Evangelho segundo S. Mateus 3,1-12.

Transcrição

Evangelho segundo S. Mateus 3,1-12.
Evangelho segundo S. Mateus 3,1-12. – cf. par. Mc 1,2-8, Lc 3,1-18
Naqueles dias, apareceu João, o Baptista, a pregar no deserto da Judeia. Dizia: «Converteivos, porque está próximo o Reino do Céu.» Foi deste que falou o profeta Isaías, quando disse:
Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. João
trazia um traje de pêlos de camelo e um cinto de couro à volta da cintura; alimentava-se de
gafanhotos e mel silvestre. Iam ter com ele os de Jerusalém, os de toda a Judeia e os da região
do Jordão, e eram por ele baptizados no Jordão, confessando os seus pecados. Vendo, porém,
que muitos fariseus e saduceus vinham ao seu baptismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem
vos ensinou a fugir da cólera que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de conversão e
não vos iludais a vós mesmos, dizendo: 'Temos por pai a Abraão!’ Pois, digo-vos: Deus pode
suscitar, destas pedras, filhos de Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores, e toda a
árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo. Eu baptizo-vos com água, para vos
mover à conversão; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu e não sou
digno de lhe descalçar as sandálias. Ele há-de baptizar vos no Espírito Santo e no fogo. Tem
na sua mão a pá de joeirar; limpará a sua eira e recolherá o trigo no celeiro, mas queimará a
palha num fogo inextinguível.»
São Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelho, nº20
«Preparai o caminho do Senhor, aplanai as veredas por onde Ele virá»
È evidente para todo o leitor que João não pregou apenas, mas conferiu também um baptismo
de penitência. Não pôde, no entanto, dar um baptismo que remisse os pecados, pois a
remissão dos pecados só nos é dada no baptismo em Cristo. Por isso o evangelista diz que ele
«pregava um baptismo de arrependimento para a remissão dos pecados» (Lc 3,3); não
podendo ele próprio dar um baptismo que perdoasse os pecados, anunciava esse ainda por vir.
Tal como as suas palavras de pregação eram precursoras da Palavra do Pai feita carne, assim o
seu baptismo […] precedia o do Senhor, como sombra da verdade (Col 2,17).
Este mesmo João, interrogado sobre quem era, respondeu: «Eu sou a voz d’Aquele que grita
no deserto» (Jo, 1,23; Is 40,3). O profeta Isaías chamara-lhe «voz», pois ele precedia a
Palavra. Aquilo que gritava é-nos ensinado a seguir: «Preparai os caminhos do Senhor,
aplanai as veredas por onde Ele virá». Aquele que prega a fé verdadeira e as boas obras, que
faz senão preparar a estrada nos corações dos ouvintes para o Senhor que vem? Possa a graça
toda-poderosa penetrar nestes corações, iluminá-los com a luz da verdade […].
Acrescenta São Lucas: «Todos os vales sejam levantados, todas as montanhas e colinas sejam
abaixadas». Que designam aqui estes vales, senão os humildes, e os montes e as colinas,
senão os orgulhosos? Com a vinda do Redentor, segundo a sua própria palavra, «quem se
exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Lc 14,11). Pela fé no mediador entre
Deus e os homens, Jesus Cristo feito homem (1 Tm 2,5), aqueles que n’Ele crêem receberam
a plenitude da graça, enquanto os que se recusam a crer foram humilhados no seu orgulho.
Todos os vales serão levantados porque os corações humildes, ao acolherem a palavra da
santa doutrina, serão cumulados pela graça das virtudes, segundo o que está escrito: «Das
fontes fez jorrar rios, que serpenteiam nos vales» (Sl 104,10).
Concílio Vaticano II
Gaudium et spes § 39
“Preparai o caminho do Senhor”
Ignoramos o tempo em que a terra e a humanidade atingirão a sua plenitude; não sabemos que
transformação sofrerá o universo. A aparência deste mundo, desfigurado pelo pecado, passará,
mas Deus prepara-nos uma nova habitação e uma nova terra, na qual reinará a justiça e cuja
felicidade satisfará e ultrapassará todos os desejos de paz que se levantam no coração do
homem. Então, vencida a morte, os filhos de Deus ressuscitarão em Cristo, e aquilo que foi
semeado na fraqueza e corrupção, revestir-se-á de incorruptibilidade. A caridade e as suas
obras permanecerão e toda esta criação que Deus fez para o homem será libertada da
escravidão do pecado.
Somos bem advertidos: não há nenhuma vantagem em ganhar o mundo inteiro se nos
perdermos a nós próprios. A expectativa da nova terra não deve, porém, diminuir, mas antes
excitar ainda mais o cuidado de desenvolver a nossa terra: é aí que cresce corpo da nova
família humana, que já consegue apresentar um esboço do mundo futuro ... Sobre a te rra, o
Reino já está misteriosamente presente; quando o Senhor vier, este Reino atingirá a sua
perfeição.
Pregador do Papa: «Quem nos criou sem nós não nos salva sem nós»
Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a liturgia do próximo domingo
ROMA, sexta-feira, 7 de dezembro de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe.
Raniero Cantalamessa, OFM Cap. – pregador da Casa Pontifícia – sobre a liturgia do próximo
domingo, II do Advento.
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II Domingo do Advento [A]
Isaías 11, 1-10; Romanos 15, 4-9; Mateus 3, 1-12
Uma voz no deserto
O Evangelho do II domingo de Advento, não é Jesus que nos fala diretamente, mas seu
precursor, João Batista. O coração da pregação do Batista está contido nessa frase de Isaías,
que repete a seus contemporâneos com grande força: «Esta é a voz daquele que grita no
deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!». Isaías, para dizer a verdade,
expressava: «Uma voz clama: no deserto, abri caminho ao Senhor» (Is 40, 3). Não é, portanto,
uma voz no deserto, mas um caminho no deserto. Os evangelistas, aplicando o texto ao
Batista que pregava no deserto da Judéia, modificaram a pontuação, mas sem mudar o sentido
da mensagem.
Jerusalém era uma cidade rodeada pelo deserto: ao Oriente, os caminhos de acesso, enquanto
se traçavam, facilmente desapareciam pela areia que o vento move, enquanto ao Ocidente se
perdiam entre as asperezas do terreno para o mar. Quando uma comitiva ou um personagem
importante devia chegar à cidade, era necessário sair e caminhar pelo deserto para abrir uma
via menos provisória; cortavam as sarças, aplainavam os obstáculos, reparavam a ponte ou
uma passagem. Assim se fazia, por exemplo, por ocasião da Páscoa, para acolher os
peregrinos que chegavam da Diáspora. Neste dado, de fato, inspira-se João Batista. Está a
ponto de chegar, clama, aquele que está acima de todos, «aquele que deve vir», o esperado os
povos: é necessário traçar um caminho no deserto para que possa chegar.
Mas eis aqui o salto da metáfora à realidade: este caminho não se traça no terreno, mas no
coração de cada homem: não se traça no deserto, mas na própria vida. Para fazê-lo, não é
necessário pôr-se materialmente ao trabalho, mas converter-se: «Endireitai os caminhos do
Senhor»: este mandato pressupõe uma amarga realidade: o homem é como uma cidade
invadida pelo deserto; está fechado em si mesmo, em seu egoísmo; é como um castelo com
um fosso ao redor e as pontes levantadas. Pior: o homem complicou seus caminhos com o
pecado e aí permaneceu, seduzido, como em um labirinto. Isaías e João Batista falam
metaforicamente de precipícios, de montes, de passagens tortuosas, de lugares impraticáveis.
Basta chamar estas coisas por seus verdadeiros nomes, que são orgulho, humilhações,
violências, cobiças, mentiras, hipocrisia, imundices, superficialidades, embriaguez de todo
tipo (pode-se estar ébrio não só de vinho ou de drogas, mas também da própria beleza, da
própria inteligência, de si mesmo, que é a pior embriaguez!). Então se percebe imediatamente
que o discurso também é para nós, é para cada homem que nesta situação deseja e espera a
salvação de Deus.
Endireitar um caminho para o Senhor ,portanto, tem um significado concretíssimo: significa
empreender a reforma da nossa vida, converter-se. Em sentido moral, o que se deve aplanar e
os obstáculos que se deve retirar são o orgulho – que leva a ser impiedoso, sem amor para
com os demais – , a injustiça – que engana o próximo, talvez abduzindo pretextos de
compensação para calar a consciência –, por não falar de rancores, vinganças, traições no
amor. São vales cheios de preguiça, incapacidade de impor-se um mínimo de esforço, todo
pecado de omissão.
A palavra de Deus jamais nos esmaga sob um monte de deveres sem dar-nos ao mesmo tempo
a segurança de que Ele nos dá o que nos manda fazer. Deus, diz [o profeta] Baruc, «dispôs
que sejam abaixados os montes e as colinas, e enchidos os vales para que se uma o solo, para
que Israel caminhe com segurança sob a glória divina» [Ba 5, 7, N. da R.] Deus abaixa, Deus
enche, Deus traça o caminho; é tarefa nossa corresponder à sua ação, recordando que «quem
nos criou sem nós, não nos salva sem nos».
Traduzido por Zenit
Evangelho segundo S. Mateus 3,13-17. cf.par.Mc 1,9-11, Lc 3,21-22, Jo 1,31-34
Então, veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser baptizado por ele. João opunhase, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por ti, e Tu vens a mim?» Jesus,
porém, respondeu-lhe: «Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça.»
João, então, concordou. Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus,
e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu
dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado.»
S. Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém, doutor da Igreja
Catequeses baptismais, nº 11
“Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência”
Acreditai em Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, mas segundo o Evangelho, filho único: “Deus
amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo aquele que n’Ele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16) …
Ele é o Filho de Deus por natureza e por adopção, pois que ele nasceu do Pai… Porque o Pai,
sendo Deus verdadeiro, gerou o Filho à sua semelhança, Deus verdadeiro… Cristo é filho por
natureza, um verdadeiro filho, não um filho adoptivo como vós, os novos baptizados, que
agora vos tornastes filhos de Deus. Porque vos tornastes também filhos, mas por adopção,
segundo a graça, como está escrito: “Mas a todos os que O receberam, aos que crêem n’Ele,
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12). Nós somos gerados pela água e
pelo Espírito (Jo 3,5), mas não da mesma maneira que Cristo foi gerado pelo Pai. Porque no
momento do baptismo este último levantou a voz e disse: “Este é o meu Filho”, para mostrar
que antes mesmo do seu baptismo ele era Filho.
O Pai gerou o Filho de maneira diferente daquela que, nos homens, o espírito gera a palavra.
Porque o espírito em nós subsiste, enquanto que a palavra, uma vez pronunciada e difundida
no ar, desaparece. Mas nós sabemos que Cristo foi gerado Verbo, Palavra perene e viva, não
pronunciada e saída dos lábios, mas nascida do Pai eternamente, de modo substancial e
inefável. Porque “no princípio já existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus” (Jo 1,1), sentado à sua direita (Sl 109,1). Ele é a Palavra que compreende a vontade do
Pai e produz todas as coisas por sua ordem, Palavra que desce e que sobe (Ef 4,10) …,
Palavra que fala e que diz: “Eu digo o que vi junto de meu Pai” (Jo 8,38). Palavra plena de
autoridade (Mc 1,27) e que rege tudo, porque “o Pai entregou tudo ao Filho” (Jo 3,35).
Um pai deve dizer a seu filho que o ama, sugere o pregador do Papa
Comenta o Evangelho da festa do Batismo do Senhor
ROMA, sexta-feira, 7 de janeiro de 2005 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do padre
Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, ao Evangelho da liturgia do próximo
domingo, 9 de janeiro (Mt 3, 13-17), festa do Batismo do Senhor.
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Quando se escreve a vida dos grandes artistas e poetas, sempre se tenta descobrir a pessoa (em
geral a mulher) que foi, para o gênio, a fonte de inspiração, a musa freqüentemente escondida.
Também na vida de Cristo encontramos um amor secreto que foi o motivo inspirador de tudo
o que fez: seu amor pelo Pai celestial. Agora, com ocasião do Batismo no Jordão,
descobrimos que este amor é recíproco. O Pai proclama Jesus seu «Filho predileto» e lhe
manifesta toda sua complacência enviando sobre ele o Espírito Santo, que é seu próprio amor
personificado.
Segundo a Escritura, como a relação homem-mulher tem seu modelo na relação Cristo-Igreja,
assim a relação pai-filho tem seu modelo na relação entre Deus Pai e seu Filho Jesus. De Deus
pai «toda paternidade nos céus e na terra toma nome» (Ef 3, 15), isto é, tira existência, sentido
e valor. É uma ocasião para refletir sobre este delicado tema. Quem sabe por que a literatura,
a arte, o espetáculo, a publicidade exploram uma só relação humana: a de fundo sexual entre o
homem e a mulher, entre o marido e a esposa. Deixamos ao contrário quase de tudo
inexplorada outra relação humana igualmente universal e vital, outra das grandes fontes de
alegria da vida: a relação pais-filhos, a alegria da paternidade.
Como o câncer ataca habitualmente os órgãos mais delicados no homem e na mulher, assim o
poder destruidor do pecado e do mal ataca os gânglios mais vitais da existência humana. Não
há nada que seja submetido ao abuso, à exploração e à violência como a relação homemmulher, e não há nada que esteja tão exposto à deformação como a relação pai-filho:
autoritarismo, paternalismo, rebelião, rejeição, falta de comunicação... O sofrimento é
recíproco. Há pais cujo sofrimento mais profundo na vida é ser rejeitados ou diretamente
depreciados pelos filhos, pelos quais fizeram tudo que puderam. E há filhos cujo mais
profundo e não confessado sofrimento é sentir-se incompreendidos ou rejeitados pelo pai, e
que em um momento de irritação, talvez ouviram dizer do próprio pai: «Tu não és meu
filho!». Que fazer? Ante tudo crer. Reencontrar a confiança na paternidade. Pedir a Deus o
dom de saber ser pai. Depois, esforçar-se também em imitar o Pai celeste.
São Paulo traça assim a relação pais-filhos: «Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque
isto é grato a Deus no Senhor. Pais, não exaspereis vossos filhos, não seja que se desanimem»
(Col 3, 20-21). Aos filhos recomenda a obediência, mas uma obediência filial, não de
escravos ou de militares; aos pais, que «não exasperem» os filhos; isto é, em sentido positivo,
ter paciência, compreensão, não exigir tudo imediatamente, saber esperar que os filhos
amadureçam, saber discutir seus erros. Trata-se de não desalentar com contínuas rejeições e
observações negativas, mas animar cada pequeno esforço. Comunicar sentido de liberdade, de
proteção, de confiança em si mesmos, de segurança.
Como faz Deus, que diz querer ser sempre para nós uma «rocha de defesa» e uma «ajuda
sempre cercada nas angústias» (Sal 46). Não tenhais medo de imitar alguma vez, à letra, Deus
Pai e de dizer ao próprio filho ou filha: «Tu és meu filho amado! Tu és minha filha amada!
Estou orgulhoso de ti, de ser teu pai!». Se sai do coração no momento adequado, esta palavra
faz milagres, dá asas ao coração do jovem e da jovem. E para o pai é como gerar uma segunda
vez, mais conscientemente, o próprio filho.
[Original italiano publicado por «Famiglia Cristiana». Tradução realizada por Zenit]
ZP05010708
Pregador do Papa: precisamos de «doses massivas de Espírito Santo»
Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a liturgia do próximo domingo
ROMA, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe.
Raniero Cantalamessa, OFM Cap. – pregador da Casa Pontifícia – sobre a liturgia do próximo
domingo, Batismo do Senhor.
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Batismo do Senhor
Isaías 42, 1-4.6-7; Atos 10, 34-38; Mateus 3, 13-17
«Ele me consagrou com a unção»
O próprio Jesus deu uma explicação do que lhe aconteceu no batismo no Jordão. Ao voltar, na
sinagoga de Nazaré aplicou a si mesmo as palavras de Isaías: «O Espírito do Senhor está
sobre mim: me consagrou com a unção...». O mesmo termo de unção é utilizado por Pedro na
segunda leitura, falando do batismo de Jesus: «Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o
Espírito Santo e com poder».
Trata-se de um conceito fundamental para a fé cristã. Basta dizer que o nome Messias em
hebreu e Christos em grego significam exatamente isso: Ungido. Nós mesmos, diziam os
antigos Padres, recebemos o nome de cristãos porque fomos ungidos à imitação de Cristo, o
Ungido por excelência. A palavra «ungido», em nossa linguagem, tem muitos significados,
não totalmente positivo. Na Antigüidade, a unção era um elemento importante da vida.
Ungiam-se com óleo os atletas para estarem soltos e ágeis nas corridas, e se ungiam com óleo
perfumado homens e mulheres para ter o rosto belo e resplandecente. Atualmente, com estes
mesmos objetivos, existe à disposição uma infinidade de produtos e cremes em grande parte
derivados de diferentes tipos de óleos.
Em Israel o rito tinha um significado religioso. Ungiam-se os reis, os sacerdotes e os profetas
com um ungüento perfumado e este era o sinal de que estavam consagrados ao serviço divino.
Em Cristo, todas estas unções simbólicas se tornam realidade. No batismo no Jordão, Ele é
consagrado rei, profeta e sacerdote eterno por Deus Pai. Não com um óleo físico, mas com o
óleo espiritual que é o Espírito Santo, «o óleo da alegria», como o define um salmo. Isso
explica por que a Igreja dá tanta importância à unção com o santo crisma. Existe um rito de
unção no batismo, na confirmação e na ordenação sacerdotal; existe uma unção dos enfermos
(antigamente chamado de «extrema-unção»). É porque através destes ritos se participa na
unção de Cristo, isto é, em sua plenitude de Espírito Santo. Uma pessoa é literalmente
«cristã», isto é, ungida, consagrada, pessoa chamada – diz Paulo – «a difundir no mundo o
bom odor de Cristo».
Procuremos ver o que tudo isso diz aos homens de hoje. Atualmente, está na moda falar de
aromaterapia. Trata-se do emprego de óleos essenciais (ou seja, os que exalam perfume) para
a manutenção da saúde ou para a terapia de alguns transtornos. A internet está cheia de
anúncios de aromaterapia. Não se contenta em promover com eles o bem-estar físico. Existem
também «perfumes da alma», por exemplo «o perfume da paz interior».
Não corresponde a mim emitir um juízo sobre esta medicina alternativa. Contudo, vejo que os
médicos convidam a desconfiar desta prática que não está cientificamente provada e que
inclusive implica, em alguns casos, contra-indicações. O que desejo expressar é que existe
uma aromaterapia segura, infalível, que exclui toda contra-indicação: a que está feita à base
do aroma especial, do ungüento perfumado, que é o Espírito Santo!
Esta aromaterapia feita de Espírito Santo cura as doenças da alma e às vezes, se Deus quer,
também as do corpo. Há um canto spiritual afro-americano no qual não se faz mais que
repetir continuamente estas poucas palavras: «Há um bálsamo em Gilead que cura as almas
feridas» (There is a balm in Gilead / to make the wounded whole...). Gilead, ou Galaad, é uma
localidade famosa no Antigo Testamento por seus perfumes e ungüentos (Jr 8, 22). O canto
prossegue dizendo: «Às vezes me sinto desanimado e penso que tudo é em vão, mas então o
Espírito Santo reaviva a minha alma» (Sometimes I feel discouraged and think my work’s in
vain but then the Holy Spirit revives my soul again). Gilead é para nós a Igreja, e o bálsamo
que cura é o Espírito Santo. Ele é o rastro de perfume que Jesus deixou ao passar por esta
terra.
O Espírito Santo é especialista nas doenças do matrimônio. O matrimônio consiste em dar-se
um ao outro: é o sacramento de tornar-se dom. E o Espírito Santo é o dom feito pessoa: a
doação do Pai ao Filho e do Filho ao Pai. Onde Ele chega, renasce a capacidade de tornar-se
dom e, com ela, a alegria e a beleza de viver juntos.
O filósofo Heidegger lançou um juízo alarmado sobre o futuro da sociedade humana: «Só um
deus pode nos salvar», disse. Pois eu digo que este Deus que pode nos salvar existe: é o
Espírito Santo. Nossa sociedade precisa de doses massivas de Espírito Santo.
[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri]
São Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém e doutor da Igreja
Catequese baptismal 10,2-5
“O seu nome é Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19,16)
Se alguém quer honrar Deus, que se prostre diante do seu Filho. Sem isso, o Pai não aceita ser
adorado. Do alto do céu, o Pai fez ouvir estas palavras: “Este é o meu Filho bem amado, em
quem pus a minha complacência” (Mt 3,17). O Pai compraz-se no Filho… que é chamado
“Senhor” (Lc 2,11), não abusivamente como os senhores humanos, mas com razão porque o
senhorio lhe pertence naturalmente desde toda a eternidade…
Apesar permanecer em si e conservar verdadeiramente a glória imutável da sua condição de
Filho, ele adapta-se às nossas fraquezas, como um médico muito hábil e um mestre
compassivo. Ele fez isso quando era verdadeiramente Senhor, quando o seu poder não era
devido a uma antecipação, mas quando a glória do senhorio estava nele por natureza. Ele não
era senhor à nossa maneira, mas era verdadeiramente Senhor, exercendo o senhorio com o
consentimento do Pai sobre as suas próprias criaturas. Nós, com efeito, temos autoridade
sobre os homens que são nossos iguais tanto em dignidade como em sofrimento, muitas vezes
mesmo sobre os mais idosos. Em nosso Senhor Jesus Cristo, pelo contrário, o senhorio não é
desta ordem: ele é primeiro Criador, em seguida Senhor. Ele criou tudo segundo a vontade do
Pai, em seguida exerceu o seu senhorio sobre o que existe unicamente por ele.
S. Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja
Sermão 39
«Deste modo devemos cumprir perfeitamente o que é justo»
Hoje, Cristo é iluminado: entremos também nós no esplendor da Sua luz. Hoje, Cristo
é baptizado: desçamos com Ele à água, para podermos subir com Ele à glória…
João está a baptizar e Jesus aproxima-Se. Talvez tenha em vista santificar aquele por quem
vai ser baptizado; mas o que é certo é que Ele quer sepultar nas águas todo o velho Adão. Ele
que é Espírito e carne santifica o Jordão, para assim nos iniciar nos sagrados mistérios
mediante o Espírito e a água (Jo 3, 4). João Baptista resiste, Jesus insiste. «Eu é que devo ser
baptizado por Ti», diz a lâmpada ao Sol (Jo 5, 35), o amigo ao Esposo (Jo 3, 29), o maior
entre os nascidos de mulher ao Primogénito de toda a criatura (Mt 11, 11; Col 1, 15).
Jesus sobe das águas, elevando consigo o mundo inteiro. Vê abrirem-se os céus de par em par,
aqueles céus que Adão tinha fechado para si e para a sua posteridade, do mesmo modo que
tinha feito encerrar e guardar com a espada de fogo a entrada no paraíso terreal (Gén 3, 24). O
Espírito dá testemunho da divindade de Cristo, aparecendo sobre Ele como um igual. E vem
uma voz do céu, donde procedera precisamente Aquele de quem se dava testemunho; e
apareceu em forma corporal de pomba, para assim honrar o Corpo de Cristo, que é também
divino pela sua excepcional união com Deus.
Bento XVI: Batismo abre-nos o céu
Intervenção antes de rezar a oração mariana do Angelus
CIDADE DO VATICANO, domingo, 13 de janeiro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos as
palavras que Bento XVI pronunciou depois de ter administrado o sacramento do Batismo, na
Capela Sixtina, a 13 crianças e antes de rezar a oração mariana do Angelus.
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Queridos irmãos e irmãs:
Com a festa de hoje, o Batismo de Jesus, conclui o tempo litúrgico do Natal. O Menino, a
quem desde o Oriente foram adorar os Magos em Belém, oferecendo-lhe dons simbólicos,
apresenta-se agora em idade adulta, no momento no qual é batizado no rio Jordão pelo grande
profeta João (cf. Mateus 3, 13). O Evangelho observa que quando Jesus recebeu o batismo,
saiu da água, abriram-se os céus e desceu sobre ele o Espírito Santo como uma pomba (Cf.
Mateus 3, 16). Escutou-se então uma voz do céu que dizia: «Este é meu Filho muito amado,
em quem me comprazo» (Mateus 3, 17).
Foi sua primeira manifestação pública, depois de cerca de trinta anos de vida escondida em
Nazaré. Foram testemunhas oculares do acontecimento, além do Batista, seus discípulos,
alguns dos quais se converteram então em seguidores de Cristo (Cf. João 1, 35-40). Tratou-se
ao mesmo tempo de uma «cristofania» e de uma «teofania»: antes de tudo, Jesus se
manifestou como o «Cristo», termo grego para traduzir o hebreu «Messias», que significa
«ungido»: não foi ungido com o óleo, como era o caso dos reis e sumo sacerdotes de Israel,
mas com o Espírito Santo. Ao mesmo tempo, junto ao Filho de Deus, apareceram os sinais do
Espírito Santo e o Pai celestial.
Qual é o significado deste fato que Jesus quis realizar – apesar da resistência do Batista – para
obedecer à vontade do Pai (Cf. Mateus 3, 14-15)? O sentido profundo emergirá só ao final da
vida terrena de Cristo, ou seja, em sua morte e ressurreição. Ao fazer-se batizar por João junto
dos pecadores, Jesus começou a tomar sobre si o peso da culpa de toda a humanidade, como o
Cordeiro de Deus que «tira» o pecado do mundo (Cf. João 1, 29). Tarefa que levou a
cumprimento na cruz, quando recebeu também seu «batismo» (Cf. Lucas 12, 50).
De fato, ao morrer, se «submergiu» no amor do Pai e difundiu o Espírito Santo para que os
crentes nEle pudessem renascer graças a esse manancial inesgotável de vida nova e eterna.
Toda a missão de Cristo resume-se nisto: batizar-nos no Espírito Santo para libertar-nos da
escravidão da morte e «abrir-nos o céu», ou seja, o acesso à vida autêntica e plena, que será
«submergida sempre de novo na imensidão do ser, por sua vez que estamos transbordados
simplesmente pela alegria» (Spe salvi, 12).
É o que sucedeu também às treze crianças a quem administrei o sacramento do Batismo esta
manhã na Capela Sixtina. Invoquemos para elas e para seus familiares a maternal proteção de
Maria Santíssima. E rezemos por todos os cristãos para que possam compreender cada vez
mais o dom do Batismo e se comprometam a viver com coerência, testemunhando o amor do
Pai e do Filho e do Espírito Santo.
[Tradução: Élison Santos]
Batismo do Senhor convida à renovação pessoal
Na «alegria de sermos filhos amados pelo Pai», diz Dom João Braz de Aviz
Por Alexandre Ribeiro
BRASÍLIA, segunda-feira, 14 de janeiro de 2008 (ZENIT.org).- Segundo o arcebispo de
Brasília, a festividade do batismo do Senhor convida os fiéis à renovação pessoal desse
sacramento, vivendo a fé com alegria e em comunidade.
«A celebração da festa do batismo do Senhor nos convida a renovarmos também o nosso
batismo e a alegria de sermos filhos amados pelo Pai, vivendo a nossa fé na comunidade
Igreja e no mundo, sendo solidários com muitos irmãos e irmãs», afirma Dom João Braz de
Aviz.
Em mensagem aos fiéis no contexto da liturgia desse domingo, o arcebispo explica que Jesus
se submeteu ao batismo de João para cumprir a vontade do Pai.
«O batismo de João tinha um caráter penitencial e uma dimensão ética. Era um convite à
conversão e prefiguração do batismo cristão», afirma.
«Mas por que Jesus se submeteu a esse batismo, se não era pecador e se veio para superálo?», questiona o prelado.
«As primeiras palavras proferidas por Jesus no Evangelho de Mateus respondem a este
questionamento: “porque devemos cumprir toda justiça” (Mt 3,15). Sua busca daquele
batismo é uma forma de cumprir a vontade do Pai.»
Segundo o arcebispo de Brasília, ao entrar «na fila nos pecadores», «Jesus torna-se solidário
com a humanidade sofredora e pecadora».
«Ele toma sobre os ombros o pecado dos homens e mulheres de todos os tempos e lugares
para torná-los solidários no amor», destaca.
No batismo de Jesus, explica Dom João Braz, manifesta-se sua missão: «Ele é o Servo de
Javé, que “não descansará nem se deixará abater enquanto não firmar na terra o direito” (Is
42,4). Servo sereno e humilde, que não usa de arrogância e revigora a esperança do povo.»
Sendo assim, explica o arcebispo, como batizados, os fiéis são incorporados à Igreja, povo de
Deus, corpo místico de Cristo, comprometidos com os valores pregados por Jesus.
O arcebispo cita então o Documento de Aparecida, que destaca que numerosos católicos têm
uma participação esporádica na comunidade.
«‘Convidamos esses a aprofundarem sua fé e participarem mais plenamente na vida da Igreja
recordando-lhes que, em virtude do batismo, são chamados a ser discípulos e missionários de
Jesus Cristo’», diz o nº. 160 do documento, citado por Dom João Braz.