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Maior painel de grafite do Rio de Janeiro, assinado pelo artista Toz, localizado na sede da Lojas Americanas e da B2W Digital
ED. 01 - 2013
VIDA NAS
CIDADES
onde os excessos se encontram
Retranca
retranca
Roberto DaMatta
“O meio urbano se
desenvolve para
um lado, mas em
contrapartida, deixa
seus espaços, a cidade
tem luz e tem sombra.”
Roberto DaMatta, antropólogo,
conferencista, colunista e um pensador
sobre os diálogos urbanos que traçamos
cotidianamente no Brasil. A frase foi
retirada de uma entrevista concedida
ao jornal O Fluminense de sua cidade
natal, Niterói, na qual problematizava
os espaços possíveis das cidades.
EXPLORE
A revista Pense foi projetada para que você possa refletir sobre
o mundo atual em diversas plataformas. Baixe nosso aplicativo
“IBM Pense” na App Store ou no Google Play para seu tablet,
acesse a comunidade da revista no Connections para compartilhar sua opinião com outros IBMistas pelo link bit.ly/ibmpense ou siga o nosso blog: http://revistapense.wordpress.com.
3
Insight
nesta edição
Por que é tão
difícil parar
para pensar?
Rodrigo Kede
Presidente da
IBM Brasil
#01
Pensei bastante em qual seria o tema ideal para a primeira edição da
nossa nova revista Pense que substitui a revista IBMista, depois de 40
bem-sucedidas edições. O próprio nome da revista é sugestivo: “pense” é a tradução de “THINK” - mais do que uma palavra, um slogan
e uma marca muito usada pelo nosso fundador Thomas Watson, até
mesmo colocada em famílias de produtos, como nossos ThinkPads.
Por trás desta palavra existe uma grande mensagem. Thomas
Watson tinha uma frase célebre que dizia: “Todos os problemas do
mundo poderiam ser solucionados facilmente se os homens estivessem dispostos a pensar. O problema é que os homens frequentemente recorrem a todo tipo de artifício para não terem que pensar, porque
pensar é muito trabalhoso”. Apesar de ter sido dita há mais de 50
anos, essa frase nunca foi tão atual. Gosto tanto do slogan e da frase
que pedi pra estampá-la em diversos murais, paredes e painéis dentro
das nossas instalações.
A revista IBMista lançada em 2006 deu voz ao nosso time e levou a
todos a oportunidade de vivenciar a cultura da empresa, inclusive aos
familiares e aposentados. A IBMista criou um importante espaço de
convívio entre estes públicos e nos preparou para uma iniciativa ainda
mais audaciosa: a revista Pense.
A nova revista tem o objetivo de ir além e estimular um ambiente
de colaboração e reflexão. A cada nova edição, teremos um tema
central. A revista terá mais páginas, mais conteúdo e será multiplataforma, isto é, poderá ser vista também no seu tablet. Vamos instigar
os leitores, IBMistas ou não, a questionarem e entenderem como a
tecnologia pode e vai mudar o mundo. Para viver num planeta mais
inteligente será necessário que as pessoas pensem e reflitam sobre
soluções que resolvam os problemas do dia a dia das empresas,
instituições e da sociedade.
Esta primeira edição traz as cidades como tema central. As metrópoles são hoje pólos de pesquisa e desenvolvimento, inovação, cultura
e lazer mas ao mesmo tempo se tornam uma fonte de problemas
crônicos como trânsito, violência, poluição e abastecimento. Nós da
IBM temos como uma de nossas grandes missões ajudar a tornar as
cidades mais inteligentes, endereçando todos esses assuntos através
do uso da tecnologia avançada e de processos de gestão.
Eu cresci no Rio de Janeiro, morei em Nova Iorque e estou há mais
de 10 anos vivendo em São Paulo, cidades com DNAs diferentes e
com muitas qualidades. Porém, com muitos problemas em comum.
Esta edição tem o objetivo de levar todos a parar para pensar sobre
esses problemas e o que nós, da IBM, estamos fazendo para tornar
a vida nas cidades mais inteligentes. Como consequência, que nós
possamos aproveitar melhor as qualidades de cada uma delas.
Folheando estas páginas ou lendo no seu tablet, conheça os temas
propostos, explore o mundo por outros olhares e reflita sobre como
você pode fazer diferente. Pense conosco!
Abraço,
Rodrigo Kede
Muros que aproximam
Grafite
Nas pichações do metrô de Nova Iorque surgiu Keith Haring. Nos tapumes de Manhattan foram
revelados os primeiros trabalhos de Basquiat. Nas ruas de São Paulo nasceram os Gêmeos,
fazendo da cidade a tela para seu universo colorido e melancólico. A metrópole descascada encurtou o caminho entre o talento destes artistas e as ultravigiadas salas dos museus. A cidade,
portanto, cria atalhos, converge, agrega.
Nesta edição da revista
Pense trazemos alguns
dos artistas mais
conhecidos dos muros das
cidades do Rio de Janeiro
e de São Paulo.
A primeira edição da revista Pense celebra o encontro do homem com o espaço urbano. Um lugar
no qual a criatividade humana se impôs à natureza. E trouxe problemas que parecem insolúveis
como o trânsito, a violência e a poluição. Mas que podem ser contornados com participação,
mobilização, educação e com as infinitas alternativas que a tecnologia de hoje nos oferece.
Os grafites da matéria de capa, assinados por dois dos maiores grafiteiros brasileiros da atualidade, registram este conflito entre as limitações e as possibilidades urbanas. E sintetizam a ambiguidade própria das cidades: locais onde o muro que separa casas é o mesmo que aproxima os
cidadãos da arte - até então confinada a sofisticadas galerias.
Este é o propósito da revista Pense. Aproximar pessoas e pensamentos. Nesta e nas futuras
edições convidamos você a conhecer, a explorar e a refletir sobre o mundo em que vivemos: esse
mundo que nós, como IBMistas, estamos ajudando a tornar mais inteligente.
Toz (capa e destaque da
matéria de capa)
e William Mophos
bit.ly/williammophos
(esta página e matéria
de capa) são filhos
da realidade urbana
e representam aqui a
expressão da arte das ruas.
Seja bem-vindo. Conheça, explore, reflita: pense!
5
índice
Olhares
EXPEDIENTE #01
ANO 1 - JULHO ‘13
www.ibm.com/br
[email protected]
A revista Pense é uma publicação
trimestral da IBM Brasil
6 Olhares
IBM Brasil:
Presidente: Rodrigo Kede
Esta edição contou com os pontos de vista de:
1
2
1. Gaston Sandoval
O IBMista equatoriano que
hoje vive na China revela seu
encanto pela hospitalidade de
Curitiba, no Paraná
3
2. Alexandre Lafer
Defensor da qualidade de vida
sem trânsito, é engenheiro e
autor do livro Como Viver em
São Paulo Sem Carro
3. Katia Pessanha
Convidada para a coluna
Ponto Final, a IBMista Katia
Pessanha alerta para a
extinção da gentileza nas
grandes cidades
Diretor de Marketing e Comunicação:
Mauro Segura
Diego Sanchez Gallo e sua missão:
pensar em soluções colaborativas
para os problemas da cidade
Comunicação Invitro:
10 Horizontes
Publisher: Bruno Chaves
Coordenação Editorial: Carla Uyara
O equatoriano que hoje vive em
Xangai fala de suas descobertas
sobre Curitiba
Editora: Françoise Terzian
Jornalista Responsável: Françoise Terzian
(MTB 28849)
26 Crônica
Repórteres: Jocelyn Auricchio e
Regiane de Oliveira
Projeto Editorial: Comunicação Invitro
Projeto Gráfico: Maysa Simão
16 a 25
Capa
Vida nas Cidades: é melhor fazer as pazes
com a metrópole do que tentar domesticá-la
Designer Responsável: Maysa Simão
Tratamento de Imagens: Vitor Gonçalves
Ilustrações: Filipe Carvalho e
Renan Cardoso
Toz
Confira mais fotos do
trabalho do grafiteiro
em sua página do
Facebook.
8 Nossa Cara
Conselho Editorial: Flávia Apocalypse [email protected], Camila Della Negra
- [email protected] e Giulia De Marchi
- [email protected]
Designers Assistentes: Hugo Peres e
Isadora Marzano
Grafite de Capa
Conheça quem pensou esta
edição com a gente
Fotografia: Ariel Martini, Daniela
Toviansky e Felipe Varanda
Editora Tablet: Renata Kuhn
Revisão: Gabriel Bruno
Gráfica: Igil
Tiragem: 19.000 exemplares
bit.ly/tozrj
Mantenha o planeta limpo
28
Entrevista
A realidade da favela
paulista de Paraisópolis
pelo olhar do líder comunitário Joildo Barreto
30
Memória
Wanderley Augusto
testemunha 20 anos
de transformações nos
arredores da IBM Tutóia
Abrir mão do carro é um luxo? Sim,
conta Alexandre Lafer Frankel
34 Bastidores
Arquitetos renomados colocam sua
criatividade a serviço da IBM em
diversos prédios pelo mundo
38 Top 5
Boas ideias que vêm melhorando
a vida nas cidades
40 Techmob
IBMistas dão dicas tecnológicas
para quem quer aproveitar o que
as cidades têm a oferecer
42 Ponto final
Uma reflexão sobre a cordialidade
perdida nas metrópoles
7
Nossa Cara
foto: Ariel Martini
Nome:
Diego Sanchez Gallo
Profissão:
Engenheiro da computação
Cargo:
Pesquisador
Local:
IBM Research Brasil (Tutóia)
Projeto:
Citizen Sensing
Pesquisador do grupo de
sistemas humanos inteligentes, Diego Sanchez
Gallo – que trabalhou no
projeto do supercomputador Blue Gene e no
grupo de multimídia IBM
no laboratório de Watson
– acredita que a tecnologia
deve ter um impacto positivo na qualidade de vida
dos indivíduos. Em seu
projeto atual, Gallo pensa
como as cidades podem
ser melhoradas com
soluções tecnológicas não
intrusivas, como o uso dos
sensores dos smartphones
para alimentar uma grande
inteligência artificial.
Por meio de um aplicativo
chamado Citizen Sensing,
o cidadão colabora com
outras pessoas, compartilhando voluntariamente o
que acontece na cidade,
como congestionamentos e enchentes. Esse
mapeamento colaborativo
ajuda na composição de
modelos de análise urbana
e também dá voz aos
pedidos da comunidade.
“A ideia é que as cidades
prevejam as necessidades
das pessoas, melhorando
a locomoção e a qualidade
de vida. A IBM tem contribuído em vários pontos
na melhoria da vida das
pessoas”, conclui.
9
Horizontes
Baixe o aplicativo da revista Pense no
seu tablet (para Android ou iOS) e veja
mais fotos registradas por Gaston em
Curitiba e em sua cidade adotiva, Xangai
Curitiba tem 15 parques, 21
bosques e a maior concentração
de área verde do país
Texto e fotos: Gaston Sandoval
Curitibano
por três
semanas
O olhar de um IBMista radicado
em Xangai sobre a capital do
Paraná, uma das cidades mais
desenvolvidas do Brasil
A oportunidade de participar do projeto Smarter Cities Challenge em Curitiba foi o grande destaque ao longo de toda a
minha carreira na IBM. Antes da visita, eu tinha uma vaga ideia
de Curitiba como modelo de planejamento urbano para outras
cidades da América Latina. Depois que cheguei e após interagir
com os líderes locais de planejamento urbano, tornou-se muito claro na minha cabeça que Curitiba era muito diferente das
várias outras cidades da América Latina. Curitiba não tem exatamente o objetivo de atender os serviços básicos da cidade, até
porque a cidade já tem um bom controle sobre eles.
O que Curitiba quer e busca são formas avançadas de conduzir um desenvolvimento econômico e social harmônico, que
possa promover a inovação e cocriação de soluções à cidade
com alto grau de participação da comunidade. A cidade busca,
cada dia mais, estabelecer padrões muito elevados que pos-
Gaston Sandoval é equatoriano,
trabalhou durante anos na IBM dos
Estados Unidos e hoje vive em Xangai,
na China, onde atua como diretor
de marketing digital da IBM para
mercados em crescimento.
sam atrair e reter talentos para viver e prosperar por lá. Um
exemplo que realmente me impressionou muito foi seu foco
na gestão de indicadores-chave de desempenho, capazes de
medir o nível de felicidade na cidade.
Curitiba, definitivamente, quer competir neste mundo acelerado, globalizado e plano. Contudo, é um lugar que vai além
da preocupação e busca incessante por uma economia de escala
– aquela em que se busca a maior eficiência ao menor custo.
O que se procura ali é o desenvolvimento de economias de
expertise ou especialização, como a competição em indústrias
de alto valor agregado e oferta das melhores condições para
que talentos desembarquem na cidade e aflorem em Curitiba.
É por isso que eles prestam tanta atenção a fatores como “espaço verde por habitante”. Este, por sinal, vem crescendo na
capital do Paraná.
Saiba mais sobre o projeto Smarter Cities
Challenge na matéria de capa a seguir
11
Horizontes
Confira os índices que
tornam Curitiba uma
das cidades com mais
áreas verdes do mundo:
A ONU recomenda que as
cidades tenham, no mínimo,
18
de área verde
m² por habitante
O índice de área verde
em Curitiba, capital do
Paraná, é de
64,5
m² por habitante
451
14
1000
praças
florestas
Curitiba contabiliza:
21
15
parques
Mais verde
por habitante
O índice de área verde em Curitiba,
capital do Paraná, hoje é de 64,5 metros quadrados por habitante ante os
51,5 metros quadrados registrados
pela cidade em 2000, segundo cálculos da Secretaria Municipal do Meio
Ambiente. Nos últimos 10 anos, as
áreas de cobertura vegetal da cidade
passaram de 18% para 26%. Toda esta
área transformou a cidade na “capital
verde do Brasil” e uma das mais verdes
do mundo, um exemplo internacional
de planejamento urbano que prioriza
a natureza. A ONU (Organização das
Nações Unidas) recomenda que as cidades tenham, no mínimo, 18 metros
quadrados de área verde por habitante.
“As cidades não são o problema, mas a
solução”, afirmou uma vez o urbanista
e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner,
em uma de suas mais célebres frases.
espaços públicos verdes
bosques
Do ponto de vista pessoal, eu posso dizer que fiquei impressionado com todos os curitibanos que conhecemos.
Todos foram amigáveis, acolhedores e sempre preocupados
em nos proporcionar uma experiência positiva. Foi uma
experiência sobre ser feliz! Em Curitiba também achei interessante a forma como as pessoas valorizam os alimentos saudáveis e frescos e sempre buscam uma oportunidade
para socializar. A vida noturna na cidade é incrível e nós
realmente desfrutamos das visitas a alguns bares de samba.
Em especial, destaco o Aos Democratas Bar e Restaurante
e o Bar Acadêmicos do Salgueiro. São lugares fantásticos!
Há muito para se aprender em Curitiba, no resto do Brasil
e em toda a América Latina, especialmente em torno de
seu planejamento de longo prazo e execução consistente.
Os níveis de segurança, a qualidade de vida e o sentimento
de orgulho em “ser curitibano” associados ao trabalho de
proteção e desenvolvimento da cidade formam uma combinação engrandecedora.
Ópera de Arame, cartão-postal de
Curitiba, foi construída em estrutura
tubular e teto transparente
“Curitiba quer competir
neste mundo acelerado
e globalizado. A cidade
busca se tornar competitiva em indústrias de alto
valor agregado”
As três semanas que eu tive de experiência em Curitiba, trabalhando com as autoridades da cidade e meus colegas IBMistas,
e os poucos dias extras que passei no Rio de Janeiro com a
minha esposa, realmente me mostraram que o Brasil é cheio
de energia, com fome de crescimento, competindo agressivamente e desempenhando um importante papel na economia
global. A preparação para a Copa do Mundo, no ano que vem,
e os Jogos Olímpicos, em 2016, serão um marco importante
para mostrar ao mundo a nova cara do Brasil. E eu estou confiante de que esses eventos esportivos irão potencializar ainda
mais o progresso social e econômico do Brasil.
Quando eu comparo Curitiba com Xangai, a cidade onde
moro atualmente, enxergo semelhanças. A cidade chinesa é
muito progressista, jovem e cosmopolita. Também é dona de
um plano de desenvolvimento de longo prazo em movimento, que representa orgulhosamente a face moderna da China,
bastante ansiosa para atrair os melhores talentos. O tamanho
é uma grande diferença, mas, embora maior, Xangai demonstra sua capacidade de direção do desenvolvimento em larga
escala, com aeroportos muito sofisticados e modernos, trens
de alta velocidade e eficiente sistema de metrô. Tudo isso sem
falar nas rodovias de classe mundial, um sistema de educação
muito competitivo, dentre muitos outros fatores.
13
Horizontes
“Fiquei impressionado
com os curitibanos que
conheci e com a forma
amigável e acolhedora
com a qual sempre
fui tratado. Foi uma
experiência sobre
ser feliz!”
Eu fui agradavelmente surpreendido com a qualidade de vida
em Xangai, assim como a facilidade de acesso que a cidade
proporciona a praticamente qualquer coisa. No entanto, alguns dos problemas típicos das grandes cidades, como a poluição e os engarrafamentos também são parte da experiência.
A única limitação que você vê na China é a mídia. As mídias
tradicional e digital ainda são controladas e monitoradas
constantemente pelo governo. Redes sociais como Facebook,
Twitter ou mesmo o YouTube são bloqueadas no país. Há,
contudo, alternativas locais, como Sina Weibo (microblog
similar ao Twitter), Renren (uma espécie de Facebook turbinado que ainda permite jogar online e ouvir músicas), Youku
(muito parecido com o YouTube) e Millennials (rede social).
Todos eles chineses, é claro.
Tendo como base a minha experiência nestes dois países eu
chego à conclusão de que a China e o Brasil estão, definitivamente, liderando a corrida entre os mercados emergentes.
Ambos estão se tornando grandes economias globais, com
crescimento em ritmo acelerado. Não só nas indústrias tradicionais, mas também em novas indústrias baseadas no conhecimento de emergentes.
Gaston indica:
imagem de divulgação
Museu Oscar Niemeyer, um traço
de beleza arquitetônica em Curitiba
Aos Democratas
www.aosdemocratas.com.br
Rua Dr. Pedrosa, 485, Batel, Curitiba PR - (41) 3024-4496
Bar Acadêmicos do Salgueiro
Rua Comendador Araújo, 938, Batel,
Curitiba - PR - (41) 3044-2009
15
Capa
Grafiteiro: Toz
17
capa
Cidades possíveis
A metrópole parece cada dia mais caótica,
mas muitos estão modificando hábitos e
reaprendendo a viver melhor com a ajuda da
comunidade e das novas tecnologias
Por Françoise Terzian e Regiane Oliveira
Grafites William Mophos e Toz
“Gostava de estar no campo para
poder gostar de estar na cidade.”
A frase do poeta Fernando Pessoa
fala, sutilmente, das belezas da vida
urbana. A rotina nas grandes cidades pode ter seus encantos quando
vista de fora, porém se torna amarga quando vivenciada em trânsitos
caóticos e cenários envoltos por poluição sonora, visual e atmosférica.
A vida bucólica do interior traz de
volta a paz perdida nas grandes metrópoles, mas também rouba o furor
dos passos descontrolados pelas
agitadas ruas e avenidas, bares, cafés, restaurantes e shoppings. Viver
nas cidades tornou-se a realidade
de 80% da população brasileira que,
por opção ou necessidade, acabou
se concentrando nos destinos de
maior oferta de empregos.
Segundo o urbanista e economista
Anthony Ling, da Universidade Federal do Rio Grande Do Sul (UFRGS),
a concentração populacional em uma
região pode trazer benefícios aos seus
moradores. Um dos principais é o aumento da interação entre as pessoas,
desde o encontro cultural e recreacional entre grupos diferentes até um ambiente de mercado que permite maior
especialização de empregos e surgimento de novas oportunidades de
negócio. “Isso gera um ecossistema
propício para inovação e, assim, uma
atratividade para estas cidades ainda
maior”, explica o economista. “Não
vejo os maiores problemas que enfrentamos hoje nas metrópoles como
culpa da aglomeração em si, mas sim
de políticas urbanas que trazem resultados negativos que são potencializados e se tornam mais visíveis em uma
grande cidade”, conclui Ling.
O desenvolvimento econômico gerou o crescimento desenfreado da
população, da frota de automóveis
e de edifícios que, por falta de planejamento urbano, acabaram trazendo obstáculos para o dia a dia das
grandes cidades. Segundo a psicóloga Rose Barboza, que trabalha
em projetos sobre a violência contra
a população em situação de rua de
Brasília, a “cidade é um espaço de
disputa”. “Não é um espaço parado,
estático, pensado por um projetista.
A cidade é um campo de conflito,
onde está em jogo o direito à cidade”,
conta Rose.
O que ocorre, contudo, é que não
adianta simplesmente reclamar e permanecer de braços cruzados. Viver
bem ou viver mal, em qualquer que
seja a metrópole brasileira ou estrangeira, é uma decisão que depende
Grafiteiro: William Mophos
19
capa
muitas vezes do indivíduo. Mudanças
de hábitos, novas atitudes, engajamento em projetos comunitários e a
utilização das novas ferramentas que
a tecnologia vem trazendo têm ajudado os cidadãos a tirar o melhor do que
as cidades podem oferecer.
Uma dessas mudanças de hábitos é
o chamado “novo urbanismo”, com
bairros multifuncionais, contrário à
ideia de áreas dedicadas a atividades específicas. Essa volta do olhar
para dentro dos bairros tem levado
ao surgimento inevitável de novos
modelos de negócios, a exemplo das
construtoras que passaram a priorizar localidades próximas às estações
de metrô, a trocar a garagem por um
bicicletário e até a construir empreendimentos que reúnem torres de salas
comerciais e apartamentos residenciais em um mesmo local. A vida cada
vez mais concentrada nos bairros
também trouxe de volta um fenômeno do passado. Hoje, no lugar dos
pequenos comércios familiares, o que
se vê é a muliplicação dos mini-mercados conduzidos por grandes bandeiras que gradativamente têm reduzido a expansão dos hipermercados
para acelerar a abertura de centros
de compras menores e, assim, atender aos moradores locais no lugar de
atrair habitantes de outras zonas das
cidades, diminuindo, dessa forma, os
deslocamentos desnecessários.
Ajudar na melhoria da cidade tornou-se,
definitivamente, o lema do século XXI.
Essa é a realidade de dois profissionais: um carioca, Antonio Carlos
Dias, líder da iniciativa de Cidades
Mais Inteligentes da IBM, e outro
paulistano, Rodrigo Bandeira, idealizador da plataforma de colaboração
Cidade Democrática. Ambos, mesmo
que de forma distinta, atuam para
melhorar a qualidade de vida nas regiões onde vivem, assim como têm
feito muitas pessoas que buscam
transformar o entorno do lugar que
escolheram para viver. Nas próximas
páginas você vai saber um pouco
mais sobre o trabalho deles.
Grafiteiro: Toz
Grafiteiro: William Mophos
A tecnologia a
serviço do bem-estar
Cidades inteligentes aprendem
com os anseios de seus moradores
A iniciativa de Cidades Mais Inteligentes da IBM visa oferecer propostas e
soluções tecnológicas para problemas críticos das cidades, como trânsito, segurança pública e infraestrutura, ou seja, transformar a tecnologia
em um meio para tornar as metrópoles mais humanas e habitáveis.
O projeto vem ajudando a mudar a
realidade dos habitantes de diversos
centros urbanos pelo mundo, como
Zhenjiang, na China, Dubuque e Honolulu, nos Estados Unidos e ainda
das cidades brasileiras do Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Em seu trabalho para fazer as cidades mais inteligentes, Antonio Carlos, conhecido como AC, participou
da criação do COR - Centro de Operações Rio, no Rio de Janeiro, um
dos projetos mais audaciosos da
IBM em todo o mundo. Basicamente, o centro integra 30 órgãos públicos que monitoram, 24 horas por
dia, os principais incidentes da cidade, como chuvas fortes e acidentes
de trânsito, por exemplo. “A tecnologia pode ajudar não só a prevenir
enchentes como também auxiliar no
transporte. Podemos, por exemplo,
“O maior
desafio é
aprender a
usar todas as
informações
que estão à
disposição”
21
capa
tornar mais precisas as análises para
prevenir engarrafamentos”, explica.
“Mas o maior desafio é aprender a
usar todas as informações que estão
à disposição, pois isso envolve treinamento dos profissionais e cruzamento
de dados”, conta Guruduth Banavar,
IBMista indiano, um dos responsáveis
pelo desenvolvimento do Centro. O
mérito do projeto da IBM é fazer com
que o Rio funcione como um organismo vivo, de maneira inteligente, onde
o centro de controle de crise é o cérebro, que recebe as informações e
define o conjunto de ações para reagir
ao que acontece na cidade. Aqui, é a
tecnologia que garante a transformação do ambiente urbano.
trabalho de executivos da companhia
de diferentes países do mundo em
parceria com os governos locais. A
escolha de Porto Alegre se deu pelo
fato de a cidade já contar com uma
tradição de participação cidadã na definição de como parte do orçamento
da prefeitura é investida, o chamado
Orçamento Participativo (O.P.). O projeto de transformar POA em uma “cidade cognitiva” engloba a criação de
uma série de ações gerenciadas em
um centro de operações, com profissionais de diversos órgãos da prefeitura para receber, simular, analisar e
organizar informações a fim de avaliar
o impacto antes das tomadas de decisões e ações demandadas pelo OP.
Se a tecnologia promove as mudanças,
estas podem ser muito mais profundas
quando contam com o envolvimento
da população. “Precisamos fazer com
que a cidade se torne cognitiva, isto é,
que aprenda com os acontecimentos
ao seu redor e ajude os governantes a
tomar decisões com base nos anseios
dos cidadãos”, conta AC.
Dias admite que “fazer uma cidade
aprender” é audacioso. Porto Alegre
utiliza softwares que detectam a satisfação da população em relação às
ações do governo, bem como projetos, propostas e notícias. A cidade
conta com um sistema de comunicação direta com os cidadãos, o “Fala
Porto Alegre” (156), que funciona 24
horas por dia. O trabalho de tornar o
Rio e Porto Alegre cidades inteligentes
está só começando, mas AC tem certeza de que os avanços serão rápidos.
Neste ano, Porto Alegre assumiu o
compromisso de se tornar uma cidade cognitiva. A capital gaúcha foi nomeada pela IBM para o projeto Smarter Cities Challenge, que tem como
objetivo auxiliar cidades em seus desafios socioeconômicos por meio do
Grafiteiro: William Mophos
A tecnologia também tem tido grande influência na diminuição de um
dos grandes problemas da cidade
de Nova Iorque: a violência. A IBM
trabalhou com a polícia local para
criar um megabanco de dados que
pudesse reunir todas as informações
guardadas em arquivos metálicos, fichários e notas manuscritas. Hoje, o
RTCC (New York City Real Time Crime
Center) reúne mais de 120 milhões de
queixas criminais na cidade, 31 milhões de registros de crimes nacionais
e 33 bilhões de informações públicas.
Métodos sofisticados de análise de
dados e recursos de busca estabelecem conexões através de múltiplos
bancos de dados. As informações podem ser visualizadas, em segundos,
em uma tela de vídeo: a foto de um
suspeito aparece com detalhes – tatuagens, delitos anteriores, endereços
com mapas – rapidamente. Dados críticos podem ser enviados instantaneamente aos policiais na cena do delito.
O que antes levava dias, agora é feito
em minutos graças à tecnologia.
As transformações trazidas pela tecnologia, no entanto, não se restringem
a grandes iniciativas como Cidades
Mais Inteligentes. Inúmeros aplicativos
para smartphones, alguns bastante
simples, têm facilitado, e muito, a vida
dos moradores das cidades. Falamos
mais sobre eles nas seções Nossa
Cara e Techmob.
Grafiteiro: William Mophos
Atitudes pessoais
por um bem comum
Gente que faz, e faz por todos
A tecnologia tem tido papel fundamental
na transformação das cidades, mas é a
participação das pessoas e de organizações sem fins lucrativos na gestão de
políticas públicas que dá mais inteligência a elas, na opinião de Rodrigo Bandeira da plataforma colaborativa Cidade
Democrática (cidadedemocratica.org.br),
que compreende um site na web, metodologias e processos criados para facilitar a colaboração entre os cidadãos.
Há uma máxima que diz que a vida
só muda quando a gente muda. E
isso Bandeira defende no conceito de
“ecossistema webcidadania”, que tem
como base a inversão de paradigmas.
Isto é, as pessoas deixam de ser indivíduos passivos, sujeitos às decisões
políticas, e passam a ter voz ativa na
defesa de seus interesses.
O Cidade Democrática realiza concursos culturais voltados a desenvolver
soluções inovadoras para temas de
interesse social. A IBM apoia a organização social que está por trás do projeto, oferecendo consultores para ajudar
Amigo dos livros
Recentemente,a organização finalizou
um concurso para a melhoria de um
bairro em São Paulo. “A Pompéia que
se quer” mobilizou mais de 200 pessoas para construir um plano de ação
para o local. O ganhador foi o projeto
Horta Comunitária da Pompéia, que
atua em espaços públicos e terrenos
baldios, com o intuito de aumentar a
socialização entre os moradores com o
plantio de vegetais orgânicos.
O curitibano Alessandro Martins teve
uma boa ideia enquanto tomava café da
manhã na padaria perto de sua casa.
Por que não fazer ali uma biblioteca livre
onde se poderia pegar um livro sem fazer nenhum tipo de cadastro e devolvê-lo quando quisesse? Foi assim, com
este desejo de contribuir para a cultura da comunidade, que ele conversou
com os donos da padaria Pote de Mel
que, rapidamente, abraçaram a ideia e
providenciaram uma estante. “Gosto
muito de ler e vejo que a leitura é uma
forma de se aproximar do outro e de outras ópticas do mundo”, conta Martins.
“Começamos plantando árvores no local
e logo os vizinhos se interessaram, trazendo ferramentas e dispostos a ajudar.
Quando vimos, as reuniões de domingo
passaram a contar com 20 a 30 pessoas. E qualquer um, mesmo que não participe, tem direito a colher os projetos da
horta”, explica Adriano Sampaio, um
dos idealizadores da horta da Pompéia.
Se inscrever no concurso foi uma forma
de aumentar a divulgação e tentar apoio
público para ampliar o projeto.
Seu objetivo com o projeto foi promover a circulação livre de livros, muito
mais do que gerar um acervo. As primeiras obras foram doadas por ele cerca de 50 no começo. Depois ele
passou a abastecer gradativamente
a “biblioteca”, assim como outros frequentadores da padaria que hoje tomam café com leite e comem um pão
na chapa acompanhados, por exemplo, de Clarice Lispector, Fernando
Pessoa e Julio Cortázar.
no planejamento estratégico, no plano
de negócios e no plano de desenvolvimento tecnológico do site.
23
capa
“As grandes cidades
concretaram a
natureza”
A vida em duas rodas
Ao invés de se queixar de congestionamentos, um dos problemas mais recorrentes nas grandes cidades, há pessoas
que adotaram a bicicleta não só como meio transporte mas
também como projeto de vida. William Cruz, um dos mais
famosos ativistas da bicicleta, trocou o emprego na área de
informática para trabalhar integralmente no site Vá de Bike!
(http://vadebike.org/). Desde 2004, Cruz desenvolve e apoia
diversos projetos e ações que visam ampliar a utilização das
bicicletas nas grandes cidades, como o Bike Anjo, Ciclocidade e o Dia Mundial Sem Carro. O ativista também dá palestras
e comanda fóruns sobre mobilidade urbana e bicicletas.
Verde nas alturas
A jardinista Leticia Momesso é outra que aposta nas intervenções em áreas públicas como caminho para se unir
a outras pessoas interessadas em driblar a “vida árida das
cidades”. Ela começou fazendo uma horta suspensa no
muro da sua casa, o que atraiu o interesse e a colaboração
de vizinhos. “Quando pesquisei o assunto, descobri o grupo Hortelões Urbanos, no Facebook, que conecta pessoas
interessadas em fazer hortas comunitárias.”
O fio condutor que une os horteleiros é a melhoria da qualidade de vida. “As grandes cidades concretaram a natureza.
Mas nós também somos natureza, antes mesmo de sermos
cultura ou executivos. E essa desconexão é insalubre. Precisamos resgatar esse contato com a terra”, afirma Leticia.
Grafiteiro: William Mophos
Recentemente, Cruz participou de uma reunião com o prefeito de São Paulo, juntamente a outros ativistas, para apresentar demandas dos ciclistas da cidade. A prefeitura tem
planos de iniciar uma campanha de rádio para sensibilizar a
população sobre mobilidade por bicicletas e Willian será um
dos interlocutores desse processo com a prefeitura.
Cruzada em prol da história
Todos podemos fazer diferença para melhorar a vida em nossa cidade. Esta é a mensagem de Angela Maria Oliveira
Mello, mãe da IBMista Fernanda Fronterotta Bernasconi,
executiva de vendas da IBM, que realizou uma cruzada para
proteger o antigo Hospital Matarazzo (Hospital e Maternidade
Umberto Primo). Localizado no bairro Bela Vista, próximo à
Avenida Paulista, o conjunto de prédios de estilo neoclássico, que começou a ser construído em 1904, foi tombado em
1986, como bem cultural de interesse histórico-arquitetônico.
Grafiteiro: William Mophos
O interesse das pessoas por essa reaproximação com a natureza fez Leticia criar uma empresa, a Peperômia, que auxilia a criar hortas suspensas em pequenos espaços.
Foi graças à organização dos moradores da região que não
veio abaixo no final da década de 1990. “Os edifícios estavam
passando por um processo de destombamento para dar lugar
a um conjunto residencial”, afirma Angela, que na época era
representante da Associação dos Moradores da Bela Vista.
Foram 10 anos de luta na Justiça, que terminou com o sucesso da ação de Angela. O local foi comprado no final de
2012 pelo grupo hoteleiros francês Allard, que teve de negociar com a associação do bairro os termos para conseguir
tocar o projeto. No lugar de residenciais, a empresa prometeu
recuperar as fachadas dos prédios e criar uma grande alameda de serviços, integrada ao bairro, com áreas comerciais,
shopping, hotel, centro cultural, teatro, etc. “A cidade saiu ganhando, porque teve seu patrimônio preservado. Mas se não
cumprirem, voltamos à Justiça”, avisa Angela.
O caminho inverso
Trocar um local que concentra uma população flutuante de cinco milhões de pessoas por uma cidade de 45 mil habitantes não
parece simples para quem vive com as facilidades das grandes
capitais. De olho na possibilidade de melhorar a qualidade de vida
dos filhos de 12 e 7 anos, o IBMista Hector Barbosa, arquiteto
de soluções da IBM, e a esposa colocaram no papel os prós e
contras de mudar de cidade. Foi assim que eles deixaram Belo
Horizonte e foram para Arcos, no Centro Oeste de Minas Gerais.
“Custo de vida, educação, saúde, moradia, trabalho. Balizamos
tudo. E Arcos era a escolha ideal, pois já tínhamos família na reGrafiteiro: Toz
gião.” O fato de Hector trabalhar como mobility – 40% do tempo
em home office e 60% em clientes – foi determinante para a família, que se mudou há um ano e meio. “Morar em Arcos é como
estar em um grande viveiro de pássaros, toda hora você ‘tromba’
com alguém conhecido”, brinca o mineiro.
Para ele, o melhor é que os filhos podem ir ao clube e à escola sozinhos, sem preocupações. “Aqui o ar é diferente, o dia é diferente.
Sou muito grato por poder oferecer esta vida à minha família.”
PENSE: seja convivendo melhor no caos da metrópole
ou diminuindo o ritmo de vida numa cidade pequena,
será que você não consegue fazer as pazes com o lugar
onde mora e viver melhor?
25
Capa
Crônica
capa - crônica
Luxo é
não ter carro
Não dá mais para viver
480 horas por ano no trânsito
Carlos é um homem que se considera bem-sucedido. Casado e pai de
dois filhos pequenos, ele mora em
uma bela casa em um condomínio de
classe média alta na região metropolitana de uma grande cidade, tem um
bom emprego num banco, dois carros importados e pode proporcionar
uma vida sem restrições à sua família.
Carlos sai de casa todos os dias às 6
horas da manhã, já que gasta em média 30 minutos para deixar os filhos na
escola e mais uma hora e meia para
chegar ao escritório, em uma jornada
de pouco mais de 30 quilômetros por
vias abarrotadas de carros. Na volta
para casa, quase sempre depois do
horário do “rush da tarde”, consegue
cumprir o trajeto em uma hora. Todos
os dias, Carlos gasta pelo menos três
horas dentro de um carro, o que tem
feito com que ele venha repensando o
conceito de “bem-sucedido”.
Enfrentar o caos que domina o trânsito nas grandes cidades não é um
privilégio de Carlos. De acordo com
uma pesquisa recente realizada pelo
Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais,
Políticas e Econômicas) para o livro
“Como viver em São Paulo sem carro”, três horas é o tempo médio que
o paulistano gasta apenas para ir e vir
do trabalho. Isso significa 480 horas
por ano, ou três meses de trabalho
em jornadas de 40 horas semanais. É
muito tempo – e um tempo precioso
que poderia ser gasto com a família,
praticando esportes, lendo ou desenvolvendo projetos pessoais. Mas
não. Este tempo é simplesmente desperdiçado em um vai-e-vem sem fim
em meio aos mais de sete milhões de
carros que circulam diariamente pela
capital paulista.
Buscando fugir dessa rotina de estresse, muitas pessoas passaram a repensar o modo como vivem. Morar longe
do Centro tornou-se sinônimo de inferno ou “suburgatório”, como define
o nome de uma série da TV americana. Ainda de acordo com a pesquisa,
65% dos paulistanos estariam dispostos a mudar de casa para morar mais
perto do trabalho e fugir do trânsito.
Entre os mais jovens, entre 25 e 44
anos, este percentual chega a 71%.
Atualmente, o trânsito é apontado por
68% dos moradores de São Paulo
como o principal problema da cidade.
A boa notícia é que a população de
São Paulo está voltando para o centro, atraída por um modelo de cidade
compacta, o “novo urbanismo”.
Através do uso inverso, ou seja, o
lançamento de empreendimentos residenciais em áreas com grande concentração de lajes corporativas e a
construção de escritórios em regiões
estritamente residenciais, os deslocamentos estão sendo reduzidos gradativamente. Já existem em São Paulo
prédios de uso misto, onde profissionais liberais, por exemplo, podem viver e trabalhar no mesmo complexo.
Os próprios prédios estão diferentes.
Hoje é impensável lançar uma torre residencial sem infraestrutura para ciclistas. O mercado exige isso. Em alguns
casos, a preocupação com a mobilidade chega ao ponto de o condomínio
disponibilizar um carro para ser compartilhado entre seus moradores.
A preocupação com o entorno dos
empreendimentos também é crescente e pequenas gentilezas à cidade,
como a construção de minúsculas
praças ou restaurantes abertos ao
público, já começam a aparecer pelas
cidades. Assim como os apartamentos compactos, muitas vezes assinados por arquitetos conceituados, que
aproveitam cada metro quadrado da
forma mais eficiente e possibilitam
uma vida confortável em espaços
menores, mas bem localizados. Esta
é uma tendência em cidades onde o
Colaborou:
Alexandre Lafer Frankel, 35 anos, é
engenheiro e autor do livro “Como
viver em São Paulo sem carro”
mercado imobiliário já é mais desenvolvido – e o metro quadrado mais
caro –, como Nova Iorque, Londres
e Tóquio. Por aqui, ainda é um fenômeno recente, mas que sem dúvida
chegou para ficar.
A vida numa metrópole exige praticidade, e perder três horas por dia no
trânsito não é nada prático. O maior
luxo que se pode ter nos dias de hoje
é morar perto do trabalho e dispensar, por opção, o carro. Muitas vezes
é preciso abrir mão de alguns metros
quadrados. Contudo, os ganhos em
qualidade de vida compensam qualquer esforço. Há pouco mais de um
ano, Roberto, subordinado de Carlos
no banco e seu ex-vizinho de condomínio, mudou-se para um apartamento
menor, próximo ao escritório. Cansado
da vida sobre quatro rodas, trocou o
carro por uma bicicleta, que usa diariamente para ir ao trabalho, num trajeto
de 10 minutos. Com tempo de sobra
para cuidar da vida pessoal, Roberto
nunca foi tão feliz – e hoje virou exemplo de pessoa bem-sucedida para o
chefe Carlos.
27
3
4
5
6
7
8
9 10
fonte: IBGE
2
10.Heliópolis (SP):
41.118
1
Cidade de Deus
(AM): 42.476
O IBGE fez um levantamento com base nos dados do Censo Demográfico
2010 para chegar ao ranking das maiores favelas do país.
Paraisópolis
(SP): 42.826
PENSE: Quando você começou a atuar como líder comunitário?
JOILDO: Comecei ainda na escola a desenvolver projetos
para a comunidade. Isso ocorreu por meio da minha participação no grêmio estudantil. Isso aconteceu porque eu
cresci junto com a comunidade. Quando cheguei aqui, em
1998, em busca de melhores oportunidades, a rua principal
era de terra e as poucas casas, uns barracos de madeira, tinham quintais com árvores, mas sem água e esgoto.
Hoje, não vemos espaços verdes. Em contrapartida, a região conta com 13 escolas, uma Assistência Médica Ambulatorial (AMA), três Unidades Básicas de Saúde (UBS), dois
bancos, uma loja da Casas Bahia, dentre outros pequenos
● 12 milhões de brasileiros vivem
em favelas;
● R$ 56 bilhões é a renda anual dos
moradores dessas comunidades,
o que equivale ao Produto Interno
Bruto total da Bolívia;
● 89% dos moradores já têm telefone celular;
● o número de brasileiros que têm
computadores com internet nas
comunidades saltou de 1% para 31%
nos últimos 10 anos;
● a maior parte das compras realizadas pela população da favela é feita
dentro das comunidades;
● 35% dos habitantes das favelas
passaram a ter ensino médio completo, ante 13% em 2002.
AS 10 MAIORES FAVELAS DO BRASIL
Pirambú (CE): 42.878
Joildo Barreto é a voz ativa dos 43 mil
moradores de toda Paraisópolis
PENSE: De todas as ações que participa, qual é seu trabalho mais importante?
JOILDO: Vencer o preconceito. Paraisópolis ainda é sinônimo de violência. O
SAMU (Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência) tem medo de entrar na comunidade. E por quê? Toda a violência
que acontece nos arredores é atribuída
a Paraisópolis. No jornal e no site nós
costumamos analisar as notícias sobre
registros de violência que são atribuídos
Casa Amarela (PE): 53.030
BASTIDORES
DAS FAVELAS
PENSE: E quanto ao transporte?
JOILDO: Temos na proximidade do
bairro duas estações de metrô sendo construídas e que deverão ser entregues até 2015. É uma evolução,
porque inicialmente o governo queria
passar um monotrilho bem no meio da
comunidade. Foram anos de negociação para não deixar que a comunidade
fosse fatiada, mas conseguimos.
Baixadas da Estrada Nova
Jurunas (PA): 53.129
PENSE: Por que você chama Paraisópolis de comunidade se, em 2005,
quando teve início o processo de urbanização da região, a então favela foi
promovida a bairro?
JOILDO: Porque as mudanças na
região não foram suficientes para dar
status de bairro a Paraisópolis. Não
temos um hospital, por exemplo. Pa-
PENSE: E a população da comunidade, como vê a violência?
JOILDO: Sofremos com os mesmos
males que outros bairros, como roubos ou venda de drogas. Mas o trabalhador, em geral, não percebe. Aliás,
consideramos a região bastante segura, apesar das estatísticas divulgadas.
Contestar essas informações é um
trabalho importante para alavancar a
autoestima da população. Além disso,
estamos pleiteando mais investimentos em creches, saúde, quadras esportivas, isso tudo ajuda. Não temos
um único cinema, clube ou faculdade
na região, onde sete de cada 10 moradores têm menos de 30 anos. Afinal, para quem mora em Paraisópolis,
vencer os cerca de 15 quilômetros
que separam a comunidade do Centro, onde estão os museus, cinemas,
teatros e outros atrativos culturais,
com o transporte público e o trânsito,
é muito difícil. Por isso, nossa luta ainda está longe de terminar.
Coroadinho (MA): 53.945
PENSE: Em uma cidade caótica como São Paulo, como
você faz para dar conta de tantos projetos ao mesmo tempo?
JOILDO: Profissionalmente sou editor do jornal, é de lá que
tiro meu sustento. Os demais trabalhos são voluntários. Como
tudo funciona no mesmo edifício em Paraisópolis, posso fazer
tudo ao mesmo tempo. Acompanho a programação da rádio
enquanto escrevo os projetos de lei de incentivo para os moradores e apuro e edito as reportagens do jornal e do site. Se
tivesse que cruzar a cidade, não conseguiria. Muitos têm de
passar uma hora e meia no trânsito só para chegar ao Centro.
O tempo no trânsito chega a ser maior do que o tempo que
os pais passam com seus filhos em casa.
PENSE: Paralelamente, você também
saiu em busca dos seus sonhos...
JOILDO: Aproveitei todas as oportunidades que eu tive. Minha escola
tinha parceria com empresas. Lá nós
tínhamos tudo: informática, biblioteca, apoio pedagógico. Aprendi que o
crescimento pessoal depende muito
do aluno. Alguns amigos entraram
na USP (Universidade de São Paulo)
enquanto outros foram para o crime.
Eu me formei em Ciência da Computação. Em 2007, surgiu a ideia de
fazermos um jornal, com uma cara
moderna, que pudesse refletir os anseios da comunidade.
Rio das Pedras (RJ): 54.793
O dia a dia desse jovem de 27 anos é
de causar espanto aos mais experientes executivos. Joildo Barreto, morador da comunidade Paraisópolis, na
zona Sul de São Paulo, é diretor de comunicação da União dos Moradores e
do Comércio da região, onde acumula
a função de vice-presidente. Também
atua como diretor da Rádio Nova Paraisópolis 87,5 FM. É ainda presidente da
Agência Paraisópolis de notícias e editor
do Jornal Espaço do Povo. Todas essas
funções tão ativas fizeram de Barreto a
voz dos 43 mil moradores de Paraisópolis, comunidade de 800 mil metros
quadrados e edificantes histórias. Joildo
conversou com a revista Pense sobre
os desafios de um bairro que é uma verdadeira cidade dentro da megalópole.
Veja mais fotos
desta entrevista
no aplicativo da
revista Pense
para tablet (iOS
ou Android)
a Paraisópolis, mas que, às vezes, ocorrem num raio de cerca de 10 quilômetros ao redor do bairro.
raisópolis faz parte do distrito Vila Andrade, bem no meio do Morumbi, uma
área de grande contradição social. E
vamos pressionar a prefeitura até conseguirmos nosso hospital. Essa é a
nossa maior bandeira.
Sol Nascente (DF): 56.483
As lições de Paraisópolis, o
bairro que já foi considerado a
maior favela de São Paulo
comércios como pet shops, mercados,
cabeleireiros e corretores de imóveis.
Rocinha (RJ): 69.161 habitantes
A voz da
comunidade
capa - entrevista
fontes: Instituto Data Favela e IBGE
Capa
Entrevista
Por Regiane de Oliveira
29
Capa
Memória
capa - memória
Fotos Daniela Toviansky
Ilustração Filipe Carvalho
Por Regiane de Oliveira
No aplicativo da revista para
tablet, você assiste a um vídeo de Wanderley mostrando o bairro de sua infância
Os contornos modernos do edifício-sede
da IBM em São Paulo disputam, nos
últimos tempos, a paisagem da cidade com uma dezena de lançamentos
imobiliários. Arranha-céus residenciais
de luxo substituem pouco a pouco
as pequenas casas assobradadas
do bairro do Paraíso, na zona Sul da
capital paulista. Espaços em que antes habitavam poucas famílias, agora recebem centenas de pessoas no
quadrilátero formado pela Avenida 23
de Maio e pelas ruas Tutóia, Tomás
Carvalhal e Carlos Steinen. E este é
apenas um recorte da velocidade das
mudanças na cidade.
Se este
quarteirão falasse...
Um passeio pelos arredores da Rua Tutóia, no bairro
do Paraíso, em São Paulo, guiado por Wanderley
Augusto, IBMista criado na região, mostra como o
tempo transformou a cidade nos últimos 40 anos
Wanderley Augusto, 47, é IBMista há
13 anos e por duas décadas morou na
Rua Tomás Carvalhal, na vizinhança
da IBM em São Paulo, onde acompanhou as mudanças do bairro
31
capa - memória
Capa
Memória
Uma cicatriz em
meio à cidade
“Preocupações da
infância? Não se ralar no
asfalto em dias de jogo e
não derrubar a bola dentro
da IBM. Os guardas não
deixavam a gente pegar e
não a devolviam”
O quarteirão de Wanderley é um organismo vivo, que tem nele
representadas todas as variáveis que compõem a vida na cidade: comércio, saúde, educação, lazer e também violência.
Mas o que era a violência para uma criança que cresceu brincando na rua, na década de 1970, em um bairro de classe
média de São Paulo? “Era diferente da violência urbana de
hoje, porque era institucional. A violência vinha do Estado, estávamos na Ditadura.”
No quadrilátero das memórias de nosso guia há uma cicatriz
na história da cidade. A Operação Bandeirante (Oban), centro
de investigações montado pelo Exército do Brasil em 1969,
funcionava ali, no número 1030, nos fundos da 36ª Delegacia
de Polícia, da rua Tomás Carvalhal. As guaritas utilizadas pelo
exército ainda ocupam seu lugar de honra no muro, do que
hoje é apenas um estacionamento.
Quando a igreja era
o centro do bairro
Wanderley Augusto, 47, gerente de programas de marketing
da IBM, acompanhou de perto a revolução na vizinhança da
sede da empresa. Morador da rua Tomás Carvalhal durante 20
anos, ele cresceu em uma época em que o centro do bairro era
a Igreja do Santíssimo Sacramento, do Padre Luiz. “Um polonês, que as crianças acreditavam ser refugiado de um campo
de concentração”, lembra nosso guia do quarteirão.
A igreja ainda é famosa pela quermesse, mas não abriga
mais a escola de ensino primário onde Wanderley estudou.
“Era uma escola pública e de qualidade”, lembra-se. A diversão era jogar futebol e andar de carrinho de rolimã – à
época, um moderno equipamento de madeira, dotado de
rolamentos, capaz de atingir alta velocidade ladeira abaixo.
Vale lembrar, Ermerson Fittipaldi seria bicampeão de Fórmula 1 nos anos 70. Por isso, treinar nunca era demais, afinal o
próximo campeão poderia sair dali mesmo.
A Oban fazia parte do Destacamento de Operações Internas/
Centro de Operações de Defesa Interna, o temido DOI-Codi.
Foi ali, na vizinhança de Wanderley, que o jornalista Vladimir
Herzog se apresentou, em 1975, para esclarecer suspeitas de
que estaria envolvido com o PCB. De lá, saiu morto. Só em
março deste ano, a família de Herzog recebeu um atestado
de óbito dizendo que a causa de sua morte fora “lesões e
maus-tratos” e não suicídio, como alegado pelos militares na
época. “Sabíamos que naquela parte da rua não poderíamos
sequer parar, muito menos brincar.”
Progresso versus as
histórias de criança
Não muito longe do DOI-Codi, a casa da família de Wanderley, dividia a vizinhança com outras residências geminadas,
de portões baixos, “daqueles que só servem para segurar o
cachorro”. Na rua não se veem mais a carvoaria, um tipo de
comércio hoje extinto, mas que fazia sucesso na venda de
carvão por quilo. Também desapareceu o boteco onde Wanderley trocava tampinhas de refrigerante por seus jogadores
preferidos da Copa de 1970.
A casa dos pais de Wanderley foi vendida em 2003 para compor a área de um prédio residencial de 18 andares, com portões altos, cercas elétricas e seguranças 24 horas. No cenário
atual, é impossível pensar que um vizinho chegou a criar dois
filhotes de veados, como o Bambi do desenho, e que a casa
de seus pais nunca fora assaltada. “Podíamos andar de bicicleta, ir de ônibus às partidas de futebol, ficar à noite na rua”,
afirma ele, ciente que seus filhos não têm a mesma sorte.
Novas rotas para
“voltar para casa”
Morador de Perdizes, na zona Oeste, Wanderley agora encara o trânsito para chegar ao trabalho em sua antiga vizinhança. Faz o trajeto de 8 km em cerca de 30 minutos. Uma
curva errada e este percurso poderia se tornar uma tortura
de horas no trânsito. “Em dias de rodízio, às vezes venho de
transporte público. Demora um pouco mais, mas compensa, pois posso vir lendo.”
Wanderley sabe que o Paraíso não é mais o “seu” bairro, onde
as únicas preocupações eram “não se ralar no asfalto em dias
de jogo” e não deixar a bola cair no estacionamento da IBM.
“Os guardas não deixavam a gente pegar e também não a
devolviam.” Mas a memória sempre dá um jeito de lembrá-lo
que, de certa forma, está em casa. Ele ainda sente o cheiro da
fábrica de uma cervejaria, que funcionava na Rua Vergueiro,
toda vez que passa pela Avenida 23 de Maio. A história tem
seus truques para não se deixar esquecer.
Mas o futebol era palavra de ordem. “Disputa, sempre”, lembra o torcedor corintiano. E sem briga. A rivalidade ficava no
campinho de futebol na rua Said Aich, com o clássico: Garotos
da Tomás Carvalhal versus Garotos do Prédio. E se batesse o
tédio, havia aquele terreno ao lado da 23 de Maio, que guardava
os escombros e restos de casas da época da construção da
grande avenida. “Era nosso cenário de guerra”, conta. A área
foi pacificada com o edifício da IBM, e se tornou um point da
modernidade: ficavam no andar térreo do edifício os primeiros
caixas eletrônicos instalados na região, os quais eram utilizados
pelo pai de Wanderley.
33
Bastidores
bastidores
A IBM na
paisagem
urbana
O prédio da IBM na Rua Tutóia, em São Paulo, virou ponto de referência
para quem passa pela Avenida 23 de Maio, uma das principais vias da
cidade. O mesmo acontece em Chicago, Nova York, Seattle, dentre
tantas outras cidades onde a Big Blue fincou seus arranha-céus.
Mais do que a altura, as construções ficaram globalmente famosas
pela arquitetura assinada por grandes mestres do design como Eero
Saarinen, Ludwig Mies van der Rohe e Minoru Yamasaki.
IBM Plaza
Chicago, EUA
Inauguração: 1973
Desenhado pelo arquiteto alemão
Ludwig Mies van der Rohe, um dos
fundadores da arquitetura moderna.
Ludwig é o criador da cadeira Barcelona, objeto de desejo de decoradores
em todo o mundo. É típico do seu
trabalho o uso de materiais como o
alumínio negro e o vidro, a exemplo
do que foi aplicado no prédio da IBM
em Chicago, destaque da paisagem
urbana da cidade, incluído no cadastro
nacional de locais históricos dos
Estados Unidos em 2010. Embora
não pertença mais à IBM, até hoje é
conhecido pelo nome da companhia.
IBM Tutóia
São Paulo, São Paulo, Brasil
Inauguração: 1977
O edifício foi projetado pelos arquitetos Plinio Croce, Roberto Aflalo e Gian
Carlo Gasperini, autores de diversos projetos famosos na cidade, como o prédio
do Citibank, na Avenida Paulista, a casa
de shows Credicard Hall e a Biblioteca
São Paulo, localizada onde antes ficava
o presídio do Carandiru. Construído em
concreto aparente e vidro, o prédio da
Tutóia é até hoje um marco arquitetônico da capital paulista.
IBM Building
Também conhecido por 590
Madison Avenue
Nova York, EUA
Inauguração: 1983
Desenhado pelo arquiteto americano
Edward Larrabee Barnes, bastante
reconhecido por criar grandes obras
como o Museu de Arte de Dallas e o
Walker Art Center. Barnes fez da construção um dos marcos da cidade não
só pelo seu traçado, mas também pelo
feito de conseguir integrá-la às ruas relativamente apertadas do bairro. Assim
como o prédio de Chicago, ainda é lembrado como o edifício da IBM, mesmo
que a empresa já não o ocupe mais.
La Tour IBM
Marathon
Montreal, Canadá
Inauguração: 1992
Projetado pela Kohn Pedersen Fox
ou KPF, a maior firma de arquitetura
de Nova York e uma das maiores
do mundo, o arranha-céu da IBM é
puro reflexo da escola modernista
e adiciona imponência ao portfólio
da KPF, composto por ícones como
o hotel Mandarim Oriental, de Las
Vegas, e o Shanghai World Financial
Center, da China.
35
bastidores
Bastidores
IBM Building
Seattle, Washington,EUA
Inauguração: 1964
Esta grande obra da arquitetura foi desenhada por ninguém
menos que Minoru Yamasaki, o responsável pelo projeto das
Torres Gêmeas do World Trade Center de Nova York. Considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, o
americano Yamasaki mesclou no prédio da IBM a sobriedade
do vidro e dos ângulos retos com a leveza de arcos delicados.
One Atlantic
Center
IBM Tower
Somers, Nova York, EUA
Inauguração: 1984
É um exemplo do melhor da escola modernista de arquitetura. O prédio foi desenhado pelo arquiteto sino-americano
Ieoh Ming Pei, responsável pela criação da polêmica pirâmide de vidro do Museu do Louvre. Seu olhar vanguardista o
levou a transformar o edifício da IBM numa “fortaleza futurista”. A estrutura de concreto e vidro também abriga uma
pirâmide no topo.
La Tour IBM
Paris, França
Inauguração: 1988
Desenhado por um trio de arquitetos encabeçado por Jean Willerval, vencedor do
Grand Prix National de L’architecture,
o prédio serviu de sede para a IBM na
França até 2010. Com design arrojado, o
prédio apresenta na sua fachada um semicilindro que se projeta para dentro da
estrutura, formando o icônico I da IBM.
Thomas
J. Watson
Research
Center
imagens: Wikimedia, Wikimedia Commons e Flickr
IBM Somers
Office Complex
Atlanta, Georgia, EUA
Inauguração: 1987
Por muito tempo, o edifício foi
considerado o mais alto de Atlanta.
Foi projetado pela Johnson/Burgee
Architects, escritório especializado em
arquitetura pós-moderna e responsável
pelo desenho da fantástica Crystal
Cathedral, da Califórnia, toda feita
em vidro. A torre da IBM, por sua vez,
ficou famosa pelo seu revestimento em
mármore rosa espanhol e seu topo de
cobre em formato de pirâmide.
Yorktown Heights (Nova York)
Inauguração: 1961
Sede da IBM Research, este grande
centro de pesquisas tem a assinatura do
arquiteto Eero Saarinen, famoso pela
criação de móveis vanguardistas como
a conhecida cadeira Tulipa. Premiado
pelo desenho de uma longa curva de vidro e pedra, este formato permite que os
pesquisadores apreciem a vista do campo, se inspirem e interajam.
37
Top 5
no mundo
top 5 no mundo
Telhados verdes
batendo um bolão
Cinco boas iniciativas para tornar este
mundo um lugar melhor para se viver
1
De chinelo
e canga no
rio Sena
Local: Paris, França
Todo ano é assim e em 2013 não será
diferente. Os visitantes da Cidade Luz
encontrarão, de 20 de julho a 18 de agosto,
mais uma edição da Paris Plages, iniciativa
da Prefeitura de Paris para levar um pouco
dos trópicos à capital francesa após meses
de frio intenso. Praias artificiais montadas
às margens do Sena, nas proximidades
de pontos como o Louvre/Pont de Sully,
Port de la Gare e Bassin de la Villette
encantam os parisienses, que contam
ainda com aulas gratuitas de vôlei de praia,
hidroginástica e caiaque. Um verão quase
à altura das praias do Rio de Janeiro.
3
Quase uma
bicicleta por
habitante
Local: Holanda
A Holanda tem 16,5 milhões de
habitantes e 13 milhões de bicicletas,
praticamente uma para cada holandês.
É uma decisão urbanística de causar
inveja a prefeitos dos quatro cantos do
mundo. Ideal para um país que tem a
paisagem plana, a bicicleta é a preferida por todas as classes sociais e idades.
Elas estão disponíveis para aluguel em
praticamente todas as grandes estações de trem e contam com ciclovias
que permitem pedalar o país de norte
a sul. E a cada pedalada menos problemas de saúde para a população, menos
estresse no trânsito e menos poluição
nos céus holandeses.
Local: Buenos Aires, Argentina
Não. Não é o fanatismo argentino por futebol que levou a prefeitura de Buenos Aires a cobrar menos impostos para quem
tiver “telhados verdes” em casa. Segundo lei recém-sancionada
pelo governo local, a redução do ABL (equivalente ao IPTU
brasileiro) será de até 20% para os prédios da capital argentina
que cultivarem jardins nos lugar das habituais telhas. Foi um
dos poucos projetos que uniu o poder executivo e a oposição.
O objetivo do governo é fazer com que o cuidado com o
meio-ambiente se transforme em uma preocupação cotidiana
nos lares dos nossos hermanos portenhos.
Chique é ser
sustentável
Local: Songjiang, China
Um hotel-resort, cinco estrelas, no distrito de Songjiang, na
China, com inauguração prevista para 2015. Com quartos
debaixo d’água e cachoeiras internas, ele está posicionado a
100 metros de profundidade em uma pedreira abandonada.
Mas o verdadeiro diferencial do empreendimento, batizado
de Songjiang Shimao Hotel, é a filosofia de “carbon critical
design” que inclui o uso de telhados verdes e explora o calor
geotérmico do local para gerar eletricidade e aquecimento.
imagem de divulgação
2
4
Metrópole verde
5
Local: Vancouver, Canadá
Quando a cidade de Vancouver descobriu que seus habitantes
têm um ritmo de consumo 3 vezes maior do que o planeta pode
suportar, não perdeu tempo: lançou uma campanha para tornar
esta que é a terceira maior cidade canadense na metrópole “mais
verde” de seu tempo. A iniciativa inclui adotar gradativamente o
uso de energias de fontes renováveis, reduzir a emissão de gases
e o desperdício de alimentos e fazer mudanças na frota de transporte público, entre outras. O prefeito reconhece que a meta é
ousada, mas garante que até 2020 ele e seus conterrâneos estarão
vivendo na capital verde da Terra.
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techmob
Taxi Beat
> Dica da IBMista Giulia De Marchi
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imagem de divulgação
Navegue no
labirinto urbano
A revista Pense pediu a IBMistas
dicas tecnológicas para aproveitar
a vida na cidade. Confira.
Quem viaja com frequência sabe que seguir
os passos de um morador local é a melhor
maneira de descobrir lugares realmente
interessantes. E foi esta ideia que inspirou
a criação do Home City Home, um selo
independente que publica guias de cidades
com dicas de endereços pouco visados por
turistas convencionais. Por R$ 44 é possível
montar o próprio guia de acordo com o seu
estilo de vida. O usuário só precisa escolher
quatro moradores da cidade-destino cujos
perfis sejam mais interessantes – tem um
publicitário apaixonado por futebol, uma
designer que adora uma churrascaria, um
advogado que vive na gafieira, entre outros e confirmar o pedido pagando pela internet
mesmo. Um exemplar é então enviado para
o endereço do comprador com as dicas dos
perfis selecionados. No momento, os guias
estão disponíveis para as cidades do Rio de
Janeiro e Curitiba. Os próximos destinos a
ser lançados serão São Paulo e Buenos Aires.
> Dica da IBMista Chrystiane Mano Z.
Premiado, o aplicativo Taxibeat põe
fim à busca por táxis na rua: com
alguns toques no smartphone é
possível chamar um táxi. O sistema promete conectar passageiros e
taxistas em instantes e de forma segura. Atualmente disponível no Rio
de Janeiro e em São Paulo, o aplicativo já salvou a IBMista Chrystiane de situações complicadas. “Eu
precisava ir a um casamento, estava
chovendo e não tinha nenhum táxi
no ponto”, recorda. Após mais de
15 minutos tentando um carro, ela
resolveu utilizar o aplicativo que, na
mesma hora, apontou uma lista de
táxis presentes em um raio de três
quilômetros. Ela acionou o mais
próximo e, apesar do sufoco, chegou
a tempo de ver a noiva entrar!
www.taxibeat.com.br
São Paulo para Iniciantes
imagem de divulgação
um serviço voltado
para viajantes
não-convencionais
Aplicativo conecta passageiros a motoristas
de táxi avaliados por outros usuários
imagem de divulgação
Techmob
Home
City Home
Um site para quem quer explorar
todas as facetas da cidade
> Dica da IBMista Tainan Baglini Alves
À beira da Represa Guarapiranga funciona o Golden Bovinus, um restaurante familiar com churrasco, buffet
e rodízio de pizzas para comer bem e
depois fazer digestão olhando a natureza. Pelo menos é o que diz a publicitária, fotógrafa e analista de internet
que criou e mantém a página São Paulo
para Iniciantes. “Muita gente não sabe,
mas São Paulo tem até marinas”, conta
em um de seus posts. O site dá dicas
para sair em São Paulo e inclui sugestões desde um bar que homenageia o
escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo até uma visita ao CineCentro, um
apartamento de dois italianos onde é
possível comprar ingresso para um filme e depois uma massa típica.
www.saopauloparainiciantes.com.br
TripAdvisor
iFood
Sistema permite pedir
delivery pela internet
sem as chatices do
sistema por voz
> Dica da IBMista Mariana
Cristina Fazolin
www.ifood.com.br/
delivery
Telefonar para pedir comida já virou
coisa do passado. A iFood desenvolveu
um sistema que permite solicitar o serviço de delivery pela internet sem complicações. O iFood promete o acesso a
uma ampla base de restaurantes e a solicitação de pedidos de maneira segura.
O usuário não paga taxa para utilizar o
serviço. Pelo aplicativo é possível ver todas as opções de entrega na região atendida pelo sistema. Todos os cardápios
disponíveis são atualizados em tempo
real, com informações precisas sobre os
pratos e promoções exclusivas para os
usuários da plataforma.
O queridinho dos viajantes que
não querem errar
imagem de divulgação
> Dica do IBMista Leandro Moron Pereira
Ele se auto-intitula o maior site de viagem do mundo. Queridinho de inúmeros viajantes, o serviço oferece dicas
confiáveis de viajantes reais e uma ampla
variedade de opções de viagem e recursos de planejamento, além de contar com
links ininterruptos para as ferramentas
de reserva. São, ao todo, mais de 200
milhões de visitantes por mês e mais de
100 milhões de avaliações e opiniões sobre mais de 2,5 milhões de restaurantes,
hotéis e pontos turísticos. Basta arranjar
tempo e mala para conhecer tantos lugares. Seus sites operam em 30 países, do
Brasil à China. Um dos recursos mais
bacanas para os viajantes - ou mesmo
nativos de uma cidade - é usar o serviço de busca nas proximidades aonde se
está. Este serviço funciona combinado
ao GPS do smartphone e indica hotéis,
restaurantes e dicas culturais a poucos
metros do usuário do aplicativo.
www.
tripadvisor.
com.br
imagem de divulgação
41
Pequenas gentilezas podem
mudar seu dia, seu entorno
e gerar novas gentilezas
Quando me mudei do Vale do Paraíba para
São Paulo levei algum tempo para descobrir
que esta é apenas uma cidadezinha que cresceu e que está cheia de caipiras, nascidos aqui
ou não. Só que esses caipiras resolveram ser
cosmopolitas. A maioria mora em São Paulo,
mas não vive de verdade aqui.
Aí vão algumas dicas pra se viver bem na cidade grande, de uma caipira que ama São Paulo.
Resgate suas práticas espirituais
Não sei o que você fazia antes de vir para
São Paulo, mas é aqui que você vai precisar
mais daquelas práticas que lhe dão a dimensão da sua vida dentro de uma vida maior.
Não considero religiosas apenas as orações
ou meditações. Tirar o sapato e sentar-se
embaixo de um eucalipto no parque Ibirapuera é puro êxtase para mim.
Incomodados, não se mudem:
mudem o mundo
Eu ficava incomodada com a falta generalizada de educação. À medida que fui aprendendo a amar as pessoas, este amor passou a
englobar também as mal-educadas.
Passei a contar a elas o que haviam feito.
Sem julgamento, sem recriminações.
Abro a janela do carro e digo:
- Moço, o senhor deixou cair um papel.
Acho que é seu.
Milagre! As pessoas ficam tão envergonha-
Fale sempre com estranhos
Não tenha medo: fale com estranhos na
fila do banco, no metrô, no supermercado,
na academia. Conversar amplia seus horizontes, faz passar o tempo mais depressa e
pode ser muito divertido. Por que imaginar
que o estranho vai explorá-lo, aborrecê-lo,
ou mesmo assassiná-lo? Ele pode ser um
grande amigo que você, por enquanto,
desconhece. Se você praticar bem a arte de
puxar papo, ela vai ajudá-lo em outros momentos muito interessantes.
Minhas amigas caipiras não têm a menor
dificuldade de estabelecer contatos e fazer amigos. Dicas?
Uma amiga colocou “distraidamente” suas
compras no carrinho de um rapaz que lhe
interessara e eles acabaram namorando!
Outra no trânsito parava para examinar
um pneu supostamente furado. E no
trabalho? Ah, no trabalho invente você
mesma uma desculpa, poxa! Jogue fora
o medo e assuma a imaginação e a inteligência que você possui para não parecer “atirada” (isto faz parte das lições de
moças caipiras) e dar a ele a magnífica
oportunidade de tomar a iniciativa e falar
com você.
Aprecie seus vizinhos
Um abraço carinhoso, uma xícara de chá
e um ouvido amigo podem fazer toda a
diferença naqueles dias em que a vida
parece não ter significado. E eu não estou me referindo apenas a quem recebe o
abraço, à xícara de chá e ao ouvido.
Oferecê-los talvez dê, ainda mais, todo
significado à vida.
Computação
Cognitiva
Qual é o
limite da
tecnologia?
12 anos trabalhando na IBM. É poetisa há
30 anos e atualmente é gerente de gestão de
mudanças em um projeto da IBM no México
Gentilezas de
uma caipira
das que abrem a porta e recolhem o lixo!
Se vejo uma senhora em pé no metrô,
digo para um rapaz sentado:
- Como aquela senhora parece cansada!
Nem preciso sugerir que ele se levante.
O efeito é imediato.
Para isto, é claro, tem que haver carinho
na voz e acreditar que estas pessoas só
estão precisando ser relembradas das lições que receberam um dia.
Colaborou: Katia Pessanha
Ponto Final
Na próxima Edição
Em uma aventura que
começa nos laboratórios
da IBM, a Pense vai
investigar as fronteiras
da engenharia da
computação, descobrir
se é possível fazer uma
máquina pensar como
um ser humano e discutir
quais são os impactos
disso para a sociedade.
Na foto, dois dos maiores ganhadores do programa Jeopardy, o mais famoso
jogo de perguntas da televisão norte-americana, são derrotados pelo Watson,
o primeiro sistema de computação cognitiva do mundo, criado pela IBM.
Enquanto isso...
A sua revista Pense já chegou ao fim, mas a discussão continua nas redes sociais
e você é nosso convidado. Acesse a comunidade da revista no Connections para
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