JORNALISMO E EXCESSO DE INFORMAÇÃO sites RECORDES

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JORNALISMO E EXCESSO DE INFORMAÇÃO sites RECORDES
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Por Mário Rui Cardoso > [email protected]
http://www.cjr.org/feature/overload_1.php
JORNALISMO E EXCESSO DE INFORMAÇÃO
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Recomenda-se muito vivamente a leitura do
artigo de capa da última edição de 2008 da
revista Columbia Journalism Review (CJR). Intitulado
“Overload!”, o texto, apesar de longo, merece uma
leitura integral para nos fazer – pelo menos – reflectir
sobre alguns valores primordiais do Jornalismo. A
peça trata da luta do Jornalismo para sobreviver
nestes tempos de excesso de informação que – tudo o
indica – estão não a atrair mas a afastar as pessoas das
notícias.
Em 2007, como parte do planeamento estratégico
para a sua adaptação à nova idade digital da
informação, a Associated Press encomendou um
estudo sobre a forma como os jovens adultos
consomem notícias em todo o mundo. A conclusão foi
surpreendente. Os inquiridos lamentaram que a
informação disponível seja, quase sempre, uma
sucessão interminável de factos apresentados de
forma desligada e superficial e queixaram-se da
dificuldade em encontrar informação com
profundidade. Ou seja, o estudo concluía que “a
abundância de notícias e a ubiquidade da escolha não
se traduzem necessariamente num melhor ambiente
noticioso para os consumidores”, podendo, pelo
contrário, gerar cansaço relativamente às notícias.
Ainda mais surpreendente foi ter-se constatado que
essa fadiga das notícias provocou nos inquiridos “uma
incapacidade de mudar a forma de consumirem as
notícias. Num tempo em que têm mais controlo e mais
escolha do que nunca, quando as notícias os deitaram
abaixo os participantes mostraram uma tendência para
receberem passivamente as notícias, em vez de as
procurarem activamente”.
Parece paradoxal. Há hoje mais de 70 milhões de
blogues e 150 milhões de “websites”. Aparecem, em
cada hora, mais dez mil. Só em 2006, o mundo
produziu 161 exabytes de dados digitais, o equivalente
a 3 milhões de vezes a informação contida em todos
os livros que já foram escritos. E, no entanto, «o
padrão básico é a quantidade de informação que as
pessoas têm e os seus conhecimentos políticos não
serem nem melhores nem piores hoje do que foram
nos últimos 60 anos», como refere Michael Delli
Carpini, decano da Annenberg School for
Communication. A verdade é que, havendo mais
informação disponível, também há mais factores de
distracção, e as empresas de notícias, na sua luta para
sobreviver na idade da informação, talvez só estejam a
complicar a situação, ao saturar o público de
informação. Como muito bem ilustra este artigo da
http://10000words.net/newyorktimes-election-timelapse.html
RECORDES
DA WEB
NAS ELEIÇÕES
AMERICANAS
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CJR, vivemos num tempo
de multitarefas, em que a
atenção do público é um
bem cada vez mais escasso.
Esta rotina de estímulos
simultâneos e constantes
interrupções da atenção de
que é feito o nosso quotidiano
é, de resto, uma realidade mensurável em custos para
as empresas. Nos EUA, ela é responsável por quebras
de produtividade correspondentes a uma média de
30% de um dia de trabalho nas profissões intelectuais
e custam, anualmente, 650 mil milhões de dólares, de
acordo com o relatório Excesso de Informação: Vimos
o Inimigo e Ele é Nós, da Basex. Porém, as empresas
de notícias competem pela atenção do público, num
ambiente já saturado de informação, acrescentando
mais informação, juntando mais blogues, mais vídeos,
mais audios, mais isto, mais aquilo. É como ter muita
gente dentro de uma sala e estarem todos a gritar ao
mesmo tempo para serem ouvidos. Ou como ter um
bombeiro a tentar apagar um fogo com napalm.
Neste contexto, a CJR acredita que o futuro do
Jornalismo passa por ajudar a dar sentido a este mar
de informação, para atrair gente às notícias e não
>
As 23h00 de terça-feira, 4 de
Novembro (04h00 da madrugada de
quarta-feira, 5, hora de Portugal
continental), foi o momento em que os
“websites” noticiosos receberam o maior
número de visitantes, desde que há registos
de acessos. Foi essa a altura em que se
soube que Barack Obama vencera as
eleições presidenciais americanas e a
quantidade de acessos – uma média de 8
milhões e meio de visitantes a acederem a
sítios de notícias, em cada minuto, em todo
o mundo, durante uma hora – demonstrou
que a Web ascende imparavelmente à
condição de meio privilegiado para a
obtenção de notícias. Para alguns “sites”,
como a MSNBC, a CNN ou a ABC, essa
terça-feira foi o dia em que registaram o
deixar que se crie o efeito de saturação. Jornalistas que
confrontem as diferentes visões de um problema, que
façam a big picture do mundo, são cada vez mais
necessários, num tempo em que as pessoas podem
escolher a informação que querem e tendem a ficar
apenas com aquilo com que se identificam ou que lhes
interessa – um tempo de «my news, my world»,
prejudicial à democracia. Depois, o primado da
velocidade e do volume de informação canaliza
muitos recursos para a actualização noticiosa, com
prejuízo do Jornalismo explicativo, que permite
assimilar, compreender e dar um sentido às notícias.
Os jornalistas devem converter informação em
conhecimento necessário para entender o mundo. E as
pessoas respondem bem a esse tipo de proposta, como
o demonstram alguns exemplos referidos no artigo da
CJR. Por último, mais do que nunca cabe aos
jornalistas serem filtros de informação,
seleccionadores competentes do que é realmente
importante. O exemplo descrito no artigo da CJR é o
da revista The Week (www.theweek.com),
considerada quase insuperável na forma como digere
e regurgita as notícias verdadeiramente importantes
da semana – e daí retirando, também, os sempre tão
ansiados proveitos comerciais.
maior número de visitantes de sempre. De
resto, o tráfego na Internet tem crescido
sempre, de umas eleiçoes para as outras. É
de realçar, também, o facto de, em alguns
casos, se terem registado aumentos do
número de visitantes no dia seguinte à
eleição. O Washingtonpost.com teve uma
audiência recorde de 17,5 milhões de
“pageviews” na quarta-feira – contra 13,2
milhões no dia da eleição; e o “site” do New
York Times (www.nytimes.com)
contabilizou, igualmente, um máximo de
61,6 milhões de visitantes na quarta-feira,
contra 55,1 milhões na véspera. O endereço
que colocamos em cima exibe uma curiosa
apresentação em vídeo da forma como o
New York Times foi acompanhando a noite
eleitoral na Web.
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http://images.google.com/hosted/life
TODO O ARQUIVO DA LIFE EM NOSSA CASA
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Admitindo que seja novidade apenas para muito
poucos, sempre servirá para recordar algo que
merece absolutamente ser relembrado: o arquivo
fotográfico da revista Life, composto por cerca de 10
milhões de imagens – remontando até 1750 – está a ser
integralmente digitalizado pelo Google. Quando o
projecto se iniciou, em meados de Setembro, estava
disponível cerca de 20% desse acervo – pesquisável no
Google Image Search. Sendo que os responsáveis
garantiam que, em poucos meses, teriam toda a colecção
digitalizada. Isto significa poder aceder gratuitamente – e
em cópias de alta resolução – às obras completas de
fotógrafos como Gjon Mili, Nina Leen, Margaret BourkeWhite ou Alfred Eisenstaedt, autor da fotografia que aqui
reproduzimos e que mostra a reacção de uma plateia de
crianças no momento em que, numa apresentação em
marionetas de “São Jorge e o Dragão”, no Jardim das
Tulherias, em Paris, em 1963, o animal é morto pelo
cavaleiro. A maior parte destas imagens que passaram a
estar disponíveis na Net nunca foram exibidas em
público. E se, vendo alguma delas, decidir que a quer ter
emoldurada, numa impressão de altíssima qualidade,
basta pedi-la à Life, através da Internet.
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http://serialconsign.com/node/126
A EVOLUÇÃO DE UMA PRIMEIRA PÁGINA
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Um estudante canadiano de mestrado, Greg J. Smith, decidiu comparar as
primeiras páginas do Los Angeles Times desde o nascimento do jornal, em
1881. Verifica-se, pela comparação de manchas de cor aplicadas aos diversos
conteúdos – editoriais (azul), visuais (amarelo) e publicitários (laranja) – que, ao
longo das décadas, o jornal foi sendo sempre muito conservador e avesso a
mudanças no seu rosto. O primado da imagem sobre o texto, na primeira página, só
aconteceu no momento em que a fotografia se estabeleceu na imprensa como
novidade, nos primeiros anos do século XX, e, depois, já no século XXI, num
momento de luta desesperada para contrariar a tendência de quebra nas vendas.
Quanto à publicidade na capa do jornal, desapareceu em 1925 e nunca foi
retomada. O Los Angeles Times só voltou a combinar conteúdos editoriais e
publicitários na página de abertura do seu “site” na Web, também ela estudada por
Greg J. Smith e, essa sim, sujeita a reconfigurações radicais, ao longo do período
analisado (1996-2006) – em busca da forma de sobreviver num meio completamente
novo e muito competitivo.

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