as diferentes formas de culto da quimbanda no rio grande do sul

Transcrição

as diferentes formas de culto da quimbanda no rio grande do sul
AS DIFERENTES FORMAS DE CULTO DA QUIMBANDA
NO RIO GRANDE DO SUL
Rudinei Borba1
Pesquisador Independente e
Autodidata
Janeiro / 2013
RESUMO
O propósito deste texto é analisarmos as formas de culto de Quimbanda
praticadas no Rio Grande do Sul e suas diferenças, traçando um paralelo com a diáspora
Bantú, seus ritos, crenças, e espíritos, que ficaram conhecidos nas religiões afrobrasileiras como Exú.
PALAVRAS CHAVES: Quimbanda, kimbanda, Exú, nganga, bantú, banto, espíritos,
reinos.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to analyze the forms of worship practiced at
Quimbanda of Rio Grande do Sul and their differences, drawing a parallel with diaspora
bantu, its rites, beliefs, and spirits, which became known in africans-brazilian religions
as Exu.
KEYWORD: Quimbanda, kimbanda, Exú, nganga, bantú, banto, espirits, kingdoms.
1. O autor é iniciado na Quimbanda brasileira há 12 anos, praticando seu culto através dos “Sete
Reinos”, juntamente com seus “Nove povos” dentro de cada um desses reinos, preservando as suas
particularidades através das oferendas, cores de vestimentas, plantas, etc.
As Diferentes Formas de Culto da Quimbanda no Rio Grande Do Sul
Rudinei Borba
INTRODUÇÃO
Dentro da cultura tradicional Bantú2 existe a crença da sobrevivência dos
espíritos, onde estes após a morte podem ou não gozarem de grandes prestígios, atuando
como guardiões de uma pessoa e até mesmo de todo um clã familiar.
Após o estudo sobre a raiz tradicional Bantú, analisaremos as diferentes praticas
do culto de Quimbanda dentro do nosso Estado, podendo ser ocultadas por
desconhecimento nosso as práticas rituais de outras regiões do nosso país.
Temos o conhecimento de três formas que mais são praticadas dentro do Rio
Grande do Sul, e podemos citar:
1. Culto dos Exús praticado dentro da Umbanda;
2. Culto dos Exús através do sincretismo com Demônios;
3. Culto dos Exús através do Reino das Encruzilhadas, do Cruzeiro e das
Almas;
Ao final analisaremos os diferentes significados de “Nganga”, podendo ser o
nome do sacerdote de Quimbanda ou também o assentamento dos Exús, carregando em
si os elementos dos “Sete Reinos”.
A KIMBANDA BANTÚ E SUA CRENÇA
A “kimbanda Bantú” possui a crença na sobrevivência dos espíritos após a
morte, conservando seus nomes terrenos até que percam sua individualidade e passe a
conviver com os demais espíritos em outras partes da natureza.
Já na cultura “banta afrodescendente”, chamada de Quimbanda Brasileira, o
espírito perde seu nome terreno e recebe o nome de Exú, sendo integrado em algum
2. Os Bantos (grafados ainda Bantú) constituem um grupo etnolinguístico localizado principalmente na
África subsariana que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes. A unidade deste grupo,
contudo, aparece de maneira mais clara no âmbito linguístico, uma vez que essas centenas de
subgrupos têm como língua materna uma língua da família banta. Utilizaremos em nosso trabalho a
palavra Bantú na forma escrita “Banto”.
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As Diferentes Formas de Culto da Quimbanda no Rio Grande Do Sul
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determinado “Reino”. Esta associação dos espíritos com o nome Exú foi criada na
diáspora através do pensamento de que essa entidade estaria atrelada ao mal, na forma
de Diabo cristão, onde efetuaremos um estudo mais detalhado no decorrer do nosso
texto.
Segundo Omotobàtálá (1999, pg. 12) o espírito ganha grande destaque na cultura
bantú, como segue:
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(a tradução é nossa).
Analisando essa parte do texto, entendemos que os bantos possuem a crença da
sobrevivência do espírito após a morte, e que esses espíritos podem influenciar na vida
dos vivos.
Acreditamos que com o surgimento da Umbanda Cruzada3 dentro dos terreiros
de Batuque, este possa ter sofrido uma influência banta, passando a crer que todos os
mortos poderiam prejudicar os vivos, simplificando qualquer espírito ao nome de
Éégún. O autor ainda diz (1999, pg. 12):
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3. Com grande expansão que a Umbanda vinha tendo na década de 60 no Rio Grande do Sul, os
Batuqueiros mais tradicionais acabaram englobando este culto dentro do mesmo espaço físico do
terreiro, procurando que não causasse atrito entre ambos rituais, para saber mais, ver: PEDRO ORO,
ARI. As Religiões Afro-Brasileiras, debates do NER, ANO 09, N. 13 P. 9-23, JAN./JUN. 2008, Porto
Alegre, 2008.
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As Diferentes Formas de Culto da Quimbanda no Rio Grande Do Sul
Rudinei Borba
Segundo a fala do autor, existe a crença banta de que os espíritos se dividem em
dois grupos após a morte, perdendo sua individualidade e vivendo no espaço mato. Esta
parte do texto explicaria perfeitamente porque o culto está intimamente ligado a este
local da natureza, onde as pessoas viviam antes do desenvolvimento urbano, passando a
se tornar mais tarde o “Reino das matas”, antes da formação do “Reino das
Encruzilhadas”.
Olhando por esse ângulo, pensamos que talvez o primeiro reino de quimbanda
fosse o “das Matas” e mais tarde o das Encruzilhadas teria ganhado mais expansão. De
acordo com o relato do autor ainda na mesma página, nos faz crer que talvez possamos
estar certos, como segue:
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Ao ler esta parte do texto, percebe-se que os mortos bantos eram enterrados no
mato embaixo das árvores, estas acabariam mais tarde se tornando sagradas para eles,
dando origem a “povos” dentro deste espaço sagrado, onde citamos o “povo das
árvores”, chefiado pelo Exú Quebra-galho, mencionado também pelo autor em seu
livro.
O fato dos espíritos terem integrado um determinado espaço da natureza, daria a
impressão hoje que determinado Exú estaria subordinado a um Òrìsà tanto na
Umbanda, quanto no Batuque, causando mais tarde o entendimento errôneo de que esta
entidade Exú estaria no mesmo grau que um espírito inferior e com menos importância.
Dando sequência no texto de Omotobàtálá (1999, pg. 12), o mesmo informa:
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Novamente o autor informa que o espírito perde sua individualidade para
integrar um grupo, este que na Umbanda foram chamados de falanges e na nossa
Quimbanda são considerados como “Reinos”.
Notamos na fala do mesmo que a cultura banta também forma a base do culto
Umbandista, onde cultuam os espíritos de pessoas vindas do Congo, Angola, Guiné, etc.
Estas pessoas de alguma forma foram importantes para a formação do Brasil, pois
vieram da África através da escravidão e envelheceram nas senzalas, passando a receber
mais tarde o nome de “Pretos Velhos” devido à idade que se encontravam, sendo
cultuados coletivamente sem deixarem de serem espíritos. Omotobàtálá (1999 pg. 14),
diz:
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Entendemos que tanto a umbanda quanto a quimbanda brasileira, tiveram suas
bases ritualísticas nos povos bantos, herdando os costumes do uso da pemba, da
pólvora, perfume, etc. Estas práticas vieram na bagagem dos escravos bantos para o
Brasil no período pré-colonial, pois vemos o uso de alguns desses elementos somente
nessas vertentes afrodescendentes.
Pensamos que os bantos perderam muito sua identidade ritualística, por serem os
primeiros a vir para o Brasil através da escravidão, diferente dos escravos yorùbá que
adentraram muito tempo depois em nosso país.
Os Bantos, diferentes dos yorùbá, foram os que viveram mais tempo em
senzalas, tento quase que noventa por cento de suas crenças e culturas retiradas e
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cristianizadas. Citamos novamente os “Pretos Velhos” que envelheceram em solo
brasileiro, perdendo quase toda sua identidade religiosa e devido a sua cristianização,
passaram a serem devotas dos santos católicos, como: Santo Antonio, São Benedito, São
Miguel das Almas, etc.
Eles foram umas das poucas entidades que foram cultuadas de acordo com os
costumes bantos, onde tiveram seus nomes de batismo no Brasil, preservados após sua
morte, onde citamos alguns: Vovó Joaquina, Maria Conga (Maria do Congo), Pai José
da Guiné, etc. Hoje estes espíritos são cultuados tanto da Umbanda, quanto na
Quimbanda, onde nesta última estão vinculados ao Reino das Almas, dentro do povo do
Cativeiro.
Esses Pretos Velhos apelidados de Quimbandeiros ou Curandeiros ganharam
essas qualidades devido à possibilidade de terem sido em vida sacerdotes antes de virem
como escravos para o Brasil, onde iremos ver mais adiante o significado da
terminologia sacerdotal “nganga”.
Também ao ler a parte do texto de Omotobàtálá, surge uma curiosidade referente
às vestimentas usadas pelos Exús da quimbanda atual, pois no culto de Umbanda
acreditam que o espírito cultuado baixo nome de Exú não tem preferências, nem vícios
de bebidas e charutos, sendo utilizados estes materiais como objetos pessoais de
trabalho da entidade. Na Quimbanda esses objetos aparecem na forma de agrado e
oferendas aos espíritos do culto, fazendo com que os mesmos se lembrassem de quando
tinham vida terrena.
Notamos novamente que talvez o “Reino das Matas” na Quimbanda, tivesse sido
o primeiro a existir, pois de acordo com o nosso contato com algumas entidades que
pertencem a este Reino e se manifestam nas sessões, geralmente gostam de ficar sem
camisa e de calças dobradas nas pernas, demonstrando como andavam vestidos na
época em que tiveram sua passagem na terra, comportando-se como pessoas que
tiveram suas vidas no campo e nas plantações, utilizando cigarros, chapéus de palhas,
bebidas alcoólicas com mel de abelhas, etc.
Estudando as fontes apresentadas pelo autor e entendendo um pouco mais da
crença banta não aculturada, podemos agora analisar as diferentes formas de culto da
quimbanda praticada dentro dos terreiros no Rio Grande do Sul, onde seguiremos a
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sequência já mencionada anteriormente na introdução do nosso trabalho.
CULTO DOS EXÚS PRATICADO DENTRO DA UMBANDA
Acreditamos que os Bantos foram os que mais sofreram com a perda de suas
divindades em solo brasileiro, pois através da escravidão foram tiradas suas crenças e
impostas a religião dominante local, que na época era o cristianismo, surgindo assim a
“Umbanda Brasileira”.
Assim como houve na Umbanda o sincretismo das suas entidades, onde
podemos citar os Caboclos (espíritos) da falange de Xangô tendo sincretismo com o
Santo católico São Jerônimo, os Caboclos (espíritos) da falange de Ogum tendo
sincretismo com São Jorge, etc.
Na quimbanda também teve a tentativa “infeliz” ao nosso entendimento, do
sincretismo religioso, onde compararam os seus espíritos de culto com demônios
cristãos. Acreditamos que à origem da perseguição ao culto na década de sessenta se
deu ao fato da Umbanda ter feito o sincretismo de seus espíritos com os Santos cristãos
mencionados anteriormente, fazendo com que as pessoas de batismo católico que
adentravam em seu culto, pensassem que os demais espíritos cultuados fora destes
padrões estariam desqualificados para serem lembrados e reverenciados, destinando os
mesmos ao que chamavam naquela época de entidades das trevas.
A Umbanda autodenominada de “Pura” ou “Linha Branca” acabou
simplificando o culto dos Exús como "As Entidades da Esquerda", automaticamente
associando estes espíritos a tudo que fosse negativo, nefastos ou atrasados, etc. Sua
associação com o diabo era evidente, pois os Exús foram introduzidos na Umbanda
como guardiões das esferas negativas, passando a serem subordinados aos seus guias
espirituais, os caboclos e suas falanges.
Segundo Cacique Nei4 (informação pessoal), nos diz:
4. Cacique Nei recebe a entidade nome Cobra-Coral, possuindo sessenta e cinco anos de iniciado na
Umbanda “Linha Branca”, onde o mesmo é dirigente espiritual de dois terreiros na cidade de Canoas RS.
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O informante acredita que estes espíritos denominados de Exús são menos
evoluídos em relação aos Caboclos, cultuados em seus rituais de Umbanda. Cacique Nei
ainda relata:
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(Dialogo realizado em Novembro de 2012 – Viamão – RS na casa
do autor)
Através da fala do Senhor Nei, podemos entender que não existem meio termos,
pois a Umbanda praticada pelo informante difere do culto de Quimbanda, pois acredita
que ambas são religiões com doutrinas diferentes, mesmo sendo brasileiras e tendo sua
base nos rituais bantos. Diante do pensamento do informante, encontramos um belo
texto5 que nos faz crer que a Umbanda já teve seu surgimento separado da Quimbanda,
onde diz:
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5. Disponível em:< http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/kimbanda/kimbanda.php>
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Com a informação do texto, entendemos que houve uma tentativa de
cristianização dos escravos negros e dos índios já libertos no Brasil, onde alguns
aceitaram a imposição da igreja e outros não. A aceitação de alguns desses grupos teria
ocasionado o surgimento da Umbanda que se autodenominou na época de “linha
Branca”, passando a crer na inferioridade dos Exús para terem maior expansão de culto.
A segunda parte que resolveu preservar sua crença foi extremamente perseguida,
tendo seu sincretismo atrelado aos demônios cristãos, como veremos no próximo
capítulo. O sincretismo da Umbanda “dita branca” fez com que seu culto tivesse uma
aceitação maior por parte dos católicos brasileiros, pois era mais fácil atribuir a
inferioridade ao Exú, alegando o mesmo ser escravo do caboclo de Umbanda, do que
dar um culto especial e separado aos mesmos.
Ainda nos dias de hoje percebemos que pessoas com criação cristã denominam
de “linha branca” o culto de Umbanda, e de “Linha Negra” o culto de Quimbanda.
O CULTO DOS EXÚS ATRAVÉS DO SINCRETISMO COM DEMÔNIOS
Na história das religiões, o sincretismo é uma fusão de concepções religiosas
diferentes, ou, a influência exercida por uma religião nas práticas de outra.
Assim como as entidades da Umbanda, em meados dos anos sessenta os Exús de
Quimbanda também sofreram sincretismos religiosos, formando naquela época as
expressões populares de “linha da direita” e “linha da esquerda”. Através do
sincretismo, os Caboclos tiveram suas imagens vinculadas às divindades cristãs do bem,
diferente dos Exús que tiveram as suas associadas às entidades consideradas pagãs pelo
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povo cristão.
Omotobàtálá (1999, pg. 15) cita alguns desses sincretismos: “Exú Rei Sete
Encruzilhadas com Astaroth, de Linha Negra, Exú Rei Sete Liras com Lúcifer, Exú
Tranca-Rua com Tarchimache, Exú Tirirí com Fleruty, Exú Meia Noite com Hael, Exú
Capa Preta com Musifin, etc”.
Todos esses nomes de demônios fez com que uma boa parte de praticantes da
Quimbanda do nosso Estado, acreditasse que seus Exús seriam mais malvados ou
perversos, para conquistar atenção do público menos informado, gerando até mesmo
uma deturpação geral do culto de Quimbanda, expandindo-se essa crença até o Òrìsà
Èsù dos yorùbá.
Júlio de Agonjú Sí (2000, pg. 80) chegou a registrar que todos Exús tanto de
Quimbanda, quanto yorùbá são entidades do mal, baseando-se em um relato de um
escritor da década de sessenta, como segue:
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O autor afirma literalmente em seu relato que o nome Exú teria sua origem em
Exud (povo avesso a Deus), usando como base um livro de um escritor Umbandista que
não aceitava o culto de quimbanda dentro do Brasil, denegrindo a imagem de Exú sem
ter nenhuma base concreta, pois utilizou uma cultura, a hebraica, que veio muito tempo
depois da existência do Òrìsà Èsù yorùbá.
Voltamos nossa atenção para parte que o autor escreve: “Com acréscimo de
algumas linhas de quem vos escreve essa obra”, que já abriria margem, por nossa parte,
a desconfiança das fontes apresentadas, pois ele apenas relata que “Exud” teria sido
pronunciado na língua Ijudice, chamando esta de idioma, sem ao menos explicar que
esta expressão serve apenas para dizer que é um “diálogo feito de espírito para espírito”,
ou seja, não sendo um dialeto propriamente dito.
Não entendemos porque o autor buscou bases em materiais Bíblicos, para atestar
algo que denegrisse a imagem de Exú, sem ao menos estudar a fundo as fontes
escolhidas, causando uma impressão errônea em relação a todo culto de Quimbanda
praticado dentro do Rio Grande do Sul. Não entendemos também porque o autor usou a
expressão: “Não se trata de preconceito ou discriminação” se transpareceu a nós
exatamente esta intenção, pois nas páginas seguintes de seu trabalho relatou que ambas
as entidades, Exú de Quimbanda e Èsù yorùbá, fariam parte do que o mesmo chamou de
“seitas de magia negra” e que o leitor “procurasse um Rabino para comprovar essa
veracidade dos fatos”.
Acreditamos que na década de sessenta, o escritor Aluizio Fontenelle, a fonte do
autor, poderia ter utilizado essa expressão “Exud” para denegrir a imagem de Exú,
usando como base os mesmos estudos dos nomes de demônios que mencionamos
anteriormente. O autor usou essa fonte de forma arbitrária como se a mesma provasse
seu pensamento, quando diz: “uma exposição real e verdadeira da origem da palavra
Exud”, que para nós é totalmente desqualificado para defender sua tese.
Luiz Marins (2010, pg. 29-30) documentou também essa tentativa de denegrir a
imagem do Òrìsà Èsù yorùbá através de um oríkì mal traduzido propositalmente a
nosso ver, afirmando que Èsù seria o inimigo dos Òrìsà, como segue:
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Ao ler parte do texto apresentado por Luiz Marins, percebemos que não só
houve a tentativa de denegrir a imagem do Exú de Quimbanda, como também tiveram a
mesma intenção com o Òrìsà Èsù yorùbá, que nos faz acreditar que os espíritos
cultuados dentro da Quimbanda foram associados a este nome yorùbá devido à
perseguição de qualquer tipo de culto da descendência africana daquela época.
Pensamos que naquele tempo onde havia muitas perseguições das religiões de
matrizes africanas, acabaram generalizando ao mesmo nome “Exú” as divindades Òrìsà
Èsù yorùbá e a divindade Bantú Aluvaia, por serem as divindades mais conhecidas por
ambas às culturas, que deram a origem da frase popular: “Sem Exú não se faz nada”.
Acreditamos que o sincretismo religioso dos Exús com os demônios
mencionados anteriormente, acabou repercutindo também nas imagens de adoração
produzidas em gesso na década de sessenta, onde eram pintadas apenas nas cores
vermelhas, as mesmas atribuídas ao diabo cristão, onde percebemos estar ocorrendo
uma mudança, mesmo que lentamente, na forma que estão sendo pintadas estas
imagens. As novas imagens de Quimbanda já são encontradas pintadas nas cores de
pele humana, sem aparentarem ser demoníacas e deixando de lado a cor vermelha que
vinha sendo empregada.
Entendemos que o sincretismo dos espíritos cultuados na Quimbanda com os
demônios cristãos se deu através de hostes6 infernais descritas nos antigos manuscritos
ou grimórios7 da idade média, onde alguns diziam que “Lúcifer” se comunicaria com o
6. Tropas, exércitos.
7. Um grimório é um livro de conhecimentos mágicos, com anotações de práticas pessoais, ou seja, um
diário mágico, escrito entre o final da Idade Média e o século XVIII.
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homem através da música, fazendo assim que fosse associada sua imagem à do “Exú
Rei da Lira” que era responsável por esse “Reino”, onde havia locais de jogatinas,
cantorias e prostituição, onde está mais bem explicado no livro de Omotobàtálá.
Logo a imagem de todos Exús de quimbanda e de sua parte feminina, as pombas
giras, ficaram denegridas e associadas a tudo de mal que existisse naquela época.
Pensamos que os Exús não convivem no mesmo plano vibracional que os
demônios, estes que nunca tiveram existência física, onde desta forma não poderiam ser
incorporados por nenhum médium e também por não fazerem parte da crença banta.
Alguns praticantes dessa modalidade de culto de quimbanda criaram uma
hierarquia fundamentada nesse sincretismo demoníaco, retirada de um livro de nome
“Grimorium Verum” que existia muito tempo antes do Brasil ser descoberto, onde
menciona seus demônios chefes de alto grau:
1. Belzebú
2. Lúcifer
3. Astaroth
Seguindo essa linha de comando viriam os demais Exús associados aos
demônios que já mencionamos anteriormente. Quer nos parecer que através do
surgimento deste tipo de culto, acabou se perdendo particularidades do culto de Exú Rei
da Lira que foi trocado pela imagem caída de Lúcifer.
Com o surgimento dessa modalidade, percebemos uma perda ritualística muito
grande da maioria dos Exús de quimbanda, de seus reinos, povos e clãs, por terem
buscado explicações para Quimbanda em uma cultura totalmente diferente da Banta.
Acreditamos que essa maneira de ver o culto de quimbanda foi o mais
prejudicial para imagem da mesma, bem como, dos sacerdotes do culto que ficaram
associados à imagem de bruxos, feiticeiros, etc.
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As Diferentes Formas de Culto da Quimbanda no Rio Grande Do Sul
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CULTO DOS EXÚS ATRAVÉS DO REINO DAS ENCRUZILHADAS, CRUZEIRO E
DAS ALMAS.
Talvez este seja o culto de Quimbanda mais praticado dentro do Rio Grande do
Sul, pois seus rituais são feitos com os assentamentos dos espíritos baixo nome de Exú,
utilizando o uso de sacrifícios de animais, caracterizando-os assim como um ritual de
quimbanda separado da Umbanda.
Podemos falar deste ritual porque praticamos o mesmo, onde entendemos que
houve uma perca ritual em sua essência de culto, onde no nosso entendimento esta
forma ritualística foi perdida com passar dos tempos, pois nos dias atuais quando se
inicia nos rituais, tão logo lhe entregam um colar de miçangas (guia) na cor vermelha e
preta, esperando que possamos receber algum espírito para que este seja doutrinado
baixo denominação de Exú.
Com passar dos tempos, este espírito vindo a ter uma evolução doutrinária
maior, poderá dizer a qual Reino pertence.
Nesta forma de culto sem o devido entendimento, se pensa que os Exús
pertençam apenas ao Reino das Encruzilhadas, outros dos Cruzeiros e por fim das
Almas, dando a cor das vestimentas da entidade e de suas guias da seguinte forma:
1. Encruzilhadas e Cruzeiros: Preto e vermelho
2. Almas: Preto e branco
Nesse tipo de culto se acredita que os Exús das Encruzilhadas e os Exús dos
Cruzeiros estejam integrados apenas por alguns Exús, a exemplos: Exú Tiriri, Exú
Marabo, Exú Destranca Rua, Exú Sete encuzilhadas, etc.
Já no último, o Reino das Almas foi atribuído também neste, todos os Exús
pertencentes ao espaço cemitério, como exemplo: Exú Caveira, Tata Caveira, Exú das
Almas, Pombagira Maria Padilha das Almas, etc. Englobando todos Exús a um único
Reino, o das Almas.
Pensamos que a simplificação do culto dos Exús atrelados apenas à crença da
existência de “três Reinos” nos faz acreditar que foi desta forma que se perdeu a
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informação da existência dos demais Reinos existentes dentro do culto de Quimbanda,
publicado pelo nosso autor em questão, onde podemos citá-los:
1. Reino da Encruzilhada
2. Reino do Cruzeiro
3. Reino das Matas
4. Reino da Kalunga (Cemitério)
5. Reino das Almas
6. Reino da Lira
7. Reino da Kalunga Grande (Mar)
Omotobàtálá (1999, pg. 20-28) registrou a existência de nove (09) povos dentro
de cada reino de Quimbanda, onde podemos perceber a organização dos reinos e como
perdemos o culto aos demais reinos e seus povos:
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Através dos registros do autor, podemos perceber o quanto foi perdido o culto de
muitos destes nomes de Exús, principalmente no Reino da Lira que foi totalmente
extinta e mal compreendida atualmente nos cultos dentro do Rio Grande do Sul, onde se
conhece apenas o Exú Sete da Lira, mas que o autor nesta mesma obra explica com
maiores detalhes, que no qual ocultaremos por não ser o foco do nosso trabalho, mas
podemos resumir que este Exú atua em locais que possuam cabarés, jogatinas, músicas,
prostituição, etc.
O autor ainda separa o “Reino das Almas” do “Reino da Kalunga (Cemitério)”,
onde atualmente são cultuados juntos, mas que possuem diferenças de culto.
Com a lista dos Reinos informada, podemos perceber que os espaços de culto
dos espíritos estão separados em diferentes partes da natureza, através dos reinos, como
praticado na Kimbanda Bantú e que a Quimbanda brasileira herdou essa forma de culto.
Entendemos que esta seria a forma mais coerente de culto da nossa Quimbanda
realinhada com a crença banta, onde é separada do culto da Umbanda, possuindo suas
particularidades nos rituais através de seus Reinos, abrindo margem para que sejam
cultuados os Exús que perderam seu culto com passar dos tempos.
Esta forma de cultuar Exú faz com que cada entidade em determinado Reino
tenhas suas cores específicas de suas vestimentas, de seus colares de miçangas, onde
citamos “alguns” exemplos das cores utilizadas por Reino:
1. Reino da Encruzilhada= vermelho e preto;
1. Reino das Matas= Verde e preto e ou Marrom, preto e verde;
2. Reino das Almas= Preto e Roxo;
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As Diferentes Formas de Culto da Quimbanda no Rio Grande Do Sul
Rudinei Borba
Nesse mesmo rumo, poderíamos separar suas oferendas através das
particularidades de cada um dos reinos de atuação, diferente de criar uma oferenda
Generalizada para Exú de Quimbanda, como vem sendo praticada dentro do nosso
Estado, e que talvez possamos caminhar juntos num mesmo rumo lógico de
entendimento do culto.
O SACERÓCIO DE QUIMBANDA E SUA FUNÇÃO
O sacerdócio de quimbanda no Brasil ficou muito mal interpretado com passar
dos tempos, devido a esse culto ter sofrido grandes perseguições religiosas como vimos
anteriormente, onde a chamada “Umbanda Branca” ganhava expansão e aceitação pelo
povo, afirmando cultuar entidades ligadas aos Santos Católicos, ganhando assim força e
inúmeros adeptos e se alastrando como rastro de pólvora naquela época.
Entendemos que o uso da magia de quimbanda para o mal é totalmente de livre
arbítrio do homem e não é culpa da entidade, pois o mal está atribuído de várias formas
em diversas religiões. A função do sacerdote de quimbanda é bem explicada por
Omotobàtálá (1999, pg. 13) quando diz:
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Através da fala do autor podemos notar que os sacerdotes de Kimbanda Bantú
eram chamados de nganga, que nessa cultura eram considerados “doutores”, tendo
grande conhecimento de ervas, poções, pós, etc. Estes eram considerados os médicos
em sua cultura, praticando circuncisões nos meninos da tribo8, e fazendo com que essa
expressão “doutor” ficasse conhecida até os dias de hoje, quando escutamos pontos
8. Disponível em INTERNET, ver in: <http://www.lugardoreal.com/imaxe/circunciso-2/>
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As Diferentes Formas de Culto da Quimbanda no Rio Grande Do Sul
Rudinei Borba
cantados que exaltam sua qualidade:
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Percebe-se que para o sacerdócio de quimbanda, o nganga recebia de seu
sacerdote uma aprendizagem onde conseguiria aprender rituais, pós, ervas, plantas,
defumações, banhos rituais, etc.
Outra curiosidade é que o mesmo permaneceria no mato para ser possuído por
algum espírito que mais tarde poderia ser doutrinado, sendo muito parecido com
praticado atualmente nas nossas sessões de Quimbanda, onde o Exú chefe do nzo (casa)
chama um espírito para se manifestar no noviço, e com passar dos tempos saberá qual
Reino esse espírito será cultuado, quais suas cores de vestimenta, seus colares de
miçangas (guias), bebidas, fumos, oferendas, etc. O texto na mesma página ainda diz:
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O relato apresentado pelo autor é muito importante para os praticantes de
quimbanda, pois explica o ponto cantado muito utilizado nas casas de culto, mas que
nunca tínhamos o registro do seu significado, onde podemos acrescentar que os
aprendizes dos nganga (sacerdotes) tinham que beber infusões de plantas alucinógenas
para ir à busca dos elementos que formariam sua nganga (assentamento) onde seria
fixado no mesmo o seu espírito de trabalho. Desta forma caiam em transe e eram
possuídos por espíritos da floresta, semelhante ao culto xamã.
Através deste culto, os nganga (sacerdotes) acreditam que vivem espíritos muito
poderosos nas matas, estes que foram em vida grandes guerreiros que mereciam ser
lembrados e reconhecidos, onde muitas vezes se tinha a crença que alguns deles
poderiam após a morte se encantar em alguns animais dentro da floresta. Citamos
alguns desses animais: Serpentes, panteras, cobras, entre outros, gerando assim a crença
de algumas entidades com nomes de animais atualmente cultuados na nossa
Quimbanda.
O autor além de informar que a palavra nganga significa “Chefe, sacerdote,
doutor, curandeiro”, nos diz também que serve para referir-se ao assentamento do Exú
dentro de sua casa, quando a forma ritualística for à praticada através dos Sete Reinos.
Esses assentamentos chamados também de nganga, são compostos por diversos
elementos pertencentes a cada um dos Sete Reinos, como: Terras, pedras, pós, metais,
pólvora, plantas, galhos, pimentas, ossos de animais, etc.
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As Diferentes Formas de Culto da Quimbanda no Rio Grande Do Sul
Rudinei Borba
Os materiais mencionados devem ser buscados junto aos locais onde estão
situados os Reinos, sendo dispostos ritualisticamente dentro de um caldeirão de ferro e
ou um grande vaso de barro, formando assim a nganga do chefe do culto, que após sua
sacralização permanecerá na nzo (casa) de Exú, como sendo o local que receberá
sacrifícios de animais anualmente.
A Quimbanda praticada no Brasil ganhou nomes diferentes em outros
continentes, onde citamos as linhagens religiosas do Palo Mayombe, Kimbiza Palo, e
Palo Monte, onde as mesmas tem o mesmo objetivo de cultuar seus espíritos em
determinados Reinos da natureza, bem como o culto da própria natureza, através do uso
das plantas, ervas, etc.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do nosso texto, tivemos a intenção de apresentar uma imagem mais
positiva da Quimbanda praticada no Brasil, utilizando estudos realinhados com a cultura
tradicional Bantú e estudando sua origem e vivência religiosa. Através deste estudo
tivemos um melhor entendimento das diferentes formas de culto praticado dentro do
nosso Estado do Rio Grande do Sul.
Tentamos mostrar a seriedade e a importância religiosa da nossa cultura
religiosa, que vem cada dia sendo desprestigiada, mas que pode a partir do nosso
trabalho, ser mais bem compreendida. Vimos que através do surgimento do sincretismo
religioso a Quimbanda Brasileira teve uma perca ritualística muito grande, causando a
falta do conhecimento dos demais “Reinos” existentes, onde os Exús estão atrelados
junto com toda sua gama ritualística.
Percebemos a tentativa de desprestigiar a imagem do Èsù yorùbá junto às
entidades Bantú, através das perseguições de outras religiões que ajudaram na
colonização do nosso país, mas que hoje estas atitudes podem ser mais bem avaliadas.
Compreendemos melhor a expressão “nganga”, tão usada em nossos rituais,
explicando sua função para designar tanto o sacerdócio, quanto o assentamento do Exú
cultuado através dos Reinos, dentro de sua casa de culto.
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Pensamos que talvez as pessoas possam, antes de criar rituais, de terem
preconceitos com culto de quimbanda, possam tentar buscar fontes mais confiáveis de
estudos, para que assim não seja perdida ou mal compreendida toda uma cultura
religiosa.
Saravá Exú! Sem você não se faz nada!
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FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ABRAHAM, R. C. Dictionary of Yoruba Modern, London, Hodder & Stougthon, 1962
[1946].
BARRETTI FILHO, Aulo. Dos Yorùbá ao Candomblé Kétu, Edusp, São Paulo, 2010.
DE AGONJÚ SÍ, Júlio. Religião Natural Africana – Culto e Rituais Yorùbá Ànàgo,
Esteio, 2006.
OMOTOBÀTÁLÁ, Bàbá Osvaldo. Reino de Kimbanda, Bayo Editores, Montevidéu
1999.
PEDRO ORO, Ari. As Religiões Afro-Brasileiras, debates do NER, ano 09, n. 13 p. 923, Jan/Jun. 2008, Porto Alegre, 2008.
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