Revista CR_Maratona de Londres
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Revista CR_Maratona de Londres
LÁ FORA Renato Mendes (enviado especial) Na largada, um grupo de primeira linha da elite mundial de maratonistas: Paul Tergat (1), Haile Gebrselassie (2), Stefano Baldini (3), Khalid Khannouchi (4), Jaquad Gharib (5), Felix Limo (6), Hendrick Ramaala (7), Marilson dos Santos (8), Abderrahim Goumri (9), Meb Keflezighi (10) e Ryan Hall (11) 1 2 3 5 4 6 8 9 7 10 11 27ª MARATONA DE LONDRES A 27ª Maratona de Londres, dia 22 de abril, foi uma das edições mais quentes, com a temperatura chegando a 21Cº ao meio-dia, o mesmo calor recorde registrado na edição de 1996, com a taxa de umidade em torno de 40%. Tal fato fez com que um plano de contingência fosse acionado pela organização, no sentido de abastecerem os 23 pontos de entrega de lí- 18 Contr a-Relógio MAIO 2007 quidos, com 27.600 garrafas de água cada - quantidade 10% superior aos cálculos iniciais, para serem consumidas pelos 36.500 participantes. Os efeitos da temperatura também foram notados nos postos de assistência médica, que registraram um alto número de atendimentos a corredores com problemas de esgotamento físico e desidratação. O calor atípico do início da primavera aqui no hemisfério norte fez com que a prova fosse uma grande festa, com uma platéia enorme em boa parte do percurso. A primeira impressão sobre a torcida inglesa é de que sem o seu suporte, muitos corredores não completariam a prova. O pelotão de elite não foi tão afetado pelo calor, pois as principais posições foram ocupadas por atletas habituados a temperaturas mais altas. O queniano de 29 anos, Martin Lel, venceu a prova com o tempo de 2:07:41, seguido pelo marroquino fotos onedition / divulgação Na Maratona de Londres são muitos os participantes fantasiados, alguns exageradamente Abderrahim Goumri, em 2:07:44 (estreante na distância!), e pelo queniano vencedor em Londres no ano passado, Felix Limo (2:07:47). Depois vieram o marroquino Jaquad Gharib (2:07:54), o sul-africano Hendrick Ramaala (2:07:56), Paulo Tergat (2:08:06), o norte-americano Ryan Hall (2:08:24) e Marilson Gomes dos Santos (2:08:37). O 9º colocado só chegaria quase 6 minutos depois. O etíope Haile Gebrselassie, um dos atletas favoritos à vitória, saiu da prova na 19ª milha com dores que o impediam de respirar. “Não estou machucado; foi somente esta dor que eu senti no estômago; também não foi o calor, algo correu mal e não sei explicar o motivo” informou o atleta. Também abandonaram o norte-americano Khalid Kannouchi (duas vezes recordista mundial de maratona) e o italiano Stefano Baldini (ouro em Atenas). As expectativas de Marilson dos Santos e de seu treinador Adauto Domingues foram atingidas com o 8º lugar e o tempo de 2:08:37, melhorando em 11 segundos seu recorde pessoal, que era 2:08:48 em Chicago 2004. Em entrevista para a CR, Marilson e Adauto falam sobre o Pan-Americano, e o treinador já menciona os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, como uma meta exeqüível. (ver nas páginas seguintes) A prova feminina foi vencida sem ameaças por Chunxiu Zhou, com o tempo de 2:20:30 (5o melhor em Londres), primeira atleta chinesa a ganhar em Londres. Em segundo lugar, a etíope Gete Wami, com o tempo de 2:21:41 e em terceiro a romena Constantina Tomescu-Dita, com 2:23:55, que após cruzar a chegada necessitou de ajuda médica, pois sofria de fortes dores no estômago. Americano é destaque. A perfor- mance do norte-americano Ryan Hall foi o fato mais marcante da maratona londrina. Mesmo tendo conseguido quebrar o recorde nacional de meiamaratona em janeiro, com 59:43, Hall estava estreando na distância e ninguém esperava que ele se mantivesse no pelotão dianteiro, na segunda metade da prova, em função do altíssimo nível dos participantes. Com um corpo que foge ao padrão de maratonista de elite, ou seja, não extremamente magro, Hall foi até perto do final junto com os ponteiros, só “sobrando”, junto com Marilson, nos últimos 3 km. Com 2:08:24, Hall faz o segundo melhor tempo norte-americano da história, só superado pelo recorde mundial de Khalid Khannouchi (marroquino que se naturalizou) de 2:05:38 em Londres 2002. MAIO 2007 Contr a-Relógio 19 LÁ FORA Marilson e Adauto, tendo ao fundo a famosa Tower Bridge sobre o rio Tamisa, km 20 da maratona Entrevista ADAUTO DOMINGUES Como está acontecendo a preparação do Marilson para o Pan, após ter participado da Meia de Lisboa e ter corrido a Maratona de Londres? Qual a próxima etapa de treinos? Nós temos alguns objetivos para os próximos dois anos. O primeiro deles é um grande sonho, a participação do Marilson nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. A idéia inicial era somente participar, hoje almejamos conseguir um grande resultado na maratona. Talvez o melhor resultado da vida dele seja ganhar o ouro olímpico; entretanto, se ganhar prata não vou chorar por isso, lhe garanto. Se for bronze ou estar entre os 10 primeiros será ótimo também. Nós temos outros compromissos intermediários, e o Pan-Americano faz parte disso, onde esperamos uma medalha de ouro nos 10.000 m. Depois da participação no Pan, cumpriremos alguns compromissos, e então teremos outras provas pela frente que nos ajudarão a focar Pequim 2008. Vocês optaram pelos 10.000 m, ao invés da maratona no Pan do Rio, para poupá-lo? O Marilson conseguiu ao longo do tempo uma boa performance. No ano passado ele fez 27:48 nos 10.000 m e com este resultado acho que ele consegue vencer o Pan, ou ficar entre os 3 20 Contr a-Relógio MAIO 2007 melhores tempos. Se eu tenho a possibilidade de poupá-lo e fazer com que ele ganhe uma prova que não seja uma maratona, eu crio uma expectativa de descanso natural. E em contrapartida o Brasil tem outros corredores que podem vencer esta maratona do Pan, e não podem vencer os 10.000. Acho que o Marilson é único nesta prova. Em função de nós tentarmos, através da Confederação, buscar o maior número de medalhas do Brasil em jogos Pan-Americanos, este deslocamento dele para os 10.000 segue na direção desta estratégia. Consigo ter um atleta que possa vencer os 10.000 e que abra uma porta para que um outro possa ganhar a maratona. “Eu acho que se ele estiver em condições de imprimir seu ritmo, ele tem condições de vencer” Adauto Domingues, sobre as possibilidades de Marílson no Pan Quais são os principais pontos de atenção no treinamento do Marilson? O que é mais importante na preparação para o Pan? Daremos foco para as provas mais curtas; ele tem uma boa capacidade aeróbica, em função do muito volume de treinamento. Tenho que dar uma incrementada no poder de ritmo dele, para que seja um pouco mais rápido, para que consiga fazer trabalhos um pouco mais velozes dos que já vinha fazendo. Eu acho que não será uma mudança muito difícil. No ano passado ele se saiu muito bem nessa mudança, e eu acredito que este ano também não teremos nenhuma dificuldade. Como o atleta reage a estes ajustes no treinamento? Para o Marilson isto não é um problema, mesmo porque não fazemos mudanças bruscas de trabalho. Diminuo um pouco o volume de treino, ou seja, ele pode estar fazendo 210 km por semana e passa a correr 180, e dou uma incrementada no trabalho rápido de pista. Até porque, se tivesse que fazer uma alteração muito brusca visando o Pan, eu não faria, porque tenho como objetivo maior a maratona olímpica. Quantos profissionais estão envolvidos na preparação do Marilson para o Pan? Um fisioterapeuta, uma nutricionista, os médicos da equipe, e a esposa dele que é fundamental. Somos um grupo de 6 pessoas. Em sua opinião quais serão as maiores dificuldades que o Marilson irá enfrentar nos 10.000 m do Pan? Podem surgir dificuldades, pois temos notícias de alguns atletas que melhoraram muito do ano passado para cá. Trata-se de uma prova de pista e o Marilson é um atleta que não é muito rápido na parte final, e isso sempre gera uma expectativa muito grande porque se alguns atletas o acompanharem até o final, ele terá dificuldade em vencer. Eu acho que se ele estiver em condições de imprimir seu ritmo, ele tem condições de vencer. fotos renato mendes maratona de londres Marilson chega para seu recorde pessoal e para confirmar sua presença na elite mundial de maratonistas em comparação com o último Pan, de Santo Domingo, onde fui bronze nos 5.000 e prata nos 10.000 metros. Como você costuma estar antes de entrar em uma prova? Sou bem tranqüilo com relação a isso, mas não vou dizer que não tenho uma ansiedade; é normal antes da competição. Mas eu venho me adaptando bem, correndo boas provas, grandes e de nome, e tenho conseguido ficar sem tensão e isso é muito importante. O que evita fazer antes de uma corrida? Entrevista MARILSON DOS SANTOS Há quanto tempo você trabalha com o Adauto Domingues? Há catorze, desde os quinze anos de idade que eu treino com ele, desde as categorias menor e juvenil; é um trabalho de longo prazo. Como vocês se conheceram, em quais circunstâncias? Comecei a treinar em Brasília com doze anos de idade, e com quinze me transferi para São Paulo, na época para o Clube de Atletismo do SESI de Santo André. Chegando lá eu comecei a treinar com outro técnico e ele infelizmente não deu sorte e teve que sair. Três meses depois que eu cheguei e desde então, passei a treinar com o Adauto. Como é ser treinado pelo Adauto? Ele sempre foi um técnico com quem eu gosto de trabalhar, porque ele deixa o atleta bem à vontade, ele faz as planilhas de treino e acompanha alguns quando é possível. Ele é o tipo de técnico que aceita opiniões; acabou dando certo e eu estou feliz com o trabalho que vem sendo realizado e espero continuar por muitos anos. Ainda sobre os trabalhos que estão sendo realizados, como foi a sua preparação para a Maratona de Londres? Eu fiquei 28 dias na Colômbia antes da Meia de Lisboa, numa altitude a 2.600 m, depois competi em Lisboa. Continuei o treinamento em São Paulo, mesmo porque seria mais fácil a adaptação. E o que você espera conseguir no Pan-Americano? Muitas pessoas no Brasil pensam que vai ser uma competição fácil, mas não será. Minha expectativa é de ganhar alguma medalha; se não conseguir é porque não melhorei os meus resultados, Os brasileiros em londres (Tempos oficiais) MARILSON GOMES 02:08:37 DIMAS A. FERREIRA 04:06:32 CONCY M. CALDEIRA 04:55:48 SERGIO P. QUARESMA 03:29:46 SERGIO RENAULT 04:17:11 ANTONIO M. KINA 05:22:30 JUNIO OLIVEIRA RODRIGO C. BARBOSA ROBSON FERRIGNO ARNALDO HOSSEPIAN JR WALDIR SANTOS CLAUDER DINIZ VANIA S. CALVO LUIZ CESAR GARCIA PAULO R. MENDONÇA 02:42:42 03:03:20 03:32:51 03:49:34 03:51:23 03:53:36 03:59:16 04:00:30 04:02:11 SERGIO R. SCHIRATO CARLOS A. FREITAS TELMA M. MENDES ADEMIR A. SICA FRANCISCO E. GUIMARAES MARCELLO MANZI FERNANDO A. SOEIRO ALCIDES FERREIRA MARIA TERESA M. CALDEIRA 04:08:09 04:10:12 04:19:39 04:25:21 04:29:22 04:37:37 04:46:45 04:50:51 04:52:02 CHENG H. P. GUIMARAES JAYME M. BYDLOWSKI DENISE F. AMARAL JOEL CRUZ TERESINHA J. DOSSIN VANIA M. SOEIRO MARCIA S. UCHOA ELIZETH M. CANDIDO 05:10:36 05:18:17 05:23:33 05:23:33 05:23:48 05:49:06 06:27:24 06:38:56 A coisa mais importante é você não sair da sua rotina, não tentar adaptar nenhuma situação, e manter sua disciplina nos treinamentos. Transmissão pela TV é um horror Mesmo com a participação de nosso articulista Lauter Nogueira, comentando o desenrolar da prova, a transmissão da Maratona de Londres pela SporTv foi um horror, por culpa exclusiva da Tv inglesa responsável pelas imagens. Praticamente nada foi mostrado da multidão participante, uma das características fundamentais das grandes maratonas e que em Londres é mesmo impressionante. A largada da elite feminina (bastante “inchada”, com corredoras de mais de 3 horas...) acontece 45 minutos antes da principal e, como não podia deixar de ser, acaba ficando restrita a pouquíssimas participantes na liderança depois da metade da prova. Mesmo assim, a Tv insistia em dar o mesmo tempo para as primeiras e o grupo que disputava a prova masculina, onde estava a fina flor da elite internacional. Pior ainda foi no final, quando o pelotão se aproximava da chegada, sem qualquer definição de quem ganharia, e a transmissão acompanhava a 12ª chegando, a 13ª... Irritante! (Tomaz Lourenço) MAIO 2007 Contr a-Relógio 21
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