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., I CONGRtSSO OA HI~ TOA IA OA txPA~S~O PORTUGUtSA NO MUNO O l.a SECÇÃO A historiografia .oficial e o · si g.i I o s ô b r e os de scobrimentos • ALVARO JULIO DA COSTA PIMPÃO . .. .. . •· LISBOA 1 9 5 8 . ...... .. .., ...r · I CONGRfSSO DA HISTÔRIA DA EXPANSM PORTUGUESA NO MUNUO l. a SECÇÃO ======================---- A historiografia oficial e o sigilo sôbre os descobrimentos PoR ALVARO JÚLIO DA COSTA PIMPÃO OttA.lffat d~Jk .--- 7 ~/:YJ ,q_ • LISBOA 1 9 5 8 110 t a..uo' o 1bl\o ca kclvín D~r e. Confra.- l.P l-l-A N u M~/z(1)1- J I Pareceu-nos que não estaria fora d'os objectivos dêste Congresso a consideração de um problema que está na base dos estudos henriquinos e joaninos e que envolve a discussão do valor a atribuír a certas foni'es monumentais relativas aos dois primeiros períodos da n~a e~pansão ultramarina : É o seguinte : A historiografia oficial teria sido abrangida pela chamada polítirca do sigilo sôbre •C'S de·scobrimentos- quere eSta se considere em relação aos fins, quere se considere, mais simplesmente, em relalação aos mios de .acção ? O sr. Jaime Cortesão procurou resolver o problema há já alguns anos em sentido afirmativo e com tal plenitude dedutiva que, por algum t·e mpo, ·se julgou que nada mais restava a dizer. Quando, mais serenamente, <Se avalia o eocasso pecúlio de dados em que o Autor se apoiou não podemos deixar de impressionar-nos com o efeito alcançado, .o qual deverá considerar-se mais em relação à suhti:l mestria oom que se hou;ve no aproveitamento de alguns indí· cios do que ao valor dêstes mesmos ~ndícios. (I) Não pretendemos aqui intrometer-nos na questão fundamental, isto é, se existia ou não o sigi>lo em relação à fi,n alidade indiana da emprtêsa, ou em relação aos me}o·s· de a alcançar, ou, ainda, se aquêle se estabeleoeu como uma necessidade que o andar dos tempos e as queixas dos interessados veio resolver, Interessa-nos a sua base historiográ.fica, não a sua· base cartográfica, tal como foi enunciada, já ·que ela tem feito caminho, a-pesar-de lançar sôhre os nossos cronistas uma suspeição confusa, além de colocar a crítica das fontes num plano em que é im,p ossívd descobrir chão fir.me. Admitimos, convictamente, a opinião que faz de D. Henrique e de D. João li dois homens de «um planon, identificados nos objec- I -6tivos que os interêsses espirituais da Grei e o bem da colectividade tornavam de urgente resolução. Sendo assim, aceitamos fàcilmente que se tenha usado dia reserva conveniente ao êxito da grande emprêsa, tanto mais de acon·selhar quanto é certo que Portugal tinha de defender-se de um competidor perigoso. Mas não temos provas suficientes de que os cronistas contemporâneos dos acontecimentos tivessem sido chamados a êsse estádio superi,or ean que circulava o pensamento dirigente e tivessem conseguido penetrar na intimidade do feito intentado, como agentes da Coroa. No entanto, há ·indícios seguros de que certos aspectos mais distantes lhes não foram estranhos. r.les surgem, aqui e ali, como raios de sol entre núvens, e, às vezes,, quando menos se espera. Simplesmente, fa1tou-lhes a visão de conjunto; viviam n'o mei:o das realizações como os ·outros homens e, naturalmente, deixavam-se seduzir mais pelos efeitos episódicos e imediatos, pelas obras, do que pelos objectivos mediatos, pela ideia, só incompletamente definida no •s eu espírito. Esta foi privilégio de dois homens e de a-lguns raros a quem confiavam o seu pensamento. A nação colaborou, realizando. A acção que se desdobra •sob os olhos ennevoados do espectad.Ç>r era considerada sob o ponto de vista do homem que a escrevia. Para Gomes Eanes die Zurara oirum optimum atque prudentem era a exaltação cavaleirosa. Sob a mão do nosso último monarca medieval o interêsse pelos· descobrimentos sumira-se perigosamente sob a estrupida dias cavaLarias do Norte de Áf;rica, as quais, por sua vez, imprimiam carácter à própria actividade indagadora e comercial da costa ocidental. As suas crónicas são por isso registos de feitos individuais, até com preterição dos do reino e do Rei e, ao que se lê, nem. sempre a contento de .todO's, talvez por algum padecimento na justiça distribuiliva, como êle dizia do Infante D. Henrique. Com Rui de Pina, sob O. João 11, é a luta violenta pelo monopólio da Guiné, o interêsse comercial, a que Jogo se juntat:,n os interêsses de civilização, a evangelização, a .iniciação dos grandes e obscur·os sertanejos ... Num, como no outro, o factor descobrimento não impressiona como tal mas como instrumento de comércio, de penetração ou de feitos cavaleirosos. Quem l'ê com atençã·o a Cróm'ca dos feitos da Guiné do primei.ro, fàcilrnente se convence de que os que melhor realizavam o pensamento do Infante não eram os que se limitavam ao res~ate I -7de escravos e tráfico de mercadorias, o que até chegou a constituir desobediêncià ao regimento, mas os que expl•o ravam a costél., subiam a foz dos rios, procuravam haver conhecimento dú inte.,.ior das terras e entrar em comunicação com os indígenas, pelos línguas. A-pesar-disso, nã·o é êste o aspecto saliente na Crónica. Zurara revelou-no-lo, ·sem ter a consciência perfeita disso, como l.tm facto que o •t ranscendle, só de o ouvir ou de o ler nas histórias de que se serv1u. Desejaríamos, precisamente, fazer re:;c;ahu ês(e pon~o de vista sem necessidade de relegarmos o Infante à categoria de mero agente do negócio do ouro em pÓ da es•cr:av.atL:ra, como o pret~ndeu, recentemente, o prefaciador da nova e_ci_:;ã.:> da C:ónica da Guiné, segundo o manuscri•to de Paris (2) . As Crónicas, disse o ilustre fundadm da t~oriª do s.i gilo, podiam desempenhar uma funçã o especialíssima nos debates internacionais sôbre as conquistas ultramarinas, e, por isso mesmo, ficaram sujeitas à censura prévia desde o infóo dos descobrimentos. Julga o mesmo hiSitoriador poss.í vel •f ixar uma data- 1454- sôbre o início dessa fase de reserva, a qual representaria para o cronistado uma verdadeira época negra, tal a soma de desacatos perpretadi:>s sôbre textos reputados perigosps, por Zurara e Rui de Pina, às. ordens, respectivamente, do Infante D. Henrique e de D. João li. A matéria que serve de base a esta teoria que podemos dizer catastrófica, é constituída pelos próprios textos da Crónica da Guiné, de Zurara e das crónicas de D. Duarte, D. Afonso V e D. João li, de Rui de Pina- aquela., para o período henriquino; estas para o período joanino. Dois capítulos de Gois, que ;admitiam o furto, forneciam a ideia de desapa.r ecimento, sequestro ou mutilação. A pederneira que iscou o lume da hipótese, logo convertida em tese omnímoda foi o «Prima species probandi est per cronicas ... n que D. Afonso de Cartagena alegou contra os. portugueses a fav·or do rei de Castela e Leão, no concílio de Basileia, sôbre .a conquista das Canárias. Se a primeira forma de prova é dada pelas crónic~.s,, havia real interêsse e interêse Real em que elas dissessem o menos possível ; por isso ·d ois cronistas se prestaram à tarefa de fazer de·saparecer das suas crónicas sôbre os descobrimentos tudo o que ainda não convinha revelar-se. Vasco Fernandes de Lucena, que não se prestaria à tarefa de «extorquir, mutilar ou destruir o alheio labor, \ -8defraudando a uns a glória dos feitos e a outros o mérito de os ter perpetuado, ainda que sob a fácil indulgência da razão do Estado>> teve de deixar o ofício a pessoa mais dócil ao mandado real. Vejamos até que ponto isto será de admitir, começando pelas crón:icas de Rui de Pina e contrafazendo embora a ordem cronológica. . r.ste teria reescrito as crónicas de D. Duarte, D. Afonso V, eescrito a de D. João 11, apagando delas tudo o que pudesse informar os estranhos sôbre as causas Íntimas, e muitos dos resultados da emprêsa nacional. Assim, desapareceram, com as crónicas anteriormente escritas, muitos factos relativos aos descobrimentos, sem que aquêle cronista, sôhre cuja memória pesa a grave acusação de se ter utilizado dos trabalhos de outrem, ocultando a sua J>TOveniência, fôsse tão culpado como se diz porque ·se teria limitado a emendar as obras dos antecessores, cumprindo ordens del-Rei. João de Barros foi o primeiro a atribuir a Zurara (sua principalíssima fonte em matéria de navegações) as crónicas de D. Afonso V (até à morte do Infante D. Pedro) e d'e D. Duarte «a·s quais Ruy de Pin:a, que o succedeo1 no officio, fez suas, pelo que emendou, e acrescentou nellas, principalmente na del Rey D. Afonso, ácerca das cousas, que passaram depois da morte do Infante D. Pedro» (3). Damião de Gois foi mais minucioso na indagação e consagrou o capítulo 38 da 4.& parte da sua Crónica de D. Manuel à notícia dos cronistas que escreveram as histórias dos reis de Portugal, notícia esta que retomou na parte relativa aos descobrimentos, quando dêles quis fazer resenha, na Crónica, do Príncipe D. ]oão, composta depois daquela {cap. VI). Fundando-se nos dizeres dêstes autores, o sr. Jaime Cortesão d~eu como sequestradas ou destruídas as seguintes crónicas : 1) a 3.& parte da Crónica de D. João I, por Fernão Lopes; 2) a Cróniccil de D. Duarte, pelo mesmo; 3) a Crónica de D. Afonso V, até à morte do Regente, pelo mesmo; 4) a Crónica de El-Rez' D. Duarte, por Zurara; 5) uma grande parte da Crónica de D. Afonso V, pelo mesmo; 6) o I e 11 volumes da Crónica do descobrimento e conquista da Guiné, pelo mesmo. -9A estas, o sr. Jaime Cortesão acrescenta, por sua conta: 7) a Crônica sSbre os descobrimentos, de Afonso Ced'veira; '8) o Esmeraldo de situ orbis, por Duarte Pacheco. NeSite respeitável inventário de desaparecidos apenas uma coisa -esqueceu : foi pôr Damião de Gois de acôrdo consigo próprio, êste coml João de Barros, ambos com Zur.ara e Rui de Pina. todos com a verdade documental- e V'erifioar os T!esultados.. Tentemos, pacientemente, essa urgente e fastidiosa emprêsa: I) Com efeito, 'e pelo que respeita à l.a das Crónicas desapa·recidas-a dle D. João I (3." parte) -não obstante o ·t estemunho, aliás incei-to, de Damião de Gois- «a qual terceira parte eu ousaria de afirmar q- êl1e fezn- temos de ter em conta o dup}o testemunho do próprio Zurara na Crônica de Ceuta, bem claro e explícito: Fernão Lopes não pudera chegar com a história de D. João I senão até à tomada de Ceuta. E logo adiante precisa melhor : por causa ·das buscas demoradas a que procedeu e por ter começado tarde a escrevê-la não pôde chegar com da senão até o tempo em que os embaixadores de Portugal foram da primeira vez a Castela firmar pazes com o rei D. Fernando de Aragão e com a rainha D. Catarina, que eram, àquele tempo, os tutores do rei. (4) E se a não escreveu Fernão Lopes, êsse homem de comunal ciência e grande autoridade, como disse o seu sucessor, também êste a não escreveu, segundo o depoimento do mesmo Gois no citado capítulo da Crônica do Príncipe D. ]oão. É verdade que n·o final da Crônica de Ceuta Zurara se preparava para continuar a Crônica de D. /oão /, prometendo falar adiante de alguns factos db mesmo reinado (5). M,as quem conhece a actividade do Cronista ·de 1450 a 1468 e, em especial, a tradição dos seus serviços na reforma do Tombo, bem pode duvidar de que. êle tivesse realmente conseguido cumprir a promessa por uma forma suficiente. Pelo menos, a Crónica que fez seguimento à de Ceuta, não foi a 3." parte da de D. João mas sim a do Conde D. Pedro de Menezes «continuado ha tomada de Ceptan, como se diz no título e se vê de outros lugares (6). O hiato de 18 anos, que tantos são os que vão da conquista de Ceuta à morte do Rei, foi preenchido, para o Norte de I - 10- África, com a cromca do citado Cond.e D. Pedro, e para a costa da Guiné com a crónica do mesmo título. Há ainda uma .outra crónica-a do Infante-mas dessa falaremos adiante. 2) Quanto à Crónica de D. Duarte, se Damião de Gois a atribui a Fernão Lopes, tanto na Crónica do Príncipe D. ]oão como na de D. Manuel, Barros atribui-a a Zurara. Segundo o primeiro, nesta Crónica apenas o enferramento de D. João e cs razoamentos · da ida sôbre Tânger pertencem a Zurara, porque êste prometera escrevê-las, cabendo a substância a Fernão Lopes e o refazimento a Rui de Pina. O argumento de Gois, conquanto lógico, é de pouco pêso: Afonso V não teria mandado escrever a Crónica do Conde D. Pedro e a de seu filho sem que estivesse acabada e apurada a de el-rei seu pai {7). tste argumento, se tivesse realmente fôrça pmbatória. valeria com maioria de razão de avô, cujos últ>imos 18 anos de vida e de reinado ficaram por regi.s tar, corno fundadamente se pode crer. Zurara não duvidava de que ela havia sido escrita, pelo menos em parte, como se vê de vários lugares da Crónica de D. Duarte de Menezes e da Crónica dos feitos da Guiné (8) ; mas no capítulo 68 desta última obra promete falar na crónica geral, onde 'tratar do cêrco de Tânger, dos que, naquele lance, abandonaram o Infante. Temos, pois, duas atitudes de espírito diferentes: com.o trabalho dêle, Zurara, a crónica do :tempo de D. Duarte estava por ultimar, nem dela fôra encarregado; como trabalho de out·r em, bem poderia (e deveria) existir (9). Por outro lado, e em confirmação da nossa suspeita, Rui de Pina, ao endereçar a crónica de D. Duarte a D. Manuel afirma que a crónica daquele rei ficara por escrever até àquele tempo. Isto não demonstra que Rui de Pina deixasse de se servir de apontamentos de outrem; mas deixa admitir que o volume em que se continha a Crónica de D. Duarte não existia na livrari.a do Rei .. 3) Quanto à Crónica de D. Afonso V a incerteza sôbre o seu primeiro redactor tem menos razão de s·er, quer nela se inclua, ou não, o período da regência. Barros afirma que Zurara escreveu a Crónica de D. Afonso até à morte do Infante D. Pedm; e Damião de Gois, depois de ter afirmado na Crónica de 'J). Manuel que a· ordem da crónica de D. Afonso «mostra manifestamente ser tudo ho que se tracta desno <tempo q- elrei Dõ Duarte faleceo atte morte -11do ll)fante Dõ Pedro, de Gomeszeanes de Zuraran, diz na do Príncipe D. João que pertence a Fernão Lopes a história geral até à morte do Infante D. Pedro. Portanto o próprio Gois não tinha a certeza sôbre c autor da parte da crónica relativa à Regência. Sôbre esta, porém, vários passos. das crónicas de Zurara demonstram que ela não estava concluída mesmo em 1468 e há uma referênoia importante donde se pode concluir que ela não estava sequer começada . ( 1O) . Pelo que respeita, propriamente, ao tempo de D. Afonso V, certos passos da Crónica do Conde D. Duarte ( 1468) mostTam-nos que ela estava por escrever em relação a factos importantes rdativos aos anos de 1449, 1458, 1460, 1461 e 1462 ( 11). Ficamos assim mais aptos a interpr.etar o sentido das palavras de Rui de Pina no Prólogo da Crónica. de D. Afonso V: «E como guer, muito poderoso Rey, que a carrega e peso desta obra, por ser tam digna e tam necessaria, e com dese:o e cuydado tam virtuoso, como he este vosso, ja foy outras vezes posta e encomendada sobre os ombros e f.orças d' outros Cronistas destes Reynos, que •a nte mym foram pessoas d.e syngular Dou:trina e muy suficientes : e por suas grandes e desesperadas defyculdades e peso yncomportavel, elles nem soomente a moveram: etc.n. A tudo isto há ainda a <J.crescentar duas razôes : 1.• É que o Cronista Zurara faleceu sete anos antes do Rei; 2. a É que as circunstâncias dolorosas que rodearam a ascenção de D. Afonso V ao trono, absolutamente aconselhavam a que o tempo as esbatesse na m.emória do·s homens antes que dela se tentasse escritura. A-pesar-de tudo, o ofício historiai tinha seus espinhos e Zurara bem os havia experimentado porque disso se queixa mais d.e uma vez, como, por exemplo, I,Ila crónica de D. Pedro d.e Menezes, onde diz que as suas obras têm tantos espeitantes que ainda bem não tomava a pêna na mão para escrever, já começavam a danar a sua obra ( 12) . Damião de Gois foi, de resto, homem de duas medidas: no que respeita aos sucessores de Fernão Lopes, especialm·e nte no que rtspeita a Rui de Pina, quás.i nem as migalhas lhes deixou da mesa abundante do nosso patriarca; no que respeita, porém. - 12- ao seu próprio labor na Crónica de D. Manuel reduziu a contribuição dos Pinas a tão pouco que pôde dizer que começara tudo de novo. Conclui-se, portanto, do que dissemos, que Fernão Lopes e Zurara terão, quando muito, deixado ao seu sucessor alguns assentos das crônicas de D. Duarte e D. Afonso que Rui de Pina utilizou-ta1vez com mão não avara. Não está provado que as crônicas, que se dizem desaparecidas, e escritas pelos antecessores de Rui de Pina, tenham sid·o ;realmente escritas; e, sendo assim, é prematuro investir o cronista em funções que porventura não tiveram ocasião de serem exercidas ( 13) . Foi ainda em tempo de D. João 11 que Rui de Pina recebeu o encargo de escrever e assentar os feitos do Rei e d o reino, segundo uma Provisão da sua chancelaria de 16 de Fevereiro de I 490 (I 4) , comissão esta de que insuficientemente se desempe nharia. e que, em todo o oaso, representa um encargo preparatório do cronistaum complmento do seu trabalho de escrivão, que D . João 11 inteligentemente aproveitou, visto que Rui de Pina andou Intimamente ligado à. polftica interna e externa do reino. De resto, é quási certo que se recompensavam no cronista os trabalhos do diplomata e do escrivão, porque, na verdade, só em tempo de D. Manuel apareceu a sua primeira crónica. Isso é mais verosímil do que supô-lo sucessivamente remunerado pelo trabalho de destruir ( ?) o labor dos outros, o que, em suma, não era trabalho de tamanho pêso que houvesse de ser retribuído sob o disfarce de remuneraçã o por serviços de escritos par.a os quais, além de tudo, lhe era dado um escrivão, como auxiliar ... Quem poderá acreditá-lo! Como cronista-mor, Rui de Pina era bibliotecário do Rei e, nessa qualidade, ao tomar posse do cargo, eram-lhe entregues as chaves da Livraria e, com elas, os livros, por inventário ( 15). As crónicas dos reis antigos tinham desaparecido da livraria real. E' possível que para êste facto tivesse concorrido o desejo de as pôr em latim. Parece confirmá-lo a carta de João Rodrigues de Sá de Menezes a Damião de Gois em que diz que as crónicas dos reis passados de Portugal se haviam perdido em tempo de D. Afonso V, nàs mãos de Frei Justo, bispo de Ceuta, que aquele Rei mandara vir da Itália para lhas escrever em latim, e que veio a morrer de peste em Almada, onde se pei'deram. As crónicas de D. Duarte -13e de D. Afonso V, se eixs'tiam como lembranças ou memonas no arquivo, não tinham dado entrada nra livraria real, visto que não . tinham sido ordenadas. Lembremo-nos de que a própria Crónica de Ceuta, que tem todo o ar de obra feita, não chegou a ser ordenada em aónioa e não passa, na intenção do seu autor, de um assento provisório ( 16) . lslto explica, sem violência alguma, que Rui de Pina tinha escrito que «posto que até seu tempo (de D. João) não fôra costumado escrever-se das bondades e feitos notáveis d'alguem; deste bemaventurado Rey per hü singular, e maravilhoso ensino de Reis, era rezão que se começasse primeiro, e que por memoria de seu nome, gloria, e louvor, foramos enventores de hum tão santo officio, e tão proveitoson ! Rui de Pina ousa afirmar ao Rei que nêie começava, de facto, o ofício historiai! Não são as crón1cas dos descobrimentos que estão em causa, mas· sim o próprio ofíoio de cronista. Para o fazer, era preciso que tivesse algum fundamento. Parece, qu~ não pode ser outro diferente do que deixamos indicado. Não pode afirmar-se, infelizmente, que ·e m tudo isto Rui de Pina tenha procedido com inteira boa-fé. Emi tempo de O. João 11 houvera êle às mãos, segundo •O testemunho de João de Sá Rodrigues de Menezes, umas crónicas dos Reis antigos «que mingQavamn de um tal Fernão Novais, homem <<muim principaL> de Lisboa; e é difícil de crer que êle não tenha conhecido os apontamentos ou lembranças que os ·seus antecessores haviam, decerto, àeixado no arquivo. Calando absolutamente o que doutros recebeu, Rui ~e Pipa mostrou ter do seu ofício um critério estritamente formal A isto se reduz o clássico furto. . Rui de Pina acabou primeiro a crónica de O. João li, depois a de O. Afonso V e, por iúltimo, a de D. Duarte (17). Estas crónicas são, de facto, omissas no que respeita aos descobrimentos e às explorações atlânticas. Mas como aquelas foram acabadas já depois de atingida a meta dos esforços nacionais, não há justificação para omissões historiográ.ficas ( 18). A razão deve ser outra : era preciso o rodar de mais alguns anos para que a emprêsa ultramarina se revelasse em tôda a sua grandeza de pensamento e previsão. Então apareceu o cronista, como depois apareceu o épico. Rui de Pina, êsse, é do seu tempo e partilha das preo- -14cupações do seu tempo. O objectivo de alcançar os recursos neces· sários à continuação da emprêsa, que para D. João li constitui um meio, é, para o cronista, um fim. Aquêle, de resto, revela-se em re· sultados imediatos, palpáveis. Voltado para a face externa das coisas, como todo o reino, o Cronista não chega a dar inteira conta da sua face íntima, nem da relacionação dos factos que se passam sob os seus olhos. Estes tinham um aspecto saliente de política comercial e é êste que Rui de Pina essencialmente desenvolve. Isto toma-se evidente com a questão da Guiné, como vamos ver: É sabido que, depois de uma tentativa de liberdade de comércio, os tratos d'a Guiné foram arrendados a Fernão Gomes. r.ste, depois de ter ganho oom o arrendamento do ooméróo da Guiné Hmui grossa fazendan, como diz Barros, e de ter pôsto o mesmo comércio em elevado grau de UJrosperidade foi aposentado oom tôdas as honras, por O. Afonso V, no ano de 1474, que lhe deu nobreza de novas Armas, e o fez do seu conselho. É que, entretanto, Fernão Gomes alcançava a M·i na e, recebendo com o grau de nobreza o apelido de Mina cedia ao Príncipe D. João a exploração do resgate do ouro que por ali se fazia. Quere dizer : o comércio da Guiné foi nacionalizado pela primeira vez ( 19) . É sabido ainda que o negócio da Guiné levou à construção do castelo de S. Jorge da Mina ou da Guiné, sob a direcção de Diogo de Azambuja. Tôda a mercadoria que o acompanhava foi logo resgatada. O ouro abundava. No ano de 1488 um Príncipe do reino de Jalofo, Bemoyni, lançado do seu .r eino, meteuJse numa caravela de trato, chegou a Lisboa e aí depôs sua embaixada na forma que Rui de Pina longamente descreve no Capítulo 32 da sua Crónica de D. /oão, como perito dêsses assuntos. Para obter a restituição do seu -reino e a ajuda de D. João o Bemoyni fez-se cristão. D. João li, porém, aproveitou a ocasião e despachou-o com armada de sooôrro e ordem de se fazer à entrada do rio Senegal (ou rio Negro) uma fortaleza; e entre as razões que moveram o Rei a isto fazer, diz Rui de Pina, foi ter-se certificado de que HO dicto Rio, bem metido no sertaão vyr pera a cidade de Tambucutu, e per Mombare em que sãm os mais ricos tratos, e feiras d' ouro que há no mundo d e que tôda a Berberia de Levante, e Poente, até Jherusalem se pro vee, e ba..::tece, creendo que a dieta fortaleza pera escapola, e segurança do - 15trato seria em tal lugar pera os seus, e per:a as mercadorias grande segurança» (20) . Isto explica a valentia com que D. João li dlefende o mono· pólio dos tratos da Guiné- o grande negócio da Coroa. Vários factos o assinalam, bem significativos, e Rui de Pina não •OS esconde. O primeiro dêles é a tentativa feita pelos reis de Cast·e la para revogar na sua capitulação com o duque de Bragança aquela disposição da paz de Alcáçovas pela qual se reconhecia a Portugal ·o s seus direitos sôbre a Guiné. A paz de 1480 não contentara ninguém : nem os reis ·de Castela, que não se c-onformavam com o monopólio da Coroa portuguesa, nem D. João li que, pelo menos na aparência, não se contentara com a perda da posse das Canárias, segurança da Guiné, e, como tal, mandada requerer no dote de casamento do Príncipe D. Afonso oom a lnfanta D. Isabel ou com a Infanta D. Joana (21). D. João li recusaria abrir o trato aos navios de Castela, os reis dêste reino declarariam guerra a Portugal e o Ç.uque de Bragança daria passagem por suas terras ao exército de Castela (22). O segundo facto refere-se ao que se passou com o conde de Penamacor. D. Lopo de Albuquerque, implicado na conspiração do duque de Viseu, saíu do reino com sua mulher e filhos. E no ano de 1488 vamos encontrá-lo em Inglaterra oom o nome mudado em Pero Nunez comprando mercadorias para os tratos e resgates da Guiné, chamando e incitando os armadores. Como nãoo desse resultado a tentativa de Álvaro de Caminha, que foi a Inglaterra para o prender a bordo da sua caravela, enviou D. João li ao rei de Inglatern~ o seu cavaleiro José Álvares Rangel para que o prendesse e, no caso de lhe não ser entregue, fôsse metido em cárcere perpétuo. Tanta diligência empregou o delegado que o conde ficou realmente prêso no castelo de Londres, não sem que D. Uoão li empre· gasse novos esforços para o haver às mãos, o que não conseguiu (23). Em 1493 arribou Colombo ao Restelo, de regress-o das «ilhas de Cipango, e d'Antilian. O primeiro pensamento del Rei é que o tal descobrimento se fizera «dentro dos mares e termos do seu senha. rio da Guinén. Escapou nessa ocasião o arrogante Colomlbo de ser morto por causa do seu Cipango. Sucedem-se os conselhos sôbre o caso, prepara-se uma armada sob o oomando de D. Francisco de 16Almeida contra a terra recem..descoberta para a qual se dirige nova armada de Castela. Emba'ixadores vêm, embaixadores vão, embaixdores tornam até que os técnicos. do rei D. ] oão acordam em que as tais ilhas e terras nada tinham que ver com a •cosrta e as ilhas da wnquista da Guiné (24). E' claro que no pensamento de O. João li era a estrada da fndia que estava em jôgo e não propriamente o. senhorio da Guiné. Mas o cronista, dominado pelo êxito da política comer.c ial do Rei, na costa de África, tudo conSiidera em função. dêsse ponto restricto. Pelo que respeita à Guiné, como acabamos de ver, Rui de Pina não é omisso, embora não satisfaça, evidentemente, às exigências. da crítica moderna, ávida de documentos e de pormenores. Esta relativa abundância de facto contrasta notàvelmente com a enunciação dos objectivos permanentes da Coroa. Porque não chegassem ao seu conhecimento? Não I Simplesmente êsses não constitui,am ainda 1Jm resultado, mas uma probabiÍidade. Quando trat:.ã da forma como se deu fundamento à cristandade do Congo, a que consagra nada menos de sete capítulos (.o que revela o interêsse de Rui de Pina pela envangelização na sua projecção imediata) o Cronista não deixa de mencionar que aí ficaram «outras pessoas . de descripçam ordenados (s,i c) pera hirem per terra descobrir outras desvairadas terras, icom fundamento da lndia e Preste johamn. Numa vigor.osa política de sigilo, êste passo teria sido censurado, porque na incerteza de atingir a fndia circunnavegando a África, a penetração por terra deveria ser ponto a considerar com .interêsse repetido e crescente. Entre a crónica d~ D. João 11 e a de D. Afonso V, reali:za-se o objectivo nacional-a fndia--e no capítulo em que trata do Infante O. Henrique, Rui de Pina resume o que se passara em matéria de descobrimentos e promete falar dos resultados da emprêsa na Crónica de D. Manuel-o que não chegou a efectivar (25). As explorações insulares não interessaram o Cronista-e não devemos estranhá-lo. As tentativas para Ocidente, que D. João li protegia ou animava, não eram uma obra da Coroa, mas sim uma obra particular, oc,asional e dispersiva; não se integravam nos ohjectivos do Estado, que era obter, pela exploração comercial da estrada da fndia, os recursos necessários para a solução final do problema (26). Os títulos de wncessão, aliás abundantes, excluíam -17precisamente os mares e terras da Guiné- à Coroa reservadas. Aqui, monopólio, além, liberdade. Repare-se que a própria costa da Guiné chegara a ser abandonada pela Coroa enquanto um arrendamento feliz não valorizara o respectivo trato pela descoberta de autênticos centros comerciais. Entretanto, e ao mesmo tempo que se obrigava o arrendatário à exploração da costa, a política real era levada a arrancar ao Norte da África, de preferência, os recursos que falta~am para a exploração marítima (27). As explorações no Atlântico, dos João Vogado, dos Rui Gonçalves da Câmara, dos Fernão Teles, dos Fernão Domingues do Arco, dos Fernão Dulmo, eram, sob êste ponto de vista, tudo quanto havia de mais precário; e a Coroa não es4va disposta a empenhar os seus réditos em aventuras tão afastadas do seu rumo inicial. E estando aquelas dêste modo abertas à concorrência do particular, ·sob a protecção do Estado, é difícil incluí-las na política do sigilo, à qual, na verdade, nenhum interêsse traziam. A omisão do Crortista, neste ponto, justifica-se pela própria natureza particular dêsse sistema de tentativas para Ocidente, miiiagem fugaz que não deslumbrava o Príncipe Perfeito e de que acabaram por ser vítimas Colombo e os reis de Castela. O sr. Joaquim Bensaúde põe, quanto a nós, excelentemente o problema, quando afirma: «L'idée ferme de D. ]oão était de s'en tenir à la réalisation d' un seul project : atteindre les Indres orientales. Là il était sur de .t rouver les bénéf~ces irnmédiats que réclamait son temps. Par contre la découverte des territoires de l' occident semblait devoir ne promettre que des déceptions : li se réserve l'orient; il abandonna 1' occiden:t à la Castille tout en s 'en reservant pour I' avenir un immense lambeau : le Brésiln (28) . Rui de Pina, que, se teve a inteligência clara dos fins não teve o sentimento dêles, n ã o podia tirar das tent ativas para o Ocidente a lição que elas comportavam para o exame da fidelidade do Homem à política conveniente. Por isso as suas Crónicas, sufici~ntes, ou quási, quanto aos fins imediatos da Coroa n ã o fornecem quaisquer elementos de valia para o estudo das exploraÇões marítimas. Não é uma questão de sigilo, que nenhum argumento tem em seu favor em relação ao momento em que as Crónicas foram redigidas, mas, mais simpLesmente, uma questão de critério selectivo. A organização do sigilo da historiografia sob D. João 11 foi. -18afinal, buscar o seu melhor esteio, para não dizer o seu único es· teio, ao período antecedente, isto é, ao texto do códice parisino da Crónica dciJ Guiné de Gomes Eanes de Zurara, que ao autor da tea. ria se lhe afigurou mutilado e desconnexo e que a nós se nos afi. gur'a também, mas por outras razões, não estar na sua forma pri· mi.tiva. Baseado neste .facto, o sr. Jaime .Cortesão pôde mesmo avançar os factos que teriam .s ido eliminados : a) Viagens por terra ao Prestes João e à fndia; b) O descobrimento dos Arquipélagos Atlânticos_; c) Viagens de Diogo de T eive para Ocidente dos Açôres; d)" O descobrimento do Brasil antes de 1448. Mas para que se teria mutilado o texto da Crónica? Esta fôra adrede fabricada para servir no pleito com Castela, que o Papa em Janeiro de 54 decidia a favor de Portugal. «Deturpada já no origi· nal, foi possivelmente sujeita à censura do Infante que eliminou dela tudo o que ainda não convinha revelar·sen (29). Note·se o emprêgo do advérbio. Não se viu a outra ponta do dilema: quanto mais factos fôssem suprimidos menos direitos poderiam ser invo· cados : <<Prima species probandi est per cronicas ... n dissera, havia muito, D. Afonso de Cartagena. Além de que é conferir uma grande candidez de espírito ao adversário supor que por se supnm1rem alguns parágrafos ou deturparem alguns factos num códice já não. restariam outras espécies de prova ... (30) Numa nota ao citado estudo da Lusitania ·o sr. Jaime Cortesão promete versar .a data em que saíu o manuscrito de Portugal e os motivos da saída : <<As opiniões do visconde de Santarém sabre a data em que saíu o manuscrito de Portugal e os motivos da saída, assim ~orno as d~ Inocêncio e Gama Barr.os sabre as actuações à Crónica, depois da morte do Infante, já estão seriamente abaladasn. Não sabemos se a promessa foi cumprida. O visconde de Santarém supSs que o códice actualmente em Paris fôra enviado por el•.rei D. Afonso V a seu tio, el.rei D. Afon· so de Nápoles, cognominado o Magnânimo, entre os anos de 1453 e 1457, tendo sido porventura seu portador Martim Mendes de Ber· redo. que neste ano foi al! enviado como embaixador (31) . Se algum texto serviu em qualquer pleito jurisdicional antes -19de 1460 não foi o que o sr. Jaime Cortesão examinou: não podia ler sido enviado (não se disse aonde) um códice em que o Infante é ··dado ·c orno rnor.to e em que há segura intervenção posterior a 1463 e, porventura, a 1481. É do capítulo 4. 0 aquêle conhecido passo tantas vezes reproduzido por outros historiadores: «Luxuria nem avareza nunca em seu peito ouverarn repouso, porque asy foe temperado no prirneyro auto, que toda sua vida passou em limlpa castidade, e assy que virgem o recebeo a terra>>, o ql)e &Ó poderia ter sido escrito .d epois de 13 de N. ovembro de 1460. No capítulo 96, Zurara promete fazer outro livro que chegue «ataa fim dos feitos do lffanten promessa esta a que só poderia abalançar-se depois daquela data e que, segundo tôdas as probabilidades, nunca efectivou, não só pela falta de .t empo, como porque, tendo o Cronista consagrado a sua pena ao assunto dos feitos de cavalaria e, de tal maneira, que conseguiu dar cavalaria os tratantes do ouro e dos escravos, corno se de honradas pelejas se tratasse, a matéria deixou de proporcionar-lhe o ensejo visto que «as cousas seguintes nom foram trautadas com tanto trabalho e fortalleza como as passadas, e despois deste anno avante, sempre se os feitos daquellas partes trautarom mais per trautos e aveenças de rnercadorya, quer per .fortalleza nem trabalho das armasn. Mas é possível -d emonstrar, com tôda a segurança, que houve intervenção na Crónica dos feitos da G uiné entre 1463 ,e 1468 e de natureza a convencer-nos de que a Crónica foi iniciada depois daquela data. Julgo tê-lo feito já por forma suficiente (32) . A Crónica dos feitos da Guiné- assim a denomina o seu autor (33), é um trabalho diferente do que .f.oi encomendado ao Cronista em 1452 e que êle efectivamente acabou em 1453, como se vê da carta, que deve ser autêntica, que precede a narrativa do códice de Paris. r.ste deveria intitular-se Crónica do Infante D. Henrique. Possivelmente na Crónica dos feitos da Guiné reproduziram-se capítulos daquela; e esta circunstância inspiraria o trabalhe-, realizado depois da morte do cronista e mesmo depois da morte de D. Afonso, que consistiu em juntar os papéis de uma e ·de outra, 'talvez em mau estado, na suposição de que pertenciam ao mesmo volume, arrumando-os .s em critério, .trocando o lugar dêste e daquêle trecho, capitulando de novo, emendando a redacção. Isto é uma hipótese; -20e talvez ela possa dar conta do desequilíbrio estrutural do códice de Paris. Não cabe aqui o desenvolvimento de um assunto que tem tentado bastantes estudiosos. Pensamos trazer a êle nova achega que, assim o cremos, ajudará a resolver o problema. Resta apreciar o valor das mutilações s·ofridas por uma Crónica que não estava escrita em 1453. a) Viagens por terra ao Preste /oão e à lndia: \': ' Jaime Cortesão, baseado em supostas mutilações da Crónica da Guiné pôde afirmar que o Infante promoveu e realizou, antes de D. ]oão li, uma série d.e viagens por terra ao reino do Preste /oão e às lndias, coroadas de amplos resultados, as quais foram supn~ midas d·a Crónica. Apoia a sua afirmação no seguinte : Azurara afirma que o Infante fez grandes <<dádivas de dinheiro e de roupas, pas·s agees de navyos, gasalhado de pessoasn a Cara· mantes, Etiopios e fndios rnaiores e menores <<que por visitaçom do apostol1o. ou cubiçosos de ver a fermosura do mundo, chegaram a os fiins da nossa Espanhan. Afirma ainda, no mesmo capÍ· tulo, que os habitantes do Egipto, nos termos da antiga cidade de T ebas, traziam naquele tempo vestidos com a divisa do Infante, especificando que as mulheres ostentavam jóias. de ricos lavares de ouro e prata, que para ali tinham ido à ·c usta do lnfant<: e levadas pelos seus servidores, que tresmudavam nos fiins do oriente as oousas criadas e feitas no occidenten. Daqui conclui o sr. Jaime Cortesão <<que os servidores do Infante fizeram viagens por terra, de carácter comercial, não só ao interior do Egipto como ao oriente mais longínquon. Em nossa opinião, é esta a ilusão mais grave em que caíu o ilustre navegador. A presença em Portugal, em 1452, de um embaixador do Preste João, documentalmente atestada, é um 'facto importante para o estudo das relações do Ocidente com a Etiópia e que deve ·i ncluir-se na série de 'tentativas feitas pelo Preste João n.a Europa (34). Tendo Portugal tomado posição vantajosa contra Os mouros, em 1415, com a conquista de Ceuta, nada tem de extraordinário que oPreste João procurasse o apoio de Portugal, como o de outras côrtes -21da Europa. T arnbém não .será muito de admirar que apareçam árnanhã documentos que atestem a presença de embaixadores ou enviados do Infante na côrte do Preste. O que se contesta é que Zurara o diga. Não acrescentemos à confusão dos problemas suscitados pelo 't exto da Crónica, nova confusão, como será a de inventar o sentido claro dos própri~s textos (35). O confronto do texto transcrito com: os outros passos da mesma Crónica faz-nos penetrar, sem grande dificuldade e com bastante probabilidade (parece-nos) no sentido das suas palavras. Há na concepção geográfica azuraniana dois pensamentos dominantes : o primeiro era o de que os portugueses ao chegarem ao Senegal tinham atingido o Nilo setentrional, o que era um simples -reflexo da opinião corrente, embora com modalidades de pormenor, ainda vigente no século XVI ; o ·s egundo, o de que, em conseqüência, os portugueses tinham atingido terras orientais para onde transmutavam «as cousas criadas e feitas no Occidenten (36). Neste curioso sistema, Ceuta aparece, não como um pôrto de escala do comércio levantino, mas corno chave do mar mediterrâneo a barrar o caminho do Atlântico ao mouro. Pela posse de Ceuta foi possível libertar os mares em que os mercadores andavam dos ataqu~s dos infiéis, fechados pelos portugueses dentro do mar do Levante. A segunda das razões, pelas quais o Infante fôra movido de procurar as terras da Guiné- explica-nos Zurara- foi a esperanç de ali se achar povoação de cristãos ou portos em que sem perigos os mercadores portugueses pudess·e m fazer seus tratos, libertos de intermediários. E no seu panegírico louva o Infante porque «per continuadas p.assagensn juntara o Levante com o Poente «por que as gent<o>s .apredessem a comudar as riquezasn. É evidente que para o Cronista a costa africana não era a da ·realidade. Aproximava-se, de certo, da forma que lhe deu AndTé \ Bianco no seu mapa de 1436; dimensão Este-Oeste maior do q1J.e .a do Norte-Sul, o braço do Nilo corrente do centro da Á'frica no sentido Este-Oeste, como um braço de outro rio, para alguns o Giou que descia do Paraíso Terreal (37), e apartava para o austr.o outro braço do Nilo, :a costa flectida V'iolenta e continuadamente para o Levante, logo abaix·o da região que se poderá identificar como c -22Senegal, por tôda a costa chamada da Etiópia (baixa ou inferior} -costa da malagueta, do marfi me do ouro- até à fndia menor. Nesta configuração compreende-se que quanto mais as caravelas andassem para lá da foz do rio· Negro ou Nilo mais se 'aprox~ mavam da fndia e, portanto, do Egipto e da Abissínia; e que a terra nos Negros pudesse ser, indiferent-e mente, vizinha do Nilo ou do Egipto. Que assim era revela-o o cronista quando diz a propósito de quatro guinéus que haviam s~do tomados na sua própria terra por Diniz Dias que não era pequena honra do Infante mandar gente a ponto tão distante P'ara fazer prêsa nos, vizinhos da terra do Egipto. Com o nome de !ndios designava-se ao tempo em Portugal aquêles povos que se estava certo de encontrar para além da terra dos Negros ou do Nilo do Senegal e da Etiópia baixa. Desde 1454 que por uma bula de Nicolau V o Infante se assegurara o direito de navegar usque nd lndos que Christi nomen colere dicuntur- versus meridionales et orientales plagas. E por uma bula de Calixto Ill, de ,13 de Março de 1456, que confirma a antecedente e é confirmada por uma bula de, Xisto IV, eiili 21 de Junho de 1481, o Infante obtém a jurisdição espiritual in insulis, villis, portubus, terris et locis a capitibus de Bojador et de Nam usque per totam Guineam, et ultra illam meridionalem plagam usque ad lndos acquisitis et acquirandis (38). Trata-se pois dos fndios que se descobririas para lá dos etiópios na costa orientnl, a que se estava seguro de chegar. Isto é muito mais simples, e cremos que mais provável, do que imaginar os etiópios e os índios propriamente ditos transportados nos _Eavios do Infante através do mar mediterrâneo recebendo dádivas de dinheiro, de roupas~ gasalhado de pessoas em Portugal! O sr. Jaime Cortesão viu muito melhor o problema no seu artigo O âmbito da obra do Infante quando reconhece na afirmativa de que 0 Infante achou tôda a costa da Guiné até aos índios, inscrit no sarcófago de D. Gonçalo de Sousa, vedor da fazenda e chanceler do Infante D. Henrique isto apenas: que se estava convencido em Portugal de que os navegadores tinham atingido pelo Sul o reino da Abissínia, o que implicava a exageração da profundidade do gôlfo da Guiné. Não sabemos, portanto, a que veio a história do viagens ao Preste e às fndias, a propósito de um trecho inofensivo em que o bonus Gramm,aticus, nobilis Astrogolus & magnus Histo- -23riographus se limitou a exprimir, no estilo que lhe era próprio, uma idéa corrente. Em resumo : Zurara não colocava o Oriente no Ocidente; mas estava convencido de que os portugueses navegavam já em mares orientais. Por isso a devisom daquelles terras per onde as nossas gentes andarom (cap, os 76 e 77) compreendem, no .seu espírito, a devisom das partes do oriente (cap. 96). É a esta luz que, salvo melhor opinião, deve ser interpretado o trecho já citado e sôbre o qual o sr. Jaime Cortesão construiu um capítulo inteiro de engenhosas sugestões. b) É preciso dizer-se, antes de mais, que as considerações que possam formular-se sôbre uma crónica do descobrimento e conquista da Guiné, mesmo forçadas, perdem tôda a sua razão de ser numa crónica dos feitos da Guiné. Esta é um livro das cavalarias da Guiné, onde, portanto, as circunstâncias respeitantes ao descobrimento de arquipélagos são meramente acidentais e vêm confundidas com as viagens de intuito comercial, não devendo ser taxado por omisso o cronista que deixou de referi-las . De qutra sorte muitas coisas poderemos pensar que deixaram d~ ser escritas; infelizmente, não poderemos aduzir uma única prova do facto. O capítulo do códi•ce parisino em que se fala da maneira como foi povoada a ilha da Madeira, e as outras ilhas que som em .a quella parte não está, com certeza, na sua forma primitiva. Há trechos deslocados do seu verdadeiro lugar e, porventura, algumas falhas. Não é suficiente para admitir a censura do Infante. Não se refere o cronista nesse capítulo às ilhas de Cabo Verde. O sr. Jaime Cortesão admite o ano de 1445 (ou antes, ·o de 1446) para aquêle descobrimento, segundo Damião de Gois. ~ste, apoia-se na narrativa de Cadamosto, a qual está longe de merecer o crédito que o .cronista de D. Manuel lhe atribui (39). Se o descobrimento daquelas ilhas se fez a partir de 1457, conforme a opinião mais aceitável, não tinha que figurar no 1. 0 volume da Crónica, que contém os feitos da Guiné realizados até que D. Afonso 't omou as rédeas da governação. De resto, o mesmo descobrimento foi realizado principalmente por diligência do Infante D. Fernando, a quem foram doadas, não podendo mesmo os mercadores do reino tratarem diante delas . .Quanto às ilhas da Madeira e Açôres dev·e notar-se que elas -24aparecem na Crónica, não como factos de descobrimento da Guiné mas como factos de povoamento, como curiosidade estranha ao 0 bjecto essencial. Zurara reuniu em alguns capítulos notícias sôbre as ilhas já povoadas e conhecidas da costa ·ocidental, mas sem referi-las à Guiné. O próprio João de Barros não teve presente o critério do cronista. Tendo encontrado os papéis de Zurara rotos e fora da ordem que êle levara no proc~sso do descobrimento do tempo do Infante, ordenou-os à sua maneira; e um dos resultados dessa ordenação foi colocar o descobrimento d·a Madeira e do Pôrto Santo no seu verdadeiro lugar, como prefácio do descobrimento restante. Zurara, porém, que não teve por objectivo ordenar uma história dos descobrimentos do tempo do Infante (insisto nesta nota, que é de primeira evid'ênda, e muito importante) remeteu as notícias sôbre aquelas ilhas para o cap. 83. Ficou assim, aparentemente, decapitada a Crónica da Guiné e disso .f icou vestígio no cap. IV, Como Gil Eannes, natural de Lagos, /oi 0 primeiro que passou o cabo Bojador, etc. ((E finalmente, depois de doze anos, fez o iffante armar hüa barcha, da qual deu a capitany.a a hün Gil Eannes ....................... . E foe isto no anno de Jhü xpõ de mil e quatrocentos e trinta e trez». No citado capítulo 83 >dirá ·o Cronista : «E foe o começo da povoraçom desta ilha (Madeira) no anno do nacimento de jhu xpõ de mil e iii j• xx anos». É, portanto, em referência a êste povoamento (e não ao descobrimento) que se iniciam os feitos da G;ui<né. Pelo que respeita aos Açôres, é ainda a notícia do povoamento que prevalece. Qualquer que seja o estado actual do capítulo em que o Cronista se refere a êsse pov·o amento é preciso salientar-se , ainda que repetindo ·o que está dito, que o descobrimento dos Açôres é tema completamente alheio à exploração da costa da Guiné. Quanto às ilhas Canárias, em que o Cronista mais se alonga , o sr. Jaime Cortesão fornece o argumento que tira todo o valor à sua demonstração. Se «Prima especies probandi est per chronicas ... ,, não se compreende que se tenha mutilado a crónica para evitar reivindicações de direitos, e não se tenha suprimido o passo que dki razão a Castela do seu póprio direito : a da •c onquista das Canárias por mosse Joham de Batancor, ao servisso de Castela, como o cro- -25nista soubera ((per scriptur~s antigasn. Não era possível dar melhor base às reivindicações de Castela da que se tira da leitura do capítulo 79. E note-se que as Canárias constituíam a matéria essencial do pleito, que sobreviveu ao tratado de paz entre Portugal e Castela. Os direitos de Portugal são exclusivamente formulados sôbre a Gram Canária. Foi a esta que se destinou a armada de 1424. É o próprio Zurara quem informa que o comandante dessa armada, O. Fernando de Castro, com receio de lhe faltarem mantimentos, deixou de conquistar de todo os moradores da Gram Canária- facto êste que fôra aproveitado por O. Afonso de Cartagena no concílio de Basileia, em 1435, em detrimento de Portugal. Pelo contrário, a venda da fazenda e das terras que o sobrinho daquele João de Betancor fizera ao lnfante-Lançarote, Forteventura e Ferro-o qual se passou à ilha da Madeira, onde o Infante lhe deu as rendas da saboaria e outras, não é revelada por Zurara, o que interessaria como fundamento de direito, limitando-se o cronista à promeasa de tratar adiante (no 2. 0 volume) da passagem daquele Maciot à ilha da Madeira. É uma política de sigilo entendida do avêsso. A boa política do sigilo é a que nos é revelada por um documento da chancelaria de O. Afonso V, em que a navegação das Canárias é posta no sentido das conveniências do reino : nós sabíamos hem como nunca aquellas jlhas destes no3sos ·regnos foram navyos nenhuns atees que elle alia mandou, nem agora geralmente nom hiam lia ssenom os de ssuas armadas ... n, tendo sido o Infante <<O primeiro que destes nossos regnos alia mandou, fazendo muy grandes despezas sôbre ello ... ll. O documento é de 3 de fevereiro de .1446 (40). H ••• Se o sigilo historiográfico estivesse organizado, o cronista teria ·sido convidado a afinar as suas notícias pelo diapasão real, o que ·de maneira nenhuma se verificou. c) e d) -Quanto às viagens de Diogo de T eive para Ocidente dos Açôres e :o descobrim,e nto do B11asil antes de 1448 (a «<sola Otinticha se longa a ponente 1500 mian de André Bianco) , é difícil de aceitar que Zurara tenha suprimido aquilo que não tinha que figurar nos feitos da Guiné, por estar completamente fora do seu plano. Além de que - já o vimos - está por demonstrar que se tenha -26~xercido política do sigilo sôbre o Ocidente atlântico. O sr. J. Cortesão diz sôbre esta matéria que «é possíveln que a importância daquêle facto explique a mutilação que a Crónica sofreu no capítulo em que se fala nos Açôres. E'. uma hipótese-que, desgraçadamente, não se apoia em indício algum. A questão do descobrimento d.o Brasil antes de 1448, segundo a tal inscrição de André Bianco, dificilmente poderia ter sido objecto de sigilo na nossa Crónica, já pelo tema, já pela. incerteza que envolve o assunto. Vimos que ·o próprio descobrimento da Madeira foi excluído do tema da Guiné. O 'Sr. Jaime Cortezão também não o afirma; limita-se a dizer que a aceitação da hipótese «explicaria plenamente a estranha divisão das navegações feitas por Zurara antes de se referir aos arquipélagos atlânticos, mas que não é elucidada por nenhuma viagem posterior ao seu relatO>>. Depois do que dissemos, pode ficar ao critério de cada um o valor da hipótese em ·questão. Para concluir êste assunto : -A Crónica dos feitos da G uiné não estava pronta em 1453 para ser presente em qualquer pleito com Castela; -Se o estivesse, não é de admitir que, para tal fim tivesse sido objecto de censura-uma censura que, de resto, acaba por revelar aquilo mesmo que conviria ocultar e ocultar aquilo mesmo que conviria revelar. Os factos que teriam sid.o ocultados, ou não têm lugar na Crónica ou resultam de uma hábil solicitação dos textos que têm por objectivo dar à figura do Infante um carácter quási místico, sem necessidade e sem proveito. Cabem aqui, como fecho, as palavras de Joaq~im Bensaúde na sua resposta ao sr. dr. Duarte Leite : «Ao elemento essencial, o segrêdo, temos ainda a acrescentar que a história, com o rigor objectivo que lhe exigimos hoje e o relacionamento d.os factos com as causas que os determinaram, é uma criação do século XIX. As crónicas limitam-se, geralmente , à descrição, por assim dizer externa, mais subjectiva dos acontecimentos que impressionaram os seus autores. São obras mais episódicas, menos sistemáticas, menos críticas e menos completas, pod6ndo mencionar muitos factos interessantes e valiosos mas que, só por si, não constituem a história como hoje a concebemos». (41) . I -27É preciso tê-lo em conta antes de tentarmos pedir aos nossos cronistas aquilo que êles não tiveram o propósito de dizer. CONCLUSõES Afirmou-se que as nossas Crónicas do período dos descobrimentos foram submetidas a sigilo oficial, não representando a sua forma actual senão urna redução das que anteriormente hav-iam sido escritas, por dela haverem sido eliminados os factos respeitantes aos mesmos descobrimentos. A hipótese, que deve ser cuidadosamente isolada da própria questão do sigilo, está longe de oferecer solução positiva. 1.•-Pelo que respeita às crónicas de D. João I (3. 3 parte), de D. Duarte e de D. Afonso V não pode aceitar-se a opiniã·o de Damião de Goís, nem mesmo a de João de Barros. Não está provado que as Crónicas, que se dizem acabadas pelos antecessores de Rui de Pina tivessem sido realmente escritas. O furto de Rui de Pina é susceptível de explicação que, em parte, absolve o cronista: basta distinguir entre juntar ou assentar feitos e ordenar em crónicQ\. De resto, a época tardia em que as crónicas foram, realmente, escritas exclui, totalmente, a necess.i dade de censura. A matéria das crónicas de Pina revela-nos suficiente interêsse pelos objectivos · imediatos e total desinterêsse pelos objectivos media:tos. Explica-se êste desinterêsse pela impossibilidade de coordenação de todos os dados do problema de que a Coroa era detentora e pelo carácter privado e pouco utilitário de certos empreendimentos, hoje reputados de alto interêsse para a história do descobrimento da Terra. 2.0- Zurara foi também um cronista do seu tempo, que procurou interpretar, o melhor que pôde e soube, a alma cavaleirosa do seu Rei, e tanto que transformou em proezas de cavalaria as próprias navegações do trato. Não f.oi um cronista dos descobrimentos, a não ser, talvez, na Crónica do Infante, infelizmente perdida. A sua discutida obra, a Crónica da Guiné, não estava pronta em 1453 e, por êste simples facto, a tese do sigilo historiográfico, que neste facto se estriba, mostra a sua fragilidade. O estado actual daquele monumento literário, e pelo qual não pode ser responsabilizado o Cronista, exige as maiores cautelas na sua utilização. -28Os factos que se julga terem sido omitidos, respeitantes aos descobrimentos, ou n5.o tinham lugar nos feitos da Guiné •o u representam apenas uma interpretação pessoal de alguns trechos, susceptíveis, aliás, de outra interpretação mais objectiva ; além de que o iPIÓprio fund~dor da teoria do sigilo, em mais de um caso, formula hipóteses, não demonstra factos. Os Cronistas Zurara e Rui de Pina, voltados para a face externa dos acontecimentos, não foram capazes de apreender o seu significado Íntimo. Registaram efeitos, não investigaram as causas; não foram homens de ciência. Mas esta conclusão, se não nos permite -encontrar nêsses registos uma multidão de factos que nos interessam, não nos dá o direito de supôr que .f oram obrigados a omiti-los. Em todo -o caso, se o fizeram, é preciso demonstrá-lo. NOTAS E CITAÇÕES A HISTORIOGRAFIA OFICIAL E O SIGILO SOBRE OS DESCOBRIMENTO~ (1) V. o tr.abwilllo !u~Jd.aJlll.entall dJe J . O. sôbre o alliSunto Jnt.ituilialdo «DO SIGILO NAOIONAL SOBRE OS DESOOIBRIMIElN'l'OS» !ln-Lusitania, fase.• 1. 0 • pág. 45 e sgs. ( 1924) . As SIUII6 <XlllliCI.usões u.ltr.apas.sa.ra.:m a.s !ronte.lirae e vêmo.las a,proveitadas, PQr exemplo, ;no ltV!I'Ilnbo de Gonzallo de Reparaz, La época de los grandes descobrimientos espaií.Oles y portugueses, B.arc:el.Oil!a (1931)'. Em sent'!do contrário .ao de Jaime Cortesão v. DUMte Leite DIUl!Ila série de a.rttig'os lde O 1JTimef/Ta fde Janeiro, O sigilo -n.acional dos descobri.ment;os, de 30 de JUJlb.o a. 2 dJe 8etell1Jbro de 1936. Não ·aderimos à tese comerclialista dêste autor; ha já alguns anos exposta e brilhantemente refutada por J. Bemaude em ás orilllm8 do plamo das tndias, Pari-s (1930) . (2) V. José de Brangança, Crónica da G u iné. Introdução, pág. XVI. No 1.• periCido dos deooobrimeilltos, as nBNegações são tmn encargo: «a wrd.ade ê que a~> suas nBJVegaoções [do l;n!ante]. conslidera.da.s como ee;pecuJa,çã<> comeOO!a.l, eram Silmrpl<esa:neD!te ll'U1ru>&a6 e a tenacidade. com que D . Henr.ilque :neLas persiStiu a.té morrer. !l>l'OVa, ao contrário. que outra a.spiraJção, O<Uilro intuito o Mlimava e não apenas o de enlrtqu.eoer ou o de eilll'ilqueoer o relnoJ. J. Bens.aúde, o. cilt., pág. 30. (3) Asia, Década I, Uv. li, Caa>. JI. (4) Crónica da tomada de Ceuta, casp.o : ! .•. (5) Id. crup.o 103.• e 104 ..•. (6) V. Crónica do Conde D. Pedro, aa.p.o 2.o, 3.o e 4.o. (7) Crónica do Felicíssimo Rei D . Manuel. cap.o 38.•. (8) Crónica do Conde D . Duarte de Menezes, ca.p.o 23.• e 24.•; Cróntca da Gu!lné ca.,. 1.• e 5.•. (9) Não é, lXlll'tMlto, rigoroso o que Edgar Preswge dlz na. In:trodução ao vol. I da Crónica do descobrimento e cpnquistJa da Guiné (ed. da Ha·kluyt Sociaty) pág. LXI: «aàl we can say 1s, that Azurara probably >COIJ.ected the materiall. and !POS&libly ma.de a f.ixst draft although ~t is notioea.ble that he nowhere ~ of the ohronicle as filnished, but 3ilways as 50metlúnig thB!t ls to be dO!lle ... ». Em ·oon!.trma,ç!!o do nosso te~to veja-se a seguinte ireJ.1erenci.a à Crónica de D. João: ccGreemos qUJe já fiqua escrirpto no outro 'Volume, em que sse Necom1laal. os !ettoa 'PBISSB!dOS del.Rey Dom JOtham. quantos fillhos ell;e ouve da Railnlha sua molhetr ... », Cap.o 43.• da. Crónica. de Seuta; na Crónica do Conde D. Duarte. r~erindo-se a Afo.n.so Furtadlo de Mendonça. diiZ também: cccomo cremos que nas ch:rónicas do Regno mais :ta.rgamente serã contado». CllJp.o 80.o. (10) Crónica de Seuta, aa.p.o 43.o; Crónica do C0774e D. Pedro, cap .. o 34.• e 35.o; Crónica do Conde D. Duarte. c.a.p.o 142.• Veiru-se êste trecho do t.o ca.p:'ítulo -30da. Crónica do Conde D. Pedro: «J>Or certo o al\lto !deste PlrinciPe deve ser pera. sempre de grande louvor, tanto m\'yor, quanto se consirar, que elle antepôz o louvor dos outros à sua própria rama, porque quando elle esta Istorla mandou escrever, jaa eram passados a cêrca de vlntCJ annos que regnava Zurara conta desde a morte do rei D. Duarte nos qua,es ae passamm muy gll'andes, e nota.v~s fe1tos, aesy acabadbs por sua própria Pessoa, como por seus servidoras, e naturaes por sua ordenança e mandado; e como quer que eu mais quizer a ser mais ocupado em dar razão de seus feitos, que dos alheios, principalmente pelas multas virtudes que se:m,pre nelle conheci, e !POr se.r ma.18 obr'lgado a. elle, que e. outra a.lig'um,a pessoa. tettreal, te1le nUIIlea me em ello qudz lelocar Obl'a4' se&'UJlli(io meu d~•jo, ante per mu.lltlaa vezes me requereo, e encomendou, q'llle me traballhasse <1'aijuntall', e sc:repver os ditos feitos prindil>Wimente .p ar lQI\llV'Or, e glória. <kl.quelle CO\Ilde, e dOs ou·troe nobres, e vh'tuosas 'VarOO[]S, que com elle por defensão da. Sslnta. Fee, e !honra. da. Coroa. dle Portuga.l, n •ruquel1a. Cidade ta.rn v!ll'tuooamWlite tra.ballha.:ra.m». (ll) V. Cap.• 86.0 , 108.•, 111.•, 135.•, 142.• e 144.• . 1(12)' C3JI).o 1.o. tl2A) Arquivo Histórico Português, VI, pá.g. 313. (13) PM'a. se ver como é dlific!IL f<lll'llna4' o,p!'ll!lão sObre o allSUillto basta con.siderar que o cap,• 124.• da Crónica d e D. Afonso V : Exclamaç!l.m a m orte de Yfa.nte .dom Pedro que, 'Pelo estilo, parece de ZUirara. !OI, IPC1o menoo, aiCl"'lSCentaldo par Rui 4e Pina .a. G>embr.am.ca1 ·sumá.r'lei de exeouoão <1o duque de Bragança; na pr,ruca. de :Evora, em .2 8 Ide A;gôsto de 1484. (14) V. Introdução ao Tomo I dOS I. H . P ., ipQr Carrea. da. serra.. (15) R. de P., f01 nomeado C'rón:1sta-mór em 24 de junho de 1497. V. IntrodUção cit,&. (16) O trecho segudnte l!'ev'ele. a. ! o = como oe nOSISOs (:I'ónistas 1ll"altJa.o lhaiVam: •«E por quanto o muy a.l'to e muy ex~ente »ri'nlOI.Pe e ~ren.hor el R.ey = Doan Mfonso o quinto ao tempo que prJttned'!'almente começou. de gave.= oous regnos soube como os feiJtOs Ide seu !WOO flcaNam !POr IIICll;ba<r ·cont51lrando oomo o tempo escorregaNa cadia vez mais, e que tall'da:ndo de serem escritos podEI!'lam as pessoas que allj foram falecer, per cuj a rrezem se perderia a memória de tam natavees causas, porem mandou a mim Gomez Eannes de Zurara seu criado que me 1lralban1uu!Se ide as a.Juttttal!' e escrever per tal guisa que ao tempo que ee o'l.IMl'SSem dle orde'Ilal!' em{)all'On1ca fossem adhadlaG sem flllllectmento.. E eu en1 comprimento de seu desejo per satisfazr a seu mandado como de meu senhor e meu 11rey. me tmllbalhey de en~querer e saber a~ dlltas cousas e as escrevi em estes caldlernos pol'!Ja gUJ!sa que ao diante he ocmteudo com tençam de as a.creoent:rur ou mmgar em quaaJeSquer 1ugares em que fOir llloha.do •P611' verrdadetro judzo que o merecem como quer que segundo meu entender e autoridada daquellas pe~SSQas per que rur ruvlsado em elles ruvel'a~ pO\liCO falecimentO». Crónica de seuta, oa.p.o 3.o. No :IIIl/V'entánlo da, gu.a.rda.-roupa. de D. iManuel (rpublicado no Arquivo Histórico Português, Vlli, rpâlg, 277 e 278 e 370) não aparece nenhum ['!Jvro das crônicas IPQI'Itugu.esas. Por um mam:lrudo de 29 de Dezembro do mesmo ano em que foi reito, o inventário (1534) sabe-se que na guarda-roupa existiam pelo menos cinco c:róntcas prura~ eneadernaiÇ'lío dae quaA.s se manõ.a.r a.m então adquirir vá.r>las peç:1:s V. Bracamp na sua Introdução à Primeira Parte de D. João I, por Ferrão Lopes, ed. do Arquivo Histórico Português, 1915, pág XII. (17) v. Orónica de D. Afonso V, cap.• 24.•; e Cró ntca de D. Duarte, cap.• -44.o, .p tilg, 1·8 9 e 190. -31(18) Em 1504 tinha Rui de Plna recebido uma tença pelas crónicas de D. Monro e d oe D. João. V. Tomo II. H. P. Intrpdu.ção. (19) «lhe de ISalber, tCl.Ue El~RJey em seemlo Pri!nc~ IO'UiVe .per iDOaiCMll 8eail d'Emtey •se Bllidre, a I!Qvernança mteilramente dos lugares d'M!I'ica, e assy as renoas, e tratos da Myna e de toda Uuinee, que a esse tempo trazia por muy pequena contia arrendados a Fernão Gomes da Myna, cidadaão de Lixboa». J:t'U!i de Pllna, Cr6nica d'el-Re'V D. J,oão n, cap.o n. (20) Id. crup.o 37 .o (,a nuane.l'lllção està errada). (Ver SÕbre o mercado de Tambocutu, Esmeralda, cap ,0 , 27.•, 1. 0 Livro), (21) Ibid. ca.p.o S.o. (22) lbid. crup.o 10.o. (23) I-b~d. cap.o 34.o: Sôbre uma emba~ada a Inglaterra i!>Or motwo d<» tratos da Guiné, v, ainda Rui de Pina, Orómca de D. João Il, cap, 0 7.•. (24) Ib1d. oaa;>.o. 166.o. (25) Orónica de D. Afonso V, ca.p.o 144.o. (26) V. sôbre ê.sote a.ssllltlto o trwbalho de J. Ben.saú.de Lacunes et surpi'Úes de l'lflstolre des Découvertlls Maritlmes, Imprensa da Universidade de <;oirnbra {1930), (27) Esta ;preoc\liPaicão sobrevive em tempos de D. J<Jiã,o II : «sem eon.sel!no e contra Vonselho maginou D. João l i de f azer hua Vllla com sua fortaleza polo Rio acilna. de Larache, que he em Afr:l:ca, com fundamento, que d'•a ly com seus Fron.te1ros, e geDJte d'31I'II),a8, que sempre nella senLa, e com ajuda das Cidades, e Vilk~G qu.e la tljnha, e aos Mouros foram goanhada.s, se faria multa guerre. a Feez , e a Alcacer-Quiblr, e a tôda aquella terra d e qu e por multa parte se poderia per fôrçw cO!DQulstar, ou ao menos costranger pera urarui.es, e ricos trfcutps». RUi de Plna, Orónica ãe D. João li. oaa>.o 38.o. (28) J. Bensaúde, o. cit. pág, 270. (29)' ll: ev1dente que urna tal •p os.Lçáo favorece tôdas aa suposições e resotve tôdas as dificu.ldades. O crónista exagerou o número die léguas ;pel'IC01'ridas? Foi1 d'e propósito ~wra. reLvin<llcar a paase à te:r.ra rpor descobrir ainda. V. Africa Nostra-III, O ilmbtto da ob1a ao In/ante. Boletim da Agência Geral das Coló· ruas, lll.o 1o-1926. (30) V. rem Las Casa.s HiStória de las I1Ui.ias, vol. I ., !Pág, 141 e sgs., as cartas de D. João de Castela a D. Afonso V. de 1452 e 1454 sôbre o pleito em questão, (31) V. Introdução à Crónica da Guiné (ed. dJe 1841). Pág, XIV. ~.a2) Dil·emqs aqUI apena.s o 'Í!D.d.i.sil>enSáV'€!1: No cap,o 51. o. E~~Proveit&llo -,:xr Barros na sua n a rraçao aas VJag.ans do tempo do Infante, o crónista escreveu : e era ainda hi, Pallenço, que era hun homem que tinha feito muy grande guerra, aos mouros e que tôda sua vida despendeo em serviço de Deos e do regno, como tendo e iaCabaruio peil' sy muy 81l'aJndes feitos, segundo tee~ tal'Lado na CTÓ11Ji(:a. geeral, depols que Oeota joe tom ada (o itálico é nosso). Já v1rn0s que Zurara em 1468 se :referia à Cróntoa de D. Mo:nso V dCmJJo coisa. P<lil' fazer; rportal!l.to, aiquela t•eferÊIIliCia. não podila. respeiota!r--Ihe, mas .s.im à Oróniica de D. Pediro de Moo.ezes, a qual, na expressão do seu Autor !OL continuada à de Seuta. Efectivamente, nos Cll!Pitulos 10.o, 16.o e 21.o d.alquella. cr6nica encontra-se an.atéria. su:ficieDite !Paro. jusill.ic,a.r o e.n.ooml.á.stioo j'lllilro cbo ZUII"3Jm. o Sr. J. C., aa>roveo1tou êste P3.SSo prura afimnar qoo zuro.ra relatiOUJ iDJa. soua. Crónlca de D . A.IPmo V factos rela.tivos aD& uescobrtmen.ilQ<' illlêste caao os de Palenço) qoo Rui de P.I!Dia,. lll.O cUDl!Prim.ento de urna ordem real, totalmente eliminou. Mas o próprio Zurara se encarrega de deIIltlG:lStllrur qoo J. o ., IDlão '!!em razão (pO!"que na me.sm~~o Crónlca do CO'/ld.le D. Pedro, - 32- que o orón!sta se l'€QX>rta., êste decl<rur31 que qurund.o re.celbe<u lo eil!Cargo de escrever l!'ei'tlos de D. Petko (em 1458), já. P.ade:ruço morrera. e 1êle não a.ch:alra. em escriito quási nen11JUma oou..sa cte se14r leites; e, IPOil" Usso. escreve;ra aquella. «!llequen~ samla.», por não sab~ se "luweria Zug~r lJIQ,Lia o &~el.'er em outra parte (L. H, ca.p.o 16.o): POil"talnto. a: referência a. P,allenco da Cróntca dos Jei~os cta Guiné resp~!ta, ~l'USivaJ!Ilente, à Crónica cto Conde D. Pedro, escrita. em 1463. Mais vez se mloisili'a. que o sleülk> doa histórúJogratt'ioa. l!llão tem fundamento sólUào. A-IPesa.r d1sso pretende ergue;r-,se até às núvens ... (33) Crónica dle D. Duarte de M.en.ezay, ca(p.o 113.o. (34) Pedro de Azevedo. Documentos ctas Ch47lCeZarW.S Reais, Tomo pá.e-. 342, já citado por J. BeaJBa.úde em Lacu7WS, etc~ ;pá/g. 325. (35) Transcreve-se aqui o trecho de Zurara (cap_-;· ~~e· ;r.'d. ~utilizou na sllilll inter;pretação: «VeJo aquelles Gammantay, e aque!Nes TiopiDs, que vivem sdb a samlbra <lo monte Cauca.so; negros e;rn oollor porque jazem. de sob o OIPOsLto do lllll&"e dJo soll, o qulal se.erudo nJaJ cabeça. de C<liPI!'iJC<Jir:nyiO, e 111 Ienes em esttraln.ha queiilltUil"a., Bel!liUillldo se IIlOOtra: pello movimento d.o cenitro <lo seu ex.centrnco, ou per outra mMJ.eira, 'POI11Clllla vezi'Ilhrun com a cinta que~d.a.; e o.s Indl/Os ma.yores e meiDIOíl"es, tod'O'S iguarues em c:dlloil", que se !l"equer€!1ll que scre'V'a t!lllltas daJdiva.s de dinheilros e de !rou.pa.s, pass.aJi!'êes de navyos, €JMQlhadp dle pes.soo. qUiaiii.d.o de ty reoeberon aquellbes que por vtsJ.talçoim. do a.POStoillo, ou CQII>i!)(lS(l& de veer a fremosura do mundo, chegarom a as fl1ns da nossa Espanha. Espantam-me aquelles vezinh<is do Nyllo. cujo grande multidom tem ocupados os termos daquella velha e antiga cidade de Thebas, porque os vejo vestidos da tua deviEa, e as suas carnes que nunca. conhecerem vestidura, trazem agorí> roupas e dlesva.yrrudas collores, e as gargantas das suas mJOliheres gra.rnidrus com jOy•IIIS de ricos laJVores doum e de prata». Note-se o treoho a. seguilr: ~<E qUJe fez eatlo se ruJI!Il la.rguez;a dectua.s d'espesa&, e o til"alb!lllho de •teu.s se!r'Vidoces, movroos pe;r teu vertuoso engenlho, pello qual tres.m'Ud,a;st;;e na.s /ii.n.s cto ouriente :U.S OO'U.sa.s. '1. QIS = i.o, o'sr:· cri.aida.s e Jeitas no ocidente». (36) <<Pois do proveito que a terra. recebeo, o levante eo poente som bem clara testemunha qu ~ ndo os seus moradores podem comudar suas causas, sem gtram.dJe !ller.i.go de suas f •a zeaJ.das, ca P'OII" certb IliJiln se pode nega.r que oa. cidade d.e Ceptla. n.om seja. chiave de todio o miar medyotecreno». C!rónica. da. Guiné, pág. :.!5; <<Como a cidade de Cepta seja casy huma chave do mar Medyoterreno». Cróndca de D. !Pedro d.e Men.ezes, caa>.o 46.o. (37) «Este rio, selg\llllldo d:izem 'h>O!Illlellls sálbioo, he hum. ramo dio Gion, que nJa&Ce no ~ Te11restre o q,UJall. foi oha.mado pelos a~ntllg1os NLger, e vem 1:J>a,. nha.ndo tôd.al a. Ethtopia: e ca.minhamldo pelo Ponente pwr.a. o ma;r Ocealno, 0111de desagoa, e !a.z ou>tros ramos e rio.s a!1ém. dêste d.o Senegrul: o outtro ramJO do Giaill· he o Nilo, o qual passa pelo Egypto. e desemboca no nosso mar Medyoterraneo; e esta. he !li QI>inião dlaJqUJeil!l.es que tam Vl1a.j:adlo à rocLa. do mundo». Navegaçõoe3 àe Luiz de Cada mosto In- ve>l. l i da Colecção de Noticias para a história e geographia ctas nações u~tmmarinas que vivem nps domínios portuguezes ou lhes sfio vizinhas. Vejarse qUJe All!vruro de Freitas, que acoiDIPMlha.v.a. Gomez Pl!res à teNa dos Negro.s e ao N'Uq se di.spU!ll!hta a. aJCIOmPal!llh.a.r êstle siquer ataa o Parai.so terreal. Crónica d.a. Guiné, ca,p.o 59.o. (38) Alguns àocumentoos tLo Mch.ivo Nacio?UJJ. d4 Tclrre cto Tombo 0892). il)ág. 17. (39) V. Subsídios paJra. a histórda do descobrimento da Guin.é e de Ca;bo - 33 -- Verde, pelo Dr. Armando Zuarte Cortesão, in-Boletim da Agência (l•rnl dflll Colóni.as. n.o 76, Outubro de 1931. (40) V. Subsídios pa:i-a. a Hist.órla. <lo descolbrimento da Guiné e óe Ca.bo Verde, pelo Dr. Armando Zuarte Oortesão in- Bolettm da Gui•1.é Ge1 al das Colónias, n.o 76, Outubro de 1931. Alguns doe umentos, etc., ptog. 9. (41) As origens do vzano d4.s Indi.as, pá;g, 19. , -1938----SOCIEDADE NACIONAL DE TIPOGRAFIA R u a d o S 6 c u I o, fi 3 - - - - - LISBOA -
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