O mito da América Latina no campo polonês no período das «febres

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O mito da América Latina no campo polonês no período das «febres
Estudios Latinoamericanos 6, p. II (1980), pp. 55-65
O mito da América Latina no campo polonês no período das
«febres brasileiras».
Krzysztof Groniowski
A emigração camponêsa dos territórios polonêses para o Brasil teve
início na passagem dos anos sessenta e setenta do século XIX.
Inicialmente abrangeu a parte da Polônia ocupada pela Prússia e a
parte ocidental da Galícia que pertencia à ocupação austro-húngara.
Da parte ocupada pela Rússia, sobretudo da parte noroeste do Reino
da, na região de Płock, Włocławek e Kalisz, começou-se a emigrar
imediatamente, a uma escala até então não conhecida, em 1890, e
alguns anos mais tarde, antes para os Estados Unidos. Em 1895 a
febre emigracional para o Brasil e para o estado das Missões na
Argentina, simultaneamente com o começo da emigração para o
Canadá, abrangeu a parte oriental da Galícia, que não tinha
igualmente tradições emigracionais nessa direção, e que era habitada
principalmente pelos Ucranianos. Em 1911 teve lugar a seguinte
febre emigracional no sudeste do Reino da Polônia (regiões de
Lublin e Podlasie). Há vinte- anos atrás essa região em grau ínfimo
participou na emigração para o Brasil, contudo desde há alguns anos
aquela população local, com frequência cada vez maior, procurava
trabalho na indústria dos Estados Unidos1.
O que atraia o camponês polonês e urcaniano para a América Latina era
a esperança da obtenção de terras. Do superpopulado campo da
1 Uma documentacão mais ampla das teses aqui contidas o autor apresentou no livro Emigração
economica polonesa no Brasil nos anos, 1871-1914, Wrocław, 1972, p. 293. Ver também EmploymentSeeking Emigration of the Poles World-Wide XIX and XX c. «Cadernos Científicos da Universidade de
Jagiello) CCCXVII», Prace Polonijne, caderno 1, Cracóvia 1975 p. 194; A Polonia no América Latina,
Lublin 1977 p. 247 (ambos trabalhos coletivos).
Galicia emigravam inicialmente os camponêses com uma certa
provisão em dinheiro. No período da emigração em massa, graças
entre outras coisas à viagem marítima grátis em certos períodos, para
a América Latina dirigiam-se os camponêses mais pobres, e um alto
por cento dentre eles era constituido pela população sem terras.
Tanto na época nas tentativas de contra-agitação, assim como mais
tarde na historiografia, foi colocado o problema das histórias
simplesmente fantáticas, que circulavam entre os candidatos à
emigração, sobre a América Latina. O objetivo do comunicado
abaixo é a tentativa de reconstrução dessa imagem, distinguir as
lendas dos argumentos que chegavam à consciência do camponês,
quando aqueles estavam ligados com a esperança de melhoria da
existência material. Quando consideramos as mais diversas lendas
sobre a vida naquela segunda metade do globo, que chegavam ao
camponês, não podemos esquecer que no período da primeira febre
emigracional que partia do Reino da Polônia, essas informações
obtidas através de via ilegal eram em geral a única fonte, da qual o
camponês podia se servir. Pois tanto a imprensa voltada para o
campo, lida pelos camponêses mais conscientes, como as
informações orais oriundas das fontes oficiais, tinham antes de tudo
como fim a contraposição à emigração e esse era visado
indiferentemente dos meios escolhidos. Portanto, surgiu uma espécie
de contra-mito, do mesmo modo tendo pouco em comum com a
realidade da América Latina. Não provoca dúvidas a sua intencional
tendenciosidade, mas um grande papel na escolha dos argumentos
desempenhava o baixo nível de conhecimento sobre o Brasil,
igualmente entre os escritores e jornalistas. Tentativas de chegar aos
camponêses com informação objetiva, apresentando tanto os aspetos
positivos como negativos da existência no Brasil, foram feitas em
pequena escala tão só em 1895, em Lvov, que esbarrou entretanto
com a decidida contraposição ad administração autonoma polonêsa
da Galícia. Numa escala significativamente maior tentaram chegar
aos camponêses da parte oriental do Reino da Polônia, em 1911, os
ativistas polonêses progressistas do Paraná, utilizando o apoio de
alguns periódicos liberais ou relacionados com o movimento
camponês em surgimento, parcialmente lidos nos meios camponêses.
Em comparação com o período de há vinte anos atrás elevou-se o
nível cultural do campo, diminuiu o alcance do analfabetismo, de
modo mais amplo desenvolveu-se o número de leitores.
A emigração da população polonesa da Galícia ocidental, sobretudo da
região de Jasło e Gorlice, nos anos 1876-1877, desenvolveuse em
medida significativa graças às cartas que vinham do Paraná.
Conservaram-se tres delas, sendo uma original, assim como notícias
sobre as seguintes. Os autores foram camponêses que recentemente
tinham viajado. E embora o chefe da administração de Gorlice
considerasse que era essa uma correspondência escrita só em nome
dos camponêses, ninguém questionava o papel por ela
desempenhada. Um papel análogo desempenhavam as histórias do
camponês Papciak da aldeia de Czermna, que após alguns anos de
estadia no Brasil voltou para levar a família. Czermna, para onde
chegavam também cartas, tinha na região a maior emigração para o
Brasil (13 famílias). Todas as cartas que me são conhecidas lembram
o recebimento da subvenção que os dois autores calculam em moeda
austríaca. Escrevem sobre a terra, inclusive um dos autores estima o
solo como bom, citando a sua superfície – 25 morgas com floresta (1
morga – menos de 0,6 ha). «Cada um que não tenha o seu pedaço de
pão, então desejo-lhe a ida para o Brasil», onde «trabalharás para si»
– escreveu Józef Burda de Curitiba para o pai Adam Burda em
Binarowa – 15.VII.18762. Informava que na região de Curitiba «não
existem animais selvagens». Outro autor de uma carta, Adam
Wolski, quase dois meses mais tarde, escrevendo para a família em
Kowalowy não escondia que, inicialmente, pelos emigrantes espera
um trabalho duro, mas decidindo viajar no país deixa a miséria. Na
primavera de 1877 o chefe da administração de Jasło convocou os
chefes dos municípios a prestar informações sobre as causas e o
curso da emigração para o Brasil. O chefe do município de Olpiny,
Jan Ryndak, falou das notícias sobre as terras gratuitas, subvenções e
boas colheitas, que chegavam aos donos de pequenas propriedades
endividados, que não encontravam possibilidades de adicionalmente
ganhar dinheiro.
2 Centralnyj Derzawnyj Istorycznyj Archiw Ukrainokoji RSR em Lvov [a seguir CDIA URSR].
Galicke Namistnyctwo. 2434 p. 124.
Cito anos mais tarde foi constatada a agitação emigraciona? na região
de Nowy Sącz, com referência a carta do padre Adamowski Jan, que
era originário daquela região, e se encontrava no Paraná nos anos
1883-1886. Sobre a autêntica carta desse padre, sobre as colônias
polonesas no Paraná sabemos também através da imprensa polonesa
que aparecia em París. A cópia que circulava na região de Nowy
Sącz parece ser sem dúvidas uma falsificação. Entretanto,
interessante é que, ao lado das informações sobre as terras gratuitas e
a viagem grátis, introduz-se também a pessoa do filho do monarca
austríaco, reinando no Brasil, que enviará um grande navio para
transportar os emigrantes. Pela primeira vez encontramos este tipo de
mistificação nos meados de 18853.
É quase na mesma época que o apelo do barão Alfredo Visconde de
Taunay. Lembrando a situação na parte da Polônia ocupada pela
Prússia, sobretudo a expulsão dos chegados de outras partes
ocupadas da Polônia, conhecida sob a denominação de expulsão em
massa de Bismarck (abrangeu essa expulsão 25 mil pessoas),
contrapunha-se o Brasil como Terra Prometida, «Nova Polônia», na
qual reina a felicidad e e a segurança, ão contrário das infelicidades e
incertezas na Velha Polônia. Lembrando a liberdade e a ajuda no
processo de estabelecimento, convocava-se os colonos para que
dirigissem cartas dentro desse espírito ão país4. Eram os começos da
agitação que partiu da administração brasileira, dessa vez do estado
do Paraná, e que à uma escala mais ampla desenvolveu-se no período
da primeira febre através de Lisboa.
As primeiras informações objetivas sobre a colonização polonêsa na
região de Curitiba apresentou na imprensa de Varsóvia, em 1882,
Teofil Rudzki5. «Wędrowiec» era um periódico de orientação
positivista, que desempenhou um importante papel na vida artística,
naqueles anos tinha, entretanto, ainda, um caráter de revista
geográfica. No período da febre Rudzki contrapos-se ao antimito
3 Também 2444 p. 1.
4 A Polonia no literatura brasileira. Curitiba 1927, pp. 185-187; A. Brożek: Emigração de Além-mar
da Alta Silésia na segunda metade do século XIX: Conferéncia Científico-Popular «100 anos da
Colonia Polonesa no Brasil», Opole 1969, p.23.
5 T. Rudzki: Memórias do Brasil. Colonias polonesas na provincia do Paraná «Wędrowiec», nr. 1036
de 9.XI.1882.
corrente do Brasil, ele próprio entretanto já um pouco diferente
decompunha as luzes e as sombras.
Em 1890, o Reino da Polônia foi envolvido pela primeira febre
brasileira. Adversário da emigração, escritor e pedagogo positivista,
Adolf Dygasiński, que por parte de um dos jornais seguiu a trilha dos
emigrantes, reconhecia que sobre os candidatos à viagem agiam
sobretudo as cartas cheias de promessas. A censura russa confiscou
um certo número delas, enviadas para as partes do Reino abrangidas
pela emigração; eram entretanto cartas de emigrantes que
precisamente naquele ario tinham viajado para o Brasil. Falam elas
militas coisas de como estimavam ou queriam apresentar aos que
ficaram no país a vida naquela parte do globo. Contudo,
significativamente mais hipotéticas têm de ser as conclusões tiradas
na sua base sobre a gênese da decisão que recentemente tomaram.
Dentre os argumentos que deverão convencer os que ficaram no país,
em primeiro lugar destacam-se as informações sobre a grande
quantidade de terra obtida. A maior norma citada é de cerca de 6
włóka de floresta (uma włóka = 30 morgas), e a menor 30 morgas.
As dimensões de 100-125 morgas eram mencionadas pela maioria
dos autores das cartas, embora alguns mencionavam que trata-se aqui
de medidas brasileiras, pelo que o cálculo era, à luz dos cálculos as
vezes citados, aumentado em 30%. As terras obtidas estimavam
como férteis, embora alguns reconheciam serem constituidas por
florestas, que tinha de ser primeiramente cortadas e queimadas.
Admiração causavam as árvores, que não haviam visto na Polônia.
De modo realístico estimava a situação um dos colonos de São
Matheus calculando que de 84 morgas de floresta obtinha dentro de
um ano 4 morgas de campo limpo. De São Feliciano no Rio Grande
do Sul escrevia-se sobre as colheitas duas vezes ao ano. Informava-se
sobre a subvenção obtida, o cereal para o plantio, sobre o
equipamento e edificações baratas, sobre a falta de impostos, mas
também sobre a cara manutenção, em casos esporádicos sobre a
enorme miséria daqueles que haviam assumido a colonização.
Sublinhava-se que para o trabalho na agricultura brasileira é
necessária uma boa saúde. Inúmeras eram as informações sobre a
morte dos mais próximos. Ao lado das afirmações de que a «América
do Sul é a mais rica em todo o mundo em colheitas», surgiram
apreciações mais concretas de que no Brasil está-se bem, «mas
somente para aqueles que têm saúde e força para o trabalho».
Aparecen a informação sobre a suspensão das viagens gratuitas e a
agitação contra São Paulo, juntamente com a simultanea comparação
da situação dos colonos do início dos anos setenta com a nobreza na
Polônia6. A maioria dessas cartas originava-se do Rio Grande do Sul,
claramente ultrapassando Santa Catarina e Paraná.
No período da febre no Reino da Polônia falava-se mais sobre a má
situaçao, aliás com maior frequência sobre a situação econômica e
social, religiosa e política, do que sobre o que se espera no Brasil. O
argumento da obtenção da terra gratuitamente, juntamente com a
subvenção e a madeira para a construção, destacava-se no primeiro
plano, embora as dimensões das propriedades informadas com
relativa raridade talvez não ultrapassavam 60 morgas, portanto
encerravam-se nas noções de propriedade camponesa rica.
Lembrava-se o dinheiro gasto na viagem. Se confrontássemos aquilo
que se falava no país com aquilo que se escrevia do Brasil, então
nessas últimas informações não se encontraria menção sobre os
baixos preços e bons salários, por um lado, enquanto por outro lado
sobre o papa e a rainha da Inglaterra que apoiavam aparentemente a
emigração e compravam terras para os emigrantes polonêses. Ao
contrário da ocupação prussiana e austríaca não haviam aqui boatos
fazendo referência a autoridade local da ocupação. A única
informação mantida em tom bastante reservado, que circulava
segundo a opinião da gendarmeria de Łomża, lembrava a aceitação
por parte do tzar do pedido do papa de criação no Brasil de um Reino
da Polônia puramente católico, sem heréticos, com um rei escolhido
por um período de 3 anos7. O argumento da alta remuneração no
Brasil, ão lado da motivação que atingia principalmente a população
rural, era usado sobretudo na gubernia [a mais alta unidade
administrativa na Rússia tzarista e nos países a ela submetidos – nt]
industrializada de Piotrków, onde na emigração participaram muitos
6 Cartas dos Emigrantes do Brasil e dos Estados Unidos 1890-1891, editado por W. Kula, N.
Assorodobraj-Kula e M. Kula, Varsóvia 1973, pp. 147-230.
7 Centralnyj Gosudarstwiennyj Archiw Oktiabrskoj Rewo1ucyi, Moscou, conjunto 102, d. 2, 44 parte 6,
1891 p. 3.
operários da indústria têxtil. Os candidatos à emigração não
acreditavam nas informações oficiais das autoridades sobre a
situação fatal dos emigrantes no Brasil. Como reconhecia o
«governador» de Kalisz em março de 1891, as cartas do Brasil,
circulando de mão em mão, de melhor forma descolorizam a situação
em que se encontravam os emigrantes8. Nessa mesma região fonte de
informação constituia também a já há bastante tempo editado manual
de geografia, possuido pelo padre.
Caraterístico é que as apreciações mais extremadas, tanto das
promessas exageradas como das esperanças sócio-políticas
relacionadas com a emigração, originaram-se das memórias escritas,
embora ambos os autores camponêses, filhos de um operário agrícola
e de um proprietário de minifúndio de 5 morgas, tivessem na época
que descreveram 12 anos. O primeiro deles cita também a
informação sobre a promessa de 40 morgas de terras e de subvenção,
o que certamente desempenhava um papel mais importante9.
Władysław Goździkowski, ativista socialista, que aparece u no Brasil
9 anos após a febre, nas memórias, mais tarde, ao lado dos
argumentos da terra e da viagem gratis, enumera igualmente uma
grande quantidade de boatas fantáticos sobre a situação econômica e
o papa, para terminá-las com a conclusão refletindo o grau de
consciência, que não havia sido ainda alcançado pelos participantes
de primeira febre: «Em multidão o povo polonês seguiu para a nova
e mais feliz pátria, onde não existe fiscal au ecônomo, palícia e
gendarme, sem espião tzarista»10.
A peça de teatro. de quatro actas que se encantrava na biblioteca da
teatro de Lvov, voltada contra a emigração, era dedicada aos casos
que tinham lugar na região de Płock, centro da emigração que partia
do Reino. Terras gratuitas, subvenção, boas colheitas, os ganhos
locais dos artesãos, falta de casas de fazenda, isenção por 20 anos
dos impostas, baixos preças da alimentação, patrocínio do papa e da
rainha da Inglaterra, por fim a definição do Brasil como «paraíso
8 Arquivo Estatal da Provincia de Łódź, Chancelaria do governador de Kalisz 437 p. 190.
9 Memórias dos emigrantes. América do Sul. Varsóvia 1939, pp. 140-141, 332.
10 Manuscritos Ossolineum. Wrocław. W. Goździkowski: Memórias do Brasil. 12564/I p. 37.
para o povo pobre», esses argumentos, com os quais a polêmica é
conduzida, identificando-se com as informações de outras fontes11.
Na parte da Polônia ocupada pela Prússia, na região de Wielkopolska,
naquele tempo apareceu a lenda sobre a duque Henrique, irmão do
Imperador, que deverá ser o imperador do Brasil, mais raramente era
lembrado aqui o papa. Através da imprensa progressista de Varsóvia
passavam as infarmações de segunda mão, que falavam da esperança
da recebimenta de 50 morgas de terras e do reino camponês.
Nesse mesmo período na Galícia começaram a se difundir notícias
sobre a distribuição no Brasil de terras gratuitamente; um dos
informadores falava de 30 morgas, a que é compreensível num
parcelamento maior de terras na Galícia. Principalmente dentre os
camponêses ucranianos na região de Brady, Złoczów e Zbaraż era
divulgada também infarmações de que a imperadora compra no
Brasil terras para a arquiduquesa Stefania, traz para aí servos da
Galícia juntamente com exército, e que essas terras pertencem ao
imperador, que após comprá-las pretende pavoar com camponêses,
finalmente que essas tercas comprou a arquiduque Rudolf. Com o
Brasil eram relacionadas as esperanças de bemestar. Os boatos sobre
o dinheiro para a viagem e o estabelecimento económico, gado e
cavalos, lembram a argumentaço usada nesse período no Reino da
Polônia12.
No período da febre emigracional da Galícia, de 1895, predominavam
os boatos trasmitidos de boca em boca, dominando claramente sobre
as informações originárias de Lvov e dos agentes emigracionais. Ao
contrário do Reino da Polônia, onde esse tipo de informações vinham
com maior frequência de Lisboa, à Galícia cinco anos mais tarde
chegavam principalmente dos portos italianos.
As promessas de terras distribuidas gratuitamente oscilavam entre os
20-40 morgas e já após o apagar do movimento, em caso esporádico,
50 morgas a pagar ou 113 morgas em dinheiro. Informava-se na
imprensa radical sobre os trabalhos de construção de estradas no
período do corte de floresta. As terras, seriam com edificações e
11 Idem. Para o Brasil. Quadro componês em quatro atos com cantos e danças encenou K. R.
Kozierowski, I 11051 p. 18, 39, 46, 54.
12 CDIA URSR. Galicke Namistnyctwo 2458 pp. 64-71, 89, 97, 152, 154, 157.
equipamento, livre de impostos, com ajuda para os pobres.
Repetiram-se as notícias difundidas cinco anos mais cedo sobre o
apoio à emigração por parte do imperador, sobre a arquiduquesa
Stefania e o arquiduque Rudolf; chegaram as seguintes sobre a Nova
Austria no Brasil com o governador Jan Orth. A Nova Austria seria
justamente governada por Rudolf, enquanto a arquiduquesa Stefania
compraria todo o Brasil. Chaama atenção o amplo alcance das lendas
sobre a família imperadora, sobretudo sobre o falecido Rudolf, num
período em que a administração autonoma da Galícia de diversos
modos procurava contrapor-se à ampliação do movimento
emigracional. A viagem gratuita em certos períodos provocava a
intensificayão ou o enfraquecimento da emigração, contudo mais
raramente é encontrado na argumentação. «Lembrem-se que mais
cedo ou mais tarde um tal trabalho nas plantações espera por vocês,
pois nas colônias vocês não conseguem se manter, lembrem-se que
vocês são trazidos pelo governo brasileiro somente para substituirem
os antigos escravos, Negros!» – advertía uma brochura sem nome
editada em 1895 em Lvov, inclusive num tom um pouco mais suave
do que seus análogos protótipos da região do Reino da Polônia13.
Alguns Ucranianos acreditavam entretanto que Rudolf criou o Estado
russo no qual reina o bem-estar, o Estado sem gendarmes,
sequestradores de impostos e Judeus. O mito econômico-social
misturava-se aquí como o político, no qual entretanto mantinha-se o
laço dinástico com os Habsburgs. De tais concepções estavam livres
os camponêses do Reino da Polônia, mas nas fontes dessas
diferenças encontravam-se também as diferenças de sistema entre o
Estado russo e austro-húngaro.
No inicio de 1911 em alguns periódicos que chegavam às aldeias ou na
brochura de esquerda, o ativista polones do Paraná, Michał
Pankiewicz criticando os erros cometidos durante a primeira febre,
postulava a colonização na agricultura naquele estado em que os
colonos recebessem 45 morgas de terras, casa e ferramentas a pagar,
facilidade na venda dos produtos, altos preços, se bem que os dois
primeiros anos de limpeza das terras florestais venham a ser pesados.
13 Algumas palavras sobre o país chamado Brasil e sobre o porque atraem para a nossa gente,
adicionando prudência e canselhos para os emigrantes. Lvov 1895, p. 76.
Pankiewicz lembrou os antigos colonos que tinham as vezes
propriedades com algumas centenas ou inclusive com alguns
milhares de margas. Informava sobre a viagem gratuita, dava ênfase
a liberdade política, acentuava a transformação dos antigos
empregados das fazendas que se tornavam gente na plena acepção
dessa palavra, a liberdade religiosa e a existencia de sociedades
polonêsas, de es colas e imprensa polonesas. Um reemigrante,
também conhecido ativista de esquerda, Jan Hempel, chamava o
Paraná «o lugar ideal, verdadeiro paraíso para o camponês polonês
pequeno proprietário ou sem terra, que de um pobre sem casa e
faminto torna-se um proprietário poderoso de terras, autonomo,
cidadão de um paíis livre». Entretanto, isto alcança após alguns anos
de trabalho duro, que exige uma grande resistência, sob acondição de
estar acostumado ão trabalho no campo desde a infância14.
Professor de polonês no Brasil, mais tarde reemigrante, Władysław
Wójcik, conduziu após anos conversas com os emigrantes
estabelecidos nos anos 1911-1912, da parte sudeste do Reino, que
falavam igualmente sobre os motivos da viagem. Antigo empregado
de fazenda, Wojciech Dubiel, escutou na feira conversa sobre a
viagem gratuita e terras grátis, e informações mais concretas obteve
do padre, cujos pais se encontravam no Brasil. Sabia que pode tanto
conseguir algo na vida como ser vítima de doenças. Antigo cocheiro
de fazenda, Wojciech Turczyniak, soube dos Judeus sobre as terras e
a liberdade, mas também sobre o duro trabalho no corte da floresta.
Filho de camponês, Tomasz Koźluk decidiu-se pelo caminho seguir
para o Brasil, e não para os Estados Unidos, sob a influência das
histórias sobre 100 morgas de floresta a pagar, se bem que a floresta
ele imaginava que fosse como no país de origem. O jornaleiro sem
terras Józef Kopernicki sonhava também com terras. «Receber terras
sem dinheiro – isso era muito mais do que um pobre ser-humano no
país podia sonhar». Adam Potyrała, jornaleiro, e Piotr Król, cocheiro,
obtiveram informações de impressos. As promessas econômicas que
chegavam a 50-100 morgas a pagar, com subvenção para as
edificações e ferramentas, remuneração na construção de estradas,
14 M. Pankiewicz: Verdade sobre o Paraná. «Zorza», nr 2 de 12.I. 1911. J. Hempel: Quem pode viajar
para o Paraná. «Kurier». nr 51 3.III.1911.
estavam ligadas coro a concepção de uma nova Polônia, para o
camponês, sem senhores, econômos e autoridades de ocupação, com
escolas polonesas, sociedades e imprensa polonesa. Assim se
apresentava a recepção dos lemas lançados pelos intelectuais
poloneses do Paraná, claro, da perspectiva de uma já mais longa
estadia no Brasil. Na esperança de uma manutenção barata, da
possibilidade de vencer na vida e da liberdade política, colocava
acento, após anos, o autor de memórias Teofil Kempa, que senda
filho de um carpinteiro rural viajou após ter obtido informações na
redação do periódico camponês «Zaranie»15.
Durante as investigações na questão da emigração conduzidas pelas
autoridades na região de Zamość e Tomaszów, ao lado das
informações sobre as cartas do Paraná e dos argumentos das terras
gratuitas e da passagem grátis, surge já o conhecido – de 1890 –
motivo do papa e das terras para os católicos no Paraná16. Surgiu na
região chamada Chełmszczyzna, destinada a destacar-se do Reino da
Polônia pela acelerada russificação, pelo favorecimento da religião
ortodoxa e por uma série de limitações legais, sobretudo na aquisição
de terras para os católicos.
No período dessa terceira, segunda febre no território do Reino da
Polônia, podemos falar de uma certa uniteralidade das informações,
que baseava-se numa significativa medida da referencia dos
pressupostos da ação de colonização. A prática no local era com
frequençia um pouco diferente, nem todos podiam acompanhar o
processo de adaptação que se alongava. Aqui nos interessa entretanto
não o curso da colonização, mas a confrontação do mito com a
realidade. Com toda certeza pode-se afirmar que a fantasía constituía
só a marginalidade. O camponês da parte sudeste do Reino da
Polônia em princípio sabia o que procura no Brasil. Para o trabalho
pesado estava preparado, das diferenças das condições não se dava
muito canta, se bem que sobre elas havia ouvido falar. O seu objetivo
era aterra. Decidiam-se a viajar as farnílias mais empreendedoras,
conscientes de suas aspiraçoes, colocando-se num nível intelectual
15 W. Wójcik: Lublinenses no Brasil. Varsóvia 1963, pp. 11-14, 87, 96, 128, 157. T. Kempa: Sou
Polonês! em: Memórias dos Emigrantes 1878-1958. Varsóvia 1960, pp. 815-817.
16 Arquivo Estatal da Provincia de Lublin. Chancelaria do governador de Lublin, Seçção I 119/1911
pp. 5, 16, 89.
superior aos participantes das duas primeiras febres emigracionais.
Entretanto, isto era também resultado das mudanças que entretempos
tiveram lugar no Reino da Polônia.
O historiador brasileiro Ruy Christovam Wachowicz estima a afluência
da emigração polonêsa no período das febres em 90 mil, senda 45%
para o Rio Grande do Sul, 40% para o Paraná e o restante 15% para
Santa Catarina, São Paulo, Espirito Santo e Minas Gerais17. A luz
dos cálculos posteriores de Wachowicz, apresentados na «Comission
Internationale d'Histoire des Mouvements Sociaux et des Structures
Sociales», 9, 3 mil chegaram até 1889, e 80 mil nos anos 1890-1914.
O Paraná com 40,1 mil emigrantes (sendo 33 mil a partir de 1890)
supera o Rio Grande do Sul coro 31,3 mil (31 mil a partir de 1890) e
Santa Catarina coro 9 mil (7 mil a partir de 1890).
17 R. Ch. Wąchowicz: A «febre brasileira» na imigração polonesa. «Anais da Comunidade BrasileiroPolonesa», vol. 1, ano 1970, p. 55.

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