Leiria-Fatima_ed_48 - Diocese Leiria

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Leiria-Fatima_ed_48 - Diocese Leiria
ANO XVII • NÚMERO 48 • julho / Dezembro • 2009
• Destaque • Assembleia Diocesana • pág. 97
Vibrante
apelo de
D. António
Marto
• Decretos • RABI aprovado e obrigatório • pág. 22
Regulamento da Administração dos Bens da Igreja
• Documentos • Carta Pastoral • pág. 59
Ir ao Coração da Igreja
• Especial • Visita Pastoral à Diocese • pág. 109
D. António Marto na Vigararia de Ourém
• Teologia/Pastoral • “Terço da Renascença” • pág. 171
Rosário pelos media – que significados, hoje?
DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO
Leiria-Fátima
Órgão Oficial da Diocese
ANO XVII • NÚMERO 48 • JULHO / DEZEMBRO • 2009
Ficha Técnica|
Director | Luís Inácio João
Chefe de Redacção | Luís Miguel Ferraz
Administrador | Henrique Dias da Silva
Conselho de Redacção | Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino,
Manuel Melquíades, Saul Gomes
Capa/Grafismo | Luís Miguel Ferraz
Propriedade/Editor | Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais
Sede | Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 Leiria
Tel.: 244832760 • Fax: 244821102
Correio Elec.: [email protected]
Periodicidade | Semestral
Tiragem | 330 exemplares
Preço | 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)
Impressão | Tipografia de Fátima
Depósito Legal | 64587/93
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Índice
. editorial .
Por quem bate o coração da Igreja
5
Documentos•••
. decretos .
Comunicado do Gabinete Episcopal • Nomeações na Diocese de Leiria-Fátima
Nomeação Episcopal • Administrador paroquial de Casal dos Bernardos e Ribeira do Fárrio
Comunicado do Gabinete Episcopal • Nomeações na Diocese de Leiria-Fátima
Convocatória • Assembleia Diocesana
Decreto • Erecção Canónica do Cenáculo “Maria Estrela Da Evangelização”
Nomeação • Conselho Presbiteral
Decreto • Regulamento da Administração dos Bens da Igreja na Diocese de Leiria-Fátima
Decreto • Reconhecimento do Movimento Vida Ascendente
9
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22
58
. documentos pastorais .
Carta Pastoral • IR AO CORAÇÃO DA IGREJA
Ano Pastoral 2009-2010 • Tema, objectivos e acções
59
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. escritos episcopais .
Mensagem a propósito da criação do Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Fátima na paróquia de
Santa Rosa de Lima, no município de San Germán (Porto Rico) • Mensagem ao Bispo de Mayaguez
Homilia das exéquias do P. Luís Kondor • Um arauto da Mensagem de Fátima
Homilia na celebração evocativa da morte do P. Rogério Oliveira • Pedras Vivas
Mensagem de Natal de 2009 • Deus como companhia e esperança
Homilia de Natal, na Catedral de Leiria • Vinde, adoremo-Lo
Homilia de fim-de-ano no Santuário de Fátima • Maravilha, gratidão e louvor pela graça de Deus
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87
89
91
Vida Eclesial•••
. destaque .
Assembleia Diocesana • Vibrante apelo de D. António Marto Falecimento • Padre Diamantino Maurício
Falecimento • Padre Francisco Jorge
Falecimento • Cónego José de Oliveira Rosa
Falecimento • Padre Luís Kondor
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103
104
107
Visita Pastoral do Bispo à Diocese • Pela vigararia de Ourém… 109
Resumo noticioso do semestre 117
Resumo noticioso do semestre 128
. especial .
. notícias .
. Santuário de Fátima .
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Índice
. serviços e movimentos .
Junta Diocesana da ACISJF • Campos de férias para crianças e jovens
Os Samaritanos • Visitadores dos Estabelecimentos Prisionais Cáritas Diocesana de Leiria na praia do Pedrógão • Para 300 crianças, o crescer para a vida
Centro Voluntários do Sofrimento
Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM)
Comunidade Emanuel
Departamento do Património Cultural
Fundação Maria Mãe da Esperança Grupo da Imaculada e Fundação Apostolado do Imaculado Coração de Maria
Grupo Missionário Diocesano Ondjoyetu • Três anos de geminação… 10 anos de caminhada Movimento Família do Coração Imaculado de Maria
Serviço da Pastoral Juvenil
Serviço de Animação Vocacional
Serviço Diocesano de Catequese
133
133
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138
139
141
145
149
152
156
159
160
162
Reflexões•••
. teologia/pastoral .
Breve estudo sobre o “Terço da Renascença” • Rosário pelos media - que significados, hoje?
Memória do padre Rogério de Oliveira nos 20 anos da sua morte • Exemplo de vida e de sacerdócio
Profissão Temporária da Ir. Marina Sofia • “Aceita, Senhor, a minha vida”
Testemunho de uma religiosa • Vinde e ouvi o que Deus fez por mim!
171
189
195
197
. história .
Documentos
Obrigações por defuntos na Freguesia de Santa Cruz da Batalha nos Séculos XVI e XVII 201
Martim Gonçalves de Macedo: um herói ignorado da Batalha Real 209
A Quinta do Fidalgo (Batalha): anotações para a sua história 221
Alocução proferida no dia 14 de Agosto de 2009, na Capela de Fundador do Mosteiro da Batalha
Portugal, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória
e o 624.º Aniversário da Batalha Real de Aljubarrota 225
Artigos
Títulos formativos e informativos na Diocese• Imprensa regional católica no séc. XX 232
D. Frei Patrício da Silva • Cardeal leiriense, Patriarca de Lisboa 237
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Editorial
Por quem bate o coração da Igreja
Na Carta Pastoral, Ir ao Coração da Igreja, D. António Marto chama a
Igreja Diocesana aos caminhos da renovação, na base do duplo princípio da
comunhão e da co-responsabilidade. “Ir ao coração da Igreja” (…) porque
muitos cristãos só conhecem a Igreja por fora e, por isso, não conhecem o
seu coração, a sua beleza interior, não lhe têm afecto, nem têm motivação
interior para lhe dedicar a sua colaboração.
Perante um enfraquecimento da consciência eclesial, e uma fixação fácil
em imagens desfocadas, D. António propõe a descoberta do núcleo fundamental da Igreja. Os crentes e as comunidades devem todos abraçar como
programa uma maior aproximação da realidade eclesial que o Concílio Vaticano II apresentou como mistério de comunhão de Deus com os homens e
dos homens entre si.
É um apelo renovador que se exprime de forma clara, dizendo, com a
vida, três grandes “sins” e três grandes “nãos”: O tríplice sim é à comunhão, à co-responsabilidade e à renovação inspirada pelo Evangelho e pela
leitura dos sinais dos tempos; o tríplice não é à divisão, à desresponsabilidade (indiferença) e à estagnação ou ao imobilismo.
Trata-se de construir uma Igreja de comunhão, adulta, responsável e dinâmica, abraçando a necessária mudança de mentalidade, com criatividade
e conversão pastoral, e deixando hábitos adquiridos e uma simples pastoral
de conservação.
Tão vibrante apelo concretiza, desde logo, um acto de fidelidade e coresponsabilidade com a Igreja universal, chamada à Nova Evangelização, no
retorno à novidade perene de Deus que, em Jesus Cristo, “faz novas todas as
coisas”, contextualizado na humanidade concreta de cada tempo.
Correspondendo à verdade do seu próprio ser, na unidade e dinâmica renovadora da Igreja universal, a Igreja Diocesana é chamada, por esse caminho de maior correspondência à sua verdade, a inserir-se e cooperar na
tarefa de humanização de uma sociedade que todos reconhecem em crise de
identidade.
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Editorial
Ao actuarem, deste modo, no coração do mundo envolvente, os cristãos
não podem sentir-se em situação de excepção. O desafio que lhes é feito
inscreve-se na condição da Igreja que Jesus Cristo envia permanentemente
ao mundo, em seu nome.
Na mentalidade secularizante que atingiu a nossa cultura, não é fácil perceber que todo o processo renovador da Igreja se integra na sua missão de
contacto activo e constante com a sociedade, sob pena de não ser verdadeiro.
Atribuir ao projecto de renovação diocesana uma dimensão social de vasto
alcance, não pode ser considerado presunçoso. Objectivamente é uma atitude
de verdade, corajosa e responsável.
Não podendo a proposta cristã confinar-se a um catálogo de dogmas e
obrigações morais, mas exigindo sempre, como diz o apóstolo Pedro, a resposta pelas razões da esperança que está em nós (cf: 1 Pedro 3,13), o desafio
do nosso Bispo deve suscitar em nós a reformulação de algumas questões
fundamentais sobre o fulcro da nossa fé e a verdade mais profunda das nossas
motivações. Só se pode Ir ao Coração da Igreja respondendo a estas questões. Da descoberta desta nossa identidade dependem a força e o dinamismo
evangélico que nos darão a capacidade de propor sentido e esperança. Só assim poderemos enfrentar e abraçar como nossas as questões difíceis e novas
do nosso tempo.
O coração da Igreja só pode ter o “jeito” do coração de Jesus Cristo. Não
se pode definir nem encontrar senão no seu bater, com o de Cristo, por toda a
humanidade. Ressoa como um programa a admirável declaração do Concílio:
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de
hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também
as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos
de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não
encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por
homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua
peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da
salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se
real e intimamente ligada ao género humano e à sua história”
(Gaudium et spes, n.º 1).
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Documentos
. decretos . documentos pastorais .
. escritos episcopais . diversos .
. decretos .
Comunicado do Gabinete Episcopal
O Senhor D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, procedeu às seguintes nomeações:
O P. Fernando Pereira Ferreira é nomeado Pároco de Monte Real e de
Ortigosa, deixando a paroquialidade da Maceira.
O P. Marcelo Cavalcante de Moraes é nomeado Pároco de Maceira.
O P. José Martins Alves é nomeado Pároco das Paróquias de São João e
de São Pedro, em Porto de Mós, e de Alcaria. Deixa as paróquias de Monte
Real e Carvide.
O P. Sérgio Feliciano de Sousa Henriques é nomeado Pároco de Vieira de
Leiria e de Carvide, deixando as paróquias de Caxarias e do Olival. Mantém
as funções de Coordenador do Serviço de Apoio Pastoral à Mobilidade e de
Presidente de Amigrante.
O P. Bertolino Vieira é nomeado Pároco de Caxarias e de Olival, deixando
a paróquia de Vieira de Leiria.
O P. Isidro da Piedade Alberto é nomeado Pároco de Regueira de Pontes,
deixando as Paróquias de São João e de São Pedro, em Porto de Mós, e de
Alcaria.
O P. Vítor José Mira de Jesus é nomeado Pároco de Urqueira. Deixa a
Paróquia de Regueira de Pontes e mantém as funções de Coordenador do
Serviço de Animação Missionária.
O P. Segunda Julieta Miguel, da Diocese do Sumbe, em Angola, é nomeado Vigário Paroquial da Urqueira.
O P. Manuel Vítor de Pina Pedro é nomeado capelão do Mosteiro da Visitação, na Batalha. Mantém as funções de Capelão dos Estabelecimentos
Prisionais de Leiria.
O P. Henrique Fernandes da Fonseca é dispensado da paroquialidade de
Ortigosa, a seu pedido, por motivos de saúde. Mantém as funções de Coordenador do Serviço de Apoio ao Clero.
O P. Virgílio da Silva é dispensado da paroquialidade de Urqueira, a seu
pedido, por motivos de saúde. Assume a colaboração pastoral nas paróquias
de Bajouca e Carnide para as quais é nomeado Vigário Paroquial.
O P. João Rodrigues é nomeado auxiliar da Câmara Eclesiástica.
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Documentos
Nomeações na Diocese de Leiria-Fátima
. decretos .
Além destas nomeações, o Senhor Bispo homologou a nomeação da Irmã
Drª Ângela de Fátima Coelho, da Congregação da Aliança de Santa Maria,
como Adjunta, com direito a sucessão, do Vice-Postulador da Causa de Canonização de Francisco e Jacinta Marto.
Leiria, 29 de Junho de 2009
Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal.
Nomeação Episcopal
Administrador paroquial de
Casal dos Bernardos e Ribeira do Fárrio
D. António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber
que, tendo ficado vagas as paróquias de Casal dos Bernardos e Ribeira do
Fárrio, na vigararia de Ourém, por morte do respectivo pároco, Padre Francisco Jorge, há necessidade de nomear “um sacerdote que supra as vezes do
pároco” (cân. 539) para exercer o múnus pastoral.
Assim, em conformidade com o direito canónico (cân. 539 e 540), determina quanto segue:
1. Nomeia o Padre Manuel Ferreira, residente em Albergaria dos Doze,
como administrador paroquial das referidas paróquias. A teor do direito, “tem
os mesmos deveres e goza dos mesmos direitos que o pároco” (cân. 540).
2. A nomeação tem efeitos a partir da presente data e prolonga-se até à
tomada de posse do novo pároco de cada uma das mesmas paróquias.
Leiria, 22 de Agosto de 2009
† António Augusto dos Santos Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
Comunicado do Gabinete Episcopal
Nomeações na Diocese de Leiria-Fátima
O falecimento do Rev.º P. Francisco Jorge e a disponibilização para esta
Diocese de outros sacerdotes levaram o Senhor D. António Marto, Bispo de
Leiria-Fátima, a proceder às seguintes nomeações canónicas:
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O P. Vítor José Mira de Jesus é nomeado Pároco de Casal dos Bernardos,
acumulando com a anterior nomeação para a Paróquia da Urqueira e mantendo as funções de Coordenador do Serviço de Animação Missionária.
O P. Vladyslav Tymchyk, da Ordem Basiliana de S. Josafat, é nomeado
Capelão da Comunidade Ucraniana residente nesta Diocese. Exercerá este
múnus in solidum com o Revº P. Sílvio Litvinczuk.
O P. Filipe da Fonseca Lopes é nomeado administrador paroquial de Ribeira do Fárrio, pelo período de um ano, acumulando com as actuais funções
de Pároco de Albergaria dos Doze e de São Simão de Litém, e de Vigário da
Vigararia das Colmeias.
O P. Bertolino Vieira é nomeado administrador paroquial de Carvide para
o período de 13 de Setembro a 1 de Novembro, dia em que toma posse o
pároco nomeado.
O P. João Carlos Roma Leite Rodrigues, religioso da Congregação dos
Marianos da Imaculada Conceição, é nomeado Vigário Paroquial da Maceira.
O P. Segunda Julieta Miguel, da Diocese do Sumbe, em Angola, é nomeado Vigário Paroquial de Casal dos Bernardos, acumulando com a anterior
nomeação para Vigário Paroquial da Urqueira.
O P. Jacinto Pereira Gonçalves é nomeado Vigário da Vigararia dos Milagres, até ao termo do actual mandato dos Vigários da Vara.
16-09-2009
Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal
Convocatória
Assembleia Diocesana
Caríssimos diocesanos,
Irmãos e Irmãs na graça da fé no Senhor Jesus
“A vós graça e paz. Damos continuamente graças a Deus por vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações; guardamos na memória a vossa fé
activa, o esforço da vossa caridade e a constância da vossa esperança, que
vêm de Jesus Cristo”(1Ts 1, 1-3).
Com esta saudação de S. Paulo desejo manifestar toda a estima e todo o
afecto que tenho por vós como vosso bispo.
Como sabeis, estamos a seguir o percurso traçado pelo Sínodo Diocesano
e desenvolvido no projecto pastoral “Testemunhar Cristo, fonte de esperan| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 11
Documentos
. decretos .
. decretos .
ça”. Antes de mais, quero dar graças a Deus, com S. Paulo e convosco, pelas
bênçãos e pelos frutos do ano pastoral findo, em que nos empenhámos em “ir
ao coração da fé”, em ordem à sua maturação.
Nesta caminhada comum, seguindo as realizações dos anos passados, venho convocar uma ASSEMBLEIA DIOCESANA, que terá lugar na tarde do
Domingo, 4 de Outubro, no ginásio do Seminário Diocesano, em Leiria.
Com ela celebramos o Dia da igreja Diocesana, podendo experimentar
que somos muitos, mas um só corpo, em Cristo. Nela será apresentada a carta
pastoral Ir ao Coração da Igreja e o programa do ano.
Para ela convoco os agentes pastorais e apostólicos da Diocese empenhados na sua vida e missão, nomeadamente: os padres, o Conselho Pastoral
Diocesano, os membros dos Serviços e organismos diocesanos, as direcções
dos Movimentos, Associações e Obras, os superiores ou representantes das
comunidades religiosas masculinas e femininas, as direcções dos Institutos
Seculares e Novas Comunidades, os membros dos conselhos pastorais vicariais e paroquiais, catequistas, ministros da comunhão e outros.
O programa será o seguinte:
15H00 - Acolhimento, música e retrospectiva da caminhada diocesana.
16H00 - Tempo de convívio.
16H30 - Música e apresentação da nova Carta Pastoral do Senhor Bispo.
17H30 - Apresentação da “Festa da Fé”.
18H30 - Eucaristia na igreja do Seminário.
Na manhã desse dia e no mesmo local, realiza-se o encontro anual dos
catequistas da Diocese, promovido pelo Departamento da Educação Cristã.
Estes eventos marcam o início do novo pastoral e promovem a comunhão
eclesial, imprimindo no coração dos colaboradores da Igreja diocesana maior
sentido de co-responsabilidade e de pertença a uma mesma e grande família
espiritual.
Reservai na vossa agenda a disponibilidade para participar, não marcando
qualquer outra actividade no âmbito da vossa responsabilidade, informai e
motivai os vossos mais imediatos colaboradores para vos acompanharem.
Tendo em conta as orientações diocesanas, peço a todos o melhor empenho na programação pastoral para o próximo ano.
22 de Setembro de 2009
† António Augusto dos Santos Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. decretos .
Decreto
D. António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber
quanto segue:
O Cenáculo “Maria Estrela da Evangelização”, com sede na Casa Giosa
de Cerna, em Sant’Anna d’Alfredo, Verona, Itália, é uma associação pública
de fiéis de direito diocesano, erecta pelo Administrador Apostólico da diocese
de Verona, na Itália, em 25 de Março de 1998; tem estatutos aprovados definitivamente pelo bispo da referida diocese, em 25 de Março de 2005; neles se
define como finalidade da associação “obedecer ao mandato do Senhor ‘ide
por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas”; para o cumprir
usam os meios de comunicação social, nomeadamente Radiopace, Telepace
e internet.
O fundador e moderador geral do dito Cenáculo, Padre Guido Todeschini,
em 16 de Julho de 2009, requereu que o mesmo seja reconhecido e aprovado
na diocese de Leiria-Fátima, onde já se encontra há 5 anos, fazendo transmissões televisivas a partir do Santuário de Fátima. O bispo de Verona, D.
Giuseppe Zenti, que exerce sob o Cenáculo a autoridade canónica, em carta
de 6 de Outubro, manifestou o seu acordo ao acolhimento e difusão da mesma Associação.
Assim, considerando tudo o que acima se mencionou e que o testemunho
de vida e o trabalho evangelizador do dito Cenáculo, nomeadamente através da televisão, rádio e internet, é de interesse para esta Igreja Particular e
especialmente para o Santuário de Fátima, para a difusão da mensagem de
Nossa Senhora pelo mundo; e que as emissões de Telepace realizadas a partir
de Fátima têm sido do agrado de muitos fiéis e mesmo dos responsáveis do
Santuário;
Em conformidade com os cânones 312 e 313:
a) reconhece nesta diocese de Leiria-Fátima o Cenáculo “Maria estrela da
Evangelização” como associação pública de fiéis e a sua missão de evangelizar em nome da Igreja, nomeadamente através da Telepace;
b) confirma os seus Estatutos, na tradução em português que lhe foi apresentada;
c) concede-lhe personalidade jurídica canónica;
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Documentos
Erecção Canónica do Cenáculo “Maria Estrela
da Evangelização” na Diocese de Leiria-Fátima
. decretos .
d) confirma como moderador local o Padre Cláudio Girlanda, nomeado
pelo moderador geral.
O Cenáculo tem a sua sede em Fátima, na Avenida Beato Nuno, nº 84-A,
1º Dto.
A associação, na sua actuação nesta diocese de Leiria-Fátima, empenharse-á em manter viva a comunhão e colaboração com esta Igreja Particular, na
diversidade e complementaridade dos seus serviços, movimentos e instituições. Assim, além das normas canónicas e dos próprios Estatutos, observará
as orientações pastorais do Bispo diocesano e desenvolverá as acções apostólicas próprias com o seu conhecimento e aprovação.
O responsável do Cenáculo nesta Diocese, depois de nomeado pelo Moderador Geral, deverá ser confirmado pelo Bispo diocesano.
Este decreto entra imediatamente em vigor.
Leiria, 21 de Outubro de 2009.
† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima
O Chanceler, Cónego Américo Ferreira
ESTATUTO DO CENÁCULO
“MARIA ESTRELA DA EVANGELIZAÇÃO”
ASSOCIAÇÃO PÚBLICA DE FIÉIS
I - ASSOCIAÇÃO PÚBLICA DE FIÉIS
O Cenáculo “Maria Estrela da Evangelização, é uma associação pública
de fiéis, composta por pessoas de ambos os sexos, incluindo clerical, erecta
pelo Bispo de Verona, e cujos membros encontram na vida de união a ajuda
necessária para viver com fidelidade a própria consagração a Deus na Igreja
e para ser o sustento da Associação no anúncio Cristão da Paz, da Fundação
Artesanal da Paz e da Associação Amigos de Telepace na obra de evangelização, com Rádiopace, Telepace e o Satélite.
- A Associação para o Anúncio Cristão da Paz é uma associação civil, com
sede em Cerna e é proprietária de Rádiopace;
- A Fundação Artesanal da Paz é uma fundação civil, com personalidade jurídica nacional, com sede em Cerna e é proprietária de Telepace de Verona;
- A Associação Amigos de Telepace é uma associação civil com sede em
Roma e sustenta a Telepace de Roma e o uso do Satélite.
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II - FINALIDADE DA ASSOCIAÇÃO
Finalidade da Associação: obedecer ao mandato do Senhor “ide por todo
o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas”. Sobre as pegadas de
Cristo “primeiro e perfeito comunicador” que veio não para ser servido, mas
para servir; e afrontar com humilde audácia os “misteriosos caminhos da ética” para levar à mente e ao coração de todas as pessoas o bom anúncio da
salvação, por meio da rigorosa fidelidade a Deus e ao homem na Igreja.
Portanto, a Associação:
a) Promove nos seus membros o desejo e o exercício da perfeição no serviço gratuito, generoso e alegre, a Deus e ao homem, na Igreja, com os
Meios de Comunicação Social.
b) Ajuda os membros a oferecerem, para a Evangelização do mundo com
a rádio e a televisão, a própria energia espiritual e de qualquer outra
energia “até ao derramamento do sangue” por todas as actividades
apostólicas anexas e conexas com o mesmo serviço.
c) Prepara os membros a testemunharem, com a palavra e com a vida, o
Temor de Deus que “é Pai e cuida de todos os seus filhos”.
III - MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO
MEMBROS EFECTIVOS
a) Pessoas de ambos os sexos, clérigos, solteiro, casado ou viúvo
b) De idade não inferior aos dezoito anos;
c) Dispostos a aceitar e a viver o espírito e os deveres da Associação,
segundo este estatuto, com os quatro votos.
MEMBROS AGREGADOS
a) Sacerdotes;
b) Religiosos e Religiosas;
c) Mosteiro da Paz;
d) Operários, promotores, amigos e ouvintes.
IV - COMPROMISSO ESPECÍFICO DOS ASSOCIADOS
a) Os membros efectivos comprometem-se a servir a Igreja universal e
particular com os votos de castidade, pobreza, obediência e disponibilidade, para serem testemunhas fiáveis da palavra que anunciam, com os
meios de Comunicação:
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Documentos
. decretos .
. decretos .
- Com o voto de castidade os membros comprometem-se em viver a
castidade evangélica segundo o próprio estado, seguindo Cristo casto;
- Com o voto de pobreza os membros comprometem-se a viver o abandono filial nos braços de Deus, que é Pai, e cuida de seus filhos;
- Com o voto de obediência os membros comprometem-se aceitar alegremente as decisões dos Superiores para o bem da Igreja, realizando
assim o voto de disponibilidade;
- Com o voto de disponibilidade os membros comprometem-se ao serviço gratuito, alegre e incondicional às exigências da Igreja universal
e particular no tocante à rádio e televisão, sob o pedido do Sumo
Pontífice e dos Bispos.
- Os quatro votos são feitos diante do Bispo (ou de um seu delegado),
depois de um ano de postulantado e um ano de noviciado. Renovamse todos os anos.
b) Os membros agregados comprometem-se a servir a Igreja universal e
particular com o voto privado de disponibilidade, completa e incondicional, as exigências da Igreja universal e particular no tocante à rádio
e televisão, sob o pedido do Sumo Pontífice e dos Bispos;
- O voto é feito diante do Bispo (ou de um seu delegado) e renova-se
todos os anos.
V - MEIOS PARA ATINGIR OS OBJECTIVOS
a) Desempenho fiel dos deveres do próprio estado;
b) Aceitação serena da vontade de Deus também nas adversidades e nas
provas da vida;
c) Fé inabalável e incondicional na divina Providência para atingir os fins
da Associação;
d) Exercício da caridade com todos, para honrar em todos os irmãos e
irmãs o rosto de Cristo, dando voz a quem não a tem, partindo do grito
dos pobres, dos desesperados, dos excluídos, dos marginalizados e de
quantos são considerados indignos de viver.
VI - ACTIVIADE APOSTÓLICA DA ASSOCIAÇÃO
a) A actividade que mais directamente se refere à Evangelização com Rádiopace, Telepace, Satélite e Internet;
b) A que afecta a direcção, promoção e animação da emissora católica
em estreita colaboração com a Associação para o Anúncio Cristão da
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Paz, com a Fundação Artesanal da Paz e com a Associação Amigos de
Telepace, para que seja sempre “serviço de Deus e do homem na Igreja”
c) A que diz respeito ao sustento económico da Emissora, que vive unicamente abandonada à divina Providência, “ somente de caridade e por
meio caridade”;
d) A que afecta pessoas (estudantes estrangeiros necessitados, condenados à morte) ou famílias, das quais chegam à Emissora de ouvintes em
necessidade e interpelam a consciência dos indivíduos, da população e
instituições;
e) Todas as actividades que directamente ou indirectamente estão relacionadas com a obra de evangelização da Emissora.
VII - FORMAÇÃO DOS MEMBROS AO “SENSUS ECCLESIAE”
Para serem instrumentos adequados nas mãos de Deus para a salvação
dos irmãos, os membros devem examinar cuidadosamente a sua formação
espiritual, doutrinal e técnico-cultural.
a) Formação espiritual;
- Firme piedade litúrgica centrada sobre o mistério de Cristo e da Igreja
com particular atenção às celebrações dos tempos fortes do Advento,
Natal, Quaresma, Páscoa, Pentecostes;
- Participação na santa missa, se possível, todos os dias;
- Adoração diária, prolongada, diante da Eucaristia;
- Liturgia das Horas (para os leigos: Laudes e Vésperas);
- Oração diária do Santo Rosário (todo ou em parte);
- Oração do Papa a Maria, Estrela da Evangelização;
- Confissão e direcção espiritual;
- Meditação diária;
- Leitura espiritual e exame de consciência;
- Retiro mensal e Exercícios Espirituais anuais, feitos em conjunto.
b) Formação doutrinal
- Estudo sistemático da Sagrada Escritura;
- Participação em cursos de Teologia e Documentos Conciliares e Pósconciliares sobre os Meio de Comunicação Social, com particular
atenção à rádio e à televisão;
c) Formação técnico-cultural
- Estudo e conhecimento da metodologia de rádio e de televisão
- Técnicas da comunicação, com a rádio e a televisão;
- Exercício e vivência do uso destes meios na nova evangelização.
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Documentos
. decretos .
. decretos .
VIII - O MODERADOR DA ASSOCIAÇÃO E O SEU CONSELHO
O recto funcionamento da Associação é confiado ao Moderador, com a
assistência de um Conselho. O Moderador é eleito em Assembleia Geral dos
membros efectivos e confirmado pelo Bispo.
a) Qualidades exigidas para o cargo de Moderador:
- Ser sacerdote:
- Idade não inferior a trinta anos;
- Fé na divina Providência;
- Comprovado equilíbrio.
b) Deveres pessoais do Moderador:
- Aceitar os membros na Associação;
- Acompanhar cada um no período de prova;
- Admitir os membros ao voto e à promessa.
* Para demitir da Associação um membro por “justa causa” o Moderador deve ter o consenso do seu Conselho, depois de haver consultado
o Bispo. (O postulante, noviço ou professo que por qualquer motivo
deixe ou seja demitido do Cenáculo não pode ser assumido como
empregado de Radiopace ou de Telepace).
- Celebrar a Santa Missa pelos amigos de Telepace:
* todas as Terças-feiras: pelos Amigos vivos
* todas as Quartas-feiras: pelo Bispo de Verona
* todas as sextas-feiras: pelos amigos defuntos
c) Duração e mandato:
- O Moderador permanece no cargo por seis anos e pode ser confirmado
por um segundo seis anos continuados.
- Em caso de morte ou de renúncia do Moderador, sucede o Vice-moderador até ao fim do mandato.
IX - FORMAÇÃO E DEVERES DO CONSELHO
a) O Conselho é formado por cinco membros, incluído o Moderador, que
o convoca e o preside;
b) Os membros do Conselho são eleitos cada seis anos, em escrutínio
secreto, pela Assembleia geral dos membros;
c) Deveres principais do Conselho são:
- Auxiliar o Moderador no bom funcionamento da Associação e manter
o bom relacionamento entre os membros;
- Manter vivo entre os membros o espírito da Associação, organizar a
formação e a vida associativa dos membros;
18 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
- Coordenar as actividades e as obras de Radiopace, de Telepace de
Verona e de Telepace de Roma com a Associação para o Anúncio
Cristão da Paz, com a Fundação Artesanal da Paz e com a Associação
Amigos de Telepace. Este último reconhece ao Cenáculo o direito
de exprimir a própria aprovação sobre componentes dos respectivos
órgãos administrativos.
d) O Conselho reunirá uma vez por mês e todas as vezes que o Moderador
considerar oportuno;
e) Os membros do Conselho, sob a presidência do moderador, escolherão
entre eles o Vice-moderador, o encarregado pela formação dos membros, o secretário e o tesoureiro, escolha essa que não carece da confirmação do Bispo.
X - ASSEMBLEIA GERAL DOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO
A Assembleia geral é formada por todos os membros efectivos da Associação que fizeram a profissão com os quatro votos; é convocada pelo Moderador que a preside e é regulamentada pelo Cân. 309 (CL C.). Unicamente a
Assembleia geral tem autoridade para modificar o Estatuto, sendo necessária
a maioria de 2/3 dos votos dos presentes, e a confirmação do Bispo diocesano.
XI - O BISPO (OU O SEU DELEGADO)
O Bispo diocesano tem lugar na Associação, pessoalmente ou por um seu
delegado, que o representa. Ao Bispo (ou ao seu delegado) compete:
a) Facilitar o relacionamento com a Igreja particular e o clero;
b) Participar nas Assembleias eleitorais do novo Moderador e de seu Conselho, sem direito a voto;
c) Confirmar o novo Moderador e o seu Conselho.
XII - A ADMINISTRAÇÃO DOS BENS DA ASSOCIAÇÃO
A Associação, que honra, e reconhece em S. José de Nazaré o seu “ecónomo geral”, vive “da” caridade e “por meio” da caridade. É mantida por meio
da contribuição dos membros e da doação de pessoas generosas que patrocinam a obra de evangelização e de solidariedade que a mesma leva adiante
em benefício dos mais carenciados. É dever do tesoureiro administrar os bens
materiais da Associação, sob orientação do Moderador e de seu Conselho.
No caso de a Associação deixar de existir, todos os bens materiais passam
a ser propriedade da Fundação Artesanal da Paz.
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Documentos
. decretos .
. decretos .
XIII - SEDE DA ASSOCIAÇÃO
Sede da Associação é a Casa Giosa de Cerna, na freguesia de Sant’Anna
d’Alfredo (Vr), onde nasceu a emissora católica e onde estão seus estúdios.
Os membros podem viver:
a) Em comunidade: membros efectivos (sacerdotes, diáconos, seminaristas, pessoas casadas e solteiras).
b) Em família: membros agregados (pessoas casadas e viúvas, sacerdotes,
religiosos, religiosas).
XIV - MARIA, ESTRELA DA EVANGELIZAÇÃO
A Associação foi colocada sob a especial protecção de Maria, invocada
com o título de “Estrela da Evangelização”. O Santo Padre João Paulo II
confiou à Telepace o dever de honrar e de tornar conhecida em todo o mundo
Maria com este título. Todos os ano, no 21 de Outubro. a Associação recorda
a Mãe de Deus com o título “Maria Estrela da Evangelização”. A Ela, todos
os dias os membros da Associação recorrerão, recitando a oração composta
pelo papa, para obter luz e força no caminho da Evangelização.
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. decretos .
Nomeação
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
O Conselho Presbiteral Diocesano é um órgão de co-responsabilidade e
partilha pastoral, representativo de todo o presbitério diocesano, auxiliar do
Bispo no governo da Diocese (cf. can. 495, § 1). Em cumprimento do can.
501 § 2, é necessário constituir de novo o Conselho Presbiteral, que, de acordo com o Artº 9º dos Estatutos, é composto pelos seguintes presbíteros:
Membros natos:
P. Dr. Jorge Manuel Faria Guarda (§1º-1)
P. Dr. Manuel Armindo Pereira Janeiro (§1º-2)
Cón. Doutor Américo Ferreira (§1º-3)
P. Dr. Adelino Filipe Guarda (§1º-4)
Membros eleitos:
P. Doutor Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas (§2º-1)
P. Sérgio Jorge Lopes Fernandes (Vigararia Batalha)
P. João Pereira Feliciano (Vigararia Colmeias)
P. Dr. Fernando Clemente Varela (Vigararia Fátima)
P. Dr. Rui Acácio Amado Ribeiro (Vigararia Leiria)
P. Dr. Manuel Henrique Gameiro Jesus (Vigararia Marinha Grande)
P. Isidro da Piedade Alberto (Vigararia Milagres)
P. Joaquim de Jesus João (Vigararia Monte Real)
P. Bertolino Vieira (Vigararia Ourém)
P. José Martins Alves (Vigararia Porto de Mós)
P. Dr. Francisco José dos Santos Pereira (§2º-3)
P. Dr. Gonçalo Corrêa Mendes Teixeira Diniz (§2º-4)
P. Moisés Lopes Semedo (§2º-5)
P. José António André Ribeiro (§2º-5)
Membros designados pelo Bispo Diocesano:
P. Dr. Virgílio do Nascimento Antunes
Cón. Mons. Dr. Luciano Gomes Paulo Guerra
P. Dr. Joaquim Rodrigues Ventura
Leiria, 24 de Novembro de 2009.
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
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Documentos
Conselho Presbiteral
. decretos .
Decreto
Regulamento da Administração dos Bens da Igreja
na Diocese de Leiria-Fátima
Considerando que as orientações do II Concílio do Vaticano sobre a administração dos bens da Igreja nas Dioceses e Paróquias foram aplicadas na
Diocese de Leiria-Fátima através de um Regulamento elaborado com o contributo do Conselho Presbiteral e promulgado por decreto do então Bispo da
Diocese, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, com data de 1 de Dezembro
de 1993, tendo entrado em vigor a 1 de Janeiro de 1998;
Considerando que, depois de uma experiência de mais de 10 anos e da
assinatura da nova Concordata entre a Sé Apostólica e a República Portuguesa, em 18 de Maio de 2004, com consequências, entre outras, ao nível fiscal
para as instituições católicas e para o clero, se tornava necessário rever aquele
Regulamento e actualizá-lo;
Considerando que a revisão assentou em 4 grandes objectivos, que receberam o parecer favorável do clero reunido em assembleia geral e que integram a versão definitiva do Regulamento, a saber:
a) aprofundar a comunhão e a partilha de bens entre pessoas e instituições
diocesanas;
b) aclarar responsabilidades e competências dos responsáveis das instituições e serviços;
c) cuidar da sustentabilidade económica das instituições e projectos eclesiais;
d) melhorar a organização e procedimentos das pessoas e instituições diocesanas;
Considerando que o texto apresentado pela comissão de revisão por mim
nomeada recebeu parecer favorável do Conselho Presbiteral, que o analisou
detalhadamente, e de especialistas em direito canónico,
HAVEMOS POR BEM
1. Ab-rogar o Regulamento promulgado pelo meu antecessor, em 1 de
Dezembro de 1993;
2. Aprovar o presente “Regulamento da administração dos bens da Igreja
na Diocese de Leiria-Fátima”, que consta de nove capítulos, subdivididos em oitenta e seis artigos;
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3. Determinar que o presente “Regulamento da administração dos bens
da Igreja na Diocese de Leiria-Fátima” seja obrigatório para todas as
pessoas e instituições sujeitas ao governo pastoral do Bispo diocesano;
4. Determinar que o presente “Regulamento da administração dos bens
da Igreja na Diocese de Leiria-Fátima” entre em vigor em 1 de Janeiro
de 2010.
Leiria, 1 de Dezembro de 2009
† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima
O Chanceler, Cónego Américo Ferreira
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
1. A Igreja como comunhão e a co-responsabilidade de todos
Na reforma e renovação da Igreja promovida pelo Concílio Vaticano II,
olhando simultaneamente às suas origens, à sua essência e à sua missão pastoral no mundo contemporâneo, emergiu e impôs-se a categoria da “comunhão”. Foi um vigoroso impulso renovador de ordem teológica, espiritual,
canónica e pastoral.
A comunhão é a forma da existência, da vida e da missão da Igreja, tanto
a nível da vivência como da instituição. Inclui diferentes aspectos:
- a sua amplidão parte da unidade na fé, na esperança e no amor cristão,
selados sacramentalmente pelo baptismo, que cria a situação básica da
comunhão: todos filhos de Deus, todos irmãos;
- reforça-se pela participação na Eucaristia, essencialmente orientada à
“unitas Ecclesiae” (Corpo de Comunhão), e refaz-se pelo sacramento
da reconciliação com Deus e com a Igreja;
- traduz-se, comunitariamente, em relações de comunhão fraterna, no intercâmbio de dons oferecidos e recebidos em reciprocidade aberta e
confiante; e na “colecta” de bens para os necessitados e as necessidades
da Igreja;
- é visivelmente presidida e salvaguardada pelos que receberam o ministério apostólico.
À luz do que acabamos de dizer, compreende-se facilmente que a própria
existência cristã, toda a vocação específica, os diferentes ministérios e carismas, as diversas acções através das quais a Igreja realiza a sua missão, a sua
organização e os seus organismos pastorais… levam o selo característico da
comunhão com o Senhor e entre os discípulos.
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Documentos
. decretos .
. decretos .
Como se traduz a espiritualidade da comunhão na organização e na economia da comunidade cristã?
A Igreja é um corpo organizado, estruturado, articulado. A comunhão implica a partilha ou participação activa na vida da comunidade, que é de todos,
onde todos recebemos e damos, de tal modo que “o bem de todos torna-se o
bem de cada um, e o bem de cada um torna-se o bem de todos”(ChFL 28).
Inclui a participação e co-responsabilidade de todos.
Para que a comunhão construtora da comunidade se exerça realmente, de
modo orgânico e articulado, deve ter expressão em organismos de participação onde se realiza a comunhão de intenções e projectos pastorais na diversidade dos dons: os diversos Conselhos, nomeadamente o Pastoral e o dos
Assuntos Económicos. Estes órgãos de participação são uma etapa decisiva
para configurar a Igreja comunhão.
2. Origem e significado dos bens eclesiásticos
Na linha da grande reflexão conciliar, o Código de Direito Canónico enquadra a sempre delicada relação entre a Igreja e os bens materiais dentro da
missão, deixando claro que eles são somente instrumentos para a consecução
dos fins espirituais da Igreja: a realização do culto divino, o exercício das
obras de apostolado e caridade, especialmente dos mais necessitados, prover
ao sustento honesto do clero e a quanto se refere à missão espiritual que
Cristo lhe confiou.
Portanto, a própria constituição da Igreja, ao mesmo tempo comunhão espiritual e comunidade visível, institucional e jurisdicionalmente organizada,
justifica a propriedade de bens materiais, identifica e precisa a sua natureza,
delimita com rigor as finalidades: são um meio, e só um meio, para a Igreja
realizar a própria missão espiritual, evangelizadora.
O dinheiro usado responsavelmente e em medida equitativa ao serviço da
missão da Igreja torna-se facto positivo e necessário. É preciso, pois, estar
animados por uma atenta vigilância e uma sábia prudência, nunca perdendo
de vista a radicalidade evangélica: “Bem - aventurados os pobres em espírito
(que o são no seu íntimo) porque deles é o Reino dos Céus”. Todavia devemos recordar que é parte da pobreza da Igreja o saber fazer um bom uso, correcto, transparente, responsável e solidário dos recursos que lhe são confiados
e, por conseguinte, de uma gestão inteligente, racional e honesta dos mesmos.
O tomar consciência do justo fundamento do direito da Igreja a possuir e
utilizar bens materiais, económicos e financeiros, e as suas finalidades, pode
fazer resplandecer melhor o verdadeiro rosto da Igreja e chamar os fiéis a par24 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. decretos .
3. Os Fundos económicos diocesano e paroquiais
Em ordem a dar unidade à recolha e administração de bens para as finalidades da missão espiritual da Igreja, o direito canónico determina a instituição do Fundo Económico Diocesano e do Fundo Económico Paroquial
(cfr cân. 1274 e 531). Neles são contabilizadas todas as receitas e despesas
da Igreja diocesana e da Paróquia, incluindo as que visam a sustentação do
clero. Para este, em particular, a fim de suprir eventuais dificuldades em algumas situações, nomeadamente na doença e na reforma, foi instituído o Fundo
Diocesano do Clero.
Os mencionados Fundos são constituídos por contributos obrigatórios e
voluntários e pelo intercâmbio de bens nas paróquias e com a Diocese. Tais
Fundos permitem unificar toda a administração dos bens na Diocese e em
cada Paróquia, de modo que estes sejam canalizados mais equilibradamente
para os diferentes fins a que se destinam: não apenas para a sustentação do
clero e de outros servidores da Igreja, mas também para todos os serviços,
instituições e actividades que fazem parte da vida da Igreja, sem esquecer a
solicitude para com os pobres e os necessitados.
4. O Conselho para os Assuntos Económicos
O Conselho para os Assuntos Económicos, quer o diocesano quer o paroquial, situa-se dentro da realidade da Igreja mistério de comunhão, na qual
se insere também a valorização do contributo dos fiéis leigos. Por isso, a
constituição e o funcionamento efectivo de tal Conselho constitui um sinal
da vontade de acolhimento da comunhão na vida concreta da Diocese e de
cada Paróquia.
De facto, os fiéis não são chamados só a partilhar os bens necessários para
a missão da Igreja, mas também à sua cuidadosa e transparente administração
através da participação directa nos órgãos colegiais indicados pela normativa
canónica. O Conselho para os Assuntos Económicos é um desses organismos,
obrigatório pelo direito.
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Documentos
tilhar os bens, inspirando-se no ideal evangélico incarnado pela comunidade
apostólica primitiva (cfr Act 2, 44-45). De facto, desde os primeiros tempos,
a oferta e a partilha de bens por parte de fiéis católicos, famílias, grupos,
comunidades, instituições e associações constituem a principal fonte para a
sustentação económica da Igreja a qualquer nível: paroquial, diocesano e universal. É este um dos modos de se viver a comunhão fraterna, no amor entre
as pessoas e as comunidades que constituem a Igreja de Cristo.
. decretos .
As suas características são sobretudo três: participação co-responsável,
transparência e sentido eclesial, a observar com rigor.
Todos nos damos conta de que a Igreja, no seu conjunto, se torna credível
quando cada fiel participa co-responsavelmente, e quando a administração dos
bens é transparente e correcta. Esta transparência obtém-se graças também ao
contributo profissional e competente dos leigos. É claro que a capacidade técnica e eficiente se deve conjugar com um forte sentido eclesial, porque está ao
serviço de uma comunidade da Igreja, e não de uma empresa privada.
Tudo isto exige, pois:
- contabilidade organizada, como pressuposto para uma gestão racional
e transparente;
- a responsabilidade de prestar contas de bens que não são nossos, mas
apenas confiados à nossa administração;
- partilha: a Igreja diocesana é um corpo para o qual todos contribuem.
Entre a Diocese, as paróquias e outras instituições eclesiais existe uma
circulação recíproca de vida, de serviços e de bens espirituais e materiais. É urgente uma educação de todos os fiéis católicos e das suas
comunidades para o sentido eclesial da partilha de bens.
Daqui deriva o empenho dos membros dos ditos Conselhos a viver, por
dentro, a vida da Igreja e a saber interpretá-la no âmbito de um território
preciso e de uma história particular da Igreja diocesana e das comunidades
paroquiais, sem perder de vista a comunhão com a Igreja universal.
É preciso sublinhar ainda que um bom funcionamento do Conselho não
pode depender exclusivamente dos mecanismos institucionais, mas exige por
parte de todos os membros uma consciência profunda de comunhão eclesial, um
estilo de comunicação fraterna e a convergência comum no projecto pastoral.
5. O Estatuto Económico do Clero
Deste Regulamento faz parte integrante o Estatuto Económico do Clero
(cfr capítulo VII). Visa assegurar a todos os sacerdotes, incluindo os idosos e
doentes, meios de vida suficientes para que eles, num verdadeiro espírito de
pobreza e desprendimento, se dediquem generosa e dedicadamente às tarefas
próprias do ministério pastoral que lhes foi confiado e tenham condições de
tranquilidade e assistência na doença e na velhice.
6. Implicações da nova Concordata
A nova Concordata entre Portugal e a Sé Apostólica (2004) apoia-se em
dois princípios que favorecem uma correcta relação entre a comunidade ecle26 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
sial e a comunidade política: independência e autonomia, cada uma no seu
próprio campo; e colaboração recíproca, ao serviço do homem e para o bem
comum do país.
O sistema concordatário agora criado introduziu alguns elementos novos
no regime fiscal que vão exigir dos sacerdotes, dos colaboradores na administração dos bens da Igreja e das comunidades uma mudança e mesmo uma
conversão de mentalidade e de actuação. Isto requer que se organize a contabilidade em novos moldes.
Importa enfrentar esta nova situação com confiança e responsabilidade,
como um desafio e uma oportunidade para uma maior e mais solidária comunhão nas nossas comunidades.
CAPÍTULO I
Normas Gerais
Artigo 1º
Instrumentos da missão da Igreja
A Igreja, para cumprir a sua missão salvífica através da evangelização e
catequese, da celebração dos sacramentos e da prática da caridade, serve-se
de Instituições, organismos e também de meios materiais.
Artigo 2º
Instituições canónicas
1. Entre as instituições fundamentais na vida da Igreja encontram-se a
Diocese e a Paróquia.
a) A Diocese, como porção do povo de Deus governada pelo Bispo, com a
colaboração do presbitério, é a Igreja particular, onde a Igreja Católica
una e única se encontra e actua (cfr cânones 368-369);
b) A Paróquia é uma comunidade de fiéis, constituída de modo estável na
Igreja particular, cujo cuidado pastoral, sob a autoridade do Bispo diocesano, é confiado a um pároco, como seu pastor próprio (cfr cân. 515).
2. Na Diocese de Leiria-Fátima há outras instituições canónicas públicas,
como o Seminário, o Santuário de Fátima, a Casa do Clero, escolas, centros
de assistência sócio - caritativa, associações e fundações, com objectivos específicos, que se regem por estatutos ou normas próprias, aprovados pelo
Bispo diocesano.
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Documentos
. decretos .
. decretos .
3. Há ainda instituições canónicas privadas que prosseguem fins específicos e se regem pelos respectivos estatutos, aprovados pelo Bispo diocesano.
Nos termos do direito (cfr cânones 264 e 1263) e deste Regulamento, são solicitadas também a dar um contributo para as necessidades e fins da Diocese.
Artigo 3º
Capacidade de possuir bens temporais
Todas as instituições canónicas, públicas ou privadas, em ordem à prossecução dos seus fins, têm capacidade de adquirir, conservar, administrar e alienar
bens temporais, nos termos do direito (cfr cân. 1255 e Concordata, art.º 9º e 10º).
Artigo 4º
Finalidade dos bens temporais
Os bens temporais pertencentes às instituições canónicas destinam-se
sempre àqueles fins para os quais é lícito à Igreja possui-los, ou seja, principalmente ao culto divino, à honesta sustentação do clero e de outros servidores, ao exercício das obras de apostolado e de caridade, especialmente em
favor dos necessitados (cfr cân. 1254 § 2).
Artigo 5º
Administração dos bens
1. Os bens pertencentes à Diocese e às instituições canónicas públicas,
como bens da Igreja que são, devem ser administrados de acordo com as leis
próprias, consignadas no Código de Direito Canónico (cfr cân. 1257 § 1) e
na lei civil aplicável.
2. A administração dos bens da Diocese é da responsabilidade do Bispo diocesano, coadjuvado pelo Ecónomo e pelo Conselho para os Assuntos Económicos.
3. A administração dos bens da Paróquia é da responsabilidade do Pároco,
coadjuvado pelo Conselho para os Assuntos Económicos (cfr cân. 537).
4. Os bens pertencentes às instituições canónicas públicas e privadas referidas no art. 2º §§ 2 e 3 são administrados pelos órgãos previstos nos respectivos estatutos.
Artigo 6º
Penalizações
As pessoas e instituições que não cumpram as normas preceituadas neste Regulamento estão sujeitas às penalizações administrativas nele previstas
(cfr capítulo VIII).
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. decretos .
Artigo 7º
Constituição e finalidade
1. Em ordem a garantir à Igreja diocesana os meios para ocorrer às suas
necessidades e obrigações, ajudar a Sé Apostólica e as Igrejas particulares
mais pobres ou ocasionalmente necessitadas (cfr cânones 1271 e 1274 § 3),
constitui-se o Fundo Económico Diocesano.
2. Nele se recolhe o rendimento de todos os bens móveis e imóveis que
pertencem à Diocese e as ofertas e outras receitas que não estejam afectas a
qualquer outra pessoa jurídica.
3. Este Fundo serve para exprimir e promover a unidade e partilha de bens
entre as diversas instituições, organismos e serviços da Igreja particular (cfr
cân. 1274 § 3).
Artigo 8º
Receitas
Constituem receitas do Fundo Económico Diocesano:
a) Os rendimentos dos bens móveis e imóveis que lhe estão afectos;
b) As receitas da Câmara Eclesiástica e de outros serviços diocesanos;
c) Os tributos e taxas em vigor na Diocese;
d) Quaisquer ofertas, donativos e doações recebidas dos fiéis com essa
finalidade;
e) Os subsídios e contributos de entidades públicas ou privadas;
f) O contributo anual do Santuário de Fátima, segundo os seus Estatutos;
g) As percentagens dos ofertórios destinadas aos serviços pastorais da
Diocese;
h) Outras receitas e ofertórios que expressamente lhe sejam destinados.
Artigo 9º
Receitas consignadas
As colectas especiais determinadas pela Sé Apostólica, a Conferência
Episcopal ou o Bispo diocesano, são consideradas receitas consignadas, pelo
que não se recolhem no Fundo Económico Diocesano.
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CAPÍTULO II
Do Fundo Económico Diocesano
. decretos .
Artigo 10º
Despesas
Constituem despesas do Fundo Económico Diocesano os encargos com:
a) A cúria, a administração diocesana, a casa episcopal e o pessoal ao
serviço das mesmas;
b) A formação, segurança e assistência social do clero e de outros agentes
de pastoral;
c) A organização e as actividades dos serviços diocesanos de pastoral;
d) A partilha de bens da Diocese no exercício da caridade e solidariedade
com outras Igrejas particulares;
e) Os subsídios destinados a suprir dificuldades orçamentais do Seminário
e de outras instituições diocesanas;
f) As iniciativas de carácter cultural, apostólico e pastoral, promovidas
pela Diocese;
g) O apoio económico para a construção e restauro de igrejas e outras
estruturas da Diocese;
h) Os contributos para a Sé Apostólica (cfr cân. 1271), a Conferência
Episcopal Portuguesa e o Pontifício Colégio Português, em Roma;
i) As contribuições e impostos fiscais.
Artigo 11°
Inventários
1. Todos os bens móveis e imóveis que constituem o património da Igreja
diocesana devem estar cuidadosamente inventariados, com indicação do seu
valor artístico, histórico e material (cfr cân. 1283 § 2).
2. Conserve-se um exemplar deste inventário no serviço diocesano de
administração e outro no respectivo serviço; num e noutro, anote-se qualquer
alteração que o património venha a sofrer (cfr cân. 1283 § 3).
Artigo 12°
Guarda e segurança
Os valores financeiros existentes devem ser guardados e aplicados de forma segura e rendosa, segundo normas e orientações concretas estabelecidas
pelo Bispo da Diocese, ouvido o Conselho diocesano para os Assuntos Económicos.
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Artigo 13°
Vigilância do Bispo
Em virtude da missão em que está investido e por força do direito universal, é dever do Bispo diocesano vigiar diligentemente sobre a administração
de todos os bens pertencentes às pessoas jurídicas canónicas que lhe estão
sujeitas (cfr cân. 1276 § 1).
Artigo 14º
Obrigação de prestar contas
1. Todos os administradores dos bens eclesiásticos, sujeitos ao poder de
governo do Bispo diocesano, têm obrigação de lhe prestar contas anualmente,
através do Ecónomo diocesano, para serem examinadas (cfr cân. 1287 § 1).
2. As associações privadas de fiéis com personalidade jurídica canónica
devem também prestar contas anualmente ao Bispo diocesano.
3. O Bispo diocesano informará anualmente os fiéis sobre o relatório de
contas (cfr cân. 1287 § 2).
Artigo 15°
Orçamento e contas dos serviços diocesanos
Em cada ano, os responsáveis dos departamentos, serviços, movimentos,
comissões e instituições diocesanos apresentarão ao Bispo diocesano o orçamento previsional para o exercício do novo ano, até 30 de Novembro, e o
relatório de contas do ano anterior, até 31 de Março.
Artigo 16°
Conselho para os Assuntos Económicos
1. Para o auxiliar no seu serviço de administrador, o Bispo diocesano nomeia
o Conselho para os Assuntos Económicos constituído pelo Ecónomo e por um
mínimo de três fiéis, notáveis pela integridade da sua vida, devendo haver entre
eles peritos em assuntos económicos e em direito civil (cfr cân. 492 § 1).
2. Os membros deste Conselho são nomeados por cinco anos, podendo ser
reconduzidos por iguais períodos, se isso for útil para a Igreja (cfr cân. 492 § 2).
3. Do Conselho para os Assuntos Económicos são excluídas as pessoas
consanguíneas ou afins do Bispo, até ao quarto grau (cfr cân. 492 § 3).
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CAPÍTULO III
Da Administração Diocesana
. decretos .
Artigo 17°
Funções
São funções do Conselho para os Assuntos Económicos:
a) Contribuir para uma correcta administração do Fundo Económico Diocesano e do Fundo Diocesano do Clero bem como de todo o património
que lhes está confiado;
b) Apreciar anualmente os orçamentos previsionais e os relatórios de contas (cfr cân. 493);
c) Dar parecer e conselho sobre os actos de administração que se considerem de maior importância;
d) Dar consentimento para os actos de administração extraordinária cujas
verbas excedam o limite determinado pela Conferência Episcopal (cfr
cân. 1277 e Apêndice a este Regulamento);
e) Apreciar pedidos de subsídios e ajuda económica de qualquer pessoa,
grupo ou instituição.
Artigo 18°
Frequência de reuniões
O Conselho para os Assuntos Económicos reunir-se-á duas vezes por ano
e sempre que o Bispo julgue necessário.
Artigo 19º
Nomeação do Ecónomo diocesano
1. Para administrar o Fundo Económico e o património da Diocese, o
Bispo diocesano, ouvido o Colégio de Consultores e o Conselho para os Assuntos Económicos, nomeia o Ecónomo diocesano nos termos do Direito (cfr
cân. 494 § 1).
2. A nomeação é por cinco anos, podendo ser reconduzido por outros
quinquénios.
3. Ao tomar posse do seu cargo, o Ecónomo deve fazer, perante o Bispo
ou o seu delegado, o juramento prescrito no cânone 1283 § 1 e observar tudo
o que está prescrito nos §§ 2 e 3 do mesmo cânone.
Artigo 20º
Competências
1. Compete ao Ecónomo, sob a autoridade e orientações do Bispo, proceder aos actos inerentes à administração diocesana (cfr cân. 494 § 3), nomeadamente:
32 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
a) Apresentar ao Conselho para os Assuntos Económicos, até ao final de
cada ano, o orçamento previsional para o ano seguinte (cfr cân. 494 §
4) e, no primeiro trimestre de cada ano, o relatório de contas referentes
ao exercício findo;
b) Redigir e manter actualizado o inventário exacto e discriminado de
todos os bens móveis e imóveis registados em nome da Diocese;
c) Ordenar devidamente e guardar no arquivo apropriado os documentos
e instrumentos que comprovem a propriedade e posse dos bens da Igreja diocesana e outros direitos sobre os mesmos;
d) Cuidar convenientemente da segurança e conservação de todos os bens
registados em nome da Diocese, tomando as medidas necessárias e válidas no foro civil (cân. 1284 § 2);
e) Cumprir e fazer cumprir a vontade dos doadores (cân. 1284 § 2);
f) Receber oportunamente as rendas e os produtos dos bens e aplicá-los
segundo as normas estabelecidas;
g) Pagar os salários devidos, bem como contribuições e impostos;
h) Rentabilizar de forma segura o dinheiro que sobrar das despesas;
i) Ter em boa ordem os livros da administração, nomeadamente o diário
de receita e despesa e das doações e legados pios;
j) Administrar o Fundo Diocesano do Clero.
2. Compete-lhe ainda promover boas práticas de administração em toda
a Diocese e gerir a relação com os organismos civis no que à administração
de bens diz respeito.
3. O Bispo pode também confiar-lhe a vigilância sobre a administração
dos bens pertencentes às pessoas canónicas públicas que estejam sujeitas ao
seu governo e a administração dos bens das pessoas canónicas públicas que
não tenham administrador próprio (cfr cân. 1278).
CAPÍTULO IV
Do Fundo Económico Paroquial
Artigo 21º
Constituição e finalidade
1. Como expressão de unidade, comunhão e partilha entre os diferentes
organismos da comunidade paroquial, constitua-se o Fundo Económico Paroquial com as ofertas dos fiéis e o rendimento de todos os bens móveis e
imóveis que pertencem à Paróquia (cfr cân. 531).
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Documentos
. decretos .
. decretos .
2. Este Fundo destina-se a garantir os recursos económicos de que a Paróquia carece, para poder realizar convenientemente a sua missão pastoral.
3. Os bens afectos às diversas igrejas, incluindo a matriz, são propriedade
da Paróquia, embora a sua gestão possa ser assegurada por uma comissão
própria, para os fins da respectiva comunidade cristã.
Artigo 22º
Receitas
Constituem receitas do Fundo Económico Paroquial, designadamente:
a) O contributo paroquial anual das famílias, tradicionalmente denominado côngrua (ou pensão) e folar, e outros donativos ao clero paroquial,
pelo exercício do seu ministério;
b) As compensações de processos e serviços de cartório paroquial, conforme as normas em vigor;
c) O contributo previsto no artigo 50º § 2, estabelecido para as outras
igrejas da Paróquia;
d) Os saldos das festas religiosas de âmbito paroquial;
e) Os ofertórios das missas destinados à Paróquia;
f) As ofertas depositadas nas caixas da igreja paroquial ou entregues parti­
cularmente, desde que não exista indicação em contrário;
g) Os donativos entregues por ocasião da celebração dos sacramentos e
sacramentais, a não ser que conste da vontade contrária dos oferentes,
mas só no tocante às ofertas voluntárias (cfr cân. 531);
h) Os rendimentos dos bens móveis e imóveis que lhe estão afectos;
i) O produto de heranças, legados, doações e alienações;
j) Os resultados económicos de actividades permitidas pela Paróquia, desde que se não destinem a um fim especifico;
k) O contributo de pessoas e os subsídios de entidades públicas ou particulares.
Artigo 23º
Despesas
1.Constituem despesas do Fundo Económico Paroquial os encargos com:
a) O culto divino, a evangelização e a catequese;
b) As obras de espiritualidade e de apostolado;
c) O exercício da caridade, especialmente em favor dos necessitados;
d) A remuneração do clero e de outros servidores da comunidade paroquial;
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e) A manutenção da igreja ou igrejas e os outros imóveis paroquiais;
f) O funcionamento do cartório;
g) O contributo para o Fundo Diocesano do Clero e para outras instituições diocesanas;
h) A ajuda a serviços e organismos diocesanos ou vicariais;
i) O apoio a comunidades cristãs mais necessitadas;
j) Os contributos estabelecidos pelo Bispo diocesano ou pela Província
eclesiástica;
k) O pagamento de impostos previstos pela lei civil.
l) O pagamento das despesas de deslocação, de acordo com as tabelas
diocesanas em vigor.
2. O Fundo Económico Paroquial pagará 4/5 do vencimento (incluindo a
percentagem para a Segurança Social) da empregada doméstica do Pároco, dado
que também ela está ao serviço da comunidade paroquial, ou atribuirá ao Pároco
um suplemento correspondente. O vencimento mensal a conceder à empregada
doméstica a tempo inteiro é o que a Lei Laboral Portuguesa determinar.
Artigo 24º
Receitas e despesas extraordinárias
As receitas e despesas extraordinárias, devidamente autorizadas, com
destino à construção ou grande reparação de igrejas ou outros imóveis, constarão em item próprio no relatório de contas.
Artigo 25º
Receitas consignadas
Não se inscrevem na receita do Fundo Económico Paroquial:
a) As colectas determinadas pela Sé Apostólica, a Conferência Episcopal
e o Bispo Diocesano, que devem ser entregues no prazo de um mês na
Administração Diocesana.
b) Outras receitas consignadas, das quais, no entanto, se deve dar conhecimento e justificação ao Bispo diocesano;
c) O estipêndio da Missa, nos termos admitidos pelo direito, e as outras
ofertas ao Pároco expressa e claramente a título pessoal.
Artigo 26º
Titular dos bens
1. A Fábrica da Igreja Paroquial é titular de todos os bens da Paróquia,
incluindo os que estão afectos às outras igrejas, diferentes da matriz.
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Documentos
. decretos .
. decretos .
2. Os valores financeiros do Fundo Paroquial, colocados em depósito bancário, deverão figurar em nome da Fábrica da Igreja Paroquial, processandose a sua movimentação com duas assinaturas, sendo sempre obrigatória a do
Pároco.
3. No caso dos bens afectos a outras igrejas diferentes da matriz, os valores são colocados segundo o que se determina no capítulo VI.
CAPÍTULO V
Do Conselho para os
Assuntos Económicos da Paróquia
Artigo 27°
Finalidade e sentido pastoral
1. Para o auxiliar na administração dos bens materiais da Paróquia, o Pároco constitua o Conselho para os Assuntos Económicos, que se regerá pelas normas do direito e as disposições deste Regulamento (cfr cânones 537 e 1280).
2. Dada a finalidade pastoral dos bens da Igreja, como acima se refere (cfr
art. 4º), o Conselho para os Assuntos Económicos é sempre representado, ao
menos por um dos seus membros, no Conselho Pastoral Paroquial.
Artigo 28°
Funções
São funções do Conselho para os Assuntos Económicos:
a) Administrar os bens patrimoniais móveis e imóveis da Paróquia;
b) Administrar o Fundo Paroquial, conforme o que sobre ele é estabelecido neste Regulamento (cfr capítulo IV);
c) Custear a promoção de obras apostólicas, a nível paroquial, e contribuir
também para as que se realizam na vigararia;
d) Promover a assistência aos pobres e as obras sócio-caritativas;
e) Promover a construção, conservação e restauro da igreja matriz e apoiar
as outras igrejas necessárias à vida das comunidades cristãs;
f) Promover a construção, conservação e restauração de imóveis necessários à vida pastoral, como sejam o centro pastoral, a residência paroquial e outros centros de formação cristã;
g) Contribuir para a Diocese, segundo o que for estabelecido (cfr art. 75º);
h) Promover a partilha de bens com outras comunidades mais carenciadas.
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Artigo 29º
Constituição e nomeação
1. O Conselho para os Assuntos Económicos é constituído pelo Pároco,
que é, por direito, o seu presidente (cfr. cânones 1279 § 1 e 532), o Vigário
ou os Vigários paroquiais, um secretário, um tesoureiro e alguns vogais, de
modo, porém, que a totalidade dos membros constitua um número ímpar.
2. Compete ao Pároco, depois de consultada a comunidade paroquial,
propor ao Bispo da Diocese, para nomeação, os membros do dito Conselho,
indicando nome, estado, profissão, idade e morada.
3. No caso de haver na Paróquia, além da igreja matriz, outras igrejas
com administração própria, cada uma delas deve estar representada por uma
pessoa no Conselho para os Assuntos Económicos (cfr art. 46 § 5)
4. Só podem ser propostos e admitidos homens e mulheres de maior idade, que dêem testemunho de vida cristã e revelem aptidão e conhecimentos
indispensáveis para colaborarem na administração dos bens da Paróquia.
5. Com o fim de evitar suspeitas de falta de isenção, não podem ser propostos e admitidos consanguíneos ou afins do Pároco até ao quarto grau.
6. O Vigário paroquial pode presidir ao Conselho para os Assuntos Económicos, no caso de o Pároco estar impossibilitado ou se para tal tiver sido
designado por este ou pelo Bispo diocesano.
7. No caso em que se justifique, o Pároco poderá nomear, de entre os membros do Conselho, um vice-presidente e atribuir-lhe as funções e competências.
Artigo 30º
Investidura
1. Os membros do Conselho para os Assuntos Económicos, depois de
nomeados, serão investidos publicamente, e lavra-se a respectiva acta.
2. No acto de investidura, comprometem-se, com juramento perante o
Bispo diocesano ou seu delegado, a desempenhar bem e fielmente as suas
funções (cfr cân. 1283 § 1).
3. Aquando da investidura, ser-lhes-á transmitido o inventário dos bens da
Paróquia, a fim de ser feita a conferência dos mesmos e lavrado o respectivo
termo.
Artigo 31°
Competências
1. São competências do Conselho para os Assuntos Económicos, designadamente as seguintes (cfr cânones 1284, 1286 e 1287):
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Documentos
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. decretos .
a) Cuidar da segurança e conservação de todos os bens móveis e imóveis
da Paróquia, tomando para isso as medidas julgadas necessárias e observando, nomeadamente, as formalidades das leis civis aconselháveis
para cada caso;
b) Cumprir e fazer cumprir as vontades dos fundadores e doadores, evitando que a inobservância das leis canónicas e civis seja onerosa para
a Igreja;
c) Receber oportunamente os rendimentos e o produto dos bens e aplicálos segundo as normas legitimamente estabelecidas;
d) Adquirir ou alienar bens, segundo a legislação canónica e civil em vigor (cfr art. 36°);
e) Promover a remuneração do clero e de outros servidores da Paróquia;
f) Ter em boa ordem os livros da administração, nomeadamente os do
inventário, do diário de receita e despesa, das fundações e legados pios,
bem como os documentos comprovativos dos direitos da Paróquia sobre os seus bens;
g) Elaborar, no fim de cada ano, o relatório da administração;
h) Sujeitar o relatório de contas à aprovação do Bispo diocesano, até 31
de Março do ano seguinte àquele a que respeitam;
i) Elaborar, até 30 de Novembro de cada ano, o orçamento previsional
da Paróquia em ordem a execução do programa pastoral para o ano
seguinte;
j) Dar anualmente conhecimento à comunidade do relatório de contas da
administração (cfr alínea h e cân. 1287 § 2).
Artigo 32°
Competências do Presidente
Ao Presidente compete:
a) Superintender na administração da Paróquia, orientando e acompanhando os respectivos serviços e actividades, e procurando que tudo
sirva às finalidades próprias da comunidade paroquial;
b) Elaborar a agenda, convocar e presidir as reuniões do Conselho;
c) Representar a Paróquia em juízo e fora dele (cfr cân. 532);
d) Assinar e rubricar os termos de abertura e encerramento dos livros de
actas e de contas;
e) Enviar à Cúria diocesana os originais ou fotocópias autenticadas das
escrituras, dos acordos e dos testamentos, bem como de outros documentos comprovativos dos direitos da Paróquia;
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Artigo 33°
Competências do Secretário
Ao Secretário compete:
a) Colaborar com o presidente na preparação das reuniões;
b) Coadjuvar o presidente na elaboração dos dossiers em estudo;
c) Lavrar e arquivar as actas das reuniões;
d) Arquivar todos os documentos que ao Conselho digam respeito.
Artigo 34°
Competências do Tesoureiro
Ao Tesoureiro compete:
a) Receber, guardar e aplicar os dinheiros da Paróquia de acordo com o
que for decidido pelo Conselho;
b) Promover a escrituração de todos os livros de receita e despesa e arquivar os respectivos documentos;
c) Assinar, juntamente com o presidente, as autorizações de pagamento e
as guias de receita;
d) Apresentar, periodicamente, ao Conselho o balancete das receitas e
despesas;
e) Proceder aos pagamentos autorizados.
Artigo 35°
Competência do Vice-presidente e dos Vogais
1. O Vice-presidente terá as competências que lhe forem atribuídas pelo
Presidente.
2. Aos Vogais compete realizar as tarefas que lhes forem confiadas pelo
Conselho.
Artigo 36°
Administração ordinária e extraordinária
1. Sem licença especial da competente autoridade eclesiástica, não pode
o Pároco, por si ou com o Conselho para os Assuntos Económicos, praticar
validamente, e sob pena de responder pelos danos, actos administrativos que
excedam os limites e os modos de administração ordinária (cfr cân. 1281 § 1).
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Documentos
f) Cuidar da escrituração, disposição e conservação dos livros de registo
paroquial, bem como de outros documentos pertencentes ao arquivo da
Paróquia.
. decretos .
2. Excede a administração ordinária a prática dos seguintes actos:
a) Alienar bens móveis e imóveis que podem conservar-se e que pertencem ao património estável da Paróquia, quando excederem os valores
da administração ordinária estabelecidos pela Conferência Episcopal
Portuguesa (cfr cân. 1291 e Apêndice a este Regulamento);
b) Alienar bens móveis e imóveis, de reconhecido valor artístico ou histórico, bem como objectos de culto, imagens ou relíquias;
c) Penhorar ou hipotecar os bens da Paróquia;
d) Dar ou tomar bens de arrendamento, nos termos definidos pela Conferência Episcopal (cfr cân. 1297);
e) Contrair empréstimos, com ou sem garantia hipotecária, acima do valor
estabelecido para as diversas pessoas canónicas públicas;
f) Aceitar ofertas ou doações feitas à Paróquia, se oneradas com quaisquer
encargos modais ou condições (cfr cân. 1267 § 2);
g) Aceitar ou recusar vontades pias, particularmente quando assumam a
forma de fundação pia, autónoma ou não autónoma (cfr cânones 1301
e 1304);
h) Edificar, modificar ou restaurar igrejas, residências paroquiais, centros
pastorais ou outros prédios urbanos, bem como negociar a aquisição de
terrenos destinados à construção dos referidos imóveis (cfr cân. 1215 §
1), a não ser que, no caso de restauro, se trate de obras de pequeno vulto
cuja necessidade se julgue imediata;
i) Restaurar bens móveis de reconhecido valor artístico ou histórico bem
como imagens e objectos de culto;
j) Propor ou contestar, em nome da paróquia, qualquer acção no foro civil
relativa à administração dos bens paroquiais (cfr cân. 1288);
l) Celebrar contratos de compra e venda que exijam, por força da lei civil,
escritura pública;
m) Outros actos que o direito declare ou venha a declarar não poderem
praticar-se sem licença.
Artigo 37º
Negócios com familiares
Não é permitido aos membros do Conselho vender, alugar ou dar de arrendamento aos parentes, até ao quarto grau de consanguinidade ou afinidade, quaisquer bens eclesiásticos por ele administrados (cfr cân. 1298), sem
licença do Bispo diocesano, dada por escrito.
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Artigo 38°
Procedimentos para licenças
1. Para obter do Bispo diocesano autorização para alienar bens cujo valor
exceda a administração ordinária, requer-se que:
a) Exista uma causa justa, como é uma necessidade urgente, uma utilidade
evidente, uma razão de piedade ou de caridade ou outra razão pastoral
grave (cfr cân. 1293);
b) Seja feita uma avaliação por dois peritos competentes e dada por escrito;
c) Os bens em causa não venham a ser alienados por valor inferior ao
indicado pelos peritos;
d) Se apresente uma cópia da acta do Conselho para os Assuntos Económicos, com o respectivo parecer.
2. Sempre que seja necessário proceder a obras que não sejam pequenas
reparações, o Conselho cumprirá as normas diocesanas sobre o património,
seguindo as instruções do Departamento do Património Cultural.
3. Para a restauração de bens imóveis referidos no art. 36º §2 i) observarse-á um procedimento idêntico ao definido no número anterior.
Artigo 39º
Funcionamento do Conselho
1. O Conselho reúne-se uma vez por mês e sempre que o seu presidente o
julgar necessário ou a maioria dos membros o solicitar.
2. Antes do início do novo ano pastoral, o Conselho para os Assuntos Económicos deve reunir-se com o Conselho Pastoral Paroquial, a fim de se informar das actividades pastorais previstas para o novo ano, dar conhecimento
das disponibilidades económicas e tentar suprir eventuais carências de meios.
3. O Pároco deve ouvir o Conselho para os Assuntos Económicos em todas as questões de administração, a não ser que se trate de despesas correntes.
4. O Pároco deve seguir o parecer Conselho, a não ser que haja graves
razões para decidir de modo diferente. Neste caso, justificará a sua decisão.
5. O Conselho não deve imiscuir-se no que respeita ao serviço espiritual
e pastoral, nomeadamente à organização e exercício do culto divino, à celebração dos sacramentos, ao preenchimento e guarda dos livros de registo
paroquial e à designação dos servidores da Igreja.
Artigo 40º
Mandato e renovação
1. O mandato do Conselho é de três anos, renovável, para a totalidade
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Documentos
. decretos .
. decretos .
ou parte dos membros do Conselho, por mais dois triénios; só pode exceder
este prazo quando se verificarem razões graves para a sua permanência neste
serviço mediante o acordo do Bispo diocesano.
2. A renovação do Conselho deve ser feita antes do início do novo ano
civil.
3. Por transferência ou morte do Pároco, o Conselho continuará a assegurar a administração corrente sob a orientação do Vigário da Vigararia ou de
outra pessoa designada pelo Bispo Diocesano; o Vice-presidente ou o Tesoureiro desempenhará as funções de coordenador.
4. O Conselho cessa funções com a investidura do novo Pároco, a não ser
que este decida prolongar-lhe o mandato.
Artigo 41º
Demissão
1. Cada membro do Conselho pode apresentar ao Pároco a sua demissão,
antes do final do mandato. Nesse caso e para completar o tempo, será substituído por outra pessoa.
2. Por razões graves, devidamente fundamentadas, o Bispo diocesano
pode remover todos ou alguns membros do Conselho, depois de ouvir as
partes implicadas.
Artigo 42º
Transferência do pároco
Quando o Pároco for transferido:
1. Antes de deixar a Paróquia, providenciará no sentido de as contas estarem regularizadas e aprovadas pelo Bispo diocesano;
2. Transmitirá ao seu sucessor, na presença do Conselho para os Assuntos Económicos, o inventário exacto e discriminado dos bens móveis e
imóveis da Paróquia, bem como os outros elementos referentes à administração dos mesmos, designadamente, os livros de contabilidade (cfr
cân. 1283 § 2). De tudo isto se lavrará a respectiva acta.
Artigo 43º
Aplicação à quase-paróquia
Tudo o que neste Regulamento se diz do Pároco e da Paróquia deve entender-se como referido também à quase-paróquia – ou equivalente - e ao seu
responsável pastoral (cfr cân. 516 § 1).
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CAPÍTULO VI
Das outras igrejas da Paróquia e suas comissões
Artigo 45º
As várias igrejas e sua administração
1. As igrejas distintas da matriz existentes na Paróquia, frequentemente
designadas por capelas, sobretudo as que têm celebração dominical, desempenham um lugar importante na vida da comunidade paroquial, sob a orientação do Pároco e do Conselho Pastoral Paroquial.
2. Estas igrejas devem ter uma Comissão própria, que cuidará da conservação e da administração dos bens que lhes estão afectos, respeitando as
orientações para a administração paroquial definidas pelo Conselho para os
Assuntos Económicos.
3. Embora os bens móveis e imóveis destas igrejas se destinem primariamente ao seu serviço, a entidade que legalmente as representa é a Fábrica da
Igreja Paroquial, acrescentando-se a designação da igreja respectiva.
4. As igrejas dependentes de confrarias ou irmandades regem-se por estatutos próprios, aprovados pelo Bispo diocesano.
Artigo 46º
Nomeação das Comissões administrativas
1. Compete ao Pároco, depois de ouvida a comunidade, nomear as Comissões administrativas das outras igrejas da paróquia e presidir às mesmas. Tais
Comissões deverão ser confirmadas pelo Bispo diocesano e ser investidas em
acto público.
2. Em princípio estas Comissões devem ser distintas das comissões de festas.
3. Para estas Comissões devem ser escolhidas pessoas que satisfaçam os
requisitos definidos para os membros do Conselho para os Assuntos Económicos (cfr art. 29º).
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Artigo 44º
Paróquias confiadas a religiosos
As Paróquias ou equivalentes entregues a um Instituto Religioso ou a uma
Sociedade de Vida Apostólica estão igualmente sujeitas a este Regulamento,
em tudo quanto se não opuser à convenção celebrada para o efeito entre o
Bispo diocesano e o Superior respectivo (cfr cân. 681 § 2).
. decretos .
4. Os membros destas Comissões exercem o seu mandato durante três
anos, em ligação com o Conselho para os Assuntos Económicos, podendo ser
reconduzidas nas condições indicadas para este.
5. Cada Comissão designará um dos seus membros para fazer parte do
Conselho para os Assuntos Económicos (cfr art. 29º § 3).
Artigo 47º
Funcionamento
1. A Comissão reunir-se-á com a regularidade julgada necessária e terá o
seu livro de contas, onde registará as receitas e despesas.
2. A Comissão prestará, anualmente, contas documentadas ao Conselho
para os Assuntos Económicos e, através deste, ao Bispo diocesano; dá-las-á a
conhecer também à comunidade local.
Artigo 48º
Receitas
Constituem receitas das outras igrejas da paróquia, nomeadamente:
a) Os ofertórios habituais nas missas;
b) As ofertas depositadas nas caixas, desde que não haja indicação em
contrário;
c) Os rendimentos dos bens móveis e imóveis que lhe estão afectos;
d) Os saldos das festividades religiosas realizadas nessas igrejas;
e) Os resultados económicos de outras actividades da comunidade, desde
que se não destinem a um fim especifico;
g) O contributo de pessoas e os subsídios de entidades públicas ou particulares.
Artigo 49º
Despesas
Constituem despesas das outras igrejas da Paróquia os encargos com:
a) A construção e manutenção da igreja e outros imóveis que lhe estão
afectos;
b) A promoção de actividades apostólicas na respectiva comunidade;
c) O contributo para o Fundo Económico Paroquial conforme o estabelecido (cfr art. 50º);
d) As taxas devidas à Diocese, aquando da prestação de contas;
e) Os donativos a serviços, organismos e comunidades mais necessitadas.
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Artigo 50º
Comunhão com a Paróquia e a Igreja
1. A comunidade de cada centro de culto deve manifestar a sua comunhão
e solidariedade na Paróquia, não só através da participação nas suas diversas
actividades apostólicas, mas também através do seu contributo para os encargos económicos da mesma.
2. O contributo de cada igreja distinta da matriz para o Fundo Paroquial
é determinado por uma percentagem entre 2% a 5% sobre as suas receitas
ordinárias, a definir pelo Conselho para os Assuntos Económicos, a não ser
que outra coisa seja estabelecida pelo Bispo diocesano.
3. Tal como na igreja matriz também nas outras igrejas da Paróquia onde
há celebração dominical, devem fazer-se os peditórios especiais estabelecidos pela Sé Apostólica, a Conferência Episcopal e o Bispo diocesano, entregando-se o seu resultado ao Conselho para os Assuntos Económicos, que o
enviará à Administração Diocesana, no prazo de um mês.
Artigo 51º
Titular da conta bancária
1. O dinheiro de cada igreja diferente da matriz deve ser depositado num banco
pela Comissão, figurando os depósitos em nome da Fábrica da Igreja Paroquial,
mas acrescentando-se à titularidade das contas a designação da igreja respectiva.
2. Tais contas serão movimentadas com a assinatura do Pároco e de um
dos membros da dita Comissão.
3. Em todos os actos administrativos, a Comissão deve orientar-se pelas
normas do presente Regulamento.
CAPÍTULO VII
Do Estatuto Económico do Clero
Título I
Fins e destinatários
Artigo 52º
Finalidade e meios
1. O Estatuto Económico do Clero da Diocese de Leiria-Fátima, definido
pelos artigos adiante enumerados, visa garantir meios dignos de subsistência
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. decretos .
. decretos .
aos sacerdotes e diáconos, para que estes possam dedicar-se com total disponibilidade ao serviço pastoral.
2. Esta finalidade será concretizada mediante a comparticipação e a partilha de bens, de pessoas e instituições, previstas neste Regulamento, e a integração no regime da Segurança Social vigente.
Artigo 53°
Destinatários
Os direitos e deveres correspondentes ao Estatuto Económico do Clero
respeitam:
a) A todos os sacerdotes incardinados na Diocese de Leiria-Fátima e que
prestam serviço a favor da mesma ou que, se o prestam a favor de outras
entidades, eclesiásticas ou civis, tenham recebido do Bispo diocesano a
necessária autorização;
b) Aos sacerdotes que, mesmo não pertencendo ao clero da Diocese, estejam ao serviço da mesma, com nomeação canónica, sem prejuízo do
que se dispõe no artigo 67° § 5.
c) Aos diáconos não permanentes que se entreguem plenamente ao ministério eclesiástico (cfr cân. 281). Os diáconos permanentes terão estatuto
próprio.
Artigo 54º
Clero paroquial e não paroquial
Dadas as situações diferentes e suas implicações, neste Estatuto faz-se
a distinção entre o clero paroquial e o não paroquial, com a seguinte abrangência:
a) Na designação de clero paroquial consideram-se incluídos os párocos e
os vigários paroquiais ou equiparados.
b) Os outros sacerdotes estão incluídos na designação de clero não paroquial.
Artigo 55º
Clero dos institutos de vida consagrada
No caso de sacerdotes e diáconos de institutos de vida consagrada, ou
equivalentes, a aplicação deste Estatuto atenderá às cláusulas expressas na
convenção estabelecida, em cada caso, entre o Bispo diocesano e o Superior
do respectivo Instituto (cfr cân. 681).
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. decretos .
Artigo 56°
Critérios para a remuneração
1. A quantia fixada para a remuneração mensal dos sacerdotes obedece
aos seguintes critérios:
a) É, como regra, a mesma para todos, considerando a igual dignidade
de que se encontram revestidos, membros por título igual do mesmo e
único presbitério diocesano, sem prejuízo do disposto nos artigos 59º,
60° e 62° (cfr PO 20);
b) Garante-lhes a honesta sustentação a que têm direito (cfr cân. 281 § 1);
c) Corresponde à moderação, desprendimento e simplicidade de vida de
que devem dar exemplo (cfr cân. 282 § 1);
2. Obedecendo a estes critérios, a remuneração tem o valor pedagógico de
levar os fiéis a compreenderem que o dinheiro recebido pelos sacerdotes é em
razão da sua condigna subsistência e disponibilidade pastoral e não simplesmente pelos serviços prestados.
Artigo 57°
Critério para a actualização
1. Em circunstâncias normais, a remuneração do Clero terá como referência, na sua actualização, os critérios seguidos na sociedade civil.
2. Em circunstâncias extraordinárias, para determinar a actualização da
remuneração, o Bispo ouvirá o Conselho Presbiteral, o Conselho Diocesano
para os Assuntos Económicos e o Colégio de Consultores.
Artigo 58º
Responsáveis pela remuneração
1. Os sacerdotes são remunerados pelas paróquias, instituições ou serviços em que exercem o ministério.
2. Se as possibilidades económicas da entidade em que o sacerdote exerce o ministério não lhe garantirem a sua remuneração na íntegra, mesmo
incluída qualquer outra receita que lhe advenha de eventual acumulação de
funções, o que faltar para o total é concedido, a título supletivo, pelo Fundo
Diocesano do Clero.
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Documentos
Título II
Direitos e deveres económicos
. decretos .
Artigo 59°
Acumulação de funções e suplementos
1. A acumulação de funções não dá direito à acumulação de remunerações. Ao nomear um sacerdote para um serviço em acumulação, o Bispo diocesano determinará por qual será remunerado ou o que competirá a cada um.
2. Se o sacerdote tiver a seu cargo mais do que uma Paróquia ou outro
serviço pastoral, poderá atribuir-se-lhe um suplemento a concretizar em cada
caso, considerando os particulares ónus ou dificuldades em causa.
3. No caso de haver trabalhos ordinários ou extraordinários que impliquem
deslocações relevantes, o sacerdote poderá apresentar despesas de deslocação
à entidade ou serviço de que depende, segundo o critério em uso na Diocese.
Artigo 60º
Motivos para suplemento
1. Além do motivo indicado no artigo anterior, em casos de necessidade, a
remuneração pode ser acrescida de um suplemento, a determinar caso a caso,
quando o aconselharem circunstâncias particulares.
2. Tais circunstâncias podem ser:
a) De ordem pessoal ou familiar;
b) Formação por iniciativa própria para valorização pessoal.
Artigo 61º
Responsáveis pelos suplementos e sua aprovação
1. Os suplementos previstos nos artigos 59º e 60º são da responsabilidade
da entidade (ou entidades) ao serviço da qual (das quais) o sacerdote se encontra, e devem ser concedidos e actualizados segundo os critérios definidos
para a remuneração (cfr. arts. 56º e 57º).
2. A fixação de qualquer suplemento carece da aprovação da autoridade
competente, mediante proposta do próprio sacerdote, suportada pelo parecer
dos administradores da instituição ou serviço.
Artigo 62º
Estipêndios de missa
1. De harmonia com o Direito, “é lícito a qualquer sacerdote, que celebre
ou concelebre a Missa, receber o estipêndio oferecido para que a aplique por
determinada intenção” (cân. 945 § 1)
2. Pertencem-lhe também quaisquer outras ofertas voluntárias, se constar clara
e expressamente que lhe são entregues a título pessoal (cfr cânones 531 e 1267 § 1).
48 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
Artigo 63º
Residência
1. Os sacerdotes têm direito a residência, que é garantida:
a) Ao clero paroquial, pelas respectivas paróquias ou equivalentes (cfr
cân. 533 § 1);
b) Ao clero não paroquial, pela Diocese, no caso de os sacerdotes exercerem cargos da mesma, ou pelas instituições ou serviços para que foram
designados mediante nomeação canónica.
2. O encargo da residência inclui a casa, convenientemente mobilada e
em bom estado de conservação, mas não as despesas da alimentação e outras
decorrentes do facto de nela se habitar, tais como as do consumo de água e
electricidade.
3. O telefone, o fax, o telemóvel e a internet são instrumentos necessários
às actividades pastorais, pelo que compete às entidades referidas assumir as
despesas com os mesmos, responsabilizando-se o sacerdote pelas que se referem ao uso estritamente pessoal.
4. Quando qualquer das entidades a que se refere o § 1 não puder proporcionar residência ao sacerdote que nela exerce o ministério, atribuir-se-lhe-á
um subsídio além da remuneração, a determinar segundo as circunstâncias.
Artigo 64º
Férias e tempo sabático
1. Por motivo de férias, em cada ano, é lícito aos sacerdotes ausentar-se
do serviço no máximo por um mês inteiro, contínuo ou descontínuo. Os párocos ou equiparados, porém, para que possam ausentar-se por mais de uma
semana, devem dar conhecimento do facto ao Bispo diocesano (cfr cân. 533
§ 2).
2. Para assegurar a todos um tempo de férias, nas vigararias e serviços, os
sacerdotes combinarão entre si formas de entre ajuda, de modo a manteremse os serviços essenciais.
3. Como tempo de férias não se contam os dias reservados anualmente
ao retiro espiritual (cfr cân. 533 § 2) ou aos cursos promovidos pela Diocese
para o clero.
4. Quando o sacerdote for autorizado a usufruir de um tempo sabático, se
a sua remuneração não for assegurada por outro meio, a mesma será assegurada pelo Fundo Diocesano do Clero.
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Documentos
. decretos .
. decretos .
Artigo 65°
Assistência social
1. A assistência social aos sacerdotes implica que se proveja convenientemente às suas necessidades na velhice e na invalidez (cfr cân. 281 § 1).
2. Tal assistência é assegurada prioritariamente pela Segurança Social do
Estado, por seguros próprios e, subsidiariamente, pela Diocese.
Artigo 66°
Apoio da Casa do Clero
Independentemente de outros direitos, os sacerdotes que sofrem de doença, velhice ou invalidez beneficiarão dos apoios da Casa Diocesana do Clero,
nos termos dos respectivos Estatutos.
Artigo 67º
Reforma e Pensão
1. A reforma dos sacerdotes por motivo de velhice ou invalidez dá-lhes
direito a uma pensão igual à remuneração que lhes competiria, se ligados ao
serviço pastoral activo, mas não aos suplementos, compensações ou subsídios de que então beneficiavam, excepto se se mantiverem os motivos que os
justificavam, a estudar caso a caso.
2. A reforma é assegurada, cumulativamente:
a) Pela Segurança Social ou outra;
b) Pelo subsídio que eventualmente lhes possam atribuir as paróquias,
instituições ou serviços de que estejam encarregados no momento em
que, por motivo de velhice ou invalidez, se reformarem;
c) Por um subsídio do Fundo Diocesano do Clero, se for necessário para
se perfazer a totalidade da remuneração a que tinham direito pelo exercício do ministério.
3. O que for atribuído como complemento de reforma aos sacerdotes residentes na Casa Diocesana do Clero, no caso de grande dependência, será
entregue directamente à instituição
4. Para efeito dos subsídios previstos nas alíneas b) e c) do § 2, a idade
requerida é de setenta e cinco anos (cfr cân. 538 § 3), se outra, por justa causa,
não for considerada.
5. Quando se trata de sacerdotes não incardinados em Leiria-Fátima, que
exercem nela o ministério pastoral, com nomeação canónica, o disposto na alínea c) do § 2 só é aplicável em relação àqueles que, ao atingirem a reforma, se
encontrem ao serviço da Diocese, pelo menos há vinte anos, salvo se circuns50 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. decretos .
Artigo 68°
Renúncia a direitos
1. A afirmação dos diversos direitos que no presente Regulamento se
mencionam não prejudica a possibilidade de renunciar, no todo ou em parte,
a qualquer deles.
2. Se mudarem as circunstâncias em que se haja exercido o direito de
renúncia, poderá esta, com a aprovação do Bispo da Diocese, dar-se como
finda, sem direito a retroactividade de benefícios.
Artigo 69º
Deveres dos sacerdotes
São deveres dos sacerdotes:
1. Cuidar com zelo dos bens a que por ofício estão investidos;
2. Promover e praticar a partilha de bens, segundo o espírito deste Regulamento;
3. Contribuir para o Fundo Diocesano do Clero, segundo o estabelecido
no presente Regulamento.
Artigo 70º
Contributos anuais e outros
1. Os sacerdotes devem contribuir para o Fundo Diocesano do Clero da
seguinte forma:
a) Anualmente, com o valor de 3% sobre a toda a remuneração ou remunerações e suplementos recebidos;
b) Com donativos voluntários, por ocasião da actualização do bilhete de
identidade sacerdotal ou noutras circunstâncias.
3. Os sacerdotes que recebam remuneração ou gratificação pelos serviços
que prestam a título habitual ou eventual, mesmo civis, devem entregar, para
o Fundo Diocesano do Clero, pelo menos 50% do que exceder a remuneração
fixada a nível diocesano.
4. Os sacerdotes reformados, com nomeação canónica para um ou mais
serviços, recebem a remuneração por inteiro e a reforma, devendo entregar,
para o Fundo Diocesano do Clero, pelo menos 50% do que exceder a remuneração fixada a nível diocesano.
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Documentos
tâncias particulares excepcionalmente aconselharem a considerar um período
mais reduzido. Em caso afirmativo, decidir-se-á o montante a atribuir pelo Fundo Diocesano do Clero, na proporção dos anos de serviço prestado à Diocese.
. decretos .
5. São dispensados do contributo mencionado na alínea a) do § 1 os sacerdotes que dos excedentes entregam para o Fundo Diocesano do Clero quantia
superior ao mesmo.
Título III
Fundo Diocesano do Clero
Artigo 71º
Finalidade e administração
1. O Fundo Diocesano do Clero tem como finalidade prover à condigna
sustentação dos sacerdotes e diáconos (cfr cân. 1274 § 1).
2. Compete ao Ecónomo diocesano a administração deste Fundo.
Artigo 72°
Atribuições
O Fundo Diocesano do Clero cumpre a sua finalidade:
a) Garantindo aos sacerdotes, no todo ou em parte, a remuneração a que
têm direito, na medida em que o não possam fazer por si as paróquias,
instituições ou serviços onde exercem o ministério;
b) Atribuindo-lhes, para efeitos de reforma, o subsídio previsto na alínea
c) do § 2 do artigo 67°.
c) Contribuindo supletivamente para a normal sustentabilidade da Casa
Diocesana do Clero.
Artigo 73°
Beneficiários
1. Podem beneficiar do Fundo Diocesano do Clero todos os sacerdotes e
diáconos abrangidos pelo presente Regulamento.
2. Outros sacerdotes que exerçam o ministério na Diocese poderão ocasionalmente, mediante autorização do Bispo diocesano, beneficiar do Fundo
Diocesano do Clero, se se encontrarem em situação de carência a que não
possa acudir-se por outra via.
Artigo 74º
Receitas
Constituem receita do Fundo Diocesano do Clero:
a) O contributo anual de 3% sobre a toda a remuneração ou remunerações
e suplementos recebidos pelos sacerdotes (cfr art. 70º § 1 a);
52 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
b) Os donativos que os sacerdotes entregam por ocasião da actualização
do bilhete de identidade sacerdotal ou noutras circunstâncias;
c) O contributo paroquial prescrito no artigo 75º;
d) O contributo anual que vier a definir-se para os santuários, confrarias
ou irmandades e quaisquer outras pessoas jurídicas públicas bem como
para os secretariados ou serviços diocesanos com receita própria;
e) A percentagem de dois terços do estipêndio das missas binadas e trinadas (cfr cân. 951 § 1 e Tabela da Província Eclesiástica de Lisboa);
f) As colectas especiais determinadas, com tal finalidade, pelo Bispo diocesano;
g) As dádivas dos fiéis, seja por actos entre vivos, seja por actos para
depois da morte;
h) Os bens atribuídos pelo Fundo Económico Diocesano;
i) Os rendimentos dos bens móveis e imóveis que lhe forem consignados;
j) As ofertas das comunidades de vida consagrada, das sociedades de vida
apostólica, das associações e outras, entregues com esse fim;
k) A percentagem de excedentes entregue pelos sacerdotes referidos nos
§§ 3 e 4 artigo 70º.
Artigo 75º
Contributo de paróquias e associações
As paróquias ou equiparadas e as associações públicas de fiéis contribuem anualmente, em favor do Fundo Diocesano do Clero (cfr cân. 531 e
1263), com 1% sobre o total das receitas ordinárias, excluídos o saldo do ano
anterior, os empréstimos e as receitas consignadas.
Título IV
Comissão para a aplicação do
Estatuto Económico do Clero
Artigo 76º
Constituição e mandato
1. A Comissão para a aplicação e funcionamento do estatuto económico
do clero será constituída por três sacerdotes eleitos pelo Conselho Presbiteral
de entre os seus membros; estes, por sua vez, escolherão na mesma ocasião
o presidente.
2. O mandato da Comissão é de três anos, mesmo que cesse o Conselho
Presbiteral que a elegeu.
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Documentos
. decretos .
. decretos .
Artigo 77º
Competências
1. À Comissão compete apreciar e dar parecer sobre:
a) Os quantitativos a fixar nos casos previstos nos artigos 59º, 60º, 61º, 64º e 67º;
b) A existência de circunstâncias que aconselham o recurso às excepções
previstas no artigo 67º § 5;
c) A situação dos sacerdotes normalmente impossibilitados de beneficiar do
Fundo Diocesano do Clero, para efeitos do que dispõe o artigo 73º § 2;
d) A resolução de dúvidas suscitadas na interpretação e aplicação do presente Regulamento (cfr art. 86º).
2. A Comissão pode, por iniciativa própria, apresentar propostas para melhorar a aplicação deste Estatuto.
Artigo 78º
Substituição e consultas
1. Quando houver lugar a deliberações em que estejam em jogo interesses
de algum dos membros da Comissão, esse elemento será substituído pelo
secretário do Conselho Presbiteral, que assumirá o lugar do substituído.
2. Nas deliberações que digam respeito ao clero paroquial, deve, além
disso, consultar-se o respectivo Vigário da Vara e estudar cuidadosamente a
situação económica da Paróquia, ouvindo, sempre que possível, o seu Conselho para os Assuntos Económicos.
Artigo 79º
Processo para deliberações
1. À Comissão será facultada pelo Ecónomo diocesano a documentação
necessária para se pronunciar sobre os pedidos.
2. A Comissão pode pedir os esclarecimentos necessários para suportar o
seu parecer.
3. A Comissão deve entregar o seu parecer ao Ecónomo diocesano no
prazo de 30 dias após a recepção da documentação.
Artigo 80º
Pedidos e documentação de suporte
A documentação considerada necessária para instruir os pedidos é a que
se segue:
1. Pedido feito por escrito e justificado pelo beneficiário, dirigido ao Bispo diocesano;
54 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. decretos .
CAPÍTULO VIII
Das penalizações
Artigo 81º
Obrigatoriedade do Regulamento
1. O presente Regulamento visa providenciar ao bem da Igreja, nomeadamente no que se refere à angariação e conveniente administração dos bens
materiais que lhe são necessários.
2. É por isso obrigatório o seu cumprimento por parte de todos a quem diz
respeito, nomeadamente os membros do clero e quantos têm responsabilidades
de administração em qualquer instituição canónica na Diocese de Leiria-Fátima.
Artigo 82º
Sentido e finalidade da penalização
1. A lei canónica admite a aplicação de penalizações somente quando se
tornam “verdadeiramente necessárias para se providenciar mais convenientemente à disciplina eclesiástica” (cân. 1317).
2. A penalização busca unicamente preservar a integridade espiritual e
moral da Igreja inteira e o bem de todos os fiéis. Por isso, sempre se há-de
respeitar a dignidade da pessoa humana e os seus direitos.
3. Neste Regulamento, a penalização visa promover o cumprimento do
mesmo com justiça, de modo a evitar prejuízo para as comunidades e instituições da Igreja diocesana.
Artigo 83º
Pedagogia perante o incumprimento
1. Quando se verificarem falhas no cumprimento das obrigações administrativas previstas neste Regulamento, consoante os níveis em que elas acontecem, os responsáveis (director, pároco, reitor, vigário e, por fim, o bispo)
deverão usar, antes de mais, os meios pastorais da correcção fraterna, da repreensão e outros adequados para reparar a falta (cfr cân. 1341).
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Documentos
2. Parecer escrito do Conselho paroquial para os Assuntos Económicos ou
da entidade que tutela o serviço a que o sacerdote está vinculado;
3. Parecer escrito do respectivo Vigário da Vara ou do Vigário Geral, para
os que estão nos serviços diocesanos.
. decretos .
2. Depois de esgotados esses meios, poderão valer-se das penalizações
administrativas, como se refere no artigo 84º.
3. Se nem assim a falta for corrigida, proponha-se a demissão dos responsáveis em falta, à autoridade competente.
Artigo 84º
Penalizações administrativas
1. As pessoas e as instituições que não cumpram o previsto neste Regulamento, nomeadamente no que se refere à prestação anual de contas ao Bispo
diocesano e à obrigação de entregar os contributos determinados, poderão ser
objecto de penalização administrativa.
2. A penalização consistirá em que não sejam emitidos quaisquer documentos ou nomeações pedidas, enquanto não for regularizada ou justificada
a situação em falta.
3. Em situações graves, poderão os administradores ser chamados à responsabilidade.
Artigo 85º
Negação de subsídios
1. As instituições canónicas que não cumpram as suas obrigações para
com a Diocese no que se refere à prestação anual de contas e à entrega de
contributos e de ofertórios devidos não poderão beneficiar de quaisquer subsídios, a menos que a falta seja considerada justificada pelo Bispo diocesano.
2. Os sacerdotes diocesanos que, durante o tempo de exercício do ministério, não observarem o que está regulamentado no Estatuto Económico
do Clero, não poderão beneficiar de subsídios ou outras ajudas do Fundo
Diocesano do Clero. Poderão, no entanto, ser acolhidos na casa Diocesana
do Clero, contribuindo para a mesma segundo os respectivos regulamentos.
CAPÍTULO IX
Disposição final
Artigo 86º
Resolução de dúvidas
As dúvidas que surgirem na interpretação e aplicação do presente Regulamento são resolvidas pelo Bispo da Diocese, ouvida a Comissão referida no
artigo 76º e o Ecónomo diocesano.
56 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. decretos .
APÊNDICE
DECRETO
A Conferência Episcopal Portuguesa, em conformidade com os cânones
1291, 1292 e 1295 do CIC, tendo presentes a introdução do euro como nova
moeda e a necessidade de actualização dos quantitativos referentes a actos de
administração extraordinária, revoga o anterior decreto de 3 de Setembro de
1990 e determina, quanto à licença de alienação de bens eclesiásticos:
Requer-se licença da Santa Sé para alienação de relíquias insignes ou outras que sejam honradas com grande veneração pelo povo e de imagens que
se honrem nalguma igreja com grande veneração do povo (cân. 1190 § 2 e 3);
e, salvo o prescrito no cân. 638 § 3, licença da Santa Sé – além da do Bispo
diocesano, com o consentimento do Conselho para os Assuntos Económicos
e do Colégio de Consultores (ou do Cabido) – para alienar ex-votos, coisas
preciosas em razão da arte ou da história, e bens de património estável de
valor igual ou superior a 1 500 000 € (cân. 1292 § 2);
Requer-se licença do Bispo diocesano, com o consentimento do Conselho
para os Assuntos Económicos e do Colégio de Consultores (ou do Cabido)
para alienar bens do património estável de valor compreendido entre 250 000
e 1 500 000 €;
Requer-se licença do Ordinário do lugar, ouvido o Conselho para os Assuntos Económicos, para alienar bens do património estável de valor compreendido entre 75 000 e 250 000 €;
Requer-se licença do Ordinário do lugar para alienar bens do património
estável de valor compreendido entre 7 500 e 75 000 €.
Para pessoas jurídicas com orçamentos avultados, a quantia mínima pode
ser alterada pelo Ordinário do lugar para uma soma mais elevada, até ao máximo de 1/12 do orçamento ordinário anual dessa pessoa jurídica.
Lisboa, 7 de Maio de 2002
O Presidente da CEP
† José da Cruz Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa
O Secretário da CEP
† Tomás Pedro Barbosa Silva Nunes, Bispo auxiliar de Lisboa
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Documentos
Conferência Episcopal Portuguesa
LICENÇA PARA ALIENAÇÃO DE BENS ECLESIÁSTICOS
. decretos .
Decreto
Reconhecimento do Movimento Vida Ascendente
D. António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue:
Considerando que a VIDA ASCENDENTE, Movimento Cristão de Reformados, é uma associação privada de fiéis, com personalidade jurídica canónica e estatutos aprovados pela Conferência Episcopal Portuguesa, a 7 de
Outubro de 2008;
Considerando que a mesma associação tem como objectivo promover a
espiritualidade, o apostolado e a amizade quer entre os seus membros quer na
Igreja e na sociedade;
Considerando que a dita associação já se implantou nesta Diocese de
Leiria-Fátima, organizou-se, elegeu a respectiva Direcção e escolheu um sacerdote para assistente;
Considerando o bem que pode fazer a quantos participarem nas actividades da associação e o contributo espiritual e apostólico que pode dar à Igreja
diocesana e à sociedade;
Considerando o pedido que nos dirigiu a Presidente Nacional, Marta
Melo Antunes, em carta de 26 de Outubro de 2009;
HAVEMOS POR BEM
1. Reconhecer na Diocese de Leiria-Fátima a associação de fiéis “VIDA
ASCENDENTE, Movimento Cristão de Reformados” e autorizar a sua expansão;
2. Confirmar, nos termos do cân. 324 § 2 e do art. 33º § 1 dos Estatutos
da “Vida Ascendente”, o Padre Pedro Miguel Ferreira Viva como assistente
diocesano;
3. Recomendar que, nos termos do cân. 323 § 2, a “Vida Ascendente”, no
seu apostolado e iniciativas, procure actuar em cooperação com outras forças
da Diocese em ordem ao melhor bem do povo de Deus;
4. Determinar que este decreto entre imediatamente em vigor.
Leiria, 11 de Dezembro de 2009
† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima
O Chanceler, Cónego Américo Ferreira
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. documentos pastorais .
IR AO CORAÇÃO DA IGREJA
Comunhão e corresponsabilidade na comunidade cristã
Caríssimos diocesanos,
Irmãos e Irmãs na graça da fé no Senhor Jesus
“A vós graça e paz. Damos continuamente graças a Deus por vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações; guardamos na memória a vossa fé
activa, o esforço da vossa caridade e a constância da vossa esperança, que
vêm de Jesus Cristo”(1Ts 1, 1-3).
Com esta saudação de S. Paulo desejo manifestar toda a estima e todo o
afecto que tenho por vós como vosso bispo.
Antes de mais, quero dar graças a Deus, com S. Paulo e convosco, pelas bênçãos e pelos frutos do ano pastoral findo. Vivemo-lo na companhia
do Apóstolo. Seguramente, a experiência contagiante do fascínio de Paulo
por Jesus Cristo e o ensino dos seus escritos contribuíram para dar um novo
impulso à nossa fé. Ajudaram muitos cristãos e muitas comunidades a “ir ao
coração da fé”, à formação para uma fé adulta, a fim de permanecerem firmes
e sólidos na fé, nos difíceis dias de hoje.
Como S. Paulo, também eu guardo na memória e no coração, de modo
particular, o entusiasmo da fé manifestado nas comunidades que receberam
a visita pastoral; os encontros de formação a que presidi, em cada vigararia, com a participação de 3.000 colaboradores das paróquias; os ecos positivos dos grupos do “retiro popular”, durante a Quaresma, que abrangeu
umas 5.000 pessoas; a bela exposição artístico-catequética sobre “Paulo, o
Apóstolo”e o encerramento festivo do Ano Paulino. São acontecimentos gratificantes que nos alegram e dão esperança.
O novo ano pastoral, seguindo a orientação do Sínodo diocesano, será
dedicado à edificação da comunidade cristã, à revitalização do seu tecido
interior e das suas estruturas e à (re)organização pastoral que isso exige.
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Documentos
Carta Pastoral
. documentos pastorais .
Na verdade, a fé cristã, enquanto fé professada, celebrada e testemunhada, vive-se em comunidade. Como diz um antigo provérbio patrístico: “Unus
christianus, nullus christianus”, isto é, um cristão isolado não é cristão. Ou,
dito de outro modo: não pode existir um cristão sozinho sem Igreja. Como
não existe Cristo sem a sua Igreja.
A comunidade cristã, como expressão concreta e específica da Igreja, é
a nossa casa espiritual. Todos temos necessidade de uma casa para habitar,
para ter abrigo e apoio, encontrar acolhimento e amor, partilhar a vida e os
dons, alimentar as nossas forças e a nossa esperança. O mesmo se passa em
relação à vivência da fé. Temos de sentir esta casa como nossa. Todos somos
chamados a um maior empenho na edificação de comunidades cristãs vivas,
na base do duplo princípio da comunhão e da corresponsabilidade.
Nesta perspectiva, escrevi esta carta pastoral para vos apresentar o percurso da nossa Igreja diocesana para o ano pastoral de 2009/2010. O título
“Ir ao coração da Igreja” foi sugerido pelos meus colaboradores mais próximos, porque muitos cristãos só conhecem a Igreja por fora e, por isso, não
conhecem o seu coração, a sua beleza interior, não lhe têm afecto, nem têm
motivação interior para lhe dedicar a sua colaboração.
Como lema bíblico escolhemos uma frase dos Actos dos Apóstolos, que
caracteriza a primitiva comunidade cristã: “Viviam unidos e punham tudo
em comum”(2, 44). E como símbolo escolhemos o ícone do “partir e repartir
o pão”, que evoca tanto a comunhão fraterna como a comunhão eucarística,
fundamento da anterior.
1. PARA ONDE VAIS, IGREJA? QUE DIZES DE TI MESMA?
Muitos, cristãos e não cristãos, põem-se hoje esta interrogação acerca da
Igreja, de forma explícita ou latente. É uma pergunta provocada, de certo
modo, pelas profundas e vertiginosas mutações culturais do nosso tempo e
pelo clima de desorientação e de incerteza perante o futuro. Já em 1947, o
célebre cardeal de Paris, Mons. Suhard, despertava as mentes e os corações
dos cristãos perante uma sociedade em mudança, com uma profética carta
pastoral “Pujança ou declínio da Igreja?”.
“Numa situação de crise e de mudança é preciso sobretudo uma visão.
Cada pessoa, cada comunidade e cada povo só podem sobreviver se são
animados por uma visão, se cultivam um sonho. Isto vale também para a
Igreja”(W. Kasper).
60 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. documentos pastorais .
1.1 O despertar de uma nova consciência de Igreja:
a graça do Concílio Vaticano II
Logo após a primeira guerra mundial, um grande teólogo e homem de fé
escrevia: “um acontecimento religioso de alcance imprevisível está em curso:
a Igreja desperta nas almas”(R. Guardini).
O mundo dividido e em ruínas clamava por uma nova comunhão. A Igreja
de Jesus sentia-se desafiada a corresponder a este grito. Começou então um
movimento de renovação espiritual da consciência da Igreja em si mesma,
que culminou no Concílio Vaticano II. Neste Concílio, a Igreja é redescoberta
e apresentada como mistério de comunhão de Deus com os homens e dos homens entre si. Comunhão é como que a palavra “mágica”para compreender
o que é a Igreja.
A partir daí cresceu uma consciência profunda de que todos somos membros vivos da Igreja, povo de Deus. Assistiu-se a um despertar de energias
espirituais e pastorais. Novas formas de corresponsabilidade dos fiéis nasceram a todos os níveis da vida da Igreja. Começou a lançar raízes a ideia da
“participação activa”que não se restringiu à liturgia, mas se estendeu a toda
a actividade pastoral. Muitos e bons frutos cresceram e amadureceram nas
comunidades cristãs.
Como poderia existir a nossa Igreja sem o empenho de milhares de catequistas, leitores, acólitos, ministros extraordinários da comunhão, membros
dos grupos corais e dos conselhos paroquiais e diocesanos, animadores de
vários sectores da pastoral, grupos missionários, novos movimentos e comunidades de evangelização e sem o incalculável ‘exército’ da Caridade e do
voluntariado ao serviço dos pobres, dos doentes e do apoio à vida humana e
tantos outros?
Devemos alegrar-nos por esta enorme vitalidade. É sinal da presença activa do Espírito de Deus na sua Igreja. Quantas graças temos de dar a Deus
por tudo isso! Deixo aqui expresso também o meu agradecimento incomensurável a todos estes trabalhadores da vinha do Senhor!
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 61
Documentos
A visão ou compreensão que a Igreja tem de si mesma é determinante
para a sua vitalidade, para toda a sua actividade evangelizadora, para a sua
presença no mundo, para a sua organização pastoral.
A Igreja não precisa de inventar a sua visão, porque esta já se encontra
no Evangelho. Mas tem necessidade de a redescobrir e aprofundar em cada
tempo perante novas situações e novos desafios.
. documentos pastorais .
1.2 Enfraquecimento da consciência eclesial
Porém, quarenta e cinco anos após a conclusão do Concílio, verificamos
que ainda há muito caminho para andar. “Há caminhos não andados que
esperam por alguém”!
Em muitas comunidades, a um período de entusiasmo, de fervor e de
iniciativa sucedeu um tempo de enfraquecimento na participação e no empenho, uma situação de certo cansaço, de estagnação e até de resistência à
renovação.
Muitos baptizados não se sentem membros vivos e participativos da comunidade cristã. Vivem à margem dela. Só se dirigem às paróquias em determinadas circunstâncias para receberem serviços religiosos. Também são
poucos os fiéis leigos – em proporção ao número de habitantes de cada paróquia – que se manifestam disponíveis para trabalhar nos diversos campos
apostólicos.
Nota-se ainda, a nível europeu, o enfraquecimento e até a perda da consciência eclesial, isto é, da consciência do verdadeiro sentido da Igreja e da
pertença afectiva e efectiva a ela.
Diversos factores de ordem cultural e social contribuem para isso, sobretudo o crescente individualismo da cultura contemporânea que enfraquece os
laços interpessoais e o sentido de pertença.
A fragmentação, a dispersão, a mobilidade da vida moderna marcam
também a psicologia das pessoas. Hoje há uma multiplicidade de pertenças:
pertence-se, ao mesmo tempo, a grupos e a ambientes diversos, distantes e
até contraditórios. Com isso sofrem as relações pessoais, familiares e sociais
e, por conseguinte, também a vitalidade das paróquias.
Mas um dos factores que mais mina a consciência de Igreja e que está na
base da falta de afecto à Igreja é uma visão demasiado humana, meramente
sociológica sobre ela, que é muito redutora. A opinião pública fixa-se, normalmente, no seu aspecto institucional. Ora, a relação com uma instituição é
sempre mais fria, mais distante e formal.
1.3 Imagens desfocadas da Igreja
Deparamo-nos ainda com uma série de imagens desfocadas ou mesmo
deturpadas da Igreja. Isto depende de vários factores, a saber: da imagem que
a paróquia dá de si mesma; de certa configuração que a Igreja assumiu na história; da maneira como os grandes meios de comunicação social apresentam
certos aspectos da vida da Igreja.
62 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
A primeira forma da Igreja que se encontra na vida e se experimenta é,
normalmente, a paróquia. Ela é a figura da Igreja mais próxima de cada um.
Todavia, na mente de muitas pessoas, o modelo mais comum é o da paróquia-estação ou agência de serviços, uma espécie de supermercado religioso.
Tal como se vai comprar o que faz falta, assim se vai à Igreja ‘encomendar’
o baptismo, o crisma, o casamento, o funeral etc. O padre é visto como funcionário do culto e os cristãos como clientes ou consumidores do religioso.
Há também, e até concomitantemente, o modelo de paróquia-arquipélago, constituída por uma série de lugares, associações, grupos, movimentos,
confrarias, em que cada uma destas realidades constitui uma ilha fechada
sobre si mesma. Todos caminham por linhas paralelas, sem um espírito de
comunhão e sem um projecto pastoral comum que os una, anime e galvanize
o caminhar juntos na mesma direcção. Quantas rivalidades, quantos conflitos
e ciúmes podem surgir dentro das comunidades e entre elas por causa desta
atitude?!
Encontramos ainda a concepção da paróquia-ilha ou feudo isolado, em
que o pároco é, por vezes, o único soberano e onde se ignora, completamente,
a relação da comunhão pastoral com as paróquias da vigararia, com a Igreja
diocesana e com a Igreja universal.
Passando agora do terreno paroquial para o universal, a imagem da Igreja,
muitas vezes transmitida pelos meios de comunicação, é a de uma grande e
poderosa organização internacional da religião cristã: à semelhança de outras grandes organizações, é representada por especialistas (os altos cargos
oficiais) e é competente para satisfazer as necessidades religiosas. Assemelhar-se-ia a uma multinacional cuja central seria Roma e cujas filiais ou sucursais seriam as dioceses e as paróquias.
Por vezes, também se veicula a ideia da Igreja como uma Organização
Não Governamental (ONG) de beneficência ou solidariedade social, uma espécie de “Cruz Vermelha”para os males sociais; ou ainda como uma agência
de moralidade, qual polícia que vela pelos bons costumes.
Quem vê a Igreja assim, com o olhar desfocado, não lhe descobre a beleza,
não lhe encontra gosto, não sente afecto por ela nem alegria em pertencer-lhe.
Torna-se pois urgente uma renovada consciência da dimensão espiritual
da Igreja, do nosso ser Igreja e da corresponsabilidade pastoral.
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2. IR AO CORAÇÃO DA IGREJA: O MISTÉRIO DA IGREJA-COMUNHÃO
Só se pode apreender correctamente a Igreja, se a olharmos com lentes
bifocais, aptas a ver ao perto e ao longe. Com o olhar terrestre, mas também
com os olhos da fé, para contemplar a sua face humana e divina.
2.1 A Igreja tem um coração
Na Igreja visível habita um mistério que só a fé pode captar. Acontece
como com os vitrais duma catedral. Só se contemplam bem a partir de dentro
e iluminados pelo sol: só assim se vêem com nitidez as figuras, as cores, a beleza e os defeitos. Também a realidade profunda da Igreja só pode ser captada
por um olhar iluminado pela fé. Como diz o Principezinho de Saint Exupéry:
“O essencial é invisível aos olhos; só se vê bem com o coração”.
Vista de fora, a Igreja aparece apenas como um grupo humano com finalidades religiosas e com maior ou menor relevância cultural, social ou política.
Mas, por este caminho, não se chega à sua verdade e profundidade, ao seu
mistério e ao seu coração.
Santa Teresa do Menino Jesus deixou-nos uma página admirável em que
conta como descobriu o coração da Igreja, ao ler o capítulo 13 da primeira
carta aos Coríntios:
“Compreendi que, se a Igreja apresenta um corpo formado por membros
diferentes, não lhe falta o mais necessário e mais nobre de todos; compreendi
que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que só
o amor fazia actuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguirse, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho nem os mártires
a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as
vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa
palavra, que o amor é eterno. Então, com a maior alegria da minha alma arrebatada, exclamei: ... Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e este lugar, ó meu
Deus, fostes Vós que mo destes: no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o
amor; com o amor serei tudo; e assim será realizado o meu sonho”.
A Igreja de Jesus, que somos nós, é a Igreja do amor. Sem ele seria como
um corpo sem alma, um esqueleto sem carne, uma instituição meramente
burocrática.
O coração pulsante da Igreja é o Amor que lhe vem do Alto e que habita em nós e nos une; palpita com o amor divino-humano do Crucificado e
Ressuscitado. “Com efeito, do lado de Cristo adormecido na Cruz nasceu o
admirável sacramento da Igreja inteira”(Constituição sobre a Liturgia, n. 5).
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2.2 A Igreja ,”Mistério da Lua”
A Igreja é toda ela relativa a Cristo. É d’Ele que tudo recebe e só se compreende à sua luz. Os Padres da Igreja usam uma imagem muito bela para
exprimir este aspecto: “o mistério da Lua”(mysterium lunae). Quer dizer, a
Igreja, no seu rosto humano, está em relação ao Senhor Jesus como a lua em
relação ao sol. Ela recebe de Cristo, verdadeiro Sol, os raios da luz que ilumina o mundo na noite do tempo. Eis como Santo Ambrósio no-la apresenta:
“Esta é a verdadeira lua. Da Luz sem ocaso do Astro fraterno, ela recebe a luz
da imortalidade e da graça. De facto, a Igreja não resplandece com a sua própria luz, mas com a luz de Cristo. Tira o seu esplendor do Sol da justiça, para
poder dizer: eu vivo, mas já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.
Para melhor compreensão podemos aplicar à Igreja as diferentes fases da
lua: lua nova, quando anuncia a Palavra da Vida nova em Cristo; lua cheia,
quando celebra na fé os santos mistérios da presença do Senhor; lua crescente, quando irradia a caridade; lua minguante, quando, na sua pequenez e
debilidade, deixa brilhar os raios da esperança no “Deus sempre maior”do
que a fraqueza e o pecado dos homens.
A Igreja é toda de Cristo, com Cristo e para Cristo e, por isso mesmo,
toda dos homens, com os homens e para os homens.
2.3 “Povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”
Assim, à luz do mistério de Cristo, podemos tomar consciência da origem
divina da Igreja. Ela é projecto e obra de Deus. Não é invenção dos homens.
Não é uma associação humana nascida da convergência de ideias ou interesses religiosos comuns, à maneira de um clube.
As suas origens remontam ao coração de Deus, ao mistério da sua comunhão de Amor Trinitário. Podemos pois afirmar: no princípio está a Comunhão. Quer dizer, na origem está o Amor eterno e santo de Deus que como Pai
nos quer abraçar e comunicar o seu amor através dos “dois braços”do Filho
e do Espírito Santo.
Em Jesus Cristo, Deus abre-nos o mistério da sua intimidade, do seu
Amor, da sua comunhão íntima. Esta é a verdade central da nossa fé: “o Verbo fez-se carne”. Deus fez-se homem, totalmente homem como nós, e une-se
a cada homem.
Este Amor eterno, que se comunica aos homens, continua vivo e actuante
porque Cristo ressuscitado continua a contagiá-lo, como aos discípulos de
Emaús, com o calor da sua Palavra e a força do seu Espírito que o derrama
nos nossos corações, como sarça ardente que nunca se consome.
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A Igreja nasce do acolhimento, na fé e em acção de graças, deste dom da
comunhão de Deus com os homens. Nasce, pois, como comunhão de filhos
de Deus Pai no seu Filho, Jesus Cristo, e na força do seu Espírito de amor, e
como comunhão de irmãos no mesmo Espírito. Aqui está o coração da Igreja,
a sua vocação e a sua missão !
Eis a razão por que S. Cipriano a apresenta como “povo reunido (gerado
e convocado) pela comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo”: uma
comunhão de pessoas que, pela acção do Espírito Santo, formam o Povo de
Deus, que é ao mesmo tempo o Corpo de Cristo. Unidos a Cristo e em Cristo
formamos um só corpo, tornamo-nos todos realmente o Povo de Deus: desde
o Papa até à última criança baptizada.
3. O ROSTO DA IGREJA DOS APÓSTOLOS: TRÍPTICO SOBRE A IGREJA
No início do livro dos Actos dos Apóstolos, S. Lucas ilustra as origens
e a vida da Igreja de Jerusalém, logo após a Ascensão de Jesus, com a promessa aos discípulos de que receberiam uma força do alto para serem suas
testemunhas.
A apresentação da comunidade de Jerusalém é-nos oferecida em três
grandes quadros – um tríptico – que dizem mais do que se poderia exprimir
em conceitos; e serve de modelo para as diferentes comunidades.
3.1 A assembleia em oração no Cenáculo (Act 1, 12-26)
O primeiro quadro apresenta-nos o grupo dos discípulos (“umas 120
pessoas”diz o texto) reunido na sala da ceia – o grupo dos apóstolos, referidos
pelo nome, e a companhia dos fiéis de Jesus, juntamente com Maria – unidos
pelo mesmo sentimento e unânimes na oração. Este quadro vivo é o espelho
da Igreja, da sua fisionomia enquanto:
assembleia da nova aliança: evocada pelo lugar onde permaneciam, o
cenáculo em que Jesus celebrou a ceia da nova aliança, que dá vida a uma
nova comunidade;
assembleia unida em oração: unificada essencialmente a partir da oração
na abertura comum a Deus. “Todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração”: a comunhão entre eles e a comunhão com
Deus na oração são dois elementos distintivos. A oração exprime a confiança
no Senhor que não os abandona. A força prometida que vem do alto deve
encontrar corações abertos e disponíveis.
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comunidade reunida à volta dos apóstolos: no meio dos discípulos está o
núcleo central dos “Doze”, garantes da fé e da unidade em Cristo;
comunidade participativa: sob a orientação de Pedro procedem à escolha
de Matias, procurando a obediência à vontade de Deus. Mesmo neste assunto,
a comunidade “permanece em oração”e não se transforma em parlamento.
“A Igreja começou quando os apóstolos se reuniram todos no cenáculo e
rezavam. É sempre assim que a Igreja começa. É na oração à volta do Espírito
que ela recomeça todos os dias”(J. Ratzinger).
3.2 A Igreja na força do Espírito (Act 2, 1-41)
Neste segundo quadro, S. Lucas põe à nossa contemplação o inaudito
acontecimento do Pentecostes, como celebração do dom do Espírito enquanto “alma”da Igreja, fonte da sua riqueza interior e da sua unidade na universalidade e diversidade dos povos. Aí se respira a frescura matinal do primeiro
amor-comunhão como dádiva do Ressuscitado.
À primeira vista parece uma espécie de terramoto (forte rajada de vento
e fogo) que se ouviu em toda a Jerusalém e atraiu muita gente para ver o
sucedido. Imediatamente se verificou que não se tratava de um terramoto
normal. Houve um grande abalo, mas nada ruiu. Porém, podemos dizer que
foi um terramoto interior que mudou o coração e a vida dos discípulos e teve
consequências mesmo fora do cenáculo, na praça da cidade.
Dentro do cenáculo, ”todos ficaram cheios do Espírito Santo”. Esta é a
frase central da narração. “O vento impetuoso”e “as línguas de fogo sobre
cada um”são imagens eloquentes para expressar a força interior e o calor do
Espírito que vence todos os medos e todas as portas fechadas, e dá uma nova
capacidade de comunicar o Evangelho.
Fora do cenáculo, a multidão representativa dos diversos povos, escuta e entende, cada um na sua língua, a mesma Palavra sobre as maravilhas de Deus e professa a mesma fé. O Espírito torna-se fonte de unidade e harmonia entre as pessoas dos diversos povos, línguas e culturas. N’Ele todas as diferenças se convertem
numa expressão da beleza divina, formando a harmonia na unidade do amor.
De seguida, o Apóstolo Pedro, discursando, explica o Pentecostes dentro
da história da salvação. Aí vemos como a participação neste acontecimento
salvífico se realiza através das seguintes mediações:
o anúncio do mistério de Cristo como Senhor e Salvador, feito por Pedro
que está com os outros onze apóstolos;
o acolhimento do anúncio na fé e na conversão do coração;
a celebração do baptismo e do dom do Espírito;
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a formação da comunidade dos baptizados, unida à célula apostólica, célula mãe da Igreja. O grupo apostólico é parte essencial da Igreja no seu
surgir à luz do dia.
Nesta perspectiva, a Igreja toma a sua forma inicial numa Comunhão cujo
laço profundo e invisível é o Espírito Santo e cujo centro visível é o grupo dos
apóstolos, garante da ligação histórica com Cristo.
3.3 A comunidade fraterna (Act 2, 42-7; 4, 32-35)
Após o discurso de Pedro, o livro dos Actos dos Apóstolos oferece-nos
dois sumários sobre a vida das primeiras comunidades cristãs.
De forma sintética, apresenta a vivência do mistério da comunhão na vida
da comunidade, como fruto do Pentecostes. A comunhão é a alma da comunidade; manifesta-se e alimenta-se em certas formas e estruturas visíveis. Os
primeiros cristãos
“eram perseverantes no ensino dos Apóstolos”que anunciavam a Palavra
de Deus e testemunhavam a vida, o ensino e o mistério de Jesus – a unidade
na mesma fé;
“eram perseverantes na união fraterna”pelo amor recíproco, pela generosidade na partilha dos bens, pela solidariedade e pelo serviço ao próximo,
sobretudo aos pobres – a unidade no amor fraterno;
“eram perseverantes na fracção do pão (Eucaristia) e nas orações”como
forma de vida na comunhão com Cristo fonte de toda a comunhão – a unidade de culto;
“tinham a simpatia de todo o povo”, pelo testemunho irradiante de Cristo,
da fé e do amor no ambiente da vida – a unidade na missão;
estavam unidos ao ministério apostólico (como se vê na primeira característica), como centro e garante visível da unidade de toda a comunidade.
Estes sumários mostram-nos os cinco elementos fundamentais da vida
comunitária, inseparáveis e constitutivos da ossatura de toda e cada comunidade cristã.
Merece um comentário particular a “perseverança na fracção do pão”,
isto é, na Eucaristia.
A comunhão dos fiéis em Cristo exige, por natureza, a assembleia à volta
de Cristo ressuscitado e a comunhão com Ele. Esta é absolutamente necessária para a Igreja como tal e para cada cristão. A Igreja não é uma ‘internacional’ à qual se possa pertencer à distância, por inscrição e pagamento de
cotas, nem uma sociedade de telespectadores, teleouvintes ou cibernautas.
Não há Igreja de Cristo sem assembleia eucarística.
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3.4 O Mistério da Comunhão na Igreja local: a Diocese e a Paróquia
A Igreja de Deus como mistério de comunhão no meio dos homens não
é uma sociedade anónima, sem rosto. Surge em toda a parte em que a comunhão toma forma e corpo em homens e mulheres que, pela fé e pelo
baptismo, recebem o dom do Espírito, acolhem a Palavra do Evangelho,
celebram a Santa Eucaristia e os sacramentos da graça de Deus, vivem o
amor fraterno, reunidos à volta do ministério apostólico do bispo com o seu
presbitério.
Assim, a Igreja de Deus torna-se presente, realiza-se e cresce num determinado lugar (geográfico, humano e cultural) onde a vida torna as pessoas
próximas, formando a Igreja local ou diocesana. É aí que Cristo nos convoca, reúne na comunhão e envia em missão.
Todavia, o mistério da comunhão, para se tornar mais concreto e incarnado, realiza-se também nas comunidades locais mais pequenas, a que
normalmente chamamos paróquias. A paróquia é uma comunidade de fiéis
onde se gera a fé no dia-a-dia da vida das pessoas, onde se vive a alegria da
comunhão e da participação na vitalidade da comunidade cristã. É a Igreja
enraizada num lugar, presente no meio das casas dos homens, mais próxima
à vida das pessoas: “a família de Deus, como uma fraternidade animada pelo
espírito de unidade”. Porém, não é uma ilha ou feudo isolado e auto-suficiente. É antes uma célula viva da Igreja diocesana; por isso mesmo, só encontra
a sua plena realização na comunhão com ela.
A comunhão eclesial encontra também uma expressão específica nas
comunidades dos religiosos/as, nas comunidades cristãs próprias dos emigrantes, nos movimentos e nas novas comunidades de evangelização, quando
reconhecidos pela Igreja. Todos são “sinal da comunhão e da unidade da
Igreja em Cristo”, participando com o seu carisma próprio na vida e missão
da Igreja diocesana.
3.5 A beleza e a alegria de ser e sentir-se Igreja
“A Igreja não é uma comunidade daqueles que ‘não têm necessidade do
médico’, mas sim uma comunidade de pecadores convertidos que vivem da
graça do perdão, transmitindo-a por sua vez a outros”(J. Ratzinger).
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“Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro
na celebração da santíssima Eucaristia, a partir da qual, portanto, deve começar
toda a educação do espírito comunitário “(Vaticano II, Ministério dos Presbíteros,
nº6).
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Em recente alocução, o Papa Bento XVI referia-se à beleza da Igreja
nestes termos:
“A propósito da Igreja, os homens são levados a ver sobretudo os pecados, o negativo. Mas, com a ajuda da fé, que nos torna capazes de ver de
modo autêntico, podemos também hoje e sempre ver nela a beleza divina.
É na Igreja que Deus se torna presente, se oferece a nós na Santa Eucaristia e permanece presente para a adoração. Na Igreja, Deus fala connosco; na
Igreja, Deus passeia connosco, como diz S. Germano. Na Igreja, recebemos
o perdão de Deus e aprendemos a perdoar.
Peçamos a Deus que nos ensine a ver na Igreja a sua presença, a sua beleza, a ver a sua presença no mundo e nos ajude a ser transparentes à sua luz”.
Além disso, numa sociedade, como a nossa, de relações frágeis e efémeras, muitas vezes competitivas e conflituais, o Senhor chama-nos a mostrar
que o Evangelho vivido constrói (cria) uma rede de relações autênticas, gratuitas, baseadas no espírito das bem-aventuranças. O fruto disto chama-se
Igreja, como comunidade alternativa de relações fraternas de comunhão e
partilha, belas, verdadeiras, próximas, suscitadoras de confiança, de ternura, de serviço e de alegria.
Por este caminho, podemos e devemos experimentar a beleza e a alegria
de sermos e nos sentirmos Igreja de Jesus.
4. A IGREJA, CASA E ESCOLA DA COMUNHÃO
À luz de tudo o que dissemos, compreende-se que a comunhão não se
reduz a um afecto vago, psicológico ou sentimental. É um modo de ser, de
viver, de relacionar-se e trabalhar em Igreja, de construir comunidade cristã.
Deve configurar um estilo e modelo de pastoral. Faz parte da santidade dos
cristãos. Por isso, é necessário, antes de mais, cultivar o espírito de comunhão
como dom de Deus, numa atitude de conversão individual e comunitária,
com a consciência de que “se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham
os que a constroem”(Sl 126, 1).
4.1. Espiritualidade da comunhão
Neste contexto, somos chamados a acolher a recomendação de João Paulo
II, na sua Carta Apostólica para o início do novo milénio. Aí afirma: “Antes
de programar iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade de
comunhão”. E, de seguida, indica quatro características desta espiritualidade:
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Significa, em primeiro lugar, ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade que habita em nós e cuja luz há-de ser percebida também no
rosto dos irmãos que estão a nosso lado.
Significa também a capacidade de sentir o irmão na fé como “um que faz
parte de mim”para partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir
os seus anseios e dar respostas às suas necessidades.
É ainda a capacidade de ver, antes de mais nada, o que há de positivo no
outro para o acolher e valorizar como dom de Deus.
Por fim, significa criar espaço para o irmão, levando o peso uns dos outros
e rejeitando as tentações egoístas que continuamente nos ameaçam (cf NMI
43).
Quanto necessitamos desta espiritualidade de comunhão, a nível individual, de grupos, de lugares e de comunidades, em todos os sectores da
pastoral! Por isso, na Quaresma, continuaremos a propor o “retiro do povo
de Deus”, sob a forma de encontros da lectio divina, orientados nesta perspectiva. Os grupos de leitura orante da Palavra de Deus são células vivas de
comunhão.
4.2. Comunhão e corresponsabilidade
A comunhão implica a participação activa na vida da comunidade, onde
todos recebemos e damos de tal modo que “o bem de todos torna-se o bem
de cada um e o bem de cada um torna-se o bem de todos”. “Na Santa Igreja
– escreve S. Gregório Magno – cada um é apoio dos outros e os outros são
o seu apoio”(ChL 28). Isto inclui a participação e a corresponsabilidade de
todos no crescimento da vida da comunidade, segundo a diversidade e complementaridade dos dons, funções e ministérios.
Neste sentido, S. Paulo compara a Igreja a um corpo com muitos membros, cuja cabeça é Cristo (cf 1Cor 12) Nem todos desempenham a mesma
função. Mas todos são indispensáveis e contribuem para o bem-estar do todo,
isto é, da comunidade. Esta visão da Igreja requer que passemos de uma
Igreja baseada só no clero (o padre faz-tudo) a uma Igreja apoiada na corresponsabilidade comum de todos os cristãos.
Esta foi a indicação que o Papa Bento XVI deu aos bispos portugueses
na última visita ad limina: “A palavra de ordem era e é construir caminhos
de comunhão. É preciso mudar o estilo de organização da comunidade cristã
e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual estejam bem estabelecidas a função do clero e do
laicado, tendo em conta que todos somos um, desde que fomos baptizados e
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integrados na família dos filhos de Deus e todos somos corresponsáveis pelo
crescimento da Igreja”.
Esta indicação torna-se ainda mais urgente pela diminuição acentuada do
número de padres no serviço pastoral, por motivos de idade ou doença, e
pela escassez de vocações ao sacerdócio. Mas, em qualquer circunstância,
toda a reorganização pastoral deve operar-se sob a chave de comunhão, redescobrindo o papel activo e responsável dos fiéis leigos na edificação da
comunidade.
Para isso há que promover, em cada paróquia, a constituição ou revitalização de grupos ou movimentos que colaborem nos vários sectores da
pastoral da comunidade: no anúncio da fé, na preparação e celebração dos
sacramentos, no serviço da caridade, da partilha de bens e na sua administração, para que o Pastor se dedique ao que lhe é específico.
A realização de uma ou duas assembleias paroquiais por ano, com os
principais colaboradores da paróquia ajuda, sem sombra de dúvida, a despertar e reforçar o sentido de família, a comunhão, a fraternidade e a corresponsabilidade.
4.3. Órgãos de corresponsabilidade
Para que a comunhão construtora da comunidade se exerça realmente,
de modo orgânico e articulado, deve ter expressão em dois organismos principais de participação onde se realiza a partilha de intenções e de projectos
pastorais e se distribuem responsabilidades: o conselho pastoral e o conselho
para os assuntos económicos, presididos pelo pároco. Estes conselhos são
uma estrutura decisiva para configurar a Igreja –comunhão. A sua ausência
é sintoma grave de uma falta de comunhão e participação na comunidade
cristã.
Ao longo deste ano propomo-nos a implementação ou revitalização destes conselhos em cada paróquia. Para esse efeito realizaremos uma acção de
formação, a nível vicarial.
4.4. Modelo de pastoral integrada e integral
Do ponto de vista pastoral, estamos hoje perante uma nova paisagem do
mundo: uma nova situação caracterizada pelas mudanças culturais, por maior
mobilidade das pessoas no território e nos ambientes, por novos desafios à
missão, pelo menor número de sacerdotes disponíveis, pela escassez de recursos humanos em certas comunidades, pelo surgir de novos movimentos e
novas comunidades eclesiais.
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Tudo isto veio pôr em evidência que acabou o tempo da paróquia e do
pároco auto-suficientes e isolados, que respondiam sozinhos a todos os problemas, exigências e situações. Exige-se uma reorganização e reconfiguração
das comunidades cristãs através de um novo modelo de acção: uma pastoral
integrada e integral.
Por pastoral integrada entendemos a inserção da actividade pastoral da
paróquia dentro do agregado mais vasto da relação com as paróquias vizinhas (na vigararia ou noutras formas de unidades pastorais). Assim põem-se
em rede os múltiplos recursos de que se dispõe nesse agregado: humanos,
espirituais, culturais, pastorais. E é possível valorizar mais as competências,
permutar dons e ministérios, partilhar e poupar recursos, reequilibrar encargos e trabalho.
A pastoral integral envolve os vários sujeitos (pessoas, grupos, movimentos) e os vários ministérios num projecto pastoral interparoquial, comum
e partilhado, que valoriza as sensibilidades e os recursos específicos de cada
um.
Com isto não se trata de criar uma espécie de super-paróquia. Mas pretende-se tirar as paróquias do isolamento e abri-las a uma dimensão mais vasta,
capaz de responder às exigências e necessidades da evangelização. As paróquias que têm mais dificuldades em meios ou pessoas receberão mais apoio e
encorajamento nesta colaboração.
Amadurecer em cada um de nós e nas nossas comunidades este modelo
de pastoral é uma exigência do ser Igreja-comunhão: “Ama a paróquia do
outro como a tua”!
Os vigários deverão ser os primeiros “apóstolos” da comunhão eclesial na sua vigararia! Peço aos padres de cada vigararia que escrevam
“uma carta de comunhão”, elaborando um compromisso pastoral comum
do presbitério local. Será ocasião para pensar formas de pastoral de conjunto para as paróquias e imaginar ou lançar alguma iniciativa nova e
corajosa.
4.5. Três “sins”e três “nãos”
Tudo o que desenvolvemos anteriormente, implica dizer com a vida três
grandes “sins”e três grandes “nãos”.
O tríplice sim é à comunhão, à corresponsabilidade e à renovação inspirada pelo Evangelho e pela leitura dos sinais dos tempos.
O tríplice não é à divisão, à desresponsabilidade (indiferença) e à estagnação ou ao imobilismo.
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Através deste tríplice “sim”e do tríplice “não”, a Igreja constrói-se como
comunhão de homens e mulheres, adultos e responsáveis na fé e no dinamismo da vida comunitária.
Estamos conscientes de que são necessárias uma mudança de mentalidade, criatividade e conversão pastoral que mexe com hábitos adquiridos.
Mas uma simples “pastoral de conservação”, além de ser estéril, mostra-se
irresponsável e, ouso dizer, objectivamente pecaminosa, porque surda, se não
mesmo hostil à voz de Deus e ao seu chamamento na hora actual.
4.6 O Presbitério em comunhão e ao serviço da comunhão: Ano Sacerdotal
“Ir ao coração da Igreja” permite-nos também “ir ao coração do sacerdócio ministerial”, sobretudo neste Ano Sacerdotal proposto pelo Santo Padre
para toda a Igreja. Leva-nos a compreender melhor o dom do sacerdócio e a
sua beleza dentro e ao serviço da Igreja, mistério de comunhão, e da sua missão. É nesta perspectiva que João Paulo II no-lo apresenta, numa bela síntese,
na Exortação Apostólica “Dar-vos-ei Pastores”:
“O sacerdote ministro é servo de Cristo, presente na Igreja mistério, comunhão e missão. Pelo facto de participar da unção e da missão de Cristo,
ele pode prolongar na Igreja a sua oração, a sua palavra, o seu sacrifício e
a sua acção salvífica. É, portanto, servidor da Igreja mistério porque realiza os sinais eclesiais e sacramentais da presença de Cristo ressuscitado. É
servidor da Igreja comunhão porque – unido ao Bispo e em estreita relação
com o presbitério – constrói a unidade da comunidade eclesial na harmonia
das diferentes vocações, carismas e serviços. É finalmente servidor da Igreja
missão porque faz com que a comunidade se torne anunciadora e testemunha
do Evangelho”(n.16)
Nós, padres e bispo, só poderemos realizar plenamente este serviço formando um presbitério em comunhão, sendo os primeiros a dar exemplo dela,
servindo-a e promovendo-a nas comunidades. Por isso, este Ano Sacerdotal
servirá para reforçar a nossa fraternidade sacramental que nos torna irmãos
no mesmo dom do sacerdócio e na mesma missão, para cultivar mais e melhor a vida espiritual, para promover a corresponsabilidade dos fiéis leigos e
para cuidar particularmente das vocações ao sacerdócio.
Tudo isto faz parte da santificação do padre dentro e através do próprio ministério. Para isso aproveitaremos a celebração da Missa Crismal,
as assembleias do clero, as reuniões de vigararia, a semana de formação
permanente, a ampla oferta das recolecções mensais e de retiro espiritual em
Fátima. Peço, encarecidamente, a todos os padres que valorizem todas estas
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ocasiões para que este Ano Sacerdotal seja para eles um salto qualitativo na
sua vida espiritual e pastoral.
Na sequência do ano passado continuaremos a reflexão em ordem à implementação do Diaconado permanente. Publicaremos um breve documento
em ordem à informação e formação das comunidades, para ser reflectido sobretudo nos conselhos pastorais.
Para corresponder a uma sugestão do Santo Padre, também nós faremos,
em devido tempo, a evocação de duas figuras do nosso presbitério que deixaram marcas pelo seu testemunho e pela sua acção pastoral: D. João Pereira
Venâncio (1904-1985) e Padre Rogério Pedro de Oliveira (1946-1989), por
ocasião dos 25 e 20 anos da sua morte, respectivamente.
4.7 Família, renova o dom da comunhão que está em ti!
O ano pastoral coincide também com o Ano comemorativo do centenário do nascimento da Beata Jacinta Marto, exemplo de como uma criança
é capaz de ter o verdadeiro sentido da Igreja, de a amar e se sacrificar por
ela. O programa do Santuário de Fátima já foi divulgado. É uma ocasião
para descobrir e valorizar o lugar e o protagonismo das crianças na Igreja. E, consequentemente, o papel importante da família como “Igreja
doméstica”, isto é, Igreja presente na casa familiar, primeira célula viva
da família maior que é a Igreja, primeira expressão incarnada da comunhão que caracteriza a comunidade cristã: ”perseverante no ensino da fé,
na comunhão e partilha fraterna, na Eucaristia e na oração, no testemunho
do amor e do serviço”. A cada família deixo um apelo vibrante: “Família,
reaviva o dom da comunhão que está em ti! Cultiva a espiritualidade da
comunhão”!
Desde já, faço o convite para que as crianças da catequese com os seus
pais participem na peregrinação das crianças a Fátima, no dia 10 de Junho. É
uma festa muito bela em que se faz experiência do que é a Igreja-comunhão.
Peço aos catequistas que entusiasmem as crianças e preparem com elas, bem
e antecipadamente, esta peregrinação.
4.8 Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja Diocesana
O presente ano pastoral culminará com um Grande Encontro Diocesano, na cidade de Leiria, nos dias 21, 22 e 23 de Maio de 2010. Damos-lhe o
título “Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja diocesana”. Será um grande momento
de encontro da nossa Igreja diocesana, onde se dê visibilidade ao seu rosto
na variedade das suas comunidades, movimentos, grupos e serviços, e da sua
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. documentos pastorais .
. documentos pastorais .
vitalidade. Será a expressão da nossa Igreja viva e em comunhão. Queremos
que seja uma verdadeira festa de comunhão na fé!
Realizar-se-á em vários espaços da cidade de Leiria e com múltiplas actividades celebrativas, culturais e festivas. Nesses dias virá em peregrinação
à cidade e à Sé a imagem de Nossa Senhora de Fátima, da Capelinha das
Aparições, como Padroeira da Diocese.
Esta festa destina-se a toda a gente e haverá propostas para crianças, adolescentes, jovens e adultos organizadas por diferentes serviços, movimentos
e grupos. O programa será divulgado oportunamente, mas, desde já, aqui fica
o meu convite pessoal a todos para este grande encontro diocesano.
4.9 Creio na Igreja! Amar a Igreja como Cristo a amou!
Quando na proclamação do Credo dizemos “Creio na Igreja”, estamos a
afirmar o seguinte: creio que a Igreja é obra de Deus e não do homem; que ela
é morada de Deus no meio dos homens; creio que o Espírito Santo a mantém
unida a Cristo e em Cristo, que a santifica, que dá vida à sua comunhão universal, que a conserva fiel à fé dos apóstolos e a torna missionária.
Este acto de fé implica, contudo, um acto de amor. Por isso, para terminar, tenho um pedido a dirigir a todos vós: Amai a Igreja! Tende carinho
para com ela!
O amor à Igreja nasce do amor a Cristo. Amo-a porque e “como Cristo
amou a Igreja e se entregou por ela”(Ef 5, 25) para a purificar, santificar,
alimentar e embelezar o seu rosto. É este amor de Cristo que nos leva a
reconhecer a Igreja como Corpo de Cristo, por vezes ferido e humilhado, e
como nossa Mãe na fé, que traz no rosto as rugas da nossa pobre humanidade e dos pecados dos seus filhos. Mas é no seu seio que somos gerados e
crescemos na fé em Cristo Salvador, que entramos a fazer parte da família
dos filhos de Deus e recebemos os dons da salvação. E quanto bem irradia
para o mundo!
Ela é nossa Mãe! Sem ela ficamos órfãos. Tantas vezes é mal amada pelos seus. Como se explica que o nosso amor pela nossa mãe seja tão lento,
hesitante e débil? Porque não temos coragem de o manifestar e afirmar alto
e bom som?
Peçamos ao Senhor, por intercessão de Maria, Mãe da Igreja, a graça
de amar a nossa Igreja, a nossa comunidade concreta, com todo o coração,
com o dom da nossa vida e segundo os dons que recebemos. Que cada um de
nós possa dizer, em cada dia, como Santa Teresinha: “No coração da Igreja,
minha Mãe, eu serei o amor”!
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. documentos pastorais .
“Concede, Senhor, a todos nós amar a Tua Igreja, a Tua amada.
Faz com que lhe permaneçamos inabalavelmente fiéis
Como a uma mãe amorosa, solícita e benigna,
Para que, com ela e por seu intermédio, possamos ser de casa
Junto de Ti, Deus e Pai nosso. Ámen!”
Feliz Ano Pastoral! Um abraço amigo do vosso irmão bispo,
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Leiria, 28 de Agosto de 2009
Festa de Santo Agostinho, Padroeiro da Diocese
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Sirva-nos de estímulo uma nota pessoal do grande Papa Paulo VI, no seu
Diário: “Amar, servir, suportar, edificar a Igreja com todo o talento, com toda
a dedicação, com inesgotável paciência e humildade, eis o que resta fazer
sempre, começando, recomeçando, até que tudo seja consumado e alcançado
quando Ele (Cristo) voltar. Com toda a confiança, como sempre”.
Terminemos com uma oração de um santo bispo africano, mártir, São
Quodvultdeus de Cartago, para a profissão de fé dos candidatos ao baptismo:
. documentos pastorais .
Ano Pastoral 2009-2010: Tema, objectivos e acções
Tema
Ir ao coração da Igreja
Documento orientador: Carta Pastoral de D. António Marto: “Ir ao Coração da Igreja”
Palavra bíblica inspiradora: “Viviam unidos e possuíam tudo em comum” (Act 2, 44)
Objectivo Geral
Promover a comunhão e co-responsabilidade
na comunidade cristã
Acção principal: “Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja diocesana”, na cidade de Leiria, nos dias
21, 22 e 23 de Maio de 2010, com a presença da imagem de Nossa Senhora de Fátima, da
Capelinha das Aparições. Para todas as comunidades, movimentos, grupos e serviços da
Diocese.
Objectivo Específico 1
Descobrir a Igreja como mistério de comunhão
(sentido de pertença efectiva e afectiva)
Instrumentos e acções: leitura e reflexão sobre a carta pastoral nos grupos e comunidades;
“lectio divina” em grupo na Quaresma, com o guião que será elaborado para o “retiro
popular”; Cursos de iniciação à leitura da Bíblia ou “serões bíblicos”.
Objectivo Específico 2
Promover a co-responsabilidade na edificação da comunidade cristã
(participação de todos, conselhos pastoral e económico paroquiais)
Acções: constituição ou revitalização de grupos ou movimentos que colaborem nos vários
sectores da igreja diocesana (paróquias, vigararias e serviços diocesanos); realização de
assembleias paroquiais; constituição de conselhos pastorais e para os assuntos económicos
em todas as paróquias; acção de formação em cada vigararia, com o Bispo diocesano.
Objectivo Específico 3
Implementar a pastoral integrada e integral
(colaboração em rede na unidade pastoral vicarial e diocesana)
Acções: reflexão nas reuniões de vigários e nos conselhos diocesanos; elaboração nas
vigararias, entre os padres, de uma “carta de comunhão”, com o compromisso pastoral comum
do presbitério local.
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. escritos episcopais .
Mensagem ao Bispo de Mayaguez
Caro irmão D. Ulisses Casiano Vargas,
Aproveitando a ida do Vigário Geral, Padre Jorge Guarda, em meu nome
e do Reitor do Santuário de Fátima, para participar no I Congresso de Fátima
para a América Latina e as Caraíbas, envio-lhe uma breve mensagem como
Bispo de Leiria-Fátima e seu irmão em Cristo.
Antes de mais, saúdo com particular estima Vª Exª Rev.ma, D. Ulisses
Vargas, meu irmão no episcopado, bem como o Professor Américo Pablo López Ortiz, Presidente Internacional do Apostolado Mundial de Fátima. Saúdo
também a todos vós, fiéis da diocese de Mayaguez, peregrinos do novo Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Fátima e participantes no I Congresso
de Fátima para a América Latina e as Caraíbas. Saúdo a cada um e a cada
uma em particular, com muito afecto e no amor de Jesus Cristo e de Maria,
Sua e nossa Mãe.
Foi com muita alegria que soube da sua decisão de criar o Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Fátima na paróquia de Santa Rosa de Lima, no
município de San German. É-me particularmente grato que a sua proclamação pública aconteça no dia 28 de Agosto, festa de S. Agostinho, padroeiro da
diocese de Leiria-Fátima. O Santuário agora criado prolonga, em Porto Rico
e nas Caraíbas, o eco da Mensagem particular que Nossa Senhora trouxe para
toda a humanidade, a partir de Fátima.
No momento em que o ódio e as guerras mundiais mergulhavam o século
XX no fogo e no sangue, eis que Deus, através de Maria, Mãe do Salvador,
Jesus Cristo, adverte a humanidade e dá sinais da Sua misericórdia: convida
os homens a não se resignarem à banalização do mal, apelando a um amplo
renascimento espiritual de fervor, de oração e conversão profunda dos corações.
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Mensagem a propósito da criação do Santuário Diocesano
de Nossa Senhora de Fátima na paróquia de Santa Rosa
de Lima, no município de San Germán (Porto Rico)
. escritos episcopais .
Maria manifesta-se mais uma vez como Mãe de Misericórdia, fazendo
sentir o grito da sua grande dor e do seu grande amor pela humanidade, com
uma mensagem de consolação e de esperança. Ela continua a dar-nos ânimo
no início deste milénio: Não tenhais medo! Convertei-vos, convertei o vosso
coração ao Amor Misericordioso de Deus.
Ao Seu coração confiai os vossos anseios e inquietações com a conhecida
e comovente invocação: Mostra que és nossa Mãe!
Mãe das crianças: como o foste de Jesus Menino, ajudando-as a crescer
em idade, sabedoria e graça;
Mãe dos jovens: que pelo testemunho da beleza da tua humanidade e da
tua fé possam descobrir a beleza da vida com Cristo e abandonar os caminhos
que os levam à perdição e à morte;
Mãe das famílias: a quem chamou a descobrir a beleza do seu amor fiel e
duradoiro que vence toda a crise;
Mãe dos pobres, dos humilhados e ofendidos na sua dignidade, dos que
não encontram trabalho, nem casa, nem pão, para que vejam reconhecida a
sua dignidade.
Minhas irmãs e meus irmãos congressistas e peregrinos: que Nossa Senhora de Fátima vos esteja próximo e vos acompanhe sempre com o Seu
auxílio materno é a minha prece.
Leiria, 22 de Agosto de 2009,
memória da Virgem Santa Maria, Rainha.
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
Homilia das exéquias do P. Luís Kondor
Estamos aqui recolhidos para celebrar a Santa Missa de sufrágio e despedida pelo nosso querido irmão P. Luís Kondor, sacerdote da Congregação do
Verbo Divino, radicado em Fátima há cinquenta e cinco anos, conhecido em
toda a parte como Vice-Postulador da Causa da Canonização dos Pastorinhos.
Somos muitos hoje a viver este momento e esta experiência de fé. Nós,
aqui presentes, e muitos outros de longe manifestaram as suas condolências à
Congregação e à Diocese, declararam a sua estima, asseguraram a sua oração.
Quero deixar aqui expresso o meu agradecimento à Congregação do Verbo
Divino, aos médicos e a toda a equipa do secretariado da Vice-Postulação,
que o assistiram com tanta dedicação na fase do seu sofrimento.
No sacramento do Corpo e Sangue do Senhor, que celebramos, está presente e unida a Cristo Sacerdote toda a vida e toda a missão do P. Kondor.
Queremos assim confiá-lo ao Senhor, em grande acção de graças pelo dom
do seu sacerdócio exercido ao longo de cinquenta e seis anos, deixando-nos
iluminar pela Palavra de Deus.
1. Arauto da Mensagem de Graça e Misericórdia através do mundo
No Evangelho ouvimos o grande poema do Magnificat, que brotou dos
lábios e do coração de Maria, inspirada pelo Espírito Santo.
Começa com a palavra Magnificat: a minha alma “engrandece” o Senhor,
isto é, proclama a grandeza do Senhor. Maria deseja que Deus seja grande no
mundo, grande na sua vida, presente e grande no meio de todos nós. Ela sabe
que se Deus é grande, também nós somos grandes; Ele faz em nós maravilhas
de graça. A nossa vida não é oprimida, mas antes elevada e dilatada: torna-se
grande na beleza e grandeza do Amor, da Bondade e da Misericórdia de Deus.
Só se Deus é grande, também o homem é grande!
Mas quando Deus é esquecido ou marginalizado, o homem não mais se
torna grande. Ao contrário, perde o sentido da sua própria dignidade divina,
perde o esplendor de Deus sobre o seu rosto e pode ser marginalizado, usado
e abusado, ferido e oprimido na sua dignidade, como nos confirmam os mais
trágicos acontecimentos do século XX e outros deste nosso tempo.
No poema do Magnificat, Maria, guardando e meditando os acontecimentos da própria existência, descobre neles, de modo cada vez mais profundo,
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Um arauto da Mensagem de Fátima
. escritos episcopais .
o misterioso desígnio de Deus para a salvação do mundo. Proclama a Sua
grande Misericórdia que se estende de geração em geração.
Nas Aparições em Fátima, Nossa Senhora fez ecoar, de novo, precisamente esta mensagem do Magnificat para a humanidade do século XX, em
risco de afundar-se no abismo infernal da autodestruição, e para a Igreja ferozmente perseguida para ser aniquilada.
Foi esta beleza e grandeza da graça e da misericórdia de Deus que fascinou
os pequenos videntes, os pastorinhos, e os atraiu para o caminho da santidade.
Foi esta mensagem que o P. Kondor, vindo do Leste, percebeu, com particular acuidade, na sua relevância e urgência para a Igreja, para o mundo e
para a vida cristã. Por isso se tornou um dos grandes arautos da Mensagem,
com uma íntima, profunda e total dedicação. Promoveu a sua difusão universal com a publicação das “Memórias da Irmã Lúcia” e do “Boletim dos
Pastorinhos” em várias línguas e através das suas viagens a vários países.
Aos pastorinhos dedicou especial afecto, tomando a peito a causa da sua beatificação e canonização, e difundindo a sua espiritualidade. Considerava a santidade dos pastorinhos como “um dos mais belos frutos da Mensagem de Fátima”.
O nosso caro P. Kondor fica indelevelmente ligado à história de Fátima.
E Fátima, pela voz do seu bispo e pela vossa presença, exprime-lhe hoje, de
modo particular, toda a sua imensa gratidão, na hora da despedida.
2. O Amor ao Coração Imaculado de Maria e à Igreja
A página do Apocalipse, que escutámos na primeira leitura, ilumina um
outro aspecto da Mensagem de Fátima. O vidente do livro do Apocalipse
oferece à nossa meditação o drama da história, sob a figura simbólica da luta
entre o dragão sanguinário e a mulher indefesa.
O dragão é a representação impressionante e inquietante de todos os poderes da violência do mundo. Parecem invencíveis! Mas a figura da “mulher
vestida de sol e coroada de doze estrelas”, indefesa e vulnerável, que é a
Igreja e que é Maria rodeada por toda a Igreja (simbolizada nas doze estrelas),
diz-nos que esses poderes não são invencíveis. Porque a misericórdia de Deus
é mais forte que o poder do mal, vence o amor e não o ódio; e por fim vence
a paz. O que parece impossível aos homens é possível a Deus.
Também em Fátima, Nossa Senhora trouxe à humanidade em guerra e à
Igreja esta mesma mensagem de conforto, de consolação e de esperança, com
a linguagem do seu Coração Imaculado de Mãe que sente as dores dos filhos:
“Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”! Como quem diz: tende coragem, tende confiança; no fim vencerão o Amor e a Paz!
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Mas, ao mesmo tempo convida-nos a colaborar nesta tarefa através da
“reparação” pelo(s) pecado(s) do mundo, através da oração, da adoração, da
penitência. É um convite a entrar no Oceano do Amor divino como resistência e não capitulação à banalidade e fatalidade do mal; a assumir a nossa
responsabilidade no serviço à vitória do amor, do bem e da paz; a transformar
o mundo começando por nós mesmos.
Assim o entendeu o nosso caro P. Kondor, devoto profundo do Coração Imaculado de Maria. Para ele, a “reparação” constituía o núcleo da Mensagem da Senhora. Deixou pronto um livro sobre o tema, para publicação póstuma, onde escreve: “Consagração (ao Coração Imaculado de Maria), reparação e santificação
são expressões que significam a mesma coisa e devem ser realizadas, necessariamente, em profunda comunhão e harmonia com a totalidade da pessoa humana”.
Era algo que ele mesmo vivia. Numa visita que lhe fiz na fase final
da doença confidenciou-me: “Quero viver este sofrimento como oferta de
reparação tal como os pastorinhos”. E numa outra vez perguntou-me: “que
posso ainda fazer, assim, pela Diocese”? Ao que eu lhe respondi: “Ofereça
o seu sofrimento pelo dom das vocações sacerdotais de que a Diocese tanto
precisa”. “Sim, sim”, foi a sua resposta serena, como quem se sente em paz.
Até ao fim, manifestou o seu profundo amor pela Igreja. Neste momento, é
nosso dever reconhecê-lo como um grande benfeitor da Diocese de Leiria-Fátima e da Igreja em Portugal. Com os seus vastos contactos internacionais conseguiu grandes ajudas para muitas dioceses, paróquias, seminários, mosteiros
e causas sociais. A Igreja em Portugal fica-lhe muito grata e não o esquecerá.
3. Na companhia gozosa de Nossa Senhora e dos Pastorinhos
Finalmente, no texto da primeira Carta aos Coríntios, um grande mistério
de amor é proposto à nossa contemplação: Cristo vence a morte com o seu
amor! Só o amor nos faz entrar no Reino da Vida definitiva e plena. Recordanos que quem vive e morre no amor de Deus e do próximo será transfigurado
à imagem do Corpo glorioso de Cristo ressuscitado.
Compreendemos que o nosso morrer não é o fim, mas o ingresso na Vida
que não mais conhece a morte, nem o luto, nem a dor. Com este olhar de fé e de
esperança vemos agora o nosso P. Kondor: vivo para sempre no coração beatificante de Deus, na plena comunhão dos santos, contemplando e saboreando, na
companhia gozosa de Nossa Senhora e dos pastorinhos, toda a beleza do Rosto
e toda a riqueza do Amor misericordioso de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo!
Fátima, 30 de Outubro de 2009
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
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Homilia na celebração evocativa
da morte do P. Rogério Oliveira
Pedras Vivas
No contexto do Ano Sacerdotal, correspondendo a uma sugestão do Santo
Padre, para valorizar as vivências, fazemos hoje memória grata, em celebração eucarística, do saudoso P. Rogério Pedro de Oliveira, por ocasião do
vigésimo aniversário da sua partida para a casa eterna do Pai.
Foi um sacerdote do nosso presbitério, com quem tive a dita de partilhar
a amizade desde o tempo em que fomos colegas de estudo em Roma. Hoje,
como bispo da diocese, é-me grato evocar o seu testemunho e actividade
sacerdotais que deixaram marcas na nossa Igreja. Quero saudar e agradecer,
particularmente, aos seus pais e demais familiares que estão presentes nesta
celebração.
A festa litúrgica de hoje, a Dedicação da Basílica de S. João de Latrão,
catedral do Bispo de Roma que preside na caridade à comunhão da Igreja
universal, é um belo enquadramento para a memória evocativa do P. Rogério.
A Palavra de Deus proclamada introduz-nos na contemplação do mistério
da Igreja e da sua beleza através de três imagens: a água viva que mana do
Santuário em forma de torrente e leva vida e fecundidade a todas as partes
aonde chega; o edifício em construção e o templo, por excelência, que é o
Corpo de Cristo. Vamos fixar-nos apenas na imagem do edifício: “Vós sois o
edifício que Deus está a construir”.
1. S. Paulo põe em relevo, antes de mais, o seu fundamento: “ninguém
pode pôr outro alicerce que não seja aquele que já está assente e esse alicerce é Jesus Cristo”. Este é o elemento central da Igreja, o coração vivo e
palpitante da sua vida e missão. Não há Igreja sem Cristo, porque Ele é o
seu fundamento, a pedra angular, o centro, a vida, a força, a meta, a alegria.
Numa palavra, Cristo é o “tudo” da Igreja. E a Igreja deve recordá-lo sempre
e em toda a parte: a Igreja universal, a Igreja local e cada comunidade cristã.
2. Do fundamento passamos às pedras da construção do edifício de Deus.
São as “pedras vivas e eleitas”, somos todos nós que, com o baptismo, rece-
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bemos a graça e a responsabilidade de tomar parte activa na construção da
Igreja do Senhor. Não só individualmente, mas também comunitariamente,
juntos, unidos enquanto edifício que só pode ser construído com o concurso
de todos, com o trabalho em equipa e em rede. É o trabalho pastoral em comunhão.
Dizia Santo Agostinho numa homilia para a dedicação da igreja: “Se estas
pedras materiais não estivessem unidas entre si com cimento, se não se ajustassem facilmente, se não fossem amassadas, de algum modo, aderindo entre
si, reciprocamente, este templo não existiria”. E acrescentava: “também nós
devemos estar unidos na caridade”.
3. Nesta sequência, S. Paulo convida-nos ainda a um exame de consciência sobre a responsabilidade eclesial que nos foi confiada. Dois elementos
merecem a nossa atenção.
O primeiro solicita-nos a verificar a modalidade, o como, a qualidade do
nosso agir na Igreja e pela Igreja: “Cada um veja como está a construir”.
O segundo elemento sublinha a seriedade que nos é pedida no nosso empenho pessoal em edificar a Igreja, em participar na sua vida e na sua missão.
A nossa responsabilidade consiste na resposta que damos a Deus, Àquele que
nos chama a ser pedras vivas e eleitas da sua Igreja, que nos dá a dignidade
de sermos seus colaboradores na construção do edifício. La noblesse oblige!
Tal dignidade exige coerência na acção.
Cada um de nós é chamado a colaborar na edificação da Igreja mistério
de comunhão de Deus com os homens e dos homens entre si, vivendo com
alegria, serenidade e simplicidade o próprio serviço, pequeno ou grande que
seja. Cada serviço, cada pedra são preciosos se contribuem para o crescimento na unidade da caridade, da fé e da esperança.
4. O nosso caro P. Rogério foi, de facto, uma grande pedra viva na edificação da nossa Igreja diocesana, vivendo o ministério sacerdotal com a alegria,
a serenidade, a simplicidade, o desprendimento e a dedicação apaixonada,
características reconhecidas por todos os que privaram com ele ou usufruíram
do seu serviço sacerdotal.
Foi um homem de Igreja e da Igreja-Comunhão! Em ordem à sua renovação, à luz do Concílio Vaticano II, procurou construir sobre o fundamento que
é Jesus Cristo. Recordo bem, do tempo de estudante em Roma, a sua paixão
pela renovação da Teologia Moral precisamente a partir de Jesus Cristo e do
espírito evangélico. Isso mesmo transpôs para o seu trabalho pastoral, no
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. escritos episcopais .
. escritos episcopais .
qual colocou aquela seriedade, busca de qualidade e exigência que S. Paulo
nos indica.
Foi com este espírito evangélico que procurou viver, testemunhar e promover a fraternidade no presbitério, como irmão e amigo, trabalhando em
equipa e empenhando-se na construção da Casa Diocesana do Clero. Tomou
a peito a formação permanente dos presbíteros, consciente da sua necessidade para uma acção pastoral de qualidade e para a renovação da Igreja.
De igual modo, empenhou-se na promoção do apostolado laical através
da organização da Pastoral Familiar e da criação da Escola Teológica de Leigos para a formação de um laicado adulto e maduro na fé, apto a corresponder
às necessidades pastorais das comunidades cristãs e à altura dos novos desafios da missão e do diálogo com o nosso mundo.
O P. Rogério abriu caminhos de comunhão e renovação; lançou sementes
na nossa Igreja Diocesana que frutificaram e cujos frutos ainda perduram.
Por tudo isso damos profundas graças ao Senhor pelo dom do seu sacerdócio,
confiantes de que o legado que nos deixou e a sua intercessão por nós junto de
Deus sejam para todos um novo impulso e um novo vigor para o entusiasmo
do nosso trabalho na construção da Igreja do Senhor, em que resplandeça
cada vez mais a luz e a beleza de Cristo, “luz do mundo”.
Catedral de Leiria, 9 de Novembro de 2009
Dedicação da Basílica de S. João de Latrão
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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Mensagem de Natal de 2009
1. A festa do Natal, património espiritual da humanidade
O Natal é um tempo especial do ano em que o Mistério bate, particularmente, à nossa porta. Cidades e aldeias, um pouco por todo o mundo, celebram o acontecimento. Nenhuma outra festa cristã conheceu tão grande popularidade. É uma festa carregada de uma beleza e de uma riqueza humanas
inigualáveis. Ela faz aflorar as aspirações e os sentimentos mais verdadeiros,
profundos e nobres do coração humano e de toda a humanidade: a aproximação e comunicação entre as pessoas com votos de boas festas, a ternura e o
encontro das famílias, a partilha com os mais necessitados, a fraternidade, a
reconciliação e a paz entre as pessoas e entre os povos. A festa do Natal faz
parte do património humano!
2. Deus como companhia: Deus connosco
Devemos, porém, confessar que o comércio e a publicidade se apoderaram, de algum modo, da festa. Corre-se o risco de perder o sentido profundo
do Natal, de esquecer o seu primeiro protagonista que, por vezes, é o grande
ausente. Por isso, é sempre necessário um chamamento ao essencial, ao coração da fé.
A festa cristã de 25 de Dezembro faz memória do nascimento de um
Menino. Milhões e milhões de pessoas reconhecem nele o próprio Filho de
Deus, “Deus de Deus, Luz da luz”. No Natal celebramos esta vinda de Deus
ao coração do nosso mundo: Deus tão humano como nós e, em certos aspectos, ainda mais humano.
O acontecimento é único, inaudito, inconcebível, inimaginável: Deus ao
nível do homem para elevar o homem à altura de Deus. Por isso, o Natal
cristão é, antes de mais, a festa da generosidade superabundante de Deus. É o
próprio Deus que se dá a nós, Deus connosco e para o mundo.
Ele veio e continua a vir, na história da humanidade, a bater à porta de
cada homem e de cada mulher de boa vontade para trazer às pessoas, às famílias e aos povos o dom da fraternidade, da concórdia e da paz.
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Deus como companhia e esperança
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3. Um Natal diferente: para novos modos de vida
A mensagem do Natal é sempre nova como são novos os problemas do
mundo e as circunstâncias da vida em cada ano. No firmamento dos últimos
dias deste ano 2009 pairam, sobre o mundo e o nosso país, nuvens negras,
densas e ameaçadoras: os reflexos da crise económico-financeira, o desemprego crescente, as novas situações de pobreza, o cancro tentacular da corrupção, a quebra de confiança na justiça, a gripe A, as alterações climáticas
que ameaçam o nosso planeta... Acrescem ainda os problemas que vivemos
nos diferentes momentos do nosso caminho pessoal e familiar. Vamos tomando consciência de que “a sociedade cada vez mais globalizada nos torna
vizinhos, mas não nos faz irmãos”(Bento XVI, O amor na verdade, n. 19).
Neste contexto, a mensagem de fraternidade e de paz que Cristo traz ao
mundo chama-nos a viver um Natal diferente. Chama-nos, concretamente, a
um suplemento especial de fraternidade e partilha para nos fazer próximos e
ajudar as pessoas e famílias em dificuldade; a novos modos de vida marcados
por novas formas de solidariedade e por uma santa e saudável sobriedade,
como estilo de vida ordenado, equilibrado, atento ao essencial e fora de todo
o tipo de excesso no consumo, no endividamento, na escravidão da moda, na
ostentação da grandeza e da riqueza, no supérfluo. Sem fraternidade, solidariedade e sobriedade não haverá futuro.
Peçamos pois ao Senhor: Dá-nos, Senhor, neste Natal um coração novo,
mais fraterno, solidário e sóbrio, capaz de nos fazer próximos e de partilhar
de mãos largas.
Um Natal assim será Natal de esperança!
A todos os diocesanos endereço os melhores votos de santo, fraterno e
solidário Natal e feliz Ano 2010!
Leiria, 8 de Dezembro de 2009
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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Homilia de Natal, na Catedral de Leiria
Caros irmãos e irmãs no Senhor,
Quero antes de mais saudar-vos com todo o afecto e exprimir a minha
grande alegria em poder celebrar convosco a eucaristia desta noite santa do
Natal de Cristo.
O Natal é uma festa carregada de uma beleza e de uma riqueza humanas
inigualáveis, que move todo o mundo. Mas, por vezes, corre-se o risco de
esquecer o seu primeiro e principal protagonista: o Deus-Menino, Deus connosco. É Ele que pede o nosso especial acolhimento. E nós, que aqui viemos,
queremos deixar-nos interpelar pelo anúncio que acabámos de escutar.
1. “Chegou o dia de Maria dar à luz e teve o seu filho primogénito. Envolveu-o em panos e recostou-o numa manjedoura, por não terem lugar na
hospedaria”. Chegou o momento anunciado pelo Anjo: “Darás à luz um filho
e por-Lhe-ás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo”. Estas frases não podem deixar de tocar o nosso coração.
Por um lado, podemos imaginar com quanto amor Maria se preparou para
aquela hora. A breve anotação “envolveu-o em panos” deixa-nos intuir algo
da santa alegria e do zelo silencioso de tal preparação. Estavam prontos os
panos para que o Menino pudesse ser bem acolhido.
Por outro lado, na hospedaria não havia lugar. O Menino teve de nascer
num estábulo. De algum modo, a humanidade espera Deus, a sua proximidade. Mas quando chega o momento, não tem lugar para Ele. Está tão ocupada
consigo mesma, sente necessidade de todo o espaço e de todo o tempo para as
próprias coisas e afazeres, que não resta lugar para o outro: para o próximo,
para o pobre, para Deus. E quanto mais ricos se tornam os homens, tanto mais
preenchem tudo consigo mesmos, com as suas coisas e os seus interesses.
S. João, no seu evangelho, aprofundou esta breve notícia de S. Lucas,
dizendo: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”.
Estas palavras aplicam-se também a nós, a cada pessoa e à sociedade.
Temos nós tempo para o próximo que precisa da minha presença, da minha
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Vinde, adoremo-Lo
. escritos episcopais .
palavra, do meu afecto? Para o doente, o idoso ou solitário que precisa de
ajuda? Temos nós tempo e espaço para Deus? Pode Ele entrar na nossa vida
tão ocupada?
2. Graças a Deus, a notícia negativa não é a única. Encontramos aí o
amor de Maria, a mãe, a fidelidade de S. José, a vigilância dos pastores e a
sua grande alegria, a visita dos Magos vindos de longe. E S. João acrescenta:
“A quantos O receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”.
Existem aqueles que O acolhem e, deste modo, a começar do estábulo, cresce
a nova família dos filhos de Deus, um novo povo, um novo mundo.
A mensagem do Natal diz-nos que Deus não se deixa ficar fora. Ele encontra um espaço, mesmo que seja entrando para o estábulo. Existem homens
que vêem a sua luz e a transmitem. O anúncio do Anjo aos pastores fala-nos
também a nós hoje; e na celebração deste santo mistério, a luz do Redentor
entra na nossa vida.
A luz e a sua mensagem convidam-nos a pormo-nos a caminho, a sairmos
da mesquinhez dos nossos desejos e interesses a fim de irmos ao encontro do
Menino Deus e adorá-Lo.
Venite, adoremus! Vinde, adoremo-Lo!
Com a humildade dos pastores ponhamo-nos a caminho, nesta noite santa, até junto do Menino no estábulo! Adoremo-Lo, abrindo o nosso coração
e o nosso mundo à verdade, ao bem, a Cristo, ao serviço de quantos vivem
marginalizados e nos quais Ele nos espera. Então a sua alegria tocar-nos-á e
tornará o mundo mais luminoso.
“Exultemos de alegria,
Adoremos o Senhor:
Da Virgem Santa Maria
Nasceu Cristo, o Redentor”.
Boas Festas de Santo Natal a todos vós e a todos os que vos são queridos!
Ámen!
Leiria, 25 de Dezembro de 2009
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
Maravilha, gratidão e louvor
pela graça de Deus
É uma grande alegria estar aqui juntamente convosco para concluir o ano
2009 e iniciar o novo ano diante do Senhor. Com esta alegria saúdo, afectuosamente, a todos e a cada um em particular.
Deixemo-nos inspirar pela Palavra de Deus que suscita em nós os sentimentos mais simples e mais profundos perante o dom do tempo que o Senhor
nos concedeu e concede viver.
Fixemo-nos na figura de Maria cuja Maternidade divina hoje celebramos.
S. Lucas apresenta-no-la assim: “Maria guardava todas estes acontecimentos,
meditando-os em seu coração”. Maria recolhe-se em meditação, procurando
perceber o significado do mistério que a envolveu: o ter dado à luz o Filho de
Deus feito carne humana no seu seio. Assim, concentra-se toda no dom com
que Deus, no seu amor gratuito, a agraciou.
Uma maravilha que se torna gratidão – uma gratidão cantada. Como não
pensar no Magnificat de Maria, na sua alegre acção de graças? Sim, naquela
acção de graças em casa de Isabel e naquela ainda mais intensa e vibrante no
seu coração, na gruta de Belém? A maravilha converte-se em louvor a Deus.
Até os pastores foram contagiados, como diz S. Lucas: “Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto,
como lhes tinha sido anunciado”.
Acção de graças no final do ano
Eis, pois, qual deve ser o nosso sentimento dominante no final deste ano:
a maravilha, a gratidão e o louvor a Deus pelos seus dons de salvação e de
graça, postos pelo seu amor em cada um dos dias do ano que está prestes a
terminar.
Quais os dons que nos levam a estar gratos e a louvar o Senhor? Espontaneamente pensamos em tantas experiências de bondade, de serenidade, de
alegria; em momentos particulares de encontro com Deus e de partilha com
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Homilia de fim-de-ano no Santuário de Fátima
. escritos episcopais .
os irmãos; e ainda em experiências de cansaço, de fadiga e de provação em
que sentimos a companhia, a mão amiga e a força do Senhor.
Todavia, a interrogação “Quais os dons que devem ser motivo de reconhecimento e louvor ao Senhor?”, chama-nos também a referi-los à nossa
família, aos nossos amigos e às pessoas que nos estão particularmente próximas, aos nossos grupos e movimentos, às nossas comunidades, à nossa
paróquia, aos diversos ambientes da nossa vida social, à Igreja diocesana e
universal, a toda a família humana.
A gratidão e o louvor da nossa Igreja
Com esta Eucaristia e com o canto do Te Deum queremos fazer memória
de todos os dons do Senhor e cantar-Lhe, todos juntos, o nosso reconhecimento, de modo particular por algumas experiências mais marcantes vividas
pela Igreja, que evoco sumariamente.
1. Começo por evocar o Ano Sacerdotal como um verdadeiro ano de graça para levar as comunidades cristãs a redescobrirem e estimarem o dom do
sacerdócio ministerial e da sua beleza para a Igreja e para o mundo; um ano
de oração intensa pelo florescimento das vocações sacerdotais e pela santificação dos sacerdotes para que sejam verdadeiros pastores segundo o coração
de Cristo, testemunhas da ternura e da misericórdia de Deus como o Santo
Cura d’Ars: “Um bom pastor, segundo o coração de Deus, é o maior tesouro
que o bom Deus pode dar a uma paróquia e um dos mais preciosos dons da
misericórdia divina”.
2. Uma outra graça para a Igreja universal foi a encíclica social do Santo
Padre, “O Amor na Verdade”, sobre o desenvolvimento integral da pessoa humana e dos povos na era da globalização. De um modo geral, eu diria que ela
pretende colocar a fraternidade e a ética no coração da globalização e dar uma
alma social à economia de mercado. “A sociedade cada vez mais globalizada
torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos” – adverte, como quem nos diz:
sem fraternidade, sem solidariedade e sobriedade não há futuro.
3. Nesta linha, desejaria ressaltar toda a acção social da Igreja em Portugal em favor das vítimas da crise económica e social e que teve expressão
emblemática no Fórum nacional “Reinventar a solidariedade”, por ocasião da
celebração do Cinquentenário do monumento a Cristo Rei. O rosto de uma
Igreja solidária tem sido o melhor testemunho da realeza do amor social de
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. escritos episcopais .
4. Ao nível da nossa querida diocese de Leiria-Fátima são motivo de
louvor e reconhecimento as várias iniciativas em ordem a realizar o percurso pastoral traçado para este ano na Carta Pastoral “Ir ao coração da
Igreja. Comunhão e corresponsabilidade na comunidade cristã”. Trata-se de
descobrir a beleza do mistério de comunhão divina e humana que constitui
o coração da Igreja e de todos se sentirem seus membros vivos, participantes e corresponsáveis. Só na Igreja podemos experimentar aquela nova
comunhão de graça que vai para além dos critérios puramente humanos de
simpatia ou conveniência e nos faz irmãos na mesma fé e no mesmo amor
em Cristo. Cultivemos um amor apaixonado pela Igreja: é a nossa mãe, é a
nossa casa espiritual, é o ambiente em que a fé no Senhor Jesus pode crescer e dar os seus frutos.
5. Por fim, em relação à vida do nosso Santuário quero evocar, antes de
mais, o momento comovente da comemoração dos vinte e cinco anos da
Consagração do Mundo ao Coração Imaculado de Maria pelo Papa João Paulo II, a Consagração de Portugal ao Coração de Jesus por ocasião da visita das
relíquias de Santa Margarida Maria Alacoque e o Centenário do nascimento
da Beata Jacinta Marto, exemplo de como uma criança é capaz de ter o verdadeiro sentido da Igreja, de a amar e de se sacrificar por ela e, particularmente,
pelo Santo Padre.
Por isso, quero acrescentar, como motivos de acção de graças, o anúncio
da próxima visita do Papa Bento XVI como peregrino de Fátima e a proclamação das virtudes heróicas dos Papas Pio XII e João Paulo II, como primeiro passo para a sua beatificação. Estes três Pontífices são também “Papas de
Fátima”. Na Mensagem de Nossa Senhora receberam a força para o testemunho de uma Igreja que não tem medo do futuro, através daquela destemida
expressão de João Paulo II que ainda hoje ressoa aos nossos ouvidos: “Não
tenhais medo”!
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Cristo e do sacerdócio comum de todos os fiéis no serviço aos mais necessitados, como tão belamente diz S. João Crisóstomo: “Pensa que te tornas
sacerdote de Cristo dando, com a tua própria mão, não carne mas pão; não
sangue, mas um copo de água”.
Este testemunho torna-se num apelo aos governantes a olhar a crise e
enfrentá-la a partir das vítimas da própria crise (os desempregados, os novos
pobres, os marginalizados) e não a partir dos poderosos do mundo.
. escritos episcopais .
A “carícia” de Deus, bênção para o novo ano
No início do Ano Novo, a liturgia da Palavra convida-nos a começar o
nosso caminho e a prossegui-lo, dia após dia, com a bênção do Senhor: “O
Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça resplandecer sobre ti o seu
rosto e te seja favorável”.
Estas palavras são como uma “carícia” que Deus reserva para todos e
cada um de nós. Sim, uma carícia de Deus que testemunha o seu amor terno,
a sua proximidade de Pai e Amigo, o seu tomar-nos pela mão e acompanharnos, passo a passo, na vida, a sua resposta solícita às nossas invocações, o
seu conforto nas dificuldades, a sua consolação nos momentos de provação e
de solidão, a sua misericórdia sem limites para com as nossas infidelidades...
Uma carícia que tem a força extraordinária de nos impulsionar a viver o novo
ano na fé, na esperança e na caridade, no amor verdadeiro.
À bênção do Senhor pertencem ainda estas palavras: “O Senhor volte para
ti o seu olhar e te conceda a paz”. Também este “voltar o olhar” – que só pode
ser olhar de amor – é expressão da carícia de Deus. Só dela nos pode chegar
o grande dom da paz.
Sim, ó Senhor, não nos deixes órfãos do Teu amor, da Tua ternura: dá-nos
a paz! Nós Ta pedimos para todos os povos do mundo, para as nossas aldeias
e cidades, para as nossas famílias, para cada um de nós. Dá-nos a paz por
intercessão de Maria, nossa Mãe e Rainha da paz!
Feliz Ano, cheio de paz, para todos vós e para todos os que vos são queridos!
Fátima, 31 de Dezembro de 2009
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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Vida Eclesial
. destaque . notícias . Santuário de Fátima .
. serviços e movimentos . entrevistas .
. destaque .
Assembleia Diocesana
Vibrante apelo de D. António Marto
LMFerraz
Coração da Igreja
Perante uma assembleia de cerca de 350 diocesanos, de diversos escalões
etários, vocações e proveniências, D. António Marto fez a apresentação da
sua Carta Pastoral “Ir ao coração da Igreja – comunhão e co-responsabilidade
na comunidade cristã. “Muitos ainda não sabem o que é a Igreja, outros têm
imagens distorcidas dela, como sejam as de um ‘supermercado’ religioso ou
uma associação social”, referiu o prelado, apontando o caminho para “descobrir o seu verdadeiro rosto, os traços e laços que a caracterizam e distinguem
de qualquer outro grupo humano” e salientando a pertinência do tema do ano.
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Vida Eclesial
Por Luís Miguel Ferraz
. destaque .
Em primeiro lugar, o “anúncio do Evangelho, como Palavra que brota do
coração do Pai para o coração dos filhos”. Depois, os “sacramentos, dons de
que esta comunidade se alimenta e nos quais se constitui numa única casa
ou pátria (casa do Pai) espiritual”. De entre estes, destaca-se a Eucaristia,
“onde vamos a convite de Deus e onde criamos laços de comunhão que vão
muito para além dos laços de amizade”. Daqui brota um terceiro traço, o da
“comunhão fraterna, manifesta na partilha de alegrias e tristezas, de carismas
e dons, e dos próprios bens materiais colocados ao serviço de todos, especialmente os mais desfavorecidos”.
A quarta característica é o “testemunho, que nos leva a irradiar para o
mundo este dom”.
Finalmente, a consciência de que “Deus mora na Igreja e faz dela comunidade santa, mas com lugar para todos, mesmo os pecadores que somos”.
Espiritualidade de Comunhão
A partir desta imagem clarificada da Igreja, D. António lembrou que “ela
é viva, em comunidades vivas” e que “isto da comunhão não vai lá com leis,
nem é um mero sentimento vago”, pelo que compete a cada um agir como
membro activo. Desde logo, é preciso entender que, “se não for o Senhor a
edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem”. Por isso, é fundamental alimentar uma “espiritualidade de comunhão, alicerçada em convicções
fortes e na vida em Cristo, que se expressará na maneira de ser, de viver e
de se relacionar com os outros, ao ponto de vermos neles o próprio rosto de
Deus e de nos desprendermos para colaborar com eles e os ajudar a levar o
seu fardo”.
O modo de desenvolver essa espiritualidade e os passos para a concretização do grande objectivo do ano – “ Comunhão e co-responsabilidade na
comunidade cristã” – foi explicitado pelo Vigário-Geral da Diocese.
Acções em destaque
D. António Marto salientou três propostas concretas da sua Carta Pastoral.
- Primeira proposta, a constituição de mais grupos de lectio divina para
o Retiro Popular a divulgar por altura da Quaresma. No seu apelo insistente,
não deixou de deixar um veemente desafio aos Párocos, de cuja vontade e
empenho depende, de forma decisiva, o bem êxito da proposta. “Vamos animar os Párocos”, concluiu.
- Em segundo lugar, o prelado apontou como prioritária a criação dos
conselhos pastorais e económicos em todas as paróquias. D. António, que
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. destaque .
durante este ano pastoral irá presidir a um encontro em cada vigararia, para
formação de pessoas para estes conselhos, lamentou: “Depois de serem obrigatórios na Diocese há uma década e passados 45 anos das orientações do
Concílio Vaticano II, ainda há paróquias que não têm estas duas estruturas
fundamentais”.
- Finalmente, uma novidade no calendário: um grande encontro diocesano, a que o pastor chamou “mini-expo” da Igreja diocesana.
“Festa da Fé - Rosto(s) da Igreja Diocesana”
O padre Cristiano Saraiva, administrador diocesano, apresentou à assembleia o programa da “Festa de Fé – Rosto(s) da Igreja Diocesana”, a realizar nos dias 21 a 23 de Maio, em vários locais centrais da cidade de Leiria.
Pretende-se que seja um momento gerador de multidões, numa expressão
pública em três dimensões: espiritual, cultural e lúdico-festiva.
Haverá espaço para celebrações da fé, com destaque para a vinda da imagem de Nossa Senhora de Fátima da Capelinha das Aparições, numa das raras ocasiões em que sai daquele local. A imagem permanecerá na Catedral
durante estes dias. Haverá momentos culturais, como espectáculos teatrais,
oficinas, exposições, conferências, etc., alguns em parceria com a Câmara
de Leiria, por ocasião do Dia da Cidade (22 de Maio). Haverá também festa,
com espaços lúdicos espalhados pela cidade, concertos musicais e tascas de
bebidas e petiscos, e prevê-se a disponibilização do Jardim da cidade para
piqueniques e uma grande refeição partilhada, na tarde de sábado, dia 22.
Os principais objectivos são “celebrar a comunhão eclesial diocesana”,
“conhecer as diferentes realidades eclesiais” e “dar visibilidade ao rosto da
Igreja na sua diversidade”. Para tal, serão convidados todos os serviços, movimentos, paróquias e outras comunidades, que, em diversas tendas, farão
exposição das suas valências e actividades.
“O bom êxito da festa dependerá do número e da disponibilidade dos
que aceitarem o convite para participarem e colaborarem na sua realização”,
apontou o padre Cristiano.
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Vida Eclesial
Ano Sacerdotal
Uma nota final foi ainda apontada por D. António, a propósito do Ano Sacerdotal, de Junho passado a Junho de 2010, proposto pelo Santo Padre a toda
a Igreja. “Será também um desafio a descobrirmos a beleza do sacerdócio e
a suscitar nas comunidades o apreço pelos seus padres”, afirmou pedindo em
especial a oração pelas vocações sacerdotais.
. destaque .
Retrospectiva do ano...
Como habitualmente, houve uma retrospectiva da caminhada diocesana
do último ano pastoral. Numa apresentação multimédia, passaram imagens
e tópicos dos principais acontecimentos relacionados com a temática desse
ano: “Ir ao Coração da Fé – Formar para uma fé adulta”.
Um pouco por toda a parte, em iniciativas de âmbito diocesano e nos
programas dos vários serviços, vigararias e outras comunidades, foi patente
o esforço na área da formação, através de colóquios, conferências, cursos e
outros encontros. Formaram-se e funcionaram cerca de 250 grupos de lectio
divina, que envolveram mais de cinco mil pessoas e o próprio Bispo diocesano presidiu a um o encontro de formação pastoral em cada vigararia, com
uma participação total de mais de três mil pessoas.
No final, salientou-se que “o principal de todo este dinamismo são as
pessoas – as que promoveram, as que participaram e que beneficiaram dos
seus resultados – porque é no coração de cada um que o Espírito Santo vive
e se manifesta”.
Homenagem a Teresa Brites,
ex-funcionária do
Serviço de Catequese
A terminar a assembleia, foi
chamada ao palco Teresa Brites,
ex-funcionária da Diocese, cujo
trabalho, ao longo de mais de 37
anos, se desenvolveu sobretudo
no Secretariado Diocesano da
Educação da Infância e Adolescência, actual Serviço Diocesano de Catequese.
Teresa Brites recebeu das
mãos de D. António Marto um
diploma emitido pelo Papa Bento XVI e uma medalha de ouro
do Vaticano, como “benemérita
pelos serviços prestados à Igreja
e ao anúncio do Evangelho”. Foi uma forma de “agradecermos publicamente
a dedicação e serviço desta leiga à sua Igreja”, referiu o Senhor Bispo no
abraço que lhe deu em nome de todos os diocesanos.
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. destaque .
Bem-Aventuranças da Igreja-Comunhão
Este encontro da Igreja de Leiria-Fátima terminou com a Eucaristia na
igreja do Seminário, presidida por D. António Marto. Comentando a liturgia
dominical, o pastor lembrou que “hoje, mais do que nunca, é preciso despertar para a beleza do matrimónio e do amor familiar, uma maravilha de Deus
que sustenta o nosso mundo”. E servindo-se da mesma imagem, reforçou a
mensagem que animará o próximo ano pastoral: “A Igreja, Corpo Místico de
Cristo, é também uma maravilha do amor de Deus, onde somos um só, unidos
no coração do Pai, pelo Filho e no Espírito Santo”. E, à homilia, apelando à
“descoberta da beleza e riqueza da união de Deus connosco, nesta mesma
pátria espiritual”, leu um texto seu, a que chamou “Bem-Aventuranças da
Igreja-Comunhão”:
1. Bem-aventurada és tu, Igreja, porque és mistério-sacramento da Comunhão do Amor eterno de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, na história
quotidiana dos homens;
2. Bem-aventurada és tu, Igreja, porque és Povo de Deus em que todos
participam da comum dignidade, única e ímpar, de filhos de Deus e irmãos
uns dos outros;
3. Bem-aventurada és tu, Igreja, pelos teus Pastores, cujo ministério está
ao serviço do mistério maior da Comunhão;
4. Bem-aventurada és tu, Igreja, pelo teu laicado chamado a viver e a
irradiar o mistério da Comunhão no coração do mundo;
5. Bem-aventurada és tu, Igreja, pela tua vocação universal à santidade
multiforme na comunhão eclesial;
6. Bem-aventurada és tu, Igreja, pelos teus religiosos/as chamados a darem testemunho profético e radical do Evangelho da Comunhão;
7. Bem-aventurada és tu, Igreja peregrina, pelo teu destino eterno na
Comunhão plena e gloriosa da Ressurreição;
8. Bem-aventurada és tu, Igreja, pela tua Mãe, Maria, humilde serva do
desígnio divino da Comunhão a favor dos homens e Rainha da Comunhão na
fé, no amor e na esperança!
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Vida Eclesial
Desde 1972, a Teresa foi formadora e orientadora de estágios de centenas
de catequistas por toda a Diocese, assumiu o serviço de secretaria do SDECIA, e colaborou nos mais diversos eventos diocesanos, sempre com disponibilidade, alegria e espírito de serviço exemplares.
Falecimento
Padre Diamantino Maurício
Com 79 anos de idade, faleceu o padre Diamantino da Silva Maurício. Por motivos de saúde, encontrava-se a residir na Casa Diocesana do
Clero, em Fátima. A celebrações das exéquias realizou-se na igreja paroquial de Fátima, no dia 2 de Julho.
O Padre Diamantino Maurício nasceu a 24.03.1930, na paróquia de
Fátima, numa família de 7 irmãos. Era filho de Artur Maurício e de Maria
Júlia da Silva.
Entrou para o Seminário de Leiria em 1942, terminou o curso de teologia em 1954 e foi ordenado de presbítero da Diocese de Leiria, a 11 de
Julho desse mesmo ano, na Basílica do Santuário de Fátima.
De 1954 a 1960 foi Coadjutor de Espite. Em 1960 entrou em Rio de
Couros e Formigais como Pároco, mas anto, no ano seguinte, partiria para
Angola, como Capelão Militar. Até 1982 prestou serviço como Capelão
em diversas unidades militares em Moçambique, no Porto, de novo em
Angola, na Figueira da Foz, nas Caldas da Rainha e em Tomar.
Durante este tempo foi ainda Capelão do Santuário de Fátima (19621963), Vigário Paroquial nas Caldas da Rainha (1976-1980) e Pároco de
Alburitel (1980-1982).
Em 1982 foi nomeado Pároco das paróquias de S. Pedro e de S. João,
em Porto de Mós, e de Alcaria, onde esteve até Dezembro de 1987. Em
1989 assumiu a capelania do Mosteiro da Visitação na Faniqueira-Batalha, onde permaneceria até ao fim da sua vida. De 1994 a 2008 acumulou
ainda este serviço com as funções de Ajudante do Chanceler da Câmara
Eclesiástica e, de 2001 a 2004, com as de vigário Paroquial de Maceira.
A Diocese de Leiria-Fátima dá graças a Deus pela vida e dedicação
deste sacerdote, ao longo de 54 anos. Confia-o ao amor misericordioso do
Senhor e apresenta sentidas condolências aos seus familiares.
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Falecimento
Faleceu no dia 13 de Agosto, no Hospital de
Santa Cruz, em Lisboa, onde tinha sido internado
no dia anterior, o padre Francisco Jorge, pároco
de Casal dos Bernardos e de Ribeira do Fárrio, no concelho de Ourém,
diocese de Leiria-Fátima. Tinha 88 anos de vida e era padre há 65.
Nasceu a 11 de Julho de 1921, no lugar de Conqueiros, paróquia do
Souto da Carpalhosa, filho de Júlio Jorge e de Emília de Jesus.
Entrou para o Seminário de Leiria em 1933 e terminou o curso em
1944. Neste mesmo ano, a 23 de Julho, foi ordenado sacerdote em 23
de Julho de 1944. O seu longo ministério sacerdotal inclue as seguintes
nomeações: Pároco de Barreira (Leiria), coadjutor da paróquia das Cortes
e professor do Seminário de Leiria durante três anos, capelão militar na
Índia, pároco de Caranguejeira, de Marinha Grande, de Casal dos Bernardos e da Ribeira do Fárrio.
Como capelão militar, os seus serviços foram reconhecidos com a
condecoração com a Cruz de Guerra (4ª classe), em 1964, e a medalha de
prata de serviços distintos com palma, em 1965.
Vivendo incondicionalmente o sacerdócio, exerceu o ministério pastoral até aos últimos dias da sua vida. O seu zelo apostólico levou-o a
empenhar-se em vários movimentos apostólicos e a procurar os melhores
meios para ajudar as pessoas a crescerem na vida cristã. O desprendimento e generosidade com que vivia fazia que, por vezes, pagasse a jovens e
catequistas a participação em cursos de formação. Dotado de bom humor,
granjeava a simpatia das pessoas com quem convivia.
Ao mesmo tempo que comunica o falecimento deste zeloso e dedicado sacerdote, o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, agradece
a Deus o serviço por ele prestado à Igreja e à sociedade, e apresenta aos
familiares as suas sentidas condolências.
A celebração das exéquias decorreu na igreja paroquial de Casal dos
Bernardos (Ourém). O corpo seguiu, depois, para o lugar de Conqueiros,
na paróquia de Souto da Carpalhosa, terra natal do P. Francisco Jorge,
onde foi celebrada missa e feito o sepultamento no cemitério local.
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Vida Eclesial
Padre Francisco Jorge
Falecimento
Cónego José de Oliveira Rosa
“Sinal visível e tangível da ternura de Deus”
Por Luis Miguel Ferraz
Faleceu no dia 19 de Setembro, na Casa Diocesana do Clero, aos 93 anos, e com 70 anos de
ministério sacerdotal, o cónego José de Oliveira Rosa. Conhecido por
muita gente como organista na Catedral de Leiria, ainda hoje é recordado
como “o que tocava os sinos da Sé”. Foi, aliás, um dos impulsionadores
da aquisição do novo órgão daquela igreja e do restauro do carrilhão que
se encontra actualmente na torre, onde funciona uma escola para novos
executantes.
Nascido em 31 de Julho de 1916, no lugar do Padrão, paróquia dos
Pousos, entrou para o Seminário de Leiria em Outubro de 1927. Foi ordenado presbítero a 6 de Agosto de 1939 e nomeado Cónego da Catedral de
Leiria em 1951. Durante quase toda a sua vida foi o organista principal da
catedral de Leiria e do Seminário Diocesano, onde foi director da Schola
Cantorum e professor de Latim, Religião, Música, Piano, Órgão e Canto
Gregoriano, de muitas gerações de seminaristas e de quase todos os sacerdotes desta Diocese. No seu ministério foi ainda Chanceler da Câmara
Eclesiástica durante 56 anos, notário-actuário do Tribunal Eclesiástico,
notário do Tribunal para a Causa de Beatificação dos Videntes de Fátima,
tesoureiro da Confraria de Nossa Senhora da Encarnação, bem como pároco e capelão em diversas comunidades da Diocese.
Missa exequial na Sé
A missa exequial de corpo presente celebrada na Sé, pelas 11h00 do
dia 21, foi presidida pelo Bispo diocesano, D. António Marto, concelebrada por muitos sacerdotes e participada por algumas centenas de fiéis.
Na sua homilia, D. António salientou o “ministério generoso e desprendido” do cónego Rosa e citou a passagem bíblica “Felizes os mortos que
morrem no Senhor”, para se referir à “apoteose que atingem todos os que,
como ele, amaram e seguiram as bem-aventuranças durante a sua vida”.
“Em primeiro lugar, estamos aqui para adorar a vontade santa de
Deus; a adoração que ele viveu, de gratidão perante Deus, sempre com
um sorriso no rosto, sinal da alegria do seu coração, da sua fé e do seu
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Visão positiva da vida e do mundo
Segundo o vigário-geral da Diocese, padre Jorge Guarda, o cónego
Rosa “era um sinal tangível da ternura de Deus para com quantos o conheciam e dele beneficiavam, com o seu jeito simples e cativante de ser
e de viver. O que mais admirava nele era o seu modo simples, humilde e
alegre de viver. Era uma pessoa com quem dava gosto estar e conversar.
Apreciava o humor e não ficava melindrado quando brincavam com ele.
Enraizado em Deus e na fé, tinha uma visão positiva da vida e do mundo,
mesmo não desconhecendo os problemas e os pecados dos homens de
hoje. As suas palavras revelavam a sabedoria de quem viveu longamente
e sabia tirar proveito da experiência da vida permeada pela fé cristã e pelo
cultivo de uma profunda piedade na relação com Deus e Nossa Senhora”.
O padre Jorge Guarda lembra ainda que “foi um grande benfeitor para
pessoas e instituições, desprendido em relação aos seus bens e a si pró| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 105
Vida Eclesial
sacerdócio”, afirmou D. António Marto sobre o falecido, que “sem desconhecer as contrariedades, procurava sempre o lado bom da vida e aproveitava todas as ocasiões para fazer festa e brindar”.
O Prelado referiu ainda que este era também momento de “agradecer
o ministério sacerdotal que ele viveu durante 70 anos, como sinal visível e
tangível da ternura de Deus, com a simplicidade própria dos pequeninos”.
Nessa longa caminhada, sobressaíram dois aspectos: “o amor entranhado
ao Seminário, onde viveu sempre e onde foi exemplo e estímulo para os
seminaristas, e que pode ser ainda hoje um testemunho vocacional”; e “o
tempo dedicado ao sacramento da Reconciliação, onde mais pôde exercer
a ternura e misericórdia de Deus, e que hoje ainda pode ser apelo à disponibilidade e dedicação dos sacerdotes a este ministério”.
Finalmente, D. António apontou o modo sereno e feliz como o cónego
Rosa viveu a sua morte, como prova de que “criatura alguma nos pode
separar do amor de Deus”. Este deverá ser “um estímulo a confessarmos
e proclamarmos a nossa esperança em Deus, e a vivermos o dom da Piedade, a relação íntima com Deus, que nunca nos deixará sós”.
No tom emotivo que marcou as suas palavras, o Bispo diocesano concluiu dirigindo uma oração a Deus: “Guarda-o junto de ti; guarda-o na tua
paz, Senhor”!
No final da celebração, sacerdotes e fiéis acompanharam a urna em
cortejo fúnebre até às portas da Catedral, de onde partiu para a celebração Eucarística nos Pousos, sua paróquia natal, em cujo cemitério ficou
sepultado.
prio, nada regateava sempre que via uma oportunidade para se dar e dar
do que tinha”. Num testemunho deixado no site da Diocese, o vigáriogeral conclui que “a sua vida sacerdotal é uma referência para todos os
sacerdotes, e um estímulo para que surjam novas vocações”.
Dados biográficos
• Nasceu 31.07.1916, no lugar do Padrão, da Paróquia dos Pousos, filho
de José de Oliveira Rosa e de Inácia de Jesus.
• Foi baptizado nos Pousos a 15.08.1916.
• Entrou para o Seminário de Leiria em Outubro de 1927 e tendo terminou
o curso em Julho de 1937.
• Foi instituído no ministério dos Leitores a 20.10.1936 e no dos Acólitos
a 24.10.1936.
• Em Outubro de 1937 é nomeado Prefeito do Seminário, funções que
exerce até Novembro de 1940. Passa a ser também professor nesta instituição, onde, até 1996, virá a ensinar disciplinas como Latim, Religião,
Música, Piano, Órgão, Canto Gregoriano, etc. Durante quase toda a sua
vida de sacerdote viria a ser o organista principal da catedral de Leiria e
do Seminário Diocesano.
• Foi ordenado diácono a 22.01.1939.
• Foi ordenado presbítero a 06.08.1939, na Catedral de Leiria.
• A 02.11.1940 é nomeado Chanceler da Câmara Eclesiástica, cargo que
exerce durante 56 anos, até 05.09.1996.
• De Abril de 1941 a Agosto de 1942 assume as funções de Pároco dos
Parceiros, continuando como Chanceler da Câmara Eclesiástica e Professor no Seminário.
• A 25.07.1951 é nomeado Cónego da Catedral de Leiria.
• De 11.08.1964 a 15.08.1973 é Vigário da Vara da Vigararia de Leiria.
• A 11.08.1973 é nomeado Notário-Actuário do Tribunal Eclesiástico.
• A 4.12.1973 é confirmado como Notário do Tribunal para a Causa de
Beatificação dos Videntes de Fátima.
• A 13.12.1983 é nomeado Tesoureiro da Confraria de Nossa Senhora da
Encarnação.
• Durante os anos do seu ministério sacerdotal foi ainda capelão em diversas capelanias: Carreira, Riba d’Aves, Ortigosa, Amor, Barreiros, igreja
de Nossa Senhora da Encarnação em Leiria, no Colégio de Nossa Senhora de Fátima.
• Faleceu a 19.09.2009, na Casa do Clero, aos 93 anos, e com 70 anos de
sacerdócio.
106 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
Falecimento
Faleceu no passado dia 28 de Outubro, em Fátima, o Padre Luís Kondor, Vice-Postulador da
Causa da Canonização dos Pastorinhos de Fátima. A celebração das exéquias decorreu no dia
30, às 11h00, na Basílica do Santuário de Fátima,
e o sepultamento teve lugar no cemitério de Fátima.
O P. Luís Kondor era membro da Congregação do Verbo Divino. Nasceu a 22.6.1928 em Csikvánd, na Hungria. Entre 1934 e 1939 frequenta a
escola primária na sua terra. Em 1940 deu entrada no internato dos Padres
Beneditinos, de Gyor, e, posteriormente, passa para o internato dos Padres
Cistercienses, em Székesfehérvár.
Terminou o liceu em 1944, já depois da entrada dos russos na Hungria.
A 20.08.1946, com 18 anos ingressou na Congregação do Verbo Divino.
Fez os primeiros votos a 8.09.1948 e começou os estudos de filosofia, ainda na Hungria. Em Janeiro de 1949, por ordem do seu superior, fugiu para
a Áustria, primeiro para Mödling e depois para Salzburg. Sendo também
a Áustria invadida pelos russos, a 12.06.1950 refugiou-se, por ordem dos
superiores, na Alemanha.
Foi ordenado presbítero a 28.08.1953, em St Augustin, na Alemanha,
e, em 1954 foi enviado para Fátima, Portugal, onde chegou a 19 de Novembro desse ano. Nomeado vice-prefeito do Seminário da sua congregação, cargo que exerceu durante 4 anos, dedicou-se também à pastoral
vocacional no Norte do país.
Em 8.07.1956 encontrou-se com a Irmã Lúcia, o primeiro dos numerosos encontros que viriam a ter, depois de vir a ser nomeado VicePostulador para a beatificação dos Pastorinhos.
Em 1960 acompanhou D. João Pereira Venâncio, Bispo de Leiria,
numa viagem de dois meses a vários países europeus. A partir de então
ficaria a dividir o seu tempo entre o Seminário do Verbo Divino e a colaboração pessoal pedida pelo Bispo de Leiria.
No Natal de 1960 foi-lhe atribuído o cargo de Vice-Postulador dos
Pastorinhos, que desempenhou até à sua morte. Em 1963 começou a publicar um boletim em sete línguas destinado a tornar conhecida a vida dos
dois Pastorinhos e a relatar o andamento dos processos de beatificação.
Para divulgação da fama de santidade dos Pastorinhos, o Bispo da diocese
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Vida Eclesial
Padre Luís Kondor
confiou-lhe a edição das «Memórias da Irmã Lúcia», que fez traduzir em
diversas línguas em todos os continentes, incluindo os países sob o regime comunista. Durante muitos anos conseguiu enviar com êxito, embora
de maneira oculta, não só literatura sobre Fátima, mas também imagens
de Nossa Senhora de Fátima para diferentes lugares da cortina de ferro.
Dedicou-se a diversas obras: em 1956, a construção do Monumento dos Valinhos; em 1959 a imagem de Santo Estêvão, na Basílica; de
1960 a 1965 colabora com D. João Pereira Venâncio na construção do
Seminário Diocesano de Leiria, do Colégio S. Miguel e do Colégio da
Marinha Grande; em 1964 a construção da Via Sacra e Capela do Calvário; de 1974-1997 colaborou na transferência de ajudas financeiras da
Weltkirche-Köln para dioceses, conventos, casas sacerdotais, paróquias e
casas sociais em Portugal; de 1974-1997 colaborou com o Europäischer
Hilfsfound das Conferências Episcopais da Áustria, Alemanha e Suíça,
no apoio a dioceses portuguesas; em 1979 a Construção da nova Casa
Episcopal de Leiria; de 1975-1985 colaborou na construção dos novos
Carmelos de Patacão (Faro), Bom Jesus (Braga) e São Bernardo (Aveiro).
Durante muitos anos, foi intermediário entre instituições da Igreja
alemã e obras nas dioceses Portuguesas. Entre os muitos apoios conseguidos, destaca-se a reconstrução de várias igrejas nos Açores, após o
grande sismo de 1.01.1980. Em 2000, com o apoio do Cardeal Meisner
de Colónia, empenhou-se na vinda do Papa João Paulo II a Fátima, em
13 de Maio de 2000, para a beatificação dos Pastorinhos, já anunciada
em Roma. A 15 de Novembro de 2004 recebeu o processo canónico da
cura milagrosa atribuída aos beatos Francisco e Jacinta, que entregou em
Roma, na Congregação para as Causas dos Santos.
Em Março de 2004, nos seus 50 anos de Padre e de presença em Portugal, foi homenageado pela “Fundação Ajuda à Igreja que Sofre” e, a 18 de
Janeiro de 2006 recebeu a insígnia da Ordem de Comendador, atribuída
pelo Presidente da República Jorge Sampaio.
Por ocasião da celebração das bodas de ouro sacerdotais declarou:
“Desde a minha infância que desejo ser sacerdote. Os meus pais enviaram-me para um colégio rigoroso, para fazer de mim um homem... Com
18 anos entrei na Congregação do Verbo Divino, para me tornar missionário. Para isso, tive que deixar a minha pátria e, com 25 anos fui ordenado
sacerdote. Desde então passaram 50 anos. Se hoje olhar para trás e me
recordar destes anos da minha vida, posso-vos assegurar que sou feliz na
minha vocação, e testemunhar que vale a pena dedicar-se e entregar-se a
Jesus Cristo, e trabalhar pela dilatação do Reino de Deus.”
108 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. especial . visita pastoral .
Visita Pastoral do Bispo à Diocese
D. António Marto retomou a Visita Pastoral à Diocese a meados de Outubro passado, desta vez nas paróquias da vigararia de Ourém: de 15 a 18 de
Outubro, na Freixianda; de 22 a 25 de Outubr, em Alburitel; de 29 de Outubro
a 1 de Novembro, em Seiça; de 4 a 8 de Novembro, em Nossa Senhora da Piedade – Ourém; de 26 a 29 de Novembro, em Formigais e Rio de Couros; de
9 a 13 de Dezembro, em Nossa Senhora das Misericórdias – Ourém. Seguirse-ão Ribeira do Fárrio (7 a 10 de Janeiro/2010), Gondemaria e Cercal (13 a
17 de Janeiro/2010), Caxarias (10 a 14 de Fevereiro/2010), Olival (24 a 28 de
Fevereiro/2010) e Casal dos Bernardos e Urqueira (10 a 14 de Março/2010).
Em relação às paróquias já visitadas, apresentamos nesta edição uma entrevista aos respectivos párocos, como tem sido hábito em cada caso, sempre
com as mesmas perguntas:
1. Que pensa da iniciativa do Bispo diocesano de fazer uma visita pastoral a
todas as paróquias?
2. Como se preparou a comunidade para receber o seu Bispo?
3. Qual foi o critério na elaboração do programa?
4. De forma geral, como decorreu a visita?
5. Houve algum momento especial que queira destacar?
6. Qual a principal mensagem ou marca deixada por D. António Marto?
7. Quais as expectativas criadas a partir da Visita Pastoral e que prioridades
pastorais se adivinham em ordem à renovação da dinâmica paroquial?
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Vida Eclesial
Pela vigararia de Ourém…
. especial . visita pastoral .
Padre Benevenuto de Oliveira Dias
Freixianda
1. Esta iniciativa do bispo diocesano efectuar
uma visita pastoral a todas as paróquias e particularmente, à da Freixianda, foi muito marcante,
para o bom pastor conhecer as suas ovelhas e estas
o sentirem mais perto de si. Ninguém ama o que
não conhece. Foi uma acção pastoral programada,
durante a qual a comunidade cristã sentiu ao vivo a
plenitude do ministério apostólico do Bispo e não
se limitou a ouvir falar dele.
2. A preparação da comunidade para receber o Bispo foi um trabalho intenso, ao longo de vários meses, formando o grupo Lectio Divina. Na preparação próxima, contactaram-se os jovens e todas as associações locais, no
sentido de definir o perfil da visita e delinear a programação.
3. A grande preocupação na elaboração do programa da visita foi atingir
os sectores da paróquia. Para além das celebrações litúrgicas, deu-se particular relevo aos órgãos de corresponsabilidade pastoral e aos agentes de pastoral, tais como, catequistas, intervenientes da celebração litúrgica, bem como
às Associações e movimentos organizados; às famílias, às crianças e aos jovens. Dedicou-se particular atenção aos doentes, aos pobres e aos idosos, integrando, no programa, as instituições específicas, tais como o Centro de Dia.
4. A visita pastoral excedeu todas as expectativas. As pessoas sentiram-se
contentes, foi um estímulo para toda a paróquia. Ele veio, de verdade, conhecer, conviver, dialogar, ouvir e falar. Disse muito, com palavras simples, a
pessoas simples.
5. Todos os momentos foram especiais, pois a visita do Sr. Bispo, sendo
tão rara, constitui sempre um momento muito particular e especial. No entanto, destaco a reunião com os jovens, na sua maioria estudantes. Compareceram perto de uma centena. Atribui-se ao filósofo Leibniz esta sentença:
“O mundo àqueles que tiverem do seu lado a juventude”. A sagrada Escritura
estimula a formação da juventude: “Toma em rapaz bom caminho, que o
segues em velhinho”.
6. A principal mensagem deixada pelo Sr. Bispo foi a de que haja uma
vivência da fé, mais esclarecida, toda baseada na palavra de Deus, que dê
resposta aos problemas da vida. “Povo da Freixianda …” gritava o Sr. Bispo,
“… não tenhais medo de abrir o vosso coração a Cristo.”
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. especial . visita pastoral .
7. Com esta visita pastoral espera-se que os paroquianos dêem mais vida
aos movimentos – o azeite para todas as lamparinas – numa fé baseada na palavra de Deus. A fé e o patriotismo são para se viverem em comunidade. “Onde
dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles”.
De forma a dar renovação à dinâmica pastoral, vai-se proceder no sentido
de dar mais formação aos pais, aos catequistas e aos jovens.
1. Para quem vem de uma região do país bastante distante, em termos geográficos e culturais, a
iniciativa insere-se numa preocupação de conhecer
a Diocese real. É portanto, de louvar.
2. A comunidade fez a sua preparação com serenidade e razoável interesse. Isso verificou-se na
frequência nas reuniões preparatórias.
3. Na preparação houve a preocupação de que o prelado ficasse com uma
ideia tanto quanto possível aproximada da realidade paroquial. Pôde contactar professores, comissões de Igrejas e capelas, catequistas, Cursos de
cristandade, Apostolado da Oração, idosos e a comunidade cristã em geral.
Também lhe foi proporcionada uma visita rápida ao Agroal e a todos os lugares de culto. As autarquias de ambas as freguesias esmeraram-se em receber
condignamente o ilustre visitante.
4. Cumpriu-se o programa na sua totalidade
5. Decorreram razoavelmente bem a Missa de encerramento, o encontro
com os Catequistas, e a administração do Crisma. De referir a satisfação em
acompanhar o Bispo no jantar do primeiro dia.
6. Foi especialmente marcante a exortação a que os cristãos sintam alegria
por pertencerem à Igreja e jamais se envergonhem da sua fé. Aos crismandos,
exortou-os a que, colaborando com o sacramento, se tornem firmes no testemunho cristão ao longo da vida.
7. Só o futuro poderá mostrar os frutos desta visita pastoral. Para já, ficou
a consciência dos paroquianos de que temos um pastor próximo do rebanho, e nisso o carisma pessoal do prelado é de assinalar. Ao mesmo tempo,
o primeiro responsável da Igreja Diocesana fica indiscutivelmente com uma
consciência melhorada da diocese a que preside.
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Vida Eclesial
Padre Luís Henriques Francisco
Formigais e Rio de Couros
. especial . visita pastoral .
Padre José Luís Ferreira
Seiça e Alburitel
1. Bela iniciativa para revitalização das comunidades e da diocese. Uma visita “in loco”dá ao
bispo a real imagem da paróquia e da diocese que
temos. O Sr. Bispo, com esta visita, deixou muito,
mas também recebeu muito. “Relatórios” leva-os
o vento, diz o povo. “Jogar no terreno” é outra
coisa. É tarefa difícil que obriga a grande esforço
mas que se torna gratificante para quem vai e para
quem fica. Para um bispo que goste de lidar com o povo é a melhor atitude
pastoral a tomar. E o nosso bispo gosta de estar com o povo.
2. A paróquia preparou-se em várias frentes: pelo anúncio geral apresentado pela diocese; pela entrega a cada família de um desdobrável paroquial
(iniciativa da paróquia) com todo o programa e horário da visita em pormenor; pelos poucos grupos de Leccio divina (6 centros); pela oração (esquemas apresentados pela diocese); por cartazes e desdobráveis vicariais; pelos
ensaios semanais de um teatro sobre a vida de S. Paulo que o CPP de Seiça
apresentou aquando da Visita Pastoral; pela preparação conjunta, durante um
ano, dos crismandos de 2 paróquias com o seu pároco; pela envolvência do
CPP de Seiça nesta preparação.
3. O critério foi alimentar a comunhão: atingir o maior número de pessoas
de toda a freguesia; proporcionar um encontro próximo e aberto com o Sr.
Bispo através da assembleia paroquial; visitar os locais de culto (5 centros dos
7 aglomerados de 32 lugares); fazer programa conjunto para as duas freguesias e inserir crisma das duas freguesias numa só cerimónia (o mesmo critério
no jantar de confraternização que se seguiu); ajudar o Sr. Bispo à proximidade com a catequese, com as crianças, catequistas e pais, pelo encontro e por
uma missa paroquial animada pela catequese; proporcionar um encontro com
os menos integrados na Igreja, através do CPP, via teatro sobre a vida de S.
Paulo (concretizámos este encontro pela presença do Sr. Bispo na apresentação da peça, motivo importante para quem nele esteve envolvido); viver a
proximidade das pessoas entre si (via crisma inter-paroquial); alimentar a corresponsabilidade (na missa de despedida em Alburitel e Seiça) pela tomada de
posse de um novo Conselho Económico (em Seiça) e um 1º Conselho Pastoral
Paroquial (em Alburitel) e pela integração do Sr. Bispo no encerramento do
centenário da presença do Santíssimo na capela das Fontainhas.
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4. A visita decorreu de modo razoável em alguns momentos e muito bem
noutros, sobretudo em Seiça. Apesar de ser tempo da apanha da azeitona, as
pessoas, duma forma geral, corresponderam e quiseram estar com o Sr. Bispo.
Dominou nos encontros a simplicidade no diálogo e a grande proximidade de
um Bispo com o seu povo. As pessoas, crianças, adultos, idosos, pessoas mais
cultas e menos cultas, ficaram contentes, admiradas e até impressionadas com
a maneira de ser do Sr. Bispo, muito afável e muito próximo. Esta presença
deixou saudades.
5. Destacaria, talvez, a celebração do crisma, pelo contexto das iniciativas
e ambiente que teve: numa capela, a um sábado, para mais do que uma freguesia e uma excelente participação, quer dos crismandos, quer das pessoas
que os rodearam, inclusive o grupo coral, com elementos dos vários centros
de culto.
Também a visita a pequenos lugares, como Lameirinha, Sorieira e Vale da
Cordela. Com seu modo de receber e acompanhar o seu Pastor, deslocando-se
e acompanhando-o de um lugar para o outro, deram um bom testemunho de
comunhão, solidariedade e docilidade (assim fazem quanto à missa dominical).
Um terceiro aspecto, para além da catequese, como momento importante, foi a sua estada no Centro de Dia de Seiça, com as funcionárias, corpos
gerentes e, em especial, com os idosos, participando nos seus cantares e brincadeiras, e tomando consciência da diversidade de situações que existem na
diocese, no que respeita aos lares e centros de dia.
6. As pessoas guardam a recordação consoladora e fortificante da afabilidade e aproximação com que se abeirava de todos. Foi bom aprender a olhar
o Bispo com outros olhos, uma pessoa diferente do que pensavam, descobrir
através da pessoa a missão do Bispo, à imagem do Bom Pastor.
7. Quanto a prioridades pastorais, ainda não reuniu o Conselho Paastoral
Paroquial,, nem em Seiça, nem em Alburitel., mas existe alguma expectativa.
Padre António Bento
Ourém - Nossa Senhora da Piedade
1. Sendo “um dever do Bispo, enquanto pai e
pastor da porção do povo de Deus confiada à sua solicitude, para aprofundar o conhecimento, a estima
e a ajuda recíproca”, como diz o Senhor Bispo na
carta de anúncio da Visita Pastoral, é, naturalmente
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Vida Eclesial
. especial . visita pastoral .
. especial . visita pastoral .
útil e necessária esta aproximação às comunidades que lhe estão confiadas.
2. A preparação fez-se na oração, na meditação da Palavra de Deus pelos
grupos formados para esse fim, no anúncio nos centros de culto, no convite
à participação, na distribuição do programa por toda a paróquia, depois de
trabalhado pelo Conselho Pastoral.
3. Na preparação do programa, tiveram-se em conta três pontos fundamentais: a Assembleia Paroquial, com o fim de valorizar o sentido da corresponsabilidade do Povo de Deus; as famílias; e a catequese de adolescentes e jovens.
4. De forma geral, a visita correu bem, ainda que, nalgum dia, os encontros não tivessem sido tão participados quanto se esperava.
5. Destacaria, entre outros, os seguintes momentos: a Assembleia Paroquial, o encontro com os meninos dos primeiros anos da catequese, a quem o
Senhor Bispo se dirigiu com muita alegria, tratando-os de “meus amiguitos e
minhas amiguitas”, linguagem que denuncia a amizade e o carinho com que
os olha, e o encontro com os adolescentes e jovens, com quem dialogou, respondendo às suas perguntas. Depois, as Eucaristias, muito participadas, quer
a da catequese, quer a da administração do sacramento do Crisma a 58 jovens
depois de dez anos de preparação.
6. Deixou muitas mensagens, mas a que melhor foi entendida e mais entusiasmou foi a da proximidade do Bispo com o seu povo.
7. Em situações como esta, são criadas sempre muitas expectativas, mas a
decisão quanto a prioridades em ordem à renovação, só depois de uma análise
que será feita pelo Conselho Pastoral.
Padre Armindo Castelão Ferreira
Ourém - Nossa Senhora das Misericórdias
1. Sejam quais forem as consequências desta
visita, ela tem em si mesma um valor inestimável:
revela as preocupações do Bispo por aqueles que
lhe estão confiados. Como em tantas ocasiões nos
disse, ninguém ama o que não conhece. A visita
tem, por isso, por primeiro e principal objectivo
conduzir ao que deve ser essencial na relação do
Bispo com os diocesanos: relação de amor e de serviço.
Visitando os diocesanos e os párocos, o Bispo conhece-os no seu “habitat” e está assim em melhores condições para dar a sua palavra de orien114 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
tação para os caminhos que devem ser seguidos pelas comunidades e pela
diocese, para animar e fortalecer os mais desanimados e, de uma maneira
mais personalizada, prover as comunidades dos meios e acções mais necessárias à concretização da sua missão. Conhecendo melhor os padres e as
comunidades, poderá fazer uma gestão mais eficaz dos recursos humanos
ainda disponíveis.
Por outro lado também as comunidades ficam a conhecer melhor o seu
Bispo: assim poderão olhá-lo como um amigo, próximo, representante de
Cristo à maneira dos Apóstolos, não como um “extra-terrestre” ou um “chefe” distante. Só assim atenderão à sua palavra.
2. O Conselho Pastoral assumiu toda a estruturação e orientação de toda
a preparação e execução, e participou, com os responsáveis de movimentos
e serviços na reunião preparatória dos animadores da “lectio divina” com o
Senhor Bispo.
– Organizámos e distribuímos a cada membro do Conselho Pastoral uma
pasta com todos os documentos, distribuímos nas missas dominicais a carta
do Senhor Bispo onde anuncia a visita e elenca os objectivos, e a pagela com
a oração própria da visita, e inserimos na oração universal de todas as missas,
de semana e dominicais, uma prece pelo bom êxito da visita.
– Fizemos o programa da visita, que foi proposto ao senhor Bispo, procurando que englobasse as duas vertentes, religiosa e civil, e distribuímo-lo em
todas as caixas do correio.
– Em cada comunidade, o representante no Conselho Pastoral promoveu
a constituição de grupos da “lectio divina”.
– Enviámos convites a todos os empresários para a celebração e encontro
com eles, e o mesmo às direcções de todas as colectividades de carácter social, cultural, desportivo e recreativo.
– Os catequistas fizeram um encontro com as crianças da catequese até ao
8º ano inclusive. As mais pequenas viram em “data show” a carta do Senhor
Bispo às crianças, receberam um marcador com a sua biografia e neste fizeram um desenho alusivo a um dos aspectos da sua vida. Estes (400), depois
de plastificados, foram entregues às pessoas no final da celebração de encerramento. Os adolescentes do 7º e 8º ano reuniram-se, formaram grupos e cada
grupo pegou num dos temas das “lectio divina”, que aprofundou e sobre o
qual formulou inquietações.
– Os adolescentes do 9º e 10º ano, crismandos e jovens, tiveram um encontro paroquial e formularam numerosas questões que depois foram respondidas pelo Senhor Bispo no encontro que teve com eles.
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Vida Eclesial
. especial . visita pastoral .
. especial . visita pastoral .
3. Como já acima indiquei, a preocupação foi que ninguém ficasse sem
saber desta presença e todos se sentissem interpelados e desafiados a participar num ou mais encontros. Como o Senhor Bispo diz que não vem para
visitar paredes ou estruturas, mas pessoas, procurámos sobretudo mobilizar e
animar para que ninguém faltasse aos encontros.
4. De forma geral, a visita correu muito bem. As 5 celebrações a que o
Senhor Bispo presidiu, desde a dos idosos até à final, com o Crisma, foram
muito participadas.
Os encontros específicos com idosos, empresários, dirigentes associativos, crianças e crismandos, bem como aquele a que chamamos assembleia
paroquial, foram de grande interesse, pelo que as pessoas tiveram oportunidade de reflectir, exprimir e ouvir.
5. Um momento especial que quero destacar foi a celebração na igreja do
Bairro com as pessoas mais empenhados na paróquia e a assembleia que se
seguiu. Nesta realço o teatro de apresentação feito pelos Pepetos do Outeiro
e Sobral, e o filme de todas as comunidades, movimentos e serviços, e, sobretudo, a palavra do Senhor Bispo realçando o papel e a importância para a
comunidade de todos e cada um dos movimentos e serviços.
6. Como mensagem, guardo sobretudo: “não tenhais medo de trabalhar
por Cristo e de fazer entrega a Cristo: Ele não tira nada, dá tudo”. A marca deixada foi a da simplicidade, amizade, proximidade e sensibilidade do
pastor que se interessa por todos e para todos tem uma palavra de ânimo,
coragem e confiança.
7. Quanto a expectativas e prioridades de acção, não devo antecipar nada.
Deixarei para a avaliação e reflexão que o Conselho Pastoral irá fazer.
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. notícias .
No dia 11 de Julho, a Confraria de Nossa Senhora da Encarnação celebrou
a festa do primeiro milagre, momento determinante na história do Santuário.
A Eucaristia comemorativa foi às 21h30, seguindo-se, no adro do Santuário,
a procissão com a imagem de Nossa Senhora da Encarnação.
Segundo reza a história daquele monte, antes do actual santuário, ali existiu uma primitiva ermida dedicada a S. Gabriel, erguida na primeira metade
do século XV e reedificada, em 1554, pelo primeiro bispo da diocese de Leiria, D. Frei Brás de Barros.
Em 24 de Setembro de 1588, na sequência de intervenções miraculosas
atribuídas a Nossa Senhora da Encarnação – cuja mais conhecida miraculada foi Susana Dias, mulher aleijada das pernas havia 28 anos e natural da
aldeia das Cortes, curada a 11 de Julho desse mesmo ano – deu-se início à
construção de novo e mais amplo templo, desde então dedicado ao orago que
presentemente conserva.
O Santuário, cujas obras começaram por ser patrocinadas pelo Bispo de
Leiria D. Pedro de Castilho e pela Casa dos Marqueses de Vila Real, teve
como arquitecto Mestre Pêro Moreira, artista muito activo no Bispado leiriense dessa época, autor de outras obras na Região.
Na segunda metade do século XVIII, foi mandado construir pelo bispo D.
Miguel de Bulhões um escadório barroco, que trouxe à igreja uma nova dimensão arquitectónica e simbólica. Os lanços da escadaria são ritmados por
plataformas onde se erguem padrões alusivos à Virgem Maria, apresentando
lápides com inscrições de versículos colhidos dos livros do Antigo Testamento.
Dedicação da Catedral de Leiria e Ano Sacerdotal
Por convite de D. António Marto aos Presbíteros da Diocese de LeiriaFátima, a festa da Dedicação da Catedral de Leiria, a 13 de Julho, foi marcada
pelo Ano Sacerdotal proclamado pelo Papa Bento XVI na ocorrência do 150.º
aniversário da morte de São João Maria Vianey, o santo pároco de Ars, e iniciado no passado e recente dia 19 de Junho.
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Vida Eclesial
Festa do primeiro milagre no
Santuário de Nossa Senhora da Encarnação
. notícias .
Na Eucaristia, que reuniu muitos sacerdotes diocesanos e religiosos, bem
como grande número de religiosas e leigos, em torno do seu Bispo a Igreja
diocesana uniu-se às intenções anunciadas pelo Santo Padre: “contribuir para
fomentar o empenho de renovação interior de todos os sacerdotes para um
seu testemunho evangélico mais vigoroso e incisivo” e promover em toda a
Igreja o reconhecimento e a gratidão pelo “dom imenso que são os sacerdotes
não só para a Igreja mas também para a própria humanidade”.
A cidade de Leiria celebra a sua Padroeira
A Confraria de Nossa Senhora da Encarnação organizou, no dia 15 de
Agosto, a tradicional festa da padroeira da cidade de Leiria.
Preparada por um tríduo, nos dias 12, 13 e 14 de Agosto, a solenidade
litúrgica da Assunção da Virgem Maria ao céu, foi celebrada no santuário de
Nossa Senhora da Encarnação, com a Eucaristia às 15h00 e o habitual arraial,
no adro da igreja, com concerto pela Filarmónica dos Pousos. O ar festivo
atingiu também as ruas da cidade, percorridas pela mesma Filarmónica.
À noite, D. António Marto, Bispo diocesano, presidiu ao acto de encerramento, presidindo à Eucaristia, 21h00, na igreja de Santo Agostinho, e à
procissão nocturna que daí partiu em direcção à igreja da Senhora da Encarnação.
Satisfeita pela festa da Padroeira da cidade, no seu santuário, verdadeiro
local de devoção e ex-libris de Leiria, a Confraria está empenhada na sua própria renovação, sobretudo com a chegada de irmãos mais novos. Responsável
pela vida, guarda e preservação do Santuário, onde tem investido bastantes
recursos nos últimos anos, nomeadamente na limpeza e restauro do exterior
do templo, do adro e da grande escadaria este ano recuperada, continua a
contar com a dedicação de todos os devotos e leirienses. A celebração anual
constitui o melhor momento de contacto e sensibilização para o valor de tão
importante património histórico e espiritual.
Diocese celebra o seu padroeiro S. Agostinho
No dia 28 de Agosto, pelas 21h00, D. António Marto presidiu à Eucaristia
da festa de Santo Agostinho, na igreja que, em Leiria é dedicada a este santo
Bispo, co-padroeiro da Diocese.
No termo de um ano dedicado a “ir ao coração da fé” e no início do ano
sacerdotal, o convite à participação, dirigido a todos os diocesanos, tocava
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especialmente as pessoas mais empenhadas na Igreja diocesana: sacerdotes,
religiosos e religiosas, e os leigos mais activos na acção pastoral e seus serviços, sobretudo conselhos diocesanos, movimentos e associações. Celebrar o
padroeiro, unidos ao Bispo diocesano em volta do altar da Eucaristia, exprime e alimenta a comunhão eclesial dos membros do mesmo Corpo de Cristo.
Por outro lado, o carisma, a herança espiritual e doutrinal de Santo Agostinho
e a sua intercessão junto de Deus constituem uma força especial que a Igreja
traduz liturgicamente na oração do prefácio dos santos: no modo como viveram Deus dá-nos “um exemplo” de realização concreta da vida cristã; “na
comunhão com eles”, oferece-nos “uma família” que constitui apoio e ajuda;
e, na sua intercessão, possibilita-nos “um auxílio”.
Santo Agostinho foi adoptado como padroeiro da Diocese de Leiria,
em 1918, aquando da restauração desta, escolha que não se pode desligar
do facto de Leiria ter estado, desde o século XII até ao ano de 1545, sob a
influência dos religiosos da Ordem de Santo Agostinho do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Esta adopção veio a ser confirmada por João XXIII,
em 13 de Dezembro de 1962. Respondendo afirmativamente ao pedido do
Bispo de Leiria, o Papa concedeu então à Diocese dois padroeiros principais: mantendo o anterior, Santo Agostinho, acrescentou Nossa Senhora de
Fátima.
Nova igreja da Burinhosa
“Estão de parabéns todos os que contribuíram com a sua dedicação, trabalho e ofertas para levantar uma obra que testemunha a beleza da fé e do
amor de cada um”. Desta forma, D. António Marto felicitava os habitantes
da Burinhosa e todos os cristãos desse centro de culto da paróquia de Pataias,
ao presidir à celebração litúrgica da bênção da nova igreja dedicada a Nossa
Senhora do Rosário, no dia 26 de Setembro, passado, recente.
Uma igreja é sempre a casa comum por onde passa a vida dos crentes,
logo desde o seu início até à despedida deste mundo. Nesse templo se funda e
exprime o viver pessoal, familiar e comunitário; nele, cada domingo torna-se
encontro celebrativo da morte e ressurreição de Jesus Cristo, dia de regeneração para mais uma semana que se recomeça.
A comunidade paroquial, com o seu Pároco, Membros do poder local, a
Banda Filarmónica, muita gente de perto e de longe, constituíram a verdadeira multidão que veio associar-se à alegria dos habitantes da Burinhosa.
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Vida Eclesial
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Encontro com doentes da Diocese
No dia 26 de Setembro, o Secretariado Diocesano do Movimento da Mensagem de Fátima (MMF) realizou o 17.º Encontro de Doentes e Deficientes
Físicos da Diocese de Leiria-Fátima.
A primeira parte do encontro decorreu de manhã, na Capela da Morte de
Jesus, na cripta da Igreja da Santíssima Trindade. Participaram cerca de 400
pessoas que receberam o sacramento da reconciliação, meditaram os mistérios
do Rosário e celebraram a Santa Missa presidida pelo Assistente Diocesano.
Após o almoço, no Salão do Bom Pastor do Centro Pastoral Paulo VI,
houve uma palestra, pelo padre Pedro Viva, sobre o sentido cristão do sofrimento, e um espaço para o exercício da Via-Sacra.
Como de costume, no final, houve um pequeno convívio com chá e bolos.
Colégio festejou Dia de São Miguel
“Convido-vos a viver este tempo da vossa adolescência com Verdade…
no estudo, nas relações humanas, na fé”, disse D. António Marto a cerca de
1.200 alunos do Colégio de S. Miguel, de Fátima, na Eucaristia celebrada na
manhã do passado dia 29 de Setembro, festa do Arcanjo padroeiro daquele
estabelecimento de ensino.
O dia começou com a oração da manhã nas salas de aulas, e incluiu uma
cerimónia de homenagem a D. João Pereira Venâncio, Bispo de Leiria e fundador do Colégio, com o hastear da bandeira e canto do hino daquela instituição, junto à sua estátua. Da parte da tarde, com intervenções de professores,
funcionários e alunos, fez-se a representação dramática das diversas áreas
do Colégio e das funções dos Conselhos Pastoral e Científico e Pedagógico,
bem como do papel dos Encarregados de Educação e dos grupos de alunos
na excelência conseguida pela escola (grupos NEON – Não Entres Na Onda).
A terminar, efectuou-se o tradicional passeio de bicicleta pelas ruas de Fátima. Cerca de 250 alunos e professores saudaram a população, num percurso
total de cerca de 12 km.
Reabertura da Escola Diocesana Razões da Esperança
No dia 29 de Setembro, na igreja do Seminário Diocesano, recomeçaram
as actividades do novo ano lectivo da Escola Diocesana Razões da Esperança.
Na saudação aos presentes, D. António Marto mostrou-se feliz pela inauguração do novo ano académico e, na homilia, incentivou o vasto auditório
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a caminhar em sintonia com o programa pastoral da Diocese: “Ir ao coração
da Igreja”.
No final, D. António Marto desafiou os presentes a verem este ano de
formação com um olhar sobrenatural, pois é também oportunidade de crescimento no mistério da Igreja, que é vocação e dom do Alto que todos somos
chamados a acolher. Desejando a todos um feliz ano académico, formulou
votos para que cada qual saia reforçado nas suas convicções de modo a assumir as suas obrigações com maior responsabilidade e competência.
Depois da celebração houve espaço para alguns esclarecimentos sobre o
funcionamento da Escola. Apresentados todos os cursos e grupos, destacaram-se duas novidades: além dos grupos habituais da segunda hora, este ano
haverá mais dois: um de reflexão e dinamização da pastoral sócio-caritativa
e outro de formação para pessoas que cuidam das igrejas. Por último, os presentes fizeram as respectivas inscrições.
Em Outubro, começaram as aulas do Centro de Formação e Cultura, no
Seminário de Leiria. O horário deste semestre é o seguinte: segunda-feira,
das 19h00 às 20h30, “Antigo Testamento” pelo padre Gonçalo Diniz, e das
21h00 às 22h30, “Mensagem de Fátima: graça e misericórdia” pela Irmã
Ângela Coelho, vice-postuladora da Causa de Canonização dos Pastorinhos;
quinta-feira, das 19h00 às 20h30, “Antropologia Teológica” pelo padre José
Henrique.
Homenagem ao Cónego Rosa
no aniversário do Grande Órgão da Catedral de Leiria
No dia 3 de Outubro, no XI aniversário da inauguração do Grande Órgão,
decorreu na Catedral de Leiria, um concerto comemorativo, que teve ainda
como finalidade prestar homenagem póstuma ao Cónego José de Oliveira
Rosa, falecido alguns dias antes, que responsável maior pela construção daquele notável instrumento e seu primeiro organista titular.
Foram intérpretes João Santos, actual organista titular da Sé Catedral, e o
Coro Adesba Chorus, sob a direcção do maestro Jorge Narciso.
Encontro Diocesano de Catequistas
Cerca de duas centenas e meia de catequistas responderam ao convite
do Serviço Diocesano de Catequese para o habitual Encontro Diocesano de
início do ano.
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Vida Eclesial
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Os trabalhos decorreram, mais uma vez, na manhã do Dia da Igreja Diocesana, celebrado, desta feita, a 4 de Outubro, passado, recente, nas instalações do Colégio da Cruz da Areia.
D. António Marto orientou a oração inicial com uma meditação a partir
do relato do Pentecostes. “A Igreja, salientou, tem a sua origem, não nos
homens, mas em Deus, que irrompe na história dos homens com a força do
seu Espírito”. O anúncio do Evangelho, que marca a acção dos catequistas,
é fruto desta acção do Espírito. Ainda com a presença do Senhor Bispo, foi
entregue à Teresa Brites uma pequena lembrança, como agradecimento pelos
37 anos dedicados ao Serviço Diocesano de Catequese.
Os trabalhos continuaram, depois, orientados pela Irmã Ângela Coelho,
da Aliança de Santa Maria. Estando o catequista inserido num projecto da
Igreja, chamado por Deus, na comunidade e pela comunidade, não pode esquecer, na sua vida e no desempenho da sua missão, três aspectos essenciais
que a Irmã salientou e desenvolveu: a formação, a transparência e a coerência
de vida. Os mesmos aspectos foram ainda reflectidos e aprofundados pelos
catequistas, nos trabalhos de grupos e respectiva partilha, na preocupação de
responder à realidade da catequese em cada paróquia, de forma a ajudar as
comunidades a «irem ao coração da Igreja».
D. António Marto em encontros vicariais
Um encontro de formação em cada vigararia, especialmente dirigido aos
membros dos concelhos pastorais e económicos paroquiais, foi uma das propostas de D. António Marto na sua Carta Pastoral “Ir ao Coração da Igreja”.
Dentro da trave-mestra da “comunhão e co-responsabilidade na comunidade
cristã”, o objectivo era criar ou consolidar estruturas locais de participação no
dinamismo pastoral e na gestão das respectivas Igrejas.
O Senhor Bispo centrou cada encontro no contexto geral do tema do ano,
a partir da frase bíblica que o ilumina: “Viviam unidos e punham tudo em comum”. Usou especialmente a imagem da família que, vivendo em relação de
amor, se organiza para cuidar em comum das tarefas essenciais, como a educação e a própria subsistência. “Para funcionar bem, todos têm de participar,
ainda que em funções e com capacidades diferentes”, referiu diversas vezes.
O enunciado, “A Igreja como comunhão, a partilha dos bens e a sua administração”, resumia na perfeição o conteúdo. Começando pela importância de
“vivermos como comunidade de irmãos”, que programa a vida em comum,
desde a vivência celebrativa e evangelizadora, especialmente através dos
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conselhos pastorais paroquiais, e continuando até à administração dos bens
comunitários “com responsabilidade, clareza e sentido de caridade”, através
dos conselhos paroquiais para os assuntos económicos e das comissões das
igrejas não-paroquiais (todas excepto a matriz), especificou algumas das linhas que devem orientar quem presta tais serviços. A essas pessoas é de agradece “a disponibilidade, às vezes com elevados custos pessoais, para essas
tarefas nem sempre reconhecidas publicamente”.
Uma dessas linhas condutoras é a noção de que “os bens devem ser colocados ao serviço da comunidade dos cristãos, especialmente os mais desfavorecidos”. Outra é a necessidade de “fazer uma administração correcta e
ponderada desses bens, conhecendo bem as normas diocesanas a esse respeito e recorrendo, quando necessário, ao conselho de profissionais das áreas
económica e contabilística”. Outra ainda, fundamental, é que, “antes do serviço social, do sustento do clero, da manutenção de edifícios, etc., os bens
devem ser orientados para a sua principal finalidade, que é o serviço pastoral,
da liturgia e da evangelização”.
Especificando algumas normas mais técnicas, o padre Cristiano Saraiva,
Ecónomo da Diocese, apresentou nos encontros alguns artigos do Regulamento da Administração dos Bens da Igreja (RABI), elaborado em 1995,
com carácter obrigatório, desde 1999, e cuja revisão, recentemente aprovada,
vigora desde Janeiro de 2010. O Ecónomo diocesano destacou o capítulo
referente à gestão paroquial, sublinhando novas disposições resultantes sobretudo das imposições legais ao abrigo da Concordata de 2005. A tendência é para um maior “profissionalismo” da gestão, até porque as obrigações
tributárias com o Estado a isso obrigam. Sem perder de vista o “espírito de
caridade” que deve conduzir as estruturas eclesiais, “há que aclarar responsabilidades, melhorar o desempenho de pessoas e instituições, e encarar estes
assuntos com a preparação adequada e uma seriedade exemplar”, disse. E
acrescentou: “É importante que as pessoas que constituem os conselhos e
comissões leiam o documento na íntegra”, que, entretanto será publicado e se
encontra já em na página da Diocese (www.leiria-fatima.pt).
Nestes encontros, foi também apresentada, de forma breve, a “Festa da
Fé – Rostos da Igreja Diocesana”, prevista para os dias 21 a 23 de Maio de
2010. Será uma grande festa, no centro da cidade de Leiria, com as vertentes
espiritual, cultural e festiva, na qual toda a Diocese deverá participar activamente. Pediu-se a todas as comunidades o seu próprio contributo – cada vigararia terá uma tenda de exposição da sua realidade local – e o maior empenho
numa mobilização massiva.
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Vida Eclesial
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Vigília missionária em Ourém
A17 de Outubro, a diocese de Leiria-Fátima celebrou a sua vigília de
oração missionária, na igreja de Nossa Senhora das Misericórdias, Ourém.
O tema esteve ligada à mensagem papal, “As nações caminharão à sua luz”,
para 2009. Houve leitura da Palavra de Deus e da mensagem do Papa, dcânticos, silêncio e testemunhos, entre os quais, o do padre David Nogueira,
responsável pela Missão do Gungo, em Angola. Simbolicamente, uma corda
de cinco cores e muitos nós, foi cortada, no fim, e entregue um nó a cada
participante, em recordação e sinal de compromisso.
Presidiu à vigília o pároco, padre Armindo Ferreira. Além de outros padres da vigararia de Ourém, participaram os padres Albino Brás, missionário
da Consolata, e José Luís Pimenta, do Verbo Divino, que colaboram na animação missionária diocesana, e o padre Vítor Mira, coordenador diocesano
do Serviço de Animação Missionária.
Participaram ainda os Jovens Sem Fronteiras, membros do Grupo Missionário Ondjoyetu e pessoas da paróquia de Ourém. O número não foi muito
elevado, mas a vivência foi intensa.
Escuteiros celebraram S. Nuno de Santa Maria
Eram cerca de cinco mil os escuteiros e seus familiares, em frente ao
Mosteiro da Batalha, no passado 8 de Novembro, para a primeira festa litúrgica de São Nuno de Santa Maria, patrono do Corpo Nacional de Escutas
(CNE) (data oficial: 6 de Novembro). Teriam sido ainda mais, não fora a
chuva inclemente que obrigou a cancelar a caminhada até ao Campo Militar
de S. Jorge e outras actividades previstas.
A celebração, mesmo assim, não deixou de ser grandiosa e festiva, presidida por D. António Carrilho, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, e concelebrada por uma dezena de sacerdotes assistentes do
CNE. Com transmissão televisiva em directo, a Eucaristia foi marcada pela
animação musical, mensagem e símbolos do escutismo, com uma tónica de
solidariedade, ao ofertório, para com os filhos de pais desempregados, em
colaboração com a Caritas Portuguesa.
Na homilia, D. António Carrilho salientou essa faceta da solidariedade
e o “desprendimento dos bens materiais” vivida por S. Nuno, bem como “a
sua caridade para com os pobres, o respeito por todas as pessoas, mesmo
com os inimigos, e o amor à oração como lugar permanente de relação com
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Deus”. E a propósito do Dia dos Seminários, que ocorria, apelou: “A Igreja
precisa de jovens dispostos a dar tudo, toda a vida, por Cristo e ao serviço dos
irmãos”. Esse foi o verdadeiro exemplo do Santo Condestável, “válido para
os escuteiros (…) e para todas as pessoas dos nossos dias, chamadas a serem
membros de Cristo na construção da paz”, afirmou o prelado, concluindo que
“Nuno de Santa Maria aprendeu a sintonizar a sua vida com Deus e mostrou
que é possível viver a partir dos valores de Deus, mesmo nos contextos mais
adversos”.
De 8 a 15 de Novembro, decorreu a Semana dos Seminários, especialmente dedicada à promoção, nas Dioceses, de um apreço especial pelo Seminário e pelo sacerdócio.
Durante a Semana, os dois colégios católicos de Leiria – Colégio de Nossa
Senhora de Fátima e Colégio da Cruz da Areia – quiseram conhecer o Seminário Diocesano. Os respectivos alunos, em grupos, visitaram a casa por dentro
e por fora e dialogaram com padres e seminaristas sobre o seu lugar na Igreja.
Neste momento, a Diocese de Leiria-Fátima tem um Seminarista no Ano
Propedêutico, que precede o Seminário Maior, e quatro integrados no Seminário Maior de Coimbra.
Como meio de formação dos futuros sacerdotes, o Seminário, tem adquirido, nos últimos anos, uma nova configuração, começando, normalmente,
com o Pré-Seminário, espaço de acompanhamento dos jovens que manifestem uma especial abertura ao dom da vocação ao sacerdócio e que vão amadurecendo esse chamamento nas suas famílias.
Por outro lado, o edifício do Seminário está a sofrer obras de transformação
que o vão equipar para receber melhor os seminaristas e proporcionar alojamento a quem desejar intensificar a sua formação humana e cristã. A Diocese
tem-se mobilizado generosamente para fazer face às despesas inerentes.
Itinerário formativo “Em rede...”
Foi gratificante e de muito interesse, disseram os jovens, rapazes e raparigas, o primeiro encontro do itinerário vocacional, iniciado na tarde do
Domingo, 6 de Dezembro, em Fátima. Além da presentação dos jovens e da
equipa de apoio, houve leitura orante do Evangelho, catequese vocacional,
partilha de vivências e intuições, e convívio.
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Vida Eclesial
Semana dos Seminários: “palavra que chama e envia”
. notícias .
O itinerário, a que foi dado o nome “Em rede”, terá continuação nos próximos meses, até Maio, ao ritmo mensal, e ainda um retiro. Aderiram jovens
na vida profissional ou a estudar no ensino superior. A orientação é de uma
equipa mista dos serviços diocesanos de animação vocacional e de pastoral
juvenil, que inclui representantes das vocações sacerdotais, da vida consagrada, laical e matrimonial. Os encontros têm lugar na comunidade das Irmãs
da Aliança de Santa Maria, que disponibilizam bom acolhimento e precioso
apoio.
Esta actividade concretiza o apelo de D. António Marto aos jovens: “Dai
um projecto belo à vossa vida”. O bispo de Leiria-Fátima caracteriza esta
proposta como “experiência de fé, em grupo, cuja finalidade é: ajudar a buscar a vontade de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a escolha do
projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo, na parte que a cada
um diz respeito.”
As experiências anteriores, nos últimos dois anos, sob o nome de S. Agostinho, tiveram uma participação de cerca de três dezenas jovens. No presente
ano o projecto foi melhorado e recebeu um nome mais apelativo e adaptado
às circunstâncias dos jovens de hoje, nomeadamente no que se refere às idades. Destina-se aos de 18 aos 30 anos, sem que a idade seja considerada de
modo rígido.
“10 Milhões de Estrelas - Um Gesto Pela Paz”
A campanha “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, a que a Cáritas Portuguesa se associa há sete anos, foi lançada no domingo, 6 de Dezembro, com uma celebração na Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, presidida por D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral
Social. A Missa foi transmitida em directo pela TVI e contou com a presença
das Cáritas Diocesanas, nessa data reunidas em Fátima em Conselho Geral.
A 19 de Dezembro, foi a habitual manifestação pública nacional, num
apelo solidário à Paz no mundo. Com a iniciativa angariam-se fundos provenientes da venda de velas, ao preço simbólico de 1 euro, que revertem para
os mais necessitados. “Das verbas recolhidas, 35% serão canalizadas para o
Fundo de Apoio aos Novos Desempregados e suas famílias; e os restantes
65% aplicados, por cada Caritas Diocesana, em projectos nacionais direccionados para a mesma temática”.
“Num ano em que a crise económica se agravou, com reflexos dolorosos
na vida dos mais carenciados, a operação “10 Milhões de Estrelas - Um Ges126 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. notícias .
to pela Paz 2009” assume um papel premente na resposta a um conjunto de
novas situações de grande carência que atingiram pessoas por todo o país”,
afirma Eugénio Fonseca, Presidente da Cáritas.
Foi em 2003 que Portugal aderiu, pela primeira vez, à operação “10 Milhões de Estrelas”, iniciativa de génese francesa que, desde a década de 90,
tem vindo a ganhar espaço em toda a Europa, sensibilizando para os valores
da paz, da solidariedade e da reconciliação.
A Teresa Brites encontrava-se ao serviço da Catequese na diocese de Leiria-Fátima desde 1972. Como formadora de catequistas, percorreu a Diocese
a fazer Cursos de Iniciação e a orientar Estágios. Ultimamente, o seu trabalho
era mais no Secretariado, no edifício do Seminário de Leiria, onde atendia
todos os que precisavam de informação e outras formas de apoio na actividade catequética. Também estava disponível para toda a espécie de apoio de
secretaria aos demais serviços da pastoral diocesana.
Após 37 anos, a Teresa deixou, naturalmente, estas funções a outra pessoa
que lhe dará continuidade. Todos recordam a amabilidade, o empenho e o
sentido de serviço da Teresa. Que Deus a recompense.
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Vida Eclesial
Teresa Brites - Uma vida dedicada à catequese
. Santuário de Fátima .
Fátima retomou projecto “Casa do Jovem”
O projecto de pastoral juvenil “Casa do Jovem”, dinamizado pelo Santuário de Fátima, foi retomado no passado mês de Agosto, após alguns anos de
interrupção. Este projecto tem como objectivo oferecer um espaço de escuta,
diálogo, oração e reflexão, e conta com a colaboração de várias instituições
religiosas já habituadas a trabalhar com a juventude.
A Casa do Jovem funcionou na Colunata Sul, na antiga Capela da Reconciliação, durante todos os fins-de-semana de Agosto.
Filme sobre a Irmã Lúcia – The 13th Day
No dia 13 de Outubro foi apresentado em Fátima, em estreia mundial, o
filme The 13th Day (O 13.º Dia). Este é um filme independente, de ficção,
baseado na história das aparições de Fátima, com especial destaque para o dia
13 de Outubro de 1917. Após uma apresentação particular aos responsáveis
do Santuário, a instituição reconheceu neste filme “um grande valor”. “É um
filme intenso e de sensibilidade apurada. Revela pesquisa, dedicação e está
bem construído”.
Tema para 2010: “Reparte com alegria, como a Jacinta”
Para além de se preparar, em ambiente de festa, para a visita do Santo
Padre Bento XVI, que coincidirá com o décimo aniversário da beatificação
dos videntes Francisco e Jacinta Marto (13 de Maio de 2000), o Santuário de
Fátima assinala em 2010 o Centenário do Nascimento de Jacinta Marto.
“No próximo ano de 2010 tentaremos estabelecer, dando continuidade
aos anos anteriores, uma ligação entre o Décimo Mandamento – Não cobiçar
as coisas alheias –, e a celebração do Centenário do Nascimento da Beata Jacinta. Procurámos uma formulação de tema positiva, que nos ajudasse a fazer
alguma proposta a partir da Escritura, do Catecismo da Igreja Católica, e que,
ao mesmo tempo, procurasse captar uma das facetas fundamentais da vida de
Jacinta Marto. Por isso, escolhemos como frase-chave, como slogan, Reparte
com alegria, como a Jacinta”, anunciou à comunicação social, na peregrinação aniversária de Outubro, o reitor do Santuário de Fátima.
“De facto, Jacinta Marto tem esta característica. É aquela criança que
está sempre disponível para Deus e sempre disponível para os outros, concretamente na prática dos sacrifícios, da oração e da esmola. Pensamos que
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. Santuário de Fátima .
a partir desta frase-chave, em cada um dos meses, pode haver uma reflexão,
uma catequese, que vai, aos diferentes níveis, fazer importantes apelos sobre
a partilha, o amor aos outros, a generosidade, a solidariedade, entre outros”,
acrescentou o Padre Virgílio Antunes.
No contexto da celebração deste Centenário, será realizado em Junho, em
data e com programa ainda a anunciar, um congresso que terá como ponto de
partida a vida e o testemunho de Jacinta Marto.
Também na Peregrinação das Crianças, anualmente a 9 e 10 de Junho, a
pequena vidente de Fátima será a figura inspiradora.
Neste âmbito concreto da aposta do Santuário de Fátima na pastoral infantil e juvenil, a instituição propõe-se realizar um programa específico e
especial para as crianças, marcado por momentos de oração e de catequese, a
partir de Dezembro de 2009, no terceiro sábado do mês.
O Santuário de Fátima retomou, no mês de Novembro, um ciclo de conferências temáticas de carácter mensal. Cada conferência, pública e gratuita,
tem lugar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no Santuário,
no segundo domingo de cada mês, a partir das 16h00.
São Nuno de Santa Maria, o novo santo português, marcou a temática
das duas primeiras conferências: a 8 de Novembro de 2009, Jesué Pinharanda Gomes apresentou o tema “Aspectos histórico-biográficos”; a 13 de
Dezembro de 2009, o padre Luciano Cristino abordou a “Dimensão mariana
e relação com Fátima”.
Em 2010, as três conferências seguintes, a 10 de Janeiro, 14 de Fevereiro
e 14 de Março, versarão o Ano Sacerdotal. Com tema e conferentes a anunciar oportunamente, esta série procurará, nas palavras do Reitor do Santuário
de Fátima, reflectir sobre o “tema teológico, doutrinal, espiritual e pastoral
do sacerdócio”.
No âmbito do centenário da República, está também agendada para 10 de
Outubro de 2010 a conferência “100.º aniversário da implantação da República em Portugal”, por António Teixeira Fernandes.
O principal estímulo para a continuidade desta iniciativa prende-se, nas
palavras do reitor, com o elevado interesse e participação constatado no primeiro ciclo de conferências. Realizado de Novembro de 2008 à Páscoa e
2009, foi ocasião em que, mês a mês, vários conferencistas abordaram, através de diversos prismas, a vida, o trabalho e o testemunho de S. Paulo.
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Vida Eclesial
Conferências no Santuário de Fátima
. Santuário de Fátima .
Noviças recebem diploma de finalistas
No dia 21 de Outubro, na Capela da Ressurreição – Igreja da Santíssima
Trindade – reuniram-se as antigas e actuais noviças, alguns professores, sacerdotes, congregações religiosas, formadores e noviços, para participar na
Eucaristia solene de abertura do ano, presidida por D. António Marto, Bispo
da diocese de Leiria-Fátima. Manifestando o seu apreço pela vida religiosa, o
prelado deixou às noviças a sua palavra de Pastor, referindo-se à liturgia do dia:
“Entrai de alma e coração como pessoa inteira neste caminho de iniciação que é
teológico, mas também espiritual. Entrai com estas atitudes de vigilância, zelo,
interesse, para fazerdes um belo discernimento da vossa vida e da vossa vocação. Que Maria vos ajude a viver estas atitudes no vosso encontro com Cristo”.
No final da celebração, as finalistas dos dois anos de estudos do Curso
Inter-Noviciados receberam o diploma das mãos do Bispo, como sinal do
aproveitamento deste tempo de iniciação teológica.
A fim de possibilitar um tempo de convívio entre todos os presentes, cerca
de 100 pessoas, as formadoras organizaram no Albergue do Peregrino um
lanche de confraternização para todos os que quiseram partilhar este momento rico de alegria e fraterna comunhão.
A colaboração entre Institutos é uma resposta concreta aos apelos da Igreja para ajudar o religioso e a religiosa na sua formação, realizando a unidade
da própria vida em Cristo por meio do Espírito. É esta a razão de ser do InterNoviciados de Fátima. Foi com este objectivo que ele nasceu e continuará a
crescer em número e qualidade. De passos firmes iniciou o seu quarto ano
de iniciação teológica. De perto e de longe – Coimbra, Elvas, Setúbal – se
deslocam a Fátima vários Noviciados para assegurar às novas gerações, uma
adequada preparação, “favorecendo a consciência da comunhão eclesial na
variedade das vocações e dos carismas, e das múltiplas formas de serviço que
constituem a missão da Igreja”.
As Congregações religiosas estão gratas pela abertura e apoio da Diocese em colaborar, desde o primeiro momento, na concretização de um InterNoviciados em Fátima, centro para onde tudo converge: Maria! Agradecem,
particularmente, ao Centro de Formação e Cultura de Leiria que dinamiza
este projecto levando à letra o que vem indicado no documento A colaboração inter-institutos para a formação: “Sendo o carisma de cada Instituto um
dom original e singular que o Espírito Santo faz à Igreja, esta preocupa-se
com assegurar as condições espirituais e os instrumentos que garantam a fecundidade, o desenvolvimento e a harmonia na comunhão eclesial”.
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. Santuário de Fátima .
Desde o passado dia 19 de Dezembro, sempre ao 3.º sábado de cada mês,
o Santuário de Fátima convida os mais novos para um programa preparado
especialmente para eles: intitulado “Dia da Criança”, é de participação livre e
gratuita, e inclui momentos de celebração, oração e catequese.
Os restantes Dias da Criança, até Novembro de 2010, são os seguintes:
16 de Janeiro, 20 de Fevereiro, 20 de Março, 17 de Abril, 15 de Maio, 19 de
Junho, 17 de Julho, 21 de Agosto, 18 de Setembro, 16 de Outubro e 20 de
Novembro.
“As crianças sentem uma especial atracção por Nossa Senhora, como
Mãe, e por Jesus, tal como é apresentado na linguagem infantil dos Pastorinhos. Não são indiferentes ao testemunho de vida dos beatos Francisco e
Jacinta Marto, com quem se identificam em tantos aspectos. As experiências
feitas com as peregrinações das crianças, com os momentos de adoração ao
Santíssimo numa linguagem infantil, com os grupos de meninos e meninas
que rezam o terço, mostram-nos que se sentem atraídos e entusiasmados”,
escreveu o reitor, Padre Virgílio Antunes.
O programa estabelecido é o seguinte: 10h00 – Acolhimento; 10h15 –
Preparação da celebração, na sala Norte do Convivium Santo Agostinho
(45’), no piso inferior da Igreja da Santíssima Trindade; 11h00 – Missa oficial, na Igreja da Santíssima Trindade, com participação das crianças; 12h15
– Catequese sobre a Mensagem de Fátima (30’); 13h00 – Almoço (livre);
14h30 – Preparação da Adoração, na sala Norte do Convivium Santo Agostinho; 14h45 – Adoração Eucarística, na Capela do Santíssimo Sacramento
(25’); 15h30 – Despedida, na Capelinha das Aparições (15’).
Bispo de Xai Xai em Fátima
A Casa de Nossa Senhora das Dores, no Santuário de Fátima, acolheu, na
tarde de 8 de Dezembro, uma iniciativa da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
(AIS), para a qual foram convidadas “todas as pessoas, benfeitores e amigos
da Fundação AIS, assim como público em geral interessado em conhecer a
realidade eclesial do país irmão Moçambique”.
O programa iniciou com uma conferência de D. Lúcio Andrice Muandula,
Bispo de Xai Xai e Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique,
sobre o Ano Sacerdotal e sobre a importância da formação de seminaristas
em Moçambique.
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Vida Eclesial
Dia da Criança no Santuário
. Santuário de Fátima .
De seguida, foi apresentado o livro “Sacerdotes em Cristo”, uma edição
da Paulus Editora em parceria com a Fundação AIS, onde estão publicados
textos de doze sacerdotes, convidados a dar o seu testemunho vocacional,
exprimindo, em profundidade e em diferentes dimensões das suas vidas, as
motivações da sua vocação para a vida sacerdotal, e as consequências das
suas respostas vividas, bem como, qual o significado do sacerdócio para cada
um. A AIS destacou a “forte componente solidária” da publicação, em que
parte das vendas reverterá a favor de dois seminários em Moçambique: Jecua
e Quelimane.
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. serviços e movimentos .
Junta Diocesana da ACISJF
Com o início das férias escolares, a Junta Diocesana de Leiria da Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina (ACISJF)
propôs um programa diversificado de actividades para crianças e jovens (rapazes até ao 2º ciclo e raparigas até ao 3º ciclo) para que os seus tempos livres
fossem divertidos e também pedagógicos.
Entre ateliers de pintura, bordados e culinária, passando por jogos ao ar
livre e visitas à cidade, piscina, espaço Internet e inglês, as actividades incluíram estudo acompanhado, para que as crianças e jovens não esquecessem
o que aprenderam e até melhorassem os seus conhecimentos escolares. Os
participantes puderam optar por inscrições de um mês, uma quinzena ou uma
semana.
Os Samaritanos
Visitadores dos Estabelecimentos Prisionais
Plano de Actividades 2009/2010
1. Campo Social
1.1. Levantamento de necessidades biopsicosociais dos reclusos e estudo
de uma responder às suas carências;
1.2. Calendarização das respostas concretas, segundo o grau de prioridade
e os meios disponíveis;
1.3. Estudo, apreciação e distribuição das áreas de intervenção, nas reuniões mensais da associação;
1.4. Projecto OPORTUNIDADES ‑ continuação do estudo para implementação de uma casa de transição.
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Vida Eclesial
Campos de férias para crianças e jovens
. serviços e movimentos .
2. Campo Humanitário
2.1. Motivação dos reclusos de forma a encontrarem resposta para as interrogações fundamentais do Ser Humano (Viver, porquê? Para quê?
Como?) ‑ Encontros Semanais;
2.2. Intercomunicação com diferentes grupos, nomeadamente, jovens, catequistas, escuteiros…
2.3. Celebração das datas natalícias dos reclusos;
2.4. Intensificação do contacto com a família dos reclusos e melhoramento do relacionamento familiar;
2.5. Colaboração no encaminhamento dos reclusos para comunidades terapêuticas, hospedagem e integração profissional e social;
2.6. Distribuição de bens úteis: produtos de higiene, rádios, roupa, envelopes, selos...
3. Campo Cultural
3.1. Criação de momentos recreativos e culturais com vista à formação
integral dos reclusos;
4. Campo Religioso
4.1. Animação e Celebração Litúrgica: participação de grupos de jovens
das várias paróquias; celebração das festas do perdão, da vida, da reconciliação, da luz, da liberdade, da palavra, da fé e do Pai-Nosso.
4.2. Intensificação do amor à Eucaristia e preparação para o Baptismo,
Comunhão e Confirmação).
4.3. Celebração comunitária do Natal e Páscoa, com visita aos pavilhões
na Epifania e no Domingo de Pascoela, envolvendo o pessoal de serviço e corpo de guardas. Além dos visitadores, participam outras pessoas
convidadas.
4.4. Serviço de Evangelização: distribuição de catecismos, bíblias, terços,
postais de mensagens, etc.
Nota: Este programa tem em vista os dois estabelecimentos prisionais, com
algumas adaptações, e será executado em estreita ligação com as direcções
dos dois estabelecimentos prisionais e, quanto possível, em cooperação com
os Serviços de Educação e de Reinserção Social.
Leiria, 30 de Julho de 2009
Joaquim Carrasqueiro e P. Manuel Pedro
134 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. serviços e movimentos .
Cáritas Diocesana de Leiria na praia do Pedrógão
Oriundas de todos os cantos da diocese e repartidas em turnos de onze
dias, foram cerca de três centenas as crianças que viveram intensamente as
colónias de férias de verão, organizadas mais uma vez pela Cáritas de Leiria
na sua casa – para muitos, a casa amarela – na praia do Pedrógão.
As colónias de férias são, na Cáritas, uma tradição ininterrupta de mais
de trinta anos, feita de um sem número de pequenas histórias, tantas quantas
as dos milhares de crianças que tiveram oportunidade de as frequentar ao
longo de todos estes anos. Mas são também as histórias das muitas centenas
de jovens, as monitoras e monitores, que as protagonizaram e realizaram com
amorosa dedicação pessoal, constituindo hoje uma fonte de inspiração e motivação para as gerações mais novas.
Sendo um tempo feliz, feito de praia, jogos e brincadeira, as colónias são
também para as crianças uma escola onde se faz a aprendizagem e a experiência da vida em grupo, que aponta para um desenvolvimento integral, que
estimula para o exercício de pequenas responsabilidades quotidianas, onde
as energias e capacidades de cada um são postas ao serviço dos projectos
comuns e se aprende a conviver com a diferença e diversidade de percursos
de vida. Para todas, constitui um tempo de convívio alegre e saudável, de
crescimento e desenvolvimento de potencialidades; mas para algumas crianças a colónia é também uma etapa marcante nos seus processos de integração
e de socialização.
Para muitos jovens, as colónias de férias são também a primeira experiência de voluntariado social, que um bom número prolonga em alegre dedicação por largos anos, sempre na descoberta de potencialidades novas e criando
laços e amizades que se colam para uma vida inteira. A solidariedade das
monitoras e dos monitores não é nem virtual, nem feita de ideias abstractas; é
concreta e presencial, feita de doze dias e noites de entrega total, no frente a
frente com o rosto, com o olhar, com as mãos e as emoções do outro, quantas
vezes carente, já ferido e maltratado pela vida. “O trabalho não é pago; mas
são-nos passados, todos os dias, muitos cheques de sorrisos, brincadeiras e
afectos que no fim da colónia deixam bem recheada a conta bancária de cada
um que por aqui passa”, costuma dizer aos monitores Nelson Costa, o animador cultural da Cáritas, responsável pela actividade.
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Vida Eclesial
Para 300 crianças, o crescer para a vida
. serviços e movimentos .
Apesar das profundas mudanças sociais entretanto ocorridas, ou até por
isso mesmo, e de ser tão exigente de meios e geradora de preocupações, esta
é uma actividade da Cáritas que mantém intactas a sua actualidade e mais
valia social, como o demonstra o interesse que continua a despertar entre as
centenas de famílias e instituições que lhe confiam as suas crianças.
Chegados ao final de cada verão e cumprida sem incidentes de maior a
actividade que, para muitos, é a de maior visibilidade da instituição, é natural que se respire na Cáritas um sentimento de satisfação. Mas ela tem de
ser endossada, acima de tudo, não apenas a todas as pessoas e organizações
que estiveram com a Cáritas na preparação e realização concreta da colónia
de férias, mas também a todas as demais que, ao longo do ano e de diversos
modos, lhe transmitiram múltiplos sinais de estímulo, de apoio e de compreensão.
Ambrósio J. Santos
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. serviços e movimentos .
O Centro Voluntários do Sofrimento (CVS) é uma Associação Diocesana
Confederada a nível internacional, constituída por leigos: pessoas sãs (Irmãos
dos Doentes ); e pessoas doentes e portadoras de deficiência (Voluntários do
Sofrimento).
O CVS dá resposta à intuição carismática de Monsenhor Luís Novarese,
que vê no sofrimento oferecido pelo doente uma participação no mistério
pascal de Cristo, o torna apóstolo e, por isso, primícia e profecia para a valorização de toda a situação de sofrimento presente na vida do homem. Desempenha assim o seu papel de tornar a todos sujeitos activos e responsáveis,
fazendo da sua acção dom e enriquecimento para a Igreja e para a sociedade.
Para desenvolver a sua missão, o CVS adere aos pedidos de penitência e
oração característicos da espiritualidade mariana de Lourdes e de Fátima, que
reconhece como lugares carismáticos da Associação.
Quanto ao ano pastoral findo, realizámos os nossos encontros, onde trabalhámos com o tema “Sopra o Espírito para onde quiseres” e “Somos responsáveis por um dom que vem do Alto”. Assim pudemos aprofundar e conhecer
melhor e aprofundar a nossa responsabilidade de cristãos baptizados e a importância do sacramento da Confirmação.
Com a carta de D. António, reflectimos sobre a comunhão e a corresponsabilidade, o que nos ajudou a melhor compreender o nosso lugar e comunhão na Igreja.
Celebrámos o Dia Mundial do Doente na Capelinha das Aparições, no
Santuário de Fátima, com a colaboração do Serviço Diocesano da Pastoral da
Saúde, e também participámos na Festa da Fé.
Custódia Carreira Cunha
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Vida Eclesial
Centro Voluntários do Sofrimento
. serviços e movimentos .
Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM)
Durante o ano pastoral de 2008-2009, os Centros de Preparação para o
Matrimónio de Leiria-Fátima realizaram as seguintes actividades:
- Estiveram em acção13 equipas vicariais, constituídas por 77 casais e 13
sacerdotes assistentes, representando 7 vigararias (em falta Batalha e
Fátima).
- Realizaram-se 14 encontros que reuniram, ao todo, 421 pares de noivos,
número semelhante ao do ano transacto.
- De acordo com os estatutos, efectuaram-se dois Conselhos Diocesanos,
participados por 52 leigos e 3 assistentes, nos quais se trataram assuntos
vários de interesse para o CPM.
- Em Janeiro de 2010 decorreu o retiro anual do CPM, em Fátima, com
37 casais.
- O CPM diocesano participou também nas actividades do CPM Portugal
com cerca de 30 casais.
- Tiveram lugar em Fátima as Jornadas Internacionais da Federação Internacional dos Centros de Preparação para o Matrimónio, que reuniram
casais que trabalham com noivos, no âmbito do CPM, de alguns países
da Europa, do Canadá e de Madagáscar. A nossa Diocese esteve representada por 3 casais.
- O CPM participou ainda na Festa da Fé, realizada em Leiria, com um
pequeno espaço onde procurou dar a conhecer um pouco o que é a sua
acção na nossa Diocese.
A equipa responsável diocesana
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. serviços e movimentos .
Nascida em Paris, em 1972, no seio do Renovamento Carismático Católico surgido na sequência do Concílio Vaticano II, a Comunidade Emanuel está
hoje presente em 57 países, com mais de 8000 membros, de todos os estados
de vida: casais, solteiros ou celibatários, padres (223), seminaristas (100),
leigos consagrados no celibato (25 irmãos e 170 irmãs). Juntos na complementaridade, esforçam-se por responder ao apelo de Deus: servir e anunciar
Cristo no mundo contemporâneo.
O carisma da Comunidade implica esta comunhão profunda entre o sacerdócio comum dos baptizados e o sacerdócio ministerial, numa mesma vida
espiritual marcada pela adoração de Deus “Emanuel”. Desta adoração nasce a
compaixão, ela mesma fonte do desejo de evangelizar, de anunciar ao mundo
inteiro a Boa Nova da Salvação. Como dizem os Estatutos, “A graça profunda da Comunidade vem da adoração eucarística de Deus realmente presente
no meio de nós: Emanuel. Desta adoração nasce a compaixão por todos os
homens que morrem de fome material e espiritual. Desta compaixão nasce a
sede de evangelizar no mundo inteiro, particularmente os mais pobres”.
Estas três graças de adoração, compaixão e evangelização são constitutivas do carisma da Comunidade Emanuel. Para os membros da Comunidade,
a evangelização comporta diferentes aspectos, mas em todos os casos é orientada para os que não conhecem Cristo ou dele se afastaram:
- Manifesta-se, antes de mais, por acções individuais nos círculos de vida
de cada um: família, amigos, trabalho. Cada membro da Comunidade
evangeliza onde vive...
- Exprime-se pelo empenhamento individual dos membros em actividades da Igreja local ou universal...
- Comporta a participação em actividades apostólicas nascidas na Comunidade, em resposta a novas situações sociais, económicas, políticas,
culturais. Por exemplo, o “amor e verdade” é orientado para a evangelização das famílias; a “presença e testemunho” para a evangelização das pessoas na vida activa; as “escolas de evangelização”, “fóruns
de jovens”, etc., visam a evangelização dos jovens; a FIDESCO, ramo
missionário da Comunidade, orientada para a “missão ad gentes”, forma e envia missionários; etc.
- Encarna-se, ainda, nas missões confiadas explicitamente pela Igreja à
Comunidade.
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Vida Eclesial
Comunidade Emanuel
. serviços e movimentos .
Por Decreto do Conselho Pontifício para os Leigos, a Comunidade Emanuel foi reconhecida como Associação Privada de Fiéis de Direito Pontifício,
com aprovação definitiva, em 8 de Dezembro de 1998. E, em 20 de Junho
de 2009, foi erigida pelo Conselho Pontifício para os Leigos, em Associação
Pública Internacional de Fiéis, testemunho de um reconhecimento e confiança eclesial maiores.
Algumas actividades recentes da Comunidade Emanuel em Portugal, particularmente na Diocese de Leiria-Fátima:
- No Centro Francisco e Jacinta Marto, realizaram-se ao longo do ano pastoral 2008/2099 cinco encontros comunitários nacionais, com a presença habitual de uma centena de elementos da Comunidade, provenientes
não só da diocese de Leiria-Fátima, mas ainda das dioceses de Lisboa,
Porto, Coimbra e Évora. Num destes encontros, em Setembro de 2008,
esteve a co-fundadora da Comunidade Emanuel, Martine CATTA.
- Em Agosto de 2009, realizou-se uma peregrinação a “Paray-le-Monial”,
cidade do Coração de Jesus, de cerca de 60 jovens portugueses, provenientes das dioceses citadas, que foram participar no Fórum Internacional de Jovens, organizado anualmente pela Comunidade Emanuel, com
de milhares de jovens de múltiplos países.
- Em Setembro 2009, como em anos anteriores, realizou-se em Fátima,
de 4 a 6 de Setembro, o Fórum Nacional de Jovens, com a presença de
algumas dezenas de jovens portugueses.
- Em Lisboa, nas instalações da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus,
mas de âmbito nacional, realizou-se, a 14 e 15 de Novembro, o 2.º Fórum da Família, organizado pela Comunidade Emanuel, em colaboração com o sector de Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa e de
diversos movimentos eclesiais. Foi orador convidado o padre Olivier
Bonnewijn, da diocese de Malines – Bruxelas, membro da Comunidade, doutorado em Teologia pelo Instituto João Paulo II, em Roma, na
área do Casamento e Família, e professor de Ética e de Moral Sexual e
Familiar no Instituto de Estudos Teológicos de Bruxelas (Faculdade de
Teologia da Companhia de Jesus).
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. serviços e movimentos .
Departamento do Património Cultural
Além do acompanhamento dos assuntos relativos ao Património Cultural
da Diocese, o Departamento centrou a sua actividade em quatro áreas:
1- Apoio à definição das intervenções a fazer no património cultural, procurando responder aos pedidos de ajuda dos responsáveis por intervenções no património móvel e imóvel das paróquias e outras instituições
da Diocese, com visita aos espaços em questão e análise dos estudos
prévios que foram recebidos.
2- Análise de projectos e elaboração de pareceres sobre os pedidos de
execução formulados.
3- Inventariação da documentação gráfica, com deslocação de uma equipa do Departamento do Património Cultural a cada comunidade paroquial, aquando da visita pastoral do nosso Bispo. Deste inventário
fazem parte os livros de registo de baptismos, casamentos e óbitos; os
livros litúrgicos e de devoção popular; os livros de contas e de actas, de
estatutos de confrarias e de irmandades e outros documentos manuscritos e impressos. No ano pastoral transacto foi inventariada a documentação gráfica pertencente às paróquias das vigararias de Porto de Mós
e Fátima.
4- Exposição “Paulo, o Apóstolo”. A encerrar o Ano Paulino, o Departamento organizou uma exposição sobre o “Apóstolo das gentes”, que
proporcionou um espaço sobre a vida e obra do Apóstolo, por ocasião
dos dois mil anos do seu nascimento. O património artístico da Diocese
dedicado a São Paulo esteve patente ao público entre os dias 13 de Julho – dedicação da Catedral de Leiria – e 13 de Setembro.
Plano para 2009-2010
Para além da representação do Departamento em diversos espaços regionais e nacionais, propomo-nos continuar a:
1 - Apoiar as paróquias e outras instituições diocesanas na definição dos
programas de intervenção no património cultural;
2 - Assessorar a Autoridade competente na tomada de decisões, pela elaboração de pareceres;
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Vida Eclesial
Síntese do Ano pastoral 2008-2009
. serviços e movimentos .
3 - Fazer a inventariação da documentação gráfica, este ano, na vigararia
de Ourém;
4 - Promover a reflexão sobre o lugar da comunidade cristã na criação,
defesa e promoção do património cultural, no âmbito das opções do
Projecto Pastoral Diocesano para este ano.
P. Armindo Janeiro, director
Exposição de arte sacra sobre S. Paulo
O Departamento do Património Cultural da diocese de Leria-Fátima associou-se às celebrações dos 2000 anos do nascimento de São Paulo, com uma
exposição de arte sacra intitulada “Paulo, o Apóstolo”. Decorreu na igreja de
São Pedro, em Leiria, entre os dias 13 de Julho, festa da dedicação da Catedral, e 13 de Setembro de 2009.
Pensada a partir dos escritos paulinos, a mostra proporcionou uma reflexão de carácter histórico, eclesiológico e teológico, mediante uma apresentação em núcleos, os dois primeiros centrados no enquadramento histórico e no
encontro de Saulo com o Ressuscitado, a caminho de Damasco, e os restantes
dedicados à sua proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, Homem e Deus,
e à memória e difusão do culto do Apóstolo na nossa Diocese.
Integraram a exposição obras de diferentes disciplinas artísticas: pintura,
escultura, azulejaria, paramentaria e ourivesaria. As cronologias e linguagens
estéticas patenteadas, do século XVI ao XXI, demonstraram a que ponto a
figura de Paulo, porventura menos representada que outras no hagiológio,
prendeu a atenção e se tornou fonte de inspiração da comunidade diocesana
de Leiria. À excepção de um candelabro da liturgia judaica, todas as peças
expostas pertenciam ao património diocesano.
Assumindo a exposição como oportunidade para reflectir sobre a figura
paulina no nosso tempo, o Departamento do Património Cultural da Diocese
lançou ao artista Sérgio Mota Bernardo o desafio da criação de uma escultura
que o mesmo intitulou “O Apóstolo São Paulo” (ferro, vidro, chumbo e grisalhas sobre vidro). Assim, além da reunião das peças já existentes, a exposição
legava ao futuro mais esta obra contemporânea.
A linguagem museológica, assente deliberadamente na Palavra do Apóstolo, confirmou o protagonismo deste património artístico, em torno da figura
de São Paulo, ao serviço da Evangelização. Por este meio e com recurso a
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. serviços e movimentos .
estratégias sensoriais, o visitante dispôs de uma ajuda valiosa para melhor
apreender a vida e mensagem do Apóstolo.
O Departamento, que teve em mente o conhecimento de Paulo e a difusão da sua obra evangelizadora, não esconde a satisfação de ver a iniciativa
inscrita no prolongamento da oração de D. António Marto, Bispo de LeiriaFátima, no início do tempo jubilar: “Dirigimo-nos a ti, ó grande apóstolo São
Paulo, arauto de Cristo e nosso Mestre na fé. Fazemos nossa a mesma súplica
do macedónio: «Passa e ajuda-nos» com o teu anúncio, o teu exemplo e a tua
intercessão. Intercede ao Senhor por nós, cristãos do século XXI”.
Marco Daniel Duarte
O templo românico remonta aos finais do século XII. A sua importância
deve-se à antiguidade, mas também ao facto de ter sido Sé, a segunda, da
Diocese, até 1574, data em que o Cabido se mudou para a actual, que havia
sido iniciada em 1559.
Ao longo da sua história o edifício foi alvo de profundas transformações.
Chegou a ser celeiro e teatro, até 1880, mas foi depois restaurado e retomou
o culto em 1940. Sobreviveram numerosos elementos românicos tais como
arcos, colunas e capitéis. É Monumento Nacional.
Actualmente, o espaço é utilizado pontualmente para o culto e, dadas as
suas excelentes condições acústicas, é também palco de diversas actividades
culturais, designadamente música coral e instrumental.
O interior é de nave única coberta de madeira. A capela-mor, com o altar
principal, é ladeada de duas capelas laterais mais pequenas, com os respectivos altares. A estrutura espacial apresenta assim as características típicas
do estilo românico, simples e sereno, despido de ornamentação e com luz
escassa e difusa, proveniente de janelas altas. As paredes caiadas e o lajeado
calcário do pavimento conferem-lhe um carácter tectónico e austero.
É neste contexto que se insere o espaço expositivo, desenhado para as
peças seleccionadas, apresentadas em sequência lógica e significante. Mais
que mera mostra museológica, a exposição pretende ser experiência sensorial
e, ao mesmo tempo, catequese interactiva, através de uma sequência lógica e
com os contributos do som, da luz, do texto e da imagem.
Ao longo do percurso bem definido, o visitante desfrutava dos conteúdos
alusivos à vida e legado do apóstolo, e, em ritmo lento, avançava na percep| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 143
Vida Eclesial
Igreja de S. Pedro
. serviços e movimentos .
ção de cada peça exposta. Os materiais utilizados, por seu lado, respeitavam
o contexto espacial da igreja, aparentando uma forma quase “tosca e “inacabada. Este carácter construtivo foi intencional, por um lado, atendendo à
necessidade de controlo dos custos, por outro, mostrando uma “Igreja continuamente em construção”, sobre os fundamentos de sempre: a fé e a centralidade de Cristo.
A madeira e o “Viroc” (composto de cimento e partículas de madeira)
foram os materiais eleitos. O aspecto de betão é o que melhor reproduz o
carácter tectónico do templo e ambos - madeira e betão - nas suas cores naturais, aliam-se de forma simbiótica a toda a estrutura construtiva da igreja. A
iluminação, recorrendo à tecnologia LED, pretendeu ser o mais imperceptível possível, realçando as peças como se tivessem iluminação própria.
O esforço da construção da exposição e os seus custos foram repartidos
pelos diversos apoios de empresas da região, e contaram com um patrocínio
avultado de uma empresa nacional que forneceu grande parte do material
utilizado. Comparando com iniciativas similares, mesmo com recursos tão
escassos, o resultado final foi de grande qualidade.
Arq. Humberto Dias
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. serviços e movimentos .
Em 1994, a Revista Leiria -Fátima, Órgão Oficial da Diocese (Ano II. Nº
5, folhas 133-138) publicava “Uma Experiência de Retiros”, um artigo do
P. Manuel Santos José. Dessa experiência retratada em traços testemunhais
viria a surgir a estrutura que serviu de suporte à concretização do desejo formulado.
Criada por trinta fundadores e erecta canonicamente pelo então Bispo de
Leiria – Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, a 11 de Fevereiro de
1996, a Fundação Maria Mãe da Esperança (FMME) tem os seus estatutos
publicados no D.R. da III Série, nº 172/96, de 26 de Julho de 1996.
Eminentemente educativa, dedicada à interioridade, à relação com os outros e à comunhão, a instituição concentra a sua atenção na resposta ao apelo
instante da Igreja à Nova Evangelização, privilegiando crescimento espiritual
da pessoa, e seguindo desde logo, como refere no artigo citado, a Exortação
Apostólica Evangelii Nuntiandi que perspectiva uma acção evangelizadora
até às raízes mais fundas do ser humano. Esta dimensão eminentemente educativa valeu à Fundação o registo de utilidade pública, concedido pelo Ministério de Educação, a 24/06/1996.
O primeiro e fundamental objectivo da FMME é o encontro com Deus,
em sinceridade e verdade, forte, profundo e duradouro, condição sine qua
non para se ser cristão verdadeiro, como diz Bento XVI. Para a sua prossecução, os fundadores e colaboradores que a eles se foram juntando, procuraram
dar-se de corpo inteiro à implementação dos vários serviços imprescindíveis.
A FMME herdou, deste modo, a rica experiência de retiros referida no artigo,
meio privilegiado de encontro com Deus e, consequentemente, de evangelização em profundidade.
Sonhada, pensada e gerida por pessoas ligadas a várias dioceses, com realce para Leiria-Fátima, Algarve e Setúbal, A FMM transcendeu, desde logo,
a diocese onde foi criada – Leiria-Fátima. Dos trinta fundadores, cinco eram
do Algarve e dois de Setúbal. Contudo, a maioria dos retiros vêm tendo lugar em Fátima, actualmente no Centro de Espiritualidade Francisco e Jacinta
Marto. Não obstante, perspectivam-se alguns para Leiria, a partir de 2010,
nas instalações melhoradas do Seminário Diocesano. Nas outras duas dioceses, vem-se realizando um por ano, para cada uma: na Casa de Stª Rafaela
Maria, em Palmela, para Setúbal, e na Casa de Retiros de S. Lourenço do
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Vida Eclesial
Fundação Maria Mãe da Esperança
. serviços e movimentos .
Palmeiral, para o Algarve. No início, a FMME propunha cinco a seis retiros
anuais. Actualmente, promove oito.
Também não são descuradas outras actividades com o mesmo objectivo
de um encontro vivo e transfigurador com Cristo, no desejo de favorecer a
diversidade das participações. Aliás a experiência fundante referida incluía
tardes de deserto programadas à média de nove por ano. Do mesmo modo, na
sequência das Tardes de Deserto, realçam-se as actuais Jornadas de espiritualidade, como momentos espiritualmente fortes, com a Eucaristia e tempos de
partilha espiritual e adoração.
De salientar também a peregrinação anual a santuários do Coração de
Jesus e Imaculado Coração de Maria, momento privilegiado de aprofundamento do lugar dos Corações de Jesus e de Maria na espiritualidade cristã.
De modo semelhante, a Devoção dos Cinco Primeiros Sábados é proposta
e trabalhada com pessoas individuais e grupos espalhados pelo país, em 5
meses ao ano, de Fevereiro a Junho, com Folhas de Apoio para 15 Minutos
de Companhia a Nossa Senhora.
Existem ainda os Cursos da Nova Evangelização: um criado em 2006
e repetido em 2007, designado o Poço de Jacob, e outro, quase concluído,
sobre o Credo, que será facultado nos próximos anos.
Como apoio às suas actividades e acção evangelizadora para um público
mais vasto, a FMME publica o Jornal Água Viva e seu Suplemento COF.
Embora a calendarização seja feita por anos civis, apresentamo-la referida aos anos pastorais de 2008/2009 e 2009/2010, como nos foi solicitado.
Avaliação das actividades realizadas no ano pastoral 2008 – 2009
Realizaram-se 8 Retiros: “Pelos caminhos de Fátima - Retiro Peregrinação - ” em Outubro/2008, em Fátima; “ Para mim viver é Cristo” (Ano Paulino), em Novembro/2008, em Fátima; repetido em Dezembro/2008, no Algarve, e em Janeiro/2009 em Palmela; “Peregrinos de Emaús”, em Março/2009,
em Fátima; “A luz do meio-dia” também em Fátima, em Maio/2009; “Faço
novas todas as coisas”, em Fátima, em Julho/2009; “Nascente Escondida”,
retiro itinerante, modalidade criada em 1991, a partir do Centro Pastoral de
Aljubarrota, em Agosto/2009. O número de participantes varia, com 18 a 20
pessoas por retiro;.
Algumas outras actividades decorrentes dos Estatutos situam-se no âmbito da sensibilização para a preservação e apreço do meio ambiente e da qualidade de vida, mesmo assim na perspectiva da Nova Evangelização. Inclui-se
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nesta linha a acção ecológica anual que, em 21 de Fevereiro/2009, se fez no
Parque da Serra de Aire e Candeeiros, Mendiga, Porto de Mós, em terreno
da Fundação. Além do trabalho de campo propriamente dito, a acção integra
momentos celebrativos e de convívio. Uma equipa de três a cinco pessoas,
continua a trabalhar, um dia por semana, no referido terreno, a título benévolo.
Os retiros itinerantes, são também um meio privilegiado para promover
o amor á natureza ao jeito de Francisco de Assis. Nesta linha, são de salientar duas actividades realizadas no Algarve: “Noite eco espiritual”, para
dirigentes do Agrupamento 98 do CNE, de Faro, em Outubro/2008 no Parque
Natural da Ria Formosa, em Olhão, resultado duma parceria com esse Agrupamento, na sequência do “Fim de semana eco-espritual”, em Abril/2008,
na zona da Úmbria/Tavira/Algarve, promovida pelo Agrupamento 1200, de
Quelfes, Olhão, em parceria com a FMME.
As Jornadas de Espiritualidade realizaram-se uma em Janeiro/2009, sobre
o Beato Francisco e outra em Julho/2009 sobre S. Paulo. A média de participantes rondou entre os 30 e 40, alguns dos quais vindos do Algarve e Setúbal.
A peregrinação anual, por altura das festas do Sagrado Coração de Jesus
e do Imaculado Coração de Maria, realizou-se entre 19 e 21 de Junho/2009.
A prática dos Cinco Primeiros Sábados, de Fevereiro a Junho de 2009,
foi acompanhada de apoio a mais de quinhentas pessoas por todo o país, na
maioria integradas em grupos ou famílias, e algumas individualmente. As
folhas para apoiar os 15 minutos de companhia a Nossa Senhora foram recebidas com agrado e ajudaram tanto na aprendizagem da meditação como nos
quinze minutos de companhia a Nossa Senhora, segundo testemunhos vários.
Em 2009 (de Fevereiro a Junho) funcionaram os seguintes grupos: Algarve – Carmelo (Patacão), Luz (Lagos), Portimão, Tavira (2), Olhão; Coimbra
– Vilamar, São Caetano; Leiria-Fátima – Aljubarrota, Colmeias, Leiria (3),
Matos da Ranha (Vermoil), Minde (3 e mais familiares), Mira de Aire, Ourém
(2 e mais 1 familiar), Fátima (2), Caranguejeira, Pousos; Lisboa – Benedita
1 grupo familiar e outro em Oeiras; Porto – Santo Tirso; Setúbal – Alcochete
(2), Lavradio, Montijo, Charneca da Caparica.
Uma publicação que viu a luz do dia em Outubro/2008 resultou de um
trabalho intenso de colectânea e organização de cânticos do P. Manuel, compostos, a maioria, para actividades específicas da FMME, que deram origem
ao livro Cântico Novo, enriquecido com uma gravação que facilita a aprendizagem e a interiorização.
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Vida Eclesial
. serviços e movimentos .
. serviços e movimentos .
Calendarização do ano Pastoral 2009 – 2010
Estão previstos 8 retiros:
- 15 a 18 de Outubro/2009: “Tesouro de Vida”, em Fátima. Será repetido
em Dezembro/2009 e em Janeiro/2010, no Algarve e em Palmela respectivamente.
- Novembro/2009: “Á Beira do Poço”, em Fátima. Este retiro comemora
as suas bodas de prata.
- Em Março/2010: “Aos Pés do Senhor”, em Fátima.
- Maio/2010: “Esta Igreja que eu amo”, no Seminário de Leiria,
- Julho/2010: “Faço novas todas as coisas”, no Seminário de Leiria.
- Agosto/2010: “A Plenos Pulmões”, retiro itinerante, a partir do Centro
Pastoral de Aljubarrota.
Em 13 de Fevereiro/2010, nova acção ecológica na Bouça, Mendiga, Porto de Mós.
A 20 de Fevereiro/2010 será inaugurado, sob a presidência do Senhor
Bispo de Leiria-Fátima, no mesmo terreno, o Espaço orante na Natureza.
Será um espaço aberto a actividades semelhantes de outras organizações, nomeadamente, dias de reflexão, dias de deserto (oração), dias de campo; Via
Crucis (Via Sacra) ou Via Lucis (Caminho da luz) para o que existem estações rústicas alusivas. Estão já previstas uma Via Crucis (7 de Março/2010) e
uma Via Lucis (18 de Abril/2010).
Estão previstas duas Jornadas de Espiritualidade, em Fátima: uma em Janeiro/2010, vivida com S. João Maria Vianney, outra em Julho/2010, com a
Beata Jacinta Marto.
Em Junho/2010: Peregrinação a santuários dos Corações de Jesus e Maria
(locais a designar).
A 30 de Outubro/2010: a nível interno, a FMME promove, a Festa anual
do Compromisso, para os inscritos nos Serviços, quer candidatos, quer membros.
A FMME está a promover uma reflexão ao nível dos órgãos directivos
e dos serviços, sobre a eventual re-criação de grupos de oração, para dar
continuidade aos grupos formados no decorrer dos retiros, que denominamos
de oração interior (bíblica). Deseja-se o ressurgimento destes grupos que já
existiram em duas ou três paróquias (ver artigo citado). A sua concretização
projecta-se para o ano pastoral 2010/2111).
Filomena Calão
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. serviços e movimentos .
O Grupo da Imaculada foi formado por leigos e para leigos, sedeado em
Fátima e aprovado canonicamente. Foi em 1984 que, por inspiração divina, a
fundadora, Maria das Candeias Martins Morgado – que o Senhor já chamou
a Si, em Agosto de 2003 –, deu início ao Grupo da Imaculada.
O seu carisma é difundir por todo o mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria, promovendo a consagração das terras, seus lares e suas famílias
e implantando, em cada terra, um pequeno monumento com a Imagem do
Imaculado Coração de Maria. Esse monumento fica como um marco, lembrando as graças que Nossa Senhora tem para nos dar: quando por lá passamos, atrai-nos ao seu Imaculado Coração e lembra-nos como deve ser a nossa
vida, uma contínua consagração ao Imaculado Coração de Maria.
A fundadora alicerçou o carisma do Grupo da Imaculada na meditação
das palavras que Nossa Senhora disse à Irmã Lúcia na 2.ª Aparição de Fátima,
a 13 de Junho de 1917: “Jesus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu
Imaculado Coração”. E foi de tal maneira fiel que ao longo da sua vida sempre demonstrou um enorme entusiasmo, enfrentando as maiores dificuldades
sem nunca desanimar.
Assim, o Grupo da Imaculada procura viver e transmitir a Mensagem
de Fátima: oração, penitência, mudança de vida e modéstia; o que Nossa
Senhora pediu. Por isso, também a oração diária do santo Rosário, a devoção
dos Cinco Primeiros Sábados, a união das famílias e a sua vivência à luz do
modelo de vida da Sagrada Família.
O Grupo transmite toda esta mensagem, nomeadamente, através de encontros de formação e oração e reuniões mensais na sua sede, encontros internacionais semestrais, no auditório do Centro Pastoral Paulo VI em Fátima,
peregrinações e retiros, sempre acompanhados do seu assistente espiritual.
No ano 2008/2009, realizaram-se, como habitualmente, reuniões mensais
do Grupo de Oração, na sua sede em Fátima, para maior enriquecimento em
ordem aos trabalhos da nossa missão. Durante todo o dia, os membros do
Grupo participam na santa Missa, adoram o Santíssimo Sacramento solenemente exposto e meditam na Sagrada Escritura e na Mensagem de Fátima.
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Vida Eclesial
Grupo da Imaculada e Fundação Apostolado
do Imaculado Coração de Maria
. serviços e movimentos .
Em Março e Outubro realizaram-se os já habituais encontros internacionais, com a presença de mais de duas mil pessoas vindas de todo o País e de
alguns países do estrangeiro onde o Grupo está implantado. Os encontros
iniciam-se com a santa Missa, que tem sido presidida por um dos bispos D.
Serafim Ferreira e Silva ou D. António Marto. Da parte da tarde, vários grupos das Comissões Locais rezam, cada um, um mistério do Terço e entoam
cânticos a Nossa Senhora. E com a meditação sobre a Sagrada Escritura e a
Mensagem de Fátima e alguns testemunhos pessoais – sempre cativantes e,
até, emocionantes – regressam às suas terras cheios de amor a Deus e mais
fortalecidos na fé.
Os membros do Grupo da Imaculada têm, ainda, todos os anos, dois momentos de particular intensidade espiritual: uma peregrinação de vários dias,
de autocarro, normalmente a santuários marianos, em espírito de sacrifício,
em total silêncio, apenas interrompido para a recitação do Rosário completo,
para a prática de outras devoções e para a escuta de meditações e cânticos; e,
durante os três dias de Carnaval, o Grupo reúne-se na sua sede, em adoração
ao Santíssimo Sacramento solenemente exposto, em desagravo pelas ofensas
feitas a Jesus nestes dias, terminando com a santa Missa.
Nos Encontros de Formação e Oração, na sede, participam responsáveis
das Comissões Locais a quem, durante dois dias, são explicados com mais
profundidade o carisma e a espiritualidade do Grupo e os diversos trabalhos
a seu cargo, quer de natureza espiritual, quer material.
Em 2008/2009, foram consagradas várias terras ao Imaculado Coração de
Maria – e inaugurado o respectivo monumento – nas dioceses de Vila Real
(Atei), Lamego (Touça), Évora (Santa Eulália, Santo Amaro, São Vicente e
Ventosa, Vila Fernando e Barbaçena) e Aveiro (Avanca). Estão previstas para
breve mais uma consagração na diocese de Vila Real, outra nas Filipinas e
ainda uma na Ucrânia. A vontade da fundadora continua a cumprir-se.
No dia 17 de Outubro de 2009, o Grupo da Imaculada começou a celebrar
os seus 25 anos em missão, com o Encontro Internacional, que desta vez
decorreu na Igreja da Santíssima Trindade. A santa Missa Internacional, de
manhã, foi presidida por D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, e concelebrada
por D. Augusto César, Bispo emérito de Portalegre e Castelo Branco, e ainda
pelos vigários gerais de Leiria-Fátima e de Viseu, pelo nosso assistente espiritual, padre Nelson Matias Pereira, e por mais trinta e seis sacerdotes. No
cortejo litúrgico, pudemos ver, ao lado das bandeiras da Santa Sé, de Portugal
e do Grupo da Imaculada, as bandeiras dos países em que, nos quatro cantos
do mundo, o Grupo está implantado. Estavam presentes cerca de dez mil pes150 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
soas, que enchiam por completo a Igreja da Santíssima Trindade e, ainda, os
espaços de acesso. E encheram-nos de entusiasmo as palavras que o Senhor
Dom Serafim proferiu na homilia.
Na Capelinha das Aparições, às 14h00, a Hora de Reparação ao Imaculado Coração de Maria foi orientada pelo Grupo da Imaculada, com orações
de súplica e louvor, a recitação do Rosário, com meditações dos mistérios e
cânticos a Nossa Senhora.
Depois, o Grupo voltou em cortejo para a Igreja da Santíssima Trindade,
onde o professor Carlos Silva, da Universidade Católica de Lisboa, proferiu
uma conferência sobre o Imaculado Coração de Maria, de enorme riqueza
espiritual e histórica. Foram ainda dados testemunhos sobre o Grupo da Imaculada por várias pessoas de diversos países e foram entoados, por grupos
corais de terras de Portugal já consagradas, vários cânticos e o Hino dos 25
anos, especialmente composto pela professora Leonor Leitão Cadete, membro do Grupo.
Neste ano que agora se inicia, o Grupo da Imaculada irá procurar que, em
toda a parte, as suas actividades sejam mais vividas espiritualmente, nomeadamente, com tríduos de preparação para as renovações e consagrações. Em
Outubro de 2010, novamente em Fátima, queremos que seja o culminar de
um ano de intenso labor missionário e apostólico.
E já começámos. No dia 18 de Outubro, a renovação da Consagração de
Vila Nova de S. Bento – terra natal da nossa fundadora – foi presidida pelo
Bispo da diocese, D. António Vitalino Dantas, e com a participação de D.
Manuel Falcão, Bispo emérito, e de sacerdotes estrangeiros que se haviam
deslocado a Portugal para participar nas celebrações.
Nas actividades neste ano, destaco ainda, pelo seu significado, a peregrinação que o Grupo da Imaculada irá fazer a Roma, visitando e orando nas
quatro basílicas e participando na audiência com o Santo Padre, tal como
fizera a fundadora, já lá vão 22 anos!
Peço ao Imaculado Coração de Maria que nos fortaleça e nos anime; e
seja nosso refúgio nas horas difíceis e nos conduza até Deus.
Angelina Pinto Leite, presidente
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Vida Eclesial
. serviços e movimentos .
. serviços e movimentos .
Grupo Missionário Diocesano Ondjoyetu
Três anos de geminação… 10 anos de caminhada
O Grupo Missionário Ondjoyetu, da diocese de Leiria-Fátima, actualmente com sede no Seminário Diocesano de Leiria, teve um ano pastoral
2008/09 cheio de projectos e os desafios, com algumas desilusões, impasses
e imprevistos. Olhando para o caminho percorrido, encontramos a ajuda preciosíssima de Deus, dos elementos do Grupo e dos diocesanos, no âmbito
material e espiritual.
Entre outras, lembramos a Campanha do Advento, lançada pelo Serviço
Diocesano da Catequese para recolha de catecismos e bíblias. O Ondjoyetu
abraçou a iniciativa e os catequistas do Gungo, por carta, ficaram agradecidos: “Os catequistas (…) vêm agradecer aos jovens da diocese de Leiria-Fátima, em Portugal, o trabalho de campanha de angariamento dos catecismos
para enviar para Angola, visto que os mesmos fazem falta nos trabalhos de
catequese aqui na nossa Missão. Emocionado de alegria, de admiração do
grande esforço em generosidade das crianças e jovens da diocese de LeiriaFátima, com a ajuda que prestaram aos nossos catequistas. Queridos jovens,
as bíblias chegaram e sem problema à nossa vista”.
O Ondjoyetu foi também a várias escolas, falando de solidariedade a
crianças e jovens. Em Dezembro de 2008, três voluntárias estiveram com
a turma do 5.º ano do Colégio Senhor dos Milagres e iniciou uma troca de
correspondência entre os alunos do Colégio e os alunos da escola do Uquende, uma aldeia do Gungo. As respostas de Angola chegaram já em 2009, na
semana de EMRC que se tornou semana dedicada às Missões e de apelo na
escola à solidariedade e fraternidade.
No primeiro semestre de 2009, o Grupo Ondjoyetu participou em três
feiras: na Marinha Grande, com a Escola Professor Alberto Nery Capucho,
onde abrimos“A Tenda da Solidariedade”; em Leiria, como nos últimos anos,
na Feira de Maio; e, pela primeira vez, em Julho, na Feiriarte da Bajouca.
Abril de 2009 chegou de Angola o “Tio Vitorino”, catequista do Gungo,
há muito esperado. Esteve em terras lusas, por dois meses, hospedado pelos
voluntários, que estiveram em Angola, e seus familiares. Participou em actividades de voluntariado missionário, na peregrinação de 13 de Maio, em
actividades de grupo, na recolha de bens para o contentor e em retiros. Deu
testemunho do seu povo e do trabalho dos nossos missionários em Angola,
em escolas, paróquias, catequeses e feiras.
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A campanha “Agir para Desenvolver ‑ Projectos de Esperança” (www.
agirparadesenvolver.org), da Fundação Evangelização e Culturas (FEC),
contou o nosso projecto “Grão a Grão”, de aquisição de uma moagem para
um posto comunitário no centro do Gungo, contributo para a melhoria alimentar da população, dentro do Objectivo de Desenvolvimento do Milénio:
erradicar a fome e a pobreza.
Também se lançou o projecto “Ser Jovem no Gungo”, que está a ser financiado com cerca de 10.000,00 euros, pelo programa “Juventude em Acção”,
da União Europeia, em apoio à ida por um ano, para Angola, da jovem voluntária Maria Inês Monteiro Pereira. A Inês repete a experiência de missão.
O seu trabalho centra-se “em encontros com todos os jovens da missão”, de
formação juvenil.
Como é habitual todos os anos, organizámos um concerto solidário, a 14
de Fevereiro, no Centro Pastoral Paulo VI, com o Ricardo Azevedo e o colorido grupo “Ninfas do Lis”. O tema “Amor: Fonte da Missão” também se
adequou bem a esse Dia dos Namorados.
Em Fevereiro, começou a organizar-se o envio de um contentor. Trabalho
árduo mas, com a ajuda dos diocesanos, o envio pôde fazer-se em Junho.
Aproveitando a “boleia”, foi também uma carrinha 4x4, usada, para o trabalho da missão.
A 22 de Maio, realizou-se o primeiro acantonamento missionário, para jovens da diocese. apesar da chuva e outros obstáculos, o convívio e a amizade
atingiram o auge. O Tio Vitorino ajudou a criar uma tal mística que, na Serra
de Aire, nos sentimos como se no Gungo.
Ao longo do ano Pastoral realizaram-se dois retiros, um no dia de Carnaval e outro num fim-de-semana de Junho. Ao longo do ano, continuaram
os encontros mensais, em Regueira de Pontes, sede do grupo missionário até
Agosto de 2009, e também os encontros semanais, à segunda-feira, numa sala
anexa à Sé de Leiria. São espaço de encontro com Deus e de fortalecimento
dos nossos laços no Grupo.
A Missão no Alentejo continua. Este ano, estivemos na Aldeia da Mata,
de 8 a 16 de Agosto, partilhando com a comunidade a nossa experiência cristã. Os dias eram preenchidos com visitas aos lares e às famílias, actividades
com crianças, oração com a comunidade e formações. No final da semana
missionária, concluímos com uma vigília missionária, a Eucaristia e a celebração da Unção dos doentes.
A 26 de Agosto, partiram para Angola a Maria Inês Pereira, que integrará a equipa missionária durante um ano, e o padre Virgílio Antunes que, de
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Vida Eclesial
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. serviços e movimentos .
passagem para o Santuário da Muxima, diocese de Viana, visitou a missão do
Gungo. Depois de passar pela casa-sede da missão no Sumbe, “a Ondjoyetu”,
O Reitor do Santuário passou um fim-de-semana nas montanhas do Gungo.
A campanha dos Mil & Tal Amigos continua. Agradecemos a Deus estes
já cerca de 700 amigos da Missão do Gungo, que se unem a nós e, com 1
euros por mês, ajudam a Missão em Angola.
No ano pastoral 2008-09, partiram em missão seis leigos voluntários: a
Ana Sofia Monteiro Pereira, engenheira civil, da Barreira, por um ano e meio;
o Armando Pires Franco, mecânico, da Barreira, por seis meses; a Inês Pereira, fisioterapeuta, da Barreira, por um ano; a Maria Antónia e o Tiago Gomes, um casal aposentado, Coimbra, deram três meses à missão do Gungo;
a Maria Angélica Filipe, aposentada, do Juncal, integrou a equipa por três
meses. Continuaram todos a caminhada feita por outros, dando um pouco de
si, partilhando fé e alegria.
O padre David Nogueira inicia o quarto ano consecutivo à frente da Missão de S. José do Gungo. Agradecemos a Deus o maravilhoso apoio que dá
à Missão, de alma e coração, deixando a sua terra, casa, família, para ir ao
encontro do irmão.
Do outro lado do mundo, na Missão do Gungo, o início do ano pastoral
ficou marcado pela a visita do Bispo D. Benedito Roberto, momento de grande felicidade para a população que se mobilizou para o acolher. D. Benedito
visitou as três zonas da missão e celebrou o Crisma de centenas de jovens e
adultos.
O acompanhamento familiar, iniciado em 2008, uma das apostas da equipa missionária, vai continuar. Entre os objectivos, contam-se o fortalecimento dos laços conjugais, o conhecimento e respeito mútuo, a ajuda e a importância da vida a dois. Do mesmo modo, a pastoral da criança, desafio do ano
transacto, prossegue este ano, como a iniciação das crianças, área em que os
leigos têm um papel fundamental.
Os catequistas, com a equipa missionária, estão sempre atentos à preparação e celebração dos sacramentos. Ao longo do ano, houve 208 baptismos,
14 casamentos e 25 primeiras comunhões.
O leigo missionário, Armando Pires Franco trabalhou sobretudo na área
da mecânica, formando 25 jovens do Gungo. Outros leigos têm trabalhado na
formação mais social, por exemplo, nas aulas de culinária, despertando para
uma alimentação variada e saudável, e na saúde preventiva.
A formação litúrgica, nos períodos de permanência dos missionários nas
aldeias, deu grande passo com os jovens do Gungo que conseguem participar
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Vida Eclesial
em actividades diocesanas. A Maria Inês Pereira trabalhará nesta área, estabelecendo laços com eles e inserindo-os, o mais possível, na comunidade.
A equipa missionária dá um forte apoio à comunidade do Gungo, com
cerca de 25.000 habitantes, na gestão de projectos de sustentabilidade da missão – comércio de carvão, construção de padarias comunitárias, venda de
bens essenciais (medicamentos, material escolar, roupa e até combustíveis) a
preços educativos.
A missão possui uns 70 hectares de terreno, rentabilizados com uma junta
de bois, o que permite dinamizar assim a agricultura, integrando o projecto de
sementes: vendendo sementes de diversos produtos, criam-se na população
melhores hábitos alimentares.
Muita coisa ficou por dizer, mas nem só de actividades vive lá e cá o Ondjoyetu, porque esta missão é de Deus, é por Ele que vive e continua a aquecer
o coração de muitos. A Missão é de Cristo, que vive em mim e vive a Missão.
Celina Pedro e P. Vítor Mira
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. serviços e movimentos .
Movimento Família do Coração Imaculado de Maria
O movimento Família do Coração Imaculado de Maria desenvolveu ao
longo do ano algumas actividades de acordo com a temática, objectivos e sugestões apresentadas pelo Senhor Bispo na sua carta pastoral “Ir ao Coração
da Igreja”.
Neste ano pastoral 2009-2010, programámos os encontros mensais de
formação cristã e os retiros espirituais sobre a temática dos sacramentos que
nascem do coração trespassado e cheio de amor de Nosso Senhor. “O coração pulsante da Igreja é o Amor que lhe vem do Alto e que habita em nós e
nos une; palpita com o amor divino-humano do Crucificado e Ressuscitado.
«Com efeito, do lado de Cristo adormecido na Cruz nasceu o admirável sacramento da Igreja inteira» (Constituição sobre a Liturgia, 5).” (D. António
Marto, Ir ao Coração da Igreja, 2.1).
Para comemorarmos o Centenário do nascimento da Beata Jacinta, organizámos uma peregrinação ao Orfanato Nossa Senhora dos Milagres e ao
Hospital Dona Estefânia de Lisboa, para ressaltar melhor as grandes coisas
que Nossa Senhora realizou nesta humilde criança. “O ano pastoral coincide
também com o Ano comemorativo do centenário do nascimento da Beata
Jacinta Marto, exemplo de como uma criança é capaz de ter o verdadeiro
sentido da Igreja, de a amar e se sacrificar por ela. O programa do Santuário
de Fátima já foi divulgado. É uma ocasião para descobrir e valorizar o lugar e
o protagonismo das crianças na Igreja”. (Ir ao Coração da Igreja, 4.7)
O nosso movimento participou na Festa da fé, onde apresentou um grande
cartaz explicando a natureza e o carisma do movimento, enriquecido com algumas fotografias sobre as actividades feitas. “O presente ano pastoral culminará com um Grande Encontro Diocesano, na cidade de Leiria, nos dias 21,
22 e 23 de Maio de 2010. Damos-lhe o título Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja
Diocesana. Será um grande momento de encontro da nossa Igreja diocesana,
onde se dê visibilidade ao seu rosto na variedade das suas comunidades, movimentos, grupos e serviços, e da sua vitalidade. Será a expressão da nossa
Igreja viva e em comunhão. Queremos que seja uma verdadeira festa de comunhão na fé!” (Ir ao Coração da Igreja, 4.8)
Outras actividades
A Família do Coração Imaculado de Maria tem um particular cuidado
na formação dos associados, para que cada um, segundo as capacidades, os
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talentos, a idade e as condições de vida, professe e viva autenticamente a
verdadeira fé da Igreja, sabendo dar a razão dos princípios e das motivações
que a sustentam (cfr. 1 Pt 3, 15).
A formação é orientada para uma verdadeira “pedagogia da santidade”
(cfr. NMI 31) e integral (cfr. CH. L. 60), ou seja dirigida a todos os níveis da
pessoa: humano, espiritual, intelectual, profissional.
A formação promove a passagem para uma fé mais pessoal e adulta, iluminada e convicta (cfr. Ecc. in Eur., 50), para evitar a fractura entre fé professada e existência quotidiana, entre quanto se crê e quanto concretamente
se vive (Ch. L. 59).
Com este pressuposto, a Família do Coração Imaculado de Maria organizou a hora de base cristã deste ano tendo como tema a oração. Os encontros
foram nove: 1. O que é a oração. 2. As expressões da oração. 3. O rosário
síntese das diversas expressões da oração. 4. A fé e a oração, dois anéis da
mesma corrente indissoluvelmente unidos. 5. A oração no caminho da fé. 6. A
oração de oferta sacrificial. 7. A oração expressão e fonte da comunhão eclesial. 8. A oração é um abraço confiante com Deus, mas é também combate
consigo próprio. 9. Fátima, escola de oração.
Depois da oração inicial, houve uma palestra sobre o tema mensal seguida
da proposta de um propósito pessoal e concluída por uma partilha das impressões dos participantes.
Além disso, porque a vitalidade dos ramos depende de permanecerem
ligados à videira, que é Cristo Jesus (cfr. Ch. L., 57; Jo, 15,5) os Filhos e as
Filhas do Coração Imaculado de Maria procuram crescer numa sólida vida de
piedade, que os abre à acção do Espírito Santo, para que Ele se torne a alma
de cada gesto e comportamento, abrindo os seus corações ao amor de Deus e
dos irmãos e tornando-os aptos para construir a história segundo o desígnio
de Deus (cfr. NMI, 33).
Seguindo o modelo da Família de Nazaré, e iluminados pelo exemplo dos
pastorinhos de Fátima, os Membros leigos da Família consideram os momentos de oração, pessoais e comunitários, como o coração e o centro do
seu dia. De facto, “É através da oração que se obtém o perdão dos próprios
pecados, a força e a graça para resistir às tentações do mundo, do demónio
e da carne. Somos muito frágeis; sem esta força não conseguiremos vencer”
(AMF, VIII).
Por isso, os retiros, com a duração de duas horas, tiveram por tema a
oração, com particular referência ao capítulo 17 do Evangelho de São João.
Após a exposição do Santíssimo Sacramento, um Presbítero propõe uma me| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 157
Vida Eclesial
. serviços e movimentos .
. serviços e movimentos .
ditação e, a seguir, um momento de silêncio e de oração pessoal. Tudo termina com a partilha das reflexões dos participantes.
Outra iniciativa anual foi o primeiro sábado do mês. A partir das 14h30,
há possibilidade de confissões. Às 15h30 expõe-se o Santíssimo Sacramento
e faz-se uma breve adoração. A seguir recita-se o Santo Rosário, dá-se a bênção do Santíssimo e distribui-se a comunhão eucarística.
A juventude é uma etapa fundamental da vida. Conscientes da ameaça
que a falta de valores cristãos representa para os jovens e convencidos de que
a verdade do Evangelho deve ser semeada nos seus corações, organizámos
um retiro para jovens, mais ou menos com este esquema: meditação com alguns momentos de silêncio, confissões e celebração da Santa Missa; almoço e
momento de recreio com jogos ou caminhada aos Valinhos, rezando no Loca
do Cabeço a quarta parte do Santo Rosário.
Considerando os oratórios um meio importante de apostolado para a formação e crescimento dos jovens, organizámos o Oratório juvenil no verão:
depois do acolhimento, saudação ao Senhor na Capela, jogos comunitários,
não só futebol, lanche, pequeno momento de catequese e preparação para a
recitação do fim do oratório. Na festa do fim, com a presença dos pais e amigos das crianças, organizaram-se alguns jogos, representou-se o martírio de
São Tarcísio, e mostraram-se, em DVD, várias fotografias dos oratórios dos
meninos e meninas. A noite terminou com um lanche.
Verificamos que, quando a mensagem cristã é inserida em contexto adequado à sua idade, o jovem disponibiliza-se para a escutar e se confrontar
com ela.
P. Cesare Cuomo, ICMS
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. serviços e movimentos .
Serviço da Pastoral Juvenil
Fazendo uma leitura atenta da situação da Diocese Leiria-Fátima, no que
diz respeito à pastoral juvenil, reconhece-se uma urgência no campo da formação de animadores de jovens. Para dar resposta a esta necessidade e de
acordo com as prioridades deste ano pastoral a nível diocesano, o serviço
Diocesano de Pastoral Juvenil (SDPJ) decidiu-se por uma aposta séria na
formação de animadores, aberta também aos catequistas dos últimos anos de
catequese da adolescência (9º e 10º anos).
A proposta destina-se a pessoas que já trabalham na pastoral juvenil ou
possam vir a fazê-lo, sobretudo na animação de grupos, no espaço paroquial
como no seio de movimentos eclesiais, catequistas ou futuros catequistas dos
9º e 10º anos da catequese, desde que tenham pelo menos 20 anos.
O objectivos são capacitar os destinatários para o desempenho da sua
missão, ajudar a aproximar o projecto de Jesus Cristo da realidade actual da
juventude, aprofundar na animação de jovens como educação na fé e para a
fé, promover o gosto pelo trabalho de animação, contribuir para a vivência da
própria vocação como animador de jovens e apontar caminhos no relacionamento e dinâmica de grupo.
Esta formação decorrerá em duas modalidades alternativas: a) De Outubro a Maio, quinzenalmente, inserida na Escola Razões da Esperança (às
terças-feiras no Seminário de Leiria): na primeira hora (das 21h00 às 21h45),
os participantes assistem à formação teológica geral proposta; na segunda
hora (22h00 às 22h45), tem lugar a formação “4x4” propriamente dita; b) durante quatro sábados, em sessões de quatro horas (das 9h00 às 13h00), numa
frequência aproximadamente quinzenal. Esta modalidade realiza-se este ano
em Ourém, com local ainda a definir, nos dias 10 e 24 de Outubro, 7 e 21 de
Novembro.
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 159
Vida Eclesial
Formação de animadores
. serviços e movimentos .
Serviço de Animação Vocacional
Relatório de Actividades 2008-2009
1. Apoio às Comunidades na sua organização para cuidar das vocações.
- Formação de animadores: “Chama que chama”, na Escola “Razões da
Esperança”, em 16 sessões orientadas por 10 formadores, com 9 inscritos,; 2 encontros diocesanos, de partilha e sensibilização, com 30
participantes no total.
- Reunião com os padres responsáveis vicariais da animação vocacional,
para partilha de experiências e sensibilização: uma reunião com 5 participantes.
- Idas às paróquias, para sensibilização e organização dos grupos de animadores: à Freixianda (15 participantes), a Seiça (6 participantes), a
Fátima (35 participantes), à Atouguia (20 participantes), a São Mamede
(30 participantes), a Nossa Senhora da Piedade - Ourém (20 participantes), a Nossa Senhora das Misericórdias - Ourém (35 participantes), e a
Santa Catarina da Serra (50 participantes).
2. Iniciativas vocacionais nos itinerários de crescimento da fé.
- Jovens: itinerário vocacional “Em Rede”, em 6 encontros mensais e um
retiro, para 6 participantes.
- Adolescentes: Projecto “Vinde e Vede” (crianças da profissão de Fé),
num encontro, com 22 participantes; Projecto “Para alem da Porta”
(preparação para o crisma), um encontro com 56 adolescentes.
- Crianças (da 1ª comunhão): Projecto “Tesouro escondido”, em 2 encontros, com um total de 46 participantes.
3. Promover a descoberta e o testemunho da beleza das diferentes vocações
- Encontro vocacional para namorados: um encontro com 6 participantes.
- Retiro vocacional para casais: um retiro com 26 casais.
- Jubileu das Vocações: celebração com 74 casais, 12 religiosas e 6 sacerdotes.
4. Continuidade da “grande oração vocacional”
- O Serviço diocesano sugeriu às vigararias a realização de uma vigília
vocacional para o qual propôs um esquema: corresponderam Leiria,
160 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. serviços e movimentos .
5. Outros
- Mantiveram-se contactos com os organismos de animação vocacional
locais e nacional, em reuniões regulares.
- Divulgaram-se subsídios para a animação das semanas dos seminários e
de oração pelas vocações.
- Sete membros do SAV participaram no fórum das vocações em Fátima
( 30 e 31 de Outubro).
- O SAV colaborou com Santarém orientando dois encontros de formação.
- As reuniões da equipa do SAV efectuaram-se ao ritmo de uma por mês
e as sub-equipas reuniram-se sempre que necessário, atendendo as iniciativas da sua responsabilidade. Houve ainda um encontro especial,
na quadra natalícia, e outro no fim do ano pastoral para avaliação e
convívio.
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Vida Eclesial
Porto de Mós, Marinha Grande e Colmeias, que promoveu outros modos de oração.
- A proposta “Abril, mês de oração vocacional” teve a anuência de 40
comunidades de vida consagrada, vigararias e paróquias (menos que
no ano anterior).
. serviços e movimentos .
Serviço Diocesano de Catequese
Relatório de Actividades do Ano Pastoral 2009-2010
O Serviço Diocesano de Catequese (SDC) procurou animar as suas actividades, ao longo do ano pastoral de 2009-2010, a partir do tema diocesano «Ir
ao coração da Igreja – comunhão e corresponsabilidade na comunidade cristã», tendo como referência os objectivos que são os específicos deste Serviço:
1. Coordenar a Pastoral da Catequese na Diocese
a) Reuniões da Equipa
A Equipa do SDC é constituída por 7 elementos, incluindo o Director.
Reuniu mensalmente ao longo de todo o ano. Cada reunião começou com a
meditação de um tema do itinerário proposto por este Serviço para a Diocese, a partir da Carta Pastoral. Nestas reuniões faz-se a coordenação geral do
SDC.
b) Reuniões da Zona Centro e do Secretariado Nacional da Educação Cristã
O SDC fez-se representar em todas as reuniões da Equipa da Zona Centro que organiza o Encontro Interdiocesano de Catequistas, assim como nas
reuniões de directores dos Secretariados Diocesanos organizadas pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), e nas actividades nacionais:
Jornadas Nacionais de Catequistas e Encontro Nacional de Catequese.
c) Encontro Nacional de Catequese
O Encontro Nacional de Catequese realizou-se de 5 a 9 de Abril de 2010,
no Funchal, com o tema «Catequese da Adolescência». Estiveram presentes
3 elementos do SDC. Para além das conferências, realizaram-se diversos ateliers sobre assuntos relacionados com a catequese da adolescência.
d) Reuniões dos padres responsáveis vicariais da catequese
Apenas se realizou a primeira reunião com os padres responsáveis vicariais da catequese, a 18 de Novembro de 2009. Procurou fazer-se um levantamento da realidade da Diocese em relação a dois temas: o catecumenado e a
catequese com portadores de deficiência.
Quanto ao Catecumenado ficou adiada a possibilidade de fazer uma proposta a nível diocesano por nenhum dos presentes ter referido a existência
162 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. serviços e movimentos .
de catecúmenos adultos. Os dados recolhidos em relação à catequese com
portadores de deficiência foram transmitidos à Equipa para serem tidos em
conta na reflexão que se está a desenvolver nesse sector.
f) Materiais de apoio para a vivência do tema diocesano
No princípio do ano pastoral foi elaborado e divulgado um itinerário de
reflexão e oração a partir da Carta Pastoral. Foram escolhidos 9 textos da Carta Pastoral, e para cada tema sugeriu-se um texto dos Actos dos Apóstolos,
um cântico e algumas questões para ajudar à reflexão.
Procurando levar o tema diocesano às crianças e adolescentes e suas famílias, foram elaboradas e distribuídas pelas paróquias duas campanhas, uma
para o tempo de Advento e Natal, intitulada «Caminho de Luz», com a perspectiva de criar o hábito de oração em família (a «Igreja doméstica») a partir
do símbolo da Coroa de Advento; outra para o tempo da Quaresma e Páscoa,
intitulada «Caminho de Vida», com a perspectiva de continuar a fomentar a
consciência da família como a «Igreja doméstica» que se reúne em oração,
sugerindo-se a construção de um canto de oração em cada casa.
No geral, as campanhas foram bem acolhidas e, a avaliar pelas reacções e
resultados, onde foram adoptadas, revelaram-se práticas e de fácil adaptação..
Não foram desenvolvidos mais materiais de apoio, mas divulgaram-se algumas catequeses no espaço do blog do SDC, nomeadamente para a semana
das vocações e para o Ano Sacerdotal.
g) Blog do SDC
Desde que foi criado, em Fevereiro de 2007, o Blog do SDC já contou
cerca de 45.000 visitas e regista actualmente uma média de cerca de 1.000
por mês. Ao longo do último ano, teve cerca de 50 entradas, nas quais se apre| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 163
Vida Eclesial
e) Formação sobre os novos catecismos
Continuando o programa de acolhimento dos novos catecismos, publicados pelo SNEC, a 24 de Outubro de 2009, o Sr. D. Anacleto de Oliveira esteve no Seminário de Leiria durante a manhã a orientar um tempo de formação
sobre os novos catecismos da 1ª Etapa (1º, 2º e 3º anos), centrada sobretudo
no catecismo do 3º ano. O tempo de formação começou com a apresentação
da actividade «Tesouro Escondido», por parte do Serviço de Animação Vocacional da Diocese. Depois o Sr. D. Anacleto fez uma apresentação global dos
catecismos, objectivos, conteúdos e dinâmicas, que terminou com um tempo
de diálogo. Estiveram presentes cerca de uma centena de catequistas.
. serviços e movimentos .
sentaram sobretudo propostas de formação para os catequistas. É também
espaço de relação com os catequistas da Diocese e divulgação de materiais
diversos. Mais de 200 pessoas já se inscreveram para receber as notícias do
SDC através deste Blog.
Ainda no campo informático, estão a ser actualizados os ficheiros do SDC.
2. Fomentar e dinamizar a formação de catequistas
a) Curso de Iniciação de Catequistas
O SDC propôs 2 Cursos de Iniciação de Catequistas: um na Escola Diocesana «Razões da Esperança», a um ritmo quinzenal, no Seminário de Leiria,
com 60 catequistas inscritos; outro no Centro Catequético, em Fátima, em
três fins-de-semana, onde, dos 36 inscritos, 31 obtiveram avaliação positiva.
Nas vigararias e paróquias, de acordo com as condições propostas pelo
SDC, realizaram-se 3 Cursos de Iniciação, seguindo o livro «Mensageiros
da Boa Nova»: em Porto de Mós, catequistas a concluíram a formação com
o respectivo exame; em Mira de Aire, inscreveram-se 29 e completaram 23,
com exame; em Urqueira, completaram 16, também com o respectivo exame.
Ao todo, frequentaram o Curso de Iniciação, ao longo do ano, 156 catequistas.
b) Curso Geral
No ano de 2009-2010 foi leccionada a cadeira de Pedagogia, do Curso
Geral de Catequistas, na Escola Diocesana «Razões da Esperança», que, no
2º Semestre teve a colaboração de uma nova formadora, a Irmã Helena Oliveira, das Religiosas do Amor de Deus. Inscreveram-se 100 catequistas.
c) Curso de Catequistas Coordenadores II
Com uma vertente essencialmente prática, organizou-se um Curso para
catequistas com funções de coordenação nos grupos ou centros. Focado nas
condições em que se faz a catequese, o trabalho incidiu sobre a pedagogia dos
catecismos, com a preparação, realização e avaliação de alguns encontros de
catequese, tanto da infância como da adolescência.
O curso inseriu-se na dinâmica da Escola Diocesana «Razões da Esperança». Dos 16 catequistas inscritos, 9 validaram a sua formação através de
avaliação contínua.
164 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. serviços e movimentos .
FORMAÇÃO DE CATEQUISTAS - 2009/2010. QUADRO GERAL
Local
Inscrições
Curso de Iniciação
Leiria – «Razões da Esperança»
60
Curso de Iniciação (int.)
Centro Catequético – Fátima
36
Curso de Iniciação – MBN
Porto de Mós
23
Curso de Iniciação – MBN
Mira de Aire
29
Curso de Iniciação – MBN
Urqueira
16
Curso Geral – Pedagogia
Leiria – «Razões da Esperança»
100
Curso Coordenadores
Leiria – «Razões da Esperança»
16
d) Encontro Diocesano de Catequistas
Cerca de duas centenas e meia de catequistas participaram neste encontro
que decorreu no Colégio da Cruz da Areia, na manhã de 4 de Outubro, Dia
da Igreja Diocesana, com o tema «A catequese no coração da Igreja». O Sr.
D. António Marto, que orientou a oração inicial, ofereceu uma meditação na
qual salientou que a Igreja tem a sua origem não nos homens, mas em Deus
que irrompe na história com a força do seu Espírito. O anúncio do Evangelho,
que marca a acção dos catequistas, é fruto desta acção do Espírito.
Ainda na presença do Sr. Bispo, foi entregue à Teresa Brites uma pequena
lembrança, em reconhecimento pela sua acção, durante 37 anos, no Serviço
Diocesano de Catequese.
Os trabalhos continuaram depois, orientados pela Irmã Ângela Coelho,
da Aliança de Santa Maria que salientou três aspectos fundamentais na vida
e trabalho dos catequistas: a formação, a transparência e a coerência de vida.
Os mesmos aspectos foram depois aprofundados na partilha e nos trabalhos
de grupos, orientados sobretudo para os desafios e formas concretas de acção
na realidade da catequese em cada paróquia, e para a ajuda às comunidades
no esforço de «ir ao coração da Igreja».
e) Formação sobre os novos catecismos
(Referido acima, no ponto 1. e).
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 165
Vida Eclesial
Curso
. serviços e movimentos .
f) Encontro Interdiocesano de Catequistas
Sobre o «Catecumenado» e centrado na problemática das crianças que
iniciam o itinerário catequético antes de serem baptizadas, realizou-se no
Centro Catequético, em Fátima, nos dias 13 e 14 de Fevereiro de 2010, e foi
organizado pelas Dioceses da Zona Centro (Leiria-Fátima, Lisboa, Portalegre
– Castelo Branco, Santarém e Setúbal). Teve a participação de 29 catequistas
da Diocese de Leiria-Fátima, num total de 72 inscritos.
g) Retiro Diocesano de Catequistas
Realizou-se a 6 e 7 de Março de 2010, no Centro Catequético, em Fátima, orientado pelo Pe. Pedro Viva, e teve por base o tema diocesano «Ir ao
coração da Igreja». Os 26 participantes apreciaram esta oportunidade como
«um verdadeiro tempo de graça e um dom precioso» que lhes foi dado viver
e partilhar.
h) Jornadas Nacionais de Catequistas
«A Espiritualidade do catequista. Vivência e Transmissão da Fé», foi o
tema das Jornadas Nacionais de Catequistas, organizadas pelo SNEC, no Seminário do Verbo Divino, Fátima, de 12 a 14 de Março de 2010. Procurando
promover o questionamento pessoal dos participantes sobre a conversão e
maturidade da fé, e a reflexão sobre o «acreditar», as Jornadas procuraram
também fornecer pistas de trabalho e habilitação ao catequista a promover o
mesmo processo de conversão e maturidade nos catequizandos. Participaram
29 catequistas da Diocese de Leiria-Fátima.
3. Desenvolver os diversos âmbitos da Catequese
a) «Despertar da Fé»
Encetaram-se contactos com vista a uma primeira acção de formação nesta área, dirigida a educadores de infância, nomeadamente do Centros Sociais
Paroquiais com a valência de Creche e Jardim-de-infância, em realização
conjunta, no âmbito da cooperação das Dioceses do Centro, Santarém, Lisboa e Portalegre–Castelo Branco. O primeiro encontro será em Fátima, no
Centro Catequético, a 29 de Setembro de 2010.
b) Catequese com portadores de deficiência
O tema foi abordado na reunião com os padres responsáveis vicariais da
166 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. serviços e movimentos .
catequese, onde se fez um levantamento das situações existentes na Diocese.
Foi pedido à Olívia, da equipa do SDC, para liderar a questão, e foram já
estabelecidos alguns contactos.
4. Integrar a Catequese nas dinâmicas e actividades diocesanas
b) Festa da Fé – Rosto(s) da Igreja Diocesana
Inserido na «Festa da Fé – Rosto(s) da Igreja Diocesana», o SDC preparou actividades de rua (tipo «peddy paper») para crianças e adolescentes das
catequeses paroquiais. Fizeram-se 3 guiões diferentes, um para as crianças da
1ª Etapa (1º, 2º e 3º anos), outro para as da 2ª Etapa (4º, 5º e 6º anos), e um
terceiro para grupos de adolescentes. Cerca de 850 crianças e adolescentes,
em 104 grupos (24 grupos da 1ª Etapa, 28 da 2ª Etapa e 52 de adolescentes),
representantes de 26 paróquias da Diocese, aceitaram o convite e procuraram
descobrir e ser o «rosto festivo da Igreja Diocesana».
A avaliação feita pelos participantes, pelo SDC e pela organização da Festa da Fé, foi positiva. Mesmo apontando alguns pontos a melhorar, como o
encurtamento dos percursos, realçou-se a possibilidade oferecida às crianças
e adolescentes de participarem na Festa da Fé, designadamente através de
uma visita, a eles dedicada, às diversas exposições e locais representativos
da cidade.
c) Materiais de apoio e campanhas para a catequese
As campanhas propostas pelo SDC para os tempos de Advento e Natal, e
Quaresma e Páscoa, assim como o itinerário de reflexão a partir da Carta Pastoral, destinado aos grupos de catequistas, foram pensados com o objectivo
de ajudar a interiorizar e viver o tema «Ir ao coração da Igreja», quer pelos
catequistas, quer pelos catequizandos e suas famílias.
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 167
Vida Eclesial
a) Participação nos órgãos diocesanos
O Departamento da Educação Cristã, onde se insere o SDC, está representado no Conselho Pastoral Diocesano, tendo sido recentemente eleita, para
essa função, a Irmã Alzira Costa. No Conselho de Coordenação Pastoral, fazse representar pelo Director, Pe. José Henrique Pedrosa.
. serviços e movimentos .
5. Notas finais
A concluir este relatório de 2009-2010, realça-se especialmente o trabalho
desenvolvido na área da formação de catequistas, um dos âmbitos fundamentais da acção deste SDC. Na impossibilidade de a Equipa desenvolver mais
formação inicial, a nível vicarial ou paroquial, é importante possibilitar que
todos os catequistas façam, pelo menos, esta que se propõe. Mesmo considerando que a Escola Diocesana tem uma participação razoável de catequistas,
é ainda necessário alargar as possibilidades de formação, noutros esquemas
para além dos Cursos.
As campanhas, que têm sido referidas como úteis para ajudar a viver o
tema diocesano nas paróquias, devem, no entanto, ser simples e elaboradas
de modo a poderem ser vividas sobretudo em família e nas celebrações comunitárias, para não dificultarem o normal desenvolvimento das catequeses
previstas no itinerário de cada ano.
A participação na «Festa da Fé» deixa entender que é possível organizar
actividades diocesanas dirigidas especificamente para as crianças e adolescentes da catequese.
Há ainda alguns âmbitos da catequese que precisam de um maior cuidado
por parte deste Serviço. Nesse sentido, já estão a ser dados alguns passos,
nomeadamente no que diz respeito à catequese com portadores de deficiência
e ao despertar religioso em idade pré-escolar.
168 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
Reflexões
. teologia / pastoral . história .
. teologia / pastoral .
Breve estudo sobre o “Terço da Renascença” 1
Rosário pelos media
- que significados, hoje?
O Rosário é uma oração especialmente querida dos cristãos, desde os Papas ao povo mais humilde, cuja prática atravessou longos séculos na história
da Igreja até aos nossos dias, sem perder actualidade e capacidade de cativar
multidões de fiéis.
Em Fátima, a mensagem de “penitência e oração” cruza-se, desde as Aparições de 1917 até hoje, com esta oração do Rosário, como refere o Cardeal
D. José Saraiva Martins, numa nota de 2003: “podemos dizer que Fátima e
o Rosário são quase um sinónimo (…). Fátima e o Rosário, as crianças de
Fátima e Nossa Senhora são palavras profundas e inseparavelmente unidas
entre si”.2 De facto, já antes era uma “reza” quotidiana do povo, mas, após as
Aparições, foi sempre a oração predilecta dos que ali se juntavam e, à medida
que o Santuário foi tomando forma, o Rosário fez sempre parte das celebrações mais relevantes: “Os fiéis dirigem-se para lá, sobretudo para participar
nas celebrações litúrgicas e nos exercícios de piedade que aí se realizam”.3
Entre as muitas questões a propósito desta ligação, está a do significado
actual, para a Igreja e para os crentes, da recitação diária do Rosário em Fáti1 Breve resumo de um trabalho académico realizado para o Seminário de Métodos
em Teologia Prática, do Mestrado Integrado de Teologia da Universidade Católica
Portuguesa.
2 MARTINS, Cardeal D. José Saraiva – Fátima e a recitação do Santo Rosário. In
Boletim Informativo do Santuário de Fátima, 5 de Maio de 2003.
3 IGREJA CATÓLICA. CCDDS – Directório sobre a piedade popular e a Liturgia.
Princípios e orientações. (17 Dez. 2001). Lisboa: Paulinas, 2003, n.º 265.
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 171
Reflexões
Por Luís Miguel Ferraz
. teologia / pastoral .
ma. Mais concretamente, que dizer da oração diária das 18h30, na Capelinha
das Aparições, transmitida em directo por vários meios de comunicação social para todo o território nacional e muitos países espalhados pelo mundo?
Que significados tem hoje esta celebração, desde os que o Santuário lhe atribui, aos que se podem identificar a partir da vivência dos crentes?
A raiz da resposta encontra-se na própria história desta oração, no seu
conteúdo e características peculiares. De simplicidade ritual, o Rosário é uma
oração acessível, com grande capacidade de se tornar universal e intemporal.
Considerada a oração dos simples, nem por isso deixou de ser praticada pelos
eclesiásticos mais cultos, e mesmo pelos papas: “É o exercício da piedade
popular mais divulgado e recomendado pelos Papas, desde Urbano IV (séc.
XIII) até aos nossos dias”.4
Abstendo-nos de considerações mais genéricas, centramo-nos na prática
concreta da oração diária das 18h30, desde a sua história ao contexto e prática
actuais, até à leitura das motivações, formas de participação e eficácia pastoral na vida dos crentes.
1. História
No arquivo do Santuário, aparecem, a partir de 1980, os primeiros pedidos da Rádio Renascença (RR) para a transmissão radiofónica do Rosário a
partir de Fátima, dada a “grande conveniência para os ouvintes”. Começou-se
por esses anos com a experiência mensal, aos primeiros sábados, mas só em
1990 se pensa na transmissão diária, após a abertura dos estúdios da RR no
Santuário. A decisão viria a ser tomada em Agosto de 1991, como se lê numa
carta do Reitor aos padres da Diocese: “O assunto foi considerado muito
positivo pelos Capelães do Santuário e plenamente aprovado pelo Senhor
Bispo, de modo que está tomada a decisão: far-se-á a transmissão de 2ª a 6ª
inclusive, durante o ano 75.º das Aparições (91.10.13 a 92.10.13)”. Pede-se
depois a ajuda a todos os padres para colmatar uma primeira dificuldade, a
da “presidência” sacerdotal”, pois desde logo se anunciou o desejo de “que
este Terço da RR pudesse vir a tornar-se exemplar”, pelo que se adiantavam
algumas instruções práticas a ter em conta. No mesmo sentido, foi enviada
uma carta semelhante aos institutos religiosos, para resolver o problema da
animação musical com qualidade.
4 FALCÃO, D. Manuel Franco – Rosário. In Enciclopédia Católica Popular. www.
ecclesia.pt/catolicopedia.
172 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
Estava pois tomada a decisão anunciada na Voz da Fátima de 13 de Outubro de 1991. Identifica-se assim a origem desta prática, visando propositadamente a transmissão radiofónica, pelo que é frequente encontrarem-se
referências documentais ao “Terço da Renascença” quando dela se fala.
Identifica-se também um dos motivos da tomada desta decisão por parte do
Santuário, após alguns anos de ponderação: a comemoração dos 75 anos das
Aparições de Fátima.
Vários documentos referem o investimento do Santuário e da RR para
garantir a qualidade da celebração e a sua institucionalização na pastoral ordinária. Daí que, no fim do ano experimental, o reitor comunique ao clero: “O
projecto devia terminar em 13 de Outubro (...) Acontece, porém, que temos
recebido frequentes apelos a que continuemos a transmissão para além dessa
data. Nós gostaríamos de responder positivamente, já que o elevado índice
de audiência (participação) manifesta que a transmissão desperta um grande
interesse e que é, por isso, uma ocasião privilegiada de oração e evangelização”. De facto, por esta altura, num documento da RR aparece a referência a
uma audiência diária de 400 mil pessoas.
Nota-se uma consciência clara do “poder” evangelizador desta oração
mediatizada, como provam as várias indicações sobre o que devem dizer os
sacerdotes que orientam a celebração: “tentar uma maior criatividade e variedade nas reflexões”; “reflexões mais catequéticas e interpelativas para a vida”;
“não ficar no mero misticismo”; “poder-se-á até enunciar apenas o mistério
e saltar para um texto do Magistério ou dos Padres da Igreja”; “poder-se-á
também aproveitar algum acontecimento eclesial ou não, ou notícias da TV
ou dos jornais, para uma boa reflexão vivencial”; “também se poderá utilizar
a liturgia do dia ou o Santo do dia”; “convém que traga algumas intenções de
interesse muito prático e actual”, etc. Consciente da importância do meio em
causa, a reitoria aponta ainda pormenores práticos e técnicos para o seu bom
uso e assegurar a qualidade das transmissões: “não convém que prepare reflexões muito extensas para que não tenha que entrar em contra-relógio”; “deve
ser uma oração repousada e repousante”; “chegue à Capelinha com alguma
antecedência”; “verificar se os micros estão na posição desejável”; “recomende às pessoas presentes que se juntem, quando possível, do lado do coro,
que acertem o ritmo do Terço pelo coro e façam as pausas normais nas várias
orações”; “se trouxer alguém consigo para colaborar (...) convém que tenha
uma preparação prévia (...) para maior segurança e descontracção de nervos
dos intervenientes, na recitação dos Mistérios, estes deverão ter à sua frente,
no ambão, uma folha que aí se encontra com as fórmulas das orações”; etc.
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 173
Reflexões
. teologia / pastoral.
. teologia / pastoral .
Estava assumida a oração diária do “Terço da Renascença” como uma
das formas mais importantes da difusão da Mensagem de Fátima e da promoção da união espiritual dos devotos de Nossa Senhora, por todo o País e
no estrangeiro.
Segundo declarações do actual reitor do Santuário, padre Virgílio Antunes, as indicações atrás referidas significavam já uma preocupação evidente
com o alcance mediático desta celebração, procurando que nela fossem veiculadas mensagens evangélicas e da actualidade eclesial, sem que se ficasse
pela mera repetição de fórmulas. Para tal, era importante, também, assegurar
a qualidade técnica do programa, para que a eficácia na transmissão da mensagem não fosse prejudicada pela “inexperiência” ou execução deficiente dos
actores ou pela má qualidade dos textos, cânticos, etc.
Aquelas indicações são actualmente frisadas, dado o crescimento exponencial que as audiências têm registado nos últimos anos, sobretudo com a
chegada de novos meios de comunicação, não só do âmbito radiofónico, mas
também do audiovisual. De facto, em 2005 iniciaram-se as transmissões pela
Rádio e TV Canção Nova e pela televisão católica italiana Telepace. No final
de 2008, começou também a difusão pela nova Rádio Sim, do grupo Renascença. E, em Janeiro de 2009, também o mundo da Internet passou a aceder
em directo a esta celebração, com a ligação permanente de uma câmara da
Capelinha das Aparições, no sítio do Santuário de Fátima (www.fatima.pt).
2. Contexto actual
O padre José Lopes Baptista, nomeado pelo Santuário como responsável pela organização desta celebração diária, afirma: «Sendo uma celebração
“pequenina” tem um peso muito grande na programação do Santuário, que
se preocupa muito com a qualidade deste momento.» De facto, é grande o investimento do Santuário nessa acção, até porque, como refere o padre Carlos
Cabecinhas, “ao nível da formação litúrgica, o primeiro e mais importante
contributo do santuário é o das próprias celebrações”.5 Sendo um dos vários
momentos em que se reza diariamente o Rosário naquele espaço, “não é apenas mais um, porque, ao ser transmitido pela RR, pela TV Canção Nova e com
a transmissão on-line na página do Santuário, é diariamente acompanhado
por milhares de pessoas que rezam com os peregrinos de Fátima”, afirma
5 CABECINHAS, Carlos – Liturgia e Fátima. In Enciclopédia de Fátima. Estoril:
Princípia, 2007.
174 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
o padre Francisco José dos Santos Pereira, director do Serviço de Pastoral
Litúrgica (SEPALI) do Santuário de Fátima. Esta grande mediatização é, no
fundo, a principal característica desta acção ritual, até porque a participação
na Capelinha não é significativa: “dos três Terços é o que tem menos presenças de pessoas, sendo um número bastante reduzido em tempo de Inverno,
com a chuva e o frio”, refere este director.
Sendo assim, é com especial atenção ao que é transmitido pelos media
que se faz a preparação. Em grande parte, ela é deixada a cargo de cada um
dos sacerdotes que presidem, havendo, da parte dos serviços do Santuário,
apenas o cuidado de assegurar a animação musical e de garantir uma escala
de responsáveis, aos quais se fornecem algumas indicações genéricas sobre a
sua orientação. Diz o padre José Baptista: «O Santuário, criadas as condições
de transmissão pelos meios de comunicação social, tem zelado pela qualidade da oração, o que nem sempre se consegue, com apelos permanentes aos
responsáveis pela oração de cada dia. É preciso ter em conta o trabalho do
responsável pelos cânticos, que, juntamente com eles, envia um resumo da
liturgia diária, de forma que, no Santuário, esta tenha unidade em cada dia
concreto. Quem executa a oração tem, naturalmente, que apostar tanto na
qualidade do texto das meditações, como na da recitação e, ainda, no respeito
para com o programa, num tempo que não pode ultrapassar os 28, 29 minutos. Acho que é feito com bastante qualidade».
Quanto à animação musical, fazem-se ensaios regulares de um grupo coral, com maestro e organista, que garante esse serviço diário. Também neste
grupo existe uma escala informal de presenças, pelo que varia a sua constituição. Mas como a preparação é feita em conjunto e existe um variado
reportório ensaiado, por norma, todos estão preparados para executar com
facilidade os cânticos escolhidos pelo maestro ou indicados pelo presidente
da celebração.
Quanto à preparação de cada padre convidado para presidir, ela pode variar de caso para caso. Regra geral, dada a simplicidade da oração e a capacitação dos sacerdotes para a presidência do culto público, a preparação é
mínima e resume-se à elaboração prévia das pequenas meditações sobre os
mistérios. Segundo o padre Davide Vieira Gonçalves, que presidiu ao Rosário do dia 6 de Fevereiro de 2009, quando essa função é exercida com
carácter regular, usam-se muitas vezes os mesmos esquemas. Mesmo quando
são convidadas outras pessoas, a preparação é desnecessária, exceptuando
pequenos detalhes sobre a forma de presença, o uso do espaço e o cuidado
com a dicção, já que a sua participação se resume à recitação das Ave-Marias
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Reflexões
. teologia / pastoral.
. teologia / pastoral .
ou leitura de textos previamente elaborados. Esta é uma opção meramente
formal que alguns padres adoptam para evitar a uniformidade vocal que se
ouve através da rádio e tornar a recitação mais viva, como refere também o
padre José Batista: “Para dar um pouco de dinâmica, há os responsáveis que
procuram ‘recitadores’ diferentes, de forma a haver variação de vozes”.
A respeito das consequências esperadas pelo Santuário do investimento
pastoral nesta celebração, tendo em conta o enorme alcance que atinge pelos
vários meios de comunicação social, as respostas dos responsáveis apontam
na linha da promoção da oração como via de intimidade com Deus e, em
especial, da divulgação da Mensagem de Fátima. O director do SEPALI afirma: “Um dos aspectos importantes da Mensagem de Fátima é a oração como
caminho de aprofundamento da comunhão com Deus. Em todas as aparições,
Nossa Senhora pediu que se rezasse o Terço, oração profundamente evangélica, que nos faz entrar no mistério de Deus e no projecto de salvação de todos
os homens”. E o padre José Batista completa: “Tratando-se de uma ‘oração
popular’, ela chega com facilidade a todos os meios da nossa sociedade. Ao
lado da missa, esta oração congrega as pessoas e Fátima, na sua Mensagem,
torna-se mais apelativa, quer pelos comentários dos mistérios, quer pelos
cânticos, quer ainda pela frequência diária da oração. A Mensagem anunciase, eu diria, suavemente”.
É neste sentido que o padre Francisco Pereira aponta o núcleo fundamental desta oração: “a meditação dos mistérios da nossa salvação: gozosos,
luminosos, dolorosos e gloriosos; a meditação dos textos evangélicos para
entrarmos na vida de Cristo, numa relação de intimidade com Ele, que nos
leva a imitá-l’O no dia-a-dia”.
É, portanto, nesses momentos de reflexão sobre os Mistérios de Cristo que
se fazem as intervenções temáticas, de ligação da oração ao Evangelho, aos
textos do magistério e aos temas eclesiais e da actualidade.
3. Participação e projecção mediática
Sendo uma acção especialmente direccionada para a transmissão pelos
media, é aí que se concentra a maioria das pessoas que nela participam e é
quase insignificante, no conjunto, o número dos fiéis que se reúnem presencialmente na capelinha. Ainda assim, segundo refere o Reitor, os números de
pessoas que ali se deslocam pode variar entre algumas dezenas e os milhares.
Os factores que mais contribuem para esta variação são a afluência ocasional por outros motivos, como sejam a coincidência com dias de grandes
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peregrinações e as condições atmosféricas. De facto, o recinto, exposto ao
frio e ao vento e mesmo à chuva, apesar de coberto, sobretudo quando cheio e
em dias invernosos, não se torna muito convidativo. Com a temperatura mais
amena já são em maior número os que ali se deslocam. Ocasiões especiais
são os dias 13 de cada mês, que, desde 2006, são animados por cerca de 300
crianças dos nove centros de catequese da paróquia de Fátima. A iniciativa
é do Movimento da Mensagem de Fátima, sob o lema “Rosário com os Pastorinhos”, e surge como meio de divulgação da mensagem junto dos mais
pequenos, com o convite a que as crianças de todo o mundo se lhes juntem
pela rádio e televisão.
O padre Davide Gonçalves, por exemplo, refere que, duas ou três vezes
por ano, se juntam pessoas da sua paróquia, a cerca de 20 quilómetros, que
alugam um autocarro e vão a Fátima para o Rosário das 18h30. Há também
as que se deslocam mais amiúde, em transporte pessoal, uma ou duas vezes
por mês, mas o número é reduzido. Em ambos os casos, a motivação é “rezar
em união com pessoas de todo o mundo, que estão ligadas àquele momento”.
Muitos mais são os que, na sua paróquia, estão também unidos, sobretudo
pela rádio. Recebe testemunhos de acompanhamento diário desta oração por
parte de muitos doentes, bem como de pessoas com profissões que permitem
disponibilidade àquela hora, domésticas, reformados e condutores. Há ainda
alturas do ano em que algumas dezenas de fiéis levam o rádio para a igreja
paroquial e rezam em comunhão com Fátima. As pessoas gostam de ouvir o
“seu pároco” a orientar o Rosário, como é óbvio, e algumas oferecem-se para
o acompanhar a Fátima, na primeira sexta-feira do mês, e até para colaborar
activamente na recitação.
Quanto às audiências globais nos meios de comunicação social, não é
fácil, sem uma investigação muito mais exaustiva, chegar a números conclusivos. Ainda assim, conseguiu-se reunir alguns dados, sobretudo junto da RR,
que é a “mãe” do projecto.
Segundo os dados da Bareme Rádio Marktest publicados em Setembro
de 2008, a RR apresentando um rácio de 2,6% de Audiência Acumulada de
Véspera (AAV) no horário das 18h30, com um share de cerca de 9% e a um
total de 214 mil ouvintes diários, é a segunda estação mais ouvida, depois da
RFM, também do grupo Renascença. A evolução entre 2004 e 2008 mostra
algumas oscilações, mas não muito significativas. Quanto ao perfil dos ouvintes, confirmam-se alguns dados esperados: a maioria situa-se nas classes
sociais mais baixas (D com 40,2%; C2 com 30% e C1 com 22%, ficando a
classe B pelos 6,1% e a A pelos 1,2%); são mais os reformados e desempre| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 177
Reflexões
. teologia / pastoral.
. teologia / pastoral .
gados (50,7% do total); e as classes etárias são também as mais elevadas (>
64 anos com 44,1%, seguindo-se os de 55/64 com 17,3%). A surpresa será
não serem muito mais as mulheres do que os homens, ao contrário do que
se poderia pensar (51,8% de mulheres para 48,2% dos homens). Quanto às
regiões, o Litoral Norte lidera com 30,3%, seguindo-se o Interior Norte com
24,4%, o Litoral Centro com 17,1%, a Grande Lisboa com 11,5%, o Grande
Porto com 10,9% e, por fim, todo o Sul com apenas 5,8%.
Quanto às televisões, dado tratar-se de canais internacionais por cabo, a
recolha de dados audimétricos é ainda mais complicada. Foram solicitadas
informações sobre as audiências do Rosário à TV Canção Nova, por exemplo,
mas os responsáveis locais referiram não ter dados concretos. Apenas que a
estação emite esta celebração, desde 2005, para uma rede de vários países da
Europa, Médio Oriente, Norte de África, Ásia e Oceânia. A Telepace, que colabora de perto com o Centro Televisivo do Vaticano, emite também para estas regiões e para a Austrália e Nova Zelândia. Ambas têm estúdios próprios
em Fátima e disponibilizam, ainda, um serviço de Web Tv, com transmissão
on-line permanente.
A mais recente novidade, iniciada em Janeiro de 2009, é a transmissão
em directo e em permanência, na página de Internet do Santuário, de imagens
da Capelinha. Segundo informações prestadas pelo Centro de Comunicação
Social do Santuário, em Janeiro de 2009 entraram 175.910 visitantes únicos
no portal, com 105.370 a usarem o serviço de visualização da câmara em
directo, sendo o número mais elevado entre as 18h00 e as 22h00, o que inclui
o horário do Rosário.
Ao todo, poderá falar-se de centenas de milhares, ou mesmo um milhão,
de telespectadores.
4. Descrição da acção
Olhando para a acção propriamente dita, observada no local, em três ocasiões distintas,6 pode afirmar-se que as variações são mínimas, embora haja
algumas quanto às pessoas que orientam a celebração e também quanto à
temática, conforme os Mistérios do dia (dolorosos no dia 6 e gloriosos nos
dias 11 e 18). No essencial, a estrutura temporal é rígida, o espaço não varia
e o tipo de presenças foi regular.
6 Nos dias 6, 11 e 18 de Fevereiro de 2009.
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O espaço
O espaço está inserido noutro mais amplo, o recinto do Santuário de Fátima, com uma forte marca espiritual, própria dos espaços ligados a manifestações extraordinárias do divino, como é o caso das Aparições. Ao chegar ao
recinto, o peregrino, e mesmo o visitante turístico, sente um ambiente especial, convidativo ao silêncio, ao recolhimento e à oração. O espaço é muito
amplo, próprio para multidões, com um grande altar exterior, encimado por
uma Basílica e ladeado por uma colunata em meia-lua, edifícios de apoio aos
serviços do Santuário e uma linha de árvores. Ao fundo, o grande edifício
moderno da Igreja da Santíssima Trindade, que não causa grande impacto
visual em quem se encontra no centro do recinto.
No “coração” deste ambiente, encontra-se a Capelinha das Aparições,
ponto exacto onde Nossa Senhora apareceu e onde a celebração decorre.
A Capelinha, propriamente dita, é uma pequena construção, que serve
apenas de lugar indicativo. No entanto, quando se fala em Capelinha das
Aparições, refere-se o espaço mais alargado em volta dessa construção, onde
podem juntar-se várias centenas de pessoas. Apesar de coberto e resguardado
por painéis de vidro, é aberto o suficiente para se considerar, praticamente,
como “exterior”. Daí o desconforto, em caso de mau tempo, como se referiu.
No caso da celebração do Rosário, este pormenor tem maior peso no Inverno,
quando o horário das 18h30 já é em período nocturno. Nas três situações
observadas, por exemplo, o número de presentes em cada dia variou entre
cinco e dez dezenas.
Na sua zona mais externa e ampla, permite, por isso, a presença de quem
está reunido para a oração, à mistura com visitantes de ocasião que passam
ali alguns momentos e mesmo com pessoas em circulação permanente. Tem
bancos simples, de madeira, confortáveis quanto baste para curtos períodos
de uso, mas muito expostos ao clima, sobretudo na parte frontal. A um canto,
junto do órgão de tubos, uma parte reservada aos cantores, em disposição
elevada e mais preservada.
Na parte mais interior e central, um muro de delimitação resguarda um
primeiro patamar de recolhimento, sem acesso livre, um corredor onde circulam fiéis em oração e cumprimento de promessas. Em toda a volta interior,
existe um espaço corrido com lugares sentados, almofadado e com maior
comodidade, onde permanecem pessoas mais próximas dos actos de culto,
como é o caso dos sacerdotes ou convidados. No caso da celebração transmitida, circulam neste espaço as câmaras móveis de reportagem que fazendo
ponte entre as imagens dos actores no presbitério e a assembleia no exterior.
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Reflexões
. teologia / pastoral.
. teologia / pastoral .
Num segundo patamar, ainda mais interno e também delimitado, está o
presbitério, em frente da pequena capela, com um altar, um ambão, uma cruz
e, em destaque, a imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Aí, onde
a comodidade da presença é semelhante à do espaço anterior, acedem apenas
os que presidem ou colaboram activamente no culto.
Para este estudo, foram inquiridas dezasseis pessoas no local. Todas afirmaram apreciar globalmente o conjunto constituído pelos factores ambiente,
horário, orientadores, música, texto/mensagem e oração repetitiva. Quanto
a estes factores, a maioria considera-os todos positivos e apenas um jovem
não apreciou o texto/mensagem, por considerar que “devia falar mais aos jovens”. Houve também referências ao “espaço frio” e ao horário, uns pedindo
mais tarde, outros mais cedo. Alguns comentam que o lugar é “santificante” e
“emocionante” ou que a “oração é bem preparada e orientada”.
Como se depreende, o espaço funciona no seu todo como recurso cénico
importante, no conjunto do recinto do Santuário, apontando para a temática
das Aparições, onde a pequena capela e a imagem de Nossa Senhora ocupam
lugar de destaque. Toda a envolvente é, por isso, sóbria, simples e discreta.
A pedra branca é o elemento dominante, misturada com apontamentos
de metal, vidro e madeira, num traço liso e quase monocromático, mesmo
no que respeita ao altar, revestido com pano branco bordado, e ao ambão. A
presença da luz é dada por um círio, aceso nas celebrações, e uma lamparina
permanente junto ao ícone mariano. A cruz, pequena, num painel de vidro,
atrás do ambão.
A imagem de Nossa Senhora é o centro das atenções. Assente numa peanha de pedra branca, de recorte geométrico, tem por fundo um pano azul com
o anagrama mariano bordado a ouro. Uma cúpula de vidro sobe electricamente ao início da celebração, para deixar a imagem completamente exposta, e
volta a descer no final, para sua protecção. Dois elementos são especialmente
evidentes: a coroa de ouro, na qual foi incrustada a bala que atingiu o Papa
João Paulo II e que o próprio fez questão de oferecer a Nossa Senhora de
Fátima, e o rosário pendente das mãos da Virgem.
De referir, ainda, o rosário que muitos fiéis usam para acompanhar a oração e que, nas mãos de cada um, funciona como objecto iconográfico que
identifica um todo na mesma oração comunitária.7
7 Noutras ocasiões, como no Rosário das 21h30, usam-se também as velas como
simbologia comunitária significativa, mas neste caso, esse elemento não é usado.
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O tempo
Dada a sua vinculação aos ritmos exigidos pela transmissão audiovisual, a
celebração obedece à duração fixa de meia hora e a um esquema ritual rígido,
sem improvisos ou variações significativas.
Assim, a ambientação é apenas a do silêncio já próprio do espaço. Quando
relógio da torre bate as 18h30, o presidente avança com a invocação inicial e
lê de imediato o texto introdutório, em que saúda os peregrinos presentes no
local e pelos media, dá o sentido temático à celebração, relacionado com os
Mistérios a meditar, e apresenta as intenções gerais da oração.
Seguem-se as cadências da oração repetitiva. O presidente enuncia o Mistério com uma pequena reflexão, indica uma intenção específica e reza a primeira parte do Pai-Nosso, ao que a assembleia responde com a segunda parte.
Depois, reza dez Ave-Marias, respondendo a cada uma o coro dos fiéis com a
Santa Maria. A terminar cada dezena, alternando sempre em duas partes, entre o presidente e a assembleia, dizem-se o Glória-ao-Pai e duas jaculatórias:
“Ó Maria, concebida sem pecado / Rogai por nós, que recorremos a vós” e “Ó
meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inverno / Levai as almas todas
para o Céu, principalmente as que mais precisarem”. Nas segunda e quarta
dezenas, alterna-se a ordem de recitação, começando os fiéis e respondendo
o sacerdote. No final de cada dezena, intervém o coro, com um cântico curto
(refrão/estrofe/refrão).
No final da quinta dezena, rezam-se ainda três Ave-Marias e a Salve-Rainha, e tudo termina com a bênção final e o cântico do hino “Ave-Maria” de
Fátima.
Esta oração é, na sua maior parte, constituída por um registo de recitação
de fórmulas. Ainda assim, esse pode não ser o seu núcleo fundamental, já que
essa oração decorada e repetida servirá de veículo para uma meditação mais
profunda, em ambiente de intimidade com Deus. Para tal, são usados outros
elementos e registos de discurso, como refere, neste caso concreto, o padre
José Baptista: “Creio que o facto de ser repetitiva e mais que decorada, permite que seja feita com o pensamento, não tanto nas fórmulas da Ave-Maria
e do Pai-Nosso, mas mais nos mistérios que se celebram: os comentários de
quem preside são essenciais também para a vivência daquele momento”.
Quanto à estrutura base e suas variáveis, o Director do SEPALI refere que
“a estrutura está plenamente testada, sendo a que melhor favorece a participação do maior número de pessoas na sua oração” e que “a variação existe
apenas ao nível dos cânticos e dos textos meditativos”. De facto, na linha
do que tem vindo a referir-se, a celebração é orientada com especial atenção
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Reflexões
. teologia / pastoral.
. teologia / pastoral .
para os que estão a seguir pela rádio e televisão, pelo que o investimento
em elementos de novidade e em recursos gestuais e simbólicos é reduzido,
como lembra o padre Baptista: “É claro que é na Capelinha que é rezado e
quem ali está é importante, mas o tempo é muito limitado e o maior número
de participantes acompanha pela rádio, agora também pela televisão, o que
não facilita a utilização de muitos símbolos. Para dar um pouco de dinâmica,
há os responsáveis que procuram “recitadores” diferentes, de forma a haver
variação de vozes”.
Confirmou-se este dado nas acções observadas. A palavra e o canto são as
formas de expressão dominantes e os gestos são inexistentes. O canto, por um
coro de dez a quinze pessoas, é um elemento de reforço da mensagem, sempre relacionado com o que é falado e mesmo repetindo alguma frase-chave
do discurso, funcionando também como forma de quebrar a monotonia vocal,
o que alguns procuram conseguir variando os locutores. No Rosário do dia
6, o padre Davide Gonçalves fez-se acompanhar de cinco pessoas, cada uma
recitando uma dezena. No dia 11, apenas se ouviu a voz do presidente que
assumiu tudo. No dia 18, o padre José Baptista trouxe um jovem e uma jovem
que alternaram entre si. Estas opções trazem diversidade ao tom do discurso
e dão maior dinamismo à celebração, sobretudo se escutada pela rádio, onde
outro movimento não é perceptível.
Centrando a observação no cerne discursivo, pode dizer-se que há três
registos predominantes: um meditativo, apontando para a cena da vida de
Cristo ou de Maria enunciada no Mistério; outro reflexivo, indicando a adequação da mensagem aos nossos dias e à vida concreta das pessoas; e outro
interpelativo, virado sobretudo para um propósito de emenda de vida e de
oração por alguma intenção específica. Estes registos estão presentes na oração, desde o início, como comprovam alguns esquemas arquivados, com esta
tríplice organização do discurso bem definida: olhar a vida de Jesus, olhar
para a vida social e eclesial e pedir as graças divinas para si e para o mundo.
Formas de participação
Começando pelos actores, a quem se exige maior concentração e envolvimento, o orientador é o primeiro responsável pela celebração e o mais exposto, visualmente e nos meios de comunicação. É também o autor das reflexões
e o que se apresenta com a autoridade da presidência, destacada pelas vestes
sacerdotais. Também as pessoas que o ajudam na recitação estão muito expostas e precisam de elevado nível de presença e de atenção. Em segundo
plano, o maestro, o organista e o coro, não muitos expostos mas dando corpo
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ao grupo mais consistente na presença e nas respostas da assembleia, rezando
e cantando em voz alta e acompanhando os ritmos da postura do presidente.
Embora não sendo actores directos, pois trabalham e não acompanham forçosamente a oração, os operadores de câmara, pelo espaço que ocupam, fazem
parte do conjunto mais visível e lembram em permanência que a oração está
a ser partilhada com muitas pessoas em todo o mundo.
Quanto à assembleia, é visível a diversidade do envolvimento. Há fiéis
muito concentrados que rezam alto e acompanham o canto, se levantam e
sentam ao ritmo do presidente. Outros são mais reservados, sem grande expressão exterior, de pé ou sentados fora do ritmo indicado. Há os que aparentam não acompanhar de todo a celebração, envolvidos noutra actividade
ou postura, como o cumprimento de promessas. E há os que permanecem
apenas alguns minutos ou apenas passam pelo local. Esta multiformidade dá
a noção nítida noção de que o espaço é aberto a qualquer pessoa, mesmo em
visita turística, e permite a presença simultânea de várias formas de culto,
públicas e privadas. Não há, pois, uma presença dos fiéis como corpo único,
concentrado numa mesma acção.
Seria deveras interessante uma incursão junto do público maioritário –
que ouve pela rádio ou vê pela televisão – para aferir do grau e modos de
participação. Provavelmente, essa seria a abordagem mais pertinente, mesmo
na perspectiva da Teologia Prática, mas teria contornos bem mais complexos
e exigiria um investimento muito mais avultado de investigação e sondagem.
Ainda assim, quase por curiosidade, fez-se o inquérito a duas pessoas que
ouvem o Rosário pela rádio, uma com regularidade, outra esporadicamente.
A primeira revela atenção, embora reze apenas interiormente, a segunda sente
o ambiente de Fátima muito próximo, reza em voz alta, mas não dedica atenção exclusiva à oração que mistura com os afazeres domésticos. Duas formas
de participar pelos media.
5. Procura de significados
Depois desta análise – da história, da actualidade e do rito praticado –,
como responder à pergunta inicial sobre os significados desta celebração?
Do ponto de vista da instituição organizadora e dos conteúdos teológicopastorais e litúrgicos, já se respondeu em parte. Mas, da perspectiva dos fiéis
que participam, é difícil avaliar até que ponto corresponde a mesma significação, pois, a partir da mera observação, a diversidade de modos de participação não permite uma leitura clara.
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Reflexões
. teologia / pastoral.
. teologia / pastoral .
À procura desses – ou de outros – significados, procurámos saber o que
dizem os crentes participantes, através das entrevistas realizadas. A amostra
mínima não permite uma estatística quanto ao sexo, idade, escolaridade, profissão, proveniências, etc., mas indica vias de resposta em cruzamento com o
que, sobre o assunto, afirmam os responsáveis do Santuário.
Participação
Quanto à regularidade da participação, seis pessoas afirmaram vir habitualmente, outras seis raramente, quatro esporadicamente e duas pela primeira
vez. Das que vêm regularmente, quatro são da diocese de Leiria-Fátima, e
duas, um casal, vêm uma vez por mês da diocese do Porto. Das que vêm
raramente, duas são de perto (dioceses de Santarém e Leiria-Fátima), três de
longe (diocese de Santarém) e uma do Brasil, guia de duas pessoas desse país,
que vieram pela primeira vez. Entre as que vêm esporadicamente, duas são
da diocese local e duas de Águeda, que afirmaram fazer sempre este desvio
quando passam na região.
Sobre a participação pelos meios de comunicação, registam-se também
seis pessoas que assistem com regularidade, quatro esporadicamente, seis
raramente e duas nunca. As mais regulares são mais idosas, com menos escolaridade, reformadas ou domésticas; as de audição esporádica distribuem-se
por vários destes escalões; as que raramente ou nunca assistem são as mais
jovens, de maior escolaridade e profissionalmente activas. Quanto aos meios,
a rádio (RR) é maioritária e apenas três cidadãs brasileiras referem a televisão.
Quanto à ocasião, a “peregrinação pessoal” – de propósito para a oração
– é a mais apontada; três, do Brasil, referem a peregrinação de grupo; duas
vieram em passeio; e três por hábito de participação regular, uma delas, moradora local e outra, elemento do grupo coral. Os motivos mais indicados são
a “devoção” e a “promessa”.
Neste último caso, três prometeram vir suma vez por mês ao Rosário, e
uma (Brasil) vir uma vez a Fátima. das que vieram por acaso, duas andavam
em passeio e duas desviaram-se, de propósito, ao passarem nas proximidades. No caso da guia brasileira, veio em trabalho.
Na maioria, afirmaram o gosto pessoal por esta oração que, normalmente,
acompanham pela rádio, e, como primeira motivação, a devoção a Nossa
Senhora.
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Fé/Devoção
Não se perguntou pela intensidade com que rezavam, por parecer pergunta algo “incómoda”, mas a resposta pode deduzir-se das questões seguintes.
À pergunta “comove-se nesta oração?”, três, todos homens, responderam
“não”, acrescentando dois não se comoverem com facilidade e um não ser
“adepto” desta oração; as que reponderam afirmativamente deram razões:
“sinto aliança entre a terra e o céu”, “fico unida a Deus”, “o coração vibra
com Nossa Senhora”, “pensamos nos que sofrem”, “uno-me ao Sagrado Coração de Maria”, “é uma fé cá dentro”, “estamos ligados a Fátima”, ou, de
forma mais vaga, “sou devoto de Nossa Senhora”, “Nossa Senhora veio a
Fátima para nos converter”, “é comovente rezar”, “Nossa senhora fala-nos”,
“mexe com o coração”, “não dá para evitar as lágrimas”, ou ainda, “não sei
explicar”.
Questionando a importância desta oração na formação da fé, as respostas
são semelhantes. Só duas pessoas, os dois mais novos e homens, um estudante do secundário, outro licenciado e professor, respondem que não, porque
“é uma oração diferente da meditação” e “não tem muita formação, é mais
‘reza’”. A maioria que considera esta oração importante para a fé, explica que
“se abordam os temas da fé”, “reflecte-se na vida”, “foi o que Nossa Senhora
mandou”, “abordam-se temas da actualidade e da sociedade”, “medita-se na
vida de Jesus”, “sabe-se qual é a mensagem de Nossa Senhora ao Mundo”,
“ouvem-se boas reflexões” e “medita-se na vida”. Mas há respostas como
“quem reza todos os dias fica unido a Maria”, “pensamos nos que sofrem”,
“pensamos em Deus”, “sentimos Nossa Senhora falar no coração”, ou, de
forma mais vaga, “um pouco”, “muito” ou “a nossa fé fica mais forte”.
Quando se tenta descobrir o nível de apreensão da mensagem, perguntando se recordam o que foi dito, surgem algumas contradições. Por um lado, a
maioria afirma recordar-se e apenas cinco confessam desatenção, por coincidência, incluindo os dois que não reconheceram valor formativo. Por outro lado, pedindo um resumo aos que dizem recordar-se, só três conseguem
apontar uma ideia central referida: “este dia foi dedicado em especial ao Sagrado Coração de Jesus”, “os sofrimentos de Cristo ainda hoje têm expressão em muitas situações do mundo” e “hoje foram os mistérios dolorosos”.
Os demais têm frases evasivas ou aludem a temas genéricos da mensagem
de Fátima, alguns não referidos, outros apenas de passagem, como “paz no
mundo”, “rezar o Terço todos os dias”, “rezar pelos pobres”, “rezar pelas
intenções do Santo Padre”, “era bom que houvesse jovens e crianças”, “temas da actualidade e da sociedade”, “sofrer pelos pecadores”, “pela oração
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Reflexões
. teologia / pastoral.
. teologia / pastoral .
podemos ajudar a mudar o mundo”, “rezar muito para salvar a humanidade”
ou “meditamos na nossa vida”.
A carga emocional desta oração, neste local, é grande. Entretanto, sem
negar a importância desta “emoção” diante de Maria, em oração fervorosa,
o Santuário pretende ir mais além, visando articular fé e razão, devoção e
emoção, neste acto de piedade. O padre Francisco Pereira afirma que “dado
o alargado número de agentes da oração do terço, cada um com o seu estilo,
não haverá uniformidade nesta articulação; procuramos, no entanto, que o
Rosário não se fique por uma espiritualidade desencarnada ou etérea, mas
seja meio de crescimento na formação de uma fé adulta e concreta, que ajude
os cristãos a viverem conscientemente o Evangelho. Também o padre José
Baptista refere que “não é fácil falar disso, porque são dimensões muito interiores a cada peregrino”, mas reconhece que “a grande maioria vive Fátima
com mais devoção e emoção do que com fé racional. Devia ser de outro
modo? Provavelmente sim, mas tocar no que é religioso, na pessoa humana,
torna-se quase impossível, por ir ao mais íntimo de cada um. Essas dimensões estão profundamente interligadas e, no que à fé diz respeito, só Deus e
cada um sabem”.
Compromisso
Monsenhor Joaquim Carreira, um dos primeiros estudiosos dos acontecimentos de Fátima, afirma que a oração do Rosário “fomenta a vida cristã,
alimentando nas almas a fé católica, mediante a consideração dos mistérios
divinos e das verdades reveladas”. 8
Pelas respostas dos fiéis, este facto parece comprovado. Apenas uma pessoa afirmou não fazer qualquer propósito concreto a partir da participação
nesta oração e que ela não influencia a sua vida, porque “é um momento
especial, mas depois esquecemos”. Todos os outros afirmam haver influência prática. Variadas, as respostas centram-se na santificação pessoal a partir
da oração e na força aí colhida para a vida concreta: “a união com Maria
leva-nos a encarar a vida de outra maneira”, “ficamos mais santos”, “pensamos mais em Deus”, “quando rezamos pela nossa cabeça, isso muda a nossa
vida”, “a reflexão diária ajuda a viver melhor”, “com Jesus no coração, vivemos em paz com todos”, “levamos Deus no coração para amar os irmãos”,
“nossa Senhora dá-nos força para viver”, “saímos mais fortes por dentro”, “é
8 CARREIRA, Joaquim, Fátima e o Evangelho. Lisboa: Livraria Sampedro, 1967,
196-197.
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. teologia / pastoral.
Eficácia pastoral
Será que o investimento pastoral do Santuário é eficaz na sua finalidade?
Em que medida as mensagens são apreendidas pelos fiéis?
Julgando apenas a partir das respostas obtidas, o investimento na parte temática da meditação dos Mistérios, na sua relação com a vida actual e na formação
teológico-pastoral dos fiéis, parece não atingir o objectivo. As mensagens retidas
não parecem corresponder ao que se pretendeu veicular. Ainda assim, se nos fixarmos no propósito da divulgação da Mensagem de Fátima – penitência e oração – este parece ser atingido, dada a clara identificação, por parte dos crentes,
da importância da oração como factor de mudança de vida, da obtenção, através
de Maria, da graça divina que transforma o mundo e a relação do homem com
Deus. Além disso, a ligação de Fátima ao Rosário recebe um forte contributo
deste acto concreto difundido mediaticamente ao nível planetário.
Parece também que o Santuário, tendo consciência desta força e seus limites, faz uma leitura bastante realista. Como diz o director do SEPALI, “é impossível discernir o coração das pessoas, mas a enorme quantidade de cartas
com testemunhos que nos chegam de todos os recantos do mundo demonstra
a grande importância que as pessoas dão à oração do terço, do bem que lhes
traz a comunhão espiritual com Nossa Senhora e os peregrinos de Fátima”. E
o padre José Baptista corrobora: “O que ali se sente é muito intenso e o que
se faz, nessa intensidade, toca o interior das pessoas. Pensemos que, se for
menos bem feito ou mesmo mal feito, passa também para o exterior, dada a
“visibilidade” que tem Fátima. A Mensagem de Fátima continua a irradiar de
tal modo pelo mundo, que só pode ser o Espírito a trabalhar e, sendo assim,
os fins vão sendo atingidos. Acho que o Santuário prima pela simplicidade,
mas também pela intensidade e profundidade das suas catequeses e da sua
espiritualidade”.
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Reflexões
um momento de muita paz interior”, “a gente tem de praticar aquilo que reza,
senão não vale nada”. Algumas respostas são mais vagas: “não tem limite”,
“em todos os aspectos”, “ajuda sempre”, “muito, em tudo”, “em toda a vida”
ou “muito”.
Mesmo sem uma visão clara nem a capacidade de se exprimirem sobre
os benefícios do Rosário, os crentes têm consciência de que eles são reais e
ligam imediatamente a participação nesta oração a uma melhoria da sua condição cristã na vida diária concreta. A maneira de responder manifesta bem a
convicção dessa consequência da oração, mesmo que não saibam dizer como
e a prática não venha a confirmar os bons propósitos.
. teologia / pastoral .
Conclusão
Em resumo, a celebração do Rosário das 18h30 no Santuário de Fátima é
informada por vários significados, diversos e complementares, que atravessam o tempo, desde o seu início aos dias de hoje. Cruzados com os que são
inerentes à oração e, em particular, a esta oração, esses significados, pode
dizer-se, são intemporais e têm especial realização neste espaço e contexto,
identificados nos sinais da Mensagem de Fátima.
Na sua especificidade de forma simples, eficaz e acessível de comunicação com Deus, elevação do espírito à contemplação e santificação pessoal,
o “Rosário da Renascença”, não viria apenas a justificar as razões do seu
início, no contexto dos 75 anos das Aparições, enquanto meio de divulgação
da Mensagem de Fátima, centrada precisamente na importância da oração e
da penitência como caminho de santificação. A sua institucionalização seria
o reconhecimento do seu lugar no conjunto das acções celebrativas do Santuário, e das suas potencialidades como factor de evangelização em grande
escala, investindo na formação cristã, a partir dos Mistérios da vida de Jesus
e de Maria, sua Mãe. E o cuidado na preparação e condução deste momento celebrativo, viria a garantir igualmente a qualidade e disponibilização de
conteúdos essenciais a uma acção evangelizadora no meio do mundo de hoje.
A experiência dos crentes, observada e afirmada, manifesta uma vivência
interior particularmente intensa de fé e adesão ao amor de Deus e do próximo. Em Fátima continua a escutar-se o apelo de Nossa Senhora à conversão
como caminho para a paz e ao oferecimento pessoal pela salvação do mundo.
188 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. teologia / pastoral.
Memória do padre Rogério de Oliveira nos 20 anos da sua morte
No dia 8 de Novembro, passaram 20 anos sobre a morte do padre Rogério
de Oliveira, notável figura do clero diocesano, que Deus chamou a Si aos
43 anos de idade, vítima de acidente de viação. Vinha das aulas no ISET de
Coimbra para a Formação Permanente do Clero, a decorrer em Fátima, de
que era um dos organizadores.
O exemplo da sua vida ao serviço dos outros, a sua dedicação sem medida
à Igreja, o seu amor a Deus e ao anúncio do Evangelho, são apontados por todos os que o conheceram e com ele se relacionaram. Entre as numerosas marcas da sua acção na nossa Diocese, destacam-se a criação da Escola Teológica
de Leigos, actual Centro de Formação e Cultura, a estruturação do Pastoral
Familiar e respectivo Secretariado Diocesano, a construção da Casa Diocesana do Clero, e a realização do Congresso Diocesano dos Leigos (1988).
Não são precisas datas especiais para recordar o padre Rogério, mas há
tempos de referência em que a memória se torna mais viva. Na sua Carta Pastoral “Ir ao Coração da Igreja”, D. António Marto quis fazer “a evocação de
duas figuras do nosso presbitério que deixaram marcas pelo seu testemunho
e pela acção pastoral: D. João Pereira Venâncio (1904-1985) e Padre Rogério
Pedro de Oliveira (1946-1989), por ocasião dos 25 e 20 anos das suas mortes,
respectivamente”. A sua memória, escreveu ainda, é um apelo a “reforçar
a nossa fraternidade sacramental que nos torna irmãos no mesmo dom do
sacerdócio e na mesma missão, para cultivar mais e melhor a vida espiritual,
para promover a corresponsabilidade dos fiéis leigos e para cuidar particularmente das vocações ao sacerdócio”.
Concretizando a sua proposta, D. António presidiu à Eucarística, na Sé,
no dia 9 de Novembro, às 19h00, em acção de graças pelo dom de Deus à
Diocese através do ministério deste zeloso sacerdote. Concelebraram D. Anacleto de Oliveira, Bispo de Viana do Castelo, condiscípulo do padre Rogério
desde a entrada, no mesmo dia, no Seminário, D. Manuel Pelino, Bispo de
Santarém, condiscípulo em Roma e colega professor em Coimbra, e numerosos sacerdotes. Na assembleia, entre leigos e religiosos, predominavam os
casais e tantos amigos que conheceram o Padre Rogério, colaborar com ele e
usufruiram da sua amizade e dedicação.
Após a Eucaristia, num momento evocativo, organizado pelo Centro de
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Reflexões
Exemplo de vida e de sacerdócio
. teologia / pastoral .
Formação e Cultura e pelo Departamento Diocesano de Pastoral Familiar, ouviram-se testemunhos que recordaram alguns aspectos mais marcantes da vida,
sempre dedicada, do amigo, colega, professor, orientador espiritual e sacerdote.
D. António, num dos momentos mais tocantes, dirigiu-se aos pais, irmã e outros familiares do Padre Rogério e entregou um ramo de flores à sua mãe.
Recordando o momento fatídico ‑ Gratidão e memória
8 de Novembro de 1989, uma quarta-feira de manhã. A notícia correu
veloz e devastadora: “morreu o padre Rogério!”. Todos sabiam de quem se
tratava. Era o único padre diocesano com este nome, como era único na sua
forma de ser e de estar, de servir a Deus e a Igreja. Conhecido de muitos, amigo de todos, sempre pronto a intervir onde era necessário, a ajudar onde era
preciso. As suas palavras, e sobretudo a sua vida, foram, para quantos tiveram
a graça de com ele privar e de o ter como amigo, um rasto luz a apontar na direcção de Deus. Não apenas a sua vida, mas também a sua partida inesperada
para o Pai foram, e oxalá continuem a ser, para cada um de nós, um desafio à
vocação de serviço a Deus, nos irmãos. Este foi o apelo do Bispo, D. Alberto Cosme do Amaral, na Missa exequial: “Morreu o padre Rogério; faz-nos
muita falta… quem se oferece para tomar o seu lugar?”.
De facto, a sua morte foi sentida por muitos como uma “perda irreparável” na vida da Igreja diocesana. Não apenas pelos vários serviços da pastoral
que lhe estavam confiados, como também pela sua forma de ser padre na
Igreja. Era impressionante a descentralização de si próprio, a atenção que dedicava aos outros, padres e leigos, a sabedoria e a caridade com que abordava
as situações delicadas e as pessoas a necessitarem de ajuda, a sua disponibilidade para agir, servindo. Ter cruzado a nossa vida com a sua foi um dom
que não pode ser esquecido nem malbaratado. Defensor activo da vida e do
bem-estar de cada um, até na morte, provocada por acidente rodoviário, não
houve outras vítimas nem feridos.
Obrigados, padre Rogério! A gratidão é a memória do coração. Memória
e gratidão que queremos sejam eternas no coração de Deus e activas nos
nossos corações e na vida da nossa Igreja diocesana, para que nela continuem
a dar frutos.
Testemunhos de 1989
Numa perspectiva alargada e cheia de memória e gratidão, transcrevemos
extractos de alguns testemunhos publicados nos jornais diocesanos, por al190 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. teologia / pastoral.
Padre Rogério: homem de Igreja. Sobre a vida, o Evangelho é muito claro e não deixa margem a dúvidas: para a ganhar é preciso perdê-la, ou seja,
dá-la, gastá-la, pô-la ao serviço dos outros e de Deus. Só quem consegue
esta atitude de disponibilidade e de serviço percorre caminhos de vida, que o
projectam no tempo e na eternidade, à semelhança de Cristo. Cremos ter sido
esta a atitude animadora do padre Rogério, há pouco falecido. Dele nos fica
um exemplo e testemunho muito rico. (...) O espírito de fé e a perspectiva
sobrenatural com que falava, programava e agia em todas as situações. O seu
espírito de amor à Igreja e à humanidade que Cristo quer salvar levava-o a
esquecer-se de si mesmo, a não se poupar a trabalhos, esforços e sacrifícios.
Impressionou-me sempre a simplicidade como nota marcante da sua vida,
(…) recordo a altura em que terminou a licenciatura em História, foi convidado para professor assistente na Universidade. Reflectiu, rezou, resolveu dizer
não. Tinha sido ordenado padre para o serviço do povo de Deus. Traço digno
de ser mencionado, e que deu tom à sua obra, foi o espírito de pobreza em que
viveu. O que possuía estava ao serviço dos irmãos. (…) Foi um homem que,
vivendo a sua vocação sacerdotal, lançou muita semente na vida da Igreja
diocesana. O seu caminho foi também um caminho de vida.
Padre Virgílio Antunes, In O Mensageiro - 23-11-89
Foi com grande emoção e um sentimento de incredulidade que a notícia
da morte do padre Rogério foi recebida pela comunidade portuguesa da zona
Champigny-Sur-Marne, aqui em França. A sua passagem, ainda que breve,
por esta comunidade, nos anos 86 e 87, na preparação e celebração da festa
de Nossa Senhora de Fátima, marcou fortemente aqueles que o conheceram
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Reflexões
guns dos muitos amigos que na altura chorámos a sua partida:
Morreu um HOMEM BOM, assim mesmo, com maiúsculas, BOM em
tudo: na serenidade; na segurança do seu saber e do seu dinamismo; na disponibilidade permanente e total para a defesa do seu ideal de ESPERANÇA;
na convicção de melhorar o mundo através do trabalho junto dos mais jovens,
ou da palavra amiga aos casais preocupados com a família na sociedade; na
generosidade e entrega aos outros; na propagação maravilhosamente simples,
clara e compreensível da Palavra de Fé que professava e vivia. Morreu um
sacerdote de gabarito excepcional. Deixa um vazio difícil de preencher, seja
qual for o prisma por que se analise a sua dimensão humanista. Fica a saudade que magoa.
Agostinho do Espírito Santo, In O Mensageiro - 23.11.89
. teologia / pastoral .
e puderam com ele viver os dois retiros que aqui orientou. Também aqui ele
deixou muitos admiradores e amigos, que se reuniram para chorar a sua morte e louvar a Deus pelo dom que foi a sua vida e a sua passagem por aqui. Em
estilo de partilha e oração, foram-se ouvindo testemunhos como os que seguem: «Havia, na maneira de ser e de falar do padre Rogério, um não sei quê
que mexeu profundamente comigo»; «Conheci um padre e ganhei um amigo
para sempre»; «Havia tanta força e verdade no que ele dizia, que eu senti que
a minha vida de família não podia mais continuar como até aí».
Ficou a calar-nos bem forte o seu último “testamento”, que veio em carta
escrita na véspera da sua morte e que recebemos em França 2 dias após a
mesma, onde dizia de si mesmo: «Não busco aplausos, nem tenho aspirações
a subir, importa-me ser eu próprio e servir o Reino». Pedia notícias sobre a
evolução da saúde de alguns amigos da comunidade, pedia para rezarmos por
ele e prometia que a nossa amizade continuaria em Deus, a Quem rezaria para
que Ele nos desse todo o Bem».
Belmira de Sousa, In A Voz do Domingo - 31.11.89
«Quem se humilha será exaltado». Assim, Deus exaltou o padre Rogério
e o chamou até Ele para, no céu, gozar do Reino, ao serviço do qual gastou
a sua vida na terra. Que de lá ele continue a velar por nós e pela nossa Igreja
diocesana, que tanto amou e tão bem serviu.
«Tendo-se tornado querido de Deus foi por Ele amado. Chegado em pouco tempo à perfeição, completou uma longa carreira». (Sab 4, 10. 13) «A
vida foi um instante mas foi VIVA, o tempo foi breve mas foi LUZ, calou-se
a tua voz mas seu eco é palavra amiga que conduz». Estes dois pensamentos,
que figuram na pagela da sua memória, adequam-se perfeitamente à vida do
padre Rogério e à memória que guardamos dele. Que sejam sementes de vida
nas nossas vidas.
Belmira de Sousa
Testemunhos actuais
Uma luz que não se apaga
Convivi com o Dr. Rogério Pedro de Oliveira, nos últimos anos do ser
curso do Seminário e como padre após o seu regresso de Roma.
Como homem, sempre o admirei como grande amigo dos seus colegas;
testemunhava uma dedicação sincera e fraterna que sabia estender a todo o
presbitério. Era verdadeiramente colega, amigo e irmão.
192 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. teologia / pastoral.
Um jovem mestre no ISET
Foi em Novembro de há vinte anos. Encontrámo-nos no corredor das aulas, pois o grupo de alunos a quem ele acabava de dar uma lição de Moral
Fundamental ia ter comigo, na hora seguinte, a cadeira de Patrologia. Trocámos palavras de circunstância, mal adivinhando eu que seriam as últimas.
Ainda antes da hora de almoço, acabado de chegar a casa, recebi, por via telefónica, a notícia trágica da sua morte, em acidente de viação, já próximo de
Leiria. O choque que senti não foi diferente do que abalou toda a comunidade
académica do Instituto Superior de Estudos Teológicos, onde o Padre Dr.
Rogério Pedro era professor desde o ano lectivo de 1974/75, regendo cadeiras
de Teologia Fundamental e, sobretudo, de Teologia Moral, matéria em que se
especializara em Roma, no Instituto Alfonsiano.
Em Coimbra, durante quinze anos de permanência no ISET, o Padre Rogério distinguiu-se como professor, como director do Instituto e como amigo
de colegas e alunos. Era um jovem mestre, exigente com os discípulos e exigente consigo próprio, dedicando-se afincadamente ao estudo das matérias
que ensinava e empenhando-se em transmiti-las de forma clara, atraente e
renovada. Não era, de facto, um professor a quem bastasse um livro único,
estando atento a tudo o que se publicava, nomeadamente em Espanha, no
campo da Teologia em geral e da Moral em particular, sendo frequentes as
saltadas a Salamanca, com outros colegas, para se pôr a par das últimas novidades editoriais.
Este empenho procurou transmiti-lo, não apenas aos alunos, mas também
aos colegas, nos dois mandatos em que esteve à frente do Instituto, por eleição dos seus pares, sugerindo em várias reuniões que todos indicassem novos
livros, nas respectivas áreas de ensino, que enriquecessem a modesta biblioteca da instituição. Neste e em vários outros aspectos está patente o interesse
que sempre demonstrou em que o ISET se assumisse como verdadeira escola
teológica das dioceses do Centro do País.
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Reflexões
Como padre, foi notável no espírito de servir e no amor que dedicou à Igreja
e à sua Diocese. Com grande capacidade para o trabalho em equipa, granjeou
muitos amigos no presbitério e no laicado. Deu-se todo em pouco tempo.
A Diocese deve-lhe a formação da Escola Teológica de Leigos, a construção da Casa Diocesana do Clero e a organização da Pastoral Familiar.
Deus chamou-o para Si, mas ficou, como luz que não se apaga, o testemunho da sua vida.
Padre Henrique da Fonseca
. teologia / pastoral .
Mas o Padre Rogério cativava não apenas pela sua cultura e pelo modo
como se empenhava no ensino, mas igualmente pelo seu espírito sacerdotal,
pela sua alegria espontânea e pela amizade que, se assim me posso exprimir,
distribuía às mãos cheias.
Vinte anos depois, este seu legado de serviço à Igreja continua vivo em
todos os que tivemos o ensejo de o ter como mestre, como colega e como
amigo. É sobretudo como amigo que o quero recordar, inclinando-me, com
um sorriso largo e franco, à sua grata memória.
A. Jesus Ramos, director do ISET
Notas biográficas
• 25-01-1946 – Nasceu em Peras Ruivas, Seiça, filho de Joaquim Pedro e
de Silvina Rosa de Oliveira.
• Outubro de 1957 – Entrou no Seminário de Fátima.
• Junho de 1969 – Terminou o curso do Seminário.
• 15-08-1970 – Ordenado presbítero na Sé de Leiria.
• Outubro de 1969 a Julho de 1973 – Cursou Teologia na Univ. Gregoriana de Roma.
• Setembro 1973 – Inicia funções como professor do ISET. Ao mesmo
tempo, é nomeado, primeiro, director espiritual, e depois, director da residência dos alunos do Curso Teológico, em Coimbra.
• 1980 – Licenciou-se em História pela Universidade de Coimbra e foi
nomeado director do ISET.
• 1982 – Director do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar (desde
1978 era o responsável da equipa diocesana).
• 1984 – Responsável e director de Escola Teológica de Leigos.
• 1985 – Presidente da Comissão Diocesana do Clero e grande animador
da construção da Casa do Clero em Fátima.
• 10-04-1988 – Nomeado cónego capitular da Sé.
• 1988 – Secretário da Comissão Episcopal da Família e director do Secretariado Nacional da Pastoral Familiar.
• 3 e 4 de Dezembro – Congresso Diocesano dos Leigos “A Diocese de
Leiria-Fátima em Renovação”, a cuja comissão organizadora presidiu.
• 08-11-1989 – Morre, vítima de acidente de viação.
194 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. teologia / pastoral.
Profissão Temporária da Ir. Marina Sofia
Profissão Religiosa Contemplativa, SIM radioso, alegre e sempre jovem da
alma que se entrega a Deus; SIM incondicional, plenamente aberto à novidade
perene do projecto divino; SIM ao ... absoluto de Deus, numa vida de oração e
penitência, voltada para o inefável que chegará no dia da plenitude do Amor!
Não há aventura maior, não há abismos mais profundos, nem alturas mais
altas, nem horizontes mais vastos..., não há projecto de vida mais belo, não
há felicidade mais pura, não há amor mais ardente... que este SIM oferecido a
Deus, na flor da juventude, com as mãos colocadas sobre o altar, no coração
vivo e palpitante da Igreja!
Este SIM deu-o a Ir. Marina Sofia Alexandre Quirino, temporariamente,
no passado dia 11 de Agosto, Solenidade de Santa Clara de Assis, perante
uma numerosíssima assembleia de fiéis que encheram a Igreja do Mosteiro e
que a ela quiseram associar-se.
“Eu vi a Cidade Santa...”, foi o clamor vibrante que abriu a solenidade,
sob a presidência do Bispo de Lamego, sua Ex.cia Reverendíssima o Senhor
D. Jacinto Botelho. No altar, uma coroa de 17 sacerdotes a concelebrar, foi sinal significativo de comunhão eclesial, principalmente neste Ano Sacerdotal.
O sacerdócio, mistério da misericórdia infinita de Deus, e a vocação da
Clarissa, mistério de amor, adoração e acção de graças, são vidas que se complementam no Coração místico da Santa Mãe Igreja. Vocações belas que revitalizam o mundo com o Alimento inefável e eterno do Pão do Céu e da santa
oração e adoração, vocações eternas que nascem no silêncio para clamar a
linguagem inconfundível do amor.
A alegria, o entusiasmo e uma gozosa expectativa cheia de serenidade e
beleza dominaram o todo da celebração
Depois de ter pedido à Igreja, na pessoa do Senhor D. Jacinto, o privilégio
de professar, à semelhança da jovem Clara Offredúccio, os votos de Pobreza,
Castidade, Obediência e Clausura, segundo a Regra das Irmãs Pobres de Santa Clara de Assis, a Ir. Marina recebeu, de joelhos, o véu preto de professa,
a insígnia do Desagravo – o cálice encimado pela hóstia – a Santa Regra e,
por fim, o Crucifixo: “Longe de mim gloriar-me a não ser na Cruz de Nosso
Senhor Jesus Cristo, por Quem o mundo está crucificado para mim e eu para
o mundo”, disse com os olhos brilhantes de alegria e confiança.
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Reflexões
“Aceita, Senhor, a minha vida”
. teologia / pastoral .
“Este é um dos momentos mais solenes da vida da Ir. Marina Sofia, sublinhou o Presidente da celebração, um momento que começou com a graça
do Baptismo, que fundou raízes com o tempo e agora culmina e floresce com
os desposórios espirituais com Cristo no coração da Igreja. É um mistério
dar-se ao Senhor e viver exclusivamente para Ele”, exclamou o Senhor Bispo
evidenciando verdadeira afeição pela vocação contemplativa. “A Ir. Marina
Sofia torna-se um dom para a Igreja, um dom para a Ordem de Santa Clara e
também um dom para nós, sacerdotes, pois sabemos que ela reza, se sacrifica
e todos os dias dá a sua vida pela fidelidade, bom testemunho e constância de
todos os que receberam o Sacramento da Ordem.”
Não esquecendo o papel importantíssimo da família no germinar saudável
da vocação religiosa na vida de cada pessoa, o Senhor D. Jacinto não quis deixar de expressar uma palavra de admiração e apreço pela mãe da Ir. Marina,
cujo exemplo, oração e sã espiritualidade constituíram marcos determinantes
para o crescimento e consolidação da vocação religiosa da nova Clarissa.
“Tudo começa aqui, no seio da família”, exclamou, dirigindo um apelo
veemente à responsabilização dos pais na educação espiritual e religiosa dos
filhos.
Em acção de graças pelo dom da sua vocação, a neo-professa, transbordante de alegria, em gestos simples, expressou a beleza, o gozo inefável e a
profunda emoção da sua jovem alma Clariana diante de toda a assembleia: “A
Ti eu me entrego, a Ti meu Senhor; a Ti me consagro, só por amor...!”
Foram duas horas que correram rápidas, emocionantes e calorosas. O
Deus que fez maravilhas na vida da nossa Irmã Marina, foi o mesmo que nos
congregou a todos na alegria, na paz e neste entusiasmo profundo e verdadeiro de sermos Igreja viva de Jesus Cristo.
A concluir, uma apresentação em Power Point deu a todos uma visão do
percurso biográfico e espiritual da Ir. Marina.
“Foi o dia mais feliz da minha vida, exclamou comovido o pai da Ir. Marina. Eu conheço bem a minha filha e sei que ela é aqui verdadeiramente feliz”.
Para terminar, nada mais significativo do que este testemunho de um pai
que resistiu à entrada da filha no Mosteiro e agora se rende à evidência da
grandeza da sua vocação. Que ele seja para todos a voz profética de um homem que se realiza plenamente com a felicidade, ainda que desconcertante, dos seus filhos, no Coração místico, silencioso e contemplativo da Santa
Igreja.
Irmãs Clarissas de Monte Real
196 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. teologia / pastoral.
Testemunho de uma religiosa
Vinde e ouvi o que Deus fez por mim!
Com muita alegria venho comunicar que no próximo dia 11 de Agosto,
no Mosteiro de Santa Clara e do Santíssimo Sacramento de Monte Real, se
realizará a minha Profissão de Votos Simples Temporários. Por isso convido
a quantos quiserem e puderem participar na alegria da minha consagração ao
Senhor. A celebração terá início às 17:00h.
Gostaria de partilhar convosco “as maravilhas que Deus fez e vai fazendo
em mim”.
Nasci a 22 de Agosto de 1986 na Paróquia do Milharado, Vigararia de
Mafra, Diocese de Lisboa. Renasci pelas águas do Baptismo no dia 1 de
Fevereiro de 1987. Embora não fosse, usual fui baptizada no altar, acontecimento que para mim é sinal de que o Senhor já então me escolhera para ser
com Ele oferta sagrada no altar do sacrifício.
Fui a primeira filha de meus ternos pais, Carlos Filipe Quirino e Mª Eulália Quirino. Depois de mim, nasceram os meus três irmãos: a Cristina, o Mário e, recentemente, o Francisco, para preencher o lugar que na casa paterna
deixei vago.
Era uma jovem como tantas outras. No entanto, ao olhar a história da minha vida, encontro sinais de que Deus me tinha em Suas mãos. Recordo, por
exemplo, que, em criança, gostava de me fechar no quarto de minha mãe e de
me deter diante de um pequeno altar onde ela tinha várias imagens: Sagrado
Coração de Jesus, Nossa Senhora de Fátima, Sagrada Família, um Crucifixo
e a Bíblia. Sentia-me atraída pelo silêncio, pela solidão.
Quando ouvia falar da Santíssima Virgem Maria, interrogava-me se não
poderia ser como Ela. Agora sei que o Senhor me chama e convida a ser
como Santa Clara de Assis, à imagem de Maria, portadora do Verbo Divino,
espiritualmente, e a dá-l’O a toda a humanidade através da entrega total da
minha vida, como escreve Santa Clara numa das suas Cartas: “Tal como a
Virgem das virgens O trouxe materialmente no seu seio, assim também tu O
podes trazer, sem dúvida alguma, de maneira espiritual, no teu corpo casto
e virginal, seguindo as suas pegadas, sobretudo a sua humildade e pobreza.”
Fui crescendo e estava longe de imaginar o que Deus me preparava. Não
era nenhum anjinho. Às vezes era muito desobediente e queria sempre que
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Reflexões
Por Ir. Marina Sofia Alexandre Quirino, OSC
. teologia / pastoral .
a minha vontade prevalecesse em relação à dos outros. Sentia-me um tanto
egoísta e interesseira.
Com 9 anos, fiz a Primeira Comunhão, no dia 8 de Dezembro de 1995.
Lembro-me que estava muito feliz por ir receber Jesus, por Ele querer vir até
mim, morar no meu coração.
Em 11 de Junho de 2000, com 14 anos, fiz a Profissão de Fé.
Ao fazer um compromisso diante de Deus e dos homens, o Sacerdote
entregou-me um ramo de palmeira, símbolo do dever de viver coerente com
a fé que professava, se necessário, até ao martírio, renunciando ao pecado,
dia-a-dia, hora-a-hora. Foi um dos momentos mais marcantes para mim.
Considero-o outro sinal do Senhor que me conduzia pela mão.
De finais de Outubro 2002 a Maio de 2004 decorreu a preparação para o
Sacramento do Crisma.
A celebração em que recebemos o Santo Crisma (éramos um grupo de
quase 50 jovens) decorreu na Vigília de Pentecostes, a 29 de Maio de 2004.
A partir desse momento comecei a procurar mais intensamente qual o meu
lugar na Igreja
Fui auxiliar de catequese durante um ano. No entanto queria um compromisso que me tornasse mais activa na Igreja, para não ser tentada a fazer
como tantas pessoas que deixavam de ter tempo para Deus.
Mas, a certa altura, o dilema atingiu-me também: por um lado a questão
sobre o que Deus quereria de mim, por outro a minha fé começava a vacilar
e quase se afogou no barulho e atracções do mundo. Contudo, graças à oração de minha mãe e ao seu exemplo, (digo-o com imensa gratidão), Deus
segurou-me em Suas mãos.
Foi então que, numa visita ao Santuário de Fátima, quando estava a rezar
na capela do Santíssimo Sacramento, senti que Jesus me chamava à adoração
na vida religiosa. Era o dia 5 de Junho de 2005. Não perdi tempo nem me pus
a pesar o que deixava e o que ganhava ao aderir a Cristo.
No dia seguinte procurei informações sobre a vida religiosa na Internet,
pois não conhecia nada. Descobri o site da Irmãs Clarissas de Monte Real,
contactei-as e vim fazer uma experiência de 8 dias na hospedaria do Mosteiro. Quando cheguei ao Mosteiro percebi que era aqui que o Senhor me queria.
Atraíram-me a Adoração Eucarística Perpétua, a alegria das Irmãs e a certeza
de que, ao deixar tudo por Cristo, iria contribuir de maneira mais radical para
a construção do Reino de Deus e para a salvação de muitas almas.
O mais doloroso e difícil foi saber quanto esta minha resolução iria custar
à minha família. No entanto, era um passo que eu tinha de dar para bem da
198 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
minha própria família e de toda a humanidade. Não podia deixar que o sangue falasse mais alto do que a Voz de Deus que gritava dentro de mim.
Entrei no dia 18 de Julho desse ano. No dia do meu ingresso, os meus pais
levaram-me a ver o mar pela última vez. Compreendi por que é que o mar me
atraía. Ele é a imagem da profundidade e imensidade de Deus, onde quero
mergulhar totalmente e para sempre.
À tardinha, embora lhes custasse, os meus pais e irmãos trouxeram-me
ao Mosteiro, vieram eles mesmos entregar-me a Deus no Seu Templo. Creio
que esse gesto doloroso lhes alcançou grandes graças da parte de Deus que
retribui cem por um. É-nos muito difícil imaginar a quantidade de graças que
recebem os pais que, de livre vontade, embora com muito sofrimento, aceitam entregar os seus filhos ao serviço de Deus e da Igreja.
Logo após a minha entrada, a Comunidade decidiu que fizesse o 12º ano,
numa escola da Marinha Grande, para concluir o secundário. Habitualmente,
saía do Mosteiro às 7h00 da manhã e regressava às 7h00 da tarde e, o que
era mais importante, não me dispensava de passar uma hora a sós em adoração, diariamente, diante de Jesus Sacramentado, solenemente exposto no
Mosteiro.
Esta experiência ajudou-me a perceber com segurança que era a vida religiosa que me tornava feliz e realizada. Foi uma experiência muito enriquecedora, que fortaleceu, elucidou e consolidou a minha fé e vocação.
Terminado o ano lectivo, iniciei mais intensamente a formação religiosa.
A 8 de Dezembro de 2006 recebi o Santo Hábito de Irmã Clarissa. Quis o
Senhor que coincidisse com o 11º aniversário da minha Primeira Comunhão.
Na verdade, foi um reviver desse dia tão belo da minha vida cristã mas, desta
vez, não era apenas Jesus que vinha habitar em mim, era também eu que Lhe
confirmava o meu desejo de ser Sua e de Lhe entregar a minha vida. Foi o reafirmar a certeza de já lhe pertencer, e a alegria de saber que Maria Santíssima
está comigo e não me abandona.
Não mais tive dúvidas sobre a minha vocação e hoje posso dizer como
Santa Teresinha: A minha vocação é o Amor. Encontrei o meu lugar na Igreja.
Finalmente aproxima-se o dia da minha consagração. É a certeza de que
serei totalmente de Deus. Através dos votos realizo, o que Jesus me diz: “Vem
e segue-Me”!
Através da entrega da minha vida nas mãos de Deus sinto-me impelida a
suspirar como Clara no Cântico dos Cânticos:
“Atrai-me a Ti e correrei ao odor dos teus perfumes, ó Celeste Esposo.
Correrei sem desfalecer, até que me introduzas na sala do festim, até que a
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 199
Reflexões
. teologia / pastoral.
. teologia / pastoral .
minha cabeça repouse sobre a Tua mão esquerda, e a Tua direita me abrace
com ternura e me beijes com o ósculo suavíssimo da Tua boca.
Encontrei Aquele a quem a minha alma ama. Agarrei-me a Ele e não O
largarei mais, até habitar totalmente no Seu Santíssimo Coração”.
Estamos a celebrar o Ano Sacerdotal e o Santo Padre convida-nos a orar e
a oferecer sacrifícios pelos sacerdotes e vocações sacerdotais. Sinto que este
apelo vem reforçar o valor e a responsabilidade do meu compromisso com
Deus e a Sua Igreja. Em Deus, a minha vida, assim entregue, pode contribuir
para a santificação dos Sacerdotes e para o despertar de novas e santas vocações para o serviço da Igreja e dos irmãos.
É por ser transbordante e imensa a minha alegria que vos convido a alegrar-vos comigo no Senhor que “fez em mim grandes coisas”.
Conto com a vossa presença e com a vossa oração, e deixo-vos a certeza
de vos lembrar junto de Jesus Sacramentado, adorado dia e noite neste Mosteiro. Que o Seu Coração derrame sobre vós bênçãos infinitas.
200 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. história .
Obrigações por defuntos na
Freguesia de Santa Cruz da Batalha
nos Séculos XVI e XVII
A preocupação do homem dos séculos de antanho, sobremodo em tempos
medievais como nas épocas subsequentes, com a salvação da sua alma, levou-o a valorizar uma Fé que concedia relevo substancial às práticas oracionais e litúrgicas intermediadoras. Nos séculos medievos, como bem estudou
o historiador Jacques le Goff, a possibilidade teológica do conhecimento de
Deus levou à “descoberta” do Purgatório como lugar metafísico de espera na
remissão dos pecados mundanos.
Multiplicaram-se, nesses séculos, por toda a Cristandade ocidental, as
manifestações religiosas dessa procura da garantia da salvação eterna. A
Igreja medieval e moderna, pelas suas estruturas institucionais e agentes endógenos, normativizou e credibilizou celebrações e práticas religiosas, com
complexo sentido teológico, valorizando os sacramentos, a prática eucarística, a confissão e penalizações tão temíveis para o crente como a excomunhão. Por seu turno, os fiéis corresponderam aos novos desafios espirituais
não somente cumprindo os preceitos sacramentais de integração in ecclesia
exigidos, como ainda consolidando territórios de participação original na realidade eclesial que passaram, por exemplo, pela fundação de confrarias, com
objectivos cultuais mas também assistenciais caritativos e indulgenciais, ou,
ainda, pela incubação de movimentos religiosos próprios do fenómeno histórico da devotio moderna.
A contratualização, pelos fiéis leigos, de missas por alma estava perfeitamente generalizada na Idade Média. A ideia de que a celebração de missas
por intenção dos fiéis defuntos seria um factor determinante na economia
da salvação da alma foi levada a tal ponto que se verificaram casos de instituições de missas de intercessão, por parte de alguns crentes abastados, na
ordem das centenas ou mesmo milhares.
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Reflexões
Por Saul António Gomes
. história .
Um exemplo histórico significativo do que afirmamos encontra-se justamente no Mosteiro da Batalha. Nos alvores do Século XIX, nas vésperas,
pois, da exclaustração dos seus frades, que ocorreu em 1834, como se sabe,
as missas que os padres dominicanos nele deveriam celebrar pelas almas de
reis, rainhas, príncipes, infantes e de alguns outros nobres sepultados no monumento ultrapassavam os três milhares.
Esta realidade devocional alargava-se, todavia, aos demais estratos sociais. Membros do clero como fiéis leigos do povo, desde que com condições
económicas adequadas, procuraram seguir o exemplo daqueles. A instituição
de missas por alma, como que em capelanias, obrigava à atribuição de um
rendimento sazonalmente cobrado. Os instituidores de obrigações piedosas
deste tipo deveriam, assim, agregar à instituição de missas por suas almas
bens materiais de cujo rendimento resultariam os proventos para pagamento
dos custos das missas contratadas.
Na visitação que, por ordem do bispo D. Gaspar do Casal, em 1562, o
Licenciado Luís de Araújo, deão da Sé de Leiria e, ao tempo, governador da
Diocese, efectuou à paróquia de Santa Cruz da Batalha, um dos problemas
alvo de exame foi, justamente, o da verificação, sob pena de excomunhão e
com dever de se proceder à elaboração de um tombo específico, das obrigações de missas pro defunctis.
Do tombo em causa não temos, hoje em dia, qualquer vestígio arquivístico. Mas chega-nos uma cópia setecentista em que foram arroladas, para os
anos compreendidos entre 1570 e 1651, consultados os livros de assentos
de baptismos, casamentos e óbidos da paróquia, as instituições de missas
pelos paroquianos batalhenses. Não fora a escassez de informação, neste
espaço diocesano leiriense e neste quadro cronológico, quinhentista e da
primeira metade do Século XVII, e esta relação seria um documento banal.
Não o é.
Pelo documento que agora se publica, podemos percepcionar alguns
aspectos da religiosidade dos paroquianos de Santa Cruz da Batalha desse
tempo. Fiéis residentes em aldeias próximas, nem todas, aliás e ao tempo,
integrando a área jurisdicional desta matriz paroquial, como Calvaria, Golpilheira ou Rebolaria, para além dos da vila, instituíram aqui missas por suas
almas. Essas obrigações de missas ficavam à responsabilidade de administradores, geralmente parentes e descendentes dos instituidores, mas também de
confrarias como a de Santo António, estabelecida na igreja matriz, ou as do
Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora do Rosário, sediadas no claustro
dominicano.
202 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
Entre os paroquianos batalhenses registados nesta relação, destacamos os
nomes de João Dinis, mercador, filho de Diogo de Freitas, que mandou fazer
o altar do Espírito Santo na igreja paroquial, e de João Homem, vedor que
foi das obras do Mosteiro. Este João Homem herdara o ofício dos seus antepassados nomeando-se, entre eles e por serem os “fundadores”, os nomes de
Mestre Rodrigo [Homem] e de seu filho Fernão Rodrigues Homem.
João Homem, vedor das obras monásticas, já então muito descontinuadas, faleceu em 1570. Sucedeu-lhe no ofício Pedro Homem, que o trazia
em 1591. João Homem, todavia, nomeou para administradores da capela de
missas, que instituiu no Mosteiro, aos seus escravos, que alforrou, Bárbara
Fernandes, Domingos e Manuel. Mortos estes, a administração passaria para
a Confraria de Nossa Senhora do Rosário.
Será da descendência desta Bárbara Fernandes que a relação que aqui editamos dá alguma informação complementar. Casou, em 1565, com Estêvão
Pires. Uma filha destes, Brites Pires casou, em 1610, com André Malho e, em
novas núpcias, em 1612, com Diogo Gil, das Torrinhas.
Será a mencionada Brites Pires a homónima mulher de Emanuel Pereira
Preto, pais de Lúcia, baptizada em 1586, de quem foi padrinho Salvador da
Arruda e madrinha Maria Feia, mulher de João Malho Magro, da Batalha? É
uma hipótese possível. O que imporia que essa Brites Pires, filha de escrava,
contraiu núpcias por três vezes. Um outro filho deste casal, Estêvão, baptizado em 1591, teve por padrinhos de baptismo o mencionado Salvador de Arruda e Bárbara Rebela, filha de Pedro Homem, o novo vedor das obras. Quer
seja, quer não, esta família dos Preto(s) relacionou-se com duas outras importantes famílias da Batalha de inícios de Seiscentos: os Arruda e os Homem.
No rol de fundadores de missas por alma devemos destacar, ainda, o nome
de António Carvalho, instituidor de um morgado ou capela de 50 missas anuais, uma por semana, “as quais missas mandou que fossem de Nossa Senhora
com commemoração de defuntos. E huma de requiem, pella festa de Todos
os Santos.”
A instituição de capelas na freguesia de Santa Cruz da Batalha mereceu
já a nossa atenção em estudo anterior, que pudemos publicar, nesta mesma
Revista, com o título “Capelas e Ermidas na Paróquia da Batalha em Setecentos” (Leiria-Fátima. Órgão Oficial da Diocese, Ano XVI, Nº 45, JaneiroJunho 2008, pp. 153-172). Com a apresentação, ao leitor, deste novo texto,
pretendemos contribuir para o conhecimento histórico dos paroquianos batalhenses e do que foram as suas respostas religiosas no que respeita às suas
atitudes para com a questão, maior no Cristianismo, da salvação da alma.
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Reflexões
. história .
. história .
Igreja Matriz de Santa Cruz da Batalha (cerca de 1900) (Foto DGEMN)
Documento
[Séc. XVIII] — Cópia de registos de assentos de instituições de missas por alma
de paroquianos da igreja de Santa Cruz da Batalha no período compreendido entre
1568 e 1651.
Direcção Geral de Arquivos – Torre do Tombo — Mosteiro da Batalha, 2º Compartimento, E. 18, P. 7, Mº 5(documentos avulsos não numerados).
Nº 116. Nº 8.
Copia de alguns instituidores de missas e capelas.
Rubricado (ass.) Saraiva.
Nº 47º
No Livro dos baptizados, cazados e defunctos da freguesia desta villa que servio
pellos annos de 1570 ate 1578, nelle a fl. 139 se acham as clarezas seguintes.
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Na Era de 1562 annos, sendo bispo deste Bispado o Muito Illustre Senhor Dom
Pedro1 do Cazal, por neste anno elle hir ao Sancto Concilio de Trento, deixando por
governador do Bispado o Lecenciado Luiz de Araujo, deam da Sé de Leiria, o qual
vindo vezitar esta Igreja, mandou sob penna de excommunhão, ipso facto, que quem
soubesse de algumas obrigaçoens que defuntos deixassem por suas almas que descubrissem para que eu disso fizesse tombo, e os que sahiram são os seguintes:
Huma Magdalena Fernandez, nunca cazada, morador na Calvaria, deixou hum
arneiro que tem huma boa oliveira, onde se chama o Val dos Madeiros, que hé na
mesma Calvaria, á Confraria de Sancto Antonio, com obrigação de em cada hum anno
o mordomo lhe mandar dizer huma missa rezada.
O Doctor Heytor Henrriquez obrigou a metade das suas cazas que estam dentro
nesta villa, junto da porta principal do Mosteiro, para que perpetuamente lhe dicessem
duas missas rezadas; o primeiro administrador foy Simão Henrriquez, seu genrro, o
qual isto declarou.
Junto do altar do Espirito Sancto desta igreja jaz Joam Dinis, mercador, filho de
Diogo de Freitas, que o dito altar mandou // [Fl. 1vº] mandou fazer, o qual Joam Deniz instituhio cappella de huma missa cantada com rezadas em cada anno, a cantada
no mez de Novembro ofertada com hum alqueire de trigo, meyo almude de vinho, e
isto perpetuamente. Obrigou para isso muita fazenda, da qual hé primeiro possuidor e
administrador Antonio de Freitas.
Monica Pires, viuva, moradora que foy na Golpelheira, faleceo em Mayo dia de
Sancta Cruz, Era de 1565. Deixou sua fazenda a dois seus sobrinhos, por nome hum
delles Domingos, e outro Felipe, os quais forão filhos de hum seu sobrinho por nome
Bento Diaz. E isto com obrigaçam de huma missa perpetuamente em Nossa Senhora
da Victoria onde se mandou sepultar. E isto treslladey do proprio testamento que hera
publico.
Em 15 de Janeiro da Era de 1568 annos faleceo Hanrrique Pires, morador na
Rebolaria, o qual tomou em 3ª huma terra com suas oliveiras que está no lemite do
dito lugar onde chamam a Fontinha. E esta obrigou a seis missas rezadas cada anno
no Mosteiro desta villa. E isto no tempo da Quaresma. E juntamente tambem obrigou
a isso toda a 3ª para que nunca se podesse vender, trocar nem escambar. Ficou por
primeira administradora Izabel Rodriguez sua mulher. E por sua morte hum seu neto,
por nome João, filho de Antonio Henrriquez seu filho.
Tambem o dito Hanrrique Pires e a dita Izabel Rodriguez, sua mulher, deixarão
huma terra onde chamão a Ribeira do Carvalho ao dito João, com condição que em
cada hum anno dê a Confraria do Sancto Sacramento, situada no Mosteiro desta villa,,
hum alqueire de trigo e huma quarta de azeite. E isto in ceculum ceculi etcª.
Matheus Fernandez, lavrador, morador na Canueira, he obrigado por huma vinha
que comprou, mandar dizer cada anno sinco missas. Este não quis mais declarar. Vive
agora em Maceira. // [Fl. 2]
1 Assim está no documento; trata-se, todavia, de D. Gaspar do Casal.
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Reflexões
. história .
. história .
Mathias Coelho, marido de Brazia Ferreira, pela fazenda que possue no lugar da
Golpelheira, onde vive, hé obrigado as festas principaes de Nossa Senhora mandar
dizer huma missa em cada huma dellas pella alma de Antonio Gomes, cuja a dita
fazenda foy.
Domingos Lopez, pedreiro, no dito lugar morador, hé obrigado por dia da Circumcisão, mandar dizer na ermida do dito lugar da Golpilheira huma missa rezada em
cada hum anno.
Maria Veloza, mulher que foy de Jorge da Costa, morador em Leiria, hé obrigada
em cada hum anno, mandar dizer duas missas rezadas pella alma de hum defunto que
jaz no adro desta igreja, ao pé da cruz que está junto do alpendre do Hospital. E isto
porque comprou huma parte do lagar de azeite que ella tem no termo de Porto de Mos,
a qual parte tem esta obrigaçam. E as missas ham de ser rezadas como dito hé, ofertadas com pão e vinho. E ham de dar a pobres e meninos hum alqueire de trigo amaçado
sobre a cova do dito defunto. E isto se ha-de fazer pello mes dos Santos in aeternum.
Izabel Rodriguez, mulher que foy de Hanrrique Pires, da Rebolaria, deixou huma
terra onde chamão a Cabeça, com todas suas arvores de fruto e sem fruto, a huma sua
neta, filha de Simão Henrriquez. E isto com obrigação perpetua de meyo alqueire de
azeite a alampada do Santissimo Sacramento desta igreja em cada hum anno.
João Homem, veador que foy das obras deste Mosteiro, faleceo dia de Santa Cruz,
Era de 1570 annos. Fez de sua fazenda de raiz cappella. E a primeira administradora,
Barbora Fernandez, que foy sua escrava, e nomeou mais duas pessoas outras, scilicet, Domingos e Manuel, escravos, que deixou forros. E nas vidas destes e de seus
herdeiros mandou que lhe dicecem sinco missas ofertadas cada anno com pam // [Fl.
2vº] com pam e vinho. E isto no Mosteiro desta villa. E por suas mortes destes ficou
a administração da dita cappella a Nossa Senhora do Rozario com vinte missas cada
anno e mais vestir hum pobre.
Antonio Carvalho fez e tomou de sua 3ª digo de sua fazenda, a 3ª, o qual instituhio
e ordenou em morgado ou cappella com obrigação de sincoenta missas cada anno, scilicet, huma em cada somana. As quais missas mandou que fossem de Nossa Senhora
com commemoração de defuntos. E huma de requiem, pella festa de Todos os Santos.
Seu filho Niculau Carvalho deixou por primeiro adeministrador. E porque sua mulher
delle dito defunto não queria neste Mosteiro pagar de esmolla de cada missa, se nam
o vintem, dizendo que não rendia ainda tanto a 3ª, trabalhey por saber a verdade e foy
assim que vy o inventario que se fez por morte do dito Antonio Carvalho. E achey vir
a 3ª em fazenda de raiz e boa 168 066 réis e quatro ceitis.
Joanna Rebella hé obrigada pella alma de Diogo João, seu marido, a mandar dizer
huma missa rezada no Mosteiro para sempre, para o que deixou obrigada huma vinha
ás Cancellas, contheuda no seu testamento. E por sua morte fique a Gracia sobrinha
delle defunto. E dahy para seus sucessores para sempre.
Diogo Gomes deixou a Guimar Lopes, sua mulher, a sua vinha que está junto da
Ponte dos Cavalleiros, com obrigação de duas missas para sempre em cada anno, no
Mosteiro. E dahy para quem ella quizer com a ditta obrigaçam para sempre.
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. história .
Maria Pires, veuva, deixou a sua sobrinha Guimar Lopes, mulher de Diogo Gomes, tres talhos de vinha ao Ribeiro da Calva, com obrigaçam de duas missas cada
anno para sempre, no Mosteiro. E por sua morte da dita Guimar Lopes fica esta obrigaçam a Simão Henrriquez ou seu irmão com a dita obrigação para sempre. // [Fl. 3]
Rozerio Frade, morador que foy na Golpilheira, fez testamento solemne, no qual
obrigua a João Frade, seu sobrinho, que fez herdeiro de sua fazenda, e adeministrador
de sua cappella, scilicet, oito missas rezadas cada anno. E por isso obrigou as propriedades seguintes, as quais todas estam no lemite do dito lugar da Golpilheira, scilicet,
huma terra que chamão, onde está a Pereira, obrigada a duas missas; huma sarrada e
olival e pombal, que se chama Almoinha Velha, obrigada a duas missas; huma vinha
na Lagoa, onde chamam o Canto dos Marmelleiros, obrigada a duas missas; outra vinha na Alagoa, com obrigaçam de duas missas. Quem herdar a fazenda de João Frade
ou estas propriedades comprira estas obrigações: oito missas.
Tambem no dito lugar da Golpilheira faleceu huma Izabel Alvez, a qual obrigou
hum pumar e olival tapado sobre sy, junto do dito lugar, a huma missa rezada por sua
alma. E deixou isto a João Frade e seu herdeiros. //
[Fl. 4]
Livro que principiou em 1570 athe 1578.
A fl. 152. Em 1565 cazou Barbora Fernandez com Estevão Pires, de cujo matrimonio tiverão a Brites Pirez, a qual cazou com Andre Malho. Em 1610.
A fl. 197. E tiverão Maria Izabel no anno de 1578.
A fl. 140. João Homem faleceu em 1570. E em 1578 se acha no mesmo Livro por
A fl. 196vº. Padrinho João Homem, e diz = vedor =.
Livro dos Baptizados de 1586 athe 1603.
A fl. 5. Em 1586 baptizou-se Lucia, filha de Emanuel Pereira Preto e de Brites
Pires, sua mulher, moradores nos Palmeiros, foy padrinho Salvador da Arruda e madrinha Maria Feya mulher de João Malho Magro desta vila.
A fl. 24. Em 1590 baptizou-se Barbora, filha de Emanuel Pereira e de Breatiz
Pires, sua mulher, moradores nos Palmeiros, foy padrinho João da Aruda e madrinha
Luiza Rebella, filha de Pedr’Omem. Foy em 2 18 de Novembro.
A fl. 26. Em 1591 baptizou-se Estevão, filho de Manuel Pereira e de Brites Pires,
sua mulher, moradores nos Palmeiros, foy padrinho Salvador da Arruda e Barbora
Rebella, filha de Pedro Homem, veador destas obras. Foy em 6 de Mayo.
2 Riscou: “6 de Março”.
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 207
Reflexões
Livro dos cazados e defuntos de 1603 ate 1618.
A fl. 21vº. Em 1612 cazou Diogo Gil filho de João Alvarez e Maria Dias, já defuntos, moradores nas Torrinhas, freguesia do Reguengo, com Brites Pires, filha de
Estevão Pires ja defunto e de Barbora Fernandez sua mulher morador nesta villa.
. história .
Livro dos cazados de 1603 ate 1618.
A fl. 12. Esta o recebimento de Andre Malho, veuvo, morador em Villa Facaya,
filho que foy de Nuno Dias etc, com Brites Pires, filha de Estevão Pires, ja defunto e
de Barbara Fernandez, sua mulher, moradores que forão nesta villa. E completo este
termo principia outro logo abaixo que dis assim:
No mesmo dia, mez e era ut supra, receby etcª a Estevão Manuel, filho de Manuel
Pereira, ja defunto, e de Brites Pires, com Maria Malhada, filha de Andre Malho e de
Brites Gomes, ja defuntos, todos moradores em Villa Facaya.
A fl. 107v. Baptizou-se Brites, filha de Estevão Manuel, de Maria Malha, moradores nesta villa em 1615.
A fl. 216v. Em 1618. Baptizou-se Maria, filha dos ditos.
Livro dos cazados e obitos de 1619 ate 1651.
A fl. 55v. Em 1622 faleceo Estevão Manuel morador nesta villa.
Livro dos cazados e obitos de 1603 ate 1618.
A fl. 100. Em 1608 falecei Estevão Pires. Jaz sepultado no adro da freguesia. //
[Fl. 4v]
A fl. 96. Em 1605 faleceo Brites Gomes, mulher de Andre Malho, de Villa Facaya.
Jaz na Vitoria.
A fl. 106v. Em 1610 faleceu Andre Malho, de Villa Facaya.
A fl. 117v. Em 1615 faleceo hum Diogo Gil. E faleceu na Agoa. Jaz emterrado no
adro da freguesia.
208 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. história .
Martim Gonçalves de Macedo:
um herói ignorado da Batalha Real
Em túmulo raso, à entrada da Capela do Fundador, no Mosteiro de Santa
Maria da Vitória, em lousa em que se notam, na parte superior, vestígios de
execração lapidar, mas com legenda, inscrita mais abaixo, em caracteres tardios e neo-góticos, o visitante é informado de se tratar da sepultura de Martim
Gonçalves de Macedo ou de Maçada.
A tradição historiográfica batalhense explica a razão desta sepultura em
lugar tão discreto e simultaneamente tão simbólico no magnífico panteão gótico da segunda dinastia portuguesa. Trata-se de um escudeiro que, nos campos de S. Jorge, no desenrolar da cruenta Batalha Real, no entardecer do dia
14 de Agosto de 1385, salvou a vida ao rei D. João I de Portugal.
Esta tradição tem fundamento histórico, como veremos, mas não a encontramos documentada nos grandes textos e autores antigos mais conceituados. Situações há, contudo, em que o Mosteiro da Batalha, nos seus diversos
testemunhos arqueológicos, artísticos e heráldico-epigráficos, recorda uma
história que as grandes crónicas, contra o que seria de esperar, eventualmente, omitem ou desconhecem. O inverso, naturalmente, também se verifica,
podendo defender-se que a memória da famosa Batalha Real, que está no
fundamento da edificação deste impressionante templo e panteão do Quattrocento europeu, se lavrou, ao longo do tempo, tanto pela palavra escrita em
pergaminho ou em papel, quanto pela palavra lapidada em pedra.
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 209
Reflexões
Por Saul António Gomes
(Universidade de Coimbra CHSC - UC)
. história .
Lápide tumular de Martim Gonçalves de Macedo
(Foto cedida pelo Senhor Dr. Pedro Redol, a quem muito agradecemos)
210 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. história .
“El-Rey, quamdo vyo a avanguarda rota e o Conde em tamanhada pressa,
com gramde cuydado e todos com elle abalou rijamente com sua bamdeira, dizemdo altas vozes com gram esforço: Auamte, senhores, auamte!
Sam Jorge, Sam Jorge! Portugall, Purtugall, ca eu som el-Rey! E tamto
que chegou hu era aquell duro e aspero trabalho, leixadas a(s) lanças de
que se pouco seruiram por aazo da mesura da gemte, começou de ferir
de facha assy desem-uolto e com tal uomtade como se fosse huum simprez caualleiro desejosso de guanhar fama. E ueo a ell per aqueçimento
Aluaro Gonçaluez de Sandouall, bem mançebo e de boom corpo, ardido
caualeiro, casado daquell anno. E como el-Rey alçou a facha, deçemdo
pera lhe dar, ell reçebeo o golpe, e trauou per ella, e tirou tam rijo que lha
leuou das maãos e feze-o ajeolhar dambollos geolhos; e foy logo leuantado. E quando Alvaro Gonçalvez le-uantou a facha pera lhe dar com ella,
el-Rey esperou o golpe, e tornou-lha a tomar per aquella guysa; e quando
lhe qujsera outra vez dar, jazia ja morto pellos que eram presentes que o
majs a pressa fazer nom poderom, porque cada huum tijnha que veer em
sy.” (Crónica de D. João I, Capº 42).
Atentemos bem no que escreve Fernão Lopes. D. João I, lutando com
facha contra Álvaro Gonçalves de Sandoval, perde-a e, indefeso, cai por terra
(“feze-o ajoelhar dambollos geolhos”). Esperar-se-ia o pior, o fim. Mas o
cronista evita pormenores e regista, apenas, o comentário: “e foy logo leuantado”. Não nomeia, pois, o ou os interventores neste momento vital de toda
a história deste famoso prélio luso-castelhano. D. João I recupera a sua facha
e volta a perdê-la num segundo e imediato choque com Álvaro de Sandoval,
combatente que revelava superioridade física. Valeu a D. João I que “os que
eram presentes” mataram o castelhano.
| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 211
Reflexões
Fernão Lopes ignora em absoluto o nome de Martim Gonçalves de Macedo, posto que aluda à luta, no zénite da batalha, entre o Mestre de Avis
e o cavaleiro castelhano Álvaro Gonçalves de Sandoval, com vantagem
para este, que conseguiu dobrar, joelhos postos em terra, o Soberano dos
Portugueses. Na iminência de Álvaro de Sandoval desferir o golpe mortal,
contudo, seguindo o celebrado cronista, o Rei da Boa Memória terá conseguido inverter a situação. Não explica cabalmente, no entanto e na verdade,
como sucedeu este verdadeiro milagre que salvou a vida ao jovem monarca.
Eis o passo tal qual Fernão Lopes o refere na sua crónica:
. história .
O não identificado autor da Crónica do Condestável, absorvido em projectar D. Nuno Álvares Pereira como estratega e herói fundamental da Batalha Real, omite este acontecimento, tudo resumindo em breves palavras:
“E o conde estabre indo ante a sua bandeyra, forom em elle postas muytas
lanças e em breve forom todas as lanças, de huã avenguarda e da outra,
quebrantadas e vallado dellas feyto, e entom vierom as fachas e logo el
rey, com a rreguarda, com grande aguça se ajuntou aa venguarda, feryndo de facha tantos e taes golpes que eram asperos de atender aaquelles
que os soffriam, como vallente rey ajudando seus naturaes, e sua real
coroa defendendo.” (Crónica do Condestável, Capº 51).
O silêncio em torno do nome de Martim Gonçalves de Macedo não é,
surpreendentemente, um exclusivo de Fernão Lopes ou do anónimo autor da
Crónica do Condestável. Luís Vaz de Camões, n’Os Lusíadas (Canto IV, 2845), não se lhe refere, o mesmo sucedendo com Francisco Rodrigues Lobo,
o afamado poeta leirenense, que conhecia bem o Mosteiro de Santa Maria da
Vitória e a sua Capela do Fundador, o qual, no seu poema épico O Condestabre de Portugal D. Nuno Alvares Pereyra, contando largamente a Batalha
Real, não descobre senão o episódio evocado na tradição lopesiana:
“Mas o Rey Portugues que nelle atenta,
Em quem só tinha a Patria sustentada,
Ante os seus animosos se apresenta,
Com huma facha na mão dura, e pesada.
E qual o Sol na furia da tormenta,
Alegra a gente nautica infiada,
Que sorvesse no abismo vio mil vezes,
Tal o Rey se mostrou aos Portuguezes.
A elles Lusitanos esforçados,
Que eu sou rey vosso, e vosso companheyro,
A elles (vay dizendo em grande brados)
Vamos desenganar este Estrangeyro.
Tras elle os Portugueses animados,
Seguindo o seu farol tão verdadeyro,
As forças renovando, os braços movem,
Contra as gentes sem conto que alli chovem.”
(O Condestabre, Canto XIV).
212 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
Frei Luís de Sousa, o celebrado cronista dominicano, escrevendo, sobre o
Mosteiro da Batalha, por 1621, páginas de ímpar beleza na sua História de S.
Domingos, nas quais colhemos pormenores invulgares e da maior relevância
informativa do passado deste instituto monástico, como faz a propósito e por
exemplo, da Capela do Fundador ou das Capelas Imperfeitas, nada aponta
sobre os túmulos rasos que se encontram à entrada da igreja conventual, posto que atente nos demais sepulcros que nas capelas da cabeceira da igreja, na
sala capitular e no claustro se encontravam.
Também o anónimo autor de O Couseiro, nas bem conhecidas memórias
históricas da Diocese de Leiria, redigidas em meados de Seiscentos, mais
precisamente por finais da década de 1650, nos capítulos 68 a 74, se calou em
relação ao assunto que nos ocupa.
Dois séculos mais tarde, em 1827, D. Fr. Francisco de S. Luís, autor da
conhecida “Memoria historica sobre as obras do real Mosteiro de Sancta
Maria da Victoria, chamado vulgarmente da Batalha”, acrescenta informação inédita e objectiva sobre o histórico monumento. Disserta com interesse
sobre os túmulos rasos de Mateus Fernandes e de Diogo Gonçalves de Travassos, localizados, como escrevemos, à entrada poente da igreja. Mas nada
deixa escrito sobre o túmulo de Martim Gonçalves de Macedo.
Perante o silêncio destes respeitáveis cronistas e autores, como se poderá
atentar na lápide que identifica Martim Gonçalves de Macedo sem alguma
dúvida e suspeição crítica? Tratar-se-á, porventura, de alguma falsificação
histórica incrustada no monumento gótico em fase tardia?
É nas páginas de alguns antigos nobiliários portugueses, mormente na
Pedatura Lusitana, de Cristóvão Alão de Moraes, obra do Século XVII, e no
Nobiliário de Famílias de Portugal, do mais tardio Felgueiras Gayo, entre
outros tratados genealógicos, que encontramos informação, conquanto breve,
decisiva sobre este assunto.
Alão de Moraes, tratando da linhagem dos Macedos, indica terem por
cognome antigo “Maçadas”, ficando o seu solar em Vinhais, na terra transmontana. Aludindo a Martim Gonçalves de Macedo, deixa escrito:
“Martim Gonçalves de Macedo, 1º filho deste [Gonçalo Eanes de Macedo], se acha nos registos de el-Rei D. Fernando, com 1500 libras, que lhe
deu cada mês de quantia. E na batalha de Aljubarrota, conta a Crónica
de el-Rei D. João, o 1º, que, chegando este Rei a braços com Álvaro
Gonçalves Sandoval, homem de grandes forças, caíra el-Rei; e Martim
Gonçalves o levantou do chão e matou o castelhano, pelo que seus des| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 213
Reflexões
. história .
. história .
cendentes acrescentaram em suas armas, por timbre, um braço com a
maça; com que matou o castelhano, e no braço, metida uma coroa Real,
porque no valor daquele braço consistiu a Coroa daquele Rei: o qual lhe
fez muitas mercês, dando-lhe as aldeias de Melgaço, Pindelo e Outeiro;
foi vassalo de el-Rei, que era dignidade.” (Pedatura Lusitana, Vol. 1, p.
17, Título sobre Macedos, § 3º).
Felgueiras Gaio, por seu turno, reproduz informação semelhante mas com
originalidade:
“Martim Gonçalvez de Macedo, filho de Gonçallo Annes de Macedo N
7, foi Fidalgo muito honrado e valerozo que em a batalha de Aljubarrota
cahindo ElRey D. João 1º lhe acodio e matou a Alvaro Gonçalvez Sandoval Cavaleiro Castelhano que lhe tinha pegado na massa pello que lhe
acrescentou as cinco estrellas de cinco pontas de ouro cada estrella em
Campo azul que erão as suas Armas por Timbre hum braço vestido de
Azul com hua massa na mão; alguns autores da Armaria lhe acrecentão
hua Coroa Real metida no mesmo braço; o dito Rey D. João I lhe deo
as vilas de Melgaço, Pindello, e Outeiro em recompença. Cazou com D.
Brites de Souza que dizem ser Irmãa de Gonçallo Annes de Souza Senhor
de Mortagoa, filha de Martim Affonso de Souza, no titulo de Souzas § 66
N 16. (Hua escriptura que fez a mulher deste Martim Gonçalvez sendo ja
viuva no lugar de Sanseriz a João ….. e sua mulher Maria Affonso, em
2 de Fevereiro de 1433, foi tabeliam João Annes, se acha que foi cazado
com Catarina Annes chamada a…).” (Nobiliário de Famílias de Portugal,
Vol. VII, p. 10, Macedos, § 1º, Nº 8).
Também a narrativa da autoria de D. António Caetano de Sousa, publicada no Agiológio Lusitano (Tomo IV, 1744), derivará de fontes genealógicas nobiliárquicas, posto que, na pena do ilustre oratoriano, o episódio da
salvação da vida do Rei se entrelace com tradição hagiográfico-miraculista
cisterciense:
“Entrou na batalha tão destemido e valoroso [D. João I] que chegando ao
mayor perigo, largou a lança e começou a cortar com a facha de armas
como se fora um cavaleiro particular que pelo seu braço pertendia ganhar
honra no mayor perigo. Pertendeu oporse-lhe Alvaro Gonçalves Sandoval,
cavaleiro valente e robusto, e querendo ElRey ferir o Castelhano, recebeu
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. história .
A tradição do livramento da vida de D. João I, na Batalha Real, pela intervenção de Martim Gonçalves de Macedo, como verificámos, não se recolhe
em Fernão Lopes — pelo menos nas lições que nos chegaram — mas antes
a partir de outras fontes que devem entroncar na própria memória familiar e
genealógica dos Macedos, que não deixaram de transmitir tão nobre e heróico
feito: dever-se a um dos antepassados a salvação da vida do próprio rei de
Portugal.
A consulta dos nobiliários, aliás, permite-nos tomar conhecimento de alguns outros envolvimentos nobiliárquicos com esta Batalha e com a fundação da segunda dinastia portuguesa que os historiógrafos não reproduzem.
Importará, aqui e agora, no entanto, sublinhar a coincidência entre o túmulo
batalhense, na sua inegável autenticidade histórica e arqueológica, e os registos nobiliárquicos acerca de Martim Gonçalves de Macedo.
Das chancelarias régias de D. João I e de D. Duarte, existentes na Torre
do Tombo, pudemos apurar os seguintes elementos cronológicos acerca de
Martim Gonçalves de Macedo:
1) 1385 MAIO, 27, Guimarães — O Mestre de Avis doa a Martim Gonçalves de Macedo, por muito serviço que dele recebia e entendia receber, trezentas libras anuais pelas dízimas e portagens de Bragança.
(Chancelarias Portuguesas. D. Duarte, Volume I, Tomo 1, doc. 55).
1 D. António Caetano de Sousa, Agiológio Lusitano, Tomo IV, Lisboa, 1744, pp. 530-531.
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Reflexões
o golpe no escudo; e pegando com grande ousadia e destreza na facha de
armas delRey, lha arrebatou da mão com tal violência que o fez ajoelhar
em terra.
Neste tão evidente perigo, a não ser tão grande o coração delRey ficaria
opprimido da ousadia deste valente mancebo; mas com animo pio e com
valor sem igual, levantando o pensamento ao Ceo, invocou os merecimentos de S. Bernardo, de quem se jactava filho e venerava como Patrono. Quando, (caso maravilhoso!), vio sobre a tenda del Rey de Castella,
em pouca distancia, hum Bago Abbacial arvorado, e pendente do Bago
hum Paludamento Militar, ou cota de armas, como tingida em sangue,
animoso e esforçado se levantou logo do chão, ajudado de Martim Gonçalves de Macedo, sempre afortunado nas occasiões de o servir, e quando
quis castigar o attrevimento, tendo já cobrado a facha, e descarregando o
golpe sobre o Sandoval, foy a tempo, que pelos seus era morto.”1
. história .
2) 1385 AGOSTO, 27, Santarém — D. João I doa a este “nosso vassalo”
as aldeias de Algoselho e Pindelo, no termo de Miranda, “por mujto
serujço que nos delle recebemos e ao diante entendemos a rreceber”
e todos os demais bens de raiz que Martim Afonso de Seixas havia em
Miranda. Este Martim de Seixas perdera o património em causa por
ter morrido, certamente na Batalha Real, ao serviço de D. João I de
Castela. (Chancelarias Portuguesas. D. João I, Vol. I, Tomo 2, doc.
609).
3) 1385 DEZEMBRO, 19, Vila Real — D. João I doa a Martim Gonçalves
de Macedo, seu escudeiro, a aldeia do Outeiro de Miranda. (Chancelarias Portuguesas. D. João I, Vol. I, Tomo 3, doc. 1163).
4) 1387 MARÇO, 24, Bave — D. João I doa a povoação do Outeiro, junto
a Miranda, a Fernando Afonso, alcaide do castelo desse lugar, “por
muito serviço”, “nom embargando que nos ouuesemos fecta mercee
do dicto lugar e rendas del a martim gonçaluez de macedo”. (Chancelarias Portuguesas. D. João I, Vol. I, Tomo 3, doc. 1393).
5) 1392 FEVEREIRO, 20, Viseu — D. João I faz doação, enquanto fosse
sua mercê, a Martim Gonçalves de Macedo, seu escudeiro, das dízimas e portagens de Bragança e da aldeia do Outeiro de Miranda.
(Chancelarias Portuguesas. D. João I, Vol. II, Tomo I, doc. II-590).
6) 1400 DEZEMBRO, 27, Guimarães — D. João I doa, enquanto sua
mercê fosse, a Martim Gonçalves de Macedo, seu vassalo e alcaide
do castelo do Outeiro, junto a Miranda, todas as dízimas dos panos
que vinham de Castela ao dito lugar do Outeiro, bem como todos os
outros direitos régios nesse mesmo lugar. (Chancelarias Portuguesas.
D. João I, Vol. II, Tomo 3, doc. II-1356).
7) 1425 JUNHO, 16, Lisboa — D. João I e D. Duarte confirmam a Diogo
Gonçalves de Macedo, filho de Martim Gonçalves de Macedo, 300
libras, postas na cidade de Évora, como “filho lidimo herdeiro que era
do dicto martim gonçaluez seu padre”. (Chancelarias Portuguesas.
D. Duarte, Vol. I, Tomo 1, doc. 55).
8) 1425 JULHO, 27, Lisboa — D. João I e o infante D. Duarte concedem
a Diogo Gonçalves de Macedo, filho de Martim Gonçalves de Macedo, 30 libras na Mouraria de Évora, em, citamos: “satisfação da Dizima e Portagem de Bragança que lhe couberão na Herança de seu pay
como consta de hua doação feita em Lixboa aos 27 de Julho de 1425
[AD] em que lhe chama seu vassallo e Camareiro; ElRey D. Duarte
lhe comfirmou os Bens da Coroa que se tinhão dado a seu pay, e erão
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. história .
Os dados expostos permitem verificar que Martim Gonçalves de Macedo,
escudeiro, ainda por 1392, e vassalo da casa de D. João I, já em 1400, beneficiou de dações e benefícios régios sobretudo nos anos mais próximos à
Batalha Real, tendo efectivas ligações a Trás-os-Montes. Martim Gonçalves
de Macedo terá falecido cerca de 1425, uma vez que, neste ano, a Coroa confirma a seu filho, Diogo Gonçalves, a sucessão nos direitos usufruídos por seu
pai. Em 1433, vivia ainda a sua viúva Catarina Eanes de Sousa.
A tumulação de Martim Gonçalves de Macedo junto à entrada da Capela
do Fundador, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, terá sucedido pouco
depois. Como se sabe, por 1426, a Capela ainda se encontrava em obras de
edificação. Seria inaugurada, em 14 de Agosto de 1434, na presença da família real, ocasião em que para ela foram trasladados solenemente, transferidos
dos sarcófagos situados junto à capela-mor da igreja dominicana, os corpos
de D. João I e de D. Filipa de Lencastre.
Por essa época ou pouco depois, cremos, ter-se-á prestado a justa homenagem a Martim Gonçalves de Macedo, sem qualquer contrariedade, aliás,
para com a decisão do Rei da Boa Memória que proibia o sepultamento de
quem quer que fosse na capela-mor da igreja, reservando aos seus descendentes a Capela do Fundador.
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Reflexões
as aldeas de Sameriz, Melgaço, Pindello e outras em Traz os Montes a
21 de Mayo de 1438. Cazou com D. Mor Fernandez de Souza filha de
Fernando Affonso de Souza vassallo do dito Rey morador em Evora
como consta da mesma comfirmação (…).” (Felgueiras Gaio, Nobiliário das Famílias de Portugal, Vol. VII, p. 15, Macedos, § 5).
9) 1433 JANEIRO, 5, Almeirim — O rei D. Duarte confirma a Diogo
Gonçalves de Macedo, “criado do muy uirtuoso Rey meu senhor e
padre cuja alma Deus aia”, as doações que haviam sido feitas a seu
pai, Martim Gonçalves de Macedo, de 300 libras nas dízimas e portagens de Bragança (1385, Maio, 27) e de 200 libras na cidade de Évora
(1425, Junho, 16). (Chancelarias Portuguesas, D. Duarte, Volume I,
Tomo 1, doc. 55).
10) 1433 FEVEREIRO, 2 — “Hua escriptura que fez a mulher deste
Martim Gonçalvez sendo ja viuva no lugar de Sanseriz a João …… e
sua mulher Maria Affonso, em 2 de Fevereiro de 1433, foi tabeliam
João Annes, se acha que foi cazado com Catarina Annes chamada
a…).” (Felgueiras Gaio, Nobiliário de Famílias de Portugal, Vol. VII,
p. 10, Macedos, § 1º, Nº 8).
. história .
Aí estaria a campa rasa do fiel escudeiro e vassalo de D. João I quando,
em 25 Agosto de 1569, o rei D. Sebastião visitou o Mosteiro e ordenou que
fossem picadas, com algumas poucas excepções, a generalidade das lápides e
armaria dispersa pelos túmulos preservados dentro do templo sagrado. A lápide de Martim Gonçalves de Macedo, que apresenta, como vimos, vestígios
de caracteres epigráficos góticos primitivos, embora muito delidos e picados,
deve ter sido, acreditamos, “apagada” por essa ocasião.
A narrativa da acção heróica deste escudeiro Martim Gonçalves de Macedo manteve-se viva no seio da comunidade religiosa da Batalha. Estranha,
todavia, que nem Fr. Luís de Sousa, nem Fr. Francisco de S. Luís, a tenham
registado. Como não mencionaram, assinalemos, outros túmulos rasos ou altos, excepção feita ao de Mestre Mateus Fernandes I, de nobres sepultados
dentro e fora da igreja monástica, nomeadamente das famílias Sousa, CunhaAlbuquerque ou Coutinhos.
Tal não sucedeu já quando, por 1828, Julia Pardoe visitou o monumento
algumas vezes, registando a “história” do corajoso combatente nas suas memórias:
“The chapel”, escreve, referindo-se à Capela do Fundador, “is rich in ancient monuments — kings and princes, queens and cardinals, all have
slept the long sleep within its holy precincts. The pantheon of John I contains his own sarcophagus, and those of six other kings; and just without
the railing wich screens off the resting-place of royalty, is a large flat
stone covering the remains of a private soldier, who once preserved the
life of John in battle: and chose as his recompense a grave as near to that
of his royal master as could be permitted — his wish has beens complied
with to the letter, and the iron gate of the pantheon touches on the edge of
his humble burialslab. — Well, alike by his bravery and his devotion, did
he earn a grave even in the chapel of Batalha.” (Traits and Traditions of
Portugal, Vol. I, Londres, 1833, pp. 258-259).
Este passo de Julia Pardoe é, como referimos, bastante elucidativo acerca
da memória histórica vivenciada in loco, pelos frades residentes no Mosteiro.
O episódio e a explicação para a localização do túmulo de Martim Gonçalves de Macedo, junto à entrada do Panteão de D. João I e seus sucessores,
não desaparecerá e, até, mostrar-se-á mais iluminado e citado na historiografia contemporânea do que, como vimos, da cronística antiga. O Mosteiro
da Batalha preserva, ele próprio, uma história nem sempre transmitida pela
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. história .
2 “(…) E elle [D. João I] reçebeo o gollpe e travou por ella a tyrou tão rijo que lha levou das
mãos e fezeo ajoelhar dambos joelhos e foy lloguo levantado muito asynha per ho nobre martym
gonçallvez de maçeedo homem fidalgo que bem servia ell Rey em estes trabalhos e quoando
allvaro gonçallvez [Sandoval] alçou a facha para lhe dar, ell Rey esperou o golpe e tornoulha
a tomar per aquella gysa e quoando lhe quisera outra vez dar jazia jaa morto pelos que eram
presentes que o mays apresa fazer não poderão porque cada hum tynha asaz que ver em sy.”
(Biblioteca Nacional de Portugal – Manuscrito 11 038; publicado por David Mendes e Pedro
Barbosa, De Macedo a Macedo de Cavaleiros, via Aljubarrota, a figura de Martim Gonçalves
de Macedo, Macedo de Cavaleiros, Câmara Municipal, 2006, pp. 37 e 38. Assunto retomado
por David Mendes, no seu estudo, “Apostilas sobre a presença de D. João I, Nuno Álvares
Pereira e Martim Gonçalves de Macedo em Castelãos (Macedo de Cavaleiros)”, in Cadernos
Terras Quentes, Nº 6 (Maio 2009), Macedo de Cavaleiros, pp. 7-18.
3 “Martim Gonçalves de Macedo salvou D. João I na batalha de Aljubarrota?”, in Armas e
Troféus VI série, Tomo IV, nºs 1-3, Lisboa, 1992.
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Reflexões
pena dos historiógrafos, mas que nem por isso deixa de ser mais verídica ou
reveladora dos grandes ou pequenos acontecimentos, ainda assim vitais, dos
destinos históricos de Portugal.
Têm, face à nossa análise, pleno cabimento as razões apresentadas na
obra - muito documentada e informada, nomeadamente pela análise a que
procede do Manuscrito nº 11 038, da Biblioteca Nacional de Portugal, onde
se integra, em cópia da Crónica de João I, de Fernão Lopes, o episódio da
intervenção salvífica de Martim Gonçalves de Macedo -, de Carlos Santos
Mendes e de Pedro Gomes Barbosa2 em favor da verosimilhança histórica do
episódio. Razões essas que recuperam de modo insofismável o lugar histórico do preclaro escudeiro português que, pela sua bravura na tarde de 14 de
Agosto de 1385, em campos de Porto de Mós, salvando a vida de D. João I,
garantiu os destinos de Portugal como reino independente. As dúvidas relativas à autenticidade do episódio, expostas por Augusto Ferreira do Amaral
serão, assim, de atenuar3.
Por tudo quanto aqui expusemos, mesmo verificando que as crónicas, por
mais consagradas que sejam, não elucidam tudo e muito omitem ou passam
em silêncio, torna-se lícito aceitar não só a autenticidade histórica do escudeiro e vassalo régio Martim Gonçalves de Macedo, como o seu acto heróico na
Batalha Real em favor da vida do seu senhor e rei, o qual lhe valeu a honrosa
e simbólica sepultura no templo que é o mais alto guardião da memória e da
glória daqueles que triunfaram, nos campos vizinhos de S. Jorge, na tarde
distante do dia 14 de Agosto de 1385.
. história .
Armas heráldicas plenas dos Macedo,
com o braço e a facha por timbre
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. história .
A Quinta do Fidalgo (Batalha):
anotações para a sua história
A 14 de Abril de 1744, em Lisboa, o Desembargador Manuel da Costa
Mimoso, em nome de Sua Majestade, o rei D. João V, lavrava sentença em favor do Mosteiro de S. Domingos da Batalha, reconhecendo-o como legítimo
proprietário de um pedaço de terra, chamada “Botaca”, a qual se localizava
junto de uma Quinta dita do Fidalgo, vizinha ao dito instituto. Levantaram-se
embargos à sentença, mas El-Rei confirmou-a e fez selá-la definitivamente
a 10 de Novembro desse mesmo ano de 1744. A causa arrastava-se havia já
mais de dois anos, chegando mesmo a ser proferida sentença intermédia desfavorável aos frades pregadores, em 18 de Abril de 1743, mas da qual estes
haviam reclamado, dando-se-lhes razão na contestação.
O processo forense em que hoje podemos recolher a informação histórica
relativa a este caso alonga-se por elevado número de fólios de papel1. Da
sua leitura podemos anotar alguns episódios essenciais que interessam para
se conhecer mais amiudadamente a história desta dita Quinta do Fidalgo, às
portas da vila da Batalha, constituindo o edifício senhorial que a encabeça
um raro e precioso testemunho da arquitectura solarenga barroca estremenha
setecentista. Por ela passa a história da própria vila da Batalha.
Quinta do Fidalgo lhe chamavam, de facto, posto que, entre as alegações
patentes no processo que nos serve de guia, da parte dos padres dominicanos,
não se reconhecesse fidalguia alguma aos senhores da Quinta, em especial,
a Fernão Teles de Meneses: “se não mostra”, diziam, “que o mesmo [Fernão
Teles de Meneses] seja fidalgo de sollar nem cavalleiro fidalgo” (Processo nº
6, fl. 15). Quem seja este Fernão Teles de Meneses, filho de António Teles de
Meneses, não conseguimos apurar pelos genealogistas consultados, sobretudo Felgueyras Gaio. Não vêm mencionados, efectivamente, no rol dos Teles
de Meneses elencados nesta e noutras obras genealógicas. É possível, mas
apenas como hipótese, que estes Meneses, na Batalha, possam estar relacionados, pretensamente, aliás, com descendentes da Casa de Vila Real, como
sucede, aliás, com um outro Meneses, tumulado na vizinha Capela da Amo| 48 • LEIRIA-FÁTIMA | 221
Reflexões
Saul António Gomes
. história .
reira (Cortes, Leiria). Destes Teles de Meneses, ao que tudo indica, deveria
provir a razão de se chamar a esta propriedade, Quinta do Fidalgo.
Mais informados estamos quanto aos proprietários que, pela época dos
acontecimentos de que aqui damos nota, substituíram os mencionados Teles
de Meneses. Eram eles da família Barba Alardo, alcaides-mores do castelo
de Leiria.
Efectivamente, no dia 16 de Setembro de 1739, na Batalha, no escritório
do notário Rodrigo da Cunha de Sampaio, lavrou-se a escritura de compra,
por Manuel Correia de Mesquita Barba, casado com D. Teodora Marques de
Almeida, de uma quinta às portas da Batalha, pelo elevado preço de 12 mil
cruzados. O vendedor era Nicolau Cardoso Ramalho, almoxarife das jugadas
de Leiria, cidade onde residia, o qual arrematara a dita quinta na praça de
Santarém, onde fora apregoada na sequência da morte do seu anterior proprietário, o já referido Fernão Teles de Menezes.
Não conhecemos as circunstâncias que levaram à praça pública de Santarém a arrematação desta Quinta e, depois, à sua passagem para Manuel
Correia de Mesquita Barba. Sabe-se, todavia, que Nicolau Cardozo Ramalho nunca chegou a tomar posse formal da mesma. Mas os referidos novos
proprietários fizeram-no e pretenderam manter como parte integrante dessa
quinta uma fazenda ou terra que lhe estava pegada, designada vulgarmente
por terra do “Botaca”. Esta terra dita “Botaca” ou “Butaca”, como está grafado no processo, era propriedade cerrada ou demarcada sobre si, sendo constituída essencialmente por parcelas para cultivo de cereal e de vinha.
O vigário da Batalha, em 1758, Pe. Paulino da Silva e Carvalho, alude a
uma capela de S. Sebastião erigida na Quinta de Manuel Correia, na Batalha,
“mistica com as cazas”, a qual fora instituída por Tomé Pereira de Mesquita,
pai daquele. Este Manuel Correia é precisamente o mesmo que vimos, em
1739, a adquirir a Quinta do Fidalgo. Sabemos, ainda, que, no ano seguinte,
Manuel Correia de Mesquita Barba obteve licença episcopal para levantar,
nesta sua Quinta, uma capela dedicada a S. Sebastião, a qual ainda hoje ali se
encontra. A mulher de Manuel Correia de Mesquita Barba era, de seu nome
completo, D. Teodora Bernardina Marques de Almeida Pacheco e Arnizaut,
filha do Capitão André Marques e de D. Isabel de Almeida, colonos que foram no Brasil, onde terão falecido cerca de 1765. Tinha um irmão chamado
Bernardino Marques de Almeida e Arnizaut, residente na Baía. Eram filhas
do casal, e senhores da Quinta do Fidalgo, D. Ana Isabel Antonina Barba de
Vera Pimentel, D. Isabel Joana Rita Barba de Vera e Arnizaut e D. Teresa de
Jesus Barba Pacheco e Arnizaut2.
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Pegada à Quinta do Fidalgo estava, como vimos, uma courela designada
por “Botaca”. À apropriação desta terra ou cerrada do “Boutaca”, pelos Teles
de Meneses e, depois, pelos Barba [Alardo], se opuseram os padres dominicanos que, em Julho de 1742, mandaram tomar posse para o Mosteiro deste
mesmo pedaço de terra. Perante esta situação, Manuel Correira de Mesquita
Barba abriu um processo contra os frades. Da leitura desse processo ficamos
a saber que se tratava da Quinta, justamente, citamos, “chamada do Fidalgo
ao tempo que elles Reos estavão de poce do dito pedaço de terra emtrando na
duvida de se o dito pedaço de terra lhe pertensia como se lhe fez evidente que
o dito pedaço de chão era dos Reverendos Reos”.
As dúvidas à posse, por parte do Convento, do chão em causa, derivavam,
em boa medida, do facto de os antigos senhores da Quinta do Fidalgo, Fernão Teles de Meneses e seu pai, António Teles de Meneses, sempre se terem
afirmado proprietários plenos de toda a Quinta, na qual incluíam o chão em
disputa. Por seu lado, os procuradores do Mosteiro alegavam, em sua defesa,
que os novos e antigos senhores desta Quinta nunca haviam sido proprietários deste pedaço de terra.
Este chão, dito do “Botaca”, ficava no “no citio do Freixial”, partindo
“com estrada e poderá ter em quadra des varas com pouca diferença”. Corresponderá, naturalmente, ao sítio ainda actualmente dito Boutaca, no qual
foi edificada, em Oitocentos, a conhecida Ponte do Boutaca, sendo vizinho,
pois, à estrema meridional da Quinta dos ditos Teles de Meneses, depois dos
Correia Barba [Alardo] e, mais recentemente, da Família Sales.
Nele se encontrava uma açudada de água e a respectiva vala ou caneiro:
“o dito pedaço de terra por onde pação agoa mais de dez palmos pouco mais
ou menos assim sem estar mistico com a valla ou por consequencia sem prejudicar a mesma e provara que a entrada e serventia para o dito pedaço de
terra não prejudica o autor [Manuel Correia Mesquita Barba] em cousa alguma por esta partir do Norte com estrada que da Batalha vay pera Sam Jorge
e por esta parte se servem os Reverendos Reos pera semearem e cultivarem
a dita terra sem fazerem prejuizo aos autores” (Sentenças, nº 6, fls. 10-10vº).
Fora, este pedaço de chão, sucessivamente aforado pelo Convento a Gaspar Luís e sua mulher, moradores na Venda dita Botaca, em três vidas, pelo
foro de 100 réis e uma galinha. Depois destes, foi trazido ao Padre João Bernardes, dos Adrões, e, ainda, por Catarina João, viúva, igualmente moradora
nos Adrões.
Foi no tempo desta inquilina, aliás e segundo as alegações dos padres dominicanos, que Fernão Teles de Menezes usurpou o chão em causa. Meteu-o,
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Reflexões
. história .
. história .
como não devia, dentro da cerrada da sua Quinta. Mas logo que morreu — o
que terá sucedido por 1737 ou 1738 aproximadamente — o padre prior com
dois outros religiosos e alguns oficiais de Justiça foram tomar posse do dito
pedaço de chão para o Convento. Daí a cerca de um ano, pouco mais ou
menos, o citado Nicolau Cardoso Ramalho comprou a Quinta, vendendo-a,
depois, como vimos, aos Barba Alardo.
Esta tomada de posse, por parte dos Dominicanos, contudo, assumia-se
como um evidente confronto para com os herdeiros de Fernão Teles de Meneses. Sabe-se, na verdade, que o testamenteiro deste, logo após a sua morte,
se dirigiu, acompanhado por 8 ou 10 homens com armas de fogo, “como he
costume nelles”, ao referido pedaço de chão, para afirmar a sua posse e integração na Quinta do Fidalgo.
Em boa parte, a razão da disputa por este pedaço de chão residia no acesso
à vala de água que por ele passava e que os senhores da Quinta cobiçavam.
O processo menciona, aliás, várias tentativas dos senhores da Quinta do Fidalgo para terem acesso garantido a esta água. Em tempos de Fernão Teles
de Meneses tentou unir-se à Quinta, reiteremo-lo, o dito chão: “chegando [os
padres dominicanos] a impedir-se-lhe a obra da valla que na dita terra quis
fazer ao que elle se acomodou” (fls. 23). Os sucessores de Fernão Teles de
Meneses, depois da morte deste, por seu turno, chegaram a actuar no sentido
de, citamos, “dali em diente arrombarem agoa do asude ahonde ora está o dito
pedaço de terra de que tomarão poce”.
Em 1744, como se referiu, os frades dominicanos viram reconhecidos os
seus direitos de proprietários sobre estas terras. Os novos senhores da Quinta
do Fidalgo, pois assim continuará a ser conhecida até à actualidade, pertenciam à linhagem dos Barba Alardo. Data seguramente do tempo em que esta
família habitou este solar a fisionomia arquitectónica e artística que, ainda
hoje, apresenta, constituindo um dos mais expressivos exemplares, como referimos, da arte barroca setecentista da região alto-estremenha.
Notas de rodapé
1 Processo que se pode ler em dois cadernos de papel guardados no Arquivo Distrital de Leiria
— Convento da Batalha, VI-27-4-5, Sentenças, nºs 5 e 6.
2 S. A. Gomes, “Capelas e ermidas na Paróquia da Batalha em Setecentos”, in Leiria-Fátima.
Órgão Oficial da Diocese, Ano XVI, Nº 45, Janeiro-Junho 2008, pp. 153-172.
224 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. história .
Alocução proferida no dia 14 de Agosto de 2009,
na Capela de Fundador do Mosteiro da Batalha
Portugal, o Mosteiro de Santa Maria
da Vitória e o 624.º aniversário
da Batalha Real de Aljubarrota
Por Saul António Gomes
O uso da palavra, por mim, nesta ocasião tão solene em que comemoramos o seiscentésimo vigésimo quarto aniversário da Batalha Real de Aljubarrota, justifica-se pelo amável convite que me foi dirigido pelo Exmo.
Senhor Presidente da Câmara Municipal da Batalha, o qual penhoradamente
agradeço.
É convite honroso que não poderia declinar, mas para cujo cumprimento
não possuo o saber, sequer a arte e a inspiração de bem escrever que se exige
para perorar sobre o acontecimento histórico que nos reúne neste lugar. Substitua, no entanto, a árida palavra do historiador o verso elegíaco do poeta.
Este é o alvo templo da memória portuguesa, em cujo seio, no silêncio
finito que se respira nesta Capela do Fundador, no passar dos dias que são
séculos, nos confrontamos permanentemente com a questão pátria, com a
questão do sentido, ontem e hoje, da pátria portuguesa, no tempo histórico
mas também cósmico que Santo Agostinho procurou aprisionar na metáfora
dos três presentes: o presente do passado, o presente do presente e o presente
do futuro.
É sobretudo em torno desses dois presentes, o presente do passado e o
nosso presente que gostaria de incidir nesta breve alocução ou elegia que
tenho o privilégio de proferir perante vós.
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Reflexões
“Abriu em pedra o grito imenso do seu peito
Tornou arquitectura a épica ansiedade!”
João de Barros, poema “O Povo”, in Vida Vitoriosa (1919)
. história .
Reis e ínclitos infantes repousam nesta Capela cujos nomes a História não
esqueceu nunca e que todas as gerações de portugueses sempre aprenderam
a recordar e a venerar. A alguns destes príncipes de Portugal devemos monumentos literários fundadores da própria língua que é a primeira pátria em que
nascemos e somos educados. D. João I, D. Duarte, o Infante D. Pedro valorizaram prioritariamente o português como língua de criação artística e, no
seu perfil de habitantes de uma Europa que cultivava as humaniores litterae,
nunca sobrepuseram à palavra portuguesa a declinação latina.
Importa confessar, ainda, que o elogio das armas portuguesas que derrotaram a soberba castelhana naquela distante tarde de 14 de Agosto de 1385, e
que este monumento comemora como o mais importante legado patrimonial
justamente dedicado à preservação da memória desse feito e ao enaltecimento de Portugal, mereceram já a outros escritores páginas soberanas. Muitos
desses escritores, curiosamente, nada dizem acerca deste monumento e do
seu significado, mas outros houve que o fizeram, assim equilibrando o saldo
da memória de um feito histórico, entre o crédito da recordação e o débito
do esquecimento, sobre o qual D. João I, o rei da Boa Memória, e seu filho
e sucessor, o Eloquente, como também os Infantes D. Pedro — “Príncipe no
mundo raro! / Sobre tanto desamparo, / foram três seus filhos reis.”, Sá de
Miranda) — e D. Henrique, tudo fizeram quanto estava ao seu alcance para
que não fosse nunca esquecido.
Para todos nós, que aqui nos congregámos, neste que é o mais predestinado lugar do encontro dos portugueses com a sua própria História, comemorar
o dia 14 de Agosto poderá ser um acto de cidadania e de afirmação de identidade. É-o efectivamente. Mas, olhando o Portugal que ficou lá fora, aquele
que não comemora e vê maçada no espírito histórico, aquele que ignora e
que não sente já a luminária do exemplo dos antepassados, esses portugueses
a banhos que não são já os filhos de marinheiros desnudos e de lavradores
pobres que dominaram os mares nunca de antes navegados e construíram o
mapa que desconheciam (“Navegavam sem o mapa que faziam” escreveu
Sophia de Mello Breyner Andersen, Navegações, VI), olhando esse Portugal,
dizia, ficamos com boas razões para duvidar do sentido propedêutico da comemoração histórica no País contemporâneo.
Cumpre reflectir, em verdade, as razões porque este monumento, no que
comemora, parece tão esquecido e omitido na balança da actualidade portuguesa. Os profissionais da comunicação social de hoje, mormente nos grandes media televisivos, não possuem nem sensibilidade, nem o saber histórico
essencial sobre o seu País. E, no entanto, Portugal é um dos países ocidentais
226 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
com mais forte historicidade e sentido de nacionalidade ao nível de um ponto
de vista popular. Não há tempo para exemplificar, mas parece-me significativo que em todos os grandes ciclos comemorativos que Portugal levou a cabo,
após 1974, o Mosteiro da Batalha tenha ficado sempre ausente salvo parcas
e envergonhadas referência de rodapé em painéis fotográficos e pouco mais.
Pergunto-me como é que é possível que se tenha chegado a este plano de
desconhecimento e de ignorância. Aquele que é a barca memorial da identidade portuguesa, levantado para perpétua memória do feito da Batalha Real
de Aljubarrota de 14 de Agosto de 1385, encontra mais eco na alma do povo
simples e sem grandes estudos que por aqui passa, feitas as preces em Fátima,
do que entre as elites académicas e os especialistas do património nacional
que tudo decidem longe. Todo o português que o é, como escreveu Miguel
Torga, devia, pelo menos uma vez na vida, peregrinar até este templo de
brando calcário em que cintila a questão essencial do português: o seu ser e a
lógica do ser português.
A geração de portugueses que fundou este monumento teve de fazer opções definitivas em situações de extrema adversidade e de crise política profunda. Falamos de uma geração de combatentes, de mancebos na casa dos
vinte anos de idade chamados ao combate e à guerra, ao extremo sacrifício
da própria vida por um ideal de soberania e de pátria. D. João I contava então
27 anos e o seu Condestável. D. Nuno Álvares Pereira, 25 anos. Nessa faixa
etária e ainda na flor da adolescência estavam muitos outros soldados nas
suas alas popularizadas como dos Namorados e da Madressilva. Pois bem,
a esses jovens foi imperioso decidir entre viver ou morrer; entre viver num
reino livre e independente da sujeição castelhana ou num solo sujeito a essa
arbitrariedade. A questão, como referimos, era a da vida ou morte, a da “pátria ou morte”.
Em 2009 não parece haver qualquer contexto para a reposição da questão.
Dar a vida, hoje, pela Pátria é uma questão que de todo não fica bem enunciar.
E, no entanto, a época contemporânea está ainda cheia de memórias em torno
dessa decisão última de qualquer homem: viver, sujeitando-se, ou morrer nas
garras de uma luta heróica por ideais pátrios.
Em 14 de Agosto de 1385, o temor e o medo de uma morte iminente
mostrava-se nos rostos dos combatentes portugueses, do “pequeno exército”
que eram, tamanha a sua desvantagem face ao inimigo. Venceram na entrega
total a uma fé e a uma ideia: a de que a razão estava do seu lado; a de que era
neles e por eles que a lealdade portuguesa se honrava. Por isso deram tudo,
pelas suas vidas, pelas suas famílias, pelo seu rei, pelo seu Reino. É possível
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Reflexões
. história .
. história .
que um lema usado pelos revolucionários cubanos, já em nossos dias, o de
“Pátria ou morte”, seja aquele que melhor nos permite compreender o que
ecoava nos pensamentos desses leais portugueses nessa tarde distante, toda
ela vestida de fogo e sangue na terra almagre de S. Jorge, de 14 de Agosto de
1385. Pelo exemplo citado, creio, poderemos tentar compreender melhor o
que motivava os nossos antepassados, a força vital de um ânimo que deitou
por terra o estandarte inimigo.
Só uma forte consciência nacional explica a tenacidade, o tudo ou nada,
o viver ou morrer que foram lema, consciência e ânimo vital que deu força e
confiança ao pequeno exército português. Não acreditassem esses valorosos
soldados num destino pátrio, encarnado num Rei e na liberdade sagrada de
pertencer ao povo a sua escolha, e todas as estratégias militares teriam sido
pouco mais que nada. Noutros momentos históricos, outras gerações de portugueses foram chamadas a fazerem opções semelhantes. Fizeram-no, por
exemplo, na Guerra da Independência aberta em 1640, na Grande Guerra de
1914-1918 ou, já no nosso tempo, os nossos pais que combateram na Guerra
do Ultramar.
Não era Portugal, em 1385, um mito, nem as nações, cumpre considerálo, se constroem sobre mitos. Os mitos são invenções culturais, as nações
são construções geracionais. A continuidade de uma nação, naturalmente,
necessita da garantir a transmissão da sua memória. O dever primeiro de um
cidadão está na lealdade para com os seus e de todos para com a pátria que
lhe é berço.
Lealdade, eis uma palavra que lemos na divisa que se repete mil vezes
nas Capelas Imperfeitas. E nesta mesma Capela do Fundador, ecoam motes,
lemas de vida, que não nos podem deixar indiferentes: “Pour bien” (D. João
I), “J’ai bien raison” (Infante D. João), “Le bien me plet” (Infante Santo D,
Fernando), “Talent de bien fere” (Infante D. Henrique), eis quatro delas onde
o conceito de “bem” é central. Fazer bem, agir por bem, a razão do bem e o
bem como razão, o talento de fazer bem e o bem. E outras memórias ressoam
no silêncio destes muros como esse “Y me plet”, que lemos junto à efígie de
D. Filipa de Lencastre, e o misterioso “Désir”, aberto no sarcófago do Infante
D. Pedro, o autor do Livro da Virtuosa Benfeitoria.
Fazer e bem, uma vez mais, como mote de uma época onde os portugueses foram chamados a escolher e escolheram bem, o bem que lhes deu
a vitória decisiva e que culminará na divisa desse Senhor do Mundo, el-rei
D. João II, “Rei de muitos reis” (Sá de Miranda), que agia “pro lege et pro
grege”, pela Lei e por Portugal.
228 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
Pouco adianta, como vemos, que a historiografia portuguesa hodierna
reticencie a noção de pátria e que acentue que essa ideia de pátria era, em
1385, totalmente diferente da de hoje. Fica claro que não perfilho desta leitura
porque, desde logo, os princípios pátrios são civilizacionais e intemporais,
ou seja, não envelhecem, enquanto ideia e espírito, ainda que as gerações
dos homens os possam observar com intensidades e debaixo de perspectivas
diferentes no tempo e no modo de manifestação.
A força anímica que fez da Batalha o símbolo maior da identidade nacional e o panteão das gerações de ouro da Dinastia de Avis, aquela que impôs
o Mundo à Europa e a desbloqueou para a modernidade e para a globalização que toca a todos os povos, sem excepção, nem sempre foi visível. Foi
preciso esperar pelo Século XVIII e pela curiosidade de estrangeiros cultos
que visitaram este Monumento para que Portugal voltasse a olhar para ele,
considerado por alguns como construção maravilhosa, e magnífica, apreciado
sobremaneira pelos ingleses e de tal modo, como se manifesta no legado de
James Murphy, que nele se inspirariam para propagar no Reino Unido a seiva
de um neo-gótico vitoriano de matriz batalhense.
Mas o Mosteiro de Santa Maria da Vitória atingiu o ano do fim, em 1834,
exangue e a necessitar de obras de recuperação verdadeiramente profundas.
Expulsos os frades e primeiros guardiães desta memória portuguesa, o edifício viu agravar-se o seu estado de decadência. Devemos a Luís Mousinho de
Albuquerque, prontamente apoiado pelo rei D. Fernando II, a partir de 1840,
em boa medida, a sua salvação.
A inteligência nacional oitocentista ignorou, sintomaticamente, este monumento. Excepção feita a Fr. Francisco de S. Luís, que lhe dedicou uma
Memória histórica apresentada à Academia das Ciências, em 1822, na qual
sublinha o carácter português do monumento, como excepção é, neste panorama, Alexandre Herculano que evoca o Real Mosteiro, no seu popular conto
“A Abóbada”. Almeida Garrett, por seu turno, no seu poema Camões, renova
o elogio da terrível Aljubarrota, mas silencia o seu monumento matricial. A
Geração de 70 passou-o em silêncio, mesmo, e sobremodo, o seu historiador
mais fecundo e brilhante, Oliveira Martins, a quem devemos as biografias de
D. Nuno Álvares Pereira ou dos Filhos de D. João I, por cujas páginas, na sua
primeira e melhor edição, o Mosteiro é apenas um filactério gótico sugestivo
em desenho de ilustração de página de mudança entre capítulos.
Esse “País de suicidas”, como lhe chamou Miguel de Unamuno, inspirando-se em Manuel de Laranjeira, viveu pouco, creio, a memória patrimonial
portuguesa. Refizeram os Jerónimos, descobriram, em boa medida graças
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Reflexões
. história .
. história .
a escritores e diletantes estrangeiros, o manuelino português, restauraram,
como lhes foi possível, este monumento. Mas então, como hoje, este lugar
maior da identidade nacional ficou esquecido. Eça de Queiroz, que viveu em
Leiria, não o achou digno de qualquer nota significativa para além de uma
fugaz carta postal daqui endereçada a um amigo. Elogiou-o, mas não sem
lhe apontar um excesso sombrio sobre a arte da renascença em Portugal e de
criticar asperamente as “restaurações” que sofria, Ramalho Ortigão (O Culto
da Arte em Portugal, 1896), encontrando o monumento melhores páginas de
valorização em Vilhena Barbosa (1886). Poucos mais nele atentaram e, entre
os que o fizeram, sobressaem nomes estrangeiros (Beckford, Lichnowsky,
Raczinsky, Haupt, Dieulafoy, Baedeker).
É preciso esperar por Afonso Lopes Vieira (Onde a terra se acaba e o Mar
começa, 1940; Nova demanda do Graal, 1942), e ainda assim num país que
o marginalizou e que enjeitou o melhor do integralismo lusitano, para que a
poesia pátria se inspire neste templo da memória. Nem os neo-realistas, nem
os existencialistas encontraram, neste mausoléu pátrio, inspiração digna de
realce. Foi preciso aguardar por Miguel Torga (A Criação do Mundo, IV,
1939; Portugal, 1950) para o vermos entrar na grande literatura que em português se tece entre cujas laudas se impõem as que lhe dedica José Saramago
(Viagem a Portugal, 1995).
E, contudo, foi neste Mosteiro que despertou a vocação de historiador de
um Jaime Cortesão (Portugal: a Terra e o Homem), como foi na sua Sala do
Capítulo, sob o olhar do esguio arquitecto que sonhou tão ousada abóbada,
que, em 1922, o Presidente da República António José de Almeida confiou
a este templo a guarda das ossadas dos Soldados que na Europa e em África
combateram por uma Europa livre. Neste Mosteiro e no chão estremenho em
que fundou os seus alicerces sólidos onde Torga descobriu, espantado, páginas maiores de uma História de Portugal que se guarda como coisa secreta
dos portugueses.
Formulamos votos, e este é o monumento mais apropriado para propor
um voto, de que o Real Mosteiro de Santa Maria da Vitória, no conteúdo
simbólico que preserva, barca e arca da memória pátria, vença as muralhas
de silêncio e de omissão a que tanto o têm sujeitado, num Portugal distraído
dos seus princípios, aborrecido senão envergonhado, ao nível das suas elites
bem-pensantes, quiçá, do seu passado em que se rasgaram novos mundos
e se pagou o elevado preço dessa ousadia; num País em que o sentido da
comemoração histórica, ensopada entre festivais de comes e bebes, apouca
a dignidade do acto evocado e dispensa quase sempre o saber do historiador.
230 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. história .
Reflexões
Não assim, Senhoras e Senhores, neste 14 de Agosto de 2009, neste altar
cívico em que Portugal se consagra e os portugueses encontram, neste dia de
hoje que é o presente do futuro, a razão de se ser uma nação livre e independente, renascida de uma opção extrema entre vida ou morte. Não pode ter
sido essa uma questão vã e sem sentido.
Seja para os que caíram em 14 de Agosto de 1385, seja para todos aqueles
nossos conterrâneos e antepassados que pereceram em todas essas outras tardes de Agosto, na Flandres ou em outro qualquer lugar, em que Portugal foi
chamado a combater. Desde há vários séculos que este monumento proclama
o bem português, numa só e única opção, sem desvios, num só coração, numa
só voz e num só querer. Sem isso, não parece possível compreender o significado histórico deste Lugar de encontro em que, nesta hora já vespertina de 14
de Agosto de 2009, temos o privilégio de estar e de nos sentirmos, hoje como
sempre, mais portugueses e orgulhosos de o sermos.
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. história .
Títulos formativos e informativos na Diocese
Imprensa regional católica no séc. XX
Por Joaquim Santos
O Arquivo Distrital de Leiria tem promovido sessões mensais de reflexão
sobre a imprensa do distrito de Leiria. No dia 29 de Abril, a temática incidiu
sobre a imprensa regional católica de Leiria, um trabalho de investigação de
Sandra Duarte, no âmbito da iniciativa “Uma bica no Arquivo Distrital”, teve
como objectivo as finalidades, problemáticas e formas de abordagem características da imprensa católica do distrito de Leiria. Entre periódicos regionalistas e boletins diocesanos e paroquiais editados em Leiria, foram analisadas
46 publicações da Igreja Católica que circularam até 1974.
Sandra Duarte viajou desde o período monárquico, anterior a 1910, atravessando a instauração da República, as aparições de Fátima, em 1917, e
a ditadura militar, de 1926 a 1933, até ao Estado Novo, entre 1933 e 1974.
Neste espaço de tempo, o primeiro jornal a aparecer na região foi Echos do
Liz, publicado apenas de 1907 a 1908. Seguiu-se O Mensageiro, fundado a 7
de Outubro de 1914, na mira da restauração da Diocese, e A Voz do Domingo
que teve o seu primeiro número em 19 de Março de 1933.
Dos 46 jornais católicos que existiram no distrito até 1974, destacam-se,
por concelhos, 16 publicações em Leiria, nove em Pombal, três em Figueiró
dos Vinhos, Ansião e Alvaiázere, duas em Pedrógão Grande, Caldas da Rainha, Alcobaça e Batalha, e apenas uma em Porto de Mós, Peniche, Nazaré e
Castanheira de Pêra. Óbidos, Marinha Grande e Bombarral não foram detentoras de qualquer título de inspiração cristã até Abril de 74.
Tipos de publicação e como circularam
Sandra Duarte apresentou três tipos de edições de inspiração cristã, no
distrito de Leiria: periódicos regionalistas, boletins diocesanos e boletins paroquiais, que se mantinham em circulação graças às assinaturas e anúncios.
No caso dos boletins paroquiais, de distribuição gratuita, as ofertas constituíam um complemento importante de sustentabilidade. A saída das missas
era um dos locais privilegiados para a difusão e entrega dos títulos da Igreja.
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. história .
A censura operante
O decreto 22:469 de 1933, no artigo 2º, definia assim a abrangência la
lei da censura: “continuam sujeitas a censura prévia as publicações definidas na lei da imprensa, e bem assim as folhas volantes, folhetos, cartazes e
outras publicações, sempre que em qualquer uma delas se versem assuntos
de carácter político ou social”. A imprensa católica do distrito ficava assim
sob o controlo dos censores embora, segundo a investigadora, com algumas
benesses para O Mensageiro e A Voz do Domingo, por influências respectivas
do Pe. Lacerda e do Cónego José Galamba de Oliveira.
Existem na Torre do Tombo alguns processos. Por ter feito referências menos convenientes às instâncias oficiais, O Mensageiro foi suspenso por dois
anos, de 1942 a 1944, apenas com uma edição excepcional, a 4 de Julho de
1943, para evitar a extinção definitiva: “O Mensageiro que há 29 anos se fundou em Leiria, publica este número para garantia do seu título, em conformidade com a lei”. A Voz do Domingo também sofreu, embora menos. Por causa
do artigo Em honra de Nun’Alvares, publicado a 30 de Outubro de 1949, a sua
publicação foi suspensa pela censura da delegação de Leiria, por decreto oficializado a 16 de Novembro desse ano, mas as consequências não foram além
de um dia, embora estivesse previsto um período bem mais longo.
Com algumas artigos de O Mensageiro, A Voz do Domingo, Notícias das
Colmeias, Mais Além e Voz da Paróquia de Pataias, a investigadora ilustrou
o grande destaque que as aparições de Fátima (1917) e o Concílio Vaticano II
(1962-65) tiveram na imprensa católica do distrito.
No tocante a questões sociais, como as condições de vida e de trabalho,
Sandra Duarte apresentou alguns exemplos: “O problema habitacional dos
pobres de Leiria” (A Voz do Domingo – 13/04/1958), “O problema da habitação” (A Voz do Mar – 10/07/1960) e “O Pescador e os seus problemas” (A
Voz do Mar – 25/02/1960).
A temática da emigração também esteve presente, testemunhada em alguns bons exemplos: “Emigrantes – Presença viva na distância…” (Voz das
5 vilas – Janeiro 1970), “Emigração” (Notícias de Colmeias – Março 1971),
“Voz dos emigrantes e ausentes” (Mais e melhor – Julho/Agosto 1972) e “Papéis trocados” (Voz de Pombal - Setembro 1972). Todas estas amostras são
contextualizadas nas vivências do período em análise.
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Reflexões
Algumas das temáticas nos tempos da censura
. história .
Na área dos costumes, as “tabernas e os bailes”, foram preocupação constante patente em artigos como: “A matança dos inocentes” (A Voz do Domingo – 17/09/1933), “Focos de imoralidade (A Voz do Domingo – 13/12/1936)
e “O problema dos bailes” (Notícias de Colmeias – Dezembro 1967).
A política foi outra tónica, durante o Estado Novo, com abordagens curiosas sobre o poder político e a guerra colonial.
Os jornais da Igreja foram incisivos e muito influentes na região, especialmente no século XX. Aproximaram Leiria e as restantes sedes de concelho
das realidades das populações em redor, veicularam os princípios da Igreja,
abriram-se à actualidade da época, à história e às movimentações e influências do tempo, no contexto do país ou do mundo. É certo que a Igreja esteve
muito próxima do Estado – elemento muito importante para uma reflexão
– mas foram estes jornais que orientaram os leitores e lhes dão a conhecer o
que se passava no país, no distrito e até na sua aldeia. Os jornais de inspiração cristã foram sempre agentes da transmissão dos valores, da cultura e da
construção da sociedade.
Pe. Lacerda, o jornalista
O Pe. Lacerda foi jornalista e
impulsionador da imprensa regional católica em Leiria. Considerar
que “a imprensa tem uma missão
nobre e elevada, a cumprir”, fundou O Mensageiro de que foi fiel
redactor. Ambrósio Ferreira, no
seu livro dedicado à vida do Pe.
Lacerda, referindo-se à actividade
a que o sacerdote mais se dedicava, escreveu “por isso, fundou O
Mensageiro e foi seu director até
à morte… nele colaborou semana
após semana, durante mais de meio
século”.
Foi impulsionador do Congresso da Imprensa do distrito e de outras manifestações de grande rique234 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. história .
za histórica. Como excelente comunicador, era convidado frequentemente
para palestrar noutras paróquias. Das suas mãos nasceu uma campanha, em
O Mensageiro, pela restauração do Bispado de Leiria, cumprindo o jornal um
dos seus deveres, na lógica da defesa dos interesses católicos. Em pouco tempo, o jornal ganhou estatuto e aumentou significativamente as suas tiragens.
Não obstante, a Redacção e o Pe. Lacerda conheceram, muito cedo, grandes
dificuldades. Na sequência das orientações e diferentes passos a seguir rumo
à desejada restauração, o nº 3 acabou por ser apreendido.
O grande vulto de O Mensageiro pagava cara a sua dedicação à causa
jornalística. Estando a sua saúde altamente abalada, comentava-se que “o Pe.
Lacerda trabalha muito, pouco dorme, está outra vez doente e Deus não o
leve, que isso seria a morte do jornal”. Mas foi resistindo, em tempo de epidemias, com a recomendação de não vir à cidade. O testemunho do Pe. Lacerda
foi passando e o jornal caminha para um século de existência. Actualmente,
O Mensageiro é um órgão de informação religiosa e de notícias com carácter
genérico, nunca esquecendo as suas origens.
O Cónego José Galamba foi outro percursor do jornalismo de inspiração cristã em Leiria. Esteve 41
anos à frente do jornal “A Voz do
Domingo”, que fundou, e deixou
um legado riquíssimo no acervo do
jornal, com a publicação semanal
de parte substancial da sua produção.
Sobre o dever de formar a opinião, o Cónego José Galambra escrevia em “A Voz do Domingo” de
Maio de 1963, que “a Igreja tem
dado desde sempre esta prova e
testemunho de inquebrantável e indefectível amor e fidelidade à verdade”. E no mesmo artigo, atento
ao que se passava, desafiava os que
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Reflexões
José Galamba e a missão de formar e informar
. história .
colocavam em causa o Papa João XXIII: “Poucos documentos católicos nos
nossos dias suscitaram tamanha celeuma em todos os campos: incompreensão, exploração, ignorância, maldade – de tudo houve um pouco à volta da
doutrina da Igreja”. De resto, os leitores conheciam a coragem e frontalidade
dos seus desafios e denúncias nomeadamente aos poderes instalados.
Sobre a imprensa regional, José Galamba questionava o Governo e outras
instâncias responsáveis. Em 1948, conhecendo o que um americano dissera
da imprensa no seu país, assume publicamente que “a respeito de imprensa
estamos mal, muito mal”, ao contrário da América onde “não falta nada, nem
dinheiro, nem jornalistas, nem público”. Nesse mesmo ano, discutindo-se o
estado da imprensa e dos redactores na Diocese, declara acreditar que “nem
toda a gente é jornalista, nem toda a gente serve para jornalista. É uma vocação”. E sobre a necessária reforma da imprensa católica, apontava de forma
realista para “melhor apresentação, fundo mais sólido, bom aspecto gráfico e
óptima redacção”.
236 | LEIRIA-FÁTIMA • 48 |
. história .
D. Frei Patrício da Silva
Cardeal leiriense,
Patriarca de Lisboa
Está finalmente disponível
para o grande público a biografia de uma figura de leiriense
ilustre, praticamente desconhecida das gerações actuais.
Trata-se do Cardeal Patriarca
D. Frei Patrício da Silva, da
Ordem de Santo Agostinho,
nascido a 15 de Setembro de
1756, nos Pinheiros (Marrazes), e falecido a 3 de Janeiro
de 1840, em Lisboa, com 83
anos.
É autor desta biografia o Eng. Ricardo Charters
d’Azevedo, também ele um
ilustre descendente de leirienses, com fortes ligações familiares à cidade de Leiria e
região envolvente. D. Patrício
é seu 6.º tio-avô, um parente
de grande peso no seu tempo,
apesar das vicissitudes por que
passou o país na primeira metade do século XIX, das invasões
francesas às guerras liberais.
Retrato do Cardeal Patriarca de Lisboa, existente no
Arquivo da Torre  do Tombo, com a seguinte inscrição
«D. Fr. Patrício da Silva, da Ordem de Santo Agostinho, Doutor em Teologia, lente da mesma faculdade
na  Universidade de Coimbra, Deputado da Junta do
Melhoramento das Ordens Regulares, pregador régio
e da Sereníssima Casa do Infantado, sócio da  Real
Academia das Ciências de Lisboa, eleito Bispo de
Castelo-Branco em 13 de Maio de 1818, Arcebispo
de Évora em 3 do mesmo mês de 1819, sagrado na
igreja deste convento de N. Senhora da Graça em
30 de Abril de 1820, Cardeal Presbítero da Santa
Igreja Romana, do Conselho de Estado, Ministro e
Secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e da
Justiça, de que passou a Regedor das Justiças da Casa
da Suplicação» . (Foto: Cortesia da Direcção Geral
dos Arquivos - Torre do Tombo.)
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Reflexões
Por Joaquim Santos
. história .
Na Oração Fúnebre proferida por João António Pereira, Prior de S. Nicolau da Vila de Santarém, por ocasião das exéquias do Prelado, celebradas
no dia 4 de Fevereiro de 1840 na Paroquial Igreja do Salvador daquela vila,
disse-se, alto e bom som, que «Dom Fr. Patrício da Silva (…) foi outrora
Eremita Calçado de Santo Agostinho, Doutor na Sagrada Teologia, Mestre
na sua Ordem, Pregador Régio, Director dos Estudos e Professor de Teologia
Dogmática no Seminário Patriarcal, Director dos Estudos nos Gerais de S.
Vicente de Fora, Membro da Junta do Melhoramento, Lente da Faculdade
Teológica na Universidade de Coimbra, Grão Cruz da Ordem de Cristo, Ministro, Secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e de Justiça, Regedor
das Justiças da Casa de Suplicação, Membro da Regência do Reino (por morte do Imperador e Rei), Par do Reino e Vice-presidente da Câmara dos Pares,
Bispo de Castelo Branco, Arcebispo de Évora, Cardeal da Santa Igreja Romana, Patriarca da Santa Igreja de Lisboa, Literato ilustre, Orador eloquente,
Homem de Deus, do Rei e da Grei!...»
Patrício da Silva nasceu efectivamente no Camarnal, Pinheiros, então freguesia do Arrabalde da Ponte, hoje Marrazes. Seus pais eram Jacinto da Fonseca e Silva e Maria Inácia (ou Teresa Inácia) de Sousa. Tinha mais seis irmãos.
Não seriam uma família nobre ou abastada, mas viveriam desafogados,
pelo menos pelo lado da sua mãe, pois mandar estudar um filho para Coimbra
custava muito dinheiro, e também deveria haver posses bastantes para constituir o dote que permitisse que seu irmão Joaquim integrasse o Seminário e
para que o outro irmão Joaquim Nicolau se casasse bem.
Depois dos estudos básicos, Patrício da Silva professou no Convento de
Santo Agostinho de Leiria, tendo sido ordenado presbítero em 21 de Dezembro de 1780, com 24 anos. Reconhecidos os seus invulgares dotes, foi depois
enviado para a Universidade de Coimbra, onde completou a formação teológica de forma brilhante. Concluída a formatura teológica, fez o seu doutoramento solene na Universidade de Coimbra a 31 de Julho de 1785, com 28
anos, ascendendo logo a lente da mesma Faculdade.
Mais tarde foi escolhido para Reitor do Colégio da sua Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho, em Coimbra e em Lisboa, e, indigitado
para Pregador Régio, esteve ligado à Casa do Infantado e foi Capelão da
Capela Real no Palácio da Bemposta. Foi igualmente Censor Eclesiástico do
Patriarcado, Sócio da Academia Real das Ciências e professor de Teologia
no Seminário de Santarém. Foi escolhido para deputado da Junta dos Melhoramentos das Ordens Religiosas e Inspector dos Estudos do Patriarcado
de Lisboa.
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Segundo Charters d’Azevedo, «foi rápida a sua subida na hierarquia
eclesiástica e civil, pois, em 13 de Maio de 1818, recebeu a nomeação de
bispo para a diocese de Castelo Branco, lugar de que não chegou a tomar
posse por ter vagado a arquidiocese de Évora, para onde foi escolhido em 3
de Maio de 1819. O Papa confirmou-o a 21 de Fevereiro de 1820. A sagração ocorreu na igreja de Nossa Senhora da Graça, de Lisboa, a 30 de Abril
de 1820».
No Consistório de 27 de Setembro de 1824, o Papa Leão XII agraciou o
Arcebispo de Évora com a púrpura cardinalícia, com beneplácito do Rei D.
João VI. Foi nessa altura nomeado membro do Sacro Colégio. Passamos a ter
o arcebispo de Évora elevado a Cardeal!
Após a morte do então Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Carlos da Cunha e
Meneses, a 14 de Dezembro de 1825, o Cardeal Arcebispo D. Frei Patrício da
Silva foi nomeado para o Patriarcado de Lisboa, a 24 de Dezembro de 1825,
e teve a nomeação real a 2 de Janeiro de 1826. Contudo, era ainda Arcebispo
de Évora quando, em Março de 1826, faleceu o Rei D. João VI, ficando um
Conselho de Regência a governar o reino sob a presidência da Infanta D.
Isabel Maria, e do qual fazia parte D. Patrício da Silva.
O Marquês de Fronteira e d’Alorna relata que o Cardeal «nunca simpatizou com D. Miguel, mas tinha cometido um grande crime, aos olhos dos
exaltados liberais, não abandonando a sua diocese, e, por isso, lhe faziam
sentir, nesta ocasião, todos os patriotas que estavam nas salas do Duque [de
Palmela], o pouco que simpatizavam com ele. O respeito, porém, com que os
Duques o tratavam, e todos nós que não éramos suspeitos, impôs silêncio aos
exaltados patriotas, e desarmou-os completamente o convite que o Duque de
Palmela fez a Sua Eminência para celebrar o Te-Deum na ocasião da chegada
do Imperador.»
Como é sabido, com o advento do liberalismo deu-se o corte das relações
diplomáticas com a Santa Sé e a extinção das ordens religiosas, o que provocou uma verdadeira revolução na vida do país. «Durante o reinado de D.
Miguel, quando se tratou de reatar as relações do Estado com a Santa Sé e o
clero nacional, teve iniludível interesse a intervenção prestigiosa de D. Frei
Patrício da Silva. É sabido que as dioceses do Reino estiveram, de 1833 a
1839, quase todas, por ausência ou vacância, destituídas dos seus legítimos
pastores. Mais se evidencia, assim, dentro do período tradicionalista, o arreigado espírito de patriota insigne de D. Frei Patrício da Silva, por haver sido
quase o único prelado que se manteve integrado nas suas funções, conseguindo habilmente harmonizar o espiritual com o temporal.»
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Reflexões
. história .
. história .
Clérigo ilustre e conceituado, autor de várias publicações e pastorais, o
leiriense D. Frei Patrício da Silva, como escreveu o Prior João António Pereira, «à proporção que foi crescendo dum berço humilde para um Trono de
Púrpura, aproveitou ocasiões de se votar ao serviço da Nação, trabalhando
desvelado nos seus melhoramentos, e, por fim, salvando-a da perdição temporal e da perdição eterna!... Curavit…»
Um exemplo de um Leiriense, de um Homem, que vale a pena conhecer,
pela sua inteligência, saber, diplomacia e entrega à Igreja.
A propósito do lançamento da biografia de D. Frei Patrício da Silva, o
seu autor, Engenheiro Ricardo Charters d’Azevedo, concedeu uma entrevista
ao jornal O Mensageiro, da qual transcrevemos dois excertos que se referem
directamente ao ilustre Cardeal Leiriense:
“O Doutor D. Frei Patrício da Silva, nascido nos Pinheiros, é o meu
6º tio-avô, do lado Costa Guerra. Pertenceu aos Agostinhos, frequentou
o Convento aqui em Leiria e foi professor na universidade de Coimbra
com 27 anos. Confessor da Casa Real e tido em grande consideração
por D. João V, foi nomeado para o Conselho de Regência. Foi Bispo de
Castelo Branco, Arcebispo de Évora e aí nomeado Cardeal, e, por fim,
Patriarca de Lisboa. Por que é que os Leirienses nada sabem sobre ele?
Um dos seus retratos continua na Torre do Tombo, numa sala onde se dá
formação, e ninguém se preocupa em trazê-lo para Leiria, para o Arquivo
Distrital, por exemplo”
 “O Cardeal D. Patrício I viveu num tempo muito difícil. Lembro as invasões francesas, a guerra resultante da “zanga real”, o consequente
corte de relações com a Santa Sé e a expulsão do Núncio, a extinção das
ordens religiosas e venda dos seus bens. A sua governação episcopal só
lhe foi possível por ter participado activamente na política. Assim são
dele várias importantes pastorais, e ainda a determinação para que o
baptismo se realizasse dentro dos oitos dias seguintes ao nascimento, ou
ainda para que se doutrinasse durante os ofícios religiosos, deixando a
homilia de ser uma “conversa”.
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