ENEQ 2014 - Lidiane
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ENEQ 2014 - Lidiane
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) Uma análise dos Conceitos Científicos abordados no Desenho Animado LMN’s Elements. Lidiane de Lemos Soares Pereira1 (PQ)*, Gracielle de Oliveira Sabbag Cunha1 (PQ). [email protected]. 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – Câmpus Anápolis. Palavras-Chave: Conceitos Científicos, Desenho Animado, Ensino de Química . RESUMO: A área de pesquisa em ensino de química possui aproximadamente trinta e cinco anos de história no Brasil e ainda hoje encontramos problemáticas a serem enfrentadas pelos pesquisadores no que diz respeito ao ensino de conceitos. Sendo assim, tal pesquisa tem por objetivo uma análise dos conceitos científicos abordados no desenho animado LMN’s Elements como intuito de contribuir para o debate acerca do ensino de química. Nossos dados foram coletados por meio do site do YOUTUBE, no canal específico “lmnscartoonspa” onde se encontram 9 episódios disponíveis. Os dados coletados foram transcritos e analisados qualitativamente. Nossos resultados permitem inferir que os desenhos podem se constituir como uma ferramenta para um ensino de química com um maior caráter lúdico, entretanto ressaltamos a necessidade de refletir sobre a forma como os conceitos são abordados no desenho animado sendo um compromisso do professor problematizar possíveis erros disseminados na mensagem de tais desenhos animados. INTRODUÇÃO Apesar de uma história de aproximadamente trinta e cinco anos de pesquisa em ensino de química cercada de inúmeros problemas e temáticas investigadas, muitos professores ainda se perguntam o porquê de se pesquisar o ensino. Desde 1995, quando da criação da revista Química Nova na Escola, sua primeira edição já contemplava tal discussão, dizendo que devemos pesquisar o ensino: Principalmente devido a cursos de licenciatura pouco eficientes para a formação de professores, é comum encontrarmos em inúmeros colegas uma visão muito simplista da atividade docente. Isto porque concebem que para ensinar basta saber um pouco do conteúdo específico e utilizar algumas técnicas pedagógicas, já que a função do ensino é transmitir conhecimentos que deverão ser retidos pelos alunos. Esse ensino, usualmente denominado ‘tradicional’ (Schnetzler e Aragão, 1995, p. 27). Infelizmente, após todos esses anos, a situação ainda não mudou muito, já que em 2002, tal autora refaz uma nova discussão quanto às conquistas e perspectivas para o ensino de química e reforça a ideia de que nos primórdios, o maior interesse da área de pesquisa em ensino de química se concentrava em questões relativas aos conteúdos das disciplinas científicas, aos objetivos da educação em ciências, à efetividade de diferentes abordagens instrucionais e aos efeitos dos novos currículos na aprendizagem e atitudes dos alunos (Schnetzler, 2002). Sendo assim, após os anos 70, com os resultados gerados dessas pesquisas citadas anteriormente, os educadores em ciências, focaram suas preocupações em investigações sobre a aprendizagem de conceitos científicos, fazendo dessa forma com que suas contribuições pudessem ser utilizadas para pensar propostas curriculares mais eficazes (Schnetzler, 2002). Com isso, era de se esperar que transcorrido esses trinta e cinco anos, a discussão a respeito dos problemas pertinentes à aprendizagem das ciências deveriam XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) estar em outro patamar, haja vista a publicação de inúmeros trabalhos que apontam para o problema de aprendizagem dos conceitos científicos especificamente no ensino de química. Dessa forma, percebemos uma intrínseca relação com à formação docente que em muitas universidades ainda se dá pelo modelo da racionalidade técnica. No caso da formação docente, esse modelo concebe e constrói o professor como técnico, pois entende a atividade profissional como essencialmente instrumental, dirigida para a solução de problemas mediante a aplicação de teorias e técnicas. No entanto, há aqui sérios condicionantes que conferem pouca efetividade a essa formação: i) os problemas nela abordados são abstraídos das circunstâncias reais, constituindo-se em problemas ideais que não se aplicam às situações práticas, ou seja, instaura-se o distanciamento entre teoria e prática; ii) a formação dita “pedagógica” (com menor status) é dissociada da formação científica específica, configurando caminhos paralelos que quase nunca se cruzam ao longo do curso (a não ser nas disciplinas de Didática e Prática de Ensino de Química), sendo os responsáveis pela crise das licenciaturas (Schnetzler, 2002, p. 17). Entretanto, tal problemática não é a única dos cursos de formação de professores, já que outros trabalhos (PORTO, 2011) contemplam a falta de conhecimentos relacionados à história e filosofia das ciências e as relações Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente - CTSA amplamente discutidas nos documentos oficiais como os parâmetros curriculares nacionais. [...] o conhecimento químico não deve ser entendido como um conjunto de conhecimentos isolados, prontos e acabados, mas sim uma construção da mente humana, em contínua mudança. A História da Química, como parte do conhecimento socialmente produzido, deve permear todo o ensino de Química, possibilitando ao aluno a compreensão do processo de elaboração desse conhecimento, com seus avanços, erros e conflitos (BRASIL, 2000, p. 31). Quanto ao enfoque CTSA, corroboramos com Santos et al (2011): Podemos afirmar, assim, que o enfoque CTSA pretende: a) a análise e a desmitificação do papel da ciência e da tecnologia como conhecimento hierarquizado e que leva ao desenvolvimento; b) a aprendizagem social da participação pública nas decisões relacionadas com os temas tecnocientíficos e c) uma renovação da estrutura curricular dos conteúdos, de forma a colocar a C & T em concepções vinculadas ao contexto social (Santos et al, 2011, p. 140). Cabe ressaltar que atender a uma educação para o exercício da cidadania, pressupõe que os professores entendam que a construção do conhecimento científico pelo aluno passa necessariamente pelas interações estabelecidas ao longo de sua vida escolar. [...] aprender ciências não é uma questão de simplesmente ampliar o conhecimento dos jovens sobre os fenômenos – uma prática talvez denominada mais apropriadamente como estudo da natureza – nem de desenvolver ou organizar o raciocínio do senso comum dos jovens. Aprender ciências requer mais do que desafiar as idéias anteriores dos alunos, através de eventos discrepantes. Aprender ciências requer que crianças e adolescentes sejam introduzidos numa forma diferente de pensar sobre o mundo natural e de explicá-lo; é tornar-se socializado, em maior ou menor grau, nas práticas da comunidade científica, com seus objetivos específicos, XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) suas maneiras de ver o mundo e suas formas de dar suporte às assertativas do conhecimento (Driver et al, 1999, p. 36) Sendo assim, Mortimer et al (2000) ressalta que para que ocorra um efetivo aprendizado da química seria necessário o domínio de três aspectos do conhecimento químico, que ele denomina de fenomenológico (diz respeito ao entendimento dos fenômenos observados), representacional (diz respeito ao entendimento das representações da química, como fórmulas e equações químicas) e teórico (diz respeito ao entendimento do conceito em si.) Para contemplar o pensamento do aluno e também os diferentes contextos nos quais a Química é relevante, é necessário que o programa seja bem dimensionado em relação à quantidade de conceitos a serem abordados e que promova o desenvolvimento dos conceitos científicos . Trabalhar com um número excessivo de conceitos, como ocorre nos currículos tradicionais, tem como pressuposto que aprender Química é tão-somente aprender o conteúdo químico (Machado e Mortimer, 2007, p. 28). Hoje, vários meios de comunicação (Congressos, Simpósios, publicações em revistas, televisão) tem se preocupado em disseminar conhecimentos acerca das ciências e desencadear nos professores ações que possibilitem uma maior reflexão sobre os aspectos referentes à melhoria desse processo de ensino-aprendizagem dos conceitos científicos. Quanto ao aspecto da comunicação, Salvador e Lobo Neto (1993, p. 6) dizem que “o fato mesmo de ser a comunicação o processo básico da interação humana, faz dela um fundamento do processo educativo. E, o que é importante ressaltar, faz dela um privilegiado objetivo educacional”. Segundo Mesquita e Soares (2006) a televisão como instrumento de comunicação está presente na vida diária dos jovens e faz parte de sua formação cidadã. Na programação da TV, os desenhos animados fazem parte do imaginário infanto-juvenil e em alguns desses desenhos é possível encontrar a abordagem de temas relacionados à ciência. Em alguns desenhos animados, são abordados temas relacionados à ciência. Pode-se classificar estes desenhos em dois grupos: os que usam os conceitos relativos à ciência para ensinar o público telespectador (desenhos educativos), e os que não têm o compromisso com a educação, apenas usam os conceitos dentro da ludicidade da sua linguagem, dinamizando, de forma diferenciada, o texto audiovisual (desenhos criativos). Do primeiro grupo, cita-se como exemplo: Capitão Planeta (TV a cabo, canal Boomerang), Cyberchase (TV Cultura e canal Boomerang) e Ozzie e Drix (canal Cartoon Network) (Mesquita e Soares, 2008, p. 420). Do ponto de vista do segundo grupo podemos relatar os desenhos animados japoneses como o “Full Metal Alchemist”. Este anime, como são denominados, possuem uma história tendo como pano de fundo a alquimia e os conceitos que envolvem a trasmutação de objetos e a existência de uma pedra filosofal. Sendo assim, acreditamos que os desenhos animados podem influenciar diretamente na compreensão dos alunos à respeito de determinados conceitos que são parcialmente divulgados pela mídia (Kosminsky e Giordan, 2002). Concordamos com Mortimer e Scott (2002) quanto a construção de significados em salas de aula de ciências. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) ...consideramos que relativamente pouco é conhecido sobre como os professores dão suporte ao processo pelo qual os estudantes constroem significados em salas de aula de ciências, sobre como essas interações são produzidas e sobre como os diferentes tipos de discurso podem auxiliar a aprendizagem dos estudantes. Dificilmente alguém discordaria da importância central do discurso de professores e alunos na sala de aula de ciências para a elaboração de novos significados pelos estudantes. No entanto, relativamente pouca atenção tem sido dada a esse aspecto, tanto entre professores, formadores de professores e investigadores da área (Mortimer e Scott, 2002, p. 2). E por isso, esta pesquisa tem por objetivo uma análise dos conceitos científicos abordados no desenho animado LMN’s Elements como intuito de contribuir para o debate acerca do ensino de química. MÉTODO A pesquisa se configura como pesquisa qualitativa, pois preocupa-se em estudar uma realidade específica “o desenho animado” sob o ponto de vista da área específica do ensino de química. Compreendemos que tal abordagem está em consonância com a pesquisa já que valoriza a pesquisa como processo e não simplesmente o resultado do produto. Concordamos com Godoy (1995) quando diz que: [...] os dados coletados aparecem sob a forma de transcrições de entrevistas, anotações de campo, fotografias, videoteipes, desenhos e vários tipos de documentos. Visando à compreensão ampla do fenômeno que está sendo estudado, considera que todos os dados da realidade são importantes e devem ser examinados. O ambiente e as pessoas nele inseridas devem ser olhados holisticamente: não são reduzidos a variáveis, mas observados como um todo (GODOY, 1995, p. 62). Com isso, nossos dados são oriundos dos episódios do desenho animado LMN’s Elements que estão disponíveis no site de vídeos do YOUTUBE, no canal da lmnscartoons. Neste canal estão disponíveis 9 episódios da série, na versão em espanhol. Os episódios foram transcritos e analisados. Compreendemos que a linguagem escrita oriunda das transcrições dos episódios se constitui como uma comunicação verbal e por isso acreditamos que: Toda comunicação é composta por cinco elementos básicos: uma fonte ou emissão; um processo codificador que resulta em uma mensagem e se utiliza de um canal de transmissão; um receptor, ou detector de mensagem, e seu respectivo processo decodificador (FRANCO, 2007, p. 24, grifo do autor). Cabe ressaltar, que no caso específico desta pesquisa a fonte é o próprio desenho animado e os receptores são os telespectadores dos desenhos animados e nossa preocupação maior se concentra na mensagem, ou seja, nas informações que são repassadas e que dizem respeito a área específica da química, a qual pode gerar ideias previas que se constituirão em erros conceituais que podem comprometer o aprendizado da química pelos sujeitos que estão recepcionando tal mensagem. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) Resumidamente, há uma mensagem nos desenhos animados direcionada a algum receptor específico (que neste caso são crianças na faixa etária de 5 a 10 anos) e dessa forma temos um diálogo. (MARCUSCHI, 2003 e 2008). Na perspectiva sócio-cultural, a comunicação verbal é considerada constituinte do processo de construção de significados ou entendimento (REZENDE e OSTERMANN, 2006). É no significado que se encontra a unidade das duas funções básicas da linguagem: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. São os significados que vão propiciar a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo real, constituindo-se no “filtro” através do qual o indivíduo é capaz de compreender o mundo e agir sobre ele (OLIVEIRA, 1993, p. 48). A análise da comunicação verbal enquanto ferramenta metodológica se constitui em uma forma importante de análise já que as mensagens contidas nesse tipo de comunicação expressam as elaborações mentais construídas socialmente que têm implicações na vida cotidiana, influenciando não apenas a comunicação e a expressão das mensagens, mas também os comportamentos. Sendo assim, podem influenciar diretamente aprendizagem do ensino de química (MARCUSCHI, 2007). Baseados nestas premissas, os dados coletados e posteriormente transcritos foram analisados qualitativamente através do confronto com o conhecimento científico aceito e estabelecido. RESULTADOS E DISCUSSÃO O desenho animado “LMN’s Elements“ apesar de ainda não ser reproduzida no Brasil, tem como pano de fundo a ciência química e está voltado para o público de 5 a 10 anos, o que nos permite fazer uma análise quanto aos conceitos difundidos e uma discussão quanto a presença ou não de obstáculos epistemológicos referentes à aprendizagem das ciências. O referido desenho animado foi dirigido por Josep Esteve, produzido por Enrique Uviedo e Motion Pictures e escrito por Josep Esteve, Mireia Vidal, Isabel de La Granja, Iban Roca e Mario Tarradas. Possui 52 episódios de aproximadamente 13 minutos cada. Cada episódio aborda uma temática das ciências. Nesta pesquisa apresentamos a análise do primeiro episódio que introduz a série. Figura 1: LMN’s Elements: Série de desenhos de aventura (Fonte: www.motionkids-tv.com) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) ANÁLISE DO EPISÓDIO 01 No primeiro episódio intitulado “Sabotagem“, Chip, um menino de 9 anos é enviado por equívoco ao micromundo, o mundo atômico por um cientista fracassado de nome Dr. NO, obcecado por dominar o mundo. Neste mesmo episódio já iniciamos a exploração de algumas falas que nos remetem à ciência. Chip é acordado por seu avô sonhando com sua professora, ambos estavam em um mundo a parte. Ao se levantar, Chip vai para escola, onde sua professora está a falar de alguns cientistas que figuraram na história da ciência como podemos perceber na fala abaixo: “A estes cientistas devemos grande parte do saber do nosso mundo [professora mostra a imagem de Newton, Marie Curie, Arquimedes, Einsten]. Graças ao estudo e teorias propagadas, o mundo foi revolucionado“ Em outro momento neste mesmo episódio, Chip se encontra no laboratório onde sua professora com o auxílio do livro de química fala sobre o átomo, cujo modelo está materializado em uma estrutura gigante que se assemelha ao modelo do átomo de Rutherford. A professora define o átomo da seguinte forma: “..o capítulo do átomo e sua estrutura. [...] aqui ele explica como o núcleo dos átomos estão formados por prótons e nêutrons. Nos átomos existem o mesmo número de prótons e elétrons. Os elétrons possuem carga negativa e os prótons, carga positiva... Nesta fala podemos perceber como o conceito de átomo é explorado no desenho animado. Entretanto precisamos nos atentar para o fato de se afirmar que nos átomos existe o mesmo número de prótons e nêutrons, haja vista que somente nos casos onde o átomo se encontra em estado fundamental tal afirmação é considerada como procedente. Em Brown et al. (2005), vamos encontrar o seguinte esclarecimento: O número específico de prótons é diferente para variados elementos. Além disso, pelo fato de um átomo não ter carga elétrica líquida, seu número de elétrons deve ser igual ao número de prótons. Todos os átomos do elemento carbono, por exemplo, têm seis prótons e seis elétrons (BROWN et al., 2005, p. 38). Outro ponto que nos chama atenção é o fato do desenho animado explorar a imagem bastante difundida (ver figura 2) do modelo atômico de Rutherford, já que em muitos ambientes1 o modelo atômico de Rutherford está estampado. Ou seja, existe uma provável ideia de que tal modelo seja aquele que fundamenta o enredo trabalhado no desenho animado. 1 O Modelo Atômico de Rutherford, o modelo denominado “planetário” está disposto na capa do Gibi “ATOMAN” que Chip é leitor assíduo, no laboratório de ciências no formato de escultura e também no pátio da escola onde Chip estuda, também no formato de escultura. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) Figura 2: Laboratório de Ciências (Fonte: https://www.youtube.com/user/lmnscartoonspa) Fundamentados nesta informação é importante ressaltarmos que ainda hoje, muitos professores utilizam do modelo apresentado por Rutherford com as contribuições de Bohr elucidando a afirmação de que é o modelo aceito atualmente. Romanelli (1996) através de sua pesquisa pôde constatar que quando aos alunos foi pedido para representar o modelo do átomo por meio de um desenho, uma enorme quantidade de desenhos como o da figura 3 que se relaciona diretamente à fala do professor quanto ser o mais aceito atualmente. Figura 3: Modelo do Átomo desenhado por alunos. (Fonte: Romanelli, 1996) Compreendemos que o modelo atômico de Rutherford tem sua importância dentro do ensino de química, entretanto argumentamos a favor de que os alunos precisam compreender que todos são modelos e que dependendo da situação tal modelo não se constitui como o ideal para explorar determinado conceito. Concordamos com Chassot de que o mais importante não se constitui em assimilar todos os modelos disponíveis, mas saber escolher o melhor modelo para explicar um dado fenômeno. Em suas palavras: Uma das perguntas que professoras e professores de química fazem, principalmente quando trabalham no ensino médio, é: “Qual o modelo de átomo que devo ensinar?” Uma boa resposta poderia ser: “Depende para que os átomos modelados vão ser usados depois...” Construímos modelos na busca de facilitar nossas interações com os entes modelados. É por meio de modelos, nas mais diferentes situações, que podemos fazer inferências e previsões de propriedades (CHASSOT, 1996, p. 3). Ainda no episódio, o Dr. NO desacreditado e dispensado por uma equipe científica que considerava seus experimentos inúteis planeja um instrumento capaz de XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) produzir a anti-matéria e com isso pretende dominar o mundo. Quando Dr. NO encontra-se em seu laboratório, algo errado acontece com sua experiência e o transporta para o micromundo juntamente com Chip. Neste micromundo, Chip conhece seus amigos denominados por Merc (átomo de mercúrio), Fer (átomo de ferro) e Hidro (átomo de hidrogênio). Em seu diálogo de apresentação temos: Merc: “Olá, está entre amigos.“ Chip: Quem é você? Merc: Eu sou Merc. E você, pertence a que classe de elementos? Chip: Elemento?! Eu sou Chip. Fer e Hidro: Chip?! Merc: Quem é essa luz? Chip: Luz? Não sei. Eu estava voando e um raio me trouxe até aqui. A verdade é que estou perdido. Quem são vocês? [aponta para Fer e Hidro] Fer: Eu sou Fer e essa bola flutuante é o Hidro. Mer: Nós somos átomos. Chip: Átomos? Mer: Sim. Átomos. Vamos para “Atômica“ que lá poderemos solucionar esse mistério. Neste diálogo observamos que para o objetivo de entretenimento, o autor utiliza de um recurso e dispõe os átomos como seres animados. Com isso em termos de aprendizagem dos conceitos químicos, a criança que assistir tal diálogo pode recorrer a ideia de que realmente os átomos possuem vida. Lopes (2007) afirma fundamentada em Bachelard que o desenvolvimento da ciência é um conhecimento descontínuo. Ou seja, é um romper com conhecimentos anteriores, um processo de reconstrução de conhecimentos e nesse processo é necessário superar os obstáculos epistemológicos. Esse tipo de obstaculização [obstáculos animistas], provocada pela presença de fetichismo da vida, é freqüente nos livros do período de vigência das Reformas Francisco Campos e Gustavo Capanema. Como a ciência Química ensinada é essencialmente descritiva, distante da atividade racionalista do novo espírito científico, torna-se marcante a influência do período pré-científico. As prioridades ou conceitos físicos apresentados são dotados de vida e as embrionárias tentativas de explicação mostram-se carregadas de metáforas tendo por base o ser vivente (LOPES, 2007, p. 144 e 145). Como podemos observar, os átomos são entidades e não possuem vida, entretanto, em muitos casos, professores, livros didáticos e nosso caso específico, o desenho animado recorre a este artifício para facilitar a aprendizagem de determinados conceitos. Entretanto, alertamos para o fato de tais ações gerarem conflitos cognitivos no aluno que podem vir a reproduzir ideias errôneas a respeito dos conceitos científicos em questão. Na figura 4 podemos observar como os átomos são visualizados no desenho animado. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) Figura 4: Da esquerda para a direita (Chip e os átomos denominados Merc, Fer e Hidro). (Fonte: www.youtube.com.br) Em seu livro „“A formação do Espírito Científico“, Bachelard ilustra inúmeros exemplos de como célebres químicos e outros dispuseram a animar coisas que não possuíam vida, como podemos observar: [...] um químico tão célebre quanto Glauber sustenta as mesmas opiniões. O metal, tirado da terra da qual já não recebe alimento algum, pode muito bem ser comparado nesse estado ao homem velho, decrépito... a natureza conserva a mesma circulação de nascimento e morte tanto nos metais como nos vegetais e nos animais (BACHELARD, 1996, p. 165 e 166). Entendemos que o metal de maneira alguma receberá alimento, visto que não é um ser animado. Sendo assim, compreendemos que como professores no ato de se fazer compreensível às vezes recorremos a analogias que nos servem como instrumentos capazes de facilitar o processo de aprendizagem, entretanto, devemos ter cautela quando utilizarmos tais analogias de modo que esta não venham ao invés de facilitar, prejudicar o processo de aprendizagem de conceitos por parte do aluno. Concordamos com Andrade (2011), que: [...] as analogias são ferramentas de ensino, instrumentos, modelos mentais e para outros, apenas, comparações explícitas e/ou implícitas que usualmente são utilizadas para facilitar a explicação de um domínio que é desconhecido (ANDRADE, 2011, p. 32). Fundamentados no exposto anterior, compreendemos que o uso de analogias pode contribuir para o ensino de química, entretanto, enfatizamos que o professor necessita planejar e dominar o conteúdo em questão, compreendendo que as semelhanças e diferenças no que diz respeito aos conceitos necessitam ser discutidas com os alunos. Enfim, o uso do desenho para explorar os conceitos é útil desde que o professor esteja disposto a discutir tais aspectos em sala de aula. A televisão com a difusão de desenhos animados com conteúdos científicos possui formas de enunciação diferentes da ciência propriamente dita e por isso é necessário uma transformação do discurso científico e aí é onde se encontra o maior problema (SIQUEIRA, 1999). CONSIDERAÇÕES FINAIS Nossos resultados nos permitem inferir que os desenhos animados se constituem como ferramentas que podem auxiliar o professor dando um caráter lúdico XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EAP) ao ensino, entretanto devemos salientar que é preciso recorrer a análises do material a ser escolhido como instrumento para tal fim. Ressaltamos que o desenho animado LMN’s Elements tem como pano de fundo a química e possui como objetivo final o entretenimento não tendo compromisso com a realidade, entretanto entendemos que as crianças que assistem tais desenhos animados passam a aceitar algumas explicações fornecidas por esses desenhos como explicações que reproduzem a realidade e por isso argumentamos a favor da discussão de como tais desenhos podem ser utilizados em sala de aula de maneira a problematizar o ensino de química permitindo aos alunos uma análise crítica dos conceitos abordados. Sendo assim, compreendemos que o desenho animado pode trazer obstáculos epistemológicos ao aprendizado da química e por isso é necessário uma postura crítica do professor que colocará tais questões em pauta em sua aula de química. REFERÊNCIAS ANDRADE, A. C. S. Linguagem Química: Implicações na utilização de analogias/metáforas. 2011. 183 f. Dissertação - (Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática). 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