Baixar - Colégio Aplicação

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APOSTILA 2016
HISTÓRIA
PROFESSOR: MARCOS
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
1
Índice
Capitulo 1 .................................................................................................... P.4
Capitulo 2 .................................................................................................... P.13
Capitulo 3 .................................................................................................... P.19
Capitulo 4 .................................................................................................... P.28
Capitulo 5 .................................................................................................... P.36
Capitulo 6 .................................................................................................... P.45
Capitulo 7 .................................................................................................... P.55
Capitulo 8 .................................................................................................... P.66
Capitulo 9 .................................................................................................... P.72
Capitulo 10 .................................................................................................. P.80
Referencias Bibliográficas ............................................................................P.90
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Objetivos Pedagógicos

Compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e
deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação
e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;

Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais,
utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;

Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas
capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção
social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;

Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir
conhecimentos;

Questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o
pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando
procedimentos e verificando sua adequação.
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CAPITULO 1
Centralização das Monarquias
Europeias
A trágica Noite de São Bartolomeu (1572), quando milhares de
huguenotes foram massacrados, relaciona-se com as lutas religiosas
ocorridas na França durante o século XVI.
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A Centralização do poder nas monarquias europeias
França, Inglaterra, Portugal e Espanha. Hoje é difícil imaginar a Europa sem esses países. Mas eles só
começaram a se consolidar a partir da Baixa Idade Média, paralelamente ao desenvolvimento do comércio e das
cidades.
Até então, nos diversos reinos formados na Europa com a desagregação do Império Romano do Ocidente, os
reis exerciam, principalmente, funções militares e políticas. Sem cumprir atividades administrativas, o rei tinha seus
poderes limitados pela ação da nobreza feudal, que, por também serem senhores de terra, controlava de fato o
poder. Essa organização do poder é chamada monarquia feudal e sua principal característica era a fragmentação do
poder.
A partir do século XI, em algumas regiões da atual Europa as monarquias feudais iriam servir de base para a
formação de governos centralizados: é o caso de Portugal. da França, da Inglaterra e de Castela (atual Espanha). Os
reis começaram então a concentrar grandes poderes, em parte por causa do apoio e do dinheiro recebido dos
burgueses. Ao longo do processo de centralização do poder, a aproximação entre o rei e a burguesia colocaria fim à
fragmentação política. Entretanto, isso não significou a exclusão da nobreza feudal do poder. Ela se manteve ligada
ao rei usufruindo de sua política e de privilégios.
Além dos reis, ganharam importância nesse processo os burgueses, que se tornaram mais tarde o grupo
social de maior poder político e, sobretudo, econômico.
A formação das monarquias
Durante quase toda a Idade Média não existiam países como os que conhecemos hoje. Assim, morar em
Londres ou em Paris não significava morar na Inglaterra ou na França. As pessoas sentiam-se ligadas apenas a uma
região, a um feudo (ou senhor) ou ao lugar onde nasceu.
O processo de formação de monarquias com poder centralizado na Europa iniciou-se no século XI e consolidouse entre os séculos XIV e XVI. Ao final de alguns séculos, esse processo deu origem a muitos dos países atuais da
Europa, como França, Portugal e Espanha. Entretanto, ele não ocorreu ao mesmo tempo e da mesma maneira em
todos os lugares do continente. Em regiões como a península Itálica e o norte da Europa nem chegou a se
consolidar.
Quase sempre estiveram envolvidos nesse processo de centralização do poder os mesmos grupos sociais: os
reis, a burguesia e os nobres feudais. Cada um desses grupos era movido por interesses próprios. Muitas vezes,
esses interesses eram convergentes; outras vezes, radicalmente opostos.
Para a burguesia, novo grupo social que se formava, a descentralização política do feudalismo era
inconveniente. Isso porque submetia os burgueses aos impostos e taxas cobrados pelos senhores e dificultava a
atividade comercial pela ausência de uma moeda comum e de pesos e medidas padronizadas.
Essas circunstâncias acabaram aproximando os burgueses dos reis, interessados em concentrar o poder em
suas mãos. Nessa aliança, a burguesia contribuía com dinheiro e o rei, com medidas administrativas que favoreciam
o comércio. O dinheiro da burguesia facilitava aos reis a organização de um exército para impor sua autoridade à
nobreza feudal.
Essa mesma nobreza feudal, por sua vez, encontrava-se enfraquecida pelos gastos com as Cruzadas e tinha
necessidade de um apoio forte, até mesmo para se defender das revoltas camponesas, que se intensificavam. Desse
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modo procurou apoio nos reis, apesar de muitas vezes se sentir prejudicada com a política da realeza em favor da
burguesia, que colocava fim a vários dos privilégios feudais. Dividido entre a burguesia e a nobreza feudal, o rei
serviu como uma espécie de mediador entre os interesses dos dois grupos.
Ao final de um longo tempo, esse processo acabou possibilitando a formação de um poder centralizado e a
consolidação de uma unidade territorial. Com isso, formaram-se em diversas regiões da Europa monarquias com
poder centralizado, nas quais os reis detinham grande parte do poder.
Assim, a monarquia centralizada foi à forma de governo sob a qual se organizou a Europa entre o fim da Idade
Média e o início da Idade Moderna.
“[...] O rei fora um aliado forte nas cidades na luta contra os senhores. Tudo o que
reduzisse a força dos barões fortalecia o poder real. Em recompensa pela sua ajuda,
os cidadãos estavam prontos a auxiliá-lo com empréstimos em dinheiro. Isso era
importante, porque com o dinheiro o rei podia dispensar a ajuda militar de seus
vassalos. Podia contratar e pagar um exército pronto, sempre a seu serviço, sem
depender da lealdade de um senhor. Seria também um exército melhor, porque tinha
uma única ocupação: lutar. Os soldados feudais não tinham preparo, nem
organização regular que lhes permitisse atuar em conjunto, com harmonia. Por isso,
um exército pago para combater, bem treinado e disciplinado, e sempre pronto
quando dele se necessitava, constituía um grande avanço”
(HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro, 1977, p. 80 - 81)
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A Monarquia Francesa
Em 843, o Império Carolíngio foi dividido em três reinos, que, por sua vez, já estavam subdivididos em feudos
governados por duques, marqueses e condes. Os reis eram suseranos, que dependiam dos nobres locais para a
obtenção de soldados e rendimentos.
Em 987, com a subida ao trono de Hugo Capeto, um desses reinos, o da França, passou a ser governado pela
dinastia dos capetíngios.
Um seu descendente, Filipe Augusto é considerado o primeiro rei a iniciar o processo de consolidação da
Monarquia francesa. Em seu reinado (1180-1223), as cidades começaram a ser libertadas do domínio dos senhores
feudais, o que favoreceu a consolidação da burguesia. Apoiado por ela, Felipe impôs sua autoridade aos nobres.
Durante seu governo, Paris passou a ser a capital do reino da França.
O processo de consolidação da Monarquia na França foi impulsionado por Luís IX (1226-1270). Ele criou uma
moeda única, cuja aceitação tornou-se obrigatória em todo o território do reino. Contribuiu, assim, para o comércio,
facilitando a circulação das mercadorias.
Durante o reinado de Filipe IV (1285-1314), mais conhecido como Filipe, o Belo, os mercadores e banqueiros
estrangeiros chegaram a ser expulso da França para evitar a saída de dinheiro, o que fortaleceu ainda mais a
burguesia francesa e o próprio rei.
Seu governo entrou em conflito com a igreja porque queria cobrar imposto do clero. Com a morte do papa
Bonifácio VIII, foi escolhido para substituí-lo o francês Clemente V. Em 1309, Filipe, o Belo, pressionou-o para que
transferisse o papado de Roma para a cidade francesa de Avignon (sudeste da França). Assim, a Igreja ficou sob o
controle do rei francês. A sede da Igreja só voltaria para Roma em 1377.
A Monarquia francesa se consolidou nos séculos XIV e XV, durante a Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra.
Aliás, esse conflito seria importante também para a Inglaterra consolidar seu poder central.
Carlos VII e Filipe IV: personagens
centrais do processo de formação da
monarquia na França.
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A Monarquia Inglesa
Nas Ilhas Britânicas, em meados do século XI, havia quatro reinos: Escócia, País de Gales e Irlanda, formados
pelos celtas, e Inglaterra, formada por povos anglo-saxões.
Em 1066, o duque Guilherme, da Normandia (região do norte da França), invadiu e conquistou a Inglaterra.
Guilherme, O Conquistador, como ficou conhecido, era vassalo do rei francês. Ele dividiu a Inglaterra em condados,
para os quais nomeou um funcionário a fim de representá-lo. Esse funcionário (xerife) tinha autoridade sobre todos
os habitantes, fossem eles senhores ou camponeses. Com isso, Guilherme acabou fortalecendo seu poder.
Em 1154, um nobre francês, Henrique Plantageneta, parente de Guilherme, herdou a Coroa do Reino da
Inglaterra, passando a chamar-se Henrique II (1154-1189). Nesse período ocorreu de fato a centralização do poder
na Inglaterra.
Henrique II foi sucedido por seu filho, Ricardo Coração de Leão (1189-1199). Dos dez anos de seu governo,
Ricardo ausentou-se da Inglaterra por nove anos, liderando a Terceira Cruzada e lutando no continente europeu para
manter seus domínios na França. Essa longa ausência causou o enfraquecimento da autoridade real e o
fortalecimento dos senhores feudais.
No reinado de João Sem-Terra (1199 - 1216), irmão de Ricardo, o enfraquecimento da autoridade real foi ainda
maior. Após ser derrotado em conflitos com a França e com o papado, João Sem-Terra foi obrigado, pela nobreza
inglesa, a assinar um documento chamado Magna Carta (1215). Por esse documento, a autoridade do rei da
Inglaterra ficava bastante limitada. Ele não podia, por exemplo, aumentar os impostos sem prévia autorização dos
nobres. A Magna Carta estabelecia que o rei só poderia criar impostos depois de ouvir o Grande Conselho, formado
por bispos, condes e barões.
Henrique III (1216-1272), filho e sucessor de João Sem-Terra, além da oposição da nobreza, enfrentou forte
oposição popular. Um nobre, Simon de Montfort, liderou uma revolta da aristocracia e, para conseguir a adesão
popular, convocou um Grande Parlamento em 1265, do qual participavam, além da nobreza e do clero,
representantes da burguesia.
No reinado de Eduardo I (1272-1307), oficializou-se a existência do Parlamento. Durante os reinados de
Eduardo II e de Eduardo III, o poder do Parlamento continuou a se fortalecer. Em 1350, o Parlamento foi dividido em
duas câmaras: a Câmara dos Lordes, formada pelo clero e pelos nobres, e a Câmara dos Comuns, formada pelos
cavaleiros e pelos burgueses.
Como podemos ver, na Inglaterra o rei teve seu poder restringido pela Magna Carta e pelo Parlamento. Mas
isso não significou ameaça ao poder central enfraquecido, muito pelo contrário. Comandada pelo rei, conforme os
limites impostos pelo Parlamento, a Inglaterra tornar-se-ia um dos países mais poderosos da Europa, a partir do
século XVI. Até hoje, a Inglaterra é uma monarquia parlamentarista.
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A Guerra dos Cem Anos
Guilherme, o Conquistador, ao dominar a Inglaterra, acabou
ligando-a aos franceses, já que ele era vassalo do rei da França.
Joana d´Arc
No início do século XIV, o rei Eduardo III da Inglaterra
manifestou a intenção de ocupar o trono francês, do qual se
julgava herdeiro. Ao mesmo tempo, desejava dominar a região de
Flandres (atuais Bélgica e Holanda), grande produtora de tecidos.
Essas ambições acabaram provocando um conflito entre a
Inglaterra e a França: a Guerra dos Cem Anos. Ela tem esse
nome porque, com pequenas interrupções, prolongou-se por mais
de um século: de 1337 a 1453. O início do conflito é marcado
pela invasão do território francês pelos exércitos da Inglaterra.
Os ingleses venceram as batalhas iniciais, apoderando-se
de grande parte do território francês. Mas essas vitórias
intensificaram a união e a resistência da população francesa. O
principal símbolo dessa união foi Joana d' Arc, uma jovem
camponesa que obteve vitórias contra os exércitos ingleses,
reanimando os franceses.
Assustados
com
a
jovem
camponesa,
os
ingleses
conseguiram aprisioná-la. Julgada por heresia foi condenada à
morte numa fogueira. Mas isso não impediu que os franceses
retomassem os territórios perdidos e expulsassem os ingleses.
O desfecho da Guerra dos Cem Anos contribuiu para estabelecer os limites territoriais tanto da França vitoriosa
quanto da Inglaterra derrotada, além de ter suscitado nos dois lados a formação de um importante sentimento
nacionalista
A Monarquia Portuguesa
Portugal foi um dos primeiros países da Europa a consolidar um governo forte, centralizado na pessoa do rei. A
formação da Monarquia portuguesa iniciou-se nas lutas dos cristãos pela expulsão dos árabes islâmicos que, desde
o século VIII, ocupavam a península Ibérica. Essas lutas ficaram conhecidas como guerras de Reconquista
Durante o domínio árabe, os reinos cristãos ficaram restritos ao norte da península - como Navarra. A partir do
século XI, pouco a pouco eles conseguiram ampliar seu território. Foram fundados, então, vários reinos, entre os
quais Aragão, Leão, Castela. Com isso, os árabes começaram a recuar em direção ao litoral sul.
Durante as guerras de Reconquista, destacou-se o nobre francês Henrique de Borgonha. Como recompensa,
ele recebeu do rei de Leão e Castela, Afonso VI, a mão de sua filha e terras que constituíram o condado
portucalense.
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O filho e herdeiro de Henrique de Borgonha, Afonso Henriques, proclamou-se então rei de Portugal em 1139,
rompendo os laços com Leão e Castela. Tinha início, assim, a dinastia de Borgonha. Afonso Henriques, o
Conquistador, estendeu seus domínios para o sul, até o rio Tejo, e fez de Lisboa sua capital.
Em 1383, com a morte do último rei (sem herdeiros diretos) da dinastia de Borgonha, D. Fernando, o Formoso,
a Coroa portuguesa ficou ameaçada de ser anexada pelo soberano de Castela, parente do rei morto. A burguesia,
por sua vez, temia ver seus interesses comerciais prejudicados pelos nobres castelhanos.
Para evitar a perda da independência, os portugueses aclamaram D. João, meio-irmão do rei morto, como novo
rei. João, mestre da cidade de Avis, venceu a disputa e assumiu o trono em 1385. O apoio financeiro da burguesia foi
decisivo nessa vitória. Assim, durante toda a dinastia de Avis, os reis favoreceram e apoiaram as atividades
burguesas.
A Monarquia Espanhola
A Península Ibérica, durante o século VIII, teve grande parte de seus territórios dominados pelos árabes que,
inspirados pela jihad muçulmana, empreenderam a conquista de diversas localidades do Oriente e do Ocidente. Na
porção centro-sul, os árabes consolidaram a formação do Califado de Córdoba, enquanto a região norte ficou sob
controle dos reinos cristãos de Leão, Castela, Navarra, Aragão e o Condado de Barcelon.
Por volta do século XI, esses reinos católicos resolveram formar exércitos que – inspirados pelo movimento
cruzadista – teriam a missão de expulsar os “infiéis” muçulmanos daquela região. A partir de então, a chamada
Guerra de Reconquista se alongou até o século XV. Com o desenvolvimento desses conflitos, os diferentes reinos
participantes do combate conseguiram reduzir a presença dos muçulmanos e conquistar novas terras que
enriqueceram tais governos.
Durante essas guerras, os reinos ibéricos conseguiram a participação do francês Henrique de Borgonha, nobre
que participou da guerra em troca do controle sob as terras do Condado Portucalense. Anos mais tarde, essa região
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deu origem à Monarquia Nacional Portuguesa. Já no século XV, a hegemonia dos reinos católicos era garantida pelo
reino de Castela, que controlava a grande maioria das terras da Península Ibérica nesse período.
Em 1469, a presença muçulmana estava restrita ao Reino Mouro de Granada. Nesse mesmo ano, os territórios
do Reino de Castela e Aragão foram unificados graças ao casamento entre os monarcas cristãos Isabel de Castela e
Fernando de Aragão. Depois disso, novos exércitos foram responsáveis por expulsar os muçulmanos definitivamente
com a tomada de Granada, no ano de 1492. A partir de então, esse reino passou a fortalecer-se com franco incentivo
ao comércio marítimo.
Fernando de Aragão e Isabel de Castela
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Síntese do Capítulo
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CAPITULO 2
As Cruzadas
CRUZADAS
CRUZADAS, EXERCITO CRUZADOS, JERUSALEM.
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No final do século XI, a sociedade
feudal começava a apresentar sinais de
mudanças. A Igreja, principal instituição da
Europa ocidental, enfrentavam problemas
com muitos de seus bispos e abades, que
levavam uma vida luxuosa e abandonavam
suas obrigações religiosas. Nos feudos,
uma população cada vez mais numerosa
não
encontrava
meios
de
produzir
alimentos suficientes para todos.
Neste
contexto,
surgiram
as
CRUZADAS, uma espécie de guerra santa empreendida pelos católicos contra os muçulmanos que dominava
Jerusalém e outras regiões consideradas sagradas pelos cristãos no Oriente Médio.
Nobres, camponeses, crianças, mendigos, enfim, grande parte da sociedade cristã se envolveram, por diversas
razões, nesses confrontos que duraria mais de duzentos anos.
Entretanto, a importância maior das Cruzadas está no fato de eles terem iniciado um processo que colocaria fim
no isolamento da sociedade feudal. Ao mesmo tempo em que cruzavam o continente e o mar Mediterrâneo e
estabeleciam contato com outros povos, os católicos europeus faziam comércio. Isso resultou por favorecer o
abandono da vida rural aumentando a busca pelas cidades para fazer negócios.
Assim, as Cruzadas, que de inicio podem ter representado uma alternativa para a manutenção da sociedade
medieval, com o tempo acabaram por ser responsável pela formação de uma outra ordem social.
A CONVOCAÇÃO PARA AS CRUZADAS
Durante a idade média, muitos cristãos costumavam ir a peregrinação aos locais onde Jesus Cristo teria nascido,
vivido e feito suas pregações (Belém, Nazaré, Jerusalém, etc...). Esses locais, conhecidos como Terra Santa, eram
considerados sagrados para os cristãos.
Em consequência do expansionismo do povo árabe, Jerusalém foi tomada no ano de 638 d.C. O povo árabe
havia se convertido ao islamismo (religião monoteísta criada pelo profeta Maomé) mais tolerava os peregrinos
cristãos.
Em 1071, entretanto, Jerusalém foi tomada pelos Turcos, também muçulmanos, porém mais radicais. Desde
então se tornaram muito perigosas às peregrinações a Terra Santa.
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Os turcos estavam expandindo os seus domínios e ameaçavam conquistar
Constantinopla capitã, do império Bizantino, também de tradição cristã.
A tenção havia tomado conta dos feudos, naquela época. Ondas de ataques e
saques ás aldeias cresciam de maneira ameaçadora. Essas razões, associadas à
dominação de Jerusalém pelos turcos, levaram o Papa Urbano II a convocar uma
expedição de retomada da Terra Santa. O papa, que acusava os turcos de
assassinarem os peregrinos e profanarem os lugares santos, procurou encorajar os
cristãos do Ocidente à guerra. Para viabilizar a expedição, convocou senhores feudais,
bispos, cavaleiros e toda a população.
PAPA URBANO II
Trecho do discurso do Papa Urbano II, feito em Clermont, na França no ano de
1095 d.C.
“Deixai os que outrora estavam a se baterem, impiedosamente contra os fiéis, em guerras particulares, lutarem
contra os infiéis(...). Deixai os que até aqui foram ladrões tornarem-se soldados. Deixai os se bateram contra seus
irmãos e parentes lutarem agora contra os bárbaros como devem. Deixai os que outrora foram mercenários, a baixo
salários, receberem agora a recompensa eterna.
Uma vez que a terra que vós habitais, fechada por todos os lados pelo mar e circundada por picos e montanhas,
é demasiadamente pequena para vossa grande população: a sua riqueza não abunda, mal fornece o alimento
necessário aos seus cultivadores (...). Tomai o caminho do santo Sepulcro; arrebatai aquela terra à raça perversa e
submetei-a a vós mesmos (...).” 1
Os primeiros voluntários escolheram como símbolo da expedição uma cruz costurada em suas roupas, daí o
nome Cruzadas para esse movimento.
MOTIVOS ALÉM DA FÉ
O movimento das Cruzadas deve ser compreendido como parte do processo de mudanças do feudalismo
durante a Baixa Idade Média.
As sociedades feudais eram agrícolas, autossuficientes, voltadas apenas para subsistência. Tal tipo de
organização passou a não atender às necessidades de uma população crescente.
Assim, se para a igreja católica as Cruzadas se apresentaram como uma oportunidade de reconquistar a Terra
Santa e fortalecer o poder do Papa, para muitos outros elas representavam uma alternativa tanto econômica quanto
social. Algumas pessoas, por exemplo, aderiram às Cruzadas porque viam nela uma oportunidade de sair da vida
miserável que levavam.
1
(Papa Urbano II. Citado em Leo Huberman. Historia da riqueza do homem. Rio de Janeiro, Zahar, 1993, p. 28.).
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Entre os nobres, grande parte via nas Cruzadas uma oportunidade
de aumentar suas fortunas, já que a região da Palestina era considerada
de grande riqueza. Muitos jovens entre os nobres viam a oportunidade
de conquistar algo para si, já que, por não serem filhos primogênitos,
não herdariam feudos, mas desejavam terras.
Clero e Nobres junto ao Papa Urbano II
OS CAMINHOS DAS CRUZADAS
Foram realizadas ao todo oito Cruzadas oficiais, num período de duzentos anos. A primeira convocada pelo Papa
Urbano II obteve algum êxito.
Para essa cruzada, organizaram-se exércitos vindos de inúmeros lugares da Europa. Oficialmente, ela reuniu-se
em Constantinopla em novembro de 1096. Essa Cruzada expulsou os turcos de grande parte da Terra Santa e
fundou o reino de Jerusalém.
Dos 300 mil cruzados que partiram de Constantinopla, apenas 40 mil chegaram à Palestina. Os demais morreram
no caminho, em combates ou vitima de doenças, fome, sede e calor; outros voltaram à Europa. Da parte dos turcos,
as perdas também foram imensas: cerca de 10 mil acabaram massacrados em Jerusalém.
Após a derrota, os turcos atacaram os cruzados com frequência e conseguiram reconquistar a Terra Santa.
Novas expedições foram então convocadas pelos cristãos. Entretanto, elas não tiveram o mesmo êxito da primeira.
Mal organizadas e divididas internamente por rivalidades entre nobres, várias Cruzadas não conseguiram
chegar à Palestina. Na segunda Cruzada, por exemplo, os combatentes de diversas regiões da Europa formaram
grupos isolados e foram facilmente derrotados pelos Turcos.
Os participantes da Quarta Cruzada, financiada por comerciantes da região do Mediterrâneo, ao chegarem a
Constantinopla saquearam a cidade, chegando a invadir as igrejas para tirar objetos de valor. Os saques
provocaram o enfraquecimento do comércio de Constantinopla e o fortalecimento das cidades mediterrâneas, que
passaram a monopolizar o comércio de especiarias.
A Cruzada das crianças
Diante das constantes derrotas das Cruzadas, difundiu-se a lenda de que o Santo Sepulcro - local onde,
segundo o Novo Testamento, Jesus Cristo foi sepultado - só poderia ser conquistado por crianças, pois elas eram
isentas de pecados. Em 1212, 20 mil crianças germânicas e 30 mil francas foram encaminhadas a Jerusalém.
Muitas acabaram morrendo pelo caminho, outras foram assassinadas ou aprisionadas e vendidas como escravas
nos mercados do Oriente. Em resumo, a expedição foi um enorme fracasso.
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MAPA DAS PRIMEIRAS CRUZADAS
Consequências das Cruzadas
Apesar de não terem alcançado totalmente seu objetivo religioso, as Cruzadas promoveram grandes
mudanças em toda a Europa, como a reabertura do Mediterrâneo à navegação e ao comércio europeu. Isso
possibilitou a intensificação do comércio entre o Ocidente e o Oriente, interrompida em grande parte pela expansão
muçulmana.
Sobre esse processo, o historiador Leo Huberman afirmou:
“Do ponto de vista religioso, pouco duraram os resultados das Cruzadas, já que os muçulmanos,
oportunamente, retomaram o Reino de Jerusalém. Do ponto de vista do comércio, entretanto, os resultados foram
tremendamente importantes. Elas ajudaram a despertar a Europa de seu sono feudal, espalhando sacerdotes,
guerreiros, trabalhadores e uma crescente classe de comerciantes por todo o continente; intensificaram a procura de
mercadorias estrangeiras; arrebataram a rota do Mediterrâneo das mãos dos muçulmanos e a converteram, outra
vez, na maior rota comercial entre o Oriente e o Ocidente, tal como antes”.2
2
(Leo Huberman. Historia da riqueza do homem. Rio de Janeiro, Zahar, 1993, p. 30).
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Síntese do Capítulo
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CAPITULO 3
Reforma Religiosa
O processo de reformas religiosas teve início no século XVI.
Podemos destacar como causas dessas reformas: abusos
cometidos pela Igreja Católica e uma mudança na visão de mundo,
fruto do pensamento renascentista.
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Reforma Religiosa
O que foi a Reforma Religiosa?
No século XVI a Europa foi abalada por uma série de movimentos religiosos que contestavam abertamente os
dogmas da igreja católica e a autoridade do papa. Estes movimentos, conhecidos genericamente como Reforma,
foram sem dúvida de cunho religioso. No entanto, estavam ocorrendo ao mesmo tempo em que as mudanças na
economia européia, juntamente com a ascensão da burguesia. Por isso, algumas correntes do movimento reformista
se adequavam às necessidades religiosas da burguesia, ao valorizar o homem “empreendedor” e ao justificar a
busca do “lucro”, sempre condenado pela igreja católica.
Os fatores que desencadearam a Reforma.
Uma das causas importantes da Reforma foi o humanismo evangelista, crítico da Igreja da época. A Igreja havia
se afastado muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade, sofrimento. No século XVI,
o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Surgiram críticas em livros como o Elogio da Loucura
(1509), de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Lutero efetivasse o rompimento
com a igreja católica.
Moralmente, a Igreja estava em decadência: preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do
que com as questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja recorria a qualquer subterfúgio,
como, por exemplo, a venda de cargos eclesiásticos, venda de relíquias e, principalmente, a venda das famosas
indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Lutero. O papado garantia que cada cristão pecador poderia
comprar o perdão da Igreja.
A formação das monarquias nacionais trouxe consigo um sentimento de nacionalidade às pessoas que
habitavam uma mesma região, sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o declínio da
autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a serem mais importantes.
Outro fator muito importante, ligado ao anterior, foi a ascensão da burguesia, que, além do papel decisivo que
representou na formação das monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi fundamental na Reforma
religiosa. Ora, na ideologia católica, a única forma de riqueza era a terra; o dinheiro, o comércio e as atividades
bancárias eram práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção do lucro, que é a essência do capital, era pecado. A
burguesia precisava, portanto, de uma nova religião, que justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse as
atividades ligadas ao comércio.
As doutrinas protestantes, criadas pela Reforma, satisfaziam plenamente os anseios desta nova classe, pois
pregava o acúmulo de capital como forma de obtenção do paraíso celestial. Assim, grande parte da burguesia, ligada
às atividades lucrativas, aderiu ao movimento reformista.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Por que a Reforma começou na Alemanha?
No século XVI, a Alemanha não era um Estado politicamente centralizado. A nobreza era tão independente que
cunhava moedas, fazia a justiça e recolhia imposto em suas propriedades . Para complementar sua riqueza,
saqueava nas rotas comerciais, expropriando os mercadores e camponeses.
A burguesia alemã, comparada à dos países da Europa, era débil: os comerciantes e banqueiros mais
poderosos estabeleciam-se no sul, às margens do Reno e do Danúbio, por onde passavam as principais rotas
comerciais; as atividades econômicas da região eram a exportação de vidro, de metais e a “indústria” do papel; mas
o setor mais forte da burguesia era o usurário.
Quem se opunha à igreja na Alemanha.
A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores domínios se localizavam às margens do Reno, chamadas
de “caminho do clero”, e eram estes territórios alemães que mais impostos rendiam à Igreja.
A Igreja era sempre associada a tudo que estivesse ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia via a Igreja
como inimiga. Seus anseios eram por uma Igreja que gastasse menos, que absorvesse menos imposto e,
principalmente, que não condenasse a prática de ganhar dinheiro.
Os senhores feudais alemães estavam interessados nas imensas propriedades da Igreja e do clero alemão.
Os pobres identificavam a Igreja com o sistema que os oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais
um senhor feudal, a quem deviam muitos impostos.
Às vésperas da Reforma, a luta de classes e política acabou assumindo uma forma religiosa.
Senhor Feudal Alemão e membro da igreja Católica
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Lutero e a Reforma
Martinho Lutero era um monge agostiniano, de origem pequeno-burguesa, da região da Saxônia.
Um homem pessoalmente angustiado e com tendências ao misticismo.
Seu rompimento com a igreja católica deu-se em razão da venda de indulgências.
Para concluir a construção da Basílica de São Pedro, o papa Leão X (1513-1521) determinou a venda de
indulgências para toda a cristandade e encarregou o dominicano Tetzel de comercializá-las na Alemanha.
Lutero protestou violentamente contra tal comércio e, em 1517, afixou na porta da igreja de Wittenberg, onde era
mestre e pregador, 95 proposições onde, entre outras coisas, condenava a prática vergonhosa da venda de
indulgências. O papa Leão X exigiu uma retratação, sempre recusada.
Lutero foi excomungado e reagiu imediatamente, queimando em público a bula papal (documento de
excomunhão).
Frederico, príncipe eleito da Saxônia e protetor de Lutero, recolheu-o em seu castelo, onde o pensador religioso
desenvolveu suas idéias. As principais foram:
• A justificação pela fé, pela qual as aparências têm valor secundário. A única coisa que salva o homem é a fé.
Sem ela, de nada valem as obras de piedade, os preceitos e as regras. O homem está só diante de Deus, sem
intermediários: Deus estende ao homem sua graça e salvação; o homem estende para Deus sua fé.
• Por isso a Igreja não tem função, o papa é um impostor, a hierarquia eclesiástica, uma inutilidade.
• Outra idéia de Lutero era o livre-exame. A Igreja era considerada incompetente para salvar o homem; por isso
sua interpretação das Sagradas Escrituras não era válida: Lutero queria que todos os homens tivessem acesso à
Bíblia (por isso a traduziu do latim para o alemão). Todo homem poderia interpretar a Bíblia segundo sua própria
consciência, emancipando-se no plano da ideologia religiosa.
À esquerda, imagem de Lutero pregando as 95 teses
na Igreja de Wittenberg. A baixo a queima da “Bula
Papal”, marcando o rompimento com a Igrja
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A REBELIÃO DOS NOBRES E DOS POBRES
Os nobres alemães viram nas propostas de Lutero uma oportunidade para se apoderarem dos ricos domínios da
igreja católica na Alemanha, Assim, o grão-mestre da Ordem Teutônica, uma ordem religiosa, converteu-se ao
luteranismo e secularizou (confiscou) os bens da ordem; além deste, outros nobres também se converteram, como os
senhores do Saxe, de Brandemburgo e de Hesse.
Em 1522 os cavaleiros do império, camada social que se achava em processo de decadência, resolveram atacar
vários principados eclesiásticos para se apossarem das terras e fortalecer sua posição na sociedade alemã. A
nobreza católica reagiu, apoiada inclusive por alguns nobres luteranos, que se sentiam ameaçados em seus
interesses. Em 1523 a rebelião foi esmagada. Aproveitando a derrota dos cavaleiros, os camponeses da Alemanha
central e meridional iniciaram, em 1524, uma rebelião.
Lutavam pelo fim da servidão camponesa e pela igualdade de condições dos camponeses com o clero e a
nobreza.
Nestas lutas destacou-se Thomas Münzer, que, influenciado pelas doutrinas de Lutero, clamava pelo extermínio
dos ateus, dos sacerdotes e da nobreza fundiária. Lutero, entretanto, repudiou este levante, recomendando aos
nobres que derrotassem os camponeses, exterminando-os como “cães raivosos”.
A nobreza alemã organizou um grande exército, composto por católicos, protestantes, burgueses e padres e, em
maio de 1525, eliminou mais de 100 mil camponeses, inclusive Thomas Münzer. As idéias deste homem geraram
uma nova seita, mais radical que a luterana: os anabatistas.
Os elementos mais conservadores da sociedade alemã saíram fortalecidos desta repressão aos camponeses, o
que ajudou a manter o atraso na região, impedindo a formação de uma monarquia forte e centralizada.
Martinho Lutero
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A difusão da Reforma as Guerras Religiosas
A rápida difusão dos ensinamentos de Lutero pela Alemanha acirrou uma disputa já existente: a disputa entre os
nobres e príncipes e o império dos Habsburgos, que, apoiado pela igreja católica, dominava boa parte das terras
alemãs, além da Espanha, dos Países Baixos e de vários territórios da Europa oriental, Baseados na doutrina de
Lutero, os cavaleiros alemães lutavam para tomar os bens da Igreja e para se livrar do domínio dos Habsburgos. Ao
lado do imperador, alinhavam-se os nobres mais poderosos e a igreja católica, ameaçada pelas pregações de Lutero.
Carlos V tentou colocar fim a esta agitação. Em 1529 foi formada uma espécie de assembléia, conhecida como
Dieta, onde ele tentou forçar a submissão dos nobres alemães ao catolicismo. Os nobres protestaram, o que originou
o novo nome da religião luterana: “protestantes’”.
Em 1531, as cidades e os príncipes protestantes da Alemanha formaram uma liga para enfrentar o exército
imperial: a liga de Esmalcalda. Iniciou-se, então, uma longa luta política e religiosa, que se encerrou em 1555 com a
assinatura da Paz de Augsburgo, que estabelecia que cada príncipe deveria impor sua religião no território sob seu
controle direto (cujus regio ejus religio).
A REFORMA NOS ESTADOS ESCANDINAVOS
Desde o século XIV, a Suécia e a Noruega estavam submetidas ao reino da Dinamarca. Em 1523, o nobre
sueco Gustavo Vasa proclamou a independência de seu país, transformando-se em rei da Suécia. Para obter
recursos para administrar o novo país, Gustavo confiscou os bens da Igreja, convertendo-se ao luteranismo.
O rei da Dinamarca, que ainda dominava a Noruega, seguiu o exemplo de Gustavo, confiscando os bens da Igreja
e convertendo-se ao luteranismo em 1535. A influência católica praticamente desapareceu desses países.
O desenvolvimento da Reforma na França gerou consideráveis conflitos. Merece destaque o massacre dos
protestantes na conhecida noite de São Bartolomeu, em 1572.
Contrarreforma ou Reforma Católica
A situação da igreja católica, em meados do século XVI, era bastante difícil: ela perdera metade da Alemanha,
toda a Inglaterra e os países escandinavos; estava em recuo na França, nos Países Baixos, na Áustria, na Boêmia e
na Hungria.
A Contra-Reforma, ou Reforma católica, foi uma barreira colocada pela Igreja contra a crescente onda do
protestantismo. Para enfrentar as novas doutrinas, a igreja católica lançou mão de uma arma muito antiga:
A Inquisição. O Tribunal da Inquisição foi muito poderoso na Europa nos séculos XIII e XIV, No decorrer do
século XV, porém, perdeu sua força. Entretanto, em 1542 este tribunal foi reativado para julgar e perseguir indivíduos
acusados de praticar ou difundir as novas doutrinas protestantes.
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Percebendo que os livros e impressos tinham sido muito importantes para a difusão da ideologia protestante, o
papado instituiu, em 1564, o Index Libro rum Prohibitorum, uma lista de livros elaborada pelo Santo Ofício, cuja
leitura era proibida aos fiéis católicos.
A Igreja perdia adeptos e assistia à contestação e rejeição de seus dogmas, mas demonstrou no Concílio de
Trento que ainda era muito poderosa e tinha capacidade de reação.
Tribunal do Santo Oficio
Estas duas medidas detiveram o avanço do protestantismo, principalmente na Itália, na Espanha e em Portugal.
Para remediar os abusos da Igreja e definir com clareza sua doutrina, organizou-se o Concilio de Trento (15451563). O Concilio tomou uma série de medidas, entre as quais citamos:

Organizou a disciplina do clero: os padres deveriam estudar e formar-se em seminários. Não poderiam
ser padres antes dos 25 anos, nem bispos antes dos 30 anos.

Estabeleceu que as crenças católicas poderiam ter dupla origem: as Sagradas Escrituras (Bíblia) ou as
tradições transmitidas pela Igreja; apenas esta estava autorizada a interpretar a Bíblia. Mantinham-se os
princípios de valia das obras, o culto da Virgem Maria e das imagens.

Reafirmava a infalibilidade do papa e o dogma da transubstanciação.
A conseqüência mais importante deste Concilio foi o fortalecimento da autoridade do papa, que, a partir de
então, passou a ter a palavra final sobre os dogmas defendidos pela igreja católica.
A partir da Contra-Reforma surgiram novas ordens religiosas, como a Companhia de Jesus, fundada por Ignácio
de Loyola em 1534. Os jesuítas (como eram chamados) organizaram-se em um molde militar e fortaleceram a
posição da igreja dentro dos países europeus que permaneciam católicos. Criaram escolas, onde eram educados os
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filhos das famílias nobres; foram confessores e educadores de várias famílias reais; fundaram colégios e missões
para difundir a doutrina católica nas Américas e na Ásia.
A fogueira para os feiticeiros!
Que o diabo me leve!”Esta expressão, considerada uma blasfêmia, poderia levar à fogueira aquele que há
pronunciasse nos séculos XV e XVI. A Igreja condenava quem invocasse o nome do diabo ou dissesse usar seus
poderes para curar doente. Muitos curandeiros, ou praticantes de bruxaria, como eram chamados pela Igreja, foram
jogados na fogueira por ordem do papa”.
A Igreja, na ânsia de impor totalmente seu poder, considerava os curandeiros os piores inimigos do cristianismo.
Porém, no século XV, como a miséria era grande e as doenças proliferavam, era normal que a população acreditasse
em quem lhe prometesse dias melhores.
Com o surgimento dos conflitos entre as religiões no século XVI, essa perseguição aumentou muito. Havia
torturas cruéis antes de o condenado ser levado à fogueira, a ponto de o próprio acusado terminar admitindo que
cometera crimes. "Sim, eu me encontrei com o diabo", no mínimo era isso que confessava, mesmo sabendo que não
era verdade. Mas o que mais contentava o tribunal que julgava o coitado era ouvir: "Eu tomei poção mágica contendo
sangue de crianças que foram depois devoradas, durante um ritual ao qual o diabo assistiu sob a forma de um bode".
Muita gente inocente teve de pronunciar essas palavras.
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Síntese do Capítulo
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CAPITULO 4
Humanismo e Renascimento
se
a
Além da beleza única de suas proporções, David,
esculpido em mármore por Michelangelo, é
portador de um importante significado para a
compreensão do Renascimento. Michelangelo o
idealizou tendo em mente o personagem bíblico
que venceu o gigante Golias em um combate
entre a inteligência e a força bruta.
Dessa maneira, o artista expressa o humanismo
renascentista como uma vitória da razão sobre
as forças cegas da natureza.
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Inteiramente em mármore, a escultura
David, de Michelangelo Buonarroti, completou
cinco séculos de existência em setembro de
2004. Com quatro metros de altura e pesando
cerca de 5,5 toneladas, a obra encontra-se na
Galeria da Academia de Florença, Itália,
protegida por um vidro blindado. Tanto cuidado
deve ao fato de essa escultura ser considerada
uma das principais joias do Renascimento.
Como
veremos
neste
capítulo,
o
Renascimento - assim como o Humanismo,
corrente de pensamento que lhe deu
sustentação foi fruto das transformações
econômicas, sociais e culturais pelas quais
vinha passando a Europa desde o século XI.
Período brilhante da história europeia, ele foi
responsável pela mudança de rumo das artes,
das ciências e do pensamento entre os séculos
XIV e XVI e deixou um legado permanente para
história da humanidade.
28
Uma península politicamente fragmentada
No início do século XV, a península Itálica era do ponto de vista político, uma verdadeira colcha de retalhos.
Outrora unificado sob o Império Romano, seu território reunia naquela época diversos Estados com culturas, regimes
políticos, dimensões territoriais e estágios de desenvolvimento econômico bem variado.
Cinco desses Estados gozavam de maior influência na região: o Reino de Nápoles, ao sul; a República de
Florença e os Estados Pontifícios (pertencentes à Igreja), no centro; a República de Veneza e o Ducado de Milão, ao
norte.
Cidades como Florença, Milão, Roma e, principalmente, Genova e Veneza, haviam se tornado, no decorrer dos
séculos, importantes centros comerciais. Em Florença, por exemplo, em 1472 havia mais de 350 oficinas têxteis: 270
produziam tecidos de lã; 83 fabricavam panos de seda. Ao lado disso, a cidade contava com 33 casas bancárias.
Esses números refletem o enriquecimento das cidades da península, acelerado com o renascimento comercial
que se verificou na Europa a partir do século XI.
Uma revolução cultural
A maior circulação de dinheiro e a expansão dos negócios
exigiam
profissionais
especializados
na
administração
de
empreendimentos bancários e mercantis. Sob a pressão dessa
demanda, universidades laicas (não religiosas) se estabeleceram
em diversos pontos da Europa.
As novas escolas afirmavam a importância central do ser
humano, considerado a obra suprema de Deus. Conhecida como
antropocentrismo, essa concepção era coerente com o princípio
grego segundo o qual "o homem é a medida de todas as coisas".
Ela se chocava com a orientação das universidades controladas
pela Igreja, nas quais o pensamento era dominado pelo
teocentrismo - para o qual Deus (Théos, em grego) é a fonte de
todo o conhecimento e deve estar no centro da reflexão filosófica.
Assim, o foco principal da reflexão nas novas universidades
passou a ser a atividade humana em suas diversas implicações. A
individualidade das pessoas começou a ser valorizada e elas foram
estimuladas a utilizar sua capacidade criativa para transformar o
mundo de acordo com sua vontade.
Dessa forma, foram priorizadas disciplinas voltadas para os
estudos humanos, como Poesia, Filosofia, Gramática, Matemática,
História e Eloquência, além daquelas ligadas ao antigo Direito
Romano.
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Xilogravura do século XV que retrata
estudantes e professores em torno de
uma mesa com vários livros. No
Renascimento foram fundadas várias
escolas laicas para atender aos filhos da
nobreza e da grande burguesia europeia.
Segundo a nova concepção, educar
tornou-se questão de moda e uma
exigência social das elites.
29
Esse movimento de ideias, conhecido como Humanismo, foi
concomitante com o resgate do conhecimento e das artes da
Antiguidade Clássica e atingiu também outras áreas do saber, como
Medicina, Astronomia, Filosofia, Literatura e Artes Plásticas. Textos
de autores gregos e romanos, que nos séculos anteriores se
encontravam sob o controle da Igreja, foram recuperados pelos
estudiosos leigos.
O mesmo aconteceu com as manifestações artísticas da
Antiguidade Clássica - esculturas, templos, palácios, afrescos, peças
de cerâmica e objetos de decoração, que passaram a ser a principal
referência e fonte de inspiração de pintores, escultores, decoradores e
arquitetos da península Itálica a partir do século XV.
Também estavam no centro das preocupações a procura da
beleza, o refinamento estético e a inter-relação entre diferentes áreas
do pensamento humano. Assim, um artista deveria se interessar
também por Filosofia, Ciências, Astronomia, Anatomia, etc. A
personalidade que melhor se aproximou desse ideal foi o pintor,
escultor, arquiteto, anatomista, urbanista, engenheiro, inventor e
desenhista Leonardo da Vinci (1452-1519), autor do quadro Mona
Lisa, entre outros.
Este
desenho,
elaborado
por
Leonardo da Vinci por volta de 1510, é um
estudo anatômico do ombro humano. No
Renascimento, cresce o interesse pela
observação do Universo e pelo estudo do
corpo humano. Exemplo maior de
intelectual humanista, Da Vinci dedicou-se
a um amplo campo de pesquisas. Por
razões técnicas, alguns de seus projetos
só puderam ser realizados séculos depois
de sua morte.
O Renascimento
O Humanismo surgiu no século XIV na península Itálica. Daí difundiu-se pelo continente europeu, dando origem
a um movimento de renovação intelectual e artística conhecido como Renascimento. Esse nome foi dado pelo
arquiteto toscano Giorgio Vasari (1511-1574) para mostrar o desejo de se fazer renascer o pensamento e a arte dos
antigos gregos e romanos.
Durante o Renascimento - ou Renascença, como também é chamado -, difundiu-se entre os estudiosos a ênfase
na procura de explicações racionais - e não baseadas na fé - para os fatos da natureza. Esse tipo de pensamento,
conhecido como racionalismo, negava a ideia de que a Igreja ou os livros sagrados fossem suficientes para
responder a todas as dúvidas humanas.
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O pensamento político
Como reflexo dessas transformações, o próprio pensamento político passou por mudanças, graças,
principalmente, ao filósofo florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor de O príncipe, obra de ciência política
escrita em 1513. Nesse livro, a preocupação de Maquiavel não é o governo ideal, como era para os pensadores
medievais. Para ele, era mais importante analisar as formas pelas quais os líderes realmente exercem o poder.
O príncipe (ou rei) - dizia ele - não deveria se deter diante de nenhum obstáculo na luta para conquistar ou
conservar o controle de um Estado, mesmo que isso implicasse o uso da força e da violência contra seus
adversários.
Nesse processo de renovação do pensamento, a Igreja católica também foi alvo de críticas: na esfera da
reflexão sistemática e teórica, por pensadores como o humanista holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536), que em
seu livro Elogio da loucura condenava a corrupção existente na instituição; e no âmbito da sátira literária, por autores
como o escritor francês François Rabelais (1494- 1533), nos romances Gargântua e Pantagruel.
Tudo isso contribuiu para abalar o catolicismo e preparar o terreno para uma ruptura definitiva no interior da
Igreja, que culminaria com o surgimento de uma nova religião, o protestantismo.
A (re) descoberta do corpo humano
Na Idade Média, a Igreja não admitia a exploração científica do corpo humano. Durante o
Renascimento, ao contrário, a prática de dissecação de cadáveres ganhou impulso, permitindo melhor
conhecimento da anatomia humana e do funcionamento dos órgãos. Isso provocou grandes avanços, tanto na área
cirúrgica quanto no diagnóstico de doenças.
Graças a essas dissecações, órgãos até então desconhecidos foram observados e descritos, como ocorreu com
as trompas de Falópio, que ligam os ovários ao útero, estudadas pelo italiano Gabriel Falópio (1523-1562). Algumas
ideias equivocadas a respeito do corpo humano também foram corrigidas. O fisiologista inglês William Harvey (15781657), por exemplo, constatou que o coração, e não o fígado - como se acreditava antes -, era o órgão responsável
pela circulação sanguínea.
Essa preocupação com o corpo humano e seu funcionamento era consequência direta do antropocentrismo e
teve efeito imediato também nas Artes Plásticas. Assim, pintores e escultores redescobriram a beleza da nudez
feminina e masculina, cultuada, sobretudo na Grécia antiga e que havia deixado de ser objeto de atenção dos artistas
medievais.
Heliocentrismo x qeocentrismo
Segundo a doutrina da Igreja, a Terra (geo, em grego) era o centro do Universo, e o Sol e a Lua gravitavam a
seu redor, teoria conhecida como geocentrismo. Levado pelo espírito investigativo, o astrônomo polonês Nicolau
Copérnico (1473-1543) contestou essa concepção e colocou em seu lugar o heliocentrismo, afirmando que a Terra
girava ao redor do Sol (hélio, em grego).
As ideias de Copérnico foram retomadas por outros cientistas, como Giordano Bruno (1548- 1600), nascidas na
península Itálica e condenadas à morte pela Inquisição por defender o heliocentrismo; e Johannes Kepler (1571HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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1630), nascido no Sacro Império Romano-Germânico. Kepler chegou à conclusão de que a órbita dos planetas era
elíptica e não circular, como acreditavam os gregos, e demonstrou matematicamente a validade da teoria
heliocêntrica.
Também nascido na península Itálica, o físico Galileu Galilei (1564-1642) foi, assim como Giordano Bruno, um
Retrato de Isaac Newton, cientista inglês que se tornou célebre por descobrir
várias leis da Física, entre elas a lei da gravidade. Por amparar-se nos conhecimentos
herdados de seus antecessores, entre os quais Galileu Galilei, afirmou: "Se vi mais
longe do que os outros homens, foi porque me coloquei sobre os ombros de
gigantes".
defensor da teoria heliocêntrica. Em razão de suas ideias, Galileu foi preso e torturado pela Inquisição e só não
morreu na fogueira porque se retratou perante a Igreja, renunciando às suas convicções. Apenas em 1992 o Vaticano
reconheceria que errou ao acusá-lo de heresia. Apoiado no trabalho desses cientistas, em 1687 o inglês Isaac
Newton (1643-1727) publicou o livro Principia, que revolucionou o conhecimento científico. A obra lançou os
fundamentos da Física moderna. Ali estão expostos, por exemplo, uma teoria sobre o movimento dos corpos pela
ação da gravidade e os três princípios das leis do movimento: o de inércia, o de ação das forças e o de ação e
reação.
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A arte renascentista
Durante a Idade Média, a arte era vista como um ofício qualquer. Por isso a criatividade individual dos artistas
não era tão priorizada; dava-se mais valor à habilidade técnica para se trabalhar um objeto.
Um dos primeiros pintores a dar caráter artístico à sua atividade e a assinar suas obras foi Giotto di Bondone
(1267-1337), nascido na península Itálica. Ele inovou não apenas ao retratar com grande realismo pessoas, animais
e objetos, mas também por ter introduzido noções de profundidade na pintura. Dessa forma, ele abriu caminho para a
introdução da perspectiva, desenvolvida por Filippo Brunelleschi (1377-1446), Leon Battista Alberti (1404-1472) e
Leonardo da Vinci ("A perspectiva na pintura") criou o conceito de perspectiva exata. Segundo ele, quanto mais
distante um objeto estivesse em relação ao observador, tanto menor deveria ser representado na tela, de modo a
reproduzir fielmente a realidade. Tudo era feito para imprimir o maior realismo possível à pintura. A perspectiva exigia
do pintor conhecimentos não só de Geometria e Matemática, mas também de Óptica. Além disso, ele deveria saber
reproduzir as variações de cor, de luz e de sombra que a realidade apresentava. "Aos poucos, pintores, escultores e
arquitetos deixaram de ser considerados simples artesãos e passaram a ser vistos como verdadeiros artistas.
A perspectiva na pintura
Durante a Idade Média, a representação de imagens e cenas por meio da pintura era feita em duas
dimensões apenas: altura e largura. Imagens e cenas tinham, portanto, uma aparência chapada, sem
profundidade, como se as coisas representadas não tivessem volume. Com a técnica da perspectiva, as figuras
passaram a ser representadas em três dimensões - largura, altura e profundidade.
Com isso, as imagens ganhavam volume e pareciam adquirir vida dentro da tela. A inovação revolucionou a
pintura, ampliando o espaço pictórico. Com ela, tinha-se a impressão de que existia algo para além da tela.
Madona de Vladimir, ícone bizantino
pintado em Constantinopla no século XII
e mais tarde levado para a Rússia. Como
se pode perceber, a noção de perspectiva
está ausente na obra. Assim, a cena
representada não tem profundidade,
reduzindo-se a duas dimensões apenas, o
que lhe confere um aspecto chapado.
Compare-a com A Anunciação, de
Botticelli, ao lado.
A Anunciação (1490), quadro de
Sandro Botticelli.
A obra utiliza
claramente os recursos da perspectiva,
técnica que permite a representação da
profundidade em telas de apenas duas
dimensões: largura e altura. Nascido na
península Itálica, Botticelli presenciou a
aparição do Humanismo e foi um dos
artistas mais importantes do século XV.
Renovação literária
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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As condições econômicas, sociais e culturais da Europa nesse período criaram uma conjuntura ideal para o
aparecimento de novas formas literárias e poéticas. Muito contribuiu para isso o surgimento dos tipos móveis de
impressão, inventados por Johannes Gutenberg no século XV. Com eles, surgiu a imprensa moderna, que pôs fim ao
trabalho dos copistas e permitiu edições de livros com grandes tiragens ("Os tipos móveis de impressão").
Na verdade, essa renovação no campo das letras já vinha ocorrendo desde os últimos séculos da Idade Média,
em razão principalmente do trabalho de três escritores da península Itálica: Dante Alighieri (1265-1321), Francesco
Petrarca (1304 - 1374) e Giovanni Boccaccio (1313-1375).
O poema A divina comédia, de Dante Alighieri, trouxe como grande novidade o fato de ter sido escrito em língua
toscana, e não em latim, como acontecia até então. Petrarca, por sua vez, é considerado o criador da poesia lírica
moderna. Buscando nos clássicos da Antiguidade inspiração para seus versos, ele elevou o soneto a um dos mais
altos graus de expressão poética. Com Decamerão, Boccaccio renovou a literatura em prosa ao descrever ações e
emoções que movem o ser humano, como o ciúme, a traição, o ódio. Iniciada na península Itálica, essa renovação
literária logo se espalhou para países como Espanha, França, Portugal e Inglaterra. Em todos esses lugares, a
literatura atingiu seu auge no mesmo momento em que o país se transformava em potência econômica e política.
Assim, o apogeu literário de Portugal coincidiu com o período das Grandes Navegações. Nessa época se
destacaram o poeta Luís de Camões (1503-1580), que usou a forma da epopeia grega para contar os feitos do
navegador Vasco da Gama em Os lusíadas; e o dramaturgo Gil Vicente (c. 1465-c. 1536), famoso por suas peças
satíricas, como a Farsa de Inês Pereira e o Auto da barca do inferno.
Fenômeno semelhante ocorreu na Espanha, que viveu um período de grande prosperidade no século XVI,
graças à exploração das minas de prata de suas colônias na América. São desse período o poeta Garsilaso de Ia
Vega (c. 1501- 1536) e o escritor Miguel de Cervantes (1547- 1616), autor de Dom Quixote.
Já na Inglaterra, o momento de maior esplendor das letras coincidiu com o reinado de Elizabeth I (1558-1603),
quando o Estado passou por forte centralização política e a economia experimentou importante desenvolvimento.
Viveu nesse período também William Shakespeare (1564-1618), considerado por muitos o maior dramaturgo de
todos os tempos e autor de peças como Hamlet, Romeu e Julieta, A megera domada, Macbeth e Rei Lear.
Os tipos móveis de impressão
Até meados do século XV, a reprodução de um livro dependia de pessoas que copiavam à mão
o original. Além de lento, esse trabalho podia incorrer em imprecisões, fazendo com que o mesmo
texto variasse de um manuscrito para outro. Nessas circunstâncias, a invenção dos tipos móveis de
impressão por Johannes Gutenberg (c. 1397-1468) causou na vida cultural europeia o impacto de
uma revolução.
Vale lembrar que tipos móveis de impressão feitos de argila cozida já haviam sido inventados na
China durante o século XI. No invento de Gutenberg, as letras do alfabeto eram feitas em pequenos
blocos de chumbo - os tipos -, colocados um ao lado do outro para compor palavras e frases.
Gutenberg imprimiu seu primeiro livro - uma edição da Bíblia em latim - por volta de 1450. Sua
invenção tornou possível a rápida difusão de livros e, consequentemente, dos ideais do Humanismo
e do Renascimento.
Outra consequência do invento de Gutenberg foram as mudanças ocasionadas na técnica de
produção de imagens. Com as novas formas de impressão, as iluminuras desapareceram para dar
lugar a uma nova manifestação de arte gráfica: a gravura.
Atividades Complementares
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Síntese do Capítulo
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CAPITULO 5
Expansão Marítima e Comercial
Detalhe da superfície de Marte em foto de julho de 1997. A direita,
pode se ver o jipe Sojourner levado até o planeta vermelho por uma
nave lançada em 1996 pela Nasa, agência espacial norte-americana.
Atualmente, cientistas da Nasa planejam a primeira viagem tripulada a
Marte, prevista para 2018. Até lá, o tempo de travessia entre os dois
planetas, que hoje é de cerca de dez meses, poderá ser encurtado em
pelo menos dois meses.
Dois robôs norte-americanos em forma de jipe chegaram a Marte em janeiro de 2004, um ano
depois de terem sido lançados do Cabo Canaveral, nos Estados Unidos.
Desde meados do século XX, alguns países - como Estados Unidos e Rússia - investem
bilhões de dólares em pesquisas e viagens para fora da Terra.
Além do interesse científico, essas expedições visam, principalmente, descobrir a existência
de metais preciosos ou fontes de energia em outros planetas. De cena forma, essa corrida ao
espaço se assemelha às Grandes Navegações promovidas por potências europeias no começo
da Idade Moderna. Nessa competição, os primeiros a largar foram Portugal e Espanha, como
veremos neste capítulo.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
36
O comércio entre Oriente e Ocidente
Durante a Idade Média, o comércio entre a Ásia e a Europa era intermediado principalmente pelos árabes. Eles
adquiriam mercadorias no Oriente e as levavam até entrepostos comerciais instalados em áreas próximas ao mar
Negro ou na parte mais oriental do Mediterrâneo. Comerciantes europeus - principalmente venezianos e genoveses deslocavam-se até esses entrepostos, abasteciam- se dessas mercadorias e as revendiam nas feiras e cidades da
Europa.
Entre sair da Ásia e chegar à Europa, os preços desses produtos chegavam a aumentar mais de 4 mil por cento.
Assim, a mesma quantidade de pimenta, comprada por cerca de 3 ducados na índia, era revendida no Cairo por 68
ducados, e quando chegava às cidades da Europa estava cotada em quase 140 ducados. Os comerciantes europeus
sabiam que poderiam ter lucros maiores caso dispensassem os intermediários e adquirissem as mercadorias
diretamente de seus produtores nas índias (nome pelo qual chamavam todas as terras do leste da Ásia).
Até o século XIV, o conhecimento que se tinha na Europa a respeito de outros lugares do mundo era bastante
restrito. Além dos relatos do veneziano Marco Polo, as informações disponíveis sobre o Oriente eram encontradas,
quase sempre, em obras escritas por pessoas que jamais haviam estado na Ásia.
O conhecimento a respeito dos mares não era diferente. Muitos europeus acreditavam que em direção ao sul o
mar seria habitado por monstros e estaria sempre em chamas. Aqueles que arriscassem cruzar o Atlântico conhecido como Mar Tenebroso - iriam se deparar com o fim do mundo: em algum ponto o oceano acabaria e daria
lugar a um enorme abismo.
A presença turco-otomana
O medo de se aventurar por essas regiões começou a diminuir a partir de 1453, quando os turco-otomanos
tomaram Constantinopla e dominaram o Mediterrâneo oriental, passando a cobrar altas taxas das caravanas que por
ali passavam.
Para escapar dessas cobranças, muitos mercadores europeus passaram a procurar rotas alternativas em
direção às índias. Isso provocou um grande interesse por informações geográficas e marítimas. Nesse processo,
quem saiu na frente foi Portugal.
Entre os fatores que explicam esse pioneirismo, podem ser destacados: a posição geográfica do país,
extremamente favorável às navegações, já que Portugal, banhado pelas águas do Atlântico, era o reino mais
ocidental da Europa; a existência de um poder centralizado e de um Estado unificado, sem dissensões internas; e a
longa experiência de pescadores e marinheiros lusitanos na costa do Atlântico.
Portugal largou na frente
Desde meados do século XIII, comerciantes e marinheiros portugueses faziam frequentes viagens a outras
regiões da Europa: levavam para a Inglaterra e a França, por exemplo, produtos como azeite, vinho, couro e frutas
secas. Ao retornarem, traziam para a terra natal móveis de madeira, armas de ferro e tecidos, entre outros artigos.
Por essa época, o dinheiro começava a substituir gradualmente a posse da terra como símbolo de prestígio e
poder. Assim, o comércio marítimo promoveu pouco a pouco a ascensão social da burguesia mercantil. Além disso,
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
37
os mercadores portugueses foram beneficiados por alianças e acordos de interesse mútuo estabelecidos com a
Coroa portuguesa.
De fato, por meio de leis, decretos e incentivos, a monarquia concedeu diversos privilégios às pessoas que
atuavam no comércio. Ao mesmo tempo, o governo de Lisboa colocou em prática uma política protecionista,
passando a fazer restrições à ação de mercadores estrangeiros em Portugal, de modo a salvaguardar os interesses
dos comerciantes nacionais em face da concorrência externa.
Essa relação entre a Coroa e a burguesia mercantil se consolidou de vez entre 1383 e 1385, quando ocorreu a
Revolução de Avis, que expulsou do país as forças de Castela e colocou no trono dom João I, apoiado
principalmente pela burguesia.
Em 1415, dom João I resolveu invadir Ceuta, importante entreposto comercial e militar situado no norte da
África. O ataque tinha por objetivo tirar dos muçulmanos o controle do comércio nessa região e colocá-lo em mãos
portuguesas.
Com a conquista de Ceuta, coordenada por um dos filhos do rei, o infante dom Henrique, teve início o processo
de expansão ultramarina de Portugal.
Após a conquista, dom Henrique foi agraciado com o título de grão-mestre da Ordem de Cristo, rica instituição
religiosa cujo principal objetivo era "combater os infiéis" em qualquer lugar do mundo. Em Ceuta circulavam
informações sobre a existência de ouro no reino do Mali, ao sul do Saara. Atraído por essas informações, dom
Henrique planejou a conquista da costa oeste da África em direção ao sul, obtendo para isso financiamento da
Ordem de Cristo.
Iluminura da obra Chroniquesd'Angleterre (século XIV). Nela é representada a batalha de
Aljubarrota, ocorrida em 1385, e na qual as tropas portuguesas de dom João l de Avis
derrotaram as forças de Castela. A vitória portuguesa assegurou a unificação e a
independência do Reino de Portugal.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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A Escola de Sagres
Algum tempo depois da conquista de Ceuta, dom Henrique se transferiu para o Algarves, fixando se nas
proximidades de Sagres, a vila mais ocidental da Europa. Ali, reuniu cartógrafos, astrônomos, matemáticos e
navegadores. Juntos, passaram a estudar o legado náutico deixado por grandes povos do passado - fenícios,
egípcios, gregos, árabes, etc.
Os estudos desse grupo de especialistas não chegaram a tomar a forma de uma instituição educacional
permanente, mas ficaram conhecidos como Escola de Sagres. Como resultado de suas atividades, foram
desenvolvidas cartas marítimas e criados ou aperfeiçoados diversos instrumentos de navegação, como mostra "A
tecnologia náutica". Além disso, foi inventado um novo tipo de embarcação, a caravela.
A tecnologia náutica
As caravelas eram navios velozes e relativamente pequenos. Tinham em média 20 a
30 metros de comprimento e 6 a 8 metros de largura.
Com 50 toneladas de capacidade, eram tripuladas por 40 ou 50 homens. Com vento a
favor, chegavam a percorrer 250 quilômetros por dia.
A grande vantagem das caravelas sobre os pesados navios mercantes utilizados no
Mediterrâneo era a versatilidade. Ideais para navegação costeira, podiam entrar em rios e
estuários, manobrar em águas baixas, contornar arrecifes e bancos de areia. E também
zarpar rapidamente, no caso de um ataque imprevisto.
Entre os instrumentos utilizados pelos navegantes em suas viagens a partir do século
XV, destacam-se a bússola, o quadrante e o astrolábio. A primeira é uma agulha magnética
que indica a direção do polo Norte e ajuda a identificar a posição percorrida pelo navio; o
quadrante é um arco graduado, de 45 graus, que fornece a latitude exata em que se
encontra a embarcação. Já o astrolábio consiste em um disco metálico ou de madeira,
utilizado para determinar a posição do navio com base na das estrelas.
(Adaptado de: O salto da qualidade. Veja On-Line.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/idade/
descobrimento/p_040.html>. Acesso em: 7fev. 2004.)
Astrolábio feito de ouro, usado no final da
Idade Média e durante o Renascimento.
Fundamental para as Grandes Navegações,
esse instrumento era capaz de determinar a
altitude do Sol e de outros corpos celestes,
permitindo assim calcular a posição na qual
a embarcação se encontrava na superfície
do globo terrestre.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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As expedições marítimas rumo ao sul começaram em 1415 (veja o mapa abaixo). Entre 1420 e 1428 ocorreu a
conquista das ilhas da Madeira e dos Açores, nas quais os portugueses introduziram o plantio de trigo, uvas e canade-açúcar.
A partir de então, as expedições começaram a esbarrar no temido cabo Bojador. Região de arrecifes
pontiagudos, o cabo era considerado um obstáculo intransponível pelos portugueses. Quando chegavam ali, as
caravelas sofriam sérias avarias ou afundavam. Em poucos anos, cerca de vinte embarcações foram a pique.
Para os supersticiosos, a destruição dos barcos no Bojador devia-se aos monstros que habitavam o oceano ou à
fúria divina. Em 1434 uma expedição capitaneada por Gil Eanes, afastando-se da costa africana, conseguiu
finalmente ultrapassar o temido obstáculo. Com a travessia do Bojador, os portugueses haviam vencido o
desconhecido e dominado o medo (leia no boxe "Mar português" um poema de Fernando Pessoa que faz alusão à
importância da travessia do cabo Bojador para o povo português).
Mar português
O mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos,
Quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo ao déu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(Fernando Pessoa. Obra poética (volume único).
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.p. 16
O horizonte se amplia
Vencido o Bojador, o governo português pôde dar continuidade às expedições marítimas em direção ao sul da
costa africana. Em 1444, uma dessas expedições retornou a Portugal com cerca de duzentos africanos aprisionados,
vendidos depois como escravos. Esse foi o primeiro lote de venda pública de escravos em Portugal, prática que logo
se generalizaria entre os mercadores portugueses (e de outras nacionalidades) e que se estenderia por mais de
quatro séculos.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Quando dom Henrique morreu, em 1460, os portugueses já haviam chegado até a região da atual Serra Leoa.
Uma bula do papa Eugênio IV garantia-lhes o monopólio comercial no continente africano e o direito de "capturar e
subjugar os sarracenos [muçulmanos] e pagãos [africanos] e qualquer outro incrédulo ou inimigo de Cristo, como
também seus reinos, ducados, principados e outras propriedades, assim como reduzir essas pessoas à escravidão
perpétua".
O último passo nesse avanço pela costa africana ocorreu em 1487, quando Bartolomeu Dias dobrou a
extremidade sul do continente africano.
Chamou o acidente geográfico ali encontrado de cabo das Tormentas. Mais tarde, o rei dom João II (1481-1495)
mudou esse nome para cabo da Boa Esperança. A essa altura, os portugueses já haviam definido seu mais
ambicioso projeto: encontrar o caminho marítimo para as índias.
A Espanha entra na disputa
Os feitos portugueses estimularam o interesse de navegantes
de outras regiões da Europa em descobrir um caminho alternativo
O primeiro encontro
para as índias. Um deles era o genovês Cristóvão Colombo.
Acreditando na esfericidade da Terra, Colombo argumentava que
a forma mais rápida de se chegar às índias a partir da Europa
seria pelo oceano Atlântico.
Segundo sua tese, para se chegar ao Oriente seria preciso
navegar para o Ocidente. Diante da recusa do rei de Portugal dom
João II de financiar seu projeto, o genovês se dirigiu aos reis
espanhóis Fernando e Isabel e deles conseguiu apoio. Em agosto
de 1492, acompanhado por cerca de noventa homens, Colombo
deixou o porto de Paios, na Andaluzia, no comando das caravelas
Santa Maria, Pinta e Nina.
Navegando sempre em direção a oeste, no dia 12 de outubro
do mesmo ano avistou terra firme. Acreditou ter chegado às
índias, mas suas embarcações haviam aportado em um continente
[Dei aos índios] uns gorros coloridos e umas
miçangas que puseram no pescoço, além de
outras coisas de pouco valor, o que lhes
causou grande prazer e ficaram tão nossos
amigos que era uma maravilha. (...) Enfim,
tudo aceitavam e davam do que tinham com
a maior boa vontade. Mas me pareceu que
era gente que não possuía praticamente
nada. Andavam nus como a mãe lhes deu à
luz; inclusive as mulheres, embora só tenha
visto uma robusta rapariga. (...) Não andam
com armas, que nem conhecem, pois lhes
mostrei espadas, que pegaram pelo fio e se
cortaram por ignorância. Não têm nenhum
ferro: as suas lanças são varas sem ferro
(...). Devem ser bons serviçais e habilidosos,
pois noto que repetem logo o que a gente
diz e creio que depressa se fariam cristãos;
pareceu-me que não tinham nenhuma
religião.
desconhecido dos europeus e que posteriormente passou a ser
chamado de América. Veja "O primeiro encontro" trechos do diário
(Cristóvão Colombo. Diários da descoberta da América.
Porto Alegre: L&PM, 1991. p. 44-5.)
de Colombo no qual ele descreve o primeiro contato com os
nativos da região.
Entre 1493 e 1502, Colombo realizou mais três viagens ao "novo" continente sob o patrocínio da Espanha, mas
as riquezas tão desejadas não foram encontradas. Em 1506, Colombo morreu em Valladolid, na Espanha,
abandonado, sem prestígio e certo de que encontrara o caminho para as índias.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Portugal e Espanha dividem o mundo
O feito de Colombo levou o governo de Portugal e o da Espanha a se envolverem em uma disputa a
respeito de qual dos dois países teria primazia sobre as "novas" terras. Como não chegavam a um acordo,
os reis de Portugal e Espanha pediram ao papa Alexandre VI que servisse de juiz na disputa.
Em 7 de junho de 1494, com o testemunho do papa, representantes dos dois governos chegaram
finalmente a um acordo e assinaram o Tratado de Tordesilhas.
O acordo dividia o mundo em dois blocos, a partir de uma linha imaginária que ficava 370 léguas a
oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras já encontradas ou que viessem a sê-lo a oeste desse marco
pertenceriam à Espanha. As terras situadas a leste seriam de Portugal.
Vasco da Gama chega às índias
Após a assinatura do Tratado de Tordesilhas, o
governo da Espanha continuou com suas expedições em
direção ao continente americano. O de Portugal, em
contrapartida, manteve seus planos de chegar às índias
contornando a África. Assim, após a travessia do cabo da
Boa Esperança os portugueses decidiram organizar uma
nova viagem. Dessa vez, o escolhido para comandar a
empreitada foi Vasco da Gama.
Vasco da Gama partiu de Lisboa em julho de 1497,
com quatro navios e 170 homens sob seu comando. Em
novembro a frota dobrou o cabo da Boa Esperança. Em
março do ano seguinte chegou a Sofala, na atual costa de
Moçambique.
Ali, Vasco da Gama conseguiu a ajuda de um
marinheiro árabe que concordou em guiá-los pelo oceano
Indico até as índias. Assim, em maio de 1498, a frota
portuguesa aportou em Calicute, na índia atual. Era a prova
definitiva de que se podia chegar ao Oriente sem passar
pelo Mediterrâneo.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
Vasco da Gama em desenho português do século
XVI. O ambicioso projeto de chegar às índias
contornando a África eternizou o nome do
navegador, que retornou a Portugal dois anos após
a partida. As enormes dificuldades da viagem
podem ser medidas pelo fato de retornarem
apenas dois navios e 55 marinheiros, de uma
expedição que partira com quatro embarcações e
170 homens.
42
Depois das índias
O sucesso da empreitada de Vasco da Gama estimulou novas viagens. Em 1500, após afastar-se da
costa africana, o navegador Pedro Álvares Cabral alcançou terras a oeste do Atlântico Sul, que mais tarde
passariam a ser chamadas de Brasil. No ano seguinte, o florentino Américo Vespúcio, a serviço do rei de
Portugal, mapeou essas terras, chegando à conclusão de que não faziam parte das índias, mas sim de um
novo continente que, em sua homenagem, passou a ser chamado de América.
Em 1519, o português Fernão de Magalhães, a serviço da Coroa espanhola, deu início à primeira
viagem ao redor da Terra. Morto em uma ilha do Pacífico, Magalhães jamais retornaria ao ponto de
partida, mas sua viagem de circunavegação seria completada por Sebastião Elcano, que estaria de volta à
Espanha em 1522 (veja o mapa a seguir).
A aventura de Magalhães e Elcano provava de uma vez por todas a esfericidade da Terra. Depois de
um século de navegações e da conquista de um novo continente pelos europeus, o mundo nunca mais
seria o mesmo.
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Síntese do Capítulo
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CAPITULO 6
Povos Pré-Colombianos
Os Povos Pré-Colombianos
Calendário Asteca
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Com
base
em
vestígios
encontrados
em
pesquisas
arqueológicas, pode-se afirmar que por volta de 4500 a.C. as
práticas agrícolas já haviam se consolidado no continente
americano. Diversos povos da região plantavam milho, abóbora,
pimentão, tomate, feijão. Por essa época, grupos nômades se
sedentarizaram e formaram os primeiros assentamentos do
continente.
Com o tempo, alguns desses povoados cresceram e
assumiram uma estrutura mais complexa, comercializando
produtos e constituindo formas de poder centralizado em torno
de um líder comunitário ou religioso. Surgiram, assim, centros
cerimoniais que, em alguns casos, se transformaram em
cidades-estados. Nesse processo, desenvolveram-se algumas
civilizações, como as dos Norte Chico, a dos chavín e a dos
olmecas.
Ruínas da pirâmide Grande Jaguar, na cidade de
Tikal, na atual Guatemala, que guarda a tumba do
governante maia AhCacao. Construído no ano 870, o
templo é um dos símbolos arquitetônicos do apogeu da
civilização maia, que em seu período clássico
conquistou grandes avanços científicos, tecnológicos,
sociais e artísticos.
Os maias
A civilização maia surgiu por volta de 1800 a.C, tendo perdurado por mais de 3 mil anos. Durante esse período,
chegou a ocupar uma área de quase 500 mil quilômetros quadrados na península de Yucatán - no sul do México
atual - e em áreas da região onde hoje se encontram Belize, Guatemala, Honduras e El Salvador, na América Central
(veja o mapa).
Sua história costuma ser dividida em três grandes períodos: pré-clássico, que se estende de 1800 a.C. até 250,
e é a época de formação da sociedade maia; clássico, período de maior esplendor, compreendido entre 250 e 900; e
pós-clássico, que vai de 900 até 1500, quando os maias entraram em declínio e foram dominados pelos
colonizadores espanhóis.
O período pré-clássico teve início quando povos provenientes do oeste dos Estados Unidos atuais se instalaram
em regiões do México e da América Central. Ali, eles constituíram os primeiros povoados, passando a viver da caça,
da pesca e da agricultura, principalmente do cultivo do milho. Com o tempo, assimilaram a herança olmeca e
ergueram centros cerimoniais, pirâmides e monumentos em grande escala.
Durante o período clássico, a civilização maia atingiu o apogeu, obtendo grandes avanços científicos,
tecnológicos, sociais e artísticos. As cidades cresceram. Algumas chegaram a abrigar até 60 mil pessoas, como
Tikal, na atual Guatemala. Outros importantes centros urbanos eram Uxmal, na península de Yucatán, onde foi
construído um grande conjunto cerimonial, e Etzná (México), famosa por seu sistema de canais para a captação de
água pluvial.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
46
Nessa
época,
as
atividades
comercias
eram
relativamente intensas. Usando sementes de cacau
como moeda, os maias comerciavam com outros povos
produtos como obsidiana, jade, peles, baunilha, tecidos,
sal, etc. A observação dos astros tornou-se atividade
significativa. Como resultado de seus estudos, os
astrônomos maias mediram com precisão o ciclo do Sol,
da Lua e de Vênus e desenvolveram dois calendários:
um ritual, de 260 dias, e outro civil, de 365 dias. Além
disso, criaram seu próprio zodíaco, de treze signos.
Por essa época também, os maias instituíram um
sistema
numérico
que incluía
o
número
zero
e
inventaram o mais avançado sistema de escrita da
América pré-colombiana. Essa escrita, de caracteres
hieroglíficos, é encontrada em códices 3, monumentos e
nas diversas esteias erguidas em seu território. A arte
também ganhou impulso, destacando- se os objetos de
cerâmica, as esculturas de barro ou de jade e as pinturas murais que retratam diversos aspectos da vida religiosa da
população.
São pouco conhecidas as razões pelas quais a sociedade maia entrou em declínio durante o período pósclássico. Por volta de 900, a península de Yucatán começou a sofrer invasões de outros povos, entre eles, os
toltecas. Quando os espanhóis chegaram, no final do século XV, as cidades encontravam- se abandonadas e seu
povo, disperso.
Sociedade e religião
Em seu período clássico, a sociedade maia encontrava-se rigidamente hierarquizada. No topo da pirâmide social
ficavam o chefe de Estado e seus familiares. Conhecido como halac-vinic, ele acumulava as funções de líder civil,
militar e religioso. Abaixo, vinha a nobreza, que ocupava os principais cargos administrativos, religiosos e militares.
Dessa camada social faziam parte também os grandes comerciantes. Em seguida, encontravam-se os guerreiros,
artistas e artesãos. Na camada inferior situavam-se os camponeses e a população pobre. Na base da pirâmide
estavam os escravos, em geral, prisioneiros de guerra.
A religião desempenhava papel preponderante entre os maias. Politeístas, eles costumavam fazer oferendas e
sacrifícios humanos a seus diversos deuses, entre os quais sobressaíam Itzam Na, que simbolizava o céu e a Terra,
Ixchel, deusa da Lua, e Chaac, divindade da chuva. Em homenagem a esses e a outros deuses, os maias ergueram
inúmeros templos e santuários religiosos.
3
Códice: principal meio de registro e transmissão do saber humano no período que compreende o final do Império Romano e a Idade Média. A
origem da palavra vem do latim, codex, que quer dizer "tabuinha de escrever". Na Roma antiga eram utilizadas placas enceradas de marfim ou
madeira para registros contábeis ou textos didáticos. Com esses materiais, chegaram a constituir algo que se assemelhava à ideia do livro, unidos
por cordões ou anéis. Essas placas foram as precursoras dos códices que seriam usados a partir do século l d.C.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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A civilização asteca
Por volta do século XII, os astecas - que se
autodenominavam mexicas - eram uma das tantas tribos
nômades, caçadoras e guerreiras que viviam no norte do
México atual.
Em razão das difíceis condições climáticas da região, os
mexicas marcharam para o sul em busca de melhores terras.
Iniciada por volta de 1168, à migração só terminou em 1325,
aproximadamente, quando eles se instalaram em uma ilha
no lago Texcoco, no planalto central do México. Ao
chegarem, foram subjugados pelos tepanecas, que já viviam
na região juntamente com outros povos.
Como a ilha não era grande o suficiente para todos, os
astecas, mesmo dominados pelos tepanecas, construíram ao
redor ilhas artificiais conhecidas como chinampas. Da junção
das chinampas com a ilha central surgiria a cidade de
Tenochtitlán, que seria mais tarde a capital asteca e, séculos
depois, do próprio México atual, com o nome de Cidade do
México (veja o mapa).
A sujeição aos tepanecas durou aproximadamente um século, período no qual os mexicas assimilaram os
conhecimentos técnicos, científicos, militares e políticos tanto de seus dominadores quanto de outros povos da
região.
No decorrer desse processo, os astecas deixaram de ser uma tribo e se constituíram em sociedade mais
complexa, dotada de uma monarquia hierárquica. Em 1428, liderados pelo rei Itzcóatl, eles se rebelaram contra os
tepanecas, libertando se do jugo. A partir de então, passaram a dominar os povos das regiões circunvizinhas (veja o
mapa).
A estrutura social asteca
O governo asteca era exercido por um monarca eleito entre a nobreza hereditária. Comandante supremo do
exército, ele governava com o apoio de um conselho constituído por chefes militares. Estes últimos, juntamente com
os altos funcionários públicos e os religiosos, compunham a nobreza.
Abaixo dessa aristocracia, estavam os grandes negociantes, conhecidos como pochtecas. Apenas eles podiam
chegar até a região do golfo do México e à costa do Pacífico para vender seus produtos - ervas medicinais, joias,
perfumes, etc. Ao retornarem, traziam consigo pedras preciosas, peles de jaguar e puma e plumas de quetzal, uma
ave rara das florestas. Como moeda, utilizavam sementes de cacau.
Abaixo dos pochtecas vinham os artesãos, grupo numeroso e respeitado, responsável pela confecção das
roupas e adornos do soberano e da nobreza, assim como de objetos religiosos. A camada social seguinte era a dos
camponeses, que cultivavam as terras cedidas pelos nobres.
Ali, eles plantavam milho, feijão, abóbora, tomate e batata. Nas épocas em que o trabalho nos campos diminuía,
participavam das construções públicas.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
48
O último degrau da pirâmide social era ocupado pelos escravos, geralmente indigentes, prisioneiros de guerra
ou pessoas que não haviam conseguido quitar suas dívidas.
O esplendor de Tenochtitlán
A economia asteca tinha por base a agricultura, mas o comércio e o artesanato eram igualmente importantes.
Além dessas fontes de renda, o Estado dispunha dos tributos periodicamente pagos pelos povos subjugados. Graças
a essas riquezas, Tenochtitlán passou por profundas reformas urbanísticas, com ampliação do perímetro urbano e a
abertura de canais fluviais navegáveis.
Ao mesmo tempo, engenheiros e trabalhadores astecas construíram aquedutos de pedra destinados ao
transporte de água potável, além de pirâmides e templos religiosos, uma vez que a religião desempenhava papel
primordial no dia-a-dia da população. Para os astecas, todos os acontecimentos em torno da vida e da morte eram
decorrentes da ação de um deus.
Até 1521, ano em que Tenochtitlán foi conquistada pelos espanhóis, a civilização asteca constituiu um
verdadeiro império, que abarcava quase todo o centro do atual território mexicano, estendendo-se do Pacífico até o
golfo do México.
Cerca de 15 milhões de pessoas, espalhadas pelos campos e por quinhentas cidades, viviam no interior desse
império. Em 1500, somente Tenochtitlán tinha aproximadamente 200 mil habitantes, quase cinco vezes mais do que
Londres, a maior cidade europeia da época.
Particular importância tinha a educação. Praticamente todas as crianças estudavam. Os filhos de nobres e
grandes comerciantes tinham aulas nos calmecac, templos destinados a formar sacerdotes e altos funcionários do
governo. As demais crianças estudavam nos telpochcalli, colégios que se espalhavam por todo a território asteca. Em
ambos os casos, os jovens tinham aulas de práticas militares.
Os astecas utilizavam uma escrita pictográfica e hieroglífica. Graças a ela, podemos hoje conhecer e estudar
vários aspectos de sua cultura. Também desenvolveram um calendário de 365 dias, agrupados em dezoito meses de
vinte dias, mais cinco dias dedicados aos rituais de sacrifício.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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O Império Inca
Originalmente, os incas habitavam os Andes bolivianos,
ao sul do lago Titicaca, a 3.800 metros acima do nível do
mar. Até o século XII, eles eram apenas uma das diversas
tribos que povoavam a América do Sul. Como suas terras
eram constantemente invadidas, no final do século eles
abandonaram a região e se estabeleceram no Vale do Cuzco,
em uma depressão da cordilheira andina. Ali, os incas
viveram inicialmente subordinados a grupos falantes da
língua quéchua. No início do século XIV, no entanto, já
haviam se tornado o mais importante povo de uma federação
de tribos andinas. Com um exército bem organizado, apoiado
na prestação de serviço militar obrigatório, eles conquistaram
pouco a pouco novos territórios.
Em menos de cem anos, seus antigos aliados da
federação haviam sido subjugados. Era o início do Império
Inca.
Em seu período de maior esplendor, no século XVI, o
Império Inca estendia-se por uma área de mais de 1 milhão
de quilômetros quadrados - englobando territórios hoje
pertencentes ao Peru, Equador, Bolívia, Colômbia, Chile e Argentina -, na qual viviam cerca de 10 milhões de
pessoas. A cidade de Cuzco - que significa "umbigo do mundo" - era seu centro político, religioso e cultural.
A organização do império
O Império Inca chegou a reunir cerca de cem povos distintos. Todos eles encontravam-se subordinados a um
soberano, o Sapa Inca (único Inca) ou Intip Cori (filho do Sol). Adorado como verdadeiro deus, o Inca exercia o poder
com a ajuda de um conselho formado por pessoas de sua família.
Seus parentes ainda ocupavam os cargos mais elevados da administração pública, como os de juiz, general e
sacerdote.
O aparato administrativo do Estado contava também com governadores de província - encarregados, entre
outras tarefas, de fazer cumprir a justiça - e com os curacas, líderes das etnias dominadas, que funcionavam como
um braço do poder imperial nas aldeias.
A grande maioria da população era formada por lavradores, pois a produção agrícola era a base da vida
econômica. Ao casar-se, cada lavrador recebia do curaca de sua aldeia um lote de terra no qual cultivava
principalmente milho, batata-doce, abacate, amendoim e batata. Além de garantir seu sustento, os camponeses eram
obrigados a trabalhar nas obras públicas, nas terras do Sapa Inca e prestar serviço militar, devido a MITA.
As aldeias, chamadas de ayllu, constituíam a comunidade básica da sociedade. Nelas viviam os camponeses e
suas famílias. Além dos lotes individuais, havia terras de uso coletivo, nas quais os camponeses criavam a alpaca HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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mamífera do qual obtinham a lã para a fabricação de tecidos - e a lhama, utilizada principalmente como meio de
transporte de carga. Esses animais também eram aproveitados como alimento.
Técnicos do governo dirigiam-se com frequência a essas aldeias para ensinar aos moradores os melhores
processos de criação de animais e para orientá-los a respeito do preparo da terra e de outros afazeres, como o
plantio, a irrigação, a colheita e a conservação de alimentos. Para garantir o sustento da população no inverno,
muitos gêneros alimentícios eram desidratados e estocados. Parte da colheita era usada como pagamento de
impostos.
O abastecimento das diversas regiões do Império era feito por meio de um sistema de estradas que ligava o
território inca de norte a sul e de leste a oeste. Segundo pesquisas recentes, essas estradas totalizavam de 30 mil a
50 mil quilômetros de extensão.
Ao longo delas havia postos de correio separados uns dos outros por alguns quilômetros. Em cada posto havia
um mensageiro, conhecido como chaski. Quando ele recebia uma mensagem, corria ao posto mais próximo e a
retransmitia ao chaski de plantão. Este, por sua vez, passava o comunicado ao mensageiro do posto seguinte depois
de correr até ele, e assim sucessivamente até o destino final.
Além de estradas, os engenheiros e trabalhadores incas
ergueram cidades, templos e palácios. Eles desenvolveram uma
técnica que permitia a sobreposição de grandes blocos de pedras
sem a utilização de nenhum tipo de argamassa. As cidades mais
desenvolvidas contavam com sistemas de água encanada e esgoto.
Quipo, Instrumento de contabilidade usado
pelos incas. Os quipos eram feitos de
cordões coloridos, de comprimentos e
grossuras diferentes, com nós de diferentes
significados. Usava-se o quipo para transmitir
informações ao imperador em Cuzco, no
centro do império. A cada dois quilômetros,
os mensageiros se revezavam para que a
mensagem chegasse mais rapidamente.
Algumas dessas obras resistiram à ação do tempo, ao
vandalismo e aos terremotos e ainda estão de pé. Um dos exemplos
mais significativos é Machu Picchu, cidade encravada no alto de uma
montanha no Peru. Os incas não desenvolveram uma escrita formal.
Para questões de contabilidade, porém, eles criaram os quipos,
sistema no qual as informações eram registradas por meio de feixes
de cordas de tamanhos e cores diferentes e com diversos nós.
Os quipos permitiam aos funcionários do Estado armazenar
informações relativas às safras agrícolas, ao pagamento de
impostos, etc.
No âmbito da criação artística, os incas se destacaram
principalmente por seus trabalhos de cerâmica, tecelagem e
ourivesaria.
Seus
artífices
tinham
grande
experiência
na
manipulação da prata, sabiam fazer ligas de cobre e trabalhavam
com a platina, ainda desconhecida na Europa. Mas o metal com o
qual elaboraram suas peças de maior valor artístico foi o ouro. Com
ele confeccionavam adornos, estátuas e ídolos religiosos. O ouro
também foi empregado na decoração de muitos palácios e templos,
principalmente os de Cuzco.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Série de terraços agrícolas perto de ruínas incas em Machu Picchu, no Peru atual.
Nesses terraços nas montanhas plantavam-se alimentos de subsistência da população.
Base da economia, a agricultura dos incas era muito desenvolvida e planejada tendo em
vista os anos de escassez.
Mistérios e perigos de Machu Picchu
Declarado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco em 1983, Machu Picchu ainda
é um enigma para historiadores e arqueólogos. Devido à existência de um grande número de
templos na sua área de 13 km2, muitos acreditam que o local tinha função religiosa; outros
afirmam que ali provavelmente funcionava uma universidade ou centro de estudos, uma vez
que evidências arqueológicas indicam a existência de fazendas experimentais e observatórios
astronômicos.
Muitos pesquisadores concordam, contudo, que o local era frequentado apenas pelas elites,
ou seja, pouquíssimas pessoas tinham acesso a ele. Talvez por esse motivo, Machu Picchu
permaneceu desconhecida também para os conquistadores espanhóis. O primeiro estrangeiro
a encontrá-la foi o norte-americano Ahrom Bingham, em 1911.
Considerado o principal conjunto arquitetônico do continente americano, Machu Picchu
corre o risco de desaparecer. Cientistas explicam que a caminhada constante de mais de l200
pessoas por dia pelo local provoca um movimento nas pedras abalando as antigas
construções. Eles alertam que, em termos cumulativos, esse movimento equivale a um
terremoto de pequena escala.
(Fontes: Jornada à terra inca. Disponível em: <www.discoveryportugues. com/inca/feature2.shtml>.
Acesso em: 2fev. 2004; Rafael Kenski. Viagem ao passado da América. Superinteressante,/ev. 2002.)
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Enquanto isso...
As tribos da América do Norte
Enquanto astecas e incas criaram sociedades complexas e
Estados altamente centralizados, a América do Norte era
ocupada por tribos nômades e seminômades, que viviam
principalmente da caça ao bisão, da pesca e, em alguns casos,
da agricultura de queimadas.
Por volta do século XVI, viviam na região povos como os
Apaches, Sioux, Navajos, Comanches, Moicanos, Iroqueses e
outros. Juntos, eles totalizavam cerca de 10 milhões de
pessoas, distribuídas por dezenas de grupos linguísticos e
centenas de tribos.
De modo geral, os indígenas nortes americanos não
conheciam os metais e praticavam trabalhos bastante rústicos
de
cerâmica
e
tecelagem.
Como
moradias,
usavam
principalmente tendas de peles em forma de cones. Em alguns
lugares, como no Canadá atual, erguiam casas de troncos; já
no sudeste dos atuais Estados Unidos, chegaram a construir
aldeias com edificações de tijolos de argila crua secada ao sol
(adobe).
Moça índia sioux, pintura em guache sobre papel,
de Alfred Jacob Miler (1810-1874)
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Síntese do Capítulo
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CAPITULO 7
Colonização Espanhola
Domínio Espanhol
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Em busca do ouro
A notícia de que os índios de Hispaniola - onde Cristóvão Colombo desembarcara em 1492 - usavam adereços
de ouro provocou alvoroço entre os espanhóis. Espicaçados pelo desejo de enriquecimento fácil, muitos deles se
deslocaram para lá: em fins de 1493, tinha início a exploração aurífera na região.
Ao chegar a Hispaniola, os espanhóis não pouparam seus habitantes. Os que não foram exterminados passaram
à condição de escravos, obrigados a trabalhar na extração de ouro. Além disso, parte da população indígena morreu
ao entrar em contato com doenças levadas pelos europeus e para as quais não tinham anticorpos. O boxe a seguir
procura explicar por que, até então, os nativos não haviam sido vítimas de epidemias letais, como os europeus.
Segundo cálculos da época, feitos pelo frade dominicano espanhol Bartolomé de Ias Casas, um dos maiores críticos
das atrocidades cometidas contra os índios, cerca de 12 milhões de nativos teriam morrido na América espanhola
vítimas do processo de colonização. Veja no boxe 2 "Ai de ti, Hispaniola" a descrição de como os espanhóis
subjugaram a população local.
BOXE 1
Criação de animais e epidemias
Muito mais ameríndios morreram abatidos pelos germes eurasianos (isto é, surgidos na
Europa e na Ásia em tempos remotos) do que pelas armas de fogo e espadas europeias nos
campos de batalhas. A principal razão pela qual epidemias letais não surgiram nas Américas
fica clara quando fazemos uma pergunta simples: a partir de que micróbios elas poderiam ter
se desenvolvido?
As doenças eurasianas de multidão se desenvolveram a partir das doenças de
rebanhos domesticados. Enquanto muitos desses animais existiam na Eurásia, apenas cinco
foram domesticados nas Américas: o peru no México e no sudoeste dos Estados Unidos, a
Ihama e alpaca e o porquinho-da-índia nos Andes, o pato do mato na América do Sul tropical
e o cachorro em todo o continente americano. Assim, os europeus não teriam conseguido
vencer tantos nativos das Américas sem os germes, que se desenvolveram no passado a
partir da prolongada convivência dos eurasianos com os animais domésticos.
(Adaptado de: Jared Diamond. Armas, germes e aço: o destino das sociedades humanas. 4.
ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 210-4.)
Com o esgotamento do ouro de Hispaniola, as atenções dos espanhóis se voltaram para outras ilhas próximas. A
partir de 1502, Hispaniola tornou-se prioritariamente um centro administrativo e ponto de abastecimento dos
exploradores que partiam para outras regiões em busca de ouro. Por essa época, Nicolás de Ovando, nomeado
governador da colônia, chegou a Hispaniola com mais 2500 pessoas, entre religiosos, funcionários públicos e
colonos pobres.
Com a chegada do governador, foi implantado um sistema de colonização conhecido como encomienda. Esse
modelo de exploração consistia em conceder a um colono o direito de escravizar certo número de indígenas para
fazê-los trabalhar na exploração de ouro, na agricultura ou em serviços domésticos. Em troca, o colono deveria pagar
um tributo à metrópole e cristianizar os nativos sob seu controle.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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BOXE 2
Ai de ti, Hispaniola
Os espanhóis, com seus cavalos, suas
espadas e lanças começaram a praticar
crueldades estranhas: entravam nas vilas, burgos
e aldeias, não poupando nem as crianças e os
homens velhos, nem as mulheres grávidas e
parturientes e lhes abriam o ventre e os faziam em
pedaços como se estivessem golpeando cordeiros
fechados em seu redil. Faziam apostas sobre
quem, de um só golpe de espada, fenderia e
abriria um homem pela metade ou quem, mais
habilmente e mais destramente, de um só golpe
lhe abriria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria
melhor as entranhas de um homem de um só
golpe. Arrancavam os filhos do seio das mães e
lhes esfregava a cabeça contra os rochedos
enquanto que outros os lançavam à água dos
córregos rindo e caçoando (...).
(Frei Bartolomé de Ias Casas. O paraíso destruído.
Porto Alegre: L&PM, 1984. p. 33.)
Ilustração Inspirada no relato das atrocidades espanholas
no México escrito pelo frade dominicano Bartolomé de Ias
Casas (1474-1566), um dos maiores críticos do massacre
cometido pelos espanhóis contra os nativos americanos.
A conquista do Império Asteca
Entre os espanhóis que chegaram a Hispaniola em
1504, estava um jovem de apenas 19 anos chamado
Hernán Cortez. Em 1511, o governador de Hispaniola
decidiu enviar à vizinha ilha de Cuba uma expedição
comandada por Diego Velásquez. Cortez o acompanhou.
Ali, souberam por meio dos indígenas que existiam nas
proximidades cidades cujos templos eram ornamentados
com objetos de ouro. Eram as sociedades maia e asteca.
Em 1519, Velásquez enviou ao continente uma
poderosa expedição sob as ordens de Hernán Cortez. No
dia 10 de fevereiro, Cortez partiu de Cuba no comando de
onze navios, cem marinheiros e 508 soldados. Levava
ainda dezessete cavalos, 32 arqueiros, dez canhões,
quatro falcões e muitas quinquilharias.
Pouco mais de dois meses depois, em 25 de abril,
quando já se encontravam na atual Vera Cruz, no golfo do
México, Cortez e seus homens tiveram o primeiro contato
com
os
astecas.
Eram
emissários
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
do
imperador
Ilustração do episódio O massacre da nobreza
mexicana, ocorrido em 23 de maio de 1520 (Codex
Ourán, capítulo LXXV): o capitão de Cortez, Pedro de
Alvarado,
extermina
os
nobres
indígenas
surpreendendo-os no meio de uma festa religiosa. No
centro, os tambores que cadenciavam as danças são
bruscamente
interrompidos.
Os
soldados
se
posicionam de forma a ocultar o que se passa no pátio
do templo.
57
Montezuma.
Segundo uma antiga profecia asteca, naquele ano deveria chegar à região o deus Quetzalcátl – a serpente
emplumada. Por isso, no começo os astecas pensaram que os espanhóis eram deuses e os presentearam com ouro.
Por meio de intérpretes, Cortez descobriu a existência de um grande número de povos subjugados pelos
astecas. Muitos deles estavam descontentes com os altos tributos que lhes eram cobrados e pelo fato de os astecas
sacrificarem seus principais guerreiros em rituais religiosos.
Conforme avançava em direção à cidade de Tenochtitlán, Cortez procurava ganhar a confiança dos povos
subjugados, prometendo-lhes a liberdade. Conquistou assim o apoio de muitos deles.
Frente a frente com Montezuma
No dia 8 de novembro de 1519, Cortez e seus homens se encontraram pela primeira vez com Montezuma.
Embora já desconfiasse que eles não eram deuses, o imperador lhes deu boa acolhida. Seis dias depois, Cortez
aprisionou o governante asteca.
Os nativos estavam em maior número, mas não reagiram imediatamente à traição de Cortez. Assustados com as
armas de fogo dos espanhóis, armas que eles desconheciam, temiam também pela vida de Montezuma. O impasse
estendeu-se até maio de 1520, quando Cortez ausentou-se de Tenochtitlán e deixou em seu lugar Pedro de
Alvarado. Na noite de 23 de maio, Alvarado, sem nenhuma razão aparente, ordenou o massacre de 6 mil astecas no
interior de um templo no qual se celebrava uma festa.
Ao retornar, Cortez encontrou um ambiente tenso na cidade. Para acalmar os ânimos, exigiu que Montezuma
fizesse um pronunciamento à população. Entretanto, quando o líder dos astecas pedia paz ao povo, foi atingido na
cabeça por uma pedra, morrendo três dias depois. Amedrontados, na noite de 30 de junho de 1520, os espanhóis se
retiraram da cidade, deixando para trás todo o ouro que haviam recolhido.
A queda de Tenochtitlán
Cortez retornou a Tenochtitlán em 30 de maio de 1521, à frente de suas tropas e de cerca de 80 mil índios das
tribos aliadas. Cercados, os moradores de Tenochtitlán resistiram durante três meses, mas a cidade acabou ocupada
e arrasada pelos invasores. Destruído para sempre, o Império Asteca passava para o domínio espanhol sob o nome
de Nova Espanha (veja o mapa com as colônias espanholas na América). No boxe ao lado, dois textos comentam a
vitória espanhola: o primeiro é um relato de Hernán Cortez; o segundo, um poema asteca.
A destruição do Império Asteca e o saque de suas riquezas, contudo, não pôs fim às ações de Cortez. A partir de
1523, ele passou a ter como objetivo a conquista dos maias, povo que ocupava o território onde hoje se encontram a
Guatemala, parte de Honduras, o sul do México e a península de Yucatán. Em 1547, depois de sucessivas guerras,
os espanhóis conquistaram o território maia e dizimaram sua população.
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A queda do Império Inca
Em 1519 os espanhóis fundaram
na América Central a cidade do
Panamá, que logo se tornaria uma
de suas sedes administrativas. Em
1522,
o
governador
da
região
entregou a Francisco Pizarro a chefia
de uma expedição que deveria rumar
para o sul, em direção ao Império
Inca,
que,
segundo
informações
recebidas, seria muito rico em ouro.
BOXE 3
A visão dos vencedores
Os inimigos estavam em tão má situação que não possuíam nem mais
flechas e lanças para combater e tinham que caminhar por sobre os corpos
de seus mortos.
Foi tanta a mortandade que causamos que, entre os mortos e presos,
somaram-se mais de quarenta mil almas. (...)
Quando entramos naquela parte da cidade, não havia outra coisa para
colocar os pés que não fosse o corpo de um morto. Mandei cercar todas as
ruas, e vendo que os principais não saíam, mandei disparar os tiros grossos,
com o que logo tomamos aquele lugar, ao tempo em que muita gente se
lançava na água, enquanto outros se entregavam.
(Hernán Cortez. A conquista do México Porto Alegre: L&PM, 1996. p. 138-9.)
Pizarro faria três incursões na
América do Sul. A primeira (1524)
fracassou
na
atual
costa
da
Colômbia, vítima de ataques dos
índios e da falta de água e comida.
Na
segunda
(1526-1528),
o
aventureiro chegou até a cidade de
Tumbes, no litoral do atual Peru,
onde
ele
encontraram
e
seus
homens
excelentes
estradas,
casas de pedra e templos decorados
com peças de ouro e prata de
A visão dos vencidos
Isso tudo se passou conosco. (...) Nos caminhos jazem dardos
quebrados;
Os cabelos estão espalhados. Destelhadas estão as casas,
Incandescentes estão seus muros.
Vermes abundam por ruas e praças,
E as paredes estão manchadas de miolos arrebentados.
Vermelhas estão as águas, como se alguém as tivesse tingido,
E se as bebíamos, eram águas de salitre.
Golpeávamos os muros de adobe em nossa ansiedade e nos restava por
herança uma rede de buracos.
Nos escudos esteve nosso resguardo, mas os escudos não detêm a
desolação.
Temos comido pães de colorim [árvore venenosa], temos mastigado
grama salitrosa, pedaços de adobe, lagartixas, ratos, e terra em pós e mais
os vermes. (...)
excelente acabamento.
(Miguel León-Portilla. A conquista da América Latina vista pelos índios.
Petrópolis: Vozes, 1985. p. 41.)
A invasão do império
Entre 1528 e 1529, Pizarro deu início à sua terceira expedição em busca do Império Inca. Ao chegar a Tumbes,
encontrou a cidade completamente deserta: grande parte da população havia sido dizimada por urna doença "que
deixava marcas na pele": era varíola, transmitida aos nativos pelos espanhóis da segunda expedição. Até mesmo o
imperador Huayana Cápac falecera devido à moléstia. Sua morte deixara o Império Inca em guerra, provocada pela
disputa do poder entre seus dois filhos, Atahualpa e Huascar.
Ao saber dessas notícias, Pizarro seguiu para Cajamarca, cidade a 2750 metros acima do nível do mar, onde
estava Atahualpa. O encontro entre ambos ocorreu no dia 16 de novembro de 1532. O inca se fazia acompanhar de
um exército de cerca de 7 mil guerreiros. Pizarro contava apenas com 168 homens.
Quem primeiro se aproximou de Atahualpa foi frei Vicente Valverde, que começou a ler um texto intitulado
Requerimiento. O inca tomou-lhe o livro e o arremessou ao chão. Esse gesto serviu de pretexto para os espanhóis se
lançarem ao ataque.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Armados de espadas e arcabuzes e montados em cavalos - animais que os incas desconheciam -, os homens
de Pizarro mataram cerca de 2 mil guerreiros incas e tiveram apenas cinco baixas. Capturado, Atahualpa foi mantido
como refém em uma sala de 7 metros de comprimento por 5 de largura.
Em troca de sua liberdade, o imperador prometeu aos espanhóis que mandaria seu povo encher o cômodo até o
teto com objetos de ouro e prata. Pizarro aceitou a proposta. Após cinco meses, o resgate havia sido pago. Os
espanhóis fundiram todos os objetos e enviaram o metal para a Espanha.
Porém, em vez de libertar o soberano inca, Pizarro mandou degolá-lo. Quando Atahualpa morreu, em julho de
1533, seu irmão, Huascar, também já estava morto. Assim, os incas escolheram um novo líder, Manco Cápac, eleito
com o aval dos espanhóis. Cápac logo percebeu que os espanhóis procuravam manipulá-lo para terem total controle
sobre o Império. Revoltado, rebelou-se contra os invasores.
Em represália, os espanhóis passaram a matar os nativos indiscriminadamente. Calcula-se que quase 8 milhões
deles foram mortos até 1572, ano em que morreu Tupac Amaru, último soberano inca.
BOXE 4
O Requerimiento
Em 1493, antes mesmo da assinatura do
Tratado de Tordesilhas, o papa Alexandre VI
reconheceu o direito da Espanha sobre essas terras
(do continente americano). Em troca, o governo
espanhol se comprometeu a cristianizar a população
local.
Para comunicar a decisão, o governo espanhol
elaborou um documento, o Requerimiento, que
deveria ser lido aos nativos. O texto dizia que os
índios deveriam se submeter às ordens da Espanha
e se converter à fé cristã sem qualquer resistência.
Aqueles que concordassem com isso seriam
recebidos "com todo amor e caridade".
Aos que não concordassem, restavam severos
castigos: "entraremos poderosamente contra vós
(...), tomaremos vossas pessoas, vossas mulheres e
filhos e os tornaremos escravos (...) e faremos todos
os males e danos que pudermos (...); e as mortes e
danos que se seguirem serão por vossa culpa e não
de Sua Majestade, nem nossa, nem destes
cavaleiros que vêm conosco".
(Fontes: Carmen Bernand; Serge Gruzinski.
História do Novo Mundo. Sáo Paulo: Edusp, 1997. p.
132,508-10; Texto Oficial dei Requerimiento. Disponível
em:<www.ub.es/hvirt/dossier/requer.htm>. Acesso em: 25
maio 2004.)
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
Colar e figura de Ihama, artefatos da
cultura
chimu.
Essa
civilização
floresceu na costa peruana entre os
anos 1100 e 1400 e entrou em
decadência com a ascensão do
Império Inca. Destacou-se por sua
ourivesaria e por sua cerâmica negra.
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Síntese do Capítulo
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CAPITULO 8
Revolução Industrial
Robôs juntam as peças de um futuro automóvel numa fábrica
de Valenciennes, na França, em março de 2004. Uma das
características do capitalismo moderno é a fusão dos
conhecimentos acumulados nas revoluções industriais anteriores,
que produziram a era da máquina e a era da eletricidade.
Atualmente vivemos o impulso dado pela automação e pela
informática.
Os fantásticos recursos disponíveis hoje no telefone celular, no computador, na televisão, etc. foram criados aos
poucos. Na Pré-História, as simples ferramentas de pedra foram moldadas graças a experimentos acumulados
durante milhões de anos.
Mas há períodos na História em que os conhecimentos acumulados aceleram o ritmo de mudanças, que se
tornam rápidas e amplas, abrangendo diversas áreas da atividade humana. Um desses períodos teve início por volta
de 1750, na Inglaterra, e recebeu o nome de Revolução Industrial.
Com ela surgiram novas ferramentas e máquinas capazes de substituir dezenas de braços humanos. Reunidas
nas fábricas, as máquinas deram origem a novos processos de produção. Ao mesmo tempo, os trabalhadores
constituíram uma nova classe social, o proletariado. Fique atento a tudo isso neste capítulo.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
63
A burguesia enriquece
A partir do século XIII a burguesia começou a se tornar o grupo social mais influente na sociedade europeia,
dedicando-se, sobretudo ao comércio e às atividades financeiras. Muitos banqueiros tornaram-se importantes
parceiros de reis, emprestando dinheiro ou financiando despesas dos exércitos reais. Em troca, recebiam privilégios,
como o monopólio do comércio entre a metrópole e suas colônias.
Enriquecida, a burguesia mercantil europeia começou a intervir também na produção de mercadorias.
Para burlar a vigilância das corporações de ofício, que impunham limites à produção, os grandes comerciantes
passaram a entregar a matéria prima a artesãos que, trabalhando em sua própria residência, produziam os artigos
encomendados.
Para tornar a produção ainda mais lucrativa e racionalizar o trabalho, com o tempo esses mercadores passaram
a reunir trabalhadores em um mesmo local e a fornecer-lhes a matéria-prima e as ferramentas necessárias para a
fabricação dos artigos desejados, pagando-lhes um salário em dinheiro. Dessa forma esperavam diminuir os custos e
aumentar a produtividade e os lucros.
Embora tenha variado de um lugar para outro, esse processo deu origem às primeiras manufaturas*, ou seja, às
primeiras unidades de produção capitalista, antecessoras da fábrica moderna (sobre o capitalismo, veja o quadro da
próxima pagina).
Ainda no século XVI, já era possível encontrar na Inglaterra manufaturas com mais de seiscentos trabalhadores
assalariados. Com o tempo os capitalistas perceberam que, se fossem introduzidas modificações na organização do
trabalho, a produtividade poderia ser ainda maior. Isso foi feito por meio de uma divisão do trabalho que revolucionou
mais uma vez a produção.
Em vez de produzir integralmente artigo por artigo, cada trabalhador passou a executar apenas uma operação,
correspondendo a uma parte da peça a ser fabricada. Somadas todas as operações, tinha-se o produto final. Em
1776, Adam Smith, um dos economistas desse período, analisou as vantagens da mudança ("A divisão social do
trabalho").
* Manufatura: anterior às fábricas modernas e posteriores ao artesanato. No artesanato, o
artesão realizava sozinho, ou com a família, todas as etapas na produção de um artigo. A
manufatura conservou os processos artesanais e as ferramentas, mas introduziu a
cooperação e a divisão qualitativa do trabalho, de modo que cada artesão passou a realizar
uma etapa da produção. As manufaturas surgiram com a ampliação do consumo no século
XIV e atingiram seu apogeu nos séculos XVII e XVIII; elas marcam o início do processo que
culminaria na Revolução Industrial.
Capitalismo
O capitalismo é um sistema econômico e social que se baseia na propriedade
privada dos meios de produção, na existência de um mercado no qual se realizam as
trocas de mercadorias por meio de moedas e na separação entre trabalhadores,
também chamados de proletários, e capitalistas. Originalmente, a expressão
proletário referia-se a pessoas livres pertencentes ao grupo social mais pobre da
Roma antiga, acima apenas dos escravos: o proletariado. Os socialistas alemães
Karl Marx e Friedrich Engels a empregaram para designar pessoas juridicamente
livres que vendem sua f orça de trabalho em troca de um salário. Os capitalistas por
sua vez são donos dos meios de produção e contratam os trabalhadores para que
estes produzam mercadorias tendo como objetivo o lucro.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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A divisão social rio trabalho
Da forma pela qual a fabricação de alfinetes é hoje executada, um operário desenrola o arame,
outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a
colocação da cabeça do alfinete e assim por diante.
Dessa forma, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente
dezoito operações distintas. Trabalhando dessa maneira, dez pessoas conseguiam produzir entre elas
mais do que 48 mil alfinetes por dia. Assim, pode-se considerar que cada uma produzia 4 800 alfinetes
diariamente. Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, sem que nenhum tivesse
sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar vinte
alfinetes por dia, e talvez nem mesmo um.
(Adaptado de: Adam Smith. A riqueza das nações. São Paulo: Nova
Cultural/Círculo do Livro, 1996. p. 65-6.)
Essa divisão provocou a expansão do mercado de trabalho. A abertura de novas vagas, por sua vez, aumentou
o volume de dinheiro em circulação e estimulou o consumo de mercadorias, que acabou levando ao surgimento de
novas manufaturas.
Embora esse processo tenha se manifestado em diversos países da Europa em momentos diferentes, ele teve
início na Inglaterra no século XVIII, como veremos a seguir.
O pioneirismo da Inglaterra
No começo do século XVIII, a Inglaterra era a nação mais rica do planeta. Entre os recursos de que dispunha
estavam jazidas de carvão e ferro, uma excelente esquadra que lhe garantia a supremacia naval, portos eficientes e
estradas que interligavam suas várias regiões, facilitando o escoamento de produtos. Além disso, era líder do
comércio internacional, graças a um enorme mercado consumidor em suas colônias na América e na Ásia.
Ao mesmo tempo, a burguesia inglesa havia se consolidado como uma importante força econômica e política.
Em parte, isso se devia a algumas alianças feitas com a realeza ao longo dos séculos, como aconteceu já no século
XVI, quando o rei Henrique VIII (1509-1547) rompeu com o papado e criou o anglicanismo. Isso contribuiu para
eliminar os empecilhos que a Igreja católica impunha à expansão da burguesia, como a condenação ao lucro e à
cobrança de juros.
Os burgueses também se beneficiaram com a substituição do absolutismo pela monarquia constitucional, em
1688. Na ocasião, o rei Guilherme de Orange (1689-1702) e a rainha Mary Stuart (1689-1694) se comprometeram a
governar com a ajuda do Parlamento, composto da Câmara dos Lordes (nobreza e clero) e da Câmara dos Comuns
(burguesia).
Outro importante momento dessa aproximação ocorreu em 1703, quando a rainha Anne (1702-1714), atendendo
aos interesses da burguesia mercantil, assinou o Tratado de Methuen com o governo de Portugal, obrigando este
país e suas colônias a concederem vantagens aos produtos importados da Inglaterra.
A expansão agrícola
O governo inglês também beneficiou os grandes latifundiários, concedendo-lhes o direito de expulsar os
camponeses das terras comunais (utilizadas de forma coletiva) para que essas áreas fossem cercadas e
transformadas em pastagens. Esses cercamentos ganharam maior intensidade no século XVIII e provocaram a
migração de muitos camponeses para as cidades, onde eles acabaram se tornando a principal fonte de mão de obra
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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da nascente indústria. Segundo o historiador inglês E. P. Thompson, os cercamentos representaram claramente "um
caso de roubo de classe feito sob o amparo da lei".
No campo, novas técnicas agrícolas foram implantadas, como o uso intensivo de esterco, a seleção de
sementes, o roteamento de culturas e a drenagem do solo, além do cultivo de novos gêneros alimentícios, como a
batata e o nabo. Tudo isso elevou a produção agrícola inglesa, que deixou de estar voltada apenas para a
subsistência da população e direcionou-se também para o comércio exterior.
Além disso, as relações de trabalho no campo foram gradativamente modificadas, com a substituição da mão de
obra servil pela assalariada. Isso incrementou a circulação de dinheiro e fez com que as populações mais pobres
tivessem acesso a bens como sapatos, tesouras, panelas, facas, cujo uso era anteriormente mais restrito. A maior
quantidade de alimentos provocou melhora na qualidade de vida, gerando um significativo aumento demográfico.
Para ter uma ideia, entre 1801 e 1841 a população inglesa passou de 10,5 milhões para 18,1 milhões de habitantes.
Da manufatura à maquinotatura
No início do século XVIII, a maior
parte da população inglesa trabalhava no
setor agropecuário. A extração de lã de
carneiro era uma das atividades que mais
geravam empregos. Por essa época, a lã
era a principal matéria-prima da indústria
têxtil, que seria, na segunda metade do
século,
o
carro-chefe
da
Revolução
Industrial.
Outro produto que começou a ganhar
destaque na Inglaterra foi o algodão. Mais
barato do que a lã, ele saía das colónias
inglesas na América do Norte e seguia
para a Inglaterra, onde era transformado
em peças simples de vestuário. Em
seguida, essas roupas eram vendidas aos
donos de fazendas nas Américas para
Interior de uma fábrica têxtil de algodão, em desenho de artista
anônimo do século XIX. Com os progressos na indústria têxtil no
século XVIII, a antiga manufatura foi substituída pela maquinofatura.
Surgiam as primeiras fábricas, acelerando o processo produtivo e
concentrando no local de trabalho um número cada vez maior de
operários.
vestir os milhares de escravos africanos.
Com o crescimento do mercado, os burgueses começaram a utilizar em suas manufaturas novidades
tecnológicas que despontavam na sociedade.
Essa nova tecnologia faria aumentar enormemente a produtividade do trabalho nas manufaturas, colocando a
indústria têxtil na vanguarda da Revolução Industrial.
Foi o caso, por exemplo, da máquina de fiar criada em 1764 por James Hargreaves. Era uma roca manual de
vários fios que habilitava uma única pessoa a realizar trabalho equivalente ao de oito trabalhadores. Quatro anos
mais tarde outro inventor inglês, Richard Arkwright, criou um tear movimentado pela força das águas que produzia
fios de algodão de melhor qualidade e em maior quantidade.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Outros engenhos foram criados e seu uso se popularizou tanto que a antiga manufatura (do latim manus =
mãos; factura = feitura) foi substituída pela maquinofatura. Surgiam, assim, as primeiras fábricas. O novo processo
produtivo provocou um acelerado desenvolvimento da indústria têxtil. Entre 1750 e 1769 a exportação de tecidos de
algodão na Inglaterra aumentou mais de dez vezes.
A revolução da máquina a vapor
Desde o começo do século XVII os cientistas procuravam encontrar uma aplicação prática para a propriedade
que a água tem de produzir vapor quando entra em ebulição. Estudando essa propriedade, James Watt desenvolveu
em 1769 um equipamento que utilizava a força do vapor da água para gerar uma energia forte o suficiente para
impulsionar máquinas a uma velocidade considerável.
Com a invenção da máquina a vapor, o processo de substituição da força humana pela energia mecânica
tornou-se cada vez mais rápido. Nos anos seguintes, o invento de Watt passou por diversos aperfeiçoamentos,
propiciando um desenvolvimento industrial generalizado. Seus reflexos foram sentidos na siderurgia, na metalurgia e
no aparecimento dos primeiros trens de ferro a vapor, inventados em 1808.
Em seu conjunto, essas mudanças resultantes dos avanços tecnológicos ficaram conhecidas como Revolução
Industrial. Costuma-se empregar o termo Revolução porque todas essas novidades provocaram profundas
transformações em todas as regiões do planeta, mesmo que, em diversos lugares, elas tenham se manifestado em
períodos posteriores.
A situação da classe trabalhadora
Todos esses avanços provocaram enorme euforia entre os capitalistas, que enriqueciam rapidamente. Nem toda
a população inglesa, porém, tinha acesso aos benefícios dessa prosperidade. Na verdade, boa parte dela, composta
de trabalhadores, via-se excluída de tais benefícios.
As condições de moradia desse grupo social eram das mais precárias. Situadas em bairros insalubres, suas
casas costumavam ser muito simples e rudimentares. Erguidas em ruas escuras e sem pavimentação, eram mal
ventiladas, não tinham água suficiente e apresentavam péssimas condições sanitárias.
As fábricas, por sua vez, não lhes ofereciam condições dignas de trabalho. Eram geralmente locais úmidos e
quentes desprovidos de ventilação adequada. A alimentação servida era insuficiente e de péssima qualidade. Por
causa disso e das longas jornadas de trabalho, a expectativa de vida entre os operários era baixa e a incidência de
doenças e acidentes de trabalho, muito alta.
Por serem consideradas mais dóceis do que os homens adultos, os patrões preferiam contratar mulheres e
crianças - muitas delas com 4 ou 5 anos de idade. Segundo o historiador T. S. Ashton, dos 1150 operários que
trabalhavam nas três fábricas da cidade de Derbyshire, na Inglaterra em 1789, dois terços eram crianças.
A jornada de trabalho era igual para todos, durando de quinze a dezoito horas ininterruptas. Os operários eram
vigiados de perto por um superior.
Acidentes provocados pelo cansaço aconteciam com frequência e não eram perdoados. Em represália por
alguma falta, os trabalhadores sofriam severas punições. As crianças chegavam a ser chicoteadas (veja "Vida de
operário" descrição das condições de trabalho feita em 1818 por um operário inglês).
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Vida de operário
Os trabalhadores em geral são dóceis e afáveis, se não os molestarem muito, mas isso não surpreende
quando consideramos que eles são treinados para trabalhar desde os 6 anos de idade, das cinco da manhã até
as oito ou nove da noite (...); [observe] a aparência esquálida das crianças e de seus pais, arrancados tão cedo
de suas camas (...). [Os trabalhadores] permanecem fechados até a noite em salas onde o calor é maior do que
nos dias mais quentes do último verão (se atrasarem alguns minutos, um quarto da jornada é descontado), sem
intervalos, exceto só quarenta e cinco minutos para o jantar: se comerem alguma outra coisa durante o dia, têm
de fazêlo sem parar de trabalhar. (...) Não há tempo para gozar da companhia da família: todos eles estarão bem
fatigados e exaustos.
(In: E. P. Thompson. A formação da classe operária inglesa.
3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. v. 2, p. 25.)
Os trabalhadores reagem
Sem nenhuma lei que as
protegesse contra esses e
outros abusos, muitas pessoas
começaram a se recusar a
trabalhar nas fábricas. Para
evitar essa evasão de mão de
obra, o governo inglês adotou
diversas medidas repressivas.
Assim,
um
operário
que
abandonasse o emprego podia
ser acusado de vadiagem e
até preso. O governo também
coibiu a mendicância criando
as
chamadas
workhouses
(casas de trabalho). Para lá
eram encaminhados mendigos
e desempregados, que eram
Retrato de uma workhouse na província de St. James, em Londres, feito
por Thomas Rowlandson e A. C. Pugin. Para as workhouses (casas de
trabalho) eram encaminhados mendigos e desempregados. Ali, essas pessoas
eram obrigadas a realizar trabalhos compulsórios.
obrigados a trabalhar.
A reação dos trabalhadores contra as precárias condições de vida e de trabalho a que eram submetidos não se
fez esperar. Em 1811 muitos deles começaram a invadir fábricas à noite para destruir máquinas a marteladas.
Para eles, as máquinas eram o principal responsável pela situação de exploração em que se encontravam, já
que elas substituíam trabalhadores e provocavam desemprego. Essas pessoas ficaram conhecidas como luditas,
pois o líder do movimento chamava-se Ned Ludd. Nas primeiras décadas do século XIX, o ludismo espalhou-se da
Inglaterra para outros países da Europa, como França, Bélgica e Suíça.
Enquanto isso, outro tipo de reação começava a se verificar entre os trabalhadores ingleses. Preocupados com
os acidentes de trabalho, com as doenças e o desemprego, eles passaram a unir suas forças e a criar formas de
organização, como as associações de auxílio mútuo, que tinham por objetivo criar fundos de reserva a ser utilizados
nos momentos de necessidade.
Essas formas de organização seriam o primeiro passo para a criação dos sindicatos trabalhistas entidades
destinadas a lutar pelos direitos do proletariado. Uma vez organizados em sindicatos, os trabalhadores da Inglaterra
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
68
primeiro, e mais tarde os de outros países, fariam importantes conquistas, como aumento de salário, redução na
jornada de trabalho, aposentadoria, descanso semanal remunerado, férias, etc.
A crescente organização dos trabalhadores ingleses assumiria formas políticas de expressão entre as décadas
de 1830 e 1840, quando eles reuniram suas reivindicações em um documento conhecido como Carta do povo.
Nascia o cartismo, primeiro grande movimento político do proletariado inglês, que conquistou importantes avanços
trabalhistas: em 1833, o Parlamento inglês aprovou lei limitando em oito horas a jornada de trabalho das crianças; em
1842, ficou proibido o trabalho de mulheres em minas de carvão; três anos mais tarde, foi aprovada a redução da
jornada dos trabalhadores adultos para dez horas diárias. Mais tarde, conquistas semelhantes seriam obtidas em
países como França, Alemanha, etc.
As classes sociais e o movimento operário
Cada grupo ou camada social em que se divide uma sociedade estratificada chama-se classe social. As
classes sociais se distinguem umas das outras pelo modo de vida, por seus diferentes direitos e privilégios e pelo
papel que ocupam na produção econômica. Para o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), a divisão da sociedade
em classes é consequência dos diferentes papéis que os grupos sociais têm no processo de produção. Do papel
desempenhado pelas classes depende seu nível de riqueza e rendimento, o tipo de vida e características, como
crenças, princípios morais, ideais, afinidades ideológicas e políticas, etc.
Diante dessas diferenças entre as classes sociais e em meio à concentração de trabalhadores nas fábricas
estabelecidas com a Revolução Industrial, surge o movimento operário: um conjunto de tentativas coletivas,
organizadas pela população operária a fim de melhorar suas condições de vida e de trabalho.
A partir do final do século XVIII, esses trabalhadores foram desenvolvendo uma consciência de classe e
começaram a sentir a necessidade de formar organizações permanentes para lutar por novas condições de
trabalho, pelo direito à associação e pela diminuição da jornada de trabalho.
As primeiras manifestações da classe operária e as tentativas de organização de um movimento ocorreram no
Reino Unido, primeiro país industrializado do mundo. Um dos marcos da história do movimento operário mundial foi
a Associação Internacional dos Trabalhadores, fundada em 1864, em Londres, conhecida posteriormente como
Primeira Internacional. A Primeira Internacional reuniu representantes operários das mais diversas tendências
ideológicas e teve como objetivo estimular a solidariedade dos operários e promover a conquista do poder por essa
classe social.
O socialismo e a luta contra o capitalismo
Essa situação de extrema exploração na qual se encontravam os trabalhadores, além de resultar no nascimento
do movimento operário, fez surgirem teorias que condenavam o sistema capitalista e as desigualdades sociais
trazidas por ele e propunham novas formas de organização da sociedade. O conjunto dessas teorias ficou conhecido
como socialismo.
Os primeiros pensadores socialistas acreditavam ser possível reformar o capitalismo por meio da ação do
Estado ou da associação dos trabalhadores em cooperativas autogeridas. Entre esses pioneiros destacaram-se o
inglês Robert Owen (1771- 1858) e os franceses Saint-Simon (1760-1825) e Charles Fourier (1772-1837). Como eles
propunham a criação de uma sociedade ideal, sem definir claramente os meios para se chegar a ela, foram
chamados mais tarde de socialistas utópicos.
A expressão socialismo utópico foi utilizada de forma especialmente crítica por dois pensadores alemães: Karl
Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Eles também eram partidários do socialismo, mas se opunham à
ideia de que era possível reformar o capitalismo. Achavam que, para se chegar à sociedade socialista, era preciso
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
69
fazer uma crítica científica do sistema capitalista e promover a ação autônoma do proletariado no sentido de
transformar a sociedade por meio de uma revolução: a revolução proletária.
Segundo essa concepção, depois de tomar o poder, a classe operária deveria extinguir a propriedade privada
dos meios de produção e de troca (fábricas, fazendas, bancos, etc.) e criar uma sociedade baseada na associação
autônoma dos trabalhadores e em formas coletivas de propriedade. A essa doutrina, que atribuía ao proletariado a
missão histórica de destruir o capitalismo e conduzir a humanidade para uma sociedade igualitária, Marx e Engels
deram o nome de socialismo científico. Ela é conhecida também como marxismo ou, ainda, materialismo histórico.
Outra corrente contestadora do capitalismo a surgir na segunda metade do século XIX foi o anarquismo. Entre
seus principais pensadores estão os russos Mikhail Bakunin (1814-1876) e Piotr Kropotkin (1842-1921). Para os
anarquistas, só havia uma forma de extinguir a sociedade capitalista: abolir de um só golpe o Estado burguês e a
propriedade privada e instaurar uma sociedade desprovida de qualquer tipo de Estado e constituída por pequenas
comunidades autônomas.
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Síntese do Capítulo
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CAPITULO 9
Revolução Francesa
A Queda da Bastilha marcou simbolicamente o fim do Antigo Regime
(absolutismo) na França e o começo de um período de conquistas democráticas
que depois se estenderiam para outros países. Na imagem, o governador da
fortaleza, marquês de Taunay, é deposto e preso pela multidão revolucionária
que protagonizou a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789. Óleo sobre tela
da Escola Francesa do século XVIII.
Com um forte parque industrial, a França integra o chamado G-7, grupo que reúne os sete
países mais desenvolvidos e influentes do mundo. Para alcançar esse status e chegar a ser uma
sociedade democrática, o país teve de passar por um período de grandes transformações. No
século XVIII, sua economia era essencialmente agrícola e sua estrutura social marcada por
grandes desigualdades. No campo, vigoravam ainda relações feudais de trabalho, enquanto na
esfera política o país era governado por um monarca absolutista.
Essas características contribuíram para que irrompesse ali, em 1789, uma revolução que pôs
fim ao absolutismo e possibilitou a consolidação do capitalismo, lançando as bases do mundo
contemporâneo, como veremos neste capítulo.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
72
Uma sociedade estratificada
No final do século XVIII, a França contava com 25 milhões de habitantes. Cerca de oitenta por cento da
população vivia no campo. A sociedade encontrava- se dividida em três estamentos, conhecidos como estados ou
ordens. O topo da pirâmide social era ocupado pelos integrantes do primeiro estado, constituído por 120 mil membros
da Igreja.
Mais de dez por cento das terras pertenciam à Igreja, cujo clero detinha inúmeros privilégios, como a isenção de
impostos, a dispensa do serviço militar e o direito de julgamento em tribunais próprios. Ele dividia-se em alto clero –
religiosos de origem nobre - e baixo clero, composto por padres e cônegos pobres.
Com status superior ao da maioria do clero, o segundo estado era formado pela nobreza, composta por cerca de
400 mil pessoas. Faziam parte dela: a família real; os cortesãos - aristocratas que viviam na Corte; os nobres de
toga, ou seja, burgueses que haviam comprado títulos de nobreza; e os descendentes das antigas famílias feudais
(nobres de sangue), muitos dos quais viviam ainda em seus castelos. Os nobres também não precisavam pagar
impostos e viviam à custa, principalmente, da exploração do trabalho dos camponeses que lavravam suas terras.
No terceiro estado encontrava-se o restante da população, ou seja, quase 98 por cento de todos os franceses.
Esse grupo era o único que recolhia impostos, tanto para o Estado como para a nobreza e o clero. Algumas dessas
taxas eram remanescentes do feudalismo, como a corveia, a banalidade e o dízimo.
O terceiro estado era composto por diversos setores da sociedade, entre os quais a alta burguesia, formada por
banqueiros, armadores e empresários; a média burguesia, constituída por profissionais liberais e médios empresários
e comerciantes; a pequena burguesia, composta por artesãos e pequenos comerciantes; os trabalhadores urbanos;
os camponeses.
Caos e revolta
Nas últimas décadas do século XVIII, cerca de oitenta por cento
da renda dos camponeses era destinada ao pagamento de
impostos. Para piorar, o governo da França viveu nesse período
uma profunda crise econômica ocasionada principalmente pelos
constantes gastos com conflitos externos.
Em 1785 uma forte seca quase acabou com o rebanho bovino
do país. Três anos depois, os péssimos resultados da safra agrícola
elevaram brutalmente os preços dos alimentos. A fome se alastrou,
provocando morte e desolação. Milhares de pessoas começaram a
vagar pelos campos em busca de alimento. Muitas transformaramse em pedintes, outras passaram a roubar, e algumas decidiram
destruir castelos e assassinar seus proprietários, alegando serem
eles os responsáveis pela miséria em que vivia a população rural.
Em Paris e outras cidades artesãos e operários começaram a
fazer
greves.
Algumas
vezes,
os
grevistas
juntavam-se
a
desempregados famintos para saquear lojas e participar de
manifestações contra a política econômica do governo.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
Luís XVI distribui esmolas aos pobres de
Versalhes durante o inverno de 1788. Óleo
sobre tela pintado em 1817 por Hersent Louis
(1777-1860). Por essa época, os altos
impostos, as crises ocasionadas por gastos
com guerras e os maus resultados na
agricultura e na pecuária colocaram a maioria
da população francesa em estado de penúria,
provocando insatisfação e revolta.
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Os Estados Gerais
Tentando solucionar o déficit* das contas públicas, em 1789 o ministro das Finanças propôs que o primeiro e o
segundo estados começassem a pagar impostos, mas a proposta foi rejeitada pelo clero e pela nobreza. Para discutir
a questão, o rei Luís XVI convocou os Estados Gerais, órgão consultivo formado por representantes dos três estados
e que não se reunia desde 1614. Ali, nobreza e clero eram maioria, pois cada ordem tinha direito a um voto.
Em 5 de maio de 1789, dia da abertura dos trabalhos dos Estados Gerais rio Palácio de Versalhes, o terceiro
estado, que representava a maioria da população, pediu que a contagem de votos passasse a ser feita por cabeça, e
não por estamento.
Seguiu-se um mês de discussões sem resultados concretos. Diante do impasse, o terceiro estado reuniu-se em
uma sala separada e se autoproclamou Assembleia Nacional destinada a elaborar uma Constituição. Incapaz de
dissolver a reunião do terceiro estado, no final de junho o rei ordenou que os representantes da nobreza e do clero se
juntassem a ela. Com isso, no dia 9 de julho de 1789, os Estados Gerais proclamaram a formação da Assembleia
Nacional Constituinte.
A Queda da Bastilha
Publicamente, Luís XVI afirmava apoiar a Assembleia. Nos bastidores, porém, convocou o exército para
dissolvê-la. Quando a notícia da traição do rei circulou por Paris, grande parte da população se revoltou. Na
madrugada de 14 de julho, uma multidão, formada principalmente por artesãos, operários e pequenos lojistas –
conhecidos como sans-culottes por utilizarem calças compridas em vez dos culottes presos no joelho como os
nobres – invadiram os arsenais do governo e se apoderou de 30 mil mosquetes. Em seguida, partiu em direção à
Bastilha, fortaleza na qual o governo encarcerava e torturava seus opositores.
Embora estivesse praticamente desativada - abrigava apenas sete detentos na ocasião -, a Bastilha constituía
um dos maiores símbolos do absolutismo. Tomada pela multidão após horas de combate, sua queda transformou-se
em um marco, e até hoje o 14 de julho é comemorado como data nacional na França.
O fim do Antigo Regime
À medida que a notícia da queda da Bastilha se espalhava, levantes e revoltas de camponeses e trabalhadores
urbanos alastravam-se pelo país. A sublevação levou a Assembleia Constituinte a abolir as leis feudais que ainda
vigoravam e a suprimir privilégios da nobreza e do clero. Além disso, os grupos populares armados foram
transformados em Guarda Nacional, cuja missão era proteger a Assembleia.
No dia 26 de agosto a Assembleia proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Composto
inicialmente por dezessete artigos, o documento estabelece a liberdade e a igualdade de todos perante a lei, um dos
mais caros princípios dos filósofos iluministas.
No dizer do historiador francês Georges Lefebvre, a Declaração é o "atestado de óbito do Antigo Regime", nome
pelo qual passou a ser chamado o Estado absolutista que vigorava no país antes da Revolução. Por romper
definitivamente com os princípios feudais, esse documento é considerado um dos fundamentos do Estado
contemporâneo. Leia alguns de seus artigos a seguir.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
I - Os homens nascem e permanecem livres e iguais perante a lei;
II - A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem;
esses direitos são: a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. (...)
IV - A liberdade consiste em fazer tudo que não perturbe a outrem. (...)
VI - A lei é a expressão da vontade geral (...); deve ser a mesma para todos, seja protegendo - os, seja
punindo-os. (...)
VII - Ninguém pode ser acusado, preso, nem detido, senão nos casos determinados pela lei, e segundo as
fornias por ela prescritas. (...)
IX - Todo homem é presumido inocente, até que tenha sido declarado culpado e se for indispensável será
preso, mas todo rigor que não for necessário contra sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei.
X - Ninguém deve ser inquietado pelas suas opiniões, mesmo religiosas, desde que as suas manifestações
não prejudiquem a ordem pública estabelecida pela lei.
XI - A livre comunicação das opiniões e dos pensamentos é um dos direitos mais preciosos do homem; todo
cidadão pode então falar, escrever, imprimir livremente. (...)
(Disponível em: <www.dhnet.org.br/direitos/anthist/decl789.htm>.
Acesso em: 5 abr. 2005.)
Gravura do século XVIII representando a marcha das mulheres em
Versalhes, nas proximidades de Paris, em 5 de outubro de 1789.
Entre os diversos processos democráticos que tiveram início com a
Revolução Francesa está a luta das mulheres por sua participação no espaço
público, da qual a Marcha de Versalhes é um emblema.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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O período da monarquia constitucional
Nos dois anos que seguiram à Queda da Bastilha, Luís XVI e sua família permaneceram confinados no palácio
das Tulherias, em Paris. Nesse período, os constituintes elaboraram e promulgaram a primeira Constituição da
França (1791).
Seguindo os princípios iluministas e o exemplo norte-americano, a Carta francesa estabelecia a divisão entre os
três poderes do Estado e definia a monarquia constitucional como forma de governo. O rei seria o chefe do
Executivo, mas seu poder não poderia se sobrepor às normas constitucionais. Suas ações seriam reguladas pelo
Legislativo, composto de 745 deputados eleitos pelos cidadãos que dispunham de algum patrimônio (voto censitário).
A Convenção e o fim da monarquia
Em junho de 1791 Luís XVI tentou fugir com sua família para a Áustria, mas foi reconhecido na fronteira e
forçado a voltar para Paris. Revoltados, os sans-culottes invadiram o palácio das Tulherias em 10 de agosto de 1792
e prenderam o rei e a rainha Maria Antonieta sob a acusação de conspirarem contra o Estado.
Com a prisão do rei, o governo passou para as mãos de um Conselho Executivo Provisório, liderado pelo
advogado George-Jacques Danton. A Assembleia Nacional Constituinte foi dissolvida e em seu lugar foi eleita a
Convenção Nacional. Nesse momento, diversas facções políticas disputavam o poder. Entre elas, destacavam-se os
jacobinos e os girondinos (sobre esses grupos, veja Esquerda, Centro, Direita). Nas eleições para a Convenção, os
jacobinos obtiveram a maioria dos votos.
Em 22 de setembro de 1792 a Convenção proclamou a República. Acusado de traição, Luís XVI foi levado a
julgamento e executado na guilhotina em 21 de janeiro de 1793. Uma Constituição republicana foi elaborada,
concedendo o sufrágio universal masculino (isto é, direito de voto só para os homens). Até mesmo um novo
calendário foi criado. Os meses ganharam novos nomes e o dia 22 de setembro ficou sendo o primeiro dia do ano I
da República (veja outras novidades advindas da Revolução).
Esquerda, centro, direita.
É muito comum, em política, associarmos os termos esquerda, centro e direita a partidos políticos ou a
pessoas que defendem ou combatem ideias reformistas, ou que adotam posições radicais ou moderadas diante
de certas questões. A origem dessas expressões remonta à Revolução Francesa.
A Convenção Nacional dividia-se em grupos que representavam diferentes camadas da sociedade: os
nobres, o clero, a alta burguesia, a média burguesia, os trabalhadores, etc. Essas facções reuniam-se em três
grandes blocos, cada qual ocupando lugar específico na Convenção:
• Girondinos - Bloco formado por políticos moderados tinham como núcleo original deputados da província
de Gironda. Representantes da grande burguesia mercantil procuravam conter a radicalização, negociando com o
rei. Ocupavam uma parte baixa da sala de reuniões, à direita da mesa da Presidência, sendo por isso conhecidos
como planície.
• Jacobinos - Representavam principalmente a pequena e a média burguesia. Defendiam a República e o
sufrágio universal*. Deviam esse nome ao fato de se reunirem no mosteiro de São Jacques, em Paris. Liderados
pelos advogados Maximillien-Marie Robespierre e Louis Antoine de Saint-Just, os jacobinos sentavam-se na parte
mais alta da assembleia, no lado esquerdo do salão. Eram chamados de montanheses e constituíam um dos
grupos mais radicais da Convenção. A seu lado atuava outra corrente radical, a dos cordeliers (cordeleiros),
liderada por George-Jacques Danton e Jean-Paul Marat.
• Pântano - Grupo constituído por políticos de pouca expressão. Suas posições variavam conforme as
circunstâncias e os temas a serem votados. Tinham esse nome por ocuparem a parte baixa, no centro do salão.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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As novidades da Revolução
Uma das mudanças introduzidas pela Revolução Francesa foi a unificação do sistema de pesos e
medidas. Para chegar a ela, a Academia Francesa de Ciências tomou como base a própria Terra. Seus
matemáticos calcularam a distância entre o equador e o polo Norte e escolheram duas cidades ao nível do mar
atravessadas por um mesmo meridiano – Barcelona (Espanha) e Dunquerque (França). Mediram, então, a
distância entre elas e, por projeção, deduziram a distância entre o equador e o polo Norte. Esse número foi
dividido por 10 milhões e o resultado obtido, denominado metro, foi dividido em decímetros e centímetros.
A partir do metro, a Academia definiu quanto pesava um grama. Ele deveria ser o equivalente à massa de
um decímetro cúbico de água pura; já o litro foi estabelecido como o volume equivalente ao de um cubo com
10 centímetros de lado.
Um regime chamado Terror!
Embora a esquerda se visse animada com a República, o fato é que a França atravessava uma de suas mais
graves crises: tropas da Inglaterra, da Áustria, da Prússia, da Holanda, da Espanha, da Rússia e da Sardenha
passaram a atacá-la por todos os lados, tentando impedir a consolidação da República e a disseminação dos ideais
revolucionários. Em diversos pontos do país, nobres inconformados com a perda dos antigos privilégios organizavam
movimentos contrarrevolucionários.
Para enfrentar essas dificuldades, em abril de 1793 a Convenção criou o Comitê de Salvação Pública, cujo
comando foi entregue a Danton e, logo depois, a Robespierre. O novo órgão convocou 300 mil homens para lutar
contra os estrangeiros - o que provocou violenta reação em algumas províncias, ainda fiéis à monarquia - e criou o
Tribunal Revolucionário para julgar os suspeitos de atitudes contrarrevolucionárias. Era o início do período conhecido
como Terror.
Entre 1793 e 1794 cerca de 300 mil pessoas foram presas, das quais 35 mil foram condenadas à morte na
guilhotina. Os jacobinos executavam qualquer suspeito de "traição à Revolução". A rainha Maria Antonieta foi
guilhotinada em outubro de 1793. Muitos outros nobres também foram executados.
O governo jacobino contou inicialmente com grande apoio popular, pois criou impostos sobre os ricos, aprovou
lei fixando um teto para os preços dos produtos, regulamentou os salários, abriu escolas públicas, repartiu bens dos
nobres que haviam se exilado e promoveu uma reforma agrária que beneficiou cerca de 3 milhões de pessoas.
Também instituiu o divórcio, decretou a liberdade religiosa e aboliu a escravidão nas colônias francesas. Em junho de
1794, tropas francesas obtiveram uma vitória decisiva sobre os exércitos invasores.
Entretanto, ao mesmo tempo que reprimia a "direita", isto é, os girondinos e a nobreza, Robespierre e o Comitê
de Salvação Pública se voltaram também contra os grupos mais radicais, situados "à esquerda" dos jacobinos,
enviando para a guilhotina os militantes radicais. Um desses condenados à morte foi o líder dos cordeleiros George
Jacques Danton (sobre o uso da guilhotina e a concepção de justiça da época veja Da Guilhotina as prisões).
A repressão contra os setores mais radicais, apoiados pelos sans-culottes, levou os jacobinos a perder apoio
junto à população. Isolados do povo, Robespierre e seus companheiros do Comitê de Salvação Pública foram
facilmente derrubados pelos girondinos no dia 27 de julho de 1794. Como o golpe ocorreu em 9 Termidor do
calendário republicano, os representantes desse grupo, defensor dos interesses da média e da alta burguesia,
ficaram conhecidos como termidorianos.
Eles assumiram 0 controle da Convenção e instalaram a chamada Reação Termidoriana. Robespierre, SaintJust e outros jacobinos foram mortos na guilhotina. O Grande Terror chegara ao fim. Algumas medidas
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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implementadas durante sua vigência foram canceladas, entre elas o tabelamento de preços e o fim da escravidão
nas colônias francesas. Ao mesmo tempo, a população de Paris foi desarmada para evitar novas sublevações.
Da guilhotina às prisões
A guilhotina, máquina criada para decapitar pessoas, foi adotada na França pela primeira vez em 1792, em
razão dos apelos do médico parisiense Joseph Guillotin, que defendia o direito dos condenados à morte a um
fim rápido e sem dor.
Até então, os métodos de execução utilizados eram basicamente a forca, o esquartejamento e as diversas
variantes do suplício da roda - como a que colocava uma pessoa amarrada na parte externa de uma roda e,
sob ela, brasas incandescentes. Conforme o carrasco girava a roda, a pessoa era "assada" viva, diante da
população que se reunia para ver a cena. Com a propagação dos ideais iluministas, os suplícios passaram a
ser, cada vez mais, encarados como uma afronta à dignidade humana, um símbolo da tirania. Assim, o século
XVIII marca o início de um longo processo que resultará em uma nova concepção de justiça. No século XIX,
mais do que punir, a justiça terá como missão promover a reinserção na sociedade daqueles que cometeram
crimes. As prisões tornaram-se locais que deveriam garantir a "reeducação" dos indivíduos que não souberam
(ou não puderam) viver conforme as regras sociais.
O Diretório
Em 1795 foi aprovada uma nova Constituição - a
terceira, desde 1791. De caráter liberal, ela acabou com o
voto universal masculino estabelecido pela Constituição
anterior, de 1793, e reintroduziu o voto censitário (apenas os
proprietários podiam votar). O poder Executivo ficou nas
mãos do Diretório, órgão composto por cinco pessoas
eleitas entre os deputados.
Durante o período do Diretório, a França enfrentou
graves dificuldades financeiras. Além disso, tanto os
jacobinos como os defensores da monarquia tentaram por
diversas vezes derrubar o governo. Para conter essas
manifestações, o Diretório pediu a ajuda do exército. Em
1795 o jovem general Napoleão Bonaparte foi escolhido
para organizar a defesa interna do país.
Graças ao sucesso com que reprimiu as revoltas e ao
Morte da princesa de Lamballe, quadro de
1908 do pintor Faivre Léon-Maxime (18561941). Na pintura vê-se o corpo da princesa,
amiga da rainha Maria Antonieta, caído em
frente à porta da prisão da Força, em Paris,
atingido pelos sansculottes ensandecidos, num
ato que fez parte dos "massacres de setembro".
Era 3 de setembro de 1792.
seu êxito em campanhas no exterior, Napoleão acabou se
tornando o mais importante general da França. Seu prestígio cresceu tanto que, em outubro de 1799, ele foi
convidado a fazer parte do Diretório.
Em 9 de novembro de 1799 - ou 18 Brumário, de acordo com o novo calendário -, Napoleão Bonaparte dissolveu
o Parlamento e substituiu o Diretório por três cônsules provisórios - entre os quais ele era o mais influente (no boxe
abaixo o historiador Eric Hobsbawm analisa o impacto da Revolução Francesa na história da humanidade).
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78
O impacto da Revolução Francesa
Revolução Francesa foi, de fato, um conjunto de acontecimentos suficientemente poderoso e universal em
seu impacto para ter transformado o mundo permanentemente (...).
Metade dos sistemas legais do mundo está baseada na codificação legal que a Revolução implantou. (...)
Países tão afastados de 1789, como o Irâ islâmico e fundamentalista, são Estados nacionais territoriais
estruturados no modelo trazido ao mundo pela Revolução Francesa, junto com muito de nosso vocabulário
político. (...)
A Revolução Francesa deu aos povos a noção de que a História pode ser mudada por sua ação. Deu-lhes
também o que até hoje permanece como a mais poderosa divisa jamais formulada para a política da democracia
e das pessoas comuns que ela inaugurou: "Liberdade, igualdade, fraternidade".
Síntese do Capítulo
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CAPITULO 10
O Império Napoleônico
Batalha das pirâmides (c. 1860), ilustração que consta do livro Vitórias e conquistas dos
exércitos franceses. Ocorrida em 1798, essa batalha, que marcou o início da conquista do Egito
pelo exército francês, fez parte da estratégia napoleônica, na virada do século XVIII para o XIX, de
conquistar países fora da Europa e ampliar a hegemonia francesa sobre as outras potências.
Os franceses comemoraram em 2004 o bicentenário da promulgação do Código Civil, conjunto
de leis que consagrou o fim do absolutismo na França. Durante muito tempo ele foi chamado de
Código Napoleônico, pois foi promulgado durante o período em que general Napoleão Bonaparte
comandou a França.
Como veremos neste capítulo, ao mesmo tempo em que manteve muitas das conquistas da
Revolução, difundindo algumas delas por outros países da Europa, Bonaparte agiu de forma
autoritária, centralizando o poder em torno de sua figura. Graças à ação de seu exército, a França
foi, por algum tempo, o maior império do continente europeu.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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A força de um líder
Napoleão Bonaparte chegou ao poder em 1799, no momento em que a França atravessava uma grave crise
institucional. Governado pelo Diretório, o país enfrentava sérios problemas de ordem econômica, política e social e
havia sofrido algumas derrotas em campanhas militares no exterior.
A oposição, formada à esquerda pelos jacobinos e à direita pelos realistas (partidários da monarquia),
responsabilizava o governo pela situação. Com os ânimos cada vez mais exaltados, a França parecia à beira de uma
nova rebelião.
Nesse contexto, começou a ganhar destaque a figura de Napoleão Bonaparte, general de apenas 30 anos de
idade que, graças às suas vitórias nos campos de batalha, parecia destinado a ser o
"homem forte" tão sonhado pela burguesia, aquele que devolveria a paz e a ordem para a França.
No dia 18 Brumário (9 de novembro de 1799), Napoleão dissolveu o Diretório e criou o Consulado, concentrando
em suas mãos a maior parte do poder. Em menos de um mês foi redigida uma nova Constituição, que deu a ele o
título de primeiro cônsul da França. Apoiando-se em seu prestígio, Napoleão promoveu reformas visando recuperar a
economia e as instituições, desgastadas após dez anos de revolução.
Uma de suas primeiras medidas foi reaproximar-se da Igreja católica, cujas relações com o Estado encontravamse rompidas desde o período do Terror. Para normalizar a situação econômica, Bonaparte incentivou a
industrialização e gerou uma grande quantidade de empregos ao iniciar um programa de obras públicas, com a
construção de estradas e portos e a urbanização de cidades.
Ao mesmo tempo, anistiou os nobres que haviam se exilado no exterior, reorganizou o sistema de cobrança de
impostos, criou uma nova moeda e promoveu reformas educacionais. O boxe abaixo analisa outra de suas
realizações: o código civil.
O Código Napoleônico
Inspirado no Direito Romano, o código civil francês foi instituído em 1804 e ficou
conhecido como Código Napoleônico. Esse conjunto de leis consolidou as grandes
conquistas burguesas da Revolução e consagrou o fim do feudalismo: garantiu o direito de
propriedade, proibiu a organização de sindicatos de trabalhadores, assegurou a igualdade
de todos perante a lei, mas restabeleceu a escravidão nas colônias francesas.
De um total de quase 2 mil artigos, apenas sete tratavam do trabalho, enquanto cerca
de oitocentos abordavam a questão da propriedade privada. Ele também reforçava a
autoridade de maridos e pais sobre esposas e filhos. O Código Napoleônico foi adotado em
grande parte da Europa e em alguns estados norte-americanos.
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Da República ao Império
Em 1802 um plebiscito deu a Napoleão o título de cônsul vitalício. Dois anos depois outra consulta popular
aprovou o fim do Consulado e a transformação da França em Império. Com isso, a Primeira República chegava ao
fim, e Napoleão era proclamado imperador.
Disposto a transformar a França no maior império da Europa, em 1805 Napoleão anexou ao país a República de
Genova, na península Itálica. Diversas nações europeias formaram uma coalizão para deter a política expansionista
da França. Bonaparte, entretanto, continuou sua marcha de conquistas com vitórias sucessivas, anexando novas
regiões ao seu país, como se pode ver pelo mapa.
Senhor de quase todo o continente europeu, para selar seu triunfo declarou extinto o Sacro Império RomanoGermânico recém-ocupado pelo exército francês e o substituiu pela Confederação do Reno.
Em 1806, depois de subjugar o reino de Nápoles, Napoleão colocou no poder seu irmão, José Bonaparte, que
governou até 1810, quando esse território foi anexado ao Império Francês. Nos Países Baixos (Holanda), assumiu
Luís Bonaparte, outro irmão do imperador.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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Coroação de Napoleão e da imperatriz Josephine na Catedral de Notre-Dame,
em Paris, em 2 de dezembro de 1804. Óleo sobre tela de Jacques-Louis David
(1748-1825).
O Bloqueio Continental
Apesar dessas vitórias, a principal rival da França - a Inglaterra - não estava derrotada. Senhora das rotas de
comércio dos mares, onde permanecia imbatível, era a nação mais desenvolvida da época. Consciente de que o
poderio britânico encontrava-se amparado no comércio e na indústria, Napoleão proibiu as nações europeias de
comerciar com a Inglaterra. Sua intenção era enfraquecê-la economicamente a ponto de deixá-la militarmente
vulnerável. Os países que não participassem do boicote, conhecido como Bloqueio Continental-, seriam atacados
pelo exército napoleônico.
Para o plano dar certo, era necessário que todos os países europeus participassem do Bloqueio. Os governos de
Portugal e Espanha, entretanto, não aderiram a ele. Por essa razão, em 1807 tropas francesas invadiram a península
Ibérica. Fernando VII, rei da Espanha, foi destituído e, em seu lugar, foi coroado José Bonaparte, irmão do imperador
francês que, como vimos, era também governante do reino de Nápoles.
O fato repercutiu nas colônias espanholas da América, onde começaram a eclodir movimentos emancipacionistas.
Já em Portugal, a família real e sua corte fugiram para o Brasil um dia antes da chegada do exército napoleônico.
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Para levar a cabo seu plano de invadir a Rússia, Napoleão constituiu um exército de 600 mil homens. Na imagem, O
altivo cruzamento do Nieman, quadro de 1819 representando o imperador e suas tropas às margens do rio Nieman,
na fronteira da Rússia, em 1812.
Fracasso na Rússia
O Bloqueio Continental afetou realmente a Inglaterra. Em 1808 as fábricas têxteis inglesas acumulavam enormes
estoques de tecidos sem conseguir vendê-los. Da mesma forma, as exportações de produtos de ferro diminuíram e a
revenda de artigos provenientes das colônias britânicas, como açúcar e algodão, foi afetada.
Outro grande país prejudicado foi a Rússia, que exportava para a Inglaterra matérias-primas destinadas à
construção naval. Em 1811 o czar Alexandre I rompeu com o boicote e abriu os portos do país aos navios britânicos.
Em represália, Napoleão declarou guerra à Rússia.
Em pouco tempo, o imperador reuniu um exército de 600 mil homens e partiu em direção às estepes russas. A
campanha se revelou um fracasso.
Em vez de combater os franceses em campo aberto, os russos preferiram recuar, atraindo o inimigo para o interior
do território. Na retirada, queimavam os lugares por onde as tropas de Napoleão ainda iam passar, destruindo
campos cultivados e abrigos. A tática, conhecida como de terra arrasada, surtiu efeito: os suprimentos escassearam
e muitos soldados franceses e animais morreram de fome.
Em outubro de 1812 Napoleão decidiu retornar à França com suas tropas, mas encontrou um novo inimigo pela
frente: o rigoroso inverno russo. Na marcha de regresso, milhares de soldados morreram de frio e de fome. Dois
meses mais tarde, apenas 100 mil franceses chegaram a Paris.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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O fim do Império
Com a derrota de Napoleão, os exércitos da Inglaterra, da Prússia, da Rússia e da Áustria formaram nova
coalizão e desfecharam um ataque fulminante à França. Abaladas com o fracasso da invasão à Rússia, as tropas
napoleônicas não puderam deter o avanço do inimigo: em 31 de março de 1814 Paris caiu diante dos exércitos
coligados.
Quatro dias depois, Napoleão abdicou do trono e foi enviado como prisioneiro para a ilha de Elba, entre a
península Itálica e a ilha de Córsega.
Enquanto a França organizava um novo governo, conduzindo ao trono o rei Luís XVIII – irmão de Luís XVI,
guilhotinado durante a Revolução Francesa -, representantes dos países europeus se reuniam em Viena, Áustria,
para definir as novas fronteiras entre as nações do continente e restabelecer o equilíbrio de forças entre elas (veja o
boxe "O Congresso de Viena" e o mapa da nova configuração geopolítica da Europa).
Em fevereiro de 1815, durante a realização do Congresso de Viena, Napoleão fugiu de Elba, desembarcou na
França à frente de um grupo de seguidores e marchou em direção a Paris. Ao saber da notícia, Luís XVIII fugiu do
país, deixando vago o trono da França. Sem enfrentar resistências, Bonaparte retomou o poder.
O novo governo do imperador, porém, duraria pouco menos de cem dias. Nesse período, Napoleão teve de
enfrentar nova guerra contra os governos da Inglaterra, Prússia, Áustria e Rússia.
Não foi bem-sucedido. Em junho de 1815 suas tropas foram fragorosamente derrotadas pelo exército inimigo, na
batalha de Waterloo, na Bélgica. Afastado do poder, Bonaparte foi enviado para Santa Helena, pequena ilha no
Atlântico. Ali permaneceria até sua morte, em 1821. Na França,
Luís XVIII foi reconduzido ao trono (veja o boxe "O legado de Napoleão").
O Congresso de Viena
Realizado entre setembro de 1814 e junho de 1815, o Congresso de Viena foi
presidido pelo chanceler austríaco Klemens von Metternich, um defensor do absolutismo.
Dois princípios básicos orientaram os diplomatas nessa ocasião. Um deles foi o da
legitimidade, que preconizava a restauração das dinastias destituídas pela Revolução
Francesa e por Napoleão e consideradas como legítimas pelo Congresso. O outro princípio
orientador do conclave foi o conceito de equilíbrio de forças entre as grandes potências. Com
ele procurava-se evitar a hegemonia de algumas dessas potências.
Como resultado das decisões tomadas pelo Congresso o governo da Inglaterra obteve
a ilha de Malta (no Mediterrâneo), o Ceilão (atual Sri Lanka, na Ásia) e a Colônia do Cabo (na
atual África do Sul); o governo da Rússia anexou a Finlândia e parte da Polônia; a
Confederação do Reno foi desfeita para dar lugar à Confederação Germânica, com 39
Estados, entre os quais a Prússia e a Áustria.
A península Itálica continuou fragmentada em vários principados e repúblicas; a
Bélgica uniu-se à Holanda para formar o Reino dos Países Baixos; a Suécia e a Noruega se
fundiram; o Império Turco-Otomano manteve o controle dos povos cristãos do sudeste da
Europa; e a França viu suas fronteiras voltarem ao que eram antes de 1792.
HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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O legado de Napoleão
Os grandes monumentos de lucidez do Direito francês, os Códigos que se tornaram modelo
para todo o mundo burguês, exceto o anglo-saxão, foram napoleônicos. A hierarquia dos
funcionários, das cortes, das universidades e escolas foi obra sua. As grandes "carreiras" da
vida pública francesa, o exército, o funcionalismo público, a educação e o Direito ainda têm
formas napoleônicas. (...)
Ele destruiu apenas uma coisa: a Revolução Jacobina, o sonho de Igualdade, Liberdade e
Fraternidade do povo erguendo-se em sua grandiosidade para derrubar a opressão.
Este último foi um mito mais poderoso do que o de Napoleão, pois, após sua queda, foi
isso, e não a memória do imperador, que inspirou as revoluções do século XIX, inclusive em seu
próprio país.
(Adaptado de: Eric Hobsbawm. A era das revoluções; Europa 1789- 1848. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p.
113.)
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86
Síntese do Capítulo
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HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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HISTÓRIA - 2º ANO – ENSINO MÉDIO - 2016
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