em Washington, muitas pessoas não prestam muita atenção ao
ecossistema de inovação. Gostamos de chamá-lo de “ecossistema de inovação” porque quando você fala com meus colegas na Academia Nacional
de Engenharia, quando você diz “sistema de inovação”, eles acham que é
uma série de peças, como uma ponte. Cada peça vai para o seu lugar, e se
você as juntar, vai funcionar. Ao passo que uma analogia melhor seria um
jardim, onde as mudanças de temperatura, mudanças da luz solar, troca do
fertilizante, e regas lhe dão diferentes opções. É um modelo muito mais
dinâmico. De fato, o Brasil é um bom exemplo de modelo dinâmico.
Eu trabalhava no Tesouro, e sabíamos que vocês falhariam com a Embraer. Na verdade, sabíamos que a Airbus também falharia. O fato de que
vocês não falharam com a Embraer, eu acho que é uma declaração poderosa sobre a importância de não necessariamente ouvir o conselho de
economistas convencionais, ortodoxos de Washington.
Sim, vocês subsidiaram, mas da última vez que verifiquei, nós também
subsidiamos um pouco a Boeing algumas vezes. Na verdade, fizemos nossa
economia crescer a partir de uma interação público-privada bastante próxima, principalmente no início.
Agora, uma das coisas boas do nosso sistema é que sabemos quando sair
de cena. Nós não somos donos da Internet. Nós deixamos os empreendedores fazer aqueles aplicativos. Mas nós somos bastante bons em fazer o
trabalho inicial e depois deixar o setor privado assumir.
Há também um trabalho muito sério de Vernon Ruttan, um importante economista, que infelizmente não está mais entre nós, que argumenta
que não há setor exportador importante na economia dos EUA que não
tenha recebido importante apoio do governo. Agora, isso não significa que
[ 152 ]
toda barreira comercial obtusa faça sentido para o Brasil mais do que para
nós, mas a ajuda do governo está sempre presente.
Então vamos à minha apresentação.Vou falar sobre a estratégia de inovação dos EUA e do Brasil, alguns dos mitos que bloqueiam nosso processo
e alguns desafios que temos com o “Vale da Morte” – um conceito muito
importante de entender.
Uma das razões porque gostamos de vocês estarem aqui é porque temos muito em comum; uma das coisas são os enormes desafios globais
comuns. Se vamos estimular o crescimento e o emprego – que vocês precisam para se reelegerem e vocês precisam para seu povo – se tivermos
alternativas para o petróleo, onde vocês já estão muito bem, precisamos de
inovação. Precisamos de inovação para ter uma economia mais verde. E
precisamos de inovação para a saúde global e para segurança nacional. Isso
é o que chamamos de “imperativo de inovação”. A melhor definição que
já ouvi sobre inovação é que a “pesquisa converte dinheiro em conhecimento, e a inovação converte conhecimento de volta em dinheiro”. Isso é
algo que às vezes esquecemos nos EUA e que é frequentemente esquecido
em nossas universidades.
Precisamos de inovação para crescer na nossa posição competitiva para
lidar com os desafios globais. Colaboração é uma parte essencial disso.
Uma das minhas mensagens mais importantes para vocês quando vocês
lidarem com suas instituições em casa, é que é muito importante não lhes
dar lições. É muito importante não dizer aos professores universitários para
se comportarem de modo diferente.Você tem que incentivá-los a se comportar de modo diferente. Como muitos CEOS nos Estados Unidos já
disseram, cuidado com o que você mede porque é isso que as pessoas farão.
O que as nações líderes ao redor do mundo estão fazendo? Uma das
coisas é foco de alto nível em inovação. Outra é o apoio sustentado para
P&D. Apoio para inovação, empreendimentos pequenos e grandes, e parcerias entre os setores público e privado.
Cooperação internacional é uma coisa bem real. Você também não
deve perder de vista o fato de que é um mundo muito difícil. Há muitos
países que estão competindo com vocês o máximo que podem. Há uma
grande fala em uma peça maravilhosa em que alguém diz “Isso não é justo.”
E a resposta ao longo de toda a peça é “Quem disse que era para ser justo?”
A China nos ensina lições de muitos modos. Eu gosto de brincar com
os americanos que eles parecem estar enganando. Como estão enganando?
Bem, eles continuam mandando seus filhos para a escola. Eles continuam
[ 153 ]
investindo em universidades. Eles continuam construindo universidade.
Eles continuam comprando equipamentos para as universidades. E eles
continuam dando a melhor formação possível para seus filhos. Quando
eu estava no estado de Washington, sugeri a eles que estabelecessem uma
nova universidade. Eu estava com um grupo de líderes destacados. Eles
me olharam como se eu estivesse fora de mim. Sim, nossos pais estabeleceram universidades. Porque nós estabeleceríamos universidades? Nossos
pais construíram o sistema de inovação que temos. Porque fazemos isso?
Quero dizer, cancelamos um novo túnel na cidade de Nova York. Por quê?
Porque é muito caro e os tempos estão difíceis. Quando foi construído o
túnel Holland? Isso foi durante a depressão, quando a economia estava desmoronando, os nazistas estavam tomando conta da Europa e sua alternativa
era seu amigo é um comunista.Você sabe, os tempos eram difíceis naquela
época também. E assim construímos o túnel Holland. Construímos a ponte Golden Gate.
Hoje, os países que conquistarão o futuro são focados, comprometidos
e dispostos a gastar. A China não está apenas falando disso. Alguém deveria
mostrar os gastos da China aos parlamentares do Brasil. [veja o gráfico].
Não é apenas a China. Há um enorme movimento em toda a Ásia. A
propósito, é uma coisa boa. Mais dinheiro para pesquisa é uma coisa boa.
Não está claro se esses investimentos trarão necessariamente inovação e invenções, mas reflete o compromisso deles com a inovação, o compromisso
Mudança em participação global em P& D total, 1996 e 2005.
O discurso da China
é acompanhado por
um aumento nos
investimentos em P&D
StatLink http://dx.doi.org/10.1787/450370016746
[ 154 ]
com o investimento no futuro. Como vocês estão se saindo no imperativo
da inovação? Bem, vocês têm novos investimentos, novas instituições e
um novo foco na ciência, tecnologia e inovação. Em um nível, posso apenas parabenizá-los.Vocês têm uma estratégia; vocês estão conscientemente
tentando trabalhar o seu sistema nacional de inovação.Vocês estão promovendo inovação e empreendimentos. Vocês estão proporcionando alguns
incentivos para startups. Vocês têm – junto com o resto do mundo – se
concentrado em biologia, nanotecnologia e saúde. E vocês reconhecem os
principais benefícios sociais envolvidos nisso.
Da última vez que estive no Rio, fiquei surpreso com o crescimento
das escolas de engenharia e o número de mestrados.Vocês estão expandindo para o nível intelectual do mundo de forma muito rápida. Essa expansão
tripla é realmente impressionante.
E vocês também têm – e acho que é muito importante vocês entenderem isso – uma agência de inovação de alta qualidade. Eu não digo isso
de forma leviana; não conheço o novo presidente da FINEP, mas posso
lhes dizer que o anterior tinha um entendimento internacional, global
sobre políticas de inovação. Ter instituições como essa é muito importante.
Financiá-las é realmente importante. E fiquei bastante animado quando
soube que vocês mantiveram o financiamento da FINEP. Mas lembrem-se:
nossos colegas chineses não estão apenas mantendo o financiamento. Eu
gostaria de falar um pouco sobre como vocês podem fazer isso.
A boa notícia é a tendência positiva do seu investimento em P&D, mas
há também uma notícia relativamente ruim [veja o gráfico].
O Brasil não está realmente na frente.Vocês estão na frente do México.
Mas é aí que vocês querem estar? Acho importante olhar para essas coisas.
E lembrem-se, esses números são apenas parciais. Eles não dizem o que
vocês estão conseguindo com isso. Não estou dizendo que vocês deveriam simplesmente distribuir P&D em todas as universidades pelo Brasil
afora. Uma das coisas com as quais nossos colegas alemães e franceses estão
lutando é: como você concentra recursos para desenvolver escolas de excelência?
Nos Estados Unidos nós temos cerca de 3.200 (ou 3.600, dependendo
de como você conta) instituições de ensino superior. Mas apenas 200 delas
são realmente universidades de pesquisa. Provavelmente apenas entre 120 e
150 são de qualidade superior. Esse estímulo em direção à excelência talvez
valha a discussão.
[ 155 ]
A Notícia (Relativamente) Ruim: A Posição do Brasil na Comparação de P&D OECD
Fatos OECD 2009: Estatísticas Econômicas, Ambientais e Sociais
[ 156 ]
Durante nossa visita ao Brasil fomos a Minas Gerais e ficamos muito
impressionados com o sistema que eles têm naquele estado, a ponto de
convidarmos o secretário estadual pra vir aqui e falar em um importante
encontro das Academias Nacionais.
O que vocês precisam fazer? Vocês têm que continuar trabalhando para
fortalecer as políticas. Um ponto muito importante são as atitudes culturais. Nós somos mais tolerantes a risco; nós somos mais tolerantes a falha
em uma empresa pequena, mas não está nos genes. Existe uma velha piada,
mas que é boa: você sabe qual é o segredo do Vale do Silício? É capital
alemão, engenheiros franceses e gerentes britânicos.
Mas o verdadeiro segredo é o que temos na areia. Algo do que temos na
areia do Vale do Silício é a rede de escritórios de advocacia, escritórios de
patentes e universidades que fazem esse núcleo denso. O segredo também
está nas políticas. Se você tem uma empresa no Vale do Silício que falha,
quando a empreendedora vai para casa e diz ao marido que se esforçou
realmente muito, mas que simplesmente não deu certo. E ele diz “Eu sei
que você se esforçou. Vamos sair para jantar e conversamos sobre o que
você vai fazer agora.”
Na Finlândia, quando um empreendedor chega em casa e diz que a
empresa faliu, sua mulher explode em lágrimas, derruba a louça e grita
“Ai meu Deus! Onde vamos viver? Como vamos pagar nossas contas?”
Qual é a diferença? A diferença está nas leis de falência. Se você não consegue iniciar uma empresa rapidamente, e você não consegue fechar uma
empresa rapidamente, então você não pode esperar ter um ambiente de
empreendedorismo. Eu sei que é difícil reformar leis trabalhistas. Depende
um pouco de quanto você se importa com seu país.
Na Itália, leva-se seis anos para fechar um empreendimento. Então o
que acontece? Você tem muita empresa no mercado negro porque a carga
administrativa é muito pesada. Eu deixo isso como um desafio para vocês.
Como vocês podem reformar a lei trabalhista de forma construtiva? Como
você pode fazer para uma empresa fechar facilmente se ela não estiver funcionando bem, e realocar o capital, e o espírito e o empreendedorismo? É
isso que a lei de falências [Chapter 11] faz nos Estados Unidos.
Então o que estamos fazendo aqui? Bem, estamos nos beneficiando
da melhor liderança em inovação que tivemos em muito tempo. Uma
das razões pelas quais vocês deveriam estar aqui e pensar em colaborar
conosco é a parcela dos EUA em P&D globais. Vocês estão literalmente
onde o dinheiro está. É um sistema aberto. É um sistema cooperativo. Não
[ 157 ]
estamos aqui para ajudar o pobre rico Brasil porque vocês não são pobres.
Vocês têm uma força acadêmica incrível.Vocês têm uma força de pesquisa
incrível. O truque está em ter uma abordagem com uma base dupla para
onde direcionar o financiamento – nós estamos financiando – onde você
pode treinar as pessoas que podem colaborar aqui.
Eu lhes recomendaria o Canadian Academic Chairs [Programa de Cadeiras Acadêmicas do Canadá]. Basicamente eles têm uma série de posições
bem pagas em todo o país. Na verdade é meio engraçado quando você
pensa nisso. Durante anos o Canadá reclamou da evasão de cérebros, e
então finalmente descobriram que talvez houvesse uma evasão de cérebros
porque eles podiam ganhar mais dinheiro nos EUA do que no Canadá.
Então eles passaram a pagá-los melhor e, surpresa, eles voltaram. Não apenas os canadenses voltaram, mas também professores americanos foram
para lá, o que estimula esse tipo de interação produtiva, que a OCDE chama de “capital humano altamente móvel”.
Então, há uma boa razão para estar aqui [nos Estados Unidos]. Mas há
uma boa notícia e uma má notícia.Temos o maior investimento do mundo
em pesquisa de saúde, cerca de 32 bilhões de dólares por ano, sem contar
Boas e Más Notícias: O Orçamento 2011 de P&D dos EUA.
P&D Total por Agência, Ano Fiscal de 2011 (em bilhões de dólares).
Fonte: Dados de orçamento P&D OMB, justificativas de orçamento das agências e outros documentos de agências.
P&D inclui a realização de P&D e as instalações de P&D. AAAS, 2010.
[ 158 ]
5 bilhões de financiamento suplementar (então são 37 bilhões de dólares).
Mas pesquisa não relativa à defesa, básica e aplicada é um problema que
nosso Senado não entende.Vejam o tamanho disso [vejam o gráfico]. Isso é
pesquisa de saúde. Isso é a Fundação Nacional de Ciências.
Esse desenvolvimento está no lado da defesa, e há uma razão para isso.
Estamos tentando resolver armadilhas; estamos tentando nos certificar de
que um novo caça funcione logo na primeira vez, sempre; você tem que
ter certeza de que funcionará.Você não quer um submarino experimental.
Por outro lado, estamos exagerando seriamente no que dizemos para nós
mesmos. Gastamos muito menos do que parece.
Agora, a administração Obama deveria ser uma inspiração para o mundo. Nas últimas três semanas estive na Eslováquia, na República Checa e
na Alemanha, fazendo reuniões de alto nível com nossos colegas alemães,
e como mencionei, no Canadá. A estratégia de inovação do presidente é
realmente uma das mais abrangentes que já tivemos em todos os tempos.
Olhando para 40 anos atrás, é claramente a melhor; o compromisso com
mais pesquisa, foco em uma força de trabalho qualificada. Temos um problema horrível com nossas políticas de imigração. Coletivamente, somos
idiotas. Trazemos alguns dos melhores e mais inteligentes; gastamos entre
150 mil e 200 mil dólares para formá-los até o nível de doutorado e depois
os mandamos embora, muitas vezes para os próprios países que querem
competir conosco. Isso é profundamente estúpido, e infelizmente isso está
ligado com os problemas na fronteira com o México.
Somos focados em infraestrutura. Isso é uma coisa que compartilhamos
com o Brasil. Fiquei muito impressionado que vocês estão construindo três
novas supervias no estado do Rio. Estamos começando a trabalhar em uma
rede ferroviária de alta velocidade no país. Levou apenas 30 anos, mas estamos começando. Os franceses – que por alguma razão os americanos adoram odiar – colocaram uma placa no Aeroporto Dulles não muito tempo
atrás.Você sabe, nossos trens são conhecidos por não serem os mais rápidos,
mas nós celebramos nosso “fast food”. Então a placa dizia, “Venha para a
França, a terra da comida lenta e dos trens rápidos.” Não tenho certeza se
isso estimulou o turismo, mas foi engraçado.
Estamos investindo em inovação em energia limpa. Somos uma economia de setor privado, de livre mercado. Ótimo! Então, quando quisemos
uma fábrica de baterias, o que fizemos? O presidente alocou 2,5 bilhões de
dólares para começar a indústria de baterias neste país, para trazer de volta
da China e da Coreia a tecnologia americana.
[ 159 ]
Desenvolvemos algumas novas instituições. Agora temos a ARPA-E.
Temos a iniciativa Startup America, que ajuda a suplementar nossa indústria de capital de risco. Estamos trabalhando para melhorar as patentes, e,
claro, temos uma tarefa sem fim para melhorar nosso ensino fundamental
e médio.
É uma agenda bem grande. É a política de inovação mais abrangente,
mais bem pensada que jamais vimos. Ela é indiscutível. Infelizmente, a
administração levou os dois anos primeiros anos do governo, quando eles
controlavam o Congresso, para aparecer com essa ideia. Agora que a ideia
apareceu, eles não controlam mais o Congresso. Esses programas serão financiados? Eles funcionarão? Essa seria uma discussão complicada, mas
poderíamos fazer isso por setor. E também há a questão que todos nós
temos, como vamos colocar essas coisas no mercado?
Essa é uma das coisas com as quais batalhamos aqui. No nosso país,
frequentemente temos essa afirmação: “Se é uma boa ideia, o mercado
irá financiá-la.” A realidade é, e vários economistas vencedores do Prêmio
Nobel demonstram isso, que esse não é o caso. Ideias novas sofrem um problema real: elas são novas. Eu quero destacar o caso de dois jovens rapazes
do Vale do Silício que estavam tentando levantar dinheiro para iniciar a
empresa deles 10 anos atrás, e eles tiveram bastante dificuldade. Eles foram
rejeitados por quase todas as principais empresas de capital de investimento.
Os dois jovens rapazes eram Larry Page e Sergey Brin, que fundaram o
Google. Nem sempre é óbvio.
Uma das coisas com as quais lutamos é essa: gastamos em torno de 150
bilhões de dólares em pesquisa, mas como eu disse essas novas ideias não
conseguem apoio. Então como você consegue chegar ao lugar onde você
vai conseguir começar o crescimento do seu produto? Muitas boas ideias
acabam nesse Vale da Morte. Um desafio para vocês trabalharem com a
FINEP, mas acho que há também outros programas, como ajudar suas
empresas, seus empreendedores acadêmicos atravessarem esse vale? É um
desafio básico de políticas em todo o mundo.
Muitas pessoas dizem “Bem, você não pode ter esse problema aqui.”
Quando eu estava no Senado dando um depoimento não muito tempo
trás, a primeira reação era “E o capital de investimento? Se você tem uma
boa ideia, os investidores capitalistas irão financiá-lo.” Bem, não. Na verdade, o mercado de investimentos é limitado. Apenas 1,7 bilhões de dólares
vão para acordos iniciais. Tem a questão dos modismos também. Um ano
eles estão em biologia. No ano seguinte estão em nanotecnologia. Depois
[ 160 ]
vão para energia solar. Eles tendem a andar em bandos. E também é limitado. São apenas 21 bilhões de dólares em uma economia de 14 trilhões de
dólares. Caiu de 28 bilhões de dólares em 2008. Foram 17 bilhões de dólares em 2009. Agora se recuperou, mas é um modelo que está sob tensão.
Deixe-me falar rapidamente sobre um passo comprovado para atravessar o Vale da Morte. Chamamos de SPIR. É um grande programa porque
ele pega uma parte do orçamento de pesquisa e aplica em necessidades
nacionais. O fato de ser uma alocação significa que é neutro em termos
de orçamento. Se tivéssemos que votar nisso neste país todos os anos, não
teríamos o programa. Ele também é de larga escala. São 2,5 bilhões de dólares por ano. E por ser de larga escala e já existir há algum tempo, temos o
que chamamos de “efeito portfólio” – ou seja, uma série de investimentos.
Alguns funcionarão, outros não. Ele também é descentralizado e adaptável.
Ele é administrado por uma série de agências diferentes de várias formas
diferentes.
Isso é o que queria recomendar para vocês. A FINEP é ótima, mas e
que tal ter o seu Ministro da Saúde também estimulando a inovação? Que
tal ter o seu Ministro dos Transportes estimulando a inovação? Por que
estou sugerindo isso? A verdade é que na maioria dos países ao redor do
mundo, há um sistema de oligopólio de abastecimento para os principais
ministérios. E essa é uma forma de quebrar essa barreira. É um programa
bastante competitivo; apenas 20 por cento das empresas chegam à Fase I.
Apenas metade delas chega à Fase II, onde podem receber um milhão de
dólares. Não pedimos o dinheiro de volta. Não são empréstimos. Não há
reembolso. São contratos de pesquisa ou concessões diretas.
É um programa de segunda chance. Se você não passar da Fase I para a
Fase II, você pode pegar outra Fase I. Gostamos de compará-lo a um jogo
de basquete ou futebol, para colocá-lo talvez num contexto mais brasileiro.
Você dá uma série de lances, mas nem sempre marca pontos. Mas só há
um jeito de ganhar um jogo de futebol e é fazendo gols. Fazer os lances é
incrível e isso ajuda. Fornece o primeiro dinheiro, que é o dinheiro mais
difícil de conseguir. Os empreendedores controlam a empresa. Eles não
perdem o controle para investidores capitalistas.
Fizemos uma avaliação importante disso. Gastamos 5 milhões de dólares para eu poder dizer a vocês o que estou dizendo aqui. Reunimos 20
pesquisadores. Tínhamos um comitê de supervisão com 20 pessoas. Muitas
empresas foram criadas por causa das verbas. A pesquisa foi iniciada por
causa das verbas. Eles fazem parcerias com universidades. Se eu perguntasse
[ 161 ]
“Suas universidades trabalham suficientemente com a indústria?” aposto
que sua resposta seria “Não.” Então como conseguir que elas façam isso?
Essa é uma maneira. Ela cria empregos, cria inovações; resolve problemas
do governo.
Entendo que São Paulo iniciou um programa como esse, que é uma
coisa boa. Deveria servir de exemplo para outros. Vocês conseguem estimular programas como esse? Vocês conseguem mudar o que a FINEP
está fazendo? Mas acima de tudo, vocês conseguem espalhar o processo de
inovação por diferentes ministérios?
Agora me deixe falar algumas coisas sobre a universidade do século 21.
Vocês querem uma universidade que ensine a próxima geração, faça pesquisa, mas também trabalhe em comercialização e gere estudantes prontos
para o mercado. Conversei com um dos principais líderes corporativos de
uma multinacional americana na Índia e perguntei-lhe sobre a qualidade
dos seus estudantes. Ele disse que os dos institutos de tecnologia indianos
são os melhores do mundo. Mas, por trás disso, eles têm três problemas:
eles não estão acostumados a trabalhar em equipe; eles não falam tão bem
inglês, o que torna difícil integrá-los na economia global; e eles não sabem
usar o PowerPoint. Então é difícil saber o que eles sabem e o que eles não
sabem.
As universidades não deveriam ser vistas como os lugares em que há
pessoas com jalecos brancos. Elas são centros de desenvolvimento e crescimento regional, como um aeroporto. Ligar aeroportos e universidades é
uma combinação bastante poderosa.Você precisa de novas lideranças; você
precisa de pessoas que sejam realmente responsáveis por sua universidade.
Você tem que dar-lhes autoridade e verbas, e você tem que cobrá-los.
Deixe-me dar uma visão pessoal.Você sabe qual é o maior perigo para a
inovação ao redor do mundo? São os Ministérios da Educação. Eles sabem
tudo. Eles não mudam nada. Todo Ministério da Educação centralizado –
seja na Suécia, na China ou na Índia – é uma ameaça à mudança. Eles são
uma ameaça à inovação. Eles são uma ameaça ao aumento do conhecimento. Fazê-los mudar é realmente difícil. Programas externos podem ajudar.
Minha conclusão é que se a inovação é fundamental, então ela precisa
de sua atenção.Vocês fizeram investimentos realmente bons em pesquisa e
na FINEP. Mas é suficiente? Respeitosamente, senhoras e senhores, eu lhes
diria que não.Vocês precisam melhorar o jogo. Quando vocês têm um time
de futebol vencedor, vocês param de comprar jogadores novos? Vocês param de contratar novos técnicos? Não, vocês melhoram o jogo. E eu acho
[ 162 ]
que isso é exatamente análogo. O Brasil tem que melhorar o jogo porque
agora vocês estão jogando nas grandes divisões.
Gostaríamos de garantir que as políticas de inovação não sejam um
passatempo. Não é algo que você faz quando todo o resto já está feito. Entrada de recursos é essencial, mas não suficiente. Você tem que conseguir
os incentivos da forma certa. Você tem que fazer as mudanças em toda a
economia.
Agora nós temos um desafio comum de como lidar com essa economia
global em rápida transformação. Temos que colocar nossos incentivos no
lugar certo. Temos que aprender uns com os outros e trabalhar juntos. É
um privilégio estar aqui com vocês para estimular esse diálogo.
[ 163 ]
[ 164 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
Notas Biográficas dos
Palestrantes
PAULO SOTERO, DIRETOR, INSTITUTO
BRASIL, WOODROW WILSON
INTERNATIONAL CENTER FOR
SCHOLARS
Paulo Sotero é diretor do Instituto Brasil do Woodrow Wilson International Center for Scholars. Jornalista premiado, foi correspondente dojornal O Estado de S. Paulo em Washington entre 1989 e 2006. Sotero iniciou
sua carreira na revista Veja no final dos anos 1960 e trabalhou no semanário
em São Paulo, Recife, Brasília e Paris, até ser nomeado correspondente
em Portugal após a revolução democrática de 25 de abril de 1974. Sotero
está em Washington, D.C., desde 1980, onde atuou como correspondente
da revista semanal IstoÉ e do jornal de finanças Gazeta Mercantil. É comentarista convidado em redes de rádio e televisão brasileiras, americanas
e globais. Contribui artigos para jornais, revistas e publicações acadêmicas
brasileiras e internacionais. Nascido no estado de São Paulo, Sotero é bacharel em História pela Universidade Católica de Pernambuco, e Mestre
em Jornalismo e Relações Públicas pela Universidade Americana, em Washington, D.C. Atuou como Leitor na Edmund A.Walsh School of Foreign
Service, da Universidade Georgetown e lidera semestral sobre o Brasil
como professor adjunto da Elliott School of International Affairs, da Universidade George Washington.
ANTONIO BRITTO FILHO, PRESIDENTE
EXECUTIVO, INTERFARMA
Britto trabalhou para a Rede Globo como comentarista político e foi
responsável pela cobertura da presidência e do Congresso Nacional durante seis anos. Atuou também para outros importantes jornais e revistas bra[ 165 ]
sileiros. Em 1985, foi nomeado Secretário de Imprensa de Tancredo Neves,
o primeiro presidente civil após o período militar. Deputado Federal por
oito anos pelo Rio Grande do Sul, foi um dos principais coordenadores
da redação da atual Constituição Brasileira, particularmente dos capítulos
sobre Comunicação, Ciência e Tecnologia e Previdência Social. Entre 1992
e 1994, foi Ministro da Previdência Social. Em 1994, foi eleito governador
do Estado do Rio Grande do Sul. Nós últimos dez anos Britto trabalhou
como executivo no setor privado. Foi CEO da Azaleia, membro do conselho diretor da Claro e membro do conselho da Braskem. É, desde maio de
2009, Presidente Executivo da Interfarma.
KENT HUGHES, WOODROW WILSON
INTERNATIONAL CENTER FOR
SCHOLARS
Ex-diretor do Programa sobre a América e a Economia Global do
Woodrow Wilson International Center for Scholars, Dr. Hughes é pesquisador residente do centro. É autor do livro Building the Next American
Century: The Past and Future of American Economic Competitiveness
(Wilson Center Press 2005), que enfatiza a importância da inovação e da
educação para o futuro da América. Antes de trabalhar no Wilson Center, Dr. Hughes atuou como Secretário Associado no Departamento de
Comércio dos EUA, presidente do Council on Competitiveness no setor
privado, e em uma série de posições no Congresso Americano. Anteriormente, atuou como advogado no Urban Law Institute. Ele também foi
Fellow do International Legal Center e do Latin American Teaching no
Brasil, onde trabalhou na reforma do ensino jurídico brasileiro. Dr. Hughes
é doutor em economia pela Universidade Washington, e bacharel em direito pela faculdade de direito de Harvard e bacharel em Instituições Políticas
e Econômicas pela Universidade Yale. Ele atua no Conselho Consultivo
Executivo da FIRST Robotics e é membro da ordem dos advogados de
D.C., da Ordem Americana dos Advogados e da Associação Americana de
Economia.
JOHN R. (JAY) THOMAS, PROFESSOR,
GEORGETOWN UNIVERSITY LAW
CENTER
[ 166 ]
O professor Thomas começou como docente no Centro de Direito de
Georgetown em 2002. Ele atuou como Pesquisador Visitante no Serviço
de Pesquisa do Congresso ao longo da última década. Anteriormente ele
foi membro do corpo docente da Escola de Direito da Universidade George Washington, e atuou como professor visitante na Escola de Direito
de Cornell e na Universidade de Tóquio. O professor Thomas trabalhou
como assistente da Juíza Helen W. Nies na Corte Federal de Apelações;
bolsista visitante do Instituto Max Planck para Foreign and Comparative
Patent, Copyright and Unfair Competition Law em Munique, Alemanha;
e pesquisador no Instituto de Propriedade Intelectual em Tóquio, Japão. O
professor Thomas publicou inúmeros artigos e cinco livros sobre leis de
propriedade intelectual.
BILL RUSSELL, CHEFE DA EQUIPE DE
RELAÇÕES BILATERAIS, ESCRITÓRIO DE
PROPRIEDADE INTELECTUAL DO REINO
UNIDO
A equipe de Relações Bilaterais trabalha com parceiros internacionais,
outros departamentos do governo, empresas e outros grupos para desenvolver uma estrutura que enfrente os desafios dos atuais mercados. Ao
construir relacionamentos com grupos de interesse e formuladores de políticas globais, eles ajudam a conformar o debate global sobre questões de
propriedade intelectual.
JOHN HORRIGAN, VICE-PRESIDENTE DE
PESQUISA DE POLÍTICAS, TECHNET
Em julho de 2009, John Horrigan foi nomeado pela Federal Communications Commision (FCC) dos EUA para a equipe líder incumbida de
desenvolver o Plano Nacional de Banda Larga (NBP, na sigla em inglês).
Antes de ir para o FCC, Horrigan era Diretor Associado de Pesquisa no
Pew Internet & American Life Project, onde estudou o comportamento
online dos usuários de internet em banda larga, usuários de internet móvel
e consumidores de outras tecnologias da informação de ponta. Proferiu
palestras em inúmeras conferências e seminários, inclusive na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Fórum Econômico
Mundial, e no Conselho Consultivo de Transmissão da Associated Press.
Horrigan é também Presidente do Conselho da Conferência de Pesquisa
[ 167 ]
de Políticas de Telecomunicações. No início de sua carreira, Horrigan foi
funcionário do Conselho de Ciência, Tecnologia e Política Econômica do
Conselho Nacional de Pesquisa. Obteve doutorado em políticas públicas
na Universidade do Texas em Austin e bacharelado em governo e economia da Universidade de Virginia.
STEPHEN EZELL, ANALISTA SÊNIOR,
FUNDAÇÃO DE TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO E INOVAÇÃO
Stephen Ezell é Analista Sênior da Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação (ITIF), com foco em competitividade internacional em
tecnologia da informação e políticas nacionais de inovação. Anteriormente,
Ezell trabalhou na Peer Insight, uma empresa de pesquisa em inovação e
consultoria que ele co-fundou em 2003 para estudar a prática da inovação
em indústrias de serviços. Na Peer Insight, foi co-fundador do Global Service Innovation Consortium, publicou oito trabalhos sobre inovação no
setor de serviços e pesquisou políticas nacionais para inovação em serviços
que estavam sendo implantadas por governos em todo o mundo. Antes de
formar a Peer Insight, Ezell trabalhou no grupo de Desenvolvimento de
Novos Serviços na NASDAQ. Antes disso, fundou duas empresas bem-sucedidas de investimentos em inovação, a empresa de serviços de alta
tecnologia Brivo Systems e a Lynx Capital. Stephen é graduado pela Escola
de Serviços Estrangeiros da Universidade Georgetown, com Certificado
de Honra do programa de Diplomacia Empresarial Internacional Landegger, de Georgetown.
DR. WEN HWA LEE, COORDENADOR
CIENTÍFICO, STRUCTURAL GENOMICS
CONSORTIUM, UNIVERSIDADE DE
OXFORD
Dr. Lee é Coordenador Científico do Structural Genomics Consortium, na Universidade de Oxford. Sob o principal etos do SGC de Acesso
Aberto e Pesquisa Pré-Competitiva, Lee tem se envolvido com o planejamento de estratégias, colaborações e alianças com parceiros externos em
nível institucional para promover a descoberta de novos medicamentos e
tratamentos através de pesquisa básica. Sua formação inclui Biologia, Biologia Molecular e Estrutural, Cristalografia de Proteínas, Biologia Com[ 168 ]
putacional e Descoberta de Drogas, obtida em lugares tão diversos quanto
Brasil, EUA, França e Reino Unido.
PROFESSOR SUNIL KHILNANI,
PROFESSOR E DIRETOR, AVANTHA,
INSTITUTO DA ÍNDIA, KING’S COLLEGE
LONDRES
Os interesses de pesquisa do Professor Khilnani’s situam-se na combinação de vários campos: história intelectual e o estudo do pensamento
político, história da Índia moderna, teoria democrática em relação a suas
recentes experiências não ocidentais, política na Índia contemporânea, e
pensamento estratégico na definição do lugar da Índia no mundo. Ele
estudou no Trinity Hall, em Cambridge, onde se graduou em Ciências
Sociais e Políticas, e no King’s College, Cambridge, onde obteve seu doutorado em Ciências Sociais e Políticas. Antes de se tornar Diretor do Instituto da Índia no King’s College, de 2001 a 2011 ele foi professor na
Starr Foundation na Escola de Estudos Avançados Internacionais (SAIS) da
Universidade Johns Hopkins, em Washington D.C., e Diretor de Estudos
do Sul da Ásia na SAIS, um programa que ele estabeleceu em 2002. Sunil
Khilnani também atuou como professor de Política no Birkbeck College,
da Universidade de Londres, e foi bolsista do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington. Seu livro mais recente, The
Idea of India (4ª edição: Penguin, 2011), foi traduzido para várias línguas.
O Professor Khilnani iniciou seu trabalho no Instituto da Índia no King’s
College como seu diretor e Professor de Política em junho de 2011.
PROFESSORA DENISE LIEVESLEY, CHEFE
DA ESCOLA DE CIÊNCIAS POLÍTICAS E
POLÍTICAS PÚBLICAS, KING’S COLLEGE
LONDRES
A professora Lievesley é uma das líderes em estatística social no Reino
Unido, que defende o uso de evidências para fundamentar o desenvolvimento de políticas públicas sólidas no Reino Unido e em outros lugares.
Dona de uma destacada carreira, que incluiu posições como Chefe Executiva fundadora do Centro Inglês de Informações de Serviços de Saúde
e Sociais; Diretora de Estatística da UNESCO – onde ela estabeleceu seu
novo Instituto de Estatística – e Diretora do UK Data Archive (simultane[ 169 ]
amente à posição de Professora de Métodos de Pesquisa no Departamento
de Matemática, da Universidade de Essex). Recentemente, a professora
Denise Lievesley foi consultora especial do Centro Africano de Estatística
da ONU e trabalhava em Adis Abeba.
MARY WALSHOK, VICE-REITORA DE
PROGRAMAS PÚBLICOS; DIRETORA,
ESCOLA DE EXTENSÃO; CO-FUNDADORA
DA CONNECT UCSD
Mary Walshok é autora, educadora, pesquisadora e Vice-Reitora Associada de Programas Públicos e Reitora de Extensão na Universidade da
Califórnia San Diego. Ela é líder de opinião e uma autoridade sobre alinhamento do desenvolvimento de mão-de-obra com crescimento econômico regional. Ela é autora de mais de 100 artigos e relatórios sobre inovação regional, o papel das instituições de pesquisa nas economias regionais e
desenvolvimento de mão-de-obra. Como cientista social que estuda a dinâmica do desenvolvimento e transformação econômica regional,Walshok
estudou várias comunidades nos Estados Unidos. Walshok desenvolveu esforços de extensão para ajudar a acelerar a vitalidade econômica da região
de San Diego, assegurar uma combinação global de talentos competitivos
e ajudar recém-formados a se transferir para áreas com maior demanda
de emprego. Ela também facilita o acesso a uma ampla gama de recursos
intelectuais regionais através da premiada TV da UCSD e nacionalmente
através da UCTV, que chega a mais de 22 milhões de domicílios nos EUA
e milhões ao redor do mundo via Internet. Natural de Palm Springs, Califórnia, formou-se em sociologia no Pomona College em 1964, obteve
mestrado em sociologia em 1966 e doutorado em sociologia em 1969 pela
Universidade de Indiana.
IVOR ROYSTON, SÓCIO-DIRETORFUNDADOR DA FORWARD VENTURES
O Dr. Royston envolveu-se com a indústria de biotecnologia em San
Diego desde o seu início em 1978, com a fundação da Hybritech, Inc.
(depois adquirida pela Eli Lilly) e da Idec Pharmaceuticals em 1986 (que
depois se juntou com a Biogen). Ele tem sido um ativo participante na formação, financiamento e desenvolvimento de inúmeras empresas abertas de
biotecnologia. Anteriormente, foi Presidente-Fundador e CEO do Sidney
[ 170 ]
Kimmel Cancer Center (1990-2000) e docente da escola de medicina e do
centro de câncer da Universidade da Califórnia San Diego (1977-1990).
Obteve seu bacharelado (1967) e diploma de médico (1970) pela Universidade Johns Hopkins. Fez pós-doutorado em clínica geral e oncologia
na Universidade de Stanford. Em 1997, o Presidente Clinton nomeou o
Dr. Royston para um mandato de seis anos no National Cancer Advisory
Board.
JEFFREY STEINDORF, DIRETOR DE
OPERAÇÕES, STANFORD CONSORTIUM
Jeff Steindorf define a direção estratégica e gerencia as operações administrativas, de capital e financeiras do Sanford Consortium. Anteriormente,
como Vice-Reitor associado de planejamento do campus na Universidade
da Califórnia San Diego, Steindorf foi líder em planejamento de capital
de curto e longo prazo, planejamento para inscrição, análises de impacto
ambiental e planejamento físico, e liderou pesquisa institucional e negociações de custos indiretos com o DHHS (Department of Health and Human
Services). Antes de assumir responsabilidades administrativas, ele recebeu
apoio do NIH (National Institutes of Health) para realizar pesquisa de
pós-doutorado em cognição e tomada de decisão na UC San Diego e da
NSF (National Science Foundation) para estudar métodos quantitativos
no Inter-University Consortium para Pesquisa Política e Social na Universidade de Michigan. O Dr. Steindorf fez seu doutorado na Universidade
Northern Illinois.
DAVID HALE, MEMBRO DA CONNECT &
HYBRITECH
Hale é um empreendedor em série que se envolveu na fundação e/ou
desenvolvimento de várias empresas de tecnologia em ciências biológicas.
Em 1982, depois de ir para a Hybritech, Inc, a primeira empresa de anticorpos monoclonais, foi COO, presidente e depois CEO até a Hybritech
ser adquirida pela Eli Lilly and Co. em 1986. De 1987 a 1997, foi chairman, presidente e CEO da Gensia, Inc., que se juntou com a SICOR e
tornou-se a Gensia Sicor, Inc., depois adquirida pela Teva Pharmaceuticals.
Foi presidente do Women First Health Care, Inc. do final de 1997 a junho
de 2000, antes de ir para a Cancer Vax em outubro de 1999. Previamente,
Hale foi vice-presidente e gerente geral da BBL Microbiology Systems,
[ 171 ]
uma divisão de diagnósticos da Becton, Dickinson & Co. Entre 1971 e
1980, ocupou várias posições na área de marketing e administração de
vendas na Ortho Pharmaceutical Corporation, uma divisão da Johnson
& Johnson, Inc. Atualmente é chairman e CEO da Hale BioPharma Ventures LLC, uma empresa privada focada na formação e desenvolvimento
de empresas de biotecnologia, especialidades farmacêuticas, diagnósticos e
aparelhos médicos. Atuou tambémcomo chairman de várias empresas farmacêuticas, como Santarus, Inc., e Conatus Pharmaceuticals, Inc.
PRADEEP KHOSLA, REITOR, UC SAN
DIEGO
Pradeep K. Khosla é o oitavo reitor da UC San Diego. Iniciou na UC
San Diego um abrangente processo de planejamento estratégico para desenvolver uma visão e objetivos compartilhados para o futuro do campus.
Anteriormente, Khosla atuou como Diretor da Engenharia na Universidade Carnegie Mellon. O reitor Khosla é membro eleito da Academia Nacional de Engenharia e da Sociedade Americana de Ensino de Engenharia.
É membro do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos, da Associação Americana de Engenheiros Mecânicos, da Associação Americana
para o Progresso da Ciência, da Associação Americana de Inteligência Artificial e da Academia Indiana de Engenharia. Ele é Membro Honorário da
Academia Indiana de Ciência. Khosla recebeu inúmeros prêmios por sua
liderança, ensino e pesquisa, incluindo o Prêmio Light of India em 2012,
o Prêmio Lifetime Achievement da Associação Americana de Engenheiros
Mecânicos e o Prêmio George Westinghouse por suas contribuições para
melhorar o ensino de engenharia. Em 2012 ele foi nomeado como um
dos 50 mais influentes indianos-americanos pela SiliconIndia. Obteve seu
bacharelado em engenharia elétrica do Instituto Indiano de Tecnologia, e
mestrado e doutorado em engenharia da computação na Carnegie Mellon.
JOSEPH PANETTA PRESIDENT, BIOCOM
Joe Panetta tornou-se o primeiro presidente e CEO indicado da Biocom em 1999, quando a associação iniciou sua nova pauta de defesa e crescimento. Joe tem mais de 30 anos de experiência nos setores de governo,
biotecnologia e iniciativa privada, incluindo posições como analista sênior
de políticas da EPA (agência ambiental americana) em Washington, D.C.,
vice-presidente de Assuntos Regulatórios e Públicos da Mycogen Corpo[ 172 ]
ration, empresa baseada em San Diego, e Líder Global de Assuntos Governamentais de Biotecnologia da Dow Agrosciences. É membro do Conselho de diretores da Câmara de Comércio de San Diego, da EDC Regional
de San Diego e CONNECT, Presidente do Conselho da Fundação CA
Biotecnologia, e ex-presidente do Conselho da San Diego Workforce Partnership, bem como do Conselho das Associações Estaduais de Biociências.
Obteve seu bacharelado em biologia no LeMoyne College e o mestrado
em Saúde Pública em saúde industrial e ambiental da Universidade de
Pittsburgh.É formado pelo programa para executivos da Brookings Institution e pelo programa de negociação de Harvard.
CLAUDIO JOAZEIRO, DOUTOR
& PROFESSOR ASSISTENTE,
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA CELULAR,
THE SCRIPPS RESEARCH INSTITUTE
O Dr. Joazeiro é Professor Associado do Departamento de Biologia
Celular e Molecular do The Scripps Research Institute, uma instituição
que gerou mais de 60 empresas de biotecnologia. Formou-se na Universidade de São Paulo em 1990, com bacharelado em biologia e mestrado
em bioquímica. Fez doutorado na Universidade da Califórnia San Diego,
onde se graduou em 1996. Após passar um ano na UCLA num programa de pós-doutorado, Joazeiro tornou-se bolsista de Pós-Doutorado em
Pesquisa no Salk Institute (1997-2000), onde descobriu a maior família de
“ubiquitinas ligases”, enzimas presentes em uma ampla gama de processos
biológicos e doenças. Essa descoberta valeu-lhe uma posição no Instituto de Genômica da Novartis (GNF), onde foi Chefe de Laboratório até
2006. O Dr. Joazeiro é membro de uma seção de um estudo da Sociedade
Americana de Câncer e atuou diversas vezes como revisor contratado nos
Institutos Nacionais de Saúde (NIH). Lidera várias iniciativas voltadas para
a promoção da inovação no desenvolvimento de biofármacos no Brasil.
BRENT JACOBS, DIRETOR EXECUTIVO DA
CUSHMAN & WAKEFIELD; CO-FUNDADOR,
BIOCOM
Brent Jacobs é Diretor Executivo do GLSP da C&W há mais de 30
anos e é co-fundador da BIOCOM, onde atua como co-presidente do
comitê de instalações. Jacobs também é co-fundador da Big Bear Bio, uma
[ 173 ]
empresa de consultoria que faz a conexão entre empresas norte-americanas de biotecnologia e capital asiático. Intermediou quase 930 mil metros
quadrados de espaço de laboratório, inclusive quase 140 mil metros quadrados de locação e aquisição para a Idec Pharmaceuticals e a Biogen Idec.
É palestrante regular na indústria de biotecnologia e no SIOR sobre instalações de biotecnologia. Jacobs atua no Conselho Executivo de Diretores
do Sanford-Burnham Institute, um dos principais institutos de pesquisa
biomédica do país, e recentemente presidiu o Comitê Supervisor do laboratório de 175 mil pés quadrados do Instituto Sanford-Burnham em Orlando, Flórida. É membro do conselho da sociedade American Technion e
foi membro do comitê financeiro do Ruben H. Fleet Science Center e do
Instituto La Jolla de Medicina Molecular. Ele preside o “Hall da Fama” do
CONNECT e é presidente do Centro de Inovação de San Diego.
MAGDA MARQUET, PRESIDENTE DO
CONSELHO, BIOCOM; CO-FUNDADORA,
ALTHEA TECHNOLOGIES
A Drª. Marquet é co-fundadora e co-presidente da Ajinomoto Althea,
e atuou como sua co-presidente e CEO durante dez anos. É também é
co-fundadora e diretora da Althea Dx, uma empresa derivada da Althea
Technologies focada no desenvolvimento de “companion diagnostics”. Ela
é presidente da BIOCOM e participa do Conselho do Moores Cancer
Center da UCSD. É também membro do Biological Sciences Dean Leadership Council da UCSD. Atualmente está envolvida como investidora,
conselheira e membro do conselho de mais de 20 empresas locais. Atua no
Conselho da Sente, Portable Genomics, e é observadora no Conselho da
Independa. É também co-presidente do Conselho Consultivo da MD Revolution, conselheira da Mesa Verde Venture Partners e membro do conselho do City National Bank e membro do comitê de finanças do Pitzer
College (Claremont, CA). A Drª Marquet tem mais de vinte e cinco anos
de experiência na indústria de biotecnologia nos Estados Unidos e na Europa. Atuou como Diretora Executiva de Desenvolvimento Farmacêutico
na Vical Incorporated, onde patenteou vários novos métodos de produção
de DNA de grau clínico para uso em terapia genética e vacinas de DNA.
A Drª Marquet tem Ph.D em Engenharia Bioquímica pelo INSA/Universidade de Toulouse, França.
[ 174 ]
LARRY SMARR, DIRETOR FUNDADOR,
CALIFORNIA INSTITUTE FOR
TELECOMMUNICATIONS AND
INFORMATION TECHNOLOGY
Larry Smarr é o Diretor fundador do California Institute for Telecommunications and Information Technology (Calit2), uma parceria UC San
Diego/UC Irvine. É titular da cátedra Harry E. Gruber em Ciência da
Computação e Engenharia (CSE) na Escola Jacobs da UCSD. No Calit2,
Smarr continuou a incentivar importantes desenvolvimentos em infraestrutura de informação – inclusive a Internet, Rede, visualização científica,
realidade virtual e telepresença global – iniciada nos 15 anos anteriores
como diretor fundador do National Center for Supercomputing Applications (NCSA). Smarr atuou como o principal pesquisador no projeto
OptIPuter da NSF e atualmente é o principal investigador do projeto
CAMERA da Fundação Moore e co-investigador principal do projeto
GreenLight da NSF. Em 2008 ele foi bolsista do Leadership Dialog na
Austrália.
KRISTIINA VUORI, PRESIDENTE E
CEO INTERINA, SANFORD-BURNHAM
MEDICAL RESEARCH INSTITUTE;
PAULINE AND STANLEY FOSTER
PRESIDENTIAL CHAIR; PROFESSORA
A Drª Vuori obteve seu diploma de médica e Ph.D pela Universidade
de Oulu, na Finlândia. Ela fez seu pós-doutorado em Sanford-Burnham
em 1992-1995 com o então presidente & CEO Dr. Erkki Ruoslahti. A Drª
Vuori foi nomeada para o corpo docente em 1996. Foi nomeada Diretora
Representante do Centro de Câncer do Sanford-Burnham em 2003, e
Diretora Designada do Centro de Câncer pelo NCI (Instituto Nacional do
Câncer) em 2006. Em 2008, ela foi promovida a Vice-Presidente Executiva
de Assuntos Científicos. Ela é Presidente do Instituto desde abril de 2010.
A Drª Vuori também é co-diretora do Centro Conrad Prebys de Química
Genômica no Sanford-Burnham. Ao longo de sua carreira, recebeu inúmeros financiamentos de pesquisa e prêmios do NIH, NCI, Departamento
de Defesa (DoD) e Programas de Pesquisa do Câncer da Califórnia. A Drª
Vuori foi selecionada como Bolsista do PEW em Ciências Biomédicas em
1997, no programa conhecido como “Os vinte cientistas mais promissores
[ 175 ]
da América”). Além disso, a Drª Vuori trabalha em uma variada gama de
atividades consultivas para o NCI e outras organizações de câncer, inclusive para o Programa de Terapias em Desenvolvimento do NCI e do Centro
de Iniciativas Científicas Estratégicas. Trabalhou em várias seções de estudos do NIH e do DoD, e é ex-presidente do prestigioso painel “Innovator
Award” do Programa de Pesquisa em Câncer de Mama do DoD.
LARRY GOLDSTEIN, PROFESSOR
EMÉRITO, DEPTO DE MEDICINA
CELULAR E MOLECULAR, E DO DEPTO
DE NEUROCIÊNCIAS DA ESCOLA
DE MEDICINA DA UCSD; DIRETOR,
PROGRAMA DE CÉLULAS TRONCO DA
UC SAN DIEGO; DIRETOR CIENTÍFICO,
SANFORD CONSORTIUM FOR
REGENERATIVE MEDICINE; DIRETOR,
SANFORD STEM CELL CLINICAL CENTER
Larry S.B. Goldstein, Ph.D., é professor de medicina celular e molecular
da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia San Diego (UCSD).
Sua pesquisa concentra-se em compreender os mecanismos moleculares
do movimento intracelular em neurônios e o papel da disfunção de transporte em doenças neurodegenerativas. Seu laboratório realizou as primeiras descrições moleculares da estrutura e organização da cinesina, e recentemente descobriu importantes ligações entre os processos de transporte e
doenças como Alzheimer e Huntington. Goldstein obteve seu doutorado
em genética na Universidade de Washington, Seatlle, e seu bacharelado em
biologia e genética na Universidade da Califórnia San Diego. Realizou sua
pesquisa de pós-doutorado na Universidade do Colorado em Boulder e no
Massachusetts Institute of Technology.
TODD KUIKEN, ASSISTENTE DE PESQUISA,
PROJETOS DE NANOTECNOLOGIAS
EMERGENTES
O Dr. Kuiken é Diretor do Centro de Medicina Biônica e diretor do
Serviço de Amputados do Instituto de Reabilitação de Chicago (RIC),
considerado o “Hospital de Reabilitação nº 1 da América” pelo Relatório
U.S. News & World desde 1991.Trabalhando com pesquisadores no RIC e
[ 176 ]
ao redor do mundo, o Dr. Kuiken desenvolveu o procedimento TMR para
amputados de membros superiores em 2002. TMR é um procedimento
cirúrgico inovador que redireciona os sinais cerebrais de nervos atingidos
durante a amputação para músculos intactos, permitindo que os pacientes
controlem suas próteses apenas pensando sobre a ação que querem realizar.
Após concluir seu bacharelado em Gestão Ambiental e Tecnologia no Instituto de Tecnologia de Rochester, ele trabalhou com renomados cientistas
no ciclo biogeoquímico do mercúrio no Laboratório Nacional de Oak
Ridge. Ele obteve seu mestrado em Políticas Ambientais e de Recursos na
Universidade George Washington e seu Ph.D. na Universidade Tennessee
Tech.
JOEL VELASCO, VICE-PRESIDENTE
SÊNIOR, AMYRIS
Joel Velasco é o Vice-Presidente Sênior de Relações Externas da
Amyris, Inc. Como chefe da representação norte-americana da Associação
Brasileira da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Velasco liderou os
esforços da UNICA para expandir os mercados de biocombustível e açúcar
na América do Norte. Antes de trabalhar na UNICA, Velasco foi diretor-presidente da Stonebridge International, uma empresa de consultoria estratégica com sede em Washington, D.C. Velasco também foi conselheiro
sênior para o Embaixador dos EUA para o Brasil e secretário pessoal do
Vice-Presidente Al Gore na Casa Branca. Velasco atua como conselheiro
informal da UNICA em assuntos relativos a políticas de biocombustíveis
nos EUA.
CHAD EVANS, VICE-PRESIDENTE SÊNIOR,
COUNCIL ON COMPETITIVENESS
Chad Evans é vice-presidente sênior do Council on Competitiveness.
Lidera também vários dos principais projetos do Conselho – como a Iniciativa Nacional de Inovação, Iniciativa Global de Inovação, Liderança em
Tecnologia e Iniciativa Estratégica, e benchmarking internacional. Em
2005, Chad liderou o primeiro Seminário EUA-UE de Inovação sob os
auspícios do Primeiro Ministro da Holanda, em cooperação com o Conselho da União Europeia – bem como o primeiro Seminário EUA-Japão de
Inovação com o Ministro da Economia, Comércio e Indústria japonês, e o
Ministério da Educação, Cultura Esportes, Ciência e Tecnologia. Em 2007,
[ 177 ]
Chad criou e gerenciou o primeiro Seminário EUA-Brasil de Inovação,
endossado pelos presidentes Bush e Lula. Chad é Bolsista do American
Marshall Fund do Marshal Fund EUA Alemanha, de 2007. Ele obteve seu
mestrado em ciências na Escola de Serviços Estrangeiros da Universidade Georgetown, com concentração em Diplomacia de Negócios Internacionais do Programa Landegger de Georgetown, e um bacharelado em
assuntos internacionais da Universidade Emory. Ele atua no Comitê de
Admissões do Mestrado de Ciências da Universidade Georgetown.
CHARLES WESSNER, DIRETOR, ACADEMIA
NACIONAL DE CIÊNCIAS
O Dr. Charles Wessner é especialista reconhecido internacionalmente
em muitos aspectos de políticas de inovação, incluindo empreendedorismo, financiamento inicial, indústria de alta tecnologia, e na conexão entre
entidades públicas e privadas. Ele é fundador e diretor do Programa de
Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo da Academia Nacional de Ciências. Ao trabalhar em estreita colaboração com agências e departamentos
do governo, inclusive o Congresso e a Casa Branca, ele também presta
consultoria para agências de tecnologia, ministérios e diplomatas estrangeiros. Ele atuou como conselheiro do Comitê de Políticas de Ciência e
tecnologia da OCDE e em agências nacionais de tecnologia da Finlândia
e da Suécia. Além disso, o Dr. Wessner também tem atuado como ativo
membro do Conselho Canadense do Comitê de Especialistas da Academia
em Ciência e Tecnologia e o Fórum Norueguês de Tecnologia. Suas múltiplas publicações e extensiva pesquisa o levaram ao reconhecimento oficial
ao ser selecionado como membro das Academias Nacionais.
[ 178 ]
O CONGRESSO BRASILEIRO
NA FRONTEIRA DA INOVAÇÃO
O Instituto Brasil
N
ação global emergente e segunda maior democracia e economia das Américas, o Brasil desempenha um papel cada vez mais
influente no cenário mundial. Para ajudar os formuladores de
políticas a compreender melhor essa dinâmica em rápida evolução, o Instituto Brasil promove análises de políticas sobre temas críticos de interesse
de ambos os países. Fomenta o diálogo binacional sobre políticas públicas
em áreas de interesse mútuo e informa Washington sobre desenvolvimentos políticos, econômicos e de políticas sociais no Brasil. O Instituto Brasil
foi criado a partir da convicção de que o Brasil e o relacionamento EUA-Brasil merecem maior atenção dentro da comunidade voltada para o estudo e a formulação de políticas públicas em Washington. Alinhado com a
missão do Centro de unir os interesses dos mundos dos estudos acadêmicos
e de formulação de políticas, o Instituto Brasil patrocina atividades em uma
ampla gama de questões fundamentais de políticas:
• Fóruns e seminários regulares sobre políticas públicas. Os fóruns
estimulam o debate sobre uma variedade de questões críticas, inclusive
desenvolvimento comercial e econômico; o Brasil como líder mundial e
hemisférico emergente; políticas de ciências, tecnologia e energia; e política nacional brasileira. Conferências, reuniões e seminários reúnem regularmente formuladores de políticas de alto nível, estudiosos e líderes
empresariais e da sociedade civil.
• Programas e publicações: O Instituto publica pesquisas sobre uma
variedade de assuntos relevantes para as relações Brasil-EUA. Publicações
recentes abordam as relações diplomáticas Brasil-EUA, o futuro econômico do Brasil, mudanças climáticas, infraestrutura e meio ambiente, engajamento político civil, Brasil como líder regional, e políticas públicas e
estratégias empresariais sobre inovação. O Instituto dispensa ênfase especial
sobre programas efetivos para tomadores de decisão e grupos de interesse
que conformam a pauta bilateral. Nos últimos anos, o Instituto organizou
[ 179 ]
duas Missões de Estudos do Congresso Brasileiro sobre Inovação para os
EUA e Europa, Diálogos Judiciais e as Semanas FAPESP, com a Fundação
de Pesquisa de São Paulo, que reune cientistas e estudiosos brasileiros e
americanos em conferências sobre colaboração científica.
[ 180 ]
O Woodrow Wilson
International Center para
Estudiosos
VISÃO
O Wilson Center busca ser a instituição líder para pesquisa em profundidade e diálogo para desenvolver e aprimorar ideias sobre assuntos globais
relevantes ao estudo e à formulação de políticas públicas .
MISSÃO
O Wilson Center, criado pelo Congresso dos Estados Unidos como
memorial oficial do Presidente Woodrow Wilson, é um importante fórum
não partidário de reflexão e debates políticas em temas globais. Atua por
meio de pesquisa independente e diálogo aberto para informar o Congresso, a Administração e a comunidade dedicada ao estudo e formulação de
políticas públicas.
Para informações adicionais sobre as atividades do Wilson Center e
publicações, visite nosso site em www.wilsoncenter.org.
[ 181 ]
[ 182 ]
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