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na Igreja e no mundo
SUPLEMENTO Leitura Espiritual
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ANO XXIX - N.6 - 2011 R$ 15,00 - € 5
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ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L.
ISSN 1827-627X
nella Chiesa e nel mondo
A FÉ DÁ SINAIS NOS ESTADOS UNIDOS
Entrevista com o cardeal Donald Wuerl, arcebispo de Washington
Um artigo de Miguel Díaz, embaixador dos Estados Unidos
junto à Santa Sé, sobre os católicos afro-americanos
ano XXIX
N.
Sumário
6 ano 2011
Na capa: no alto, o cardeal Donald Wuerl, arcebispo de
Washington; embaixo, católicos afro-americanos rezando
EDITORIAL
p. 22
O mais importante são as notícias do exterior
4
— por Giulio Andreotti
CAPA
ESTADOS UNIDOS
A volta à simplicidade da fé católica
Entrevista com o cardeal Donald Wuerl — de G. Cubeddu
34
História de uma fidelidade incomum
Reportagem da Turquia
Um modelo para o novo Oriente Médio
3OGIORNI
nella Chiesa e nel mondo
Diretor Giulio Andreotti
39
— por Jamie T. Phelps
We e nosotros no mosaico dos States
44
— por Miguel H. Díaz
NESTE NÚMERO
REPORTAGEM DA TURQUIA
Um modelo para o novo Oriente Médio
22
— por L. Biondi
REDAÇÃO
Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma
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3OGIORNI
nella Chiesa e nel mondo
é uma publicação mensal registrada
junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993
n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios
públicos diretos de acordo com a lei
de 7 de agosto de 1990, n. 250
Redação
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Pierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet,
Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi,
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Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale,
Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti,
Gianni Cardinale, Stefania Falasca,
Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger,
Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci,
Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi
Colaboraram neste número
Miguel H. Díaz, Jamie T. Phelphs
Escritório Legal
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Diretor responsável
Roberto Rotondo
Tipografia
Arti Grafiche La Moderna
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De segunda a sexta-feira das 9h às 18h
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Este número foi concluído na redação
dia 23 de julho de 2011
Impressão concluída no mês de agosto de 2011
“Buscar a democracia
sem polarizações ideológicas”
Entrevista com Bekir Karliga — por L. Biondi
“Este novo ar que se respira na Turquia”
Entrevista com Louis Pelâtre — por L. Biondi
Suplemento Leitura espiritual: Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra: Capa; pp.1,3,5,
7,8,9,10,11,13,14,17,18-19,20,21,22,23,24.
26
AMÉRICA LATINA
Proximidade e misericórdia
— por G. Valente
52
Só a humildade nos livra das chantagens
Entrevista com Carlos Aguiar Retes — por G. Valente
54
NOVA ET VETERA
Introdução
60
— por P. Mattei
Lebreton, teólogo crente
Um idealismo imprudente
— por L. Cappelletti
— por L. Cappelletti
64
66
ANIVERSÁRIOS
“Uma gratidão que cresce de ano em ano”
Entrevista com Georg Ratzinger
— por R. Rotondo e S. Kritzenberger
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: Reuters/Contrasto: Capa; pp.21,55,57;
Andrew Stern/Redux/Contrasto: Capa; Osservatore Romano: pp.4,5,74; Bbc Video-2008:
pp.7,8,11,14,16,17,18,20; Getty Images: pp.22-23,35,37,58; Lorenzo Biondi:
pp.23,24,25,26,27,28,29,30,31,32,33; Romano Siciliani: pp.26,48,50,64-65;
Rafael Crisostomo/Catholic Standard: pp.34,37,38; Associated Press/LaPresse:
pp.35,36,46,48,55,56,57,59; Piotr Spalek/Catholic Press Photo/CNS Photo: p.36;
Magnum/Contrasto: pp.40,46,46-47,47,49; Arquivo Mill Hill Missionaries: p.41;
Arquivo The Sisters of the Blessed Sacrament: p.42; Arquivo Oblate Sisters of Providence:
p.43; Luke Sharrett/Redux/Contrasto: p.44; Paolo Galosi: p.45;
Afp/Getty Images: pp.52-53,58,58-59; Gianni Valente: pp.52,53; Celam: p.54;
Lalo De Almeida/Contrasto: p.56-57; Keystone/Getty Images: p.72; Corbis: p.74
25
72
SEÇÕES
CARTAS DOS MOSTEIROS
6
CARTAS DOS SEMINÁRIOS
13
CARTAS DAS MISSÕES
14
CORREIO DO DIRETOR
19
30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO
48
30DIAS Nº 6 - 2011
3
Editorial
Sesquicentenário do L’Osservatore Romano
O mais importante
são as notícias do exterior
por Giulio Andreotti
Gostaria de me unir aos que festejaram
o L’Osservatore Romano que, em 1º
de julho de 2011, completou os seus cento e cinquenta
anos. Faço-o como decano dos leitores do jornal da
Santa Sé porque, como já contei em outras ocasiões,
comecei a comprá-lo no ano jubilar 1933, na banca
próxima da minha casa, a da via di Campo Marzio. Eu
tinha 14 anos e o dinheiro que minha mãe dava para
comprar meu lanche eu usava para comprar o L’Osservatore Romano, que na época custava vinte centavos.
A motivação era que o fato de comprá-lo dava uma ar
quase “nobre” e elitista. Na banca da via di Campo
Marzio, eu via sempre um senhor muito elegante com
um chapéu-coco que o comprava, e para dar um ar de
importância eu também comecei a fazê-lo. Na minha
casa não se liam jornais, e meus colegas do colégio que
compravam o Corriere dello Sport caçoavam um pouco comigo por esta minha leitura diária, mesmo se, no
final da jornada eu tinha chegado às duas fontes (o meu
L’Osservatore e o Corriere deles), enquanto que eles a
Os distribuidores do L'Osservatore Romano
diante da tipografia em uma foto de 1936
O mais importante são
as notícias do exterior,
porque no conformismo que
temos ao nosso redor, ter uma
fonte que apresenta as coisas
com uma certa objetividade
é um privilégio que não
se pode deixar escapar.
Também é interessante
a seleção, a ordem e o modo
como são propostas
as notícias do exterior
4
30DIAS Nº 6 - 2011
uma só. Eu era um menino e muitas coisas não entendia: como quando uma vez o pároco, ao ver-me com o
L’Osservatore, disse-me: “Muito bem, assim você pode saber todos os dias quem foi recebido pelo Santo Padre”. Na época isso não tinha grande importância para
mim, já que não me recebia, porém mais tarde pude
constatar como se podia dar notícias até mesmo através da listas das audiências. Como quando, em setembro de 1948, foi enviado a Pio XII o laicísssimo embaixador em Washington, Alberto Tarchiani, para explicar
ao Papa porque para a Itália teria sido um bem aderir ao
Pacto Atlântico, fato pelo qual havia alguns receios por
parte do Vaticano: no dia seguinte o L’Osservatore
não publicou a notícia da audiência na usual lista da primeira página, mas uma breve nota informava sobre a
presença em Roma do embaixador Tarchiani. Fato
que, junto com uma reportagem do dia seguinte sobre
as desordens que aconteciam na área vermelha de Berlim publicada nas páginas internas, deu a De Gasperi e
a mim a sensação de que a audiência teria acontecido e
que tinha sido positiva.
Acima, Guido Gonella na redação do L'Osservatore Romano
Voltando aos vinte anos de regime fascista, é de
grande importância recordar que o L’Osservatore era
o único instrumento que nos dava notícias sobre os
acontecimentos na Itália e no mundo. Com efeito,
eram anos nos quais era proibido falar de coisas italianas que não fossem os comunicados do Ministério da
Cultura popular do regime, e comprar o L’Osservatore num certo sentido era arriscado, mas qualificava um
pouco as pessoas, coisa quase incompreensível hoje
que somos todos iguais no nosso conformismo e ao
mesmo tempo somos todos diferentes no nosso individualismo.
Na época o jornal era boicotado e os fascistas faziam piquetes nas bancas, algumas pessoas foram
agredidas ao comprá-lo, como o historiador Claudio
Pavone. Apesar disso, o L’Osservatore era tão solicitado que superou a tiragem de duzentos mil exemplares por dia. Principalmente os Acta diurna de Guido
Gonella, que na época trabalhava no L’Osservatore
como redator de política externa, eram muito solicitados e lidos com atenção, pois eram uma importante janela aberta para o mundo. Gonella, através da sua seção, filtrava notícias de países estrangeiros que a vigiada imprensa italiana ignorava ou apresentava de maneira ultrajante. Os Acta diurna foram um precioso
instrumento de informação internacional que aproximou entre outras coisas ao mundo da Igreja também
muitos homens que estavam afastados. Mas todo o
L’Osservatore teve um papel extraordinário que hoje
é importante recordar: como quando publicou as mensagens de solidariedade que o papa Pio XII enviara aos
chefes de estado da Bélgica, Holanda e Luxemburgo
invadidos pelo exército de Hitler.
Na época, para nós jovens, só atravessar o limiar da
redação do L’Osservatore era uma honra e um título
nobre. Algumas vezes Gonella me recebia abusivamente desobedecendo o regulamento do diretor, o
conde Giuseppe Dalla Torre, que não queria visitas na
redação. Pensei que não era notado, porém anos mais
tarde li uma entrevista do ex-diretor do L’Osservatore
na qual ele contava, até divertido, de todas as vezes que
entrava no escritório de Gonella e eu me escondia
atrás da porta, e depois ele perguntava ao seu redator:
“Mas quem é o cujo?”.
Uma curiosidade ligada ao conde Giuseppe Dalla
Torre: uma vez escrevi-lhe que achava bizarro introduzir todos os discursos do Papa com a premissa: “Assim
como recolhemos dos seus augustos lábios” com a indicação entre parênteses das fontes das citações, incluindo as referências do Migne. Respondeu-me: “Por
que o senhor não diz diretamente ao Santo Padre?”. E
a conversa acabou ali mesmo.
Em fases alternadas discute-se sobre a oficialidade
ou sobre a oficiosidade do L’Osservatore. Uma vez a
oficialidade era férrea. Hoje talvez não, mas não quer
dizer que o jornal tenha mudado, porque um jornal reflete uma situação: é que mudaram os tempos e o que
era manchete ontem, hoje termina na última página e
vice-versa. Creio que também pelas posições a serem
assumidas, o caminho do equilíbrio seja sempre o melhor: ser prudentes, não pretender dizer sempre a última palavra, mas ter sempre a convicção de se deter na
penúltima. Todavia a tradição tem o seu valor, e ainda
hoje apoiar uma tese ou uma citação no L’Osservatore dá uma importância que em outro jornal não existiria. Hoje como então: Palmiro Togliatti motivou o voto
favorável aos Pactos Lateranenses na Assembleia
constituinte citando “os sinais” do L’Osservatore e
convidando Pietro Nenni a não subestimá-los.
Mas se tivesse que dizer qual foi a mais surpreendente “reprimenda” dada pelo L’Osservatore que eu
lembre, eu diria a do cardeal Ottaviani quando em nível governamental e institucional houve um aumentado desenvolvimento das relações entre a Itália e o governo soviético. No campo eclesiástico houve muito
mal humor a que deu voz o cardeal Ottaviani (de resto
uma grande figura de sacerdote romano). No dia seguinte, o L’Osservatore escreveu em poucas palavras
lapidares que o cardeal Ottaviani “exprimia suas
ideias pessoais”. Hoje nos parecem momentos de
normal administração, mas na época, para o tempo a
que nos referimos, eram viradas que marcavam época. Ter um parecer levemente diferente queria dizer
agir por conta própria.
Mas hoje, qual poderia ser o papel do L’Osservatore Romano no meio de tanta mídia?
O mais importante são as notícias do exterior, porque no conformismo que temos ao nosso redor, ter
uma fonte que apresenta as coisas com uma certa objetividade é um privilégio que não se pode deixar escapar. Também é interessante a seleção, a ordem e o
modo como são propostas as notícias do exterior. Porque isso também é um juízo – uma avaliação – mesmo
se implícita, que revela como se pensa. Quanto ao resto, não sendo do ramo, deixo o juízo sobre a crônica
vaticana e sobre os artigos teológicos aos eclesiásticos.
Porém gostaria de concluir essa minha mensagem
de felicitações ao L’Osservatore com um passo de Vittorio Bachelet, que alguns anos atrás o L’Osservatore
Romano publicou na seção de pensamentos espirituais e que conservo sempre entre os meus papéis pela
sua perdurável atualidade: “Os tempos ao nosso redor
não são fáceis: as dificuldades políticas, as incertezas,
as contradições nos advertem que será um caminho
muito arriscado, que requererá todo o nosso sentido
de responsabilidade, principalmente toda a nossa simples fé, toda a nossa viva esperança, toda a nossa mais
verdadeira caridade”.
q
30DIAS Nº 6 - 2011
5
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
Convite à oração
A redação de 30Giorni convida a todos, em particular as
pessoas consagradas dos mosteiros de clausura, a rezarem
por padre Giacomo Tantardini. Há alguns meses ele vem-se
tratando de um câncer de pulmão. Que o Senhor nos conceda
pedir com confiança o milagre da cura. Aos pais pedimos a
caridade de fazerem os seus filhos rezarem.
DOMINICANAS DO MOSTEIRO SAINTE CATHERINE
Langeac, França
Gosto de 30Jours pelos artigos e pelas fotos
Langeac, 16 de março de 2011
Senhor senador,
veio parar em minhas mãos a revista 30Jours e gosto
muito dela: não só dos artigos, muito interessantes e
profundos, mas também das fotos, que reproduzem
obras de arte muito bonitas de seu inesgotável patrimônio artístico italiano! Por isso tomo a liberdade de
escrever para pedir-lhe a bondade de me enviar o nº
12 de 2010 (e também algumas edições dos anos anteriores, se possível).
Agradecendo-lhe profundamente desde já, desejolhe uma santa Quaresma e uma jubilosa festa de Páscoa.
irmã Chantal Marie de Jésus
BENEDITINOS DO MOSTEIRO SÃO BENTO DA BAHIA
Salvador, Bahia, Brasil
Quem reza se salva para as crianças
da primeira comunhão
Salvador, 29 de março de 2011
Me chamo Ir. Anselmo,OSB e sou monge da Arquiabadia de São Bento da Bahia aqui no Brasil. Nós
qui somos assinantes da revista 30Dias e sempre a
lemos pois traz valiosos textos que servem para o
enriquecimento pessoal de cada Irmão da Comunidade Monástica.
Exerço aqui no mosteiro um trabalho de catequese
para a primeira Comunhão com 55 crianças e estou
6
30DIAS Nº 6 - 2011
enviando este e-mail
para pedir se seria possivel o envio de alguns
livros Quem reza se salva pois será excelente
suporte nos encontros e
na experência pessoal de cada um deles com Jesus.
Desde já agradeço a atenção.
Em Cristo,
Ir. Anselmo, O.S.B.
FILHAS DE MARIA IMACULADA
Roma
Lembraremos o senhor
e seus colaboradores na oração
Roma, 14 de maio de 2011
Estimado senador Giulio Andreotti,
nós lhe escrevemos para manifestar-lhe a nossa viva
gratidão pela prestigiosa revista 30Giorni, dirigida
pelo senhor, que continuamos a receber com muito
proveito espiritual e cultural.
Expressamos a nossa sincera gratidão lembrando o
senhor e seus colaboradores na oração, para que possam ter a luz e a força necessárias para levar adiante o
seu precioso serviço em defesa da verdade.
A Virgem Santíssima, Trono da Sabedoria e Mãe
da Igreja, abençoe e intensifique o grande bem que vocês vêm fazendo neste particular momento histórico.
Obrigada de coração e vivíssimos cumprimentos,
em Jesus ressuscitado.
Pelas irmãs Filhas de Maria Imaculada,
irmã Anna Rosa Turco, superiora-geral
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
CONVENTO DOS CAPUCHINHOS
CLARISSAS CAPUCHINHAS SACRAMENTÁRIAS
Módica, Ragusa, Itália
DO CONVENTO SAN JOSÉ
Durango, México
94 anos, vividos como capuchinho,
missionário, sacerdote, bispo
Nosso Senhor abençoe o seu trabalho
e o recompense com o cêntuplo
Módica, 19 de maio de 2011
Durango, 19 de maio de 2011
Caro diretor,
depois de cinquenta e três anos de missão, trinta e
dois dos quais como bispo, voltei à pátria e estou recebendo a sua revista 30Giorni nella Chiesa e nel
Mondo.
Acompanho o seu trabalho, autenticamente evangélico, leio e releio a revista, agradecendo-lhes por recebê-la e admirando a sua autêntica vida missionária.
Encontro-me no convento dos capuchinhos de Módica, onde afago a minha velhice depois de uma longa
vida de 94 anos, vividos como capuchinho, missionário, sacerdote, bispo.
Agradeço à redação de 30Giorni,
dom Giorgio Scarso,
bispo emérito, capuchinho
Imagens da China
As imagens que ilustram estas páginas
foram extraídas do documentário Wild China,
produzido pela BBC em 2008
Estimado senhor diretor,
nós nos dirigimos ao senhor para lhe agradecer pelo
envio da revista 30Días. Sua leitura nos foi muito útil e
pedimos a Deus que o senhor possa continuar a fazer
o bem da Igreja pela glória de Deus e a extensão de
seu Reino.
Somos clarissas capuchinhas sacramentárias do
mosteiro San José, em Durango, no México. Nós o teremos sempre presente em nossa oração e lembraremos também de toda a equipe da redação. Nosso ¬
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
Senhor abençoe o seu trabalho e o recompense com
o cêntuplo.
Muito obrigada. Esperamos continuar a receber
sua revista.
Fraternalmente,
as irmãs clarissas capuchinhas sacramentárias
DOMINICANAS CONTEMPLATIVAS
DO CONVENTO MADRE DE DIOS
Manatí, Porto Rico
A meditação sobre a Santa Páscoa nos fez bem
Manatí, 25 de maio de 2011
Estimado senhor Giulio Andreotti,
é um prazer escrever-lhe para lhe expressar a nossa
gratidão por sua fidelidade no envio da revista
30Días. Nós lhe agradecemos porque a leitura da revista, tão interessante, nos é de grande utilidade.
Nestes dias de Páscoa de Ressurreição, como encarte
da revista, o senhor nos enviou um opúsculo com uma
meditação sobre a Santa Páscoa, “El Hijo no puede ha-
8
30DIAS Nº 6 - 2011
cer nada por su cuenta”
(Jo 5,19), de padre Giacomo Tantardini. Fascinounos pela profundidade de
ideias e pelo modo como
são expressas. Foi o tema
de uma reflexão bela e
profunda em nossas reuniões comunitárias, e eu tive vontade de lhe dizer isto, para que saiba o bem
que esses escritos espirituais fazem a todos nós
que os recebemos graças a
sua bondade.
Sigam em frente com a ajuda de Deus e contem
com a nossa oração, a fim de que possam continuar a
difundir tudo o que pode ajudar espiritualmente tantas
pessoas. Todos os dias levamos até diante de Deus o
senhor, senador Giulio, seus familiares e seus colaboradores, para que os abençoe abundantemente.
Agradeço-lhe em nome de toda esta comunidade
de dominicanas contemplativas.
irmã María del Amor, O.P.
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
CLARISSAS DO CONVENTO EUCHARISTIC LORD
MOSTEIRO OUR LADY OF ROSARY
Tuguegarao City, Filipinas
Manila, Filipinas
Uma “viagem” através do mundo
Who prays is saved para o catecismo
das crianças
Tuguegarao City, 23 de maio de 2011
Manila, 27 de maio de 2011
Caro diretor Andreotti,
que Deus possa dar-lhe paz e toda bênção!
Nossa “viagem” com o senhor e os nossos irmãos e irmãs através do mundo representa a nossa sempre
crescente experiência de gratidão pelo dom da fé e da
nossa vocação contemplativa.
Obrigada por ter-nos permitido tocar o rosto de nossos irmãos de diferentes gerações e culturas por intermédio das tocantes palavras e fotografias de seus artigos.
É para nós uma grande alegria elevar orações pelas
preocupações da Madre Igreja e de toda a humanidade que o senhor traz à nossa consciência por meio dos
artigos de 30Giorni.
Pelo dom que representa para nós cada edição de
sua revista, nós lhe oferecemos o dom do nosso coração, aberto e constantemente à espera de Deus. Ficaremos felizes por rezar por cada intenção sua e de
seus colaboradores e pela publicação.
Deus o abençoe!
irmã Mary Charlemaine A. Asunción,
O.S.C., madre abadessa
CARMELITAS DO CONVENTO CRISTO REI
Paz!
Recebemos há vários anos a sua revista, que tem grande
influência sobre o nosso caminho espiritual relativamente aos afãs do mundo, que a sua revista nos apresenta.
Somos dominicanas de vida contemplativa de Manila e
o nosso mosteiro foi fundado em 1979. Como parte do
nosso apostolado, nossos leigos dominicanos ensinam faz
tempo o catecismo às crianças: seria possível, portanto,
receber pelo menos cinquenta exemplares do livro Who
prays is saved? Sabemos que talvez estejamos pedindo
demais, uma vez que gostaríamos de recebê-los gratuitamente, mas considerem-no uma ajuda à nossa comunidade, caros amigos e benfeitores. Distribuiremos o livro
também entre os nossos leigos dominicanos, para que
tirem inspiração dele. Nossa
sincera gratidão por seu
constante apoio a nós, contemplativas.
Estejam certos de nossas incessantes orações
por seu apostolado. Devotadamente sua,
São Francisco, Califórnia, Estados Unidos
irmã Maria Dominica
bibliotecária
Da Califórnia
São Francisco, 23 de maio de 2011
DOMINICANAS DO MOSTEIRO DO SANTÍSIMO ROSARIO
Paz, em Cristo!
Prezado senador Andreotti,
poderíamos pedir-lhe um exemplar de 30Giorni em
espanhol? Temos muitas irmãs em países de língua espanhola.
Jamais terminaremos de expressar a nossa admiração por sua revista e pelos muitos anos que o senhor
dedicou à sua realização.
Unidos na oração do nosso Senhor Ressuscitado,
madre Rosa Maria del Carmelo, O.C.D.
Caranqui, Equador
De nosso claustro dominicano,
nós os acompanhamos com a nossa oração
Caranqui, 28 de maio de 2011
Senhor diretor,
receba a nossa afetuosa e filial saudação com as orações da comunidade das religiosas do mosteiro do
Santísimo Rosario de Caranqui.
¬
30DIAS Nº 6 - 2011
9
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
Escrevo-lhe para agradecer-lhe de coração pela revista, útil e interessante, que nos envia regularmente.
Faz bem lê-la e conhecer a realidade da Igreja e do
mundo de hoje; é um instrumento de evangelização e
de missão para todos aqueles que a recebem.
Em nossa comunidade a revista é acolhida muito
bem e por isso lhe escrevo: para agradecer-lhe e parabenizá-lo por sua preciosa missão, que, por intermédio da revista, está-se tornando um instrumento eficaz
para a nova evangelização. Nós, do nosso claustro dominicano, os acompanhamos com a nossa oração,
para que continuem a seguir adiante.
Despedimo-nos pedindo-lhe que estenda a nossa
saudação a toda a equipe da revista 30Días. Deus
abençoe a todos. Fraternalmente,
irmã María Natividad Espín,
O.P., prioresa, e comunidade
CLARISSAS CAPUCHINHAS CONTEMPLATIVAS
DO CONVENTO DE MACAPÁ
Macapá, Amapá, Brasil
Obrigada pela belíssima
meditação
sobre a Santa Páscoa
Macapá, 29 de maio de 2011
A sua excelência Andreotti os
nossos obséquios e o desejo
de paz e bem!
Somos irmãs clarissas capuchinhas contemplativas. O
nosso mosteiro nasceu na zona rural, a doze quilômetros de
Macapá, capital do Estado do
Amapá, no Brasil.
Gostaríamos de agradecer
não apenas pela revista, que
une às virtudes estéticas notícias interessantíssimas e
ao estilo inteligente as profundas inspirações da fé,
mas também pela belíssima meditação de padre Giacomo Tantardini.
Enviamos realmente um grande, fervoroso “obrigada”!
as irmãs clarissas capuchinhas
10
30DIAS Nº 6 - 2011
MOSTEIRO EWIGE ANBETUNG
Innsbruck, Áustria
De um mosteiro do Tirol,
aos pés dos Alpes
Innsbruck, 29 de maio de 2011
Estimado senhor Andreotti,
há muito tempo eu desejava escrever-lhe para agradecer, em meu nome e de todas as minhas irmãs da
comunidade, pela tão apreciada revista que nos envia regularmente há muitos anos. Sei que muitos de
nossos mosteiros da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento também gozam do privilégio de recebê-la gratuitamente; por isso, posso apenas dizer:
que Deus o recompense e, como dizemos aqui, “Vergelt’s Gott!”.
Sou uma freira adoradora chilena, embora hoje
pertença a este mosteiro do Tirol, aos pés dos Alpes,
nesta bela cidade. A sua revista nos instrui e informa
sobre temas escolhidos com cuidado, que ampliam o
nosso horizonte de oração pela Igreja e pelo mundo e
que, para nós, religiosas de clausura, nem sempre são
acessíveis. Gostamos muito de ler os interessantes artigos sobre a Igreja universal e
de contemplar as belas imagens dos ícones e das pinturas antigas reproduzidas
nessa revista abençoada. Quanta alegria
tive ao saber daquela menina romana,
apaixonada por Jesus Eucaristia, Antonietta Meo, que rezava uma oração muito
semelhante à que rezamos nós, religiosas,
todas as vezes que soa o sino para a troca
de turno de adoração. Ora, é a minha homônima espiritual!
Há três anos foi beatificada em Roma
madre Maria Madalena da Encarnação,
fundadora da nossa Ordem. Não tendo
podido assistir pessoalmente à cerimônia, e vendo o vídeo alguns meses depois, reconheci uma pessoa que eu conhecia: o senhor! Ou estou errada? Seja como for, fiquei muito
feliz de que tenha participado da cerimônia de beatificação. O senhor é uma pessoa importante para as
nossas comunidades.
Estimado senhor, desculpe-me se lhe peço ainda
uma coisa: poderia nos enviar um outro exemplar
da revista em espanhol? É a minha língua materna e
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
há textos de teologia ou outros que eu gostaria de
entender melhor. Além disso, poderia compartilhar
a revista com sacerdotes latino-americanos que fazem o doutorado em Innsbruck, na Universidade
dos Jesuítas.
Eu, a minha superiora, as minhas dez companheiras austríacas e a nossa postulante alemã rezamos pelo senhor e por toda a sua equipe. Deus conceda ao
benfeitor universal da vida contemplativa muita saúde
e ainda muitos anos de vida.
Com atenção,
tualmente, já há muito tempo. Queremos que receba
a nossa gratidão por todo o bem que faz, mantendonos informadas sobre a atualidade da Igreja e sobre o
que acontece ao seu redor. É um instrumento muito
valioso e muito útil, que aproxima mais da Igreja e dos
nossos irmãos no mundo.
Que o Bom Deus o abençoe e a seus colaboradores
pelo trabalho que realizam, por sua grande generosidade e bondade, com abundantes graças e bênçãos.
Conte com nossas orações e que nossa Mãe, a Virgem
do Carmelo, o guarde em seu Coração imaculado.
Gratas e unidas na oração do carmelo,
irmã María Antonieta de la Cruz Victoriosa, A.P.
madre Ana del Niño Jesús, prioresa, e comunidade
CARMELITAS DESCALÇAS DO CONVENTO DEL CARMEN
Lima, Peru
DOMINICANAS DO ROSÁRIO PERPÉTUO
DO CONVENTO PIUS XII
De um carmelo de Lima
Fátima, Portugal
Lima, 3 de junho de 2011
Who prays is saved
para os peregrinos de Fátima
Caro senhor Giulio Andreotti,
deste carmelo de Lima, no Peru, nós lhe enviamos as
nossas mais afetuosas e fraternais saudações e queremos lhe agradecer infinitamente pela assinatura gratuita da revista 30Días en la Iglesia y en el Mundo,
que com tanta generosidade nos envia, sempre pon-
Fátima, 6 de junho de 2011
Prezada redação,
obrigada pelo envio regularíssimo de 30Days. Nós lhe
somos gratas por isso.
¬
30DIAS Nº 6 - 2011
11
Cartas dos mosteiros
Já que aqui, em Fátima, é época de peregrinações,
poderíamos pedir-lhes cinquenta exemplares de Who
prays is saved? Iriam acrescentar-se ao pequeno
apostolado que fazemos aqui com publicações sobre
Fátima, opúsculos e pequenos livros. Sabemos o
quanto é importante frisar o valor das orações simples, aquelas que nos foram ensinadas quando éramos crianças.
Se cinquenta exemplares forem caros demais para
vocês, pedimos que nos informem e providenciaremos o complemento da soma necessária.
Agradeço-lhes, sinceramente sua,
irmã Mary Lawler
IRMÃS DA VISITAÇÃO DA FILADÉLFIA
Filadélfia, Pensilvânia, EUA
Uma novena ao Sagrado Coração por 30Giorni
Filadélfia, 24 de junho de 2011
CAPUCHINHAS DO CONVENTO NOTKERSEGG
San Gallo, Suíça
Cinquenta exemplares
de Quem reza se salva em alemão
San Gallo, 16 de junho de 2011
Prezados senhores,
usamos um tom solene como convém para contatar a
excelente 30Giorni.
Queiram mais uma vez aceitar o nosso sincero
“Deus os abençoe!” pela belíssima revista 30Giorni,
que, como comunidade contemplativa, mês após mês
nos é dado receber e que, como espelho da Igreja universal, é sempre muito bem acolhida e lida de “a” a “z”.
Agora, porém, estamos aqui mais uma vez para
contatá-los por uma “questão de negócios” e gostaríamos de lhes encomendar formalmente cinquenta
exemplares do livrinho de orações fundamentais em
alemão. Nós o ofereceremos a quem nos vier encontrar para a nossa divina liturgia. Muito obrigada!
Ao lado de um respeitosíssimo cumprimento particular ao senhor senador Giulio
Andreotti, cumprimento também a vocês,
prezados senhores da redação,
Caro senhor Andreotti,
faz algum tempo que queríamos agradecer-lhe pelo
envio gratuito de sua bela
e estimulante revista
30Giorni. Possa Deus
abençoar e recompensar
abundantemente o senhor
e todos os seus colaboradores por esse precioso
dom espiritual.
Somos particularmente
gratas pelo excelente artigo de Giovanni Ricciardi
“Do not fear anything...”,
sobre o Sagrado Coração
e Santa Margarida Maria, com as ilustrações originais
da túnica da Visitação.
Neste momento estamos fazendo uma novena de
missas em homenagem ao Sagrado Coração e nela
lembraremos todos vós de 30Giorni, pedindo ao Sagrado Coração que derrame sobre vós suas grandes
bênçãos.
Deus seja louvado,
Senhor Giulio Andreotti,
agradecemo-lhes vivamente pelo envio regular
e gratuito da revista 30Giorni. Nós a apreciamos muito.
Ficaríamos muito felizes em receber seis exemplares de “Le Fils ne peut rien faire de lui-même”, a
meditação de Páscoa de padre Giacomo Tantardini.
Naturalmente os ressarciremos das despesas de
expedição.
Em grande união na oração, com toda a nossa gratidão.
Ir. Frances de Sales pela
madre Antoinette Marie Walker, V.H.M.
irmã Marie-Odile, ecônoma
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30DIAS Nº 6 - 2011
irmã M. Gertrud Harder
CARMELITAS DO CONVENTO DE COGNAC
Cognac, França
“Le Fils ne peut rien faire de lui-même”
Cognac, 4 de julho de 2011
Cartas dos seminários
SEMINÁRIO GOOD SHEPHERD
Sydney, Austrália
A meditação sobre a Santa Páscoa e 30Giorni
para os seminaristas australianos
Sydney, 28 de maio de 2011
Prezada redação de 30Days,
no mês passado recebi com imenso prazer
um exemplar de sua revista e agora chegou
outro!
Sou muito grato a vocês por isso. A revista
se apresenta muito bem, e também os seus
conteúdos irradiam a beleza da verdade.
Fiquei particularmente impressionado
com a meditação sobre a Santa Páscoa intitulada “The Son cannot do anything on his
own”. É possível adquirir cinquenta exempla-
res, em inglês, para os nossos seminaristas,
aqui de Sydney?
De que modo posso pagá-los?
Informem-me também se continuarão a
enviar-me o exemplar mensal de 30Days. Eu
ficaria feliz em assiná-la pessoalmente, mas
talvez esteja previsto por vocês o envio gratuito aos seminários. Estou certo de que muitos dos nossos seminaristas a assinariam, depois de ordenados.
Seu, em Cristo,
padre Anthony Percy,
reitor
SEMINÁRIO ARQUIDIOCESANO SANTO CURA DʼARS DE
SEMINÁRIO SÃO CAMILO
MERCEDES-LUJÁN
Iomerê, Santa Catarina, Brasil
Mercedes, Argentina
Obrigado do Brasil
30Giorni na Argentina
Iomerê, 9 de maio
de 2011
Mercedes, 30 de março de 2011
Eu me chamo Juan Cruz Horn e sou um seminarista da arquidiocese de Mercedes-Luján, na
Argentina. Estou interessado em assinar a revista, da qual sou um assíduo leitor, mas o preço da assinatura não está ao meu alcance. De
fato, para tê-la, tenho de encontrar exemplares de cortesia.
Gostaria de saber se existe a possibilidade de ter o
benefício de um desconto ou de algo do gênero.
Agradeço desde já pela atenção a este pedido.
Em Jesus e Maria,
Prezados senhores,
recebemos regularmente
essa excelente revista.
Muito obrigado. O último
número veio acompanhado do livrinho de meditações sobre a Santa Páscoa. Maravilhoso. Aproveitamos a oportunidade para renovar nossos agradecimentos e pedir sempre suas orações para a nossa Província.
Com a maior estima.
Juan Cruz Horn
padre Carlos Alberto Pigatto
30DIAS Nº 6 - 2011
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Cartas das missões
Cartas das missões
Igreja universal e com o mundo. Espero e
agradeço que no-la continue a enviar.
Muito grato
D. Luís Gonzaga Ferreira da Silva,
Bispo emérito de Lichinga
MISSIONÁRIOS SALESIANOS
Ron Phibun, Tailândia
Da Tailândia
Ron Phibun, 2 de maio de 2011
MISSIONÁRIOS XAVERIANOS
Vila Ulongué, Moçambique
30Dias é um laço de união
com a Igreja universal e com o mundo
Vila Ulongué, 25 de março de 2011
Senador Giulio Andreotti,
Saudações fraternas.
Vimos por meio desta agradecer com todo o coração a revista 30Dias que temos recebido regularmente com muita alegria.
Sou um bispo emérito de Lichinga onde permaneci
por 30 anos como pastor daquela diocese, no norte de
Moçambique. Quando atingi o limite de idade, pedi para regressar à Missão de S. Francisco Xavier, no distrito
de Angónia, onde já tinha estado por
oito anos. Aqui continuo o trabalho
de missionário, com os jesuítas fundadores desta missão: visito as comunidades, e assisto-as no seu crescimento cristão, ajudo na formação
dos animadores das comunidades,
dou assistência espiritual às Irmãs
missionárias de três paróquias,
acompanho os doentes, particularmente os leprosos e atendo os jovens
sobretudo os estudantes.
Aprecio muito a vossa revista
30Dias. É um laço de união com a
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30DIAS Nº 6 - 2011
Estimado senador Andreotti,
às vésperas da Páscoa, com alegre surpresa recebi sua
revista 30Giorni, trazendo os votos de boa Páscoa.
Quase pensava que já não chegaria. Tenho de admitir que sou um daqueles afortunados que recebe
gratuitamente a sua revista há vários anos (certamente desde 2000 ou 2001). Sempre a li inteira e depois
a enviava a outro missionário, que vive a cem quilômetros da minha residência.
Escrevi apenas duas vezes para agradecer-lhe (talvez poucas) e desta vez é para confirmar que ainda estou aqui em Ron Phibun (já há pelo menos vinte e oito
anos) e para dizer que o n. 3 de 2011 de 30Giorni é
realmente interessante. Eu diria necessário.
Obrigado também por alguns livros que recebi
ao longo dos anos: os escritos de Paulo VI sobre
Santo Agostinho, Quem reza se salva (em italiano
e em chinês), o belo livro de Mazzolari Anch’io voglio bene al papa... Quando falo
com amigos padres tailandeses me
dou conta logo de quanto faz falta
a eles tamanha literatura cristã e
teológica, que nós europeus continuamos a absorver como história e
memória de muitos fatos de fé, base para uma mentalidade de Igreja
universal.
Obrigado. Faço votos de boa
saúde e de que traga sempre a Páscoa no coração... e muitas bênçãos.
padre Renzo Rossignolo
Cartas das missões
Cartas das missões
MISSIONÁRIOS JESUÍTAS
Kannur, Kerala, Índia
Muitos usarão
Who prays is saved
e rezarão e serão salvos
Kannur, 10 de maio de 2011
Kannur, 20 de maio de 2011
Caríssimo senador Andreotti,
agradeço-lhe de coração pelo envio dos
preciosos livrinhos em inglês Who prays
is saved.
Muitos usarão esse livrinho e rezarão e
serão salvos.
E o senhor receberá por isso o grande
prêmio no céu, pois, como ensina Santo
Agostinho, a quem salva uma alma é assegurada a salvação de sua própria.
Asseguro-lhe que, ao lado de meus numerosos neófitos, rezamos por seu grande apostolado missionário.
Com grande afeto e orações mútuas,
continuo seu sempre afeiçoadíssimo comissionário,
Prezado senhor diretor,
agradeço-lhe de coração pelo segundo
envio dos livrinhos em inglês Who prays
is saved. Agora gostaria de lhe perguntar
se tem em inglês a Súplica a Nossa Senhora de Pompeia, que se encontra em
seu livrinho Chi prega si salva em língua
italiana. Gostaria de tirar uma cópia na
língua local, malayalam, para os meus
muitos neófitos.
Agradeço-lhe de coração e lhe asseguro minhas orações por seu maravilhoso
apostolado missionário.
Com grande afeto, sempre em união
de oração, permaneço seu afeiçoadíssimo co-missionário,
padre L. M. Zucol, S.J.
padre L. M. Zucol, S.J.
30DIAS Nº 6 - 2011
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Cartas das missões
MISSIONÁRIAS CAPUCHINHAS
Cartas das missões
Em união a Jesus e sempre grata, sua irmã, em
Cristo,
Fianarantsoa, Madagáscar
irmã Maria Amata
Esta maravilhosa e preciosa revista
chega até os confins do mundo
PARÓQUIA SAINT ÉTIENNE DʼADJOHOUN
Fianarantsoa, 13 de maio de 2011
Porto-Novo, Benin
Caro senador Giulio Andreotti,
receba um caro, fraternal cumprimento da distante missão
de Madagáscar e a expressão da nossa gratidão por sua
grande generosidade ao ter-nos enviado os preciosos livrinhos Quem reza se salva, tanto em francês quanto em italiano, e outro material, já nas mãos das jovens que formamos e de todos aqueles que vêm rezar em nossa capelinha.
Obrigada de coração. Que o Senhor o recompense por sua grande generosidade e por seu amor por
nós e pela oração. Um agradecimento sincero também a todos os seus colaboradores: sem eles esta maravilhosa e preciosa revista não poderia ser conhecida
e apreciada por ninguém, mas graças a eles chega até
os confins do mundo e a Palavra de Deus e a vida da
Igreja e do mundo chegam às mãos de muita gente.
Nós lhe asseguramos nossa oração cotidiana pelo
senhor e pela redação. Pedimos a oração de vocês.
Qui prie sauve son âme
para os catecúmenos
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30DIAS Nº 6 - 2011
Porto-Novo, 18 de maio de 2011
Amigos de 30Jours,
peço respeitosamente a benevolência de me enviarem alguns exemplares de seu livro Qui prie sauve
son âme, para ajudar os catecúmenos e os outros fiéis
no caminho da oração.
De fato, como sacerdote, acompanho os catecúmenos e me dedico a eles com todo o coração.
Queiram receber a expressão de meus agradecimentos antecipados e de meus sentimentos fraternos
em Cristo.
padre Gislain Prudencio A. Falade
Cartas das missões
Cartas das missões
PARÓQUIA NOTRE-DAME DE LOURDES DI DANGBO
Dangbo, Benin
Qui prie sauve son âme, maravilhoso e útil
Dangbo, 25 de maio de 2011
Caro senhor,
meu nome é Léonora Agomma, sacerdote. Tive a alegria de descobrir na casa de um amigo o livrinho Qui
prie sauve son âme. Eu o achei maravilhoso e realmente muito útil para todo cristão. Gostaria de saber
como poder obtê-lo, dado que tenho a intenção de propô-lo aos meus catecúmenos, que este ano são 190.
Obrigado.
padre Léonora Agomma
Dangbo, 6 de junho de 2011
Caro senhor,
recebi os livrinhos Qui prie sauve son âme e gostaria
de expressar, com esta carta, não apenas a minha gratidão, mas também a dos meus catecúmenos e fiéis,
aos quais distribuí todos os livrinhos domingo passado, no final da missa da tarde.
Foi, para eles, uma satisfação imensa, e aqueles
que não o receberam não param de me pedir. Tudo é
graça. Deus os abençoe pelo grande bem que fizeram
a esses jovens.
Agradeço-lhes infinitamente.
Se for possível, gostaria de conhecer melhor
30Jours.
padre Léonora Agomma
MISSIONÁRIOS DO SAGRADO CORAÇÃO
São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, Brasil
Quatrocentos exemplares de Quem reza
se salva para o povo indígena da amazônia
São Gabriel da Cachoeira, 3 de junho de 2011
Estimado Sr. Giulio Andreotti, saudades!
Caro Diretor da revista 30Dias, agradeço imensamente
pelo rico trabalho que o senhor presta à Igreja e cordialmente o cumprimento como um irmão menor em Cristo.
Tomo a liberdade de apresentar-me. Sou padre
Reuberson Ferreira. Faço parte da Congregação dos
Missionários do Sagrado Coração. Tenho um ano e
meio de padre e trabalho no interior do Amazonas na
imensa diocese de São Gabriel da Cachoeira, no extremo norte do Brasil. Desde abril do ano passado fui
designado para assumir uma paróquia nesta área. Trata-se de um trabalho necessário, contudo, imensamente árduo. Trabalhamos basicamente com os povos indígenas (mais de 23 etnias). Aqui já há uma história de mais de cem anos de trabalho missionário e de
evangelização protagonizado pelos salesianos e coadjuvado pela nossa congregação.
Estando nesta região e sentindo a realidade, pude
perceber que, em muitos aspectos, o povo tem uma
profunda fé e uma prática constante do catolicismo,
sobretudo nas gerações mais maduras. Uma preocupação, contudo, tomou-me de assalto, os mais jovens
têm pouca formação religiosa e até as orações principais do cristianismo estão sendo desaprendidas.
Lendo a revista 30Dias, que o bispo diocesano D.
Edson Damian me repassa quando acaba de ler, percebi na riqueza das páginas que descortinam o mundo
eclesial, bem como a maravilha que é esse pequeno
opúsculo chamado Quem reza se salva. Creio que em
nível de subsídio para uma meditação e revisão das
orações principais do cristianismo ele seja fabuloso.
Revirando a biblioteca da diocese achei um exemplar
e ratifiquei meu pensamento.
Com disposição em adquirir uma quantidade razoável (cerca de quatrocentos exemplares), decidi pesquisar os valores. Esse fato contudo desanimou-me, a
nossa paróquia não tem condições de pagar tão alto
custo. Por isso resolvi pedir-lhes que me doassem esse
material. Comprometo-me, se preciso, em ajudar a
custear as despesas de expedição. Enfim, esse é o ¬
30DIAS Nº 6 - 2011
17
Cartas das missões
meu desejo para poder servir melhor este povo indígena da amazônia.
Por fim, despeço-me fraternalmente e aguardo
uma resposta sua (oxalá seja positiva).
Com afeto,
padre Reuberson Ferreira, M.S.C.
DIOCESE DE IGLESIAS
Nuxis, Carbonia-Iglesias, Itália
30Giorni do Quênia para a Sardenha
Nuxis, 19 de junho de 2011
Caros amigos,
até o ano passado fui missionário no Quênia (por dezesseis anos), ao lado de outro padre, em Camp Garba, no vicariato apostólico de Isiolo. Recebemos regularmente a revista 30Giorni em inglês, a língua oficial
18
30DIAS Nº 6 - 2011
do Quênia, e ficamos muito felizes por lê-la e ser informados das notícias sobre a Igreja Católica por meio
desse importantíssimo meio de informação.
Agora estou novamente em casa, pois o bispo da
nossa diocese de Iglesias nos chamou de volta, pela
nossa idade: eu tenho 82 anos e o meu confrade, 76.
Agora a missão está sob a responsabilidade dos Missionários da Consolata de Nairóbi, que estão desenvolvendo um ótimo trabalho.
Lembro e tenho saudade da leitura de 30Giorni,
que foi também muito útil para aprender inglês, e
gostaria de continuar a receber sua revista. Mas, como eu era pobre na missão no Quênia, sou pobre
também agora: ajudo numa grande paróquia em Carbonia, onde o dinheiro é pouco.
Se o diretor e vocês puderem me ajudar, eu poderia celebrar missas segundo as suas intenções.
Deus abençoe a todos vocês, às suas famílias e ao
seu trabalho.
padre Giulio Ballocco
Correio do Diretor
ARQUIDIOCESE DE OLINDA E RECIFE
Recife, Pernambuco, Brasil
Obrigado pelos suplementos
de rico teor espiritual e teológico
Recife, 31 de maio de 2011
Excelentíssimo senhor diretor,
Cumprimentando Vossa Excelência, desejamos
agradecer pelo envio, com pontual regularidade,
da revista 30Dias, pela qual o senhor empenha
seus esforços como diretor, tornando-a uma excelente publicação de referência para todos os
que têm o prazer de recebê-la, muitas vezes
acompanhada de suplementos de rico teor espiritual e teológico, como a Meditação sobre a
Santa Páscoa, do padre Giacomo Tantardini.
Nossa gratidão e nosso reconhecimento, igualmente, são a todos os que a tornam generosamente possível para os que a ganham gratuitamente. É
COMPANHIA DOS SACERDOTES DE SÃO SULPÍCIO DE
MONTREAL
Montreal, Quebec, Canadá
um sinal de comunhão
e apreço por nós, que
recebemos de Deus a
missão de pastorear a
Igreja do Senhor.
Para evitar qualquer
extravio no recebimento de 30Dias, informo o novo endereço de nossa
Cúria Metropolitana.
Respeitosamente,
Dom Antônio Fernando Saburido, O.S.B.
Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife
A presente carta é para agradecer calorosamente por
todas as edições que recebi e para encorajá-lo a continuar
esta obra de educação da inteligência e da fé na Igreja.
30Giorni: obra de educação
da inteligência e da fé
Jacques D’Arcy, P.S.S., superior provincial
EMBAIXADA DA REPÚBLICA DO CONGO
Montreal, 10 de maio de 2011
Paris, França
Caríssimo senhor Andreotti,
já há alguns anos recebo sua esplêndida revista
30Giorni. Sempre me surpreendo, tanto com a qualidade das informações quanto com o belíssimo revestimento gráfico que nos são oferecidos pela revista que
o senhor dirige.
O senhor nos mantém a par dos principais acontecimentos da Igreja universal com os vários artigos sobre espiritualidade, arte cristã, liturgia e com os artigos de Nova et Vetera.
Só posso parabenizá-lo e oferecer-lhe meu apoio
para que continue a publicar esta revista, que, sem
dúvida alguma, produz grandes frutos espirituais na
Igreja.
Pedido de Qui prie sauve son âme
Paris, 18 de maio de 2011
Senhor diretor,
sou uma leitora apaixonada de 30Dias. Felicito-os por
todo o trabalho que fazem para nos manter a par da
notícias relativas à Igreja e ao mundo.
Peço-lhes a gentileza de me enviar quatro exemplares em francês do livrinho Qui prie sauve son âme.
Agradeço-lhe do fundo do coração, e cumprimento-o cordialmente.
Christine Mavoungou
30DIAS Nº 6 - 2011
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Correio do Diretor
REVISTA LEAVES, DOS MARIANNHILL FATHERS
Dearborn, Michigan, EUA
Quem traduz para a edição em inglês
faz um trabalho excelente
Dearborn, 22 de junho de 2011
DIOCESE DE ÁSTI
Ásti
“Boa imprensa” para o hospital de Ásti
Ásti, 17 de junho de 2011
Bom dia,
sou um sacerdote da diocese de Ásti, há cerca de dez anos
capelão no hospital de minha cidade. Decidi escrever impelido pelo desejo de pôr à disposição dos cerca de quinhentos doentes do hospital e de seus familiares um pouco de “boa imprensa”. Graças a Deus a capela do hospital
está numa posição de passagem e é muito frequentada.
Há algum tempo instalei um expositor em que quem entra
pode encontrar (gratuitamente) revistas e pequenas imagens. A afluência de pessoas é tão grande, que as revistas
desaparecem rapidamente (para acabar nos quartos dos
doentes) e o expositor fica vazio com frequência. O orçamento da capela não me permite fazer assinaturas e por
isso pensei em pedir sua colaboração. Qualquer revista,
mesmo números antigos, será bem recebida e talvez esta
obra de bem possa-se tornar também um modo de dar a
conhecer as suas publicações a um público no mínimo variado e numa condição existencial que o torna muito disponível à mensagem cristã.
Fico à espera de uma resposta de sua parte e lhes
desejo todo o bem no Senhor,
Caro diretor,
desejo parabenizá-lo pelos três artigos e pelo comentário à segunda parte do livro do papa Bento XVI Jesus of Nazareth, no número 3 de 2011 de sua revista.
Os artigos são: A look at the Jesus of the Gospels
and a hearing of His words, do cardeal Georges Cottier, O.P.; Faithful to the declaration ‘Nostra aetate’,
de Riccardo Di Segni; e The dividing line runs between trust and skepticism, de Rainer Riesner. Respectivamente escritos por um católico, um judeu e um
protestante, os artigos dão três perspectivas equivalentes mas diferentes do pensamento do nosso Papa;
e cada um deles afirma o que ele diz. Não achei nenhuma outra revista deste lado do oceano Atlântico
com as mesmas análises equilibradas sobre este livro.
Mantenham esse excelente jornalismo.
Leio há mais de um ano a edição em inglês de sua
revista, e devo dizer que o inglês é excelente. Presumo
que a maior parte dos artigos sejam em italiano, e por
isso está claro que quem traduz para a edição em inglês faz um trabalho excelente!
padre Thomas Heier, C.M.M.,
diretor responsável
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA ARGENTINA
“SANTA MARÍA DE LOS BUENOS AIRES”
Buenos Aires, Argentina
30Dias, Quem reza se salva
e o Credo do povo
de Deus na Argentina
padre Claudio Sganga
Buenos Aires,
9 de junho de 2011
Ásti, 22 de junho de 2011
Recebi ontem o material enviado em cortesia. Obrigado mais uma vez pela generosidade e pela velocidade!
padre Claudio Sganga
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30DIAS Nº 6 - 2011
Estimado senhor,
sou um sacerdote do clero diocesano e capelão da Universidade
Católica Argentina. Escrevo-lhe
A capa
de Quem reza se salva
em língua chinesa
DIOCESE CATÓLICA DE XANGAI
Xangai, República Popular da China
Quem reza se salva difundido por toda a China
Xangai, 15 de julho de 2011
Caro Gianni Valente,
calorosas saudações de Xangai!
Lamento escrever-lhe uma carta com tanto
atraso acerca da publicação do livro Chi prega
si salva em língua chinesa. Tínhamos combinado, como vocês sugeriram, que vocês patrocinassem todo o custo da publicação e distribuição do livro. Para dizer a verdade, em maio de
2010 imprimimos vinte mil exemplares dele,
distribuindo-os por toda a China. Cada livro
custa 5 yuan (55 centavos de euro). Decidimos
imprimir mais vinte mil exemplares. Mas precisamos do dinheiro que vocês nos prometeram.
Cordiais saudações,
Roma, 22 de julho de 2011
Caro padre Anthony Chen,
em nome do diretor de 30Giorni, o senador
Giulio Andreotti, confirmamos que ficamos
muito contentes em poder contribuir para a impressão e difusão do pequeno livro de orações
Chi prega si salva em língua chinesa. Segundafeira, 25 de julho, enviaremos nossa contribuição (a operação bancária exigirá alguns dias),
como sinal de gratidão e de comunhão.
Pela redação de 30Giorni,
padre Anthony Chen
diretor do Centro de Pesquisas Guangqi
e da tipografia da diocese de Xangai
para pedir uma assinatura gratuita de sua prestigiosa revista, na edição em língua espanhola. Seria de grande
utilidade para a formação de muitas pessoas que encontro em meu trabalho pastoral, particularmente casais e
jovens. O motivo do meu pedido é que eu não poderia
de modo algum pagar por uma assinatura.
Roberto Rotondo
diretor responsável
Peço-lhe também alguns exemplares do livrinho Chi
prega si salva e do Credo do povo de Deus, de Paulo VI.
Pedindo a Deus que este meu pedido possa ser respondido, cumprimento-o com cordial estima, no Senhor.
padre Omar Horacio Lorente
30DIAS Nº 6 - 2011
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Reportagem
Um modelo para o novo
Oriente Médio
Na última década, na Turquia, as minorias, também cristãs,
encontraram novos espaços de liberdade. E o partido no poder,
o AKP, demonstrou que islã e democracia não são inconciliáveis.
Um exemplo para a Primavera árabe
por Lorenzo Biondi
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30DIAS Nº 6 - 2011
TURQUIA
Acima, monsenhor Ruggero
Franceschini celebra a missa na Gruta
de São Pedro em Antioquia; ao fundo
a mesquita de Ortaköy e a ponte
sobre o Bósforo em Istambul
ma pequena multidão está à espera diante de uma
parede de pedra. É o dia
29 de junho, festa de São Pedro
e São Paulo. Estamos nos arredores de Antioquia: encravada
na montanha há uma fachada de
pedra e uma gruta. Segundo a
tradição, os primeiros cristãos
encontravam-se aqui para rezar
escondidos por causa da perseguição. Entre eles os apóstolos
Paulo, Barnabé e Pedro, que foram os primeiros a trazer aqui o
anúncio de Jesus. Hoje a “gruta
de São Pedro” foi transformada
em um museu, com pagamento
de ingresso. Dois vigias detêm
uma centena de fiéis que gostariam de entrar para rezar para o
santo.
U
Mas a espera não dura muito.
Toca o telefone: dos escritórios
do governador da província chega a ordem para deixar o ingresso
livre. Chega também o bispo,
monsenhor Ruggero Franceschini. Os dois vigias se afastam, a
gruta fica lotada de peregrinos. A
missa pode começar.
É uma cena comum em muitos
lugares da Turquia. Nos últimos
anos as autoridades do Estado assumiram a administração de alguns edifícios de culto abandonados. Foram tirados da degradação
e, embora durante o ano deva-se
pagar ingresso para visitá-los, em
ocasiões especiais estes “lugares
santos” são restituídos à devoção
dos fiéis. É uma novidade, talvez
pequena, mas é um sinal de mu-
dança. Por muitas décadas na República fundada por Mustafa Kemal Atatürk a existência de minorias religiosas foi negada. Hoje,
mesmo entre resistências e contradições, para a pequena comunidade cristã em terras turcas abriu-se
uma estação nova e promissora.
Os sinais de uma mudança
Sente-se a herança do passado.
Na capital Ancara, dominada por
ministérios, é impossível encontrar um edifício com alguma cruz
no teto. As igrejas existem, mas
estão dentro das embaixadas. Em
solo extraterritorial e não visíveis.
Mesmo as mesquitas na realidade
se veem poucas, somente algumas antigas e esmagadas entre
edifícios modernos. Se a liberdade dos cristãos na Turquia tem limites, não é simplesmente pelo
contraste entre as várias religiões.
Isso nos é explicado pelo padre
Dositheos, um sacerdote ortodoxo
do Patriarcado ecumênico de Istambul: “Cristãos, judeus e muçulmanos sempre conviveram nessa
terra. Sabem o que quer dizer convivência pacífica. Nas primeiras
décadas da República turca (fundada em 1923) o nacionalismo foi a
política dominante do país, mas
usou uma máscara: o islã.
Na realidade por trás daquela
palavra ocultava-se a ideia da nação turca. Na época as minorias
perderam seus direitos diante do
estatismo kemalista. Foi somente
nos últimos dez anos que se iniciou a falar de liberdade religiosa:
uma novidade absoluta”.
¬
30DIAS Nº 6 - 2011
23
Reportagem
Procede-se lentamente, um
passo de cada vez. Vemos isso em
Tarso, cidade natal de São Paulo,
onde chegamos em 26 de junho,
no domingo anterior à festa dos
santos Pedro e Paulo. A comunidade local recebeu a autorização
para celebrar a missa na igreja dedicada ao Apóstolo das gentes.
Construído pelos cruzados no século XII, com a chegada da República o edifício foi transformado
em um depósito. Somente há poucos anos, graças à insistência dos
padres capuchinhos e ao apoio do
governo, o monumento foi reformado e reaberto. Também nesse
caso como museu. Faltam poucas
Acima, a fachada na nova igreja
sírio-católica de Alexandreta,
na província meridional de Hatay;
aqui abaixo, o imponente mausoléu de
Atatürk em Ancara
horas para a celebração: as três irmãs “Filhas da Igreja” que vivem
na cidade obtiveram há pouco a
permissão para entrar e arrumar a
igreja. O tempo para os preparativos é pouco, faz-se tudo meio às
pressas. E há ainda menos tempo
no final da missa para tirar todas as
cadeiras e os paramentos: os fiéis
deixam rapidamente o lugar para
os turistas que pagam o ingresso.
Na “laica” República da Turquia
é o Estado que controla para que a
atividade religiosa são saia dos limites fixados pela Constituição e
pela lei. As Igrejas não têm um reconhecimento legal. Mas há alguns anos a situação das minorias
religiosas melhorou sensivelmente. O governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP)
mostrou-se atento às suas solicitações. Nem sempre as promessas
foram mantidas, mas a nova classe
de dirigentes turca manifestou
uma disponibilidade ao diálogo
que não havia no passado. E o diálogo, em alguns casos, deu frutos
muito concretos.
O presidente da fundação síriocatólica de Istambul, Zeki Basatemir, conta-nos da vez que foi protestar porque uma antiga igreja síria de Alexandreta – Iskenderun
para os turcos – há anos era usada
como cinema para filmes eróticos.
Restituir o edifício à sua antiga fun-
ção era praticamente impossível,
mas depois de tê-lo expropriado, o
governo mandou demolir e em
2010 construiu, custeando as despesas, uma nova igreja. A fachada,
fiel ao tradicional estilo dessas regiões, mostra uma sensibilidade
nova aos problemas dos cristãos.
Muitas vezes a colaboração
nasce nas relações entre as pessoas, mas está alcançando também o plano das instituições. Em
setembro desse ano, por exemplo, o município de Istambul publicará junto com a Santa Sé um livro
sobre a presença cristã na cidade
no século XVII. Pela primeira vez
o símbolo de uma instituição turca
será imprimido junto ao da Igreja
Católica.
Infelizmente, justamente nos
anos em que as relações entre o
governo de Ancara e os cristãos
parece mudar, a pequena Igreja da
Turquia foi atingida por tragédias
como o assassinato do padre Andrea Santoro e de monsenhor Luigi Padovese. Para esclarecer aqueles crimes será preciso ainda muito
tempo, mas por enquanto o poder
político quis demonstrar a sua proximidade aos amigos das vítimas.
Monsenhor Franceschini, arcebispo de Esmirna e administrador pro
tempore do vicariato apostólico de
Anatólia, conta-nos que o ministro
da Justiça, Sadullah Ergin, em solidariedade, foi a Iskenderun para o
enterro do bispo assassinado.
“Perguntou-me se tínhamos alguma solicitação a fazer”, recorda
monsenhor Franceschini. “Respondi-lhe que queríamos saber a
verdade, nada mais”. Há pouco
mais de um ano de distância, está
sendo aberto o processo contra o
assassino do bispo e os eventuais
mandantes. Muitos nos testemunham a solicitude das autoridades
em querer que a justiça siga rapidamente os trâmites. Isso em um lugar, onde em outros tempos, esperar-se-ia uma indiferença ou mesmo aberta hostilidade.
O falso mito da islamização
“A minoria cristã na Turquia nutre
a esperança de que no decorrer
do terceiro mandato do partido de
governo as questões pendentes,
necessárias para os direitos da minoria, possam finalmente al- ¬
TURQUIA. Um modelo para o novo Oriente Médio
Entrevista com Bekir Karliga
“Buscar a democracia sem
polarizações ideológicas”
O islã apresenta-se como último elo de uma longa
tradição profética. As outras religiões fazem parte
do seu patrimônio e devem ser defendidas
O primeiro-ministro turco Erdogan entre os colegas Evo
Morales e Luiz Inácio Lula da Silva, em um encontro
da Aliança das civilizações em 2010
H
á uma estreita ligação entre o islamismo moderado
do AKP e o diálogo entre as religiões. Falamos sobre isso com o professor Bekir Karliga, conselheiro do
primeiro-ministro Erdogan. O professor é também presidente do Comitê Nacional turco da Aliança das Civilizações, um organismo das Nações Unidas criado em
2003 por iniciativa de Erdogan e pelo primeiro-ministro
espanhol Zapatero.
Como mudou o islã político na Turquia?
BEKIR KARLIGA: Os fatores religiosos arraigados
na memória coletiva e na vida cotidiana da sociedade
turca – colocados de lado no nascimento da República
– reapareceram depois da Segunda Guerra Mundial,
com a introdução de um sistema democrático e pluralista. Os partidos fundados por Necmettin Erbakan e o
AKP são dois exemplos da mesma linha política. Mas o
que diferencia o AKP é que este tenta implementar os
valores democráticos sem populismo, sem se fechar
em esquematismos ideológicos e ligando-se à história
do país e à realidade geopolítica. Em matéria de política
exterior, o AKP, tem como objetivo uma nova ordem
econômica e política seguindo os princípios de justiça
universal, equidade e solidariedade, de acordo com a
comunidade internacional, sem se reduzir a satélite de
outros países e mantendo-se afastado de polarizações
ideológicas prejudiciais.
É uma hipótese política válida também fora da
Turquia?
Os dez anos de governo do AKP causaram uma mudança radical no país e no mundo. Considerando os
emocionantes eventos que estão acontecendo no
Oriente Médio percebe-se a aspiração do islã de encontrar a democracia. O modelo é a Turquia, dirigida pelo
primeiro-ministro Erdogan.
A religião islâmica considera a ideia do diálogo
entre religiões?
O islã apresenta-se como o último elo de uma longa
tradição profética. As outras religiões fazem parte do seu
patrimônio e devem ser defendidas, mesmo além do diálogo com as mesmas. Além disso, o profeta Abraão tem
uma importante posição: as três religiões que veneram o
único Deus são representantes de uma fé comum. Nos
Estados islâmicos a religião, as tradições e os costumes
de judeus e cristãos não devem ser impedidos. Graças a
esta atitude, milhões de pessoas que pertenciam a mais
de vinte confissões religiosas e etnias viveram juntas por
muitos séculos em territórios otomanos. Deste ponto de
vista a experiência da Turquia pode ser importante para a
jovem União Europeia, que tem, ao invés, uma história de
convivência mais breve.
Como estão as relações entre a Turquia e a Europa?
A Turquia procurou, com sincera e boa fé, estabelecer relações com a União Europeia. Infelizmente a Turquia foi deixada à porta, criando descontentamento na
nossa opinião pública. A nação turca está estabelecida
na Europa desde o século XIV. Em 1959 foi assinado o
acordo de colaboração entre a Turquia e Comunidade
Europeia. Hoje a União esqueceu-se daquele acordo.
Nos últimos anos as relações entre Oriente e Ocidente foram vistas sob a ótica do confronto. A Aliança
das Civilizações é uma experiência contracorrente...
Foi uma grande novidade para uma humanidade que
queria sair do turbilhão do “choque de civilizações”. O grupo é formado por vinte e uma instituições internacionais e
106 países. Na Turquia coordeno um comitê nacional que
estuda o diálogo entre culturas, religiões e civilização no
país. Em Istambul foi criado um “Instituto de Aliança das
Civilizações”, no qual estudantes de várias nações podem
obter uma formação de alto nível, para difundir uma cultura de paz e tolerância no país e no mundo.
L. B.
30DIAS Nº 6 - 2011
25
Reportagem
Tradição e modernidade convivem
nas margens do Bósforo. Na foto,
o centro financeiro de Istambul
que contorna uma mesquita,
na parte asiática da cidade
cançar a meta desejada”. São palavras de monsenhor Antonio Lucibello, núncio apostólico junto à
República da Turquia. “Existem já
sinais eloquentes que levam à esta
direção”.
O resultado das eleições de 12
de junho passado será recordado
como um divisor de águas da história turca. A AKP de Recep
Tayyip Erdogan conquistou 50
por cento dos votos, um resultado
sem precedentes. Andando pelas
periferias de Istambul entende-se
um dos motivos deste triunfo. Os
centros financeiros estão cintilando de arranha-céus de recente
construção. Nos novos bairros
populares amontoam-se os grandes edifícios, em meio a uma selva
de guindastes e canteiros de
obras. A economia circula, a classe média aumenta e aumenta o
bem-estar.
Mas as finanças não são suficientes para explicar o sucesso do
partido. “O AKP tornou-se a voz
do povo muçulmano esquecido
pelo processo de modernização
da Turquia”. A explicação é-nos
dada por Robert Koptas, jovem
diretor da revista semanal em
idioma ar meno de Istambul,
Agos. Por muitas décadas a Turquia “laica” olhou para a religião
como um estorvo. Modernidade –
dizia-se – corresponde a secularização. Uma mensagem que os
turcos de fé muçulmana muitas
vezes tiveram dificuldade em aco-
lher. “Hoje, aquela parte da sociedade entrou por sua vez em um
processo de moder nização”,
prossegue Koptas. “O AKP quer
demonstrar que também os muçulmanos podem ser verdadeiros
democratas”.
Não é a primeira vez que um
partido de inspiração islâmica
chega ao poder. Tinha acontecido em 1996, quando o governo
era administrado por Necmettin
Erbakan. No seu Partido do Bemestar muitos apoiavam a introdução da lei islâmica, a sharia, e o
próprio primeiro-ministro tinha
estreitos contatos com algumas irmandades “sufi” (isto é, de místicos muçulmanos) conhecidas pelo seu apoio à islamização do Es-
Entrevista com Louis Pelâtre
“Este novo ar que
se respira na Turquia”
O vigário apostólico de Istambul fala sobre a vida
das comunidades cristãs em um país que está mudando
por causa da ʻlaicidadeʼ turca, não do islã, que a
Igreja não pode existir oficialmente”. Sua excelência monsenhor Louis Pelâtre, vigário apostólico de Istambul, descreve-nos a situação da comunidade cristã na
Turquia vista da metrópole sobre o Bósforo.
“É
Como estão mudando as condições de vida dos
cristãos da Turquia?
LOUIS PELÂTRE: Uma mudança evidente. Por um lado porque a comunidade católica mudou sua “fachada”:
chegou um grande número de imigrantes das Filipinas,
dos países da África, enquanto o número dos que provêm
dos países do Levante, a região mediterrânea oriental,
está diminuindo. Estão indo embora ou para a França ou
outros países europeus. Os que vão embora esperam
encontrar uma vida mais fácil em um país “cristão”... Mas,
26
30DIAS Nº 6 - 2011
hoje em dia, qual país pode-se dizer cristão? Quando
cheguei à Turquia, quarenta anos atrás, pairava um ar de
xenofobia. Hoje ainda permanecem alguns problemas
para as minorias, mas em outros lugares é diferente? Se
na França um imigrante que se chama Mohammed procura trabalho, tem as mesmas chances dos outros para
encontrá-lo?
No Ocidente – principalmente depois da morte de
monsenhor Padovese – ouviu-se falar de uma cristandade “assediada” na Turquia. É verdade?
Foi uma tragédia, mas não creio que tenha se tratado
de um um fato causado por um sentimento anticristão.
Fala-se de um movimento subterrâneo no Estado turco,
que agiria contra o atual governo e que emergiu com o caso Ergenekon. Mas ainda hoje é realmente difícil entender as causas daquele assassinato.
TURQUIA. Um modelo para o novo Oriente Médio
tado. Em menos de um ano do
nascimento daquele governo, os
militares intervieram maciçamente no jogo político. Em junho de
1997 Erbakan foi obrigado a pedir demissão. Depois a Corte
constitucional determinou a ilegalidade do seu partido. Foi então
que um grupo de políticos de “nova geração”, entre os quais Erdogan e Abdullah Gül, intuiu a necessidade de uma ruptura com o
passado.
Como as Democracias
cristãs europeias
A inspiração islâmica permanece,
mas muda o sinal. Aumenta, por
exemplo, a influência das associações para o diálogo que se inspiram no filósofo Fethullah Gülen.
Cemal Usak – vice-presidente da
Fundação dos jornalistas e dos escritores, criada pelo próprio Gülen – conta: “Até o final dos anos
Noventa a maior parte dos políticos muçulmanos acreditava que o
seu dever era o de instituir um Estado islâmico. Por volta do ano
2000 começaram a entender que
a forma de Estado não se pode
impor, mas depende do consenso
dos eleitores. Erdogan conseguiu
vencer apenas quando compreendeu que precisava de uma
Mustafa Kemal Atatürk fotografado
rezando com outros oficiais do exército.
Imagens como estas se encontram em
muitas sedes do AKP
Alguns dizem que hoje a Turquia seja um país menos “laico” e portanto menos seguro para os cristãos...
Não concordo com isso. Sou francês e conheço o lado “duro” da laicidade: na minha Bretanha era proibido
construir escolas católicas. E recordo que a laicidade de
Atatürk inspirou-se na francesa: a religião é muito contrastada, mesmo a muçulmana. Apenas o aspecto identitário e cultural é absorvido. Erdogan não tem nada de
fanático, é um político inteligente: entendeu que precisa
dirigir-se ao povo por aquilo que o povo é, não como se
gostaria que fosse. Em relação aos cristãos, é por causa da “laicidade” turca – não do islã – que a Igreja Católica não pode existir oficialmente no país. Não me parece
que o problema para os cristãos seja devido ao fato que
é permitido às jovens usar o lenço na universidade...
Pode-se esperar alguma novidade sobre o reconhecimento oficial da Igreja?
Atualmente é impossível que o Estado reconheça a
Igreja: é contra a Constituição, que não reconhece nenhuma religião, nem mesmo o islã. Porém, parece que o
primeiro-ministro Erdogan queira mudar as coisas. Ele
mesmo sofreu essa situação, quando era prefeito de Istambul: acabou na prisão por “ataque à laicidade”, ao citar um poeta que definia os minaretes “as nossas baionetas”. Teve muitos problemas por uma citação: mais ou
menos como Papa Ratzinger em Regensburg... Antes
daquele acontecimento Erdogan e eu nos encontrávamos com frequência, e durante o período de em que es-
versão de islã político adequada
às necessidades da Turquia”.
Alper Dede, politólogo da Universidade Zirve de Gaziantep, reconstrói para nós os primeiros
anos do partido de Erdogan. São
dinâmicas que recordam a origem
das Democracias cristãs europeias: “Quando nasceu o AKP,
em 2001, confluíram personalidades de várias proveniências. A
cúpula do partido sentiu-se próxima às atuais Democracias cristãs.
A maioria dos políticos é de centro-direita, mas não só isso. Muitos vêm da tradição islamista de
Erbakan, outros decididamente
mais moderados. Alguns provêm
dos partidos conservadores de
matriz leiga”.
Ao contrário de seus predecessores, Erdogan tentou uma síntese
entre a Turquia leiga e a religiosa.
Nas sedes da AKP encontram-se
as imagens de Mustafa Kemal Atatürk. Porém, muitas vezes, escolhe-se a foto que o apresenta absorto em uma oração com seus ¬
teve na prisão, enviou-me alguns bilhetes, também para
todas as personalidades públicas da cidade. Ainda hoje
muita gente é contrária às mudanças desejadas por ele;
mas foi a democracia que nos levou à situação atual e o
resultado do voto deve ser respeitado.
A Turquia pode representar um “modelo” de convivência entre islã e democracia?
Fala-se de “modelo turco” e isso já é interessante.
Pode-se não concordar com tudo o que Atatürk fez, mas
a laicidade da Turquia teve uma influência extraordinária no Oriente Médio. Hoje a Turquia parece ter encontrado um novo equilíbrio, mas a passagem para além da
laicidade “dura” ainda não terminou.
L. B.
Ofertório na igreja de Santo Antônio de Pádua, em Istambul
30DIAS Nº 6 - 2011
27
Reportagem
companheiros, com as mãos voltadas para o céu. Simbolizando que
as duas Turquias não são por nada
incompatíveis.
“Os ocidentais que olham ao
AKP”, explica ainda Roberto
Koptas, “veem muçulmanos e
têm medo. Eu, como armênio,
não tenho medo do AKP. É ridículo dizer que o AKP queira introduzir a sharia. São simplesmente
muçulmanos, muçulmanos praticantes, como grande parte da po-
trário, como a imprensa europeia
mostra geralmente. Ao mesmo
tempo, uma maioria de turcos
pensa que o comportamento geral da sociedade para com a religião tenha mudado, e mudado
para melhor.
O conflito entre as duas metades da Turquia – secular e religiosa – certamente não se esgotou.
A tensão voltou a subir em 2007
quando Abdullah Gül foi eleito
presidente da República. Por al-
dando – no país como também no
exterior.
O “modelo turco”
Em 2002 era difícil imaginal que o
AKP pudesse dar uma virada tão
significativa na política turca. Em
eleições surpreendentes, nenhum
dos partidos de governo teve condições de superar o limite dos 10 por
cento para entrar no Parlamento.
Conseguiram, justamente, apenas
o partido de Erdogan (AKP) e os ke-
Fiéis rezando na grande mesquita
Uma criança muçulmana
de Solimão em Istambul
no bairro de Fatih em Istambul
“Os ocidentais que olham ao AKP”, explica Roberto Koptas, do semanário
Agos, “veem muçulmanos e têm medo. Eu, como armênio, não tenho
medo do AKP. É ridículo dizer que o AKP queira introduzir a sharia. São
simplesmente muçulmanos, muçulmanos praticantes, como grande parte
da população deste país. Aquela parte do país que quer estar presente no
Parlamento, nas universidades, e é muito ‘sadio’ que o queira”
pulação deste país. Aquela parte
do país que quer estar presente no
Parlamento, nas universidades, e
é muito ‘sadio’ que o queira”. A
ideia da islamização da sociedade,
analisando realisticamente, não
funciona. Em um estudo promovido pelo Centro Tesev – uma instituição financiada na sua maioria
pela Open Society de George Soros – mostrava-se que de 1999 a
hoje o número de mulheres que
usa o lenço diminuiu. Não o con28
30DIAS Nº 6 - 2011
gum tempo pareceu que uma parte do exército estivesse pronta
para intervir maciçamente no cenário político. Foi o ano dos assassinatos de Hrant Dink, jornalista armênio na época diretor da
Agos, e do padre Andrea Santoro. Em outros tempos a tensão
entre laicistas e islâmicos teria levado os militares a intervir para
restabelecer a ordem. Mas o golpe de Estado não aconteceu. Era
o sinal de que o clima estava mu-
malistas do Partido Republicado do
Povo (CHP). Os islâmicos moderados encontraram-se com 35% dos
votos a controlar os dois terços do
Parlamento.
“AKP era um partido novo”,
comenta ainda o professor Dede,
“com experiência apenas nas administrações locais”. Erdogan,
seu líder, não pôde nem mesmo
se candidatar: quatro anos antes
um tribunal tinha-o banido “para
sempre” da vida política por “inci-
TURQUIA. Um modelo para o novo Oriente Médio
tação ao ódio religioso”. Em um
comício tinha citado uma poesia
turca do início do século XX: “As
mesquitas são os nossos quartéis,
as cúpulas os nossos elmos, os minaretes as nossas baionetas e os
fiéis os nossos soldados”. Foi eleito apenas em 2003, depois da
mudança da lei por parte do Parlamento.
Nessas condições não eram
muitos os que acreditavam na duração da experiência AKP. “Nos
primeiros anos de governo”, conta-nos ainda Dede, “falei com muitos expoentes egípcios da Irmandade Muçulmana que eram céticos
com o que acontecia na Turquia. A
virada na credibilidade do partido
chegou com o início do processo
Ergenekon”, ou seja, ainda em
2007, quando soube-se que alguns
oficiais do exército planejavam um
golpe de Estado e acabaram na prisão por isso. Foi então que “o AKP
demonstrou ter maior poder do
que a antiga burocracia secularista”. Hoje muitos jovens políticos
da Irmandade vêm à Turquia para
aprender com o AKP. Quase todos
os dias discute-se sobre o “modelo
turco” nos jornais da Turquia e da
região do Oriente Médio.
Não há dúvida de que os modelos políticos são difíceis de serem
exportados. Isso nos é recordado
por Cemal Usak, partindo de uma
experiência do seu país: “Nos
anos Setenta havia grupos de intelectuais turcos que procuravam
importar versões ‘árabes’ do islã.
O único êxito foi o de produzir radicalismo”. O mesmo pode valer
para papéis invertidos: “Democracia e direitos humanos são valores universais que valem em todos os países, mas cada país deve
adaptar aqueles valores dentro de
seu próprio contexto”.
Robert Koptas também nos
alerta com relação às simplificações: “Quando se fala de modelo
turco, é preciso entender bem do
que se fala. O modelo é a democracia, não a Turquia como tal. Se
o modelo fosse a Turquia como
foi até hoje – uma democracia
‘protegida’ pelas armas do exército – então não, obrigado. Mas o
que agora acontece no país está
A avenida beira-mar de Alexandreta.
Na Turquia é comum ver mulheres
vestidas “à ocidental” que caminham
ao lado de mulheres com lenços
demonstrando alguma coisa aos
que diziam: ‘islã e democracia são
incompatíveis’”.
Hoje o Oriente Médio olha para a Turquia com interesse. Grande parte disso é mérito do ministro do Exterior Ahmet Davutoglu,
reconfirmado no seu cargo depois das eleições. A política de
“zerar problemas com os vizinhos” criou ao redor do país um
clima favorável à colaboração.
Não apenas em campo político:
as exportações turcas para os países limítrofes aumentam em ritmo
acelerado. O afluxo de turistas está em crescimento constante. Ancara exporta cultura, além de
mercadorias.
Este soft power “poder suave”, não passou inobservado na
Europa. E entre os europeístas
mais conscientes, são muitos os
que propõem que não se deve
perder a ocasião histórica de
aproximar Oriente e Ocidente.
Depois do voto de junho, Erdogan
quis mostrar que ainda está interessado ao diálogo com a União
Europeia, instituindo um Ministério especial para isso, sob a direção de Egemen Bagis. Mas as negociações estão paradas. Os seus
capítulos mais delicados estão bloqueados. Ao invés de fazer pressões sobre temas importantes –
como a tutela dos direitos das minorias – Bruxelas fechou-se em
um não que às margens do Bósforo parece ideológico.
Reformas e compromissos
Na realidade, quanto à tutela das
minorias ainda há muito o que fazer. A Constituição atualmente
em vigor afirma que a liberdade
religiosa pode ser exercida somente até o ponto em que não
violar o princípio da laicidade do
Estado. A lei turca não reconhece
a existência das Igrejas cristãs.
Emre Öktem, professor de Direito Internacional na Universidade
de Galatasaray, em Istambul, ajuda-nos com um exemplo: “O patriarcado ortodoxo de Istambul
não tem personalidade jurídica.
Tecnicamente o próprio patriarca
é um simples funcionário que trabalha para a fundação que administra a igreja de São Jorge”. As
“fundações” são as únicas insti- ¬
30DIAS Nº 6 - 2011
29
Reportagem
A igreja de São Jorge,
dentro do Patriarcado
ecumênico de Istambul
Ancara, mausoléu de Atatürk:
um menino brinca imitando os saldados
de guarda. O papel do exército
no país mudou radicalmente
nos últimos anos
tuições religiosas admitidas pela
lei. Mas até tempos recentes a sua
existência foi submetida a pesadas restrições. “Uma lei de 1936
proibia a compra de propriedade
ou o direito de herança para as
fundações religiosas”, continua o
professor. “Se um fiel doava uma
propriedade à Igreja, a doação
era anulada”.
“Em 2002”, prossegue Öktem,
“uma modificação da lei sobre as
fundações foi colocada nos pacotes de harmonização criados no
contexto de reaproximação entre
a Turquia e a União Europeia. Foi
a primeira lei que consentia a compra de propriedades por parte das
fundações. Mais tarde, em 2008,
uma nova lei consentia também a
restituição das propriedades expropriadas no passado por parte
do Estado”.
Os apertos de mão do primeiro-ministro Erdogan com os líderes religiosos do país não são gestos puramente simbólicos. Padre
Dositheos, no Patriarcado ecumênico de Istambul, conta-nos do
encontro entre o chefe de governo e Sua Santidade Bartolomeu I.
Era o dia 15 de agosto de 2009.
Naquele momento um dos problemas que mais preocupava a
comunidade ortodoxa era a questão da cidadania dos bispos. “Segundo a lei turca, todos os bispos
que trabalham na Turquia para o
patriarcado devem ser cidadãos
turcos. Apenas um pequeno número de bispo o era. Na ocasião
Erdogan prometeu dar-lhes o direito de cidadania para trabalhar
aqui e em perspectiva também ser
eleitos patriarcas”. Mantendo
aquela promessa o primeiro-ministro ajudou o Sínodo ortodoxo a
sobreviver.
A benevolência do poder para
com a minorias manifestou-se
muitas vezes em “favores” deste
gênero. Porém muitas vezes ouvimos dizer que os favores – por
mais que seja bem aceitos – não
são suficientes. É também necessário que alguns direitos sejam
formalizados. A advogada Kezban Hatemi, que se dedica há
anos às causas das minorias, falanos da hipótese de que Ancara assine acordos com as várias Igrejas
cristãs, seguindo o modelo dos
Estados europeus e da Alemanha
em particular. É uma proposta
muito avançada, longe da situação concreta. Ainda por algum
tempo poderia ser necessário
contentar-se com os favores.
Também outras questões muito delicadas permanecem insolúveis. Como a do seminário ortodoxo na ilha de Heybeliada, no
mar de Marmara. A Constituição
turca impõe que todo o ensinamento religioso seja submetido ao
controle do Estado. Nesta situação, é impossível para as Igrejas
cristãs seguir os jovens com a vocação ao sacerdócio. Padre Dositheos comenta ainda: “Sua Santidade e o Sínodo têm convicção de
que o primeiro-ministro Erdogan
queira realmente encontrar uma
solução para o problema. Mas o
Estado – em Ancara – faz resistência. Esperamos para o ano próximo, com a nova Constituição”.
São muitas as expectativas que
convergem ao redor da promessa
feita pelo AKP de uma reforma
constitucional. Mas apesar do
enorme sucesso eleitoral, o partido de gover no não dispõe da
maioria necessária para mudar a
Constituição de modo unilateral –
isto é, sem colaborar com outras
“Segundo a lei turca, todos os bispos que trabalham na Turquia para o
patriarcado devem ser cidadãos turcos. Erdogan concedeu a cidadania
a muitos bispos ortodoxos, ajudando assim o Sínodo a sobreviver”
30
30DIAS Nº 6 - 2011
TURQUIA. Um modelo para o novo Oriente Médio
“Para mim”, prossegue Koptas, “a
tolerância não é o ideal, o ponto de
chegada. Porém até hoje os nacionalistas veem gregos, armênios,
judeus como perigos para a nação,
em confronto com isso, a tolerância é um bem”.
Falamos também sobre o genocídio dos armênios de 1915.
Por muitas décadas nas escolas
turcas ensinou-se às crianças que
aqueles eventos nunca tinham
acontecido; a opinião pública não
pode mudar de ideia de um dia para outro. Mas “caso a Turquia torne-se uma democracia plena, caso seja possível falar abertamente
desses problemas, então um governo terá condições de reconhecer o massacre dos armênios”.
A mudança de mentalidade já
está acontecendo e também os do
partido CHP, principal força de
oposição, parecem ter-se dado
conta. O atual líder, Kemal Kiliçdaroglu, insiste na necessidade de
dar atenção ao problema da minoria curda e de dirigir-se também
à Turquia mais religiosa. Mas as
resistências dentro do próprio
partido são muito fortes e não é
claro se Kiliçdaroglu conseguirá
caracterizar o partido de modo
menos nacionalista e mais próximo dos partidos social-democratas europeus. Mas o fato de que
discursos desse tipo sejam feitos
já é um sinal significativo.
Assim, o papel do exército na
vida política turca está mudando.
Bleda Kurtdarcan, da Universidade de Galatasaray, é um especialista de casos militares. Hoje os
pesquisadores como ele têm
acesso aos documentos do exército e podem estudar suas estruturas. Alguns anos atrás isso seria
impossível. O caso Ergenekon,
porém, ainda está aberto. Segundo a procuradoria que investigou
esta estrutura secreta, em 2007
um grupo de oficiais do exército
planejou alguns homicídios importantes para fomentar o medo
de que a Turquia estivesse se
transformando em um Estado islâmico. Entre esses, o homicídio
do jor nalista ar mênio Hrant
Dink, o do padre Andrea Santoro
e de três cristãos evangélicos. Segundo alguns observadores – entre os quais o repórter do semanário Agos – também o assassinato de monsenhor Luigi Padovese
estaria relacionado a esta conspiração. E nas últimas semanas
emergiu dos autos do processo
que os golpistas queriam matar
também o patriarca ecumênico
Bartolomeu I.
O complô fracassou. A intervenção dos soldados, que nos ¬
forças políticas e sem pedir o parecer da população através de referendo. A nova Carta não poderá deixar de ser fruto de compromisso entre as diferentes forças
partidárias, e em primeiro lugar
entre o executivo e os candidatos
independentes eleitos como
apoio do partido de minoria curda. Entre eles há também Erol
Dora, o primeiro cristão a entrar
no Parlamento depois de mais de
cinquenta anos. Dora pertence à
minoria síria e como advogado
dedica-se muito às comunidades
cristãs. Porém ele faz questão de recordar que foi eleito com votos “muçulmanos As ruínas da antiga Basílica de Nossa Senhora de Éfeso, a primeira igreja
e cristãos”. Uma represen- do mundo dedicada à Virgem Maria. No seu interior, em 431, foi realizado o Concílio
tação não “sectária” mas que proclamou Maria “Mãe de Deus”
dedicada a dar voz a todas
as minorias do país no processo de reescrita da Constituição.
“A tolerância
não basta. Porém...”
Os apertos de mão, a eleição de um cristão, a linguagem política que se modifica. Voltemos mais uma vez
às palavras de Robert Koptas de Agos: “Até hoje no
‘discurso público’ turco os
armênios e os cristãos foram sempre considerados
inimigos, mas aquele discurso público está mudando”.
A questão das minorias ainda é enfrentada em termos
de ‘tolerância’, é verdade.
Reportagem
planos dos golpistas deviam intervir para ‘restabelecer a ordem’,
não encontrou o apoio necessário, nem na Turquia nem no exterior. E as comunidades cristãs, vítimas daquelas agressões, continuam a esperar que um dia possam viver em paz na terra santa
da Turquia.
Uma presença discreta
Considerando as tragédias dos últimos anos, poder-se-ia pensar
que os cristãos vivam segregados.
A realidade é mais complexa. No
dia 13 de junho festeja-se Santo
Antônio de Pádua. Visitamos a
igreja de Istambul dedicada ao
santo; a fachada neogótica dá para a Istiklal Caddesi, uma das ruas
de compras, de turismo, de vida
noturna. Dentro da igreja é um
entra e sai ininterrupto, e apenas
alguns dos passantes que entram
Acima, mulheres muçulmanas saem
do santuário da Casa de Maria, em Éfeso;
ao lado, dois jovens acendem uma vela
para Santo Antônio de Pádua na igreja
de Istambul dedicada ao santo
são cristãos. Olham tudo em torno com curiosidade, observando
as estátuas dos santos, pedindo
informações. Alguns acendem
uma vela, ajoelham-se para rezar.
Entre eles há também os muçulmanos, e mulheres com lenços na
cabeça. Pedem a Santo Antônio
pequenas graças: fazer as pazes
depois de uma briga, a serenidade
em família. A santidade de Antônio é reconhecida por todos, independente das divisões confessionais.
Na Turquia convivem duas realidades opostas. Por um lado, os
episódios de agressões contra os
religiosos. É difícil cancelar déca32
30DIAS Nº 6 - 2011
das de propaganda nacionalista
contra “missionários” cristãos –
acusados de serem a vanguarda
dos colonizadores ocidentais. De
outro, as relações de amizade nascidas pela convivência entre cristãos e muçulmanos.
As irmãs de Ivrea que administram a escola italiana de Esmirna
nos descrevem a estima que a população local tem para com elas:
muitos de seus estudantes não
são cristãos. Em Antioquia padre
Domenico Bertogli conta-nos
que as doações efetuadas no minúsculo escritório da Cáritas local
são provenientes também de
benfeitores muçulmanos. A cir-
cunstância não deve surpreender: a Cáritas ajuda os necessitados independente da sua fé. Os
muçulmanos sabem disso, e mostram seu reconhecimento com
gestos concretos.
Porém, nos últimos tempos a
organização está atravessando
um momento difícil: no passado,
graças à ajuda do Vaticano, a Cáritas aparecia como instituição ligada a um país estrangeiro, enquanto hoje a associação está
submetida às leis turcas sobre as
fundações religiosas. Por isso,
não está autorizada a possuir propriedades e, portanto, as suas
propriedade estão em nome das
pessoas físicas que ali trabalham.
Por exemplo, estavam no nome
de monsenhor Padovese, antes
da sua trágica morte; atualmente
os bens em seu nome estão congelados pelo Estado que se recusa
a restituí-los à Cáritas. Um problema que não teria sido verificado se estivesse sob uma tutela “internacional”.
Os recursos da Cáritas na Turquia são poucos, mas às vezes bas-
TURQUIA. Um modelo para o novo Oriente Médio
Em Antioquia padre Domenico Bertogli conta-nos que as doações
efetuadas no minúsculo escritório da Cáritas local são provenientes
também de benfeitores muçulmanos. A Cáritas ajuda os necessitados
independente da sua fé. Os muçulmanos sabem disso, e mostram seu
reconhecimento com gestos concretos
ta pouco para dar um testemunho
de fé. “Se olharmos os números”,
diz-nos o núncio, monsenhor Antonio Lucibello, “a nossa presença
na Turquia é mínima: somos como
uma pequena paróquia de uma cidadezinha ocidental. Mesmo assim, o nosso discreto testemunho
dá frutos, é estimado e seguido”.
Se tivéssemos que ‘medir’ o estado
de saúde da Igreja local levando
apenas em conta os números, o
cenário seria triste. Ao invés, nas
pessoas daqui a felicidade que se
manifesta pela fé é um fato evidente. “Não é necessária uma presença rumorosa”, continua monsenhor Lucibello, “ao som de tambores. Mas é fundamental um testemunho de vida, que não se impõe
com o espetáculo”.
Uma irmã, que saiu da Itália
nos tempos da morte de Padovese, confessa-nos as suas preocupações na chegada à Turquia.
“Sem poder usar o hábito de religiosa, sem poder ensinar religião
nos colégios, eu pensava: mas o
que eu vou fazer ali! Eu que na Itália estava acostumada a ir a todas
as manifestações... Mas quando
se chega aqui entende-se que não
se trata de fazer ou dizer alguma
coisa particular. É suficiente estar
aqui, nesta terra santa onde viveram os apóstolos e confiar no Senhor”.
A experiência da Igreja da Turquia está toda aqui. É o ar de casa
que se respira no meio da criançada no pátio de padre Domenico,
em Antioquia. Também em Tarso, quando os religiosos almoçam
junto com os fiéis vindos de localidades próximas para festejar São
Paulo. Padre Roberto, com seus
85 anos dos quais mais de 60 aqui
na Turquia, doa o dinheiro da passagem para uma família que não
pode pagar a viagem para voltar
para casa. As irmãs dali, durante
a refeição, indicam a monsenhor
Franceschini um casal de noivos
ou uma criança, atualizando-o sobre os matrimônios e os nascimentos.
Pode-se perguntar: com tão
poucos cristãos, o que têm a fazer
os padres na Turquia? Na realidade sempre têm o que fazer entre
as necessidades do povo local e a
acolhida dos peregrinos. Mas
“não se trata de fazer alguma coisa”. É suficiente estar aqui, custo-
diar esta terra santa. Santa porque aqui nasceu Paulo, viveram
Barnabé e Pedro. São João foi
enterrado em Éfeso, sob as ruínas
de uma basílica que dá para o mar.
Nossa Senhora, que segundo a
tradição seguiu João nestes lugares, aqui se “adormentou” e foi
elevada ao céu.
Os padres capuchinhos fazem
questão de recordar do conselho
de São Francisco aos frades que
partiam para a Ásia Menor. Há
dois modos de fazer a missão:
“Um modo é que não briguem
nem provoquem disputas, mas
sejam submetidos a toda criatura
humana pelo amor de Deus e
confessem ser cristãos”. O testemunho discreto. “O outro modo
é que, quando virem que agrada
ao Senhor, anunciem a palavra
de Deus”. Atentos às coisas do
mundo, capazes de seguir e recolher todo o bem que acontece ao
seu redor.
q
Acima, monsenhor Ruggero
Franceschini entre alguns sacerdotes;
ao lado, o milagre das núpcias de Caná
nos mosaicos da igreja de São Salvador
em Chora, em Istambul
30DIAS Nº 6 - 2011
33
C A PA
A volta à simplicidade
da fé católica
por Giovanni Cubeddu
ncontramos o cardeal Donald Wuerl, arcebispo de
Washington, em 29 de junho, no centro pastoral da arquidiocese.
E
Eminência, o senhor é o
bispo da arquidiocese de uma
capital tão importante, que
ainda é a “capital do mundo”.
Lendo suas cartas pastorais,
ficamos impressionados com
o fato de o senhor se dirigir
sempr e às pessoas que se
afastaram. Parece ser essa a
sua principal preocupação.
DONALD WUERL: É nisso que
consiste a nova evangelização, e é
o motivo pelo qual fizemos da nova
evangelização o nosso objetivo na
arquidiocese de Washington. É a
lente através da qual queremos ver
tudo o que fazemos, convidando as
pessoas a voltarem à fé e convidando os jovens a começar a estimar,
entender e viver a nossa fé católica.
A razão pela qual escrevi no
ano passado a carta pastoral sobre
a nova evangelização Disciples of
the Lord: Sharing the Vision (Discípulos do Senhor: a partilha de
uma visão) foi precisamente a existência de uma geração de católicos
que são batizados mas não são
praticantes. Trata-se, na maior
parte, de católicos que receberam
uma catequese mísera demais durante as décadas de 1970 e 1980,
e em parte também de 1990. Vivemos nos Estados Unidos um período em que não havia uma clara
atenção ao que era ensinado e aos
34
30DIAS Nº 6 - 2011
textos catequéticos e teológicos
que eram fornecidos para a instrução de nossos jovens. O resultado
é que, ao lado da influência da revolução cultural das décadas de
1960 e 1970, muitos católicos
simplesmente deixaram de ir à
igreja. Consideram-se católicos
mas não participam da vida da
Igreja. Quando o papa João Paulo
II começou a falar tão insistentemente da necessidade de uma no-
da confissão que chamamos “The
light is on for you” [A luz está acesa para você, ndr]. Na tentativa de
reapresentar o sacramento da reconciliação, oferecemos a possibilidade de ter acesso a ele em todas
as paróquias da arquidiocese ao
longo da Quaresma, durante cinco anos consecutivos. Fizemos
simplesmente que na comunidade
qualquer um – católico, não católico, qualquer pessoa – soubesse
O arcebispo
Donald Wuerl,
em visita à escola
Santo Agostinho, em
fevereiro de 2010.
A escola, fundada
em 1858,
é a mais antiga
de Washington
para crianças
afro-americanas
va evangelização, e nós começamos a compreender o quanto era
importante convidar as pessoas a
voltar, e quando depois o papa
Bento XVI instituiu o Pontifício
Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, decidimos que
nesta arquidiocese a evangelização
seria o coração de todas as nossas
iniciativas. Queremos garantir que
aqueles que se afastaram sejam
chamados a retornar. Um exemplo é esse convite ao sacramento
que o sacramento da confissão é
uma coisa que os católicos fazem e
que em algumas das nossas igrejas, toda quarta-feira de Quaresma, das 18h30 à 20h, há um padre à espera para ouvir as confissões e dizer “bom retorno!”. Assim, anunciamos esse convite a
voltar para casa no metrô, no rádio, nos ônibus e com grandes cartazes publicitários. Agora, outras
dioceses do país e do Canadá aderiram à iniciativa.
ESTADOS UNIDOS. Entrevista com o cardeal Donald Wuerl
O Credo dos Apóstolos, o sacramento
da confissão, a adoração da Eucaristia,
o convite às pessoas afastadas,
para que retornem à Igreja.
Conversa com o arcebispo de Washington,
cardeal Donald Wuerl
O senhor é muito imediato
e concreto em suas catequeses. Em sua carta pastoral
God’s Mercy and Loving Presence (A misericórdia de
Deus e a presença amorosa)
sugeriu aos sacerdotes, aos
religiosos e aos leigos da arquidiocese que continuassem
com as confissões e aconselhou também ao povo que participasse em conjunto da adoração eucarística, seguindo o
exemplo de Santo Afonso Maria de Ligório, que o senhor cita em seus escritos. Foi como
se dissesse: “Os sacramentos
são a resposta”.
Sem dúvida, é isso mesmo. E
quando nós, bispos dos Estados
Unidos, nos reunimos há alguns
anos, dissemos que era preciso fixar prioridades para a Igreja em
nosso país. E realmente a primeira
das prioridades, sobre a qual todos
concordamos, é evangelizar e fazer catequese sobre os sacramentos, trazer as pessoas de volta aos
sacramentos. É uma coisa de tamanho bom senso... Jesus, o Verbo encarnado, quando se preparava para voltar ao Pai na glória, estabeleceu uma Igreja que se assemelhasse a ele, que fosse espiritual
e visível, que tivesse o Espírito Santo embora fosse feita de seres humanos. O Concílio Vaticano II fala
da Igreja como o grande sacramento. Jesus instituiu os sacramentos de forma que a Ele fosse
possível tocar-nos, e que nós pu- ¬
O cardeal Wuerl na Basílica
do Santuário Nacional da Imaculada
Conceição, em Washington
Biografia
ascido em Pittsburgh, na Pennsylvania, há 71 anos, Donald
William Wuerl foi ordenado sacerdote em 1966, depois de
ter estudado, entre outros lugares, no Pontifical North American
College, o seminário americano de Roma. Foi nomeado bispo
em janeiro de 1986 pelo papa João Paulo II. Depois de dois anos
em Seattle, foi transferido para sua cidade natal. Em 2006, Bento XVI o escolheu para a arquidiocese de Washington. Em 2008,
o arcebispo Wuerl hospedou o papa Bento XVI durante sua viagem apostólica aos Estados Unidos, e no consistório de novembro de 2010 foi criado cardeal. Em maio passado tomou posse
da basílica de que é titular em Roma, São Pedro in Vincoli.
N
Bento XVI impõe o barrete cardinalício a Donald Wuerl
por ocasião do Consistório de 22 de novembro de 2010
na Basílica de São Pedro, no Vaticano
30DIAS Nº 6 - 2011
35
C A PA
déssemos tocá-lo. Entre todos esses grandes momentos de encontro, o ponto mais alto é a Eucaristia. Jesus disse: “Fazei isto em memória de mim”. E nós entendemos
que todas as vezes que o fizéssemos Ele estaria conosco. Creio
que os nossos jovens se dão conta
de que isso não apenas é simples,
mas verdadeiro. O que hoje pedimos que os nossos jovens façam é
dar a resposta que Pedro deu
quando Jesus perguntou aos discípulos: “E vós, quem dizeis que eu
sou?”. Essa é a pergunta que dirigimos aos nossos jovens: “Vós,
quem dizeis que é Jesus?”. Simão
Pedro respondeu: “Tu és o Cristo,
o Filho do Deus vivo”. Estamos
ajudando os nossos jovens a fazer
a mesma profissão de fé – a dizer a
Jesus Cristo: “Tu és o Filho de
Deus, eu creio em ti”. E nos damos
conta de que os nossos jovens respondem. Não é complicado.
Quando Jesus falava, não era difícil de entender. A meu ver, acontece que a resposta de fé acaba por
ser recoberta por parâmetros que
são mundanos. Por isso os nossos
jovens hoje nos têm pedido: “Falem-nos de Jesus, falem-nos do seu
Evangelho”.
Em sua carta pastoral de
2007, God’s Mercy and the
Sacrament of Penance (A misericórdia de Deus e o sacramento da penitência), o senhor lembra que a “nova criação” é simplesmente um homem que é redimido.
São Paulo nos diz que a batalha
dentro de nós é entre o homem velho que quer resistir ainda e o homem novo, a nova criação que se
manifesta, o homem em graça, o
homem que é redimido na graça.
Acaso não foi justamente isso que
Jesus veio fazer? Curar tudo o que
estava quebrado. A nova criação, a
criação da graça, é o Reino – a presença de Deus, da paz, do amor, da
justiça, da compaixão, da cura. A
nova criação começa para cada um
de nós no batismo. Cada um se torna no batismo criatura da nova criação. Só que a velha criação está ainda lutando para nos dominar e a nova criação busca abrir uma brecha
nisso tudo. Cada um de nós é um cidadão do Reino. E o Reino vem justamente agora, cada vez que um
36
30DIAS Nº 6 - 2011
crente, alguém que segue a Cristo,
age com benevolência, com amor,
com verdade e com justiça. Todas as
ações que tornam visível a presença
de Cristo em nós são o que faz existir o Reino. Uma vez um homem
que se apresentou como ateu me
perguntou: “O que traz gente como
vocês ao mundo?”, entendendo por
“gente como vocês” a Igreja. Eu lhe
respondi: “A que se assemelharia o
mundo se nos séculos passados, nos
milênios passados, não nos tivessem sido ensinados os dez mandamentos? Se não nos tivesse sido dito
Nos EUA também, os católicos vivem em meio a forças
que muitas vezes se opõem.
De um lado, como lembram os
bispos norte-americanos no
documento In Support of Catechetical Ministry (Em ajuda do ministério do catecismo), “vivemos numa sociedade cada vez mais secularizada
e materialista”; de outro lado,
há as minorias hispânicas, negras e asiáticas, que são portadoras de uma abordagem
diferente...
À esquerda, o cardeal Wuerl em oração
diante das correntes de São Pedro,
guardadas na basílica romana
de São Pedro in Vincoli, por ocasião
da tomada de posse, domingo, 8 de maio
de 2011; abaixo, o cardeal com duas
religiosas, em sua chegada para a missa
de Páscoa na Basílica do Santuário
Nacional da Imaculada Conceição,
em Washington, a 24 de abril de 2011
que nos devemos tratar uns aos outros com dignidade, se não nos tivesse sido dito que somos chamados ao amor recíproco e a cuidar do
último dos nossos irmãos? Como
você acredita que seria o mundo?”.
E ele replicou, e de modo louvável:
“Seria um desastre”. Esses são todos sinais do Reino que abre uma
brecha no mundo.
Uma das alegrias de ser bispo é
que você tem de circular por toda a
diocese. Nas paróquias desta Igreja local vejo gente que vive sua fé e
tenta seguir Cristo criando seus filhos, procurando ajudar seus filhos
a seguirem o caminho de Cristo.
Vemos pessoas que cuidam dos
idosos e dos doentes, que vão ao
encontro de quem é necessitado,
tentando fazer todas as coisas que
Jesus disse.
Entre as coisas que reconhecemos e que o papa Bento XVI nos
lembrou quando esteve aqui há três
anos, em 2008, penso que existam
três barreiras para a proclamação
do Evangelho nos Estados Unidos,
que são o secularismo, o materialismo e o individualismo. Tudo isso é
cada vez mais evidente em nossa
cultura. Muito do que nos é proposto como cultura americana é gerado
pelas indústrias de entretenimento e
de informação. Quando vamos até
o povo, nas paróquias, no mundo
em que as pessoas trabalham, há
realmente ainda muito dos valores
cristãos de base. Raramente ouvimos falar deles na mídia. Esses valores são censurados. Qualquer coisa
que tenha relação com a religião, a
fé, a espiritualidade do povo é censurada e somos tentados a crer que
ESTADOS UNIDOS. Entrevista com o cardeal Donald Wuerl
À esquerda, o arcebispo de Washington, Donald Wuerl, ao final de um encontro de oração na Old Saint Mary’s Catholic Church;
à direita, no Verizon Center, para celebrar a missa com vinte mil jovens por ocasião da reunião anual pela vida, em janeiro de 2010
o que vemos na tevê ou ouvimos no
rádio ou lemos nos jornais é tudo.
Não é. Mas, de outro lado, como o
senhor sugeria, temos hoje todos esses migrantes que chegam. Nesta arquidiocese celebramos a missa em
vinte línguas diferentes todo fim de
semana... vinte! É uma bênção esse
reflexo da Igreja universal, na capital
dos Estados Unidos. Os imigrantes
trazem consigo a riqueza da fé. Muitos deles trazem consigo um sentimento da comunidade e da família,
tão dramaticamente necessário em
nossos Estados Unidos secularizados. Estamos assistindo à introdução
do que é definido o “matrimônio homossexual”, como se o matrimônio
já tivesse deixado de ser a realidade
verificável de um homem e de uma
mulher que se unem, prometendo
viver juntos, gerar e educar filhos. Os
imigrantes trazem consigo um sentimento de comunidade e de comunhão eclesial. Sua experiência da fé
é uma experiência que inclui a Igreja
e por conseguinte a doutrina cristã, a
tradição apostólica e os bispos como
sucessores dos apóstolos. Isso se
afasta da herança protestante arraigada nos Estados Unidos, segundo a
qual “Jesus é o meu salvador, e não
preciso de mais nada”. A Igreja Católica sempre disse, ao contrário,
que “Jesus instituiu uma família, uma
família de fé”. Parte da tarefa que temos à nossa frente, após a afluência
de imigrantes, é a necessidade de
afirmar os valores tradicionais da família e da comunidade.
No documento que acabamos de citar, os bispos norteamericanos sublinham que os
valores democráticos são
uma coisa, e a fé católica, outra. Levando em conta essa
distinção clara, como o senhor se relaciona com os poderes civis?
Na minha opinião, devemos ter
várias coisas em mente. A primeira:
esta é uma sociedade democrática e
pluralista. A segunda: que, como
bispo da Igreja Católica, tenho uma
mensagem a levar a esta sociedade
democrática e pluralista. Na cerimônia da tomada de posse da diocese,
há cinco anos, eu disse na homilia
que parte da responsabilidade da
Igreja na capital da nossa nação,
nesta “capital do mundo”, é anunciar o Evangelho em meio a todas as
outras vozes. Não condenamos as
outras vozes, mas esperamos ter a liberdade de fazer ouvir a nossa. A
minha experiência em Washington
é que se você está preparado para o
diálogo, para discutir e ouvir, então
às vezes tem a possibilidade de levar
o Evangelho para dentro da discussão. É muito importante para a Igreja estar presente. Deve estar presente nos esforços que caracterizam
hoje o ambiente político, social e
cultural. Devemos ser fiéis apenas a
nós mesmos. Devemos ser fiéis ao
Evangelho, claros ao dizer o que é e
o que não é, o que é certo e o que é
errado. Um exemplo disso é a voz
da arquidiocese no movimento pela
vida, motivo pelo qual temos tanto
orgulho de ter todos os anos uma
reunião de jovens e a missa pela vida. No ano passado havia trinta e
cinco mil jovens, vinte mil na missa
no Verizon Center, dez mil no D. C.
Armory e outros cinco mil nas igrejas de toda a arquidiocese. Por meio
das vozes de todos esses jovens, a
Igreja dizia simplesmente, no mundo político em que vivemos, que a
vida humana é um dom de Deus.
Em seu país, o debate sobre a reforma da saúde não
terminou. A Igreja Católica
não pode apoiar quem promove o aborto, mas isso é bem
diferente de se opor a uma lei
que garanta assistência social
e de saúde a pessoas que nunca teriam condições de tê-la.
Às vezes parece que a Igreja
Católica nos EUA se engajou
apenas na batalha pro life
(pela vida), numa batalha contra o governo.
Essa é maneira como às vezes a
Igreja Católica é pintada, como se
estivesse interessada apenas na
tentativa de abolir o aborto. Depois
do governo, o maior provedor de
assistência nos Estados Unidos é a
Igreja Católica. Estamos em todos
os níveis da assistência à saúde, da
administração do serviço social, do
cuidado com os sem-teto, dando
apoio aos pobres por meio dos
bancos de alimentos e dos dispensários paroquiais. Somos também,
depois do governo, a maior entidade dedicada à educação, particularmente dos pobres e dos necessitados. A Igreja Católica está comprometida com tudo o que está ligado
à ordem que Jesus nos deu de alimentar os famintos, dar de beber
aos que têm sede, vestir os nus e visitar os doentes e os encarcerados.
Nós o estamos fazendo. Mas ¬
30DIAS Nº 6 - 2011
37
C A PA
nunca somos descritos dessa forma, não obtemos nenhum reconhecimento. Em 2007, os bispos
americanos publicaram um documento chamado Faithful Citizenship (Cidadania fiel), que é um
guia para os católicos que entram
no processo eleitoral. Creio que
esse texto contenha um ensinamento muito sólido. E gozou do
consenso unânime dos bispos
americanos. Faithful Citizenship
diz aos católicos e a quem quer que
o leia que há um amplo leque de temas, e que é preciso considerá-los
todos. Jesus nos pede que cuidemos da mulher quando dá à luz a
sua criança, mas depois que assistamos a ambos, como também que
acudamos os idosos e quem necessita de assistência. Todas essas coisas são parte do grande quadro de
referência do serviço da justiça social católica.
só. Quando Saulo perguntou:
“Quem és tu?”, a voz lhe respondeu: “Eu sou Jesus, que tu persegues”. A Igreja e Cristo são uma coisa só. Paulo foi o meio dessa revelação. Hoje de manhã, ao celebrar a
missa, eu disse que não podemos
celebrar os santos Pedro e Paulo
sem reconhecer que temos um laço
com Roma. Quando tive o grande
privilégio de tomar posse da igreja
titular de São Pedro in Vincoli, em
Roma, lembrei às pessoas presentes que todos temos um vínculo especial, todo católico tem um vínculo
com Pedro. Nós o temos porque ele
é a pedra de comparação da nossa
fé. Ele vive hoje, carrega hoje o nome de Bento e é Pedro, a quem nos
dirigimos quando queremos saber o
que Jesus nos diz hoje.
Como arcebispo de Washington, qual é a sua experiência mais cara?
“Há não muito tempo, terminada a missa de Páscoa, um
homem se aproximou perguntando-me se realmente tinha
pretendido afirmar o que ele
ouvira na homilia: ‘O senhor
disse que Jesus ressuscitou
em seu corpo, não unicamente em sua mensagem’”.
Ele ressuscitou. Em certas escolas as pessoas podem ter recebido
o ensinamento de que a ressurreição era mais um modo de dizer que
qualquer outra coisa, e que Ele ressuscitou no sentido de sua capacidade de influenciar. Nós dizemos:
“Não, não! Ressuscitou no Seu
corpo”. Uma vez, na universidade,
um de meus alunos me disse: “O
senhor afirma que Jesus ressuscitou dos mortos”. “Sim, porque é o
que a Igreja nos ensina”, respondi.
E ele: “Bem, mas o senhor quer dizer realmente no seu corpo e...”.
À esquerda, o cardeal Wuerl
com os padres franciscanos
do Franciscan Monastery of the Holy
Land, em Washington;
à direita, um jovem deficiente recebe
a bênção do arcebispo ao final
da “missa branca” na Catedral
de São Mateus Apóstolo,
em Washington, em outubro de 2010.
Pessoas com necessidades especiais,
ao lado de familiares e amigos,
participam dessa missa,
que leva o nome da cor
da veste batismal
Hoje é a festa dos santos
Pedro e Paulo. De manhã, na
missa no Franciscan Monastery of the Holy Land, aqui em
Washington, ouvi o sacerdote
dizer na homilia que o Senhor
extraiu dois grandes santos
de duas personalidades improváveis: um pescador e um
perseguidor.
É o modo como trabalha o Senhor. Quem pensaria numa coisa
dessas... que a rocha sobre a qual
Cristo iria construir sua Igreja seria
um rude e impetuoso pescador...
No entanto, com a graça de Deus
ele se tornou a rocha sobre a qual se
apoia a Igreja. E havia Paulo, que
perseguia a Igreja, e com a graça de
Deus se tornou o canal para revelar
que a Igreja e Jesus são uma coisa
38
30DIAS Nº 6 - 2011
Para mim, hoje, a característica
mais alegre da Igreja é perceber
que estamos bem no meio de uma
nova evangelização. Nós nos assemelhamos à Igreja do início, que
sai e diz às pessoas pela primeira
vez quem é Jesus. Ele ressuscitou,
está conosco. Hoje muita gente está ouvindo isso pela primeira vez.
Creem tê-lo ouvido e já o saber,
mas na realidade o estão ouvindo
talvez pela primeira vez. A emoção
é que hoje a Igreja se abre a um futuro totalmente novo, e isso é motivo para estarmos contentes. Daqui a cinquenta anos o povo olhará
para trás e talvez diga que aqueles
eram os dias em que toda a renovação da Igreja estava começando.
Num de seus artigos o senhor recentemente escreveu:
“Sim, é nisso que consiste a ressurreição”, eu disse. Ele não sabia
que a Igreja crê nisso. Agora sabe.
Estou contente por contar aos jovens quem é Jesus realmente. Tudo aquilo de que precisamos é o
Credo dos Apóstolos. Quando estou em Roma resido sempre no
Pontifício Colégio Norte-Americano, pois foi o meu seminário e é
para lá que ainda hoje vão os seminaristas de Washington. Toda
vez que vou para lá levo todos os
seminaristas de Washington à Basílica de São Pedro. Celebramos a
missa às 7 da manhã, depois subimos da cripta e ficamos na frente
do altar da confissão para rezar
todos juntos o Credo dos Apóstolos. E digo a eles: “Este é realmente o lugar certo”.
q
OS CATÓLICOS AFRO-AMERICANOS
História de uma
fidelidade incomum
Notas sobre os black catholics,
num diálogo com Jamie T. Phelps,
da Xavier University of Louisiana
s católicos negros nos Estados Unidos, os black catholics, são os protagonistas de
uma história esquecida, na qual pessoas tocadas pela fé conquistaram
aos poucos uma identidade também
perante a história e a cultura. É a história de uma fidelidade incomum à
Igreja, apesar da imposição de uma
invisibilidade geral em relação tanto
aos outros católicos quanto aos protestantes. Os Estados Unidos são
um país wasp, branco, anglo-saxão
e protestante, onde vivem mais protestantes que católicos, e nós, negros católicos, nos sentimos marginalizados: mesmo muitos correligionários não conhecem exatamente o
nosso itinerário. Na minha infância,
não me esqueço de que, quando
confessava a minha fé diante de outros católicos, às vezes me respondiam: “Tudo bem, mas você deveria
ser protestante...”. De fato, existia
uma certo costume pelo qual um negro que se aproximasse de uma paróquia católica era “encaminhado”
para a comunidade protestante, e
era uma época em que era dada
uma interpretação rígida da extra
Ecclesiam nulla salus. Enfim, padeciam uma dupla marginalização.
Naturalmente, como black catholic, se você se vê vivendo numa
comunidade católica estruturada,
por exemplo a irlandesa, acaba por
festejar o dia de São Patrício, por
aprender as danças dos irlandeses
e absorver toda a sua cultura. Foi o
que aconteceu também comigo,
que aos poucos absorvi um pouco
de catolicismo dos italianos – pela
festa da Mesa de São José –, dos
poloneses, dos alemães, e assim
O
por diante... e tudo isso simplesmente indo à escola.
Minoria “não irrelevante”
Foi só a partir da década de 1960
que começamos a querer mudar a
impressão negativa que os outros
tinham de nós. Pensamos que, enquanto comunidade, teríamos de
nos dar um nome, de nos sentir em
paz com a cor da nossa pele, aliás,
de ser orgulhosos dela. E depois
voltamos a descobrir também que
tínhamos raízes firmes no cristianismo dos primeiros séculos na
África do Norte. Tínhamos de recuperar essa história.
Nesse esforço, os números nos
ajudaram. Há hoje 270 milhões de
católicos de origem africana no
mundo todo, mais ou menos um
quinto dos católicos do globo. E 3
milhões de católicos afro-americanos de rito católico romano, vivem
nos Estados Unidos. Há quem considere a nós, black catholics, “estatisticamente” irrelevantes, embora
em alguns Estados federais sejamos
uma tradição que já chegou à terceira ou quarta geração, como em
New Orleans, em Baltimore ou em
Chicago. Mas três milhões, num total de cerca de 60 milhões de católicos nos Estados Unidos, representam exatamente o mesmo número
de fiéis que se encontram na Irlanda!
Há hoje no país cerca de mil e trezentos lugares de culto católicos que
recebem principalmente negros ou
que são de alguma forma referência
como paróquias etnicamente mistas, e não conhecemos o número de
nós que recebem os sacramentos
nas paróquias predominantemente
Jamie T. Phelps, O.P., é diretora
do Institute for Black Catholic Studies
da Xavier University of Louisiana.
A Universidade foi fundada no princípio
do século XX por Santa Catarina Drexel
e pelas irmãs do Santíssimo Sacramento
“brancas”. São afro-americanos
250 sacerdotes católicos, 380 diáconos permanentes, 300 religiosas,
e não existe uma contabilidade certa
a respeito dos irmãos leigos e de
quem é voluntário na Igreja. Eu também não saberia dizer com exatidão
quantos de nós da “diáspora africana” – padres, diáconos, religiosos e
religiosas ou leigos africanos continentais, afro-caribenhos ou afro-latinos – desenvolvem hoje um ministério na Igreja.
Em que acreditam
os black catholics
Em que acreditam os católicos afroamericanos? Creem no que crê a
Igreja Católica Romana, talvez salientando ou acentuando algumas
coisas de um modo característico,
como acontece em qualquer comunidade particular de fiéis.
Em termos de práticas de devoção, os black catholics são fiéis à
oração diária. Quando nos deparamos com uma comunidade afroamericana, descobrimos que ela é
realmente hospitaleira, reconhece
e ama a humanidade das pessoas,
pois é a mesma humanidade que
Jesus teve, e nada deve nos sepa- ¬
30DIAS Nº 6 - 2011
39
C A PA
A tradicional bênção do rio Mississippi
rar dessa santidade “ferial”. Nós
acolhemos qualquer um: ainda nos
lembramos bem da América do século XIX, quando as igrejas para os
brancos eram separadas das igrejas
para os negros – em linha com a
cultura daquele tempo e com as
normas legais – e, embora as missas fossem celebradas para todos
segundo o rito latino, as assembleias dos fiéis eram compostas a
partir do critério étnico.
Documentos conciliares como a
Gaudium et spes estão em profunda consonância com a sensibilidade
dos black catholics. A necessidade
da Igreja de ir para o mundo é algo
que nos pertencia mesmo antes do
Concílio: sempre convidamos os
outros a fazer parte da Igreja. Meus
amigos protestantes, por exemplo,
me convidam sempre a participar
de suas celebrações religiosas, e algumas vezes aceito. Desde criança
40
30DIAS Nº 6 - 2011
sentia a pressão de viver num bairro
“ecumênico”, em que havia duas
igrejas protestantes – uma presbiteriana, a leste, e outra batista, a oeste
– e duas católicas – uma ao norte e
outra ao sul. Eu era obrigada a caminhar mais que as pessoas da minha
idade para ir à missa, e isso exigia de
mim um certo esforço. Até porque,
ainda por cima, não entendia bem
quando via certos católicos se comportarem de maneira muito pouco
cristã e certos protestantes serem,
ao contrário, “muito” cristãos, e
não entendia a interpretação dominante da extra Ecclesiam nulla salus. Graças a Deus muitas coisas
mudaram desde então.
Um outro texto basilar para nós,
black catholics, é A justiça no
mundo, procedente do Sínodo
Mundial dos Bispos de 1971. Meu
coração cantou quando li ali que
“agir pela justiça e participar da
transformação do mundo nos parecem claramente dimensão constitutiva da pregação do Evangelho, ou
seja, da missão da Igreja pela redenção do gênero humano e a libertação de qualquer estado de coisas
opressivo”. Crescendo como pessoas negras, aprendemos o que significava marginalização e o que era
o descrédito. Mesmo que isso não
nos tenha definido, tínhamos consciência de quão pouco nos consideravam os grupos culturalmente dominantes. Quando a Igreja nos ensina de novo que a justiça é um elemento central do Evangelho, conforta-nos saber que não é verdadeira
Igreja aquela que não busca a justiça. Evangelização e justiça social são
as nossas dimensões quando somos
Igreja em missão.
A vida nos interessa, e como todos os fiéis católicos somos realmente contrários ao aborto, e o so-
OS CATÓLICOS AFRO-AMERICANOS
mos de maneira ativa. Afinal, nos
Estados Unidos a realidade é que o
maior número de abortos atinge as
crianças afro-americanas.
Eu gostaria também de mencionar a questão da homossexualidade.
A comunidade negra nunca marginalizou os homossexuais: a Igreja
nos ensinou que a prática da homossexualidade é um pecado, e,
mesmo tendo aprendido isso desde
pequena, nunca perdemos de vista
a humanidade. Os jovens homossexuais que faziam parte do nosso ambiente eram bem-vindos, participávamos todos com sinceridade da vida da comunidade, tanto os homossexuais quanto os heterossexuais. E
creio que a doutrina da Igreja indica
exatamente isso.
A Igreja nos ensina que devemos
cuidar dos pobres. A maioria dos
negros americanos é gente de baixa
renda, e não porque sejam preguiçosos: é simplesmente a posição assinalada para eles nos Estados Unidos. É fácil para nós obedecer a esse
preceito, pois frequentemente o pobre é o nosso irmão, a nossa irmã, a
nossa tia ou o homem no fim da rua.
Nós não somos pessoas que fazem
habitualmente valer seus parentescos: se você vive no bairro, para
mim é um ir mão ou uma ir mã;
quando uma família programa um
piquenique, já sabe que todas as
crianças da vizinhança irão também. É isso, somos facilmente uma
família ampliada... E é natural que
entre os ensinamentos da doutrina
social o da dignidade das pessoas tenha ressonância em nosso espírito.
As raízes e a conversão
“um a um”
Chegamos agora às raízes. A nossa
história começa na África, com o
florescimento do cristianismo nos
séculos III e IV. No Norte da África, a
comunidade cristã era culturalmente romana e mediterrânea, mas
também bérbera e negra. E são
“nossos” Padres como Orígenes,
Agostinho, Cirilo de Alexandria, as
santas mártires Perpétua e Felicidade, Santo Antão, São Moisés, o
Monge do Deserto, os santos papas
africanos Vítor, Melquíades e Gelásio: nós os reclamamos com grande
orgulho, os sentimos parte de nós.
Como sentimos nossa a história da
Igreja no Egito ou na Etiópia. Lem-
bramos também o Congo do século
XVI, sob o rei Afonso, que convidou
os missionários portugueses a difundir o cristianismo. A sua atividade,
porém, foi de certa forma contígua
ao comércio de escravos, e esse é o
lado amargo da história, em que o
mal esteve lado a lado com o bem.
Sabemos, porém, que, mesmo que
nos tenham estimado menos do que
valíamos, nos deram a fé.
Na realidade, pelo fato de termos sido por longo tempo escravos, podem-se encontrar espalhados um pouco por toda parte católicos romanos de origem africana. É
o caso, por exemplo, de Benedito,
o Mouro, na Itália, e de São Martin
de Porres, no Peru. Provavelmente
muitos dessa “diáspora” não se reconheceriam na definição de black
catholics, e começaria entre nós
uma discussão – como acontece
por exemplo com os afro-caribenhos – sobre os limites do conceito
e sobre sua inclusividade. Pois, se
eu me declarasse afro-americana a
um africano continental, acentuaria
as nossas diferenças, enquanto, se
me definisse simplesmente “negra”, apostaria na nossa origem
africana comum e indiscutível, e
“negro” se tornaria assim uma bela
palavra de boas-vindas...
Segundo a história dos black
catholics redigida pelo beneditino
Cyprian Davis, o primeiro católico
afro-americano foi Esteban, um escravo batizado na Espanha que
chegou aos Estados Unidos em
1536 com alguns exploradores de
língua espanhola. Entre os séculos
XVI e XIX, os batismos na Igreja
Católica de escravos africanos conduzidos às colônias eram administrados com o consentimento dos
senhores. Aqueles que fugiam dos
assentamentos ingleses na Carolina e na Geórgia eram convidados
pelos espanhóis a encontrar a liberdade na Flórida, onde lhes era
oferecida a possibilidade de aceitar
o catolicismo romano. Uma das
metas dos africanos era a cidade de
Saint Augustine, na Flórida, onde,
entre os séculos XVIII e XIX, eles,
segundo os testemunhos de documentos oficiais, viviam como escravos, libertos ou soldados.
Antes da Guerra Civil Americana muitas razões impediam uma
ampla atividade missionária em favor dos negros, livres ou escravos,
para que fossem evangelizados e
batizados. Nós fomos convertidos
“um por um”. Não em grupos ou
como comunidades: não tivemos
nenhuma aplicação do cuius regio
eius religio. O agravante era, quando muito, que nos Estados Unidos
ser católicos despertava imediatamente suspeitas. A “fundação” ¬
Padre Herbert Vaughan, fundador da Sociedade Missionária de São José de Mill Hill,
sentado, no centro da foto, com alguns padres missionários e colaboradores.
Na primeira fila, com o rosário nas mãos, podem ser reconhecidos
dois afro-americanos, Baltimore, 1870
30DIAS Nº 6 - 2011
41
C A PA
do Estado – uso intencionalmente
as aspas porque a América já era
habitada pelos nativos – foi obra
dos wasp, e os católicos que migravam para a América eram malvistos
e considerados emissários do Papa
com o mandato de sufocar a autonomia conquistada em relação à
Europa. Para não irritar ainda mais
os brancos anglo-saxões protestantes, que eram também administradores do comércio de negros, a
Igreja Católica foi relutante em denunciar a escravidão, para não
A escravidão e
“as congregações negras”
Mas é preciso admitir que a relação
do catolicismo com quem era negro
foi um pouco... complexa. Do século XVI ao XIX, bispos, clero e laicado católicos interpretaram a escravidão como “uma instituição socioeconômica legal”. No período colonial anterior à Guerra Civil Americana, a Igreja não combatia a escravidão, como eu já disse, mas pedia
que se tornasse mais humana. Foi
apenas em 1839 que o papa Gregório XVI, referindo-se ao Brasil,
condenou o “indigno comércio com
o qual os negros são reduzidos à escravidão”. O debate do século XIX
focalizou-se na dimensão moral do
comércio de escravos e o resultado
foi que alguns permaneceram neutros, outros abolicionistas, outros
ainda antiabolicionistas, ao mesmo
tempo em que houve quem desejasse uma abolição gradual. Apesar
disso, existiam aqui e ali bispos e sacerdotes que continuavam, de modo às vezes necessariamente esporádico, a batizar os escravos e a darlhes a vida sacramental e a instrução
religiosa. Antes da Guerra Civil foi
promovida pelo episcopado a fun-
1831, e, alguns anos depois, das Irmãs da Sagrada Família.
Mas o que significa exatamente
“congregação de religiosas negras”? Tanto as leis então vigentes
quanto a prática faziam que, quando
homens e mulheres negros se candidatavam à vida sacerdotal ou religiosa, simplesmente não fossem aceitos. Não havia uma norma no ordenamento canônico que os recusasse, mas a prática era que a situação
fosse manipulada para mantê-los de
fora, alegando alguma razão que
soasse legítima: talvez porque fossem filhos de um matrimônio não
canônico, ou porque não havia certeza de que tivessem sido católicos a
vida inteira. Os obstáculos que em
outros casos eram normalmente removidos se tornavam, aqui, absolutos para quem tinha ascendência
africana. O fruto disso foram justamente as “congregações separadas”. Na prática, porém, as Irmãs
Oblatas da Providência acolheram e
instruíram também crianças não negras, filhas de europeus.
dação de duas “congregações de religiosas negras” para dar instrução
aos escravos e aos libertos, contornando a proibição legal que existia
nesse sentido. O bispo de Charleston, na Carolina do Sul, John England, e o bispo de Saint Luis, Peter
Kenrick, fundaram escolas especificamente dedicadas às crianças negras e contribuíram para o nascimento das congregações religiosas
das Irmãs Oblatas da Providência,
em Baltimore, criadas em 1829 e
reconhecidas oficialmente em
federal, uma nova atenção aos exescravos surgiu no segundo (1866)
e no terceiro (1884) Concílio Plenário de Baltimore, e no Concílio
Vaticano I (1870). Os debates que
aí se desenvolveram levaram os Estados Unidos a tomar consciência
de suas obrigações, enquanto um
pequeno número de sacerdotes
diocesanos e de religiosas trabalhava já entre os negros emancipados.
As principais congregações dedicadas ao ministério entre os negros
foram criadas depois do Vaticano I,
Depois da Guerra Civil
Depois da Guerra Civil e no momento da reconstrução do Estado
Acima, Santa Catarina Drexel, fundadora
das Irmãs do Santíssimo Sacramento, em
visita a uma escola em Beaumont, no
Texas, em 1917; à direita, com dois frades
franciscanos, entre os índios navajo em
Lukachukai, no Arizona, em 1927
comprometer sua reputação assumindo uma posição de antítese à
ordem constituída.
O catolicismo, tendo chegado
aos Estados Unidos com as várias etnias dos imigrantes, lançou raízes
graças a irlandeses, alemães, poloneses, lituanos e assim por diante.
Cada etnia trazia consigo seus sacerdotes e respeitava o modelo já estabelecido de “segregação cultural do
ministério”. Um resíduo ainda visível
desse fenômeno é a presença nos
quatro cantos de algumas praças das
cidades americanas de quatro diferentes igrejas católicas, uma por etnia. Assim, de um certo ponto de vista, o surgimento de uma comunidade específica de black catholics foi
coerente com esse esquema.
42
30DIAS Nº 6 - 2011
OS CATÓLICOS AFRO-AMERICANOS
e sacerdotes, religiosas e leigos
“brancos” também ajudaram de alguma forma. Entre essas novas
congregações se distinguiram os
padres josefitas – Josephite Fathers, descendência direta dos missionários ingleses de Mill Hill –, graças à iniciativa de John Slattery.
John era um jovem de origem irlandesa nascido em Nova York, que se
tornou sacerdote na Grã-Bretanha,
na Sociedade Missionária de São
José de Mill Hill, para depois voltar
à América e fundar os padres josefitas, que tiveram a tarefa específica
– objeto de um voto religioso – de
exercer seu ministério entre as pessoas negras. Padre Slattery estava
convencido, e podemos ler isso em
sua correspondência, de que, se
além dos sacerdotes negros aceitasse em seu instituto também padres de ascendência europeia, estes últimos acabariam por gravitar
de preferência ao redor dos ambientes que lhes eram culturalmente afins, deixando de lado os negros. É esse o motivo do “voto negro” dos padres josefitas. Ainda hoje eles trabalham quase exclusivamente com os afro-americanos.
Sua escola Santo Agostinho, em
New Orleans, existe ainda hoje e
tem uma história gloriosa.
Nasceram depois a Sociedade
do Verbo Divino, os Padres do Santo Espírito e os edmundinos. Os
Padres do Santo Espírito abriram
uma escola para jovens em Rockcastle, na Virgínia, chamada “Academia Militar Santa Ema”; a Sociedade do Verbo Divino fundou o seminário menor “Santo Agostinho”, no Mississippi.
Das numerosas congregações
masculinas e femininas fundadas
para a missão exclusiva entre os
negros, muitas, fora as que citei
agora, acabaram cedo, por se dirigirem a todos, sem levar em conta
a cor da pele.
Manteve-se fiel ao mandato inicial a congregação das Irmãs do
Santíssimo Sacramento – fundada
por Catarina Drexel, canonizada
há onze anos –, cuja missão era e é
promover paróquias e escolas para
os negros e os nativos americanos.
Também o instituto onde hoje leciono, a Xavier University, em
Louisiana, foi fundado por Santa
Catarina Drexel.
A nossa iniciativa leiga
Existe uma iniciativa leiga dos
black catholics, e merece ser mencionada para encerrar. Ela começou antes que o termo “ministério
leigo” se tornasse uma espécie de
mantra nos documentos eclesiásticos, como certamente acontece
hoje nos Estados Unidos. Quem
deu vida a essa iniciativa leiga foi
Daniel Rudd, que descobriu e conheceu as organizações católicas
na Europa e importou seu modelo
para os EUA no século XIX, gerando, a partir de 1889, os congressos
dos católicos negros, o National
Black Catholic Congresses. Em vida, organizou cinco, em que bispos, sacerdotes e leigos negros –
tenho em arquivo fotos desses encontros e, sinceramente, não vemos nelas muitas mulheres... –
ponder às mudanças que ocorriam
na Igreja e às introduzidas pelos
movimentos pelos direitos civis,
resgatamos justamente a tradição
dos congressos e a mantivemos nas
décadas seguintes. A herança do
século XIX foi revivida no XX, até a
criação da Agência Nacional para
os Católicos Negros, o National Office for Black Catholics, em 1970.
Na mesma linha está o Catholic Interracial Council, em que brancos e
negros trabalham lado a lado nos
mesmos projetos. Na época da luta
pelos direitos civis foi criado também o National Black Catholic
Clergy Caucus, uma fraternidade
de sacerdotes afro-americanos com
a missão da ajuda mútua e a todo o
clero. Já que nos ajudar e ajudar os
outros é um anseio que sempre nos
acompanhou, o Instituto para Estu-
Uma religiosa
das Oblatas da
Providência com
uma criança no
Mount Providence
Child Development
Center de Baltimore,
no Estado de
Maryland
procuravam desenhar uma plataforma comum, até para ter mais
voz no ministério eclesial geral. Era
natural que Rudd se encontrasse
trabalhando lado a lado com padre
Slattery, como de fato aconteceu.
No início do século XX, Thomas Wyatt Turner fundou um grupo denominado Federação dos
Católicos de Cor, Federate Colored Catholics. Ele estava realmente amargurado pelas constantes
desordens raciais e tinha assistido
ao linchamento sem processo de
75 negros. Quando um sistema
doente e racista não aceita mudanças, erupções de violência devem
infelizmente ser esperadas. Wyatt
procurou, no entanto, soluções
construtivas e tentou ajudar a Igreja com sua federação.
Quando, na década de 1960,
nos vimos na necessidade de res-
dos sobre os Católicos Negros, o
Institute for Black Catholic Studies,
da Xavier University, tem também
essa paixão original. No início foi
frequentado por qualquer um, branco ou negro, que quisesse aproximar-se da história dos black catholics; hoje é um destino buscado
principalmente por afro-americanos. Eu gostaria de sugerir a quem
for aos Estados Unidos por razões
de trabalho sacerdotal ou religioso
que o visite. É um centro missionário, que nasceu para permitir justamente a quem não é negro que venha ao nosso encontro mais facilmente, e toque com suas próprias
mãos o que a comunidade negra
deu e dá à nossa Igreja.
(Texto transcrito
por Giovanni Cubeddu
e revisto pela autora)
30DIAS Nº 6 - 2011
43
C A PA
We e nosotros
no mosaico dos States
por Miguel H. Díaz
último U. S. Census [censo
da população norte-americana, ndr] nos diz que nos
Estados Unidos temos 195,8 milhões de brancos, 37,7 milhões de
negros, 50,5 milhões de hispânicos
e 14,5 milhões de asiáticos.
Mas, se fizermos aos hispânicos uma pergunta acerca da sua
O
44
30DIAS Nº 6 - 2011
identidade, alguns responderão
que se sentem também blacks, negros, estabelecendo assim evidentemente um vínculo com a comunidade negra americana.
Mesmo antes de ser um diplomata junto à Santa Sé, eu me perguntava como os católicos afroamericanos contribuíam para a
tentativa de construir pontes de
compreensão e colaboração, tentativa que hoje representa o principal compromisso de minha missão
em Roma. E tive de admitir que
muito devemos aprender da maneira como eles olham para o mundo, para as pessoas e para o encontro entre a religião e a sociedade.
OS CATÓLICOS AFRO-AMERICANOS
A ascensão das minorias
hispânicas e afro-americanas
torna cada vez mais concreto o
“e pluribus unum” e ajuda os
Estados Unidos a entenderem
melhor o mundo. Com a
palavra Miguel H. Díaz,
embaixador dos Estados
Unidos junto à Santa Sé
À esquerda, o presidente Barack Obama ao final
de um comício sobre a reforma da saúde em College Park,
no Estado de Maryland, em setembro de 2009;
abaixo, a anual Queens Hispanic Parade pelas ruas
de Nova York
reitos civis – que produziram personalidades como Martin Luther
King Jr. – e enfim as leis sobre os
direitos civis. O presidente Obama é o herdeiro desse longo caminho. Estamos diante de homens que lutaram para que, no
mesmo contexto da sua humanidade e da sua dignidade, também
a sua blackness – a sua negritude
– fosse acolhida. A história dos
católicos negros foi a história de
uma fidelidade incomum: tiveram
seus profetas, tiveram grande paciência e constância, e sobretudo
acreditaram que no fim o bem
triunfaria sobre o mal. E é evidente, sobretudo em seus cantos spirituals, que para afirmar a sua
humanidade diante de quem os
definia menos que humanos eles
se inspiraram em todo um mundo
de tradições religiosas de culturas
diferentes. Quem hoje sofre ou
Miguel H. Díaz,
embaixador
dos Estados
Unidos junto
à Santa Sé
A história dos afro-americanos, e dos católicos negros em
particular, é marcada pelo sofrimento, pelas violências que sofreram – que chegaram mesmo a linchamentos sem processo –, e
atravessa o período colonial, a escravidão, a Guerra Civil, a emancipação, os movimentos pelos di-
procura a sua liberdade pode por
isso com facilidade olhar para o
exemplo dos afro-americanos e
dos black catholics, ou seja, para
uma história de fidelidade e esperança.
Do ponto de vista da antropologia, os católicos afro-americanos, de modo semelhante aos ¬
30DIAS Nº 6 - 2011
45
C A PA
O compositor
Abaixo, Martin Luther King Jr.,
inglês John Henry
o quarto a partir da direita, durante uma marcha
Newton (1725-1807)
pela igualdade racial e o direito de voto, em Selma,
no Estado do Alabama, em 1965
O filósofo norte-americano
Josiah Royce (1855-1916)
hispânicos, possuem uma tradição essencialmente comunitária,
têm uma concepção relacional da
pessoa em sua comunidade. Comunidade concebida por sua vez
como “beloved community”, segundo a definição do filósofo Josiah Royce (1855-1916), expressão depois tornada popular por
Martin Luther King Jr. Em outras
palavras, é a ideia, baseada na experiência, de que pertence à minha família quem vive à minha volta, quem reza comigo na missa e o
homem do edifício ao lado. É uma
interdependência que no mundo
atual tem um grande valor, pois dá
às diferenças entre pessoas um
peso positivo. Quem se sentiu por
tanto tempo percebido e não aceito enquanto “outro” entende bem
tudo isso. Os afro-americanos podem hoje testemunhar e nos ensinar a beleza da interdependência,
da hospitalidade e da regra áurea
do amor ao próximo.
Há alguns anos relatei num
ensaio os resultados de um debate entre intelectuais negros e hispânicos sobre a compreensão
que cada um dos dois grupos tinha a propósito de ser “outro”.
Disso emergia todo o valor da comunidade, e por isso o acento
não era posto no eu, mas na pessoa como parte do nós. Isso em
espanhol eles exprimiam dizendo “nosotros”, uma palavra poderosa, que equivale ao inglês
we, mas que literalmente carrega
o significado de “comunidade
que inclui os outros”, acolhendo
46
30DIAS Nº 6 - 2011
as diferenças. Não são apenas
duas palavras nos dicionários dos
afro-americanos e dos hispanoamericanos, mas têm consequências concretas e explicam
toda a atenção que essas comunidades têm à justiça social. Martin
Luther King Jr. dizia “ter o sonho
de uma sociedade melhor”, e isso
concretamente significava assistência social e de saúde para todos, um sistema de educação
acessível, iniciativas para enfrentar a pobreza e a falta de moradia. Esse é, em outros termos, o
tema da inclusão, que é global e
pode extrair dessas comunidades, precisamente, ideias e soluções justas e verificadas pela experiência. Não surpreende, então, que um candidato afro-ame-
Barack Obama
com o reverendo Luis
Cortés Jr., presidente
da Esperanza,
associação evangélica
de comunidades
hispânicas americanas,
no National Hispanic
Prayer Breakfast and
Conference,
Washington,
a 12 de maio de 2011
OS CATÓLICOS AFRO-AMERICANOS
ricano à presidência tenha-se
tornado presidente dos Estados
Unidos, tendo norteado sua campanha pelo modelo central do
yes we can, que nos diz que podemos alcançar maiores resultados se estamos juntos, e não um
contra o outro, começando pelo
bairro e indo até o nível das relações internacionais.
Quando, nos Estados Unidos,
nos estendemos em debates sobre a secularização e alguém afirma que não existe lugar na sociedade para os portadores de
ideias religiosas, a comunidade
afro-americana já tem a resposta
pronta. Mesmo sem incomodar
mais uma vez Martin Luther
tem raízes na fé e que tanto contribuiu para a construção do imaginário coletivo dos americanos.
A comunidade afro-americana
não separa o secular do sagrado;
ela encontra a maneira de perceber a santidade dos comportamentos nos detalhes da vida cotidiana. E creio que isso tenha um
valor, pois lembra também aos
diplomatas e aos políticos que
muitas vezes a religião pode ser
usada erroneamente – e ainda o
será, pois isso está na história
deste mundo –, mas mesmo assim continua a ser uma força que
constrói o bem comum.
Enfim, talvez alguém possa ter
medo de que nos Estados Unidos
nos States. Creio que a propósito disso a imagem do mosaico –
ou, se quiserem, da paella... –
seja mais pertinente que a do
melting pot. Pois no mosaico
são preservadas todas as partes
que compõem o rosto final, e na
paella todos os ingredientes são
importantes para dar sabor: isso
é, justamente, “e pluribus
unum”. Isso influenciará positivamente também a nossa política externa, pois os Estados Unidos – tornando-se cada vez mais
o microcosmo do nosso planeta
–, graças também a suas dinâmicas inter nas, poderão compreender melhor as dinâmicas
globais.
Acima, um rabino dirige a oração
Toda comunidade que entrou
nos Estados Unidos veio para fazer
parte deles, não desembarcou numa terra deserta. E agora nos ajuda dando sua contribuição original. Por exemplo, uma maior presença de latinos nos EUA traz consigo também uma história e uma
cultura hispânica densa de relações com o mundo judaico e islâmico, preciosa num momento em
que o encontro com o mundo mediterrâneo se torna prioridade. E é
evidente quanta ajuda a comunidade negra americana deu também e
pode dar ao país em termos estratégicos. Mas é o olhar para a sua fidelidade incomum que sempre traremos em nosso íntimo.
do Shabbat com as crianças numa
sinagoga de Nova York; à esquerda,
afro-americanos nas ruas do Harlem,
em Nova York, assistem à transmissão
ao vivo pela tevê da cerimônia de posse
no Capitólio de Barack Obama,
44º presidente dos Estados Unidos
da América, em 20 de janeiro de 2009
King Jr., podemos repetir que
nada da história dessa comunidade pode ser contado e explicado sem uma referência à fé. A
começar dos cantos gospel que
aspiravam à libertação da escravidão – inclusive a própria Amazing Grace [Graça maravilhosa,
canção do compositor John
Newton, escrita no final do século XVIII e que se tornou também
um hino antiescravagista, ndr] –,
até toda a produção cultural que
essas minorias, os latinos ou os
negros, tornem-se relevantes, e
que a cultura que definimos
wasp possa rejeitar a novidade,
com resultados dramáticos no
futuro. Continuo a considerar,
ao contrário, que os fundamentos dos Estados Unidos continuarão sólidos, pois nós somos
“e pluribus unum”. Não é a primeira vez que experimentamos
fermentos demográficos e que
comunidades inteiras entram
(Texto transcrito por
Giovanni Cubeddu
e revisto pelo autor)
30DIAS Nº 6 - 2011
47
Curtas Curtas Curtas Cu
3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN
O PRESIDENTE PERES,
O DIRETOR DE 30DIAS E A PAZ
NA TERRA SANTA
“Conheci todos os líderes italianos. Porém, um que muito me
impressionou foi Andreotti. A primeira vez que o encontrei
era ministro da Defesa, como eu. Muitos anos atrás. E já me
impressionava a sua sagacidade. Uma vez perguntei-lhe como
tinha feito para sobreviver a tantos governos. Respondeu-me:
‘Veja, é suficiente não considerar os ministros como amigos.
Para ficar com os amigos, vai-se em férias: trabalhar no governo é uma outra história’. Sempre gostei desta sua sagacidade”. São palavras do presidente do Estado de Israel Shimon
Peres publicadas no Corriere della Sera de 2 de junho. Na entrevista, também foi feita uma observação sobre a paz entre Israel e palestinos: “Creio que seja preciso abrir negociações diretas e conduzi-las com discrição. Porque é preciso sempre
distinguir entre posições de abertura e iniciativas nos bastidores [...]. O caminho certo é abrir as negociações publicamente
e depois conduzi-las com discrição, para alcançar um verdadeiro acordo”.
SAGRADO COLÉGIO
A morte de Sterzinsky
e Swiatek
No dia 30 de junho depois de
uma longa doença faleceu o
cardeal Georg Maximilian
Sterzinsky, 75 anos, arcebispo emérito de Berlim. No dia
2 de julho foi nomeado o seu
sucessor: monsenhor Rainer
Maria Woelki, 55 anos, desde
2003 auxiliar de Colônia.
No dia 21 de julho faleceu
o cardeal bielo-russo Kazimierz Swiatek, 96 anos, arcebispo emérito de Minsk. Com
a sua morte o Colégio cardinalício fica com 196 purpurados, dos quais 114 eleitores.
Roma, foi nomeado bispo de
Sabina-Poggio Mirteto.
Em 24 de junho monsenhor Giovanni Tani, 64
anos, desde 2003 reitor do
Pontifício Seminário Maior
Romano, foi nomeado arcebispo de Urbino-UrbaniaSant’Angelo in Vado.
Em 28 de junho o cardeal
Angelo Scola, 70 anos em
novembro, desde 2002 patriarca de Veneza, foi nomeado arcebispo de Milão.
Em 2 de julho foram acei-
ITÁLIA
Novos bispos
em Sabina, Urbino,
Milão. Demissões em
Oppido
Mamertina
No dia 10 de junho monsenhor Ernesto Mandara, 58
anos, desde 2004 auxiliar de
48
Angelo Scola
30DIAS Nº 6 - 2011
Shimon Peres
tas as demissões de monsenhor Luciano Bux, que completou 75 anos em 29 de junho, do cargo de bispo de
Oppido Mamertina-Palmi.
IGREJA/1
Do povo cristão ao
“catolicismo militante”
O jornal La Repubblica publicou, em 7 de julho, uma
síntese feita por Michele
Smargiassi sobre o conteúdo
de um estudo do catolicismo
na Itália, Geografia dell’Italia cattolica, de Roberto
Cartocci, professor de Ciências Políticas em Bolonha.
Segundo o estudo, “nos últimos anos aconteceu, silenciosamente, um terremoto
nos costumes religiosos nacionais. Uma transição de
consciências, uma decantação, uma eletrólise que despedaçaram o país em duas
partes: no Norte a secularização, e no Sul a devoção”.
Trata-se de um processo lento “que corrói somente o que
os sociólogos chamam ‘cato-
licismo de maioria’, aquela
massa de italianos em torno
de cinquenta por cento da
população que se limita a
respeitar os preceitos mais
gerais e ir à igreja no Natal e
na Páscoa. Resiste, ao invés,
pelo menos há vinte anos,
ao redor de trinta por cento,
o ‘catolicismo de minoria’ de
quem vai à missa todos os
domingos, dentro do qual se
reforça até mesmo, e isso é
uma herança do impulso de
Wojtyla, um dez por cento de
‘catolicismo militante’ formado por animadores de paróquias e de membros ativos
dos movimentos eclesiais”.
IGREJA/2
O desaparecimento
da fé tradicional
No jornal La Repubblica de
7 de julho Giancarlo Zizola
comenta o estudo de Roberto Cartocci, Geografia
dell’Italia cattolica, explicando que “nas ruínas do catolicismo” insinua-se por todos os lados “um modelo ¬
urtas Curtas Curtas Curtas
NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO
ORIENTE MÉDIO
Abraham Yehoshua e a proclamação do Estado palestino
Crianças palestinas observam uma manifestação de judeus ortodoxos na cidade antiga de Jerusalém
“A campanha realizada por Israel contra a iniciativa
palestina para obter o reconhecimento de um Estado
próprio na Assembleia das Nações Unidas em setembro próximo, na minha opinião, é política e moralmente incorreta e ligada à questão do reconhecimento internacional das fronteiras de 1967”. São palavras
de Abraham Yehoshua, publicadas no La Stampa de
13 de julho. O artigo, depois de uma digressão histórica sobre a resolução da ONU de 1947, que estabelece
o nascimento de dois Estados, “um judaico – Israel – ,
e um árabe – a Palestina”, e sobre as sucessivas guerras árabo-israelenses, continua explicando como: “o
reconhecimento de um Estado palestino dentro das
fronteiras de 1967 estabelecerá a decisão tomada pelas Nações Unidas em novembro de 1947 com relação à repartição da região, sustentada na época por
Israel e sobre a qual se baseia a sua legitimidade internacional. Portanto se o governo de Israel é sincero em
querer reconhecer um Estado palestino – como declarou várias vezes – por que se opõe tanto à prevista resolução de setembro? Creio que a única razão seja a
referência às fronteiras de 1967”. Clara alusão, a última, às teses de alguns políticos israelenses que denunciaram a impossibilidade de defender tais fronteiras.
Porém, segundo Yehoshua, uma prudente presença
militar, israelense e internacional, seria suficiente para
afastar do Estado israelense eventuais perigos. Tais
proteções militares, segundo o escritor, “não danificariam a identidade nacional palestina (assim como as
bases militares estrangeiras na Europa e em outras regiões durante a Guerra Fria). Uma presença militar é
substancialmente temporária e num amanhã, mudadas as circunstâncias, seria possível removê-la. Do
mesmo modo, os civis israelenses em encrave no interior do estado palestino seriam uma constante provocação que reacenderia ódios e desavenças”. O artigo
conclui-se assim: “A eventualidade de uma multidão
de civis palestinos, entre os quais mulheres e crianças,
que tomam conta das ruas dos vilarejos e cidades para
manifestar de modo não violento (como acontece ultimamente em vários países árabes) contra postos de
guarda e assentamentos israelenses na Cisjordânia depois da decisão da ONU em setembro me deixa muito
inquieto. A ANP saberia controlar tais manifestações?
E o que faria Israel? Enviaria o exército para reprimilas com a força? E os extremistas israelenses como
reagiriam às manifestações diante de suas casas? Tal
cenário pode ser evitado se o governo de Israel apoiar
em setembro a resolução das Nações Unidas e encaminhar logo negociações diretas sobre todas as questões controversas, como convidou a fazê-lo o presidente dos Estados Unidos”.
30DIAS Nº 6 - 2011
49
Curtas Curtas Curtas Cu
3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN
CÚRIA/2
Nomeações no
Pontifício Conselho dos
Leigos e do Campo da
Saúde
Fiéis na missa de domingo
de religião de ‘ateus devotos’ que continua imperturbável a integrar Deus como
elemento central do sistema
burguês, completamente
funcional aos interesses dos
poderes dominantes. A própria fé em Deus acaba por
ser reduzida, neste contexto
cultural, a um distintivo identidário, um modo para revestir os interesses com
manto religioso”. E prossegue: “É precisamente esse
desenvolvimento contraditório que é chamado em
causa pelo colapso das estruturas da cristandade estabelecida, que continua ainda
assim imperturbável a autocelebrar-se na beira do abismo. A Igreja que emerge
destes gráficos é uma grande e gloriosa instituição muito cansada e entorpecida sobre o próprio poder burocrático”. E continua com a
citação de um escrito do jesuíta padre Bartolomeo Sorge, segundo o qual a atual
crise da cristandade representa “um sinal do fim do
‘regime de cristandade’: a
sobreposição entre fé e política, trono e altar, espada e
crucifixo, tinha caracterizado os séculos ‘constantinianos’, mas agora essa ‘parece definitivamente superada’, tanto no plano histórico
(depois dos processos de secularização) como no plano
teológico (pelo Concílio Vaticano II)”. O artigo conclui-
50
se assim: “De resto o próprio
Ratzinger não tinha dúvidas,
em uma entrevista de 1997,
ao sugerir o abandono da
ideia de Igreja nacional de
massa: ‘Diante de nós, é provável que exista uma época
diferente’, dizia, ‘na qual o
cristianismo poderá se encontrar na situação da semente de mostarda, um grupo de pequenas dimensões,
aparentemente não influente, que todavia vive intensamente contra o mal e leva ao
mundo o bem’”. Título do artigo: Bem-vindos ao país
que perdeu a fé “tradicional”.
CÚRIA/1
Mudança na cúpula
da Apsa
No dia 7 de julho foram
aceitas as demissões do
presidente da Apsa, Administração do Patrimônio
Apostólico da Santa Sé,
cardeal Attilio Nicora, 74
anos, desde 19 de janeiro
de 2011 presidente da Autoridade de informação financeira. O seu substituto
será o arcebispo Domenico
Calcagno, 68 anos, desde
2007 secretário do dicastério. O novo secretário é
monsenhor Luigi Mistò, 59
anos, ordenado sacerdote
em 1976 na arquidiocese
de Milão.
30DIAS Nº 6 - 2011
No dia 18 de junho o espanhol monsenhor Miguel Delgado Galindo, 48 anos, do
clero do Opus Dei, foi nomeado subsecretário do Pontifício Conselho para os Leigos, onde até então era chefe
de departamento.
Em 14 de julho monsenhor Jean-Marie Mate Musivi
Mupendawatu, 56 anos, da
República Democrática do
Congo, foi nomeado secretário do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da
Saúde, onde era subsecretário desde julho de 2009. Neste último encargo foi substituído pelo camiliano italiano padre Augusto Chendi, 53
anos, até então oficial da
Congregação para a Doutrina da Fé.
DIPLOMACIA/1
Novos núncios
na Hungria, junto
à Asean, no Chile,
Belarus e Uzebequistão
No dia 6 de junho o arcebispo
Alberto Bottari de Castello,
69 anos, desde 2005 núncio
no Japão, foi nomeado representante pontifício na
Hungria.
Em 18 de junho foi nomeado o primeiro núncio
apostólico junto à Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático). Trata-se do
arcebispo Leopoldo Girelli,
58 anos, desde janeiro passado núncio apostólico em Singapura e Timor Leste, delegado apostólico na Malásia
(com a qual, no dia 18 de julho, depois da audiência do
Primeiro-Ministro com o Papa, foi anunciado o estabelecimento de plenas relações
diplomáticas) e no Brunei e
representante pontifício não
residente para o Vietnã.
Em 15 de julho o arcebispo Ivo Scapolo, 58 anos, desde 2008 representante pontifício em Ruanda, foi nomeado núncio no Chile.
Ainda no dia 15 de julho
o arcebispo Claudio Gugerotti, 55 anos, desde 2001
núncio na Georgia, Armênia
e Azerbaidjão, foi nomeado
representante pontifício na
Belarus.
Em 22 de julho o arcebispo Ivan Jurkovic, 59 anos,
desde fevereiro passado núncio na Rússia, foi nomeado
também núncio no Uzebequistão.
DIPLOMACIA/2
Novos embaixadores
não residentes
Attilio Nicora.
No dia 9 de junho Bento XVI
recebeu em audiência seis
novos embaixadores junto à
Santa Sé que não residem
em Roma. Trata-se dos representantes da Moldávia
(Stefan Gorda), Guiné Equatorial (Narciso Ntugu Abeso
Oyana), Belize (Henry Llewellyn Lawrence), Síria
(Hussan Edin Aala), Gana
(Geneviève Delali Tsegah) e
Nova Zelândia (George Robert Furness Troup).
q
Reportagem
Os bispos que participaram da última Assembleia do Conselho
Episcopal Latino-Americano falam da “Missão Continental” das Igrejas
latino-americanas. Não são projetos de hegemonia cultural,
mas uma “conversão pastoral” para facilitar a fé do povo.
E ir ao encontro de todos. Entre processos de secularização
e tentações de neoclericalismo
Proximidade e misericórdia
por Gianni Valente
ábado de manhã, na estação
de Constitución, bairro nada
“nobre” de Buenos Aires, tudo parece em movimento, como
sempre: os ônibus, os táxis, as
pessoas que entram e saem do
terminal, mulheres com compras,
policiais, vendedores ambulantes
com seus carrinhos. Os jovens das
paróquias de Santa Elisa e da Virgen de Caacupé armaram a sua
tenda amarela bem ao lado desse
remoinho perpétuo de movimento humano, ao lado do monumento erigido ao inspirador da Consti-
S
52
30DIAS Nº 6 - 2011
AMÉRICA LATINA
e de emprego para si e para os outros, orações e missas pelos entes
queridos falecidos, a alegria e o
descanso da lida. À frente do padre Flávio formou-se uma fila, feita dos muitos que se confessam.
“Bautismos aquí, batismos aqui”,
está escrito numa faixa pendurada
numa árvore. Embaixo, numa
mesinha, dois jovens tomam nota
dos pedidos de novos batismos.
Até mesmo de pessoas que se
aproximam por simples e instintiva curiosidade. Desde a noite anterior, quando começou a misión,
ali, na frente mesmo da “Carpa
Católica”, foram celebrados treze
batismos de jovens e adultos, que
já tinham sido preparados pelos
catequistas leigos com que depois
prosseguirão a catequese pós-batismal. De repente e sem aviso
prévio, chega o próprio arcebispo, dom Jorge Mario Bergoglio.
Ele cumprimenta um por um os
jovens e as jovens, e abraça padre
Facundo, que logo derrama a sua
voz de trovão no megafone:
“Adelante, aproximem-se todos
da Carpa Misionera; daqui a alguns minutos celebraremos a missa”. Até um bêbado para. Às onze
de manhã, já está um pouco embriagado. Aproxima-se de BergoAcima, peregrinos
com a imagem
de Nossa Senhora
Aparecida na grande
esplanada da Basílica
de Aparecida, no Brasil
Na página ao lado
e à direita, duas fotos
da Carpa Misionera na
Plaza de la Constitución,
em Buenos Aires,
durante a missa
A capela Santa María Madre
celebrada pelo cardeal
del Pueblo, no bairro Bajo Flores,
Jorge Mario Bergoglio
em Buenos Aires
tuição argentina, o maçom Juan
Bautista Alberdi. Chamam-na
Carpa Misionera, Tenda Missionária da Igreja Católica. Trouxeram com eles uma imagem da Virgem de Luján, a Nossa Senhora
venerada no santuário nacional.
Ao seu redor, dispuseram mesas
com pequenas imagens do Menino Jesus e de Santo Expedito, o
santo das causas urgentes. E depois alguns deles começam a circular por toda a área da estação,
distribuindo a quem passa e às
pessoas paradas um santinho
com a imagem de Jesus e uma
oração. Muitos se aproximam,
pedem uma bênção, deixam nas
caixinhas nas mesas pequenas
mensagens com pedidos de saúde
glio. Mede-o de cima a baixo, quase perplexo: “Já vi você em algum
lugar...”, murmura. E acrescenta:
“Você é católico? Então diga você
a missa!”. Padre Facundo pede a
mesma coisa, trazendo-lhe os paramentos para a celebração. Depois, diante de um pequeno grupo
de jovens, velhinhos, mães com
crianças e passantes que fica- ¬
30DIAS Nº 6 - 2011
53
Reportagem
ram lá por acaso, o cardeal jesuíta
faz uma homilia de poucas palavras. “Peçamos a Jesus tudo aquilo de que necessitamos. Peçamos
tudo isso ao Pai em nome d’Ele,
peçamos a Ele, para que Ele peça
ao Pai. Como os pobres que Lhe
pediam tudo, quando passava pelas ruas e eles o cercavam. Jesus
gosta muito de estar conosco,
com todos nós, com todos aqueles que passam pela rua. É uma
coisa que antes de tudo Lhe inte-
ressa. Se houvesse no mundo inteiro um só homem ou uma só
mulher, Ele teria oferecido a sua
vida do mesmo jeito, por aquele
único homem ou aquela única
mulher”.
Por isso, pensa Bergoglio – e
também Facundo, padre Flavio e
todos os padres de Buenos Aires
que de vez em quando vão fazer
batizados e confissões nas estações, nas praças, até sob o obelisco da Plaza de la República, na
Foto dos participantes da 33ª Assembleia do Conselho Episcopal Latino-Americano
(Celam), realizada em Montevidéu de 15 a 20 de maio de 2011
imensa Avenida 9 de Julio –, a coisa mais importante é facilitar, não
fazer seleções, não impor obstáculos a esse desejo de Jesus. Abraçando cada aceno de espera que
jorra gratuitamente nas circunstâncias fortuitas e fugazes que o
tempo presente oferece. Fazer
como fez o apóstolo Filipe, com o
eunuco a quem anunciara a Boa
Nova ao longo do caminho. “Aqui
temos água. Que impede que eu
seja batizado?”, perguntara o eunuco quando passavam perto de
um riacho. “Filipe batizou o eunuco. Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe.
O eunuco não o viu mais e prosseguiu sua viagem, cheio de alegria”
(At 8,36-39).
Cresce o sentimento
de precariedade,
mas crescem também
as possibilidades de encontro
“No Evangelho”, repetia o cardeal Aloísio Lorscheider, “os encontros mais belos de Deus com a
humanidade aconteciam na rua.
Séculos de história de cristianismo
não nos dizem outra coisa”.
Entrevista com Carlos Aguiar Retes, novo presidente do Celam
Só a humildade nos livra das chantagens
C
arlos Aguiar Retes, 61 anos, arcebispo de Tlalnepantla (México), foi designado presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) em 19 de
maio passado, em Montevidéu, durante a trigésima
terceira assembleia ordinária do organismo representativo dos episcopados de toda a América Latina. Os
bispos e os outros delegados de
todas as Igrejas latino-americanas
o escolheram para o cargo, por
amplíssima maioria, para um mandato de quatro anos.
Graduado em Teologia Bíblica
pela Pontifícia Universidade Gregoriana e ex-professor de Sagrada Escritura na Pontifícia Universidade do México, Aguiar está em
seu segundo mandato como presidente da Conferência Episcopal
Mexicana. Por sensibilidade pessoal e origem, representa bem a
área composta por bispos que depois da contraposição e das radi-
54
30DIAS Nº 6 - 2011
calizações ideológicas intraeclesiais das décadas
passadas percebeu com maior solicitude a urgência
da “conversão pastoral” prefigurada pelo documento
da Assembleia do Celam de Aparecida (2007) como
horizonte presente da obra apostólica de todas as
Igrejas latino-americanas.
Excelência, o senhor se
torna presidente do Celam
numa época em que todas as
Igrejas latino-americanas são
chamadas à “Missão Continental”. O que é essa missão?
É apenas uma nova fórmula
para o apelo à mobilização
“de sempre”?
CARLOS AGUIAR RETES: A
Missão Continental não nasceu
do nada, como um projeto de gabinete. Já antes da Assembleia
Geral do Celam em Aparecida,
houve a experiência de muitas
dioceses que começaram a se
Acima, à esquerda, um grupo de meninas peruanas no dia de sua Primeira Comunhão na igreja de Las Mercedes, de Lima; à direita, o
refeitório para os pobres no convento de los Descalzos, em Lima, Peru, onde os franciscanos oferecem uma sopa chamada Porciúncula
No tempo atual, toda a América Latina parece uma imensa estação em que tudo se move e nada
está parado em seu lugar. Em que
processos econômicos e sócioculturais imponentes mudam e às
vezes reviram a vida dos indivíduos e das multidões. A missa e os
batismos administrados na estação de Constitución são uma imagem concreta – entre as muitas
possíveis – da Missão Continental
que as Igrejas latino-americanas,
neste contexto de rápidas mudanças, prescreveram a si mesmas
em 2007, em Aparecida, na última Assembleia Geral do Episcopado Latino-Americano.
Quatro anos depois, os bispos
e os outros convocados para a
33ª Assembleia do Conselho
Episcopal Latino-Americano, realizada em Montevidéu de 15 a 20
de maio passado, verificaram juntos o caminho feito até aqui.
Questionaram-se e se confrontaram novamente com as intuições
e o olhar lançado sobre o Continente expressos na conferência
de Aparecida.
Nas palavras e nos juízos de alguns deles, recolhidos por
30Giorni nesse encontro, o discernimento compartilhado pelos
representantes do episcopado se
apresenta como um caminho
posicionar do ponto de vista pastoral nessa perspectiva. Em Aparecida, essas experiências convergentes se
encontraram e se reconheceram, e todo o episcopado
latino-americano escolheu caminhar pela estrada que
elas sugeriam.
Que elementos favorecem essa nova unidade de
intenções compartilhada?
A constatação de que estamos passando para um
novo contexto social. É um processo que percebemos
sobretudo nas grandes áreas urbanas, que continuam
a crescer. Nesse sentido, a missão proposta em Aparecida foi preparada também pela reflexão sobre as megalópoles. A migração do campo para as cidades é uma
constante na vida da América Latina. Mas hoje esses
fenômenos marcam a passagem de um tempo em que
os valores cristãos eram aceitos por todos para uma situação em que os modelos mudam e vai-se formando
uma sociedade pluricultural.
E o que isso comporta, do ponto de vista pastoral?
Não podemos pensar que a nossa tarefa prioritária
seja ficar o tempo inteiro parados na porta de entrada,
verificando se as pessoas possuem ou não os requisitos administrativos para fazer parte da Igreja. Este é o
tempo de um anúncio do essencial do cristianismo, a todos. Às pessoas tal como elas são, na condição concreta em que vivem hoje, com as expectativas que têm
agora. Na área do México em que me encontro, há doze
aberto e em pleno andamento.
No qual – como sempre acontece
– as intuições mais cheias de esperança evangélica florescem e desabrocham na trama cotidiana
dos pastores mais envolvidos na
vida concreta do povo de Deus.
Um primeiro dado ajuda a eliminar equívocos muitas vezes fomentados pelas propagandas clericais e anticlericais: os bispos
pastoralmente mais sensíveis têm
cada vez mais claro que a missão
continental não é uma estratégia
ou um programa. Nem um apelo
a novas militâncias para reconquistar posições perdidas. “A missão continental delineada em ¬
dioceses formadas por pessoas que vão e vêm todos
os dias, para satisfazer a suas necessidades vitais. Assim, é preciso que nos encarreguemos de todas as novas condições da convivência. Por exemplo, facilitando
o acesso aos sacramentos, de forma que os requisitos
exigidos pela paróquia não se tornem um motivo para
perder qualquer contato com a Igreja.
Nas décadas passadas, a chamada Nova Evangelização apostava muito nos grupos e nos movimentos organizados. Hoje, que reflexões são sugeridas pelo que ocorreu com os Legionários de
Cristo?
Esse episódio nos diz que é preciso ter uma atitude de humildade, a atitude que Bento XVI tem-nos
mostrado sempre. Reconhecer que a fragilidade humana comporta necessariamente a possibilidade real
de quedas, do pecado. É inútil que nos apresentemos
diante da sociedade pretendendo que a Igreja seja
uma espécie de instituição humana perfeita, em que
tudo funciona. Essa, certamente, é uma boa intenção. Mas sabemos também que entre nós as fragilidades e as misérias humanas levam a situações lamentáveis de escândalo e contratestemunho. E a atitude de humildade sugerida por Bento XVI nasce da
confiança de que a graça de Deus opera, e pode mudar as coisas. Só assim não somos reféns das expressões da mídia que se esforçam por denegrir a
instituição eclesiástica.
¬
30DIAS Nº 6 - 2011
55
Reportagem
À esquerda, fiéis brasileiros no Santuário
de Nossa Senhora Aparecida; acima,
uma foto aérea da favela de
Paraisópolis, em São Paulo, Brasil
Aparecida”, explica com palavras
tão simples quanto decididas Ricardo Ezzati Andrello, arcebispo de Santiago do Chile, “não é e
não pode ser entendida como um
projeto de reconquista das porções de poder sociológico que a
Igreja está perdendo na América
Latina”. Até porque, como salienta Rubén Salazar Gómez,
arcebispo de Bogotá, “a Igreja
enquanto tal não interessa, não
importa. É apenas um instrumento. O Concílio Vaticano II repete
que a Igreja é sacramento, e um
sacramento em si mesmo só tem
sentido como sinal e instrumento.
Isso é a Igreja. Existe apenas para
servir os homens indicando a eles
o rosto de Cristo”. Assim, na
América Latina parece já ter passado também a época de quem
Muitos continuam a olhar para as Igrejas latinoamericanas com os olhos das décadas de 1960 e
1970. Continuam a denunciar como insídia mais
grave a redução da mensagem cristã a ideologia
política. É nesse pé mesmo que estão as coisas?
Já há anos o esforço de construir e impor um “mapeamento” ideológico dos membros da Igreja parece
inútil e superado, se é que alguma vez essa já tenha sido uma chave de interpretação adequada para conhecer realmente os rostos e as experiências das Igrejas
da América Latina. Aparecida viu a Igreja tal como ela é
hoje, e o que o Espírito Santo lhe inspira agora. Eu creio
que esse documento tenha sido um sinal evidente de
como essas leituras ideológicas caíram por completo.
Na comunhão da Igreja podem viver lado a lado sensibilidades diferentes e diferentes abordagens ao enfocar as coisas.
Frequentemente a mídia e mesmo as agências
de imprensa católicas descrevem os homens de
Igreja como representantes de uma força “antagonista” em relação a governos e grupos políticos
que vêm prevalecendo na América Latina. É uma
imagem plausível?
Com relação ao itinerário histórico da América Latina, vem crescendo a convicção de que a Igreja tem de
ser muito livre perante os governos. Respeitando a autoridade constituída, procurando favorecer todas as co-
56
30DIAS Nº 6 - 2011
apostava tudo na fórmula quase
mágica da “evangelização da cultura”, entregando nas mãos de
elites militantes a tarefa de readquirir para a igreja um espaço culturalmente influente no cenário
público, como se dizia nas décadas de 1980 e 1990.
A missão continental, repete o
brasileiro Geraldo Lyrio Rocha,
arcebispo de Mariana, “não é uma
laborações possíveis, mas ao mesmo tempo livre para
dizer o que pensa sobre como deve ser a sociedade. Infelizmente, esse esquematismo ideológico de que eu
falava antes, e que é totalmente inapropriado para olhar
para a Igreja, não parece totalmente superado em alguns países. Alguns ainda consideram fundamental o
discurso ideológico para orientar seu governo e suas
políticas, e orientar também as massas. Mas, ao lado
dos exemplos de uma continuidade na rígida posição
ideológica de antigamente, existem outros, mais pragmáticos, de pessoas que pensam nas políticas sociais
como instrumentos para resolver os problemas.
E em sua nação, qual é o problema que marca
mais o tempo atual?
No México, um problema grave é o impacto geral
do tráfico de drogas e de dinheiro ilegal. Problemas
que não podem ser resolvidos se faltar uma verdadeira colaboração internacional. De modo particular, a
dos Estados Unidos. Eles deveriam ter uma posição
muito mais rígida para impedir a passagem das armas para o México. O México não produz armas, não
há lá uma única fábrica de armas e de armamentos
militares. Como é possível que as armas sejam encontradas com tanta facilidade do outro lado da fronteira? Isso certamente é consequência de uma prática criminosa.
G.V.
AMÉRICA LATINA
tarem-se de todas as “ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (n.
365), a não serem complacentes
com a retórica do “Continente da
Esperança” e a não “dar nada como pressuposto e óbvio” (n.
549). O mesmo documento eliminou também os pretextos de
que se podiam valer os profissionais da queixa e da recriminação,
fazendo votos – com uma citação
da Evangelii nuntiandi de Paulo
VI – de que “o mundo atual” pos-
inermidade de uma criança salva
das águas. Sinal gratuito e surpreendente da afeição por Jesus
e sua Mãe ainda viva nos corações de grande parte dos latinoamericanos.
De uma ideia de Igreja como
reguladora da fé à de uma
Igreja facilitadora da fé
No número 264, o mesmo documento descreve a piedade popular como uma duradoura e grandiosa “confissão do Deus vivo que
Acima, à esquerda, nas proximidades da igreja de San Cayetano, em Buenos Aires, fiéis recebem a bênção por ocasião da festa do
santo padroeiro do trabalho e do pão; à direita, distribuição de comida em um refeitório de bairro em Buenos Aires
mobilização, ou uma lista de coisas novas a fazer e de momentos a
organizar, mas um certo espírito
que deveria ser a marca de cada
expressão e articulação da vida da
Igreja. Em momentos de passagem e de grandes mudanças como os que estamos atravessando,
aumentam as preocupações e o
sentimento de precariedade, mas
também as possibilidades de encontro. Por exemplo, com os oitenta por cento dos brasileiros
que, no Brasil católico, vivem a
sua vida longe das práticas cotidianas da Igreja”.
O documento de Aparecida
chamou a atenção também para
o fato de que na América Latina
estão em andamento processos
de secularização e de que a fé,
que por cinco séculos animou a
Igreja e a vida do continente, já
não se transmite de geração em
geração com a mesma facilidade
de antes. O texto convidou as
Igrejas latino-americanas a liber-
sa “receber a Boa Nova, não de
evangelizadores tristes e desalentados, impacientes ou ansiosos,
mas de ministros do Evangelho,
cuja vida irradia o fervor de quem
recebeu, antes de tudo em si mesmos, a alegria de Cristo” (n.
552). Mesmo em meio às muitas
reflexões, indicações e sugestões, a missão continental não foi
delineada como o termo de um
trabalho dos agentes de pastoral,
o fruto de quem pretende construir a Igreja com seu esforço, às
vezes partindo do zero. Pois “o
mais decisivo na Igreja é sempre
a ação santa de seu Senhor” (Introdução, n. 5). E cada passo novo “só pode acontecer se valorizarmos positivamente o que o Espírito Santo já semeou” (n. 262).
O ponto de partida é essa fé que,
mesmo em meio a todos os esquecimentos, as fraquezas e os
possíveis desregramentos, continua a mostrar-se nas devoções
mais simples do povo, com a
atua na história”. Um dado diante
do qual a Igreja tem o mandato de
no mínimo não complicar o que é
simples. “A questão é passar de
uma ideia de Igreja como reguladora da fé para a de uma Igreja facilitadora da fé”, diz, usando uma
frase um pouco de efeito mas eficaz, Eduardo Horacio García,
bispo auxiliar de Buenos Aires encarregado da pastoral para a arquidiocese portenha.
Talvez esteja toda aqui a conversão pastoral que o documento de Aparecida delineia como
fruto da gratidão e tarefa própria
das Igrejas latino-americanas para o tempo presente. Nas reflexões de muitos bispos, a palavra
mais recorrente, não por acaso, é
cercanía, proximidade. Traço
distintivo de uma Igreja que se
ofereça a todos como uma “mãe
que vai ao encontro, uma casa
acolhedora” (n. 370). Assim, os
bispos desta época eclesial reatam os fios de continuidade ¬
30DIAS Nº 6 - 2011
57
Reportagem
também com as gerações de seus
antecessores. De modo particular, com as gerações de pastores
que depois do Concílio Vaticano
II fizeram também do Celam um
instrumento eficaz para testemunhar a partilha cotidiana dos destinos e das vidas dos povos do
Continente pelas Igrejas locais.
“Além de tudo”, observa o venezuelano Baltazar Enrique Porras Cardozo, arcebispo de Mérida, “mesmo nesta fase de grandes mudanças estar próximo dos
desejos e dos sofrimentos dos homens continua a ser um traço distintivo das Igrejas latino-americanas, e as pessoas reconhecem isso. Mesmo diante do crescimento
da violência e dos fenômenos de
degradação social, pagos cada
vez mais pelos fracos, todos sabem que encontram na Igreja
uma realidade em sintonia real
com seus desejos de paz, de vida
tranquila, de segurança, e uma
ajuda concreta nas dificuldades e
nos sofrimentos”. Suas palavras
são ecoadas pelo frade capuchinho Andrés Stanovnik, arcebispo de Corrientes: “De modo
geral, e deixando de lado os casos
individuais, se existe uma realidade humana que em nossos países
mantém os pés na vida cotidiana,
essa realidade é justamente a
Igreja. As nossas Igrejas não são
constituídas apenas pelos encontros dos bispos, como o de Aparecida. Esses mesmos bispos caminham todos os dias com seu
povo. Os padres não vivem reclusos nas paróquias. Estão todos os
dias com as pessoas, na rua, nos
Da esquerda para a direita, o presidente uruguaio José Mujica, a presidente argentina
Cristina Fernández de Kirchner, o então presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva
e o presidente do Paraguai Fernando Lugo, na “foto de família” do Mercosul, durante
a reunião de cúpula realizada em Foz do Iguaçu, no Brasil, em 17 de dezembro de 2010
refeitórios para os pobres, nas escolas rurais, em todas as infinitas
obras sociais e caritativas em que
encontram realmente o esforço
de muita gente para seguir adiante. Só dentro da concretude das
circunstâncias da vida cotidiana é
possível compartilhar a fé e a alegria pela presença viva de Cristo.
Do contrário, qualquer caminho
comunitário com o tempo fecha o
horizonte e se transforma numa
segregação com pretextos religiosos”.
A volta de um certo tipo
de clericalismo: o velho perfil
do padre “príncipe”
Segundo alguns bispos, o boicote
mais insidioso à perspectiva “da
proximidade” sugerida pela Conferência de Aparecida não vem do
relativismo ou da secularização,
ou dos preconceitos de grupos
hostis à Igreja. “As maiores resistências”, observa o franciscano
peruano Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, arcebispo de Trujillo, “coincidem com a volta de uma
espécie de clericalismo. Até por
isso, a conversão pastoral delineada em Aparecida diz respeito em
primeiro lugar aos padres e aos
bispos. E também a alguns grupos
e movimentos organizados, que
às vezes agem como consórcios
em busca de prestígio e de poder
na Igreja”. Em algumas situações,
parece reaparecer o velho perfil
do eclesiástico “príncipe”, representante de uma casta privilegiada, funcionário de um poder religioso, que trata até mesmo os sacramentos como coisas suas, para
afirmar sua supremacia sobre os
fiéis leigos. E fazem isso às vezes
jogando na cara do povo as suas
fragilidades e as suas feridas, mortificando a abertura e as expectativas daqueles que não estariam de
acordo com os “pré-requisitos” de
preparação doutrinal e de condição moral impostos pelo crescente neorrigorismo clerical. Um desses estilos e estruturas que o documento de Aparecida define “ultrapassados”, e que não favorecem e
sim dificultam a transmissão da fé.
À esquerda,
católicos venezuelanos
durante a procissão
do Domingo de Ramos,
em Maracaibo
À direita,
a tradicional
procissão
do Domingo
de Ramos em Cali,
no departamento
de Valle del Cauca,
na Colômbia
58
30DIAS Nº 6 - 2011
AMÉRICA LATINA
“É inevitável”, observa o arcebispo Stanovnik, “que quando alguém pensa construir, ‘fazer’ a
Igreja como projeto e conquista
próprios, acaba por fazer uma autocelebração”. Acrescenta os arcebispo Porras: “Pretensões como essa marcam a história do catolicismo latino-americano desde
o início. Basta ler os documentos
publicados pelo Vaticano no quinto centenário da descoberta da
América. Na época, havia quem,
por rigidez disciplinar, pretendesse que os sacerdotes ou os religiosos fossem filhos legítimos, crescidos em famílias regulares, capazes de fornecer um dote. Já naquela época, entre os séculos XVI
e XVIII, chegavam de Roma centenas e centenas de dispensas, para contornar essas pretensões rigoristas”.
Uma Igreja contrapoder?
O Celam, desde os tempos em
que quem o guiava e inspirava
eram espíritos livres como o bispo
chileno Manuel Larraín e dom
Hélder Câmara, sempre refletiu o
sentimento predominante dos
episcopados latino-americanos
diante das mutáveis geografias sociais e políticas da região, esse
cruzamento de povos e nações
que dom Hélder definia com razão “o continente cristão do Terceiro Mundo”, quando chamava
seus confrades a combater a miséria “que destrói a imagem de Deus
que existe em cada homem”.
Hoje se consolida com o tempo nesses países e aumenta cada
vez mais a fila de governos de es-
querda, com líderes de diferentes
proveniências e posturas – exguerrilheiros, ex-militares, nacional-populistas, pragmático-reformistas –, chamados, de uma forma ou de outra, a administrar uma
conjuntura econômica em expansão, processos reais de integração
política, desequilíbrios crescentes
e programas sociais compensatórios que impactam as condições
de vida de milhões de pessoas.
Uma efervescência continental
em cuja representação pela mídia
os homens de Igreja normalmente
são relegados ao papel fixo de
censores severos. Seriam eles
emissários de uma corporação
sempre em luta com líderes políticos e governos e ancorada à agenda dos temas eticamente sensíveis: defesa da vida, da família, da
liberdade de educação.
O fato é que entre os bispos
convocados a Montevidéu durante a última assembleia do Celam
ninguém pareceu ter a intenção
de dar crédito e quem sabe relançar o perfil hipermediatizado da
Igreja como bloco “beligerante”
alternativo aos poderes mundanos. Para todos, os traços distintivos inatos à ação eclesial são os do
fervor apostólico e da mansidão.
“A imagem de uma Igreja como
força antagonista”, explica o arcebispo venezuelano Porras, “é útil
a governos e regimes populistas
que frequentemente caem na divinização do próprio poder. Quando isso acontece, a Igreja, justamente por sua imanência ao povo
e pelo olhar livre de messianismos
com que avalia os problemas so-
ciais, é representada como uma
corporação em busca de privilégios”. Segundo o arcebispo chileno Ricardo Ezzati, “na linguagem
política há quem às vezes quer fazer passar a ideia de que a estrutura eclesiástica é um fator de atraso
que freia a sociedade e as consciências, e denuncia sua pretensa
tentativa de recuperar um monopólio social e cultural perdido. A
meu ver, é preciso evitar confirmar esse estereótipo. E evidenciar
que a Igreja não busca nenhum
poder, nenhuma hegemonia.
Quer apenas comunicar ao nosso
povo uma mensagem de libertação boa para todos”. Também o
cardeal Julio Terrazas Sandoval, arcebispo de Santa Cruz de la
Sierra, define como caricatura cômoda aquela que reduz a Igreja a
um contrapoder: “Na Bolívia, nos
últimos anos, a Igreja manteve-se
em silêncio à espera de que acontecessem as mudanças tão desejadas pelo povo. Só começamos a
falar quando ouvimos discursos
que convidavam a eliminar o
‘Deus dos cristãos’ e afirmavam a
divisão entre duas Igrejas, a dos ricos e a dos pobres”. Conclui o colombiano Rubén Salazar Gómez:
“É uma deformação imposta pela
mídia, que enfatiza apenas os discursos dos eclesiásticos sobre temas de moral sexual. A Igreja deve fazer o possível para escapar
do mecanismo daqueles que a pintam como uma corporação política antagonista. Deve fazer isso
mostrando a todos, com humildade, que não busca nada para si
mesma”.
q
Fiéis com a imagem do papa João Paulo II durante uma missa campal no dia
de sua beatificação, na Cidade de Guatemala
30DIAS Nº 6 - 2011
59
Um comentário à frase de padre Luigi Giussani
Introdução
por Paolo Mattei
A
frase de padre Luigi Giussani dirigida a João Paulo II no início da década de 1990, “não, Santidade, não é o agnosticismo; o gnosticismo, este sim, é que é o perigo para a fé cristã”, despertou o interesse não
apenas dos nossos leitores. O jornal italiano Avvenire recordou-a num pequeno artigo que resume com precisão as palavras e as intenções de padre Giussani. Nós o transcrevemos integralmente: “Na última edição de 30Giorni há
uma frase de padre Luigi Giussani: ‘Não é o agnosticismo; o gnosticismo, este
sim, é que é o perigo para a fé cristã’; assim dizia a João Paulo II no início da década de 1990. Escreve Lorenzo Cappelletti, introduzindo a republicação de
um artigo de Massimo Borghesi de 2003 (O pacto com a Serpente): ‘Passados
vinte anos, podemos nos dar conta do quanto foi antecipadora essa guinada
de padre Giussani. Guinada que pode ser exemplificada também por uma entrevista, concedida em abril de 1992, em que o mesmo Giussani fala da perseguição àqueles ‘que se movem na simplicidade da Tradição’. Quando o entrevistador lhe pergunta se ele se referia a uma perseguição de fato, Dom Giussani responde: ‘Isso mesmo. A ira do mundo, hoje, não se ergue diante da palavra Igreja, fica quieta até diante da ideia de alguém se dizer católico, ou diante
da figura do Papa como autoridade moral. Aliás, existe uma reverência formal
e até sincera. O ódio explode – mal se contém, e logo transborda – diante de
católicos que se apresentam como tais, católicos que se movem na simplicidade da Tradição’”1.
Padre Giussani, naqueles anos, não apenas evidenciou a relação entre o
gnosticismo e a perseguição àqueles “que se movem na simplicidade da Tra-
1
60
Don Luigi Giussani: ‘Il pericolo oggi è lo gnosticismo’. In Avvenire, 14 jul. 2011, p. 27.
30DIAS Nº 6 - 2011
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ISSN 1827-6288
En hommage LES CHANTS DE LA TRADITION
dição”, mas esclareceu também a forma pela
qual o gnosticismo se torna perigo para a fé
«Le vrai danger
cristã.
pour la foi chrétienne,
ce n’est pas l’agnosticisme,
Num discurso fantástico, pronunciado durante
mais le gnosticisme»
os exercícios espirituais de universitários de Comunhão e Libertação, em 12 de dezembro de
1998, dizia assim: “A história é feita de alternâncias dramáticas: os pontos de objeção parecem
para
dilatar-se mais que os do passado. O seu prevale«El peligrotiana
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cimento é estatisticamente a observação
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mais amarga e dramática que um cristão auussani
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ção da Igreja. Hoje o fato de Cristo existir –
“Não é o agnost
quem é, onde está, que caminho percorrer
o gnosticismo, icismo;
este sim,
para chegar até Ele – é vivido por pouquíssié que é o perig
para a fé cristã o
”
mos, quase um resto de Israel, e mesmo esses
muitas vezes infiltrados ou imobilizados pela
influência da mentalidade comum”2.
O gnosticismo é o perigo para a fé não, de
per si, enquanto cultura mundana. Isso não im„Nicht
sonde im Agnostiz
plica que o cristão não possa julgar a cultura
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Gnost ismus,
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den c t die Gefah izismus
do mundo, evidenciando criticamente, poderíahristli
chen r für
Glaub
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mos dizer laicamente, suas instâncias positivas,
limites e erros (cf. 1Ts 5,21). Deste ponto de vista, a frase de Giussani, “não é o agnosticismo; o
gnosticismo, este sim, é que é o perigo para a
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fé cristã”, poderia sugerir uma hipótese de lei“Not ag sticism
but Gno anger
tura da cultura mundana moderna, ou seja, a
is the d an faith”
Christi
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hipótese de que a cultura do mundo moderfo
no não seja caracterizada, contrariamente à
definição costumeira que se dá dela, pela
laicização radical do cristianismo, mas por
uma recompreensão da novidade cristã den- ¬
Directeur: Giulio Andreotti
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Giussani,L. Cristo é parte presente do real. 30Dias, n. 12, dez. 1998, p. 61.
30DIAS Nº 6 - 2011
61
Um comentário à frase de padre Luigi Giussani
tro das categorias já conhecidas do gnosticismo. Essa hipótese teve em Augusto Del
Noce o seu redator sistemático3.
Mas, à parte essa inteligente e interessante hipótese de leitura do moderno, o
gnosticismo é o perigo para a fé cristã enquanto “frequentemente se infiltra e imobiliza”, para usar as palavras tão claras de Giussani, o pequeno rebanho, “quase um resto
de Israel”, que é a Igreja.
Hegel, Goethe e Jung, para citar três grandes mestres do gnosticismo moderno, cujas
imagens ilustram a capa da última edição de 30Giorni, não são de per si um perigo, mas
o é aquele que na Igreja, de maneira mais ou menos oculta (“oculto e horrendo veneno”
é a expressão que Santo Agostinho usava para se referir à heresia pelagiana4), “frequentemente se infiltra e imobiliza”, e portanto desnatura, a simplicidade da Tradição.
Também a tragédia do massacre de Oslo de 22 de julho pode indicar como o desnaturamento da fé da Antiga e da Nova Aliança pode transbordar no ódio mais desumano e mais diabólico. De fato, se, em vez de confiar unicamente a Deus na oração a revelação de Seu mistério (e Apocalipse significa revelação), o homem quer
construí-lo e antecipar por si mesmo, renova a presunção diabólica de ser como
Deus (cf. Gn 3,4-5).
Alguns leitores pediram que lhes fosse esclarecido da maneira mais simples possível
o que é o gnosticismo. Parece-nos que as breves palavras do discípulo predileto, em
sua segunda Carta, digam com insuperável simplicidade o que se entende por gnosticismo, ou seja, por gnose (aliás, melhor dizendo, por falsa gnose, pois a fé em Jesus
Cristo também é conhecimento, despertado pela atração da Sua graça). Escreve São
João: “Todo aquele que se adianta e não permanece na doutrina de Cristo, não possui a
Deus. Aquele que permanece na doutrina, esse possui o Pai e o Filho” (2Jo 9). O perigo
do gnosticismo para a fé cristã se expressa na tentativa de ir além da doutrina de Cristo,
além da fé dos apóstolos. Poderíamos dizer também que o gnóstico não permanece na
humanidade de Jesus, essa humanidade que segundo o apóstolo Paulo contém em superabundante plenitude “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2,3).
Aqui, Paulo, para indicar o “conhecimento”, usa justamente o termo grego “gnose”.
Para possibilitar uma maior compreensão das palavras de padre Giussani republicamos, acompanhado de um breve perfil biográfico, o artigo de padre Jules Lebreton
sobre Orígenes (185-254), teólogo da Igreja de Alexandria. Escreve Lebreton que a
teologia de Orígenes é “um idealismo que crê se aproximar de Deus perdendo de vista a humanidade de Cristo”.
3
Del Noce, A. Il problema dell’ateismo. Bologna: 1964. Cf., particularmente, p. 27 e 192.
Agostinho. Contra Iulianum opus imperfectum II, 146: “Occultum et horrendus virus haeresis vestrae”.
4
62
30DIAS Nº 6 - 2011
Nova
vetera
et
Luca Signorelli, Pregação do Anticristo, capela de São Brício, Catedral de Orvieto. Ao redor do Anticristo, que ouve as sugestões
do demônio e realiza prodígios, encontram-se reunidas muitas pessoas, homens e mulheres, pobres e ricos, jovens e velhos,
gente comum e personalidades ilustres, laicos e eclesiásticos que conversam umas com as outras
Algumas teses de Orígenes foram condenadas pelo magistério da Igreja. Isso não
implica que sua teologia não possa e não deva ser valorizada em tudo o que propõe de
positivo e de útil para a compreensão da doutrina cristã. São-nos caras, nesse sentido,
as palavras de Santo Agostinho: “A regra absolutamente autêntica e inviolável da verdade mostra que deve ser desaprovado e corrigido em cada um aquilo que existe de
falso e vicioso, enquanto deve ser reconhecido e aceito o que há de verdadeiro e reto”5.
Boa leitura.
5
Agostinho. De unico baptismo contra Petilianum, 9, 16.
30DIAS Nº 6 - 2011
63
Um comentário à frase de padre Luigi Giussani
Lebreton,
teólogo crente
Francês, jesuíta, publicou escritos fundamentais sobre
os primeiros séculos da Igreja. Muitos grandes nomes
lhe são devedores. No entanto, nos mais recentes
dicionários teológicos não há vestígios dele.
Porque amava a fé da tradição antes e mais que
os debates dos homens cultos. Perfil desse personagem
por Lorenzo Cappelletti
O
recentíssimo Dizionario
dei teologi não o nomeia.
Não encontramos um perfil dele nem mesmo entre os cento
e dez retratos propostos no Lessico dei teologi del secolo XX, último volume da famosíssima obra
dogmática (que se gaba de ter Von
Balthasar e Rahner entre seus eminentes colaboradores) Mysterium
salutis. Mesmo assim, reconheceram-se devedores do padre Jules
Lebreton quase todos os chamados grandes, de Chenu a Danielou,
de Leclerq a Lyonnet, de Bouyer a
Marrou, tanto que Emile Blanchet,
reitor do Institut Catholique de Paris, dando notícia de sua morte,
ocorrida em julho de 1956, escrevia que na realidade “jamais saberemos qual foi a profundidade e a
extensão da influência do padre
Lebreton”.
Nascido em Tours em 1873,
Jules Lebreton entrou aos dezessete anos na Companhia de Jesus e
depois de ter bilhantemente obtido
64
30DIAS Nº 6 - 2011
os títulos acadêmicos não se pôde
esquivar de assumir cargos de docência. Em 1907, em plena crise
modernista, foi a ele que foi confiada a responsabilidade pela cátedra
de História das Origens Cristãs,
criada ex novo no Institut Catholique de Paris para cuidar do delicadíssimo setor histórico-teológico
dos estudos sobre a Igreja primitiva. Padre de la Potterie lembra de
tê-lo encontrado em Paris muitos
anos depois, ocasião em que Lebreton confidenciou-lhe que,
quando chegara, nos primeiros
anos do século XX, “un vent glacé
soufflait sur Paris”.
Seria aquele jovem professor
capaz de suportar o vento gélido
do modernismo? Colegas nem
sempre bem intencionados desdenhavam: “Os seus superiores devem estar loucos para permitir que
você aceite um cargo como este”.
“Não briguei para obter esta posição”, respondia Lebreton. “Chamaram-me para cá. Vim”.
Com humildade
Essa atitude de soberana e humilde indiferença sempre o acompanhará. “A sua espiritualidade austera contrastava por completo
com qualquer busca de aventura e
evasão. O padre não expressava
desejos”, escreve René d’Ouince
na lembrança que lhe dedicou em
Études, de 1956. De fato, também do ponto de vista científico,
o padre Lebreton gastou a maior
parte de sua vida em obras que
custam esforço e não trazem glória, ao menos a que é ganha entre
os homens, demarcando a própria pretensa originalidade. Deus
sabe o que custa ser um professor
sempre disponível por quase quarenta anos, sintetizar corretamente em dois volumes a história da
Igreja até Constantino para a
grande obra dirigida por Fliche e
Martin, além de estar sempre trabalhando como escritor para revistas como Études e Recherches
de science religieuse (que funda-
A r q u i v o d e 3 0 D i a s - O u t u b ro d e 1 9 9 4
Padre Jules Lebreton.
Nasceu em Tours
em 1873, morreu
em Paris em 1956
ra em 1910 com o padre De
Grandmaison e cuja direção assumiu também, após a morte deste);
mas sobretudo resenhar, para o
Bulletin d’histoire dessa revista,
até o fim da década de 1940, inúmeros trabalhos alheios. Por
meio século, as obras de uma certa importância de todos os exegetas neotestamentários, dos patrólogos e dos historiadores do dogma passaram pela avaliação atenta de suas análises críticas. Tão
medidas, que para encontrar seu
relevo é preciso lê-las nas entrelinhas. Trigésimo quarto ano de
Recherches de science religieuse, apresentação de Surnaturel,
do padre De Lubac: “Todo cristão
sabe que Deus propõe como fim
último para a sua vida a visão beatífica, pela qual ele se unirá eternamente ao seu Criador e Salvador; ele sabe que essa visão lhe é
prometida e lhe será concedida
por pura graça de Deus; mas pode perguntar-se se esse fim foi
proposto à humanidade a partir
do momento da criação do primeiro homem ou apenas depois
da queda, em previsão dos méritos do Redentor; nessa segunda
hipótese, devemos ser representados por Adão, antes de seu pecado, enquanto orientado por
Deus a uma beatitude natural,
merecida por uma vida piedosa e
justa, como as forças da natureza
podiam assegurar? Se essa hipótese de uma natureza pura orientada para um fim natural tiver de
ser descartada...”. É como se dissesse: os cristãos sabem em que
devem crer, hipóteses são hipóteses e ninguém disse que a da natureza pura deve ser descartada...
O padre Lebreton deixou incompleta a única obra que lhe poderia ter
dado glória. L’histoire du dogme de
la Trinité des origines au Concile
de Nicée não chegou a Niceia, parou em Santo Irineu. Mas talvez não
tenha sido por acaso. A fé de Lebreton era um pouco como a de Irineu.
Nova
vetera
et
Como Irineu, o padre Lebreton – escreve ainda René d’Ouince – “normalmente se contentava em expor
com firmeza a doutrina tradicional
da Igreja”. Segundo essa mesma regula fidei que fora de Irineu e que
Lebreton assume no prefácio à Histoire du dogme, lemos: “A corrente
viva da nossa tradição nos une ainda
mais estreitamente e mais seguramente ao passado que os comentários dos exegetas e as dissertações
dos historiadores”.
O velho servidor
A desconfiança perante as especulações da gnose cristã de Clemente
de Alexandria e de Orígenes volta
em alguns de seus artigos da década de 1920 (publicados na Itália pela Jaca Book em 1972 sob o título
Il disaccordo tra fede popolare e
teologia dotta nella Chiesa del
terzo secolo, dos quais apresentamos amplos trechos nas páginas
seguintes). Segundo Orígenes, os
simples fiéis são como lactantes, ligados a conhecimentos elementares: “Não conhecem senão Jesus
Cristo e Jesus Cristo crucificado,
pensando que o Logos feito carne
é todo o Logos; eles conhecem
apenas Cristo segundo a carne: e
essa é a loucura daqueles que são
chamados crentes”.
Mas padre Lebreton quis viver
e morrer como eles. Voltando a
ser como uma criança nos últimos
anos de sua vida em decorrência
de uma grave doença, confidenciou a uma religiosa idosa e doente como ele: “A senhora entende
como eu, minha madre. O que o
Senhor quer encontrar nos seus
velhos servidores é a confiança
n’Ele. Uma criança não tem medo
de voltar à casa pater na. Mês
após mês as forças diminuem. Esta tarde irei ao médico para tomar
as injeções mensais que me ajudam a viver, a pensar, a lembrarme das coisas. Quando já não fizerem efeito, deixarei de lado tudo isso e viverei na casa paterna
como uma criança dócil e confiante, repetindo a palavra: ‘Scio
cui credidi. Sei em que depositei
a minha confiança’. Não vai me
decepcionar”.
q
30DIAS Nº 6 - 2011
65
Um comentário à frase de padre Luigi Giussani
Nesta e nas páginas seguintes, algumas imagens do ciclo de afrescos conservados no interior do mosteiro de clausura
das Agostinianas dos Santos Quatro Coroados, em Roma. Aqui, acima, a representação da arte Gramática
Um idealismo
imprudente
Jules Lebreton escreveu na década de 1920 dois artigos sobre Orígenes.
A teologia do mestre de Alexandria é “um idealismo que crê
aproximar-se de Deus perdendo de vista a humanidade de Cristo”
por Lorenzo Cappelletti
66
30DIAS Nº 6 - 2011
A r q u i v o d e 3 0 D i a s - O u t u b ro d e 1 9 9 4
a edição 12 de 1922 de Recherches
de science religieuse, padre Jules Lebreton (que tinha fundado a revista em
1910, com padre De Grandmaison) publicava
um artigo intitulado “Les degrés de la connaissance religieuse d’après Origène”. Sobre o
mesmo tema, nos anos de 1923 e 1924, a Revue d’histoire ecclésiastique hospedava um
longo artigo (dividido em duas partes), também
do padre Lebreton, intitulado “Le désaccord
de la foi populaire e de la théologie savante
dans l’Eglise chrétienne du III siècle”. Com esse título, Il disaccordo tra fede popolare e teologia dotta nella Chiesa del terzo secolo, em
1972, a Jaca Book publicava em italiano ambos os artigos de Lebreton, formando com eles
um pequeno livro da coleção Strumenti per
un Lavoro Teologico (trazendo – diga-se, pensando numa eventual reedição – incorretamente as datas do segundo artigo). Embora tenham-se passado mais de vinte anos dessa edição e mais de setenta da publicação dos originais, a lucidez com que Lebreton lê o origenismo, salientando seu afastamento do depositum fidei, é insuperável; uma lição atualíssima, além de tudo, porque o origenismo nesse
meio-tempo certamente não desapareceu.
Os números das páginas que indicamos entre parênteses referem-se ao texto italiano editado pela Jaca Book, de cuja tradução (aliás,
fiel), feita por Riccardo Mazzarol, às vezes nos
afastaremos.
N
1. Da filosofia à heresia
“Para os simples fiéis, como para São Clemente de Roma, o mistério da Trindade, Pai, Filho
e Espírito Santo, é a fé e a esperança dos eleitos; eles veem tudo na perspectiva da salvação
e, no centro de tudo, a cruz de Cristo, a sua
morte redentora, a sua ressurreição, penhor
da deles. Eles podem dizer, como lhes reprovava Orígenes, que não conhecem outra coisa senão Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado. Os
doutos veem no mesmo mistério a solução de
todos os enigmas do mundo: como um Deus
Nova
vetera
et
infinitamente perfeito pôde criar? Com o seu
Verbo. Como esse Deus invisível se deu a conhecer? Mais uma vez, com o seu Verbo. Criação com o Verbo, revelação com o Verbo: são
sem dúvida doutrinas autenticamente cristãs;
mas nos escritores anteriores essas doutrinas
são consideradas sobretudo em suas relações
com o dogma da salvação: se Deus criou o
mundo, é para a sua Igreja, para seus santos.
Essas considerações, aqui [para os alexandrinos], são menos evidentes; o que está em primeiro plano é o problema filosófico que preocupava a todos os pensadores. [...] Atraídos
para o terreno dos filósofos, os teólogos cristãos sofrem a sua influência; a geração do Verbo de Deus é descrita por eles em função do
problema cosmológico: para criar o mundo,
Deus, que desde a eternidade tem em si o seu
Verbo, profere-o exteriormente” (p. 42-43).
2. A humanidade de Jesus Cristo
Portanto, essa carne que o Filho tomou de Maria e que foi por ela dada à luz não é evidenciada como o lugar da salvação, mas é funcional à
resolução de um problema filosófico. “‘Uma
vez que somos impelidos’, diz Orígenes, ‘por
uma virtude celeste e mais que celeste a adorar
unicamente o nosso Criador, negligenciamos
os ensinamentos primordiais de Cristo, ou seja, o ensinamento elementar, e elevamo-nos à
perfeição, para que a sabedoria que é manifestada aos perfeitos seja manifestada também a
nós’ (cf. Periarchon 4,1,7). Essa virtude ‘celeste’ é a que nos permite ir além do ensinamento
elementar, para alcançar as realidades inteligíveis, o mundo ‘celeste’” (p. 97-98). Lebreton
se apressa a observar: “Sem dúvida se trata de
uma concepção bastante falsa e perigosa da
encarnação do Filho de Deus e de seu rebaixamento; mas esse erro é intrínseco ao origenismo, um idealismo imprudente que crê aproximar-se de Deus perdendo de vista a humanidade de Cristo” (p. 89). Atenção! Em Orígenes o
cristianismo espiritual não exclui o corporal, o
cristianismo secreto não exclui o manifesto, ¬
30DIAS Nº 6 - 2011
67
Um comentário à frase de padre Luigi Giussani
São Pedro nos ombros da personificação da virtude
da caridade, sob cujos pés jaz o vício do ódio,
representado por Nero
68
30DIAS Nº 6 - 2011
o Evangelho eterno não exclui o Evangelho tal
como é entendido pelos simples cristãos. Lebreton chega a escrever que, para Orígenes, “a
fé simples, que tem por objeto central Jesus
Cristo crucificado, é sem dúvida um conhecimento salutar, mas elementar, como o leite para as crianças; a misericórdia de Deus a propõe, na falta de melhor opção, àqueles que são
fracos demais para poder-se elevar mais para o
alto, para ‘conhecer a Deus na sabedoria de
Deus’. Assim, não nos surpreenda ver Orígenes (cf. Contra Celsum 3, 79) defender essa fé
dos simples afirmando que não é a melhor coisa em absoluto, mas a melhor possível, dada a
enfermidade daqueles aos quais deve ser proposta” (p. 73). Mas justamente essa motivação, trazida em defesa da fé dos simples, a esvazia. Lebreton cita o que Orígenes escreve no
Comentário a João: “Escreve Orígenes: ‘O
evangelho que os simples creem entender contém a sombra dos mistérios do Cristo. Mas o
evangelho eterno, de que fala João, e que chamaremos propriamente evangelho espiritual,
apresenta claramente àqueles que entendem
tudo o que diz respeito ao Filho de Deus, tanto
os mistérios que seus discursos permitem vislumbrar quanto as realidades das quais suas
ações eram símbolos. [...] Pedro e Paulo, que a
princípio eram manifestamente judeus e circuncisos, receberam depois de Jesus a graça
de sê-lo em segredo. Eram visivelmente judeus
para a salvação da massa; não só o confessavam com suas palavras, mas o manifestavam
com suas ações. O mesmo deve ser dito de seu
cristianismo. E, como Paulo não pode socorrer
os judeus segundo a carne, se, quando a razão
o requer não circuncide Timóteo, e se, quando
é o momento, não se corta os cabelos e não faz
a oferta, numa palavra, se não se faz judeu com
os judeus para ganhar os judeus, assim ele, que
se dedica à salvação de muitos [Orígenes fala
de si mesmo], não pode socorrer eficazmente
com o cristianismo secreto aqueles que ainda
estão ligados aos elementos do cristianismo
manifesto, torná-los melhores e fazê-los che-
A r q u i v o d e 3 0 D i a s - O u t u b ro d e 1 9 9 4
Nova
vetera
et
gar ao que é mais perfeito e mais elevado. Por
isso, é preciso que o cristianismo seja espiritual
e corporal; e, quando é preciso anunciar o
Evangelho corporal, e dizer em meio àqueles
que são carnais que não conhecemos outra
coisa senão Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado, devemos fazê-lo.
Mas, quando nos encontramos diante de
aperfeiçoados pelo Espírito, que trazem frutos
n’Ele e são apaixonados pela sabedoria celeste, é preciso comunicar a eles o discurso que se
eleva da encarnação até o que estava junto de
Deus’” (p. 77-78).
3. A tradição secreta
A tradição única da Igreja, de que fala Irineu e
que é confiada em primeiro lugar à custódia do
bispo de Roma, cinde-se inevitavelmente, depois de Orígenes, numa dupla tradição. “De
um lado a Igreja visível, que mostra, como em
Irineu ou Tertuliano, a sucessão episcopal que
a liga por meio dos apóstolos a Cristo; de outro
lado uma elite, conhecida apenas por Deus,
oculta aos olhos dos homens, que também remete a uma tradição apostólica, mas confidencial, secreta e transmitida clandestinamente”
(p. 94). Se formos a fundo não apenas descobriremos que as tradições se tornam duas, uma
exotérica (pública, ou seja, católica), a outra, a
que conta, esotérica (secreta, ou seja, gnóstica), mas também que não transmitem o mesmo depositum.
Nem quanto ao objeto: “O ensinamento reservado aos simples é o moral; a revelação dos
mistérios, particularmente da Trindade, é o segredo dos perfeitos. [...] Os dois ensinamentos,
um proposto à massa, o outro reservado aos
perfeitos, se distinguem por seu objeto: para
uns a intimação dos preceitos morais, para outros a revelação dos segredos divinos. [...] Orígenes frequentemente opõe o conhecimento
da humanidade de Cristo ao da sua divindade:
aos carnais não é possível pregar outra coisa senão Jesus Cristo crucificado, mas àqueles que
estão apaixonados pela sapiência celeste será ¬
São Paulo nos ombros da personificação da virtude
da concórdia, sob cujos pés jaz o vício
da discórdia, representado provavelmente por Ário
30DIAS Nº 6 - 2011
69
Um comentário à frase de padre Luigi Giussani
revelado o Verbo que está junto de Deus. [...]
Em primeiro plano põe aqueles ‘que participam
do Logos que existia no princípio, que estava
junto de Deus, o Logos Deus’; depois aqueles
‘que conhecem apenas Jesus Cristo e Jesus
Cristo crucificado, pensando que o Logos feito
carne é todo o Logos; estes conhecem só o
Cristo segundo a carne: e é a massa daqueles
que são ditos crentes’” (p. 79-80).
Nem quanto ao método. As verdades, diferentes quanto ao objeto, o são também quanto
ao método de conhecimento: “Uns creem, os
outros conhecem; os primeiros remetem a
uma autoridade superior garantida pelos milagres e a sua fé é frágil; os segundos contemplam as verdades religiosas às quais aderem e a
sua adesão é estável” (p. 81).
Aliás, é possível até chegar a dizer que na
tradição pública não é transmitida nenhuma
verdade, mas apenas mentiras devotas: “Mas
as verdades elementares que são ensinadas ao
Povo dos simples são ao menos sempre verdades em sentido estrito? Orígenes afirma-o com
muita frequência e desse ponto de vista se
opõe aos gnósticos, mas encontramos também algumas páginas inquietantes em que o
ensinamento elementar aparece como uma
mentira salutar: Deus engana a alma para formá-la” (p. 95).
Enfim, na relação subordinada entre verdades elementares e verdades mais elevadas, as
primeiras acabam por resultar fábulas. Nas homilias sobre o profeta Jeremias, Orígenes
compara a ação de Deus à educação que os
adultos dão às crianças. Segundo Orígenes,
“nós as enganamos com espantalhos que de
início são necessários, mas cujo vazio elas reconhecem em seguida” (p. 99).
4. Roma, guardiã da fé
Lebreton esclarece bem como Roma desde o
início resistiu a essa contaminação da fé. Descreve a contraposição de Hipólito a Zeferino e
depois a Calixto (da qual surgiu, no início do
século III, o primeiro cisma na sé romana) co70
30DIAS Nº 6 - 2011
mo contraposição de uma fé culta a uma fé
simples. Lebreton recorda como nos Philosophoumena Hipólito põe na boca de seus inimigos expressões que em suas intenções deveriam ser desqualificantes: “Zeferino repete: ‘Eu
não conheço senão um Deus, Jesus Cristo, e,
além dele, nenhum Deus gerado que sofreu’; e
outras vezes: ‘Não foi o Pai que morreu, mas o
Filho’. Essas passagens são confirmadas pelo
conjunto do tratado: Hipólito é um teólogo, orgulhoso de sua ciência, grande leitor dos filósofos gregos, os quais denuncia como pais de todas as heresias [mesmo essa condenação inflexível da heresia a partir, não da simplicidade da
tradição eclesial, mas da cultura – permitamnos observar – é muito instrutiva: será a mesma
em Orígenes e em muitos outros que se desviarão da fé]. Apresenta-nos os seus adversários:
Zeferino, um espírito limitado, Calixto, um intrigante, seus seguidores, inteligências vulgares
e espíritos sórdidos” (p. 9).
Ora, a essa contraposição cismática contra
os legítimos bispos de Roma não esteve Orígenes alheio. Orígenes chegou a Roma, de fato,
justamente na época em que Zeferino era bispo (199-217) e aderiu, parece, ao cisma de Hipólito. Foi provavelmente por isso que alguns
anos depois, em 230, quando Orígenes for deposto por seu bispo de Alexandria do Egito,
papa Ponciano reunirá em Roma prontamente um sínodo para aprovar essa decisão, condenando também a Orígenes. Coisa que não
fizeram muitos outros bispos da Arábia, da Palestina, da Capadócia.
Passam-se alguns anos e, perante um discípulo de Orígenes, Dionísio, que se tornara bispo em 247 na sé alexandrina, o então bispo de
Roma (também chamado Dionísio) toma a palavra denunciando suas teses perigosas. Escreve
Lebreton: “Diante dessas teses, a posição tomada por Dionísio de Roma e seu concílio é a posição tradicional da Igreja de Roma. [...] Aqui, como nos outros documentos romanos, o que encontramos é a expressão autêntica da fé: nenhuma especulação teológica, nenhuma sutile-
A r q u i v o d e 3 0 D i a s - O u t u b ro d e 1 9 9 4
São Lourenço nos ombros da personificação da virtude
da liberalidade, sob cujos pés jaz o vício da avareza,
representado por Judas
Nova
vetera
et
za dialética, pouca erudição escriturística, mas a
declaração categórica da fé professada pela
Igreja. Dionísio de Roma, também pessoalmente, era homem de grande valor: Dionísio de Alexandria dá testemunho disso e São Basílio também lhe faz um grande elogio, mas aqui não é
nem o erudito nem o teólogo que fala, é o Papa.
Ele não se compraz nas especulações teológicas e pouco se preocupa com as dos outros.
Fica claro que a sua argumentação não leva
em conta distinções alexandrinas sutis sobre as
três pessoas ou sobre o duplo estado do Logos. Ele só se preocupa com conclusões mais
evidentes, quer tenham sido formuladas pelos
próprios autores dessas doutrinas, quer lhe pareçam nascer espontaneamente; e, sendo que
essas conclusões são um perigo para a fé, rejeita-as, e rejeita também a teologia da qual
provêm.
A carta de Dionísio de Alexandria, apesar
das suas imprudências e do seu desleixo, estava
certamente bem distante do ensinamento de
Ário; mas a carta de Dionísio de Roma tem já o
acento de Niceia: a mesma preocupação com a
unidade divina, a mesma firmeza soberana e categórica na definição da fé. Essa barreira insuperável, contra a qual se quebrará sessenta anos
mais tarde a heresia, é a que detém desde então
uma teologia aventureira. Os fragmentos de
Dionísio de Alexandria, como já observamos,
têm um caráter bem diferente da carta de Dionísio de Roma: não encontramos nele um juiz da
fé, mas um exegeta, e sobretudo um metafísico
apaixonado por suas belas especulações. Ele se
compraz delas ainda nessa Apologia destinada
inteiramente a evidenciar a sua ortodoxia, e da
qual conhecemos a maior parte dos fragmentos
pela seleção respeitosa e cuidadosa feita por
Santo Atanásio. Se, malgrado a solicitude do
próprio escritor e de seu defensor, o seu pensamento nos parece muito menos firme e exato
que o do bispo de Roma, concluiremos que sua
especulação era para ele um guia menos seguro
que aquele que era a fé comum para Dionísio de
Roma” (p. 35-36).
q
¬
30DIAS Nº 6 - 2011
71
Aniversários
“Uma gratidão que cresce
de ano em ano”
Entrevista com monsenhor Georg Ratzinger, que sessenta anos atrás
foi ordenado sacerdote junto com seu irmão Joseph
A família
Ratzinger
depois
da primeira
missa dos dois
irmãos em
8 de julho
de 1951
por Roberto Rotondo e Silvia Kritzenberger
dia mais importante
da minha vida”: assim
Joseph Ratzinger
sempre definiu o dia da sua ordenação sacerdotal, que ocorreu em
29 de junho de 1951. E, como todos sabem, naquele dia, junto com
ele, na Catedral de Freising na Baviera, foi ordenado sacerdote também o seu irmão Georg. Por isso,
“O
72
30DIAS Nº 6 - 2011
por ocasião do 60º aniversário de
sacerdócio do Papa, pedimos a
monsenhor Georg Ratzinger, testemunha excepcional, que nos
conte suas recordações daquela
manhã de verão de 1951. Partindo do jubileu festejado há pouco.
Monsenhor Ratzinger, o
que fica no seu coração de-
pois destes festejamentos
do 60º aniversário de sacerdócio?
GEORG RATZINGER: Não escondo que inicialmente eu queria
festejar de modo privado, sem participar de cerimônias solenes, porque ainda não me recuperei bem
da minha operação no joelho e as
cerimônias requerem uma certa
BENTO XVI. Os sessenta anos de sacerdócio
tranquilidade mental e física. Mas
fico muito contente por ter festejado, porque houve momentos muito comovedores, como a belíssima
celebração organizada na Catedral
de Freising pelo Instituto Bento
XVI, que organiza a publicação da
opera omnia do Santo Padre. A
catedral de Freising é o lugar onde
eu e meu irmão fomos ordenados
sacerdotes e sentia-se que a atmosfera era realmente familiar. Pela
manhã houve a recitação das laudes e mais tarde, depois das saudações e alguns discursos, foi organizado um almoço com os altos prelados, alguns cardeais, os bispos
auxiliares e, naturalmente, os velhos amigos de sempre. O segundo
momento importante foi a missa
na minha solene paróquia de São
Quando nos vemos é sempre
uma grande alegria. Em toda a
nossa vida sempre nos reencontramos e naturalmente não queremos
renunciar a isso agora na nossa velhice, na qual sentimos de modo
particular este sentimento de pertença de um ao outro.
O que o senhor pensou naquele 29 de junho de 1951? O
Papa, ao recordar o dia de sua
ordenação, disse: “Não vos
chamo mais servos, mas amigos. Depois de sessenta anos
do dia da minha ordenação
sacerdotal ainda sinto ressoar
dentro de mim essas palavras
de Jesus, que o nosso grande
arcebispo, o cardeal Faulhaber, dirigiu a nós, novos sacerdotes no dia da ordenação”...
ção sacerdotal comporta uma particular amizade com Cristo, dado
que confere um mandato especial.
E doa a surpresa e a consciência de
ver como o Senhor “interfere diretamente”, assim por dizer, na nossa vida humana.
E em família, como foi vivido aquele dia?
Foi uma experiência de alegria
única. Na nossa vida familiar, que
até aquele momento tinha sido a
vida de uma normal família, deu-se
um evento que naquele tempo era
considerado um dom: o sacerdócio, algo que leva à eternidade, a
uma outra esfera. Eu tinha três
anos amais do que meu irmão,
mas foi muito bonito compartilharmos juntos a ordenação e a primeira missa, mesmo se era apenas
No dia 29 de junho de 1951, na Catedral de Freising, o cardeal Faulhaber
Os irmãos Ratzinger na saída da Catedral
ordena sacerdotes mais de quarenta seminaristas entre os quais Georg e
de Freising no dia de sua ordenação sacerdotal
Joseph Ratzinger
João Batista: a igreja estava lotada
e a atmosfera era solene. Enfim, o
terceiro festejamento foi a missa
na Basílica de São Pedro em Roma: havia um comovedor pensamento de que o nosso jubileu estava ligado à solenidade de recordação dos santos Pedro e Paulo, tão
importantes para Roma e para a
Igreja universal.
Para o seu irmão deve ser
uma alegria ter o senhor ao
seu lado nestes dias...
Pensei que era uma virada na
minha vida, como na vida de todo
o homem que se torna sacerdote,
porque a ordenação sacerdotal dá
ao homem uma nova qualidade de
vida e torna-o um “encarregado”
de Cristo, que deve levar o mistério
e a palavra de Jesus Cristo ao mundo. Com o passar dos anos pude
compreender o quando fossem
verdadeiras as palavras do Evangelho de João que o cardeal Faulhaber dirigiu-nos: porque a ordena-
consequência da guerra que tinha
abalado os projetos de cada um de
nós. Naqueles anos no seminário
de Freising, com efeito, as diferenças de idade dos aspirantes sacerdotes eram grandes.
Nos anos de seminário
quais foram as pessoas que
mais influenciaram na sua formação como sacer dotes e
cristãos?
Uma figura chave no “Domberg” de Freising foi o nosso rei- ¬
30DIAS Nº 6 - 2011
73
Aniversários
tor Michael Höck, que voltava depois de ter passado cinco anos no
campo de concentração de Dachau. O seu caminho era o de um
padre piedoso, devoto e comprometido. Tinha algo de paterno,
bondoso, compreensivo, e foi considerado mais um pai do que um superior. A sua maior preocupação
era ajudar cada um de nós a encontrar, naqueles tempos difíceis, a estrada que leva a uma boa meta.
O Papa, durante o almoço
com o senhor e os cardeais,
ao relembrar aquele dia de
1951, sublinhou que na época o mundo era completamente diferente de hoje e que a
Alemanha deveria ser material e moralmente reconstruída. Vocês, tornando-se sacerdotes, sentiam-se participantes desta reconstrução?
Somos todos condicionados pela época que vivemos, compartilhamos com os homens da nossa
época as dificuldades, as preocupações do nosso tempo, mas também as alegrias. Neste sentido, tivemos uma contribuição muito
grande no trabalho de reconstrução. Mas também é verdade que
não foi um processo unívoco, porque à medida que a economia crescia, e com esta a riqueza e o bemestar, foi introduzida também uma
certa decadência moral e, sem que
pudéssemos imaginar isso, outros
elementos negativos acompanharam o processo de reconstrução.
A Catedral de Freising na Baviera
74
30DIAS Nº 6 - 2011
O almoço oferecido a Bento XVI pelo Colégio cardinalício por ocasião do sexagésimo
aniversário da ordenação sacerdotal, Sala Ducal, 1º de julho de 2011
Desde os anos de seminário, vocês sabiam que tomariam caminhos diferentes. O
senhor a música, seu irmão o
ensino teológico...
Sim, o bom Deus fez-nos percorrer caminhos diferentes. Eu
sempre pedia ao Senhor, se possível, poder trabalhar com a música
sacra, poder cantar-Lhe as laudes
através da música. E se agora penso na minha vida posso dizer que o
Senhor atendeu as minhas orações de modo realmente maravilhoso. Permitiu-me trabalhar no
coral da Catedral de São Pedro em
Regensbur g, o Regensburger
Domspatzen, que aprecio muito e
que tem qualidades, talvez únicas
no mundo católico.
Na sua opinião, qual é a situação atual da música sacra
na Igreja?
A situação varia de lugar para
lugar e de país para país. No que se
refere à minha experiência, posso
dizer que a Catedral de Regensburg tem uma longa tradição de
cuidado particularmente do canto
gregoriano e da polifonia vocal
clássica, que foi bem conservada
depois do Concílio, mas que também, de algum modo, teve seu
progresso. A música sempre teve
uma importância fundamental para a vida religiosa porque a palavra
falada alcança apenas a ratio enquanto a música envolve todo o
homem nas laudes a Deus. E mesmo se as modalidades possam variar, a música sacra terá sempre
uma sua importância. Devemos
garantir que a música seja preparada de modo a poder alcançar plenamente o efeito que lhe é próprio: o de levar os homens a Deus.
Uma última pergunta: recordando aquele 29 de junho
de sessenta anos atrás, o que
permaneceu em seu irmão daquele jovem padre de 24
anos?
Muito, porque lhe ficou a gratidão por ter recebido a graça de ser
padre. Que é a minha mesma gratidão por ter recebido essa chamada. Aliás, espero que essa gratidão
cresça de ano em ano.
q
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do banco Intesa Sanpaolo, IBAN IT36Y0306903207074003252819, BIC BCITITMM.
Conta corrente postal n. 13974043, nominal a "COOPERATIVA TRENTA GIORNI S.R.L. ROMA".
Western Union: para ulteriores detalhes escrever a [email protected]
Um patrimônio que une arte,
cultura e espiritualidade na maravilhosa
paisagem natural dos Montes “Simbruini”
O patrimônio artístico e cultural
desta região é fascinante.
Os Mosteiros são jóias de inestimável
valor pelas suas elaboradas arquiteturas,
seus raros afrescos e o exclusivo
patrimônio bibliográfico e de museus.
A ESTRUTURA OFERECE
HOSPITALIDADE
INDIVIDUALMENTE
E PARA GRUPOS
E DISPÕE DE:
Quartos
com 1 a 4 camas
com banheiro autônomo,
telefone, capacidade total
para 65 pessoas.
Bar e TV Sat 2000.
Restaurante
com capacidade
para 500 pessoas.
Principais distâncias:
60 km de Roma,
30 km de Tívoli,
18 km de Fiuggi
2 Salas para Congressos,
coligadas com áudio-vídeo.
Estacionamento
interno.
parque.
Capela.
TODOS OS AMBIENTES
SÃO ACESSÍVEIS
A DEFICIENTES FÍSICOS
Firenze
Grande
L’Aquila - Pescara
Borgorose
Sala
Aabadia de
Santa Escolástica,
situada a poucos passos
de Subiaco, foi fundada
por S. Bento no século VI.
São de particular interesse
histórico o campanário
românico, construído no
século XI, os três claustros
(renascentista, gótico e
cosmatesco)
e a bela igreja
neoclássica
de Quarenghi.
Vicovaro
Mandela
Subiaco
ROMA
La Foresteria
Frascati
Fiuggi
Anagni
Guarcino
Alatri
Pomezia Velletri Anagni
Fiuggi
Sora
FROSINONE
Cassino
LATINA
MOSTEIRO DE Sta. ESCOLÁSTICA
Hospedagem do Mosteiro - Para reservas:
Como chegar
no Mosteiro
Pontecorvo
Fondi
Napoli
Terracina
Formia
Tel. 0774.85569 Fax 0774.822862 E-Mail: [email protected] • www.benedettini-subiaco.it

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