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UFES - Universidade Federal do Espírito Santo 1 CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Capítulo 1 - Fundamentos da Ciência e Tecnologia de Alimentos e Nutrição Humana Ciência e Tecnologia de Alimentos são vastos campos do conhecimento humano. O termo Ciência de Alimentos refere-se à aquisição sistemática de conhecimentos sobre a natureza dos alimentos, o que é exercitado em campos, tais como: microbiologia de alimentos; química de alimentos; bioquímica de processos em alimentos; toxicologia de alimentos; físico-química; processos físicos termodinâmicos e de mecânica dos fluídos aplicados a alimentos; e reologia de alimentos. Em razão da variedade de matérias primas alimentares e bebidas, a Ciência de Alimentos é contextualizada em especificidades, tais como: Ciência de Produtos Cárneos; Ciência dos Produtos Lácteos; Ciência dos Cereais e Oleaginosas; Ciência dos Produtos Panificados, Massas e Amidos; Ciência do Processamento de Furtas e Hortaliças; e Ciência de Bebidas e Refrigerantes. Quanto ao termo Tecnologia de Alimentos, é tido por pressuposto que tecnologia configura como a aplicabilidade da ciência em beneficio da sociedade. Deste modo, Tecnologia de Alimentos pode ser definida como o emprego sistemático de conhecimentos, técnicas, processos e meios para o: beneficiamento, industrialização, armazenagem, controle, embalagem, distribuição e utilização de alimentos. O que deve ser feito observando padrões de qualidades física, sanitária e nutricional das matérias primas e dos produtos acabados. Pois, estes podem constituir em dietas deficientes, ou em vetores contendo microrganismos patogênicos, toxinas microbianas, parasitas viáveis, agentes alérgicos ou toxinas químicas. No desenvolvimento da Ciência e Tecnologia de Alimentos é demandado envolvimento de quatro áreas fundamentais, que são a: (i) nutrição, (ii) química, (iii) biologia e (iv) engenharia. A área de nutrição prestar informações relacionadas às necessidades nutricionais de pessoas e animais. Assim, é possível a formulação de regimes alimentares adequados as necessidades nutricionais. A área de química é fundamental por porpocionar o acompanhamento e controle das transformações químicas dos alimentos deste a obtenção até o consumo final, o que possível devido aos conhecimentos pertinentes as diferentes ramificações, tais como: bioquímica, físico-química e as químicas: orgânica, inorgânica e analítica. Ressalta-se que as transformações químicas em alguns casos são desejadas e em outros constituem em deterioração. A área de biologia é destacada pela condução de trabalhos de pesquisas que visam fornecer matérias primas de qualidade e com rendimento apropriado aos processos de industrialização. Neste particular concentram as ações para o melhoramento genético de plantas e animais. Outros fatores relevantes são os estudos relacionados aos microrganismos de importância na indústria de alimentos. Assim, são aprimoradas técnicas para: (i) a obtenção de microrganismos utilizados na fabricação de alimentos, e (ii) eliminação e/ou controle dos microrganismos que deterioram os alimentos e/ou causam patogêneses. UFES - Universidade Federal do Espírito Santo 2 CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Quanto à área de engenharia tem por fundamento o desenvolvimento de métodos e equipamentos aplicados a realização de operações unitárias associadas ao processamento de matérias primas de origem animal ou vegetal. Nestes casos, podem estar envolvidos conhecimentos de transferência de calor, mecânica dos fluídos e de processos físicos como: filtração, centrifugação, desidratação, secagem e destilação. Pelo descrito, pode ser concluído que o desenvolvimento da ciência e tecnologia de alimentos necessariamente envolve ação de equipes multidisciplinares. O que faz requerer o envolvimento de profissionais, tais como: biólogos, microbiologistas, farmacêuticosbioquímicos, nutricionistas, economistas domésticos, zootecnistas, médicos veterinários, engenheiros de alimentos, engenheiros agrônomos, engenheiros de pesca, engenheiros agrícolas, engenheiros químicos, químicos, engenheiros de produção, e etc. E essa necessidade de equipes multidisciplinares tem sido uma tônica cada vez mais marcante em virtude da adoção de novos conceitos, tais como: (a) alimentos orgânicos, (b) alimentos funcionais, (c) qualidade físico-química, sanitária e nutricional, (d) cadeia produtiva, (e) logística, (f) identidade preservada, (g) rastreabilidade, e (g) técnicas de controle de processos. 1.1 Importância do desenvolvimento da ciência e tecnologia de alimentos . Na antiguidade, muito antes da revolução industrial e da acentuada migração da população rural para os centros urbanos, os homens eram caçadores e pescadores. Neste período ficavam a mercê dos fenômenos naturais. Sendo assim, por vezes surgiam períodos de abundância e outros de escassez. Com o passar dos anos o homem passou a cultivar e criar animais com vista à obtenção de alimentos e mais adiante surgiu os seguintes desafios: (1) ter alimentos disponíveis ao longo do tempo e (2) abastecer aos centros populacionais. Considerando esse cenário a ciência e tecnologia de alimentos estabelece com o elo de ligação entre a produção de matérias primas e os consumidores. Sendo assim a ciência e tecnologia de alimentos contemporânea possui por metas: (a) proporcionar dietas com qualidade físico-química, sanitária e nutricional; (b) garantir o fornecimento de alimentos livres de agentes patológicos; (c) disponibilizar alimentos ao longo do tempo; (d) reduzir as perdas de alimentos e aumentar a disponibilidade; (e) proporcionar a melhor estruturação da sociedade. Por exemplo, a comercialização de produtos pré-elaborados tem proporcionado o avanço das mulheres no mercado de trabalho; (f) atender a disponibilidade de alimentos devido ao crescimento explosivo das populações; e (g) eliminar a fome, flagelo que assola milhões de seres humanos. Outro aspecto relevante do desenvolvimento da ciência e tecnologia de alimentos está no fato que tão somente a disponibilidade de alimentos não é garantia de sobrevivência de uma população. Pois, estes alimentos podem constituir em: (i) dietas deficientes, ou em (ii) vetores contendo microrganismos patogênicos, toxinas microbianas, parasitas viáveis, agentes alérgicos ou toxinas químicas. 1.2 Definição de alimentos Alimentos consistem na porção de nutrientes que tem por finalidade fornecer ao corpo: (i) energia e (ii) substâncias destinadas à manutenção, crescimento, reprodução e reparação. UFES - Universidade Federal do Espírito Santo 3 CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 De acordo com preceitos estabelecidos por Pedro Escudeiro, um dos pais da nutrição humana, no estabelecimento de um regime alimentar devem ser observados quatro leis: 1. Primeira Lei: Da Quantidade – a quantidade de alimentos a ser ingerida deve fornecer energia suficiente para a realização de atividades físicas e manutenção da temperatura do corpo; 2. Segunda Lei: Da Qualidade – o regime alimentar deve ser completo em sua composição. Isto visa oferecer ao organismo todas as substâncias que o integram. O regime alimentar completo constitui na porção diária de nutrientes a serem ingerida; 3. Terceira Lei: Da Harmonia – As quantidades dos diversos nutrientes que integram a alimentação deve respeitar uma relação de proporção. Por exemplo, a relação cálcio/fósforo deve ser: 0,65 para adultos e 1,0 para crianças e gestantes; e 4. Quarta Lei: Da Adequação – a oferta de alimentação deve estar adequada à necessidade do organismo. O que está associado a fatores, tais como: (i) momento biológico do individuo, (ii) hábito alimentar, (iii) condição socioeconômica, e (iv) estado de saúde. Os nutrientes presentes em alimentos e bebidas são classificados em: (a) macronutrientes: proteínas, carboidrato e lipídios; (b) micronutrientes: vitaminas e minerais; e (c) água. 1.3 Macronutrientes Macronutrientes são nutrientes que devem ser ingeridos em maior proporção para atender as necessidades do organismo. Estes nutrientes são os carboidratos, proteínas e lipídios. Geralmente, estes apresentam em grandes estruturas moleculares que necessitam ser quebradas para a absorção do organismo. 1.3.1 Carboidratos Carboidratos são moléculas químicas representadas pela fórmula genérica Cn(H20)n, em que, a proporção de átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio é de 1:2:1. Estas moléculas são as mais importante fonte de energia na alimentação humana, respondendo por 60 a 70% das necessidades calóricas diárias. No reino vegetal, geralmente, os carboidratos são sintetizados por meio da fotossíntese, que é um processo bioquímico que permite transforma a energia eletromagnética presente radiação solar em energia química. De forma simplificada, este processo pode ser representado conforme a Figura 1. Radiação solar 6 CO2 + 12 H2O C6H12O6 + 6H20+ 6 O2 Figura 1 – Equação geral da fotossíntese Assim a partir de: (i) seis moléculas de gás carbônico (CO2) disponibilizadas no ar, (ii) duas moléculas de água resgatas pelo sistema radicular das plantas, e (iii) sob a ação de radiação luminosa são obtidos: uma molécula de glicose (C6H12O6) seis de água (H2O) e seis oxigênio (O2). A glicose produzida, um monossacarídeo, é transformada sacarose. Isto ao juntar duas moléculas glicose. A sacarose será transporta aos outros órgãos, onde, por exemplo, 4 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 será transformada em outros carboidratos mais complexos para fins de constituição de tecidos de reserva ou de sustentação. Na alimentação humana o aporte calórico das dietas tem por fontes: amido, 50%; sacarose, 30%, lactose, 30% e maltose de 1 a 2%. O amido, geralmente, tem por fonte o milho, arroz e batata. A sacarose está presente em vários vegetais, por exemplo, a cana de açúcar. A lactose corresponde ao açúcar do leite. E a maltose é um tipo de açúcar gerado a partir da quebra das moléculas de amido. A digestão dos carboidratos em humanos tem início na boca durante a mastigação. Nesta fase, por meio da saliva é aplicada a enzima salivar amilase (ptialina), que atua em pH neutro. A digestão é complementada no intestino delgado, sob a ação das enzimas: (a) amilases pancreáticas sintetizadas no pâncreas e (b) maltase, sacarase, lactase e isomlatase sintetizadas pelas células da mucosa intestinal. Por ação dessas enzimas são obtidos monossacarídeos, tais como: glicose, galactose e frutose (Figura 2). Estas moléculas cruzam as paredes das células da mucosa do intestino delgado, tendo por carreador íons de sódio (Na+), e então, são lançadas a corrente sanguínea, especificamente, na veia porta hepática. C12H22O11 + H20 Sacarose Sacarase C6H12O + C6H12O Glicose Frutose Figura 2 – Representação da equação geral da degradação da sacarose Em jejum, normalmente, a concentração de glicose no sangue é de 80 a 90 mg/100dL. O órgão que regula esta concentração é o pâncreas. Caso 1: se o nível de glicose tornar alto, o pâncreas libera insulina. Isto faz com que a glicose seja transformada em glicogênio, para então, ser armazenada nos músculos e fígado. Deste modo, a concentração de glicose no sangue reduz. Caso 2: se o nível de glicose baixar, o pâncreas libera glucagon que estimula a transformação do glicogênio armazenado em glicose. Este processo de controle do nível de glicose no sangue é denominado glicemia. O descontrole da glicemia por parte do organismo pode levar a instalação de quadros de hiperglicemia (diabetes) ou hipoglicemia. O diabetes é caracterizado quando em jejum o nível de glicose no sangue apresenta acima de 140 mg/100dL. Os sintomas mais comuns são: eliminação excessiva de urina, sede, fome extrema, alteração de visão e fraqueza geral. A hipoglicemia caracteriza quando o nível de glicose sangue é de 40 a 60 mg/100dL e pode apresentar sob duas formas: de jejum e reativa. A hipoglicemia de jejum crônica ocorre geralmente associada a um quadro de câncer no pâncreas. Nesta situação ocorre a produção excessiva de insulina. No entanto, no dia-dia, qualquer pessoa pode passar por um quadro de hipoglicemia de jejum causado, por exemplo, pela falta de alimentação, estresse, ansiedade, depressão ou excesso de atividade física. A hipoglicemia reativa manifesta por irritabilidade, dor de cabeça, nervosismo, e suor. Geralmente este quadro instala de duas a quatro horas após um refeição hiperglicídica. A hipótese mais provável está na produção exagerada de insulina pelo pâncreas. A importância da manutenção do nível de glicose no sangue na faixa da normalidade é muito importante. Pois alguns tecidos utilizam somente a glicose como fonte de energia. Por exemplo, o cérebro consome 120 g de glicose por dia, as hemácias 30 g/dia. 5 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 1.3.2 Proteínas e enzimas Proteínas são compostos químicos constituídos de carbono, oxigênio, nitrogênio, enxofre, além de outros metais. A porção de nitrogênio em média corresponde a 16% do peso molecular. Sob aspecto biológico, as proteínas são macromoléculas presentes em todos os seres vivos, em diferentes configurações resultante da junção de aminoácidos. Os aminoácidos são compostos químicos que em sua estrutura molecular apresentam um grupo amino (-NH2) e um grupo carboxila (-COOH). A exceção é o aminoácido prolina que contém um grupo imino (-NH-) no lugar do amino. Em pH fisiológico esses grupos são ionizados apresentando como: -NH3+; -COO-; e –NH2+ -. A formula básica de um aminoácido, Figura 3, consiste na ligação dos grupos amino e carboxila ao carbono α, e este pode estar ligado a um átomo de hidrogênio ou a um grupo variável denominado cadeia lateral ou grupo R. COO + H3N- C - H R Figura 3 – Representação da formula básica de um aminoácido Em função da polaridade do grupo R, os aminoácidos são divididos em apolares e polares. Os apolares são hidrofóbicos, enquanto os polares hidrófilos. Dentre os polares conforme a carga apresenta pelo radical R em solução neutra, os aminoácidos são classificados em: (i) básico – apresentam carga positiva, (ii) ácida – possuem carga negativa, e (iii) neutro – sem carga. Nas Tabelas 1 e 2 são apresentadas as formulas químicas dos aminoácidos apolares e polares, respectivamente. Tabela 1 – Fórmula química dos aminoácidos apolares COO+ H3N- C - H +H H N- C - H 3 CH3 +H N- C - H 3 C -H H3C Glicina (Gly) Alanina (Ala) COO+ H3N- C - H H -C - H C -H H3C COO - COO - CH3 COO +H 3N- C-H C -H H2C CH3 CH3 CH3 Valina (Val) COO+H NC-H 3 H -C - H H -C - H S CH3 Leucina (Leu) Isoleucina (Ile) Metionina (Mte) 6 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 COO H C H2N CH2 H2C CH2 Protina (Pro) COO- COO- H3N- C - H C-H H -C - H H -C - H + C Fenilalanina (Phe) CH NH Triptofano (Trp) Tabela 2 – Fórmula química dos aminoácidos polares Polares sem Carga COO+ H3N- C - H COO+ H3N- C - H CH2OH SH Cisteina (Cys) COO- COO+ H3N- C - H H -C- H C H -C- H O + H3N- C - H H -C - H C H2N Asparagina (Asn) H -C- H Treonina (Thr) H -C- H H2N H3N- C - H CH3 COOH3N- C - H + H - C- OH Serina (Gly) + COO- O Glutamina (Gln) OH Tirosina (Tyr) Polares Com Carga Positiva COO+H NC-H 3 H -C - H COO+H NC-H 3 H -C - H H -C - H H -C - H H -C - H N-H H -C - H NH3+ Lisina (Lys) COO+H NC-H 3 H -C - H C NH C = NH2+ C N+ NH2 H Arginina (Arg) CH Histidina (His) 7 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Polares Com Carga Negativa - +H COO+H NC-H 3 COO NC-H 3 H -C- H H -C- H COO- H -C- H COO- Aspartato (Asp) Glutamato (Asp) Para a formação de uma proteína, polímeros de aminoácidos, são interligados por meio da ligação do grupo carboxila de um aminoácido com o amino do outro. Esta ligação, carbono-nitrogênio, é denominada ligação peptídica. Na Figura 4 é feita a representação didática de como é processada a ligação peptídica. No entanto, é importante ressaltar que essa reação não desenrola com tamanha simplicidade. Nos seres vivos o processamento das ligações peptídicas é feito por meio de um complexo aparato que envolve os ribossomos e várias proteínas e enzimas. H H O H -N+ - C - C - O- + H H O H -N+ - C - C - O H H R2 R2 H2O H H O H -N+ - C - C - O H H O N+ - C - C - O H R2 H R2 Ligação Peptídica Figura 4 – Representação da formação de uma ligação peptídica A formação da cadeia peptídica feita na Figura 4 apresenta esquematicamente linear, no entanto, no real, as ligações peptídicas possibilitam a execução de giros que possibilitam diferentes configurações espaciais para as proteínas. Essa cadeia, ou o mesmo que polímero pode conter de dois a milhares de aminoácidos. Se o número de aminoácidos for dois, o polímero é denominado dipeptídio, com 3 tripeptídio. Acima de 30 aminoácidos os polímeros de aminoácidos são denominados oligopeptídios, ou simplesmente, peptídios. Os peptídios na natureza desempenham várias funções, tais como: (i) hormônios encefalinas, oxitocina,vasopressina e glucagon; (ii) antibióticos – gramicidina; e (iii) agentes redutores – glutaiona. Vide na Tabela 4 informações sobre estas proteínas. Tabela 3 – Proteínas de importância fisiológica de Função Efeitos principais Proteína No aminoácidos Encefalinas Oxitocina 5 9 Hormônio Hormônio Vasopressina 9 Hormônio Glucagon 29 Hormônio Analgésica Contração muscular uterina por ocasião do parto e excreção de leite pelas glândulas mamárias Aumento da pressão sanguínea e da reabsorção de água pelo rim Aumento da produção de glicose pelo fígado no jejum 8 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Gramicidina 10 Antibiótico Glutationa 3 Agente redutor Antibiótico produzido pela bactéria Bacillus brevis Manutenção de átomos de ferro pelas hemoglobinas. 1.3.2.1 Digestão e uso das proteínas No processo de digestão das proteínas o objetivo é obtenção de pequenas estruturas que possam ser absorvidas pela mucosa intestinal. Este processo efetivamente tem início no estômago, quando as proteínas são submetidas à ação da enzima pepsina. Esta na presença de moléculas de água hidrolisa preferencialmente as ligações peptídicas que envolvem os aminoácidos: fenilalanina, tirosina ou triptofâno. No intestino os fragmentos protéicos, resultantes do processamento no estômago, são submetidos à ação de enzimas produzidas no pâncreas e pela mucosa intestinal. Os aminoácidos e pequenos peptídeos obtidos da digestão são absorvidos pela mucosa intestinal. Assim, são lançados na corrente sanguínea uma variedade de aminoácidos, que poderão ter cinco destinos: (i) síntese de proteínas e enzimas, (ii) síntese de peptídeos menores, (iii) síntese de substâncias nitrogenadas, exemplo, DNA e RNA, (iv) síntese de outros aminoácidos, e (5) catabolismo, exemplo: processo de respiração. Os aminoácidos são classificados em essenciais e não-essenciais. Os essenciais necessariamente devem ser ingeridos, pois o organismo humano não os sintetizam. Enquanto, os não-essenciais podem ser sintetizados. Porém é importante ressaltar que todos os vinte aminoácidos devem estar presentes no organismo. E o ideal é que estes estejam presentes na dieta alimentar. Tabela 4 – Aminoácidos essenciais e não essenciais. Essenciais Não essenciais Histidina Alamina Fenilalanina Asparagina Triptofânio Aspartato Lisina Cistéina Arginina Glutamato Leucina Glutamina Isoleucina Glicina Metionina Prolina Treonina Serina Valina Tirosina 1.3.3 Lipídios Os lipídios apresentam ao organismo humano como fonte de energia e componente estrutural das células. Cada grama de gordura gera nove calorias, o valor que correspondemais do que o dobro fornecido por um grama de proteína ou de carboidratos. No corpo existem depósitos de lipídio denominados tecidos adiposos. Estes permitem o contínuo suprimento de energia. Caso contrário os animais teriam que alimentar com maior freqüência. As gorduras são essenciais para: (i) manter a temperatura do corpo - isto funcionando como isolante térmico sob a pele; (ii) proteger os órgãos vitais contra lesões; (iii) 9 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 facilitar a absorção de vitaminas lipossolúveis A, D, E, e K, (iv) promover a sensação de saciedade; e (v) contribuir para definição de aroma e sabor da dieta. Sob aspecto químico, lipídios são substâncias não solúveis em água, que quando no estado sólido a temperatura ambiente é denominada gordura e se no estado liquido óleo. Na alimentação, como na constituição do corpo humano, as três formas de lipídios mais encontradas são: triacilgliceróis (triglicerídeos), fosfolipídios e colesterol. As duas primeiras formas têm por constituinte básica ácidos graxos, enquanto que a última esteróis. Ácidos graxos são substâncias químicas constituídas de cadeias carbônicas (R) ligadas a átomos de hidrogênio e terminadas com radical COOH, conforme representado na Figura 5. OH R-C O Figura 5 – Representação da molécula de ácido graxo As cadeias carbônicas podem apresentar: (i) saturadas – quando ocorre somente ligações simples entre os átomos de carbono, ou (ii) insaturadas - quando ocorre no mínimo uma ligação dupla. Neste caso o ácido é classificado como monoinsaturado. Se possuir mais de uma ligação dupla será classificado como poli-insaturado. Importante ressaltar que quanto maior é a proporção de ácidos graxos saturados em um lipídio mais sólido este apresentará. Para os ácidos insaturados, a localização da primeira dupla ligação da cadeia irá determinar o seu emprego metabólico. A contagem dos carbonos é feita da esquerda para direita. Assim, se a primeira dupla ligação ocorrer no terceiro carbono, o ácido é denominado como ômega 3 (ω -3), se no sexto ômega 6 (ω -6). A representação da nomenclatura dos ácidos graxos pode ser sintetizada com: Cn: X ω - y Em que: C = representa a cadeia de carbonos; n = número de carbonos da cadeia; X = número de ligações duplas; ω = símbolo da letra grega ômega y = indicação da ocorrência da primeira dupla ligação. Exemplo: C18 : 2 ω -6 Æ corresponde a uma cadeia com dezoito carbonos, com duas duplas ligações, sendo que a primeira no sexto carbono. É descrito a seguir os principias tipos de lipídios presentes nos corpo humano: a) Triglicerídeos (Triglicérides, Triacilgliceróis) Triglicerídeos são lipídios constituídos pela ligação de três ácidos graxos a uma molécula de glicerol (álcool tricaboxílico), conforme representado na Figura 6. Caso a molécula de glicerol esteja ligada a apenas um ácido graxo é tido um monoacilglicerol, e se a duas, diacilglicerol. Os triacilgliceróis correspondem entorno de 90% dos lipídios presentes na alimentação humana, e a 80% dos lipídios que constituem o organismo humano. 10 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 H H H- C- OH H- C - OH H- C - OOC-R1 H- C - OOC-R2 H- C - OOC-R3 H- C - OH H H (a) Glicerol (b) Triacilglicerol Figura 6 – Representação das moléculas de: (a) glicerol e (b) triacilglicerol b) Fosfolipídios Fosfolipídios possuem estrutura química semelhante aos triacilgliceróis, sendo que no lugar de um dos ácidos graxos é incorporado um grupo fosfatado, Figura 7. Devido às características químicas dos fosfolipídios, uma das extremidades torna hidrofóbica e outra hidrofílica. Esta característica confere maior solubilidade em água. Desta forma, pequenas partículas de lipídios ficam emulsionadas (misturadas) em soluções aquosas, o que facilita a ação das enzimas digestivas. Devido a esta característica a indústria de alimentos adiciona lecitina em alimentos em pó que contem gordura. Com isto é evitada a formação de agregados H H- C - OOC-R1 H- C - OOC-R2 O H- C - O- P - O - C - C - N - CH 3 H H CH3 O H . Figura 7 – Representação da molécula de um fosfolipídio - lecitina c) Colesterol Colesteróis são um tipo de lipídio que apresenta estrutura química diferenciada dos triacilgliceróis e fosfolipídios. A estrutura está fundamentada em um núcleo esteróide em forma de anel com um radical hidroxila (Figura 8). Além disto, os colesteróis não são saponificáveis, ou seja, não reagem com bases formando sabões. CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 OH Figura 8 – Representação da molécula de colesterol 11 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 A síntese de colesteróis e a ingestão é de extrema importância para o organismo. Isto para o desempenho de funções metabólicas como a síntese de hormônios, bile e vitamina D. O colesterol pode ser sintetizado pelo próprio organismo em média 120 mg/kg/dia, desta forma para evitar a hipercolesterolemia é recomendado cautela na ingestão de alimentos de origem animal. No organismo humano existem duas formas de colesterol: a forma livre e a esterificada. A primeira representa cerca de 30% do colesterol total, e esta está presente na maioria dos tecidos, principalmente no cérebro, o maior consumidor deste nutriente. A forma esterificada é predominante na circulação sanguínea e nas glândulas adrenais (síntese de hormônios), e são transportadas pelas lipoproteínas. d) Lipoproteínas Lipoproteínas são macro moléculas formadas pela junção de grupamentos de proteína e de lipídios. Especificamente, a junção de proteínas com fosfolipídios permite a criação de complexos químicos que possibilitam o transporte de triglicérideos, colesteróis e vitaminas lipossolúveis. As proteínas presentes no complexo lipoproteínas são denominadas apoproteínas. E a proporção destas definem a densidade molecular, classificando estas proteínas em cinco tipos: quilomícrons (Q), quilomícorns remanescente (QR) e lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL – very low density level), baixa densidade (VDL), densidade intermediária (IDL) e densidade muito alta (HDL). Na Tabela 5 é apresentada a composição de algumas lipoproteínas. Tabela 5 - Componentes de algumas lipoproteínas expressos em percentagem Componentes Triglicérideos Colesterol Fosfolipídios Proteínas Quilomícrom 80-90 2-7 3-6 1-2 VLDL 55-65 10-15 15-20 5-10 LDL 10 45 22 25 HDL 5 20 30 45-50 Fonte: Nutrição: Fundamentos e aspectos atuais Quanto maior o nível de densidade da lipoproteína menor é a probabilidade de ocorrência de doenças cardiovasculares. As lipoproteínas de menor densidade têm maior facilidade para aderir as paredes dos vasos sanguíneos, o que pode levar a obstrução. Os valores plasmáticos de referências de LDL e de HDL são: (i) LDL: para homens de 95 a 145 mg/dL e mulheres, (ii) HDL: para homens de 50 a 55 mg/dL e mulheres 35 mg/dL. 1.3.3.1 Digestão e uso dos lipídios Os lipídios chegam ao estômago misturados no bolo alimentar, porém a digestão ocorre no intestino delgado, especificamente no duodeno e jejuno; e absorção no íleo (Figura 9). A presença de lipídios no intestino delgado estimula o pâncreas a secretar lípases pancreáticas. Pela ação deste grupo de enzimas são obtidos os seguintes produtos: ácidos graxos livres, diacilgliceróis, monoacilgliceróis e glicerol. UFES - Universidade Federal do Espírito Santo 12 CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Em conjunto com as lípases tem-se os sais biliares que atuam como detergentes emulsificando os lipídios degradados para facilitar a absorção pelas células da mucosa do intestino delgado, especificamente no íleo (Figura 9). Uma vez dentro das células intestinais, no retículo endoplasmático rugoso os lipídios absorvidos são reesterificados, sendo obtidos: triglicerídeos, fosfolipídios, ésteres de colesterol e colesterol livres. As moléculas de triglicerídeos, fosfolipídeos e colesterol são circulados por uma camada lipoprotéica que formam os quilomícrons. Estes são transportados pelos vasos linfáticos até as veias jugular esquerda e subclávia esquerda. Os ácidos graxos de cadeia média são lançados diretamente na corrente sanguínea, onde vinculam a proteína albumina para o transporte. O glicerol também é lançado e transportado livremente, pois esta substância é solúvel no soro plasmático. Após os quilomícrons repassar os lipídios transportados, estes passam a ser denominados quilomícrons remanescentes, e são então captados pelo fígado para serem degradados em moléculas de colesterol que serão excretadas na bile. Quanto a lipoproteína VLDL é sintetizada principalmente no fígado, mas também pela mucosa intestina. A função desta lipoproteína é o transporte de triglicerídeos endógenos sintetizados principalmente. A lipoproteína LDL é elaborada no fígado a partir o metabolismo das VLDL. Essa fração é um componente normal do plasma em jejum, responsável por cerca de 75% do colesterol. O HDL está envolvido na transporte de colesterol dos tecidos para o fígado, onde serão retiradas da circulação pelo fígado, sendo então degradadas e excretadas na bile. 1.4 Micronutrientes Estas substâncias são essenciais para o perfeito metabolismo do organismo. Em geral são requeridas em pequenas quantidades e absorvidas a nível intestinal sem sofrer alteração. 1.4.1 Vitaminas As vitaminas são substâncias, não energéticas, que podem ser fornecidas ao corpo humano em pequenas quantidades. São substâncias altamente susceptíveis a altas temperaturas. Estas atuam como coenzimas em certas reações enzimáticas, ou exercem funções fisiológicas específicas. As vitaminas podem ser hidrossolúveis ou lipossolúveis. Na Tabela Anexo I são descritas as funções e as fontes. 1.4.2 Minerais Os minerais são vitais em determinados processos fisiológicos, como também, utilizados na estruturação de tecidos. Eles participam da: (i) formação do tecido ósseo (cálcio - Ca , fósforo - P e magnésio – Mg); (ii) constituição de compostos do organismos (ferro Fe, cálcio, fósforo, cobre – Cu e iodo – I); (iii) manutenção do equilíbrio osmóticos das células (sódio – Na , potássio - Ka e fósforo), e (iv) realização de trocas entre as células (sódio). Os minerais são classificados em macrominerais (Ca, O, Fe, Na, K e Mg) se o consumo destes são requeridos em maiores quantidades. Quanto aos microminerais (Mn, Co, I, Zn, F, Cu, Mo e Se) são exigidas em quantidades muitas pequenas. Na Tabela 7 são descritas as funções e as principais fontes. 13 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 1.5 Teor de água A água é uma substância absolutamente essencial para os seres vivos devido sua necessidade de participação nos inúmeros processos metabólicos. Cerca de 60 a 65% do corpo humano é constituído por água. Dentre as várias funções da água nos organismos vivos podem ser citadas: (i) atuar como solvente universal indispensável aos processos metabólicos, (ii) manter a temperatura corporal, (iii) manter a pressão osmótica dos fluidos e do volume das células; e (iv) participar como reagente de um grande número de reações metabólicas. A quantidade de água em um determinado tipo de material biológico irá definir a susceptibilidade deste a proliferação de microrganismos, tais como fungos, leveduras e bactérias. A medida do teor de umidade é expressa por meio da equação 1. U bu = Pa .100 Pt U bs = Pa Pms Eq. 01 Eq. 02 Em que: Ubu = teor de umidade expresso em base úmida, %; Ubs = teor de umidade expresso em base seca, decimal; Pa = peso de água da amostra, kg, t., grama; Pa = peso de matéria seca da amostra, kg, t., grama; Pt = (= Pa + Pms) = peso total da amostra, kg, t., grama. Sob o aspecto de tecnologia de alimentos em função do teor de umidade os alimentos podem ser classificados em três grandes grupos: • • • Perecíveis – são os alimentos que em estado natural possui alto teor de umidade. O que disponibiliza farta quantidade de água propiciando o desenvolvimento de microrganismos causadores de deterioração. Os alimentos enquadrados nesta categoria são: carnes, pescados, ovos, peixes, algumas hortaliças e frutas suculentas; Semiperecíveis – são enquadrados nesta categoria principalmente frutas e hortaliças não classificadas como perecíveis. Estes alimentos mesmo possuindo alto teor de umidade possuem tecidos de revestimento que servem como proteção. No entanto, uma vez rompido os tecidos de revestimento tornam-se produtos vulneráveis. Exemplos: banana e batata inglesa; Não perecíveis – pertencem a esta categoria alimentos que apresentam alto nível de resistência ao ataque de microrganismos. Isto por possuírem baixo teor de umidade. Neste grupo são enquadrados: cereais, grãos de oleaginosas, farinhas e açúcares. UFES - Universidade Federal do Espírito Santo 14 CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Na Tabela 8 é apresentada a composição de alguns aplimentos. Tabela 8 – Composição de alguns alimentos em percentagem da parte comestível. Valores percentuais. Alimentos Carboidratos Proteínas Gorduras Cinzas Água Cereais Farinha de trigo 73,9 10,5 1,9 2,7 12 Arroz beneficiado 78,9 6,7 0,7 0,7 13 Milho (grão) 72,9 9,5 4,3 1,3 12 Raízes e Tubérculos Batata inglesa 18,9 2,0 0,1 1,0 78 Batata doce 27,3 1,3 0,4 1,0 70 Hortaliças Cenoura 9,1 1,1 0,2 1,0 88,6 Rabanete 4,2 1,1 0,1 1,0 93,7 Aspargo 4,1 2,1 0,2 0,7 92,9 Vagem verde 7,6 2,4 0,2 0,7 89,1 Ervilha 17,0 6,7 0,4 0,9 75,0 Alface 2,8 1,3 0,2 0,9 94,8 Frutas Banana 24,0 1,3 0,4 0,8 73,5 Laranja 11,3 0,9 0,2 0,5 87,1 Maçã 15,0 0,3 0,4 0,3 84,0 Morango 8,3 0,8 0,5 0,5 89,9 Melão 6,0 0,6 0,2 0,4 92,8 Carnes Carne bovina 17,5 22,0 0,9 60,0 Carne de porco 11,9 45,0 0,6 42,0 Carne de galinha 20,2 12,6 1,0 66,0 Peixe (sem 16,4 0,5 1,3 81,8 gordura) Laticínios Leite 5,0 3,5 3,0 0,7 87,8 Queijo 5,0 15,0 7,0 3,0 70,0 Ovos 11,8 11,0 11,7 65,5 Fonte: Gava (1985) 1.6 Síntese do processo de digestão Uma das funções primárias do trato gastrointestinal, esquema na Figura 9, é absorver os macronutrientes, micronutrientes, águas e outras substâncias essenciais ao organismo humano. Para o desempenho dessa função é necessário a ocorrência do processo de digestão o qual envolve a participação de mais de oitenta diferentes substâncias como hormônios, enzimas, sais, ácidos e mucos. Por meio do processo da digestão o trato gastrointestinal humano está apto a absorção de nutrientes presentes em alimentos e bebidas como: carnes, bebidas lácteas, 15 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 derivados do leite, frutas, hortaliças, grãos, amidos complexos, açúcares, gorduras, azeites, e óleos. Alimentos e Bebidas Amilase Salivar Boca Esôfago Suco Gástrico - Pepsina - HCl Estômago quimo Pâncreas Suco Pancreático - Bicarbonatos - Enzimas (amilases) Duodeno Álcoois Cl-, SO4Ferro, Cálcio, Magnésio e Zinco Vesícula Biliar Bile Jejuno Glicose, galactose, frutose Coração Vitaminas Hidrossolúveis: C, Tiamina, Riboflavina, Piridoxina, Ácido fólico Enzimas secretadas por meio das microvilosidades Veia subclávia esquera e jugular interna esquerda Lacteias (Sistema linfático) Íleo Aminoácidos, di, tripeptídeos Vitamina A, D, E e K Gordura Colesterol Sais biliares e vitamina B12 Cólon Na+, K+ Vitamina K sintetizada por bactérias Figado H2O Veia porta hepática Figura 9 – Locais de secreção e absorção no trato gastrointestinal a (Fonte: L. KATHLEEN MAHAN SYLVIA ESCOTT-STUMP, Krause - Alimentos, Nutrição e Dietoterapia, 11 Edição ) A restrição do trato gastrointestinal humano está na digestão de algumas fibras vegetais as quais respondem por apenas 5 a 10% da energia necessária aos humanos. O excesso de ingestão de fibras faz aumentar a ocorrência de fermentação no intestino grosso, especificamente no cólon, produzindo gases como hidrogênio, gás carbônico, oxigênio, amônia, metano; e ácidos como acético, propiônico, butirico e láctico. O trato gastrointestinal possui por elementos (Figura 9): boca; esôfago; estômago; pâncreas, vesícula biliar; intestino delgado dividido em: duodeno, jejuno e íleo; intestino grosso dividido em cólon ascendente, transverso e descendente, reto e ânus. Na boca o tamanho dos alimentos é reduzido pela mastigação, e aos alimentos são misturados as secreções salivares que facilitam a deglutição. Diariamente, o corpo produz cerca de 1,5 L de excreções salivares, sendo que o principal constituinte é enzima amilase (ptialina) que dá início a digestão das moléculas de amido. UFES - Universidade Federal do Espírito Santo 16 CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Após a mastigação o alimento é deglutido e conduzido por meio do esôfago ao estômago, onde em razão do baixo pH é bloqueada a ação da amilase salivar. No estômago alimentos e bebidas são exposto a ação do suco gástrico que basicamente contém ácido hidroclorídrico e a forma inativa da pepsina (pepsiogênio). Esta em meio ácido resulta na pepsina que vai atuar na digestão de alguns agrupamentos específicos de proteínas. O processo de digestão no estômago pode durar de 1 a 4 horas e diariamente é produzido de 2 a 2,5 L de suco gástrico. E é no estômago que ocorre a absorção das diferentes formas de álcoois. Após a digestão estomacal o bolo alimentar toma um estado pastoso com teor de água de próximo de 50% sendo então denominado quimo. O quimo acidificado é então conduzido ao intestino delgado que mede entre 3,0 a 4,0 metros e onde o material permanece de 3 a 8 horas. Neste órgão é que ocorre boa parte do processo de digestão e de absorção de nutrientes. O intestino delgado (Figura 9) é segmentado em duodeno, jejuno e íleo; e internamente é revestido por uma mucosa constituída por células com ciclo de vida de 3 a 5 dias que formam microvilosidades. A área especifica de microvilosidades corresponde a 250 m2. Diariamente no intestino delgado são absorvidos 200 a 300g de monossacarídeos; 60 a 100g de ácidos graxos, 50 a 100g de aminoácidos e peptídeos, e 50 a 100g de íons. O início do processo de digestão no intestino delgado dá-se quando o quimo acidificado chega ao duodeno, nesse momento o quimo é envolvido pelo suco duodenal e as secreções do pâncreas e do trato biliar. O pâncreas secreta bicarbonato e enzimas. O bicarbonato serve para neutralizar a acidez do quimo, tornando o pH neutro o que viabiliza a atuação de diferentes enzimas provenientes do pâncreas e da mucosa intestinal que são capazes de digerir carboidratos, proteínas e lipídios. O trato biliar por meio da vesícula biliar lança ao duodeno a biles que contém água, sais biliares e pequenas quantidade de colesterol. Assim a bile com propriedades emulsificantes (detergente), devido a presença de sais biliares, facilita a separação das gorduras propiciando a digestão e absorção de diferentes formas de lipídios. O volume de bile excretado por dia é de aproximadamente 0,880 L. No intestino grosso, que mede cerca de 1,5 m, ocorre a absorção de fluidos remanescentes, íons como Na+ e K+, vitamina K e água. Grandes quantidades de muco secretado pela mucosa do intestino grosso protegem a parede intestinal de escoriações e atividade microbiana como também propicia a união das fezes. A flora do intestino grosso ajuda a fermentar carboidratos que permaneçam mal absorvido ou provenientes de fibras, como também, atuam sintetizando vitaminas como a K e B12, que são absorvidas pelo organismo. UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ERU-04016 Tecnologia de Alimentos – II/2005 - Prof. Luís César – Website: http://www.agais.com/tal Tabela Anexo I – Descrição das funções e fontes de vitaminas. Vitamina Função 17 Fontes Vitaminas Lipossolúveis A Aprimora a qualidade da visão. Atua no desenvolvimento dos ossos Gema de ovo; fígado; leite integral; creme de leite; queijos; manteiga; (Retinol) e manutenção da pele, cabelos e unhas. Protege o organismo margarina e peixe. contra infecções e envelhecimento precoce. D Protege organismo de infecções. Atua na produção de insulina e (Calciferol) hormônios sexuais. Participa dos processos bioquímicos de Óleo de fígado de bacalhau; peixes; margarina; ovos e manteiga. absorção de cálcio, fósforo e da vitamina A. E Atua como antioxidante. Previne o envelhecimento precoce. Atua no Óleo de girassol, milho, azeite de dendê; azeite de oliva, óleo de soja, (Tocoferol) metabolismo repolho e ovos. K Previne a ocorrência de hemorragias internas e externas. Controla o das células musculares e no processo de gametogênese. Facilita a absorção de vitamina A. Couve-flor, batata, alface, brócolis, manteiga, ovos, ervilha e carne. fluxo menstrual. Vitaminas hidrossolúveis B1 Estimula o crescimento e auxilia a digestão de carboidratos. (Tiamina) Melhora as atividades mentais e musculares. Atua positivamente B2 Auxilia no crescimento, reprodução e formação da pele, unha e (Ribioflavina) cabelos. B5 Atua no processo de multiplicação celular em diversos tecidos. Carne, peixe, fígado, ovos, feijão, pães integral, massas, e batata. sobre o sistema nervoso e cardíaco. (Ácido Pantotênico) B6 ( Piridoxina) Carnes, vísceras, leite, queijos, vegetais, frutas e gema de ovo. Fígado, rim, coração, leveduras, ovos, leite, trigo, centeio, farinha de soja, brócolis e cogumelos. Atua no metabolismo de proteínas e lipídios. Auxilia combater Sardinha, fermento biológico, arroz integral, lentilha, carne de porco e problemas nervosos e da pele. Combate câimbras. ovo. B12 Atua na assimilação de energia e metabolismo do crescimento. Peixes, carnes, laticínios, vísceras, leite, ovos, leguminosas e vegetais. (Cianocobalamina) Propicia o combate a anemia Niacina Atua junto com enzima digestiva. Vísceras, peixes, ovos, leite,vegetais, leguminosas e frutas. C (Ácido ascórbico) Ajuda a cicatrização, soldadura de ossos. Previne hemorragias, Frutas cítricas, manga, mamão, banana, tomate, repolho, pimentão, infecções gengivais e bucais, resfriados. Combate o envelhecimento couve e brócolis. precoce. Ajuda a absorção de ferro e redução do colesterol. UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ERU-04016 Tecnologia de Alimentos – II/2005 - Prof. Luís César – Website: http://www.agais.com/tal Tabela Anexo I – Descrição das funções e fontes de minerais Mineral Função K – Potássio 18 Fontes Atua no funcionamento dos sistemas nervoso, cardíaco e muscular. Hortaliças, leguminosas, frutas, leite e derivados, carnes, peixes e ovos. Ca – Cálcio Constituinte dos ossos e dentes. Tem importância na condução nervosa, Leite e derivados, manteiga, hortaliças de folhas verdes, frutas contração cítricas, soja e carne. muscular, freqüência cardíaca, coagulação sanguínea, produção de energia e manutenção da função imunológica. Previne osteoporose. P – Fósforo Participa nos processos de absorção de carboidratos, gorduras e Carnes, peixes, ovo, feijão, nozes e ervilha. aminoácidos. É essencial para o perfeito funcionamento do sistema nervoso. Mg- Magnésio Atua sobre musculatura cardíaca. Ativa enzimas da digestão. Participa Cereais, gema de ovo, frutas, ervilhas, nozes e hortaliças da síntese de proteínas, carboidratos e lipídios. Atua na contração folhosas. nervosa e condução de impulsos nervosos. Fe – Ferro Propicia a formação dos glóbulos vermelhos. Previne e cura a anemia. Fígado, carnes, gema de ovo, hortaliças de folha escura. Zn – Zinco Atua no processo digestivo, síntese de proteínas e cicatrização de Cereais, carne de aves, frutos do mar, ovos, sardinha, soja e ferimentos e queimaduras. feijão. Atua na síntese de proteínas e absorção de ferro Nozes, castanha, fígado, leguminosas secas (lentilha e grão Cu – Cobre de bico) I - Iodo Estimula a produção de hormonal da tiróide Sal iodado, peixes marinhos e frutos do mar Cr – Cromo Participa do processo de absorção das moléculas de glicose pelas Fígado, batata, queijo, figo, frutos do mar, carne bovina e células. Atua no metabolismo de lipídios. grãos. Auxilia na manutenção dos músculos. Atua junto com a vitamina E. Alho, brócolis, cebola, cogumelos, farelo de trigo, frutos do Diminui a formação de radicais livres no organismo. Tem importância na mar, ovos, leite. Se – Selênio função imunológica. Mn – Manganês Atua sobre o funcionamento do sistema nervoso, crescimento dos ossos, Cereais, nozes, hortaliças e frutas. reprodução e funcionamento das células. F - Flúor Pode evitar a cárie dentária, previr a osteoporose e algumas doenças cardíacas. Água potável, algas e carne.