Invenções do futuro exigem mais do que talento

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Invenções do futuro exigem mais do que talento
Invenções do futuro exigem mais do que talento
Artigo do professor Luiz Bevilacqua, reitor da UFABC, publicado no Diário do Grande ABC em
17 de fevereiro. O texto aborda a importância do conhecimento e da formação qualificada para
as descobertas científicas do futuro.
Santos Dumont foi um homem criativo e obstinado, como é da natureza de todos os
inventores. Até a metade do século XX, a maioria deles dispensava a educação formal. A
intuição, aliada ao autodidatismo e à benéfica teimosia de não desistir diante das dificuldades
eram suficientes para gerar grandes descobertas. O inventor assemelha-se a um artista, a
quem a observação do mundo e o talento inato bastam para levar adiante grandes obras.
Contudo, outros brasileiros com esse espírito passaram despercebidos por falta de apoio e
oportunidade. Qual a razão do sucesso ou fracasso de uma invenção e de seu criador?
Destaco duas: inventar custa caro, pois depende de experiências e protótipos, às vezes mal
sucedidos. Outro fator é o apoio que o inventor obtém em seu meio e sociedade.
Uma ação positiva seria um maior incentivo à pesquisa por parte dos órgãos governamentais
de fomento e do setor industrial. Santos Dumont, por exemplo, deve ter ouvido que, antes de
mais nada, deveria se preocupar com a produção de café, pois máquinas voadoras não eram
prioridades econômicas brasileiras. Porém, como teve a sorte de nascer em família rica, foi
realizar seus sonhos nos jardins parisienses.
Nossa cultura ainda guarda resquícios de subserviência, falta de auto-estima e de
autoconfiança. Por que não crer que os brasileiros podem liderar a produção de
conhecimento? Por que não pode sair daqui um prêmio Nobel? Por que nos situamos no
mundo globalizado como perdedores? No Brasil nascem gênios e inventores como em
qualquer outra nação. Só que, hoje, precisam de educação formal e estão nas Universidades
ou nos laboratórios industriais, mas não sem antes terem passado por um intenso treinamento
de investigação e um banho de ciência.
A UFABC tem essa missão de avançar o conhecimento e formar pessoal qualificado para as
invenções do futuro. Ciência e tecnologia caminham a largos passos: é preciso estar adiante
do nosso tempo para entrarmos na roda do progresso. Estamos conscientes dos obstáculos,
mas temos certeza de que a presença da UFABC trará progresso para a Região.
Devemos nos orgulhar de ser brasileiros: somos tão capazes quanto qualquer outro povo do
mundo. Convido a comunidade local a construir conosco um grande futuro para o Grande
ABC, moldado segundo proclamou o presidente Lula no discurso de posse no Congresso:
“Mais do que a qualificação para o mundo do trabalho, a educação é um instrumento de
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libertação, que o acesso à cultura propicia. (...) Um país cresce quando é capaz de absorver
conhecimentos. Mas se torna forte quando é capaz de produzir conhecimento".
Luiz Bevilacqua
Reitor da Universidade Federal do ABC
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