O mito da América Latina no campo polonês no período das «febres
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O mito da América Latina no campo polonês no período das «febres
Estudios Latinoamericanos 6, p. II (1980), pp. 55-65 O mito da América Latina no campo polonês no período das «febres brasileiras». Krzysztof Groniowski A emigração camponêsa dos territórios polonêses para o Brasil teve início na passagem dos anos sessenta e setenta do século XIX. Inicialmente abrangeu a parte da Polônia ocupada pela Prússia e a parte ocidental da Galícia que pertencia à ocupação austro-húngara. Da parte ocupada pela Rússia, sobretudo da parte noroeste do Reino da, na região de Płock, Włocławek e Kalisz, começou-se a emigrar imediatamente, a uma escala até então não conhecida, em 1890, e alguns anos mais tarde, antes para os Estados Unidos. Em 1895 a febre emigracional para o Brasil e para o estado das Missões na Argentina, simultaneamente com o começo da emigração para o Canadá, abrangeu a parte oriental da Galícia, que não tinha igualmente tradições emigracionais nessa direção, e que era habitada principalmente pelos Ucranianos. Em 1911 teve lugar a seguinte febre emigracional no sudeste do Reino da Polônia (regiões de Lublin e Podlasie). Há vinte- anos atrás essa região em grau ínfimo participou na emigração para o Brasil, contudo desde há alguns anos aquela população local, com frequência cada vez maior, procurava trabalho na indústria dos Estados Unidos1. O que atraia o camponês polonês e urcaniano para a América Latina era a esperança da obtenção de terras. Do superpopulado campo da 1 Uma documentacão mais ampla das teses aqui contidas o autor apresentou no livro Emigração economica polonesa no Brasil nos anos, 1871-1914, Wrocław, 1972, p. 293. Ver também EmploymentSeeking Emigration of the Poles World-Wide XIX and XX c. «Cadernos Científicos da Universidade de Jagiello) CCCXVII», Prace Polonijne, caderno 1, Cracóvia 1975 p. 194; A Polonia no América Latina, Lublin 1977 p. 247 (ambos trabalhos coletivos). Galicia emigravam inicialmente os camponêses com uma certa provisão em dinheiro. No período da emigração em massa, graças entre outras coisas à viagem marítima grátis em certos períodos, para a América Latina dirigiam-se os camponêses mais pobres, e um alto por cento dentre eles era constituido pela população sem terras. Tanto na época nas tentativas de contra-agitação, assim como mais tarde na historiografia, foi colocado o problema das histórias simplesmente fantáticas, que circulavam entre os candidatos à emigração, sobre a América Latina. O objetivo do comunicado abaixo é a tentativa de reconstrução dessa imagem, distinguir as lendas dos argumentos que chegavam à consciência do camponês, quando aqueles estavam ligados com a esperança de melhoria da existência material. Quando consideramos as mais diversas lendas sobre a vida naquela segunda metade do globo, que chegavam ao camponês, não podemos esquecer que no período da primeira febre emigracional que partia do Reino da Polônia, essas informações obtidas através de via ilegal eram em geral a única fonte, da qual o camponês podia se servir. Pois tanto a imprensa voltada para o campo, lida pelos camponêses mais conscientes, como as informações orais oriundas das fontes oficiais, tinham antes de tudo como fim a contraposição à emigração e esse era visado indiferentemente dos meios escolhidos. Portanto, surgiu uma espécie de contra-mito, do mesmo modo tendo pouco em comum com a realidade da América Latina. Não provoca dúvidas a sua intencional tendenciosidade, mas um grande papel na escolha dos argumentos desempenhava o baixo nível de conhecimento sobre o Brasil, igualmente entre os escritores e jornalistas. Tentativas de chegar aos camponêses com informação objetiva, apresentando tanto os aspetos positivos como negativos da existência no Brasil, foram feitas em pequena escala tão só em 1895, em Lvov, que esbarrou entretanto com a decidida contraposição ad administração autonoma polonêsa da Galícia. Numa escala significativamente maior tentaram chegar aos camponêses da parte oriental do Reino da Polônia, em 1911, os ativistas polonêses progressistas do Paraná, utilizando o apoio de alguns periódicos liberais ou relacionados com o movimento camponês em surgimento, parcialmente lidos nos meios camponêses. Em comparação com o período de há vinte anos atrás elevou-se o nível cultural do campo, diminuiu o alcance do analfabetismo, de modo mais amplo desenvolveu-se o número de leitores. A emigração da população polonesa da Galícia ocidental, sobretudo da região de Jasło e Gorlice, nos anos 1876-1877, desenvolveuse em medida significativa graças às cartas que vinham do Paraná. Conservaram-se tres delas, sendo uma original, assim como notícias sobre as seguintes. Os autores foram camponêses que recentemente tinham viajado. E embora o chefe da administração de Gorlice considerasse que era essa uma correspondência escrita só em nome dos camponêses, ninguém questionava o papel por ela desempenhada. Um papel análogo desempenhavam as histórias do camponês Papciak da aldeia de Czermna, que após alguns anos de estadia no Brasil voltou para levar a família. Czermna, para onde chegavam também cartas, tinha na região a maior emigração para o Brasil (13 famílias). Todas as cartas que me são conhecidas lembram o recebimento da subvenção que os dois autores calculam em moeda austríaca. Escrevem sobre a terra, inclusive um dos autores estima o solo como bom, citando a sua superfície – 25 morgas com floresta (1 morga – menos de 0,6 ha). «Cada um que não tenha o seu pedaço de pão, então desejo-lhe a ida para o Brasil», onde «trabalharás para si» – escreveu Józef Burda de Curitiba para o pai Adam Burda em Binarowa – 15.VII.18762. Informava que na região de Curitiba «não existem animais selvagens». Outro autor de uma carta, Adam Wolski, quase dois meses mais tarde, escrevendo para a família em Kowalowy não escondia que, inicialmente, pelos emigrantes espera um trabalho duro, mas decidindo viajar no país deixa a miséria. Na primavera de 1877 o chefe da administração de Jasło convocou os chefes dos municípios a prestar informações sobre as causas e o curso da emigração para o Brasil. O chefe do município de Olpiny, Jan Ryndak, falou das notícias sobre as terras gratuitas, subvenções e boas colheitas, que chegavam aos donos de pequenas propriedades endividados, que não encontravam possibilidades de adicionalmente ganhar dinheiro. 2 Centralnyj Derzawnyj Istorycznyj Archiw Ukrainokoji RSR em Lvov [a seguir CDIA URSR]. Galicke Namistnyctwo. 2434 p. 124. Cito anos mais tarde foi constatada a agitação emigraciona? na região de Nowy Sącz, com referência a carta do padre Adamowski Jan, que era originário daquela região, e se encontrava no Paraná nos anos 1883-1886. Sobre a autêntica carta desse padre, sobre as colônias polonesas no Paraná sabemos também através da imprensa polonesa que aparecia em París. A cópia que circulava na região de Nowy Sącz parece ser sem dúvidas uma falsificação. Entretanto, interessante é que, ao lado das informações sobre as terras gratuitas e a viagem grátis, introduz-se também a pessoa do filho do monarca austríaco, reinando no Brasil, que enviará um grande navio para transportar os emigrantes. Pela primeira vez encontramos este tipo de mistificação nos meados de 18853. É quase na mesma época que o apelo do barão Alfredo Visconde de Taunay. Lembrando a situação na parte da Polônia ocupada pela Prússia, sobretudo a expulsão dos chegados de outras partes ocupadas da Polônia, conhecida sob a denominação de expulsão em massa de Bismarck (abrangeu essa expulsão 25 mil pessoas), contrapunha-se o Brasil como Terra Prometida, «Nova Polônia», na qual reina a felicidad e e a segurança, ão contrário das infelicidades e incertezas na Velha Polônia. Lembrando a liberdade e a ajuda no processo de estabelecimento, convocava-se os colonos para que dirigissem cartas dentro desse espírito ão país4. Eram os começos da agitação que partiu da administração brasileira, dessa vez do estado do Paraná, e que à uma escala mais ampla desenvolveu-se no período da primeira febre através de Lisboa. As primeiras informações objetivas sobre a colonização polonêsa na região de Curitiba apresentou na imprensa de Varsóvia, em 1882, Teofil Rudzki5. «Wędrowiec» era um periódico de orientação positivista, que desempenhou um importante papel na vida artística, naqueles anos tinha, entretanto, ainda, um caráter de revista geográfica. No período da febre Rudzki contrapos-se ao antimito 3 Também 2444 p. 1. 4 A Polonia no literatura brasileira. Curitiba 1927, pp. 185-187; A. Brożek: Emigração de Além-mar da Alta Silésia na segunda metade do século XIX: Conferéncia Científico-Popular «100 anos da Colonia Polonesa no Brasil», Opole 1969, p.23. 5 T. Rudzki: Memórias do Brasil. Colonias polonesas na provincia do Paraná «Wędrowiec», nr. 1036 de 9.XI.1882. corrente do Brasil, ele próprio entretanto já um pouco diferente decompunha as luzes e as sombras. Em 1890, o Reino da Polônia foi envolvido pela primeira febre brasileira. Adversário da emigração, escritor e pedagogo positivista, Adolf Dygasiński, que por parte de um dos jornais seguiu a trilha dos emigrantes, reconhecia que sobre os candidatos à viagem agiam sobretudo as cartas cheias de promessas. A censura russa confiscou um certo número delas, enviadas para as partes do Reino abrangidas pela emigração; eram entretanto cartas de emigrantes que precisamente naquele ario tinham viajado para o Brasil. Falam elas militas coisas de como estimavam ou queriam apresentar aos que ficaram no país a vida naquela parte do globo. Contudo, significativamente mais hipotéticas têm de ser as conclusões tiradas na sua base sobre a gênese da decisão que recentemente tomaram. Dentre os argumentos que deverão convencer os que ficaram no país, em primeiro lugar destacam-se as informações sobre a grande quantidade de terra obtida. A maior norma citada é de cerca de 6 włóka de floresta (uma włóka = 30 morgas), e a menor 30 morgas. As dimensões de 100-125 morgas eram mencionadas pela maioria dos autores das cartas, embora alguns mencionavam que trata-se aqui de medidas brasileiras, pelo que o cálculo era, à luz dos cálculos as vezes citados, aumentado em 30%. As terras obtidas estimavam como férteis, embora alguns reconheciam serem constituidas por florestas, que tinha de ser primeiramente cortadas e queimadas. Admiração causavam as árvores, que não haviam visto na Polônia. De modo realístico estimava a situação um dos colonos de São Matheus calculando que de 84 morgas de floresta obtinha dentro de um ano 4 morgas de campo limpo. De São Feliciano no Rio Grande do Sul escrevia-se sobre as colheitas duas vezes ao ano. Informava-se sobre a subvenção obtida, o cereal para o plantio, sobre o equipamento e edificações baratas, sobre a falta de impostos, mas também sobre a cara manutenção, em casos esporádicos sobre a enorme miséria daqueles que haviam assumido a colonização. Sublinhava-se que para o trabalho na agricultura brasileira é necessária uma boa saúde. Inúmeras eram as informações sobre a morte dos mais próximos. Ao lado das afirmações de que a «América do Sul é a mais rica em todo o mundo em colheitas», surgiram apreciações mais concretas de que no Brasil está-se bem, «mas somente para aqueles que têm saúde e força para o trabalho». Aparecen a informação sobre a suspensão das viagens gratuitas e a agitação contra São Paulo, juntamente com a simultanea comparação da situação dos colonos do início dos anos setenta com a nobreza na Polônia6. A maioria dessas cartas originava-se do Rio Grande do Sul, claramente ultrapassando Santa Catarina e Paraná. No período da febre no Reino da Polônia falava-se mais sobre a má situaçao, aliás com maior frequência sobre a situação econômica e social, religiosa e política, do que sobre o que se espera no Brasil. O argumento da obtenção da terra gratuitamente, juntamente com a subvenção e a madeira para a construção, destacava-se no primeiro plano, embora as dimensões das propriedades informadas com relativa raridade talvez não ultrapassavam 60 morgas, portanto encerravam-se nas noções de propriedade camponesa rica. Lembrava-se o dinheiro gasto na viagem. Se confrontássemos aquilo que se falava no país com aquilo que se escrevia do Brasil, então nessas últimas informações não se encontraria menção sobre os baixos preços e bons salários, por um lado, enquanto por outro lado sobre o papa e a rainha da Inglaterra que apoiavam aparentemente a emigração e compravam terras para os emigrantes polonêses. Ao contrário da ocupação prussiana e austríaca não haviam aqui boatos fazendo referência a autoridade local da ocupação. A única informação mantida em tom bastante reservado, que circulava segundo a opinião da gendarmeria de Łomża, lembrava a aceitação por parte do tzar do pedido do papa de criação no Brasil de um Reino da Polônia puramente católico, sem heréticos, com um rei escolhido por um período de 3 anos7. O argumento da alta remuneração no Brasil, ão lado da motivação que atingia principalmente a população rural, era usado sobretudo na gubernia [a mais alta unidade administrativa na Rússia tzarista e nos países a ela submetidos – nt] industrializada de Piotrków, onde na emigração participaram muitos 6 Cartas dos Emigrantes do Brasil e dos Estados Unidos 1890-1891, editado por W. Kula, N. Assorodobraj-Kula e M. Kula, Varsóvia 1973, pp. 147-230. 7 Centralnyj Gosudarstwiennyj Archiw Oktiabrskoj Rewo1ucyi, Moscou, conjunto 102, d. 2, 44 parte 6, 1891 p. 3. operários da indústria têxtil. Os candidatos à emigração não acreditavam nas informações oficiais das autoridades sobre a situação fatal dos emigrantes no Brasil. Como reconhecia o «governador» de Kalisz em março de 1891, as cartas do Brasil, circulando de mão em mão, de melhor forma descolorizam a situação em que se encontravam os emigrantes8. Nessa mesma região fonte de informação constituia também a já há bastante tempo editado manual de geografia, possuido pelo padre. Caraterístico é que as apreciações mais extremadas, tanto das promessas exageradas como das esperanças sócio-políticas relacionadas com a emigração, originaram-se das memórias escritas, embora ambos os autores camponêses, filhos de um operário agrícola e de um proprietário de minifúndio de 5 morgas, tivessem na época que descreveram 12 anos. O primeiro deles cita também a informação sobre a promessa de 40 morgas de terras e de subvenção, o que certamente desempenhava um papel mais importante9. Władysław Goździkowski, ativista socialista, que aparece u no Brasil 9 anos após a febre, nas memórias, mais tarde, ao lado dos argumentos da terra e da viagem gratis, enumera igualmente uma grande quantidade de boatas fantáticos sobre a situação econômica e o papa, para terminá-las com a conclusão refletindo o grau de consciência, que não havia sido ainda alcançado pelos participantes de primeira febre: «Em multidão o povo polonês seguiu para a nova e mais feliz pátria, onde não existe fiscal au ecônomo, palícia e gendarme, sem espião tzarista»10. A peça de teatro. de quatro actas que se encantrava na biblioteca da teatro de Lvov, voltada contra a emigração, era dedicada aos casos que tinham lugar na região de Płock, centro da emigração que partia do Reino. Terras gratuitas, subvenção, boas colheitas, os ganhos locais dos artesãos, falta de casas de fazenda, isenção por 20 anos dos impostas, baixos preças da alimentação, patrocínio do papa e da rainha da Inglaterra, por fim a definição do Brasil como «paraíso 8 Arquivo Estatal da Provincia de Łódź, Chancelaria do governador de Kalisz 437 p. 190. 9 Memórias dos emigrantes. América do Sul. Varsóvia 1939, pp. 140-141, 332. 10 Manuscritos Ossolineum. Wrocław. W. Goździkowski: Memórias do Brasil. 12564/I p. 37. para o povo pobre», esses argumentos, com os quais a polêmica é conduzida, identificando-se com as informações de outras fontes11. Na parte da Polônia ocupada pela Prússia, na região de Wielkopolska, naquele tempo apareceu a lenda sobre a duque Henrique, irmão do Imperador, que deverá ser o imperador do Brasil, mais raramente era lembrado aqui o papa. Através da imprensa progressista de Varsóvia passavam as infarmações de segunda mão, que falavam da esperança da recebimenta de 50 morgas de terras e do reino camponês. Nesse mesmo período na Galícia começaram a se difundir notícias sobre a distribuição no Brasil de terras gratuitamente; um dos informadores falava de 30 morgas, a que é compreensível num parcelamento maior de terras na Galícia. Principalmente dentre os camponêses ucranianos na região de Brady, Złoczów e Zbaraż era divulgada também infarmações de que a imperadora compra no Brasil terras para a arquiduquesa Stefania, traz para aí servos da Galícia juntamente com exército, e que essas terras pertencem ao imperador, que após comprá-las pretende pavoar com camponêses, finalmente que essas tercas comprou a arquiduque Rudolf. Com o Brasil eram relacionadas as esperanças de bemestar. Os boatos sobre o dinheiro para a viagem e o estabelecimento económico, gado e cavalos, lembram a argumentaço usada nesse período no Reino da Polônia12. No período da febre emigracional da Galícia, de 1895, predominavam os boatos trasmitidos de boca em boca, dominando claramente sobre as informações originárias de Lvov e dos agentes emigracionais. Ao contrário do Reino da Polônia, onde esse tipo de informações vinham com maior frequência de Lisboa, à Galícia cinco anos mais tarde chegavam principalmente dos portos italianos. As promessas de terras distribuidas gratuitamente oscilavam entre os 20-40 morgas e já após o apagar do movimento, em caso esporádico, 50 morgas a pagar ou 113 morgas em dinheiro. Informava-se na imprensa radical sobre os trabalhos de construção de estradas no período do corte de floresta. As terras, seriam com edificações e 11 Idem. Para o Brasil. Quadro componês em quatro atos com cantos e danças encenou K. R. Kozierowski, I 11051 p. 18, 39, 46, 54. 12 CDIA URSR. Galicke Namistnyctwo 2458 pp. 64-71, 89, 97, 152, 154, 157. equipamento, livre de impostos, com ajuda para os pobres. Repetiram-se as notícias difundidas cinco anos mais cedo sobre o apoio à emigração por parte do imperador, sobre a arquiduquesa Stefania e o arquiduque Rudolf; chegaram as seguintes sobre a Nova Austria no Brasil com o governador Jan Orth. A Nova Austria seria justamente governada por Rudolf, enquanto a arquiduquesa Stefania compraria todo o Brasil. Chaama atenção o amplo alcance das lendas sobre a família imperadora, sobretudo sobre o falecido Rudolf, num período em que a administração autonoma da Galícia de diversos modos procurava contrapor-se à ampliação do movimento emigracional. A viagem gratuita em certos períodos provocava a intensificayão ou o enfraquecimento da emigração, contudo mais raramente é encontrado na argumentação. «Lembrem-se que mais cedo ou mais tarde um tal trabalho nas plantações espera por vocês, pois nas colônias vocês não conseguem se manter, lembrem-se que vocês são trazidos pelo governo brasileiro somente para substituirem os antigos escravos, Negros!» – advertía uma brochura sem nome editada em 1895 em Lvov, inclusive num tom um pouco mais suave do que seus análogos protótipos da região do Reino da Polônia13. Alguns Ucranianos acreditavam entretanto que Rudolf criou o Estado russo no qual reina o bem-estar, o Estado sem gendarmes, sequestradores de impostos e Judeus. O mito econômico-social misturava-se aquí como o político, no qual entretanto mantinha-se o laço dinástico com os Habsburgs. De tais concepções estavam livres os camponêses do Reino da Polônia, mas nas fontes dessas diferenças encontravam-se também as diferenças de sistema entre o Estado russo e austro-húngaro. No inicio de 1911 em alguns periódicos que chegavam às aldeias ou na brochura de esquerda, o ativista polones do Paraná, Michał Pankiewicz criticando os erros cometidos durante a primeira febre, postulava a colonização na agricultura naquele estado em que os colonos recebessem 45 morgas de terras, casa e ferramentas a pagar, facilidade na venda dos produtos, altos preços, se bem que os dois primeiros anos de limpeza das terras florestais venham a ser pesados. 13 Algumas palavras sobre o país chamado Brasil e sobre o porque atraem para a nossa gente, adicionando prudência e canselhos para os emigrantes. Lvov 1895, p. 76. Pankiewicz lembrou os antigos colonos que tinham as vezes propriedades com algumas centenas ou inclusive com alguns milhares de margas. Informava sobre a viagem gratuita, dava ênfase a liberdade política, acentuava a transformação dos antigos empregados das fazendas que se tornavam gente na plena acepção dessa palavra, a liberdade religiosa e a existencia de sociedades polonêsas, de es colas e imprensa polonesas. Um reemigrante, também conhecido ativista de esquerda, Jan Hempel, chamava o Paraná «o lugar ideal, verdadeiro paraíso para o camponês polonês pequeno proprietário ou sem terra, que de um pobre sem casa e faminto torna-se um proprietário poderoso de terras, autonomo, cidadão de um paíis livre». Entretanto, isto alcança após alguns anos de trabalho duro, que exige uma grande resistência, sob acondição de estar acostumado ão trabalho no campo desde a infância14. Professor de polonês no Brasil, mais tarde reemigrante, Władysław Wójcik, conduziu após anos conversas com os emigrantes estabelecidos nos anos 1911-1912, da parte sudeste do Reino, que falavam igualmente sobre os motivos da viagem. Antigo empregado de fazenda, Wojciech Dubiel, escutou na feira conversa sobre a viagem gratuita e terras grátis, e informações mais concretas obteve do padre, cujos pais se encontravam no Brasil. Sabia que pode tanto conseguir algo na vida como ser vítima de doenças. Antigo cocheiro de fazenda, Wojciech Turczyniak, soube dos Judeus sobre as terras e a liberdade, mas também sobre o duro trabalho no corte da floresta. Filho de camponês, Tomasz Koźluk decidiu-se pelo caminho seguir para o Brasil, e não para os Estados Unidos, sob a influência das histórias sobre 100 morgas de floresta a pagar, se bem que a floresta ele imaginava que fosse como no país de origem. O jornaleiro sem terras Józef Kopernicki sonhava também com terras. «Receber terras sem dinheiro – isso era muito mais do que um pobre ser-humano no país podia sonhar». Adam Potyrała, jornaleiro, e Piotr Król, cocheiro, obtiveram informações de impressos. As promessas econômicas que chegavam a 50-100 morgas a pagar, com subvenção para as edificações e ferramentas, remuneração na construção de estradas, 14 M. Pankiewicz: Verdade sobre o Paraná. «Zorza», nr 2 de 12.I. 1911. J. Hempel: Quem pode viajar para o Paraná. «Kurier». nr 51 3.III.1911. estavam ligadas coro a concepção de uma nova Polônia, para o camponês, sem senhores, econômos e autoridades de ocupação, com escolas polonesas, sociedades e imprensa polonesa. Assim se apresentava a recepção dos lemas lançados pelos intelectuais poloneses do Paraná, claro, da perspectiva de uma já mais longa estadia no Brasil. Na esperança de uma manutenção barata, da possibilidade de vencer na vida e da liberdade política, colocava acento, após anos, o autor de memórias Teofil Kempa, que senda filho de um carpinteiro rural viajou após ter obtido informações na redação do periódico camponês «Zaranie»15. Durante as investigações na questão da emigração conduzidas pelas autoridades na região de Zamość e Tomaszów, ao lado das informações sobre as cartas do Paraná e dos argumentos das terras gratuitas e da passagem grátis, surge já o conhecido – de 1890 – motivo do papa e das terras para os católicos no Paraná16. Surgiu na região chamada Chełmszczyzna, destinada a destacar-se do Reino da Polônia pela acelerada russificação, pelo favorecimento da religião ortodoxa e por uma série de limitações legais, sobretudo na aquisição de terras para os católicos. No período dessa terceira, segunda febre no território do Reino da Polônia, podemos falar de uma certa uniteralidade das informações, que baseava-se numa significativa medida da referencia dos pressupostos da ação de colonização. A prática no local era com frequençia um pouco diferente, nem todos podiam acompanhar o processo de adaptação que se alongava. Aqui nos interessa entretanto não o curso da colonização, mas a confrontação do mito com a realidade. Com toda certeza pode-se afirmar que a fantasía constituía só a marginalidade. O camponês da parte sudeste do Reino da Polônia em princípio sabia o que procura no Brasil. Para o trabalho pesado estava preparado, das diferenças das condições não se dava muito canta, se bem que sobre elas havia ouvido falar. O seu objetivo era aterra. Decidiam-se a viajar as farnílias mais empreendedoras, conscientes de suas aspiraçoes, colocando-se num nível intelectual 15 W. Wójcik: Lublinenses no Brasil. Varsóvia 1963, pp. 11-14, 87, 96, 128, 157. T. Kempa: Sou Polonês! em: Memórias dos Emigrantes 1878-1958. Varsóvia 1960, pp. 815-817. 16 Arquivo Estatal da Provincia de Lublin. Chancelaria do governador de Lublin, Seçção I 119/1911 pp. 5, 16, 89. superior aos participantes das duas primeiras febres emigracionais. Entretanto, isto era também resultado das mudanças que entretempos tiveram lugar no Reino da Polônia. O historiador brasileiro Ruy Christovam Wachowicz estima a afluência da emigração polonêsa no período das febres em 90 mil, senda 45% para o Rio Grande do Sul, 40% para o Paraná e o restante 15% para Santa Catarina, São Paulo, Espirito Santo e Minas Gerais17. A luz dos cálculos posteriores de Wachowicz, apresentados na «Comission Internationale d'Histoire des Mouvements Sociaux et des Structures Sociales», 9, 3 mil chegaram até 1889, e 80 mil nos anos 1890-1914. O Paraná com 40,1 mil emigrantes (sendo 33 mil a partir de 1890) supera o Rio Grande do Sul coro 31,3 mil (31 mil a partir de 1890) e Santa Catarina coro 9 mil (7 mil a partir de 1890). 17 R. Ch. Wąchowicz: A «febre brasileira» na imigração polonesa. «Anais da Comunidade BrasileiroPolonesa», vol. 1, ano 1970, p. 55.
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