manual de psicofisica - PGE-III

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manual de psicofisica - PGE-III
Manual Prático de Psicofísica
Autores: Prof. Dr. José Aparecido da Silva
Prof. Dr. Reinier Johannes Antonius Rozestraten
SUMÁRIO
CAPÍTULO I - ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA PSICOFÍSICA.................................4
1. A ORIGEM DA PSICOFÍSICA ...............................................................................................4
2. GUSTAV THEODOR FECHNER (1801 - 1887)......................................................................8
3. CRÍTICAS À LEI DE FECHNER ..........................................................................................11
4. AVALIAÇÕES GERAIS DO TRABALHO DE FECHNER .............................................................13
5. NOVOS CAMINHOS DA PSICOFÍSICA.................................................................................13
PARTE I - A PSICOFÍSICA CLÁSSICA............................................................................16
CAPÍTULO II - ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS............................................................16
1. O CONTÍNUO FÍSICO E O CONTÍNUO PSICOLÓGICO ............................................................16
2. OS LIMIARES .................................................................................................................17
2.1. O Limiar Absoluto .................................................................................................17
2.2. O Limiar Terminal .................................................................................................18
2.3. O Limiar Diferencial ..............................................................................................18
3. O VALOR PROBABILÍSTICO DOS LIMIARES, OS ERROS ......................................................19
4. A DISTRIBUIÇÃO NORMAL DOS VALORES LIMIARES INSTANTÂNEOS ....................................22
CAPÍTULO III – OS MÉTODOS PSICOFÍSICOS CLÁSSICOS ........................................26
1. O MÉTODO DOS LIMITES .................................................................................................26
2. O MÉTODO DOS ESTÍMULOS CONSTANTES ........................................................................27
3. O MÉTODO DO ERRO MÉDIO ............................................................................................28
CAPÍTULO IV - A DETERMINAÇÃO DO LIMIAR ABSOLUTO .......................................30
1. O MÉTODO DOS LIMITES .................................................................................................30
2. MÉTODO DO PONTO CENTRAL .........................................................................................36
3. O MÉTODO DOS ESTÍMULOS CONSTANTES ........................................................................37
CAPÍTULO V - A DETERMINAÇÃO DO LIMIAR DIFERENCIAL ....................................54
1. O MÉTODO DOS LIMITES ................................................................................................54
1.1. O Limiar Diferencial ..............................................................................................55
1.2. O Ponto de Igualdade Subjetiva - PIS ..................................................................56
1.3. O Erro Constante (EC)..........................................................................................56
1.4. A Constante de Weber (K) ....................................................................................56
1.5. O Intervalo de Incerteza (I.I) .................................................................................57
2. O MÉTODO DAS SÉRIES PLENAS E ORDENADAS ...............................................................58
3. O MÉTODO DOS ESTÍMULOS CONSTANTES .......................................................................61
4. O MÉTODO DO ERRO MÉDIO ..........................................................................................66
CAPÍTULO VI – MÉTODOS ESCALARES .......................................................................71
PARTE I - INTRODUÇÃO AOS MODELOS MATEMÁTICOS..........................................71
PARTE II - A MEDIDA EM PSICOLOGIA .........................................................................72
PARTE III - ESCALAS ......................................................................................................73
1. ESCALA NOMINAL ..........................................................................................................73
2. ESCALA ORDINAL ..........................................................................................................74
3. ESCALA DE INTERVALO...................................................................................................75
4. ESCALAS DE RAZÃO .......................................................................................................77
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PARTE IV - MÉTODOS BASEADOS EM JULGAMENTOS DE INTERVALO E DE
RAZÃO ..............................................................................................................................79
1. MÉTODO DE DISTÂNCIAS PERCEBIDAS COMO IGUAIS .........................................................80
2. MÉTODO DE INTERVALOS APARENTEMENTE IGUAIS ...........................................................86
3. MÉTODOS BASEADOS EM JULGAMENTO DE RAZÃO ............................................................91
4. O MÉTODO DE FRACIONAMENTO .....................................................................................91
5. O MÉTODO DOS ESTÍMULOS MÚLTIPLOS ...........................................................................97
6. O MÉTODO DAS SOMAS CONSTANTES ..............................................................................99
7. MÉTODO DE ESTÍMULOS SINGULARES............................................................................100
8. O MÉTODO DE ORDENAÇÃO (RANKING, RANK ORDER) ....................................................108
9. MÉTODO DE ESTÍMULOS ISOLADOS ................................................................................113
10. MÉTODO DE COMPARAÇÃO AOS PARES ........................................................................120
CAPÍTULO VII: MENSURAÇÃO DAS ATITUDES .........................................................126
1. ESCALAS DE ATITUDE .............................................................................................126
1.1. ESCALA DO TIPO THURSTONE ....................................................................................126
PARTE III A TEORIA DA DETECÇÃO DE SINAL (KLING&RIGGS, 1971) ...................132
CAPÍTULO VIII - CONCEITOS BÁSICOS SOBRE O LIMIAR........................................132
1. CONCEITO CLÁSSICO DE LIMIAR ....................................................................................132
2. A HIPÓTESE DOS QUANTA ............................................................................................132
3. COMENTÁRIOS GERAIS SOBRE A PSICOFÍSICA CLÁSSICA ..................................................134
CAPÍTULO IX: O MODELO DE ANÁLISE DE DECISÃO APLICADO AO LIMIAR
PSICOFÍSICO..................................................................................................................136
1. VIÉS RELACIONADO COM A EXPECTATIVA DO SUJEITO A RESPEITO DA PROBABILIDADE DE S 138
2. O VIÉS RELACIONADO COM OS EFEITOS DE REFORÇOS E DE PUNIÇÕES ............................140
3. A DISTRIBUIÇÃO HIPOTÉTICA DOS EVENTOS SENSORIAIS..................................................142
4. A RAZÃO DE VEROSSEMELHANÇA (LIKELIHOOD RATIO)....................................................142
5. O EFEITO DA MAGNITUDE DO ESTÍMULO O LIMIAR DIFERENCIAL .......................................145
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CAPÍTULO I - ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA PSICOFÍSICA
1. A origem da Psicofísica
É com certa dificuldade que durante o século passado a Psicologia começou a se separar
da Filosofia para levar uma vida autônoma. Outras ciências, tais como a astronomia, a
Física e a Química e mesmo a Biologia e a Fisiologia, tinham conquistado sua autonomia
à medida que conseguiram introduzir a quantificação e a mensuração. Uma vez que
Descartes tinha delimitado o campo da Psicologia ao “estudo dos fenômenos da
consciência” e que esta consciência era tida como essencialmente espiritual e apenas
suscetível a diferenciações qualitativas era difícil de construir uma Psicologia digna se ser
chamada “Ciência”. A Filosofia e a Física muito contribuíram para que a Psicologia
pudesse achar aos poucos seu caminho de experimentação, de quantificação e de
mensuração, mesmo que os cientistas que contribuíram para tornar a Psicologia uma
ciência autônoma não tiveram absolutamente esta intenção.
Os cientistas que colaboraram mais efetivamente para abrir este caminho para a
Psicologia foram Ernst Heirch Weber (1795-1878) professor de anatomia e depois
também de Fisiologia na Universidade de Leipizig e Gustav Theodor Fechner (1801-1887)
formado em medicina na mesma universidade onde depois foi contratado como professor
de Física e que se dedicou às pesquisas em Psicofísica para descobrir
experimentalmente qual a relação entre a mente espiritual e o mundo material.
Prepararam eles o caminho para Wilhelm Wundt, fisiólogo, para uma luta mais consciente
pela autonomia da Psicologia, fundando em 1879 na mesma Universidade de Leipzig, o
primeiro laboratório de Psicologia Experimental.
Ernst Heirch Weber (1795-1878) empreendeu, entre os anos de 1829 e 1834, uma série
de experimentos sobre as sensações cutâneas e cinestésicas que ele publicou numa
monografia intitulada “De tactu: anotationes et physicologicae”. Estudando a influência do
sentido muscular (cinestésico) sobre a avaliação de pesos, ele realizou um experimento
que se tornou bastante importante para a origem da Psicofísica. Tentou saber até que
ponto a discriminação de pesos é influenciada pelo sentido muscular. Para tanto pediu às
pessoas que se submeteram a seus experimentos e que doravante chamaremos de
“sujeitos” para levantarem pesos, comparando-os; portanto com uma participação ativa da
musculatura, e depois também para avaliarem os mesmos pesos que lhes eram
colocados na mão pelo experimentador; portanto sem participação ativa da musculatura.
Por meio desta pesquisa chegou as seguintes conclusões:
1º. Como resposta ao problema proposto: a sensibilidade ao peso era bem mais aguda
quando o sentido muscular participava ativamente, quer dizer, quando os próprios sujeitos
levantavam os pesos.
2º. Não existe uma relação direta entre o tamanho de uma diferença e a capacidade do
sujeito de percebê-la. Em outras palavras, a percepção da diferença não depende da
magnitude absoluta da diferença, mas da razão entre a diferença e o padrão.
Esta segunda conclusão temos que traduzir em termos mais concretos. Quando ele
colocava na mão do sujeito de experimentação um peso padrão (um peso com o qual
outros pesos devem ser comparados dizendo se são mais leves, mais pesados ou iguais)
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com um valor de 800 gramas e pedia para compará-lo com os pesos de comparação,
verificou que a diferença era sentida quando alcançava mais ou menos 200 gramas,
portanto mais ou menos ¼ do peso padrão. Porém, quando usava um peso padrão de
100 gramas somente precisava de um peso de mais ou menos 75 gramas ou de mais ou
menos 125 gramas para que a diferença fosse percebida. Em ambos os casos a
“diferença apenas perceptível” (d.a.p.) era ¼ do peso padrão. Esta relação mudava para
mais ou menos 1/40 quando os pesos eram levantados ativamente incluindo assim o
sentido muscular. Mas também neste caso a razão entre o padrão e a mínima diferença
percebida permanecia sempre constante. Os resultados dos quatro sujeitos usados por
Weber neste experimento foram em linha geral os mesmos.
Este resultado não era inteiramente novo, pois em 1760 Bouguer já tinha realizado um
experimento que antecipou a lei de Weber. Este experimento consistiu no seguinte:
Tomou duas velas, uma haste vertical e uma tela na qual se projetavam as sombras. Ele
movimentava uma das velas afastando-a da haste até que a sombra por ela produzida
mostrava uma diferença apenas perceptível (d.a.p.) da tela iluminada pelas duas velas.
Em seguida ele fez o experimento com outras distâncias e para uma outra d.a.p.. Por fim,
na base de várias observações, chegou à conclusão que duas iluminações eram
diferentes apenas perceptivelmente quando a razão das distâncias era mais ou menos
1/64. Esta razão para as d.a.p. não dependia da iluminação total; quer dizer, esta razão
era a mesma para duas velas com uma chama maior e duas velas com uma chama
menor. Sendo que Bouguer foi o primeiro em constatar este fenômeno, os franceses
preferem falar da lei de Bouguer-Weber.
No entanto, não foi a próprio Weber que formulou uma lei, que ele queria apenas mostrar
que a d.a.p. entre dois pesos pode ser expressa como uma razão entre os pesos, uma
razão que é independente do tamanho dos pesos usados. Esta razão, no entanto, é algo
quantitativo, e é isto que é importante. Depois Weber estendeu seus experimentos
também para o campo da visão e o campo da audição, notando que a d.a.p. entre duas
linhas apresentadas e comparadas pode ser expressa pela razão de 1/50 ou 1/100.
Weber, sem dúvida acreditava ter achado e formulado um princípio geral e importante,
mas não podia supor que estes experimentos formariam a base para a Psicofísica que por
sua vez abriria o caminho para que a Psicologia pudesse tornar-se ciência. Pois com
estes experimentos ele descobriu o conceito do limiar diferencial que desempenhará
depois um papel importante na psicologia experimental.
Falando sobre o desenvolvimento posterior a Weber, Flugel, no seu livro “A hundred years
of Psychology” (p. 79) diz o seguinte: “Todos estes desenvolvimentos, no entanto,
estavam provavelmente longe dos pensamentos de Weber quando ele realizou suas
observações pioneiras. Ele não podia prever os usos que se fariam se seus métodos,
nem podia estar consciente que estava lançando os fundamentos para um novo ramo da
ciência. Não obstante disto temos talvez que considerar as observações pacientes e
persistentes de Weber como o verdadeiro começo da Psicologia Experimental. Com
Fechner esta nova disciplina tornou-se autoconsciente, e com Wundt começou a pedir um
lugar (seja, inevitavelmente, ainda um lugar modesto) entre suas ciências irmãs. Mas
realmente pode se dizer que ela começou com Weber, mesmo que seu criador não era
consciente do significado de seu empreendimento”.
Os resultados dos experimentos relatados se referem à diferença perceptível entre um
estímulo e um outro; isto é, o limiar diferencial (L.D.). Portanto trata-se de saber quantas
unidades de medida se devem acrescentar ou tirar do estímulo de comparação para que
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este seja percebido como diferente do estímulo padrão expresso nas mesmas unidades
constitui a chamada Razão de Weber ou Fração de Weber. Isto porque esta relação
normalmente é expressa numa fração na qual como denominador colocamos o tamanho
do estímulo padrão e como numerador a diferença apenas perceptível. Muitas vezes se
acha também a razão de Weber expressa em decimais. Por exemplo: quando temos uma
linha de 100mm e a percebemos apenas diferente de uma linha de 99mm ou de 101mm e
não percebemos diferenças com linhas de 99,5mm ou 100,5mm então podemos dizer que
a diferença apenas perceptível neste caso é de 1mm e a fração de Weber seria, portanto,
1/100 ou 0,01. Da mesma forma, quando temos uma mala de 40Kg e aumentamos ou
diminuímos 1Kg nós notamos esta diferença, mas não a notamos quando é menor que
1Kg. A fração de Weber neste caso é 1/40 ou 0,025. Aplicando esta mesma fração a
pesos diferentes podemos predizer quando um aumento ou uma diminuição é percebido.
Assim para que uma mala seja apenas perceptivelmente diferente de uma mala de 20 Kg
ela deve ser 0,5Kg mais pesada ou mais leve, e logicamente uma mala de 82Kg ou de
78Kg será apenas perceptivelmente diferente de uma mala padrão de 80Kg.
Na vida comum todo mundo aplica intuitivamente esta lei. Quando a quantidade de sopa
deve ser o dobro, então a cozinheira tem que colocar duas vezes mais sal; quando
estamos conversando aumentamos a voz proporcionalmente ao barulho que está em
volta. Todo mundo sabe que a luz de outra vela é bem notada, pois o acréscimo
corresponde a um aumento de 100%; porém, quando a mesma vela for colocada ao lado
de uma lâmpada de 200 watts, o aumento em que sua luz dá nem será notado. Estrelas
mais claras demoram mais a desaparecer perante a luz do dia e são mais rápidas para
aparecer no crepúsculo do que as estrelas mais fracas. Um aumento de um centímetro no
comprimento do nariz de Cleópatra teria mudado o curso da história humana, enquanto
um centímetro no comprimento de seus braços nem seria notado. Para que haja um
“destaque” num anúncio, as letras usadas devem ser bem maiores ou diferentes, senão
confundem-se com o resto do impresso. Um violino acrescentado a um quarteto faz
bastante diferença, porém não seria notado se fosse acrescentado a uma orquestra
sinfônica.
Não é o fato de “uma certa relatividade” que constitui a importância do trabalho de Weber,
pois este fato já era suficientemente conhecido há séculos. Sua importância consiste no
fato de ter conseguido uma expressão matemática numa razão constante da modificação
de um estímulo, modificação esta necessária para que o estímulo seja percebido como
diferente, e também que esta razão é diferente para os diversos órgãos de sentido,
apesar de ser constante dentro da mesma qualidade sensorial de um mesmo sentido.
A Lei de Weber foi expressa matematicamente por Fechner na seguinte formula: DR/R =
C, onde R (proveniente de “Reiz” que em alemão significa o “Estímulo”), e o DR é a
quantidade que se deve acrescentar ou diminuir nos estímulos de comparação para que a
diferença se torne apenas perceptível. Esta razão de Weber fornece uma constante para
cada um dos órgãos de sentido e suas modalidades; assim há uma fração de Weber para
as diferenças na intensidade de som e uma outra para a discriminação de freqüência de
ondas sonoras; ambas modalidades do sentido auditivo.
Estudos posteriores mostraram infelizmente que a chamada constante de Weber não é
tão constante como gostaríamos que fosse. Ele se mostra bastante constante nos valores
médios do estímulo, mas à medida que o estímulo se torna muito fraco ou muito forte ela
aumenta. Isto quer dizer: quando temos um som muito fraco precisamos aumentá-lo mais
para ouvir uma diferença do que quando temos um som médio, e a mesma coisa
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acontece com um som muito forte. Mas já é bastante útil que ela se mantém
aproximadamente constante nos valores intermediários que são os mais usados.
De uma forma mais genérica a Lei de Weber pode ser formulada da seguinte maneira:
“Comparando magnitudes, o que percebemos não é a diferença aritmética, mas a razão
das magnitudes” (Woodworth, 1938). Podemos, no entanto, tentar dar uma formulação
mais explícita e científica que possa servir de orientação para aquilo que se faz realmente
quando se procura verificar esta lei no laboratório de Psicologia. Portanto uma formulação
mais operacional desta lei, assim como propõe Thurstone (1943). Pois quando dizemos
que percebemos mais as razões que as diferenças reais dos estímulos não expressamos
bem o que se faz no laboratório. A formulação já fica um pouco melhor quando dizemos
que o limiar diferencial é uma fração constante do estímulo. Porém normalmente nos
experimentos vemos que o sujeito compara dois estímulos quais deles temos que tomar
como denominador? Podemos tomar a média dos dois como um padrão, e então formular
da seguinte maneira: a diferença entre dois estímulos que pode ser apenas percebida é
uma fração constante da sua magnitude média. Mas quando vamos experimentar vemos
que esta diferença não é coisa estável, em algumas tentativas o sujeito percebe a
diferença que ele não percebe em outras tentativas. Quanto maior a diferença tanto mais
freqüentemente o sujeito a perceberá, e quando a diferença é bastante grande ele a
perceberá todas as vezes ou em 100% das tentativas. Pelo contrário, quando a diferença
é menor ele a perceberá em muito menos tentativas até chegar a um ponto em que a
diferença é tão pequena que ele nunca perceberá. Estamos, portanto, perante uma
graduação do comportamento: O sujeito nota a diferença sempre, ou em grande número
de tentativas, ou na metade ou em menos do que a metade das tentativas ou não a
percebe em nenhuma das tentativas.
Para obter o critério fixo temos que formular a Lei de Weber em termos de freqüência
relativa de julgamentos corretos que exigimos para a definição do limiar. Esta dificuldade,
conforme Thurstone, poderá ser resolvida formulando a lei de Weber da seguinte forma: P
(R<kR) = C, onde C representa qualquer proporção de respostas nas quais a diferença é
notada, com exceção do zero, o que significaria que a diferença nunca é notada; e de um
(1), o que significaria que a diferença é notada em 100% dos casos. Tomando como valor
do estímulo R=100g, podemos achar que em 75% dos julgamentos, caso tomemos C
como 0,75 - kR é igual a 103g. O constante k neste caso é 1,03 a unidade (1) é
acrescentada para manter o R. Quando verificamos que o valor de k é igual para todos os
valores de R; então temos verificada a Lei de Weber para a proporção constante C=0,75.
A constante k - 1 é igual a fração de Weber. No caso acima é 0,03, enquanto que para
outros estímulos como, por exemplo, para o brilho, é de 0,01. Quanto menor a razão de
Weber, tanto maior a sensibilidade para este tipo de estímulo.
Como norma prática para experimentos de determinação do Limiar Diferencial e da
Constante de Weber, tomamos como L.D. o valor que em 75% dos casos foi julgado
corretamente como diferente apenas perceptivelmente do estimulo padrão. Mesmo que se
pudessem aceitar outras porcentagens, se aceita 75%, porque este valor está entre 50%
dos casos, o que poderia ser um simples acertar ao acaso: 50% sim e 50% não, e os
100% dos casos, quando o sujeito sempre percebe a diferença, estando este valor de
certo acima do limiar. Como veremos mais adiante no Capítulo V, isto é valido quando se
usam apenas dois julgamentos; quer dizer, o sujeito diz apenas se o estímulo de
comparação é maior ou menor do que o estímulo padrão, quando se usa três
julgamentos; quer dizer, além de maior e menor o sujeito também pode emitir o
julgamento = (igual), então se costuma usar o critério de 50%, ou C=0,50.
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Citemos aqui o exemplo de comparação de comprimentos de linha. Suponhamos que
uma linha de 101mm em 75% dos julgamentos é julgado maior que uma linha de 100mm,
então a Constante de Weber é igual a 0,01. Aplicando a mesma constante a um estímulo
de 50mm, o valor da linha que em 75% deverá ser julgado como maior é de 50,5mm, e
numa linha de 200mm, deverá ser 202mm, de tal forma que em todos os casos as
proporções são iguais.
Desta forma, podemos formular a Lei de Weber também da seguinte maneira: o
incremento de qualquer estímulo dado é corretamente percebido em 75% (ou outra
porcentagem determinada) dos julgamentos, é uma fração constante da magnitude do
estímulo. (Garrett, 1951)
2. Gustav Theodor Fechner (1801 - 1887).
Mesmo que Weber abriu, através de suas experiências, o caminho para a Psicofísica, foi
Fechner quem forneceu a fundamentação, o primeiro desenvolvimento e o Status a este
novo ramo de ciência. Interessado em Fisiologia, seguiu o curso de medicina e depois de
formado voltou-se para a Física e a Matemática, traduzindo mais de uma dezena de
manuais de física e química do francês para o alemão. Isto e também suas pesquisas
com fenômenos elétricos lhe deram alguma fama e fizeram com que ele fosse nomeado
professor de Física na Universidade de Leipzig. Isto se deu em 1834 quando tinha 33
anos e já tinha publicado mais de quarenta artigos. Cinco anos depois teve que desistir da
sua posição universitária por motivo de doença, estava esgotado e tinha prejudicado
seriamente sua vista com experimentos de cores subjetivas e pós-imagens, olhando para
sol através de vidros coloridos.
Ao lado destas atividades científicas, Fechner sentiu também uma missão filosófica e
mística, e lutava contra o crescente materialismo e em favor de um Pampsiquismo. Sob o
pseudônimo de Dr. Misses publicou diversas obras que tinham por objetivo principal
afirmar a espiritualidade e a existência depois da morte bem como a íntima relação entre
o mundo no seu aspecto material e no seu aspecto psíquico. O período de 1839 a 1951
foi marcado por um grande isolamento. Foi durante este período que Fechner
desenvolveu mais o que ele chama de “visão diurna” e espiritual da realidade contra a
“visão noturna” do materialismo. Defendia que a consciência existe em tudo, inclusive nas
plantas e na terra.
Por estranho que pareça foram seus interesses filosóficos e místicos que o tornaram
fundador da Psicofísica e não seus conhecimentos de Física e de Matemática, mesmo
que estes últimos lhe foram de grande ajuda na realização de sua tarefa. Na histórica
manhã de 22 de outubro de 1850, Fechner estava deitado na cama, pensando sobre
estes problemas filosóficos, quando teve a idéia de que se ele conseguisse demonstrar
que havia uma equação entre o aspecto material e o aspecto físico da realidade, ele
poderia chegar a um a eliminação do dualismo mente-corpo ou espírito-matéria em favor
de uma identidade no pampsiquismo. Já conhecia o trabalho de Weber do qual ia
reconhecer mais tarde o valor básico para a psicofísica, tanto que a Lei que agora
denominamos Lei de Fechner foi por ele chamada Lei de Weber.
Também conhecia a afirmação de Daniel Bernoulli (1938) que a Fortuna Moral (psíquico)
é proporcional ao logaritmo da Fortuna Física (Material). No entanto, o pensamento de
Fechner começa bastante simples: a sensação ou a parte psíquica é uma função do
estímulo ou da parte física. Os estímulos são mensuráveis, mas como é que se podem
medir as sensações? Chegou então à conclusão de que as magnitudes sensoriais
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poderiam ser medidas em termos de sensibilidade. No seu livro “Zend-Avesta, oder ueber
die Dinge des Himmels und des Jenseits” (A revelação do verbo, ou sobre as coisas do
céu e do além), ele esboçou as linhas básicas de todo um programa de trabalho
psicofísico. Depois deste livro que apareceu em 1851, Fechner dedicou-se durante nove
anos à experimentação em psicofísica, publicando finalmente em 1860 sua obra mestra:
“Elemente der Psychophysik” definindo a Psicofísica como “a ciência exata das relações
funcionais ou relações de dependência entre corpo e espírito”.
Apesar de que, provavelmente, a posição filosófica tenha prejudicado o trabalho de
Fechner, as bases experimentais e matemáticas sólidas de sua obra fizeram com que
grandes cientistas lhe dessem a devida atenção. Helmholtz, um dos maiores fisiologistas
da época, propôs uma modificação da fórmula fundamental de Fechner. Wundt, o futuro
fundador do primeiro laboratório de Psicologia chamou a atenção sobre a importância do
trabalho de Fechner e muitos trabalhos naquele laboratório foram feitos na base da
metodologia desenvolvida por Fechner. Delboeuf, que depois, na Universidade de Liège
tanto faria pelo desenvolvimento da Psicofísica, começou sua pesquisa sobre brilho em
1868, baseando-se no trabalho de Fechner. Embora “Elemente der Psychophysik” não
tenha sido um “bestseller”, pelo menos ganhou atenção e o interesse daqueles que foram
capazes de levar a pesquisa psicofísica adiante.
As razões filosóficas e os interesses do apóstolo do pampsiquismo em provar a
identidade de corpo e mente ficaram esquecidos e o que permaneceu foi seu trabalho
experimental e seu trabalho metodológico. Até o ano de 1865 continuou trabalhando em
psicofísica, depois dedicou 10 anos ao estudo da estética experimental, voltando para a
psicofísica em 1877, publicando “Im sachen der Psychophysik” (“Assuntos relativos à
Psicofísica”). Cinco anos mais tarde, ainda escreveu outro livro importante: “Revision der
Hauptpunkte der Psychophysik” (Revisão dos Pontos Principais da Psicofísica), onde trata
das críticas e das ligações com a Psicologia Experimental que estava se desenvolvendo
no laboratório de Wundt.
Fechner forneceu, no seu “Elemente der Psychophysik”, três métodos experimentais
fundamentais à Psicologia, depois chamados “métodos Psicofísicos Clássicos”. São eles:
o método dos limites, que teve seu início por volta de 1700 e que em 1827 foi formalizado
por Delesenne; o método dos estímulos constantes que primeiramente foi usado por
Vierort em 1852 e depois aperfeiçoado por Fechner; e o método do erro médio que foi
elaborado por Fechner e Volkmenn em 1850. Estes métodos tiveram vários nomes,
porém, os acima citados são os atualmente mais aceitos.
Vejamos agora quais são os conceitos básicos da Psicofísica de Fechner. O objetivo para
Fechner era determinar a relação que existe entre o estímulo, como unidade física
mensurável em unidades físicas de centímetros, graus, velas, etc. e a sensação causada
por este estímulo. Esta sensação não podemos medir diretamente, somente podemos
dizer se está presente ou ausente, ou se é maior ou menor que uma outra sensação.
Portanto, a magnitude absoluta de uma sensação não pode ser conhecida diretamente.
No entanto, as sensações são causadas por estímulos e estes podem ser medidos,
podemos saber o quanto um estímulo tem que ser aumentado para que a mudança seja
percebida constatando assim a diferença apenas perceptível. Quando determinamos o
limiar diferencial, usamos duas sensações que são diferentes apenas perceptivelmente.
Foi esta diferença apenas perceptível que Fechner aceitou como uma unidade de medida
da sensibilidade. Começando com o limiar absoluto abaixo do qual o estímulo não é
percebido, pode-se aumentar o estímulo até que o sujeito perceba a diferença entre a
primeira percepção limiar do estímulo e a segunda percepção do estímulo aumentado.
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Isto seria o 10 d.a.p., depois aumentando de novo o estímulo até chegar a um ponto em
que é percebido como diferente do segundo estímulo podemos determinar a 2a.d.a.p. e
assim por diante. Desta forma, qualquer sensação é a soma das d.a.p.’s antecedentes.
Na base disto, já podemos formular os três postulados ou pressupostos da psicofísica
fechneriana:
1. Uma sensação forte deve ser considerada como uma soma de sensações fracas.
2. As diferenças apenas perceptíveis (d.a.p.’s) constituem unidades iguais com as quais
se podem medir as alterações nas sensações.
3. O limiar absoluto é um ponto constante que pode ser expresso num valor fixo medido
em unidades físicas.
Começando pela expressão matemática dos resultados encontrados por Weber, Fechner
deu como 1ª fórmula DR/R = C, na qual DR expressa a diferença encontrada que
corresponde a 1 d.a.p.; o estímulo C chamado Constante de Weber. Através de três
fórmulas intermediárias, Fechner chega finalmente à fórmula: S = k.logR conhecida como
a Lei de Fechner, na qual S é a sensação, k a constante de Weber e R o estímulo
correspondente à sensação. Em outras palavras podemos dizer: para que as sensações
crescem em proporção aritmética (1a d.a.p. + 1 d.a.p. = 2a d.a.p. , 2a d.a.p. + 1d.a.p. = 3a
d.a.p.) os estímulos devem crescer em proporções geométricas (R1+k x R1 = R2; R2 + k
x R2 = R3, etc.).
Em experimento que poderia ilustrar esta lei seguiria as seguintes etapas:
1. Tomando um estímulo qualquer que medido em unidades físicas teria, por exemplo, o
valor 200. Este estímulo funcionará como o primeiro estímulo padrão.
2. Tomando um estímulo de comparação gradativamente maior do que o estímulo padrão
até alcançar o ponto em que é diferente apenas perceptivelmente do estímulo padrão.
Determinamos a 1a d.a.p..
3. Verificamos quantas unidades o estímulo de comparação (E.C.) teve que ser maior que
o estímulo padrão (E.P.) para que a diferença fosse percebida. Digamos que forma 20
unidades; o E.C., portanto, teve como valor 220 e a d.a.p. é igual a 20 na escala das
unidades físicas. O k neste caso é 20/220 ou 1/10.
4. Tomando agora o E.C. de 220 como 2a E.P. e usando um outro estímulo de
comparação, verificamos que temos que aumentá-lo até 242; quer dizer, 22 unidades
físicas, para que seja determinada a 2a d.a.p., ou:220 + k x 220 = 220 + 1/10 x 220 = 242.
5. Tomando agora o 242 como 3o E.P. e procurando o E.C. que dá de novo uma d.a.p.,
encontramos 266,2; pois 242 + k x 242 = 242 +24,2 = 266,2.
Desta maneira, podemos continuar e acharemos que para aumentar 1 d.a.p., em outras
palavras, para somar 1 d.a.p. às d.a.p.’s anteriores tenho que multiplicar o estímulo por
uma constante k. De um lado, portanto, temos uma progressão aritmética somando
sempre uma unidade de d.a.p. às anteriores; de outro lado temos uma progressão
geométrica tendo que multiplicar o estímulo sempre pela constante k. Quando temos
assim uma progressão aritmética correspondendo a uma progressão geométrica,
podemos expressar esta correspondência numa função logarítmica.
10
Progressão
Geométrica
(multiplicação pela
constante 10).
log 1
log 10
log 100
log 1000
log 10000
log 100000
Progressão
Progressão Geométrica Progressão Aritmética
Aritmética (soma (multiplicação pela
(soma de unidades de
de unidades)
constante k=1/10)
d.a.p.)
=0
=1
=2
=3
=4
=5
E.P. 1 200
1/10*200=20
E.P. 2 220
1/10*220=22
E.P. 3 242
1/10*242=24,2
E.P. 4 266,2
1/10*266,2=26,62
E.P. 5 292,82
1/10*292,82=29,28
=0
= d.a.p. 1
= d.a.p. 2
= d.a.p. 3
= d.a.p. 4
= d.a.p. 5
Como se vê, de um lado, temos uma série geométrica na qual sempre há multiplicação
por uma constante, e de outro lado, uma série aritmética somando sempre 1 d.a.p.,
correspondendo sempre a crescentes valores do estímulo.
Figura 1: Gráfico da relação entre o aumento da intensidade do estímulo em progressão
geométrica e o aumento da sensação em progressão aritmética.
3. Críticas à Lei de Fechner
Já vimos que a Lei de Weber somente é valida nos valores médios do estímulo e que sua
fração é uma aproximação e não um valor rigorosamente definido. Estas mesmas
restrições valem naturalmente para a Lei de Fechner. Existem, porém, outras críticas que
se referem de modo especial aos postulados.
11
A Escola da Gestalt, já provou por muitas maneiras que o todo não é a simples soma de
elementos, que o todo é percebido como um todo e que uma sensação forte não é uma
somatória de sensações fracas; o vermelho não é uma somatória de cores de rosa. Cada
sensação e cada percepção tem sua identidade total, sua totalidade individual.
Também o postulado da igualdade entre as d.a.p.’s sofreu crítica, não somente pelo fato
que a d.a.p. varia de um observador para o outro, o que já torna difícil seu uso em termos
científicos, mas também porque o mesmo sujeito, em circunstâncias diversas, apresenta
d.a.p.’s diferentes para o mesmo tipo de estímulo.
O terceiro postulado se refere a um ponto zero fixo de sensação que corresponderia ao
limiar absoluto. Sendo que o logaritmo de 1 é igual a zero, Fechner conseguiu também
aplicar sua fórmula S=k.log R neste caso particular, atribuindo ao estímulo do limiar
absoluto o valor 1, e considerando a sensação neste limiar como zero. Aparentemente, o
limiar absoluto é um ponto fixo, porém, existe um fenômeno psicofisiológico que se chama
adaptação. Quando ficamos um tempo no escuro, somos capazes de perceber luz muito
mais fraca do que quando estamos num ambiente bem iluminado. Todo mundo já deve ter
experimentado isto no cinema: quando entramos na sala de projeção, nosso olho não
está adaptado ao escuro e temos dificuldade de enxergar onde tem uma poltrona livre,
mas, depois de uns 10 minutos, nosso olho se adaptou a este ambiente de luz reduzido e
podemos perfeitamente ver onde estão as poltronas não ocupadas. Além desta
adaptação que faz oscilar o limiar absoluto, há outros fatores tais como fadiga, oscilação
de atenção, distrações, estados psíquicos e fisiológicos especiais que fazem deslocar o
ponto zero de sensibilidade ou o ponto do limiar absoluto. Deste modo, as oscilações e a
instabilidade dos próprios órgãos sensoriais, seja por motivos psíquicos ou fisiológicos,
impõem um limite à generalidade e universalidade da Lei de Fechner.
A Psicofísica de Fechner pode ser vista como uma psicofísica objetiva. A participação do
sujeito consiste apenas em dizer se percebe ou não percebe, ou se percebe um estímulo
mais intenso do que outro. A avaliação é medida em unidades físicas aptas para medir o
estímulo, e mesmo as diferenças apenas perceptíveis - as unidades subjetivas de medida
- são sempre expressas em relação ao estímulo.
Um caminho diferente foi tentado por Plateau, um físico belga, que já em 1850, um ano
antes do “Elemente der Psychophysik” de Fechner, pedia a pintores para pintarem um
cinza que estava exatamente no meio caminho entre o preto e o branco. Depois pedia
para distribuir diversas tonalidades de cinza de tal forma que os intervalos entre os cinzas
fossem aparentemente iguais. Baseando-se em interpolação, ele supunha que existia
uma relação entre as impressões subjetivas e a refletância, que podia ser expressa por
uma função de potência em vez de uma função logarítmica. Somente em 1872, Plateau
publicou seus resultados, e no ano seguinte Delboeuf fez experimentos mais precisos
com fusão de preto e branco em diversas proporções, usando discos giratórios num
misturador de cores. Isto lhe permitia um controle mais rigoroso das proporções entre
preto e branco. Sendo que o trabalho de Delboeuf levou a uma relação logarítmica,
Plateau desistiu de sua função de potência. Na realidade, existem casos nos quais a
diferença entre os estímulos é bastante pequena, nestes casos, um dos quais é o das
leucias, é difícil fazer uma escolha definitiva entre a função logarítmica de Fechner e a
função de potência de Plateau. De fato, Breton (1887) usou esta última para as leucias.
12
4. Avaliações Gerais do trabalho de Fechner
O trabalho de Fechner foi altamente elogiado por alguns e considerado como o primeiro
passo para uma Psicologia Experimental com método bem controlado. Assim, Titchener,
aluno de Wundt e um dos fundadores da corrente wunditiana nos Estados Unidos, tinha
uma profunda admiração por Fechner e o considerou como o Pai da Medida Mental. No
entanto, William James, o fundador da psicologia norte - americana, era de opinião que “O
livro de Fechner foi o ponto de partida de um novo gênero de literatura, que seria talvez
impossível igualar quanto às qualidades de rigor e sutileza, mas do qual, na humilde
opinião deste autor, o resultado propriamente psicológico é, exatamente, nada”. Achava
que os críticos de Fechner, apesar de não deixarem em pé nada de sua teoria, sempre
lhe atribuirão a imperecível glória de tê-la formulada e, com isto, ter mudado a psicologia
numa ciência exata:
“’And everybody praised the duke
Who this great fight did win.’
‘But what good came of it at last?’.
Quoth little Peterkin.
‘Why, that I cannot tell’ said he,’
‘But, twas a famous victory!’”
Infelizmente para James e felizmente para Fechner e a Psicofísica, esta opinião mostrouse pessimista demais. Hoje em dia podemos responder mais positivamente a pergunta do
“little Peterkin”, pois a lei de Fechner achou sua aplicação nos diversos problemas da
Biologia, da Física e da Ergonomia, tais como a relação entre a acuidade visual e a
luminosidade do campo, o tempo de latência da resposta e a intensidade do estímulo, a
intensidade sonora subjetiva e a intensidade física - o que levou as medidas de bel e
decibel. Existiam, no entanto, outros problemas para os quais uma predição
fundamentada na lei de Fechner não deu bons resultados. Isto levou aos poucos a um
desenvolvimento de uma nova psicofísica, mais subjetiva, baseada numa métrica de
avaliações.
5. Novos Caminhos da Psicofísica.
Thurstone foi um dos principais fundadores desta nova orientação. Não satisfeito com as
tediosas repetições de avaliações de pesos, de distâncias entre os pontos de tato,
Thurstone procurou outros campos e desenvolveu outros métodos; usava o método de
intervalos aparentemente iguais de Plateau, bem como o método de comparação aos
pares, a classificação , a ordenação e outros, dando ao sujeito uma tarefa mais agradável
de tomar decisões nas diversas classificações e comparações. Atacava problemas para
os quais não existiam medidas físicas, como a avaliação de diversos tipos de crimes. Isto
levou a psicofísica a uma grande ampliação de campo, não se restringindo apenas à
medição da avaliação subjetiva de tons, luminosidade e comprimentos de linhas, mas
pesquisando a opinião pública a respeito de filmes, cantores, artistas e compositores, bem
13
como a avaliação da aceitação de produtos industriais, e a avaliação de atividades e
atitudes políticas e raciais.
Paralelo ao desenvolvimento da Psicologia Industrial, houve um desenvolvimento da
Psicofísica, mostrando-se uma ciência altamente aplicável aos problemas de adaptação
da máquina ao homem e do homem à máquina. Surgiu a Ergonomia, que inicialmente foi
chamada: “Psicofísica Aplicada”. Tipos e tamanhos de mostradores e ponteiros,
colocação dos mesmos dentro do campo visual de tal forma que resultava maior eficiência
do operador, tipos e colocações de manivelas e comandos, colocação mais eficiente de
iluminação e uma infinidade de outros assuntos do mundo industrial e comercial foram
estudados pelos métodos psicofísicos .
Ao lado desta tendência, para maior aplicabilidade, continuava a preocupação com os
assuntos teóricos. Desde 1930, S.S.Stevens dedicou-se ao estudo de diversas escalas e
pesquisou a possibilidade de criar escalas puramente subjetivas. Foi ele quem primeiro
chamou atenção para os tipos básicos de escalas: nominal, ordinal, de intervalos e de
razão. Foi especialmente a introdução na Psicologia da escala de razão, já conhecida na
física, através da qual Stevens (1851,1958) deu sua contribuição para um maior avanço
da Psicofísica. Mesmo que a escala de razão já foi usada por Merkel no laboratório de
Wundt (1888), cabe a Stevens a iniciativa de aplicá-la, em 1936, a um estudo mais
apurado do som. Estabeleceram-se diversas unidades subjetivas, como mels, sones,
gusts, e outros. Um dos pontos importantes do trabalho de Stevens é sua insistência de
substituir a função logarítmica de Fechner pela função de potência de Plateau, verificou
que para um número bastante grande de diversas modalidades e dimensões sensoriais e
julgamentos de razão nos quais o sujeito, por exemplo, deve dizer qual som que é duas
ou quatro vezes mais alto que o som padrão. Stevens é de opinião que os resultados são
melhor explicados pela função de potência: S = k In , em vez da fórmula logarítmica de
Fechner: S = k logI, na qual n varia de acordo com o tipo de sentido e as dimensões da
estimulação.
Uma das mais recentes inovações é a aplicação da Teoria de Detecção de Sinal de
Tanner e Swets aos problemas. Uma das teses principais desta teoria é que a resposta
do sujeito não depende apenas da sensibilidade do órgão de sentido, mas também, da
expectativa do sujeito. Experimentos mostraram que o fato de dar ao sujeito como tarefa
de descobrir entre 20 vidros qual é que contém uma solução salina, faz com que uma
porcentagem boa dos sujeitos “descubram” a solução salina mesmo quando todos os
vidros contém apenas água destilada. Assim, entrou o conceito de falsos alarmes na
psicofísica, mesmo que já era conhecida sob outra forma. A Teoria de Detecção de Sinal
trouxe a ligação com diversas outras teorias como a Teoria de Informação, a Teoria de
Decisão a Teoria dos Jogos e a Teoria do Reforço. Tudo isto não facilita a tarefa do
psicofísico, mas poderá colocá-lo um passo mais perto da realidade.
A preocupação com a realidade é, aliás, uma tendência da psicologia atual. Perguntam
eminentes psicólogos como Chapanis, Faverge e Broadbent, até que ponto os
experimentos de laboratório dão informações seguras sobre o comportamento humano
em situações reais de trabalho e de intercâmbio social. Apesar das dificuldades de lidar
com mais fatores ao mesmo tempo, o experimento, na situação real, não corre tanto o
perigo de eliminar e controlar fatores que são primordiais na determinação da precisão ou
rapidez do comportamento humano.
A Psicofísica, inicialmente, parece abstrata e desligada da realidade, medindo apenas a
sensibilidade para a avaliação de pesos, sons, luminosidade, etc., porém, evoluiu-se de
14
tal forma que seus métodos podem ser aplicados nos mais variados campos da atividade
humana, especialmente no campo do trabalho.
15
PARTE I - A PSICOFÍSICA CLÁSSICA
CAPÍTULO II - Alguns Conceitos Básicos
Como já vimos na introdução histórica, a Psicofísica Clássica ou Psicofísica Objetiva é a
psicofísica concebida e desenvolvida por Fechner. É a psicofísica que trata de medir os
limites e a capacidade de diferenciação dos nossos sentidos, expressando as medidas
em unidades físicas.
Neste capítulo, veremos alguns dos conceitos básicos essenciais: o conceito de contínuo
psicológico, os diversos limiares, o valor probabilístico destes limiares, alguns erros
típicos que podem ser cometidos e a distribuição normal dos valores limiares
instantâneos.
1. O Contínuo físico e o Contínuo psicológico
Entendemos comumente por contínuo físico uma série de estímulos crescentes que
podem ocupar qualquer valor intermediário e que são expressos em unidades físicas.
Temos assim, por exemplo, o contínuo físico de peso que vai desde milionésimos de
miligramas até toneladas; o contínuo físico de distância que pode variar de milimicrons até
quilômetros, ou o contínuo de superfície, de volume, de intensidade de luz, de som e de
calor. Em muitos casos, o contínuo físico será formado por uma variável contínua que
pode ter qualquer valor intermediário e, portanto corresponde à definição que colocamos
acima. No entanto, em psicofísica, nem sempre o contínuo físico é formado por uma
variável contínua. Às vezes, temos contínuos físicos observáveis, que são formados por
variáveis discretos; por exemplo, uma série de pontos que pode aumentar ou diminuir, ou
uma série de letras, ou algarismos, ou uma série de expressões faciais, uma série de
filmes ou de quadros artísticos. Todos estes exemplos são contados em unidades e não
em qualquer valor intermediário fracionário.
Ao lado do contínuo físico, existe o contínuo psicológico que é constituído por uma série
de sensações crescentes de peso, de temperatura, de comprimento, de luz percebida
com mais ou menos intensidade, de som percebido como mais ou menos alto ou mais ou
menos agudo, ou uma quantidade de pontos maior ou menor, uma expressão facial que
nos indica tristeza ou alegria, um filme mais ou menos humorístico. Portanto, a avaliação
subjetiva do estímulo físico que nos é oferecido e que por nós é percebido.
Mesmo que estes dois contínuos, o físico e o psicológico, possam ser de ordem
crescente, as modificações no contínuo físico nem sempre são acompanhadas pelo
mesmo tipo de modificações no contínuo físico nem sempre são acompanhadas pelo
,mesmo tipo de modificações no contínuo psicológico. Assim, não somos capazes de
notar a diferença entre dois livros do mesmo tipo, se um deles tem 200 e o outro tem 202
páginas. Por outro lado, podemos constatar que há modificações psicológicas ou
subjetivas sem que a elas corresponda uma modificação no contínuo físico. Por exemplo,
o tic-tac de um relógio numa sala silenciosa pode ser ouvido ora como mais alto ora como
mais baixo, apesar de não haver nenhuma mudança no estímulo. Um barulho que
normalmente nem notamos pode se tornar irritante quando queremos dormir ou quando
estamos doentes.
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Uma experiência que demonstra a diferença entre dois contínuos consiste em mostrar a
um sujeito de experiência uma série de cilindros do mesmo tamanho e aspecto, mas
diferentes em peso. Apresentam-se a ele o peso mais leve e o peso mais pesado como
padrões para ter uma idéia da extensão dos pesos. Depois disto, pede-se ao sujeito para
escolher, entre os outros pesos intermediários que lhe são apresentados, um peso que
lhe parece estar exatamente no meio caminho entre os dois pesos extremos. Verificando
depois o valor em gramas do peso escolhido, constata-se, via de regra, que o intervalo
entre o peso mais leve e o peso indicado é menor do que entre o peso mais pesado e o
peso indicado. Isto de novo mostra que existe uma diferença entre o contínuo físico e o
contínuo psicológico. Se existe uma diferença entre os dois, qual é esta diferença,
existem normas, elas são válidas em todas as circunstâncias? As normas somente são
válidas dentro da amplitude de uma qualidade sensorial ou existem normas válidas para
todos os sentidos? São estes alguns problemas que são estudados na Psicofísica. No
primeiro capítulo já vimos que nem sempre é fácil dar uma resposta definitiva a estas
questões.
Sendo que a psicofísica teve sua origem na Alemanha, alguns autores continuam
indicando o estímulo com R (Reiz) e a sensação com S (Sensation). Infelizmente são
estas as mesmas letras usadas universalmente para indicar estímulos (S) e resposta (R),
exatamente o contrário. Seguindo uma tendência mais moderna, indicamos o estímulo
com a letra S, e a sensação com a letra R. Contudo, sempre deve verificar-se, ao
consultar outros autores, qual o sistema de indicação que estão usando.
2. Os Limiares
Existem três tipos de limiares: o limiar absoluto, o limiar terminal e o limiar diferencial. Os
dois primeiros pertencem à mesma categoria sendo que indicam as extremidades da
percepção do organismo: o limiar absoluto, o menor valor de estímulo físico apenas
percebido e o limiar terminal, o maior valor do estímulo apenas percebido. O limiar
diferencial é a diferença apenas perceptiva entre dois estímulos. Podemos dizer que o
limiar é a expressão em unidades do contínuo físico do ponto de onde o organismo
começa a perceber um estímulo físico baixo, ou não percebe mais um estímulo físico alto,
ou a mínima diferença que ele percebe entre dois estímulos da mesma ordem. Sendo que
a expressão é em unidade física, trata-se aqui de uma expressão de um valor subjetivo no
contínuo físico.
2.1. O Limiar Absoluto
O Limiar Absoluto (L.A.) (Em alemão, Reiz Limen = R.L.) representa a distância que existe
no contínuo físico entre o valor zero (a ausência total de som, de luz, de peso) e o
primeiro valor percebido pelo organismo. Este primeiro valor que o sujeito percebe,
infelizmente não é sempre o mesmo; por exemplo, numa série de agulhas finas que
variam de 1cg a 5cg, podemos constatar que ele já acusa a percepção do estímulo
quando apresentamos 1cg na primeira vez, mas na segunda vez percebe o estímulo
quando é apresentada a agulha com 3cg, e na terceira vez talvez ele comece a perceber
somente o estímulo de 4cg. Portanto, existe uma oscilação da mesma forma como
podemos constatar quando tomamos várias vezes o tempo de reação de uma pessoa.
Sendo que a distância oscila, torna-se necessário tomar diversas medidas para se
estabelecer estatisticamente o valor do limiar absoluto. Desta forma, podemos definir o
L.A. como o valor do estímulo que o organismo é capaz de perceber na metade de suas
17
tentativas; em outras palavras, em 50% de suas tentativas. Como veremos mais adiante,
existem diversos métodos para calcular este valor mediano de 50%.
Um caso que às vezes causa alguma dificuldade é o limiar absoluto da percepção de
duas pontas na pele, usando o estesiômetro. Conforme a localização na pele, por
exemplo: a polpa do dedo, a mão ou as costas, a pessoa percebe mais ou menos
rapidamente que são tocadas por duas pontas e não uma só. “rapidamente” se refere à
distância entre as duas pontas que é sentida pela pessoa e que, portanto, provoca uma
percepção de duas pontas. Na polpa do dedo, alguns não são muitas vezes o suficiente
para que a pessoa acuse a percepção de duas pontas; na palma da mão esta distância
poderá ser maior e nas costas, esta distância, muitas vezes ultrapassará 5cm. A distância
necessária entre zero (a não-distância ou a percepção de uma ponta só) e o tamanho da
primeira distância sentida é o valor do limiar absoluto de duas pontas, levando em
consideração que se deve tomar o valor dos 50%.
Sendo que normalmente começa-se com o valor zero; por exemplo a ausência de peso
físico, corresponde a ausência de peso percebido, o Limiar Absoluto de um estímulo é em
geral numericamente igual ao ponto limiar absoluto, ou o valor onde a pessoa começa a
perceber.
2.2. O Limiar Terminal
O Limiar Terminal (L.T.) corresponde ao valor mais alto de estímulo que o organismo é
capaz de perceber, calculado como um valor mediano dos pontos em que começou a
perceber nas diversas tentativas. O limiar Terminal mais patente é o do ouvido em relação
a sons agudos, que fica perto de 22.000 c.p.s. .Para outros sentidos, o Limiar Terminal é
às vezes definido como o valor do estímulo que o órgão de sentido é capaz de perceber
sem causar dano ao próprio órgão.
2.3. O Limiar Diferencial
O Limiar Diferencial (L.D.) é a distância entre determinado estímulo tomado como padrão
e o aumento ou diminuição na mesma escala que é apenas percebido pelo organismo. O
quanto se deve acrescentar à luz de uma determinada intensidade para que se perceba a
diferença entre a luz original e a luz aumentada? Para a determinação do Limiar
Diferencial toma-se, habitualmente, uma proporção de 75%; quer dizer, em 75 vezes de
100 apresentações da diferença, esta diferença é percebida.
Como veremos, existem diversos métodos para medir estes limiares. Os métodos
essenciais:
1) O Método dos Limites, também chamado Método de estímulo ou de diferenças apenas
perceptíveis, ou, método de exploração seriada - com um variante: método de séries
plenas e ordenadas.
2) O Método dos Estímulos Constantes, também chamado Método dos casos falsos e
verdadeiros, Método das freqüências ou Método das diferenças de estímulo constante.
O Método do Erro Médio ou Método de ajuste, Método da igualação Método de
reprodução.
Na Figura 2, representamos graficamente os diversos limiares dentro do contínuo físico.
18
Linear Terminal (L.T.)
--- Ponto limiar terminal (P.L:T:)
--- Ponto limiar diferencial (P.L.D.)
--- Estimulo padrão (S.P.)
Limar Absoluto (L.A.)
Estímulo
Contínuo do
Linear Diferencial (L.D.)
--- Ponto Limiar absoluto (P.L.A.)
--- Estimulo zero
Figura 2: Contínuo físico de Estímulo (modificado de Thurstone, 1948, p.125)
O ponto limiar absoluto e o ponto limiar terminal apesar de serem numericamente
idênticos, respectivamente, no Limiar Absoluto e ao Limiar Terminal - tem um significado
diferente destes, pois o ponto apenas quer indicar um determinado valor na escala,
enquanto que os Limiares, essencialmente, querem indicar uma distância.
O Ponto Limiar diferencial, no entanto, é inteiramente diferente do Limiar Diferencial, pois
o primeiro indica um valor determinado na escala, enquanto que o segundo corresponde à
relação da diferença entre o ponto limiar diferencial e o valor do estímulo padrão e o
próprio valor do estímulo padrão.
Definindo o L.A. de uma sensação, em relação a uma determinada estimulação como “a
magnitude mínima desse estímulo capaz de provocar uma resposta”, P. Fraisse (1958)
chama atenção para o fato de que medindo um L.A. , não estamos medindo uma
sensação e sim uma grandeza física. Procuramos o menor valor dessa grandeza que
possibilita o sujeito de manifestar sua percepção através de uma resposta. Esta resposta
poderá ser expressa de diversas maneiras: uma pessoa poderá nos dizer simplesmente
“sim” ou “não”, “sinto” ou “não sinto” ou poderá apertar um botão quando sente; um animal
poderá salivar ou saltar, apertar uma barra ou bicar num disco. Isto nos permite estudar a
psicofísica através das técnicas do condicionamento operante ou instrumental.
Também no caso do L.D., definido como “a menor diferença entre dois valores de uma
mesma estimulação suficiente para permitir uma resposta discriminativa”, não estamos
medindo a sensação de diferença e sim a diferença mínima entre duas intensidades
físicas que possibilitam sua discriminação. Também no caso do L.D. é possível o estudo
tanto em seres humanos como em animais e nestes últimos, especialmente através dos
processos de condicionamento.
3. O Valor Probabilístico dos Limiares, Os Erros
Não haveria dificuldade nenhuma se os limiares fossem magnitudes constantes. A
dificuldade reside, exatamente no fato de que as magnitudes dos limiares variam de uma
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condição para outra. Quais são as causas desta instabilidade que nos obriga a tomar
muitas medidas nos estudos psicofísicos? P. Fraisse reduziu a três as diversas causas
destas variações nos valores dos limiares momentâneos:
1. As variações de excitabilidade dos receptores periféricos.
Como exemplo, podemos citar a sensibilidade de cones e bastonetes na retina que nem
sempre é a mesma, mas que varia conforme o nível de adaptação ou a intensidade da
luz. Sabemos que o limiar absoluto no começo da adaptação ao escuro é mais ou menos
10.000 vezes mais alto do que o limiar absoluto depois de 30 minutos. (Muller, 1965;
Hecht,1934). A sensibilidade auditiva depende da tensão variável da membrana do
tímpano, da cadeia de ossículos no ouvido médio e do equilíbrio de pressão entre o
ouvido médio, que pode ser alterado por uma simples deglutição.
2. As modificações das atitudes do sujeito.
Sabe-se que nossa sensibilidade depende de certas condições centrais que podem ser
caracterizadas em termos psicológicos; a sensibilidade pode aumentar quando dirigimos a
nossa atenção especialmente para um estímulo ou quando temos algum conhecimento
anterior a respeito do mesmo, assim quando estamos sozinhos numa casa isolada com
dedo de ladrão até o ruído de uma folha seca movida pelo vento é ouvido e causa susto,
por outro lado um violinista experimentado ouve com mais facilidade uma desarmonia do
que um violinista aprendiz. Da mesma forma a sensibilidade poderá diminuir pela fadiga,
pela monotonia do experimento ou pela distração causada por estímulos externos ou por
causas internas. Fadiga no volante abaixa a sensibilidade pelas alterações na direção da
estrada e pelos sinais de outras viaturas e de trânsito, todo mundo conhece a fatalidade
que uma tal fadiga pode ocasionar.
3. A Influência da Série de Medições.
Aqui merecem destaque as atitudes provocadas pelas condições temporais ou espaciais
em que as medições de limiar são realizadas. Em qualquer momento dado, a percepção
de um estímulo depende das estimulações precedentes e das estimulações simultâneas.
A) A Ordem Temporal das Medições. Quando fazemos um estímulo crescer até o ponto
em que vai ser percebido, notamos que o valor é superior ao valor do mesmo estímulo
quando é apresentado em ordem decrescente. Em outras palavras: é mais fácil seguir um
estímulo quando este diminui do que começar a perceber um estímulo quando este
aumenta em intensidade. Daí podemos compreender que a percepção de um estímulo
sempre pode estar influenciada pelas estimulações precedentes. Este fato chama-se
efeito de persistência, que pode levar a erros de habituação ou erros de antecipação (de
expectativa). Temos o primeiro tipo de erros, os erros de habituação, quando o sujeito
emitiu um certo número de vezes a mesma resposta, de tal forma que ele se habitua e dá
esta mesma resposta mesmo quando ela não corresponde à sua percepção. Temos o
20
segundo tipo de erros , os erros de antecipação, no caso contrário, em que o sujeito tem
uma expectativa, sabe que o estímulo vai ser perceptível e antecipa a mudança, dizendo
que percebe o estímulo quando na realidade não o percebe. Com relação a estes efeitos,
podemos compreender que também o número de estímulos poderá ter sua influência.
Uma apresentação de muitos estímulos acima ou abaixo do limiar poderá influenciar as
respostas do sujeito e, conseqüentemente, o limiar.
Um caso especial tem-se na medição do Limiar Diferencial, onde sempre se comparam
dois estímulos, um estímulo padrão (S.P.) e um estímulo de comparação (S.C.). Se o S.P.
sempre antecede o S.C., o que significa que na igualdade objetiva dos dois, o S.C.,
parece maior. Um meio simples para evitar este erro de posição temporal é apresentar o
S.P. ora em primeiro, ora em segundo lugar.
B) A Ordem Espacial dos Estímulos. A dificuldade criada por esta ordem manifesta-se na
medição do L.D., quando dois estímulos são apresentados simultaneamente, contrário ao
caso anterior, onde a apresentação é sempre sucessiva. Na apresentação simultânea,
pode ocorrer um erro de posição espacial. Por exemplo, quando sempre apresentamos o
S.P. ao lado direito e o S.C. ao lado esquerdo, poderá ocorrer um sub- ou uma superestimação sistemática do estímulo ao lado esquerdo ou ao lado direito. O mesmo poderá
ocorrer - mutatis mutandis - quando um estímulo é apresentado em cima e outro em
baixo. Um meio simples para evitar este erro de posição espacial é apresentar o S.P. ora
à direita, ora à esquerda numa ordem ao acaso.
C) O Erro de Estímulo. Esse erro está, em certo sentido, ligado à segunda causa das
variações ou às modificações das atitudes do sujeito, porém também pode ser visto como
uma atitude geral errada que pode anular o valor das respostas do sujeito. Nos
Experimentos em psicofísica, o sujeito deve nos dizer o que ele percebe, como ele sente
o estímulo apresentado. Portanto, ele deve fazer um julgamento sensorial. Muitas vezes,
os sujeitos podem achar que eles devem “acertar” e procuram através de correções dar
uma resposta que está mais de acordo com a realidade física da situação, portanto,
procura dar um julgamento objetivo. Se ele faz isto, então se diz que está cometendo um
erro de estímulo, mudando o julgamento sensorial em um julgamento objetivo. Sua
atenção é dirigida em primeiro lugar para o estímulo quando deveria estar dirigida para
suas sensações e intensidade perceptiva. Ele julga conforme sabe e não conforme sente.
Neste contexto, Thurstone (1948) lembra que a precisão dos julgamentos objetivos pode
ser melhorada através da prática. Um empregado de açougue ou de armazém pode
acertar o peso de um pedaço de carne ou de queijo com bastante precisão. Um
empregado dos Correios pode avaliar a selagem de uma carta pelo simples sopesar. Um
desenhista avalia com bastante precisão uma linha de 15 cm. Thustone tira a conclusão
de que “Para tais pessoas, seria provavelmente difícil servir como sujeitos em
experimentos psicofísicos onde lhes é solicitado fazer julgamentos sensoriais dentro do
campo de sua experiência. Elas aprenderam a descrever intensidades perceptivas S em
termos de valores físicos correspondentes R.
Consideramos acima as principais causas da variabilidade das medidas dos limiares
instantâneos. O que podemos medir, portanto, é apenas um estado momentâneo de
sensibilidade que num dado momento é diferente de outro momento. Da mesma forma
como não podemos medir o Tempo de Reação de uma pessoa fazemos uma medida só mas teremos que repetir diversas vezes esta medida para depois tirar uma média, que é
representativa pelo T.R. da pessoa - também na medição dos Limiares, temos que nos
21
basear em diversas medições para anular desta forma as oscilações. Esta média pode
ser representativa porque se constata em geral uma distribuição normal.
Um ponto bastante importante que devemos sempre ter em mente é que a magnitude de
um limiar nunca é um valor fixo ou constante, mas é um valor probabilístico, baseado em
um conjunto de limiares instantâneos com uma distribuição normal. Sendo um valor
probabilístico, este poderá apenas ser estabelecido através de processos estatísticos, e
por isso que o valor probabilístico do limiar também é chamado o valor estatístico do
limiar.
4. A Distribuição Normal dos Valores Limiares Instantâneos
Deixando de lado a fórmula matemática que define a distribuição normal, podemos
satisfazer-nos com um conceito mais simples desta distribuição que é bastante comum.
Tomemos, por exemplo, um grupo de 1000homens de 25 anos que podemos colocar
numa praça grande. Coloquemos os homens de estatura mais baixa na extrema esquerda
e os de estatura mais alta na extrema direita de uma linha marcada no chão. Depois
façamos marcas nesta linha que correspondem a uma progressão de 5 cm de altura.
Vamos dizer que os homens mais baixos medem 1,30m e os mais altos 1,90m. Agora
coloquemos os homens em fileiras, os de 1,30m, depois os de 1,35 m, de 1,40 m e assim
progressivamente de 5 em 5 cm até os de 1,90m. Quando olharmos a distribuição dos
homens de cima de um edifício alto, ela parecerá com a Figura 3; quer dizer, porcos
homens muito baixos e poucos homens muito altos e a maioria deles está por volta de um
valor médio de 1,60m. O mesmo fenômeno podemos observar quando fizermos uma
distribuição conforme seis pesos, mesmo que a colocação de cada indivíduo possa ser
diferente, pois haverá baixos gordos e altos magros e que têm aproximadamente o
mesmo peso.
Figura 3: Distribuição Normal
Muitos fenômenos biológicos , antropométricos, sociais e econômicos e também
psicológicos seguem esta distribuição normal simétrica. Em homenagem a Gauss, esta
distribuição é chamada distribuição gaussiana, ou – considerando sua forma – recebe o
nome de distribuição em forma de sino (bell shaped).
Nas medidas psicológicas, a distribuição normal é encontrada nos testes padronizados de
inteligência , na velocidade de associação, na amplitude de apreensão, no tempo de
reação e nas notas de testes educacionais. Por exemplo, no tempo de reação, temos uma
distribuição normal dos tempos de reação dados por um indivíduo em , por exemplo, 100
repetições, e também temos uma distribuição normal quando juntamos numa curva só os
22
tempos de reação médios de 1.000 sujeitos, supondo que são do mesmo sexo e da
mesma idade.
Também nos erros de observação, como as medidas de uma altura, ou a avaliação de
velocidades, ou de tamanhos lineares, as avaliações de peso, de brilho, constata-se que
os erros se distribuem mais ou menos da mesma maneira acima e abaixo do valor real,
causando a distribuição normal simétrica. Podemos, no entanto, Ter casos nos quais há
uma superestimação, de tal forma que o valor médio estimado cai acima do valor real;
neste caso, a distribuição se faz em torno do valor médio estimado e não do valor real.
Veremos este caso quando tratarmos do método do Erro Médio.
Quando, por exemplo, fazemos diversas medidas psicofísicas, medindo várias vezes o
limiar absoluto instantâneo da sensibilidade tátil com uma série de agulhas que variam de
1 a 7 cg, é possível que na aplicação de 20 séries completas, 10 na ordem ascendente e
10 na ordem descendente, numa só pessoa, encontremos os seguintes resultados:
1cg 2cg 3cg 4cg 5cg 6cg 7cg
0
1
5
8
5
1
0
Os números que indicam os resultados querem dizer o seguinte: nas 20 séries, indo de
1cg a 7cg nas séries descendentes, a pessoa nunca percebeu 1cg; o peso de 2cg apenas
foi percebido uma vez em 20, como o valor mais baixo, 3cg foi percebido 5 vezes como o
valor mais baixo, 4cg foi percebido 8 vezes em 20 como o valor mais baixo, e assim em
diante. Desta forma a soma dos “valores mais baixos percebidos” nas 20 séries é
necessariamente 20. Examinando estas freqüências, nota-se que elas apresentam uma
distribuição normal. Para evitar qualquer mal-entendido, temos que salientar que
assinalamos apenas as vezes em que o valor de estímulo foi percebido como a mais
baixo, portanto, os valores inferiores a ele naquela série não foram percebidos. O total de
apresentações de estímulo (7) foi 20 vezes 7, portanto 140 apresentações, distribuídas
em 20 séries cada uma de 7 agulhas de pesos diferentes. Em cada destas 20 séries
alguma agulha (peso) foi o primeiro percebido, ou melhor, percebido como tendo peso
mais baixo. Quando verificamos que 3cg nas 20 séries foi cinco vezes percebido como o
valor baixo e que 2 cg foi percebido uma vez como o mais baixo, podemos concluir que
3cg foi percebido 6 vezes, sendo 5 vezes como o mais baixo e uma vez depois do peso
de 2 cg. O mesmo vale para 4 cg que foi percebido 8 vezes como o mais baixo, o primeiro
percebido, mas no total foi percebido 14 vezes (8 como primeiro e 6 vezes depois do peso
de 3cg. Desta maneira, na suposição que os valores acima do mais baixo percebido
sempre serão percebidos, o que nem sempre é o caso, podemos elaborar a seguinte
tabela:
Estímulo
Percebidos como “mais baixos”
Efetivamente percebidos
1cg
0
0
2cg
1
1
3cg
5
6
4cg
8
14
5cg
5
19
6cg
1
20
7cg
0
20
Tomamos como base os valores efetivamente percebidos, podemos formar uma curva de
freqüência acumuladas (curva sigmóide ou Ogiva de Galton) que corresponde à
freqüência da percepção de cada valor de estímulo. A Figura 4 mostra tanto a distribuição
normal como a curva das freqüências acumuladas.
23
em %
100
20
18
16
75
14
12
10
50
8
6
25
4
2
0
S em cg
1
2
3
4
5
6
7
0
Figura 4: Curvas de Distribuição Normal e de freqüência acumulada
Boring apresenta a seguinte explicação psicofisiológica para esta evolução da freqüência
da percepção: o estímulo eficaz, quer dizer, aquele capaz de desencadear um processo
sensorial, deve possuir suficiente força para excitar os receptores. Porém, como já vimos,
a excitabilidade periférica e central depende de muitos fatores que podem atuar num
sentido favorável e desfavorável. Para perceber um estímulo pouco intenso, muitos
fatores favoráveis têm que estar presente simultaneamente, o que é mais raro, enquanto
que o estímulo mais intenso depende de menos fatores favoráveis para ser percebido.
Uma vez verificado que estamos na presença de uma distribuição normal, é fácil
encontrar as medidas de tendência central. Existem 3 medidas de tendência central: a
média, a mediana e a moda. Quando se tem poucas medidas bastante dispersas, a
mediana é o valor de tendência central mais indicada. Portanto, na psicofísica, onde uma
grande quantidade de medidas prolongaria mais ainda os experimentos que por si já são
um tanto monótonos e fatigantes, temos normalmente um número mais restrito de dados,
de forma que a mediana é considerada a melhor medida da tendência central. Sendo que
os resultados são relativamente poucos, não se usa a média, que necessariamente seria
afetada por algum resultado extremo.
Desta maneira, chegamos a uma definição estatística do L.A. como sendo a mediana dos
limiares instantâneos, o que quer dizer, o valor de estímulo que tem tanta possibilidade de
ser percebido como de não ser percebido. (Fraisse,1956). A Figura 5 mostra uma
24
combinação da distribuição normal de valores mais baixos percebidos e da curva de
freqüência acumulada, mostrando as porcentagens ao lado direito, que permite
determinar, graficamente, o valor da mediana, pelo ponto dos 50% que se encontra na
coluna acima dos 4 cg, indicando o L.A. médio.
Figura 5: Indicação da mediana na curva de freqüências acumuladas
Apesar da mediana ser um valor de tendência central mais representativo, usa-se
também às vezes a média, como veremos no método dos limites e no método do Erro
Médio. Isto não oferece dificuldades quando a distribuição é normal e com bastante
dados. Em todo caso é bastante justificável que a medição mais correta de um limiar seja
feita através de um cálculo estatístico. Apesar disso, há autores que continuam
defendendo os métodos mais clínicos, apoiando-se numa só medida. Argumentam que a
procura de um valor de tendência central não tem sentido quando não se tem certeza
absoluta a respeito de cada uma das medidas. Dentro do processo de limiar
momentâneo, qualquer medida é relativa, mas tomar uma só medida como
representativa, é, de certo modo, também aplicar uma estatística, mas na qual o
experimentador decide de antemão que a única medida que toma é representativa para
todas as medidas possíveis. Mesmo que isto possa satisfazer para um exame clínico mais
rápido, para a experimentação em psicofísica, uma quantidade razoável de medidas de
limiar instantâneo é indispensável para poder chegar-se a um valor médio representativo.
25
Capítulo III – Os métodos psicofísicos clássicos
O pesquisador que quer criar métodos para a determinação de limiares pode, conforme
Candland (1968) fazer uma escolha entre diversas maneiras de apresentar o estímulo no
caso do L.A. , ou o estímulo padrão e o estímulo de comparação no caso do L.D..
1. O experimentador apresenta o estímulo (método de limites, método de estímulos
constantes e também o método do erro médio aplicado em pesquisa em campo aberto, o
próprio sujeito manipula o estímulo (método do ponto central e do erro médio no
laboratório).
2. Pede-se ao sujeito para avaliar se o estímulo padrão e o estímulo de comparação são
iguais (método do erro médio) ou se são diferentes (métodos dos limites e dos estímulos
constantes).
3. Em tentativas sucessivas o estímulo de comparação é apresentado é apresentado de
tal maneira que ele se aproxima ou se afasta do estímulo padrão (métodos dos limites, do
ponto central e do erro médio) ou ele é apresentado randomicamente, ao acaso (método
dos estímulos constantes).
Na base destas três opções as operações dos diversos métodos psicofísicos se tornam
mais claras. Os métodos indicados são os mais comumente usados e deles diversos
outros são usados e deles diversos outros são derivados. “Uma compreensão das
operações e dos postulados básicos dos métodos clássicos e um conhecimento das
suposições a respeito dos cálculos matemáticos dos dados nos auxiliam em admitir as
suposições e a acuidade dos métodos derivados” (Candland, 1968).
1. O método dos limites
Este método foi inicialmente usado para medir o limiar diferencial e foi nesta função que
Weber e Fechner o batizaram de método de diferenças apenas perceptíveis. Sendo que o
método funciona através de pequenos acréscimos e decréscimos Wundt lhe deu o nome
de método das variações mínimas. Por fim, Kraepelin chamou-o de método dos limites,
pois vai subindo e descendo até um valor limite de percepção ou de diferenciação
perceptiva. Este último nome é atualmente o mais usado.
G. Durup, no vocabulário de psicologia de H. Pieron, define o método dos limites como
um método direto de medição dos limiares que consiste em variar o estímulo até que
chegue a ser apenas perceptível ou apenas imperceptível. Por esta definição o método
seria somente aplicável no caso do limiar absoluto, porém de fato o método foi e é usado
também para a determinação do limiar diferencial, portanto poderia acrescentar-se ou
apenas diferenciáveis de um outro estímulo (estímulo padrão).
Warren no dictionary of Psycology (1964) define o método de duas maneiras:
Um método de pesquisa em psicofísica no qual se diminui gradativamente o valor de um
determinado estímulo (ou a diferença entre dois estímulos) até que não seja mais
perceptível, ou também aumentando o valor do estímulo (ou a diferença entre dois
estímulos a partir do zero até que seja apenas perceptível).
26
Um método psicofísico inventado por Bouguer, no qual se apresentam ao observador dois
estímulos sensivelmente distintos e se aumenta gradativamente o maior da mesma
maneira até que não se pode mais distinguir a diferença original (o limite ou valor
limitativo está entre dois valores determinados desta maneira).
Como se vê a primeira definição fala mais especificamente do L.A., mesmo que aquilo
que o autor colocou entre parênteses tanto possa ser entendido como valendo para a
medição do L.A. de dois pontos, como para a medição do L.D. A Segunda definição já fala
mais especificamente da ampliação do método para a determinação do L.D.
O essencial para o método dos limites é que o experimentador faz o estímulo
gradativamente aumentar ou diminuir em intensidade, distância etc. até que o observador
diz, no caso do L.A. que ele começa a perceber o estímulo ou não o percebe mais e no
caso do L.D. que ele percebe ou não percebe mais a diferença entre o estímulo padrão e
o estímulo de comparação. Este procedimento é repetido várias vezes e depois se
determina um valor médio que com a maior probabilidade indica o L.A. ou o L.D. do
indivíduo. A determinação de um L.A. ou L.D. mais generalizável será feita pela média
dos limiares de diversos indivíduos.
Os cálculos mais exatos para encontrar o L.A. e o L.D. serão tratados nos seguintes
capítulos mais pormenorizadamente.
Os métodos derivados dos métodos dos limites são:
O método do ponto central que é usado com estímulos que variam de um modo contínuo,
como, por exemplo, intensidades de luz ou de som, e no qual o estímulo é manipulado
pelo próprio sujeito. Este método tanto pode ser usado para a determinação do L.A.
como do L.D.
O método das séries planas e ordenadas é essencialmente idêntico ao método dos
limites, porém apresenta a seguinte diferença: no método dos limites se continua
apresentando o estímulo até que o observador diz que percebe ou não percebe mais A
diferença de estímulo padrão e o estímulo de comparação e no método se séries plenas e
ordenadas se continua apresentando a série completa de estímulos, pois as vezes a
pessoa depois de uma resposta na qual julga o sp e o sc como iguais repete uma
resposta na qual julga o sc maior como menor, e depois de um julgamento do sc como
maior pode avaliar um sc maior como igual. Este método é somente usado para a
determinação do L.D.
2. O método dos estímulos constantes
Este método foi inicialmente chamado por Fechner de método dos casos falsos e
verdadeiros, sendo que o observador julga os sc como maiores ou menores do que o sp e
sempre há alguns julgamentos em que um sc maior é julgado como menor e que um sc
menor é julgado como maior, portanto em ambos os casos são julgamentos falsos,
enquanto em outros julgamentos o observador acerta julgando sc como maior como maior
e o sc menor como menor do que o sp. Como se vê Fechner usava o método
essencialmente para a determinação do limiar diferencial.
27
Algumas vezes o método também foi denominado método das freqüências ou também
método das diferenças do estímulo constante, porém o mais usado é o método dos
estímulos constantes.
Este método foi mais estudado e desenvolvido pelos alemães G.E. Muller e F. Urban.
Warren define o método dos estímulos constantes como o método psicofísico na qual a
ocorrência de uma sensação ou de outra experiência (subjetiva) é determinada como uma
função da variação do estímulo.
O método oferece como resultado uma função psicométrica que mostra a freqüência de
uma experiência por julgamento em função do valor do estímulo e que determina
constantes estatísticos do tipo de limiar, medida de precisão e ponto de igualdade
subjetiva.
Apesar de Warren definir desta forma o método de estímulos constantes como um
método para a determinação do limiar diferencial assim como originalmente foi planejado
por Fechner, podemos usar este método também para a determinação do L.A.
Neste método da mesma forma como no método dos limites os estímulos são
apresentados pelo experimentador, porém sempre são constituídos por estímulos
discretos e constantes. No entanto a maior diferença entre o método dos estímulos
constantes e o método dos limites está no fato de que no primeiro os estímulos não são
oferecidos em séries ascendentes e descendentes, mas completamente ao acaso. Isto
tanto poderá ser feito para a determinação do L.A. como para a determinação do L.D.
Apesar de ser possível traçar uma função psicométrica para a determinação do L.A.
geralmente o nome função psicométrica é mais usado para a função que determina a
relação entre respostas e valores de estímulo na determinação do L.D. mais adiante
veremos mais em detalhes a construção desta função psicométrica.
Método derivado. O método do julgamento pode ser considerado como um método que se
deriva do método dos estímulos constantes e também foi chamado o método de estímulos
isolados. Neste método estímulos discretos são apresentados em ordem ao acaso, mas
sem que haja um estímulo padrão, cada estímulo da série é julgado conforme uma
impressão absoluta, relacionando-o com uma impressão subjetiva que funciona como um
estímulo padrão subjetivo, peça experiência da série completa dos estímulos. Determinase os limiares nas diversas categorias nos quais o observador classifica os estímulos. O
método de julgamentos absolutos pode ser considerado como um método de transição
entre os métodos psicofísicos clássicos e o método das escalas.
3. O método do erro médio
Também este método também foi desenvolvido por Fechner e por outros autores foi
chamado método de ajustamento, método de igualação ou método de reprodução. Os
últimos nomes indicam o melhor procedimento enquanto o nome dado por Fechner se
refere mais ao resultado final. O procedimento geral é o seguinte, apresenta-se ao sujeito
um sp, por exemplo, uma linha ou intensidade de som ou luz e pede-se lhe de igualar o
mais possível um outro estímulo ao valor do sp.
28
Neste método o sc é manipulado pelo sujeito, em vez dele assinalar uma diferença ele
deve chegar a uma igualdade subjetiva e a diferença entre o sp e o sc julgado por ele
como igual ao sp é medida. Desta medida então resultam os erros sobre os quais é
calculado um erro médio. Este método nos dá uma distribuição geralmente normal dos
erros cometidos e através dele podemos verificar a superestimação ou subestimação do
sp.
Sendo que sempre existe um sp que deve ser copiado ou igualado o método não se
presta para a determinação do L.A. Talvez o método do ponto central poderia ser
considerado uma adaptação do método do erro médio à determinação do L.A. O método
é mais usado para a determinação do ponto de igualdade subjetiva o que faz com que
este método se presta muito bem para o estudo das ilusões ópticas geométricas.
Vamos agora aplicar estes métodos a determinação do L.A. e a determinação do L.D,
através desta aplicação o funcionamento dos métodos se tornará mais concreta,
possibilitando também a descoberta de problemas que poderão ser estudados por estes
métodos.
29
CAPÍTULO IV - A Determinação do limiar absoluto
Vimos no capítulo III que o limiar absoluto é o valor do estímulo que o organismo é capaz
de perceber na metade de suas tentativas, quer dizer em 50% das vezes ele percebe este
valor do estímulo enquanto no restante 50% das vezes ele não o percebe. O limiar
terminal pose ser definido da mesma maneira, porém para o outro estremo do contínuo
psicológico.
Temos que salientar aqui que limiar não deve ser confundido com sensibilidade, pois pelo
menos para o limiar absoluto a relação é inversa, quer dizer quanto mais baixo é o limiar
de uma pessoa, por exemplo, para a percepção de luz mais alta é a sua sensibilidade
para luz. Para o limiar terminal a relação é direta, pois quanto mais alto o limiar terminal
para freqüência de sons maior a sensibilidade par freqüência de sons. Mas isto somente é
válido para o limiar terminal, pois também para o limiar diferencial a relação é inversa.
1. O Método dos limites
A aplicação deste método é relativamente simples, mesmo que no caso de luz e de som
precisa de instrumentos bastante precisos e, portanto dispendiosos, mas o método pode
ser demonstrado bastante bem como uma série de agulhas finas de peso crescente, com
gostos e cheiros e com a distância entre os pontos de um estesiômetro ou compasso.
Inicialmente se dá ao observador um estímulo de uma intensidade tão fraca que se tem a
certeza que ele não pode detectar, este estímulo se chama estímulo subliminar ou
infraliminar. O experimentador em seguida aumenta a intensidade do estímulo até que o
observador diz que percebe o estímulo. O experimentador anota este valor, porém para
os cálculos ele usará um valor intermediário entre o último estímulo que não foi percebido
e o primeiro que foi percebido. Esta série de estímulos que sempre aumenta chama-se
série ascendente.
Depois da série ascendente o experimentador apresenta uma série em ordem inversa ou
uma série descendente. Neste caso ele começa com um estímulo perceptível ou estímulo
supraliminar diminuindo-o gradativamente em intensidade até que o observador diz que
não mais percebe o estímulo. Aqui também o experimentador anota tomando para os
cálculos o valor intermediário entre o último estímulo percebido e o primeiro estímulo não
percebido. Figura 6 visualiza melhor o procedimento explicado acima.
descend.
Pld
Ld
+
+
+
+
+
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
ascend.
Legenda
+ : O observador percebe o estímulo
-:
O observador não percebe o estímulo
Pla: Ponto limiar instantâneo da série
ascendente: 4,5
+
-
Pla
La:
La
Pld: Ponto limiar instantâneo da série
descendente: 2,5
Ld:
Limiar da série ascendente: 4,5
Limiar da série descendente
Figura 6: Diagrama do método dos limites para a determinação do L.A.
30
Numa pesquisa psicofísica devem ser aplicadas diversas séries ascendentes e
descendentes em número idêntico. Isto faz com que os sujeitos em psicofísica facilmente
podem cair numa certa estereotipai de respostas. Foram planejados alguns meios para
evitar esta estereotipai ou para descobrir se eles estão atentos ou não.
Meios para se evitar a estereotipia
1- As séries não devem começar no mesmo ponto, seja infra, seja supraliminar. Isto para
evitar que a pessoa se acostuma de p.ex. sempre depois do quarto estímulo dizer que já
percebe, o que seria possível se começássemos sempre a partir do mesmo ponto.
2- Normalmente as séries não devem estender muito, recomendando-se o uso de 4 a 7
estímulos por série. Logo que o observador diz que não percebe mais uma série
descendente ou começa que começa a perceber numa série ascendente, o valor anotado
e a série é considerada como terminada. As vezes para ter maior certeza se repete mais
de uma vez aquele valor verificado se o observador reagiu certo.
3- Outro método para se evitar a estereotipai nas respostas e também a monotonia na
apresentação dos estímulos consiste em intercalar de vez em quando um estímulo de
uma intensidade que o observador não esperava. Numa parte da série que somente tem
estímulos muito fracos inclua-se um estímulo forte e vice versa. Desta maneira o sujeito
está sendo controlado, se não responde a um estímulo forte no meio de estímulos fracos
ou não responde a um estímulo mais fraco no meio de estímulos fortes demonstra que
caiu numa estereotipai de respostas e não consegue manter a devida atenção. Este
artifício é útil, porém seu uso não deve ser exagerado, não se apresentando mais de dois
estímulos estranhos por série.
Voltando para a Figura 6 temos que salientar que o pld é mais baixo que o Pla, uma
explicação para este fato é que o organismo uma vez que foi alertado e está atento para
um estímulo onde antes não havia nada. É exatamente esta diferença entre o pld e o pla
que mostra a oscilação já em função da habituação. Um limiar calculado apenas na base
de pontos limiares descendentes daria um limiar bastante abaixo do que o limiar que a
pessoa possui para detectar estímulos novos.
A fórmula para o cálculo do L.A. é bastante simples:
a1 + d1 + a2 + d2…an + dn
Σ(a+b)
=
N
N
Na qual: a = série ascendente.
d = série descendente.
N = nº total de séries ascendentes e descendentes.
Esta fórmula dá apenas o resultado final e não informa a respeito da média entre cada
série ascendente e descendente, nem informa a respeito da diferença em geral entre as
séries ascendentes e descendentes. Para conhecer melhor os resultados de cada par
ascendentes e descendentes pode usar a seguinte fórmula:
( a1 + d1 )
2
+
( a2 + d2 )
2
N/2
+
( an + dn )
2
A fórmula seguinte pode ser usada quando se quer saber qual a diferença entre a média
das séries ascendentes e descendentes:
31
Xa + Xd
2
= LA
O resultado de todas as fórmulas é obviamente o mesmo, porém os resultados
intermediários tem um significado diferente.
Anotação dos resultados e cálculo do L.A
Exemplo I: Sendo que o método dos limites freqüentemente é usado na audiometria,
testando a acuidade auditiva do sujeito, segue o exemplo desta área. Toma-se um som
de determinada freqüência, p.ex. de 4000 ciclos por segundo e começando com uma
intensidade bem audível diminui-se a mesma até que o som não é mais ouvido. Em
seguida começa-se com uma intensidade infraliminar e aumenta-se até que o sujeito
informa que está ouvindo o som. Em cada série ascendente (do infra para o supraliminar)
toma-se como valor momentâneo do L.A. um valor intermediário entre a última
intensidade não ouvida e a primeira ouvida, e na série descendente o valor entre a última
intensidade ouvida e a primeira não ouvida. Desta maneira diversas séries ascendentes e
descendentes são realizadas e por fim se tira a média dos valores liminares
momentâneos que é considerado como o valor que representa o L.A. para aquela
freqüência.
O mesmo processo é depois seguido para diversas outras freqüências p.ex. 125, 250,
500, 1000, 2000, 8000, 16,000, e depois de ter fixado os L.As para estas freqüências que
comumente são usadas para explorar o campo de audição o audiometrista poderá
construir um gráfico cuja curva indica a zona de intensidade de som que o indivíduo é
capaz de ouvir nas diversas freqüências apresentadas. Para fins clínicos o processo é
geralmente abreviado, pois os indícios de deficiência aparecem logo, porém para uma
pesquisa científica as diversas séries têm que ser percorridas antes de se poder calcular
um valor mais representativo possível para o limiar absoluto.
Como se pode notar o ponto inicial varia de série em série para evitar uma eventual
estereotipia, e foi fixado antes de se começar o experimento.
32
Tabela 1: Folha completa de anotação para a determinação do L.A. para um tom de
4000cps pelo método direito de um só indivíduo.
Intensidade de
estímulos em Db.
- 45
- 46
- 47
- 48
- 49
- 50
- 51
- 52
- 53
- 54
- 55
- 56
- 57
- 58
- 59
- 60
- 61
- 62
- 63
- 64
- 65
Ponto limiar de d
cada série
a
d
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
-
a
+
-
-55,5
Tipos de série
d
a
a
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
-
+
+
+
+
+
+
+
-54,5
-54,5
d
d: descendente
a: ascendente
+
-
-56,5
-56,5
-53,5
Xd: -55,5
Xa: -54,83
O L.A. monauricular poderá cair em mais ou menos 55db abaixo de um nível de
referência SPL (Sound pressure level) de pressão de 1dina/cm2 ou -55. As séries
descendentes começam sempre acima deste valor, p. ex. -45, -49, e descem com um Db
em cada apresentação até que o som se torna inaudível. As séries ascendentes
começam abaixo do valor -55, ou seja, em -62, -65, e -60 e sobem de 1 em 1 Db até que
o som se torne audível.
O cálculo do L.A. Como vimos este poderá ser feito de três maneiras diferentes conforme
a finalidade do estudo, mas sem diferença no resultado final:
Σ (a+b)
N (séries)
(a+d)
+
2
(a+d)
2
3
+
(a+d)
2
=
a+d+a+d+a+d
6
=
-331
6
= -55,17
-110
-111
-110
+
+
2
2
2
-55 + -55,5 + -55
=
=
=
3
3
Xa +Xd
-54,83 + -55,5
-110,33
=
=
2
2
2
-165,5
=
3
-55,17
= -55,17
33
Exemplo II - O primeiro exemplo tratou de um limiar absoluto se som, tomemos como
segundo exemplo um caso de limiar terminal auditivo, para demonstrar que a
determinação do L.A. e do L.T. é feita exatamente na mesma forma.
Tabela 2: Folha completa de anotação para a determinação do L.T. para freqüências sonoras
pelo método dos limites num só indivíduo.
Freqüência do
Tipos de Séries
estímulo em
a
d
a
d
a
d
a
d
a
d
a
d
a
d
hertz (cps)
22.000
21.990
21.980
21.970
21.960
21.950
21.940
21.930
+
21.920
+
+
+
+
21.910
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
21.900
+
+
+
+
+
+
+
+
21.890
+
+
+
+
+
+
+
21.880
+
+
+
+
+
+
+
21.870
+
+
+
+
+
+
+
21.860
+
+
+
+
+
+
21.850
+
+
+
+
+
21.840
+
+
+
+
21.830
+
+
+
21.820
+
+
Ponto
a
21.925
21.905
21.925
21.915
21.915
21.915 21.935
Limiar
d
21.925
21.915 21.915
21.915
21.915 21.905
21.915
Xa = 21.919,23
a = série ascendente
Xd = 21.915,00
d = série descendente
Comparando os resultados deste Exemplo II com os do Exemplo I pode se observar que
os + e os - são exatamente invertidos por se tratar aqui do limiar terminal. A série
ascendente começa com um estímulo percebido que não é mais percebido , e a série
descendente começa com um estímulo não percebido e termina num estímulo percebido,
contrário ao que se viu no Exemplo I.
Cálculo do Limiar Terminal (L.T.)
1º método:
2º método:
Σ (a+d)
N (séries)
(a+d)
2
=
(a+d)
2
+
7
3º método:
Xa+Xd
2
306.840
= 21.917,14
14
=
=
153.420 = 21.917,14
7
21.919,28+21.915,00
2
=
21.917,14
34
Exemplo III: Este exemplo trata do limiar absoluto da percepção de dois pontos do
estesiometro, respondendo à pergunta: Quando é que a pessoa discrimina no antebraço a
presença de dois pontos, em vez de um, qual deve ser a distância entre os dois pontos
para que haja esta discriminação. A tabela é apresentada diferentemente das tabelas dos
exemplos anteriores, sendo que os estímulos estão nas colunas e as séries ascendente e
descendente nas linhas.
Tabela 3: Resultados da aplicação do estesiometro com diversas aberturas em cm, em
escalas ascendentes e descendentes, no antebraço.
Tipos
de
Séries
d
a
d
a
d
a
d
a
d
a
2
3
-
-
-
-
-
-
-
-
Separação de pontos em cm
4
5
6
+
-
+
+
+
+
-
-
+
+
+
+
+
+
+
-
7
8
Pld
+
+
+
+
4,5
+
3,5
+
4,5
+
5,5
+
4,5
Pla
6,5
5,5
+
+
+
6,5
5,5
+
+
6,5
22,5
30,5
Xd = 4,5 Xa =6,1
Cálculo do L.A.
1º método 53/10 =5,3
2º método:
4,5+6,5
3,5+5,5
4,5+6,5
5,5+5,5
4,5+6,5
+
+
+
+
2
2
2
2
2
=
5
5,5+4,5+5,5+5,5+5,5
5
3º método:
=
26,5
= 5,3
5
4,5+6,1
10,6
=
= 5,3
2
2
Deve-se observar que os passos em que as séries ascendentes e descendentes são
feitos são mantidos pequenos, de um centímetro. Passos grandes demais para um
estímulo para outro daria uma estimação muito grosseira. A razão de ser das séries
ascendentes e descendentes como já visto anteriormente reside no fato que é mais fácil
seguir um estímulo quando este diminui em intensidade do que começar a perceber
quando este aumenta em intensidade. Tomando-se a média das duas séries estas duas
tendências se anulam chegando a um valor intermediário provável do L.A. ou do L.T.
35
Nos exemplos acima usamos a média, pois a variação é pouca e a distribuição é normal
de tal forma que haverá pouca diferença entre a mediana e a média. Continua, no entanto
o conceito do L.A. mais ligado a mediana, como sendo um valor que 50% dos casos é
percebido e em 50% dos casos não é percebido.
Aplicação
São diversas as aplicações do método dos limites para a detecção do L.A. tanto na
audiometria onde o método dos limites é mais usado, como na visão onde foi usado p.ex.
para traçar as curvas de adaptação ao escuro como uma função do tempo (Mor, Briggs e
Michels, 1954). Também nos estudos psicofísicos do L.A. em gustação, olfação e sentido
cinestésico o método dos limites é freqüentemente usado. Mais recentemente o método
foi usado para descobrir a avaliação subjetivas dos salários (Zedec, Smith, 1968). Por nós
o método foi utilizado para pesquisar a distância entre as letras e o tamanho das letras
para ótima legibilidade de placas rodoviárias.
2. Método do ponto central
Este método foi definido por Durup como o método em que o sujeito regula o estímulo de
tal maneira que apenas perceba o fenômeno para o qual se mede um limiar, depois o
manipula de modo que desaparece, aparece de novo, etc. e se detém finalmente no ponto
central ou média de seus movimentos vai e vem.
A diferença com o método dos limites é que o estímulo é oferecido de modo contínuo e
não em estímulos discretos e que o próprio sujeito faz uma apresentação descendente e
ascendente e determina cada vez um ponto médio entre as duas. Esta última parte faz
com que o método não se distingue essencialmente do método dos limites. O sujeito faz
aparecer e desaparecer o estímulo, num audiômetro ou adaptômetro, porém para que o
método possa sortir bons efeitos recomenda-se que o ponto de partida para as
manipulações seja alternadamente supra e infraliminar.
Cada ponto central é assim tomado como um ponto limiar instantâneo. Quando depois de
diversas apresentações, se dispõe de um conjunto de medidas, pode se tomar a mediana
ou o valor central da série com 50% de um e 50% de outro lado. No caso de haver
número par de séries toma-se a média aritmética dos dois valores centrais. Uma
dispersão muito grande de medidas pode ser resolvida pelo processo de interpolação
gráfica como veremos tratando do método de estímulos constantes. Como índice de
variabilidade pode ser usada a amplitude semi-interquatílica, cuja fórmula é:q3-q1/2= q na
qual q3 é o valor correspondente ao percentil 75, ou terceira quartil, q1 é o valor
correspondente ao percentil 25 ou primeiro quartil, e q é a amplitude semi-interquarlítica.
Cálculo do L.A. : O L.A. é fácil de calcular. Anota-se o ponto central de cada
manipulação e toma-se a mediana sos pontos centrais obtidos.
Exemplo: Resultados brutos: 6,3; 5,8; 4,6; 5,3; 4,9; 5,2; 5,0
Colocando estes resultados em ordem crescente obtemos
4,6; 4,9; 5,0; 5,2; 5,3; 5,8; 6,3
36
A mediana é 5,2
Se tivesse mais uma valor abaixo de 4,6, por exemplo, 4,2 a mediana seria representada
pela média de 5,0 + 5,2 = 5,1.
Se tivesse pelo contrário um outro valor acima p. ex. 6,5 a mediana seria a média de 5,2 +
5,3 = 5,25.
Alguns autores aceitam a média como um valor que corresponde ao limiar, e neste caso
seria 37,1:7= 5,3. Como se vê quando a distribuição é bastante normal não existe muita
diferença, porém se tiverem os valores altos numa extremidade da distribuição estes
desviarão bastante a média.
3. O método dos estímulos constantes
O método dos estímulos constantes, chamado por Fechner de método dos casos
verdadeiros e falsos, é algumas vezes também denominado métodos das freqüências ou
método das diferenças do estímulo constante.
Neste método, assim como no método dos limites, os estímulos são apresentados pelo
experimentador e são constituídos de valores discretos.
A maior diferença entre este método e o método dos limites consiste no fato que os
estímulos não são oferecidos em séries ascendentes e descendentes, mas simplesmente
numa ordem ao acaso. Chama-se método dos estímulos constantes porque os valores
são discretos e não contínuos como no método do ponto central.
Como é que se pode determinar o L.A. quando não se aplicam séries ascendentes e
descendentes? Isto se consegue através da apresentação de valores de estímulos que
vão de valores infraliminares para valores supraliminares numa ordem ao acaso., mas de
tal modo que cada valor é apresentado o mesmo numero de vezes.
Para que se possam oferecer valores infra e supraliminares de estímulo deve-se
determinar primeiro mais ou menos a zona do limiar. Isto é feito através de uma série
ascendente e uma descendente conforme o método dos limites num pequeno grupo de
sujeitos, que via de regra, não serão incluídos no próprio experimento. Uma vez
estabelecido o âmbito provável do limiar toma-se uma série de estímulos, normalmente de
6 a 7 dos quais os valores mais altos são seguramente infraliminares . É importante
distribuir bem os intervalos entre os estímulos, pois se estes intervalos estiverem muito
pequenos a aplicação tomará tempo demais, e no caso contrário, com intervalos grande
demais a determinação do L.A. ficará muito grosseira.
Uma vez estabelecido, com cuidado, os valores dos estímulos e os intervalos entre eles, é
elaborada uma folha de aplicação na qual se coloca uma distribuição de uma seqüência
ao acaso. Para isto se usa lista de números ao acaso (radom numbers), que
apresentamos no anexo 1. Com um lápis se aponta, ao acaso, qualquer número da lista,
o número indicado será o número de ordem de apresentação do primeiro estímulo da
série, depois segue os números para a direita, ou como se quiser para a esquerda, para
cima ou para baixo, a partir deste primeiro número, dando assim os números de ordem de
apresentação do segundo, do terceiro até o último estímulo. O importante neste
37
procedimento é que qualquer valor de estímulo tem a mesma chance de ocorrer depois
de um certo valor de estímulo apresentado, por isto também pode ocorrer que ele é
seguido por ele mesmo, quer dizer que o mesmo valor do estímulo é apresentado duas ou
mesmo três vezes em seguida. Um outro procedimento bastante simples é escrever os
valores da séries de estímulos um por um pedacinho de papel, depois se coloca todos os
papéis num a caixa e tira um papelzinho por vez. O primeiro valor sorteado será número 1
na apresentação, o segundo valor número 2 e assim em seguida, tendo-se o cuidado de
sempre repor na caixa o papel que foi tirado.
Na Tabela 4 segue uma folha de apresentação na qual os números indicam a ordem de
apresentação. Como se vê passando da Segunda para a terceira série o valor 8 é
apresentado duas vezes em seguida.
Depois de cada número que indica a ordem de apresentação se deixa um pequeno
espaço na qual poderá ser inserido a resposta do sujeito com os sinais + ou - , percebeu
ou não percebeu.
Tabela 4: Folha de aplicação de estímulos para a avaliação do L.A. de sensibilidade tátil
pelo método se estímulos constantes.
S em cg
1
2
3
4
5
6
7
8
2
13
24
32
5
9
23
27
3
11
20
25
6
14
21
30
7
12
18
26
4
15
22
29
8
10
19
31
1
16
17
28
Séries
1ª
2ª
3ª
4ª
Etc
Agora podemos iniciar a apresentação dos estímulos na ordem prevista. No decorrer do
experimento podem ocorrer duas situações nas quais convém mudar a série de
estímulos:
Quando determinados valores de estímulo mais altos sempre são percebidos,
Quando determinamos valores de estímulos mais baixos nunca são percebidos.
Nestes dois casos entre valores de estímulos podem ser eliminados o que abreviará o
experimento, no entanto, convém manter sempre um valor de estímulo mais alto que é
sempre percebido e um valor que sempre não é percebido. Em outras palavras na prática
mantém-se sempre um valor acima ou abaixo do valor no qual há percepções contrárias
ou duvidosas.
Usando este método não se obtém limiares instantâneos, apenas fica se sabendo se o
estímulo apresentado é percebido, não é percebido, ou é percebido com certas dúvidas,
bem como a proporção destas percepções e não-percepções no total das apresentações.
Quando o estímulo é percebido, coloca-se + , quando não é percebido, coloca-se - , e nos
casos nos quais a percepção é duvidosa coloca-se ? , contando para este último meio
ponto enquanto + ou – valem um ponto inteiro.
Em cada coluna os pontos de percepção positivos e duvidosos são somados e entram
nos totais.
38
Tabela 5: Folha de anotação dos resultados da medição do L.A. de sensibilidade tátil por
meio de agulhas. Valores de estímulo em centigramas e o intervalo entre os estímulos de
1 cg. ( Modificação de Fraisse)
S em cg
Séries
1ª
2ª
3ª
4ª
5ª
6ª
7ª
8ª
9ª
10ª
Total de
Percepções em 10
apresentações
2 3
4
5
6
7
8
9
- ?
- - - - ?
- - - - - -
+
?
?
+
-
+
+
+
?
+
+
-
+
+
?
+
+
+
+
?
+
+
+
?
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
0 1
3 5,5 8 9,5 10
Porcentagem de percepções 0 10 30 55 80 95 100
Os totais nos informam quantas vezes um determinado valor de estímulo foi percebido em
10 apresentações; a expressão destes totais em porcentagens facilita cálculos
posteriores.
Como se pode observar o estímulo de 9 cg foi abandonado por ser um segundo valor de
estímulo que sempre recebe respostas positivas.
Cálculo do limiar absoluto
Para a determinação do L.A, estabeleceu-se que este corresponde ao valor do estímulo
que foi percebido em 50% dos casos. No exemplo da tabela 5 não encontramos nenhum
valor que foi percebido em 50% dos casos. Este valor hipotético estaria entre 4cg (com
30%) e 5cg (com 55%). Para encontrar este valor correspondente aos 50% ou à mediana
da distribuição podemos usar entre outros os seguintes processos:
1. Método de interpolação linear
Aceitamos que a variação das respostas em função dos estímulos segue uma função
linear. Nesta suposição podemos calcular com facilidade o valor do estímulo
correspondente aos 50% baseando-nos sobre os valores que correspondem aos 30% e
aos 50%.
39
Primeiro temos que observar qual a diferença dos valores do estímulo, que no nosso caso
é de 1 cg. Este 1 cg entre os valores de 4 cg e 5 cg corresponde a 55% - 30% = 25% de
respostas positivas.
Queremos agora saber a quantas centigramas corresponde 50% ou a mediana da
distribuição. Começando pela porcentagem relativa a 4 cg (30%) podemos dizer que a
distância até os 55% relativos a 5cg é igual a 25%, enquanto a distância até a mediana é
20%. Colocando isto formula da regra de três temos: 25/20=1/X, na qual 25 representa a
porcentagem entre 4 e 5 cg e 20 a porcentagem que é necessária para obter os 50% a
partir do 30%, 1 corresponde a distância entre os valores dos estímulos e x nos dará em
cg a quantidade que devemos acrescentar aos 4 cg para obter o valor do estímulo que
corresponde à mediana.
Acrescentando o valor de x ao valor do estímulo de 4 cg que serviu como ponto de partida
temos 4,8 cg correspondente ao hipotético valor da mediana.
Podemos também calcular
25/5=1/x = 0,2.
L.A. a partir dos 55% correspondentes ao valor de 5cg.
Subtraindo agora o valor de x do valor do estímulo de 5 cg encontramos de novo 4,8 cg
como valor correspondente a mediana.
Neste cálculo simples tem que se levar sempre em consideração o valor do intervalo entre
os estímulos apresentados. Se em vez de 1 cg em 1 cg, o valor do estímulo aumentaria
de 2 em 2 cg, a série de estímulos seria: 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16. O valor da mediana
estaria entre 8 e 10 cg e o cálculo deveria ser feito levando em consideração o valor 2 do
intervalo:
25/20= 2/x = 9,6cg.
2. O método da interpolação gráfica
Além do método de interpolação linear podemos também usar o método de interpolação
gráfica para determinar o valor de estímulo que corresponde a mediana. Este método é
bastante simples mesmo que dá resultados um pouco menos exatos que o método de
interpolação linear e pode facilmente ser usado para controlar os resultados encontrados
por meio deste último.
Como vimos nem sempre é possível aplicar um número muito extenso de séries, o que
faz com que os resultados encontrados através de um relativamente pequeno número de
séries não correspondem a uma distribuição perfeitamente normal. Na impossibilidade de
aplicar séries recorremos a interpolação gráfica na suposição que as freqüências de um
grande números de séries corresponderia a uma curva normal de freqüências
acumuladas de respostas positivas. Esta curva normal ou ogiva de Galton tem uma forma
sigmóide, na qual a parte entre 25% e 75% corresponde praticamente a uma reta.
Na ordenada ou eixo de y, coloquem-se as porcentagens correspondendo os 100% ao
total das séries aplicadas e na abcissa, ou eixo de x, os valores de estímulo marcando
para cada um a porcentagem em que foi percebido. Se a distribuição for normal os pontos
que indicam as freqüências em % acima de cada valor podem simplesmente serem
40
unidos por uma linha sigmoidal. Se a distribuição for normal os pontos podemos primeiro
fazer um polimento da curva a mão livre ou pelos pontos médios da bissetriz de cada
triângulo formados por três pontos subseqüentes, como explicaremos mais adiante.
Traçada essa curva, marca-se com uma linha horizontal na altura dos 50% um ponto na
curva do qual se faz descer uma perpendicular para a abcissa encontrando deste modo
um valor aproximado para o L.A. Recomenda-se o uso de papel milimetrado para obter
um valor mais apurado. O gráfico da Figura 7 mostra o resultado da aplicação do método
de interpolação gráfica aos dados da Tabela 5.
Figura 7: Método de interpolação gráfico aplicado aos dados da tabela 5. A mediana
corresponde aproximadamente a 4,8 cg.
Exemplo: Apresentamos em seguida outro exemplo para ilustrar os métodos anteriores
de interpolação linear e gráfica, usando o mesmo também para ilustrar outros métodos
para a determinação da mediana, ou melhor, de um valor médio representativo para o
L.A. Neste exemplo não foram admitidas respostas de percepção duvidosa.
Os outros métodos que apresentaremos são:
1) O método de três pontos no qual não apenas se levam em conta os dois valores de
estímulos que estão em torno de 50% mas também os valores em volta de 25% e
75%.
2) O método baseado na ogiva média traçada a mão ou formado pela conexão dos
pontos médios da bissetriz de triângulos formados por três pontos subseqüentes.
3) Um método que se baseia na transformação das porcentagens em notas Z e a
determinação de ponto z positivo e um negativo que determinam a reta cujo
cruzamento com a linha Z=0 determina o valor mais provável correspondente à
mediana da distribuição.
4) O método dos mínimos quadrados. Este método determina uma reta de tal forma
que os desvios verticais dos pontos que correspondem aos dados, quando
elevamos cada desvio ao quadrado e tomamos a soma destes quadrados, serão
mínimos.
41
Tabela 6: Parte de folha de anotação, totais, proporções e porcentagens da determinação
do L.A. pelo método dos estímulos constantes, com valores de estímulo imaginários.
O valor da mediana situa-se entre 15% e 55% e corresponde a um valor médio provável
do L.A. Como se determina esse valor? Apliquemos primeiro os métodos de interpolação
linear e gráfica.
1º. Método de interpolação linear
O intervalo entre os estímulos é 20. A diferença entre as porcentagens que contém os
50% é 40, enquanto a diferença da menor porcentagem para o valor mediana é 35%.
40/35=20/x = 17,5.
O valor estimado da mediana é 120+17,5 = 137,5.
Ou começando a partir dos 55% :
40/5 = 20/X = 2,5
O valor da mediana é 140- 2,5 = 137,5
2º. Método de interpolação gráfica
Elaborando um gráfico sp (estímulo proporção de respostas positivas) conforme o
processo de interpolação gráfica a mediana cai no ponto da abcissa cortada pela
perpendicular que desce do ponto onde a
Linha de p 0,50 (50%) corta a curva no gráfico e que poderá ser verificado como um valor
de estímulo aproximadamente 137,5.Assim como se pode ver na Figura 8.
42
Este tratamento dos dados, entretanto apresenta dois inconvenientes:
1º O L.A. é calculado partindo-se apenas de 2 pontos que determinam a rota que passa
pela linha de p. 0,50, a saber, 120 e 140 (respectivamente p. 0,15 e 0,55).
2º Não é possível que uma linha quebrada como apresenta no gráfico seja a
representação real da função que deveria ter a forma de uma curva contínua (quase-reta)
na área entre p. 0,75
3º O Método de três pontos.
O primeiro dos dois inconvenientes mencionados acima poderá ser corrigido da seguinte
forma. Além dos valores necessários para calcular a mediana levam-se em consideração
também os valores necessários para calcular os quartis: Q1 e Q3 correspondentes aos
pontos p. 0,25 (25%) e p.0,75(75%).
Desta maneira podemos localizar graficamente o Q1 em 125, a mediana ou Q2 em 137,5
e o Q3 em 165, sempre traçando a linha horizontal a partir da respectiva proporção e
traçando uma perpendicular nas pontas de interseção com a curva traçada sobre os
dados experimentais. Figura 9 mostra os procedimentos e os resultados. Agora podemos
tomar a média destes três valores de estímulo como uma estimativa mais digna do L.A.
do que apenas a mediana, pois no nosso caso, por exemplo, também os dados relativos
ao s 160 e 180 são levados em consideração.
Figura 9: Determinação do L.A. pelo método dos três pontos
Os valores correspondentes aos p 0,25 e p 0,75 tanto podem ser calculados pela
interpolação linear como pela interpolação gráfica.
43
O resultado final como sendo a média dos três valores é, portanto 125+ 137,5+ 168: 3=
143,5 como um valor mais representativo do L.A.
Como medida de variabilidade podemos usar a amplitude semi-interqualítica ou o desvio
padrão. Para calcular o primeiro aplica-se a fórmula Q=q3-½, na qual q3 é o quartil
superior, q1 o quartil inferior e q a amplitude semi-interqualítica. No nosso exemplo
teremos então Q= 168-165:2= 21,5 como a variabilidade em torno da mediana.
O desvio padrão poderá ser encontrado a partir dos níveis p016 (120,5) e p 0,84 (175,2)
que fornece um dp de 175,2 -120,5 :2 = 27,3. O fato de tomar p 0,16 como –1 e p 0,84
como + 1 dp pode ser facilmente compreendido quando se lembra que 68% da
distribuição numa curva normal se acha entre -1 dp e + 1 dp.
Neste método, portanto, mais valores foram levados em consideração para estimar o L.A.
e ainda se obtém uma estimativa de sua variabilidade.
4º. Métodos de polimento da curva a mão livre ou pelos pontos médios da bissetriz
(Vincent).
O segundo inconveniente da interpolação gráfica, ou seja, o fato de uma linha quebrada
dificilmente poder representar a função real, poderá ser resolvida levando em conta as
seguintes considerações.
Os resultados de muitos experimentos demonstram que a curva mais adaptada a este tipo
de danos é a ogiva de Galton. Também a teoria confirma esta afirmação, pois sempre que
uma função biológica varia, esta variação tende para uma distribuição normal ( tamanho
das folhas de uma determinada espécie de planta, quantidade de comida ingerida por dia,
a altura e o peso em pessoas da mesma idade, mesmo sexo e aproximadamente o
mesmo tipo de trabalho, nas mesmas condições climatológicas, etc.) uma ogiva não é
outra coisa senão a forma acumulativa desta distribuição normal.
Consideremos o seguinte exemplo, cujos dados experimentais estão expressos na tabela
7 e dos quais traçamos a ogiva de Galton correspondente na Figura 10.
Tabela 7. Totais de 100 tentativas no método do ponto central, alternativamente
começando de um ponto mais alto e de um ponto mais baixo.
Valores do S
6 7
8
9
10 11 12
Séries(100)
Porcentagem em que o valor de S foi indicado
5% 10% 20% 30% 20% 10% 5%
como ponto L.A.
Freqüência
5 15 35 65 85 95 100
Acumulada
Na ogiva de Galton ou curva de freqüências acumuladas as porcentagens dos diversos
valores são somas. A Figura 10 supõe apenas 100 tentativas , porém se tivessem tido
diversos milhares de tentativas a ogiva ficaria mais perto dos 0% e dos 100% sem, no
entanto jamais alcançar esses limites, pois apesar de milhares as medidas ainda
continuariam limitadas e nunca alcançamos toda a população que seria todas as medidas
em todos os momentos em todos os indivíduos. Em geral a ogiva hipotética passa bem
44
perto dos dados, alguns deles ficando um pouco acima ou abaixo como vimos no exemplo
da Tabela 6.
Figura 10: Ogiva de Galton relativa aos dados da Tabela 7
A linha de curva é mais próxima da vertical por volta de 50% e é quase uma reta entre 30
e 70%. Nestes pontos começa uma inclinação correspondendo a p 0,16 e p 0,84.
A curva se achata para a linha de base da esquerda (0%) e para a linha de cima à direita
(100%).
Teoricamente essas duas partes são assindéticas , quer dizer, tendem a zero quando o
ponto se estende ao infinito. Como já dissemos neste caso o infinito seria todos os
resultados de todas as medições deste tipo em todos os indivíduos em todos os
momentos o que é impraticável. Por isto procuramos através de relativamente poucos
casos fazer uma estimativa mais representativa possível da população.
Figura 11: Ogiva traçada a mão livre sobre os dados da Tabela 6
Visto, portanto que a ogiva representa melhor a distribuição normal de freqüência
podemos procurar traçar a mesma através de pontos referentes aos dados obtidos,
voltando para a tabela 6. Com algum exercício pode-se traçar uma ogiva a mão livre que
satisfaz mais ou menos as condições mencionadas .
No entanto de um pesquisador para outro esta ogiva traçada a mão livre pode ser ainda
bastante diferente. Um método que permite traçar uma curva que chega bastante perto de
45
uma curva calculada por métodos mais complicados é a curva traçada pelo ponto médio
das bissetrizes dos triângulos formados por três pontos consecutivos dos dados
experimentais. Na Figura 12 mostramos a aplicação deste tipo de polimento que é
bastante simples e que permite uma certa uniformidade na inclinação da curva polida.
Figura 12: Polimento da curva pelos pontos médios das bissetrizes
5º. O método dos pontos z médios
Sendo que a elaboração de uma boa ogiva encontra sempre algumas dificuldades, seria
mais fácil se os pontos que formam a ogiva poderiam ser representados por uma linha
reta. Existe um papel especial “probit” , usado na estatística, com linhas mais juntas no
centro e linhas mais afastadas nas extremidades, que tem por resultado que a linha curva
da ogiva é esticada formando uma reta. Porém mesmo quando não dispomos deste tipo
de papel, podemos obter o mesmo efeito pela transformação de um gráfico s-p num
gráfico s-z, e correspondente cálculo dos pontos médios z. Neste caso os valores p são
transformados em pontos z com a ajuda de uma tabela ( ver anexo 2) e o gráfico poderá
ser traçado em papel milimetrado comum.
Neste caso p 0,50 ou 50% que representa a mediana correspondente a Z= 0,00. Os
pontos z são positivos ou negativos na medida em que se situam, respectivamente acima
ou abaixo da linha z:0,00.
Quanto aos quartis p 0,25 corresponde a z: - 0,67
P 0,75 corresponde a z: +0,87
Quanto ao desvio padrão:
+ 1 dp = z : +1,0
-1 dp = z : -1,00
+ 2 dp = z : +2,00
-2 dp = z : -2,00 etc.
a) Traçando a reta sobre o ponto z a transformação dos valores p da tabela 6 em notas z
resulta no quadro abaixo e a representação gráfica destes pontos mostramos na Figura
13.
46
S
100
120
140
160
180
P
0.05
0.15
0.55
0.65
0.90
%
5
15
55
65
90
Z
-1.64
-1.04
+0.13
+0.39
+1.28
Figura 13: Gráfico dos valores p da Tabela 16 transformados em Nota z
Traçando-se uma reta através dos pontos obtidos, e projetando os pontos que esta reta
cruza as linhas horizontais em z: 0,00 ; z:+1 e z:-1 sobre a abcissa obtém-se os valores
correspondentes, respectivamente, à mediana + 1dp e – 1 dp. Também se pode calcular
facilmente a amplitude semi interqualítica (q) projetando os pontos onde a reta cruza as
horizontais de z 0,67 que correspondem a q1 e q3.
No entanto também a reta traçada a mão livre sobre os pontos é sujeito a crítica. Diversos
pesquisadores podem traçar linhas sobre os mesmos dados que divergem um pouco de
um para outro. Portanto, convém Ter um método para localizar exatamente esta reta.
Traçando a reta sobre pontos z médios
Para uma localização mais exata da reta basta Ter dois pontos que um lado representam
os dados e de outro lado definem a reta.
Estes dois pontos são os pontos z médios que podem ser calculados da seguinte
maneira.
Exemplo 1
S
+100
-120
+140
-160
+180
p
z
0,05 -1,64
0,15 -1,14
0,55 +0,13
0,65 +0,39
0,90 +1,28
Z médio para 120 = [(-1,64)+(-1,04)+(0,13)] / 3 = -0,85
Z médio para 160 = [(0,13)+(0,39)+(1,28)] / 3 = +0,60
47
Como se pode verificar na Figura 14 marcam-se estes dois pontos médios no gráfico das
linhas correspondentes aos valores de estímulo 120 e 160 e depois traçamos através
destes pontos a reta. A projeção dos pontos de intersecção desta reta com as linhas z:
0,00, z: + 1,00 a z: -1,00 correspondente na abcissa respectivamente aos valores da
mediana e dos dps.
Figura 14: Reta traçada pelos pontos médios z.
Da mesma forma a projeção dos pontos de intersecção em –0,67 e + 0,67 fornecem
respectivamente Q1 e Q3.
Como demonstra o exemplo apresentado, quando temos um número ímpar de valores de
s tomamos duas vezes o valor central incluindo-o tanto na soma dos valores abaixo de z :
0,00 . Quando temos u número par de valores de estímulo podemos dividir os valores em
dois grupos respectivamente acima e abaixo de z:0,00, tomando o ponto z médio como
representativo para o valor central de cada grupo de valores, quando cada um dos grupos
consiste de um número ímpar de valores, toma-se simplesmente o valor que ocupa um
lugar central no grupo, como mostra o exemplo 2. Porém quando um dos grupos consiste
de um número par de valores de s, deve-se calcular um valor intermediário entre os dois
valores centrais, e o ponto z se refere então a este valor intermediário calculado e,
portanto a nenhum dos valores de estímulo realmente usados no experimento como
mostra o exemplo 3.
Portanto um ponto ao qual sempre se deve dar bastante atenção é verificar qual é o ponto
do valor do estímulo representado pelo valor z médio.
48
ANEXO 2
TABELA DE CONVERSÃO DE VALORES P EM Z
p .01 .02 .03 .04
.05 .06
.07 .08 .09 10
z -2.36 -2.05 -1.88 -1.75 -1.64 -1.55 -1.48 -1.41 -1.34 1.28
p .11 .12 .13 .14
.15 .16
z -1.23 -1.18 -1.13 -1.08 -1.04 -0.99
-1 DP
p .21 .22 .23 .24
.25 .26
z -0.81 -0.77 -0.74 -0.71 -0.67 -0.64
Q.1
p .31 .32 .33 .34
.35 .36
z -0.50 -0.47 -0.44 -0.41 -0.39 -0.36
.17 .18 .19 .20
-0.95 -0.92 -0.88 -0.84
.27 .28 .29 .30
-0.61 -0.58 -0.55 0.52
.37 .38 .39 .40
-0.33 -0.31 -0.28 -0.25
.45 .46
.47 .48 .49 .50
p .41 .42 .43 .44
z -0.23 -0.20 -0.18 -0.15 -0.13 -0.10 -0.08 -0.05 -0.03 -0.00
Me
p .51 .52 .53 .54
.55 .56
.57 .58 .59 .60
z 0.03 0.05 0.08 0.10 0.13 0.15 0.18 0.20 0.23 0.25
p .61 .62 .63 .64
z 0.28 0.31 0.33 0.36
.65 .66
0.39 0.41
.67 .68 .69 .70
0.44 0.47 0.50 0.52
p .71 .72 .73 .74
z 0.55 0.58 0.61 0.64
.75
0.67
Q3
.85
1.04
.76
0.71
.77 .78 .79 .80
0.74 0.77 0.81 0.84
.86
1.08
.87 .88 .89 .90
1.13 1.18 1.23 1.28
.96
1.75
.97 .98 .99 .99,5
1.88 2.05 2.33 2.58
p .81 .82 .83 .84
z 0.88 0.92 0.95 0.99
+1DP
P .91 .92 .93 .94
.95
Z 1.34 1.41 1.48 1.55 1.64
49
Exemplo 2
S
50
-70
90
110
-130
150
P
0.10
0.30
0.47
0.59
0.73
0.95
z
-1.28
-0.52 ponto z médio para 70 (-1.88/3) = -0.63
-0.08
0.23
0.61 ponto z médio para 70 (2.48/3) = +0.83
1.64
S
20
- 30
40
50
P
0.08
0.19
0.33
0.46
z
-1.41
-0.88 ponto z médio 35 (-2.83/4) = -0.71
-0.44
-0.10
60
70
- 80
90
0.58
0.72
0.85
0.94
0.20
0.58
1.04
1.55
Exemplo 3
ponto z médio 75 (3.37/4) = +0.84
A Figura 15 mostra como a partir dos dados apresentados no exemplo 3 são encontrados
facilmente no gráfico S – z os valores representativos da mediana, dos DP’s e do Q1 e
Q3.
Figura 15: Reta traçada pelos pontos médios z e indicação dos valores prováveis da Me,
dos DP’s e do Q1 e Q3.
50
6º. O método dos mínimos quadrados
Como foi visto no Capítulo II, o limiar é um valor probabilístico, portanto seus valores
momentâneos se distribuem normalmente, com exceção dos erros da amostra. Baseado
nisto substituímos os valores reais obtidos por valores “normais” z, normalizando deste
modo a curva de tal forma que os pontos que correspondem aos dados se encontram
numa reta, deixando for a os desvios que correm por conta da amostra. A maneira mais
aconselhável para adaptar uma reta normalizando a tais séries de pontos de dados é o
método estatístico específico dos mínimos quadrados.
Este método permite determinar uma reta tal que os desvios verticais dos pontos dos
dados experimentais, elevados ao quadrado e somados dão um resultado mínimo.
A reta ou linha de regressão y é determinada pela fórmula y= ax+b na qual a é uma
estimativa de alfa e b uma estimativa de beta, sendo a: o coeficiente angular da linha de
regressão; b o ponto de intersecção com a linha y.
A Figura 16 mostra estes dois parâmetros que determinam a linha de regressão
Figura 16: Gráfico mostrando os parâmetros da linha de regressão
Para poder ajustar uma reta conforme a equação y=ax+b é necessário conhecer os
parâmetros a e b que nos são fornecidos pelas seguintes fórmulas.
a=
N (Σ xy) – (Σx) (Σy)
N(Σx2) – (Σx)2
b=
My – (Mx)*a
Para poder obter os dados necessários para traçar a reta temos que calcular os itens da
seguinte tabela que corresponde aos itens experimentais da tabela 6.
A coluna de x representa os valores de estímulo (s), a coluna y representa os dados
observados em porcentagens de respostas de percepção positiva do estímulo, e y (a) os
mesmos valores ajustados pelo método dos mínimos quadrados .
51
Tabela 8: Dados para a determinação das freqüências de respostas ajustadas y (a) que
definam a reta representativa da distribuição normal pelo método dos mínimos quadrados.
Os dados correspondem aos da Tabela 6.
x (s) x2
Y (0) (R em %) XY
100 10.000 5
500
120 14.400 15
1.800
7.700
140 19.600 55
160 25.600 65
10.400
180 32.400 90
16.200
Σx = 700
Σx2 =
Σy = 230 Σ xy = Σ Y (A) = 230
Mx = 140
102.000 My = 46 36.600
(Σx)2 = 490.000
Y’(A)
2
24
46
68
90
N
(Σxy)
–
a = (Σx)*(Σy)
N(Σx2) - (Σx)2
5(36.600)
(700)*(230)
a=
5(102.000)
(490.000)
–
183.000
161.000
=
–
510.000
490.000
-
22.0
00
=
=
–
20.0 1,1
00
b= (My) – (Mx) * a = 46 –140 * 1,1 = 46 – 154 = -108
A mediana (y = 50) corresponde ao valor de estímulo (x):
Y = 1,1 x - 108
50 = 1,1 x – 108
1,1 x = 108 + 50
x = 158/1,1 = 143,6
Cálculo dos valores de x ajustados:
X =100
y =1,1 * 100 –108 = 110 – 108 = 2
X = 120
y =1,1 * 120 – 108 = 132 – 108 = 24
X = 140
y =1,1 * 140 – 108 = 154 – 108 = 46
X = 160
y =1,1 * 160 – 108 = 176 – 108 = 68
X = 180
y =1,1 * 180 – 108 = 198 – 108 = 90
52
Figura 17: Linha de regressão determinada pelo método dos mínimos quadrados sobre
os dados experimentais da Tabela 6, mostrando o ajustamento dos dados a uma
distribuição normal.
53
CAPÍTULO V - A determinação do Limiar Diferencial
O Limiar Diferencial pode ser definido como a menor diferença perceptível ente dois
estímulos do mesmo tipo e da mesma qualidade, ou: a quantidade que temos que
acrescentar a ( ou diminuir de ) um de terminado estímulo de base para que o novo
estímulo aumentado ( ou diminuído) seja percebido como diferente do estímulo de base,
também chamado estímulo padrão. Quer dizer que normalmente se trabalha com um
estímulo fixo, o estímulo padrão (SP ou SR = Standard Reiz) e vários estímulos de
comparação (SC). Em todos os métodos para a determinação do L.D. se fazem então
comparações entre o SP e os SC. Nestas comparações pode se pedir ao sujeito que faça
2 ou 3 categorias de julgamento. No caso de 2 categorias ele dirá apenas se os SC’s são
“maiores” ou “menores” do que o SP. No caso de 3 categorias, além das respostas
“maior” ou “menor” ele poderá dizer também se o SC lhe parece “igual” ao SP.
1. O Método dos Limites
O método dos limites aplicados para a determinação do L.D. não difere essencialmente
da sua aplicação para a detecção do L.A. Apresentam-se séries ascendentes e
descendentes durante as quais o sujeito deve emitir três julgamentos: “maior”(+),
“menor”(-), “igual”(=) comparando sempre o SC’s com o SP.
Nas instruções o experimentador diz ao sujeito que os SC’s alternadamente começarão
com um valor acima ou abaixo do SP. Quando o valor inicial é acima do SP o
experimentador o fará descer e enquanto o sujeito percebe o SC como maior que o SP
deve responder “maior”, porém, no momento em que o SC lhe parece igual ao SP deverá
responder “igual” e depois quando percebe o SC como menor que o SP deverá dizer
“menor”. Isto no caso em que a série for descendente, no caso de uma série ascendente
dará as respostas em sentido inverso, primeiro dirá “menor”, depois “igual” e em seguida
“maior”. No início de cada série o valor escolhido do SC deverá sempre ser assim que é
perceptivelmente bem diferente do SP. Na Figura 18 mostramos sobre o contínuo de
estímulo os dados a respeito do contínuo psicológico importantes para a determinação do
L.D.
+
+
+
+
PLsd
=
LSd=2,5 =
=
SP
=
Lid=3,5 =
Plid
d
66
65
64
63
62
61
60
59
Legenda:
a
+
=
=
=
=
=
=
58 -
= 57 - 56 55 54 -
Plsa
Lsa=4,5
PIS
EC SP
Lia=1,5
PLia
(62,5)
SP – Estímulo padrão (60)
PIS – Ponto de igualdade Subjetiva (60,5)
EC – Erro Constante (0,5)
PLsd – Ponto Limiar superior descendente
Plid - Ponto Limiar inferior descendente (56,5)
Plsa – Ponto Limiar superior ascendente (64,5)
Plia – Ponto Limiar inferior ascendente (58,5)
LSd – Limiar superior descendente (2,5)
LSa – Limiar superior ascendente (4,5)
LId – Limiar inferior descendente (3,5)
LIa – Limiar inferior ascendente (1,5)
Figura 18: Contínuo de estímulo e contínuo psicológico na determinação do Limiar
Diferencial pelo método dos limites.
54
Dos dados apresentados na Figura 18 podemos deduzir cinco determinantes ou índices
psicofísicos:
1)O Limiar Diferencial (LD)
2)O Ponto de Igualdade Subjetiva (PIS)
3)O Erro Constante (EC)
4)O Constante de Weber (K)
5)O Intervalo de Incerteza ( II ou IU Interval of Uncertainty)
1.1. O Limiar Diferencial
Este é calculado como a média dos 4 pontos limiares ou dos 4 limiares, agrupados ou
isolados. Os agrupamentos se fazem da seguinte forma:
LSd +LSa = Limiar Superior (L.S.)
Lid + LIa = Limiar Inferior (L.I.)
PLsd + PLsa = Ponto Limiar Superior (PLS)
PLid + PLia = Ponto Limiar Inferior (PLI)
Fórmula de LS e LI isolados
LD = (LSd+LId+LSa+LIs)/4 = (2,5+3,5+4,5+1,5)/4 = 12/4 = 3
Fórmula de LS e LI agrupados
LSd+LSa
LId+LIa
+
2
2
2
2,5 + 4,5
3,5 + 1,5
+
2
2
=
2
3,5 + 2,5
=
= 3
2
LS + LI
LD =
=
2
Fórmula de PLs – Pli
(PLsd – PLid)
(PLsa – PLia)
62,5 – 56,5
64,5 – 58,5
+
+
2
2
2
2
3+3
LD =
=
=
=3
2
2
2
LD =
PLS –
PLI
2
=
(PLsd +
PLsa)
2
(PLid+PLia)
2
2
=
62,5 +
64,5
2
2
56,5 +
58,5
2
=
63,557,5
2
=
3
A última fórmula é bastante cômoda, pois trabalha diretamente com os dados que
normalmente são tomados da experimentação. Em breves palavras calcula-se uma média
dos Pontos Limiares superiores e uma média dos Pontos Limiares Inferiores calculando
depois a média destas duas médias.
55
1.2. O Ponto de Igualdade Subjetiva - PIS
O Ponto de Igualdade Subjetiva é aquela intensidade de estímulo que na média é
estimada como igual ao SP e que é representada pela média dos quatro Pontos Liminares
não agrupados formando o Ponto Limiar Superior e o Ponto Limiar Inferior (PLS e PLI)
PIS = (PLsd + PLid + PLsa + PLia)/4 = (62,5 + 56,5 + 64,5 + 58,5)/4 = 242/4 = 60,5
PLsd + PLsa
PLid + PLia
62.,5 + 64,5
56,5 + 58,5
+
+
2
2
2
2
=
2
2
63,5 + 57,5
121
=
= 60,5
=
2
2
PLs + PLI
PIS =
=
2
O PIS também pode ser calculado a partir do LS e LI da seguinte forma:
PIS= SP + (LS – LI)/2 = 60 + (3,5 – 2,5)/2 = 60,5
1.3. O Erro Constante (EC)
Erro Constante é expressa pela diferença entre o PIA e o SP e indica o erro que a pessoa
em média faz
na avaliação de um estímulo apenas perceptivelmente diferente do SP.
EC = PIS - SP
60,5 - 60 = 0,5
Quando o PIS é maior do que o SP então o sujeito superestimou o SP em relação ao SC.
Ele julga um SP que na realidade é menor que o SC como igual ao SC.
Quando o PIS é menor do que o SP então o sujeito subestimou o SP em relação ao SC.
Ele julga um SP que na realidade é maior que o SC como igual ao SC.
1.4. A Constante de Weber (K)
Como vimos a constante de Weber é o resultado da fração de Weber expressa pela
fórmula DR/R = K. Na prática usa-se a fórmula LS/PIS = K no nosso caso 3/60,5=0,049 ou
0,05.
Talvez possa estranhar que se usa o PIS e não o SP para calcular a fração de Weber, a
razão porque se toma o PIS é que a diferença percebida está em relação do SP como
este é percebido pelo sujeito e o PIS informa exatamente como o SP é percebido por ele.
Portanto na realidade se toma como base o SP, porém assim como este é percebido ou
sentido pelo sujeito, e em relação a este valor subjetivo o L.D. é usado para calcular a
constante K.
56
1.5. O Intervalo de Incerteza (I.I)
O Intervalo de Incerteza é o intervalo compreendido entre o PLS e o PLI no qual o sujeito
emite respostas “igual” quando muitas vezes o estímulo na realidade é superior ou inferior
ao SP.
A fórmula é: I.I = PLS - PLI no nosso caso: = 63,5 - 57,5 = 6
Quanto maior o I.I quer dizer o intervalo em que o sujeito estima que o SC é igual ao SP,
maior o valor do L.D. e conseqüentemente maior a constante de Weber o que indica
menor sensibilidade do órgão de sentido ou menor sensibilidade para uma determinada
qualidade de estímulo.
Pode-se perguntar porque o L.D. foi calculada pela média, e mesmo quando temos, por
exemplo, 10 series ascendentes e descendentes se usa a média de valores alcançadas
para determinar, por exemplo, o valor de PLsd, e não se considera os 75% ou o valor que
em 75% foi visto como superior ao SP. Isto se deve ao fato que no método dos limites
usam sempre 3 categorias de julgamento onde os julgamentos “iguais” já tiveram seu
lugar, excluindo assim a possibilidade de responder alternadamente ou ao acaso “maior”
e “menor”. Havendo 3 categorias podemos tomar a mediana ou na suposição que se trata
de uma distribuição normal a média.
Naturalmente o Limiar Diferencial não é calculado apenas a partir de somente uma série
descendente e uma série ascendente, no seguinte exemplo mostramos como podemos
encontrar os diversos índices psicofísicos aplicando o método dos limites na
determinação de Limiar Diferencial para 1000 cps como SP e a variação de 1010 a 990
cps como SC.
Tabela 9. Determinação do Limiar diferencial e dos índices psicofísicos para o som de
1000 cps no ouvido direito de um indivíduo.
Séries
Scem cps
1010
1008
1006
1004
1002
1000
998
996
994
992
990
d
PLS
a
d
PLI
a
D
+
+
+
=
=
=
=
1003
995
A
+
=
=
=
=
1005
997
D
+
+
+
=
=
=
=
-
1005
997
A
D
+
=
=
=
=
-
+
+
=
=
=
=
=
-
1007
999
XPLSd = 1004,2
XPLId = 995,8
XPLSa = 1005,8
XPLIa = 997
1005
995
A
+
=
=
=
=
1005
997
D
+
+
+
=
=
=
=
=
1005
995
A
+
=
=
=
=
=
1007
997
D
+
+
+
+
=
=
=
-
1003
997
A
+
=
=
=
=
=
1005
995
57
Cálculo dos índices psicofísicos.
PLId + PLIa
2
2
1004,2+1005,8
995,8+997
2
2
=
2
2010
1992,8
2
2
=
2
1005-996,4
=
= 4,3
2
PLS –PLI
LD =
=
2
PIS =
=
=
EC =
=
K
=
=
I.I
=
=
PLSd+PLSa
2
PLS + PLI
2
1005+996,4
2
2001,4
= 1000,7
2
PIS - SP
1000,7-1000
= 0,7
LD
PIS
4,3
= 0,004
1000,7
PLS – PLI
1005 – 996,4 = 8,6
2. O Método das Séries Plenas e Ordenadas
Pelo fato de que na determinação do L.D. é mais freqüentemente encontrado o fenômeno
de um valor diferente do SP ser percebido como igual e um valor menos diferente ser
percebido como maior ou menor, criou-se o método de Séries Plenas e Ordenadas.
Séries “Plenas” porque se apresentam todos os estímulos e não se para na primeira vez
que a pessoa responde “menor” ou “maior”, e séries “ordenadas” porque são ordenadas
do menor para o maior estímulo nas séries ascendentes e do maior para o menor
estímulo nas séries descendentes. Portanto este método distingue dos limites
essencialmente por apresentar todos os estímulos em todas as séries.
58
Tabela 10: Folha de anotação para a determinação do L.D. de um peso levantado com a
mão sendo SP igual a 50g.
Séries
D
A
D
A
D
A
Soma
em g 42 44 46 48 50 52 54 56 58
=
=
+
+
+
= = +?
+
+
+
-? = +
=
+
+
+
=
=
=
+
+
-? -? =
=
+? +
+
-? = =
+
+
+
+
+
0
0
0
0 1,0 1,5 4,5 6
6
6
6 4,5 2,5 0
0
0
0
0
0
0 1,5 3,5 5,0 4,5 1,5 0
0
Ponderada =
+
PLI 50% 17 25 75 100 100
100 100 75 42
PLS 50%
=
25 58 83 75 25
Esta Tabela 10 tanto na parte da anotação dos dados e da contagem dos pontos como na
indicação do LI e LS precisa de alguma explicação. Para evitar o erro de posição o SP na
metade das séries é apresentado na mão direita e na outra metade das séries na mão
esquerda. O sujeito pode dar suas avaliações nos seguintes termos, ele pode dizer que o
SC é “maior” ou “parece maior, mas tenho dúvida”, “igual”, “menor” ou “parece menor,
mas tenho dúvida”. As respostas duvidosas são anotadas como +? Ou -?. Na soma das
freqüências para cada valor do estímulo as respostas simples +, - ou = são contados
como 1 ponto para cada uma destas avaliações, porém o +? é contado como meio ponto
para a avaliação + e meio ponto para a avaliação =. O mesmo acontece com a avaliação
=? contado como meio ponto para - e meio ponto para =. A razão desta distribuição é
clara, o sujeito numa resposta duvidosa duvida entre as respostas + e = ou entre as
respostas - e =.
Depois de se ter feita a soma das avaliações se calcula a porcentagem para cada uma
das somas em cada um dos valores. O PLS é calculado como sendo o valor que
corresponde aos 50% das avaliações + e o PLI como o valor que corresponde aos 50%
das avaliações -. O L.D. é calculado como sendo a média da diferença entre estes dois
valores [LD=(PLS-PLI)/2] e o PIS como a média da soma deles [PIS=(PLS+PLI)/2].
Talvez possa causar alguma estranheza que usamos um valor de 50% ou seja, o valor da
mediana como uma indicação do L.D. enquanto vimos anteriormente que a Lei de Weber
pode ser formulada como: o incremento de qualquer estímulo dado, que é corretamente
percebido em 75% das provas, é uma fração constante da magnitude do estímulo. “A
argumentação era que na determinação da L.A. se pode usar a mediana porque se
tratava de determinar um valor entre os estímulos não percebidos e os estímulos
percebidos, porém no L.D. se trata de dois estímulos que ambos são percebidos, 100%
seria uma diferença muito facilmente percebida e 50% de respostas corretas de
percepção poderia ser atribuído ao acaso. Portanto em 100 apresentações de um
estímulo acima do SP aceitamos que o sujeito acertou quando em 75% das vezes ele
responde que é superior, porém se subentende que nos 25% restantes das vezes ele
teria dito que é menor do que o SP. Portanto continua certo dizer que se pode tomar o
valor de 75% para a determinação do L.D, subentendendo que se trata apenas de duas
escolhas ou duas categorias de respostas “maior” e “menor”. Mas quando se permitem
59
três categorias de respostas: “maior”, “igual” e “menor”, a possibilidade das respostas
“igual” já diminuí a possibilidade de respostas puramente ao acaso entre “maior” e
“menor”, de tal forma que a validade destas respostas cresce, de modo a se poder tomar
o valor de 50% como o valor representativo para 1 d.a.p. acima (LS) e 1d.a.p. abaixo (LI)
e o L.D. como a média da soma dos dois.
Os diversos índices psicofísicos para nosso exemplo são, portanto os seguintes.
1) L.D. = (PLS - PLI)/2 = (53 - 47,5)/2 = 2,75
PLS: 50/25 = 2/x = 50x = 25 * 2
50x = 50
x=1
52 + 1 = 53
PLI: 33/25 = 2/x = 33x = 25 * 2
33x = 50
x = 1,5
46 + 1,5 = 47,5
2) PIS = (PLS + PLI)/2 = (53 + 47,5)/2 = 100,5/2 = 50,25 (superestimação do SP em
relação aos SC).
3) EC = PIS - SP = 50,25 - 50 = 0,25
4) K = L.D/PIS = 2,75/50,25 = 0,05
5) I.I = PLS - PLI = 53 - 47,5 = 5,5
60
3. O Método dos estímulos constantes
O método dos estímulos constantes também pode ser usado para a determinação do
L.D. Neste caso o SP é constante e os diversos SC’s são apresentados ao acaso e
comparados com o SP. Podemos pedir ao sujeito de emitir suas avaliações:
a) em apenas dois julgamentos: dizer se o SC é “maior” ou “menor” do que o SP.
b) em três julgamentos: dizer se o SC é “maior”, “menor” ou “igual” ao SP.
c) expressando ou não julgamentos duvidosos (+?), (-?), procurando usar o menos
possível esta modalidade.
Tabela 11: Folha de anotação de dados de medição do L.D. cinestésico com o gravímetro
de Piéron (S.P. 150g) - conforme P. Fraisse.
Séries \ S em gramas 138g 142g 146g 150g 154g 158g 162g 166g
1ª
=
+
+
+
+
+
-?
+
+
+
+
+
+
2ª
=
=
=
+
+
=
=
+
+
3ª
-?
+
-?
+
+
=
=
+
+
+
+
+
4ª
-?
+
+
+
+
-?
=
=
=
+
+
5ª
=
+
-?
=
=
+?
+
6ª
7ª
8ª
9ª
10ª
Nº de resp.
Nº de resp.
Nº de resp.
Redução
+
=
+
=
0
9,5
0,5
0
9,5
0,5
0
8
2
0
8
2
2
5
3
0
3
7
3
4,5
2,5
0
1,5
8,5
4
2
4
2
0
8
6,5
2
1,5
4,5
0
5,5
8,5
0
1,5
8,5
0
1,5
10
0
0
10
0
0
Como ficou claro na Tabela 11, par um determinado valor, p. ex. 146,150,154,158 se
obtêm os três tipos de respostas. Para calcular a freqüência com que o sujeito percebeu o
estímulo como maior que o SP todas as respostas instantâneas devem ser levadas em
consideração. Para o cálculo de PLS somente será necessário comparar a freqüência das
respostas “maior” com as respostas “igual”. O mesmo também pode ser dito em relação
ao PLI e as respostas “menor”. Para que isto seja possível e para assim eliminar um dos
três tipos de avaliação considera-se que as duas respostas contraditórias, como são
“maior” e “menor” para um mesmo valor de estímulo, refletem a incapacidade para
distinguir a diferença apresentada. A quantidade de respostas contraditórias podemos
61
substituir por um número equivalente de respostas “igual” o que foi feito na parte inferior
da tabela. Desta forma chegamos a uma redução que foi proposta por P. Fraisse. Na
coluna de 146 temos duas respostas “+” que podem ser anuladas por duas respostas “-“,
estas 4 respostas são substituídas por 4 respostas “igual” que se juntam às 3 respostas
“igual”, perfazendo assim um total de 7 respostas “=” e 3 respostas “-“.
Na prática não é necessário mencionar o número de respostas “=” pois este pode se
deduzir da diferença em cada coluna.
3.1. Cálculo do Limiar Diferencial e Índices Psicofísicos
1) Pelo método de interpolação linear:
1º L.D. = (PLS - PLI)/2
PLS: 85 - 45 = 40
50 - 45 = 5
40/5 = 4/x = 40x = 5*4
40x = 20
x = 20/40 = 0,5
PLS: = 158 + 0,5 = 158,5
PLI: 80 - 30 = 50
50 - 30 = 20
50/20 = 4/x = 50x = 20*4
x = 80/50 = 1,6
PLI: = 146 - 1,6 = 144,4
LD. = (158,5 - 144,4)/2 = 14,1/2 = 7,05
2º PIS. = (158,5 + 144,4)/2 = 151,45
3º EC = 151,45 - 150 = 1,45
4º K = 7,05/151,45 = 0,046
5º I.I. = 158,5 - 144,4 = 14,1
2) Pelo método de interpolação gráfica
O gráfico obtido por este método é também chamado função psicométrica. Quando no
procedimento são usadas 3 categorias de respostas, mesmo quando depois se eliminam
as respostas “igual” usa-se o valor correspondente a 50% como o valor de estímulo para
PLS e para PLI.
62
Figura 19: Função psicométrica para a determinação dos valores liminares dos dados da
tabela 11, com redução
O perpendicular que desce do ponto de intercessão das duas curvas indica o valor do PIS
enquanto a distância entre PLI e PLS. Representa o Intervalo de Incerteza (I.I.). Porém
quando se usam 3 categorias não é necessário eliminar os valores de “igual” e ,portanto
pode traçar-se uma função psicométrica na qual as três curvas estão apresentadas,
tomando se igualmente o valor de 50% como representativa para o PLS e o PLI,
Figura 20: Função psicométrica para a determinação dos valores liminares dos dados da
Tabela 11 sem redução
Tanto no caso de redução como no caso de manter as 3 categorias o Erro Constante é
representado pela distância entre o SP e o PIS. As irregularidades na curva observadas
na Figura 20 ocorrem por conta de erros de amostra, pois na população a curva de “igual”
teria uma distribuição normal assim como apresentada na Figura 21.
Figura 21: Função psicométrica populacional com 3 categorias de julgamento
63
Porém, quando usamos apenas duas categorias de julgamentos, eliminando na aplicação
a possibilidade de dar a resposta “igual” a determinação dos valores dos pontos limiares
superior e inferior se faz pelo valor correspondente a 75%. Vejamos o exemplo na Tabela
12.
Tabela 12: Resultados de determinação do Limiar Diferencial no levantamento de pesos,
com duas categorias de julgamentos. S.P.= 60g
Séries\S em g 48 52 56 60 64 68 72
10 séries
Freq.R.+
0 0 1 4 7 8 10
Freq.R.10 10 9 6 3 2 0
1) Pelo método de interpolação linear:
1º L.D.= (P.L.S. - P.L.I.)/2
PLS. 80-70 = 10
80-75 = 5
10/5 = 4/x = 10x = 5*4
x = 20/10 = 2
PLS.= 68-2 = 66
PLI. 90-60 = 30
90-75 = 15
30/15 = 4/x = 30x = 15*4
x = 60/30 = 2
PLI = 56 + 2 = 58
L.D.= (66 - 58)/2 = 4
2º PIS = (66+ 58)/2 = 62
3º EC = 62 - 60 = 2
4º K = 6/62 = 0,097 (0,1)
5º I.I. = 66 - 58 = 8,0
2) Pelo método de interpolação gráfica
A Figura 22 mostra a função psicofísica para a determinação do Limiar Diferencial e dos
índices psicofísicos de levantamento de pesos, com apenas duas categorias de
julgamentos. Neste caso é aplicado o que foi visto no Cap. I , que dizer o que em 75
vezes em 100 é percebido como maior do que o SP é considerado como L.D.
64
Figura 21 pag 79.
Desenhando a função psicométrica em papel milimetrado se obtém valores
suficientemente precisos para a determinação dos PLS e PLI que permitem o cálculo do
L.D. além disto um valor provável do PIS, do EC e do II e a partir deste dados a fração de
Weber e seu K poderá ser facilmente calculado.
A Inclinação da curva como índice de sensibilidade.
A sensibilidade do sujeito em relação a um determinado tipo de estímulo poderá ser
verificada através da inclinação das curvas. Quanto mais as curvas “maior” e “menor” se
aproximam, na parte do meio, à vertical, portanto quanto maior sua inclinação, maior
facilidade o sujeito tem de distinguir que um estímulo que está apenas um pouco acima
do SP é maior do que este e que um estímulo que está apenas um pouco abaixo do SP é
menor do que este. Figura 23a) mostra esta sensibilidade absoluta e perfeitíssima que na
prática não é encontrada.
Quanto mais as curvas da função psicométrica se afastam do vertical e se aproximam ao
horizontal mostrando pouca inclinação, tanto mais o sujeito é insensível julgando
repetidamente que um estímulo que na realidade está abaixo do SP é maior que SP e que
um estímulo que na realidade está acima do SP é menor do que SP. Figura 23b) mostra
como as inclinações são pouco acentuadas em comparação com 23a). Figura 23c)
mostra um caso de sensibilidade comum apresentando uma área de incerteza em torno
do SP e, portanto uma inclinação intermediária entre a da Figura 23a) e b).
A Inclinação da curva como índice do tamanho do intervalo entre estímulos.
Quando a inclinação é muito forte como na Figura 23a) isto também pode indicar que os
valores usados não experimento apresentam intervalos muito grandes e que por isto são
facilmente discerníeis quanto a sua diferença com o SP. A inclinação muito fraca como na
Figura 23b) pode indicar que os valores são tão próximos ao SP e tão pouco distantes
entre si que é muito difícil de verificar se são maiores ou menores do que o SP e uma
inclinação como na Figura 23c) indica que a distribuição dos estímulos é normal.
a) Sensibilidade “absoluta” b)
Sensibilidade
falha, c) Sensibilidade normal,
ou estímulos muito distantes insensível ou estímulos intervalos bons entre os
muito próximos
estímulos
Figura 23: Os significados das inclinações das curvas da função psicométrica
Podemos perguntar-nos como vamos saber se a inclinação é devida à sensibilidade ou ao
intervalo do estímulo. Em geral para a determinação do intervalo já se faz uma pequena
pesquisa preparatória, apresentando escalas com diversos intervalos a por exemplo 5
sujeitos. Se escolhe depois o intervalo no qual a maioria de seus sujeitos apresentam
uma curva mais ou menos como 23c). Se depois o próprio experimento é feito em 30
65
sujeitos os casos de sensibilidade exagerada e de sensibilidade falha se destacarão
facilmente contra a maioria que apresenta uma sensibilidade normal.
Quando usar 2 e quando usar 3 categorias.
Este problema tem sido bastante discutido. Thurstone (1948) sugere uma solução fácil em
termos daquilo que o experimentador quer obter. Se o experimentador visa a
determinação do Limiar Diferencial de um determinado sujeito para um certo tipo de
discriminação sensorial ele deve usar apenas 2 categorias. Se neste caso usasse 3
categorias então um sujeito muito cauteloso dará a resposta “igual” sempre quando tiver
alguma dúvida ou quando não se quer esforçar o suficiente para chegar a uma decisão.
No mesmo caso de 3 categorias um sujeito menos cauteloso e mais confiante em si dará
decisões com um mínimo de respostas de igualdade. Se este sujeito, por exemplo, evita
inteiramente a categoria “igual”, seja intencionalmente, ou seja, por temperamento, então
vamos ter o caso em que o Intervalo de Incerteza desaparece inteiramente, os PLS e PLI
iam quase coincidir o que significaria que o sujeito teria uma sensibilidade infinita, o que
sem dúvida é absurdo. A determinação é, portanto bastante afetada pelas características
temperamentais que são irrelevantes para o limiar sensorial.
Se, pelo contrário, o experimentador quer investigar a sensação de igualdade, ele deve
usar 3 categorias. O resultado pode dar um índice objetivo de alguma característica de
temperamento ou de tolerância sensorial do sujeito, mas não de seu limiar.
4. O Método do Erro Médio
Um dos métodos psicofísicos mais simples é o método do erro médio, também chamado
método de ajuste, método de igualação ou método de reprodução. Este último nome
indica bem o que é a tarefa do sujeito de experimento: reproduzir por diversas vezes um
estímulo apresentado, de tal forma que sua reprodução lhe parece igual ao estímulo
padrão. Uma vez que em cada uma destas reproduções o sujeito comete normalmente
algum erro, por fim se toma o erro médio como um resultado representativo dos diversos
ajustes, e dos erros neles cometidos.
Portanto no método do erro médio temos um SP que pode ser uma linha, um luz, um som,
um peso ou qualquer outro estímulo, e um estímulo de comparação, normalmente
contínuo, que é manipulado pelo sujeito, diretamente ou indiretamente. No primeiro caso
o próprio sujeito por manipulação dele mesmo muda o SC até lhe pareça ser igual ao SP
e no segundo caso ele comanda o experimentador ou um auxiliar deste que faz aumentar
ou diminuir o SC para parar no ponto onde o sujeito acha que o SC é igual ao SP.
Portanto a tarefa é sempre igualar de melhor modo possível e com diversas repetições o
estímulo variável (SC) ao estímulo fixo(SP).
Uma das aplicações clássicas deste método é a régua de Galton, que consiste numa
régua sem marcação sustentada por dois suportes que tem no meio uma linha divisória
bem nítida e dois lados um cavaleiro ou uma peça metálica que se prende em volta da
régua, mas que pode deslizar livremente. Um dos lados, tomemos o lado esquerdo, serve
como SP lá portanto fixamos o cavaleiro a uma certa distância, por exemplo a 30 cm da
linha divisora. O outro lado serve de SC o sujeito deve manobrar o cavaleiro, começando
às vezes de um ponto perto da linha divisora e às vezes de um ponto mais longe, por
exemplo, 45 cm, procurando reproduzir a distância marcada à esquerda. Como se vê são
usadas tentativas ascendentes - quando se começa mais perto do ponto zero - e
tentativas descendentes - quando se começa de um ponto bem superior ao SP. Para
66
evitar ainda o estímulo de posição espacial se coloca na metade das tentativas o SP à
esquerda e na outra metade à direita da linha divisora.
Podemos também fazer um experimento dentro deste método mostrando ao sujeito uma
linha, por exemplo, de 12 cm, desenhado num cartão que é colocado a uma determinada
distância dele. A tarefa do sujeito consiste em fazer umas cem reproduções desta linha
num papel cobrindo sempre as linhas que já traçou de tal forma que não pode comparar
diretamente sua reprodução atual com as reproduções anteriores. Quando se faz este
experimento sempre se deve tomar o cuidado de não usar uma espécie de caderno, pois
o traço do lápis pode deixar uma marca na página seguinte, ou quando se usa
começando com a última página a linha já traçada pode ser visível quando o papel for um
pouco mais fino. Mais fácil é usar uma folha de cartolina que vai cobrindo os traços já
feitos.
Obtidos os resultados podemos analisá-los, distinguindo, de acordo com Thurstone
(1948), dois tipos de erros que podem ser investigados separadamente. Um deles é o erro
constante ou o erro sistemático que é constituído pela diferença entre o SP e o PIS. Este
último é fácil de calcular, pois consiste simplesmente na média de todas as reproduções
feitas. Quando o PIS for maior que o SP então o sujeito superestimou o SP em relação ao
SC dando, por exemplo, um PIS de 13,4 cm e quando o PIS for menor que o SP o sujeito
subestimou o SP em relação ao SC dando, por exemplo, um PIS de 11,2 cm. No primeiro
caso o erro constante EC é +1,4 cm e no segundo é -0,8 cm.
O outro erro é o erro variável que indica a consistência do sujeito, que normalmente
indicamos como sua sensibilidade e que pode ser medida pela dispersão das suas
tentativas. Quanto menor a distribuição dos dados experimentais em torno do PIS maior a
sensibilidade do sujeito, mais seus julgamentos objetivados pelas reproduções se
aproximam de um determinado valor. Quanto maior a distribuição dos dados menor a
sensibilidade do sujeito mostrando grandes oscilações em torno da média representada
pelo PIS o DP pode ser usado como um índice do tamanho da dispersão.
Na análise de dados psicofísicos é comum supor que uma determinada resposta ou
reprodução R de um sujeito é determinado por dois componentes sua quantidade média
de super ou sub estimação “E.C.” e seu erro variável E.V. no momento de traçar uma
determinada linha. Figura 24 mostra mais claramente a situação: uma linha reproduzida
qualquer, por exemplo, R=S.P.+E.C.+E.V. É claro que não acreditamos que o grau de
super ou subestimação seja realmente constante, mas tratamos o resultado como um
componente constante: E.C. e um outro componente E.V. que varia de tentativa em
tentativa.
No método de reprodução há uma limitação importante: a magnitude da reprodução pelo
sujeito é em parte determinada por sua capacidade de perceber o S.P. e em parte por sua
coordenação motora, baseada nas sensações sinestésicas, isto é verdade para o caso
67
que apresentamos da reprodução de uma linha, bem como na régua de Galton, e na
manipulação de qualquer aparelho que indica a magnitude de sua resposta. Em estudos
psicofísicos estamos geralmente, interessados na capacidade do sujeito em perceber o
S.P. e por isto o efeito de sua coordenação motora pode muitas vezes um elemento
perturbador nos experimentos com este método. Esta dificuldade desaparece quando o
experimentador manipula o S.C. obedecendo rigorosamente as ordens do sujeito.
Isto é necessário quando o método é aplicado a estudos de ilusões em campo aberto e
também quando o método é aplicado em crianças nas quais o componente de
coordenação motora falha poderá levar a muitos erros que não são erros perceptivos,
mas erros de domínio de motricidade.
Apesar de algumas restrições este método é em muitas situações o método mais natural.
Por exemplo, na análise psicofísica de tiro ao alvo ou jogar dardos, neste caso, neste
caso estamos simplesmente interessados em bons resultados e não interessa se os erros
correm por conta da percepção ou da motricidade. Neste caso é útil conhecer os E.C.
tanto nas diversas direções das coordenadas do alvo como na quantidade bem como na
variabilidade dos resultados sobre o alvo. (Thurstone).
O método, portanto, se baseia na suposição que as medidas das diferenças apenas
perceptíveis são essencialmente medidas de erros de percepção. Estes erros refletem a
deficiência na sensibilidade do mecanismo sensorial e do sistema nervoso. Garret (1951)
faz implicitamente uma distinção entre o erro médio e o erro constante. O erro médio é a
quantidade que o sujeito na média se afasta do S.P. para mais ou para menos. Todas as
variações são contadas e nenhuma elimina a outra, não há valor positivo ou negativo. O
erro constante é a diferença entre a média dos valores de ajustes ou das reproduções do
sujeito, que é o seu pis e o sp . Nesta média os valores para mais e para menos se
eliminam como se um fosse positivo e outro negativo. Desta maneira o erro médio daria
um índice de variabilidade melhor que o erro constante, e constitui um índice de
variabilidade da distribuição semelhante ao dp tendo seu valor independente do sinal.
Isto, no entanto é somente verdade quando os valores das reproduções se distribuem a
ambos os lados do sp, pois se eles se localizam somente a um lado o erro médio e o erro
constante são idênticos. Isto ocorre, por exemplo, comumente na experimentação com a
ilusão Muller-Lyer.
Tabela 13: Exemplo no qual S.P.=10 e com 10 reproduções.
Dados E.C. E.M.
12
+2
2
9
-1
1
8
-2
2
P.I.S. = 10,4 E.C. = +0,4 E.M. = 1,4
11
+1
1
E.C. = P.I.S. - S.P. = 0,4
10
0
0
12
+2
2
9
-1
1
12
+2
2
Podemos ter casos em que o ec=0 e o em indica um valor
9
-1
1
real, por exemplo, com os dados: 12, 8, 11, 9, 12, 8, 13, 7,
12
+2
2
104
+4
14 ec=0 em =20.
As principais vantagens deste método são: manter o interesse do sujeito porque participa
ativamente do experimento e permitir também um cálculo rápido do pis, em caso de
68
estudo de configurações perceptivas, como ilusões geométricas, em diversas
circunstâncias é o método que permite com relativamente poucas medidas chegar a um
resultados que nos outros métodos, pela quantidade muito maior de medidas, seriam
quase impraticáveis especialmente quando se tratam de estudos em crianças.
As principais desvantagens são que o método não permite uma estimação direta do L.D.
e que a estimação do pis não é tão fidedigno como nos outros métodos.
Exemplo 1 estudo com a ilusão de Muller-Lyer como na figura, na qual a metade da linha,
com a seta aberta para for a, é ajustável a outra metade com as duas setas para dentro.
Pede-se ao sujeito ajustar a parte móvel de tal maneira que as duas linhas lhe parecem
iguais. Alternadamente começa-se de um valor pequeno, ( a seta da parte móvel perto da
linha divisora) ou de um valor grande ( a seta da parte móvel bem longe da linha
divisória). No primeiro caso trata-se das tentativas ascendentes e no segundo das
tentativas descendentes. Para evitar o erro de posição, em metade das tentativas a seta
fixa é colocada ao lado esquerdo e na metade ao lado direito.
Tabela 14: Determinação do PIS da ilusão de Muller-Lyer, pelo método do erro médio. Sp
= 15cm
Tentativas
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Tentativas
descendentes
(cm)
16,5
--15,55
-15,5
17,0
--16,5
Tentativas
ascendentes
(cm)
-15,5
16,0
-17,0
--16,0
15,5
--
Xd = 81/5 = 16,2cm
Xa = 80/5 = 16,0cm
PIS = (16,2+16,0)/2 = 16,1cm
EC = 16,1-15=1,1cm
EM = EC (todos os erros são
positivos)
Exemplo 2: Em vez de uma ilusão de Muller-Lyer ou outras figuras de ilusão nas quais os
erros sempre tendem a cair no mesmo lado do sp . Podemos usar a barra de Galton que
foi descrita acima. A régua ou barra é dividida no meio com dois cavaleiros metálicos, um
fica fixo sp e o outro móvel sc . Na metade das tentativas que são num total de 80 o sp
está à esquerda e na outra metade o sp esta a direita do sp, alternadamente as tentativas
69
são feitas na direção ascendente começando com um valor menor que o sp e na direção
descendente começando com um valor maior que o sp.
Tabela 15: Dados relativos a 80 tentativas com a barra de Galton, 40 com o sp à
esquerda e 40 com o sp à direita. SP=20cm. (adaptado de Garret).
Sp à esquerda 40 tentativas
Partindo de tamanho menor ( ascendentes) – média 18,5 cm
Partindo de tamanho maior (descendentes) – média 19,2 cm
Sp à direita 40 tentativas
Partindo de tamanho menor (ascendentes) – média 18,7 cm
Partindo de tamanho maior (descendentes) – média 19,8 cm
Média geral PIS
Média das tentativas ascendentes
Média das tentativas descendentes
Erro constante
Erro médio
19,05 cm
18,6 cm
19,5 cm
-0,95 cm
1,04 cm
Neste caso o erro médio difere do erro constante porque tanto há valores abaixo como
acima de 20cm. O em somente é calculável a partir dos dados brutos (80) que não são
fornecidos na tabela.
Uma comprovação da lei de Weber poderá ser feita usando o método de erro médio para
um valor de x, e depois para 2x e 3x. O erro médio teria que variar proporcionalmente.
Isto também poderá ser feito com o cinestesiômetro de Michote.
70
CAPÍTULO VI – Métodos Escalares
PARTE I - INTRODUÇÃO AOS MODELOS MATEMÁTICOS
Segundo S.S. Stevens (1951), o criador da psicofísica moderna, o qual criou também a
teoria moderna de mensuração aceita atualmente nas outras ciências, o desenvolvimento
de uma teoria de mensuração foi dificultada pela confusão a respeito da verdadeira
natureza da matemática. Esta confusão permaneceu até o século passado. As verdades
matemáticas são derivadas a partir de um pequeno número de postulados que são
evidentes por si mesmos e, a partir deles podem ser definidos teoremas por um raciocínio
rigoroso. Estes teoremas expressam verdades somente pelo fato de que os postulados
são considerados como verdades e sem contradição entre eles. Este tipo de verdade é de
natureza lógica e não empírica como as ciências experimentais.
Vale dizer, nesse momento, que durante muito tempo acreditava-se que as verdades
matemáticas eram absolutas. Elas se impunham não somente aos homens, mas para a
natureza de si mesma. Certos filósofos acreditavam que elas orientavam a criação do
mundo e o criador podia só utilizá-las e que a experiência revelava quais eram aquelas
que ele escolheu.
A conceituada moderna é diferente, tal como coloca Guilford (1954), a matemática é uma
invenção do homem, não uma descoberta. Assim é incorreto dizer que a curva gaussiana,
ou normal, é uma curva biológica ou psicológica. Ela não é uma, nem outra. Ela é uma
curva matemática, pura e simplesmente. O fato de que ela pode ser usada para descrever
distribuições obtidas de observações em biologia e em psicologia é uma coincidência, e
depende evidentemente de uma escolha.
Poderia ser escolhida uma outra função que descreva as mesmas observações. A
escolha é feita em função da adequação da função e da comodidade de sua manipulação.
O verdadeiro papel das funções matemáticas como salienta Guilford (1954) consiste em
oferecer um modelo adequado e frutífero para a descrição das observações
experimentais, ou de maneira geral da natureza. Entretanto, a natureza, nunca é
exatamente descrita por um modelo matemático. Todas as descrições são apenas
aproximações, algumas melhores e algumas piores. Não obstante, do ponto de vista
experimental o problema consiste em verificar se as observações comportamentais
podem ser descritas em termos do modelo com uma aproximação aceitável e em verificar
se esta descrição é cômoda, isto é, se ela permite tratar os fatos de uma maneira simples,
e, finalmente, verificar se ela é fecunda, ou seja, ver se ela sugere hipóteses
experimentalmente verificáveis. Trata-se em geral de resumir os resultados essenciais de
observação de maneira sucinta e que pode ser generalizada a um conjunto de
observações em condições semelhantes.
Em suma nós não podemos entender a natureza da mensuração se não conhecermos as
propriedades da matemática.
71
PARTE II - A MEDIDA EM PSICOLOGIA
Segundo a teoria clássica de medidas, a palavra “medida” consiste em estabelecer a
razão de uma grandeza com uma outra de mesma espécie, a qual foi escolhida, como
unidade. Baseado nessa teoria se reconhece se uma espécie de grandeza pode ser
medida, pelo fato, se apenas e tão somente pudermos definir a igualdade e a soma de
duas grandezas de mesma espécie.
Entretanto, para poder medir, obviamente dentro dessa teoria é necessário antes de tudo
que se tenha uma unidade constante e se conhecer o zero absoluto desta grandeza.
Estas duas condições se tornam imprescindíveis, uma vez, que com elas é que se pode
executar todas as operações matemáticas, tais como a soma, subtração, multiplicação,
divisão, etc...
Atualmente, o problema de medidas não se apresenta mais assim, e essa teoria clássica
foi abandonada por três razões principais: Em primeiro lugar, é difícil de ter uma unidade
de medida rigorosamente constante. Em segundo lugar, o desenvolvimento das ciências
evidencia a utilidade de certos dados numéricos que não correspondem a estas
exigências. Finalmente as escalas psicofísicas evidenciaram a possibilidade de medidas
subjetivas por ordenação das impressões dos sujeitos, e estabeleceram certas escalas,
as quais trataremos mais adiante.
Stevens(1951) baseado nessas considerações elaborou uma teoria de medida que
atualmente é aceita em várias outras ciências, assim como na psicologia. Segundo ele,
medir consiste em atribuir números aos objetos ou eventos de acordo com regras
determinadas. Reuchlim (1968), coloca que estas regras consistem sempre em
estabelecer correspondência entre certas propriedades dos números e certas
propriedades das coisas. Elas baseiam-se no interesse que a medida apresenta no
sentido de que é, muitas vezes, bem mais fácil de verificar ou utilizar, diretamente as
propriedades que lhes correspondem nas coisas. Algumas dessas regras podem ser
relativamente fáceis de respeitar e outras relativamente difíceis. Assim estas regras
podem ser mais ou menos estritas; elas consistem em diferentes operações sobre os
objetos de medida, tais como: identificar, ordenar, determinar igualdade das diferenças,
determinar igualdade das razões de suas grandezas.
Experimentalmente, é possível, muitas vezes no domínio da medida física, utilizar regras
bastante estritas, para que os números atribuídos às coisas gozem de todas as
propriedades aritméticas. No estado atual dos conhecimentos em psicologia, é, ao
contrário, impossível, em geral, descobrir para todas as operações aritméticas, operações
experimentais que, efetuadas com duas coisas, produzem resultado empírico, que se
prever desde a operação aritmética correspondente , efetuada com dois números
atribuídos a essas coisas. O psicólogo corre pois, com mais freqüência, o risco de efetuar
um tratamento aritmético de medidas inteiramente desprovidas de sentido. Importa-nos,
muito, determinar bem a coerência que se estabelece, necessariamente, entre as
propriedades das coisas, que a experimentação pode determinar e as propriedades dos
números que lhes podem ser atribuídos, entre as condições experimentais da medida e
as propriedades dos números que ela fornece. (Guilford,1954; Reuchlin,1968).
Finalmente, o que podemos dizer é que a medida é possível em psicologia, mas, o
importante é mostrar através de que técnicas, ao mesmo tempo experimentais e
matemáticas, foi possível estabelecer uma correspondência entre as propriedades das
coisas e as propriedades dos números, permitindo dupla leitura, psicológica e numérica,
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de um sistema formal de relações. Esta correspondência, esta dupla leitura, podem-se
efetuar em níveis diferentes, dos mais fracos e gerais, aos mais precisos e específicos.
Desta maneira podemos distinguir quatro níveis de mensuração, que destinaremos, para
nos atermos a um vocabulário já empregado, em particular por S.Stevens (1951), como o
das Escalas nominais, Escalas ordinais, Escalas de intervalos e Escalas de razões.
PARTE III - ESCALAS
1. Escala Nominal
Definição: A este nível mais geral de mensuração os números ou outros símbolos são
utilizados apenas para designar categorias, para classificar objetos, pessoas ou
características. Neste caso os números servem apenas para identificar categorias e
podem ser substituídos por qualquer outro símbolo ou nome. Os números e símbolos
utilizados constituem uma escala nominal ou escala classificatória. A escala nominal
somente nos diz que duas coisas são diferentes, quer dizer, nomeia os objetos. Não nos
diz nada a respeito do tamanho ou do tipo de diferença que existe entre os objetos.
Numa escala nominal, a operação de mensuração constitui uma partição em categorias
exclusivas e exaustivas. A única relação existente entre os objetos classificados, é a
relação de equivalência. Isto é, os membros de cada categoria devem ser equivalentes do
ponto de vista da característica que sirva para classificá-los. Assim para construir e utilizar
uma escala nominal, o experimentador deve estar em condições de classificar os dados,
isto é, de definir experimentalmente, uma relação de equivalência que lhe permite repartir
os dados em certo número de classes “desunidas”, ou seja, cada dado deve encontrar
lugar numa classe e numa única. Isso supõe, primeiro, que os dados sejam dissociados
uns dos outros, como os elementos de um conjunto, em seguida, deve-se encontrar um
critério experimental que permita atribuir cada dado a uma classe.
Exemplos:
1) A atribuição de números como é usada para identificar jogadores de futebol e para
diferenciá-los entre si, é uma escala nominal.
2) O sistema de diagnóstico psiquiátrico constitui uma escala nominal. Quando o
psiquiatra identifica sujeitos como sendo “esquizofrênicos”, “paranóicos”, “depressivos”,
etc., e aplica símbolos para designar as categorias as quais cada um dos “doentes”
pertence, ele aplica uma escala nominal.
3) Na seleção de pessoal, as escalas nominais ocorrem com mais freqüência sob a forma
de dados biográficos (casado, solteiro, homem, mulher) retirados dos formulários
preenchidos por candidatos ou de outros tipos de questionários.
4) Muitas vezes se numera os estudantes que realizam provas padronizadas, como os de
alguns exames de vestibulares. Cada estudante recebe uma prova com um número
diferente. O número não tem relação com sua qualificação na prova, com sua idade ou
com uma posição no grupo, é usado simplesmente para substituir o nome dos estudantes.
Pode-se dizer assim, que esse número dado é colocado sobre uma escala nominal. Do
mesmo modo quando categorizamos as espécies biológicas, os diferentes
73
comportamentos dos animais ou ainda as diferentes classes profissionais utilizadas na
orientação, nós estamos trabalhando com a escala nominal.
Propriedades Numéricas: Para classificar as escalas Stevens propõe o critério de
invariância. Trata-se de definir quais são as maneiras que permitem de substituir os
números utilizados sem perder nenhuma informação. Assim no caso de uma escala
nominal os números ou símbolos podem ser permutados apenas se isto é feito
sistematicamente sem perder informação. Isto na teoria das medidas se diz que “a escala
é definida dentro de limites de uma transformação de um a um”.(unique up to a one-toone transformation”). Em outras palavras a escala nominal é definida dentro de limites de
uma relação de equivalência.
2. Escala Ordinal
Definição: É um tipo de escala que permite não somente categorizar os objetos, as
também ordená-los segundo a propriedade medida. Este tipo de escala não somente
diferencia os indivíduos nomeando-os, mas também nos diz que um indivíduo tem mais
ou menos, de uma determinada qualidade. As relações típicas na psicologia são: mais
popular, mais difícil, mais atrasado, mais adaptado, etc. A diferença fundamental entre a
escala nominal e ordinal é que a escala ordinal implica uma relação de ordem além da
relação de equivalência entre os objetos.
Assim, tanto a escala nominal, quanto a escala ordinal diferenciam os objetos ou eventos
entre si, mas enquanto a escala nominal somente poderia usar-se para nomear as coisas,
a escala ordinal nos diz quais objetos ou eventos tem mais ou menos da qualidade que se
julga
Exemplos:
1) Os Status socioeconômico freqüentemente utilizados na psicologia social é uma escala
ordinal. Escalas de atitudes ou sociométricas são também escalas ordinais.
2) Ao atribuir o primeiro, segundo e terceiro lugar aos participantes de um concurso de
beleza, está se diferenciando as pessoas por meio de números, e este tipo de
diferenciação é chamada escala ordinal.
3) Ao terminar uma corrida, se diz que a pessoa que chega em primeiro lugar tem mais
qualidade que se julga, neste caso a velocidade para correr, do que os outros
competidores. Sem dúvida, e deve-se ficar bem salientado, que esta escala não nos diz
nada a respeito do tamanho das diferenças que existem entre o ganhador e os outros
participantes.
Propriedades numéricas: Toda transformação de números aplicados que não muda a
ordem são admissíveis, isto porque pode ser feito sem perder nenhuma informação. Dizse na teoria das medidas que “a escala é definida dentro de limites de uma transformação
monotônica”. Isso quer dizer que se representa a escala original em abcissa e uma outra
escala que pode substituí-la sem perda de informação, na ordenada, a relação entre as
duas pode ser representada por uma curva constantemente crescente ou constantemente
decrescente. (Podemos dizer “monotonicamente”). Assim a curva não pode ter nenhum
segmento decrescente se a relação é direta entre as duas escalas e, inversamente ela
não pode ter nenhum segmento crescente se a relação é inversa.
74
Portanto, as medidas efetuadas, utilizando-se escalas ordinais, tem em primeiro lugar, as
propriedades das escalas nominais. Além disso, tem propriedades novas. Isso, tendo-se
em conta que o experimentador que as emprega é, primeiramente, capaz de estabelecer
uma relação de equivalência entre as coisas, e além do mais, uma relação de ordem.
Para isso seria necessário que tenha encontrado uma operação experimental (dispositivo
que permita a comparação de duas sensações, teste que possibilite a comparação de
dois sujeitos), que permita dizer que A é superior a B e que goza de certas propriedades:
não é preciso que essa operação faculte dizer, simultaneamente, que A é superior a B e B
superior a A; é preciso que a operação que permite dizer que A é superior a B e B
superiora C, possibilita também dizer que A é superior a C. A pesquisa de uma operação
que apresenta essas propriedades constitui o aspecto experimental da construção de uma
escala ordinal. Se essa pesquisa tiver êxito, poder-se-á, então, atribuir a cada coisa um
símbolo, tomado num conjunto de símbolos, em cujo seio existe também uma relação de
ordem, num número, por exemplo, de tal maneira que dois símbolos se ordenem sempre
da mesma maneira que as duas coisas às quais foram atribuídas. Certos tratamentos,
efetuados com o auxilio de símbolos, permitirão então prever o resultado de certas
operações efetuadas nas coisas e são as propriedades dos símbolos que apresentarão
interesse para o experimentador.
Finalmente deve ficar bem claro que a escala ordinal é geralmente considerada como
portadora de certas limitações matemáticas, em grande parte porque tal escala nada
informa a respeito da quantidade relativa de diferenças entre pontos adjacentes da
escala. Isto porque, uma diferença unitária, por exemplo, de uma escala particular pode
significar coisas bem diversas, em pontos diferentes de uma escala ordinal; e devido a
isto, diz-se geralmente que as classificações de uma escala ordinal não devem ser
somadas, subtraídas e nem se deve tirar sua média. Falando de modo bem estrito, essas
operações aritméticas exigem uma outra escala, uma escala que dê informações sobre as
distâncias existentes entre os pontos adjacentes, assim como sobre sua ordem. Essa
escala que é denominada escala de intervalo, é a que iremos tratar a seguir.
3. Escala de Intervalo
Definição: Quando uma escala possui todas as características de uma escala ordinal e,
além disso, uma distância pode ser definida entre os escalões, nós temos uma escala de
intervalo. É uma escala muito mais rigorosa que as precedentes e permite medidas mais
exatas. Numa escala de intervalo, o ponto zero e a unidade de medida são arbitrários. As
diferenças entre escalões são isomorfos à estrutura aritmética e assim todas operações
aritméticas sobre diferenças podem ser executadas e podem ter uma significação.
A escala de intervalos, tornamos a repetir, tem todas as características das outras duas
escalas que estudamos, a saber a escala nominal e a escala ordinal. Entretanto, a escala
de intervalos é mais completa, pois além de diferenciar os itens, nos diz qual os itens tem
mais ou menos da qualidade julgada, ela também nos diz o tamanho da diferença entre
os itens. O que nos permite dizer que escala é de intervalo é a unidade de mensuração e,
com a unidade de mensuração avaliável, torna-se possível medir o tamanho das
diferenças entre os itens, objetos ou eventos.
É fundamental entendermos que para se construir uma escala de intervalos, é necessário,
primeiramente, que seja encontrada uma operação experimental, que permita definir o
que se entende quando se diz que a distância (ou a diferença) entre duas coisas é igual à
distância (ou a diferença) entre duas outras. Se chega a encontrar tal operação poder-se75
ão atribuir números às coisas, de tal modo, que as duas distâncias ( ou diferença)
experimentalmente iguais, correspondem duas diferenças numéricas iguais.
Vale dizer, mas não trataremos disso especificamente aqui, que a definição empírica da
igualdade de duas distâncias é difícil e os psicólogos tiverem de utilizar, muitas vezes,
nesse domínio não só constatações experimentais, mais ainda certos postulados.
Exemplos:
Altitude é tipicamente associada com uma escala de intervalo. A referência ponto de
altitude zero é arbitrária.
Tempo t é mensurado por uma escala de intervalo. Não há um fenômeno natural o qual
podemos indicar uma referencia ponto t=0.
Potencial elétrico mensurado em volts pode apenas ser definido por um arbitrário
potencial zero, mas a diferença em potencial elétrico, por exemplo, ao longo da fibra
nervosa, tem um preciso significado físico. Entretanto potencial elétrico é mensurado por
escala de intervalo.
Um exemplo muito típico é o da temperatura. Mede-se a temperatura sobre uma escala
de intervalo. Pode ser usados, escalas de Celsius, ou Fahrenheit, sem perder nenhuma
informação. Sabemos também que o ponto zero destas escalas, como a unidade, são
arbitrários, mas podem ser substituídos uma por outra porque existe uma relação linear
entre as duas:
ºF=9/5ºC+32
Pode ser constatado que a razão de diferenças (intervalos) lidos sobre uma escala é igual
a razão da diferença equivalente sobre a outra. Por exemplo, sendo dado a
correspondência:
ºC
ºF
0
32
10
50
30
86
100
212
Se considera a razão das diferenças:
Para ºC (30-10) / (10-0) = 2
Para ºF (86-50) / (50-32) = 2
Isto mostra que a razão de cada intervalo é independente da unidade de medida e do
ponto zero.
Escalas de intervalo são raras em psicologia, apesar de que muitos esforços foram feitos
para estabelecer tais escalas. Há dificuldades com um desconhecido ponto zero
verdadeiro, mas também com as muitas conceptualizações de um verdadeiro ou não
arbitrário ponto zero. Por exemplo, como conceptualizar inteligência zero, aptidão musical
zero, etc. Para obter tais escalas admite-se hipóteses, por exemplo, que a distribuição é
gaussiana. Aceitando esta hipótese o experimentador manipula os dados para ajustá-los
à curva normal que permite derivar uma escala de intervalo.
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Propriedades numéricas: Como já dissemos, uma escala de intervalo pode ser substituída
por qualquer uma outra com a condição de conservar a diferença relativa entre os
intervalos, ou seja, entre as duas escalas tem que existir uma relação linear para não
perder nenhuma informação. Diz-se na teoria das medidas que a “escala é definida dentro
de limites de uma transformação linear”.
Em outras palavras, as propriedades dos números atribuídos segundo uma escalo de
intervalos são as que se conservam após transformação linear: y=ax+b. Pode-se dizer, de
modo, equivalente, que, numa tal escala, a origem (parâmetro b) e a unidade (parâmetro
a) permanecem arbitrários. Vê-se que a ordem dos elementos classificados segundo a
variável x permanecerá imutável se os classificarem segundo y e que os números tem,
pois, aqui, ao menos as propriedades daqueles que são atribuídos segundo uma escala
ordinal. Mas, além disso, percebe-se que se os dois intervalos são iguais sobre a variável
x, permanecem iguais sobre y, o que demonstra que a transformação linear conserva a
propriedade numérica correspondente à propriedade experimental sobre a qual repousa a
construção da escala.
Sumariando os pontos precedentes podemos dizer: (1) Medir objetos numa escala de
intervalos, é necessário, primeiramente ordenar os objetos com respeito à magnitude ou
tamanho, medir as diferenças em magnitude que separa os objetos um do outro;
acompanhado a isso, a unidade de mensuração é essencial. (2) Escalas de intervalo não
possuem um ponto zero verdadeiro, se por acaso existir um ponto zero verdadeiro ele é
desconhecido ou porque problemas conceptuais têm impedido seu estabelecimento (Ex.
Inteligência zero). (3) Razões de diferenças e diferenças entre médias são cálculos
admissíveis com escalas de intervalo porque elas são independentes da localização do
ponto zero.
4. Escalas de Razão
Definição: Quando uma escala tem todas as propriedades de uma escala de
intervalo e, além disso, possui um ponto zero verdadeiro, nós temos uma escala de razão
. Numa escala de razão, o quociente de qualquer dos pontos da escala é independente da
unidade de medida. Os pontos de uma escala de razão são isomorfos à estrutura da
aritmética e conseqüentemente todas as operações aritméticas efetuadas sobre os
valores podem ter uma significação.
Assim, dizendo de maneira mais pormenorizada, a escala de razão possui todas as
características das outras escalas, a saber: a escala nominal, a escala ordinal e a escala
de intervalos. Além disso, a escala de razão implica na presença de um ponto zero
verdadeiro. Com a escala de razão se pode realizar operações aritméticas com os
números e manter a igualdade das razões. (Na psicologia, até o presente não foi possível
estabelecer uma escala de razão. Elas podem ser encontradas na física.
Exemplos: 1) Considerando o peso de um corpo. Aqui nós não temos um ponto zero
arbitrário. Peso zero é um ponto natural de referência. Por essa razão, faz sentido
dizermos que um animal pesa tanto quanto um outro, ou que o peso aumenta em dois por
cento. Desde que a razão de dois pesos tem um significado verdadeiro e é independente
da unidade de medida, nós chamamos essa escala de razão.
2) Numa régua, podemos ver que as marcas de 2 e 4 centímetros tem uma razão de 2:4
ou 1:2, quando se multiplica cada número por 3, a razão entre eles é 6:12 ou novamente
2:4 ou 1:2, em outras palavras mantém-se a igualdade das razões. Assim a régua como
77
forma de medida, representa uma escala de razão. Outros exemplos são as unidades de
medida em metros, quilogramas e litros.
Propriedades numéricas: Os números associados com os pontos de uma escala de razão
são o conjunto de números reais. A escala de razão tem um zero absoluto, só a unidade
de medida é arbitrária. Não se perde nada da informação quando se multiplica cada valor
por um número positivo. Diz-se na teoria das medidas que: “a escala é definida dentro de
limites da multiplicação por um constante positivo”. Por causa dessa característica, todos
os instrumentos matemáticos podem ser aplicados aos dados aplicáveis em escalas de
razão, desde que as razões não são distorcidas. Escalas de razão, então, permitem
máxima flexibilidade em cálculos permissíveis e são por esta razão a classe preferida de
mensuração.
Em outras palavras, as propriedades dos números são, então, aqui as que se conservam
pela transformação y=ax. O desaparecimento do parâmetro b, presente na transformação
aplicável às escalas de intervalos, assinala o fato de que a origem é aqui fixada. O que
podemos finalmente dizer, é que se realizamos medidas psicológicas com a escala de
razão, e realizadas de maneira incontestável no plano experimental, elas teriam todas as
propriedades das medidas físicas mais “fortes”, como as de comprimento ou de massa.
Em resumo, as principais características e operações básicas dos quatro tipos de escalas
discutidos e citados por Stevens, são colocados na Tabela 1. (Retirado de Stevens, in
Rosenblith, 1961. p.4).
Escala
Nominal
Ordinal
estatísticos
empíricas Cálculos
permissíveis
Número de casos;
Determinação de
Moda;
igualdade
Medida da informação
Mediana;
Determinação de
Percentis;
mais ou menos
correlação de ordem (de
fileiras de Spearman)
Operações
básicas
Determinação de
Média;
Intervalos Igualdade de intervalos desvio padrão;
ou de diferenças
correlação de ordem
Razão
Determinação da
igualdade de razão
Média geométrica;
Média harmônica;
Variação percentil
Exemplos típicos
Número de Jogadores de
Futebol
Dureza dos minerais;
testes de inteligência
com escores brutos
Temperatura (Celsius,
Fahrenheit);
posição de uma linha;
calendário;
potencial de energia;
Testes de inteligência
com desvio (barone)
Densidade;
Numerosidade;
intervalo de tempo
temperatura (Kelvin);
intensidade de sons
(sones);
intensidade de brilho
(brils)
78
PARTE IV - MÉTODOS BASEADOS EM JULGAMENTOS DE INTERVALO E DE
RAZÃO
Depois de nos atermos aos quatro tipos de mensuração, pretendemos nesta parte nos
ater aos métodos baseados em julgamentos de intervalo e de razão. Isto porque na
realidade a psicofísica atual está baseada principalmente em julgamentos de razão e de
intervalos em contraste com os julgamentos ordinais característicos da psicofísica
fechneriana. Pode-se dizer também, como conseqüência disto que, apareceram novas
técnicas matemática tanto para manipular os dados de novos métodos como para
reinterpretar os dados das mais clássicas formas de elaboração de escalas e de
julgamento psicofísico. Alguns dos métodos que iremos tratar supõe que o observador
pode satisfatoriamente igualar intervalos ou distâncias entre respostas a estímulos. As
bases para a escala de intervalo está no relato do observador o qual pode observar que
diferenças supralimiais são iguais. Por outro lado, constitui as bases para derivarmos
escalas de razão psicológicas, o fato de que o observador pode nos dizer onde um
estímulo aparece ser um múltiplo de um outro ou alguma fração de um outro. Dentro de
julgamentos de intervalo estão os métodos para igualar dois intervalos ao mesmo tempo e
par igualar muitos intervalos ao mesmo tempo. Nessa primeira categoria falaremos do
tradicional método de distâncias percebidas como iguais. Esse método usualmente
envolve o principio de bissecção, mas num sentido amplo ele inclui qualquer método de
emparelhamento de intervalos onde dois intervalos estão envolvidos. O método de
intervalos aparentemente iguais é o único procedimento de igualar intervalos onde mais
de dois intervalos estão envolvidos.
Dentro de julgamento de razão temos duas abordagens diferentes. Na primeira delas, nós
dizemos que razão o observador deve utilizar, ou seja, ele deve encontrar um estimulo
que é a metade ou 1/3 ou 1/5 de um estimulo padrão, Por exemplo, calcular 1/2ou 1/3 ou
1/5 etc. de uma distância padrão de 30 metros demarcada por duas estacas. Este método
é denominado de fracionamento. Quando o observador deve encontrar um estímulo que é
duas vezes maior que um outro, ou três vezes, ou 5 vezes, etc., este método é
denominado estímulos múltiplos. Na segunda delas o observador pode estar na presença
de dois estímulos e ele informará quantas vezes um estímulo é maior que o outro. Este
método, pouco utilizado, é denominado método das somas constantes.
Vale dizer que esta divisão acima, entre métodos baseados em julgamentos de intervalo e
métodos baseados em razão é colocada por Guilferd(1954). Candland(1963) por outro
lado, prefere não fazer esta divisão por considerar que esta distinção refere-se somente
ao tipo de tarefa requerida do sujeito. D’Amato(1970) embora se utiliza outra terminologia
para os métodos, prefere a divisão dada por Guilford. Assim D’Amato (1970) divide os
métodos em: método diretos para construção de escalas de intervalo da sensação, e
métodos diretos para construção de escalas de razão de sensação.
Em uma última parte, abordaremos os métodos que são muito freqüentemente utilizados
em psicologia, visto que, para eles não é necessário conhecer o valor físico de cada
estímulo para elaborar a escala psicológica, e além de serem relativamente fáceis de
aplicar e interpretar. São eles: O método de comparação aos pares, o método de
ordenação e o método de classificação.
79
1. Método de distâncias percebidas como iguais
O método de distâncias percebidas como iguais requer que o observador bisseccione
uma dada distância em um contínuo psicológico. Como a tarefa do sujeito é bisseccionar
a distância entre dois estímulos, esse método é também chamado método de bissecção.
Esse método implica na apresentação de dois padrões, e os estímulos podem ser
apresentados através de qualquer um dos três métodos psicofísicos clássicos já
estudados. Por exemplo, dado dois sons de intensidade S1 e S2, o último sendo de maior
magnitude, o observador tem o problema de encontrar um estímulo S2 tal que o intervalo
S3-S2 seja igual subjetivamente ao intervalo S2-S1.
Exemplo ilustrativo: Descrição do exemplo - Um exemplo ilustrativo é apresentado na
tabela 2, onde se pede ao sujeito para bisseccionar a distância entre duas linhas padrão
de determinados comprimentos. Os Estímulos são apresentados em ordem
contrabalanceada de tal maneira que na metade das vezes o padrão maior aparece em
cima e na metade das vezes em baixo. O estímulo de comparação é apresentado entre
os dois padrões. A Figura 1, abaixo da tabela, mostra a maneira de apresentar os
estímulos, usando as duas primeiras tentativas da tabela 2 como exemplos.
Tabela 2: Bissecção de comprimento pelo método de distância percebidas como iguais.
Posição do SP mais comprido
Direção da tentativa
6,0
5,9
5,8
5,7
5,6
5,5
5,4
5,3
5,2
5,1
5,0 (padrão)
PIS
+ maior que a metade
= igual a metade
- menor que a metade
A série ascendente
D série descendente
Sb Sc Sb
A D D
+
+ +
+ + +
+ + +
+ + =
= + =
= = = -
Sc
A
+
+
+
+
=
-
Sb
A
+
+
+
+
+
=
=
=
-
Sc
D
+
+
+
+
=
=
-
Sb
D
+
+
+
+
+
+
=
-
Sc
A
+
+
+
=
=
=
-
Sc padrão maior acima do comparativo
Sb padrão maior abaixo do comparativo
Tentativa 1
_____________________ padrão maior
________________
comparação
_______________
padrão menor
Tentativa 2
________________ padrão menor
_________________ comparação
___________________ padrão maior
Figura 1: Exemplo de como apresentar os estímulos para julgamentos de comprimento
através do método de distâncias percebidas como iguais.
Assim como apresentado na Figura 1, e na Tabela 2, temos neste método dois padrões,
um maior de 6 e um menor de 5 cm. Evidentemente a tarefa do sujeito é bisseccionar a
distância entre estes dois padrões, dizendo se o estímulo comparativo dado bisseccionar
80
a distância entre os dois padrões. Em outras palavras, suponhamos que o estímulo de 6
cm (padrão maior) compreende o intervalo A-B e o estímulo de 5 cm (padrão menor)
compreende o intervalo E-F, a tarefa do sujeito é encontrar um intervalo C-D, que seja
subjetivamente a metade da distância da soma dos dois estímulos, ou seja, metade do
intervalo A-F. A apresentação dos estímulos de comparação pode ser levada a efeito
utilizando-se qualquer um dos três métodos psicofísicos clássicos, ou seja, o dos limites,
erro médio ou estímulos constantes.
No exemplo da Tabela 2, o método psicofísico usado foi o método dos limites, no qual o
sujeito dispõe de três respostas, as quais são: maior que a metade, menor que a metade
e igual à metade. Assim apresentando-se os estímulos comparativos, ora em série de
tentativas ascendente ora em série de tentativas descendentes e, pede-se ao sujeito dizer
quando o estímulo comparativo é igual a metade, maior ou menor.
Controles: Os controles utilizados neste método são muito fáceis de aplicar e entender.
Deve-se sempre realizar 50% das tentativas em série ascendente e 50% das tentativas
em série descendente, pois, se tem demonstrado que a direção dos ensaios afeta a
medida do limiar. Deve-se também nesse método eliminar a possibilidade de uma
preferência de posição, ou seja, deve-se alterar a posição dos dois estímulos padrão de
maneira que nenhum aparece acima em todas as vezes. Portanto, observa-se na tabela
2, que o padrão maior aparece acima em 50% das tentativas e o padrão menor se
apresenta acima em 50% das tentativas. Modificando deste modo a colocação dos dois
estímulos padrão, contrabalanceando-se a apresentação dos estímulos padrões.
Medida principal e como resolver: Quando se usa esse método de elaboração de escalas,
isto é, o método de distância percebida como iguais, o PIS ou ponto de igualdade
subjetiva é a principal medida. Não obstante, neste método, o sujeito está interessado em
encontrar o ponto médio entre dois padrões, e não em igualar o estímulo comparativo ao
estímulo padrão. Portanto, o PIS é o ponto no qual o sujeito julga o comparativo igual ao
ponto médio entre os dois padrões, quer dizer , o ponto no qual ele julga que o estímulo
comparativo bissecciona os dois padrões. Em termos gerais, os PIS é o ponto médio dos
julgamentos de igualdade.
Verificando, no exemplo dado da tabela 2, que na última série descendente o estímulo de
5,4 foi julgado igual, quer dizer, julgou-se que bissecciona os dois padrões. Portanto, este
estímulo ;e subjetivamente igual ao estímulo de 5,5 cm, que constitui o valor físico real da
bissecção. Novamente para complementar, observando-se na tabela 2, vemos que na
primeira série ascendente, o sujeito deu julgamentos de igualdade aos estímulos de 5,3
cm, 5,4 cm e 5,5 cm, o que nos possibilita dizer que o PIS deve estar em algum ponte
entre 5,25 e 5,55cm. Como o ponto médio da amplitude é 5,4cm, é este o PIS para esta
série.
Continuando o cálculo do PIS para as outras séries, para melhor entendimento, verifica-se
na tabela, na segunda série a qual é descendente que o PIS é igual a 5,4, ou seja, onde o
sujeito percebeu que o estímulo comparativo bissecciona os dois padrões. Na terceira
série o PIS está entre 5,6 e 5,5cm, sendo, portanto o ponto médio 5,55cm. Na quarta
série o valor do PIS é 5,5 e nas outras séries o valor é sucessivamente 5,4; 5,35; 5,4 e
5,5cm.
Embora se tem vários PIS, que podemos denominar parciais, pois, são de cada série em
particular, pode-se encontrar uma média dos PIS, retirando-se, portanto um valor único.
Para encontrar essa média dos PIS se toma primeiro a média relativa a todas as séries
81
ascendentes e a média relativa a todas as séries descendentes. Depois se tira a média
geral destas médias. No nosso exemplo a média das séries descendentes foi de 5,425 e a
média das séries ascendentes foi de 5,45cm. Assim tomando-se as somas dessas duas
médias e dividindo-se por dois, temos a média geral dos PIS que no caso é de 5,4375.
Em resumo, este método implica nos seguintes pontos: (1) os estímulos podem ser
apresentados através de qualquer um dos três métodos psicofísicos clássicos; (2) a tarefa
do sujeito consiste em bisseccionar a distância entre dois padrões; (3) o PIS é a principal
medida.
Finalmente Guilford (1954) salienta que este método tem sido de grande interesse por
várias razões em diferentes tempos. Primeiro, a descoberta de que ele possibilita a
medida de distância supraliminal, estendendo grandemente os limites do contínuo
psicológico. Segundo, o método foi muito cedo colocado em uso para testar a validade da
lei de Fechner. Terceiro, o método também permitiu checar a afirmação de que o DL na
mesma escala são iguais, Se um DL mensurado em uma parte de um continuo é
realmente equivalente ao DL encontrado em outra parte do mesmo continuo, então duas
distâncias percebidas como iguais conterá o mesmo número de tais unidades.
Exercício resolvido:
Dois estímulos padrões um de
0,30 ft/L e um de 0,52 ft/L são usados. Os estímulos comparativos são variados. A tarefa
do sujeito é estimar a intensidade de brilho que é metade entre os dois padrões.
Descrição do exemplo: Nesse exercício foi utilizado o método dos limites, para determinar
o ponto de bissecção. Entretanto, voltamos a lembrar que qualquer outro método
psicofísico poderia ser usado, evidentemente, dependendo da natureza da tarefa e das
condições do aparelho a ser utilizado.
Tabela 3: Dados de intensidade de brilho obtidos pelo método de distância percebidas
como iguais.
Estímulos comparativos. ft - L Ee
Séries
A
0,52
0,50
0,48
+
0,46
+
0,44
+
0,42
=
0,40
=
0,38
=
0,36
0,34
0,32
0,30
PIS
0,40
Ee = o padrão de 0,30 à esquerda
Ed = o padrão de 0,30 à direita
A = série ascendente
D = série descendente
PIS = Ponto de Igualdade Subjetiva
Ed
D
+
+
+
+
+
=
-
Ee
D
Ed
A
Ee
A
Ed
D
+
+
+
+
+
=
=
=
=
-
Ed
A
Ee
D
+
+
+
+
+
=
-
Ed
A
Ed
D
Ee
D
+
+
+
+
+
+
=
-
Ee
A
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
=
+
=
+
+
=
=
=
=
=
+
=
=
=
=
=
=
+
=
=
0,40 0,41 0,41 0,41 0,39 0,42 0,40 0,38 0,42 0,40 0,43
+ = maior que a metade
= = igual a metade
- = menor que a metade
82
Medida principal e como resolver:
Verifica-se que a direção das tentativas é contrabalanceada, pois, temos 50% das
tentativas ascendentes e 50% das tentativas descendentes . Nota-se também que em
50% das tentativas o estímulo padrão menor aparece à esquerda e 50% à direita. O
sujeito dispõe de três respostas, são elas: maior que a metade, menor que a metade e
igual a metade.
Coma já dissemos, neste método a medida mais importante é o PIS. O PIS, como
definimos é o ponto em que o estímulo comparativo parece igual ao padrão, ou em outras
palavras é o ponto no qual o sujeito julga o comparativo igual ao ponto médio entre os
dois padrões , isto é, o ponto no qual ele julga que o estímulo comparativo bissecciona os
dois padrões.
Na primeira tentativa, série ascendente, os estímulos comparativos de 0,38;0,40 e 0,42
foram avaliados como iguais à metade, quer dizer, julgou-se que estes estímulos
bissecciona os dois padrões. Portanto são subjetivamente iguais ao estímulo de 0,41, que
constitui o valor físico real da bissecção. Entretanto, o ponto médio destes estímulos
comparativos situa-se em 0,40, sendo este o PIS dessa série ascendente.
Na segunda série o PIS situa-se em 0,40, sendo conseqüentemente este o valor do PIS,
para esta série descendente. Assim, para todas as séries é calculado o PIS. Deve-se
lembrar que quando na série houver vários estímulos comparativos percebidos como
subjetivamente iguais à metade, o PIS dessa referida série é calculado através da média
desses estímulos julgados como iguais, ou melhor, subjetivamente iguais.
Para cálculo do PIS geral e único, ou a média geral dos PIS, primeiramente calcula-se a
média dos PIS para as series ascendentes e a média dos PIS para as series
descendentes. Em seguida a partir das médias das duas series, ascendente e
descendente, calcula-se a média geral dos PIS. Assim no exercício resolvido da tabela 3,
a média das series ascendentes é igual a 0,408, e média das series descendentes é igual
à 0,403. Conseqüentemente a média geral dos PIS é igual à 0,405.
Um exemplo típico e ilustrativo desse método e encontrado na literatura é relatado por
Newman e S.S.Stevens (1937). Eles realizaram um experimento no qual usaram o
método de distâncias percebidas como iguais para escalonar a intensidade do som. A
Figura 2 descreve os dados.
O procedimento consistia no seguinte. Primeiro se deram ao sujeito dois estímulos para
bisseccioná-los em relação à intensidade. Estes estímulos foram de 80 db (designado R1)
e de 100 db (designado R5). Apresentou-se ao sujeito um padrão (R1), um estímulo
comparativo e depois o outro padrão (R5). Ele teria que ajustar o estímulo de comparação
de tal maneira que bisseccionaria os dois padrões. Designou-se como R3 o resultado
desta bissecção. O exame da Figura 2, abaixo, revela que o valor de R3, relativo aos dois
sujeitos foi muito perto de 90db, valor físico real da bissecção.
83
Depois apresentou-se ao sujeito R1, um estímulo comparativo e o valor de R3 entrado na
bissecção anterior. Designou-se como R2 o resultado da bissecção de R1 e R3. Este
representa o ponto que esta subjetivamente a um quarto da distância entre os dois
estímulos padrões de 80 e 100db. Em seguida o sujeito encontrou R4 ao bisseccionar R3
e R5. O valor de R4 está subjetivamente a três quartos da distância entre os dois
estímulos originais padrão. A tarefa final do sujeito foi bisseccionar os valores de R2 e R4
obtidos nas bissecções anteriores. Chamou-se R’3 o resultado desta bissecção. Note-se
que o valor mencionado deveria ser igual ao R3 original. A discrepância entre R3 e R’3 de
fato é muito pequena em termos de decibéis para os dois estímulos.
Vale dizer, finalmente que os resultados desse método podem também serem
interpretados em termos de sub e superestimação em relação ao valor real da bissecção
dos estímulos apresentados.
Exercício proposto:
Tabela 4: Bissecção de duas distâncias colocadas paralelamente, no plano frontal do
sujeito, pelo método das distâncias percebidas como iguais.
Posição do SP maior Ee Ed Ee Ed Ee
Ed
Ee
Ed
Séries
A D D A
A
D
D
A
30m
+
+
+
28
+
+
+
+
+
26
+ + + +
+
+
+
+
24
+ + = +
=
+
+
+
22
= + = =
=
=
+
+
20
= = = =
=
=
+
=
18
= = =
=
=
16
14
12
10m
PIS
20 20 21 21
22
20
13
19
+ maior que a metade
A = ascendente
- menor que a metade
D = descendente
= igual a metade
Ee = o padrão maior à esquerda
PIS = Ponto de igualdade subjetiva Ed = o padrão maior à direita
84
Questões:
1. Calcule a média geral dos PIS e os PIS para cada serie em particular.
2. Explique o que significa o valor do PIS.
3. Que controles foram usados nesse método?
4. Explique os dois tipos de erros que podem ocorrer nesse método.
85
2. Método de intervalos aparentemente iguais
Diferente do método de bissecção anteriormente tratado, este não envolve apenas dois
estímulos, mas sim vários estímulos. No método de intervalos aparentemente iguais é
dado ao sujeito todos os estímulos de uma só vez, portanto, sua tarefa consiste em
repartir os estímulos em número X de categorias. Evidentemente, o método é mais
facilmente empregado quando os estímulos podem ser manipulados pelo sujeito. Não
obstante, por exemplo, ele não é um método especialmente adequado se tons são
estímulos, pois, para a apresentação de todos os estímulos ao mesmo tempo, dificultaria
ao sujeito a manipulação e conseqüentemente sua tarefa resultaria em balbúrdia. Por
outro lado, essa técnica, ou melhor, este método, tem algumas das vantagens do método
do erro médio, visto que o sujeito está provavelmente mais interessado na tarefa na qual
ele manipula os estímulos. Para Candland (1968) o termo intervalos aparentemente iguais
refere-se ao fato de que os estímulos dentre categorias resultam em grupos os quais são
para o sujeito pelo menos equivalentes com respeito ao contínuo estipulado.
Um exemplo de um experimento ilustrativo do método de intervalos aparentemente iguais
é apresentado na tabela 5, abaixo.
Descrição do exemplo:
Tabela 5: Tabela de distribuição pelo método de intervalos aparentemente iguais.
categorias
Estímulos, mµ 1 2 3 4 5 Escolhas ponderadas com as categorias Somatória Média
500
4 2
4x1 + 2x2
8
1,3
501
3 2 1
3x1 + 2x2 + 1x3
10
1,7
502
1 3 2
1x1 + 3x2 + 2x3
13
2,16
503
2 2 2
2x1 + 2x2 + 2x3
12
2,0
504
2 2 1 1
2x1 + 2x2 + 1x3 + 1x4
13
2,16
505
2 4
2x2 + 4x3
16
2,66
506
1 4 1
1x2 +4x3 +1x4
18
3,0
507
3 3
3x2 + 3x3
15
2,5
508
3 1 2
3x2 + 1x3 + 2x4
17
2,83
509
2 1 2 1
2x2 + 1x3 +2x4 + 1x5
20
3,33
510
1 4 1
1x3 + 4x4 + 1x5
24
4,00
511
1 3 2
1x3 + 3x4 + 2x5
25
4,15
512
1 5
1x4 + 5x5
29
4,83
513
6
6x5
30
5,00
Nesse exemplo apresenta-se ao sujeito 14 discos de cores, sendo que os discos variam
em comprimento de onda, e estando cada um a um milimicron (unidade de comprimento
de onda) de distância. Pede-se ao sujeito distribuir os estímulos em categorias. No caso
são 5 categorias, entretanto, podem-se utilizar mais ou menos categorias, dependendo da
tarefa do sujeito e obedecendo-se evidentemente o limite de capacidade do canal humano
(7+-2 categorias). O sujeito pode julgar cada estímulo n vezes, no nosso exemplo ele
julga cada estímulo seis vezes. A distribuição dos estímulos em cada tentativa no método
de intervalos aparentemente iguais se deixa inteiramente por conta do sujeito, mesmo que
o experimentador tenha fixado o número de categorias. Assim os números de cada
categoria representam o número de vezes que sujeito coloca o estímulo correspondente
nessa categoria. Por exemplo, no caso do estímulo de 500 um foram usadas apenas duas
categorias que foram 1 e 2, onde se verifica que o estímulo foi colocado 4 vezes na
86
categoria 1 e 2 vezes na categoria 2. Isto implica, conseqüentemente, que em relação ao
estímulo 500 um, das seis vezes em que foi apresentado para categorizá-lo, o sujeito o
categorizou 4 vezes na categoria 1 e duas vezes na categoria 2.
Medida principal e Resolução:
Diferente do método de bissecção, em que a medida principal é o PIS, no método de
intervalos aparentemente iguais o cálculo essencial é a média ou mediana de categoria
de colocação. Segundo Guilford (1954) quando a distribuição de freqüências não são
truncadas a média é melhor. Quando a distribuição das freqüências são truncadas a
mediana torna-se a melhor medida. A medida de dispersão melhor, quando as
distribuições de freqüência não são truncadas, é o desvio padrão e quando as
distribuições são truncadas é o semi-interquartil (Q). A média é obtida computando-se a
média das categorias às quais se atribui cada estímulo. Somam-se os valores das
categorias que correspondem a todas as colocações de cada estímulo e depois dividemse pelo total das colocações possíveis ou pelo número total das vezes em que o estímulo
foi julgado.
Voltando ao nosso exemplo, verifica-se que o estímulo de 502um foi colocado ou julgado
1 vez na categoria 1, 3 vezes na categoria 2 e 2 vezes na categoria 3. Assim os seis
valores numéricos de categoria que se somam são 1,3,3,3,2,2; visto que se pedia ao
sujeito fazer seis julgamentos para cada estímulo. Isto, em outras palavras, equivale a
multiplicar o número de colocações pelo valor da categoria e somar. Em relação ao
estímulo 502um , é a soma de 1x1; 3x2; 2x3; cuja soma é 13. Para se obter a média se
categoria de colocação se divide este número por 6, que é o número de colocações
possíveis. Sucessivamente deve-se calcular a média de categorias de colocação para os
estímulos restantes.
Finalmente estes dados podem ser representados graficamente tal como na Figura 3,
onde se tem na ordenada a média de categoria e na abcissa o valor do estímulo.
87
O uso prático mais comum do método de intervalos aparentemente iguais tem sido no
escalonamento de material tal como exemplares de letras ou desenhos no qual torna-se
muito difícil de ser manipulado. São métodos de classificação (ranking) ou pelo tão usado
método de comparação aos pares na preparação de escalas de atitudes.
Assim devido ao fato que muitas escalas técnicas tornam-se difíceis e demoradas para
aplicar quando muitos estímulos tem de ser escalonados, usas-se o método de intervalos
aparentemente iguais. O seu uso preliminarmente possibilita determinar as categorias, a
partir do qual um pequeno número de estímulos podem ser escolhidos, o qual será
característica da amostra total.
Avaliação do método: O método se torna útil como no caso acima descrito. Entretanto
uma pequena questão da eficiência do método de intervalos aparentemente iguais reside
no fato de que o tempo e o esforço requerido por parte dos observadores e do
investigador é grande. Um grande número de estímulos podem ser julgados e a
importância da computação estatística é mínima. Se nós aceitamos a operação de igualar
intervalos pela inspeção como base para escalas de intervalos, nós temos neste método
uma abordagem muito aceitável para a mensuração psicológica e de ordem relativamente
alta. Não obstante, vários pesquisadores tal como Guilford (1954) salienta, que muitas
vezes os resultados obtidos pelo método de intervalos aparentemente iguais não estão de
acordo com os obtidos pelo método de comparação aos pares, o que obviamente dificulta
a nossa decisão. Entretanto, essa discussão não será tomada por nós ao longo desse
manual introdutório, pois já envolve a teoria da construção desses respectivos métodos.
Síntese: Nesse método podem ser salientados os seguintes pontos:
São apresentados aos sujeitos de uma só vez.
O sujeito deve dividir os estímulos em categorias cujo número pode ou não ser fixado
pelo experimentador.
A principal medida é a média ou mediana, que podem vir conjuntamente com o desvio
padrão ou o semi-interquartil respectivamente.
88
Exercício resolvido:
Tabela 6: freqüência na qual é distribuído em nove categorias sucessivas, estímulos de
comprimento de varetas.
Comprimentos de
varetas
categorias
25 cm
1 2 3
14 18 7
4
1
5
25,5
16 19 3
2
26
7
18 11 4
26,5
8
18 9
3
2
27
3
13 14 3
6
27,5
1
11 14 12 2
6
Cálculos
7
2
28
3
12 14 9
2
28,5
2
9
18 9
2
29
2
20 17 1
29,5
30
2
26 11 3
10 16 9
3
30,5
8
17 14 1
31
8
18 10 4
31,5
2
14 14 10
32
32,5
2
12 19 9
6 18 14
33
2
14 23
33,5
34
34,5
10 25
12 22
5 22
35
35,5
36
14
7
6
8
9
Escolhas ponderadas Somatória Média
14x1 + 18x2 + 7x3 +
75
1,83
1x4
16x1 + 19x2 + 3x7 +
71
1,78
2x4
7x1 + 18x2 + 11x3 +
92
2,30
4x4
8x1 + 18x2 + 9x3 +
93
2,33
3x4 + 2x5
3x1 + 12x2 + 14x3 +
123
3,08
3x4 + 6x5 + 2x6
1x1 + 11x2 + 14x3 +
123
3,08
12x4 + 2x5
3x2 + 12x3 + 14x4 +
155
3,08
9x5 + 2x6
2x2 + 9x3 + 18x4 +
160
4,00
9x5 + 2x6
2x3 + 20x4 + 17x5 +
177
4,43
1x6
26x4 + 11x5 + 3x6
177
4,43
2x3 + 10x4 + 16x5 +
201
5,03
9x6 + 3x7
8x4 + 17x5 + 14x6 +
208
5,20
1x7
8x4 + 18x5 + 10x6 +
210
5,25
4x7
2x4 + 14x5 + 14x6 +
232
5,80
10x7
12x5 + 19x6 + 9x7
237
5,93
2x4 + 6x5 + 18x6 +
244
6,10
14x7
1
2x5 + 14x6 + 23x7 +
263
6,58
1x8
5
10x6 + 25x7 + 5x8
275
6,88
6
12x6 + 22x7 + 6x8
274
6,85
11 2 5x6 + 22x7 + 11x8 +
290
7,25
2x9
20 6 14x7 + 20x8 + 6x9
312
7,80
17 16 7x7 + 17x8 + 16x9
329
8,23
20 14 6x7 + 20x8 + 14x9
328
8,20
Neste exemplo, verifica-se que o número de categorias delimitado pelo experimentador foi
de 9 , onde o sujeito pode dar um número bem grande de julgamentos para cada estímulo
(40). Os estímulos a serem examinados variam de 25cm a 36cm, e a distribuição dos
89
estímulos se deixa totalmente por conta do sujeito, o qual recebe todos os estímulos de
uma vez.
Na análise destes dados, o cálculo essencial é a medida de colocação de categoria. Esta
se obtém de modo simples computando a média das categorias que correspondem a
todas as colocações de cada estímulo e depois se dividem pelo total das colocações
possíveis ou pelo número total de vezes em que o estímulo foi julgado. No caso do
estímulo 28 cm as categorias usadas foram 2, 3, 4, 5, 6. O estímulo foi colocado 3 vezes
na categoria 2, 12 vezes na categoria 3, 14 vezes na categoria 4, 9 vezes na categoria 5 e
2 vezes na categoria 6. Multiplicando-se, assim o número de colocações pelo valor da
categoria a somar, nós temos um valor de 155. Para se obter a média da categoria de
colocação se divide este número de colocações possíveis, que no exemplo acima é de 40
colocações. A média de categoria de colocação referente ao estímulo de 28cm é de 3,87.
Para calcular a média de categoria de colocação para os estímulos restantes, deve-se
apenas seguir o procedimento acima.
Na literatura, se encontra o estudo de Guilford e Dingman (1955) em que usaram o
método de intervalos aparentemente iguais para categorizar estímulos de peso. Se
colocou ao sujeito 21 pesos, cada um dos quais julgou três vezes, e se limitou a 15 o
número de categorias que podiam ser usadas. Estes experimentadores introduziram uma
variação na metodologia ao usarem “estímulos de ancoragem”. Estes são estímulos que
os sujeitos usam como pontos de referência quando colocam os estímulos em categorias.
O experimentador coloca um ou mais estímulos em uma ou mais categorias. Estes são
estímulos de ancoragem. Neste caso o experimentador colocou um estímulo de 50 g na
categoria 4 e um estímulo de 100 g na categoria 12.
Exercício proposto:
Tabela 7: Distribuição de freqüência, pelo método de intervalos aparentemente iguais,
para estímulos de peso.
Pesos em gramas categorias
1 2 3 4 5
40
5 1
41,5
3 2 1
43
2 3 1
44,5
4 1 1
46
2 2 2
47,5
3 1 1 1
49
1 4
50,5
2 2
52
2 2
53,5
1 3
55
3
56,5
58
6 7
Escolhas ponderadas Somatória Média
1
2
1 1
2
1 2
1 5
6
90
3. Métodos baseados em julgamento de razão
Nos métodos de julgamentos de razão, um observador poderá nos dar seu registro ou sua
informação de um do dois modos gerais: no primeiro caso em geral, se ele seleciona ou
produz um estímulo o qual já leva uma razão prescrita de um estímulo padrão, nós temos
o método de fracionamento e o método dos estímulos múltiplos. No método de
fracionamento o estímulo que será selecionado pode levar a razão de ½, 1/3, 1/5 ou 1/10
do estímulo padrão. No método dos estímulos múltiplos, o estímulo selecionado é algum
múltiplo do padrão, dobro, quíntuplo, e por outro lado, no segundo caso geral, quando aos
observadores é dado dois ou mais estímulos e a sua tarefa é dar qual ou quais as razões
aparentes entre eles, ou melhor, em que os observadores é dado dois estímulos e sua
tarefa é dar qual ou quais as razões aparecem entre eles, ou melhor, em que os
observadores dão a razão psicológica entre os estímulos, nós temos o método das somas
constantes.
4. O Método de fracionamento
O método de fracionamento é distinguido pelo fato de que o sujeito é requerido selecionar
um estímulo comparativo é qualquer outra razão ou fração dos estímulos padrões. Neste
método uma variante é aquela em que se pode apresentar todos os estímulos
comparativos ao sujeito de uma só vez. Apresenta-se também um padrão. A tarefa do
sujeito consiste em escolher o estímulo comparativo que seja uma fração determinada do
padrão examinado, por exemplo, pode-se lhe pedir que escolha um estímulo comparativo
que seja um terço do tamanho do padrão.
O experimentador pode pedir ao sujeito que use qualquer fração proporcionalmente
sugerida. Uma outra variante deste método é pedir ao sujeito demarcar numa distância ou
num outro contínuo uma dada fração. Por exemplo, o experimentador movimenta uma
estaca horizontal, entre a distância demarcada, ora ascendente , ora descendente e a
tarefa do sujeito é dizer pare ao experimentador quando ele julgar que a distância
percorrida corresponde a fração pedida.
De maneira geral este método, se assemelha ao método de distâncias percebidas como
iguais, no entanto, neste método é apresentado ao sujeito apenas um padrão de cada
vez. E se diferencia também por qualquer fração, não apenas ½ como no método de
bissecção (distâncias percebidas como iguais).
Apresentaremos sobre este método dois experimentos ilustrativos em que o sujeito deve
escolher o estímulo comparativo que seja a fração exigida e o outro em que o sujeito
apenas julga a distância que aparentemente corresponde à fração pedida.
91
Descrição do exemplo 1
Tabela 8: Distribuição da distância média julgada como ¾ do estímulo padrão, em cinco
tentativas com apresentação aleatória de cinco padrões.
Estímulos
comparativos padrão
em metros
1
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
7,5
8,0
8,5
9,0
9,5
10,0
10,0 6,5
10,5
11,0
11,0 8,5
11,5
12,0
12,0 8,5
12,5
13,0
13,0 9,5
13,5
14,0
14,0 10
14,5
15,0
15,0 10
tentativas
Somatória
M
3/4
real
E
E%
2
3
4
5
7,0
6,5
7,5
7,0
34,5
6,9
7,5
-0,6
-8%
8,5
8,0
7,5
8,5
41,0
8,2
8,25
-0,05
-0,6%
9,5
9,0
9,5
9,0
45,5
9,1
9,0
+0,1 +1,11%
10,5 10,5
10
10
50,5
10,1 9,75 +0,35 +3,0%
9,5
10 10,5 9,0
10,5 11,5
11
11,5
49
54,5
9,8
10,5
-0,7
-6,6%
10,9 11,25 -0,35
-3,1%
São apresentados seis estímulos padrões, um de cada vez, e a sua tarefa é escolher
entre os estímulos comparativos qual é aparentemente ¾ do padrão que se julga. No
nosso exemplos estímulos padrões variaram de 1 m, indo de 10 m até 15 m, e os
estímulos comparativos variaram em 0,5m, indo de 5,0m até 15,0m. Os estímulos
padrões são apresentados aos sujeitos em seis tentativas, sendo os mesmos
apresentados aleatoriamente. Vale dizer que o número de tentativas é determinado
arbitrariamente, podendo ser maior ou menor dependendo da tarefa a realizar.
Na primeira tentativa com um estímulo padrão de 10m, o sujeito julga que o estímulo 6,5 é
¾ do estímulo padrão, na segunda tentativa a avaliação é de 7,0m. Na tentativa 3, com o
padrão de 13m, o estímulo que o sujeito acha é ¾ dp padrão é 10m.
92
Principais medidas e resolução:
Como se pode ver na tabela, a análise dos dados inclui uma medida da distância média
que se julga ser três quartos de cada padrão. Este número se obtém somando as
distâncias que são julgadas ¾ de cada padrão em cada tentativa e dividindo por 5, que é
o número de tentativas para cada padrão.
Assim, nesse exemplo a distância média que é percebida como ¾ dp padrão de 12,0m é
a distância de 9,1m. Em seguida a tabela apresenta também o erro absoluto a erro
relativo (erro ou porcentagem ) para cada estímulo padrão. O erro absoluto é a diferença
entre a distância média percebida como ¾ e o ¾ real para o estímulo padrão de 10m, o
erro absoluto é igual à –0,6; ou seja, 6,9 –7,5 = -0,6. O erro relativo é simplesmente uma
regra de três, ou seja, dividir o erro absoluto pelo valor de ¾ real e multiplicar por 100,
para tê-lo em porcentagem. Para o estímulo padrão de 10m o erro em porcentagem é de
8%. Em outras palavras, o sujeito subestimou o tamanho do estímulo comparativo em
relação ao padrão, em aproximadamente 8%. Por outro lado, se verifica que nas
distâncias padrão de 12m e 13m, o estímulo comparativo foi superestimado em relação
ao padrão.
Este exemplo fica melhor ilustrado quando os dados são traçados no gráfico da Figura 4,
na qual é colocado nas abcissas o valor dos padrões e nas ordenadas a média do
julgamento dos três quartos. Esta incluída na figura uma curva do valor físico real dos ¾
de cada padrão para compará-los com julgamentos psicológicos dados pelo sujeito.
Descrição do exemplo 2:
Esse exemplo, como já dissemos difere do anterior pelo fato de que aqui o sujeito não
escolhe um estímulo comparativo que apresenta ser igual à fração pedida do estímulo
padrão. Mas, o sujeito pode de maneira geral, o procedimento deste método é mais uma
variante do método do erro médio. A fração a ser demarcada pode ser uma qualquer, e
93
ainda pode ser avaliada a partir do sujeito (proximal) ou a partir da última estaca que
demarca a distância ou distâncias a serem fracionadas (distal). Isto quando o contínuo
físico é a distância.
Nesse exemplo a tarefa do sujeito consistia em dividir as seguintes distâncias 40, 80, 160,
320, e 640 cm. Pedia-se aos sujeitos dividirem entre distâncias em três partes iguais, ou
seja, calcular 2/3 a partir de si, e depois 2/3 a partir do objeto. Tanto para a estimativa
proximal quanto par a distal faz-se 4 séries, duas ascendentes e duas descendentes, de
onde se tirava uma média geral.
A tabela 9 sumaria estes resultados.
Distância em cm
2/3 real
40cm 80 cm 160 cm 320 cm 640 cm
26,66 53,33 106,66 213,33 426,66
Média do 2/3 proximal 27,0 53,86 107,12 213,02 420,87
Erro
+0,34 +0,53 +0,46 -0,31
-5,79
Erro %
Média do 2/3 distal
Erro
Erro %
+1,28 +0,99 +0,43
-0,15
-1,36
24,84 51,67 105,46 213,16 438,13
-1,82 -1,66
-1,20
-0,17
+11,47
-6,83 -3,11
-1,13
-0,08
+2,69
Medidas principais e resolução:
Semelhante ao exemplo anterior, calcula-se uma média geral entre as 4 séries, para cada
distância e de modo particular a série proximal e para a série distal. Esse cálculo é feito
somando os valores das séries ascendentes e descendentes e dividindo essa soma por 4.
Em seguida calcula-se o erro absoluto do erro relativo. O erro absoluto é a diferença
entre a média julgada como 2/3 e o 2/3 físico. O erro em porcentagem é o erro absoluto
dividido pelo 2/3 real de cada distância e multiplicado por 100.
Na distância de 160cm, o valor do 2/3 real é de 106,66cm. A média julgada como igual à
2/3 proximal é de 107,12 e o erro absoluto é de +o,46 e o erro relativo é de +0,43.
Acompanhando os erros o sinal + ou -, que indica se o 2/3 julgado é superestimado em
relação ao 2/3real do padrão. No nosso exemplo, verifica-se que a estimativa proximal é
superestimada em 160cm e subestimada a série distal nessa mesma distância. Esses
94
resultados podem também ser colocados em gráficos, utilizando-se tantos as médias
quanto os dois tipos de erros, seja absoluto ou relativo.
Esse método pode também ser aplicado em outras qualidades sensoriais, tal como na
sensação de dor ou no odor do acido sulfúrico.
A tabela 10 nos mostra o método de fracionamento aplicado à julgamento da relação
entre concentração de açúcar e a sensação de doçura.
Concentrações de açúcar avaliáveis
(comparativos)
0,01
0,02
0,03
0,04
Estímulos
padrão
Concentração média julgada
como metade
0,05
0,06
0,07
0,08
0,05
0,06
0,07
0,08
0,035
0,0375
0,04
0,0425
0,09
0,10
0,11
0,12
0,09
0,10
0,11
0,12
0,045
0,0525
0,0525
0,0575
0,13
0,14
0,15
0,16
0,13
0,14
0,15
0,16
0,06
0,065
0,075
Algumas aplicações comuns do método de fracionamento:
Se considerarmos um experimento no qual o experimentador deseja determinar a relação
entre a sensação subjetiva de doçura e a dimensão física de doçura como mensurada
pela porcentagem de concentração de sacarose, tal determinação poderá ter implicações
para bebidas sem álcool e bombons industriais, nos quais o L.D. para o sabor de doçura
é de suma importância.
Entretanto, um grande número de estudos em que se tem empregado o método de
fracionamento, são aqueles com o propósito de se determinar escalas subjetivas. Assim
se tem encontrado unidade psicológica de intensidade de som, o veg refere-se ao peso
percebido, o gust é uma unidade arbitrária de sabor, bril é usado brilho, o mel para os
tons. Encontram-se também estudos com as unidades chamadas temp e numerosidade.
Ultimamente. Ultimamente se tem procurado estudar a magnitude psicológica de distância
e se denomina dist.
Para ilustrar esta aplicação do método de fracionamento na determinação de escalas
subjetivas temos o estudo de S.S. Stevens, Volkmann e Newman (1937) em que se
usaram este método para examinar padrões de 125, 200, 300, 400, 700, 1000, 2000,
95
5000, 8000, e 12000 Hz. Se manteve constante o volume de cada som a 60db. A tarefa
do sujeito foi ajuntar o estímulo comparativo de maneira que representava a metade do
padrão. Com os dados se construiu uma escala psicológica de tonos em mels. A escala
de mels é uma escala psicológica que corresponde à escala física de freqüências. Tal
como se usa a assinanalação numérica de valores hertz como medida física de
freqüência se usa a assinalação numérica de um valor mel como medida psicológica. No
experimento de Stevens, Volkmann e Newmann, se assinalou arbitrariamente o número
de 1000 da escala mels ao som de 1000 hertz. Os números que estão na ordenada da
figura, os mels, se relacionam entre si de acordo com sua magnitude subjetiva.
Psicologicamente 2000 mels é em termos de tom duas vezes maior que 1000 mels, do
mesmo modo que o som de 2000 hz é duas vezes maior que o som de 1000 hz na
medida física de freqüência.
O modelo matemático que possibilita a transformação de medidas físicas em unidades
psicológicas não trataremos neste manual por considerá-lo mais dentro da teoria da
construção dos métodos e por envolver também um conhecimento mais profundo de
matemática.
Em sua forma, o método de fracionamento tem algumas desvantagens: A dimensão do
estímulo pode ser de tal natureza que os estímulos padrões podem ser apresentados e
avaliados convenientemente pelo sujeito; o número de estímulos a serem avaliados
devem ser pequenos para que o sujeito possa compará-los efetivamente; ainda um
número suficiente de estímulos comparativos devem ser avaliáveis para permitir ao sujeito
fazer discriminações acuradas.
Não obstante, algumas dessas desvantagens do básico método de fracionamento podem
ser dominadas por um alternativo procedimento experimental. Se um grande número de
estímulos comparativos de muitos estímulos padrões são requeridos, é possível separar
os estímulos de dois ou mais grupos. Por exemplo, se deseja usar pesos variando de 1
grama de 100 até 200 gramas, o segundo de 150 até 250g, e o terceiro de 200 até 300
gramas. Esse procedimento reduz o número de comparações, as quais qualquer sujeito
deve fazer. A partir de cada classe pode-se empregar um diferente grupo de sujeitos, e
também o fato de que existe um peso que pertença à duas classes no mesmo tempo,
permite ao experimentador verificar a consistência das mensurações determinando se o
estímulo comparativo de 150 gramas recebeu o mesmo julgamento na primeira série
como na Segunda.
Exercício proposto:
Tabela 11: Fracionamento de distâncias no campo aberto, com estimativas proximais.
Distância em metros 1/3 real
1,60 m
3,20
6,40
12,80
25,60
51,20
102,40
0,53
1,06
2,13
4,26
8,53
17,06
34,13
Tentativas
A
D
0,53 0,54
1,05 1,01
1,94 1,88
3,58 3,48
6,97 7,17
15,51 14,76
30,44 32,57
A
0,54
1,02
1,96
3,60
7,34
14,57
31,40
D
0,53
1,00
1,87
3,53
7,29
14,82
32,30
somatória
Erro Erro%
96
Questões
1. Calcular a distância julgada como 1/3, para cada distância, para elaborar um gráfico
para as médias;
2. Calcular o erro para cada distância e elaborar os respectivos gráficos.
3. Quais distâncias foram subestimadas e quais foram superestimadas.
4. O que se pode concluir a partir desses resultados?
5. Comparando o método de fracionamento com os outros métodos estudados, quais as
diferenças e semelhanças?
6. Quais as desvantagens e vantagens deste método?
5. O método dos estímulos múltiplos
Este é um método que atualmente tem tido pouco uso na psicologia. O que caracteriza
este método é que o sujeito é requerido a selecionar um estímulo o qual é um múltiplo do
padrão, isto é, duas vezes maior ou 5 vezes maior. Este método é uma extensão, ou
inversão, do método de fracionamento, pois enquanto todo fracionamento requer que o
sujeito fracione o padrão, o método de estímulos múltiplos pode ao sujeito primeiramente
observar o padrão, e em seguida multiplicar este padrão. Por esta razão, os dois métodos
podem ser usados, de maneira de um checar o outro, pois o estímulo o qual é julgado
sendo 4 vezes o padrão no método do estímulo múltiplo, deverá ser julgado ¼ do
estímulo comparativo no método de fracionamento.
Neste método, também se pode usar as duas variantes já colocadas no método de
fracionamento. Na primeira variante, pede-se ao sujeito escolher um em vários estímulos
comparativos o qual seja, duas vezes, três vezes, ou qualquer múltiplo pedido do estímulo
pedido do estímulo padrão. Por outro lado, na Segunda variante, a tarefa do sujeito é
julgar quando uma distância demarcada pelo experimentador parece ser igual ao múltiplo
pedido.
A tabela 12 nos mostra os dados de um experimento em que o odor do acido
hidrosulfúrico foi julgado. Os dados são apresentados em termos de médias e em termos
de julgamentos de duas vezes o padrão e quatro vezes o padrão. Neste estudo o
experimentador segue o procedimento de apresentar os estímulos em ordem randômica,
e cada estímulo pode ser apresentado várias vezes a fim de assegurar uma variabilidade.
Por outro lado, como já foi enfatizado, quando se trabalha com estímulos desta natureza
deve-se ter o cuidado máximo na apresentação destes estímulos a fim de evitar a
adaptação dos sujeitos aos mesmos, e a fim de evitar também que a apresentação de um
estímulo precedente não influencie o julgamento do estímulo que vem a seguir.
97
Tabela 12: O método dos estímulos múltiplos usado para medir julgamentos do odor do
acido hidrosulfúrico.
Concentração de ácido
hidrosulfúrico avaliáveis
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
0,12
0,14
0,16
0,18
0,20
0,22
0,24
0,26
0,28
0,30
0,32
0,34
0,36
0,38
0,40
Estímulos
apresentados
0,02
0,04
0,06
0,08
Média de
Média de
julgamentos 4 vezes julgamentos 2 vezes
o padrão
o padrão
0,075
0,035
0,15
0,075
0,265
0,125
0,375
0,175
Este exemplo ilustra a primeira variante de apresentação de estímulos, ou seja, através
da apresentação de estímulos, ou seja, através da apresentação de vários estímulos
comparativos.
Os resultados deste estudo também podem, semelhante ao método de fracionamento,
serem analisados em termos de sub e superestimação, em ralação ao padrão, podendo
ainda serem calculados além da média ou mediana, os erros absolutos e os erros
relativos (erro em porcentagem).
Para ilustrar a Segunda variante deste método são apresentados na tabela 13 os
resultados de um estudo em que usou este método para propósito de se estabelecer uma
curva de sensibilidade subjetiva para distâncias.
Tabela 13: O método de estímulos múltiplos usados para medir julgamentos de uma
distância padrão de 1m no laboratório.
Fator multiplicativo Multiplo objetivo
2
2
3
3
4
4
5
5
6
6
7
7
8
8
9
9
Asc
2.08
3.00
4.60
5.68
6.68
8.50
8.77
10.50
Desc
2.23
3.40
4.56
6.07
7.15
8.44
8.99
10.72
Asc
2.02
3.01
3.83
5.50
6.25
8.53
8.70
10.35
Desc
2.09
3.23
4.50
5.71
6.95
8.16
8.89
10.32
Soma Mediana Erro
8.42
2.11
+0.11
12.64
3.16
+0.16
17.49
4.37
+0.37
22.96
5.74
27.03
6.76
33.63
8.41
+1.41
35.35
8.84
+1.94
41.89 10.47 +1.47
98
Nesse procedimento o sujeito é instruído a mandar para o experimentador numa distância
tal que corresponda ao múltiplo pedido. O experimentador demarca com duas estacas
horizontais a distância a ser multiplicada. Em seguida movimenta uma outra estaca,
também horizontalmente, ora de maneira descendente, até onde o sujeito achar que a
distância está multiplicada, ou seja, a aliada segundo o múltiplo pedido. Neste exemplo,
cada múltiplo é avaliado 4 vezes, duas ascendentes e duas descendentes ( como no
método do erro médio) e de maneira aleatória.
As principais medidas, semelhante ao método de fracionamento, são as médias ou
medianas, os erros absolutos e erros relativos para cada múltiplo. Também de maneira
semelhante podem ser construídos gráficos em que se coloca na abcissa o múltiplo
objetivo estímulo padrão, e na ordenada coloca-se os julgamentos, seja em média, erro
absoluto ou erro de porcentagem. Os resultados desse método são analisados em termos
de subestimação e superestimação em relação ao múltiplo objetivo.
Finalmente estes dois métodos , seja o de fracionamento, seja o de estímulos múltiplos
podem ser usados em um mesmo estudo, para um mesmo sujeito, visto que são
complementares. No entanto precisamos Ter um grande uso destes métodos em mais
áreas de observação para podermos decidir, ou tomar uma posição de qual dos dois é
mais útil, ou mesmo com respeito à sua validade e sua aplicabilidade.
6. O método das somas constantes
Este método é pouco estudado, e na literatura atual poucos são os autores que o tratam
detalhadamente. Guilford (1954) salienta que é aparente que muitas pesquisas
metodológicas necessitam da técnica do método das somas constantes. No entanto, sua
aplicabilidade se vê restringida devido aos fundamentos matemáticos os quais são
requisitos para utilizá-lo, principalmente em julgamentos de somas constantes com pares
de estímulos ou mais de dois estímulos.
Semelhante ao método de fracionamento e estímulos múltiplos, ele requer que o
observador dê informações sobre uma razão observada. Mais especificamente o
observador nomeia a razão que ele pensa existir entre dois ou mais estímulos. Um
exemplo típico é pedir ao sujeito dividir 100 pontos em dois grupos a e b, seja eles iguais
ou diferentes. Se o observador afirma que o grupo a e b receberam 75 e 25 pontos
respectivamente, então a razão de a para b é 3,0 e a razão de b para a é 0,33. Se. no
entanto, o observador divide os 100 pontos em a, b, c, dando 20, 30, e 50 pontos, as
razões são a/b = 0,67, a/c = 0,40, e b/c = 0,60. As razões recíprocas b/a, c/a e c/b serão
iguais a 1,5 2,5 e 1,67 respectivamente.
Aplicando-se este método a percepção de distâncias em grandes espaços, podemos usar
o seguinte procedimento. Apresenta-se ao sujeito duas distâncias colocadas e
demarcadas verticalmente a seu plano frontal. Uma distância A de 100 m e uma B de 25
m, de uma maneira que o sujeito possa a razão existente entre elas, que no caso, A/B =
100/25 =4, B/C = 25/100 =0,25. Assim de maneira semelhante podem-se variar as
distâncias sistematicamente, pedindo-se aos sujeitos estimarem a razão existentes entre
elas. Os resultados desse método são analisados, também em termos de super e
subestimação em relação a razão objetiva, visto que dependendo da razão dada uma da
outra, ou ambas as dificuldades são superestimadas ou subestimadas.
99
7. Método de Estímulos singulares
Este método é encontrado na literatura muitas vezes com outras denominações tais
como método de estímulos singulares , ou método de classificação (rating method).
Conforme Guilford (1954) a operação essencial experimental nesse método é que o
sujeito tem como tarefa classificar os estímulos em categorias, as quais diferem
quantitativamente ao longo de um contínuo definido. Não obstante, o problema desse
método é estimar os valores das categorias, ou seus limites, ao longo do contínuo
psicológico e a partir desses valores de referência derivar mensurações de escalas de
intervalos para os estímulos.
Fazendo um retrospecto dos métodos que já foram tratados nesse manual verificamos
que a maior parte dos estudos citados se denominam psicofísicos na verdade acepção da
palavra, isto é, se ocupam de escalas psicológicas de objetos que podem ser dispostos
sobre um contínuo físico; assim podemos assinalar as relações entre sones (psicológicos)
e decibéis (físicos). O fato de que podemos especificar nossos objetos de estímulos em
termos físicos resulta numa grande ajuda para estudar os vários tipos de erros
constantes. Por outro lado podemos construir perfeitamente boas escalas psicológicas
mesmo quando não existe um conveniente contínuo físico sobre o qual podemos dispor
os objetos de estímulo como indicamos acima. Segundo Woodworth e Schlosterg (1954)
estas escalas se chamam freqüentemente escalas psicométricas. Um exemplo, e talvez o
mis familiar, deste tipo é a escala de classificação.
Candland (1963) coloca que o método, ou melhor, a denominação “método de categorias
sucessivas” é um termo geral para uma variedade de técnicas similares, uma das quais
comumente usada para problemas escalares é o método de classificação. Para este autor
a popularidade deste método, juntamente com o de ordenação (ranking) e o de
comparação aos pares reside no fato de que sem dúvida eles são fáceis de aplicar e
podem ser usados para uma grande variedade de problemas escalares, além disto são
fáceis de computar e interpretar e a tarefa requerida do sujeito é e geral muito simples e
fácil de explicar.
Variações desse método geral são usados para escalar um número de diferentes
espécies de estímulos. Embora a técnica possa ser aplicada a análises de estímulos
físicos, ela é mais freqüentemente usada para escalar contínuos nas quais as dimensões
são menos claramente definidas. Por exemplo, o mais feliz, o mais alegre, o mais bonito o
mais justo, portanto julgamentos estéticos, óticos e opcionais são menos claramente
definidos do que graus de intensidade de brilho ou de som.
De certa maneira o método de categorias sucessivas força o sujeito a definir o que ele
quer significar pelos estímulos e pelas categorias. Por esta razão este método pode ser
usado como uma técnica pela qual os sujeitos nos fornecem definições para os estímulos
e para as categorias sem que eles sejam informados que sua tarefa uma de definição.
Exemplo Ilustrativo.
Descrição do exemplo - Um dos problemas básicos da psicologia tem sido a formulação
de definições para as chamadas reações emocionais. Para isto expressões faciais tem
sido usadas como exemplo de reações emocionais, tais como medo, temor, amor, alegria,
tristeza, ódio etc. Usa-se o método de categorias sucessivas para que os sujeitos escalem
em categorias marcadas as expressões faciais.
100
Apresentamos aos sujeitos 10 fotografias de expressões faciais com diversas reações
emocionais e pedimos que as classifiquem nas seguintes categorias:
A - completamente alegre
B - muito alegre, mas não completamente
C - levemente alegre
D - nem alegre nem triste
E - levemente triste
F - muito triste, mas não completamente
G - completamente triste
O experimentador apresenta, portanto, a cada sujeito, cada uma dessas dez fotografias
com expressões faciais e a tarefa do sujeito é assinalar para cada uma das categorias
precedentes. Deve ser salientado que nesse método a amostra de sujeitos deve ser
representativa de uma população e tirada aleatoriamente para que possamos generalizar
os dados para outros grupos além daqueles usados na amostra experimental.
A Tabela 14 mostra-nos um quadro acumulativo dos dados brutos de 20 sujeitos usando o
método de categorias sucessivas na classificação de 10 fotografias com expressões
faciais sobre sete categorias indicadas por A,B,C, etc.
Tabela 14: Quadro acumulativo dos resultados de 10 fotografias de expressões faciais
diferentes sobre 7 categorias indo de alegre para triste por 20 sujeitos usando o método
de categorias sucessivas.
Expressões faciais
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
A
4
8
2
0
0
3
1
1
0
0
Categorias
B C D E F
5 4 3 2 2
4 3 3 1 1
8 6 0 0 2
12 6 0 1 1
7 7 6 0 0
3 2 3 3 3
0 0 9 3 5
0 1 1 7 8
0 0 6 8 3
0 1 0 0 5
G
0
0
2
0
0
3
2
2
3
5
Portanto, a tarefa do sujeito é classificar os estímulos em categorias e no exemplo da
tabela 14 foram apresentados aos sujeitos 10 estímulos, fotografias de expressões faciais
mostrando diversas reações emocionais. Aqui o sujeito deve classificar os estímulos em
sete categorias como indicadas acima. Nota-se, no entanto que não está especificada a
magnitude da diferença entre as categorias, de modo que somente se sabe que uma
categoria tem mais, ou menos, da qualidade do que uma outra. Portanto o método de
classificação produz dados ordinais.
Cada um dos 20 sujeitos que se submeteram a este experimento tomou os 10 estímulos e
os colocou nas 7 categorias de acordo com sua percepção das reações emocionais
manifestadas pelas expressões faciais. Por exemplo, 4 sujeitos julgaram que a fotografia
1 manifesta completa alegria, enquanto somente 1 sujeito julgou que a fotografia 7
manifesta completa alegria. Portanto o corpo da tabela é um quadro acumulativo de
resultados brutos.
101
Principal medida. A principal medida nesse método é feita através de proporções
acumulativas que conseqüentemente nos mostram a quantidade de dispersão, para isto
veja tab.15.
Tabela 15: Quadro de proporção acumuladas sobre os resultados da Tabela 14.
Expressões faciais
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
A
0.20
0.40
0.10
0.00
0.00
0.15
0.05
0.05
0.00
0.00
B
0.45
0.60
0.50
0.60
0.35
0.30
0.05
0.05
0.00
0.00
Categorias
C
D
E
0.65 0.80 0.90
0.75 0.90 0.95
0.80 0.80 0.80
0.90 0.90 0.95
0.70 1.00 1.00
0.40 0.55 0.70
0.50 0.50 0.65
0.10 0.15 0.50
0.00 0.30 0.70
0.05 0.05 0.05
F
1.00
1.00
0.90
1.00
1.00
0.85
0.90
0.90
0.85
0.75
G
1.00
1.00
1.00
1.00
1.00
1.00
1.00
1.00
1.00
1.00
No exemplo acima as proporções acumulativas são derivadas da multiplicação de cada
número por 5 ( pois N=20, portanto nx5 = 100) e dividindo o resultado por 100 para
convertê-lo em proporções expressas em decimais com a unidade igual a 1,00. Depois
cada proporção seguinte é somada com seu antecedente fazendo-se assim a soma
acumulativa de esquerda para direita. Por exemplo, o 0,20 da 1a categoria (A)
correspondente à 1 a fotografia se obteve multiplicando o número 4 por 5. Depois este
número foi dividido por 100 para convertê-lo em proporção, senão seria uma
porcentagem.
Vale dizer que se multiplica por 5, no exemplo acima, pois estabelecemos a equação:
20 x A = 100
A = 100/20 = 5, que é o número multiplicativo, onde N é o número de
sujeitos e 1.00 é a proporção máxima.
Obteve-se o número da categoria B referente à primeira fotografia multiplicando 5 x 5,
depois dividindo por 100 e em seguida se soma este resultado (0,25) à proporção anterior
da categoria A, obtendo-se assim a proporção acumulativa das duas categorias: 0,45, que
é então colocada na coluna 2, na frente da fotografia 1. Para as outras categoria deve-se
seguir o mesmo procedimento, calculando-se sempre a proporção relativa à categoria e
somando-se com a quantidade proporcional colocada na categoria anterior.
Os dados da Tabela 15 podem ser projetados numa figura, na qual colocamos as
categorias ao longo da abcissa e as proporções acumuladas ao longo da ordenada, como
mostra a figura.
102
A inclinação da função para cada expressão é indicativa da variação de categorias nas
quais é colocada uma expressão. Se não há variação a proporção acumulada logo atinge
a proporção acumulada de 1,00 numa categoria. Se, no entanto, tiver discrepância
máxima nas avaliações a função será linear e atingirá 1,00 na última categoria.
Observando-se a figura nota-se que a expressão 6 é quase linear, implicando uma
dispersão máxima nessa avaliação. Podemos assim dizer que a fotografia com a
expressão 2 pode ser caracterizada mais similar ao “completamente alegre” enquanto a
fotografia 4 é “muito, mas não completamente alegre”.
Algumas aplicações práticas e avaliação do método.
A presente escala de classificação tem sido usada de um modo intermitente para distintos
propósitos na Psicologia experimental, pois a maioria das pessoas sentem-se muito mais
familiarizados com as escalas de classificação para a descrição e valorização de
características pessoais. O método é usado na escola primária para avaliar alunos
conforme seu desempenho, e também se emprega amplamente na indústria, nas forças
armadas e em qualquer lugar onde se necessita qualquer descrição numérica simples das
pessoas.
Estas escalas são muito populares em seleção de empregados e de estudantes. Para
uma boa concordância a “carta de recomendação” tem sido recolocada em escalas de
classificação nas quais se pede à pessoa que recomenda para indicar num lugar
apropriado numa escala correspondente algumas qualidades da pessoa que está sendo
classificada. Refinamento de tal técnica inclui a pergunta a esta pessoa para determinar o
percentil no qual a inteligência da pessoa que está sendo classificada pode cair. As
vantagens gerais de tais técnicas são que as recomendações a partir de uma variedade
de pessoas podem ser comparadas em um contínuo similar, o autor do modelo da carta
de recomendação ou a empresa que solicita a recomendação pode ter certos proveitos da
informação que é de interesse particular para ele ou para a empresa e ainda a tarefa da
pessoa que recomenda fica simplificada. As desvantagens são que a pessoa que
recomenda pode não oferecer informações não solicitadas pelo autor do modelo de
recomendação, e ainda, pelo mero fato de que a mesma escala é usada por muitas
103
pessoas que recomendam não assegura ao autor da carta que os julgamentos sejam
equivalentes.
Uma outra aplicação bem geral dessa técnica, que é muito utilizada dentro da psicologia
social, seja em estudos de formação de impressão ou para avaliar o significado emocional
de certas palavras, é o referente ao diferencial semântico. O diferencial semântico é uma
técnica que permite escalar o significado das palavras. Por exemplo, avaliar o significado
da palavra MÃE em dois contínuos, tais como:
afetuosa _____X________________________________________ grosseira
quente X______________________________________________ fria
Finalmente esse método é muito usado visto que a interpretação dos resultados é simples
e, além disso, tais interpretações são úteis. Nesse método podemos salientar os
seguintes pontos: (1) O método requer que se coloquem os estímulos em categorias. (2)
A classificação fornece uma escala ordinal. (3) Para analisar os dados se usa as
proporções acumulativas. (4) A figura destas proporções acumuladas fornece um quadro
de dispersão das colocações feitas pelos sujeitos em cada estímulo.
Exercício Resolvido:
Os dados da tabela 16 representam os resultados obtidos com 10 sujeitos. Cada sujeito
observou os estímulo e os colocou em categorias de acordo com sua percepção da
qualidade especificada em particular relativo à confortabilidade dos carros.
Tabela 16: Classificação dos estímulos carros, segundo a dimensão confortável desconfortável.
categorias
1 2 3 4 5
Corcel 4 5 1 0 0
Chevette 2 2 2 2 2
Belina 2 1 4 2 1
Opala 7 2 1 0 0
Brasília 0 0 0 1 9
Estímulos
1 - Muito confortável
2 - Levemente confortável
3 - Nem confortável, nem desconfortável
4 - Levemente desconfortável
5 - Muito desconfortável
Verifica-se nesta tabela que foram apresentados aos sujeitos 5 estímulos (carros) para
elaborar a escala, segundo a dimensão muito confortável até muito desconfortável. O
sujeito deve classificar os estímulos em cinco categorias segundo esta dimensão. Nesse
exercício, por exemplo, os sujeitos julgaram que o Corcel é muito confortável, e apenas 2
sujeitos julgaram o Chevette como muito confortável.
Para calcularmos as proporções acumuladas a qual é a principal medida deste método,
necessitamos primeiramente calcular as proporções relativas à cada estímulo para cada
104
categoria. Estas proporções nos vai dar uma idéia clara da dispersão ou variabilidade das
colocações de cada carro nas diferentes categorias. A tabela 17 abaixo nos mostra estas
proporções acumuladas.
categorias
1
2
Corcel
0.40 0.90
Chevette 0.20 0.40
Belina
0.20 0.30
Opala
0.70 0.90
Brasília
0.00 0.00
Estímulos
3
1.00
0.60
0.70
1.00
0.00
4
1.00
0.80
0.90
1.00
0.10
5
1.00
1.00
1.00
1.00
1.00
Estas proporções acumuladas são obtidas multiplicando-se cada número da tabela 17 por
10 (visto que n=10, então nx10 =100, conseqüentemente o fator multiplicativo dessa
equação é 10 para satisfazer a igualdade e dividindo o resultado por 100 para convertê-lo
em decimais. Depois se somam as proporções de cada categoria da esquerda para a
direita. Por exemplo, o 0,40 da primeira categoria corresponde ao estímulo corcel, se
obteve multiplicando o número 4 que é o número de colocações nesta categoria, por 10
em seguida divide-se por 100 para converter esse número em decimal.
Obteve-se o número da categoria 2 referente ao estímulo corcel multiplicando 5 por 10 e
depois dividindo por 100. Depois se somou esta quantidade, 0,50 à categoria anterior 1
que é 0,40. Para obter a proporção acumulada das suas primeiras categorias. A
quantidade que representa a soma destas duas proporções é 0,90 a qual é colocada na
coluna 2, na frente do estímulo corcel.
Deve-se ter o cuidado para o fator multiplicativo para se encontrar as proporções
acumuladas, visto que n.a=100 é uma equação que depende do número de sujeitos. O
fator multiplicativo sempre será A=100/n. Este fator então depende sempre do número de
sujeitos, visto que o número 100 é constante, pois é a proporção máxima.
Encontrando-se, assim, todas as proporções para todos os estímulos relativos a cada
categoria, podemos traçar a Figura 7. Colocamos a categoria na abcissa , contra as
proporções acumuladas na ordenada.
105
na tabela 18 já temos os resultados obtidos por uma indústria que realiza pesquisa no
sentido de saber o julgamento estético referente a dimensão bonito-feio de embalagens
de chocolates. Foram usadas apenas cinco categorias, isto pelo fato da pesquisa ser
realizada em campo.
As categorias eram as seguintes:
1. Muito bonita
2. Razoavelmente bonita
3. Nem muito bonita, nem muito feia
4. Razoavelmente feia
5. Muito feia
Tabela 18: Classificação dos estímulos embalagens dos diversos tipos de chocolates,
segundo a dimensão bonita feia.
Estímulos Embalagens
Lacta
Diamante negro
Prestígio
Sonho de Valsa
Choquito
1
11
17
0
6
0
categorias
2 3 4 5
12 3 2 2
8 2 2 1
4 16 5 5
5 7 6 6
0 6 7 17
Questões:
1. Calcule as proporções acumuladas e faça o gráfico representativo.
2. Faça uma análise da curva de cada estímulo.
106
3. O que diferencia esta técnica daquelas já vistas anteriormente?
4. Enumere algumas utilidades deste método na indústria, seja para a apresentação de
produtos, seja para a seleção de candidatos.
5. Qual a diferença entre escalas psicofísicas e escalas psicométricas?
107
8. O método de ordenação (Ranking, Rank Order)
O segundo método psicométrico para a elaboração de escalas que iremos tratar agora é o
método de ordenação. Este método se assemelha ao de classificação haja visto que
também se pede ao sujeito para que coloque os estímulos em categorias. No entanto a
característica básica do método de ordenação é que se pede ao sujeito de colocar um, e
apenas um dos estímulos a disposição em cada ordem. Além disto, contínuo, categoria ou
série de ordens é definido por algum termo como o melhor ou o mais brilhante ou o mais
bonito, de tal maneira que o indivíduo deve ser instruído para selecionar o estímulo mais
bonito para a primeira categoria, o segundo mais bonito para a Segunda categoria e
assim por diante, até que o estímulo menos bonito seja colocado na última categoria.
Assim no método de ordenação o sujeito deve colocar os estímulos ao longo de um
contínuo de maneira que um estímulo fique em primeiro lugar, outro em segundo, e assim
sucessivamente. O experimentador fornece o contínuo sobre o qual os sujeitos ordenam
os estímulos, o sujeito pode colocar um estímulo em cada categoria. Isto quer dizer, se
pede para dar o primeiro lugar somente a um estímulo, o segundo ao outro e assim por
diante.
Na ordenação, portanto, tal como no método de categorias sucessivas se pede ao sujeito
de colocar cada estímulo numa categoria e pode ter mais de um dentro de uma categoria,
mas na ordenação apenas um estímulo deve ser colocado em cada categoria. Entretanto,
como a tarefa do sujeito é julgar qual o estímulo tem, mas da qualidade que se está
julgando sem dar a magnitude da diferença, a ordenação produz uma escala ordinal.
As semelhanças entre os dois métodos, o de classificação e o ordenação são apenas
superficiais, para o uso de categorias definidas ou um contínuo definido há apenas uma
semelhança em operação. De fato, em termos de técnica o método de ordenação é
similar ao método de comparação aos pares que iremos tratar logo em seguida uma vez
que ambos esses métodos o sujeito está supostamente comparando cada estímulo com
outro estímulo da série. A diferença é meramente que no método de ordenação todos os
estímulos estão presentes simultaneamente enquanto no de comparação aos pares eles
são apresentados dois a dois.
Devemos salientar, entretanto, que o método de ordenação diferente do das categorias
sucessivas ou comparação aos pares força o sujeito a ser consistente. Isto por que ele
não deve assinalar o mesmo valor para mais que um estímulo. Em alguns planos
experimentais, deve-se forçar o sujeito a escolher quando dois estímulos parecem iguais
com respeito a dimensão em consideração. Em muitos outros planos, no entanto, o
método de ordenação resulta em prejuízo na precisão de mensuração, visto que o sujeito
deve desempenhar operações características das escalas ordinais. Isto é, sua tarefa é
indicar se um estímulo tem mais ou menos da qualidade sendo escalada, ele não está
sendo solicitado para indicar a quantidade dessa diferença.
Exemplo ilustrativo
Descrição do exemplo. Suponhamos que as 10 expressões faciais do método de
classificação que vimos anteriormente sejam agora ordenadas em vez de classificadas.
Ao sujeito é apresentada uma série de estímulos e pede-se a ele ordená-los com a
expressão mais alegre em primeiro lugar e a expressão menos alegre em último lugar.
Nota-se que usamos o termo alegre para o continuo todo chamando a ordem mais baixa
da escala menos alegre em vez de triste. Quando ambos alegre e triste são usados como
108
extremos estamos falando do método de categorias sucessivas ( classificação) e
supomos que existe um ponto neutro apresentado por uma categoria a qual é nem alegre
nem triste. Entretanto, quando um contínuo simples é usado, tal como no método de
ordenação, supomos que o sujeito está avaliando a quantidade de um contínuo simples,
ou seja, a quantidade de alegria e que o mesmo a menor ordem da escala tem algo dessa
qualidade. A tabela 19 mostra-nos as freqüências com que cada uma das 10 folhas de
expressões faciais, descritas no método de classificação foram ordenadas por 20 sujeitos.
Deve lembrar-se que ordem 1 é definida como a expressão que mostra mais alegria, ou
seja, o mais alegre.
Tabela 19: Quadro acumulativo da ordenação de 10 fotografias com expressões faciais
por 20 sujeitos na qualidade de alegria. Os números do quadro se referem ao numero
arbitrário que foi dado à fotografia pelo experimentador antes do experimento.
Sujeitos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
X
1º
6
4
1
9
4
5
2
1
2
5
8
2
1
4
6
6
1
3
1
1
3.60
2º
2
1
8
1
9
1
3
7
3
1
3
1
4
9
1
5
5
5
2
8
3.95
3º
7
3
9
8
2
3
6
2
6
7
4
3
2
8
7
4
2
4
6
4
4.85
Expressões
5º 6º 7º 8º
1
3
5
9
5
2
10
6
4
3
5
6
3
4
5
2
1
8
7
5
4
6
9
7
1
5
7
8
4
8
6
9
4
7
5
1
3
8
9
6
2
9
7
1
6
9
8
10
8
7
10
9
2
3
1
7
4
2
9
5
2
1
8
3
3
9
6
8
2
1
5
9
3
5
4
7
2
5
9
6
3.20
6.75
5.20
5.25
6.20
4º
4
8
2
7
3
2
4
3
8
4
6
5
3
6
10
7
4
7
8
3
9º 10º
8
10
9
7
7
10
6
10
10
6
10
8
10
9
5
10
10
9
2
10
10
5
7
4
6
5
5
10
8
3
9
10
7
10
6
10
10
9
10
7
7.75
8.10
Ordenação final: 1º - 5 ; 2º - 1 ; 3º - 2 ; 4º - 3 ; 5º - 4
6º - 6 ; 7º - 8 ; 8º - 7 ; 9º - 9 ; 10º - 10
Nesse exemplo de tabela os sujeitos tiveram que ordenar as fotografias de expressões
faciais de acordo com o contínuo especificado. Pediu-se ao sujeito atribuir o número 1º
(ordem 1) à menos alegre. Deve-se dar, portanto às fotografias de expressões faciais
restantes um dos números que estão entre 1 e 10 de acordo com seu julgamento a
respeito de cada expressão facial. Voltamos a frisar que neste exemplo cada expressão
facial é ordenada dentro de um contínuo de mais alegre menos alegre colocando-se
somente uma expressão facial em cada categoria.
109
O sujeito 1, por exemplo, deu à fotografia da expressão facial 5 é por ele julgada como
mais alegre. Continuando a descrição vemos que para o sujeito 5 a expressão facial 9 é
julgada como menos alegre. De maneira semelhante podemos descrever a ordem de
colocação das expressões faciais para cada sujeito em particular.
Medida principal e resolução
Como é verdade para todos os métodos escalares, existem muitos modos segundo os
quais os dados podem ser analisados, dependendo das necessidades do experimentador
e conseqüentemente do objetivo de seu estudo. Assim podemos, por exemplo, computar
a média ou a mediana das ordens (postos). No exemplo calculamos a média de
ordenação para os 20 sujeitos, visto que uma expressão facial raramente é julgada na
mesma ordem pelos diferentes sujeitos.
A média, ou seja, o posto médio, é obtido somando-se todos os postos dados a cada
expressão facial e dividindo a soma por 20 que é o número de sujeitos usados no nosso
exemplo. O posto médio de 3,60 foi dado a fotografia 1, o posto médio de 6,75 foi dado à
fotografia 7, etc. De acordo com estes postos médios podemos estabelecer a ordenação
na seguinte:
ordem:
1º, 2º , 3 º , 4º , 5º , 6º , 7º , 8 º, 9 º, 10º
Expressão facial: 5, 1, 2 , 3, 4, 6, 8, 7 , 9 , 10
Em outras palavras a fotografia de expressão facial 5 é considerada na média a mais
alegre do contínuo, e a fotografia de expressão facial 10 recebeu o posto mais baixo
sobre o mesmo contínuo, sendo, portanto o mais alegre.
Por outro lado não iremos considerar aqui a discussão teórica sobre o uso de médias ou
medianas, pois isto envolve uma discussão sobre os tipos de distribuição, seja retangular
ou normal, e nem iremos considerar a possibilidade de se escalar as ordenações de
maneira característica de escalas de intervalos, desde que um estímulo pode aparecer
em mais de uma categoria.
O conceito de dispersão, tal como conhecido na estatística, é aplicável aqui, para isto
devemos assumir que os julgadores dos estímulos tem ordenações ao redor da média de
maneira que tais ordenações são normalmente distribuídas.
Candland (1968) coloca, em relação às medidas desse método, que muitas vezes é útil
converter os escores brutos para alguma escala comum. Uma técnica que indica a
quantidade de desvio a partir da média da amostra, consiste em converter os escores
para escores z. A vantagem de se usar escores z segundo Candland é que os dados de
diferentes procedimentos escalares e psicofísicos podem ser comparados mais fácil e
mais significativamente do que quando se usam apenas escores brutos ou escores de
escolhas. A fim de determinar o escore z, a média e o desvio padrão devem ser
conhecidos. O escore z para qualquer escore bruto é determinado pela seguinte fórmula:
Z= (escore bruto –média)/desvio padrão
Se por exemplo, tivermos o escore bruto 50, a média 45 e o desvio padrão 10 temos:
Z= (50-45) / 10;
Z= 0,5
110
Nota-se que o z pode ser um número negativo se o escore bruto for menor do que a
média. Neste caso um escore z de –0,5 indicará o mesmo desvio a partir da média como
0,5, mas ao outro lado da média, pois os escores z são geralmente distribuídos entre
+2,96 e –2,96.
Sabemos que nas escalas psicofísicas e escalares os valores de z são freqüentemente
computados a partir da proporção (p) de respostas, isto será melhor ilustrado quando
tratarmos do método de comparação aos pares. Em adição, Candland salienta que os
dados de um experimento no qual se usou escalas de ordenação podem ser traduzidos
para a técnica de comparação aos pares; por exemplo, se s1 é julgado maior que s2, e se
s2 é julgado maior que s3, pode se supor que 3 avaliações por comparação por pares tem
sido feito, uma vez que o s1 deverá ser julgado como maior que s3. Essa técnica supõe
que o sujeito não contradiz suas escolhas. Entretanto preferimos utilizar neste método de
comparação aos pares, devido principalmente à operação experimental requerida do
sujeito.
Algumas aplicações práticas e avaliação do método
Esse método tem quase as mesmas aplicações práticas que o método de categorias
sucessivas. Ele pode ser utilizado para ordenarmos preferências de produtos comerciais,
tipos de embalagens, programas de televisão e é muito usado em enquetes de opinião
pública a respeito da preferência de cantores, atores, etc., até para a gravidade de
diversos tipos de crimes e os problemas relativo ao moral entre trabalhadores.
Esta técnica, assim como as outras, corre o risco de que quando se usa apenas um
sujeito o experimentador nunca pode ter certeza que igual atenção é dada para todos os
estímulos. Necessariamente, com estímulos tais como expressões faciais é claro que o
sujeito deve ver um dos estímulos primeiro e é possível que a natureza deste estímulo
afete o julgamento dos outros. O problema deve ser contrabalanceado pelo uso de tantos
sujeitos quantos são estímulos, assim o experimentador pode apresentar a cada sujeito
os estímulos em ordem diferente com a restrição de que cada estímulo deverá aparecer
em cada posição quando todos os sujeitos tiverem sido testados.
A medida principal desse método, a média ou a mediana, é bastante simples e
depende sempre da distribuição das freqüências, ou seja, das colocações dos sujeitos.
Podemos então sumarizar este método, salientando os seguintes pontos:
1. Este método é semelhante ao método de classificação e se pede ao sujeito que se
coloque os estímulos em categorias.
2. Deve-se colocar um e apenas um estímulo em cada categoria.
3. Este método também produz uma escala ordinal.
4. A análise dos dados obtém-se através do posto médio de cada um dos estímulos.
5. É usado neste método um contínuo simples, ser usados os extremos do contínuo tal
como no método de categorias sucessivas (classificação).
Um exemplo ilustrativo da importância prática desse método é relatado na literatura e é
citado por Lengh e Wherry (1963). Devido a um problema de moral existente entre os
trabalhadores da fábrica Metal Goods Manufacturing Company, Ltda na Índia, estes
autores pediram aos trabalhadores que ordenassem 10 diferentes fatores e vantagens
ligados ao cargo. O contínuo sobre o qual estes fatores foram ordenados foi a importância
dos fatores, dando-se uma avaliação de 1 a o fator de menor importância e uma avaliação
111
de 10 ao fator de maior importância e uma avaliação de 10 ao fator de maior importância.
Na tabela 20 estão apresentados os resultados conforme a avaliação em pontos do posto
médio para cada fator. A tabela oferece também o posto de cada avaliação média (notase que os postos da última coluna estão invertidos, tendo se dado a ordem 1º ao fator de
cargo mais importante.
Tabela 20: ordenação dos fatores de trabalho de acordo com a importância.
Fator
Avaliação média
Segurança no trabalho
8,04
1º
Salário adequado
7,50
Benefícios pessoais adequados
6,44
Oportunidades de melhoramento
6,17
Boas condições de trabalho
3,73
Tipo adequado de trabalho
3,23
Oportunidade de aumento salarial
3,04
Horas de trabalho
2,41
Oportunidade para aprender o trabalho
2,28
10º
ordem
2º
4º
9º
3º
5º
6º
7º
De Lengh e Wherry (1963) tabela 1 pag. 30
Exercício Resolvido:
Deve ser contratado um novo funcionário num departamento. Apresentam-se 5
candidatos. O chefe do departamento acha importante que todos os 10 membros do
departamento ajudam nesta tarefa, entrevistando cada um dos 5 candidatos. Aplicando o
método de Ranking ou Ordenação ele pede a cada um dos membros do departamento
atribuir a cada um dos candidatos uma ordem de 1 a 5, sendo 1 o candidato que ele julga
melhor e 5 o candidato que ele julga pior para o cargo. Os resultados são apresentados
na tabela 21.
Tabela 21. Quadro geral de ordenação de candidatos a funcionário por 10 metros do
departamento.
Candidatos
A
B
C
D
E
Membros do Departamento
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Posto
4 5 4 2 3 5 5 4 3 4 3.9
3 4 1 5 5 1 2 1 5 5 3.2
1 2 2 1 1 2 4 3 2 1 1.9
2 1 3 3 2 3 1 2 1 3 2.1
5 3 5 4 4 5 3 5 4 2 4.0
médio
4º
3º
1º
2º
5º
O candidato C obteve um posto médio mais baixo, quer dizer foi colocado mais perto do
1º lugar enquanto o candidato E teve um posto médio mais alto e, portanto foi colocado
mais perto do último lugar. Vê se ainda que a diferença entre C e D é relativamente
pequena comparada, por exemplo, com a diferença entre D e E ou mesmo entre B e A. O
ponto médio é simplesmente a média dos postos nos quais o candidato foi colocado pelos
diversos julgadores. Para visualizar mais os resultados dos diversos julgamentos pode-se
112
fazer um gráfico tendo na abcissa as ordenações de 1 a 5, e na ordenada a freqüência
dentro de cada ordem, fazendo-se a distinção entre os candidatos com linhas de feitio ou
de cores diferentes. No entanto este gráfico acrescenta pouco ou nada ao resultado final
da ordenação, apenas indica melhor a distribuição das ordenações sobre os diversos
candidatos.
Exercício proposto.
Um professor de literatura quer saber como seus alunos julgam os romancistas brasileiros
e pediu então para uma amostra de 12 alunos do último ano do 2º ciclo colocar estes
autores numa ordem de 1 a 5 sendo 1 a ordem atribuído ao escritor que achavam melhor
e 5 ao escritor que achavam pior dentro deste grupo de escritores, os resultados foram os
seguintes.
Tabela 22.
Alunos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Érico
Veríssimo
2
1
3
3
4
2
1
1
3
2
3
2
Guimarães
Rosa
1
2
1
2
3
1
2
3
2
1
1
1
Escritores
Jorge
José
Amado
Vasconcelos
3
5
4
5
2
4
1
4
2
5
3
4
4
3
5
4
1
5
4
3
2
5
3
4
Carlos Drummond de
Andrade
4
3
5
5
1
4
5
2
4
5
4
5
QUESTÕES
1. Quais as principais diferenças entre esta escala e os métodos psicofísicos clássicos?
2. Porque esta escala é chamada escala psicométrica?
3. Imagine cinco situações nas quais esta escala poderia ser usada com vantagem sobre
outros métodos.
4. Os métodos de classificação e de ordenação podem ser usados no mesmo
experimento um completando o outro? Como, e qual seria a vantagem de usar esta
combinação e não um método só?
9. Método de estímulos isolados
Este método tratado por Woodworth e Schlosberg juntamente com os métodos
psicofísicos clássicos, possuem, no entanto todas as características dos métodos
escalares e se parece particularmente com o método de classificação, pois os estímulos
são distribuídos sobre categorias que vão progressivamente de um lado de um contínuo
para outro. Também no tratamento dos dados parece-se com o método de classificação,
113
pois também usa a transformação em proporções. Porém o que este método visa
especificamente é o estabelecimento de linhas divisoras ou limiares diferenciais entre as
diversas categorias sobre o mesmo contínuo, e para isto transforma as proporções em
notas médias Z que permitem traçar as retas divisoras.
Quando um sujeito é submetido a um experimento com o método de estímulos constantes
ele compara em cada tentativa o SC com o SP, para a obtenção do L.D. No entanto,
quando ele começa a ficar acostumado à amplitude dos SC’s, cada um deles parece ser
grande, pequeno ou médio num sentido quase absoluto (Martin & Muller, 1899). Se o SP
fosse suprimido o indivíduo ainda poderia continuar usando com segurança estas
categorias. O método dos estímulos isolados (Wever e Zenner, 1928; Volkmann, 1932)
também chamado método dos julgamentos absolutos, procura aproveitar destas
“impressões absolutas” e economiza tempo deixando fora o SP.
O método funciona da seguinte forma: prepara-se uma série de, por exemplo, 5 estímulos
que são apresentados numa ordem ao acaso, e o sujeito é instruído para classificá-los em
certas categorias. No caso em se tratando de comparação de pesos as categorias
poderiam ser: pesado, médio e leve. O experimentador pode aumentar o número de
categorias acrescentando: muito pesado e muito leve e ainda talvez outras, ou ele pode
limitar-se a apenas duas: pesado e leve, recusando julgamentos intermediários.
No método de estímulos isolados os dados podem ser tratados pelos mesmos cálculos
que se usam no método de estímulos constantes. Os limiares entre categorias (+ e -, ou
+, = - e -), sua média, Desvio Padrão ou erro provável ( =0,6745 DP ou p =75), são
determinados da mesma forma. Quando são permitidas apenas duas categorias (pesado
e leve) se deve achar um só limiar como num experimento de duas categorias no método
de estímulos constantes. Quando se permitem três categorias teremos dois limiares: um
entre “pesado” e “não pesado” outro entre “leve” e “não - leve”, enquanto o “não pesado” e
o “não leve” formam juntos a categoria do meio.
Usando 4 categorias A,B,C, e D teremos limiares entre a não-A, entre D e não-D e no
meio um limiar entre A/B e C+D (Rogers, 1941). Este último limiar no meio então é o valor
do estímulo que dará 50% de respostas A ou B e 50% de respostas C ou D. Com
qualquer número par de categorias o limiar intercategorial do meio pode ser chamado o
ponto médio subjetivo da série de estímulos. Com um número impar de categorias o
ponto médio subjetivo é o ponto médio da categoria do meio. Este conceito corresponde
ao P.I.S. do método dos estímulos constantes.
Comparando com o ponto médio objetivo das séries de estímulos temos algo análogo
com os estímulos constantes. Para o Limiar Diferencial o Erro provável da distribuição (=
0.6745 DP ou p=0,75) servirá quando somente 2 categorias tem sido usadas e qualquer
número par de categorias pode ser reduzido a duas tratando a metade inferior delas como
uma resposta “menos” e a metade superior como uma resposta “mais”. Um número impar
de categorias apresenta os problemas que encontramos com os julgamentos “iguais” no
método de estímulos constantes com três categorias.
O que nos interessa para a finalidade geral da psicofísica é se o método de estímulos
isolados consegue mostrar algo com mesma acuidade de discriminação como mostrado
através dos métodos clássicos. Os resultados obtidos pelo método de estímulos isolados
ou de julgamento absoluto têm mostrado uma precisão comparável com aquela obtida
através do método de estímulos constantes (Wever e Zener, 1928; Fernberg, 1931;
Pfaffman, 1935). Pode mesmo ser obtida uma discriminação mais exata através de uma
114
modificação que requer uma estimação em unidades físicas como gramas, centímetros ou
decibéis (Bressler, 1933; Long, 1937), apesar de que o trabalho exige muito mais do
sujeito. Os resultados podem ser tratados pelo método de estímulos constantes ou pelo
método do erro médio, aqui o erro médio de estimação. A comparabilidade dos resultados
do método de estímulos isolados e do método de estímulos constantes é apresentado na
Figura 8 mostrando o resultado de um experimento de Pfaffmann (1935), no qual os
resultados do método de estímulo constantes e os do método de estímulos isolados foram
comparados.
No experimento de Pfaffmann com soluções de NaCl foram usados 6 SC’s tanto no
método de estímulos constantes como no método de estímulos isolados. No método de
estímulos constantes foram usadas duas categorias e as linhas cheias mostram as
funções para maior e para menor. No método de estímulos isolados pediu-se aos sujeitos
de atribuir um número de 1 a 6 a cada estímulo sendo 1 o mais fraco e 6 o mais forte.
Depois as respostas do método de estímulos isolados foram reduzidos a duas categorias
combinando 1,2 e 3 versus 4,5 e 6 que então foram colocados no gráfico como linhas
pontilhadas. O método de estímulos isolados apresenta para o sujeito curvas mais lisas e
este método economizou bastante tempo porque requer apenas a metade de
apresentações de estímulos, uma vez que não há S.P. e ainda minimizou o efeito da
adaptação que causa dificuldades nos experimentos de gustação.
Exemplo Ilustrativo
Segue aqui um exemplo com dados hipotéticos apresentado por Woodworth e que trata
da comparação entre a inclinação de 5 linhas: uma linha com 18°, uma segunda com
24°, uma terceira com 30°, uma quarta com 36° e uma quinta com 42°.
A Instrução seria a seguinte: Vamos lhe mostrar linhas retas que diferem quanto a sua
inclinação. Você deve classificar estas linhas em 5 categorias, categoria 1 é a mais
inclinada e categoria 5 a menos inclinada. Depois de algumas tentativas você ficará
conhecendo a amplitude das inclinações usadas neste experimento.
115
A Figura 9 mostra graficamente os resultados. As linhas inclinadas mostram os limiares
intercategoriais determinados pelo uso de dois pontos médios Z. As áreas numeradas
entre as linhas mostram onde e o quanto cada uma das 5 categorias foi usada pelo
sujeito. Lá onde as linhas inclinadas cruzam a linha média horizontal (0,0) temos os
limiares intercategoriais pela projeção deste ponto na abcissa. Lá onde eles cruzam ao
horizontais Z = 1,00 e -1,00 temos os valores de mais e menos 1 desvio padrão. Quanto
menos inclinadas as linhas divisoras mais preciso e mais consistente é o uso das
categorias pelo sujeito. Se os estímulos estivessem tão diferentes um do outro que o
sujeito sempre poderia usar com segurança a categoria 1 para o S menos, a categoria 2
para o S seguinte, etc, então seus limiares intercategoriais teriam sido linhas verticais e o
desvio padrão seria zero. Se, pelo contrário os estímulos estivessem tão semelhantes que
sua distribuição pelas categorias é praticamente ao acaso as linhas se confundiriam
colocando-se todas na horizontal sem apresentar limiar diferencial entre as categorias.
A tabela 24 mostra como os dados foram tratados. Para cada valor de estímulo as 20
respostas são contadas por categoria. Cada estímulo foi classificado 20 vezes e os
números no primeiro quadro indicam as categorias nas quais os estímulos apresentados
ao acaso foram classificados. No segundo quadro se mostram as freqüências de cada um
dos estímulos em cada uma das categorias (1) (2) etc. Observa-se que a maior freqüência
cai sempre na categoria adequada mesmo que há classificações nas outras categorias,
por exemplo, o estímulo 30° foi classificado em todas as categorias. No terceiro quadro
as freqüências são transformadas em proporções, sendo que são 20 tentativas, 20 é 1,00
e cada p. é obtida multiplicando a freqüência por 5 e dividindo depois por 100.
116
Tabela 24: Distribuição e tratamento dos resultados da classificação de linhas com 5
inclinações diferentes em 5 categorias pelo métodos de estímulos isolados (dados
hipotéticos)
Estímulos
f
Repostas depois de algumas tentativas f
preliminares
f
f
f
Freqüência por categoria:
Valores de p acumulados
Conversão
p-z
Limiares entre categorias
Cálculo dos limiares
Entre categorias e
D.P.
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
f (1)
f (2)
f (3)
f (4)
f (5)
p (1)
p (2)
p (3)
p (4)
p (5)
p
(<2)
p
(<3)
p
(<4)
p
(<5)
z
(<2)
z
(<3)
z
(<4)
z
(<5)
18º
24º
30º
36º
42º
2
2
3
5
5
2
2
4
3
4
1
2
3
5
5
Categorias
2
1
4
4
5
1
2
3
5
5
.
.
.
.
.
etc.
até
20
respostas
classificatórias
12
8
1
0
0
6
10
3
1
0
2
1
8
4
1
0
1
6
9
7
0
0
2
6
12
0,60 0,40
0,05
0
0
0,30 0,50
0,15
0,05
0
0,10 0,05
0,40
0,20
0,05
0
0,05
0,30
0,45
0,35
0
0
0,10
0,30
0,60
0,60 0,40
0,05
0
0
0,90
0,90
0,20
0,05
0
1,00
0,95
0,60
0,25
0,05
1,00
1,00
0,90
0,70
0,40
-0,25
+0,25
+1,64
0
0
-1,28
-1,28
+0,84
+1,64
0
(-2,6)
-1,64
-0,25
+0,67
+1,64
(-2,6)
(-2,6)
-1,28
-0,52
+0,25
1-2
2-3
3-4
4-5
M = 21,0
M = 27,1
M = 32,4
M = 40,1
D.P. = 6,3
D.P. = 4,8
D.P. = 5,7
D.P. = 7,8
1-2: -0,25 = 0
P.M.z = O correspondente
+0,25
a 21º
+0,25 = +0,94
P.M.z = 0,94 corresp. 27º
+1,64
Mediana 21º, z: +1,0 = 27,3º
D.P. = 27,3 - 21 = 6,3
2-3: -1,28 = -1,28
P.M.z = -1,28 corresp. 21º
-1,28
+0,84 = +1,24
P.M.z = +1,24 corresp. 33º
+1,64
Mediana 27,1, z: +1 =31,9;
D.P. = 31,9 - 27,1 = 4,8 etc.
117
No quarto quadro se apresentam os valores p acumulados. A acumulação e feita em cada
coluna, e uma vez que se trata de linhas divisoras entre as categorias colocou-se em vez
de p(1) o p(<2), pois o que interessa é a linha divisora entre 1a e 2a categoria e
logicamente tudo abaixo de 2 engloba 1, assim também depois o que é maior que 5 ficará
acima da linha 5. Em seguida os valores p já acumulados são convertidos em valores z
através da tabela de conversão de p em z, porém todos os valores são inversos, ou
melhor, dizer o sinal é inverso para todos os valores, portanto o positivo se torna negativo
e vice-versa. Uma vez obtidos os pontos médios z calcula-se o valor médio observando
bem a qual estímulo corresponde este valor médio, assim o estímulo que corresponde ao
z médio de z -0,25 e +0,25 é o estímulo intermediário entre 18° e 24° portanto 21°.
Colocando num gráfico os valores p do terceiro quadrado observa-se que não formam
uma reta, a situação já melhora quando se usam os valores z. A linha melhor é traçada
através dos dois pontos correspondente aos valores z médio. Quando o p = 0 ou 1,00 não
temos valores z.
Exercício resolvido.Classificação de 5 figuras irregulares conforme sua superfície em 5
categorias.
Cm2
Repostas em 10 tentativas
f (1)
f (2)
Freqüência por categoria:
Valores de p acumulados
Conversão
p
p
p
p
p
p
p
p
p
z
z
z
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(<2)
(<3)
(<4)
(<5)
(<2)
(<3)
(<4)
20
1
2
1
2
2
1
2
1
1
1
20
6
4
0
0
0
0,6
0,4
0
0
0
0,6
1,0
1,0
1,0
-0,25
(-2,6)
(-2,6)
22
2
1
2
1
2
3
2
3
2
2
22
2
5
2
0
0
0,2
0,6
0,2
0
0
0,2
0,8
1,0
1,0
+0,84
-0,84
(-2,6)
24
3
3
3
4
1
2
3
2
4
3
24
1
2
5
2
0
0,1
0,2
0,5
0,2
0
0,1
0,3
0,8
1,0
+1,28
+0,152
-0,84
26
3
4
4
3
4
5
5
4
3
4
26
0
0
3
5
2
0
0
0,3
0,5
0,2
0
0
0,3
0,8
0
0
+0,52
28
5
5
5
4
5
4
4
5
5
5
28
0
0
0
3
7
0
0
0
0,3
0,7
0
0
0
0,3
0
0
0
p-z
Limiares entre categorias
z (<5) (-2,6)
1-2
2-3
3-4
4-5
(-2,6) (-2,6)
M = 20,5
M = 23,2
M = 25,2
M = 27,2
-0,84 +0,52
D.P. = 2,3
D.P. = 1,4
D.P. = 1,4
D.P. = 1,4
118
Somente para a primeira linha da conversão p-z precisou-se o cálculo do ponto z médio,
nas outras três linhas isto não é necessário porque apenas tem 2 valores.
Gráfico 10 apresenta o resultado gráfico dos cálculos acima mostrado bem que as
categorias estão bastante bem distintas.
Exercício proposto .
Classificação de pesos de 48 a 58 gramas em 6 categorias Resultados de 1 sujeito em 10
tentativas.
Pesos: em gr
48
2
1
1
Classificações 2
1
2
1
48
1
Classificações 3
1
50
2
2
3
1
2
1
2
50
1
2
2
52
3
2
3
4
3
4
3
52
2
4
3
54
4
3
5
3
4
3
4
54
4
4
4
56
4
5
4
5
5
6
5
56
3
5
6
58
6
5
6
6
6
5
6
58
5
6
6
Calcular e fazer o gráfico.
QUESTÕES:
1. Em que este método difere dos métodos psicofísicos clássicos?
2. Quais as diferenças do método de estímulos isolados com o método de classificação?
3. Quais os problemas que poderiam ser mais adequadamente resolvidos pelo método de
estímulos isolados?
4. Qual a vantagem deste método sobre os métodos de classificação e de ordenação?
119
10. Método de comparação aos pares
O terceiro método que iremos tratar neste manual relativo à elaboração de escalas é o
método de comparação aos pares. Quando abordamos os dois métodos anteriores,
citamos algumas características deste método, o qual é muito usado.
A característica básica do método de comparação aos pares é que o sujeito está presente
com os pares de estímulos e é requerido para selecionar qual membro do par contém
mais ou menos da qualidade sendo escalada. Como nos outros métodos um sujeito pode
julgar um dado estímulo em várias ocasiões, ou muitos sujeitos podem julgar o mesmo
estímulo, assim fornecendo uma medida de dispersão. Essa técnica permite-nos mais que
uma simples afirmação de cada par e permite aparecer variação no final da avaliação. A
quantidade de variação para um dado estímulo nos fornece informação adicional a
respeito dos atributos deste estímulo.
Por outro lado, além de se comparar um estímulo com outro estímulo formando um par,
temos que em algumas determinações, tais como levantamento de pesos ou fazendo
finas discriminações físicas incluirá algumas tentativas no qual cada estímulo é
apresentado com ele próprio ( desconhecido para o sujeito naturalmente), para permitir
avaliação da quantidade e locação da dispersão discriminal. Cada sujeito é testado
individualmente. Os estímulos são arranjados em pares de tal modo que um estímulo em
particular não apareça em sucessão e que cada estímulo apareça igualmente e
freqüentemente na direita e na esquerda.
Se pode notar, neste ponto que o método de comparação aos pares é similar ao método
psicofísico dos estímulos constantes, em que o sujeito é requerido a determinar se um
estímulo é maior ou menor que um segundo estímulo.
Assim, a resposta do sujeito é ostensivamente um julgamento comparativo. O mesmo
sujeito pode julgar todos os estímulos em pares um grande número de vezes em
diferentes ocasiões, dando uma matriz ocasional, ou muitos sujeitos podem julgar todos
os pares apenas uma vez, dando uma matriz individual. Em um ou outro caso, nós temos
como resultado numérico o número e proporção de vezes que cada estímulo é julgado
maior na escala que cada outro estímulo. Isto nos dá uma matriz proporcional P tal como
é mostrada na tabela.
Tabela 27 - Plano geral da matriz proporcional mostrando a proporção de vezes em que
cada estímulo no cabeçalho (linha) é julgado maior que cada um no lado (coluna).
Sa
Sb
Sc
.
Sj
.
Sn
Sa
Sb
Sc...
Sj...
Sn
Pa>a
Pb>a
Pc>a...
Pj>a...
Pn>a
Pa>b
Pb>b
Pc>b...
Pj>b...
Pn>b
Pa>c
Pb>c
Pc>c
Pj>c
Pn>c
...................................................................................................
Pa>j
Pb>j
Pc>j
Pj>j
Pn>j
....................................................................................................
Pa>n
Pb>n
Pc>n
Pj>n
Pn>n
Como se verifica a tarefa do sujeito em qualquer momento se encontra simplificada ao
máximo porque só tem dois estímulos ante ele; compara estes estímulos em certo
aspecto (isto é, dimensão considerada), passa a outro par e assim sucessivamente, até
que todos os estímulos tem sido julgados. Se cada um dos estímulos é colocado com
120
cada um dos outros, o número de pare é n(n-1)/2. Esta formula nos fornece
conseqüentemente o número de pares que serão examinados, onde n é igual ao número
de estímulos que serão examinados. Por exemplo, se temos 10 estímulos, usando-se a
formula obtemos 10(10-1)/2 que é igual a 45 pares; se temos 20 estímulos obtemos
20(20-1)/2 que é igual a 190 pares. Alguns planos experimentais utiliza-se da subdivisão
de uma grande serie de estímulos em duas ou mais series que se sobrepõem. Portanto,
esta formula dá o número de pares que devem ser usados para que cada estímulo
apareça pelo menos uma vez com cada uma dos outros estímulos.
Ao organizar os pares, o experimentador deve estar atento a todos os erros possíveis de
tempo e espaço colocando cada estímulo como primeiro em alguns pares e como
segundo em outros. Isto é chamado de contrabalanceamento da posição dos estímulos, e
este contrabalanceamento ajudará a eliminar os efeitos de preferência de posição.
Exemplo Ilustrativo - Descrição do Exemplo:
O método de comparação em ambos os aspectos experimental e estatístico pode ser
ilustrado por um simples exemplo de preferência de verduras (vegetais). Primeiramente
oito vegetais (verduras) que são comumente usados na mesa brasileira foram
selecionados. Os oito vegetais foram combinados em todos os pares possíveis. O número
de pares para n estímulos é n(n-1)/2. Com n=8 estímulos há 28 pares. A seqüência de
pares podem ser rearranjadas em um esquema, observando-se muitos objetivos. Cada
verdura deve aparecer igualmente e freqüentemente na direita e na esquerda para
controlar o erro de posição. A posição de um vegetal na esquerda e na direita deve ser
alternada. Nenhum vegetal é dado em dois pares sucessivos. Esses objetivos são mais
facilmente compreendidos quando n é um número par. A necessidade de instruções e a
escolha de uma população deverá observar os requerimentos usuais para qualquer bom
experimento.
No exemplo de comparação de vegetais apresentado na tabela 28, apresentam-se ao
sujeito oito diferentes vegetais. A tarefa do sujeito consiste em escolher entre cada par o
vegetal que prefere comer. Como a tarefa do sujeito é julgar em termos de mais ou menos
e não em termos de magnitudes o tipo de escala numérica usada é original.
Na tabela 28, o 1 indica que o vegetal da coluna a esquerda que corresponde a este
número ;e preferido ao vegetal cujo nome figura como cabeçalho da coluna na qual
aparece este número, zero indica que o vegetal da coluna a esquerda não foi preferido.
Tabela 28 - Preferência por vegetais (verduras) verificadas através da comparação aos
pares.
Nabo
Repolho
Beterraba
Cenoura
Vagem
Alface
Ervilha
Aspargos
Nabo
0
0
1
0
0
1
1
Rep.
1
0
1
0
0
1
1
Bet.
1
1
1
1
0
1
1
Cen.
0
0
0
0
0
1
0
Vag.
1
1
0
1
0
1
1
Alf.
1
1
1
1
1
1
1
Erv.
0
0
0
0
0
0
0
Asp.
0
0
0
1
0
0
1
-
C
4
3
1
6
2
0
7
5
p%
57
43
14
86
29
0
100
71
C´
4.5
3.5
1.5
6.5
2.5
0.5
7.5
5.5
p´%
56
44
19
81
31
6
94
69
Z
+0.15
-0.15
-0.88
+0.88
-0.50
-1.55
+1.55
+0.50
121
Comparando-se o vegetal repolho com o vegetal beterraba, vemos que o sujeito
expressou preferência pelo vegetal repolho. O vegetal beterraba foi preferido somente em
relação a um vegetal, que é o alface.
Principais medidas e Resolução:
A coluna indicada com C dá o número de vezes que se escolheu cada vegetal como
preferido nos pares nos quais foi apresentado. O vegetal que o sujeito do exemplo da
tabela 28 prefere comer, baseado na avaliação C é ervilhas. Por outro lado, o vegetal que
menos gosta de comer, conforme a mesma avaliação C é o vegetal alface.
A coluna denominada p dá a porcentagem de casos nos quais se prefere cada vegetal em
relação aos outros. Este valor é encontrado através da fórmula [C/(n-1)]x100, onde:
n= o número de estímulos
C= o número de vezes que se escolheu o estímulo como preferido.
Observando-se a tabela e aplicando-se esta fórmula vemos que o vegetal nabo foi
preferido em 57% dos casos. Da mesma maneira o vegetal cenoura foi preferido em 86%
e as ervilhas em 100% dos casos.
Apesar desta simplicidade o método de calcular apresenta um problema. Quando se
calculam as porcentagens para os estímulos, cada um é comparado com os outros
diferentes dele. Por exemplo, o nabo é comparado com todos os outros vegetais, mas não
consigo mesmo. O mesmo ocorre com todos os outros estímulos, no caso vegetais. Por
exemplo, os campos de comparação do vegetal nabo inclui o vegetal repolho, mas não o
próprio nabo, enquanto o campo do repolho inclui o nabo, mas não o próprio repolho.
Para corrigir isto, considera-se a comparação de cada estímulo consigo mesmo e se lhe
dá um valor de 0,5. Isto significa que se atribui um valor de 0,5 da avaliação c para
explicar a comparação de cada estímulo consigo mesmo, ganhando cada metade deste
par igual 50%. No nosso exemplo verifica-se que a nova avaliação, indicada como na
Tabela 28 é 4,5 para o vegetal nabo, e de 3,5 para beterraba e conseqüentemente se
adiciona 0,5 à avaliação c´ para todos os outros vegetais.
A avaliação p, conseqüentemente também é alterada e é denominada p´ indicada na
penúltima coluna da tabela 28. Esta avaliação p´ é calculada a partir da avaliação c´, da
mesma maneira como se calcula a avaliação p, exceto que no denominador aparece n em
vez de n-1, visto que agora comparam todos os estímulos inclusive consigo mesmos.
Então a fórmula para p´ é igual a c´ /n x 100. No nosso exemplo temos para o vegetal
nabo a avaliação p´ de 56%, para o vegetal aspargos p´ igual a 69% e assim na tabela 28
temos as outras avaliações p´ para todos os estímulos.
Finalmente estes valores p´ podem ser convertidos legitimamente em valores z,
utilizando-se a tabela do anexo 2. Esta operação é bastante fácil e envolve apenas
procurar o valor de p no corpo da tabela e encontrar o respectivo valor dez. Assim temos
na última coluna da tabela 28, para o vegetal nabo um z igual a +0,15 e para o vegetal
repolho um z igual a –0,15. De maneira semelhante calcula-se o z para todos os outros
estímulos. A importância dos valores z se resume no fato que pode se encontrar o valor
de z para cada indivíduo e serem reduzidos a um termo médio para todo o grupo. Em
última análise podemos projetar os valores p´ dos vegetais usados no nosso exemplo
num contínuo em intervalos iguais. Como apresentado na Figura 10.
122
Alface Beterraba
0.0
0.1
0.2
Vagem Repolho Nabo Aspargos
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
Cenoura Ervilha
0.8
0.9
1.0
Figura 10. Os resultados de uma comparação por pares expressos em valores p´ e
colocados num contínuo de intervalos iguais.
Nesse contínuo se verifica que o vegetal alface foi o menos preferido e as ervilhas foram
as mais preferidas. Além disto se vê melhor a localização dos diversos estímulos entre o
contínuo e a distância que o separa.
Algumas aplicações práticas e avaliação do método
A aplicabilidade do método de comparação por pares é tão grande que nem todos os
usos específicos podem ser referidos aqui. Em geral, ele pode ser aplicado todas as
vezes que estímulos podem ser apresentados aos pares, ou simultaneamente ou em
sucessão. Suas maiores aplicações atualmente tem sido na determinação de valores
afetivos e de valores estáticos: cores, desenhos, figuras geométricas, intervalos musicais,
preferências de nacionalidades, compositores e até psicólogos (1903), tem sido estímulos
para este método. Opiniões sobre questões como proibições, atitudes perante guerra,
religião e semelhantes podem ser tratados e avaliados pelo método de comparação aos
pares, embora a boa manipulação desse material torna-se muitas vezes bastante
grosseira. A aplicação para a avaliação de algumas características individuais de
personalidade ou caráter ou para seus valores em relação a um certo patrão
(empregador) parecem ser de grandes possibilidades. Ele pode substituir os menos
acurados e menos válidos métodos de escalas de classificação, onde trabalhos
experimentais ou práticas mais exatas precisam ser feitas. Os resultados podem muito
bem servir como o critério de validade contra o qual pode ser verificado qualquer dos
métodos menos acurados e menos fidedignos de avaliação de estímulos, de pessoas ou
coisas, atributos ou opiniões, toda vez que os resultados destes métodos menos dignos
de confiança são tirados em dúvida.
Por outro lado as vantagens deste método são que contem alguns controles que os outros
métodos não possuem, tal como a técnica de contrabalanceamento.
A desvantagem básica do método é que ele se torna inadequado e incômodo quando se
tem um número grande de estímulos. Embora existem várias técnicas para reduzir o
número de comparações que necessitam ser feitas quando um grande número de
estímulos são usados, mesmo com um pequeno número a técnica consome bastante
tempo d\e pode causar um certo tédio na realização das comparações.
Exercício resolvido.
Uma das mais conhecidas aplicações do método de comparação por apares foi o estudo
de Folgmann(1933) sobre a preferência de músicos de orquestras famosas a respeito de
19 compositores orquestrais. As orquestras eram as seguintes a Orquestra Sinfônica de
Philadelphia com 95 músicos, a Sociedade Filarmônica de Nova York com 75 músicos, a
Orquestra Sinfônica de Boston com 66 músicos e a Orquestra Sinfônica de Mineápolis
com 75 músicos. Todos os músicos estavam devidamente familiarizados com todos os
compositores da lista e com algumas de suas obras musicais. Com os 19 compositores
123
Bolgmann constituiu 190 pares, cada compositor apareceu emparelhado com todos os
outros compositores do grupo, um por um.
A tabela 29 mostra os resultados desta aplicação do método de comparação aos pares.
As orquestras foram indicadas por letras, sendo.
A - Orquestra Sinfônica de Philadelphia.
B - Sociedade Filarmônica de Nova York.
C - Orquestra Sinfônica de Boston.
D - Orquestra Sinfônica de Minneapolis.
Os resultados assim como apresentados na tabela 29 para cada orquestra já foram dados
segundo a ordem de postos de número de escolhas positivas. Em todas as orquestras
Beethoven foi consistentemente escolhido em primeiro lugar e Victor Herbert e MacDowell
ocupavam sempre os últimos lugares.
Tabela 29 - Resultados do escalonamento de compositores através do método de
comparação nos pares pelos membros de 4 orquestras sinfônicas
ORQUESTRAS
Compositores A B C D Final
Bach
3 5 3 6
5
Beethoven
1 1 1 1
1
Berlioz
15 11 10 12 12
Brahms
2 3 5 2
2
Chopin
13 13 15 15 12
Debussy
8 9 6 10
8
Franck
14 14 11 13 13
Grieg
17 16 17 14 17
Haydn
7 7 8 11
7
Herbert
19 18 19 18 19
MacDowell
18 19 18 19 18
Mendelssohn 11 10 12 8
10
Mozart
4 2 4 4
3
Schubert
6 6 7 5
6
Schumann
9 8 9 9
9
Stravinsky
12 17 16 16 16
11
Tchaikowsky 10 15 13 7
Verdi
16 12 14 17 15
Wagner
5 4 2 3
4
p sem conversão
Beethoven
Brahms
Wagner
Mozart
Bach
Schubert
Haydn
Debussy
Schumann
Mendelssohn
Tchaikowsky
Berlioz
Franck
Chopin
Verdi
Stravinsky
Grieg
MacDowell
Herbert
0.872
0.798
0.774
0.772
0.743
0.650
0.591
0.565
0.527
0.479
0.422
0.399
0.370
0.357
0.325
0.305
0.291
0.129
0.128
100
90
86
86
84
70
62
59
54
47
39
36
32
31
27
24
22
0
0
O ajustamento a uma escala de 0 a 100 é feito do seguinte modo no caso da “escala p
sem conversão”, Beethoven com p= 0,872 e Herbert com p= 0,128 são colocados aos
extremos como 100e 0 respectivamente de modo que a diferença 0,872 - 0,128 é
chamado 100. Agora qual é, por exemplo, a posição de Schubert que tem um p de 0,650.
Com é claro ele se coloca 0,650 - 0,128 acima do nosso zero e sua posição é dada pela
seguinte proporção ( 0,650 - 0,127) / ( 0,872 - 0,128 ) ou 0,523 / 0,744 = 0,7029 o que o
coloca no grau 70 da escala.
Sendo que neste exemplo a ordem de escala já estava sendo calculada sem que os
dados apresentados dão as escolhas de cada um dos compositores, mas diretamente a
124
escala ordinal, segue aqui um outro exemplo que permite seguir mais exatamente o
andamento da apuração e a elaboração da escala.
Uma fábrica de perfumes recebeu para um novo perfume 8 sugestões para um nome:
Rastro, Abat, High, Paris, Jasmin, Extase, Aho e Flower. Seguir aqui o resultado das
escolhas de um juiz pelo método de comparação por pares. Depois quando tem os
resultados de vários juizes estes resultados são tratados como no exemplo dos
compositores.
Tabela 30
Abat
1
x
1
1
1
1
1
1
High
1
0
x
1
0
0
0
0
Ordenação P
Z
1 Paris
1
2 Rastro
3 High
4 Jasmim
5 Extase
6 Flower
7 Aho
8 Abat
0.837
0.714
0.571
0.428
0.295
0.142
0
+que
2,58
+1.8
+0.58
+0.18
-0.18
-0.58
-1.08
-que
2.58
Escala
P
conversão
100
Rastro
Abat
High
Paris
Jasmim
Extase
Aho
Flower
Rastro
x
0
0
1
0
0
0
0
86
71
57
43
28
14
0
Paris
0
0
0
x
0
0
0
0
Jasmim
1
0
1
1
x
0
0
0
Extase
1
1
0
0
1
1
1
1
1
1
x
1
0
x
0
1
Aho Flower
1
6
0
0
1
5
1
7
1
4
1
3
0
1
x
2
Escolhas
sem Escala
com
conversão P-Z
100
71
61
53
47
39
29
0
O p é calculado pela fórmula E/n-1 ou as escolhas sobre um determinado estímulo
dividido podo número total de estímulos menos 1. A escala p é construída da mesma
maneira como foi vista na escala p dos compositores. O valor de z é obtido pela tabela e o
calculo para a escala com conversão p-z é o mesmo que usado para a escala p com a
diferença que a distância total entre os dois extremos em pontos z= 5,16 e os valores %
são somados a este valor e depois divididos por 5,16.
125
CAPÍTULO VII: Mensuração das Atitudes
Para completarmos nosso estudos dos métodos escalares tratados nesse manual
introdutório de Psicofísica, iremos nesse capítulo tecermos algumas palavras referentes à
mensuração de atitudes e sua aplicabilidade, seja em Psicologia industrial, seja em
Psicologia Social.
A administração empresarial tem mostrado crescente interesse pelas atitudes do
empregado. Este interesse se reflete no fato de muitas empresas realizarem
levantamentos de atitudes, providenciarem treinamento de “relações humanas” para os
supervisores, editarem jornais de empregados e tomarem outras medidas que tendem a
criar atitudes favoráveis nos trabalhadores.
Esta preocupação por parte da administração talvez possa ser atribuída, em parte, à
tendência geral para um maior reconhecimento das responsabilidades sociais da
industria. Pode ser atribuída, em parte, à crença de que os empregados com atitudes
favoráveis em relação à sua empresa são, em certa medida, “melhores” empregados,
mais produtivos ou com taxas de mobilidade mais baixas.
Antes de tratarmos da mensuração de atitudes, devemos precisar o conceito de atitude. O
termo atitude tem várias conotações, nós o usaremos no sentido definido por Krech e
Crutchfield (1971). Eles definem atitude como uma organização duradoura de processos
perceptuais, motivacionais, emocionais e de adaptação que se centralizam em algum
objeto do mundo pessoal. De maneira geral é um tipo de disposição mental. Representa
uma predisposição para formar certas opiniões. Em outras palavras, é o quadro de
referência que influência os pontos de vista ou opiniões do indivíduo sobre vários
assuntos e o seu comportamento.
Segundo Rodrigues (1972) as atitudes formam-se através da experiência, o que significa
que são adquiridas. Uma vez que uma pessoa tenha desenvolvido uma atitude específica,
pode ser-lhe difícil dizer como a adquiriu. De fato, se as atitudes de uma pessoa são
baseadas em considerações racionais e em dados reais, ou se tem uma forte influência
emocional, isto tudo não vai influir muito no efeito das atitudes no pensamento ou no
comportamento da pessoa. Em qualquer caso, o fator que afeta o comportamento é a
atitude, e não a sua consideração sobre ser ou não ser uma atitude racional.
Embora as atitudes das pessoas tendam a manter-se relativamente estáveis, podem ser
modificadas, pelo menos, até certo ponto. Uma vez que podem ser modificadas, é mais
vantajoso medi-las nessa situação, do que o seria se estivessem solidamente
cristalizadas.
1. Escalas de Atitude
1.1. Escala do tipo Thurstone
Um tipo de escala de atitude é a escala de Thurstone. Essa escala foi proposta por
Thurstone e Chave (1929), e pode ser usada para determinar a atitude geral dos
empregados para com sua empresa, pode ser usada em psicologia social para saber as
opiniões de inúmeros indivíduos sobre a igreja, ou em instituições psiquiátricas para saber
opiniões referentes ao doente mental.
126
Na elaboração de escalas de atitude por este método o primeiro passo é escrever um
grande número de afirmações, talvez cem ou mais, cada qual exprimindo pontos de vistas
diversos sobre o objeto atitudinal em relação ao qual se está construindo a escala.
Esforços deverão ser feitos para que essas afirmações traduzam todos os pontos de
vistas possíveis, desde os extremamente favoráveis aos inteiramente desfavoráveis. Na
construção da lista inicial de afirmações, segundo Thurstone e Chave (1966), diversos
critérios práticos devem ser aplicados no primeiro trabalho de seleção. Segundo estes
autores, alguns dos critérios importantes são os seguintes: (1) as afirmações devem ser
tão breves quanto possível, de forma a não fatigar os sujeitos quando eles são solicitados
a ler a lista completa; (2) as afirmações devem ser tais que elas possam ser aceitas ou
rejeitadas, de acordo com sua concordância ou discordância com a atitude do leitor.
Algumas afirmações em uma amostra casual devem ser expressas de forma que o leitor
não possa expressar nenhuma aceitação ou rejeição delas; (3) cada afirmação deve ser
tal que a aceitação ou rejeição indique alguma coisa em relação à atitude do leitor sobre o
problema em questão; (4) asserções com duplo sentido devem ser evitadas, pois
asserções com duplo sentido tendem a ter uma alta ambigüidade; (5) Deve-se assegurar
pelo menos uma maioria razoável das asserções realmente concernentes à variável
atitude que é para ser medida.
Exemplo ilustrativo - Descrição do exemplo:
Tabela - Algumas afirmações usadas para a mensuração da atitude dos empregados em
relação à sua empresa.
AFIRMAÇÕES
VALOR
ESCALA
- Sinto que faço parte desta organização.
10,72
- Posso sentir-me mais ou menos seguro no meu emprego enquanto 9,33
estiver fazendo bom trabalho.
- Geralmente, posso descobrir que posição ocupo perante meu 8,00
chefe.
- Em geral, a empresa nos trata como merecemos
7,60
- Penso que se deve ensinar a todos os empregados da empresa os 5,72
melhores métodos de trabalho.
- Até agora não consegui entender qual é a política de pessoal da 5,06
empresa.
- Nunca tive oportunidade de usar minha experiência no meu 4,18
trabalho.
- Nunca consegui descobrir que posição ocupo perante meu chefe.
3,77
Grande número de empregados sairiam daqui se pudessem 2,67
encontrar bons empregos em outro lugar.
- Penso que a política da empresa é pagar pouco aos empregados 0,80
para que eles peçam demissão.
DA
Cada afirmação é datilografada em folha separada e um arbitro (sujeito) é convidado a
distribuí-las por várias pilhas (geralmente 7,9,11), no nosso exemplo 11, classificando as
afirmações a partir daquelas que expressam juízo fortemente desfavoráveis (colocadas na
pilha 1 ou A) até as que expressam juízos mais favoráveis (colocadas nas últimas pilhas,
no caso 11 ou K).
Assim nesse exemplo cada sujeito recebe 11 cartões marcados com as seguintes letras,
A,B,C,D,E,F,G,H,I,J e K, e a sua tarefa é ordená-los à sua frete em ordem regular. Sobre
127
o cartão A deve colocar aquelas sentenças que ele acredita que expressam mais forte
depreciação à empresa. Sobre o cartão F, colocar aquelas que expressam uma posição
neutra, sobre o cartão K colocar as tiras que expressam a mais forte apreciação à
empresa. Sobre o resto dos cartões ordenar as sentenças de acordo com o grau de
apreciação (favorável) ou depreciação ( desfavorável) expresso por elas. Isto significa que
quando o sujeito tiver terminado, obter-se-á 11 pilhas organizadas em ordem do valor
estimado de A, o mais baixo, a K, o mais alto. Deve-se instruir ao sujeito para não tentar
colocar o mesmo número em cada pilha, pois elas não são igualmente distribuídas, e
ainda os números das tiras de papel, são números de código e não tem relação com a
organização das pilhas.
Vale dizer que muitos sujeitos (juizes) são usados neste processo, às vezes 100 ou mais.
Devemos dizer que esses juizes assistem a construção da escala. Não tem suas próprias
atitudes medidas. Só é possível medir atitudes com a escala quando ela estiver
totalmente terminada. A distribuição das afirmações nas diversas pilhas é parte do
processo de construção da escala.
A finalidade dessa distribuição é determinar os valores da escala para as várias
afirmações. Se todos os juizes tendem a colocar uma dada afirmação na extremidade
favorável do contínuo, podemos seguramente concluir que essa afirmação exprime uma
atitude favorável para com a empresa. Se a afirmação é, de modo geral colocada em
pilhas próximas da extremidade desfavorável do contínuo, podemos concluir, do mesmo
modo, que uma atitude desfavorável está implícita nessa afirmação. As pilhas são
numeradas desde a extremidade desfavorável até a extremidade favorável do contínuo.
Determina-se o número de vezes que cada afirmação é colocada em cada pilha, e se faz
um cálculo a fim de estabelecer a distribuição média da afirmação feita pelos juizes. Deste
cálculo o valor da escala para a afirmação é determinado, como se vê no exemplo da
tabela. Além disso, é feita também uma análise de consistência dos julgamentos para
cada afirmação. As informações colocadas por todos os juizes em uma categoria ou em
um número limitado de categorias são as que tem maior grau de estabilidade. As
afirmações distribuídas em várias categorias são eliminadas.
Na aplicação prática de uma escala de atitudes, tal método de empilhar pode ser
substituído por outro, onde se coloca se coloca uma escala de 11 pontos, com intervalos
iguais, e se pedem aos juizes que indiquem o grau de favorabilidade das afirmações,
marcando um x no lugar apropriado, tal como no exemplo abaixo:
|
totalmente
desfavorável
|
neutro
|
totalmente
favorável
Para ilustrar este método, verifica-se no exemplo abaixo em que este foi usado para
avaliação de uma escala de atitudes com relação ao doente mental. São dadas as
sentenças como abaixo:
128
“acho que o governo não deveria gastar dinheiro com o doente mental, pois ele é
incurável:
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
Se observa no contínuo acima, que o mesmo está dividido em 11 partes. É um contínuo
que oscila de um máximo de desfavorabilidade, passando por uma região neutra. A letra
A significa, caso seja, marcada com um x, que aquela sentença em si mesma, expressa
uma opinião altamente desfavorável ao doente mental.
A letra f, caso seja marcada com um x, significa que aquela sentença em si mesma
expressa uma opinião neutra em relação ao doente mental. A letra k caso seja marcada
com um x, significa que aquela sentença expressa uma opinião altamente favorável ao
doente mental.
Assim são representadas várias dessas sentenças que são avaliadas por vários juizes,
nesse contínuo. É importantíssimo notar-se que o que é pedido aos juizes é a avaliação
do grau de favorabilidade ou desfavorabilidade de cada afirmação em relação ao objeto
atitudinal, e não a sua posição em relação às afirmações.
Finalmente, construída a escala, ela é aplicada solicitando-se as pessoas que indiquem
os itens com os quais elas concordam, ou que acreditam certas. As informações são
apresentadas de forma desordenadas e sem os valores escalares dos itens assinalados,
tal como aparecem na tabela. A média ou mediana dos valores escalares dos itens
assinalados será o escore indicativo da atitude desta pessoa em relação ao objeto de
julgamento considerado. No nosso exemplo da tabela, vemos que a atitude de um
empregado para com a empresa é geralmente definida como o valor médio ou mediano
da escala das afirmações 1, 3 e 5 daquelas vistas na tabela , teria um resultado em
atitude de:
10,72 + 8,00 + 5,72 : 3 = 8,15
Numa escala de 11 pontos ( sendo 11 a extremidade mais favorável) uma atitude de 8,15
estaria algo mais próxima da extremidade favorável da escala. Por outro lado, um
empregado que anotasse as informações 7,8 e 10 teria um resultado em atitude
representado por:
4,18 + 3,77 + 0,80 : 3 = 2,92
Esta última atitude, comparada à primeira acima, é muito menos favorável a empresa.
Assim, esses dois modelos de apresentação da escala de atitudes, seja por pilhas, seja
por marcação em um contínuo, podem ser colocados em questão de os sujeitos indicarem
os itens com os quais eles concordam ou acreditam sejam certas. A aplicação dessa
escala dentro da indústria se torna imprescindível, visto que pode permitir à empresa
medir a eficiência dos esforços sistemáticos dessa empresa em particular para melhorar o
moral do empregado.
129
QUESTIONÁRIO SOBRE A PSICOLOGIA SENSORIAL - MUELLER pg 9 a 35
Porque os físicos estão no início da história da psicologia sensorial?
Quais foram estes físicos e qual sua área de contribuição para a psicologia sensorial?
Quais as fases no desenvolvimento da explicação da visão?
O que se entende por hipótese de emanação e por que surgiu?
Qual a importância de Kepler par a psicologia sensorial?
O que levou a maior objetividade no estudo da luz e do som?
Quais as duas novas linhas de pesquisa que daí resultaram, e qual é historicamente a
relação entre estas duas linhas?
Como é considerado o uso da palavra falada ou psicofísica?
O que quer dizer a reação, próximo do limiar, é uma questão probabilística.
Quais os fatores que influenciam a sensibilidade (absoluta)?
Explique como foram obtidas e qual o significado das curvas na fig 2.
Discuta a relação entre as curvas de visibilidade e as curvas dos limiares absolutos.
Qual a diferença entre as unidades radiométricas e as unidades de energia luminosas?
Porque duas fontes luminosas que possui a mesma energia não emitem necessariamente
a mesma energia luminosa?
Quais as duas modalidades de adaptação, podem ser reduzidas a uma só?
Qual o processo usado para medir os fenômenos da adaptação?
Explique a construção da curva de adaptação ao escuro e discuta o seu significado, e
procure descobrir qual o motivo provável para a rápida mudança nesta curva.
Quais os tipos de características do procedimento experimental de que dependem a
amplitude e o perfil da curva de adaptação ao escuro?
Explique as curvas da Figura 6 e qual a conclusão que delas se pode tirar.
O mesmo para as curvas da Figura 7.
Quais as diferenças e semelhanças entre a adaptação ao escuro e a luz?
Quais as três importantes características do estímulo de teste que influenciam o valor do
limiar absoluto visual?
130
Como foram obtidas as curvas da Figura 8 e qual o seu significado?
Como reza a lei de Bunsen-Roscoc e quais suas aplicações práticas?
Até que ponto a lei de Weber- Fechner é válida para a discriminação de intensidade
luminosa e como isto é verificado?
Quais os fatores que influenciam no acuidade visual?
Explique a Figura 12.
Qual a diferença entre a mínima acuidade visual (detectável) e a mínima acuidade
separável, e como ambas são medidas?
O que se entende por capacidade de resolução temporal e espacial?
Quais as conclusões que podem ser tiradas das curvas da Figura 14.
131
PARTE III A TEORIA DA DETECÇÃO DE SINAL (Kling&Riggs, 1971)
CAPÍTULO VIII - Conceitos básicos sobre o limiar
1. Conceito clássico de limiar
Todos os métodos clássicos apresentados se baseiam sobre a seguinte teoria geral a
respeito da natureza do limiar. Um estímulo que atinge um receptor dá inicio a uma cadeia
de impulsos que produzem um efeito nos centros cerebrais. O tamanho deste efeito
central varia conforme a força do estímulo, a sensibilidade do receptor, a eficiência das
vias de transmissão e o nível básico da atividade do centro. Se o efeito numa determinada
tentativa é maior que um certo mínimo, o centro emitirá um impulso e leva a uma
resposta, por exemplo, sim, percebo o estímulo que produz esse efeito representa o limiar
instantâneo.
O complexo de fatores apresentado acima produz uma variação ao acaso, de tentativa
em tentativa, resultando numa distribuição ao acaso de limiares instantâneos. A hipótese
phi-gama supõe que a distribuição normal acumulativa representará bem a função obtida
quando a probabilidade de detecção é colocada num gráfico na ordenada e a magnitude
de estímulo na abcissa. Esta curva é semelhante a curva apresentada na Figura 10, e de
acordo com Guilford (1954) os termos phi e gama se referem respectivamente às
variáveis de estímulo e de resposta na psicofísica clássica.
Thurstone (1928) mostrou que sendo que ∆s aumenta como uma função de s como na lei
de Weber ou uma função semelhante, a função psicométrica deveria Ter uma inclinação
positiva e o grau de inclinação deveria ser inversamente proporcional a razão ∆s/s.
colocando num gráfico a probabilidade de detecção como uma função da magnitude do s
normalizaria a função psicométrica, e isto é conhecido como a hipótese philog-gamma
(fig. 10). Sendo que a quantidade de estímulos nestes experimentos é pequena
conseqüentemente se torna difícil de distinguir empiricamente as duas hipóteses, mesmo
que existe evidência que Thurstone está com a razão. Em outras palavras, colocando
num gráfico p (probabilidade de detecção) como uma função s (aumento de intensidade
de s) ou de log s dará praticamente as mesmas ogivas.
Voltando para a teoria geral, a média da distribuição dos limiares instantâneos,
corresponde ao valor do limiar de s. Os diversos métodos psicofísicos descritos acima são
simplesmente diferentes maneiras para obter e tratar os dados para medir seu valor típico
(médio) e sua variação. O que foi dito se refere ao limiar absoluto, porém a mesma linha
de pensamento foi aplicado ao limiar diferencial de que se supõe que esteja relacionado
com a distribuição de diferenças em excitação entre dois estímulos sp e sc. Esta teoria de
variabilidade do limiar tem sido aceita de uma forma ou de outra desde os tempos dos
psicofísicos clássicos ( Fullerton&Cattel, 1892; Boring, 1917; Guilford, 1927).
Aparentemente esta teoria não criava problema enquanto se aceitava que o impulso
nervoso funcionava como uma corrente comum num circuito, aumentando ou diminuindo
sua intensidade como reflexo das mudanças de estímulo.
2. A Hipótese dos Quanta
Sendo que as pesquisas neurofisiológicas demonstraram que o impulso nervoso obedece
à lei de tudo ou nada, parecia óbvio colocar a questão: “ A discriminação é realmente
132
gradativa”? Suponha por exemplo, que um breve estímulo de tato é exatamente
suficientemente intenso para provocar a emissão de 10 impulsos; um aumento gradativo
na intensidade do s não aumentaria a intensidade da sensação até que o estímulo seria
suficientemente intenso para eliciar 11 impulsos, em conseqüência do qual o sujeito
sentiria um certo aumento limitado na sensação tátil. (Esta teoria se aplica à
discriminação e ao L.D., mas não a detecção e L.A., pois a sensibilidade geral do sistema
receptor supõe-se ser contínua).
Poderia-se supor que estes aumentos discretos, relativamente pequenos não seriam
rapidamente evidentes por causa da variabilidade do sistema receptor e da falta de
controle experimental das condições que afetam o sujeito. Apesar disto, Von Békésy
mostrou em 1930 certa evidência para tais aumentos no limiar auditivo quando reduziu ao
mínimo a variabilidade treinando o sujeito na observação de uma mudança particular de
um s de curta duração. Da mesma forma, cada estímulo foi julgado diversas vezes em
sucessão em vez de uma seqüência ao acaso, como no método dos estímulos
constantes, para evitar as variações dentro do sujeito que poderiam afetar a função
psicométrica.
A função psicométrica quântica é o resultado deste trabalho e possui três características
distintas:
A probabilidade de detecção é uma função linear da magnitude do estímulo;
A inclinação da curva é inversamente proporcional com o intercepto ( segmento de reta
entre duas retas que o interceptam).
O aumento do s que é apenas suficiente para alcançar a probabilidade de detecção de
1,0 é duas vezes maior que o s que é exatamente suficiente baixo para alcançar uma
probabilidade de detecção de 0.
A Figura 10 esquematiza as hipóteses phi-gamma, phi-log-gamma e a hipótese quântica e
ilustra por que tem sido difícil de obter dados que apoiariam uma hipótese e rejeitará as
outras duas. As predições feitas na base destas hipóteses são semelhantes e a técnica
estatística apropriada para testar a fidedignidade da função psicométrica ainda não foi
encontrada (Corso,1956).
133
Figura 10: Representação esquemática de resultados esperados conforme as diversas
hipóteses a respeito da forma da função psicométrica. A probabilidade é colocada com
uma função das diferenças de estímulo.
É claro que a hipótese quântica, até mais do que as outras hipóteses mencionadas,
requer que o sujeito no estudo de tais problemas psicológicos sensoriais é apenas mais
uma parte válida e fidedigna do aparelho de medição. No entanto como afirma Stevens
(1961, pg 813) “ A diferença entre um observador humano e um elétron é que o
observador humano é humano. A qualquer momento ele pode não estar com sua atenção
dirigida para o seu trabalho e com isto estragar o experimento”.
3. Comentários gerais sobre a psicofísica clássica
Tem se obtido uma boa quantidade de informações úteis através da aplicação dos
métodos clássicos no estudo da sensação e da percepção. Todavia os psicofísicos, desde
muito tempo, tem sido conscientes de certos fatores causadores de vias ( conforme
Guilford, 1954) que devem ser levados em consideração quando se usa o limiar para
avaliar a acuidade da percepção. A psicofísica clássica procurou eliminar os viesses:
Através de sua eliminação pelo plano experimental por exemplo através de contra
balanceamento.
Supondo, por exemplo que a fadiga e a prática se equilibrarão uma a outra numa série de
julgamentos psicofísicos.
Pela correção de julgamentos. Uma fórmula comum para obter a proporção de
julgamentos corrigidos das adivinhações ou que geralmente é chamado “falso alarme” é
P = Proporção de acertos – proporção de falsos alarmes : 1 – proporção de falsos
alarmes na qual p é a proporção corrigida; “acertos” se referem aos julgamentos corretos
na presença de um estímulo ou diferença de um estímulo; falso alarme significa que o
sujeito afirma incorretamente que o estímulo está presente numa chamada tentativa
armadilha ou lacuna. Esta fórmula supõe, que pode ser demonstrado por sua
recomposição que a proporção de acertos é uma função linear da proporção de falsos
alarmes obtidos, por exemplo, num experimento com o método de estímulos constantes.
A Figura 11 mostra a proporção de acertos e de falsos alarmes.
134
Figura 11 relação hipotética entre a proporção de acertos e de falsos alarmes (falsos
positivos) na teoria psicofísica clássica. A probabilidade que o sujeito responda sim
quando um certo estímulo s1 realmente é apresentado (p sim /s1) é colocado no gráfico
na ordenada contra a probabilidade de que ele responda sim numa lacuna ou tentativa
armadilha (psim /lacuna).
135
CAPÍTULO IX: O Modelo de Análise de Decisão Aplicado ao Limiar Psicofísico
A principal contribuição empírica à psicofísica pela Teoria de Detecção de Sinais (TDS),
que originalmente foi desenvolvida para resolver problemas na comunicação através de
rádio, telefone e radar (cfr Swets, Tanner e Birdsall, 1961) tem sido que a suposição
mostrada em Figura 11 é falsa. A psicofísica clássica com seus sujeitos cuidadosamente
treinados, normalmente não obteve proporções suficientemente grandes de falsos
alarmes para testar bem esta suposição. A teoria moderna de detecção crítica este
treinamento dos sujeitos em dois pontos:
1. isto força o sujeito a admitir que existe um verdadeiro limiar sensorial;
2. de acordo com isto o sujeito tende a estabelecer critérios altos para dizer “sim” e
portanto ter valores altos de L.A.
A teoria moderna supõe que não existe um ponto fixo para “sim, percebo” e “não, não
percebo”, e portanto não há um critério fixo. Por exemplo, o critério de um sujeito de antes
dizer “não” do que “sim” pode variar dependendo do fato de ele achar que um estímulo vai
ser apresentado ou não. Para obter uma proporção mais alto de acertos o sujeito deve,
mais ou menos deliberadamente, abaixar seu critério para dizer “sim” e isto significa
também que ele está disposto a aumentar sua proporção de falsos alarmes. Comparando,
a psicofísica clássica supõe que proporções aumentadas de acertos e falsos alarmes
dependem das respostas “sim” do sujeito num grande número de tentativas que ele de
alguma maneira seleciona ao acaso ou por adivinhação, porém que apesar disto existe de
fato um limiar sensorial real. A teoria de detecção não supõe um limiar sensorial e enfatiza
mais o aspecto de julgamento do que o aspecto sensorial do experimento psicofísico. Por
isto ela acentua a relação entre dois tipos de respostas: acertos e falsos alarmes, em vez
da relação entre estímulo e resposta. O efeito sensorial de um estímulo é contínuo e não
discreto, e o fato de resultar ou não uma resposta “sim” depende”:
1. do efeito do estímulo em relação ao efeito do ruído no mesmo contínuo sensorial;
2. do que o sujeito espera na situação;
3. a conseqüência potencial de sua decisão.
A conseqüência deste ponto de vista é a tendência na teoria de detecção psicofísica de
trabalhar somente com alguns e muitas vezes com um só valor de estímulo em vez de
séries de estímulos. A questão não é que a magnitude do estímulo não tem importância,
mas antes que o efeito do estímulo deve ser avaliado em relação a dois tipos de vias de
resposta.
136
Tabela 32 Quadro geral de alternativas de respostas em duas situações de estímulo e
duas situações de respostas.
Não
RESPOSTAS Sim
PRESENTE Acerto
Omissão
ESTÍMULO AUSENTE
Falso Alarme Rejeição Correta
Tabela 32 mostra as diversas alternativas de estímulo e respostas num típico experimento
“sim-não” com um só estímulo. É semelhante a uma tentativa no método dos limites ou de
estímulos constantes quando o sujeito deve julgar o efeito de S ou DS, mas se usam
freqüentemente as lacunas e os pares idênticos. Conforme um esquema randômica
predeterminado S ou DS está presente em algumas tentativas e em outras não e se pede
ao sujeito julgar quando de fato o estímulo estava presente ou ausente durante cada
tentativa: um intervalo de tempo indicado por um sinal ( por exemplo uma luz num
experimento sobre audição ).
RESPOSTAS
Sim Não
PRESENTE 50% 50%
ESTÍMULO
AUSENTE 0% 100%
A tabela 33 mostra os 4 eventos possíveis neste experimento. Suponhamos que um valor
de limiar foi obtido pelo método dos limites e que um valor físico é usado no nosso
experimento de detecção. Este estímulo seria apresentado um grande número de vezes
intercaladas com um número igual de lacunas numa seqüência randômica. Pelo menos
algumas centenas de tentativas devem ser exigidas para obter resultados estáveis. De
acordo com a teoria clássica poderia se esperar algo bem semelhante às probabilidades
mostradas na tabela 33.
RESPOSTAS
Sim Não
PRESENTE 66% 34%
ESTÍMULO
AUSENTE 36% 64%
No entanto a tabela 34 mostra os resultados que de fato foram obtidos num tal
experimento em que a tarefa do sujeito consistia em julgar a presença de “açúcar” (sim)
ou “água pura” (não) (Engen, Bartoshuk e McBurney, 1964, não publicado. O estímulo foi
uma solução de 0,225% (peso/volume) de sacarina em água destilada, ao acaso
intercalando a apresentação de água destilada, e ambas foram provadas de cálices
conforme procedimento semelhante aqueles usados por Linker, Moore e Galanter (1964).
As proporções são baseadas em 60 tentativas com uma enxaguadura de água e um
intervalo entre as tentativas de 30 segundos ( Maiores detalhes a respeito do experimento
são dados depois) . Estes resultados indicam que o estímulo estava acima do limiar de
50% do sujeito e que a concentração teria que ser reduzida para obter proporções iguais
de “sim” e “não” mas isto é um problema menor. O que não era esperado foi a proporção
relativamente alta de falsos alarmes (36%) de “sim” quando o sinal estava ausente. Isto
quer dizer que existe uma forte tendência do sujeito de chamar água destilada de
“açúcar”. Tais resultados dificilmente poderiam ter sido obtidos na psicofísica clássica pela
razão simples que de maneira nenhuma não usava tantas “lacunas” como foram usadas
neste experimento de detecção e por isto não podia das resultados para provar o viés das
respostas. Os presentes dados, evidentemente, foram obtidos num experimento no qual
137
se exige um julgamento difícil e o sujeito não estava treinado em psicofísica, enquanto
uma parte importante da psicofísica clássica era o treinamento dos sujeitos.
Seja como for e sem saber por quais meios estes viesses são reduzidos, pode se
argumentar que eles estão sendo influenciados pela manipulação do critério do sujeito
para dizer “sim” contra dizer “não” e que a teoria psicofísica clássica implicitamente
promove um critério alto e portanto altos valores limiares.
Os falsos alarmes podem ser reduzidos aumentando a intensidade do estímulo exigido
antes que o sujeito está suficientemente certo para dizer “sim”, mas o problema é que
está difícil de mudar as proporções de falsos alarmes independentemente das proporções
dos acertos. De fato, os experimentos tendem a mostrar que a proporção de acertos é
uma função da proporção dos falsos alarmes. Basicamente a contribuição da teoria de
detecção para a psicofísica é a determinação da relação psicofísica S-R num quadro de
referência teórico baseado numa função chamado uma curva característica do recebedor
em operação (receiver-operating-characteristic ROC) ou uma função de isosensibilidade.
Estes termos ficarão mais claros ao desenvolver a teoria. Somente precisa-se de dois dos
valores do nosso matriz de estímulos e resposta para esta função, pois quando os acertos
e falsos alarmes são conhecidos nesta situação binária, as omissões e rejeições corretas
estão determinadas. Consideremos primeiro o tratamento de viesses da resposta.
1. Viés relacionado com a expectativa do sujeito a respeito da probabilidade de S
Duas formas de viés formam a base empírica para a teoria de detecção em psicofísica.
Uma delas se refere à expectativa do sujeito que o estímulo estará presente numa
determinada tentativa, e esta expectativa será reforçada pelas instruções dadas pelo
experimentador, pelo conhecimento anterior do sujeito a respeito do experimentador e por
sua experiência durante o experimento.
Um exemplo simples poderá demonstrar o efeito da expectativa a respeito da
probabilidade da apresentação do estímulo. Suponhamos que em vez de apresentar o
estímulo em 50% e as lacunas em 50% das tentativas da mesma maneira como acima, o
experimentador apresenta o estímulo em 90% e as lacunas em 10% das tentativas.
Depois de alguma experiência o sujeito tende a contar com o estímulo em muitas
tentativas e desta maneira está inclinado a dizer ‘sim” muito mais freqüentemente do que
na condição de 50% para 50% como acima. Esta situação é muito semelhante aos
procedimentos usados na psicofísica clássica com umas poucas lacunas, se tiver. Os
resultados por Linker e outros (1964) mostram exatamente neste experimento uma alta
proporção de acertos, mais ou menos 0,94 e uma alta proporção de falsos alarmes, mais
ou menos 0,77 como mostra a tabela 35.
RESPOSTAS
Sim Não
PRESENTE 0.94 0.06
ESTÍMULO
AUSENTE 0.77 0.23
Em outras palavras, a tendência de dizer “sim” depende pelo menos parcialmente da
probabilidade de que o estímulo será apresentado, e em adição existe o fato importante
que as proporções de acertos e falsos alarmes estão relacionados, e é esta relação que
define a curva de isosensibilidade.
138
Mais um exemplo de Linker e outros pode ser suficiente para tornar isto bem claro. Neste
caso o estímulo foi apresentado em apenas 10% e as lacunas em 90% das tentativas.
Como a tabela 36 mostra isto dá como resultado proporções baixas tanto para os acertos
como para os falsos alarmes, pois nesta condição o sujeito provavelmente espera uma
lacuna, ou água pura neste caso, em cada tentativa. Não se pode dizer que o estímulo
não tem importância , mas o problema é que este estímulo é muito fraco e em psicologia
não é incomum que viesse de respostas ou predisposição são mais evidentes quando a
situação é ambígua. Em outra palavras, a relação mais fidedigna S -R começa a vacilar
quando o estímulo é reduzido para um nível no qual o sujeito é incapaz de detectá-lo
(pelo menos ocasionalmente). Linker e outros (1964) exploraram este problema de
expectativa sistematicamente com muitas probabilidades diferentes da apresentação do
estímulo e os resultados mostrados na Figura 12 são tirados de sua publicação.
RESPOSTAS
Sim Não
PRESENTE 0.24 0.76
ESTÍMULO
AUSENTE 0.06 0.94
A curva traçada a olho através de dados representa uma função de isosensibilidade. Isto
significa que diferentes pontos na curva refletiam a mesma sensibilidade, pois os pontos
experimentais foram obtidos com o mesmo estímulo mas sob diferentes condições de viés
de resposta. É importante ter na mente que isto não é absolutamente a relação S - R
psicofísica padrão, mas se trata de uma relação R - R com duas variáveis dependentes
colocadas nas coordenadas e até certo ponto mais puramente psicológica do que
psicofísica. Por esta razão a sensibilidade não pode ser definida em termos de, por
exemplo, a colocação de alguns pontos sobre uma dimensão de estímulo, mas em vez
disto será exigida uma abordagem menos direta e mais teórica.
139
2. O Viés relacionado com os efeitos de reforços e de punições
Antes de discutir esta teoria, o efeito das conseqüências da decisão do sujeito será
mostrado em termos de perdas e ganhos, de estrutura do resultado, de matriz de
recompensas, ou o que de maneira mais geral possa ser chamado o efeito da motivação
sobre os julgamentos psicofísicos. Parece razoável supor que é mais provável que uma
pessoa faz certos erros de julgamentos ou falhas, mais do que outros, dependente das
conseqüências que estão envolvidas; por exemplo, procurando detectar um inimigo se
deseja antes de tudo maximizar o número de falhas, uma vez falsos alarmes e rejeições
corretas tem poucas conseqüências. Tais situações podem ser imitadas por matrizes de
recompensa de perdas e ganhos no nosso experimento de “sim” ou “não”.
Tabela 37
RESPOSTAS
Sim Não
PRESENTE +10c -10c
ESTÍMULO
AUSENTE -10c +10c
Tabela 38
RESPOSTAS
Sim Não
PRESENTE +2.00 -10c
ESTÍMULO
AUSENTE -10c +10c
Tabela 39
RESPOSTAS
Sim Não
PRESENTE +10c -10c
ESTÍMULO
AUSENTE -10c +2.00
Tabela 37 mostra uma matriz simétrica de recompensa na qual o sujeito deve 10centavos
para cada erro e onde ele recebe 10 centavos para cada julgamento correto. O que se
refere aos viesses, esta situação seria mais ou menos análoga a uma probabilidade de
apresentação do estímulo de 0,50.
Tabela 38 é uma matriz assimétrica que paga ao sujeito generosamente 2,00 para os
acertos, porém apenas 10 centavos para omissão e falsos alarmes. Poderia se esperar
que tais recompensas levassem à tendência de dizer “sim” com probabilidade
condicionalmente muito altas tanto para os acertos como para os falsos alarmes,
analogamente à probabilidade de uma apresentação do estímulo de 0,90.
140
Tabela 39 mostra uma outra matriz assimétrica de recompensa que dá um pagamento
maior para rejeições corretas e menor para acertos, erros e falsos alarmes e da qual se
poderia esperar que encorajasse o sujeito para dizer antes “não” do que “sim”, com uma
proporção relativamente baixo de acertos e falsos alarmes, análogo à probabilidade de
uma baixa apresentação do estímulo (0,10). Se o mesmo estímulo de cima é usado com
uma probabilidade de apresentação de estímulo de 0,50 e aplicado nas 3 matrizes que
mostramos, pode se obter uma função de isosensibilidade como está esquematizada na
Figura 13. De novo a proporção de acertos do sujeito tem sido manipulado num
experimento de psicofísica sem variar a magnitude do estímulo.
Até aqui dois caminhos foram apresentados através dos quais isto poderia ser feito e tem
de ser frisado que a magnitude do S é mantida constante os resultados cairão na mesma
função de isosensibilidade seja que os resultados provinham de experimentos em
probabilidade de estímulo seja de experimentos com recompensa.
A Figura 14 mostra parte de um experimento feito por Galanter e Holman (1967) para um
sujeito cuja tarefa era observar a diferenciação entre um par de tons. As probabilidades
de apresentação eram 0,1; 0,3; 0,5; 0,7 e 0,9 e as matrizes de recompensa envolviam
perdas e ganhos de 10c, 15c e 25c acumulados sobre um total de mais ou menos 10.000
tentativas seguidas a um treinamento cuidadoso preliminar do sujeito. Instruções
diferentes dadas para provocar vários viesses produziam também resultados consistentes
com esta função de isosensibilidade.
Figura 14 pag 187
É levado em consideração estes viesses psicológicos que o efeito dos estímulo deve ser
avaliado. Como isto é feito na teoria da detecção do sinal vamos ver no seguinte capítulo.
141
De modo geral deve se ter em mente que esta teoria faz parte de uma teoria estatística de
decisão mais genética e que concebe a tarefa do sujeito como uma de testar hipóteses.
3. A distribuição hipotética dos eventos sensoriais
Comumente se supõe, embora não seja necessário, que os eventos sensoriais
resultantes da apresentação sucessiva do mesmo estímulo estão normalmente
distribuídas, uma suposição semelhante à dispersão discriminativa de Thurstone. Esta
dimensão sensorial hipotética subjacente não pode ser observada diretamente e é neste
ponto se temos que localizar nossa medida de sensibilidade relacionando-a com a
magnitude do estímulo.
Além disto, a teoria supõe também que o ruído sempre esteja presente como uma parte
inerente do experimento psicológico por causa dos eventos externos, da variabilidade da
fonte de estímulos, dos impulsos neurais espontâneos, ou pode ser introduzido
deliberadamente pelo experimentador. Esse ruído pode ter um efeito no mesmo contínuo
sensorial hipotético, e qualquer que seja a fonte, seu efeito sensorial não poderá ser
distinguido do efeito do estímulo.
Trata-se de um problema da razão entre o sinal e o ruído. Supõe-se que os efeitos
sensoriais do ruído e do estímulo mais o ruído produzem uma função de distribuição
normal e uma função de densidade gaussiana, como mostra a Figura 15.
A teoria supõe que o observador saiba, de alguma forma, (provavelmente através de sua
experiência com o estímulo constante) que o efeito sensorial é influenciado por ruído e
conseqüentemente irá variar.)
Sua observação é considerada análoga a uma amostra estatística e o seu sim e não,
portanto não significam realmente que ele de fato percebeu ou não percebeu o estímulo,
mas que ele prefere ou não prefere a decisão que o estímulo foi apresentado com base
na informação recebida na tentativa. Em outras palavras, em cada tentativa existe um
evento sensorial devido ao estímulo mais o ruído (sn) ou ao ruído sozinho (n), e o
observador deve decidir qual do dois o produziu o sn ou o n.
Embora se tenha notado que os viesses das respostas influenciarão sua decisão, o efeito
do estímulo deve deslocar o efeito sensorial daquele produzido pelo n sozinho na direção
e na proporção de sua magnitude, como mostra a fig 15. Ambos n e sn, levam a um efeito
continuamente variável sobre o contínuo sensorial subjacente e produzem uma função de
densidade, na qual a altura da curva indica a freqüência relativa de uma certa magnitude
sensorial na abcissa.
4. A razão de verossemelhança (Likelihood Ratio)
Quaisquer que sejam os atributos subjetivos (gustação, audição, etc.) e a complexidade
do estímulo (sons puros versus apresentação de música) supõe se que o observador
possa e de fato designe probabilidade condicionais a cada evento sensorial (isto é, a
probabilidade de que o efeito surja de um SN, e a probabilidade de que surja de um N, e,
conseqüentemente, que cada observação possa ser tratada como um evento dentro da
142
teoria de probabilidade. Supondo as distribuições mostradas na Figura 15., a razão de
verossemelhança é a probabilidade de que um efeito sensorial particular, S1, foi
produzido por um estímulo mais ruído, Ps1/SN, em relação com a probabilidade de que
foi produzido por ruído somente, Ps1/N.
Teoricamente, portanto, o contínuo sensorial subjacente mostrado na Figura 15 é
transportado para um contínuo da razão de verossemelhança, onde o critério do
observador é representado por uma razão de verossemelhança particular que é um ponto
do eixo e que o divide em dois.
Supõe-se que o observador, geralmente, responderá “Sim”, se sua observação na
tentativa estivesse à direita desse ponto e “Não” se sua observação estivesse à esquerda
desse ponto. Já foi mostrado que o critério do observador é influenciado 1) pela
probabilidade de apresentação do estímulo e 2) pelas recompensas. Porém pode se
perguntar como é que o observador combina numa regra de decisão a informação
disponível para ele antes de uma tentativa com a informação obtida numa tentativa
particular?
De acordo com a teoria, dado um certo evento sensorial S1, o observador poderá
computar os palpites a favor daquele evento que surgiu do SN (isto é, a probabilidade a
posteriori) de acordo com a seguinte razão:
P(SN/s1) = P(SN) . P(s1/SN) na qual:
P(N/s1)
P(N)
P(s1/N)
s1= o evento sensorial dentro da pessoa.
P(SN/s1) / P (N/s1) = a razão das probabilidades a posteriori e representa a probabilidade
de que s1, surja de um SN, depois de observar s1, e conhecendo a probabilidade de
receber uma tentativa SN.
P(SN) / P(N) = a razão das probabilidades a priori à apresentação SN e N, conhecidos
antes de s1.
143
P(s1/SN) / P(s1/N) = a razão de verossemelhança, que é a probabilidade
(verossemelhança) do que surja de N.
Essa expressão sumariza toda a informação disponível ao observador e que é usada para
formar as regras de decisão. Para maximizar o número de decisões corretas o observador
deveria responder “Sim” (o evento sensorial foi produzido por SN) se a razão das
probabilidades a posteriori fosse maior do que 1, e deveria responder “Não” se fosse
menor do que 1.
Se as probabilidades a priori forem conhecidas, a regra de decisão poderá ser
estabelecida em termos de um critério da razão de verossemelhança.
Por exemplo, se P(SN), a probabilidade da apresentação o estímulo, for 0,50, então
conseqüentemente a razão das probabilidades a priori é P(SN) / P(N) = 0,50/0,50 = 1,0 e
a razão de verossemelhança é a mesma que a razão das probabilidades a posteriori. O
valor da razão de verossemelhança também é 1,0.
Contudo, se P(SN) = 0,80 a razão a priori é 0,80 / 0,20 = 4,0.
Nesse caso, a razão a posteriori é P (SN/s1) / P(N/s1) = 0,80 / 0,20 . P(s1/SN) / P(s1/N) o
último termo sendo a razão de verossemelhança. Se a razão de verossemelhança
exceder 0,25 então está claro que a razão a posteriori excederá a unidade, assim o
observador responde “sim” quando a razão de verossemelhança for maior do que 0,25 e
“Não” quando for menor que 0,25. A razão da verossemelhança, então, tem um valor
numérico que é diferente de zero, representado no eixo da decisão, que por sua vez é a
transformação do eixo sensorial, esquematizado na Figura 15.
O critério ou a regra de decisão é portanto determinado:
pela probabilidade de apresentação do estímulo,
pelos valores dos resultados da decisão do observador.
pela magnitude do estímulo.
O observador poderá tentar alcançar qualquer número de diferentes alvos numa situação
de detecção, mas o critério da razão de verossemelhança poderá ser calculada para
maximizar qualquer alvo (objetivo). Na teoria, o critério do observador pode ser
comparado com aquele de um observador ideal, que é uma abstração matemática,
referente ao desempenho máximo, computado para condições experimentais pela
determinação do critério de verossemelhança que irá maximizar as recompensas para os
valores médios ou conhecidos da matriz de recompensas ponderadas pelas
probabilidades conhecidas ou esperadas da apresentação do estímulo.
Quando se trata de um observador real isto poderá ser uma tarefa difícil e mesmo
impossível, exigindo uma grande prática e uma grande compreensão. Este problema
indica que a psicofísica e a psicologia da aprendizagem podem tornar-se mais
relacionadas (Atkinson, 1961).
Mesmo que comumente haja a tendência geral de se dizer “Sim” nas tentativas durante as
quais o estímulo for apresentado e “Não” quando este não o é, existe também na teoria
144
da detecção a noção do desempenho de uma maneira ótima, com respeito à matriz de
recompensas particular e a probabilidade de apresentação do estímulo.
Presumivelmente, o observador traduz a resposta sensorial numa razão de
verossemelhança e a partir daí compara essa razão com o critério estabelecido nesse
contínuo, porém nenhuma afirmação geral poderá ser feito com relação a “como” isto foi
feito. Contudo pode se fazer uma comparação entre 1) o critério otimal determinado
teoricamente, e 2) o critério do observador, conforme é determinado por seu
desempenho. Três desses critérios são ilustrados na Figura 16.
Esses 3 pares de distribuição poderiam ser provenientes da mesma magnitude de
estímulo para as probabilidades de apresentação de 0,10; 0,50 e 0,90 ou as três matrizes
de recompensas ilustradas nas tabelas 34, 35 e 36.
Esses permitiram fixar pontos que caíssem na mesma curava de isosensibilidade, por
exemplo, Figura 13, que é obtida por critérios diferentes, conforme representados
teoricamente na Figura 16.
As curvas também mostram as proporções correspondentes a alarmes falsos e acertos,
os quais naturalmente são determinados empiricamente e que definem os valores nas
coordenadas da curva de isosensibilidade.
5. O efeito da magnitude do estímulo O Limiar Diferencial
O efeito de um estímulo constante é que o efeito sensorial total se desloca em relação à
distribuição de ruído, gerando assim duas distribuições teóricas: N e SN. Supondo que
ambas distribuições sejam normais e tenham variâncias iguais, a diferença entre as suas
medias, dividida pelo desvio padrão da distribuição para N, fornece um parâmetro d’, ou :
d’ = MSN - MN (grau de acuidade perceptiva).
sN
145
Isto é um índice da sensibilidade do observador, que é independente do critério, e por isto
também independente das recompensas (motivação), das probabilidades de
apresentação do estímulo, e das instruções.
O valor de d’ pode ser avaliado pela conversão das proporções experimentais obtidas
para as notas Z e pela subtração das notas Z, correspondentes nos falsos alarmes
(conforme o índice de critério do observador) do ponto Z, correspondente aos acertos.
No “observador ideal” teórico, o d’ se relaciona linearmente com a medida comum do
estímulo e a intensidade do ruído e os observadores “real” e “ideal” podem ser
comparados (ver Green e Swets, 1966, chap.6). Elliot (1964) forneceu tabelas para o
experimento de detecção de tal forma que d’ possa ser examinado diretamente pelas
médias dos valores de probabilidade dos acertos e falsos alarmes.
O procedimento é ilustrado na tabela 40. Com dados das probabilidades de apresentação
de estímulo, apresentados nas tabelas 34, 35, 36.
Tabela Pag194
Esses valores de d’ são muito semelhantes e indicam mais ou menos a mesma
sensibilidade dos observadores, o que é compreensível sendo que o mesmo estímulo foi
usado em todos os três casos. Uma vez que os valores p para os acertos são muito
diferentes, os psicofísicos clássicos poderiam portanto ter concluído que estas diferenças
tinham sido produzidas por diferenças individuais ou variabilidade de sensibilidade,
quando a verdadeira origem do problema pode estar no critério do observador. De
maneira semelhante a TDS foi capaz de mostrar acordos nos resultados de diferentes
métodos psicofísicos, tais como o presente método, o da classificação e o da escolha
forçada (ver Green & Swets, 1966).
Se d’ mede de fato a sensibilidade ele deveria variar como uma função da magnitude do
estímulo, como mostra a Figura 17.
A Figura 19 mostra os dados experimentalmente esperados, quer dizer diferentes
magnitudes de estímulo devem ser associadas a diferentes curvas de isosensibilidade.
(por exemplo: d’= 0,1,2 e 3).
146
Os pontos em cada curva representam vários critérios possíveis, e como os descritos
acima. Note que o valor de d’ de zero (a linha diagonal reta) representa o desempenho do
acaso, enquanto o desempenho pior que o acaso (como por exemplo: confundir as
categorias de respostas) estariam localizadas abaixo dessa diagonal.
O acréscimo do d’ está associado ao aumento na curvatura da curva de isosensibilidade
conforme seja consistente com o modelo da curva normal. Essas funções podem se
tornar lineares com um declive de 1,0 convertendo-se os eixos da probabilidade em
pontos Z ou projetando as probabilidades num papel duplo-probit em 1º lugar como na
Figura 17. Os valores de d’ estão localizados na escala que se estende desde o diagonal
(o desempenho casual) até ao canto superior esquerdo do gráfico (as magnitudes do
estímulo que são detectados o tempo todo).
Dessa maneira o d’ simplesmente indica a dificuldade da tarefa de detecção. A Figura 20
ilustra isso com dados não publicados até agora em gustação referentes ao caso acima
(Engen et al., 1964).
147
A pesquisa trata do efeito da privação da sensibilidade de gustação, e já foi mostrado que
os dados obtidos no primeiro dia concordam com o experimento publicado por Linker et al
(1964).
A observadora foi uma moça obesa de 18 anos, hospitalizada para submeter-se a uma
dieta rigorosa; ela de fato não comeu durante 10 dias mas recebia aproximadamente 20
calorias por dia de líquidos como chá com limão e líquidos dietéticos. Sua tarefa consistia
em discriminar entre uma pequena provada (mais ou menos 1cc) de água destilada e uma
pequena provada de sacarose dissolvida em água destilada (peso/volume).
Havia duas concentrações, uma de 0,125% e outra de 0,225% que foram apresentadas
em sessões separadas em cada dia. O assim chamado “método de provar e cuspir” foi
usado, o que significa que ela provava o líquido e depois o expelia. A probabilidade de
apresentação do estímulo foi sempre 0,50.
Por causa da dificuldade de discriminação e da pouca duração a solução de 0,125% foi
omitida mais ou menos na metade de sua abstinência.
Foi possível fazer observações sob as mesmas condições cada dia, e os dados nos três
dias consecutivos foram combinados para obter um desempenho mais estável. Havia 70
tentativas, cada dia, de água e sacarose numa ordem randômica, mas as primeiras 10
tentativas foram usadas somente para praticas.
A observadora respondia dizendo “açúcar” ou “água” e o experimentador depois lhe dizia
qual tinha sido apresentado. Não havia outro reforçamento, mas a paciente parecia
148
cooperativa e interessada no teste, que ela julgava de constituir uma parte do tratamento
médico, feito em cooperação com seu médico.
A solução foi provada de pequenos copos de papel que eram jogados fora ao fim da
tentativa, quando a paciente cuspia a solução e fazia seu julgamento. Depois se dizia
para ela se o seu julgamento tinha sido correto ou incorreto, enquanto ela enxaguava sua
boca com água destilada num copo comum do hospital e depois esperava 30 segundos
até a próxima tentativa.
O resultado mostra que, como se esperava, a solução de sacarose mais forte permitiu um
d’ maior e também que o d’ aumentou no período do teste para a solução de 0,225%, e
isto indica um aumento de sensibilidade. No caso presente, há relativamente pouca
variação para os falsos alarmes para os 4 pontos projetados, mas em outra situação
poderia haver, e é importante que o d’ fornece a possibilidade de se medir a sensibilidade,
independentemente de variações em tais fatores. O viés na resposta provavelmente não é
de interesse primordial para os psicólogos sensoriais (psicofísicos), mas o efeito da
privação sobre a sensibilidade o é.
Os dados presentes, é claro, são baseados em somente um sujeito, e o aumento na
sensibilidade dessa paciente, medida pela D´, poderia ser resultado da prática em vez dos
efeitos sensoriais psicológicos da privação. Experimentos posteriores poderiam fornecer
esta informação de uma maneira mais clara do que é possível com estes métodos
clássicos.
O efeito da prática sobre a sensibilidade bem como o efeito do viés sobre a resposta é
outro problema de interesse dos psicólogos de aprendizagem (Gilson,1953) e pode ser
estudado novamente dentro da teoria da detecção de sinal (Atkinson, 1961).
Como era de esperar, o D´, assim como foi definido aqui, também aumenta em função da
magnitude do estímulo. Em numerosos experimentos de sim e não sobre contraste em
iluminação, Wuest (1961) encontrou que D´ é uma função exponencial aproximada de
iluminação, como foi mostrado por 2 observadores no exemplo da Figura 21, mas são
necessárias mais pesquisas na forma desse tipo de função psicométrica. Lembre-se que
no observador ideal D´ é uma função linear da magnitude do estimulo.
A teoria da detecção em psicofísica foi desenvolvida num nível sofisticado e estimulou
novo interesse no campo. Esse capítulo mostrou apenas os princípios básicos se
relacionam com a psicofísica clássica numa situação simples de detecção e mencionou
somente referências ocasionais ao assim chamado observador ideal e possíveis
aplicações aos problemas da psicologia sensorial. Entretanto, dois problemas parecem
cruciais ao desenvolvimento da teoria nessa direção:
A natureza e a determinação empírica do ruído;
O desenvolvimento de testes de aderência dos dados obtidos experimentalmente às
curvas teóricas de isosensibilidade.
O último tem sido um problema contínuo em psicofísica; por exemplo as tentativas para
se obter dados suficientemente fidedignos para decidir se a função psicométrica seria
melhor descrita por phi-gamma ou pela hipótese quântica.
149
De modo semelhante, a noção clássica de limiar, que é uma teoria de dois estados nos
termos contemporâneos, ainda não foi validada pelos dados da curva de isosensibilidade,
mas certamente foi enfraquecida.
Luce (1963) propôs uma teoria do limiar, que supõe que a apresentação do estímulo
colocaria o observador ou num estado de detecção ou num estado de não-detecção. A
observação que ele faz em qualquer dos dois estados pode ser viezada por fatores não
sensoriais de tal modo que uma porção de observações são falsificadas de duas
maneiras mutuamente exclusivas, isto é, dizendo não quando ele estiver no estado de
detecção e sim quando estiver no estado de não detecção.
Quando também as detecções corretas, ou acertos, são projetadas, como uma função de
falsos alarmes, essa refinada teoria do limiar consegue 2 segmentos de reta, como na
Figura 22. Como pode ser visto a predição dessa teoria consegue uma função muito
similar aquela teoria de detecção do sinal.
Dados disponíveis presentemente e métodos do ajustamento de curvas não tornam
possível uma escolha bem segura entre estes modelos, o que relembra a situação da
forma da função psicométrica discutida acima.
É bastante interessante que o critério sensorial proposto por Luce é o número de
unidades quantitativas requeridas pelo observador para definir o estado de detecção.
Contudo, há acordo a respeito de um ponto muito importante: Que se deve fazer uma
medida cuidadosa dos falsos alarmes para distinguir entre o critério de resposta e a
sensibilidade.
Mesmo que se deve ter em mente as limitações dos limiares psicofísicos, seria
decepcionante terminar este capítulo metodológico sem lembrar de alguns dos mais belos
e preciosos dados obtidos pelos procedimentos psicofísicos clássicos.
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A Figura 22 apresenta um dos muitos possíveis exemplos desse tipo de dados. No
experimento que forneceu os dados da Figura 23 flashes de luz foram apresentados ao
observador. A intensidade do flash foi colocada numa escala logarítmica na abcissa.
As intensidade variam numa amplitude suficientemente grande para que os flashes mais
brilhantes são quase sempre mencionados como vistos e os mais fracos quase sempre
como não vistos por um observador experiente.
Em outras palavras, os flashes mais brilhantes são caracterizados por uma função de
densidade gaussiana de estímulo mais ruído (ver Fig. 15) que está quase inteiramente
além da densidade do ruído, enquanto os flashes mais fracos são caracterizados por uma
função de densidade, que não se distingue daquela do ruído sozinho.
Note-se, contudo, que as várias condições do experimento com relação aos movimentos
dos olhos resultam em diferenças sistemáticas na detecção.
Portanto é possível tirar-se a conclusão de que essas condições experimentais
produziram mudanças significativas na detectabilidade dos estímulos visuais. De modo
particular fica claro que para cada observador pode ser planejada uma luminância tal que
o estímulo seja quase sempre mencionado como visto pelo olho em movimento. Esse
fato, com uma análise estatística adequada aos dados para todos os sujeitos, justificou o
uso neste experimento do método tradicional dos estímulos constantes, e assegurou a
conclusão de que a visão é significamente diminuída durante o movimento ocular.
A teoria da detecção do sinal é uma das poucas contribuições importantes feita à
psicofísica, desde Fechner , e é pelo menos parcialmente responsável pelo novo
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interesse em psicofísica, que levou a uma tradução do “ Element der Psychophysik” de
Fechner em inglês, cem anos depois de sua publicação. Uma outra razão da renovação
da psicofísica é o esforço de ss. Stevens em relação às escalas psicofísicas e
psicométricas.
Como foi notado no início, Fechner estava inicialmente interessado neste problema. A
detecção e a discriminação são tópicos importantes e interessantes por si só, mas para
Fechner eles representam um meio para solucionar o problema mais importante da lei
que governa a relação entre a magnitude do estímulo e a magnitude psicológica, ao longo
de toda variação de valores.
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