TCC16 - Faculdade de Biomedicina
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TCC16 - Faculdade de Biomedicina
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA RAFAELA DAMASCENO SOUSA PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA HANSENÍASE EM DUAS UNIDADES DE SAÚDE DA SACRAMENTA, MUNICÍPIO DE BÉLEM-PA, NO PERÍODO DE 2000 a 2011 BELÉM-PARÁ 2012 RAFAELA DAMASCENO SOUSA PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA HANSENÍASE EM DUAS UNIDADES DE SAÚDE DA SACRAMENTA, MUNICÍPIO DE BÉLEM-PA, NO PERÍODO DE 2000 a 2011 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina Orientadora: Profª Drª Karla T. Silva Ribeiro BELÉM-PARÁ 2012 RAFAELA DAMASCENO SOUSA PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA HANSENÍASE EM DUAS UNIDADES DE SAÚDE DA SACRAMENTA, MUNICÍPIO DE BÉLEM-PA, NO PERÍODO DE 2000 a 2011. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do Biomedicina, grau aprovado __________________. Belém (PA), 19 de Dezembro de 2012 Banca Examinadora: Profª Drª Karla Tereza Silva Ribeiro ICB – UFPA (orientadora) Profª Drª Antonia Benedita Rodrigues Vieira ICB– UFPA Profª Drª Rosimar Neris Martins Feitosa ICB– UFPA Profª MSc. Jacqueline Cortinhas Monteiro - suplente ICB– UFPA de Bacharel com o em conceito i DEDICATÓRIA . Dedico este trabalho ao SENHOR JESUS CRISTO, a minha mãe Maria de Jesus Damasceno e a minha irmã Izabelly Damasceno. ii AGRADECIMENTOS Sou grata primeiramente ao grande Amor da vida Jesus Cristo, que sem ele esse sonho não poderia ser realidade. Pois do que me valeria ter riquezas, família, amigos se não pudesse dividir com meu amado Senhor. A minha rainha, minha mãe Maria de Jesus Damasceno, que durante todos esses anos sempre esteve ao meu lado, dedicando sua vida em prol da minha. Jamais poderei pagar tudo que me deste, amiga, companheira, amorosa, meiga, cuidadosa. Mãe, seu valor excede ao ouro, só as moedas do céu podem pagar, Te amo. A minha querida irmã Izabelly Biase Damasceno a qual tenho um imenso amor, cuidado e companheirismo. A minha família espiritual que intercede através de orações pela minha vida e a minha família biológica: meu pai Acrizio Sousa, minha avó Inês de Jesus, meus tios Odaleia, Roberto, Ronaldo, Rosemery e Roseane, Jeferson, Alexandre, Darck. Meus primos Roberto, Rodrigo, Jèssica, Andresa, Jamille,Adrya, Ronald e Andrey. Aos amigos que me ajudaram na realização desse trabalho a enfermeira Giselle Ribeiro, João de Deus T. Junior e Ruth Merien de Freitas Vieira. A minha Orientadora Profª Drª Karla Tereza Silva Ribeiro que é uma excelente professora. A minha grande amiga de turma Gabriella Ribeiro Guimarães, sua amizade foi e sempre será muito valiosa para mim. Aos meus amigos da Faculdade de Biomedicina 2009, uma turma maravilhosa a qual jamais esquecerei. iii SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO 01 1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA HANSENÍASE 01 1.2 A HANSENÍASE NO BRASIL 02 1.3 AGENTE ETIOLÓGICO DA HANSENÍASE: Mycobacterium leprae 03 1.4 ASPECTOS CLINICOS DA HANSENÍASE 04 1.5 TRANSMISSÃO DA HANSENÍASE 07 1.6 EPIDEMIOLOGIA DA HANSENÍASE 08 1.7 DIAGNÓSTICO DA HANSENÍASE 10 1.8 TRATAMENTO 12 2- OBJETIVOS 14 2.1 – GERAL 14 2.2- ESPECÍFICO 14 3- METODOLOGIA 15 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO 17 5- CONCLUSÕES 24 6- RECOMENDAÇÃO DA PESQUISA 25 7- REFERÊNCIAS 26 ANEXO 1: DADOS DE PRONTUÁRIOS 29 iv LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 1 Bacilo Álcool Ácido Resistente - BAAR – Coloração Ziehl-Nielsen 04 Figura 2 Áreas com presença de máculas e hipocrômia residual, característica 05 de hanseníase indeterminada. Figura 3 Hanseníase Tuberculóide: lesão com bordas róseas, elevadas e 06 granulosas Figura 4 Prevalência de Hanseníase segundo Unidades da Federação do Brasil 09 Figura 5 Mapa da Divisão Político Administrativa de Belém-PA. 15 Figura 6 Ocorrência de hanseníase no período de 2000 a 2011, nas UBS do 17 bairro da Sacramenta, Belém-PA. Figura 7 Distribuição dos casos de hanseníase nas UBS do bairro da 18 Sacramenta, Belém-PA, de acordo com o gênero. Figura 8 Frequência da hanseníase de acordo com a faixa etária nas UBS do 18 bairro da Sacramenta no período de 2000 a 2011. Figura 9 Distribuição dos pacientes com hanseníase de acordo com a 20 escolaridade nas UBS no bairro da Sacramenta, Belém-PA. Figura 10 Distribuição dos casos de hanseníase obtidos nas UBS segundo classificação operacional, período de 2000 a 2011 no bairro da Sacramenta Belém-PA. 21 v Figura 11 Distribuição das formas clínicas de hanseníase nas UBS no bairro da 22 Sacramenta Belém-PA, período de 2000 a 2011 Tabela 1 Prevalência da hanseníase no mundo no ano de 2009. 09 Tabela 2 Distribuição do número de lesões de hanseníase em pacientes 23 atendidos nas UBS no bairro da Sacramenta, Belém-PA. vi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BAAR Bacilo Álcool- Ácido Resistente HI Hanseníase Indeterminada MB Multibacilar N.I Não Identificada OMS Organização Mundial da Saúde PB Paucibacilar PQT Poliquimioterapia SVS Secretaria de Vigilância em Saúde UBS Unidade Básica de Saúde vii RESUMO No Brasil a hanseníase é considerada uma endemia, tendo papel de destaque na saúde pública pela elevada prevalência que gira em torno de 4,6/10.000 habitantes. O agente etiológico da hanseníase é o Mycobacterium leprae, parasita intracelular obrigatório que se aloja principalmente nas células de Schwann e na pele. O período de incubação da doença gira em torno de 2 a 7 anos, e sua reprodução lenta resulta em uma evolução clínica insidiosa. A hanseníase manifesta-se por manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, essas lesões de pele apresentam perda de sensibilidade, podendo gerar incapacidades físicas e por sua vez causar deformidades. O sistema de classificação divide a doença em formas estáveis ou polares (lepromatosa e tuberculóide) e em formas instáveis (dimorfas ou borderline), a polarização entre as formas depende da resposta imune do individuo após a infecção pelo bacilo álcoolácido resistente. Considerando o exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar o perfil epidemiológico da hanseníase em duas unidades de saúde da sacramenta, município de Belém-PA, no período de 2000 a 2011. A metodologia consistiu na coleta de 100 prontuários de pacientes com hanseníase, para a verificação da distribuição da doença quanto às variáveis: gênero, idade, escolaridade, classificação operacional, número de lesões do paciente e forma clinica. Os resultados mostram que a maior frequência do número de casos de hanseníase se deu principalmente no ano de 2007, mostrando que Belém-PA enfrenta os mesmos problemas que a maioria dos estados brasileiros, com a falha ao acesso dos serviços de saúde. As formas predominantes entre a população em analise são multibacilares, diforma e virchowiana da doença, sendo as duas mais contagiosas. 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA HANSENÍASE A hanseníase é uma doença milenar, desde os tempos bíblicos, trazendo consigo as marcas de preconceito, discriminação e exclusão social, isso se deve as deformidades físicas apresentadas por doentes não tratados. A carência de informações sobre o modo de transmissão e controle da hanseníase, unidos com o medo e a exclusão social contribuíram para que a doença se tornasse temida (Eidt, 2004). A hanseníase é considerada uma das doenças mais antigas que acomete a humanidade, acredita-se que seja originária da África e do sul da Ásia, vestígios da doença se remontam a mais de 2.500 anos a.C nessas localidades. Existe evidência no Egito em esqueletos datados do segundo século e um papiro da época de Ramsés II, consta que na região a doença existe a quatro mil e trezentos anos. Na Índia, China e Japão a hanseníase é conhecida a mais de três ou quatro mil anos (Brasil et. al., 1989). Durante a Idade Média na Europa e no Oriente médio a doença atingiu um número elevado de casos no período de 1000 e 1300 d.C. O movimento das Cruzadas está relacionado com a disseminação da hanseníase. E através das cruzadas a hanseníase foi levada ao mais remoto povoado, contribuindo na disseminação da doença na época medieval. O atraso na medicina foi também um fator relevante de contribuição para o aumento de casos, os médicos medievais classificavam a hanseníase como lepra verdadeira e lepra falsa (Schipperges et. al., 1985). Em 1873 o médico norueguês Gerhard Henrick Armauer Hansen identificou o bacilo álcool ácido resistente (BAAR) causador da lepra, trocando nome de lepra para hanseníase, em sua homenagem. No ano de 1940 ocorreram importantes avanços referentes ao tratamento e ao controle da hanseníase, como a introdução das sulfonas. Dessa maneira o tratamento deixava de ser através do isolamento e da segregação do doente, passando a ser medicamentoso (Avelleira et. al., 1998). 2 1.2. A HANSENÍASE NO BRASIL Acredita-se que a hanseníase tenha sido inserida no Brasil no final do século XVII,, foram notificados vários focos endêmicos no país, entre esses casos a maioria registrava-se em cidades onde a política e a economia eram bastante desenvolvidas. O aumento da hanseníase nesse período está relacionado com a chegada dos portugueses no país (Maurano, 1950). Os primeiros casos notificados no Brasil ocorreram no Rio de Janeiro, isso aconteceu principalmente ao fluxo de escravos recém chegados da África, local onde a endemia encontrava-se elevada. A hanseníase também alcançou várias cidades, focos foram registrados na Bahia e no Pará, ainda no período colonial (Scott et. al., 1947). A década de 1920 caracterizou-se por uma intensa atuação do governo federal no combate a hanseníase. Nessa mesma época foram criados o Departamento Nacional de Saúde baseado nos regulamentos sanitários e a Inspetoria de Profilaxia da Hanseníase e das Doenças Venéreas tendo como principal função a divulgação de dados epidemiológicos relativos à situação real da hanseníase no país. A ação da inspetoria nos estados da federação dava-se por meio da antiga diretoria de Saneamento Rural, em cooperação com os governos estaduais. No ano de 1934 a inspetoria foi extinta e suas atividades transferidas à inspetoria de Centro de Saúdes, nos estados elas passaram para a Diretoria dos Serviços Sanitários (Mackert, 2008). O estado do Rio de Janeiro foi pioneiro na criação de leprosário ou lazareto, para abrigar os doentes da lepra. Com o passar do tempo surgiram vários outros leprosários no país, o isolamento dos doentes do convívio da família, seguia as diretrizes da Diretoria dos Serviços Sanitários nos Estados, o Brasil chegou a ter 36 leprosários em 1960. O Decreto Nº 76.078, de 04 de agosto de 1975, adotou o termo hanseníase em substituição a lepra, somente no ano de 1976 os leprosários começaram a ser desativados no país (Opramolla et. al., 2005). No estado do Pará no ano de 1815 a Santa Casa de Misericórdia fundou o leprosário “Hospício dos Lázaros” para a segregação de indivíduos com hanseníase, também foi construído um asilo no Tucunduba, um bairro periférico da cidade, que funcionou até 1938. No município de Igarapé Açú, estado do Pará foi criada a colônia Lazarópolis do Prata, a 3 primeira colônia agrícola utilizada como leprosário no Brasil em 1942, no município de Marituba também foi criada uma colônia que apresentava-se como uma micro-cidade possuindo até mesmo moeda própria cunhada pela Casa de Misericórdia do Pará para ser usada internamente na colônia (Silva, 2009). 1.3. AGENTE ETIOLÓGICO DA HANSENÍASE: Mycobacterium leprae O Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, nome dado em homenagem ao pesquisador Gerhard Henrik Amauer Hansen descoberto em 1873, pertence à família Mycobacteriaceae, ordem Actinomycetales, e classe Schizomycates, é um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), medindo 1 a 8 μm de comprimento, por 0,3 μm de largura. Quando corado pela fucsina, um corante vermelho não descora pelos ácidos ou álcoois utilizados no método de coloração de Ziehl-Nielsen (Figura 1). Foi o primeiro agente etiológico causador de doença no ser humano a ser identificado por microscopia, e a descoberta do bacilo constituiu evidências científicas do caráter infectocontagioso da hanseníase (Filho et. al., 2006). A infectividade do Mycobacterium leprae, é muito alta, porém sua patogenicidade é relativamente baixa, sendo que 5% a 10% dos infectados adoecem. A quantidade de bacilos eliminados pelas vias aéreas é extraordinariamente elevada, aproximadamente 185.000 bacilos são eliminados durante a fala em apenas 10 minutos. Estima-se que 70% a 90 % da população em geral, seja resistente ao Mycobacterium leprae. O bacilo de Hansen se reproduz muito lentamente, o tempo de multiplicação está entre 12 a 14 dias, a lentidão biológica do bacilo tem relação com a cronicidade de sua evolução e ao longo período de incubação, média de 2 a 5 anos (Martins et. al., 2005). 4 Figura 1. Bacilo Álcool Ácido Resistente - BAAR – Coloração Ziehl-Nielsen Fonte: http://dc610.4shared.com/doc/3SjV0w3w/preview.html 1.4. ASPECTOS CLÍNICOS DA HANSENÍASE O Mycobacterium leprae se aloja principalmente nas células de Schwann e na pele, a evolução da doença depende do sistema imunológico de cada indivíduo. A doença se manifesta através de manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, essas lesões de pele apresentam perda de sensibilidade, podendo gerar incapacidades físicas e por sua vez causar deformidades. Vários órgãos podem ser acometidos pela doença, como olhos, rins, suprarenais, testículos, fígado e baço, também provocando queda de sobrancelhas, nódulos e ulcerações (Eidt, 2004). A classificação realizada em Madri de 1953 foi adotada pelo Serviço Publico de Saúde no Brasil, dividindo a Hanseníase clinicamente em quatro formas distintas: Virchowiana, Dimorfa, Indeterminada e Tuberculóide. Essas subdivisões foram determinadas pelas manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes, além da quantidade e presença de BAAR encontrados na baciloscopia. A classificação da hanseníase é feita de acordo com os aspectos imunológico, clínicos, baciloscópicos e histopatológicos (Dionello, 2008). A hanseníase indeterminada (HI) é a forma inicial da doença. A manifestação dessa forma clínica ocorre após um período de meses ou até mesmo anos, e evolui 5 espontaneamente para a cura ou para as outras formas da doença. As lesões cutâneas apresentam manchas hipocrômicas únicas ou múltiplas, alterações superficiais da sensibilidade (hipoestesia, hiperestesia), não há expressão clínica de comprometimento de troncos nervosos. Quando a forma indeterminada é tratada adequadamente, a cura ocorre sem deixar sequelas, no entanto às vezes persistam pequenas áreas hipoestésicas e/ou máculas hipocrômicas residuais (Pereira et. al., 2008). Figura 2. Áreas com presença de máculas e hipocrômia residual, característica de hanseníase indeterminada. Fonte: Silva, 2007. A forma virchowiana corresponde ao desenvolvimento da doença em indivíduos não tratados, sendo a forma contagiante da doença, elimina cerca de 2 x 10 trilhões de bacilos pelo trato respiratório. A imunidade do paciente na hanseníase virchowiana apresenta-se nula e a multiplicação do bacilo ocorre de maneira muito rápida, tendo um quadro mais grave da doença. As lesões podem evoluir para deformidades, atrofia muscular, inchaço das pernas e surgimento de nódulos, acompanhada de alopecia (queda do pelo), anidrose (ausência de suor) e adarose (perda de cílios e supercílios). Sua manifestação pode apresentar lesões cutâneas eritematosas, eritematoacastanhadas, eritoamareladas, ferruginosas e espessadas de limites externos não nítidos. São encontradas também pápulas, nódulos e tubérculos, essas lesões são chamadas de hansenomas, corresponde à antiga “Tuberosa” (Pinheiro et. al., 2007). 6 A hanseníase tuberculóide é uma forma não contagiante da doença, caracterizada por lesão bem localizada que ocorre em pessoas que têm alta resistência ao bacilo. Essas lesões se apresentam em placa na pele com bordas bem delimitadas, eritematosas ou por manchas hipocrômicas nítidas e definidas, apresentam em número reduzido. A forma clinica tuberculóide surge a partir da HI não tratada, afeta pacientes com boa resistência a doença. A baciloscopia dessa clinica é negativa, apresenta microtubérculos, bordas elevada, comprometimento assimétrico de nervos e da sensibilidade superficial (hipoestesia, anestesia térmica, dolorosa e tátil), calosidades e úlceras profundas localizadas em áreas de compressão óssea, alopécia e anidrose (Pereira et. al., 2008). Figura 3. Hanseníase Tuberculóide: lesão com bordas róseas, elevadas e granulosas. Fonte: Silva, 2007 A hanseníase do tipo dimorfa, chamada também de borderline, apresenta características transitórias entre as manifestações da forma tuberculoíde e virchowiana. O doente apresentar lesões de pele bem delimitadas com poucos bacilos ou lesões infiltrativas mal delimitadas, com número elevado de bacilos. O aspecto imunológico é instável, dependente da relação Mycobacterium leprae com o hospedeiro, a baciloscopia pode ser positiva ou negativa e o teste de Mitsuda é geralmente negativo (Ferreira, 2005). A classificação operacional da hanseníase é baseada na contagem do número de lesões de pele, reúne os pacientes em dois grupos paucibacilares (PB) com até cinco lesões cutâneas e multibacilares (MB) apresentam mais de cinco lesões. Essa classificação visa o tratamento da doença, os PB correspondem às formas clínicas que possuem imunidade celular 7 preservada, baciloscopia negativa e teste de Mitsuda positivo, abrangendo as formas tuberculoide e indeterminada, já os MB apresentam imunidade específica ao bacilo reduzido ou ausente e baciloscopia positiva, correspondendo às formas virchowiana e dimorfa (Castro et. al., 2009). 1.5. TRANSMISSÃO DA HANSENÍASE A forma de transmissão do Mycobacterium leprae se dá pelas vias aéreas, a pessoa infectada libera o bacilo no ar, assim possibilitando o contágio. A principal porta de entrada e de eliminação dos bacilos são as mucosas das vias aéreas superiores, porém, outras formas também são consideradas como fonte de contágio como os hansenomas ulceradas; os ferimentos ou soluções de continuidade na pele; o leite materno e há também a possibilidade quanto à urina e as fezes (WHO, 2005). A hanseníase é transmitida através do contato com as formas polares contagiantes não tratadas. O sistema de classificação divide a doença em formas estáveis ou polares (lepromatosa e tuberculóide) e em formas instáveis (dimorfas ou borderline), a polarização entre as formas depende da resposta imune do indivíduo após a infecção pelo BAAR hospedeiro. O homem é considerado o único reservatório natural no que se refere à transmissão da doença, no entanto, alguns animais são considerados reservatórios da infecção como o chimpanzé (Pan troglodytes), o macaco mangabei (Dercocebus torquatus atys) e o tatu (Dasypus novencintus), nestas três espécies a hanseníase é naturalmente adquirida (Moreira et. al., 2005). A infecção pelo bacilo da hanseníase dificilmente ocorre após um encontro social, o contato íntimo e prolongado é necessário para ocorrer à contaminação. O maior risco de contágio é a convivência familiar na mesma residência principalmente por meio do convívio com os doentes do tipo virchowiano ou dimorfo que ainda não foram diagnosticados e não iniciaram tratamento, sendo o contágio cinco a oito vezes mais frequentemente que o ambiente extrafamiliar (Pinheiro et. al., 2007). 8 1.6. EPIDEMIOLOGIA DA HANSENÍASE No mundo são estimados aproximadamente dois milhões de pessoas com deficiência relacionadas à hanseníase. A Organização Mundial da Saúde prioriza a hanseníase, devido à alta prevalência em alguns países. No Brasil a hanseníase é considerada uma endemia, tendo papel de destaque na saúde pública pela elevada taxa de prevalência, que gira em torno de 4,6/10.000 habitantes. O maior número de casos registrados de hanseníase na América Latina está no Brasil, e também o segundo maior índice endêmico do mundo (Sobrinho, 2008). A hanseníase apresenta 80% dos casos em países localizados na faixa intertropical como: Brasil, Myamar, Madagascar, Nepal e Moçambique. Os elevados números de casos podem ter sua raiz na histórica da ocupação do território como fundamento para a manutenção de focos da doença. Outro fator seria a associação da hanseníase com as condições desfavoráveis como: fatores econômicos, higiênicos, sanitários e biológicos (WHO et. al., 2009). Os casos de hanseníase registrados no ano de 2006 foram no total de 250.017 casos, segundo a Organização Mundial da Saúde, desses casos localizou-se no Sudeste da Ásia, seguido pela America com 47.612 de casos. Novos casos foram detectados no ano de 2007 anos, registrou-se 254.525 casos, no ano de 2008, 118 países e territórios registraram 212.802 casos da doença. A América do Sul concentra o maior número de casos, comparado com todo o continente americano. Entre os países da América do Sul o Brasil se destaca com a maior prevalência, e também o segundo no mundo em números absolutos, superado apenas pela Índia (WHO et. al., 2009). 9 Tabela 1: Prevalência da hanseníase no mundo no ano de 2009. REGIÃO PREVALÊNCIA N (taxa/10.000) África 30.557(0,45) Américas 47.069 (0,54) Ásia 120.689(0.69) Mediterrâneo Oriental 4.967(0,10) Pacifico Ocidental 9.754(0,05) Total (N) 213.036 Fonte: WHO, 2009 A prevalência da hanseníase em 2003 a 2006 por unidades da federação (Figura 4) apontou o estado do Pará em primeiro lugar com o maior número de casos de hanseníase na região Norte, e também foi considerado o quinto na colocação entre os estados brasileiros, com 6,97 de casos por 10.000 habitantes, ficando atrás apenas dos estados do Mato Grosso com 14,82 casos; Roraima 9,99 casos; Rondônia 8,65 casos e Maranhão com 7,34 casos por 10.000 habitantes (Brasil, 2007). Figura 4. Prevalência de Hanseníase segundo Unidades da Federação do Brasil. Fonte: IBGE, 2006. 10 O estado do Pará foi primeiro do Brasil em números absoluto de casos (4.282) no ano de 2006, e é considerado o detentor do maior número de casos de hanseníase na região Norte, apresentando um contexto hiper-epidêmico da doença considerado como grande problema de saúde pública, principalmente na região sudeste do Pará, nos municípios de Jacundá e Eldorado dos Carajás, aonde o número de casos vem aumentando a cada ano devido ao elevado fluxo migratório de garimpeiro e trabalhadores rurais vindos do nordeste do país (Brasil, 2007). O Pará é classificado, segundo os parâmetros da OMS, como de alta endemicidade para hanseníase. No período de 2000 a 2005 foi detectada uma media anual de 715 novos casos de hanseníase em menores de 15 anos de idade, já entre 2005 e 2006 a forma multibacilar foi superior em (28,21%) relação à forma paucibacilar (17,76%) no estado do Pará. Entre os municípios paraenses sessenta e cinco são considerados prioritários para monitoramento das ações de controle da hanseníase, sendo na região metropolitana de Belém existem quatro municípios prioritários: Belém, Ananindeua, Marituba e Benevides (PARÁ/SESPA, 2007). 1.7. DIAGNÓSTICO DA HANSENÍASE O diagnóstico da hanseníase é realizado através do exame clínico dermatoneurológico que consiste na palpação dos nervos periféricos. O paciente passa a ser considerado hanseniano ao apresentar presença de lesão cutânea com alteração de sensibilidade, acometimento de um ou mais nervos associado à presença de espessamento neural e/ou baciloscopia positiva. O bacilo apresenta afinidade pelos nervos periféricos e pele, essas características peculiares facilita o seu diagnóstico na maior parte dos casos. Na avaliação neurológica ocorre a inspeção dos olhos, nariz, mãos e pés, palpação dos troncos nervosos periféricos, avaliação da força muscular e avaliação de sensibilidade nos olhos, membros superiores e inferiores (Amaral et al., 2008). 11 Como método complementar existe a baciloscopia, um exame bacteriológico em que pesquisa a presença o Mycobacterium leprae em esfregaços de raspados intradérmicos das lesões hansênicas, ou também em outros locais com lóbulos auriculares e cotovelos (Orsini, 2008). O agente causador da hanseníase ainda não é cultivado in vitro, dificultando o diagnóstico dos testes microbiológicos, seu desenvolvimento ocorre no sistema nervoso periférico humano. Para serem estudados são cultivados em tatus e injetados nas patas de camundongos, porém não existe modelo experimental animal que reflita fielmente a infecção no homem, esse fator dificulta o diagnóstico. No tecido humano, o bacilo apresentam-se retos ou levemente encurvados de 2 a 8 mm de comprimento. Os bacilos podem estar isolados ou muito numerosos, tendendo a tendência a dispor-se em feixes paralelos ou a formarem grandes aglomerações, denominadas globias (Wolinsky, 1992). Existem vários métodos para o diagnóstico da hanseníase entre eles o ML Flow, desenvolvido em 2003, utiliza soro ou sangue total é um instrumento adicional para a classificação de casos novos de hanseníase em PB ou MB, útil na identificação de pacientes de hanseníase se com maior risco de desenvolver a doença no futuro. Também existe o teste da reação de Mitsuda é inoculada aplicação intradérmica, tem como principio a resposta imunológica do indivíduo (Grossi et. al., 2008). A sorologia anti PGL-I é um teste altamente específico, tem sido utilizada para detectar precocemente indivíduos infectados pelo Mycobacterium leprae, e a soropositividade relaciona-se com a carga bacilar, não é teste para diagnóstico de hanseníase. Entretanto, tem sido proposto como instrumento auxiliar para a classificação dos pacientes com hanseníase para tratamento com Poliquimioterapia (PQT) (Stefani et al., 2008). 12 1.8. TRATAMENTO Ao decorrer do século o tratamento da hanseníase correu de várias formas, o primeiro tratamento terapêutico foi com o óleo de chaulmoogra usado no século XIX. No século XX passaram a ser utilizado o medicamento específico chamado Sulfona, alguns pacientes tiveram bons resultados, porém outros foram resistentes ao tratamento (Ferreira et. al., 2008). As mudanças no tratamento da hanseníase no início da década de 1980 foram bastante significativas. A introdução da Poliquimioterapia (PQT) que consiste na utilização de mais de uma droga no tratamento da hanseníase, foi possível conquistar curas definitivas em períodos relativamente curtos e redução da prevalência da doença. Com a introdução desta nova terapia, incluindo ainda no tratamento a rifampicina e a clofazimina, mantendo a dapsona que até então já realizado, ocorreu redução na incidência das incapacidades físicas (Orsini, 2008). Após esse marco no tratamento da hanseníase ocorreram mudanças na situação epidemiológica da doença, e aproximadamente 9,8 milhões de pacientes foram considerados curados, a taxa de prevalência caiu em 85% no mundo e a duração do tratamento foi reduzida de acordo com a forma clínica da doença (Ferreira, 2005). O tratamento com a Poliquimioterapia é supervisionado com doses da clofazimina, rifampicina, e doses diárias auto-administradas de dapsona e clofazimina, a duração do tratamento inicialmente é de 24 doses, sendo também admitida sua realização com 12 doses em até 18 meses para pacientes MB, já os pacientes PB são 6 doses. Ainda há o terceiro esquema, administradas em dose única, considerado alternativo, recomendado para formas PB com lesão única de pele, chamado ROM (rifampicina, ofloxacina e minociclina) (Araújo, 2005). As reações causadas pela PQT são respostas do organismo, os sinais de reação são antigas lesões que se tornaram avermelhadas aumentaram de tamanho; aparecimento de nódulos avermelhados e doloridos; os nervos periféricos tornam-se doloridos e engrossados; a perda de sensibilidade; fraqueza muscular; febre; mal-estar e os membros superiores e 13 inferiores podem inchar. Já os efeitos colaterais comuns são o escurecimento da pele; urina avermelhada; manchas vermelhas e alergia como qualquer outro tipo de medicamento (OMS, 2000). Atualmente várias drogas estão sendo ensaiadas, a exemplo das Fluorquinolonas (Pefloxacin, Ofloxacin e Spafloxacin), Minociclina, Claritromicina e o Ácido fusídico. Estas drogas possuem esquemas totalmente bactericidas, podendo diminuir o tempo do tratamento específico e reduzir os efeitos colaterais, e no futuro provavelmente irão fazer parte dos esquemas terapêuticos. Existem vacinas como o BCG associado ao M. leprae morto pelo calor ou por outras micobactérias, sendo testadas, porém ainda é muito cedo para uma conclusão definitiva quanto aos seus efeitos (Opromolla et.al., 2005) 14 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL O presente trabalho visou avaliar o perfil epidemiológico de pacientes diagnosticados com hanseníase no período de 2000 a 2011, atendidos em duas Unidades Básicas de Saúde, localizadas no bairro da Sacramenta, município de Belém-PA. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Verificar a frequência da hanseníase em pacientes atendidos em duas Unidades Básicas de Saúde do bairro da Sacramenta, município de Belém (PA) no período de 2000 a 2011; Verificar o perfil epidemiológico de pacientes com hanseníase quanto às variáveis: gênero, idade, escolaridade, classificação operacional, número de lesões do paciente e forma clínica; Conhecer a predominância dos casos clínicos de hanseníase quanto às formas clássicas da doença. 15 3. METODOLOGIA 3.1. ÁREA DE ESTUDO O município de Belém, capital do estado do Pará, localiza-se na Mesorregião Metropolitana de Belém, com densidade demográfica de 1.437.600 habitantes, está dividida em oito distritos administrativos, e possui 71 bairros (Figura 5), dentre esses se encontra o bairro da Sacramenta com população de 44.407 habitantes. Na Região Metropolitana de Belém existem 29 Unidades Básicas de Saúde onde estão inseridos 15 pólos de urgência e emergência e 47 casas-família, que fazem parte do Programa Saúde da Família (PSF / ou Estratégia de Saúde da Família) do Governo Federal. Cada PSF possui um médico, um enfermeiro, um agente administrativo e até 10 agentes comunitários de saúde. Somando um total de 107 equipes do programa (Brasil, 2003). Figura 5. Mapa da divisão político-administrativa do município de Belém-PA. Disponível em: http://www.belem.pa.gov.br/planodiretor/paginas/brasao.php 16 3.2. TIPO DE ESTUDO E LEVANTAMENTO DE DADOS O estudo realizado é do tipo descritivo, seccional, cuja metodologia consistiu na coleta de dados referente ao perfil socioeconômico e epidemiológico dos casos de hanseníase. As informações foram obtidas na consulta de 100 (cem) prontuários de pacientes atendidos em duas Unidades Básicas de Saúde no bairro da Sacramenta, município de Belém (PA), no período de 2000 a 2011. 3.3. ORDENAÇÃO DE DADOS Os dados foram obtidos foram organizados em planilha eletrônica do Microsoft Office Excel 2007 para elaboração dos gráficos e tabelas. 3.4. ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA O estudo obedeceu à Resolução Nº 196/1996 sendo submetido ao Conselho de Ética em Pesquisa e fez parte do Projeto PET-Saúde/VS da Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Município de Belém (PA). O projeto teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências da Saúde, sob o código 0087.0.073.000-10, em 2010. 17 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados epidemiológicos desse estudo foram obtidos a partir da consulta em 100 prontuários de pacientes diagnosticados com hanseníase fornecidos pela Unidade Básica de, no período de 2000 a 2011. Na Figura 6 observa-se a distribuição da hanseníase no período de 2000 a 2011, sendo que as maiores ocorrências foram em 2006, com 14% dos registros (14/100) e em 2007 com 12% (12/100) dos casos. E o menor percentual foi verificado nos anos de 2000 com 2% (2/100), em 2001 registrou 1% (1/100) e 2002 com 4% (4/100). 14% 12% 12% 10% 10% 10% 8% 6% 4% 2% 5% 1% Figura 6: Ocorrência de Hanseníase no período de 2000 a 2011, nas UBS do bairro da Sacramenta, Belém-PA. Os resultados da frequência do número de casos de hanseníase no período de 2000 a 2011 estão de acordo com estatísticas do Ministério da Saúde (2008) que registrou no ano de 2007 o maior número de casos de hanseníase, com coeficiente de detecção da hanseníase de 21,08/100.000 habitantes e coeficiente de prevalência de 2,19/10.000 habitantes. Sendo essa frequência detectada na maioria dos estados brasileiros a exemplo de Minas Gerais, Rondônia, Tocantins e Maranhão. 18 A Figura 7 representa a distribuição dos casos de pacientes com hanseníase, indicando 61% do número de casos pertencente ao gênero masculino, enquanto o sexo feminino apresentou 39%. Com relação à faixa etária é possível observar que a faixa etária entre 21 a 40 anos foi mais incidente nos homens, com percentual de 34%, e nas mulheres a doença ocorreu na mesma faixa etária com percentual de 15%, destacando que essa faixa etária corresponde à fase produtiva da vida (Figura 8). 61% 39% Figura 7: Distribuição dos casos de hanseníase nas UBS’s do bairro da Sacramenta, BelémPA, de acordo com o gênero. 34% 17% 15% 12% 5% 5% 5% 5% 0% 0 a 20 anos 21 a 40 anos 41 a 60 anos >60 2% N.I Figura 8: Frequência da hanseníase de acordo com a faixa etária nas UBS do bairro da Sacramenta no período de 2000 a 2011. 19 Estes valores concordam com os obtidos por Sobrinho (2007) no estudo realizado em 1.932 indivíduos hansenianos, relatando o perfil epidemiológico na população do estado do Paraná, onde houve ocorrência de 55,1% na população masculina, e a distribuição por idade indicou 50,8% na faixa etária entre 20 a 49 anos. Segundo dados da OMS (2007) a maior frequência dos casos de hanseníase no mundo afeta o sexo masculino, a proporção de homens e mulheres é geralmente 2:1, e essa frequência da hanseníase na população do sexo masculino é observada em diversas situações geográficas como: Índia, Filipinas, Havaí, Venezuela e Camarões. Porém essa preponderância não é universal, existem várias localidades em que a ocorrência é igual para ambos os sexos. De acordo com Lana et al., (2008), a elevada ocorrência da doença no sexo masculino pode estar relacionada ao menor acesso aos serviços de saúde, pelo fato desses oferecem mais programas voltados para a saúde da mulher, bem como a menor preocupação dos homens em relação ao corpo e à estética, contribuindo na demora do diagnóstico, enquanto Moreira et al.,(2009), afirma que os homens se expõem a maiores riscos de infecção, por conta do estilo de vida. Com relação ao nível de escolaridade obtidos nas duas unidades de saúde apontaram para baixa escolaridade dos pacientes com hanseníase (Figura 9). Entre os casos analisados observou-se que a maioria da população não concluiu o ensino médio, 28% cursaram entre a 5º e a 8º série (8 a 11 anos estudados), 24% entre a 1º e a 4º série (4 a 7 anos estudados) e 3 eram analfabetos. 20 Figura 9: Distribuição dos pacientes com hanseníase de acordo com a escolaridade nas UBS no bairro da Sacramenta, Belém-PA. A ocorrência de pessoas com baixa escolaridade é similar ao estudo realizado por Bosco et al. (2010) na unidade abrigo João Paulo II, Belém-PA, dos 19 pacientes participantes do estudo 12 (63,2%) cursaram entre a 1ª e a 4ª série, e o estudo obtido por Lima et al. (2008) realizado no Distrito Federal no período de 2000 a 2005, também houve predomínio de pacientes que cursaram entre 4 a 7 anos, referente 30,1% dos casos, e os analfabetos representaram 9% dos pacientes. Segundo Rodrigues et al. (2008) a variável referente à escolaridade tem relação com as condições sociais, e também descreve que o acesso ao serviço de saúde, compreensão das orientações quanto ao tratamento e medidas de prevenção se vinculam à capacidade de autocuidado e ao número de anos estudados. Quando o portador é analfabeto maior e a chance da evolução da doença, quanto maior o grau de escolaridade, maior a probabilidade de melhora. A avaliação da classificação operacional no período de 2000 a 2011 nas duas UBS apontou a forma multibacilar com a distribuição de 53% quando comparado com a forma paucibacilar 30% (Figura 10). 21 17% 53% 30% Figura 10: Distribuição dos casos de hanseníase obtidos nas UBS segundo classificação operacional, período de 2000 a 2011 no bairro da Sacramenta Belém-PA. O estudo realizado por Mathias et al. (2009) no estado do Paraná no ano de 2002, observou que entre 61 casos analisados 85,3% pertenciam à classificação operacional MB e 9,8% PB. A predominância da forma multibacilar pode sugerir elevada transmissão da doença e um diagnóstico tardio. Segundo Araujo (2003) os portadores da forma multibacilar são considerados a principal fonte de infecção. No estudo realizado no período de 1998 a 2006 por Conte et al.(2007) no município de São José do Rio Preto (SP), foi observada a ocorrência de 212 (59%) de casos multibacilares e 147 (41%) de paucibacilar. O autor afirma que os achados do estudo são consequência do diagnóstico ainda ser tardio da doença, levando a inferir que as ações de vigilância epidemiológica são pouco consistentes e que há de priorizar o envolvimento dos profissionais da saúde. Quanto à forma clínica dos pacientes envolvidos no estudo pode ser observado na figura 11 que 29% dos casos apresentavam forma Virchowiana, 22% Dimorfa, 20% Tuberculóide, 12% Indeterminado e 17% Não Identificado (N.I). A distribuição dos casos apontou para a forma clínica Virchowiana, assim inferindo que ocorreu evolução da doença para a referida forma infectante (Figura 11). 22 17% 22% 20% 29% 12% Figura 11: Distribuição das formas clínicas de hanseníase nas UBS no bairro da Sacramenta, Belém-PA, período de 2000 a 2011. A forma clínica Virchowiana apresenta-se como a mais agressiva, possuindo cargas altas do bacilo. Os resultados encontrados concordam com Batista et al. (2011) em seu estudo com 240 prontuários em Campos dos Goytacazes (RJ), a qual obteve os seguintes valores: forma indeterminada apresentou 3,7% de incidência; a forma tuberculóide apresentou-se com 13,4%; a forma dimorfa com 27,7%; e a forma virchowiana com 41,2%, sendo esta última a forma de maior incidência deste grau. O autor Talhari (1994) concluiu que o diagnóstico tardio favorece a polarização para as formas que apresentam potencial incapacitante Tuberculóide, Dimorfa e Virchowiana. Quanto ao número de lesões cutâneas, dos 100 protuários consultados, foi possível observar que a maior parte dos pacientes apresentavam de 1 a 5 lesões representando 47% dos casos, 9% apresentaram entre 6 a 10 lesões, 23% mais de 10 lesões e 21% N.I (Tabela 2). 23 Tabela 2: Distribuição do número de lesões de hanseníase em pacientes atendidos nas UBS no bairro da Sacramenta, Belém-PA. Número de Lesões 1a5 47% 6 a 10 9% >10 23% N.I 21% Total (N) 100 Fonte: UBS/SESMA da Sacramenta, Belém-Pará. A quantidade de lesões, frequentemente, reflete a resistência do organismo ao bacilo, sendo inversamente proporcional ao número de lesões e às áreas corporais afetadas, e assim, quanto menor a resistência, mais numerosas são as lesões, afirma Queirós (1995). Considerando que o número de lesões de pele tem relevância epidemiológica, para Ignotti (2004) com a observação do número de lesões cutâneas é possível determinar se o doente foi ou não uma fonte de infecção capaz de ter contaminado outros indivíduos. Consequentemente, a proporção de casos novos com lesão única pode ser uma ferramenta ou um indicador de tendência da eliminação da hanseníase. 24 5. CONCLUSÃO Os resultados mostram que a maior frequência do número de casos de hanseníase ocorreu principalmente no ano de 2007, revelando que cidade de Belém (PA) enfrenta os mesmos problemas que a maioria dos estados brasileiros, com a falha ao acesso dos serviços de saúde. Com os dados levantados nas UBS no bairro da Sacramenta, Belém (PA) pode-se inferir que o diagnóstico para a hanseníase é tardio, fato observado pelo predomínio de casos multibacilares e formas virchowiana da doença. A elevada frequência de hanseníase no sexo masculino revela a carência de programas voltados para esse público, principalmente na faixa etária mais fase produtiva da vida. O número de lesões aponta para importância epidemiológica, no que se refere ao doente como fonte de infecção para outros indivíduos. 25 6. RECOMENDAÇÃO DA PESQUISA Desenvolvimento de programas de capacitação para as equipes multiprofissionais para diagnosticar precocemente os casos de hanseníase, e estimular a busca de novos casos. A obtenção do diagnóstico precoce da hanseníase vinculado com o tratamento adequado pode-se evitar a evolução da doença. Assim impedindo a instalação das incapacidades físicas provocada pela doença. Os dados obtidos revelam que o município de Belém-PA necessita intensificar campanhas que visem informar sobre a hanseníase e a sua prevenção. 26 7. REFERÊNCIAS AMARAL, E. P.; LANA, F. C. F. Análise espacial da hanseníase na microrregião de Almenara. 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