Luz e arquitetura: diálogos históricos

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Luz e arquitetura: diálogos históricos
Luz e arquitetura: diálogos históricos
Dezembro/2013
Luz e arquitetura: diálogos históricos
Giancarlo de Oliveira – [email protected]
Iluminação e Design de Interiores - IPOG – Instituto de Pós-Graduação e Graduação
Resumo
A luz tem sido objeto de rituais, estudos, pesquisas desde tempos imemoráveis. Partícipe
cotidiana na vida dos humanos é portadora de inúmeros sentidos e significados - simbologias
lhe atribuídas por diferentes grupos e culturas. De cunho bibliográfico, o presente texto
objetiva socializar algumas aproximações teóricas à luz em suas relações com os humanos a
partir de algumas áreas do conhecimento como filosofia, teologia e arquitetura. Na área
filosófica, as relações, aproximações e imbricamentos ao conceito luz se darão a partir de
três abordagens: o pensamento mobilista em Heráclito, o mito da caverna de Platão e o
expoente do movimento iluminista na segunda metade do século XVIII. Na área teológica, a
abordagem se concentrará em quatro tradições religiosas: grega, budista, egípcia e cristã. A
arquitetura, última área abordada, contudo não menos importante, busca contextualizar
algumas das suas relações com o elemento luz em diferentes momentos da história. As
reflexões ensejadas sinalizam a necessidade de estudos, pesquisas e reflexões no que
concerne a busca de relações mais próximas a uma arquitetura que priorize o bem estar dos
humanos em íntima relação com o meio ambiente que o cerca, explorando neste contexto as
inúmeras contribuições que advém da luz.
Palavras-chave: Luz. Arquitetura. História.
1. Introdução
A luz tem sido objeto de rituais, estudos e pesquisas desde tempos imemoráveis.
Historicamente pode-se identificar sua presença sob a forma do fogo, das estrelas, do sol, da
lua, dos raios e outros elementos da natureza na vida cotidiana e desenvolvimento dos seres
humanos e seu habitat. Partícipe e parceira na vida dos humanos é portadora de inúmeros
sentidos e significados – símbolos e/ou simbologias construídas por diferentes grupos e
culturas.
Segundo Jung (1977), pode-se denominar como símbolo algo como um termo, uma
imagem, ou por vezes uma ideia, que integra o cotidiano lhe conferindo conotações especiais
para além do seu significado evidente e convencional. Assim, um objeto, uma imagem ou até
uma palavra pode ser e ter valor simbólico, ou seja, quando lhe é conferido um outro sentido
e significado além do que lhe é factual. Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica
quando implica em alguma coisa além de seu significado manifesto de imediato
transcendendo o seu aspecto empírico. Quando os humanos encontram dificuldades para
explicitar algum conceito, ideia, realidade ou sentimento, por exemplo, lançam mão de
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símbolos na busca de sua melhor compreensão.
Ainda de acordo com Jung (1977), os símbolos culturais, empregados para expressar
são utilizados por inúmeras religiões no sentido de buscar expressar algumas das “verdades
eternas” por elas disseminadas. Os símbolos culturais, pela sua construção coletiva e
apreensão individual, têm o poder de provocar e evocar reações emotivas e profundas em
algumas pessoas, grupos.
A ideia de símbolo, segundo Lurker (1997), se origina na Grécia. Quando os amigos
se separavam por algum motivo eles rompiam uma moeda em dois pedaços, poderia ser desde
um pratinho de cerâmica a um anel. O objetivo primeiro era se lembrarem um do outro e se,
porventura, mais tarde se reencontrassem ao juntarem as metades teriam a possibilidade de se
reconhecer. Este símbolo serviria também para seus filhos e garantiria hospitalidade e
acolhimento.
Na arquitetura, historicamente, a luz tem sido um dos elementos alvo de incursões das
mais diversas, podendo ir do simples fato de permitir a visualização de um objeto no interior
de uma edificação a uma percepção mística ou elevação dos sentidos a partir do conjunto,
efeito ou simbologia proporcionados por ela.
O presente artigo, na provisoriedade e limitação dos tempos, espaços e lugares ao que
este se destina, busca socializar algumas aproximações teóricas a respeito da luz fazendo uma
breve incursão em alguns contextos a partir de algumas áreas do conhecimento como
filosofia, teologia e arquitetura na perspectiva de problematizar seu lugar - presença na
arquitetura contemporânea.
2 . Luz na Grécia Antiga
Desde os primórdios na Grécia antiga, a busca por explicações a respeito das origens
foi fomentada e elucidada com a finalidade de iluminar a consciência humana. Neste sentido,
apresenta-se o pensar de Heráclito – um dos filósofos pré-socráticos, que trabalhou a metáfora
do fogo e, com isto, consequentemente, o elemento da luz para fundamentar o seu pensar a
respeito das origens das coisas ou dos entes naturais. Apesar de trabalhar com a ideia de fogo
e luz, ele foi considerado na antiguidade como o Obscuro, devido à dificuldade de
interpretação do seu modo de pensar.
Heráclito é considerado um dos mais importantes filósofos da corrente de pensamento
mobilista, ou seja, postura que expressa à concepção de que a realidade natural se caracteriza
pelo aspecto do movimento. Neste viés, pode-se frisar que o fogo ou a luz, de maneira
abrangente atinge a existência como movimento e toca na dimensão da pluralidade do real
que é parte da experiência das coisas que envolvem o cosmos habitado pelos seres vivos. Para
Heráclito, a experiência sensível é de extrema relevância, por esta razão o fogo ou a luz, que
em seu ponto de vista é o elemento primordial, acaba imprimindo o movimento na realidade
que gera energia constante em tudo aquilo que se encontra inserido no devir histórico dentro
do cosmos.
Ao eleger o fogo ou a luz como elemento primordial, Heráclito elege um símbolo forte
para caracterizar o dinamismo da realidade que se movimenta sem cessar (MARCONDES,
2008). Busca-se aqui realizar uma breve avaliação do problema instaurado por Heráclito que
ao classificar o fogo, ou podemos também dizer à luz, que acaba sendo uma derivação do
fogo no pensamento da filosofia clássica coma “arché”, isto é, elemento que deu origem ao
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cosmos. O eixo do pensar grego antigo teve como fundamento o problema do ser. A razão das
investigações era a busca do ser primeiro das coisas, esta foi à razão régia da filosofia
clássica, desde os tempos dos pré-socráticos ao período dos filósofos pós-socráticos, tendo
Platão e Aristóteles encabeçando este movimento.
Heráclito e Parmênides, outro filósofo grego, por sua vez nutriam pontos de vista
opostos. Logo, um cisma entre suas ideias estava instaurado. O primeiro coloca o ser, ou seja,
o fogo, a luz como um devir contínuo, totalmente móvel, já o segundo considera a realidade
do fogo ou luz como algo imóvel, perene, imutável, a luz esta presente na imanência e no
fluxo frenético do cosmos. Porém, acaba sendo uma realidade extática e sempre clarividente
aos seres vivos nos quatro pontos cardeais do planeta seja com a lua ou com o sol, por
exemplo.
Finalizando esta etapa sobre o problema do ser no pensar pré-socrático, da-se ênfase
no modo de pensar de Heráclito de Éfeso, porque ele evoca a metáfora da luz ou fogo como
elemento primordial que confere a gênese das coisas que compõe o cosmos. Para Heráclito, o
ser não é algo identificável em dado momento, porque este algo acaba sendo e deixando de
ser para retornar a ser novamente, isto se dá em um fluxo incessante e a cada instante.
É o caso da luz, quando este fenômeno se manifesta como fogo ele é fogo, mas a luz
também pode deixar de se manifestar através fogo, e se manifestar, por exemplo, através de
um trovão ou até mesmo em uma bela noite iluminada de lua cheia. A tese heclitiana ganha
corpo, o ser esta presente no fluir, no devir, no vir a ser. O que marca é o movimento contínuo
das coisas, a mudança sem parar da realidade, aí esta o verdadeiro ser. É como a luz na
escuridão que incessantemente não para de clarear a penumbra do espaço. É o caso do sol que
em dinamismo contínuo, não deixa de nascer, se por para dar lugar à noite com a luz da lua, e
renascer em um novo dia, este movimento é componente da realidade contínua do cotidiano
de todos os seres (MARTINS, 1981).
Outro filósofo grego que trabalhou com a metáfora da luz foi Platão. Em uma célebre
passagem de sua obra prima A República (PLATÃO, 2012), o filósofo expõe sua concepção
epistemológica e sua teoria da realidade, ou seja, sua ontologia de modo alegórico. Ele
descreve homens algemados desde sempre em uma caverna, estes conseguem apenas ver o
fundo da caverna. Do lado de fora da caverna, passam seres e coisas cujas sombras, são
projetadas no fundo da parede, e para estes prisioneiros são a única realidade. Um destes
consegue se libertar e sai.
Inicialmente ele sofre com o poder de cegar da luz. Porém, com o tempo ele começa a
perceber que a sua maneira de ver a realidade na caverna não passava de mera aparência, de
cópias variadas da realidade externa, aparências grosseiras da realidade verdadeira e única que
existe do lado de fora da caverna, e que agora liberto de seu interior ele pode com o auxílio da
luz ver como as coisas são de fato. Segundo Platão, o homem ao longo do tempo poderá ver o
sol, que com a sua luz é fonte de toda visibilidade.
O homem, segundo o mito da caverna, volta para a caverna, e acaba se comportando
como um cego; ele age de maneira completamente desajeitada e tudo o que ele relata aos seus
companheiros de caverna acaba sendo motivo de tamanho deboche, seus antigos amigos o
consideram louco, a partir do momento em que ele tenta transmitir aos seus convivas as
virtudes que recebeu da luz. A alegoria da caverna carrega consigo uma epistemologia,
modelar para a filosofia, que realiza uma distinção dualista no movimento de busca pela
sabedoria.
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O primeiro se constitui como o saber sensível, que é raso, superficial, de cunho
relativista e efêmero, o saber que fica no nível do senso comum, incerto, particular e de
caráter subjetivista, saber que é considerado como simples opinião, ou seja, saber obscuro
totalmente destituído de luz. Já o segundo modo de saber é o da ciência, este saber deve ser
acessado apenas com o olhar do espírito, saber que tem como fundamento a luz da
inteligência, que visa capturar com clareza a essência do real, tudo aquilo que condiz ao
universal ou tudo aquilo que é imutável nas coisas; esse saber é ligado à luz da verdade
racional.
O mito da caverna tem como eixo central e grandeza da luz. O conhecimento exposto
aí é de matriz teorética, que busca contemplar com total clareza a verdade e por isto é
dependente da luz presente na inteligência, ou pode-se dizer também que perpassa por um
movimento intuitivo que busca ver as coisas imediatamente com todo auxílio da luz que é
proporcionada pela razão.
A filosofia antiga busca a verdade ou o saber preciso das coisas ou dos entes, devido
esta implicação ela se torna paradoxal, isto é, um determinado tipo de oposição se instaura
diante do senso comum, porque as opiniões que a multidão compartilha não se encaixam em
sua jornada em busca do saber verdadeiro repleto de luz. O homem que saiu da caverna
observou o real em toda a sua autenticidade proporcionada pela luz do dia. Para os seus
companheiros que nunca saíram da caverna e experimentaram a luz do dia, ele era
aparentemente um insensato, mas na verdade a luz concebeu a ele a verdade plena do real, ou
seja, do ser como ele é, rompendo assim com toda escuridão das opiniões e estabelecendo a
luz da verdade racional do que é real (HOTTOIS, 2002:16-17).
O século das luzes foi o Iluminismo (ROUANET, 1987), este foi um movimento de
pensamento nascido na Europa, o período de atuação deste movimento foi a segunda metade
do século dezoito. As luzes alcançaram o pensar filosófico, as artes, a criação literária, o ramo
das ciências, da teoria política e a doutrina jurídica. O período das luzes trata-se de um amplo
movimento cultural, que trouxe luz intensa ao obscurantismo do século denominado das
trevas. O espírito das luzes foi muito pluralista, ele não consistiu em ser apenas uma doutrina
filosófica ou uma espécie de teoria específica, porém surge como um conjunto de ideias e
valores que jogam luz em uma variedade de correntes, cuja as formas de expressão são das
mais variadas no campo científico, nas letras e nas artes.
A noção de iluminismo, ou também como o movimento é conhecido ilustração, ou
podemos também falar do termo esclarecimento, acaba indicando através da metáfora da luz e
da claridade, um eminente oposição às trevas, ao obscurantismo, à superstição, isto é,
oposição a qualquer tipo de coisas que esteja oculta. A meta é a de que o real, em sua
totalidade, seja iluminado e se torne claro a razão. O espírito das luzes tem como base
instrumental a consciência individual, que tem um tipo de autonomia para exercer a
capacidade de investigar a luz da razão o que é real para plenamente compreende-lo. As peças
chaves do iluminismo nesta tarefa são: o conhecimento, a ciência, a educação.
Houve neste sentido a empreitada do projeto enciclopedista de sintetizar em uma obra
o que ficou conhecido como a Enciclopédia. Esta obra começou a ser editada em 1751, a meta
era que todo o saber da época estivesse contido nestes volumes, isto tinha o intuito de
disponibilizar conhecimento a todos os indivíduos trazendo assim luz para todos os seres
ignóbeis. É certo que a ideologia do espírito das luzes era o de libertar os humanos dos
grilhões que a falta de conhecimento traz e também dos supostos males da superstição que os
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destitui da claridade que o verdadeiro conhecimento do real concede aos esclarecidos.
Uma das ideias centrais do iluminismo é a de que todos os seres humanos são
contemplados com um tipo de luz natural, ou seja, de racionalidade inata de aprender e que é
capaz de habilitar que cada um conheça o real e assim ajam com liberdade e adequabilidade
para a realização dos seus fins. Então, a função da filosofia, da ciência, e da educação é a de
conceber condições para que a luz natural venha ser posta em prática, desobstruindo com isto
todos os obstáculos que a impedem e promovendo o seu desenvolvimento.
3. A presença do conceito de luz nas tradições religiosas
A religião, da mesma maneira que a filosofia é uma das linhas de compreensão de
realidade que o ser humano manifestou para ler e reler o mundo e seus mistérios que o
rodeavam desde os primórdios de sua existência até a atualidade. A luz, por sua vez, é um
desses fenômenos onipresentes que possuem efeitos familiares, mas cuja essência não se
consegue apreender e, por essa razão, “é o símbolo preferido da imaterialidade, do espírito de
Deus, mas também da vida e da felicidade.” (DICIONÁRIO DOS SÍMBOLOS, 1990:129).
Consequentemente, a luz ou iluminação, é conceito constante nas mais diferentes tradições
religiosas, representando a força, o poder, a sabedoria, o conhecimento, a humanização, a
vida, a felicidade, seja nas figuras do sol, do amanhecer, do fogo e até mesmo dos deuses.
Segundo o Brown e Coenen (2000:1213-1214), “A luz sempre acarreta a remoção da
escuridão [...]. A luz é essencial para a vida, há estreita vinculação entre a luz e a vida, assim
como acontece com a escuridão e a morte.” As religiões apresentam a vinculação entre a
luz/vida e a escuridão/morte, com suas nuances, como relações lineares, complementares e até
mesmo antagônicas. “Nos primórdios, a separação da luz e das trevas introduzindo a primeira
ordem no mundo é encontrada nas diversas concepções cosmogônicas de muitos povos.”
(DICIONÁRIO DOS SÍMBOLOS, 1990:130) A seguir, serão abordadas quatro perspectivas
sobre o conceito de luz, com seus respectivos imbricamentos, em quatro diferentes tradições
religiosas: grega, budista, egípcia e cristã.
3.1 Prometeu e a centelha de fogo
O titã Prometeu, da mitologia grega, após a separação entre os seres humanos e os
deuses, foi o responsável em levar aos seres humanos a centelha do fogo, até então item
exclusivo do mundo dos deuses.
Prometeu foi condenado a um duro castigo. Antes de recebê-lo, porém, roubou uma
centelha e a entregou aos humanos, para que eles pudessem acender chamas e
cozinhar a carne. Comê-la cozida era o que os diferenciava das bestas. Em comum
com as divindades, a partir de então, os homens passaram a possuir apenas o fogo.
Mas, ao contrário da chama celeste, que nunca se extingue, a do homem precisa de
cuidados constantes, para que não se apague. Porque, se isso acontecer, os mortais
comerão carne crua. E então nada se distinguirá dos bichos. Serão, os homens, como
todos os animais. (ABRÃO, 2000: 14)
Segundo o mito grego, a chama celeste nunca se extinguia, sendo de propriedade
exclusiva dos deuses, demonstrando seu status de poder, força e de diferenciação dos seres
humanos. Por sua vez, os seres humanos, após a separação, estavam sem a luz humanizante e
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Prometeu a roubou para que estes pudessem se diferenciar das bestas, para que pudessem
resguardar sua posição de humanos. Contudo, esta luz ainda não era a luz dos deuses,
permanecendo a hierarquia entre o divino e o humano, definida por Zeus. O fogo, associado
ao conceito de luz, simboliza o poder, o divino, a imortalidade, que após os atos de Prometeu
tem uma nova função, que é de humanizar os seres humanos, diferenciando-os das bestas e os
livrando da escuridão.
3.2 Buda e a iluminação
No budismo, o conceito iluminação, também conhecida por nirvana, é central na vida
de seus seguidores. Inicialmente, na figura de seu líder religioso, Buda, a busca pela
iluminação significava a superação da velhice, da doença e da morte, ou seja, era sinônimo de
imortalidade, força e poder. Com o passar de sua busca, compreendeu que a iluminação não
se reduzia à conquista da imortalidade, força e poder, que se tornaram secundárias, mas que a
iluminação era essencialmente sabedoria, serenidade, equilíbrio e conhecimento.
O primeiro estágio da iluminação de Buda foi a conquista dos quatro jhanas. (A
forma sânscrita desse termo é dhyana, que se tornou chan nas línguas chinesas e zen
em japonês). O primeiro jhana consistia em ter pensamento equilibrado,
acompanhado de uma sensação de elevação. O segundo permitia que o pensamento
se acalmasse através da concentração mental. O terceiro encorajava a elevação e o
esforço de concentração para conseguir a serenidade; e o quarto permitia que a
serenidade assim alcançada fosse aplicada a todas as experiências prévias.
(BOWKER, 2004:101)
Sobre a iluminação como conhecimento, Buda alcançou três tipos: a primeira, a
lembrança de todas as suas existências anteriores; a segunda, a visão de todos os seres em
seus verdadeiros estados, ou seja, em suas situações de prazer e dor, bem-estar e miséria,
conforme o equilíbrio de seus karmas; e terceiro, a libertação das limitações e impurezas da
existência cármica. “O seu corpo físico precisava seguir o seu curso, porém isso não mais
geraria conseqüências cármicas; quando a vida terminasse, o corpo se dissolveria em
nirvana.” (BOWKER, 2004:102).
3.3 Rá, o deus-sol
O sol, personificado em deus em diferentes tradições religiosas, como os indígenas
astecas no México, era a representação maior de poder, força e geração de vida na antiga
tradição religiosa egípcia. A luz estava associada à representação maior de divindade. Na
tradição egípcia, Rá, o deus-sol, criou os outros deuses e os faraós eram os seus filhos
encarnados (BOWKER, 1997). A partir do segundo milênio a.C., Rá tornou-se o deus
nacional e seu nome se fundiu com Amon, resultando em Amon-Rá (WILLIS, 2007)..
Segundo a mitologia egípcia, Rá navegava em sua barca no céu durante o dia,
triunfando sobre o caos e a maldade. Durante a noite, ele navegava no mundo subterrâneo
mantendo o mal encurralado até o renascer da manhã, e repetia o ciclo todos os dias mantendo
o controle.
O mundo era organizado segundo dois princípios entrelaçados do surgimento e das
ações do criador e o ciclo diário do Sol através do cosmo. O cosmo era,
essencialmente, o Egito. [...] Todo dia, na alvorada, o deus-sol nascia da deusa-céu.
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Ele atingia a maturidade ao meio-dia e envelhecia ao entardecer. No anoitecer, ia
para o mundo subterrâneo. Todo dia, mês, ano e o reino de cada rei renovavam a
criação do mundo. Essa constante renovação do cosmo implicava que ele estava
perpetuamente sob ameaça, uma visão pessimista elaborada em ricos ciclos de hinos
ao deus-sol e em composições apresentando sua passagem pelo mundo subterrâneo,
todos designados a ajudar a assegurar que a ordem das coisas não falhasse. O deus
viajava numa barca, acompanhado por inúmeros seres, incluindo os mortos
abençoados. Apenas poucos eram descritos; esses eram aspectos de seu ser ou
divindades que pilotavam e defendiam a barca. Os inimigos atemporais do deus,
guiados pela gigantesca cobra Apep, buscavam barrar sua passagem pelo céu e pelo
mundo subterrâneo. (WILLIS, 2007:46)
3.4 Jesus Cristo, a luz do mundo
Segundo os dados do Censo Demográfico 2010, a população brasileira é 190.755.799
de pessoas. Deste universo, 167.709.409 se autodeclararam pertencentes à religião cristã.
(IBGE, 2010). Ou seja, 87,92% da população brasileira se autodeclara cristã.
A Constituição Federal de 1988 afirma que o Brasil é um país laico
(CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988, art. 5º).
Contudo, os referenciais culturais-religiosos da legislação são majoritariamente cristãos,
reflexo da pertença religiosa da população. Um exemplo pode-se observar nas datas festivas
do calendário brasileiro.
Consequentemente, a relação entre a figura do líder religioso cristão, Jesus Cristo, e do
conceito de luz é amplamente difundida na sociedade brasileira. No Catecismo da Igreja
Católica Apostólica Romana (2000:83;149;214), confissão religiosa cristã de 64,63% da
população brasileira, tem-se diferentes citações desta relação: “[...] o mistério de Cristo é a luz
decisiva sobre o mistério da criação [...]”; “Jesus é reconhecido como o Messias tão esperado,
‘luz das nações’ [...]”; e “Sendo Cristo a luz dos povos”, para citar alguns. O próprio Jesus,
segundo o texto sagrado cristão, a bíblia, se auto-apresenta como a luz do mundo: “Eu sou a
luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (A
BÍBLIA SAGRADA, 1993:Jo 8.12). A bíblia, na versão traduzida de Almeida Revisada
Imprensa Bíblica, apresenta 518 versículos que utilizam a palavra luz e 9 versículos a palavra
iluminação (BÍBLIA ONLINE).
Nota-se que a relação entre Jesus e a luz, segundo a bíblia, é antagônica. O texto
sagrado cristão, na figura de seu líder religioso, apresenta a luz na estreita relação com o
conceito de vida, de bem, de bondade, e em oposição às trevas, à escuridão, ao mal: “[...] que
a luz [Jesus] veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas
obras eram más” (A BÍBLIA SAGRADA, 1993:Jo 3.19) e “Das travas resplandecerá a luz.
Ele mesmo [Deus] resplandeceu em nosso coração, para iluminação da glória de Deus, na
face de Cristo” (A BÍBLIA SAGRADA, 1993:2Co 4.16).
O dualismo presente no cristianismo entre a luz e as trevas como uma luta entre as
forças do bem e do mal, segundo estudiosos das religiões, foi influência de uma outra religião,
originária do Oriente Médio em torno de 1200 a.C., que teve intercâmbio com o judaísmo em
meados do século 5 a.C. (FONAPER, s.d.). Esta religião é denominada Zoroastrismo e traz
em seus ensinamentos este dualismo presente nos seres humanos como um campo de batalha
cósmico e que têm a capacidade de derrotar o mal, com a ajuda de Ahura Mazda, o deus desta
religião (BOWKER, 2004). No cristianismo, Conforme Schnackenburg, Jesus Cristo tem a
imagem da luz divina para a humanidade que é obscurecida pelo pecado e pela sombra da
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morte, mas que a luz, no final, vencerá as trevas (BAUER, 2000). A luz, no cristianismo, é o
caminho para a o perdão, a salvação e para a vida, e vencerá as trevas, ou seja, o mal, o
pecado e a morte.
4. A luz e sua presença na arquitetura
No breve tracejado histórico que alinhavou-se no texto acima, do mito da caverna de
Platão (Grécia Antiga) ao personagem religioso do cristianismo, Jesus de Nazaré, pode-se
identificar uma variedade de concepções e analogias, que no decorrer de milênios moveram
os humanos em diferentes tempos, espaços e lugares em relação à luz. Seu fascínio e
propriedades transcendem ao imanente criando possibilidades ao desconhecido, factualidade
ao inamiginável àqueles que com ela interagem.
A arquitetura, uma das mais antigas ciências humanas não foge à regra. Como uma
das atividades primordiais dos humanos, desde que estes passaram a buscar e/ou fazer abrigo
para fugir das intempéries da natureza, a arquitetura tem na luz um dos seus ferramentais
elementares. Registros milenares em cavernas nas mais diferenciadas partes do globo revelam
a íntima relação construída entre os povos originários com o elemento luz, via propriedade
gerada pelo fogo, pelo sol, pelas estrelas, pelos raios, pelo atrito entre pedras, etc. Estas
descobertas, assim como a consequente elaboração de múltiplos sentidos e significados pelos
sujeitos envolvidos encaminharam a construção de muitos outros, que por sua vez,
contribuíram significativamente na evolução empírica e científica dos diferentes grupos de
humanos e culturas.
Etimologicamente, o vocábulo arquitetura se origina do idioma grego αρχή [arkhé]
significando "primeiro" ou "principal" e τέχνη [tékhton] que significa "construção".
Relacionada diretamente com a arte e a técnica em equacionar problemas da organização dos
humanos no espaço, a arquitetura busca projetar e edificar os ambientes habitados ou por
serem habitados por eles.
Fluidez, harmonia, mobilidade, nitidez e (des)velamento das formas nos
espaços/ambientes são algumas das contribuições requeridas à presença da luz nos projetos
arquitetônicos, dos mais simples e rústicos aos mais elaborados e sofisticados. Para Mahfuz
(2006), a luz natural é um dos elementos primordiais para a arquitetura. Interagir com ela na
busca da criação de espaços/lugares que oportunizem encontros, descobertas, contemplação,
alegria podem criar como que um antídoto contra sentimentos como medo e angústia a buscar
abrigo e morada no mundo contemporâneo.
Mahfuz elabora suas reflexões tomando por referência o arquiteto mexicano Luis
Barragan. Para ele qualquer obra de arquitetura que não enseje e/ou suscite expressões de
serenidade é um erro. Para Barragan, uma casa deve ser um refúgio, uma peça emocional de
arquitetura, jamis uma fria peça como algum tipo equipamento ou maquinaria.
Ainda segundo esse autor,
[...] entre a arquitetura e a luz natural existe uma relação profunda e indissolúvel: faz
sentido dizer que uma não existe sema a outra. O mais extraordinário templo grego
ou catedral gótica não passariam de matéria inerte sem luz. Por outro lado, a luz sem
arquitetura perderia muito do seu encanto, pois são os objetos do mundo que a
revelam. [...] Quando se consegue um diálogo entre o espaço, a luz que o percorre e
o homem que o habita, aí aparece a Arquitetura. (MAHFUZ, 2006)
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No decorrer dos tempos humanos em sua relação com a construção dos
espaços/lugares, pode-se identificar que diferentes diálogos foram sendo elaborados, negados
e/ou silenciados paulatinamente em mediação com as questões próprias de cada época.
Fatores de ordem política, econômica, artística, cultural, geográfica, ideológica, entre outros,
conduziam e (des)organizavam arquitetônicamente espaços individuais e coletivos em
consonância com os interesses de seus mentores.
Saber “ler” uma obra arquitetônica é saber ir além do visível, do que é factual. É
buscar nas congelações temporais das obras arquitetônicos o pulsar de vidas, desejos,
pensamentos, diálogos que ali se apresentam enquanto registros ainda vivos de uma
intencionalidade, grupo ou geração.
4.1 Luz e arquitetura em diferentes períodos históricos
Lúcia Mascaró reflete em um de seus artigos sobre como o uso da luz tem a
capacidade de refletir o espírito de um dado período histórico em diferentes tempos, espaços e
lugares onde a arquitetura se fez ou faz presente.
Os edifícios góticos na Idade Média, por exemplo, revelam toda a simbologia e
solenidade do cristianismo projetadas e eternizadas via design e iluminação nas obras
arquitetônicas desta época.
O sacro é expresso através de muitas qualidades; a maior dentre elas é a qualidade
da luz. A luz pode nos levar além do finito e temporal, além das experiências de
tempo e espaço que nós conhecemos. Até onde ela pode nos levar depende de cada
indivíduo, mas ela pode, sim, nos levar a imaginar o que há além do mundo que
conhecemos como mortais (MILLET, et. all, s.d.)
A solenidade das construções religiosas era conduzida e mediatizada pelas
movimentos da luz natural, assim como os provocados no decorrer dos rituais no intuito de
oportunizar e criar diálogos entre o imanente e o transcendente, o sagrado e o profano. A
morada da divindade devia refletir sua superioridade, soberania, majestosa, inquestionável e
inatingível presença. Isso se materializava na grandeza e rigoridade dos detalhes, impressões e
efeitos (re)velados pela luz via arquiteto humano.
A iluminação medieval teve a capacidade de criar um ambiente de solenidade
suprema, que fazia parte importante do culto. Não se projetava a iluminação de seus
espaços para atender às necessidades humanas, nem sequer no uso doméstico. A
casa medieval era fria, mal iluminada e pobremente aquecida para os parâmetros
atuais (MASCARÓ, 2005).
O conforto para o ser humano se apresenta literalmente intangível em sintonia direta
com os ideários do cristianismo no período medieval, assim como a luz ora de forma difusa,
ora direta integra o espaço criado no qual é elemento fundamental. Nas Igrejas Católicas
medievais, segundo registros de Millet (s.d.) a luz do dia e a luz de velas revelava a
representação da posse de Deus, a Cidade Paradisíaca, ou seja, a representação in locu da
cosmologia romana.
Lucia Mascaró (2005) chama a atenção para a experiência moderna entre luz e
arquitetura no século XIX. A presença dos engenhos a vapor, fábricas mecanizadas, amplas
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zonas industriais, o progresso das cidades, a crescente dos meios de comunicação como
jornais, telégrafos, telefones e outros instrumentos prospectam solidez e estabilidade
entretanto são coopartícipes de engendros que produzem desperdícios e devastação em seu
entorno.
De acordo com a autora, apesar de este contexto não ser um fenômeno meramente
técnico,
[...] marca a passagem mais clara entre o passado e o presente da história da
arquitetura, sem a qual é impossível pensar o nascimento do Movimento Moderno.
[...] como emblemática da época: as pontes de ferro, as grandes coberturas de ferro e
cristal, os grandes edifícios com esqueletos metálicos. (MASCARÓ, 2005)
A descoberta da energia elétrica e sua publicização regular (1882), segundo
Banham, (1975), dá origem a maior revolução ambiental da história humana que se tem
menção, desde a domesticação do uso do fogo. A conjugação entre arte e a tecnologia em
relação à luz frontalmente rechaçou tudo o que remetia ao escuro, a sensação de algo
abarrotado e/ou sufocante. O uso da iluminação artificial – a luz produzida pelos humanos
determinou os fins e designs na arquitetura para o século XX.
De forma célere, em menos de meio século o Movimento Moderno impôs ao
ambiente circundante edifícios como que umas caixas de vidro semi-transparentes. Estes
incindiam em desperdícios de energia por questões térmicas, assim como a supressão da
iluminação artificial durante a noite. Se apresentando como uma das máximas da
modernidade, não consideravam aspectos importantes na sua construção como os sociais,
humanos e/ou estéticos. Frutos de pseudo soluções engenhosas geradas no período pós-guerra
denunciavam um gritante desencontro entre a arquitetura e a iluminação, entre a arte, a
funcionalidade e o respeito e integração ao meio ambiente.
A luz, que na Idade Média era a fiel aliada da arquitetura em trazer aos espaços
sagrados públicos a sensação e presença e onipresença do divino e nos privados luminosidade
com suficiente incidência para atividades domésticas – nichos de particular beleza e sentido,
agora no Movimento Moderno se percebe aprisionada e/ou relegada em suas contribuições e
utilizações históricas.
O tubo fluorescente para iluminação artificial (final da década de 1940) com outras
lâmpadas de descarga de gás já presentes no início do século XX trouxeram a possibilidade de
propor outras organizações arquitetônicas nos espaços, buscando conjugar beleza, economia e
praticidade. A década de 1980 avança nessa direção e seu desafio é buscar um compromisso
entre o rendimento e a qualidade da cor. O setor da iluminação se apresenta em franco
desenvolvimento e a a arquitetura à procura de seus paradigmas e emblemas (MASCARÓ,
2005).
5. Conclusão
Para Lúcio Costa, arquiteto brasileiro de renome internacional, “[...] risco é desenho
não só quando quer compreender ou significar, mas ‘fazer’, construir. (...) o risco - o traço é
tudo, tem carga, é desenho com uma determinada intenção - é o design” Os antigos
empregavam a palavra “risco”, significando projeto como, por exemplo: o “risco para a
capela de São Francisco” (COSTA, 2001, p. 39).
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Nesse sentido, o “risco” passa a exigir traços que, embora inseridos numa
transitoriedade histórica própria, reflitam e projetem com ética e responsabilidade a
intencionalidade de cada trabalho, cada obra. Ao investigar em diferentes períodos históricos
as relações estabelecidas entre a luz (sob as mais diferentes formas e procedências) e os seres
humanos, pôde-se perceber diferentes abordagens, intencionalidades e utilizações nas
conjugações e relações estabelecidas.
Heráclito trabalhou o elemento da luz para fundamentar o seu pensar a respeito das
origens das coisas ou dos entes naturais. Platão, outro filósofo grego da Antiguidade, no mito
da caverna apresenta como eixo central e grandeza a luz, que liberta os humanos das sombras
e do desconhecido lhes trazendo sabedoria. Na mitologia grega Prometeu ousou furtar o fogo
(luz) dos deuses para que os humanos pudessem se diferenciar dos animais e resguardar sua
posição.
O período das luzes – Iluminismo, o amplo movimento cultural pós-medieval trouxe
luz ao obscurantismo que com suas trevas cobria a humanidade. Conhecimento, ciência e
educação foram as armas usadas para a construção de uma outra época. Na investigação de
algumas religiões pôde-se perceber que elas apresentam uma vinculação marcante entre a luz
e vida, escuridão e morte eternizadas em grandes obras arquitetônicas.
Construções milenares como os Templos dos Povos Astecas, Egípcios, Budistas,
Cristãos, Islâmicos, entre outros, onde a luz pode ser associada a poder, força, geração de
vida, contemplação e/ou representação maior de divindade revelam o compromisso, ética e
responsabilidade do “risco”, que vem refletir na carga de seu traço o design da
experiência/mensagem espiritual e cultural de um grupo ou povo.
Neste sentido, enquanto profissionais na área da arquitetura humana, que em seu
devir cotidiano articulam as conjugações entre arte e técnica, funcionalidade e estética,
sensações e significados, indaga-se:
Quais seriam os paradigmas e emblemas da arquitetura na atualidade contemporânea
brasileira onde os interesses do capital priorizam e consequentemente direcionam a ocupação
dos espaços utilizados pelos humanos?
Onde peregrinariam a íntima relação entre a luz e arte vivenciada pelo grandes
mestres da arquitetura e registrada na forma de obras arquitetônicas de inigualável nos
diferentes espaços e culturas humanos?
Para Mahfuz (2006), se a meta da arquitetura é ainda criar espaços emocionalmente
benéficos deve-se, pelo menos, minimizar o seu envolvimento com tendências e modismos
superficiais. A arquitetura deve voltar a explorar relações entre os edifícios e o mundo para
que os habitantes possam transcender as circunstâncias da vida e conectá-las as forças vitais
da natureza.
Buscar criar relações mais intensas, éticas e responsáveis entre os espaços e
necessidades que o ser humano habita e os aspectos essenciais e permanentes do mundo em
que se vive, de modo especial a luz natural, deve ser objeto e tarefa dos humanos e da
arquitetura na contemporaneidade.
Neste contexto, urge um novo desenho, outras práticas e novos diálogos que desafiem
e mobilizem igualmente todos os envolvidos com projetos e ações que envolvam os espaços –
lugares de lazer, devir, contemplação, enfim, de vida dos humanos.
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