catalogo - Vitrine Fashion
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O sertão vai virar moda O SERTÃO VAI VIRAR MODA Faculdade Senac Pernambuco Direção Geral Terezinha Ferraz Nunes Direção Acadêmica Polyana Moreno Coordenação de Pós Graduação, Pesquisa, Extensão e Monitoria Marcos Barros Índice Histórico, 04 O projeto, 05 O editorial, 06 Coordenação do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda Danielle Simões-Borgiani O desfile, 07 Professores Orientadores Dario Brito (Produção de Moda) Fátima Silva (Atelier Experimental) Paava Carvalho (Empreendedorismo e Gestão) Tatalina Oliveira (Planejamento e Desenvolvimento de Coleções II) Diego Rocha (Projeto de Design) As coleções, 08 Alunos do V Módulo do Curso Design de Moda (2014.2) Kauany Maria Aline Carvalho Mayara Jéssica André Philipe Manoela Jaíra Andréia da Gama Maria Margarete da Silva Beatriz Fernandes Michelle Oliveira Cássia Nunes Mirian Regia Xavier Cíntia Paiva Natália Oikawa Fernanda Trigo Paulina Ferreira Gustavo Costa Priscila Azevedo Ingrid Falcone Tainá Gantois Izabella Feitoza Textos do Catálogo Dario Brito Design Editorial Danielle Simões-Borgiani A exposição, 48 Agradecimentos, 50 Histórico Ao longo dos últimos cinco anos, os eventos de conclusão do curso Superior de Tecnologia em Design de Moda da Faculdade Senac PE se consolidaram como um grande momento para a área de moda na cidade do Recife. Comprovando a qualidade de um curso reconhecido academicamente por suas excelências teórica e prática, esses eventos elaborados a cada semestre pelos alunos dos V Módulos (mais de 150 deles até o momento) já movimentaram diversos lugares da capital pernambucana e expuseram a criatividade no expressivo número de formatos e temas escolhidos. Esses eventos sempre reúnem centenas de pessoas interessadas no que esses estudantes recém-formados têm para mostrar em matéria de alta habilidade e talento. Academicamente, os eventos são a culminância de um processo de interdisciplinaridade tratada com o mais minucioso cuidado pelas unidades temáticas de Planejamento e Desenvolvimento de Coleções II, Atelier Experimental e Produção de Moda, em conjunto com o apoio da coordenação do curso e dos membros do NDE (Núcleo Docente Estruturante). Nesse sentido, a interdisciplinaridade pode ser entendida como um ato de troca, de reciprocidade entre áreas do conhecimento. Ela envolve todos os sujeitos pedagógicos (professores, estudantes, coordenações, gestores escolares, famílias, comunidade em geral), ligando as partes do todo em um espaço de encontro, onde as pessoas são mobilizadas pela cooperação, espírito solidário, parceria e pelo trabalho coletivo. Além de prezar pela interdisciplinaridade o projeto do V módulo também objetiva visibilidade por parte dos formandos e da Faculdade Senac. Por este motivo, sempre há uma preocupação com o tema a ser proposto, formato do evento e local. Histórico: 2009.2 Sonho de Ícaro - Exposição - Aeroporto Internacional do Recife 2010.1 Na tela do corpo - Exposição - Espaço Cultural Correios 2010.2 Noivas em fuga - Desfile - Leda Dourado 2011.1 A Sustentável leveza do ser consciente - Vídeo-desfile - Livraria Cultura 2011.2 Moda Menu - Exposição - Bar Camaleão 2012.1 Glamour dos ritmos - Desfile - Ecomariner 2012.2 Habitáculo - Exposição - Galeria Janete Costa 2013.1 Além da lenda - Exposição - Estação 4 Cantos 2013.2 Brasil em Cena - Exposição e Vídeo - Auditório Senac 2014.1 Moda sem Fronteiras - Exposição - Marco PE da Moda 2014.2 O Sertão vai virar moda - Desfile e Exposição - Museu Cais do Sertão O Projeto A coleção “O Sertão Vai Virar Moda” foi o ponto de chegada de um exercício de mais de quatro meses de intensas pesquisas e trabalho de confecção e produção de peças. Desde agosto de 2014, os 20 alunos concluintes do V Módulo do Superior de Tecnologia em Design de Moda da Faculdade Senac PE passaram a visitar o museu Cais do Sertão, que foi escolhido como tema macro do trabalho de conclusão da turma 2014.2. Cada um deles ficou com a missão de desenvolver uma coleção com 20 looks e, destes, após uma banca formada pelos professores orientadores, foram escolhidos duas criações por designer (uma comercial, na linha casual chique, e outra conceitual). As primeiras foram apresentadas num grande desfile, às 16h do dia 6 de dezembro no museu Cais do Sertão. As segundas tornaram-se objeto de exposição inaugurada no mesmo dia 6, no próprio museu, permanecendo por lá durante um mês. Os jovens designers pernambucanos mergulharam nos sete territórios nos quais o museu está dividido e, a partir daí, se debruçaram em um elemento específico do espaço ou traçaram conexões com outras produções que representassem aquele conceito, indo da despedida da infância, a partir da música “O Xote das Meninas”, até o cotidiano do vaqueiro em meio à geografia ímpar da região, passando também pelas fotografias icônicas do Sertão clicadas por Araquém Alcântara e Pierre Verger ou pela abordagem sertaneja, via cartela de cores, sob uma ótica poética, com dias de sol e céu azul contrastando com o cinza da Caatinga. O artista plástico Gilvan Samico, o filme “Lisbela e o Prisioneiro” e os cordéis das feiras livres também foram alguns dos subtemas, entre outros visitados, produzindo essa “costura”, literalmente, com os territórios do Museu. Cada aluno buscou interpretar a essência e desconstruir os elementos a partir de um olhar particular. Após passarem por pesquisas de cartela de cores e materiais para conceber as suas criações de acordo com as tendências da contemporaneidade, bem como pesquisas de formas e volumes adequados à temática e à estação, apresentaram os resultados. O objetivo maior era abstrair e transpor para roupas comerciais as belezas, forças e formas do Sertão de forma sutil, elegante, diversificada e criativa. A missão, como pôde ser visto no desfile e na exposição (e agora neste catálogo), foi alcançada com êxito. O editorial O Desfile Com concepção e produção de todos os alunos da turma do V Módulo o editorial “O Sertão vai Virar Moda” reuniu os 40 looks criados e confeccionados por eles numa série de 20 imagens que circularam amplamente pelas redes sociais e pela imprensa na semana que antecedeu o desfile e a inauguração da exposição. Tudo foi superlativo no desfile “O Sertão vai Virar Moda”. Às 16h do dia 6 de dezembro de 2014, 20 modelos pisaram na passarela traçada, de maneira imaginária, pelos espaços do piso inferior do museu Cais do Sertão. Ao som dos músicos Damião Sanfoneiro e Niltinho 7 Cordas, que entoaram ao vivo quatro clássicos do mestre Luiz Gonzaga (“Vida de Viajante”, “A Volta da Asa Branca”, “Qui Nem Jiló” e “Olha pro Céu”), os mais de 400 presentes no local puderam ver de perto as criações dos alunos concluintes do V Módulo. A ideia era explorar os cenários do museu Cais do Sertão, num diálogo com as criações dos alunos. Assim, a luz quente do local, os objetos de cena e o espaço em geral foram utilizados nessa concepção. Uma equipe formada pelos 20 alunos concluíntes, acrescida da profissional de beleza (cujo briefing com referências elaborado pelos estudantes, após pesquisa, foi base para o seu trabalho), do fotógrafo e dos professores orientadores comandou a sessão de cliques que ocorreu durante uma manhã dentro daquele espaço cultural. O resultado encantou o público e todas as imagens produzidas e editadas constam deste catálogo. Ficha técnica Beleza: Marília Lacerda | Fotografia: Thiago Santos | Modelos: Danilis Olveira e Júlia Galdino | Agência: Amazing Models Durante 18 minutos, o público se encantou com a diversidade criativa dos looks, que expunham ao mesmo tempo a delicadeza e simplicidade do Sertão associadas à força e a capacidade de reinvenção dos sertanejos. Por trás do show, 12 alunos de outros módulos do curso, trabalharam no backstage, ajudando a orquestrar tudo, divididos nas equipes de beleza, guarda-roupa e apoio ao público, para que não houvesse lacunas. Com tudo sob controle nos bastidores, o desfile cumpriu sua missão de deixar o público maravilhado. Ao fim, o sucesso “Nem se despediu de mim” embalou a fila final com as 20 modelos acompanhadas de todos os concluíntes, emocionando todos os presentes. Meus laços sanguíneos me motivaram a representar o “Criar” nordestino. Meu bisavô, João Gualberto, foi o maior artista que conheci na vida. Criativo como era, adorava transformar sua dor em arte, desenhando, produzindo e narrando suas histórias. Ele, que enfrentou inúmeras dificuldades durante seu caminho e que passou o fim da vida retratando o dia a dia do Sertão nordestino, hoje me serve de inspiração. Logo, quando vi/senti a parede ilustrada por Derlon e os bonecos de Mestre Vitalino, associei de imediato aos desenhos e obras de “voinho” e soube que aquilo tudo me era especial. Partindo do princípio de que a biodiversidade no Sertão Nordestino é mais extensa e rica do que se imagina e espera, que vai muito além da seca, das dificuldades e da falta de infraestrutura, nasceu a coleção Luar do Sertão. Foi pensando no céu, nas famílias, no grupo mais famoso de cangaceiros e no estilo de vida em terras semi-áridas, que a coleção passou a ser composta por tons fortes, aplicações, sobreposições de tecidos e modelagens simples, visando reproduzir a feminilidade da mulher de maneira despretensiosa e buscando referenciar ao máximo os shapes usados por Dadá e Maria Bonita. Aline Carvalho Baseado em fotografias, a partir das séries ‘Sertões sem Fim’, de Araquém Alcântara (obra que levou dois anos para ser concluída) e ‘Salvador’, de Pierre Verger (que apesar do seu nome, também contém fotos do Recife e do nosso Sertão), os aspectos do ambiente “Crer” do Sertão pernambucano foram explorados na coleção Verão 2015 da marca AND. O simbólico, sem forma e tons definidos, possibilita que o público faça a sua interpretação de assuntos que mexem com o imaginário, tendo a religiosidade como ponto de ligação. As imagens ilustram a fé do sertanejo e seu desejo por dias melhores. Para simbolizar esse sentimento de esperança, a cor branca foi a única escolhida. As modelagens, texturas e transparências remetem diretamente às vestes dos sertanejos e, em particular, dos ‘Boias Frias’, reforçando a estética da marca. Simplicidade foi a palavra chave identificada e escolhida para representar melhor essa devoção, desde os cortes retos ao comprimento. Nas tendências, seguindo o mesmo raciocino, utilizamos oversized e fluidez ousando com o androginismo e o minimalismo. Essas escolhas vão de encontro à rigidez e ao excesso de informações dos trajes usados no Sertão. André Philipe É no embalo do Rei do Baião que a coleção de Verão 2015 da Dona Fulana é conduzida. Famoso por cantar o Sertão, Luiz Gonzaga foi o ponto de partida da criação. Como referência estética, utilizou-se o museu Cais do Sertão e, dentre os territórios existentes, “Cantar” foi ambiente escolhido como objeto de imersão. Inspirada na música O xote das meninas, a coleção Despertar nos remente ao momento que a menina se descobre mulher e passa a usar a roupa como símbolo dessa transição. Alegre e envolvente, a canção fala sobre o despertar da menina para o amor: tal como uma flor que desabrocha, ela floresce para a vida amorosa. É nessa dualidade que a coleção de Verão 2015 embarca: cintura marcada, tecidos fluídos, estampas florais, fendas, rendas, bordados e barrigas levemente à mostra nos rementem a esse universo de menina-mulher. A cartela cores é alegre e feminina, assim como o universo da música inspiração. Rosa magenta, lilás, laranja e tons delicados como nude, bege e branco compõem os looks da coleção. Tendências como pantalonas, croppeds, cintura alta e comprimento mídi presentes fazem da Despertar sinônimo de elegância e feminilidade. Andréia da Gama A coleção Herança, criada para o Verão 2015 e aqui apresentada, passeia pelo Sertão representado nas criações de Ariano Suassuna. Explorando materiais leves e naturais e silhuetas pouco rebuscadas, as peças, que vão do básico à vanguarda, transmitem a crença e a cultura do homem sertanejo. Foi dos ares secos do Sertão que vieram as inspirações dessa coleção. Visitando o Movimento Armorial e o Auto da Compadecida – criações de Ariano Suassuna – foi possível compor os looks para o Verão. Além da obra do escritor, a coleção também adota a área “Crer” do museu Cais do Sertão como objeto para criação. Os looks, compostos por linhas simples, trazem toda a carga religiosa que cerca o sertanejo. A crença do homem na Compadecida e no Diabo vem, aqui, expressa na dualidade de cores e formas, no contraste de comprimentos e desenhos. Utilizando tecidos naturais e, principalmente, o linho, as roupas se apresentam em tons terrosos e cores que pintam a paisagem sertaneja. Adornada por bordados feitos à mão, a coleção traz a herança - artesanal e cultural – que o Sertão tem nos concedido por tantas gerações. Beatriz Fernandes Para o seu Verão 2015, a Aflorar traz, através de um trabalho de design de superfície, uma visitação das belezas do Sertão nordestino lançando a coleção A Tropicália de Lampião. Inspirada no museu Cais do Sertão – especificamente, no território “Ocupar” -, a coleção trouxe para as estampas desenvolvidas elementos da fauna e da flora, da estética do cangaço e da Pré-História do Sertão. Padrões florais, de pinturas rupestres e das aves típicas da região, se mesclam às cores fortes e vibrantes movimento Tropicalista, propondo um olhar de reconhecimento da arte e da história sertaneja como manifestação da nossa brasilidade. As modelagens são amplas com pantalonas, tops cropeds e vestidos que se propõem a oferecer uma peça confortável e, ao mesmo tempo, sofisticada para as elevadas temperaturas do Sertão. Mais do que apenas se inspirar na região, a coleção propõe um reconhecimento e acolhimento das belezas, da arte, da história e da indumentária sertaneja como parte – significativa – da formação do nosso Brasil Cássia Nunes Nesta estação, o Movimento Cangaço desfila pelas ruas para mostrar a verdadeira cultura sertaneja. A marca Savana quer despertar o interesse do público com uma linha de moda inspirada na tradição e nas belezas do Sertão nordestino, cheia de detalhes e lembranças dos tempos de Lampião e Maria Bonita. A coleção Verão 2015 traz tecidos transparentes, couro, linho e renda. Os bordados localizados fazem uma referência delicada aos símbolos carregados pelos cangaceiros em seus chapéus, cintos e roupas. As cores e formas do Sertão estão vivas nas diversas peças da coleção. A cartela de cores é composta de tons que vão dos terrosos aos mais claros, dando versatilidade às peças. Com modelagem simples e confortável, as criações da Savana se adequam a qualquer tipo de corpo. Nesta coleção, a marca promove a união do Sertão com a moda, sem perder a sua identidade moderna e simples. Cintia Paiva No Cais do Sertão, o território do “Migrar” trata do deslocamento a partir do Sertão nordestino, com depoimentos de pessoas que deixaram a região em busca de uma vida melhor. Junto a isso, as xilogravuras do mestre J. Borges que retratam a migração para cidades de todo o país demonstram a sensibilidade desse artista que é um dos mais celebrados da América Latina para com a situação daqueles de deixaram suas raízes. Tendo como base esse universo, o lançamento da coleção Primavera/ Verão 2015 inspira-se nas Recordações da minha terra. Com referências ao Sertão, sobretudo ao clima quente e seco e aos tons terrosos em suas nuances claras e escuras, a coleção apresenta modelagens que conferem sensualidade à mulher. Para concretizar esse universo, buscamos apresentar tecidos justos que estão mais próximos ao corpo e também alguns fluidos onde está gravada a arte das xilogravuras. Por fim, materiais rígidos como couro que representam coragem do povo. Fernanda Trigo O estilista Gustavo Costa faz uma viagem de volta às memórias de sua infância. Através destas lembranças, ele retrata as idas à fazenda da família, os banhos de chuva, as viagens ao sítio do avô na beira do Rio São Francisco, os jardins da sua avó e a devoção à Padroeira Nossa Senhora da Penha. A inspiração artística vem do filme Lisbela e o Prisioneiro, que apresenta uma personagem sonhadora e com a inocência de uma criança, e também do ambiente “Viver” do museu Cais do Sertão, no Recife. A marca apresenta uma variedade de texturas (couro, tule e crepe, entre outros) e uma versatilidade de modelagens, trazendo tendências como recortes, assimetria, animal print, mullet, cropped tops, fluidês, mídi, transparência e bordados em 3D. Sua cartela de cores é composta pelo preto, branco, azul celeste e verde turquesa. Também complementam a paleta o vermelho, os rosas claro e pink e o amarelo e laranja claros. Gustavo Costa A marca Falcone Ateliê traz para 2015 um Verão sertanejo, cheio do cores, mistura de texturas e formas buscando um conceito moderno, com o lançamento da coleção O reino do Sertão. Tendo como ponto de partida o museu Cais do Sertão – a partir do território “Ocupar” –, a coleção traz a riqueza de detalhes e a historia que os gibões dos vaqueiros carregam, mostrando que o Sertão é e sempre será atual. O design de superfície sugerido foge do habitual, que seria o composto por estampas. Em vez disso, a marca oferece uma mistura de arabescos, ora exposta em aplicações de couro, ora como bordados revelando a força que o Sertão tem nas artes. As cores quentes se contrapõem com os tons terrosos, deixando evidentes o que o Sertão tem cor. As modelagens possuem cortes e misturas de comprimentos que representam a modernidade, a maior proposta dos looks inseridos nesta coleção Verão 2015. O Sertão não é apenas uma inspiração aleatória, essas criações têm como missão principal desnudar o preconceito e escancarar a fartura, não só no algodão, baião, xote ou xaxado; mas na força e alegria que transbordam dos sertanejos. Ingrid Falcone O Verão 2015 da grife Navajjo faz um passeio pelo Sertão, através de uma silhueta feminina que vai do shape alongado ao mini e com um mix de tecidos fluidos e estampas alegres. O ambiente do museu Cais do Sertão escolhido para essa coleção foi o “Viver”, em meio ao interior das moradias com suas ornamentações simples. Lá existe um colorido único que provoca alegria e sentimento de tranquilidade e nostalgia. A arquitetura representa a simplicidade do lar: entre o barro e a madeira fica evidente uma dedicação em acalentar a quem entra. Simples e com tudo tão em ordem, esse lar inspira a coleção através das texturas nas paredes, dos tetos de palha das casas e nas estampas coloridas das toalhas de mesa da cozinha. Completam as referências visuais as paredes com fitas coloridas presas nos santinhos, as cordas das redes e as que ficam nas vassouras feitas de galhos. A coleção tem peças confeccionadas em tecidos naturais e mesclados, deixando-as muito mais confortáveis e sofisticadas e criando uma silhueta atual. As estampas gráficas inspiradas nos trançados de palha e texturas das casas mostram a riqueza desta região, que vai dos tons terrosos até o branco, passando por verde, azul, vermelho e abobora. Izabella Feitosa O Sertão - e tudo o que se refere a ele - me fascinam. Seus aspectos físicos e humanos, tão distintos de outros lugares, despertam em mim ao mesmo tempo compaixão e encantamento. A força do sertanejo se torna imensa para resistir a todas as adversidades e sofrimentos encontrados no caminho. Fé e esperança são os elementos que os movem na luta diária para enfrentar a seca. Pensando nisso, busquei inspiração em “Dois Quadros”, uma poesia do poeta popular, compositor, cantor e improvisador Patativa do Assaré, que envolve aspectos do traquejo sertanejo. Nesta coleção Verão 2015, os elementos naturais são indispensáveis, a vastidão da natureza é vista em modelagens acinturadas e retas, silhuetas arredondadas e marcadas, assimetria, aplicações de estampas, com nuances de tons terrosos e frios, mas com pontos de cores, expressando as condições climáticas do Sertão. Kauany Maria Para o Verão 2015 a designer Manoela Jaíra apresenta “O cantar do Sertão” como fonte de inspiração para reger esta coleção. O Xote das Meninas, eternizado na inconfundível voz do Rei do Baião, e as joias do artesão Pernambucano Jefferson Cavalcante foi o ponto de partida para expressar a feminilidade nas criações. Tendo como base o território “Cantar” do museu do Cais do Sertão, esta coleção faz com que nos deparemos com a trajetória de Luiz Gonzaga e a evolução dos ritmos que tradicionalmente contam as histórias desse povo corajoso que compõe o Sertão. Temos contato com esse universo através dos instrumentos, da discografia e da indumentária de Gonzagão. Também é possível se integrar ao tema a partir do espaço dos Novos Baiões, com suas reinvenções, e do rádio, por meio de seu encanto como entretenimento e fonte de informações. A coleção apresenta uma mistura de materiais leves e pesados, fluidez e rigidez, simetria e assimetria, e arabesco com metálico. Cores frias, quentes e chocantes, além de texturas de couro e ferro pesado, são impressas nos tecidos leves para compor este complexo belo que enaltece o feminino e o sexy de todas as mulheres, não só a do Nordeste. Manoela Jaíra Inspirada no território do “Migrar”, ambiente do museu Cais do Sertão que apresenta o movimento migratório do Sertão nordestino, a coleção Verão 2015 Retalhos do migrar traz como referências a coragem, a ousadia e a simplicidade dos migrantes sertanejos, sendo representada através dos recortes, emendas e acabamentos de pespontos feitos à mão. Uma importante fonte de inspiração que serviu de base para o desenvolvimento da coleção foi a célebre obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, cuja historia retrata o drama de uma família de retirantes que, após serem pressionados pela seca, atravessam o Sertão sem rumo, em busca de meios para sobreviver. Uma trajetória emocionante, com passagens marcantes que serviram de inspiração para criação das estampas dessa coleção. Para o desenvolvimento das peças foram escolhidas tendências como camadas, vazados, tecidos naturais e bordados manuais que representam, de forma bem característica, a originalidade do povo sertanejo. A cintura alta e levemente marcada, as fendas e os ombros em evidencia são uma espécie de amostra da representação da força e da ousadia da mulher sertaneja, características que não poderiam ser deixadas de lado, dando um toque particular de feminilidade à coleção. Mayara Jéssica A marca Maria Margarete lança sua coleção Verão 2015, intitulada Mandalas de Couro, com inspiração no território “Cantar” do museu Cais do Sertão, elaborada a partir dos elementos sonoros e dos sentimentos que esses despertam nas pessoas. O ponto de partida é a representação de como a música nos leva a lugares, saudades, aromas, cores, sensações e inspirações. Foi com esses resultados sensoriais que a coleção trouxe detalhes em couro cru e na delicadeza do feito à mão como características fundamentais. Também explorou a força e a riqueza do sertanejo, dando destaque ao cangaço, com looks de modelagens simples e sofisticadas, repletos de beleza e sutileza como elementos de destaque para refletir a atmosfera sertaneja. A indumentária do cangaço agrega muitos valores na leitura dos looks, visto que o sertanejo traz consigo uma carga muito forte de habilidades manuais que foram traduzidas nas peças desenvolvidas para a coleção. As cores usadas traduzem a alegria do sorriso do sertanejo, a musicalidade, a dança e determinação de um povo sofrido, porém feliz. Tudo isso se resume em peças fluidas, de tons alegres e detalhes artesanais, usadas como base para criação. Maria Margarete Neste Verão, a Maria M convida você a embarcar em uma viagem pelo Sertão nordestino, mergulhando em sua cultura e proporcionando uma visão da população rural e interiorana brasileira juntamente com características dos designers de nosso tempo. Tudo isso para descobrir um mundo rico em cultura e sentimento. A coleção traz modelagens leves e sutis representadas pela simplicidade e tranquilidade do trabalho artesanal. Com inspiração no trabalho do cidadão urbano, bem como no trabalho do sertanejo, característica marcante da coleção, os looks apresentam cores terrosas, formas e bordados dos gibões utilizados pelos vaqueiros. O sertanejo carrega em sua indumentária as cores puras: o azul, cor do manto de Nossa Senhora, também é a cor da água; o amarelo, do ouro e da riqueza; e o marrom, representando a terra, muitas vezes seca e castigada pela falta de chuva. Michelle Oliveira A coleção 2015 da Frigg traz a beleza do Sertão sob uma ótica poética, com seus dias de sol e céu azul contrastando com o cinza da Caatinga, revelando uma exuberância impar no cenário geográfico brasileiro. A partir de um olhar mais atento é possível perceber o quanto o Sertão é cercado de ricas belezas naturais, criatividade e cultura. Além disso, dispõe de uma gente forte e batalhadora, marcada pela sua própria história. O território “Ocupar” do museu Cais do Sertão serviu como fonte de inspiração desta coleção através de um de seus elementos iconográficos mais conhecidos: o vaqueiro. Sua indumentária, composta por um conjunto de ícones e riquezas de detalhes, lhe serve ate hoje como proteção do sol e para trilhar os difíceis caminhos da Caatinga com muita fé e bravura. Essa profissão desafiadora ate hoje é motivo de orgulho para o povo sertanejo. As peças vão do pesado ao leve, do longo ao curto com diversos materiais presentes na coleção, tais como o couro, o couro pirografado e as fivelas que conferem uma característica mais pesada. A leveza ficou por conta da renda da terra e dos tecidos fluidos como viscose e linho que dão um ar de modernidade e sofisticação. As cores que servem de base para a coleção são as encontradas na natureza: azul, verdes, brancos, cinza e marrons. Miriam Xavier Sertão. “Sertões”. Toda a sua singularidade e pluralidade. A coleção é baseada no crer sertanejo, na fé e na constante dicotomia entre o divino e o profano. Tratando desse tema, além dos aspectos religiosos, também foram utilizadas a xilogravura e o cordel “A Chegada da Prostituta no Céu”, de José Francisco Borges (J. Borges). A obra conta a história da passagem de uma prostituta pelas três dimensões – terra, inferno e céu – e a constante presença do bem e do mal em todos os cenários. No Museu Cais do Sertão, o espaço Crer é representado pelo Bosque Santo e pelo Túnel do Capeta, compostos por símbolos repletos de múltiplas interpretações. E é a partir daqui que começa a criação. Tons terrosos, remetendo ao cenário seco são utilizados, mas também há o branco, o nude, o azul e o vermelho, estes relacionados à dualidade. Estão presentes looks retos e minimalistas e também modelagens mais fluidas e silhuetas marcadas. Transparências aparecem com frequência, inclusive recorrendo aos “vazados” da arte xilográfica. Comprimentos midi, longos, saias, hot pants, fendas e decotes surgem na coleção, tudo seguindo as tendências do Verão 2015, que também conta, além segmento feminino, com moda praia e acessórios. Natália Oikawa As terras secas e rachadas do interior pernambucano, aquele cenário que já foi ilustrado somente pela escassez da água, onde não havia vida para a vegetação, revelam pessoas que amam suas raízes e não escondem suas origens. Foi através das lembranças de migrantes que deixaram suas terras em busca de uma nova vida que se fez esta coleção Verão 2015 da Beautiful Woman. Por meio das xilogravuras do artista plástico pernambucano Gilvan Samico, cuja obra tornou-se conhecida pela iconografia associada ao universo do cordel e à visualidade do Armorial, a coleção criada buscou dar vida aos looks com a fluidez dos tecidos e, ao mesmo tempo, a rigidez do couro, representando a força e a coragem do nordestino. Traz também decotes que deixam a mulher mais feminina e cores em tons pasteis e terrosos. Foi através do território “Migrar” do museu Cais do Sertão que se fez essa coleção. Cada look criado esconde nos elementos desenvolvidos uma série de representações que vão do amor às lembranças, passando pelas brincadeiras e, sobretudo, pelo sonho de retornar ao ponto de partida. Paulina Ferreira A marca Priaz apresenta a coleção Do Céu ao Inferno remetendo ao símbolos e significados das crenças religiosas. As criações foram dividas em quatro famílias de looks que agruparam os subtemas: a primeira representa as músicas de Luiz Gonzaga que cantam a fé do sertanejo e trazem sua alegria e colorido; a segunda é baseada em Nossa Senhora simbolizando a credulidade das pessoas; a terceira vem inspirada na Igreja; e, por fim, a quarta família mostra o Céu, a Terra e o Inferno unindo todo o conteúdo da coleção. A elaboração foi bastante clara nos looks, sendo possível, assim, observar o significado de cada peça. O ambiente do museu Cais do Sertão escolhido para a inspiração foi o “Crer”, com seus diversos significados, lembranças de momentos e sentimentos. Lá encontramos dois mundos bem distintos: o Túnel do Capeta, com seu acabamento todo em espelhos e vozes repetindo insistentemente os diferentes nomes do Diabo e o Bosque Santo, ao fim desse martírio, trazendo a paz e o colorido. Os looks criados vêm com recortes nas costas e estampas feitas à mão com variados símbolos, como o tridente representando o Diabo, as flores homenageando os santos e o chão rachado remetendo à seca no Sertão. Os tecidos utilizados são o algodão e o chifon dispostos numa mistura de cores neutras com vibrantes como amarelo, vermelho, azul, branco e preto. Priscila Azevedo A Maria Joana surge com a missão de levar ao público da marca uma moda com a sua verdadeira identidade. A estratégia é mexer com o consciente das pessoas e fazê-las refletirem, entre outros temas atuais, sobre os assuntos em torno da utilização do cannabis. A coleção também vem inspirada no Polígono da Maconha, uma região do Sertão nordestino famosa pela cultura ilícita da planta. O território “Viver” do museu Cais do Sertão retrata a simplicidade nordestina. A Casa do Transtempo é uma real projeção do que é morar no Sertão e desperta reações ambíguas: de um lado, torna a imaginação sobre o lugar mais fácil pra quem nunca esteve na região; do outro, aflora a sensação de saudade idealizada para quem já o conhece. O território e os elementos dispostos nele não deixaram faltar inspiração, tornando as criações dos looks rica, assim como o próprio Sertão. A coleção vem com quatro estampas que representam o viver sertanejo e o famoso polígono. A estampa chave é a “Rio São Francisco”, uma aquarela com os tons azuis e verdes do velho Chico. Com a intenção de fazer com que os looks representassem ainda mais fielmente a imagem do Sertão, mas sem esquecer as tendências atuais do sistema de moda, optamos por materiais como o couro, a camurça, o linho, o jeans e as transparências. Thainá Gantois A Exposição Agradecimentos O rico e complexo universo que compreende a trajetória histórica de Luiz Gonzaga e a cultura sertaneja possibilitaram os alunos concluintes a usarem a criatividade e os conhecimentos técnicos apreendidos na área de estudo e desenvolver a coleção “O Sertão vai Virar Moda”, em exposição no Museu Cais do Sertão, entre 6 de dezembro de 2014 e 5 de janeiro de 2015. Museu Cais do Sertão Gerência Geral Gilberto Pimentel Os vinte looks em apresentação no espaço foram desenvolvidos na linha conceitual, pensados a partir de trabalho de pesquisa sobre os diferentes temas que transitam no museu, em especial a música de Luiz Gonzaga, o cotidiano do vaqueiro e aspectos de geografia do semiárido nordestino. Sob uma ótica poética e concebidas de acordo com as tendências da contemporaneidade, as peças produzidas pelos jovens designers costuram imaginação e realidade, materializadas numa pluralidade de cores, formas e símbolos presentes no cotidiano da vida sertaneja. Cenário de singularidades importante para a garantia do tom de elegância e de criatividade aos looks produzidos pelos novos agentes do mundo da moda no estado. Supervisão de Museologia Conceição Wanderley Relações Institucionais Joana Chaves Supervisão de Programação Maria Rosa Maia Coordenação de Conteúdo Lêda Dias Produtor de Conteúdo Hélio Rodrigues Supervisão do Educativo Mário Ribeiro Assistente da Supervisão do Educativo Márcio Luna