- Evolvedoc - Sistema de compartilhamento de trabalhos
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CÁLCULO DO CONSUMO DE ÁGUA PER CAPITA E DISTRIBUIÇÃO DAS DEMANDAS EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Priscila Pini Pereira 1* & Alexandre Hitoshi Ito 2& Ed Pinheiro Lima 3 & Evaristo Atencio Paredes 4 & Sandro Rogério Lautenschlager 5 & Paulo Fernando Soares 6 Resumo – O presente trabalho tem o objetivo de estimar o consumo de água per capta no campus sede da Universidade Estadual de Maringá e distribuí-lo na rede principal de uma das áreas de abastecimento da universidade, onde se tem os dados da rede existente. Para tanto foram utilizadas uma série de leituras mensais do consumo de água no campus sede ao longo de quase quatro anos e o número de usuários fornecidos pela instituição. Após obtido o consumo per capta para uma população equivalente, foi realizada uma esqueletização do sistema de abastecimento para que fossem agrupados os consumidores em áreas de influência, de acordo com os blocos e departamentos existentes no campus. Este estudo chegou a resultados de consumo per capta com valores próximos a 50 litros de água consumidos por cada pessoa durante o dia, valor esperado em estabelecimentos como escolas e escritórios. Não há registros dos vazamentos que ocorreram na instituição no período analisado, porém sabe-se que é importante tal registro para refinamento dos resultados. Palavras-Chave – Abastecimento de água; Consumo per capta de água; Demanda por água. CALCULATION OF WATER PER CAPITA CONSUMPTION AND DISTRIBUTION OF DEMANDS ON AN HIGHER EDUCATION INSTITUTION Abstract – This study aims to estimate the water consumption per capita in the headquarters campus of the State University of Maringa and distribute it on the main network of the university supply areas where we have the data of the existing network. Therefore, we used a series of monthly readings of water consumption on campus headquarters for nearly four years and the number of users provided by the institution. After obtaining the per capita consumption for an equivalent population, skeletization supply system was made so that consumers were grouped into areas of influence, according to the existing blocks and departments on campus. This study reached results consumption per capita with values close to 50 liters of water consumed per person during the day, expected value in establishments such as schools and offices. There are no reports of the leaks that occurred at the institution during the study period, but we highlight how this registration is important for refining the results. Keywords – Water supply; Per capita consumption of water; Water demand. Universidade Estadual de Maringá, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana, [email protected]* l , [email protected] 2 Universidade Estadual de Maringá, Professor Doutor, [email protected] 3, [email protected] 4, [email protected] 5, [email protected] 6 XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1 INTRODUÇÃO Muitos métodos são usados para simular o fluxo nas redes de distribuição de água, como métodos gráficos, de analogias físicas e modelos matemáticos (ORMSBEE, 2006). Al-Omari e Abdulla (2009) citam que antes dos modernos computadores, os fluxos e pressões no abastecimento de água eram simulados com base na analogia entre as redes de distribuição de água e os circuitos elétricos ou por cálculos manuais utilizando o método Hardy Cross. O desenvolvimento dos computadores tornou possível aos engenheiros simular o comportamento do abastecimento de água. No entanto, Al-Omari e Abdulla (2009) ressaltam que a previsão precisa de pressões, fluxos e parâmetros de qualidade da água dependem fortemente da qualidade dos dados de entrada. A representação dos dados físicos do sistema, como diâmetros, comprimentos e declividades pode ser trabalhosa, porém, a maioria dos autores cita que a etapa mais difícil consiste em estimar os consumos ao longo da rede. De acordo com Coelho et al. (2006), o consumo de água tem um comportamento de natureza estocástica, tanto no tempo como no espaço, e é a maior fonte de incertezas quando inserido em um modelo. A medição dos volumes captado, tratado, armazenado, aduzido e consumido é essencial para o cálculo do balanço hídrico. Denomina-se macromedição a medição dos volumes de água fornecidos à rede e micromedição quando é realizada nos pontos de consumo. Há diferentes fatores que influenciam o consumo de água. Estudos recentes, como o de Chang et al., (2014), citam que há uma relação linear positiva entre o aumento da temperatura e a demanda de água, e uma relação inversamente proporcional entre a ocorrência de chuvas e a demanda de água. Há ainda outros fatores que influenciam o consumo de água em uma localidade, como: padrão de vida e hábitos da população; sistema de fornecimento; cobrança ou não do serviço e custo; qualidade da água fornecida; pressão na rede distribuidora; e perdas no sistema. Quando se têm dados de medição do consumo de água, as demandas podem ser distribuídas ao longo dos nós nas redes pelo método da área de influência. Este método consiste na delimitação em planta da área de influência de cada nó da rede, contabilizando dentro desta área o número de consumidores e o seu consumo médio. Por ser um método aproximado, dele pode se esperar resultados em ordens de grandeza e não exatos. É um método aproximado, utilizado para planejamento, dimensionamento ou expansão do sistema e fornece estimações sobre o sistema de abastecimento de água, que podem ser válidas quando as informações são escassas (COELHO et al., 2006). A esqueletização de um sistema consiste na simplificação da topologia, com o objetivo de simplificar a entrada dos dados de demanda sem que os resultados sejam afetados substancialmente. De acordo com Moura (2005), a esqueletização corresponde a representação do traçado da rede de distribuição de forma a atender as necessidades de determinado trabalho, ou seja, mostrar mais ou menos detalhes. Por exemplo, representar somente as tubulações principais (primárias), que apresentam maior diâmetro. O presente trabalho tem como objetivo caracterizar o consumo de água total ao longo da rede principal de abastecimento do campus sede da Universidade Estadual de Maringá (UEM), estado do Paraná. Para tanto, será contabilizada uma população equivalente e calculado um consumo base per capita de água. Estes valores devem ser condizentes com as leituras do consumo de água mensal nos micromedidores instalados no campus ao longo de quase quatro anos. Os consumos serão distribuídos na rede utilizando o método das áreas de influência e a esqueletização da rede. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2 METODOLOGIA A área de estudo foi o campus sede da Universidade Estadual de Maringá, localizado na cidade de Maringá, no noroeste paranaense. O seu sistema de abastecimento de água é composto por três áreas independentes, chamadas aqui de: A1 - Campus novo, A2 - Campus velho e A3 Garagem. A Figura 1 apresenta as três áreas, bem como os nove medidores da companhia de saneamento, SANEPAR, ligados à rede de abastecimento de água do campus sede da UEM. Figura 1 - Sistema de abastecimento de água do campus No campus novo, o abastecimento de água ocorre por ligação na rede da SANEPAR e também por um poço de captação subsuperficial, localizado dentro da Universidade. Nesta área, se encontra um reservatório cilíndrico com volume útil igual a 365 m³, utilizado principalmente para suprir a demanda de água nos períodos de pico de consumo ao longo do dia. Nas outras duas áreas, campus velho e garagem, o abastecimento é exclusivo por ligação na rede da SANEPAR. Para quantificar a demanda por água no campus e a distribuição do consumo ao longo da instituição, foram solicitadas faturas do consumo de água de anos anteriores até o atual. Foram fornecidas as faturas entre os meses de janeiro de 2011 até outubro de 2014. Os medidores M6, M7 e M8 apresentaram consumos mensais médios muito baixos nos últimos anos em relação à média mensal dos demais medidores, em torno de 30 m³.mês-1, e estão atualmente desativados. O medidor M3 é utilizado para medir exclusivamente o consumo da estação climatológica da universidade, com um consumo mensal médio de 16 m³, inferior em relação aos demais. Desta forma, os resultados obtidos no presente trabalho foram realizados em cima da série de leituras dos medidores M1, M2, M4, M5 e M9. A leitura da água que abastece o campus novo acontece nos medidores M1, M5 e M9, enquanto que o campus velho e a garagem têm suas leituras realizadas, respectivamente, pelos medidores M2 e M4. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3 Para conhecimento da população existente no campus da Universidade, foi necessário consultar as secretarias responsáveis pelos diferentes usuários. Na secretaria de recursos humanos, obteve-se o número de docentes e demais servidores registrados no campus. Na secretaria de assuntos acadêmicos obteve-se o número de alunos de graduação e pós-graduação matriculados no ano de 2014, separados por curso ou departamento. O cálculo da população consumidora equivalente (PE), a ser multiplicada por um consumo base de água, baseou-se na metodologia que Nakagawa (2009) utilizou para caracterizar o consumo de água em prédios universitários da UFBA. Segundo o autor, PE é definida como o usuário integral que passa 8 horas por dia, durante 5 dias por semana na Universidade. Foram classificados os diferentes tipos de usuários e foi atribuído peso relativo a cada um. Os alunos foram classificados em: estudantes em período integral; estudantes em período único (matutino, vespertino ou diurno); e estudantes de pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado). Docentes e servidores foram considerados usuários em tempo integral. Para obtenção do peso relativo a cada classe, considerou-se a quantidade de horas permanecidas na instituição durante cinco dias da semana. No mapa de abastecimento de água, fornecido pela Prefeitura do campus, as construções apresentavam nomenclatura e cores referentes aos departamentos em que pertenciam. Em uma planilha foram identificadas as construções (blocos, secretarias) com suas respectivas áreas e departamentos. Desta forma, o número de alunos e docentes de cada departamento foi distribuído proporcionalmente à área da construção. Os demais servidores foram distribuídos nas construções que correspondiam a secretarias administrativas e instalações complementares, também de acordo com a área de implantação. A Tabela 1 apresenta os pesos adotados para cada usuário. Tabela 1: Pesos calculados para diferentes usuários Total de horas no campus por semana Aluno integral 30 Aluno 1 período 20 Aluno pós-graduação 15 Docentes e servidores 40 Usuário Total de horas úteis na semana 40 40 40 40 Peso 0,750 0,500 0,375 1,000 Nas três áreas consideradas, calculou-se a média dos consumos de água de janeiro de 2011 a outubro de 2014. Este valor foi dividido pela população consumidora equivalente da área considerada, obtendo-se três consumos base de água, no campus novo, campus velho e garagem. Na garagem, sabe-se que a maior parte da água é utilizada para lavagem de veículos oficiais da universidade. Como se trata de um consumo pontual, que independe do número de usuários na área, ele foi considerado separadamente. Em uma estimativa fornecida pelos funcionários do local, considerou-se que 65 veículos sejam lavados a cada dia trabalhado. Por fim, na área do campus novo, onde se têm disponíveis as características físicas da rede como diâmetros e profundidades, foram nomeados 23 nós e delimitadas suas áreas de influência abrangendo todas as construções existentes. Dentro de cada área somou-se a população equivalente referente às construções. Esta soma, multiplicada pelo consumo base de água calculado, forneceu a demanda por água em cada nó. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Com os dados de consumo de água contidos nas faturas fornecidas pela instituição, foi possível montar as séries constantes na Figura 2, representando a soma dos consumos mensais nos medidores considerados de janeiro de 2011 até outubro de 2014. 2011 2012 2013 2014 21.000 Consumo (m³·mês-1) 19.000 17.000 15.000 13.000 11.000 9.000 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Figura 2 - Consumo mensal total nos medidores considerados Pode-se inferir a ocorrência de alguns vazamentos na rede como, por exemplo, em agosto de 2013, em que houve um consumo consideravelmente maior entre os quatro anos observados. No mês de junho, ao longo dos quatro anos, foi possível observar um consumo médio de 15.000 m³, o que torna possível prever que nos próximos anos o consumo se manterá semelhante neste mês. O consumo médio mensal, referente aos medidores instalados nas três áreas, foi de 13.940 m³, considerando as quatro séries disponíveis, de 2011 a 2014. Os resultados são apresentados na Tabela 2, onde o consumo base diário foi calculado considerando-se 22 dias úteis no mês. Tabela 2: Resultado do consumo base por área Consumo médio Consumo pontual População Consumo base mensal [m³] mensal [m³] equivalente [L·pessoa-1·dia-1] 1 - Campus novo 10687 10452 46,48 2 - Campus velho 2576 2104 55,66 3 - Garagem 676 429 250 44,91 Área A esqueletização da rede agrupou diversas construções em uma mesma área, agregando grupos de usuários em um único nó. A Figura 3 apresenta a geometria das áreas, que foi traçada observando-se as construções que se localizam nas proximidades do nó na tentativa de representar simplificadamente o que ocorre durante o abastecimento. A Tabela 3 apresenta o consumo total dentro de cada área. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5 Figura 3 - Esqueletização da rede e áreas de influência Tabela 3: Distribuição das demandas nas áreas de influência Área / População Consumo Área / População Consumo junção equivalente [m³·dia-1] junção equivalente [m³·dia-1] 3 22 54 59 61 74 77 81 198 1423 235 431 236 1043 320 237 9,2 66,15 10,93 20,03 10,98 48,45 14,87 10,99 94 106 109 117 122 134 137 150 495 982 530 356 193 654 202 484 23 45,65 24,64 16,55 8,98 30,41 9,39 22,51 Área / junção 153 161 165 186 214 234 242 População Consumo equivalente [m³·dia-1] 1109 307 56 479 66 223 192 51,53 14,27 2,62 22,25 3,07 10,38 8,91 CONCLUSÃO O estudo permitiu conhecer a demanda base per capita por água no campus sede da UEM em três áreas que são abastecidas por redes independentes. Os resultados foram 46,48, 55,66 e 44,91 L·hab-1·dia-1 nas áreas do campus novo, campus velho e garagem, respectivamente. Como na rede do campus não há medidores individuais nas entradas dos blocos, não foi possível validar os resultados encontrados. Porém, o balanço hídrico ou balanço de massa foi respeitado, ou seja, toda a água que chega à instituição e passa pelos medidores foi distribuída ao longo da rede. Os três consumos per capita encontrados apresentaram valores próximos ao que estabelece a SANEPAR (2010) em seu Manual de Projetos Hidrossanitários, onde sugere que escolas e XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6 escritórios apresentam um consumo provável de 50 L·pessoa-1·dia-1, portanto acredita-se que os resultados são válidos. No projeto da rede principal de água do campus novo foram traçadas áreas de influência ao redor dos nós, agrupadas as construções e totalizada a população equivalente em cada nó. Com o consumo per capita calculado, pôde-se atribuir a demanda de água nos nós, procedimento que será utilizado na modelação do sistema em software específico para auxílio na tomada de decisões futuras. Na análise dos dados, o comportamento singular das séries anuais levou a conclusões de possíveis vazamentos ao longo dos anos analisados. As informações sobre a ocorrência de vazamentos são importantes na simulação da rede, porém não se dispunha de nenhum registro a respeito nas secretarias consultadas. Para a efetiva modelação do sistema, é importante que sejam realizados registros de perdas de água, já que os dados de entrada do modelo se baseiam principalmente nas leituras mensais da água distribuída no campus da universidade. REFERÊNCIAS AL-OMARI, A. S.; ABDULLA, F. A. (2009). A model for the determination of residential water demand by the use of tracers. Advances in Engineering Software v. 40, n. 2, pp. 85-94. CHANG, H.; PRASKIEVICZ, S.; PARANDVASH, H. (2014). 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