varal no 15 - Varal do brasil

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varal no 15 - Varal do brasil
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
®
Literário, sem frescuras!
Imagem: © Springfield Gallery - Fotolia.com
ISSN 16641664-5243
Ano 3 - Maio /Junho de 2012—
2012—Edição no. 15
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
ISSN 16641664-5243
LITERÁRIO, SEM FRESCURAS
Genebra, primavera de 2012
No. 15
bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmm
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhh
hhhhhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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hhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
EXPEDIENTE
Lição do amor...
Por Alice Luconi Nassif
Revista Literária VARAL DO BRASIL
NO. 15 - Genebra - CH
Sentimento sutil e penetrante
Que acelera a pulsão
Atropelando o instante
Que marca a separação
Copyright Vários Autores
O Varal do Brasil é promovido, organizado e
Afetos que não perecem
Provocam múltiplas sensações
Que queimam e renascem
Como Fênix nos corações
divulgado pelos sites: www.coracional.com e
www.livrariavaral.com
Site do VARAL: www.varaldobrasil.com
Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com
Reencontros impossíveis
Acabam por acontecer
Seres antes invisíveis
Começam a reaparecer
Livraria VARAL DO BRASIL:
www.livrariavaral.com
Distâncias não existem
Os códigos não são verbais
Longe e perto coexistem
Olhares... falam demais
Textos: Vários Autores
Colunas:
Daniel B. Ciarlini
A mesma emoção comove
O mesmo fato sensibiliza
Tudo ali se envolve
Cresce, agita e mobiliza
Fabiane Ribeiro
Sarah Venturim
Sheila Ferreira Kuno
O tempo já não devora
Ausências não contam mais
Qualquer momento é a hora
Dor e sofrimento, jamais
Ilustrações: Vários Autores
Muitas imagens encontramos na internet sem ter
o nome do autor citado. Se for uma foto ou um
desenho seu, envie um e-mail para nós e teremos o maior prazer em divulgar o seu talento.
Sentir é uma necessidade
Nada se precisa explicar
Entende-se toda verdade
Quando se aprende a amar
Revisão parcial de cada autor
Revisão geral VARAL DO BRASIL
Composição e diagramação:
Jacqueline Aisenman
A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A
revista está gratuitamente para download em
seus sites e blogs.
Se você deseja participar do VARAL DO BRASIL
NO. 16, envie seus textos até 10 de junho de
2012 para: [email protected]
Foto da capa: ©-Springfield-Gallery---Fotolia
©-Jean-Kobben---Fotolia.com
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Se uma palavra pudesse definir neste momento a o Varal do Brasil, esta
seria “felicidade”.
E isto porque estamos vivendo um momento de plenitude após ter participado com êxito do 26o. Salão Internacional do Livro e da Imprensa da
cidade de Genebra, Suíça, quando lá estivemos com quatorze autores para autógrafos e quase cem títulos dos mais de trezentos disponíveis na
Livraria Varal do Brasil.
Foram momentos intensos, de muita emoção. O contato direto com o leitor se fez e muitos que ainda não conheciam nosso trabalho passaram
não só a conhecer, mas também desde já a participar.
Estamos caminhando para o terceiro ano da revista em 2012 e já vamos
lançar a segunda antologia (Varal Antológico 2). Desta vez vamos a
Salvador (BA), Brumadinho (MG) e Belo Horizonte (MG).
Em Salvador contamos com o talento e preciosa colaboração do escritor Valdeck Almeida
de Jesus e da escritora Renata Rimet.
Em Brumadinho contamos com as mãos e o coração da escritora Norália de Mello Castro
que, juntamente com a Prefeitura daquela
cidade e a Casa da Cultura Carmita Passos,
fizeram deste sonho uma realidade.
Em Belo Horizonte contamos com a internacionalmente conhecida escritora e fomentadora cultural Clevane Pessoa
de Araújo Lopes que nos levará a uma maravilhosa Conversa ao Pé do Fogão na Lagoa do Nado, organizada pelo escritor Marcos Llobus.
Estar em Salvador, Brumadinho e em Belo Horizonte para nós é uma grande honra e só podemos agradecer o empenho e o calor humano destes escritores que tanto fizeram para que isto se tornasse possível; assim
como a presença, dedicação e carinho de todos os envolvidos que precisaríamos de páginas para citar, mas que o coração alinha, com toda
certeza, na memória.
Estamos felizes.
Todos os dias chegam novas pessoas para escrever conosco e nossa alegria de fazer tudo “sem frescuras” tem contagiado muita gente. Não há
idade que nos separe, mas sim a vocação que nos une!
Continuemos assim. Sem frescuras e sem fronteiras. Um brinde à simplicidade!
Jacqueline Aisenman
Editora-Chefe
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
•
ALICE LUCONI NASSIF
•
GLADYS GIMENEZ
•
ANA ESTHER
•
HELIO SENA
•
ANA RIBEIRO
•
HERNANDES LEÃO
•
ANDRE L. SOARES
•
ISABEL C. S. VARGAS
•
ANDRÉ VALÉRIO SALES
•
ISMAEL S. CANDIDO
•
ANGELO COLESEL
•
ISRAEL PINHEIRO DA SILVA
•
ANNA LEÃO
•
IVANE PEROTTI MACKNIGHT
•
ANTONIO FERREIRA LIMA
•
JACQUELINE AISENMAN
•
CARLOS ALBERTO OMENA
•
JERONYMO ARTUR
•
CARLOS BAYMA
•
JOANA ROLIM
•
CARLOS CONRADO
•
JOSE CAMBINDA DALA
•
CARLOS VAZCONCELOS
•
JOSE CARLOS DE PAIVA BRUNO
•
CELIA LABANCA
•
JOSÉ HILTON ROSA
•
CRISTIANO SOUSA
•
JOSSELENE MARQUES
•
CRISTINA MASCARENHAS DA SILVA
•
JU PETEK
•
DANIEL CIARLINI
•
JUCA CAVALCANTE
•
DANIELLI MORELLI
•
DANILO AUGUSTO DE A. FRAGA
•
DHIOGO JOSÉ CAETANO
•
DÚLCIO ULYSSÉA JÚNIOR
•
ELISE SCHIFFER
•
EMANUEL KJELLIN GUERREIRO
•
ENEIDA SOUZA
•
EVELYN CIESZINKI
•
FABIANE RIBEIRO
•
GALDY GALDINO
•
GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA
•
GILDO OLIVEIRA
•
GILMA LIMONGI BATISTA
© Yuri Arcurs - Fotolia.com
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
•
LENIVAL NUNES DE ANDRADE
•
LEONIA OLIVEIRA
•
LORENI GUTIERREZ
•
LUNNA FRANK
•
MAGNO OLIVEIRA
•
MARIA ALICE LIMA FERREIRA
•
MARIA EUGENIA
•
MARIA LUÍZA FALCÃO
•
MARIA SOCORRO DE SOUSA
•
MARILU F. QUEIROZ
Beleza em todos os âmbitos
•
MARIO REZENDE
Dizem ser um perigo iminente
•
MARTA CARVALHO
Mas é por que mexem com
•
NORÁLIA DE MELLO CASTRO
•
RAFIKI ZEN
Nos homens somos bem capazes...
•
ROBERTO ARMORIZZI
Porém vocês são perspicazes!
•
RUBENS JARDIM
Continuem a encher
alegria
•
SAMUEL SAINT
•
SARAH VENTURIM
Do amanhecer ao anoitecer durante todo dia
•
SHEILA FERREIRA KUNO
•
SONIA NOGUEIRA
•
SUELI RODRIGUES
•
VALDECK ALMEIDA DE JESUS
•
VANESSA CLASEN
•
VAVA RIBEIRO
•
VARENLA DE FÁTIMA ARAÚJO
•
WILIAN LANDO CZEIKOSKI
•
WILTON PORTO
•
YARA DARIN
Beleza do trânsito
Por Dúlcio Ulysséa Júnior
Mulher no trânsito
Ficamos a olhar no
nossa mente
retrovisor
Só pra contemplarmos seu esplendor
Pois digam o que
nossos olhos
quiser
Mas o transito fica bem mais lindo
com a mulher!
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de
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Aves
Por Ana Esher
Havia aves a ver navios...
...que afundavam.
Ah, vês? O fim da vida que junto afunda.
Havia aves a ver...
Ave, Maria!
Desenho de Ana Esther
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
distrito de Conceição de Itaguá, atraindo públi-
Redescobrindo Brumadinho
co nacional e internacional. Um investimento
cultural que abriu as portas de Brumadinho pa-
Quando os bandeirantes vieram a Minas Gerais e
passaram pela região do Vale do Paraopeba, em
ra o mundo.
Cada distrito histórico de Brumadinho traz ri-
busca de ouro e esmeraldas, não tiveram su- quezas culturais de grande atração turística e,
cesso, porque ouro mesmo foi encontrado em um deles é São José do Paraopeba, onde esOuro Preto. Mas, pelo caminho aberto pela tão concentradas quatro comunidades quilombandeira de Fernão Dias, vários povoados fo- bolas e a Fazenda dos Martins, construída no
ram surgindo no percurso do Rio Paraopeba e período colonial/ escravocrata. Esta fazenda é
seus afluentes, entre as serras da Conquistinha tombada pelo Iepha- Instituto Estadual de Patrie Rola Moça, onde hoje se localiza o município mônio Histórico e Artístico, e está em fase inicide Brumadinho.
al de restauração. Posteriormente, a Fazenda
será aberta a visitação pública e transformada
em Centro da Cultura Negra, com geração de
emprego para os jovens quilombolas dos povoados de Rodrigues, Ribeirão, Sapé e Marinhos.
A potencialidade turística de São José do Paraopeba está também na produção de cachaça
artesanal de qualidade. A famosa Cachaça Boa
Vitória, exportada para todo o mundo está entre
Entre os povoamentos que nasceram com a elas. Entretanto, o turista que chega ao distrito
imigração aberta pelas Bandeiras no século quer mesmo é conhecer o Quilombo do Sapé,
XVII estão os distritos históricos que formam o formado por descendentes de escravos libertos
município de Brumadinho, desde 1938. São da Fazenda dos Martins. Sapé mantem viva as
eles os distritos de Brumado do Paraopeba, festas tradicionais de Congado, Folia de Reis,
que hoje se chama Conceição de Itaguá; São Guarda de Moçambique, Festa da Consciência
José do Paraopeba; Aranha, Piedade do Para- Negra e a Festa de São Benedito; que são coopeba e sede.
muns aos povoados irmãos quilombolas de Rodrigues, Ribeirão e Marinhos. Estes eventos
No decorrer dos anos, esses distritos preserva- são grandes atrações turísticas do município de
ram sua cultura, história e natureza que, juntas, Brumadinho.
propiciam hoje um turismo diversificado que Também em Brumadinho fica situado o distrito
atrai investimentos turísticos em toda a exten- de Piedade do Paraopeba, que é um dos povosão do município. Entre esses investimentos ados mais antigos de Minas Gerais e, que pela
está o Instituto Cultural Inhotim, implantado no data da chegada dos bandeirantes, no ano de
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1674, sabe-se hoje que este distrito é mais antigo que Ouro Preto, Mariana e todas as outras
cidades históricas de Minas Gerais, com igreja
pré-barroca do período missionário-jesuítico,
inaugurada em 1713.
Devido a sua situação geográfica e a sua extensão territorial de 634 km2, Brumadinho tornou-se um oásis no meio da Região Metropolitana de Belo Horizonte, um refúgio da classe
média nos finais de semana e feriados. Por isso, nos últimos anos, Brumadinho vem sendo
redescoberto pelos turistas que procuram lazer,
entretenimento, descanso, cultura; proporcionado pelos empreendimentos turísticos instalados, principalmente, ao pé da Serra da Moeda,
mais precisamente nas localidades de Casa
Branca, Suzana, Palhano e Piedade do Paraopeba.
Ao pé da Serra da Moeda existe uma natureza
que encanta. É lá que está o distrito de Piedade
do Paraopeba, que por sua vez abriga os povoados localizados na encosta. Neste distrito ainda existem casarões coloniais de fachada ainda
original e, também, a Igreja de Piedade do Paraopeba e uma capela de Nossa Senhora do
Rosário; possivelmente originada da confraria
de escravos que não podiam frequentar a igreja
matriz. Mesmo tendo perdido suas características setecentistas, a capela ainda conserva os
acessos e parte dos muros em pedra que a cercam. É ali que ocorrem, em outubro, os festejos
do Reinado de Nossa Senhora do Rosário.
A religiosidade, tradição deste distrito, tornouse um centro de romaria para devotos a Nossa
Senhora da Piedade, através da Via das Sete
Dores; evento implantado em 2010.
Certamente, no entorno de Piedade, encontram
-se excelentes restaurantes que vão desde a
cozinha mineira até a cozinha árabe. Também
nos arredores de Piedade, o turista pode cavalgar, caminhar, voar de parapente e asa delta,
praticar mountain bike e balonismo.
Casa Branca é um povoado muito procurado
pelos turistas devido a sua área de hospitalidade turística. Este povoado que pertence a sede
do município desde a década de 90, pois antes
disso pertencia a Piedade do Paraopeba, guarda histórias e mistérios. No século XVIII esta
região foi ocupada por contrabandistas de ouro
que construíram uma casa de fundição de moedas falsas para fugir dos impostos cobrados por
Portugal. As ruínas desta casa ficaram conhecidas pelo nome de “Forte de Brumadinho”,
atraindo a curiosidade de turistas aventureiros.
Em Casa Branca existem pousadas aconchegantes e bons restaurantes. O povoado possui
uma gastronomia simples e saborosa, entre
bistrôs sofisticados, cafés, restaurantes com
comida árabe, massas e comida mineira. Lá o
turista pode fazer caminhadas, arvorismo, tomar banho de cachoeira e praticar mountain
bike, pois o lugar propicia estas atividades.
Além disso, a grande atração nacional de Casa
Branca é o Festival Gourmet, realizado no mês
de setembro.
Também em Brumadinho existem muitas festas
temáticas de grande atração, como as realizadas no distrito de Aranha. Entre elas estão o
Festival da Jabuticaba, que nasceu devido ao
distrito ser um grande produtor da fruta. Hoje
em dia artesões produzem derivados da jabuticaba que são comercializados e, o Festival é
um canal de divulgação do produto. Também
neste distrito é realizada a Festa da Mexerica
Poncã, no povoado de Melo Franco, que é o
maior produtor de Mexerica do Vale do Paraopeba e quiçá de Minas Gerais. Neste povoado
também são produzidos derivados da fruta que
são comercializados. A Festa é proporcionada
com a finalidade de divulgar este produto da
terra.
Enfim, todos os distritos e povoados de Brumadinho estão atualmente em desenvolvimento e
sendo redescobertos para empreendimentos
turísticos.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
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Foi devido a beleza natural descoberta em Brumadinho que o Inhotim foi implantado em Conceição de Itaguá, que também é um povoado
setecentista que possui resquícios de sua grandiosidade de outrora e, que mantêm viva uma
natureza impar ao pé da Serra da Conquistinha.
livros dos colunistas do jornal Circuito Notícias:
Dante Angelelli, Francisco Lima e Arnaldo Rodrigues; abrirá suas portas para o mundo, propiciando entrosamento e oportunidade para escritores brasileiros, mineiros e brumadinhenses.
Com certeza, o lançamento do Varal Antológico
2 na Casa da Cultura, será um momento de
redescobrimento de Brumadinho.
Já o distrito sede de Brumadinho, emancipado
em 1938, incorporando em seu território todos
os distritos históricos, cresceu graças a construção de uma estação do Ramal do Paraopeba da Estrada de Ferro Central do Brasil. É na
sede de Brumadinho que está situada a Casa
de Cultura Carmita Passos, onde será realizada a 2ª edição do Varal Antológico.
Texto de: Maria Carmen de Souza Silva – Bacharel em Comunicação Social, Relações Públicas; Licenciada em Letras; Pós-graduada em
Língua Portuguesa; profissionalizada em Jornalismo; fundadora do jornal Circuito Notícias e
Diretora de Jornalismo da Prefeitura Municipal
de Brumadinho.
Jacqueline Aisenman, escritora e poetisa brasileira radicada em Genebra, estará no Brasil entre final de maio e início de junho, e passará
por Salvador (BA), Florianópolis(SC), Belo Horizonte e Brumadinho (MG).
Em Brumadinho a escritora estará no dia 1º de
junho, na Casa da Cultura Carmita Passos, as
19h30, onde em conjunto com a Prefeitura Municipal de Brumadinho, lançará o Varal Antológico 2, com os coautores desta antologia: André Victtor, Cláudio de Almeida Hermínio, Clevane Pessoa, Flávia Menegaz, Irineu Baroni,
Maria Alice Lima Ferreira, Vó Fia e Norália de
Mello Castro; que por sua vez, é moradora de
Brumadinho e será anfitriã deste evento.
Neste encontro cultural os escritores, coautores, familiares e convidados, terão oportunidade de descobrir o potencial turístico de Brumadinho, a começar pela âncora turística que é o
Museu de Arte Contemporânea e Jardim Botânico Inhotim.
Este será um momento ímpar cultural de Brumadinho e, a Casa da Cultura, que já sediou
lançamento de escritores da cidade, como os
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Magia em Versos
Por Anna Ribeiro
Como simples mortal
Minha alma repousa em esperanças.
Nestes sonhos,
De encantos e anseios
Tu cavalgas nas luzes da lua cheia,
Dizendo em cantos de minhas magoas!
Que soluça por dores...
Nos olhos arde o pranto,
Na alma o verso que não digo;
Mas desconfio de teus cantos.
Neste mundo de ilusória magia!
Talvez você seja mais vazio do que eu...
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
FUGINDO NUMA TELA DE VAN GOGH
Por André L. Soares
.
Cansado das vãs teorias,
busco a letargia
dos alienados felizes.
Não quero saber da política,
viro as costas ao feio
e à hipocrisia.
Entrego-me à incoerência;...
só vou ouvir os pássaros
e apreciar as orquídeas!
Chega de tantas mentiras,
da esperança perdida
da pesada leitura.
Fico à margem dos dias,
da falsa engrenagem
das tristes notícias.
Cedo-me à ignorância;...
só vou ouvir os pássaros
e apreciar as orquídeas!
Farto das ideologias,
dos beijos de Judas,
das falas prolixas,
renego as tramas noturnas,
as turvas matizes
e as falácias da vida.
Rendo-me à intolerância;...
só vou ouvir os pássaros
e apreciar as orquídeas!
Foto de André L. Soares
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Desespero de poeta
Por Angelo Colesel
ali
a ânsia avança
a vida cansa
tudo cai
a vida vai e
não alcança
‘sem poesia’
rasa a baciaágua parada
sem vento
sem rebeldia
sem...
um ser leproso
lambendo as feridas
que florescem na testa
do que resta:
a ânsia que avança
a vida que cansa, eu
ali...
Se você deseja ajudar os animais que todos os dias
são abandonados, atropelados, maltratados e não
sabe como, vai aqui uma dica:
Procure uma associação de proteção aos animais,
um refúgio, uma organização ou mesmo uma pessoa
responsável em sua cidade ou estado. As colaborações podem ser feitas através de tempo, dedicação,
ajudas financeiras, divulgação.
Há pessoas por todos os cantos ajudando aqueles
que não sabem como ajudar a si mesmos. Seja mais
um, faça destes bichinhos a sua causa!!
AJUDE A AJUDAR, SEJA HUMANO!
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
O ESCUDO
quilidade e por consequência da
nossa passividade? Proteção de nosso ego, exprimido, arrogante e frágil?
Por Anna Leão
Embora uma arma de defesa, o escudo
sempre foi considerado uma arma de
vital importância.. Vemos filmes
passados em épocas antigas e junto
com as espadas e machados notamos a
força do escudo. Sim,
precisamos
nos defender quando estamos em batalha.
Mas e quando esta batalha é a vida?
Quando estamos armados até o topo
da cabeça com uma armadura pesada e
mais um escudo em nossos braços bem
a frente de nosso coração, impedindo que se machuque ou mesmo que se
abra?
Não falo aqui só no coração aberto
para viver uma relação afetiva,
enamorar-se,
apaixonar-se.
Isto
também, mas falo de uma forma mais
ampla. Falo do escudo que nos protege de tudo aquilo que no fundo
queremos ser e viver. Falo do escudo que nos dá a sensação de uma vida tranquila e segura e da qual temos total controle, mas que não nos
permite ousar. Falo do escudo que
não nos deixa entrarmos em contato
com aquilo que mais tememos em nós,
pois
achamos
que
evoluímos, passamos para um outro patamar, e certos sentimentos não mais
nos pertencem. Falo de um escudo
que nos impede de vivermos as experiências da vida e com elas podermos nos conhecer melhor, mesmo não
gostando das partes sombrias, mesquinhas e sórdidas que julgamos não
ter mais enquanto sustentamos em
nossa frente o poderoso escudo de
proteção.
Pois na vida, verdadeiro guerreiro
é aquele que corre nu pela floresta
sombria.
Verdadeiro
guerreiro
é
aquele que sente em suas mãos apenas a carícia do vento. Verdadeiro
guerreiro é aquele que conhece o
inimigo quando este realmente se
apresenta desafiando-o. Verdadeiro
guerreiro é aquele que sabe que cada desafio é uma oportunidade de
aprimoramento e crescimento. Verdadeiro guerreiro é aquele que almejamos ser, julgamos ser, mas na
verdade quase nunca somos; pois o
verdadeiro guerreiro vai à luta, se
expande, se permite, se entrega e
não fica apenas sentado em um trono.
Queremos realmente comungar com a
vida? Queremos realmente nos conhecer? Então precisamos estar cientes
que também iremos conhecer
nossas
partes desagradáveis, inseguras, e medíocres. Porém só assim
nos veremos inteiros! Para isto sugiro
que
penduremos
o
nosso
“poderoso” escudo em nossa parede com certeza ele servirá de uma bela
decoração – e saiamos porta afora,
rumo à vida, rumo ao desconhecido,
de peito aberto, sem armas nas
mãos, apenas com a coragem no coração, e quem sabe, entoando uma singela oração!
Proteção de quê? -eu me pergunto!
Proteção das ilusões que criamos de
nós mesmos? Proteção da nossa tran15
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
SANTOS
DUMONT
Por Angelo Augusto Ferreira
“me questiono: como
um menino
pequenino nasceu na
roça de Cubango
inventou o avião”
Ferreira Lima
Devagar. Respira fundo. Atenção gado a
frente.
Não corre, esquece não tem pressa
A difícil travessia, caminho estrada rural
Pássaros saúdam nossa caminhada
Um Bem Te Vi, canta, gorjeia, grita
Beija-Flores cores saúdam nossa empreita
O tempo não apaga a odisseia do avião
Um menino pequenino, seu pai engenheiro
Ajuda, acredita dá a mão na sua educação
Não desiste. Insiste
A viagem conhecer de perto a Casa de Santos Dumont
O menino pequenino, cresce, estuda
A natureza misteriosa, engenhosa, sigilosa
Reserva um tempo viver precioso
Acontecer esplendoroso cheio de luz
O fenômeno do existir do acontecer
Da fazenda Cubango até Paris
Chamou atenção a sua participação
Um homem de estatura pequenina
Presenteia o mundo com a maior benesse
Bem examinada chama muita atenção
A força pura divina do universo
Chama atenção. Escolhida a participação
Escolhido. Eleito Santos Dumont
Figura principal. A invenção do avião !
Parabéns o corpo, a alma, o espírito de
Santos Dumont
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
rua muito arborizada, tipo daquelas
que só se vê em filmes estrangeiros
e tinha como vizinhos outras manPor Carlos Alberto Omena
sões não tão diferentes ou imponentes da dele. Os carros importados
na garagem davam a real e nítida
De repente, quebrando o silen- visão do poder aquisitivo dos moracio daquela madrugada fria e chuvo- dores da rua. Nessa rua ficava semsa, ouve-se um grito estridente de pre a postos dois seguranças partipavor seguido de dois estampidos de culares, um de cada lado da rua e
revolver, saindo de uns dos inúme- andando de um lado para outro, faros cômodos da mansão do Sr. Marzendo o patrulhamento da área.
ques.
A rua era regada pela tranquiO Sr. Marques com a idade já
lidade e paz, brindada por um sibeirando os 60 anos, mas com apalencio mórbido e às vezes assustarência de 50, era um empresário bem dor, principalmente ao cair da noisucedido, muito rico e poderoso,
te quando as luzes dos postes de
enérgico, rigoroso, mas um bom co- iluminação sombreavam os muros alração gostava de tratar bem os em- tos das casas dando um ar ainda
pregados da casa e funcionários de mais sombrio ao local.
suas empresas.
Sempre que alE todo esse silencio e tranquigum deles aparecia com algum prolidade fora quebrado naquela madrublema, o Sr. Marques tratava logo
gada onde a garoa fina aliada a um
de ajudá-lo, pois entendia que se o frio gélido e cortante caia sobre a
funcionário estivesse bem, seus ne- cidade por aquele grito pavoroso e
gócios também iriam bem e apesar de os tiros.
toda a sua fortuna, era um homem de
Logo as luzes das mansões viatitudes muito simples. Não gostava
zinhas
começam a se acender e os
de pompas, de festas badaladas,
gostava de dirigir seu próprio car- moradores sem saber o que estava de
ro, que alias não era novo, mas se fato acontecendo, dirigem-se ainda
meio sonolentos à casa do Sr. Marsentia confortável com ele, comia
no refeitório da empresa juntamente ques.
-Ninguém entra na casa antes da
com seus funcionários, enfim, uma
polícia chegar! Grita um.
pessoa muito simples.
Ao contrario de sua esposa, D.
-Mas se tiverem precisando de
Vera, uma mulher muito bonita, es- ajuda? Grita outro.
belta e muito jovem pois tinha ape- Deve ter sido um assalto!
nas 30 anos, metade da idade do Sr.
Exclama mais um.
Marques, que gostava de badalações,
Minutos depois a policia chede festas, gastava dinheiro como se
ga à mansão, arromba a porta e eneles nascessem em arvores, mulher
tra encontrando em um dos cômodos
muito fútil ,gastava somente pelo
prazer de gastar igualmente com seu da casa, mais precisamente no esfilho Silas, um rapaz com 14 anos, critório o corpo inerte e já sem
vida do Sr. Marques. Ele fora morto
muito mimado.
com um tiro fatal na região da caDona Vera odiava a maneira do
beça bem próximo ao ouvido.
Sr. Marques de ser e por conta disLogo a notícia tomou conta da
so as brigas eram constantes. Ela
achava que pelo dinheiro e a posi- rua, deixando perplexa a multidão
ção que tinha, não deveria se mis- de vizinhos que se aglomerava diante da mansão, pois não acreditavam
turar com os empregados, mas ele
simplesmente ignorava os desmandos que um homem tão bom e generoso como aquele pudesse ter um fim tão
da mulher.
A mansão do Sr. Marques ficava numa trágico.
CRIME NA MANSÃO
17
VARAL NO BRASIL NO. 15
Quem teria assassinado aquele
pobre homem? Ou teria sido suicídio? Afinal a arma foi encontrada
na mão do morto. Essa era a pergunta dos curiosos e da policia que
iniciava seu trabalho de investigação.
De cara a policia chega à conclusão de que assalto não teria sido, pois da casa nada foi roubado.
Suicídio também não, tendo em vista
a posição da arma e o tiro, pois
segundo as testemunhas que ouviram
os gritos e os tiros juraram terem
ouvido dois disparos, fato que chamava atenção dos investigadores
porque no corpo só fora encontrado
uma perfuração e numa detalhada
vistoria pelo escritório, palco da
tragédia, não foi encontrado nenhum
outro projétil.
Era um mistério. Restava então interrogar parentes e empregados que moravam com ele e que estavam na mansão naquela noite.
MAIO DE 2012
O mordomo tivera dias antes
uma leve discussão com o patrão
porque descobriu que ele mantinha
um casso amoroso com a cozinheira e
se utilizavam dos aposentos da empregada para seus encontros noturnos e o Sr. Marques por não admitir
essa situação chamou-o às falas inclusive ameaçando-o de demissão caso perdurasse esses encontros, isso
tornava o empregado e a serviçal
também como suspeito do crime.
A faxineira alegou que dormia
profundamente naquela noite e não
viu e ouviu nada, mas, descobriuse, no entanto que ela entrou em
casa por volta da 1 hora da madrugada, cerca de duas horas antes do
crime pois a jovem encontrava-se no
portão lateral da casa com seu namorado Sebastião, jardineiro de uma
das mansões vizinhas , que inclusive também tinha sido empregado do
Sr. Marques alguns meses antes mas
fora demitido após ameaçar bater no
menino Silas, filho do patrão, por
ter pisado no jardim onde trabalhava e estragado algumas flores.
Os primeiros a serem interrogados foram D. Vera, a esposa, e o
filho Silas, que acabavam de chegar
Sebastião no dia de sua demistão logo foram informados do ocorsão estava muito nervoso e gritava
rido.
muito pronunciando palavras obsceD. Vera e seu filho tinham sa- nas, afrontando Sr. Marques, a Dona
ído cedo para uma visita a sua mãe, Vera chegando até a jurar vingança.
onde passaria a noite e só retornaPara a polícia, estava ali um
riam no dia seguinte.
verdadeiro candidato a réu. Sebastião tinha todos os motivos e pelo
Abalada e totalmente desconseu jeito estourado, rude e violentrolada, D. Vera mal podia falar,
inclusive foi necessário a presença to e por já ter ido parar na deledo médico da família para acalmá-la gacia uma vez por ter agredido um
homem num bar da cidade tornou-se
através de sedativos.
um suspeito em potencial, só faltaDepois vieram os empregados da
casa: mordomo, cozinheira, faxinei- va a confissão.
ra, motorista. Todos um a um foram
interrogados. E a cada interrogatório, mais difícil ficava a conclusão do caso, pois todos aparentemente inocentes poderiam ter cometido o crime.
Porque justamente naquela noite
a esposa fora visitar a mãe, coisa
que não fazia há meses? Muito estranho e conveniente, inclusive
porque nunca durante sua vida de
casada dormiu fora de casa.
Mas e o segundo tiro? O que
foi feito daquele projétil? A polícia não tinha a resposta ainda e
isso intrigava os investigadores.
O único com álibi perfeito e
que facilmente provou sua inocência
no caso foi o motorista da casa.
Ele encontrava-se na casa de
sua mulher juntamente com suas duas
filhas depois que seu patrão dispensou seus serviços por aquela
noite.
18
VARAL NO BRASIL NO. 15
Mas apesar de ser considerado acima de qualquer suspeita tinha que ficar ali, participando de
tudo, dando depoimentos, consolando
a pobre viúva, tentando distrair
Silas, que se encontrava desolado.
O motorista era muito querido por
todos na casa, por sua conduta sempre seria e responsável e pelo seu
comportamento amável e prestativo.
Enquanto o entra e sai da policia e dos vizinhos curiosos continuava, o corpo do Sr. Marques permanecia ali estendido no chão e coberto com um lençol que já não era
mais branco devido ao sangue que
verteu de suas têmporas.
A primeiro plano, para os investigadores, o caso estava prestes
a ser resolvido, pois para eles o
raciocínio utilizado era que Dona
Vera cansada do controle do marido
sobre seus gastos e por estar ainda
na flor da idade, e a repressão devido às festas que dava na mansão,
planejou o crime e contratou Sebastião, o jardineiro, a executá-lo.
Pronto. Estava ali a solução do
enigma.
MAIO DE 2012
seu rosto ,acariciou-o carinhosamente ,deu-lhe um beijo , depositou
o pacote que carregava junto ao
corpo, cobriu-o novamente e levantou-se calmamente em direção dos
policiais e num tom sereno e anestesiado fala:
- Pronto. Agora está tudo acabado; e desmaia.
Refeito do susto e do clima
sheaskeperiano que se instalara naquele momento, o médico da família
que ainda se encontrava na casa reanima a mulher. Foram minutos de
muita emoção e tensão.
Já reanimada e envolta de uma
colcha para que se aquecesse pois
estava tremendo muito de frio devido à chuva que pegara, a mulher começa a falar:
-Meu nome é Mirtes, eu entrei
nessa casa enquanto todos estavam
dormindo, já fizera isso antes, depois que sai fiquei assustada e me
escondi num canto próximo à casa
dos empregados atrás de uma arvore
grande.
- Sabe, eu fui amante do Sr.
Marques por muitos anos, eu era
muito feliz ao lado dele ate o dia
em que ele descobriu tudo. A partir
daí ele mudou totalmente comigo,
não me procurava mais, mandava reMas... e o outro projétil?
cados que estava ocupado e por isso
eu vim aqui hoje trazer o presente
O dia já estava clareando e
que ele tanto queria e por isso me
aquela chuva fina acompanhada do
frio teimava em cair chegando até a chantageava.
- Isso mesmo, eu estava sendo
trazer certo desconforto, quando de
vítima de chantagem por parte dele.
repente entra na sala, indo dos
fundos da casa, uma mulher comple- Ele dizia que se eu não entregasse
tamente encharcada, com suas vestes o que lhe pertencia, ia acabar comigo e ia conseguir a qualquer cussujas de lama, carregando algo no
to me tomar o que achava que era
colo enrolado num cobertor.
seu.
Todos se viram para a mulher,
-Inclusive tentou me comprar,
atônitos e sem entenderem nada.
Ela ,sem falar nada, completamente oferecendo-me muito dinheiro e eu
atordoada, com ar de sofrimento es- não aceitei.
Todos estavam paralisados diantampado no rosto totalmente desfite daquela confissão e ainda sem
gurado pela chuva e lama, caminha
lentamente como se estivesse dopada entenderem nada. E ela continuou
e parecendo um zumbi , aproximou-se num tom mais seguro e firme e agora
mais amargurada.
do corpo do Sr. Marques, abaixou- Eu entrei aqui de madrugada
se, levantou o lençol que cobria
Agora era só fazer a acareação, colocar os dois um em frente
do outro e aguardar que eles confessassem, simples.
19
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
para dar um fim em tudo isso,
pois já não aguentava mais a pressão
sofrida por esse monstro. então vim
aqui dar-lhe finalmente o presente
que ele tanto queria, dar-lhe o que
achava que era só seu.
Fui eu, Senhor delegado, quem
deu os tiros, fui eu! gritou histericamente a mulher.
- Primeiro nós discutimos, ele
estava irredutível, então no auge da
discussão ele me arrancou dos braços
o que eu havia lhe trazido dizendo
que não ia levar de volta, foi ai,
doutor, que eu fiz a besteira.
- Tomada pelo ódio e vendo parte da minha vida sendo arrancada de
mim não pestanejei. Peguei a arma
que trouxera na bolsa, fechei os
olhos e atirei. Atirei duas vezes.
-Mas o destino brincou comigo,
eu errei um dos tiros. Um dos tiros
não acertou onde devia.
Nesse momento, Mirtes levantase da cadeira onde estava sentada,
caminha novamente ao encontro do
corpo do Sr. Marques, de novo abaixa
-se e levanta o cobertor que embrulhava o pacote que trouxera.
Todos arregalam os olhos, como
se não acreditassem no que estavam
vendo e continua:
- Esse era o presente que ele
queria tomá-lo de mim. Ele queria só
para ele.
- Esse era nosso filho!
Todos chocados com a cena dantesca que presenciavam não puderam
deixar de notar um fato.
O bebê enrolado no cobertor tinha uma perfuração próxima ao coração.
Era o segundo tiro que faltava.
Neste exato momento e diante
desse clima de grande tensão, rouba
a cena outro grito que invade completamente o ambiente, misturando a
ficção com a realidade:
- Corta! Beleza pessoal ficou
perfeito. Amanhã continuaremos com
as filmagens...
20
Segunda antologia do Varal do Brasil.
Encante-se com o talento dos autores!
Informações: [email protected]
www.livrariavaral.com
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Receitas nesta edição tem como fonte o site: h"p://www.mundodastribos.com
Curau de milho verde
Ingredientes
• 3 xícaras de leite
• 6 espigas de milho lavadas
• 1 lata de leite condensado
• 1 colher (sopa) rasa de manteiga
• Canela em pó
Modo de preparo
Rale as espigas de milho com uma faca. Sem chegar até o sabugo.
Após isso, bata no liquidificador o leite e o milho, por volta
de 3 minutos.
Coe e a seguir despeje a mistura em uma panela.
Coloque a manteiga, leve ao fogo e mexa sempre até obter uma consistência cremosa.
Acrescente o leite condensado e mexa mais um pouco.
Retire do fogo, espere esfriar e coloque em uma tigela.
Polvilhe a canela.
Sirva frio, de preferência.
PINHÃO
Pinhão é a semente da Araucária. Tem a forma triangular com cerca de 5 cm de comprimento, recoberta por uma casca lisa de cor castanha.
A pinha, fruto onde estão aglomerados os pinhões, leva dois anos para amadurecer.
A polpa é a parte comestível, muito dura crua, e deliciosa quando cozida.
Formada basicamente de amido.
O pinhão pode ser cozido ou assado na brasa, onde o fogo deve agir lentamente para que
a casca se abra e libere todas as qualidades de aroma e sabor.
Na panela de pressão o tempo de cozimento diminui.
A farinha de pinhão, produzida apenas artesanalmente devido à pouca expressão comercial, permite a confecção de broas, tortas e pães.
Fonte: h"p://ka#aesuasdicas.blogspot.com/
21
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
consultório, ao passo que aqueles
que traziam o resultado de 3,9 se
PSA, peso da próstata e medo
sentiam, geralmente, seguros da audo câncer
sência de doença maligna. Contudo,
medicina não funciona assim. Já estive na infeliz situação de ter que
Por Carlos Bayma
dizer a um paciente de 43 anos, com
PSA de 2,3 que o mesmo era portador
de um câncer altamente agressivo. É
Após 21 anos fazendo consultório em
raro, mas acontece.
Urologia, muitas histórias tenho
O oposto também já aconteceu, fepra contar. Não posso contar nada
de algumas. De outras, posso contar lizmente, mais comum. Pacientes com
mudando nomes de detalhes, sem, en- PSA de 20, 30 ou mesmo 40, mas que
tretanto, alterar a essência do re- estavam apenas com processos infeclato. Muitas são repetitivas e re- ciosos/inflamatórios da próstata,
velam que as dúvidas dos pacientes perfeitamente tratáveis com antibióticos. No entanto, não é apenas
são quase sempre as mesmas.
sobre os níveis de PSA que o conO que posso aqui contar é que – de sultório se apinha de pacientes em
uma maneira genérica – os pacientes alto grau de estresse e medo. É
se assombram quando trazem seu PSA também com algo que tem ainda menor
um pouco acima dos valores referen- importância: o peso estimado da
ciais. Sobre esses valores, é impróstata calculado por exames de
portante dizer que o que é conside- ultrassonografia (USG).
rado ‘faixa de normalidade’ é apeEm teoria, o peso normal de
nas uma média que guia o médico
uma próstata varia entre 25-30 graurologista nos seus diagnósticos e
mas (há como se calcular aproximacondutas de tratamento.
damente isso medindo-se três eixos
Em geral, os pacientes entram no
de extensão do órgão pela USG, emconsultório (sós ou em companhia da bora a próstata não seja uma esfera
esposa, quase sempre bem mais tran- perfeita). Recentemente, recebi um
quila) com os olhos arregalados,
paciente de 70 anos com 38 gramas
tensos e – usualmente – respondem
de próstata. Estava apavorado, emassim a um simples cumprimento de
bora o PSA nem chegasse a 2. É im‘Como tem passado, Sr. Fulano?’:
portante revelar que a partir de
“Se estivesse bem não estaria
mais ou menos 45 anos é comum enaqui!”. Nessa hora já percebo que
contrar próstatas acima de 30g, sem
traz exame alterado ou a ‘potência’ que, contudo, isso represente alguestá em baixa. Não é regra absolu- ma gravidade.
ta, mas é ‘tiro quase certo’.
Para tranquilizar muitos homens,
Durante vários anos, os laboratómencionarei um caso que marca minha
rios de análises clínicas usaram o história na Urologia. O Sr. M., de
limite 4,0 ng% como o nível máximo 92 anos, casado pela 4ª vez (desta
de normalidade do PSA total. É in- feita com ‘uma jovem’ de 53 anos,
teressante ressaltar que pacientes portanto, 39 anos mais jovem), tem
com 4,1 entravam desesperados no
uma próstata que pesa, à USG, cerca
Histórias de consultório:
22
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
335 gramas. Isso hoje, pois há 2
anos, essa mesma próstata pesava
485 gramas. Isso mesmo! Quase
meio quilo.
Como o Sr. M. tem consideráveis
problemas cardíacos e respiratórios, incluindo o uso de marcapasso, tem a cirurgia prostática
contraindicada devido ao alto
risco de não resistir ao procedimento e à sua recuperação. Mediante uso de medicamentos, consegui reduzir o peso de sua
próstata em 150 gramas, valor
muito superior ao de muitas
próstatas de pacientes desesperados com seus 60 ou 90 gramas.
Também utilizei medicamentos para aumentar o fluxo de urina durante a micção e o Sr. M. vem
‘muito bem, obrigado!’, até hoje.
BRIGA DE FOICE
Portanto, antes de se desesperar, procure um Urologista confiável e recomendado por parentes, amigos ou outros médicos.
Muitas vezes, a maioria dessas
alterações, que representam tragédia na cabeça de um paciente
mal informado, nada mais é que
processo perfeitamente aceitáveis dentro da natureza do envelhecimento, do qual ninguém escapa, exceto que morra jovem.
De Jacqueline Aisenman
OlivroBrigadeFoice,queacabadesair,já está disponı́velnoBrasilpelaDesignEditora([email protected]).
Olivroserá apresentadoemSalvador
(Bahia)no$inaldemaioenoinı́ciodejunhoemBrumadinhoeBeloHorizonte
(MinasGerais).
Paramaioresinformaçõ es:
[email protected]
“Briga de Foice é meu segundo livro de
histórias curtas. Mas desta vez, estes
contos diferentes e que gosto tanto de
escrever, vêm entremeados de frases que
vão passeando entre os textos, falando
deles ou de outros momentos e outras vidas.
As histórias têm personagens reais ou
imaginários vivendo momentos que também
foram imaginados ou realmente aconteceram (na minha mente ou na realidade?). “
23
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Eu sou a Loucura
Por Carlos Conrado
Eu sou a Loucura mãe da Revolução,
quando nasci não interessa, pois
não é para isso que vim. Conheço e
condeno todas as forças que lutam
contra mim. Sou o elo que liga os
homens aos outros deuses. Sou a incentivadora de todos os ideais. Sou
o retrato da coragem! Ao contrário
da Razão-Equilíbrio que é uma senhora derrubada e medrosa. Sou poderosa e estou em tudo e em todos.
Sei fascinar sem precisar usar esta
casca que me reveste. Sou pura, boa
e completa. Sou dona da liberdade,
sou sua amante... Não sou a favor
do termo esquizofrenia usado para
taxar alguns dos meus queridos filhos pois não vejo democracia no
uso de tal!...Quando me sinto ofendida, uso minha máquina de ilusões
para criar a guerra e também o pesadelo. Acusam-me de ser egocêntrica, e sou! O mundo deve caber na
minha mão e não o contrário!... Essa é uma das lições sagradas que
passo aos meus queridos filhos e
neófitos. Não sou atriz, não sou a
favor da mentira. Minha vida extrema é uma realidade!... Sou a ascensão do juízo e não sua falta!...
Sou a inspiração do poeta e do artista. Sou bandida e mocinha, sou o
quê quero ser!... Sou a voz da surrealidade pintada por Dalí. Sou a
única que possui o direito de se
contradizer. Sou a modelo que veste
o manto de apresentação de Artur
Bispo do Rosário... Sou a produtora
de todos os filmes rodados e não
rodados. Sou aquela que atormenta
Hamlet. Sou o espírito livre adorado por Nietzsche, por tanto, não
pensem e nem tentem me prender! São
tolos aqueles que pensam que podem
me controlar, drogam a matéria que
me guarda com Diasepam e Gardenal,
seus efeitos não duram muito, e logo acordo o corpo que agora está
numa ressaca dos diabos! Nós, prontos para dar a cara à tapa outra
vez e zombar daqueles que nos querem tanto mal. Eu fui à companheira
fiel do Raul, Hendrix, Curt e Janis. Eu fui e ainda sou uma pop
star!... Sou uma deusa e o meu lar
é todo o universo... Ganhei liberdade para falar graças ao meu filho
Erasmo, que dedicou muito da sua
energia para lubrificar minhas cordas vocais, afim de quê o meu canto
narcisista prossiga. A minha vitalidade; meus sentimentos honestos;
meus instintos; a minha simplicidade – (ao meu modo e conceito), são
expressões que deveriam ser adoradas como símbolos sagrados!... Adoram a Cristo, um dos meus neófitos
mais fiéis, porque não me adoram
também? Devem acima de tudo e de
todos me adorarem!... Nobre filho
Conrado, invista mais na projeção
de sua voz pois a nossa verdade necessita da sua energia para ganhar,
os horizontes da consciência deste
povo que sempre busca nos ignorar,
mesmo sabendo que dentro deles corre o nosso DNA.
24
Ilustração de Carlos Conrado
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Relatos de uma noite mal dormida*
Por Carlos Vazconcelos
A cadeira de balanço do meu avô
ainda range sobre os tacos de madeira.
Lá fora, os pregões ainda vêm da feira,
esquentando o alumínio frio da chaleira.
O candelabro reina entre os castiçais.
Cômodas incômodas em seus cantos seculares.
Alcovas alcoviteiras retêm segredos.
Maçanetas maçantes nunca mais abriram o dia.
Criados-mudos soletram versos parnasianos.
O lampião de gás adormece o fogo fugaz.
A cama de cedro dorme tarde acorda cedo.
O baú sobrenatural esconde babaus.
A lareira não acende mais fogueira.
O relógio de parede emparedou-se no tempo.
O chapéu e a bengala esperam a festa de gala.
O sino, em sua sina, faz o sinal da cruz.
O telhado da estalagem estala últimos suspiros.
O ferrolho enferrujado fecha o passado.
O pó do porão encerra o poema.
* Poema vencedor do IX Prêmio Cidade de Fortaleza
(2000), pela FUNCET.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
do de consentir a ausência de didatismos, moralismos, e formalidades,
e que percorra um trajeto não usual
de encontro à igualdade, é o que
nos tem levado à trivialidade, e à
vulgaridade da existência.
O PENSAMENTO E A ARTE
Por Célia Labanca
Nas redes sociais na internet há
espaços para dizer o que se pensa.
– Aparentemente, um espaço democrático dedicado ao pensamento. Menos,
porque pequeno, de restrito acesso
senão ao possuidor ou possuidora de
um computador, e de um pensamento,
que se presuma valha a pena, quando
nem sempre vale, por tantas vezes
banal, replicas de um mundo que não
questiona um conjunto de pressupostos que estimule mudanças, encontros, transformações, e recuperações de qualidades soberanas que
nos levem à paz, à alimentação adequada, saúde perfeita, moradia digna, conhecimento.
Se se pensar que o pensamento etimologicamente
significa
refletir
sobre algo de peso, que permita ao
espírito humano modelar o mundo,
envolvendo consciência, ideia, objetivo, imaginação, cognição, e que
ele “é construto e construtivo do
conhecimento”, como dizia Piaget
quanto ao processo de aprendizagem;
não só nas redes, como de maneira
geral, deveria haver mais espaços,
então, e melhores pensamentos.
Segundo Descartes filósofo de grande importância na história do pensamento, "a essência do homem é
pensar". Por isso dizia: "Sou uma
coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas,
que ama, que odeia, que quer e não
quer, que também imagina e que sente. – Logo quem pensa é consciente
da própria existência: "penso, logo
existo", dizia ele.
A arte, ainda é o que resiste. Ela
é a habilidade especial. O dom, que
a sociedade pós industrializada, e
quase “pós tecnológica” não valoriza no plural, como deveria. Mas,
somente ela, é que leva hoje, à reflexão. O resto está pronto, estático, rígido, regido, e sendo multiplicado por interesses somente de
poder onde não há lugares para a
filosofia, para a poesia, para as
subjetividades tão importantes à
alimentação dos espíritos mais largos.
Assim é que os poderes públicos dela pouco ou quase nada se ocupam,
principalmente em nosso país e Estado, especialmente no sentido de
incentivá-la ao convívio da coletividade.
Simples e simploriamente
pela ausência de políticas públicas, pela falta de acessibilidade,
ou pela falta de financiamento à
capacitação de profissionais para
que saibam lidar com ela. Também,
pelas
"sociedades"
com
objetivo
único do lucro pecuniário, pelo
discurso, e pelas promessas vazias,
quando ela deveria ser incentivada,
sem limites, para nutrir, e para o
acrescentar do pensamento qualificativo à liberdade, à beleza absoluta, mesmo que transitória ou circunstancial, mesmo não transcrevendo a realidade, mas não a aceitando
como tal. – Portanto, é ainda, a
arte que faz o ser humano pensar e
existir... que se pense então sobre
isto, porque não dói, não pesa, e
não é caro!
A falta de reflexão pela vida, sem
discussões políticos criticas, sem
consequências impactantes no senti26
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Deficientes
Por Cristiano Sousa
Estou cansado de dizer
Muitas bobagens sem saber porque
E esgotado de ouvir
Tantas mentiras que falam pra mim
O empresário não me deixa trabalhar
A cadeira de rodas alguém tem que arrastar
No coletivo eu não posso entrar
E a visão é que há de me atrapalhar
Este mal que está em todos nós
Ninguém pode nem deve negar
Olhem só o pai que mordeu a filhinha
O filho que xingou a mãe
Bicho preguiça você tem que se virar
Para que mais tarde seu filho não venha
roubar
O mendigo que está na esquina
Ficou maluco sem o apoio da família
Deficientes, todos nós somos um
Eficiente, pode ser qualquer um
Deficientes, todos nós somos um
Deficientes, nos ensinem a amar
27
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
NO MUNDO DA FICÇÃO CIENTÍFICA
Por Daniel C. B. Ciarlini
A ficção científica da
Antiguidade ao Moderno
A imaginação e a sensibilidade do presente transgredidas
nas perspectivas do futuro sempre
foram as principais ferramentas dos
grandes escritores. Desde a mais
antiga manifestação literária àquelas que hoje corroboram ao pensamento moderno, estes atributos nunca deixaram de revelar a profundidade e o discernimento dos nomes
que se ostentam na constelação de
belles-lettres. Na Babilônia, por
exemplo, escreveu-se sobre um herói
em busca da imortalidade. Chamavase ele Gilgamesh. Filho da deusa
Ninsun e do sacerdote Kullab. A sua
epopeia, escrita há 2.600 a.C.,
responde, sozinha, como a narrativa
que mais intercala estilos e temáticas tanto antigas quanto modernas, trabalhadas dentro de um cunho
moral a par de gêneros como tragédia e aventura. No que se refere ao
seu conteúdo en soi, depreendem-se,
também, no mínimo, dois assuntos
que inquietam até hoje os sonhos de
cientistas, escritores e cineastas:
a vontade do homem em ser eterno e
a existência de seres mutantes.
de Uta-Napishtim, personagem original do Dilúvio Babilônico. O termo
odisseia, necessário que se diga,
sujeita a um sentido de busca ao
desconhecido, ao oculto, ao imaginário, assunto, a propósito, bastante explorado pelos escritores de
uma proto-ficção científica; não
obstante, elo entre o gênero e a
utopia. Necessário atentar para o
termo “proto”, aqui utilizado, remetendo-nos a uma compreensão de
ideais que antecedem a ciência propriamente dita, mas que não deixam
de carregar elementos de anseios
que perduram desde os tempos antigos aos sonhos de cientistas e escritores dos últimos dois séculos,
inclusive o atual.
Aliás,
as
próprias
aventuras em série de Gilgamesh poderiam ser denominadas, pela força
da tradição homérica, odisseias,
dentre as quais a viagem à procura
28
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
tem nas produções dos tempos modernos.
Se hoje a Lua nos é apreciada
com admiração e curiosidade, avalie nos tempos antigos. O satélite
natural da Terra foi, talvez, o
primeiro mundo utópico descrito na
literatura. Por esta razão acabou
como um dos temas mais explorados
em narrativas da Antiguidade, Idade Média e Moderna, como são os
casos, em sequencia, de Luciano de
Samósata, Uma história verdadeira
(séc. II d.C.); Francis Godwin,
The man in the moone (1638); Cyrano de Bergerac, Voyage dans la Lune (1657); David Russen, Iter Lunare: Or, a Voyage to the Moon
(1703); e, nos séculos mais próximos, Jules Verne, De la Terre a la
Lune (1865) e H. G. Wells, The
Firts Men in the Moon (1891). Tendo sido ainda a temática precursora do primeiro filme com efeitos
especiais da história do cinema,
Le voyage dans la lune (1902), de
George Méliès, fortemente influenciado pelos textos dos dois últimos autores citados. Não diferente
aos nossos dias, o sucesso de bilheteria de filmes como Apollo 13
(1995), de Ron Howard e, mais recentemente, embora sem grande qualidade, APollo 18 (2011), de Gonzalo López-Galego, demonstram que
o fascínio pela Lua continua em
alta. Todas as obras citadas, de
uma forma ou de outra, descreveram, à luz da utopia ou da especulação científica, as suas odisseias, as suas buscas, as suas
idealizações, os seus mundos..., e
é partindo deste princípio que poderemos compreender como de fato
as temáticas do passado se refle-
A busca pela imortalidade na
Epopeia de Gilgamesh, a propósito,
é bem emblemática. A personagem ao
tomar notícias de que os deuses
após o dilúvio babilônico haviam
dado imortalidade a Uta-Napishtim,
o Noé da Babilônia, começa a nutrir a crença de encontrá-lo pessoalmente, a fim de compreender o
segredo da vida e livrar-se da
morte, sua maior tormenta. No caminho, porém, se depara com uma
série de obstáculos, dentre os
quais a existência de homensescorpiões, também vistos como uma
mistura de homem com dragão, próximos ao Monte Mashu. A imagem
desses mutantes era tão grotesca
que, como a Medusa dos gregos, homens comuns ao contemplá-los morriam, não petrificados, mas inesperadamente. Gilgamesh tomado pelo
medo protege os olhos e aproximase das criaturas, que o reconhecem
como “carne dos deuses”, “dois
terços do corpo divino”, deixandoo passar e auxiliando-o acerca dos
perigos que encontraria pela frente, visto que até então nenhum
mortal havia conseguido entrar naquela montanha.
29
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
cina natural de água fria, deixando na embarcação a planta, que
acaba engolida por uma serpente
marinha atraída pelo cheiro doce
exalado da flor do vegetal. Gilgamesh perde as esperanças em livrar
-se da morte. O final, como se
percebe, é bastante irônico.
h"p://thiskidanima#on.wordpress.com/
Curioso observar que esta espécie
de
imortalidade
atingida
através de planta se repete em
obras outras, como no conto O
Imortal, de Machado de Assis, publicado em 1906 no segundo volume
da coletânea de contos Relíquias
da Casa Velha. A personagem, o Dr.
Leão, narra em pleno século XIX a
história de seu pai, nascido em
1600 na cidade de Recife e que,
por meio de uma bebida indígena
feita a partir de ervas teria se
tornado imortal. O narrador assim
infere: “A ciência de um século
não sabia tudo: outro século vem e
passa adiante. Quem sabe, dizia
ele consigo, se os homens não descobrirão um dia a imortalidade, e
se o elixir científico não será
esta mesma droga selvática?”. A
ambição do homem em posse do valor
singular é também explorada quando
o pai de Dr. Leão, Ruy Garcia de
Meirelles
e
Castro
Azevedo
de
Leão, “Ruy de Leão”, é tentado a
querer analisar a droga na Europa,
“ou mesmo em Olinda ou no Recife,
ou na Bahia, por algum entendido
em cousas de química e farmácia”,
e com isso, quem sabe, reproduzila.
Apenas na nona tabuleta da
epopeia, o que seria o seu nono
capítulo, Gilgamesh se depara com
Uta-Napishtim. O diálogo entre os
dois é descrito da décima tabuleta
em diante, inclusive a narrativa
que o homem imortal faz do dilúvio
ao aventureiro que o procura. Por
fim, Uta-Napishtim não revela a
Gilgamesh o segredo da vida, mas o
persuade a procurar uma planta sob
o rio, no caminho de retorno à sua
casa, posto que só ela seria capaz
de conferir a imortalidade. Seguindo o conselho da entidade diluviana, Gilgamesh faz sua viagem
de volta e em um determinado ponto
amarra pedras às pernas e afunda
em busca do vegetal. A narrativa
aproxima-se aos relatos fantásticos de outrora, inverossímil a uma
concepção anacrônica: o aventureiro imerso, sem quaisquer equipamentos ou técnica de mergulho, já
no fundo das águas encontra a
planta, arranca-a e retorna à superfície sem dificuldades.
Acreditando estar em posse do
maior tesouro de todos os tempos e
que tão logo haveria de entregá-lo
aos anciãos de sua cidade a fim de
rejuvenescerem juntos. A personagem acreditava que ao comê-la iria
“recuperar a juventude”. Decide,
antes disso, no caminho à cidade
de Erech (uma das mais antigas da
civilização), repousar em uma pis30
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
tória de um guerreiro imortal escocês chamado Connor MacLeod, do
século XVI, que tem atravessado os
vários séculos até o XX, a cortar
com uma espada a cabeça de outros
guerreiros imortais, na busca de
ser o último deles, recebendo, por
isso, o prêmio da mortalidade.
Reações
fisiológicas
estranhas, quase mutantes, também são
descritas, quando o narrador tece
comentário a respeito de um golpe
dado ao pescoço de seu pai, cujos
tecidos musculares “ligavam-se outra vez rapidamente, e assim os
mesmos ossos”. Além do espírito
futurista de Ruy de Leão, que nas
horas vagas desenvolvia projetos
para o século XX e XXIV, embora
não entrando em detalhes acerca
deles. O drama do conto inicia-se
no ambiente psicológico do próprio
homem imortal, que década após década leva a vida cada vez mais infeliz por assistir a morte de seus
entes queridos, inclusive filhos.
Certo dia resolve beber o resto do
“elixir da eternidade”, descobrindo nele a cura de seu mal, já que
consegue morrer. O narrador então
sintetiza o fato: similia similabus curantur.
Na crença dos povos
antigos, a começar pelos egípcios,
o culto à imortalidade tinha diferentes sentidos, dentre os quais a
preservação do corpo, daí a mumificação como necessária ao conforto do KA (a cópia), a fim de que
auxiliasse no desenvolvimento de
um novo corpo ao espírito do morto, que retornaria. Diferentemente
dos egípcios, a imortalidade espiritual dos cristãos está mais relacionada ao aspecto da permanência no assento etéreo.
Ilustração de Katase6626
O ser eterno não é um caso único do antigo no moderno,
posto que os assuntos do passado
nunca deixaram de ecoar nas ideias
do presente, devendo-se, pois, naturalmente, ecoarem ainda nos filhos do amanhã. Vejamos o caso da
invisibilidade. Platão, o grande
discípulo de Sócrates, escreveu no
livro dois de A República (séc. IV
a.C.) um diálogo intrigante entre
seu mestre e Glauco a respeito de
um pastor de nome Giges que, certa
vez, servindo ao rei da Lídia, teria encontrado, após uma forte
tempestade e tremores de terra,
uma fenda abismal no solo onde
exatamente o seu rebanho pastava.
Curioso por saber do fenômeno o
pastor resolveu descer o abismo,
encontrando assim uma espécie de
cavalo oco de bronze (seria alusão
ao de Tróia?) e dentro dele o cadáver de um homem em cuja mão havia um anel de ouro. Giges então
toma para si o anel e segue caminho.
O próprio anseio do homem em
publicar algo, em deixar descendentes, em manifestar-se em documento, seja ele qual for, é uma
espécie, mesmo que inconsciente,
de perpetuar-se na matéria ou na
memória de seus pares. Assunto tão
antigo quanto a origem da literatura, a imortalidade tal qual a
Lua é ainda objeto de fascinação à
inteligência. Nos cinemas nunca
deixou de ser expressa. É o caso
de um filme que mistura muito bem
o épico com o moderno, Highlander
(1986), de Russel Mulcahy. A produção, sucesso no final dos anos
80 para início de 90, conta a es31
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
H. G. Wells retomou esta temática da invisibilidade e suas consequências quando escreveu e fez
publicar a obra The invisible man
(1897), responsável por colocar em
discussão outro aspecto, bem distinto ao de Platão, o conflito étnico do homem. Este assunto foi
ensaiado com o mesmo título em um
conto escrito por Robert Silverberg. A personagem, condenado à
invisibilidade por um ano, chega
ao limite da insanidade e começa a
perceber que os robôs, de um futuro o qual está inserido, são mais
humanos do que os próprios homens.
Uma espécie de sátira ao homem moderno, frio e mecanizado.
Não custou, porém, descobrir que o
objeto que se apoderou era singular, pois que o permitia ficar invisível perante os seus pares. Em
uma dada assembleia de pastores
percebeu que ao girar o engaste do
anel para o interior de sua mão
tornava-se invisível, recuando este efeito quando tal engaste era
girado para o lado externo. Assim
diz o narrador: “Assustado, apalpou novamente o anel, virou o engaste para fora e tornou-se visível. Tendo-se apercebido disso,
repetiu a experiência, para ver se
o anel tinha realmente esse poder;
reproduziu-se o mesmo prodígio:
virando o engaste para dentro,
tornava-se invisível; para fora,
visível”.
A concepção das cidades futuristas e ideais é também assunto
que rende no campo da expressão
filosófica e científica do homem.
A começar em Homero, quando define
os muros de Troia feitos de ouro
e, para a época mítica da narrativa, intransponíveis. Coube a Odisseu, o aventureiro de Odisseia,
idealizar a construção de um cavalo gigante oco, que alojaria todos
os guerreiros gregos, e ofertá-lo
aos troianos como símbolo de paz e
reconhecimento.
Estes,
por
sua
vez, aceitam o presente porque negá-lo poderia enfurecer os deuses,
e achando que os gregos haviam se
rendido à luta, o colocam dentro
da cidade. É o início da ruína de
Troia; é o presente de grego. Os
troianos comemoram a suposta vitória com uma festa à noite regada a
álcool. Quando se retiram aos aposentos, os gregos saem do cavalo e
dão início a uma verdadeira chacina e destroem a cidade, ateando
fogo em tudo. O aspecto que compete análise no episódio da guerra
entre gregos e troianos está na
muralha aurífera que contorna a
cidade de Troia, o que pressupõe
não apenas manuseio, mas tecnologia para lidar com o metal em tão
largas proporções.
Tendo o diálogo um cunho moral
acerca da justiça e da injustiça,
o
filósofo
grego
demonstra
a
transformação com que o pastor
passou quando apoderado de tal
tecnologia: Giges não tardou em
seduzir a rainha da Lídia e conspirar contra o rei, matando-o e,
consequentemente, apoderando-se do
trono. Ao que conclui Glauco: “Se
existissem dois anéis desta natureza e o justo recebesse um, o injusto outro, é provável que nenhum
fosse de caráter tão firme para
perseverar na justiça e para ter a
coragem de não se apoderar dos
bens de outrem”. O fato é que o
assunto do anel e da invisibilidade é reproduzida de maneira bem
mais ampliada por J. R. R. Tolkien
em seu afamado O Senhor dos Aneis
(1937). A personagem Frodo também
consegue desaparecer ao usar o
precioso e a cada vez que o usa
parece atraído pelo mal.
Em Platão o mito da cidade
futurista e de obras faraônicas
aparece mais detalhado, quando
32
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
sado”. Embora a cidade do sol fosse liderada por um rei, Roh, e
três ministros, Pon (Potência),
Sin (Sapiência) e Mor (Amor), tais
cargos eram ocupados após uma
eleição peculiar, em que os cidadãos ao invés de apresentarem candidaturas, por meio do discurso
demonstravam conhecimentos científicos e universais a par de um
senso de livre arbítrio. Elevavase à categoria de rei, por exemplo,
aquele
que
conhecesse
“profundamente a história de todos
os povos, os ritos, os sacrifícios, as leis das repúblicas e das
monarquias, assim como os inventores das leis, das artes, e os fenômenos e vicissitudes terrestres
e celestes”, enfim, dominasse o
saber geral, sendo, antes de tudo,
um cientista.
descreve a lendária ilha de Atlântida, maior que a Líbia e a Ásia
juntas. Seu povo, construtor que
era de grandes edifícios, pontes e
passagens secretas, manuseava os
metais nobres e possuía uma potência naval espetacular. Segundo o
filósofo grego, sua existência data de 9.600 a.C. Os atlantes foram
considerados a sociedade mais evoluída da época. Seus reis conquistaram inúmeras terras e formaram o
império mais poderoso do mundo,
absorvendo os territórios do Egito
e parte da Europa. A par dos muros
de Troia, seus muros também eram
erguidos em metal: bronze na parte
externa e estanho na interna.
O narrador descreve a peculiar república localizada no alto de
uma colina, nas proximidades da
Taprobana (hoje ilha de Ceilão).
Seus habitantes dominavam uma tecnologia capaz de alterar os fenômenos da natureza, tanto assim que
controlavam, a favor do seu povo,
ventos, chuvas, trovões, arco-íris
etc. Alguns instrumentos são ainda
especulados, como o uso de carros
movidos a vela, máquinas guerreiras que serviam de proteção à cidade e o uso de embarcações movidas por motores. Campanella, além
de ter falado em robôs de combate,
antecipou o invento do motor náutico em pelo menos um século. Somente em 1775 surgiu o primeiro
projeto de propulsão vertical ou
horizontal por meio da mecânica,
quando Bushnell desenvolveu hélices em parafusos, no entanto, apenas em 1839, através de John
Ericsson, tal ideia viria a ser
incorporada em navios, o que torna
a especulação do filósofo italiano
ainda mais antiga, há exatos 200
anos. Isso levando em consideração
o ano de morte do autor (1639),
posto não ser precisa a data de
publicação da obra em questão.
No século XVII o filósofo
italiano Tommaso Campanella especulou em La cittá del Sole (séc.
XVII) uma sociedade bastante avançada, regida por um sistema de governo meritocrático, não escravocrata e heliocentrista, o que se
justifica quando a filosofia de
seus cidadãos compreendia a natureza como razão. Como assim o diz
não de maneira anacrônica já que
considera a teoria de Copérnico,
mas por questão de cultura daqueles supostos habitantes: “o sol
aproxima-se cada vez mais da terra
e, percorrendo círculos cada vez
menos amplos, chega, no ano presente, aos trópicos e aos equinócios, mais depressa do que no pas33
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
por ventura, foi por meio dessa
descoberta que a ciência astronômica pôde tomar nota de objetos
cósmicos como os quasares, fundamentais para o entendimento da
formação do Universo. Isaac Asimov, por exemplo, acreditava na
possibilidade de ser o quasar a
extremidade inversa de um buraco
negro.
O desenvolvimento náutico dos
solares é advindo de um admirável
artifício, destacado em duas possibilidades distintas de propulsão: “[...] na popa uma grande roda em forma de leque, presa à extremidade de uma vara que, equilibrada do lado oposto por um peso
nela suspenso, pode ser facilmente
levantada e abaixada por um menino. Todo o mecanismo se move sobre
uma prancha sustentada por duas
forquilhas. Além disso, alguns navios são postos em movimento por
duas rodas que giram dentro da
água por meio de cordas que partem
de uma grande roda posta na proa
e, entrecruzando-se, circundam as
rodas de popa. Posta em movimento,
sem dificuldade, a grande roda faz
girar as pequenas mergulhadas na
água, à semelhança da pequena máquina de que se servem as mulheres
calabresas para enrolar e fiar o
linho”.
Os solares cultivavam todas
as línguas do mundo e possuíam uma
gigantesca rede de embaixadores
espalhados nos quatro cantos do
planeta, aprendendo a cultura, as
dificuldades e os avanços alheios.
Interessante observar alguns diálogos existentes da produção cinematográfica Nosso Lar (2010), de
Wagner de Assis baseada na obra de
Chico Xavier, com a especulação do
filósofo italiano, como é o caso
dos ministérios e a própria organização arquitetônica da cidade. A
descrição é pormenorizada, compreendendo sete círculos e “recintos
particularmente designados com os
nomes dos sete planetas” (até então descobertos). Cada círculo era
destinado a uma área do conhecimento humano. Possuíam palácios
ligados uns aos outros de tal maneira que pareciam um só, com escadas de mármore. Todas as casas
obedeciam a um padrão econômico e
ambiental, quando, por exemplo,
canalizavam as águas das chuvas
que escorriam pelos telhados a uma
cisterna através de aquedutos de
argila. Detalhe para o comportamento social, onde mulher e homem
ocupavam as mesmas posições, sem
quaisquer distinções. No auge de
sua especulação, é afirmado que
“tanto os homens como as mulheres
usam roupas iguais, próprias para
a guerra, com a única diferença de
que, nas mulheres, a toga cobre os
joelhos, ao passo que os homens os
têm descobertos”. As solares também são treinadas, assim como as
espartanas, para a guerra contra
as nações inimigas da “república,
da religião e da humanidade”.
Mais antecipatória do que a
própria navegação mecânica é a especulação que se constrói em torno
dos habitantes que haviam descoberto a arte de voar, bem como a
previsão que a própria sabedoria
dos nativos fizeram a respeito de
instrumentos acústicos que, tais
quais os ópticos, possibilitariam
aos homens escutarem a música dos
céus. Assim é quando o Almirante
Genovês confessa a seu enunciatário, o Grão-Mestre, a respeito
dessa crença entre os solares:
“[...] consideram próxima a descoberta de instrumentos ópticos, com
os quais serão descobertas novas
estrelas, e de instrumentos acústicos tão perfeitos que com eles
se chegará a escutar a música dos
céus”. A música dos céus, porém,
só começou de fato a ser captada
nos anos 30 do século XX, quando
os astrônomos, compreendendo que
todo corpo cósmico transmite ondas
eletromagnéticas, começaram a desenvolver a técnica da radioastronomia, que consiste em apontar
imensas antenas para o espaço e
captar os sinais dos astros. Não
34
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Tornam-se maiores de idade, a
mulher aos 19 anos e os homens
após os 21, quando então podem
procriar, antes disso, “permite-se
a alguns a mulher, mas estéril ou
grávida, a fim de que, impelidos
por excessiva concupiscência, não
se abandonem a excessos anormais”.
Vivem uma média de 100 anos, podendo, ainda, alguns alcançar os
200. O aspecto higienista, inexistente no período de escrita da
obra, Idade Média, é narrado quando da união conjugal, realizada a
cada três noites e estando os cônjuges “bem lavados”.
anos e a preocupação higienista os
levava a usar roupas sintéticas a
prova de micróbios e usufruírem de
banhos a vapor. Apesar de não serem cristãos, mas doutrinados a
par das leis da natureza, na A Cidade do Sol os habitantes criam na
imortalidade da alma, que em suas
concepções ao sair do corpo é cortejada rumo ao juízo de deus por
espíritos bons ou ruins, de acordo
com os atos realizados pelo indivíduo quando matéria.
O mais incrível em todas as especulações de um período tão antigo
não é apenas o caráter de antecipação temática construída pari
passu do moderno, mas a forma com
que elas, trabalhadas no campo da
ficção, conseguem extrapolar os
limites do imaginário e ocupar assento na realidade nossa, fazendonos crer que o moderno não é tão
moderno assim. Até quando a ficção
científica é puramente ficção? As
descobertas arqueológicas têm desmistificado tanto as nossas teorias e mitos que é difícil de acreditar que a primeira pilha elétrica tenha sido construída ainda no
Império Parta (247 a.C.) e não no
século XVII, por Otto Von Guericke. O assunto chega a soar FC
se por um acaso não fosse objeto
de estudo e comprovação científica
desde 1936, do arqueólogo e engenheiro Wilhelm König. David
Hatcher Childres, especialista das
tecnologias antigas, afirma que “O
que é espantoso no confronto entre
o mundo moderno e o mundo antigo,
é que no primeiro o cidadão médio
tem acesso a tecnologias avançadas, como eletricidade, um veículo
pessoal, telefone, fax e computador. No mundo antigo, a tecnologia
As crianças da cidade, diferente
das do restante do mundo, aprendiam em um ano o que as demais teriam de aprender em dez ou quinze de
estudo. Aos médicos ficava a responsabilidade de cuidar da alimentação dos cidadãos, instruindo cozinheiros “sobre a qualidade de
dos alimentos que devem ser preparados, indicando os que convêm aos
velhos, aos jovens e aos doentes”
– proto-nutricionistas. No aspecto
do melhoramento, manutenção saudável e equilibrada da raça, os habitantes solares celebravam a união de pares geralmente opostos, um
gordo com uma magra ou uma magra
com um gordo, “assim, com sábio e
vantajoso cruzamento, moderam-se
todos os excessos”. No campo do
trabalho, as jornadas não são longas, seus cidadãos não ultrapassam
quatro horas de atividades, consagrando as demais ao estudo, às artes e aos prazeres. Alguns aspectos dessa obra de Campanella surgem no Brasil na década de 20 do
século passado, quando o piauiense
Berilo Neves construiu na obra A
Costela de Adão (1929) um universo
futurista em que os homens não
trabalhavam mais do que duas horas
por dia, viviam uma média de 200
35
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
avançada era, na maior parte, negada às massas”.
A cada ano que se passa temos
visto que as invenções de hoje nada mais são do que os ecos do passado. No tempo de Luciano de Samósata, por exemplo, os gregos haviam inventado uma espécie de máquina que liberava uma determinada
quantidade de água de acordo com o
peso da moeda depositada em sua
fenda. Isso sem se falar que motores a vapor e bombas hidráulicas
já eram comuns na Antiguidade. Vários documentos e narrativas antigas nos dão provas de que o chamado homem mecânico ou robô já era
uma realidade antes da nossa era,
a citar aqueles fabricados pelos
engenheiros de Alexandria, que tiveram dezenas deles ao longo dos
seus dois mil anos. As lendas chinesas dos dragões de bronze são um
exemplo bem nítido, bem como as
formas humanas descritas no mito
de Dédalo, construtor de figuras
humanoides que se moviam sozinhas.
O que dizer ainda de Homero, que
em Ilíada (séc. VIII a.C.) teria
descrito o deus coxo Vulcano ladeado e auxiliado por “Moças de ouro
que às vivas assemelham / na força
e mente e voz” que ele construiu,
antecipando em milênios a robótica
e a inteligência artificial? Até
quando estas especulações são especulações? Não seria muito do que
se especulou fruto de algo que realmente existiu? As descobertas
arqueológicas parecem nos aproximar de um mundo que há milênios
pertencia apenas à nossa imaginação. A grande chave da história é
descobrir onde está a verdadeira
idade arcaica da humanidade, além
dos motivos que levaram a não conservação das descobertas e tecnologias desenvolvidas no outrora.
Anacrônico pode ser o nosso tempo!
Hércules
Por Evelyn Cieszinski
Fio de ouro
tecido pelas Parcas
mergulhado no rio Estige
e colocado sob o solo
mortal.
Imagem de um homem,
essência de um deus.
Confundido e esquecido,
aclamado e adorado.
Venceste mil cabeças,
nadaste em mil águas.
Herói do Olimpo
por muitos esperado.
Com mortais viveu e
nos céus renasceu.
.
36
VARAL NO BRASIL NO. 15
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VARAL NO BRASIL NO. 15
UTILIDADE
Por Danielli Morelli
MAIO DE 2012
zá-las para afastar o indesejável.
Tinha perfeita noção de qual era o
seu lugar e sabia fazer bom uso
disso: observando, arquivando, catalogando e organizando coisas e
informações concretas e por que não
dizer, até as abstratas?
Não gostava dos dias por causa do
A frieza absoluta nunca o impedia
sol quente que parecia inchar suas
de estar presente em vários lugaarticulações e deixa-lo um tanto
res, especialmente nos mais íntimos. Aquela severidade e o seu jei- bovino, não gostava das noites porto obscuro se destacavam nos insis- que sempre acabava ao lado da cama
tentes silêncios e talvez por isso de alguma alma necessitada e sua
mesmo, todos sem exceção lhes con- inabilidade emocional o tornava facilmente aborrecido. Enjoava das
fiavam os mais íntimos segredos,
expondo-lhe alguns bem diante dele, pessoas, enjoava dos ambientes, enjoava dos meses e estações e ia
como a desafiá-lo a ter uma vida,
tornando-se igualmente entediante
uma vida mais viva.
conforme o tempo passava. Sabia-se
Por vezes sua aparência lembrava
restos de outras coisas, de outros egoísta e vazio, mas de algum modo
momentos, de outras pessoas. Tantas interessante! Sem coração ou afeformas podia assumir que quase nun- tos, mas profundamente prático! Em
geral sem uma beleza
ca o definiam pela exsignificativa, mas de
pressão, apenas pela sua Não gostava dos
certa forma importante!
ausência ou presença.
dias por causa do Então ia ficando ali,
Sempre um tanto sisudo
em sua arrogância de sa- sol quente que pa- tempos após tempos, em
recia inchar suas sua função taciturna e
be-tudo, quase chantainquestionável, iludido
gista perante as coisas
articulações e
pela imobilidade de que
que lhe caíam de graça,
deixá-lo um tanto nada e ninguém poderiam
podia ser dono do mundo
passar sem ele.
se lhe apetece apenas
bovino...
Toda ilusão de controle
falar.
acabou no dia em que ela
Não revelava sentimentos especiais
chegou, ocupando com a luz de seu
ou algum apego específico, mas se
mostrava útil para as senhoras mais sorriso e um perfume diferente cada
vulneráveis que passavam muito tem- centímetro do ambiente, aquele seu
po em casa, solitárias e adoecidas humor nem doce nem cítrico preencheria seus dias e tudo ao seu repor suas tristezas sem fim. Junto
dessas existia como uma espécie de dor. Irreverente lançou sobre ele
um lenço transparente que tirava do
apoio, de muleta, guardando suas
coisas particulares, atento às suas cabelo, incomodado com tanta energia sentiu-se pego por um furacão,
falas solitárias, segurando seus
tudo girava ao seu redor, nada mais
copos de licor ou suas xícaras de
parecia igual e aquela alteração
chá com alguma cerimônia, alimentando uma dependência quase obscena brusca de sintonia o irritou muito,
que lhe permitia considerar-se in- atarantado e agressivo acertou-lhe
o mindinho do pé e esperou o grito,
dispensável.
surpreendendo-se com a gargalhada
Nunca fora muito de animais de
qualquer espécie, todas as suas ex- cascateante que mais ainda o enerperiências com esse tipo de ser lhe vou. Imobilizado pela surpresa e
renderam arranhões, manchas e pro- por sua própria condição apenas
obscureceu-se mais em seu canto fafundo desagrado, era um ser de
arestas afiadas e sabia como utili- vorito e esperou enquanto ela o ignorava completamente e andava por
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VARAL NO BRASIL NO. 15
por todo lado com sua leveza de fada, com seus passos de bailarina.
Nunca antes vira um pescoço como
aquele e teve ganas de apertá-lo ou
mordê-lo, mas não trairia sua tez
plácida nem mesmo pela mulher mais
linda do mundo e toda aquela exagerada felicidade.
Os dias passavam e quanto mais ela
ficava por ali, mais ele sentia-se
sobrecarregado, quanto mais ela vivia sua própria vida, com suas cores e sombras, alegrias e percalços, mais coisas ele tinha que carregar sobre si. Deste modo a idade,
antes plenamente ignorada, passou a
pesar sobre seus pés, e com ela a
tristeza própria dos que sabem que
meia vida não é melhor do que nenhuma.
Um dia ela olhou para ele com outros olhos, olhos de borboleta travessa e se propôs a muda-lo tanto
que muito o ofendeu, ao final sentia-se meio mulher e se por um lado
isso o aquecia, por outro o enojava, e aquelas coisas escorrendo sobre ele e secando, todos aqueles
cheiros, aquelas novas temperaturas
e sabores o confundiam por demais,
exasperavam, feriam, sem contudo
dar-lhe o ímpeto necessário para
apenas recusar-se.
Quando tudo acabou, o outro apareceu entre afoito e misterioso, um
pouco magro em sua altura, mas quase belo em seus cabelos mal cortados. Olhou para ele apenas uma vez,
sorriu irônico e nada comentou.
Quando ela entrou, apenas a pegou
no ar e a forma como tocava nela
durante toda a noite denunciou toda
a impossibilidade que cercava suas
próprias relações, tudo fora feito
para o outro, aquele outro cujas
mãos passeavam pelas formas que ele
admirava todo dia, aquele que beijava com furor tudo o que ele passava as noites velando, aquele que
esbarrava seus pés nele toda vez
que ia, toda vez que ia...
MAIO DE 2012
sobre si um bule quente que feria
um pouco sua recém-pintada superfície, também havia pratinhos com
coisas para comer e ela abriu seu
lindo sorriso até um pouco depois
dos olhos para agradecer o que o
outro lhe servia com aparente amabilidade. Estudou e expressão dela
cuidadosamente, as faces rosadas e
brilhantes de pura felicidade, os
cabelos soltos em liberdade e desalinho da beleza sem esforço que
emolduravam o rosto cheio de uma
nova luz e energia, demorou mais
tempo nos olhos brilhantes e descobriu uma nova meiguice quase infantil. Já conhecia aquela expressão
de tantas outras vistas, apenas não
lhes dera atenção, não se deixara
tocar, não como com ela.
Sentiu suas estruturas cedendo um
pouco, o peso dos anos não se compara ao dos sentimentos. Sabia pela
experiência dos outros, em sua vida
de voyeur absoluto, que plantar expectativas tantas vezes significa
colher decepções. Calou-se ainda
mais calado do que sempre fora, enrijeceu as pernas curtas e grossas,
segurou-se como pode e coisificouse ainda mais para pura preservação, sem bem entender do que devia
preservar-se. Parou antes apenas
para ouvir as últimas falas daquele
teatro meio que encomendado:
- Gostei um bocado deste móvel. É
grande, cabe muita coisa!
- Eh, era da minha bisavó, eu andei
dando uma restaurada nele, tentando
dar um pouco de vida para a madeira, mas sei lá, ele não tem muito
jeito, falta alguma coisa, achei
que era a cor, depois a forma, mas
não consegui definir. No fim ele só
é o que é...
Enfim, descansaram e ele recebeu
39
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Esquecimento conjurado
(Em resposta a Hart Crane)
Por Danilo Augusto de Athayde Fraga
O esquecimento é o branco que é preto
A pausa esquecida de uma música que não recomeça
Esquecimento é vento que soprou uma pedra
Ou o tempo sobre ela – de asas fechadas
O vento imóvel sobre o pássaro - no passado
O esquecimento é noite sem sonho e sem chuva
Um cadáver enterrado em uma floresta desabitada
Ou um túmulo vazio – esquecimento é preto vindo do
branco
O esquecimento põe traças sobre o verbo da Sibila
calada
Ou é o corpo de um poema ilegível
- Esquecimento, caberei em sua cova?
40
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
MENSAGEM A TODOS OS ESCRITORES mas, das linhas teóricas, difundindo a arte do bem viver e a prática
DO PLANETA
de cultivar o nosso planeta.
O nosso trabalho
possível!
Por Dhiogo José Caetano
É hora de
brar...
pensar,
é
árduo,
mas
refletir,
é
lem-
Utilizamos de inúmeras formas para Lembrar das crianças que são vioexpressar os momentos, a vida, a lentadas, das nossas florestas quase extintas, dos jovens que não
eternidade.
chegam à fase adulta por causa das
Pensamos como eles e elas, e trans- drogas, da corrupção que devora as
crevemos sonhos, medos, vidas...
inúmeras nações do planeta, do abuTemos a clarividência e sensibili- so de poder e tantas outras probledade de refletir os mais variados máticas encontradas no mundo consignificados do presente e do pas- temporâneo.
sado.
Em versos, vamos narrar à esperança
O que vivemos no presente é regis- de uma humanidade que clama por
trado em prosas, contos, poemas e paz.
artigos memoráveis.
Refletir sobre o legado que recebeMas também analisamos a repercussão mos do uso que dele fazemos e o que
faremos no futuro.
dos fatos em um futuro distante.
Somos os senhores das letras, as
letras de inúmeros senhores são
eternizadas em riscos, traços e rabiscos de um presente coletivamente
vivido em uma particularidade social, política e geográfica.
E isto compete a nós escritores que
temos o poder de romper fronteiras
levando a mensagem de um mundo melhor para todos.
Somo seres instruídos e capazes de
espalhar através das palavras, conMas neste mosaico de ideias, nos dições para que possamos viver a
interligamos em uma única corrente vida de forma coerente e assim todos poderão continuar vendo o sol
literária.
nascer todas as manhãs.
Trabalhamos todos os dias, buscando
aperfeiçoar a arte de levar os sen- O que foi ontem passou, vamos escrever um mundo melhor.
timos através das palavras.
Somos por excelência a voz do Pensemos no hoje: um mundo justo
“povo”, dos “bestializados”, dos para todos!
mais profundos sentimentos e da ar- Um lugar de paz, igualdade, fraterte de eternizar a vida.
nidade e liberdade.
Muitos nos amam, mas muitos também
nos odeiam.
Ensinamos, mas também temos o poder
de destruir uma nação.
Precisamos ter a consciência deste
poder!
O mundo precisa de nós para se reestrutura...
A arte transforma tudo e tudo se
transforma com a arte.
Vamos nos unir, esquecer dos dog41
VARAL NO BRASIL NO. 15
A ARTE DE CONVENCER
Por Emanuel K Guerreiro
Por que escrever? Para cada
escritor há uma razão diferente.
Busque a sua.
MAIO DE 2012
pela interpretação.
O ato de escrever é tentar de
forma coerente buscar em fontes
confiáveis informações que conceda
ao escritor bases científicas suficientes que contribua de forma concreta para o crescimento do conhecimento cientifico.
Portanto, existem determinados
A pergunta é simples, escrever tipos de informação ou de “verdade”
para quem, com qual finalidade e
que jamais deverá ser debatida ou
para qual grupo de indivíduos.
principalmente levada ao publico,
pois a grande massa não saberia coA razão de escrever, muitas
vezes, é sufocada por não compactu- mo lidar com uma releitura da hisar com determinadas ideias em que o tória.
subterfúgio e a manipulação de inA história dita oficial é enformação são constantes. Com a más- deusada como se ela fosse uma vercara de uma pseudo liberdade de ex- dade intocável. Na realidade esta
pressão.
razão de escrever não possibilita
ao cientista uma interpretação mais
profunda do assunto, pois ao que
Ninguém entrará na ordem do dis- tudo indica o discurso que o grande
curso se não satisfazer a certas
público esta acostumado a ver são
exigências ou se não for, de iníinformações dos “heróis”. A outra
cio, qualificado para fazê-lo. Mais face da verdade não pode e não deve
precisamente: nem todas as regiões ser levantado como interpretação de
do discurso são igualmente abertas uma construção cientifica.
e penetráveis; algumas são altamenNo dizer de Foucault: “é da
te proibidas (diferenciadas e diferenciantes), a doutrina liga os in- verdade que menos se fala” (1999,
divíduos a certos tipos de enuncia- p. 19). Ou ainda, conforme Walsh
ção e lhes proíbe, consequentemen- (1978, p. 33), o historiador:
te, todos os outros; mas ela se
serve, em contrapartida, de certos
[...] visa a uma reconstrução do
tipos de enunciação para ligar inpassado que é ao mesmo tempo intedivíduos entre si e diferenciá-los,
ligente e inteligível. [...] A verpor isso mesmo, de todos os outros.
dade é que a história é um assunto
A doutrina realiza uma dupla sujeimuito mais difícil do que se acreção; dos sujeitos que falam aos
dita frequentemente, e que na readiscursos e dos discursos ao grupo,
lização bem-sucedida exige o preenao menos virtual, dos indivíduos
chimento de várias condições, muique falam. O discurso nada mais é
tas das quais não estão ao alcance
do que um jogo. (FOUCAULT, 1999, p.
dos próprios historiadores. Mas o
37-38-49, grifo do autor).
fato de ser a verdade histórica difícil de atingir não é razão para
se negar sua natureza especial.
Muitos escritores quando escrevem, não escrevem para si, mas,
para um determinado grupo. Então
perguntaremos em dois pontos de in- A minha razão de escrever é mostrar
ao leitor que não existe um tipo só
terpretação:
de verdade em que os “heróis” são
O documento e a verdade histó- os que vencem e os bandidos são os
rica: dois contrapontos “devorados”
42
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
que sempre são derrotados por um determinado
grupo
no
qual
uma
minoria
que conduz a história tem o poder de
manipular os fatos como bem querem para seu bel prazer.
Escrever temas interessantes é na
realidade mostrar ao público uma espécie de informação ou “verdade” em que
eles mais tarde se posicionarão em um
julgamento coerente sem intervenção de
terceiros.
BOLHAS DE SABÃO
Por Mario Rezende
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France,
pronunciada em dois de dezembro de 1970. 4
ed. São Paulo: Loyola, 1996.
WALSH, W. H. Introdução à Filosofia
da História. Tradução de Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
43
Muitas bolhas de sabão
eu soprei na sua direção:
uma cheia de carinho
atingiu os seus cabelos
como se fosse a minha mão.
Outra era um sorriso
carregado de alegria
para animar o seu dia.
Uma bem sugestiva,
armada de sedução,
isca do meu desejo,
para chamar a sua atenção.
Outra nos seus lábios,
um beijinho bem roubado.
Desfilaram junto ao seu
rosto,
meus olhos refletidos nos
seus,
a esperança e suspiros,
galanteios, muitos
sorrisos,
beijos, beijos, beijos
doces,
coloridos e de todos os
tipos,
esperando acontecer.
Mas aquela especial,
carregada de amor,
estourou em seu peito,
bem pertinho do coração.
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
MULHER DE CADA DIA
Por
Teresinka Pereira
Cada dia
e' o dia da mulher
que trabalha
porque ama,
porque sonha.
P A I S A G E M
Pelo caminho
seus pés vão firmes
Por Marta Carvalho
em silêncio,
rompendo barreiras
Lá por aquelas paragens,
de discriminação.
Há belas paisagens,
Vai tragando a cólera
para fortalecer a alma
Revelando linda imagem
e transformá-la em orgulho
De uma praia selvagem.
porque sonha
Quisera eu me transportar
que as outras a acompanham
Ao menos em pensamento imaginar
ao justo dia da liberdade
de ser cidadã
Um dia poder habitar
de primeira classe,
Naquele magnífico lugar,
sem deixar de ser mulher!
Bem junto à beira do mar.
Onde a majestosa natureza,
Pintou com toda a delicadeza
Um quadro de rara beleza.
Lá a vida tem valor,
Toda a fruta tem sabor,
Lá se vive com amor,
Cultivando linda flor
Plantada com labor
Que nos traz suave odor
© IKO - Fotolia.com
Tudo nos lembra a grandeza
Do nosso Supremo Criador.
44
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
O herdeiro de Orfeu
Por Cristina Mascarenhas da Silva
Às vezes o mundo abala minha existência,
Sinto a alma trancafiada num quarto escuro,
Sinto a pele arrepiar recostada no mármore frio
De algum suntuoso sepulcro imaginário
Onde eternamente repousa meu entusiasmo
Protegido pelo medo e ideias de perda,
Que reinam envoltos por criaturas estranhas
Pertencentes à minha imaginação
Porém vejo uma luz pequena de esperança
Advinda de uma voz que me traz paz,
Uma flama atinge meu espírito
E me transporta para um jardim
Onde querubins brincam na fonte
Lá vive o herdeiro de Orfeu esquecido por Eurídice
Em algum lugar que sempre pode renascer
E sua herança o faz tocar seu instrumento
Como a mesma beleza que se primou a cantar
Ainda que abençoado pela Deusa do Fogo,
Leva-me com sua música pelo rio da vida,
Regenerescência de uma quimera possível.
45
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Hachuras no coração
Por Varenka de Fátima Araújo
Numa folha branca, linhas
entrecruzadas
sobrepostas
bem devagar em riscos
Saudade de mãe
traços da mesma cor
Por José Hilton Rosa
Falo apressada, rouca
tão pouco agrada
Ó minha mãe
Onde está pode crer
A saudade que estou
Querendo te ver
não te fiz cativeiro
cem mil vezes te amei
Numa folha branca
Quero de noitinha chegar
De longe te chamar
Aproximar e gritar no portão
Como sempre fiz
Hachuras em meu coração
De sangria sem vibração
Silencio, dor sem fim.
Na casinha amarela
Esquentar a água
Na chama do fogão a lenha
Para o cafezinho fazer
A broa bem quentinha
Para mim ela preparou
Com o cantar do primeiro pássaro
Lá está ela na cozinha
Sempre falando dos filhos
Repete sem cansar
Historias passadas
Passagens amarguradas
São desejos de mãe
Juntos dos filhos
Querendo ficar
Cada um com seus afazeres
Imagem de Elis Frégéné
46
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
quintal, lá a madrinha de Lili
Assobiar
a
colocou num galho e pediu que ela
Por Elise Schiffer
imitasse um passarinho, o que a
menina fez prontamente, depois pe-
Lili tinha 6 anos diu que ouvisse os sons que haviam
e o Brasil vivia dias difíceis. A ao redor, depois a levou até o
jardim e novamente pediu que ela
vida de todos era de medo, pelo
No ano de 1964,
menos onde ela morava, interior do assobiasse e que depois ouvisse o
canto dos pássaros, assim as duas
Subúrbio, Bairro de Nova Iguaçu.
Lili neste época estava tentando
foram a vários lugares
e no final
aprender a assobiar.
de todas essas
A pequena menina andava por todo
nha contou carinhosamente que o
os lados tentando assobiar e não
portão não era mágico, que mágico
conseguia produzir som algum,
é o coração que canta através do
Um dia Lili foi a casa de sua ma-
assobio.
andanças a madri-
drinha, duas casas logo após a sua A madrinha de Lili ensinou-lhe que
os pássaros cantam por alegria de
e quando voltava ao passar pelo
portão conseguiu assobiar. Sua
viver, que a chuva canta de ale-
alegria foi tanta que ela não pa-
gria por encontrar
rava de pular.
vento canta em nossos ouvidos de
A pureza dos 6 anos de idade, a
alegria
a terra, que o
por voltar e encontrar
fizeram acreditar que o portão era amigos, explicou quantos sons dimágico e que somente ali ela con- ferentes ouvimos num mesmo instanseguiria assobiar.
te e que de alguma maneira toda a
Desta forma Lili ficou dias no
vida canta de alegria no planeta.
portão da casa de sua madrinha
Até hoje Lili tem o hábito de as-
treinando diferentes tipos de as-
sobiar enquanto caminha ou conver-
sobio, até um dia sua madrinha a
sa com
chamou e perguntou por que ficava
os seus
no portão entrando e saindo.
botões.
A pequena Lili explicou que aquele
local era mágico e que somente ali
conseguia assobiar.
Neste momento sua madrinha caiu na
gargalhada, a pegou pela mão e as
duas foram
até uma goiabeira no
47
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
ESPELHO DENUNCIA MINHA FEIURA
Por
É ... ela tinha razão. Esconder ou
não ver, nada resolve. O melhor é
enfrentar a feiura. Dei de ombros
como se não mais ligasse para o
fato dando o caso como resolvido.
Eneida Souza Cintra
Quando criança queira entrar num
espelho.
Queria
porque
queria.
Queria saber o que tinha atrás do
meu rosto. Queria saber se podia
modificar este rosto refletido e
de que eu não gostava. Será que eu
sou assim mesmo ou tem uma outra
aí atrás?
Tirava o mencionado da parede,
olhava por trás e ... nada. Só havia o papelão que arrematava o dito cujo. Virava e revirava; nada
de interessante. Tanto fiz, mexi,
virei e revirei que um dia, caiu e
se quebrou em muitos e muitos pedaços. Ai, Deus ... e agora? Agora
piorou tudo; além de sete anos de
azar ainda vou ter que conviver
com várias e várias caras? Se já
não gostava da única que eu tinha,
imagina multiplicada!!!! Oh ...
que infeliz eu sou, reclamava para
mim mesma.
Resolvi guardar um único pedaço e
o resto joguei no lixo, bem embrulhadinho num jornal; afinal, ali
escondido e longe, bem longe, não
iria fazer mal para ninguém e muito menos para mim. Dali por diante
ficaria apenas com aquele caco
porque agora só me via pela metade. Melhor assim, pensei; já que
não me gosto pelo menos não me
gosto só uma parte. Uau!! Fiquei
reduzida e portanto, com menos
chateação.
Mas, que nada ... minha cara ainda
me incomodava; cresci, virei mocinha e meu desconforto continuava.
Minhas não conquistas, meus desacertos eram todos depositados na
minha feiura. Era ela a causadora
de tudo. E se eu modificasse alguma coisa? Comecei a me maquiar
mais: toca passar mais batom, usar
rímel, blush ... Olhava no caco do
espelho que ainda conservava e me
via uma palhaça ou melhor um pedaço de palhaça. Lavava o rosto.
Cresci um bocadinho mais e percebi
que ninguém se conhece, ninguém se
vê, não sou só eu!! Os olhos não
estão nos dedos!!! É só pelo espelho. Depois desta descoberta, continuei intrigada com uma coisa:
porque será que nossa anatomia não
permite esse autoconhecimento mas,
ao mesmo tempo estamos expostos
aos olhares dos demais, assim como
também podemos vê-los sob diversos
ângulos sem o artifício do tal do
espelho? Tive que me conformar: o
único jeito é nos descobrirmos só
pelo reflexo mesmo ou, por conta
da fotografia, invenção que nos
ajuda na comparação, facilitando o
comentário
estrategista,
quando
não nos satisfazemos: ah ... não
sou fotogênica!!
- Oh sua tonta, ouvi minha mãe falar... não é porque você não vê
que você não é a mesma. Nada disso
adianta!! Você é como é, e pronto!!
48
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Mesmo porque, se a natureza nos segredou isto, deve ter lá seus motivos. Só vamos até certo ponto. E mais ainda: mesmo pelo reflexo nem
tudo é visto por mais torções que façamos na coluna. Ah ... tem o jogo
de espelhos, lembrei-me. Dialogando comigo mesmo, repiquei em cima da
minha observação: isso não vale pois é o reflexo do reflexo!!
Processo semelhante é o que ocorre com nosso aspecto intimista: fica
tampado por alguma coisa batizada de inconsciente. Nosso acesso é restrito aos pensamentos que são nossos, só nossos; ninguém tira, ninguém
põe, ninguém mexe, ninguém sabe. Ah lá isto a natureza acertou: deixou
que vivêssemos este segredo!
Deixando a adolescência, fiz duas grandes descobertas: se a aparência
é importante, é porque assim aprendi como único tributo que me faria
feliz; a outra é que no fundo, bem lá no fundinho o que de fato procurava era me conhecer por inteiro, conhecer o meu lado de trás, (ou
seria o meu lado de dentro?) e, por fim, além destas questões, consegui me perguntar se haviam outras peculiaridades além do fisicamente
perfeito.
Na fase adulta, passei a olhar-me mais e mais no espelho. Ufa!! Já me
gostava mais; não me via tão horrível assim ... Percebia que tinha outros atrativos. Pensei, separei alguns dentro da minha cachola e decidi apimentá-los; melhorar estes atributos que eu julgava que poderiam
afagar a minha vaidade e com isto autoimagem, confiança em mim mesma,
etc. etc. etc. como dizem os psicólogos que por sinal são uns entojos.
Credo! Parece que sabem tudo e querem dar aquele monte de explicação.
O tal do Édipo então, está em todas! Que IBOPE tem o cara!
Se não era bela, restava-me viver ... queria viver ... diferentemente
de Narciso,
espelhei-me nele fazendo movimento contrário ... Se, de
tanto falar do outro, Eco se calou, novamente espelhei-me desta vez,
para dentro ... e o reflexo interno mostrou minha imbecilidade!!!
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
NOITE DE CHUVA
Por Marilu F Queiroz
Muita gente na rua, o vento soprava as últimas folhas de outono,
soltas nas calçadas, judiadas pelo muito pisar. A chuva caia descuidada sobre o asfalto quente e maltratava a todos com sua displicência.
As pessoas são pegas de surpresa, umas apressam-se a procurar algum abrigo, outras aproveitam a oportunidade para refletir e desfrutar da água caída do céu e sentir o seu frescor que acalma a alma e
reanima o nosso ser. Sou uma dessas pessoas, tinha um compromisso que
na última hora fora cancelado. Como estava próxima do local, tomei
partido do fato e me deixei levar pela poesia que nos obriga a reflexão e permite vagar pelos caminhos dos pensamentos.
A noite provocava sensação do descanso, desejo de diminuir o ritmo intenso do dia atribulado. É a cidade grande pedindo paciência e
clemência para os desatinos da rotina diária. Foi nessa situação que
percebi o quanto desatenta estava com relação ao meu dia a dia.
Chovia sem dó e eu ali imersa na procura de soluções para as
questões cotidianas. Sentia a água fria que me percorria as costas
num ritmo suave e envolvente. Os cabelos teimavam em grudar na testa
de onde se desprendiam pingos gelados e fartos que me caiam nos
olhos.
Não sei por quanto tempo andei, mas pude perceber a roupa molhada tornar-se minha segunda pele. Caminhar sob a chuva é prazeroso,
uma sensação de liberdade, é a emoção transmitida pela natureza em
forma de água. Nessa noite encontrei a mim mesma e me tornei a pessoa
que sou, otimista e cheia de amor pela vida.
50
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Porque escrevo
Por Maria Eugênia
Escrevo
porque de letras
meu universo é feito.
E de metáforas
me alimento,
como se da escrita
fosse um rebento
sempre esfomeado
e insatisfeito.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Bahia de Todos os Poetas
Por Valdeck Almeida de Jesus
Esta é a Terra da Poesia
Dos Castros e dos Alves
Cidade da Bahia
Dos Ruys e dos Barbosas, Sales, Dantas, Paulos,
Das Rimet’s, Ceutas e Sousas e Souzas
Celeiro dos Almeidas e dos Silvas,
Dos Amados, Salomões e Limas;
Salvador dos Assis, Carranos, Leais, Pronzatos,
Sannasc’s, Peraltas, Claras e Machados,
Barretos, Araújos, Silveiras;
Terra das Águas Vermelhas, dos Tudes, Revelat’s;
Criadouro dos Ferreiras, Jagerbachers,
Rochas, Stábiles, Costas, Calderaschis,
Gaivotas, Maristons, Românticos,
Freitas, Maciels, Nelpas, Passos, São Paulos,
Venturas, Ramalhos, Menezes, Mirandas,
Barrenses, Matos, Limas, Dragones,
Galos, Vieiras de Melos, Velosos, Velames,
Bule-bules, Sangalos, Mercuries e Trigueiros,
Santanas e de Todos os Santos e Santas, Poetas e Poetisas;
Terra da Paixão e das Paixões
Onde a Poesia nasceu e está morrendo...
Mas esta não é uma Boa Morte,
Reciclemos a Poesia, Refaçamos a Bahia...
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
de sucesso, em que os filhos estudaram, tornaram-se doutores, e ajudando
seus velhos Pais foram FELIZES PARA
Por José Carlos Paiva Bruno
SEMPRE! Deu certo, foram ELEITOS! AboViver consiste em estarmos permanente- minável comércio do êxodo rural e sua
falsa esperança... Qual valsa pra piomente em cartaz. Assiste carta vai,
rar e denunciar a matança, o Jornal O
carta vem... Atitude Humana conclama,
GLOBO de domingo pp traz notícia muito
declama, reclama, muito além da fama... Do nosso Equilíbrio dependem ou- pior, de um tal filme PESADELO
(retirado do Festival da Caixa por intros; muitos não poucos... Penso que
centivar a moléstia criminosa pedofiseja como encadeamento de emoções,
lia), onde o protagonista, drogado e
propriamente um alinhamento de coraobrigado pelo diretor demoníaco estuções... Então como diz Simone: é prepra recém-nascido... Verdadeiramente
ciso ter fé, é preciso ter raça...
Imunes à traça, triunfo pela Taça! Pe- ARTE BESTIAL do APOCALIPSE!
rene é construir corações felizes, em
Hoje – domingo atual – conheci atuando
nossos atores e atrizes... Soerguendo
a coragem em burla do medo, melhor bu- a boneca de uma Criança... Chama-se
Laura, amiga de vida imaginária daquela desde cedo!
la especial menina de sete anos...
Bom, mais uma crônica reflexiva, esta- Quero crer como o tigre Haroldo do
Bill Waterson, melhor dizendo Calva fazendo a barba, com pressa de não
perder o “insight”, fugindo do espelho win... Enquanto ela ninava Laura,
do banheiro para o teclado... E o nome brincando de protegê-la e alimentá-la,
para isto é comprometimento com a ver- simultaneamente partilhando sonhos,
secretos de infância, de pureza e eledade, com a fôrma e a forma, gerando
gância... Exerci minha capacidade huconduta e não norma... Enormes esformana exclusiva de raciocínio em três
ços humanos, de todos, de Normas e
tempos: presente, passado e futuro...
tantos outros nomes... José, João,
Silva, Ana, Maria, etc. Em tempo, gos- Enxerguei um presente que não mente;
to que me enrosco em et ceteras e três um passado fantástico quando minha fipontos... Abrem possibilidades infini- lha querida, coincidente em mesma idade, ganhou da tia Walda Bruno em natatas! Exatamente o que temos quando
lício, o Sansão coelhinho da Mônica
acordamos todo dia... Sabendo que extremos não são bons pra esta nossa di- (esta do fantástico Maurício de Souza); e o futuro – que vai ser bem memensão... Talvez mais adiante quando
enfim, separarmos o joio do trigo. Não lhor – bendito pela TV GLOBO em sua
melhor mensagem de fim de ano: DEPENDE
quero apressar o processo, saibam...
DE NÓS!
Rsrsss...
Cartaz
Certa feita – como expectador assessor
(assado posteriormente) – em um palanque político; observava um discurso
CONTANDO de uma família simples, da
roça. Possuíam apenas uma vaquinha, e
dela tiravam o leite para seu sustento
diário... Até que um belo dia, passando por lá um mago (provavelmente um
político), observando aquela família
tranquila e calma, de hábitos simples
e felicidade igual. Disse ao seu Sancho, empurremos a tal vaquinha no precipício... E assim foi feito... Então
prosseguindo, ouvi que posteriormente
o político, digo mago; lá por aquelas
bandas de novo passou (talvez em nova
campanha), e perguntando pela família
de outrora, ouviu que em desespero por
terem perdido sua vaquinha, partiram
para a cidade, numa urbana empreitada
Assim tentando fazer o melhor possível... Convicto evicto invicto, de que
sempre é possível fazermos melhor! Assim CARAS PINTADAS, vamos pintar um
cartaz de PAZ!
53
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
A beira do lago
Por Maria Socorro de Sousa
Em jardim ofusco a vi em chambre à luz
Silhueta brilhava entre vestes alvíssimas
Oh linda! Andavas serena a beira do lago
Acende o farol iluminando tua face
Arde-me em ânsia olhando para ti
Oh linda! É bela dama a beira do lago
Tu de cabelos negros esvoaça ao vento
Teus lábios como macieira almejo tocá-los
Oh linda! Exala ao prazer a beira do lago
Cativo a ti esperei sutilmente abrasado
Tornar-se tigre ativo ardente e ágil
Oh linda! Flama o amor a beira do lago
Seduz-me altiva gazela com voz suave
Mira nos meus olhos gritando ao amor
Oh linda! Amo-te… A beira do lago.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
O galo vadio
Por José Cambinda Dala
Desde que comprei e levei para casa a minha galinha de cor preta,
não haviam passado dois dias quando um galo estranho apareceu no meu
quintal fazendo companhia a nova e única galinha. Não sabemos de onde saiu e como tinha se apercebido da visita. Assim, a galinha que
estava para ser comida ganhara a sorte de viver mais tempo. Não nos
chateamos muito com a presença do galo, pois pensamos logo num bom
parceiro para a galinha pôr ovos, embora o meu pequeno Army corria
com ele jogando-lhe pedras para afugentar-lhe.
Passaram-se os dias, semanas e meses e a nossa expectativa pelos
ovos era cada vez mais fraca. Não sabemos o que se estava a passar,
só sabíamos que todos os dias o galo montava a galinha e essa por
sua vez não punha ovos! Se fossem casal de homens, diríamos sem medo
de errar que eles não fazem filho.
Portanto, o galo que pensávamos ser um bom partido, acabou por nos
trazer prejuízos, pois deu cabo, para além da comida que dávamos para a galinha, destruiu a nossa pequena vegetação plantada no quintal
inclusive a nossa pequena bananeira que podia nos dar frutos no futuro.
Doeu ver a bananeira destruída e doeu ainda pensar que o meu filho
tinha um bom palpite em correr sempre com o galo estranho, pois se o
deixássemos ele expulsar a vontade, não teríamos esse prejuízo que o
galo causou.
Por isso, galinha para comer deve ser cozida e posta a mesa, e galinha para criar é preferível comprar casais de pintainhos e pô-los
numa capoeira. Com isso, decidimos comer a nossa galinha e expulsar
o galo.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Por Fabiane Ribeiro
— Hoje, os momentos simples me
trazem alegria... Quando chega uma
nova estação e eu a aprecio pelos
(Anteriormente) — Boa tarde a
seus diferentes aromas. Quando acatodos. Como sabem, nossas reuniões ricio a pelagem do meu cão, quando
ocorrem semanalmente, e recebemos
ouço uma música... Tudo agora é dideficientes visuais de todos os
ferente. Após o acidente, foi como
bairros da cidade. Cada um é livre se eu passasse a pertencer a um nopara falar o que desejar, e se ex- vo mundo. Nos momentos que sucedepressar como bem entender. Sou Ma- ram o ocorrido, eu tive ódio de turia Isabel e irei coordenar o gru- do. Parecia que o mundo havia apapo.
gado as luzes para mim. E, assim,
apagado também a luz de minha própria existência. Porém, quando co***
mecei a reencontrar minha própria
luz, pouco a pouco, as janelas do
mundo começaram a se reabrir para
— Sou o Jonatas, e assim como
mim, colorindo minha vida. Hoje, eu
o Frederico e a Dalila, também sou aprendo com tudo ao meu redor. Inlivre em meus sonhos... Aproveitan- clusive, com aquilo que temos de
do o relato de nossa caçula, quando mais desafiador... Nossos sonhos.
ela mencionou as gaivotas, lembrei— Você disse que sonha que esme de que, em meus sonhos, posso
tá voando – falou a coordenadora do
voar...
grupo.
— Conte-nos mais – pediu Maria
— Exatamente. Entretanto, na
Isabel.
época em que as luzes estavam apaCom um sorriso no rosto, Jona- gadas em minha vida, ou seja, quantas continuou:
do eu ainda tinha ira de minha nova
— Diferentemente dos outros do condição, os sonhos não eram de ligrupo, eu não nasci deficiente vi- bertação. Era exatamente o contrásual. Um acidente, hoje perdido nas rio.
linhas do passado, assim me fez.
Apreensivos, todos do grupo
Após anos de fúria pela ausência da ouviam o relato de Jonatas. Ele
visão, hoje sinto que tudo isso te- respirou profundamente, tomando cove um propósito maior em minha vi- ragem. Parecia estar fuçando em meda. Antes, eu era cego pelo orgumórias gastas, de anos atrás. Memólho, pela ganância e pelo preconrias que tanto haviam lhe machucado
ceito. Hoje, sou capaz de enxergar no passado e que, por essa razão,
a vida como ela é. Não vou dizer
ele havia trancado em uma gaveta de
que não tenho dias difíceis. Sim,
sua mente, deixando que empoeiraseles ocorrem com certa frequência. sem. Entretanto, elas existiam,
Contudo, a alegria em certos momen- eram parte de seu ser de alguma
tos transborda em meu ser...
forma. Parte de seu crescimento...
Conto 3 – O voo das... Algemas.
— Seja mais claro – pediu Maria Isabel.
Parte do “abrir de suas janelas para a vida”. Ele enxugou uma gota de
suor da testa, e continuou:
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
— Antes de sonhar que eu posso voar, eu sonhava com... Uma prisão.
Mas não era uma prisão qualquer. Era como uma espécie de prisão projetada por mim mesmo. Eu era o único prisioneiro. Nos sonhos, eu via-me
em uma cela, pequena e estreita. Eu não conseguia ficar em pé, devido à
baixa altura de suas paredes. Era angustiante. Do teto, desprendiam-se
grossas e pesadas algemas de aço, que me apertavam os punhos, fazendome sangrar. Era sempre o mesmo sonho e, quando eu acordava, sentia-me
prisioneiro de mim durante cada segundo do meu existir. Eu quase era
capaz de sentir dor nos braços, devido ao peso das algemas de meus mais
profundos pesadelos. Eles eram vivos. Eram reais. Mas, com o tempo, com
minha própria aceitação e com a ajuda dos verdadeiros afetos, uma janela pequena e tímida surgiu nos meus sonhos, em uma das paredes de minha
prisão. Eu consegui, lentamente, ver o céu escuro que se projetava lá
fora. O sonho, então, foi se repetindo, e o céu clareando a cada dia.
Era como se estivesse amanhecendo em meu interior. Eu pude, após muito
tempo, ver novamente a luz do sol. Raios frágeis adentraram minha cela,
aquecendo meu coração. Um dia, o mais belo sonho aconteceu: as duas algemas que me prendiam os punhos soltaram-se e transformaram-se em belas
asas de águia. Foi mágico e lindo de se ver. O aço dissolveu-se, virando nada mais que... Belas e longas penas. No instante seguinte, a águia
era eu. Pude sair pela janela da prisão, que já era bem maior que no
início, e voar pelo céu azul-claro. Desde então, tenho sempre os mesmos
sonhos. Eu sou a águia: com um par de olhos atento a qualquer detalhe
da vida, e com um par de asas capaz de me libertar de minha própria
prisão. As luzes nunca mais se apagaram e meus sonhos nunca mais deixaram de ter cor, assim como minha vida.
— Você nos trouxe muitas lições hoje – disse Maria Isabel, enxugando as lágrimas.
— Fico feliz em dividir – respondeu o rapaz – na verdade, a maior
lição foi para mim mesmo. Eu, antes, acreditava que minha vida não teria sentido, pois tudo o que era importante não estaria mais ao alcance
dos meus olhos. Mas eu estava errado. O que é essencial está cada vez
mais claro para mim. Hoje eu acordei e encontrei algo junto de meu travesseiro. Algo que eu trouxera de um sonho e que me provou que estou no
caminho certo.
Ele estendeu o objeto à Maria Isabel e ela ficou maravilhada ao
ver que se tratava de uma linda pena... Uma pena de águia.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Chocolate quente dos deuses
Ingredientes
? 1 litro de leite
? 1 lata de leite condensado
? 1 lata de creme de leite
? 4 colheres (sopa) de chocolate em pó
? 1 colher (sopa) de amido de milho
? 1 colher (café) de noz-moscada
? 2 pedaços de canela em pau
? 6 cravos
? 1/3 de xícara (chá) de rum
Modo de preparo
Misture o leite, o leite condensado, o chocolate, o amido de milho, a noz-moscada, o cravo e a canela.
Coloque no fogo e espere ferver. Retire do fogo e misture o creme de leite.
Coe para retirar os pedaços de canela e o cravo.
Por último misture o rum.
Dica: Para ficar mais saboroso, coloque o chocolate na xícara e, por cima, ponha chantilly salpicando
um pouco de canela em pó.
Canjica Doce
Ingredientes
1 kg de canjica; 2 litros de leite de vaca; 1 coco bem grande; 3
a 4 pedaços de canela em casca; 3 a 4 cravos da índia; 1 pitada
de sal; Açúcar a gosto; Canela em pó.
Modo de preparo
Depois da canjica ter ficado de molho desde a véspera, escorra,
lave bem e coloque em uma panela grande. Cubra com água
fresca, junte os cravos e a canela e leve ao fogo brando para
cozinhar (essa água deve ser abundante para que todo o milho
cozinhe por igual). Rale o coco, reserve uma xícara e retire todo o leite do restante e reserve em separado.
Quando a canjica estiver quase cozida, comece a adicionar o leite e quando estiver juntando a metade do leite, adicione açúcar a gosto e o leite de coco. Deixe continuar a ferver brandamente (mexa
sem parar) e vá juntando o restante do leite. Estando a canjica bem cozida e o caldo grossinho, junte
o coco ralado. Mexa rapidamente, deixe ferver ainda por uns três minutos e retire do fogo.
Pamonhas
Ingredientes
25 espigas / 2 e ½ xícaras de açúcar refinada / leite grosso de 2 cocos / leite grosso de 2 cocos / leite
ralo de 2 cocos ( 7 xícaras) / 1 xícara de chá de erva-doce / 1 colher
de sopa de manteiga derretida / cascas de milho verde em formato de
saquinhos.
Modo de preparo
Rale o milho. Com a metade do leite do coco ralo, lave a massa e passe por peneira mais grossa do que a da canjica. Acrescente o restante
dos ingredientes. Encha os saquinhos feitos com as palhas, amarre
com tiras finas de palhas e cozinhe em bastante água fervente, com
um pouquinho de sal.
Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Jorge Amado
Por Sarah Venturim
No país do carnaval
Jorge Amado nasceu
Um homem de mil mulheres
Como Gabriela, Teresa, Dona Flor, Tieta...
Um poeta
Com força de Capitães de areia
E o amor do soldado
Jorge conquistou não só o Brasil
Mas o mundo em 49 idiomas
Será lembrado para sempre
Um imortal não só na Academia
Um imortal na literatura
E na alma brasileira.
Um centenário de vida
Um sopro de letras.
60
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
O DESAFIO ANGULAR DO NOSSO TEMPO
Impulsos para renovação
da ciência.
Por Gildo Oliveira
Vestir a pele do dragão,
Até tomá-lo verdadeiramente pelos chifres,
Conquistá-lo, é a grande questão;
O desafio angular do nosso tempo.
São Jorge não mata o dragão;
Tampouco Micael;
A tônica é a transformação.
Começamos, observando-o
Nos momentos de confronto;
E com muito cuidado
Dele nos aproximamos.
Não podemos permitir
Que ele continue desvirtuando nossas ações,
Nos afastando do empenho;
Atenção , coragem, cautela!
A todo momento;
Mãos a obra!
É preciso ter em mente, sempre, sem vacilar,
Que este é o desafio angular do nosso tempo;
Impulsos para renovação da ciência;
A vitória do homem determina os rumos e avanços
Que a Humanidade tomará, futuramente. O farol-guia!
61
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
FLAGRANTE NA AVENIDA
Por Rubens Jardim
O morto na avenida
está livre da sepultura.
Sem DEUS não existiríamos
Não sei se é desaforo
Por Lenival de Andrade
ficar assim estendido
Num mundo tão conturbado e atribulado
no chão. Mas a morte
Onde impera a corrupção
é a quebra de protocolo,
Violência, Desamor, Desigualdades e
injustiças
a entrega de uma carta
Onde muita coisa gira em torno do
endereçada ao nada.
nosso bolso
Em muita coisa o dinheiro manda e
desmanda
E sem ele a coisa não anda
Num Brasil tão grande e desigual
No Sul os Nordestinos são chamados de
Paraíba
O país gira em torno de São Paulo
E o mundo gira em torno dos Americanos
País potente e poderoso é os Estados
Unidos
Quero ver poderem mais do que DEUS
Filósofos, Antropólogos, sabidões e
ateus
Todos devem curvar-se
Obedecer, interceder e agradecer
Para enfim entender e compreender
Foto daniel de andrade
A razão da nossa obediência e
existência
Sem DEUS não existiríamos
62
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Por Sheila Ferreira Kuno
O Administrador de
Banco de Dados
A convivência entre colegas de trabalho não é fácil.
Na empresa onde trabalho, embora
pequena, existem várias pessoas excêntricas, sendo o percentual elevado se considerarmos a quantidade
de funcionários, motivo pelo qual,
não passamos uma semana sequer, sem
uma história interessante para contar.
Então vamos à história desta semana.
Estamos numa correria danada, tentando definir o modelo de dados de
um projeto, que deverá ser validado
pela área de informática da empresa
cliente. Então para anteciparmos o
agendamento da reunião, eu tomei a
iniciativa de ligar para o cliente.
Um dos integrantes do grupo, o Administrador de Banco de Dados, conhecido como DBA, que senta ao meu
lado, viu os meus esforços para
agendar a reunião e ficou incomodado, assim que desliguei o telefone,
ele me disse:
- Vocês estão marcando uma reunião
sem o meu conhecimento.
Então respondi.
- Claro que não, todos do grupo sabem que precisamos agendar a reunião. Bom se você não sabia, agora
está sabendo que estamos tentando
agendar uma reunião para semana que
vem.
Ele então resmungou, e continuou
seu trabalho.
No dia seguinte, quando eu estava
confirmando a tão esperada reunião,
o DBA resmungou:
- Vocês estão marcando uma reunião
sem o meu conhecimento, talvez eu
não possa ir.
Então respondi.
- Mas eu já não lhe disse que a
reunião seria na semana que vem?
Não entendo o seu aborrecimento.
Eu não entendi o motivo da reclamação, será que ele queria um convite
formal? Ou queria que eu pedisse
autorização a ele, um mero DBA, para agendar uma reunião?
Não satisfeito e inconformado com a
situação, o DBA resolveu enviar a
seguinte mensagem eletrônica para
todos os funcionários da empresa,
incluindo o Gerente e Diretor:
Pessoal,
Só uma observação..
Tem ocorrido com frequência na
empresa agendamento de reuniões
onde minha presença é necessária
sem meu prévio conhecimento.
Já tive "surpresas" de reuniões
agendadas em noites anteriores na
qual precisei ir no dia seguinte
logo quando cheguei na empresa, e
algumas vezes sozinho inclusive,
salvo necessidades pontuais na
qual estou diretamente envolvido
e "consciente".
"NÂO ME RESPONSABELIZO" caso numa
necessidade de ir ao cliente,
mesmo agendado com antecedência,
mas sem meu conhecimento, ou sem
meu consentimento eu não puder
comparecer, digo em caso de um
dia isso vier a ocorrer. Peço encarecidamente, que conversem com
todos os envolvidos antes de
qualquer tomada de decisão, pois
todos precisam estar cientes das
coisas. O que estou pedindo agora, já deve ter acontecido com os
outros Analistas, porisso peço
por todos.
Obrigado,
63
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Assim que eu abri a mensagem, o que me chamou a atenção foi à seguinte
frase: "NÂO ME RESPONSABELIZO".
Como uma pessoa tem coragem de enviar um e-mail para todos os funcionários da empresa, deixando em evidência uma frase escrita de forma tão
errada.
Então comecei a ler a mensagem e fiquei assustada com a seguinte declaração:
.. salvo necessidades pontuais na qual estou diretamente envolvido e
"consciente".
Então pensei: “Meu Deus, nem sempre ele está consciente nas reuniões!”
A mensagem se tornou uma piada na empresa e o objetivo do DBA não foi
atingido.
Moral da história: Quando for apontar o dedo para alguém, faça com sabedoria.
ESPALHANDO SENTIMENTOS
Por Ju Petek
Desfia com cuidado, como se fio de ouro fosse
todo esse sentimento enrolado no coração, deixa
aflorar o belo, o simples, o puro
Regue com amor todo amor por todo caminho,
deslize suavemente pela estrada do viver, espalhando sentimentos do bem querer.
Cultive flores de carinhos em todos corações que tocares,
preencha com laços de afetos cada peito contrito.
Há um perfeito mundo dentro de cada um, basta o pensamento
livre, a alma livre, o coração livre
Desfia com cuidado tudo que transborda o teu céu de amor
como se fio de ouro fosse o traçado das estrelas
esparrama esse sentimento num chão de ternuras
e aflore toda paz, todo amor de todas constelações
deslize suavemente pela estrada do viver
64
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
O BEM E O MAL
Por Vavá Ribeiro
O bem contém
Benevolência
Paciência
Sapiência
Indulgência
Quintessência
Alegria
Harmonia
Simpatia
Galhardia
Fantasia
Melodia
O mal contém
Escuridão
Maldição
Tentação
Agressão
Ingratidão
Corrupção
Inveja
Insensatez
Impaciência
Insolência
Ira
O bem e o mal
Entrelaçam assim
Dentro de mim
Dentro de ti
Dentro de nós
O que vence afinal
Depende de mim
Depende de ti
Depende de nós.
GALGANDO FRONTEIRAS
Por Hernandes Leão
Saúdo com enorme regozijo
Essa casa memorável, de Poetas...
Caros Colegas, escribas...
Honrar o venerável rol de Poetas, almejo!
A Sabedoria das palavras...
alcançar, eu desejo!
Poder aluir ao patamar ilustre, com
filosofia...
Poder galgar a riqueza literária,
justa sem sobejo
Apenas, fluir na correnteza desse rio, da
Poesia!
Sou apenas mais um aprendiz...
Outrora; almejava, essas fronteiras, conquistar!
Saí do sonho, do mero petiz
Cheguei, aqui, Casa do Poeta Brasileiro...
Para, a Poesia... contribuir... e amar!
Sou grato; por ser agora, um colega de
Arte, um companheiro!
65
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Eu quero chorar, mas não consigo.
ETERNAMENTE
Por
Por Juca Cavalcante
alguma
brotam.
razão
Será
as
que
lágrimas
quando
não
passamos
para o outro lado, perdemos a capaAh! Esse frio! Esse silêncio! Essa
solidão!
cidade de chorar? Mas eu já sinto
saudades. Sinto saudades de você,
Não sei até quando poderei supor- dos nossos filhos. Do meu principetar. Como se eu pudesse ter agora zinho e da minha princesinha. Ah!
esse poder de decisão. O que me dói Como eu gostaria de tê-los em meus
é saber que estou aqui e não pode- braços, de ter você em meus braços,
rei mais voltar. Não terei como lhe de sentir a sua pretensa fragilidadizer tudo aquilo que deveria ter de, e, ao mesmo tempo, captar sua
dito, mas não disse por comodismo, energia, de ouvir sua voz sussurpor orgulho ou até mesmo por esque- rando em meus ouvidos aquelas palacimento, seja lá qual tenha sido o vras que só você sabe dar uma conomotivo que me desviou desse caminho tação tão doce.
e te deixou sem saber tudo aquilo
que eu realmente sentia por você, e
que você, sem nenhum empecilho de
qualquer espécie, me disse naquela
minha última semana contigo, como
um sinal de despedida, uma profecia
involuntária, que me deixou
fundamente
comovido,
mas
pro-
que
nem
assim me fez acordar e descer da
minha ignorância sentimental e te
agradecer com as palavras que, com
Se eu pudesse voltar no tempo e
conseguisse a dádiva de poder fazer
tudo de novo, só que de modo diferente,
agora
dois
tesouros,
você também.
Por que só agora esses pensamentos me surgem, minha mente se abre
e essas palavras que deveriam estar
vida,
felizes,
eu,
você
Breno
e
e
nossos
Mirella,
aqui, para junto de mim, assim como
surgir no seu rosto maravilhoso.
sua
minha
ca mais verei, só quando eles virem
encantador, que só você sabe fazer
de
corrigir
nossos queridos filhos, que eu nun-
ria feliz, e daria aquele sorriso
parte
poderia
irresponsabilidade e nós estaríamos
certeza, eu penso assim, você fica-
fazendo
eu
estão
aqui comigo, nesse silêncio e nessa
solidão? Como é frio aqui embaixo.
66
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Ah! Esse silêncio, essa solidão e esse vento frio que passa através
de mim, como se fosse um instrumento de limpeza que veio para limpar
meu corpo e redimir minha alma. É tudo tão triste, tão silencioso, tão
frio aqui embaixo. Se pelo menos você estivesse aqui comigo. Se pudesse
me ouvir, eu lhe diria o quanto te gosto, o quanto lhe quero bem. Se eu
tivesse sido mais atencioso, menos arrogante, menos dono de mim mesmo,
como eu achava que era, teria diminuído a velocidade e, quem sabe, poderia ter me livrado daquela carreta que vinha na minha direção. Mas...
Como é escuro aqui embaixo. Esse silêncio! Essa solidão e esse frio
insuportável.
Por favor! Venha logo para junto de mim e aqueça este lugar com o calor de sua alma!
E se alguém perguntar por mim
Não digam que eu morri
Pois ainda estou vivo
Apenas digam
Que estou numa longa viagem...
Quando eu morrer
Por Galdy Galdino
Quando eu morrer
Eu não vou morrer
Vou estar vivo
Na lembrança de vocês
Então não chorem
Mas se as lágrimas
Forem incontidas
Chorem...
Mas não se desesperem
Digam descanse em paz
Que em paz estarei
Se a emoção for grande
Cante uma canção
Pois a música
Embala o sono dos justos
Declame um poema
(Que pode ser este)
Ou façam silêncio
Dispenso o séquito
Mas se quiserem se despedir
Não façam com lamentações
Não anunciem
Esqueçam esse dia...
67
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Ser Feliz
Por Sonia Nogueira
A felicidade é uma busca constante nos seres humanos, em
qualquer classe social, nível financeiro, raça, religiosidade,
nível cultural. Todos querem e procuram ser felizes. Mas uma boa
percentagem das pessoas é infeliz. Vários são as causas apontadas
para cada insatisfação. Álcool, droga, filhos desobedientes, pais
que judiam, batem, abandonam, não sustenta o filho, nem assume.
Escolha errada para o casamento de ambos os lados.
Então ninguém sabe ser feliz? Por onde começar?
Esta semana estive na casa de uma amiga. A filha está noiva.
Faz gosto olhar para o casal. Lindos, os dois, de encher os olhos
de tanta beleza e juventude. Só vi entre eles sorrisos, atenções,
felicidade respirando por todos os poros, planos. Olhei maravilhada e indaguei cá comigo. Por que não durar até a morte os separe, não ser feliz, mesmo nos momentos difíceis, porque há de tê
-los, faz parte.
O pensamento buscou a outro episódio na época que eu fazia o
curso pedagógico. A mesma sena, eu relembro.
Uma jovem e linda amiga estava noiva de um jovem e também
lindo rapaz. Ela levava o crochê para sala de aula enfeitando o
enxoval com bicos. Era tanto amor, a felicidade residia na face,
no brilho do olhar, quando ele vinha buscá-la ao final da tarde.
Terminou o curso. Casaram. Lua de mel. Sim na nossa época
havia lua de mel! Hoje o mel vem bem no início, e, os anseios, a
expectativa para este momento perdeu o sabor de mel, parece que
foi substituído pelo fel.
Passado quatro anos encontrei a amiga no centro da cidade.
Estava gorda, além do normal, sorriso desbotado, sem graça. Abraçamo-nos.
- Como vão os dois pombinhos, amiga?
- Nós somos dois mesmo: eu e meu lindo bebê. Separamos, por
esta razão, não somos três. Nem indaguei. Caso ela fosse contar a
causa da separação a culpa, seria só, e somente dele. Perguntasse
a ele a causa, seria só, e somente dela. Todas as pessoas são boas, quando nada acontece. Quando surgem os problemas é que vemos
o outro lado da moeda. Todos somos juiz e réu e temos autodefesa.
Voltei a olhar para o casal em curso. Quantos anos com vocês, eu pensei! O mundo não tem mais conserto. É daqui para pior.
A liberdade voo alto. Quando o homem era o chefe da família e a
mulher sem opções, o cabresto não quebrava. Hoje é uma tirinha de
papel, um pequeno sopro e a casinha de palha esvoaça pelos ares.
E junto, a felicidade dos sonhos vira pesadelo.
Recomeçar sempre.
68
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Paris Est Fluide
Por Gilma Limongi Batista
Na sua ânsia de visões globais, a Vitória-Régia saiu do fundo do seu
imenso rio e foi visitar outros igarapés. Sem saber como, chegou...
“Vou levar lembranças para todos”, quando se deu conta que trouxera
recordações de todos os que tanto amara. Do tempo em que liam juntos
“O ARCO DO TRIUNFO” de Eric Remarque. Livro todo marcado, cada um grifava suas predileções. No final, comentários coloridos misturavam-se
ao amarelado das páginas antigas. Ao pisar na beirinha da calçada, as
luzes acenderam-se todas de uma vez só, pareciam um colar pendurado
entre os galhos das árvores secas mas já cheios de bolas verdes inchadas, prestes a explodir a primavera dentro das suas lágrimas. Encharcada de literatura, tentou pisar os mais pisados degraus do mármore
carcomido (queria seguir os passos dos mortos entre fogo e flores). O
sol deu um espetáculo particular, vermelho-laranja. Cansado caiu devagarmente no cinza ao longe, deixando só um borrão rosado para os deslumbrados. Na sua fantasia, agora toda amarrotada pelos beijos do casal ao lado, tentava explicar sentimentos paradoxais: se Paris é tão
FLUIDE, como indicam os sinais, por que estou tremendo de frio, com
taquicardia e tão exausta? Deve ser pelo esforço extremo da escalada
que conduz ao topo dos sonhos.
69
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Em você eu vi dois rios
Por Leonia Oliveira
Sou tudo e nada
Em você eu vi dois rios
De um você tinha
Por Vanessa Clasen
O contorno
De outro,
Sou a tua insensatez, teu querer
sem pertencer, tua fome de nada,
tua ausência e tua presença, teu
amar e teu desprezar,
O jeito de me chamar de vida.
Mas você não era
Nem o
Sou um gelo que ferve tuas veias
com o calor de mil vulcões,
Um
Nem o
Outro.
Sou tua tempestade silenciosa
que só urge em você,
Você
Sou tua única razão e teu
Era
desatino,
Sou teu grito sem voz, tuas
A
lágrimas secas, teu pavor e
Cachoeira.
ardor, teu desejo de fugir
quando não há para onde ir,
Sou quem chamas a noite nos teus
sonhos, nos teus segredos, no
teu silencio enlouquecedor, tua
brisa quente, teu orvalho doce,
tua tristeza feliz,
Sou aquela que não esqueces, nem
tampouco lembras,
Sou aquela que anseia ver-te e
te dizer que não é sangue que
corre em mim, que não é o ar que
me sustenta, que não são as
palavras que me jogam ao medo de
revelar o que sinto,
Que a inspiração e a
transpiração desabrocham em mim
única e simplesmente por você...
Foto de Alberto Samy
70
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
ONDE MORAM AS BORBOLETAS
Por Hélio Sena
Como se fosse uma borboleta, um dia ela abriu as asas e voou.
Não me abraçou, não me beijou, não me disse adeus.
Simplesmente abriu as asas e se foi...
É claro que eu fiquei na maior tristeza.
Como ela podia ter feito isso comigo?
Então era tudo mentira o que ela me dizia, com aquele sorrisão
que eu achava o mais lindo mundo?
Era tudo fingimento?
Então ela não gostava de mim?
...
Um mês depois, ansioso, atendo o telefone.
Com uma voz esquisita, ela diz várias coisas que eu não consigo
entender direito...
Eu choro. Choramos juntos.
Até que cai a ligação...
Papai vem chegando da padaria.
– Era a tua mãe? – ele pergunta, bastante sério.
Não posso responder, um boi enorme tapa minha garganta...
Papai me abraça e diz para eu me acalmar, que tudo vai ficar
bem.
...
Durante muito, muito tempo, fiquei me perguntando onde moram as
borboletas...
Agora não me preocupo mais com isso.
Cresci, e uma das coisas legais que aprendi é que cada um é livre para voar para onde quiser...
Só que, também, ninguém é obrigado a amar ninguém para sempre!
Isso, além de uma verdade, é um consolo.
71
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
72
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
QUEM MATOU O BODE EXPIATÓRIO? sorte, dessa maneira expiando os
pecados de todos.
Por Gladys Giménez
Não há nesta vida quem não tenha
sido culpado de algo sem ao menos
saber do que estava sendo acusado.
Entre irmãos é muito comum um pagar a culpa pelo outro, tornandose o bode expiatório da família,
estigma este que às vezes acompanha-o
vida afora.
Sacrifícios e sacrificados sempre
existiram, pois a humanidade parece que já nasceu com ânsias de encontrar o seu “bode expiatório”,
alguém para apontar o dedo e dizer: - É ele. Cortem-lhe a cabeça.
Inda que o “ele” não tenha nada a
ver com o pato- ou seja- é o próprio bode sendo levado mansamente
para ser sacrificado no altar da
intolerância,
da
injustiça
dos
egos alheios.
Pecado? Sempre existiu. Desde Moisés, aliás, desde Adão e Eva que
perderam o Paraíso, após Eva sucumbir à tentação da Serpente. Eis
aí que nasce o nosso primeiro bode
expiatório.
Depois
vieram
as
“bruxas”, sacrificadas e purificadas nas fogueiras – bodes expiatórios, expiando a “culpa” de ser
mulher? De querer exercer um direito?
Na Tora, ou Pentateuco, livro sagrado que foi revelado diretamente
por Deus de acordo com os judeus,
se menciona dois bodes sendo levados ao lugar de sacrifício, no
Templo de Jerusalém. Um dos bodes
era então sorteado pelos sacerdotes do Templo para ser queimado em
holocausto (do grego: queimado) no
altar de sacrifício juntamente com
um touro. Assim o segundo tornavase o bode expiatório, o sacerdote
colocava suas mãos sobre a cabeça
do animal e confessava os pecados
do povo de Israel, ato seguinte o
bode era deixado durante a noite
na natureza selvagem a sua própria
73
Já
na
Bíblia
é
mencionado
(Levítico) Jesus, que foi para nós
cristãos o maior “bode expiatório”, ao se deixar sacrificar lava
os pecados da humanidade.
Terá
valido a pena? A meu ver a humanidade redobrou os pecados, basta
lembrar o holocausto em que judeus
foram barbaramente mortos durante
o período nazista, pois eram segundo Hitler, além de impuros,
culpados pelo colapso político e
econômico da Alemanha, soma-se aí
mais de seis milhões de bodes expiatórios.
Outro fato de suma importância para a humanidade nos revela que ele
-o livro- torna-se o próprio bode
expiatório. Segundo fontes seguras
sabe-se que “El ingenioso hidalgo
Don Quijote de La Mancha - O Cavaleiro da Triste Figura” perde o
juízo, aventura-se pelo mundo para
viver seu próprio romance de cavaleiro andante, após ter lido muitos livros de cavalaria e estes
como todos os bodes expiatórios
também vai para a fogueira.
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
A Virtude do Silêncio
Por Willian Lando Czeikoski
Não conheço o nome das plantas,
E mesmo se o acaso do dia a dia me
dissesse
Eu não me interessaria.
Não sei como se abarcam seus galhos
E nem até que altura se sustentam.
Não quero contar teus anos em teus
elos unidos.
Enfim, não quero complicar-me,
da esperança
Com tantos verbetes científicos.
Por Rafael Zen
Quero abraçar este tronco,
Escutar teus versos ausentes,
são sete as esperanças que
dizem que resta depois dos
trinta:
E no mínimo tentar plagiar
Seu amistoso silêncio.
o amor cozido lento igual
geleia,
a pele mais forte que
aguente mais dor,
um cachorro abanando o rabo,
que descubram uma fruta nova
que dê no sul,
a sedução coesa da
experiência,
que os janeiros fiquem cada
vez mais frios,
e o sonho de morar no sítio,
mesmo
que a maioria dos suicidas
more
lá.
deus, meu bom pai,
que me permita um anexo:
se ser adulto e homem for
assim
banal e fácil, que me deixe
nesse
limbo intermediário entre
uma idade e outra.
Imagem: Arken
74
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Heroico Sorriso
Por Magno Oliveira
Seu corpo é mais que um paraíso
Ele é meu refúgio e esconderijo
Nas noites frias faço dele meu
abrigo
Em pensamento viajo em suas
curvas
Encaro meus fantasmas, mantendo
a fé no seu heroico sorriso.
Encarar a realidade, meus medos,
minhas fraquezas
É difícil, mas encará-los é
preciso.
O seu corpo de mulher,
O seu sorriso de menina
Me mantém firme, ainda tenho fé
A esperança assim nos ensina
Aprendi com você, a base é o
verdadeiro ombro amigo
Se o encanto um dia acabar,
ainda me leve consigo.
Eu não minto, não finjo
Mantenho minha personalidade
Buscando a felicidade.
No caminho podemos sangrar
Mas quando formos nos encontrar
Mantenha seu heroico sorriso.
Experimento
Por Samuel Saint
É chamativo para se pegar,
não?
Porque não experimentar,
então?
Não, saiba que ele não vai
saber,
Pelo contrário, ele passará a
ti temer!
Sim, quando souber os teus
olhos se abriram,
E que da fruta consumiram,
Ele já não ousará,
Uma só palavra a ti falar!
Saiba que ele tentou te
dominar,
E ferozmente controlar sua
própria criação,
Mas que Deus é esse,
Que não tem nem sequer
coração?
Querida, ele sabe do futuro,
Assim como sabe do presente,
Sabe que cairás na estrada,
Mas permanece indiferente,
Fingindo não saber de nada.
Só ainda tu que não sabes,
O que você irá criar,
O quanto irá se destacar,
Mas é claro, após da fruta
experimentar!
-Tudo bem.
75
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
DIVISA
Por Gilberto Nogueira de Oliveira
Surgiu no meio do mundo
Um horizonte vertical,
Uma linha imaginária,
Um traço indivisível
A separar os homens de seus irmãos.
Surgiu de um lado do mundo
Uma linha oriental,
Uma linha acidental,
Duas linhas de gelo.
Surgiu em todo o mundo,
Uma linha que orienta
E uma linha que acidenta.
Surgiu entre os dois mundos
Uma parede de vidro,
Reforçada com aço invisível.
Uma parede macabra,
Uma montanha manual.
Surgiu em frente ao mundo
A fome descomunal,
Fabricada pela mente humana,
Manipulada pelo capital.
Surgiu na frente do homem
A grande resolução,
Que era dividir as riquezas,
Que era dividir as desgraças,
E este lhe cuspiu o rosto.
E foi originada a rebelião.
MUSEU PARANOICO
(mar, alma, lugar, reinar)
Por Roberto Armorizzi
Por aqui não se vê mais o mar,
de querer, de molhar, aos meus pés,
veio a mim um museu secular,
como tumba do velho Ramsés,
nesta hora eu não sinto areia,
que outrora coçava meus dedos,
num instante minh’alma falseia,
como pólvora de mudos torpedos,
que lugar infernal, silêncio,
onde quadros e almas se velam,
não sou mais, e sem mar, sentencio,
entre pós e as sanções que escalpelam,
quero ao mundo salino, voltar,
como areia, espalhar meu destino,
ser o dia brilhante, reinar,
com razão, sem castelo, nem sino.
Imagem: Shiranuib
76
VARAL NO BRASIL NO. 15
Transformações
Por Norália de Mello Castro
No Vale da Morte (Death Valley),
Califórnia, EUA existe um lugar
chamado Racetrack Playa onde pedras
são encontradas no chão com uma
trilha deixada pelo seu movimento.
O local é muito plano, árido, quase
não chove por lá e ventos fortes
atingem diariamente a paisagem.
Embora nunca alguém tenha visto
elas se movimentando, de alguma
forma isso acontece.
Algumas dessas pedras são pesadas,
como se moveriam? Ninguém sabe explicar ao certo, mas o vento é o
argumento mais usado, embora há
quem diga que pessoas movam elas
durante a noite, ou mesmo animais.
Algumas pessoas ainda relatam que
possivelmente uma fina camada de
gelo que se forma durante as noites
frias seria a causa.
O fato é, ninguém sabe como acontece! (informação do Anúncios Google).
MAIO DE 2012
gonos do deserto que a acolheu em
sua superfície. O deserto causticante, todo feito de pedras com polígonos rendados de barro seco.
Ando por entre pedras e barros
secos, lentamente, do Sul para o
Norte, numa subida que me levará
até outras irmãs, lá no alto, onde
Linda, Silvia, Marisa, que outro
nome que se queira dar, de mulheres
que vão lentamente subindo, deixando seus rastros ao longo da extensa
área. O vento me toca, me beija,
noite após noite, noites geladas
contrastantes com os dias super
quentes. O vento me faz andar milímetros de milímetros, e eu ando.
Quase não percebem o meu andar, mas
estou me movendo, assim como o nascimento de um chuchu; não se percebe o seu crescimento. Ou então,
aquela criança que fica acordada
durante a noite para ver além de
sentir o seu crescimento. Disseramlhe que ela cresce à noite, quando
o silêncio se faz e o torpor do sono se avoluma e os sonhos habitam.
Mas a criança nada vê, nada sente,
só os adultos apontam o seu crescimento, marcando traços na parede a
cada mês, a cada ano. Comparando a
subida dos traços, a criança percebe que não é mais bebê, mas um menino precoce, que ama jogar bola.
Assim sou eu, aquela pedra mulher
de pernas amplas, braços encolhidos, olhos atentos, que posta ali,
se move à força do vento que me leva, noite após noite, ladeira acima, para alcançar o ponto onde a
gruta de Luz se postou, e outras
pedras, sem tampar a entrada, estão
ao término da caminhada milenar. Se
o vento a cada noite me força caminhar, o sol seca os polígonos para
que a passagem seja menos escorregadia.
Milênios se postaram sobre minha superfície e meu fardo ainda é
pesado, embora o vento possa amenizar este longo caminho. Numa manhã,
Ando lentamente. Muito lenta- talvez apiedado ao me ver verter
mente. Sou aquela pedra que tem uma lágrima, o vento me sussurrou:
formato de mulher, nome de mulher,
que anda morosamente sobre os polí77
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
- Pedra, o caminho é assim. De noite, a geleira das quedas da temperatura, de noite a reposição do frio. Lentamente tu segues, junto a
outras irmãs. Levará tempo sim, mas chegarás. Vês estes polígonos que
amparam ao caminho? São percalços favoráveis ao teu longo caminhar. São
centenas de milhares de pedras como tu, ainda em movimentos de fluxos de
água, argila e secagem. O tempo se encarrega de favorecer momentos oportunos. Tuas lágrimas aqui se juntam à friagem da noite de milhares de
outras pedras...
A vida e a morte caminham sobre polígonos a deixar rastros da pedra
mulher...
Almas Sutis
Por Yara Darin
Senti o impacto sutil dentro do meu ser,
Quando nossas almas se encontraram...
O triscar de uma partícula celestial,
Resplandeceu por todo o universo,
A forma e a essência do querer,
Numa poção mágica e divinal.
Refletiu em meus olhos o brilho da sua aura,
Cintilante , prateada luz incandescente.
Mergulhei perdida num sonho ideal,
Naveguei sem limite no espaço sideral,
Afogada na minha inconsciência noturna.
Busquei seu rosto neste sonhar sem fim ,
Moldei seu semblante... adornei,
Te elaborei em fantasia e te fiz só para mim.
A névoa fina, existente ... envolvente,
Não me deixou ver o seu vulto claramente.
Contemplativa,
Captei o esplendor dessa luz deslumbrante....
Toquei na sua alma!!
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Bolo de Milho Cremoso
Ingredientes
• 500 gramas de farinha de milho amarela em flocos
• 1 pitada de sal
• 4 colheres de sopa de manteiga
• 6 xícaras de chá de açúcar
• 2 litros de leite
• 400 ml de leite de coco
• 2 xícaras de chá de água
Modo de preparo
Coloque em uma tigela e misture os flocos de milho com água e sal. Deixe reservado. Leve ao fogo o
leite e o açúcar. Ao levantar fervura, junte a farinha de milho e cozinhe em fogo baixo, mexendo sempre para não queimar. A massa deve ficar cremosa. Vá misturando até a massa chegar à fervura. Quando a mistura estiver desgrudando da panela, retire do fogo. Acrescente a manteiga e misture. Após isso, coloque o leite de coco. Coloque em forma de canudo no meio, sem untar. Asse em forno préaquecido até dourar. Retire da forma e decore com coco. Sirva com calda de chocolate.
Pudim de mandioca com coco
Ingredientes
Para o pudim
4 ovos
1 xícara (chá) de leite
1 lata de leite condensado
150 g de mandioca ralada
150g de coco ralado
Para a calda
1 xícara (chá) de açúcar
½ xícara (chá) de água
Modo de preparo
Para a calda:
Leve ao forno o açúcar, em uma panela pequena e mexa até caramelizar.
Abaixe o fogo e junte a água até obter uma calda homogênea.
Despeje em uma fôrma própria para o pudim, girando-a para que a calda se espalhe por todo o seu interior.
Para o pudim:
Bata no liquidificador o leite condensado, o leite e os ovos. Coloque em uma tigela e junte a mandioca
e o coco.
Despeje essa mistura na fôrma caramelizada e cubra com papel alumínio.
Leve ao forno médio, em banho-maria, por cerca de 1 hora e 15 minutos, ou até que espetando um palito e ele saia limpo.
Retire do forno, deixe esfriar e leve à geladeira por uma noite.
Desenforme em um prato de servir, regando-o com a calda.
Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
SÃO JOÃO DO CARNEIRINHO
de e o povo entendeu aquilo como
um castigo divino; não se brinca,
impunemente com S.
Por Miriam de Sales Oliveira
João!
Ai, São João, São João do carneirinho
As brasas da fogueira são consideradas bentas; assim que se apagam
devem ser guardadas; elas garantem
uma vida longa e saudável.
Diga lá pra S. José
Que é pra ele me ajudar
Pra meu milho dar
20 espiga em cada pé.
Tão antiga a
festa de São João!
Remonta á cultura céltica, coincidindo com o solstício do verão para os povos do hemisfério norte.
Era o tempo das colheitas. Por isso, acende-se fogueiras,
dança-se em volta do fogo, salta-se as chamas.
Todos sabemos a importância do fogo, para os antigos; qualquer celebração era á sua volta, pois
a fogueira representa a
força do sol, um espantalho contra as forças maléficas e um amuleto contra calamidades.
Já para nós, a fogueira,
segundo a lenda, veio de
uma combinação entre as
duas primas, Maria e Isabel, ambas
grávidas, uma esperando Jesus, a
outra, João; quem tivesse o filho
primeiro, avisaria á outra, acendendo uma fogueira, naquele tempo
sem celulares nem telégrafo. João
chegou primeiro e Isabel acendeu a
fogueira no alto do monte, para
avisar a outra.
Quem trouxe a tradição de S. João
para o Nordeste foram os padres
jesuítas; os índios logo aprovaram
a ideia da festa já que adoravam
danças e festejos ao pé do fogo.
Por um motivo que não me recordo,
proibiu-se as fogueiras em
1855.Logo depois, uma terrível
epidemia da cólera assolou a cida-
No interior existe o costume de se
colocar uma árvore no centro da
fogueira para tentar a sorte. Mas,
se a árvore tombar na direção da
casa---Misericórdia!—é sinal de
morte certa para o dono. Agora, se
a árvore for consumida pelo fogo,
sem cair, é fortuna e prosperidade, na certa. Esse costume não é
nosso. Na França, queimavam a árvore de S. João, em Notre Dame;
também lá, o povo disputava o carvão, que guardava como
amuleto. Satisfeita, eu
vejo que nossas tradições
resistem ao progresso;
porque as pessoas são
sempre as mesmas, nossos
medos ancestrais continuam latentes, nossas crenças nos talismãs de bom
augúrio, também, por isso, as garotas ainda enchem a boca d’ água e se
postam atrás das portas,
esperando que alguém grite o nome de um homem,
que será o futuro pretendente; outras enterram uma faca virgem na
bananeira, pois a inicial que se
formar é a do futuro noivo; algumas lutam com agulhas dentro d’
água ou papelinhos enrolados com
nomes masculinos; o que abrir, será o do prometido. Assim, S. João
vai impondo seu papel; sai vencedor do tempo. Pena que nunca acorde pare ver o quanto é esperado e
festejado; ignora as adivinhações
que se fazem em seu nome e as cantilenas que se repetem, ano após
ano:
Em louvor de S. João
Sim ou não....
80
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
algum lugar. Não, dizia mamãe, você
é filha única, nunca teve irmão nenhum. Debalde. A presença deste irmão estava bem ali, palpável, eu
Por Sonia Regina Rocha Rodrigues
quase podia sentir sua respiração.
Eu fora adotada? Bem, descobri logo
que depois de perguntar ‘uma bobagem dessas’ eu devia sumir por hoSou uma mulher doente. Muitas vezes ras da frente de minha inconsolável
sou desagradável. Não sei evitar
e indignada mãe, e, portanto, desesta inquietação que me domina e me cartei esta possibilidade.
indispõe contra toda gente alegre
Quando cresci mais um pouco, perque encontro em meu caminho.
guntei a meus pais se eu havia tido
Olhar indiferentemente ou mesmo com um irmão que morrera, ou se eu haalegria a felicidade alheia, para
via sido o gêmeo sobrevivente de
quem dela se sabe privado para sem- alguma catástrofe uterina. Olharampre, é um desafio.
me horrorizados, negaram veementemente e pediram que eu tirasse esAs pessoas sociáveis, aquelas que
nunca cresceram em famílias numero- tas ideias estranhas de minha cabesas, que na infância nunca ficaram ça.
sozinhos, e pela mocidade afora até Mas a presença estava ali, constanos dias atuais se veem cercadas de te, quase a suplicar que viesse
amigos, ou pelo menos de conhecidos brincar e conversar, e eu bem que
bem intencionados, nem imaginam
queria, mas com quem?
quão dolorosa é a solidão do que
E nos momentos em que eu estava
não teve irmãos para compartilhar
triste, em que estava, por exemplo,
sua meninice.
de castigo, sentindo-me injustiçada
Desde bem pequena, eu sinto esta
– quantas vezes são as crianças pupresença faltando a meu lado. Pare- nidas por coisas que não fizeram
ce complicado de entender, falando nem disseram, sem poder contradizer
assim no negativo, mas é isto mesmo os adultos – bem, nesses momentos,
que eu sinto desde que me conheço
a presença estava ali quase palpápor gente: uma ausência de alguém
vel, quase a tocar fisicamente meus
que deveria estar aqui. Eu me lem- ombros, a consolar-me: sim, eu enbro, eu ria, conversava, virava pa- tendo, estou a seu lado, conte cora o lado para compartilhar a vida migo, sim, eu me importo com você.
com... quem? Bem, não havia ninguém
Enquanto eu crescia, sempre que me
por perto, mas deveria haver. E a
via em dificuldades, atrapalhada
constatação de que eu estava sozipara atravessar uma rua ou para renha doía imensamente.
solver um problema de álgebra, poQuando fui para a escola compreendi dia afirmar que ouvia a voz amiga a
que o que eu buscava era um irmão, dizer: estou aqui. E eu olhava ao
e perguntei insistentemente a minha redor, inquieta, angustiada, procumãe pelo meu irmãozinho. Eu havia
rando pela pessoa invisível que eu
por força de ter um irmãozinho em
queria tanto conhecer.
A presença
81
VARAL NO BRASIL NO. 15
Assim passou-se a infância, e a
adolescência correu célere rumo à
juventude, em meio a tantos livros
e cursos, tanta coisa que inventavam para me por longe das tentações
do sexo oposto – como se as danças
e os risos pudessem engravidar ou
estragar uma mulher.
Bem poderiam se poupar ao trabalho
de me vigiar, meus pais, professores e parentes. Eu, tão sozinha,
tão desagradável, tão inepta no
trato social, tão apavorada com os
comportamentos de namoro dos quais
não entendia nada, que preferia me
trancar horas e horas em meu quarto
a escutar sinfonias, óperas, ler os
clássicos, enfim, tornar-me dia a
dia mais esquisita do que me julgavam os de minha idade. No entanto,
alguém me compreendia e me apreciava – o outro, este outro que um dia
eu identifiquei, logo se entenderá
o porquê, como masculino.
Uma grande confusão se formou em
minha mente a partir do momento em
que os pensamentos deste outro se
misturavam agora claramente aos
meus, em um dialogar incessante sobre tudo, amigável, inteligente, um
tanto irônico, a amenizar a terrível solidão moral em que eu vivia.
Sua voz estava sempre presente, e
me confundia com ideias e observações masculinas que me faziam por
vezes corar: olha, a tua amiga Maria, tão bela, seus lábios carnudos
são um convite tentador a um beijo
mordido. E eu sentia meu rosto
quente, confusa.
MAIO DE 2012
pode se abater sobre a libido humana. A intersexualidade me deixava
perplexa. Então não somos, homens e
mulheres, distintos em nossa intimidade celular, pois simplesmente
um braço curto em um par cromossômico e um radical hidroxila que
diferencia as doses dos mesmos hormônios - testosterona e progesterona - em nossos corpos é o que nos
torna tão dessemelhantes.
Eu não sabia mais o que eu era. A
meus pensamentos amorosos de maternidade se misturavam estranhos desejos libidinosos pela beleza feminina, sem que, no entanto, eu de
fato não sentisse nenhuma atração
por outras mulheres. E a voz se ria
de mim, e eu sabia que estes pensamentos estranhos todos não eram
meus, e sim dessa presença oculta
em minha vida.
E foi assim que eu soube que meu
gêmeo era homem.
Pois embora minha mãe e meu pai negassem, e até se aborrecessem com
minha insistência, a única explicaEu me interessava muito por psico- ção que eu encontrava para este eslogia, lia sofregamente tudo que me tranho fenômeno era que eu houvesse
caísse nas mãos sobre comportamento tido um gêmeo. E lá no intimo creshumano, Freud, Jung, Reich, Lowen. cia esta certeza, de que eu era a
Piaget. Maria Montessori. Quase de- gêmea de um rapazinho tão solitário
e desejoso de companhia quanto eu.
sabei quando descobri o caos que
82
VARAL NO BRASIL NO. 15
Sofri muito na adolescência, imaginando uma outra possibilidade, a
esquizofrenia. Os esquizofrênicos
ouvem vozes. E eu me contorcia de
terror ao pensar nesta possibilidade, mas o outro ria. Ora, que bobagem! Eu estou aqui, e me importo, e
sinto um bocado a sua falta.
E eu li. As vozes esquizofrênicas,
todas, tem lá suas intenções ocultas, mandam as pessoas matarem,
mentirem, fugirem. A minha voz não
era delirante. Era uma voz tranquila que simplesmente estava ali e me
chamava a conversar, para matar a
solidão. Nunca falou mal de ninguém, nunca me incitou ao mal.
MAIO DE 2012
DNA não eram compatíveis com o dela, até que um estudo genético demonstrou que seus ovários e seu
sangue forneciam duas leituras cromossômicas diferentes. E o do homem
cujo sêmen não era compatível com o
resto de suas células. E aquele outro, em cujos órgãos se liam duas
linhagens gênicas distintas. Mais
incrível do que qualquer ficção, a
espécie humana vez por outra cria
indivíduos mosaicos.
A explicação chegou aos cientistas
através de certas crianças com tumores estranhos, dentro dos quais
se encontravam dentes, olhos, por
vezes um membro inteiro, fragmentos
de cérebro e até cabelos. TeratoTambém não se parecia em nada com
mas. Fetus in fetus. Em raríssimos
aquela voz da consciência, nascida
casos, uma gestação gemelar se indas experiências de infância com
papai e mamãe, sendo na realidade a terrompe pela morte de um dos feinternalização dos ensinamentos re- tos, que é absorvido pelo outro,
cebidos de nossos amorosos cuidado- cresce dentro do outro, e, se em
estágio bem recente, quando ainda
res, aquela voz que grita em nosso
tem apenas oito ou dezesseis céluouvido quando estamos a atravessar
las, é assimilado e cresce par a
a rua distraidamente: Cuidado!
par com as células de seu gêmeo viPreste atenção no sinal!
vo, originando um mosaico – duas
A minha voz também não se parecia
linhagens de células funcionantes
com a intuição que nos fala em mocom carga genética distinta. E foi
mentos especiais – Pega um guardaassim que eu finalmente sosseguei.
chuva, pode chover – ou coisas baDescobri a causa de minha anômala
nais e úteis como esta.
personalidade, de minha incansável
Não, a minha voz não se enquadrava
busca pela presença ausente, tão
nas descrições dos psiquiatras,
desejada, tão querida e tão impospsicólogos nem teólogos. Eu não
sível como a historia mitológica de
era, definitivamente, nem a versão
Castor e Pólux.
feminina de Mr. Hyde nem uma nova
Castor e Pólux, os gêmeos nascidos
Joana d’Arc.
de um mesmo ovo.
Eu apenas sofria, e como sofria,
O nome científico de minha rara
por ser tão diferente e tão sozicondição vêm também do grego. Eu
nha.
sou uma quimera.
Cresci, assim, ocultando o meu segredo. Fiz medicina. E nos livros
descobri mistérios biológicos. Como
o da mulher que tinha filhos cujos
83
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Dalva de Deus
Por Israel Pinheiro da Silva
Conheci dona Dalva em Vitória
de Santo Antão. Cheguei na cidade a
três meses das eleições municipais
de 2008, o jornal precisava que um
de seus repórteres de Recife fizesse a cobertura da campanha eleitoral mais acirrada, mais hostil e
mais apaixonada do estado. Não
achei má idéia deixar Recife por
uns meses, sobretudo porque receberia diárias e também porque tinha
acabado de passar por um divórcio
litigioso no qual minha esposa jurou, na frente do juiz, que esmagaria meus testículos com a marreta
que seu falecido avô usava para
derrubar paredes. Por abominar hotéis, aluguei um apartamento no
bairro da Matriz e mobiliei com tudo que precisava: um notebook, uma
mesa, uma cama, um ventilador e uma
cômoda. Passava a semana conversando com eleitores, entrevistando
candidatos e lideranças partidárias
locais. Finalizava as matérias nas
noites de sexta-feira e enviava ao
jornal para serem publicadas no caderno de política da edição de domingo. Vitória de Santo Antão era
um quadro clássico e caótico de política terceiro-mundista que sociólogos preguiçosos e intelectuais de
direita tanto adoram: alto índice
de eleitores analfabetos e rurícolas, políticos messiânicos, nepotismo,
prefeitura
completamente
aparelhada e instrumentalizada, lideranças religiosas nos palanques,
imprensa local cooptada, assistencialismo, comércio de votos a céu
aberto, cordão amarelo versus cordão encarnado.
Depois de dez dias de trabalho intenso me deparei com um grave problema de manutenção: tinha mais
roupas sujas do que limpas, na cidade não tinha lavanderia, eu não
tinha máquina de lavar e a possibilidade de eu mesmo lavar minhas
roupas a mão estava descartada. Foi
então que um vizinho me passou o
telefone de dona Dalva, a lavadeira
que lavava suas roupas há mais de
dez anos. Telefonei para dona Dalva
e acertamos que ela lavaria minhas
roupas todos os sábados, no meu
apartamento, por uma pechincha de
vinte reais pelo serviço mais quatro reais do transporte.
Dona Dalva era uma mulher de
quase cinquenta anos, obesa, tinha
cabelos castanhos, os olhos eram de
um azul soberbo, a pele muito branca e castigada pelo sol. Embora eu
tivesse dito meu nome em bom som,
acho que ela logo esqueceu porque
sempre que se dirigia a mim, me
tratava por abençoado: “Abençoado,
onde tá o sabão em pó?” “Abençoado,
onde tá o amaciante?” “Abençoado,
você precisa sair pra comprar dois
baldes e duas bacias”. Forneci a
dona Dalva todos os insumos que ela
necessitava para trabalhar, ela
concluiu seu trabalho, recebeu seu
pagamento, se despediu com um sorriso e me entregou um panfleto que
trazia a seguinte indagação: “Você
quer ter vida eterna?” Aquilo me
aborreceu um pouco, já conhecia
aquele tipo de mídia, era material
de propaganda evangélica. Por ter
estudado em uma universidade católica, fui obrigado durante muito
tempo a tolerar toda sorte de lixo
apologético, agora tinha dona Dalva
querendo me catequizar.
h"p://imoveis.culturamix.com/
No sábado seguinte, foi difícil escrever com dona Dalva cantando o
tempo inteiro: “Firme, firme, firme
nas promessas de Jesus...” “Mas eu
sei em quem tenho crido e estou bem
certo que é poderoso...” Achei engraçado.
84
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Na primeira vez que decidi puxar um
pouco de conversa com dona Dalva,
descobri que ela morava no bairro
mais violento de Vitória de Santo
Antão, era líder das mulheres de
sua igreja, foi abandonada pelo esposo após um diagnóstico de câncer
de mama, perdeu tudo que tinha numa
enchente em 2005 e seu único filho
cumpria pena por assalto a mão armada. “Abençoado, é muita luta!”
Perguntei como ela ainda achava
inspiração para louvar a Deus diante de tanta adversidade. Dona Dalva
me respondeu que tinha apenas uma
referência de vida, Jesus Cristo,
aquele que não teve onde reclinar a
cabeça, aquele em quem não se achou
pecado algum e mesmo assim foi traído, caluniado, massacrado e morto.
Do que podia se queixar?
Quando precisei entrevistar um
eleitor para compor uma reportagem
e não quis sair de casa, fui à dona
Dalva e perguntei o que ela achava
da agitação eleitoral da cidade,
ela disse que achava tudo uma perda
de tempo, tinha pena das pessoas
que depositavam suas esperanças em
homens, servia àquele que governava
os céus e a terra. E também aproveitou pra me dizer que quando o
profeta Elias esteve refugiado em
uma caverna, Deus enviou corvos para
alimentá-lo
com
carne.
“Abençoado, Jesus é maravilhoso.”
Dias depois, eu perguntei a
dona Dalva se ela já tinha ouvido
falar em teologia da libertação,
ela me respondeu que não acreditava
que teologias, ideologias ou filosofias pudessem libertar o homem,
libertação verdadeira e plena só
havia em Cristo. Percebi que dona
Dalva fazia distinção entre emancipação e libertação, ela concebia
instintivamente
emancipação
como
uma espécie de sub-liberdade alcançada através da práxis, o homem liberto por esse caminho logo voltaria a ser cativo.
Num sábado chuvoso que inviabilizou o trabalho de dona Dalva,
discutimos teologia da prosperidade, o que no prisma de dona Dalva
era a própria vulgarização do evan-
gelho, ela não entendia como pessoas que viveram tanto tempo na iniquidade podiam simplesmente se voltar para Deus em busca de realização material, francamente aquilo
era um descaramento.
Certa vez aceitei um convite
para ir a um culto matinal na igreja de dona Dalva, a congregação ficava na periferia da cidade em um
galpão sem reboco e era composta
por gente muito simples: agricultores, feirantes, estivadores, costureiras, zeladoras, trabalhadores
braçais da construção civil. O pastor era barbeiro e se dividia entre
a barbearia e o sacerdócio para não
onerar as contas da igreja. O missionário era mestre-de-obras, mas
também gostava de dizer que era
bombeiro porque já tinha livrado
muitas almas do fogo do inverno.
Ouvi com atenção o testemunho de um
jovem que em um único dia de carnaval perdeu a virgindade com uma mulher de 65 anos, quase teve uma
overdose, foi espancado pela polícia e aceitou Jesus. Fechei os
olhos enquanto um diácono orava com
a mão sobre minha cabeça, ofertei
cinquenta reais para ajudar na compra de um ventilador para o templo,
e fiquei comovido com a apresentação de um coral infantil. Eu nunca
tinha experimentado nenhum tipo de
sentimento religioso antes, mas
confesso que por um instante a simplicidade do evangelho cantado por
crianças tão humildes me tocou.
Jamais conheci alguém com a fé de
dona Dalva, sua identidade cristã
era tão genuína que não havia espaço para inquietações seculares. Sua
única ambição era formar uma unidade com Cristo, na verdade sua grande ambição era a vida eterna e diante dessa ambição todas as ambições mundanas pareciam um tanto ridículas.
85
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
No domingo de eleições, Vitória de
Santo Antão virou uma praça de guerra, militantes se enfrentaram com
paus, pedras e coquetel molotov, a
polícia atirou pra todo lado, o fórum
da cidade foi incendiado. Minha cobertura do incidente me rendeu um
prêmio de melhor reportagem eleitoral, conferido pela Associação dos
Jornalistas Amadores de Bodocó, e dezessete pontos na testa.
Só voltei a Vitória de Santo Antão dois anos depois, desta vez para
cobrir a enchente que arrasara a parte mais baixa da cidade. Os bairros
mais próximos ao rio Tapacurá ficaram
completamente inundados. A quantidade
de desabrigados era enorme. Era ano
de eleição e a catástrofe foi politizada: governo municipal culpava o governo estadual que culpava o governo
federal que culpava a oposição. Sobrevoei a cidade com a Defesa Civil,
dormi nos abrigos improvisados da
prefeitura, consegui uma entrevista
exclusiva com o governador e duas com
o prefeito, vi ratazanas políticas
fazerem doações oportunistas de tijolos e cimento, vi a água baixar aos
poucos, caminhei por várias ruas enlameadas, e numa dessas caminhadas
reconheci de longe em uma casa muito
humilde dona Dalva, com água pelos
joelhos e cantando: “Firme, firme,
firme nas promessas de Jesus...”
Inscrições para o próximo número abertas até dia 10 de junho! Venha conosco!
86
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
PAPEL SEM DONO
Por Maria Luíza Falcão
João ficou radiante ao receber aqueles cem reais, pois enfim ia poder
saldar sua dívida com o Manoel da venda. Manoel recebeu o pagamento de
cara fechada, afinal já estava esperando há quase um mês. Mas também
não queria deixar transparecer a um simples pintor de paredes como João
que ele, o dono daquela venda que era quase um supermercado, estava tão
precisado daqueles cem reais para pagar um de seus fornecedores, o Pedro das farinhas. Pedro, porém, não escondeu o alívio que sentiu ao receber aqueles cem reais, pois a doença da mulher não podia esperar pelos remédios e ele não tinha mais cara para pedir fiado na farmácia do
Augustinho. Assim, pôde chegar em casa e ver o sorriso da esposa quando
ele lhe entregou os remédios. Augustinho... ah... vivia um tormento,
pois o filho, o Junior, andava às voltas com uma turma da pesada, que
vivia lhe cobrando umas dívidas que ele, Augustinho, não conseguia bem
entender. Na verdade, ele não queria entender... há tempo o filho pedia
e ele negava, mas o coração de pai ficava apertado vendo-o naquela agonia. Enfim, decidiu lhe entregar os cem reais, não sem antes lhe passar
um monte de conselhos, avisos, ameaças... Junior mal acabou de ouvir
aquele desfiar de rosário e partiu para o morro, onde o Wando do pó fazia ponto. Novas ameaças: daqui pra frente, sem grana, sem bagulho.
Wando não era má pessoa, apenas mais um trabalhador. Pelo menos era assim que a mãe o via e recebeu de suas mãos aqueles tão esperados cem
reais. Maria tinha uma lista de prioridades, mas encabeçando estava seu
compromisso com a fé. Afinal, as obras de sua igreja, e o próprio local
onde os encontros aconteciam, não eram de graça. Aluguel, tanta gente
mais precisada que ela pra ser ajudada... de todas as obras, a que mais
lhe tocava o coração, era a que trabalhava com os jovens viciados...
tanto sofrimento daquelas pobres criaturas, das famílias... agradecia
aos céus o seu Wando nunca ter caído no vício... nos dias de hoje, é
sorte mesmo! À noite, na hora de sempre, deixou lá sua contribuição.
Uma benção, pensou Ernestina... naquela noite o povo compareceu direitinho... Deus não cobra dinheiro pelo tanto que nos dá, mas a vida aqui
na Terra não anda sem ele... no dia seguinte, bem cedinho, deixou com
João os cem reais que ele, meio envergonhado, cobrara pela pintura e os
consertos que a casa de obras assistenciais há tanto precisava... ele
bem preferia fazer de graça, mas a dívida com o Manoel da venda não lhe
saía da cabeça...
Foto de Marcos Pajola
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
HOSPITAL DE LAGUNA
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Hospital de Laguna e pela rede de estabelecimentos e profissionais credenciados (visite no site o link do Cartão de Benefícios). Os descontos
variam de 10 a 50%, podendo chegar a 90% nas farmácias. procure o representante do hospital no horário comercial.
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que se encontra no site e encaminhá-lo à direção do hospital. O valor
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Todo associado poderá usufruir das vantagens do cartão de benefícios
sem pagamento adicional.
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Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus Passos
R. Osvaldo Aranha, 280, Centro
Cep: 88790-000, Laguna SC
Fones: Central telefônica: (0xx)48 3646-0522 / DPVAT: (0xx)48 3646-1237 / Fax: (0xx)48 3644-0728
Fotos Históricas do Hospital
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Sarah Venturim
...AS ESGANADAS, DE JÔ SOARES?
Meninas, tremei.
O apresentador e escritor Jô Soares apresenta em
seu novo livro, As esganadas, um serial killer de
mulheres.
Famoso pelo “beijo do gordo”, Jô mostra um personagem com fixação por matar gordinhas usando receitas
de doces portugueses.
O assassino se revela logo nas primeiras páginas do
livro, o que não tira a graça nem o gosto da leitura, o toque irreverente do escritor mantém o leitor
amarrado ao texto e insaciável pelo desenrolar da
história.
Os personagens são outra “delicia” a parte. Com uma
riqueza de detalhes é quase possível os ouvir falando, até com sotaque português!
A investigação que é descrita no livro é quase um CSI (programa de TV
sobre investigação criminal) das antigas e consegue criar um clima de
suspense e excitação quando alguma dedução dos investigadores realmente
bate com o suspeito.
Caronte, o assassino e também o agente mortuário da cidade, também é um
prato cheio do livro. O leitor diverte-se com as formas de atrair as
vitimas, na maioria dos casos com doces, e é impossível não se conter
em imaginar, o personagem principal que é descrito como magérrimo matando mulheres gordas mórbidas com receitas de doces portugueses (seria
cômico se não fosse triste).
Como o leitor já conhece o assassino, diverte-se com a trama e o clima
gato-rato entre a policia e o criminoso, além de ficar imaginando quem
será a próxima vitima!
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
elas gostavam de brincar e de cuidar. E cuidavam mesmo, com muito
carinho. Davam banho, arrumavam ,
levavam para passear, davam comida .
ROBERTO, O MENINO ANJO
Por Isabel C. S. Vargas
A Francine que ele chamava de
A história que vou lhes conFã, depois que ele começou a falar
tar é uma história muito bonita e
até o batizou tornando-se além de
verdadeira.
irmã, madrinha dele.
Ela conta a vida de um anjo.
Todos eram muito unidos, sempre
Um lindo anjo que veio ao nosso
os mais velhos cuidando dos menoplaneta para conviver conosco e
res.
ajudar as pessoas, além de trazer a
E assim, Bebeto, como também
todos com quem convivia muita paz,
era chamado em casa foi crescendo
muita alegria, muita união.
muito feliz, muito cuidado e amado.
Esse anjo-menino nasceu em um
dia muito especial. Em uma sextafeira santa, que antecede ao sábado
de Aleluia e a Páscoa que tem um
significado muito importante. Páscoa é renascimento, vida nova.
E foi nessa época que Roberto
nasceu. Sim esse era o nome do menino. Só que ele não sabia que era
anjo e que viria para dar muita
alegria para sua família.
Ele era como o amanhecer, bem
clarinho, os seus olhos era como um
pedacinho do céu. Azul. Muito azul.
E seus cabelos eram como do Pequeno
Príncipe, loiros, dourados como os
raios do sol que se refletem na
água.
Próximo a casa deles morava ainda a
avó que ele adorava e que o adorava
também e uma tia idosa que o viu
crescer e que ajudava a família na
criação dos quatro filhos, pois a
mãe e o pai trabalhavam para sustentar a família e lhes dar conforto, educação e lazer.
Roberto era o único em uma família que só tinha meninas. Isto
significa que ele foi muito, mas
muito amado mesmo por todos, pelo
seu pai, Francisco, pela Isabel sua
mamãe e pelas manas que o adoravam.
O RO, assim que a mãezinha dele
o chamava, adorava computador. Desde os cinco aninhos que ele ficava
mexendo no computador. Quando perguntavam o que ele ia ser quando
crescer ele nem pesava duas vezes.
Quando ele era bem pequenino Vou trabalhar com computador. Vou
tinha muita gente à sua volta. Para tirar Informática, dizia ele na
as manas,a Ângela, a mais velha , a época.
Francine, a do meio e a Márcia era
Chegou o tempo de escola e aí
como se ele fosse um brinquedo en- foi muito bom para ele, pois enconcantado. Todas queriam estar com trou um monte de amigos para fazer
ele. Cada uma cuidava dele de um uma série de coisas legais e que as
jeito. Afinal, cada uma era dife- crianças adoram. Fez amigos para
rente da outra e as idades também estudar, jogar futebol, ir ao cineeram diferentes.
ma, jogar videogame, ver televisão,
Mas uma coisa era certa, todas eram ir ao parque, tomar banho de piscitambém um pouco mãezinhas dele. To- na no verão, jogar taco, jogar no
das as meninas gostam de brincar de computador
boneca, pois ele era o boneco que
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Amigos de verdade, como se fossem
irmãos. E esses amigos o acompanharam por toda sua vida. Tinha o Pedro, dos cabelos pretos encaracolados como uma ovelhinha, o Thiago,
com o cabelo clarinho e os olhos
verdes, o Fidel, o Patrick, o Fabinho, o Diego, outro menino com os
cabelos enroladinhos, além de outros meninos e meninas.
Crescer no meio deles e na escola onde os irmãos de todos e a
irmãs do Bebeto estudavam foi muito
bom. Foi uma época de alegrias, de
crescimento, de amor, de lembranças
boas, porque era como uma grande
família. Todos se conheciam, se relacionavam bem, as professoras eram
amigas e carinhosas e os meninos e
as meninas eram muito bons alunos,
brincalhões, é verdade, mas educados, obedientes, respeitavam a todos. Gostavam tanto que até nos finais de semana iam para escola. Tinha campeonato de futsal, de vôlei,
ah ia esquecendo o Rodrigo que era
louco por vôlei, e quando ia para o
apartamento do Roberto queria jogar
vôlei até no corredor. Isso era outra coisa que o Roberto dizia que
queria ser: jogador de vôlei.
É muito importante que as crianças possam estudar em uma escola
que ofereça esportes para praticarem. Esporte é saúde. Ajuda a desenvolver o corpo e a mente. Ensina, desde pequenos, a dividir, a
compartilhar as coisas com os outros e ensina que
ter amigos para dividir as alegrias
e as tristezas é muito bom.
Roberto também gostava muito de
música. No colégio havia uma banda.
Uma banda maravilhosa que já havia
ganhado até campeonato nacional em
São Paulo. Pois quando ele era bem
pequeno ele foi convidado pelo professor para sair na frente da banda. Quando ele ficou maior passou a
aprender música com o maestro da
banda que era uma pessoa com muita
paciência. Ele aprendeu a tocar vários instrumentos até chegar no sax
que ele gostava muito.
Roberto teve uma infância, adolescência e juventude muito feliz.
Uma família e amigos que o amavam,
uma namorada que o amanha muito,
também.
Sabem o que o Roberto estudou quando entrou para a faculdade? Ciência
da Computação. Aquilo que ele dizia
que ia fazer desde pequeno. E ele
gostava tanto disso que ele se tornou muito, mas muito bom mesmo que
ele se formou e foi ser professor.
Tirou o primeiro lugar no concurso.
E o Roberto que foi um bom aluno,
gostava do que fazia -e isso é importante, amar o que fazemos - se
tornou um ótimo professor, amado
pelos alunos que ele também amava,
pois aos sábados ele ia jogar futebol com os alunos lá na faculdade
onde ele dava aulas.
Roberto sempre foi muito de paz,
não brigava com ninguém, não era de
ficar de mau humor, era educado com
todos. Uma pessoa muito especial.
Tão especial que Jesus precisou dele para ensinar lá no céu e o levou
com 23 anos. Muito jovem, muito
lindo, muito feliz, muito amado.
Todos aqui ficaram muito, mas
muito tristes, seus pais, suas irmãs, sua sobrinha, sua namorada,
seus amigos, seus alunos, seus parentes. Ainda estão muito tristes.
E sabem o que eles fazem quando
a saudade e a tristeza aumentam?
Olham para o céu e escolhem a
estrela mais brilhante, pois é lá
que ele deve estar para cuidar de
todos nós e das crianças também
porque ele adorava crianças e queria ter seus filhos para distribuir
todo amor que ele recebeu.
Se você amiguinho que esta lendo
essa história ficou triste também,
não chore porque o Roberto não gostava de ver ninguém triste. Então
sorria e peça para Jesus e sua mãezinha, a Virgem Maria cuidarem dele
na estrela que ele vive.
Pensem nele com muito amor que
ele sentirá todo esse amor e será
muito feliz onde estiver.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
ELE TERMINOU COM ELA
Por Jeronymo Artur
Ele terminou comigo. E agora o que eu vou fazer? Não sei viver sem ele, não sei o que fazer sem ele. Minha vida já não faz sentido.
Eu não quero mais sair de casa, não quero
mais me ver no espelho. Não quero comer, dormir ou fazer qualquer outra coisa que não seja pensar nele. Se não o tenho mais, não me
tenho mais também. Minha vida se foi dentro
da mala que ele levou com suas coisas do nosso apartamento. Esse apartamento já não é
mais o mesmo. Sem ele, ele nunca será mais o
mesmo. O que eu faço agora, meu Deus, o que
eu faço?
Ele terminou comigo. Por quê ele fez isso?
Simplesmente disse não te amo mais e foi embora? E desde quando se deixa de amar assim,
de uma hora pra outra? Ele não é a Alice/Jane de Closer para decidir se
me ama ou não enquanto saio para comprar cigarros. Ele pensa que é
quem? Como assim ele joga cinco anos de namoro no lixo, como se não tivesse significado nada para ele? Nunca pensei que ele fosse tão cruel a
esse ponto. Como nos enganamos com as pessoas.
Ele terminou comigo. Eu já não choro mais todas as noites. Apenas quando, por acaso, encontro algo que ele esqueceu no que agora é meu apartamento. Ele realmente sumiu da minha vida, apagando todo e qualquer
rastro que pudesse trazê-lo até mim. E assim eu também o fiz. Queimei
todas as fotos , cartas e até joguei fora aquelas pétalas secas das rosas que ele me mandou em todos os nossos aniversários de namoro. Mudei
de telefone, comprei novas roupas.
Ele terminou comigo. Agora chegou a hora da vingança. Vou sair, curtir
a vida, encher a cara e ficar com o primeiro que aparecer na minha
frente. Ou os primeiros. E até as primeiras. Vou me entregar a todos os
corpos que encontrar, de forma que uma hora eu não o veja mais em nenhum deles. Quero sentir as mãos, os dedos e todos os pelos do corpo
deles roçando meus seios, meus braços, minha vagina. Quero que todos me
possuam. Vou virar bicho entre quatro paredes. E fora delas também.
Quero escadas, carros e até mesas de trabalho.
Ele terminou comigo. E minha vida não acabou. Ele foi embora da minha
vida sem deixar rastros. E eu sou feliz por isso. Eu não entendi por
quê. Hoje eu sei que ele não me merecia. Hoje eu sei que era muito mais
do que ele podia ter. E ele me fez um favor. Saiu da minha vida e levou
junto com ele todo o peso de estar ao lado dele. Ele terminou comigo e
me deixou viver. E hoje eu sou grata a ele por isso.
Foto Divulgação – Columbia Pictures
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
ALÉM DA VIDA
-Que me transporto para colocar as
flores pra você
-E se não conseguiu sentir o
Por Lunna Frank
perfume e nem visualizá-las
-Para provar que são reais
-Trouxe todas as flores secas que
te deixei ate hoje
-Passamos por momentos que te entristeceram muito
-Mais saiba que a nossa amizade
nunca morre
-Hoje pela manhã , quando abriu a
janela
-O casal de pássaros representam
seu futuro
-Se eu pudesse voaria com você,
Abri a janela, que agradável
surpresa
Bem na minha varanda
Estavam um casal de pássaros
coloridos
Cantavam alegres na arvore
flamboaiã
Mas encantei-me com o cheiro da
manhã
Leve brisa fresca, o sol já na
fresta da porta
Um céu azul anil maravilhoso
Ai alguém me chamou baixinho, quase
um sussurro
Senti um leve perfume amadeirado
Meu estado de espirito em paz
Contemplando a manhã
Percebi um homem adentrando em meu
quarto
Bem sorrateiramente, me olhou bem
nos fundo dos olhos
Era um amigo muito querido qual não
via há muito tempo
Me sorriu e ofereceu-me um presente
Uma caixa muito linda , com laços
cor de rosa
Dentro dela estavam algumas coisas
que não defini
Pensei serão doces, bombons...
Eram pequenos botões de rosa
minúsculas, e florezinhas já secas
Mais o estranho é que tinham cores
e perfumes
Uma espécie de rara beleza,
para sentir a sensação de liberdade
-Para não ter que dar explicações,
só contemplar o amor
Ai eu dei um imenso suspiro
Olhei, meu amigo tinha sumido
Procurei ao redor do quarto,
quando percebi
Consegui enxergar as flores lindas
e perfumadas
Na mesinha de cabeceira da minha
cama
As vezes o amor nos confunde, você
não vê que
A amizade que te acolhe e acalma
É uma das formas mais lindas de
amar
Uma historia que envolve o amor
pode oferecer
Uma bela lição de fraternidade
E a verdadeira felicidade é o
estado de espirito conquistado
Por aquele que ilumina e vibra a
cada jornada
Nessa vida em busca de respostas
pareciam amor perfeito
Então maravilhada , perguntei porque do presente
Ele me disse com um sotaque todo
especial
-Enquanto você dorme, todos os dias
-Tem flores enfeitando a cabeceira
de sua cama
-Para alegrar tua vida, já sofrida
pelas perdas
-Apesar de estar longe, meu amor
por você é tão grande
Foto: Filipe
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Além da imaginação
Por
Era uma tarde de sexta-feira. Início da
nâmica mulher, acabara de chegar a sua casa,
agenda. Estava muito fatigada. Realmente, o
uma ducha, alimentou-se e resolveu repousar
dormitar, pois ainda tinha outras tarefas a
tos, sem se dar conta, caiu em sono profundo
a povoar sua mente.
Josselene Marques
primavera. Helena, uma diapós cumprir uma cansativa
dia não fora fácil. Tomou
o corpo. Pretendia apenas
realizar. Em poucos minue um estranho sonho passou
Encontrava-se em um quarto enorme, na companhia de pessoas desconhecidas deitadas em espaçosas camas. Tinha o aspecto de uma enfermaria
na qual homens e mulheres pareciam recuperar-se. Embora não interagisse
com eles – apenas os observava com atenção – sentiu-se acolhida. Eles
conversavam entre si e pareciam felizes.
De repente, sua atenção foi desviada para uma espécie de chamada
telefônica – ela não usava nenhum aparelho, mas ouvia, perfeitamente,
uma voz bastante conhecida. Do outro lado da “linha” estava uma de suas
primas, por quem ela sempre teve especial apreço. O motivo da “ligação”
era dar conhecimento à Helena de que ela própria havia sofrido um acidente fatal no qual tivera parte de seu rosto deformado – inclusive
perdera a orelha direita, justamente a do ouvido que estava sendo utilizado para receber a mensagem.
A princípio, Helena achou que tudo não passara de uma brincadeira
de mau gosto da prima, apesar de este proceder não ser de seu feitio.
Sentia-se bem, inteira e sem dor alguma. Esta informação não podia ser
verdadeira. Certamente, fora um engano, um trote ou algo parecido.
Em seguida, Helena repetiu a “notícia” para os seus companheiros
de quarto. Comentou sobre o absurdo do que lhe fora transmitido. Para
seu espanto, nenhum deles fez comentário algum. Limitaram-se a olhá-la
inexpressivamente. Sem encontrar apoio, levantou-se e abriu a porta do
quarto. Ao erguer a vista, teve uma visão que a fez gelar e sentir uma
emoção indescritível. À sua frente, sentada em uma cadeira de balanço,
sorrindo para ela, estava a sua amada avó, falecida há 29 anos. Diante
dessa evidência, Helena não teve alternativa senão aceitar “a realidade”. Infelizmente, não deu tempo de conversar com sua avó, pois sua
mãe, intrigada com o seu demorado descanso, despertou-a.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
Introspecção
MAIO DE 2012
Ao invés dos galos, nas manhãs,
buzinas e freadas.
Cada vez menos contos sobre fadas e
violinistas verdes
Por Loreni Fernandes Gutierrez
que acordam, com suas músicas, as
árvores encantadas.
Protagonista de um mundo urbanizado
e imprevisível
Não vemos mais estrelas e nem luas
debruço sobre minha introspecção em românticas e solitárias
dias de incertezas
ofuscadas pelos holofotes das
e do medo de ter que deixar de so- cidades que se agigantam,
nhar e de acreditar que o bem
atrapalhando a passagem dos mensaexiste.
geiros dos ventos.
Duvidar dos olhos que me veem, mãos Quase não há mais abelhas, nem
que me tocam e lábios que me riem. favos de mel, nem borboletas
Medo de acordar e não encontrar à
adejando sobre os poucos jardins
minha espera a manhã idealizada
que ainda existem.
transformada em alguma coisa
infértil e desamorada.
Ainda bem que árvores frondosas e
persistentes sombreiam,
Vejo que os abraços se escasseiam,
na solidão crescente de nossa
enfileiradas, partes das ruas
acinzentadas e quentes!
existência - desafetos camuflados
em pequenas desculpas.
E nelas se urbanizam as pombas,
andorinhas e pardais
Quase não temos tempo para abraçar
os pais e mais demoradamente
e pássaros sazonais - porque lhes
tiraram as matas.
os filhos, como se os resgatássemos
em nossos seios.
Nos tempos atuais, em que a cada
dia mais nos etiquetamos
Quando só, os abraços que em mim se e vemos com naturalidade se
acumulam
instalar a corrupção e a
indiferença.
dou-os carinhosamente em minha
“poodle toy”, chamada “Mag”,
Num tempo onde os lobos se tornaram
que me abana a pequena cauda num
chamego frequente,
sempre colada em mim feito uma
sombra e me buscando
a todo instante com seus olhos
espertos, como se fosse gente.
A cada dia menos crianças subindo
em árvores,
mais célebres que os cordeiros
e que a cada dia ouvimos menos a
palavra honra.
Tenho medo de que esqueçamos quem
somos, perdendo-nos pelos
caminhos sinuosos - desse novo
esquema pegajoso e corrosivo da
desonra.
pulando amarelinhas, jogando
peladas.
Cada vez mais cercas nos muros e
casas fechadas.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Por favor, dona!...
MENINO DE RUA
Bate no balde
Tira moda
Wilton Porto
Batuca um samba
Noite está chegando
Barriga roncando
Farda verde patrocina a pátria
(des)amada
Irmãos chorando...
Desmamada
Pelos que assolam os sapatos
limpos
- Filho, como foi o dia? O que
tem para nós hoje?
No chão de seu futuro
Lágrimas como resposta
Que poderia ser brilhante.
Torta, a visão visualiza
Sacode a flanela no ar arejado
Os carros enfileirados.
Pelo desejo de ganhar
O eco vibra na mente:
O pirão
“vamos lavar o carro moço!...”
O pão
sai em disparada
Carentes na mesa pequena
a arma é sacada:
Para a família grande:
“é um assalto!...”
- quer lavar o seu carro moço?
sobressalto na sociedade
Eu posso dar um brilho
maravilhoso:
que na sua tenacidade
materialista
O chevete para de mansinho
não vê a realista situação
A dama nos seus óculos escuros
desce
e ação
Demonstra ser bem aparentada.
do menino de rua na crua rua
da vida.
- Quer lavar seu carro dona?
Custam apenas dois reais
É brilho garantido
Certeza de que seu carro gostará.
Vamos minha senhora
Não demora nada
E nada tenho para comer:
Somos oito irmãos
Meu pai deu no pé...
Por favor, madame!
Custam apenas dois reais!
Eu sou ligeiro
Imagem: h"p://anjoseguerreiros.blogspot.com
E não faceiro
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Pé-de-moleque de leite condensado
Ingedientes
•
½ kg de amendoim cru e com casca
• 2 xíc. de açúcar
• 1 lata de leite condensado
Modo de preparo
Coloque numa panela o amendoim e o açúcar. Misturar até o amendoim
ficar torrado. O preparo deve ser feito em fogo brando, para que o açúcar não queime.
Continue mexendo até a mistura ficar em ponto de caramelo (calda de
pudim).
Depois de caramelizado, coloque devagar o leite condensado, com o
fogo aceso, durante três minutos.
Retire do fogo e bata bem, por mais três minutos.
Despeje em uma tábua ou pedra untada com margarina e deixe esfriar.
Feito isso é só cortar em pedacinhos.
Paçoca caseira
Ingredientes
• 2 xíc. de amendoim torrado sem casca e sem pele
• 2 xíc. (chá) de açúcar
• 1 xíc. (chá) de farinha de rosca
• 1 colher (café) de sal
Modo de preparo
Bata o amendoim no liquidificador, aos poucos (Uma xíc. de café de cada vez).
Coloque todos os ingredientes em uma tigela e misture bem, amassando com as mãos, para que o óleo
do amendoim se solte.
Coloque em forminhas para moldar ou em canudinhos de papel.
Queijadinha
Ingredientes
1 xícara de chá de coco ralado
1 lata de leite condensado
1 colher (sopa) de queijo parmesão ralado
2 gemas
Modo de preparo
Coloque todos os ingredientes em uma vasilha. Misture bem. Após isso, coloque a massa líquida nas forminhas de alumínio já forradas com as fôrmas de papel. Coloque-as em uma bandeja com água (em banhomaria). Deixe no forno a 200º pré-aquecido, por volta de 30 minutos. Quando estiver firme e corado por
cima, o doce estará pronto.
Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Uma Noite Terrível
Maria Alice Lima Ferreira
Chovia torrencialmente. O carro
ia em ziguezague, pela estrada de
chão batido, que, naquele momento,
era pura lama. O para-brisa não dava conta de retirar toda a água,
que caía sobre o vidro do carro,
relâmpagos cruzavam os céus, iluminando por alguns segundos a curtos
intervalos, a estrada da serra, que
percorríamos. O ronco dos trovões
era ensurdecedor. Pedi ao meu marido:
- Carlos, por favor, procure um
lugar, onde a gente possa parar e
esperar a chuva passar. Ele parou o
carro a uma boa distância daquele
oiti gigantesco, cujos galhos balançavam ao sabor da ventania, produzida pelo temporal, que não dava
mostras de que estava disposto a
passar tão depressa quanto o desejávamos.
Mal estacionamos um raio, caiu
certinho sobre um ipê frondoso, rachando-o ao meio, enquanto um estrondo medonho quase nos deixou
surdos, As meninas acordaram assustadas, chorando e eu as aquietava,
quando à janela do motorista, uma
mulher sorrindo um sorriso branco e
simpático, batia. Meu marido abaixou o vidro e, então pudemos vê-la
melhor, porque um novo relâmpago
acontecia, naquele momento: Ela
usava galochas brancas, uma capa de
chuva lilás, tinha os cabelos louros e os olhos verdes, de estatura
média, era magra e tinha o rosto
sereno, todo respingado de água.
Trazia nas mãos dois enormes guarda
-chuvas, que nos oferecia, passei,
ao colo de Carlos, a Meire e desci
carregando comigo a Clarice. Meus
dois tesouros estavam bem protegidos. No braço esquerdo segurava minha moreninha de cabelos lisinhos e
compridos, naquele instante, gotejados de água, que o guarda- chuva,
não conseguia aparar. Na mão direita, eu levava uma bolsa de nylon
azul. Carlos carregava a outra,
também azul. E assim seguíamos, em
procissão, com a jovem, que dizia
chamar-se Zuleika, à frente, falando, dando-nos conta de para onde
estava nos levando:
- Dona...
- Eunice – completei.
- Pois é, dona Eunice... Como estava dizendo, podem ficar sossegados, que poderão passar a noite em
minha casa. Terão um chuveiro quentinho, um prato de sopa quente e
camas confortáveis. Eu vivo aqui
sozinha. Meus pais moram na cidade.
- Em Chalé?
- É. Em Chalé.
- Estamos indo pra lá – respondeu
o Carlos, enquanto tentava abotoar
o casaco da nossa caçulinha loirinha, de cabelos curtos e cacheados
- a Meire, naquele momento abrindo
a boca de sono.
- Que bom! Poderão conhecer os
meus pais. São conhecidos por dona
Zulu e seu Alfredo. Eles têm um
bar, bem no centro da cidade.
- Procuraremos por eles lá – assegurei-lhe.
Seguíamos por uma picada aberta
no meio de uma mata, à mercê dos
raios, relâmpagos e trovões. De repente, numa curva da picada, avistamos um casarão antigo, enorme,
branco, com uma porta e muitas
98
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
e muitas janelas azuis, compactas,
- Não. Já completei 25.
de madeira pintada. Eu estranhei - Nem parece – Dissemos em coro.
que aquela jovenzinha morasse ali, Minhas meninas dormiam uma de cada
sozinha, numa casa tão grande e tão lado do sofá grande, enquanto eu e
distante da civilização.
meu marido ocupávamos os sofás peQuando nos aproximamos do casa- quenos. Zuleika, de pé, convidourão, percebi o abandono do lugar: nos a tomar um banho, dizendo que
onde deveria ter sido um jardim, já iria preparar uma sopa quentihavia capim crescido, agora coberto nha, pra nós.
pela lama. Seguíamos por uma calçaDe banho tomado e vestida com uma
da estreita e toda quebrada, em que saída vermelha, com os cabelos lihavia muitas poças d’água.
sos, ainda escorrendo água, senteiZuleika abriu a porta e indicou- me no sofá pequeno, bem distante do
nos a sala, onde penetramos, e nos meu marido. Voltáramos a ocupar as
demos conta da iluminação feita à posições de antes do banho. A moça
lampião de gás – um em cada parede. entrou na sala e convidou-nos à soEla também adentrou,
fechando a pa.
porta atrás de si, tiLá fora ribombavam
As meninas até
rando a capa, pendurando
os trovões, os relâmpa-a num cabide, que havia despertaram ao gos
ziguezagueavam,
do seu lado esquerdo,
sentir o chei- clareando, de vez em
grudado na parede, deiquando,
mais ainda a
xando aparecer um vesti- rinho gostoso copa, onde numa mesa
do azul, longuinho, de
dos legumes co- grande de madeira bem
chiffon
de
seda,
sem
envernizada,
coberta
mangas e com um decote
zidos...
pela metade, com uma
bem avantajado. Pensei:
toalha branca, de li”Por que ela se veste tão bem, nes- nho, víamos uma sopeira antiga, de
te fim de mundo? Havia também, nas louça branca, decorada com florziparedes, espalhados, sem simetria, nhas azuis e dela a sair um vapor,
lindas telas a óleo, representando que espalhava um cheiro gostoso,
belas paisagens, emolduradas por que nos abria mais ainda o apetite
madeira envernizada Um sofá grande e nos mostrava que o alimento acae dois menores, de couro cru e uma bara de sair do fogo. Estávamos famesa de centro, de madeira, coberta mintos. As meninas até despertaram
por um vidro transparente, expunham ao sentir o cheirinho gostoso dos
fotografias, emolduradas, a toda legumes cozidos com carne, formando
volta com uma faixa estreita de ma- um caldo grosso e apetitoso. Sentadeira, pintada de branco. Ela nos dos em cadeiras também de madeira
pegou observando as fotografias e envernizada, na mesma cor escura da
explicou :
mesa, recostáramos nos seus espal- Este casal são os meus pais e a dares altos
e olhávamos ansiosos
criança sou eu. Aqui, eu tinha 17 os nossos pratos vazios, até que
anos.
Zuleika, pedindo desculpas foi até
- Mas, você ainda parece ter 17 a cozinha e trouxe uma concha esanos – assegurou Carlos.
maltada, branca e colocou-a na
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sopeira, dizendo:
- Agora, sirvam-se e fiquem à
vontade. Vou dar um jeito na cozinha, enquanto vocês comem. Eu já
jantei, antes que a chuva começasse. - disse e retirou-se.
Que delícia de sopa! Nunca me esqueci daquele sabor.
Mais tarde, conduzidos pela moça,
levamos as meninas para o quarto,
onde as camas preparadas para elas,
apresentam cobertores azuis, fofíssimos e aconchegantes. Deixamos as
duas lá, assim que adormeceram e
seguimos, para o nosso quarto, sempre acompanhados pela bela anfitriã. Uma cama de casal nos aguardava, com travesseiros revestidos
com fronhas de linho branco e um
cobertor xadrez, muito fofo, recobrindo-a. Ao levantá-lo, vi que o
lençol era de linho tal qual as
fronhas. Carlos foi até a sala,
buscar as nossas bolsas. Zuleika
despediu-se, dizendo que também ia
dormir, balbuciou um boa-noite e se
retirou. Dormimos um sono profundo.
Eu, encolhida entre as pernas grandes e em forma de concha, do meu
marido, adormeci logo, enquanto lá
fora a chuva continuava a cair, ribombando os trovões e ziguezagueando os relâmpagos.
Acordei com os raios de sol atravessando as frestas da janela do
quarto. Espreguicei, consultei o
relógio, que deixara sobre a mesinha de cabeceira, levantei-me e caminhei descalça até o guarda-roupa,
que estava, do meu lado esquerdo.
Abri sua porta, tentando achar um
espelho. Só o encontrei, na quarta
porta que abri, mas o que achei esquisito é não haver encontrado ali
nenhuma peça de roupa. A poeira tomava conta de seu interior, como se
há muito tempo ninguém o tivesse
limpado. Peguei minha bolsa a tiracolo, que deixara pendurada num cabide de madeira, atrás da porta fechada, abri-a e retirei dela, tudo
que eu precisava para minha toalete
matinal. Vestida de camisola azul,
bordada com brocados da mesma cor,
de alcinhas, curta, caminhei pelo
corredor, até encontrar o banheiro.
Fiz minha higiene matinal, tomei um
banho quentinho, vesti minha saída
vermelha e voltei ao quarto, para
acordar o meu marido.
- Carlos, acorda! São oito horas!
Ele se remexeu na cama, abriu os
olhos e um sorriso lindo. Tão moreninho ele era, que quem não me conhecesse, não saberia explicar os
cabelos loiros e os olhos claros da
Meire. Ela saíra a mim. Na família
de Carlos também havia gente clara,
de olhos claros. Ela teve a quem
puxar. Já a Clarice era parecidíssima com ele.
- Como dormi! Estava
- Durante o café, comentei:
- Que moça estranha! Ontem não tomou a sopa conosco e hoje também
não nos acompanha no café..
- Deixe-a, Clarice! A coitada mora sozinha. Não está habituada, com
certeza a receber muitas visitas,
aqui, neste fim de mundo! E olhe
que estamos lhe dando trabalho...
Imagine,
preparar uma sopa tão
gostosa àquela hora da noite, ontem! E hoje, veja que mesa farta!
Temos muito que lhe agradecer.
Já prontos para partir, sentamos
na sala. Carlos levantou-se, dizendo que ia ver onde estava a Zuleika, para que nos despedíssemos
dela. Abriu a porta da sala e surpresa...
100
- Clarice, a moça está lavando o
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
nosso carro.
- Vamos até lá.- respondi, levantando e puxando as meninas pela
mão.
- A senhorita não precisava ter
tido este trabalho não. Deixe isso
comigo - disse Carlos, tentando tirar da mão dela a flanela, com que
ela acabava de secar o veículo.
-
Mas, já tomaram o café?
- Já sim. A senhorita foi muito
gentil, tratou-nos muito bem, sem
ao menos nos conhecer. Pois, então,
tome o nosso cartão, para fazer-nos
uma visita, sem pressa de voltar.
Ficaremos muito honrados em poder
retribuir-lhe todo o carinho, que
nos dispensou, nesta noite terrível. Nem sei o que teria sido de
nós, sem a sua acolhida.
- Que nada! Só fiz o que estava
ao meu alcance.
- E fez muito. Serviço cinco estrelas – disse-lhe eu, enquanto retornava à sala, seguida
por ela, para buscar as bolsas, que
deixáramos sobre o sofá grande.
Entrei. Foi aí que ela me disse:
- Por favor, quando estiver com
os meus pais, diga ao papai, que eu
mandei dizer, que ele não teve culpa de nada. Que pare de se martirizar. A hora era aquela mesmo.
Não entendi direito o recado, mas
memorizei-o imediatamente.
- Pode deixar. Direi sim.
- Obrigada. Que Deus lhes recompense.
Tentei pegar a sua mão, para me
despedir, mas ela sorriu e escondeu
-a nas costas. Estranhei, mas ela
se explicou:
- Não gosto de despedidas. Ficarei
de longe, vendo-os partir. Assim
pensarei que estarão saindo para
uma voltinha
à toa e que
voltarão logo. – disse
ela, seguindo-me
até
junto ao começo do antigo jardim..
Acenou para
mim e eu segui em direção ao carro.
Carlos
fez
menção
de
ir
até
ela, para se
despedir,
mas eu o adverti
que
não
fosse,
dizendo-lhe
que ela não
gostava
de
despedidas.
Colocamos as
bolsas
no
porta-malas,
as
meninas,
no banco de trás, amarradas ao cinto de segurança. Entramos. Carlos
deu partida. O engraçado é que nem
lembramos que o carro tinha ficado
longe, antes da trilha, que percorrêramos a pé, no meio da mata. Agora, avistávamos a estrada, logo depois da cancela aberta. Viramos para acenar e ela nos acenava de longe, linda, usando a mesma roupa de
quando a encontramos. Todos se viraram para a frente e só eu continuei a acenar-lhe, até, que, de repente, ela desapareceu como que por
encanto. Assustada, olhei na direção da estrada.
O sol bonito, que
surgiu pela manhã, já estava secando toda a estrada e nossa viagem
seguia tranquila.
101
VARAL NO BRASIL NO. 15
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As crianças cantarolavam uma músi- Dona Zulu aproximou-se, para acudi
ca, que aprenderam na escola: “Sapo -lo:
cururu da beira do rio, quando o - Que foi homem?
sapo grita ô maninha, ele está com Ele não conseguia falar e ela o
frio...”
conduziu pra dentro do balcão, onEm 40 minutos chegamos a Chalé, de o fez sentar-se e o abanava com
com os seus chalezinhos e pinheiros um leque, quando me aproximei:
encantadores, encravada, num peque- Precisa de ajuda, dona Zulu?
no vale, no alto da serra. Na praça Estou com o carro, logo ali, do oupequena, com bancos de cimento, co- tro lado da rua. Quer levá-lo ao
reto, canteiros verdes, multicolo- Posto de Saúde?
ridas flores, descansávamos, antes
- Não, já lhe dei o remédio de
de procurarmos uma pousada. Sorvípressão. Agora mesmo ele melhora.
amos o oxigênio do ar tão puro daMas, como sabe o meu nome?
quela serra. Tudo
- Foi sua filha Zuleika quem me
ali parecia mágico: o telhado indisse.
clinado das casas, o verde que nos
- Onde você conheceu Zuleika?
cercava e o silêncio, que era que- Ela foi muito legal conosco.
brado apenas pelo zumbido, que
Chovia muito, trovejava, estávamos
trouxéramos da cidade grande,
em
estacionados fora da estrada, nas
nossos ouvidos.
Passeando o olhar
terras dela. Então...
pelas redondezas, eis que leio:
A mulher me interrompeu, fazendo
“BAR DA ZULU” em letras verdes,
sinal para eu silenciar. Não entengrandes.
di, mas calei. Aí, ela me arrastou,
- Carlos, olhe ali o bar dos pais
para um canto do bar e disse:
da Zuleika. Vamos até lá? Assim
- Espere aqui.
lhes dou logo o recado da filha.
Foi até a porta e gritou:
- Então, vamos lá. As meninas fi- Ô Zé, venha ficar aqui pra
cam aqui. Elas estão brincando tão
bem, lá no coreto. Vou até lá e mim!
O Zé, um magricela cabeludo, molhes digo, que nos esperem aqui.
Carlos foi e voltou e, de mãos reno chegou correndo.
dadas, seguimos até o bar. Entramos
e, imediatamente seu Alfredo mostrou- se solícito em nos atender.
Puxamos as cadeiras, sentamos e pedimos quatro Guaranás: um pra cada
um de nós e os dois outros para as
meninas. Quando o homem começava a
nos servir, enchendo nossos copos,
disse-lhe:
- Pode deixar. Fico sim.
Ela recomendou-lhe que cuidasse de
seu marido, que naquele instante já
melhorava. Chamei Carlos, que deixou o refrigerante sobre a mesa e
disse-me, que levaria os das meninas, até o coreto e voltaria a tempo de nos alcançar.
- Trouxe um recado de sua filha
Quando dona Zulu abriu a porta de
seu chalezinho, demos de cara com o
Zuleika, para o senhor...
Ele empalideceu, suas mãos tremi- retrato da Zuleika sorrindo e com o
mesmo vestido, com o qual a conheam.
cemos.
- O senhor está bem?
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- É ela! – disse-lhe, apontando o retrato.
- Quando foi o encontro de vocês, com ela?
- Esta noite. – respondi-lhe.
- Meu Deus, é impossível! Por isso, trouxe-os aqui. Queria que vissem o retrato. Nossa filha Zuleika morreu há dez anos, num acidente
de carro, quando viajava com o pai. O Alfredo não se perdoou até hoje.
Sente-se culpado pelo ocorrido.
Soluçava. Carlos permaneceu calado, com os olhos esbugalhados pelo
espanto daquela revelação. Esperei que ela parasse de chorar e então
lhe passei o recado.
No bar, seu Alfredo, melhor, recebeu a mensagem da filha pela boca da
mulher e com os olhos marejando lágrimas e um sorriso nos lábios, disse
-nos:
- Muito obrigado a vocês dois! Se quiserem, poderão se hospedar em
nossa casa. Os refrigerantes são por nossa conta.
Agradecemos, mas não nos sentíamos muito à vontade, para permanecermos na casa deles, com aquele retrato, lá na parede. Despedimos, com um
caloroso abraço daquele casal simpático e, desde então, toda vez que
vamos a Chalé, fazemos questão de vê-los. Ficamos fãs do BAR DA ZULU.
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A vida por inteiro
Jacqueline Aisenman
Nasceu prematuro. Na casa dos trinta começara a esperar pela maturidade. Depois
dos setenta viu que ela não chegaria na
forma que tanto esperara. Durante a vida
casou três vezes, viajou o mundo, adotou
cachorros e gatos, tentou educar os seis
filhos, teve a certeza de deseducar os
netos. Sucumbira a muitos pecados, perdoou a si mesmo por um ou outro, agasalhara prazeres e deixara-se cair por dores maiores e menores. Se vivesse mais
vinte anos, tentaria desfazer alguns erros, reconstruir alguns sonhos, retomar
alguma velha conquista, que novas não
tinham mais tanto interesse. Se vivesse
menos do que pensava... Não importava.
Para quem chegara ao mundo tentando vencer, já vencera mais do que até ele próprio imaginara. Sentia-se feliz.
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SENTIDOS EXPRESSIVOS DE UM POETA
Por Ismael S. Cândido
O que é o meu mundo, se em meu mundo eu não posso expressar as badaladas do meu coração,
O que é o meu ser, se diante de tudo o que eu sinto eu não vejo a luz
dos olhos seus brilharem aos meus.
Sou nesta vida como um pequeno barquinho na imensidão do vasto mar e
que tenta romper as violentas
águas, mas elas são tão intensas e
incessantes que me vejo sempre perdido em meu horizonte, gostaria de
poder olhar ao mar e a cada dia
descobrir o horizonte certeiro e o
rumo que tento alcançar que se perde sempre no caminho.
Do que é feito o meu ser, provavelmente de amor e o mais intenso sentimento, sou aquele que o mundo não
conheceu e que poucos sabem que
existe e guardo em meu peito a esperança de ainda nesta vida poder
ofertar tudo o que reservei dentro
de mim, tudo o que sonhei em partilhar com uma verdadeira princesa.
Sou uma parte da vida, sou uma parte de um sonho, sou uma parte de
alguém, sou um alguém ou talvez um
ninguém, se eu tivesse que me olhar
ao espelho talvez eu visse somente
um vulto como a sombra que vemos
através do Sol se perdendo no tempo, e o Sol vai se pondo no decorrer do dia até o vulto nada mais
ser.
Se eu pudesse olhar ao mundo e dizer a ele o que eu não exprimo em
minhas emoções, se eu pudesse ser o
que eu tanto preciso ser, se eu pudesse me despir do que eu não posso
ser, se eu pudesse olhar ao mundo e
nele desvendar tudo o que há em
mim, eu não precisaria ser tanto,
eu talvez não cantaria pra vida, eu
talvez não seria poeta para o Sol,
eu talvez não seria o que eu não
posso ser, eu seria apenas um ser
como outro qualquer ser e tudo o
que se conclui em mim somente o
tempo poderia dizer.
O que existe em mim, o que existe
em meu ser, o que existe em meu coração, talvez seja algo tão raro
como a pérola negra, rara e preciosa que nesta vida eu descobri, talvez seja algo como as águas que se
vão e ninguém mais vê e nem se lembra, o que existe em mim são expressões de uma vida que clama por
uma outra vida, regida pelas emoções e desejos de um coração que
para uma musa se abriu e permitiu
que ela adornasse e iluminasse todo
o meu interior, permitiu que
ela fosse mais do que uma inspiração, fosse o meu desejo, o meu sonho, a minha esperança, o meu horizonte, a minha certeza, fosse uma
parte do meu próprio ser.
Então, o que existe em mim é o que
eu nunca entreguei a ninguém, é o
que tudo guardo e confio somente a
ti, pois um dia eu lhe entreguei a
chave do meu coração e nesta vida
eu sou metade sem você, e só você
sabe o que há de tão especial dentro do meu coração e do meu existir.
Se eu pudesse olhar em mim eu tentaria respirar fundo, em saber que
Se nesta vida existe um sonho, este
lá fora está o meu mais lindo sosonho é você.
nho, em saber que lá fora tantos
olhos a veem, e ela como a mais encantadora musa caminha distante dos
olhos do meu ser, e eu silencio em
mim o que não posso aflorar, o que
não posso gritar, o que não posso
ofertar.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
ROLHA DE POÇO...
Por Ivane Perotti
Desde o dia em que nascera, menina
robusta para os nove meses de gestação e mãe nem tão robusta assim,
Lori, pelo batismo do padre, e
“Rolha de Poço”, pelo batismo do
povo, aceitara chegar ao mundo de
um modo a não gerar discordâncias.
Ou pelo menos, amainá-las com o seu
jeito de ajeitar as coisas de modo
a agradar a todos. Baixa, sorridente e bastante avantajada, ria às
gargalhadas quando era chamada pelo
nome imposto. E esse era o comum de
sua vida no povoado que mais lembrava um acampamento improvisado.
Apenas a mãe insistia em frisar seu
nome, pois de certa forma lembrava
o desavergonhado do homem que a
abandonara logo depois de saber que
crescia barriga na mulher.
do espelho e do pente molhado. O
cabelo de Lori não se desgrenhava,
impecável, arrumado, sem que ela
própria qualquer coisa fizesse para
mantê-lo assim; gostava de brincar
como as outras meninas de sua idade
na fase em que as madeixas não são
empecilho para a alegria e o prazer
feminino.
Por que Rolha “de poço” e não de
garrafa, garrafão... ou qualquer
outra alusão pertinente ao objeto
determinante que iniciava o nome
popular de Lori?
Nada tão óbvio quanto a falta de
criatividade popular diante de alusões simples acrescidas de qualquer
fato que localize no espaço e no
tempo a nominação dada.
Lori nascera em plena luz do dia,
em um dos movimentos mais fortes
feito pela mãe na suspensão do balSe apelidos marcam alguns de modo a de que subia do poço no quintal da
estraçalhar a estima confusa, Rolha casa. Pronto! A leitura de mundo
de Poço sofria ação contrária. As- preexiste à consumação dos fatos.
similara o nome dado como uma forma
de reconhecimento carinhoso por tu- Rolha de Poço era a soma da leitura
do o que nela era tão bem arredon- externa exercida sobre a menina com
dado. E ela era. Redonda e doce Ro- a identificação do lugar que escolha de Poço. Olhos e nariz como se lhera para vir ao mundo. Essa não
passa de uma simplificação grotesdesenhados pela mesma minúscula
circunferência, cabeça simétrica em ca, uma leve tentativa de associar
o nome à sua representação – se é
relação ao tronco, boca carnuda,
que tal fosse possível - então, fapequena, lembrava um morango em
crescimento ao invés de um pêssego dada ao insucesso. Mas oferece uma
ideia do porque Lori não ser chamamaduro. Dedos, dedos, dedos, Lori
possuía dedos dignos de admiração. da de Rolha de garrafão, garrafa,
Onde eles começavam era uma pergun- garrafinha, entre outras possibilidades.
ta que exigia toda a forma de observação. E ela gostava de mostrar
sua mão cheia de dedos, ou seus de- “Bulling”? Nada! Lori nascera imudos na mão quase, quase, quase uma nizada aos olhares externo e às
extensão do mesmo risco arredonda- críticas que cutucam, apavoram e
humilham comumente a nós, pobres
do. Disforme? De jeito algum. As
mãos de Rolha de Poço eram gracio- mortais, quando não destroem e arsamente redondas, como que impedi- rasam o ego humano. Rir era a sua
forma de responder a qualquer desadas de perderam a graciosidade de
seus traços pelo resto da vida re- gravo. Tanto que, crescendo assim,
impusera-se sobre os outros, criandonda que levasse. Suas orelhas
despareciam atrás do cabelo negro e ças e adultos, desenvolvendo uma
encaracolado. Era um belo cabelo de liderança silenciosa, harmônica,
indelével. Mas forte o suficiente
anéis fechados em si mesmos, sem
esforço, sem perda de tempo diante
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
para ser reconhecida até por quem
estivesse fora desse círculo de relações. Assim Lori crescia em diâmetro, pouca altura e muito carisma.
Ao completar vinte e nove anos, conheceu ou deu-se a conhecer a um
forasteiro vindo ninguém sabia de
onde. Por razões que os grupos reconhecem dentro de seus limites,
não caiu no agrado do povo aquela
simpatia entre os dois. Liam os que
estavam de fora que Rolha de Poço
não estava sendo muito cuidadosa ao
alastrar seus sentimentos para os
lados do desconhecido.
zer? O que faria e em que hora? Até
perguntara por ela e queria saber
de detalhes que a um cavalheiro não
deveriam interessar.
Quando inquirido sobre suas origens, desdobrava-se em perguntar
antes de responder ao ponto da resposta perder a vez.
Já fazia uma semana que ele dormitava na única pensão da vila. Frequentara as duas missas do Padre
Antão, fizera-se aparecer entre as
vozes do coro, mas não puxara uma
moeda sequer para partilhar do
ofertório. Avaro? Mesquinho? Pobre? Tacanho?
Dona Odete interrompera sem querer
um quase convite feito pelo forasteiro que tentava levar Rolha de
Poço para um passeio fora da cidade.
Atrevimento do homem e ingenuidade
de Rolha? Onde estava com a cabeça
redonda aquela menina? Repetiria a
mãe? Comentários saltavam das vozes
do povo preocupado com a menina.
Homem alto e bem talhado, falava
como se tivesse engolido um dicionário de palavras difíceis e só
deixava sair pela garganta as mais
impensáveis, aquelas que ficavam no
final da lista dos termos desconhecidos. Cheirava a excesso de perfume e outras coisas não identificadas. Mastigava um charuto que parecia estar sempre com o mesmo tamanho, e diziam alguns mais observadores que ele, o desconhecido, só o
punha na boca quando queria impressionar para além do que sua figura
já o fazia. Charuto mascado e guardado com molho de baba velha era a
prova de uma índole tacanha. No mínimo desleixada, ou quem sabe...
quem sabe... não dava para fazer
uma ideia só do homem desconhecido.
De onde viera e o que queria no povoado de uma rua só? Por que procurava tanto saber por onde andava a
Rolha de Poço? O que estava a fa-
A mãe de Lori que construíra um
mundo dentro de si mesma para sustentar a solidão de mulher abandonada, fazia olhar e nada ver. Conselho que é bom não se dá, faz-se
uso dele para si próprio e ela, mãe
cansada, nesse momento não via motivos para abrir a boca. Rolha de
Poço sempre soubera dar conta de si
mesma sozinha, aliás, muito melhor
do que o imaginado, o esperado e o
provável. Tornara-se uma rendeira
de sucesso, com aqueles dedos roliços, curtos, grudados às mãos gordas e ainda mais redondas à medida
que se passavam os anos e os quilos
espalhavam-se no pouco espaço do
corpo atarracado. Gastava pouco e
economizava muito. Muito mais do
que se pudesse supor. Ganhara clientes fieis, mulheres da cidade
grande, pequenas lojas que colocavam o seu produto mundo a fora. Rolha de Poço trabalhava incansavelmente.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
intempestiva tanto quanto o estado
de desalinho em que se encontrava a
moça.
_ Me... me desculpe... esses farelos, e a calda...
Para espanto e absoluta ofensa aos
presentes, o forasteiro mais que
depressa limpou com o dedo indicaPouco vista nas ruas, cumpria com
os horários da missa e de qualquer dor um pedaço do doce que teimava
festa que se anunciasse. Rolha gos- em ficar no canto da boca de Lori.
tava de dançar, de experimentar todos os tipos de comida, gostava de Murmurações, xingamentos, comentários sobre o abuso e os maus modos
conversar e ver a alegria dos oudo desconhecido tomaram a festa.
tros.
_ Lascivo...
Não faltou à festa de encerramento _ Homem abusado.
da Quaresma. Depois de muito jejum _ Tem parte com o "coiso ruim"...
forçado pela necessidade de colocar _ Precisa de um corretivo.
a regra religiosa antes dos desejos _ Onde já se viu um despautério
desses?
do corpo, fez-se pronta em segundos. Ser uma das primeiras a chegar _ É o que dá essa moça não ter
às barracas de quitutes e manjares pai...
era uma tradição mantida sem esfor- _ Nem mãe! Que mãe igual àquela,
ninguém merece.
ço.
_ Ora... ela criou a filha sozinha!
_ Está aí o resultado. Onde já se
Dentro de um vestido amarelo com
pequenas flores espalhadas pelo te- viu um... um... homem desconhecido
tocar a face de uma moça assim, em
cido, Rolha estava redondamente
público. E...
linda! Linda e rápida! Seus pés
_ O que vamos fazer?
acostumados a acomodarem-se quase
sempre dentro do mesmo calçado, não _ Abrir os olhos, abrir os olhos e
ficar por perto. Ninguém tira os
faziam barulho por onde cortavam
caminho. Acomodados um com o outro, olhos desse gaiato.
levavam Rolha cheia de desejos pe- _ Mas e Rolha?
_ Ela deve saber o que faz... nunca
los papos de anjos de dona Quitéria, pelo arroz doce de dona Joca, deu trabalho antes!
_ Por isso mesmo! O que ela sabe da
pelo dedo de moça de dona Vita.
vida?
_ Dos homens, você quer dizer!
Lambuzada em um dedo de moça para
lá de fresquinho, Rolha de Poço de- _ Que seja! Será que a experiência
morou a engolir a porção avantajada da mãe serve para alguma coisa?
que colocara na boca. Sorrindo en- Ainda ruborizada pela atitude do
tre farelos, cumprimentou o foras- forasteiro, Lori estava entre senteiro que já tomara entre as suas a tir o prazer daquele dedo roçando o
canto de sua boca e rebater o consmão lambuzada de calda e recheio
trangimento de saber que deixara
branco.
isso acontecer!
__...
_ Senhorita Lori?!
O sucesso financeiro de Rolha não
saltava à vista dos desinteressados
na vida alheia, mas aos que vivem
para bisbilhotar, o montante que a
rendeira deveria levantar era facilmente deduzido.
O sim que ela disse em resposta ao
meio cumprimento e ao susto total
esparramou mais farelos sequinhos
para os lados e muitos foram grudar
-se na lapela do casaco do forasteiro. Que claramente, ignorou o
inconveniente de sua apresentação
Ainda ruborizada pela atitude do
forasteiro, Lori estava entre sentir o prazer daquele dedo roçando o
canto de sua boca e rebater o constrangimento de saber que deixara
isso acontecer.
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As quituteiras pararam no ato, as- Dona Vita. Eis aqui, aos seus pés,
sim como todos os festeiros na pra- um servo para servi-la.
ça.
Outra vez a cena corroeu-se em si
Lori queria emendar os sentimentos mesma pelo tom que o homem dera a
cada movimento, ao timbre da voz,
conflitantes e terminou dizendo:
_ Já... o senhor já... comeu o dedo ao lugar dos olhos, ã curvatura das
costas acompanhando o joelho no
de moça da dona Vita?
chão.
_ O único dedo de moça que vi até
Não era possível!
agora é o seu, senhorita Lori.
Era possível sim, foi a vista de
Se apenas as palavras tivessem al- todos que Dona Vita aceitou o beijo
no dorso da mão, mão de doceira,
cançado a atenção dos que estavam
atentos, talvez o burburinho fosse marcada pelos pontos dos doces, pemenor. Mas a cada um deles chegou o lo fogo das panelas cheirando a caolhar longo e atrevido que se des- nela, baunilha e pelos cabos das
colheres que carregavam a marca das
dobrou sobre Rolha de Poço.
delícias que fazia.
Houve quem se movesse para defender _ Ao seu dispor, Dona Vita. Seu humilde servo que atende
a honra da moça,
nome de Tadeu.
mas foi impedido a
Outra vez a cena pelo
_ É... é... muitos pratempo pelo dedo de
corroeu-se em si zeres seu... seu Tadeu!
dona Vita que já
se interpunha na
mesma pelo tom Já em pé, Tadeu fazia-se
cena.
que o homem dera mais doce do que todos
os doces que a doceira
E não era o doce
a
cada
movimento,
produzira. E a doçura
que ela oferecia
ao timbre da
parecia tanta em poder e
em riste. Era o
volume que se alastrava
seu próprio dedo,
voz..
feito névoa em dia para
fervendo com a
chover.
vermelhidão que
assaltara seu rosCom uma das mãos ainda lambuzada
to de senhora bem nascida e bem
pelo resto do dedo de moça de dona
criada.
Vita, Lori olhava para o que acon_ Olha aqui seu moço... aqui não é tecia com olhos de rendeira antiga.
lugar de descompasso com as moças. Cada nó encontra seu ponto e as liA nossa cidade é pequena, mas é ho- nhas fazem o caminho que a gente
quer. Será que teria chegado a hora
nesta. O senhor trate de...
de suas linhas encontrarem um carretel para se enroscarem? Ai! Ai!
Enquanto ela falava, o círculo ao
Ai! Sonhara tanto com o momento em
redor da cena entrava em êxtase.
Aquele forasteiro sairia da cidade que faria rendas para outros sonhos, para ocasiões em que seus decom marcas de cavalheirismo e boa
dos se perderiam nos desenhos das
educação, nem que para isso fosse
linhas tramadas com dedicação, esnecessário deixá-lo com as marcas
perança e, aquela certeza que agora
da violência bem cobrada.
parecia mais viva, real, tocante!
Já se ouvia o crescente fervor das
vozes ao redor, quando o forastei- Rolha de Poço estava feliz.
A pequena cidade comemorava a prero, com a calma que Deus lhe dera
em dose máxima e multiplicada algu- sença de moço tão educado, tão inteligente, tão preparado pela vida
mas vezes mais, se manifesta:
para dar atenção a quem quer que
_ Dona Vita... a senhora é a famosa fosse.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Os doces, Tadeu provou e aprovou um
a um, sem economizar nos adjetivos
e conjunções às fazedoras de tão
imperiosas pérolas, já que a nenhum
deles precisou pagar, pois era uma
honra servir a um homem tão...
tão...
A cidade deveria mudar de nome.
Sim! Deveria o mundo saber da riqueza que inundava as mãos daquele
povo trabalhador, daquelas mulheres
abençoadas pela maior e mais poderosa de todas as bênçãos celestiais. Consultar o padre Antão? Não
se fazia necessário! Ele como bom
sacerdote certamente concordaria
com o dito. Capinar? Era fácil.
Construir? Era simples! Mas elaborar receitas tão imperiosamente colossais era... era... um milagre
que descia pelas mãos dos arcanjos
e serafins.
A noite já ia longe quando a praça
perdeu o movimento. Ninguém viu
quem foi saindo, mas foram todos
com a alma leve e agraciada, deitarem o ego afagado e bem alisado pelas palavras de um homem que sabia
das coisas.
rendas que tecera para si mesma em
tempos idos, aqueles tempos que demandaram solitários carreteis. As
noites agora precisavam ser divididas entre o trabalho e o prazer.
Nunca demais para um só, pois o desequilíbrio apareceria nos mínimos
detalhes daqueles traçados tão elogiados nas cidades vizinhas. Lori
era uma grande rendeira.
Pouco mais de três meses se passou
desde a festa de reconhecimento do
forasteiro Tadeu, homem ajuizado,
desapegado de todo, ordeiro e muito
respeitador. Pouco mais de três meses se passaram até o grito de desespero atravessar a cidade de ponta a ponta.
Até o sino badalou naquele ritmo de
atenção e perigo que se usa em casos extremos: incêndio? Morte acidentada?
Das casas saíam todos,
tavam em seus afazeres
res, acudindo o terror
vibrar junto com o dia
ciara seu labor.
tal qual esou não fazeque sentiram
que mal ini-
A praça ficava mais perto, pois as
casas ajeitavam-se ao redor dela, e
foi para lá que acudiram em busca
de notícias, de saber como ajudar
ou a quem acudir.
Foi assim que Tadeu passou a rodar
mais pela cidade, comendo um dia
aqui, outro ali e passando muitas
noites cuidando da solidão da redonda rendeira.
Fato acontecido acostuma-se a que
continue a acontecer.
A mãe de Lori deveria levantar as
mãos para o céu por sua filha ter
um homem tão bem preparado interessado nela e nas rendas que produzia. Ela que mostrasse para a filha, que homens assim Deus fazia
poucos e deveriam ser bem tratados
os pouco que apareciam.
Outro grito ainda mais terrível fez
com que todos identificassem a voz
de Rolha de Poço. Não era exatamente um grito, era um urro que negava
a condição humana de sua produção.
Rolha de Poço, deitada no chão sobre o corpo da mãe, batia a própria
cabeça contra a pedra da qual se
fazia o piso da casa.
Dava para ver o sangue molhando as
duas mulheres, como se o ferimento
Tadeu agora orientava Rolha de Poço e a dor também fosse uma só.
a aumentar a sua produção e a guardar muito mais dinheiro do que ela Rolha de Poço levantara antes, muito antes naquele dia. O trabalho
já fazia. Trabalhava tanto a moça
acumulava-se sobre o tear.
que sua única fonte de vitalidade
advinha do enrosca-enrosca sobre as
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Estranhara não encontrar Tadeu ao
seu lado, estirado como sempre gostava de dormir nas noites em que
ficava para tomar conta da casa.
com a mãe a não esperar muito. A
vida de Lori era boa porque ela a
aceitava tal como estava. Seria assim outra vez.
Sim, ela precisava recuperar-se sem
A porta do quarto da mãe chamara
sua atenção e o volume estranho que tempo. Havia muito para esquecer e
se sobressaía sobre a cama também. planejar. Novos pontos, novas tramas, novas linhas para amarrar e
Lori correu para a mãe que parecia cortar.
sem respirar. Colocou-a no chão
tentando reanimá-la, chamando, gri- Tadeu roubara parte de sua vida,
mas deixara outra no lugar.
tando para que acordasse. Mas não
foi o silêncio da mãe que lhe deu a
Grávida, Rolha de Poço riu para
certeza da morte.
dentro, com aquele sentimento azedo
Sobre o estrado da cama de viúva, o de humor velho e encarquilhado:
grosso tecido do colchão, rasgado
_ Eu sabia! Eu sabia... mas preciem várias partes e esvaziado por
completo lhe deu a compreensão dos sava acreditar.
fatos.
Tadeu se fora.
Encontrara a volumosa fortuna acumulada no colchão da cama, no quarto da mãe e não resistira a todo o
poder que aquele dinheiro lhe daria.
Tadeu se fora. Sufocara a mãe dela
com o travesseiro de penas de pato;
as marcas da luta eram visíveis,
apesar das poucas coisas fora de
lugar.
Lori enterrou sua mãe em um cortejo
que reuniu a comunidade em estado
de choque. Era o primeiro crime na
história da cidadezinha.
O dinheiro faria de novo. Não lhe
restava outro ofício. Mas a mãe ela
não traria de volta. A pobre mãe
que só passara na vida para deixála.
Quentão
Ingredientes
1 1/2 xícaras de açúcar 1 1/2 xícara de água 50 g
de gengibre cortado em fatias finas (1/4 de xícara) 3 limões cortados em rodelas 4 xícaras de
pinga 3 cravos da índia 2 pedaços pequenos de
canela em pau
Modo de preparo
Aqueça o açúcar em fogo alto, mexendo de vez
em quando até caramelizar. Junte todos os ingredientes menos a pinga e ferva mexendo até dissolver o açúcar. Junte a pinga, com cuidado, de
preferência fora do fogo para não incendiar, misture e deixe ferver em fogo baixo por 3 minutos.Sirva em caneca de barro ou louça, pois as de
metal tiram um pouco o sabor do quentão.
Sofrimento por sofrimento, a coisa
em si não era o problema, aprendera
Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/
Rolha de Poço não chorava mais. Secara suas lágrimas, secara a alegria de moça rendeira, fatigada pela única e avassaladora dor de sua
vida que se desdobrou em perdas irreparáveis. Tadeu roubara-lhe a alma faceira.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
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FLORISBELA
Por Vó Fia
Lá vai ela lá vai ela
Apontada pelo dedo do mundo
Cabeça erguida sorrindo a Florisbela
Mal amada mal falada ela vai fundo.
Morena bonita do cabelo cacheado
Espalha belas perolas quando ri
Pele de pêssego corpo modelado
Mal falada por todos não está nem ai.
De namoradeira é acusada
Linda como ela só, como não ser
Sorte madrasta sempre mal amada
Deixa que falem disso não vai morrer.
Mocidade e beleza o tempo levou
As perolas do sorriso se tornou ébano
A pele linda estragou o corpo modelado murchou
Tudo ficou para trás só a roxa mortalha restou.
Lá foi ela lá foi ela
Quem? Alguém quis saber
A resposta foi: a Florisbela
Velha desdenhada sofrida quis morrer.
112
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
“- Os insetos são os animais que melhor
A Farsa da Joaninha
se adaptam às condições da natureza. Os insetos têm seis pernas e o corpo dividido em
Por Sheila Ferreira Kuno
três partes...” parou, olhou para o teto e se disO despertador toca. Pedro abre os traiu. Estava difícil se concentrar. Retomou a
olhos, sem coragem e torna a fechá-los, o des- leitura.
“- As aranhas não são insetos. Elas têm
pertador continua tocando. Ele estica os bra-
ços, desliga-o e volta a dormir. Depois de uns oito pernas e o corpo dividido em apenas duas
15 minutos, Pedro acorda assustado, ele não partes”. Leu sem nenhum interesse.
- E daí que as aranhas não são insetos,
tem certeza de quanto tempo havia dormido.
- Hoje é um dia importante, última prova eu as detesto também. Pensou Pedro.
Neste momento, Pedro viu uma joanide Biologia. Eu preciso tirar uma boa nota, afinal, estudei pouco este ano. – Pensou preocu- nha caminhando no chão e resolveu observála.
pado.
Então, Pedro tomou coragem e levantou
-Joaninhas são insetos bonitinhos, tai,
-se. Foi até o banheiro, lavou o rosto, escovou destes insetos eu gosto. Pensou Pedro.
os dentes e penteou os cabelos, como fazia
todas as manhãs. Depois foi a cozinha, onde a
Pedro desceu lentamente da rede, para
mãe o esperava com um delicioso café da ma- não assustar a joaninha e sentou-se no chão,
nhã: pãozinho com queijo e chocolate quente. perto de onde ela caminhava. Observou-a duPedro saboreou aquela delícia, mas não con- rante um tempo, depois estendeu um pouco o
versou muito com a mãe, como de costume, braço na tentativa de tocá-la. Neste momento,
pois tinha pressa, precisava começar a estu- percebeu que a joaninha virou-se de barriga
para cima e não se mexeu mais.
dar logo.
Como estava muito cansado, Pedro pe-
Que decepção! Logo agora que Pedro
gou o livro de Biologia e deitou-se na rede que havia se interessado em um inseto, ele morre.
ficava na varanda de sua casa. Seu lugar pre- Pedro então voltou à rede e tentou continuar
ferido, aliás, lugar preferido de todos da casa. sua leitura, mas não conseguiu, pois viu outra
joaninha caminhando.
A matéria era sobre insetos.
Pedro detestava qualquer tipo de inseto,
nunca se interessou em saber algo sobre eles,
mas agora ele era obrigado a estudar o mundo
dos insetos. Não havia prestado atenção às
aulas, pois não teve interesse, agora tinha que
estudar sozinho. Sem saída, pegou o livro e
começou a ler.
113
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
- Outra joaninha e no mesmo lugar, que amarelo nojento saindo de seu corpo e ficou
coincidência! Mas onde está a joaninha que ha- mais curioso. Levou a mão perto do nariz para
via morrido? Será que esta realmente é outra cheirar o líquido e quase desmaiou.
- Que cheiro horrível! Se o cheiro é as-
joaninha? Ou é a mesma que ressuscitou? Se-
sim, imagine o gosto, deve ser de matar!
rá possível? Pensou.
Naquele momento, Pedro sentiu uma
Então, Pedro desceu novamente da rede
e sentou-se ao lado dela. Ele estendeu o braço vontade enorme de pesquisar sobre as joanilentamente em direção à joaninha. De repente nhas, mas lembrou-se da prova, do livro de Bioa joaninha virou-se de barriga para cima e ficou logia que deveria ler e até então não havia lido
nada. Então ele colocou a joaninha no chão e
parada, como morta.
- Será possível? É a mesma joaninha deixou-a seguir seu percurso.
Mas Pedro havia ficado encantado com
que se fingiu de morta da primeira vez e agora
a joaninha, então decidiu procurá-la no livro e
também?
Para se certificar, Pedro subiu novamen- ler primeiro sobre ela. Ele descobriu tantas coite na rede, mas desta vez sem tirar os olhos da sas legais! A principal delas é o fato da joanijoaninha que aparentemente estava morta. nha se fingir de morta, como forma de defesa.
Passado alguns minutos, a joaninha virou-se e Ela engana a pessoa ou animal, ao qual ela se
sentiu ameaçada. E o líquido também faz parte
continuou a sua caminhada.
de sua defesa, nenhum animal sentirá vontade
de devorá-la ao sentir o seu cheiro e gosto, assim ela se defende no meio ambiente.
O conhecimento que ele adquiriu com a
joaninha o fez ficar interessado em saber como
os outros insetos defendem-se e quem ameaça
quem. Pedro percebeu como fora bobo em ignorar este aprendizado, então finalmente ele
pegou o livro e tentou ler o máximo possível.
Já estava perto da hora de ir à escola,
então Pedro almoçou, se arrumou e saiu rumo
Pedro ficou perplexo e decidiu que faria a tão temida prova de Biologia.
Para sua surpresa e felicidade, a prova
tudo novamente, só que desta vez, quando a
joaninha fingisse de morta, ele a pegaria na estava fácil e ele se saiu muito bem.
Será que realmente a prova estava fácil
mão, não para maltratá-la, mas para investigá-
ou seu interesse e sua leitura fizeram com que
la.
E lá se foi Pedro. Quando a joaninha vi- ele não achasse a prova difícil? – Pensou Perou-se de barriga para cima, Pedro pegou-a na dro.
mão, mas neste momento percebeu um líquido
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VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
se espalhar tornando-se no maior
bafafá nas repúblicas, houve até
apostas entre os amigos no intuito
Por Sueli Rodrigues
de adivinhar o nome do autor daquela proeza. Mas ela tinha certeza de
ser Heitor e acabou convencendo a
Lá foi Betina provocar de novo
todos disso, embora o próprio se
aquele esbarrão, apenas para ficar
cara a cara com Heitor e ouvir dele mostrasse indiferente ao acontecido.
qualquer vocábulo. Ele era tudo.
ADMIRADOR SECRETO
A jovem dedicava parte de sua vida,
senão toda a vida, àquele por quem
era dono de seu coração; assim o
considerando. Nada seria capaz de
afetar seu sentimento ou lhe tirar
as esperanças de viverem juntos um
grande sonho. Nem o jeito comedido
com a qual a tratava, a deixar incoerente a paixão que nutria silencioso por ela; segundo diziam os
amigos em comum.
Betina não ficava na retaguarda e
fazia por onde merecer suas declarações, já que nenhum dos seus encontros com Heitor fora casual. Todas as festas; os acampamentos; saraus; e piqueniques, foram combinados nos mínimos detalhes com os
amigos, que faziam votos para que
aquele namoro desse certo; contribuindo feito uma dúzia de cupidos.
Porém, apesar de tudo, Heitor nunca
lhe deu confiança. Jamais a convidou para um cinema; jamais a tirou
para dançar; jamais ficou à só com
ela ao redor da fogueira; jamais
dormiram juntos na barraca; jamais
a deixou falar ao pé de seu ouvido,
retardando dessa forma um relacionamento escrito pelo destino, e que
Betina em sonhos já havia consumado. A timidez, entretanto, era sem
dúvida uma das qualidades de Heitor, que mais a seduzia. Por esta
razão cria que um dia ele se encheria de coragem, e pegaria o rumo
que o levasse a ela. Sem truques
nem simpatias. Sem culpa nem ajuda
de ninguém.
Cartas de amor deram lugar a lindos
buquês de rosas vermelhas, enviados
num espaço de dois em dois dias,
transformando a casa em um enorme
canteiro perfumado. E depois vieram
as cestas de café-da-manhã e as
cestas de chocolate com recheio de
licor. Declarações feitas em seu
nome foram grafitadas pelas paredes
de muros ao redor de todas as repúblicas. Por fim, uma larga faixa
amanheceu estendida na entrada da
rua, causando euforia generalizada.
Betina foi digna de inveja. Todos a
considerou privilegiada, todos desejavam conhecer o criador daquelas
loucuras. Alguns cogitaram o nome
de Vinícius, pelas vezes em que andou fazendo suas investidas; ainda
que elas tenham fracassado. Betina
nunca teve olhos para outro homem
que não fosse Heitor, e além do
mais nem na cidade Vinícius se encontrava para dizer que sim ou não.
O admirador chamava- se Heitor. O
seu Heitor. A jovem não teve a menor dúvida disso, e não abria mão
dessa afirmação. Quase todos os índices recaiam sobre ele; o mesmo
que parecia estar reagindo mal
àquele auê em torno de Betina, e
que; ainda segundo os amigos, chegou a quebrar a velha postura metódica. Poderia ser uma ação ou uma
reação ao fatos recentes.
Naquela manhã, Betina voltou a ficar cara a cara com Heitor, e diferente dos outros, aquele encontro
havia sido realmente casual. Ele
Foi quando apareceu debaixo da por- nada falou. Olhou-a dentro dos
ta a primeira correspondência: “De
olhos com a angústia de quem preseu admirador secreto.”; era como
tende dizer algo e não diz. Um
assinava o autor daquela e das outriste olhar decepcionado.
tras cartas anônimas chegadas em
sequência. O episódio não demorou a
115
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
. O coração de Betina apertou e ela se desesperou. Antes que abrisse a
boca, o rapaz passou por ela sem nenhuma outra atitude, a deixando parada no lugar. Em choque, nem conseguiu dar a volta para vê-lo se afastar sem olhar para trás.
À noite do mesmo dia, os amigos trouxeram a última notícia que gostaria
ter recebido: “Heitor foi embora.” A bandeja nas mãos caiu imediatamente no chão. Não podia ser possível! Não podia! Desesperada, começou a
perguntar sobre seu paradeiro em todas as repúblicas, porém, assim como
os amigos em comum, ninguém sabia dizer de seu destino. Heitor se evaporou no ar sem deixar pistas, pegadas que a levasse para junto dele.
Betina chorou copiosamente. Ela parecia se afogar nas próprias lágrimas, enlouquecer no próprio desespero.
Heitor sumiu. E sumiram também as cartas; as rosas vermelhas; as cestas; os grafites; as faixas; e as declarações anônimas, levando todos a
conclusão de que Betina sempre esteve certa, quanto ter sido Heitor o
autor das tímidas façanhas. “..Mas porque então partiu?!..”;era o que
mais se questionava entre as repúblicas.
Betina só reencontra Heitor em seus sonhos proibidos, pois nunca mais o
viu; ficando a imaginar como teria sido sua vida ao lado do seu grande
amor. Talvez teria conhecido a felicidade, o que agora está distante
independente de quem segura sua mão ou beija seus lábios. No fundo,
ainda não o merecendo, Betina queria que a vida lhe desse a chance de
colocar as coisas em seus lugares. A chance de revê-lo mais uma vez,
para olhar dentro dos seus olhos e confessar :
“__...Heitor, o admirador secreto daquelas cartas....era eu.”
Docinho de amendoim
Ingredientes
2 ovos
1 lata de leite condensado
1/2 kg de amendoim sem casca, torrado e moído
1 colher (chá) de manteiga
Modo de preparo
No caso do amendoim vai se necessário só torrá-lo, tirar a casca e bater no liquidificador. Misture
todos os ingredientes. Leve a panela ao fogo até que a mistura se desprenda do fundo. Retire da panela e coloque em um recipiente para esfriar um pouco. Faça bolinhas e passe-os no açúcar refinado.
Enfeite os docinhos com amendoim inteiro e sirva.
Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/
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VARAL NO BRASIL NO. 15
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uma metáfora. Também questionou os
mitos de hoje: Quais são nossos mitos? O mercado? Isso até 1987. Desde essa data, muita coisa, sutil e
velozmente, aconteceu.
METÁFORAS DE LIBERDADE
Por Joana Rolim
Num exemplo simplista, uma reflexão de momento me levou ao último
verso de um poema que escrevi: 'A
escolha da liberdade'. Eu era jovem, talvez ainda não a entendesse.
Mas a desejava. Resquícios de conceitos? Idealismo? O tempo, sempre
o tempo, que dá cara aos momentos,
me esboçou o passado: plantava-se
no coração dos jovens o patriotismo, idealismo, a liberdade, alegria... trabalho. Mesmo no Brasil,
aldeia fechada, que nos fechava
também. Desmistifiquei obstáculos
que impediam essas sementes de
crescer. E tenho muito a aprender.
Não sabia se elas venceriam. Meus
textos foram meu diário. Eu vi um
botão em cada texto escrito, e nas
minhas poesias em particular. Foi
nelas que aprendi a fazer metáforas. A realidade se sobrepôs, e as
metáforas se transformaram em arte.
Jornada difícil. Aventura de vida.
A metáfora na vida. Entendi.
Liberdade tem Beleza, Elegância,
Perfeição e Disciplina. Como o Universo.
Assisti a uma entrevista, gravada, de Joseph Campbell ( O Poder do
Mito). Toda a ânsia do Ser em criar
uma ligação com o Universo.
Um exemplo de Mito. Mexeu comigo. O mito e a expressão brilhante
de seu olhar enquanto falava.
"Ritual da sexualidade" entre índios: A festa dura dias. Muita dança, cantos. Uma cabana. Uma jovem,
nua, deitada no chão. A jovem feliz. Entra um rapaz para sua iniciação sexual. Depois mais um, outros. Felizes. Cientes de seu fim.
Viveriam a sua verdade. No sexto, a
cabana desaba. Mortos, assados, comidos.'
Ainda na entrevista:
Repórter ─ O mito é mentira!
Campbell ─ O mito é metáfora.
Repórter ─ O mito é mentira!
O escritor de repente compreendeu
que o repórter não sabia o que era
Assistindo ao jogo de vôlei da seleção brasileira, sua derrota previsível na quadra, observei um detalhe: em letras chamativas, o nome
do patrocinador. Na camisa, no peito. Um pequeno símbolo, acima, se
referia ao Brasil.
Não era assim. Lembro-me das letras chamativas e inflamadas de entusiasmo — Brasil - nas camisas verde - amarela - dos atletas. Eles
representavam
o
Brasil.
Tinham
consciência disso. Eram nosso orgulho, éramos nós lutando - para vencer. Livres no patriotismo, no grito, na torcida, na alegria. Queríamos a Perfeição. A vitória. Foi uma
sensação estranha.
O detalhe na camisa me marcou.
Como o brilho dos olhos do escritor, no caso horripilante narrado.
Depois entendi que ele vibrava pelo
mito em si. Este acabou. Outros
não. Outros evoluíram. E fez a dramática pergunta: Quais os mitos
atuais?
De lá para nossos dias, a humanidade deu um salto. Para o abismo? Cabe às gerações ainda presentes decidirem.
Voltei ao jogo. O repórter, no desespero, gritava.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
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Faltou técnica, faltou trabalho! Faltou responsabilidade! Disciplina!
Faltou garra! Não pode deixar de receber a bola! O que é essa indecisão! Isso é levantamento? Que tática!? Brasil! De repente um grande
movimento. A torcida dele vai à loucura. Mais decisão! Mais potência na
luta! Quanto mais erros você cometem, mais são dominados! E a derrota.
Não eram livres para a vitória.
Suas palavras eram a ânsia de perfeição se manifestando, de liberdade
abrindo uma brecha para a vitória, no grito de desespero ante a imagem
da tristeza. Era comunicação íntegra, eficaz, que não comportava derrota. Mas aceita, cabisbaixa, coração apertado.
Onde nossos mitos para explicar o homem e o universo?
Fala-se no mercado, nas ideologias políticas ultrapassadas, que fazem e
desfazem seguidores, que distribuem medalhas e que criam suas próprias
metáforas. Transformadas em realidade. E aguentemos os mitos arcaicos
que nos dominam, dominam metade da humanidade, como os religiosos. Alguns de dois mil anos atrás. Outros mais., Outros recentes. Com personagens falsificados em tramas servis. A ciência é que defende a liberdade. Somos descendentes de símios. Agimos por imitação.
Se mito é metáfora, ele não é mentira, mas não é realidade! Aí o problema. Transformar o mito em realidade. Mitos caducam. Aprisionam. São
ninhos
de
preconceitos,
de
ignorância,
são
'algemas
invisíveis' (metáfora). Aí um empecilho para a liberdade. Aí o blefe imposto
à humanidade.
Um vitória tem sua engrenagem. Na derrota do Brasil, ela não esteve
presente. A liberdade tem sua essência .Me lembrei da Gestalt, de um
seu princípio básico: o paradoxo: liberdade necessita de disciplina.
Aprendi isso cedo. A minha e a compartilhada. Na comunidade. Na nação.
No mundo.
Depois... o jogo de tênis. Federer jogando. A plateia iluminada com jogos de luzes, destacando rostos. Alegres, torcendo, vibrando, livres.
Um cartaz se iluminou, uma metáfora brilhou: SE O TÊNIS FOSSE RELIGIÃO,
FEDERER SERIA DEUS.
Nessa religião eu entraria: ELE lidera como gênio, lidera pela perfeição, pela liberdade, pela competência, pelo exemplo, pela emoção, não
dita leis, não promete nada e não manda recados.
P.S. "Seus olhos (dele) são estrelas." Uma metáfora. Transformada em
comparação: 'Seus olhos brilham como uma estrela brilha. Olhem mais
atentamente para o seu olhar. Verão a liberdade.
Segredo: Liberdade é comunicação.
118
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Arez e Etimologia:
Hipóteses sobre a origem
do nome no Brasil e em Portugal
mosas praias; e São José de Mipibu,
que está às margens da BR-101 e tem
uma população quatro vezes maior que a
de Arez.
Por André Valério Sales
Aproveito então esse espaço para convidar aos leitores a virem conhecer,
em nossa Arez, o Frontal do Cemitério
Histórico (de 1882), tombado pelo
IPHAN como Patrimônio Histórico Nacional (Turismo Religioso); que venham
conhecer a Ilha dos Flamengos, habitada pelos holandeses que invadiram Arez
entre 1634 e 1652 (Ecoturismo); e que
venham participar de nossas grandes
Festas Populares: em junho (festa do
padroeiro, São João) e dezembro (festa
da padroeira), além de conhecerem os
famosos bordados de Labirinto produzidos na cidade, e usufruírem das delícias
de
nossas
comidas
típicas
(Turismo Folclórico), etc. E mais:
procurando sem pressa, os turistas vão
achar, sim, ainda que pequenos e acolhedores, restaurantes e pousadas em
Arez.
A “pequenina Arez” potiguar é uma cidade
“doce, silenciosa, acolhedora, com seu ar
amável de estação de
cura”.
(Câmara Cascudo, 1946).
1. Introdução:
Esse texto apresenta um estudo
etimológico sobre a origem e a significação do nome de Arez, município do
Rio Grande do Norte.
Em sua avaliação sobre os atrativos
turísticos desse município, a escritora Anna Maria Cascudo (1972: 15) afirma que as “possibilidades turísticas
[de Arez], hoje em dia, se prendem
I) Em Portugal, existe o pequeno mais à parte das suas imagens preciopovoado de Arez, que faz parte do mu- sas e monumentos históricos”.
nicípio de Nisa, no Distrito de PortaParticularmente sobre as estátuas
legre (Alto Alentejo). Com apenas cerdos
3
Reis Magos (do Século XVII),
ca de 360 habitantes, a Arez lusitana
tombadas
como Patrimônio Histórico Naé apenas uma freguesia de Nisa. O mais
cional
–
abrigadas na Igreja de São
antigo documento histórico conhecido a
João
Batista
–, ela ressalta que “são
citar o nome daquele povoado, o Foral
famosas
pela
sua beleza” e que “são
de Marvão – datado de 1226 –, demonstra que o topônimo era então escrito dignas de visita”.
como sendo Ares, com a letra /s/ no 2. Sobre a origem do nome Arez:
final.
Logo à partida, devo esclarecer
que conhecemos dois lugares que possuem o nome de Arez, ambos escritos exatamente da mesma forma:
II) E também existe aqui, no Brasil, um município que foi denominado
Arez, desde 1760, numa homenagem prestada àquela pequenina freguesia lusitana por ordem do Marquês de Pombal;
localizado no litoral sul do estado do
Rio Grande do Norte, possui cerca de
12.700 habitantes (IBGE, 2010). Por
estar distante da principal rodovia
federal que lhe dá acesso, a BR-101, e
por ser um pouco afastada das magníficas praias de nosso litoral, a Arez
potiguar sempre teve um lento desenvolvimento econômico e turístico, com
seu ritmo próprio e incomparável aos
demais municípios vizinhos, como, por
exemplo: Tibau do Sul, que é privilegiado por ser detentor de belas e fa119
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
Por que a cidade é chamada de Arez?
Em relação a esse antigo problema
de Etimologia, como é comum na atualidade recorrer-se imediatamente à Internet, devo esclarecer que na Wikipédia, uma inusitada “enciclopédia” virtual de construção coletiva, encontramos o nome de Arez grafado de duas maneiras diferentes, ainda que ele seja
escrito da mesma forma tanto em Portugal quanto no Brasil:
a) Existe o verbete intitulado
AREZ, com a letra /z/ no final, referindo-se apenas à pequenina freguesia
localizada
em
Portugal
(http://
pt.wikipedia.org/wiki/Arez). Nesse site, descobrimos que a Arez portuguesa
é um povoado situado oficialmente no
município de Nisa, desde 1836, e que
possui 362 habitantes (dados de 2001);
Nisa, por sua vez, pertence ao Distrito de Portalegre, na sub-região do Alto Alentejo.
b) Ao mesmo tempo, encontramos
também naquela “enciclopédia” virtual
um verbete que trata especificamente
da nossa Arez potiguar, o pequeno município do Rio Grande do Norte aqui em
questão (http://pt.wikipedia.org/wiki/
Arês), no entanto, ainda que sejam palavras homônimas, a Wikipédia escreve
o nome de nossa Arez brasileira de
forma errada, grafando-a como ARÊS,
com /s/ no final e acento circunflexo /^/ na letra /e/.
Isto significa que para quem é
adepto das “rápidas pesquisas” feitas
via Internet, deve-se tomar cuidado
com a veracidade das informações contidas na Wikipédia, pois, de acordo
com o exemplo acima, notamos que ao
invés de contribuir para tirar a dúvida, sobre a escrita do nome de Arez, o
que aquela “enciclopédia” faz, na verdade, é confundir os leitores.
Em termos de leis, podemos assegurar que segundo decisão da Câmara Municipal de nossa Arez, a potiguar, de
acordo com uma emenda à Lei Orgânica
do município (datada de 05/03/1993), o
nome da cidade foi definitivamente
oficializado, em nível municipal, como
sendo AREZ, com /z/ ao final, da mesma
forma como se escreve o nome da freguesia portuguesa, que foi aqui homenageada por ordem do Marquês de Pombal, como já citado. A referida emenda
ainda dispõe que “deverão ser notificados todos os órgãos de direito”, e
está inclusive publicada no livro de
João Alfredo de Lima, Anotações Sobre
a História de Arez (2000: 29). Antes
disso,
em
nível
estadual,
desde
29/03/1938 o Interventor Federal Raphael Fernandes Gurjão (Decreto nº
457) já havia “elevado”, oficialmente,
a “Villa de Arez” – escrita com /z/ no
final –, à categoria de “cidade”.
Quem entende um pouco da História
do Rio Grande do Norte sabe que em 15
de junho de 1760, há 250 anos, por ordem de Sebastião José de Carvalho e
Melo (1699-1782), o Marquês de Pombal,
um antijesuíta famoso, foi decido que
aqui, neste nosso
município, não haveria mais a “Missão
de São João Batista de Guaraíras”, e
sim, a Nova Villa de Arez, numa inexplicável homenagem ao pequeno povoado
de Arez situado em Portugal.
É importante observar que, desde
aquela época, o nome do município potiguar já era escrito como sendo Arez,
com /z/ no final (Livro de Tombo da
Matriz de Nova Villa de Arez/RN, Registros de 01 e 04/08/1763).
De acordo com Câmara Cascudo, alvarás
régios
de
1755
e
1758
“determinavam a substituição dos nomes
nativos nas povoações [ocupadas pelos
lusitanos] pelas denominações de localidades portuguesas” (1968: 162); as
ordens vindas de Portugal eram taxativas: “Denominareis [as povoações ocupadas] com os nomes dos lugares e vilas destes Reinos, que bem vos parecer, sem atenção aos nomes bárbaros
que têm atualmente” (id.: 181). No Rio
Grande do Norte, a mesma mudança ocorreu, por exemplo, também com a Missão
jesuíta/indígena de “São Miguel de
Guajiru”, que passou a ser chamada de
Estremoz (em 03/05/1760), homenageando, por sua vez, a cidade portuguesa
de Estremoz, pertencente ao Distrito
de Évora; sem rival até os dias atuais, a igreja da Aldeia de Guajiru,
destruída com o passar dos anos, nas
palavras de Cascudo era “o mais lindo
templo barroco da Capitania” (1955:
111), “a mais linda igreja” que aqui
já existiu (1968: 180).
Afora a cidade do Natal, capital
do Estado, que já existia com o título
de “cidade” desde a sua fundação – em
25 de dezembro de 1599 –, foram então
criados, por causa do Marquês de Pombal, os 3 primeiros municípios do Rio
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Grande do Norte: Estremoz, Arez e Portalegre (Cascudo, 1955: 111-112; 1968:
162, 180), cujos nomes, seguindo as
leis acima referidas, homenageiam a
localidades portuguesas.
No entanto, até hoje não se sabe o
porquê da antiga Aldeia de Guaraíras
ter sido rebatizada com o nome de
Arez. Não se sabe o objetivo de tal
homenagem. Por que, ao invés de se ter
escolhido o nome de um Distrito lusitano (como no caso de Portalegre), ou
de outra cidade qualquer (como Estremoz), alguém elegeu, para rebatizar
aquela Missão indígena potiguar, o nome de uma pequena freguesia portuguesa? Fica aqui registrada essa ideia,
visando a pesquisas futuras.
Lembro aqui, a ideia de um de meus
amigos portugueses, Mário Alberto Pinheiro, residente no Distrito de Setúbal, próximo a Arez lusitana, que lembrou-me da
hipótese de que, talvez,
naqueles anos de 1760, morassem nesta
região potiguar “colonos” que seriam
provenientes da Arez portuguesa, tendo, por isso, influenciado no rebatismo da Aldeia de Guaraíras com o nome
de Arez (já com a letra /z/ no final,
como foi acima citado).
Além dessa interessante questão,
que obviamente exige uma investigação
mais aprofundada, inclusive nos arquivos históricos portugueses, há ainda
outra grande dúvida, que remete a um
problema cuja resposta, até hoje, continua obscura: qual é a origem ou o
significado da palavra Arez?
3. Afinal, o que significa Arez?
Tanto a origem da palavra Arez é
obscura quanto o seu significado; parece até mesmo que é impossível fixar
seu étimo. Entretanto, existem várias
hipóteses, entre plausíveis e implausíveis, acerca do significado desse
nome. Aliás, há que se ressalvar que
nem mesmo o célebre etimologista potiguar Câmara Cascudo teve êxito em suas
pesquisas acerca da origem do topônimo.
Em seu livro Nomes da Terra, Cascudo descreve toda a História da mudança que houve na toponímia da antiga
Missão de Guaraíras, rebatizada em
1760 como Arez, no entanto, em se tratando do significado do nome deste município potiguar, nota-se que aquele
historiador não conseguiu defini-lo.
Por exemplo, no referido livro, Cascudo (1968: 69-132) define os nomes de
diversos povoados e Rios de Arez, como: Aranun, Baldum – nome de um Rio
que, nas palavras do autor, “não é vocábulo indígena nem consegui identificá-lo” –, Cametá, Camucim, Dendê, Flamengo, Groaíras (atualmente Guaraíras), Irimuá (ou Limoal), Mangabeira,
Nambutiu (atual Rio do Meio), Panguá,
Papeba, Patané, Paturá e Urucará; porém, o autor não revela que existissem
nem mesmo hipóteses acerca da origem
da palavra Arez. Isto somente vem a
demonstrar como é bastante difícil o
trabalho de etimologia que tento empreender no presente texto.
Antes de apresentar as 5 hipóteses mais conhecidas na atualidade sobre a origem e o significado da palavra Arez, é preciso assinalar que não
é obrigatório que nós tenhamos que
acreditar ou apontar uma dessas hipóteses como sendo “a verdadeira”, como
definindo “a verdade” dos fatos. Nesse
caso, como é ainda um enigma a definição do nome de Arez, o mais importante
é conhecer quais são as hipóteses
existentes na literatura, compreendêlas, sem a pressuposição de que, necessariamente, deva existir “uma” que
seja “a verdadeira”.
Ou seja, mesmo que ninguém chegue
a comprovar a origem do nome Arez, e
ainda que não haja resposta “única” e
“verdadeira” para esse problema, devemos saber então quais são todas as
possibilidades existentes acerca de
seus prováveis significados.
É preciso enfatizar, inclusive, que as
cinco hipóteses analisadas a seguir
são apenas suposições, e todas elas,
igualmente, são carentes de comprovação pela via de fontes históricas.
As duas hipóteses levantadas pela
Câmara Municipal de Nisa (Portugal):
Sobre a origem e significado da
palavra Arez, duas interessantes hipóteses são levantadas pelo site da Câmara Municipal de Nisa (Portugal), município no qual se localiza o povoado
de Arez, que publicou um texto contendo informações turísticas sobre aquela
sua
pequena
freguesia
(www.cmnisa.pt). A partir da leitura do referido escrito, fica claro, logo
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de antemão, que na própria Arez portuguesa não se sabe ao certo a origem da
toponímia.
Citando a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, o documento do
Concelho de Nisa expõe as seguintes
hipóteses acerca da gênese do nome
Arez:
1) A palavra Arez – que também já
foi escrita como Ares – poderia ter
sido originada em referência aos bons
“ares” do lugar. Porém, tal hipótese é
imediatamente descartada, no próprio
documento em questão, e tida como
“inaceitável”.
Particularmente, não tive tempo
ainda de visitar a freguesia lusitana
de Arez, entretanto, até onde eu saiba, por meio de consulta aos amigos
que residem no Distrito de Setúbal
(bem próximos a Arez de Portugal), realmente são “bons” os ares daquele povoado!
Sobre a possível validade dessa
hipótese, é preciso esclarecer que de
acordo com o Índice Toponímico do Concelho de Nisa, de Fernando Portugal
(1964: 505), a mais antiga citação documental ao nome de Arez, como antes
referido, encontra-se no Foral de Marvão, datado de 1226; foi nessa época,
é interessante lembrar, que a língua
portuguesa começou a ser escrita –
“nos fins do século XII ou início do
século XIII” (Azeredo, 2008: 393). Segundo o Foral citado, descobrimos que
naqueles primeiros anos do Século XIII
o nome do povoado era escrito como
sendo “Ares”, com a letra /s/ no final, o que pode muito bem significar
que a Arez lusitana tenha sido, sim,
batizada numa referência aos seus
“bons” ares! Porém, essa hipótese, como todas as demais, não possui comprovação embasada em fontes históricas.
É também a partir do Foral de Marvão
que se pode inclusive levantar outra
hipótese, como analisarei mais adiante: a de que o nome da Arez portuguesa
também pode ter sido dado em homenagem
ao deus grego da guerra: Ares.
2) Outra hipótese, também apontada
pela Câmara de Nisa, é que o nome de
Arez poderia ser uma homenagem a um
dos mais importantes deuses da época
pré-romana: Arêncio (ou Arentius), e
que da palavra Arentius, por corruptela, teria nascido o topônimo Arez (ou
Ares).
Na antiguidade, quando Portugal –
tal como conhecemos hoje – ainda não
existia, e aquelas terras da Península
Ibérica eram chamadas de Lusitânia,
sabemos que imperava então um rico politeísmo. Os arqueólogos Salvado, Rosa
e Guerra, em seu texto Um Monumento
Votivo a Arância e Arâncio, Proveniente de Castelejo (2004: 237-242), demonstram com seus estudos que havia
naquela região central de Portugal, um
pouco mais ao norte do povoado de
Arez, um culto ao casal divino Arêncio
e Arência (ou Arentius e Arentia), e
não apenas a Arêncio em particular,
comprovado por meio de escritos em monumentos votivos – inscrições gravadas
em pedras, como agradecimento a promessas cumpridas pelos deuses. Há que
se ressaltar que essas “aras votivas”
datam já do período pós-romano, pois
antes da ocupação romana na Lusitânia,
as tradições religiosas eram repassadas às gerações futuras apenas pela
via da oralidade, ou seja, foi somente
depois da chegada dos romanos na Península Ibérica que começaram a existir inscrições epigráficas relativas
aos deuses lusitanos.
Sobre a existência de comprovação histórica do culto ao par divino Arêncio
e Arência, através da epigrafia, os
arqueólogos citados revelam que: “a
distribuição destes nomes de divindade
circunscreve-se à zona centro interior
portuguesa, registrando-se ocorrências
[feitas por especialistas] em Zebras,
Fundão”, Ferro, Covilhã, Rosmaninhal,
Monsanto,
Idanha-a-Nova,
Ninho
do
Açor,
Castelo
Branco
e
Sabugal
(Salvado et al., 2004: 239-240), além
das localidades próximas de Moraleja e
Cória, em região espanhola.
Desse modo, é fato comprovado que não
há referências ao culto aos deuses
Arêncio e Arência na freguesia de
Arez, nem na região do município ao
qual pertence, Nisa e nem mesmo em
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qualquer outro município do Distrito
de Portalegre, no qual Nisa está localizada. Em se tratando, portanto, da
hipótese de que o nome de Arez seria
uma homenagem ao deus Arêncio, a partir do exposto anteriormente verificase que esta suposição é duvidosa e carente de comprovação nas fontes históricas atualmente disponíveis, tal como
ocorre com as demais hipóteses aqui
analisadas. No entanto, devemos enfatizar que a hipótese não pode ser declarada inválida, ainda que, até hoje,
ninguém apresentou meios de confirmar
a possibilidade de ela vir a ser verdadeira.
Avalio essa hipótese como sendo um
tanto quanto forçada, talvez até mesmo
forjada, na atualidade, por estudiosos
puristas, cultuadores das tentativas
de resgate da história dos deuses de
tempos pré-romanos. Esses estudiosos,
talvez nostálgicos com tais cultos
primitivos, enxergam referências àqueles deuses em todo espaço obscuro – ou
ainda não explicado pela História lusitana – que dê margem a tais interpretações, e em se achando oportunidade para tal, como no caso do nome
Arez, lançam suas hipóteses, ligando
um tema ainda cercado de enigmas a
possíveis referências aos deuses préromanos, provavelmente, na esperança
de que suas suposições venham a se
tornarem verdadeiras algum dia...
A hipótese apontada no verbete do
município de Nisa, na Wikipédia:
Mais uma hipótese acerca da origem
do nome Arez, que é bastante interessante, pode ser encontrada na Wikipédia, no verbete do município de Nisa
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Nisa).
De acordo com o texto ali exposto, a
palavra Arez pode ter-se originado em
virtude da ocupação francesa naquela
região de Portugal, ocorrida no início
dos anos 1200. Inclusive, das 5 hipóteses mais conhecidas e aqui avaliadas, esta me parece ser a mais plausível, ainda que não se possa considerála como sendo verdadeira.
Partindo-se dessa hipótese, atribuída pelo documento ao pesquisador
Carlos Cebola, naquele início do Século XIII colonos franceses passaram a
habitar a região de Nisa (antigamente,
chamada também de Nissa), atendendo à
necessidade de fixar moradores naquela
parte desabitada da Península Ibérica.
Na medida em que fundavam seus povoados, batizavam-lhes com nomes de sua
terra de origem, tal como ocorreu no
caso de Nisa, que teria sido ocupada
por colonos provenientes da cidade
francesa de Nice, localizada no sul da
França, próxima à fronteira com a Itália. A palavra Nice vem do grego
(Nikaia), em italiano é grafada Nizza,
e em provençal, antigo dialeto francês: Nissa.
O mesmo ocorreu com a freguesia de
Tolosa, também pertencente ao município de Nisa, que foi, provavelmente,
fundada por ex-moradores da cidade
francesa de Toulouse. E, por extensão,
acreditam alguns estudiosos portugueses que o mesmo também teria acontecido com a freguesia de Arez (ou Ares),
que teria sido edificada, segundo essa
hipótese, por antigos moradores de Arles. As três localidades portuguesas
citadas, Nisa, Tolosa e Arez, teriam
sido batizadas, portanto, em homenagens a cidades do sul da França (Nice,
Toulouse e Arles).
No caso aqui em análise, para essa hipótese obter, pelo menos, alguma lógica, a palavra Arez teria que ser originária, por corruptela, do nome da
cidade francesa de Arles. Da mesma
forma que já explicamos anteriormente,
sobre a suposição de que Arez viria do
nome do deus Arêncio, afirmar que Arez
seria proveniente da palavra Arles parece-me, também, uma proposta forçada.
Não se questiona, por exemplo, que
o nome do município português de Nisa
(ou Nissa) seja proveniente da palavra
francesa Nice. É inquestionável, também, que o povoado lusitano de Tolosa
foi batizado em homenagem à cidade
francesa de Toulouse, assim como, inclusive, há uma localidade chamada Tolosa na Espanha. No entanto, suponho
que como não era possível explicar,
com precisão, a origem do nome de
Arez, alguém – em algum momento dessa
História – decidiu lançar a hipótese,
a partir dos exemplos de Nisa e Tolosa, de que a freguesia de Arez poderia
ter sido, naquela mesma época, ocupada
por ex habitantes da cidade francesa
de Arles, e, por extensão, esse alguém
levantou a hipótese de que a palavra
Arez seria uma homenagem a Arles.
Surge daí a interessante indagação:
sendo assim, por que Arez não foi batizada, então, com o nome de Arles,
tal como Tolosa e Nisa?
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Não fica parecendo, mesmo, que é forçada a hipótese de que o nome de Arez
(ou Ares) tenha a sua origem numa corruptela da palavra Arles?
Recorrendo mais uma vez à sábia
afirmação do etimologista potiguar Câmara Cascudo (2001a: 64): “as etimologias”, em sua ampla maioria, “são conjecturas que ficam sendo convenções”;
e no caso dessa hipótese em questão,
que atribui uma origem afrancesada ao
nome de Arez, talvez esta seja uma teoria que já chegou a tornar-se uma
“convenção” social, e inclusive, considero que é uma das suposições mais
plausíveis para explicar o problema.
Porém, deve-se lembrar que ela continua
sendo
apenas
mais
uma
“conjectura”: é também uma hipótese
tão carente de comprovação quanto as
outras 4, aqui avaliadas.
A interessante hipótese de Cleudo
Freire:
Saindo então dos domínios de textos sem autores devidamente reconhecidos, como no caso das duas primeiras
hipóteses, levantadas no site da Câmara Municipal de Nisa (www.cm-nisa.pt),
e assim como a terceira, apontada no
verbete do município de Nisa – na Wikipédia –, passo agora a analisar a
admirável hipótese do escritor potiguar Cleudo Freire.
De acordo com a interessante pesquisa etimológica realizada por Freire, exposta em seu artigo “Arez: O Nome da Terra” (O Poty, 02/09/2007), o
significado do nome de Arez poderia
ter origem na palavra Terra, tal como
esta é grafada na língua hebraica: HáÉrets, referindo-se à “Terra Prometida” pelo Deus Javé ao povo judeu, nos
tempos de Moisés e do Êxodo, cujo relato encontra-se no Antigo Testamento
bíblico.
Segundo Cleudo Freire: “há documentos que nos deixam a clara impressão
de
que
[a]
Arez
[norte-riograndense] foi uma cidade que recebeu
um grande número de degredados pela
Inquisição”, e “tais documentos falam
do envio de degredados àquela cidade,
para cumprir pena inicial e obediência
ao Cristianismo”. Esse autor ainda
acrescenta que “não é difícil imaginar
a que fé estes condenados pertenciam.
Eram judeus apelidados pejorativamente
pela igreja de Cristãos-Novos”, ou se-
ja, eram sobretudo judeus portugueses,
ou descendentes destes, forçadamente
convertidos ao catolicismo.
A partir disto, Freire levanta a
hipótese de que aqueles novos moradores de Arez, em 1760, na ocasião proporcionada pelas diversas reformas encetadas pelo Marquês de Pombal, teriam
influenciado no rebatismo da antiga
Missão Jesuíta de São João Batista de
Guaraíras com o nome de Nova Villa de
Arez, homenageando a freguesia portuguesa de Arez (onde, na época, é possível que também residissem cristãosnovos), mas, principalmente, porque
tal nome significaria Terra, na língua
hebraica. Lembremos que, segundo os
alvarás régios de 1755 e 1758, ficou
determinado que os brasileiros fizessem “a substituição dos nomes nativos
nas [sua] povoações”, toponímias geralmente indígenas, e por isso chamadas de “bárbaras”, por “nomes dos lugares e vilas’ de Portugal “que bem
vos parecer” (Cascudo, 1968: 162,
181).
A hipótese de Cleudo Freire, portanto, nos leva a relembrar a brilhante afirmação de Câmara Cascudo (2001a:
64), quando enfatiza que a maioria das
tentativas dos etimologistas são apenas “conjecturas”, mas que podem vir a
se tornarem “convenções” sociais: dependendo da “maior ou menor habilidade
erudita” sustentadas pelo intelectual
que as defende como verdadeiras.
Nesse ponto, é válido repetir aqui algumas perguntas já feitas anteriormente: por que a antiga Aldeia de Guaraíras, no Rio Grande do Norte, foi rebatizada com o mesmo nome da Arez portuguesa? Qual o objetivo de tal homenagem? A quem interessava a escolha justamente desse nome? Por que alguém
elegeu, para rebatizar aquela Missão
jesuíta/indígena, o nome de um pequeno
povoado lusitano – ao invés de ter escolhido o nome de qualquer outra cidade portuguesa importante ou de um Distrito?
Considero a hipótese de Cleudo
Freire muito bela, e acredito que ela
pode vir ainda a ser, algum dia, provada como estando correta. No entanto,
igualmente às outras 4 hipóteses aqui
analisadas, a proposição freireana não
pode ser admitida como verdadeira, por
falta de comprovação documental, assim
como, da mesma forma que as demais suposições, não pode ser descartada como
falsa.
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VARAL NO BRASIL NO. 15
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Avaliando o exposto até aqui, com base
em minhas pesquisas posso afirmar que:
1º) é inquestionável que o nome da
Arez potiguar, assim rebatizada em
1760, homenageia a Arez portuguesa;
2º) também é verdadeiro que em
1226 este nome se escrevia Ares, com /
s/ no final, o que é comprovado pelo
Foral de Marvão (Índice Toponímico do
Concelho de Nisa, Fernando Portugal,
1964: 505);
3º) é correto que em 1763, pelo
menos aqui no Rio Grande do Norte, a
palavra já era escrita como sendo
Arez, com /z/ no final (Livro de Tombo
da Matriz de Nova Villa de Arez/RN),
da mesma forma que em 1938 (Decreto nº
457, assinado pelo Interventor Rapahel
Gurjão), e até hoje (emenda nº 3, de
05/03/1993, à Lei Orgânica de Arez/
RN).
Isto significa que em algum momento dessa História, entre os anos de
1226 e 1763, o topônimo foi mudado de
Ares para Arez. E isto, certamente,
aconteceu ainda na Arez portuguesa, já
que o nosso município potiguar já recebeu o nome de Arez, com /z/ no final, comprovadamente, desde que foi
assim rebatizado, em 1760.
Pode-se então deduzir, sem muito
esforço, que uma pesquisa etimológica
que venha a confirmar a origem da palavra Arez e, talvez, comprovar se a
sua definição viria da palavra Terra
(em hebraico, demonstrando-se uma possível influência judaica), somente pode ser empreendida estudando-se, em
arquivos históricos de Portugal, a documentação que trate da Arez lusitana.
Algumas importantes questões a serem
respondidas por tal pesquisa são:
quando se deu a mudança no nome daquele lugar, de Ares para Arez, que
transformou completamente tanto a sua
pronúncia quanto o seu significado?
Qual foi o porquê de tal mudança? A
quem interessava tal modificação? Deixo registradas aqui mais essas idéias,
visando a investigações futuras...
Por fim, é preciso reconhecer que
a admirável hipótese de Cleudo Freire,
sem dúvida alguma, nos oferece um riquíssimo tema para a investigação histórica, seja para pesquisadores do
Brasil ou de Portugal, seja para os
arezenses – potiguares ou lusitanos –
interessados no resgate de suas origens.
Inclusive,
esse
assunto
do
“exílio” forçado de “cristão-novos” em
terras norte-rio-grandenses, e no Nor-
deste, de modo geral, vem sendo estudado com bastante entusiasmo na atualidade.
A hipótese de André Sales:
Partindo de minhas próprias pesquisas sobre a origem e o significado
da palavra Arez, e tomando por base o
Foral de Marvão, de 1226, o mais antigo documento histórico conhecido a citar o nome da Arez lusitana (Portugal,
1964: 505), escrito naquela época como
sendo Ares (com /s/ no final), levanto
então a hipótese de que o nome daquela
pequena freguesia portuguesa pode ter
sido uma homenagem ao mitológico Ares,
o impiedoso deus grego da guerra.
Naqueles anos de 1220, o Ocidente encontrava-se em plena Idade Média; por
essa época, a Igreja Católica era a
proprietária de meia Europa, e já se
preocupava com as heresias e fundava
suas Inquisições, buscando destruir –
em seus domínios – todas as formas de
religiões diferentes, mulçumana, hebraica, etc.
Dessa forma, sabemos que não interessava à Igreja Católica a difusão da
cultura grega, considerada pagã, inclusive, os textos gregos eram proibidos, porque “sendo pagãos, poderiam
pôr minhocas nas cabeças que a Igreja
esforçava-se por cristianizar e manter
cristianizadas” (Lajolo, 1982: 59). Da
mesma maneira, pode-se afirmar que não
interessava ao catolicismo, por exemplo, manter o nome da pequena freguesia de Arez, em Portugal, como uma homenagem a um deus grego (Ares), pois
inclusive, lembrando o texto maior católico, a Bíblia, no livro de Êxodo
(23:
13)
o
próprio
Deus
impõe:
“Prestem atenção em tudo o que lhes
tenho dito: não invoquem o nome de outros deuses. Que não se ouça sequer o
nome deles na boca de vocês” (Edição
Paulus, 1990: 96).
Assumindo-se essa hipótese como verdadeira, minha suposição é que ao invés
de mudar o nome do lugar, o que talvez
não viesse a apagar da cultura popular
o costume adquirido pela tradição, optou-se então por mudar apenas uma letra daquele pequeno nome, transformando-se, desse modo, a sua fonação.
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Ou seja: com a trasladação do nome daquele povoado, de Ares para Arez, obtinha-se também uma mudança de fonação, de /Áres/ para /Arêz/, o que
transforma completamente o sentido da
palavra, fazendo-se surgir, assim, um
nome novo, diferente (Arez), ao mesmo
tempo em que se ocultava a referência
a Ares, um deus pagão.
No entanto, tal como as demais hipóteses, a minha também carece de comprovação documental, pois da mesma
forma que não há provas, por exemplo,
de ter havido o culto ao casal de deuses pré-romanos Arêncio e Arência naquela região – onde se encontra a Arez
lusitana –, o que pode a vir a invalidar a hipótese de esta toponímia ser
uma homenagem ao deus Arêncio, também
não há provas de que o deus grego Ares
tenha sido ali cultuado. Desse modo,
igualmente às hipóteses anteriores,
minha suposição nem pode ser declarada
como sendo verdadeira e nem pode ser
descartada, como estando errada. Talvez, como todas as conjecturas aqui
avaliadas, essa hipótese pode também,
algum dia, ser revelada como estando
correta.
A única alternativa que nos resta é
esperar que, a partir de outras pesquisas, em breve apareçam provas concretas acerca do significado do nome
daquela freguesia portuguesa e, em
consequência, de nossa Arez norte-riograndense.
Por fim, resumindo o exposto até
aqui, pode-se também imaginar que,
talvez, em algum momento dessa História, alguém tenha decidido alterar o
nome do deus grego Ares para outra palavra, e dessa forma, mudando apenas
uma letra, no final daquele nome – já
que sabemos que Ares tornou-se Arez –,
teria também transformado o seu sentido; e essa idéia, note-se, pode ter
partido tanto de pessoas de origem católica, contrárias a homenagem feita a
um deus pagão, quanto de habitantes de
origem judaica. Ou seja: a antiga referência a um deus da guerra (Ares)
teria sido então, com a mudança de somente uma letra, trasladada para uma
bela palavra hebraica (Há-Érets: Terra, Arez), segundo a hipótese levantada por Cleudo Freire, numa homenagem à
“Terra Prometida”.
4. Conclusão:
Para concluir o assunto, é preciso
ainda ressalvar que a mudança ocorrida
na escrita do nome de Arez – mexendose em apenas uma letra (de Ares para
Arez) e transformando inclusive o seu
significado –, que se deu em algum
tempo da História ainda desconhecido,
pode também ter acontecido por uma mera coincidência, por uma mera convenção socialmente imposta, advinda da
forma mais comum das pessoas escreverem a palavra (que seria usando-se
mais o /z/ no final). É necessário,
portanto, levar em consideração, também, a hipótese de que talvez não tenha havido, nesse caso, nenhum interesse (político ou religioso) por trás
dessa mudança etimológica...
Devo concluir então, para não ser
acusado de ter esquecido alguma outra
hipótese, lembrando que o escritor potiguar João Alfredo de Lima Neto, em
seu livro Anotações Sobre a História
de Arez, lançou a proposição de que o
nome Arez: “Significa dente do mestre,
supõe-se alguma divindade remotíssima” (2000: 29). No entanto, esse autor
não cita a fonte documental da qual
teria retirado tal suposição, o que
torna a sua conjectura não inválida,
mas, carente de comprovação histórica;
ou seja, até hoje, ninguém apresentou
meios de confirmar se esta proposição
tem alguma lógica que, pelo menos, a
sustente como uma hipótese válida para
análise.
__________________________
1 Os mais importantes trabalhos que versam
sobre a ocupação holandesa no Nordeste do
Brasil são: o livro de José Antônio Gonsalves de Mello, Tempo dos Flamengos
(2001), e o de Câmara Cascudo, Geografia
do Brasil Holandês (1956), verdadeiros
clássicos acerca do tema; e de Evaldo Cabral de Mello: Rubro Veio (1997) e Olinda
Restaurada (1998). Especificamente sobre a
invasão neerlandesa no Rio Grande do Norte, e sempre fazendo referências à Ilha
dos Flamengos, em Arez, pode-se consultar:
Os Holandeses no Rio Grande do Norte, de
Câmara Cascudo (1949); de Olavo de Medeiros Filho: Os Holandeses na Capitania do
Rio Grande (1998) e “Os Primórdios da História de Arez” (2003); e de André Sales,
Câmara Cascudo: O que é Folclore, Lenda,
Mito e a Presença Lendária dos Holandeses
no Brasil (2007).
126
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
2 Etimologia é o estudo da origem e da
evolução das palavras, em diferentes estados anteriores da língua, quer na forma
mais antiga conhecida, quer em alguma etapa de sua evolução, até chegar ao étimo: o
termo que serve de base para a formação de
uma palavra – pode ser uma forma antiga,
do mesmo idioma ou de outro, de que se
origina a forma recente (Houaiss, 2009:
847).
3 Durante o reinado de Dom José I, o Marquês de Pombal foi – entre os anos de 1750
e 1777 – o onipotente Secretário de Estado
do Reino, uma espécie de “Primeiro Ministro”. Unindo monarquia absolutista e racionalismo iluminista, Pombal foi um importante personagem de nossa História porque:
provocou a expulsão dos jesuítas de Portugal e suas colônias, em 1759, incluindo-se
aí o Brasil, transformando as antigas missões indígenas em Vilas (tal como ocorreu
na Arez potiguar); transferiu então o
sistema de ensino das mãos da Igreja para
a responsabilidade de professores leigos;
extinguiu o regime de Capitanias Hereditárias no Brasil (em 1759); mudou a capital
da Colônia, de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763; e ajudou na extinção da
Inquisição no império português, proibindo
a prática dos “autos de fé” e a discriminação aos cristãos-novos (Franchini Neto,
1981), ainda que a Inquisição portuguesa
só tenha sido definitivamente extinta em
1821. Mesmo sendo o resultado de ordens
régias anteriores, datadas de 1536, o Tribunal do “Santo” Ofício foi
“definitivamente estabelecido” em Portugal
no ano de 1547 (Novinsky, 1994: 36; Cascudo, 2001b: 90), tendo alcançado também o
Brasil, de 1591 em diante, inicialmente na
Bahia e em Pernambuco. O livro de instruções fundamental era o Monitório do Inquisidor Geral, escrito em 1536 por D. Diogo
da Silva, tendo se tornado, nas palavras
de Cascudo (2001b: 92): “o código orientador das denúncias e confissões”.
4 Apenas a título de esclarecimento, os
primeiros registros documentais conhecidos
que tratam do povoamento da Arez potiguar,
datados de 1605, atestam que naquela época
já habitavam aqui os indígenas da Aldeia
de Jacumaúma, de língua Tupi. No Traslado
do Auto da Repartição das Terras da Capitania do Rio Grande (1909: 44, 73), encontram-se inscritas as duas primeiras datas
de terras doadas na região de Arez a pessoas de origem européia: 1) a de n° 86,
foi concedida pelo Capitão-Mor Jerônimo de
Albuquerque, em 11/10/1605, ao português
Domingos Sirgo; o registro faz referência
ao “pacoval [bananeiral] de Jacumahuma”,
perto do Rio Jacryhu (atual Rio Jacu). Como Domingos Sirgo “nunca fez benfeitorias”
nas terras, em 1614 essa data de terra havia sido devolvida e já estava então doada
às filhas de Manuel Rodrigues de Souza
Forte, servindo para “gados e mantimentos”; 2) também o registro da data de terra n° 181, concedida pelo Capitão-Mor
Francisco Caldeira de Castelo Branco, em
11/12/1613, ao mesmo Manuel Rodrigues –
para “pastos e roças, e canas” –, cita a
existência, nas proximidades, da Aldeia de
Jacumahuba.
5 As habilidades etimologistas de Câmara
Cascudo são incontestáveis, e há exemplos
espalhados por toda a sua erudita obra:
como ocorre em seu interessante livro Made
in África (de 1965), que é um trabalho
eminentemente de etnografia, no qual o autor expõe diversos pontos de contato entre
a cultura popular brasileira e a africana,
mas que também demonstra as preocupações
de Cascudo com a origem e o significado
das palavras, percorrendo em suas análises, inclusive, diversos idiomas; também
serve de exemplo o seu Ensaios de Etnografia Brasileira (de 1971). Já o livro Nomes
da Terra, de 1968, é um verdadeiro
“Tratado” de Etimologia norte-riograndense.
6 Em 1647, Gaspar Barléu publicou seu famoso livro História dos Feitos Recentemente Praticados Durante Oito Anos no Brasil,
no qual está incluído um exuberante mapa
da geografia do Nordeste durante a ocupação holandesa (1630-1654), de autoria do
cartógrafo Jorge Marcgrave, desenhado em
1643 – ornamentado com gravuras do jovem
pintor holandês Frans Post. Registrados
nesse mapa, encontramos alguns lugares da
Arez potiguar, tais como: a Aldeia Aranum
(grafada como Araunu), a Lagoa de Guaraíras (Guiraraíra), o Rio Limoal (Irimuá), o
Rio Urucará (Uricará) e o Rio do Meio
(Nambutiú). Evaldo Cabral de Mello (1997:
46) já chamou a atenção para a “grafia
127
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
estropiada” da toponímia nordestina tal
como era escrita pelos holandeses, e incorporada à sua “rica cartografia”. Reproduções de trechos do Mapa de Marcgrave,
onde aparecem com clareza os pontos de
Arez citados, podem ser vistos em: Gaspar
Barléu (1974); Medeiros Filho (1989); e
Lima Neto (2000).
7 Um dos exemplos mais famosos na área da
etimologia, em se tratando de palavras de
origem obscura, e da existência de várias
hipóteses acerca de sua gênese, significado ou pronúncia, tal como ocorre como o
nome de Arez, é que nunca se soube, nem
jamais saberemos, como se falava o nome de
Deus na época do Antigo Testamento bíblico, texto no qual o nome divino é citado
em torno de 6.000 vezes. Neste caso, sabese apenas que a palavra era então representada pelas letras YHWH, porém, não
existe “certeza” de como era a sua pronúncia no dia a dia dos hebreus, nem se sabe
qual é o seu significado. Na atualidade, o
normal é traduzir-se o nome de Deus como
sendo Javé (Yahweh), ou Jeová, contudo,
esta é uma convenção social. Como define
Câmara Cascudo (2001a: 64): “As etimologias, em percentagem esmagadora, são conjecturas que ficam sendo convenções”. Já nas
palavras do crítico shakespeariano Harold
Bloom (2006: 151-152): Javé “é apenas uma
conjectura, porque a tradição guardou o
nome sagrado”. Ou seja, na contemporaneidade nós apenas imaginamos como se falava
a palavra IHWH, que é apenas um pedaço,
escrito, da palavra inteira, que era apenas falada. Bloom ainda complementa que “o
significado do nome [Javé] é tão obscuro
quanto a pronúncia”. No caso da palavra
Arez, também não se sabe nem a sua origem
e nem o seu significado, além dela ter mudado, com o correr dos anos, sua forma de
escrita e de pronúncia: de Ares, no passado, para Arez, na atualidade.
8 Um dos maiores nomes do Romantismo, o
escritor francês Victor Hugo (autor de O
Corcunda de Notre-Dame) já lembrava, no
seu livro Os Miseráveis, de 1862, que
“Toulouse (na França) é prima de Tolosa
(na Espanha)” (2007: 144).
Um trabalho fundamental – que trata da
chegada de judeus ao Brasil –, principalmente portugueses e seus descendentes (os
sefardim, ou sefarditas), referindo-se especificamente ao Nordeste e embasado em
documentos originais dos anos 1600, é o
livro clássico Tempo dos Flamengos, escrito por um dos maiores historiadores do
Brasil, o pernambucano José Antônio Gonsalves de Mello (2001: 258 a 275). Descobridor da primeira Sinagoga das Américas
(Kahal Zur Israel), erguida provavelmente
em 1637, no Recife, em seu livro este au-
tor revela a presença, no Nordeste, de sobrenomes de ascendência incontestavelmente
judaica, tais como: Fonseca, Navarro, Martins, Castro, Nunes, Faria, Oliveira, Pereira, Azevedo, Mendes, Aguiar, Torres,
Dias, Frazão, Lemos, Correia, Pinto, Castanho, Saraiva, Mesquita, Coelho, Guimarães, Mota, Cardoso, Bloom, etc (Mello,
2001: 275). Outro clássico sobre o tema,
em se tratando da região Nordeste, é o livro de Câmara Cascudo, Mouros, Franceses e
Judeus: Três Presenças no Brasil (2001b:
90 a 111), que traz um importante texto
sobre o assunto. Especialmente em termos
de História norte-rio-grandense, são imprescindíveis os livros: Velhas Famílias
do Seridó, do saudoso Olavo de Medeiros
Filho (1981); Natal: Uma Comunidade Singular, de Egon e Frida Wolff (1984); e Raízes Iberas, Mouras e Judaicas do Nordeste,
da célebre teatróloga Lourdes Ramalho
(2002).
10 Grécia e Roma são as civilizações Ocidentais que mais se destacaram na História
da Antiguidade Clássica, sendo a Grécia a
mais importante daquele período. Machado
de Assis afirma que na Grécia podemos
“evocar o espírito das gerações extintas
que deram ao gênio da arte e da poesia um
fulgor que atravessou a sombra dos séculos” (2006: 151). Constituída inicialmente
por povos Jônios e Aqueus, os gregos se
consideram descendentes de Heleno (filho
de Deucalião), sobrevivente de um dilúvio
provocado por Zeus. Daí advém o sinônimo
de Hélade para a Grécia, e de helenos para
seus habitantes. A cerca de dois mil anos
antes de Cristo, a Grécia foi invadida pelos Dórios, que era um povo eminentemente
guerreiro, dos quais viria a descender a
aristocracia grega dos espartanos, cuja
vida social girava em torno, essencialmente, da formação de guerreiros. A cultura
dos Dórios, porém, era inferior à dos povos conquistados: a coluna dórica, por
exemplo, de capitel reto e sem ornamentos,
se comparada aos dois outros estilos de
colunas gregas (jônico e coríntio), é esteticamente a mais pobre. Os Dórios obrigaram então os Aqueus a fugirem e ocuparem
a Ilha de Creta, já bastante civilizada na
época. De religião antropomórfica e politeísta, a cultura helenística adorava deuses semelhantes aos homens, possuindo
igualmente fraquezas, virtudes e paixões;
desse modo, havia geralmente um deus para
cada aspecto da natureza e das atividades
humanas. Para os gregos, portanto, Ares
era adorado como o deus da guerra. Mais
tarde, conquistada a Grécia pelos romanos,
houve uma latinização das grandes divindades: Zeus, o pai dos deuses gregos, passou
a ser identificado com o deus romano Júpiter, assim como ocorreu, da mesma forma,
128
VARAL NO BRASIL NO. 15
MAIO DE 2012
com Atena (Minerva), Artêmis (Diana), Posseidon (Netuno), Dionísio (Baco), etc.
Nesse contexto, Ares, filho de Zeus e Hera, passou a ser identificado com Marte, o
deus romano da guerra, que, por sua vez,
também era um deus muito importante, ao
ponto de ser tido como o mitológico pai de
Rômulo (fundador de Roma e seu primeiro
Rei) e Remo, concebidos com a humana Rea
Sílvia (Souto-Maior, s/d: 68-78).
11 É bastante interessante citar que o
deus grego Ares, em pleno ano de 2010, seja personagem de romances adolescentes que
estão vendendo milhões de livros por todo
o mundo, como é o caso da série Percy
Jackson e os Olimpianos, do escritor norte
-americano Rick Riordan (ver Meier, 2010:
108-109).
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LAJOLO, Marisa. O Que É Literatura. 2ª ed. São Paulo:
129
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MAIO DE 2012
O CLUBE DOS VIRA-LATAS é uma organização não governamental, sem fins lucra#vos, que mantém em seu abrigo hoje mais de 400 animais que são cuidados e alimentados diariamente. Boa parte desses animais chegou ao Clube após
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obje#vo é resgatá-los das ruas, tratá-los e conseguir um lar
responsável para que eles possam ter uma vida feliz.
nas o trabalho dos voluntários e com o dinheiro de
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Clube, seja adotando um animal ou mesmo doando
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dinheiro, ração ou medicamentos. Qualquer doavivem nas ruas, passando fome, frio e todos os #pos de necessidades? Cerca deles 70% acabam em ção, de qualquer valor por menor que seja, é bemabrigos e 90% nunca encontrarão um lar. Parte será vinda. As contas do Clube bem como o desƟno de
ví#ma ainda de atropelamentos, espancamentos e todo o dinheiro estão abertas para quem quiser
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Infelizmente, não é possível solucionar este proble- BRADESCO (banco 237 para DOC)
ma da noite para o dia. A castração dos animais de Agência: 0557
rua é uma solução para diminuir as futuras popula- CC: 73.760-7
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