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U M
H O M E M
D E
MO R A L
E NT R E V I S TA
C O M
M A R K
LA NE G A N
POR MARINA MANTOVANINI . FOTO DE SHOW POR PAULO BORGIA
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om uma carreira extensa e sólida, o cantor se tornou conhecido no final
dos anos 1980, como vocalista do Screaming Trees. O começo, com os
amigos Van Conner, Gary Lee Conner e Mark Pickerel em Ellensburg,
uma cidade próxima a Seattle, foi como o de qualquer banda: fizeram uma
demo, chamada Other Worlds – posteriormente relançada –, encontraram o
produtor Steve Fisk, que se interessou pela fusão sonora da psicodelia dos
anos 1960 com o punk dos anos 1970 e o garage rock dos 1980, e gravaram
o disco Clairvoyance, pela Velvetone Studios, de Steve.
C
O primeiro grave ecoou no Comitê
Club em São Paulo como se os
pulmões de MARK LANEGAN
tivessem se soltado de seu corpo,
para que sua voz fluísse sem
o menor chiado. Era apenas a
passagem de som, mas ele já havia
tomado conta do lugar. Vestido de
preto, um Lanegan concentrado
supervisionava todos os detalhes:
a iluminação, o posicionamento
no palco, a afinação do violão
de Dave Rosser, seu parceiro em
projetos como The Gutter Twins.
Era a segunda vez do artista
em São Paulo, mas a primeira
acompanhado apenas pelas seis
cordas de Dave. 1
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O primeiro álbum os levou para o selo independente SST Records, de Greg
Ginn (Black Flag), com o qual lançaram três discos antes de partir para a
Sub Pop: Even If and Especially When (1987), Invisible Lantern (1988) e Buzz
Factory (1989), disco de despedida da SST, carregado de sujeira, em um presságio do que seria o rock dos anos 1990.
Você acha que a sonoridade do Screaming Trees mudou quando a banda
foi pra Sub Pop?
Acho que não... Quer dizer, acho que não muito. Na verdade, o último álbum
que gravamos com a SST foi produzido por Jack Endino, que produziu álbuns
seminais pra Sub Pop. Quando mudamos pra Sub, ainda não existia o fenômeno Seattle, e quando tudo aquilo explodiu nós já tínhamos ido pra Epic.
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“E U QUASE
UM
NUNCA
C LUBE
PRA
EU REALMENTE
AM IGO
QUE
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C LUBE É
VER
ESTEJA
C O MO
QUE
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SÓ
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TEM
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LEVAR
UM
QUE
UM
AMI G O
PRA
UM
VAMPIRO
UMA
A
IGREJA”
Você gravou o seu primeiro álbum solo, The Winding
Sheet (1990), pela Sub Pop, quando ainda estava no
Screaming Trees. O que o fez buscar uma sonoridade
mais acústica?
Tinha um cara chamado Greg Sage (guitarrista e vocalista
da banda The Wipers) que era uma grande influência pras
bandas daquela região, mas que não fez muito sucesso
fora dali. Ele gravou um álbum totalmente acústico, um
disco meio soul, e eu gostei muito. Me fez pensar que eu
poderia fazer algo assim também.
E você gostou do resultado?
Achei o disco do Greg muito melhor do que o meu (risos).
O fato de o Screaming Trees não ter tido o sucesso comercial de bandas como Soundgarden, Nirvana e Alice in
Chains ajudou no desenvolvimento da sua carreira solo?
É difícil dizer isso. Eu sempre soube que queria viver de
música. Quando pensava no futuro, me via fazendo isso.
Na verdade, acho que o fato de não ter feito tanto sucesso
comercial me ajudou a ter boas noites de sono (risos).
Na Sub Pop, a passagem foi rápida. O Screaming Trees gravou apenas o EP
Change Has Come, e logo estava na Epic Records. Em meio a brigas e reviravoltas, a banda produziu hits como “Dollar Bill” e “Nearly Lost You”, do
aclamado álbum Sweet Oblivion, e conseguiu arrastar seu conturbado relacionamento até o ano 2000.
Com o fim do grupo, a fase grunge de Lanegan deu lugar a um som carregado
de blues, soul e fumaça. A voz grave e intensa ganhou contornos mais trabalhados. No estilo soturno de figuras como Leonard Cohen e Nick Cave, o cantor
construiu uma carreira de respeito. Os trabalhos solo, que já apitavam desde
1994, com o lançamento de seu segundo disco, Whiskey For The Holy Ghost,
eram um prenúncio de um futuro promissor.
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X
X
A sua carreira solo trouxe boas surpresas, como o álbum de regravações I’ll
Take Care of You (1999). Dá a impressão de que você mergulhou na história da música americana. A intenção era fazer alguma espécie de resgate?
Não de forma intencional. Só quis cantar músicas das quais eu gosto, não
pensei mesmo na história delas. São canções que eu escutava no meio dos
anos 1990, que me transformaram em quem sou hoje. A maioria é coisa
antiga, algumas dos anos 1980. Algumas eu já havia até gravado, mas não
tinha colocado em nenhum disco. Escolhi músicas que eu sei que posso
cantar, nas versões que mais me agradaram.
Desde Bubblegum (2004) você não lançou mais nenhum álbum solo. Tem
alguma coisa vindo por aí?
Espero que em breve eu tenha algo pra compartilhar com o público. É essa
a minha ideia.
Bubblegum é um disco menos acústico e mais rock em relação aos anteriores. Você planeja algo nessa linha?
Vou tentar fazer algo que tenha um pouco dos dois estilos. É meio difícil dizer neste momento, é complicado falar do futuro ,porque pra mim as coisas
simplesmente acontecem. Às vezes começo com uma ideia e de repente
estou seguindo outro caminho.
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E como rolou a parceria com a Isobel Campbell?
Ela mandou uma carta pra minha gravadora perguntando se eu cantaria umas
músicas dela. Junto com a carta, enviou uma música. Eu já era fã do trabalho
da Isobel, era fã do Belle and Sebastian, e também dos discos que ela tinha
feito numa linha soul. Quando ouvi a canção, gostei e topei fazer o projeto.
Nos discos com a Isobel, ela compõe todas as músicas e você apenas
interpreta. É uma dinâmica interessante, porque geralmente é você quem
escreve suas músicas.
Entendo o que você quer dizer. É diferente porque, além de ser a composição de outra pessoa, é o ponto de vista de uma mulher, que obviamente
é mais emocional. Ela faz um tipo de música que eu não consigo fazer. Eu
gostaria também de ter uma certa dose de inocência, mas pra mim é muito
difícil. Ao mesmo tempo, gosto de cantar o que ela escreve. A Isobel é uma
pessoa muito foda, uma grande amiga, eu gosto da companhia dela. Tem
como não gostar de fazer discos com ela?
FALAR
“É
MEIO
DO
FUTURO ,
ACO NTECEM.
DIFÍCIL
ÀS
D I ZER
NESTE M O M ENTO ,
PO RQU E PR A M I M
VEZES
C O M EÇO
CO M
AS CO I SAS SI M PL ESM ENTE
UM A I D EI A E DE R EPENTE
ESTO U SEG UI NDO
Ao mesmo tempo em que lançava discos com participações de parceiros
como PJ Harvey e Greg Dulli, Lanegan se envolvia em diversos outros projetos. Em 2000, participou do álbum Rated R, do Queens of The Stone Age.
Dois anos depois, foi convidado para ser membro oficial da banda – além de
compor e cantar em algumas faixas do álbum Songs for the Deaf, participou
de turnês e fez shows memoráveis com o QOTSA.
Mesmo sem colocar nenhum disco solo nas prateleiras desde 2004, ele se
manteve na ativa, lançando três álbuns em parceria com Isobel Campbell:
Ballad of the Broken Seas (2006), Sunday at Devil Dirt (2008) e o recém lançado Hawk. Paralelamente, criou com Greg Dulli o projeto The Gutter Twins.
X
X
X
Músicos como você e o Mike Patton têm uma rotina musical curiosa. Estão
sempre tocando com gente diferente, criando novos projetos. Era isso
que você buscava na sua carreira?
As colaborações foram simplesmente acontecendo, e fico feliz com isso.
Trabalhar com pessoas diferentes e fazer coisas que normalmente eu não
faria faz com que a música continue interessante pra mim. Me mantém vivo.
Quando estou fazendo uma coisa sozinho, que é minha, sei como quero que
seja. Mas, quando estou trabalhando com outra pessoa, vejo também o ponto de vista do outro, e geralmente aprendo alguma coisa nova, experimento
alguma coisa diferente. Isso é muito importante pra minha felicidade.
É CO M PL I CADO
O UTR O
CAM I NHO ”
Você e o Greg Dulli já eram amigos de longa data. Como rolou a ideia do
projeto The Gutter Twins?
Foi algo que surgiu de forma espontânea, justamente por causa da nossa
amizade. Nós já tínhamos feito participações em trabalhos um do outro. Ele
tocou teclado no meu projeto solo, eu cantei com o The Twilight Singers.
Nós íamos junto pro estúdio às vezes, quando tínhamos tempo, geralmente
na época do Natal, pra gravar umas músicas por diversão, sem nenhuma
pretensão. Depois de alguns anos fazendo isso, percebemos que tínhamos
quase um disco completo, com músicas que não eram apenas minhas ou
dele, eram nossas. Aí decidimos montar a banda.
Você mora em Los Angeles há 13 anos. Tem acompanhado a cena musical
da cidade?
Eu quase nunca saio. Só vou a um clube pra ver alguém que eu realmente
queira, ou algum amigo que esteja fazendo um show na cidade. Tem um
amigo meu que diz que me levar pra um clube é como levar um vampiro a
uma igreja (risos).
E o que você tem escutado quando está em casa ou na estrada?
Geralmente, quando me perguntam isso, me dá um branco (risos). Quando estou viajando gosto de ouvir música ambiente, músicas instrumentais pra relaxar.
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E como gerenciar toda essa produção? Você impõe prazos a si mesmo?
Depende do que estou fazendo. Se estou em casa, gosto de compor pela
manhã e um pouco à tarde. Quando estou na estrada, o ritmo é diferente,
crio quando tenho tempo. Em geral fico mais na estrada do que em casa,
mas estou sempre compondo músicas novas.
Perguntado sobre o porquê de tanto mistério sobre o que planeja fazer daqui
para a frente, Lanegan esclarece que esse ar de pouco-caso é apenas uma maneira de se manter protegido: “Com o tempo aprendi que existem muitas pessoas
querendo te sacanear”. Sobre a amizade com Kurt Cobain e Layne Staley, ele prefere não comentar. O problema com as drogas é outro assunto que o músico quer
deixar para trás. Melhor assim: o que realmente importa é o que está por vir. 3
Como foi o tempo que você passou com o Queens of The Stone Age?
Era mais um lance de compor com o Josh [Homme] e cantar algumas músicas com eles. Foi demais, muito divertido. Eu não tinha como achar ruim.
A minha vida não tinha rotina, tudo o que eu fazia era conversar com eles
sobre música e levar o processo na boa. Pra mim, tocar nunca vai ser um
trabalho, porque eu gosto de verdade do que faço.
2SAIBA MAIS
myspace.com/marklanegan
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