Turquia: ataques militares contra o PKK e possíveis novas eleições
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Turquia: ataques militares contra o PKK e possíveis novas eleições
CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil http://www.jornal.ceiri.com.br Turquia: ataques militares contra o PKK e possíveis novas eleições parlamentares Author : Ricardo Fal Dutra Santos - Colaborador Voluntário Júnior 1 Categories : NOTAS ANALÍTICAS, ORIENTE MÉDIO, POLÍTICA INTERNACIONAL Date : 20 de agosto de 2015 Como mencionado em nota analítica no CEIRI NEWSPAPER na semana passada[1], em julho deste ano (2015), a Turquia se juntou à guerra contra o Estado Islâmico (EI) ao atacar suas tropas na fronteira turco-síria[2]. Entretanto, analistas como Lina Khatib, escrevendo para a Carnegie Endowment[3], e Michael J. Koplow, da Foreign Affairs[4], apontam que, embora o EI constitua uma verdadeira ameaça à Turquia, a guerra contra o grupo islâmico serve para acobertar ataques contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla em inglês), inimigo de longa data do Governo turco e que, ao mesmo tempo, tem estado na linha de frente contra o Estado Islâmico. Demonstrando a situação, na imagem abaixo tem-se a região da fronteira entre Turquia, Síria e Iraque. Em azul estão as áreas habitadas por curdos. O símbolo marca áreas de ataques aéreos turcos contra o PKK, entre 24 de julho e 3 de agosto*. Os pontos vermelhos marcam algumas áreas de violência entre Governo turco e o PKK desde março de 2013. 1/5 CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil http://www.jornal.ceiri.com.br De fato, alguns dados dão suporte a esta análise da manobra turca contra o PKK. Como relata a rede de notícias focada em crises humanitárias, IRIN, desde o início da campanha turca contra o EI, apenas 3 ataques aéreos foram executados contra o grupo; em contrapartida, a região da fronteira turco-iraquiana, também dominada por curdos, sofreu dezenas de ataques[5]. Embora o Governo da Turquia não forneça o número exato, ou os locais dos ataques, Metin Gurcan, ex-membro das forças especiais turcas e analista monitorando a crise, estima um total de 300 ataques contra o PKK, incluindo ataques de artilharia[5]. A desproporção de ações contra o PKK em comparação as executadas contra o EI também se reflete no número de baixas: apenas 9 militantes do Estado Islâmico foram mortos, comparados a quase 400 combatentes curdos[6][5]. As tensões entre o PKK e o Governo turco remontam aos anos 1980, quando o partido curdo exigiu o estabelecimento de um Estado curdo. Embora mais tarde o PKK tenha revisto seus objetivos e passado a focar em demandas por autonomia, ao invés de independência, o Governo turco continua a tê-los como inimigo de Estado. Nesse contexto, em 2012, a Turquia utilizou a Guerra Civil na Síria como pretexto para atacar áreas curdas na fronteira com a Síria, pressionando o PKK a concordar com um cessarfogo em 2013[3]. Todavia, Ankara parece agora se reengajar em ataques contra o partido curdo. Para entender a manobra turca contra o PKK, é preciso remeter às eleições parlamentares de junho deste ano (2015), quando o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em inglês) – partido do presidente turco Recep Tayyip Erdo?an – falhou, pela primeira vez, desde 2002, em conseguir os 276 assentos necessários para obter maioria parlamentar[5][7][8]. 2/5 CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil Na última segunda-feira, 17 de agosto, as negociações entre o AKP e partidos da http://www.jornal.ceiri.com.br oposição para a formação de um Governo de Coalizão fracassaram[9]. De acordo com a Constituição turca, se nenhum Governo for formado até o próximo domingo, 23 de agosto, Erdo?an deverá dissolver o Gabinete do primeiro-ministro Ahmet Davuto?lu e formar um Governo Interino para liderar o país até novas eleições[9], as quais parecem cada vez mais prováveis, dado o fracasso das negociações na última segunda-feira[10]. Nesse contexto, analistas apontam que os ataques turcos contra o PKK fazem parte de uma estratégia política de Erdo?an para “ganhar pontos com eleitores nacionalistas que desprezam qualquer forma de autodeterminação da minoria curda”[7]. Dessa forma, Erdo?an e seu Partido, o AKP, visam manter o suporte internacional – devido a seu engajamento na guerra contra o Estado Islâmico – ao mesmo tempo que melhorando suas chances em uma possível nova eleição[5][11]. Contudo, os ataques turcos contra o PKK no Iraque criaram uma guerra interna na Turquia. Como relatam David Kenner, para aForeign Policy[7], e Lauren Bohn, para o The Atlantic[12], a cidade de Diyarbakir, capital não-oficial do Curdistão turco, tem sido marcada por conflitos diários entre manifestantes curdos e a polícia curda. Na região leste do país, de população majoritariamente turca, 39 policias e sodados turcos foram mortos desde 20 de julho, comparado à 40 baixas civis, incluindo as consequentes do ataque suicida em Suruc[2][13]. A Turquia, por sua vez, prendeu mais de 2.500 pessoas em operações recentes. Embora o Governo afirme que tais operações fazem parte de seus esforços contra o Estado Islâmico, a maioria dos detidos tem sido membros do PKK[14]. ----------------------------------------------------------------------------------------------* Como a Turquia não fornece informações completas, é provável que o mapa acima mostre apenas uma fração dos ataques aéreos na região da fronteira turco-iraquiana. Página da IRIN News apresenta mapa interativo com disposição similar – e com a mesma ressalva em relação ao caráter parcial da informação disponível. Nela é permitido ao usuário clicar em localizações específicas de cada ataque e obter a fonte de informação. Ver: http://newirin.irinnews.org/fact-check-turkey-isis-pkk. ----------------------------------------------------------------------------------------------Imagem (Fonte): http://www.nytimes.com/interactive/2015/08/12/world/middleeast/turkey-kurdsisis.html?_r=0 ----------------------------------------------------------------------------------------------- 3/5 CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil Fonteshttp://www.jornal.ceiri.com.br Consultadas: [1] Ver: http://www.jornal.ceiri.com.br/o-conflito-sirio-e-o-debate-sobre-a-criacao-de-uma-zonasegura/ [2] Ver: http://www.jornal.ceiri.com.br/o-conflito-sirio-e-o-debate-sobre-a-criacao-de-uma-zonasegura/ [3] Ver: http://carnegie-mec.org/2015/08/12/isis-or-kurdish-rebels-who-is-turkey-really-fightinganyway/iemj [4] Ver: https://www.foreignaffairs.com/articles/turkey/2015-08-03/turkeys-cover [5] Ver: http://newirin.irinnews.org/fact-check-turkey-isis-pkk [6] Ver: http://www.aa.com.tr/en/turkey/571151--turkish-air-strikes-kill-390-pkk-says-security-source [7] Ver: https://foreignpolicy.com/2015/08/17/turkeys-war-within-kurds-election-erdogan-pkk/ [8] Para mais detalhes sobre o resultado das eleições parlamentares, ver: https://foreignpolicy.com/2015/06/07/a-body-blow-for-turkeys-ruling-party-election-erdoganhdp-akp-kurdish-party/ [9] Ver: http://www.theguardian.com/world/2015/aug/18/turkish-pm-ahmet-davutoglu-coalition-talkscollapse [10] Ver: http://www.nytimes.com/2015/08/19/world/europe/isis-video-urges-turks-to-revolt-againsttheir-president.html 4/5 CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil [11] Para mais informações sobre os interesses políticos do AKP por trás da http://www.jornal.ceiri.com.br campanha contra o PKK, ver: http://www.nytimes.com/2015/08/06/world/middleeast/turkey-recep-tayyip-erdogan-airstrikepkk-isis.html?_r=0 [12] Ver: http://www.theatlantic.com/international/archive/2015/08/turkey-kurds-pkk-syria/401624/ [13] Ver: http://news.yahoo.com/three-turkish-soldiers-killed-pkk-attack-east-army-144251296.html [14] Ver: http://www.hurriyetdailynews.com/turkish-police-seize-30-isil-suicide-vests-some-ready-foruse.aspx?PageID=238&NID=87001&NewsCatID=509 Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) 5/5