Caderno de Resumos - Rosângela Trajano
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Caderno de Resumos - Rosângela Trajano
II Colóquio Internacional de Culturas africanas literatura - cultura - violência - preconceito - racismo- mídias Caderno de Resumos Organizadoras Tânia Lima Izabel Nascimento Carmen Alveal II Colóquio Internacional de Culturas Africanas literatura, cultura, violência, preconceito racismo, mídias Organizadores Tânia Lima Izabel Nascimento Carmen Alveal II Colóquio Internacional de Culturas Africanas literatura, cultura, violência, preconceito racismo, mídias 1ª edição EDUFRN Natal-RN 2011 Comissão Organizadora Tânia Lima [UFRN] - Coordenação geral Izabel Nascimento [UFRN] - Coordenadora adjunta, Amarino Queiroz [UFRN] Carmen Alveal [UFRN] Conceição Fraga [UFRN] Daniela Galdino [UNEB / UFBA] Derivaldo dos Santos [UFRN] Fátima Costa [FAFICA] Ilza Matias [UFRN] João Paulo Pinto Có [GUINÉ-BISSAU] Marluce Pereira [UFRN] Renata Pimentel [UFRPE] Rosilda Bezerra [UEPB] Sávio Roberto Fonseca [UFRPE] Zuleide Duarte [UEPB] Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Ivonido Rego Vice-reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Ângela Maria Paiva Cruz Chefe do Departamento de Letras Maria das Graças Rodrigues Coordenação de Letras Liomar Costa de Queiroz Coordenador da Pós-Graduação Luís Passegi Webmasters Nicolau Chiavenato Rosângela Trajano Capa e Projeto editorial Rosângela Trajano Revisão Dos autores Realizadores Grupo de Estudos Africanos – Letras/UFRN Copyright © 2011 by EDUFRN Natal-RN Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). Colóquio Internacional de Culturas Africanas (2: 2011: Natal, RN) / Tânia Lima, Izabel Nascimento, Carmem Alveal (Organizadores). Griots: II colóquio internacional de culturas africanas: leitura – cultura – violência – preconceito – racismo – mídias: cadernos de resumos. Natal, 2011. ISBN: 978-85-7273-765-4 (e-book) 1. Cultura afro-brasileira. 2. Oralidade. 3. Igualdade. 4. Racismo. I. Lima, Tânia. 2. Nascimento, Izabel. 3. Alveal, Carmen. IV. Título. RN/BSE-CCHLA CDU 39(81) Apresentação A Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e o Programa de PósGraduação em Estudos da Linguagem do Departamento de Letras realizarão no período de 25 a 27 de maio de 2011, na cidade de Natal-RN, o II Colóquio Internacional de Culturas Africanas – Griots, dando assim continuidade à iniciativa que em 2009 organizou o I Colóquio de Culturas Africanas: Linguagem, Memória e Imaginário. Esse evento oportuniza diálogos importantes entre professores, pesquisadores, discentes e escritores interessados em discutir questões envolvendo África, A segunda edição do Colóquio “Griots” traz novos desafios não apenas envolvendo questões voltadas à literatura africana, mas visa ampliar debates sobre a importância das mídias em torno da luta contra todo tipo de violência, preconceito e racismo. O racismo evidencia as consequências da opressão exercida por uma cultura dominante, que atinge as comunidades afro-descendentes, atinge a cultura, mas também a política e o ser psíquico. Nesse sentido, o Griots 2011 analisa a violência excedente em um mundo que subverte e altera tanto as coletividades quanto os sujeitos em seu devir pessoal. Ao abrigar um evento dessa natureza, estamos falando sobre a desigualdade e a redução do sujeito em objeto, da substituição do ser pelo ter, estamos falando sobre o apagamento de línguas marginalizadas, estamos falando sobre as conseqüências da modernidade em um mundo desprovido de seu maior luxo: as relações humanas. Se é pela cultura que se dá a criação das fagulhas do imaginário racista, é pelo discurso que ele se estabelece no meio de nós. Nos sistemas capitalistas, entre o explorado e o poder, interpõe-se uma multidão de discursos sobre a moral humana. Quadros e giz a postos nos muros das escolas públicas e particulares. Muro convite. Muitas vezes discriminação e preconceito também começam dentro da sala de aula: silêncio. Cale-se. Eu sou a voz, você apenas o ouvido, você é o meu não; eu sou o seu sim. E ponto final na lição. Na hora da prova: d’escola a cola que não descola. Em meio a tudo isso, quem faz uso da escopeta, das balas perdidas, dos meninos “aviõezinhos”? Onde se esconde a violência que se estatela dos guetos aos semáforos? Por quais luxos batem em rostos plugados no mundo virtual? Por quais terras invadem a noite dos travestis naufragando a igualdade? Nos espaços para abreviar grafites, novos poemas se picham: “No mundo, não há vencedor, não há perdedor, há vidas vazias, vidas intensas de poesia”. Como devemos abrir a porta da poesia para novos canais humanos? Acaso o trinco da porta largou o poema no último verso da escadaria do morro onde não há poesia mais linda do que o silêncio? Nosso modelo de civilização é um fabulário, em meio ao tecnicismo, demarcando a “vaziez” de indivíduos que conhecem de cor e salteado o mundo da tela de um blog, no entanto são desconhecedores do abismo da alma humana. Não conseguimos mais nos conhecer, só conseguimos reconhecer nossa imagem irrefletida num solilóquio sonhador. O narcísico, que não deixa de olhar o lago. A imagem da imagem reflete várias imagens em um só espelho. Como diz Mia Couto [2008]: “Cura-me de sonhar, doutor”. Conhecemos uma sobrecarga de informações, contudo não conhecemos o que há de nós em nós mesmos. A fome faz conhecer a Terra; a sede o mar. O grande desafio desse século é o de todos os séculos: “Conhece-te a ti mesmo”? Atualmente vivemos os reflexos da caverna de Platão, adoecemos das sombras de imagens que jamais tocaremos a valer. Adoecemos de conhecimento, adoecemos por não sabermos viver mais o desconhecido. Adoecemos da falta de encantamento. Adoecemos da escassez de alumbramentos, do que nunca saberemos revelar. Adoecemos da falta de doação humanitária. Adoecemos dos ideais humanizadores. E por não nos sabermos conhecedores de nossa alma, violentamo-nos uns aos outros como se fôssemos bichos primatas, bestializados. Hannah Arendt [2009], no livro Sobre a violência, diz que temos um excedente de violência na atualidade porque temos um excesso de burocracia no mundo. Vivemos amarrados a um sistema burocrático que nos aprisiona a todos de uma falsa liberdade. Tudo existe em nome da burocracia. Segundo Arendt, não sabemos mais nos dias de hoje como destronar esse tirano. Nessa perspectiva, o evento Griots analisa a linguagem que nos intoxica pelo discurso da violência, do preconceito, do racismo, pois como salienta Inocência Mata: “os discursos oficiais são sonhos ritualizados, expressões, estereótipos criminosos com que se pretendiam esconder a realidade e erguer respeitáveis fachadas [das figuras públicas] e terríveis máquinas de guerra, que num espaço de um só dia se desmoronou”. Em verdade, somos sujeitos de nossa história, quando somos atores de nossa história política. “Oh, meu corpo, faça sempre em mim um homem que interroga.” [Frantz Fanon]. E quando eu não interrogar, vigiai-me para não esquecer o furo da canoazinha na maré das sereias-respostas. Organizadores Eixos temáticos 1) A Mitologia dos Orixás: Terreiros de Candomblé; 2) Cinema Contemporâneo: Da diversidade étnico-racial, cultural, política, religiosa e sexual; 3) Diáspora, literaturas: afro-brasileira e afro-americana; 4) Geografias Literárias: Cartografias Culturais; 5) Linguagem, Carnavalização, Dialogismo; 6) Linguagem, Oralidade, Memória; 7) História e África; 8) Literatura e Filosofia: da condição “pós-moderna”; 9) Literatura e Semiótica: poéticas contemporâneas; 10) Literatura e Sociologia: Cenário de Violência contra a Mulher; 11) Novas Tecnologias, outras mídias, blogs, orkuts, jornais etc; 12) Quilombos - Quilombolas; 13) Performance, Teatro e Dança, Arte e Cultura; 14) Práticas Discursivas, Alteridades, Etnias, Gênero, Sexualidade; 15) Infância, violência, pós-colonialismo. 9 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Caderno de Resumos Abrão Rodrigues Neto UFRN The Different Colours One People (Diferentes Cores Um Povo Só) Este trabalho propõe uma analise e reflexão profunda sobre a musica de Luck Dube (1964 -2007) ―The Different Coulors One People‖ produzido em 1995 depois da apartheid, referente ao álbum Vitims (vitimas). Nessa musica trabalharemos a segregação racial que engloba não só África do Sul como os outros países em diferentes continentes. Na África do Sul a segregação racial teve seu inicio no período colonial, e depois o apartheid foi introduzido como política oficial após as eleições de 1948. O que acabou dividindo os habitantes em grupos raciais. (―Negros‖, ―Brancos‖ e outros). O poeta baiano Antonio Frederico Castro Alves (1847 – 1871), morto precocemente pela tuberculose aos 24 anos, o seu pequeno (Trecho de O Navio Negreiro) trazido por nós resumiu toda a musica de Luck Dube. Palavras-chave: segregação, racial. Adely Carla de Lima Santos Carla Eduarda Simões Buarque de Assunção Manuscritos Culinários: Tradição e cultura popular O Presente trabalho irá discutir sobre a questão das tradições nos manuscritos culinários em que se observou que esses cadernos estão interligados a tradição oral e na reconstrução da oralidade escrita. Veremos também na perspectiva da transmissão oral a 10 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN busca da interpretação no momento da performance e assim, as inúmeras possibilidades de investigar dentro da cultura popular uma questão simbólica marcada pelos alimentos numa tradição histórica na colocação do discurso escrito. Palavras chave: Manuscrito, oralidade, cultura popular, tradição discursiva. Adriana Aparecida de Souza José Willington Germano – Orientador Mércia Maria de Santi Estácio Maria do Livramento M. Clementino – Orientadora UFRN BRASIL PÓS-COLONIAL: DIÁLOGOS E REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS EDUCATIVAS DA INFÂNCIA Neste texto, abordamos aspectos sociológicos e históricos da infância e da educação no Brasil pós-colonial, refletindo sobre o preconceito, a violência e o racismo destilado sobre os afro-descentes, as minorias e as crianças pobres. Destacamos pensadores, filósofos, educadores, biólogos, psicólogos e escritores que pesquisaram e produziram sobre a infância e a educação no país para apresentarmos como vem acontecendo a construção social da infância e da educação no contexto histórico e sociológico brasileiro. É nosso objetivo também dialogar sobre a relação existente entre violência, preconceito, racismo, educação e infância nesse período, sinalizando aspectos que merecem destaque e discussão numa perspectiva pós-colonialista. Nossa metodologia está pautada numa espécie de revisão bibliográfica, por esta proporcionar condições reflexivas sobre a condição da infância, bem como seu processo educacional no contexto brasileiro para assim, compreender as relações de violência existentes nestas interfaces. Propomos-nos, portanto, a apresentar um texto fundamentado sobre os aspectos já sinalizados, buscando na literatura indícios que possibilitem o diálogo com a cultura como elemento chave da construção da identidade de um povo que se constituiu multiculturalmente no entrelaçamento cultural de brancos europeus, negros africanos e índios brasileiros. Palavras-chave: Infância. Racismo. Educação. Cultura. 11 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Adriana Elisabete Bayer UFRGS Identidades territoriais no reino de Anguéné Em meados do distante século XVI, quando a ilha de São Tomé era um importante entreposto de escravos, naufragou um navio negreiro bem próximo a sua costa. Ao mar foram lançados cerca de 200 cativos, muitos dos quais buscaram sua salvação na Baía das Lulas (também chamada por Angra de São João). Conhecidos pela alcunha ―angolares‖, os sobreviventes se refugiaram no obó, formaram núcleos de povoamento, constituindo uma etnia, com hábitos e língua específicos. Nessa narrativa, quais são as fronteiras entre o mito e a realidade factual? Não se sabe, pois as fontes historiográficas foram embaralhadas, primeiro em favor de uma ideologia colonialista, depois de uma ideologia nacionalista. No entanto, no reino de Anguéné, não há tempo para dúvidas. Ali imperam certezas de que as identidades são, sobretudo, sociais e territoriais, e subordinam-se a constantes negociações. Assim, evidenciar o processo de construção identitário angolar, tendo por objeto a obra. Anguéné: gesta africana do povo angolar de S. Tomé e Príncipe (1989), de Fernando de Macedo, é o propósito do presente ensaio. Palavras-chave: poesia são-tomense; Fernando de Macedo; angolar; identidade territorial; identidade social. Adriano Charles Cruz UFRN Os dizeres e os silêncios da memória em Parábola do cágado velho de Pepetela Neste trabalho, pretendemos analisar o romance A parábola do cágado velho de Pepetela a partir das reminiscências do personagem-principal, Ulume. A narrativa apresenta uma trama tecida pela memória e entrecruzada entre os espaços rural e urbano. Nesse sentido, nossa reflexão encaminha-se para os deslocamentos e as errâncias dos sujeitos-personagens nos dois espaços onde se confrontam o velho e o moderno. A partir da perspectiva das teorias pós-coloniais e pós-estruturalistas, 12 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN percorremos os territórios fragmentados de Angola, acompanhando a utopia do homemUlume entre os seus dizeres e silêncios. Palavras-chave: Literatura africana, memória, silêncio. Adriano Silva Rodrigues – CESA/UNAMA Francisco Augusto Cruz de Araújo – PPGCS/UFRN AS NOVAS TECNOLOGIAS NA TRIBO: UM ESTUDO SOBRE OS ÍNDIOS KYIKATÊJÊ E OS USOS DA COMUNICAÇÃO VIRTUAL Os avanços tecnológicos fizeram que um simples click no computador seja responsável por abrir uma infinidade de informações, disponíveis para qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta. Uma das consequências dessa transformação foi a interatividade que possibilita a todos, que possuem de simples até os mais sofisticados equipamentos de comunicação, gerar conteúdos, publicar notícias, tornar-se editor e criar novas mídias a partir dos seus olhares. Esta pesquisa tem o objetivo de analisar as contribuições do acesso às tecnologias de comunicação pela comunidade indígena Kyikatêjê. Neste estudo buscamos compreender como se dá a relação entre uma comunidade tradicional em busca da preservação dos seus valores identitários culturais aliados aos avanços tecnológicos que gradativamente são absorvidos pelo seu povo. Para termos uma analise aos detalhes do cotidiano indígena, realizaremos um estudo etnográfico a partir de visitas regulares à comunidade Kyikatêjê, faremos captura de imagens, anotações de campo, conversas com os membros da comunidade, dentre outras técnicas que se fizerem necessárias no decorrer da pesquisa. Compreendemos que o acesso da comunidade às tecnologias de comunicação possibilita ao grupo uma nova alternativa de difusão e preservação da sua identidade cultural e demais valores. Neste sentido, avaliaremos os fatores positivos e negativos da relação dos índios com as tecnologias a eles disponíveis. Palavras-chave: índios; comunicação; tecnologia. 13 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Ageirton dos Santos Silva UFRN Teias da discursividade negra nos sambas de enredo de temática africana Concebendo a linguagem como prática social constitutiva das relações humanas, este trabalho, a partir de gestos de interpretação dos discursos que atravessam alguns sambas de enredo de temática negra (SEAs), foca sua atenção na produção de sentidos deles emanada, com o objetivo de abrir uma discussão em torno da ideia muito comum de que tais sambas conseguem elaborar apenas uma abordagem folclórica dos símbolos constitutivos do universo negro, mas não uma abordagem de tom político e/ou sintonizada com uma agenda de luta em prol questões de ordem sociocultural reclamada pelo povo negro. Situando-se no contexto da agenda política e cultural da Linguística Aplicada, que se põe longe das verdades incontestáveis, das certezas sólidas e da quantidade exaustiva para provar uma relação de causa e efeito e uma verdade indiscutível à maneira do que ocorre no campo das ciências naturais, a metodologia adotada é de base qualitativa interpretativista. As bases teóricas que dão sustentação ao trabalho advêm das formulações dos estudos étnico-culturais e das proposições dos estudos culturais em associação com alguns princípios teórico-metodológicos da Análise de discurso de orientação francesa (AD). Espera-se, a partir da discussão levantada, que a academia des-cubra o valor documental do SEA para pensar as relações interétnicas constitutivas do povo brasileiro e que se possa refletir sobre os sentidos para além dos folclóricos que o atravessam. Palavras-chave: Práticas discursivas. Identidades negras. Discursos. Sambas de enredo de temática africana. Ajanayr Michelly Sobral Santana UEPB CLARA DOS ANJOS: REPRESENTAÇÕES DA MULHER NEGRA NA OBRA DE LIMA BARRETO O presente trabalho analisa a obra do autor Lima Barreto, que atuou como jornalista na imprensa carioca nos primeiros anos do século XX, deixando um legado em forma de 14 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN contos, crônicas e romances. Dentre as problemáticas abordadas em suas obras, encontra-se a temática relativa às relações de gênero. O objetivo desse estudo é analisar as representações das relações de gênero na obra Clara dos Anjos (1994). Deste modo, observamos os pontos relativos à temática: preconceito racial e social, educação, relações familiares. Para tal estudo, contextualizamos a biografia do escritor, que nos permitiu traçar um perfil socioeconômico e visão de mundo do autor. A partir da sua obra, analisamos as representações dos papeis e funções sociais da mulher negra e a representação da família junto à sociedade como reprodutora de comportamento e valores sociais. Vimos que as representações e relações de gênero feitas pelo autor demonstram sua posição crítica com relação à educação feminina, ao denunciar as condições de como a mulher negra era educada, que terminava por ter seus conhecimentos e experiências perfiladas pelo ambiente sociocultural. Desta forma, convergimos o nosso olhar para outra questão: o posicionamento de um escritor que retratou de forma contundente a situação da mulher negra na sociedade, ao denunciar, em forma de escritos, as condições de inferioridade feminina e a educação recebida. A obra e Lima Barreto se torna importante, pela forma de como retratou a realidade em que viveu, escrevendo contra a sociedade que o marginalizava de forma crítica e ironizada, no que toca as relações de poder encontradas na sociedade brasileira nas primeiras décadas do século XX. Alberes Santos UFPE A MEMÓRIA (IN) DISSOLÚVEL NA NARRATIVA DE A VARANDA DO FRANGIPANI DE FRANGIPANI DE MIA COUTO O presente trabalho objetiva o estudo da tentativa de conservação da memória e da tradição africana/ moçambicana, bastante perceptível, no discurso da narrativa de A varanda do frangipani de Mia Couto, a partir dos personagens anciãos que moram isoladamente numa antiga fortificação portuguesa, transformada em asilo, onde há acontecimentos de natureza fantástica e do realismo maravilhoso. No decorrer da diegese, o detetive Ermelindo, negro da capital de Moçambique, vem apurar e/ou investigar a morte misteriosa do gestor do forte, Vasto Excelêncio, ex- 15 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN militar, que possuía ligações perigosas com forças escusas do governo, através dos depoimentos dos idosos. Seu desconhecimento acerca da língua- dialetos, léxicos, expressões populares- e das tradições moçambicanas faz com que os velhos o tenham como um intruso, pois perdeu a essência de ser negro; ao assimilar-se no mundo dos brancos. Para pensarmos a questão da memória, empregaremos os pressupostos teóricos de Ricouer (2005) sobre a ars memories quanto ao não esquecimento do passado e Dhiel (2006), quando se remete à função daquela como formadora de saberes e tradições inseridas num contexto recuperável e passível de atualização. Palavras-chave: memória, tradição, anciãos, língua e Mia Couto. Aldinízia de Medeiros Souza Francisca Zuilma Rocha de Moura Maria Paula da Silva Leite SME - NATAL DIVERSIDADE CULTURAL NA SALA DE AULA: ÁFRICA E CULTURA AFROBRASILEIRA EM DESTAQUE Os temas relacionados à participação negra na história e cultura brasileiras são de grande importância na formação de uma educação para o combate ao preconceito. Cabe aos professores de história da África a tarefa de contribuir com a desconstrução de estereótipos e preconceitos, a fim de contribuir para a efetivação da cidadania no que tange o direito ao acesso ao conhecimento de história da África e da cultura afrobrasileira, contribuindo para a tomada de consciência de pertencimento dessa cultura como sendo de todos e não apenas de um segmento da sociedade. Sendo assim, o reconhecimento da diferença é essencial para que todos os cidadãos tenham as mesmas oportunidades. Nesse contexto, a escola é uma dos veículos sociais para a promoção dessas oportunidades, sobretudo no que diz respeito ao acesso à educação. Destarte, o projeto Diversidade Cultural na sala de aula: África e cultura afro-brasileira em destaque foi elaborado com a finalidade de atender às orientações do documento: 16 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN ―Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana‖. O projeto foi elaborado e aplicado na Escola Municipal Terezinha Paulino de Lima (Natal-RN), no ensino fundamental II e contou com a participação de professores de diversos componentes curriculares. Este trabalho visa apresentar as atividades desenvolvidas durante a aplicação do projeto e seus resultados no ano letivo de 2010. Palavras chave: História da África; cultura afro-brasileira; educação. Alessandra Ferreira Os referenciais curriculares para o ensino de História: novos caminhos para inserção dos temas ligados à identidade e diversidade cultural Pensar a escola e o currículo em um novo contexto epistemológico consiste em um grande desafio para os educadores do século XXI, romper com o viés cientificista postulado em um paradigma racional e positivista que fundamentou a produção do conhecimento até a metade do século XX para incorporar novas linguagens, novas estratégias de ensino e novos conteúdos no espaço escolar podem resultar em uma ressignificação do processo de ensino e aprendizagem. Diante de um cenário educativo tão promissor cabe então apresentar as diferenças existentes entre as teorias que nortearam as concepções de currículo adotadas pelas escolas, pontuar as transformações ocorridas na área do ensino de História, ressaltando a inserção das temáticas referentes à valorização da identidade cultural e preservação do patrimônio sociocultural, bem como relacionar as principais contribuições concebidas em dois documentos elaborados para direcionar a prática do professor de História na rede estadual do ensino do Rio Grande do Norte (1992) e na rede municipal de ensino da cidade do Natal (2008) com as teorias subjacentes ao currículo defendidas por Silva (2010) e as concepções teóricas que nortearam cada uma das propostas. A realização desse estudo possibilitou perceber o caráter progressista dessas propostas curriculares, possibilitando uma renovação na prática de ensino de História, embora tais inovações pedagógicas não sejam ainda uma realidade em todas as escolas públicas da cidade do Natal e do estado do Rio Grande do 17 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Norte em virtude do acervo escolar ser ainda insuficiente para a inserção das mais diferentes linguagens na sala de aula. Alex Beigui UFRN Corpos e Máscaras na Diáspora da Cena Ibero-Afro-Brasileira A partir de abordagens contemporâneas cada vez mais comparatistas entre diferentes modos de representação e linguagens, faz-se necessário pensar a questão das matrizes culturais e seus desdobramentos frente a dispositivos de leituras e releituras do corpo do artista. Dentre os países de língua portuguesa, sobretudo, os africanos, percebe-se com mais clareza as influências no campo verbal, lingüístico e literário que os estudos histórico-colonialistas denominaram á sua época, pejorativamente, de ―língua de preto‖, ao se referirem ao ―escravo-intérprete‖. Contudo, pouco se tem refletido sobre as máscaras de construção do corpo negro como espaço de resistência e ressignificação da diáspora, sobretudo, do corpo ancestral do negro como descoberta dos arquétipos físicos (trickster), desenhados nos corpos de atores de diferentes gerações. Neste trabalho procuro apontar algumas dessas marcas representativas do modelo híbrido de corpo, bem como problematizar a questão das influências e das apropriações conscientes do ―gestus‖ africano no corpo do ator brasileiro. Alexandre Alberto Santos de Oliveira UNICAP A Civilização de Nok, uma História que merece maior compreensão Os estudos sobre a Civilização de Nok até o momento são muito insipientes, produzindo poucas alternativas para uma compreensão ampla da cultura e história desse povo que viveu no período histórico entre 700 a.C a 200 d.C na curva do Rio Níger, geograficamente situada hoje na Nigéria. Tida como ―Misteriosa‖, ou ―Civilização dos Bonecos‖, pouco escavada pelos arqueólogos e discutida pela academia, esta civilização foi uma das mais fortes na história dos povos antigos africanos que descobriram novas 18 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN alternativas de expansão territorial. Sua arte, suas práticas culturais, seus sistemas de agricultura e pecuária, sua expansão, suas tecnologias de metalurgia e de cozimento do barro, revelam a história de um povo muito avançado e organizado neste Período histórico. O texto se propõe a apresentar um número maior de informações bibliográficas, citações e imagens sobre o tema, contribuindo para o aumento de massa crítica em relação ao imaginário Nok. Contudo, ainda se propõe fazer uma atualização simplificada de informações mínimas dos antigos povos do norte africano, àqueles que com o aumento da desertificação do Saara e por suas experiências mal sucedidas de cultivo da terra no citado período histórico tiveram que partir para outras localidades em busca de soluções para suas vidas. Tendo como texto base o ―Nok‖ do livro A Enxada e a Lança: a África antes dos portugueses. 3° ed. Revisada e ampliada – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, do professor Alberto da Costa e Silva, o texto transcorrerá por outras bibliografias de mesmo teor como trechos da coleção História Geral da África UNESCO. Alexandre Bezerra Alves UERN Vidas secas: Fabiano entre escravidão e pobreza O presente trabalho apreende uma leitura sobre o personagem Fabiano, um dos protagonistas do romance Vidas Secas (1938), de autoria do escritor alagoano Graciliano Ramos. Nas análises aqui realizadas sobre o personagem, focaliza-se a narrativa da obra com relação ao chamado ―Romance de 30 / Ciclo do romance do nordeste‖, assim como se contextualiza o personagem como referência à realidade nordestina da década em que o livro foi escrito, com destaque para o âmbito ficcional em que o autor cria as condições de discussão sobre a narrativa voltada para a denúncia social, no sentido da exploração do trabalho – por intermédio de uma leitura que possibilita a representação da escravidão -, da exposição da pobreza e do fenômeno da seca no nordeste como temas que perduram até a atualidade. Como base teórica para a análise aqui exposta, encontra-se o estudo Os pobres na literatura brasileira (SCHWARZ, 1983), assim como uma atualização sobre a questão da seca no século XXI, através de dois artigos distintos publicados nas revistas Horizonte Geográfico – esta com o título ―Onde ela falta, nascem as disputas‖ - e Rolling Stone (aqui sob a 19 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN denominação ―A guerra da água‖), ambas datadas do ano de 2008, e assinados pelo jornalista Sérgio Adeodato. A intenção do trabalho passa pela relação entre a literatura e a realidade, fazendo da ficção um modo de expressar como um problema do cenário nordestino continua a ser motivo de problematização diante da continuidade e da falta de soluções para a questão da seca e da pobreza na região nordeste do Brasil, além de incluir a condição do pobre como personagem tanto da ficção quanto de sua capacidade representativa em um passado recente do país assim como perante a situação social dos anos 2000. Palavras-chave: Vidas secas, romance de 30, Fabiano, nordeste. Alice Faria Signes UFRRJ/IM Racismo, brinquedo e infância: Uma análise biopolítica sobre violência simbólica na mídia O objetivo deste trabalho é apresentar resultados parciais da pesquisa Agenda Utoto, o qual faz parte do eixo temático ―Infância, violência e pós-colonialismo‖. Conforme os dados mais recentes do IBGE, a população brasileira é composta por 50,6% de pretos e pardos (negros), nossa problematização incide sobre a indústria de brinquedos. Primeiro, porque indústria infanto-juvenil, especificamente o mercado de brinquedos, não contempla a diversidade étnico-racial do povo brasileiro. Nossa pesquisa se ocupa dos efeitos na autoestima das crianças, especialmente das crianças negras, isto é, com a produção de subjetividade na infância através dos brinquedos. Assim, outro ponto de grande relevância deste trabalho é o debate referente aos processos de subjetivação e os recortes biopoliticos geracionais e raciais. A pesquisa pretende fornecer subsídios para um diagnostico em favor de políticas publicas para a diversidade étnico-racial. Em outros termos, significa analisar as condições para que a indústria infanto-juvenil, especificamente o setor de brinquedos, atue como um elemento decisivo no combate a violência simbólica na infância. Entre nossas hipóteses, merece destaque, o entendimento de que se as indústrias de brinquedos brasileiros contemplarem a 20 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN diversidade étnico-racial nacional, a sociedade brasileira estará dando um passo significativo em favor das políticas de ações afirmativas para o mercado infanto-juvenil, tal como as ações na área da educação que vêem sendo implementadas desde 2003. Palavras chaves: Relações de poder; Mídia; Infância. Aline Patrícia da Silva Ágda Priscila da Silva UFRN FILHO, PAI, AMANTE, SAMBISTA – NEGRO O samba é, sem dúvidas, um dos gêneros musicais mais populares do Brasil, tendo uma origem que remonta às manifestações culturais e festivas dos africanos que aqui se estabeleceram. Ao longo dos tempos, diversos foram os artistas que se destacaram como cantores e/ou compositores do gênero, sendo estes os grandes responsáveis por sua caracterização e expansão para além dos estados onde o ritmo predominou inicialmente. Entre tantos grandes, destacamos o emblemático Cartola, considerado por muitos músicos e críticos como o maior sambista da música brasileira. Engajado na boemia local, ele foi pedra fundamental na fundação de uma das maiores escolas de samba do nosso país: a Estação Primeira de Mangueira. Apesar de contar com grande reconhecimento na atualidade, sua carreira, assim como sua vida, foi marcada por altos e baixos, ausências e esperas. Assim sendo, este trabalho tem por objetivo apresentar algumas das contribuições do referido artista para a assunção do samba ao lugar de ritmo dos brasileiros, e não apenas dos negros como muito se acreditou em outros tempos. Visamos, ainda, refletir acerca do caráter representativo das suas canções que, enquanto enunciados vivos e imunes ao tempo, são portadoras de conflitos sociais, visto que todo discurso é essencialmente dialógico e reflete as coisas da vida, num movimento que é também de refração das experiências históricas dos grupos humanos. Dono de um versejar simples e ao mesmo tempo contundente, Angenor de Oliveira se constrói em cada composição ao mesmo tempo em que reinventa sua história que, em grande parte, é também a história do samba. Para o desenvolvimento desta análise, 21 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN fundamentamo-nos em uma concepção sócio-histórica de linguagem e no conceito bakhtiniano de vozes sociais. Palavras-chave: Cartola, Canção, Samba, Discurso, Vozes Sociais. Aluísio Barros de Oliveira UFRN MIA COUTO: ENTRE A TRADIÇÃO E A MODERNIDADE, UM CONTADEIRO DE ESTÓRIAS O objetivo do nosso trabalho é apresentar o escritor moçambicano mia Couto, autor de uma obra multifacetada – poemas, estórias para crianças, contos, crônicas, romances e ensaios – e que ao transitar entre a tradição e a modernidade o faz ciente do peso da tradição oral na constituição do sentido da moçambicanidade. Octávio Paz, Lourenço Rosário, Mia Couto, dentre outros, orientam a nossa leitura. Palavras chaves – Narrativa africana – Tradição – Modernidade. Alyne Costa de Castro Antônia Lis de Maria Martins Torres Hermínio Borges Neto UFC O correio eletrônico como ferramenta de comunicação no Projeto de Inclusão Sócio-Digital: Aprendendo a Navegar (@NAVE) No presente artigo, apresentaremos a experiência de utilização do correio eletrônico como ferramenta de comunicação do Projeto de Inclusão Digital: ―aprendendo a navegar‖, desenvolvido durante o ano de 2010 no município de Hidrolândia/Ceará. De maneira geral o projeto @NAVE tem por objetivo formar voluntários (gestores) da 22 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN comunidade local para gestão do Laboratório de Informática de um Centro Cultural do município. Esta formação foi realizada por estudantes de graduação e pós-graduação (formadores) do Laboratório Pesquisa Multimeios/UFC. Particularmente, nesta pesquisa analisou-se o uso do correio eletrônico no projeto em questão, a partir da intervenção dos formadores quando os gestores entravam em contato. A metodologia utilizada pautou-se em revisão bibliográfica e estudo de caso. Os dados foram analisados com base nos registros presentes em e-mails de gestores e formadores, acerca dos encaminhamentos sugeridos a resolução dos problemas ocorridos no Laboratório do Centro Cultural. De início, os registros mostravam que os gestores solicitavam a intervenção dos formadores para problema de qualquer ordem, desde atribuições de funções à manutenção das máquinas. Constatamos que após algumas intervenções a respeito destas questões, os gestores estabeleceram uma relação dialogada sobre as resoluções dos problemas, desenvolvendo assim uma autonomia em relação à administração do Laboratório de Informática do Centro Cultural. Palavras-chave: correio eletrônico – autonomia e gestão. Amarino Oliveira de Queiroz UFRN – CERES A GUINÉ EQUATORIAL EM SUA LITERATURA: ESPAÇO DE DIÁLOGO IBERO-BANTU O panorama das literaturas produzidas em espanhol e português no continente africano pode ser avaliado a partir de algumas particularidades que ora aproximam ora distinguem o labor artístico dos países que adotaram ambos os idiomas ibéricos como veículos de comunicação e expressão. Iniciado antes mesmo das independências nacionais e da subseqüente oficialidade lingüística do português em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, ou do castelhano na Guiné Equatorial e no Saara Ocidental, observamos que nos últimos anos este processo vem revelando certa tendência de expansão do idioma espanhol como língua de literatura em outras áreas daquele continente, sobretudo algumas cujos domínios lingüísticos são 23 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN predominantemente arábicos (caso do Marrocos e dos acampamentos de refugiados saarauis em Tinduf, Argélia), francófonos e bantus (Costa do Marfim, Camarões), além de perpetuar-se em territórios ainda controlados politicamente pelas antigas metrópoles espanhola (Ceuta, Melilha, Canarias) e portuguesa (Madeira). Descoberta e ocupada inicialmente pelos navegadores lusitanos, a antiga Guiné Espanhola e atual República da Guiné Equatorial representa, dentro do atual panorama cultural da África de colonização ibérica, uma área de particular interesse nesta nossa discussão, aqui recortada em sua produção literária híbrida de aspectos ibéricos e bantus. Palabras-chave: Literaturas africanas hispanas, Guiné Equatorial, hibridação. Ana Carolina Moura Mendonça UFRN Análise estética e social do conto “Tio, mi dá só cem”, de João Melo O trabalho objetiva mostrar uma das várias interpretações que o conto ―Tio, mi dá só cem‖, presente no livro Filhos da pátria (2008), do autor Angolano João Melo, oferece, utilizando abordagens que leve em consideração tanto o fator social quanto o fator estético-estrutural. É importante ressaltar que a narrativa e a temática de denúncia estão relacionadas, por isso a escolha de uma abordagem engajada, ressaltando a importância estética do texto artístico como denúncia social. Uma visão, portanto, do texto para a sociedade e não ao contrário. A análise deste conto será feita com o uso de alguns capítulos do livro literatura e sociedade e os capítulos ―literatura e personagem‖ e ―a personagem do romance‖ do livro a personagem de ficção de Antônio Cândido, o qual ajudará a construir essa ponte entre a estética e a estrutura do conto com a realidade social, em uma perspectiva literária e não sociológica. Além dessa abordagem teórica, empregaremos também alguns capítulos do livro Boaventura Cardoso: a escrita em processo, o qual se verificará a importância da linguagem nesses textos de denúncia social. Por fim, utilizaremos alguns capítulos do livro O demônio da teoria, de Antoine Compagnon, em que vai auxiliar na análise estrutural e estética do conto, como também na sua relação mimética com o contexto. 24 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN O conto de João Melo apresenta uma ampla possibilidade de leitura e de eixos temáticos a serem abordados. O presente trabalho não tem como objetivo esgotar esse campo de possibilidades interpretativas, mas oferecer uma leitura dentre as várias que podem ser feitas. Ana Cecília Alves Nôga Laís Luz de Menezes UFRN A IDENTIDADE AFRICANA NA DANÇA DAS FESTAS DE REIS CONGO NO BRASIL DOS SÉCULOS XVIII E XIX Como uma forma de se reorganizar após a diáspora, disseminou-se na América portuguesa o costume de eleição de reis por comunidades de africanos e seus descendentes, a fim de recriarem uma organização comunitária. A eleição destes reis ocorria durante as festas em homenagem a seus santos padroeiros, promovidas pelas irmandades, nas quais ocorriam diversos rituais africanos. Diante do sistema escravista colonial, os africanos passaram a buscar formas de preservar sua identidade, uma dessas formas era a Festa de Reis Negros ou Reis do Congo. Então, o trabalho que aqui se apresenta pretende fazer uma análise das festas dos reis negros ou Rei do Congo, dando ênfase à presença da identidade nas danças que variavam nessas celebrações. Tal análise se dará através dos relatos de viajantes dos oitocentos, que presenciaram as festas, como Koster (1814), Pohl (1818) e Spix e Martius (1818), Castelneau (1843), Burmeister (1851) e Burton (1868). Palavras chave: Dança, Festas, Identidade. 25 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Ana Cristina Pinto Bezerra UFRN Entre as amarras da colonização em uma Nação Crioula As leituras do cenário africano há muito revelam um olhar sobre o contexto de colonização e com isso a percepção violenta do processo de escravização feito do povo africano. Não obstante, no universo ficcional construído pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa tais impressões se fazem sentir pela forma bem urdida com a qual revela as metáforas de um sistema que aprisionou o homem africano desde o momento que o colonizou, desenraizando esse ser do seu habitat. De modo que o negro em seu lugar de nascença sente-se um estranho, alguém a quem foi negado o espaço, a voz, a consciência. É sobre esse processo brusco sentido nas letras de Agualusa, sobre a violência dessa ação vivida até os dias atuais em África a que esta análise se pretende. Para tanto, parte-se da leitura do romance Nação Crioula (AGUALUSA, 2009) em que o enredo conjuga na sua forma epistolar um recorte temporal da vivência africana, nas memórias desse universo desolador. Dialogando-se, ainda, com a tradição anterior ao momento de colonização retratada por A. Hampaté Bá (1970), com as instigantes concepções sobre o negro em Fanon (1983, 2005), além das considerações de Glissant (2005) entre outras leituras pertinentes para esse estudo. Palavras-chave: Violência; África; Agualusa; Colonização; Nação Crioula (2009). 26 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Ana Gabriella Ferreira da Silva Francisca Ramos-Lopes Francisco Allyson Rocha da Silva UERN CASAMENTOS INTERRACIAIS: (RE) PENSANDO O PASSADO E O PRESENTE O trabalho aborda uma das heranças coloniais que atravessa a história do povo brasileiro pós abolição da escravatura: a crença no branqueamento que, conforme o imaginário social, dar-se-ia pela miscigenação das relações afetivo-sexual construídas entre o negro com o branco. A partir desse foco objetiva-se desenvolver uma análise em torno de marcas identitárias que permeiam a história de vida de um homem branco casado com uma mulher negra. Metodologicamente, o estudo enquadra-se em um paradigma qualitativo-interpretativista. Os dados são oriundos de uma entrevista semiestruturada pertencente a tese de doutorado de Ramos-Lopes, (2010). A pesquisa fundamenta-se nas concepções de Bauman (2005) e Hall (2003) sobre a temática da identidade. Adota-se ainda as teorias de Guimarães (2004, 2006) e Munanga (2004) sobre o estudo das relações raciais. No geral, discute-se o processo que ocorre em determinado ambiente e como os sujeitos envolvidos nesse processo se percebem e são percebidos pelo outro. Palavras-chave: Branqueamento, Identidade, Racismo, Relações afetivas. Ana Luiza Durand de Medeiros UFPE Exú: uma abordagem sobre mitologia e estrutura em algumas práticas dos Terreiros de Candomblé Objetivamos com esse estudo refletir sobre a presença de Exú na mitologia Yorùbá e em algumas práticas existentes na religião de matrizes afro indígenas no Brasil. Partindo de uma análise sobre mito e estrutura na perspectiva antropológica de Lévi-Strauss, em que 27 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN a mitologia aparece como reflexo da estrutura social e das relações sociais de dada sociedade, buscamos fazer uma distinção e estudo sobre algumas características de Exú, apresentadas através dos mitos sobre esse Orixá, e como essas características estão presentes estruturando a realização de algumas práticas nos terreiros. Na mitologia Exú aparece como o portador do Ègán, que representa o Axé de Olódùmarè, conferindo assim autoridade à ele sobre os demais Orixás. Um exemplo a ser refletido nesse estudo é o fato de que antes do início das cerimônias públicas e sempre que tenham lugar oferendas importantes nas tradições do Candomblé é realizado primeiramente o Padê, prática ritual ligada à divindade aqui estudada. A estruturação do Padê está dentre outras tradições, também fundamentada na mitologia existente referente a este Orixá, e é essa a reflexão que buscamos fazer aqui, como a mitologia está presente orientando e estruturando algumas práticas ligadas a esta divindade. Para tal reflexão buscamos estudos etnográficos já realizados sobre este Orixá e sua prática litúrgica em terreiros. Na obra de autores da sociologia, antropologia e história buscamos a fundamentação teórica sobre a mitologia Yorubá. Ana Maria Coutinho de Sales – UFPE/UFPB Maria Rodrigues da Silva - UFPB ULOMMA: Literatura Afro-brasileira combatendo o racismo no cotidiano escolar O objetivo central deste trabalho é analisar a relevância social da literatura afrobrasileira como meio de combater o racismo no cotidiano escolar. É inegável a herança africana na formação do povo brasileiro passando pelos costumes culturais e pela pluralidade religiosa. Apesar de toda riqueza da cultura africana, a discriminação racial ainda é presente no cotidiano escolar. Negar a história da África é negar a história do povo brasileiro, mesmo com a Lei 10.639/2003, ainda se observa no cenário atual dos currículos, o mínimo de disciplinas específicas sobre a África e no Ensino Fundamental e Médio das escolas públicas a falta de práticas educativas que contemplem e valorizem a população afrodescente, especialmente a mulher negra. A inserção desses conteúdos nos currículos, assumida pelo Ministério da Educação tem como objetivo corrigir 28 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN injustiças, eliminar discriminações, promover inclusão e a cidadania para todos no sistema educacional brasileiro, o que consta nas Diretrizes Curriculares Nacionais/2005. Daí a urgente necessidade de trabalharmos a literatura afro-brasileira como uma possibilidade de desenvolver práticas pedagógicas transformadoras que promovam relações de convivências permeadas de atitudes de ética e de respeito. Neste sentido o conto ULOMMA, do escritor nigeriano Sanny, contribui para redesenhar uma nova história da mulher negra na sociedade contemporânea, destacando a sua contribuição como sujeito histórico na educação do nosso país através da sua presença significativa nas mais diversas manifestações culturais como a dança, a música, a poesia e a literatura. Palavras-chave: Literatura, mulher, racismo, educação. Ana Mónica Henriques Lopes UFAL Raça e nação: a construção da África do Sul Neste trabalho nos propomos a pensar como a discriminação racial proporcionou em dois momentos distintos o desenvolvimento de práticas e discursos que tinham por fundamento organizar o Estado nacional na África do Sul. O primeiro momento situa-se há cem anos quando a Constituição da Union of South Africa abriu margem para a edição de leis que visavam a instituição legal do apartheid e a fundação de um Estado branco. O segundo momento, ainda em desenvolvimento, iniciou-se com a libertação de Nelson Mandela, a promulgação das eleições livres e multirraciais e a instalação da Truth and Reconciliation Commission. (TRC). Se em 1910 a separação parecia, aos olhos da população bôer e branca, a única possibilidade de instituir um Estado livre e saudável, em 1990 a sobrevivência do Estado dependia de uma série de agenciamentos e negociações que concretizassem uma unidade multirracial. A criação de um posto de abastecimento pela Companhia Holandesa das Índias Orientais em 1652, que mais tarde abrigaria a colônia do Cabo, foi o ponto de partida para a organização de uma sociedade fechada, organizada em clãs, com enorme 29 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN desprezo tanto pela população nativa quanto pelos imigrantes que aportaram ali dois séculos depois. Os Bôers ou afrikaans, colonos descendentes de holandeses, franceses, flamencos e alemães, instituíram desde o início da colonização uma separação racial, social, política e econômica que não admitia nem mesmo uma proximidade com os ingleses que passaram a estabelecer-se no século XIX. Ao afirmarem ser os únicos e legítimos donos da terra – afrikaans – negavam a humanidade e propriedade aos bantus e khoisans. Constituíram um pensamento racial baseado na origem africana branca. Tal qual uma tradição, que busca numa antiguidade a justificativa de uma prática política, a invenção da raça afrikaans sustentou a política segregacionista que negava tanto brancos europeus, como negros e asiáticos. Podemos observar na Great Trek e na fundação da República Sul-Africana no Transvaal, em 1857, essa disposição a segregação completa. Foi apenas após a derrota frente as forças inglesas que os lideres bôers aceitaram negociar a submissão ao governo Britânico com a assinatura do Tratado de Vereeniging em 1902. Neste ficava claro o princípio de exclusão da população negra que perdeu o direito ao voto em todas as colônias na África do Sul, com exceção do Cabo. Quando em 1910 a África do Sul recebeu a independência limitada da Inglaterra os alicerces do apartheid já estavam lançados. A partir de então várias leis de exceção foram editadas até que em 1948, com a vitória do Partido Nacional nas eleições gerais, foi instituída a política de segregação para negros e colored (indianos, chineses e mestiços). Em 1912 a fundação da ANC – African National Congress – teve o proposito de ―defend and advance the rights of the African people after the violent destruction of their independence and the creation of the white supremacist Union of South Africa‖ (ANC, Constituition). Verifica-se a partir de então uma série de reivindicações que tiveram como reação governamental o enrijecimento da legislação e o aumento das prisões, práticas de tortura, desaparecimento e assassinato de seus membros. O aumento das pressões internacionais e da violência interna devido aos choques entre as forças de repressão do governo e militantes que apoiavam o fim do apartheid provocou o enfraquecimento da política de Pieter Botha. Em 1989 Frederik de Klerk assume o governo com a missão de promover uma política de transição. No ano seguinte Nelson Mandela foi libertado e teve início o longo processo de negociações e agenciamentos que visavam mais uma vez fundar o Estado nacional sul-africano, mas desta vez tendo por base uma legislação inclusiva que punia práticas racistas. 30 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN A organização da TRC e o desenvolvimento do trabalho teve o Ubuntu – que nas palavras da TRC significa people are people through another people ou umuntu ngumuntu ngabantu– como princípio filosófico que norteou as investigações dos crimes ocorridos entre 1960 a 1994. Mais do que a punição, a comissão procurava através da ―verdade‖, a reconciliação nacional – ou a reconstrução. Entre falhas e acertos a comissão parece ter produzido um clima de precária estabilidade que tem mantido a África do Sul longe de uma guerra civil e possibilitado a construção de uma nação multirracial. Ana Paula Alves Generoso PUC – MINAS Sortilégio: magia, sedução, tragédia O texto teatral Sortilégio II: mistério negro de Zumbi revivido, de Abdias do Nascimento, apresenta a temática do negro, o resgate dos elementos característicos da tragédia grega, a presença do herói negro, o coro de mulheres negras, os questionamentos quanto aos casamentos inter-raciais, a mestiçagem. Observando Sortilégio percebe-se que o herói vai ao encontro do resgate de suas origens afrobrasileiras, positivando o negro a partir da religiosidade e dos elementos que enaltecem a cultura afro-brasileira. O negro é visto em uma perspectiva diferente daquela a partir da qual é retratado em outras peças teatrais da época e de hoje, cuja aparição se reproduz em estereótipos consolidados socialmente em imagens do negro pobre, empregado doméstico, escravo, malandro, ladrão e outros mais. Nesse texto teatral, o negro se posiciona em um entre-lugar, em uma encruzilhada, por não pertencer completamente ao mundo branco, com as leis e as regras favorecendo apenas aos brancos, e tão pouco ao mundo negro. Mas este entre-lugar vai permitir que o herói encontre ou resgate as origens da cultura afro-brasileira por meio da religiosidade do candomblé. Palavras-chave: Sortilégio. Herói. Tragédia. 31 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Ana Paula Gomes de Oliveira Ionath Iamara Silva Santos Joselma de Lourdes da Silva Lima Patrícia Cristina de Aragão Araújo UEPB MUSICALIDADE AFROBRASILEIRA NO GRUPO PERCUSSIVO MARACAGRANDE: ESTUDO SOBRE O MARACATU EM CAMPINA GRANDE – PB Este trabalho pretende discutir sobre a afrobrasilidade em Campina Grande – Paraíba, através de reflexões em torno do grupo percussivo Maracagrande. Este grupo utiliza de recursos musicais para apresentar uma nova vertente do maracatu urbano praticado como expressão da cultura negra na cidade. Nossa proposta é apresentar o maracatu, propagado na musicalidade do Maracagrande, enquanto uma vertente ressignificada da cultura afrobrasileira. Nosso aporte teórico versa sobre os trabalhos desenvolvidos por GUILLEN e LIMA (2006), OLIVEIRA (2005), SILVA (2000) e MATTOS (2008). Metodologicamente trabalhamos com história oral temática e, portanto, realizamos entrevistas com representantes do grupo, para a partir de suas falas sobre as práticas culturais desenvolvidas pelo grupo, entender como este atua na cidade. Trabalhamos também com a imagética das fotografias, além de pesquisa bibliográfica para compreender as práticas reelaboradas pelo grupo, tanto no que se refere a arte praticada por eles como a forma de manifestação deste tipo de maracatuno contexto da cidade. Os resultados nos permitiram perceber que o grupo percussivo Maracagrande busca introduzir através de sua musicalidade a cultura afrobrasileira na cidade, divulgando que o Maracatu, enquanto manifestação cultural, pode ser ressignificado e reelaborado no contexto urbano de Campina Grande. Observamos que o grupo começa a alçar vôos mais altos no circuito cultural nordestino, pois, vem fazendo apresentações em outras regiões do Nordeste, apresentando-se em diversos espaços o que tem favorecido a valorização dessa cultura e sua importância história e social. Palavras-chave: Maracatu. Cultura Afrobrasileira. Musicalidade. 32 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Ana Santana Souza IFESP/UnP “A cabeça calva de Deus”: a nação segundo Corsino Fortes A cabeça calva de Deus é uma trilogia épica de Corsino Fortes, poeta caboverdiano, em que o autor narra a nação Cabo Verde como um espaço de liminaridade. O poema será uma máquina literária de dissemiNação (BHABHA), o que equivale a dizer que a nação será narrada no instável território da diversidade cultural onde os agentes do discurso atuam numa dialética de diferentes temporalidades: moderna, colonial, póscolonial, nativa. Sua estratégia é a de dramatizar os discursos nacionais, permitindo pensar, dentro do espaço da literatura, no debate da formação da nação, enquanto ato inconcluso, aberto e em condições fragmentárias. Palavras-chave: Nação; DissemiNação; Épica; Diversidade Cultural; Corsino Fortes. Anderson Leon Almeida de Araújo UFRRJ Samba e Aparato Religioso Afrobrasileiro O trabalho tem o objetivo de lançar o olhar para o atravessamento afrorreligioso nas composições de samba. Para isso, se analisa a fala dos sambistas e suas composições, ao mesmo tempo em que essas falas dialogam com a trajetória histórica do samba. A pesquisa qualitativa utiliza a abordagem da história oral, que oferece um leque de opções quanto ao modo de traduzi-la em metodologias e procedimentos, tais como o que sugere Vygotsky (1988), e é operacionalizado por Fernando Rey (1997), no intuito de revelar a construção sócio-histórica do sujeito entrevistado, em nosso caso: o sambista. 33 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Desta forma, um grupo de compositores disse estar submerso no universo afrorreligioso, mas ao mesmo tempo não o expressa em suas obras, já outros relataram que não conseguem compor sem elevar seus pensamentos aos orixás. Afirma LIMA (2007) que a música aparece como objeto central no culto aos orixás, além de ser a manifestação do axé como palavra. A música então se encaminha do mundo sagrado ao terreno do profano, formando o samba. Ao colocar em paralelo a história do samba, suas influências de origem, e as entrevistas com os sujeitos, desvenda-se que o sambista da atualidade continua sendo muito interferido pelo viés afroreligioso, porém o sujeito não explicita sempre em seus sambas tal aspecto. Palavras-chave: Samba; Sambistas; Candomblé; Musicalidade. André Luis dos Santos Barroso UNICAMP/ FAPESP Interações Culturais no Mundo Antigo e o diálogo Inter-religioso no Rio de Janeiro A proposta aqui apresentada é parte dos trabalhos de um ano do projeto de doutoramento que desenvolvo no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Estadual de Campinas, na área de concentração intitulada História Cultural com o auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo, sob orientação do professor André Leonardo Chevitarese. O projeto pretende compreender que tipo movimento sócio-religioso se configurou no Norte da África quando comunidades do antigo Egito, Etiópia e região onde hoje chamamos Sudão aderiram à mensagem dos cristãos. Partimos de uma teoria desenvolvida por Gertz onde o processo de interação cultural se dá na diversidade marcada pelo meio, pela geografia e por questões sociais especificas dos grupos que se encontram. Assim, chegamos a uma premissa prévia de que o cristianismo que chega às diversas regiões da África não compõe um movimento homogêneo cuja origem está no judaísmo que insiste em manter suas marcar em diversas comunidades; e que o encontro com as 34 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN comunidades africanas acima citadas criam algo diferente daquilo que estava sendo experimentado da palestina e demais regiões do Império Romano Ocidental. Segundo Gertz: ―... é preciso mudar para se manter o mesmo.‖ Com isso, nem o cristianismo se mantém intacto em um determinado encontro cultural, nem as comunidades aderentes ao cristianismo perdem por completo sua identidade cultural. A partir desta reflexão considerava, não só possível, mas fundamental que se estabelecesse um diálogo sócio-cultural-religioso com as comunidades religiosas de matriz africana na cidade do Rio de Janeiro, eu e um grupo de companheiros militantes da Igreja Católica organizamos o Fórum D. Hélder cujo objetivo era estabelecer um contato no sentido de uma atuação conjunta com as comunidades de terreiro contra a discriminação e preconceito que no Rio de Janeiro beira a violência física e profanação de Templos. Passamos a compor a CCIR (Comissão de Combate à Intolerância Religiosa) e atuar nas ações afirmativas como na implementação da lei 10639 nas escolas e espaços onde tínhamos atuação, produção de seminários e colóquio com o referido tema e no grande ato anual da comissão que é a Caminhada pela Liberdade Religiosa que ocorre a três anos na orla de Copacabana sempre no terceiro domingo de setembro. Andreia Patrícia Soares Ramos Correia DINÂMICAS IDENTITÁRIAS E ECONOMIA DE ALTERIDADE NA MIGRAÇÃO ACADÊMICA DE ESTUDANTES CABO-VERDIANOS E GUINEENSES PARA FORTALEZA Este artigo discute a migração acadêmica de estudantes africanos para Fortaleza, capital do Ceará. Busca analisar as práticas de sentido e as dinâmicas identitárias dos estudantes africanos face à economia de alteridade, representada pelo universo de colegas brasileiros. Baseado em trabalho de campo etnográfico, partimos de questões de campo tais como: onde vivem; como vivem; com quem vivem- como eles/elas constroem suas redes de sociabilidade-, e de que forma o novo meio acadêmico promove afetações, percepções e imaginações para a produção da subjetividade dos migrantes. Todo ano ingressam na Universidade Federal do Ceará, a partir do Programa 35 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN de Estudante Graduação (PEC-G), centenas de imigrantes acadêmicos, a maioria deles africanos oriundos de Cabo-Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique (países membros da PALOP ). Mas esta migração não se dá apenas pelo programa PEC-G, ela acontece também de uma forma mais complexa, os chamados "por conta própria‖, que são aqueles estudantes que ingressaram nas Faculdades privadas. São todos indivíduos que trocam experiências, valores e práticas culturais através da convivência e da vivência com o "outro", estão sujeitos, cotidianamente, às alteridades e transformações, construindo novos laços. Andreia Regina Moura Mendes Fernando Joaquim da Silva Junior UFRN África na sala de aula: além da história Desde a implementação da lei 10639/03, o ensino da ―História e cultura afro-brasileira‖ tornou-se obrigatório no ensino básico. Entretanto, apesar da Lei de Diretrizes e Bases da educação sugerir que esta abordagem seja feita em todo o ensino fundamental e médio através da discussão dos temas transversais, ainda percebemos muitas dificuldades para esta implementação na escola. O objetivo deste trabalho é discutir como a abordagem pode ser feita nos cursos de licenciatura de forma que a adoção da temática da África possa auxiliar no processo de formação dos professores para realização da mudança necessária. Outro aspecto que abordaremos trata da produção de conteúdos que possam ser debatidos nos diferentes cursos de licenciaturas e quais alternativas podem ser pensadas, diante de um quadro de limitadas, produções tanto para o ensino básico quanto para a formação de professores. Para a realização deste trabalho realizamos a análise de diferentes documentos como o próprio texto da lei citada, a cartilha ―Ensino de História e cultura afro-brasileira e indígena‖ elaborada pelo sindicato de professores do Distrito Federal, além de artigos produzidos por diferentes pesquisadores e de diversas obras que pretendem tratar a África nas licenciaturas, além da história. A metodologia adotada foi uma revisão 36 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN bibliográfica com a produção de um artigo científico. Esperamos com este trabalho não apenas discutir a importância do ensino da história e cultura africana em sala de aula mas também abrir o debate para elaborar um olhar multidisciplinar diante de um objeto tão caro para a formação de nossa identidade cultural. Andrew Yan Solano Marinho UFRN CARAVELA & SLAVE SHIP, MUSIC NAS AMERICAS? CONFLUÊNCIAS ENTRE A ASCENSÃO SOCIAL DA MÚSICA POPULAR URBANA DO SAMBA E JAZZ Neste trabalho propomos uma exposição do processo de consolidação do jazz e do samba como música popular de representação de identidades nacionais. Abordaremos essas expressões não apenas como estilos musicais frutos de misturas de diásporas da música africana e da música européia, mas sim como dois processos sociais que ocorreram em duas culturas singulares com noções semelhantes. Vamos questionar o conceito de música de negros e pobres indagando que esta foi popularizada através dos brancos com intuito de estabelecer uma indústria de entretenimento comercial para o público urbano recém formado no início do século XX nos Estados Unidos e Brasil. A partir da formação desta indústria, o estilo musical que antes era expressão das minorias voltou-se também para o popular. Neste viés, observaremos a transformação social do público que é representado por tais estilos musicais e daquele que se tornou o seu público-alvo. O samba e o jazz não seriam vistos apenas como uma popularização de música nacional, mas como o marco divisor entre a tradição cultural multifacetada e a consolidação de uma cultura nacional, expressa através da música. A partir deles todo gênero popular funcionaria como um subproduto desse espaço. Para subsidiar esses debates utilizaremos as concepções dos historiadores José Tinhorão e Eric Hobsbawm e as considerações realizadas pelo antropólogo Hermano Vianna baseadas nas pesquisas de Franz Boas e Gilberto Freyre. Enfatizaremos o período entre o início do século XX até a década de 50, além de indicar uma confluência entre samba e jazz, que pôde ser compreendido como bossa nova ou brazilian jazz com a finalidade de defender uma análise crítica entre as aproximações do samba e do jazz. 37 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Andrey Pereira de Oliveira UFRN RETÓRICA DA RUMINAÇÃO: A MEMÓRIA TRAUMATIZADA DA GUERRA COLONIAL EM OS CUS DE JUDAS O objetivo deste trabalho é propor uma leitura analítica do romance Os cus de Judas (1980), de António Lobo Antunes, que, num singular arranjo narrativo, traz à cena as memórias traumatizadas de um ex-médico do exército português que, durante pouco mais de dois anos, atuou na guerra colonial da Angola. Serão destacados neste estudo elementos da composição do discurso narrativo da obra (ponto de vista, configuração do tempo, linguagem), bem como questões mais ligadas à própria configuração do universo diegético que remetem a elementos da história factual. O discurso e a história ficcional serão abordados a partir de uma perspectiva integrativa que visa a observar o texto literário como uma formalização de questões sociais. Andy Monroy Osório O PERIGO DA MIDIA: O Retrato do Negro na mídia Brasileira Apesar da abolição da escravatura, o negro ainda hoje é retratado como sendo pertencente a uma classe inferior. A mídia demonstra claramente sua posição em retratar mazelas sociais do quotidiano do negro e sempre de modo estereotipado como sendo um bandido, traficante analfabeto ou pobre, sem nunca apreciá-lo, a não ser que seja uma celebridade. A mídia desde sempre se tornou um negócio mercadológico, aquele que tiver uma noticia que apresenta a desgraça alheia se tornou um ―entretenimento‖. Nos dias de hoje o preconceito racial muitas vezes se torna mais perigoso estando debaixo da máscara sorridente da sociedade. A mídia, porém apresenta essa discriminação através da invisibilidade do negro muitas vezes nas telenovelas e também muitas vezes na mídia impressa. A mídia de uma forma geral demonstra um grande perigo em perpetuar essa visão estereotipada do negro, pois inúmeras vezes mostram algo que não condiz com a 38 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN realidade, é notável a insistência da mídia em não quebrar essa ―barreira‖ e me leva a questionar a tão falada democratização racial. No presente trabalho pretendo abordar questões sobre esse mito da democratização racial no seio midiático, com um enfoque específico para o cinema e telenovela, e apontar possíveis soluções para tal problema. Antonio Cleonildo da Silva Costa Lílian de Oliveira Rodrigues UERN HISTÓRIA DE VIDA E MEMÓRIA: evidências da linguagem pela oralidade Pela filosofia proposta por Bakhtin (2006) entende-se a linguagem como um conjunto de substâncias constituintes de um sistema inabalável que tem estreitas relações com a sociedade. Por esse prisma, a linguagem na perspectiva discursiva, segundo Orlandi (2007) apresenta-se de muitas maneiras – uma delas, inclusive, é a analise do homem falando; um sujeito que pelas relações dialógicas com os outros sujeitos constrói situações de produção de dizeres. Ao fazerem isso, recorrem à memória social, como esclarece Eleia Bosi (1994), e, ao mesmo tempo, coletiva, segundo Halbwachs (2006). A Memória nas colocações de Achard (2007) é uma produção discursiva do sentido. Ademais nos acrescenta Montenegro (2003) que o trabalho com a memória exige cuidados quando ela se constitui na oralidade, pois a consciência evoca diferenças, esquecimentos – intencionais ou não – que para Bergson (1999) são fenômenos subjetivos, relativamente íntimos. Pelo exposto, o trabalho objetiva-se por discutir a construção da memória através de condições do dizer, utilizando, portanto, a história de vida de uma narradora. D. Loura, conta sua história e usa as botijas (potes de ouro enterrados em segredo) como um pano de fundo para evidenciar seus sonhos, vontades; sua própria identidade. Espera-se, em suma, a proposição de um dialogo entre os teóricos e as práticas orais do discurso nos esclarecimentos que norteiam os fatores apresentados, recorrentes da linguagem. Palavras-chave: Linguagem. Memória. Oralidade. 39 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Antonio Cleonildo da Silva Costa Lílian de Oliveira Rodrigues UERN IDEOLOGIA, ALTERIDADE, EXOTOPIA E ÉTICA: aspectos delineadores do sujeito bakhtiniano nas trilhas da pesquisa A pesquisa em ciências humanas constitui um abrangente leque de possibilidades de estudos voltados aos aspectos discursivos que delineiam o sujeito, sobretudo aos moldes acadêmicos que na maioria das vezes segue um rigor cientifico padrão e acaba proporcionando uma neutralidade, sem muitas possibilidades de inovação. Por causa disso, se objetiva aqui mostrar que a pesquisa pode sim trilhar por caminhos novos e adentar, por exemplo, no cotidiano das experiências humanas; no universo do sujeito que é ideologicamente constituído e acaba sendo influenciado pelo olhar do outro na problemática da alteridade e pelo lugar exterior que esse olhar ocupa, ou seja, pela exotopia. Nessa relação complexa entre o sujeito e o outro a pesquisa se fundamenta pela ética quando se articula a ideia de responsabilidade. Conceitos Bakhtinianos ajudam a situar o sujeito em seu entorno discursivo, ou melhor, nas práticas do discurso, articulando pesquisado e pesquisador no cotidiano das relações sociais e nas trocas de concepções de mundo. Diante disso, apresentar-se-á uma experiência de pesquisa com uma contadora de história de vida, D. Loura, do Município de Riacho de Santana – RN, pela qual evidenciaremos a teoria na prática. Seu discurso é marcado ideologicamente pela linguagem e pela história e reúne muitos ditos e não ditos. O presente trabalho fundamenta-se, portanto, pelos escritos de Bakhtin (2006), Geraldi (2010), Amorim (2003), entre outros. Palavras-chave: Conceitos Bakhtinianos. Pesquisa. Práticas discursivas. Sujeito. 40 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Antônio Marcos dos Santos UEPB CHIQUINHO, DE BALTASAR LOPES, COMO EXPRESSÃO DA CONSCIENTIZAÇÃO NACIONALISTA NO ARQUIPÉLAGO DE CABO-VERDE Pretendemos, neste trabalho, examinar alguns aspectos da obra Chiquinho, do caboverdiano Baltasar Lopes, com o propósito de apresentá-la como expressão de uma conscientização nacionalista, e, por conseguinte, de um posicionamento anticolonialista, que se dá em vários âmbitos inter-relacionados: político, econômico, social e cultural. Para tanto, valemo-nos de aportes teóricos que versam, principalmente, sobre colonialismo, pós-colonialismo e identidade, e optamos por dar ênfase a questões como miséria, fome, morte e emigração, decorrentes, em certa medida, da má administração do governo de Portugal, especialmente na primeira metade do século XX. Paralelamente, procuramos apresentar a educação escolar e acadêmica, associada a uma consciência crítica, tanto na ficção (alguns personagens do romance), quanto na realidade (o próprio Baltasar Lopes), como elemento propiciador dessa conscientização nacionalista. Em três tópicos breves, além da introdução e das considerações finais, apresentamos de modo mais sistemático as questões acima referidas. Em Fome, miséria e morte, focamos as deploráveis situações de personagens – inclusive crianças – que são aniquilados por essas forças destrutivas, recorrentes do início ao final da obra e vinculadas ao descaso do governo português. Nos tópicos O sentimento anticolonialista, na realidade e na ficção e O uso crítico do conhecimento escolar e acadêmico, procuramos apresentar uma convergência entre os ideais de Baltasar Lopes e os de alguns personagens do romance, sobretudo o jovem Andrezinho, o erudito, no sentido de que seus pensamentos e ações se opõem ao status quo, o colonialismo, provocador da condição desesperadora que afeta, à época, a maior parte da população cabo-verdiana. Palavras-chave: Chiquinho, fome, miséria, colonialismo, conscientização nacionalista. 41 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Anuska Karla Vaz da Silva UFPB Primeiros Passos: a Infância ficcionalizada de J. M. Coetzee A proposta dos Estudos Culturais é o de dar voz aos subalternos, como disse Gayatri Spivak. Entretanto, dar voz a uns não significa suprimir a de outros que detinham, anteriormente, o discurso: a sugestão é equilibrar, em harmonia, o espaço de expressão entre todos. E, pensando nisto, colocamos em pauta a obra Infância, de J.M. Coetzee que, apesar de pertencer à parcela dos ditos ―colonizadores‖, também vivenciou conflitos causados por sua condição de sujeito de fronteira em seus primeiros anos de vida, na África do Sul: a herança afrikander em contraposição à identificação com o modus vivendi inglês – e tudo o que isso deflagrou: o choque identitário em relação ao seu próprio núcleo familiar, às famílias dos pais, à religião, à convivência escolar, à situação política mundial e, num sentido mais profundo, na posição do menino consigo próprio, nesta permanente tensão causada por constantes resoluções a tomar. É pelo viés da autoficcionalidade, tão em voga na literatura contemporânea, que J. M. Coetzee coloca em pauta não a sua vida, mas parte dela para apresentar as experiências e decisões que circundam pessoas pertencentes ao terceiro espaço: decisões difíceis de tomar, e que envolvem não somente um sentimento particular, mas, principalmente, um engajamento e postura sociais. Arandí Róbson Martins Câmara Maria de Lourdes Patrini – Orientadora UFRN JOÃO COTA: PORTADOR DA VOZ POÉTICA Pesquisar sobre as histórias contadas por João Cota é, de certo modo, encontrar-se com a tradição oral e a prática social de contar, considerando, sobretudo, a resistência que essa arte exerce na atualidade, utilizando-se da performance na transmissão e recepção orais dos contos. Estudar essa prática é contribuir para permanência desse contador de 42 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN história tradicional. Os contos orais são parte do patrimônio vivo da humanidade, transmitidos em forma de sabedoria popular. Entretanto, apesar do risco de desaparecer juntamente com seu narrador, as histórias ainda conseguem resistir a esse modelo da cultura de massa contemporâneo. Até quando histórias orais como as de João Cota resistirão às estruturas cada vez mais fortes impostas pela escrita e outros meios de comunicação? A prática de contar de João Cota será estudada com a proposta não só de identificarmos a presença dessa prática e a resistência da cultura oral, mas também, sob à luz da performance, estudar a transmissão e recepção orais contos e as partes do repertório desse contador de histórias. Isto é, o que ele conta, como conta e o por quê de contar. O objeto de pesquisa vai exigir em cada uma de suas etapas de estudo obras de vários teóricos, entre eles, Paul Zumthor, Walter Benjamin, Câmara Cascudo, teóricos da estética da recepção, da história da cultura escrita, das culturas orais e das práticas de leitura, da tradição e do conto oral no universo folclórico do Brasil. Para conhecer e assim esboçar um perfil desse contador escolhi o método da ―entrevista compreensiva‖ do sonólogo-francês Jean –Claude Kaufmann. Palavras-chave: Contador de histórias. Oralidade. Performance. Ariane K. Benicio de SÁ UERN ENTRE FALAS E CONTOS: ORALIDADE E IDENTIDADE NO QUILOMBO DE LAGOA RASA Sem dúvida, a história oral é, se não a mais importante, uma das mais importantes fontes de preservação de valores de um povo. Porém, com o surgimento da escrita, foi desconsiderada e manteve-se durante séculos, resguardada apenas na memória transmitida de gerações para gerações. Felizmente, nos últimos tempos, vários estudos que privilegiam memória e oralidade têm se desenvolvido. Com base em alguns deles, este trabalho, objetivou averiguar a relação existente entre narrativas orais e memória coletiva com o processo de (re) construção identitária estabelecido na comunidade Quilombola de Lagoa Rasa, situada na cidade de Catolé do Rocha – PB. Objetivou-se 43 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN registrar narrativas e foram encontradas ricas histórias reais e imaginárias. Lá no quilombo situado no sertão paraibano, onde os contos são criados e recriados por bocas que jamais leram e gesticulados por mãos que também nunca escreveram. Lá no Quilombo marcado pelo preconceito histórico e cruel é de maneira viva e comum a todos que a literatura se manifesta. De modo que os valores transmitidos pelas vozes que contam, desenham em cada contexto, a identidade do quilombo. Uma identidade, que por eles vai sendo (re) construída a cada novo conceito abraçado. Bem como em qualquer cultura, remodelando-se, também, com as inovações do tempo. Nesta perspectiva, crença, Literatura e costumes vão ser aqui revelados através de histórias, contos e relatos, configurando a Literatura oral cultivada entre as vozes do quilombo e a face identitária que através dela se descreve. Palavras-chave: Narrativas orais. Memória coletiva. Identidade étnica. Ariane K. Benicio de SÁ UERN DISCURSOS QUE NORTEIAM A QUESTÃO QUILOMBOLA – PODERES CÁ E LÁ O presente trabalho propõe a reflexão sobre a concepção de poder enraizada nas relações entre política e direito, manifestada nas formas do discurso, nos reflexos comunicativos e suas ações reluzentes. Com enfoque na formação e preservação das comunidades quilombolas, em primeiro no contexto de resistência da população negra ao regime de escravidão individual e coletiva em face aos processos de exclusão socioeconômica decorrentes da expansão do modo capitalista de produção, e em segundo, na aderência aos novos conceitos e ações que buscam o resgate dessas minorias nos dias atuais objetivando a formação de cidadãos capacitados para validar o poder que compõe os ideais na sociedade atual com a inserção destes sujeitos nos sistemas econômicos e socioculturais. A maneira como essas comunidades interagem ou submetem-se aos poderes administrativos e comunicativos será analisada com base nos 44 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN conhecimentos de saber e poder tratados por Foucault e de ensaios que referenciam a realidade dos Quilombos no Brasil e promovem a reflexão sobre a exclusão e o preconceito que fada esses grupos a crueldade de uma luta secular por direitos e espaço social. Mas que revela força e resistência, pois (re) constroem-se hoje através de organização e pela força da voz, ou melhor, das vozes que trouxeram da memória suas significações e hoje discursam como ataque e discursam como defesa. Discursam com a força de quem deseja abafar o eco doloroso dos discursos do preconceito. Palavras-chave: Discurso e poder, questão quilombola, exclusão sócio-cultural. Ariosvalber de Souza Oliveira UFCG Práticas de torturas e Cenas da Cidade Negra no conto “Pai contra Mãe” de Machado de Assis Este trabalho se propõe analisar o conto ―Pai Contra Mãe‖ de Machado de Assis, analisando as ressonâncias históricas na narrativa machadiana e estabelecendo relação com alguns aspectos da escravidão no Brasil oitocentista. Para tanto, empregamos o conceito de representação do historiador Roger Chartier – analisando a narrativa literária enquanto representação. Para um estudo mais acurado do texto de Machado de Assis estabelecemos o diálogo com a crítica literária machadiana, dialogando com os críticos, Astrojildo Pereira e Eduardo de Assis Duarte. De forma que o conto ―Pai Contra Mãe‖ para além de uma narrativa literária é uma fonte histórica importante para se estudar alguns aspectos da escravidão urbana no Brasil, trata-se de analisar a cidade do Rio de Janeiro no período oitocentista enquanto uma ―Cidade Negra – termo que o historiador Sidney Chalhoub observa como recorte a importância da população negra na corte. A Cidade Negra é o engendramento de um tecido de significados e de práticas sociais que politiza o cotidiano dos sujeitos históricos num sentido especifico – Uma lógica própria e redes de solidariedades produzidas pela população negra na Corte. Outro aspecto a ser analisado é a violência. O sistema escravista no Brasil foi baseado na violência física e simbólica. A escravidão foi o evento mais importante da história 45 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN brasileira, o Brasil foi o país das Américas que mais recebeu escravos da África. Machado de Assis como poucos representou artística e historicamente as contradições e tensões sociais advinda da escravidão da época. Palavras chaves: Escravidão, Violência, Machado de Assis, Cidade Negra. Arivaldo Leandro da Silva Monte O caracol da linguagem: oralidade em Mia Couto Neste trabalho discutiremos o problema sobre a forma da linguagem ―falinventada‖ na oralidade de Mia Couto e sua relação com os contos e elementos ―Maravilho‖ e ―Fantástico‖ nas obras: ―O embondeiro que sonhava pássaros‖, ―A princesa russa‖, ―O pescador cego‖ e ―A lenda da noiva e do forasteiro‖. O poder criativo e imaginativo do escritor, somado à oralidade moçambicana, por vezes, evoca uma áurea de alegorias próprias dessa cultura que, muitos, tomam como sendo pertencentes aos elementos ―Maravilhoso‖ e ―Fantástico‖ . Estes termos são encontrados em diversos trabalhos acadêmicos, procurando definir os contos de Mia Couto nestes gêneros, ou simplesmente, isolando elementos da ficção, para, em seguida, classificá-los em tais categorias o que nem sempre se ajusta verdadeiramente, é o que pretendemos demonstrar até o final deste trabalho. Para fundamentar nossos estudos usaremos as seguintes referências: Introdução à literatura fantástica de Todorov (1992) e Teoria do conto de Gotlib (1991). Palavras-chave: Linguagem e Oralidade. Arlene Viégas Baiôco UECE/FAFIDAM Budapeste e os reflexos da vida moderna Narrativa moderna brasileira, Budapeste de Chico Buarque é considerada de fundamental importância para os estudos literários, pois, além de refletir sobre a própria 46 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN produção, a obra critica de forma indireta a contemporaneidade nomeada pós-moderna. Nessa perspectiva, este trabalho busca discutir elementos como a efemeridade do novo, a construção da identidade pessoal e as relações de trabalho e de família que encontramse internalizados no romance e que constituem imagens representativas do cotidiano do homem no mundo atual. Para isso, serão levados em consideração, dentre outros, os pressupostos teóricos dos estudiosos Sandra Nitrini, Otávio Rios e Renata Moreira. Palavras–chave: Budapeste. Personagem. Modernidade. Beliza Áurea de Arruda Mello UFPB AS YABÁS DO SAMBA: CLEMENTINA DE JESUS, JOVELINA PÉROLA NEGRA, DONA IVONE LARA, MEMÓRIA DA PEQUENA ÁFRICA Iabá, Yabá ou Iyabá ou simplesmente mãe rainha, termo usado para os orixás Iemanjá e Oxum, símbolos da fertilidade e gestação. No Brasil, o termo é estendido para todos orixás femininos. Sob este signo procede-se uma leitura sobre a performance e o canto de três mulheres negras e pobres – Clementina de Jesus, Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara – que no século XX reterritorializam a Pequena África , outrora localizada na região central do Rio de Janeiro ( Cidade Nova, Praça Onze e Gamboa ),redimensionando-a nos subúrbios e morros do Rio redesenhando, assim, na contemporaneidade a memoria dos cantos afros das umbigadas , dos batuques angolano, do Congo e regiões vizinhas ,dos cantos religiosos como jongo e caxambu em sambas de Partido Alto .Nesse sentido , o canto destas três mulheres ressalta a importância da tradição da memória de grupos étnicos dispersos por crises econômicas mas que se reorganizam a partir dos códigos corporais dos cantos em festas religiosas e profanas incorporando elementos de diversos códigos culturais o que legitima-as como Yabás do samba, senhoras germinadoras e portadoras da memória afro para as novas gerações. 47 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Bethânia Lima Maria Nina Januário UFRN Crianças poetas vivendo e sonhando histórias na praia Motivado pela infância que habita em todo ser, este trabalho tem por objetivo mapear a poeticidade da narrativa no livro ―Avódezanove e o segredo do soviético‖, do escritor angolano Ondjaki. Para descrever as infâncias da Praia do Bispo, Angola, o autor utilizará recursos da escrita poética, tais como sinestesias, aliterações, ressonâncias, pois só a poesia dará conta dos jogos lúdicos presentes nas histórias contadas nesse livro. Para compor a análise conta-se com os pensamentos a cerca do devaneio e da infância do filósofo Gaston Bachelard, que também amadurecerá nosso olhar para compreender o espaço da Praia do Bispo como a casa de toda a infância vivida pelos personagens. Em diálogo com a filosofia fenomenológica de Bachelard, teremos Homi Bhabha e Silviano Santiago, com seus trabalhos que giram em torno do entre-lugar do discurso presente na escrita de Ondjaki; recurso utilizado para viver e perceber os cheiros de Angola através da linguagem infantil que encanta ao leitor. Sendo assim possível compreender o dual entre o real e o imaginário, entre a lucidez e a loucura que margeiam o mundo fantasioso dos personagens desse livro, que ao todo será um trabalho que reforçará a ideia de que são muito ‗miúdos‘ os espaços que separam o ‗ser criança‘ do ‗ser poeta‘. Palavras-chave: Criança, imaginário, poesia e Angola. Bruno Goulart Machado Silva UFRN A festa dos negros do rosário de Jardim do Seridó: ritual de inversão, mito da democracia racial e/ou crítica da modernidade? Este trabalho pretende refletir sobre os sentidos do ritual realizado pelos negros do rosário de Jardim do Seridó. O ritual acontece durante a festa em devoção à Nossa Senhora do Rosário e São Sebastião. O intuito é pensar o ritual dentro da festa, 48 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN utilizando-o para refletir sobre conceitos como tradição, ideologia e a associação entre performance e narrativa. Através de uma análise do ritual é buscado uma narrativa da contra-modernidade, contida nessa performance. Carla Alberta Gonzalez UNP ESPAÇO E ORALIDADE: AS COMUNIDADES REMANESCENTES QUILOMBOLAS DO RIO GRANDE DO NORTE Em 1988 a Constituição Federal do Brasil garantiu às Comunidades Quilombolas o direito de terem suas terras tituladas pelo Poder Público. Em 2003 foi aprovado o Decreto nº 4.887, que dispõe sobre os procedimentos da titulação das terras quilombolas, tarefa de responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, INCRA. Até o momento, nenhuma Comunidade Quilombola do Rio Grande do Norte teve seu território titulado. A ordem escravocrata no Brasil se dá em grande parte na ordem econômica do açúcar na possibilidade da mudança rápida da escala em que ele é produzido e esse crescimento, a exploração do açúcar, fazia também crescer continuamente á procura de braços e a escravidão vai se adequar a possibilidade de mobilizar mão de obra e fornecer os contingentes adicionais necessários. No Brasil ele vai definir os latifúndios e marcar decisivamente os destinos da nossa sociedade. A história do trabalho é também a história do escravo ( primeiro nos canaviais, mas tarde nas minas de ouro, nas cidades ou fazendas). A mais importante de todas as influencias é muitas vezes de forma omissa pela historiografia são as condições sociais criadas com o sistema escravista, a existência de dominadores e dominados numa relação de senhores e escravos propiciou situações particulares especificas marcando a mentalidade nacional e regional. No Rio Grande do Norte, a capitania como indústria açucareira não era tão significativa, mas existiam, em menor quantidade do que a criação de gado e roças de mandioca, milho e feijão. 49 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Segundo a historiadora Marlene Mariz ( cita na pág., 73 do seu livro : Rio Grande do Norte Colonial- 1597-1822) o primeiro contingente de escravos chegaram à capitania para desenvolver as zonas canavieiras e possivelmente um dos primeiros pontos foi no local que hoje é São José do Mipibu. A presença negra no Rio Grande do Norte, foi uma constante, chegavam através do Porto de Recife. Há um silencio historiográfico sobre a presença do negro no RN. Cascudo em 1955 dizia: ― se em 1854 exportávamos 80.749 arrobas de açúcar, cinco anos depois , em 1859,os 156 engenhos moendo subiram esses números para 350.000 arrobas, subia obviamente o número de escravos.‖ Em 1844 os dados de negros no Rio Grande do Norte, era de 23.467 e o último recenseamento escravo realizado em 1887, registrasse apenas 2.161 em todo o Rio Grande do Norte. (Cascudo, 1955 p.46). Onde foram parar? O pensamento que ainda por vezes, involuntariamente nutrimos hoje tem raízes histórico-estruturais no tráfico atlântico de escravos e reforçado pelo imperialismo colonial de fins do século XIX na África. Racismo faz parte de um corpo ideológico que antecede e transcende o imperialismo colonial. A presente pesquisa tem, portanto o objetivo e a problemática traduzida nesses espaços territoriais que os descendentes dos escravos ocuparam e ocupam até hoje no Estado do Rio Grande do Norte. Pontuar e abrir o debate sobre os espaços, a oralidade e as políticas sociais que se voltam para essas identidades no século XXI é o ponto de partida para entendermos uma história invisível e com forte cunho de um racismo selvagem que se mantém de forma clara em toda a documentação historiográfico do Rio Grande do Norte. Palavras-chave: Oralidade. Espaço. Território. Escravos. Identidade. 50 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Carla Liege Rodrigues Pimenta Acacia Silva Alcantara Danielly Muniz de Lima Cristiane Maria Nepomuceno UEPB EM BUSCA DAS PISTAS: UM OLHAR PARA A ÁFRICA ANTIGA E SUA INFLUENCIA NAS PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO BRASILEIRO Este trabalho propõe-se a discutir a influência da cultura africana e identificar os elementos culturais que ainda se fazem presentes na cultura brasileira, que vem atravessando o tempo e é parte do legado cultural do nosso povo a gerações. Esse artigo resulta dos apontamentos de estudos realizados, como parte da fundamentação teórica de uma pesquisa em andamento, sobre a História e Cultural Africana e Afrobrasileiro financiada pelo Programa de Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba (PROPESQ) e PIBIC. A pesquisa bibliográfica que estrutura este trabalho objetiva fazer um resgate histórico e cultural da Senegâmbia, mostrando desde os aspectos geoambientais e econômicas, aos aspectos históricos e culturais (religiosos, artísticos, musicais, alimentares, entre outros). Presentes em nosso modo de vida, o conjunto de bens culturais herdados desse povo, compõem e expressam a nossa afrobrasilidade. Discutiremos também como estes africanos influenciaram a formação da identidade cultural brasileira, especialmente a nordestina. Dentre as muitas fontes bibliográfica utilizadas, a principal foi a ―Coleção História da África Geral‖ publicada pela UNESCO em 2010. Com este trabalho queremos mostrar que a cultura do povo negro, africano e afro-brasileiro, tem um potencial educacional importante de ser conhecido na escola, a fim de também contribuir para a afirmação identitária étnico-racial dos afrodescentes presentes nas escolas e nas universidades brasileiras. Além de se constituir num arquivo de saberes, acreditamos ser relevante esta proposta para os estudos históricos, sobretudo pelo dispositivo contido na Lei 10.639/03, que sugere dimensionar os estudos voltados para a história e cultura dos afro-brasileiros. Palavras-chave: Diáspora Africana. Senegâmbia. Cultura Africana. Cultura Brasileira. 51 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Carlos Alberto de Negreiro UEPB TERRITÓRIO DOS AFECTOS: A VIOLÊNCIA DA LETRA E O COMPROMISSO DAS IDENTIDADES EM MIA COUTO A obra de Mia Couto se apresenta com um manancial relevante para a investigação de como se instaura a identidade dos sujeitos nas relações, que se estabelecem como o outro. Esta questão abre para o problema: a identidade dos sujeitos se forma a partir de um confrontar-se com esse Outro? As estratégias invisíveis das quais se vale Bhabha (2003) podem apontar caminhos para que se possam transformar espaços em lugares para sujeitos. Os usos e hábitos, transformados em signos, dão ao lugar uma configuração, assim como a língua na literatura. Se uma verdade é infinita, mas o local dessa verdade é finito, a compreensão da pluralidade do/no sujeito da linguagem pode levar a mundos possíveis, sujeitos e territórios, ao compreender que fronteiras não distinguem iguais e diferentes, tudo é trânsito, processo, identidades em movimento, como enfatiza Hall (2003). Moçambique, nação erigida por conflitos bélicos da Guerra Colonial e guerra civil, tenta se reconstruir a partir dessas ruínas. Nesse contexto, uma literatura nascida no período colonial consegue transpor essa época subjulgante para compor uma literatura de construção de um novo país, como diria Mia Couto: ―inventar‖ uma ―terra‖. O que propomos é, justamente, de que forma se pode observar a identidade e quais configurações se expressam no tecido literário. A violência da letra representada pelo relato de guerras e conflitos se mistura às simbologias da ―terra‖, da ―árvore‖ e do ―céu‖, formando os territórios geradores de um mundo peculiar e próprio que tenta ser o próprio Moçambique. Palavras-chave: territorialidade, subjetividade, identidade, Mia Couto. 52 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Carlos Eduardo Galvão Braga UFRN A feiticeira, de Marie NDiaye : a identidade e suas vicissitudes Propomos, com o presente trabalho, uma leitura do romance A feiticeira [La Sorcière], de Marie NDiaye, a partir dos pressupostos dos Estudos Culturais. Filha de pai senegalês e mãe francesa, a autora, nascida na França, em 1967, cria, em seu sexto romance, a personagem de Lucie, herdeira de uma tradição familiar que ela se mostra, no entanto, na sua prática pessoal da feitiçaria, incapaz de perpetuar. Essa dificuldade da protagonista-narradora é apenas, na verdade, a expressão particular de seu desamparo diante de um real caracterizado pela inospitalidade e, de um modo geral, pela desarmonia. Sua incapacidade de aceitar, tal como ela se apresenta, a ―imperiosa prerrogativa‖ (ROSSET, 1997, p. 7) de um real intolerável, denuncia, sobre o pano de fundo de um contexto social historicamente marcado pela imigração, a que a narrativa apenas alude, sem nomeá-lo, a presença de uma africanidade primordial que, embora discreta, atua como fator determinante de uma crise identitária. Palavras-chave: tradição, identidade, feitiçaria, ―entre-lugar‖. Carlos Vinícius Teixeira Palhares PUC – MINAS SIDNEY POITIER NA BARBEARIA DE FIRIPE BERUBERU: O DEBATE RACIAL NO ESPAÇO COLONIAL MOÇAMBICANO O conto ―Sidney Poitier na barbearia de Firipe Beruberu‖ do escritor Mia Couto aponta para a problemática racial e étnica em um Moçambique ainda colonial. Na barbearia, espaço onde se passa o conto, o cotidiano do país é debatido pelos negros. Firipe é o personagem principal do conto e ele é negro em uma sociedade ainda marcada pela presença dos portugueses e brancos, e nessa direção, a narrativa aponta para um tipo de identidade que só se afirma no espaço excluso do negro, em pontos de contatos não 53 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN intercambiáveis com os brancos. Sidney Poitier é uma figura emblemática para a discussão de racismo no contexto moçambicano, uma vez que se sagra vencedor do Oscar em uma sociedade americana marcada por debates raciais. Neste contexto de Moçambique e tendo os Estados Unidos como modelo de referência para discutir o racismo, Sidney Poitier pode ser entendido como uma representação da libertação dos negros no país, onde existem as fronteiras separando brancos e negros, ou seja, por pertencerem a um país de identidades culturais ainda não constituídas e, por isso mesmo, uma sociedade de fronteira. Palavras-chave: Negro; Colonial; Racismo; Narrativa; Sidney Poitier; Mia Couto. Carolino Marcelo de Sousa Brito UFRN Para além de telhas portuguesas: os bens culturais de origem africana na Bahia A presente pesquisa tem como proposta estabelecer uma discussão sobre a inserção dos bens culturais de origem africana existentes no Estado da Bahia nos tombamentos do Instituto do Patrimônio e Histórico Artístico Nacional (IPHAN), como pertencentes a uma cultura de identidade nacional. E por meio desse recorte, analisar de que modo ocorre o reconhecimento da cultura afro-brasileira depois de 1980, diante de uma tradição nos tombamentos do patrimônio material luso-brasileiro existente desde a fundação em 1936, do então Serviço do Patrimônio e Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Nesse sentido, na década de 1980 tem início mudanças no que concerne o conceito e categorias do patrimônio no IPHAN, quando surgem reivindicações étnicas e regionais, bem como a preocupação em se proteger além do patrimônio ―material‖ o ―imaterial‖ ou ―intangível‖. Ocorrendo na última década, na Bahia, de forma significativa nesse Instituto Federal o reconhecimento de manifestações culturais com origem nos povos africanos estabelecidos nesse estado, como o samba de roda do Recôncavo, a roda de capoeira e o ofício das baianas de acarajé. Palavras-chave: Patrimônio cultural, bens culturais, manifestações culturais africanas, memória africana. 54 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Célia Marília Silva UFRN “CRIANÇAS NEGRAS”: A IRONIA E O AVESSO DO INSTITUÍDO O presente trabalho propõe um estudo sobre o poema ―Crianças Negras‖, de Cruz e Sousa. Como o poeta encontra-se circunscrito no marco histórico da abolição, buscamos verificar de que maneira a ironia se configura como um procedimento de linguagem que, somado ao riso, torna-se capaz de subverter e contestar verdades instituídas ao seu entorno. Para tanto, abraçamos o conceito de ironia elaborado por Kierkegaard (1991) e os conceitos sobre o riso, elaborados por Bakhtin (1993) e Bergson (2007). Segundo Kierkegaard, quando a ironia acaba ―de ser dominada, ela executa um movimento que é oposto daquele em que ela manifesta sua vida indomada‖, assim ela ―limita, finitiza, restringe, e com isso confere verdade, realidade, conteúdo; ela disciplina e pune‖ (p. 277). Já Bakhtin mostra que o mundo das formas e das manifestações do riso passou a ser uma oposição ao tom sério, religioso e social. Em semelhante perspectiva, Bergson afirma ser este um fenômeno propriamente humano e que para entendê-lo é preciso colocá-lo em seu meio natural: a sociedade. Acrescenta ainda que, por ser um ato social, o riso é utilizado de acordo com os signos criados e representados nos grupos em que se insere, assim, ele pode questionar valores impostos e despertar um senso de reflexão, assumindo, nessa compreensão, uma espécie de gesto social. Nessa direção, o riso e a ironia são vistos como possibilidades de manifestar a verdade sobre o mundo, sobre a sociedade, de colocar pelo avesso o que a sociedade institui como sendo verdade natural ou absoluta. 55 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Cezar José da Silva Maria Regina dos Reis Kaline Ferreira Costa UEPB A PESPECTIVA MULTICULTURAL NO ENSINO DE HISTÓRIA NO COLÉGIO ESTADUAL JOÃO DA SILVA MONTEIRO – GADO BRAVO – PB Neste artigo apresentaremos uma pesquisa acerca da temática ―A perspectiva multicultural no ensino de história na escola estadual de Gado Bravo – PB‖. O objetivo da pesquisa é analisar se há um trabalho voltado para a problemática multicultural e se houver quais as dificuldades para a implantação dessa proposta. Para esta análise usamos as seguintes questões: ―O professor recebe formação para lidar com a diversidade cultural em sala de aula?‖, ―O professor de História se sente preparado para trabalhar uma proposta multicultural?‖, ―Como o professor de história problematiza com seus alunos o multiculturalismo?‖, ―Já levou para a sala de aula a discussão sobre o respeito do outro, a cultura do outro?‖, ―O currículo de História abre espaço para que o professor trabalhe a diversidade cultural?‖. As respostas a estas questões foram possíveis por meio de entrevistas com professores do colégio em questão. Onde vamos tentar traçar um paralelo com a cultura afro-brasileira, se ela esta sendo passada também nessa conjuntura, ou está sendo escanteada perante a cultura branca portuguesa nas salas de aula. Analisaremos ainda o pré-conceito de alguns professores perante a proposta multicultural, perante o ensino de História da África. Palavras-chave: ensino de História. Multiculturalismo. Formação do professor. Christina de Carvalho Marques Recife Identificando-se Negra A Educação das Relações étnico-raciais tem se colocado nos últimos anos como um grande desafio para os educadores e a sociedade como um todo. Para a Comunidade Escolar do Colégio Municipal Reitor João Alfredo, localizado no Bairro da Ilha do 56 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Leite, no Município do Recife- Pe, e que atente aos estudante sobretudo oriundos das comunidades do Coque e Coelhos o desafio parece alarga-se ainda mais, dado a conjuntura social na qual os nossos estudantes estão inseridos e que por diversas vezes interfere no processo de implementação da lei 10.639/03 no nosso espaço escolar. O projeto Recife identificando-se Negra nasceu da necessidade de ampliação das ações já desenvolvidas nos anos anteriores nesta Unidade de Ensino, pela Professora Chrisrtina Marques, no que tange o ensino da Educação das relações étnicos-raciais. As atividades aconteciam isoladamente nas turmas onde lecionava, não existindo interação entre as mesmas. A princípio este projeto rompe este isolamento com a criação do Coral Vozes do Reitor, a medida que as duas turmas do 2° ano do 2° ciclo de aprendizagem promovem a primeira Mostra Cultural do Reitor e a apresentação conjunta das atividades desenvolvidas. Depois da primeira Mostra, realizada em 14/05/2010, os estudantes dos demais anos/ciclos de aprendizagem tomados pela curiosidade e interesse nunca antes demostrados, solicitaram junto à Gestão Escolar, inclusão deles no projeto. Assim o projeto foi ampliado por etapas a todos os componentes desta Unidade Escolar. Este projeto me seduziu enquanto professora e me entusiasmou enquanto cidadã. Para o corpo docente, desta unidade de ensino, ministrei momentos de formação, na tentativa de estabelecer um diálogo com as diferentes áreas do conhecimento, diante da aplicação da lei 10.639/03. E espero que este, os ajudem no debate em cumprimento à lei. Vale resaltar aqui que não pretendi com o mesmo, indicar fórmulas ou receitas, mas apresentar algumas possibilidades de trabalho com essa temática em sala de aula. Cada professor conhecedor de sua área de conhecimento poderá indicar atividades diversas na abordagem desse assunto em sala de aula. Entretanto, é imprescindível a participação da escola na proposição de ações para a implementação da Lei 10.639/03. Essa nova visão deve modificar as relações sociais étnicas no interior da escola, não se constituindo como uma ação isolada, mas coletiva e embasada num Projeto Político Pedagógico para que professores alunos e demais funcionários possam problematizar estereótipos e práticas preconceituosas, discriminatória e racistas no espaço escolar, nas suas comunidades e no Município de Recife. Como resultado deste projeto temos hoje o Jornal O Reitorzinho, o Coral Vozes do Reitor, o Espaço Ilé Ará e o Blog. 57 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Cintia Camargo Vianna UFU CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS NEGROS NA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA: O CASO DO PRETO TIPO A, DE RACIONAIS MC’S Pensar em literatura negra ou afro-brasileira em nosso contexto significa trabalhar com noções que ainda não podem ser consideradas como um construto teórico definitivo, antes, devemos pensar em uma categorização, sistematização e conseqüente investigação em construção ou ainda por construir. Nesse sentido, um dos critérios que poderia ser considerado no momento da determinação de um texto com sendo exemplar de manifestação literária afro-brasileira deve ser a representação do sujeito negro e de sua cultura, em textos escritos por negros ou não negros. Assim, tendo como premissa a representação artística do sujeito negro e de sua cultura, é que me aproximo da discografia do grupo de rap paulistano Racionais MC‘s e os trato como uma amostra, uma possibilidade, de literatura afro-brasileira contemporânea, marcada por traços estético-poemáticos reincidentes como, por exemplo, a evasão da realidade violenta, a construção de um espaço outro para a ambiência de personagens negros, o relato, por vezes ficcionalizado, da vida na periferia dos grandes centros. Nesse trabalho, discuto a construção ao longo de toda a discografia do grupo de um personagem negro, de uma representação para um sujeito negro ideal, o Preto Tipo A, personagem essa que atravessa, ainda que em alguns casos espectralmente, toda a discografia do grupo e, por meio dele, é possível discutir a transformação da concepção para a identidade negra que perpassa as letras do grupo ao longo de sua carreira. Palavras–chave: literatura afro-brasileira, rap, construção de personagem. Claudia Regina Rezende Ferreira UFRN FAMÍLIA E ESCRAVIDÃO NA CAPITANIA DO RIO GRANDE DOS SETECENTOS O tema proposto já foi pesquisado por vários estudiosos, que buscaram derrubar o mito de que os escravos viviam em estado de completa anomia social, humanizando as 58 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN relações interpessoais e deixando expressa a solidariedade existente dentro e fora das senzalas. Todavia quase todos os estudos existentes acerca do tema são localizados na Região Sudeste, na Bahia e em Pernambuco e Maranhão. Para o Rio Grande do Norte, região periférica, de menor importância econômica período colonial, e, possivelmente, por ter sido defendida até pouco tempo a tese da inexistência de um número considerável de escravos de origem africana em seu território, não há pesquisas sobre o assunto. O presente estudo procura estabelecer a formação de laços familiares entre escravos de origem africana no Rio Grande do Norte, visto que atualmente já se considera a hipótese de que teria existido uma quantidade expressiva de negros escravos na capitania e que a sua força de trabalho foi de grande importância para a economia dessa região. Visando a confirmação da hipótese proposta, foi analisada a freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, no século XVIII, na cidade de Natal, por meio do acervo documental do IHGRN. Pela análise de assentos de batismos e casamentos, verificou-se a quantidade expressiva desses sacramentos entre negros escravos. Nessa perspectiva, torna-se provável, senão incontestável, a formação de famílias escravas no Rio Grande do Norte, assim como nas demais áreas estudadas, para fins de sobrevivência e de preservação das esperanças e recordações, a despeito do sofrimento do cativeiro. Claudson Faustino UFRN REPRESENTAÇÕES DO NEGRO NORDESTINO: DO CORDEL À CANTORIA Este trabalho se propõe a analisar, a partir de uma abordagem crítica, a representação do negro nos versos orais e/ou escritos do cordel, do desafio, do repente e da cantoria nordestina, focalizando a discriminação e o preconceito sofridos pelo mesmo, como também a crítica e a denúncia do racismo pelos versos populares. Para este trabalho, optou-se pela realização de uma pesquisa bibliográfica que teve como base teórica os estudos de Barros (1985), Cascudo (1984), Linhares e Batista (1982), Maxado (1980), Valente (1987), dentre outros. Palavras-chave: Negro, Cordel, Cantoria Nordestina. 59 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Cléber de Lima Oliveira UECE-FAFIDAM Concepções do Negro no Ideário de Macunaíma O grande elo nacional sempre foi o da miscigenação e heterogeneidade de raças, que tropicalizam etnias diversas, que se fundem não só fisicamente, mas culturalmente, embora seja inegável esse proceder nos rostos de tantos brasileiros. Será necessário por aqui procedermos à tipificação do anti-herói negro de Macunaíma. Adendo principalmente ao exótico; a figura deste será também separada do brasil? e até onde o conceberemos índio, branco ou negro? Ainda assim é possível do ponto de vista africano que sem sua originalidade talvez não fosse Macunaíma cor da noite, pois como seria senão pela tez ou em todos os casos, entraremos por assim dizer no pedaço de África que fomenta o personagem. A tempo de demonstrar o verdadeiro significado de suas origens que vão além da pele; tantos preceitos das palavras, dos gestos e vícios irrefutáveis. A deselegância a exemplo do que não se pode ser, mas sendo, uma demonstração de brasis que já em época distinta foi-se injustamente posta de lado, que no coração da nação mora um Macunaíma Negro, Branco e Índio, e de tanto se misturar torna-se mestiço que não se conhece. Não obstante que o livro faça um relato dessas misturas e de sua ascendência, Mário de Andrade tipifica-o entre ambos pares de origens, da valorização que este tem as figuras num simbólico a raça. Neste ponto não há superioridade de raça, pois tudo está exposto em contexto da personagem, cresce e se desenvolve além do viés de étnico. Cleber Ferreira Silva Maria Suely da Costa – Orientadora UEPB CORDEL E NEGRITUDE As produções dos tradicionais folhetos de cordel trazem uma grande contribuição para a cultura local no Nordeste. É interessante observar que o poder de informar do cordel 60 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN ainda persiste no sertão e no brejo do estado da Paraíba cuja ação dos cordelistas é existente. Contudo é natural que se analise que as produções dos singulares folhetos estejam diferente com o passar histórico, pois era comum que os temas abordados pelos antigos autores do cordel estivessem vinculados a narrações de casos dignos de uma estória de Trancoso e de uma série de ironias que destorciam as imagens de pessoas. Uma das vítimas desta sátira é o negro. Estudos de coleta e análise dos textos de cordéis conhecidos e consagrados revelam que nestes há uma notada e ampla descaracterização do negro. Nos últimos anos, com o advento dos movimentos contra o racismo, novas ideologias vêm se ampliando, manifestas em muitas formas e linguagens. O cordel não escapou da influência da negritude. Atualmente, as manifestações da mimese literária neste gênero popular estão servindo ao propósito de defender não só o negro, mas em expor a sua cultura ancestral africana e sua influência na cultura brasileira. Ou seja, o cordel passa a ser um instrumento de voz ao negro, difundindo ideais de negritude de forma a combater o racismo. Palavras chaves: Literatura. Cordel. Negro. Concísia Lopes dos Santos UFRN ULOMMA E ININE: OS ENSINAMENTOS DOS CONTOS ―Conto é uma narrativa que pode ser contada oralmente ou por escrito‖ (Elias José). Podemos afirmar que o Homem já nasceu contando histórias. Tudo que ele via, pensava ou descobria dava início a uma nova história, que era aumentada ou modificada conforme sua imaginação. Essas histórias, depois classificadas como contos, serviam para ensinar , exemplificar, divertir, emocionar. Com o passar do tempo, esses contos passaram a ser escritos e a representar a sociedade onde tivera origem. Isso nos permite, até hoje, conhecer novas culturas. No livro Ulomma: A Casa da Beleza e outros contos (2006), escrito pelo nigeriano Sunny, podemos conhecer um pouco mais das histórias antes contadas às crianças, cujo objetivo principal era ensinar-lhes importantes lições. Segundo o autor, os contos reproduzidos no livro lhe foram contados por seus avós, em noites de céu estrelado, embaixo das mangueiras do lugar onde viviam. Dois contos 61 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN foram escolhidos para este estudo: ―Ulomma, A Casa da Beleza‖ e ―Inine‖. Estes têm como protagonistas figuras femininas e trazem canções no idioma ibo. Serão analisados, portanto, a construção do texto, as ilustrações e os ensinamentos constantes em cada conto. Assim, poderemos conhecer e aprender como costumam fazer as crianças. Palavras-chave: literatura africana; contos africanos; ilustração; Sunny. Cristiane Maria Nepomuceno UEPB MANIFESTAÇÕES FESTIVAS DE INFLUÊNCIA AFRICANA: TRADIÇÃO, IDENTIDADE E MEMÓRIA NA BRINCADEIRA DO MARACATU Não há como falar das manifestações festivas brasileiras sem promover uma incursão na história da nossa formação sócio-cultural. Nossas festas, danças e música são, além de produto, um prolongamento dos acontecimentos e valores, reveladoras dos diversos elementos étnicos que conformaram a nossa sociedade, principalmente os de origem africana. Assim, tornaram-se as manifestações festivas de negros espaços constituídos para o fortalecimento dos grupos (étnicos, religiosos, sociais...), lugar de unir a comunidade, um instrumento de reforço da identidade do grupo. Representando um espelho através do qual os grupos se percebiam, não apenas como portadores de valores culturais, mas também, como seus produtores. A proposta deste artigo é apresentar o Maracatu como manifestação festiva que expressa a influência africana. Impregnada das crenças e dos valores culturais, lugar de resistência, em torno do qual foram demarcados os espaços sociais e fortalecidos os laços comunitários. Mesmo que esta manifestação festiva não mais expresse o mesmo teor e caráter de quando foi ―gestada‖ ainda continua por apregoar as tradições, a história e a memória africana. Palavras-chave: Maracatu. Manifestações festivas. Identidade. Memória. 62 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Cristina dos Santos Ferreira UFRN O griot das imagens em movimento do Níger: a trajetória de Moustapha Alassane no cinema de animação Uma reflexão sobre o cinema de animação criado pelo cineasta Moustapha Alassane do Níger a partir de 1966, pela ótica dos estudos midiáticos multiculturais e da visão multiculturalista policêntrica apresentada por Robert Stam e Eloah Shohat (2006). Analiso os filmes Samba le Grand (1977) e Kokoa (2001), por meio da abordagem poética do filme animado elaborada pela pesquisadora Marina Estela Graça (2006). Os dois curtas animados foram realizados com bonecos construídos por Alassane em seu atelier na cidade de Tahoua, no interior do Níger. Os filmes narram um conto da tradição oral africana e uma fábula que tem como protagonistas animais como o camaleão, o pássaro e sapos. Daniela Galdino Nascimento America Cesar - Orientadora UFBA/CEAO Reflexões sobre os impactos da Lei 10.639/03 no mercado editorial brasileiro Em se tratando da Literatura Infanto-juvenil Brasileira, sabe-se que somente a partir da década de 1980 houve uma gradativa mudança na representação do universo cultural afro-brasileiro. Esse processo teve seu ápice nos últimos anos, eclodindo, sobretudo, com o contexto das políticas afirmativas brasileiras neste entre-séculos; sendo possível identificar um considerável universo de obras – inclusive de autoria africana - com essa nova perspectiva, as quais vêm circulando no contexto brasileiro, com maior vigor, há, pelo menos, oito anos. Deve-se considerar o surgimento de editoras especializadas em publicações voltadas para a temática afro-brasileira, e a divulgação dessas obras em feiras literárias e eventos sobre leitura realizados no Brasil recentemente. Ressalte-se ainda que o Plano Nacional da Leitura e do Livro (PNLL), enquanto política pública de 63 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN âmbito nacional (Ministério da Cultura), tem subsidiado ações institucionais de promoção da leitura nas dimensões da ―cadeia produtiva do livro‖, a partir dos seguintes eixos: i) democratização do acesso; ii) fomento à leitura e à formação de mediadores; iii) valorização do livro e comunicação e iv) desenvolvimento da Economia do Livro. As questões relacionadas à diversidade cultural brasileira, contemplando a Lei federal 10.639/03 (e sua versão alterada: 11.645/08) estão contempladas no PNLL. O amplo acervo que compõe o maior programa de incentivo à leitura do MEC, o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), também considera as questões atinentes à lei 10.639/03. Tais aspectos apontam para os principais impactos da referida lei no mercado editorial brasileiro e nos espaços de formação de leitores. Por conseguinte, compreende-se que um estudo relacionado com o mapeamento e a análise dos impactos da referida lei nesse contexto deve também observar em que medida essa produção literária recente se insere nas relações de poder. Nesses termos, este trabalho busca, a partir das noções de campo de produção cultural e campo literário (Cf. Bourdieu, 1996), discutir as conflitantes ―relações de força entre agentes e instituições que tem em comum possuir o capital necessário para ocupar posições dominantes nos diferentes campos‖ (idem), levando em consideração as políticas publicas federais (Lei 10.639/03, PNBE, PNLL) e a formatação do mercado editorial brasileiro. Danielle Brito da Cunha Débora Quezia Brito da Cunha UFRN NEGRINHA: UMA OSCILAÇÃO ENTRE VOZES E CORPOS NO CONTO Coincidindo com o título do livro no qual está inserido, o conto ―Negrinha‖, de Monteiro Lobato, convida o leitor a uma viajem no espaço e tempo de 1920, onde o racismo era uma realidade latente e não dissimulada. Esse estudo se propõe a analisar o percurso que o pequeno ―corpo subalterno‖ de negrinha faz em sua trajetória até a liberdade, representada no conto pela morte. Assim como, sob a óptica histórica, analisar as representações espaciais nos discursos literários vendo em ―Negrinha‖ a 64 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN representação da vida social do ser negro na pós-abolição, ou seja, as permanências e mudanças que ocorreram no espaço imaginário, em uma tentativa de compreender como se manteve a visão pejorativa e escravista entre 1889 até 1920. Para tanto, nos muniremos dos conceitos utilizados por Le Goff (1994), Baczko (1984) e Castoriadis (1982) e as formulações teóricas de Elódia Xavier (2007), Alisson M. Jaguar e Susan R. Bordo (1997), dando especial destaque ao valor semiótico das diversas descrições de que o texto faz uso para compor a trama. Danielly Mara Rodrigues de Melo UECE/FAFIDAM MAFALDA: A COMPLEXIDADE DE UMA CRIANÇA CONTESTADORA A literatura infanto-juvenil se fortalece a cada dia pela proposta de formar leitores a partir da infância, ela tem evoluído e transcendido décadas e gerações, fazendo de histórias infantis grandes legados históricos para todo o mundo. Dentro deste mesmo grupo infanto-juvenil, temos grandes escritores que projetam seus personagens a partir de acontecimentos históricos, a cerca da realidade do mundo e sociedade que estes possuem. Partindo deste ponto podemos citar Joaquin Salvador Lavado, criador da Mafalda, esta personagem é utilizada pelo cartunista como um veículo de propagação de suas ideologias contestadoras, um bom exemplo disto é forma como uma das tiras critica de forma direta o preconceito racial, tema foco deste trabalho. O autor utiliza-se de um boneco negro para gerar a discussão, ainda tão forte nas décadas que suas tiras também foram desenvolvidas, nas décadas de 1960 e 1970. Para justificar e fortalecer a teoria proposta nesta pesquisa, a embasamos sob a custódia de críticos da área, tais como: Frantz Faron, Mário Corso, Diana Lichtenstein Corso. Foram utilizados em especial os estudos de Faron (1963), tendo em vista a real contribuição deste, a respeito das discussões sobre as questões raciais, em seu livro ―Pele Negra, Máscaras Brancas‖. A tira propaga o mesmo ideal deste critico, onde até no universo infantil este preconceito entre cores se propaga, até mesmo numa sociedade que já se diz tão evoluída, como é a contemporânea, ainda assim os negros necessitam de ―máscaras brancas‖ para conviver em sociedade, os termos mudaram, mas o preconceito continua. Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil; Mafalda; Preconceito Racial. 65 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Dayane da Silva Grilo Tamires Patrícia Cavalcante Silva Kívia Natália Ramos Passos UFRN O Mistério do Mar que nos Liga ao Infinito em: O Beijo da Palavrinha Este trabalho tem por finalidade estudar a dimensão do imaginário na cultura africana. Teremos como objeto de estudo o livro O Beijo da Palavrinha, de um dos principais autores de Língua Portuguesa, Mia Couto. O enredo nos faz refletir sobre a maneira como esse povo elabora suas histórias e suas crenças. Estaremos pensando o mar como um lugar heterotópico de passagem para a eternidade e liberdade. Aqui, este lugar será apresentado sob a perspectiva de Michel Foucault em De outros Espaços no qual ele trata de uma dimensão etimológica do lugar que no livro representa-se-á através da percepção sensorial que se configura com a ―cartografia do toque‖, esta levará a personagem principal para o espaço onírico. Para entendermos a dimensão do imaginário utilizaremos os livros A Poética do Devaneio e A poética do Espaço, de Gaston Bachelard. Assim, a imagem poética do mar será o ponto fundamental do nosso trabalho. Destacaremos também nesta concepção de lugar a pintura de Malangatana que representa as passagens do livro através de figuras humanas encerradas no emolduramento da tela. Os teóricos Silviano Santiago e Hambaté-bá serão de fundamental importância para entendermos a cultura africana e essa voz que insurge. Palavras-chave: O Beijo da Palavrina. Mia Couto. Cultura Africana. Mar. Malangatana. Dayanne Barbosa Diógenes UECE/FAFIDAM Identidade poética: o reflexo do homem no cenário pós-moderno O presente artigo tem como objetivo analisar as características específicas da poesia pós-moderna, no tangente a função que ela exerce atualmente. O enfoque em algumas 66 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN poesias que englobam desde o estilo moderno até o pós-modernismo, tais como a poesia contemporânea (em suas vertentes social, visual, hermética, entre outras), prioriza a palavra como livre expressão, onde vigora a pluralidade criativa. Essas características compõem a universalidade dos sentimentos humanos e é nessa perspectiva que a poesia expressa à subjetividade do ser, de forma lúdica diferenciada, caracterizando uma revolução estética. Essa leitura dos novos gêneros poéticos se traduz na adaptação da poesia que reflete os anseios e dúvidas potencialmente humanos, em que o homem pode se ver na poesia e vivê-la tal como ela se apresenta fragmentada e atrelada as disformidades do mundo que o cerca. Tomaremos como base textos de Antônio Cândido, crítico brasileiro, que assume tais reflexões acerca do emprego da palavra como imagem ou símbolo da realidade expressa na contemporaneidade. No trabalho serão analisados os gêneros (poesia concreta, social, de renovação) de autores que representam os respectivos gêneros (Leminski, Chico Buarque, Drummond, e outros) que contribuíram para essa multiplicidade da poesia enquanto tradução artística da vida. Palavras-chave: Poesia; Pós-modernismo; Crítica Literária. Denise Noronha Lima UFC TRANSIBERISMO NO ROMANCE A JANGADA DE PEDRA Este trabalho analisa o aspecto político-cultural do romance A Jangada de Pedra a partir de sua metáfora principal, ou seja, o deslocamento da Península Ibérica rumo ao Atlântico Sul. Tal metáfora sugere uma identidade cultural entre os países da Península e as regiões por eles colonizadas, defendida por José Saramago através do conceito de ―transiberismo‖. Por outro lado, o distanciamento literal da Europa simboliza a tomada de consciência de Portugal e Espanha em relação ao menosprezo que recebem do continente europeu, o que os assemelha aos africanos e latinos. Reforçando esta ideia de aproximação entre seres distanciados pelo espaço, mas que convergem culturalmente, o romance apresenta fatos fantásticos aparentemente desconexos, porém justificados pela única razão que importa à humanidade: a busca do outro. Palavras-chave: Transiberismo, Saramago, Identidade cultural. 67 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Diana Medina IFCE O que me move no grafite? Considerações sobre a prática da pintura mural O presente trabalho trata da questão do grafite enquanto arte urbana. O ponto de partida da reflexão reside na minha pesquisa participante (Malinowski) que se desdobra da minha prática de grafiteira atuante na cena de Fortaleza. Enfatizando o grafite enquanto pintura libertária, me interessa analisar a resistência e a subversão desta prática artística, que se coloca fora dos modelos estimulados pelo sistema tradicional de artes, bem como a afirmação do indivíduo na pintura mural, livre de dogmas acadêmicos e solto para experimentações pessoais. Ativo na ação de personificar seu espaço, sua cidade, a partir de seus próprios referênciais simbólicos (Baudrilard,1976), o grafiteiro faz nascer um discurso visual que interage com a população local e se opõe aos elementos impostos pela cultura visual dominante. Tomando por base a análise das fotografias de alguns grafites que eu realizei em Fortaleza, proponho uma reflexão sobre esta alternativa de expressão artística, que se une ao efêmero e a liberdade para fugir dos tradicionais museus e povoar o imaginário coletivo. Diltino Livramento Moniz Ferreira UFC Do Brasil para Cabo Verde: Os traços culturais brasileiros na Literatura cabo-verdiana O modernismo brasileiro desde cedo serviu de grande estímulo para os escritores caboverdianos. O movimento da Claridade, considerado a gênese de uma literatura genuína de Cabo Verde, recebe influências do modernismo brasileiro. Os escritores nordestinos brasileiros apresentavam o mesmo dilema dos cabo-verdianos em que retratava a realidade da seca e da luta pela sobrevivência principalmente a literatura Brasileira da década de 30. A narrativa do Cabo-Verdiano apresentava características que indicavam 68 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN um caminho de retorno às origens telúricas, o apegam à terra e como o cabo-verdiano sentia na própria carne, na totalidade de seu ser , as amarguras de uma natureza adversa e terrível, contra a qual ele não pode lutar. Essa mesma temática foi retratada pelos nordestinos brasileiros demonstrando a sua preocupação no meio em que vive. Os escritores cabo-verdianos então apresentam muitas vezes nas suas obras os traços provenientes da Literatura brasileira. Assim como o africano deixou traços na cultura brasileira, o brasileiro também deixou traços na cultura africana, então pode se dizer que há um laço forte que une esses dois povos. A história e a cultura que ligam o Brasil e Cabo Verde falam por si. No caldeirão onde essa história e essa cultura se formaram e se consolidaram, sobressaem vários elementos de cumplicidade entre os dois povos e países. Disneylândia Maria Ribeiro Emanuela Carla Medeiros de Queiros Miria Hellen Ferreira de Souza UERN A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: CENÁRIO ABSTRATO SOB A ÓTICA DOS SUJEITOS A pesquisa relatada é fruto de uma das ações desenvolvidas pelo Projeto de Extensão Universitária ―A educação em direitos humanos frente aos desafios da mediação teórica e prática da formação de professores‖, que tem como finalidade difundir idéias e valores dos direitos humanos, da democracia e cidadania, eixos norteadores da prática educativa. Nessa perspectiva, a investigação deu-se a partir do levantamento das demandas das escolas, focos da ação extensionista, quanto ao processo de inclusão e exclusão escolar, objetivando identificar problemas como a existência de atitudes preconceituosas e discriminatórias com base nas diferenças de gênero, cultura, cor, etnia, orientação sexual e deficiências e refletir sobre elementos presentes no discurso dos(as) docentes que evidenciam suas concepções e atitudes relacionadas ao reconhecimento da diversidade humana. A fundamentação teórica baseou-se em: Aquino (1997), Candau (1998), Dias (2007), Trindade (2002). Realizou-se uma pesquisa exploratória a partir da aplicação de questionários em oito escolas estaduais da 69 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN cidade de Pau dos Ferros, RN. Constatou-se que os(as) educadores(as) não possuem clareza sobre temáticas inerentes ao campo da educação em direitos humanos. Alguns dados evidenciam a violência e o desrespeito, mas não especificam em que situações e contra quem estes ocorrem no cotidiano escolar. Também ficou explícito que os(as) docentes não reconhecem a diversidade de comportamentos que cruzam o chão da escola. O diagnóstico reforça a pertinência de imprimir estudos nas escolas sobre a transversalidade pela qual perpassa a sociedade contemporânea, em seu aspecto multicultural. Palavras-chave: Direitos humanos. Educação. Discurso docente. Edna Carlos de Almeida Holanda UECE Os Contos Tradicionais do Brasil de Câmara Cascudo: marcas da oralidade e elementos africanos Estudo da obra Contos Tradicionais do Brasil (1946) de Câmara Cascudo, identificando-se com os contos populares africanos. A pesquisa foi realizada tendo como premissa a teoria de Walter Benjamim sobre a arte de narrar. Na escritura do autor potiguar o verdadeiro narrador é aquele que atinge uma originalidade, fugindo da mesmice dos contos clássicos ao acrescentar variedade de temas e motivos como os da literatura africana. Desse modo, o narrador cascudiano elege uma linguagem popular, calcada nas tradições e na memória social. Palavras Chave: Câmara Cascudo; Contos Tradicionais do Brasil; influência africana. Edna Maria Rangel Derivaldo dos Santos UFRN Representações da mulher negra em Drummond A presente proposta se ocupa de uma discussão entre poesia e vida social a partir das sistematizações de Adorno, constante em seu ensaio Palestra sobre lírica e sociedade, e 70 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN toma como objeto de reflexão o poema ―Negra‖, de Carlos Drummond de Andrade, a fim de verificar, no plano dessa discussão, como as representações sociais da mulher negra se movem no poema em questão. Parte-se do pressuposto de que a poesia é capaz, na especificidade de sua linguagem e na sua forma singular de estar no mundo, de apreender e interpretar a realidade social e histórica, articulando-se no tempo e tornando visível o que a ideologia encobre, e nessa apreensão ela se move em direção contrária ao que foi historicamente instituído, na sociedade, como sendo verdades naturais e acabadas. Este trabalho toma como orientação de leitura as discussões realizadas por Antonio Candido, em seu livro Literatura e Sociedade, por Adorno em Palestra sobre lírica e sociedade, e por Gilberto Freyre, em seu clássico Casa Grande e Senzala, tentando verificar como as questões do mundo social em torno do negro se disseminam no poema de Carlos Drummond de Andrade. Edson Moisés de Araújo Silva Gerardo Andés Godoy Fajardo - Orientador UFRN O DIALOGISMO E A REFLEXÃO PÓS-MODERNA NA LITERATURA DO ANGOLANO JOÃO MELO: PROSTITUIÇÃO E CRÍTICA SOCIAL Na presente pesquisa, trataremos das estratégias narrativas estabelecidas no conto O feto, do escritor João Melo, que está copilado no livro Os Filhos da Pátria (2008). Nele, buscaremos estabelecer as construções discursivas além dos elementos provenientes da formação social da África de João Melo. Desta forma, partiremos da perspectiva de quebra dos padrões morais, ou mesmo, canônicos dos invasores, tomando a temática da prostituição como ponto de partida. Esta ruptura será analisada sob a luz do dialogismo bakhtiniano e algumas das reflexões de Bhabha, Said e Stuart Hall a respeito do lugar do outro na sociedade contemporânea. No olhar do discurso dialógico, dentro do processo de narração, temos uma configuração essencial para a quebra de limites das discussões propostas nas linhas e entrelinhas da literatura do escritor angolano. Este, 71 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN consegue subverter a ordem instalada pelo colono e liberta o falar do colonizado para a expressão de sua identidade e uma nova política de produção cultural, tendo a manifestação das artes como portadora de um discurso de crítica social (BHABHA, 2008). Neste sentido, o narrador de João Melo transmite certa ironia em meio às atribulações narradas em seu conto, o qual é povoado por instabilidades e constantes tensões no discurso de seu personagem-narrador. Entretanto, essa configuração não se dá apenas na obra em questão, mas em toda uma geração de escritores que se propõe a construir releituras acerca dos tempos de colônia e da recuperação das feridas que vinheram em consequência de um longo período de martírio. Palavra-chave: Dialogia, Colonização, Prostituição. Eidson Miguel da Silva Marcos Rosilda Alves Bezerra – Orientadora UEPB O ELEMENTO SOCIO-HISTÓRICO PELA LENTE CRÍTICA DE LUIS ROMANO EM FAMINTOS Em 1962 o exilado político cabo-verdiano Luis Romano de Madeira e Melo publicava, no Rio de Janeiro, seu romance Famintos, no qual apresenta de modo contundente a situação do povo cabo-verdiano perante dois grandes males: a seca periódica que assola o país e a implacável tirania da administração colonial, que por mais de quatro séculos subordinou Cabo Verde aos interesses da metrópole portuguesa. A perspectiva crítica adotada por Luis Romano na obra em questão normalmente desperta duras críticas no tocante à sua qualidade estética, como, por exemplo, a que acusa o caráter panfletário do livro. No presente trabalho verificaremos de que forma se da a captação do elemento sócio-histórico pela lente crítica de Luis Romano, refletindo acerca da relação entre crítica/retrato sócio-histórico e qualidade estética, nos valendo para tal do subsídio teórico de autores como o angolano José Carlos Venâncio e o brasileiro Antonio Candido, dentre outros. Palavras-chave: elemento histórico, crítica social, literatura. 72 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Eidson Miguel da Silva Marcos Amarino Oliveira de Queiroz UFRN DA ÁFRICA CABO-VERDIANA AO NORDESTE POTIGUAR: LUIS ROMANO, INVISIBILIZADA PRESENÇA Cabo-verdiano radicado no Brasil desde o início da década de 60 do século passado e desaparecido em janeiro de 2010 em Natal, Rio Grande do Norte, durante os anos de residência e atuação em nosso país o escritor Luis Romano contemplou, através de considerável obra ensaística, poética e ficcional temas que se reportaram ao arquipélago de Cabo Verde e, em alguns momentos, à realidade cultural nordestina. Para além do processo de invisibilização e esquecimento a que sua interferência intelectual esteve relegada durante todos esses anos, o acervo representado pelos textos científicos, poéticos e ficcionais assinados pelo autor revela-nos, em alguns exemplos, um importante espaço de discussão para o incremento das relações entre a África de língua oficial portuguesa e o Nordeste brasileiro no campo cultural, sobretudo em seu recorte literário, tema a que se dedica esta comunicação. Palavras-chave: Literatura cabo-verdiana, Literatura potiguar, Luis Romano. Eliã Silva de Jesus UNEB Lima Barreto: O poder da linguagem fora do poder hegemônico Este texto é parte da pesquisa do programa de mestrado em Estudos de Linguagens (UNEB), linha Leitura, literatura e identidade, tendo como título Poder, subversão e linguagem: Lima Barreto nos limites da des-razão em Diário do hospício - ainda em andamento e pretende refletir sobre a importância de Lima Barreto como representante de uma coletividade negra ao passo que se consagra numa perspectiva que vai além das idéias concebidas pelos homens de seu tempo. Uma vez que situado no plano oposto ao 73 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN discurso hegemônico, o escritor apresenta-se como a ruptura, destronando velhos vícios de uma estética imposta e alicerçada na cultura européia. É sob uma aura da estereotipia amalgamada que se fixa a literatura, neste contexto. Atuando como processo homogeneizador das consciências, amplamente alicerçado pelo, então, padrão universal da Belle Époque. Lima Barreto, no entanto, faz uso de uma linguagem que provoca movimentos contrários ao discurso hegemônico. Produz um texto literário que vislumbra vozes voltadas para as questões raciais, com foco na afirmação de personagens negras na literatura em um momento em que se solidificavam teorias que tentavam comprovar que a criminalidade, a loucura, as doenças infecto-contagiosas eram inerentes aos pobres. E nesta perspectiva se faz muito significativo para o povo negro. Posto que por muito tempo um discurso literário – produzido a partir de categorias e valores estéticos europeus - vem mantendo a presença marginalizada do negro no cenário literário. Palavras-chave: poder hegemônico, racismo, literatura afrobrasileira. Eliana Carlos da Silva UFC A LÍNGUA, ARENA DA IDENTIDADE: UMA ANÁLISE EM MIA COUTO Os dirigentes das ex-colônias de Portugal na África, ao resolverem fazer da língua portuguesa o idioma oficial após a independência, tiveram que contornar uma questão emergente: como superar a desconfiança de um segmento da população que via essa língua como um veículo da cultura e da ideologia do invasor europeu. Nesse processo, os escritores tiveram um papel de relevo na tarefa de ajustar a língua portuguesa aos hábitos prosódicos, rítmicos e, principalmente, à cosmovisão africana. É nesse contexto que demonstramos neste trabalho como Mia Couto faz da reinvenção da língua portuguesa uma estratégia de afirmar a identidade moçambicana e, por extensão, da África. Para isso, apresentamos alguns resultados de análises do romance Terra Sonâmbula e de outras obras do escritor em foco. Dessa forma, mostramos como o trabalho com a linguagem em Mia Couto, acompanhando o entendimento do escritor 74 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN nigerano Wole Soyinka, simboliza um arrancar da ―lâmina lingüística das mãos do castrador cultural tradicional e (...) [um entalhe de] novos conceitos na carne da supremacia branca‖ (SOYINKA, apud REIS, 1999, p. 103). Palavras-chave: Língua – Identidade – Mia Couto. Eliane Veras Soares UFPE Memória, ficção e protesto social Minha proposta nesta comunicação é buscar, por meio da literatura, novas possibilidades para as interpretações dos protestos sociais. Para tanto selecionei duas obras que tratam de dois momentos históricos distintos em dois territórios, Moçambique, ainda colônia portuguesa, no início do século XX, e o Brasil, no início do século XXI. No primeiro caso, a situação de protesto social, surge de maneira discreta no romance O olho do Hertzog do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, trata-se das manifestações dos trabalhadores da minas de diamante situadas na África do Sul e recrutados em Moçambique, ocorridas na cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo, no ano de 1919. Elas não estão no centro da trama, mas integram o intricado mosaico que o autor elabora a partir de personagens e situações reais em que memória e ficção se interpenetram. O segundo caso de protesto social, narrado no romance O ano em que Zumbi tomou o Rio, do escritor angolano, José Eduardo Agualusa, ocorre no início dos anos 2000, na cidade do Rio de Janeiro, e o protesto assume forma de revolução social, protagonizada por um herói-traficante. Aqui a ficção parece transcender em muito a realidade, mas não deixa de colocar o dedo em feridas abertas tanto na sociedade brasileira quanto na angolana. Palavras-chave: Literatura – Africa – Brasil – Protesto social. 75 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Eliene Medeiros da Costa UEPB Carolina: a conscientização do preconceito em “A Mulata do Engenheiro” de Inácio Rebelo de Andrade O processo de colonização europeu teve como principal traço o fato de explorar o colonizado, assim como de submetê-lo. Nos países africanos a população passou por um intenso processo de exploração, escravidão e se não, por uma perda, um enfraquecimento de seus traços culturais, à medida que o europeu nomeou sua própria cultura como a melhor e em muitos casos ―obrigou‖ suas colônias a aderir à mesma. Num processo em que o colonizado era submetido a uma complexa rede ideológica de alteridade e inferioridade, na qual sua cultura era totalmente menosprezada. Um traço tão marcante na cultura africana não poderia passar despercebido pela Literatura. Considerando que o preconceito em relação negro é uma herança advinda do processo de colonização buscaremos estudar a conscientização do preconceito e a implicação dele na vida da personagem Carolina, protagonista do romance A Mulata do Engenheiro do escritor angolano Inácio Rebelo de Andrade. Teremos como aporte teórico Bonnici (2000) e Cândido (1992). Palavras-chave: Conscientização; Preconceito; Fragmentação de identidade. Elinalva Roseno dos Santos Silva de Abreu UEPB CONCEIÇÃO EVARISTO E MIRIAM ALVES: GRIOTES NA DENÚNCIA DO RACISMO E PRECONCEITO PELA POESIA O presente trabalho abordará na produção de poesia das escritoras afro-brasileiras Conceição Evaristo e Miriam Alves a relação entre seus escritos poéticos e a denúncia do racismo e preconceito que ainda perduram em nossa sociedade. Para isso, foram escolhidos alguns poemas das autoras supracitadas, as quais como griotes 76 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN contemporâneas, na tessitura de seus textos cantam/contam em seus versos toda problemática de exclusão, opressão e violência que permeiam o ser negro em nosso país desde á época da escravidão. Analisa de que forma no constructo de sua obra realizam uma ruptura com a escrita dominante nos cânones literários e produzem uma releitura crítica do presente e autovaloração das questões de memória e identidade dos afrodescendentes na contemporaneidade. E, ressalta também como na tessitura dos poemas das mesmas, surge pelos fios da memória e identidade uma forte ligação com a mãe África, além de uma imagem positiva através do fazer poético que viabilizam o seu atuar na sociedade pela desconstrução das falácias da tolerância e igualdade para com os (as) negros (as) no Brasil. Palavras-chave: Escritoras afro-brasileiras, denúncia, poesia. Eloísa Elena Prates Boeira Felipe Garcia de Medeiros UFRN NEGRAS MEMÓRIAS: O DESTINO BRANCO DE NEGRINHA O presente artigo analisa o conto Negrinha, no livro com o mesmo nome, de Monteiro Lobato, abordando a questão racial presente nessa obra, publicada no início do século XX, assunto que suscita polêmica até hoje. No conto, diversas personagens traçam esse panorama racial – como a presença das sobrinhas de Dona Inácia, que são brancas, em oposição à Negrinha que, além de não ser considerada ―gente‖ pela tia das meninas, sofria absurdamente com o preconceito de todos, sendo humilhada, agredida, existindo apenas como coisa, sem humanidade. Presente também no texto é a ironia, ressaltada nos adjetivos dados à Dona Inácia, a dialética entre branco/negro, resultando no final trágico da Negrinha que é, ao mesmo tempo, cômico. O referencial teórico utilizado para o artigo é Pele negra, máscaras brancas de Fanon (1983) e Cultura brasileira e identidade nacional de Ortiz (2005). Palavras-chaves: Memória, Cultura, Racismo. 77 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Emanuel Freitas da Silva UFRN O negro alencarino em três momentos: uma análise das obras “Demônio Familiar”, “Mãe” e “Cartas a favor da escravidão” O artigo analisa parte da obra do escritor cearense José de Alencar (1829-1877), considerado um dos maiores expoentes da literatura brasileira. Romancista, teatrólogo, poeta, jurisconsulto, jornalista, crítico, político e professor, Alencar desempenhou papel importante na formação do nosso pensamento social, chegando mesmo a ser considerado o ―patriarca da literatura brasileira, à qual imprimiu a marca da nacionalidade‖ (MENEZES, 2006, p.11). Assim, três textos de Alencar servem como corpus de análise no presente artigo: as peças teatrais ―Demônio Familiar‖ (1857) e ―Mãe‖ (1860), além das ―Cartas a favor da escravidão‖ (1867-1868). A partir da apresentação dos textos selecionados, compreender-se-á o papel que, para Alencar, cabia ao negro na sociedade brasileira, bem como sua importância ou não para a construção da nacionalidade brasileira, servindo para caucionar tal compreensão sua postura frente à escravidão – que o autor considerava a oportunidade para o país atingir ―uma finalidade imanente: favorecer o progresso do homem‖ (PARRON, 2008, p.19) – e à luta pela abolição. Palavras-chave: negro alencarino, escravidão, nacionalidade. Emanuel Kleyton Souza de Morais Tânia Lima – Orientadora UFRN RAPENTE (HIP HOP) AFRO-BRASILEIRO Percebe-se nas letras e nas pickups dos Djs um RAP que nos dá uma leitura de vida, pois se literatura é vida e RAP é literatura, então literatura é Repente. Nas disputas de improviso dos MC‘s, uma capoeira de palavras são grafites de Zumbis e Dandaras da 78 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN nova geração. Como nos mostra Ecio Salles em seu livro ―Poesia Revoltada‖, o Hip Hop evoluiu, se tornando não apenas um estilo musical, mas também objeto de estudo da performance, uma abrasileirada miscelânea dos sentidos, como nos mostra Amarino Queiroz. Semelhante as escolas literárias, o Hip Hop cria novas escolas dependendo do estilo de cada época. Se olharmos bem, desde África Bambata, sugere-se uma nova perspectiva musical através de ritmos vindos de outros lugares do mundo e da herança africana. Nesse cenário, desde os antigos ―griots‖ até os dias de hoje, tem-se referências dos marginais compondo poemas de rebeldia, como MV Bill, Thaíde, RAPentistas dos grupos coletivos como Pentágono e Racionais, e do chamado Rap Underground, com rimadores como Emicida e Kamau, representando a Academia Brasileira de Rimas. São nesses ―rapentes‖ que vemos a realidade da periferia num quadro de inclusão social em sua mobilização cultural. Essa poesia oral nos dá sonoridade do mundo, da ―sensualidade da voz‖, como mostra Paul Zumthor, em ―Introdução à Poesia Oral‖. Palavras-chave: Hip hop. Performance. Poesia afro-descendente. Emanuele Cristina Santos do Nascimento Waneska Andressa Vina de Oliveira UFPE MULHERES NEGRAS: DEMANDAS, LUTAS E CONQUISTAS O presente estudo visa refletir sobre a realidade da mulher negra na sociedade contemporânea o que alude ao longo processo de discriminação e exclusão vivenciado por esses atores sociais, sendo estes, reflexos de uma sociedade patriarcal marcada pelo racismo na qual se estabelece um triplo sistema de dominação (patriarcado-racismocapitalismo). Essa situação dimensiona a mulher negra para a ―base da pirâmide social‖. A presente investigação teve como objetivo apresentar a importância das lutas das mulheres negras na sociedade racista e patriarcal na busca do atendimento de suas especificidades. Partindo da análise da trajetória dessas mulheres nos movimentos feminista, negro e por fim no movimento feminista negro observou-se diferentes visões desses movimentos sobre a realidade na qual a mulher negra está inserida, sua possível 79 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN emancipação como sujeito político e suas conquistas. Ao apresentar um caráter exploratório e qualitativo esta pesquisa está fundamentada na utilização de dois instrumentos essenciais para seu desenvolvimento, o primeiro foi o levantamento de dados bibliográficos sobre a temática racial e de gênero, seguindo da realização de entrevistas semi-estruturadas realizadas com mulheres negras que possuem ou já possuíram atuação nos referidos movimentos, visando abordar sua condição de mulher negra na sociedade. Observa-se, então, que as lutas das mulheres negras ocorrem em várias áreas da sociedade, podendo-se destacar a saúde, a educação e a mídia. Diante dessa realidade, esta pesquisa tem o intuito de contribuir para um melhor conhecimento das demandas dessas mulheres que diariamente lutam contra as barreiras de uma sociedade racista e patriarcal. Palavras-chave: Mulheres negras; racismo; lutas. Ercílio Neves Brandão Langa UFC Migrantes africanos no Ceará: entre os resquícios do colonialismo e a reinvenção de identidades O Brasil virou-se à África e a África ao Brasil, com a expressiva presença de estudantes vindos de países africanos que falam a língua portuguesa. Nesta diáspora, os migrantes africanos buscam uma identidade diante do "diferente", mas também expressam as marcas da "colonização ocidental", inculcadas ao longo da História. Neste artigo buscase compreender o processo de reconstrução de identidades dos imigrantes africanos em Fortaleza onde enfrentam o olhar colonialista do racismo; questiona-se sobre o que é ser negro e o que é ser africano em uma metrópole a vivenciar exclusões e inserções pelo consumo, e entender as estratégias de inserção e integração dos imigrantes africanos. A identidade e identificação dos imigrantes africanos são feitas a partir de aspetos imateriais: a língua, a dança e cultura africanas. Mas também são usados aspetos materiais: vestimentas, trajes coloridos e bandeiras dos países de origem. O Brasil mostra-se uma sociedade familiar e ao mesmo tempo diferente. Familiar devido aos 80 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN aspectos que o ligam a países africanos: a língua portuguesa, a culinária, a religiosidade e cultura negra trazidos pelos escravos; mas diferenciando-se no nível de desenvolvimento e racismo. Usamos como metodologia entrevistas abertas e a técnica de discussão em grupo focal e a análise das diversas agremiações africanas existentes em Fortaleza. Ao nível teórico abordo as identidades através dos estudos pós-coloniais a partir de Stuart Hall, Eduard Said e Gayatri Spivak e debates sobre a identidade na modernidade com Zigmunt Bauman. Érica Cristina Bispo UFRJ De felicidades e paixões A busca da felicidade é um dos grandes anseios humanos. Segundo Aristóteles, na Poética, felicidade tem a ver com realização, ou seja, com aquilo que se realiza ou com o que é realizado pelo sujeito. Neste sentido e balizados nos escritos de Hegel e suas descrições de figuras do homem: indivíduo, vítima, herói e cidadão; é nosso objetivo identificar e discutir os momentos de frustração, paixão e felicidade da personagem Daniel, protagonista do romance Eterna Paixão (1994), de Abdulai Sila. Palavras-chave: Literaturas Africanas; Abdulai Sila; Filosofia. Érica Patrícia Barbosa de Oliveira Emerson Araújo de Arribas UFPE Diamante de Sangue: limites e possibilidades do cinema como recurso didático-pedagógico para o estudo da África Subsaariana O filme Diamante de Sangue será usado como exemplo dos limites e possibilidades de se estudar a África Subsaariana. Não resta dúvida que essa produção norte-americana é 81 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN um atraente e movimentado thriller, atraindo facilmente a atenção dos jovens estudantes. Entretanto, a película, quando analisada detalhadamente, nos revela algumas problemáticas sérias, a saber: a visão de que os negros residentes em Serra Leoa pertencem a uma só etnia e de que os senhores da guerra, personagem tipicamente africano, segundo a imprensa internacional, são insanos, cruéis e ambiciosos por natureza. Quanto as possibilidades essas são mais diversificadas, no entanto, reconhecemos que obras como essa, reforçam a imagem do continente em análise como um território em que os conflitos e a violência são marcas indeléveis. Mas a utilização de forma didática é inegável. As problemáticas típicas africanas podem ser trabalhadas, como: a presença de grupos revolucionários que objetivam a deposição do grupo que está no poder; as estratégias utilizadas para a criação das crianças-soldados; o desinteresse da mídia internacional por assuntos mundialmente relevantes; a limitada atuação da Organização das Nações Unidas; o contrabando de armas e diamantes com alta lucratividade para os brancos; o controle dos preços das jóias produzidas a partir dos diamantes e os objetivos do Processo Kimberley. Érica Patrícia Barbosa de Oliveira Emerson Araújo de Arribas UFPE Da possessão ao processo de (neo)colonização do Quênia: o uso do filme “Out of Africa” para análise das conseqüências desse processo para as principais etnias que habitavam a região da África Oriental O uso do citado filme suscita a discussão do que foi o período de possessão, quais as características e os impactos para as etnias que estavam sob o domínio do Reino Unido e o mesmo para o período de (neo)colonização. O filme é baseado na obra literária da escritora dinamarquesa Isak Dinesen, ―A Fazenda Africana‖, que se passa entre 1918 e 1931. Três grupos étnicos são citados no filme: os Kikuius, os Massais e os Somalis. As características desses povos são apresentadas a partir da perspectivas do europeu e cabe neste trabalho apresentar os limites da obra cinematográfica. É possível perceber, por exemplo, a perda das terras dos povos locais para dar espaço a agricultura extrovertida – 82 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN ou seja, voltada para exportação – como uma das conseqüências tanto do período de possessão e agravado no período de (neo)colonização. Outro dado ofertado pela película é a preocupação da personagem principal com o destino do grupo étnico que trabalhava em sua fazenda, entretanto isso representa uma contradição, já que a mesma causou a redução das terras do próprio grupo. Por fim, apresenta a chegada do governador local que indica o início do processo de colonização propriamente dito. Palavras-chave: Possessão, (neo)colonização, etnias. Euclides Lins de Oliveira Neto PUC - MINAS “A fábula africana, migrante para a Língua Portuguesa: uma leitura” A fábula africana é fábula ancestral, veiculadora de sabedoria e ensinamentos em sintonia com as vivências e os costumes de diferentes geografias culturais africanas. Pesquisadas em diferentes culturas do continente africano, migraram para a Língua Portuguesa um número infinito, aqui reunimos a partir de uma tradução para o português cinco fábulas de diferentes línguas. São fábulas lato sensu de cinco países africanos. Sentimento posterior à leitura (da obra África ¬– Não o mundo das fábulas, mas fábulas do mundo) é que elas trazem ensinamentos atuais e em plena sintonia com as questões do ser humano nascido em Àfrica e em seu além mar do Século XXI. São fábulas que, indo além do preconceito e da discriminação, dos costumes ancestrais e hodiernos, visam uma autêntica cidadania mundial para as crianças (e para os adultos). Eveline Alvarez dos Santos UEPB NEGRITUDE E MÍDIA: NARRATIVAS (S)EM CONFLITO Mesmo com todas as discussões feitas acerca da negritude na sociedade brasileira, a mídia ainda é responsável por um negro que ainda não conseguiu se livrar totalmente das suas correntes e que, através das imagens que nos chegam, é ainda um modelo que 83 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN representa um ser inferiorizado, bandido, favelado e figurado através dos arquétipos mais comuns que sempre foram inerentes a sua raça. O trabalho em questão tem como proposta discutir sobre a história do cinema brasileiro e como a figura do negro se localizou durante o seu percurso. Levantaremos também observações sobre a questão da influencia da mídia na sociedade atual em algumas formas midiáticas, como telenovelas e filmes. Palavras Chaves: Negritude, mídia, cinema. Fábia Layssa dos Santos Cosmo - FURNE Maria Elaine Almeida do Nascimento - UFPB Érica Cibelle de Sousa Araújo - UFCG CIRANDA DE RODA: A DANÇA QUE CONTA A HISTÓRIA DE CAIANA DOS CRIOULOS DE ALAGOA GRANDE - PB Este estudo apresenta resultados de uma pesquisa feita com as Cirandeiras de Coco existentes na Comunidade Quilombola de Caiana dos Crioulos, localizada na zona rural de Alagoa Grande, Paraíba. Caiana dos Crioulos é reconhecida como um dos 13 legítimos quilombos brasileiros além de ser considerada patrimônio histórico e cultural da Paraíba, onde existe diversas hipóteses para a origem africana de sua população. No passado chegou a ter por volta de 2 mil habitantes, descendentes diretos de escravos que se instalaram por lá entre o século XVIII, vindos de Mamanguape, após uma rebelião ocorrida em um navio que aportou na Baía da Traição, na época. Ainda hoje se vêem as tradições herdadas dos seus ancestrais africanos. Seus instrumentos, músicas, danças e costumes, ainda guardam um pouco de sua cultura e de sua história. Partindo do bumbo, triângulo e o ganzá, geralmente tocado por jovens da comunidade, filhos das cantadeiras-dançadeiras, é que nasce a dança Ciranda e Coco-de-roda no intuito de animar o povo nos dias festivos, para receber visitantes e amigos, bem como uma forma de lutar pela resistência de seus valores e tradição. O artigo exposto foi construído através de relatos orais verídicos de componentes do grupo, na tentativa de resgatar, ora a história de Caiana dos Crioulos, ora a importância e simbologia que a dança tem para 84 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN a formação identidária destes, bem como o fato de que é através dessa arte que as Cirandeiras deste Quilombola mantém viva e acesa a tradição e o espírito do passado da Comunidade. Palavras-chave: Caiana dos Crioulos, Cirandeiras de Coco, Quilombos. Fábio Nunes de Jesus UFRN TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE QUILOMBOLA NA BAHIA: DOS ESPAÇOS DE REFERÊNCIAS À AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA O artigo ora desenvolvido é parte dos estudos vinculados ao curso de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte junto à linha de pesquisa Território e Identidade. Através de um aporte teórico, sobretudo geográfico, pretendemos fundamentar um possível olhar investigativo sobre os territórios negros frente à marginalização imposta e legitimada pelo Estado brasileiro ocorridas no Piemonte da Diamantina - BA. Ao longo de sua formação, o Brasil no construto lusitano, representava através do seu território o empreendedorismo e utilitarismo responsável pelo caráter hegemônico cultural dominante que não permitia uma diversidade social reveladora da autodeterminação dos povos subjugados. É neste contexto que a sociedade brasileira de matriz africana no pensamento social tornou-se uma construção abstrata e subjetiva que precisava de tutoria e adequação ao trabalho compulsório minerador em vigência. Assim, através de uma territorialidade que pertencia e ao mesmo tempo se distanciava do território concreto estabelecido pelo poder clássico, o povo negro através de fortes vínculos identitários, culturais e espaciais (quilombos) garantiam na América diaspórica sua permanência e alteridade. A apropriação dialética dos espaços pelos grupos "de baixo" como anuncia o professor Milton Santos ,nesta reflexão, é o contraponto e o sentido da aplicação /negação dos modelos como parâmetros de organização social estabelecidos através de uma outra territorialidade subalterna e negra com fortes vínculos solidários e de permanência 85 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN espacial (quilombos, quintais , roças,terreiros) usando o próprio território e reafirmando o sentimento de pertença. Palavras - chave: Território; Identidade; Quilombos; Bahia; Geografia. Fabrício Guto Macêdo de Souza Amarino Oliveira de Queiroz UFRN TEMPO, SILÊNCIO, ORALIDADE E ESCRITA: UMA LEITURA DA CRÔNICA “AVÓ VS TELEVISOR”, DE SULEIMAN CASSAMO Alguns exemplos da narrativa moçambicana contemporânea têm suscitado o debate em torno da relação oralidade/escritura na composição do texto literário, bem como a perspectiva de apreciação do tempo e do silêncio como componentes diegéticos no desenvolvimento da obra, combinando sabedores ancestrais às interferências dos avanços tecnológicos. Esses são alguns dos temas que, contidos em Amor de Baobá, coleção de contos e crônicas publicados pelo jornalista e escritor Suleiman Cassamo em 1977, e particularmente na crônica ―Avó VS Televisor‖, buscam ilustrar simbolicamente alguns traços culturais em conflito na realidade urbana de Maputo, a capital do país. A exemplo de outros escritores nacionais como José Craveirinha, Paulina Chiziane ou Mia Couto, Cassamo procura formas de linguagem mais apropriadas a um fazer literário autoral que, não poucas vezes, incorpora ao texto escrito elementos característicos das criações na oralidade. O presente estudo tem por base considerações teóricas de Rosario, Noa, Leite, entre outros estudiosos que, inseridos nesse contexto, vêm construindo uma fortuna crítica atenta a especificidades do universo literário do Moçambique contemporâneo. Palavras-chave: Literatura moçambicana, tempo, silêncio, oralidade, escritura. 86 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Fátima Cristina Leister PUC – SP SONDANDO VESTÍGIOS: FULAS E BIJAGÓS ATRAVÉS DO BOLETIM CULTURAL DA GUINÉ PORTUGUESA (1946-1973) Apesar da legislação em vigor, que desde 2003 tornou obrigatório o ensino de História, Cultura Africana e Afro-Brasileira, ainda há muito que avançar para minimizar deficiências curriculares nacionais e reorientar reflexões sobre ―as Áfricas‖ e os africanos. Buscando ampliar horizontes históricos e contribuir com os debates historiográficos já formulados, o foco do presente trabalho se dirige para a região da atual Guiné-Bissau. Na pretensão de encontrar pistas de culturas pouco conhecidas, sondamos as brechas da diferença colonial nos artigos do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. Trata-se de uma revista acadêmica publicada entre 1946 a 1973, hoje disponibilizada através do Projeto Memória de África e Oriente. Coordenado pela Fundação Portugal-África, na cidade do Porto, o projeto tem coletado e digitalizado documentos espalhados pelos centros de documentação de países lusófonos, disponibilizando-os aos pesquisadores através da internet. Nas 110 edições do Boletim Cultural há mais de 20 mil páginas, das quais destacamos os artigos sobre os Fulas e os Bijagós, etnias singulares cujo relacionamento com o colonizador ocorreu de forma bastante diferenciada. Independentemente de seus fins subjacentes, através dos estranhamentos e desqualificações presentes nas narrativas pretendemos nos colocar à escuta. Sondaremos vestígios da experiência de guineenses, os quais foram participantes ativos de suas histórias. Palavras-chave: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa - Coleções Coloniais – Costumes e Tradições de povos da Guiné. 87 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Fátima Verônica Santos José Luiz Ligiero - Orientador Isaac Bernat – Co-orientador UNIRIO “A Travessia do Contador de Histórias: um estudo sobre a presença e a performance do contador, com referências na tradição do griot e em encontros com contadores” A contação de histórias acompanha o homem desde suas origens e seu papel, exercido em diversas ocasiões, produz o efeito de alegria, refrigério, alacridade, reconhecimento e aprendizado. A função interdisciplinar do contador de historias é a principal reflexão deste trabalho, que a partir do ponto de vista da tradição oral africana do griot e da investigação sobre o conceito e a performance do contador, seja no teatro ou nas salas de aula. Por ser o griot, um contador, cantador, historiador e genealogista o escolhi como referência. Sua presença, sua memória e suas palavras estão a serviço do outro com o objetivo de manter vivas as historias e as lendas do seu povo através da arte de contar historias. Baseado nos estágios docentes realizados junto a Escola de Música da UNIRIO, na CAL Centro de Artes de Laranjeiras, além da experiência em outras instituições de ensino onde leciono como professora de teatro e contadora de historias abre-se uma discussão a respeito do assunto. Propondo a contação como uma fonte de recurso para as ambiências do ensino, da relação e do aprendizado. Também foram produzidas entrevistas com alguns contadores contemporâneos, onde investigo o ato de contar historias e sua relevância na atualidade. A pretensão revelar a presença e a performance do contador como um narrador potencial para além dos sentidos, estando ele em cena ou dentro de um espaço de ensino, visando ressaltar a substância transmitida através da estética e do desempenho do contador histórias. A travessia do contador aparece em diversos caminhos e sua trajetória interdisciplinar é indispensável para concretude das relações humanas. Palavras-chave: Contador histórias, griot, presença performance, interdisciplinaridade. 88 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Fernanda de Moura Ferreira Maria da Penha Casado Alves – Orientadora UFRN Axiologia e África: uma análise das charges africanas Este trabalho tem por objetivo investigar o embate axiológico expresso em charges produzidas por autores de diversos países do continente africano, atentando para a materialidade linguística (tanto verbal quanto não verbal) e para o embate discursivo que nelas se trava. Dessa forma, a análise das charges nos dará pistas para chegarmos ao axiológico, tendo em vista que toda atividade de linguagem é perpassada por tons valorativos. Para tanto, utilizaremos as postulações teóricas do círculo de Bakhtin sobre linguagem e relações dialógicas (2009; 2003) e das considerações feitas por diversos autores que se dedicaram ao estudo do gênero discursivo charge. Esta pesquisa é de caráter qualitativo e se enquadra na área da Linguística Aplicada. Palavras-chave: África, axiologia, charge. Filismina Fernandes Saraiva UNEB LITERATURA E AFRODESCENDÊNCIA Este artigo trata num primeiro momento da discussão em torno das terminologias dadas para literaturas feitas no Brasil por afrodescendentes. Aqui, verifica-se alguns dos termos mais usados para definir essas literaturas, os argumentos, os perigos e as armadilhas na escolha de critérios para nomear a chamada Literatura Negra. Na segunda parte do texto, discute-se, analisa-se brevemente a novela de Carlos Vasconcelos Maia O leque de Oxum (2006) para mostrar através de Gilles Deleuze e Félix Guattari (1977) que se trata de uma literatura menor, entendendo menor como uma literatura que possui potência revolucionária. Além disso, alguns dados do escritor baiano são revisitados para mostrar o seu comprometimento com o povo negro. Palavras-chave: Literatura negra - O leque de Oxum - Vasconcelos Maia. 89 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Flávio Junior da Silva Tânia Lima – Orientadora UFRN A VELHICE, A INFÂNCIA E O SERTÃO: LUGARES DE ORALIDADE E MEMÓRIA Quem não tem boas lembranças das estórias contadas pelas avós, pelos avôs, por alguém mais velho que nos dizia coisas antigas, mágicas, emocionantes? Partindo destas experiências afetivas da memória, da leitura do romance ―Terra Sonâmbula‖ de Mia Couto e dos romanceiros populares o presente trabalho pretende apresentar o velho e a criança como ―mantedores‖ destas experiências, como lugares onde esta oralidade se realiza, nestes territórios da fala encontramos, e nos encontramos, com o passado que se atualiza na contação, nessa ação memorial que comporta tensões entre o coletivo e o individual (ZUMTHOR, 1997). Se o ancião é o detentor da palavra, a criança é a depositária deste palavrório (HAMPATÉ BÁ, 1970:). É no interior que encontramos as nossas raízes, é no sertão ‖Este mundo em invenção‖ (COUTO, 2005:) que nos encontramos, mesmo que nunca tenhamos ido a tal lugar este lugar tem vindo até nós através dos romanceiros, oriundos do outro lado do Atlântico, que se fixaram justamente ai, nesse lugar inventivo onde se guarda a memória contada aos menores pelos mais velhos. Palavras-chave: Memória, infância, velhice, locais de oralidade. Flávio Santos do Nascimento Faculdade Pio X Mayombe: alteridades étnicas na descolonização angolana Mayombe foi escrito em 1971. Apesar de escrito em meio à guerra de libertação, o livro é publicado somente em 1980, depois, portanto, da independência angolana (1975) e já em meio à guerra civil que só acabaria em 2002. Este livro conta a trajetória de um 90 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN pequeno grupo de guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), chefiado por oficial um chamado Sem Medo, que enfrentam as intempéries e vicissitudes desta luta armada na floresta angolana de Mayombe. O uso da literatura como fonte historiográfica é uma herança da ―Escola dos Annales‖ idealizada por Lucien Febvre e Marc Bloch. Desde então, pode-se verificar a tendência do alargamento das noções de fonte, objetos e da relação historiador com eles. Pois bem, neste trabalho o processo de descolonização de Angola é pensado a partir de uma desta obra literária. O autor, Pepetela, participou ativamente do MPLA. Por isso sua obra, embora não pretenda, pode ser considerada como uma possibilidade de representação de muitas questões presentes na guerra de independência de Angola. Neste sentido o trabalho busca analisar a questão das alteridades étnicas a partir das representações presentes no livro. O trabalho abordará a literatura como fonte a partir dos pressupostos da História Cultural, utilizando-se dos conceitos de representação e identidade. Francielly Coelho da Silva Magnólia Cristina Albuquerque da Silva SME – NATAL PROMOVENDO A VALORIZAÇÃO DA LITERATURA E DA CULTURA AFRICANA NA ESCOLA Este trabalho descreve uma experiência realizada em uma escola pública municipal de Natal em uma turma de 8º ano. O projeto desenvolvido com esses alunos abordou a cultura e a literatura africanas: seus mitos e suas lendas. Foram lidos também trechos da obra de Pepetela - As Aventuras de Ngunga - assim como outros textos, de diferentes gêneros discursivos, com a temática da discriminação do negro e de sua cultura no Brasil. Este trabalho justifica-se por promover reflexões acerca da diversidade cultural brasileira, principalmente, sobre as contribuições do povo africano, visando com isso à conscientização dos alunos em respeitar e valorizar essas diferenças. Justifica-se também pelo fato de promover a leitura, a escrita e a reescrita de textos, os quais tomam como base outras culturas. Este trabalho baseia-se, principalmente, em reflexões presentes nos PCN de Língua Portuguesa (1998) e nas Orientações e Ações para a 91 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Educação das Relações Étnico-Raciais (2006). São objetivos principais deste trabalho: promover reflexões acerca da importância das contribuições do povo africano para a formação cultural do povo brasileiro. Como também, despertar o gosto pela leitura, a escrita e a reescrita de textos, em especial, os literários. Neste trabalho, primeiro, serão mencionadas e discutidas algumas das reflexões presentes nas obras que o embasam. Logo após, serão relatadas as atividades realizadas nas aulas de língua portuguesa e, por fim, será traçado um paralelo entre as teorias apresentadas e as práticas desenvolvidas em sala de aula. Ao final deste trabalho, os alunos produziram contos ―africanos‖ e artigos de opinião. Palavras-chave: Literatura Africana. Cultura Afro-Brasileira. Diversidade. Francinilda Rufino de Souza Deise Silva Sousa Maria Lindací Gomes de Souza UEPB QUILOMBO: RESSEMANTIZAÇÃO, IDENTIDADE E DIREITO A TERRA Resumo: O presente trabalho tem por finalidade apresentar algumas reflexões teóricas que estão sendo realizadas em oficinas didáticas, visando equiparar os alunos para atuarem nas comunidades quilombolas mediante o projeto de extensão; Nos Territórios de Remanescentes Quilombolas, Redes que Tecem a Cidadania Cultural: Territorialidade, Educação, Migração e Narrativas de Vida; que conta com financiamento do Programa de Incentivo a Pós – Graduação e Pesquisa (PROPESQ) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A pesquisa que se encontra em fase de andamento tem como foco, a priori discutir as questões relacionadas às categorias de: ressemantização do termo quilombo, identidade e direitos. Devido à fase inicial em que se encontra, este estudo está ancorado em leituras bibliográficas que visam contribuir para o desenvolvimento da pesquisa empírica; a posteriori, no âmbito das comunidades que historicamente são reconhecidas como comunidades remanescentes de quilombo. Desta forma, conclui-se que este artigo constitui uma proposta relevante, visto que estas 92 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN populações durante séculos têm sido negligenciadas em sua cultura, assim como na historiografia oficial. Deste modo, objetivamos, através do diálogo com as referencias, identificar ao longo do processo histórico as mudanças e as formas de apropriação e reapropriação das categorias expostas acima. De maneira que se possam articular os três eixos temáticos no sentido da investigação de uma construção identitária no espaço das comunidades remanescentes quilombolas, por meio da análise de uma possível ressemantização de termos que se relacionam com esta construção. Palavras-chave: Remanescentes quilombolas. Ressemantização. Identidade. Direitos. Francisca Lailsa Ribeiro Maria Cordeiro Mazé Oliveira Liduína Fernandes – Orientadora UECE/FAFIDAM ‘DI LIXÃO’: A IDENTIDADE COLETIVA AFRO-BRASILEIRA O presente trabalho vem analisar o conto "Di Lixão" da autora Conceição Evaristo, onde percebemos a necessidade que o eu poético tem de falar de sua gente, expressando os seus sentimentos, falar com realismo dos afrodescendentes, excluídos que são ainda hoje em determinadas situações, identificamos a dor que essas situações provocam, diante da crueldade que a dependência causa, apesar do discurso de liberdade e igualdade. No conto encontramos história, identidade e memória da realidade desse povo. Nossa proposta está amarrada nos debates literários no que se refere à construção de identidade afro-brasileira. A sensibilidade das militâncias da autora está marcada na escrita subjetiva que toma um sentido universal quando trata das lembranças do negro nas diversas condições sociais. A comprovação da análise contará com a teoria de Stuart Hall (1997) no dizer sobre qual a identidade que o negro assume na sociedade em que vivemos, e contamos com Simone de Beauvoir (1970) com o livro O segundo sexo, contendo subsídios da era de ascensão feminina. Com este intento, abranger o caminho das lembranças de cada uma das personagens do conto nos faz entender a tendência 93 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN vivente em meio a cada uma delas e a arte de arranjo de suas identidades. Do mesmo modo como a compreendemos, a técnica de desenvolvimento da identidade parte da subjetividade para deparar no seguinte anseio de identificação. Ao fim, as soluções arranhadas pela escritora para formar a identidade do homem negro primam por inundar nas recordações individuais para em seguida elevar-se das interiores e, sim poder, disputar por um ambiente em que a identidade coletiva afro-brasileira pode ser vista e respeitada como as demais. Notamos com isso que Evaristo esclarece a seu tempo, não só por ser uma escritora modernista, que a identidade é construída a todo o momento, e só não mais a formamos quando finalmente passamos a viver ‗na cidade dos pés juntos‘. Palavras-chave: Identidade. Mulher. Subjetividade. Francisca Ramos-Lopes UERN A PROFISSÃO: UM ESPAÇO PARA (RE) SIGNIFICAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA O processo de constituição identitária dos sujeitos é algo complexo, plural que prioriza sujeitos que se movimentam, falam e estão inseridos em determinadas realidades sociais. Em relação ao sujeito negro, mesmo com as inúmeras marcas negativas deixadas pela experiência da colonização, ele se reconstrói positivamente. Desse modo, a pesquisa observa a linguagem por meio de um discurso situado e a concepção de identidade relaciona-se não ao que o sujeito é, mas ao que ele se torna, constituindo-se do modo como eles são representados e como essa representação influencia na forma de se retratarem. O objetivo proposto é problematizar o processo de constituição identitária de professores/as negros/as com ênfase nas principais ocorrências ao longo do percurso em busca de um espaço profissional. Metodologicamente, a pesquisa é de base qualitativo-interpretativista, usando-se como técnica de geração dos dados a produção de narrativas escritas e entrevistas semiestruturadas. Os investigados, docentes negros e negras, estão sendo considerados como sujeitos que têm sua trajetória inscrita em um espaço histórico, social e cultural. A teorização advém da AD francesa e dos estudos culturais. Os dados, oriundos da tese de doutorado de Ramos-Lopes (2010), evidenciam 94 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN que há uma imbricação entre a identidade pessoal e a social/profissional, pois a percepção que os sujeitos têm de si não se forma no vazio e sim, marcada pelas categorias de pertença, pela sua estória de luta, pelos espaços conquistados e pela situação anterior e atual em relação ao eu e ao outro. Palavras-chave: Práticas discursivas. Re (significações). Identidade negra. Francisca Ramos-Lopes Dayane Priscila Pereira de Souza UERN PRÁTICAS RACISTAS NA ESCOLA: SILENCIAMENTOS E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE Práticas racistas, sejam discriminatórias e/ou preconceituosas, são reais em nossa sociedade, inclusive no âmbito escolar. Questionamo-nos: tais práticas são decorrentes da educação familiar ou despreparo dos professores? Mesmo circulando nas práticas sociais o discurso de que o Brasil é um país em que vigora a democracia racial, esses e outros fatores contribuem para a disseminação do racismo em nossa sociedade. A partir desse foco, esta comunicação se propõe a apresentar um projeto de extensão em desenvolvimento no Depto. de Letras do CAWSL, Assu, RN. O projeto subsidia professores da Educação Básica a respeito de posicionamentos de docentes negros/as, em relação ao seu processo constitutivo de identidades étnicorracial ao buscarem mobilidades diversas. O trabalho oportuniza discussões plurais, muitas vezes, silenciadas ou em algumas práticas escolares relegadas a um segundo plano. Os dados evidenciam a necessidade de estudos nessa área, uma vez que as professoras participantes da ação extensionista declaram que precisam aprender a ―lidar melhor com as diferenças‖ e por conseqüência, expandirem o aprendizado as suas práticas docentes. Compreendemos, conforme revelam os estudos de Cavalleiro (2005), Cunha Jr (2009) Munanga (2004), Ramos-Lopes (2010), dentre outros, que na escola, além da temática racial ser tratada inadequadamente, muitas das manifestações de racismo são tratadas como tabu. Palavras-chave Práticas pedagógicas. Práticas racistas. Identidade étnicorracial. 95 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Francisca Zuleide Duarte de Souza UEPB Ndani, a Tamar africana-considerações em torno d”’Última Tragédia”, do guineense Abdulai Sila O texto propõe uma reflexão sobre o papel das crenças tradicionais na literatura guineense, particularizando o romance‖Ä última tragédia‖, onde a personagem principal, Ndani, sofre com a ―maldição‖ proferida pelo djambakus da sua tabanca. Tentando livrar-se, a moça vai para Bissau, é convertida aos costumes e crenças do branco, sem, entretanto, livrar-se. O paralelo com a bíblica Tamar, estigmatizada pela morte do marido e do cunhado Onan é pertinente, pois defende-se a tese de que as circunstancias determinaram o malogro das relações vividas por Ndani. Francisco Allyson Rocha da Silva Ana Gabriella Ferreira da Silva Francisca Ramos–Lopes UERN DISCUSSÃO ÉTNICORRACIAL NO CONTEXTO ESCOLAR: POSICIONAMENTOS DE DISCENTES DO ENSINO MÉDIO Na sociedade pós-moderna, as práticas discursivas escolar são atravessadas pelas vivências e aprendizagens adquiridas no convívio entre os sujeitos. Embora se tenha a ciência de que a escola é múltipla no tocante ao seu papel social e inclusivo, sabe-se também que é palco de inúmeros conflitos. Destacam-se aqui os conflitos de natureza discriminatória, que acabam por formular padrões e discursos preestabelecidos para as minorias. A partir desse foco, o trabalho evidencia algumas praticas que são permeadas por discurso(s) que ao se situarem em torno da temática etnicorracial produzem sentidos negativos relacionadas à etnia brasileira que descende do continente Africano. Metodologicamente, analisa-se narrativas escritas advindas de um projeto PIBIC: A 96 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN escola e os amigos: espaços para a construção e desconstrução de práticas discriminatórias relacionadas à questão étnicorracial (RAMOS-LOPES, 2010). Os sujeitos colaboradores são alunos de pertencimentos étnicos variados, de turmas do ensino médio de uma escola da rede pública da cidade de Assu, RN. A teorização respalda-se nas discussões foucaultianas e nos estudos culturais atravessados pelo viéis da Lingüística Aplicada Moderna. As narrativas são indicativas de acontecimentos situados em um momento social, histórico e cultural da vida escolar dos discentes. O projeto constitui um corpus com expressivas opiniões sobre as relações de ―raça, cor e etnia‖ na escola e em outros segmentos sociais. Palavras-chave: Práticas discursivas. Práticas discriminatórias. Narrativas escritas. Francisco Jacson Martins Vieira CAPES A RESIDUALIDADE AFRICANA NA CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA DO ROMANCE MENINO DE ENGENHO, DE JOSÉ LINS DO REGO Em suas reflexões sobre o narrador e sua importância na obra de Nikolai Leskov,2 Walter Benjamin ressalta a arte de narrar, a partir das experiências como atividade em vias de extinção. Como proposta de trabalho, este artigo realiza um estudo de identificação à luz da Teoria da Residualidade Literária e Cultural sobre a influência da narrativa africana na formação do narrador e na construção da narrativa do romance Menino de Engenho do paraibano José Lins do Rego. O presente estudo baseia-se na dualidade da prática narrativa, promovida pela troca de memórias e experiências identificadas na Obra pela ação de Carlos de Melo, protagonista do romance e uma espécie de contador nordestino e da velha negra Totonha, que figura como arquétipo de um akpalô, entidade africana responsável pela retransmissão das histórias orais nos diversos engenhos do Paraíba. Palavras-chave: residualidade, narrativa, akpalô. 97 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Francisco Leandro Torres - UFRN Zípora Najara de Assis Sousa - UnP Tânia Lima – Orientadora - UFRN A África “Na pele do tambor” e as Áfricas “Sangrantes e germinantes”: A ConVocação Sagrada de Agostinho Neto Este artigo é uma análise literária, crítica e reflexiva dos poemas do livro A sagrada Esperança (1974), com ênfase em dois poemas emblemáticos: ―Na pele do tambor‖ e ―Sangrantes e germinantes‖, com o propósito de expor uma discussão do saber poético presente na poética de Agostinho Neto (1922-1979). Nas perspectivas de melhor conhecer a poeticidade agostiniana, abordando a partir e através do saber poético ou poética do saber, as questões políticas e realidades culturais e sociais. Emergindo, assim, da poesia multicamadas da negritude e sua condição humano-existencial na relação de alteridade eu-outro/outro-eu na fusão permanente da simbologia do tambor, na metáfora da memória enérgica da palavra. Poema, pele, corpo, batida, protesto, direito humano, dignidade e partilha do próprio homem na convocação do contexto da literatura africana permeada pela poesia grávida de subjetividades tecidas nos ecos e canções tamboliradas dos poemas. Sangue e suor. Resistência e afirmação frente ao capitalismo maquiavélico. Descobertas das entranhas e celebração da luta cotidiana das dores vivenciadas. No embate e debate dos processos de descolonização. Em face do engajamento de si na própria realidade com suas misérias e epifânicas sagradas esperanças. Palavras-chave: Literatura africana; Agostinho Neto; A Sagrada Esperança; o saber poético; questões políticas e culturais; realidade social e poesia. 98 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Franck Ribard UFC Performance, corpo e oralidade na festa negra. Memórias e dinâmicas identitárias no maracatu cearense A presente reflexão apóia-se numa pesquisa relativa às dinâmicas festivas ligadas aos universos culturais negros dos Reis de Congo e do maracatu na cidade de Fortaleza, abordados numa perspectiva diacrônica. O enfoque privilegiado busca analisar as modalidades ritualísticas e performáticas da coroação dos Reis de Congo originaria, no século XIX, das manifestações da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, mas que, depois da romanização da igreja católica, vai ser encontrado no âmbito carnavalesco do maracatu. De fato, no centro da manutenção da memória dos ancestrais bantos, aparece como vetor central da mobilização e da transmissão destes referenciais colocando em cena os heróis da história congo-angolana (Reis de Congo, Rainha Ginga), uma determinada estrutura ritualística: a coroação, envolvendo a figura central da rainha, entronizada e estabelecida simbolicamente enquanto corpo místico, mas também enquanto corpo político (Balandier). A observação da trajetória dos autos e reisados de Congo e do maracatu fortalezense desde o final do século XIX, analisados nas suas características rituais, organizacionais e no seu corpus de textos orais (narrativas e loas), deve permitir colocar em luz a natureza destas dinâmicas que garantiram um continuum não só cultural, mas também identitário e étnico. Palavras-chave: negro, Ceará, maracatu, performance, memória. Genilson de Azevedo Farias UFRN AUTA DE SOUZA: gênero, poesia e religião Durante muito tempo os estudos sobre as mulheres foram relegados a um segundo plano, visto que as várias nuances das áreas de conhecimento não primavam por tal enfoque. Contudo, o estudo de gênero vem adquirindo espaço nas últimas décadas e cada vez mais o objetivo dessa análise não é estudar a mulher em detrimento do homem, 99 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN mas sim as suas relações sociais, daí a denominação desse estudo como sendo um exemplo que é pautado na categoria de gênero enquanto categoria de análise. Assim, no bojo dessas assertivas, nosso trabalho, busca enfatizar a poeta oitocentista potiguar Auta de Souza (1876-1901), que desde cedo, demonstrou aptidão para a poesia escrevendo uma única obra que a eternizou. Criada no seio de uma cultura católica bastante arraigada às tradições e sendo a única mulher no meio de quatro irmãos homens, para se firmar enquanto escritora, Auta teve de superar as barreiras de gênero em uma época extremamente preconceituosa e sexista, sobretudo para com as mulheres que se dedicavam à escrita, em contrapartida sua conduta moral e intelectual não feriam os valores da época fato este que a singularizou dentro e fora do Estado. Assim, nossa pesquisa busca entender a poeta enquanto um referencial da cultura, da religião e dos valores nos oitocentos. Palavras-chave: Auta de Souza, escrita feminina, religiosidade. Genira Pereira da costa UEPB A resistência do Quilombo: Uma análise geográfica da territorialidade na ideologia de liberdade do Negro A conquista da liberdade sempre esteve presente no imaginário do Negro que oprimidos pelos seus senhores veem na fuga a única possibilidade para liberta-se dos grilhões da escravidão. De modo que concomitante a fuga se fazia necessária que tivessem em mente um território o qual pudesse se estabelecer e que este apresentasse aspectos geomorfológicos que dificultasse a realização de busca e captura pelos seus senhores. Nesse sentido pode ser percebida a importância do território como estratégia, na formação dos quilombos e na concepção ideológica de liberdade. Sendo o conceito de território entendido geograficamente pela relação de poder entre um grupo ou pessoa no espaço vivido. Para os quilombolas a região a qual estava localizado o quilombo configurava-se e configura-se até os dias de hoje como território de poder, pois ali eles podiam e podem fazer valer seus direitos. O direito de ser livre, ter seu espaço o qual ele 100 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN se identificam, pois a senzala não poderia ser o lugar do homem na condição de homem. Portanto esse artigo tem por objetivo analisar a importância do território de resistência, resignificando o sentido de liberdade. Esta pesquisa estar sendo realizada por meio de análise bibliográfica e que pretende dialogar com os teóricos (Chartier 1991) e (Certeau 1994). O primeiro trata o território como representação, símbolo de liberdade. Em quanto que o segundo autor problematiza sobre o território em quanto tática e resistência. Palavras-chave: Resistência, Território, Quilombo. Geny Ferreira Guimarães Rio de Janeiro: De Machado de Assis e de Éle Semog. Quando o olhar geográfico é preenchido por contos e poéticas Este trabalho representa uma reflexão sobre o encontro da Geografia com a Literatura e vice-versa. Os instrumentos dos estudos geográficos sempre foram mapas, aliados a dados estatísticos econômicos, questões políticas, aspectos naturais, características culturais e sociais dos lugares, dentre outras temáticas mais específicas e/ou locais. Cada vez mais se percebe, nos estudos geográficos, que a produção literária também pode ser um grande instrumento para entender a dinâmica dos lugares. Este trabalho apresenta como a produção literária de Machado de Assis do século XIX e a do contemporâneo Éle Semog no século XX e XXI podem unir a Geografia e a Literatura tendo como base inspiradora a cidade do Rio de Janeiro. Descortinando racismos, descrevendo questões étnico-raciais, urbanas e de gênero de forma incisiva, assim são as palavras poéticas de Semog ou de forma sutil a descrição indignada e contrária às atitudes cruéis escravocratas percebidas na obra de Machado. De qualquer forma, o palco é o Rio de Janeiro e o espaço geográfico, o carioca. Não se pretende traçar uma comparação entre Machado e Semog, tarefa impossível! Mas, apenas mostrar que pode existir uma confluência em seus pensamentos e percepções sobre a cidade do Rio de Janeiro por conta de suas heranças africanas e identidades culturais, apesar de épocas diferentes. 101 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Gildeci de Oliveira Leite UNEB A mitologia dos orixás na obra de Jorge Amado Ler obras do Omo Oxóssi e Obá de Xangô Jorge Amado, em especial da fase denominada por DaMatta como carnavalizadora, é ter a possibilidade de enxergar nas linhas e entrelinhas dos textos amadianos aspectos da mitologia dos orixás. A partir do estudo comparativo, considerando a existência de narrativas da mitologia negra brasileira e a leitura minuciosa de obras de Jorge Amado ver-se-á o quanto de narrativas de orixás há na literatura do baiano e de que forma as narrativas mitológicas definem os enredos das obras. Palavras-chave: orixás – literatura – jorge amado – baianidade. Guilherme Enéas Lima A crioulização religiosa afro-brasileira em “O leque de Oxum”, de Carlos Vasconcelos Maia Quanto à percepção dos resíduos africanos na mentalidade coletiva brasileira, é notório o destaque atribuído ao escritor Jorge Amado, que permeou a sua criação literária com elementos inquestionáveis da cultura negra, reconhecendo assim, sua extraordinária contribuição para a formação do nosso povo. Não menos importante, todavia ignorado pela grande maioria, apresenta a mesma linha temática Carlos Vasconcelos Maia, contista baiano detentor de uma vasta obra artística acumulada em quarenta anos de produção. Intensamente ligado à terra de origem e defensor ávido dos seus costumes e tradições, tem consciência do hibridismo cultural que a sustenta. Portanto, partindo desse esteio, restringiremos nosso trabalho mediante análise da forte presença do elemento religioso afro-baiano na escrita do autor em questão, especificamente na narrativa ―O leque de Oxum‖. O título já se mostra bastante sugestivo ao que encontraremos no contexto: a inserção mitológica dos orixás como fio 102 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN condutor da trama. O processo de adaptação, sincretismo e transformação da fé imigrante, desde os primeiros sacerdotes escravizados e ―arrastados‖ ao território nacional, trouxe ao candomblé incorporações outras, nem piores nem melhores, apenas distintas. Por fim, a presença de um protagonista sueco, estranho a tudo que envolve a crença anímica da Natureza já modificada no país como aludido anteriormente, o seu respectivo deslumbramento às gradativas descobertas e a irresistível atração pela figura feminina partícipe do misticismo, afirma simbolicamente que os povos estão em constante interação sócio-cultural, anulando a ideia de autossuficiência, isolamento e estagnação. Haissa de Farias Vitoriano Pereira POLIGAMIA: UMA PRÁTICA ANCESTRAL SOB ÓTICA DIFERENTE – UM ESTUDO DE NIKECHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA Esta pesquisa centra-se no estudo da escrita da autora africana, Paulina Chiziane, nascida em Moçambique, África. Para tanto, analisaremos seu romance Niketche: uma história de poligamia (2002), com base em um recorte nos estudos de construção da identidade, a partir de uma experiência no exílio, na pátria fragmentada pela guerra da descolonização, sem perder de vista a sua condição de mulher. O objetivo desse estudo é rastrear a questão da identidade feminina, entendendo-a como um elemento patente na escrita de Chiziane, considerando uma ideia de nação que participa de um processo que oscila entre o desejo de esquecimento da perda das raízes e, ao mesmo tempo, a necessidade de fixá-las através da palavra, única forma de eternizá-la enquanto representação simbólica. No estudo, investigamos de que modo a representação dos elementos identitários, formadores da Moçabicanidade, diluída nos processos de colonização e descolonização vividos no país, perpassam a construção das personagens femininas. Palavras-chave: identidade, tradição, modernidade, feminino. 103 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Helder de Araújo Holanda Vozes da Tradição , Vozes da Mudança A Literatura Africana de Paulina Chiziane projeta para o universo literário uma visão forte e bem elaborada da alma feminina em Moçambique. Sua narrativa Niketche, tema deste trabalho , toca com muita sensibilidade em valores sociais , morais e culturais moçambicanos no tocante à condição da mulher que se vê marcada,dentre outros conflitos, pela poligamia. Rami, personagem central dessa obra, reelabora valores e condutas, reinventando para si e para as outras esposas possibilidades de mudança e reinserção social do feminino numa sociedade patriarcal e conservadora. A narradorapersonagem Rami tem sua voz fortalecida pelas outras vozes femininas das demais esposas do marido polígamo. Juntas elas desafiam a tradição na tentativa de construir um novo presente e um melhor futuro. Além dessa dimensão feminina da reinvenção, a obra de Chiziane consolida-se pela linguagem lírica e avassaladoramente poética, sendo capaz de comunicar sentimentos que brotam das mais profundas entranhas do ser feminino, através de um denso imagístico e de palavras e expressões que ressignificam a oralidade consagrada do país e elaboram uma poeticidade simples, porém intensa. Palavras-chave: Paulina Chiziane, Niketche, mulher, Moçambique, reinserção, vozes femininas, mudança. Herbert Nunes de Almeida Santos UFAL/IFAL RISO E SÁTIRA SOCIAL NA POESIA DE LUIZ GAMA O trabalho apresentará um estudo minucioso na literatura produzida por Luiz Gonzaga Pinto da Gama no século XIX. O poeta foi uma das figuras de nossa história que sempre apareceram, em suas mais diversas épocas, para figurarem os mais embativos assuntos que envolviam, na maioria das vezes, aspectos que vão das origens sociais e raciais às posições ideológicas. A publicação de suas Primeiras trovas burlescas no século XIX, 104 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN que era uma reunião de poemas líricos e de sátira social e política, contribui consideravelmente nesse povoar e reconhecimento literário. Poeta negro que, através do riso, combate ferozmente na literatura certas posições ideológicas de uma sociedade branca; marcadas por um posicionamento europeu de se pensar a literatura e a sociedade. Esse tom satírico de Gama é visto como uma alternativa popular à margem do cânone erudito para criticar o status. E, mais do que uma alternativa, é uma reação à situação brasileira que sufocou o diferente, o reprimido e o contraideológico. Diante disso, o poeta reúne em seu livro, escrito no século XIX, uma reunião de interessantes sátiras para tentar, através do riso satírico, deslocar certas posições ditas estáveis nessa sociedade; em uma busca incessante de trazer reflexão e moralização social. Hildalia Fernandes Cunha Cordeiro UNEB Ori-irun obìnrin dúdú (cabelos e cabeças de mulheres negras): construções, (re) construções e afirmações identitárias, a partir de referências e memórias estéticas negro-africanas A construção de um padrão de beleza e humanidade pautado e construído pela branquidade tem causado muitos danos e de ordens diversas, sobretudo, bio-psíquicas em crianças e adolescentes negros que tanto almejam alcançar esse ideal de brancura e de humanidade (leia-se aceitação). Os memoriais produzidos e socializados no trabalho ora apresentado trazem algumas dessas dores e insatisfações de ser como se é. Marcas construídas e propagadas de diferença repercutem e destacam, sobretudo, cor da pele e cabelo, tanto para marcar essa suposta diferença, como para delimitar pertencimentos de ordem étnico-racial. O bonito e novo dessa pesquisa é o processo de construção identitária realizado pelas autoras dessas memórias estético-identitárias que ao lembrarem, selecionarem e narrarem tais histórias, atribuem sentido e significado as mesmas. Configura-se como um momento para (re) cordar (passar novamente pelo coração) para refletir, olhar criticamente para o vivenciado e daí adquirir o saber experiencial que quase sempre culmina, produz empoderamento. Acompanhar tais processos e transformações através das escritas de si que ―deságuam‖ na descoberta da 105 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN boniteza de ser como se é e assunção positiva da negritude, eis o rico e prazeroso de tal trabalho. Este é parte constituinte da pesquisa de mestrado pela UNEB em Educação e Contemporaneidade e intitula-se: Ori-Irun: territorialidade negra de luta negro-africana – a raiz que empodera em contextos sacro-sócio-educacionais e pretende conhecer e socializar as memórias estético-identitárias de mulheres negras, professoras, estudantes de pedagogia e mulheres pertencentes à comunidade de terreiro com suas cabeças e cabelos ―transbordando‖ de ase e de referências ancestrálicas. Palavras-chave: memória – estética – identidade. Hosana Araújo Bezerra UFPE A SOCIEDADE MOÇAMBICANA NAS OBRAS DE JOÃO PAULO BORGES COELHO O autor João Paulo Constantino Borges Coelho, moçambicano, começou a publicar suas obras, em formato de livro, no ano de 2003, depois desta estreia publicou mais livros: romances, contos e uma novela. Em suas obras retrata a sociedade de Moçambique e as relações sociais das pessoas deste país, tanto num contexto rural quanto num contexto urbano com personagens características desta sociedade como trabalhadores, empregadores, imigrantes, etc. Toma como base para os seus escritos, estudos Antropológicos e a História Contemporânea para dar conta da realidade que o cerca e interpretá-la expressando isso na literatura através de uma narrativa forte, com construção linguística tradicional ligada a características peculiares da sociedade retratada e dos assuntos que ela demanda. Palavras-chave: Literatura Africana, Moçambique, João Paulo Borges Coelho, Literatura Contemporânea. 106 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Hugo José Medeiros de Oliveira SME - NATAL DISCRIMINAÇÃO OU ARTE: O NEGRO NA LITERATURA NACIONAL Com base nas proposituras da Lei Federal nº 10.639/03 e das perspectivas emanadas pelas políticas anti-racistas interpostas pelo Ministério da Educação, esta pesquisa tem como objetivo discutir a existência de um possível discurso racista, para os nossos tempos, encontrado nas obras: Escrava Isaura de Bernardo de Guimarães; Navio Negreiro de Castro Alves; Negrinha e em O Sítio do Pica-pau Amarelo de Monteiro Lobato além de Casa Grande e Senzala de Gilberto Freire. A análise baseou-se nos princípios discursivos propostos por pensadores como Bakhtin, Pêcheux, Foucault dentre outros, focalizando os princípios literários e históricos da época de produção da obra bem como as suas peculiaridades artísticas. O trabalho discute, também, o conceito de arte em contraponto ao conceito de racismo, no âmbito de cada obra literária em tela. Neste quesito, autores como Bosi, Eagleton, Lima subsidiaram a discussão. Enfim, a análise buscou desmistificar a idéia de que a produção artística e o discurso racista podem interferir na liberdade de leitura e na orientação didática para o uso de livros em sala de aula, como fonte de incentivo a leitura. O trabalho conclui que não há como se afirmar que há um racismo marcado nas obras em tela visto que, mesmo que o tom seja de depreciação do negro em relação à ideologia branca da época, há de se entender que a finalidade artística de cada obra suplanta o caráter subjetivo do racismo nelas incursos. Palavras-chave: Literatura, Racismo, Subjetividade. Ilane Ferreira Cavalcante IFRN ENTRE REMÉDIOS E VENENOS – A NARRATIVA E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE Neste trabalho, elaboro uma reflexão sobre a questão da construção identitária no romance Venenos de Deus, remédios do Diabo (2008) de Mia Couto. Nessa narrativa, 107 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN um médico português chega a uma vila moçambicana buscando um grande amor e, ao mesmo tempo, responsabilizando-se pelo tratamento de doentes vitimas de uma misteriosa epidemia, em que os indivíduos perdem o rumo e a consciência de si. Para compreender como se dá o confronto entre os personagens do romance, busco referências que discutam os aspectos da narrativa moderna, como Bakhtin (1990), Benjamin (1980) e Adorno (1980) e sobre a identidade na pós-modernidade, através de Bhabha (1998) e Hall (2006). Não pretendo, no entanto, caminhar para o consenso ou para uma conclusão. Nessa reflexão, o simples ato de refletir já se constitui em metodologia e em resultado. Palavras-chave: Identidade. Pós-modernidade. Narrativa contemporânea. Ilza Matias de Sousa UFRN Mia Couto da varanda de Frangipani, geografias brancas e geografias negras: linhas de escoamentos, linhas de fuga e desterritorializações Este estudo da narrativa africana de Mia Couto procura estabelecer nela a constituição de uma geografia do pensamento fabular cujas linhas de escoamento colocam em relação geografias brancas e geografias negras na narração da história de Moçambique, na qual agem, concomitantemente, linhas de fuga criadoras de ficções. Estas ativam a potência do falso, ou efabulação, no sentido de romper a identificação do tempo com a verdade, que se buscou cristalizar no processo colonizador. Lança-se, assim, o olhar para as multiplicidades atuais das africanidades, apontando-se as desterritorializações capazes de deslocarem forças de significação para um fora, uma exterioridade, a partir da qual, interpela-se a pretensa unidade do significante histórico. Exterioridade de que a varanda será a figura espacial a provocar a fissura do ―muro‖/fortaleza (figuratividade constante da composição arquitetônica ―branca‖). É da varanda de Frangipani que o lento e persistente desabamento da leitura majestática colonial e de sentido único tornase possível. A varanda ainda pode ser tida como o campo das virtualidades a operar rachaduras como parte do trabalho erosivo das matérias ou das superfícies que irão desapropriar a ordem unitária discursiva e a autoridade arquitetônica colonial. 108 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Acompanhar-nos-emos no percurso das cartografias literárias, projetadas em meio às geografias culturais atuantes na narrativa coutiana, das discussões pontuadas em Gilles Deleuze e Félix Guattari e em outras que igualmente articulam o pensamento ao espaço, às práticas de espaços, atravessados, diria Deleuze, por circulações, ecos, acontecimentos, multiplicidades e intensidades. Isabel Barreto UFF Ngungunhana – ascensão e queda de um rei africano Neste trabalho pretendemos apresentar a trajetória do último rei de Gaza, região sul de Moçambique. Tendo liderado dos ngunis entre 1884 e 1895, Ngungunhana chegou ao posto de líder de seu povo após uma intensa disputa sucessória. Expansionista, assimilou grupos étnicos mais fracos. Motivo pelo qual era uma liderança temida na região. Durante a corrida imperialista dos Estados europeus viu-se diante de duas nações tradicionalmente aliadas, mas naquele momento antagônicas, interessadas em suas terras: a Grã-Bretanha e Portugal. Com o intuito de manter-se no poder trava negociações simultâneas com ambos, os primeiros representados por oficiais do exército, os segundos por membros da British South African Company. Sendo visto como um entrave a concretização dos interesses portugueses na região Ngungunhana é alvo de estratégias que visavam retirá-lo do poder. Estas levam a um confronto aberto. Após duas batalhas em que Ngungunhana saiu derrotado, grupos étnicos até então temerosos do seu poder aliam-se aos portugueses. Dentre os seus próprios guerreiros, o soberano também perde prestígio. Em 25 de dezembro de 1895 é preso pelos portugueses graças à inação de seu exército no episódio que passou a ser conhecido como batalha de Chaimite. Sofre humilhações sucessivas. Ainda em suas terras se vê objeto de deboche por parte de seus antigos guerreiros e daqueles que por ele nutriam até então o sentimento do medo. Já em Portugal, é convertido à força ao catolicismo, sendo assim aculturado. Morre no Arquipélago dos Açores em 1906. 109 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Isabela Silva Nóbrega UEPB LITERATURA INFANTIL AFRO BRASILEIRA: UM RECURSO PARA A EFETIVAÇÃO DA LEI 10.639/03 Acreditamos que a literatura seja um recurso didático que pode auxiliar os (as) professores (as) de história, literatura, geografia, artes e ensino religioso na introdução dos conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar. Esta medida pode ser tomada através da Lei Nº 10.639/03, que obriga as escolas a introduzir esta temática nos currículos desde 2003. Com base nessa determinação, neste artigo analisamos a literatura infanto-juvenil Afro-Brasileira como fonte de orientação capaz de possibilitar aos docentes a inserção dos conteúdos de História e Cultura AfroBrasileira. Essa literatura possibilita aos professores (as) discutir sobre a diversidade etnicorracial do Brasil, a formação da cultura brasileira atentando para a sua diversidade e para a questão dos negros nas práticas cotidianas, estas discussões podem contribuir para a desconstrução da imagem preconceituosa acerca da cultura afro brasileira e para a construção identitária. A partir da leitura das obras de autores nacionais e africanos tais como: Conceição de Vila Rica (BORGES e NASCIMENTO 1999), O Segredo do Saci (CARDOSO, 1995) e Ulloma a casa da beleza (NKEECHI, 2006), compreendemos que o modelo de organização social brasileiro é resultado da associação das culturas dos diversos povos que aportaram no Brasil, sobretudo, dos africanos. Assim no presente artigo desconstruímos o modelo de civilidade centrado na Europa como determinante da História do Brasil. Através das obras citadas é possível o (a) docente trabalhar tais temáticas relacionadas à formação do Brasil e a cultura brasileira, bem como o preconceito racial e a condição sócio-econômica das pessoas negras. 110 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Ivonildes da Silva Fonseca UEPB OS CULTOS RELIGIOSOS AFRO-INDÍGENAS NA PARAÍBA NA PERSPECTIVA DE FORMAÇÃO DE CONTEÚDOS PARA AS LEIS 10.639/03 E 11.645/08 Os estudos sobre o campo religioso afro-indígena paraibano ainda carece de pesquisas que realizadas com o rigor científico venham desconstruir preconceitos diversos, que venham atualizar este campo e dentre outras importantes contribuições apresentem elementos para o enriquecimento de trabalhos, sobretudo os que são realizados em sala de aula articulados às leis 10.639/03 e 11.645/08. Este artigo é fruto de uma pesquisa de Doutorado que possibilitou a identificação na Paraíba de dois momentos históricos importantes com relação à formação de um campo religioso estruturado por cultos nas formas cruzada ou traçada e distinta. Os dois momentos correspondem aos anos de 1960 com a oficialização dos cultos afrobrasileiros através da lei 3443/66 e de 1980 com a inserção d o candomblé de Orixás. Assim, pretende-se esboçar o campo religioso afroindígena paraibano ressaltando, longe de traçar uma genealogia histórica, os cultos da Santidade, o Catimbó-Jurema, a ―nova Jurema‖, o Moçambique, o Candomblé de Caboclos e o Candomblé de Orixás. Desse conjunto, alguns em encontro com a Umbanda formada no Sudeste brasileiros no início do século XX e no processo de assimilação gera a forma de cultos cruzados ou traçados e outros têm práticas distintas, a exemplo dos Candomblés de Caboclos e de Orixás. A intenção deste artigo, dessa forma, é contribuir para o enriquecimento de conteúdos didático-pedagógicos. Palavras-chave: Religiões afro-indígenas paraibanas; Cultos afro-indígenas paraibanos e a lei 10.639/03; Cultos afro-indígenas paraibanos e a lei 11.645/08. 111 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Jackeline Pinto Amor Divino UNEB Narrativas ancestrais: Trançando a rede da História de Itapuã O presente trabalho é parte da dissertação de Mestrado no Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB, a partir das narrativas ancestrais, entrevistas, conversas, depoimentos de pescadores, lavadeiras, ganhadeiras, rezadeiras, profissões originais da territorialidade de Itapuã buscamos compor e trançar a história de Itapuã, marcadamente africana e aborígene. A base filosófica desse texto é a ―pedra que ronca‖ e ―Wara Pirange‖ protagonistas e referências míticas de duas civilizações a saber: Tupinambás e Africanos que contemporaneamente atravessam os séculos influenciando de modo significativo o cotidiano dessa territorialidade. Durante a pesquisa percebemos nos autores estudados traços marcadamente etnocêntricos, que calavam a história dessas civilizações, por esse motivo decidimos nos apoiar nas narrativas ancestrais, por entender que essas fontes ―roncam‖ através da pedra dizendo sobre esses povos de forma rica e singular, trançando com o fio da ancestralidade e a linha da identidade a história e a memória viva deste lugar. Palavras-chave: ancestralidade, memória, oralidade. 112 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Jadson Pereira Vieira Karina Maria de Lima Amâncio Thaís de oliveira e Silva UEPB ÁFRICA NO NOSSO COTIDIANO: EXPRESSÕES CULTURAIS DE MATRIZ AFRICANA NACIONALIZADAS PELOS BRASILEIROS Este artigo tem por objetivo perceber a influência da cultura de matriz africana no nosso cotidiano a partir das expressões culturais abrasileiradas, como por exemplo, a gastronomia representada em cada região e os ditados populares utilizados em nosso cotidiano e que tiveram reflexos na formação da cultura afro-brasileira. Partindo dessa observação, utilizamos como objeto metodológico pesquisas sobre as expressões africanas, utilizadas por brasileiros e sua influencia no cotidiano e que perduram por gerações. Neste sentido percebemos o quanto a cultura africana nos influenciou e contribuiu para a formação de nossa própria cultura a partir das expressões e dos costumes adotados por nós e pertencentes aos africanos. Palavras-chave: Expressões Culturais, Hibridismo e Afro-brasileiros. Jailine Mayara Sousa de Farias UFPB FARSA DA BOA PREGUIÇA: CARTOGRAFIA DAS TRADIÇÕES POPULARES NORDESTINAS O presente trabalho tem como objetivo, partindo da obra Farsa da boa preguiça, discutir alguns dos pressupostos basilares da poética de Ariano Suassuna e sua proposta poética e artística, materializada no Movimento Armorial, que parte das vozes periféricas, marginais, que corroboram uma cultura das bordas, apresentando como proposta a dinâmica das culturas populares nordestinas e sua memória literária, oral, fixada no seu 113 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN projeto de recuperação das tradições discursivas populares nordestinas, intuindo imprimir uma identidade à representação artística do Nordeste e solucionar o problema identitário do Brasil. Deste modo, analisa-se Farsa da boa preguiça enquanto memória das vozes e escrituras nordestinas, fazendo interface com o trajeto das vozes ibéricas, que, desterritorializadas e resignificadas, refletem o percurso antropológico do homem nordestino e suas tradições discursivas, pontuando em que medida esta obra é uma reescritura de narrativas e gêneros textuais, a farsa, em específico, que compõem a memória coletiva e tradições discursivas do nordeste brasileiro. Palavras-chave: Farsa da boa preguiça. Memória. Voz. Cultura Popular. Jaqueline Vilas Boas Talga Mitologia Dos Orixás e Suas (Re)significações No Brasil Este estudo faz parte das reflexões estabelecidas durante as vivencias dentro dos terreiros de Candomblé na cidade de Uberlândia e das discussões da disciplina de teoria antropologia, do curso de mestrado da Universidade Federal de Uberlândia. A partir desse debate é possível perceber que a mitologia dos orixás africanos em território brasileiro foram muitas vezes resignificados e até mesmo criados. E isso se verifica com a chegada de milhares de homens e mulheres africanos que se depararam diante de uma situação de escravidão moderna. Esses sujeitos acabaram por significar, através de seus antigos saberes e valores civilizatórios a nova estrutura encontrada a sua frente. Muitos dos mitos dos orixás que em África, que eram e o são até a atualidade passados oralmente, ganharam, em muitos casos, novos contornos sem perder sua essência originaria. Dentre vários exemplos, temos um muito vivo em todos os candomblés, que é uma cantiga realizada ao orixá Oyá, nele se canta dizendo que ela é uma borboleta, que irá levá-los de volta para casa. Sabendo que essa é uma música que surgiu no Brasil, quando muitos negros não aceitavam a condição a qual se encontravam e sonhavam em retornam para sua civilização ancestral. 114 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Nesse sentido entendemos o mito não como algo estático e sincrônico que ordena a estrutura. O compreendemos a partir dos estudos de M. Sahlis, em ―Metáforas Históricas e Realidade Míticas‖ como algo que ordena a estrutura sim, mas com novos eventos a própria estrutura reorganiza o mito. Jemima Stetner Almeida Ferreira Bortoluzi UFCG A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM ALGUMAS OBRAS DE LYGIA BOJUNGA Este trabalho pretende investigar a maneira como a violência contra a mulher tem sido abordada na literatura infanto-juvenil contemporânea, mais especificamente nas obras ―O Abraço‖ (1995), ―Retratos de Carolina‖ (2002) e ―Sapato de Salto‖ (2006) de Lygia Bojunga Nunes. Autora consagrada e sempre atenta às importantes questões sociais de nosso tempo, Lygia demonstra especial interesse pelo tema da violência contra a mulher, que tem sido recorrente em seus escritos: desde a violência psicológica até a física, passando pela sexual. Cândido (1974) afirma ser a literatura uma simbolização da cultura, possuindo uma força humanizadora capaz de atuar na formação do homem. Por meio dela podem ser desvelados sentidos da realidade que nos cerca, podemos ter contato com as grandes tensões do pensamento humano e satisfazer algumas de nossas necessidades mais profundas. Dessa forma, o fantástico passa a constituir um meio de acesso ao real, mobilizado literariamente no texto. A literatura bojunguiana possui este poder, de direcionar o nosso espírito no rastro da luz, mesmo ao falar de trevas. Através de um contar poético que resignifica percepções, Lygia consegue imprimir uma pulsante dimensão poética a temas árduos e penosos, ―fundindo fantasia com dados do real [e] possibilitando a reflexão e o entretenimento em perfeito equilíbrio‖ (SANDRONI, 1987, p. 12). Em suas narrativas, a autora alcança o pleno domínio na fusão dessas esferas, sendo capaz de equilibrar graciosamente as dimensões sociais e coletivas com as particulares e individuais na elaboração de seus enredos e personagens. 115 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Joalyson Anjelo de Souza Morais A TRANSMISSÃO DOS ELEMENTOS DA CULTURA AFRO NO NORDESTE ATRAVÉS DA LINGUAGEM ESCRITA E ORALIDADE O processo de reafirmação da cultura afro no Brasil não é algo recente, tem sido feito no decorrer da história nacional. Através da historiografia especializada fica evidente que desde a chegada de negros vindos como escravos, muitos não deixaram de lado sua cultura de origem, mostrando certa resistência, apesar da tentativa das elites que dominavam o regime escravista de proibir determinadas práticas africanas, a exemplo da capoeira, vista de forma marginal, que passavam em diversos casos serem realizadas de forma clandestina. Como forma de dominação e controle muito se tentou para eliminar elementos da cultura africana: os nomes de muitos escravos deixavam gradativamente seu indicativo de origem africana e o batismo de escravos passava a ser com nomes cristãos e com sobrenomes de seus proprietários. Faziam-se proibições em torno de praticas como por exemplo da dança de capoeira. Outras práticas, no entanto ganhavam nova roupagem como algumas em torno da religião, que as vezes misturavam elementos da cultura afrodescendente e negra, elementos do cristianismo como forma de mascarar a resistência e evitar a repressão. O presente artigo tem por objetivo estudar como tem sido feito a transmissão da memória em torno de elementos da cultura afro no nordeste no decorrer da historia. É importante perceber que tais elementos estão muito presentes por vezes implicitamente na musica popular, nos hábitos alimentares, nas lendas, por vezes transmitidos de forma oral. É também objetivo deste trabalho apresentar elementos da cultura afro presentes na língua, sendo interessante questionamentos em torno da linguagem popular. 116 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN João Amaro Monteiro da Silva A Casa da dupla pertença: Referência da Presença Yorubana em Recife A nossa proposta é ratificar a significação histórica da Lendária Casa de Badia, de Nº. 143 da Rua Vital de Negreiros, bairro de São José em Recife, conhecida também, como Casa das Tias do Terço. Local onde morou uma típica família Yorubana de negras e negros forros. Espaço que provavelmente o Nagô pernambucano teve suas bases rituais estruturadas, tornando-se referência da cultura nagocêntrica em nossa cidade, refletida no respeito que todas as Casas religiosas tradicionais de Matriz africana tem à memória dos que ali moraram. Um lugar estratégico que presenciou momentos importantes de nossa história social e cultural, local de um acúmulo de historicidade. Nela, as tradições do catolicismo popular conviveram "harmoniosamente" com as tradições yorubanas, desde o Culto aos ancestrais ao de Orixás, mantidas pelas Tias Sinhá - Vivina Rodrigues Braga e Yayá - Emilia Rodrigues Castro. O ―culto‖ ao frevo e a todos os ritmos que dão vida ao carnaval do Recife eram sazonalmente retroalimentados por elas, contribuíram para o brilho das fantasias do período Momesco, especialmente Badia – Maria de Lourdes da Silva, bordou, costurou e fundou várias agremiações que arrastam foliões até hoje em dia na cidade. A Casa é localizada no Portal Sul da entrada do Recife no bairro mais negro da cidade durante a passagem do século XIX ao XX, onde a grande massa de negras e negros libertos ocupou os mangues e alagados e deram vida à diversidade cultural da cidade. Hoje, a Casa das Tias é tombada como Patrimônio histórico de Pernambuco. João Batista Teixeira Rosilda Alves Bezerra – Orientadora UEPB VIOLÊNCIA E PUNIÇÃO: A REPRESENTAÇÃO PANÓTICA NA FICÇÃO DE MIA COUTO O presente trabalho encaminha-se na discussão do ambiente denominado casa ou lar na literatura de Mia Couto. Discute-se com base no conto Os Olhos dos Mortos da obra O 117 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Fio das Missangas (2009). Trataremos da casa ou lar como ambiente que pode ser associado a idéia de instituição panótica, tema esse esmiuçado na obra de Michel Foucault Vigiar e Punir (1987), servindo de base para análise dos personagens do conto de Mia Couto, observando a personagem feminina imersa num cotidiano de violência instaurada pelo marido, tais observações levam em consideração a crise dos discursos e das instituições normatizadoras. É pertinente também verificar a forma como essa mulher, personagem do conto, convive com a violência e a vigilância do marido, assim como as formas de transgredir essa ordem e essa forma de poder, apontando para um sujeito feminino que move-se para novas formas de representação, de um novo discurso que faz pensar a casa e o lar na busca de uma nova ordem social. Sobre a literatura de Mia Couto fazemos ponte com os estudos de Bezerra (2007), e Touraine (2007) sobre as novas formas de compreensão da sociedade atual. Palavras-chave: o lar, o panótico, literatura moçambicana, Mia Couto. João Irineu de França Neto MEMÓRIA E SINCRETISMO RELIGIOSO NAS PRÁTICAS DE ORALIDADE DAS REZADEIRAS As culturas populares brasileiras são marcadas pela heterogeneidade, que se constrói mediante diversos recursos da linguagem oral. Dentre essas manifestações, abordamos o fenômeno das rezadeiras da Paraíba, numa perspectiva linguístico-antropológica, uma vez que os signos presentes nos rituais destas mulheres nascem de motivações culturais na oralidade, tornando-se arquétipos para a construção de novas significações, que são a base do sincretismo religioso popular. Tais mulheres do meio popular são consideradas por suas comunidades como detentoras de poderes mágicos, pois através de suas rezas fazem as pessoas recuperarem a saúde. Utilizamos como base teórica os pressupostos sobre oralidade, de Paul Zumthor, sobre memória e o discurso, de Pierre Achard, bem como de religiosidade, a partir de Mircea Eliade. Durante a pesquisa de campo, estamos descobrindo que embora muitas rezadeiras se autoafirmem pertencentes à religião católica, negando contato com outras formas de espiritualidade, suas práticas 118 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN ritualísticas de rezas revelam o caráter sincrético existente nesta manifestação cultural, em virtude da mistura dos elementos de diversas matrizes religiosas. Propomo-nos a apresentar análises deste sincretismo religioso, a partir das marcas discursivas nas vozes de rezadeiras, bem como nas fórmulas de suas rezas. Palavras-chave: Culturas Populares. Rezadeiras. Religiosidade Popular. Sincretismo Religioso. Oralidade. Memória. Joceneide Cunha dos Santos UFBA/UNEB O herói: alguns apontamentos sobre um filme angolano Nos últimos anos, os historiadores têm se debruçado com mais afinco na utilização de imagens, sejam elas fotográficas, pinturas, filmes dentre outras. Segundo Peter Burke, as imagens independentemente dos atributos estéticos são evidências históricas, mas também permitem uma melhor imaginação do passado. Paralelamente, a esse dado, o cinema é um dos suportes pedagógicos mais utilizados na contemporaneidade pelos professores, por outro lado, o cinema cria visões historiográficas, possibilita aguçar uma imaginação histórica e ainda segundo alguns autores ―coloniza as mentes‖. Por isso, se faz necessário analisar esses filmes, principalmente quando se intenciona usá-los como suporte pedagógico. Este trabalho tem como objetivo analisar o filme angolano O Herói de Zezé Gamboa finalizado em 2004. Ressalto que a utilização de filmes africanos na sala de aula pode contribuir para trabalhar os conteúdos sugeridos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, diretrizes que foram elaboradas após a lei 10.639/03. Para analisar o filme, utilizei diversos autores dentre eles Peter Burke, o mesmo sugere que algumas imagens são testemunha ocular, que traz a idéia de que os produtores das imagens, e as próprias imagens testemunharam fatos ou que podem fornecer informações sobre os mesmos. E o filme O Herói se insere nessa idéia. pretendo contextualizar o mesmo, e pontuando quais temáticas são abordadas e como são abordadas, pontuando algumas informações sobre o realizador do filme, dentre 119 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN outros pontos. O cinema angolano ressurgiu no século XXI, e o mencionando filme faz parte do pequeno grupo de filmes que foi elaborado nesse contexto. Dentre as temáticas abordadas no filme temos uma desilusão com a independência, a religiosidade e a condição das mulheres. Todos os temas citados se inserem nas temáticas abordadas por uma maioria dos filmes africanos. Por fim, proponho que o filme deve ser observado como uma evidência histórica de Angola no período posterior a guerra, como também que consiste em uma possibilidade de vermos a África com o olhar dos próprios africanos. Jonhkarles de Menezes Nunes Cristophane Alexandre da Silva Ferreira Rosilda Alves Bezerra – Orientadora UEPB A IMAGEM DO NEGRO NAS NOVAS TECNOLOGIAS. UM OLHAR A PARTIR DA LEI 11.645/08 NA IMPLANTAÇÃO DA TEMÁTICA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA NA ESCOLA Este artigo surge do projeto de pesquisa (PIBIC/PROPESQ/UEPB), no qual se trabalha a Lei Federal nº 11.645/08 e a inclusão dos conteúdos de história com a temática afrobrasileira, africana e indígena. Observando de que forma os conteúdos de história da África história do negro e indígena estão sendo aplicados no currículo das respectivas disciplinas e nas suas práticas cotidianas em sala de aula. O interesse desse trabalho surge a partir das pesquisas realizadas em sala de aula, observando que, os alunos estão cada vez mais conectados com o mundo virtual, exemplo de sites de relacionamentos como: orkut, facebook, blog, twitter etc. Queremos analisar de que maneira o acesso a essas novas tecnologias chegam de maneira unilateral para todos os alunos independente de cor, raça e cultura. Se existe alguma forma de preconceito dentro desses novos meios de comunicação e no seu convívio diário no âmbito escolar. Temos como exemplo o cyberbullying, que fere, constrange e ridiculariza a imagem do aluno. É de inteira importância a conscientização dos professores e da sociedade sob a implantação da lei 11.645/08, pois é através dela que essa temática Afro-brasileira e 120 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN indígena será discutida dentro da sala de aula, levando o aluno reconhecer, valorizar e respeitar as diversidades. Nosso apoio teórico está voltado para a questão cultural (BHABHA, 2003), negritude (MUNANGA, 2008) e as discussões sobre as novas tecnologias (CANCLINI, 2009). Palavras-chave: Lei 11.645/08, mídias, preconceito, racismo, escola. José Aldo Ribeiro da Silva UPE Imagens da Dominação Colonial Portuguesa em Vinte e Zinco, de Mia Couto Editado pela primeira vez em 1999 (Vinte e cinco anos após a culminância da Revolução dos Cravos), Vinte e Zinco é um romance de Mia Couto que tem como cenário o ano de 1974, período em que Moçambique ainda era colônia de Portugal. Por essa razão, em suas malhas discursivas são recriados acontecimentos diretamente relacionados ao processo de dominação colonial que durante longos anos predominou no país. Tais acontecimentos nos remetem não só às atitudes tomadas pelos portugueses que se instalaram em terras moçambicanas, mas aos posicionamentos assumidos pelos povos moçambicanos diante de seu colonizador. Diante disso, este trabalho se propõe a analisar relações existentes entre o contexto social recriado por Mia Couto em sua narrativa e o contexto social resultante das ações da empresa colonial portuguesa no continente africano, tendo em vista os referenciais teóricos de estudiosos como Manuel Ferreira, Leila Hernandez, Ana Margarida Fonseca e Inocência Mata. Palavras-chave: História, Colonização, Literatura. 121 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN José Carlos Siqueira de Souza USP/FAPESP Eça de Queirós e o empreendimento neocolonial na África A ilustre Casa de Ramires, penúltimo romance de Eça de Queirós, apresenta uma série de visões esparsas da África e do processo neocolonial, cujo papel desempenhado na economia da obra ainda está por ser completamente elucidado. Nossa pesquisa aponta para Gonçalo Ramires como um burguês em busca de sua inserção no capitalismo globalizado da época, ou seja, através da exploração neocolonial, depois de avaliar que os estreitos limites da burguesia local portuguesa não lhe interessavam. O propósito da presente comunicação é indicar como a violência, ou seja, o uso da coerção física era o fator sine qua non do empreendimento neocolonial e como isso foi exposto de forma irônica e crítica por Eça em seu romance, havendo passado despercebido por seus contemporâneos. O interesse aqui recai em mostrar como o processo de partilha da África encontrou em Eça, e em sua literatura, um analista perspicaz e crítico, na contracorrente de boa parte da intelectualidade oitocentista europeia. Palavras-chave: Eça de Queirós; neocolonialismo; partilha da África no século XIX. José Hildo de Oliveira Filho UFAM/UFRN No coração das trevas do extrativismo: uma comparação entre Amazônia e o Congo 1880-1920 Amazônia e África foram construídas sob os signos do exotismo, da distância e da incivilização (Gondim, 2007; Pinto, 2008; Oliva, 2003). Estes signos foram e até hoje são responsáveis por olhares que rebaixam a história e diversidade humanas em relação a diversidade biológica regional e continental, respectivamente. É como se a paisagem natural se sobrepusesse a quaisquer esforços humanos, tanto na Amazônia como na África. Neste trabalho, trataremos de fazer uma história comparativa entre a Amazônia 122 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN brasileira (em especial a região que corresponde o atual estado do Amazonas) e a atual República Democrática do Congo, durante o período que corresponde ao fim do século 19 e início do século 20. As histórias de exploração econômica de borracha serão o eixo de nossa comparação. José Olímpio Ferreira Neto UECE/UNIFOR CAPOEIRA E SUAS CANTIGAS: CULTURA ORAL, MEMÓRIA E FORMAÇÃO DA IDENTIDADE Esse artigo é um estudo das cantigas de capoeira, elementos da cultura oral que atua na manutenção da tradição reavivando a memória e colaborando na formação da identidade afro-brasileira. As reflexões contidas nesse estudo são fruto de observações a partir da imersão pessoal no fenômeno investigado. Essa prática cultural e educativa usa o corpo e as cantigas como ferramentas de educação seja nos domínios da formalidade ou trilhando os becos da informalidade. A palavra falada é elemento central na cultura da Capoeira, ou seja, é elemento essencial e indispensável à sua prática. É essa cultura oral representada, sobretudo pelas cantigas, que será analisada nesse trabalho. O objetivo, aqui, é identificar esse elemento estético como fonte de memória para o capoeirista e seus admiradores. Tenta-se realizar uma descrição explicativa apontando a roda como espaço de formação que contribui para a manutenção das tradições e constante repensar das mesmas. Para ajudar nessa tarefa será utilizado como referencial teórico os seguintes pesquisadores, CUNHA JÚNIOR (2010), SILVA (2010), VASCONCELOS (2010) e VIEIRA (1998), todos pesquisadores e defensores do saber de matriz africana. Os anos de vivência no mundo da Capoeira ouvindo as reflexões históricas trazidas pelas cantigas foram fundamentais para a escolha do tema. Deseja-se que esse trabalho possa, senão orientar, ao menos, despertar a pesquisa e a reflexão em torno das cantigas, elementos essenciais à essa manifestação cultural. Ao final desse estudo acredita-se que as cantigas como prática cultural do universo capoeirístico perpetuam as tradições e colaboram para a formação da identidade afro-brasileira. 123 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Josélia Batista da Silva Lages - UFPE Maria Francinete de Oliveira - UFRN A CONCEPÇÃO DE RACISMO EM CRIANÇAS DE 7-10 ANOS: UM ESTUDO PARA O FAZER DA IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/03 NA REDE MUNICIPAL DE GOIANA-PE A escola é espaço de aprendizagem e convívio social à formação do individuo. A estrutura pedagógica/educacional brasileira, ainda ‗bancária‖, perpetua problemas sociais diversos como o racismo. A Lei 10.639/03 visa atender a população afrobrasileira, grupo que vivenciou maior exclusão e que em suas lutas demandaram um novo fazer: uma postura madura e reflexiva da escola, releitura da história dos afrodescendentes no mundo, a inclusão na história oficial da contribuição do negro ao Brasil, e a criação de mecanismos de identificação/compreensão às diferenças não só como conteúdo, mas como exercício cotidiano de cidadania. Através das metodologias participativas e a práxis foi proporcionado ao educador perceber como crianças entre 7 e 10 anos representam o racismo em contraposição à hipótese de que são ingênuas, pois desse modo estavam negando-lhes o dever e o direito ao enfrentamento e a coresponsabilização pelo seu desenvolvimento crítico e respeitoso à diversidade cultural brasileira. Este estudo mostrou a capacidade das crianças de identificar e descrever o racismo, dialogando com à vida cotidiana, as questões sociais, e as interelações que as envolve. A partir de então, o educador pode tornar-se um sujeito crítico, capaz de vencer a escassez de literatura, ampliando as estratégias para quebrar a manutenção de preconceitos e estereótipos no espaço escolar, contribuindo com a extinção da discriminação e do preconceito, produto do racismo, responsabilidade de todos e de cada um. 124 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Josemir Camilo de Melo UEPB O Racismo de Monteiro Lobato em O Presidente Negro: leituras sobre o sujeito discursivo Este artigo nasceu da experiência de ensino no Curso de Especialização em História e Cultura Afro-Brasileira, na Universidade Estadual da Paraíba, bem de nossa prática jornalística de articulista cultural quando nos defrontamos com a polêmica sobre o livro As Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, acusado de discriminação racial. Daí partimos para avaliar a obra O Presidente Negro, para ver se havia também discriminação e encontramos o que entendemos por racismo. A primeira edição foi lançada na imprensa, em 1926, em forma de folhetim, e depois pela Companhia Editora Nacional, com o título ―O Choque: Romance do choque das raças na América no anno de 2228‖. Antes de tudo, indaga-se: por que foi republicado, em 2008, como O Presidente Negro? Busca-se, aqui, em primeira instância, analisar a obra não pela tradicional crítica literária, nem tampouco pela difusa dicotomia História/Literatura, mas pela Análise de Discurso (PÊCHEUX, 2002), tentando situar Lobato não como sujeito empírico, mas como sujeito de discurso (GRIGOLETTO). Para isto, deverá ser contextualizado ao lado da produção literária de então. Em segundo plano, pretendemos analisar o livro em si (literatura, história etc.) como vulgata (PÊCHEUX/ACHARD, 1999) e suas implicações na manutenção de implícitos que denotam discriminação racial, este universo de pré-construídos - a escravização de pessoas africanas e descendentes - tornando-se um dispositivo da formação discursiva racista, permeada de interdiscursos não só ideológicos (brancos, católicos, letrados etc.), mas de outros saberes como a escrita, a economia, a literatura e a história. Palavras-chave: Literatura, racismo, sujeito discursivo. 125 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Josilene Pinheiro-Mariz - UFCG Maria Angélica de Oliveira - UFPB A LITERATURA ESTABELECENDO PONTES INTERCULTURAIS ENTRE CAMARÕES E BRASIL As relações culturais entre o Brasil e a África não estão centradas apenas na história marcada pelo período da escravidão que une o nosso país ao continente africano. Inúmeras são as características que nos aproximam de vários países do outro lado do Atlântico sul. Além de fatores geográficos e sociais, temos na literatura marcas que nos deixam mais perto da literatura dos países africanos; assim, pretendemos, neste trabalho, apresentar um diálogo entre a nossa literatura e a de Camarões, por meio dos romances Dona Flor e seus dois maridos, do escritor baiano Jorge Amado e Comment cuisiner son mari à l‘africaine, da escritora cameronesa Calixte Beyala. Esse diálogo estabelece uma ponte que nos faz ver quão semelhantes são as cores nessas narrativas, em especial, no que concerne ao tema da gastronomia, favorecendo, dessa forma, as relações interculturais. Nossas discussões se firmam sobre o diálogo intertextual, oferecido pelo tema central dos romances que enfatizam a sedução feminina e a gastronomia. Tais reflexões são orientadas por Kristeva (1969), Barthes (1970) e Genette (1980), confirmando, assim, as relações intertextuais e interculturais. Nossa pesquisa se caracteriza como pesquisa investigativa e bibliográfica, de cunho qualitativo e apresenta resultados que nos apontam para a estreita relação entre a nossa literatura e as de países africanos, em particular do Camarões. Observamos ainda que as protagonistas dos dois romances, Aïssatou e Dona Flor, são representações da figura feminina nesses dois países, logo, confirmam os laços que nos unem, afastando-nos de um malgrado histórico de um modo diferenciado. Palavras-chave: Intertextualidade. Literatura camaronesa;Lliteratura brasileira; Intercultural; 126 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Josué Pereira dos Santos UEPB Relações de Alteridade em Venenos de Deus, remédios do Diabo, de Mia Couto O trabalho trata das relações de alteridade apresentadas no romance Venenos de Deus, remédios do Diabo, de Mia Couto. No contexto pós-colonial, as relações entre os sujeitos ocorrem de forma tensa como conseqüência dos ―traumas‖ deixados por esse sistema, em que o branco colonizador impunha sua cultura como superior em relação à cultura do africano. Esse trabalho mostra como o africano, representado por Bartolomeu Sozinho, se relaciona com o português colonizador, representado por Sidônio Rosa, no contexto pós-colonial. Para entender como a arte no país africano Moçambique está engajada com a sua história, nos debruçaremos sobre estudos como o de Chaves (2005) e Garcia (2005); Assim como para tratar de Alteridade, não poderíamos deixar de recorrer às reflexões de Sidekum (2003) e Zanella (2005). Palavras-chave: Alteridade, pós-colonial, Mia Couto. Joyce Amâncio de Aquino Alves UFCG A CULTURA HIP HOP NO BRASIL: UM MOSAICO DE IDENTIDADES As raízes culturais do Hip Hop se originam no sul do Bronx em Nova Iorque (EUA) na década de 70. Assim, nascia a idéia de disputar com criatividade e certa resistência à violência insensata com o uso de energia positiva, no enfrentamento da pobreza, do crime, das drogas e do desemprego, vividos nesse contexto pelos afro-americanos e hispânicos. Dessa forma, com a difusão da cultura hip hop, no início dos anos 80, chegam os primeiros sinais do hip hop no Brasil, que passou a reunir cada vez mais jovens e ganhar cada vez mais espaço. Nesse sentido, o presente trabalho objetiva traçar a trajetória e características da cultura hip hop no Brasil, utilizando-se da pesquisa bibliográfica, tendo em vista as múltiplas identidades que constituem não apenas a 127 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN música, mas a ideologia, o comportamento, os valores e práticas que se integram e se transformam em elementos de uma cultura que acompanha várias regiões e gerações. Palavras-chave: Cultura, Hip-Hop, Identidade. Juarez Nogueira Lins UEPB Práticas Discursivas Literárias: a constituição identitária negra na crônica contemporânea racismo, de Luís Fernando Veríssimo A identidade, construção discursiva (HALL, 2000) e discurso, efeito de sentido entre sujeitos que ocupam posições na sociedade (PÊCHEUX, 1990) colocam na mesma discussão: sujeitos, história e identidades – práticas discursivas literárias (Análise do Discurso) e identidade negra (Estudos Culturais). Nesta perspectiva, a pesquisa aqui apresentada tem como objeto de estudo examinar a constituição da identidade negra, inscrita em discursividades literárias contemporâneas (crônica literária) e procura responder a seguinte questão. De que modo foram constituídas/significadas em práticas literárias da década de 70 (crônicas) as identidades dos sujeitos negros? Destarte, objetiva-se analisar os efeitos de sentidos produzidos por práticas discursivas literárias contemporâneas. Inscrita na área de Lingüística Aplicada, a pesquisa se vincula às perspectivas advindas dos Estudos Culturais e da Análise do Discurso. Perfilham-se, então, investigações de Hall (2000, 2006), Munanga (1986), Bernd (1984), d‘Adesky (2005) e ainda a alguns pressupostos teórico-metodológicos da Análise de Discurso Francesa: Pêcheux (1990), Orlandi (2001) e também pressupostos de Foucault (1995). A pesquisa é de natureza qualitativa interpretativista e os dispositivos teóricos analíticos subsidiaram gestos de leitura de imagens literárias presentes no conto Racismo de Luís Fernando Veríssimo. Essa discursividade literária parece trazer, inicialmente, uma denúncia contra o racismo no Brasil. Mas, no entanto, o sujeito-autor apenas desfila um rol de identidades estereotipadas, atribuídas a um sujeito destituído de voz e não reconhecedor da relevância de suas posições na construção de suas subjetividades e identidades. E assim, envolvido pelo momento sócio-histórico, esse sujeito-autor 128 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN assume posicionamentos discursivos que traduzem sua plácida aceitação da realidade racista. Palavras-chave: Identidade Negra. Racismo. Práticas Discursivas Literárias. Crônicas Contemporâneas. Julianny Katarine Aguiar de Oliveira Tânia Lima – Orientadora UFRN UMA INFÂNCIA ROUBADA: OS RETALHOS DA MEMÓRIA FIADOS POR ONDJAKI EM OS DA MINHA RUA ―a imaginação é a memória que enlouqueceu‖. Esta frase do poeta Mário Quintana é uma síntese das idéias propostas por esse trabalho; que em suma irá apresentar uma discussão sobre a infância angolana pós-independência e a reinvenção da infância criada pelo escritor angolano Ondjaki através de suas memórias imaginadas, tornando assim esse espaço infante um (não)-(entre)-lugar de cheiros, cores e afetos mesmo em tempos de conflitos em Angola. Para apresentação dessa discussão propõe-se uma análise dos contos O vôo do Jika e Palavras para o velho abacateiro, respectivamente primeiro e último conto do livro Os da minha rua. A análise se fará com a ajuda de alguns ―cambas‖ importantes para pensarmos as representações de lugares, como Bachelard, Marc Augé e Homi Bhabha, que dialogando com teóricos da oralidade como Zounthor e Hampaté-Ba; reforçam a ponte entre lugares e oralidades. Outro ―camba‖ muito importante para o ―desnovelar‖ desse emaranhado imaginativo que é a memória, será o poeta das inutilidades Manoel de Barros; juntos eles recriam o ouvir do pesquisador diante dessa voz pueril e sutilmente desarrumada do eu - lírico Ondjakiano. Apesar das narrativas terem como espaço ficcional a cidade de Luanda, o enredo dos contos do livro Os da minha rua trata de sentimentos e valores universais, transformando esse livro em marco literário sobre a peraltice da invenção que será essa infância não só de Angola, mas de todos os lugares em que se brinca para reinventar a realidade de uma criança. Palavras-chave: Infância, Memória, Os da minha rua, Ondjaki e Angola. 129 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Jusciele Conceição Almeida de Oliveira UFBA A LITERATURA DA GUINÉ-BISSAU, HOJE: circulação, recepção e conhecimento Os estudos críticos sobre culturas africanas, em especial, sobre literaturas africanas de língua portuguesa, são ainda limitados no Brasil, principalmente quando falamos em Guiné-Bissau, apesar de esse país ter relações próximas com o Brasil desde o século XVII, a grosso modo considerando-se o tráfico de escravos. Significativa intervenção situa-se no empenho de determinadas intelectuais comprometidos com trazer à cena cultural brasileira a produção cultural guineense, a exemplo do livro O desafio do escombro: a literatura guineense e a narração da nação, de Moema Parente Augel, único livro, antes tese de doutoramento, sobre literatura da Guiné-Bissau disponível no Brasil. Hoje, em Salvador, cidade indiscutivelmente negra, quiçá, africana, conhecemos a Guiné Bissau um pouco mais de perto por causa dos alunos que vêm estudar na Universidade Federal da Bahia e em outras instituições do Brasil, ou através do noticiário, em função do seu momento político atual. Todavia, após pesquisa na internet, busca em sebos, a par da ajuda de guineenses, como Filomena Embaló, consegue-se traçar um breve relato histórico da Guiné-Bissau. Kaline Ferreira Costa Maria Regina Alves dos Reis Jadson Pereira Vieira UEPB A cor do “Besouro”: Cinema no ensino de história como contribuição para a construção da identidade afro-brasileira O presente artigo se propõe a pontuar algumas considerações a respeito da utilização de filmes históricos na sala de aula. Nesse sentido utilizaremos como exemplo o filme ―Besouro‖ que enfatiza alguns aspectos das práticas culturais afro-brasileiras, entre elas 130 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN a etnicidade, capoeira e a religiosidade de matriz africana. A partir da abordagem dessas questões o filme dá ao facilitador do conhecimento subsidio para que o mesmo utilize-o como mecanismo de desconstrução de estereótipos e preconceitos a cerca da cultura dos afro-descendentes. Valores, símbolos e signos são alguns dos aspectos que a sétima arte se propõe disseminar mundo afora. Com o advento da tecnologia o cinema passou paulatinamente a ser um meio bastante utilizado pela população como forma de lazer, inclusive pelo seu caráter multicultural, abordando os mais variados aspectos do cotidiano das diferentes classes sociais e culturais, e hoje se encontra num lugar de destaque, pois a linguagem que utiliza é algo que encanta o espectador. Diante disso, torna-se imprescindível a utilização desse produto como recurso didático em sala de aula, uma vez que possibilita mais uma forma de aprendizado, desde que feito da maneira correta. Assim, sabendo que a melhor maneira de se utilizar o cinema como recurso didático em sala de aula é problematizando-o, estaremos tecendo um diálogo com a cultura africana sem perder de vista suas infinitas possibilidades de leituras. Palavras-chave: Cinema, Práticas Culturais, Ensino de História, Identidade. Kallenya Kelly Borborema do Nascimento Taynnã Valentim Rodrigues Maria Lindací Gomes de Souza – Orientadora UEPB TRADIÇÃO E PRÁTICAS DE CURA EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS. Este trabalho é um recorte de um projeto maior, intitulado: Práticas Culturais, Memória e a Arte de Inventar o Cotidiano: (re) Escrevendo as Brincadeiras Infantis, Cantigas, Festas e Práticas de Cura em Três Comunidades Afro-descendentes Paraibanas, projeto esse coordenado pela Prof. Drª. Maria Lindaci Gomes de Souza. Tendo como principal objetivo identificar e analisar as práticas de cura existentes e ainda utilizadas nas comunidades quilombolas, resgantando- as através da tradição oral, uma vez que essa maneira proporciona a transmissão de conhecimento e identificam quais as práticas alternativas mais utilizadas entre mulheres rezadeiras, benzedeiras, e parteiras que ao 131 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN fazerem uso de plantas medicinais conseguem cuidar dos enfermos e dos doentes de sua comunidade. Pretendemos também, destacar de que forma estas práticas estão sendo repassadas, quais as mudanças sofridas e a permanência de tais conhecimentos na Memória dos praticantes. O trabalho se fundamenta na oralidade, realizado através de entrevistas e depoimentos orais de pessoas, principalmente idosos que adquiriram o conhecimento em práticas de cura através de um sistema etnomedicinal próprio, e que aqui serão os protagonistas a transmitir as maiores experiências, fundamentando-se ainda na observação de um estudo exploratório e descritivo. Palavras-Chave: Práticas; quilombola; tradição; oralidade. Karina Maria de Lima Amâncio Gildivan Francisco das Neves Danielle Brandão Araújo Patrícia Cristina de Aragão Araújo – Orientadora UEPB A Afro-descendência nas redes sociais: a comunidade de Orkut na tessitura das relações entre negros e negras e as tecnologias Diante das discussões implementadas pela lei 10.639/2003 que discute sobre as questões históricas e culturais dos afro-descendentes no campo da educação, nossa proposta é analisar de que modo nas redes sociais, através da comunidade de Orkut a temática dos afro-descendentes é tratada. Nosso objetivo é refletir como a comunidade de Orkut discute as questões referentes aos afro-descendentes. Partindo dessa premissa nossa abordagem metodológica parte da análise do conteúdo proposto nos fóruns que fazem parte do Orkut, procurando perceber como neles aparecem imagens e chamadas que se reportam aos afro-descendentes. Escolhemos a comunidade de Orkut: Afrodecendentes para a partir dela captarmos as discussões referentes ao tema proposto. 132 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Neste sentido as tecnologias ao tratarem da afro-descendência na perspectiva da juventude nos permite compreender como nessas comunidades a temática afro-brasileira é tratada. Palavras chave: afro. Descendentes. Orkut. Juventude. Tecnologias Karla Priscila Martins Lima UFRN Os fios de linguagens identitárias em “O ano em que Zumbi tomou o Rio”, de Agualusa Na obra ―O ano em que Zumbi tomou o Rio‖, do escritor angolano José Eduardo Agualusa (2002), nota-se que a tessitura literária é dotada, dentre outros aspectos, de fios identitários que se remetem ao âmbito sócio-histórico, ao plano mítico e à pele, sendo esses entrelaçados pelo fio da voz através dos personagens, sobretudo Zumbi (na obra, denominado Francisco Palmares). Diante dessa conjectura, este trabalho motiva-se a investigar os modos como a obra literária referida proporciona um retorno fragmentário da palavra oral: seja pelo viés das contínuas (des) construções identitárias no plano da história, do mito circunscrito na figura de Zumbi dos Palmares, na construção de discursos em torno da derme negra e nas vozes de igual cor, como a de Martinho da Vila, MV Bill e Maria Bethânia. Tomando referenciais que abordam essas questões, ter-se-á Stuart HALL (2005) e as identidades moventes na pós-modernidade; Frantz Fano (1983) e a identidade construída pelo negro de si; a tradição sem a comum estaticidade problematizada por A. Hampaté BÂ (1982) e Paul ZUMTHOR (2010) quanto à concepção poética de oralidade a partir de confluências de jogos fônicos e linguagem que proporciona a tessitura memorialística. Palavras-chave: Identidade, voz, pele, memória. 133 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Kárpio Márcio de Siqueira UNEB A negritude em discurso nas Américas: O desenho identitário de Langston Hughes e Oswaldo de Camargo O artigo versa sobre a constituição da identidade negra nos discursos poéticos dos autores Langston Hughes e Oswaldo de Camargo, na perspectiva de apontar os desenhos identitários que tanto aquele escritor americano quanto este o brasileiro, construíram na intenção de dialogar nas esferas sociais, políticas, literárias e culturais, dentro do espaço da Negritude como movimento político-estético-literário. Katiane Fernandes Nóbrega UnP Mitocrítica dos Programas da disciplina História e Cultura Afro-brasileira e Africana Para fazer cumprir a Lei n°. 11.645/2008, muitas Universidades, Faculdade e Institutos têm ofertado as disciplinas História e Cultura Afro-brasileira e Africana, História e Cultura Afro-brasileira e Indígena e, entre outras, Seminários Temáticos. A criação de tais disciplinas nos espaços de ensino superior tem dado uma significativa contribuição no que diz respeito às questões de tolerância e reconhecimento de uma pluralidade cultural e religiosa no país, assim como, a valorização da história, cultura e identidade dos afro-brasileiros. Apresenta-se uma análise dos Programas da disciplina História e Cultura Afro-brasileira e Africana nos Cursos de História, assim como, discute-se, nestes programas, o espaço atribuído à dimensão religiosa, por exemplo, o Candomblé e suas variantes, Candomblé Gêge-Nagô, Nagô-Keto, Angola-Keto, Angola-NagôUmbanda, Xambá-Nagô, dentre outras. Adota-se como referencial teórico a Teoria Geral do Imaginário criada por Gilbert Durand e, como modelo de análise, a mitocrítica – método de crítica literária que extrai de toda narrativa as imagens e os temas redundantes, de modo a revelar as dimensões simbólicas, os mitos diretores e suas 134 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN transformações significativas. Observa-se que as religiões de matriz africana não são explicitadas na descrição das Ementas, Objetivos, Conteúdo Programáticos e Referências bibliográficas. Palavras-chave: Educação, Religião Afro-brasileira, Mitocrítica. Kislana Rodrigues Rosilda Alves Bezerra – Orientadora UEPB VIOLÊNCIA E RACISMO: AS MARCAS DO TRÁGICO E DA RESISTÊNCIA NOS POEMAS NEGROS, DE JORGE DE LIMA Poemas Negros (1947), de Jorge de Lima, destaca a representação do negro na poesia afro-brasileira. A partir dos estudos sobre cultura e identidades afro-brasileiras, analisaremos a construção da ―identidade negra‖ e (des)construção de estereótipos na poética do autor. Na poesia de Jorge de Lima, enfocaremos as práticas religiosas africanas, o registro de diversos ritmos dos cerimoniais africanos, além de enfatizar o uso de palavras africanas, instrumentos musicais e ritmos associados aos ritos de iniciação religiosa africana. Os Poemas negros são inspirados em histórias populares africanas, na situação do negro no Brasil do pós-guerra e, especialmente, na cosmologia e nos mitos africanos. Dessa forma, estes poemas incorporam vozes e ritmos da linguagem afro-nordestina, enfatizando a tensão entre escravo e senhor, o convívio com o negro, colocado de forma contundente ao descrever as questões de desigualdade social entre colonizadores e colonizados. Palavras-chave: Poemas Negros. Jorge de Lima. Identidade. Práticas religiosas. cerimoniais africanos. 135 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Laécia Peixoto Costa UECE/FAFIDAM Marcas da Modernidade: reflexos de uma nova sociedade Este artigo tem como objetivo analisar o impacto da Modernidade na construção de um novo mundo e de uma nova sociedade a partir do romance A Caverna de José Saramago. Nesta narrativa, são apresentados elementos que nos permitem um novo olhar para o mundo globalizado e sua nova ordem mundial centralizada no modelo econômico em que o mercado passa a ser controlado por grandes conglomerados financeiros. Para tanto, será utilizado como teoria literária os estudos de Sandra Nitrine e Leila Perrone-Moisés acerca das características dos escritos contemporâneos. Palavras-chave: Modernidade. Globalização. Sociedade. Laura Mazariegos Gutierrez A identidade negra na Bahia através do estudo comparado de dois romances: Pelourinho de Tierno Monénembo (Guinea) e Jubiaba de Jorge Amado O objetivo deste trabalho é de confrontar dois pontos de vista sobre a identidade negrobrasileira: aquele do romance Jubiaba de Jorge Amado, escrito originalmente em português no começo dos anos trinta e o romance do guineense Tierno Monénembo escrito em francês e publicado em 1995. Estes romances têm certamente diferenças relacionadas a data da publicação, porém, acharemos temáticas comuns que permitirão a comparação. Mergulharemos nos diferentes problemas de memória da comunidade afro-brasileira da Bahia e trataremos do anti-heroismo das diferentes personagens. Analisaremos igualmente as estruturas narrativas de cada romance para inseri-los numa perspectiva de literatura negro-africana assim como também analisaremos as implicações politicas presentes em cada romance. 136 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Fazendo esta comparação entenderemos algumas dificuldades experimentadas pela literatura latino-americana em termos de identidades misturadas e repressão cultural mas seremos também introduzidos ao ponto de vista africano sobre ―os irmãos brasileiros‖ assim como a responsabilidade africana na escravidão. Será a ocasião de analisar através da literatura as problemáticas atuais dos exílios das comunidades africanas através do mundo. Palavras-chave: Brasil, Africa, literatura negro-africana, literatura brasileira, memoria, escravidão, cultura, religião, exilio, procura da identidade. Lauro Wanderley Meller UFRN Do blues ao samba, do choro ao jazz: a contribuição negra na formação da música popular brasileira e norte-americana A música popular ocidental, tal como a percebemos hoje, é essencialmente composta por gêneros que surgiram do contato entre a música europeia com aquela trazida pelos escravos africanos. Daquela, herdamos os princípios de melodia e harmonia; desta, a complexidade rítmica. Dessa mescla resultaram o blues, o jazz e o rock, na América do Norte, e o lundu, o maxixe, o samba e o choro, no Brasil. Concordando, com Peter Wicke (1990), que não se pode estudar a música popular desvinculada de seu contexto sócio-histórico, e com base em trabalhos de Lúcia Lippi Oliveira (2000) e Ricardo Lessa (2010), pretendemos tecer algumas considerações de ordem histórico-cultural sobre a contribuição negra à música popular, nesses dois países, o modo como essa aproximação se deu, e quais foram suas implicações sociais e estéticas. Constataremos alguns denominadores comuns, como o caráter sensual e participativo da música negra versus a postura contemplativa associada à música erudita européia; o processo de formação do jazz e do choro, que partiram de um contato de músicos negros e mestiços com instrumentos tradicionalmente usados em bandas e fanfarras militares, e de uma nova maneira de executar esses instrumentos; ou ainda a natureza catártica e, diríamos, somática, de gêneros como o samba e o rock. No entanto, cumpre também apontar 137 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN distinções, que são decorrentes, por exemplo, do tipo de ocupação ocorrida no Brasil e nos Estados Unidos, que favoreceu a miscigenação entre nós, e a segregação para lá do Equador. Pretende-se, enfim, traçar um paralelo entre esses dois ―gigantes‖ da América, diferentes em tantos aspectos, mas cuja formação musical decorre, tanto lá como cá, do contato de elementos estéticos europeus e africanos. Palavras-chave: Música popular brasileira. Música popular norte-americana. História. Laysa Cavalcante Costa Joana Camila Lima Guedes O FANTÁSTICO E O MARAVILHOSO, O ELO DE CONEXÃO ENTRE A TRADIÇÃO E A MODERNIDADE NA OBRA “A VARANDA DO FRAGIPANI” DE MIA COUTO Este Trabalho lança uma perspectiva acerca da obra ―A varanda do frangipani‖ do autor africano Mia Couto, com o objetivo de se infiltrar no universo narrativo deste, buscando entender tendências da tradição moçambicana ocorridas nas vertentes do gênero literário, baseada numa visão tradicional que interage com outra moderna, reagindo na narrativa através do real maravilhoso, do insólito. Tais incumbências são originarias de uma realidade que prima pela redenção de um país que sofre a magnitude da guerra, mas que encontra na mesma a inspiração para reingressar nas fronteiras do sonho, transformando constantemente o real. Resgata neste contexto um ambiente ficcional que exprime uma legítima sensação de que a modernidade precisa ser enxergada mediante a manutenção das tradições. Observa-se, portanto, que toda a obra se sustenta no entrosamento entre o sagrado, o sobrenatural, o mágico, o consciente e inconsciente, aspectos que se incorporam a existência material e espiritual da sociedade tradicional. Palavras-chave: Tradição; real maravilhoso, modernidade; sociedade. 138 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Leonardo Macena de Fontes Waldeci Ferreira Chagas – Orientador UEPB A LEI 10.639/03 E AS REPRESENTAÇÕES DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: SUPERAÇÃO DO RACISMO, OU CONTRIBUIÇÃO PARA A SUA MANUTENÇÃO? Neste trabalho analisamos as representações da cultura afro-brasileira nos livros didáticos de História usados pelos docentes que atuam do 3º ao 5º ano do ensino fundamental na rede pública de Alagoa Grande. Apesar de nos debruçarmos sobre esses livros didáticos nos limitamos nesse artigo ao que já foi coletado com as análises e observações do livro didático do 3º ano, visto este ser um trabalho, cuja pesquisa ainda está em andamento. Por isso, damos à devida atenção as referencias que tal livro traz acerca da cultura afro-brasileira, as quais estão apresentadas na forma de textos escritos e imagéticos. Os textos analisados nos impulsionaram a apresentar algumas análises e discussões acerca dos aspectos, valores e concepções relativos à cultura afro-brasileira e as pessoas negras muitas vezes tidas como pessoas culturalmente jocosas, trabalhadoras, espertas, divertidas, malandras e, por conseguinte exóticas. Este tipo de representação ainda está sendo contemplado nos livros didáticos de História, quando a lei 10.639/03 obriga as escolas a implementar no currículo a história e cultura afro-brasileira. Mesmo que o livro didático de História contemple esse conteúdo, nem sempre isso significa dizer que este esteja totalmente isento das tradicionais imagens de inferioridade com que se referem às pessoas negras. Desta feita o livro didático é por excelência lugar de discurso, produto e produtor de discursos, e como tal tem um propósito nem sempre perceptível aos olhos e ouvidos dos (as) leitores (as), e, portanto se legitima construtor e desconstrutor de valores, conceitos e mentalidades. Palavras-chave: livro didático, representação, cultura afro-brasileira. 139 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Severino Lepê Correia UEPB/UFPB O discurso da mulher negra brasileira no século XXI-O caso de Miriam Alves e Esmeralda Ribeiro O discurso da mulher no século XXI está marcado por especificidades que revelam as contribuições dos movimentos em prol da visibilidade e da audibilidade femininas. Se com a mulher de um modo geral o cenário da cultura mantém um diálogo profícuo, com a mulher negra resta um longo caminho a percorrer. Considerando as ponderações de HOFBAUER (2006, 173) existia, no Brasil colonial uma inferioridade da ―raça‖ superável pelo concurso de elementos como a salubridade e a religião cristãs. Tal perspectiva, entretanto, malogrou na sua nascente, gerando um novo tipo humano, o mestiço, que, ao invés de solidarizar-se com o negro, seu ancestral, tornou-se mais um inimigo, para além dos valores da sociedade branqueada. Neste sentido, a escrita de Miriam Alves como a de Esmeralda Ribeiro retratam o conservadorismo de relações preconceituosas e discriminadoras, que nada devem às cenas descritas por estudiosos da colonização. O grito abafado dessas escritoras negras ressoa através de instrumentos de divulgação (editoras etc) mantidas pelo grupos sociais negros, evidenciando, assim, a perspectiva elitista que preside os meios culturais no país. Liduína Maria Vieira Fernandes UECE Personagens negras nos romances de Autran Dourado Dentre a vasta produção literária do escritor mineiro Autran Dourado, escolhemos para análise os romances Ópera dos mortos e Os sinos da agonia por trazerem em seus enredos, em posição de destaque, personagens negras e escravas. Os negros nessas narrativas são destituídos de posses e riquezas e têm origem e posição social inferior à elite branca. Escolhemos as personagens Inácia (OM) e Quinquina (OSA), que carregam em si todos os conflitos próprios de sua condição, pendentes entre a revolta, a 140 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN ânsia de reconquistar as suas origens e a liberdade, e a atitude do mais puro servilismo, em troca de favores e de poder. As referências que serão feitas a esses romances prestam-se à reflexão proposta por esse trabalho, cujo objetivo é investigar as personagens negras escravas nos textos de Autran. A forma como é abordada essa questão nas narrativas autraniana denuncia as condições em que vivia o negro no Brasil colônia. Palavras-chave: Autran Dourado; romance; personagem. Líllian da Cruz Régis UFPB Infância e identidade em Alá e as crianças-soldados de Ahmadou Kourouma – uma visão do narrador Uma África banhada em sangue, dominada por ditaduras e pela guerra tribal, onde crianças são recrutadas como soldados e se tornam cruéis assassinos. Uma África dizimada por crimes políticos e civis, pela corrupção e pela farsa das ―lutas libertadoras‖. Uma África sob o encantamento dos grigrimen (feiticeiros), sob o domínio de Alá e a proteção de Cristo. Esta é a África que Ahmadou Kourouma apresenta pelos olhos e boca de Birahima, um menino de doze anos, que percorre vários países do continente e se torna uma criança-soldado. Neste artigo, analisamos a relação entre o foco narrativo e a representação da identidade negra construída no romance, utilizando a classificação sistematizada por Lígia Chiappini sobre a tipologia do narrador. Nosso objetivo foi identificar os tipos de narrador presente no texto e verificar de que modo cada um deles se relaciona à construção da auto-imagem da criança negra. Para isso, detivemo-nos na análise do capítulo introdutório do livro que é rico em descrições sobre aspectos físicos e psicológicos do narrador-protagonista, além de informações sobre o contexto sóciohistórico em que a trama é desenvolvida. A análise desses elementos foi essencial para compreender a relação narrador-identidade-infância. Palavras-chaves: criança-soldado; narrador; identidade. 141 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Lisabete Coradini UFRN O cinema africano: algumas inquietações A partir de leituras de autores como Fanon (1975), Said (2002), Stam (2006) e Shohat (2002), pretendo estabelecer algumas notas sobre a possibilidade de reflexão entre o cinema africano e as teorias pós-coloniais. Atualmente os filmes africanos apontam diferentes pontos de vista sobre temas globais como os movimentos de descolonização, a utopia da independência, a migração, as guerras e as políticas de identidades. Esses filmes revelam relações e encontros entre mundos, culturas e sujeitos, e não mais uma ''dada cultura''. Desloca-se e descoloniza-se o ''olhar'' sobre o outro. O novo cinema africano traz novos posicionamentos críticos e novas linguagens cinematográficas que podem ser analisados à luz das teorias pós-coloniais. Lisane Mariádne Melo de Paiva Tânia Lima - Orientadora UFRN OS PÁSSAROS: O VÔO DO ASSARÉ À ÁFRICA Este é um trabalho que não foi feito para a linha reta das páginas, mas para a circularidade das folhas. Plantaremos conversas sobre pios, sobre coisas, sobretudo acerca de um poeta que foi além do chapéu e dos óculos escuros, ele nos embalou com sua voz. Seus versos gritam, cantam por um povo ao qual ele também pertence. Sofrimento, amor, política, pudores, tudo que é coisa, Patativa nos fala. Escolher uma perspectiva para vê-lo entristece, limita o poder de alcance do vôo. Vale indagá-lo a partir do pedaço oral ou do semiótico? Pois bem, serão os dois. Seguiremos colocando em linhas o que os sons e as palavras nos re-significam. O verbo ‗colocar‘ é bem mais natural, vem às mãos e não à mente. Teceremos diálogos com a oralitura que Zumthor nos explicou, com a semiótica de Peirce que Santaella e Nöth nos ajudaram a decifrar. 142 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Com as contribuições teóricas de Cascudo, Candido e Braulio Tavares, refletiremos sobre este ‗lugar‘ de pertença do poeta, entre a cultura acústica e a letrada. Sobrevoaremos o pensar da palavra no terreno da representação gráfica, sonora e conceitual, plainando sobre a tradição oral africana. Analisaremos a presença e a importância da construção rítmica da palavra como voz. Nossos sentidos, visão e audição, estarão interligados, inseparáveis, na poesia de Patativa, como teia de sentido para o imaginário. Sua arte em versos é vôo, invenção da palavra. Seus poemas trazem as imagens como fabulário da voz. A poesia do Pássaro do Sertão é um livro de fotografias, a sonoridade do seu ninho é resgate da contação de histórias do povo nordestino. Palavras-chave: Patativa, Africanidade, Oralidade, Semiótica, Poesia. Lorena Gois de Lima UFCG/UEPB A CONDIÇÃO DA MULHER NEGRA NAS OBRAS A COR PÚRPURA E PRECIOSA, REPRESENTADA PELAS PERSONAGENS CELIE E CLAIREECE PRECIOUS JONES O artigo intitulado, A CONDIÇÃO DA MULHER NEGRA NAS OBRAS A COR PÚRPURA E PRECIOSA, REPRESENTADA PELAS PERSONAGENS CELIE E CLAIREECE PRECIOUS JONES, apresenta uma abordagem comparatista em que se busca analisar a condição das personagens em cada obra, considerando que ambas passam por uma situação de violência, de privações e de preconceito. Tomando como base o engajamento das escritoras Alice Walker e Sapphire pela causa da mulher negra, percebe-se que os dois livros fazem uma denúncia a injusta condição humana de que é vítima o negro, no caso específico a mulher negra. Tomando como foco principal a questão da mulher negra americana, encontramos em A cor púrpura e em Preciosa duas mulheres que se relacionam pela triste condição humana que vivem. São duas histórias que foram escritas em épocas diferentes, mas que, no entanto trazem a tona uma mesma realidade social marcada pelos abusos, pela violência contra a mulher e pelo 143 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN preconceito. Dessa maneira, farei aqui um estudo comparativo buscando levantar essas questões e outras características que as unem. Lúcia Helena de Brito UECE Memória de Mestres: testemunho de tradições e sociabilidades O objetivo deste trabalho é destacar a centralidade da memória no processo de transmissão de saberes e práticas culturais de tradições populares como formas de sociabilidade. O ato de rememorar e narrar é uma atividade de reconstrução de experiências compartilhadas no passado cuja legitimidade e sentido ancora-se naqueles que se reconhecem no relato. Assim, formam-se as comunidades de testemunhos, afirmando o aspecto da ‗presentificação‘ da memória, dado que o passado rememorado indica vínculos remanescentes desse passado, no presente. As práticas culturais de tradições populares, como as festas dos Reis por nós examinadas, atravessam gerações por se constituírem mediação sociabilidade, agregando sentidos, reafirmando laços de pertencimento e identidades. Assim, se estruturam as condições de possibilidades para a existência do mestre – aquele que se destaca pela sua capacidade de, por meio da oralidade, transmitir os saberes herdados, seus sentidos e significados. Mediadas pela memória dos mestres, as tradições, no campo de luta em que se estabelecem diferentes culturas, afirmam sociabilidades substanciadas por crenças, celebrações e festejos. Palavras-chave: Memória; cultura popular; sociabilidade. Lúcia Maria Pacheco UFRN Dança do Lindô: Transmitindo os batuques para o interior do Maranhão Uma característica da cultura popular é a transmissão oral e coletiva, permitindo que as manifestações culturais sobrevivam aos processos de globalização. A dança possui uma linguagem universal que aproxima e une as pessoas expressando uma construção e 144 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN simbólica da cultura. Esta pesquisa tem como objeto de estudo a transmissão oral da Dança do Lindô praticada pelo grupo Batalhão Real com espaço de análise das relações estabelecidas desta manifestação artístico-cultural. A dança possui heranças das culturas africanas como a batida do tambor na marcação dos passos e foi ensinada nas senzalas para os filhos que transmitiram para as futuras gerações. Metodologicamente, a reflexão é pautada pela história oral da vivência de campo com a Mestra do Lindô, Dona Francisca, utilizando entrevistas gravadas, observação direta e participante, além do registro digital do grupo guiado pela perspectiva folkcomunicacional. Os resultados da pesquisa mostraram que a Dança do Lindô existe independente da utilização da mídia como meio de sobrevivência. Sua existência consiste em criar mecanismos próprios de difusão nas comunidades, bairros, associações. Lúcia Trajano Santos Rosilda Alves Bezerra - Orientadora UEPB A lei 11.645/08 e a inclusão dos conteúdos afrobrasileiro e indígena nos conteúdos de Língua Portuguesa e Literatura O presente trabalho apresenta os resultados desenvolvidos a partir de um estudo de campo, que trata da análise da aplicação dos conteúdos de História e Culturas Africanas, Afro-Brasileiras e Indígenas nos currículos escolares da educação básica institucionalizados pela Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Como proposto no início da pesquisa, a implantação desses conteúdos no currículo escolar provocou uma reflexão e discussão mais apurada sobre a temática da exclusão racial e, consequentemente, da discriminação durante a aplicação dos conteúdos propostos pela Lei 11.645/08. Buscou-se criar uma via de extrapolação crítica do ideário histórico eurocêntrico e ideológico ao longo das intervenções. A proposta de implementação curricular calcado na lei em referência incluiu aspectos da história e da cultura, como formadores da população brasileira, a partir dos grupos étnicos - negros e indígenas, e sob essa ótica buscou-se apoio nas teorias identitárias de Hall (2009), em uma perspectiva de (re)construção identitária, a partir de novos referenciais histórico- 145 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN culturais na participação construtiva de nosso país de afro-descendentes e indígenas. Em Bhabha (2007), referencial para a prática discursiva textual como ação estratégica à transformação social, estratégia capaz de constituir elementos valorativos de nação em movimento de suplantação de base sócio-econômica da visão ocidental sobre os Estados-nação do terceiro mundo. Palavras-chave: Culturas, Identidade, Currículo. Luciana Eleonora de Freitas Calado Deplagne UFPB Oralitura e afirmação da negritude nos Contes et Nouveaux contes d´Amadou Koumba do escritor senegalês Birago Diop Essa comunicação tem o intuito de apresentar as coletâneas de contos tradicionais reunidos pelo escritor senegalês Birago Diop, intituladas Contes d´Amadou Koumba e Nouveaux contes d´Amadou Koumba, publicadas em 1967 e 1958, que correspondem a um verdadeiro patrimônio da literatura senegalesa, e da Literatura Negro-Africana de expressão francesa, em geral. A comunicação focalizar-se-á na noção de ―oralitura‖ e afirmação da identidade negra, destacando a presença dos animais nos contos africanos, que em um surrealismo existencial aparecem como fantasias do comportamento humano. Apesar de guardarem a natureza específica a cada um eles agem e apresentam vícios e qualidades, comportamentos humanos em uma verdadeira pintura sócio-cultural do povo wolof. Palavras-chave: oralitura – negritude – literatura negro-africana de expressão francesa. Luciany Aparecida Alves Santos UFPB UMA (RE) LEITURA DA FORMAÇÃO DA LITERATURA ORAL BRASILEIRA: AS CONTRIBUIÇÕES DOS NARRADORES ORAIS AFRICANOS A cultura popular foi usada por diversas Nações como elemento de coesão política para a construção de uma identidade de Estado una. No século XIX o Brasil buscava a 146 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN estabilização de sua unidade política através da afirmação de identidades nacionais. Para isso, recorreu-se a diversos estudos para constituir tradições nacionais. No final do século XIX Sílvio Romero escreve Estudos sobre a poesia popular do Brasil. No começo do século XX Luis da Câmara Cascudo seguindo a mesma linha de pesquisa escreveu o livro Literatura Oral no Brasil. Essas obras fazem parte de um conjunto de narrativas de fundação da literatura popular brasileira que se agregava como parte formadora da identidade nacional. Essas pesquisas apontavam uma origem portuguesa para a literatura oral, origem que trouxe como mitos de representação o período medieval português, o trovador e as cantigas européias. A partir de uma (re) leitura desses estudos, esta comunicação pretende fazer uma reflexão sobre qual o lugar atribuído para as influências negras na literatura oral brasileira. Questionaremos as análises unilaterais que colocam como influências e/ou origens únicas da poesia popular as influências européias reivindicando a presença das contribuições dos narradores orais africanos (griots) nessas literaturas. Palavras-chave: Literatura oral; Griots; Cantador Nordestino. Lucicleide da Silva Araújo Sumara Leide da Silva UFRN Da senzala ao corpo: dialética das representações de gênero a partir das narrativas freyriana (preconceitos na sociedade escravista brasileira e os silêncios da história) Este artigo busca analisar as representações de gênero em duas obras consagradas na historiografia brasileira. Utilizaremos, para tanto, Casa Grande e Senzala, assim como Sobrados e Mucambos, de Gilberto Freyre, procurando sob um olhar crítico, desconstruir os estereótipos legitimados a partir de um conceito de ―democracia racial‖, no qual a pluralidade étnica destes sujeitos é apresentada como sendo assimilada passivamente na cultura luso brasileira do período colonial. Nossa pretensão é examinar os aspectos estruturais da violência que marcou a história da colonização do nordeste dos engenhos e quilombos, sobretudo, no que diz respeito ao comportamento de homens 147 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN e mulheres, escravos, silenciados em suas especificidades por boa parte de trabalhos historiográficos voltados aos trabalhos de gênero e sexualidade. Palavras-chave: Gênero; Preconceito; Gilberto Freyre. Lucila Pereira Dutra de Freitas UEPB ANTÚRIO VERMELHO COM REBORBOS DE BARRO O antúrio é uma flor cultiva nos trópicos. Ela tem uma beleza exótica que atrai os olhares das pessoas. Parece frágil, mas é o contrário, ela é resistente às diversidades ambientais, lutando contra a seca, os ventos e as tempestades. No livro O alegre canto da perdiz, de Paulina Chiziane, a autora ao retratar a feminilidade e o sexo da personagem Delfina, descreve como um antúrio vermelho com rebordos de barro. A flor Delfina atraia os homens com sua beleza exótica para conseguir o que queria. Ela era prostituta e com o seu trabalho queria extirpar as misérias, as desigualdades existentes no mundo colonial. Sabia que para vencer e para ter status de uma sinhá branca teria que casar com um homem branco e ter filhos mulatos. O presente trabalho tem como objetivos analisar através dos discursos encontrados no livro citado acima as consequências da colonização na vida da personagem principal Delfina e mostrar quais foram os recursos utilizados por ela para sobreviver ao sistema cruel e desigual chamado colonização. Para tanto, iremos ter como apoio teórico os estudos sobre as relações de gênero de Peter Stearns, o retrato do colonizado com Albert Memmi, sobre prostituição com Simone de Beauvoir, sobre os excluídos da historia, as mulheres com Michelle Perrot; História, colonialismo e identidade de Moçambique com Luís Cabaço, e por último Hall que discorre sobre a crise de identidade. Palavras-chave: mulher, colonialismo e identidade. 148 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Lucrécio Araújo de Sá Júnior UFRN Ora por nós/Oyá por nós: a movência das performances tradicionais no imaginário popular O presente trabalho se embasa numa pesquisa focalizada na Tradição Oral, especificamente no canto popular religioso que se manifesta em peformances litúrgicas cíclicas de sociedades com ‗reportação arcaica‘ (cf. SÁ JÚNIOR, 2009). No universo da religiosidade popular do Brasil é possível encontrar uma confluência de crenças, de um lado existe a ideologia oficial cristocêntrica, do outro, a dimensão popularizada com cultos variados; além do cânone católico existem credos, valores, idéias e exercícios de práticas de fé genuínas, ligadas ao imaginário africano. Assim é que em algumas manifestações populares o festejo é celebrado com a música remanescente da tradicional liturgia romanizada aplicada às trajetórias de feitiçaria. Nas crenças do imaginário popular é possível destacar a existência de textos orais que servem a performances rituais vertidas tanto aos olhos dos antigos deuses da África quanto aos santos católicos. Dessa forma, esta proposta de análise objetiva abordar a movência cultural que configura o texto oral como suporte para a produção simbólica de cosmovisões várias. Os dados da pesquisa revelam que no processo de seleção e uso do texto cantado em performance ritual, as culturas populares operam uma manipulação, de maneira que os cantos acabam por ser totalmente transformados no sentido de um modelo performativo orquestrado, dirigido à ordenação da vida dos agentes dos cultos em sociedade. É nesse sentido que os cantos litúrgicos assumem o estatuto de elementos pertencentes a uma dada cultura tradicional. Palavras-chave: Tradição oral; performance; movência; ritos; religiosidade. 149 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Luís Antônio Costa Silva Ben-Hur Bernard Costa IFAL IMAGEM E MENSAGEM: O PAPEL MIDIÁTICO DO NEGRO NA PUBLICIDADE INSTITUCIONAL – UMA DISCUSSÃO SOBRE A CAMPANHA DO IPTU EM MACEIÓ-AL O objetivo deste trabalho é contribuir para a discussão acerca das relações de interveniência entre os instrumentos midiáticos e a difusão de idéias racistas na sociedade brasileira. Convencionou-se a assumir no Brasil um mito de que o país representa um modelo de democracia racial. As práticas do cotidiano, no entanto, revelam que esta forma de racismo invisibilizado não institucional, mas ostensivamente, ideológico está igualmente sedimentada na estrutura social brasileira e ratificada pela produção midiática geralmente carregada de estereótipos e distorções quando trata do papel do negro. O presente artigo propõe-se a analisar as peças publicitárias da campanha de incentivo ao pagamento do IPTU, promovidas pela Prefeitura da Cidade de Maceió (AL). Nelas, a imagem do negro é explorada em diversas situações em nenhuma das peças, contudo, o personagem negro é exibido como o cidadão – aquele que paga o imposto, mas sempre como o beneficiário das políticas públicas resultantes do pagamento do tributo pela classe dominante convencional. Ou seja, demonstra-se o papel relevante da mídia enquanto difusora do pensamento segregacionista. A Pesquisa empírica pautou-se em avaliar a posição do negro, como um elemento imagético da publicidade, que mesmo representando uma realidade social indiscutível, permanece sendo posto como um cidadão de segunda classe, dependente do suporte público e incapaz de promover a própria vivência. Questiona-se, portanto, até que ponto é perceptível o lugar subalterno do negro no discurso publicitário, mesmo nos institucionais, e como essa colocação é interpretada e reconhecida pelos diversos segmentos sociais. Palavras-chave: mídia, racismo, discurso. 150 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Luiz Antonio de Carvalho Valverde UNEB Transcendência e imanência na superação do pequeno Eu Uma leitura da obra de Osório Alves de Castro A escrita de Osório Alves de Castro resguarda espaços de subjetivação para além dos pares opostos e excludentes, do tipo Eu/Outro, negro/branco, conceituados em categorias territorializantes, que trabalham com a possibilidade de haver um Eu substancial, calcado em traços culturais e valores datados, extraídos ao fluxo da existência. Cumpre ressaltar o papel de formação e educação do olhar, a cargo de inúmeras passagens dos romances Porto Calendário, Bahiano Tietê e Maria fecha a porta prau boi não te pegar, em que, para além da realidade agenciada pelos discursos de tomada de poder sobre os recursos da natureza: mineral, biológica e humana, há a possibilidade de uma transcendência do homem mecânico, racionalista, auto-centrado. Essa superação do estado de subjetivação primária, gustativa, aponta para uma consciência superior, em estado de imanência, convivência íntima e espiritual, com seres e coisas que, na idéia de Lévinas, poderia nos levar a um além de si, ainda que passando pelo sofrimento casual, que representaria o salto do estado de certeza, para o indefinido instante. Assim, o homem se coloca como sensibilidade, usando os sentidos para buscar a intuição, bergsoniana, que contrapõe a imagem literária ao pensamento intelectual, como ferramenta para pensar e traduzir o mundo. Palavras-chave: literatura, transcendência, imanência. 151 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Luiz Paulo de Carvalho Ferreira Rosilda Alves Bezerra - Orientadora UEPB CURRÍCULOS ESCOLARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA ANÁLISE PRÁTICA DOS CONTEÚDOS INSTITUCIONALIZADOS PELA LEI 11.645/08 Esta discussão apresenta os resultados desenvolvidos a partir de um estudo de campo, que trata da análise da aplicação dos conteúdos de História e Culturas Africanas, AfroBrasileiras e Indígenas nos currículos escolares da educação básica institucionalizados pela Lei nº 11.645/08. Esta pesquisa se reteve na inserção dos conteúdos de Literatura e estudos de Língua Portuguesa apresentados na Escola Monsenhor Emiliano de Cristo na cidade de Guarabira-PB. A metodologia utilizada se fez por meio de levantamentos bibliográficos, observações, questionários e intervenções, o que possibilitou avaliação dos conteúdos escolares e suas mudanças ao longo da pesquisa nas turmas em análise, bem como a possibilidade construtiva de uma visão diferenciada dos aspectos afro em relação aos discentes e docentes. A implantação desses conteúdos no currículo escolar provocou uma reflexão mais apurada sobre a temática da exclusão racial, durante a aplicação dos conteúdos propostos pela Lei 11.645/08. Buscou-se apoio nas teorias identitárias de Hall (2009); uma perspectiva de (re)construção identitária, a partir de novos referenciais histórico-culturais nas teorias de Bhabha (2007); referencial para a prática discursiva textual num sentido político de ação estratégica à transformação social, em Munanga (2009), e uma discussão sobre identidade negra, em Fanon (2008). Palavras-chave: Culturas. Identidade. Currículo. Lylian José Félix da Silva Cabral UFPE Oralidade, escrita e memória: os contadores de histórias e as narrativas recifenses do século XXI A presente pesquisa faz parte do programa de Especialização em Cultura Pernambucana do Departamento de Letras, promovido pela Faculdade Frassinete do Recife(FAFIRE) e 152 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN tem por escopo discutir, como os de contadores de histórias estão presentes em sociedades urbanas consideradas modernas, já que inicialmente os espaços habitados por eles eram, em geral, o das sociedades ditas tradicionais. As malhas tecidas pelas palavras de um contador de histórias transcende o tempo cronológico, ultrapassa as barreiras do real e cria uma espécie de esqueleto social sobre o qual, é constituída uma determinada sociedade. A nossa busca para encontrar a origem de tudo, para percorrer os espaços que não foram pisados por nossos pés, mas pelos pés dos nossos ancestrais, nos diferenciam dos outros seres que habitam a Terra, queremos sempre contar o que aconteceu há muito tempo atrás, quando os ares respirados eram outros, quando as cores eram outras, quando a vida tinha outro sentido e as razões de viver eram, indiscutivelmente, diferentes das nossas de hoje. Durante o desenvolvimento do projeto nos deparamos com uma infinidade de tipos de contadores de história, desde os mais tradicionais, como no caso dos cordelistas, que fazem parte do imaginário recifense, até os mais modernos com atitudes inovadoras, como os grupos de contadores que realizam atividades em escolas, hospitais e outros espaços desvencilhados dos educacionais. Também será possível discutir qual a verdadeira essência dos contadores de histórias e como os meios de comunicação atuais influenciam as suas performances e narrativas, além de detectar os pontos de convergências e divergências que existem entre oralidade e escrita. A pesquisa é embasada em teóricos que abordam às temáticas da memória, oralidade e escrita como, Paul Zumthor, Walter Benjamin, Gaston Bachelard, Henri Bergson, Maurice Halbwachs, Robert Darnton, além de outros como Stuart Hall, Zilá Bernd e Edouard Glissant, que discutem como através das narrativas (orais e escritas) se constituem o imaginário e a identidade de determinada sociedade. Palavras-chave: Oralidade, Escrita, Memória, Contadores de história de Recife, Imaginário. Magnaldo Oliveira dos Santos UNEB OJÓ ORÚKO: UM REENCONTRO COM A ANCESTRALIDADE NEGRA Essa pesquisa tem como tema Ojó Orúko: um reencontro com a ancestralidade negra. Tal expressão significa ―o dia do nome‖ e representa o rito de iniciação e pertencimento 153 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN às comunidades sacras de matrizes africanas. Trata-se da (re) apropriação e (re) afirmação do nome africano, identidade primeva do iniciado trazida a público na saída do ìyàwó. Os objetivos gerais da pesquisa são: evidenciar a relevância do Ojó Orúko para o reencontro com a ancestralidade negra e destacar a língua yorùbá como estruturante de instituições, tradições e memórias das comunidades-terreiro nàgó/kétu. Os específicos: perceber as relações simbólicas possíveis entre Ojó Orúko, ancestralidade e identidade africano-brasileira; revelar a arkhé do povo yorùbá e as comunidades-terreiro nàgó/kétu como territórios complexos e dinâmicos de reelaborações de cultura, tradições e memórias do povo negro; anunciar a língua yorùbá como princípio dinâmico e estruturante de instituições, tradições, memórias das comunidades-terreiro nàgó/kétu e contrastar o paradigma de educação eurocêntrico e a concepção de educação pluricultural geridas nas comunidades-terreiro. Como questão relevante, busca-se conhecer: Qual a relevância do Ojó Orúko para o reencontro com a ancestralidade negra? Quanto à metodologia, optou-se pela abordagem qualitativa, revisão bibliográfica e pesquisa de campo de inspiração etnográfica. A técnica foi Entrevista Narrativa, fundamentada na metodologia da História Oral Temática. O lócus é a Comunalidade Ilé Àse Òpó Àfònjá e os participantes, os iniciados na tradição nagô/ketu, dessa comunalidade, totalizando 06 entrevistados. Mahely Florenço Barros UFPE CONSTRUÇÃO EM RUÍNAS: SOBRE AS IMAGENS DO MEDO EM BARROCO TROPICAL O penúltimo romance do escritor angolano Agualusa é ambientado numa Luanda futurista (2020) em que a realidade se confunde com o fantástico num labirinto de imagens paradoxais e oximoros, sendo o ‗barroco‘ do título o método de criação dos próprios personagens – por vezes perdidamente lúcidos neste lugar onde ‗até o futuro é arcaico‘. O presente trabalho se propõe a analisar o romance do ponto de vista do imaginário, revelando aspectos dissimulados pelas diferentes camadas narrativas, a saber, do próprio enredo ou em intertextos como contos africanos. A imagem central 154 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN será a do ‗anjo negro‘, o anjo é uma figura tradicionalmente relacionada à espiritualidade – como intermediário entre Deus e os homens –, entretanto, no romance ele aparece associado às noites em Luanda, plenas de personagens mergulhados na miséria, de diferentes maneiras, configurando-se, por esta razão como um símbolo síntese da luz e do obscurantismo presentes neste surpreendente espaço. O medo é a condição de sobrevivência desta sociedade, que se abstém de falar de modo que a palavra sagrada supostamente dita pelos anjos, neste caso, é o silêncio. Maíra Cordeiro dos Santos UFPB MEMÓRIA ORAL NOS MANUSCRITOS CULINÁRIOS FEMININOS A cozinha e as atividades domésticas têm sido, historicamente, relacionadas às mulheres como atributo natural de sua identidade. Assim como a leitura, a escrita é frequentemente um fruto proibido: como exercício oprimido, é ao mundo calado e permitido das coisas íntimas que as mulheres confiam sua memória. A partir daí, no espaço privado, surgiu a tradição dos escritos particulares, única escrita permitida às mulheres: cartas, diários, livros de anotações e cadernos de receita culinária. O presente artigo pretende analisar as marcas da memória e da oralidade nos manuscritos culinários femininos do século XX e XXI da cidade de Nova Palmeira, Paraíba, a partir de marcas lingüísticas orais e da tradição oral das mulheres, além de identificar como eles contam e recriam o mundo inscrito na memória individual e coletiva. A partir de discussões acerca da escritura, oralidade, memória e gênero, percebe-se que os manuscritos culinários revelam práticas orais registradas por mulheres pela transmissão das memórias e das identidades construídas e constituídas na sociedade em que vivem, a partir das histórias orais ouvidas. Como a cultura oral é centrada na voz, a cadeia da memória no texto oral é dinâmica: o próprio nomadismo vocal desterritorializa a memória. Vê-se aí, portanto, a presença da memória como forma de contribuir para a permanência e transmissão da cultura oral registrada nos manuscritos culinários femininos. Para tanto, utilizar-se-ão as teorias de Montanari (2008), Chartier (2002), Le Goff (2003), Bosi (1994), Foucault (2002), Ong (1998) e Paul Zumthor (1993; 1997). 155 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Maíra Samara de Lima Freire UFRN Reflexões sobre organização política e relações de parentesco em uma comunidade quilombola do RN O presente trabalho tem como foco a ―Comunidade de Capoeiras", grupamento rural negro, localizada no município de Macaíba (estado do Rio Grande do Norte), composta por cerca de 300 famílias que, nos últimos sete anos, iniciaram processo de reconhecimento enquanto ―comunidade remanescente de quilombo‖. Procuro apreender, a partir dos modelos de organização social pré-existentes, em particular os arranjos familiares e de gênero, a formação de associações de representação: Associação dos Moradores Quilombolas de Capoeiras e Associação de Mulheres Quilombolas de Capoeiras, como instrumento político acionado pelas redes que compõem o grupamento familiar no reconhecimento identitário e territorial. É no diálogo (por vezes tenso) entre modelos de organização política que tais grupos constroem seus projetos políticos. Marcela Ribeiro UFRN REVITALIZAÇÃO DA CAPACIDADE DE FABULAR: UMA EDUCAÇÃO SOBRE ÁFRICA A construção social do discurso oral é para as práticas de letramento pedra fundamental: sua importância é primordial para o desenvolvimento da linguagem escrita, pode-se diser que é da oralidade que nasce a escrita em cada indivíduo. Sendo assim, ABÍLIO e MATTOS (2000) indicam o caminho para a aquisição e evolução da linguagem escrita pelo uso das narrativas da tradição oral em sala de aula. Fala-se na ―revitalização da capacidade de fabular‖ pelo professor, transformando-o num dieli, buscando ressuscitar a paixão pelas práticas da oralidade, pela palavra viva, tanto no professor como no aluno. Nesse ponto de resgate da oralidade não pode se negar sua relevância nas origens da humanidade, muito menos sua relevância nas culturas marginais, como podemos ressaltar seu caráter sagrado na cultura africana, na qual o laço entre homem e palavra é 156 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN mais forte. O presente artigo tem como principal objetivo resgatar a oralidade como possibilidade de desenvolvimento das práticas de leitura e escrita, com intenção de dessacralizar a letra, acrescentando a ela voz, fazendo-se o encontro entre o universo e o inteligível, como também resgatar a possibilidade de fabular, colocando o professor como um contador. Para tanto serão utilizadas canções brasileiras cuja temática é a cultura africana, unindo esse canto místico ao letramento literário de Rildo Cosson, aos estudos sobre a poética oral de Paul Zumthor e a tradição viva de A. Hampaté Bá. Palavras-chave: Oralidade. Letramento. Cultura africana. Márcia Ferreira de Carvalho UFPB ANÁLISE SEMIÓTICA DE NARRATIVA POÉTICA ORAL O presente trabalho constitui uma análise semiótica de narrativa poética oral do ciclo temático de mulher sofrida. Para tanto, foi realizado um levantamento em coletâneas brasileiras ou ibéricas, de dezessete versões da narrativa poética Aparição, que trata da morte da mulher amada e de sua aparição depois de morta. Apesar de terem a mesma origem, cada versão apresenta particularidades quanto à forma, dependendo do ambiente e do momento em que foram colhidas, o que pode ou não afetar os valores ideológicos das mesmas. A partir dessa concepção, levantamos o seguinte evidenciam de maneira a contribuir para a compreensão da ideologia? Para respondê-lo, consideramos como objetivo geral a análise, do ponto de vista da semiótica greimasiana das versões escolhidas, como corpus, a fim de descobrir a ideologia subjacente aos textos. Como Objetivos específicos, realizamos um estudo da Literatura oral, evidenciando a classe temática de amor desgraçado e escolhendo desta a narrativa poética oral Aparição. Desta preparamos as versões Afonso XII, Pomba sem fel, Iracema, Alfredo e Margarida e A sete de setembro para análise dos níveis narrativo, discursivo e fundamental. Por fim, uma vez realizada a análise, foi possível detectarmos 157 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN a existência de dogmas e tabus que mantêm viva a ideologia do preconceito e exclusão social, onde as mulheres, assim como os negros e os pobres, são as principais vítimas. Palavras-chave: Semiótica. Oralidade. Ideologia. Márcio Gleybson Rodriges da Silva Carmen Margarida de Oliveira Alveal UFRN NEGROS NO BRASIL: A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA ESCRAVA COMO UM MEIO DE RESISTENCIA Durante o período do regime escravista, o Brasil recebeu um grande número de africanos, de etnias diferentes que tinham seus próprios traços culturais. Junto com a escravidão vinham novas culturas, resistiram e se mesclaram, formando novos traços culturais. Para melhor suportar o cativeiro, começaram a adotar traços da cultura europeia, e participavam dos ritos católicos, principalmente, do batismo. Os africanos chegaram com seus ritos e sua forma de organização e faziam uniões matrimoniais segundo tais costumes, quando possível. No entanto, essa união não era legalmente aceita. Para legitimar suas uniões e conseguir alguns privilégios em relação aos outros começaram a aderir ao casamento católico. Com o casamento poderiam ter uma série de privilégios, como casas individuais, uma maior autonomia e algumas vezes terra para cuidar. Para o senhor de escravos, o casamento dava uma segurança maior em relação ao escravo, pois dificultava a sua tentativa de fuga já que o mesmo estava ligado por laços familiares a outro. Quando se fala resistência logo vem à mente imagens de fugas, assassinatos, suicídios, danos à produção etc. O objetivo deste trabalho é apresentar a formação da família escrava como um meio de resistência. A utilização feita pelos escravos, dos recursos que estavam ao seu alcance (falsas conversões, batismos, casamentos etc.) para preservarem seus traços culturas. Passar pelas convenções sociais dos brancos utilizadas para poderem proteger – se. Sendo assim, mantinham a resistência cultural a partir das práticas dos costumes africanos e amparados pelo ―escudo‖ do casamento católico. Palavras-chave: Família escrava, casamento, resistência. 158 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Marcos Salviano Bispo Queiroz UESB GUARDE MEU ANEL BEM GUARDADINHO: PRESERVAÇÃO E TRANSMISSÃO DE NARRATIVAS MÍTICAS NO ILÊ AXÉ IJEXÁ A partir da compreensão de que as narrativas míticas contribuem para a construção de aprendizados do viver e o fazer diários nas comunidades religiosas de matriz africana, pretendemos apresentar, neste trabalho, o Ilê Axé Ijexá Orixá Olufon, terreiro de candomblé, de origem nagô, consagrado a Oxalá, situado na cidade de Itabuna-Bahia, enquanto espaço de preservação e transmissão deste legado africano, bem como, descrever em quais momentos da liturgia desse terreiro, estas narrativas podem ser percebidas. Para tanto, utilizaremos o referencial teórico de Callois (1978), Eliade (1969), Bastide (2006), Amaral (2002), Póvoas (2006). Palavras-chave: Tradição oral, legado africano, narrativas míticas, candomblé. Maria Josivânia de Souza Pinto Aurenísia Almeida de Mesquita Marcos Vinicius Medeiros da Silva UERN DOIS MUNDOS EM AGONIA: O DIÁLOGO POSSÍVEL ENTRE O QUINZE, DE RACHEL DE QUEIROZ, E OS FLAGELADOS DO VENTO LESTE, DE MANUEL LOPES Os romancistas nordestinos de 1930 caracterizaram-se por adotarem visão crítica das relações sociais, ressaltando o homem hostilizado pelo ambiente, pela terra, pela cidade, devorado pelos problemas que o meio lhe impõe. As obras nordestinas escritas na década de 30 se inseriram na linha do Realismo crítico, que vigorou durante toda a década na literatura brasileira. O objetivo deste artigo é, a partir dos romances O quinze, da escritora cearense Rachel de Queiroz, e de Os flagelos do vento leste, do 159 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN caboverdiano Manuel Lopes, proporcionar um diálogo literário entre Brasil e Cabo Verde, sobretudo levando em consideração o Neorrealismo brasileiro da década de 30, que muito marcou a literatura de língua portuguesa. Mas longe de se fazer um juízo de valor quanto à influência de um sistema literário sobre outro, é enfatizado os processos de autoidentificação e interdependência entre as literaturas do Brasil e de Cabo Verde. Também se observa as manifestações e configurações utópicas propulsoras dos atos de resistência na representação dos personagens brasileiros e caboverdianos fixados nos seus respectivos espaços. Há nos romances dos autores citados forte tendência à denúncia das injustiças sobre um povo votado ao abandono e à miséria. Percebe-se ainda haver entre os autores uma semelhança não apenas temática e ideológica mas também uma afinidade na concepção que tinham em relação a função social do texto literário. Palavras-chave: Neorrealismo de 30, diálogo, resistência. Margarete Nascimento dos Santos UNEB “Nossa história é uma trança de histórias”: o crioulo e a força da tradição oral nas Antilhas Francesas O termo crioulo, que designa a língua falada pelos antilhanos em seu cotidiano, no decorrer dos últimos séculos passou por processo de ressignificação até chegar ao conceito como é pensado atualmente. O uso do crioulo nas Antilhas de língua francesa suscitou nas últimas décadas grandes discussões entre escritores, políticos, teóricos e população, sobretudo no que diz respeito à sua aceitação e normatização, no entanto de língua excluída foi ganhando força e espaço no meio acadêmico. Mas ainda hoje definir o espaço e a significação deste idioma na cultura antilhana gera polêmica e alimenta a chama das questões ditas identitárias. Porém, é esta língua nascida da colonização, a grande responsável por ainda manter vivas as tradições orais nas Antilhas e é por isso que os escritores contemporâneos defendem firmemente a procura das raízes locais na oralidade, contrários ao que muitos acreditam sobre o crioulo, esses poetas e prosadores 160 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN o chamam de ―arrulho divino‖ e intraduzível. São eles que a partir da década de 30, tendo Aimé Cásaire como grande representante, que começam um movimento de reivindicação do espaço do uso do crioulo na sociedade. Eles citam a língua em seus escritos e incitam outros a fazerem uso dela. Eles valorizam a oralidade e a tradição oral através do crioulo e fazem destes a sua bandeira. O objetivo deste trabalho é, portanto realizar breve análise sobre as questões que envolvem a tradição oral e o seu importante papel na consolidação do crioulo. Palavras-chave: Crioulo. Tradição Oral. Memória. Antilhas Francesas. Margareth Maria de Melo Juliana Campos Vicente UEPB TESSITURA DA IDENTIDADE NEGRA: UM OLHAR PARA HISTÓRIA DE VIDA O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados parciais de uma investigação com duas alunas do Curso de Pedagogia sobre suas histórias de vida e as táticas usadas por elas para tessitura de suas identidades e das redes de relações que são trançadas nos cotidianos. O mesmo é proveniente da pesquisa em andamento Formação Docente e Etnicidade Afrobrasileira, realizada na Universidade Estadual da Paraíba, no campus I, de Campina Grande. Adotou-se como metodologia a pesquisa nos/dos/com os cotidianos e história de vida, apoiadas em autores/as como Alves e Oliveira (2008), Bosi (2003), Portelli (1997) dentre outros. Os dados foram obtidos por meio de observações e conversas sobre a vida de cada uma das participantes. Foi observado nos cotidianos o quanto essas alunas assumem sua negritude, por isso foram escolhidas. Nas entrevistas se relatou que na infância as suas identidades sofreram algum tipo de discriminação por conta da estética negra, mas esses acontecimentos foram superados na convivência familiar. Assim, ficou demonstrado o quanto a família tem um papel singular na tessitura das identidades. Além disso, as pessoas são influenciadas por situações dos cotidianos e de acordo com elas, vão internalizando as informações vindas 161 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN do seu ambiente social e a partir de suas relações vão tecendo táticas (CERTEAU, 2007) de convivência e enfrentamento do racismo nestes ambientes, de forma que, suas identidades vão assumindo contornos e posturas de afirmação/negação da negritude e os usos que elas fazem dessa questão denuncia o racismo velado existente nos cotidianos. Palavras-chave: Negritude, histórias de vida, táticas, racismo. Maria Adriana Chaves do Nascimento Rodrigues UEPB POSSIBILITANDO A AUTOESTIMA DA CRIANÇA NEGRA NO ESPAÇO ESCOLAR A PARTIR DA (RE)CONSTRUÇÃO DAS LEITURAS E IMAGENS NA LITERATURA INFANTO- JUVENIL O presente estudo pretende analisar e evidenciar a autoestima da criança negra, enquanto uma experiência individual e coletiva, construída nos espaços sociais e através de suas representações nos livros de literatura Infanto juvenil. Assim a partir das iconografias como também das produções discursivas, perceber a existência ou não de preconceitos raciais em alguns livros de literatura Infanto¬- Juvenil. Uma vez que na educação Infantil e fundamental I, a leitura da criança sobre o mundo que a cerca, resulta diversas vezes pelas histórias infantis, pelo brinquedo e pelas brincadeiras presentes em seu cotidiano. Elementos como brinquedos, cantigas infantis, imagens contidas nos livros de literatura infantil aparentemente inocente, podem ser repertórios de estereótipos, modelos, estigmas que marcam a reprodução das desigualdades, ou seja, a presença da criança negra muitas vezes é invisibilizada nesses espaços a partir da negação da sua história e cultura e muitas das vezes são silenciadas nos currículos escolares. Logo, considerando a escola um espaço múltiplo e diversificado, de um processo de construção compartilhada de diversos significados, se faz necessário o respeito às diferenças. Desta forma, proporcionar as crianças, condições de ainda nas séries inicias se redargüir á concepções auto-excludentes da história e se constituir enquanto cidadão, sujeito ativo de sua história, através do reconhecimento da existência de uma sala de aula diversificada, na qual a criança encontre elementos da sua cultura 162 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN nesses espaços, sendo então dessa forma Visibilizar sua identidade individual e coletiva. Portanto, essa problemática se faz indispensável para propormos novas perspectivas na construção de novos olhares, representações e abordagens sobre a importância da desconstrução do preconceito e ao mesmo tempo da presença igualitária da identidade negra na história e na sociedade brasileira. Nossa pesquisa está subsidiada numa bibliografia específica sobre educação e racismo Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil, Criança negra, preconceito racial. Maria Angélica de Oliveira - UFPB Josilene Pinheiro-Mariz - UFCG EM UMA É ASSIM, A OUTRA É ASSADO: AS VONTADES DE VERDADE PELAS VOZES DOS GRIOTS Na África, narrativas orais contadas pelos artistas populares, conhecidos como Griots, constituem-se como um dos principais caminhos para a prática de ensinamentos da cultura, das crenças e das condutas morais de cada comunidade. Essas histórias plenas do fantástico, do maravilhoso e, sobretudo, dos encantamentos africanos foram transmitidas a várias gerações através dos séculos. Tomadas pela magia característica dessas narrativas, buscamos identificar, a partir da leitura discursiva do conto Uma é assim, a outra é assado, da tradição oral, as vontades de verdades em relação à visão maniqueísta: bem e mal, topos da literatura universal; assim como a identificação dos sujeitos mulher e homem. Ressalte-se que essa leitura é feita à luz da Análise do Discurso de linha francesa, alicerçando-se, principalmente, nas discussões foucaultianas acerca da relação saber/ poder/ verdade. Percebemos nos contos da tradição oral e, em especial, no referido conto, que tal visão maniqueísta se dá quando uma personagem é a essencialmente boa, sendo portanto premiada, enquanto a outra essencialmente má recebe como paga, por essa conduta, o castigo. Esse fato evidencia a vontade de verdade presente na formação social africana que para receber a premiação, o sujeito-mulher deve ser obediente, subserviente e estar sempre à disposição do sujeito-homem. Outra vontade de verdade revelada diz respeito ao lugar de saber/ poder do sujeito-velho que é 163 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN aquele detentor do conhecimento e a ele cabe ensinar a conduta, o jeito certo de sujeitomoral. Assim, através do ritual da contação de histórias, os griots são peça fundamental na formação do sujeito moral na sociedade africana. Palavras-chave: Vontade de verdade; Maniqueísmo; Sujeito; Discurso. Maria Carolina de Godoy Renato Corrales Nogueira – PUC – SP A relação entre homens e orixás no filme Besouro Este trabalho parte de estudos antropológicos, mais especificamente, da noção de obrigatoriedade discutida por Marcel Mauss, dos estudos sobre mitos sob a perspectiva de Lévi-Strauss e Mircea Eliade e de pesquisas a respeito dos orixás de Roger Bastide e Reginaldo Prandi para a análise da representação das relações entre homens e orixás que permeiam o enredo do filme Besouro (2009). Essa aproximação entre deuses e homens acentua, de um lado, o caráter heróico do protagonista nos moldes de narrativas tradicionais e, de outro, a forte presença da mitologia africana em nossa cultura no que se refere às obrigações existentes entre os ancestrais e seus filhos. Palavras-chave: orixás, cinema e obrigatoriedade. Maria Cecília de Lima UFU Livro didático de Literatura e a implementação da lei 10.639/03 Muitas novas tecnologias (mídias, blogs, orkuts, jornais etc) têm sido empregadas na educação. Em muitas escolas do ensino público, porém, o livro didático ainda continua sendo a ―tecnologia‖ mais empregada para o ensino de literatura, disciplina foco para a implementação da Lei Federal 10.639/03; que obriga o ensino de história e Cultura 164 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Afro-brasileira e Africana nas escolas brasileiras, em especial nas áreas de Educação Artística, de Literatura e História Brasileiras. Com base em vários autores (Aquino, 1998; Azevedo, 1987; Barbosa, 2006; Cavalleiro, 2000, 2001; Oliveira, 1994; Schwarcz, 2010; Sevcenko, 2003; Silva, 2004; Skidmore, 1976), e a partir de reflexões realizadas a relação entre a lei e discussões levantadas por Barbosa (2006) sobre a literatura brasileira, que afirma que estereótipos e caricaturas depreciativas referentes à população negra foram abundantes no Romantismo, no Realismo e na Semana de 22, realizamos, com suporte teórico e metodológico da Análise de Discurso Crítica (Fairclough 2001), análise do livro didático de Cereja e Cochar (2009) quando discutem essas escolas literárias. Nessa análise, temos como objetivo mostrar se nesse material didático os afrodescendentes são mostrados como escravizados subalternos do povo branco, inferiores ou como sujeitos que participaram, e participam, ativamente da formação do Brasil. O objetivo deste trabalho não se esgota aqui, pois, como professora de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, sabemos que implementar a lei requer reflexão, pois as mudanças não são fáceis, uma vez que a ideologia assim não o permite. Para que transformações comecem a acontecer, precisamos pensar criticamente dois pontos: a formação do professor e elaboração de livros didáticos. Preocupada com a formação de docentes e com a elaboração de material didático, analiso em Cereja e Cochar (2009), obra empregada em uma das escolas onde trabalho em parceria com alunos estagiários, com o intuito de mostrar o quanto a lei já foi, ou não, absorvida pelos produtores de livros didáticos, pois precisamos de material didático que não deixem professores à deriva no que se refere à implementação da lei para que não fiquemos, mais uma vez, apenas com a ilusão da liberdade. Palavras-chave: lei 10.639/03; livro didático de literatura. Maria da Conceição Pinheiro Araujo IFBA Revista Exu: um periódico baiano da Fundação Casa de Jorge Amado Na comunicação apresentarei os resultados de um projeto de pesquisa, com bolsa PIBITI/CNPq/IFBA, iniciado em 2009 e concluído em 2010, desenvolvido, no 165 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN IFBA/Salvador, pelo bolsista Victor Bispo, discente do curso de turismo, sob minha orientação. O corpus da pesquisa foi a Revista Exu (1987-1997), periódico publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado. A escolha dessa publicação coaduna-se com as propostas do Ministério da Educação, através da pauta de políticas afirmativas do governo federal que leva em conta as novas perspectivas includentes e antidiscriminatórias em termos de africanidades. Considera-se que o presente projeto responde às expectativas das ―Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana‖ (Ministério da Educação, outubro/2004). No tópico ―Ações educativas de combate ao racismo e a discriminações‖, o documento delega o ensino de história e Cultura Afro-Brasileira e Africana para algumas disciplinas, entre elas a literatura. O Projeto, também, responde às expectativas dos Grupos de Pesquisas aos quais estou vinculada, como líder. Privilegiando os estudos em um periódico baiano, pretendemos visualizar dois aspectos: 1) referente aos estudos de periódicos baianos, perspectiva do GP ―A Literatura de Jornal em periódicos brasileiros‖ da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana); 2) centrado na discussão sobre o papel ideológico do periódico no que concerne à valorização das culturas afro-brasileira e africana, respondendo aos propósitos da linha de pesquisa ―Linguagem, Literatura e Africanidade‖ do GP Linguagens e Representação do IFBA (Instituto federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia). Maria da Paz de Freitas e Sousa Colégio Dom Bosco Escola Estadual Educandário Presidente Kennedy PAI CONTRA MÃE – A VISÃO SOCIOLÓGICA DE MACHADO DE ASSIS SOBRE A ESCRAVIDÃO BRASILEIRA E O DISCURSO SILENCIADO DA VOZ NEGRA FEMININA A literatura do final do século XVIII no Brasil criou a atmosfera de um mundo mais concreto e real sobre a enorme desigualdade social e dos problemas sociais. Machado de Assis (1839-1908) no desenvolver da literatura e no ápice do realismo literário teceu enredos baseados na visão da historicidade e do povo brasileiro. A literatura de 166 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN maturidade está presente nas obras em prosa como nos contos literários machadianos. Tomaremos, como estudo nesse trabalho o conto ―Pai contra mãe‖, em que faremos uma análise de teor literário e sociológica na personagem Candido, Clara, Tia Mônica e principalmente sobre a condição da escravidão africana no Rio de Janeiro após abolição Machado na fase de maturidade nas letras realistas consegue compor um quadro verídico do que foi a sociedade brasileira no período da escravidão e após abolição da escravatura, com uma linguagem rica em detalhes de descrição, descreve uma narração do que foi a sociologia do escravo negro em territórios brasileiros. Negros fugidos não estavam nas zonas rurais do Brasil, e sim nos centros urbanos servido aos novos donos, burgueses e comerciantes. A toda uma retratação do cenário carioca e da condição do negro no conto ―Pai contra mãe‖, Candido sem emprego, sem sorte e sujeito perseguido por uma falsa ideologia de liberdade em leis. Perseguição, escravos fujões, castigos ferinos, falsa liberdade, miséria social, miséria sobre a condição humana do ser negro africano e a condição sociológica da mulher e seu discurso silenciado pela ironia e poder da sociedade ainda patriarcal. Teceremos uma visão de que arte é o espelho do homem na historicidade do concreto e na imitação das representações oitocentista e positivista. Palavras-chave: Conto machadiano, visão sociológica e o discurso feminino. Maria de Fátima Batista Costa Faculdade dos Guararapes / FAFICA Para caminhar entre nós: uma leitura do trabalho de Pablo Picasso a partir da arte africana Foi-me instigado pensar a questão da influencia que a arte africana exerce sobre Pablo Picasso e a possível relação com a questão da técnica. Tenho um afeto especial pala arte e tenho trabalhado há tempos essa questão, a saber, a questão da técnica e a relação com a obra de arte. Neste campo, Walter Benjamin é um dos expoentes com seu breve e grande texto a obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, onde trata da experiência técnicas do processo de criação e, sobretudo de reprodução da obra de arte. 167 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Picasso é um artista já desta época, que provoca uma descontração da arte clássica questionando a forma, sendo solicitado pelas manifestações artísticas de outras culturas só recentemente levadas em conta pelo ocidente. De forma dramática vai reinventar a representação. Picasso é influenciado pela arte africana, pela criação como primordial de uma existência dilacerada pela crise, pela guerra, pela dor, pelo grito que como faca corrói até o que não tem e não pode. Pois é, foi embalada por esta inquietação e já com o ponto de fuga latente que iniciei a investigação sobre a problemática. A arte africana por representar os usos e costumes dos grupos africanos não foge ao que de fato é a arte, no entanto, não esgota aí sua função, seu valor e seu significado. Maria de Lurdes Barros da Paixão UFRN RE-ELABORAÇÕES ESTÉTICAS DA DANÇA NEGRA BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE: Uma Análise sobre o Balé Folclórico da Bahia e o Grupo Grial de Dança O artigo revela o interesse no estudo comparativo sobre a Dança Negra elaborada e ressignificada em dois diferentes contextos sócio-histórico-cultural brasileiro. Para isto realiza-se uma análise das diferenças e similitudes nas re-elaborações etno-éticaestética-dramatúrgica-coreográfica do Balé Folclórico da Bahia/Salvador/BA e do Grupo Grial de Dança/Recife/PE a partir dos elementos presentes nos símbolos, mitos e danças de origem afro-brasileira. As questões levantadas apontam que estas danças podem ser fontes de produção artística e criação coreográfica concebendo uma proposição dramatúrgica para a Dança Negra Contemporânea Brasileira. O referencial teórico traz autores como Bastide (1983), Kerhouve (1997), Munanga (1999), Santos (2006), Santos J. (1996), Silva e Calaça (2006), Suassuna (1977, 2004) e Verger (1997) para ratificar as idéias apresentadas. Transpondo fronteiras geográficas e culturais, o texto apresenta resultados da pesquisa realizada no curso de Doutorado em Artes da UNICAMP no período de 2005 a 2009. Descrevendo as possibilidades de pesquisa e criação artística a partir da temática afro-brasileira sobre as relações tecidas entre corpo, 168 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN memória, tradição e contemporaneidade. A metodologia utilizada será a análise fenomenológica orientada na proposta da etnóloga Juana Elbein dos Santos. Palavras-Chave: Dança Negra, Memória, Tradição, Contemporaneidade, Re- elaborações Etno-Ética-Estética-Dramatúrgica-Coreográfica. Maria do Desterro das Neves Souza UFRN TERRA SONÂMBULA: TESTEMUNHO E MEMÓRIAS PERDIDAS Terra Sonâmbula, o primeiro romance do autor moçambicano Mia Couto narra a história de Moçambique pós-colonial, enquanto as guerrilhas internas ainda destruíam o pouco que restou após a guerra de libertação. O romance é composto de duas narrativas paralelas que dialogam representando a confluência dos velhos e dos novos tempos, preservando a memória dos que se foram, resgatando a identidade e o passado africano. A trama evidencia o sonambulismo de um país que espera um novo tempo para renascer. A história dos personagens Muidinga e Tuahir não deixa de se configurar em um testemunho traumático sobre a guerra, de experiências dolorosas e memórias perdidas, mas de muitos sonhos para conquistar, com um passado que não poderá ser esquecido. O sonho é o que faz a estrada andar, e surge como uma saída, onde o imaginário se insere, instalando-se com a finalidade de esquecimento, rompendo os limites sociais que são impostos, aspirando à reintegração dos escombros da história daquele país devastado, desde sempre, por guerras e conflitos sociais. Mia Couto, buscando uma identificação plena entre realidade e ficção, confina no romance em questão as conseqüências da guerra e nos apresenta a identidade cultural daquele país contida nas memórias contadas e nas imagens criadas sobre uma nação que se revela através do interesse dos personagens em recuperar o passado. Palavras-chave: esquecimento, memória, oralidade, sonho, testemunho. 169 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Maria Dorotéa da Silva UFPB O POEMA “QUEM SOU EU?”, DE LUÍS GAMA COMO INSTRUMENTO DE REVELAÇÃO DE IDENTIDADE NACIONAL A literatura brasileira está repleta de escritores negros e mestiços que reconhecidamente marcaram escolas literárias, como seus representantes ou precursores. Esse artigo trata, pois, de uma análise da poesia satírica de Luís Gama, poeta romântico afro-descendente que escreveu sobre temas atinentes à afro-descendência e que militou em movimentos sociais. Nesse sentido, o artigo faz um estudo bibliográfico do Romantismo brasileiro e contextualiza o fazer poético de Luiz Gama enquanto homem e poeta militante da causa negra e compromissado com a identidade de seu povo, e conhecido por poemas como ―Quem sou eu?‖. A escolha do poema explica-se pela percepção orgânica da subcidadania dada aos afro-brasileiros, e do autor em si mesmo, cujos poemas assumem um papel ou função da literatura na construção identitária da negrura e, por extensão, na superação da invisibilidade negra, quer seja através da temática abordada, quer seja através dos dados autobiográficos que se percebe nas entrelinhas e na própria afirmação do poeta ao se projetar em seus versos por meio do pronome ―eu‖ em torno da problemática da exclusão do negro, sujeito ficcional e social, tema recorrente nos poemas do autor que integra os eixos de militância e criação em si mesmo em um só discurso. Assim, o texto resulta de uma aproximação com a ancestralidade numa trama simultânea com vetores de restituição, numa totalidade da condição existencial e social do negro. O objetivo desse artigo é apresentar o discurso poético, de caráter irreverente e irônico de Luís Gama, no contexto tradição literária do Romantismo brasileiro. 170 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Maria Eliane Souza da Silva Jorge Normando dos Santos Filgueira Ilza Matias de Sousa – Orientadora UFRN JMC, o Juan Moçambicano Clown, e a rostidade do amor em o Fio das Missangas Neste trabalho pretendemos analisar a configuração do amor através dos significantes míticos e suas tradições africanas diante de uma visão ocidental amorosa em que se desencadeiam rostidades (DELUZE & GUATTARI,1996 ). Segundo, os autores a fabricação de rostos na cultura cristalizam territórios de subjetividades quais a do Édipo e a de Don Juan como decalques do amor incestuoso e ―de paixão ardente por infinitas mulheres‖( COUTO, 2010). Palavras-chave: Rostidade, amor, literatura africana. Maria Emanuela de O. Cruz Paula Célia da Silva Cristiane Maria Nepomuceno – Orientadora UEPB CINEMA, EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE: UMA ANÁLISE DO FILME BESOURO Tendo consciência da pluralidade sociocultural da sociedade brasileira e conseqüentemente da realidade diversificada dos alunos que lidamos, contribuir para superar preconceitos e para a mudança de mentalidades é uma premissa da práxis do(a) professor(a), necessária para que de fato se edifique uma educação estruturada no respeito às diferenças e no reconhecimento da diversidade histórico-cultural. Este artigo se propõe a discutir as mudanças ocorridas na educação brasileira, tomando como parâmetro a Constituição de 1988, que lançou a proposta de edificação de uma educação multiétnica, de respeito à diversidade cultural e a inclusão. Em decorrência desta, as 171 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Leis, Resoluções e Diretrizes que foram elaboradas no sentido de consolidação da proposta, a exemplo da LDB/1996, dos PCN‘S, da Lei 10.639/03, da Resolução Nº 1, de 17/06/2004 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e as Diretrizes em si, todos voltados para a inserção e orientação curricular da temática em questão. Desse modo, orientadas pela pesquisa documental e bibliográfica, analisamos o filme Besouro (2009), dirigido por João Daniel Tikhomiroff, a fim de verificar se este atende as orientações estabelecidas para uma educação multicultural. A partir da análise apontamos na narrativa a relação com as prerrogativas estabelecidas nas diretrizes curriculares e a contribuição para a valorização da história e cultura negra no Brasil. Por conseguinte, a contribuição para a formação de atitudes, posturas e valores de cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial. Palavras-chave: Cinema. Educação. Diversidade Cultural e Étnico-racial. Maria José Soares de Lima Celestino Castro de Souza Roberlene Moura de Albuquerque UEPB ICONOGRAFIA: REPRESENTAÇÕES TRADICIONAIS E NOVAS PERSPECTIVAS O presente trabalho tem por objetivo mostrar como se dá o uso da iconografia nos livros didáticos da disciplina de história, em especial no livro do 7° ano do Projeto Araribá (2006) por este conter algumas imagens do Pintor Debret, nas quais ele representa os negros. Objetivamos ainda enfatizar a importância da iconografia como fonte auxiliadora no processo de ensino/aprendizagem. Ao desenvolver este trabalho temos como proposta mostrar como os profissionais da educação, em especial os docentes de história, podem recorrer ao recurso imagético contidos nos livros didáticos para desconstruir estereótipos de uma história dita cristalizada e acabada, como por exemplo, a ideia da submissão do negro no período colonial brasileiro. Para fundamentar nosso estudo utilizamos como recursos metodológicos: BITTENCOURT (2002), CHAUÍ 172 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN (1981), VAZ; MENDONÇA; ALMEIDA (2001), SCHMIDT (2005) E PROJETO ARARIBÁ (2006). A partir do estudo realizado, foi possível percebermos que a qualificação e a metodologia do professor é a ferramenta principal que proporcionará a diferença na abordagem do uso e compreensão da iconografia, não apenas como recurso visual, mas, sobretudo, como fonte auxiliadora no processo de formação de uma visão crítica do aluno. Palavras- chave: Iconografia. Livro didático. Negro. Maria Lindací Gomes de Souza Maria Aparecida Barbosa Carneiro Patrícia Cristina de Aragão Araújo Silvano Fidelis de Lira UEPB VISUALIZANDO PRÁTICAS SOCIAIS E HISTÓRICAS NO USO DAS TERRAS QUILOMBOLAS: A QUESTÃO DA HERANÇA E PARENTESCO NA COMUNIDADE DOS MATIAS DO GRILO – PB Este projeto se constitui em um recorte de um projeto maior intitulado: ―Nos territórios de remanescentes quilombolas, redes que tecem a cidadania cultural: territorialidade, educação, migração e narrativas de vida‖. Que trata da relação entre territorialidade e migração em comunidades quilombolas, o projeto que conta com o financiamento que conta do Programa de Incentivo à Pós-Graduação e Pesquisa (PROPESQ) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Objetiva-se entender como as comunidades negras, considerados como remanescentes de quilombos e seus descendentes mantinham relações de uso e usufruto das terras que habitavam. Nosso propósito é refletir sobre as dinâmicas das migrações ocorridas e de que modo elas repercutiram e/ou repercutem sobre as mudanças no entorno da comunidade, como também a visão que muitos migrantes quilombolas têm da própria comunidade. Discutir como se processa no contexto dos quilombos os fluxos migratórios, pois nos propicia compreender a dinâmica migratória ocorrida nos quilombos. Procuraremos perceber as 173 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN mudanças na qualidade de vida dos familiares, principalmente aqueles/as que se deslocam para o sul do país em busca de melhores condições de trabalho. A partir das narrativas e das memórias de ex-migrantes, como identificam os migrantes dos quilombos que retornaram ou que fizeram parte do fluxo migratório rural-urbano. Buscamos analisar as formas de reprodução das lembranças e sua importância no grupo estudado, em segundo momento através das memórias dos idosos perceber o sentido e a questão do sentimento de pertença quilombola e a sua identidade grupal, como ou ainda as táticas usadas para reforçar os laços de parentesco e a herança entre as famílias. Palavras – Chaves: Quilombolas. Migração e Territorialidade. Maria Luíza Assunção Chacon UFRN Elementos da literatura afro-brasileira em “Água virtuosa”, de Cornélio Pires O presente trabalho pretende analisar, levando em consideração aspectos como o regionalismo, de que forma o conto ―A água virtuosa...‖, presente no livro Conversas ao pé do fogo (1987) do pré-modernista Cornélio Pires, se insere na chamada literatura afro-brasileira. Abordaremos, consequentemente, temáticas como a oralidade, o mito e a contação de causos, tendo como base teórica alguns capítulos dos livros Introdução à poesia oral, de Paul Zumthor, Literatura afro-brasileira (2006), organizado por Florentina Souza e Maria Nazaré Lima e Mito e realidade (1964), de Mircea Eliade. É facilmente percebida, no conto, a existência de uma linguagem bastante próxima da fala do homem caipira. Sendo assim, pretendemos traçar paralelos entre essa linguagem presente na narrativa ―A água virtuosa...‖ e a oralidade presente na cultura africana. Outro elemento que nos permite pensar a oralidade dentro do conto é a contação de causo feita por Nhô Tomé, personagem fundamental à narrativa, que se aproxima da prática dos gritos em suas contações de histórias. O causo, por sua vez, repleto de simbolismos, justifica a existência das diversas cores de pele, explicando a criação de uma realidade e se aproximando das noções, ainda que não restritas, de mito. 174 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Maria Regina Alves Dos Reis Josemir Camilo de Melo UEPB Engenho Buraco D’água: estratégias e táticas de uma família negra pela manutenção do trabalho e moradia O presente artigo pretende analisar o cotidiano do Engenho Buraco D água (Alagoa Grande-PB), a partir das primeiras décadas de abolição, através das memórias de uma descendente de escravos que viveu neste Engenho. Identifiquei evidências da existência de resquícios de práticas escravistas que se sustentam com base em nova concepção de relação de poder do senhor de engenho e seus subjugados. A ideologia paternalista que surge no momento em que os escravocratas enxergaram a evidente crise do sistema escravista se manteve no pós-abolição, neste engenho. A memória narra formas de resistência que abriram espaço para algumas concessões. Em meio a essas estratégias de controle se configuravam as astúcias, táticas (Certeau, 1994), da família negra, tornando menos difícil a vida dos seus descendentes que mesmo livres continuaram vivendo essa relação dicotômica. Nesse sentido é necessário compreender como se estabeleciam as relações entre senhor de engenho e seus subjugados; pensar o sentido de liberdade nesse espaço, de continuidade escravista, ressignificado a partir da concepção paternalista. A pesquisa, ainda em andamento, terá também como referencial teórico os conceitos de agencia e afrocentricidade (Nascimento, 2009). Usarei da história oral, como história de vida, tendo em vista que as narrativas contribuem para uma (re) leitura das práticas e das memórias dos afros descendentes. Palavras-chave: Memória, táticas, afrocentricidade. Maria Suely da Costa UEPB DO PLANO MÍSTICO DO CATIMBÓ AO PLANO ARTÍSTICO-CULTURAL Em busca de compreender o Brasil, nas primeiras décadas do século XX, os intelectuais iriam desempenhar, eles próprios, o papel de descobridores. Dentre esses pesquisadores, 175 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Mário de Andrade, no Sudeste, e Câmara Cascudo, no Nordeste, se inscrevem como intelectuais de grande interesse pela vida e cultura brasileiras. A viagem de turista aprendiz pelo Nordeste brasileiro representou para o escritor paulista uma porta a satisfazer à ânsia de mais Brasil. No Rio Grande do Norte, suas pesquisas sobre aspectos do catimbó o fazem crer na contribuição importante dessa cultura para nosso folclore e, de outro modo, também aos propósitos modernos da Antropofagia (ANDRADE, 2002). No livro Meleagro (1978), Câmara Cascudo comenta sobre o empenho de Mário de Andrade em desenvolver pesquisas nesse campo e sua creditada importância aos rituais do catimbó. O interesse específico deste trabalho está em discutir a relação estabelecida entre o ritual do catimbó e a antropofagia, haja vista o modernista Mário de Andrade ter identificado nesse ritual a expressão de uma prática antropofágica no sentido mais direto, do sacrifício. Assim também, discutir a respeito da poesia de Câmara Cascudo, que recria, em ritmos e imagens, a metáfora do grito de uma raça saudosa da terra mãe, África. Pelas mãos desses dois pesquisadores, têm-se textos voltados particularmente para as expressões do canto e da dança enquanto significativas manifestações da cultura afrodescendente, chamando a atenção para as especificidades da cultura do negro. Palavras-chave: Mário de Andrade. Câmara Cascudo. Cultura. Negro. Maria Suely da Costa UEPB A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NO CORDEL – LITERATURA PRESENTE TAMBÉM EM SALA DE AULA Este trabalho visa expor resultados obtidos com a pesquisa desenvolvida entre 20092010 a respeito da representação do negro em textos da literatura cordel de autoria paraibana. A proposta de se verificar nas diversas expressões temáticas dessa literatura popular as formas de configuração da imagem do negro deveu-se ao fato de que, ao se caracterizar não só por uma riqueza estilística, mas também pelas possibilidades de debate sobre a nossa realidade social, política e econômica, o texto de cordel tem sido 176 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN instrumento presente também em sala de aula. O aporte teórico da discussão teve por foco a relação entre literatura, sociedade e representação. Os dados coletados nos mostram discursos presos a um contexto social marcado pela segregação e preconceitos. Contudo, foi possível identificar alguns cordéis voltados para a desmistificação de estereótipos. Com efeito, a contribuição desta pesquisa esteve não somente em registrar e tornar conhecida uma dada representação, mas principalmente em verificar que, na condição de instrumento didático-pedagógico, o texto de cordel possibilita que se abra um leque de discussões e ações a partir da identificação de uma problemática da prática cultural estabelecida com o afrodescendente, atuante no meio social brasileiro, singularizada e divulgada através da literatura de cordel. Palavras-chave: Representação. Negro. Literatura de cordel. Mariene Queiroga Luciano Barbosa Justino UEPB DEVIR DE GÊNERO E DE IDENTIDADE E SUAS RECUSAS EM UM COPO DE CÓLERA DE RADUAN NASSAR As relações de gênero e as construções identitárias que tais relações engendram tal como têm sido formuladas pelas teorias da pós-modernidade e pelos diversos discursos advindos na esteira dos estudos culturais precisam ser problematizadas para dar conta de processos de subjetivação que ultrapassam tanto abordagens centradas nas relações afetivas tradicionais, ou em suas inversões, como se tem feito hoje, quanto em processos interpretativos excessivamente identitários. Um copo de cólera, novela de Raduan Nassar, demonstra como as leituras identitárias e genéricas, fortemente influenciadas pelos estudos culturais e pelo discurso pós-moderno, são limitadas para se compreender relações intersubjetivas (BAKHTIN, 2002), humanas em toda amplitude, nas quais os sujeitos não estão situados em lugares rigidamente demarcados, dos quais se possa extrair tanto formações identitárias quanto genéricas simples. Cremos que as próprias noções de identidade, sujeito e gênero são aqui inoperantes. Centrado na 177 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN relação limite entre dois personagens em uma fazenda de algum recanto brasileiro, o que por si só representa uma amplitude significante, Um copo de cólera instaura o que podemos chamar de uma semiose fronteiriça, na qual os personagens, os lugares e as relações entre eles, trocam de posição continuamente e onde não há locações simples nem estabilidades que possam ser pacificadas. Antes há fortes processos semióticos asignificantes (DELEUZE; GUATTARI, 1994) e traduzibilidades (BHABHA, 1998) contínuas cujos movimentos instauram devires de toda ordem. Nossa proposta é analisarmos a novela de Raduan Nassan como uma recusa, sob diversos aspectos radical, de boa parte das noções correntes tanto dos estudos culturais quanto do discurso da pós-modernidade, propondo novas maneiras de "ler" as relações intersubjetivas e seus espaços de vivência e de modos de vida, à luz da semiótica de matriz peirceana de Daniel Bougnoux (1994) e de John Deely (2002) e da semiótica da cultura de TartuMoscou, aliando-os ao método-rizoma de Gilles Deleuze e Félix Guattari, de tradução cultural de Homi Bhabha e ao conceito de dialogismo de Mikail Bakhtin. Palavras-chave: Devir. Gênero. Identidade. Um copo de cólera. Marília Angélica Braga do Nascimento UFC PROVÉRBIOS, ADÁGIOS, DITOS E DITADOS: A ORALIDADE N’O MALHADINHAS Os estudiosos da obra de Aquilino Ribeiro são unânimes em afirmar o trabalho do autor com a linguagem e o homem simples. Atentando para esse aspecto, queremos, neste breve trabalho, apontar índices de oralidade em O Malhadinhas, narrativa publicada em 1922 no volume Estrada de Santiago. Para atingir tal escopo, procuramos fazer um levantamento de locuções que permeiam a fala de Antônio Malhadas, protagonista da narrativa, mostrando, ao mesmo tempo, sua visão pragmática do mundo e a realidade do meio social no qual está inserido. Tais locuções consistem em provérbios, adágios, rifões e ditados que regem, de certa forma, o comportamento do herói aquiliano. Desse modo, demonstra-se, através do discurso da personagem, a presença da herança de uma 178 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN tradição popular que acredita no poder da palavra: ―a palavra como a lança longe alcança‖. Palavras-chave: Oralidade. Provérbio. Malhadinhas. Marília Maia Saraiva Rosilda Alves Bezerra – Orientadora UEPB Diálogos entre Mayombe e A Geração da Utopia, de Pepetela O trabalho promove um diálogo entre as obras Mayombe e A Geração da Utopia, do escritor angolano Pepetela, tendo em vista a discussão acerca da formação da identidade nacional. As obras citadas abordam questões referentes a momentos históricos distintos: o antes e o depois da colonização portuguesa. Assim, percebe-se a literatura como um instrumento de recriação dos ideais nacionalistas, cuja nação aspirava pela sua identificação nacional, étnico e cultural. Fundamenta-se nas teorias sobre identidade e interculturalidade, comentadas por Stuart Hall, Manuel Castells e Raymond Williams. Nesse construto, percebe-se que a problemática na consolidação da identidade nacional angolana rompe as amarras do colonizador e depara-se com uma divisão étnica interna, que inviabiliza o ideal de nação pós-independência. Palavras-chave: literatura africana, identidade e interculturalidade. Maríllia Pereira Gonçalves UnB História e Importância da Tradição Oral para a Educação das Relações Raciais Este artigo partiu de inquietações referentes à presença do racismo no ambiente escolar e foi realizado com o propósito de pensar novas metodologias de ensino que visem à valorização de todas as crianças e jovens nos ambientes educativos. Tomei como base para tal, um projeto do Ministério da Cultura com a Pedagogia Griô de Líllian Pacheco, 179 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN que utiliza a Tradição Oral como instrumento de valorização da cultura e de todos os povos que fazem parte da cultura brasileira, principalmente a cultura afro-brasileira. Partindo da Tradição Oral africana é possível estabelecer relações igualitárias de construção de identidade e de ensino-aprendizagem significativos na educação brasileira para todas as crianças e jovens principalmente àqueles que são marginalizados (as) e excluídos (as). A construção deste artigo se deu a partir de uma experiência realizada em uma escola do Distrito Federal, na Região Administrativa de Ceilândia, onde as pessoas mais velhas da comunidade escolar participaram como mestres Griôs de acordo com a tradição e trabalharam, a construção de valores, de identidade e de cidadania com os jovens da referida escola. Apesar dos percalços pelo caminho o trabalho foi bem desenvolvido e bem aceito pelos estudantes, que se sentiram privilegiados por fazerem parte deste projeto. Para a escola fica a responsabilidade de repensar suas ações e trabalhar de forma mais comprometida com o que é solicitado nos artigos 26 A e 79 B da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Palavras-chave: Relações raciais; Educação; Valorização; Identidade; Oralidade. Marinaldo José da Silva Entre Encantos da Jurema: Cocos e Festa no Quilombo do Catucá A proposta é mostrar parte do universo da brincadeira dos cocos enquanto manifestação da cultura popular, por meio de pontuações entre o oral e o escrito. ―Trata-se de uma festa em homenagem ao Mestre Malunguinho, líder negro que se elevou à divindade na Jurema Santa e Sagrada, assumindo a patente de Rei da Jurema firmando-se na tradição oral e teológica do Nordeste como lutador e defensor espiritual, posto este que o diferencia de Zumbi dos Palmares que não ―baixa‖ nos terreiros, mas que os une enquanto personagens imprescindíveis nas lutas históricas negras por liberdade nacional‖. Objetiva-se dar continuidade aos estudos dos cocos no Nordeste, em especial na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, no que diz respeito à brincadeira que transita na fé (ou a fé transitando na brincadeira dessa manifestação cultural?). 180 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Desta forma, é importante dizer que a performance é puramente corpo e voz que ressoa o substrato poético nas brincadeiras populares, e principalmente nas danças dramáticas e religiosas. Neste caso, é de nosso interesse circular entre crenças e brincadeiras dos cocos de roda e de gira, seja da Jurema Santa e Sagrada, seja apenas na brincadeira de rua, juntos com alegria e devoção e mostrar a expressividade dos ‗brincantes‘ no que se refere às manifestações culturais do Nordeste. Palavras-chave: linguística e literatura; oral e escrito; brincadeira do coco; religiosidade popular. Marisa da Silva Neiva Ferreira Mitologias dos orixás, os terreiros de candomblé tolerância religiosa Um trabalho que tem como finalidade atingir as comunidades de terreiros e o público em geral que a ele possam ter acesso da mudança de paradigmas que vem acontecendo em algumas localidades e que pode servir de instrumento para novos processos. A mitologia do orixá e até mesmo os terreiros sofreram ataques de toda a forma possível, e isto não é de agora. È a resistência de sacerdotes e sacerdotisas de candomblé que foram perseguidos desrespeitados e até presos. Ainda hoje a mídia traz fatos relacionados á discriminação e intolerância. Situações esta que aconteceu no próprio berço das matrizes africanas, que se não atentarmos em breve estarão de volta á criminalização dos cultos, fatos graves estão acontecendo sem uma atitude do poder público, desobediência total a constituição federal e o Estatuto da Igualdade Racial, que garante este direito. Não venho revelar fundamentos de terreiro, mas solicitar respeito. Não deixar que a violência e a incerteza nos exterminem. È um relato de experiência, a busca da de novos métodos de combate a este tipo de comportamento, mostrar que os terreiros existem e tem sua diretriz e é religião. Isto é como uma chamada para uma nova postura em relação aos fatos e que não devemos ficar somente na palavra, mas ações afirmativas. Uma conscientização de nossa obrigação e zelo pelo legado que foi nos deixado por nossos ancestrais e pela sua luta. Como dizia Pierre Verger: ―O 181 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN candomblé sobrevive até hoje porque não quer convencer as pessoas sobre uma verdade absoluta, ao contrario da maioria das outras religiões.‖ Palavras-chave: Mitologia, Terreiros, tolerância. Marluce Pereira da Silva UFPB/UFRN VIDAS NARRADAS, HISTÓRIAS VIVIDAS: projetos identitários de uma mulher negra Na pesquisa, em desenvolvimento, analisa-se a produção de sentidos na autonarrativa de uma professora negra ao construir seus projetos identitários concernentes à trajetória escolar e profissional, aos arranjos afetivo-conjugais face ao seu pertencimento racial. Define-se como questão norteadora da discussão: em que medida, a docente assume posicionamentos discursivos que refletem a interação entre seus anseios pela liberdade individual e/ou a segurança que a comunidade (BAUMAN, 2003) oferece. Utilizam-se como dispositivos analíticos as teorizações foucaultianas, em especial, noção de práticas de liberdade e de jogos de verdade. Concluiu-se que a docente, em seus roteiros autobiográficos, se muniu de estratégias que traduzem batalhas por ela travadas ao construir seus projetos identitário, à medida que institui uma história de vida traduzida por efeitos que contradizem discursos que a história reservou a negros/as. Palavras-chave: mulher negra, identidade, discurso, arranjos afetivos conjugais. Marta Aparecida Garcia Gonçalves UFRN FLORA GOMES E A ESSÊNCIA DA IGUALDADE Busca-se refletir sobre os conceitos de política da escrita e de partilha do sensível na produção cinematográfica do cineasta Flora Gomes buscando mostrar que ―a essência da igualdade não deve ser procurada na unificação equitativa dos interesses, mas nos atos de subjetivação que desconfiguram a ordem do sensível‖. 182 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Matheus Silveira Guimarães UFPB Relações sociais de compadrio: análise dos registros de batismo das populações negra e branca da Parayhba (1851-1860) O batismo é um dos mais importantes sacramentos da Igreja Católica. Este sacramento era fundamental no Brasil oitocentista, como uma maneira de inserção na vida social, o que levava a maioria das pessoas nascidas no país a se batizarem. Aliado a isso, no século XIX, o Brasil não possuía registros civis de nascimento. O controle de registrar a natalidade ficava a cargo da Igreja Católica. Muitos desses registros de batismo foram conservados e encontram-se sob a guarda dos arquivos eclesiásticos. Neles podemos identificar várias informações como nomes do pai, da mãe, do padrinho e da madrinha, as condições jurídicas e sociais dos envolvidos, além de suas origens etnicorraciais. Todos esses fatores nos levam a considerar que os assentos de batismo são fontes fundamentais para o estudo da sociedade brasileira oitocentista. O objetivo deste trabalho é compreender a função social que o compadrio, por meio do batismo, assumiu na cidade da Parahyba do século XIX. Dessa forma, utilizamos os assentos de batismo da Freguesia de Nossa Senhora das Neves entre os anos de 1851 e 1860. Apresentaremos, separadamente, o compadrio entre a população negra (cativa e nãocativa) e a população branca. Por fim, iremos comparar ambas e apresentar como o batismo assume importante papel nas estratégias de inserção de pessoas que viveram na sociedade escravista. Palavras-chave: Compadrio; Sociedade escravista; Parahyba. 183 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Mércia Maria de Santi Estácio Maria do Livramento M. Clementino – Orientadora Adriana Aparecida de Souza José Willington Germano – Orientador UFRN BRASIL PÓS-COLONIAL: DIÁLOGOS E REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS EDUCATIVAS DA INFÂNCIA Neste texto, abordamos aspectos sociológicos e históricos da infância e da educação no Brasil pós-colonial, refletindo sobre o preconceito, a violência e o racismo destilado sobre os afro-descentes, as minorias e as crianças pobres. Destacamos pensadores, filósofos, educadores, biólogos, psicólogos e escritores que pesquisaram e produziram sobre a infância e a educação no país para apresentarmos como vem acontecendo a construção social da infância e da educação no contexto histórico e sociológico brasileiro. É nosso objetivo também dialogar sobre a relação existente entre violência, preconceito, racismo, educação e infância nesse período, sinalizando aspectos que merecem destaque e discussão numa perspectiva pós-colonialista. Nossa metodologia está pautada numa espécie de revisão bibliográfica, por esta proporcionar condições reflexivas sobre a condição da infância, bem como seu processo educacional no contexto brasileiro para assim, compreender as relações de violência existentes nestas interfaces. Propomos-nos, portanto, a apresentar um texto fundamentado sobre os aspectos já sinalizados, buscando na literatura indícios que possibilitem o diálogo com a cultura como elemento chave da construção da identidade de um povo que se constituiu multiculturalmente no entrelaçamento cultural de brancos europeus, negros africanos e índios brasileiros. Palavras-chave: Infância. Racismo. Educação. Cultura. 184 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Micaela Costa Ana Carolina da Costa Honório UFRN O RACISMO, SEXISMO E OUTROS PRECONCEITOS TEMPERADOS PELA SÁTIRA: Uma análise da manifestação das opressões em espaços de humor e piadas Este trabalho é uma análise de como o humor, através de piadas e sátiras, pode perpetuar manifestações da opressão contra as classes sociais pauperizadas, em especial negras (os), mulheres e homoafetivas (os). Para tanto, consideramos a conjuntura em que estão inseridos estes sujeitos, o papel da mídia na popularização e legitimação das formas de humor opressoras, as consequências deste processo na naturalização do preconceito e, por fim, a importância da criticidade e reflexão ética no combate às variadas formas de discriminação, ressaltando aspectos particulares do contexto brasileiro enquanto uma cultura fortemente influenciada pelas matrizes africanas. Esta análise é baseada em acompanhamento e observação crítica de seriados humorísticos, sites e piadas, referenciais bibliográficos e discussão sobre o tema. A importância e pertinência deste tema na atualidade pode ser utilizado e trabalhado como ferramenta para a construção de um pensamento crítico sobre o humor opressor, na criação de uma moral libertária e igualitária, alternativa em meio a uma sociedade racista, machista e homofóbica. Palavras-chave: Racismo; Sexismo; Humor; Opressão; Ética. Moama Lorena de Lacerda Marques IFRN/UFRN Os contos de Mia Couto e a Literatura moçambicana: Narrativas em/de trânsito Embora tenha se constituído tardiamente, já que, na gênese da literatura moçambicana, a poesia era o gênero por excelência, a prosa de ficção em Moçambique, que só começa a ganhar corpo a partir da independência do país, na década de 70, ganha cada vez mais destaque na contemporaneidade, em especial o conto, a exemplo das narrativas de Ba Ka Khosa, Marcelo Panguana, Suleiman Cassamo e Mia Couto; este último, foco do 185 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN nosso estudo. Autor muito reconhecido, em especial, por seus romances, também produz narrativas curtas, a exemplo de livros como ―O fio das missangas‖, ―Estórias Abensonhadas‖, ―Vozes anoitecidas‖, ―Cada homem é uma raça‖, ―Contos do nascer da terra‖, ―Cronicando‖, entre outros. Estas narrativas, escritas em uma linguagem marcada por uma grande inventividade lexical, similar a do escritor brasileiro João Guimarães Rosa, são sempre constituídas por personagens marginalizados, a exemplo de velhos, mulheres e crianças, e se desenrolam na fronteira entre o sonho e a realidade, a oralidade e a escrita, a tradição e a modernidade. São, justamente, essas dualidades, a ideia de uma literatura em trânsito, que centralizam as nossas discussões. Como fonte teórica, utilizamos os trabalhos de Maria Fernando Afonso, Carmem Lúcia Tindó Secco, Maria Nazareth Fonseca, Maria Cury, Inocência Mata, Ana Mafalda Leite e outros estudiosos das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Palvras-chave: Conto moçambicano; Literatura em trânsito; Mia Couto. Monaliza Rios Silva UFPB Sula Peace porNel Wright: nos caminhos do narrador per(re)verso na diáspora em Toni Morrison Esta pesquisa busca analisar a constituição oposta das personagens Nel Wright e Sula Peace do romance Sula (1973), da autora afro-americana Toni Morrison. Espera-se apresentar um caráter binário na configuração das personagens citadas, a partir da visão do narrador. Desta forma, através da apresentação de alguns aspectos identitários na narrativa, percebe-se a apropriação de um território de negros, circunscrito na primeira metade do século XX nos EUA. Segundo Anyndio Roy (1995), o perfil do sujeito em diáspora, num contexto de descolonização e neocolonialismo, está progressivamente sendo circunscrito e reificado na/pela nova identificação de ―lar‖ e de ―localidade‖. Sendo assim, ao mostrar a constituição binária das duas personagens em questão, o narrador inscreve a identidade de duas mulheres negras numa ambiência de localidade (home) na época mencionada. Palavras-chave: Literatura Afro-americana. Identidade. Diáspora. 186 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Morgana Lobão dos Santos Paz Tânia Lima - Orientadora UFRN A liberdade que sonhava crioulidade O presente artigo tem como principal objetivo analisar um dos contos mais representativos da cultura africana: O Embondeiro que Sonhava Pássaros, de Mia Couto. Esse conto lembra um pouco do que é feito o tear da oralidade. Parece que a voz salta do ouvido para alcançar o primeiro som livre dos passarinhos. Sabe-se pouco das coisas em África. Compreende-se a Voz como linguagem entrelaçada à literatura e não paralela. A Voz que se faz pele advinda com os Tambores do Maranhão traz um pouco desse registro. A palavra África, nesse conto Coutiano, é permeada por crioulidades híbridas. Crioulidade esta percebida como ação que busca se libertar de toda opressão advinda com o colonizador. Falar do passarinheiro é falar de nossa gente acendendo fogueiras ao redor do ato de contar. Talvez por isso seja tão encantador o desafio de discorrer sobre essa África que ora parece tão longe, sendo fisicamente outro continente, mas que em verdade habita em nós. Falar do silêncio desses contadores também para nós, povos advindos do legado da escrava servidão, não é nada fácil. Sobre esse silêncio todo é que se faz importante agora falar. E sem muita paciência para tanta teorização, mas reconhecendo sua importância para tessitura do texto, analisaremos o ―Embodeiro que Sonhava Pássaros‖ sob a ótica dos seguintes teóricos: Édouard Glissant e Frantz Fanon no campo da crioulização e Hampate-Bá junto a José Lourenço do Rosário no que concerne à oralidade. Elegeremos como enfoque a voz da narrativa para revisar a linguagem pelo que ela tem de canto negro, de som da pele, de escrita étnica. Tudo nesse conto nos remete aos pés pretos atolados nos terreiros de barro, nas raízes espirituais de um embondeiro. O que cabe na escrita de todo bom contador tem licença poética: ―A minha raça sou eu, João Passarinheiro. Convidado a explicar-se, acrescentou:- Minha raça sou eu mesmo. A pessoa é uma humanidade individual. Cada homem é uma raça, senhor polícia‖. Palavras-chave: Oralidade, Africanismo, Crioulidade. 187 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Murilo de A. Alchorne UFPE Encruzilhadas das Raças: Jurema, Candomblé, identidade racial e nacional (1930-1950) O culto religioso da Jurema Sagrada está extremamente ligado à complexa construção histórica e sociológica da identidade nacional, principalmente em relação à questão da mestiçagem e dos lugares que o ―mestiço‖, ou culturas ―mestiças‖, que nela ocupam Nosso interesse recai sobre o contexto urbano recifense entre os anos 1930-1950, período em que houve um grande impulso aos estudos sobre as religiões afrobrasileiras, e às teorias da mestiçagem, no entanto a Jurema não era reconhecida pelos pensadores sociais. O que se revela mais problemático é que tanto nos discursos dos dirigentes juremeiros quanto dos folcloristas, antropólogos e sociólogos do período, é que a Jurema Sagrada é considerado um culto sincrético, resultado da síntese das culturas religiosas indígenas, européias e negras, da própria dinâmica da miscigenação. Contudo, ao mesmo tempo em que reconhecem a mestiçagem como elemento característico nacional, identificada com uma construção singular que não reconhecia as diferenças raciais como signo de divisão social e econômica, quando se trata dos estudos das ―religiões afro-brasileiras‖, nota-se outra tendência, a da polarização: uma no sentido do branqueamento, no qual a Jurema Sagrada é analisada através de uma depuração dos elementos ―mestiços‖ e indígenas que só aparecem como condição de possibilidade a partir da cultura branca européia colonizadora, outra no sentido da africanização, que passa a analisar a Jurema Sagrada como um culto degenerado em relação ao Candomblé, este, visto como um espaço de pureza e continuidade das tradições africanas. 188 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Mylena Alves de Souza UEPB Maracatu: da perseguição à espetacularização Enfoque a partir da comparação entre dois fazeres Em Pernambuco encontram-se, entre suas manifestações culturais, os maracatus nação ou de baque virado; os maracatus de orquestra ou de baque solto, ou rural; e os maracatus recriados ou para-foclóricos, que é uma recriação dos nação e, entre outras razões, por não estarem vinculados diretamente à religião afro-brasileira, como os outros, não são considerados tradicionais. Este trabalho tem por objetivo compreender a trajetória histórica dos maracatus nação com o fazer maracatu na contemporaneidade, contrapondo e contextualizando suas dinâmicas e suas relações com a sociedade desde quando suas práticas passaram a compor fontes escritas, no século XIX, até o momento atual. Procuro entender o processo pelo qual o maracatu nação deixou de ser marginalizado e perseguido para ser aplaudido por boa parte da sociedade pernambucana e a atuação protagonista dos maracatuzeiros nesse processo. Para tanto, analiso dois maracatus - o Nação Raízes de Pai Adão, tradicional, e o Várzea do Capibaribe, recriado – na tentativa de conhecer especificidades e identificar fronteiras. Trata-se de texto ainda inconcluso, em razão de se tratar de pesquisa em andamento, no curso de especialização em História e Cultura Afro-brasileira, da UEPB, no qual sou aluna. Nélson Barbosa de Araújo UFPB O SUJEITO DISCURSIVO: LINGUAGEM, ORALIDADE E MEMÓRIA NA POESIA DE ZÉ DA LUZ O presente trabalho constitui uma análise sobre o poema do poeta paraibano Zé da Luz, intitulado Cunfissão de Cabôco, cuja narrativa serve-se da linguagem popular sertaneja, para evidenciar questões relevantes da realidade social nordestina, como: analfabetismo, 189 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN violência, alienação, ignorância machismo e autoritarismo. Nesse panorama, sobressaise um discurso fundamentado na memória, identidade e oralidade, apresentando uma trama narrativa cujos valores são aqui estabelecidos a partir dos postulados teóricos de autores como: Foucault, Le Goff, Orlandi, Marx, Chauí, Bakhtin, Zumthor e outros. Na assimilação desses olhares, o texto focaliza a necessidade de uma revolução educativa envolvendo educadores, artistas, cientistas e pesquisadores em geral. Esta seria uma alternativa para que a sociedade, representada pelos sujeitos atores em ação nessa peça literária, pudesse adquirir e posicionar escudos contra o esmagamento que o sistema capitalista executa contra sociedades desprotegidas, que ainda vivem acorrentadas, cometendo crimes hediondos. Palavras-chave: Linguagem. Oralidade. Memória. Orlando Brandão UFRN NO CANTO DO MANGUE BEAT Neste trabalho nos propomos a analisar a poética scienciana no CD Afrociberdelia (1996) e suas contribuições para a literatura afro-brasileira, bem como para a música popular brasileira. O mangue beat surge no cenário pernambucano durante a ebulição multicultural dos anos 90, no idioma dos homens-caranguejos de Chico Science e Nação Zumbi (CSNZ). Entendemos que a figura do ―canto do mangue‖, colocada no título deste trabalho, não só representa um espaço geográfico localizado, também, no município de Natal (RN), como é um lugar imagético-discursivo, uma cultura. Dessa forma, elencamos três objetivos, que nortearam as análises deste trabalho: (i) organizar uma espécie de travessia literária das representações do mangue como o entre-lugar de estilos culturais afrociberdélicos, da cena recifense, bem como das cenas glocais (AGUIAR, 2010); (ii) propor um diálogo entre literatura e música, em que observaremos a poeticidade acústica da voz (ZUMTHOR, 1997); (iii) apresentar uma breve conversa entre a estética scienciana com a cena musical norte rio-grandense. Desse modo, orientados pelas leituras de LIMA (2007), de VARGAS (2008), de 190 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN BACHELARD (1974), de DELEUZE (1991) e de HALL (1998), apresentamos uma leitura do mangue como espaço metafórico de uma cultura híbrida, no não-lugar dos discursos sonoros. Palavras-chave: afrociberdelia, literatura, cultura híbrada, música. Osvaldo Barreto Oliveira Júnior Edna Maria de Oliveira Ferreira Urbano Cavalcante Filho IFBA PRÁTICAS DISCURSIVAS SOBRE AS CULTURAS AFRICANAS NA LITERATURA BRASILEIRA Resumo: Este artigo discute o olhar branco sobre as culturas africanas, problematizando as formas discursivas que evidenciam o preconceito contra sujeitos representativos da cultura negra no Brasil. Para isso, põe em evidência dois textos de projetos literários distintos - O cortiço, de Aluísio de Azevedo, e Leite Derramado, de Chico Buarque com o intuito de analisar as formações discursivas que exemplificam a discriminação e o preconceito contra o negro nessas duas obras, bem como evidenciar as funções sujeito negro e sujeito branco - nelas concretizadas. Essa análise instaura-se nas proposições da terceira fase da Análise do Discurso (AD), visando à reflexão sobre as formações discursivas e os modos de funcionamento do discurso que desvelam um olhar enviesado sobre o negro nos interdiscursos concretizados nas obras literárias em análise. Toda essa discussão fundamenta-se nos estudos de Fernanda Mussalim (2004), Maingueneau (2008) e Orlandi (2005) sobre os pressupostos teóricos e analíticos da terceira fase da AD, para, além de buscar bases sólidas para uma leitura interdiscursiva sobre formas de preconceito e discriminação no texto literário, suscitar reflexões sobre as nuances da violência discursiva, colocando em debate os estereótipos que se originam desse tipo de violência. 191 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Ozaias Antonio Batista MEMÓRIA E CONSTRUÇÃO LITERÁRIA EM MEUS VERDES ANOS José Lins do Rego se consagrou como um dos principais autores que retratou o universo rural brasileiro vivenciado nos engenhos e nas casas-grandes, delineando em seus romances os arquétipos inerentes à realidade que experienciou – senhores de engenhos, trabalhadores do eito, negras de amor livre, meninos da bagaceira. Diante disso, o modo de sua construção literária toma como base os momentos que constituíram sua história de vida, sobretudo, em sua infância, retratada em Meus Verdes Anos (1956). Sendo assim, o presente trabalho adota como material empírico as experiências retratadas por José Lins do Rego no livro supracitado, objetivando compreender como a memória – entendida enquanto elemento que nos possibilita identificar certa dialética na relação entre indivíduo e sociedade – oportunizou a construção literária de Rego, marcada pela dor, pelo sofrimento, pelos prazeres e pelas ausências. Metodologicamente, o trabalho segue os padrões exigidos em uma pesquisa de cunho bibliográfica, na qual a vigilância epistemológica deve estar acompanhando as leituras do material escolhido para estudo. Utilizando como ferramenta teórica a noção de memória (BOSI, 1987) como uma possibilidade de reviver o passado através da lembrança. O estudo apontou, em linhas gerais, a possibilidade de estabelecer uma interlocução entre a noção de memória aliada às peculiaridades presentes nas obras de Rego, onde autor e obra se confundem em determinada circunstância. Sendo assim, Rego pode escrever sobre o universo senhorial com tamanha propriedade porque ele tinha dentro de si tal realidade, ou seja, ele viveu de forma singular tal contexto sócio-cultural. Palavras-chave: José Lins do Rego. Memória. Construção literária. 192 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Patrícia Cristina de Aragão Araújo - UEPB Maria Lindaci Gomes de Souza - UEPB Margareth Maria de Melo - UEPB/UERJ A CULTURA AFRO-BRASILEIRA E SUAS REPRESENTAÇÕES NA ESCOLA: DA PRÁTICA DO/A PROFESSOR/A À VISÃO DE ALUNOS/AS Este trabalho busca identificar e analisar a inserção da cultura afro-brasileira em escolas de ensino fundamental e médio da rede estadual, com o intuito de observar se a esta empreende, através de seus docentes, uma prática de educação anti-racista, contemplando nos conteúdos escolares discussões acerca da história e cultura africana e afro-brasileira em conformidade com a lei 10.639/2003, hoje 11.645/2008, propiciando uma ação educativa que trabalhe com a diversidade étnico-racial e as diferenças culturais no ambiente escolar entre seus discentes. Analisar a inserção dos conteúdos relativos a cultura afro-brasileira e o modo e forma pela qual ela é visualizada entre professores/as e alunos/as é a proposição que delineia este estudo. Partindo dessa investigação busca-se entender a percepção da cultura afro-brasileira por diferentes segmentos étnico-culturais que compõem o espaço escolar. Considerando tais perspectivas, delimitamos nossa opção metodológica que é trabalhar a história oral temática em interface com a etnografia como aporte, através da aplicação de entrevista, questionários nas escolas públicas pleiteadas para pesquisa no sentido de apreender, nestas, suas opiniões no que se refere às questões que aludem à cultura afro-brasileira. Além destes instrumentais de pesquisa, faremos uso de textos didáticos, literários, documentários, paradidáticos, músicas e acervo de instituições culturais e secretarias de educação e cultura. Os dados obtidos na pesquisa nos permitem sinalizar os fios condutores que tecem a percepção da cultura afro-brasileira a partir da escola, possibilitando-nos compreender os olhares tecidos para a cultura do povo negro e como esta propicia uma dimensão importante de ser inserida no mundo de educar, tendo em vista uma aprendizagem significativa mediante a articulação entre educação e a cultura. Palavras-chave: Educação. História. Àfrica. Cultura Afro-Brasileira. Representação. 193 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Patricia Gomes Germano SEEC-PB QUANDO O MITO ENTRA EM CENA: PERCURSOS DE OXALÁ NA OBRA “O SUMIÇO DA SANTA” DE JORGE AMADO Os terreiros de candomblé podem ser compreendidos como espaços de resistência, ou mesmo de ―resiliência‖ da diáspora africana cuja transculturação se dá através das vivências interconexas entre práxis religiosas entrecruzadas (HALL, 2005). A literatura, lócus polifônico (BACKITIN, 2002) construtora e refratária das relações humanas, tematizou/tematiza, de modo diverso, os aspectos cosmogônicos desta sacralidade e, notadamente em territórios nos quais o modus operandi do povo de santo encontrou condições para se desenvolver, para se fortalecer, os textos literários ali ambientados ou produzidos por autores-atores dessas sacralidades (quer de modo engajado ou meramente observador) mostram-se como determinantes para divulgar, apoiar, construir-desconstruir estereótipos em relação aos ritos praticados por tal sacralidade. Pela leitura do texto literário e com fulcro nas reflexões de Bastide (2000), Prandi (2001, 2005) e Capone (2004), entre outros, o intuito deste ensaio é observar a reencenação do mito de Oxalá desenvolvida no romance amadiano ―O Sumiço da Santa: uma história de feitiçaria‖ (1999) a fim de analisar como a narrativa reconstrói, explica e revitaliza o mito do Òrìsà Funfun através dos percursos realizados pela personagem Manela em suas aventuras pela cidade da Bahia de São Salvador à época da concorrida festa do Senhor do Bonfim. Palavras-chave: Sagrado, Orixá, Oxalá, Jorge Amado. Paula Regina Bezerril Souza UFRN A Imagem do negro no livro Adagiário Brasileiro, de Leonardo Mota Abordo neste artigo como era concebido no imaginário popular o negro através dos chamados adágios, parêmias ou ditados populares, segundo o livro Adagiário Brasileiro, de Leonardo Mota. Apresenta, inicialmente, a sociedade brasileira como de caráter 194 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN multiétnico, devido não só à miscigenação, mas a uma enunciação que reproduz intercâmbio e conflito sociais. Questiona à forma como os indivíduos na sociedade, analisados à luz da Análise do discurso, se posicionam em relação ao outro, no caso deste estudo, ao negro, usando-se para isto de ideologias discriminatórias alicerçadas no senso comum de um discurso étnico nos recintos da cultura popular. Realiza breve estudo acerca da paremiologia e do negro. Mostra a construção da imagem deste por meio da representação no adagiário e como tal figura é corrompido em termos estéticos, psicológicos, culturais e sociais, reflexo de um passado de escravidão, o que continua na atualidade, sob o escudo do mito da democracia racial de nosso país. Conclui apresentando o negro como alguém que deve se assumir e se afirmar, através de sua personalidade ou através de sua formação cultural e social, pela busca de verdades e valores que se contraponham vigorosamente aos estereótipos e preconceitos ainda vigentes nas atitudes de muitos brasileiros, para que, desta forma, torne sua representação positiva, por meio do discurso ou pelo respeito com a pessoa negra, no intuito de construir uma nação verdadeiramente democrática. Paula Regina da Silva Duarte Fernanda Hingryd da Silva A inserção da formação discursiva nos ditados populares Este artigo baseado pela Análise do Discurso de linha francesa, pretende analisar as possíveis formações discursivas que se apresentam de forma embutida nos ditos populares ou provérbios, levando em conta que as formações discursivas provem das formações ideológicas que por sua vez, estão inseridas na atmosfera social. Considerando os ditados populares como discursos, e assim ante uma perspectiva discursiva a mesa concebe a linguagem como um processo em constante funcionamento gerado a partir de condições de produção, ou seja, do contexto sócio histórico. Visa-se assim, compreender os ditados populares que trazem em sua origem discursiva uma formação ideológica de cunho machista, bem como aqueles que apresentam um conteúdo discriminatório quanto á cor (racial) de espécie humana, ambas as perspectivas se apoiam numa concepção preconceituosa. Para isso, a pesquisa se apoiará 195 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN a luz dos estudos de teóricos como Maingueneau (1997), Gregolin (2002), Vieira (2002) dentre outros. Vale salientar que os ditados populares encontram uma certa dificuldade conceitual, uma vez que este gênero discursivo tem sua origem exclusivamente desenvolvida na criatividade popular, assim o corpus de análise será coletado via internet ou mesmo através da tradição oral veiculada em meio ao uso da sociedade cotidiana. Palavras-chave: Análise do discurso, Formação discursiva, Formação ideológica, Ditados populares. Paulo Sergio dos Santos UFPB O muro como tela: Análise do graffiti na cidade de João Pessoa Foi nas paredes das cavernas onde se iniciou uma forma de se expressar que utilizava como principal ferramenta a imagem para passar algum tipo de mensagem, no decorrer da história o homem deixou as cavernas e passa a viver em conglomerados de edificações, que se tornaram nas cidades de hoje. Neste ambiente urbano, existem sistemas peritos que nos direcionarão para sabermos aquilo que entra ou não dentro da categoria de arte, devendo se situar em determinados locais como galerias e museus para serem legitimadas. Certos indivíduos não se encaixam dentro destes sistemas, passarão a renegar estas ―imposições‖, eles se utilizam de outras plataformas para exprimir, e expor as suas produções, fazendo com que suas obras se relacionem de forma direta com a sociedade. É caso do graffiti que dentro do cenário urbano, se apropria de certos espaços como suporte para a inserção de imagens artísticas. Este trabalho analisa como acontece a manifestação do graffiti na cidade de João Pessoa, quais foram os seus precursores e como ela se encontra hoje, observando os aspectos de sociabilidade, de sentido da produção e aspectos sociológicos que envolvem esta manifestação, como a relação entre artista e sociedade e vice e versa, como se da à relação entre arte e cidade e como o artista se comporta dentro do contexto urbano, e 196 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN observado que a arte é uma forma de comunicação, de linguagem e como tal se faz presente no nosso dia a dia muito mais do que imaginamos. Pedro Fernandes de Oliveira Neto UERN MIA COUTO E O ESPAÇO DA INTERDIÇÃO, LER O FIO DAS MISSANGAS Este trabalho parte da observação de que nas literaturas africanas de expressão portuguesa há um número significativo de escritores que na sua produção literária estabeleceram eletivamente o espaço, seja físico e/ou subjetivo, como elemento que, pelo sentido e significação, opera como categoria importante na construção da narrativa. Não obstante o modo diversificado como que é tratado, o espaço ficcional tornou-se fundamental às diversas discussões contemporâneas, como a relação entre identidade e alteridade, o hibridismo, a desterritorialização, a migração e a imigração, a multiculturalidade, a violência, as esquizofrenias e transmutações subjetivas. O livro de contos O fio das missangas, de Mia Couto, é exemplo. A análise das narrativas que compõem este livro recupera que em sua grande maioria o espaço ficcional se mostra como uma miniaturização física (de Moçambique? dos guetos urbanos?) e/ou subjetiva (de seus habitantes? dos habitantes do mundo?). Em muitas, o funcionamento dos sujeitos carregam uma profunda sintonia com a espacialidade na qual estão inseridos, indo desde uma aprovação eufórica à uma completa rejeição à ordem espacial que vivenciam. O elo – ou o fio – que une esses pólos está num elemento aqui entendido como ―interdição‖ – que ora se apresenta como interdição geográfica, ora histórica, ora social, ora psicológica, ora discursiva. A partir dessas constatações é que se forma a proposta deste trabalho que é o de uma leitura das narrativas d'O fio das missangas tomando como matéria de observação a categoria de espaço e nela o elemento da interdição a fim de entender como se constrói tal categoria e tal elemento e o que eles significam/representam na construção das narrativas. Palavras-chave: O fio das missangas. Espaço ficcional. Interdição. 197 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Pedro Vítor Gadelha Mendes UFC Pouco Colonialismo, Muita Colonialidade: A Construção de uma Ausência Negra no Ceará O racismo brasileiro é um reflexo dos rumos tomados pelo escravismo criminoso em âmbito nacional e pelas políticas públicas racistas e segregacionistas que se seguiram após o seu término. No entanto, o escravismo criminoso e as políticas racistas não atuaram homogeneamente em todo o território brasileiro. Cada localidade construiu o seu racismo com detalhes e peculiaridades sincronizadas com o seu histórico de opressão racial, diversificando-se, portanto, da estrutura de um racismo brasileiro geral. A pesquisa foi motivada pela desconstrução do senso comum que apregoa a não existência de racismo no Ceará, levando à concepção de um pós-colonialismo situado deste Estado. O presente trabalho busca mostrar que fatos históricos podem ter contribuído para a formação de um sistema racista tipicamente cearense. Para o desenvolvimento desse artigo se abordou livros sobre o colonialismo e o escravismo no Ceará em diálogo com autores pós-colonialistas. Além da bibliografia foram realizadas entrevistas com pesquisadores da questão racial deste Estado. A realização dos estudos indicou que o racismo no Ceará foi construído, principalmente, pela colonialidade presente no modelo nacionalista da elite local, o que criou um formato de identidade cearense negadora da contribuição e presença afro-descente. Atuando por meio de gradações, o racismo cearense se identifica pela negação à identidade negra, se valendo de estratégias discursivas branqueadoras das identidades, ao passo que discrimina e marginaliza a população negra cearense. Rafael Jose de Melo COMIDAS DE SANTO: OFERENDAS PARA EXU Nos mitos que caracterizam e delineiam os Orixás e suas ações estão presentes as necessidades de serem feitas oferendas. A comida, neste caso, sagrada, simboliza o axé e a concretização do diálogo entre os humanos e estes deuses. Ela é, nos terreiros 198 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN brasileiros, um dos componentes da fonte da tradição oral que reatualiza, adaptando, conforme o espaço e o tempo histórico, os mitos dos deuses de raízes africanas em novos espaços. Neste trabalho, dialoga-se sobre a importância da comida dos Santos nos terreiros da Paraíba, sobretudo as de Exu, a partir de entrevistas com babalorixás e iyalorixás. Bastide (2001), Lody (1998; 2006), Prandi (2001), Saraceni (2008) e Verger (2000; 2002) constituem a base teórica deste estudo. Rafaella Cristina Alves Teotônio UEPB Ventos do apocalipse a Meio sol amarelo: tradição e modernidade nas obras de Paulina Chiziane e Chimamanda Ngozi Adichie O presente trabalho estuda os romances Meio sol amarelo (2008), da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, e Ventos do apocalipse (1999), da escritora moçambicana Paulina Chiziane, com o intuito de estabelecer uma relação entre as personagens femininas, no que se refere ao posicionamento e ao cotidiano destas em meio a uma sociedade que vive um confronto entre a tradição e a modernidade. Estuda-se, a partir de uma perspectiva sociocultural, como se define nas obras a identidade africana que emerge neste conflito entre a tentativa de ―resgate‖ de uma tradição que foi ―poluída‖ pelos costumes do colonizador, e a modernidade assimilada pelo colonizado. Com isso, pretende-se revelar como o colonialismo e o pós-colonialismo estabelecem uma influência significativa na escrita dessas autoras, inscrevendo nas relações dos personagens a cultura híbrida africana, em que se configuram costumes, posições e língua, interpreta também o sentimento das personagens femininas em meio às guerras que maltrataram os países em decorrência das tentativas de independência. Palavras-chave: Tradição. Modernidade. Colonialismo. Pós-colonialismo. Identidade africana. 199 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Raimundo Nonato Rodrigues de Souza UEVA ESCRAVIDÃO NO SERTÃO DO ACARAÚ (SÉCULO XVIII) A presente comunicação analisará a escravidão no sertão do Acaraú, como uma espécie de filtro em que permite penetrar uma configuração social para compor um conjunto de ações dos cativos e assim ampliar o olhar para a temática, problematizando as temporalidades e espacialidades que se engendraram no cotidiano como estratégias de sobrevivências. Na trajetória da pesquisa eles ganham visibilidade nas documentações produzidas pela Igreja, Justiça, Câmara e Cartórios. Todos estes escravos teceram, durante suas vidas, estratégias de sobrevivências e criaram redes de solidariedade, sociabilidade e novas identidades. Neste sentido, os exemplos das trajetórias de vidas dos escravos são significativos para compreender as diversas estratégias de lutas e experiências dos cativos no Sertão do Acaraú. Ramon de Alcântara Aleixo UFPB DOS RITOS E RITMOS “DO” E “SOBRE” OS CORPOS NEGROS NAS REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS CURRICULARES: RE-INTERPRETANDO PRÁTICAS DISCURSIVAS NAS SALAS DE AULA DO ENSINO MÉDIO O presente estudo versa acerca das ―representações‖ (Chartier, 1990) instituintes de discursos dos corpos das mulheres negras fabricados pelos currículos no âmago configurativo inerente às sociedades pós-modernas. Para tanto, torna-se mister reiterar a tessitura das identidades (Hall, 2000) ―inventadas‖ no advento dos códigos modernos, bem como sua inserção na ―cultura histórica‖ (Gomes, 2007) fundante da nacionalidade brasileira. Acreditamos, assim, que a evidenciação dos dispositivos disciplinares (Foucault, 2005) que instituem gestos, práticas e representações sobre os corpos negros constituam elementos fulcrais nas imersões temáticas das sociedades em rede. Como 200 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN metodologia, nos aportamos na refiguração do estado da arte em que o presente estudo se insere, bem como no arcabouço teórico assente nas representações discursivas que fabricam os corpos femininos no contexto sócio-educacional atual; evidenciando, através da oralidade (Freitas, 2006) as refigurações nos processos de uso (Certeau, 1994) dos espaços contemplados para análise. Os resultados preliminares nos permitem afirmar a inserção das redes discursivas ―da‖ e ―sobre‖ as mulheres negras ao longo da tessitura dos códigos de sociabilidade nacional, adentrando os espaços escolares atuais através de usos polifônicos que tangenciam as redes de saber-poder e representação em que se inserem. Destarte, acreditamos que a inserção discursiva dos corpos negros, balizado nesse estudo por meio das experiências com os cabelos crespos em escolas estaduais da cidade de Campina Grande – PB constituam elementos nevrálgicos nas reinterpretações discursivas que nos permitam dialogar com as culturas escolares do ―ontem‖ e do ―hoje‖ na evidenciação dos ritos e ritmos que embalam os códigos de sociabilidade corporais ―nas‖ e ―pelas‖ instituições escolares. Palavras-chave: Currículos. Identidades. Práticas discursivas. Culturas afro-brasileiras. Gênero. Ramonna Estela Azevedo Baracho UFRN Raízes da África: a natureza humana em relação umbilical com a terra O presente trabalho pretende analisar o conto ―Raízes‖, que integra o livro ―Contos do nascer da Terra‖, do escritor moçambicano Mia Couto. Esse conto relata a história de um homem, que passado a manhã deitado dormindo na terra, tentou levantar-se em vão, havia criado raízes que davam a volta no mundo (COUTO, 1997). Mergulhando no universo do imaginário e do sonho do povo africano, o autor em questão constrói uma narrativa que emerge da situação inicial de memória, caracterização e afirmação desse povo, para uma outra, lendária e fantástica. Imbricada à expressões de uso cotidiano, a criatividade literária exposta no poema, faz das imagens evocadas em nós a intuição de um lugar surrealista, subjacente ao mundo em que vivemos, nos envolvendo 201 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN pacificamente de sonhos, transportando-nos para um mundo vivo, onde por estréia, um homem passou a andar com a cabeça na lua. Nesse dia nasceu o primeiro poeta (COUTO, 1997). Nosso propósito é examinar como se dá o processo de construção da narrativa – cercado pela memória e identidade de Moçambique – da natureza humana em contato com o pulsar umbilical da terra. Raphael Péricles Borges UEPB REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA MÚSICA “PRECONCEITO DE COR” DE BEZERRA DA SILVA Esse artigo busca analisar a representação do termo ―crioulo do morro‖ como homem pobre e morador da periferia brasileira. Nesse contexto, analisaremos a relação de força e de desigualdade social presentes no álbum fonográfico titulado como ―Justiça Social‖ do cantor Bezerra da Silva, gravado em 1987, especificamente com a música ―Preconceito de cor‖. Dessa forma, buscaremos elucidar os sentidos e significados socioculturais que permitam esclarecer as relações de poder que legitimam esse preconceito. Podemos interpretar que a música ―Preconceito de cor‖, através de sua natureza estética e polissêmica, retrata a relação de força que os homens negros sofrem por estarem presos sem que haja motivo algum, enquanto muitos brancos que cometem crimes estão soltos e impunes, ou seja, ocorre na canção o racismo relatado pelo personagem e narrador da música, o qual não aceita esse fato e resolve reclamar da situação. Dessa maneira, a música representa vítimas de exclusão e preconceito como também de luta social, pois, ao mesmo tempo em que existem negros presos, existem homens que lutam para libertá-los. Partindo desse ponto, o artigo pretende elucidar as contradições e as influências para alteração desse quadro. O objetivo do artigo é romper com noções estereotipadas e naturalizantes construídas sobre o papel do negro nas relações sociais e culturais. Palavras-chave: negro; preconceito; relação de poder; sociedade. 202 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Raquel de Sousa Andrade Jayanny Claybianny A. Fernandes Margareth Maria de Melo – Orientadora UEPB ETNICIDADE AFROBRASILEIRA NO LIVRO DIDATICO ANTES E DEPOIS DA LEI 10.639/2003 O presente artigo originou-se da participação na cadeira de aprofundamento Educação e Etinicidade Afro-Brasileira, ministrada pelas professoras Cristiane Maria Nepomuceno e Margareth Maria de Melo. No qual despertou nossa curiosidade sobre o que vem sendo tratado pelos livros didáticos do Ensino Fundamental, a respeito da história Afrobrasileira. Buscamos abordar nesse trabalho o modo como alguns livros de história do Ensino Fundamental tratam a temática Afrobrasileira antes e depois da lei 10.639/2003 que determina o ensino da história e cultura Afrobrasileira e africana nas escolas da Educação Básica. Tomamos como referência teórica autores com Roberto Benjamin (2006), Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho (2006), Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio (?). Neste estudo comparativo em livros de 4º e 5º ano, percebemos que mesmo após ser sancionada a referida lei, os livros didáticos ainda vêem com algumas lacunas sobre a temática. No entanto, percebemos modificações no contexto desses livros já que a temática era abordada de forma superficial ou muitas vezes, nem era abordada. Hoje aparece de forma mais consistente, tendo em vista desde a capa dos livros em que já se percebe características afrobrasileiras. Notoriamente a utilização do referido tema tem sido mais contemplado nos livros didáticos dos anos iniciais destacando principalmente a contribuição dos/as negros/as para a construção da história brasileira, mostrando a introdução de seus costumes, hábitos, tradições entre outros no cotidiano brasileiro, se misturando com outras culturas e formando uma nova cultura, a Afrobrasileira. Palavras-chave: livro didático, lei 10.639/03, etnicidade afrobrasileira. 203 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Rebecca Morganna Pereira Mendes FAVIP Relação alimento-identidade na comunidade quilombola do Castainho Um dos fatores inerentes a um povo é sua alimentação, pois revela traços de uma história, meio de vida e cultura, muitas vezes conferindo sua identidade, como a pizza na Itália, o sushi e sashimi no Japão e a entomofagia que é o hábito de comer insetos, observado em países orientais. A seis quilômetros da cidade de Garanhuns, na região do agreste meridional do estado de Pernambuco, está localizada a comunidade do Castainho com aproximadamente 210 famílias. Segundo relatos de seus habitantes, Castainho foi fundada por ex-escravos fugidos da guerra que destruiu o Quilombo dos Palmares no século XVII, estes se estabeleceram na região dando origem as diversas comunidades quilombolas. Atualmente seus habitantes sobrevivem principalmente do cultivo do milho, feijão, hortaliças e da mandioca, esta, utilizada na produção de farinha, massa, beiju e goma, sendo comercializados na cidade de Garanhuns, o que conferiu a fama de ―os negros da tapioca‖. Após campanha realizada pela ONG Djumbay e financiamento da Petrobrás, a comunidade ampliou e modernizou sua casa de farinha possibilitando o aumento da produção e contribuindo para melhoria da renda das famílias. A proposta do trabalho é verificar a relação dos alimentos como identidade cultural dessa comunidade e avaliar o impacto da reforma da casa de farinha na reaproximação da comunidade com suas tradições. Palavras-chave: Alimentos e cultura, tradição alimentar, identidade e alimento. Regina Lúcia de Medeiros UFRN Seres marcados: os efeitos da descolonização nas lembranças de ex-soldados africanos Esta comunicação propõe uma leitura comparativa entre o conto ―Eles não são como nós‖, integrante do volume de narrativas Manual prático de levitação, do escritor angolano José Eduardo Agualusa, e o romance Antes de nascer o mundo, publicado na 204 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN África e na Europa com o título Jerusalém, do moçambicano Mia Couto. Nessa leitura, nosso olhar se volta principalmente para a análise de dois personagens que se assemelham por serem, ambos, ex-soldados e por trazerem consigo os estigmas da guerra. Esses personagens habitam um ―entre-lugar‖, pois são simultaneamente produtos da modernidade e instrumentos ―contra-modernidade‖. Envolvidos em guerras, em fenômenos de violência, não conseguem retornar ao humano e habitam o ―passado-presente‖, renovando sempre o passado. Eles são retratos dos homens que trazem dentro de si, ainda mais fortes, as vozes dissonantes do mundo. São homens que (se) estranham e apagam, a cada ato, suas identidades. Observando-os sob a temática da violência, guiamo-nos principalmente pelos seguintes pressupostos teóricos: o conceito de ―entre-lugar‖ (BHABHA, 2003) e as reflexões acerca da descolonização, elaboradas por Fanon (2005). Palavras-chave: violência, descolonização, ―entre-lugar‖, crise identitária. Regina Lúcia de Medeiros UFRN Tio, mi dá só cem: linguagem e violência na narrativa de um “miúdo deslocado” Propomos, nesta comunicação, uma leitura do conto ―Tio, mi dá só cem‖, que consta no livro Filhos da Pátria, do escritor angolano João Melo. A fim de observamos a utilização da linguagem oral na construção dessa narrativa, partimos dos pressupostos teórico-metodológicos de Candido (1971; 2002) acerca da análise integradora, que averigua a maneira pela qual os fatores sociais atuam na composição da obra, de modo a constituir uma estrutura peculiar. Buscamos, com isso, compreender o modo como a violência presente no cotidiano da sociedade angolana é incorporada à malha textual do conto, permitindo que uma voz africana, tantas vezes silenciada, manifeste sua indignação perante a fome, a angústia e a exploração. Com esse propósito, adotamos o referencial teórico constituído por Fanon (1983; 2005), Martins (2000) e Zumthor (2010). Palavras-chave: linguagem, violência, voz, análise integradora. 205 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Renan Marques Liparotti UFRN De Platão a Hampâté Bâ: nas trilhas da oralidade Nesse trabalho estabeleceremos pontes entre o pensamento do filósofo Platão e o do também filósofo Hampâté Bâ. Buscaremos identificar um olhar gregomalinês para a oralidade. Platão afirma que o discurso escrito torna-se perigoso à medida que não permite respostas às perguntas do leitor. Seria então essa fonte dos fatos a mais confiável como se costuma pensar na tradição ocidental, conforme Hampâté Bâ? Faz-se necessário então pensar a ligação do homem à palavra. Segundo o filósofo grego, essa se dá em maior proximidade na oralidade, porque há a presença do interlocutor no momento enunciativo que se torna um rito. Isso acontece semelhantemente com os gregos como com os tradicionalistas malineses. Hampâté Bâ nos introduz um caráter sagrado da Palavra, esta primeiro como pensamento, como som e por último como fala. Em Fedro, Platão considera idealmente a palavra sagrada, mas pondera que o logos acaba por ser ―imperfeito e débil‖ quando usado pelos homens. É no distanciamento do homem do logos por meio da graphe que se afasta da concepção tripla da palavra. Dessa forma, silencia-a e distancia-a do pensar que ocorre no momento enunciativo. Iremos, portanto, aprofundar essa discussão comparando trechos do Fedro e da Sétima Carta de Platão com a Tradição Viva de Hampâté Bâ. O referencial teórico perpassará Trabattoni (2003), Zumthor (2010), Thomas (2005) e Marcuschi (2010). Renata Pimentel UFRPE Performance, Arte e Afeto: corpo e voz do artista e do receptor Performance é hoje, mais que nunca, um conceito-valise: presta-se a esclarecimentos e borragens de noções (ao mesmo tempo), quando se discutem as fronteiras cada vez mais tênues entre as linguagens artísticas. Ao se colocar em evidência, primeiramente, o espaço cênico, a apresentação pautada na interação com público, essa noção se alarga, trazendo novamente à tona ancestrais fundamentais na fruição do artístico: a voz e o 206 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN corpo, meios de efetivação e circulação do artístico desde sempre (anteriormente até ao escrito e impresso, ou ao digital e virtual). A performance, então, em uma visão genérica, conserva características principais da linguagem cênica (do mundo da dramaturgia e do teatro) e, ao mesmo tempo, incorpora elementos das expressões afins. Seguindo as ideias de teóricos como Walter Benjamin, Paul Zumthor e Renato Cohen, em paralelo com referências artísticas várias (por exemplo: a poesia visual de Leminski e a escrita oralizante de tantos autores africanos – entre eles Mia Couto – além de brasileiros como Guimarães Rosa e Hilda Hilst, ou o teatro de Denise Stoklos), busca-se, neste artigo, ampliar o conceito de performance e nele inserir o corpo e o afeto do leitor/espectador. Ou seja, busca-se criar um espaço de experimentação, no qual, essencialmente, a criação performática se converte em uma pesquisa idiossincrática de linguagem: ou seja, a ―gagueira‖ própria de cada criador ganha dimensão e foro privilegiado de ação. Logo, a noção de performance se amplia e funciona como uma espécie de vanguarda nutridora de todas as artes estabelecidas. Palavras-chave: Performance; arte; oralidade. Renato de Alcantara - FAETEC/RJ - SEEDUC/RJ Cláudia Cristina dos Santos Andrade - UERJ A poética do Jongo: tradição e reinvenção O batuque do tambor chama para a roda, enquanto jovens de uma universidade marcam, cada um a seu jeito, o ritmo com o corpo. É o Jongo Folha da Amendoeira, iniciativa de estudantes ligados ao projeto Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu, que inauguram, naquele espaço, uma prática tradicionalmente nascida em comunidades quilombolas. Assim, reinventam a prática, e paradoxalmente, perpetuam a tradição. O objetivo deste trabalho é compreender a construção da poética dos pontos de Jongo nesse cenário, analisando o material coletado nas rodas de Jongo promovidas na Cantareira, lugar de encontro dos universitários da UFF(Universidade Federal Fluminense), a partir dos estudos de Alcântara(2008), e sob elementos teóricos advindos da teoria da enunciação de Bakhtin e o conceito de experiência de Benjamin. Consideramos que a força da 207 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN palavra cantada faz emergir o orgulho de pertencer e recupera a história, retomando, na atividade jongueira, a (re)inauguração de identidades, pré-existentes na ancestralidade, produzindo experiências que se contrapõem à massificação cultural homogeneizante e descaracterizante. Reno Nicolas de Araújo Torquato UFRN O poeta vai morrer na África: a persistência do mito rimbaudiano em Roberto Bolaño O presente trabalho procura discutir como persiste na obra do escritor Roberto Bolaño o mito criado em torno do poeta Arthur Rimbaud. Analisamos de que modo a biografia de Rimbaud pode ter sido convertida numa narrativa mítica e em que sentido essa mitificação implica numa ideia de África como "lugar de morte". Nesse sentido, buscamos identificar na obra de Bolaño passagens que demonstrem como funciona e persiste esse mito. Palavras-chave: Mito - África - Morte - Arthur Rimbaud - Roberto Bolaño. Ricardo Alexandre Ribeiro Rodrigues UNESP Memória, música e poesia na construção da narrativa A viagem dos pescadores, a partir de estudos sobre os griots africanos Os griots são artesãos da palavra e da música no oeste africano, exercendo uma diversidade de papéis sociais dentre os quais destaco os de músicos, poetas e historiadores. A partir desses papéis e do conceito de performance de Paul Zumthor, reflito, neste artigo, sobre alguns aspectos de minha própria atuação artística, em especial a pesquisa e divulgação de repertórios poéticos, narrativos e musicais ligados à memória coletiva que possam contribuir para uma formação humana não apenas no 208 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN âmbito individual, mas também político, social. Como exemplo dessa atuação, trago a experiência com a narrativa A viagem dos pescadores, em que trabalhei sobre a história real de quatro pescadores cearenses que, em 1941, fizeram uma viagem de jangada até o Rio de Janeiro, capital do Brasil na época, para falarem diretamente com o presidente Getúlio Vargas sobre as miseráveis condições de vida e de trabalho a que estavam submetidos os jangadeiros nordestinos. As pesquisas históricas que fundamentaram a narrativa foram aliadas a poemas e canções que trazem um imaginário um tanto idealizado sobre a vida dos pescadores, o que me levou a considerar a importância de confrontar repertórios e imaginários ligados à memória coletiva com materiais que lancem um olhar crítico sobre essa memória, ampliando-a para além de estereótipos. Essa experiência integra a parte prática da pesquisa de mestrado que realizo no Instituto de Artes da UNESP, sob orientação da Profª. Drª. Berenice Raulino e com apoio da FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Palavras-chave: griots africanos, performance, narrativa, jangadeiros. Roclaudelo N’dafá de Paulo Silva Nanque UFPE Poesia de Combate e Guineenidade em Vasco Cabral: Quando a Primavera ainda está no por vir... O presente trabalho é apenas um fragmento duma pesquisa sobre a História da Literatura Guineense. É seu escopo primeiro, divulgar a literatura da Guiné-Bissau, expondo, laconicamente, as bases e facetas da poética deste mui falado e, de facto, assaz desconhecido poeta-combatente guineense Vasco Cabral, sua visão e concepção de mundo (baseado em ―O Desafio de Escombro: Nação, Identidades e Pós-Colonialismo na Literatura da Guiné-Bissau‖ de Moema Parente Augel (GARAMOND, 2007) e poemas vascaínos). A proposta é trazer à passarela literária global este campo ainda virgem, tendo como via a poética vascaína sempre enlaçada aos seus contextos, estimulando a leitura e, portanto, conhecimento, da poesia guineense - por ser o primeiro gênero na manifestação da Literatura na Guiné-Bissau - e daí aos outros 209 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN campos riquíssimos. Muito pouco se tem falado sobre o autor supracitado, contudo vêse nele um grande contributo para a formação da poesia guineense, que ainda gatinha, como dizem, e buscar os elos entre ele e alguns dos atuais poetas guineenses; expor sua poesia de combate, que mesmo na língua lusa, não deixou de expressar a sua Guineenidade, tentando entender como a segunda explica ou perfilha a primeira, ou o oposto. Vale dizer que, por mais que se tente ultrapassar, o espírito do período colonial, combate heróico de Amílcar Cabral e prosélitos na luta armada, et Cetera, ainda vive vivo na sociedade guineense, inclusive na literatura. Desta feita, é golo, outrossim, contribuir para a redução do desconhecimento brasileiro, no que concerne a África, a Guiné, e a sua literatura. Palavras-chave: Literatura, Guiné-Bissau, Vasco Cabral, Combate, Guineenidade. Rodrigo da Silva Melo UFPB A tradição juremeira e suas relações com os rituais de candomblé e umbanda na casa Ilê Axé Xangô Agodô O presente estudo de caso investiga do ponto de vista etnomusicológico as relações do culto da jurema, com o candomblé e a umbanda nos rituais praticados no Ilê Axé Xangô Agodô. A casa está sediada em João Pessoa, Paraíba, há dezoito anos. As reelaborações dos rituais para as entidades da jurema e para os orixás conotam as influências da umbanda, associada ao movimento de federalização dos cultos afro-brasileiros. A música é um elemento importante na constituição dessas cerimônias. Ela está diretamente ligada à sua estrutura, bem como se faz presente em todos os rituais da casa em questão. A análise desse elemento amplia as possibilidades de compreender quais as dimensões das reelaborações do culto da jurema a partir de sua intersecção com o candomblé e a umbanda. Palavras-chave: culto da jurema; rito afro-indígena-brasileiro; etnomusicologia. 210 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Rodrigo Michell dos Santos Araujo Fernanda Bezerra de Aragão Correia AS MARCAS DA DOMINAÇÃO COLONIAL E DA BARBÁRIE NO ROSTO DO CONTINENTE AFRICANO A PARTIR DE UMA LEITURA DO FILME ‘O LEÃO DE SETE CABEÇAS’, DE GLAUBER ROCHA Este artigo toma como base o cinema de exílio da década de 70 de Glauber Rocha e pretende investigar a problemática da violência e do colonialismo na África, refletida no filme ‗O Leão de Sete Cabeças‘ (1970), com o objetivo de fazer cinema como denúncia, cinema político. No curso das sociedades modernas e da expansão do capitalismo o colonialismo precisa ser visto como processo histórico-social, que faz transbordar revoluções, palavra corrente no século XX, e que fabrica o processo de violência e barbárie. Domina-se o Outro para eliminá-lo e, assim, só resta o escravismo. É, a partir dessa estrutura, que Glauber Rocha vem revelar o homem do Terceiro Mundo, narrando um continente marcado pelas forças de dominação social, bem como dialogar com a situação política no Brasil, desde a situação de dependência e repressão até as inquietações do pós-golpe militar de 64. Palavras-chave: África, colonialismo, estética da violência, cinema novo, revolução. Roland Walter UFPE Édouard Glissant e a poética da relação cultural Édouard Glissant diferencia entre ―o mundo universal da mesmice cultural‖ e ―um padrão da diversidade fragmentada‖. A diversidade, portanto, é um dos conceitos-chave do pensamento glissantiano sobre relações culturais rizomáticas que constituem o Mundo-Todo: Mundo-Caos em que cada identidade é continuamente constituída e reconstituída mediante a interação de ―enraizamento e errância‖, a ―dinâmica da unidade que se faz em diversidade‖: um universo caracterizado pelos poliritmos do entrelaçamento da humanidade com toda a biota ― uma complementaridade de 211 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN elementos contrários inerente aos estilos e cosmovisões barrocas das Américas. A teoria da crioulização é baseada nos fluxos híbridos e transculturais que abrem fronteiras fixas e nações homogêneas para seus espaços fronteiriços, arquipelizando as Américas e o mundo. Neste processo, a relação com a terra torna-se uma questão-chave para os afrodescendentes. Os escravos e seus descendentes viveram como exilados proibidos de desenvolver qualquer relação de livre escolha com a terra e o lugar onde trabalharam e viveram. Desta alienação resulta a não-inscrição numa história, numa cultura e num lugar vividos e percebidos como não lugar, não história e não cultura. Para os escritores afro-descendentes, portanto, é de suma importância trabalhar a relação entre o indivíduo e a paisagem em busca da ―duração temporal‖ e cultural. O que significa a crioulização cultural do mundo se suplementar o pensamento-raiz com um pensamento-rizoma não leva, segundo Glissant, a uma compreensão total do processo da inter-relação cultural? Se a memória, na obra de Glissant em particular e na arte negra em geral, é o artifício par excellence na criação de uma episteme cultural, como funciona a memória afro-descendente — memória esta, segundo Glissant, ―agravada pelo vazio, a sentença final da plantação — neste limen que liga e separa rotas e raízes, mares e lares? Como pensar a identidade e a cidadania neste mundo crioulizado arquipelizado? O objetivo desta mesa redonda é discutir estas (e outras) idéias-chave de Édouard Glissant, filósofo, poeta e romancista martiniquenho. Palavras-chave: Poética da relação; crioulização arquipelização cultural do mundo; opacidade cultural; digenèse; mundo-caos; mundo-todo; transversalidade. Romana Fonseca Alves de Andrade Xavier A Cartomante – O destino dialógico das obras O presente trabalho se refere a uma análise dialógica do conto ―A Cartomante‖, de autoria de Machado de Assis, com o filme brasileiro baseado na obra original do autor. É importante ressaltar que Assis, referência na literatura brasileira, é neto de escravos e portanto descendente direto da cultura africana. 212 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Trata-se de um estudo detalhado sobre a releitura do conto. Nesse contexto, pode-se observar um rebaixamento do conto (aproximação) para uma realidade de banalização e popularidade. Ocorre uma transferência do eixo amor abstrato e sentimental para o universo da concretização do grotesco, com características mais corporais e animalescas dos instintos humanos. É notória a presença marcante de elementos como peripécia, fatores intercalares, intertextualidade, elementos tensores, contrastes (alto e baixo versus humano e divino), mésalliances,aspectos carnavalescos, metáforas, profanação, promiscuidade, riso irônico, entre outros. Nesse sentido, o filme realiza uma releitura do conto, modificando, invertendo e subvertendo valores importantes. É uma construção de uma nova história paralela àquela, na qual há uma relação direta e um diálogo constante, porém com transformações decisivas. Em alguns aspectos, são inclusive gritantemente opostas e conflitantes. Configura-se um contexto novo dentro da temática central e familiar a ambos que é o triângulo amoroso. Embora no fim do filme, Rita e Camilo se reencontrem diante da Vênus de Milo, a prevalência não é do amor romântico e sim do carnal. Percebe-se no término da película, a tentativa de se dar um prumo à vida enquanto o conto é marcado pela tragédia. Rosângela Trajano da Silva UFRN Vozes da oralidade na cultura norte-rio-grandense A voz do passado tornar-se prosa poética nos lábios daqueles que guardam nos baús da sabedoria lembranças de tempos idos que dão sorrisos todas às vezes que renascem numa conversa embaixo de uma árvore, sentados num tamborete ao cair da tardinha, na cozinha com o fogão a lenha ou no meio do mato ao canto dos pássaros. Essa voz que se manifesta cheia de alegria e encanto eternizando o calendário na boca da noite. Quem conta como foi, o que foi, por que foi, expressa marcas da oralidade em poesia de uma gente norte-rio-grandense que vive na capital ou no interior, mas faz lembrar o dedal 213 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN com a agulha de mão a costurar um passado de infâncias e juventudes onde meninos e meninas cresceram sob o correr das águas do rio nos momentos de lazer ou no roçado juntando-se aos pais para plantar memórias em terras de milho ou feijão. Nosso enfoque de oralidade e poesia sairá das escrituras de Octávio Paz e Paul Zumthor. Palavras-chave: Oralidade, memória, cultura norte-rio-grandense. Rosilda Alves Bezerra UEPB OS TRAUMAS DA COLONIZAÇÃO: VIOLÊNCIA E RESISTÊNCIA EM O ALEGRE CANTO DA PERDIZ, DE PAULINA CHIZIANE O alegre canto da perdiz, romance da autora moçambicana Paulina Chiziane, narra a saga de mãe e filha, Delfina e Maria das Dores. A ação dessas personagens, no decorrer da narrativa aponta para a construção de um discurso feminino, que denuncia o estado de objeto a que a mulher moçambicana foi submetida, sobretudo, durante a colonização. A narrativa faz uma releitura da origem dos povos, da história de África e, sobretudo, da Zambézia, ao recontar lendas do matriarcado. Chiziane recupera também o papel do griot, registrada na voz da mulher do régulo, respeitada contadora de histórias, e a única no local que compreende o ato insano de Maria das Dores. O romance destaca a Zambézia, região onde ocorrem as ações narrativas, mas também a coloca como uma representação da mulher moçambicana, violentada pelos colonizadores, colonizada e assimilada. Entretanto, o mesmo local também denota um espaço da resistência, principalmente através da contadora de histórias, que insere nas narrativas comentários críticos sobre as questões sociais e políticas, ao narrar as histórias do matriarcado, dizima a idéia de supremacia do colonizador. O apoio teórico utilizado neste estudo está inserido nos estudos de Fanon (2010), sobre violência e racismo; Memmi (1977) sobre o retrato do colonizador e do colonizado; Bhabha (2003) e Hall (2007), com identidades e mediações culturais, Appiah (1997), a África na filosofia cultural e Said (1995), com cultura e imperialismo. Palavras-Chave: Paulina Chiziane. Violência. Resistência. Trauma. Colonização. 214 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Rosivalda dos Santos Barreto UFC/FACED LAZER: RESISTÊNCIA E IDENTIDADE NO QUILOMBO URBANO DE CAJAZEIRAS: SALVADOR-BAHIA Esse artigo é resultado da pesquisa cujo tema foi, Os Valores Quilombolas Permanentes nas Atividades de Lazer da Comunidade de Cajazeiras: Salvador/Bahia. É um bairro considerado o maior complexo habitacional da América Latina. Também identificado na pesquisa como um território de maioria afrodescendente, situado num local onde outrora fora o quilombo do Urubu ou Orubu. A investigação objetivou reconhecer nas comunidades de Boca da Mata, Cajazeiras XI e VI, atividades de lazer que preservam um perfil de permanência quilombola, identificando e analisando-os à luz das teorias contemporânea do lazer e de sua prática na comunidade supracitada. O trabalho tratou o lazer como ―pedagogia‖ do enfrentamento à escravidão a partir dos quilombos, e observou as rupturas e permanências africanas no lazer. Esse texto objetiva apresentar dois capítulos da monografia: a visibilidade dos quilombos, sua origem, resistência no Brasil e América Latina no século XIX, confluindo para a resistência e a formação da identidade da população afrodescendente como tentativa de reproduzir uma cosmovisão africana no Brasil; e a preservação ou rupturas dos valores de base africana nas atividades de lazer em Cajazeiras, contrapondo o que defende os teóricos do lazer. Nele expus a cosmovisão africana, a formação dos quilombos como forma de resistência e lócus de lazer e o conceito de lazer construído no século XIX. Conclui então que existe uma práxis subjetiva do lazer no bairro, que o pensamento de base africana também pouco se fragmenta, portanto o tempo livre que caracteriza o lazer, segundo seus teóricos nesse caso, se dilui. Rubelene Diógenes Holanda UECE/FAFIDAM Lavoura Arcaica: valores e desejos O romance Lavoura Arcaica de Raduan Nassar é representativo da modernidade, pois apresenta elementos que vão ao encontro do pensamento e do imaginário do homem 215 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN moderno. Nessa perspectiva, será analisado neste estudo como o autor trabalhou a quebra de valores dentro de uma família tradicional que possuía muitos valores e tradições religiosas levando à tona a relação incestuosa de André e Ana, revelando, assim, o desejo que perpassa nessas relações por remeter ao erotismo, à sensualidade, ao prazer, à dor, à alegria e ao sofrimento. Temáticas essas muito comuns nas narrativas contemporâneas. Para tanto, tomarei como base teórica os estudos, dentre outros, de Leila Perrone-Moisés, Sandra Nitrine e Camille Dumoulié. Palavras-chave: Raduan Nassar; Romance; Desejo. Ruth Maria Franco da Silva Waldeci Ferreira Chagas - Orientador UEPB CIDADANIA E IDENTIDADES NEGRAS NAS ESCOLAS: OS CONTEÚDOS DE HISTÓRIA, CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES (AS) NO MUNICÍPIO DE ALAGOA GRANDE-PB O presente trabalho tem como principal objetivo fazer uma análise da formação de professsores (as) no curso: Cidadania e Identidades Negras realizada no Município de Alagoa Grande – PB. O intuito é buscar perceber as principais contribuições desse curso para a implementação da lei 10.639/03 e da Educação das relações etnicorraciais e dos conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana no currículo e no cotidiano das escolas da rede de educação básica. O curso também teve como propósito contribuir com o rompimento da perspectiva homogênea e etnocentica de história ainda presente nos curriculos de história. Neste sentido o curso de formação docente forneceu elementos que possibilitem aos alunos (as) e professores (as) negros (as) a se perceberem enquanto construtores de saberes e formadores da sociedade brasileira. Portanto, tal formação veio contribuir para formar profissionais conscientes de que são responsáveis tanto pela pluralidade na sala de aula quanto pela desconstrução do preconceito no cotidiano da escola. 216 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Palavras-chave: Formação de professores (as), Educação etnicorracial, cultura afrobrasileira e africana. Sandra Sassetti Fernandes Erickson UFRN Ditirambos de Luanda: Evoé! Iê! Significando ―hino em uníssono‖, ditirambo é uma forma dramático-poética da antiguidade grega, caracterizada pela performance, em círculo, de um grupo de dançarinos entoando cantos corais em honra de Dionisos. Característica marcante dessa forma poética é o diálogo entre um cantor solitário. O ditirambo é uma forma coletiva de experiência do êxtase através da música e do canto performada. Observando a estrutura da organização e da perfomance da roda de capoeira, exploramos, nesse trabalho, a possibilidade de tratá-la como uma forma ditirâmbica. Analisaremos a função do círculo onde um grupo de cantores (coral) dançarinos, vestidos de faunos (abadá) entoa hinos e toca instrumentos de intensidades sonoras programadas objetivando desencadear e distribuir o transe (axé) nos participantes, que, na capoeira também inclui os ouvintes/expectadores que participam através do bater palmas. Pensamos que o modo como o êxtase é obtido na capoeira, a saber, através da invocação e entoações de hinos-mantras por um corifeu e das repetições pelos demais participantes é semelhante ao ditirambo grego. Movidos pela melodia estranha e pungente, melodia pungente, mágica, cósmica, extraordinária—uheimlich— do berimbau, a roda de capoeira chama os deuses para seu centro de axé onde os mortos os deuses [candomblé] e os jogadores-guerreiros-dançarinos dionisíacos se tornam, e, através de suas encantações mântricas resignificam lugares e hierarquias de homens, seres e deuses. Iê! Evoé! Palavras-chave: capoeira, ditirambo, performance. 217 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Sávio Roberto Fonseca de Freitas UFPB O sétimo juramento: feitiçaria e magia negra na narrativa de Paulina Chiziane O objetivo de nosso estudo é analisar a narrativa O sétimo juramento (1999), terceiro romance da escritora moçambicana Paulina Chiziane numa perspectiva de interpretação que privilegia a discussão sobre a condição religiosa em Moçambique. O personagem do referido romance, David, movido pelas tensões pós-coloniais em relação às tradições moçambicanas e à modernidade vinda com a industrialização portuguesa, vive situações que o faz recorrer à quimbanda, culto de origem bantu onde rituais de magia negra e feitiçaria são freqüentes. Nesse sentido, a inserção do tema da religiosidade tribal moçambicana no romance de Paulina Chizane torna-se um fato que possibilita afirmar que a referida escritora se utiliza da referida temática para, através da literatura, registrar e dar visibilidade a uma tradição religiosa que antes da colonização portuguesa era preservada apenas pela oralidade. Assim, o romance moçambicano, além de ser espaço ficcional para especulações do imaginário, também se torna lugar para exibição de contornos identitários que evidenciam traços da moçambicanidade contemporânea e legitimam a escritura literária moçambicana dos escritores que fazem parte da fase póscolonial da literatura moçambicana. Palavras-chave: Paulina Chiziane, Narrativa, Feitiçaria, Magia. Severina Faustino dos Santos Rosilda Alves Bezerra – Orientadora UEPB IDENTIDADE NEGRA E SINCRETISMO RELIGIOSO AFRICANO NA POESIA DE SOSÍGENES COSTA Sosígenes Marinho da Costa, poeta baiano, nasceu na cidade de Belmont, em 1901, vindo a falecer 1968, no Rio de Janeiro. O poeta baiano atuou no jornalismo e foi membro da Academia dos Rebeldes, grupo que contava com a participação do escritor 218 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Jorge Amado. Sosígenes Costa está vinculado à terceira geração modernista e o seu discurso poético faz usos da mitologia africana e do sincretismo das crenças católicas e africanas, além do folclore afro-brasileiro. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo analisar como o poeta Sosígenes Costa representa o sincretismo das crenças afro brasileiras e católica no poema ―Iemanjá‖. Sendo assim, discutiremos a respeito da presença religiosa e de como o poeta faz uso das mitologias e sincretismo religioso em sua poesia. Para atingir os objetivos propostos, os estudos que sustentam o trabalho serão voltados para a contextualização social, histórica e cultural por meio de pressupostos teóricos da critica literária e dos estudos socioculturais: Hall (1999); Bhabha (2003); Fanon (2009); Prandi (1998) e Bastide (1985). Palavras-chave: Identidade negra, Modernismo, Sosígenes Costa. Shannya Lúcia de Lacerda Filgueira Elaine Cristina Camara de Azevedo Maia UFRN Fumo e fumaça: histórias de chão e raça d’África Este trabalho ensaístico visa observar o processo de contação de histórias via tradição e cultura, observando como a fala é o depositário de todo um repertório imagético da vida cultural africana; trazendo, por conseguinte, à luz o conhecimento adquirido ―naquela‖ comunidade e em outra, via o constelado de personagens ficcionais. Para tanto, usa-se toda a sintaxe imbricada de significantes e significados marcados pela voz do eu lírico presente no romance Terra Sonâmbula, do autor moçambicano Mia Couto, e em outros autores teóricos buscar elementos, a fim de fomentar todo um aparato capaz de nos fazer ver o quão é filosófico e ideológico o indumentário artístico e tradicional de se contar histórias na cultura africana. Palavras-chave: contação de história; fala; memória; Terra Sonâmbula. 219 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Silvano Fidelis de Lira Maria Lindací Gomes de Souza UEPB MEMÓRIAS E REMANESCENTES QUILOMBOLAS: UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA E IDENTITÁRIA Este trabalho é um recorte de um projeto maior; ―Nos territórios de remanescentes quilombolas, redes que tecem a cidadania cultural: territorialidade, educação, migração e narrativas de vida‖, coordenado pela Profª. Drª. Maria Lindaci Gomes de Souza, que conta com o financiamento do Programa de Incentivo à Pós-Graduação e Pesquisa (PROPESQ) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A pesquisa está em fase de andamento, na qual se estuda os teóricos que discutem a questão da ressemantização do contexto de quilombo na contemporaneidade. Tendo em vista que estamos privilegiando as narrativas dos idosos, através da memória individual buscamos estabeleceu um diálogo via história de vida. Sustentando dentro dos marcos da história oral, dentre as categorias que subsidiarão a pesquisa, destacamos inicialmente a identidade e a memória dos remanescentes quilombolas. O locus de pesquisa são as comunidades remanescentes quilombolas da Paraíba, especificamente a Comunidade do Grilo, Caiana dos Crioulos e Caiana dos Matias. Devido a sua fase inicial, este trabalho analisa através de pesquisa bibliográfica as concepções histográficas acerca dos quilombos e as tessituras discursivas que os formaram, de forma que sejam abordadas visões sobre o tema, buscando perceber o discurso da historiografia a respeito das comunidades remanescentes de quilombos e seus membros. Em um segundo momentos abordaremos através da bibliografia e das memórias individuais a identidade quilombola. Palavras-chave: Memórias; Remanescentes Quilombolas. 220 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Solange Pereira da Rocha UFPB BANTOS NO MUNDO ATLÂNTICO: PRESENÇA AFRICANA NA PARAÍBA NO FIM DO PERÍODO COLONIAL A comunicação tem como propósito discutir a presença africana na Paraíba, tanto numa forma ampla como numa perspectiva micro-histórica, com análise em inventário e assentos de batismo da população escrava de um engenho localizado em Alhandra. Esta era uma das vilas mais antigas da capitania da Paraíba, cujo território se caracterizava por ter uma expressiva população indígena (Aldeia de Aratagui dos povos potiguara). No engenho, denominada Tabatinga se encontrou uma forte presença de africanos, sobretudo, de grupos bantos, como os ditos ―Moçambiques‖, ―angola‖, ―congo‖, ―benguela‖ e ―cabinda‖. Assim, a partir de análise das informações sobre o tráfico transatlântico de escravos e do comércio interno, caso de Pernambuco, fornecedor de africanos escravizados para as capitanias do Norte, se procurará mostrar o contexto que possibilitou a chegada desses africanos na área litorânea da capitania da Paraíba e uma análise das relações sociais (casamento e parentesco espiritual) formadas por eles, tanto no engenho quanto nas áreas circunvizinhas em que viviam nos últimos anos do período colonial. Palavras-chave: Africanos. Paraíba. Período Colonial. Stélio Torquato Lima UFC COMO UMA ONDA NO MAR: SIMBOLOGIAS DAS ÁGUAS NA POÉTICA DE JORGE BARBOSA O cabo-verdiano Jorge Barbosa (1902-1971), uma das figuras centrais do movimento da Claridade, desempenhou papel de relevo na sedimentação da literatura em seu país. Sua produção poética, longeva e marcadamente telúrica, encerra uma tentativa de dar visibilidade às angústias e aos anseios mais profundos de seu povo. Nesse processo, o 221 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN escritor enxerga no isolamento geográfico de seu país uma barreira que projeta na alma de sua gente um profundo sentimento de solidão. É nessa perspectiva que refletimos neste trabalho sobre os vários significados do mar na poética do referido escritor, buscando demonstrar como a exploração dessa figura como leitmotiv pelo escritor tem como principal objetivo reforçar as seguintes idéias: a) a condição do cabo-verdiano como um ilhéu, como alguém isolado do mundo pelas fronteiras líquidas; b) num sentido mais profundo, a condição do poeta como um outsider, como um desajustado social que experimenta um isolamento mais angustiante que o de natureza física: a solidão anímica, de fundo existencial. Palavras-chave: Mar – Metáfora – Jorge Barbosa. Suelany C. Ribeiro Mascena UFPB ALTERIDADES E GÊNERO EM PONCIÁ VICÊNCIO DE CONCEIÇÃO EVARISTO A condição do negro e da mulher na sociedade contemporânea é constantemente discutida e problematizada pelos estudos culturais e literários. Com isso, atrelamos tais questionamentos à narrativa da autora Conceição Evaristo, Ponciá Vicêncio, obra situada em pleno século XIX e que narra a história da família Vicêncio, composta pela personagem-título, seus pais e irmão. A partir dos fragmentos da memória dos personagens, a autora traça, em uma sequência não cronológica, o desencadear das suas vidas, caracterizada pela simplicidade, uma vez que vivem em uma casa de barro, próxima à fazenda, de onde retiravam o seu sustento; eram negros e, apesar de forros, continuavam a morar e trabalhar para o senhor da casa grande. Em virtude disso, a personagem, que dá nome ao livro, decide se deslocar do ambiente rural para a cidade grande. Em meio aos encontros e desencontros do existir, Conceição Evaristo expõe, em forma de prosa poética, o trajeto desses personagens. Portanto, à luz de autores como Frantz Fanon (2008) e Stuart Hall (2009), demonstraremos os aspectos apontados. Palavras-chave: Ponciá Vicêncio. Alteridades. Gênero. 222 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Sueli da Silva Saraiva USP/CNPQ Colonização, racismo e trauma em representações literárias de Angola e Moçambique Duas matérias noticiadas na mídia recentemente chamam a atenção para os temas colonização e racismo, os quais trazem no bojo, é claro, a escravidão. A primeira: ―Jamaicanos pobres colocam a vida em risco para ficar com a pele mais clara‖ (UOL Notícias, São Paulo, 11.04.2011. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultimasnoticias/internacional/2011/04/11/jamaicanos-colocam-a-vida-em-risco-para-ficar-coma-pele-mais-clara.jhtm. (Acesso em 11.04.2011); a segunda, do jornal Folha de S.Paulo de 14.04.2011 é intitulada ―Babel haitiana‖, e remete à questão linguística no Haiti, com a adoção do francês como língua de prestígio, em detrimento do creóle, a língua falada pela maioria de uma população em que menos de vinte por cento das pessoas tem o idioma do ex-colonizador como língua principal (situação análoga em outras excolônias na África). Tais matérias revelam o ―óbvio‖ que não deve ser ignorado, diria o escritor nigeriano Femi Ojo-Ade, i.e, a persistência das dicotomias herdadas de uma história de séculos de rebaixamento dos valores dos africanos e afrodescendentes. E, conforme Frantz Fanon, a imposição (e assimilação traumática) de máscaras brancas sobre a pele negra. Tais questões, profusamente representadas na ficção anticolonialista dos países africanos, denunciam uma situação passada (des)humana, cujos ecos continuam a incitar o consumo inadvertido dos valores branco-europeus como força universal do belo e do moderno. Conceitualizando essas experiências sociais e individuais em termos de colonização, racismo e trauma, propomos discutir o modo como essa temática está presente na ficção de Angola e Moçambique, tomando como exemplo textos de Arnaldo Santos, Boaventura Cardoso, António Cardoso (Angola) e Luís Bernardo Honwana, Suleiman Cassamo, Mia Couto (Moçambique). Palavras-chave: Colonialismo, racismo, literaturas africanas de língua portuguesa. 223 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Sueli Meira Liebig UEPB A IDENTIDADE FRAGMENTADA: UM ESTUDO SOBRE A CONDIÇÃO DA ALTERIDADE NEGRA NO CONTO OBSESSÃO Este estudo pretende relacionar aos aportes teórico-metodológicos sobre a condição da alteridade na sociedade pós-moderna, de modo geral, e mais especificamente às questões concernentes à identidade fragmentada, à globalização, à comunidade, às instituições sociais, notadamente a família, aos laços afetivos, ao resgate das raízes étnicas dos afro-descendentes e às estratégias de ressignificação do eu enquanto sujeito ontológico, tomando como referência o conto ―obsessão‖ (1998), da escritora Sônia Fátima da Conceição, numa perspectiva crítica fundamentada em estudos realizados por Zygmunt Bauman, Stuart Hall, Frantz Fanon e Anthony Giddens. Palavras-chave: Alteridade; Globalização; Comunidade; Identidade. Suely Santos Santana UFBA Duas cabeças valem mais que uma cabeça: visões de África, Abdulai Silá e a literatura guineense O trabalho, inicialmente, faz um quadro geral panorâmico do pensamento que norteou as idéias criadas e divulgadas pelos colonizadores sobre o continente africano e os seus habitantes para, em seguida, fazer uma espécie de contraponto entre tais idéias e as concepções apresentadas por um escritor e intelectual guineense, Abdulai Silá, através da narrativa literária. 224 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Sumara Leide da Silva Lucicleide da Silva Araújo UFRN “Gentes de cor”: sexo e preconceito na colônia tropical luso-brasileira A empresa colonizadora portuguesa que se instalou nas terras brasílicas, a partir do século XVI, tinha como um dos tripés de sustentação o discurso moralizador permeado por justificativas cristãs-católico de cunho ―salvacionista‖ e ―civilizatória‖, que buscava normatizar o uso dos corpos. A partir desta perspectiva, nos propomos a analisar como a sexualidade de homens e mulheres, negros e mestiços, foi construída legitimando estereótipos preconceituosos da perspectiva de propensão natural os vícios da desonestidade lascívia e fornicação, vinculando tais práticas ao comportamento cultural da etnia negra. Palavras-chave: Sexualidades; Preconceito; Colônia. Surian Seidl UFRGS “As Aventuras de Ngunga”: nas trilhas da libertação de Angola e da construção da identidade sonhada O presente trabalho visa a analisar o surgimento do Novo-Homem angolano dentro da obra, ―As Aventuras de Ngunga‖, de Pepetela, Arthur Mauricio Pestana dos Santos. Evidenciaremos mais especificamente o personagem ―Ngunga‖ e sua trajetória em busca da libertação do território e da construção da identidade de Angola, levando em conta o contexto histórico-político-cultural que era vivenciado naquele período histórico. A narrativa de Pepetela representa essas evidências quando analisamos as nuances culturais contidas na tessitura narrativa. Escrita num momento de grande conflito em Angola, o da pré-independência - que foi precedida por uma guerra anticolonial violenta e avassaladora - a obra aqui referida reflete muito da ideologia e do envolvimento político e social que o escritor, membro integrante do MPLA, tinha em 225 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN favor da Libertação de Angola, representando este imaginário social por meio da literatura. Importante ainda ressaltar que Pepetela atribui à mulher um papel fundamental de sedimentação de valores e inestancamento bélico. É Wassamba, personagem por quem o menino Ngunga se apaixona, que representa essa fortaleza, essa racionalização. No momento crucial em que se tem que eleger entre a individualidade, representada pela paixão, ou a alteridade, iconizada na continuidade da luta de resistência, a opção é pela luta. Wassamba representa bem a gama feminina da África, uma terra que tem na mulher o norteamento da harmonia entre o homem, o imaginário e o código social. É nesse viés, que a pesquisa vem desenvolvendo-se, procurando caminhar, juntamente com a personagem, por terrenos ainda relegados a não oficialidade histórica e rompendo as barreiras do colonialismo. Palavras-chave: Angola – Identidade - Ngunga - Literatura – Pepetela. Tânia Lima UFRN BATICUM TAMBOR – BATICUM GRIOTS: MARACATUS PSICODÉLICOS EM DJ DOLORES No canto afro-brasileiro das culturas híbridas, analisa-se o maracatu psicodélico em DJ Dolores a partir da estética da crioulização, de E. Glissant. À procura dos vestígios do canto afro-brasileiro, ampliaremos o campo de análise a partir da batida sincopada da música ―Azougue‖. Seguiremos a partitura dos tambores em travessia com o imaginário da cultura africana: Tum-Tum-Tum tem baticum. Atabaques afros, Tum-tum-tum batidas de alfaias. Trovas de tambores silenciosos. Tum-tum-tum - TUM-TUM-TUM tem tamboril. Tum-tum-tum-tum voa livre meu tamborzim. TUM-TUM-TUM abre a roda de coco. Tum-tum-tum bate-bate em coro o tambor. Orquestra de maracatus, ei maracá, ei maracá, maracá-tu, maracatus, maracá-eu, maracás de Naná. Tum-tum-tum bateu. TUM-TUM-TUM-TUM batidas de Nanã Buruquê. Tum-tum-tum bateu meu tambor. TUM-TUM-TUM. Baticum do tambor feito de rios e fios. Orquestra de blues. Serenata de Jazz. Baticuns do candomblé. Tum-tum-tum, filhos dos Orixás. Exu das encruzilhadas TUM-TUM-TUM. ―Baticum tambor‖. Trovoadas de Iansã. Tum-tum-tum canto de Oxalá. Tum-tum-tum-tum. Filhos de Gandhy. Baticum de búzios. Tum-tumtum, filhas de Oxum. Tum-tum-tum Oxumaré afrociberdélico. Batida do afoxé. Tum- 226 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN tum-tum!!! Ei maracá, maracatu, nos maracás de Naná, tem-tem-tem! Tem que ter tambor na batida do maracatu. Tum-tum-tum! Ei Maracá, Ei maracá! Maracatu Atômico. Psicodélico. Tum-tum-tum! Nação Zumbi. TUM-TUM-TUM-TUM! Tambores de Minas no baticum de alfaias. Partituras afro-ameríndias debaixo dos caboclos de lança. Tum-tum-tum! Batidas de reis tem-tem-tem. Leoas e caboclinhos. Baticum de matracas tem-tem-tem! TUM-TUM-TUM! Tambores crioulos Tum-tumtum! Soltam-se as alfaias: Tum-tum-tum! Hoje tem Baticum: Tum-Tum-tum! Batida de maracatu: Tum-tum-tum!! TUM TUM TU !! Palavras-chave: Nação Zumbi, GLissant, Maracatu, Tambor, Cultura Afro-brasileira Thaís Cordeiro Souza de Morais Mirtes Toscano de Medeiros Yane de Andrade Ramalho UFRN DESCONSTRUINDO IMAGENS A PARTIR DO ANGOLANO PEPETELA E DE CAMÕES Este trabalho tem como objetivo analisar o conto ―Estranhos Pássaros de Asas Abertas‖ do angolano Artur Pestana ―Pepetela‖ (2008) e o ―Canto V‖ da epopeia de Camões (1999). A análise focou-se nos indícios de choque cultural, junto com as percepções dos invasores (homens de civilizações imperialistas do além-mar levados pela fé e ganância) e dos invadidos (seres preponderantemente de tradições autossustentáveis e de cultos pagãos). O aporte teórico fundamentou-se em Ribeiro (2006); Macêdo (2008) e Said (1995). Segundo Ribeiro e Said, o homem branco europeu sentiu-se no direito de tomar à força outros mundos ditos por estes como subalternos, os quais possuíam tantas riquezas e não eram civilizados para as cortes do velho mundo. 227 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Thaís Pereira de Oliveira UECE/FAFIDAM Poesia Leminskiana: um mosaico abstrato O presente trabalho é resultado da pesquisa feita em torno da linguagem contemporânea presente na poesia de Paulo Leminski (1944-1989). Poeta mestiço de pai polaco com mãe negra traz em suas raízes a diversidade da vida que propôs para si. Leminski tinha urgência, de experiências, de conhecimento. Influenciado pelas tendências de vanguarda, ele cultivou a utopia por uma sociedade minimalista e menos consumidora, mecanizada. Viveu o marco da propaganda e retratou em suas obras o reflexo da tecnologia, priorizando a visualidade da poesia concreta atrelada à globalização evidente na poesia marginal, evidenciando traços de uma cultura massificada pelos valores sociais. Tanto adaptou suas poesias como uma crítica à sociedade moderna, como também procurou buscar na cultura oriental subsídios para um novo estilo poético conhecido como haicai ou poema-momento, disseminando no país um horizonte cultural que intensificou sua trajetória peculiar. Em todas essas tendências torna-se evidente a predominância da contemporaneidade, onde se configura a composição fragmentada da linguagem, refletida nas poesias desse autor. No trabalho será investigada a singularidade do haicai (poema-momento), os ideogramas que compõem a poesia concreta, além da propagação de uma atividade poética marginalizada, (geração mimeógrafa) advinda da arte de rua, resultando no encontro de novos patamares expressivos propiciados pela linguagem. Palavras-chave: Poesia; Leminski; Contemporaneidade. 228 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Thays de Souza Almeida Vitório Aquino “Casa Grande e Senzala” e Brasil, uma história inconveniente: representações discursivas sobre a escravidão Este artigo pretende realizar uma leitura crítica-conceitual sobre o vídeodocumentário Brazil: An Inconvenient History (GRABSKY, 2000). Nosso objetivo é pensar a noção da representação da escravidão no Brasil desenvolvida por Phil Grabsky a partir da sugestão de um diálogo entre as ideias dele e a representação da escravidão proposta por Gilberto Freire em sua obra ‗Casa Grande e Senzala‘. Para tanto, nos valeremos das proposições teóricas que João Freire Filho desenvolve a partir do tipo de imagem subjetiva construída por esse veículo midiático. Assim, esperamos provocar reflexões que versem sobre a construção da imagem escravista no Brasil presentes em construções discursivas distintas. Palavras-chave: Representação, Escravidão, Discurso. Thiago de Lima Oliveira UFPB Xigubo: percursos para construção de uma possível identidade moçambicana em José Craveirinha Consagrado pelo crítico Rui Baltazar como o maior poeta de Moçambique, José Craveirinha, o poeta da Mafalala, é um dos nomes mais importantes nomes da poesia pós-independência em Moçambique. Personagem atuante na vida social e cultural de sua ―nação‖, Craveirinha tem uma poesia fundada em uma sólida proposta de [re]construir [um]a identidade moçambicana após anos de desconstrução ou engessamento dessa possibilidade pela política colonial portuguesa. O presente trabalho pretende analisar por meio de uma leitura pós-colonial como os esforços de construção dessa nova identidade nacional moçambicana configuram-se nos 21 poemas que 229 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN compõem Xigubo, primeiro livro do autor articulando-os aos eventos, ideologias e elementos externos resgatados na construção destes poemas. Os resultados evidenciam a influência do movimento de Negritude e Harlem Renaissance não apenas na poética de Craveirinha, mas seu impacto sobre os confrontos contra o governo colonial em Moçambique. Toni Edson Costa Santos UFBA A REITERAÇÃO DA ORALIDADE ATRAVÉS DO AUDIOVISUAL: UMA ANÁLISE DO FILME KEITA! L’HERITAGE DU GRIOT, DE DANY KOUYATÉ Através do conceito de reiteração de Paul Zumthor, a teoria sobre identidade de Suart Hall e dos estudos sobre a oralidade de Amadou Hampate Ba, realizo uma análise do filme estrelado pelo griot Sotigui Kouyate que trata do choque entre uma cultura oral tradicional e uma cultura urbana moderna, quando um contador de histórias vai até uma cidade para informar um jovem sobre sua ancestalidade ligada a Sundiata, um dos mitos fundamentais do antigo Mali, e acredito que nessa passagem de uma cultura oral para um sistema audiovisual há uma visível transcontextualização, que pode nos fazer pensar no processo de aplicação da lei 11.645/08 no Brasil. Palavras-chave: Griot – Cinema – Multiculturalismo. Vanessa Bastos Lima UNEB/ DIREC02 LITERATURA MARGINAL E LITERATURA AFRO-BRASIELIRA UM DÁLOGO ENTRE LITETAURAS MENORES Este trabalho propõe um diálogo entre a Literatura Marginal Brasileira e a Literatura Afro-Brasileira, tendo como viés o conceito e caracterização de Literatura menor construídos por Guilles Deleuze e Félix Guatarri. Ao pensarmos no conceito e nos 230 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN critérios utilizados para definir uma Literatura como menor, podemos perceber as semelhanças entre esses dois estilos e movimentos de Literaturas, que apesar de possuírem suas peculiaridades, conseguem manter um diálogo tanto temático, quanto simbólico entre alguns de seus textos e autores. Visando dialogar e trabalhar os conceitos do que vem a ser uma Literatura menor, bem como o que significa Literatura Marginal e Literatura Afro-Brasileira, realizar-se-á um estudo comparativo entre contos e poemas pertencentes às essas Literaturas. Palavras-chave: Literatura, Marginal, Afro-Brasileira, comparação. Vanessa de Medeiros Lopes Bezerra Francielly Coelho da Silva Sônia Maria Dantas Medeiros SME – NATAL MAMA ÁFRICA: O TRATAMENTO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E DA CULTURA AFRICANA NA ESCOLA Este trabalho descreve uma experiência realizada em uma escola pública municipal de Natal, na qual foi desenvolvido o projeto Mama África. Justifica-se por promover, numa perspectiva interdisciplinar, reflexões acerca da diversidade étnico-cultural brasileira e, consequentemente, a compreensão do processo de desenvolvimento cultural dos afrobrasileiros e africanos no Brasil. Como embasamento teórico, foram tomadas, principalmente, algumas reflexões presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana (2005) e nas Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais (2006) - ambos, documentos oficiais brasileiros - e de autores como Lopes (2005) e Sousa (2005). Durante a realização deste projeto, buscou-se historiar a cultura africana de forma contextualizada, valorizando seus hábitos e costumes e, acima de tudo, fazendo o aluno reconhecer que a construção da cultura brasileira sofreu influência da cultura africana em todos os seus aspectos. Como principal objetivo deste trabalho tem-se o despertar, no aluno, de uma postura de questionamentos e de reflexões diante das relações étnico-raciais baseadas em preconceitos e a necessidade de respeito 231 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN e valorização da diversidade étnico-cultural com o intuito de superar a discriminação racial e o preconceito na escola. Primeiro, serão apresentadas algumas das reflexões presentes nas obras supracitadas; em seguida, serão relatadas as atividades realizadas na escola nas diferentes disciplinas; por fim, será traçado um paralelo entre as teorias apresentadas e a prática escolar. A observação, o registro e a intervenção configuraramse na principal estratégia do fazer pedagógico, lançando mão da tríade AÇÃOREFLEXÃO-AÇÃO. Palavras-chave: Educação. Relações Étnico-Raciais. Interdisciplinaridade. Wagton Rogério Rodrigues da Silveira UnP RACISMO NO CAMPO DE TRABALHO: DO DANO MORAL A INDENIZAÇÃO Imagem é o liame que une a pessoa à sua expressão externa, a qual pode ser tomada em conjunto ou separadamente. Ao divulgar ou referir-se à imagem que determinado empregado possui, é proibido qualquer ato que resulte em lesão à honra, à reputação, ao decoro (também conhecido como ―imagem moral‖), à intimidade e a outros direitos da personalidade dos quais o trabalhador é titular. Tal conduta, que pode configurar-se em um ato único ou repetitivo, pode dar origem a um dano moral por violação a um direito personalíssimo, reparável mediante indenização. O objeto de estudo deste trabalho é o comportamento conhecido como dano moral, e sua relação com a pessoa negra, diante de relatos de lesão à imagem infligidos aos indivíduos no ambiente de trabalho denunciados em processos judiciais trabalhistas. Procedeu-se para a elaboração, pesquisa bibliográfica a legislação brasileira, a jurisprudência trabalhista, pesquisas via internet, e análise do posicionamento de renomados autores. As figuras do patrão branco e do empregado negro retornam à sistemática desumana do período escravocrata brasileiro, em que a cor da pele era motivo de submissão e renúncia aos direitos enquanto ser humano, aliada ao prazer de diminuir o subtalterno e de impor medo. Devemos induzir transformações de ordem cultural, pedagógica e psicológica, visando a tirar do imaginário coletivo a ideia de supremacia racial versus subordinação racial. Palavras-chave: Discriminação Racial; Dano Moral; Ofensas Verbais. 232 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Waldeci Ferreira Chagas UEPB As Representações da Cultura Afro-brasileira em livros didáticos de História Antes de ser um material didático cotidianamente utilizado pelos (as) professores (as) para ensinar os mais variados conhecimentos na escola da educação básica, o livro didático é produzido em determinada sociedade e tempo, portanto, não é detentor da verdade, mas de uma verdade, questionada ou não pelos (as) professores (as) e estudantes da educação básica. Nesse sentido é um produtor de discurso, cujos saberes produzidos se situam no campo da representação, visto ser produzido a partir de um lugar social, político, e cultural, por isso, traz na essência uma carga ideológica que corresponde ou não ao universo cultural de quem o utiliza como meio de aquisição e transmissão do saber, ou seja, o estudante e o (a) professor (a). Nessa perspectiva, neste trabalho analisamos as representações da cultura afro-brasileira em livros didáticos de História da educação básica, especificamente os utilizados pelos docentes do ensino fundamental II que atuam nas escolas da rede pública da cidade de Alagoa Grande. Tais livros foram publicados pós 2003, quando foi promulgada a lei 10.639/003 que obriga as escolas da educação básica a inserir os conteúdos de história e cultura afro-brasileira no currículo escolar. Quais as representações dessa cultura? Elas reproduzem ou superam a idéia de inferioridade geralmente atribuída às práticas culturais das pessoas negras? Essas são algumas das questões que norteiam a nossa discussão e nos permitem percebermos a aplicação da lei 10.639/003. Wellington Marinho de Lira UFRPE A CONTRIBUIÇÃO DE LÍNGUAS AFRICANAS NA FORMAÇÃO DA VARIEDADE DO PORTUGUÊS FALADO NO AGRESTE MERIDIONAL DE PERNAMBUCO Este trabalho tem como objetivo mostrar como algumas línguas africanas contribuiram para a formação do léxico da língua portuguesa, em especial a variedade falada na 233 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN região do Agreste Meridional de Pernambuco. Pretende também verificar se existe uma consciência dessa contribuição pelos usuários da língua nessa região. Em Pernambuco a Região do Agreste Meridional é formada por vinte e seis municípios, contando com uma população aproximada de 600 mil habitantes distribuídos nas áreas urbana e rural. A cidade de Garanhuns é a maior e mais importante cidade dessa região contando com uma população de cerca de 130 mil habitantes. Por se tratar de um polo regional, a cidade de Garanhuns e regiões próximas representam um ponto de convergência de várias culturas em contato. Baseados nos conceitos de Língua (Marcuschi 2001), Cultura (Duranti 1997) e Identidade (Crystal 1987) buscamos primeiro ver qual a relação de determinada comunidade de fala com os termos de origem africana usados diariamente na linguagem local. Também procuramos verificar se os usuários locais da língua estão conscientes dessa contribuição histórica das línguas africanas para com a língua portuguesa. Os trabalhos de coleta de dados foram iniciados em março do ano corrente (2011) através de questionários que foram aplicados na comunidade quilombola de Castanhinho e em outras comunidades na cidade de Garanhuns. Apesar de ser apenas o início da pesquisa, o resultado dessa coleta de dados nos aponta alguns dados surpreendentes que se forem confirmados nas pesquisas posteriores, poderão dar subsídios para uma discussão mais ampla sobre este tema. Palavras-chave: Cultura afro-brasileira, empréstimos lingüísticos, contribuições africanas, formação de léxico. Wellington Neves Vieira FASETE SETHE: REPRESENTAÇÕES AMBIENTAIS E RESISTÊNCIA POLÍTICA EM BELOVED DE TONI MORRISON O objetivo deste estudo é mostrar a relação que a personagem Sethe, protagonista do romance Beloved de Toni Morrison, matem com a natureza. A ligação de Sethe com os rios, a flora e o próprio ambiente geográfico norte-americano é utilizado pela narradora do romance como uma estratégia para realçar a condição da mulher negra, no intuito de 234 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN expressar os contornos identidários afro-americanos que estão geminados em ambientes onde a mulher negra ainda é considerada estrangeira. Neste sentido, a teoria da ecocrítica será o suporte teórico subsidiário para a análise literária das simbologias que marcam a representação do meio ambiente norte-americano. Palavras-chave: Narrativa, Personagem, Ecocrítica, Condição feminina, Toni Morrison. Williams Lima Cabral Silvano Fidelis Maria Lindaci de Gomes Souza – Orientadora UEPB “A gente planta de tudo”: As práticas de cura em comunidades remanescentes quilombolas da Paraíba O presente trabalho é produto de uma pesquisa em andamento em três comunidades remanescentes quilombolas da Paraíba, através do PIBIC-UEPB. Objetiva-se avaliar as ações cotidianas, por meio da História Oral, identificando através das representações das práticas de cura das(os) moradoras(es). Vamos expor o uso de plantas medicinais para tratamento de doenças nessas localidades, pois constatamos que mesmo depois da implantação de unidades básicas de saúde (UBS) em algumas dessas localidades as mulheres ainda fazem uso das plantas para o fabrico de remédios, seja por cozimento, garrafadas (vinho medicinal), banho de acento, chás, etc. Como aparato teórico ultilizamos a discussão acerca da memória, individual e coletiva (Halbwabchs), assim como os conceitos de representação (Chartier), e ainda Certeau com seus conceitos de tática, estratégia, cotidiano e usos. Dessa forma vamos explorar as narrativas através de suas subjetividades que nos contam muito da História e do cotidiano dessas comunidades as quais sofrem com a tendência de não valorização de seus processos de formação histórica. Palavras-chave: comunidade quilombola, práticas de cura, representação. 235 Caderno de Resumos – Griots 2011 - UFRN Willian Lima de Sousa UFPB O REINO DE CARLOS MAGNO E A MOVÊNCIA DAS VOZES: DA TRADIÇÃO EUROPÉIA À VOZ E ESCRITURA NORDESTINA Este trabalho busca compreender como ocorre o processo de desterritorialização, neste caso, das narrativas que envolvem a personagem de Carlos Magno da Europa para o Brasil, e a sua transposição lingüístico-cultural para a voz e escritura que habita o imaginário/memória popular do povo nordestino. O que é conhecido desse ícone da história francesa, ou seja, seus dados biográficos comprovam a existência do Carlos Magno histórico. Outro ponto importante e a presença desse personagem em La Chanson de Roland (A Canção de Roland). Fixada entre os populares em Portugal, as narrativas envolvendo Carlos Magno iniciam seu processo de desterritorialização rumo ao Brasil por volta de 1769 e 1826. No Brasil, principalmente nordeste, essa narrativa se estruturam primeiramente no suporte oral, os cantadores. Após este primeiro momento em que se têm a presença do herói carolíngio no suporte oral, estas narrativas voltam para o suporte escrito, folhetos no século XX, nas páginas de Leandro Gomes de Barros em A batalha de Oliveiros com Ferrabrás e A prisão de Oliveiros e seus Companheiros. Ao adentrar as paginas dos cordéis em 1913, a voz fixada na escritura de Leandro Gomes nas obras supracitadas alcançou um grande sucesso. Essa pesquisa pretende contribuir criticamente para o debate sobre a movência das narrativas visando entender como esses textos oriundos da tradição européia se comportam em uma nova realidade histórico – lingüístico - cultural, e como nesse novo espaço, o processo de ressignificação ocorre, aproximando signos de cultural distintas como no caso de Carlos Magno e Lampião. Palavras-chave: Narrativas, desterritorialização, cordel, movência, memória.