BATISTA, Jaqueline. Análise do Microcrédito Orientado no Banco
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BATISTA, Jaqueline. Análise do Microcrédito Orientado no Banco
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ CURSO ADMINISTRAÇÃO JAQUELINE BATISTA ANÁLISE DO MICROCRÉDITO ORIENTADO NO BANCO DO EMPREENDEDOR NA SEDE ADMINISTRATIVA. São José 2015 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ CURSO ADMINISTRAÇÃO JAQUELINE BATISTA ANÁLISE DO MICROCRÉDITO ORIENTADO NO BANCO DO EMPREENDEDOR NA SEDE ADMINISTRATIVA Trabalho de Conclusão de Estágio apresentado à disciplina de Estágio II, do curso de Administração, do Centro Universitário Municipal de São José - USJ. Orientador: Dr. Gilson Karkotli. São José 2015 JAQUELINE BATISTA ANÁLISE DO MICROCRÉDITO ORIENTADO NO BANCO DO EMPREENDEDOR NA SEDE ADMINISTRATIVA Trabalho de Conclusão de Estágio elaborado como requisito para aprovação no estágio obrigatório para obtenção do grau de bacharel Administração do Centro Universitário Municipal de São José – USJ. Orientador: _______________________________________________________ Prof. Dr. Gilson R. Karkotli ___________________________________________________________ Prof. M Eng. Alcides José Fernandes Andujar ______________________________________________________ Prof. Me. Lissandro Wilhelm São José 2015 Dedico este trabalho aos meus pais, Adelar e Maria, a minha irmã Tatiane que me ajudou nessa trajetória e ao meu namorado Felipe, companheirismo. pela paciência e AGRADECIMENTOS Primeiramente quero agradecer a minha família por ter me dado todo o suporte nesta caminhada. Aos meus pais que apesar de não terem estudos, tem o maior conhecimento que é o de vida e que sempre nos falaram para que estudássemos, pois sem estudo não somos nada. Agradeço minha mãe por ter ficado acordada diversas vezes me fazendo companhia e por me fazer chás. A minha irmã Tatiane que me auxiliou em diversos momentos, que me incentivou e me incentiva. Ao meu namorado Felipe que me incentivou, que me cobrou e que teve muita paciência comigo nesse momento. Agradeço imensamente aos meus professores do ensino médio Luciano, Luciana e Flávia que me apresentaram esse universo universitário e que falaram que era apaixonante, como realmente é. Aos meus professores do USJ, que dedicam suas noites, finais semanas para elaborarem nossas aulas, transmitirem seus conhecimentos, por nos ouvirem e por acreditarem. Em especial a professora Luciane Schmitt que quando eu estava desistindo da faculdade, sentou comigo e me ouviu e me incentivou dizendo que faltava pouco e que acreditava em mim. O meu eterno obrigada a todos os meus professores. Ao meu orientador que me auxiliou na produção desse trabalho e se dedicou e me incentivou a concluir esta pesquisa e por se tornar meu amigo pessoal, os meus sinceros agradecimentos. Aos funcionários da USJ que nos auxiliaram em diversos momentos, ao Sr. Vânio que é uma pessoa maravilhosa, sempre nos auxiliou em tudo que podia. Ao Banco do Empreendedor por ter me proporcionado um ambiente favorável a pesquisa do meu trabalho e à troca de ideias o que me auxiliou na escolha do tema de pesquisa. Aos meus amigos por me incentivarem a terminar para poderem ir numa festa de formatura. A todos o meu muito obrigada! Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos. Ray Kroc RESUMO O Banco do Empreendedor faz parte do programa de Crédito de Confiança, instalado por iniciativa de organizações públicas e privadas do Estado de Santa Catarina. Desde 2005 é habilitado pelo Ministério do Trabalho para fazer parte do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO). Este Banco possui uma destacável clareza de público-alvo, atendendo empreendedores com limitado acesso ao banco tradicional. Tem uma cobertura geográfica significativa, haja vista que, mediante suas vinte e quatro unidades de atendimento, abrangem 110 cidades catarinenses e mais 6 cidades do Estado do Paraná. Neste sentido, a proposta para o estudo aqui apresentado é de focar sobre como está sendo feita a análise do Microcrédito Produtivo Orientado, confrontando aspectos teóricos e práticos, além de relatar o modo como são realizadas as análises, assim como as dificuldades e barreiras na realização das mesmas. A pesquisa é aplicada para gerar conhecimento, a abordagem é qualitativa que nos permite descrever as situações, tem caráter exploratório através da pesquisa aplicada e de documentos da organização. Concluída a pesquisa fica evidente a dificuldade encontrada pelo analista de crédito para reduzir os contratos de riscos que podem vir a serem clientes inadimplentes. A análise possui alguns aspectos a serem melhorados e agregados, para ser implementado nas vinte e quatro unidades de atendimento. Palavras-Chave: Microcrédito Produtivo Orientado. Inadimplência. Análise do Microcrédito. LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Quadro Organizacional do Banco Empreendedor..................................22 Quadro 2 – Setores e Funções de Sede Administrativa do Banco Empreendedor...29 Quadro 3 – Processo de Microcrédito.......................................................................31 Quadro 4 – Indicadores Sociais.................................................................................88 Quadro 5 – Diferenças entre a Filantropia e a Responsabilidade Social...................91 Quadro 6 – Mapeamento de Processo....................................................................106 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Hierarquia do Planejamento......................................................................37 Figura 2 – Negócios Sociais: Empresas que Visam o Lucro vs Organizações Sem Fins Lucrativos...........................................................................................................48 Figura 3 – Contexto da Governança Corporativa.......................................................80 Figura 4 – Triple Botton Line......................................................................................94 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACIF – Associação Comercial e Industrial de Florianópolis ACIT – Associação Empresarial de Tijucas ACISAI - Associação Empresarial e Industrial de Santo Amaro da Imperatriz AEMFLO – Associação Empresarial dos Municípios da Grande Florianópolis AMCRED – Associação das Organizações de Microcrédito e Microfinanças de Santa Catarina AMPE – Associação das Micro e Pequenas Empresas ASSINVEST – Associação Industrial do Vestuário BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina BAPEM – Banco do Pequeno Empreendedor CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas CRC – Conselho Regional de Contabilidade CERES – Ebalition For Environmentally Responsible Economies FAMPESC – Federação das Associações de Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IMF – International Monetary Fund LSE – Levantamento Socioeconômico PNMPO – Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SESCON – Sindicato das Empresas de Consultoria, Assessoria, Perícias, Informações, Pesquisas e Empresas de Serviços Contábeis SINDICÓPOLIS – Sindicato dos Contabilistas da Grande Florianópolis MPO – Microcrédito Produtivo Orientado ONG – Organização Não-Governamental OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PROER – Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional PROES – Programa de Incentivo à Reestruturação do Setor Público Estadual na Atividade Bancária RSE – Responsabilidade Social Empresarial SFB – Serviço Florestal Brasileiro SCM – Supply Chain Management SCR – Sistemas de Informações de Crédito SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................14 1.1 TEMA DE PESQUISA.........................................................................................14 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA...............................................................................15 1.3 OBJETIVOS........................................................................................................15 1.3.1 Objetivo geral................................................................................................16 1.3.2 Objetivos especíicos....................................................................................16 1.4 Justificativa...........................................................................................................16 2 AMBIENTE ORGANIZACIONAL........................................................................18 2.1 HISTÓRICO.........................................................................................................18 2.2 A GESTÃO DO BANCO EMPREENDEDOR ......................................................20 2.3 ORGANOGRAMA................................................................................................20 2.4 DIRETRIZES ORGANIZACIONAIS......................................................................23 2.5 PRINCIPAIS PRODUTOS E SERVIÇOS.............................................................24 2.5.1 Linhas específicas..........................................................................................24 2.6 FORÇA DE TRABALHO.......................................................................................28 2.7 MERCADOS ATENDIDOS E AMBIENTE COMPETITIVO..................................30 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................32 3.1GESTÃO................................................................................................................32 3.1.1 Tipos de gestão...............................................................................................33 3.2 PLANEJAMENTO.................................................................................................35 3.2.1 Processos de planejamento..........................................................................35 3.2.2 Tipos de planejamento..................................................................................36 3.3 EMPREENDEDORISMO......................................................................................38 3.3.1 Tipos de empreendedorismo........................................................................40 3.3.1.1 O empreendedor nato...................................................................................41 3.3.1.2 O empreendedor que aprende (inesperado).................................................42 3.3.1.3 O empreendedor serial (cria novos negócios)...............................................42 3.3.1.4 O empreendedor corporativo.........................................................................42 3.3.1.5 O empreendedor herdeiro (sucessão familiar)...............................................44 3.3.1.6 O “normal” (planejado)...................................................................................44 3.4 MICROEMPREENDEDOR...................................................................................45 3.4.1 Histórico do microempreendedor.................................................................46 3.4.2 Público-alvo....................................................................................................48 3.4.3 A metodologia do microcrédito.....................................................................50 3.5 O AGENTE DE CRÉDITO....................................................................................50 3.5.1 O Microcrédito nas instituições....................................................................53 3.5.2 Problemas de focalização, alcance e eficiência..........................................55 3.5.3 O Trade-off entre focalização e sustentabilidade ......................................57 3.5.4 O microcrédito no Brasil ...............................................................................60 3.6 Mercado Bancário ...............................................................................................62 3.6.1CRÉDITO...........................................................................................................66 3.6.2 OS “Cs” DO CRÉDITO.....................................................................................68 3.6.3 TIPOS DE CRÉDITO.........................................................................................72 3.7 INADIMPLÊNCIA.................................................................................................75 3.7.1 INADIPLEMENTO ABSOLUTO.......................................................................76 3.7.2 INADIPLEMENTO RELATIVO.........................................................................76 3.7.3 NEGOCIAÇÃO E CRÉDITO INADIMPLIDOS..................................................77 3.8 RESPONSABILIDADE SOCIAL..........................................................................78 3.8.1 INDICADORES.................................................................................................82 3.8.2 Global reporting initiative..............................................................................83 3.8.3 Instituto brasileiro de análises sociais e econômicas................................84 3.8.4 Os indicadores ethos de responsabilidade social empresarial.................85 3.8.5 Ações sociais..................................................................................................89 3.8.6 Inclusão Social................................................................................................91 3.8.7 Sustentabilidade.............................................................................................94 4 METODOLOGIA.....................................................................................................97 4.1 TIPOS DE PESQUISA.........................................................................................97 4.2 COLETA DE DADOS.........................................................................................100 4.3 FORMAS DE ANÁLISE......................................................................................101 4.4 ANÁLISE GERAL...............................................................................................101 4.5 RESULTADO DA PESQUISA...........................................................................102 5 APRESENTAÇÃO DOS PROBLEMAS ENCONTRADOS..................................102 5.1 ÁREA DE ANÁLISE DO BANCO DO EMPREENDEDOR.................................103 5.2 COMO OCORRE O PROCESSO DE ANÁLISE DO BANCO DO EMPREENDEDOR..................................................................................................103 5.3 O PAPEL DO ANALISTA DENTRO DA ORGANIZAÇÃO É ESTRATÉGICO........................................................................................................107 6 PROPOSTA DE MELHORIA................................................................................109 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................114 REFERÊNCIAS........................................................................................................116 APÊNDICE...............................................................................................................130 14 INTRODUÇÃO O Estágio Supervisionado apresenta-se como procedimento fundamental na vida acadêmica do aluno de administração, é a etapa efetiva para graduação já que permite ao mesmo aplicar conhecimentos adquiridos durante ao curso. Assim sendo, o presente estudo tem como tema principal a análise do microcrédito orientado do Banco do Empreendedor. 1.1 TEMA DE PESQUISA O Brasil é um dos países mais extensos do mundo e governado de maneira federativa regional. É a maior economia da América Latina e uma das dez maiores em termos de PIB. São notórios os avanços em matéria de desenvolvimento humano e diminuição da desigualdade social, mas a extensão geográfica dificulta a consolidação destas melhoras. E para melhorar essa desigualdade social, o setor de microcrédito orientando vem se destacando, apresentando uma oportunidade de financiamento aos microempreendedores que não tem oportunidade com as grandes empresas financeiras. O grande pioneiro nesta área foi o Sr. Muhammad Yunus, economista e banqueiro bengali, que conseguiu promover a inclusão e o desenvolvimento social de várias famílias através do acesso ao crédito. Experiência essa que foi o ponto de partida para a criação do Grameen Bank, um banco voltado às camadas mais pobres da sociedade, com uma filosofia diferente dos bancos tradicionais, onde o crédito é visto como um dos direitos humanos, e a relação com o cliente é feita à base de confiança, sendo que o banco vai até as pessoas através de seus agentes de crédito. Fato que lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz em 2006. O microcrédito pode ser considerado como uma modalidade de financiamento que visa permitir o acesso aos micro e pequenos empreendedores ao crédito por meio da utilização de metodologia própria voltada ao perfil e às necessidades específicas dos empreendedores, estimulando as atividades produtivas e as 15 relações sociais das populações mais carentes, com condições de gerar, assim, ocupação, emprego e renda e, desenvolvimento socioeconômico local. O programa de microcrédito do governo federal é baseado na experiência do professor Yunus, através do programa Crescer. O Programa Nacional de Microcrédito tem como objetivos elevar o padrão de vida e a geração de empregos e incentivar o empreendedorismo sustentável. É ser economicamente viável; é ser socialmente justo e ambientalmente correto. O que mais necessita-se em nosso país é da força do fazer acontecer. Mas, para um fazer acontecer, conscientemente, precisa-se, inicialmente, mudar a forma como a energia é desperdiçada (em críticas/análises/diagnósticos, em atividades que burocratizam tudo ao nosso redor, em processos para burlar as leis e buscar vantagens para poucos) em energia que leve à sustentabilidade e ao bem comum. Em segundo lugar, precisa-se focar toda essa energia nas coisas “certas”. O Banco do Empreendedor ostenta destacável clareza do público-alvo, atendendo empreendedores com limitado acesso ao banco tradicional. Deste modo consegue uma interessante cobertura geográfica. Com efeito, mediante duas 24 unidades atendendo 110 cidades do Estado de Santa Catarina e 6 do Estado vizinho Paraná. 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA O microcrédito é uma linha diferenciada dos créditos tradicionais. Este prevê um acompanhamento mais próximo dos microempreendedores, através de visitas aos locais onde os mesmos desenvolvem suas atividades e analisando o seu perfil socioeconômico para liberação do crédito. Diante do exposto tem-se a seguinte pergunta: De que forma pode-se aperfeiçoar a análise do microcrédito objetivando redução na inadimplência do Banco do Empreendedor? 1.3 OBJETIVOS 16 Objetivos expressam o fim que se deseja atingir, a meta que se pretende alcançar. 1.3.1 Objetivo Geral Analisar a liberação do crédito ao microempreendedor através da análise do microcrédito produtivo orientado. 1.3.2 Objetivos Específicos Descrever como é realizado os processos de análise do microcrédito; Identificar possíveis gargalos da análise; Verificar o impacto da análise sobre o índice de inadimplência do Banco do Empreendedor; Propor melhoria no processo de análise do microcrédito. 1.4 JUSTIFICATIVA As empresas que operam o microcrédito, sem fins lucrativos são instituídas por iniciativa de particulares, para desempenhar serviços sociais não exclusivos do Estado com incentivo e fiscalização do Poder Público, mediante vínculo jurídico instituído por meio de termo de parceria. A partir deste estudo, o estabelecimento pode fazer um acompanhamento mais específico da análise do microcrédito produtivo orientado e do índice de inadimplência. Estudo este que poderá ser estendido para os agentes de crédito. E quanto mais eficiente for o desempenho dos agentes em captar melhor o levantamento de dados dos clientes, melhor será a análise do microcrédito e menor será o índice de inadimplência do banco. Sendo assim pode-se dar continuidade ao trabalho do Banco do Empreendedor que é financiar os sonhos de milhares de empreendedores que buscam melhorar suas vidas e de proporcionar novos produtos, serviços, rendas e novos empregos. A contribuição desta pesquisa para a sociedade é de grande importância, pois, poderá compreender melhor como ocorre o processo de análise para a 17 liberação do crédito solicitado e o porquê o processo pode ficar em espera para melhorar ou ter sido recusado naquele momento. O estudo sugerido é uma oportunidade para a acadêmica aprofundar conhecimentos em microfinanças e responsabilidade social, estimular o contato com biografias de diversos autores das áreas de estudo, permitindo a integração entre as teorias estudadas em sala de aula e o aproveitamento na prática da organização pesquisada, permitindo ampla troca de conhecimentos e experiências, além de compreender melhor como funciona a coleta de dados com os clientes, a análise do microcrédito e como isso reflete no índice de inadimplência do banco. 18 2 AMBIENTE ORGANIZACIONAL 2.1 HISTÓRICO O Banco do Empreendedor foi à primeira organização criada e instalada pelo Programa Crédito de Confiança, implantado de um termo de cooperação assinado em maio de 1999 entre Governo de Santa Catarina, BADESC, SEBRAE/SC e FAMPESC, com a adesão de outras entidades organizadas, representantes de entidades e das comunidades que compõem a Região da Grande Florianópolis e que passaram a ser fundadores da organização não governamental BANCO DO EMPREENDEDOR. A organização iniciou suas atividades em novembro de 1999, com sede inicialmente na Rua Almirante Alvim, Nº 491, no centro de Florianópolis e com responsabilidade inicial de atender a toda região que compõe a Associação dos municípios da Grande Florianópolis. Em julho de 2002 foi certificada pelo Ministério da Justiça, como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). O pioneirismo do Banco do Empreendedor, dentro do Programa Crédito de Confiança foi de suma importância para o estabelecimento de padrões de operacionalização e administração do modelo que estava sendo criado para operar o microcrédito no Estado de Santa Catarina. O esforço inicial contou com a participação de diversos parceiros, os quais disponibilizaram espaço físico, móveis, equipamentos e recursos a fundo perdidos, como foi o caso da Prefeitura Municipal de Florianópolis, do BADESC e SEBRAE e alguns voluntários que se dispuseram a dirigir a equipe operacional contratada, gerando assim as condições para o sucesso do projeto. Sob o comando de Ubirajara Câmara, representante da AEMFLO Associação Empresarial dos Municípios da Grande Florianópolis, primeiro Presidente, a organização deu os primeiros passos decisivos para sua consolidação. Através de uma parceria com o SEBRAE/SC foi disponibilizada uma unidade móvel para atendimento descentralizado diretamente aos empreendedores, nas várias cidades e bairros que compõe a região de atendimento da organização. Alguns meses mais tarde, sua sede foi transferida para novas instalações, junto a Gerência 19 Regional do BADESC da capital localizada a Rua Fúlvio Aducci, Nº 710, bairro Estreito, onde opera até o momento. No ano de 2000 Ubirajara Câmara transferiu o comando da Administração para Marcílio Ávila, representante da ASSINVEST, que incentivou a disseminação do modelo e buscou novas parcerias. Em março de 2001 assumiu o comando da organização Luiz Carlos Floriani, representante da FAMPESC, passando a investir na profissionalização dos serviços e na descentralização do atendimento, através da criação de postos avançados, redefinição da área e região de atendimento e criação de programas de metas que garantiram melhor desempenho da organização. Em 2005 é habilitado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e passa a integrar o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado - PNMPO, instituído pela lei 11.110. A partir da decisão das Assembleias de associados do BANCO DO EMPREENDEDOR e da OSCIP CREDICONFIANÇA iniciou-se em janeiro de 2008 o processo de unificação das duas instituições, ficando a CREDICONFIANÇA em processo de dissolução até a liquidação total de seus ativos e passivos e transferência do patrimônio remanescente para o BANCO DO EMPREENDEDOR, conforme estabelece a legislação em vigor, que incorporou todo seu pessoal e estrutura e passou a atender a região. Em 2009 a Assembleia geral dos associados resolve promover uma reforma estatutária que permitiu iniciar um processo de profissionalização e expansão das atividades, ampliando a atuação da organização para todo o Estado de Santa Catarina e contratando o senhor Luiz Carlos Floriani como Diretor Superintendente para liderar e coordenar o Plano de Expansão do Banco do Empreendedor. A primeira unidade de atendimento fora da região inicialmente concebida é inaugurada em 2010, na cidade de Brusque, atendendo uma demanda da Associação das Micro e Pequenas Empresas, AMPE BRUSQUE, passando a atender, além de Brusque, as cidades de Botuverá e Guabiruba. Em 2012 o Banco do Empreendedor adquire a carteira da OSCIP BAPEM, de Caçador, assumindo todas as suas unidades e preservando todos os seus operadores, que foram incorporados, e passou a atender também o meio oeste de Santa Catarina. 20 Definido por negociação estratégica das assembleias do Banco do Empreendedor e da Casa do Empreendedor, as organizações definem a realização de uma grande parceria e o Banco do Empreendedor passa a atender, a partir de janeiro de 2014, a região Norte e Nordeste do Estado, antes atendida pela Casa do Empreendedor, incorporando todo seu pessoal e aproveitando as estruturas existentes. Com isto o Banco do Empreendedor passa a ser a maior organização de Santa Catarina com vinte unidades de atendimento instaladas. Atualmente, o Banco do Empreendedor opera em municípios de várias Regiões do Estado, como o Meio Oeste, Planalto Sul, Vale do Itajaí, Norte e Nordeste, e Grande Florianópolis. O Banco do Empreendedor tem como objetivo principal promover o desenvolvimento econômico e social, através da concessão de crédito por modelo alternativo visando à criação, o crescimento e a consolidação de empreendimentos de micro e pequeno porte, formais ou informais, sob a forma de pessoa física ou jurídica, dirigidos às pessoas de baixa renda, através da metodologia específica. 2.2 A GESTÃO DO BANCO DO EMPREENDEDOR O Banco do Empreendedor é uma ONG, certificada pelo Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) de Microcrédito, de médio porte. Em 2005 é habilitada pelo Ministério do Trabalho e Emprego e passa a integrar o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado PNMPO, instituído pela Lei 11.110. O Diretor Superintendente é eleito pela Assembleia Geral de Associados, já os gerentes são escolhidos por um sistema de meritocracia. A forma de tomada de decisão é centralizada, sendo que a maioria delas é tomada pela a Alta Administração (Diretor Superintendente e gerentes). 2.3 ORGANOGRAMA Para Chiavenato (2001, p.251) “organograma é o gráfico que representa estrutura formal da empresa”. O objetivo do organograma é ilustrar, de forma clara, cada departamento da empresa e seus colaboradores em questão, com intuito de esclarecer dúvidas de clientes, parceiros e fornecedores (TEIXEIRA, 2012). 21 O quadro organizacional do Banco do Empreendedor é composto pela Assembleia Geral dos Associados, (quadro 01), que é a união de várias associações da grande Florianópolis que decidem o planejamento estratégico do Banco, logo abaixo temos o conselho deliberativo composto pelos presidentes de cada Associação que avaliam o balanço social da organização e também atuam no planejamento estratégico. Dando continuidade temos o conselho fiscal, que avalia as contas que foram pagas e dão a sua opinião fiscal sobre as contas do Banco. Abaixo do conselho fiscal temos as auditorias externas, e o quadro gerencial que é composto pelo Diretor Superintendente, Gerente Geral, Gerente Administrativo/Financeiro, que cuidam mais da parte estratégica da organização, mas tem contato direto com as bases e na sequência os cargos de coordenadores de unidade que cuidam das bases de atendimento juntamente com os seus agentes de créditos e auxiliares administrativos. Ligados ainda ao Gerente Administrativo/ Financeiro está a coordenadora de unidade que cuida especificadamente do setor de cobrança, Analista contábil, os auxiliares administrativos do setor financeiro, a arquivista e serviços gerais. 22 Quadro 1: Quadro Organizacional do Banco Empreendedor Fonte: Autora, 2015 23 Assembleia Geral de Associados são membros de entidades organizadas, representantes de entidades e das comunidades que compõem a região da grande Florianópolis. Conselho Deliberativo é composto por representantes dos seguintes órgãos: ACIF – Florianópolis CDL – Florianópolis AEMFLO – São José ACIP- Palhoça CIEE – SC ACIT – Palhoça ACISAI – Santo Amaro da Imperatriz. Conselho Fiscal que é composto por: CRC- SC SESCON – Grande Florianópolis SINDICÓPOLIS Diretor Superintendente: Luiz Carlos Floriani Consultoria Executiva Contabilidade – Terceirizada Gerência Geral Gerente Administrativo/Financeiro Supervisor Contábil Coordenador Geral da unidade Coordenador de unidades Agente de Crédito Auxiliar de Agente de Crédito. Auxiliares Administrativos (Financeiro e Cobrança). 2.4 DIRETRIZES ORGANIZACIONAIS As diretrizes organizacionais representam o conjunto das estratégias e políticas da empresa, sendo formadas pela missão, pela visão e pelos valores da empresa e definem, de forma clara, para o ambiente interno e externo, o que elas 24 são, por que existe, o que elas serão e quais condutas pretendem adotar durante este percurso (SILVEIRA, 2012). Missão “Promover o desenvolvimento econômico e social, através da concessão de crédito por modelo alternativo, visando à criação, crescimento e consolidação de empreendimentos de micro e pequeno porte, formais ou informais”. (FLORIANI, 2010). Visão “Ser reconhecida como a melhor organização de crédito alternativo a empreendedores de pequenos negócios na sua região de atuação”. (FLORIANI, 2010). Valores “Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade, Economicidade, Eficiência, Indiscriminação de raça, cor, gênero ou religião; Empreendedorismo como instrumento de desenvolvimento econômico social”. (FLORIANI, 2010). 2.5 PRINCIPAIS PRODUTOS/SERVIÇOS Microcrédito Produtivo e Orientado, Operação de Crédito dirigida a empreendedores de pequenos negócios informais, microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas são concedidos através de metodologia específica operada por agentes de crédito especialmente treinados para visitarem e avaliarem a necessidade, viabilidade e capacidade do negócio e de seu empreendedor. 2.5.1 Linhas Específicas Capital de Giro: Especialmente para aquisição de estoques, mercadorias, matérias primas, fluxo de caixa. Podendo ser considerados recursos para outras necessidades em caráter excepcional, mediante enquadramento prévio, pelo comitê de crédito. - Limite de Crédito de R$: 200,00 (Duzentos Reais) até R$: 15.000,00 (Quinze Mil Reais); - Prazo: de 06 (Seis) a 18 (Dezoito) meses; 25 - Taxa de Juros: 3,9% ao mês para a primeira operação e renovação dependendo do histórico da operação anterior poderá de 3,6%; 3,3% ou 2,95% ao mês. Capital Fixo: Especialmente para aquisição, com comprovação de procedência, de ferramentas, máquinas, veículos, utilitários e equipamentos; Recuperação e/ou conserto de máquinas, equipamentos, bem como na recuperação, conserto ou adaptação de veículos utilitários; Melhoria e/ou ampliação de instalações próprias, desde que destinado ao empreendimento; Caso as instalações sejam alugadas, o crédito para melhoria/ampliação deverá ser liberado somente com aprovação do contrato de aluguel com vigência até o termino do contrato de financiamento. - Limite de Crédito de R$: 200,00 (Duzentos Reais) até R$: 15.000,00 (Quinze Mil Reais); - Prazo: de 12(Doze) a 36 (Trinta e Seis) meses; - Taxa de Juros: 3,9% ao mês para a primeira operação e renovação dependendo do histórico da operação anterior poderá ser de 3,6%; 3,3% ou 2,95% ao mês. Capital Misto: Para financiar necessidades de capital fixo e capital de giro numa mesma operação. - Limite de Crédito de R$: 200,00 (Duzentos Reais) até R$: 15.000,00 (Quinze Mil Reais); - Prazo: de 12(Doze) a 36 (Trinta e Seis) meses; - Taxa de Juros: 3,9% ao mês para a primeira operação e renovação dependendo do histórico da operação anterior poderá de 3,6%; 3,3% ou 2,95% ao mês. Saneamento Financeiro: Para saldar eventuais pendencias que impedem o empreendedor de acessar o crédito e que sejam contumazes, desde que comprovada a viabilidade do empreendimento e a capacidade de pagamento, bem como a apresentação de garantias sólidas. - Limite de Crédito: R$: 200,00 (Duzentos Reais) até R$: 10.000, (Dez Mil Reais); - Prazo: de 12 (Doze) a 24 (Vinte e Quatro) meses; - Taxa de Juros: 3,9% ao mês. 26 - Giro Rápido: Destinado a prover recursos imediatos e urgentes para o fluxo de caixa dos empreendimentos e necessidades emergenciais, através de operações rápidas e com pagamento em curto prazo. - Limite de Crédito: de R$: 1.000,00 (Um Mil Reais) até R$: 15.000,00 (Quinze Mil Reais); - Prazo: de 03 (Três) a 06 (Seis) meses; -Taxa de Juros: 3,3% ao mês. Crédito Especial: Operação especialmente desenvolvida para operar com recursos próprios para atender situações especiais, a serem aprovadas pela Diretoria, em que o limite máximo das operações de Capital Fixo, Capital Misto e Capital de Giro poderão ser elevados até o montante de R$: 20.000,00 (Vinte Mil Reais), desde que o empreendimento justifique plenamente a necessidade, viabilidade econômica do negócio, capacidade de pagamento e tenha garantia sólida. - Limite de Crédito: R$: 15.000,00 (Quinze Mil Reais) até R$: 20.000,00 (Vinte Mil Reais); - Prazo: de 06 (seis) até 36 (Trinta e Seis) meses; -Taxa de Juros: 3,9% ao mês para a primeira operação e renovação dependendo do histórico da operação anterior poderá de 3,6%; 3,3% ou 2,95% ao mês. Programa Juro Zero (Para Microempreendedor Individual MEI): Operação Integrante do Programa Juro Zero desenvolvido pelo Governo do Estado de Santa Catarina, através da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e do BADESC, tendo ainda parceria do SEBRAE/SC e da AMCRED/SC e destinada especificadamente para o Microempreendedor Individual MEI. - Limite: R$: 3.000,00 (Três Mil Reais); - Prazo Único de 08 (Oito) Meses; - Taxa de Juros: 0 (Zero), para todo tomador que pagar corretamente as 07 (Sete) primeiras parcelas terá bonificada a oitava parcela que será paga pelo BADESC, parcela este referente aos juros remuneratórios. 27 Credi Reforma: Produto Desenvolvido para disponibilizar recurso para reforma, melhoria e/ou ampliação em residência de uso próprio. Público-Alvo: Pessoas Físicas, brasileiras ou naturalizadas, maiores de idade, com emprego fixo e pelo menos 12 meses e residentes em casa própria. Limite: R$: 1.000,00 (Um Mil Reais) a R$: 10.000,00 (Dez Mil Reais); - Prazo: 06 (Seis) até 36 (Trinta e Seis) meses; - OBSERVAÇÃO: O valor da prestação não pode comprometer 20% da renda familiar. -Taxa de Juros: 3,9% (Três vírgula Nove por cento) ao mês; Clientes do Banco do Empreendedor com operação a pelo menos 12 meses farão jus a progressão de taxa, conforme regulamento geral. - GARANTIA: Avalista, brasileiro (a) maior de idade, residente na cidade da operação a pelo menos dois anos, com renda comprovada, cujo valor da prestação a ser avalizada não comprometa mais de 25% (Vinte e Cinco por cento) da renda. -Real: Alienação de veículo automotor (automóvel) que deverá ter no máximo 10 (Dez) anos de uso. - Documentos Necessários - Carteira de Identidade (RG); - CPF do tomador (a); - Dos avalistas e respectivos cônjuges; - Comprovante de Propriedade do Imóvel objeto do crédito (Escritura, Contrato de Compra e Venda devidamente registrado, inventários comprovados, termo de posse legalizado); - Comprovante de Residência do tomador (a) e avalista (Luz, Água, Telefone Preferencialmente); - Comprovante de Renda do tomador (a), avalistas e cônjuges; - Certificado de proprietário de veículos em caso de garantia real; - Orçamento detalhado do material a ser utilizado e fotos ilustrando a obra. Cartão Do Empreendedor: Operação que visa proporcionar limite de capital de giro rotativo, disponibilizado por meio eletrônico, inicialmente para clientes que já operam com o Banco do Empreendedor, especialmente no Programa Juro Zero. Limite: R$: 5.000,00 28 - Prazo: Até 12 meses por saque a ser definido na solicitação eletrônica. - Taxa de Juro: 2,9% ao mês. - Importante: Limites e prazos das operações são definidos pelo comitê de crédito. Credi Costura É uma linha de financiamento para compra de máquinas de costura pode ser para pessoa informal, não necessitando de avalistas. - Limite: R$ 3.000,00 - Prazo: Até 24 meses. - Taxa de Juros: 3,9% ao mês. Credi Cheque O Banco do Empreendedor em parceria com a PoloCred disponibiliza para seus clientes desconto de cheque e de duplicatas. É uma maneira rápida e fácil de transformar suas vendas a prazo em dinheiro vivo. Desconto de Cheque Pré Datado: A pessoa traz os cheques pré-datados que recebe em pagamento de seus clientes e estes são trocados por dinheiro vivo, para que assim, se possa ter capital de giro à disposição imediatamente. Desconto de Duplicatas: É antecipado a vista os títulos que determinada empresa recebe e a pessoa terá capital de giro imediato para impulsionar seus negócios, sem deixar de facilitar o pagamento de seus clientes. 2.6 FORÇA DE TRABALHO A organização atualmente conta com 27 colaboradores na Sede Administrativa. O local onde será realizado o trabalho é de 81 colaboradores em todo o Estado, sendo que 15 destes são estagiários. A empresa oferece aos colaboradores os seguintes benefícios: planos de saúde e odontológico; valealimentação e transporte; e, premiações com base na produção. Além disso, são promovidos cursos e treinamento para o desenvolvimento e capacitação dos funcionários. O recrutamento é feito tanto interna quanto externamente. No recrutamento externo a organização preza pela seleção de estagiários de nível superior, que a depender do seu desempenho, podem ser contratados pelo período de um ano. A oportunidade oferecida é comunicada a um programa de estágios específico que 29 pré-seleciona o currículo mais adequado ao perfil da vaga. O recrutamento interno ocorre quando há a necessidade de funcionários em uma nova função, nesse caso é realizada uma análise do perfil dos funcionários para ver qual melhor se enquadra na nova função, e então, é feita a proposta para o funcionário selecionado, que tem a opção de aceitar ou não, em caso negativo é selecionado outro funcionário. Para os cargos de nível gerencial a escolha é por meritocracia. A organização não possui, até o momento, um setor de recursos humanos estruturado e por isso cada candidato pré-selecionado no recrutamento externo poderá ser avaliado tanto por um coordenador, como pelo gerente ou diretor da empresa. No (quadro 2) a abaixo serão apresentados os setores e níveis de escolaridade que o Banco do Empreendedor exige para cada função. Setor/função Quantidade Nível médio de escolaridade Direção/Gerência 3 Superior Completo Setor de crédito 6 3 Superior Completo; 1 Superior Incompleto; 1 Ensino Médio. Setor de arquivo 1 Superior Completo Setor de contratos 4 3 Superiores Completo, 1 superior Completo. Setor financeiro 5 2 Superiores Completo, 3 Superior Incompleto. Setor de cobrança 7 6 Superiores Incompleto, 1 superior completo. Serviços Gerais 1 1 Ensino Fundamental Quadro 2: Setores e Funções da Sede Administrativa do Banco do Empreendedor. Fonte: Elaborado pela autora, 2015. Os níveis de escolaridade apresentados no (quadro 2) aplicam-se também para as unidades de atendimento. O próximo tópico abordará os mercados atendidos, ou seja, a atuação do BE em Santa Catarina, e o ambiente competitivo que envolve a situação que se encontra atualmente a área de microcrédito no Estado. 30 2.7 MERCADOS ATENDIDOS E AMBIENTE COMPETITIVO O Banco do Empreendedor atua na área de microcrédito para empresas de pequeno e médio porte, formais e informais. Tem uma importância muito grande para o Estado e seus empreendedores. Até dezembro de 2012 o Banco do Empreendedor já havia emprestado mais de R$ 100 milhões em 26.357 operações de microcrédito, em 31 de dezembro de 2013 este número subiu para 132.700 milhões emprestados em 33.700 operações nas cidades em que atua notadamente as das Regiões da Grande Florianópolis, do Vale do Rio Tijucas e a Região de Brusque. Chegando também à Região do Meio Oeste de Santa Catarina, nas cidades de Joaçaba, Campos Novos, Fraiburgo, Curitibanos, e mais recente nas cidades de Videira e Caçador. Depois da fusão com a Casa do Empreendedor o Banco passou a atender também as cidades de Joinville, São Francisco do Sul, São Bento do Sul, Jaraguá do Sul, Garuva e Mafra, confirmando, assim, a importância do microcrédito para o contexto sócio econômico do Estado. Além também das ações sociais voltadas às populações de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social através de projetos de orientação e capacitação, bem como atuação específica junto às comunidades carentes. O setor de microcrédito foi estruturado em Santa Catarina a partir da criação do Programa Crédito de Confiança, criado pelo Governo Estadual em 1999. Atualmente existem 20 instituições de microcrédito que atendem todo o Estado, podendo considerar um mercado bastante competitivo. No (quadro 3) descreve-se como funciona o processo do microcrédito de uma forma resumida. 31 Quadro 3: Processo de Microcrédito Fonte: Elaborada pela autora, 2015. 32 3 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA Para Appolinário (2009) a fundamentação teórica é uma ferramenta que referencia os trabalhos acadêmicos e fortalece as ideias e os conceitos apresentados. Por meio dela se adquire o conhecimento teórico para o desenvolvimento do tema. 3.1 GESTÃO O Dicionário Aurélio a define como o ato de gerir ou gerência e aponta a palavra administração como sinônimo. Alguns autores, no entanto, entendem que administração possui uma implicação diferente do vocábulo gestão já que esta, mais recentemente, passou a significar a interferência direta e ampla dos gestores nos sistemas e procedimentos empresariais. Neste sentido, gestão poderia ser definida como o gerenciamento do conjunto de ações e estratégias nas organizações, de maneira holística, visando atingir seus objetivos. Há uma linha de pensamento que afirma que a administração está para os gerentes assim como a gestão está para os líderes. Segundo CARMO (1994, p. 6) “também se pode citar o modelo (ou estilo) de gestão democrático de liderança que está associado, simultaneamente, à satisfação e produtividade do grupo”. Pelo fato de trabalhar com grupos de pessoas, a administração é analisada como ramo das ciências humanas, envolve várias áreas além da administração como o direito, a contabilidade, economia, psicologia, matemática e estatística, a sociologia, a informática, dentre outras. Ao estudar as sociedades antigas, é possível concluir que desde aquela época já se aplicavam ferramentas de gestão, devido à organização das mesmas e a grandiosidade de suas obras que até hoje intrigam a humanidade, como as pirâmides do Egito, por exemplo. Entretanto, os estudos sobre gestão começaram a ganhar força após a primeira Revolução Industrial, que devido ao novo modelo de produção, trouxe à tona problemas que, até então, não existiam. A partir deste momento os 33 profissionais decidiram buscar soluções para resolver estes novos problemas, usando vários métodos científicos para administrarem os seus negócios, o que deu início à ciência da administração. 3.1.1 Tipos de Gestão A evolução das organizações em termos de modelos estruturais e tecnológicos, considerando as constantes mudanças e o conhecimento de novos paradigmas, vem exigindo uma postura diferente dos gestores, voltando a organização para uma realidade diferenciada e emergente. Segundo Cordeiro et. al (2002), o grande desafio enfrentado pelas organizações vem sendo a capacidade e a competência para se adaptarem e levarem a todos os seus níveis hierárquicos e funcionais, da alta gerência ao piso de fábrica, à incorporação de novos modelos, métodos, técnicas, instrumentos, atitudes e comportamentos necessários às mudanças e inovações para sobreviverem e seguirem competitivas no mercado. Gerir hoje é uma atividade mais abrangente e diversificada do que no passado. Em vista disso, o gestor precisa estar apto a perceber, refletir, decidir e agir em condições diferentes das anteriores. De acordo com os autores, a diferença entre sucesso e fracasso, está no melhor uso dos recursos disponíveis para alcançar os objetivos desejados. A ênfase na gestão vem da necessidade de aperfeiçoar continuamente os processos do negócio, pelo aprendizado e inovação permanentes. Novos métodos de gestão, novas ferramentas de apoio, novos sistemas de informação, tudo isso representa o esforço por aperfeiçoar a gestão. A gestão estratégica é utilizada como ferramenta para alavancar novos mercados, a utilização do modelo de gestão estratégica leva a empresa a realizar um diagnóstico situacional, destacando oportunidades e ameaças, bem como forças e fraquezas, a fim de cruzar estas realidades e descobrir suas inter-relações. (CAMPOS, 2009). A partir do processo de autocrítica organizacional busca-se encontrar condições de direcionar seu foco para o estabelecimento de visão de futuro, missão organizacional, desafios estratégicos e estratégias gerais que nortearão os rumos do negócio para o curto, médio e longos prazos. (CORDEIRO, et. al., 2002). 34 A gestão estratégica é um modo de acrescentar novos elementos de reflexão e ação sistemática e contínua, com objetivo de avaliar a situação, elaborar projetos de mudanças estratégicas, acompanhar e gerenciar os passos de implementação. Como o próprio nome diz, é um meio de gerir toda organização, focando em ações estratégicas em todas as áreas. Deste modo, os processos e os investimentos serão feitos de forma mais organizada, racional e profissional, buscando reduzir o grau de incerteza, para alcançar melhores resultados. (CAMPOS, 2009) Já a Gestão Participativa é o modelo de gestão que mais se adapta ao novo homem da sociedade do conhecimento. Nesta sociedade, os indivíduos exercem sua cidadania, assumem responsabilidades, opinam sobre decisões que afetam sua vida, pressionam também as organizações para alterarem suas estruturas rígidas que tradicionalmente silenciam os trabalhadores. (CORDEIRO, et. al., 2002). A Gestão Participativa necessita de um modelo cultural democrático e aberto, onde prevaleça confiança em todos os níveis. Um conjunto de valores baseados em princípios com os quais todos concordam. As mudanças ocorridas na sociedade desde o início do século passado até o momento atual ampliaram as áreas do conhecimento, fazendo do homem moderno um sujeito mais informado e exigente. Este processo teve como consequência a transição do poder que antes era concentrado, tanto na sociedade como nas organizações, e hoje é instável e dinâmico, movendo-se por todas as camadas, assumindo novas formas de acordo com a situação. (CORDEIRO, et. al., 2002) Para Santos et al. (2001), antes de se implantar a Gestão Participativa numa organização, é preciso harmonizar três aspectos, sendo estes: 1) Os seus Sistemas (produção, comercialização, recursos humanos, administração e finanças, entre outros); se existem conflitos de tipos diferentes de gestão entre estes sistemas será difícil implantar a gestão participativa na mesma; 2) Condições Organizacionais; é necessário flexibilizar a estrutura organizacional, (com menor número de níveis hierárquicos e normas mais adaptáveis;) 3) Comportamentos Gerenciais; os gestores se tornarão os principais incentivadores das pessoas para o processo participativo, o bom relacionamento entre chefia e subordinados é o principal ponto da relação participativa. 35 Com base no exposto, considera-se que a administração participativa compreende a organização como um verdadeiro sistema. Oliveira (2006) afirma que: sistema é um conjunto de partes interagentes e interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com determinado propósito e executa determinada função, característica marcante do gerenciamento holístico. O gerenciamento holístico reflete bem essa dinâmica, pois defende a ideia do entrelaçamento, de todas as partes do meio ambiente em um sistema, incluindo todas as variáveis, históricas, políticas, econômicas, socioculturais, entre outras, necessárias para se compreender e administrar adequadamente a relação da organização com o ambiente, na concepção holística tudo é interdependente. (CORDEIRO, et. al., 2002). Sintetizando, pode-se dizer que, para resistir e fazer diferença, uma organização tem que ser presente no seu tempo. Ela precisa se ajustar às mudanças, já que a transformação é uma constante em nossa sociedade atual. 3.2 PLANEJAMENTO O planejamento, segundo Kotler (1995 apud MORAIS, 2005) é uma metodologia gerencial, que através de uma estratégia formula uma direção a ser seguida pela organização. Já para Oliveira (2007, p.4) “[...] o planejamento pode ser conceituado como um processo [...] desenvolvido e efetivo, com a melhor concentração de esforço e recursos pela empresa”. Planejamento é conhecido como a função inicial do processo administrativo por meio da qual são determinados os meios para se alcançar os objetivos desejados. O planejamento está voltado para o futuro, por isso requer uma atenção ampla e especial (CHIAVENATO, 2006). De acordo com as definições apresentadas, percebe-se que o processo de planejar pode ser entendido como um plano estratégico que busca ao máximo atender às necessidades da organização para o alcance de suas metas e objetivos. 3.2.1 Processo de Planejamento Segundo Maximiano (2006) o processo de planejamento é composto pelas seguintes etapas: a primeira é a parte que inclui e levanta informações sobre a 36 organização. É neste momento que são demonstradas as necessidades, oportunidades e ameaças; a segunda etapa transforma e processa as informações levantadas na primeira em novas informações e decisões; na última etapa é apresentado um plano que estabelece a situação que deverá ser alcançada, a forma de alcançá-la e os recursos necessários. Já para Chiavenato (2006) o processo de planejamento é formado por seis etapas. A primeira etapa é a definição dos objetivos, a segunda é a verificação da situação atual da organização em relação aos objetivos, a terceira etapa é o desenvolvimento de premissas quanto às condições futuras da organização, a quarta etapa é a análise das alternativas de ação, a quinta etapa é a escolha de um curso de ação entre as alternativas possíveis e a sexta etapa é a implementação e avaliação dos resultados obtidos. Compreende que as etapas do processo de planejamento funcionam dentro de uma organização como algo constante, que deve, consecutivamente, ser aprimorado e avaliado. A seguir serão abordados os tipos de planejamento. 3.2.2 Tipos de Planejamento Em relação aos níveis hierárquicos de uma organização, podem-se abordar três tipos de planejamento, que são: planejamento estratégico, o tático e o operacional, conforme apresentado na figura a seguir. 37 Figura 1: Hierarquia do planejamento Fonte: Chiavenato, 2003. De acordo com Braga e Monteiro (2005) o planejamento estratégico dos níveis superiores é formado pelas estratégicas gerais. Como tema deste trabalho, o planejamento estratégico será apresentado mais detalhadamente no item 4. O planejamento tático segundo Oliveira (2007) é desenvolvido no nível intermediário da empresa, procura estabelecer ações para melhorar determinadas áreas da organização. Conforme Pereira, (2010, p.54) O planejamento tático relaciona-se com os objetivos de médio prazo; tem por objetivo aperfeiçoar determinada área de resultado e não a organização como um todo, trabalha com as decomposições das estratégias e ações estratégicas estabelecidas no planejamento estratégico. Para Chiavenato o planejamento tático “envolve cada departamento com seus recursos específicos, e preocupa-se em atingir os objetivos departamentais” (CHIAVENATO, 2003, p. 31). O planejamento Operacional, segundo Pereira (2010, p. 54), “formaliza a ação; relaciona-se com os objetivos de curto prazo; é a formalização da metodologia de desenvolvimento e implementação de resultados específicos, a serem alcançados pelas áreas funcionais da organização”. 38 Para Chiavenato, o planejamento operacional “é detalhado, específico e analítico, envolve cada tarefa ou atividade isoladamente e preocupa-se com o alcance das metas específicas” (CHIAVENATO, 2003, p. 31). Conforme Silva (2005) o planejamento operacional é formado pelo nível mais baixo da organização, neste nível se preocupa com a realização das tarefas rotineiras, traçando procedimentos para a execução das mesmas, geralmente envolve orçamentos, programas e tempo. 3.3 EMPREENDEDORISMO O conceito de empreendedorismo no Brasil ganhou força no final da década de 1990 e existem diversos fatores que explicam esse interesse repentino por este assunto, entre eles: a preocupação com a criação de pequenas empresas duradouras, a diminuição da alta taxa de mortalidade e desses empreendimentos e o crescimento dos índices de desemprego, o que forçou diversos trabalhadores que ficaram sem seus empregos a criarem suas próprias empresas, mesmo sem ter conhecimento e experiência no ramo, utilizando-se do pouco que lhes restavam de suas economias e que ao perceberem, tinham mudado de lado e se tornado patrões. (DORNELAS, 2005). Aliado a esses fatores, o Brasil hoje apresenta um quadro onde “o emprego não é mais visto pelo jovem como projeto de vida” (DOLABELA, 1999 p. 58). Segundo Dolabela (1999), em pesquisas realizadas com estudantes essa percepção aparece quase que como unanimidade, o que representa significativa mudança em relação às gerações anteriores, onde o sonho era alcançar uma posição estável com cargos no governo ou em uma grande empresa, de preferência multinacional. Essa mudança deve-se ao difícil confronto do jovem com a realidade do mercado de trabalho, onde além da oferta de empregos ser reduzida, os salários em geral são baixos e a estabilidade, objeto de desejo no passado, foi substituída pela instabilidade. Ao analisar esse quadro, percebe-se uma mudança de comportamento onde o empreendedorismo passou a ser opção e não é mais apenas uma imposição no cenário brasileiro. 39 O empreendedorismo é definido por Dornelas como “o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à transformação de ideias em oportunidades” (DORNELAS, 2005, p. 39). Conforme essa definição pode-se destacar que o empreendedorismo depende do envolvimento direto de pessoas, e as pessoas que têm papel fundamental nesse processo são chamadas de empreendedores. Para Dornelas (2005) e Degen (2009), o primeiro exemplo para a definição de empreendedorismo pode ser considerado Marco Polo, e sua tentativa de estabelecer uma rota comercial para o Oriente. Marco Polo assinou contrato com banqueiros capitalistas, que forneceram os recursos para o empreendimento em troca do direito à compra dos produtos trazidos ao retorno de sua viagem. Ambos citam que o empreendedor assumia todos os riscos pessoais e comerciais das viagens enquanto os banqueiros eram os tomadores passivos do risco financeiro. Para Dolabela (1999), o empreendedor é todo aquele que define por si mesmo o que vai ser feito e em que contexto será feito, sendo que para chegar a essa definição leva em conta seus sonhos, desejos, preferências e o estilo de vida que quer ter, conseguindo desta maneira ter dedicação intensa ao negócio, já que confunde seu trabalho com prazer. Já Dornelas (2005, p. 29) afirma que “a palavra entrepeneur tem origem francesa e quer dizer aquele que assume riscos e começa algo novo”. Corroborando com Dornelas (2005), Degen (2009) também afirma que empreendedor é aquele que empreende o novo negócio e assume os riscos comerciais, legais e pessoais do empreendimento. Sendo assim pode-se definir o empreendedor como o indivíduo que tem a capacidade e o desejo de pôr em prática as atividades necessárias para satisfazer suas aspirações e visões, capitalizando-as e assumindo assim os riscos por essa opção. Para Degen (2009), existem diversos motivos que levam as pessoas a almejarem ter seu negócio e assumirem os riscos por um novo empreendimento. O autor apresenta alguns deles como sendo os mais, comumente, identificados entre empreendedores por ele entrevistados, são eles: a) vontade de ganhar muito dinheiro; b) desejo de sair da rotina do emprego; 40 c) vontade de determinar seu futuro; d) necessidade de provar aos outros e a si que é capaz; e) desejo de desenvolver algo que gera reconhecimento e benefícios. Degen (2009) cita, também, as razões implícitas que fazem com que a maioria das pessoas não faça, ou não consiga fazer, a opção de empreender: não ter necessidade de realizar um negócio próprio ou não ser motivado por ganhar muito dinheiro e não estar disposto a pagar o preço pessoal para iniciar um negócio. Além dessas razões expostas há diversos fatores que inibem as pessoas a montarem seus negócios, as quatro mais importantes são: a) imagem social: pode ser considerada a principal razão para que pessoas com carreiras de sucesso não pensem em iniciar seus próprios negócios, elas simplesmente não têm disposição de sujar as mãos em tarefas básicas imprescindíveis para iniciar um novo empreendimento com chances de êxito. b) disposição de assumir riscos: nem todas as pessoas têm a capacidade e coragem de assumir riscos que um empreendedor deve assumir; c) capital social: toda pessoa carrega em seu inconsciente uma série de valores, conhecimentos e experiências que são determinados pelo convívio com pais, professores, amigos, igreja e que inibir o desejo de tornar-se ou não empreendedor; d) outros interesses: não é a dificuldade ou o risco assumido ao iniciar um novo negócio que impede a pessoa de empreender, ela simplesmente tem outro interesse na vida. O autor Degen (2009) destaca, ainda, que as soluções de muitos problemas do nosso país podem ser desenvolvidas através dos empreendedores que, com sua capacidade de criar novas fontes de renda, trazem riqueza para a nação à medida que aumentam sua capacidade de produzir bens e serviços essenciais para o bemestar da população. Portanto, podemos perceber que um empreendedor que possui visão, capital e iniciativa podem beneficiar, não apenas ele mesmo, como também o ambiente no qual sua organização e seus produtos estão inseridos. Identifica, assim, sua importância na sociedade. 3.3.1 TIPOS DE EMPREENDEDORISMO Segundo Dornelas, que os classifica da seguinte maneira: 41 3.3.1.1 Empreendedor Nato (Mitológico) Geralmente são os mais conhecidos e aclamados. Suas histórias são brilhantes e, muitas vezes, começaram do nada e criam grandes impérios. Começam a trabalhar muito jovens e adquirem habilidade de negociação e de vendas. Em países ocidentais, esses empreendedores natos são, em sua maioria, imigrantes ou seus pais e avós o foram. São visionários, otimistas. Estão à frente do seu tempo e comprometem-se 100% para realizar seus sonhos. Suas referências e exemplos a seguir são os valores familiares e religiosos, e eles mesmos acabam por se tornar uma grande referência. Se você perguntar a um empreendedor nato quem ele admira será comum lembrar-se da figura paterna/materna ou algum familiar mais próximo ou, em alguns casos, não haver algum exemplo específico para citar. Exemplos: Bill Gates, Andrew Carnegie, Sílvio Santos, Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá) etc. 3.3.1.2 O Empreendedor que Aprende (Inesperado) Este tipo de empreendedor tem sido muito comum. É normalmente uma pessoa que, quando menos esperava, se deparou com uma oportunidade de negócio e tomou a decisão de mudar o que fazia na vida para se dedicar ao negócio próprio. É o caso clássico de quando a oportunidade bate à porta. É uma pessoa que nunca pensou em ser empreendedor, que antes de se tornar um, via a alternativa de carreira em grandes empresas como a única possível. O momento de disparo ou de tomada de decisão ocorre quando alguém o convida para fazer parte de uma sociedade ou ainda quando ele próprio percebe que pode criar um negócio próprio. Geralmente demora um pouco para tomar a decisão de mudar de carreira, a não ser que esteja em situação de perder o emprego ou já tenha sido demitido. Antes de se tornar empreendedor, acreditava que não gostava de assumir riscos. Tem de aprender a lidar com as novas situações e se envolver em todas as atividades de um negócio próprio. 42 3.3.1.3 O Empreendedor Serial (Cria Novos Negócios) O empreendedor serial é aquele apaixonado não apenas pelas empresas que cria, mas principalmente pelo ato de empreender. É uma pessoa que não se contenta em criar um negócio e ficar à frente dele até que se torne uma grande corporação. Como, geralmente, é uma pessoa dinâmica prefere os desafios e a adrenalina envolvidos na criação de algo novo a assumir uma postura de executivo que lidera grandes equipes. Normalmente está atento a tudo o que ocorre ao seu redor e adora conversar com as pessoas, participar de eventos, associações, fazer ‘networking’. Para esse tipo de empreendedor, a expressão “tempo é dinheiro” cai como uma luva. Geralmente tem uma habilidade incrível de montar equipes, motivar o ‘time’, captar recursos para o início do negócio e colocar a empresa em funcionamento. Sua habilidade maior é acreditar nas oportunidades e não descansar enquanto não as vir implementadas. Ao concluir um desafio, precisa de outros para se manter motivado. Às vezes se envolve em vários negócios ao mesmo tempo e não é incomum ter várias histórias de fracasso. Mas estas servem de estímulo para a superação do próximo desafio. 3.3.1.4 O Empreendedor Corporativo O empreendedor corporativo tem ficado mais em evidência nos últimos anos, devido à necessidade das grandes organizações de se renovarem, inovarem e criarem novos negócios. São geralmente executivos muito competentes, com capacidade gerencial e conhecimento de ferramentas administrativas. Trabalham de olho nos resultados para crescer no mundo corporativo. Assumem riscos e têm o desafio de lidar com a falta de autonomia já que nunca terão o caminho 100% livre para agir. Isso faz com que desenvolvam estratégias avançadas de negociação. São hábeis comunicadores e vendedores de suas ideias. Desenvolvem seu ‘networking’ dentro e fora da organização. Convencem as pessoas a fazerem parte de seu time, mas sabem reconhecer o empenho da equipe. Sabem se autopromover e são ambiciosos. Não se contentam em ganhar o que ganham e adoram planos com metas ousadas e recompensas variáveis. Se saírem da corporação para criar o 43 próprio negócio podem ter problemas no início, já que estão acostumados com as regalias e o acesso a recursos do mundo corporativo. O empreendedor social tem como missão de vida construir um mundo melhor para as pessoas. Envolve-se em causas humanitárias com comprometimento singular. Tem um desejo imenso de mudar o mundo criando oportunidades para aqueles que não têm acesso a elas. Suas características são similares às dos demais empreendedores, mas a diferença é que se realizam vendo seus projetos trazerem resultados para os outros e não para si próprios. Os empreendedores sociais são um fenômeno mundial e, principalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, têm um papel social extremamente importante, já que através de suas ações e das organizações que criam preenchem lacunas deixadas pelo poder público. De todos os tipos de empreendedores é o único que não busca desenvolver um patrimônio financeiro, ou seja, não tem como um de seus objetivos ganhar dinheiro. Prefere compartilhar seus recursos e contribuir para o desenvolvimento das pessoas. O empreendedor por necessidade cria o próprio negócio porque não tem alternativa. Geralmente não tem acesso ao mercado de trabalho ou foi demitido. Não resta outra opção a não ser trabalhar por conta própria. Geralmente se envolve em negócios informais, desenvolvendo tarefas simples, prestando serviços e conseguindo como resultado pouco retorno financeiro. É um grande problema social para os países em desenvolvimento, pois apesar de ter iniciativa, trabalhar arduamente e buscar de todas as formas a sua subsistência e a dos seus familiares, não contribui para o desenvolvimento econômico. Na verdade, os empreendedores por necessidade são vítimas do modelo capitalista atual, pois não têm acesso a recursos, à educação e às mínimas condições para empreender de maneira estruturada. Suas iniciativas empreendedoras são simples, pouco inovadoras, geralmente não contribuem com impostos e outras taxas, e acabam por inflar as estatísticas empreendedoras de países em desenvolvimento, como o Brasil. Sua existência, em grande quantidade, é um problema social que, no caso brasileiro, ainda está longe de ser resolvido. 44 3.3.1.5 O Empreendedor Herdeiro (Sucessão Familiar) O empreendedor herdeiro recebe logo cedo a missão de levar à frente o legado de sua família. Empresas familiares fazem parte da estrutura empresarial de todos os países, e muitos impérios foram construídos nos últimos anos por famílias empreendedoras, que mostraram habilidade de passar o bastão a cada nova geração. Mais recentemente, porém, tem ocorrido a chamada profissionalização da gestão de empresas familiares, através da contratação de executivos de mercado para a administração da empresa e da criação de uma estrutura de governança corporativa, com os herdeiros opinando no conselho de administração e não necessariamente assumindo cargos executivos na empresa. O desafio do empreendedor herdeiro é multiplicar o patrimônio recebido. Isso tem sido cada vez mais difícil. O empreendedor herdeiro aprende a arte de empreender com exemplos da família, e, geralmente, segue seus passos. Muitos começam bem cedo a entender como o negócio funciona e a assumir responsabilidades na organização, e acabam por assumir cargos de direção ainda jovens. Alguns têm senso de independência e desejo de inovar, de mudar as regras do jogo. Outros são conservadores e preferem não mexer no que tem dado certo. Esses extremos, na verdade, mostram que existem variações no perfil do empreendedor herdeiro. Mais recentemente, os próprios herdeiros e suas famílias, preocupados com o futuro de seus negócios, têm optado por buscar mais apoio externo, através de cursos de especialização, MBA, programas especiais voltados para empresas familiares, com o objetivo de não tomar decisões apenas com base na experiência e na história de sucesso das gerações anteriores. 3.3.1.6 O “Normal” (Planejado) Toda teoria sobre o empreendedor de sucesso sempre apresenta o planejamento como uma das mais importantes atividades desenvolvidas pelos empreendedores. E isso tem sido comprovado nos últimos anos haja vista que o planejamento aumenta a probabilidade de um negócio ser bem-sucedido e, em consequência, levam mais empreendedores a usarem essa técnica para garantir melhores resultados. O empreendedor que “faz a lição de casa”, que busca minimizar riscos, que se preocupa com os próximos passos do negócio, que tem uma visão de futuro clara e que trabalha em função de metas é o empreendedor 45 aqui definido como o “normal” ou planejado. “Normal” do ponto de vista do que se espera de um empreendedor, mas não, necessariamente, do que se encontra nas estatísticas gerais sobre a criação de negócios (a maioria dos empreendedores ainda não se encaixa na categoria “normal”). Então, o empreendedor normal seria o mais completo do ponto de vista da definição de empreendedor e o que a teria como referência a ser seguida, mas que na prática ainda não representa uma quantidade considerável de empreendedores. No entanto, ao se analisar apenas empreendedores bem-sucedidos, o planejamento aparece como uma atividade bem comum nesse universo específico, apesar de muitos dos bem-sucedidos também não se encaixarem nessa categoria. Podemos perceber que existem diversos tipos de empreendedores e que não podemos rotulá-los, pois, cada empreendedor possui um perfil, uma forma de atuação diferenciada, por isso não tem como criar um padrão de empreendedor, pois o empreendedor pode ser qualquer um. 3.4 MICROEMPREENDEDOR A palavra crédito é originária do latim creditum, e dentre os seus significados está a “segurança de que alguma coisa é verdadeira; confiança; boa reputação; em sentido econômico; a cessão de mercadoria, serviço ou importância em dinheiro, para pagamento futuro ou a facilidade de obter empréstimos” (Dicionário on line Priberam, 2013). Assim como o termo micro, que advém do grego mikrós, e significa algo, “pequeno ou curto” (Dicionário on line Priberam, 2013). Deste modo poderíamos definir o microcrédito como a concessão de pequenos empréstimos. [...] a concessão de empréstimos de baixo valor a pequenos empreendedores informais e microempresas sem acesso formal ao sistema financeiro tradicional, principalmente por não terem como oferecer garantias reais. É um crédito destinado à produção (capital de giro e investimento) e é concedido com o uso de metodologia específica. (BARONE ET AL, 2002, p. 11). Entretanto microcrédito é algo muito mais abrangente do que apenas conceder empréstimos de pequenos valores, pois existem várias peculiaridades envolvidas, que vão desde o público-alvo a ser atingido, o modo como será 46 concedido o crédito, e até os objetivos econômicos e sociais que se pretende alcançar através desta linha de crédito. O microcrédito é um dos serviços da área do microfinanças. Deste modo se faz necessário abordar o conceito de microfinanças antes de se aprofundar no conceito de microcrédito, pois é comum haver certa confusão entre o conceito de microcrédito e o conceito de microfinanças (BARONE, et al, 2002). “O conceito de microfinanças é entendido pela maioria dos autores como todos os serviços financeiros destinados à população de baixa renda, voltados a pequenas atividades produtivas ou não” (FOLSTER, 2010, p. 22). Ou seja, microfinanças, é um conceito com maior abrangência, sendo o microcrédito e o microcrédito produtivo orientado, apenas um dos serviços do microfinanças. Microfinanças é um campo novo e em acelerado desenvolvimento, no qual se combinam mecanismos de mercado, apoio estratégico do Estado e iniciativas comunitárias com o objetivo de estruturar serviços financeiros sustentáveis para a clientela de baixa renda, sejam indivíduos, famílias ou empresas (formais e informais) (PARENTE, 2005 apud ALVES, 2009, p. 24). Todavia o conceito de microcrédito, muitas vezes é confundido com o conceito de microfinanças. “Isso ocorre quando o único serviço de microfinanças disponível é o crédito e, como visto hoje, o microcrédito, como o principal produto dentro da microfinanças” (BARONE et al, 2002, p. 12). Devido a este motivo é comum microcrédito e microfinanças serem tratados como sinônimos, apesar de não serem sinônimos de fato. 3.4.1 Histórico de Microcrédito Em sua fase inicial, microfinanças era algo praticado exclusivamente por Organizações Não-Governamentais (ONGs) especializadas e de alguns bancos, dentre os quais o que alcançou maior destaque foi o Grameen Bank (Bangladesh), idealizado pelo professor Muhammad Yunus, que através de seu programa de microcrédito produtivo orientado, lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz no ano de 2006. Essas instituições começaram a surgir na década de 1970, desafiaram a visão tradicionalista na concessão do crédito e abriram um novo precedente em um ambiente que, até então, ficava à margem dos serviços financeiros. A partir deste 47 momento o microcrédito passou a ser mais conhecido como uma modalidade de crédito diferenciada. É preciso construir e criar instituições para ajudar os empreendedores, pois são eles que fazem as coisas acontecerem. Todo ser humano é um empreendedor em potencial e como todos podem ser empreendedores, precisam de instituições financeiras diferentes das tradicionais. Dessa forma o crédito deve ser visto como um dos itens dos direitos humanos, porque tudo o que precisa ser feito necessita de dinheiro (YUNUS, 1997, apud OLIVEIRA, 2007, p. 31). Ao focar na base da pirâmide social e empresarial, o acesso ao crédito pode ser utilizado como ferramenta de inclusão social. Os produtos criados pelo setor de microfinanças não são apenas cópias dos oferecidos pelo sistema financeiro tradicional (bancos comerciais e financeiros); fazem parte de uma filosofia onde o crédito é visto como um direito, pois o acesso a ele leva ao desenvolvimento do indivíduo e de sua unidade produtiva (ZOUAIN; BARONE, 2004). O crédito produtivo ao incentivar um aumento no investimento e na propensão marginal a consumir, o nível de emprego na economia tende a ser mais elevado, conforme afirma a teoria keynesiana. Com esse incentivo ao surgimento e a continuidade das microempresas, o microcrédito possibilita uma maior demanda por mão-de-obra, tendo em vista, que esses pequenos empreendimentos se utilizam mais de capital humano do que tecnologia. Em consequência, o índice de desemprego se retrai, principalmente entre os mais pobres com menor escolaridade. Os incrementos na renda familiar, oriundo dos novos postos de trabalho, beneficiam famílias retirando muitas pessoas da linha da pobreza e elevando sua renda até um valor social compatível com a necessidade familiar (FILHO; LUZ, 2013, p. 08). No sistema Capitalista, é possível distinguir dois extremos nas organizações, de um lado estão empresas que buscam maximizar seus lucros, visando os interesses dos acionistas. De outro lado estão as empresas sem fins lucrativos, que por sua vez tem objetivo social (YUNUS; MOINGEON; ORTEGA, 2010). A figura 2 demonstra a influência de ambos os modelos sobre o negócio social. 48 Figura 2: Negócios sociais: Empresas que visam lucro vs organizações sem fins lucrativos Fonte: Yunus; Moingeon; Ortega, 2010. O negócio social visa maximizar o lucro, ao mesmo tempo em que gera impacto social. Segundo Yunus; Moingeon; Ortega (2010), no modelo de negócios sociais o lucro excedente volta para o próprio negócio, na forma de: preços mais atraentes e competitivos, melhores produtos e serviços, entre outras medidas que ajudam todos os envolvidos na organização. Ao contrário dos negócios que visam lucro, onde o excedente enriquece apenas alguns poucos. Foi com esta filosofia que foi criado o Grameen Bank, adotando uma metodologia centrada em empréstimos pequenos sem garantias, taxas de juros próximas às que são praticadas no mercado, negócios de curtíssimo prazo e uso do agente de crédito para ir ao cliente, demonstrou-se que a maioria dos pobres, geralmente excluídos do financiamento formal, pode, de fato, representar um nicho de mercado rentável para serviços bancários, com benefícios para a sociedade. 3.4.2 Público-Alvo Devido à intensa precarização das relações de trabalho no mundo capitalista ocasionada pelo processo de globalização, crescem as estatísticas do desemprego e agravam-se as desigualdades socioeconômicas nos países em desenvolvimento assim como o Brasil. Diante dessa realidade, o trabalho informal vem se expandindo na economia, como alternativa de superação do desemprego e de prover as necessidades essenciais de consumo da família (FILHO; LUZ, 2013). 49 A informalidade, de acordo com Sgreccia (2006), é constituída por pessoas que trabalham por conta própria, não possuindo registros de seus empreendimentos, que normalmente são pequenos e com poucos funcionários. Esses pequenos negócios informais e as empresas de pequeno porte propiciam a geração de emprego e renda na economia, pelo fato de absorver capital humano em maior quantidade do que nas grandes empresas que demandam mais tecnologias e menos trabalhadores. Se pararmos de pensar nos pobres como vítimas ou como um fardo e começarmos a reconhecê-los como empreendedores incansáveis e criativos e consumidores conscientes de valor, um mundo totalmente novo de oportunidades se abrirá (PRAHALAD, 2010, p. 47). O empreendedorismo pode ser considerado uma das formas de inclusão social, pois são necessários novos negócios para suprir a necessidade de novos postos de trabalho, principalmente, para os desempregados das camadas menos favorecidas da sociedade, que possuem baixo grau de escolaridade mínima, impossibilitando-os de trabalhar em grandes companhias, sendo estes o principal público-alvo do microcrédito produtivo orientado, trabalhadores informais que desenvolvem alguma atividade produtiva. Conforme Sgreccia (2006), o microcrédito pode contribuir para a inclusão social, pois faz com que todas as classes sociais tenham acesso ao crédito e alguma chance de se inserir no mercado de trabalho, seja como autônomo ou como assalariado. O microcrédito produtivo orientado permite aos agentes produtivos de baixa renda o acesso ao crédito, garantindo a sustentabilidade do negócio e afetando as condições de vida dos familiares beneficiários dessa atividade creditícia. “O microcrédito representa uma forma de democratizar o acesso ao dinheiro, livrando os microempreendedores dos agiotas (CALDAS, 2005 apud FILHO; LUZ, 2013, p. 06)”. Muitas vezes sem ter acesso ao crédito para manter ou expandir seus negócios o empreendedor recorre aos agiotas que praticam taxas de juros muito acima das taxas do mercado, o que inviabiliza seus negócios. Segundo Costantin (2002), o programa de microcrédito é um instrumento de transformação social importante nos países em desenvolvimento com uma grande desigualdade de distribuição de renda, como é o caso do Brasil. Este programa 50 aliado com outras políticas públicas é uma das alternativas para a minimização da pobreza, através da geração de emprego e renda na sociedade. 3.4.3 A Metodologia do Microcrédito Mesmo apresentando diferenças no que diz respeito à constituição jurídica e aos modelos de negócio envolvidos, o que identifica a diversidade de ofertantes desta linha específica é a adoção de metodologias de concessão de crédito e mitigação de riscos baseadas no conceito de microcrédito produtivo orientado. Essas metodologias envolvem, costumeiramente, a substituição das garantias reais por colaterais sociais para controlar a inadimplência, como é o caso do aval solidário ou o aval de vizinhança; bem como uma forma específica de entrega do crédito, envolvendo a utilização da figura do agente de crédito como intermediador entre a instituição e o solicitante do crédito, em vista da necessidade deste orientar e assessorar o tomador quanto à sua própria necessidade de crédito produtivo e quanto ao uso dos recursos emprestados (DINIZ, 2010). A principal característica deste modelo é o relacionamento sistemático e frequente entre a instituição de microcrédito e o tomador, por meio do agente de crédito, cuja função é dar apoio à gestão do negócio e capacitação do cliente. Fazendo do microcrédito um tipo de negócio com características bastante específicas, dentro do mercado de crédito, pois visa reduzir o risco adotando metodologias que substituem garantias patrimoniais, registros contábeis e projetos formais por sistemas baseados na confiança pessoal e grupal, no conhecimento informal sobre o cliente e seu negócio, e nas relações pessoais entre agentes e clientes, a partir de informações sobre o cliente e seu negócio coletadas e acompanhadas in loco pelos agentes de crédito (PARENTE, 2003). 3.5 O AGENTE DE CRÉDITO A utilização do agente de crédito começou a se difundir a partir do sucesso obtido pelo Grameen Bank (GREVE, 2002, MONZONI NETO, 2006). Este modelo serviu de base para o Brasil na criação e definição do modelo de microcrédito produtivo orientado brasileiro (MPO). 51 De acordo com Monzoni Neto (2006), modelo é caracterizado pelo relacionamento capacitado, efetivo, frequente entre a instituição de microcrédito e o empreendedor, por meio da figura do agente de crédito. A regulamentação do MPO define a metodologia, como sendo baseada no relacionamento direto com os empreendedores no local onde é exercida a atividade econômica. A legislação prevê que o atendimento ao empreendedor deve ser feito por pessoas treinadas para realizar o levantamento socioeconômico e prestar orientação educativa sobre o planejamento do negócio, para definição das necessidades de crédito e de gestão voltadas para o desenvolvimento do empreendimento, prevê também que o contato com o empreendedor deve ser mantido durante o período do contrato de crédito, buscando seu melhor aproveitamento e aplicação, bem como o crescimento e sustentabilidade da atividade econômica. Como se vê, a legislação, praticamente, determina a existência do agente de crédito para aqueles que desejam ofertar o MPO (DINIZ, 2010). Greve (2002) afirma que é na atuação do agente de crédito que consta o diferencial em relação ao processo tradicional de concessão de crédito, pois o agente de crédito desenvolve um papel duplo, atuando, tanto a favor da IMF quanto do microempreendedor. Para a IMF ele faz a promoção de produtos, captação, seleção e monitoramento da carteira de clientes, além de produzir pareceres, autorizar a renovação de crédito e ser responsável pela recuperação dos créditos dos inadimplentes (TONETO JR; GREMAUD, 2002, KWITKO 2003). Já para o microempreendedor ele dá apoio à gestão do negócio acompanhando e atuando como consultor e educador (MACHADO, 2002, GREVE, 2002). Uma das atividades mais importantes do agente de crédito é possibilitar a criação de uma rede de apoio entre os clientes, ou formação dos grupos solidários, visando suprir as deficiências de registros contábeis e a falta de garantias formais, comumente utilizados nos processos tradicionais de crédito, substituindo-as pela utilização de relações de confiança e solidariedade entre clientes (DINIZ, 2010). Segundo Parente (2003) os agentes de crédito coletam as informações em processos informais que ajudam a manter os grupos solidários, formando uma estrutura de capital social, que substitui ativos patrimoniais, em geral não existentes em comunidades carentes. Sendo assim, quanto melhor a capacidade de uma IMF avaliar o capital social, maior será a possibilidade de obter resultados positivos no 52 microcrédito, pois essa capacidade depende diretamente da proximidade com a comunidade (PAIM, 2002). Portanto, o desempenho eficiente do agente de crédito dependerá, fortemente, de sua inserção na comunidade do microempreendedor. Por meio de sua atuação na comunidade será possível levantar dados sobre o microempreendedor e o potencial da sua atividade de negócio. O microcrédito se apoia nas relações pessoais entre o agente e a comunidade, o que diminui os custos de seleção e monitoramento, procedimentos típicos dos mecanismos informais de financiamento (TONETO JR; GREMAUD, 2002). Apesar de o aprofundamento dos vínculos entre o agente e a comunidade ser extremamente importante, por outro lado há o risco constante de clientelismo, ou seja, o direcionamento dos empréstimos baseados mais em relações pessoais do que na oportunidade do negócio em si, principalmente quando o agente é também membro da comunidade (TONETO JR; GREMAUD, 2002). Ainda de acordo com os autores, devido a toda essa responsabilidade, além de ser necessário que o agente tenha uma boa qualificação, o mesmo também deve contar com uma estrutura de incentivos adequada, vinculada tanto ao nível de operações como à qualidade destas. Porém, segundo Gibbons; Meehan, (2001) apud Diniz (2010) isso faz com que o custo operacional do agente de crédito se torne crítico, podendo chegar até a 70% do total de despesas administrativas de uma IMF. A situação se agrava se forem levadas em consideração a concorrência direta de financeiras e factorings, que focam no crédito ao consumidor, mas não utilizam o agente de crédito, nos mesmos moldes do microcrédito (GREVE, 2002). Deste modo, Toneto Jr e Gremaud, (2002) afirmam que a questão da avaliação do desempenho do agente de crédito é extremamente importante para o negócio do microcrédito, em geral, as medidas mais aceitas para avaliar o desempenho e a produtividade do agente de crédito são o número médio de tomadores ativos por agente e o valor médio da carteira de empréstimos por agente (GIBBONS; MEEHAN, 2001 apud DINIZ, 2010). Entretanto as comparações referentes a este, segundo índices, são difíceis porque variam de acordo com a metodologia de empréstimos, o nível de pobreza dos tomadores e as condições locais. 53 Fontes; Diogo; Marchesini (2003), ao compararem o desempenho dos agentes de crédito para diversos tipos de instituições que atuam em microcrédito, instituições governamentais, ONG’s, OSCIP’s e SCM’s concluíram que o valor médio emprestado por mês não é um indicador adequado para, isoladamente, analisar o desempenho dos agentes de crédito, pois o resultado pode estar condicionado ao montante dos recursos disponíveis. Sendo assim, a média da quantidade de contratos de créditos concedidos por agente seria, então, um indicador mais adequado. Em relação ao índice de créditos por agente, para Gibbons e Meehan (2001) os valores ideais de uma IMF variam entre 300 e 500 clientes por agente (independente da metodologia de empréstimos). Nichter et al. (2002), ao debaterem um estudo que compara a produtividade de agentes de crédito brasileiros com outros países da América Latina, afirmam que a produtividade dos agentes de crédito é consideravelmente menor entre as IMF’s brasileiras, com exceção das IMF’s da Região Nordeste que apresentaram melhor desempenho em relação a esse indicador, devido em parte à metodologia de grupo de solidariedade. O fato é que as IMF’s no Brasil têm utilizado os agentes de crédito praticamente como o único canal de distribuição, além de que é o contexto brasileiro apresenta algumas desvantagens com relação a essa prática. Para os autores o custo relativamente alto dos agentes de crédito no Brasil está associado com a utilização frequente de agentes de crédito com formação universitária, o que não acontece internacionalmente. Ainda, segundo os autores, o crédito no Brasil não é costumeiramente oferecido de porta em porta, o que gera desconfiança nos clientes. 3.5.1 O Microcrédito Nas Instituições Por se tratar de um tipo de negócio com características específicas, o microcrédito tem se expandido através do trabalho extensivo de empresas e instituições especializadas. No Brasil, aliado ao fato de a regulamentação do microcrédito ainda ser recente as IMF’s também carecem do que Nichter et al. (2002) denominam de “efeito demonstração”. Instituições de sucesso na área exerceriam um “efeito demonstração” para o mercado ao apresentarem estratégias 54 comprovadas, modelos operacionais e práticas de negócio que podem ser aprendidos e adotados por outros interessados em iniciar as suas atividades no setor. Segundo os autores, muitas IMF’s no Brasil não seguem padrões contábeis tradicionais, o que prejudica o cálculo de indicadores de desempenho e a publicação de resultados financeiros e inviabilizam esse efeito. Segundo Diniz (2010) o mercado microfinanceiro que era restrito aos atores tradicionais (ONG’s, OSCIP’s, SCM’s e Cooperativas de Crédito), recentemente passou a ter participação de novos atores, que são os bancos comerciais que passaram a investir em produtos e serviços específicos para clientes de baixa renda oferecendo, em diversos casos, a oferta de microcrédito. Se até pouco tempo as ONGs dominavam o universo de microfinanças, as instituições financeiras tradicionais, e particularmente os bancos comerciais, tendem a crescer a sua fatia de participação nos próximos anos. Rhyne e Otero (2006) apud Diniz (2010) apontam três tipos distintos de bancos atuando seriamente com microfinanças: Os que se especializaram neste mercado, muitas vezes induzidos pelas suas políticas de responsabilidade social; Os que enxergam a microfinanças como mais uma entre as suas várias linhas de negócio; Os bancos estatais, para os quais microfinanças são objetos de realização de políticas públicas. Tendo em vista as vantagens de escala, o acesso abundante a fundos, a extensão de sua presença através de agências e outros postos de atendimento, e o domínio de uma complexa rede através de base tecnológica sofisticada, os bancos tradicionais tem potencial para alavancar e modificar significativamente o mercado financeiro voltado para a população de baixa renda. Seja por meio da criação de subsidiárias especializadas, ou por meio de ativos incorporados em outras carteiras, atuando sozinhos ou em parceria com instituições micro financeiras (IMF’s), ou até mesmo adquirindo IMF’s que já alcançaram sucesso, o cenário de microfinanças tende a contar com a participação cada vez maior de bancos comercias, sejam eles de médio ou grande porte, atuando nacionalmente ou internacionalmente (DINIZ, 2010). 55 Uma das razões para o crescimento da participação dos bancos comerciais no mercado de microfinanças, embora não determinante, foi a Resolução 3109 do CMN, de 24 de julho de 2003, depois transformada em Lei 10.735, de 11 de setembro de 2003, obrigando os bancos a destinarem 2% dos seus depósitos à vista a operações de microcrédito, caso contrário tais recursos teriam de permanecer depositados sem remuneração (DINIZ, 2010). 3.5.2 Problemas de Focalização, Alcance e Eficiência Conforme relatam Toneto Jr e Gremaud (2002), dependendo de como for a atuação dos bancos comerciais, a política do microcrédito pode apresentar uma série de problemas de focalização, alcance e eficiência. Pelo fato dessa política muitas vezes não atingir o público-alvo, favorecendo camadas de renda mais elevadas que por sua vez já estão inseridas no mercado, essas dificuldades encontradas no programa referem-se o dilema sustentabilidade versus a focalização. A necessidade de cobrir os custos operacionais e obter lucro, ou seja, a necessidade da sustentabilidade pode fazer com que as instituições se afastem dos mais pobres, do foco principal. Por este motivo existe a necessidade de se programar políticas públicas que auxiliem o microcrédito a atingir o público ao qual se foi destinado, evitando o enfoque nos microempreendedores firmados no mercado e que estão fora da linha da pobreza, priorizando o atendimento àqueles que se encontram à margem do sistema creditício (FILHO; LUZ, 2013). De modo geral, os programas de microcrédito apresentam taxas de juros nominais mais baixas que as dos agiotas, porém devido a inúmeros requisitos pedem juros reais mais elevados. Assim, acabam afastando muitos pobres desse segmento, tendo em vista que o prazo de pagamento se torna menor e com isso as parcelas se elevam. É necessário que o governo utilize medidas de incentivo, como por exemplo, oferecer descontos nas parcelas para quem cumprir com as obrigações em dia, dentre outros. Só assim o microcrédito pode realmente minimizar o problema de alcance e se tornar mais eficiente no cumprimento de seu objetivo (FILHO; LUZ, 2013). Este programa de crédito popular produtivo será mais eficiente se o foco desses empréstimos realmente conseguir abranger os mais pobres, para que todas as vantagens venham a acontecer na sociedade. Também são necessárias políticas 56 que auxiliem as instituições a se tornarem sustentáveis com capital suficiente para ampliar os clientes ativos, para que maiores parcelas das pessoas de baixa renda sejam atendidas e beneficiadas (FILHO; LUZ, 2013). A evolução do debate acerca do público-alvo do microcrédito levou ao surgimento de duas correntes, definidas por Gulli (1998) apud Lima (2009) como poverty lending e financial system. A primeira abordagem é a favor da provisão de serviços financeiros como um meio para o combate à pobreza e ao ‘empowerment’ da população de baixa renda. Deste modo, considera-se legítimo que as IMF’s recebam doações e subsídios para se sustentarem. Além disso, acredita-se que o microcrédito deve ser função dos governos, das ONGs e dos doadores, pelo temor de que o setor privado ignore os clientes mais pobres. Para atingir esses objetivos, as IMF’s, muitas vezes, devem oferecer serviços complementares (não financeiros) (LIMA, 2009). Já a segunda abordagem acredita que as IMF’s devem ter como foco a provisão sustentável de serviços financeiros à população excluída do sistema bancário tradicional. O público-alvo não deve ser necessariamente, a população de baixa ou baixíssima renda, já que para conseguir sustentabilidade é necessário à aplicação de taxas de juros um pouco mais altas e de custos operacionais mais baixos, o que, de modo geral, inviabiliza um esforço de mobilização da instituição para focalização na clientela mais pobre. Os defensores dessa abordagem acreditam que o microcrédito deveria ser alvo do setor privado com uma visão comercial, já que apenas esse setor possui os recursos necessários para alavancar o crescimento das IMFs e de sua base de clientes (LIMA, 2009). Porém, os críticos desse modelo argumentam que há um risco de desvio de missão no processo de transformação de ONGs em instituições financeiras, já que as IMF’s com fins lucrativos não têm as mesmas motivações que as ONGs no que se refere ao combate à pobreza, à redução do desemprego ou à promoção do desenvolvimento. Argumenta-se, também, que a busca por sustentabilidade ou lucratividade pode impedir que o foco seja realmente a clientela de mais baixa renda (LIMA, 2009). 57 3.5.3 O Trade-Off Entre Focalização e Sustentabilidade Segundo IBAM (2001), a sustentabilidade financeira fundamenta-se em dois níveis: a capacidade de alavancar recursos para o fundo e sua política de crédito, que é capaz de tornar a instituição autônoma e atingir rapidamente seu ponto de equilíbrio, e no que se refere à política de crédito, a sustentabilidade depende da cobrança de juros que cubram os custos totais de execução do programa e de um sistema eficiente de recuperação dos empréstimos, de modo a manter baixas as taxas de inadimplência (PASSOS ET AL. 2002). A ideia do trade-off entre sustentabilidade e focalização tem origem na percepção de que a população mais pobre não apresenta condições de pagar taxas de juros mais elevadas, necessárias para cobrir os custos das IMFs. De acordo com essa percepção, as instituições sustentáveis não poderiam focar nos clientes mais pobres, sob risco de sacrificar sua saúde financeira, enquanto aquelas que recebem doações poderiam cobrar taxas de juros subsidiadas e atender exclusivamente à população mais pobre (LIMA, 2009). Para Ledgerwood (1999) apud Lima (2009), é possível servir aos mais pobres de forma sustentável, porém o tempo para que a instituição se torne sustentável financeiramente será menor quando os seus clientes forem ativos economicamente, ou seja, quando eles não estiverem entre os mais pobres. Todavia se a instituição escolher atender o núcleo duro da pobreza, os doadores devem estar comprometidos a apoiá-la por um período mais longo. Por outro lado, há autores como Harper (2001) apud Lima (2009) que não acreditam na existência desse trade-off, pois acreditam que os mais pobres são perfeitamente capazes de pagar as taxas de juros mais altas e ter empreendimentos bem-sucedidos, A tese central de Harper é que o retorno dos investimentos nos pequenos negócios costuma ser mais alto do que nos maiores, pois estes apresentam produtividade marginal decrescente do capital, o que reforça a ideia de que as microfinanças estão voltadas para os micronegócios, cujos donos são pessoas com micro rendimentos (HARPER, 2001 apud LIMA, 2009), já que apenas esses negócios apresentam retorno suficientemente alto para o pagamento das taxas de juros necessárias para cobrir os custos das IMF’s. Teoria também defendida por Parente que explicita: 58 para o público-alvo do microfinanças, o acesso oportuno e ágil ao crédito é mais importante do que o custo desse dinheiro, isto é, as taxas de juros cobradas pelos empréstimos. A razão para isso é que a produtividade marginal do capital é extremamente alta nos microempreendimentos (PARENTE, 2002, p. 35). Os pequenos negócios, normalmente, possuem elevadas taxas de rentabilidade e giro rápido, resultando em um investimento de alto retorno, capaz de ser alavancado financeiramente, mesmo com o alto custo de capital de terceiros (SOUZA, 2006). A teoria econômica, através da lei dos rendimentos decrescentes explana, de modo mais genérico, o motivo de os pequenos negócios serem capazes de pagar taxas de juros que, muitas vezes, grandes negócios teriam dificuldades. Empreendedores de baixa renda, especialmente os comerciantes, podem gerar grandes benefícios com unidades adicionais de capital, diferentemente dos negócios altamente capitalizados, porque seu investimento inicial é muito pequeno (SOUZA, 2006). Ainda de acordo com Souza (2006) a metodologia do microcrédito possibilita a redução dos custos de transação e de oportunidade do tomador de crédito, reduzindo ao máximo a burocracia e fazendo com que o agente de crédito vá até ao cliente evitando seu deslocamento e consequente ausência do trabalho, proporcionando uma compensação entre o custo financeiro e os custos de transação e oportunidade. Em estudos realizados por Rhyne, Vogel e Christen, com ano base na análise de onze instituições de microfinanças, verificou-se que entre as IMFs com boa performance, não havia nenhuma correlação entre o nível de pobreza dos clientes e a viabilidade financeira da instituição. Para Rhyne (1998) apud Lima (2009), essas instituições desenvolveram métodos tão padronizados e eficientes de atendimento à clientela, que permitiu até mesmo os clientes mais pobres se tornaram capazes de cobrir os seus custos. A questão estaria, portanto, na capacidade das instituições de oferecer eficientemente os serviços, de forma a reduzir seus custos e, consequentemente, suas taxas de juros (LIMA, 2009). Ainda de acordo com Rhyne (1998) apud Lima (2009), a sustentabilidade e o atendimento aos mais pobres são variáveis que se complementam, pois apenas as IMFs que forem sustentáveis financeiramente conseguirão ter acesso ao funding de 59 que elas necessitam para aumentar o tamanho da clientela e consequentemente atingir os mais pobres. Harper (2001) apud Lima (2009) define que uma das “regras de ouro” da microfinanças é que o acesso ao crédito é mais importante do que o seu custo para os pequenos tomadores de empréstimos. Muitas vezes, para proporcionar melhores condições de acesso, as IMFs, além do bom gerenciamento e da inovação, precisam cobrar taxas de juros mais altas. Entretanto, isso não significa que a população de renda mais baixa deva ser excluída dos programas. No Brasil, por exemplo, a experiência de limitar a taxa de juros praticada no microcrédito, operado com recursos do governo federal, a 2% ao mês para o tomador final, mostrou-se inviável, fazendo o governo flexibilizar essa posição, e permitindo aplicação de taxas, na ponta final, de até 4% ao mês (ALVES; LOPES; MELO, 2009). Segundo Camargo et al. (2004) as taxas de juros cobradas em operações de microcrédito variam em torno de 3% a 5% ao mês, pois, em 90,91% das organizações as taxas encontram-se dentro deste intervalo. A taxa média encontrada, de 4% ao mês, está abaixo das opções que, normalmente, o microempreendedor encontra no mercado (principalmente o informal), como crédito pessoal e agiota. Assim sendo, praticar uma taxa de juros adequada, que garanta essa sustentabilidade, favorece a manutenção da equidade na oferta de capital. Do contrário, praticar taxas que não permitam a auto sustentação da instituição operadora, inevitavelmente, levará esta ao encerramento prematuro de suas atividades, reduzindo, dessa forma, a oferta de capital àqueles que não têm acesso às instituições financeiras convencionais (ALVES; LOPES; MELO, 2009). É importante ressaltar que o objetivo dos programas de microcrédito é permitir o acesso ao crédito àqueles que não são assistidos pelo sistema financeiro tradicional. Sendo que este público, em sua maioria, já utiliza mercados informais de crédito nos quais empreendedores de baixa renda tomam e pagam recorrentemente empréstimos informais, a taxas de juros muito mais elevadas que qualquer instituição de microcrédito formal cobraria. (ALVES; LOPES; MELO, 2009). 60 3.5.4 O Microcrédito no Brasil A lei 10.735, de 11 de setembro de 2003, estabelece a aplicação de recursos correspondentes a 2% dos depósitos à vista captados pelos bancos comerciais exclusivamente em operações de microcrédito (PIMENTEL; KERSTENETZKY, 2008). Segundo os autores, esta lei prevê que se tais recursos não forem utilizados pelos bancos, estes deverão devolvê-los ao Banco Central. Os potenciais beneficiários podem ser pessoas físicas e empreendedores de baixa renda. Os gestores de políticas públicas que desejam minimizar as estatísticas do desemprego devem encontrar soluções consistentes para liberar e fortalecer o potencial empreendedor do maior número de pessoas com talento para negócios gerando renda e ampliando as formas de ocupação na sociedade (KANDIR, 1998 apud FILHO; LUZ, 2011, p. 05). A iniciativa do governo federal teve como principais objetivos: facilitar e ampliar o acesso ao crédito entre os microempreendedores formais e informais, visando à geração de renda e trabalho; facilitar e ampliar o acesso aos serviços financeiros (conta corrente, poupança, seguros, créditos), e a redução nas taxas de juros nos financiamentos. Para Giambiagi (2000), a existência do governo é necessária para guiar, corrigir e complementar o sistema de mercado que, sozinho, não é capaz de desempenhar todas as funções econômicas. Portanto, de acordo com tal premissa, o governo deve promover diversas políticas com o intuito de permitir a inclusão social e distribuir melhor a renda do país. Dentre elas, o microcrédito vem crescendo e se destacando por gerar efeitos benéficos à sociedade e a economia. No entanto, a partir de dados obtidos em 2006 e 2007 junto ao Banco Central do Brasil, observa-se que os recursos vêm sendo muito pouco utilizados pelas instituições financeiras. De um total de R$ 2,8 bilhões disponíveis, apenas R$ 70,5 milhões foram de fato aplicados em dezembro de 2007 (cerca de 2,5%). “Apesar das expectativas otimistas da lei 10.735, os dados apontam para a baixa utilização dos recursos, que estiveram de um modo geral, significativamente abaixo de 8% nos anos de 2006 e 2007” (PIMENTEL; KERSTENETZKY, 2008, p. 06). O que deixa evidente a falta de interesse por parte das instituições financeira na utilização destes recursos. Pereira (2007) afirma que, o microcrédito é um segmento de crédito que possui uma responsabilidade com a camada da população sem acesso ao crédito 61 para investimento em atividades informais e de pequeno porte, inclusive as de economia solidária. É uma atividade que possui metodologia específica e métodos de garantia diferenciados daqueles utilizados no sistema de crédito bancário convencional. O mercado de financeiro não possui informações perfeitas sobre suas transações e isso pode acarretar riscos para as instituições financeiras. Os problemas de informação nesse mercado surgem pelo fato de uma das partes envolvidas no contrato ter mais informações relevantes que a outra. Essa falta de informação no que se refere ao cumprimento dos contratos pode ser maléfica para o setor creditício podendo acarretar a ineficiência, prejudicando a sustentabilidade do programa devido à inadimplência que é a consequência desse efeito. (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2000 apud FILHO; LUZ, 2011, p. 10). Os bancos comerciais optam por deixar os recursos parados no Banco Central, pelo fato de não conhecerem o perfil dos clientes potenciais de microcrédito, o que faz com que considerem os riscos da operação sejam elevados. Essa incerteza eleva os custos de transação que englobariam despesas incorridas pelos bancos no intuito de chegar até os clientes, como custos de deslocamento e custos administrativos (PIMENTEL; KERSTENETZKY, 2008). De modo geral, as instituições têm pouco ou nenhum conhecimento a respeito das características dos clientes potenciais já que muitos são pequenos empreendedores informais fora do sistema financeiro tradicional. As despesas com captação de informações representam custos que são considerados para que se possa garantir a sustentabilidade financeira das operações (PIMENTEL; KERSTENETZKY, 2008). Conforme observam Toneto Jr e Gremaud (2002), o fato de haver assimetrias de informação pode gerar problemas como a seleção adversa e o risco moral. O primeiro se refere à possibilidade de a instituição de microcrédito selecionar o cliente de pior qualidade, ou seja, não pagador. Isto ocorre antes da assinatura dos contratos serem firmados entre a instituição e o tomador do crédito. Ainda de acordo com os autores, o segundo acontece logo após a realização do contrato entre as partes e se dá pela impossibilidade de o credor observar as ações realizadas pelo contratante que podem afetar a capacidade de pagamento do contrato. Como, por exemplo, o tomador utilizar o crédito em outra ação que não a estipulada no contrato e com isso aumentar a probabilidade de ocorrer riscos de inadimplência. (FILHO; LUZ, 2013). 62 Para que esses riscos sejam minimizados, o governo deve promover cursos de qualificação tanto aos tomadores, para que os recursos sejam alocados de forma a gerar eficiência no negócio, quanto às instituições ofertantes, para que a análise de concessão seja realizada de forma a diminuir os problemas de informação e com isso os índices de inadimplência (FILHO; LUZ, 2013). Após a criação da lei 11.110, no ano de 2005, que regulamentou o microcrédito no Brasil, o governo federal vem adotando iniciativas que visam estimular as operações de microcrédito por bancos comerciais, umas dessas iniciativas é o PNMPO (Plano Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado) que por meio do programa CRESCER, passou a desenvolver operações de microcrédito através de seus bancos estatais, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste, adotando a metodologia do microcrédito produtivo orientado, iniciando uma nova etapa no desenvolvimento do microcrédito no Brasil. 3.6 MERCADO BANCÁRIO Após muitas reformas e reestruturações ocorridas nas últimas décadas, segundo Romero (2008), o sistema financeiro brasileiro (SFB) ainda hoje mostra incapacidade para impulsionar o desenvolvimento econômico no país, já que o que torna o sistema financeiro fundamental para promover o desenvolvimento é a atividade de intermediação e criação de crédito, o que no ponto de vista do autor é algo que ainda carece de melhorias. Para melhor compreender os impactos das mudanças ocorridas na dinâmica atual do SFB, é preciso, porém, entender, o contexto em que elas foram introduzidas. O início da década de 1980 foi um período de muitas mudanças no cenário econômico tanto mundial como nacional. Conflitos consecutivos de capital, de oferta, de demanda e de juros causaram grande diminuição da liquidez internacional, o que acarretou no aumento da inflação no Brasil, crescimento da dívida externa e deterioração das contas fiscais do governo brasileiro (ROMERO, 2008). De acordo com o autor, devido a este cenário as fontes de recursos para financiamento que operavam até então se tornaram escassas, o setor público e o capital externo assim como, a própria demanda por financiamento também foi reduzida, como efeito da incerteza na economia, fatores estes que marcaram os 63 anos 1980, caracterizado como um período de baixo crescimento econômico e alta inflação. Todavia esse período foi considerado mais crítico para a população do que para as instituições financeiras, já que as mesmas não sofreram tanto com esse período e foram capazes de continuar obtendo lucros. Diferentemente de outros países que passaram por situação parecida, no caso do Brasil, os recursos foram mantidos nos bancos, que não perderam os depósitos à vista, caracterizados como o principal item do seu passivo. Carvalho (2005, p.333) afirma que, “esse arranjo não apenas permitiu a sobrevivência do sistema bancário doméstico sob alta inflação como acabou mesmo por abrir-lhe novas oportunidades de lucro”. Já que, segundo o autor, a inflação incentivava uma aceleração na circulação da moeda, o que gerava um ganho de agilidade na realização de pagamentos e movimentação de recursos, e quanto maior a velocidade na movimentação dos recursos, menor a perda gerada pela inflação, tendo em vista a perda de poder aquisitivo da moeda. Devido a esse cenário, as instituições financeiras brasileiras se beneficiaram ao realizarem financiamentos para o setor público, pois a política monetária vigente na época focava na emissão de títulos públicos de curta maturação e altas taxas de juros. O Banco Central garantia a recompra dos títulos do governo em caso de déficit de reserva, isentando o investimento em títulos públicos, proporcionando a essas aplicações de curto prazo, um risco praticamente nulo, e alto retorno. Dessa maneira foi possível garantir a solidez e a competitividade do SFB, o que se confirmaria durante a década de 1990. Entretanto, mesmo apresentando alta eficiência em relação à agilidade dos sistemas de pagamentos, continuava ineficiente na alocação de recursos para investimentos e incentivo à atividade produtiva, mesmo incessantes tentativas de melhora nesse aspecto. Esse fenômeno caracteriza o que Carvalho (2005) chama de “Paradoxo Brasileiro”. A maioria das reformas realizadas a partir de 1990 tinha por objetivo solucionar problemas de solvência vividos por alguns bancos nacionais, pincipalmente os públicos e privados estaduais. Essas reformas buscavam fortalecer o SFB e gerar ganho de eficiência dos bancos na geração de crédito. Além de aprimorar o controle monetário e restringir o aumento da dívida pública, o que fazia 64 parte do projeto de ajuste fiscal tido como base fundamental para a implantação do Plano Real (BARROS DE CASTRO, 2005). A década de 1990 começa sendo marcada por um momento favorável no contexto macroeconômico internacional. O Plano Real implantado em 1994 promoveu a estabilização monetária com sucesso, fato que permitiu a retomada do crescimento econômico, motivado pelo crescimento das atividades de crédito e, aliada a diminuição das operações de títulos. Todavia a queda nas altas taxas de inflação ocasionou ao SFB uma perda de importante fonte de receita proveniente das transferências inflacionárias (ROMERO, 2008). Para atenuar os efeitos dessas perdas, os bancos promoveram o aumento das operações de crédito, o aumento da oferta de crédito, aliada a suposta inexperiência dos bancos nesse tipo de atividade e a falta de recursos técnicos eficientes para avaliar os riscos, ocasionou em alto índice de inadimplência demonstrando a incapacidade de alguns agentes do SFB em operar com lucro em cenários de baixa inflação (ROMERO, 2008). Além das dificuldades de adaptação das instituições neste novo contexto, muitos já estavam em situação crítica no momento de estabilização. Os bancos estaduais eram o que se mostravam mais críticos, pelo fato de financiarem os governos estaduais durante longo período, não havia quase nenhuma restrição ao volume de financiamento permitido, o que configurava uma armadilha (ROMERO, 2008). Romero (2008), afirma também que o abuso nos endividamentos tornava os fluxos de caixa dos Estados insuficientes para cumprir suas obrigações com as dívidas contraídas junto aos bancos, acarretando em problemas de liquidez. Fato que gerou em 1995 a criação do PROER – Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional – e o PROES – Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária – para assistir e financiar os processos de fusões e aquisições, bem como a reorganização das instituições financeiras envolvidas com objetivo principal de promover a aquisição de bancos ameaçados de quebra por bancos, que se mostraram mais sólidos, o que ocasionou uma expressiva queda do número de instituições financeiras públicas que estavam entre as maiores financiadoras da atividade produtiva e acabou por concentrar a base do SFB em número reduzido de instituições bancárias. 65 Ainda, de acordo com o autor, o estabelecimento de um maior volume de capital para a constituição de novos bancos, a criação de incentivos para a fusão, incorporação e transferência de controle acionário, e um movimento de abertura do SFB para a entrada e instituições financeiras estrangeiras, argumentando que a competição externa estimularia um aumento de eficiência dos bancos e a concorrência elevaria e baratearia as operações de crédito, reforçando ainda a estabilidade do SFB foram outras medidas adotadas pelo PROER. Entretanto, os efeitos da entrada de bancos multinacionais mostraram-se ambíguos. De fato, houve um fortalecimento do sistema, ainda que outros resultados sejam controversos. Por outro lado, a inadimplência continuou concentrada nos bancos públicos por atuarem em áreas de mercado mais arriscadas, e não cobertas pelos bancos multinacionais (como o credito agrícola, por exemplo). No período de aumento do crédito pós-Real, verificou-se um crescimento menor do índice de inadimplência nos bancos internacionais, o que vai ao encontro do que argumentam Mathieson e Roldos (2001) apud Romero (2008). De acordo com os autores as instituições estrangeiras exercem o chamado cherry picking, ou seja, atraem os melhores clientes. Conforme Romero (2008), essa situação garantia maior estabilidade para esses bancos em relação aos bancos públicos que acabavam prejudicados. Em relação ao spread bancário, foi largamente defendido que a entrada de maior competição contribuiria para a sua queda. O que se constatou, porém, foi um aumento desse spread. Nesse contexto, o principal meio de incentivo ao crédito se mostra na redução da taxa de juros real, que modificaria a estrutura de incentivos do sistema financeiro brasileiro. A redução diminuiria o custo do crédito e incentivaria a mudança na maneira de atuação dos bancos, que visando manter seu nível de rentabilidade compensariam essa queda com o aumento do crédito. No entanto, apesar da queda da taxa de juros básica no Brasil, a partir de julho de 2005 foi verificado que entre 2001 e 2006 a taxa de juros real histórica foi mantida em torno do mínimo de 9% (BRESSER-PEREIRA, 2005). Após esse período também foi possível perceber que, mesmo no caso de queda nos juros reais, não há indícios suficientes que essa queda levaria a uma reversão do padrão concentrador de recursos evidenciado pelo sistema financeiro brasileiro, atualmente. 66 De acordo com Martins (2012), a concentração do setor é tida pelos agentes reguladores da econômica como indicador de falta de competição, sendo considerado um dos possíveis fatores do aumento do custo de crédito no país. No final de 2011, os cinco maiores conglomerados financeiros detinham aproximadamente 77% dos ativos totais, 76% do mercado de crédito e 80% do volume de depósitos do sistema financeiro. O colapso do sistema financeiro mundial em 2008, acompanhado do processo de consolidação da indústria bancária em todo o mundo têm gerado grandes discussões a respeito dos custos e benefícios de um sistema financeiro mais concentrado. O ponto central dessa discussão está na relação entre competição bancária e estabilidade financeira (MARTINS, 2012). Ainda segundo Martins (2012) pouco tem sido discutido sobre as consequências de um sistema bancário mais concentrado sobre o poder de mercado dos bancos e sobre os custos da intermediação financeira no futuro. Os recentes avanços tecnológicos, regulatórios e institucionais, aliados ao surgimento de fontes alternativas de financiamento e a desregulamentação financeira vêm diminuindo a diferença de informações e os custos de mudança existentes entre as instituições financeiras e seus clientes e credores ocasionando a redução do monopólio da informação, assim como a redução nas barreiras de entrada no mercado financeiro, embora, a percepção atual a respeito do nível de competição na indústria financeira está mais associada a questões regulatórias, barreiras de entrada e na atuação de bancos públicos do que na concentração do setor bancário. A maioria das instituições, além do crédito, oferecem diversos produtos e serviços. Atuam tanto como bancos comerciais quanto como bancos de investimento e possuem autorização para atuar em todo o território brasileiro. Contudo, apenas os grandes bancos de varejo estão fisicamente presentes nos pequenos mercados locais. Deste modo a maior parte das instituições financeiras atua apenas nos grandes centros econômicos tornando a estrutura do setor bancário muito distinto. 3.6.1 Crédito Segundo Lemes Júnior, et.al. (2002), o crédito surgiu nas sociedades antigas que se voltavam para as atividades rurais e agrícolas, e em longo prazo, o plantio e a colheita eram os fatores que determinavam a necessidade de antecipação de 67 entrega de sementes e implementos agrícolas aos produtores. Após esse período, mais precisamente, na Grécia Antiga, com o surgimento do dinheiro, as atividades comerciais originaram as primeiras instituições bancárias que começaram a realizar operações de crédito de diversas formas, embora de modo bem diferente dos praticados atualmente. Schrickel (1995), afirma que crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, por tempo determinado, parte de seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, após terminar o prazo estipulado. Sendo este um ato de vontade, sempre caberá ao cedente do patrimônio à decisão de cedê-lo ou não. E que esse processo, por envolver expectativa, está associado à noção de risco. O conceito atual de crédito é a disposição de alguém ceder, temporariamente, parte de seu patrimônio ou prestar serviços a um ou mais terceiros, com a expectativa de receber de volta o valor cedido ou receber pagamento, depois de decorrido o período estipulado, na sua integralidade ou em valor correspondente. É a troca de bens presentes por bens futuros. Este crédito pode ser utilizado como ferramenta para incrementar e facilitar a realização de vendas de bens e serviços e é responsável por grande parte dos resultados (LEMES JUNIOR, et.al., 2002). Do ponto de vista do economista Karl Marx (2003) o crédito é um importante mecanismo no processo de crescimento já que flexibiliza o acúmulo de capital, facilitando o que o autor denominou de “reprodução ampliada” em que o acúmulo de capital gera mais acúmulo de capital, por meio do processo denominado pelo autor de “mais valia”, em que o detentor dos meios de produção se vale da força de trabalho dos trabalhadores para obter mais capital. Já Schumpeter (1982) considera o crédito indispensável para o rompimento da inércia do processo de reprodução simples, chamada por ele de “fluxo circular” em que a renda fica restrita aos mesmos segmentos. Segundo o autor, o banqueiro se coloca entre os que desejam formar novas combinações de produção e os possuidores de meios produtivos. Trata-se do fenômeno de desenvolvimento, mas apenas quando nenhuma autoridade central dirige o processo social. Assim, o banqueiro permite a realização de novas combinações, autoriza as pessoas, por assim dizer, em nome da sociedade, a formá-las. É o foro da economia de trocas (SCHUMPETER, 1982). 68 Furtado (1983) considera que há uma interligação entre as atividades inovadoras e o acúmulo de capital, já que a inovação quase sempre resulta da busca das empresas por meios de aplicar recursos acumulados. Por necessitarem de investimentos em pessoal especializado, novos equipamentos, entre outros gastos, a criação de inovações tecnológicas coloca em destaque o papel da acumulação de capital. De acordo com Romero (2008), destacam-se pelo menos três aspectos básicos pelos quais o crédito e o sistema financeiro desempenham um papel central para o desenvolvimento: 1) a propulsão do investimento e acúmulo de capital; 2) o financiamento das atividades inovadoras; 3) a redução da concentração de recursos e rompimento da dinâmica centroperiferia. Reduzir a concentração de recursos financeiros nos centros aliando à expansão do crédito na periferia impulsiona o crescimento dessas regiões. A amplitude com que acontece esse processo será de acordo com a liquidez do mesmo, sendo também influenciado pelas regras e a configuração do sistema financeiro. (ROMERO, 2008). Diante do exposto, o crédito pode ser considerado de central importância para o desenvolvimento econômico, não apenas por seu impacto direto no processo de acumulo de capital e seus reflexos na distribuição de renda e atividade inovadora, mas também por exercer grande influência na formação de expectativas, já que se for bem empregado, e garantir bons resultados dos investimentos, produz um aumento do otimismo na economia. (ROMERO, 2008). E por este motivo a concessão do crédito deve obedecer aos critérios que visam amenizar o risco de frustração dessas expectativas e contribuir para a utilização benéfica do crédito. 3.6.2 Os “CS” do crédito A análise da concessão de crédito é baseada em critérios cujas literaturas especializadas em administração financeira recomendam que são diretrizes tradicionais e subjetivas, conhecidas como os 5 “C’s” do crédito. Isto se dá para a 69 real definição da capacidade de crédito dos clientes solicitantes, sendo eles: o caráter, capacidade, o capital, o colateral e as condições. De acordo com Gitman (2002), o caráter é definido como sendo o histórico do solicitante ao crédito quanto ao cumprimento de suas obrigações financeiras, contratuais e morais. Os dados históricos de pagamentos e quaisquer causas judiciais pendentes ou concluídas contra o cliente seriam utilizados na avaliação do seu caráter. Para Droms e Procianoy (2002), o caráter se refere à integridade moral do solicitante do crédito e se o mesmo está disposto a dar o seu melhor empenho para honrar o compromisso assumido. Especialistas em crédito enfatizam que o caráter do solicitante é uma das mais importantes preocupações ao se tomar uma decisão de concessão de crédito. Hoji (1999) afirma que o caráter é o item mais importante na análise de crédito. A avaliação do caráter do cliente, apesar do elevado grau de subjetividade, por se referir a aspectos morais e éticos é de suma importância já que é esta análise que vai determinar aspectos como a integridade ética ou honestidade para saldar compromissos financeiros. O levantamento de dados históricos pode contribuir para avaliação do caráter. Se o caráter do cliente não for aceitável, os outros itens da análise estarão bastante prejudicados. O caráter é o principal fator para a decisão e concessão do crédito, sendo também um dos mais difíceis de ser analisado. Vale ressaltar que não há taxas de juros ou garantias que compensem o risco de efetuar empréstimos às pessoas, reconhecidamente, desonestas. Analisando comportamentos evidenciados na vida pessoal e profissional, busca-se avaliar a imagem que o cliente desfruta junto às pessoas com as quais convive ou negocia. Gitman (2002) define capacidade como sendo o potencial do cliente para liquidar o crédito solicitado. É comum a utilização de análises dos demonstrativos financeiros, com ênfase especial nos índices de liquidez e de endividamento para avaliar a capacidade do solicitante de crédito. Droms e Procianoy (2002) relatam que a capacidade de pagamento se refere à capacidade financeira da empresa ou indivíduo solicitante de cumprir os requeridos prazos e valores de crédito solicitado. Mesmo as melhores intenções não podem compensar à ausência da capacidade financeira. 70 Lemes Júnior, et.al. (2002) definem que a capacidade considera se os ganhos ou o desempenho operacional e financeiro do cliente irão possibilitar a geração de recursos para realizar o pagamento do compromisso pretendido. No caso de pessoas jurídicas, os demonstrativos financeiros são extremamente úteis para o cálculo dos índices de liquidez e do endividamento. Já para a análise de pessoas físicas são também importantes as comprovações de rendimentos e compromissos assumidos. Segundo Hoji (1999), só a determinação de pagar, ou seja, o caráter, não será válido se o cliente não possuir a capacidade de saldar seus compromissos financeiros. O capital refere-se ao comprometimento do patrimônio líquido com valores exigíveis da empresa e respectivos índices de lucratividade. Para as pessoas físicas, a existência de comprometimento de seus ganhos, como prestações mensais, aluguéis, consórcios etc., pode mostrar insuficiência de recursos para pagamento do crédito pretendido (LEMES JÚNIOR, et.al., 2002). Droms e Procianoy (2002) conceituam o colateral como uma garantia, que pode ser oferecida pelo solicitante do crédito. Já Lemes Junior, et.al. (2002), afirmam que o colateral leva em conta o que o cliente pode oferecer como garantia, real ou não, do crédito, se possui bens e outros recursos disponíveis para cobrir o valor exigido pela transação. As garantias constituem um complemento à operação de crédito, levando em consideração, primeiramente, o caráter do cliente e a capacidade de pagamento do próprio negócio. As garantias geram maior comprometimento com a operação, mas não pagam o crédito. São importantes fatores de pressão em caso de atraso de pagamento, uma vez que o cliente também está correndo risco de perder algo. Gitman (2002) descreve condições como sendo as categorias econômicas e empresariais vigentes, assim como circunstâncias particulares que possam interferir em qualquer das partes envolvidas na negociação. As condições avaliam o grau de exposição aos possíveis efeitos de ocorrências externas sobre a capacidade do cliente para pagar suas dívidas, como por exemplo, influências de variação no nível da atividade econômica, agressividade da concorrência etc. No caso de pessoa física é importante considerar como os 71 ganhos estão condicionados às variações da atividade econômica, nível de emprego, estabilidade no emprego, etc. (LEMES JUNIOR, et.al., 2002). De acordo com BLATT (1999, p. 48), ainda temos, os C’s modernos do crédito que são: o conglomerado, a consistência, a comunicação e o controle, além dos 3 novos C’s que se referem a concorrência, custos e caixa. O conglomerado diz respeito à análise financeira de controladas, controladoras, coligadas e interligadas. Para que seja possível fazer uma análise mais apurada com relação ao pleiteante do crédito, a empresa deve ser analisada no âmbito do grupo de empresas que a contenha. No caso de pessoas físicas, o conglomerado inclui uma análise de crédito do grupo familiar, considerando-se o cônjuge e demais familiares dependentes ou não (BLATT, 1999). Ainda de acordo com o autor a consistência faz menção à escolha e o gerenciamento do alvo de mercado, ou seja, a escolha do alvo correto, que, de fato, depende da política do credor, da conjuntura econômica, da estrutura do cliente etc. Enquanto Comunicação faz jus à correta e ágil obtenção e análise de informações cadastrais, estruturais, contábeis e econômico-financeiras do pleiteante do crédito. (BLATT, 1999) Já o controle refere-se ao acompanhamento, gerenciamento e administração do crédito concedido, tendo em vista que todo crédito gera uma obrigação a ser cumprida em determinado prazo, e que, neste prazo, a situação geral do cliente pode se alterar. Detectar problemas logo em seu início no que se diz respeito ao crédito concedido pode vir a ser o caminho para evitar que determinado crédito se torne problemático (BLATT, 1999). No aspecto concorrência, o cliente deve ter os produtos corretos para o mercado adequado ou não resistirá aos rigores da concorrência no curto prazo. Deve estar apto a competir no calendário, no serviço, na qualidade e, em alguns casos, na tecnologia. É preciso que o credor conheça a natureza e o nível da competição a que estão sujeitos cada um de seus clientes (BLATT, 1999). Já no que tange à questão dos custos, o solicitante deve possuir uma boa gestão de custos, do contrário, poderá sofrer um significativo ataque em suas receitas. São notórios os casos de empresas que faliram por ter o seu proprietário priorizado somente as receitas deixando para segundo plano a respectiva administração e controle de custos (BLATT, 1999). 72 Referente ao caixa pode-se dizer que geração de caixa é uma medida da viabilidade de uma empresa. As fontes de caixa devem ter capacidade de suportar o gasto de capital, os dividendos e as variações no capital circulante. Sob risco de o saldo de tesouraria do cliente ficar comprometido. Para fins de concessão de crédito, é muito mais importante saber se o cliente gera caixa, e qual a qualidade e consistência deste caixa do que saber se ele gera lucro ou prejuízo (BLATT, 1999). Tais critérios para concessão podem ser aplicados nos mais diversos tipos de crédito. Alguns critérios, inclusive, recomendam que sejam aplicados em qualquer concessão de crédito realizada, enquanto outros, dependendo do caso, podem ficar a critério de quem concede. 3.6.3 Tipos de Crédito Este capítulo visa trazer uma breve explanação sobre as modalidades de créditos mais comuns na economia brasileira, sejam estes para pessoas físicas ou pessoas jurídicas. De acordo com Melo (2011), a operação de crédito bancário e/ou empréstimo é um contrato entre o cliente e a instituição financeira em que o cliente recebe determinado valor que deverá ser devolvido ao banco em prazo determinado, sendo acrescidos os juros acertados. Os recursos liberados no empréstimo podem ter ou não destinação específica. Dentre os mais comuns estão o financiamento, o desconto bancário, a antecipação, a cédula de crédito, o capital de giro, o crédito direto ao consumidor (CDC), o crédito rural, e por fim, o microcrédito. Também, segundo o autor, o financiamento trata-se de um contrato entre o cliente e a instituição financeira, mas com fim específico, como, por exemplo, adquirir um veículo ou bem imóvel. Cobrar ou não juros sobre o valor financiado fica a critério da instituição financiadora, de acordo com o valor e o tempo de pagamento. É uma modalidade de crédito que se aplica tanto a pessoas físicas quanto a pessoas jurídicas e o bem financiado fica como garantia e alienado à instituição que cede o crédito. Já o desconto bancário é uma operação comum dos bancos em que se adiantam créditos de terceiros para clientes, deduzindo-se os juros da operação mediante a cessão do crédito. A operação de desconto é realizada somente sobre de títulos de crédito, que representam soma líquida e certa, e de fácil recuperação 73 ao banco. O banco antecipa ao cliente o valor dos ativos, deduzidos os juros, repassando apenas o valor líquido, que em geral é creditado em conta corrente (MELO, 2011). Deste modo o contrato de desconto bancário pode ser considerado o contrato em que o banco, deduz do montante, antecipadamente, os juros, comissões e despesas, creditando para o cliente o saldo restante, recebendo por endosso o título sacado contra terceiros com vencimento futuro, como boletos emitidos contra terceiros e cheques pré-datados, com vencimento futuro, caso o terceiro não cumpra com suas obrigações, a responsabilidade pelo pagamento da quantia utilizada cabe a quem efetuou o desconto, no caso o cliente (MELO, 2011). A antecipação é o negócio jurídico, bancário, em que o banco adianta para seu cliente determinado valor em troca de uma garantia real consistente em títulos, mercadorias ou direitos. Essa garantia pode ser constituída por títulos, valores mobiliários, ações, debêntures, etc. Geralmente ocorre quando o empresário precisa de capital de imediato, já que os juros são menores do que os oferecidos para desconto, por se tratar de um recurso da empresa e não de terceiros (MELO, 2011). Melo (2011) afirma também que a Cédula de Crédito Bancário é o título de crédito emitido, por pessoa física ou jurídica, em favor de instituição financeira, com promessa de pagamento em dinheiro, derivada de operação de crédito de qualquer modalidade. A instituição que cede o crédito deve integrar o Sistema Financeiro Nacional, sendo permitida a emissão da Cédula de Crédito Bancário em favor de instituição com domicilio no exterior, desde que a obrigação esteja exclusivamente sob as leis e os foros brasileiros. Poderá ser emitida com ou sem garantia, real (o bem constante na cédula) ou fidejussória (os avalistas que assinam a cédula em conjunto com o tomador do crédito). Ainda segundo o autor, o capital de giro é um empréstimo de curtíssimo prazo, de modo a simplificar os procedimentos operacionais, para os clientes tradicionais. Neste produto se estabelece um contrato fixo contendo as regras deste empréstimo e permitindo a transferência de recursos ao cliente a partir de um simples e-mail, telefonema ou fax garantindo o limite para este tipo de empréstimo que já é previamente estabelecido por contrato, evitando, assim, que o cliente necessite assinar um novo contrato cada vez que precisar de capital. Todavia, isso 74 só ocorre caso o cliente deseje aumentar seus limites de crédito, neste caso é assinado um novo contrato com atualização dos valores. O Crédito rotativo ou cheque especial é um valor-limite que o banco disponibiliza ao cliente para eventuais emergências. Geralmente é movimentado diretamente pelos cheques emitidos pelo cliente, desde que não haja saldo disponível na conta corrente de movimentação, mas também é permitido o saque deste valor. À medida que é disponibilizado o saldo novamente na conta, estes são utilizados para cobrir o saldo devedor da mesma. Para o cliente, o produto garante uma liquidez imediata para suas emergências. Os juros sobre esse produto são calculados diariamente sobre saldo devedor e cobrados normalmente, no primeiro dia útil do mês seguinte ao da movimentação (MELO, 2011). O Crédito direto ao consumidor – CDC é o crédito concedido por uma instituição financeira aos seus clientes, pessoas físicas e jurídicas para aquisição de bens e serviços. Sua maior utilização, em geral, é para a aquisição de veículos e eletrodomésticos. O bem adquirido, sempre que possível, serve como garantia da operação, entretanto esse tipo de operação não necessita estar vinculada a um bem. É permitida a contratação, mesmo nos casos em que os clientes não justifiquem o motivo da contratação, porém nesses casos os valores disponibilizados são menores. Os prazos dos CDC variam normalmente de 03 a 60 meses, nos casos de financiamento e é possível financiar de 10 a 100% do bem (MELO, 2011). Nesta categoria também se enquadram os empréstimos pessoais, como os créditos automáticos, créditos salário e o crédito consignado, onde a empresa pagadora através de convênio com a instituição financeira efetua o desconto do valor acordado pelo funcionário junto à instituição financeira e faz o repasse do valor a mesma. Essa modalidade, geralmente, se aplica a servidores públicos, mas funcionários de empresas privadas também podem fazê-lo, caso a empresa em que trabalham possua convênio com algum banco (MELO, 2011). O autor discorre também sobre o crédito diretíssimo, que é o tipo de operação em que a financeira fica responsável pelo gerenciamento das vendas a prazo do lojista, assumindo todos os riscos de um eventual não pagamento por parte dos clientes. Já que não se atribui qualquer garantia ao estabelecimento, os juros praticados nessa modalidade de CDC são mais altos. Embora exista uma perda financeira com os encargos cobrados pela financeira na compra das vendas a prazo, 75 para o lojista, essa modalidade de CDC elimina o risco de inadimplência, o que não deixa de ser interessante. É o caso das compras realizadas por cartão de crédito, onde a financeira cobra uma porcentagem sobre o valor da venda, entretanto, o lojista recebe o valor, independentemente do pagamento ou não do valor, pelo cliente em questão. Financiamento de capital fixo: a constante preocupação com a inflação faz com que as Instituições Financeiras tornem a concessão de financiamentos, preferencialmente, restrita aos prazos mais curtos, mesmo porque, com exceção dos recursos externos, é muito difícil de obter internamente quem esteja disposto a aplicar recursos a prazos mais longos e, portanto, dar funding (consolidação de débitos de curto prazo, através da emissão de novos débitos de longo prazo, manobra esta realizada com o objetivo de garantir a saúde financeira da empresa no período do investimento) para as operações de longo prazo. Deste modo, os financiamentos com essas características, geralmente são realizados por entidades e instituições financeiras governamentais (MELO, 2011). O autor define o crédito rural como o fornecimento de recursos financeiros para aplicação exclusiva em atividades agropecuárias que tem por objetivos: Incentivar os investimentos rurais realizados por produtores e suas associações, tais como as cooperativas. Possibilitar o custeio da produção, seu armazenamento e sua posterior comercialização de maneira oportuna, e eficiente. Consolidar, de maneira geral, o setor rural gerando ganho de competitividade. Estimular a melhoria dos meios de produção, aumentando a produtividade rural e aprimorando o padrão de vida dos envolvidos em atividades rurais (MELO, 2011). Por fim, para Melo (2011), o microcrédito é caracterizado por empréstimos de pequenos valores, destinados a trabalhadores informais, microempreendedores, empresários individuais e microempresas. 3.7 INADIMPLÊNCIA A adimplência, ou seja, o cumprimento no pagamento de dívidas tem uma função social muito importante, pois permite o retorno do capital ao mercado. E isso, consequentemente, gera emprego e possibilita uma política de crédito mais flexível com maior prazo de contratação. 76 A lei e a doutrina estabelecem que os contratos devem ser cumpridos. Quando a vontade é manifestada obriga o contratante, referindo-se ao princípio de que “o contrato faz lei entre as partes”, tendo como principal finalidade a segurança dos negócios. Porém, a exceção, ou seja, o inadimplemento, o não cumprimento da obrigação, vem acontecendo de forma corriqueira. Em regra, as obrigações são, voluntariamente, cumpridas seja, espontaneamente por iniciativa do devedor, seja após a interpelação feita pelo credor. Mas nem sempre é assim. Qualquer que seja a prestação prometida o devedor está obrigado a cumprila, tendo o credor o direito de receber exatamente o bem, serviço ou valor estipulado na convenção, não sendo obrigado a receber coisa diversa. Destarte, passamos a desenvolver o estudo definindo as características do inadimplemento, sendo que este pode ser absoluto e relativo. 3.7.1 Inadimplemento absoluto O artigo 389 do Código Civil estabelece que “não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária, segundo índices oficiais regularmente estabelecidos e honorários de advogado”. O referido artigo trata do inadimplemento absoluto que ocorre quando a obrigação não foi cumprida nem poderá sê-lo de forma útil ao credor. Observa-se a incidência dos juros e da atualização monetária como consequência natural do completo ressarcimento dos danos. A atualização monetária não constitui nenhum acréscimo, mas apenas uma forma de evitar a desvalorização da moeda pela inflação. A correção monetária é uma forma de reparar o prejuízo sofrido pelo credor. O inadimplemento contratual acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos termos do aludido art. 389. 3.7.2 Inadimplemento relativo O inadimplemento é relativo no caso de mora do devedor, ou seja, quando ocorre cumprimento imperfeito da obrigação, como, por exemplo, o pagamento fora da data aprazada. 77 3.7.3 Negociação e créditos inadimplidos As pessoas, mesmo sem perceber, estão sempre negociando, por meio de relacionamentos interpessoais, muito embora nem sempre chegam ao ponto alto da negociação que é o acordo. Blatt explicita que “um cobrador bem-sucedido deve saber como atacar, deve fazer qualquer coisa para obter o seu dinheiro, sempre no limite legal e moral. A realidade é que o cobrador está lidando com seres humanos, não robôs” (BLATT, 1999, p.106). Já para Sebenius,(1998, p.82-86). Negociação é um processo científico, na medida em que estabelecemos o problema conjunto que deve ser resolvido: criar, reivindicar e sustentar um valor ao longo do tempo; mas se a maneira como esse problema conjunto é resolvido mistura ciência e arte, o processo é muito criativo e oportunista, visto que se está pedindo tudo que é possível obter em determinada situação. Ury (1998, p. 70-74) comenta que: Ouvir alguém é a concessão mais barata que há; todos nós temos profunda necessidade de ser compreendidos, e, ao satisfazer essa necessidade, você pode fazer com que a negociação tome outro rumo. Ouvir requer paciência e autodisciplina. Ouvir não é fácil, mas pode ser algo valioso; proporciona uma janela para o pensamento da outra parte. Permite que você envolva a outra parte em uma tarefa conjunta – entender seu problema, fazendo com que ela fique mais disposta a ouvi-lo. Para Blatt (1999), todas as empresas têm que lidar com clientes problemáticos. Não somente com o pagador lento, para quem todas as técnicas existentes podem ser exigidas para assegurar o pagamento, como também com o cliente que está em dificuldades financeiras, e que por isso terá empecilhos para efetuar o pagamento. Para as empresas não só é necessário averiguar se o tomador de recursos é proprietário de garantias necessárias, mas, é indispensável reconhecer a capacidade de pagamento no futuro, que nos dirá se ele terá ou não solvência para a quitação dos empréstimos. Tendo como pano de fundo esta realidade, a maioria das empresas deve adotar técnicas mais acuradas na análise e negociação dos créditos liberados aos seus clientes para evitar ou diminuir as situações de inadimplência e até de insolvência. 78 Com isso a negociação nos leva a um desafio, que requer, para ser conduzido, o trabalho de profissionais especializados. Na visão de empresários conscientes, que estão em frequência com o mundo dos negócios e com as variações do mercado financeiro, ações de prevenção bem simples efetuadas antes da venda evitam o surgimento da inadimplência. Para que o processo de concessão de crédito ou de venda seja mais bem elaborado devemos levar em conta alguns parâmetros como o perfil dos clientes e sua quantidade média, o valor da venda ou do crédito, os custos de elaboração das pesquisas cadastrais, a rapidez do processo total, a imagem da empresa e a quantidade de pessoal envolvido, dados estes que são essenciais ao bom andamento do processo. Mas a prevenção, apesar dos custos na sua elaboração, ainda é a melhor maneira de evitar o problema da inadimplência, pois com a utilização de mínimos recursos são evitados grandes prejuízos. Mesmo tendo sido o crédito concedido profissionalmente, cercado de todas as precauções, com um preço competitivo e com uma completa análise de crédito, podemos ter a ocorrência da falta de pagamento e o consequente prejuízo. Será, então, preciso refletir sobre os fatores causadores desta inadimplência, bem como a maneira mais viável para resolver o problema. 3.8 RESPONSABILIDADE SOCIAL Existem vários fatores que podem ter originado o conceito de responsabilidade social. Em um contexto da globalizado e de mudanças na sociedade surgiram novas preocupações e expectativas dos cidadãos, dos consumidores, das autoridades públicas e dos investidores em relação às organizações. Os indivíduos e as instituições, como consumidores e investidores, passaram a dar maior relevância a atividades desenvolvidas pelas empresas e também a pressiona-las quanto à contribuição das mesmas no desenvolvimento socioeconômico das comunidades onde estão inseridas, a observância de requisitos ambientais e exigindo a entidades reguladoras, legislativas e governamentais a produção de meios legais apropriados e a vigilância da sua aplicação. 79 Diante desta nova realidade, as organizações buscaram uma nova diretriz para obtenção de lucro, pois as vantagens oferecidas em relação a valores já não são suficientes o bastante para a obtenção de um mercado consumidor. A qualidade do produto está pautada pela relação da empresa com a sociedade e seu comportamento ético e esses fatores determinam o comportamento dos consumidores (PAES, 2003, p. 25). Ou seja, o grau de aceitação de uma empresa tem ligação direta com o modo em que a mesma se relaciona com o meio onde está inserida. Segundo Mifano (2002), a responsabilidade social empresarial das organizações surgiu num contexto em que há uma crise mundial de confiança nas empresas. Por este motivo, as organizações empresariais passaram a promover um discurso politicamente correto, baseado na ética, implementando ações sociais que podem trazer ganhos em condições de qualidade de vida e trabalho para a classe trabalhadora ou, apenas, podem se tornar um mero discurso de marketing empresarial desvinculado de uma prática socialmente responsável. Todavia existe um conceito de responsabilidade social mais abrangente, que envolve um maior número de atores e mais interação entre os mesmos, que é a responsabilidade social corporativa. A responsabilidade social corporativa é o comportamento ético e responsável na busca de qualidade nas relações que a organização estabelece com todos os seus stakeholders, associado direta e indiretamente ao negócio da empresa, incorporada à orientação estratégica da empresa e refletida em desafios éticos para as dimensões econômicas, ambiental e social. (KARKOTLI, 2006, p.63) Deste modo podemos enxergar a responsabilidade social corporativa como o conjunto amplo de ações que beneficiam a sociedade e as corporações que são tomadas pelas empresas, levando em consideração a economia, educação, meio ambiente, saúde, transporte, moradia, atividades locais e governo. Essas ações otimizam ou criam programas sociais, trazendo benefício mútuo entre a empresa e a comunidade, melhorando a qualidade de vida dos funcionários, quanto à sua atuação da empresa e da própria população, conforme nos mostra a figura 3. 80 Figura 3: Contexto da Governança Corporativa Fonte: Vianna; Lino,( 2011p.34) De acordo desenvolvimento com este sustentável conceito planeja uma nos organização seus negócios voltada um para o horizonte multidimensional, que engloba e asseguram os direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais. Neste sentido, todos fazem parte de um sistema de obtenção de uma economia solidária. A percepção, por parte do empresariado, sobre a importância de um desenvolvimento sustentado vem gerando uma postura que se contrapõe a cultura de maximização dos lucros. O chamado capitalismo social proporciona novas formas de relação entre empresas, funcionários, comunidades e clientes. (FERNANDES 2000). Ambos passaram a compartilhar objetivos e resultados visando otimização e manutenção dos recursos necessários a sustentabilidade dos negócios. Devido a este panorama, as empresas passaram a se reestruturar buscando se adequar a esta nova realidade. As pressões sociais e restrições impostas faz com que as empresas procurem formas de reduzir seu impacto ambiental e melhorar sua imagem frente a sua responsabilidade social (CORAL, 2002). 81 As organizações escolhem seus ambientes, e passam a ser condicionadas por eles, necessitando adaptar-se aos mesmos para conseguirem sobreviver e crescer (FERNANDES 2000). As transformações econômicas, políticas e culturais que acontecem na sociedade tornam-se, então, determinantes das novas posturas empresariais, forçando as organizações a se submeterem às novas regras do mercado e quebrar paradigmas (MULLER 2003). Para o Instituto Ethos (2005) a Responsabilidade Social Corporativa tem evidenciado, por meio de diversas pesquisas, uma série de benefícios para as empresas que a introduzem em seu planejamento, como a redução de custos, melhora de produtividade, crescimento de receitas, valorização da imagem institucional, fidelização do consumidor e longevidade. Entretanto, existem críticas sobre a forma com que algumas organizações desenvolvem seus programas de responsabilidade social. Há empresas que começam programas de RSE visando o benefício comercial que ocorre com o aumento da sua reputação com o público ou com o governo. Friedman(1970) sugere que as empresas que existem apenas para maximizar os lucros são incapazes de defender os interesses da sociedade como um todo. As organizações que implementam a RSE se beneficiam da proteção e fortalecimento da imagem da marca e da sua reputação, favorecendo a imagem da organização, pois a credibilidade passa a ser uma importante vantagem, um diferencial competitivo no mundo globalizado. A RSE adotou discursos de defesa da cidadania, da democracia, da participação social, da solidariedade e da parceria para o enfrentamento da “questão social” como uma estratégia ideológica, visando facilitar a ampliação de seus níveis de acumulação. Assim, o termo cidadania foi banalizado e aparece de forma genérica em seu discurso, tanto como democracia e solidariedade. “A expressão “cidadania empresarial”, largamente utilizada para demonstrar as ações de preocupação social dos empresários, serve apenas para legitimar seu discurso” (MENEZES, 2010, p. 511-512). A responsabilidade Social Empresarial atrai investidores, já que muitos investidores individuais e institucionais sabem que há um maior retorno nas empresas socialmente responsáveis, os programas de responsabilidade social saem 82 de uma perspectiva de “bondade” empresarial e recaem em uma estratégia de negócio, gerada pelas exigências do público-consumidor. Este novo posicionamento da sociedade convoca as empresas a incluir considerações éticas e sociais em suas práticas de marketing (KOTLER; KELLER, 2006). Há críticas também quanto à responsabilidade social corporativa, Fischer (2005) atribui a responsabilidade pelo desenvolvimento humano a todos os atores sociais, estejam eles inseridos em organizações públicas ou empresariais bem como na sociedade civil. A responsabilidade não é exclusiva das empresas. Segundo a autora, as iniciativas de responsabilidade social por parte de empresas respondem mais a uma exigência mercadológica do que a uma conscientização da necessidade de mudança de valores universais. Responsabilidade Social é um dos fenômenos de mercado proveniente da globalização da economia. Ao longo dos ciclos históricos, tivemos a empresa orientada sucessivamente para o produto, para o mercado e depois para o cliente. Agora a empresa encontra-se orientada para o social (BICALHO, 2003). Ao aceitarem o desafio que esses princípios representam as empresas que desejam atuar e adotar práticas de responsabilidade social contribuindo para a criação de uma sociedade mais prospera mais justa e fraterna, além de ficarem mais próximas de mercados que valorizam e priorizam produtos e empresas parceiras do desenvolvimento sustentado, que associa à dimensão econômica também as dimensões social e ambiental (KARKOTLI, 2006, p. 116-117). Todavia a Responsabilidade Social vem movimentando um grande número de organizações, e tem se mostrado como uma opção em busca da sustentabilidade. Muller (2003), afirma que a sociedade tem exigido que as empresas explicitem suas ações de responsabilidade social e por isso surgiu, a necessidade de se definirem modelos em que se possa medir o grau de responsabilidade social das organizações. 3.8.1 Indicadores Jannuzzi (2001, p. 15) afirma que “o Indicador Social é um instrumento operacional para monitoramento da realidade social, para fins de formulação e reformulação de políticas públicas. É algo indispensável na realização de atividades de planejamento público e de formulação de políticas sociais em todas as esferas do governo, sendo também utilizados por instituições privadas que praticam a 83 Responsabilidade Social. Por meio de Indicadores Sociais são criadas e desenvolvidas ações de cunho social. Indicadores sociais são instrumentos que conferem poder à sociedade civil, desde o processo de discussão da natureza das políticas governamentais, dos programas públicos e dos projetos de ação social até o monitoramento, o direcionamento e a avaliação dos mesmos. Em tese, com a produção e a disseminação das estatísticas públicas, os indicadores sociais ganharam visibilidade na sociedade e conferiram a ela o poder de interagir no panorama social e político (MULLER, 2003. p. 107). Muller (2003), afirma que a forte pressão em busca de transparência nas ações empresariais, criou-se uma grande quantidade de códigos de conduta, princípios, técnicas de auditoria e critérios de avaliação. Algumas instituições desenvolveram mecanismos e padrões de medição de suas ações e resultados, a partir de modelos desenvolvidos especificamente para avaliar e divulgar informações de cunho social. A princípio, as informações eram restritas em aspectos financeiros e, superficialmente ao meio ambiente. No entanto o aumento da relevância em relação transparência forçou as empresas a prestarem informações mais precisas e complexas. Foi necessário incluir as ações do campo social e, assim, contemplar dados referentes ao tripé do desenvolvimento sustentável abrangendo o econômico, o ambiental e o social. Para corroborar neste processo, foram elaborados modelos de indicadores de práticas de responsabilidade social. Dentre os quais podemos destacar os modelos criados pelo Global Reporting Initiative (GRI), o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (Instituto Ethos). 3.8.2 Global Reporting Initiative A Global Reporting Initiative (GRI) foi constituída em 1997, pela Coalition for Environmentally Responsible Economies (CERES) em parceria com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, cujo objetivo é equiparar relatórios sociais e de sustentabilidade aos relatórios financeiros, assim como construir uma base comum sobre a qual se possa instituir uma estrutura consistente para a divulgação de informações sobre as dimensões econômicas, ambientais e sociais. A GRI também desenvolve e dissemina um conjunto de diretrizes aplicáveis à elaboração 84 de relatórios de sustentabilidade através do GRI Guidelines, o Sustainability Reporting Guidelines. O processo de construção das Diretrizes para a Elaboração de Relatórios sobre Sustentabilidade envolveu inúmeros stakeholders, que se reuniram para elaborar a sua primeira versão, datada de março de 1999. Nos anos seguintes, as Diretrizes passaram por criteriosas revisões, num processo de plena transparência e acessibilidade, e atualmente as Diretrizes encontram-se traduzidas em oito idiomas, sendo que a GRI produz periodicamente boletins informativos para manter atualizada a sua rede de mais de 2.500 stakeholders. A GRI sugere 103 indicadores diferentes, os quais são agrupados nos termos das três dimensões que convencionalmente definem o desenvolvimento sustentável: a econômica, a ambiental e a social. 3.8.3 Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas O IBASE é uma organização não governamental, suprapartidária, sem fins lucrativos e sem vinculação religiosa, reconhecida como de utilidade pública federal, estadual e municipal (IBASE, 2002). Suas ações demonstram comprometimento com relação à defesa dos direitos humanos, à justiça, ao bem-estar e ao fortalecimento da democracia. A missão do IBASE (2002) é atuar estrategicamente no desenvolvimento de uma sociedade plenamente democrática, sem miséria, pobreza, desigualdade, negação dos direitos humanos ou quaisquer outras formas de exclusão social. O IBASE desenvolve Programas de Ação com os seguintes focos: Políticas Públicas e Globalização, Processos Sociais de Inclusão, Participação e Desenvolvimento Local Sustentável, além de Transparência e Responsabilidade Social, foco desta dissertação. Uma de suas prioridades políticas é, justamente, estimular o exercício da responsabilidade social, não apenas das empresas, mas também do Estado e dos cidadãos. Para tanto, o Programa Transparência e Responsabilidade Social objetiva sensibilizar empresas, governos e sociedade no enfrentamento da pobreza e das desigualdades, através da transparência no orçamento público e no balanço social das empresas (IBASE, 2002). 85 3.8.4 Os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins lucrativos fundado no ano de 1998. Os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social podem ajudar as empresas a trilhar o caminho da responsabilidade social corporativa, já que uma empresa que se associa ao Instituto Ethos passa a ter acesso a informações atualizadas a respeito de ações empresariais socialmente responsáveis, além de receber apoio técnico no gerenciamento de seus negócios. Sua missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade mais próspera e justa (ETHOS, 2002). Para alcançar seus objetivos, o Instituto Ethos (2000) oferece aos associados uma série de produtos e orientações que buscam auxiliar as empresas a compreender e incorporar o conceito de responsabilidade social, mobilizando-as para implementação de políticas e práticas que atendam a elevados critérios éticos. (MUELLER, 2003) A disseminação da prática da responsabilidade social é prioridade para o Instituto Ethos que se propõe a participar de seminários e encontros que promovam a discussão da temática e a troca de experiências. Em busca de capacitação e de instrumentalização, o Instituto Ethos procurou formar parcerias com entidades internacionais (MULLER, 2003). Visando fortalecer a cultura da responsabilidade social no Brasil, o Instituto Ethos criou os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, e o Guia de Elaboração de Relatório e Balanço Social de Responsabilidade Social Empresarial. Os Indicadores Ethos foram criados de seguindo alguns parâmetros de pesquisa e benchmark de normas e certificações, nacionais e internacionais. Utilizou-se a ISO 9000, a ISO 14000, a SA 8000 e também a AA 1000. Durante o processo de sua criação foram referenciados também os princípios e diretrizes da GRI. Após pesquisar os indicadores mais adequados à prática da responsabilidade social corporativa, a própria equipe do Instituto Ethos desenvolveu os indicadores em parceria com outros profissionais, com empresas e com a Fundação Ação Vida e Natureza (MULLER, 2003). 86 De acordo com Grajew (2001), os indicadores têm como principal objetivo apresentar para o setor empresarial e a sociedade em geral o que é responsabilidade social, sua abrangência e profundidade. Antes de ser uma ferramenta de avaliação, é um instrumento didático que busca inserir, definitivamente, as práticas socialmente responsáveis na agenda das organizações. Por meio dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, a empresa pode avaliar, e planejar suas ações de responsabilidade social em busca da excelência e a sustentabilidade de seus negócios. Sendo possível verificar o estágio em que se encontram as práticas de responsabilidade social na empresa e aprimorá-las quando necessário (MULLER, 2003). A primeira versão dos Indicadores Ethos surgiu em junho de 2000, sendo que a edição de 5 mil exemplares se esgotou em menos de um ano. Atualmente já foram criados modelos de indicadores sociais baseados nos modelos do Instituto Ethos, como é o caso do modelo apresentado por Karkotli (2006), criado a partir de estudos desenvolvidos pelo Instituto Ethos. TEMAS COMPROMISSOS ÉTICOS TRANSPARÊNCIA E VALORES INDICADORES ENRAIZAMENTO NA CULTURA ORGANIZACIONAL DIÁLOGO DOS STAKEHOLDERS RELAÇÕES COM A CONCORRÊNCIA BALANÇO SOCIAL RELAÇÕES COM SINDICATOS PÚBLICO INTERNO GESTÃO PARTICIPATIVA PARTICIPAÇÃO NOS RESULTADOS E BONIFICAÇÕES COMPROMISSO COM O FUTURO DAS CRIANÇAS VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE COMPORTAMENTO FRENTE A DEMISSÕES 87 COMPROMISSO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E EMPREGABILIDADE CUIDADO COM SAÚDE, SEGURANÇA E CONDIÇÕES DE TRABALHO PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA CONHECIMENTO SOBRE IMPACTO NO MEIO AMBIENTE MINIMIZAÇÃO DE ENTRADAS E SAÍDAS DE MATERIAIS NA MEIO AMBIENTE EMPRESA RESPONSABILIDADE SOBRE O CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS E SERVIÇOS COMPROMETIMENTO SOBRE O IMPACTO NO MEIO AMBIENTE CRITÉRIO DE SELEÇÃO DE FORNECEDORES TRABALHO INFANTIL NA CADEIA PRODUTIVA RELAÇÕES COM OS TRABALHADORES TERCEIRIZADOS PRÁTICAS ANTICORRUPÇÃO E PROPINA LIDERANÇA E INFLUÊNCIA SOCIAL PARTICIPAÇÃO EM PROJETOS SOCIAIS GOVERNAMENTAIS S/ CLIENTES POLITICA DE MARKETING E COMUNICAÇÃO EXCELÊNCIA NO ATENDIMENTO CONHECIMENTO DOS DANOS POTENCIAIS DOS PRODUTOS E SERVIÇOS GERENCIAMENTO IMPACTO EMPRESA JUNTO A COMUNIDADE ADE COMUNID CONSUMIDORE FORNECEDORES APOIO AO DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES RELAÇÕES COM ORGANIZAÇÕE ATUANTES NA 88 COMUNIDADE MECANISMO DE APOIO A PROJETOS SOCIAIS ESTRATÉGIA DE ATUAÇÃO NA ÁREA SOCIAL MOBILIZAÇÃO DOS RECURSOS PARA INVESTIMENTO SOCIAL RECONHECIMENTO/APOIO TRABALHO VOLUNTÁRIO DOS FUNCIONÁRIOS SOCIEDADE GOVERNO E CONTRIBUIÇÕES PARA CAMPANHAS POLITICAS PRATICAS ANTICORRUPÇÃO E PROPINA LIDERANÇA E INFLUÊNCIA SOCIAL PARTICIPAÇÃO EM PROJETOS SOCIAIS GOVERNAMENTAIS Quadro 4: Indicadores Sociais Fonte: Elaborado por Instituto Ethos, 2005. O modelo que consiste em um questionário composto de indicadores é dividido em sete temas: valores e transparência; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores/clientes; comunidade; governo e sociedade, que permitem fazer uma avaliação mais concisa do grau de responsabilidade social das empresas. Cada um destes sete temas é composto por ações sociais que são desenvolvidas pelas organizações. Por meio dos indicadores busca-se mensurar a efetividade e o alcance das ações sociais desenvolvidas pelas mesmas e a partir dos resultados obtidos é possível medir em que áreas a empresa desenvolve mais ações sociais e que áreas necessitam melhorias, sendo uma ferramenta imprescindível para empresas que visam à responsabilidade social, pois permite não só a mensuração, mas também o controle das ações sociais desenvolvidas. 89 3.8.5 Ações sociais Segundo Coelho (2000) novas combinações de antigos conceitos como caridade, filantropia e ação social começaram a surgir por meio de diferentes formas de organização da sociedade civil, particularmente com a criação dos movimentos sociais e das organizações sem fins lucrativos (conhecidas como organizações não governamentais e terceiro setor), sugerindo a realocação e a transformação das funções dos diferentes atores sociais. Na evolução deste processo surgiu um novo ator social: as empresas, que desenvolvem programas, projetos e ações sociais visando à educação, a promoção social, a saúde, a criança e ao adolescente, o meio ambiente e a cultura, entre outros (MUELLER, 2003). Muller (2003) também afirma que, com o passar dos anos, a ação humanitária mais simples, baseada na religião (a caridade) evoluiu para um relacionamento mais complexo, em que a principal característica é a intenção de apoiar a cidadania participativa. Devido a este panorama surgem a filantropia empresarial e a empresa cidadã, comprometida com a promoção da cidadania e o desenvolvimento da comunidade por meio do investimento social privado. O cenário de mudanças aceleradas, aliado ao agravamento dos problemas sociais, o bem-estar da sociedade passou a depender da participação direta das empresas na adoção de ações sociais isoladas, no estabelecimento de parcerias e, inclusive, na formulação e implantação de projetos sociais próprios, o princípio destas ações decorre da prática de ações filantrópicas, as quais se desenvolveram através das atitudes e ações individuais de alguns empresários (MULLER, 2003). Com o passar do tempo as ações de filantropia evoluíram do caráter de caridade para a noção de consciência social, de bem comum e de dever cívico. Filantropia trata basicamente de ação social externa da empresa, tendo como beneficiário principal a comunidade em suas diversas formas (conselhos comunitários, organizações não governamentais, associações comunitárias etc.). A Responsabilidade Social foca a cadeia de negócios da empresa e engloba preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente), cujas demandas e necessidades a empresa deve buscar entender e incorporar em seus negócios. Assim, a Responsabilidade Social trata diretamente dos negócios 90 da empresa e como ela os conduz (ETHOS, 2002). O Instituto Ethos (2002) define ação social das empresas como qualquer atividade realizada pela empresa para atender às comunidades em suas diversas formas (conselho comunitário, organizações não governamentais, associações comunitárias, etc.), em áreas como assistência social, alimentação, saúde, educação, cultura, meio ambiente e desenvolvimento comunitário. O relacionamento das empresas brasileiras com a questão social teve início com a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas – ADCE, em 1960, que propagou a importância da ação social dessas instituições (FERREIRA; BARTOLO, 2005). Porém, só a partir do início dos anos 90, é que algumas organizações começaram a levar a sério esta questão e a divulgar sistematicamente em balanços e relatórios sociais as ações realizadas que resultassem em benefícios à comunidade, ao meio ambiente e a seus funcionários (CAMPOS, 2007). Uma ação social bem conduzida proporciona a qualquer empresa posição de destaque na sociedade onde atua e pode ser fator decisivo na autopreservação empresarial. Dependendo dos resultados dos projetos sociais por ela financiados, a empresa reforça sua imagem, torna-se mais conhecida e vende mais. Seus produtos, serviços e, sobretudo sua marca ganha maior visibilidade, aceitação e potencialidade (BERTONCELLO; JUNIOR 2007). Com melhor entendimento do alcance e dos impactos de uma ação social, investidores e doadores teriam mais um motivo para manter ali seus investimentos e contribuir para a continuidade da ação transformadora, para que dela possam se beneficiar (OLIVEIRA, 2008). Para Melo Neto e Froes (2001) há uma grande diferença entre as ações de responsabilidade social e as ações de filantropia. Logo, os autores afirmam que a responsabilidade social está diretamente relacionada com a promoção da cidadania, com a sustentabilidade e a autos sustentabilidade das comunidades, enquanto a filantropia é baseada em ações assistencialistas cujo objetivo é contribuir para a sobrevivência de grupos sociais desfavorecidos. Outra característica mencionada pelos autores se refere à extensão das ações de responsabilidade social, considerando que as mesmas abrangem toda a 91 cadeia de negócios da empresa, ou seja, o grupo de stakeholders. Filantropia Responsabilidade Social Ação individual e voluntária Ação coletiva Fomento da caridade Fomento da cidadania Base assistencialista Base estratégica Restrita a empresários filantrópicos e abnegados Extensiva a todos Prescinde de gerenciamento Demanda gerenciamento Decisão individual Decisão consensual Quadro 5: Diferenças entre a filantropia e a responsabilidade social Fonte: Melo Neto e Froes, (2001 p.28). Enquanto as ações de filantropia se restringem ao âmbito dos empresários filantrópicos, concretizando-se através de doações a grupos ou entidades, a filantropia decorre de uma ação individual e voluntária. A responsabilidade social parte, assim, de uma ação que visa o coletivo e tem por objetivo transformar uma dada realidade, promovendo, principalmente, a inclusão social (MULLER, 2003). 3.8.6 Inclusão social Sassaki, (1997, p. 83) acredita que “a inclusão social é o meio pelo qual a sociedade se adapta para incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais, ao mesmo tempo em que estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade”. De acordo com o autor, se faz necessário uma mudança na sociedade, pois a mesma deve compreender que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros, e tratar estes como parceiros na discussão de problemas e soluções. Todavia estabelece que isso não seja algo que ocorre com facilidade. Para o autor a inclusão social é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade, por meio de transformações, que podem incorrer nos espaços físicos das cidades, meios de transporte, nas políticas públicas, na mentalidade das pessoas, sejam elas: jovens, adultas ou idosas. 92 Faleiros (2006) alerta que a questão da inclusão social está extremamente ligada à exclusão. Já Costa (2006) afirma que a expressão “exclusão social” é utilizada hoje de maneira generalizada. Percebemos, portanto, que não há consenso entre os especialistas quanto ao sentido da mesma. Martins (2002) explicita que a exclusão social pode ser entendida como resultado de uma mudança da sociedade a partir do desenvolvimento capitalista. É a expressão da incerteza e insegurança teórica na compreensão dos problemas sociais da sociedade contemporânea. Segundo Faleiros (2006), a exclusão é reflexo da desigualdade social, característica marcante do capitalismo. Resulta da relação de exploração de uns sobre os outros, dentre os que possuem mais poder sobre os que possuem menor poder aquisitivo. Essa exploração pode ser econômica, política ou cultural e está inserida na organização e participação na vida social, proporcionando benefícios para uns em detrimento de outros. Fato que representa a relação existente entre a exclusão e inclusão. Uma não existe sem a outra, num movimento constante marcado por conflitos. Para Martins (2002) a questão é muito mais social do que econômica. As políticas compensatórias oferecidas são até certo ponto necessárias na tentativa de amenizar os efeitos cruéis deste modelo econômico. Entretanto, o autor considera que optar por essas políticas só confirma e legitima a exclusão, que não deve ser vista como uma novidade, pois sempre existiu nas sociedades tradicionais. A exclusão moderna é um problema social pelo fato de abranger a todos os cidadãos, desde os que são privados do básico para viver com dignidade aos que convivem com o terror da incerteza quanto ao próprio destino e ao destino dos filhos e dos próximos. Martins acredita que, a verdadeira exclusão, portanto, está na desumanização própria da sociedade contemporânea que, ou nos torna condizentes com esta situação, ou nos torna indiferentes em relação aos que não têm um teto, não têm trabalho e, sobretudo, não têm esperança (MARTINS, 2002). Para enfrentar os processos de exclusão social existentes, se faz necessário criar estratégias de inclusão social. Um caminho pode ser o da política social, 93 sejam estas públicas: desenvolvidas pelo Estado ou privadas: desenvolvidas por empresas e instituições. Essas políticas devem procurar criar ações que possibilitem a seus usuários se tornarem protagonistas de suas próprias histórias, considerando principalmente os princípios da Constituição Federal de 1988, regidos pelos direitos sociais e pela cidadania. Para Mota (2007) a inclusão e a cidadania, apesar de serem considerados processos utópicos por alguns autores, também são considerados processos que buscam de alguma forma reverter ou amenizar os efeitos provocados pelos processos de exclusão social que representam uma negação da cidadania. De acordo com a autora, para reverter esses processos se faz necessário pensar em maneiras para reduzir a desigualdade, na efetivação de direitos, em justiça social e no acesso a bens e serviços. É responsabilidade do poder público viabilizar a inclusão social, realizando, para tanto, ações essenciais para o desenvolvimento da cidadania. Estas ações devem contemplar não apenas a renda, mas também o acesso às políticas e aos serviços sociais. Seria essa a função da inclusão social, vista como uma possibilidade de enfrentamento da situação de exclusão por meio da implementação de políticas sociais (MOTA, 2007). A partir dessa mudança de enfoque, não se trata mais de resgatar os “desviantes” ou “incapacitados”, mas de lutar por formas dignas de inclusão social para o conjunto da população. [...] Uma política realmente cidadã deve procurar “excluí-los da precariedade”, protegendo-os do mundo abjeto do ganho e do lucro imediato e possibilitando o desenvolvimento de suas criatividades e potencialidades (POCHMANN, 2004). A sociedade precisa atender às necessidades de seus membros mais necessitados e buscar meios de incluí-los em seus sistemas sociais. A inclusão social é um processo que permite transformar a sociedade utilizando-se de políticas que tenham como objetivo, o reconhecimento da cidadania, o fortalecimento da autoestima, das relações sociais e a elevação da renda, envolvendo o homem como um todo (MOTA, 2007). Deste modo, é preciso levar em conta as necessidades humanas e não apenas os interesses de aspectos econômicos, mas também os aspectos ambientais e sociais, como é defendido no conceito do triple bottom line. De 94 acordo com este conceito a integração de quesitos econômicos, sociais e ambientais é capaz de promover a sustentabilidade. 3.8.7 Sustentabilidade O crescimento é inevitável, entretanto se continuarmos crescendo de maneira desordenada como acontece atualmente é grande o risco de nosso planeta entrar em colapso. É necessário criar estruturas para suportar este crescimento, buscando maneiras de produzir mais, reciclar mais, conscientizar mais, e consumir menos, pois os recursos naturais são limitados. “Criamos uma economia que não pode sustentar o progresso econômico, uma economia que não pode nos conduzir ao destino desejado” (BROWN, 2003, p. 06). Há um novo paradigma da sustentabilidade que propõe uma nova dinâmica e ordem para a sociedade atual, relacionando principalmente à interação e cooperação entre governos, empresas e sociedade civil organizada na construção de uma sociedade mais justa e sustentável. Uma sociedade é sustentável, “ao atender, simultaneamente, aos critérios de relevância social, prudência ecológica e viabilidade econômica, os três pilares do desenvolvimento sustentável” (SACHS, 2002, p.35). É com base nesta lógica que as empresas devem adotar políticas e práticas de sustentabilidade, buscando, incorporar estrategicamente aos seus negócios as dimensões, econômica, ambiental e social do desenvolvimento sustentável, apoiando-se na integração destes três quesitos, constituindo o tripé conhecido como triple-bottom line. Figura 4: Triple bottom line. Fonte: Alledi Filho ET al. (2003) apud Oliveira, et al, (2012 p.73). 95 O conceito do Triple Bottom Line surgido do estudo realizado por Elkington (1994), no inglês, é conhecido por 3P (People, Planet e Profit); traduzido para o português, seria PPL (Pessoas, Planeta e Lucro) (OLIVEIRA, ET AL. 2012). Ao realizarmos uma análise individual, tem-se: o Econômico, que visa é a criação de empreendimentos viáveis e atraentes para os investidores; o Ambiental, que se propõe a analisar a interação de processos com o meio ambiente sem lhe causar danos permanentes; e o Social, cujo objetivo é o estabelecimento de ações justas para trabalhadores, parceiros e sociedade. Estes três pilares juntos se relacionam de tal forma que a interseção dos mesmos, resultaria no alcance da sustentabilidade (OLIVEIRA, et al, 2012). O conceito de sustentabilidade está extremamente ligado ao conceito de responsabilidade social das organizações. Desta forma a ideia de sustentabilidade adquire contornos de vantagem competitiva. Segundo Porter (1989) normalmente as companhias têm uma estratégia económica e um estratégia de responsabilidade social e o que elas devem ter é uma estratégia só. Uma consciência sustentável, por parte das organizações pode significar uma vantagem competitiva e trazer benefícios para as mesmas. A adoção de práticas empresariais sustentáveis é uma realidade possível e que está ao alcance de todos. Na conjuntura tecnológica e científica dos dias de hoje, para uma empresa se tornar sustentável é algo que está mais relacionado às questões culturais e a paradigmas carregados ao longo de anos do que a capacidade intelectual e econômica de construir novos modelos de desenvolvimento (ZAMBOM; RICCO, 2010, p.121). O desenvolvimento sustentável pode ser uma oportunidade para novos negócios. O crescimento dos níveis de desenvolvimento humano tem proporcionado maior poder de compra para as pessoas que se encontram na base da pirâmide da economia e pode ser refletida no crescimento do consumo e o consequente aumento na oferta de produtos e serviços a mercados, anteriormente, inexplorados. Com a melhoria das condições de vida da população criou-se um ambiente propício para o desenvolvimento de novos negócios. Para Zambom; Ricco, (2010) a base da pirâmide ainda é uma demanda reprimida, que pode ser um alvo importante para as novas tecnologias e para o desenvolvimento de novos negócios, quer exijam ou não uma nova estrutura para a atividade empresarial. 96 [...] os inovadores concorrem contra o não-consumo – ou seja, eles oferecem um produto ou serviço a pessoas que de outra forma seriam deixadas totalmente de fora ou permaneceriam mal atendidas pelos produtos existentes. Essa é a segunda razão pela qual a base da pirâmide oferece melhores mercados para negócios crescentes [...]. Quando trazem um produto inovador para clientes que eram mal atendidos ou até mesmo ativamente explorados, estes ficam encantados por terem produtos simples com funcionalidade modesta (HART, 2006, p.127). As populações mais pobres representam um novo desafio gerencial para as grandes organizações. Tornou-se evidente que há um grande mercado potencial a ser atendido na base da pirâmide (HART, 2006). Neste contexto é possível encontrar oportunidades para fazer dos mercados de baixa renda uma possibilidade de expansão e criação de novos negócios. Almeida (2002) diz que a sustentabilidade exige um novo paradigma: orgânico, holístico e integrador. E é desta forma que a referida empresa se posiciona, na medida em que acredita que a sustentabilidade é um conjunto e que todos os aspectos são interligados e interativos. Isto fez as empresas repensarem seu posicionamento, passando a direcionar seus esforços também para novas oportunidades, até então ignoradas ou desconhecidas. (ZAMBOM; RICCO, 2010). Deste modo, um esforço sistemático voltado para a sustentabilidade e para inovação, pode representar uma alternativa para mercados altamente competitivos e até mesmo saturados, como é o caso do mercado bancário brasileiro que é bastante competitivo, mas que ainda não explora todo o potencial existente na base da pirâmide. 97 4 METODOLOGIA De acordo com Gil (2008) o objetivo da ciência é checar a veracidade de determinados fatos. Para tal, o método científico acadêmico necessita de comprovação de determinado conhecimento como cientifico por meio de métodos e técnicas. A metodologia indica como se deve fazer a pesquisa ao qual foi proposta, onde o pesquisador deverá escolher a maneira como irá organizar as diversas informações para testar as hipóteses que foram levantadas ou para descrever alguns fenômenos. Neste capítulo, serão abordados os métodos e técnicas utilizados para a elaboração desta pesquisa, tendo como tópicos: Os tipos de pesquisa utilizados, bem como a forma de coleta e análise dos dados. 4.1 TIPOS DE PESQUISA Quanto à natureza da pesquisa, pode se afirmar que ela é do tipo ‘aplicada’. A pesquisa aplicada tem como objetivo “gerar conhecimento para aplicação prática e dirigida à solução de problemas específicos” (SOUZA; FIALHO; OTANI, 2007, p.38). Conforme Santaella, A motivação principal das pesquisas aplicadas, por seu lado, está na contribuição para resolver um problema. Para tal, ela aplicará conhecimentos já disponíveis, mas das aplicações podem resultar não apenas a resolução do problema que a motivou, mas também a ampliação da compreensão que se tem do problema, ou ainda a sugestão de novas questões a serem investigadas (SANTAELLA, 2001, p.140). Quanto à abordagem, utilizou-se a pesquisa qualitativa, pois não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. A pesquisa qualitativa, segundo Souza; Fialho e Otani, “[...] é uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito [...]. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave [...]. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais da abordagem” (2007, p. 38). 98 A abordagem qualitativa, conforme Marconi e Lakatos (2001, p. 109) permite elaborar “relações entre caraterísticas observáveis, ou experimentalmente determináveis, de um objeto de estudo denominado: leis teóricas ou simplesmente teoria”. As pesquisas que utilizam da abordagem qualitativa possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos de mudanças (OLIVEIRA, 2001, p. 117). Trata-se de pesquisa exploratória, haja a vista a abordagem de várias questões expostas neste estudo. Devido a peculiaridades envolvidas na gestão do microcrédito e a grande variedade de questões a serem abordadas, recomenda-se explorar os assuntos aqui apresentados sem grande aprofundamento. A pesquisa exploratória proporciona maior proximidade com o problema, visando a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Procura aprimorar ideias ou descobrir intuições. Possui um planejamento flexível envolvendo em geral levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos similares. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso. (GIL, 1996 apud SILVA; KARKOTLI, 2011, p. 10 e 11). Esse tipo de pesquisa é recomendado para pesquisadores que possuem pouco conhecimento sobre o assunto pesquisado, pois, geralmente há pouco ou nenhum estudo publicado sobre o tema (COLLIS; HUSSEY, 2005). Por se tratar de um tema ainda recente na literatura, ainda não há muitos estudos publicados a respeito do microcrédito produtivo orientado. Quanto aos seus procedimentos, a pesquisa é bibliográfica. De acordo com Gil (1991) a pesquisa bibliográfica é elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet. É um procedimento importante que contribuiu para a explanação dos conceitos de microcrédito, assim como o histórico, o público-alvo e a situação atual no Brasil. Por sua vez a pesquisa documental é aquela que é elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico. A pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa bibliográfica, não sendo fácil por vezes distingui-las. A pesquisa bibliográfica utiliza fontes constituídas por material já elaborado, constituído basicamente por livros e artigos científicos localizados em bibliotecas. A pesquisa 99 documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc. (FONSECA, 2002, p. 32 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 37). Foi concretizada pesquisa documental na empresa, através de relatórios internos, além de informações disponibilizadas e meios eletrônicos acerca do assunto abordado, com o objetivo de expor e compreender de maneira mais efetiva a situação que se apresenta, além de levantamento de dados que foi realizado no segundo semestre de 2015 com objetivo de proporcionar maior aprofundamento no tema de estudo. Levantamento: envolve a interrogação direta de pessoas cujo comportamento se deseja conhecer acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise qualitativa, identificar as conclusões correspondentes aos dados coletados (GIL, 1999 apud SILVA; KARKOTLI, 2011, p. 12). O processo de levantamento das informações foi por entrevistas de roteiro semiestruturado com a parte relevante envolvidas no processo de análise do microcrédito no Banco do Empreendedor, com o intuito e de obter informações mais detalhadas sobre a análise deste processo, sendo esta de suma importância para a conclusão deste estudo de caso. Conforme expõe Dencker, O estudo de caso pode compreender análise de registros, observação de acontecimentos, entrevistas estruturadas e não-estruturadas ou qualquer outra técnica de pesquisa. Seu objeto pode ser um indivíduo, um grupo, uma organização, um conjunto de organizações, ou até mesmo uma situação (DENCKER, 2000, p. 127). O estudo de caso é indicado para esta investigação, pois de acordo com Gil, (1999) a maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas exploratórias. Por sua flexibilidade, é sugerido nas fases iniciais da pesquisa de temas complexos, assim como, para a construção de hipóteses ou reformulação do problema. É, portanto, utilizado nas mais diversas áreas do conhecimento. A coleta de dados geralmente é feita por mais de um procedimento, entre os mais usados estão: a observação, análise de documentos, a entrevista e a história da vida. 100 4.2 COLETAS DE DADOS A coleta de dados deste estudo está ajustada em livros, artigos científicos, documentos internos e externos da empresa que são disponibilizados na internet, além da realização de entrevistas com funcionário responsável pela analista de microcrédito do Banco do Empreendedor. As informações retiradas dos livros e artigos científicos serão utilizadas para abordar o tema da pesquisa, seus objetivos e conceitos a respeito da análise abordada trazendo mais credibilidade e segurança acerca das informações sobre a análise do processo de microcrédito produtivo orientado e as ferramentas da análise de processos. O Banco do Empreendedor disponibilizou documentos internos onde a pesquisadora teve acesso à mesa de análise do microcrédito, os normativos a respeito do procedimento operacional utilizados pela analista para realizar a liberação do crédito, visando obter o maior detalhamento possível acerca deste tipo de análise. A entrevista aplicada com a analista do microcrédito do Banco do Empreendedor pode ser considerada etapa trivial para conclusão deste estudo. Optou-se por roteiro de entrevista semiestruturado, para coletar dados primários, pois nesse caso é possível um maior aprofundamento em questões que a pesquisadora considere mais relevante enquanto está se aplicando a entrevista, permitindo, inclusive, a inclusão de outros questionamentos durante a mesma. É recomendada nos estudos exploratórios a entrevista informal que visa abordar realidades pouco conhecidas pelo pesquisador. É o tipo de entrevista menos estruturada possível e só se distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de dados. Utilizamse como informantes-chaves, que podem ser especialistas no tema em estudo, líderes formais ou informais, personalidades e outras. (GIL, 1999 apud SILVA; KARKOTLI, 2011, p. 19). A escolha da analista para se aplicar a entrevista se deu pelo fato da entrevistada ser a pessoa mais capacitada para explicar como essa metodologia de análise se aplica no Banco do Empreendedor. Além destas técnicas, também se optou pela observação participante que ocorre por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado, para recolher as ações da envolvida em seu contexto natural, considerando sua 101 perspectiva e seus pontos de vista (CHIZZOTTI, 2001). A observadora assume o papel de um membro do grupo e constitui elemento fundamental para a pesquisa. É utilizada de forma exclusiva ou conjugada a outras técnicas. Pode-se definir a observação como o uso dos sentidos com vistas a adquirir conhecimentos do cotidiano (GIL, 1999). 4.3 FORMAS DE ANÁLISE De acordo com Netto (2006), a análise propriamente dita é realizada em três níveis: a interpretação, a explicação e a especificação. A etapa da interpretação é considerada essencial para a análise da pesquisa. Sendo assim, é possível afirmar que a análise interpretativa dos dados levou em consideração três aspectos fundamentais: os resultados alcançados no estudo; a fundamentação teórica; e a experiência pessoal do investigador. Para facilitar a interpretação dos dados, é utilizada a categorização por pessoa individual. A categorização, por si própria, é um procedimento para agrupar dados, considerando a parte comum existente entre eles, classificando-os por semelhança ou analogia. Sendo assim, na categorização foram listadas as treze perguntas, e, abaixo delas as suas devidas respostas. 4.4 ANÁLISE GERAL A análise geral tem como objetivo refletir sobre as respostas obtidas durante a entrevista, a fim de alcançar resultados que possam auxiliar de alguma forma a formulação da proposta de melhoria do setor de análise e o reflexo na inadimplência do Banco do Empreendedor. Quando se interroga a pessoa que faz análise do microcrédito a mesma, tem um olhar crítico sobre a sua atuação e o método utilizado. Assim sendo, através da entrevista foi possível identificar as possíveis barreiras da análise, as dificuldades por não ter treinamento, material didático voltado para esta área de análise do microcrédito. Através da entrevista realizada foi também possível perceber que o setor de análise do microcrédito do Banco do Empreendedor realiza o seu papel na medida 102 do possível, porém, a base é que tem que melhorar. Além disso, o Banco do Empreendedor não cobra o que é ensinado, deixando por conta do agente e do auxiliar do agente de crédito. Portanto, as respostas obtidas comprovaram a hipótese apontada na definição do problema. 4.5 RESULTADO DA PESQUISA 5. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMAS ENCONTRADOS Com base nas respostas recolhidas através da entrevista, é possível perceber algumas questões que podem ser trabalhadas pela empresa, cujo aprimoramento contínuo é o objetivo principal: A falta de comprometimento do agente de crédito e do auxiliar, com a parte do levantamento de dados dos clientes, além de verificar a veracidade do mesmo, pois encontra-se diversas divergências nos documentos apresentados ao comparar-se com o LSE. Outro ponto analisado é o preenchimento do LSE, pois faltam dados do Empreendedor e sua Família, residência, renda familiar mensal, gastos familiares mensais, conta corrente, física e jurídica, cartões de crédito, qualificação (experiências anteriores ao negócio; grau de instrução; se fez algum curso; o comportamento do empreendedor); dados do empreendimento (características do patrimonial empreendimento, do negócio; histórico do histórico empreendimento, de vendas, situação condições de comercialização, principais clientes, principais fornecedores, considerações sobre a concorrência, quadro de pessoal, registro e controle da empresa, receitas operacionais mensais, custos variáveis, custos fixos, garantias). A falta de padronização da empresa com os documentos e a forma correta de preenchimento do LSE também causa divergência entre o analista e o as agentes de créditos e coordenadores. 103 5.1 ÁREA DE ANÁLISE DO BANCO EMPREENDEDOR A atual analista do setor de análise de crédito do Banco do Empreendedor é formada em administração de empresa pelo Centro Universitário Estácio de Sá, no ano de 2011. Sua trajetória no Banco do Empreendedor iniciou em 2008 como estagiárias e no ano de 2009 foi contratada como auxiliar administrativo sendo que no ano de 2013 passou a ser analista, e, assim, permanece até então. A área de análise de crédito do Banco do Empreendedor surgiu com a necessidade de melhorar a liberação do crédito e diminuir a inadimplência e melhorar a carteira de risco. Para ser um analista entende-se que é preciso estar cursando ou ser formado na área de administração ou economia, para compreender melhor o ambiente econômico que está vivenciando para que, posteriormente, possa se realizar uma boa análise do crédito, ter uma vivência da organização e saber como a empresa funciona, conhecendo seus colaboradores, compreendendo como funciona o setor de cobrança, para que assim, se saiba quais as dificuldades na hora de cobrar de um cliente. A área de análise de crédito é subordinada diretamente ao gerente geral, pois não existe o cargo de Gerente de Operações. O gerente geral é o responsável direto pelo setor e é subordinado ao Diretor Superintendente, pois o mesmo acompanha diretamente a carteira de risco da organização. O setor de análise de crédito não possui subordinado, e sim uma parceria com o setor de contratos, pois através da decisão do analista é que o setor de contratos poderá emitir o contrato, cheque e boletos para os clientes que se encontram aguardando uma posição sobre o seu empréstimo. 5.2 COMO OCORREM O PROCESSO DA ANÁLISE DE MICROCRÉDITO O agente de crédito lança a proposta na mesa de análise e o analista começa a realizar a análise através do LSE (levantamento socioeconômico) que compreende os dados familiares, dados do empreendimento, análise através dos 5Cs do crédito 104 do parecer técnico. Abre-se, assim, a documentação do cliente para comparar com os dados apresentados no LSE, e caso os dados estejam corretos voltam para o LSE, ocorrendo a continuação da análise que, consequentemente, verificam-se as sobras de gasto familiar, ou seja, se são condizentes tais gastos. Compara-se novamente com os documentos a fim de avaliar a sua veracidade. Analisa-se o histórico do empreendimento: Quando começou e onde começou. Verifica-se o faturamento da empresa dos últimos meses, os custos da empresa, a capacidade mensal do negócio. Se tudo estiver dentro dos critérios de análise, o credito é aprovado pelo analista e repassado ao setor de contratos. Se os valores solicitados passarem de R$: 5.000,00 (Cinco mil Reais) utilizase o sistema SCR. Este sistema se refere a um banco de dados que registra os empréstimos e financiamentos que as pessoas físicas e jurídicas possuem perante as instituições financeiras. Com este órgão de consulta, o analista de crédito avalia o risco que cada cliente pode trazer para a empresa. Ou seja, nos casos em que o tomador já possui sua renda comprometida em outras instituições financeiras, o crédito pode ser negado. Conforme o Bancoob (2011), as informações remetidas ao SCR são de exclusiva responsabilidade das instituições financeiras, inclusive, no que diz respeito às inclusões, correções, exclusões, marcações sub judice, ao registro de medidas judiciais e de manifestações de discordância apresentadas pelos contratantes e são enviadas ao Banco Central mensalmente. As instituições financeiras integrantes do SCR podem ter acesso aos dados consolidados das operações de crédito de clientes, desde que formalmente autorizadas por estes. Desta forma, para consultar o Sistema de Informação de Crédito é necessário que o cliente autorize formalmente que a instituição verifique seus valores registrados perante o SCR. Segundo o Banco Central (2011) o Sistema de Informação de Crédito do Banco Central é o maior cadastro brasileiro baseado em informações positivas e contém dados sobre o comportamento dos clientes no que se refere às suas obrigações contraídas no sistema financeiro. Esses dados são compartilhados com as instituições participantes, contribuindo para diminuir a inadimplência e melhorar a gestão do risco de crédito. 105 Neste sentido, é possível perceber que o SCR é uma importante ferramenta para as instituições financeiras na gestão de suas carteiras de crédito. Este avalia o futuro tomador e dá suporte à inadimplência. Isso porque, o devedor fica registrado com dívida vencida no Sistema de Informações de Crédito, consequentemente, tendo problemas futuros com novos créditos que solicitará. Mas esse produto de consulta é utilizado em caso de dúvida no LSE e nos valores acima de R$: 5.000,00 (cinco mil reais), pois, pode-se solicitar uma nova visita do agente de crédito e seu coordenador para apuração de mais dados. Nesse período o contrato fica na mesa em estado de espera até ser apresentado os documentos solicitados, ou caso esteja tudo dentro das normas de análise do Banco e o parecer for favorável é aprovado o crédito e enviado para o setor de contratos para emissão do mesmo. 106 No (quadro 6) o mapeamento do processo que está em fase melhoria. Quadro 6: Mapeamento de processo Fonte: Fonte elaborada pelo autor, 2015. 107 5.3 O PAPEL DO ANALISTA DENTRO DA ORGANIZAÇÃO É ESTRATÉGICO O papel do analista dentro da organização é estratégico, pois visa não deixar passar contratos de riscos que podem ser futuros contratos inadimplentes. A organização preza muito pela análise do analista, pois este é um profissional preparado para atuar sobre pressão e ser imparcial na sua decisão. Ao se fazer análise do tomador, o analista quer extrair o máximo de veracidade dos documentos apresentados, pois não é só o fato de emprestar, mas sim de não endividar a família que está solicitando. O papel da organização junto ao do analista é ver a rentabilidade que aquele empréstimo vai gerar na vida do tomador. E isto tem reflexo direto na inadimplência, pois quando a análise não é bem realizada, não é bem fundamentada e acaba comprometendo a renda da família, acaba-se colocando-o em situação de risco e levando-o a ser um inadimplente, pois quando está ocorrendo a análise e o analista não verifica a viabilidade econômica do negócio do cliente, isso pode gerar um inadimplente. É esta viabilidade que vai mostrar se a empresa é rentável, se tem condições de se pagar a longo, médio e curto prazo ou se esses empréstimos já estavam provisionados nas contas da empresa. Quando não analisado o mercado onde a empresa está inserida, não verificando o período de sazonalidade da empresa, isto pode ocasionar em outro fator que pode acarretar inadimplentes. Por isso que a análise é tão importante: para verificar esses pequenos detalhes que nas vendas não ocorrem e podem gerar, futuramente, uma carteira com déficit. Atualmente não existem cursos específicos para analista de microcrédito orientado. Existe para operadores de análise de crédito de financeiras. A busca constante de como melhorar a análise de crédito se dá por meio de bibliografias voltadas para área, artigos científicos, e tutoriais de vídeos e a troca de experiências com outras instituições do país. As informações remetidas ao SCR são de exclusiva responsabilidade das instituições financeiras, inclusive, no que diz respeito às inclusões, correções, exclusões, marcações sub judice, ao registro de medidas judiciais e de 108 manifestações de discordância apresentadas pelos contratantes, e que são enviadas ao Banco Central mensalmente. As instituições financeiras integrantes do SCR podem ter acesso aos dados consolidados das operações de crédito de clientes, desde que formalmente autorizadas por estes. Desta forma, para consultar o Sistema de Informação de Crédito, é necessário que o cliente autorize formalmente, que a instituição verifique seus valores registrados perante o SCR. Segundo o Banco Central (2011), o Sistema de Informação de Crédito do Banco Central é o maior cadastro brasileiro baseado em informações positivas e contém dados sobre o comportamento dos clientes no que se refere às suas obrigações contraídas no sistema financeiro. Esses dados são compartilhados com as instituições participantes, contribuindo para diminuir a inadimplência e melhorar a gestão de risco de crédito. Neste sentido, é possível perceber que o SCR é uma importante ferramenta para as instituições financeiras na gestão de suas carteiras de crédito. Este avalia o futuro tomador e dá suporte à inadimplência, isso porque, o devedor fica registrado com dívida vencida no Sistema de Informações de Crédito tendo, assim, problemas futuros com os novos créditos que solicitará. 109 6 PROPOSTAS DE MELHORIAS Como solução para estes problemas identificados foi estudada uma proposta de melhoria que seria a padronização das informações, aos funcionários de atendimento, que no caso serão os agentes de créditos e seus auxiliares, pois se existisse esse processo padronizado não ocorreriam tantas falhas na análise do crédito, estimulando no agente de crédito o senso crítico, a responsabilidade com o crédito emprestado, a responsabilidade social sobre aquele cliente. Ocorreriam, também, visitas ao longo do empréstimo, não só quando o cliente atrasa, mas sim fazer a função do Microcrédito produtivo orientado, pois atualmente só se empresta o dinheiro e não se realiza o acompanhamento desse cliente. Outro ponto é ver se realmente aquele empréstimo foi, de fato, produtivo para o empreendimento, se ele conseguiu alcançar o seu objetivo com aquele empréstimo, se era um capital de giro ou era para melhorar a produção ou serviço, isso implica em dar o suporte necessário ao cliente, sanando dúvidas, por exemplo, de como produzir um fluxo de caixa simples, controle melhor do estoque, auxiliar o cliente caso veja nessas visitas que o mesmo pode estar se endividando e, consequentemente, vir a ser um inadimplente com os seus fornecedores. Além disso, também incentivar o cliente a procurar cursos na sua área de atuação ou indicar vídeos, apresentar informativos, isto ajudaria o empreendedor a entender melhor o mercado onde está inserido. Outro ponto de sugestão de melhoria seria a visita do analista aos clientes que tenham dúvidas sobre o LSE. Entretanto, como possuímos vinte e quatro unidades espalhadas pelo Estado isso dificultaria ainda mais a análise. Portanto, o que poderia ser feito é ir uma vez a cada regional e explicar a importância da legalidade, da responsabilidade e do preenchimento correto do LSE, ainda que todos tenham essa consciência de como deveria ser preenchido, mas, de forma a fazê-los entender a missão e visão da organização que é ajudar a gerar renda aos pequenos que não tem chance nas grandes financeiras. A análise do crédito visa emprestar sem endividar o empreendedor, assim, é necessário que os campos sejam preenchidos corretamente e que as informações prestadas pelos clientes sejam verdadeiras. Por isso acredita-se que só emprestar o dinheiro não ajuda, pois a grande maioria dos pequenos empreendedores tem o 110 sonho de não ser mais funcionário, mas não sabe como ser patrão, não sabe lidar com investimentos, custos, lucros. Logo se faz de suma importância fazer um acompanhamento ao cliente, durante todo o financiamento para mostrar que não o queria só como mais um cliente, mas sim como cliente permanente. Outro ponto de melhoria deveria ser o controle do prazo de entrega dos documentos, pois apesar de existir uma agenda mensal das liberações, que não fosse mais permitido ao agente, ao auxiliar e nem ao coordenador, passar do prazo estipulado pela gerência. 111 JAQUELINE BATISTA Nome da Organização: BANCO DO EMPREENDEDOR Data de elaboração do P. A.:05/11/2015 PLANO DE AÇÃO PORQUE FAZER (WHY) - META: PARA REDUZIR OS CONTRATOS INADIMPLENTES DO BANCO DO EMPREENDEDOR WHAT HOW WHO WHERE WHEN HOW MUCH HOW O QUE FAZER COMO FAZER QUEM FARÁ ONDE PRAZO CUSTO/INVEST. COMO SERÁ FEITO Melhorar a Análise do Crédito 112 Criação de um manual de Analista e padronização das Gerência informações Verificar se o tomador é avalista de outro contrato, e se o avalista Analista não é tomador para não ter contrato cruzado Consultar o Serasa Usar o check list de acordo com o LSE Planejamento 6 meses Levantando dados dos seguintes Não mensurável setores: Cobrança, Análise de no momento Crédito, Auxiliar e Agente de Crédito e Gerência Setor de Análise Cada contrato leva em média 60 minutos Uma análise de contrato pode Através da pesquisa no próprio custa a empresa sistema que fornece esses por contratoR$: dados 30,00 Analista Sistema Serasa Consultar o sistema 5 minutos Custa por Consulta R$:2,50 Agente de Crédito e Analista para conferência Sistema Sip/Web, através do Tablet Preenchimento de acordo com o Não mensuravel Usar o sistema Sip/Web que LSE, uns 40 no momento fornece esse check list minutos Coletar mais dados de contato, Agente de como telefone Crédito e Aux. fixo, e-mail, De Agente página, redes sociais Visita ao Cliente e na unidade de atendimento Em média 60 minutos Visitar um cliente cada quilometro rodado custa R$:0,95 para empresa, por telefone não passa dos R$:0,30 Através do sistema da Amcred. Através da visita in loco, onde todos os dados devem ser levantados. E todos os dados levantados devem ser averiguado pelo Auxiliar para ver a veracidade dos dados. 113 Consultar os Fornecedores Visitar um cliente Por telefone uns cada quilometro Através de 10 minutos, em rodado custa Agente de Contatos visita R$:0,95 para Crédito e Aux. Telefonicos e dependendo do empresa, por De Agente visitas local em média telefone não 60 minutos passa dos R$:0,31 Através da visita in loco, onde todos os dados devem ser levantados. E todos os dados levantados devem ser averiguado pelo Auxiliar para ver a veracidade dos dados. Visitar um cliente cada quilometro rodado custa R$:0,95 para empresa, por telefone não passa dos R$:0,32 Através da visita in loco, onde todos os dados devem ser levantados. E todos os dados levantados devem ser averiguado pelo Auxiliar para ver a veracidade dos dados. Por telefone uns Verificar os dados Através de 10 minutos, em Agente de de contato dos Contatos visita Crédito e Aux. conhecidos e dos Telefonicos e dependendo do De Agente avalistas visitas local em média 60 minutos 114 CONSIDERAÇÕES FINAIS Perante o exposto, há um ambiente cada vez mais competitivo, isso demonstra a necessidade das empresas de ficarem atentas às mudanças que ocorrem no mercado e se aprimorarem, invariavelmente. Com isso, as instituições precisam buscar ferramentas e estratégias que garantam a obtenção de resultados positivos, juntamente com a satisfação de seus clientes. Neste contexto, a análise de crédito aparece como um dos elementos fundamentais para a sobrevivência da organização, pois cumpre o papel decisivo quando se fala em aumentar a rentabilidade e minimizar riscos. Por seu intermédio, é possível que a empresa conceda crédito melhorando seus resultados. Ao realizar a análise de crédito, no momento de conceder o crédito, a organização obtém informações detalhadas de seus clientes, podendo mensurar sua capacidade de saldar a dívida que está assumindo, bem como avaliar os riscos que esta operação oferece. A busca de informações relevantes e confiáveis, aliadas a correta interpretação e capacidade de julgamento dos analistas de crédito traz melhor segurança à tomada de decisão e reduz, consideravelmente, os riscos de inadimplência assumidos pela empresa. Desta forma, este trabalho teve como objetivo geral analisar o processo da análise de liberação do microcrédito ao microempreendedor, luz da responsabilidade social, que é emprestar sem comprometer o orçamento do microempreendedor, incentivar o mesmo a produzir de forma orientada a utilização deste recurso pelo Banco do Empreendedor. Através dos estudos efetuados verificou-se que a maioria dos tomadores inadimplentes são aqueles em que os créditos foram aprovados infringindo alguma norma estabelecida pela empresa. Desta forma, recomenda-se que a análise seja mais criteriosa e que as regras sejam seguidas rigorosamente, com a implantação do manual com as informações padronizadas da instituição o risco de emprestar sem retorno será diminuído, pois todos seguiram a mesma linha de filosofia da organização e com isso não terão mais levantamento de dados diferenciados de cada agente, todos serão padrão. 115 Como conclusão, constatou-se que o estudo realizado possibilitou o conhecimento dos pontos que precisam ser melhorados na instituição pesquisada. Sendo assim, faz-se necessário efetuar uma análise de crédito criteriosa antes de concedê-lo, pois esta contribui diretamente com a liberação de um crédito mais consciente e a diminuição do índice de inadimplência da empresa e o impacto na vida dos microempreendedores podendo dar continuidade a geração de renda e sustentabilidade. 116 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. ALVES, César Moreira. Fatores Condicionantes da Inadimplência em Processo de Concessão de Microcrédito em uma Entidade Operadora de Minas Gerais. 2009, 123f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Centro de educação Belo Horizonte, Faculdade Novos Horizontes, Belo Horizonte, 2009. Disponível em: < http://unihorizontes.br/novosite/banco_dissertacoes/151220111554262346.pdf >. Acesso em: 14 set. 2015. ALVES, César Moreira; LOPES, Ana Lucia Magri; MELO, Alfredo Alves de Oliveira. 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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em 15 jul. 2015. 125 130 APÊNDICE QUESTIONÁRIO 1. Qual o seu cargo no Banco do Empreendedor? R: Atualmente sou analista do Microcrédito Produtivo Orientado. Comecei na análise do programa Juro Zero. 2. Qual a sua formação acadêmica? R: Sou bacharel em Administração de Empresas, desde ano de 2011. 3. A quem o setor de análise de crédito é subordinado? R: Estamos subordinados diretamente ao gerente geral e ao diretor superintendente, pois eles participam de forma direta sobre a análise, caso não haja concordância entre o analista e o agente de crédito, passa-se o processo para eles analisarem e darem o parecer. 4. Existe alguma área subordinada ao setor de análise de credito? R: Não existe uma subordinação e sim setores ligados, pois, por exemplo, se o analista solicitar uma revisita ao agente de crédito, o contrato fica parado na mesa de análise e o setor de contratos não pode conferir a documentação e o cliente também fica em espera para saber quando será liberado o seu contrato. 5. Quais os atributos necessários para ser um analista de crédito? R. Cursar ou já ser formado em ensino superior na área de administração ou economia, ter um tempo mínimo na organização para entender como funciona a empresa, principalmente no setor da cobrança, pois é ali que sabemos há onde 131 erramos ao analisar o crédito e onde podemos melhorar. Tem que ter conhecimento do perfil dos agentes de créditos e saber interpretar o relatório de risco, comprometimento, persistência e ser imparcial. 6. Qual é a missão e objetivos do analista para o Banco do Empreendedor? R: No meu ponto de vista não endividar o cliente, no âmbito familiar, porque missão do banco é emprestar o dinheiro que o cliente possa pagar. Analisar e emprestar de forma consciente. 7. Qual foi o impacto no Banco quando começou a utilizar o sistema de análise de crédito? R: Com a implantação do setor de análise, ainda não se sabe dizer, pois o setor é novo e ainda não deu tempo para comparar em relação aos anos anteriores, pois a demanda é grande e com a instalação da crise não foi possível mensurar o antes e o depois, mas acreditamos que deve ter melhorado. Para isso que o setor foi implantado. 8. Como você descreve o processo de análise do microcrédito no Banco do Empreendedor? R: O processo é lançado na mesa, o analista abre o LSE (levantamento socioeconômico) e começa a sua análise, os 5CS do parecer técnico. Abrem-se, assim, os documentos e compara com o LSE, quanto que foi a sobra do gasto familiar. Vê-se o histórico do empreendimento, os dados da atividade, faturamento e quando o valor é acima de 5.000,00 é analisado o SCR e é visto como é a vida financeira do cliente. O uso do SCR é somente em último caso, para não influenciar na minha tomada de decisão. Analisa-se o estoque do cliente, e caso ocorra algo fica-se em espera para melhorar a situação do risco. E vemos, a partir daí a capacidade de pagamento, as referenciais, se tem demanda, qual a relação deles com os fornecedores, se apresentam referências, pois isso ajuda muito para análise. 132 9. Existem cursos para capacitar o analista de crédito? R: Não encontramos cursos específicos voltados para área do microcrédito, mais há tutoriais na internet e textos que, geralmente, são curtos e que não nos dão uma menção maior do assunto. 10. Devido a sua experiência, a empresa possui mecanismos/modelos adequados? Eles são utilizados? R: Sim. Utilizam o SCR para análise para os créditos acima de R$: 5.000,00 relatórios de riscos de classificação de riscos, os 5Cs do parecer técnico do crédito, o sistema SIP que nos gera relatórios comparativos. 11. Qual é o papel do analista de crédito diante da gestão? R: Que este faça uma análise bem cautelosa, verificando se existe atividade apresentada, a capacidade e a necessidade do crédito. E se apresentou a garantia compatível que se enquadra dentro do regulamento. 12. O analista possui um papel estratégico na empresa? Qual seria? R. Acredito que sim. Caso contrário, não teríamos implantado este setor, pois a empresa quer emprestar mais com qualidade e quantidade, desde que não aumente a carteira de risco e nem o índice de inadimplência. 13. Qual a importância da análise do crédito para inadimplência? R: Primeiramente ao se fazer uma análise bem-feita não gera inadimplência, já diminui o risco. Um capital de risco mais explicado: o analista sugere que os agentes deveriam extrair o máximo de informação de seus clientes, porque se por algum motivo esse cliente vir a ficar inadimplente o setor de cobrança tem como localizar este cliente e seus avalistas. O setor de análise verifica os dados apresentados pelos agentes e compara com o levantamento socioeconômico e verifica a 133 veracidade do mesmo, mas não temos como confirmar se aqueles dados, tais como telefone, e-mails são verdadeiros. Temos de confiar no que o agente nos apresenta.