Caderno de Resumos - Rosângela Trajano

Transcrição

Caderno de Resumos - Rosângela Trajano
II Colóquio Internacional de Culturas africanas
literatura - cultura - violência - preconceito - racismo- mídias
Caderno de Resumos
Organizadoras
Tânia Lima
Izabel Nascimento
Carmen Alveal
II Colóquio Internacional de Culturas Africanas
literatura, cultura, violência, preconceito racismo, mídias
Organizadores
Tânia Lima
Izabel Nascimento
Carmen Alveal
II Colóquio Internacional de Culturas Africanas
literatura, cultura, violência, preconceito racismo, mídias
1ª edição
EDUFRN
Natal-RN
2011
Comissão Organizadora
Tânia Lima [UFRN] - Coordenação geral
Izabel Nascimento [UFRN] - Coordenadora adjunta,
Amarino Queiroz [UFRN]
Carmen Alveal [UFRN]
Conceição Fraga [UFRN]
Daniela Galdino [UNEB / UFBA]
Derivaldo dos Santos [UFRN]
Fátima Costa [FAFICA]
Ilza Matias [UFRN]
João Paulo Pinto Có [GUINÉ-BISSAU]
Marluce Pereira [UFRN]
Renata Pimentel [UFRPE]
Rosilda Bezerra [UEPB]
Sávio Roberto Fonseca [UFRPE]
Zuleide Duarte [UEPB]
Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Ivonido Rego
Vice-reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Ângela Maria Paiva Cruz
Chefe do Departamento de Letras
Maria das Graças Rodrigues
Coordenação de Letras
Liomar Costa de Queiroz
Coordenador da Pós-Graduação
Luís Passegi
Webmasters
Nicolau Chiavenato
Rosângela Trajano
Capa e Projeto editorial
Rosângela Trajano
Revisão
Dos autores
Realizadores
Grupo de Estudos Africanos – Letras/UFRN
Copyright © 2011 by EDUFRN
Natal-RN
Catalogação da Publicação na Fonte.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).
Colóquio Internacional de Culturas Africanas (2: 2011: Natal, RN) / Tânia Lima,
Izabel Nascimento, Carmem Alveal (Organizadores).
Griots: II colóquio internacional de culturas africanas: leitura – cultura –
violência – preconceito – racismo – mídias: cadernos de resumos. Natal,
2011.
ISBN: 978-85-7273-765-4 (e-book)
1. Cultura afro-brasileira. 2. Oralidade. 3. Igualdade. 4. Racismo. I. Lima,
Tânia. 2. Nascimento, Izabel. 3. Alveal, Carmen. IV. Título.
RN/BSE-CCHLA
CDU 39(81)
Apresentação
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e o Programa de PósGraduação em Estudos da Linguagem do Departamento de Letras realizarão no
período de 25 a 27 de maio de 2011, na cidade de Natal-RN, o II Colóquio
Internacional de Culturas Africanas – Griots, dando assim continuidade à iniciativa
que em 2009 organizou o I Colóquio de Culturas Africanas: Linguagem, Memória e
Imaginário.
Esse evento oportuniza diálogos importantes entre professores, pesquisadores,
discentes e escritores interessados em discutir questões envolvendo África, A
segunda edição do Colóquio “Griots” traz novos desafios não apenas envolvendo
questões voltadas à literatura africana, mas visa ampliar debates sobre a
importância das mídias em torno da luta contra todo tipo de violência, preconceito
e racismo.
O racismo evidencia as consequências da opressão exercida por uma cultura
dominante, que atinge as comunidades afro-descendentes, atinge a cultura, mas
também a política e o ser psíquico. Nesse sentido, o Griots 2011 analisa a violência
excedente em um mundo que subverte e altera tanto as coletividades quanto os
sujeitos em seu devir pessoal.
Ao abrigar um evento dessa natureza, estamos falando sobre a desigualdade e a
redução do sujeito em objeto, da substituição do ser pelo ter, estamos falando
sobre o apagamento de línguas marginalizadas, estamos falando sobre as
conseqüências da modernidade em um mundo desprovido de seu maior luxo: as
relações humanas.
Se é pela cultura que se dá a criação das fagulhas do imaginário racista, é pelo
discurso que ele se estabelece no meio de nós. Nos sistemas capitalistas, entre o
explorado e o poder, interpõe-se uma multidão de discursos sobre a moral
humana. Quadros e giz a postos nos muros das escolas públicas e particulares.
Muro convite. Muitas vezes discriminação e preconceito também começam dentro
da sala de aula: silêncio. Cale-se. Eu sou a voz, você apenas o ouvido, você é o meu
não; eu sou o seu sim. E ponto final na lição. Na hora da prova: d’escola a cola que
não descola.
Em meio a tudo isso, quem faz uso da escopeta, das balas perdidas, dos meninos
“aviõezinhos”? Onde se esconde a violência que se estatela dos guetos aos
semáforos? Por quais luxos batem em rostos plugados no mundo virtual? Por quais
terras invadem a noite dos travestis naufragando a igualdade? Nos espaços para
abreviar grafites, novos poemas se picham: “No mundo, não há vencedor, não há
perdedor, há vidas vazias, vidas intensas de poesia”.
Como devemos abrir a porta da poesia para novos canais humanos? Acaso o trinco
da porta largou o poema no último verso da escadaria do morro onde não há
poesia mais linda do que o silêncio? Nosso modelo de civilização é um fabulário,
em meio ao tecnicismo, demarcando a “vaziez” de indivíduos que conhecem de cor
e salteado o mundo da tela de um blog, no entanto são desconhecedores do abismo
da alma humana. Não conseguimos mais nos conhecer, só conseguimos reconhecer
nossa imagem irrefletida num solilóquio sonhador. O narcísico, que não deixa de
olhar o lago. A imagem da imagem reflete várias imagens em um só espelho. Como
diz Mia Couto [2008]: “Cura-me de sonhar, doutor”.
Conhecemos uma sobrecarga de informações, contudo não conhecemos o que há
de nós em nós mesmos. A fome faz conhecer a Terra; a sede o mar. O grande
desafio desse século é o de todos os séculos: “Conhece-te a ti mesmo”? Atualmente
vivemos os reflexos da caverna de Platão, adoecemos das sombras de imagens que
jamais tocaremos a valer. Adoecemos de conhecimento, adoecemos por não
sabermos viver mais o desconhecido. Adoecemos da falta de encantamento.
Adoecemos da escassez de alumbramentos, do que nunca saberemos revelar.
Adoecemos da falta de doação humanitária. Adoecemos dos ideais humanizadores.
E por não nos sabermos conhecedores de nossa alma, violentamo-nos uns aos
outros como se fôssemos bichos primatas, bestializados.
Hannah Arendt [2009], no livro Sobre a violência, diz que temos um excedente de
violência na atualidade porque temos um excesso de burocracia no mundo.
Vivemos amarrados a um sistema burocrático que nos aprisiona a todos de uma
falsa liberdade. Tudo existe em nome da burocracia. Segundo Arendt, não sabemos
mais nos dias de hoje como destronar esse tirano.
Nessa perspectiva, o evento Griots analisa a linguagem que nos intoxica pelo
discurso da violência, do preconceito, do racismo, pois como salienta Inocência
Mata: “os discursos oficiais são sonhos ritualizados, expressões, estereótipos
criminosos com que se pretendiam esconder a realidade e erguer respeitáveis
fachadas [das figuras públicas] e terríveis máquinas de guerra, que num espaço de
um só dia se desmoronou”. Em verdade, somos sujeitos de nossa história, quando
somos atores de nossa história política. “Oh, meu corpo, faça sempre em mim um
homem que interroga.” [Frantz Fanon]. E quando eu não interrogar, vigiai-me para
não esquecer o furo da canoazinha na maré das sereias-respostas.
Organizadores
Eixos temáticos
1) A Mitologia dos Orixás: Terreiros de Candomblé;
2) Cinema Contemporâneo: Da diversidade étnico-racial, cultural, política, religiosa
e sexual;
3) Diáspora, literaturas: afro-brasileira e afro-americana;
4) Geografias Literárias: Cartografias Culturais;
5) Linguagem, Carnavalização, Dialogismo;
6) Linguagem, Oralidade, Memória;
7) História e África;
8) Literatura e Filosofia: da condição “pós-moderna”;
9) Literatura e Semiótica: poéticas contemporâneas;
10) Literatura e Sociologia: Cenário de Violência contra a Mulher;
11) Novas Tecnologias, outras mídias, blogs, orkuts, jornais etc;
12) Quilombos - Quilombolas;
13) Performance, Teatro e Dança, Arte e Cultura;
14) Práticas Discursivas, Alteridades, Etnias, Gênero, Sexualidade;
15) Infância, violência, pós-colonialismo.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Caderno de Resumos
Abrão Rodrigues Neto
UFRN
The Different Colours One People (Diferentes Cores Um Povo Só)
Este trabalho propõe uma analise e reflexão profunda sobre a musica de Luck Dube
(1964 -2007) ―The Different Coulors One People‖ produzido em 1995 depois da
apartheid, referente ao álbum Vitims (vitimas). Nessa musica trabalharemos a
segregação racial que engloba não só África do Sul como os outros países em diferentes
continentes. Na África do Sul a segregação racial teve seu inicio no período colonial, e
depois o apartheid foi introduzido como política oficial após as eleições de 1948. O que
acabou dividindo os habitantes em grupos raciais. (―Negros‖, ―Brancos‖ e outros). O
poeta baiano Antonio Frederico Castro Alves (1847 – 1871), morto precocemente pela
tuberculose aos 24 anos, o seu pequeno (Trecho de O Navio Negreiro) trazido por nós
resumiu toda a musica de Luck Dube.
Palavras-chave: segregação, racial.
Adely Carla de Lima Santos
Carla Eduarda Simões Buarque de Assunção
Manuscritos Culinários: Tradição e cultura popular
O Presente trabalho irá discutir sobre a questão das tradições nos manuscritos culinários
em que se observou que esses cadernos estão interligados a tradição oral e na
reconstrução da oralidade escrita. Veremos também na perspectiva da transmissão oral a
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
busca da interpretação no momento da performance e assim, as inúmeras possibilidades
de investigar dentro da cultura popular uma questão simbólica marcada pelos alimentos
numa tradição histórica na colocação do discurso escrito.
Palavras chave: Manuscrito, oralidade, cultura popular, tradição discursiva.
Adriana Aparecida de Souza
José Willington Germano – Orientador
Mércia Maria de Santi Estácio
Maria do Livramento M. Clementino – Orientadora
UFRN
BRASIL PÓS-COLONIAL: DIÁLOGOS E REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS
EDUCATIVAS DA INFÂNCIA
Neste texto, abordamos aspectos sociológicos e históricos da infância e da educação no
Brasil pós-colonial, refletindo sobre o preconceito, a violência e o racismo destilado
sobre os afro-descentes, as minorias e as crianças pobres. Destacamos pensadores,
filósofos, educadores, biólogos, psicólogos e escritores que pesquisaram e produziram
sobre a infância e a educação no país para apresentarmos como vem acontecendo a
construção social da infância e da educação no contexto histórico e sociológico
brasileiro. É nosso objetivo também dialogar sobre a relação existente entre violência,
preconceito, racismo, educação e infância nesse período, sinalizando aspectos que
merecem destaque e discussão numa perspectiva pós-colonialista. Nossa metodologia
está pautada numa espécie de revisão bibliográfica, por esta proporcionar condições
reflexivas sobre a condição da infância, bem como seu processo educacional no
contexto brasileiro para assim, compreender as relações de violência existentes nestas
interfaces. Propomos-nos, portanto, a apresentar um texto fundamentado sobre os
aspectos já sinalizados, buscando na literatura indícios que possibilitem o diálogo com a
cultura como elemento chave da construção da identidade de um povo que se constituiu
multiculturalmente no entrelaçamento cultural de brancos europeus, negros africanos e
índios brasileiros.
Palavras-chave: Infância. Racismo. Educação. Cultura.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Adriana Elisabete Bayer
UFRGS
Identidades territoriais no reino de Anguéné
Em meados do distante século XVI, quando a ilha de São Tomé era um importante
entreposto de escravos, naufragou um navio negreiro bem próximo a sua costa. Ao mar
foram lançados cerca de 200 cativos, muitos dos quais buscaram sua salvação na Baía
das Lulas (também chamada por Angra de São João). Conhecidos pela alcunha
―angolares‖, os sobreviventes se refugiaram no obó, formaram núcleos de povoamento,
constituindo uma etnia, com hábitos e língua específicos. Nessa narrativa, quais são as
fronteiras entre o mito e a realidade factual? Não se sabe, pois as fontes historiográficas
foram embaralhadas, primeiro em favor de uma ideologia colonialista, depois de uma
ideologia nacionalista. No entanto, no reino de Anguéné, não há tempo para dúvidas.
Ali imperam certezas de que as identidades são, sobretudo, sociais e territoriais, e
subordinam-se a constantes negociações. Assim, evidenciar o processo de construção
identitário angolar, tendo por objeto a obra. Anguéné: gesta africana do povo angolar de
S. Tomé e Príncipe (1989), de Fernando de Macedo, é o propósito do presente ensaio.
Palavras-chave: poesia são-tomense; Fernando de Macedo; angolar; identidade
territorial; identidade social.
Adriano Charles Cruz
UFRN
Os dizeres e os silêncios da memória em Parábola do cágado velho de Pepetela
Neste trabalho, pretendemos analisar o romance A parábola do cágado velho de
Pepetela a partir das reminiscências do personagem-principal, Ulume. A narrativa
apresenta uma trama tecida pela memória e entrecruzada entre os espaços rural e
urbano.
Nesse sentido, nossa reflexão encaminha-se para os deslocamentos e as
errâncias dos sujeitos-personagens nos dois espaços onde se confrontam o velho e o
moderno.
A partir da perspectiva das teorias pós-coloniais e pós-estruturalistas,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
percorremos os territórios fragmentados de Angola, acompanhando a utopia do homemUlume entre os seus dizeres e silêncios.
Palavras-chave: Literatura africana, memória, silêncio.
Adriano Silva Rodrigues – CESA/UNAMA
Francisco Augusto Cruz de Araújo – PPGCS/UFRN
AS NOVAS TECNOLOGIAS NA TRIBO: UM ESTUDO SOBRE OS ÍNDIOS KYIKATÊJÊ E
OS USOS DA COMUNICAÇÃO VIRTUAL
Os avanços tecnológicos fizeram que um simples click no computador seja responsável
por abrir uma infinidade de informações, disponíveis para qualquer pessoa em qualquer
lugar do planeta. Uma das consequências dessa transformação foi a interatividade que
possibilita a todos, que possuem de simples até os mais sofisticados equipamentos de
comunicação, gerar conteúdos, publicar notícias, tornar-se editor e criar novas mídias a
partir dos seus olhares. Esta pesquisa tem o objetivo de analisar as contribuições do
acesso às tecnologias de comunicação pela comunidade indígena Kyikatêjê. Neste
estudo buscamos compreender como se dá a relação entre uma comunidade tradicional
em busca da preservação dos seus valores identitários culturais aliados aos avanços
tecnológicos que gradativamente são absorvidos pelo seu povo. Para termos uma analise
aos detalhes do cotidiano indígena, realizaremos um estudo etnográfico a partir de
visitas regulares à comunidade Kyikatêjê, faremos captura de imagens, anotações de
campo, conversas com os membros da comunidade, dentre outras técnicas que se
fizerem necessárias no decorrer da pesquisa. Compreendemos que o acesso da
comunidade às tecnologias de comunicação possibilita ao grupo uma nova alternativa
de difusão e preservação da sua identidade cultural e demais valores. Neste sentido,
avaliaremos os fatores positivos e negativos da relação dos índios com as tecnologias a
eles disponíveis.
Palavras-chave: índios; comunicação; tecnologia.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Ageirton dos Santos Silva
UFRN
Teias da discursividade negra nos sambas de enredo de temática africana
Concebendo a linguagem como prática social constitutiva das relações humanas, este
trabalho, a partir de gestos de interpretação dos discursos que atravessam alguns sambas
de enredo de temática negra (SEAs), foca sua atenção na produção de sentidos deles
emanada, com o objetivo de abrir uma discussão em torno da ideia muito comum de que
tais sambas conseguem elaborar apenas uma abordagem folclórica dos símbolos
constitutivos do universo negro, mas não uma abordagem de tom político e/ou
sintonizada com uma agenda de luta em prol questões de ordem sociocultural reclamada
pelo povo negro. Situando-se no contexto da agenda política e cultural da Linguística
Aplicada, que se põe longe das verdades incontestáveis, das certezas sólidas e da
quantidade exaustiva para provar uma relação de causa e efeito e uma verdade
indiscutível à maneira do que ocorre no campo das ciências naturais, a metodologia
adotada é de base qualitativa interpretativista. As bases teóricas que dão sustentação ao
trabalho advêm das formulações dos estudos étnico-culturais e das proposições dos
estudos culturais em associação com alguns princípios teórico-metodológicos da
Análise de discurso de orientação francesa (AD). Espera-se, a partir da discussão
levantada, que a academia des-cubra o valor documental do SEA para pensar as relações
interétnicas constitutivas do povo brasileiro e que se possa refletir sobre os sentidos para
além dos folclóricos que o atravessam.
Palavras-chave: Práticas discursivas. Identidades negras. Discursos. Sambas de enredo
de temática africana.
Ajanayr Michelly Sobral Santana
UEPB
CLARA DOS ANJOS: REPRESENTAÇÕES DA MULHER NEGRA NA OBRA DE LIMA
BARRETO
O presente trabalho analisa a obra do autor Lima Barreto, que atuou como jornalista na
imprensa carioca nos primeiros anos do século XX, deixando um legado em forma de
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
contos, crônicas e romances. Dentre as problemáticas abordadas em suas obras,
encontra-se a temática relativa às relações de gênero. O objetivo desse estudo é analisar
as representações das relações de gênero na obra Clara dos Anjos (1994). Deste modo,
observamos os pontos relativos à temática: preconceito racial e social, educação,
relações familiares. Para tal estudo, contextualizamos a biografia do escritor, que nos
permitiu traçar um perfil socioeconômico e visão de mundo do autor. A partir da sua
obra, analisamos as representações dos papeis e funções sociais da mulher negra e a
representação da família junto à sociedade como reprodutora de comportamento e
valores sociais. Vimos que as representações e relações de gênero feitas pelo autor
demonstram sua posição crítica com relação à educação feminina, ao denunciar as
condições de como a mulher negra era educada, que terminava por ter seus
conhecimentos e experiências perfiladas pelo ambiente sociocultural. Desta forma,
convergimos o nosso olhar para outra questão: o posicionamento de um escritor que
retratou de forma contundente a situação da mulher negra na sociedade, ao denunciar,
em forma de escritos, as condições de inferioridade feminina e a educação recebida. A
obra e Lima Barreto se torna importante, pela forma de como retratou a realidade em
que viveu, escrevendo contra a sociedade que o marginalizava de forma crítica e
ironizada, no que toca as relações de poder encontradas na sociedade brasileira nas
primeiras décadas do século XX.
Alberes Santos
UFPE
A MEMÓRIA (IN) DISSOLÚVEL NA NARRATIVA DE A VARANDA DO FRANGIPANI
DE FRANGIPANI DE MIA COUTO
O presente trabalho objetiva o estudo da tentativa de conservação da memória e da
tradição africana/ moçambicana, bastante perceptível, no discurso da narrativa de A
varanda do frangipani de Mia Couto, a partir dos personagens anciãos que moram
isoladamente numa antiga fortificação portuguesa, transformada em asilo, onde há
acontecimentos de natureza fantástica e do realismo maravilhoso.
No decorrer da diegese, o detetive Ermelindo, negro da capital de Moçambique, vem
apurar e/ou investigar a morte misteriosa do gestor do forte, Vasto Excelêncio, ex-
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
militar, que possuía ligações perigosas com forças escusas do governo, através dos
depoimentos dos idosos. Seu desconhecimento acerca da língua- dialetos, léxicos,
expressões populares- e das tradições moçambicanas faz com que os velhos o tenham
como um intruso, pois perdeu a essência de ser negro; ao assimilar-se no mundo dos
brancos.
Para pensarmos a questão da memória, empregaremos os pressupostos teóricos de
Ricouer (2005) sobre a ars memories quanto ao não esquecimento do passado e Dhiel
(2006), quando se remete à função daquela como formadora de saberes e tradições
inseridas num contexto recuperável e passível de atualização.
Palavras-chave: memória, tradição, anciãos, língua e Mia Couto.
Aldinízia de Medeiros Souza
Francisca Zuilma Rocha de Moura
Maria Paula da Silva Leite
SME - NATAL
DIVERSIDADE CULTURAL NA SALA DE AULA: ÁFRICA E CULTURA AFROBRASILEIRA EM DESTAQUE
Os temas relacionados à participação negra na história e cultura brasileiras são de
grande importância na formação de uma educação para o combate ao preconceito. Cabe
aos professores de história da África a tarefa de contribuir com a desconstrução de
estereótipos e preconceitos, a fim de contribuir para a efetivação da cidadania no que
tange o direito ao acesso ao conhecimento de história da África e da cultura afrobrasileira, contribuindo para a tomada de consciência de pertencimento dessa cultura
como sendo de todos e não apenas de um segmento da sociedade. Sendo assim, o
reconhecimento da diferença é essencial para que todos os cidadãos tenham as mesmas
oportunidades. Nesse contexto, a escola é uma dos veículos sociais para a promoção
dessas oportunidades, sobretudo no que diz respeito ao acesso à educação. Destarte, o
projeto Diversidade Cultural na sala de aula: África e cultura afro-brasileira em
destaque foi elaborado com a finalidade de atender às orientações do documento:
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
―Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para
o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana‖. O projeto foi elaborado e
aplicado na Escola Municipal Terezinha Paulino de Lima (Natal-RN), no ensino
fundamental II e contou com a participação de professores de diversos componentes
curriculares. Este trabalho visa apresentar as atividades desenvolvidas durante a
aplicação do projeto e seus resultados no ano letivo de 2010.
Palavras chave: História da África; cultura afro-brasileira; educação.
Alessandra Ferreira
Os referenciais curriculares para o ensino de História: novos caminhos para
inserção dos temas ligados à identidade e diversidade cultural
Pensar a escola e o currículo em um novo contexto epistemológico consiste em um
grande desafio para os educadores do século XXI, romper com o viés cientificista
postulado em um paradigma racional e positivista que fundamentou a produção do
conhecimento até a metade do século XX para incorporar novas linguagens, novas
estratégias de ensino e novos conteúdos no espaço escolar podem resultar em uma
ressignificação do processo de ensino e aprendizagem. Diante de um cenário educativo
tão promissor cabe então apresentar as diferenças existentes entre as teorias que
nortearam as concepções de currículo adotadas pelas escolas, pontuar as transformações
ocorridas na área do ensino de História, ressaltando a inserção das temáticas referentes à
valorização da identidade cultural e preservação do patrimônio sociocultural, bem como
relacionar as principais contribuições concebidas em dois documentos elaborados para
direcionar a prática do professor de História na rede estadual do ensino do Rio Grande
do Norte (1992) e na rede municipal de ensino da cidade do Natal (2008) com as teorias
subjacentes ao currículo defendidas por Silva (2010) e as concepções teóricas que
nortearam cada uma das propostas. A realização desse estudo possibilitou perceber o
caráter progressista dessas propostas curriculares, possibilitando uma renovação na
prática de ensino de História, embora tais inovações pedagógicas não sejam ainda uma
realidade em todas as escolas públicas da cidade do Natal e do estado do Rio Grande do
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Norte em virtude do acervo escolar ser ainda insuficiente para a inserção das mais
diferentes linguagens na sala de aula.
Alex Beigui
UFRN
Corpos e Máscaras na Diáspora da Cena Ibero-Afro-Brasileira
A partir de abordagens contemporâneas cada vez mais comparatistas entre diferentes
modos de representação e linguagens, faz-se necessário pensar a questão das matrizes
culturais e seus desdobramentos frente a dispositivos de leituras e releituras do corpo do
artista. Dentre os países de língua portuguesa, sobretudo, os africanos, percebe-se com
mais clareza as influências no campo verbal, lingüístico e literário que os estudos
histórico-colonialistas denominaram á sua época, pejorativamente, de ―língua de preto‖,
ao se referirem ao ―escravo-intérprete‖. Contudo, pouco se tem refletido sobre as
máscaras de construção do corpo negro como espaço de resistência e ressignificação da
diáspora, sobretudo, do corpo ancestral do negro como descoberta dos arquétipos físicos
(trickster), desenhados nos corpos de atores de diferentes gerações. Neste trabalho
procuro apontar algumas dessas marcas representativas do modelo híbrido de corpo,
bem como problematizar a questão das influências e das apropriações conscientes do
―gestus‖ africano no corpo do ator brasileiro.
Alexandre Alberto Santos de Oliveira
UNICAP
A Civilização de Nok, uma História que merece maior compreensão
Os estudos sobre a Civilização de Nok até o momento são muito insipientes, produzindo
poucas alternativas para uma compreensão ampla da cultura e história desse povo que
viveu no período histórico entre 700 a.C a 200 d.C na curva do Rio Níger,
geograficamente situada hoje na Nigéria. Tida como ―Misteriosa‖, ou ―Civilização dos
Bonecos‖, pouco escavada pelos arqueólogos e discutida pela academia, esta civilização
foi uma das mais fortes na história dos povos antigos africanos que descobriram novas
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
alternativas de expansão territorial. Sua arte, suas práticas culturais, seus sistemas de
agricultura e pecuária, sua expansão, suas tecnologias de metalurgia e de cozimento do
barro, revelam a história de um povo muito avançado e organizado neste Período
histórico. O texto se propõe a apresentar um número maior de informações
bibliográficas, citações e imagens sobre o tema, contribuindo para o aumento de massa
crítica em relação ao imaginário Nok. Contudo, ainda se propõe fazer uma atualização
simplificada de informações mínimas dos antigos povos do norte africano, àqueles que
com o aumento da desertificação do Saara e por suas experiências mal sucedidas de
cultivo da terra no citado período histórico tiveram que partir para outras localidades em
busca de soluções para suas vidas. Tendo como texto base o ―Nok‖ do livro A Enxada e
a Lança: a África antes dos portugueses. 3° ed. Revisada e ampliada – Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2006, do professor Alberto da Costa e Silva, o texto transcorrerá por
outras bibliografias de mesmo teor como trechos da coleção História Geral da África UNESCO.
Alexandre Bezerra Alves
UERN
Vidas secas: Fabiano entre escravidão e pobreza
O presente trabalho apreende uma leitura sobre o personagem Fabiano, um dos
protagonistas do romance Vidas Secas (1938), de autoria do escritor alagoano
Graciliano Ramos. Nas análises aqui realizadas sobre o personagem, focaliza-se a
narrativa da obra com relação ao chamado ―Romance de 30 / Ciclo do romance do
nordeste‖, assim como se contextualiza o personagem como referência à realidade
nordestina da década em que o livro foi escrito, com destaque para o âmbito ficcional
em que o autor cria as condições de discussão sobre a narrativa voltada para a denúncia
social, no sentido da exploração do trabalho – por intermédio de uma leitura que
possibilita a representação da escravidão -, da exposição da pobreza e do fenômeno da
seca no nordeste como temas que perduram até a atualidade. Como base teórica para a
análise aqui exposta, encontra-se o estudo Os pobres na literatura brasileira
(SCHWARZ, 1983), assim como uma atualização sobre a questão da seca no século
XXI, através de dois artigos distintos publicados nas revistas Horizonte Geográfico –
esta com o título ―Onde ela falta, nascem as disputas‖ - e Rolling Stone (aqui sob a
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
denominação ―A guerra da água‖), ambas datadas do ano de 2008, e assinados pelo
jornalista Sérgio Adeodato. A intenção do trabalho passa pela relação entre a literatura e
a realidade, fazendo da ficção um modo de expressar como um problema do cenário
nordestino continua a ser motivo de problematização diante da continuidade e da falta
de soluções para a questão da seca e da pobreza na região nordeste do Brasil, além de
incluir a condição do pobre como personagem tanto da ficção quanto de sua capacidade
representativa em um passado recente do país assim como perante a situação social dos
anos 2000.
Palavras-chave: Vidas secas, romance de 30, Fabiano, nordeste.
Alice Faria Signes
UFRRJ/IM
Racismo, brinquedo e infância:
Uma análise biopolítica sobre violência simbólica na mídia
O objetivo deste trabalho é apresentar resultados parciais da pesquisa Agenda Utoto, o
qual faz parte do eixo temático ―Infância, violência e pós-colonialismo‖. Conforme os
dados mais recentes do IBGE, a população brasileira é composta por 50,6% de pretos e
pardos (negros), nossa problematização incide sobre a indústria de brinquedos.
Primeiro, porque indústria infanto-juvenil, especificamente o mercado de brinquedos,
não contempla a diversidade étnico-racial do povo brasileiro. Nossa pesquisa se ocupa
dos efeitos na autoestima das crianças, especialmente das crianças negras, isto é, com a
produção de subjetividade na infância através dos brinquedos. Assim, outro ponto de
grande relevância deste trabalho é o debate referente aos processos de subjetivação e os
recortes biopoliticos geracionais e raciais. A pesquisa pretende fornecer subsídios para
um diagnostico em favor de políticas publicas para a diversidade étnico-racial. Em
outros termos, significa analisar as condições para que a indústria infanto-juvenil,
especificamente o setor de brinquedos, atue como um elemento decisivo no combate a
violência simbólica na infância. Entre nossas hipóteses, merece destaque, o
entendimento de que se as indústrias de brinquedos brasileiros contemplarem a
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
diversidade étnico-racial nacional, a sociedade brasileira estará dando um passo
significativo em favor das políticas de ações afirmativas para o mercado infanto-juvenil,
tal como as ações na área da educação que vêem sendo implementadas desde 2003.
Palavras chaves: Relações de poder; Mídia; Infância.
Aline Patrícia da Silva
Ágda Priscila da Silva
UFRN
FILHO, PAI, AMANTE, SAMBISTA – NEGRO
O samba é, sem dúvidas, um dos gêneros musicais mais populares do Brasil, tendo uma
origem que remonta às manifestações culturais e festivas dos africanos que aqui se
estabeleceram. Ao longo dos tempos, diversos foram os artistas que se destacaram
como cantores e/ou compositores do gênero, sendo estes os grandes responsáveis por
sua caracterização e expansão para além dos estados onde o ritmo predominou
inicialmente. Entre tantos grandes, destacamos o emblemático Cartola, considerado por
muitos músicos e críticos como o maior sambista da música brasileira. Engajado na
boemia local, ele foi pedra fundamental na fundação de uma das maiores escolas de
samba do nosso país: a Estação Primeira de Mangueira. Apesar de contar com grande
reconhecimento na atualidade, sua carreira, assim como sua vida, foi marcada por altos
e baixos, ausências e esperas. Assim sendo, este trabalho tem por objetivo apresentar
algumas das contribuições do referido artista para a assunção do samba ao lugar de
ritmo dos brasileiros, e não apenas dos negros como muito se acreditou em outros
tempos. Visamos, ainda, refletir acerca do caráter representativo das suas canções que,
enquanto enunciados vivos e imunes ao tempo, são portadoras de conflitos sociais, visto
que todo discurso é essencialmente dialógico e reflete as coisas da vida, num
movimento que é também de refração das experiências históricas dos grupos humanos.
Dono de um versejar simples e ao mesmo tempo contundente, Angenor de Oliveira se
constrói em cada composição ao mesmo tempo em que reinventa sua história que, em
grande parte, é também a história do samba. Para o desenvolvimento desta análise,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
fundamentamo-nos em uma concepção sócio-histórica de linguagem e no conceito
bakhtiniano de vozes sociais.
Palavras-chave: Cartola, Canção, Samba, Discurso, Vozes Sociais.
Aluísio Barros de Oliveira
UFRN
MIA COUTO: ENTRE A TRADIÇÃO E A MODERNIDADE, UM CONTADEIRO DE
ESTÓRIAS
O objetivo do nosso trabalho é apresentar o escritor moçambicano mia Couto, autor de
uma obra multifacetada – poemas, estórias para crianças, contos, crônicas, romances e
ensaios – e que ao transitar entre a tradição e a modernidade o faz ciente do peso da
tradição oral na constituição do sentido da moçambicanidade. Octávio Paz, Lourenço
Rosário, Mia Couto, dentre outros, orientam a nossa leitura.
Palavras chaves – Narrativa africana – Tradição – Modernidade.
Alyne Costa de Castro
Antônia Lis de Maria Martins Torres
Hermínio Borges Neto
UFC
O correio eletrônico como ferramenta de comunicação no Projeto de Inclusão
Sócio-Digital: Aprendendo a Navegar (@NAVE)
No presente artigo, apresentaremos a experiência de utilização do correio eletrônico
como ferramenta de comunicação do Projeto de Inclusão Digital: ―aprendendo a
navegar‖, desenvolvido durante o ano de 2010 no município de Hidrolândia/Ceará. De
maneira geral o projeto @NAVE tem por objetivo formar voluntários (gestores) da
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
comunidade local para gestão do Laboratório de Informática de um Centro Cultural do
município. Esta formação foi realizada por estudantes de graduação e pós-graduação
(formadores) do Laboratório Pesquisa Multimeios/UFC. Particularmente, nesta pesquisa
analisou-se o uso do correio eletrônico no projeto em questão, a partir da intervenção
dos formadores quando os gestores entravam em contato. A metodologia utilizada
pautou-se em revisão bibliográfica e estudo de caso. Os dados foram analisados com
base nos registros presentes em e-mails de gestores e formadores, acerca dos
encaminhamentos sugeridos a resolução dos problemas ocorridos no Laboratório do
Centro Cultural. De início, os registros mostravam que os gestores solicitavam a
intervenção dos formadores para problema de qualquer ordem, desde atribuições de
funções à manutenção das máquinas. Constatamos que após algumas intervenções a
respeito destas questões, os gestores estabeleceram uma relação dialogada sobre as
resoluções dos problemas, desenvolvendo assim uma autonomia em relação à
administração do Laboratório de Informática do Centro Cultural.
Palavras-chave: correio eletrônico – autonomia e gestão.
Amarino Oliveira de Queiroz
UFRN – CERES
A GUINÉ EQUATORIAL EM SUA LITERATURA:
ESPAÇO DE DIÁLOGO IBERO-BANTU
O panorama das literaturas produzidas em espanhol e português no continente africano
pode ser avaliado a partir de algumas particularidades que ora aproximam ora
distinguem o labor artístico dos países que adotaram ambos os idiomas ibéricos como
veículos de comunicação e expressão. Iniciado antes mesmo das independências
nacionais e da subseqüente oficialidade lingüística do português em Angola, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, ou do castelhano na Guiné
Equatorial e no Saara Ocidental, observamos que nos últimos anos este processo vem
revelando certa tendência de expansão do idioma espanhol como língua de literatura em
outras áreas daquele continente, sobretudo algumas cujos domínios lingüísticos são
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
predominantemente arábicos (caso do Marrocos e dos acampamentos de refugiados
saarauis em Tinduf, Argélia), francófonos e bantus (Costa do Marfim, Camarões), além
de perpetuar-se em territórios ainda controlados politicamente pelas antigas metrópoles
espanhola (Ceuta, Melilha, Canarias) e portuguesa (Madeira). Descoberta e ocupada
inicialmente pelos navegadores lusitanos, a antiga Guiné Espanhola e atual República
da Guiné Equatorial representa, dentro do atual panorama cultural da África de
colonização ibérica, uma área de particular interesse nesta nossa discussão, aqui
recortada em sua produção literária híbrida de aspectos ibéricos e bantus.
Palabras-chave: Literaturas africanas hispanas, Guiné Equatorial, hibridação.
Ana Carolina Moura Mendonça
UFRN
Análise estética e social do conto “Tio, mi dá só cem”, de João Melo
O trabalho objetiva mostrar uma das várias interpretações que o conto ―Tio, mi dá só
cem‖, presente no livro Filhos da pátria (2008), do autor Angolano João Melo, oferece,
utilizando abordagens que leve em consideração tanto o fator social quanto o fator
estético-estrutural. É importante ressaltar que a narrativa e a temática de denúncia estão
relacionadas, por isso a escolha de uma abordagem engajada, ressaltando a importância
estética do texto artístico como denúncia social. Uma visão, portanto, do texto para a
sociedade e não ao contrário.
A análise deste conto será feita com o uso de alguns capítulos do livro literatura e
sociedade e os capítulos ―literatura e personagem‖ e ―a personagem do romance‖ do
livro a personagem de ficção de Antônio Cândido, o qual ajudará a construir essa ponte
entre a estética e a estrutura do conto com a realidade social, em uma perspectiva
literária e não sociológica. Além dessa abordagem teórica, empregaremos também
alguns capítulos do livro Boaventura Cardoso: a escrita em processo, o qual se
verificará a importância da linguagem nesses textos de denúncia social. Por fim,
utilizaremos alguns capítulos do livro O demônio da teoria, de Antoine Compagnon, em
que vai auxiliar na análise estrutural e estética do conto, como também na sua relação
mimética com o contexto.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
O conto de João Melo apresenta uma ampla possibilidade de leitura e de eixos
temáticos a serem abordados. O presente trabalho não tem como objetivo esgotar esse
campo de possibilidades interpretativas, mas oferecer uma leitura dentre as várias que
podem ser feitas.
Ana Cecília Alves Nôga
Laís Luz de Menezes
UFRN
A IDENTIDADE AFRICANA NA DANÇA DAS FESTAS DE REIS CONGO NO BRASIL
DOS SÉCULOS XVIII E XIX
Como uma forma de se reorganizar após a diáspora, disseminou-se na América
portuguesa o costume de eleição de reis por comunidades de africanos e seus
descendentes, a fim de recriarem uma organização comunitária. A eleição destes reis
ocorria durante as festas em homenagem a seus santos padroeiros, promovidas pelas
irmandades, nas quais ocorriam diversos rituais africanos. Diante do sistema escravista
colonial, os africanos passaram a buscar formas de preservar sua identidade, uma dessas
formas era a Festa de Reis Negros ou Reis do Congo. Então, o trabalho que aqui se
apresenta pretende fazer uma análise das festas dos reis negros ou Rei do Congo, dando
ênfase à presença da identidade nas danças que variavam nessas celebrações. Tal análise
se dará através dos relatos de viajantes dos oitocentos, que presenciaram as festas, como
Koster (1814), Pohl (1818) e Spix e Martius (1818), Castelneau (1843), Burmeister
(1851) e Burton (1868).
Palavras chave: Dança, Festas, Identidade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Ana Cristina Pinto Bezerra
UFRN
Entre as amarras da colonização em uma Nação Crioula
As leituras do cenário africano há muito revelam um olhar sobre o contexto de
colonização e com isso a percepção violenta do processo de escravização feito do povo
africano. Não obstante, no universo ficcional construído pelo escritor angolano José
Eduardo Agualusa tais impressões se fazem sentir pela forma bem urdida com a qual
revela as metáforas de um sistema que aprisionou o homem africano desde o momento
que o colonizou, desenraizando esse ser do seu habitat. De modo que o negro em seu
lugar de nascença sente-se um estranho, alguém a quem foi negado o espaço, a voz, a
consciência. É sobre esse processo brusco sentido nas letras de Agualusa, sobre a
violência dessa ação vivida até os dias atuais em África a que esta análise se pretende.
Para tanto, parte-se da leitura do romance Nação Crioula (AGUALUSA, 2009) em que
o enredo conjuga na sua forma epistolar um recorte temporal da vivência africana, nas
memórias desse universo desolador. Dialogando-se, ainda, com a tradição anterior ao
momento de colonização retratada por A. Hampaté Bá (1970), com as instigantes
concepções sobre o negro em Fanon (1983, 2005), além das considerações de Glissant
(2005) entre outras leituras pertinentes para esse estudo.
Palavras-chave: Violência; África; Agualusa; Colonização; Nação Crioula (2009).
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Ana Gabriella Ferreira da Silva
Francisca Ramos-Lopes
Francisco Allyson Rocha da Silva
UERN
CASAMENTOS INTERRACIAIS: (RE) PENSANDO O PASSADO
E O PRESENTE
O trabalho aborda uma das heranças coloniais que atravessa a história do povo
brasileiro pós abolição da escravatura: a crença no branqueamento que, conforme o
imaginário social, dar-se-ia pela miscigenação das relações afetivo-sexual construídas
entre o negro com o branco. A partir desse foco objetiva-se desenvolver uma análise em
torno de marcas identitárias que permeiam a história de vida de um homem branco
casado com uma mulher negra. Metodologicamente, o estudo enquadra-se em um
paradigma qualitativo-interpretativista. Os dados são oriundos de uma entrevista semiestruturada pertencente a tese de doutorado de Ramos-Lopes, (2010).
A pesquisa
fundamenta-se nas concepções de Bauman (2005) e Hall (2003) sobre a temática da
identidade. Adota-se ainda as teorias de Guimarães (2004, 2006) e Munanga (2004)
sobre o estudo das relações raciais. No geral, discute-se o processo que ocorre em
determinado ambiente e como os sujeitos envolvidos nesse processo se percebem e são
percebidos pelo outro.
Palavras-chave: Branqueamento, Identidade, Racismo, Relações afetivas.
Ana Luiza Durand de Medeiros
UFPE
Exú: uma abordagem sobre mitologia e estrutura em algumas práticas dos
Terreiros de Candomblé
Objetivamos com esse estudo refletir sobre a presença de Exú na mitologia Yorùbá e em
algumas práticas existentes na religião de matrizes afro indígenas no Brasil. Partindo de
uma análise sobre mito e estrutura na perspectiva antropológica de Lévi-Strauss, em que
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
a mitologia aparece como reflexo da estrutura social e das relações sociais de dada
sociedade, buscamos fazer uma distinção e estudo sobre algumas características de Exú,
apresentadas através dos mitos sobre esse Orixá, e como essas características estão
presentes estruturando a realização de algumas práticas nos terreiros. Na mitologia Exú
aparece como o portador do Ègán, que representa o Axé de Olódùmarè, conferindo
assim autoridade à ele sobre os demais Orixás. Um exemplo a ser refletido nesse estudo
é o fato de que antes do início das cerimônias públicas e sempre que tenham lugar
oferendas importantes nas tradições do Candomblé é realizado primeiramente o Padê,
prática ritual ligada à divindade aqui estudada. A estruturação do Padê está dentre outras
tradições, também fundamentada na mitologia existente referente a este Orixá, e é essa a
reflexão que buscamos fazer aqui, como a mitologia está presente orientando e
estruturando algumas práticas ligadas a esta divindade. Para tal reflexão buscamos
estudos etnográficos já realizados sobre este Orixá e sua prática litúrgica em terreiros.
Na obra de autores da sociologia, antropologia e história buscamos a fundamentação
teórica sobre a mitologia Yorubá.
Ana Maria Coutinho de Sales – UFPE/UFPB
Maria Rodrigues da Silva - UFPB
ULOMMA: Literatura Afro-brasileira combatendo o racismo no cotidiano escolar
O objetivo central deste trabalho é analisar a relevância social da literatura afrobrasileira como meio de combater o racismo no cotidiano escolar. É inegável a herança
africana na formação do povo brasileiro passando pelos costumes culturais e pela
pluralidade religiosa. Apesar de toda riqueza da cultura africana, a discriminação racial
ainda é presente no cotidiano escolar. Negar a história da África é negar a história do
povo brasileiro, mesmo com a Lei 10.639/2003, ainda se observa no cenário atual dos
currículos, o mínimo de disciplinas específicas sobre a África e no Ensino Fundamental
e Médio das escolas públicas a falta de práticas educativas que contemplem e valorizem
a população afrodescente, especialmente a mulher negra. A inserção desses conteúdos
nos currículos, assumida pelo Ministério da Educação tem como objetivo corrigir
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
injustiças, eliminar discriminações, promover inclusão e a cidadania para todos no
sistema educacional brasileiro, o que consta nas Diretrizes Curriculares Nacionais/2005.
Daí a urgente necessidade de trabalharmos a literatura afro-brasileira como uma
possibilidade de desenvolver práticas pedagógicas transformadoras que promovam
relações de convivências permeadas de atitudes de ética e de respeito. Neste sentido o
conto ULOMMA, do escritor nigeriano Sanny, contribui para redesenhar uma nova
história da mulher negra na sociedade contemporânea, destacando a sua contribuição
como sujeito histórico na educação do nosso país através da sua presença significativa
nas mais diversas manifestações culturais como a dança, a música, a poesia e a
literatura.
Palavras-chave: Literatura, mulher, racismo, educação.
Ana Mónica Henriques Lopes
UFAL
Raça e nação: a construção da África do Sul
Neste trabalho nos propomos a pensar como a discriminação racial proporcionou em
dois momentos distintos o desenvolvimento de práticas e discursos que tinham por
fundamento organizar o Estado nacional na África do Sul. O primeiro momento situa-se
há cem anos quando a Constituição da Union of South Africa abriu margem para a
edição de leis que visavam a instituição legal do apartheid e a fundação de um Estado
branco. O segundo momento, ainda em desenvolvimento, iniciou-se com a libertação
de Nelson Mandela, a promulgação das eleições livres e multirraciais e a instalação da
Truth and Reconciliation Commission. (TRC). Se em 1910 a separação parecia, aos
olhos da população bôer e branca, a única possibilidade de instituir um Estado livre e
saudável, em 1990 a sobrevivência do Estado dependia de uma série de agenciamentos e
negociações que concretizassem uma unidade multirracial.
A criação de um posto de abastecimento pela Companhia Holandesa das Índias
Orientais em 1652, que mais tarde abrigaria a colônia do Cabo, foi o ponto de partida
para a organização de uma sociedade fechada, organizada em clãs, com enorme
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
desprezo tanto pela população nativa quanto pelos imigrantes que aportaram ali dois
séculos depois. Os Bôers ou afrikaans, colonos descendentes de holandeses, franceses,
flamencos e alemães, instituíram desde o início da colonização uma separação racial,
social, política e econômica que não admitia nem mesmo uma proximidade com os
ingleses que passaram a estabelecer-se no século XIX. Ao afirmarem ser os únicos e
legítimos donos da terra – afrikaans – negavam a humanidade e propriedade aos bantus
e khoisans.
Constituíram um pensamento racial baseado na origem africana branca. Tal qual uma
tradição, que busca numa antiguidade a justificativa de uma prática política, a invenção
da raça afrikaans sustentou a política segregacionista que negava tanto
brancos
europeus, como negros e asiáticos. Podemos observar na Great Trek e na fundação da
República Sul-Africana no Transvaal, em 1857, essa disposição a segregação completa.
Foi apenas após a derrota frente as forças inglesas que os lideres bôers aceitaram
negociar a submissão ao governo Britânico com a assinatura do Tratado de Vereeniging
em 1902. Neste ficava claro o princípio de exclusão da população negra que perdeu o
direito ao voto em todas as colônias na África do Sul, com exceção do Cabo.
Quando em 1910 a África do Sul recebeu a independência limitada da Inglaterra os
alicerces do apartheid já estavam lançados. A partir de então várias leis de exceção
foram editadas até que em 1948, com a vitória do Partido Nacional nas eleições gerais,
foi instituída a política de segregação para negros e colored (indianos, chineses e
mestiços).
Em 1912 a fundação da ANC – African National Congress – teve o proposito de
―defend and advance the rights of the African people after the violent destruction of
their independence and the creation of the white supremacist Union of South Africa‖
(ANC, Constituition). Verifica-se a partir de então uma série de reivindicações que
tiveram como reação governamental o enrijecimento da legislação e o aumento das
prisões, práticas de tortura, desaparecimento e assassinato de seus membros.
O aumento das pressões internacionais e da violência interna devido aos choques entre
as forças de repressão do governo e militantes que apoiavam o fim do apartheid
provocou o enfraquecimento da política de Pieter Botha. Em 1989 Frederik de Klerk
assume o governo com a missão de promover uma política de transição. No ano
seguinte Nelson Mandela foi libertado e teve início o longo processo de negociações e
agenciamentos que visavam mais uma vez fundar o Estado nacional sul-africano, mas
desta vez tendo por base uma legislação inclusiva que punia práticas racistas.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
A organização da TRC e o desenvolvimento do trabalho teve o Ubuntu – que nas
palavras da TRC significa people are people through another people ou umuntu
ngumuntu ngabantu– como princípio filosófico que norteou as investigações dos crimes
ocorridos entre 1960 a 1994. Mais do que a punição, a comissão procurava através da
―verdade‖, a reconciliação nacional – ou a reconstrução. Entre falhas e acertos a
comissão parece ter produzido um clima de precária estabilidade que tem mantido a
África do Sul longe de uma guerra civil e possibilitado a construção de uma nação
multirracial.
Ana Paula Alves Generoso
PUC – MINAS
Sortilégio: magia, sedução, tragédia
O texto teatral Sortilégio II: mistério negro de Zumbi revivido, de Abdias do
Nascimento, apresenta a temática do negro, o resgate dos elementos característicos da
tragédia grega, a presença do herói negro, o coro de mulheres negras, os
questionamentos quanto aos casamentos inter-raciais, a mestiçagem. Observando
Sortilégio percebe-se que o herói vai ao encontro do resgate de suas origens afrobrasileiras, positivando o negro a partir da religiosidade e dos elementos que enaltecem
a cultura afro-brasileira. O negro é visto em uma perspectiva diferente daquela a partir
da qual é retratado em outras peças teatrais da época e de hoje, cuja aparição se
reproduz em estereótipos consolidados socialmente em imagens do negro pobre,
empregado doméstico, escravo, malandro, ladrão e outros mais. Nesse texto teatral, o
negro se posiciona em um entre-lugar, em uma encruzilhada, por não pertencer
completamente ao mundo branco, com as leis e as regras favorecendo apenas aos
brancos, e tão pouco ao mundo negro. Mas este entre-lugar vai permitir que o herói
encontre ou resgate as origens da cultura afro-brasileira por meio da religiosidade do
candomblé.
Palavras-chave: Sortilégio. Herói. Tragédia.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Ana Paula Gomes de Oliveira
Ionath Iamara Silva Santos
Joselma de Lourdes da Silva Lima
Patrícia Cristina de Aragão Araújo
UEPB
MUSICALIDADE AFROBRASILEIRA NO GRUPO PERCUSSIVO MARACAGRANDE:
ESTUDO SOBRE O MARACATU EM
CAMPINA GRANDE – PB
Este trabalho pretende discutir sobre a afrobrasilidade em Campina Grande – Paraíba,
através de reflexões em torno do grupo percussivo Maracagrande. Este grupo utiliza de
recursos musicais para apresentar uma nova vertente do maracatu urbano praticado
como expressão da cultura negra na cidade. Nossa proposta é apresentar o maracatu,
propagado na musicalidade do Maracagrande, enquanto uma vertente ressignificada da
cultura afrobrasileira. Nosso aporte teórico versa sobre os trabalhos desenvolvidos por
GUILLEN e LIMA (2006), OLIVEIRA (2005), SILVA (2000) e MATTOS (2008).
Metodologicamente trabalhamos com história oral temática e, portanto, realizamos
entrevistas com representantes do grupo, para a partir de suas falas sobre as práticas
culturais desenvolvidas pelo grupo, entender como este atua na cidade. Trabalhamos
também com a imagética das fotografias, além de pesquisa bibliográfica para
compreender as práticas reelaboradas pelo grupo, tanto no que se refere a arte praticada
por eles como a forma de manifestação deste tipo de maracatuno contexto da cidade.
Os resultados nos permitiram perceber que o grupo percussivo Maracagrande busca
introduzir através de sua musicalidade a cultura afrobrasileira na cidade, divulgando que
o Maracatu, enquanto manifestação cultural, pode ser ressignificado e reelaborado no
contexto urbano de Campina Grande. Observamos que o grupo começa a alçar vôos
mais altos no circuito cultural nordestino, pois, vem fazendo apresentações em outras
regiões do Nordeste, apresentando-se em diversos espaços o que tem favorecido a
valorização dessa cultura e sua importância história e social.
Palavras-chave: Maracatu. Cultura Afrobrasileira. Musicalidade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Ana Santana Souza
IFESP/UnP
“A cabeça calva de Deus”: a nação segundo Corsino Fortes
A cabeça calva de Deus é uma trilogia épica de Corsino Fortes, poeta caboverdiano, em
que o autor narra a nação Cabo Verde como um espaço de liminaridade. O poema será
uma máquina literária de dissemiNação (BHABHA), o que equivale a dizer que a
nação será narrada no instável território da diversidade cultural onde os agentes do
discurso atuam numa dialética de diferentes temporalidades: moderna, colonial, póscolonial, nativa. Sua estratégia é a de dramatizar os discursos nacionais, permitindo
pensar, dentro do espaço da literatura, no debate da formação da nação, enquanto ato
inconcluso, aberto e em condições fragmentárias.
Palavras-chave: Nação; DissemiNação; Épica; Diversidade Cultural; Corsino Fortes.
Anderson Leon Almeida de Araújo
UFRRJ
Samba e Aparato Religioso Afrobrasileiro
O trabalho tem o objetivo de lançar o olhar para o atravessamento afrorreligioso nas
composições de samba. Para isso, se analisa a fala dos sambistas e suas composições, ao
mesmo tempo em que essas falas dialogam com a trajetória histórica do samba.
A pesquisa qualitativa utiliza a abordagem da história oral, que oferece um leque de
opções quanto ao modo de traduzi-la em metodologias e procedimentos, tais como o
que sugere Vygotsky (1988), e é operacionalizado por Fernando Rey (1997), no intuito
de revelar a construção sócio-histórica do sujeito entrevistado, em nosso caso: o
sambista.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Desta forma, um grupo de compositores disse estar submerso no universo afrorreligioso,
mas ao mesmo tempo não o expressa em suas obras, já outros relataram que não
conseguem compor sem elevar seus pensamentos aos orixás.
Afirma LIMA (2007) que a música aparece como objeto central no culto aos orixás,
além de ser a manifestação do axé como palavra. A música então se encaminha do
mundo sagrado ao terreno do profano, formando o samba.
Ao colocar em paralelo a história do samba, suas influências de origem, e as entrevistas
com os sujeitos, desvenda-se que o sambista da atualidade continua sendo muito
interferido pelo viés afroreligioso, porém o sujeito não explicita sempre em seus sambas
tal aspecto.
Palavras-chave: Samba; Sambistas; Candomblé; Musicalidade.
André Luis dos Santos Barroso
UNICAMP/ FAPESP
Interações Culturais no Mundo Antigo e o diálogo Inter-religioso no Rio de Janeiro
A proposta aqui apresentada é parte dos trabalhos de um ano do projeto de
doutoramento que desenvolvo no Programa de Pós-graduação em História da
Universidade Estadual de Campinas, na área de concentração intitulada História
Cultural com o auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo, sob
orientação do professor André Leonardo Chevitarese.
O projeto pretende compreender que tipo movimento sócio-religioso se configurou no
Norte da África quando comunidades do antigo Egito, Etiópia e região onde hoje
chamamos Sudão aderiram à mensagem dos cristãos. Partimos de uma teoria
desenvolvida por Gertz onde o processo de interação cultural se dá na diversidade
marcada pelo meio, pela geografia e por questões sociais especificas dos grupos que se
encontram.
Assim, chegamos a uma premissa prévia de que o cristianismo que chega às diversas
regiões da África não compõe um movimento homogêneo cuja origem está no judaísmo
que insiste em manter suas marcar em diversas comunidades; e que o encontro com as
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
comunidades africanas acima citadas criam algo diferente daquilo que estava sendo
experimentado da palestina e demais regiões do Império Romano Ocidental. Segundo
Gertz: ―... é preciso mudar para se manter o mesmo.‖ Com isso, nem o cristianismo se
mantém intacto em um determinado encontro cultural, nem as comunidades aderentes
ao cristianismo perdem por completo sua identidade cultural.
A partir desta reflexão considerava, não só possível, mas fundamental que se
estabelecesse um diálogo sócio-cultural-religioso com as comunidades religiosas de
matriz africana na cidade do Rio de Janeiro, eu e um grupo de companheiros militantes
da Igreja Católica organizamos o Fórum D. Hélder cujo objetivo era estabelecer um
contato no sentido de uma atuação conjunta com as comunidades de terreiro contra a
discriminação e preconceito que no Rio de Janeiro beira a violência física e profanação
de Templos.
Passamos a compor a CCIR (Comissão de Combate à Intolerância Religiosa) e atuar nas
ações afirmativas como na implementação da lei 10639 nas escolas e espaços onde
tínhamos atuação, produção de seminários e colóquio com o referido tema e no grande
ato anual da comissão que é a Caminhada pela Liberdade Religiosa que ocorre a três
anos na orla de Copacabana sempre no terceiro domingo de setembro.
Andreia Patrícia Soares Ramos Correia
DINÂMICAS IDENTITÁRIAS E ECONOMIA DE ALTERIDADE NA MIGRAÇÃO
ACADÊMICA DE ESTUDANTES CABO-VERDIANOS E GUINEENSES PARA
FORTALEZA
Este artigo discute a migração acadêmica de estudantes africanos para Fortaleza, capital
do Ceará. Busca analisar as práticas de sentido e as dinâmicas identitárias dos
estudantes africanos face à economia de alteridade, representada pelo universo de
colegas brasileiros. Baseado em trabalho de campo etnográfico, partimos de questões de
campo tais como: onde vivem; como vivem; com quem vivem- como eles/elas
constroem suas redes de sociabilidade-, e de que forma o novo meio acadêmico
promove afetações, percepções e imaginações para a produção da subjetividade dos
migrantes. Todo ano ingressam na Universidade Federal do Ceará, a partir do Programa
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
de Estudante Graduação (PEC-G), centenas de imigrantes acadêmicos, a maioria deles
africanos oriundos de Cabo-Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e
Moçambique (países membros da PALOP ). Mas esta migração não se dá apenas pelo
programa PEC-G, ela acontece também de uma forma mais complexa, os chamados
"por conta própria‖, que são aqueles estudantes que ingressaram nas Faculdades
privadas. São todos indivíduos que trocam experiências, valores e práticas culturais
através da convivência e da vivência com o "outro", estão sujeitos, cotidianamente, às
alteridades e transformações, construindo novos laços.
Andreia Regina Moura Mendes
Fernando Joaquim da Silva Junior
UFRN
África na sala de aula: além da história
Desde a implementação da lei 10639/03, o ensino da ―História e cultura afro-brasileira‖
tornou-se obrigatório no ensino básico. Entretanto, apesar da Lei de Diretrizes e Bases
da educação sugerir que esta abordagem seja feita em todo o ensino fundamental e
médio através da discussão dos temas transversais, ainda percebemos muitas
dificuldades para esta implementação na escola. O objetivo deste trabalho é discutir
como a abordagem pode ser feita nos cursos de licenciatura de forma que a adoção da
temática da África possa auxiliar no processo de formação dos professores para
realização da mudança necessária.
Outro aspecto que abordaremos trata da produção de conteúdos que possam ser
debatidos nos diferentes cursos de licenciaturas e quais alternativas podem ser pensadas,
diante de um quadro de limitadas, produções tanto para o ensino básico quanto para a
formação de professores.
Para a realização deste trabalho realizamos a análise de diferentes documentos como o
próprio texto da lei citada, a cartilha ―Ensino de História e cultura afro-brasileira e
indígena‖ elaborada pelo sindicato de professores do Distrito Federal, além de artigos
produzidos por diferentes pesquisadores e de diversas obras que pretendem tratar a
África nas licenciaturas, além da história. A metodologia adotada foi uma revisão
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
bibliográfica com a produção de um artigo científico. Esperamos com este trabalho não
apenas discutir a importância do ensino da história e cultura africana em sala de aula
mas também abrir o debate para elaborar um olhar multidisciplinar diante de um objeto
tão caro para a formação de nossa identidade cultural.
Andrew Yan Solano Marinho
UFRN
CARAVELA & SLAVE SHIP, MUSIC NAS AMERICAS? CONFLUÊNCIAS ENTRE A
ASCENSÃO SOCIAL DA MÚSICA POPULAR URBANA DO SAMBA E JAZZ
Neste trabalho propomos uma exposição do processo de consolidação do jazz e do
samba como música popular de representação de identidades nacionais. Abordaremos
essas expressões não apenas como estilos musicais frutos de misturas de diásporas da
música africana e da música européia, mas sim como dois processos sociais que
ocorreram em duas culturas singulares com noções semelhantes. Vamos questionar o
conceito de música de negros e pobres indagando que esta foi popularizada através dos
brancos com intuito de estabelecer uma indústria de entretenimento comercial para o
público urbano recém formado no início do século XX nos Estados Unidos e Brasil. A
partir da formação desta indústria, o estilo musical que antes era expressão das minorias
voltou-se também para o popular. Neste viés, observaremos a transformação social do
público que é representado por tais estilos musicais e daquele que se tornou o seu
público-alvo. O samba e o jazz não seriam vistos apenas como uma popularização de
música nacional, mas como o marco divisor entre a tradição cultural multifacetada e a
consolidação de uma cultura nacional, expressa através da música. A partir deles todo
gênero popular funcionaria como um subproduto desse espaço. Para subsidiar esses
debates utilizaremos as concepções dos historiadores José Tinhorão e Eric Hobsbawm e
as considerações realizadas pelo antropólogo Hermano Vianna baseadas nas pesquisas
de Franz Boas e Gilberto Freyre. Enfatizaremos o período entre o início do século XX
até a década de 50, além de indicar uma confluência entre samba e jazz, que pôde ser
compreendido como bossa nova ou brazilian jazz com a finalidade de defender uma
análise crítica entre as aproximações do samba e do jazz.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Andrey Pereira de Oliveira
UFRN
RETÓRICA DA RUMINAÇÃO: A MEMÓRIA TRAUMATIZADA DA GUERRA COLONIAL
EM OS CUS DE JUDAS
O objetivo deste trabalho é propor uma leitura analítica do romance Os cus de Judas
(1980), de António Lobo Antunes, que, num singular arranjo narrativo, traz à cena as
memórias traumatizadas de um ex-médico do exército português que, durante pouco
mais de dois anos, atuou na guerra colonial da Angola. Serão destacados neste estudo
elementos da composição do discurso narrativo da obra (ponto de vista, configuração do
tempo, linguagem), bem como questões mais ligadas à própria configuração do universo
diegético que remetem a elementos da história factual. O discurso e a história ficcional
serão abordados a partir de uma perspectiva integrativa que visa a observar o texto
literário como uma formalização de questões sociais.
Andy Monroy Osório
O PERIGO DA MIDIA: O Retrato do Negro na mídia Brasileira
Apesar da abolição da escravatura, o negro ainda hoje é retratado como sendo
pertencente a uma classe inferior. A mídia demonstra claramente sua posição em
retratar mazelas sociais do quotidiano do negro e sempre de modo estereotipado como
sendo um bandido, traficante analfabeto ou pobre, sem nunca apreciá-lo, a não ser que
seja uma celebridade. A mídia desde sempre se tornou um negócio mercadológico,
aquele que tiver uma noticia que apresenta a desgraça alheia se tornou um
―entretenimento‖. Nos dias de hoje o preconceito racial muitas vezes se torna mais
perigoso estando debaixo da máscara sorridente da sociedade.
A mídia, porém apresenta essa discriminação através da invisibilidade do negro muitas
vezes nas telenovelas e também muitas vezes na mídia impressa.
A mídia de uma forma geral demonstra um grande perigo em perpetuar essa visão
estereotipada do negro, pois inúmeras vezes mostram algo que não condiz com a
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
realidade, é notável a insistência da mídia em não quebrar essa ―barreira‖ e me leva a
questionar a tão falada democratização racial. No presente trabalho pretendo abordar
questões sobre esse mito da democratização racial no seio midiático, com um enfoque
específico para o cinema e telenovela, e apontar possíveis soluções para tal problema.
Antonio Cleonildo da Silva Costa
Lílian de Oliveira Rodrigues
UERN
HISTÓRIA DE VIDA E MEMÓRIA: evidências da linguagem pela oralidade
Pela filosofia proposta por Bakhtin (2006) entende-se a linguagem como um conjunto
de substâncias constituintes de um sistema inabalável que tem estreitas relações com a
sociedade. Por esse prisma, a linguagem na perspectiva discursiva, segundo Orlandi
(2007) apresenta-se de muitas maneiras – uma delas, inclusive, é a analise do homem
falando; um sujeito que pelas relações dialógicas com os outros sujeitos constrói
situações de produção de dizeres. Ao fazerem isso, recorrem à memória social, como
esclarece Eleia Bosi (1994), e, ao mesmo tempo, coletiva, segundo Halbwachs (2006).
A Memória nas colocações de Achard (2007) é uma produção discursiva do sentido.
Ademais nos acrescenta Montenegro (2003) que o trabalho com a memória exige
cuidados quando ela se constitui na oralidade, pois a consciência evoca diferenças,
esquecimentos – intencionais ou não – que para Bergson (1999) são fenômenos
subjetivos, relativamente íntimos. Pelo exposto, o trabalho objetiva-se por discutir a
construção da memória através de condições do dizer, utilizando, portanto, a história de
vida de uma narradora. D. Loura, conta sua história e usa as botijas (potes de ouro
enterrados em segredo) como um pano de fundo para evidenciar seus sonhos, vontades;
sua própria identidade. Espera-se, em suma, a proposição de um dialogo entre os
teóricos e as práticas orais do discurso nos esclarecimentos que norteiam os fatores
apresentados, recorrentes da linguagem.
Palavras-chave: Linguagem. Memória. Oralidade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Antonio Cleonildo da Silva Costa
Lílian de Oliveira Rodrigues
UERN
IDEOLOGIA, ALTERIDADE, EXOTOPIA E ÉTICA: aspectos delineadores do sujeito
bakhtiniano nas trilhas da pesquisa
A pesquisa em ciências humanas constitui um abrangente leque de possibilidades de
estudos voltados aos aspectos discursivos que delineiam o sujeito, sobretudo aos moldes
acadêmicos que na maioria das vezes segue um rigor cientifico padrão e acaba
proporcionando uma neutralidade, sem muitas possibilidades de inovação. Por causa
disso, se objetiva aqui mostrar que a pesquisa pode sim trilhar por caminhos novos e
adentar, por exemplo, no cotidiano das experiências humanas; no universo do sujeito
que é ideologicamente constituído e acaba sendo influenciado pelo olhar do outro na
problemática da alteridade e pelo lugar exterior que esse olhar ocupa, ou seja, pela
exotopia. Nessa relação complexa entre o sujeito e o outro a pesquisa se fundamenta
pela ética quando se articula a ideia de responsabilidade. Conceitos Bakhtinianos
ajudam a situar o sujeito em seu entorno discursivo, ou melhor, nas práticas do discurso,
articulando pesquisado e pesquisador no cotidiano das relações sociais e nas trocas de
concepções de mundo. Diante disso, apresentar-se-á uma experiência de pesquisa com
uma contadora de história de vida, D. Loura, do Município de Riacho de Santana – RN,
pela qual evidenciaremos a teoria na prática. Seu discurso é marcado ideologicamente
pela linguagem e pela história e reúne muitos ditos e não ditos. O presente trabalho
fundamenta-se, portanto, pelos escritos de Bakhtin (2006), Geraldi (2010), Amorim
(2003), entre outros.
Palavras-chave: Conceitos Bakhtinianos. Pesquisa. Práticas discursivas. Sujeito.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Antônio Marcos dos Santos
UEPB
CHIQUINHO, DE BALTASAR LOPES, COMO EXPRESSÃO DA CONSCIENTIZAÇÃO
NACIONALISTA NO ARQUIPÉLAGO DE
CABO-VERDE
Pretendemos, neste trabalho, examinar alguns aspectos da obra Chiquinho, do caboverdiano Baltasar Lopes, com o propósito de apresentá-la como expressão de uma
conscientização nacionalista, e, por conseguinte, de um posicionamento anticolonialista,
que se dá em vários âmbitos inter-relacionados: político, econômico, social e cultural.
Para tanto, valemo-nos de aportes teóricos que versam, principalmente, sobre
colonialismo, pós-colonialismo e identidade, e optamos por dar ênfase a questões como
miséria, fome, morte e emigração, decorrentes, em certa medida, da má administração
do governo de Portugal, especialmente na primeira metade do século XX.
Paralelamente, procuramos apresentar a educação escolar e acadêmica, associada a uma
consciência crítica, tanto na ficção (alguns personagens do romance), quanto na
realidade (o próprio Baltasar Lopes), como elemento propiciador dessa conscientização
nacionalista.
Em três tópicos breves, além da introdução e das considerações finais, apresentamos de
modo mais sistemático as questões acima referidas. Em Fome, miséria e morte, focamos
as deploráveis situações de personagens – inclusive crianças – que são aniquilados por
essas forças destrutivas, recorrentes do início ao final da obra e vinculadas ao descaso
do governo português. Nos tópicos O sentimento anticolonialista, na realidade e na
ficção e O uso crítico do conhecimento escolar e acadêmico, procuramos apresentar
uma convergência entre os ideais de Baltasar Lopes e os de alguns personagens do
romance, sobretudo o jovem Andrezinho, o erudito, no sentido de que seus pensamentos
e ações se opõem ao status quo, o colonialismo, provocador da condição desesperadora
que afeta, à época, a maior parte da população cabo-verdiana.
Palavras-chave: Chiquinho, fome, miséria, colonialismo, conscientização nacionalista.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Anuska Karla Vaz da Silva
UFPB
Primeiros Passos: a Infância ficcionalizada de J. M. Coetzee
A proposta dos Estudos Culturais é o de dar voz aos subalternos, como disse Gayatri
Spivak. Entretanto, dar voz a uns não significa suprimir a de outros que detinham,
anteriormente, o discurso: a sugestão é equilibrar, em harmonia, o espaço de expressão
entre todos. E, pensando nisto, colocamos em pauta a obra Infância, de J.M. Coetzee
que, apesar de pertencer à parcela dos ditos ―colonizadores‖, também vivenciou
conflitos causados por sua condição de sujeito de fronteira em seus primeiros anos de
vida, na África do Sul: a herança afrikander em contraposição à identificação com o
modus vivendi inglês – e tudo o que isso deflagrou: o choque identitário em relação ao
seu próprio núcleo familiar, às famílias dos pais, à religião, à convivência escolar, à
situação política mundial e, num sentido mais profundo, na posição do menino consigo
próprio, nesta permanente tensão causada por constantes resoluções a tomar. É pelo viés
da autoficcionalidade, tão em voga na literatura contemporânea, que J. M. Coetzee
coloca em pauta não a sua vida, mas parte dela para apresentar as experiências e
decisões que circundam pessoas pertencentes ao terceiro espaço: decisões difíceis de
tomar, e que envolvem não somente um sentimento particular, mas, principalmente, um
engajamento e postura sociais.
Arandí Róbson Martins Câmara
Maria de Lourdes Patrini – Orientadora
UFRN
JOÃO COTA: PORTADOR DA VOZ POÉTICA
Pesquisar sobre as histórias contadas por João Cota é, de certo modo, encontrar-se com
a tradição oral e a prática social de contar, considerando, sobretudo, a resistência que
essa arte exerce na atualidade, utilizando-se da performance na transmissão e recepção
orais dos contos. Estudar essa prática é contribuir para permanência desse contador de
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
história tradicional. Os contos orais são parte do patrimônio vivo da humanidade,
transmitidos em forma de sabedoria popular. Entretanto, apesar do risco de desaparecer
juntamente com seu narrador, as histórias ainda conseguem resistir a esse modelo da
cultura de massa contemporâneo. Até quando histórias orais como as de João Cota
resistirão às estruturas cada vez mais fortes impostas pela escrita e outros meios de
comunicação? A prática de contar de João Cota será estudada com a proposta não só de
identificarmos a presença dessa prática e a resistência da cultura oral, mas também, sob
à luz da performance, estudar a transmissão e recepção orais contos e as partes do
repertório desse contador de histórias. Isto é, o que ele conta, como conta e o por quê de
contar. O objeto de pesquisa vai exigir em cada uma de suas etapas de estudo obras de
vários teóricos, entre eles, Paul Zumthor, Walter Benjamin, Câmara Cascudo, teóricos
da estética da recepção, da história da cultura escrita, das culturas orais e das práticas de
leitura, da tradição e do conto oral no universo folclórico do Brasil. Para conhecer e
assim esboçar um perfil desse contador escolhi o método da ―entrevista compreensiva‖
do sonólogo-francês Jean –Claude Kaufmann.
Palavras-chave: Contador de histórias. Oralidade. Performance.
Ariane K. Benicio de SÁ
UERN
ENTRE FALAS E CONTOS: ORALIDADE E IDENTIDADE NO QUILOMBO DE LAGOA
RASA
Sem dúvida, a história oral é, se não a mais importante, uma das mais importantes
fontes de preservação de valores de um povo. Porém, com o surgimento da escrita, foi
desconsiderada e manteve-se durante séculos, resguardada apenas na memória
transmitida de gerações para gerações. Felizmente, nos últimos tempos, vários estudos
que privilegiam memória e oralidade têm se desenvolvido. Com base em alguns deles,
este trabalho, objetivou averiguar a relação existente entre narrativas orais e memória
coletiva com o processo de (re) construção identitária estabelecido na comunidade
Quilombola de Lagoa Rasa, situada na cidade de Catolé do Rocha – PB. Objetivou-se
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
registrar narrativas e foram encontradas ricas histórias reais e imaginárias. Lá no
quilombo situado no sertão paraibano, onde os contos são criados e recriados por bocas
que jamais leram e gesticulados por mãos que também nunca escreveram. Lá no
Quilombo marcado pelo preconceito histórico e cruel é de maneira viva e comum a
todos que a literatura se manifesta. De modo que os valores transmitidos pelas vozes
que contam, desenham em cada contexto, a identidade do quilombo. Uma identidade,
que por eles vai sendo (re) construída a cada novo conceito abraçado. Bem como em
qualquer cultura, remodelando-se, também, com as inovações do tempo. Nesta
perspectiva, crença, Literatura e costumes vão ser aqui revelados através de histórias,
contos e relatos, configurando a Literatura oral cultivada entre as vozes do quilombo e a
face identitária que através dela se descreve.
Palavras-chave: Narrativas orais. Memória coletiva. Identidade étnica.
Ariane K. Benicio de SÁ
UERN
DISCURSOS QUE NORTEIAM A QUESTÃO QUILOMBOLA –
PODERES CÁ E LÁ
O presente trabalho propõe a reflexão sobre a concepção de poder enraizada nas
relações entre política e direito, manifestada nas formas do discurso, nos reflexos
comunicativos e suas ações reluzentes. Com enfoque na formação e preservação das
comunidades quilombolas, em primeiro no contexto de resistência da população negra
ao regime de escravidão individual e coletiva em face aos processos de exclusão
socioeconômica decorrentes da expansão do modo capitalista de produção, e em
segundo, na aderência aos novos conceitos e ações que buscam o resgate dessas
minorias nos dias atuais objetivando a formação de cidadãos capacitados para validar o
poder que compõe os ideais na sociedade atual com a inserção destes sujeitos nos
sistemas econômicos e socioculturais. A maneira como essas comunidades interagem ou
submetem-se aos poderes administrativos e comunicativos será analisada com base nos
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
conhecimentos de saber e poder tratados por Foucault e de ensaios que referenciam a
realidade dos Quilombos no Brasil e promovem a reflexão sobre a exclusão e o
preconceito que fada esses grupos a crueldade de uma luta secular por direitos e espaço
social. Mas que revela força e resistência, pois (re) constroem-se hoje através de
organização e pela força da voz, ou melhor, das vozes que trouxeram da memória suas
significações e hoje discursam como ataque e discursam como defesa. Discursam com a
força de quem deseja abafar o eco doloroso dos discursos do preconceito.
Palavras-chave: Discurso e poder, questão quilombola, exclusão sócio-cultural.
Ariosvalber de Souza Oliveira
UFCG
Práticas de torturas e Cenas da Cidade Negra no conto “Pai contra Mãe” de
Machado de Assis
Este trabalho se propõe analisar o conto ―Pai Contra Mãe‖ de Machado de Assis,
analisando as ressonâncias históricas na narrativa machadiana e estabelecendo relação
com alguns aspectos da escravidão no Brasil oitocentista. Para tanto, empregamos o
conceito de representação do historiador Roger Chartier – analisando a narrativa
literária enquanto representação. Para um estudo mais acurado do texto de Machado de
Assis estabelecemos o diálogo com a crítica literária machadiana, dialogando com os
críticos, Astrojildo Pereira e Eduardo de Assis Duarte. De forma que o conto ―Pai
Contra Mãe‖ para além de uma narrativa literária é uma fonte histórica importante para
se estudar alguns aspectos da escravidão urbana no Brasil, trata-se de analisar a cidade
do Rio de Janeiro no período oitocentista enquanto uma ―Cidade Negra – termo que o
historiador Sidney Chalhoub observa como recorte a importância da população negra na
corte. A Cidade Negra é o engendramento de um tecido de significados e de práticas
sociais que politiza o cotidiano dos sujeitos históricos num sentido especifico – Uma
lógica própria e redes de solidariedades produzidas pela população negra na Corte.
Outro aspecto a ser analisado é a violência. O sistema escravista no Brasil foi baseado
na violência física e simbólica. A escravidão foi o evento mais importante da história
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
brasileira, o Brasil foi o país das Américas que mais recebeu escravos da África.
Machado de Assis como poucos representou artística e historicamente as contradições e
tensões sociais advinda da escravidão da época.
Palavras chaves: Escravidão, Violência, Machado de Assis, Cidade Negra.
Arivaldo Leandro da Silva Monte
O caracol da linguagem: oralidade em Mia Couto
Neste trabalho discutiremos o problema sobre a forma da linguagem ―falinventada‖ na
oralidade de Mia Couto e sua relação com os contos e elementos ―Maravilho‖ e
―Fantástico‖ nas obras: ―O embondeiro que sonhava pássaros‖, ―A princesa russa‖, ―O
pescador cego‖ e ―A lenda da noiva e do forasteiro‖. O poder criativo e imaginativo do
escritor, somado à oralidade moçambicana, por vezes, evoca uma áurea de alegorias
próprias dessa cultura que, muitos, tomam como sendo pertencentes aos elementos
―Maravilhoso‖ e ―Fantástico‖ . Estes termos são encontrados em diversos trabalhos
acadêmicos, procurando definir os contos de Mia Couto nestes gêneros, ou
simplesmente, isolando elementos da ficção, para, em seguida, classificá-los em tais
categorias o que nem sempre se ajusta verdadeiramente, é o que pretendemos
demonstrar até o final deste trabalho. Para fundamentar nossos estudos usaremos as
seguintes referências: Introdução à literatura fantástica de Todorov (1992) e Teoria do
conto de Gotlib (1991).
Palavras-chave: Linguagem e Oralidade.
Arlene Viégas Baiôco
UECE/FAFIDAM
Budapeste e os reflexos da vida moderna
Narrativa moderna brasileira, Budapeste de Chico Buarque é considerada de
fundamental importância para os estudos literários, pois, além de refletir sobre a própria
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
produção, a obra critica de forma indireta a contemporaneidade nomeada pós-moderna.
Nessa perspectiva, este trabalho busca discutir elementos como a efemeridade do novo,
a construção da identidade pessoal e as relações de trabalho e de família que encontramse internalizados no romance e que constituem imagens representativas do cotidiano do
homem no mundo atual. Para isso, serão levados em consideração, dentre outros, os
pressupostos teóricos dos estudiosos Sandra Nitrini, Otávio Rios e Renata Moreira.
Palavras–chave: Budapeste. Personagem. Modernidade.
Beliza Áurea de Arruda Mello
UFPB
AS YABÁS DO SAMBA: CLEMENTINA DE JESUS, JOVELINA PÉROLA NEGRA,
DONA IVONE LARA, MEMÓRIA DA PEQUENA ÁFRICA
Iabá, Yabá ou Iyabá ou simplesmente mãe rainha, termo usado para os orixás Iemanjá
e Oxum, símbolos da fertilidade e gestação. No Brasil, o termo é estendido para todos
orixás femininos.
Sob este signo procede-se uma leitura sobre a performance e o
canto de três mulheres negras e pobres – Clementina de Jesus, Jovelina Pérola Negra,
Dona Ivone Lara – que no século XX reterritorializam a Pequena África , outrora
localizada na região central do Rio de Janeiro ( Cidade Nova, Praça Onze e Gamboa
),redimensionando-a nos subúrbios e
morros do Rio redesenhando, assim, na
contemporaneidade a memoria dos cantos afros das umbigadas , dos batuques
angolano, do Congo e regiões vizinhas ,dos cantos religiosos como jongo e caxambu
em sambas de Partido Alto .Nesse sentido , o canto destas três mulheres ressalta a
importância da tradição da memória de grupos étnicos dispersos por crises econômicas
mas que se reorganizam a partir dos códigos corporais dos cantos em festas
religiosas e profanas incorporando
elementos de diversos códigos culturais o que
legitima-as como Yabás do samba, senhoras germinadoras e portadoras da memória
afro para as novas gerações.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Bethânia Lima
Maria Nina Januário
UFRN
Crianças poetas vivendo e sonhando histórias na praia
Motivado pela infância que habita em todo ser, este trabalho tem por objetivo mapear a
poeticidade da narrativa no livro ―Avódezanove e o segredo do soviético‖, do escritor
angolano Ondjaki. Para descrever as infâncias da Praia do Bispo, Angola, o autor
utilizará recursos da escrita poética, tais como sinestesias, aliterações, ressonâncias, pois
só a poesia dará conta dos jogos lúdicos presentes nas histórias contadas nesse livro.
Para compor a análise conta-se com os pensamentos a cerca do devaneio e da infância
do filósofo Gaston Bachelard, que também amadurecerá nosso olhar para compreender
o espaço da Praia do Bispo como a casa de toda a infância vivida pelos personagens.
Em diálogo com a filosofia fenomenológica de Bachelard, teremos Homi Bhabha e
Silviano Santiago, com seus trabalhos que giram em torno do entre-lugar do discurso
presente na escrita de Ondjaki; recurso utilizado para viver e perceber os cheiros de
Angola através da linguagem infantil que encanta ao leitor. Sendo assim possível
compreender o dual entre o real e o imaginário, entre a lucidez e a loucura que
margeiam o mundo fantasioso dos personagens desse livro, que ao todo será um
trabalho que reforçará a ideia de que são muito ‗miúdos‘ os espaços que separam o ‗ser
criança‘ do ‗ser poeta‘.
Palavras-chave: Criança, imaginário, poesia e Angola.
Bruno Goulart Machado Silva
UFRN
A festa dos negros do rosário de Jardim do Seridó: ritual de inversão, mito da
democracia racial e/ou crítica da modernidade?
Este trabalho pretende refletir sobre os sentidos do ritual realizado pelos negros do
rosário de Jardim do Seridó. O ritual acontece durante a festa em devoção à Nossa
Senhora do Rosário e São Sebastião. O intuito é pensar o ritual dentro da festa,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
utilizando-o para refletir sobre conceitos como tradição, ideologia e a associação entre
performance e narrativa. Através de uma análise do ritual é buscado uma narrativa da
contra-modernidade, contida nessa performance.
Carla Alberta Gonzalez
UNP
ESPAÇO E ORALIDADE: AS COMUNIDADES REMANESCENTES QUILOMBOLAS DO
RIO GRANDE DO NORTE
Em 1988 a Constituição Federal do Brasil garantiu às Comunidades Quilombolas o
direito de terem suas terras tituladas pelo Poder Público. Em 2003 foi aprovado o
Decreto nº 4.887, que dispõe sobre os procedimentos da titulação das terras
quilombolas, tarefa de responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária, INCRA. Até o momento, nenhuma Comunidade Quilombola do Rio
Grande do Norte teve seu território titulado.
A ordem escravocrata no Brasil se dá em grande parte na ordem econômica do açúcar
na possibilidade da mudança rápida da escala em que ele é produzido e esse
crescimento, a exploração do açúcar, fazia também crescer continuamente á procura de
braços e a escravidão vai se adequar a possibilidade de mobilizar mão de obra e
fornecer os contingentes adicionais necessários.
No Brasil ele vai definir os latifúndios e marcar decisivamente os destinos da nossa
sociedade. A história do trabalho é também a história do escravo ( primeiro nos
canaviais, mas tarde nas minas de ouro, nas cidades ou fazendas). A mais importante de
todas as influencias é muitas vezes de forma omissa pela historiografia são as condições
sociais criadas com o sistema escravista, a existência de dominadores e dominados
numa relação de senhores e escravos propiciou situações particulares especificas
marcando a mentalidade nacional e regional.
No Rio Grande do Norte, a capitania como indústria açucareira não era tão significativa,
mas existiam, em menor quantidade do que a criação de gado e roças de mandioca,
milho e feijão.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Segundo a historiadora Marlene Mariz ( cita na pág., 73 do seu livro : Rio Grande do
Norte Colonial- 1597-1822) o primeiro contingente de escravos chegaram à capitania
para desenvolver as zonas canavieiras e possivelmente um dos primeiros pontos foi no
local que hoje é São José do Mipibu.
A presença negra no Rio Grande do Norte, foi uma constante, chegavam através do
Porto de Recife. Há um silencio historiográfico sobre a presença do negro no RN.
Cascudo em 1955 dizia: ― se em 1854 exportávamos 80.749 arrobas de açúcar, cinco
anos depois , em 1859,os 156 engenhos moendo subiram esses números para 350.000
arrobas, subia obviamente o número de escravos.‖
Em 1844 os dados de negros no Rio Grande do Norte, era de 23.467 e o último
recenseamento escravo realizado em 1887, registrasse apenas 2.161 em todo o Rio
Grande do Norte. (Cascudo, 1955 p.46).
Onde foram parar?
O pensamento que ainda por vezes, involuntariamente nutrimos hoje tem raízes
histórico-estruturais no tráfico atlântico de escravos e reforçado pelo imperialismo
colonial de fins do século XIX na África. Racismo faz parte de um corpo ideológico que
antecede e transcende o imperialismo colonial.
A presente pesquisa tem, portanto o objetivo e a problemática traduzida nesses espaços
territoriais que os descendentes dos escravos ocuparam e ocupam até hoje no Estado do
Rio Grande do Norte. Pontuar e abrir o debate sobre os espaços, a oralidade e as
políticas sociais que se voltam para essas identidades no século XXI é o ponto de
partida para entendermos uma história invisível e com forte cunho de um racismo
selvagem que se mantém de forma clara em toda a documentação historiográfico do Rio
Grande do Norte.
Palavras-chave: Oralidade. Espaço. Território. Escravos. Identidade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Carla Liege Rodrigues Pimenta
Acacia Silva Alcantara
Danielly Muniz de Lima
Cristiane Maria Nepomuceno
UEPB
EM BUSCA DAS PISTAS: UM OLHAR PARA A ÁFRICA ANTIGA E SUA INFLUENCIA
NAS PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO BRASILEIRO
Este trabalho propõe-se a discutir a influência da cultura africana e identificar os
elementos culturais que ainda se fazem presentes na cultura brasileira, que vem
atravessando o tempo e é parte do legado cultural do nosso povo a gerações. Esse artigo
resulta dos apontamentos de estudos realizados, como parte da fundamentação teórica
de uma pesquisa em andamento, sobre a História e Cultural Africana e Afrobrasileiro
financiada pelo Programa de Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba
(PROPESQ) e PIBIC. A pesquisa bibliográfica que estrutura este trabalho objetiva fazer
um resgate histórico e cultural da Senegâmbia, mostrando desde os aspectos
geoambientais e econômicas, aos aspectos históricos e culturais (religiosos, artísticos,
musicais, alimentares, entre outros). Presentes em nosso modo de vida, o conjunto de
bens culturais herdados desse povo, compõem e expressam a nossa afrobrasilidade.
Discutiremos também como estes africanos influenciaram a formação da identidade
cultural brasileira, especialmente a nordestina. Dentre as muitas fontes bibliográfica
utilizadas, a principal foi a ―Coleção História da África Geral‖ publicada pela UNESCO
em 2010. Com este trabalho queremos mostrar que a cultura do povo negro, africano e
afro-brasileiro, tem um potencial educacional importante de ser conhecido na escola, a
fim de também contribuir para a afirmação identitária étnico-racial dos afrodescentes
presentes nas escolas e nas universidades brasileiras. Além de se constituir num arquivo
de saberes, acreditamos ser relevante esta proposta para os estudos históricos, sobretudo
pelo dispositivo contido na Lei 10.639/03, que sugere dimensionar os estudos voltados
para a história e cultura dos afro-brasileiros.
Palavras-chave: Diáspora Africana. Senegâmbia. Cultura Africana. Cultura Brasileira.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Carlos Alberto de Negreiro
UEPB
TERRITÓRIO DOS AFECTOS: A VIOLÊNCIA DA LETRA E O COMPROMISSO DAS
IDENTIDADES EM MIA COUTO
A obra de Mia Couto se apresenta com um manancial relevante para a investigação de
como se instaura a identidade dos sujeitos nas relações, que se estabelecem como o
outro. Esta questão abre para o problema: a identidade dos sujeitos se forma a partir de
um confrontar-se com esse Outro? As estratégias invisíveis das quais se vale Bhabha
(2003) podem apontar caminhos para que se possam transformar espaços em lugares
para sujeitos. Os usos e hábitos, transformados em signos, dão ao lugar uma
configuração, assim como a língua na literatura. Se uma verdade é infinita, mas o local
dessa verdade é finito, a compreensão da pluralidade do/no sujeito da linguagem pode
levar a mundos possíveis, sujeitos e territórios, ao compreender que fronteiras não
distinguem iguais e diferentes, tudo é trânsito, processo, identidades em movimento,
como enfatiza Hall (2003). Moçambique, nação erigida por conflitos bélicos da Guerra
Colonial e guerra civil, tenta se reconstruir a partir dessas ruínas. Nesse contexto, uma
literatura nascida no período colonial consegue transpor essa época subjulgante para
compor uma literatura de construção de um novo país, como diria Mia Couto:
―inventar‖ uma ―terra‖. O que propomos é, justamente, de que forma se pode observar a
identidade e quais configurações se expressam no tecido literário. A violência da letra
representada pelo relato de guerras e conflitos se mistura às simbologias da ―terra‖, da
―árvore‖ e do ―céu‖, formando os territórios geradores de um mundo peculiar e próprio
que tenta ser o próprio Moçambique.
Palavras-chave: territorialidade, subjetividade, identidade, Mia Couto.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Carlos Eduardo Galvão Braga
UFRN
A feiticeira, de Marie NDiaye : a identidade e suas vicissitudes
Propomos, com o presente trabalho, uma leitura do romance A feiticeira [La Sorcière],
de Marie NDiaye, a partir dos pressupostos dos Estudos Culturais. Filha de pai
senegalês e mãe francesa, a autora, nascida na França, em 1967, cria, em seu sexto
romance, a personagem de Lucie, herdeira de uma tradição familiar que ela se mostra,
no entanto, na sua prática pessoal da feitiçaria, incapaz de perpetuar. Essa dificuldade da
protagonista-narradora é apenas, na verdade, a expressão particular de seu desamparo
diante de um real caracterizado pela inospitalidade e, de um modo geral, pela
desarmonia. Sua incapacidade de aceitar, tal como ela se apresenta, a ―imperiosa
prerrogativa‖ (ROSSET, 1997, p. 7) de um real intolerável, denuncia, sobre o pano de
fundo de um contexto social historicamente marcado pela imigração, a que a narrativa
apenas alude, sem nomeá-lo, a presença de uma africanidade primordial que, embora
discreta, atua como fator determinante de uma crise identitária.
Palavras-chave: tradição, identidade, feitiçaria, ―entre-lugar‖.
Carlos Vinícius Teixeira Palhares
PUC – MINAS
SIDNEY POITIER NA BARBEARIA DE FIRIPE BERUBERU: O DEBATE RACIAL NO
ESPAÇO COLONIAL MOÇAMBICANO
O conto ―Sidney Poitier na barbearia de Firipe Beruberu‖ do escritor Mia Couto aponta
para a problemática racial e étnica em um Moçambique ainda colonial. Na barbearia,
espaço onde se passa o conto, o cotidiano do país é debatido pelos negros. Firipe é o
personagem principal do conto e ele é negro em uma sociedade ainda marcada pela
presença dos portugueses e brancos, e nessa direção, a narrativa aponta para um tipo de
identidade que só se afirma no espaço excluso do negro, em pontos de contatos não
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
intercambiáveis com os brancos. Sidney Poitier é uma figura emblemática para a
discussão de racismo no contexto moçambicano, uma vez que se sagra vencedor do
Oscar em uma sociedade americana marcada por debates raciais. Neste contexto de
Moçambique e tendo os Estados Unidos como modelo de referência para discutir o
racismo, Sidney Poitier pode ser entendido como uma representação da libertação dos
negros no país, onde existem as fronteiras separando brancos e negros, ou seja, por
pertencerem a um país de identidades culturais ainda não constituídas e, por isso
mesmo, uma sociedade de fronteira.
Palavras-chave: Negro; Colonial; Racismo; Narrativa; Sidney Poitier; Mia Couto.
Carolino Marcelo de Sousa Brito
UFRN
Para além de telhas portuguesas: os bens culturais de origem africana na Bahia
A presente pesquisa tem como proposta estabelecer uma discussão sobre a inserção dos
bens culturais de origem africana existentes no Estado da Bahia nos tombamentos do
Instituto do Patrimônio e Histórico Artístico Nacional (IPHAN), como pertencentes a
uma cultura de identidade nacional. E por meio desse recorte, analisar de que modo
ocorre o reconhecimento da cultura afro-brasileira depois de 1980, diante de uma
tradição nos tombamentos do patrimônio material luso-brasileiro existente desde a
fundação em 1936, do então Serviço do Patrimônio e Histórico e Artístico Nacional
(SPHAN). Nesse sentido, na década de 1980 tem início mudanças no que concerne o
conceito e categorias do patrimônio no IPHAN, quando surgem reivindicações étnicas e
regionais, bem como a preocupação em se proteger além do patrimônio ―material‖ o
―imaterial‖ ou ―intangível‖. Ocorrendo na última década, na Bahia, de forma
significativa nesse Instituto Federal o reconhecimento de manifestações culturais com
origem nos povos africanos estabelecidos nesse estado, como o samba de roda do
Recôncavo, a roda de capoeira e o ofício das baianas de acarajé.
Palavras-chave: Patrimônio cultural, bens culturais, manifestações culturais africanas,
memória africana.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Célia Marília Silva
UFRN
“CRIANÇAS NEGRAS”: A IRONIA E O AVESSO DO INSTITUÍDO
O presente trabalho propõe um estudo sobre o poema ―Crianças Negras‖, de Cruz e
Sousa. Como o poeta encontra-se circunscrito no marco histórico da abolição, buscamos
verificar de que maneira a ironia se configura como um procedimento de linguagem
que, somado ao riso, torna-se capaz de subverter e contestar verdades instituídas ao seu
entorno. Para tanto, abraçamos o conceito de ironia elaborado por Kierkegaard (1991) e
os conceitos sobre o riso, elaborados por Bakhtin (1993) e Bergson (2007). Segundo
Kierkegaard, quando a ironia acaba ―de ser dominada, ela executa um movimento que é
oposto daquele em que ela manifesta sua vida indomada‖, assim ela ―limita, finitiza,
restringe, e com isso confere verdade, realidade, conteúdo; ela disciplina e pune‖ (p.
277). Já Bakhtin mostra que o mundo das formas e das manifestações do riso passou a
ser uma oposição ao tom sério, religioso e social. Em semelhante perspectiva, Bergson
afirma ser este um fenômeno propriamente humano e que para entendê-lo é preciso
colocá-lo em seu meio natural: a sociedade. Acrescenta ainda que, por ser um ato social,
o riso é utilizado de acordo com os signos criados e representados nos grupos em que se
insere, assim, ele pode questionar valores impostos e despertar um senso de reflexão,
assumindo, nessa compreensão, uma espécie de gesto social. Nessa direção, o riso e a
ironia são vistos como possibilidades de manifestar a verdade sobre o mundo, sobre a
sociedade, de colocar pelo avesso o que a sociedade institui como sendo verdade natural
ou absoluta.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Cezar José da Silva
Maria Regina dos Reis
Kaline Ferreira Costa
UEPB
A PESPECTIVA MULTICULTURAL NO ENSINO DE HISTÓRIA NO COLÉGIO
ESTADUAL JOÃO DA SILVA MONTEIRO – GADO BRAVO – PB
Neste artigo apresentaremos uma pesquisa acerca da temática ―A perspectiva
multicultural no ensino de história na escola estadual de Gado Bravo – PB‖. O objetivo
da pesquisa é analisar se há um trabalho voltado para a problemática multicultural e se
houver quais as dificuldades para a implantação dessa proposta. Para esta análise
usamos as seguintes questões: ―O professor recebe formação para lidar com a
diversidade cultural em sala de aula?‖, ―O professor de História se sente preparado para
trabalhar uma proposta multicultural?‖, ―Como o professor de história problematiza
com seus alunos o multiculturalismo?‖, ―Já levou para a sala de aula a discussão sobre o
respeito do outro, a cultura do outro?‖, ―O currículo de História abre espaço para que o
professor trabalhe a diversidade cultural?‖. As respostas a estas questões foram
possíveis por meio de entrevistas com professores do colégio em questão. Onde vamos
tentar traçar um paralelo com a cultura afro-brasileira, se ela esta sendo passada também
nessa conjuntura, ou está sendo escanteada perante a cultura branca portuguesa nas salas
de aula. Analisaremos ainda o pré-conceito de alguns professores perante a proposta
multicultural, perante o ensino de História da África.
Palavras-chave: ensino de História. Multiculturalismo. Formação do professor.
Christina de Carvalho Marques
Recife Identificando-se Negra
A Educação das Relações étnico-raciais tem se colocado nos últimos anos como um
grande desafio para os educadores e a sociedade como um todo. Para a Comunidade
Escolar do Colégio Municipal Reitor João Alfredo, localizado no Bairro da Ilha do
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Leite, no Município do Recife- Pe, e que atente aos estudante sobretudo oriundos das
comunidades do Coque e Coelhos o desafio parece alarga-se ainda mais, dado a
conjuntura social na qual os nossos estudantes estão inseridos e que por diversas vezes
interfere no processo de implementação da lei 10.639/03 no nosso espaço escolar.
O projeto Recife identificando-se Negra nasceu da necessidade de ampliação das ações
já desenvolvidas nos anos anteriores nesta Unidade de Ensino, pela Professora
Chrisrtina Marques, no que tange o ensino da Educação das relações étnicos-raciais.
As atividades aconteciam isoladamente nas turmas onde lecionava, não existindo
interação entre as mesmas. A princípio este projeto rompe este isolamento com a
criação do Coral Vozes do Reitor, a medida que as duas turmas do 2° ano do 2° ciclo de
aprendizagem promovem a primeira Mostra Cultural do Reitor e a apresentação
conjunta das atividades desenvolvidas.
Depois da primeira Mostra, realizada em 14/05/2010, os estudantes dos demais
anos/ciclos de aprendizagem tomados pela curiosidade e interesse nunca antes
demostrados, solicitaram junto à Gestão Escolar, inclusão deles no projeto. Assim o
projeto foi ampliado por etapas a todos os componentes desta Unidade Escolar.
Este projeto me seduziu enquanto professora e me entusiasmou enquanto cidadã. Para o
corpo docente, desta unidade de ensino, ministrei momentos de formação, na tentativa
de estabelecer um diálogo com as diferentes áreas do conhecimento, diante da aplicação
da lei 10.639/03. E espero que este, os ajudem no debate em cumprimento à lei.
Vale resaltar aqui que não pretendi com o mesmo, indicar fórmulas ou receitas, mas
apresentar algumas possibilidades de trabalho com essa temática em sala de aula. Cada
professor conhecedor de sua área de conhecimento poderá indicar atividades diversas na
abordagem desse assunto em sala de aula.
Entretanto, é imprescindível a participação da escola na proposição de ações para a
implementação da Lei 10.639/03. Essa nova visão deve modificar as relações sociais
étnicas no interior da escola, não se constituindo como uma ação isolada, mas coletiva e
embasada num Projeto Político Pedagógico para que professores alunos e demais
funcionários
possam
problematizar
estereótipos
e
práticas
preconceituosas,
discriminatória e racistas no espaço escolar, nas suas comunidades e no Município de
Recife.
Como resultado deste projeto temos hoje o Jornal O Reitorzinho, o Coral Vozes do
Reitor, o Espaço Ilé Ará e o Blog.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Cintia Camargo Vianna
UFU
CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS NEGROS NA LITERATURA
AFRO-BRASILEIRA: O CASO DO PRETO TIPO A, DE RACIONAIS MC’S
Pensar em literatura negra ou afro-brasileira em nosso contexto significa trabalhar com
noções que ainda não podem ser consideradas como um construto teórico definitivo,
antes, devemos pensar em uma categorização, sistematização e conseqüente
investigação em construção ou ainda por construir. Nesse sentido, um dos critérios que
poderia ser considerado no momento da determinação de um texto com sendo exemplar
de manifestação literária afro-brasileira deve ser a representação do sujeito negro e de
sua cultura, em textos escritos por negros ou não negros.
Assim, tendo como premissa a representação artística do sujeito negro e de sua cultura,
é que me aproximo da discografia do grupo de rap paulistano Racionais MC‘s e os trato
como uma amostra, uma possibilidade, de literatura afro-brasileira contemporânea,
marcada por traços estético-poemáticos reincidentes como, por exemplo, a evasão da
realidade violenta, a construção de um espaço outro para a ambiência de personagens
negros, o relato, por vezes ficcionalizado, da vida na periferia dos grandes centros.
Nesse trabalho, discuto a construção ao longo de toda a discografia do grupo de um
personagem negro, de uma representação para um sujeito negro ideal, o Preto Tipo A,
personagem essa que atravessa, ainda que em alguns casos espectralmente, toda a
discografia do grupo e, por meio dele, é possível discutir a transformação da concepção
para a identidade negra que perpassa as letras do grupo ao longo de sua carreira.
Palavras–chave: literatura afro-brasileira, rap, construção de personagem.
Claudia Regina Rezende Ferreira
UFRN
FAMÍLIA E ESCRAVIDÃO NA CAPITANIA DO RIO GRANDE DOS SETECENTOS
O tema proposto já foi pesquisado por vários estudiosos, que buscaram derrubar o mito
de que os escravos viviam em estado de completa anomia social, humanizando as
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
relações interpessoais e deixando expressa a solidariedade existente dentro e fora das
senzalas. Todavia quase todos os estudos existentes acerca do tema são localizados na
Região Sudeste, na Bahia e em Pernambuco e Maranhão. Para o Rio Grande do Norte,
região periférica, de menor importância econômica período colonial, e, possivelmente,
por ter sido defendida até pouco tempo a tese da inexistência de um número
considerável de escravos de origem africana em seu território, não há pesquisas sobre o
assunto. O presente estudo procura estabelecer a formação de laços familiares entre
escravos de origem africana no Rio Grande do Norte, visto que atualmente já se
considera a hipótese de que teria existido uma quantidade expressiva de negros escravos
na capitania e que a sua força de trabalho foi de grande importância para a economia
dessa região. Visando a confirmação da hipótese proposta, foi analisada a freguesia de
Nossa Senhora da Apresentação, no século XVIII, na cidade de Natal, por meio do
acervo documental do IHGRN. Pela análise de assentos de batismos e casamentos,
verificou-se a quantidade expressiva desses sacramentos entre negros escravos. Nessa
perspectiva, torna-se provável, senão incontestável, a formação de famílias escravas no
Rio Grande do Norte, assim como nas demais áreas estudadas, para fins de
sobrevivência e de preservação das esperanças e recordações, a despeito do sofrimento
do cativeiro.
Claudson Faustino
UFRN
REPRESENTAÇÕES DO NEGRO NORDESTINO: DO CORDEL À CANTORIA
Este trabalho se propõe a analisar, a partir de uma abordagem crítica, a representação do
negro nos versos orais e/ou escritos do cordel, do desafio, do repente e da cantoria
nordestina, focalizando a discriminação e o preconceito sofridos pelo mesmo, como
também a crítica e a denúncia do racismo pelos versos populares. Para este trabalho,
optou-se pela realização de uma pesquisa bibliográfica que teve como base teórica os
estudos de Barros (1985), Cascudo (1984), Linhares e Batista (1982), Maxado (1980),
Valente (1987), dentre outros.
Palavras-chave: Negro, Cordel, Cantoria Nordestina.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Cléber de Lima Oliveira
UECE-FAFIDAM
Concepções do Negro no Ideário de Macunaíma
O grande elo nacional sempre foi o da miscigenação e heterogeneidade de raças, que
tropicalizam etnias diversas, que se fundem não só fisicamente, mas culturalmente,
embora seja inegável esse proceder nos rostos de tantos brasileiros. Será necessário por
aqui procedermos à tipificação do anti-herói negro de Macunaíma. Adendo
principalmente ao exótico; a figura deste será também separada do brasil? e até onde o
conceberemos índio, branco ou negro?
Ainda assim é possível do ponto de vista africano que sem sua originalidade talvez não
fosse Macunaíma cor da noite, pois como seria senão pela tez ou em todos os casos,
entraremos por assim dizer no pedaço de África que fomenta o personagem.
A tempo de demonstrar o verdadeiro significado de suas origens que vão além da pele;
tantos preceitos das palavras, dos gestos e vícios irrefutáveis. A deselegância a exemplo
do que não se pode ser, mas sendo, uma demonstração de brasis que já em época
distinta foi-se injustamente posta de lado, que no coração da nação mora um
Macunaíma Negro, Branco e Índio, e de tanto se misturar torna-se mestiço que não se
conhece.
Não obstante que o livro faça um relato dessas misturas e de sua ascendência, Mário de
Andrade tipifica-o entre ambos pares de origens, da valorização que este tem as figuras
num simbólico a raça. Neste ponto não há superioridade de raça, pois tudo está exposto
em contexto da personagem, cresce e se desenvolve além do viés de étnico.
Cleber Ferreira Silva
Maria Suely da Costa – Orientadora
UEPB
CORDEL E NEGRITUDE
As produções dos tradicionais folhetos de cordel trazem uma grande contribuição para a
cultura local no Nordeste. É interessante observar que o poder de informar do cordel
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
ainda persiste no sertão e no brejo do estado da Paraíba cuja ação dos cordelistas é
existente. Contudo é natural que se analise que as produções dos singulares folhetos
estejam diferente com o passar histórico, pois era comum que os temas abordados pelos
antigos autores do cordel estivessem vinculados a narrações de casos dignos de uma
estória de Trancoso e de uma série de ironias que destorciam as imagens de pessoas.
Uma das vítimas desta sátira é o negro. Estudos de coleta e análise dos textos de cordéis
conhecidos e consagrados revelam que nestes há uma notada e ampla descaracterização
do negro. Nos últimos anos, com o advento dos movimentos contra o racismo, novas
ideologias vêm se ampliando, manifestas em muitas formas e linguagens. O cordel não
escapou da influência da negritude. Atualmente, as manifestações da mimese literária
neste gênero popular estão servindo ao propósito de defender não só o negro, mas em
expor a sua cultura ancestral africana e sua influência na cultura brasileira. Ou seja, o
cordel passa a ser um instrumento de voz ao negro, difundindo ideais de negritude de
forma a combater o racismo.
Palavras chaves: Literatura. Cordel. Negro.
Concísia Lopes dos Santos
UFRN
ULOMMA E ININE: OS ENSINAMENTOS DOS CONTOS
―Conto é uma narrativa que pode ser contada oralmente ou por escrito‖ (Elias José).
Podemos afirmar que o Homem já nasceu contando histórias. Tudo que ele via, pensava
ou descobria dava início a uma nova história, que era aumentada ou modificada
conforme sua imaginação. Essas histórias, depois classificadas como contos, serviam
para ensinar , exemplificar, divertir, emocionar. Com o passar do tempo, esses contos
passaram a ser escritos e a representar a sociedade onde tivera origem. Isso nos permite,
até hoje, conhecer novas culturas. No livro Ulomma: A Casa da Beleza e outros contos
(2006), escrito pelo nigeriano Sunny, podemos conhecer um pouco mais das histórias
antes contadas às crianças, cujo objetivo principal era ensinar-lhes importantes lições.
Segundo o autor, os contos reproduzidos no livro lhe foram contados por seus avós, em
noites de céu estrelado, embaixo das mangueiras do lugar onde viviam. Dois contos
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
foram escolhidos para este estudo: ―Ulomma, A Casa da Beleza‖ e ―Inine‖. Estes têm
como protagonistas figuras femininas e trazem canções no idioma ibo. Serão analisados,
portanto, a construção do texto, as ilustrações e os ensinamentos constantes em cada
conto. Assim, poderemos conhecer e aprender como costumam fazer as crianças.
Palavras-chave: literatura africana; contos africanos; ilustração; Sunny.
Cristiane Maria Nepomuceno
UEPB
MANIFESTAÇÕES FESTIVAS DE INFLUÊNCIA AFRICANA: TRADIÇÃO, IDENTIDADE
E MEMÓRIA NA BRINCADEIRA DO MARACATU
Não há como falar das manifestações festivas brasileiras sem promover uma incursão na
história da nossa formação sócio-cultural. Nossas festas, danças e música são, além de
produto, um prolongamento dos acontecimentos e valores, reveladoras dos diversos
elementos étnicos que conformaram a nossa sociedade, principalmente os de origem
africana. Assim, tornaram-se as manifestações festivas de negros espaços constituídos
para o fortalecimento dos grupos (étnicos, religiosos, sociais...), lugar de unir a
comunidade, um instrumento de reforço da identidade do grupo. Representando um
espelho através do qual os grupos se percebiam, não apenas como portadores de valores
culturais, mas também, como seus produtores. A proposta deste artigo é apresentar o
Maracatu como manifestação festiva que expressa a influência africana. Impregnada das
crenças e dos valores culturais, lugar de resistência, em torno do qual foram demarcados
os espaços sociais e fortalecidos os laços comunitários. Mesmo que esta manifestação
festiva não mais expresse o mesmo teor e caráter de quando foi ―gestada‖ ainda
continua por apregoar as tradições, a história e a memória africana.
Palavras-chave: Maracatu. Manifestações festivas. Identidade. Memória.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Cristina dos Santos Ferreira
UFRN
O griot das imagens em movimento do Níger:
a trajetória de Moustapha Alassane no cinema de animação
Uma reflexão sobre o cinema de animação criado pelo cineasta Moustapha Alassane do
Níger a partir de 1966, pela ótica dos estudos midiáticos multiculturais e da visão
multiculturalista policêntrica apresentada por Robert Stam e Eloah Shohat (2006).
Analiso os filmes Samba le Grand (1977) e Kokoa (2001), por meio da abordagem
poética do filme animado elaborada pela pesquisadora Marina Estela Graça (2006). Os
dois curtas animados foram realizados com bonecos construídos por Alassane em seu
atelier na cidade de Tahoua, no interior do Níger. Os filmes narram um conto da
tradição oral africana e uma fábula que tem como protagonistas animais como o
camaleão, o pássaro e sapos.
Daniela Galdino Nascimento
America Cesar - Orientadora
UFBA/CEAO
Reflexões sobre os impactos da Lei 10.639/03 no mercado editorial brasileiro
Em se tratando da Literatura Infanto-juvenil Brasileira, sabe-se que somente a partir da
década de 1980 houve uma gradativa mudança na representação do universo cultural
afro-brasileiro. Esse processo teve seu ápice nos últimos anos, eclodindo, sobretudo,
com o contexto das políticas afirmativas brasileiras neste entre-séculos; sendo possível
identificar um considerável universo de obras – inclusive de autoria africana - com essa
nova perspectiva, as quais vêm circulando no contexto brasileiro, com maior vigor, há,
pelo menos, oito anos. Deve-se considerar o surgimento de editoras especializadas em
publicações voltadas para a temática afro-brasileira, e a divulgação dessas obras em
feiras literárias e eventos sobre leitura realizados no Brasil recentemente. Ressalte-se
ainda que o Plano Nacional da Leitura e do Livro (PNLL), enquanto política pública de
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
âmbito nacional (Ministério da Cultura), tem subsidiado ações institucionais de
promoção da leitura nas dimensões da ―cadeia produtiva do livro‖, a partir dos seguintes
eixos: i) democratização do acesso; ii) fomento à leitura e à formação de mediadores;
iii) valorização do livro e comunicação e iv) desenvolvimento da Economia do Livro.
As questões relacionadas à diversidade cultural brasileira, contemplando a Lei federal
10.639/03 (e sua versão alterada: 11.645/08) estão contempladas no PNLL. O amplo
acervo que compõe o maior programa de incentivo à leitura do MEC, o Programa
Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), também considera as questões atinentes à lei
10.639/03. Tais aspectos apontam para os principais impactos da referida lei no
mercado editorial brasileiro e nos espaços de formação de leitores. Por conseguinte,
compreende-se que um estudo relacionado com o mapeamento e a análise dos impactos
da referida lei nesse contexto deve também observar em que medida essa produção
literária recente se insere nas relações de poder. Nesses termos, este trabalho busca, a
partir das noções de campo de produção cultural e campo literário (Cf. Bourdieu, 1996),
discutir as conflitantes ―relações de força entre agentes e instituições que tem em
comum possuir o capital necessário para ocupar posições dominantes nos diferentes
campos‖ (idem), levando em consideração as políticas publicas federais (Lei 10.639/03,
PNBE, PNLL) e a formatação do mercado editorial brasileiro.
Danielle Brito da Cunha
Débora Quezia Brito da Cunha
UFRN
NEGRINHA: UMA OSCILAÇÃO ENTRE VOZES E CORPOS NO CONTO
Coincidindo com o título do livro no qual está inserido, o conto ―Negrinha‖, de
Monteiro Lobato, convida o leitor a uma viajem no espaço e tempo de 1920, onde o
racismo era uma realidade latente e não dissimulada. Esse estudo se propõe a analisar o
percurso que o pequeno ―corpo subalterno‖ de negrinha faz em sua trajetória até a
liberdade, representada no conto pela morte. Assim como, sob a óptica histórica,
analisar as representações espaciais nos discursos literários vendo em ―Negrinha‖ a
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
representação da vida social do ser negro na pós-abolição, ou seja, as permanências e
mudanças que ocorreram no espaço imaginário, em uma tentativa de compreender como
se manteve a visão pejorativa e escravista entre 1889 até 1920. Para tanto, nos
muniremos dos conceitos utilizados por Le Goff (1994), Baczko (1984) e Castoriadis
(1982) e as formulações teóricas de Elódia Xavier (2007), Alisson M. Jaguar e Susan R.
Bordo (1997), dando especial destaque ao valor semiótico das diversas descrições de
que o texto faz uso para compor a trama.
Danielly Mara Rodrigues de Melo
UECE/FAFIDAM
MAFALDA: A COMPLEXIDADE DE UMA CRIANÇA CONTESTADORA
A literatura infanto-juvenil se fortalece a cada dia pela proposta de formar leitores a
partir da infância, ela tem evoluído e transcendido décadas e gerações, fazendo de
histórias infantis grandes legados históricos para todo o mundo. Dentro deste mesmo
grupo infanto-juvenil, temos grandes escritores que projetam seus personagens a partir
de acontecimentos históricos, a cerca da realidade do mundo e sociedade que estes
possuem. Partindo deste ponto podemos citar Joaquin Salvador Lavado, criador da
Mafalda, esta personagem é utilizada pelo cartunista como um veículo de propagação de
suas ideologias contestadoras, um bom exemplo disto é forma como uma das tiras
critica de forma direta o preconceito racial, tema foco deste trabalho. O autor utiliza-se
de um boneco negro para gerar a discussão, ainda tão forte nas décadas que suas tiras
também foram desenvolvidas, nas décadas de 1960 e 1970. Para justificar e fortalecer a
teoria proposta nesta pesquisa, a embasamos sob a custódia de críticos da área, tais
como: Frantz Faron, Mário Corso, Diana Lichtenstein Corso. Foram utilizados em
especial os estudos de Faron (1963), tendo em vista a real contribuição deste, a respeito
das discussões sobre as questões raciais, em seu livro ―Pele Negra, Máscaras Brancas‖.
A tira propaga o mesmo ideal deste critico, onde até no universo infantil este
preconceito entre cores se propaga, até mesmo numa sociedade que já se diz tão
evoluída, como é a contemporânea, ainda assim os negros necessitam de ―máscaras
brancas‖ para conviver em sociedade, os termos mudaram, mas o preconceito continua.
Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil; Mafalda; Preconceito Racial.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Dayane da Silva Grilo
Tamires Patrícia Cavalcante Silva
Kívia Natália Ramos Passos
UFRN
O Mistério do Mar que nos Liga ao Infinito em: O Beijo da Palavrinha
Este trabalho tem por finalidade estudar a dimensão do imaginário na cultura africana.
Teremos como objeto de estudo o livro O Beijo da Palavrinha, de um dos principais
autores de Língua Portuguesa, Mia Couto. O enredo nos faz refletir sobre a maneira
como esse povo elabora suas histórias e suas crenças. Estaremos pensando o mar como
um lugar heterotópico de passagem para a eternidade e liberdade. Aqui, este lugar será
apresentado sob a perspectiva de Michel Foucault em De outros Espaços no qual ele
trata de uma dimensão etimológica do lugar que no livro representa-se-á através da
percepção sensorial que se configura com a ―cartografia do toque‖, esta levará a
personagem principal para o espaço onírico. Para entendermos a dimensão do
imaginário utilizaremos os livros A Poética do Devaneio e A poética do Espaço, de
Gaston Bachelard. Assim, a imagem poética do mar será o ponto fundamental do nosso
trabalho. Destacaremos também nesta concepção de lugar a pintura de Malangatana que
representa as passagens do livro através de figuras humanas encerradas no
emolduramento da tela. Os teóricos Silviano Santiago e Hambaté-bá serão de
fundamental importância para entendermos a cultura africana e essa voz que insurge.
Palavras-chave: O Beijo da Palavrina. Mia Couto. Cultura Africana. Mar. Malangatana.
Dayanne Barbosa Diógenes
UECE/FAFIDAM
Identidade poética: o reflexo do homem no cenário pós-moderno
O presente artigo tem como objetivo analisar as características específicas da poesia
pós-moderna, no tangente a função que ela exerce atualmente. O enfoque em algumas
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
poesias que englobam desde o estilo moderno até o pós-modernismo, tais como a poesia
contemporânea (em suas vertentes social, visual, hermética, entre outras), prioriza a
palavra como livre expressão, onde vigora a pluralidade criativa. Essas características
compõem a universalidade dos sentimentos humanos e é nessa perspectiva que a poesia
expressa à subjetividade do ser, de forma lúdica diferenciada, caracterizando uma
revolução estética. Essa leitura dos novos gêneros poéticos se traduz na adaptação da
poesia que reflete os anseios e dúvidas potencialmente humanos, em que o homem pode
se ver na poesia e vivê-la tal como ela se apresenta fragmentada e atrelada as
disformidades do mundo que o cerca. Tomaremos como base textos de Antônio
Cândido, crítico brasileiro, que assume tais reflexões acerca do emprego da palavra
como imagem ou símbolo da realidade expressa na contemporaneidade. No trabalho
serão analisados os gêneros (poesia concreta, social, de renovação) de autores que
representam os respectivos gêneros (Leminski, Chico Buarque, Drummond, e outros)
que contribuíram para essa multiplicidade da poesia enquanto tradução artística da vida.
Palavras-chave: Poesia; Pós-modernismo; Crítica Literária.
Denise Noronha Lima
UFC
TRANSIBERISMO NO ROMANCE A JANGADA DE PEDRA
Este trabalho analisa o aspecto político-cultural do romance A Jangada de Pedra a partir
de sua metáfora principal, ou seja, o deslocamento da Península Ibérica rumo ao
Atlântico Sul. Tal metáfora sugere uma identidade cultural entre os países da Península
e as regiões por eles colonizadas, defendida por José Saramago através do conceito de
―transiberismo‖. Por outro lado, o distanciamento literal da Europa simboliza a tomada
de consciência de Portugal e Espanha em relação ao menosprezo que recebem do
continente europeu, o que os assemelha aos africanos e latinos. Reforçando esta ideia de
aproximação entre seres distanciados pelo espaço, mas que convergem culturalmente, o
romance apresenta fatos fantásticos aparentemente desconexos, porém justificados pela
única razão que importa à humanidade: a busca do outro.
Palavras-chave: Transiberismo, Saramago, Identidade cultural.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Diana Medina
IFCE
O que me move no grafite? Considerações sobre a prática da pintura mural
O presente trabalho trata da questão do grafite enquanto arte urbana. O ponto de partida
da reflexão reside na minha pesquisa participante (Malinowski) que se desdobra da
minha prática de grafiteira atuante na cena de Fortaleza. Enfatizando o grafite enquanto
pintura libertária, me interessa analisar a resistência e a subversão desta prática artística,
que se coloca fora dos modelos estimulados pelo sistema tradicional de artes, bem como
a afirmação do indivíduo na pintura mural, livre de dogmas acadêmicos e solto para
experimentações pessoais. Ativo na ação de personificar seu espaço, sua cidade, a partir
de seus próprios referênciais simbólicos (Baudrilard,1976), o grafiteiro faz nascer um
discurso visual que interage com a população local e se opõe aos elementos impostos
pela cultura visual dominante. Tomando por base a análise das fotografias de alguns
grafites que eu realizei em Fortaleza, proponho uma reflexão sobre esta alternativa de
expressão artística, que se une ao efêmero e a liberdade para fugir dos tradicionais
museus e povoar o imaginário coletivo.
Diltino Livramento Moniz Ferreira
UFC
Do Brasil para Cabo Verde: Os traços culturais brasileiros na Literatura
cabo-verdiana
O modernismo brasileiro desde cedo serviu de grande estímulo para os escritores caboverdianos. O movimento da Claridade, considerado a gênese de uma literatura genuína
de Cabo Verde, recebe influências do modernismo brasileiro. Os escritores nordestinos
brasileiros apresentavam o mesmo dilema dos cabo-verdianos em que retratava a
realidade da seca e da luta pela sobrevivência principalmente a literatura Brasileira da
década de 30. A narrativa do Cabo-Verdiano apresentava características que indicavam
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
um caminho de retorno às origens telúricas, o apegam à terra e como o cabo-verdiano
sentia na própria carne, na totalidade de seu ser , as amarguras de uma natureza adversa
e terrível, contra a qual ele não pode lutar. Essa mesma temática foi retratada pelos
nordestinos brasileiros demonstrando a sua preocupação no meio em que vive. Os
escritores cabo-verdianos então apresentam muitas vezes nas suas obras os traços
provenientes da Literatura brasileira. Assim como o africano deixou traços na cultura
brasileira, o brasileiro também deixou traços na cultura africana, então pode se dizer que
há um laço forte que une esses dois povos. A história e a cultura que ligam o Brasil e
Cabo Verde falam por si. No caldeirão onde essa história e essa cultura se formaram e
se consolidaram, sobressaem vários elementos de cumplicidade entre os dois povos e
países.
Disneylândia Maria Ribeiro
Emanuela Carla Medeiros de Queiros
Miria Hellen Ferreira de Souza
UERN
A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: CENÁRIO ABSTRATO SOB A ÓTICA DOS
SUJEITOS
A pesquisa relatada é fruto de uma das ações desenvolvidas pelo Projeto de Extensão
Universitária ―A educação em direitos humanos frente aos desafios da mediação teórica
e prática da formação de professores‖, que tem como finalidade difundir idéias e valores
dos direitos humanos, da democracia e cidadania, eixos norteadores da prática
educativa. Nessa perspectiva, a investigação deu-se a partir do levantamento das
demandas das escolas, focos da ação extensionista, quanto ao processo de inclusão e
exclusão escolar, objetivando identificar problemas como a existência de atitudes
preconceituosas e discriminatórias com base nas diferenças de gênero, cultura, cor,
etnia, orientação sexual e deficiências e refletir sobre elementos presentes no discurso
dos(as) docentes que evidenciam suas concepções e atitudes relacionadas ao
reconhecimento da diversidade humana. A fundamentação teórica baseou-se em:
Aquino (1997), Candau (1998), Dias (2007), Trindade (2002). Realizou-se uma
pesquisa exploratória a partir da aplicação de questionários em oito escolas estaduais da
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
cidade de Pau dos Ferros, RN. Constatou-se que os(as) educadores(as) não possuem
clareza sobre temáticas inerentes ao campo da educação em direitos humanos. Alguns
dados evidenciam a violência e o desrespeito, mas não especificam em que situações e
contra quem estes ocorrem no cotidiano escolar. Também ficou explícito que os(as)
docentes não reconhecem a diversidade de comportamentos que cruzam o chão da
escola. O diagnóstico reforça a pertinência de imprimir estudos nas escolas sobre a
transversalidade pela qual perpassa a sociedade contemporânea, em seu aspecto
multicultural.
Palavras-chave: Direitos humanos. Educação. Discurso docente.
Edna Carlos de Almeida Holanda
UECE
Os Contos Tradicionais do Brasil de Câmara Cascudo: marcas da oralidade e
elementos africanos
Estudo da obra Contos Tradicionais do Brasil (1946) de Câmara Cascudo,
identificando-se com os contos populares africanos. A pesquisa foi realizada tendo
como premissa a teoria de Walter Benjamim sobre a arte de narrar. Na escritura do autor
potiguar o verdadeiro narrador é aquele que atinge uma originalidade, fugindo da
mesmice dos contos clássicos ao acrescentar variedade de temas e motivos como os da
literatura africana. Desse modo, o narrador cascudiano elege uma linguagem popular,
calcada nas tradições e na memória social.
Palavras Chave: Câmara Cascudo; Contos Tradicionais do Brasil; influência africana.
Edna Maria Rangel
Derivaldo dos Santos
UFRN
Representações da mulher negra em Drummond
A presente proposta se ocupa de uma discussão entre poesia e vida social a partir das
sistematizações de Adorno, constante em seu ensaio Palestra sobre lírica e sociedade, e
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
toma como objeto de reflexão o poema ―Negra‖, de Carlos Drummond de Andrade, a
fim de verificar, no plano dessa discussão, como as representações sociais da mulher
negra se movem no poema em questão. Parte-se do pressuposto de que a poesia é capaz,
na especificidade de sua linguagem e na sua forma singular de estar no mundo, de
apreender e interpretar a realidade social e histórica, articulando-se no tempo e tornando
visível o que a ideologia encobre, e nessa apreensão ela se move em direção contrária ao
que foi historicamente instituído, na sociedade, como sendo verdades naturais e
acabadas. Este trabalho toma como orientação de leitura as discussões realizadas por
Antonio Candido, em seu livro Literatura e Sociedade, por Adorno em Palestra sobre
lírica e sociedade, e por Gilberto Freyre, em seu clássico Casa Grande e Senzala,
tentando verificar como as questões do mundo social em torno do negro se disseminam
no poema de Carlos Drummond de Andrade.
Edson Moisés de Araújo Silva
Gerardo Andés Godoy Fajardo - Orientador
UFRN
O DIALOGISMO E A REFLEXÃO PÓS-MODERNA NA LITERATURA DO ANGOLANO
JOÃO MELO: PROSTITUIÇÃO E CRÍTICA SOCIAL
Na presente pesquisa, trataremos das estratégias narrativas estabelecidas no conto O
feto, do escritor João Melo, que está copilado no livro Os Filhos da Pátria (2008). Nele,
buscaremos estabelecer as construções discursivas além dos elementos provenientes da
formação social da África de João Melo. Desta forma, partiremos da perspectiva de
quebra dos padrões morais, ou mesmo, canônicos dos invasores, tomando a temática da
prostituição como ponto de partida. Esta ruptura será analisada sob a luz do dialogismo
bakhtiniano e algumas das reflexões de Bhabha, Said e Stuart Hall a respeito do lugar
do outro na sociedade contemporânea. No olhar do discurso dialógico, dentro do
processo de narração, temos uma configuração essencial para a quebra de limites das
discussões propostas nas linhas e entrelinhas da literatura do escritor angolano. Este,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
consegue subverter a ordem instalada pelo colono e liberta o falar do colonizado para a
expressão de sua identidade e uma nova política de produção cultural, tendo a
manifestação das artes como portadora de um discurso de crítica social (BHABHA,
2008). Neste sentido, o narrador de João Melo transmite certa ironia em meio às
atribulações narradas em seu conto, o qual é povoado por instabilidades e constantes
tensões no discurso de seu personagem-narrador. Entretanto, essa configuração não se
dá apenas na obra em questão, mas em toda uma geração de escritores que se propõe a
construir releituras acerca dos tempos de colônia e da recuperação das feridas que
vinheram em consequência de um longo período de martírio.
Palavra-chave: Dialogia, Colonização, Prostituição.
Eidson Miguel da Silva Marcos
Rosilda Alves Bezerra – Orientadora
UEPB
O ELEMENTO SOCIO-HISTÓRICO PELA LENTE CRÍTICA DE LUIS ROMANO EM
FAMINTOS
Em 1962 o exilado político cabo-verdiano Luis Romano de Madeira e Melo publicava,
no Rio de Janeiro, seu romance Famintos, no qual apresenta de modo contundente a
situação do povo cabo-verdiano perante dois grandes males: a seca periódica que assola
o país e a implacável tirania da administração colonial, que por mais de quatro séculos
subordinou Cabo Verde aos interesses da metrópole portuguesa. A perspectiva crítica
adotada por Luis Romano na obra em questão normalmente desperta duras críticas no
tocante à sua qualidade estética, como, por exemplo, a que acusa o caráter panfletário
do livro. No presente trabalho verificaremos de que forma se da a captação do elemento
sócio-histórico pela lente crítica de Luis Romano, refletindo acerca da relação entre
crítica/retrato sócio-histórico e qualidade estética, nos valendo para tal do subsídio
teórico de autores como o angolano José Carlos Venâncio e o brasileiro Antonio
Candido, dentre outros.
Palavras-chave: elemento histórico, crítica social, literatura.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Eidson Miguel da Silva Marcos
Amarino Oliveira de Queiroz
UFRN
DA ÁFRICA CABO-VERDIANA AO NORDESTE POTIGUAR:
LUIS ROMANO, INVISIBILIZADA PRESENÇA
Cabo-verdiano radicado no Brasil desde o início da década de 60 do século passado e
desaparecido em janeiro de 2010 em Natal, Rio Grande do Norte, durante os anos de
residência e atuação em nosso país o escritor Luis Romano contemplou, através de
considerável obra ensaística, poética e ficcional temas que se reportaram ao arquipélago
de Cabo Verde e, em alguns momentos, à realidade cultural nordestina. Para além do
processo de invisibilização e esquecimento a que sua interferência intelectual esteve
relegada durante todos esses anos, o acervo representado pelos textos científicos,
poéticos e ficcionais assinados pelo autor revela-nos, em alguns exemplos, um
importante espaço de discussão para o incremento das relações entre a África de língua
oficial portuguesa e o Nordeste brasileiro no campo cultural, sobretudo em seu recorte
literário, tema a que se dedica esta comunicação.
Palavras-chave: Literatura cabo-verdiana, Literatura potiguar, Luis Romano.
Eliã Silva de Jesus
UNEB
Lima Barreto: O poder da linguagem fora do poder hegemônico
Este texto é parte da pesquisa do programa de mestrado em Estudos de Linguagens
(UNEB), linha Leitura, literatura e identidade, tendo como título Poder, subversão e
linguagem: Lima Barreto nos limites da des-razão em Diário do hospício - ainda em
andamento e pretende refletir sobre a importância de Lima Barreto como representante
de uma coletividade negra ao passo que se consagra numa perspectiva que vai além das
idéias concebidas pelos homens de seu tempo. Uma vez que situado no plano oposto ao
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
discurso hegemônico, o escritor apresenta-se como a ruptura, destronando velhos vícios
de uma estética imposta e alicerçada na cultura européia. É sob uma aura da estereotipia
amalgamada que se fixa a literatura, neste contexto. Atuando como processo
homogeneizador das consciências, amplamente alicerçado pelo, então, padrão universal
da Belle Époque. Lima Barreto, no entanto, faz uso de uma linguagem que provoca
movimentos contrários ao discurso hegemônico. Produz um texto literário que
vislumbra vozes voltadas para as questões raciais, com foco na afirmação de
personagens negras na literatura em um momento em que se solidificavam teorias que
tentavam comprovar que a criminalidade, a loucura, as doenças infecto-contagiosas
eram inerentes aos pobres. E nesta perspectiva se faz muito significativo para o povo
negro.
Posto que por muito tempo um discurso literário – produzido a partir de
categorias e valores estéticos europeus - vem mantendo a presença marginalizada do
negro no cenário literário.
Palavras-chave: poder hegemônico, racismo, literatura afrobrasileira.
Eliana Carlos da Silva
UFC
A LÍNGUA, ARENA DA IDENTIDADE: UMA ANÁLISE EM MIA COUTO
Os dirigentes das ex-colônias de Portugal na África, ao resolverem fazer da língua
portuguesa o idioma oficial após a independência, tiveram que contornar uma questão
emergente: como superar a desconfiança de um segmento da população que via essa
língua como um veículo da cultura e da ideologia do invasor europeu. Nesse processo,
os escritores tiveram um papel de relevo na tarefa de ajustar a língua portuguesa aos
hábitos prosódicos, rítmicos e, principalmente, à cosmovisão africana. É nesse contexto
que demonstramos neste trabalho como Mia Couto faz da reinvenção da língua
portuguesa uma estratégia de afirmar a identidade moçambicana e, por extensão, da
África. Para isso, apresentamos alguns resultados de análises do romance Terra
Sonâmbula e de outras obras do escritor em foco. Dessa forma, mostramos como o
trabalho com a linguagem em Mia Couto, acompanhando o entendimento do escritor
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
nigerano Wole Soyinka, simboliza um arrancar da ―lâmina lingüística das mãos do
castrador cultural tradicional e (...) [um entalhe de] novos conceitos na carne da
supremacia branca‖ (SOYINKA, apud REIS, 1999, p. 103).
Palavras-chave: Língua – Identidade – Mia Couto.
Eliane Veras Soares
UFPE
Memória, ficção e protesto social
Minha proposta nesta comunicação é buscar, por meio da literatura, novas
possibilidades para as interpretações dos protestos sociais. Para tanto selecionei duas
obras que tratam de dois momentos históricos distintos em dois territórios,
Moçambique, ainda colônia portuguesa, no início do século XX, e o Brasil, no início do
século XXI. No primeiro caso, a situação de protesto social, surge de maneira discreta
no romance O olho do Hertzog do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho,
trata-se das manifestações dos trabalhadores da minas de diamante situadas na África do
Sul e recrutados em Moçambique, ocorridas na cidade de Lourenço Marques, hoje
Maputo, no ano de 1919. Elas não estão no centro da trama, mas integram o intricado
mosaico que o autor elabora a partir de personagens e situações reais em que memória e
ficção se interpenetram. O segundo caso de protesto social, narrado no romance O ano
em que Zumbi tomou o Rio, do escritor angolano, José Eduardo Agualusa, ocorre no
início dos anos 2000, na cidade do Rio de Janeiro, e o protesto assume forma de
revolução social, protagonizada por um herói-traficante. Aqui a ficção parece
transcender em muito a realidade, mas não deixa de colocar o dedo em feridas abertas
tanto na sociedade brasileira quanto na angolana.
Palavras-chave: Literatura – Africa – Brasil – Protesto social.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Eliene Medeiros da Costa
UEPB
Carolina: a conscientização do preconceito em “A Mulata do Engenheiro” de Inácio
Rebelo de Andrade
O processo de colonização europeu teve como principal traço o fato de explorar o
colonizado, assim como de submetê-lo. Nos países africanos a população passou por um
intenso processo de exploração, escravidão e se não, por uma perda, um
enfraquecimento de seus traços culturais, à medida que o europeu nomeou sua própria
cultura como a melhor e em muitos casos ―obrigou‖ suas colônias a aderir à mesma.
Num processo em que o colonizado era submetido a uma complexa rede ideológica de
alteridade e inferioridade, na qual sua cultura era totalmente menosprezada. Um traço
tão marcante na cultura africana não poderia passar despercebido pela Literatura.
Considerando que o preconceito em relação negro é uma herança advinda do processo
de colonização buscaremos estudar a conscientização do preconceito e a implicação
dele na vida da personagem Carolina, protagonista do romance A Mulata do Engenheiro
do escritor angolano Inácio Rebelo de Andrade. Teremos como aporte teórico Bonnici
(2000) e Cândido (1992).
Palavras-chave: Conscientização; Preconceito; Fragmentação de identidade.
Elinalva Roseno dos Santos Silva de Abreu
UEPB
CONCEIÇÃO EVARISTO E MIRIAM ALVES: GRIOTES NA DENÚNCIA DO RACISMO E
PRECONCEITO PELA POESIA
O presente trabalho abordará na produção de poesia das escritoras afro-brasileiras
Conceição Evaristo e Miriam Alves a relação entre seus escritos poéticos e a denúncia
do racismo e preconceito que ainda perduram em nossa sociedade. Para isso, foram
escolhidos alguns poemas das autoras supracitadas, as quais como griotes
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
contemporâneas, na tessitura de seus textos cantam/contam em seus versos toda
problemática de exclusão, opressão e violência que permeiam o ser negro em nosso país
desde á época da escravidão. Analisa de que forma no constructo de sua obra realizam
uma ruptura com a escrita dominante nos cânones literários e produzem uma releitura
crítica do presente e autovaloração das questões de memória e identidade dos afrodescendentes na contemporaneidade. E, ressalta também como na tessitura dos poemas
das mesmas, surge pelos fios da memória e identidade uma forte ligação com a mãe
África, além de uma imagem positiva através do fazer poético que viabilizam o seu
atuar na sociedade pela desconstrução das falácias da tolerância e igualdade para com os
(as) negros (as) no Brasil.
Palavras-chave: Escritoras afro-brasileiras, denúncia, poesia.
Eloísa Elena Prates Boeira
Felipe Garcia de Medeiros
UFRN
NEGRAS MEMÓRIAS: O DESTINO BRANCO DE NEGRINHA
O presente artigo analisa o conto Negrinha, no livro com o mesmo nome, de Monteiro
Lobato, abordando a questão racial presente nessa obra, publicada no início do século
XX, assunto que suscita polêmica até hoje. No conto, diversas personagens traçam esse
panorama racial – como a presença das sobrinhas de Dona Inácia, que são brancas, em
oposição à Negrinha que, além de não ser considerada ―gente‖ pela tia das meninas,
sofria absurdamente com o preconceito de todos, sendo humilhada, agredida, existindo
apenas como coisa, sem humanidade. Presente também no texto é a ironia, ressaltada
nos adjetivos dados à Dona Inácia, a dialética entre branco/negro, resultando no final
trágico da Negrinha que é, ao mesmo tempo, cômico. O referencial teórico utilizado
para o artigo é Pele negra, máscaras brancas de Fanon (1983) e Cultura brasileira e
identidade nacional de Ortiz (2005).
Palavras-chaves: Memória, Cultura, Racismo.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Emanuel Freitas da Silva
UFRN
O negro alencarino em três momentos: uma análise das obras “Demônio Familiar”,
“Mãe” e “Cartas a favor da escravidão”
O artigo analisa parte da obra do escritor cearense José de Alencar (1829-1877),
considerado um dos maiores expoentes da literatura brasileira. Romancista, teatrólogo,
poeta, jurisconsulto, jornalista, crítico, político e professor, Alencar desempenhou papel
importante na formação do nosso pensamento social, chegando mesmo a ser
considerado o ―patriarca da literatura brasileira, à qual imprimiu a marca da
nacionalidade‖ (MENEZES, 2006, p.11). Assim, três textos de Alencar servem como
corpus de análise no presente artigo: as peças teatrais ―Demônio Familiar‖ (1857) e
―Mãe‖ (1860), além das ―Cartas a favor da escravidão‖ (1867-1868). A partir da
apresentação dos textos selecionados, compreender-se-á o papel que, para Alencar,
cabia ao negro na sociedade brasileira, bem como sua importância ou não para a
construção da nacionalidade brasileira, servindo para caucionar tal compreensão sua
postura frente à escravidão – que o autor considerava a oportunidade para o país atingir
―uma finalidade imanente: favorecer o progresso do homem‖ (PARRON, 2008, p.19) –
e à luta pela abolição.
Palavras-chave: negro alencarino, escravidão, nacionalidade.
Emanuel Kleyton Souza de Morais
Tânia Lima – Orientadora
UFRN
RAPENTE (HIP HOP) AFRO-BRASILEIRO
Percebe-se nas letras e nas pickups dos Djs um RAP que nos dá uma leitura de vida,
pois se literatura é vida e RAP é literatura, então literatura é Repente. Nas disputas de
improviso dos MC‘s, uma capoeira de palavras são grafites de Zumbis e Dandaras da
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
nova geração. Como nos mostra Ecio Salles em seu livro ―Poesia Revoltada‖, o Hip
Hop evoluiu, se tornando não apenas um estilo musical, mas também objeto de estudo
da performance, uma abrasileirada miscelânea dos sentidos, como nos mostra Amarino
Queiroz. Semelhante as escolas literárias, o Hip Hop cria novas escolas dependendo do
estilo de cada época. Se olharmos bem, desde África Bambata, sugere-se uma nova
perspectiva musical através de ritmos vindos de outros lugares do mundo e da herança
africana. Nesse cenário, desde os antigos ―griots‖ até os dias de hoje, tem-se referências
dos marginais compondo poemas de rebeldia, como MV Bill, Thaíde, RAPentistas dos
grupos coletivos como Pentágono e Racionais, e do chamado Rap Underground, com
rimadores como Emicida e Kamau, representando a Academia Brasileira de Rimas. São
nesses ―rapentes‖ que vemos a realidade da periferia num quadro de inclusão social em
sua mobilização cultural. Essa poesia oral nos dá sonoridade do mundo, da
―sensualidade da voz‖, como mostra Paul Zumthor, em ―Introdução à Poesia Oral‖.
Palavras-chave: Hip hop. Performance. Poesia afro-descendente.
Emanuele Cristina Santos do Nascimento
Waneska Andressa Vina de Oliveira
UFPE
MULHERES NEGRAS: DEMANDAS, LUTAS E CONQUISTAS
O presente estudo visa refletir sobre a realidade da mulher negra na sociedade
contemporânea o que alude ao longo processo de discriminação e exclusão vivenciado
por esses atores sociais, sendo estes, reflexos de uma sociedade patriarcal marcada pelo
racismo na qual se estabelece um triplo sistema de dominação (patriarcado-racismocapitalismo). Essa situação dimensiona a mulher negra para a ―base da pirâmide social‖.
A presente investigação teve como objetivo apresentar a importância das lutas das
mulheres negras na sociedade racista e patriarcal na busca do atendimento de suas
especificidades. Partindo da análise da trajetória dessas mulheres nos movimentos
feminista, negro e por fim no movimento feminista negro observou-se diferentes visões
desses movimentos sobre a realidade na qual a mulher negra está inserida, sua possível
79
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
emancipação como sujeito político e suas conquistas. Ao apresentar um caráter
exploratório e qualitativo esta pesquisa está fundamentada na utilização de dois
instrumentos essenciais para seu desenvolvimento, o primeiro foi o levantamento de
dados bibliográficos sobre a temática racial e de gênero, seguindo da realização de
entrevistas semi-estruturadas realizadas com mulheres negras que possuem ou já
possuíram atuação nos referidos movimentos, visando abordar sua condição de mulher
negra na sociedade. Observa-se, então, que as lutas das mulheres negras ocorrem em
várias áreas da sociedade, podendo-se destacar a saúde, a educação e a mídia. Diante
dessa realidade, esta pesquisa tem o intuito de contribuir para um melhor conhecimento
das demandas dessas mulheres que diariamente lutam contra as barreiras de uma
sociedade racista e patriarcal.
Palavras-chave: Mulheres negras; racismo; lutas.
Ercílio Neves Brandão Langa
UFC
Migrantes africanos no Ceará: entre os resquícios do colonialismo e a reinvenção
de identidades
O Brasil virou-se à África e a África ao Brasil, com a expressiva presença de estudantes
vindos de países africanos que falam a língua portuguesa. Nesta diáspora, os migrantes
africanos buscam uma identidade diante do "diferente", mas também expressam as
marcas da "colonização ocidental", inculcadas ao longo da História. Neste artigo buscase compreender o processo de reconstrução de identidades dos imigrantes africanos em
Fortaleza onde enfrentam o olhar colonialista do racismo; questiona-se sobre o que é ser
negro e o que é ser africano em uma metrópole a vivenciar exclusões e inserções pelo
consumo, e entender as estratégias de inserção e integração dos imigrantes africanos. A
identidade e identificação dos imigrantes africanos são feitas a partir de aspetos
imateriais: a língua, a dança e cultura africanas. Mas também são usados aspetos
materiais: vestimentas, trajes coloridos e bandeiras dos países de origem. O Brasil
mostra-se uma sociedade familiar e ao mesmo tempo diferente. Familiar devido aos
80
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
aspectos que o ligam a países africanos: a língua portuguesa, a culinária, a religiosidade
e cultura negra trazidos pelos escravos; mas diferenciando-se no nível de
desenvolvimento e racismo. Usamos como metodologia entrevistas abertas e a técnica
de discussão em grupo focal e a análise das diversas agremiações africanas existentes
em Fortaleza. Ao nível teórico abordo as identidades através dos estudos pós-coloniais a
partir de Stuart Hall, Eduard Said e Gayatri Spivak e debates sobre a identidade na
modernidade com Zigmunt Bauman.
Érica Cristina Bispo
UFRJ
De felicidades e paixões
A busca da felicidade é um dos grandes anseios humanos. Segundo Aristóteles, na
Poética, felicidade tem a ver com realização, ou seja, com aquilo que se realiza ou com
o que é realizado pelo sujeito. Neste sentido e balizados nos escritos de Hegel e suas
descrições de figuras do homem: indivíduo, vítima, herói e cidadão; é nosso objetivo
identificar e discutir os momentos de frustração, paixão e felicidade da personagem
Daniel, protagonista do romance Eterna Paixão (1994), de Abdulai Sila.
Palavras-chave: Literaturas Africanas; Abdulai Sila; Filosofia.
Érica Patrícia Barbosa de Oliveira
Emerson Araújo de Arribas
UFPE
Diamante de Sangue: limites e possibilidades do cinema como recurso
didático-pedagógico para o estudo da África Subsaariana
O filme Diamante de Sangue será usado como exemplo dos limites e possibilidades de
se estudar a África Subsaariana. Não resta dúvida que essa produção norte-americana é
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
um atraente e movimentado thriller, atraindo facilmente a atenção dos jovens
estudantes. Entretanto, a película, quando analisada detalhadamente, nos revela algumas
problemáticas sérias, a saber: a visão de que os negros residentes em Serra Leoa
pertencem a uma só etnia e de que os senhores da guerra, personagem tipicamente
africano, segundo a imprensa internacional, são insanos, cruéis e ambiciosos por
natureza. Quanto as possibilidades essas são mais diversificadas, no entanto,
reconhecemos que obras como essa, reforçam a imagem do continente em análise como
um território em que os conflitos e a violência são marcas indeléveis. Mas a utilização
de forma didática é inegável. As problemáticas típicas africanas podem ser trabalhadas,
como: a presença de grupos revolucionários que objetivam a deposição do grupo que
está no poder; as estratégias utilizadas para a criação das crianças-soldados; o
desinteresse da mídia internacional por assuntos mundialmente relevantes; a limitada
atuação da Organização das Nações Unidas; o contrabando de armas e diamantes com
alta lucratividade para os brancos; o controle dos preços das jóias produzidas a partir
dos diamantes e os objetivos do Processo Kimberley.
Érica Patrícia Barbosa de Oliveira
Emerson Araújo de Arribas
UFPE
Da possessão ao processo de (neo)colonização do Quênia: o uso do filme “Out of
Africa” para análise das conseqüências desse processo para as principais etnias
que habitavam a região da África Oriental
O uso do citado filme suscita a discussão do que foi o período de possessão, quais as
características e os impactos para as etnias que estavam sob o domínio do Reino Unido
e o mesmo para o período de (neo)colonização. O filme é baseado na obra literária da
escritora dinamarquesa Isak Dinesen, ―A Fazenda Africana‖, que se passa entre 1918 e
1931. Três grupos étnicos são citados no filme: os Kikuius, os Massais e os Somalis. As
características desses povos são apresentadas a partir da perspectivas do europeu e cabe
neste trabalho apresentar os limites da obra cinematográfica. É possível perceber, por
exemplo, a perda das terras dos povos locais para dar espaço a agricultura extrovertida –
82
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
ou seja, voltada para exportação – como uma das conseqüências tanto do período de
possessão e agravado no período de (neo)colonização. Outro dado ofertado pela película
é a preocupação da personagem principal com o destino do grupo étnico que trabalhava
em sua fazenda, entretanto isso representa uma contradição, já que a mesma causou a
redução das terras do próprio grupo. Por fim, apresenta a chegada do governador local
que indica o início do processo de colonização propriamente dito.
Palavras-chave: Possessão, (neo)colonização, etnias.
Euclides Lins de Oliveira Neto
PUC - MINAS
“A fábula africana, migrante para a Língua Portuguesa: uma leitura”
A fábula africana é fábula ancestral, veiculadora de sabedoria e ensinamentos em
sintonia com as vivências e os costumes de diferentes geografias culturais africanas.
Pesquisadas em diferentes culturas do continente africano, migraram para a Língua
Portuguesa um número infinito, aqui reunimos a partir de uma tradução para o
português cinco fábulas de diferentes línguas. São fábulas lato sensu de cinco países
africanos. Sentimento posterior à leitura (da obra África ¬– Não o mundo das fábulas,
mas fábulas do mundo) é que elas trazem ensinamentos atuais e em plena sintonia com
as questões do ser humano nascido em Àfrica e em seu além mar do Século XXI. São
fábulas que, indo além do preconceito e da discriminação, dos costumes ancestrais e
hodiernos, visam uma autêntica cidadania mundial para as crianças (e para os adultos).
Eveline Alvarez dos Santos
UEPB
NEGRITUDE E MÍDIA: NARRATIVAS (S)EM CONFLITO
Mesmo com todas as discussões feitas acerca da negritude na sociedade brasileira, a
mídia ainda é responsável por um negro que ainda não conseguiu se livrar totalmente
das suas correntes e que, através das imagens que nos chegam, é ainda um modelo que
83
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
representa um ser inferiorizado, bandido, favelado e figurado através dos arquétipos
mais comuns que sempre foram inerentes a sua raça. O trabalho em questão tem como
proposta discutir sobre a história do cinema brasileiro e como a figura do negro se
localizou durante o seu percurso. Levantaremos também observações sobre a questão da
influencia da mídia na sociedade atual em algumas formas midiáticas, como telenovelas
e filmes.
Palavras Chaves: Negritude, mídia, cinema.
Fábia Layssa dos Santos Cosmo - FURNE
Maria Elaine Almeida do Nascimento - UFPB
Érica Cibelle de Sousa Araújo - UFCG
CIRANDA DE RODA: A DANÇA QUE CONTA A HISTÓRIA DE CAIANA DOS
CRIOULOS DE ALAGOA GRANDE - PB
Este estudo apresenta resultados de uma pesquisa feita com as Cirandeiras de Coco
existentes na Comunidade Quilombola de Caiana dos Crioulos, localizada na zona rural
de Alagoa Grande, Paraíba. Caiana dos Crioulos é reconhecida como um dos 13
legítimos quilombos brasileiros além de ser considerada patrimônio histórico e cultural
da Paraíba, onde existe diversas hipóteses para a origem africana de sua população. No
passado chegou a ter por volta de 2 mil habitantes, descendentes diretos de escravos que
se instalaram por lá entre o século XVIII, vindos de Mamanguape, após uma rebelião
ocorrida em um navio que aportou na Baía da Traição, na época. Ainda hoje se vêem as
tradições herdadas dos seus ancestrais africanos. Seus instrumentos, músicas, danças e
costumes, ainda guardam um pouco de sua cultura e de sua história. Partindo do bumbo,
triângulo e o ganzá, geralmente tocado por jovens da comunidade, filhos das
cantadeiras-dançadeiras, é que nasce a dança Ciranda e Coco-de-roda no intuito de
animar o povo nos dias festivos, para receber visitantes e amigos, bem como uma forma
de lutar pela resistência de seus valores e tradição. O artigo exposto foi construído
através de relatos orais verídicos de componentes do grupo, na tentativa de resgatar, ora
a história de Caiana dos Crioulos, ora a importância e simbologia que a dança tem para
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
a formação identidária destes, bem como o fato de que é através dessa arte que as
Cirandeiras deste Quilombola mantém viva e acesa a tradição e o espírito do passado da
Comunidade.
Palavras-chave: Caiana dos Crioulos, Cirandeiras de Coco, Quilombos.
Fábio Nunes de Jesus
UFRN
TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE QUILOMBOLA NA BAHIA: DOS ESPAÇOS DE
REFERÊNCIAS À AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA
O artigo ora desenvolvido é parte dos estudos vinculados ao curso de pós-graduação em
Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte junto à linha de pesquisa
Território e Identidade. Através de um aporte teórico, sobretudo geográfico,
pretendemos fundamentar um possível olhar investigativo sobre os territórios negros
frente à marginalização imposta e legitimada pelo Estado brasileiro ocorridas no
Piemonte da Diamantina - BA. Ao longo de sua formação, o Brasil no construto
lusitano, representava através do seu território o empreendedorismo e utilitarismo
responsável pelo caráter hegemônico cultural dominante que não permitia uma
diversidade
social reveladora da autodeterminação dos povos subjugados. É neste
contexto que a sociedade brasileira de matriz africana no pensamento social tornou-se
uma construção abstrata e subjetiva que precisava de tutoria e adequação ao trabalho
compulsório minerador em vigência. Assim, através de uma territorialidade que
pertencia e ao mesmo tempo se distanciava do território concreto estabelecido pelo
poder clássico, o povo negro através de fortes vínculos identitários, culturais e espaciais
(quilombos) garantiam na América diaspórica sua permanência e alteridade. A
apropriação dialética dos espaços pelos grupos "de baixo" como anuncia o professor
Milton Santos ,nesta reflexão, é o contraponto e o sentido da aplicação /negação dos
modelos como parâmetros de organização social estabelecidos através de uma outra
territorialidade subalterna e negra com fortes vínculos solidários e de permanência
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
espacial (quilombos, quintais , roças,terreiros) usando o próprio território e reafirmando
o sentimento de pertença.
Palavras - chave: Território; Identidade; Quilombos; Bahia; Geografia.
Fabrício Guto Macêdo de Souza
Amarino Oliveira de Queiroz
UFRN
TEMPO, SILÊNCIO, ORALIDADE E ESCRITA: UMA LEITURA DA CRÔNICA “AVÓ VS
TELEVISOR”, DE SULEIMAN CASSAMO
Alguns exemplos da narrativa moçambicana contemporânea têm suscitado o debate em
torno da relação oralidade/escritura na composição do texto literário, bem como a
perspectiva de apreciação do tempo e do silêncio como componentes diegéticos no
desenvolvimento da obra, combinando sabedores ancestrais às interferências dos
avanços tecnológicos. Esses são alguns dos temas que, contidos em Amor de Baobá,
coleção de contos e crônicas publicados pelo jornalista e escritor Suleiman Cassamo em
1977, e particularmente na crônica ―Avó VS Televisor‖, buscam ilustrar
simbolicamente alguns traços culturais em conflito na realidade urbana de Maputo, a
capital do país. A exemplo de outros escritores nacionais como José Craveirinha,
Paulina Chiziane ou Mia Couto, Cassamo procura formas de linguagem mais
apropriadas a um fazer literário autoral que, não poucas vezes, incorpora ao texto escrito
elementos característicos das criações na oralidade. O presente estudo tem por base
considerações teóricas de Rosario, Noa, Leite, entre outros estudiosos que, inseridos
nesse contexto, vêm construindo uma fortuna crítica atenta a especificidades do
universo literário do Moçambique contemporâneo.
Palavras-chave: Literatura moçambicana, tempo, silêncio, oralidade, escritura.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Fátima Cristina Leister
PUC – SP
SONDANDO VESTÍGIOS: FULAS E BIJAGÓS ATRAVÉS DO
BOLETIM CULTURAL DA GUINÉ PORTUGUESA (1946-1973)
Apesar da legislação em vigor, que desde 2003 tornou obrigatório o ensino de História,
Cultura Africana e Afro-Brasileira, ainda há muito que avançar para minimizar
deficiências curriculares nacionais e reorientar reflexões sobre ―as Áfricas‖ e os
africanos. Buscando ampliar horizontes históricos e contribuir com os debates
historiográficos já formulados, o foco do presente trabalho se dirige para a região da
atual Guiné-Bissau. Na pretensão de encontrar pistas de culturas pouco conhecidas,
sondamos as brechas da diferença colonial nos artigos do Boletim Cultural da Guiné
Portuguesa. Trata-se de uma revista acadêmica publicada entre 1946 a 1973, hoje
disponibilizada através do Projeto Memória de África e Oriente. Coordenado pela
Fundação Portugal-África, na cidade do Porto, o projeto tem coletado e digitalizado
documentos espalhados pelos centros de documentação de países lusófonos,
disponibilizando-os aos pesquisadores através da internet. Nas 110 edições do Boletim
Cultural há mais de 20 mil páginas, das quais destacamos os artigos sobre os Fulas e os
Bijagós, etnias singulares cujo relacionamento com o colonizador ocorreu de forma
bastante diferenciada. Independentemente de seus fins subjacentes, através dos
estranhamentos e desqualificações presentes nas narrativas pretendemos nos colocar à
escuta. Sondaremos vestígios da experiência de guineenses, os quais foram participantes
ativos de suas histórias.
Palavras-chave: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa - Coleções Coloniais –
Costumes e Tradições de povos da Guiné.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Fátima Verônica Santos
José Luiz Ligiero - Orientador
Isaac Bernat – Co-orientador
UNIRIO
“A Travessia do Contador de Histórias: um estudo sobre a presença e a
performance do contador, com referências na tradição do griot e em encontros
com contadores”
A contação de histórias acompanha o homem desde suas origens e seu papel, exercido
em diversas ocasiões, produz o efeito de alegria, refrigério, alacridade, reconhecimento
e aprendizado. A função interdisciplinar do contador de historias é a principal reflexão
deste trabalho, que a partir do ponto de vista da tradição oral africana do griot e da
investigação sobre o conceito e a performance do contador, seja no teatro ou nas salas
de aula. Por ser o griot, um contador, cantador, historiador e genealogista o escolhi
como referência. Sua presença, sua memória e suas palavras estão a serviço do outro
com o objetivo de manter vivas as historias e as lendas do seu povo através da arte de
contar historias. Baseado nos estágios docentes realizados junto a Escola de Música da
UNIRIO, na CAL Centro de Artes de Laranjeiras, além da experiência em outras
instituições de ensino onde leciono como professora de teatro e contadora de historias
abre-se uma discussão a respeito do assunto. Propondo a contação como uma fonte de
recurso para as ambiências do ensino, da relação e do aprendizado. Também foram
produzidas entrevistas com alguns contadores contemporâneos, onde investigo o ato de
contar historias e sua relevância na atualidade. A pretensão revelar a presença e a
performance do contador como um narrador potencial para além dos sentidos, estando
ele em cena ou dentro de um espaço de ensino, visando ressaltar a substância
transmitida através da estética e do desempenho do contador histórias. A travessia do
contador aparece em diversos caminhos e sua trajetória interdisciplinar é indispensável
para concretude das relações humanas.
Palavras-chave: Contador histórias, griot, presença performance, interdisciplinaridade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Fernanda de Moura Ferreira
Maria da Penha Casado Alves – Orientadora
UFRN
Axiologia e África: uma análise das charges africanas
Este trabalho tem por objetivo investigar o embate axiológico expresso em charges
produzidas por autores de diversos países do continente africano, atentando para a
materialidade linguística (tanto verbal quanto não verbal) e para o embate discursivo
que nelas se trava. Dessa forma, a análise das charges nos dará pistas para chegarmos ao
axiológico, tendo em vista que toda atividade de linguagem é perpassada por tons
valorativos. Para tanto, utilizaremos as postulações teóricas do círculo de Bakhtin sobre
linguagem e relações dialógicas (2009; 2003) e das considerações feitas por diversos
autores que se dedicaram ao estudo do gênero discursivo charge. Esta pesquisa é de
caráter qualitativo e se enquadra na área da Linguística Aplicada.
Palavras-chave: África, axiologia, charge.
Filismina Fernandes Saraiva
UNEB
LITERATURA E AFRODESCENDÊNCIA
Este artigo trata num primeiro momento da discussão em torno das terminologias dadas
para literaturas feitas no Brasil por afrodescendentes. Aqui, verifica-se alguns dos
termos mais usados para definir essas literaturas, os argumentos, os perigos e as
armadilhas na escolha de critérios para nomear a chamada Literatura Negra. Na segunda
parte do texto, discute-se, analisa-se brevemente a novela de Carlos Vasconcelos Maia
O leque de Oxum (2006) para mostrar através de Gilles Deleuze e Félix Guattari (1977)
que se trata de uma literatura menor, entendendo menor como uma literatura que possui
potência revolucionária. Além disso, alguns dados do escritor baiano são revisitados
para mostrar o seu comprometimento com o povo negro.
Palavras-chave: Literatura negra - O leque de Oxum - Vasconcelos Maia.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Flávio Junior da Silva
Tânia Lima – Orientadora
UFRN
A VELHICE, A INFÂNCIA E O SERTÃO: LUGARES DE ORALIDADE E MEMÓRIA
Quem não tem boas lembranças das estórias contadas pelas avós, pelos avôs, por
alguém mais velho que nos dizia coisas antigas, mágicas, emocionantes? Partindo destas
experiências afetivas da memória, da leitura do romance ―Terra Sonâmbula‖ de Mia
Couto e dos romanceiros populares o presente trabalho pretende apresentar o velho e a
criança como ―mantedores‖ destas experiências, como lugares onde esta oralidade se
realiza, nestes territórios da fala encontramos, e nos encontramos, com o passado que se
atualiza na contação, nessa ação memorial que comporta tensões entre o coletivo e o
individual (ZUMTHOR, 1997). Se o ancião é o detentor da palavra, a criança é a
depositária deste palavrório (HAMPATÉ BÁ, 1970:). É no interior que encontramos as
nossas raízes, é no sertão ‖Este mundo em invenção‖ (COUTO, 2005:) que nos
encontramos, mesmo que nunca tenhamos ido a tal lugar este lugar tem vindo até nós
através dos romanceiros, oriundos do outro lado do Atlântico, que se fixaram
justamente ai, nesse lugar inventivo onde se guarda a memória contada aos menores
pelos mais velhos.
Palavras-chave: Memória, infância, velhice, locais de oralidade.
Flávio Santos do Nascimento
Faculdade Pio X
Mayombe: alteridades étnicas na descolonização angolana
Mayombe foi escrito em 1971. Apesar de escrito em meio à guerra de libertação, o livro
é publicado somente em 1980, depois, portanto, da independência angolana (1975) e já
em meio à guerra civil que só acabaria em 2002. Este livro conta a trajetória de um
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
pequeno grupo de guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de
Angola), chefiado por oficial um chamado Sem Medo, que enfrentam as intempéries e
vicissitudes desta luta armada na floresta angolana de Mayombe. O uso da literatura
como fonte historiográfica é uma herança da ―Escola dos Annales‖ idealizada por
Lucien Febvre e Marc Bloch. Desde então, pode-se verificar a tendência do alargamento
das noções de fonte, objetos e da relação historiador com eles. Pois bem, neste trabalho
o processo de descolonização de Angola é pensado a partir de uma desta obra literária.
O autor, Pepetela, participou ativamente do MPLA. Por isso sua obra, embora não
pretenda, pode ser considerada como uma possibilidade de representação de muitas
questões presentes na guerra de independência de Angola. Neste sentido o trabalho
busca analisar a questão das alteridades étnicas a partir das representações presentes no
livro. O trabalho abordará a literatura como fonte a partir dos pressupostos da História
Cultural, utilizando-se dos conceitos de representação e identidade.
Francielly Coelho da Silva
Magnólia Cristina Albuquerque da Silva
SME – NATAL
PROMOVENDO A VALORIZAÇÃO DA LITERATURA E DA CULTURA AFRICANA NA
ESCOLA
Este trabalho descreve uma experiência realizada em uma escola pública municipal de
Natal em uma turma de 8º ano. O projeto desenvolvido com esses alunos abordou a
cultura e a literatura africanas: seus mitos e suas lendas. Foram lidos também trechos da
obra de Pepetela - As Aventuras de Ngunga - assim como outros textos, de diferentes
gêneros discursivos, com a temática da discriminação do negro e de sua cultura no
Brasil. Este trabalho justifica-se por promover reflexões acerca da diversidade cultural
brasileira, principalmente, sobre as contribuições do povo africano, visando com isso à
conscientização dos alunos em respeitar e valorizar essas diferenças. Justifica-se
também pelo fato de promover a leitura, a escrita e a reescrita de textos, os quais tomam
como base outras culturas. Este trabalho baseia-se, principalmente, em reflexões
presentes nos PCN de Língua Portuguesa (1998) e nas Orientações e Ações para a
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Educação das Relações Étnico-Raciais (2006). São objetivos principais deste trabalho:
promover reflexões acerca da importância das contribuições do povo africano para a
formação cultural do povo brasileiro. Como também, despertar o gosto pela leitura, a
escrita e a reescrita de textos, em especial, os literários. Neste trabalho, primeiro, serão
mencionadas e discutidas algumas das reflexões presentes nas obras que o embasam.
Logo após, serão relatadas as atividades realizadas nas aulas de língua portuguesa e, por
fim, será traçado um paralelo entre as teorias apresentadas e as práticas desenvolvidas
em sala de aula. Ao final deste trabalho, os alunos produziram contos ―africanos‖ e
artigos de opinião.
Palavras-chave: Literatura Africana. Cultura Afro-Brasileira. Diversidade.
Francinilda Rufino de Souza
Deise Silva Sousa
Maria Lindací Gomes de Souza
UEPB
QUILOMBO: RESSEMANTIZAÇÃO, IDENTIDADE E DIREITO A TERRA
Resumo: O presente trabalho tem por finalidade apresentar algumas reflexões teóricas
que estão sendo realizadas em oficinas didáticas, visando equiparar os alunos para
atuarem nas comunidades quilombolas mediante o projeto de extensão; Nos Territórios
de
Remanescentes
Quilombolas,
Redes
que
Tecem
a
Cidadania
Cultural:
Territorialidade, Educação, Migração e Narrativas de Vida; que conta com
financiamento do Programa de Incentivo a Pós – Graduação e Pesquisa (PROPESQ) da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A pesquisa que se encontra em fase de
andamento tem como foco, a priori discutir as questões relacionadas às categorias de:
ressemantização do termo quilombo, identidade e direitos. Devido à fase inicial em que
se encontra, este estudo está ancorado em leituras bibliográficas que visam contribuir
para o desenvolvimento da pesquisa empírica; a posteriori, no âmbito das comunidades
que historicamente são reconhecidas como comunidades remanescentes de quilombo.
Desta forma, conclui-se que este artigo constitui uma proposta relevante, visto que estas
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
populações durante séculos têm sido negligenciadas em sua cultura, assim como na
historiografia oficial. Deste modo, objetivamos, através do diálogo com as referencias,
identificar ao longo do processo histórico as mudanças e as formas de apropriação e
reapropriação das categorias expostas acima. De maneira que se possam articular os três
eixos temáticos no sentido da investigação de uma construção identitária no espaço das
comunidades remanescentes quilombolas, por meio da análise de uma possível
ressemantização de termos que se relacionam com esta construção.
Palavras-chave: Remanescentes quilombolas. Ressemantização. Identidade. Direitos.
Francisca Lailsa Ribeiro
Maria Cordeiro
Mazé Oliveira
Liduína Fernandes – Orientadora
UECE/FAFIDAM
‘DI LIXÃO’: A IDENTIDADE COLETIVA AFRO-BRASILEIRA
O presente trabalho vem analisar o conto "Di Lixão" da autora Conceição Evaristo,
onde percebemos a necessidade que o eu poético tem de falar de sua gente, expressando
os seus sentimentos, falar com realismo dos afrodescendentes, excluídos que são ainda
hoje em determinadas situações, identificamos a dor que essas situações provocam,
diante da crueldade que a dependência causa, apesar do discurso de liberdade e
igualdade. No conto encontramos história, identidade e memória da realidade desse
povo. Nossa proposta está amarrada nos debates literários no que se refere à construção
de identidade afro-brasileira. A sensibilidade das militâncias da autora está marcada na
escrita subjetiva que toma um sentido universal quando trata das lembranças do negro
nas diversas condições sociais. A comprovação da análise contará com a teoria de Stuart
Hall (1997) no dizer sobre qual a identidade que o negro assume na sociedade em que
vivemos, e contamos com Simone de Beauvoir (1970) com o livro O segundo sexo,
contendo subsídios da era de ascensão feminina. Com este intento, abranger o caminho
das lembranças de cada uma das personagens do conto nos faz entender a tendência
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
vivente em meio a cada uma delas e a arte de arranjo de suas identidades. Do mesmo
modo como a compreendemos, a técnica de desenvolvimento da identidade parte da
subjetividade para deparar no seguinte anseio de identificação. Ao fim, as soluções
arranhadas pela escritora para formar a identidade do homem negro primam por inundar
nas recordações individuais para em seguida elevar-se das interiores e, sim poder,
disputar por um ambiente em que a identidade coletiva afro-brasileira pode ser vista e
respeitada como as demais. Notamos com isso que Evaristo esclarece a seu tempo, não
só por ser uma escritora modernista, que a identidade é construída a todo o momento, e
só não mais a formamos quando finalmente passamos a viver ‗na cidade dos pés juntos‘.
Palavras-chave: Identidade. Mulher. Subjetividade.
Francisca Ramos-Lopes
UERN
A PROFISSÃO: UM ESPAÇO PARA (RE) SIGNIFICAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA
O processo de constituição identitária dos sujeitos é algo complexo, plural que prioriza
sujeitos que se movimentam, falam e estão inseridos em determinadas realidades
sociais. Em relação ao sujeito negro, mesmo com as inúmeras marcas negativas
deixadas pela experiência da colonização, ele se reconstrói positivamente. Desse modo,
a pesquisa observa a linguagem por meio de um discurso situado e a concepção de
identidade relaciona-se não ao que o sujeito é, mas ao que ele se torna, constituindo-se
do modo como eles são representados e como essa representação influencia na forma de
se retratarem. O objetivo proposto é problematizar o processo de constituição identitária
de professores/as negros/as com ênfase nas principais ocorrências ao longo do percurso
em busca de um espaço profissional. Metodologicamente, a pesquisa é de base
qualitativo-interpretativista, usando-se como técnica de geração dos dados a produção
de narrativas escritas e entrevistas semiestruturadas. Os investigados, docentes negros e
negras, estão sendo considerados como sujeitos que têm sua trajetória inscrita em um
espaço histórico, social e cultural. A teorização advém da AD francesa e dos estudos
culturais. Os dados, oriundos da tese de doutorado de Ramos-Lopes (2010), evidenciam
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
que há uma imbricação entre a identidade pessoal e a social/profissional, pois a
percepção que os sujeitos têm de si não se forma no vazio e sim, marcada pelas
categorias de pertença, pela sua estória de luta, pelos espaços conquistados e pela
situação anterior e atual em relação ao eu e ao outro.
Palavras-chave: Práticas discursivas. Re (significações). Identidade negra.
Francisca Ramos-Lopes
Dayane Priscila Pereira de Souza
UERN
PRÁTICAS RACISTAS NA ESCOLA:
SILENCIAMENTOS E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
Práticas racistas, sejam discriminatórias e/ou preconceituosas, são reais em nossa
sociedade, inclusive no âmbito escolar. Questionamo-nos: tais práticas são decorrentes
da educação familiar ou despreparo dos professores? Mesmo circulando nas práticas
sociais o discurso de que o Brasil é um país em que vigora a democracia racial, esses e
outros fatores contribuem para a disseminação do racismo em nossa sociedade. A partir
desse foco, esta comunicação se propõe a apresentar um projeto de extensão em
desenvolvimento no Depto. de Letras do CAWSL, Assu, RN. O projeto subsidia
professores da Educação Básica a respeito de posicionamentos de docentes negros/as,
em relação ao seu processo constitutivo de identidades étnicorracial ao buscarem
mobilidades diversas. O trabalho oportuniza discussões plurais, muitas vezes,
silenciadas ou em algumas práticas escolares relegadas a um segundo plano. Os dados
evidenciam a necessidade de estudos nessa área, uma vez que as professoras
participantes da ação extensionista declaram que precisam aprender a ―lidar melhor com
as diferenças‖ e por conseqüência, expandirem o aprendizado as suas práticas docentes.
Compreendemos, conforme revelam os estudos de Cavalleiro (2005), Cunha Jr (2009)
Munanga (2004), Ramos-Lopes (2010), dentre outros, que na escola, além da temática
racial ser tratada inadequadamente, muitas das manifestações de racismo são tratadas
como tabu.
Palavras-chave Práticas pedagógicas. Práticas racistas. Identidade étnicorracial.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Francisca Zuleide Duarte de Souza
UEPB
Ndani, a Tamar africana-considerações em torno d”’Última Tragédia”,
do guineense Abdulai Sila
O texto propõe uma reflexão sobre o papel das crenças tradicionais na literatura
guineense, particularizando o romance‖Ä última tragédia‖, onde a personagem
principal, Ndani, sofre com a ―maldição‖ proferida pelo djambakus da sua tabanca.
Tentando livrar-se, a moça vai para Bissau, é convertida aos costumes e crenças do
branco, sem, entretanto, livrar-se. O paralelo com a bíblica Tamar, estigmatizada pela
morte do marido e do cunhado Onan é pertinente, pois defende-se a tese de que as
circunstancias determinaram o malogro das relações vividas por Ndani.
Francisco Allyson Rocha da Silva
Ana Gabriella Ferreira da Silva
Francisca Ramos–Lopes
UERN
DISCUSSÃO ÉTNICORRACIAL NO CONTEXTO ESCOLAR: POSICIONAMENTOS DE
DISCENTES DO ENSINO MÉDIO
Na sociedade pós-moderna, as práticas discursivas escolar são atravessadas pelas
vivências e aprendizagens adquiridas no convívio entre os sujeitos. Embora se tenha a
ciência de que a escola é múltipla no tocante ao seu papel social e inclusivo, sabe-se
também que é palco de inúmeros conflitos. Destacam-se aqui os conflitos de natureza
discriminatória, que acabam por formular padrões e discursos preestabelecidos para as
minorias. A partir desse foco, o trabalho evidencia algumas praticas que são permeadas
por discurso(s) que ao se situarem em torno da temática etnicorracial produzem sentidos
negativos relacionadas à etnia brasileira que descende do continente Africano.
Metodologicamente, analisa-se narrativas escritas advindas de um projeto PIBIC: A
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
escola e os amigos: espaços para a construção e desconstrução de práticas
discriminatórias relacionadas à questão étnicorracial (RAMOS-LOPES, 2010). Os
sujeitos colaboradores são alunos de pertencimentos étnicos variados, de turmas do
ensino médio de uma escola da rede pública da cidade de Assu, RN. A teorização
respalda-se nas discussões foucaultianas e nos estudos culturais atravessados pelo viéis
da Lingüística Aplicada Moderna. As narrativas são indicativas de acontecimentos
situados em um momento social, histórico e cultural da vida escolar dos discentes. O
projeto constitui um corpus com expressivas opiniões sobre as relações de ―raça, cor e
etnia‖ na escola e em outros segmentos sociais.
Palavras-chave: Práticas discursivas. Práticas discriminatórias. Narrativas escritas.
Francisco Jacson Martins Vieira
CAPES
A RESIDUALIDADE AFRICANA NA CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA DO ROMANCE
MENINO DE ENGENHO, DE JOSÉ LINS DO REGO
Em suas reflexões sobre o narrador e sua importância na obra de Nikolai Leskov,2
Walter Benjamin ressalta a arte de narrar, a partir das experiências como atividade em
vias de extinção. Como proposta de trabalho, este artigo realiza um estudo de
identificação à luz da Teoria da Residualidade Literária e Cultural sobre a influência da
narrativa africana na formação do narrador e na construção da narrativa do romance
Menino de Engenho do paraibano José Lins do Rego. O presente estudo baseia-se na
dualidade da prática narrativa, promovida pela troca de memórias e experiências
identificadas na Obra pela ação de Carlos de Melo, protagonista do romance e uma
espécie de contador nordestino e da velha negra Totonha, que figura como arquétipo de
um akpalô, entidade africana responsável pela retransmissão das histórias orais nos
diversos engenhos do Paraíba.
Palavras-chave: residualidade, narrativa, akpalô.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Francisco Leandro Torres - UFRN
Zípora Najara de Assis Sousa - UnP
Tânia Lima – Orientadora - UFRN
A África “Na pele do tambor” e as Áfricas “Sangrantes e germinantes”:
A ConVocação Sagrada de Agostinho Neto
Este artigo é uma análise literária, crítica e reflexiva dos poemas do livro A sagrada
Esperança (1974), com ênfase em dois poemas emblemáticos: ―Na pele do tambor‖ e
―Sangrantes e germinantes‖, com o propósito de expor uma discussão do saber poético
presente na poética de Agostinho Neto (1922-1979). Nas perspectivas de melhor
conhecer a poeticidade agostiniana, abordando a partir e através do saber poético ou
poética do saber, as questões políticas e realidades culturais e sociais. Emergindo,
assim, da poesia multicamadas da negritude e sua condição humano-existencial na
relação de alteridade eu-outro/outro-eu na fusão permanente da simbologia do tambor,
na metáfora da memória enérgica da palavra. Poema, pele, corpo, batida, protesto,
direito humano, dignidade e partilha do próprio homem na convocação do contexto da
literatura africana permeada pela poesia grávida de subjetividades tecidas nos ecos e
canções tamboliradas dos poemas. Sangue e suor. Resistência e afirmação frente ao
capitalismo maquiavélico. Descobertas das entranhas e celebração da luta cotidiana das
dores vivenciadas. No embate e debate dos processos de descolonização. Em face do
engajamento de si na própria realidade com suas misérias e epifânicas sagradas
esperanças.
Palavras-chave: Literatura africana; Agostinho Neto; A Sagrada Esperança; o saber
poético; questões políticas e culturais; realidade social e poesia.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Franck Ribard
UFC
Performance, corpo e oralidade na festa negra. Memórias e dinâmicas identitárias
no maracatu cearense
A presente reflexão apóia-se numa pesquisa relativa às dinâmicas festivas ligadas aos
universos culturais negros dos Reis de Congo e do maracatu na cidade de Fortaleza,
abordados numa perspectiva diacrônica. O enfoque privilegiado busca analisar as
modalidades ritualísticas e performáticas da coroação dos Reis de Congo originaria, no
século XIX, das manifestações da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Pretos, mas que, depois da romanização da igreja católica, vai ser encontrado no âmbito
carnavalesco do maracatu. De fato, no centro da manutenção da memória dos ancestrais
bantos, aparece como vetor central da mobilização e da transmissão destes referenciais
colocando em cena os heróis da história congo-angolana (Reis de Congo, Rainha
Ginga), uma determinada estrutura ritualística: a coroação, envolvendo a figura central
da rainha, entronizada e estabelecida simbolicamente enquanto corpo místico, mas
também enquanto corpo político (Balandier). A observação da trajetória dos autos e
reisados de Congo e do maracatu fortalezense desde o final do século XIX, analisados
nas suas características rituais, organizacionais e no seu corpus de textos orais
(narrativas e loas), deve permitir colocar em luz a natureza destas dinâmicas que
garantiram um continuum não só cultural, mas também identitário e étnico.
Palavras-chave: negro, Ceará, maracatu, performance, memória.
Genilson de Azevedo Farias
UFRN
AUTA DE SOUZA: gênero, poesia e religião
Durante muito tempo os estudos sobre as mulheres foram relegados a um segundo
plano, visto que as várias nuances das áreas de conhecimento não primavam por tal
enfoque. Contudo, o estudo de gênero vem adquirindo espaço nas últimas décadas e
cada vez mais o objetivo dessa análise não é estudar a mulher em detrimento do homem,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
mas sim as suas relações sociais, daí a denominação desse estudo como sendo um
exemplo que é pautado na categoria de gênero enquanto categoria de análise. Assim, no
bojo dessas assertivas, nosso trabalho, busca enfatizar a poeta oitocentista potiguar Auta
de Souza (1876-1901), que desde cedo, demonstrou aptidão para a poesia escrevendo
uma única obra que a eternizou. Criada no seio de uma cultura católica bastante
arraigada às tradições e sendo a única mulher no meio de quatro irmãos homens, para se
firmar enquanto escritora, Auta teve de superar as barreiras de gênero em uma época
extremamente preconceituosa e sexista, sobretudo para com as mulheres que se
dedicavam à escrita, em contrapartida sua conduta moral e intelectual não feriam os
valores da época fato este que a singularizou dentro e fora do Estado. Assim, nossa
pesquisa busca entender a poeta enquanto um referencial da cultura, da religião e dos
valores nos oitocentos.
Palavras-chave: Auta de Souza, escrita feminina, religiosidade.
Genira Pereira da costa
UEPB
A resistência do Quilombo: Uma análise geográfica da territorialidade na ideologia
de liberdade do Negro
A conquista da liberdade sempre esteve presente no imaginário do Negro que oprimidos
pelos seus senhores veem na fuga a única possibilidade para liberta-se dos grilhões da
escravidão. De modo que concomitante a fuga se fazia necessária que tivessem em
mente um território o qual pudesse se estabelecer e que este apresentasse aspectos
geomorfológicos que dificultasse a realização de busca e captura pelos seus senhores.
Nesse sentido pode ser percebida a importância do território como estratégia, na
formação dos quilombos e na concepção ideológica de liberdade. Sendo o conceito de
território entendido geograficamente pela relação de poder entre um grupo ou pessoa no
espaço vivido. Para os quilombolas a região a qual estava localizado o quilombo
configurava-se e configura-se até os dias de hoje como território de poder, pois ali eles
podiam e podem fazer valer seus direitos. O direito de ser livre, ter seu espaço o qual ele
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
se identificam, pois a senzala não poderia ser o lugar do homem na condição de homem.
Portanto esse artigo tem por objetivo analisar a importância do território de resistência,
resignificando o sentido de liberdade. Esta pesquisa estar sendo realizada por meio de
análise bibliográfica e que pretende dialogar com os teóricos (Chartier 1991) e (Certeau
1994). O primeiro trata o território como representação, símbolo de liberdade. Em
quanto que o segundo autor problematiza sobre o território em quanto tática e
resistência.
Palavras-chave: Resistência, Território, Quilombo.
Geny Ferreira Guimarães
Rio de Janeiro: De Machado de Assis e de Éle Semog. Quando o olhar geográfico é
preenchido por contos e poéticas
Este trabalho representa uma reflexão sobre o encontro da Geografia com a Literatura e
vice-versa. Os instrumentos dos estudos geográficos sempre foram mapas, aliados a
dados estatísticos econômicos, questões políticas, aspectos naturais, características
culturais e sociais dos lugares, dentre outras temáticas mais específicas e/ou locais.
Cada vez mais se percebe, nos estudos geográficos, que a produção literária também
pode ser um grande instrumento para entender a dinâmica dos lugares. Este trabalho
apresenta como a produção literária de Machado de Assis do século XIX e a do
contemporâneo Éle Semog no século XX e XXI podem unir a Geografia e a Literatura
tendo como base inspiradora a cidade do Rio de Janeiro. Descortinando racismos,
descrevendo questões étnico-raciais, urbanas e de gênero de forma incisiva, assim são as
palavras poéticas de Semog ou de forma sutil a descrição indignada e contrária às
atitudes cruéis escravocratas percebidas na obra de Machado. De qualquer forma, o
palco é o Rio de Janeiro e o espaço geográfico, o carioca. Não se pretende traçar uma
comparação entre Machado e Semog, tarefa impossível! Mas, apenas mostrar que pode
existir uma confluência em seus pensamentos e percepções sobre a cidade do Rio de
Janeiro por conta de suas heranças africanas e identidades culturais, apesar de épocas
diferentes.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Gildeci de Oliveira Leite
UNEB
A mitologia dos orixás na obra de Jorge Amado
Ler obras do Omo Oxóssi e Obá de Xangô Jorge Amado, em especial da fase
denominada por DaMatta como carnavalizadora, é ter a possibilidade de enxergar nas
linhas e entrelinhas dos textos amadianos aspectos da mitologia dos orixás. A partir do
estudo comparativo, considerando a existência de narrativas da mitologia negra
brasileira e a leitura minuciosa de obras de Jorge Amado ver-se-á o quanto de narrativas
de orixás há na literatura do baiano e de que forma as narrativas mitológicas definem os
enredos das obras.
Palavras-chave: orixás – literatura – jorge amado – baianidade.
Guilherme Enéas Lima
A crioulização religiosa afro-brasileira em “O leque de Oxum”, de Carlos
Vasconcelos Maia
Quanto à percepção dos resíduos africanos na mentalidade coletiva brasileira, é notório
o destaque atribuído ao escritor Jorge Amado, que permeou a sua criação literária com
elementos inquestionáveis da cultura negra, reconhecendo assim, sua extraordinária
contribuição para a formação do nosso povo.
Não menos importante, todavia ignorado pela grande maioria, apresenta a mesma linha
temática Carlos Vasconcelos Maia, contista baiano detentor de uma vasta obra artística
acumulada em quarenta anos de produção. Intensamente ligado à terra de origem e
defensor ávido dos seus costumes e tradições, tem consciência do hibridismo cultural
que a sustenta. Portanto, partindo desse esteio, restringiremos nosso trabalho mediante
análise da forte presença do elemento religioso afro-baiano na escrita do autor em
questão, especificamente na narrativa ―O leque de Oxum‖. O título já se mostra bastante
sugestivo ao que encontraremos no contexto: a inserção mitológica dos orixás como fio
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
condutor da trama. O processo de adaptação, sincretismo e transformação da fé
imigrante, desde os primeiros sacerdotes escravizados e ―arrastados‖ ao território
nacional, trouxe ao candomblé incorporações outras, nem piores nem melhores, apenas
distintas. Por fim, a presença de um protagonista sueco, estranho a tudo que envolve a
crença anímica da Natureza já modificada no país como aludido anteriormente, o seu
respectivo deslumbramento às gradativas descobertas e a irresistível atração pela figura
feminina partícipe do misticismo, afirma simbolicamente que os povos estão em
constante interação sócio-cultural, anulando a ideia de autossuficiência, isolamento e
estagnação.
Haissa de Farias Vitoriano Pereira
POLIGAMIA: UMA PRÁTICA ANCESTRAL SOB ÓTICA DIFERENTE – UM ESTUDO DE
NIKECHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA
Esta pesquisa centra-se no estudo da escrita da autora africana, Paulina Chiziane,
nascida em Moçambique, África. Para tanto, analisaremos seu romance Niketche: uma
história de poligamia (2002), com base em um recorte nos estudos de construção da
identidade, a partir de uma experiência no exílio, na pátria fragmentada pela guerra da
descolonização, sem perder de vista a sua condição de mulher. O objetivo desse estudo
é rastrear a questão da identidade feminina, entendendo-a como um elemento patente na
escrita de Chiziane, considerando uma ideia de nação que participa de um processo que
oscila entre o desejo de esquecimento da perda das raízes e, ao mesmo tempo, a
necessidade de fixá-las através da palavra, única forma de eternizá-la enquanto
representação simbólica. No estudo, investigamos de que modo a representação dos
elementos identitários, formadores da Moçabicanidade, diluída nos processos de
colonização e descolonização vividos no país, perpassam a construção das personagens
femininas.
Palavras-chave: identidade, tradição, modernidade, feminino.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Helder de Araújo Holanda
Vozes da Tradição , Vozes da Mudança
A Literatura Africana de Paulina Chiziane projeta para o universo literário uma visão
forte e bem elaborada da alma feminina em Moçambique. Sua narrativa Niketche, tema
deste trabalho , toca com muita sensibilidade em valores sociais , morais e culturais
moçambicanos no tocante à condição da mulher que se vê marcada,dentre outros
conflitos, pela poligamia. Rami, personagem central dessa obra, reelabora valores e
condutas, reinventando para si e para as outras esposas possibilidades de mudança e
reinserção social do feminino numa sociedade patriarcal e conservadora. A narradorapersonagem Rami tem sua voz fortalecida pelas outras vozes femininas das demais
esposas do marido polígamo. Juntas elas desafiam a tradição na tentativa de construir
um novo presente e um melhor futuro. Além dessa dimensão feminina da reinvenção, a
obra de Chiziane consolida-se pela linguagem lírica e avassaladoramente poética, sendo
capaz de comunicar sentimentos que brotam das mais profundas entranhas do ser
feminino, através de um denso imagístico e de palavras e expressões que ressignificam a
oralidade consagrada do país e elaboram uma poeticidade simples, porém intensa.
Palavras-chave: Paulina Chiziane, Niketche, mulher, Moçambique, reinserção, vozes
femininas, mudança.
Herbert Nunes de Almeida Santos
UFAL/IFAL
RISO E SÁTIRA SOCIAL NA POESIA DE LUIZ GAMA
O trabalho apresentará um estudo minucioso na literatura produzida por Luiz Gonzaga
Pinto da Gama no século XIX. O poeta foi uma das figuras de nossa história que sempre
apareceram, em suas mais diversas épocas, para figurarem os mais embativos assuntos
que envolviam, na maioria das vezes, aspectos que vão das origens sociais e raciais às
posições ideológicas. A publicação de suas Primeiras trovas burlescas no século XIX,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
que era uma reunião de poemas líricos e de sátira social e política, contribui
consideravelmente nesse povoar e reconhecimento literário. Poeta negro que, através do
riso, combate ferozmente na literatura certas posições ideológicas de uma sociedade
branca; marcadas por um posicionamento europeu de se pensar a literatura e a
sociedade. Esse tom satírico de Gama é visto como uma alternativa popular à margem
do cânone erudito para criticar o status. E, mais do que uma alternativa, é uma reação à
situação brasileira que sufocou o diferente, o reprimido e o contraideológico. Diante
disso, o poeta reúne em seu livro, escrito no século XIX, uma reunião de interessantes
sátiras para tentar, através do riso satírico, deslocar certas posições ditas estáveis nessa
sociedade; em uma busca incessante de trazer reflexão e moralização social.
Hildalia Fernandes Cunha Cordeiro
UNEB
Ori-irun obìnrin dúdú (cabelos e cabeças de mulheres negras): construções, (re)
construções e afirmações identitárias, a partir de referências e memórias estéticas
negro-africanas
A construção de um padrão de beleza e humanidade pautado e construído pela
branquidade tem causado muitos danos e de ordens diversas, sobretudo, bio-psíquicas
em crianças e adolescentes negros que tanto almejam alcançar esse ideal de brancura e
de humanidade (leia-se aceitação). Os memoriais produzidos e socializados no trabalho
ora apresentado trazem algumas dessas dores e insatisfações de ser como se é. Marcas
construídas e propagadas de diferença repercutem e destacam, sobretudo, cor da pele e
cabelo, tanto para marcar essa suposta diferença, como para delimitar pertencimentos de
ordem étnico-racial. O bonito e novo dessa pesquisa é o processo de construção
identitária realizado pelas autoras dessas memórias estético-identitárias que ao
lembrarem, selecionarem e narrarem tais histórias, atribuem sentido e significado as
mesmas. Configura-se como um momento para (re) cordar (passar novamente pelo
coração) para refletir, olhar criticamente para o vivenciado e daí adquirir o saber
experiencial que quase sempre culmina, produz empoderamento. Acompanhar tais
processos e transformações através das escritas de si que ―deságuam‖ na descoberta da
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
boniteza de ser como se é e assunção positiva da negritude, eis o rico e prazeroso de tal
trabalho. Este é parte constituinte da pesquisa de mestrado pela UNEB em Educação e
Contemporaneidade e intitula-se: Ori-Irun: territorialidade negra de luta negro-africana
– a raiz que empodera em contextos sacro-sócio-educacionais e pretende conhecer e
socializar as memórias estético-identitárias de mulheres negras, professoras, estudantes
de pedagogia e mulheres pertencentes à comunidade de terreiro com suas cabeças e
cabelos ―transbordando‖ de ase e de referências ancestrálicas.
Palavras-chave: memória – estética – identidade.
Hosana Araújo Bezerra
UFPE
A SOCIEDADE MOÇAMBICANA NAS OBRAS DE JOÃO PAULO
BORGES COELHO
O autor João Paulo Constantino Borges Coelho, moçambicano, começou a publicar suas
obras, em formato de livro, no ano de 2003, depois desta estreia publicou mais livros:
romances, contos e uma novela. Em suas obras retrata a sociedade de Moçambique e as
relações sociais das pessoas deste país, tanto num contexto rural quanto num contexto
urbano com personagens características desta sociedade como trabalhadores,
empregadores, imigrantes, etc. Toma como base para os seus escritos, estudos
Antropológicos e a História Contemporânea para dar conta da realidade que o cerca e
interpretá-la expressando isso na literatura através de uma narrativa forte, com
construção linguística tradicional ligada a características peculiares da sociedade
retratada e dos assuntos que ela demanda.
Palavras-chave: Literatura Africana, Moçambique, João Paulo Borges Coelho,
Literatura Contemporânea.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Hugo José Medeiros de Oliveira
SME - NATAL
DISCRIMINAÇÃO OU ARTE: O NEGRO NA LITERATURA NACIONAL
Com base nas proposituras da Lei Federal nº 10.639/03 e das perspectivas emanadas
pelas políticas anti-racistas interpostas pelo Ministério da Educação, esta pesquisa tem
como objetivo discutir a existência de um possível discurso racista, para os nossos
tempos, encontrado nas obras: Escrava Isaura de Bernardo de Guimarães; Navio
Negreiro de Castro Alves; Negrinha e em O Sítio do Pica-pau Amarelo de Monteiro
Lobato além de Casa Grande e Senzala de Gilberto Freire. A análise baseou-se nos
princípios discursivos propostos por pensadores como Bakhtin, Pêcheux, Foucault
dentre outros, focalizando os princípios literários e históricos da época de produção da
obra bem como as suas peculiaridades artísticas. O trabalho discute, também, o conceito
de arte em contraponto ao conceito de racismo, no âmbito de cada obra literária em tela.
Neste quesito, autores como Bosi, Eagleton, Lima subsidiaram a discussão. Enfim, a
análise buscou desmistificar a idéia de que a produção artística e o discurso racista
podem interferir na liberdade de leitura e na orientação didática para o uso de livros em
sala de aula, como fonte de incentivo a leitura. O trabalho conclui que não há como se
afirmar que há um racismo marcado nas obras em tela visto que, mesmo que o tom seja
de depreciação do negro em relação à ideologia branca da época, há de se entender que
a finalidade artística de cada obra suplanta o caráter subjetivo do racismo nelas incursos.
Palavras-chave: Literatura, Racismo, Subjetividade.
Ilane Ferreira Cavalcante
IFRN
ENTRE REMÉDIOS E VENENOS – A NARRATIVA E A CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE
Neste trabalho, elaboro uma reflexão sobre a questão da construção identitária no
romance Venenos de Deus, remédios do Diabo (2008) de Mia Couto. Nessa narrativa,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
um médico português chega a uma vila moçambicana buscando um grande amor e, ao
mesmo tempo, responsabilizando-se pelo tratamento de doentes vitimas de uma
misteriosa epidemia, em que os indivíduos perdem o rumo e a consciência de si. Para
compreender como se dá o confronto entre os personagens do romance, busco
referências que discutam os aspectos da narrativa moderna, como Bakhtin (1990),
Benjamin (1980) e Adorno (1980) e sobre a identidade na pós-modernidade, através de
Bhabha (1998) e Hall (2006). Não pretendo, no entanto, caminhar para o consenso ou
para uma conclusão. Nessa reflexão, o simples ato de refletir já se constitui em
metodologia e em resultado.
Palavras-chave: Identidade. Pós-modernidade. Narrativa contemporânea.
Ilza Matias de Sousa
UFRN
Mia Couto da varanda de Frangipani, geografias brancas e geografias negras: linhas
de escoamentos, linhas de fuga e desterritorializações
Este estudo da narrativa africana de Mia Couto procura estabelecer nela a constituição
de uma geografia do pensamento fabular cujas linhas de escoamento colocam em
relação geografias brancas e geografias negras na narração da história de Moçambique,
na qual agem, concomitantemente, linhas de fuga criadoras de ficções. Estas ativam a
potência do falso, ou efabulação, no sentido de romper a identificação do tempo com a
verdade, que se buscou cristalizar no processo colonizador. Lança-se, assim, o olhar
para as multiplicidades atuais das africanidades, apontando-se as desterritorializações
capazes de deslocarem forças de significação para um fora, uma exterioridade, a partir
da qual, interpela-se a pretensa unidade do significante histórico. Exterioridade de que a
varanda será a figura espacial a provocar a fissura do ―muro‖/fortaleza (figuratividade
constante da composição arquitetônica ―branca‖). É da varanda de Frangipani que o
lento e persistente desabamento da leitura majestática colonial e de sentido único tornase possível. A varanda ainda pode ser tida como o campo das virtualidades a operar
rachaduras como parte do trabalho erosivo das matérias ou das superfícies que irão
desapropriar a ordem unitária discursiva e a autoridade arquitetônica colonial.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Acompanhar-nos-emos no percurso das cartografias literárias, projetadas em meio às
geografias culturais atuantes na narrativa coutiana, das discussões pontuadas em Gilles
Deleuze e Félix Guattari e em outras que igualmente articulam o pensamento ao espaço,
às práticas de espaços, atravessados, diria Deleuze, por circulações, ecos,
acontecimentos, multiplicidades e intensidades.
Isabel Barreto
UFF
Ngungunhana – ascensão e queda de um rei africano
Neste trabalho pretendemos apresentar a trajetória do último rei de Gaza, região sul de
Moçambique. Tendo liderado dos ngunis entre 1884 e 1895, Ngungunhana chegou ao
posto de líder de seu povo após uma intensa disputa sucessória. Expansionista,
assimilou grupos étnicos mais fracos. Motivo pelo qual era uma liderança temida na
região. Durante a corrida imperialista dos Estados europeus viu-se diante de duas
nações tradicionalmente aliadas, mas naquele momento antagônicas, interessadas em
suas terras: a Grã-Bretanha e Portugal. Com o intuito de manter-se no poder trava
negociações simultâneas com ambos, os primeiros representados por oficiais do
exército, os segundos por membros da British South African Company. Sendo visto
como um entrave a concretização dos interesses portugueses na região Ngungunhana é
alvo de estratégias que visavam retirá-lo do poder. Estas levam a um confronto aberto.
Após duas batalhas em que Ngungunhana saiu derrotado, grupos étnicos até então
temerosos do seu poder aliam-se aos portugueses. Dentre os seus próprios guerreiros, o
soberano também perde prestígio. Em 25 de dezembro de 1895 é preso pelos
portugueses graças à inação de seu exército no episódio que passou a ser conhecido
como batalha de Chaimite. Sofre humilhações sucessivas. Ainda em suas terras se vê
objeto de deboche por parte de seus antigos guerreiros e daqueles que por ele nutriam
até então o sentimento do medo. Já em Portugal, é convertido à força ao catolicismo,
sendo assim aculturado. Morre no Arquipélago dos Açores em 1906.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Isabela Silva Nóbrega
UEPB
LITERATURA INFANTIL AFRO BRASILEIRA: UM RECURSO PARA A EFETIVAÇÃO
DA LEI 10.639/03
Acreditamos que a literatura seja um recurso didático que pode auxiliar os (as)
professores (as) de história, literatura, geografia, artes e ensino religioso na introdução
dos conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar.
Esta medida pode ser tomada através da Lei Nº 10.639/03, que obriga as escolas a
introduzir esta temática nos currículos desde 2003. Com base nessa determinação, neste
artigo analisamos a literatura infanto-juvenil Afro-Brasileira como fonte de orientação
capaz de possibilitar aos docentes a inserção dos conteúdos de História e Cultura AfroBrasileira. Essa literatura possibilita aos professores (as) discutir sobre a diversidade
etnicorracial do Brasil, a formação da cultura brasileira atentando para a sua diversidade
e para a questão dos negros nas práticas cotidianas, estas discussões podem contribuir
para a desconstrução da imagem preconceituosa acerca da cultura afro brasileira e para
a construção identitária. A partir da leitura das obras de autores nacionais e africanos
tais como: Conceição de Vila Rica (BORGES e NASCIMENTO 1999), O Segredo do
Saci (CARDOSO, 1995) e Ulloma a casa da beleza (NKEECHI, 2006), compreendemos
que o modelo de organização social brasileiro é resultado da associação das culturas dos
diversos povos que aportaram no Brasil, sobretudo, dos africanos. Assim no presente
artigo desconstruímos o modelo de civilidade centrado na Europa como determinante da
História do Brasil. Através das obras citadas é possível o (a) docente trabalhar tais
temáticas relacionadas à formação do Brasil e a cultura brasileira, bem como o
preconceito racial e a condição sócio-econômica das pessoas negras.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Ivonildes da Silva Fonseca
UEPB
OS CULTOS RELIGIOSOS AFRO-INDÍGENAS NA PARAÍBA NA PERSPECTIVA DE
FORMAÇÃO DE CONTEÚDOS PARA AS LEIS 10.639/03 E 11.645/08
Os estudos sobre o campo religioso afro-indígena paraibano ainda carece de pesquisas
que realizadas com o rigor científico venham desconstruir preconceitos diversos, que
venham atualizar este campo e dentre outras importantes contribuições apresentem
elementos para o enriquecimento de trabalhos, sobretudo os que são realizados em sala
de aula articulados às leis 10.639/03 e 11.645/08. Este artigo é fruto de uma pesquisa de
Doutorado que possibilitou a identificação na Paraíba de dois momentos históricos
importantes com relação à formação de um campo religioso estruturado por cultos nas
formas cruzada ou traçada e distinta. Os dois momentos correspondem aos anos de 1960
com a oficialização dos cultos afrobrasileiros através da lei 3443/66 e de 1980 com a
inserção d o candomblé de Orixás. Assim, pretende-se esboçar o campo religioso afroindígena paraibano ressaltando, longe de traçar uma genealogia histórica, os cultos da
Santidade, o Catimbó-Jurema, a ―nova Jurema‖, o Moçambique, o Candomblé de
Caboclos e o Candomblé de Orixás. Desse conjunto, alguns em encontro com a
Umbanda formada no Sudeste brasileiros no início do século XX e no processo de
assimilação gera a forma de cultos cruzados ou traçados e outros têm práticas distintas,
a exemplo dos Candomblés de Caboclos e de Orixás. A intenção deste artigo, dessa
forma, é contribuir para o enriquecimento de conteúdos didático-pedagógicos.
Palavras-chave: Religiões afro-indígenas paraibanas; Cultos afro-indígenas paraibanos e
a lei 10.639/03; Cultos afro-indígenas paraibanos e a lei 11.645/08.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Jackeline Pinto Amor Divino
UNEB
Narrativas ancestrais: Trançando a rede da História de Itapuã
O presente trabalho é parte da dissertação de Mestrado no Programa de Pós Graduação
em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB, a
partir das narrativas ancestrais, entrevistas, conversas, depoimentos de pescadores,
lavadeiras, ganhadeiras, rezadeiras, profissões originais da territorialidade de Itapuã
buscamos compor e trançar a história de Itapuã, marcadamente africana e aborígene. A
base filosófica desse texto é a ―pedra que ronca‖ e ―Wara Pirange‖ protagonistas e
referências míticas de duas civilizações a saber: Tupinambás e Africanos que
contemporaneamente atravessam os séculos influenciando de modo significativo o
cotidiano dessa territorialidade. Durante a pesquisa percebemos nos autores estudados
traços marcadamente etnocêntricos, que calavam a história dessas civilizações, por esse
motivo decidimos nos apoiar nas narrativas ancestrais, por entender que essas fontes
―roncam‖ através da pedra dizendo sobre esses povos de forma rica e singular,
trançando com o fio da ancestralidade e a linha da identidade a história e a memória
viva deste lugar.
Palavras-chave: ancestralidade, memória, oralidade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Jadson Pereira Vieira
Karina Maria de Lima Amâncio
Thaís de oliveira e Silva
UEPB
ÁFRICA NO NOSSO COTIDIANO: EXPRESSÕES CULTURAIS DE MATRIZ AFRICANA
NACIONALIZADAS PELOS BRASILEIROS
Este artigo tem por objetivo perceber a influência da cultura de matriz africana no nosso
cotidiano a partir das expressões culturais abrasileiradas, como por exemplo, a
gastronomia representada em cada região e os ditados populares utilizados em nosso
cotidiano e que tiveram reflexos na formação da cultura afro-brasileira. Partindo dessa
observação, utilizamos como objeto metodológico pesquisas sobre as expressões
africanas, utilizadas por brasileiros e sua influencia no cotidiano e que perduram por
gerações. Neste sentido percebemos o quanto a cultura africana nos influenciou e
contribuiu para a formação de nossa própria cultura a partir das expressões e dos
costumes adotados por nós e pertencentes aos africanos.
Palavras-chave: Expressões Culturais, Hibridismo e Afro-brasileiros.
Jailine Mayara Sousa de Farias
UFPB
FARSA DA BOA PREGUIÇA: CARTOGRAFIA DAS TRADIÇÕES POPULARES
NORDESTINAS
O presente trabalho tem como objetivo, partindo da obra Farsa da boa preguiça, discutir
alguns dos pressupostos basilares da poética de Ariano Suassuna e sua proposta poética
e artística, materializada no Movimento Armorial, que parte das vozes periféricas,
marginais, que corroboram uma cultura das bordas, apresentando como proposta a
dinâmica das culturas populares nordestinas e sua memória literária, oral, fixada no seu
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
projeto de recuperação das tradições discursivas populares nordestinas, intuindo
imprimir uma identidade à representação artística do Nordeste e solucionar o problema
identitário do Brasil. Deste modo, analisa-se Farsa da boa preguiça enquanto memória
das vozes e escrituras nordestinas, fazendo interface com o trajeto das vozes ibéricas,
que, desterritorializadas e resignificadas, refletem o percurso antropológico do homem
nordestino e suas tradições discursivas, pontuando em que medida esta obra é uma
reescritura de narrativas e gêneros textuais, a farsa, em específico, que compõem a
memória coletiva e tradições discursivas do nordeste brasileiro.
Palavras-chave: Farsa da boa preguiça. Memória. Voz. Cultura Popular.
Jaqueline Vilas Boas Talga
Mitologia Dos Orixás e Suas (Re)significações No Brasil
Este estudo faz parte das reflexões estabelecidas durante as vivencias dentro dos
terreiros de Candomblé na cidade de Uberlândia e das discussões da disciplina de teoria
antropologia, do curso de mestrado da Universidade Federal de Uberlândia.
A partir desse debate é possível perceber que a mitologia dos orixás africanos em
território brasileiro foram muitas vezes resignificados e até mesmo criados. E isso se
verifica com a chegada de milhares de homens e mulheres africanos que se depararam
diante de uma situação de escravidão moderna. Esses sujeitos acabaram por significar,
através de seus antigos saberes e valores civilizatórios a nova estrutura encontrada a sua
frente.
Muitos dos mitos dos orixás que em África, que eram e o são até a atualidade passados
oralmente, ganharam, em muitos casos, novos contornos sem perder sua essência
originaria. Dentre vários exemplos, temos um muito vivo em todos os candomblés, que
é uma cantiga realizada ao orixá Oyá, nele se canta dizendo que ela é uma borboleta,
que irá levá-los de volta para casa. Sabendo que essa é uma música que surgiu no Brasil,
quando muitos negros não aceitavam a condição a qual se encontravam e sonhavam em
retornam para sua civilização ancestral.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Nesse sentido entendemos o mito não como algo estático e sincrônico que ordena a
estrutura. O compreendemos a partir dos estudos de M. Sahlis, em ―Metáforas
Históricas e Realidade Míticas‖ como algo que ordena a estrutura sim, mas com novos
eventos a própria estrutura reorganiza o mito.
Jemima Stetner Almeida Ferreira Bortoluzi
UFCG
A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM ALGUMAS OBRAS DE
LYGIA BOJUNGA
Este trabalho pretende investigar a maneira como a violência contra a mulher tem sido
abordada na literatura infanto-juvenil contemporânea, mais especificamente nas obras
―O Abraço‖ (1995), ―Retratos de Carolina‖ (2002) e ―Sapato de Salto‖ (2006) de Lygia
Bojunga Nunes. Autora consagrada e sempre atenta às importantes questões sociais de
nosso tempo, Lygia demonstra especial interesse pelo tema da violência contra a
mulher, que tem sido recorrente em seus escritos: desde a violência psicológica até a
física, passando pela sexual. Cândido (1974) afirma ser a literatura uma simbolização da
cultura, possuindo uma força humanizadora capaz de atuar na formação do homem. Por
meio dela podem ser desvelados sentidos da realidade que nos cerca, podemos ter
contato com as grandes tensões do pensamento humano e satisfazer algumas de nossas
necessidades mais profundas. Dessa forma, o fantástico passa a constituir um meio de
acesso ao real, mobilizado literariamente no texto. A literatura bojunguiana possui este
poder, de direcionar o nosso espírito no rastro da luz, mesmo ao falar de trevas. Através
de um contar poético que resignifica percepções, Lygia consegue imprimir uma pulsante
dimensão poética a temas árduos e penosos, ―fundindo fantasia com dados do real [e]
possibilitando a reflexão e o entretenimento em perfeito equilíbrio‖ (SANDRONI,
1987, p. 12). Em suas narrativas, a autora alcança o pleno domínio na fusão dessas
esferas, sendo capaz de equilibrar graciosamente as dimensões sociais e coletivas com
as particulares e individuais na elaboração de seus enredos e personagens.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Joalyson Anjelo de Souza Morais
A TRANSMISSÃO DOS ELEMENTOS DA CULTURA AFRO NO NORDESTE ATRAVÉS
DA LINGUAGEM ESCRITA E ORALIDADE
O processo de reafirmação da cultura afro no Brasil não é algo recente, tem sido feito no
decorrer da história nacional. Através da historiografia especializada fica evidente que
desde a chegada de negros vindos como escravos, muitos não deixaram de lado sua
cultura de origem, mostrando certa resistência, apesar da tentativa das elites que
dominavam o regime escravista de proibir determinadas práticas africanas, a exemplo
da capoeira, vista de forma marginal, que passavam em diversos casos serem realizadas
de forma clandestina.
Como forma de dominação e controle muito se tentou para eliminar elementos da
cultura africana: os nomes de muitos escravos deixavam gradativamente seu indicativo
de origem africana e o batismo de escravos passava a ser com nomes cristãos e com
sobrenomes de seus proprietários. Faziam-se proibições em torno de praticas como por
exemplo da dança de capoeira. Outras práticas, no entanto ganhavam nova roupagem
como algumas em torno da religião, que as vezes misturavam elementos da cultura afrodescendente e negra, elementos do cristianismo como forma de mascarar a resistência e
evitar a repressão.
O presente artigo tem por objetivo estudar como tem sido feito a transmissão da
memória em torno de elementos da cultura afro no nordeste no decorrer da historia. É
importante perceber que tais elementos estão muito presentes por vezes implicitamente
na musica popular, nos hábitos alimentares, nas lendas, por vezes transmitidos de forma
oral.
É também objetivo deste trabalho apresentar elementos da cultura afro presentes na
língua, sendo interessante questionamentos em torno da linguagem popular.
116
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
João Amaro Monteiro da Silva
A Casa da dupla pertença: Referência da Presença Yorubana em Recife
A nossa proposta é ratificar a significação histórica da Lendária Casa de Badia, de Nº.
143 da Rua Vital de Negreiros, bairro de São José em Recife, conhecida também, como
Casa das Tias do Terço. Local onde morou uma típica família Yorubana de negras e
negros forros. Espaço que provavelmente o Nagô pernambucano teve suas bases rituais
estruturadas, tornando-se referência da cultura nagocêntrica em nossa cidade, refletida
no respeito que todas as Casas religiosas tradicionais de Matriz africana tem à memória
dos que ali moraram. Um lugar estratégico que presenciou momentos importantes de
nossa história social e cultural, local de um acúmulo de historicidade. Nela, as tradições
do catolicismo popular conviveram "harmoniosamente" com as tradições yorubanas,
desde o Culto aos ancestrais ao de Orixás, mantidas pelas Tias Sinhá - Vivina Rodrigues
Braga e Yayá - Emilia Rodrigues Castro. O ―culto‖ ao frevo e a todos os ritmos que dão
vida ao carnaval do Recife eram sazonalmente retroalimentados por elas, contribuíram
para o brilho das fantasias do período Momesco, especialmente Badia – Maria de
Lourdes da Silva, bordou, costurou e fundou várias agremiações que arrastam foliões
até hoje em dia na cidade. A Casa é localizada no Portal Sul da entrada do Recife no
bairro mais negro da cidade durante a passagem do século XIX ao XX, onde a grande
massa de negras e negros libertos ocupou os mangues e alagados e deram vida à
diversidade cultural da cidade. Hoje, a Casa das Tias é tombada como Patrimônio
histórico de Pernambuco.
João Batista Teixeira
Rosilda Alves Bezerra – Orientadora
UEPB
VIOLÊNCIA E PUNIÇÃO: A REPRESENTAÇÃO PANÓTICA
NA FICÇÃO DE MIA COUTO
O presente trabalho encaminha-se na discussão do ambiente denominado casa ou lar na
literatura de Mia Couto. Discute-se com base no conto Os Olhos dos Mortos da obra O
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Fio das Missangas (2009). Trataremos da casa ou lar como ambiente que pode ser
associado a idéia de instituição panótica, tema esse esmiuçado na obra de Michel
Foucault Vigiar e Punir (1987), servindo de base para análise dos personagens do conto
de Mia Couto, observando a personagem feminina imersa num cotidiano de violência
instaurada pelo marido, tais observações levam em consideração a crise dos discursos e
das instituições normatizadoras. É pertinente também verificar a forma como essa
mulher, personagem do conto, convive com a violência e a vigilância do marido, assim
como as formas de transgredir essa ordem e essa forma de poder, apontando para um
sujeito feminino que move-se para novas formas de representação, de um novo discurso
que faz pensar a casa e o lar na busca de uma nova ordem social. Sobre a literatura de
Mia Couto fazemos ponte com os estudos de Bezerra (2007), e Touraine (2007) sobre as
novas formas de compreensão da sociedade atual.
Palavras-chave: o lar, o panótico, literatura moçambicana, Mia Couto.
João Irineu de França Neto
MEMÓRIA E SINCRETISMO RELIGIOSO NAS PRÁTICAS DE ORALIDADE DAS
REZADEIRAS
As culturas populares brasileiras são marcadas pela heterogeneidade, que se constrói
mediante diversos recursos da linguagem oral. Dentre essas manifestações, abordamos o
fenômeno das rezadeiras da Paraíba, numa perspectiva linguístico-antropológica, uma
vez que os signos presentes nos rituais destas mulheres nascem de motivações culturais
na oralidade, tornando-se arquétipos para a construção de novas significações, que são a
base do sincretismo religioso popular. Tais mulheres do meio popular são consideradas
por suas comunidades como detentoras de poderes mágicos, pois através de suas rezas
fazem as pessoas recuperarem a saúde. Utilizamos como base teórica os pressupostos
sobre oralidade, de Paul Zumthor, sobre memória e o discurso, de Pierre Achard, bem
como de religiosidade, a partir de Mircea Eliade. Durante a pesquisa de campo, estamos
descobrindo que embora muitas rezadeiras se autoafirmem pertencentes à religião
católica, negando contato com outras formas de espiritualidade, suas práticas
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
ritualísticas de rezas revelam o caráter sincrético existente nesta manifestação cultural,
em virtude da mistura dos elementos de diversas matrizes religiosas. Propomo-nos a
apresentar análises deste sincretismo religioso, a partir das marcas discursivas nas vozes
de rezadeiras, bem como nas fórmulas de suas rezas.
Palavras-chave: Culturas Populares. Rezadeiras. Religiosidade Popular. Sincretismo
Religioso. Oralidade. Memória.
Joceneide Cunha dos Santos
UFBA/UNEB
O herói: alguns apontamentos sobre um filme angolano
Nos últimos anos, os historiadores têm se debruçado com mais afinco na utilização de
imagens, sejam elas fotográficas, pinturas, filmes dentre outras. Segundo Peter Burke,
as imagens independentemente dos atributos estéticos são evidências históricas, mas
também permitem uma melhor imaginação do passado. Paralelamente, a esse dado, o
cinema é um dos suportes pedagógicos mais utilizados na contemporaneidade pelos
professores, por outro lado, o cinema cria visões historiográficas, possibilita aguçar uma
imaginação histórica e ainda segundo alguns autores ―coloniza as mentes‖. Por isso, se
faz necessário analisar esses filmes, principalmente quando se intenciona usá-los como
suporte pedagógico. Este trabalho tem como objetivo analisar o filme angolano O Herói
de Zezé Gamboa finalizado em 2004. Ressalto que a utilização de filmes africanos na
sala de aula pode contribuir para trabalhar os conteúdos sugeridos pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, diretrizes que foram elaboradas após a lei
10.639/03. Para analisar o filme, utilizei diversos autores dentre eles Peter Burke, o
mesmo sugere que algumas imagens são testemunha ocular, que traz a idéia de que os
produtores das imagens, e as próprias imagens testemunharam fatos ou que podem
fornecer informações sobre os mesmos. E o filme O Herói se insere nessa idéia.
pretendo contextualizar o mesmo, e pontuando quais temáticas são abordadas e como
são abordadas, pontuando algumas informações sobre o realizador do filme, dentre
119
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
outros pontos. O cinema angolano ressurgiu no século XXI, e o mencionando filme faz
parte do pequeno grupo de filmes que foi elaborado nesse contexto. Dentre as temáticas
abordadas no filme temos uma desilusão com a independência, a religiosidade e a
condição das mulheres. Todos os temas citados se inserem nas temáticas abordadas por
uma maioria dos filmes africanos. Por fim, proponho que o filme deve ser observado
como uma evidência histórica de Angola no período posterior a guerra, como também
que consiste em uma possibilidade de vermos a África com o olhar dos próprios
africanos.
Jonhkarles de Menezes Nunes
Cristophane Alexandre da Silva Ferreira
Rosilda Alves Bezerra – Orientadora
UEPB
A IMAGEM DO NEGRO NAS NOVAS TECNOLOGIAS.
UM OLHAR A PARTIR DA LEI 11.645/08 NA IMPLANTAÇÃO DA TEMÁTICA
AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA NA ESCOLA
Este artigo surge do projeto de pesquisa (PIBIC/PROPESQ/UEPB), no qual se trabalha
a Lei Federal nº 11.645/08 e a inclusão dos conteúdos de história com a temática afrobrasileira, africana e indígena. Observando de que forma os conteúdos de história da
África história do negro e indígena estão sendo aplicados no currículo das respectivas
disciplinas e nas suas práticas cotidianas em sala de aula. O interesse desse trabalho
surge a partir das pesquisas realizadas em sala de aula, observando que, os alunos estão
cada vez mais conectados com o mundo virtual, exemplo de sites de relacionamentos
como: orkut, facebook, blog, twitter etc. Queremos analisar de que maneira o acesso a
essas novas tecnologias chegam de maneira unilateral para todos os alunos
independente de cor, raça e cultura. Se existe alguma forma de preconceito dentro
desses novos meios de comunicação e no seu convívio diário no âmbito escolar. Temos
como exemplo o cyberbullying, que fere, constrange e ridiculariza a imagem do aluno.
É de inteira importância a conscientização dos professores e da sociedade sob a
implantação da lei 11.645/08, pois é através dela que essa temática Afro-brasileira e
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
indígena será discutida dentro da sala de aula, levando o aluno reconhecer, valorizar e
respeitar as diversidades. Nosso apoio teórico está voltado para a questão cultural
(BHABHA, 2003), negritude (MUNANGA, 2008) e as discussões sobre as novas
tecnologias (CANCLINI, 2009).
Palavras-chave: Lei 11.645/08, mídias, preconceito, racismo, escola.
José Aldo Ribeiro da Silva
UPE
Imagens da Dominação Colonial Portuguesa em Vinte e Zinco, de Mia Couto
Editado pela primeira vez em 1999 (Vinte e cinco anos após a culminância da
Revolução dos Cravos), Vinte e Zinco é um romance de Mia Couto que tem como
cenário o ano de 1974, período em que Moçambique ainda era colônia de Portugal. Por
essa razão, em suas malhas discursivas são recriados acontecimentos diretamente
relacionados ao processo de dominação colonial que durante longos anos predominou
no país. Tais acontecimentos nos remetem não só às atitudes tomadas pelos portugueses
que se instalaram em terras moçambicanas, mas aos posicionamentos assumidos pelos
povos moçambicanos diante de seu colonizador.
Diante disso, este trabalho se propõe a analisar relações existentes entre o contexto
social recriado por Mia Couto em sua narrativa e o contexto social resultante das ações
da empresa colonial portuguesa no continente africano, tendo em vista os referenciais
teóricos de estudiosos como Manuel Ferreira, Leila Hernandez, Ana Margarida Fonseca
e Inocência Mata.
Palavras-chave: História, Colonização, Literatura.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
José Carlos Siqueira de Souza
USP/FAPESP
Eça de Queirós e o empreendimento neocolonial na África
A ilustre Casa de Ramires, penúltimo romance de Eça de Queirós, apresenta uma série
de visões esparsas da África e do processo neocolonial, cujo papel desempenhado na
economia da obra ainda está por ser completamente elucidado. Nossa pesquisa aponta
para Gonçalo Ramires como um burguês em busca de sua inserção no capitalismo
globalizado da época, ou seja, através da exploração neocolonial, depois de avaliar que
os estreitos limites da burguesia local portuguesa não lhe interessavam. O propósito da
presente comunicação é indicar como a violência, ou seja, o uso da coerção física era o
fator sine qua non do empreendimento neocolonial e como isso foi exposto de forma
irônica e crítica por Eça em seu romance, havendo passado despercebido por seus
contemporâneos. O interesse aqui recai em mostrar como o processo de partilha da
África encontrou em Eça, e em sua literatura, um analista perspicaz e crítico, na contracorrente de boa parte da intelectualidade oitocentista europeia.
Palavras-chave: Eça de Queirós; neocolonialismo; partilha da África no século XIX.
José Hildo de Oliveira Filho
UFAM/UFRN
No coração das trevas do extrativismo: uma comparação entre
Amazônia e o Congo 1880-1920
Amazônia e África foram construídas sob os signos do exotismo, da distância e da
incivilização (Gondim, 2007; Pinto, 2008; Oliva, 2003). Estes signos foram e até hoje
são responsáveis por olhares que rebaixam a história e diversidade humanas em relação
a diversidade biológica regional e continental, respectivamente. É como se a paisagem
natural se sobrepusesse a quaisquer esforços humanos, tanto na Amazônia como na
África. Neste trabalho, trataremos de fazer uma história comparativa entre a Amazônia
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
brasileira (em especial a região que corresponde o atual estado do Amazonas) e a atual
República Democrática do Congo, durante o período que corresponde ao fim do século
19 e início do século 20. As histórias de exploração econômica de borracha serão o eixo
de nossa comparação.
José Olímpio Ferreira Neto
UECE/UNIFOR
CAPOEIRA E SUAS CANTIGAS:
CULTURA ORAL, MEMÓRIA E FORMAÇÃO DA IDENTIDADE
Esse artigo é um estudo das cantigas de capoeira, elementos da cultura oral que atua na
manutenção da tradição reavivando a memória e colaborando na formação da identidade
afro-brasileira. As reflexões contidas nesse estudo são fruto de observações a partir da
imersão pessoal no fenômeno investigado. Essa prática cultural e educativa usa o corpo
e as cantigas como ferramentas de educação seja nos domínios da formalidade ou
trilhando os becos da informalidade. A palavra falada é elemento central na cultura da
Capoeira, ou seja, é elemento essencial e indispensável à sua prática. É essa cultura oral
representada, sobretudo pelas cantigas, que será analisada nesse trabalho. O objetivo,
aqui, é identificar esse elemento estético como fonte de memória para o capoeirista e
seus admiradores. Tenta-se realizar uma descrição explicativa apontando a roda como
espaço de formação que contribui para a manutenção das tradições e constante repensar
das mesmas. Para ajudar nessa tarefa será utilizado como referencial teórico os
seguintes pesquisadores, CUNHA JÚNIOR (2010), SILVA (2010), VASCONCELOS
(2010) e VIEIRA (1998), todos pesquisadores e defensores do saber de matriz africana.
Os anos de vivência no mundo da Capoeira ouvindo as reflexões históricas trazidas
pelas cantigas foram fundamentais para a escolha do tema. Deseja-se que esse trabalho
possa, senão orientar, ao menos, despertar a pesquisa e a reflexão em torno das cantigas,
elementos essenciais à essa manifestação cultural. Ao final desse estudo acredita-se que
as cantigas como prática cultural do universo capoeirístico perpetuam as tradições e
colaboram para a formação da identidade afro-brasileira.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Josélia Batista da Silva Lages - UFPE
Maria Francinete de Oliveira - UFRN
A CONCEPÇÃO DE RACISMO EM CRIANÇAS DE 7-10 ANOS: UM ESTUDO PARA O
FAZER DA IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/03 NA REDE MUNICIPAL DE
GOIANA-PE
A escola é espaço de aprendizagem e convívio social à formação do individuo. A
estrutura pedagógica/educacional brasileira, ainda ‗bancária‖, perpetua problemas
sociais diversos como o racismo. A Lei 10.639/03 visa atender a população afrobrasileira, grupo que vivenciou maior exclusão e que em suas lutas demandaram um
novo fazer: uma postura madura e reflexiva da escola, releitura da história dos
afrodescendentes no mundo, a inclusão na história oficial da contribuição do negro ao
Brasil, e a criação de mecanismos de identificação/compreensão às diferenças não só
como conteúdo, mas como exercício cotidiano de cidadania. Através das metodologias
participativas e a práxis foi proporcionado ao educador perceber como crianças entre 7 e
10 anos representam o racismo em contraposição à hipótese de que são ingênuas, pois
desse modo estavam negando-lhes o dever e o direito ao enfrentamento e a coresponsabilização pelo seu desenvolvimento crítico e respeitoso à diversidade cultural
brasileira. Este estudo mostrou a capacidade das crianças de identificar e descrever o
racismo, dialogando com à vida cotidiana, as questões sociais, e as interelações que as
envolve. A partir de então, o educador pode tornar-se um sujeito crítico, capaz de
vencer a escassez de literatura, ampliando as estratégias para quebrar a manutenção de
preconceitos e estereótipos no espaço escolar, contribuindo com a extinção da
discriminação e do preconceito, produto do racismo, responsabilidade de todos e de
cada um.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Josemir Camilo de Melo
UEPB
O Racismo de Monteiro Lobato em O Presidente Negro: leituras sobre
o sujeito discursivo
Este artigo nasceu da experiência de ensino no Curso de Especialização em História e
Cultura Afro-Brasileira, na Universidade Estadual da Paraíba, bem de nossa prática
jornalística de articulista cultural quando nos defrontamos com a polêmica sobre o livro
As Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, acusado de discriminação racial. Daí
partimos para avaliar a obra O Presidente Negro, para ver se havia também
discriminação e encontramos o que entendemos por racismo. A primeira edição foi
lançada na imprensa, em 1926, em forma de folhetim, e depois pela Companhia Editora
Nacional, com o título ―O Choque: Romance do choque das raças na América no anno
de 2228‖. Antes de tudo, indaga-se: por que foi republicado, em 2008, como O
Presidente Negro? Busca-se, aqui, em primeira instância, analisar a obra não pela
tradicional crítica literária, nem tampouco pela difusa dicotomia História/Literatura,
mas pela Análise de Discurso (PÊCHEUX, 2002), tentando situar Lobato não como
sujeito empírico, mas como sujeito de discurso (GRIGOLETTO). Para isto, deverá ser
contextualizado ao lado da produção literária de então. Em segundo plano, pretendemos
analisar o livro em si (literatura, história etc.) como vulgata (PÊCHEUX/ACHARD,
1999) e suas implicações na manutenção de implícitos que denotam discriminação
racial, este universo de pré-construídos - a escravização de pessoas africanas e
descendentes - tornando-se um dispositivo da formação discursiva racista, permeada de
interdiscursos não só ideológicos (brancos, católicos, letrados etc.), mas de outros
saberes como a escrita, a economia, a literatura e a história.
Palavras-chave: Literatura, racismo, sujeito discursivo.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Josilene Pinheiro-Mariz - UFCG
Maria Angélica de Oliveira - UFPB
A LITERATURA ESTABELECENDO PONTES INTERCULTURAIS ENTRE
CAMARÕES E BRASIL
As relações culturais entre o Brasil e a África não estão centradas apenas na história
marcada pelo período da escravidão que une o nosso país ao continente africano.
Inúmeras são as características que nos aproximam de vários países do outro lado do
Atlântico sul. Além de fatores geográficos e sociais, temos na literatura marcas que nos
deixam mais perto da literatura dos países africanos; assim, pretendemos, neste trabalho,
apresentar um diálogo entre a nossa literatura e a de Camarões, por meio dos romances
Dona Flor e seus dois maridos, do escritor baiano Jorge Amado e Comment cuisiner son
mari à l‘africaine, da escritora cameronesa Calixte Beyala. Esse diálogo estabelece uma
ponte que nos faz ver quão semelhantes são as cores nessas narrativas, em especial, no
que concerne ao tema da gastronomia, favorecendo, dessa forma, as relações
interculturais. Nossas discussões se firmam sobre o diálogo intertextual, oferecido pelo
tema central dos romances que enfatizam a sedução feminina e a gastronomia. Tais
reflexões são orientadas por Kristeva (1969), Barthes (1970) e Genette (1980),
confirmando, assim, as relações intertextuais e interculturais. Nossa pesquisa se
caracteriza como pesquisa investigativa e bibliográfica, de cunho qualitativo e apresenta
resultados que nos apontam para a estreita relação entre a nossa literatura e as de países
africanos, em particular do Camarões. Observamos ainda que as protagonistas dos dois
romances, Aïssatou e Dona Flor, são representações da figura feminina nesses dois
países, logo, confirmam os laços que nos unem, afastando-nos de um malgrado histórico
de um modo diferenciado.
Palavras-chave:
Intertextualidade.
Literatura
camaronesa;Lliteratura
brasileira;
Intercultural;
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Josué Pereira dos Santos
UEPB
Relações de Alteridade em Venenos de Deus, remédios do Diabo, de Mia Couto
O trabalho trata das relações de alteridade apresentadas no romance Venenos de Deus,
remédios do Diabo, de Mia Couto. No contexto pós-colonial, as relações entre os
sujeitos ocorrem de forma tensa como conseqüência dos ―traumas‖ deixados por esse
sistema, em que o branco colonizador impunha sua cultura como superior em relação à
cultura do africano. Esse trabalho mostra como o africano, representado por Bartolomeu
Sozinho, se relaciona com o português colonizador, representado por Sidônio Rosa, no
contexto pós-colonial. Para entender como a arte no país africano Moçambique está
engajada com a sua história, nos debruçaremos sobre estudos como o de Chaves (2005)
e Garcia (2005); Assim como para tratar de Alteridade, não poderíamos deixar de
recorrer às reflexões de Sidekum (2003) e Zanella (2005).
Palavras-chave: Alteridade, pós-colonial, Mia Couto.
Joyce Amâncio de Aquino Alves
UFCG
A CULTURA HIP HOP NO BRASIL: UM MOSAICO DE IDENTIDADES
As raízes culturais do Hip Hop se originam no sul do Bronx em Nova Iorque (EUA) na
década de 70. Assim, nascia a idéia de disputar com criatividade e certa resistência à
violência insensata com o uso de energia positiva, no enfrentamento da pobreza, do
crime, das drogas e do desemprego, vividos nesse contexto pelos afro-americanos e
hispânicos. Dessa forma, com a difusão da cultura hip hop, no início dos anos 80,
chegam os primeiros sinais do hip hop no Brasil, que passou a reunir cada vez mais
jovens e ganhar cada vez mais espaço. Nesse sentido, o presente trabalho objetiva traçar
a trajetória e características da cultura hip hop no Brasil, utilizando-se da pesquisa
bibliográfica, tendo em vista as múltiplas identidades que constituem não apenas a
127
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
música, mas a ideologia, o comportamento, os valores e práticas que se integram e se
transformam em elementos de uma cultura que acompanha várias regiões e gerações.
Palavras-chave: Cultura, Hip-Hop, Identidade.
Juarez Nogueira Lins
UEPB
Práticas Discursivas Literárias: a constituição identitária negra na crônica
contemporânea racismo, de Luís Fernando Veríssimo
A identidade, construção discursiva (HALL, 2000) e discurso, efeito de sentido entre
sujeitos que ocupam posições na sociedade (PÊCHEUX, 1990) colocam na mesma
discussão: sujeitos, história e identidades – práticas discursivas literárias (Análise do
Discurso) e identidade negra (Estudos Culturais). Nesta perspectiva, a pesquisa aqui
apresentada tem como objeto de estudo examinar a constituição da identidade negra,
inscrita em discursividades literárias contemporâneas (crônica literária) e procura
responder a seguinte questão. De que modo foram constituídas/significadas em práticas
literárias da década de 70 (crônicas) as identidades dos sujeitos negros? Destarte,
objetiva-se analisar os efeitos de sentidos produzidos por práticas discursivas literárias
contemporâneas. Inscrita na área de Lingüística Aplicada, a pesquisa se vincula às
perspectivas advindas dos Estudos Culturais e da Análise do Discurso. Perfilham-se,
então, investigações de Hall (2000, 2006), Munanga (1986), Bernd (1984), d‘Adesky
(2005) e ainda a alguns pressupostos teórico-metodológicos da Análise de Discurso
Francesa: Pêcheux (1990), Orlandi (2001) e também pressupostos de Foucault (1995).
A pesquisa é de natureza qualitativa interpretativista e os dispositivos teóricos analíticos
subsidiaram gestos de leitura de imagens literárias presentes no conto Racismo de Luís
Fernando Veríssimo. Essa discursividade literária parece trazer, inicialmente, uma
denúncia contra o racismo no Brasil. Mas, no entanto, o sujeito-autor apenas desfila um
rol de identidades estereotipadas, atribuídas a um sujeito destituído de voz e não
reconhecedor da relevância de suas posições na construção de suas subjetividades e
identidades. E assim, envolvido pelo momento sócio-histórico, esse sujeito-autor
128
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
assume posicionamentos discursivos que traduzem sua plácida aceitação da realidade
racista.
Palavras-chave: Identidade Negra. Racismo. Práticas Discursivas Literárias. Crônicas
Contemporâneas.
Julianny Katarine Aguiar de Oliveira
Tânia Lima – Orientadora
UFRN
UMA INFÂNCIA ROUBADA: OS RETALHOS DA MEMÓRIA FIADOS POR ONDJAKI EM
OS DA MINHA RUA
―a imaginação é a memória que enlouqueceu‖. Esta frase do poeta Mário Quintana é
uma síntese das idéias propostas por esse trabalho; que em suma irá apresentar uma
discussão sobre a infância angolana pós-independência e a reinvenção da infância criada
pelo escritor angolano Ondjaki através de suas memórias imaginadas, tornando assim
esse espaço infante um (não)-(entre)-lugar de cheiros, cores e afetos mesmo em tempos
de conflitos em Angola. Para apresentação dessa discussão propõe-se uma análise dos
contos O vôo do Jika e Palavras para o velho abacateiro, respectivamente primeiro e
último conto do livro Os da minha rua. A análise se fará com a ajuda de alguns
―cambas‖ importantes para pensarmos as representações de lugares, como Bachelard,
Marc Augé e Homi Bhabha, que dialogando com teóricos da oralidade como Zounthor e
Hampaté-Ba; reforçam a ponte entre lugares e oralidades. Outro ―camba‖ muito
importante para o ―desnovelar‖ desse emaranhado imaginativo que é a memória, será o
poeta das inutilidades Manoel de Barros; juntos eles recriam o ouvir do pesquisador
diante dessa voz pueril e sutilmente desarrumada do eu - lírico Ondjakiano. Apesar das
narrativas terem como espaço ficcional a cidade de Luanda, o enredo dos contos do
livro Os da minha rua trata de sentimentos e valores universais, transformando esse
livro em marco literário sobre a peraltice da invenção que será essa infância não só de
Angola, mas de todos os lugares em que se brinca para reinventar a realidade de uma
criança.
Palavras-chave: Infância, Memória, Os da minha rua, Ondjaki e Angola.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Jusciele Conceição Almeida de Oliveira
UFBA
A LITERATURA DA GUINÉ-BISSAU, HOJE: circulação, recepção e conhecimento
Os estudos críticos sobre culturas africanas, em especial, sobre literaturas africanas de
língua portuguesa, são ainda limitados no Brasil, principalmente quando falamos em
Guiné-Bissau, apesar de esse país ter relações próximas com o Brasil desde o século
XVII, a grosso modo considerando-se o tráfico de escravos. Significativa intervenção
situa-se no empenho de determinadas intelectuais comprometidos com trazer à cena
cultural brasileira a produção cultural guineense, a exemplo do livro O desafio do
escombro: a literatura guineense e a narração da nação, de Moema Parente Augel, único
livro, antes tese de doutoramento, sobre literatura da Guiné-Bissau disponível no Brasil.
Hoje, em Salvador, cidade indiscutivelmente negra, quiçá, africana, conhecemos a
Guiné Bissau um pouco mais de perto por causa dos alunos que vêm estudar na
Universidade Federal da Bahia e em outras instituições do Brasil, ou através do
noticiário, em função do seu momento político atual. Todavia, após pesquisa na
internet, busca em sebos, a par da ajuda de guineenses, como Filomena Embaló,
consegue-se traçar um breve relato histórico da Guiné-Bissau.
Kaline Ferreira Costa
Maria Regina Alves dos Reis
Jadson Pereira Vieira
UEPB
A cor do “Besouro”: Cinema no ensino de história como contribuição para a
construção da identidade afro-brasileira
O presente artigo se propõe a pontuar algumas considerações a respeito da utilização de
filmes históricos na sala de aula. Nesse sentido utilizaremos como exemplo o filme
―Besouro‖ que enfatiza alguns aspectos das práticas culturais afro-brasileiras, entre elas
130
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
a etnicidade, capoeira e a religiosidade de matriz africana. A partir da abordagem dessas
questões o filme dá ao facilitador do conhecimento subsidio para que o mesmo utilize-o
como mecanismo de desconstrução de estereótipos e preconceitos a cerca da cultura dos
afro-descendentes. Valores, símbolos e signos são alguns dos aspectos que a sétima arte
se propõe disseminar mundo afora. Com o advento da tecnologia o cinema passou
paulatinamente a ser um meio bastante utilizado pela população como forma de lazer,
inclusive pelo seu caráter multicultural, abordando os mais variados aspectos do
cotidiano das diferentes classes sociais e culturais, e hoje se encontra num lugar de
destaque, pois a linguagem que utiliza é algo que encanta o espectador. Diante disso,
torna-se imprescindível a utilização desse produto como recurso didático em sala de
aula, uma vez que possibilita mais uma forma de aprendizado, desde que feito da
maneira correta. Assim, sabendo que a melhor maneira de se utilizar o cinema como
recurso didático em sala de aula é problematizando-o, estaremos tecendo um diálogo
com a cultura africana sem perder de vista suas infinitas possibilidades de leituras.
Palavras-chave: Cinema, Práticas Culturais, Ensino de História, Identidade.
Kallenya Kelly Borborema do Nascimento
Taynnã Valentim Rodrigues
Maria Lindací Gomes de Souza – Orientadora
UEPB
TRADIÇÃO E PRÁTICAS DE CURA EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS.
Este trabalho é um recorte de um projeto maior, intitulado: Práticas Culturais, Memória
e a Arte de Inventar o Cotidiano: (re) Escrevendo as Brincadeiras Infantis, Cantigas,
Festas e Práticas de Cura em Três Comunidades Afro-descendentes Paraibanas, projeto
esse coordenado pela Prof. Drª. Maria Lindaci Gomes de Souza. Tendo como principal
objetivo identificar e analisar as práticas de cura existentes e ainda utilizadas nas
comunidades quilombolas, resgantando- as através da tradição oral, uma vez que essa
maneira proporciona a transmissão de conhecimento e identificam quais as práticas
alternativas mais utilizadas entre mulheres rezadeiras, benzedeiras, e parteiras que ao
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
fazerem uso de plantas medicinais conseguem cuidar dos enfermos e dos doentes de sua
comunidade. Pretendemos também, destacar de que forma estas práticas estão sendo
repassadas, quais as mudanças sofridas e a permanência de tais conhecimentos na
Memória dos praticantes. O trabalho se fundamenta na oralidade, realizado através de
entrevistas e depoimentos orais de pessoas, principalmente idosos que adquiriram o
conhecimento em práticas de cura através de um sistema etnomedicinal próprio, e que
aqui serão os protagonistas a transmitir as maiores experiências, fundamentando-se
ainda na observação de um estudo exploratório e descritivo.
Palavras-Chave: Práticas; quilombola; tradição; oralidade.
Karina Maria de Lima Amâncio
Gildivan Francisco das Neves
Danielle Brandão Araújo
Patrícia Cristina de Aragão Araújo – Orientadora
UEPB
A Afro-descendência nas redes sociais: a comunidade de Orkut na tessitura das
relações entre negros e negras e as tecnologias
Diante das discussões implementadas pela lei 10.639/2003 que discute sobre as
questões históricas e culturais dos afro-descendentes no campo da educação, nossa
proposta é analisar de que modo nas redes sociais, através da comunidade de Orkut a
temática dos afro-descendentes é tratada.
Nosso objetivo é refletir como a comunidade de Orkut discute as questões referentes aos
afro-descendentes. Partindo dessa premissa nossa abordagem metodológica parte da
análise do conteúdo proposto nos fóruns que fazem parte do Orkut, procurando perceber
como neles aparecem imagens e chamadas que se reportam aos afro-descendentes.
Escolhemos a comunidade de Orkut: Afrodecendentes para a partir dela captarmos as
discussões referentes ao tema proposto.
132
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Neste sentido as tecnologias ao tratarem da afro-descendência na perspectiva da
juventude nos permite compreender como nessas comunidades a temática afro-brasileira
é tratada.
Palavras chave: afro. Descendentes. Orkut. Juventude. Tecnologias
Karla Priscila Martins Lima
UFRN
Os fios de linguagens identitárias em “O ano em que Zumbi tomou o Rio”,
de Agualusa
Na obra ―O ano em que Zumbi tomou o Rio‖, do escritor angolano José Eduardo
Agualusa (2002), nota-se que a tessitura literária é dotada, dentre outros aspectos, de
fios identitários que se remetem ao âmbito sócio-histórico, ao plano mítico e à pele,
sendo esses entrelaçados pelo fio da voz através dos personagens, sobretudo Zumbi (na
obra, denominado Francisco Palmares). Diante dessa conjectura, este trabalho motiva-se
a investigar os modos como a obra literária referida proporciona um retorno
fragmentário da palavra oral: seja pelo viés das contínuas (des) construções identitárias
no plano da história, do mito circunscrito na figura de Zumbi dos Palmares, na
construção de discursos em torno da derme negra e nas vozes de igual cor, como a de
Martinho da Vila, MV Bill e Maria Bethânia. Tomando referenciais que abordam essas
questões, ter-se-á Stuart HALL (2005) e as identidades moventes na pós-modernidade;
Frantz Fano (1983) e a identidade construída pelo negro de si; a tradição sem a comum
estaticidade problematizada por A. Hampaté BÂ (1982) e Paul ZUMTHOR (2010)
quanto à concepção poética de oralidade a partir de confluências de jogos fônicos e
linguagem que proporciona a tessitura memorialística.
Palavras-chave: Identidade, voz, pele, memória.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Kárpio Márcio de Siqueira
UNEB
A negritude em discurso nas Américas: O desenho identitário de Langston Hughes
e Oswaldo de Camargo
O artigo versa sobre a constituição da identidade negra nos discursos poéticos dos
autores Langston Hughes e Oswaldo de Camargo, na perspectiva de apontar os
desenhos identitários que tanto aquele escritor americano quanto este o brasileiro,
construíram na intenção de dialogar nas esferas sociais, políticas, literárias e culturais,
dentro do espaço da Negritude como movimento político-estético-literário.
Katiane Fernandes Nóbrega
UnP
Mitocrítica dos Programas da disciplina História e
Cultura Afro-brasileira e Africana
Para fazer cumprir a Lei n°. 11.645/2008, muitas Universidades, Faculdade e Institutos
têm ofertado as disciplinas História e Cultura Afro-brasileira e Africana, História e
Cultura Afro-brasileira e Indígena e, entre outras, Seminários Temáticos. A criação de
tais disciplinas nos espaços de ensino superior tem dado uma significativa contribuição
no que diz respeito às questões de tolerância e reconhecimento de uma pluralidade
cultural e religiosa no país, assim como, a valorização da história, cultura e identidade
dos afro-brasileiros. Apresenta-se uma análise dos Programas da disciplina História e
Cultura Afro-brasileira e Africana nos Cursos de História, assim como, discute-se,
nestes programas, o espaço atribuído à dimensão religiosa, por exemplo, o Candomblé e
suas variantes, Candomblé Gêge-Nagô, Nagô-Keto, Angola-Keto, Angola-NagôUmbanda, Xambá-Nagô, dentre outras. Adota-se como referencial teórico a Teoria
Geral do Imaginário criada por Gilbert Durand e, como modelo de análise, a mitocrítica
– método de crítica literária que extrai de toda narrativa as imagens e os temas
redundantes, de modo a revelar as dimensões simbólicas, os mitos diretores e suas
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
transformações significativas. Observa-se que as religiões de matriz africana não são
explicitadas na descrição das Ementas, Objetivos, Conteúdo Programáticos e
Referências bibliográficas.
Palavras-chave: Educação, Religião Afro-brasileira, Mitocrítica.
Kislana Rodrigues
Rosilda Alves Bezerra – Orientadora
UEPB
VIOLÊNCIA E RACISMO: AS MARCAS DO TRÁGICO E DA RESISTÊNCIA NOS
POEMAS NEGROS, DE JORGE DE LIMA
Poemas Negros (1947), de Jorge de Lima, destaca a representação do negro na poesia
afro-brasileira. A partir dos estudos sobre cultura e identidades afro-brasileiras,
analisaremos a construção da ―identidade negra‖ e (des)construção de estereótipos na
poética do autor. Na poesia de Jorge de Lima, enfocaremos as práticas religiosas
africanas, o registro de diversos ritmos dos cerimoniais africanos, além de enfatizar o
uso de palavras africanas, instrumentos musicais e ritmos associados aos ritos de
iniciação religiosa africana. Os Poemas negros são inspirados em histórias populares
africanas, na situação do negro no Brasil do pós-guerra e, especialmente, na cosmologia
e nos mitos africanos. Dessa forma, estes poemas incorporam vozes e ritmos da
linguagem afro-nordestina, enfatizando a tensão entre escravo e senhor, o convívio com
o negro, colocado de forma contundente ao descrever as questões de desigualdade social
entre colonizadores e colonizados.
Palavras-chave: Poemas Negros. Jorge de Lima. Identidade. Práticas religiosas.
cerimoniais africanos.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Laécia Peixoto Costa
UECE/FAFIDAM
Marcas da Modernidade: reflexos de uma nova sociedade
Este artigo tem como objetivo analisar o impacto da Modernidade na construção de um
novo mundo e de uma nova sociedade a partir do romance A Caverna de José
Saramago. Nesta narrativa, são apresentados elementos que nos permitem um novo
olhar para o mundo globalizado e sua nova ordem mundial centralizada no modelo
econômico em que o mercado passa a ser controlado por grandes conglomerados
financeiros. Para tanto, será utilizado como teoria literária os estudos de Sandra Nitrine
e Leila Perrone-Moisés acerca das características dos escritos contemporâneos.
Palavras-chave: Modernidade. Globalização. Sociedade.
Laura Mazariegos Gutierrez
A identidade negra na Bahia através do estudo comparado de dois romances:
Pelourinho de Tierno Monénembo (Guinea) e Jubiaba de Jorge Amado
O objetivo deste trabalho é de confrontar dois pontos de vista sobre a identidade negrobrasileira: aquele do romance Jubiaba de Jorge Amado, escrito originalmente em
português no começo dos anos trinta e o romance do guineense Tierno Monénembo
escrito em francês e publicado em 1995. Estes romances têm certamente diferenças
relacionadas a data da publicação, porém, acharemos temáticas comuns que permitirão a
comparação.
Mergulharemos nos diferentes problemas de memória da comunidade afro-brasileira da
Bahia e trataremos do anti-heroismo das diferentes personagens. Analisaremos
igualmente as estruturas narrativas de cada romance para inseri-los numa perspectiva de
literatura negro-africana assim como também analisaremos as implicações politicas
presentes em cada romance.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Fazendo esta comparação entenderemos algumas dificuldades experimentadas pela
literatura latino-americana em termos de identidades misturadas e repressão cultural
mas seremos também introduzidos ao ponto de vista africano sobre ―os irmãos
brasileiros‖ assim como a responsabilidade africana na escravidão. Será a ocasião de
analisar através da literatura as problemáticas atuais dos exílios das comunidades
africanas através do mundo.
Palavras-chave: Brasil, Africa, literatura negro-africana, literatura brasileira, memoria,
escravidão, cultura, religião, exilio, procura da identidade.
Lauro Wanderley Meller
UFRN
Do blues ao samba, do choro ao jazz: a contribuição negra na formação da música
popular brasileira e norte-americana
A música popular ocidental, tal como a percebemos hoje, é essencialmente composta
por gêneros que surgiram do contato entre a música europeia com aquela trazida pelos
escravos africanos. Daquela, herdamos os princípios de melodia e harmonia; desta, a
complexidade rítmica. Dessa mescla resultaram o blues, o jazz e o rock, na América do
Norte, e o lundu, o maxixe, o samba e o choro, no Brasil. Concordando, com Peter
Wicke (1990), que não se pode estudar a música popular desvinculada de seu contexto
sócio-histórico, e com base em trabalhos de Lúcia Lippi Oliveira (2000) e Ricardo
Lessa (2010), pretendemos tecer algumas considerações de ordem histórico-cultural
sobre a contribuição negra à música popular, nesses dois países, o modo como essa
aproximação se deu, e quais foram suas implicações sociais e estéticas. Constataremos
alguns denominadores comuns, como o caráter sensual e participativo da música negra
versus a postura contemplativa associada à música erudita européia; o processo de
formação do jazz e do choro, que partiram de um contato de músicos negros e mestiços
com instrumentos tradicionalmente usados em bandas e fanfarras militares, e de uma
nova maneira de executar esses instrumentos; ou ainda a natureza catártica e, diríamos,
somática, de gêneros como o samba e o rock. No entanto, cumpre também apontar
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
distinções, que são decorrentes, por exemplo, do tipo de ocupação ocorrida no Brasil e
nos Estados Unidos, que favoreceu a miscigenação entre nós, e a segregação para lá do
Equador. Pretende-se, enfim, traçar um paralelo entre esses dois ―gigantes‖ da América,
diferentes em tantos aspectos, mas cuja formação musical decorre, tanto lá como cá, do
contato de elementos estéticos europeus e africanos.
Palavras-chave: Música popular brasileira. Música popular norte-americana. História.
Laysa Cavalcante Costa
Joana Camila Lima Guedes
O FANTÁSTICO E O MARAVILHOSO, O ELO DE CONEXÃO ENTRE A TRADIÇÃO E A
MODERNIDADE NA OBRA “A VARANDA DO FRAGIPANI” DE MIA COUTO
Este Trabalho lança uma perspectiva acerca da obra ―A varanda do frangipani‖ do autor
africano Mia Couto, com o objetivo de se infiltrar no universo narrativo deste, buscando
entender tendências da tradição moçambicana ocorridas nas vertentes do gênero
literário, baseada numa visão tradicional que interage com outra moderna, reagindo na
narrativa através do real maravilhoso, do insólito. Tais incumbências são originarias de
uma realidade que prima pela redenção de um país que sofre a magnitude da guerra,
mas que encontra na mesma a inspiração para reingressar nas fronteiras do sonho,
transformando constantemente o real. Resgata neste contexto um ambiente ficcional que
exprime uma legítima sensação de que a modernidade precisa ser enxergada mediante a
manutenção das tradições. Observa-se, portanto, que toda a obra se sustenta no
entrosamento entre o sagrado, o sobrenatural, o mágico, o consciente e inconsciente,
aspectos que se incorporam a existência material e espiritual da sociedade tradicional.
Palavras-chave: Tradição; real maravilhoso, modernidade; sociedade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Leonardo Macena de Fontes
Waldeci Ferreira Chagas – Orientador
UEPB
A LEI 10.639/03 E AS REPRESENTAÇÕES DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO
LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: SUPERAÇÃO DO RACISMO, OU CONTRIBUIÇÃO
PARA A SUA MANUTENÇÃO?
Neste trabalho analisamos as representações da cultura afro-brasileira nos livros
didáticos de História usados pelos docentes que atuam do 3º ao 5º ano do ensino
fundamental na rede pública de Alagoa Grande. Apesar de nos debruçarmos sobre esses
livros didáticos nos limitamos nesse artigo ao que já foi coletado com as análises e
observações do livro didático do 3º ano, visto este ser um trabalho, cuja pesquisa ainda
está em andamento. Por isso, damos à devida atenção as referencias que tal livro traz
acerca da cultura afro-brasileira, as quais estão apresentadas na forma de textos escritos
e imagéticos. Os textos analisados nos impulsionaram a apresentar algumas análises e
discussões acerca dos aspectos, valores e concepções relativos à cultura afro-brasileira e
as pessoas negras muitas vezes tidas como pessoas culturalmente jocosas, trabalhadoras,
espertas, divertidas, malandras e, por conseguinte exóticas. Este tipo de representação
ainda está sendo contemplado nos livros didáticos de História, quando a lei 10.639/03
obriga as escolas a implementar no currículo a história e cultura afro-brasileira. Mesmo
que o livro didático de História contemple esse conteúdo, nem sempre isso significa
dizer que este esteja totalmente isento das tradicionais imagens de inferioridade com
que se referem às pessoas negras. Desta feita o livro didático é por excelência lugar de
discurso, produto e produtor de discursos, e como tal tem um propósito nem sempre
perceptível aos olhos e ouvidos dos (as) leitores (as), e, portanto se legitima construtor e
desconstrutor de valores, conceitos e mentalidades.
Palavras-chave: livro didático, representação, cultura afro-brasileira.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Severino Lepê Correia
UEPB/UFPB
O discurso da mulher negra brasileira no século XXI-O caso de
Miriam Alves e Esmeralda Ribeiro
O discurso da mulher no século XXI está marcado por especificidades que revelam as
contribuições dos movimentos em prol da visibilidade e da audibilidade femininas. Se
com a mulher de um modo geral o cenário da cultura mantém um diálogo profícuo, com
a mulher negra resta um longo caminho a percorrer. Considerando as ponderações de
HOFBAUER (2006, 173) existia, no Brasil colonial uma inferioridade da ―raça‖
superável pelo concurso de elementos como a salubridade e a religião cristãs. Tal
perspectiva, entretanto, malogrou na sua nascente, gerando um novo tipo humano, o
mestiço, que, ao invés de solidarizar-se com o negro, seu ancestral, tornou-se mais um
inimigo, para além dos valores da sociedade branqueada. Neste sentido, a escrita de
Miriam Alves como a de Esmeralda Ribeiro retratam o conservadorismo de relações
preconceituosas e discriminadoras, que nada devem às cenas descritas por estudiosos da
colonização. O grito abafado dessas escritoras negras ressoa através de instrumentos de
divulgação (editoras etc) mantidas pelo grupos sociais negros, evidenciando, assim, a
perspectiva elitista que preside os meios culturais no país.
Liduína Maria Vieira Fernandes
UECE
Personagens negras nos romances de Autran Dourado
Dentre a vasta produção literária do escritor mineiro Autran Dourado, escolhemos para
análise os romances Ópera dos mortos e Os sinos da agonia por trazerem em seus
enredos, em posição de destaque, personagens negras e escravas. Os negros nessas
narrativas são destituídos de posses e riquezas e têm origem e posição social inferior à
elite branca. Escolhemos as personagens Inácia (OM) e Quinquina (OSA), que
carregam em si todos os conflitos próprios de sua condição, pendentes entre a revolta, a
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
ânsia de reconquistar as suas origens e a liberdade, e a atitude do mais puro servilismo,
em troca de favores e de poder. As referências que serão feitas a esses romances
prestam-se à reflexão proposta por esse trabalho, cujo objetivo é investigar as
personagens negras escravas nos textos de Autran. A forma como é abordada essa
questão nas narrativas autraniana denuncia as condições em que vivia o negro no Brasil
colônia.
Palavras-chave: Autran Dourado; romance; personagem.
Líllian da Cruz Régis
UFPB
Infância e identidade em Alá e as crianças-soldados de Ahmadou Kourouma – uma
visão do narrador
Uma África banhada em sangue, dominada por ditaduras e pela guerra tribal, onde
crianças são recrutadas como soldados e se tornam cruéis assassinos. Uma África
dizimada por crimes políticos e civis, pela corrupção e pela farsa das ―lutas
libertadoras‖. Uma África sob o encantamento dos grigrimen (feiticeiros), sob o
domínio de Alá e a proteção de Cristo. Esta é a África que Ahmadou Kourouma
apresenta pelos olhos e boca de Birahima, um menino de doze anos, que percorre vários
países do continente e se torna uma criança-soldado.
Neste artigo, analisamos a relação entre o foco narrativo e a representação da identidade
negra construída no romance, utilizando a classificação sistematizada por Lígia
Chiappini sobre a tipologia do narrador. Nosso objetivo foi identificar os tipos de
narrador presente no texto e verificar de que modo cada um deles se relaciona à
construção da auto-imagem da criança negra. Para isso, detivemo-nos na análise do
capítulo introdutório do livro que é rico em descrições sobre aspectos físicos e
psicológicos do narrador-protagonista, além de informações sobre o contexto sóciohistórico em que a trama é desenvolvida. A análise desses elementos foi essencial para
compreender a relação narrador-identidade-infância.
Palavras-chaves: criança-soldado; narrador; identidade.
141
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Lisabete Coradini
UFRN
O cinema africano: algumas inquietações
A partir de leituras de autores como Fanon (1975), Said (2002), Stam (2006) e Shohat
(2002), pretendo estabelecer algumas notas sobre a possibilidade de reflexão entre o
cinema africano e as teorias pós-coloniais. Atualmente os filmes africanos apontam
diferentes pontos de vista sobre temas globais como os movimentos de descolonização,
a utopia da independência, a migração, as guerras e as políticas de identidades. Esses
filmes revelam relações e encontros entre mundos, culturas e sujeitos, e não mais uma
''dada cultura''. Desloca-se e descoloniza-se o ''olhar'' sobre o outro. O novo cinema
africano traz novos posicionamentos críticos e novas linguagens cinematográficas que
podem ser analisados à luz das teorias pós-coloniais.
Lisane Mariádne Melo de Paiva
Tânia Lima - Orientadora
UFRN
OS PÁSSAROS: O VÔO DO ASSARÉ À ÁFRICA
Este é um trabalho que não foi feito para a linha reta das páginas, mas para a
circularidade das folhas. Plantaremos conversas sobre pios, sobre coisas, sobretudo
acerca de um poeta que foi além do chapéu e dos óculos escuros, ele nos embalou com
sua voz. Seus versos gritam, cantam por um povo ao qual ele também pertence.
Sofrimento, amor, política, pudores, tudo que é coisa, Patativa nos fala. Escolher uma
perspectiva para vê-lo entristece, limita o poder de alcance do vôo. Vale indagá-lo a
partir do pedaço oral ou do semiótico? Pois bem, serão os dois. Seguiremos colocando
em linhas o que os sons e as palavras nos re-significam. O verbo ‗colocar‘ é bem mais
natural, vem às mãos e não à mente. Teceremos diálogos com a oralitura que Zumthor
nos explicou, com a semiótica de Peirce que Santaella e Nöth nos ajudaram a decifrar.
142
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Com as contribuições teóricas de Cascudo, Candido e Braulio Tavares, refletiremos
sobre este ‗lugar‘ de pertença do poeta, entre a cultura acústica e a letrada.
Sobrevoaremos o pensar da palavra no terreno da representação gráfica, sonora e
conceitual, plainando sobre a tradição oral africana. Analisaremos a presença e a
importância da construção rítmica da palavra como voz. Nossos sentidos, visão e
audição, estarão interligados, inseparáveis, na poesia de Patativa, como teia de sentido
para o imaginário. Sua arte em versos é vôo, invenção da palavra. Seus poemas trazem
as imagens como fabulário da voz. A poesia do Pássaro do Sertão é um livro de
fotografias, a sonoridade do seu ninho é resgate da contação de histórias do povo
nordestino.
Palavras-chave: Patativa, Africanidade, Oralidade, Semiótica, Poesia.
Lorena Gois de Lima
UFCG/UEPB
A CONDIÇÃO DA MULHER NEGRA NAS OBRAS A COR PÚRPURA E PRECIOSA,
REPRESENTADA PELAS PERSONAGENS CELIE E CLAIREECE PRECIOUS JONES
O artigo intitulado, A CONDIÇÃO DA MULHER NEGRA NAS OBRAS A COR
PÚRPURA E PRECIOSA, REPRESENTADA PELAS PERSONAGENS CELIE E
CLAIREECE PRECIOUS JONES, apresenta uma abordagem comparatista em que se
busca analisar a condição das personagens em cada obra, considerando que ambas
passam por uma situação de violência, de privações e de preconceito. Tomando como
base o engajamento das escritoras Alice Walker e Sapphire pela causa da mulher negra,
percebe-se que os dois livros fazem uma denúncia a injusta condição humana de que é
vítima o negro, no caso específico a mulher negra. Tomando como foco principal a
questão da mulher negra americana, encontramos em A cor púrpura e em Preciosa duas
mulheres que se relacionam pela triste condição humana que vivem. São duas histórias
que foram escritas em épocas diferentes, mas que, no entanto trazem a tona uma mesma
realidade social marcada pelos abusos, pela violência contra a mulher e pelo
143
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
preconceito. Dessa maneira, farei aqui um estudo comparativo buscando levantar essas
questões e outras características que as unem.
Lúcia Helena de Brito
UECE
Memória de Mestres: testemunho de tradições e sociabilidades
O objetivo deste trabalho é destacar a centralidade da memória no processo de
transmissão de saberes e práticas culturais de tradições populares como formas de
sociabilidade. O ato de rememorar e narrar é uma atividade de reconstrução de
experiências compartilhadas no passado cuja legitimidade e sentido ancora-se naqueles
que se reconhecem no relato. Assim, formam-se as comunidades de testemunhos,
afirmando o aspecto da ‗presentificação‘ da memória, dado que o passado rememorado
indica vínculos remanescentes desse passado, no presente. As práticas culturais de
tradições populares, como as festas dos Reis por nós examinadas, atravessam gerações
por se constituírem mediação sociabilidade, agregando sentidos, reafirmando laços de
pertencimento e identidades. Assim, se estruturam as condições de possibilidades para a
existência do mestre – aquele que se destaca pela sua capacidade de, por meio da
oralidade, transmitir os saberes herdados, seus sentidos e significados. Mediadas pela
memória dos mestres, as tradições, no campo de luta em que se estabelecem diferentes
culturas, afirmam sociabilidades substanciadas por crenças, celebrações e festejos.
Palavras-chave: Memória; cultura popular; sociabilidade.
Lúcia Maria Pacheco
UFRN
Dança do Lindô: Transmitindo os batuques para o interior do Maranhão
Uma característica da cultura popular é a transmissão oral e coletiva, permitindo que as
manifestações culturais sobrevivam aos processos de globalização. A dança possui uma
linguagem universal que aproxima e une as pessoas expressando uma construção e
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
simbólica da cultura. Esta pesquisa tem como objeto de estudo a transmissão oral da
Dança do Lindô praticada pelo grupo Batalhão Real com espaço de análise das relações
estabelecidas desta manifestação artístico-cultural. A dança possui heranças das culturas
africanas como a batida do tambor na marcação dos passos e foi ensinada nas senzalas
para os filhos que transmitiram para as futuras gerações. Metodologicamente, a reflexão
é pautada pela história oral da vivência de campo com a Mestra do Lindô, Dona
Francisca, utilizando entrevistas gravadas, observação direta e participante, além do
registro digital do grupo guiado pela perspectiva folkcomunicacional. Os resultados da
pesquisa mostraram que a Dança do Lindô existe independente da utilização da mídia
como meio de sobrevivência. Sua existência consiste em criar mecanismos próprios de
difusão nas comunidades, bairros, associações.
Lúcia Trajano Santos
Rosilda Alves Bezerra - Orientadora
UEPB
A lei 11.645/08 e a inclusão dos conteúdos afrobrasileiro e indígena nos conteúdos
de Língua Portuguesa e Literatura
O presente trabalho apresenta os resultados desenvolvidos a partir de um estudo de
campo, que trata da análise da aplicação dos conteúdos de História e Culturas Africanas,
Afro-Brasileiras
e
Indígenas
nos
currículos
escolares
da
educação
básica
institucionalizados pela Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Como proposto no
início da pesquisa, a implantação desses conteúdos no currículo escolar provocou uma
reflexão e discussão mais apurada sobre a temática da exclusão racial e,
consequentemente, da discriminação durante a aplicação dos conteúdos propostos pela
Lei 11.645/08. Buscou-se criar uma via de extrapolação crítica do ideário histórico
eurocêntrico e ideológico ao longo das intervenções. A proposta de implementação
curricular calcado na lei em referência incluiu aspectos da história e da cultura, como
formadores da população brasileira, a partir dos grupos étnicos - negros e indígenas, e
sob essa ótica buscou-se apoio nas teorias identitárias de Hall (2009), em uma
perspectiva de (re)construção identitária, a partir de novos referenciais histórico-
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
culturais na participação construtiva de nosso país de afro-descendentes e indígenas. Em
Bhabha (2007), referencial para a prática discursiva textual como ação estratégica à
transformação social, estratégia capaz de constituir elementos valorativos de nação em
movimento de suplantação de base sócio-econômica da visão ocidental sobre os
Estados-nação do terceiro mundo.
Palavras-chave: Culturas, Identidade, Currículo.
Luciana Eleonora de Freitas Calado Deplagne
UFPB
Oralitura e afirmação da negritude nos Contes et Nouveaux contes d´Amadou
Koumba do escritor senegalês Birago Diop
Essa comunicação tem o intuito de apresentar as coletâneas de contos tradicionais
reunidos pelo escritor senegalês Birago Diop, intituladas Contes d´Amadou Koumba e
Nouveaux contes d´Amadou Koumba, publicadas em 1967 e 1958, que correspondem a
um verdadeiro patrimônio da literatura senegalesa, e da Literatura Negro-Africana de
expressão francesa, em geral. A comunicação focalizar-se-á na noção de ―oralitura‖ e
afirmação da identidade negra, destacando a presença dos animais nos contos africanos,
que em um surrealismo existencial aparecem como fantasias do comportamento
humano. Apesar de guardarem a natureza específica a cada um eles agem e apresentam
vícios e qualidades, comportamentos humanos em uma verdadeira pintura sócio-cultural
do povo wolof.
Palavras-chave: oralitura – negritude – literatura negro-africana de expressão francesa.
Luciany Aparecida Alves Santos
UFPB
UMA (RE) LEITURA DA FORMAÇÃO DA LITERATURA ORAL BRASILEIRA: AS
CONTRIBUIÇÕES DOS NARRADORES ORAIS AFRICANOS
A cultura popular foi usada por diversas Nações como elemento de coesão política para
a construção de uma identidade de Estado una. No século XIX o Brasil buscava a
146
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
estabilização de sua unidade política através da afirmação de identidades nacionais. Para
isso, recorreu-se a diversos estudos para constituir tradições nacionais. No final do
século XIX Sílvio Romero escreve Estudos sobre a poesia popular do Brasil. No
começo do século XX Luis da Câmara Cascudo seguindo a mesma linha de pesquisa
escreveu o livro Literatura Oral no Brasil. Essas obras fazem parte de um conjunto de
narrativas de fundação da literatura popular brasileira que se agregava como parte
formadora da identidade nacional. Essas pesquisas apontavam uma origem portuguesa
para a literatura oral, origem que trouxe como mitos de representação o período
medieval português, o trovador e as cantigas européias. A partir de uma (re) leitura
desses estudos, esta comunicação pretende fazer uma reflexão sobre qual o lugar
atribuído para as influências negras na literatura oral brasileira. Questionaremos as
análises unilaterais que colocam como influências e/ou origens únicas da poesia popular
as influências européias reivindicando a presença das contribuições dos narradores orais
africanos (griots) nessas literaturas.
Palavras-chave: Literatura oral; Griots; Cantador Nordestino.
Lucicleide da Silva Araújo
Sumara Leide da Silva
UFRN
Da senzala ao corpo: dialética das representações de gênero a partir das narrativas
freyriana (preconceitos na sociedade escravista brasileira e os
silêncios da história)
Este artigo busca analisar as representações de gênero em duas obras consagradas na
historiografia brasileira. Utilizaremos, para tanto, Casa Grande e Senzala, assim como
Sobrados e Mucambos, de Gilberto Freyre, procurando sob um olhar crítico,
desconstruir os estereótipos legitimados a partir de um conceito de ―democracia racial‖,
no qual a pluralidade étnica destes sujeitos é apresentada como sendo assimilada
passivamente na cultura luso brasileira do período colonial. Nossa pretensão é examinar
os aspectos estruturais da violência que marcou a história da colonização do nordeste
dos engenhos e quilombos, sobretudo, no que diz respeito ao comportamento de homens
147
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
e mulheres, escravos, silenciados em suas especificidades por boa parte de trabalhos
historiográficos voltados aos trabalhos de gênero e sexualidade.
Palavras-chave: Gênero; Preconceito; Gilberto Freyre.
Lucila Pereira Dutra de Freitas
UEPB
ANTÚRIO VERMELHO COM REBORBOS DE BARRO
O antúrio é uma flor cultiva nos trópicos. Ela tem uma beleza exótica que atrai os
olhares das pessoas. Parece frágil, mas é o contrário, ela é resistente às diversidades
ambientais, lutando contra a seca, os ventos e as tempestades. No livro O alegre canto
da perdiz, de Paulina Chiziane, a autora ao retratar a feminilidade e o sexo da
personagem Delfina, descreve como um antúrio vermelho com rebordos de barro. A flor
Delfina atraia os homens com sua beleza exótica para conseguir o que queria. Ela era
prostituta e com o seu trabalho queria extirpar as misérias, as desigualdades existentes
no mundo colonial. Sabia que para vencer e para ter status de uma sinhá branca teria
que casar com um homem branco e ter filhos mulatos. O presente trabalho tem como
objetivos analisar através dos discursos encontrados no livro citado acima as
consequências da colonização na vida da personagem principal Delfina e mostrar quais
foram os recursos utilizados por ela para sobreviver ao sistema cruel e desigual
chamado colonização. Para tanto, iremos ter como apoio teórico os estudos sobre as
relações de gênero de Peter Stearns, o retrato do colonizado com Albert Memmi, sobre
prostituição com Simone de Beauvoir, sobre os excluídos da historia, as mulheres com
Michelle Perrot; História, colonialismo e identidade de Moçambique com Luís Cabaço,
e por último Hall que discorre sobre a crise de identidade.
Palavras-chave: mulher, colonialismo e identidade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Lucrécio Araújo de Sá Júnior
UFRN
Ora por nós/Oyá por nós: a movência das performances tradicionais no
imaginário popular
O presente trabalho se embasa numa pesquisa focalizada na Tradição Oral,
especificamente no canto popular religioso que se manifesta em peformances litúrgicas
cíclicas de sociedades com ‗reportação arcaica‘ (cf. SÁ JÚNIOR, 2009). No universo da
religiosidade popular do Brasil é possível encontrar uma confluência de crenças, de um
lado existe a ideologia oficial cristocêntrica, do outro, a dimensão popularizada com
cultos variados; além do cânone católico existem credos, valores, idéias e exercícios de
práticas de fé genuínas, ligadas ao imaginário africano. Assim é que em algumas
manifestações populares o festejo é celebrado com a música remanescente da
tradicional liturgia romanizada aplicada às trajetórias de feitiçaria. Nas crenças do
imaginário popular é possível destacar a existência de textos orais que servem a
performances rituais vertidas tanto aos olhos dos antigos deuses da África quanto aos
santos católicos. Dessa forma, esta proposta de análise objetiva abordar a movência
cultural que configura o texto oral como suporte para a produção simbólica de
cosmovisões várias. Os dados da pesquisa revelam que no processo de seleção e uso do
texto cantado em performance ritual, as culturas populares operam uma manipulação, de
maneira que os cantos acabam por ser totalmente transformados no sentido de um
modelo performativo orquestrado, dirigido à ordenação da vida dos agentes dos cultos
em sociedade. É nesse sentido que os cantos litúrgicos assumem o estatuto de elementos
pertencentes a uma dada cultura tradicional.
Palavras-chave: Tradição oral; performance; movência; ritos; religiosidade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Luís Antônio Costa Silva
Ben-Hur Bernard Costa
IFAL
IMAGEM E MENSAGEM: O PAPEL MIDIÁTICO DO NEGRO NA PUBLICIDADE
INSTITUCIONAL – UMA DISCUSSÃO SOBRE A CAMPANHA DO IPTU EM
MACEIÓ-AL
O objetivo deste trabalho é contribuir para a discussão acerca das relações de
interveniência entre os instrumentos midiáticos e a difusão de idéias racistas na
sociedade brasileira. Convencionou-se a assumir no Brasil um mito de que o país
representa um modelo de democracia racial. As práticas do cotidiano, no entanto,
revelam que esta forma de racismo invisibilizado não institucional, mas ostensivamente,
ideológico está igualmente sedimentada na estrutura social brasileira e ratificada pela
produção midiática geralmente carregada de estereótipos e distorções quando trata do
papel do negro. O presente artigo propõe-se a analisar as peças publicitárias da
campanha de incentivo ao pagamento do IPTU, promovidas pela Prefeitura da Cidade
de Maceió (AL). Nelas, a imagem do negro é explorada em diversas situações em
nenhuma das peças, contudo, o personagem negro é exibido como o cidadão – aquele
que paga o imposto, mas sempre como o beneficiário das políticas públicas resultantes
do pagamento do tributo pela classe dominante convencional. Ou seja, demonstra-se o
papel relevante da mídia enquanto difusora do pensamento segregacionista. A Pesquisa
empírica pautou-se em avaliar a posição do negro, como um elemento imagético da
publicidade, que mesmo representando uma realidade social indiscutível, permanece
sendo posto como um cidadão de segunda classe, dependente do suporte público e
incapaz de promover a própria vivência. Questiona-se, portanto, até que ponto é
perceptível o lugar subalterno do negro no discurso publicitário, mesmo nos
institucionais, e como essa colocação é interpretada e reconhecida pelos diversos
segmentos sociais.
Palavras-chave: mídia, racismo, discurso.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Luiz Antonio de Carvalho Valverde
UNEB
Transcendência e imanência na superação do pequeno Eu
Uma leitura da obra de Osório Alves de Castro
A escrita de Osório Alves de Castro resguarda espaços de subjetivação para além dos
pares opostos e excludentes, do tipo Eu/Outro, negro/branco, conceituados em
categorias territorializantes, que trabalham com a possibilidade de haver um Eu
substancial, calcado em traços culturais e valores datados, extraídos ao fluxo da
existência. Cumpre ressaltar o papel de formação e educação do olhar, a cargo de
inúmeras passagens dos romances Porto Calendário, Bahiano Tietê e Maria fecha a
porta prau boi não te pegar, em que, para além da realidade agenciada pelos discursos
de tomada de poder sobre os recursos da natureza: mineral, biológica e humana, há a
possibilidade de uma transcendência do homem mecânico, racionalista, auto-centrado.
Essa superação do estado de subjetivação primária, gustativa, aponta para uma
consciência superior, em estado de imanência, convivência íntima e espiritual, com
seres e coisas que, na idéia de Lévinas, poderia nos levar a um além de si, ainda que
passando pelo sofrimento casual, que representaria o salto do estado de certeza, para o
indefinido instante. Assim, o homem se coloca como sensibilidade, usando os sentidos
para buscar a intuição, bergsoniana, que contrapõe a imagem literária ao pensamento
intelectual, como ferramenta para pensar e traduzir o mundo.
Palavras-chave: literatura, transcendência, imanência.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Luiz Paulo de Carvalho Ferreira
Rosilda Alves Bezerra - Orientadora
UEPB
CURRÍCULOS ESCOLARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA ANÁLISE PRÁTICA DOS
CONTEÚDOS INSTITUCIONALIZADOS PELA LEI 11.645/08
Esta discussão apresenta os resultados desenvolvidos a partir de um estudo de campo,
que trata da análise da aplicação dos conteúdos de História e Culturas Africanas, AfroBrasileiras e Indígenas nos currículos escolares da educação básica institucionalizados
pela Lei nº 11.645/08. Esta pesquisa se reteve na inserção dos conteúdos de Literatura e
estudos de Língua Portuguesa apresentados na Escola Monsenhor Emiliano de Cristo na
cidade de Guarabira-PB. A metodologia utilizada se fez por meio de levantamentos
bibliográficos, observações, questionários e intervenções, o que possibilitou avaliação
dos conteúdos escolares e suas mudanças ao longo da pesquisa nas turmas em análise,
bem como a possibilidade construtiva de uma visão diferenciada dos aspectos afro em
relação aos discentes e docentes. A implantação desses conteúdos no currículo escolar
provocou uma reflexão mais apurada sobre a temática da exclusão racial, durante a
aplicação dos conteúdos propostos pela Lei 11.645/08. Buscou-se apoio nas teorias
identitárias de Hall (2009); uma perspectiva de (re)construção identitária, a partir de
novos referenciais histórico-culturais nas teorias de Bhabha (2007); referencial para a
prática discursiva textual num sentido político de ação estratégica à transformação
social, em Munanga (2009), e uma discussão sobre identidade negra, em Fanon (2008).
Palavras-chave: Culturas. Identidade. Currículo.
Lylian José Félix da Silva Cabral
UFPE
Oralidade, escrita e memória: os contadores de histórias e as narrativas
recifenses do século XXI
A presente pesquisa faz parte do programa de Especialização em Cultura Pernambucana
do Departamento de Letras, promovido pela Faculdade Frassinete do Recife(FAFIRE) e
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
tem por escopo discutir, como os de contadores de histórias estão presentes em
sociedades urbanas consideradas modernas, já que inicialmente os espaços habitados
por eles eram, em geral, o das sociedades ditas tradicionais. As malhas tecidas pelas
palavras de um contador de histórias transcende o tempo cronológico, ultrapassa as
barreiras do real e cria uma espécie de esqueleto social sobre o qual, é constituída uma
determinada sociedade. A nossa busca para encontrar a origem de tudo, para percorrer
os espaços que não foram pisados por nossos pés, mas pelos pés dos nossos ancestrais,
nos diferenciam dos outros seres que habitam a Terra, queremos sempre contar o que
aconteceu há muito tempo atrás, quando os ares respirados eram outros, quando as cores
eram outras, quando a vida tinha outro sentido e as razões de viver eram,
indiscutivelmente, diferentes das nossas de hoje. Durante o desenvolvimento do projeto
nos deparamos com uma infinidade de tipos de contadores de história, desde os mais
tradicionais, como no caso dos cordelistas, que fazem parte do imaginário recifense, até
os mais modernos com atitudes inovadoras, como os grupos de contadores que realizam
atividades em escolas, hospitais e outros espaços desvencilhados dos educacionais.
Também será possível discutir qual a verdadeira essência dos contadores de histórias e
como os meios de comunicação atuais influenciam as suas performances e narrativas,
além de detectar os pontos de convergências e divergências que existem entre oralidade
e escrita. A pesquisa é embasada em teóricos que abordam às temáticas da memória,
oralidade e escrita como, Paul Zumthor, Walter Benjamin, Gaston Bachelard, Henri
Bergson, Maurice Halbwachs, Robert Darnton, além de outros como Stuart Hall, Zilá
Bernd e Edouard Glissant, que discutem como através das narrativas (orais e escritas) se
constituem o imaginário e a identidade de determinada sociedade.
Palavras-chave: Oralidade, Escrita, Memória, Contadores de história de Recife,
Imaginário.
Magnaldo Oliveira dos Santos
UNEB
OJÓ ORÚKO: UM REENCONTRO COM A ANCESTRALIDADE NEGRA
Essa pesquisa tem como tema Ojó Orúko: um reencontro com a ancestralidade negra.
Tal expressão significa ―o dia do nome‖ e representa o rito de iniciação e pertencimento
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
às comunidades sacras de matrizes africanas. Trata-se da (re) apropriação e (re)
afirmação do nome africano, identidade primeva do iniciado trazida a público na saída
do ìyàwó. Os objetivos gerais da pesquisa são: evidenciar a relevância do Ojó Orúko
para o reencontro com a ancestralidade negra e destacar a língua yorùbá como
estruturante de instituições, tradições e memórias das comunidades-terreiro nàgó/kétu.
Os específicos: perceber as relações simbólicas possíveis entre Ojó Orúko,
ancestralidade e identidade africano-brasileira; revelar a arkhé do povo yorùbá e as
comunidades-terreiro nàgó/kétu como territórios
complexos e dinâmicos de
reelaborações de cultura, tradições e memórias do povo negro; anunciar a língua yorùbá
como princípio dinâmico e estruturante de instituições, tradições, memórias das
comunidades-terreiro nàgó/kétu e contrastar o paradigma de educação eurocêntrico e a
concepção de educação pluricultural geridas nas comunidades-terreiro. Como questão
relevante, busca-se conhecer: Qual a relevância do Ojó Orúko para o reencontro com a
ancestralidade negra? Quanto à metodologia, optou-se pela abordagem qualitativa,
revisão bibliográfica e pesquisa de campo de inspiração etnográfica. A técnica foi
Entrevista Narrativa, fundamentada na metodologia da História Oral Temática. O lócus
é a Comunalidade Ilé Àse Òpó Àfònjá e os participantes, os iniciados na tradição
nagô/ketu, dessa comunalidade, totalizando 06 entrevistados.
Mahely Florenço Barros
UFPE
CONSTRUÇÃO EM RUÍNAS: SOBRE AS IMAGENS DO MEDO EM BARROCO
TROPICAL
O penúltimo romance do escritor angolano Agualusa é ambientado numa Luanda
futurista (2020) em que a realidade se confunde com o fantástico num labirinto de
imagens paradoxais e oximoros, sendo o ‗barroco‘ do título o método de criação dos
próprios personagens – por vezes perdidamente lúcidos neste lugar onde ‗até o futuro é
arcaico‘. O presente trabalho se propõe a analisar o romance do ponto de vista do
imaginário, revelando aspectos dissimulados pelas diferentes camadas narrativas, a
saber, do próprio enredo ou em intertextos como contos africanos. A imagem central
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
será a do ‗anjo negro‘, o anjo é uma figura tradicionalmente relacionada à
espiritualidade – como intermediário entre Deus e os homens –, entretanto, no romance
ele aparece associado às noites em Luanda, plenas de personagens mergulhados na
miséria, de diferentes maneiras, configurando-se, por esta razão como um símbolo
síntese da luz e do obscurantismo presentes neste surpreendente espaço. O medo é a
condição de sobrevivência desta sociedade, que se abstém de falar de modo que a
palavra sagrada supostamente dita pelos anjos, neste caso, é o silêncio.
Maíra Cordeiro dos Santos
UFPB
MEMÓRIA ORAL NOS MANUSCRITOS CULINÁRIOS FEMININOS
A cozinha e as atividades domésticas têm sido, historicamente, relacionadas às mulheres
como atributo natural de sua identidade. Assim como a leitura, a escrita é
frequentemente um fruto proibido: como exercício oprimido, é ao mundo calado e
permitido das coisas íntimas que as mulheres confiam sua memória. A partir daí, no
espaço privado, surgiu a tradição dos escritos particulares, única escrita permitida às
mulheres: cartas, diários, livros de anotações e cadernos de receita culinária. O presente
artigo pretende analisar as marcas da memória e da oralidade nos manuscritos culinários
femininos do século XX e XXI da cidade de Nova Palmeira, Paraíba, a partir de marcas
lingüísticas orais e da tradição oral das mulheres, além de identificar como eles contam
e recriam o mundo inscrito na memória individual e coletiva. A partir de discussões
acerca da escritura, oralidade, memória e gênero, percebe-se que os manuscritos
culinários revelam práticas orais registradas por mulheres pela transmissão das
memórias e das identidades construídas e constituídas na sociedade em que vivem, a
partir das histórias orais ouvidas. Como a cultura oral é centrada na voz, a cadeia da
memória no texto oral é dinâmica: o próprio nomadismo vocal desterritorializa a
memória. Vê-se aí, portanto, a presença da memória como forma de contribuir para a
permanência e transmissão da cultura oral registrada nos manuscritos culinários
femininos. Para tanto, utilizar-se-ão as teorias de Montanari (2008), Chartier (2002), Le
Goff (2003), Bosi (1994), Foucault (2002), Ong (1998) e Paul Zumthor (1993; 1997).
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Maíra Samara de Lima Freire
UFRN
Reflexões sobre organização política e relações de parentesco em uma
comunidade quilombola do RN
O presente trabalho tem como foco a ―Comunidade de Capoeiras", grupamento rural
negro, localizada no município de Macaíba (estado do Rio Grande do Norte), composta
por cerca de 300 famílias que, nos últimos sete anos, iniciaram processo de
reconhecimento enquanto ―comunidade remanescente de quilombo‖. Procuro apreender,
a partir dos modelos de organização social pré-existentes, em particular os arranjos
familiares e de gênero, a formação de associações de representação: Associação dos
Moradores Quilombolas de Capoeiras e Associação de Mulheres Quilombolas de
Capoeiras, como instrumento político acionado pelas redes que compõem o grupamento
familiar no reconhecimento identitário e territorial. É no diálogo (por vezes tenso) entre
modelos de organização política que tais grupos constroem seus projetos políticos.
Marcela Ribeiro
UFRN
REVITALIZAÇÃO DA CAPACIDADE DE FABULAR: UMA EDUCAÇÃO SOBRE ÁFRICA
A construção social do discurso oral é para as práticas de letramento pedra fundamental:
sua importância é primordial para o desenvolvimento da linguagem escrita, pode-se
diser que é da oralidade que nasce a escrita em cada indivíduo. Sendo assim, ABÍLIO e
MATTOS (2000) indicam o caminho para a aquisição e evolução da linguagem escrita
pelo uso das narrativas da tradição oral em sala de aula. Fala-se na ―revitalização da
capacidade de fabular‖ pelo professor, transformando-o num dieli, buscando ressuscitar
a paixão pelas práticas da oralidade, pela palavra viva, tanto no professor como no
aluno. Nesse ponto de resgate da oralidade não pode se negar sua relevância nas origens
da humanidade, muito menos sua relevância nas culturas marginais, como podemos
ressaltar seu caráter sagrado na cultura africana, na qual o laço entre homem e palavra é
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
mais forte. O presente artigo tem como principal objetivo resgatar a oralidade como
possibilidade de desenvolvimento das práticas de leitura e escrita, com intenção de
dessacralizar a letra, acrescentando a ela voz, fazendo-se o encontro entre o universo e o
inteligível, como também resgatar a possibilidade de fabular, colocando o professor
como um contador. Para tanto serão utilizadas canções brasileiras cuja temática é a
cultura africana, unindo esse canto místico ao letramento literário de Rildo Cosson, aos
estudos sobre a poética oral de Paul Zumthor e a tradição viva de A. Hampaté Bá.
Palavras-chave: Oralidade. Letramento. Cultura africana.
Márcia Ferreira de Carvalho
UFPB
ANÁLISE SEMIÓTICA DE NARRATIVA POÉTICA ORAL
O presente trabalho constitui uma análise semiótica de narrativa poética oral do ciclo
temático de mulher sofrida. Para tanto, foi realizado um levantamento em coletâneas
brasileiras ou ibéricas, de dezessete versões da narrativa poética Aparição, que trata da
morte da mulher amada e de sua aparição depois de morta. Apesar de terem a mesma
origem, cada versão apresenta particularidades quanto à forma, dependendo do
ambiente e do momento em que foram colhidas, o que pode ou não afetar os valores
ideológicos das mesmas. A partir dessa concepção, levantamos o seguinte
evidenciam de maneira a contribuir para a compreensão da ideologia? Para respondê-lo,
consideramos como objetivo geral a análise, do ponto de vista da semiótica greimasiana
das versões escolhidas, como corpus, a fim de descobrir a ideologia subjacente aos
textos. Como Objetivos específicos, realizamos um estudo da Literatura oral,
evidenciando a classe temática de amor desgraçado e escolhendo desta a narrativa
poética oral Aparição. Desta preparamos as versões Afonso XII, Pomba sem fel,
Iracema, Alfredo e Margarida e A sete de setembro para análise dos níveis narrativo,
discursivo e fundamental. Por fim, uma vez realizada a análise, foi possível detectarmos
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
a existência de dogmas e tabus que mantêm viva a ideologia do preconceito e exclusão
social, onde as mulheres, assim como os negros e os pobres, são as principais vítimas.
Palavras-chave: Semiótica. Oralidade. Ideologia.
Márcio Gleybson Rodriges da Silva
Carmen Margarida de Oliveira Alveal
UFRN
NEGROS NO BRASIL: A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA ESCRAVA COMO UM MEIO DE
RESISTENCIA
Durante o período do regime escravista, o Brasil recebeu um grande número de
africanos, de etnias diferentes que tinham seus próprios traços culturais. Junto com a
escravidão vinham novas culturas, resistiram e se mesclaram, formando novos traços
culturais. Para melhor suportar o cativeiro, começaram a adotar traços da cultura
europeia, e participavam dos ritos católicos, principalmente, do batismo. Os africanos
chegaram com seus ritos e sua forma de organização e faziam uniões matrimoniais
segundo tais costumes, quando possível. No entanto, essa união não era legalmente
aceita. Para legitimar suas uniões e conseguir alguns privilégios em relação aos outros
começaram a aderir ao casamento católico. Com o casamento poderiam ter uma série de
privilégios, como casas individuais, uma maior autonomia e algumas vezes terra para
cuidar. Para o senhor de escravos, o casamento dava uma segurança maior em relação
ao escravo, pois dificultava a sua tentativa de fuga já que o mesmo estava ligado por
laços familiares a outro. Quando se fala resistência logo vem à mente imagens de fugas,
assassinatos, suicídios, danos à produção etc. O objetivo deste trabalho é apresentar a
formação da família escrava como um meio de resistência. A utilização feita pelos
escravos, dos recursos que estavam ao seu alcance (falsas conversões, batismos,
casamentos etc.) para preservarem seus traços culturas. Passar pelas convenções sociais
dos brancos utilizadas para poderem proteger – se. Sendo assim, mantinham a
resistência cultural a partir das práticas dos costumes africanos e amparados pelo
―escudo‖ do casamento católico.
Palavras-chave: Família escrava, casamento, resistência.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Marcos Salviano Bispo Queiroz
UESB
GUARDE MEU ANEL BEM GUARDADINHO: PRESERVAÇÃO E TRANSMISSÃO DE
NARRATIVAS MÍTICAS NO ILÊ AXÉ IJEXÁ
A partir da compreensão de que as narrativas míticas contribuem para a construção de
aprendizados do viver e o fazer diários nas comunidades religiosas de matriz africana,
pretendemos apresentar, neste trabalho, o Ilê Axé Ijexá Orixá Olufon, terreiro de
candomblé, de origem nagô, consagrado a Oxalá, situado na cidade de Itabuna-Bahia,
enquanto espaço de preservação e transmissão deste legado africano, bem como,
descrever em quais momentos da liturgia desse terreiro, estas narrativas podem ser
percebidas. Para tanto, utilizaremos o referencial teórico de Callois (1978), Eliade
(1969), Bastide (2006), Amaral (2002), Póvoas (2006).
Palavras-chave: Tradição oral, legado africano, narrativas míticas, candomblé.
Maria Josivânia de Souza Pinto
Aurenísia Almeida de Mesquita
Marcos Vinicius Medeiros da Silva
UERN
DOIS MUNDOS EM AGONIA: O DIÁLOGO POSSÍVEL ENTRE O QUINZE, DE RACHEL
DE QUEIROZ, E OS FLAGELADOS DO VENTO LESTE, DE MANUEL LOPES
Os romancistas nordestinos de 1930 caracterizaram-se por adotarem visão crítica das
relações sociais, ressaltando o homem hostilizado pelo ambiente, pela terra, pela cidade,
devorado pelos problemas que o meio lhe impõe. As obras nordestinas escritas na
década de 30 se inseriram na linha do Realismo crítico, que vigorou durante toda a
década na literatura brasileira. O objetivo deste artigo é, a partir dos romances O quinze,
da escritora cearense Rachel de Queiroz, e de Os flagelos do vento leste, do
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
caboverdiano Manuel Lopes, proporcionar um diálogo literário entre Brasil e Cabo
Verde, sobretudo levando em consideração o Neorrealismo brasileiro da década de 30,
que muito marcou a literatura de língua portuguesa. Mas longe de se fazer um juízo de
valor quanto à influência de um sistema literário sobre outro, é enfatizado os processos
de autoidentificação e interdependência entre as literaturas do Brasil e de Cabo Verde.
Também se observa as manifestações e configurações utópicas propulsoras dos atos de
resistência na representação dos personagens brasileiros e caboverdianos fixados nos
seus respectivos espaços. Há nos romances dos autores citados forte tendência à
denúncia das injustiças sobre um povo votado ao abandono e à miséria. Percebe-se
ainda haver entre os autores uma semelhança não apenas temática e ideológica mas
também uma afinidade na concepção que tinham em relação a função social do texto
literário.
Palavras-chave: Neorrealismo de 30, diálogo, resistência.
Margarete Nascimento dos Santos
UNEB
“Nossa história é uma trança de histórias”:
o crioulo e a força da tradição oral nas Antilhas Francesas
O termo crioulo, que designa a língua falada pelos antilhanos em seu cotidiano, no
decorrer dos últimos séculos passou por processo de ressignificação até chegar ao
conceito como é pensado atualmente. O uso do crioulo nas Antilhas de língua francesa
suscitou nas últimas décadas grandes discussões entre escritores, políticos, teóricos e
população, sobretudo no que diz respeito à sua aceitação e normatização, no entanto de
língua excluída foi ganhando força e espaço no meio acadêmico. Mas ainda hoje definir
o espaço e a significação deste idioma na cultura antilhana gera polêmica e alimenta a
chama das questões ditas identitárias. Porém, é esta língua nascida da colonização, a
grande responsável por ainda manter vivas as tradições orais nas Antilhas e é por isso
que os escritores contemporâneos defendem firmemente a procura das raízes locais na
oralidade, contrários ao que muitos acreditam sobre o crioulo, esses poetas e prosadores
160
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
o chamam de ―arrulho divino‖ e intraduzível. São eles que a partir da década de 30,
tendo Aimé Cásaire como grande representante, que começam um movimento de
reivindicação do espaço do uso do crioulo na sociedade. Eles citam a língua em seus
escritos e incitam outros a fazerem uso dela. Eles valorizam a oralidade e a tradição oral
através do crioulo e fazem destes a sua bandeira. O objetivo deste trabalho é, portanto
realizar breve análise sobre as questões que envolvem a tradição oral e o seu importante
papel na consolidação do crioulo.
Palavras-chave: Crioulo. Tradição Oral. Memória. Antilhas Francesas.
Margareth Maria de Melo
Juliana Campos Vicente
UEPB
TESSITURA DA IDENTIDADE NEGRA: UM OLHAR PARA
HISTÓRIA DE VIDA
O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados parciais de uma investigação com
duas alunas do Curso de Pedagogia sobre suas histórias de vida e as táticas usadas por
elas para tessitura de suas identidades e das redes de relações que são trançadas nos
cotidianos. O mesmo é proveniente da pesquisa em andamento Formação Docente e
Etnicidade Afrobrasileira, realizada na Universidade Estadual da Paraíba, no campus I,
de Campina Grande. Adotou-se como metodologia a pesquisa nos/dos/com os
cotidianos e história de vida, apoiadas em autores/as como Alves e Oliveira (2008),
Bosi (2003), Portelli (1997) dentre outros. Os dados foram obtidos por meio de
observações e conversas sobre a vida de cada uma das participantes. Foi observado nos
cotidianos o quanto essas alunas assumem sua negritude, por isso foram escolhidas. Nas
entrevistas se relatou que na infância as suas identidades sofreram algum tipo de
discriminação por conta da estética negra, mas esses acontecimentos foram superados
na convivência familiar. Assim, ficou demonstrado o quanto a família tem um papel
singular na tessitura das identidades. Além disso, as pessoas são influenciadas por
situações dos cotidianos e de acordo com elas, vão internalizando as informações vindas
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
do seu ambiente social e a partir de suas relações vão tecendo táticas (CERTEAU,
2007) de convivência e enfrentamento do racismo nestes ambientes, de forma que, suas
identidades vão assumindo contornos e posturas de afirmação/negação da negritude e os
usos que elas fazem dessa questão denuncia o racismo velado existente nos cotidianos.
Palavras-chave: Negritude, histórias de vida, táticas, racismo.
Maria Adriana Chaves do Nascimento Rodrigues
UEPB
POSSIBILITANDO A AUTOESTIMA DA CRIANÇA NEGRA NO ESPAÇO ESCOLAR A
PARTIR DA (RE)CONSTRUÇÃO DAS LEITURAS E IMAGENS NA LITERATURA
INFANTO- JUVENIL
O presente estudo pretende analisar e evidenciar a autoestima da criança negra,
enquanto uma experiência individual e coletiva, construída nos espaços sociais e através
de suas representações nos livros de literatura Infanto juvenil. Assim a partir das
iconografias como também das produções discursivas, perceber a existência ou não de
preconceitos raciais em alguns livros de literatura Infanto¬- Juvenil. Uma vez que na
educação Infantil e fundamental I, a leitura da criança sobre o mundo que a cerca,
resulta diversas vezes pelas histórias infantis, pelo brinquedo e pelas brincadeiras
presentes em seu cotidiano. Elementos como brinquedos, cantigas infantis, imagens
contidas nos livros de literatura infantil aparentemente inocente, podem ser repertórios
de estereótipos, modelos, estigmas que marcam a reprodução das desigualdades, ou
seja, a presença da criança negra muitas vezes é invisibilizada nesses espaços a partir da
negação da sua história e cultura e muitas das vezes são silenciadas nos currículos
escolares. Logo, considerando a escola um espaço múltiplo e diversificado, de um
processo de construção compartilhada de diversos significados, se faz necessário o
respeito às diferenças. Desta forma, proporcionar as crianças, condições de ainda nas
séries inicias se redargüir á concepções auto-excludentes da história e se constituir
enquanto cidadão, sujeito ativo de sua história, através do reconhecimento da existência
de uma sala de aula diversificada, na qual a criança encontre elementos da sua cultura
162
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
nesses espaços, sendo então dessa forma Visibilizar sua identidade individual e coletiva.
Portanto, essa problemática se faz indispensável para propormos novas perspectivas na
construção de novos olhares, representações e abordagens sobre a importância da
desconstrução do preconceito e ao mesmo tempo da presença igualitária da identidade
negra na história e na sociedade brasileira. Nossa pesquisa está subsidiada numa
bibliografia específica sobre educação e racismo
Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil, Criança negra, preconceito racial.
Maria Angélica de Oliveira - UFPB
Josilene Pinheiro-Mariz - UFCG
EM UMA É ASSIM, A OUTRA É ASSADO: AS VONTADES DE VERDADE PELAS
VOZES DOS GRIOTS
Na África, narrativas orais contadas pelos artistas populares, conhecidos como Griots,
constituem-se como um dos principais caminhos para a prática de ensinamentos da
cultura, das crenças e das condutas morais de cada comunidade. Essas histórias plenas
do fantástico, do maravilhoso e, sobretudo, dos encantamentos africanos foram
transmitidas a várias gerações através dos séculos. Tomadas pela magia característica
dessas narrativas, buscamos identificar, a partir da leitura discursiva do conto Uma é
assim, a outra é assado, da tradição oral, as vontades de verdades em relação à visão
maniqueísta: bem e mal, topos da literatura universal; assim como a identificação dos
sujeitos mulher e homem. Ressalte-se que essa leitura é feita à luz da Análise do
Discurso de linha francesa, alicerçando-se, principalmente, nas discussões foucaultianas
acerca da relação saber/ poder/ verdade. Percebemos nos contos da tradição oral e, em
especial, no referido conto, que tal visão maniqueísta se dá quando uma personagem é a
essencialmente boa, sendo portanto premiada, enquanto a outra essencialmente má
recebe como paga, por essa conduta, o castigo. Esse fato evidencia a vontade de verdade
presente na formação social africana que para receber a premiação, o sujeito-mulher
deve ser obediente, subserviente e estar sempre à disposição do sujeito-homem. Outra
vontade de verdade revelada diz respeito ao lugar de saber/ poder do sujeito-velho que é
163
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
aquele detentor do conhecimento e a ele cabe ensinar a conduta, o jeito certo de sujeitomoral. Assim, através do ritual da contação de histórias, os griots são peça fundamental
na formação do sujeito moral na sociedade africana.
Palavras-chave: Vontade de verdade; Maniqueísmo; Sujeito; Discurso.
Maria Carolina de Godoy
Renato Corrales Nogueira – PUC – SP
A relação entre homens e orixás no filme Besouro
Este trabalho parte de estudos antropológicos, mais especificamente, da noção de
obrigatoriedade discutida por Marcel Mauss, dos estudos sobre mitos sob a perspectiva
de Lévi-Strauss e Mircea Eliade e de pesquisas a respeito dos orixás de Roger Bastide e
Reginaldo Prandi para a análise da representação das relações entre homens e orixás que
permeiam o enredo do filme Besouro (2009). Essa aproximação entre deuses e homens
acentua, de um lado, o caráter heróico do protagonista nos moldes de narrativas
tradicionais e, de outro, a forte presença da mitologia africana em nossa cultura no que
se refere às obrigações existentes entre os ancestrais e seus filhos.
Palavras-chave: orixás, cinema e obrigatoriedade.
Maria Cecília de Lima
UFU
Livro didático de Literatura e a implementação da lei 10.639/03
Muitas novas tecnologias (mídias, blogs, orkuts, jornais etc) têm sido empregadas na
educação. Em muitas escolas do ensino público, porém, o livro didático ainda continua
sendo a ―tecnologia‖ mais empregada para o ensino de literatura, disciplina foco para a
implementação da Lei Federal 10.639/03; que obriga o ensino de história e Cultura
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Afro-brasileira e Africana nas escolas brasileiras, em especial nas áreas de Educação
Artística, de Literatura e História Brasileiras. Com base em vários autores (Aquino,
1998; Azevedo, 1987; Barbosa, 2006; Cavalleiro, 2000, 2001; Oliveira, 1994;
Schwarcz, 2010; Sevcenko, 2003; Silva, 2004; Skidmore, 1976), e a partir de reflexões
realizadas a relação entre a lei e discussões levantadas por Barbosa (2006) sobre a
literatura brasileira, que afirma que estereótipos e caricaturas depreciativas referentes à
população negra foram abundantes no Romantismo, no Realismo e na Semana de 22,
realizamos, com suporte teórico e metodológico da Análise de Discurso Crítica
(Fairclough 2001), análise do livro didático de Cereja e Cochar (2009) quando discutem
essas escolas literárias. Nessa análise, temos como objetivo mostrar se nesse material
didático os afrodescendentes são mostrados como escravizados subalternos do povo
branco, inferiores ou como sujeitos que participaram, e participam, ativamente da
formação do Brasil. O objetivo deste trabalho não se esgota aqui, pois, como professora
de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, sabemos que implementar a lei requer
reflexão, pois as mudanças não são fáceis, uma vez que a ideologia assim não o permite.
Para que transformações comecem a acontecer, precisamos pensar criticamente dois
pontos: a formação do professor e elaboração de livros didáticos. Preocupada com a
formação de docentes e com a elaboração de material didático, analiso em Cereja e
Cochar (2009), obra empregada em uma das escolas onde trabalho em parceria com
alunos estagiários, com o intuito de mostrar o quanto a lei já foi, ou não, absorvida pelos
produtores de livros didáticos, pois precisamos de material didático que não deixem
professores à deriva no que se refere à implementação da lei para que não fiquemos,
mais uma vez, apenas com a ilusão da liberdade.
Palavras-chave: lei 10.639/03; livro didático de literatura.
Maria da Conceição Pinheiro Araujo
IFBA
Revista Exu: um periódico baiano da Fundação Casa de Jorge Amado
Na comunicação apresentarei os resultados de um projeto de pesquisa, com bolsa
PIBITI/CNPq/IFBA, iniciado em 2009 e concluído em 2010, desenvolvido, no
165
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
IFBA/Salvador, pelo bolsista Victor Bispo, discente do curso de turismo, sob minha
orientação. O corpus da pesquisa foi a Revista Exu (1987-1997), periódico publicado
pela Fundação Casa de Jorge Amado. A escolha dessa publicação coaduna-se com as
propostas do Ministério da Educação, através da pauta de políticas afirmativas do
governo federal que leva em conta as novas perspectivas includentes e antidiscriminatórias em termos de africanidades. Considera-se que o presente projeto
responde às expectativas das ―Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana‖ (Ministério da Educação, outubro/2004). No tópico ―Ações educativas de
combate ao racismo e a discriminações‖, o documento delega o ensino de história e
Cultura Afro-Brasileira e Africana para algumas disciplinas, entre elas a literatura. O
Projeto, também, responde às expectativas dos Grupos de Pesquisas aos quais estou
vinculada, como líder. Privilegiando os estudos em um periódico baiano, pretendemos
visualizar dois aspectos: 1) referente aos estudos de periódicos baianos, perspectiva do
GP ―A Literatura de Jornal em periódicos brasileiros‖ da UEFS (Universidade Estadual
de Feira de Santana); 2) centrado na discussão sobre o papel ideológico do periódico no
que concerne à valorização das culturas afro-brasileira e africana, respondendo aos
propósitos da linha de pesquisa ―Linguagem, Literatura e Africanidade‖ do GP
Linguagens e Representação do IFBA (Instituto federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Bahia).
Maria da Paz de Freitas e Sousa
Colégio Dom Bosco
Escola Estadual Educandário Presidente Kennedy
PAI CONTRA MÃE – A VISÃO SOCIOLÓGICA DE MACHADO DE ASSIS SOBRE A
ESCRAVIDÃO BRASILEIRA E O DISCURSO SILENCIADO DA VOZ NEGRA FEMININA
A literatura do final do século XVIII no Brasil criou a atmosfera de um mundo mais
concreto e real sobre a enorme desigualdade social e dos problemas sociais. Machado de
Assis (1839-1908) no desenvolver da literatura e no ápice do realismo literário teceu
enredos baseados na visão da historicidade e do povo brasileiro. A literatura de
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
maturidade está presente nas obras em prosa como nos contos literários machadianos.
Tomaremos, como estudo nesse trabalho o conto ―Pai contra mãe‖, em que faremos
uma análise de teor literário e sociológica na personagem Candido, Clara, Tia Mônica e
principalmente sobre a condição da escravidão africana no Rio de Janeiro após abolição
Machado na fase de maturidade nas letras realistas consegue compor um quadro
verídico do que foi a sociedade brasileira no período da escravidão e após abolição da
escravatura, com uma linguagem rica em detalhes de descrição, descreve uma narração
do que foi a sociologia do escravo negro em territórios brasileiros. Negros fugidos não
estavam nas zonas rurais do Brasil, e sim nos centros urbanos servido aos novos donos,
burgueses e comerciantes. A toda uma retratação do cenário carioca e da condição do
negro no conto ―Pai contra mãe‖, Candido sem emprego, sem sorte e sujeito perseguido
por uma falsa ideologia de liberdade em leis. Perseguição, escravos fujões, castigos
ferinos, falsa liberdade, miséria social, miséria sobre a condição humana do ser negro
africano e a condição sociológica da mulher e seu discurso silenciado pela ironia e
poder da sociedade ainda patriarcal. Teceremos uma visão de que arte é o espelho do
homem na historicidade do concreto e na imitação das representações oitocentista e
positivista.
Palavras-chave: Conto machadiano, visão sociológica e o discurso feminino.
Maria de Fátima Batista Costa
Faculdade dos Guararapes / FAFICA
Para caminhar entre nós: uma leitura do trabalho de Pablo Picasso a partir
da arte africana
Foi-me instigado pensar a questão da influencia que a arte africana exerce sobre Pablo
Picasso e a possível relação com a questão da técnica. Tenho um afeto especial pala arte
e tenho trabalhado há tempos essa questão, a saber, a questão da técnica e a relação com
a obra de arte. Neste campo, Walter Benjamin é um dos expoentes com seu breve e
grande texto a obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, onde trata da
experiência técnicas do processo de criação e, sobretudo de reprodução da obra de arte.
167
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Picasso é um artista já desta época, que provoca uma descontração da arte clássica
questionando a forma, sendo solicitado pelas manifestações artísticas de outras culturas
só recentemente levadas em conta pelo ocidente. De forma dramática vai reinventar a
representação. Picasso é influenciado pela arte africana, pela criação como primordial
de uma existência dilacerada pela crise, pela guerra, pela dor, pelo grito que como faca
corrói até o que não tem e não pode. Pois é, foi embalada por esta inquietação e já com
o ponto de fuga latente que iniciei a investigação sobre a problemática. A arte africana
por representar os usos e costumes dos grupos africanos não foge ao que de fato é a arte,
no entanto, não esgota aí sua função, seu valor e seu significado.
Maria de Lurdes Barros da Paixão
UFRN
RE-ELABORAÇÕES ESTÉTICAS DA DANÇA NEGRA BRASILEIRA NA
CONTEMPORANEIDADE: Uma Análise sobre o Balé Folclórico da Bahia e o Grupo
Grial de Dança
O artigo revela o interesse no estudo comparativo sobre a Dança Negra elaborada e
ressignificada em dois diferentes contextos sócio-histórico-cultural brasileiro. Para isto
realiza-se uma análise das diferenças e similitudes nas re-elaborações etno-éticaestética-dramatúrgica-coreográfica do Balé Folclórico da Bahia/Salvador/BA e do
Grupo Grial de Dança/Recife/PE a partir dos elementos presentes nos símbolos, mitos e
danças de origem afro-brasileira. As questões levantadas apontam que estas danças
podem ser fontes de produção artística e criação coreográfica concebendo uma
proposição dramatúrgica para a Dança Negra Contemporânea Brasileira. O referencial
teórico traz autores como Bastide (1983), Kerhouve (1997), Munanga (1999), Santos
(2006), Santos J. (1996), Silva e Calaça (2006), Suassuna (1977, 2004) e Verger (1997)
para ratificar as idéias apresentadas. Transpondo fronteiras geográficas e culturais, o
texto apresenta resultados da pesquisa realizada no curso de Doutorado em Artes da
UNICAMP no período de 2005 a 2009. Descrevendo as possibilidades de pesquisa e
criação artística a partir da temática afro-brasileira sobre as relações tecidas entre corpo,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
memória, tradição e contemporaneidade. A metodologia utilizada será a análise
fenomenológica orientada na proposta da etnóloga Juana Elbein dos Santos.
Palavras-Chave:
Dança
Negra,
Memória,
Tradição,
Contemporaneidade,
Re-
elaborações Etno-Ética-Estética-Dramatúrgica-Coreográfica.
Maria do Desterro das Neves Souza
UFRN
TERRA SONÂMBULA: TESTEMUNHO E MEMÓRIAS PERDIDAS
Terra Sonâmbula, o primeiro romance do autor moçambicano Mia Couto narra a
história de Moçambique pós-colonial, enquanto as guerrilhas internas ainda destruíam o
pouco que restou após a guerra de libertação. O romance é composto de duas narrativas
paralelas que dialogam representando a confluência dos velhos e dos novos tempos,
preservando a memória dos que se foram, resgatando a identidade e o passado africano.
A trama evidencia o sonambulismo de um país que espera um novo tempo para
renascer. A história dos personagens Muidinga e Tuahir não deixa de se configurar em
um testemunho traumático sobre a guerra, de experiências dolorosas e memórias
perdidas, mas de muitos sonhos para conquistar, com um passado que não poderá ser
esquecido. O sonho é o que faz a estrada andar, e surge como uma saída, onde o
imaginário se insere, instalando-se com a finalidade de esquecimento, rompendo os
limites sociais que são impostos, aspirando à reintegração dos escombros da história
daquele país devastado, desde sempre, por guerras e conflitos sociais. Mia Couto,
buscando uma identificação plena entre realidade e ficção, confina no romance em
questão as conseqüências da guerra e nos apresenta a identidade cultural daquele país
contida nas memórias contadas e nas imagens criadas sobre uma nação que se revela
através do interesse dos personagens em recuperar o passado.
Palavras-chave: esquecimento, memória, oralidade, sonho, testemunho.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Maria Dorotéa da Silva
UFPB
O POEMA “QUEM SOU EU?”, DE LUÍS GAMA COMO INSTRUMENTO DE REVELAÇÃO
DE IDENTIDADE NACIONAL
A literatura brasileira está repleta de escritores negros e mestiços que reconhecidamente
marcaram escolas literárias, como seus representantes ou precursores. Esse artigo trata,
pois, de uma análise da poesia satírica de Luís Gama, poeta romântico afro-descendente
que escreveu sobre temas atinentes à afro-descendência e que militou em movimentos
sociais. Nesse sentido, o artigo faz um estudo bibliográfico do Romantismo brasileiro e
contextualiza o fazer poético de Luiz Gama enquanto homem e poeta militante da causa
negra e compromissado com a identidade de seu povo, e conhecido por poemas como
―Quem sou eu?‖. A escolha do poema explica-se pela percepção orgânica da
subcidadania dada aos afro-brasileiros, e do autor em si mesmo, cujos poemas assumem
um papel ou função da literatura na construção identitária da negrura e, por extensão, na
superação da invisibilidade negra, quer seja através da temática abordada, quer seja
através dos dados autobiográficos que se percebe nas entrelinhas e na própria afirmação
do poeta ao se projetar em seus versos por meio do pronome ―eu‖ em torno da
problemática da exclusão do negro, sujeito ficcional e social, tema recorrente nos
poemas do autor que integra os eixos de militância e criação em si mesmo em um só
discurso. Assim, o texto resulta de uma aproximação com a ancestralidade numa trama
simultânea com vetores de restituição, numa totalidade da condição existencial e social
do negro. O objetivo desse artigo é apresentar o discurso poético, de caráter irreverente
e irônico de Luís Gama, no contexto tradição literária do Romantismo brasileiro.
170
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Maria Eliane Souza da Silva
Jorge Normando dos Santos Filgueira
Ilza Matias de Sousa – Orientadora
UFRN
JMC, o Juan Moçambicano Clown, e a rostidade do amor em o Fio das Missangas
Neste trabalho pretendemos analisar a configuração do amor através dos significantes
míticos e suas tradições africanas diante de uma visão ocidental amorosa em que se
desencadeiam rostidades (DELUZE & GUATTARI,1996 ). Segundo, os autores a
fabricação de rostos na cultura cristalizam territórios de subjetividades quais a do Édipo
e a de Don Juan como decalques do amor incestuoso e ―de paixão ardente por infinitas
mulheres‖( COUTO, 2010).
Palavras-chave: Rostidade, amor, literatura africana.
Maria Emanuela de O. Cruz
Paula Célia da Silva
Cristiane Maria Nepomuceno – Orientadora
UEPB
CINEMA, EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE: UMA ANÁLISE DO FILME BESOURO
Tendo
consciência
da
pluralidade
sociocultural
da
sociedade
brasileira
e
conseqüentemente da realidade diversificada dos alunos que lidamos, contribuir para
superar preconceitos e para a mudança de mentalidades é uma premissa da práxis do(a)
professor(a), necessária para que de fato se edifique uma educação estruturada no
respeito às diferenças e no reconhecimento da diversidade histórico-cultural. Este artigo
se propõe a discutir as mudanças ocorridas na educação brasileira, tomando como
parâmetro a Constituição de 1988, que lançou a proposta de edificação de uma educação
multiétnica, de respeito à diversidade cultural e a inclusão. Em decorrência desta, as
171
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Leis, Resoluções e Diretrizes que foram elaboradas no sentido de consolidação da
proposta, a exemplo da LDB/1996, dos PCN‘S, da Lei 10.639/03, da Resolução Nº 1, de
17/06/2004 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana e as Diretrizes em si, todos voltados para a inserção e orientação curricular da
temática em questão. Desse modo, orientadas pela pesquisa documental e bibliográfica,
analisamos o filme Besouro (2009), dirigido por João Daniel Tikhomiroff, a fim de
verificar se este atende as orientações estabelecidas para uma educação multicultural. A
partir da análise apontamos na narrativa a relação com as prerrogativas estabelecidas
nas diretrizes curriculares e a contribuição para a valorização da história e cultura negra
no Brasil. Por conseguinte, a contribuição para a formação de atitudes, posturas e
valores de cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial.
Palavras-chave: Cinema. Educação. Diversidade Cultural e Étnico-racial.
Maria José Soares de Lima
Celestino Castro de Souza
Roberlene Moura de Albuquerque
UEPB
ICONOGRAFIA: REPRESENTAÇÕES TRADICIONAIS E NOVAS PERSPECTIVAS
O presente trabalho tem por objetivo mostrar como se dá o uso da iconografia nos livros
didáticos da disciplina de história, em especial no livro do 7° ano do Projeto Araribá
(2006) por este conter algumas imagens do Pintor Debret, nas quais ele representa os
negros. Objetivamos ainda enfatizar a importância da iconografia como fonte
auxiliadora no processo de ensino/aprendizagem. Ao desenvolver este trabalho temos
como proposta mostrar como os profissionais da educação, em especial os docentes de
história, podem recorrer ao recurso imagético contidos nos livros didáticos para
desconstruir estereótipos de uma história dita cristalizada e acabada, como por exemplo,
a ideia da submissão do negro no período colonial brasileiro. Para fundamentar nosso
estudo utilizamos como recursos metodológicos: BITTENCOURT (2002), CHAUÍ
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
(1981), VAZ; MENDONÇA; ALMEIDA (2001), SCHMIDT (2005) E PROJETO
ARARIBÁ (2006). A partir do estudo realizado, foi possível percebermos que a
qualificação e a metodologia do professor é a ferramenta principal que proporcionará a
diferença na abordagem do uso e compreensão da iconografia, não apenas como recurso
visual, mas, sobretudo, como fonte auxiliadora no processo de formação de uma visão
crítica do aluno.
Palavras- chave: Iconografia. Livro didático. Negro.
Maria Lindací Gomes de Souza
Maria Aparecida Barbosa Carneiro
Patrícia Cristina de Aragão Araújo
Silvano Fidelis de Lira
UEPB
VISUALIZANDO PRÁTICAS SOCIAIS E HISTÓRICAS NO USO DAS TERRAS
QUILOMBOLAS: A QUESTÃO DA HERANÇA E PARENTESCO NA COMUNIDADE DOS
MATIAS DO GRILO – PB
Este projeto se constitui em um recorte de um projeto maior intitulado: ―Nos territórios
de remanescentes quilombolas, redes que tecem a cidadania cultural: territorialidade,
educação, migração e narrativas de vida‖. Que trata da relação entre territorialidade e
migração em comunidades quilombolas, o projeto que conta com o financiamento que
conta do Programa de Incentivo à Pós-Graduação e Pesquisa (PROPESQ) e da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Objetiva-se entender como as comunidades
negras, considerados como remanescentes de quilombos e seus descendentes
mantinham relações de uso e usufruto das terras que habitavam. Nosso propósito é
refletir sobre as dinâmicas das migrações ocorridas e de que modo elas repercutiram
e/ou repercutem sobre as mudanças no entorno da comunidade, como também a visão
que muitos migrantes quilombolas têm da própria comunidade. Discutir como se
processa no contexto dos quilombos os fluxos migratórios, pois nos propicia
compreender a dinâmica migratória ocorrida nos quilombos. Procuraremos perceber as
173
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
mudanças na qualidade de vida dos familiares, principalmente aqueles/as que se
deslocam para o sul do país em busca de melhores condições de trabalho. A partir das
narrativas e das memórias de ex-migrantes, como identificam os migrantes dos
quilombos que retornaram ou que fizeram parte do fluxo migratório rural-urbano.
Buscamos analisar as formas de reprodução das lembranças e sua importância no grupo
estudado, em segundo momento através das memórias dos idosos perceber o sentido e a
questão do sentimento de pertença quilombola e a sua identidade grupal, como ou ainda
as táticas usadas para reforçar os laços de parentesco e a herança entre as famílias.
Palavras – Chaves: Quilombolas. Migração e Territorialidade.
Maria Luíza Assunção Chacon
UFRN
Elementos da literatura afro-brasileira em “Água virtuosa”, de Cornélio Pires
O presente trabalho pretende analisar, levando em consideração aspectos como o
regionalismo, de que forma o conto ―A água virtuosa...‖, presente no livro Conversas ao
pé do fogo (1987) do pré-modernista Cornélio Pires, se insere na chamada literatura
afro-brasileira.
Abordaremos, consequentemente, temáticas como a oralidade, o mito e a contação de
causos, tendo como base teórica alguns capítulos dos livros Introdução à poesia oral, de
Paul Zumthor, Literatura afro-brasileira (2006), organizado por Florentina Souza e
Maria Nazaré Lima e Mito e realidade (1964), de Mircea Eliade.
É facilmente percebida, no conto, a existência de uma linguagem bastante próxima da
fala do homem caipira. Sendo assim, pretendemos traçar paralelos entre essa linguagem
presente na narrativa ―A água virtuosa...‖ e a oralidade presente na cultura africana.
Outro elemento que nos permite pensar a oralidade dentro do conto é a contação de
causo feita por Nhô Tomé, personagem fundamental à narrativa, que se aproxima da
prática dos gritos em suas contações de histórias. O causo, por sua vez, repleto de
simbolismos, justifica a existência das diversas cores de pele, explicando a criação de
uma realidade e se aproximando das noções, ainda que não restritas, de mito.
174
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Maria Regina Alves Dos Reis
Josemir Camilo de Melo
UEPB
Engenho Buraco D’água: estratégias e táticas de uma família negra pela
manutenção do trabalho e moradia
O presente artigo pretende analisar o cotidiano do Engenho Buraco D água (Alagoa
Grande-PB), a partir das primeiras décadas de abolição, através das memórias de uma
descendente de escravos que viveu neste Engenho. Identifiquei evidências da existência
de resquícios de práticas escravistas que se sustentam com base em nova concepção de
relação de poder do senhor de engenho e seus subjugados. A ideologia paternalista que
surge no momento em que os escravocratas enxergaram a evidente crise do sistema
escravista se manteve no pós-abolição, neste engenho. A memória narra formas de
resistência que abriram espaço para algumas concessões. Em meio a essas estratégias de
controle se configuravam as astúcias, táticas (Certeau, 1994), da família negra, tornando
menos difícil a vida dos seus descendentes que mesmo livres continuaram vivendo essa
relação dicotômica. Nesse sentido é necessário compreender como se estabeleciam as
relações entre senhor de engenho e seus subjugados; pensar o sentido de liberdade nesse
espaço, de continuidade escravista, ressignificado a partir da concepção paternalista. A
pesquisa, ainda em andamento, terá também como referencial teórico os conceitos de
agencia e afrocentricidade (Nascimento, 2009). Usarei da história oral, como história de
vida, tendo em vista que as narrativas contribuem para uma (re) leitura das práticas e
das memórias dos afros descendentes.
Palavras-chave: Memória, táticas, afrocentricidade.
Maria Suely da Costa
UEPB
DO PLANO MÍSTICO DO CATIMBÓ AO PLANO ARTÍSTICO-CULTURAL
Em busca de compreender o Brasil, nas primeiras décadas do século XX, os intelectuais
iriam desempenhar, eles próprios, o papel de descobridores. Dentre esses pesquisadores,
175
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Mário de Andrade, no Sudeste, e Câmara Cascudo, no Nordeste, se inscrevem como
intelectuais de grande interesse pela vida e cultura brasileiras. A viagem de turista
aprendiz pelo Nordeste brasileiro representou para o escritor paulista uma porta a
satisfazer à ânsia de mais Brasil. No Rio Grande do Norte, suas pesquisas sobre
aspectos do catimbó o fazem crer na contribuição importante dessa cultura para nosso
folclore e, de outro modo, também aos propósitos modernos da Antropofagia
(ANDRADE, 2002). No livro Meleagro (1978), Câmara Cascudo comenta sobre o
empenho de Mário de Andrade em desenvolver pesquisas nesse campo e sua creditada
importância aos rituais do catimbó. O interesse específico deste trabalho está em
discutir a relação estabelecida entre o ritual do catimbó e a antropofagia, haja vista o
modernista Mário de Andrade ter identificado nesse ritual a expressão de uma prática
antropofágica no sentido mais direto, do sacrifício. Assim também, discutir a respeito da
poesia de Câmara Cascudo, que recria, em ritmos e imagens, a metáfora do grito de uma
raça saudosa da terra mãe, África. Pelas mãos desses dois pesquisadores, têm-se textos
voltados particularmente para as expressões do canto e da dança enquanto significativas
manifestações da cultura afrodescendente, chamando a atenção para as especificidades
da cultura do negro.
Palavras-chave: Mário de Andrade. Câmara Cascudo. Cultura. Negro.
Maria Suely da Costa
UEPB
A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NO CORDEL – LITERATURA PRESENTE TAMBÉM
EM SALA DE AULA
Este trabalho visa expor resultados obtidos com a pesquisa desenvolvida entre 20092010 a respeito da representação do negro em textos da literatura cordel de autoria
paraibana. A proposta de se verificar nas diversas expressões temáticas dessa literatura
popular as formas de configuração da imagem do negro deveu-se ao fato de que, ao se
caracterizar não só por uma riqueza estilística, mas também pelas possibilidades de
debate sobre a nossa realidade social, política e econômica, o texto de cordel tem sido
176
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
instrumento presente também em sala de aula. O aporte teórico da discussão teve por
foco a relação entre literatura, sociedade e representação. Os dados coletados nos
mostram discursos presos a um contexto social marcado pela segregação e preconceitos.
Contudo, foi possível identificar alguns cordéis voltados para a desmistificação de
estereótipos. Com efeito, a contribuição desta pesquisa esteve não somente em registrar
e tornar conhecida uma dada representação, mas principalmente em verificar que, na
condição de instrumento didático-pedagógico, o texto de cordel possibilita que se abra
um leque de discussões e ações a partir da identificação de uma problemática da prática
cultural estabelecida com o afrodescendente, atuante no meio social brasileiro,
singularizada e divulgada através da literatura de cordel.
Palavras-chave: Representação. Negro. Literatura de cordel.
Mariene Queiroga
Luciano Barbosa Justino
UEPB
DEVIR DE GÊNERO E DE IDENTIDADE E SUAS RECUSAS EM UM COPO DE CÓLERA
DE RADUAN NASSAR
As relações de gênero e as construções identitárias que tais relações engendram tal
como têm sido formuladas pelas teorias da pós-modernidade e pelos diversos discursos
advindos na esteira dos estudos culturais precisam ser problematizadas para dar conta de
processos de subjetivação que ultrapassam tanto abordagens centradas nas relações
afetivas tradicionais, ou em suas inversões, como se tem feito hoje, quanto em
processos interpretativos excessivamente identitários. Um copo de cólera, novela de
Raduan Nassar, demonstra como as leituras identitárias e genéricas, fortemente
influenciadas pelos estudos culturais e pelo discurso pós-moderno, são limitadas para se
compreender relações intersubjetivas (BAKHTIN, 2002), humanas em toda amplitude,
nas quais os sujeitos não estão situados em lugares rigidamente demarcados, dos quais
se possa extrair tanto formações identitárias quanto genéricas simples. Cremos que as
próprias noções de identidade, sujeito e gênero são aqui inoperantes. Centrado na
177
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
relação limite entre dois personagens em uma fazenda de algum recanto brasileiro, o
que por si só representa uma amplitude significante, Um copo de cólera instaura o que
podemos chamar de uma semiose fronteiriça, na qual os personagens, os lugares e as
relações entre eles, trocam de posição continuamente e onde não há locações simples
nem estabilidades que possam ser pacificadas. Antes há fortes processos semióticos asignificantes (DELEUZE; GUATTARI, 1994) e traduzibilidades (BHABHA, 1998)
contínuas cujos movimentos instauram devires de toda ordem. Nossa proposta é
analisarmos a novela de Raduan Nassan como uma recusa, sob diversos aspectos
radical, de boa parte das noções correntes tanto dos estudos culturais quanto do discurso
da pós-modernidade, propondo novas maneiras de "ler" as relações intersubjetivas e
seus espaços de vivência e de modos de vida, à luz da semiótica de matriz peirceana de
Daniel Bougnoux (1994) e de John Deely (2002) e da semiótica da cultura de TartuMoscou, aliando-os ao método-rizoma de Gilles Deleuze e Félix Guattari, de tradução
cultural de Homi Bhabha e ao conceito de dialogismo de Mikail Bakhtin.
Palavras-chave: Devir. Gênero. Identidade. Um copo de cólera.
Marília Angélica Braga do Nascimento
UFC
PROVÉRBIOS, ADÁGIOS, DITOS E DITADOS: A ORALIDADE N’O MALHADINHAS
Os estudiosos da obra de Aquilino Ribeiro são unânimes em afirmar o trabalho do autor
com a linguagem e o homem simples. Atentando para esse aspecto, queremos, neste
breve trabalho, apontar índices de oralidade em O Malhadinhas, narrativa publicada em
1922 no volume Estrada de Santiago. Para atingir tal escopo, procuramos fazer um
levantamento de locuções que permeiam a fala de Antônio Malhadas, protagonista da
narrativa, mostrando, ao mesmo tempo, sua visão pragmática do mundo e a realidade do
meio social no qual está inserido. Tais locuções consistem em provérbios, adágios,
rifões e ditados que regem, de certa forma, o comportamento do herói aquiliano. Desse
modo, demonstra-se, através do discurso da personagem, a presença da herança de uma
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
tradição popular que acredita no poder da palavra: ―a palavra como a lança longe
alcança‖.
Palavras-chave: Oralidade. Provérbio. Malhadinhas.
Marília Maia Saraiva
Rosilda Alves Bezerra – Orientadora
UEPB
Diálogos entre Mayombe e A Geração da Utopia, de Pepetela
O trabalho promove um diálogo entre as obras Mayombe e A Geração da Utopia, do
escritor angolano Pepetela, tendo em vista a discussão acerca da formação da identidade
nacional. As obras citadas abordam questões referentes a momentos históricos distintos:
o antes e o depois da colonização portuguesa. Assim, percebe-se a literatura como um
instrumento de recriação dos ideais nacionalistas, cuja nação aspirava pela sua
identificação nacional, étnico e cultural. Fundamenta-se nas teorias sobre identidade e
interculturalidade, comentadas por Stuart Hall, Manuel Castells e Raymond Williams.
Nesse construto, percebe-se que a problemática na consolidação da identidade nacional
angolana rompe as amarras do colonizador e depara-se com uma divisão étnica interna,
que inviabiliza o ideal de nação pós-independência.
Palavras-chave: literatura africana, identidade e interculturalidade.
Maríllia Pereira Gonçalves
UnB
História e Importância da Tradição Oral para a Educação das Relações Raciais
Este artigo partiu de inquietações referentes à presença do racismo no ambiente escolar
e foi realizado com o propósito de pensar novas metodologias de ensino que visem à
valorização de todas as crianças e jovens nos ambientes educativos. Tomei como base
para tal, um projeto do Ministério da Cultura com a Pedagogia Griô de Líllian Pacheco,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
que utiliza a Tradição Oral como instrumento de valorização da cultura e de todos os
povos que fazem parte da cultura brasileira, principalmente a cultura afro-brasileira.
Partindo da Tradição Oral africana é possível estabelecer relações igualitárias de
construção de identidade e de ensino-aprendizagem significativos na educação brasileira
para todas as crianças e jovens principalmente àqueles que são marginalizados (as) e
excluídos (as). A construção deste artigo se deu a partir de uma experiência realizada
em uma escola do Distrito Federal, na Região Administrativa de Ceilândia, onde as
pessoas mais velhas da comunidade escolar participaram como mestres Griôs de acordo
com a tradição e trabalharam, a construção de valores, de identidade e de cidadania com
os jovens da referida escola. Apesar dos percalços pelo caminho o trabalho foi bem
desenvolvido e bem aceito pelos estudantes, que se sentiram privilegiados por fazerem
parte deste projeto. Para a escola fica a responsabilidade de repensar suas ações e
trabalhar de forma mais comprometida com o que é solicitado nos artigos 26 A e 79 B
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Palavras-chave: Relações raciais; Educação; Valorização; Identidade; Oralidade.
Marinaldo José da Silva
Entre Encantos da Jurema: Cocos e Festa no Quilombo do Catucá
A proposta é mostrar parte do universo da brincadeira dos cocos enquanto manifestação
da cultura popular, por meio de pontuações entre o oral e o escrito. ―Trata-se de uma
festa em homenagem ao Mestre Malunguinho, líder negro que se elevou à divindade na
Jurema Santa e Sagrada, assumindo a patente de Rei da Jurema firmando-se na tradição
oral e teológica do Nordeste como lutador e defensor espiritual, posto este que o
diferencia de Zumbi dos Palmares que não ―baixa‖ nos terreiros, mas que os une
enquanto personagens imprescindíveis nas lutas históricas negras por liberdade
nacional‖. Objetiva-se dar continuidade aos estudos dos cocos no Nordeste, em especial
na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, no que diz respeito à brincadeira que
transita na fé (ou a fé transitando na brincadeira dessa manifestação cultural?).
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Desta forma, é importante dizer que a performance é puramente corpo e voz que ressoa
o substrato poético nas brincadeiras populares, e principalmente nas danças dramáticas e
religiosas. Neste caso, é de nosso interesse circular entre crenças e brincadeiras dos
cocos de roda e de gira, seja da Jurema Santa e Sagrada, seja apenas na brincadeira de
rua, juntos com alegria e devoção e mostrar a expressividade dos ‗brincantes‘ no que se
refere às manifestações culturais do Nordeste.
Palavras-chave: linguística e literatura; oral e escrito; brincadeira do coco; religiosidade
popular.
Marisa da Silva Neiva Ferreira
Mitologias dos orixás, os terreiros de candomblé
tolerância religiosa
Um trabalho que tem como finalidade atingir as comunidades de terreiros e o público
em geral que a ele possam ter acesso da mudança de paradigmas que vem acontecendo
em algumas localidades e que pode servir de instrumento para novos processos.
A mitologia do orixá e até mesmo os terreiros sofreram ataques de toda a forma
possível, e isto não é de agora. È a resistência de sacerdotes e sacerdotisas de
candomblé que foram perseguidos desrespeitados e até presos. Ainda hoje a mídia traz
fatos relacionados á discriminação e intolerância. Situações esta que aconteceu no
próprio berço das matrizes africanas, que se não atentarmos em breve estarão de volta á
criminalização dos cultos, fatos graves estão acontecendo sem uma atitude do poder
público, desobediência total a constituição federal e o Estatuto da Igualdade Racial, que
garante este direito. Não venho revelar fundamentos de terreiro, mas solicitar respeito.
Não deixar que a violência e a incerteza nos exterminem. È um relato de experiência, a
busca da de novos métodos de combate a este tipo de comportamento, mostrar que os
terreiros existem e tem sua diretriz e é religião. Isto é como uma chamada para uma
nova postura em relação aos fatos e que não devemos ficar somente na palavra, mas
ações afirmativas. Uma conscientização de nossa obrigação e zelo pelo legado que foi
nos deixado por nossos ancestrais e pela sua luta. Como dizia Pierre Verger: ―O
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
candomblé sobrevive até hoje porque não quer convencer as pessoas sobre uma verdade
absoluta, ao contrario da maioria das outras religiões.‖
Palavras-chave: Mitologia, Terreiros, tolerância.
Marluce Pereira da Silva
UFPB/UFRN
VIDAS NARRADAS, HISTÓRIAS VIVIDAS:
projetos identitários de uma mulher negra
Na pesquisa, em desenvolvimento, analisa-se a produção de sentidos na autonarrativa de
uma professora negra ao construir seus projetos identitários concernentes à trajetória
escolar e profissional, aos arranjos afetivo-conjugais face ao seu pertencimento racial.
Define-se como questão norteadora da discussão: em que medida, a docente assume
posicionamentos discursivos que refletem a interação entre seus anseios pela liberdade
individual e/ou a segurança que a comunidade (BAUMAN, 2003) oferece. Utilizam-se
como dispositivos analíticos as teorizações foucaultianas, em especial, noção de práticas
de liberdade e de jogos de verdade. Concluiu-se que a docente, em seus roteiros
autobiográficos, se muniu de estratégias que traduzem batalhas por ela travadas ao
construir seus projetos identitário, à medida que institui uma história de vida traduzida
por efeitos que contradizem discursos que a história reservou a negros/as.
Palavras-chave: mulher negra, identidade, discurso, arranjos afetivos conjugais.
Marta Aparecida Garcia Gonçalves
UFRN
FLORA GOMES E A ESSÊNCIA DA IGUALDADE
Busca-se refletir sobre os conceitos de política da escrita e de partilha do sensível na
produção cinematográfica do cineasta Flora Gomes buscando mostrar que ―a essência
da igualdade não deve ser procurada na unificação equitativa dos interesses, mas nos
atos de subjetivação que desconfiguram a ordem do sensível‖.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Matheus Silveira Guimarães
UFPB
Relações sociais de compadrio: análise dos registros de batismo das populações
negra e branca da Parayhba (1851-1860)
O batismo é um dos mais importantes sacramentos da Igreja Católica. Este sacramento
era fundamental no Brasil oitocentista, como uma maneira de inserção na vida social, o
que levava a maioria das pessoas nascidas no país a se batizarem. Aliado a isso, no
século XIX, o Brasil não possuía registros civis de nascimento. O controle de registrar a
natalidade ficava a cargo da Igreja Católica. Muitos desses registros de batismo foram
conservados e encontram-se sob a guarda dos arquivos eclesiásticos. Neles podemos
identificar várias informações como nomes do pai, da mãe, do padrinho e da madrinha,
as condições jurídicas e sociais dos envolvidos, além de suas origens etnicorraciais.
Todos esses fatores nos levam a considerar que os assentos de batismo são fontes
fundamentais para o estudo da sociedade brasileira oitocentista. O objetivo deste
trabalho é compreender a função social que o compadrio, por meio do batismo, assumiu
na cidade da Parahyba do século XIX. Dessa forma, utilizamos os assentos de batismo
da Freguesia de Nossa Senhora das Neves entre os anos de 1851 e 1860.
Apresentaremos, separadamente, o compadrio entre a população negra (cativa e nãocativa) e a população branca. Por fim, iremos comparar ambas e apresentar como o
batismo assume importante papel nas estratégias de inserção de pessoas que viveram na
sociedade escravista.
Palavras-chave: Compadrio; Sociedade escravista; Parahyba.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Mércia Maria de Santi Estácio
Maria do Livramento M. Clementino – Orientadora
Adriana Aparecida de Souza
José Willington Germano – Orientador
UFRN
BRASIL PÓS-COLONIAL: DIÁLOGOS E REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS
EDUCATIVAS DA INFÂNCIA
Neste texto, abordamos aspectos sociológicos e históricos da infância e da educação no
Brasil pós-colonial, refletindo sobre o preconceito, a violência e o racismo destilado
sobre os afro-descentes, as minorias e as crianças pobres. Destacamos pensadores,
filósofos, educadores, biólogos, psicólogos e escritores que pesquisaram e produziram
sobre a infância e a educação no país para apresentarmos como vem acontecendo a
construção social da infância e da educação no contexto histórico e sociológico
brasileiro. É nosso objetivo também dialogar sobre a relação existente entre violência,
preconceito, racismo, educação e infância nesse período, sinalizando aspectos que
merecem destaque e discussão numa perspectiva pós-colonialista. Nossa metodologia
está pautada numa espécie de revisão bibliográfica, por esta proporcionar condições
reflexivas sobre a condição da infância, bem como seu processo educacional no
contexto brasileiro para assim, compreender as relações de violência existentes nestas
interfaces. Propomos-nos, portanto, a apresentar um texto fundamentado sobre os
aspectos já sinalizados, buscando na literatura indícios que possibilitem o diálogo com a
cultura como elemento chave da construção da identidade de um povo que se constituiu
multiculturalmente no entrelaçamento cultural de brancos europeus, negros africanos e
índios brasileiros.
Palavras-chave: Infância. Racismo. Educação. Cultura.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Micaela Costa
Ana Carolina da Costa Honório
UFRN
O RACISMO, SEXISMO E OUTROS PRECONCEITOS TEMPERADOS PELA SÁTIRA:
Uma análise da manifestação das opressões em espaços de humor e piadas
Este trabalho é uma análise de como o humor, através de piadas e sátiras, pode
perpetuar manifestações da opressão contra as classes sociais pauperizadas, em especial
negras (os), mulheres e homoafetivas (os). Para tanto, consideramos a conjuntura em
que estão inseridos estes sujeitos, o papel da mídia na popularização e legitimação das
formas de humor opressoras, as consequências deste processo na naturalização do
preconceito e, por fim, a importância da criticidade e reflexão ética no combate às
variadas formas de discriminação, ressaltando aspectos particulares do contexto
brasileiro enquanto uma cultura fortemente influenciada pelas matrizes africanas. Esta
análise é baseada em acompanhamento e observação crítica de seriados humorísticos,
sites e piadas, referenciais bibliográficos e discussão sobre o tema. A importância e
pertinência deste tema na atualidade pode ser utilizado e trabalhado como ferramenta
para a construção de um pensamento crítico sobre o humor opressor, na criação de uma
moral libertária e igualitária, alternativa em meio a uma sociedade racista, machista e
homofóbica.
Palavras-chave: Racismo; Sexismo; Humor; Opressão; Ética.
Moama Lorena de Lacerda Marques
IFRN/UFRN
Os contos de Mia Couto e a Literatura moçambicana: Narrativas em/de trânsito
Embora tenha se constituído tardiamente, já que, na gênese da literatura moçambicana,
a poesia era o gênero por excelência, a prosa de ficção em Moçambique, que só começa
a ganhar corpo a partir da independência do país, na década de 70, ganha cada vez mais
destaque na contemporaneidade, em especial o conto, a exemplo das narrativas de Ba
Ka Khosa, Marcelo Panguana, Suleiman Cassamo e Mia Couto; este último, foco do
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
nosso estudo. Autor muito reconhecido, em especial, por seus romances, também
produz narrativas curtas, a exemplo de livros como ―O fio das missangas‖, ―Estórias
Abensonhadas‖, ―Vozes anoitecidas‖, ―Cada homem é uma raça‖, ―Contos do nascer da
terra‖, ―Cronicando‖, entre outros. Estas narrativas, escritas em uma linguagem marcada
por uma grande inventividade lexical, similar a do escritor brasileiro João Guimarães
Rosa, são sempre constituídas por personagens marginalizados, a exemplo de velhos,
mulheres e crianças, e se desenrolam na fronteira entre o sonho e a realidade, a
oralidade e a escrita, a tradição e a modernidade. São, justamente, essas dualidades, a
ideia de uma literatura em trânsito, que centralizam as nossas discussões. Como fonte
teórica, utilizamos os trabalhos de Maria Fernando Afonso, Carmem Lúcia Tindó
Secco, Maria Nazareth Fonseca, Maria Cury, Inocência Mata, Ana Mafalda Leite e
outros estudiosos das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.
Palvras-chave: Conto moçambicano; Literatura em trânsito; Mia Couto.
Monaliza Rios Silva
UFPB
Sula Peace porNel Wright: nos caminhos do narrador per(re)verso na diáspora em
Toni Morrison
Esta pesquisa busca analisar a constituição oposta das personagens Nel Wright e Sula
Peace do romance Sula (1973), da autora afro-americana Toni Morrison. Espera-se
apresentar um caráter binário na configuração das personagens citadas, a partir da visão
do narrador. Desta forma, através da apresentação de alguns aspectos identitários na
narrativa, percebe-se a apropriação de um território de negros, circunscrito na primeira
metade do século XX nos EUA. Segundo Anyndio Roy (1995), o perfil do sujeito em
diáspora, num contexto de descolonização e neocolonialismo, está progressivamente
sendo circunscrito e reificado na/pela nova identificação de ―lar‖ e de ―localidade‖.
Sendo assim, ao mostrar a constituição binária das duas personagens em questão, o
narrador inscreve a identidade de duas mulheres negras numa ambiência de localidade
(home) na época mencionada.
Palavras-chave: Literatura Afro-americana. Identidade. Diáspora.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Morgana Lobão dos Santos Paz
Tânia Lima - Orientadora
UFRN
A liberdade que sonhava crioulidade
O presente artigo tem como principal objetivo analisar um dos contos mais
representativos da cultura africana: O Embondeiro que Sonhava Pássaros, de Mia
Couto. Esse conto lembra um pouco do que é feito o tear da oralidade. Parece que a voz
salta do ouvido para alcançar o primeiro som livre dos passarinhos. Sabe-se pouco das
coisas em África. Compreende-se a Voz como linguagem entrelaçada à literatura e não
paralela. A Voz que se faz pele advinda com os Tambores do Maranhão traz um pouco
desse registro. A palavra África, nesse conto Coutiano, é permeada por crioulidades
híbridas. Crioulidade esta percebida como ação que busca se libertar de toda opressão
advinda com o colonizador. Falar do passarinheiro é falar de nossa gente acendendo
fogueiras ao redor do ato de contar. Talvez por isso seja tão encantador o desafio de
discorrer sobre essa África que ora parece tão longe, sendo fisicamente outro continente,
mas que em verdade habita em nós. Falar do silêncio desses contadores também para
nós, povos advindos do legado da escrava servidão, não é nada fácil. Sobre esse silêncio
todo é que se faz importante agora falar. E sem muita paciência para tanta teorização,
mas reconhecendo sua importância para tessitura do texto, analisaremos o ―Embodeiro
que Sonhava Pássaros‖ sob a ótica dos seguintes teóricos: Édouard Glissant e Frantz
Fanon no campo da crioulização e Hampate-Bá junto a José Lourenço do Rosário no
que concerne à oralidade. Elegeremos como enfoque a voz da narrativa para revisar a
linguagem pelo que ela tem de canto negro, de som da pele, de escrita étnica. Tudo
nesse conto nos remete aos pés pretos atolados nos terreiros de barro, nas raízes
espirituais de um embondeiro. O que cabe na escrita de todo bom contador tem licença
poética: ―A minha raça sou eu, João Passarinheiro. Convidado a explicar-se,
acrescentou:- Minha raça sou eu mesmo. A pessoa é uma humanidade individual. Cada
homem é uma raça, senhor polícia‖.
Palavras-chave: Oralidade, Africanismo, Crioulidade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Murilo de A. Alchorne
UFPE
Encruzilhadas das Raças: Jurema, Candomblé, identidade racial e nacional
(1930-1950)
O culto religioso da Jurema Sagrada está extremamente ligado à complexa construção
histórica e sociológica da identidade nacional, principalmente em relação à questão da
mestiçagem e dos lugares que o ―mestiço‖, ou culturas ―mestiças‖, que nela ocupam
Nosso interesse recai sobre o contexto urbano recifense entre os anos 1930-1950,
período em que houve um grande impulso aos estudos sobre as religiões afrobrasileiras, e às teorias da mestiçagem, no entanto a Jurema não era reconhecida pelos
pensadores sociais. O que se revela mais problemático é que tanto nos discursos dos
dirigentes juremeiros quanto dos folcloristas, antropólogos e sociólogos do período, é
que a Jurema Sagrada é considerado um culto sincrético, resultado da síntese das
culturas religiosas indígenas, européias e negras, da própria dinâmica da miscigenação.
Contudo, ao mesmo tempo em que reconhecem a mestiçagem como elemento
característico nacional, identificada com uma construção singular que não reconhecia as
diferenças raciais como signo de divisão social e econômica, quando se trata dos
estudos das ―religiões afro-brasileiras‖, nota-se outra tendência, a da polarização: uma
no sentido do branqueamento, no qual a Jurema Sagrada é analisada através de uma
depuração dos elementos ―mestiços‖ e indígenas que só aparecem como condição de
possibilidade a partir da cultura branca européia colonizadora, outra no sentido da
africanização, que passa a analisar a Jurema Sagrada como um culto degenerado em
relação ao Candomblé, este, visto como um espaço de pureza e continuidade das
tradições africanas.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Mylena Alves de Souza
UEPB
Maracatu: da perseguição à espetacularização
Enfoque a partir da comparação entre dois fazeres
Em Pernambuco encontram-se, entre suas manifestações culturais, os maracatus nação
ou de baque virado; os maracatus de orquestra ou de baque solto, ou rural; e os
maracatus recriados ou para-foclóricos, que é uma recriação dos nação e, entre outras
razões, por não estarem vinculados diretamente à religião afro-brasileira, como os
outros, não são considerados tradicionais.
Este trabalho tem por objetivo compreender a trajetória histórica dos maracatus nação
com o fazer maracatu na contemporaneidade, contrapondo e contextualizando suas
dinâmicas e suas relações com a sociedade desde quando suas práticas passaram a
compor fontes escritas, no século XIX, até o momento atual.
Procuro entender o processo pelo qual o maracatu nação deixou de ser marginalizado e
perseguido para ser aplaudido por boa parte da sociedade pernambucana e a atuação
protagonista dos maracatuzeiros nesse processo. Para tanto, analiso dois maracatus - o
Nação Raízes de Pai Adão, tradicional, e o Várzea do Capibaribe, recriado – na
tentativa de conhecer especificidades e identificar fronteiras.
Trata-se de texto ainda inconcluso, em razão de se tratar de pesquisa em andamento, no
curso de especialização em História e Cultura Afro-brasileira, da UEPB, no qual sou
aluna.
Nélson Barbosa de Araújo
UFPB
O SUJEITO DISCURSIVO: LINGUAGEM, ORALIDADE E MEMÓRIA NA POESIA DE
ZÉ DA LUZ
O presente trabalho constitui uma análise sobre o poema do poeta paraibano Zé da Luz,
intitulado Cunfissão de Cabôco, cuja narrativa serve-se da linguagem popular sertaneja,
para evidenciar questões relevantes da realidade social nordestina, como: analfabetismo,
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
violência, alienação, ignorância machismo e autoritarismo. Nesse panorama, sobressaise um discurso fundamentado na memória, identidade e oralidade, apresentando uma
trama narrativa cujos valores são aqui estabelecidos a partir dos postulados teóricos de
autores como: Foucault, Le Goff, Orlandi, Marx, Chauí, Bakhtin, Zumthor e outros. Na
assimilação desses olhares, o texto focaliza a necessidade de uma revolução educativa
envolvendo educadores, artistas, cientistas e pesquisadores em geral. Esta seria uma
alternativa para que a sociedade, representada pelos sujeitos atores em ação nessa peça
literária, pudesse adquirir e posicionar escudos contra o esmagamento que o sistema
capitalista executa contra sociedades desprotegidas, que ainda vivem acorrentadas,
cometendo crimes hediondos.
Palavras-chave: Linguagem. Oralidade. Memória.
Orlando Brandão
UFRN
NO CANTO DO MANGUE BEAT
Neste trabalho nos propomos a analisar a poética scienciana no CD Afrociberdelia
(1996) e suas contribuições para a literatura afro-brasileira, bem como para a música
popular brasileira. O mangue beat surge no cenário pernambucano durante a ebulição
multicultural dos anos 90, no idioma dos homens-caranguejos de Chico Science e
Nação Zumbi (CSNZ). Entendemos que a figura do ―canto do mangue‖, colocada no
título deste trabalho, não só representa um espaço geográfico localizado, também, no
município de Natal (RN), como é um lugar imagético-discursivo, uma cultura. Dessa
forma, elencamos três objetivos, que nortearam as análises deste trabalho: (i) organizar
uma espécie de travessia literária das representações do mangue como o entre-lugar de
estilos culturais afrociberdélicos, da cena recifense, bem como das cenas glocais
(AGUIAR, 2010); (ii) propor um diálogo entre literatura e música, em que
observaremos a poeticidade acústica da voz (ZUMTHOR, 1997); (iii) apresentar uma
breve conversa entre a estética scienciana com a cena musical norte rio-grandense.
Desse modo, orientados pelas leituras de LIMA (2007), de VARGAS (2008), de
190
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
BACHELARD (1974), de DELEUZE (1991) e de HALL (1998), apresentamos uma
leitura do mangue como espaço metafórico de uma cultura híbrida, no não-lugar dos
discursos sonoros.
Palavras-chave: afrociberdelia, literatura, cultura híbrada, música.
Osvaldo Barreto Oliveira Júnior
Edna Maria de Oliveira Ferreira
Urbano Cavalcante Filho
IFBA
PRÁTICAS DISCURSIVAS SOBRE AS CULTURAS AFRICANAS
NA LITERATURA BRASILEIRA
Resumo: Este artigo discute o olhar branco sobre as culturas africanas, problematizando
as formas discursivas que evidenciam o preconceito contra sujeitos representativos da
cultura negra no Brasil. Para isso, põe em evidência dois textos de projetos literários
distintos - O cortiço, de Aluísio de Azevedo, e Leite Derramado, de Chico Buarque com o intuito de analisar as formações discursivas que exemplificam a discriminação e
o preconceito contra o negro nessas duas obras, bem como evidenciar as funções sujeito negro e sujeito branco - nelas concretizadas. Essa análise instaura-se nas
proposições da terceira fase da Análise do Discurso (AD), visando à reflexão sobre as
formações discursivas e os modos de funcionamento do discurso que desvelam um
olhar enviesado sobre o negro nos interdiscursos concretizados nas obras literárias em
análise. Toda essa discussão fundamenta-se nos estudos de Fernanda Mussalim (2004),
Maingueneau (2008) e Orlandi (2005) sobre os pressupostos teóricos e analíticos da
terceira fase da AD, para, além de buscar bases sólidas para uma leitura interdiscursiva
sobre formas de preconceito e discriminação no texto literário, suscitar reflexões sobre
as nuances da violência discursiva, colocando em debate os estereótipos que se
originam desse tipo de violência.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Ozaias Antonio Batista
MEMÓRIA E CONSTRUÇÃO LITERÁRIA EM MEUS VERDES ANOS
José Lins do Rego se consagrou como um dos principais autores que retratou o universo
rural brasileiro vivenciado nos engenhos e nas casas-grandes, delineando em seus
romances os arquétipos inerentes à realidade que experienciou – senhores de engenhos,
trabalhadores do eito, negras de amor livre, meninos da bagaceira. Diante disso, o modo
de sua construção literária toma como base os momentos que constituíram sua história
de vida, sobretudo, em sua infância, retratada em Meus Verdes Anos (1956). Sendo
assim, o presente trabalho adota como material empírico as experiências retratadas por
José Lins do Rego no livro supracitado, objetivando compreender como a memória –
entendida enquanto elemento que nos possibilita identificar certa dialética na relação
entre indivíduo e sociedade – oportunizou a construção literária de Rego, marcada pela
dor, pelo sofrimento, pelos prazeres e pelas ausências. Metodologicamente, o trabalho
segue os padrões exigidos em uma pesquisa de cunho bibliográfica, na qual a vigilância
epistemológica deve estar acompanhando as leituras do material escolhido para estudo.
Utilizando como ferramenta teórica a noção de memória (BOSI, 1987) como uma
possibilidade de reviver o passado através da lembrança. O estudo apontou, em linhas
gerais, a possibilidade de estabelecer uma interlocução entre a noção de memória aliada
às peculiaridades presentes nas obras de Rego, onde autor e obra se confundem em
determinada circunstância. Sendo assim, Rego pode escrever sobre o universo senhorial
com tamanha propriedade porque ele tinha dentro de si tal realidade, ou seja, ele viveu
de forma singular tal contexto sócio-cultural.
Palavras-chave: José Lins do Rego. Memória. Construção literária.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Patrícia Cristina de Aragão Araújo - UEPB
Maria Lindaci Gomes de Souza - UEPB
Margareth Maria de Melo - UEPB/UERJ
A CULTURA AFRO-BRASILEIRA E SUAS REPRESENTAÇÕES NA ESCOLA:
DA PRÁTICA DO/A PROFESSOR/A À VISÃO DE ALUNOS/AS
Este trabalho busca identificar e analisar a inserção da cultura afro-brasileira em escolas
de ensino fundamental e médio da rede estadual, com o intuito de observar se a esta
empreende, através de seus docentes, uma prática de educação anti-racista,
contemplando nos conteúdos escolares discussões acerca da história e cultura africana e
afro-brasileira em conformidade com a lei 10.639/2003, hoje 11.645/2008, propiciando
uma ação educativa que trabalhe com a diversidade étnico-racial e as diferenças
culturais no ambiente escolar entre seus discentes. Analisar a inserção dos conteúdos
relativos a cultura afro-brasileira e o modo e forma pela qual ela é visualizada entre
professores/as e alunos/as é a proposição que delineia este estudo. Partindo dessa
investigação busca-se entender a percepção da cultura afro-brasileira por diferentes
segmentos étnico-culturais que compõem o espaço escolar. Considerando tais
perspectivas, delimitamos nossa opção metodológica que é trabalhar a história oral
temática em interface com a etnografia como aporte, através da aplicação de entrevista,
questionários nas escolas públicas pleiteadas para pesquisa no sentido de apreender,
nestas, suas opiniões no que se refere às questões que aludem à cultura afro-brasileira.
Além destes instrumentais de pesquisa, faremos uso de textos didáticos, literários,
documentários, paradidáticos, músicas e acervo de instituições culturais e secretarias de
educação e cultura. Os dados obtidos na pesquisa nos permitem sinalizar os fios
condutores que tecem a percepção da cultura afro-brasileira a partir da escola,
possibilitando-nos compreender os olhares tecidos para a cultura do povo negro e como
esta propicia uma dimensão importante de ser inserida no mundo de educar, tendo em
vista uma aprendizagem significativa mediante a articulação entre educação e a cultura.
Palavras-chave: Educação. História. Àfrica. Cultura Afro-Brasileira. Representação.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Patricia Gomes Germano
SEEC-PB
QUANDO O MITO ENTRA EM CENA: PERCURSOS DE OXALÁ NA OBRA
“O SUMIÇO DA SANTA” DE JORGE AMADO
Os terreiros de candomblé podem ser compreendidos como espaços de resistência, ou
mesmo de ―resiliência‖ da diáspora africana cuja transculturação se dá através das
vivências interconexas entre práxis religiosas entrecruzadas (HALL, 2005). A literatura,
lócus polifônico (BACKITIN, 2002) construtora e refratária das relações humanas,
tematizou/tematiza, de modo diverso, os aspectos cosmogônicos desta sacralidade e,
notadamente em territórios nos quais o modus operandi do povo de santo encontrou
condições para se desenvolver, para se fortalecer, os textos literários ali ambientados ou
produzidos por autores-atores dessas sacralidades (quer de modo engajado ou
meramente observador) mostram-se como determinantes para divulgar, apoiar,
construir-desconstruir estereótipos em relação aos ritos praticados por tal sacralidade.
Pela leitura do texto literário e com fulcro nas reflexões de Bastide (2000), Prandi
(2001, 2005) e Capone (2004), entre outros, o intuito deste ensaio é observar a
reencenação do mito de Oxalá desenvolvida no romance amadiano ―O Sumiço da Santa:
uma história de feitiçaria‖ (1999) a fim de analisar como a narrativa reconstrói, explica
e revitaliza o mito do Òrìsà Funfun através dos percursos realizados pela personagem
Manela em suas aventuras pela cidade da Bahia de São Salvador à época da concorrida
festa do Senhor do Bonfim.
Palavras-chave: Sagrado, Orixá, Oxalá, Jorge Amado.
Paula Regina Bezerril Souza
UFRN
A Imagem do negro no livro Adagiário Brasileiro, de Leonardo Mota
Abordo neste artigo como era concebido no imaginário popular o negro através dos
chamados adágios, parêmias ou ditados populares, segundo o livro Adagiário Brasileiro,
de Leonardo Mota. Apresenta, inicialmente, a sociedade brasileira como de caráter
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
multiétnico, devido não só à miscigenação, mas a uma enunciação que reproduz
intercâmbio e conflito sociais. Questiona à forma como os indivíduos na sociedade,
analisados à luz da Análise do discurso, se posicionam em relação ao outro, no caso
deste estudo, ao negro, usando-se para isto de ideologias discriminatórias alicerçadas no
senso comum de um discurso étnico nos recintos da cultura popular. Realiza breve
estudo acerca da paremiologia e do negro. Mostra a construção da imagem deste por
meio da representação no adagiário e como tal figura é corrompido em termos estéticos,
psicológicos, culturais e sociais, reflexo de um passado de escravidão, o que continua na
atualidade, sob o escudo do mito da democracia racial de nosso país. Conclui
apresentando o negro como alguém que deve se assumir e se afirmar, através de sua
personalidade ou através de sua formação cultural e social, pela busca de verdades e
valores que se contraponham vigorosamente aos estereótipos e preconceitos ainda
vigentes nas atitudes de muitos brasileiros, para que, desta forma, torne sua
representação positiva, por meio do discurso ou pelo respeito com a pessoa negra, no
intuito de construir uma nação verdadeiramente democrática.
Paula Regina da Silva Duarte
Fernanda Hingryd da Silva
A inserção da formação discursiva nos ditados populares
Este artigo baseado pela Análise do Discurso de linha francesa, pretende analisar as
possíveis formações discursivas que se apresentam de forma embutida nos ditos
populares ou provérbios, levando em conta que as formações discursivas provem das
formações ideológicas que por sua vez, estão inseridas na atmosfera social.
Considerando os ditados populares como discursos, e assim ante uma perspectiva
discursiva a mesa concebe a linguagem como um processo em constante funcionamento
gerado a partir de condições de produção, ou seja, do contexto sócio histórico. Visa-se
assim, compreender os ditados populares que trazem em sua origem discursiva uma
formação ideológica de cunho machista, bem como aqueles que apresentam um
conteúdo discriminatório quanto á cor (racial) de espécie humana, ambas as
perspectivas se apoiam numa concepção preconceituosa. Para isso, a pesquisa se apoiará
195
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
a luz dos estudos de teóricos como Maingueneau (1997), Gregolin (2002), Vieira (2002)
dentre outros. Vale salientar que os ditados populares encontram uma certa dificuldade
conceitual, uma vez que este gênero discursivo tem sua origem exclusivamente
desenvolvida na criatividade popular, assim o corpus de análise será coletado via
internet ou mesmo através da tradição oral veiculada em meio ao uso da sociedade
cotidiana.
Palavras-chave: Análise do discurso, Formação discursiva, Formação ideológica,
Ditados populares.
Paulo Sergio dos Santos
UFPB
O muro como tela: Análise do graffiti na cidade de João Pessoa
Foi nas paredes das cavernas onde se iniciou uma forma de se expressar que utilizava
como principal ferramenta a imagem para passar algum tipo de mensagem, no decorrer
da história o homem deixou as cavernas e passa a viver em conglomerados de
edificações, que se tornaram nas cidades de hoje. Neste ambiente urbano, existem
sistemas peritos que nos direcionarão para sabermos aquilo que entra ou não dentro da
categoria de arte, devendo se situar em determinados locais como galerias e museus
para serem legitimadas.
Certos indivíduos não se encaixam dentro destes sistemas, passarão a renegar estas
―imposições‖, eles se utilizam de outras plataformas para exprimir, e expor as suas
produções, fazendo com que suas obras se relacionem de forma direta com a sociedade.
É caso do graffiti que dentro do cenário urbano, se apropria de certos espaços como
suporte para a inserção de imagens artísticas.
Este trabalho analisa como acontece a manifestação do graffiti na cidade de João
Pessoa, quais foram os seus precursores e como ela se encontra hoje, observando os
aspectos de sociabilidade, de sentido da produção e aspectos sociológicos que envolvem
esta manifestação, como a relação entre artista e sociedade e vice e versa, como se da à
relação entre arte e cidade e como o artista se comporta dentro do contexto urbano, e
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
observado que a arte é uma forma de comunicação, de linguagem e como tal se faz
presente no nosso dia a dia muito mais do que imaginamos.
Pedro Fernandes de Oliveira Neto
UERN
MIA COUTO E O ESPAÇO DA INTERDIÇÃO, LER O FIO DAS MISSANGAS
Este trabalho parte da observação de que nas literaturas africanas de expressão
portuguesa há um número significativo de escritores que na sua produção literária
estabeleceram eletivamente o espaço, seja físico e/ou subjetivo, como elemento que,
pelo sentido e significação, opera como categoria importante na construção da narrativa.
Não obstante o modo diversificado como que é tratado, o espaço ficcional tornou-se
fundamental às diversas discussões contemporâneas, como a relação entre identidade e
alteridade, o hibridismo, a desterritorialização, a migração e a imigração, a
multiculturalidade, a violência, as esquizofrenias e transmutações subjetivas. O livro de
contos O fio das missangas, de Mia Couto, é exemplo. A análise das narrativas que
compõem este livro recupera que em sua grande maioria o espaço ficcional se mostra
como uma miniaturização física (de Moçambique? dos guetos urbanos?) e/ou subjetiva
(de seus habitantes? dos habitantes do mundo?). Em muitas, o funcionamento dos
sujeitos carregam uma profunda sintonia com a espacialidade na qual estão inseridos,
indo desde uma aprovação eufórica à uma completa rejeição à ordem espacial que
vivenciam. O elo – ou o fio – que une esses pólos está num elemento aqui entendido
como ―interdição‖ – que ora se apresenta como interdição geográfica, ora histórica, ora
social, ora psicológica, ora discursiva. A partir dessas constatações é que se forma a
proposta deste trabalho que é o de uma leitura das narrativas d'O fio das missangas
tomando como matéria de observação a categoria de espaço e nela o elemento da
interdição a fim de entender como se constrói tal categoria e tal elemento e o que eles
significam/representam na construção das narrativas.
Palavras-chave: O fio das missangas. Espaço ficcional. Interdição.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Pedro Vítor Gadelha Mendes
UFC
Pouco Colonialismo, Muita Colonialidade: A Construção de uma
Ausência Negra no Ceará
O racismo brasileiro é um reflexo dos rumos tomados pelo escravismo criminoso em
âmbito nacional e pelas políticas públicas racistas e segregacionistas que se seguiram
após o seu término. No entanto, o escravismo criminoso e as políticas racistas não
atuaram homogeneamente em todo o território brasileiro. Cada localidade construiu o
seu racismo com detalhes e peculiaridades sincronizadas com o seu histórico de
opressão racial, diversificando-se, portanto, da estrutura de um racismo brasileiro geral.
A pesquisa foi motivada pela desconstrução do senso comum que apregoa a não
existência de racismo no Ceará, levando à concepção de um pós-colonialismo situado
deste Estado. O presente trabalho busca mostrar que fatos históricos podem ter
contribuído para a formação de um sistema racista tipicamente cearense. Para o
desenvolvimento desse artigo se abordou livros sobre o colonialismo e o escravismo no
Ceará em diálogo com autores pós-colonialistas. Além da bibliografia foram realizadas
entrevistas com pesquisadores da questão racial deste Estado. A realização dos estudos
indicou que o racismo no Ceará foi construído, principalmente, pela colonialidade
presente no modelo nacionalista da elite local, o que criou um formato de identidade
cearense negadora da contribuição e presença afro-descente. Atuando por meio de
gradações, o racismo cearense se identifica pela negação à identidade negra, se valendo
de estratégias discursivas branqueadoras das identidades, ao passo que discrimina e
marginaliza a população negra cearense.
Rafael Jose de Melo
COMIDAS DE SANTO: OFERENDAS PARA EXU
Nos mitos que caracterizam e delineiam os Orixás e suas ações estão presentes as
necessidades de serem feitas oferendas. A comida, neste caso, sagrada, simboliza o axé
e a concretização do diálogo entre os humanos e estes deuses. Ela é, nos terreiros
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
brasileiros, um dos componentes da fonte da tradição oral que reatualiza, adaptando,
conforme o espaço e o tempo histórico, os mitos dos deuses de raízes africanas em
novos espaços. Neste trabalho, dialoga-se sobre a importância da comida dos Santos nos
terreiros da Paraíba, sobretudo as de Exu, a partir de entrevistas com babalorixás e
iyalorixás. Bastide (2001), Lody (1998; 2006), Prandi (2001), Saraceni (2008) e Verger
(2000; 2002) constituem a base teórica deste estudo.
Rafaella Cristina Alves Teotônio
UEPB
Ventos do apocalipse a Meio sol amarelo: tradição e modernidade nas obras de
Paulina Chiziane e Chimamanda Ngozi Adichie
O presente trabalho estuda os romances Meio sol amarelo (2008), da escritora nigeriana
Chimamanda Ngozi Adichie, e Ventos do apocalipse (1999), da escritora moçambicana
Paulina Chiziane, com o intuito de estabelecer uma relação entre as personagens
femininas, no que se refere ao posicionamento e ao cotidiano destas em meio a uma
sociedade que vive um confronto entre a tradição e a modernidade. Estuda-se, a partir
de uma perspectiva sociocultural, como se define nas obras a identidade africana que
emerge neste conflito entre a tentativa de ―resgate‖ de uma tradição que foi ―poluída‖
pelos costumes do colonizador, e a modernidade assimilada pelo colonizado. Com isso,
pretende-se revelar como o colonialismo e o pós-colonialismo estabelecem uma
influência significativa na escrita dessas autoras, inscrevendo nas relações dos
personagens a cultura híbrida africana, em que se configuram costumes, posições e
língua, interpreta também o sentimento das personagens femininas em meio às guerras
que maltrataram os países em decorrência das tentativas de independência.
Palavras-chave: Tradição. Modernidade. Colonialismo. Pós-colonialismo. Identidade
africana.
199
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Raimundo Nonato Rodrigues de Souza
UEVA
ESCRAVIDÃO NO SERTÃO DO ACARAÚ (SÉCULO XVIII)
A presente comunicação analisará a escravidão no sertão do Acaraú, como uma espécie
de filtro em que permite penetrar uma configuração social para compor um conjunto de
ações dos cativos e assim ampliar o olhar para a temática, problematizando as
temporalidades e espacialidades que se engendraram no cotidiano como estratégias de
sobrevivências. Na trajetória da pesquisa eles ganham visibilidade nas documentações
produzidas pela Igreja, Justiça, Câmara e Cartórios. Todos estes escravos teceram,
durante suas vidas, estratégias de sobrevivências e criaram redes de solidariedade,
sociabilidade e novas identidades. Neste sentido, os exemplos das trajetórias de vidas
dos escravos são significativos para compreender as diversas estratégias de lutas e
experiências dos cativos no Sertão do Acaraú.
Ramon de Alcântara Aleixo
UFPB
DOS RITOS E RITMOS “DO” E “SOBRE” OS CORPOS NEGROS NAS
REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS CURRICULARES: RE-INTERPRETANDO
PRÁTICAS DISCURSIVAS NAS SALAS DE
AULA DO ENSINO MÉDIO
O presente estudo versa acerca das ―representações‖ (Chartier, 1990) instituintes de
discursos dos corpos das mulheres negras fabricados pelos currículos no âmago
configurativo inerente às sociedades pós-modernas. Para tanto, torna-se mister reiterar a
tessitura das identidades (Hall, 2000) ―inventadas‖ no advento dos códigos modernos,
bem como sua inserção na ―cultura histórica‖ (Gomes, 2007) fundante da nacionalidade
brasileira. Acreditamos, assim, que a evidenciação dos dispositivos disciplinares
(Foucault, 2005) que instituem gestos, práticas e representações sobre os corpos negros
constituam elementos fulcrais nas imersões temáticas das sociedades em rede. Como
200
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
metodologia, nos aportamos na refiguração do estado da arte em que o presente estudo
se insere, bem como no arcabouço teórico assente nas representações discursivas que
fabricam os corpos femininos no contexto sócio-educacional atual; evidenciando,
através da oralidade (Freitas, 2006) as refigurações nos processos de uso (Certeau,
1994) dos espaços contemplados para análise. Os resultados preliminares nos permitem
afirmar a inserção das redes discursivas ―da‖ e ―sobre‖ as mulheres negras ao longo da
tessitura dos códigos de sociabilidade nacional, adentrando os espaços escolares atuais
através de usos polifônicos que tangenciam as redes de saber-poder e representação em
que se inserem. Destarte, acreditamos que a inserção discursiva dos corpos negros,
balizado nesse estudo por meio das experiências com os cabelos crespos em escolas
estaduais da cidade de Campina Grande – PB constituam elementos nevrálgicos nas
reinterpretações discursivas que nos permitam dialogar com as culturas escolares do
―ontem‖ e do ―hoje‖ na evidenciação dos ritos e ritmos que embalam os códigos de
sociabilidade corporais ―nas‖ e ―pelas‖ instituições escolares.
Palavras-chave: Currículos. Identidades. Práticas discursivas. Culturas afro-brasileiras.
Gênero.
Ramonna Estela Azevedo Baracho
UFRN
Raízes da África: a natureza humana em relação umbilical com a terra
O presente trabalho pretende analisar o conto ―Raízes‖, que integra o livro ―Contos do
nascer da Terra‖, do escritor moçambicano Mia Couto. Esse conto relata a história de
um homem, que passado a manhã deitado dormindo na terra, tentou levantar-se em vão,
havia criado raízes que davam a volta no mundo (COUTO, 1997). Mergulhando no
universo do imaginário e do sonho do povo africano, o autor em questão constrói uma
narrativa que emerge da situação inicial de memória, caracterização e afirmação desse
povo, para uma outra, lendária e fantástica. Imbricada à expressões de uso cotidiano, a
criatividade literária exposta no poema, faz das imagens evocadas em nós a intuição de
um lugar surrealista, subjacente ao mundo em que vivemos, nos envolvendo
201
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
pacificamente de sonhos, transportando-nos para um mundo vivo, onde por estréia, um
homem passou a andar com a cabeça na lua. Nesse dia nasceu o primeiro poeta
(COUTO, 1997). Nosso propósito é examinar como se dá o processo de construção da
narrativa – cercado pela memória e identidade de Moçambique – da natureza humana
em contato com o pulsar umbilical da terra.
Raphael Péricles Borges
UEPB
REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA MÚSICA “PRECONCEITO DE COR”
DE BEZERRA DA SILVA
Esse artigo busca analisar a representação do termo ―crioulo do morro‖ como homem
pobre e morador da periferia brasileira. Nesse contexto, analisaremos a relação de força
e de desigualdade social presentes no álbum fonográfico titulado como ―Justiça Social‖
do cantor Bezerra da Silva, gravado em 1987, especificamente com a música
―Preconceito de cor‖. Dessa forma, buscaremos elucidar os sentidos e significados
socioculturais que permitam esclarecer as relações de poder que legitimam esse
preconceito. Podemos interpretar que a música ―Preconceito de cor‖, através de sua
natureza estética e polissêmica, retrata a relação de força que os homens negros sofrem
por estarem presos sem que haja motivo algum, enquanto muitos brancos que cometem
crimes estão soltos e impunes, ou seja, ocorre na canção o racismo relatado pelo
personagem e narrador da música, o qual não aceita esse fato e resolve reclamar da
situação. Dessa maneira, a música representa vítimas de exclusão e preconceito como
também de luta social, pois, ao mesmo tempo em que existem negros presos, existem
homens que lutam para libertá-los. Partindo desse ponto, o artigo pretende elucidar as
contradições e as influências para alteração desse quadro. O objetivo do artigo é romper
com noções estereotipadas e naturalizantes construídas sobre o papel do negro nas
relações sociais e culturais.
Palavras-chave: negro; preconceito; relação de poder; sociedade.
202
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Raquel de Sousa Andrade
Jayanny Claybianny A. Fernandes
Margareth Maria de Melo – Orientadora
UEPB
ETNICIDADE AFROBRASILEIRA NO LIVRO DIDATICO ANTES E DEPOIS DA
LEI 10.639/2003
O presente artigo originou-se da participação na cadeira de aprofundamento Educação e
Etinicidade Afro-Brasileira, ministrada pelas professoras Cristiane Maria Nepomuceno
e Margareth Maria de Melo. No qual despertou nossa curiosidade sobre o que vem
sendo tratado pelos livros didáticos do Ensino Fundamental, a respeito da história
Afrobrasileira. Buscamos abordar nesse trabalho o modo como alguns livros de história
do Ensino Fundamental tratam a temática Afrobrasileira antes e depois da lei
10.639/2003 que determina o ensino da história e cultura Afrobrasileira e africana nas
escolas da Educação Básica. Tomamos como referência teórica autores com Roberto
Benjamin (2006), Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho (2006), Mary Del
Priore e Renato Pinto Venâncio (?). Neste estudo comparativo em livros de 4º e 5º ano,
percebemos que mesmo após ser sancionada a referida lei, os livros didáticos ainda
vêem com algumas lacunas sobre a temática. No entanto, percebemos modificações no
contexto desses livros já que a temática era abordada de forma superficial ou muitas
vezes, nem era abordada. Hoje aparece de forma mais consistente, tendo em vista desde
a capa dos livros em que já se percebe características afrobrasileiras. Notoriamente a
utilização do referido tema tem sido mais contemplado nos livros didáticos dos anos
iniciais destacando principalmente a contribuição dos/as negros/as para a construção da
história brasileira, mostrando a introdução de seus costumes, hábitos, tradições entre
outros no cotidiano brasileiro, se misturando com outras culturas e formando uma nova
cultura, a Afrobrasileira.
Palavras-chave: livro didático, lei 10.639/03, etnicidade afrobrasileira.
203
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Rebecca Morganna Pereira Mendes
FAVIP
Relação alimento-identidade na comunidade quilombola do Castainho
Um dos fatores inerentes a um povo é sua alimentação, pois revela traços de uma
história, meio de vida e cultura, muitas vezes conferindo sua identidade, como a pizza
na Itália, o sushi e sashimi no Japão e a entomofagia que é o hábito de comer insetos,
observado em países orientais. A seis quilômetros da cidade de Garanhuns, na região do
agreste meridional do estado de Pernambuco, está localizada a comunidade do
Castainho com aproximadamente 210 famílias. Segundo relatos de seus habitantes,
Castainho foi fundada por ex-escravos fugidos da guerra que destruiu o Quilombo dos
Palmares no século XVII, estes se estabeleceram na região dando origem as diversas
comunidades quilombolas. Atualmente seus habitantes sobrevivem principalmente do
cultivo do milho, feijão, hortaliças e da mandioca, esta, utilizada na produção de
farinha, massa, beiju e goma, sendo comercializados na cidade de Garanhuns, o que
conferiu a fama de ―os negros da tapioca‖. Após campanha realizada pela ONG
Djumbay e financiamento da Petrobrás, a comunidade ampliou e modernizou sua casa
de farinha possibilitando o aumento da produção e contribuindo para melhoria da renda
das famílias. A proposta do trabalho é verificar a relação dos alimentos como identidade
cultural dessa comunidade e avaliar o impacto da reforma da casa de farinha na
reaproximação da comunidade com suas tradições.
Palavras-chave: Alimentos e cultura, tradição alimentar, identidade e alimento.
Regina Lúcia de Medeiros
UFRN
Seres marcados:
os efeitos da descolonização nas lembranças de ex-soldados africanos
Esta comunicação propõe uma leitura comparativa entre o conto ―Eles não são como
nós‖, integrante do volume de narrativas Manual prático de levitação, do escritor
angolano José Eduardo Agualusa, e o romance Antes de nascer o mundo, publicado na
204
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
África e na Europa com o título Jerusalém, do moçambicano Mia Couto. Nessa leitura,
nosso olhar se volta principalmente para a análise de dois personagens que se
assemelham por serem, ambos, ex-soldados e por trazerem consigo os estigmas da
guerra. Esses personagens habitam um ―entre-lugar‖, pois são simultaneamente
produtos da modernidade e instrumentos ―contra-modernidade‖. Envolvidos em
guerras, em fenômenos de violência, não conseguem retornar ao humano e habitam o
―passado-presente‖, renovando sempre o passado. Eles são retratos dos homens que
trazem dentro de si, ainda mais fortes, as vozes dissonantes do mundo. São homens que
(se) estranham e apagam, a cada ato, suas identidades. Observando-os sob a temática da
violência, guiamo-nos principalmente pelos seguintes pressupostos teóricos: o conceito
de ―entre-lugar‖ (BHABHA, 2003) e as reflexões acerca da descolonização, elaboradas
por Fanon (2005).
Palavras-chave: violência, descolonização, ―entre-lugar‖, crise identitária.
Regina Lúcia de Medeiros
UFRN
Tio, mi dá só cem:
linguagem e violência na narrativa de um “miúdo deslocado”
Propomos, nesta comunicação, uma leitura do conto ―Tio, mi dá só cem‖, que consta no
livro Filhos da Pátria, do escritor angolano João Melo. A fim de observamos a
utilização da linguagem oral na construção dessa narrativa, partimos dos pressupostos
teórico-metodológicos de Candido (1971; 2002) acerca da análise integradora, que
averigua a maneira pela qual os fatores sociais atuam na composição da obra, de modo a
constituir uma estrutura peculiar. Buscamos, com isso, compreender o modo como a
violência presente no cotidiano da sociedade angolana é incorporada à malha textual do
conto, permitindo que uma voz africana, tantas vezes silenciada, manifeste sua
indignação perante a fome, a angústia e a exploração. Com esse propósito, adotamos o
referencial teórico constituído por Fanon (1983; 2005), Martins (2000) e Zumthor
(2010).
Palavras-chave: linguagem, violência, voz, análise integradora.
205
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Renan Marques Liparotti
UFRN
De Platão a Hampâté Bâ: nas trilhas da oralidade
Nesse trabalho estabeleceremos pontes entre o pensamento do filósofo Platão e o do
também filósofo Hampâté Bâ. Buscaremos identificar um olhar gregomalinês para a
oralidade. Platão afirma que o discurso escrito torna-se perigoso à medida que não
permite respostas às perguntas do leitor. Seria então essa fonte dos fatos a mais
confiável como se costuma pensar na tradição ocidental, conforme Hampâté Bâ? Faz-se
necessário então pensar a ligação do homem à palavra. Segundo o filósofo grego, essa
se dá em maior proximidade na oralidade, porque há a presença do interlocutor no
momento enunciativo que se torna um rito. Isso acontece semelhantemente com os
gregos como com os tradicionalistas malineses. Hampâté Bâ nos introduz um caráter
sagrado da Palavra, esta primeiro como pensamento, como som e por último como fala.
Em Fedro, Platão considera idealmente a palavra sagrada, mas pondera que o logos
acaba por ser ―imperfeito e débil‖ quando usado pelos homens. É no distanciamento do
homem do logos por meio da graphe que se afasta da concepção tripla da palavra. Dessa
forma, silencia-a e distancia-a do pensar que ocorre no momento enunciativo. Iremos,
portanto, aprofundar essa discussão comparando trechos do Fedro e da Sétima Carta de
Platão com a Tradição Viva de Hampâté Bâ.
O referencial teórico perpassará
Trabattoni (2003), Zumthor (2010), Thomas (2005) e Marcuschi (2010).
Renata Pimentel
UFRPE
Performance, Arte e Afeto: corpo e voz do artista e do receptor
Performance é hoje, mais que nunca, um conceito-valise: presta-se a esclarecimentos e
borragens de noções (ao mesmo tempo), quando se discutem as fronteiras cada vez mais
tênues entre as linguagens artísticas. Ao se colocar em evidência, primeiramente, o
espaço cênico, a apresentação pautada na interação com público, essa noção se alarga,
trazendo novamente à tona ancestrais fundamentais na fruição do artístico: a voz e o
206
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
corpo, meios de efetivação e circulação do artístico desde sempre (anteriormente até ao
escrito e impresso, ou ao digital e virtual).
A performance, então, em uma visão genérica, conserva características principais da
linguagem cênica (do mundo da dramaturgia e do teatro) e, ao mesmo tempo, incorpora
elementos das expressões afins. Seguindo as ideias de teóricos como Walter Benjamin,
Paul Zumthor e Renato Cohen, em paralelo com referências artísticas várias (por
exemplo: a poesia visual de Leminski e a escrita oralizante de tantos autores africanos –
entre eles Mia Couto – além de brasileiros como Guimarães Rosa e Hilda Hilst, ou o
teatro de Denise Stoklos), busca-se, neste artigo, ampliar o conceito de performance e
nele inserir o corpo e o afeto do leitor/espectador. Ou seja, busca-se criar um espaço de
experimentação, no qual, essencialmente, a criação performática se converte em uma
pesquisa idiossincrática de linguagem: ou seja, a ―gagueira‖ própria de cada criador
ganha dimensão e foro privilegiado de ação. Logo, a noção de performance se amplia e
funciona como uma espécie de vanguarda nutridora de todas as artes estabelecidas.
Palavras-chave: Performance; arte; oralidade.
Renato de Alcantara - FAETEC/RJ - SEEDUC/RJ
Cláudia Cristina dos Santos Andrade - UERJ
A poética do Jongo: tradição e reinvenção
O batuque do tambor chama para a roda, enquanto jovens de uma universidade marcam,
cada um a seu jeito, o ritmo com o corpo. É o Jongo Folha da Amendoeira, iniciativa de
estudantes ligados ao projeto Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu, que inauguram,
naquele espaço, uma prática tradicionalmente nascida em comunidades quilombolas.
Assim, reinventam a prática, e paradoxalmente, perpetuam a tradição. O objetivo deste
trabalho é compreender a construção da poética dos pontos de Jongo nesse cenário,
analisando o material coletado nas rodas de Jongo promovidas na Cantareira, lugar de
encontro dos universitários da UFF(Universidade Federal Fluminense), a partir dos
estudos de Alcântara(2008), e sob elementos teóricos advindos da teoria da enunciação
de Bakhtin e o conceito de experiência de Benjamin. Consideramos que a força da
207
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
palavra cantada faz emergir o orgulho de pertencer e recupera a história, retomando, na
atividade jongueira, a (re)inauguração de identidades, pré-existentes na ancestralidade,
produzindo experiências que se contrapõem à massificação cultural homogeneizante e
descaracterizante.
Reno Nicolas de Araújo Torquato
UFRN
O poeta vai morrer na África: a persistência do mito rimbaudiano em
Roberto Bolaño
O presente trabalho procura discutir como persiste na obra do escritor Roberto Bolaño o
mito criado em torno do poeta Arthur Rimbaud. Analisamos de que modo a biografia de
Rimbaud pode ter sido convertida numa narrativa mítica e em que sentido essa
mitificação implica numa ideia de África como "lugar de morte". Nesse sentido,
buscamos identificar na obra de Bolaño passagens que demonstrem como funciona e
persiste esse mito.
Palavras-chave: Mito - África - Morte - Arthur Rimbaud - Roberto Bolaño.
Ricardo Alexandre Ribeiro Rodrigues
UNESP
Memória, música e poesia na construção da narrativa A viagem dos pescadores, a
partir de estudos sobre os griots africanos
Os griots são artesãos da palavra e da música no oeste africano, exercendo uma
diversidade de papéis sociais dentre os quais destaco os de músicos, poetas e
historiadores. A partir desses papéis e do conceito de performance de Paul Zumthor,
reflito, neste artigo, sobre alguns aspectos de minha própria atuação artística, em
especial a pesquisa e divulgação de repertórios poéticos, narrativos e musicais ligados à
memória coletiva que possam contribuir para uma formação humana não apenas no
208
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
âmbito individual, mas também político, social. Como exemplo dessa atuação, trago a
experiência com a narrativa A viagem dos pescadores, em que trabalhei sobre a história
real de quatro pescadores cearenses que, em 1941, fizeram uma viagem de jangada até o
Rio de Janeiro, capital do Brasil na época, para falarem diretamente com o presidente
Getúlio Vargas sobre as miseráveis condições de vida e de trabalho a que estavam
submetidos os jangadeiros nordestinos. As pesquisas históricas que fundamentaram a
narrativa foram aliadas a poemas e canções que trazem um imaginário um tanto
idealizado sobre a vida dos pescadores, o que me levou a considerar a importância de
confrontar repertórios e imaginários ligados à memória coletiva com materiais que
lancem um olhar crítico sobre essa memória, ampliando-a para além de estereótipos.
Essa experiência integra a parte prática da pesquisa de mestrado que realizo no Instituto
de Artes da UNESP, sob orientação da Profª. Drª. Berenice Raulino e com apoio da
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Palavras-chave: griots africanos, performance, narrativa, jangadeiros.
Roclaudelo N’dafá de Paulo Silva Nanque
UFPE
Poesia de Combate e Guineenidade em Vasco Cabral:
Quando a Primavera ainda está no por vir...
O presente trabalho é apenas um fragmento duma pesquisa sobre a História da
Literatura Guineense. É seu escopo primeiro, divulgar a literatura da Guiné-Bissau,
expondo, laconicamente, as bases e facetas da poética deste mui falado e, de facto, assaz
desconhecido poeta-combatente guineense Vasco Cabral, sua visão e concepção de
mundo (baseado em ―O Desafio de Escombro: Nação, Identidades e Pós-Colonialismo
na Literatura da Guiné-Bissau‖ de Moema Parente Augel (GARAMOND, 2007) e
poemas vascaínos). A proposta é trazer à passarela literária global este campo ainda
virgem, tendo como via a poética vascaína sempre enlaçada aos seus contextos,
estimulando a leitura e, portanto, conhecimento, da poesia guineense - por ser o
primeiro gênero na manifestação da Literatura na Guiné-Bissau - e daí aos outros
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
campos riquíssimos. Muito pouco se tem falado sobre o autor supracitado, contudo vêse nele um grande contributo para a formação da poesia guineense, que ainda gatinha,
como dizem, e buscar os elos entre ele e alguns dos atuais poetas guineenses; expor sua
poesia de combate, que mesmo na língua lusa, não deixou de expressar a sua
Guineenidade, tentando entender como a segunda explica ou perfilha a primeira, ou o
oposto. Vale dizer que, por mais que se tente ultrapassar, o espírito do período colonial,
combate heróico de Amílcar Cabral e prosélitos na luta armada, et Cetera, ainda vive
vivo na sociedade guineense, inclusive na literatura. Desta feita, é golo, outrossim,
contribuir para a redução do desconhecimento brasileiro, no que concerne a África, a
Guiné, e a sua literatura.
Palavras-chave: Literatura, Guiné-Bissau, Vasco Cabral, Combate, Guineenidade.
Rodrigo da Silva Melo
UFPB
A tradição juremeira e suas relações com os rituais de candomblé e umbanda na
casa Ilê Axé Xangô Agodô
O presente estudo de caso investiga do ponto de vista etnomusicológico as relações do
culto da jurema, com o candomblé e a umbanda nos rituais praticados no Ilê Axé Xangô
Agodô. A casa está sediada em João Pessoa, Paraíba, há dezoito anos. As reelaborações
dos rituais para as entidades da jurema e para os orixás conotam as influências da
umbanda, associada ao movimento de federalização dos cultos afro-brasileiros. A
música é um elemento importante na constituição dessas cerimônias. Ela está
diretamente ligada à sua estrutura, bem como se faz presente em todos os rituais da casa
em questão. A análise desse elemento amplia as possibilidades de compreender quais as
dimensões das reelaborações do culto da jurema a partir de sua intersecção com o
candomblé e a umbanda.
Palavras-chave: culto da jurema; rito afro-indígena-brasileiro; etnomusicologia.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Rodrigo Michell dos Santos Araujo
Fernanda Bezerra de Aragão Correia
AS MARCAS DA DOMINAÇÃO COLONIAL E DA BARBÁRIE NO ROSTO DO
CONTINENTE AFRICANO A PARTIR DE UMA LEITURA DO FILME ‘O LEÃO DE SETE
CABEÇAS’, DE GLAUBER ROCHA
Este artigo toma como base o cinema de exílio da década de 70 de Glauber Rocha e
pretende investigar a problemática da violência e do colonialismo na África, refletida no
filme ‗O Leão de Sete Cabeças‘ (1970), com o objetivo de fazer cinema como denúncia,
cinema político. No curso das sociedades modernas e da expansão do capitalismo o
colonialismo precisa ser visto como processo histórico-social, que faz transbordar
revoluções, palavra corrente no século XX, e que fabrica o processo de violência e
barbárie. Domina-se o Outro para eliminá-lo e, assim, só resta o escravismo. É, a partir
dessa estrutura, que Glauber Rocha vem revelar o homem do Terceiro Mundo, narrando
um continente marcado pelas forças de dominação social, bem como dialogar com a
situação política no Brasil, desde a situação de dependência e repressão até as
inquietações do pós-golpe militar de 64.
Palavras-chave: África, colonialismo, estética da violência, cinema novo, revolução.
Roland Walter
UFPE
Édouard Glissant e a poética da relação cultural
Édouard Glissant diferencia entre ―o mundo universal da mesmice cultural‖ e ―um
padrão da diversidade fragmentada‖. A diversidade, portanto, é um dos conceitos-chave
do pensamento glissantiano sobre relações culturais rizomáticas que constituem o
Mundo-Todo: Mundo-Caos em que cada identidade é continuamente constituída e
reconstituída mediante a interação de ―enraizamento e errância‖, a ―dinâmica da
unidade que se faz em diversidade‖: um universo caracterizado pelos poliritmos do
entrelaçamento da humanidade com toda a biota ― uma complementaridade de
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
elementos contrários inerente aos estilos e cosmovisões barrocas das Américas. A teoria
da crioulização é baseada nos fluxos híbridos e transculturais que abrem fronteiras fixas
e nações homogêneas para seus espaços fronteiriços, arquipelizando as Américas e o
mundo. Neste processo, a relação com a terra torna-se uma questão-chave para os afrodescendentes. Os escravos e seus descendentes viveram como exilados proibidos de
desenvolver qualquer relação de livre escolha com a terra e o lugar onde trabalharam e
viveram. Desta alienação resulta a não-inscrição numa história, numa cultura e num
lugar vividos e percebidos como não lugar, não história e não cultura. Para os escritores
afro-descendentes, portanto, é de suma importância trabalhar a relação entre o indivíduo
e a paisagem em busca da ―duração temporal‖ e cultural.
O que significa a crioulização cultural do mundo se suplementar o pensamento-raiz com
um pensamento-rizoma não leva, segundo Glissant, a uma compreensão total do
processo da inter-relação cultural? Se a memória, na obra de Glissant em particular e na
arte negra em geral, é o artifício par excellence na criação de uma episteme cultural,
como funciona a memória afro-descendente — memória esta, segundo Glissant,
―agravada pelo vazio, a sentença final da plantação — neste limen que liga e separa
rotas e raízes, mares e lares? Como pensar a identidade e a cidadania neste mundo
crioulizado arquipelizado?
O objetivo desta mesa redonda é discutir estas (e outras) idéias-chave de Édouard
Glissant, filósofo, poeta e romancista martiniquenho.
Palavras-chave: Poética da relação; crioulização arquipelização cultural do mundo;
opacidade cultural; digenèse; mundo-caos; mundo-todo; transversalidade.
Romana Fonseca Alves de Andrade Xavier
A Cartomante – O destino dialógico das obras
O presente trabalho se refere a uma análise dialógica do conto ―A Cartomante‖, de
autoria de Machado de Assis, com o filme brasileiro baseado na obra original do autor.
É importante ressaltar que Assis, referência na literatura brasileira, é neto de escravos e
portanto descendente direto da cultura africana.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Trata-se de um estudo detalhado sobre a releitura do conto. Nesse contexto, pode-se
observar um rebaixamento do conto (aproximação) para uma realidade de banalização e
popularidade. Ocorre uma transferência do eixo amor abstrato e sentimental para o
universo da concretização do grotesco, com características mais corporais e animalescas
dos instintos humanos.
É notória a presença marcante de elementos como peripécia, fatores intercalares,
intertextualidade, elementos tensores, contrastes (alto e baixo versus humano e divino),
mésalliances,aspectos carnavalescos, metáforas, profanação, promiscuidade, riso
irônico, entre outros.
Nesse sentido, o filme realiza uma releitura do conto, modificando, invertendo e
subvertendo valores importantes. É uma construção de uma nova história paralela
àquela, na qual há uma relação direta e um diálogo constante, porém com
transformações decisivas. Em alguns aspectos, são inclusive gritantemente opostas e
conflitantes.
Configura-se um contexto novo dentro da temática central e familiar a ambos que é o
triângulo amoroso. Embora no fim do filme, Rita e Camilo se reencontrem diante da
Vênus de Milo, a prevalência não é do amor romântico e sim do carnal. Percebe-se no
término da película, a tentativa de se dar um prumo à vida enquanto o conto é marcado
pela tragédia.
Rosângela Trajano da Silva
UFRN
Vozes da oralidade na cultura norte-rio-grandense
A voz do passado tornar-se prosa poética nos lábios daqueles que guardam nos baús da
sabedoria lembranças de tempos idos que dão sorrisos todas às vezes que renascem
numa conversa embaixo de uma árvore, sentados num tamborete ao cair da tardinha, na
cozinha com o fogão a lenha ou no meio do mato ao canto dos pássaros. Essa voz que se
manifesta cheia de alegria e encanto eternizando o calendário na boca da noite. Quem
conta como foi, o que foi, por que foi, expressa marcas da oralidade em poesia de uma
gente norte-rio-grandense que vive na capital ou no interior, mas faz lembrar o dedal
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
com a agulha de mão a costurar um passado de infâncias e juventudes onde meninos e
meninas cresceram sob o correr das águas do rio nos momentos de lazer ou no roçado
juntando-se aos pais para plantar memórias em terras de milho ou feijão. Nosso enfoque
de oralidade e poesia sairá das escrituras de Octávio Paz e Paul Zumthor.
Palavras-chave: Oralidade, memória, cultura norte-rio-grandense.
Rosilda Alves Bezerra
UEPB
OS TRAUMAS DA COLONIZAÇÃO: VIOLÊNCIA E RESISTÊNCIA EM O ALEGRE
CANTO DA PERDIZ, DE PAULINA CHIZIANE
O alegre canto da perdiz, romance da autora moçambicana Paulina Chiziane, narra a
saga de mãe e filha, Delfina e Maria das Dores. A ação dessas personagens, no decorrer
da narrativa aponta para a construção de um discurso feminino, que denuncia o estado
de objeto a que a mulher moçambicana foi submetida, sobretudo, durante a colonização.
A narrativa faz uma releitura da origem dos povos, da história de África e, sobretudo, da
Zambézia, ao recontar lendas do matriarcado. Chiziane recupera também o papel do
griot, registrada na voz da mulher do régulo, respeitada contadora de histórias, e a única
no local que compreende o ato insano de Maria das Dores. O romance destaca a
Zambézia, região onde ocorrem as ações narrativas, mas também a coloca como uma
representação da mulher moçambicana, violentada pelos colonizadores, colonizada e
assimilada. Entretanto, o mesmo local também denota um espaço da resistência,
principalmente através da contadora de histórias, que insere nas narrativas comentários
críticos sobre as questões sociais e políticas, ao narrar as histórias do matriarcado,
dizima a idéia de supremacia do colonizador. O apoio teórico utilizado neste estudo está
inserido nos estudos de Fanon (2010), sobre violência e racismo; Memmi (1977) sobre
o retrato do colonizador e do colonizado; Bhabha (2003) e Hall (2007), com identidades
e mediações culturais, Appiah (1997), a África na filosofia cultural e Said (1995), com
cultura e imperialismo.
Palavras-Chave: Paulina Chiziane. Violência. Resistência. Trauma. Colonização.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Rosivalda dos Santos Barreto
UFC/FACED
LAZER: RESISTÊNCIA E IDENTIDADE NO QUILOMBO URBANO DE CAJAZEIRAS:
SALVADOR-BAHIA
Esse artigo é resultado da pesquisa cujo tema foi, Os Valores Quilombolas Permanentes
nas Atividades de Lazer da Comunidade de Cajazeiras: Salvador/Bahia. É um bairro
considerado o maior complexo habitacional da América Latina. Também identificado
na pesquisa como um território de maioria afrodescendente, situado num local onde
outrora fora o quilombo do Urubu ou Orubu. A investigação objetivou reconhecer nas
comunidades de Boca da Mata, Cajazeiras XI e VI, atividades de lazer que preservam
um perfil de permanência quilombola, identificando e analisando-os à luz das teorias
contemporânea do lazer e de sua prática na comunidade supracitada. O trabalho tratou o
lazer como ―pedagogia‖ do enfrentamento à escravidão a partir dos quilombos, e
observou as rupturas e permanências africanas no lazer. Esse texto objetiva apresentar
dois capítulos da monografia: a visibilidade dos quilombos, sua origem, resistência no
Brasil e América Latina no século XIX, confluindo para a resistência e a formação da
identidade da população afrodescendente como tentativa de reproduzir uma cosmovisão
africana no Brasil; e a preservação ou rupturas dos valores de base africana nas
atividades de lazer em Cajazeiras, contrapondo o que defende os teóricos do lazer. Nele
expus a cosmovisão africana, a formação dos quilombos como forma de resistência e
lócus de lazer e o conceito de lazer construído no século XIX. Conclui então que existe
uma práxis subjetiva do lazer no bairro, que o pensamento de base africana também
pouco se fragmenta, portanto o tempo livre que caracteriza o lazer, segundo seus
teóricos nesse caso, se dilui.
Rubelene Diógenes Holanda
UECE/FAFIDAM
Lavoura Arcaica: valores e desejos
O romance Lavoura Arcaica de Raduan Nassar é representativo da modernidade, pois
apresenta elementos que vão ao encontro do pensamento e do imaginário do homem
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
moderno. Nessa perspectiva, será analisado neste estudo como o autor trabalhou a
quebra de valores dentro de uma família tradicional que possuía muitos valores e
tradições religiosas levando à tona a relação incestuosa de André e Ana, revelando,
assim, o desejo que perpassa nessas relações por remeter ao erotismo, à sensualidade, ao
prazer, à dor, à alegria e ao sofrimento. Temáticas essas muito comuns nas narrativas
contemporâneas. Para tanto, tomarei como base teórica os estudos, dentre outros, de
Leila Perrone-Moisés, Sandra Nitrine e Camille Dumoulié.
Palavras-chave: Raduan Nassar; Romance; Desejo.
Ruth Maria Franco da Silva
Waldeci Ferreira Chagas - Orientador
UEPB
CIDADANIA E IDENTIDADES NEGRAS NAS ESCOLAS: OS CONTEÚDOS DE
HISTÓRIA, CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES (AS) NO MUNICÍPIO DE ALAGOA GRANDE-PB
O presente trabalho tem como principal objetivo fazer uma análise da formação de
professsores (as) no curso: Cidadania e Identidades Negras realizada no Município de
Alagoa Grande – PB. O intuito é buscar perceber as principais contribuições desse curso
para a implementação da lei 10.639/03 e da Educação das relações etnicorraciais e dos
conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana no currículo e no cotidiano das
escolas da rede de educação básica. O curso também teve como propósito contribuir
com o rompimento da perspectiva homogênea e etnocentica de história ainda presente
nos curriculos de história. Neste sentido o curso de formação docente forneceu
elementos que possibilitem aos alunos (as) e professores (as) negros (as) a se
perceberem enquanto construtores de saberes e formadores da sociedade brasileira.
Portanto, tal formação veio contribuir para formar profissionais conscientes de que são
responsáveis tanto pela pluralidade na sala de aula quanto pela desconstrução do
preconceito no cotidiano da escola.
216
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Palavras-chave: Formação de professores (as), Educação etnicorracial, cultura afrobrasileira e africana.
Sandra Sassetti Fernandes Erickson
UFRN
Ditirambos de Luanda: Evoé! Iê!
Significando ―hino em uníssono‖, ditirambo é uma forma dramático-poética da
antiguidade grega, caracterizada pela performance, em círculo, de um grupo de
dançarinos entoando cantos corais em honra de Dionisos. Característica marcante dessa
forma poética é o diálogo entre um cantor solitário. O ditirambo é uma forma coletiva
de experiência do êxtase através da música e do canto performada. Observando a
estrutura da organização e da perfomance da roda de capoeira, exploramos, nesse
trabalho, a possibilidade de tratá-la como uma forma ditirâmbica. Analisaremos a
função do círculo onde um grupo de cantores (coral) dançarinos, vestidos de faunos
(abadá) entoa hinos e toca instrumentos de intensidades sonoras programadas
objetivando desencadear e distribuir o transe (axé) nos participantes, que, na capoeira
também inclui os ouvintes/expectadores que participam através do bater palmas.
Pensamos que o modo como o êxtase é obtido na capoeira, a saber, através da invocação
e entoações de hinos-mantras por um corifeu e das repetições pelos demais participantes
é semelhante ao ditirambo grego. Movidos pela melodia estranha e pungente, melodia
pungente, mágica, cósmica, extraordinária—uheimlich— do berimbau, a roda de
capoeira chama os deuses para seu centro de axé onde os mortos os deuses [candomblé]
e os jogadores-guerreiros-dançarinos dionisíacos se tornam, e, através de suas
encantações mântricas resignificam lugares e hierarquias de homens, seres e deuses. Iê!
Evoé!
Palavras-chave: capoeira, ditirambo, performance.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Sávio Roberto Fonseca de Freitas
UFPB
O sétimo juramento: feitiçaria e magia negra na narrativa de Paulina Chiziane
O objetivo de nosso estudo é analisar a narrativa O sétimo juramento (1999), terceiro
romance da escritora moçambicana Paulina Chiziane numa perspectiva de interpretação
que privilegia a discussão sobre a condição religiosa em Moçambique. O personagem
do referido romance, David, movido pelas tensões pós-coloniais em relação às tradições
moçambicanas e à modernidade vinda com a industrialização portuguesa, vive situações
que o faz recorrer à quimbanda, culto de origem bantu onde rituais de magia negra e
feitiçaria são freqüentes. Nesse sentido, a inserção do tema da religiosidade tribal
moçambicana no romance de Paulina Chizane torna-se um fato que possibilita afirmar
que a referida escritora se utiliza da referida temática para, através da literatura, registrar
e dar visibilidade a uma tradição religiosa que antes da colonização portuguesa era
preservada apenas pela oralidade. Assim, o romance moçambicano, além de ser espaço
ficcional para especulações do imaginário, também se torna lugar para exibição de
contornos identitários que evidenciam traços da moçambicanidade contemporânea e
legitimam a escritura literária moçambicana dos escritores que fazem parte da fase póscolonial da literatura moçambicana.
Palavras-chave: Paulina Chiziane, Narrativa, Feitiçaria, Magia.
Severina Faustino dos Santos
Rosilda Alves Bezerra – Orientadora
UEPB
IDENTIDADE NEGRA E SINCRETISMO RELIGIOSO AFRICANO NA POESIA DE
SOSÍGENES COSTA
Sosígenes Marinho da Costa, poeta baiano, nasceu na cidade de Belmont, em 1901,
vindo a falecer 1968, no Rio de Janeiro. O poeta baiano atuou no jornalismo e foi
membro da Academia dos Rebeldes, grupo que contava com a participação do escritor
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Jorge Amado. Sosígenes Costa está vinculado à terceira geração modernista e o seu
discurso poético faz usos da mitologia africana e do sincretismo das crenças católicas e
africanas, além do folclore afro-brasileiro. Nesse sentido, o presente trabalho tem como
objetivo analisar como o poeta Sosígenes Costa representa o sincretismo das crenças
afro brasileiras e católica no poema ―Iemanjá‖. Sendo assim, discutiremos a respeito da
presença religiosa e de como o poeta faz uso das mitologias e sincretismo religioso em
sua poesia. Para atingir os objetivos propostos, os estudos que sustentam o trabalho
serão voltados para a contextualização social, histórica e cultural por meio de
pressupostos teóricos da critica literária e dos estudos socioculturais: Hall (1999);
Bhabha (2003); Fanon (2009); Prandi (1998) e Bastide (1985).
Palavras-chave: Identidade negra, Modernismo, Sosígenes Costa.
Shannya Lúcia de Lacerda Filgueira
Elaine Cristina Camara de Azevedo Maia
UFRN
Fumo e fumaça: histórias de chão e raça d’África
Este trabalho ensaístico visa observar o processo de contação de histórias via tradição e
cultura, observando como a fala é o depositário de todo um repertório imagético da vida
cultural africana; trazendo, por conseguinte, à luz o conhecimento adquirido ―naquela‖
comunidade e em outra, via o constelado de personagens ficcionais. Para tanto, usa-se
toda a sintaxe imbricada de significantes e significados marcados pela voz do eu lírico
presente no romance Terra Sonâmbula, do autor moçambicano Mia Couto, e em outros
autores teóricos buscar elementos, a fim de fomentar todo um aparato capaz de nos
fazer ver o quão é filosófico e ideológico o indumentário artístico e tradicional de se
contar histórias na cultura africana.
Palavras-chave: contação de história; fala; memória; Terra Sonâmbula.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Silvano Fidelis de Lira
Maria Lindací Gomes de Souza
UEPB
MEMÓRIAS E REMANESCENTES QUILOMBOLAS:
UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA E IDENTITÁRIA
Este trabalho é um recorte de um projeto maior; ―Nos territórios de remanescentes
quilombolas, redes que tecem a cidadania cultural: territorialidade, educação, migração
e narrativas de vida‖, coordenado pela Profª. Drª. Maria Lindaci Gomes de Souza, que
conta com o financiamento do Programa de Incentivo à Pós-Graduação e Pesquisa
(PROPESQ) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A pesquisa está em fase de
andamento, na qual se estuda os teóricos que discutem a questão da ressemantização do
contexto de quilombo na contemporaneidade. Tendo em vista que estamos privilegiando
as narrativas dos idosos, através da memória individual buscamos estabeleceu um
diálogo via história de vida. Sustentando dentro dos marcos da história oral, dentre as
categorias que subsidiarão a pesquisa, destacamos inicialmente a identidade e a
memória dos remanescentes quilombolas. O locus de pesquisa são as comunidades
remanescentes quilombolas da Paraíba, especificamente a Comunidade do Grilo, Caiana
dos Crioulos e Caiana dos Matias. Devido a sua fase inicial, este trabalho analisa
através de pesquisa bibliográfica as concepções histográficas acerca dos quilombos e as
tessituras discursivas que os formaram, de forma que sejam abordadas visões sobre o
tema, buscando perceber o discurso da historiografia a respeito das comunidades
remanescentes de quilombos e seus membros. Em um segundo momentos abordaremos
através da bibliografia e das memórias individuais a identidade quilombola.
Palavras-chave: Memórias; Remanescentes Quilombolas.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Solange Pereira da Rocha
UFPB
BANTOS NO MUNDO ATLÂNTICO: PRESENÇA AFRICANA NA PARAÍBA NO FIM DO
PERÍODO COLONIAL
A comunicação tem como propósito discutir a presença africana na Paraíba, tanto numa
forma ampla como numa perspectiva micro-histórica, com análise em inventário e
assentos de batismo da população escrava de um engenho localizado em Alhandra. Esta
era uma das vilas mais antigas da capitania da Paraíba, cujo território se caracterizava
por ter uma expressiva população indígena (Aldeia de Aratagui dos povos potiguara).
No engenho, denominada Tabatinga se encontrou uma forte presença de africanos,
sobretudo, de grupos bantos, como os ditos ―Moçambiques‖, ―angola‖, ―congo‖,
―benguela‖ e ―cabinda‖. Assim, a partir de análise das informações sobre o tráfico
transatlântico de escravos e do comércio interno, caso de Pernambuco, fornecedor de
africanos escravizados para as capitanias do Norte, se procurará mostrar o contexto que
possibilitou a chegada desses africanos na área litorânea da capitania da Paraíba e uma
análise das relações sociais (casamento e parentesco espiritual) formadas por eles, tanto
no engenho quanto nas áreas circunvizinhas em que viviam nos últimos anos do período
colonial.
Palavras-chave: Africanos. Paraíba. Período Colonial.
Stélio Torquato Lima
UFC
COMO UMA ONDA NO MAR: SIMBOLOGIAS DAS ÁGUAS NA POÉTICA DE
JORGE BARBOSA
O cabo-verdiano Jorge Barbosa (1902-1971), uma das figuras centrais do movimento da
Claridade, desempenhou papel de relevo na sedimentação da literatura em seu país. Sua
produção poética, longeva e marcadamente telúrica, encerra uma tentativa de dar
visibilidade às angústias e aos anseios mais profundos de seu povo. Nesse processo, o
221
Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
escritor enxerga no isolamento geográfico de seu país uma barreira que projeta na alma
de sua gente um profundo sentimento de solidão. É nessa perspectiva que refletimos
neste trabalho sobre os vários significados do mar na poética do referido escritor,
buscando demonstrar como a exploração dessa figura como leitmotiv pelo escritor tem
como principal objetivo reforçar as seguintes idéias: a) a condição do cabo-verdiano
como um ilhéu, como alguém isolado do mundo pelas fronteiras líquidas; b) num
sentido mais profundo, a condição do poeta como um outsider, como um desajustado
social que experimenta um isolamento mais angustiante que o de natureza física: a
solidão anímica, de fundo existencial.
Palavras-chave: Mar – Metáfora – Jorge Barbosa.
Suelany C. Ribeiro Mascena
UFPB
ALTERIDADES E GÊNERO EM PONCIÁ VICÊNCIO DE CONCEIÇÃO EVARISTO
A condição do negro e da mulher na sociedade contemporânea é constantemente
discutida e problematizada pelos estudos culturais e literários. Com isso, atrelamos tais
questionamentos à narrativa da autora Conceição Evaristo, Ponciá Vicêncio, obra
situada em pleno século XIX e que narra a história da família Vicêncio, composta pela
personagem-título, seus pais e irmão. A partir dos fragmentos da memória dos
personagens, a autora traça, em uma sequência não cronológica, o desencadear das suas
vidas, caracterizada pela simplicidade, uma vez que vivem em uma casa de barro,
próxima à fazenda, de onde retiravam o seu sustento; eram negros e, apesar de forros,
continuavam a morar e trabalhar para o senhor da casa grande. Em virtude disso, a
personagem, que dá nome ao livro, decide se deslocar do ambiente rural para a cidade
grande. Em meio aos encontros e desencontros do existir, Conceição Evaristo expõe, em
forma de prosa poética, o trajeto desses personagens. Portanto, à luz de autores como
Frantz Fanon (2008) e Stuart Hall (2009), demonstraremos os aspectos apontados.
Palavras-chave: Ponciá Vicêncio. Alteridades. Gênero.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Sueli da Silva Saraiva
USP/CNPQ
Colonização, racismo e trauma em representações literárias de
Angola e Moçambique
Duas matérias noticiadas na mídia recentemente chamam a atenção para os temas
colonização e racismo, os quais trazem no bojo, é claro, a escravidão. A primeira:
―Jamaicanos pobres colocam a vida em risco para ficar com a pele mais clara‖ (UOL
Notícias, São Paulo, 11.04.2011. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultimasnoticias/internacional/2011/04/11/jamaicanos-colocam-a-vida-em-risco-para-ficar-coma-pele-mais-clara.jhtm. (Acesso em 11.04.2011); a segunda, do jornal Folha de S.Paulo
de 14.04.2011 é intitulada ―Babel haitiana‖, e remete à questão linguística no Haiti, com
a adoção do francês como língua de prestígio, em detrimento do creóle, a língua falada
pela maioria de uma população em que menos de vinte por cento das pessoas tem o
idioma do ex-colonizador como língua principal (situação análoga em outras excolônias na África).
Tais matérias revelam o ―óbvio‖ que não deve ser ignorado, diria o escritor nigeriano
Femi Ojo-Ade, i.e, a persistência das dicotomias herdadas de uma história de séculos de
rebaixamento dos valores dos africanos e afrodescendentes. E, conforme Frantz Fanon,
a imposição (e assimilação traumática) de máscaras brancas sobre a pele negra. Tais
questões, profusamente representadas na ficção anticolonialista dos países africanos,
denunciam uma situação passada (des)humana, cujos ecos continuam a incitar o
consumo inadvertido dos valores branco-europeus como força universal do belo e do
moderno. Conceitualizando essas experiências sociais e individuais em termos de
colonização, racismo e trauma, propomos discutir o modo como essa temática está
presente na ficção de Angola e Moçambique, tomando como exemplo textos de Arnaldo
Santos, Boaventura Cardoso, António Cardoso (Angola) e Luís Bernardo Honwana,
Suleiman Cassamo, Mia Couto (Moçambique).
Palavras-chave: Colonialismo, racismo, literaturas africanas de língua portuguesa.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Sueli Meira Liebig
UEPB
A IDENTIDADE FRAGMENTADA: UM ESTUDO SOBRE A CONDIÇÃO DA
ALTERIDADE NEGRA NO CONTO OBSESSÃO
Este estudo pretende relacionar aos aportes teórico-metodológicos sobre a condição da
alteridade na sociedade pós-moderna, de modo geral, e mais especificamente às
questões concernentes à identidade fragmentada, à globalização, à comunidade, às
instituições sociais, notadamente a família, aos laços afetivos, ao resgate das raízes
étnicas dos afro-descendentes e às estratégias de ressignificação do eu enquanto sujeito
ontológico, tomando como referência o conto ―obsessão‖ (1998), da escritora Sônia
Fátima da Conceição, numa perspectiva crítica fundamentada em estudos realizados por
Zygmunt Bauman, Stuart Hall, Frantz Fanon e Anthony Giddens.
Palavras-chave: Alteridade; Globalização; Comunidade; Identidade.
Suely Santos Santana
UFBA
Duas cabeças valem mais que uma cabeça: visões de África, Abdulai Silá e a
literatura guineense
O trabalho, inicialmente, faz um quadro geral panorâmico do pensamento que norteou
as idéias criadas e divulgadas pelos colonizadores sobre o continente africano e os seus
habitantes para, em seguida, fazer uma espécie de contraponto entre tais idéias e as
concepções apresentadas por um escritor e intelectual guineense, Abdulai Silá, através
da narrativa literária.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Sumara Leide da Silva
Lucicleide da Silva Araújo
UFRN
“Gentes de cor”: sexo e preconceito na colônia tropical luso-brasileira
A empresa colonizadora portuguesa que se instalou nas terras brasílicas, a partir do
século XVI, tinha como um dos tripés de sustentação o discurso moralizador permeado
por justificativas cristãs-católico de cunho ―salvacionista‖ e ―civilizatória‖, que buscava
normatizar o uso dos corpos. A partir desta perspectiva, nos propomos a analisar como a
sexualidade de homens e mulheres, negros e mestiços, foi construída legitimando
estereótipos preconceituosos da perspectiva de propensão natural os vícios da
desonestidade lascívia e fornicação, vinculando tais práticas ao comportamento cultural
da etnia negra.
Palavras-chave: Sexualidades; Preconceito; Colônia.
Surian Seidl
UFRGS
“As Aventuras de Ngunga”: nas trilhas da libertação de Angola e da construção da
identidade sonhada
O presente trabalho visa a analisar o surgimento do Novo-Homem angolano dentro da
obra, ―As Aventuras de Ngunga‖, de Pepetela, Arthur Mauricio Pestana dos Santos.
Evidenciaremos mais especificamente o personagem ―Ngunga‖ e sua trajetória em
busca da libertação do território e da construção da identidade de Angola, levando em
conta o contexto histórico-político-cultural que era vivenciado naquele período
histórico. A narrativa de Pepetela representa essas evidências quando analisamos as
nuances culturais contidas na tessitura narrativa. Escrita num momento de grande
conflito em Angola, o da pré-independência - que foi precedida por uma guerra
anticolonial violenta e avassaladora - a obra aqui referida reflete muito da ideologia e do
envolvimento político e social que o escritor, membro integrante do MPLA, tinha em
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
favor da Libertação de Angola, representando este imaginário social por meio da
literatura. Importante ainda ressaltar que Pepetela atribui à mulher um papel
fundamental de sedimentação de valores e inestancamento bélico. É Wassamba,
personagem por quem o menino Ngunga se apaixona, que representa essa fortaleza, essa
racionalização. No momento crucial em que se tem que eleger entre a individualidade,
representada pela paixão, ou a alteridade, iconizada na continuidade da luta de
resistência, a opção é pela luta. Wassamba representa bem a gama feminina da África,
uma terra que tem na mulher o norteamento da harmonia entre o homem, o imaginário e
o código social. É nesse viés, que a pesquisa vem desenvolvendo-se, procurando
caminhar, juntamente com a personagem, por terrenos ainda relegados a não
oficialidade histórica e rompendo as barreiras do colonialismo.
Palavras-chave: Angola – Identidade - Ngunga - Literatura – Pepetela.
Tânia Lima
UFRN
BATICUM TAMBOR – BATICUM GRIOTS: MARACATUS PSICODÉLICOS EM
DJ DOLORES
No canto afro-brasileiro das culturas híbridas, analisa-se o maracatu psicodélico em DJ
Dolores a partir da estética da crioulização, de E. Glissant. À procura dos vestígios do
canto afro-brasileiro, ampliaremos o campo de análise a partir da batida sincopada da
música ―Azougue‖. Seguiremos a partitura dos tambores em travessia com o imaginário
da cultura africana: Tum-Tum-Tum tem baticum. Atabaques afros, Tum-tum-tum
batidas de alfaias. Trovas de tambores silenciosos. Tum-tum-tum - TUM-TUM-TUM
tem tamboril. Tum-tum-tum-tum voa livre meu tamborzim. TUM-TUM-TUM abre a
roda de coco. Tum-tum-tum bate-bate em coro o tambor. Orquestra de maracatus, ei
maracá, ei maracá, maracá-tu, maracatus, maracá-eu, maracás de Naná. Tum-tum-tum
bateu. TUM-TUM-TUM-TUM batidas de Nanã Buruquê. Tum-tum-tum bateu meu
tambor. TUM-TUM-TUM. Baticum do tambor feito de rios e fios. Orquestra de blues.
Serenata de Jazz. Baticuns do candomblé. Tum-tum-tum, filhos dos Orixás. Exu das
encruzilhadas TUM-TUM-TUM. ―Baticum tambor‖. Trovoadas de Iansã. Tum-tum-tum
canto de Oxalá. Tum-tum-tum-tum. Filhos de Gandhy. Baticum de búzios. Tum-tumtum, filhas de Oxum. Tum-tum-tum Oxumaré afrociberdélico. Batida do afoxé. Tum-
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
tum-tum!!! Ei maracá, maracatu, nos maracás de Naná, tem-tem-tem! Tem que ter
tambor na batida do maracatu. Tum-tum-tum! Ei Maracá, Ei maracá! Maracatu
Atômico.
Psicodélico.
Tum-tum-tum!
Nação
Zumbi.
TUM-TUM-TUM-TUM!
Tambores de Minas no baticum de alfaias. Partituras afro-ameríndias debaixo dos
caboclos de lança. Tum-tum-tum! Batidas de reis tem-tem-tem. Leoas e caboclinhos.
Baticum de matracas tem-tem-tem! TUM-TUM-TUM! Tambores crioulos Tum-tumtum! Soltam-se as alfaias: Tum-tum-tum! Hoje tem Baticum: Tum-Tum-tum! Batida de
maracatu: Tum-tum-tum!!
TUM
TUM
TU
!!
Palavras-chave: Nação Zumbi, GLissant, Maracatu, Tambor, Cultura Afro-brasileira
Thaís Cordeiro Souza de Morais
Mirtes Toscano de Medeiros
Yane de Andrade Ramalho
UFRN
DESCONSTRUINDO IMAGENS A PARTIR DO ANGOLANO PEPETELA E DE CAMÕES
Este trabalho tem como objetivo analisar o conto ―Estranhos Pássaros de Asas Abertas‖
do angolano Artur Pestana ―Pepetela‖ (2008) e o ―Canto V‖ da epopeia de Camões
(1999). A análise focou-se nos indícios de choque cultural, junto com as percepções dos
invasores (homens de civilizações imperialistas do além-mar levados pela fé e ganância)
e dos invadidos (seres preponderantemente de tradições autossustentáveis e de cultos
pagãos). O aporte teórico fundamentou-se em Ribeiro (2006); Macêdo (2008) e Said
(1995). Segundo Ribeiro e Said, o homem branco europeu sentiu-se no direito de tomar
à força outros mundos ditos por estes como subalternos, os quais possuíam tantas
riquezas e não eram civilizados para as cortes do velho mundo.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Thaís Pereira de Oliveira
UECE/FAFIDAM
Poesia Leminskiana: um mosaico abstrato
O presente trabalho é resultado da pesquisa feita em torno da linguagem contemporânea
presente na poesia de Paulo Leminski (1944-1989). Poeta mestiço de pai polaco com
mãe negra traz em suas raízes a diversidade da vida que propôs para si. Leminski tinha
urgência, de experiências, de conhecimento. Influenciado pelas tendências de
vanguarda, ele cultivou a utopia por uma sociedade minimalista e menos consumidora,
mecanizada. Viveu o marco da propaganda e retratou em suas obras o reflexo da
tecnologia, priorizando a visualidade da poesia concreta atrelada à globalização
evidente na poesia marginal, evidenciando traços de uma cultura massificada pelos
valores sociais. Tanto adaptou suas poesias como uma crítica à sociedade moderna,
como também procurou buscar na cultura oriental subsídios para um novo estilo poético
conhecido como haicai ou poema-momento, disseminando no país um horizonte
cultural que intensificou sua trajetória peculiar. Em todas essas tendências torna-se
evidente a predominância da contemporaneidade, onde se configura a composição
fragmentada da linguagem, refletida nas poesias desse autor. No trabalho será
investigada a singularidade do haicai (poema-momento), os ideogramas que compõem a
poesia concreta, além da propagação de uma atividade poética marginalizada, (geração
mimeógrafa) advinda da arte de rua, resultando no encontro de novos patamares
expressivos propiciados pela linguagem.
Palavras-chave: Poesia; Leminski; Contemporaneidade.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Thays de Souza Almeida
Vitório Aquino
“Casa Grande e Senzala” e Brasil, uma história inconveniente:
representações discursivas sobre a escravidão
Este artigo pretende realizar uma leitura crítica-conceitual sobre o vídeodocumentário
Brazil: An Inconvenient History (GRABSKY, 2000). Nosso objetivo é pensar a noção
da representação da escravidão no Brasil desenvolvida por Phil Grabsky a partir da
sugestão de um diálogo entre as ideias dele e a representação da escravidão proposta por
Gilberto Freire em sua obra ‗Casa Grande e Senzala‘. Para tanto, nos valeremos das
proposições teóricas que João Freire Filho desenvolve a partir do tipo de imagem
subjetiva construída por esse veículo midiático. Assim, esperamos provocar reflexões
que versem sobre a construção da imagem escravista no Brasil presentes em construções
discursivas distintas.
Palavras-chave: Representação, Escravidão, Discurso.
Thiago de Lima Oliveira
UFPB
Xigubo: percursos para construção de uma possível identidade moçambicana em
José Craveirinha
Consagrado pelo crítico Rui Baltazar como o maior poeta de Moçambique, José
Craveirinha, o poeta da Mafalala, é um dos nomes mais importantes nomes da poesia
pós-independência em Moçambique. Personagem atuante na vida social e cultural de
sua ―nação‖, Craveirinha tem uma poesia fundada em uma sólida proposta de
[re]construir [um]a identidade moçambicana após anos de desconstrução ou
engessamento dessa possibilidade pela política colonial portuguesa. O presente trabalho
pretende analisar por meio de uma leitura pós-colonial como os esforços de construção
dessa nova identidade nacional moçambicana configuram-se nos 21 poemas que
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
compõem Xigubo, primeiro livro do autor articulando-os aos eventos, ideologias e
elementos externos resgatados na construção destes poemas. Os resultados evidenciam a
influência do movimento de Negritude e Harlem Renaissance não apenas na poética de
Craveirinha, mas seu impacto sobre os confrontos contra o governo colonial em
Moçambique.
Toni Edson Costa Santos
UFBA
A REITERAÇÃO DA ORALIDADE ATRAVÉS DO AUDIOVISUAL: UMA ANÁLISE DO
FILME KEITA! L’HERITAGE DU GRIOT, DE DANY KOUYATÉ
Através do conceito de reiteração de Paul Zumthor, a teoria sobre identidade de Suart
Hall e dos estudos sobre a oralidade de Amadou Hampate Ba, realizo uma análise do
filme estrelado pelo griot Sotigui Kouyate que trata do choque entre uma cultura oral
tradicional e uma cultura urbana moderna, quando um contador de histórias vai até uma
cidade para informar um jovem sobre sua ancestalidade ligada a Sundiata, um dos mitos
fundamentais do antigo Mali, e acredito que nessa passagem de uma cultura oral para
um sistema audiovisual há uma visível transcontextualização, que pode nos fazer pensar
no processo de aplicação da lei 11.645/08 no Brasil.
Palavras-chave: Griot – Cinema – Multiculturalismo.
Vanessa Bastos Lima
UNEB/ DIREC02
LITERATURA MARGINAL E LITERATURA AFRO-BRASIELIRA UM DÁLOGO ENTRE
LITETAURAS MENORES
Este trabalho propõe um diálogo entre a Literatura Marginal Brasileira e a Literatura
Afro-Brasileira, tendo como viés o conceito e caracterização de Literatura menor
construídos por Guilles Deleuze e Félix Guatarri. Ao pensarmos no conceito e nos
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
critérios utilizados para definir uma Literatura como menor, podemos perceber as
semelhanças entre esses dois estilos e movimentos de Literaturas, que apesar de
possuírem suas peculiaridades, conseguem manter um diálogo tanto temático, quanto
simbólico entre alguns de seus textos e autores. Visando dialogar e trabalhar os
conceitos do que vem a ser uma Literatura menor, bem como o que significa Literatura
Marginal e Literatura Afro-Brasileira, realizar-se-á um estudo comparativo entre contos
e poemas pertencentes às essas Literaturas.
Palavras-chave: Literatura, Marginal, Afro-Brasileira, comparação.
Vanessa de Medeiros Lopes Bezerra
Francielly Coelho da Silva
Sônia Maria Dantas Medeiros
SME – NATAL
MAMA ÁFRICA: O TRATAMENTO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E DA
CULTURA AFRICANA NA ESCOLA
Este trabalho descreve uma experiência realizada em uma escola pública municipal de
Natal, na qual foi desenvolvido o projeto Mama África. Justifica-se por promover, numa
perspectiva interdisciplinar, reflexões acerca da diversidade étnico-cultural brasileira e,
consequentemente, a compreensão do processo de desenvolvimento cultural dos afrobrasileiros e africanos no Brasil. Como embasamento teórico, foram tomadas,
principalmente, algumas reflexões presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação das Relações Étnico-Raciais para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana (2005) e nas Orientações e Ações para a Educação das Relações
Étnico-Raciais (2006) - ambos, documentos oficiais brasileiros - e de autores como
Lopes (2005) e Sousa (2005). Durante a realização deste projeto, buscou-se historiar a
cultura africana de forma contextualizada, valorizando seus hábitos e costumes e, acima
de tudo, fazendo o aluno reconhecer que a construção da cultura brasileira sofreu
influência da cultura africana em todos os seus aspectos. Como principal objetivo deste
trabalho tem-se o despertar, no aluno, de uma postura de questionamentos e de reflexões
diante das relações étnico-raciais baseadas em preconceitos e a necessidade de respeito
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
e valorização da diversidade étnico-cultural com o intuito de superar a discriminação
racial e o preconceito na escola. Primeiro, serão apresentadas algumas das reflexões
presentes nas obras supracitadas; em seguida, serão relatadas as atividades realizadas na
escola nas diferentes disciplinas; por fim, será traçado um paralelo entre as teorias
apresentadas e a prática escolar. A observação, o registro e a intervenção configuraramse na principal estratégia do fazer pedagógico, lançando mão da tríade AÇÃOREFLEXÃO-AÇÃO.
Palavras-chave: Educação. Relações Étnico-Raciais. Interdisciplinaridade.
Wagton Rogério Rodrigues da Silveira
UnP
RACISMO NO CAMPO DE TRABALHO: DO DANO MORAL A INDENIZAÇÃO
Imagem é o liame que une a pessoa à sua expressão externa, a qual pode ser tomada em
conjunto ou separadamente. Ao divulgar ou referir-se à imagem que determinado
empregado possui, é proibido qualquer ato que resulte em lesão à honra, à reputação, ao
decoro (também conhecido como ―imagem moral‖), à intimidade e a outros direitos da
personalidade dos quais o trabalhador é titular. Tal conduta, que pode configurar-se em
um ato único ou repetitivo, pode dar origem a um dano moral por violação a um direito
personalíssimo, reparável mediante indenização. O objeto de estudo deste trabalho é o
comportamento conhecido como dano moral, e sua relação com a pessoa negra, diante
de relatos de lesão à imagem infligidos aos indivíduos no ambiente de trabalho
denunciados em processos judiciais trabalhistas. Procedeu-se para a elaboração,
pesquisa bibliográfica a legislação brasileira, a jurisprudência trabalhista, pesquisas via
internet, e análise do posicionamento de renomados autores. As figuras do patrão branco
e do empregado negro retornam à sistemática desumana do período escravocrata
brasileiro, em que a cor da pele era motivo de submissão e renúncia aos direitos
enquanto ser humano, aliada ao prazer de diminuir o subtalterno e de impor medo.
Devemos induzir transformações de ordem cultural, pedagógica e psicológica, visando a
tirar do imaginário coletivo a ideia de supremacia racial versus subordinação racial.
Palavras-chave: Discriminação Racial; Dano Moral; Ofensas Verbais.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Waldeci Ferreira Chagas
UEPB
As Representações da Cultura Afro-brasileira em livros didáticos de História
Antes de ser um material didático cotidianamente utilizado pelos (as) professores (as)
para ensinar os mais variados conhecimentos na escola da educação básica, o livro
didático é produzido em determinada sociedade e tempo, portanto, não é detentor da
verdade, mas de uma verdade, questionada ou não pelos (as) professores (as) e
estudantes da educação básica. Nesse sentido é um produtor de discurso, cujos saberes
produzidos se situam no campo da representação, visto ser produzido a partir de um
lugar social, político, e cultural, por isso, traz na essência uma carga ideológica que
corresponde ou não ao universo cultural de quem o utiliza como meio de aquisição e
transmissão do saber, ou seja, o estudante e o (a) professor (a). Nessa perspectiva, neste
trabalho analisamos as representações da cultura afro-brasileira em livros didáticos de
História da educação básica, especificamente os utilizados pelos docentes do ensino
fundamental II que atuam nas escolas da rede pública da cidade de Alagoa Grande. Tais
livros foram publicados pós 2003, quando foi promulgada a lei 10.639/003 que obriga
as escolas da educação básica a inserir os conteúdos de história e cultura afro-brasileira
no currículo escolar. Quais as representações dessa cultura? Elas reproduzem ou
superam a idéia de inferioridade geralmente atribuída às práticas culturais das pessoas
negras? Essas são algumas das questões que norteiam a nossa discussão e nos permitem
percebermos a aplicação da lei 10.639/003.
Wellington Marinho de Lira
UFRPE
A CONTRIBUIÇÃO DE LÍNGUAS AFRICANAS NA FORMAÇÃO DA VARIEDADE DO
PORTUGUÊS FALADO NO AGRESTE MERIDIONAL DE PERNAMBUCO
Este trabalho tem como objetivo mostrar como algumas línguas africanas contribuiram
para a formação do léxico da língua portuguesa, em especial a variedade falada na
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
região do Agreste Meridional de Pernambuco. Pretende também verificar se existe uma
consciência dessa contribuição pelos usuários da língua nessa região. Em Pernambuco a
Região do Agreste Meridional é formada por vinte e seis municípios, contando com
uma população aproximada de 600 mil habitantes distribuídos nas áreas urbana e rural.
A cidade de Garanhuns é a maior e mais importante cidade dessa região contando com
uma população de cerca de 130 mil habitantes. Por se tratar de um polo regional, a
cidade de Garanhuns e regiões próximas representam um ponto de convergência de
várias culturas em contato. Baseados nos conceitos de Língua (Marcuschi 2001),
Cultura (Duranti 1997) e Identidade (Crystal 1987) buscamos primeiro ver qual a
relação de determinada comunidade de fala com os termos de origem africana usados
diariamente na linguagem local. Também procuramos verificar se os usuários locais da
língua estão conscientes dessa contribuição histórica das línguas africanas para com a
língua portuguesa. Os trabalhos de coleta de dados foram iniciados em março do ano
corrente (2011) através de questionários que foram aplicados na comunidade
quilombola de Castanhinho e em outras comunidades na cidade de Garanhuns. Apesar
de ser apenas o início da pesquisa, o resultado dessa coleta de dados nos aponta alguns
dados surpreendentes que se forem confirmados nas pesquisas posteriores, poderão dar
subsídios para uma discussão mais ampla sobre este tema.
Palavras-chave: Cultura afro-brasileira, empréstimos lingüísticos, contribuições
africanas, formação de léxico.
Wellington Neves Vieira
FASETE
SETHE: REPRESENTAÇÕES AMBIENTAIS E RESISTÊNCIA POLÍTICA EM BELOVED
DE TONI MORRISON
O objetivo deste estudo é mostrar a relação que a personagem Sethe, protagonista do
romance Beloved de Toni Morrison, matem com a natureza. A ligação de Sethe com os
rios, a flora e o próprio ambiente geográfico norte-americano é utilizado pela narradora
do romance como uma estratégia para realçar a condição da mulher negra, no intuito de
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
expressar os contornos identidários afro-americanos que estão geminados em ambientes
onde a mulher negra ainda é considerada estrangeira. Neste sentido, a teoria da
ecocrítica será o suporte teórico subsidiário para a análise literária das simbologias que
marcam a representação do meio ambiente norte-americano.
Palavras-chave: Narrativa, Personagem, Ecocrítica, Condição feminina, Toni Morrison.
Williams Lima Cabral
Silvano Fidelis
Maria Lindaci de Gomes Souza – Orientadora
UEPB
“A gente planta de tudo”: As práticas de cura em comunidades remanescentes
quilombolas da Paraíba
O presente trabalho é produto de uma pesquisa em andamento em três comunidades
remanescentes quilombolas da Paraíba, através do PIBIC-UEPB. Objetiva-se avaliar as
ações cotidianas, por meio da História Oral, identificando através das representações
das práticas de cura das(os) moradoras(es). Vamos expor o uso de plantas medicinais
para tratamento de doenças nessas localidades, pois constatamos que mesmo depois da
implantação de unidades básicas de saúde (UBS) em algumas dessas localidades as
mulheres ainda fazem uso das plantas para o fabrico de remédios, seja por cozimento,
garrafadas (vinho medicinal), banho de acento, chás, etc. Como aparato teórico
ultilizamos a discussão acerca da memória, individual e coletiva (Halbwabchs), assim
como os conceitos de representação (Chartier), e ainda Certeau com seus conceitos de
tática, estratégia, cotidiano e usos. Dessa forma vamos explorar as narrativas através de
suas subjetividades que nos contam muito da História e do cotidiano dessas
comunidades as quais sofrem com a tendência de não valorização de seus processos de
formação histórica.
Palavras-chave: comunidade quilombola, práticas de cura, representação.
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Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN
Willian Lima de Sousa
UFPB
O REINO DE CARLOS MAGNO E A MOVÊNCIA DAS VOZES:
DA TRADIÇÃO EUROPÉIA À VOZ E ESCRITURA NORDESTINA
Este trabalho busca compreender como ocorre o processo de desterritorialização, neste
caso, das narrativas que envolvem a personagem de Carlos Magno da Europa para o
Brasil, e a sua transposição lingüístico-cultural para a voz e escritura que habita o
imaginário/memória popular do povo nordestino. O que é conhecido desse ícone da
história francesa, ou seja, seus dados biográficos comprovam a existência do Carlos
Magno histórico. Outro ponto importante e a presença desse personagem em La
Chanson de Roland (A Canção de Roland). Fixada entre os populares em Portugal, as
narrativas envolvendo Carlos Magno iniciam seu processo de desterritorialização rumo
ao Brasil por volta de 1769 e 1826. No Brasil, principalmente nordeste, essa narrativa se
estruturam primeiramente no suporte oral, os cantadores. Após este primeiro momento
em que se têm a presença do herói carolíngio no suporte oral, estas narrativas voltam
para o suporte escrito, folhetos no século XX, nas páginas de Leandro Gomes de Barros
em A batalha de Oliveiros com Ferrabrás e A prisão de Oliveiros e seus Companheiros.
Ao adentrar as paginas dos cordéis em 1913, a voz fixada na escritura de Leandro
Gomes nas obras supracitadas alcançou um grande sucesso. Essa pesquisa pretende
contribuir criticamente para o debate sobre a movência das narrativas visando entender
como esses textos oriundos da tradição européia se comportam em uma nova realidade
histórico – lingüístico - cultural, e como nesse novo espaço, o processo de
ressignificação ocorre, aproximando signos de cultural distintas como no caso de Carlos
Magno e Lampião.
Palavras-chave: Narrativas, desterritorialização, cordel, movência, memória.