Rumo às oitavas MANIPULAÇÃO DE RESULTADOS O

Transcrição

Rumo às oitavas MANIPULAÇÃO DE RESULTADOS O
NÚMERO 36, 27 DE JUNHO DE 2014
EDIÇÃO EM PORTUGUÉS
Fédération Internationale de Football Association – Desde 1904
ARGENTINA
OS MAIS BARULHENTOS
HOLANDA
LIÇÕES DO HÓQUEI
MANIPULAÇÃO DE RESULTADOS
O EXEMPLO DE
SIMONE FARINA
Rumo às oitavas
Um encontro
no Rio
W W W.FIFA.COM/ THEWEEKLY
ÍNDICE
6
18
23
35
América do Norte e
América Central
35 membros
www.concacaf.com
Oh, Rio!
A capital fluminense está no centro das oitavas
de final. Às vésperas do mata-mata da Copa do
Mundo, Alan Schweingruber andou pelas ruas
da cidade e mergulhou na atmosfera carioca
atrás de histórias.
América do Sul
10 membros
www.conmebol.com
Thierry Henry em entrevista
Campeão mundial e europeu com a França,
Henry tem um amor incondicional pela Bleus.
Para a nova geração, ele tem um conselho:
“É preciso jogar cada Copa do Mundo como
se fosse a última.”
P equenos momentos da Copa
Neymar ou o jogo Tipp-Kick, flertes em Copacabana, o novo recorde de Klose e as experiências
no trânsito brasileiro – os nossos repórteres
contam os pequenos momentos da Copa.
15
Costa Rica
Os centro-americanos são a
sensação do momento. Nas
oitavas, contra a Grécia, eles
querem continuar levando o
sonho adiante.
“Jogar para perder? Nunca!”
Durante a carreira de jogador, Simone Farina
recusou uma proposta para manipular o
resultado de um jogo. Para o ex-atleta, algo vem
antes de tudo: a integridade.
26
Oitavas de final
Gustavo Pellizzon / Caju
Aplicativo da FIFA Weekly
A revista FIFA Weekly está disponível
en cinco idiomas a cada sexta-feira
em uma versão eletrônica bastante
intuitiva.
2
T H E F I FA W E E K LY
Partida 49
Partida 50
Partida 51
BRA - CHI
28 de junho, 13:00
Belo Horizonte
COL - URU
28 de junho, 17:00
Río de Janeiro
NED - MEX
29 de junho, 13:00
Fortaleza
Getty Images / REUTERS
Encontro no Rio
A foto de capa mostra a capital
fluminense ao entardecer nos
arredores do Maracanã.
Domínio
latino-americano
A Copa do Mundo da FIFA no
Brasil é o torneio dos latinoamericanos. Com torcedores
eufóricos, a Argentina é uma
das seleções que sonha com
o título.
A SEMANA DO FUTEBOL MUNDIAL
Europa
54 membros
www.uefa.com
África
54 membros
www.cafonline.com
Ásia
46 membros
www.the-afc.com
Oceania
11 membros
www.oceaniafootball.com
25
Sepp Blatter
O presidente da FIFA comenta
as novas tecnologias em uso
no Brasil 2014 e a possibilidade
de utilizar o recurso do vídeo.
16
Holanda
O técnico Louis van Gaal se inspira
nos passes e nos dribles do hóquei
sobre a grama.
Oitavas de final
Partida 52
Partida 53
Partida 54
imago / AFP
1G
CRC - GRE
29 de junho, 17:00
Recife
FRA - NGA
30 de junho, 13:00
Brasília
Partida 55
2H
www.fifa.com
30 de junho, 17:00
Porto Alegre
Partida 56
1H
ARG - SUI
1º de julho, 13:00
São Paulo
2G
www.fifa.com
1º de julho, 17:00
Salvador
T H E F I FA W E E K LY
3
© 2014 Visa. All rights reserved. Shrek © 2014 DreamWorks Animation L.L.C. All rights reserved.
Copa do Mundo da FIFA™.
É onde todos querem estar.
PANOR AM A
A magia do rádio Um torcedor carioca se mantém atento à transmissão radiofônica – e não dá a mínima para a televisão.
Expectativa carioca
Gustavo Pellizzon/Caju
A
Copa do Mundo da FIFA chega à sua terceira semana e, às vésperas das oitavas de
final, já é possível constatar: o Mundial
no Brasil está sendo fenomenal. As seleções,
na grande maioria, não hesitam em apostar
no bom e velho futebol ofensivo.
A mudança da fase de grupos para o matamata tem um ponto importante: quem perder
está fora. De uma forma ou de outra, a competição começa de novo com as oitavas, com
novos confrontos, novas ambições e novos
objetivos. E o Rio de Janeiro está no meio
dessa mudança, preparando-se para o momento mais alto deste Mundial: a tão esperada decisão no dia 13 de julho, no Maracanã.
Esse momento poético e empolgante serviu
de material para Alan Schweingruber na sua
grande reportagem sobre os cariocas e a
Cidade Maravilhosa.
I
D
números torcedores latino-americanos
fizeram do Rio a sua base. Em Copacabana,
eles se encontram em clima amistoso. E
Thomas Renggli esteve lá.
uas ferramentas – o spray de marcação e a
tecnologia da linha do gol – mostraram a sua
importância logo nas suas estreias em Mundiais. E o presidente da FIFA Joseph Blatter
quer continuar seguindo esse caminho. “Caso
seja possível no futuro, assim como hoje é
com a tecnologia da linha do gol, implementar outra ferramenta que ajude a tomar decisões neutras em situações complicadas e em
tempo real, teremos de estar abertos para
isso”, escreve Sepp Blatter na sua coluna semanal no FIFA Weekly.
M
uitas vezes, é preciso coragem para dizer
“não”. Ao rejeitar uma proposta de manipulação de resultados, Simone Farina
comprovou isso. O italiano conta o seu “Ponto de inflexão”. Å
Perikles Monioudis
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OI TAVA S DE F IN AL
Pronto para os jogos decisivos O belo Rio de Janeiro com a sua lagoa e a praia de Ipanema à direita.
6
T H E F I FA W E E K LY
OI TAVA S DE F IN AL
OH, RIO!
Se existe uma cidade apaixonada por aventura, é o
Rio de Janeiro. A proximidade das oitavas de final está
agitando ainda mais a Cidade Maravilhosa.
Alan Schweingruber (texto) e Gustavo Pellizzon (fotos), Rio de Janeiro
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OI TAVA S DE F IN AL
O que a noite traz? Um pescador no Rio de Janeiro.
A
imagem de Copacabana dispensa
apresentações. Ela simplesmente
mergulha dentro dos olhos de
quem a observa: sol, música, ondas, pessoas alegres e satisfeitas.
Mas nesta noite o clima é bem
diferente nesta praia mundialmente famosa do Rio de Janeiro.
Já está escuro. Cai dos céus uma
chuva forte. Nas ruas, os carros
correm e buzinam. Não há ninguém no calçadão. É difícil acre-
Bairros residenciais Nas noites frias e úmidas,
ditar que está acontecendo uma Copa do Mundo justamente nesta cidade.
Obviamente, o clima sombrio não tem nada
a ver com o Mundial. A chuva simplesmente
voltou a cair com mais frequência. Isso é algo
bastante comum no inverno por aqui. Nessas
situações, os cariocas se entocam nas suas casas. E entre os taxistas o único assunto são as
condições climáticas.
No entanto, é possível associar essa atmosfera estranha ao torneio que está sendo disputado. Ela faz parte do cenário mais amplo. Os
últimos jogos da fase de grupos ainda estão
sendo disputados. Mas na realidade tudo já está
preparado para um novo começo: no sábado,
começam as oitavas de final. De agora em diante, tudo será decidido em 90 ou 120 minutos. No
pior dos casos, na disputa de pênaltis. Depois
disso, restará apenas duas opções: comemorar
ou voltar para casa.
Estranho silêncio no Rio
De algum lugar é possível ouvir a voz de um
eufórico apresentador de televisão. Olhamos
Oitavas de final: os grandes obstáculos da
fase de grupos foram superados e restam
apenas os 16 melhores da competição. Mas a
partir de agora muda também o formato do
torneio. Chegamos à fase de mata-mata, na
qual as equipes têm apenas uma chance.
Confira abaixo um resumo dos mais dramáticos confrontos das oitavas de final na história
da Copa do Mundo.
Dominik Petermann
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T H E F I FA W E E K LY
MÉXICO 1986
Itália 0 x 2 França
Duelo entre os campeões mundial e europeu
Nas oitavas de final do México 1986, a Itália, então
campeã mundial, e a França, detentora do título
europeu, se enfrentaram em uma grande partida. Os
franceses acabaram levando a melhor. O seu grande
astro, Michel Platini, abriu o placar logo aos 15 minutos.
O herói do título italiano em 1982, Paolo Rossi, assistiu à
partida apenas do banco. No final, a França ficou na
terceira colocação, atrás de Argentina e Alemanha.
Gustavo Pellizzon / Caju (13), Getty Images (4)
QUANDO C OMEÇ A A FA SE DE M ATA - M ATA
OI TAVA S DE F IN AL
ouve-se o ruído da televisão nos lares.
O dia-a-dia durante a Copa do Mundo O bar “Praia de Nazaré”.
Uma estranha
calmaria. Em muitos
lares vemos o brilho
do televisor.
para cima. Em muitas moradias do bairro podemos ver o brilho das televisões. As portas das
varandas estão abertas. A temperatura é de 22
graus. Nos parapeitos das janelas há bandeiras
afixadas. O orgulho nacional do quinto maior
país do planeta permanece intacto. E agora,
depois que a Seleção conseguiu uma classificação tranquila para as oitavas de final, tudo deve
dar certo. “Se vencermos as oitavas de final
contra o Chile, venceremos a Copa do Mundo”,
afirmou o porteiro do hotel, com muita convicção na voz. “Se a máquina funcionar direito,
ninguém poderá nos frear.” A sua convicção só
é um pouco abalada por uma certa dificuldade
de segurar o guarda-chuva. Como se ele não
tivesse esse costume.
As últimas nuvens se dissipam com o despontar do sol. As ruas ainda estão molhadas,
mas a tendência claramente é de um dia ensolarado. Um homem sem-teto se barbeia na
praia. Um pouco à frente, perto da água, um
jovem casal está sentado na areia unido em um
abraço. Muitas pessoas passam com camisas de
futebol para as suas corridas matinais. ­A lgumas
ITÁLIA 1990
EUA 1994
Camarões 2 x 1 Colômbia (após prorrogação)
Roger Milla faz a alegria da África
Aos 38 anos, o camaronês Roger Milla se tornou um dos principais astros da Copa do Mundo de 1990 ao marcar dois gols na
prorrogação contra a Colômbia, levando os “Leões Indomáveis”
às quartas de final. Até hoje, permanece inesquecível a sua
comemoração dançando junto à bandeira de escanteio. Milla se
transformou no jogador mais velho a marcar gols em uma Copa
do Mundo, mas superaria o seu próprio recorde quatro anos
mais tarde, ao balançar as redes aos 42 anos.
Romênia 3 x 2 Argentina
O fim da era Maradona
A surpreendente Romênia colocou um fim ao sonho
argentino logo nas oitavas de final com uma vitória por
3 a 2. A seleção argentina, repleta de grandes craques,
havia ficado sem o seu capitão e maior astro. O teste
antidoping de Diego Maradona teve resultado positivo
e ele ficou de fora do torneio a partir do terceiro jogo da
fase de grupos. Foi um final inesperado para o campeão
mundial de 1986 com a camisa da Albiceleste.
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OI TAVA S DE F IN AL
Seleção Até onde chegará a equipe de Scolari?
usam fones de ouvido. Onde será que estão as
suas mentes? Nas oitavas de final do Brasil contra o Chile no sábado? Na fantástica e surpreendente campanha da Costa Rica?
A magia das oitavas de final
As oitavas de final. Para muitas equipes, esta
fase será apenas mais uma etapa do torneio.
Para outras, ficar entre os 16 melhores do planeta já é uma conquista histórica. Em Honduras,
por exemplo, até hoje comentam sobre a Copa
do Mundo 1982. O pequeno país conseguiu dois
Mercado A música também é vendida.
empates na fase de grupos contra a anfitriã Espanha e a Irlanda do Norte e estava no caminho
certo para chegar às oitavas de final. No terceiro jogo, entretanto, a Iugoslávia venceu o selecionado hondurenho por 1 a 0 graças a um pênalti bastante discutível. Foi um duro golpe. Os
jogadores fizeram o torneio das suas vidas.
Como crianças, eles caíram no chão de tanto
chorar depois do apito final. O árbitro chileno
Gaston Castro se tornou “persona non-grata”
em Honduras. Ele colocou um fim à maior sensação da história do futebol hondurenho.
As oitavas de final são um bom parâmetro
para mostrar a real condição das equipes. Boas
tentativas não servem mais para nada. Apenas
a bola na rede é que conta. Zagueiros com mais
idade e menos condições físicas perderão na
corrida contra atacantes mais jovens e velozes.
Contusões antigas aparecerão para estragar o
sonho de alguns craques. Neste momento, é essencial ter força de espírito. A jovem seleção
belga, por exemplo, tem grandes qualidades.
Mas a questão é saber se a equipe de Marc Wilmots conseguirá prevalecer mesmo sob pressão.
QUANDO C OMEÇ A A FA SE DE M ATA - M ATA
FRANÇA 1998
COREIA DO SUL / JAPÃO 2002
França 1 x 0 Paraguai (após prorrogação)
Um gol de ouro para a França
Na França 1998 foi introduzido o “gol de ouro”. Com essa
regra, a partida terminava assim que uma equipe marcasse na prorrogação. Nas oitavas de final, a anfitriã França
não conseguia de jeito nenhum superar a forte retranca
paraguaia. Aos 9 minutos do segundo tempo extra, tudo
indicava que o confronto seria decidido nos pênaltis. Foi
quando o zagueiro francês Laurent Blanc balançou a rede
e garantiu a classificação para a próxima fase.
Suécia 1 x 2 Senegal (após prorrogação)
Segundo africano a causar sensação
O Senegal foi a grande surpresa do Mundial de
2002. Logo na partida de estreia os africanos
causaram sensação ao derrotarem a então
campeã França por 1 a 0. Depois de Camarões em
1990, o Senegal foi a segunda seleção africana a
se classificar para as quartas de final. Para isso, os
senegaleses derrotaram a Suécia nas oitavas por
2 a 1 após a prorrogação.
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OI TAVA S DE F IN AL
Finalmente Imagens da atual Seleção só foram colocadas há alguns dias.
Psicólogos do esporte descrevem esta fase
do torneio como um teste dos nervos e mencio­
nam quatro aspectos fundamentais: autocon­
fiança, motivação, autoafirmação e capacidade
de concentração.
Quatro mil quilômetros de trailer
No meio do Rio, em um camping público desig­
nado para o Mundial, torcedores chilenos e
argentinos estão reunidos. É aqui que eles estão
acomodados com os seus trailers durante a
Copa do Mundo. Eles precisavam ver o Mundial
de perto. Para isso, viajaram distâncias de até
4.000 quilômetros. Durante o dia, ficam tran­
quilos. Quando começa a anoitecer, dirigem até
Copacabana ou até o Estádio do Maracanã.
Luis, de Santiago do Chile, observa de den­
tro da sua barraca. Ele sorri. A menos de 20
metros do local há uma via expressa de três
faixas. “Nem sempre é fácil dormir aqui, mas é
Copa do Mundo”, afirmou ele. “É por isso que
estamos aqui. Não há nenhuma regra. Bebemos
muita cerveja e vivemos o futebol.” Na vida dos
brasileiros, por outro lado, há certas regras du­
rante a Copa do Mundo, embora seja difícil de
acreditar nisso se pensarmos nos típicos cli­
chês do samba e carnaval. Uma delas é que a
vitória não basta — também é preciso jogar
bem. A segunda é que toda a nação precisa con­
seguir se identificar com a Seleção.
A primeira certamente perderá relevância
conforme a equipe de Luis Felipe Scolari avan­
çar no torneio. A segunda regra é uma questão
interessante. O momento no Brasil é de tran­
sição nesse sentido. No agitado mercado no
centro da cidade, onde os “gringos” (não
ALEMANHA 2006
ÁFRICA DO SUL 2010
Suíça 0 x 0 Ucrânia (a.p.), 0 x 3 (n.p.)
Suíça se despede sem sofrer gols
Os suíços ficaram com um sabor amargo na boca ao serem
eliminados da Copa do Mundo em 2006. A equipe não sofreu
nenhum gol na fase de grupos e se classificou para enfrentar
a Ucrânia nas oitavas de final. Os ucranianos também não
conseguiram superar a defesa suíça e a partida terminou
empatada em 0 a 0 após a prorrogação. Na disputa por
pênaltis, o selecionado helvético foi derrotado por 3 a 0
depois de desperdiçar as suas três primeiras cobranças.
EUA 1 x 2 Gana
Gana chega às quartas de final
A primeira Copa do Mundo disputada em solo
africano também teve uma seleção do continente
nas quartas. Gana venceu e convenceu ao superar
os EUA por 2 a 1 nas oitavas e se tornou a terceira
seleção africana a chegar tão longe. Nas quartas,
os ganeses fizeram uma grande atuação e só
perderam do Uruguai na decisão por pênaltis,
depois de um final de partida muito conturbado.
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OI TAVA S DE F IN AL
Confiante Um trailer argentino que já viu dias melhores.
s­ul-­
a mericanos) são objeto de curiosidade,
­foram colocadas apenas há alguns dias imagens dos jogadores do elenco atual da Seleção.
Daniel Alves, Dante ou Hulk são nomes com
quem antigamente apenas os fanáticos por
­futebol conseguiam se identificar. Agora, eles
estão por toda parte. “Chegou a vez da nova
geração”, afirmou o vendedor. “Finalmente a
equipe tem um rosto. Até a minha mãe agora
reconhece os jogadores.”
Tudo parece dentro da normalidade no Rio
de Janeiro quando estamos na proximidade da
Espera pelo jogo Um jovem chileno passa a tarde
Estação Central. Homens de terno, mulheres
em trajes formais. No ponto de intersecção
entre metrôs, ônibus e trens, longe da praia,
existe algo parecido com um cotidiano. Nos
restaurantes, há o típico cheiro de peixe. Em
um bar da esquina há muito movimento.
­Acabou de começar um jogo no “Praia de Nazaré”. O bar, fundado no final da década de
1960 por um português, já viveu muitas
­edições da Copa do Mundo.
Artillo, com os seus 50 e poucos anos, está
nervoso. Ele veste uma camisa da Argentina e
Pela vida Artillo (esquerda), da Argentina, e seu amigo brasileiro.
12
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bebe cerveja. A barriga faz com que o delicado
material fique um tanto quanto esticado.
Quando se irrita com um lance, ele reclama em
bom português. Artillo vem do sul da Argentina e mora no Rio há 32 anos. Ele remexe no
bolso da calça e nos mostra a sua tabela de jogos da Copa do Mundo. Todos os resultados
foram devidamente registrados. Então, ele
aponta com o dedo no espaço vazio da final.
Neste local, ele quer ver o nome do seu país,
afirmou. Já é hora, depois de uma longa espera
desde 1986.
Tabela de partidas Os homens anotam cada jogo.
OI TAVA S DE F IN AL
no seu ônibus.
Dia de lavar roupa No meio do Rio, os turistas da Copa do Mundo de toda a América do Sul.
“Não é fácil dormir
aqui, mas é Copa do
Mundo. É para isso
que estamos aqui.”
Três vezes
Dentro do bar, os homens despejam cerveja
nos copos em meio a muita animação. Do lado
de fora, um senhor de idade avançada está
sentado em uma cadeira, alheio ao clima de
festa. Ele se distanciou da televisão e ouve
com atenção um programa sobre política no
seu radinho de pilha. “Antigamente eu conhecia todos os jogadores da Seleção”, contou o
senhor. “Era legal. Mas hoje não quero mais
saber disso. Prefiro me dedicar às coisas realmente importantes.”
No bar há uma explosão de alegria. Artillo
abraça os amigos; alguém derruba um copo que
se quebra. Lá fora, o velho balança três vezes a
cabeça, descontente. “Esta Copa do Mundo, que
insanidade, não é?”, diz ele. “E só vai começar
pra valer agora.” Å
Oitavas de final
Brasil x Chile, 28 de junho de 2014, Belo Horizonte
Pausa para respirar Artillo durante o intervalo da partida.
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CONCENTR AÇÃO
Costa Rica
Aplicação e garra
O capitão da Costa Rica, Bryan Ruiz, tem grandes objetivos.
Garra costa-riquenha
Sarah Steiner é colaboradora de
redação da FIFA Weekly
Três grandes potências do
futebol, três campeões, três
equipes com astros como
Andrea Pirlo, Luis Suárez e Wayne Rooney:
Itália, Uruguai e Inglaterra. O tão discutido
Grupo D, o “grupo da morte”. Antes do Mundial,
a questão era qual campeão mundial precisaria
voltar para casa logo após a fase de grupos. E
essa pergunta não vinha sendo feita apenas
pela imprensa dos países envolvidos, mas
também de todo o mundo. Porém, o fato de que
três ex-campeões mundiais — incluindo a
Espanha — não avançaram para as oitavas de
final é apenas a segunda maior surpresa da
Copa do Mundo 2014.
A principal surpresa foi a Costa Rica ter
conseguido lutar para ficar com a primeira
colocação do grupo. E lutar é justamente a
palavra certa. Os costa-riquenhos entraram
no torneio com aplicação, garra e uma grande
dose de autoconfiança. O capitão Bryan Ruiz
mostrou certo descontentamento antes do
Mundial com a maneira como a sua equipe
vinha sendo tratada. “Todos falam das outras
seleções da nossa chave como se tivéssemos
sorte de sequer estar disputando o torneio”,
afirmou ele. “Acreditam que todos vão nos
derrotar. Mas é melhor tomarem cuidado
porque podemos surpreender muita gente.”
Laszlo Balogh / REUTERS
O criador de jogadas é o perfeito representante
da seleção costa-riquenha. Nascido em um
bairro pobre nos subúrbios de San José, ele foi
criado apenas pela mãe. Desde cedo, aprendeu a
se impor e a não desistir. Em 2006, ficou de fora
do elenco que foi à Copa do Mundo e deu motivo
para controvérsias, já que era considerado por
muitos o maior talento surgido no futebol da
Costa Rica em muitas décadas. Quatro anos
mais tarde, ele certamente teria ido ao Mundial
se o seu país não tivesse perdido a chance de se
classificar nos últimos segundos e apenas por
uma questão de saldo de gols. Desta vez, Ruiz
não quer deixar o sucesso escapar.
Mesmo antes do fim do torneio, o sucesso já foi
gigantesco. “Fizemos história”, afirmou Ruiz.
“Agora podemos ter sonhos ainda maiores.”
Nas oitavas de final, os costa-riquenhos
enfrentarão a Grécia, que se classificou para a
próxima fase nos últimos instantes graças a
um gol de pênalti contra a Costa do Marfim.
Sendo assim, a missão da Costa Rica agora não
será superar uma grande potência do futebol
mundial, e sim prevalecer diante do forte
sistema defensivo grego. Å
México
“Estamos jogando
pelo nosso país”
Sven Goldmann é especialista em
futebol do jornal alemão “Tagesspiegel” e atualmente está cobrindo
a Copa do Mundo no Brasil.
Agora ele também está marcando gols. Rafael Márquez está vivendo na
Copa do Mundo um retorno que talvez nem ele
considerasse possível. Aos 35 anos, o zagueiro
está jogando como nunca antes. Graças a
Márquez a defesa mexicana está sendo a
melhor da Copa do Mundo. A equipe sofreu
apenas um gol nos seus três jogos na fase de
grupos, concedido um pouco antes do término
da partida contra a Croácia, quando os mexicanos já venciam por 3 a 0. Márquez comanda o
setor defensivo no centro de tudo. O jogador
está tendo atuações brilhantes, correndo
muito, mostrando um fôlego impressionante e
dando a sua contribuição também no ataque.
A última partida da primeira fase contra a
Croácia no Recife se aproximava do fim. O
placar era 0 a 0, o que era suficiente para que
a seleção mexicana se classificasse para as
oitavas de final, mas os mexicanos queriam se
garantir. Após uma bola alçada na área em
cobrança de escanteio, quatro jogadores
subiram na área croata, mas nenhum pulou
tão alto quanto Rafael Márquez. O zagueiro
cabeceou firme para marcar o primeiro gol do
México. Mais tarde, ele também deu o passe
de cabeça para o terceiro gol da sua equipe.
Márquez é uma figura de autoridade tanto
dentro do gramado quanto na concentração
da seleção mexicana em São Paulo. A palavra
do capitão tem peso, e ninguém ousaria
contrariá-lo. Antes das oitavas de final no
domingo no Estádio Castelão em Fortaleza
contra a Holanda, ele falou aos seus companheiros que há mais coisas envolvidas do que
apenas uma partida de futebol. “Estamos
aqui para fazer história”, disse ele. “Estamos
jogando pelo nosso país.”
Pela quarta vez Márquez está vestindo a
camisa verde, branca e vermelha em um
Mundial. Nos seus três Mundiais anteriores,
o sonho terminou nas oitavas de final. Agora,
os mexicanos querem chegar mais longe, e as
esperanças disso se concentram na forte
T H E F I FA W E E K LY
15
CONCENTR AÇÃO
defesa da equipe, graças ao insuperável
goleiro Guillermo Ochoa e ao talento estratégico do xerife “Rafa” Márquez.
Na realidade, Márquez já estava longe da
seleção havia muito tempo. Há um ano,
quando o México conseguiu vencer apenas
um jogo na Copa das Confederações da FIFA,
o zagueiro já não estava mais presente.
Depois de vários anos de sucesso no Barcelona, Márquez havia decidido encerrar a
carreira defendendo o New York Red Bulls
nos Estados Unidos. No México, ele era
considerado lento demais, e o seu estilo de
jogo era tido como ultrapassado.
Mas então veio a conturbada campanha
mexicana nas eliminatórias para o Brasil
2014. O México só conseguiu a classificação
depois de trocar três vezes de técnico e
apenas graças a um gol dos EUA no último
minuto contra o Panamá. O novo técnico
Miguel Herrera não teve dúvidas — trouxe
Márquez de volta à equipe e imediatamente
deu a ele a braçadeira de capitão. Å
Holanda
Inspirados
pelo hóquei
Andreas Jaros é escritor autônomo e mora em Viena.
A concentração da seleção
holandesa no Rio de Janeiro é
sem dúvida um lugar muito
alegre. O clima no refinado hotel “Caesar
Park”, onde até mesmo Madonna já se hospedou, não poderia ser melhor. A letra do antigo
sucesso “Holiday”, que insiste que as pessoas
tirem umas férias e relaxem, é seguida à risca
pelos vencedores do Grupo B durante as
pausas para recuperação entre as partidas. É
preciso apenas atravessar a rua para chegar à
praia de Ipanema. Depois de três fantásticas
atuações em Salvador, Porto Alegre e São
Paulo, os holandeses mereciam mesmo um
certo clima de férias. Três jogos, três vitórias,
apenas três gols sofridos e dez gols marcados
na fase de grupos. Que venha o confronto
contra o México pelas oitavas de final!
O treinador Louis van Gaal não é apenas um
estrategista, mas também um meticuloso
experimentador que não deixa de testar
nenhuma alternativa para tirar 1% ou 2% a
mais do potencial da sua equipe. O técnico de
62 anos chega ao ponto de considerar a possibilidade de introduzir até mesmo certas
características do hóquei sobre a grama, como
a velocidade nos passes e os dribles rápidos.
Esse é um dos esportes mais populares na
Holanda, cuja seleção feminina recentemente
se sagrou campeã mundial pela sétima vez —
um recorde. Os homens, que estão sempre
entre os três melhores do planeta, ficaram com
a prata no último Mundial da modalidade.
Em outros países, o treinador seria motivo
de zombaria por se inspirar no hóquei. Mas
na Holanda traçar paralelos com esse esporte
tem uma longa tradição. Até mesmo o gênio
Johan Cruyff costumava assistir a partidas
de hóquei em busca de ideias quando era
técnico do Ajax.
O ex-treinador de hóquei feminino Marc Lammers defende que o esporte dos bastões teria
sido a base para o revolucionário “Total Voetbal”
Wong Maye-E / AP Photo
Bola na rede Memphis Depay (centro) marca o segundo gol da Holanda contra o Chile (placar final 2x0)
16
T H E F I FA W E E K LY
CONCENTR AÇÃO
holandês da década de 1970. “Naquela época, o
hóquei representava velocidade, criatividade,
talento individual e uma constante troca de
posições”, declarou ele. “O nosso futebol tirou
muitos aprendizados com o hóquei.”
Bélgica
As pequenas coisas
Andrew Warshaw é redator da
Inside World Football.
Em qualquer caso, Van Gaal está tão convencido do valor desse intercâmbio tático que
ele conta com dois ex-jogadores de hóquei na
sua comissão técnica. O diretor técnico Hans
Jorritsma integrou a equipe que disputou as
Olímpiadas de 1976, enquanto o ex-jogador
profissional Max Reckers foi admitido na
função de diagnosticador de desempenho e
acompanhará Van Gaal para o Manchester
United depois do Mundial.
E até mesmo o argentino Cesar Luis Menotti
ficou de olho nas arenas de hóquei antes da
Copa do Mundo 1978. Ele observou de perto a
concentração da seleção paquistanesa de
hóquei: o modo inteligente de utilizar as
laterais fez com que a sua equipe fosse um
sucesso absoluto no Mundial. Três meses
depois da visita, “El Flaco” (“o magro” em
português) levou a Argentina ao título da
Copa do Mundo. Å
“Fizemos tudo o que pudemos em termos de
preparação”, disse o educado e poliglota
jogador do Manchester City, um dos muitos
belgas que atuam na Inglaterra. “Pudemos
treinar em um ambiente calmo. E esse tipo
de coisa ajuda muito.”
Ter sucesso na Copa do
Mundo não depende apenas
de ter os jogadores à sua
disposição. Não basta ter um técnico bom
ou muitos torcedores no estádio. São as
pequenas coisas que contam, a concentração,
a comida, o ânimo, a dinâmica de grupo — e
é por isso que a Bélgica está muito otimista
antes das oitavas de final do torneio.
A chamada geração de ouro da Bélgica pode
ter o mundo aos seus pés no papel, mas como
estamos vendo durante o torneio um pequeno problema pode gerar uma enorme reação
em cadeia. A Bélgica teve os seus momentos
difíceis nas duas primeiras partidas, contra
Argélia e Rússia, mas fez o bastante para
avançar. E muito disso, diz Kompany, vem da
boa forma física dos jogadores.
Os belgas viajaram distâncias menores do
que qualquer outro jogador na parte inicial
do torneio de acordo com estatísticas oficiais. Todos nós sabemos que as estatísticas
nem sempre contam a história toda, mas o
cansaço físico tem um impacto direto no
estado de alerta mental. A Bélgica pode tirar
proveito disso?
“O ambiente calmo e a falta de viagens
ajudou, não há dúvida disso”, disse. “Para
alguns treinos só tivemos de viajar por
45 minutos. Na verdade, algumas vezes
pudemos até ir a pé. Algumas seleções
levaram dias inteiros para se locomoverem.
Na minha opinião, não é possível se preparar
corretamente se você tem de fazer viagens
longas. A preparação foi quase uma cópia do
que eu esperava.”
O capitão belga Vincent Kompany fez a
mesma pergunta quando a seleção esteve em
Belo Horizonte para o seu primeiro jogo.
Não muito depois da chegada à terceira
maior cidade do Brasil, a seleção belga foi
para um centro de treinamento a apenas
20 minutos de carro do estádio onde faria a
estreia contra a Argélia.
Clima de tranquilidade Na concentração da Bélgica, o bom humor é a ordem do dia.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido
para que possamos ver até onde a Bélgica
consegue ir sob o comando do técnico
Mark Wilmots na sua primeira Copa do
Mundo em 12 anos. Mas há certamente um
espírito coletivo, algo de que muitos
duvidavam em função de tantos talentos
individuais.
É esse entrosamento que irá contar no final
das contas, diz Kompany, que não tem medo
de que o individualismo atrapalhe. “Esta é a
primeira Copa do Mundo para a maioria de
nós, mas eu estou há dez anos no grupo, e
todos nós nos damos muito bem”, afirmou.
“Não estivemos na Copa do Mundo por um
bom tempo. Aconteça o que acontecer, me
lembrarei dela para sempre.”
Bruno Fahy / Belga Photo
Wilmots, por sua vez, faz questão de salientar que os jogadores têm um excelente
comportamento e estão concentrados no
torneio em vez de pensarem nas lucrativas
carreiras profissionais. “Troquei o eu, eu, eu
por nós, nós, nós”, diz Wilmots, que ficou no
banco naquele dia fatídico em 1990 quando,
após ter dominado o confronto de oitavas de
final contra a Inglaterra, a Bélgica perdeu por
um gol na prorrogação.
As pequenas coisas fizeram a diferença
naquela época, como as duas bolas que a
Bélgica colocou no travessão. Wilmots está
fazendo tudo o que pode para garantir que
desta vez as pequenas coisas trabalhem a
favor da equipe. Å
T H E F I FA W E E K LY
17
Nome
Thierry Henry
Data e local de nascimento
17 de agosto de 1977, Les Ulis
(França)
Clubes
Mônaco, Juventus, Arsenal,
Barcelona, New York Red Bulls
Seleção
Fred R. Conrad / laif
123 jogos, 51 gols
18
T H E F I FA W E E K LY
A EN T REV IS TA
“Devemos jogar toda Copa do
Mundo como se fosse a última”
Thierry Henry foi campeão mundial e europeu pela seleção francesa. E o seu amor
­pelos Bleus persiste até hoje. O ex-atacante acredita no sucesso do seu país no Brasil e
aconselhou os jogadores a aproveitarem ao máximo a Copa do Mundo.
Você ainda se lembra da primeira partida que
viu da seleção francesa?
Thierry Henry: A minha primeira lembrança
da seleção francesa é um gol de Marius Trésor
na Copa do Mundo da Espanha. É como se
fosse um flash. Não compreendi muito bem o
que havia acontecido. Quando me virei, vi na
televisão o replay do voleio de Marius Trésor.
O resto da história todo mundo conhece…
E foi paixão à primeira vista?
Eu ainda tinha apenas cinco anos. Além
disso, foi a única imagem que vi da seleção
francesa naqueles tempos. Quatro anos mais
tarde, no México 1986, a situação já foi um
pouco diferente. A França fez um bom torneio
e mandou o Brasil para casa. Foi então que
comecei a realmente gostar de futebol. Antes
disso, também tivemos a Eurocopa 1984 (em
que a França foi campeã). Como torcedor, foi
muito fácil me apaixonar por aquela equipe.
Você mal tinha 16 anos quando começou a
ser convocado…
Eu me lembro da primeira vez que me
deram a bolsa da seleção francesa. Foi um
orgulho. Ainda que fosse uma seleção de base
e que não desse para saber como a história
iria terminar, fiquei feliz de voltar para casa e
mostrá-la à minha família. Pode perguntar a
qualquer jogador: ninguém esquece a primeira
vez que recebe a bolsa da seleção francesa.
E a sua primeira vez com a seleção principal?
Foi contra a África do Sul, em 1997, um
jogo em Lens. Em me lembro da chegada ao
hotel. Conhecia Youri Djorkaeff e Lilian
Thuram, porque havia jogado com eles no
Mônaco. Fora isso, não foi nada de mais.
Você chega, treina, senta e assiste!
Desde quando ficou claro para você que o
amor era mútuo?
Também foi muito fácil. Afinal, disputar
uma Copa do Mundo diante da sua torcida é
sempre um grande bônus para atrair simpatia! Além disso, o torneio coincidiu com o
meu início na seleção francesa. O título
mundial de 1998 foi o auge absoluto. Todos
sonham com isso desde a infância. Sempre
nos dizemos que um dia seremos campeões
mundiais, mesmo que saibamos que isso é
apenas um sonho que provavelmente nunca
se realizará. E então, de repente, esse sonho
se realiza. E ainda por cima tudo aconteceu
muito perto do lugar onde cresci. Foi simplesmente maravilhoso. Como você se sente vendo a seleção francesa
nas mãos de Didier Deschamps?
É legal ver no comando da seleção um
ex-jogador que ganhou tudo. Fico feliz.
Sabemos também que se trata de uma pessoa
muito experiente, que disputou torneios
importantes e treinou grandes clubes. Ele era
capitão quando o conheci. Todo mundo dizia
que ele se tornaria um bom treinador e na
época ele não tinha nem parado de jogar
ainda. Não deu outra.
Que conselho você daria à nova geração de
jogadores para que eles sigam tendo sucesso
nas suas carreiras?
O único conselho que eu daria a esses
jogadores é que eles aproveitem as chances
que tiverem. A experiência virá com as
competições. Isso nem sempre é fácil... Mas
esta geração tem qualidade para dar o que
falar e conquistar um título. Espero que isso
aconteça em breve. Quando viajamos para
um Mundial, nunca sabemos se voltaremos a
disputar o torneio outra vez. Tive a oportunidade de estar presente em quatro edições
da Copa do Mundo. Por isso, pode ser que o
meu comentário pareça um pouco estranho,
mas a verdade é que devemos jogar toda
Copa do Mundo como se fosse a última. Existem jogadores na atual seleção francesa
que você admira de modo especial?
um jogador fantástico. Ele irradia calma e dá
a impressão de que já joga como zagueiro há
dez anos. Na minha opinião, ele não tem o
reconhecimento que merece do público.
Afinal, não é comum que um jogador seja tão
maduro quanto ele na sua idade, embora a
sua ida para o Real Madrid tenha ajudado
muito nesse sentido.
Vamos falar um pouco sobre as outras
equipes. Nas quartas de final da Alemanha
2006, você eliminou o Brasil com um gol.
Como você foi recebido no país agora? Muito bem. O Brasil é um país muito
hospitaleiro. Eu havia estado aqui no ano
passado. Os brasileiros vêm conversar, querem saber de onde somos. Alguns me reconhecem, outros não. Mas em geral todos são mais
ou menos familiarizados com o futebol. Fiquei
surpreso com a alegria e a cordialidade dos
brasileiros. É impressionante como eles
gostam de se divertir. Com certeza, também
falam sobre o meu gol. Por outro lado, como
costumo dizer com frequência, nem eles nem
nós conseguimos vencer aquele torneio. No
fim das contas, a única seleção que volta para
casa satisfeita e feliz é a que venceu a final e
conquistou o título.
Você conheceu e jogou ao lado de Lionel
Messi no Barcelona. Acredita que ele fará
uma grande Copa do Mundo aqui?
Mas será que a Argentina conseguirá
ser campeã desta vez? Seu último título já
tem bastante tempo. Portanto, não depende
apenas do Messi. Pelo contrário, os argentinos precisam jogar coletivamente. Então
poderemos ver um Messi fantástico em
campo. Å
Thierry Henry foi entrevistado
por Pascal De Miramon
É claro que sim! Perdemos Franck Ribéry
para a Copa, mas ele é um jogador excepcional! O mesmo vale para Karim Benzema, Paul
Pogba e Raphaël Varane. Muitos comentários
têm sido feitos sobre os jogadores do meio
de campo e do ataque. Para mim, Varane é
T H E F I FA W E E K LY
19
Primeiro amor
Local: Duba, Arábia Saudita
Data: 18 de junho de 2014
Hora: 19h46
20
T H E F I FA W E E K LY
Mohamed Alhwaity/Reuters
T H E F I FA W E E K LY
21
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PEQUENO S MOMEN T O S DA C OPA DO MUNDO
U
m tapete verde, dois gols, dois goleiros e dois jogadores que se posicionam como bem entendem. Ao apertar o botão na cabeça dos bonecos,
a perna se movimenta e chuta a bola. Todo aficionado por futebol, na Alemanha ou na Suíça, já teve esse brinquedo: o Tipp-Kick. Há pouco,
as crianças testemunharam uma jogada para imitar com o brinquedo. Na última partida do Grupo A (Brasil 4 x 1 Camarões), Luiz Gustavo
confundiu toda a defesa camaronesa com apenas um passe para Neymar, que esperava sozinho na marca do pênalti. Como se alguém tivesse apertado
a sua cabeça, o pé dele se moveu – e não para frente, como o boneco, mas para o lado. Foi um movimento rápido, quase imperceptível, um toque de
mestre. O gol deixou claro, mais uma vez, o talento incrível de Neymar. E provou que o futebol pode ser fácil, sem esforços – se jogado com a cabeça. Å
Sarah Steiner
David Gray / Reuters
E
ra impossível não perceber de cara: os dois
jovens brasileiros levavam aquilo no sangue.
Com elegância, brincavam com a bola,
fazendo uma finta aqui e outra ali e, se quisessem, podiam mostrar tanta habilidade que a
bola ficaria dois minutos sem cair na areia.
Mas, hoje, eles não estavam interessados nisso.
Atrás deles, duas garotas estavam deitadas sobre uma grande toalha. Definir prioridades,
isso é algo que se aprende logo aos 14 anos.
Tranquilos, os dois foram em direção às jovens
e puxaram conversa. Um deles parecia ser muito
engraçado. Todos gargalhavam – os brasileiros
também dominam esse jogo. Por fim, os dois se
sentaram confortavelmente no canto da toalha,
bronzeados como estavam. Uhm. E agora isto:
um deles fazia malabarismos com um braço só.
Uau, onde é que se aprende isso? Nas ruas do
Brasil? Ao ouvir a mãe chamá-los do distante
restaurante, os dois foram embora com cara
de poucos amigos. “Voltamos mais tarde”, um
deles falou, num bom inglês britânico. Å
Alan Schweingruber
M
iroslav Klose marcou, no empate da
­A lemanha com Gana em 2 a 2, o seu 15º
gol em Mundiais, igualando o recorde de
Ronaldo. Klose saiu do banco e, aos 26 do
segundo ­tempo, balançou as redes – completando o­c­ abeceio de Höwedes após o escanteio cobrado por Kroos. Até o inesquecível
goleiro alemão Oliver Kahn, hoje comentarista da TV alemã, vibrou no momento do gol.
Após o jogo, M
­ ehmet Scholl, antigo companheiro de equipe de Oliver Kahn, fazia a sua
análise do empate. Quando, então, o locutor
ao lado citou o nome de Kahn no fone de ouvido, o semblante de Scholl ­mudou. Imediatamente, Kahn e Scholl se ­lembraram do famigerado gol de Ole Gunnar Solskjaer na
final da Liga dos Campeões da UEFA de 1999
contra o Bayern – clube por onde jogavam os
comentaristas –, que deu a vitória por 2 a 1
para o Manchester United no último segundo. Daquele gol, o de Klose nada mais é que
uma cópia perfeita. Å
Perikles Monioudis
M
arcus é um dos 15 mil voluntários responsáveis por manter com charme e empolgação a calorosa atmosfera da Copa do
Mundo da FIFA. Ele é motorista da transportadora oficial do Mundial, em Salvador. Durante a viagem, conta que ama a vida militar
e que já serviu à legião estrangeira. Trafegávamos pela faixa da esquerda, quando Marcus
subitamente pisou nos freios e fez o automóvel parar abruptamente em frente ao sinal
vermelho. Atrás dele, o motorista buzinava.
Outro nos ultrapassava. O trânsito continuava fluindo, como se o semáforo fosse de mentira. Marcus disse, se desculpando: “Estamos
trafegando em um automóvel oficial. Se eu
continuasse, amanhã sairia no jornal: ‘FIFA
fura sinal vermelho’.” Marcus segue as leis do
trânsito – até o fim do seu contrato. Depois
disso, ele voltará às convenções tão costumeiras por aqui: “A lei dos fortes e dos mais rápidos”, como ele diz. Assim como na legião
­estrangeira. Å
Thomas Renggli
T H E F I FA W E E K LY
23
DEBAT E
Fronteiras claras
Sem margem
para dúvidas
Os croatas se
orientam com
base na linha
temporária.
Pela primeira vez a FIFA está utilizando em uma Copa do
Mundo o spray de sinalização de barreiras e a tecnologia
da linha do gol. Uma história de sucesso que se inicia.
D
esde um passado muito distante as discussões para saber se a bola entrou ou
não no gol fazem parte do futebol. Mas
agora a tecnologia da linha do gol e as
conversões gráficas que ela produz tornaram possível que cada espectador
tome a decisão correta nesses casos duvidosos:
o gol só se caracteriza quando a bola ultrapassa
completamente a linha. Uma animação propositalmente simples — muito similar à do "olho
de falcão" do tênis — reproduz os sinais das
câmeras da linha do gol e responde corretamente se a bola entrou ou não. Depois de vermos os benefícios da tecnologia da linha do gol
na prática é difícil imaginar o futebol sem ela
no futuro.
O mesmo se aplica ao spray de sinalização
de barreiras. Esta novidade também foi recebi-
24
T H E F I FA W E E K LY
da com ceticismo — até que as suas vantagens
ficaram literalmente visíveis: o árbitro pega o
spray e desenha uma linha no local onde deve
ficar posicionada a barreira, que agora não pode
mais avançar sem que o juiz perceba imediatamente. O costume maroto de dar uns passinhos
para frente, existente desde as categorias de
base até o futebol profissional, finalmente será
deixado de lado.
Mas o rigor com a distância entre a bola e a
barreira não se destina apenas aos jogadores de
defesa. Outra dificuldade que existia antes do
spray era evitar que o cobrador da falta empurrasse a bola um pouco em direção ao gol ou a
trouxesse um pouco para trás para se distanciar da barreira. Mas esse costume também
chegou ao fim. Antes de demarcar a barreira, o
árbitro deve determinar com um círculo o local
onde a bola deve ser posicionada para a cobrança da falta.
Tanto a tecnologia da linha do gol quanto o
spray de sinalização são recursos técnicos que
podem ajudar o futebol a se tornar mais transparente em situações em que o olho humano
não é suficiente. Com isso, a autoridade do trio
de arbitragem não é colocada em questão. Também graças aos novos recursos técnicos, a Copa
do Mundo da FIFA Brasil 2014 será lembrada
algum dia como um torneio muito atrativo. Å
O debate da Weekly.
Algum assunto tira o seu sono?
Qual tema você gostaria de debater?
Envie sugestões para:
[email protected]
Elsa / Getty Images
Perikles Monioudis
DEBAT E
MENSAGEM DO PRESIDENTE
As opiniões dos usuários do FIFA.com
sobre a primeira fase da competição
A tecnologia da linha do gol é boa. Ela já
deveria ter sido implementada há alguns anos!
LinoLeary, Grã-Bretanha
Eu amo a França, não interessa o que acontecer! A paixão dos jogadores, o compromisso deles... Essa geração pode levantar muitos
canecos! Allez les Bleus!
kkk533, França
É só pensar um pouco! O árbitro e os assistentes não podem perder de vista os 22
jogadores nem a bola. Até mesmo os melhores árbitros não conseguem ver tudo a todo
tempo. As vantagens da tecnologia devem
ser sempre utilizadas, sempre que estiverem disponíveis!
Esta é a melhor seleção colombiana de
todos os tempos. Inclusive, ela é bem
melhor que aquela dos anos 90. Vamos
minha seleção!
Ballsphere, Grã-Bretanha
Neymar é o artilheiro da Copa – até agora.
Espero que ele consiga manter o alto nível e
ganhe a Chuteira de Ouro. Ele jogou muito
bem contra Camarões, e os seus companheiros de seleção também deram de tudo.
Eu estava torcendo muito pela classificação
da Croácia, porém, infelizmente o selecionado não conseguiu bater o México.
virus920, Líbia
Deeelius, EUA
Ainda espero muita coisa da Holanda neste
Mundial. A seleção apresenta uma mescla
quase perfeita do belo estilo brasileiro com a
técnica sólida das equipes europeias. É
realmente um prazer ver os holandeses jogar,
mesmo quando eles não são os melhores. São
jogadores que não são egoístas, mas que se
complementam e passam a bola de forma
inteligente. Acho que eles vão chegar à final,
mas, pessoalmente, torço para o país da
minha esposa, o Brasil, e para os EUA.
Mesmo assim, parabéns, Laranja!
robertestx, EUA
Cesare Prandelli deixará muitas saudades,
pois é um grande treinador, e a fase no qual
esteve no comando deve ser comemorada.
Graças a Prandelli, o Catenaccio ficou no
passado, e essa talvez seja a sua maior conquista. Muita sorte a você, Prandelli!
“Essa é a
maior
­conquista de
Prandelli.”
ReusRepublis, Irlanda
As regras foram criadas por uma razão, e não
podemos confiar apenas no julgamento
humano. É hora de usar a ajuda das câmeras
para tomar decisões difíceis. E, para isso, a
tecnologia da linha do gol funciona muito bem!
A Grécia mereceu a classificação, sem contestações. O time chutou três bolas na trave.
No Ranking Mundial da FIFA, a Grécia está na
12ª posição... Isso é sorte? Com certeza, não.
Excelente trabalho, os gregos jogaram como
uma equipe e não como 11 individualistas.
brigitte.ode, Holanda
Macedonian_T , Grã-Bretanha
“Até mesmo os melhores ­árbitros
não conseguem ver tudo.”
O futebol em uma
nova dimensão
U
m futebol espetacular, emocionante, do
mais alto nível — simplesmente grandioso.
O desempenho das 32 seleções na Copa do
Mundo dificilmente poderia ser melhor. O torneio no Brasil está estabelecendo novos parâmetros. É a Copa das Copas!
O esporte mais popular do planeta está
alcançando uma nova dimensão nesses dias
— com equipes velozes, ofensivas e sem medo
de assumir riscos. No que diz respeito aos recursos técnicos, também estamos tendo experiências novas e surpreendentes.
A tecnologia da linha do gol é fantástica.
Se uma única decisão determinante (como as
dos jogos entre França e Honduras ou entre
Itália e Costa Rica) puder ser corrigida, já valeu a pena introduzir esta novidade.
O spray de marcação de barreiras, por sua
vez, foi motivo de zombaria para alguns inicialmente, mas rapidamente se transformou
em um item indispensável do jogo. Até que enfim não há mais discussões antes das cobranças de faltas e tentativas de trapacear para
ganhar alguns centímetros. Por que mesmo
não introduzimos este spray há 50 anos?
No Congresso, apresentei a ideia dos “desafios” por vídeo para os treinadores. Os técnicos poderiam assim propor “desafios” sobre
duas decisões do árbitro por jogo em situações
duvidosas. Ainda estamos discutindo, mas o
torneio está mostrando que não podemos nos
fechar para as tecnologias. Se no futuro for
possível — de modo análogo à tecnologia da
linha do gol — disponibilizar meios técnicos
em tempo real para ajudar a decidir situações
determinantes, precisamos estar abertos a
isso. Porque a transparência e a credibilidade
estão acima de tudo no futebol.
Desejo a todos uma maravilhosa segunda
fase da Copa do Mundo.
Sepp Blatter
T H E F I FA W E E K LY
25
TORCEDORES ARGENTINOS
Messi no coração
O sol argentino se levanta
nos céus de Copacabana.
Rezando na chuva
Torcedores colombianos
oram pela sua equipe.
26
T H E F I FA W E E K LY
TORCEDORES ARGENTINOS
Faixa de cabelo com
estrela Torcedora da
seleção costa-riquenha.
Maradona,
Messi e
o Papa
A Copa do Mundo no Brasil está sendo dominada pelas
­seleções das Américas. Mas nenhuma nação está expondo as
suas ambições com tanto barulho quanto a Argentina.
Thomas Renggli (texto) e Joe Raedle (fotos), do Rio de Janeiro
T H E F I FA W E E K LY
27
TORCEDORES ARGENTINOS
Pintado e decorado
Emoções junto aos
torcedores brasileiros.
Comemoração no país
vizinho Torcedores
uruguaios nas areias do Rio.
28
T H E F I FA W E E K LY
TORCEDORES ARGENTINOS
E
les passam a noite em bancos de praças, estendem os seus sacos de
dormir na areia das praias, hasteiam as suas bandeiras em meio
aos coqueiros de Copacabana, bebem Fernet Branca com Coca-Cola e são barulhentos — muito barulhentos. Nesta Copa do Mundo,
estão fazendo mais barulho do que holandeses, alemães e italianos
juntos. Cerca de 50 mil torcedores argentinos estão viajando pelo
Brasil com a sua seleção e dando ao torneio um brilho especial em azul
e branco. Para os brasileiros, entretanto, eles despertam antigos temores.
Em 1950 foram os visitantes do Uruguai que estragaram a festa da
Copa do Mundo e agarraram para si a taça que tinha tudo para ser dos
anfitriões. Sessenta e quatro anos depois, desta vez os argentinos é
que poderiam colocar água no chope dos brasileiros, dando continuidade ao “Maracanaço”, a trágica história do Maracanã. “Só voltaremos
para casa depois de conquistarmos o título”, afirmou o torcedor argentino Martino, estendendo aos céus o seu punho coberto por um
lenço com as cores do seu país.
Joe Raedle / Getty Images (5)
Potência na voz e tons discordantes
Martino é torcedor do Boca Juniors — e da “Alviceleste”, como é
chamada a seleção argentina em referência às suas cores branco e
azul celeste. Ele carrega em torno do pescoço um amuleto com o
rosto do Papa Francisco. O seu outro santo está tatuado na parte
superior do braço direito: Diego! Diego Armando Maradona! O deus
do futebol — em campo, um gênio, fora dos gramados, um driblador
sem a mesma sorte. Mas o ícone argentino superou todas as adversidades aos olhos dos seus admiradores, para quem ele continua sendo
o herói que conduziu o selecionado argentino ao título mundial em
1986, o último conquistado pelo país: “Ele é um mágico, um acrobata”,
afirmou Martino, tentando definir em palavras a sua admiração. “Diego é o maior jogador de todos os tempos”, comentou, deixando claro
com o seu olhar decidido que seria pura perda de tempo discutir com
ele sobre um certo Pelé.
Em grande número e com muita potência na voz, os argentinos estão
sendo um elemento marcante no Brasil 2014. Mas alguns deles também
produzem sons discordantes. Antes da partida contra a Bósnia e Herzegovina, alguns torcedores argentinos conseguiram invadir o Estádio do
Maracanã. Turistas chilenos que vieram à Copa do Mundo também não
seguiram as regras. Antes do jogo contra a Espanha, eles derrubaram
uma barreira na zona de imprensa e forçaram a entrada na arena.
A despeito desses incidentes desagradáveis, um fato vem ficando
cada vez mais claro: a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 está sendo
dominada pelas seleções das Américas. Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai e Costa Rica foram os grandes vencedores das duas
primeiras semanas.
Não há dúvidas de que o fato de jogar no seu próprio continente,
assunto muito comentado antes do Mundial, realmente está sendo muito vantajoso para as equipes das Américas do Sul, Central e do Norte.
Todas as vezes que a Copa do Mundo foi disputada nas Américas, o campeão foi uma seleção sul-americana. No Uruguai 1930 e no Brasil 1950, o
troféu ficou com o Uruguai, no Chile 1962, no México 1970 e nos EUA 1994
quem fez a festa foi o Brasil e, por fim, na Argentina 1978 e no México
1986 foi a Argentina que levantou a taça.
Lamentos europeus
O técnico italiano Cesare Prandelli não deixou espaço para mal-entendidos na sua interpretação. Para ele, o grande problema é o clima: “Os
jogadores da América do Sul e Central vivem e jogam sob essas condições e isso é uma vantagem”, afirmou. O treinador preferiu omitir o fato
de que na Itália, principalmente ao sul e na Sicília, também há com
frequência jogos com temperaturas acima de 30 graus. O treinador alemão Joachim Löw é outro que acredita que as condições climáticas
beneficiam as seleções “locais”. “Eles sabem como jogar sob essas condições e estão acostumados a jogar no calor do meio-dia”, analisou Löw.
No que diz respeito às condições climáticas extremas, a Alemanha foi
uma das que mais se desgastou na fase de grupos. O selecionado germânico precisou disputar todas as suas partidas da primeira fase em
cidades da quente região Nordeste — primeiro em Salvador e em seguida em Fortaleza e Recife.
Reinaldo Rueda, treinador colombiano que comanda a seleção do
Equador, minimizou a discussão sobre o calor. “O Brasil é grande como
um continente inteiro”, declarou. “Há várias zonas climáticas e por
isso é difícil falar em vantagem de jogar em casa.” E os fatos deram
razão a ele. A Inglaterra, por exemplo, foi eliminada do Mundial ao
perder do Uruguai em São Paulo com um típico clima britânico, com
temperaturas em torno aos dez graus. Os torcedores ingleses, aparentemente por desconhecer as grandes diferenças de temperatura dentro do Brasil, viajaram de chinelos e calções e acabaram sofrendo (não
apenas pelas atuações do English Team no torneio) um verdadeiro
choque térmico.
Os turistas argentinos que vieram ao Mundial, por sua vez, estão
mais bem preparados. A sua tradicional erva mate eles trouxeram da
terra natal — e tudo o mais eles adquirem no supermercado da esquina. Quem não tem onde dormir encontra portas abertas ao falar com
Martino. “Ainda tenho
vaga para três ou quatro
colegas”, disse. Mas será
que a Argentina também
conseguirá uma vaga na
final da Copa do Mundo no
dia 13 de julho? Depois da
primeira fase, as dúvidas
ainda não foram totalmente dissipadas. Apesar de a
equipe do técnico Alejandro Sabella ter conseguido
a classificação para as oitavas de final logo na segunda rodada, o desempenho da Alviceleste não
foi completamente convincente. A questão é simples: será que os companheiros de Lionel Messi, além de dar a ele todo o apoio necessário,
conseguem também formar uma coletividade digna de conquistar o
título mundial?
“Ainda tenho
vaga para três ou
quatro colegas”
Apagando 2010 da memória
É muito grande a responsabilidade de Messi perante a torcida argentina. Desde 1990, quando a Argentina chegou à final pela última vez, as
suas participações em Mundiais foram discretas. Em 1994, os argentinos foram eliminados nas oitavas de final pela Bulgária; em 1998, perderam da Holanda nas quartas de final; em 2002, não passaram da
primeira fase; e tanto em 2006 quanto em 2010 perderam da Alemanha
nas quartas de final. A torcida argentina gostaria acima de tudo de
apagar da sua história o último Mundial — não apenas pela goleada de
4 a 0 aplicada pela seleção alemã, mas também pela questionável capacidade de Diego Maradona como treinador.
No Brasil, tudo é diferente, e o caminho para o final feliz argentino
já está preparado. Martino e os colegas de viagem já imaginam uma
possível exibição de gala na final contra os arquirrivais brasileiros.
Pela tabela da Copa do Mundo, de fato poderíamos ter um duelo
entre Brasil e Argentina no dia 13 de julho no Maracanã. Até lá, todos
esperam que Messi mostre a magia do seu futebol. O status do craque
do Barcelona no seu país natal fica claro ao ouvirmos 50 mil torcedores
reverenciando o seu ídolo no estádio em alto volume e em ritmo lento:
“MEEEEESSSIIIIII”.
E o treinador Sabella também participa do coro: “Quando Messi
está com a bola, ele deixa o nosso jogo melhor”, afirmou. “Não importa o que acontecer nesta Copa do Mundo, ele é um dos melhores jogadores da história do futebol.” E caso o talento de Messi não seja suficiente, a Argentina ainda tem dois trunfos na manga: o Papa
Francisco — e a mão de Deus! Å
T H E F I FA W E E K LY
29
11 D A F I F A
TIRO LIVRE
Recordes de gols da
Copa do Mundo
Na ponta do cigarro
Alan Schweingruber
N
ão é nada educado escutar a conversa de estranhos, ainda mais no restaurante. Mas o
que fazer quando não há mais nada para se
fazer? O smartphone ficou em casa, e a parceira
está do lado de fora, fumando um cigarro...
Ela: “Hoje você quer assistir outra vez à Copa
do Mundo?”
Ele: “Estou selecionando os jogos que posso ver,
ora. Você deveria assistir aos outros.”
Depois de colocar um cigarro na boca, ela sopra
fumaça na cara dele.
“Vão começar as oitavas de final”, ele diz. “A
partir de agora, as regras são outras.”
“Nós já definimos as regras. Agora precisamos
conversar. Você só pensa em futebol: Robben,
Neymar, Rooney, ou seja lá como eles se chamam...”
Ele: “O Rooney já saiu...”
“Ah, claro! Por mim, todos eles podem sair.” Ela
toma um gole de vinho e se levanta.
“Se o seu time estivesse jogando, você levaria
isso de outra forma”, ele fala, enquanto ela sai,
desaparecendo em direção ao banheiro.
Enquanto isso, o garçom limpa a mesa. Ele está
de bom humor. Sai e volta trazendo uma mesa
com rodinhas. Em cima do móvel, há uma televisão. “Chile ou Brasil? Quem vence?”, ele pergunta ao homem. O homem revira os olhos:
toda a cena com a esposa parece ter sido programada. Ao se deparar com a TV, após voltar,
ela diz: “Tudo bem. Eu já tomei a decisão. Amanhã vou para Estocolmo visitar a minha mãe e
fico duas semanas por lá. Assim, você pode
assistir à Copa em paz, até o fim. Talvez uma
pausa faça bem a nós dois.”
Perplexo, ele olha para ela. “Mas você não
­precisa...”
“Não tem problema, eu quero ir.”
“Sério? E o que você vai fazer nessas duas semanas na Suécia?”
“Ainda estou decidindo. Vou encontrar alguns
amigos, sair para jantar.”
Pausa.
Ele: “Você vai se encontrar com o Lars?”
“Lars? Não! Não vou me encontrar com o meu
ex-namorado. De qualquer maneira, o Lars vai
estar assistindo à Copa.”
“E se não estiver?”
“O Lars gosta de futebol, eu sei disso.”
“Como você sabe disso?”, ele responde, incomodado.
“Porque ele já gostava de futebol antes.”
“É? E comigo você faz um escândalo desses.”
Ela levanta as sobrancelhas: “E foi por causa da
porcaria do futebol que nós nos separamos!”
Era o bastante para mim. Separação por causa
do futebol, está bem. Eu me virei. Brasil e Chile
começavam a partida sedentos. Um jogo de oitavas ao melhor estilo, duas horas de futebol.
Eu estava empolgado. Por coincidência, acabei
olhando pela janela e vi a minha parceira conversando com um fumante desconhecido. E
eles pareciam se divertir.
Fiz um sinal ao garçom e pedi que a conta viesse o mais rápido possível. Å
Coluna semanal da redação da
FIFA Weekly
1
Áustria x Suíça: 12 gols
Resultado: 7x5
Data: 26 / 06 / 1954
Torneio: Copa do Mundo 1954, Suíça
2
Brasil x Polônia: 11 gols
Resultado: 6x5
Data: 05 / 06 / 1938
Torneio: Copa do Mundo 1938, França
Hungria x Alemanha Ocidental: 11 gols
Resultado: 8x3
Data: 20 / 06 / 1954
Torneio: Copa do Mundo 1954, Suíça
Hungria x El Salvador: 11 gols
Resultado: 10x1
Data: 15 / 06 / 1982
Torneio: Copa do Mundo 1982, Espanha
5
França x Paraguai: 10 gols
Resultado: 7x3
Data: 08 / 06 / 1958
Torneio: Copa do Mundo 1958, Suécia
6
Argentina x México: 9 gols
Resultado: 6x3
Data: 19 / 07 / 1930
Torneio: Copa do Mundo 1930, Uruguai
Hungria x Coreia do Sul: 9 gols
Resultado: 9x0
Data: 17 / 06 / 1954
Torneio: Copa do Mundo 1954, Suíça
Alemanha Ocidental x Turquia: 9 gols
Resultado: 7x2
Data: 23 / 06 / 1954
Torneio: Copa do Mundo 1954, Suíça
França x Alemanha Ocidental: 9 gols
Resultado: 6x3
Data: 28 / 06 / 1958
Torneio: Copa do Mundo 1958, Suécia
Iugoslávia x Zaire: 9 gols
Resultado: 9x0
Data: 18 / 06 / 1974
Torneio: Copa do Mundo 1974, Alemanha
Ocidental
11
Itália x EUA: 9 gols
Resultado: 7x1
Data: 27 / 05 / 1934
Torneio: Copa do Mundo 1934, Itália
Fonte: FIFA
(FIFA World Cup, Milestones & Superlatives, Statistical Kit, 12.05.2014)
T H E F I FA W E E K LY
31
MÁQUINA DO TEMPO
A
N
T
E
S
Cairo, Egito
1994
Boaz Rottem / Getty Images
A televisão funciona como uma espécie de janela para o mundo — ou pelo
menos para o estádio. Homens e jovens assistem a uma partida da Copa do
Mundo da FIFA EUA 1994.
32
T H E F I FA W E E K LY
MÁQUINA DO TEMPO
A
G
O
R
A
Salvador, Brasil
2014
Anne-Christine Poujoulat / AFP
Mesmo na era da Internet, a boa e velha televisão
(agora de tela plana) também não pode faltar nas ruas durante a Copa do
Mundo da FIFA Brasil 2014.
T H E F I FA W E E K LY
33
R ANKING MUNDIAL DA FIFA
Pos. Seleção
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
23
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
52
54
55
56
57
57
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
34
→ http://pt.fifa.com/worldranking/index.html
Movimento no ranking Pontos
Espanha
Alemanha
Brasil
Portugal
Argentina
Suíça
Uruguai
Colômbia
Itália
Inglaterra
0
0
1
-1
2
2
-1
-3
0
1
1485
1300
1242
1189
1175
1149
1147
1137
1104
1090
Bélgica
Grécia
EUA
Chile
Holanda
Ucrânia
França
Croácia
Rússia
México
Bósnia e Herzegovina
Argélia
Dinamarca
Costa do Marfim
Eslovênia
Equador
Escócia
Costa Rica
Romênia
Sérvia
Panamá
Suécia
Honduras
República Tcheca
Turquia
Egito
Gana
Armênia
Cabo Verde
Venezuela
País de Gales
Áustria
Irã
Nigéria
Peru
Japão
Hungria
Tunísia
Eslováquia
Paraguai
Montenegro
Islândia
Guiné
Serra Leoa
Noruega
Camarões
Mali
Coreia do Sul
Uzbequistão
Burkina Fasso
Finlândia
Austrália
Jordânia
Líbia
África do Sul
Albânia
Bolívia
El Salvador
Polônia
República da Irlanda
Trinidad e Tobago
Emirados Árabes Unidos
Haiti
Senegal
Israel
Zâmbia
Marrocos
1
-2
1
-1
0
1
-1
2
-1
-1
4
3
0
-2
4
2
-5
6
3
0
4
-7
-3
2
4
-12
1
-5
3
1
6
-2
-6
0
-3
1
-2
1
-3
5
3
6
-1
17
0
-6
2
-2
-6
1
-9
-3
1
-2
0
4
1
1
3
-4
3
-5
4
-11
3
3
-1
1074
1064
1035
1026
981
915
913
903
893
882
873
858
809
809
800
791
786
762
761
745
743
741
731
724
722
715
704
682
674
672
644
643
641
640
627
626
624
612
591
575
574
566
566
565
562
558
547
547
539
538
532
526
510
498
496
495
483
481
474
473
470
460
452
451
444
441
439
T H E F I FA W E E K LY
Pos.
01 / 2014
02 / 2014
03 / 2014
04 / 2014
05 / 2014
06 / 2014
1
-41
-83
-125
-167
-209
78
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
90
92
93
94
95
96
97
98
99
100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
110
112
113
114
115
116
116
118
119
120
120
122
123
124
125
126
127
128
129
130
131
132
133
134
134
136
137
137
139
140
140
142
143
144
Liderança Quem mais cresceu Bulgária
Omã
Macedônia
Jamaica
Bielorrússia
Azerbaijão
RD do Congo
Congo
Uganda
Benin
Togo
Gabão
Irlanda do Norte
Arábia Saudita
Botsuana
Angola
Palestina
Cuba
Geórgia
Nova Zelândia
Estônia
Zimbábue
Catar
Moldávia
Guiné Equatorial
China
Iraque
República Centro-Africana
Lituânia
Etiópia
Quênia
Letônia
Bahrein
Canadá
Níger
Tanzânia
Namíbia
Kuwait
Libéria
Ruanda
Moçambique
Luxemburgo
Sudão
Aruba
Malaui
Vietnã
Cazaquistão
Líbano
Tadjiquistão
Guatemala
Burundi
Filipinas
Afeganistão
República Dominicana
Malta
São Vicente e Granadinas
Guiné-Bissau
Chade
Suriname
Mauritânia
Santa Lúcia
Lesoto
Nova Caledônia
Síria
Chipre
Turcomenistão
Granada
-5
3
0
0
1
2
4
7
0
10
1
-2
-6
-15
-1
1
71
-5
7
14
-5
-1
-5
-2
11
-7
-4
1
-2
-6
-2
0
-5
0
-10
9
6
-7
3
15
-4
-7
-3
35
0
-7
-6
-11
-5
-3
-3
11
-2
-5
-4
-7
50
31
-5
2
-4
2
-2
-6
-12
13
-8
Quem mais caiu
425
420
419
411
397
396
395
393
390
386
383
382
381
381
375
364
358
354
349
347
343
340
339
334
333
331
329
321
319
317
296
293
289
289
284
283
277
276
271
271
269
267
254
254
247
242
241
233
229
226
221
217
215
212
204
203
201
201
197
196
196
194
190
190
189
183
182
144
146
147
148
149
149
151
152
153
154
155
156
157
158
159
160
161
162
163
164
164
166
167
168
169
170
171
172
173
174
175
176
176
178
179
180
181
182
183
184
185
186
187
188
189
190
190
192
192
192
195
196
196
198
198
200
201
202
202
204
205
206
207
207
207
Madagascar
Coreia do Norte
Maldivas
Gâmbia
Quirguistão
Tailândia
Antígua e Barbuda
Belize
Malásia
Índia
Cingapura
Guiana
Indonésia
Porto Rico
Mianmar
São Cristóvão e Névis
Taiti
Liechtenstein
Hong Kong
Paquistão
Nepal
Montserrat
Bangladesh
Laos
Dominica
Barbados
Ilhas Faroe
São Tomé e Príncipe
Suazilândia
Comores
Bermudas
Nicarágua
China Taipei
Guam
Sri Lanka
Ilhas Salomão
Seychelles
Curacao
Iêmen
Ilhas Maurício
Sudão do Sul
Bahamas
Mongólia
Fiji
Samoa
Camboja
Vanuatu
Brunei
Timor-Leste
Tonga
Ilhas Virgens Americanas
Ilhas Cayman
Papua-Nova Guiné
Ilhas Virgens Britânicas
Samoa Americana
Andorra
Eritreia
Somália
Macau
Djibuti
Ilhas Cook
Anguila
Butão
San Marino
Turcas e Caícos
45
-9
6
-14
-3
-6
-9
-8
-8
-7
-8
-5
-5
-9
14
-7
-4
-12
-5
-5
-5
22
-5
5
-6
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5
10
-6
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0
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0
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163
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137
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102
99
98
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61
57
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28
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26
26
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21
18
18
16
11
8
8
6
5
3
0
0
0
PONTO DE INFLE X ÃO
Nome
Simone Farina
Data e local de nascimento
18 de abril de 1982, em Roma
Posição
Zagueiro
Clubes como jogador
2001–2002 Roma
2001–2002 Catania (empréstimo)
2002–2004 Cittadella
2004–2006 Gualdo
2006–2007 Celano
2007–2012 Gubbio
Função atual
Técnico das categorias de base do
Aston Villa
“Aceitar perder? Nunca!”
O ex-jogador Simone Farina
rejeitou a proposta para entregar um jogo. Hoje, ele serve de
exemplo de integridade na luta
mundial contra a manipulação
de resultados no futebol.
Pio Figueiroa
E
m setembro de 2011 – quando eu ainda era
profissional e atuava pelo Gubbio, da
­Serie B italiana –, um antigo companheiro
de time, que jogou comigo na Roma durante a minha juventude, me chamou
para uma conversa. Durante o encontro,
ele logo foi direto ao ponto: eu deveria fazer
com que minha equipe perdesse uma determinada partida. E, ainda por cima, por mais de
três gols de diferença.
Ele pensava que eu, como zagueiro, seria
capaz de levar o Gubbio a uma derrota na partida da Copa da Itália contra o Cesena, que tinha um time superior ao nosso. Para isso, me
ofereceu 200 mil euros. Naquela época, eu devia
ganhar o quinto desse valor. No telefone, precisei de um tempo até me lembrar dele, pois fazia
dez anos que eu não tinha notícias dele.
Ao meio-dia de um domingo ensolarado,
me apanhou de carro no centro da cidade e fomos a um café. Ele estava acompanhado de um
amigo; assim, éramos três. Nós nos sentamos,
e ele me disse sem rodeios que precisava da minha ajuda na partida entre Gubbio e Cesena,
que seria realizada dentro de dois meses. Imediatamente, rejeitei a proposta.
Simplesmente porque, para mim, o que vem
primeiro é a integridade. Além disso, eu não
cogitava nem de perto a possibilidade de acabar
com a minha carreira de jogador. Eu havia feito
vários sacrifícios para chegar esportivamente
àquele nível; então, se eu aceitasse aquilo, estaria destruindo o meu sonho e os meus princípios. Eu queria jogar – de forma limpa.
O velho companheiro de time aceitou o meu
“não”. Mesmo assim, perguntou se poderia conversar com os meus colegas de equipe e perguntou se eu podia passar a ele o telefone do capitão ou do presidente do clube. Outra vez,
neguei. Eu não podia ajudá-lo de nenhuma forma. Mas ele não insistiu, nem me ameaçou.
Pedi para ir embora naquele instante, e os dois
me levaram de volta ao centro da cidade.
Dentro do carro, o velho companheiro de
time deu a entender que eu não deveria contar
a ninguém sobre o nosso encontro. Porém,
após conversar em casa com a minha esposa,
resolvi entrar em contato com o sindicato de
jogadores da Itália. Eles me informaram que eu
poderia ser suspenso se fosse direto à polícia.
Seguindo o conselho que me deram, fui no dia
seguinte à sede da Federação Italiana de Futebol falar sobre o acontecido. Eles, então, avisaram a polícia: o meu “não” teve como conse­
quência a prisão de 17 pessoas.
Foram meses difíceis os que se seguiram.
Quem eu deveria procurar? Eu me sentia
abandonado, sozinho. Estava preocupado
com a minha família, principalmente com os
meus dois filhos.
Mesmo que a minha carreira profissional
tenha acabado, não questionei em nenhum momento a minha decisão. Por fim, fui recompensado pela integridade. Hoje, viajo o mundo
como Embaixador do Fair Play para contar aos
atletas sobre essa experiência. E, acima de tudo,
tive um sonho realizado: atualmente, trabalho
como técnico das categorias de base do Aston
Villa e sou responsável pelas crianças. Å
Gravado por Perikles Monioudis
Personalidades do futebol relembram
um momento marcante da sua vida.
T H E F I FA W E E K LY
35
EVERY GASP
EVERY SCREAM
EVERY ROAR
EVERY DIVE
EVERY BALL
E V E RY PAS S
EVERY CHANCE
EVERY STRIKE
E V E R Y B E AU T I F U L D E TA I L
SHALL BE SEEN
SHALL BE HEARD
S H A L L B E FE LT
Feel the Beauty
BE MOVED
THE NEW 4K LED TV
“SONY” and “make.believe” are trademarks of Sony Corporation.
NETZER RESPONDE!
O OBJETO
É possível que uma
seleção que corre por fora
chegue à final?
Pergunta de Fabio Rossi, Alba (Itália)
Perikles Monioudis
J
Boas chances O colunista Günter Netzer acredita nas seleções não favoritas.
Sven Simon / imago, FIFA Sammlung
E
stou impressionado com esta Copa do
Mundo. E devo continuar assim nas oitavas de final. Acredito que quem corre por
fora tem, sim, boas chances. No entanto,
tenho as minhas dúvidas de que essas
seleções consigam chegar à final.
O Chile vem fazendo uma campanha sensacional. Os sul-americanos andam confirmando
apenas o que já haviam mostrado antes nos
amistosos: a capacidade de competir de igual
para igual com as grandes seleções, até mesmo
em grandes competições. E isso tem uma razão. Vejo uma equipe que tem muita sede de
vitória. Além disso, o Chile joga agressivamente e está inspirado. Também é possível observar que goza de um ambiente saudável.
Agora, será interessante ver como o selecionado se comportará contra o Brasil. Não é preciso dizer o quanto será difícil essa tarefa. Porém, acredito que o Chile não irá se acuar
frente aos pentacampeões mundiais. A seleção
de Jorge Sampaoli não irá se impressionar com
os grandes nomes do Brasil.
E uma coisa é fundamental. Para que haja
uma caminhada em direção à final, é imprescindível que um país que corre por fora
­também consiga vencer quando não estiver
nos seus melhores dias. Afinal, nenhuma equipe do mundo consegue manter o alto nível
durante essas sete partidas. Há lesões e suspensões, além de partidas nas quais dois ou
três dos melhores jogadores não conseguirão
fazer boas exibições.
Para chegar à decisão, uma equipe tem de
saber compensar essas dificuldades. E isso não é
diferente para Brasil, Alemanha ou Argentina. Å
ogar a bola com as mãos é uma grande tentação em alguns momentos no futebol. Não
apenas para alguns jogadores de linha que
esticam os braços para alcançar bolas longas —
e ficam torcendo para que o árbitro não veja. E
também não estamos pensando somente nos
goleiros, já que para eles colocar a mão na bola
não é nenhuma tentação. Os arqueiros estão
autorizados a isso. Podem se entregar ao prazer
de agarrar a bola à vontade.
O jogo de salão acima retratado (Inglaterra,
1910; Coleção da FIFA) se chama “Finga-Foota”,
derivação das palavras “dedo” e “pé” em inglês,
deixando claro que a bola deve ser movida
usando os dedos — para driblar, passar ou chutar. Para isso, os jogadores utilizam uma proteção de borracha para cobrir os dedos médio e
indicador e também vestem as mãos com uma
figurinha de cartolina (há seis na caixa). Essas
figurinhas permitem que os jogadores se pareçam, por exemplo, com Charlie Chaplin ou outra personalidade. Fica evidente que o jogo é
feito para ser divertido.
Esportes para os dedos são atividades muito populares hoje em dia — embora não sejam
tão comumente relacionadas ao futebol. Tornou-se um hábito muito comum entre skatistas
ensaiar as manobras que pretendem praticar
em parques ou competições com o auxílio de
skates em miniatura. Hoje em dia podemos encontrar minipranchas de skate de brinquedo
em qualquer supermercado.
Aparentemente, a popularidade dos pequenos skates superou até mesmo a dos carrinhos
de brinquedo — pelo menos temporariamente.
Afinal, a brincadeira com os miniskates envolve
um grau maior de desafio por exigir uma certa
destreza. E esta habilidade também pode ser
benéfica para outras atividades, como tocar
piano, lançar dardos ou para um aprendiz de
cabeleireiro.
Então, vamos treinar! Talvez o “Finga-Foota” possa até mesmo melhorar o desempenho
dos jogadores em campo. Å
O que você sempre quis saber sobre
futebol? Pergunte a Günter Netzer:
[email protected]
T H E F I FA W E E K LY
37
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Uma publicação semanal da
Fédération Internationale de Football
Association (FIFA)
Internet:
www.fifa.com/theweekly
QUI Z DA C OPA DO MUNDO DA F IFA
O que é, o que é: um gol com salto mortal, duas cores para duas
chuteiras e 23 jogadores de 23 equipes?
Editora:
FIFA, FIFA-Strasse 20,
CEP: CH-8044 Zurique
Tel.: +41-(0)43-222 7777
Fax: +41-(0)43-222 7878
Presidente:
Joseph S. Blatter
1
Quem marcou o seu 15º gol em Mundiais contra Gana?
Secretário-geral:
Jérôme Valcke
Diretor de comunicação e
relações públicas:
Walter De Gregorio
Redator-chefe:
Perikles Monioudis
Redação:
Thomas Renggli (autor),
Alan Schweingruber, Sarah Steiner
Direção de arte:
Catharina Clajus
K Apenas ele
2
L Os dois
R Apenas ele
S Os dois
Todos estes cinco jogadores estão jogando nesta Copa do Mundo pelas seleções de...
Editor de fotografia:
Peggy Knotz
OJapão
I Ásia + América do Sul
E Coreia do Sul
A África + Ásia + América do Sul
Produção:
Hans-Peter Frei
Layout:
Richie Krönert (coordenação),
Marianne Bolliger-Crittin,
Susanne Egli, Mirijam Ziegler
3
Os 23 jogadores em questão jogam por 23 clubes diferentes. Mas por qual seleção?
Revisão:
Nena Morf, Kristina Rotach
Equipe regular:
Sérgio Xavier Filho, Luigi Garlando,
Sven Goldmann, Hanspeter Kuenzler,
Jordi Punti, David Winner,
Roland Zorn
Equipe especial para esta edição:
Andreas Jaros,
Pascal De Miramon,
Dominik Petermann,
Alissa Rosskopf,
Andrew Warshaw
Secretária de redação:
Honey Thaljieh
H
4
I
T
Y
A chuteira esquerda tem uma cor totalmente diferente da chuteira direita — quem calçou essas
chuteiras na Copa do Mundo?
Gerência de projeto:
Bernd Fisa, Christian Schaub
Traduções:
Sportstranslations Limited
www.sportstranslations.com
Impressão:
Zofinger Tagblatt AG
www.ztonline.ch
M
N
T
Y
Contato:
[email protected]
A reimpressão de fotos e artigos da
The FIFA Weekly, ainda que apenas
de excertos, só é permitida com a
autorização da redação e fazendo
referência à fonte (The FIFA Weekly,
© FIFA 2014). A redação não tem a
obrigação de publicar textos e fotos
que nos sejam enviados sem
solicitação. A FIFA e o logotipo da
FIFA são marcas registradas.
Produzido e publicado na Suíça.
As opiniões publicadas na
The FIFA Weekly não necessaria­
mente correspondem aos pontos
de vista da FIFA.
A solução do Quiz da semana passada foi: KING
Explicação em detalhes em www.fifa.com/theweekly
Inspiração e motivação: cus
Envie a sua solução até 2 de julho de 2014 para o email [email protected].
Os leitores que enviarem as soluções corretas para todos os quizes publicados a partir de 13 de junho de 2014 concorrem,
em janeiro de 2015, a uma viagem com um acompanhante para a cerimônia da Bola de Ouro FIFA,
que acontecerá no dia 12 de janeiro de 2015. Antes de enviarem as suas respostas, os participantes devem
ler e aceitar as condições de participação e as regras do concurso, que podem ser vistas em
pt.fifa.com/mm/document/af-magazine/fifaweekly/02/20/51/99/pt_rules_20140613_portuguese_portuguese.pdf
T H E F I FA W E E K LY
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P E R G U N T E À F I F A W E E K LY
ENQUETE DA SEMANA
Qual goleiro irá vencer o
prêmio Luva de Ouro adidas?
Como a tinta do spray de
marcação some em tão
pouco tempo?
João Silva dos Santos, de São Paulo
(Brasil)
A substância que sai da lata de
spray consiste em 20% de gás
butano, 1% de tensioativos e
cerca de 2% de outras substâncias. O resto é água. Quando a
substância é aplicada no gramado, o butano se “expande” e
libera uma espuma. Assim que as
bolhas da espuma explodem,
evapora a marcação. O tempo em
que a linha fica visível vai de 30
segundos a dois minutos. Depois, não fica nenhum resquício
que seja danoso, pois a espuma é
biodegradável. A lata contém
147 mililitros. (thr)
O prêmio Luva de Ouro adidas
será concedido, no fim da
competição, ao melhor goleiro.
Você já tem um favorito?
Envie a sua resposta para:
[email protected]
R E S U LTA D O DA Ú LT I M A S E M A N A
Quais seleções do Grupo H se classificarão para as oitavas de final?
66%
16%
Bélgica e Rússia
7%
Bélgica e Coreia do Sul
5%
Rússia e Coreia do Sul
3%
Argélia e Rússia
3%
Argélia e Coreia do Sul
100 32
A SEMANA EM NÚMEROS
partidas e quatro
meses. Esta foi a
suspensão estipulada pela Comissão
Disciplinar da FIFA
ao atacante urugu-
gols na
Copa do
Mundo!
Essa
marca foi
comemo-
aio Luis Suárez. Na
rada pela
terceira partida do
seleção
Uruguai na fase de
francesa
anos desde que a Argélia havia vencido pela última
grupos da Copa do
na vitória
vez uma partida na Copa do Mundo da FIFA. Agora,
Mundo, contra a
por 5 a 2
a maldição foi quebrada. Os argelinos derrotaram a
Itália, o jogador de
sobre a
Coreia do Sul por 4 a 2 na segunda rodada do
27 anos mordeu o
Suíça,
Grupo H e se tornaram assim a primeira seleção
adversário Giorgio
válida
africana a marcar quatro gols em uma só partida
Chiellini no ombro.
pelo
da Copa do Mundo.
Getty Images
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Bélgica e Argélia