caderno 01ok - WordPress.com

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caderno 01ok - WordPress.com
grande árvore
muitas histórias
maurício camargo panella
GRECOM
Grupo de Estudos da Complexidade
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Programa de Pós-Graduação em Educação
www.ufrn.br/grecom
Coordenador da Coleção Metamorfose:
Maria da Conceição de Almeida
Editor Responsável:
Iran Abreu Mendes
Co-editor:
Carlos Aldemir Farias
Supervisão Editorial:
Andréia Mousinho
Conselho Editorial:
Edgard de Assis Carvalho
Elizeu Clementino de Souza
Emilio Roger Ciurana
João de Jesus Paes Loureiro
José Willington Germano
Juremir Machado da Silva
Luiz Carvalho de Assunção
Raul Domingo Mota
Ubiratan D’Ambrosio
Editora Flecha do Tempo
E-mail:[email protected]
grande árvore
muitas histórias
maurício camargo panella
Copyright ©mauriciomuli, 2010
Pesquisa
Maurício Camargo Panella
Fotos e texto
Maurício Muli
Projeto Gráfico
Muli / Zé Frota
Capa
Maurício Panella / Ed Soares
Revisão de texto português
M. Fernanda Cardoso Santos
Revisão texto espanhol
Eleonora Flores Ramírez
Diagramação
Zé Frota
Impressão e acabamento
Neoband Gráfica
Catalogação da Publicação na Fonte, UFRN/ Biblioteca Setorial do CCSA
Divisão de Serviços Técnicos
Panella, Maurício Camargo: Grande Árvore, Muitas Histórias - Natal: Flecha do Tempo,
2010.
96 p. il: (Coleção Metamorfose, v.9)
ISBN 978-85-906080-9-7
1. História. 2.Educação Intercultural. 3. Fotografia. 4. Arte.
RN/BS/CCSA
Todos os direitos desta edição são reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida
ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação)
ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora e ou do autor.
Para Lora e Ceição,
Guardiãs de cantos, saberes e alegrias.
Detrás da casa delas minha filha nasceu.
No alpendre da casa delas este livro foi gerado.
a todos os sábios e sábias, anciões
que me convocam a ouvir,
compartilhar e parir histórias.
Apresentação
Nosso lugar, nossas histórias
Vivemos de uma herança muito especial. Essa herança é fruto
de uma história muito longa que nos antecedeu no tempo: a
história do universo que se desdobrou na história da matéria,
que se desdobrou na história dos seres vivos, que se desdobrou
na história da espécie humana e que, por fim, se desdobrou na
nossa história pessoal – a mais singular de todas as histórias.
Tudo o que somos hoje foi sendo construído ao longo de muitos
e muitos anos. Desde que surgiram os primeiros homens
e mulheres no planeta Terra nossa história foi sendo tecida,
ampliada. Nada de duradouro nasce de um estalar de dedos,
nem da noite para o dia. Quando cada um de nós nasceu muita
coisa já havia acontecido, muitas experiências já haviam sido
consolidadas. Uma mulher sentada diante de sua almofada,
trocando bilros entre seus dedos, prendendo com alfinetes as
linhas que são entrelaçadas é uma boa imagem para nos fazer
compreender que nossa vida e nossa história foram tecidas aos
poucos, com calma, arte, paciência e criatividade!
Para responder aos desafios da vida e garantir nossa
permanência na Terra, homens e mulheres de todos os tempos
e de todos os lugares construíram conhecimentos que foram
se transformando e chegaram até nós como uma dádiva,
um presente. Nem sempre nos lembramos disso. Quase
sempre esquecemos que o tempo presente é um presente
que recebemos como lembra o educador indígena Daniel
Munduruku. Esse presente, no entanto, não está pronto e
acabado. Precisamos todo dia cuidar dele, remodelá-lo no
que for necessário, mas também manter o que ele tem do
perfume do passado para garantir nossas lembranças e cultivar
a gratidão com tudo que foi construído antes de nós.
Nenhuma cultura, nenhuma sociedade se edifica sem o alicerce,
o solo e a argamassa do passado. O substrato de anterioridade
na cultura é, entretanto, apenas uma das faces da questão, e
podemos dizer que esse processo se encontra razoavelmente
descrito nos livros de história, de antropologia, de ciências
e de matemática. Mas, é necessário assinalar também as
características de permanência e atualidade dos saberes
e conhecimentos das populações que vivem distantes da
cultura científica e dos progressos da ciência. Fortalecidos pela
adequação estreita com o meio ecológico os conhecimentos
repassados de forma oral e experimental, são responsáveis
pela manutenção de centenas de grupos culturais espalhados
pelos lugares ainda não cooptados pela lógica do sistema
mercadológico que tudo nivela, padroniza. O conhecimento
das qualidades medicinais dos animais, pelos habitantes da
Sibéria; a ciência botânica utilizada por numerosas populações
brasileiras para curar suas doenças; os métodos de medir
volume e área que se distinguem da geometria euclidiana e
permitem calcular extensão de terra e quantidade de água; a
construção de artefatos e técnicas capazes de permitir a coleta
de frutos em espaços de difícil acesso – como é o caso da coleta
do açaí, na Amazônia, e do corte da palha da carnaúba, no
Nordeste do Brasil – são algumas das referências que atestam
a exuberância do pensamento criativo e a destreza de uma
ciência perto da natureza, “uma ciência primeira”, como chama
o antropólogo Claude Lévi-Strauss.
Os saberes da tradição são pois anteriores à ciência e
permanecem como uma herança importante. Tal fato traz
consigo duas conseqüências desejáveis: a) compreender sua
anterioridade requer reconhecer a importância inestimável
desses saberes para a consolidação da cultura contemporânea
e, em particular, para a construção da ciência. Nesse sentido,
não reconhecer a importância dos saberes da tradição, ou
tomá-los como um saber menor é cuspir no próprio prato da
aventura humana na Terra; b) compreender sua permanência
é estar informado sobre inúmeras populações do planeta
que operam a criatividade necessária para não sucumbir aos
desafios vividos. Se é assim, cabe perguntar sobre as condições
de manutenção dessas sabedorias ecológicas, ou mesmo, se é
necessário e desejável a inclusão delas na correnteza perversa de
um rio caudaloso, chamado globalização, hábil em transportar
riqueza para o mar dos soberbos da civilização, e mestre em
dispensar, nas suas extensas margens, os que vão cada vez mais
se despossuindo dos bens da vida e dos valores ancestrais.
A física e filósofa Vandana Shiva discute a perversidade que tem
sido levada a efeito por uma civilização ocidental que se pauta
no que ela chama de monocultura da mente. A redução da
diversidade das culturas de subsistência, das técnicas de plantio
e, sobretudo a biopirataria e pilhagem dos conhecimentos
tradicionais fortalecem, cada vez mais, um mundo dividido
entre poucos que têm em excesso e uma multidão que fica às
margens dos bens materiais e espirituais da cultura.
Reconhecer os saberes da tradição é mais que um artifício
acadêmico ou um argumento de retórica. Trata-se de afirmá-los
como conhecimento pertinente, aquele que está inserido em
um contexto, conforme Edgar Morin. Trata-se, também, de uma
atitude ética a ser definitivamente assumida por uma ciência
aberta, capaz de dialogar com outras narrativas sobre o mundo,
em direção a uma ecologia das idéias.
Mas nem sempre o reconhecimento e o elogio desses
saberes estão presentes na educação formal. Desde o ensino
fundamental, passando pelo ensino médio, e chegando ao
ensino universitário temos escutado e aprendido conhecimentos
acumulados por uma cultura científica que vira as costas ou
desclassificam sabedorias vivas que alimentam o dia-a-dia de
tantas populações humanas espalhadas pelo nosso planeta.
Voltemos a figura da rendeira. Ela pode confeccionar sua renda
com fio um só? Com um só bilro? Claro que não! Assim é
também com o conhecimento. O conhecimento que se torna
sabedoria para bem viver se assemelha a uma renda que precisa
de várias linhas, se possível linhas de muitas cores, desenhos
diferentes. É a partir de várias sabedorias e compreensões do
mundo que poderemos construir um conhecimento para a vida
e não só para passar no vestibular! As escolas de qualquer nível
precisam, além de transmitir o conteúdo das disciplinas, ensinar
valores que formem um cidadão inteiro.
O famoso físico Albert Einstein, no livro Como vejo o mundo
expressa muito bem essa idéia. “Não basta ensinar ao homem
uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina
utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira
um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser
empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto.
A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos
profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura
harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender
as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para
determinar com exatidão seu lugar exato em relação a seus
próximos e à comunidade”.
Para compreender bem o nosso lugar em relação aos que nos
são próximos temos que contar nossas histórias que são sempre
histórias no plural e histórias do nosso lugar. Essas histórias
precisam ‘comparecer’ às escolas; precisam ser compartilhadas
com pessoas de outros lugares que as apreciem, respeitem e
gostem delas.
Esse livro conta as histórias dos moradores de Pirangi do Norte
por meio de muitas imagens e poucas palavras. Olhando essas
imagens, crianças e adolescentes poderão, nas escolas, se
reconhecer como parte de uma história maior, que começou
bem antes deles chegarem ao mundo. A depender da
criatividade dos professores, esse livro pode ser usado como
alimento e material de várias disciplinas. E, criatividade é o que
não falta aos professores que exercem a honrosa missão de
ensinar para viver bem num mundo com tanta incerteza.
Os criadores da Coleção Metamorfose se sentem felizes por
acolher esse livro porque sabem que, com o apoio da Fundação
Parnamirim de Cultura, ele chegará as salas de aula.
Para que esse livro fosse construído foi necessário o carinho e
o respeito de Maurício Camargo Panella pelos moradores do
litoral de Parnamirim. Mais do que isso, foi necessário Maurício
se tornar uma mulher rendeira para tecer uma renda viva por
meio de imagens e palavras que, para ele, são como bilros nas
mãos de um paulista-potiguar.
Grande Árvore, Muitas Histórias é um livro que precisa ser
regado com a água da criatividade. Isso nas Escolas, mas
também nos Alpendres das casas, nos Centros Comunitários,
nas Quadras de Esporte e nas Praças do nosso lugar e do mundo
afora.
Maria da Conceição de Almeida
Apresentación
Nuestro lugar, nuestras histórias.
Vivimos de una herencia muy especial. Esa herencia es fruto
de una historia muy larga que nos antecedió en el tiempo:
la historia del universo que se desdobló en la historia de la
materia, que se desdobló en la historia de los seres vivos, que
se desdobló en la historia de la especie humana y que, por fin,
se desdobló en nuestra historia personal – la más singular de
todas las historias.
Todo lo que somos actualmente ha sido construido a lo largo
de muchos y muchos años. Desde que surgieron los primeros
hombres y mujeres en el planeta Tierra nuestra historia ha sido
tejida, ampliada. Nada de duradero nace de un tronar de dedos,
ni de la noche a la mañana. Cuando cada uno de nosotros
nació muchas cosas ya habían ocurrido, muchas experiencias
ya habían sido consolidadas. Una mujer sentada delante de
su bastidor de tejer encaje de bolillos, jugando hilos entre sus
dedos, prendiendo con alfileres las líneas que son entrelazadas
es una perfecta imagen que nos hace comprender que nuestra
vida y nuestra historia fueron tejidas poco a poco, ¡con calma,
arte, paciencia y creatividad!
Para responder a los desafíos de la vida y garantizar nuestra
permanencia en la Tierra, hombres y mujeres de todos los
tiempos y de todos los lugares construyeron conocimientos
que se fueron transformando y llegaron hasta nosotros como
una dádiva, un regalo. No siempre nos acordamos de esto.
Casi siempre olvidamos que el tiempo presente es un presente
que recibimos como nos hace recordar el educador indígena
Daniel Munduruku. Sin embargo ese regalo no está todo hecho
y acabado. Necesitamos cuidarlo todos los días, remodelarlo en
lo que sea necesario, pero también mantener lo que él tiene
del perfume del pasado para garantizar nuestros recuerdos y
cultivar la gratitud con todo lo que fue construido antes de
nosotros.
Ninguna cultura, ninguna sociedad se edifica sin el cimiento, el
suelo y la argamasa del pasado. El substrato de anterioridad en
la cultura es, sin embargo, apenas una de las fases de la cuestión,
y podemos decir que ese proceso se encuentra razonablemente
descrito en los libros de historia, de antropología, de ciencias
y de matemáticas. Pero, también es necesario señalar las
características de permanencia y actualidad de los saberes y
conocimientos de las poblaciones que viven distantes de la
cultura científica y de los progresos de la ciencia. Fortalecidos
por el acoplamiento estrecho con el medio ecológico los
conocimientos pasados de forma oral y experimental son
responsables del mantenimiento de centenas de grupos
culturales distribuidos por los lugares aún no cooptados por la
lógica del sistema mercadológico que todo nivela, padroniza.
El conocimiento de las cualidades medicinales de los animales,
por los habitantes de Siberia; la ciencia botánica utilizada por
numerosas poblaciones brasileñas para curar sus enfermedades;
los métodos de volumen y área que se distinguen de la
geometría euclidiana y permiten calcular extensión de la tierra
y cantidad de agua; la construcción de artefactos y técnicas
capaces de permitir la colecta de frutos en espacios de difícil
acceso –como es el caso de la coleta del fruto de açaí, en el
Amazonas, y del corte de la paja de la palma de carnaúba, en el
Noreste de Brasil– son algunas de las referencias que atestiguan
la exuberancia del pensamiento creativo y la destreza de una
ciencia cercana a la naturaleza, “una ciencia primera”, como la
llama el antropólogo Claude Lévi-Strauss.
Los saberes de la tradición son pues anteriores a la
ciencia y permanecen como una herencia importante. Tal hecho
trae consigo dos consecuencias deseables: a) comprender su
anterioridad requiriere reconocer la importancia inestimable de
esos saberes para la consolidación de la cultura contemporánea
y, en particular, para la construcción de la ciencia. En ese sentido,
no reconocer la importancia de los saberes de la tradición, o
tomarlos como un saber menor es escupir en el proprio plato de
la aventura humana en la Tierra; b) comprender su permanencia
es estar informado sobre innumerables poblaciones del
planeta que operan la creatividad necesaria para no sucumbir
a los desafíos vividos. Si es así, cabe preguntarnos sobre las
condiciones de mantenimiento de esas sabidurías ecológicas,
o hasta si es necesario y deseable la inclusión de ellas en la
corriente perversa de un río caudaloso, llamado globalización,
hábil en transportar riqueza para el mar de los soberbios de la
civilización, y maestro en dejar, en sus extensas márgenes, a los
que cada vez más van siendo desposeídos de los bienes de la
vida y de los valores ancestrales.
La física y filósofa Vandana Shiva discute la
perversidad que ha sido llevada a efecto por una civilización
occidental que se basa en lo que ella llama monocultura
de la mente. La reducción de la diversidad de las culturas
de subsistencia, de las técnicas de plantío y, sobretodo la
biopiratería y el saqueo de los conocimientos tradicionales
fortalecen, cada vez más, un mundo dividido entre pocos que
tienen en exceso y una multitud que queda a las márgenes de
los bienes materiales y espirituales de la cultura.
Reconocer los saberes de la tradición es más que un artificio
académico o un argumento de retórica. Se trata de afirmarlo
como conocimiento pertinente, aquél que está inserto en
un contexto, según Edgar Morin. Se trata, también, de una
actitud ética que debe ser (definitivamente) asumida por una
ciencia abierta, capaz de dialogar con otras narrativas sobre
el mundo, en dirección a una ecología de la ideas.
Pero no siempre el reconocimiento y el elogio de esos saberes
están presentes en la educación formal. Desde la primaria,
pasando por la secundaria, y llegando a la enseñanza
universitaria hemos venido escuchando y adquiriendo
conocimientos acumulados por una cultura científica que
da la espalda o menosprecia sabidurías vivas que alimentan
el día-a-día de tantas poblaciones humanas distribuidas por
nuestro planeta.
Regresemos a la figura de la bordadora de encaje de bolillos.
¿Ella puede confeccionar su bordado con un solo hilo? Con
uno solo bolillo? ¡Claro que no! Así pasa también con el
conocimiento. El conocimiento que se vuelve sabiduría para
vivir bien se asemeja a un bordado que necesita de varias líneas,
si es posible líneas de muchos colores, diseños diferentes. Es
desde de la multiplicidad de varias sabidurías y comprensiones
del mundo que podremos construir un conocimiento para la
vida ¡y no sólo para pasar en el examen de aptitud para entrar
en la Universidad! Las escuelas de cualquier nivel necesitan,
además de trasmitir el contenido de sus asignaturas, enseñar
valores que formen un ciudadano entero.
El famoso físico Albert Einstein, en el libro Cómo veo el mundo
expresa muy bien esa idea. “No basta enseñar al hombre una
especialidad. Porque se volverá así una maquina utilizable, pero
no una personalidad. Es necesario que adquiera un sentimiento,
un sentido práctico de aquello que vale la pena ser emprendido,
de aquello que es bello, de lo que es moralmente correcto. De
no ser así él se asemejará con sus conocimientos profesionales
más a un perro entrenado que a una criatura armoniosamente
desarrollada. Debe aprender a comprender las motivaciones
de los hombres, sus quimeras y sus angustias para determinar
con exactitud su lugar en relación a sus prójimos y a su
comunidad”.
Para comprender bien nuestro lugar en relación a los
que nos son próximos tenemos que contar nuestras historias
que son siempre historias en plural e historias de nuestro lugar.
Esas historias necesitan ‘comparecer’ en las escuelas; necesitan
ser compartidas con personas de otros lugares que las aprecien,
que las respeten y que gusten de ellas.
Este libro cuenta las historias de los habitantes de
Pirangi do Norte, Brasil, por medio de muchas imágenes y pocas
palabras. Al observar esas imágenes niños y adolecentes en las
escuelas podrán reconocerse como parte de una historia mayor,
que comenzó mucho antes de que ellos llegaran al mundo. Al
depender de la creatividad de los profesores, este libro podrá
ser usado como alimento y material de varias asignaturas, y
creatividad es lo que no falta a los profesores que ejercen la
honrosa misión de enseñar para vivir bien en un mundo con
tanta incertidumbre.
Los creadores de la Colección Metamorfose se sienten
felices por acoger este libro porque saben que, con el apoyo de
la Fundación Parnamirim de Cultura, llegará a los salones de
clase.
Para que este libro fuese construido fue necesario
el cariño y el respeto de Maurício Camargo Panella por los
moradores del litoral de Parnamirim. Más que eso, fue necesario
que Maurício se volviera un bordador para tejer un bordado
vivo por medio de imágenes y palabras que, para él, son como
bolillos en las manos de un paulista-potiguar .
Grande Árvore, Muitas Histórias es un libro que
necesita ser regado con el agua de la creatividad. Esto en las
escuelas, pero también en los barandales de las casas, en los
centros comunitarios, en los centros de deporte y en las plazas
de nuestro lugar y del mundo exterior.
Maria da Conceição de Almeida
Das imagens às palavras, das palavras às imagens
Histórias de outra árvore de conhecimento...
Era uma vez..., 2003! Nos meses junho-agosto, me
transportei para Pium. Na mala um convite do descobridor,
andarilho, visionário Maurício Panella. Não era um simples
convite, mas um desafio: redescobrir com professores,
alunos da E.E. Maria Araújo e moradores dali, fios soltos das
histórias do lugar. E o mapa? Planejar a semana de cultura para
agosto, no contexto do dia do folclore. Era a oportunidade
de experimentar naquela escola parte do ideário do projeto
“Museu, Educação, Patrimônio”, iniciado por mim no Museu
Câmara Cascudo/ UFRN (1999). Nele sonhava “tentar salvar
o mundo”, ao incentivar e implementar ações pedagógicas,
estimulando uma consciência da preservação dos patrimônios
em geral (a vida, a natureza, a história), na construção de uma
cultura, ética e cidadania planetárias. Era a bagagem que trazia
na mala para Pium. E ali me contaminei num curto espaço
de tempo de redescobertas. Ao andar pelas dunas do Pium,
aprendi com os alunos de Suely1 : história (haveria ali rastros de
nossos ancestrais comedores de camarões?) e ecologia (sabem
que há bichos que rastejam, ocupam troncos, galhos e copas de
árvores, outros que voam e que as árvores servem para pensar,
experimentar, orientar espacialmente, feito uma bússola?). Foi
uma mangueira a escolhida como ponto de partida e de chegada
1
Suely Nascimento, professora da E.E. Maria Araújo
dessa pequena-grande expedição de descobrimentos. Foi o
começo de uma navegação pelas águas salgadas de Pirangype
até Alcaçuz, desbravando imagens, cheiros, sons, cores, palavras
e etimologias, narrativas guardadas no baú-memória. Esse é o
baú que se abre neste livro. Nele lemos que o nome Pium era
o do mosquito morador antigo dos mangues da região; que
Paranamirim é língua tupi-gurani e significa pequeno parente
do mar ou pequeno rio veloz, rio ainda tão pouco conhecido
e que corre risco de vida; que Pirangype, ou Pirangi, com seus
cardumes de sardinhas, exportou muitas conchas para a Mãe
África; que Alcaçuz, nome de uma raiz agri-doce, viajou da
Europa e da Ásia, deu nome ao lugar e tornou-se guardiã das
antigas artes de tecer rendas de almofadas.
Testemunhamos também naquele momento um
processo brutal de mais um desmatamento em nome da
“ordem e do progresso”, como foi mostrado no documentário
Memórias de um Pequeno Parente do Mar. Até quando vamos
nos render a essa ganância, esse apetite voraz dos monstros
metálicos, dos apelos e ações que destroem nossa história
natural? Relembrando aquele trágico episódio, me veio à
memória um aforismo muito caro à Claude Lévi-Strauss - o
leitmotiv da antropologia: preservar antes que acabe!! Eis aqui
uma incerteza, pergunta que remonta aos tempos imemoriais:
como decidir sobre o que preservar? Foi essa a dúvida que
serviu de alerta e reflexão posta pela “Convenção Geral para
a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural”, Unesco
(1972). Diz o comentador relator: “talvez a resposta esteja na
sabedoria de um rabino que, no bar-mitsvá, a cerimônia de
passagem à vida adulta entre os judeus, disse a Lawrence Rosen:
‘o que você quer manter de sua infância na vida adulta? Escolha
agora.’”. Quem já fez essa pergunta, levante a mão! Quiçá
nossas crianças (pequenas ou grandes) tenham uma resposta
apropriada para nos doar. E para além da ordem classificatória
que se queira dar: ‘alfabetização cultural’, ‘ecológica’, ‘educação
patrimonial’, não haveremos de desistir, de “descobrir alunos
que queiram salvar o mundo!”, como queria o personagem
Ismael Um romance da condição humana. Resistir é a palavra
de ordem que, transformada num elixir, nos anime a sonhar
nossas utopias; construí-las para nelas viver.
Ao me reconhecer um dos personagens dessa utopia
realista, expresso aqui um desejo: que esse livro de sabedorias
Grande Árvore, muitas histórias, transforme-se num talismã
e sob sua sombra, se contem e se ouçam histórias, se criem
laços afetivos e se experimentem troca de saberes. Que ela
germine sementes, reproduza brotos, torne-se Grande-Mãe
de Guardiões do Patrimônio do Pium, Paranamirim, Alcaçuz,
Pirangi, Natal, de nossa Terra-Pátria. E como o processo de
aprendizagem requer um grau de repetição (daí a eficácia
de contar histórias!), transcrevo um trecho do diálogo entre
o Pequeno Príncipe e a raposa: a gente só conhece bem as
coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais
tempo para coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas.
Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm
mais amigos. Se queres um amigo, cativa-me! Ou dito de um
outro jeito também por Exupéry: Em tudo na vida a perfeição
é finalmente atingida, não quando nada mais existe para
acrescentar, mas quando não há mais nada para retirar... Essa
deveria ser também uma lição a ser aprendida-ensinada nas
escolas de vida e da vida!
Wani Pereira
De las imágenes a las palabras, de las palabras a las
imágenes
Historias de otro árbol de conocimiento...
Era una vez…, 2003! En los meses junio-agosto,
me transporté hacia Pium. En la maleta, una invitación del
descubridor, andariego, visionario Mauricio Panella. No era una
invitación sencilla, sino un desafío: redescubrir con profesores,
alumnos de la E.E. María Araujo y habitantes de ahí, hilos
sueltos de las historias del lugar. ¿Y el mapa? Planear la semana
de la cultura para agosto, en el contexto del día del folclore.
Era la oportunidad de experimentar en aquella escuela, parte
del ideario del proyecto “Museo, Educación, Patrimonio”,
iniciado por mí en el Museo Câmara Cascudo de la Universidade
Federal do Rio Grande do Norte UFRN en 1999. En él soñaba
“intentar salvar el mundo” al incentivar e implementar acciones
pedagógicas, estimulando la consciencia sobre la preservación
del patrimonio en general (la vida, la naturaleza, la historia), en
la construcción de una cultura, ética y ciudadanía planetaria. Era
el equipaje que traía en la maleta para Pium. Y ahí me contaminé
en un corto espacio de tiempo de redescubrimientos. Al andar
por las dunas de Pium, aprendí con los alumnos de Suely1:
historia (¿habría allí rastros de nuestros ancestrales Comedores
de Camarones?) y ecología (¿saben que hay animales que
rastrean, ocupan troncos, ramas e copas de árboles, otros
que vuelan y que los árboles sirven para pensar, vivenciar y
1
Suely Nascimento, profesora de la E.E Maria Araujo
orientar espacialmente como una brújula?). Fue un árbol de
mango el escogido como punto de partida y de llegada de esa
pequeña gran expedición de descubrimientos. Fue el comienzo
de una navegación por las aguas de Pirangype hasta Alcaçuz,
explorando imágenes, olores, sonidos, colores, palabras y
etimologías, narrativas guardadas en el baúl-memoria. Este es
el baúl que se abre en este libro. En él leemos que el nombre
de Pium era el nombre del mosquito morador antiguo de los
mangles de la región; que Paranamirim es lengua tupi-gurani
y que significa pequeño pariente del mar o pequeño rio veloz,
rio todavía tan poco conocido y que corre riesgo de vida; que
Pirangype o Pirangi (como sus cardumes y sardinas) exportó
muchas conchas para la Madre Africa; que Alcaçuz, nombre de
una raíz agridulce, llegó de Europa y de Asia, dio su nombre al
lugar y se tornó guardián de las antiguas artes de tejidos de
rendas de almohadones.
Fuimos testigos también en aquel momento, de un
proceso brutal, de una deforestación más, en nombre del
“orden y del progreso”, como fue mostrado en el documental
Memórias de um Pequeño Parente do Mar. Hasta cuándo nos
vamos a rendir a esa ambición, ese apetito voraz de monstruos
metálicos, de los apelos que destruyen nuestra historia natural.
Recordando aquel trágico episodio, me vino a la cabeza un
aforismo muy elevado de Claude Lévi-Strauss - o leitmotiv
de la antropología: ¡preservar antes que se acabe! He aquí
una incertidumbre, pregunta que se remonta a los tiempos
inmemoriales: ¿cómo decidir sobre qué debe ser preservado?
Fue esta duda la que sirvió de alerta y reflexión, puesta en la
Convención General para la Protección del Patrimonio Mundial,
Cultural e Natural” UNESCO (1972). Dice el expositor: “tal vez
la respuesta esté en la sabiduría de un rabino en el bar-mitsvá,
la ceremonia de paso a la vida adulta entre los judíos, dice
Lawrence Rosen: “¿qué quieres mantener de tu infancia para
la vida adulta?, escoge ahora”. Quien ya se hizo esa pregunta,
¡que levante la mano!. Quizá nuestros niños (pequeños y
grandes) tengan una respuesta apropiada para donarnos. Y más
allá de la denominación que se le quiera dar: “alfabetización
cultural”, “ecológica”, “educación patrimonial”, no desistiremos
de “descubrir alumnos que quieran ¡salvar el mundo!”, como
quería el personaje de Ismael Un Romance de la Condición
Humana. Resistir es la palabra que transformada en un elixir,
nos anima a soñar nuestras utopías, construirlas para en ellas
vivir.
Al reconocerme en uno de los personajes de esa
utopía realista, expreso aquí un deseo: que ese libro de
sabidurías Gran Árbol, muchas historias, se transforme en un
talismán y bajo su sombra, se cuenten y se oigan historias, se
creen lazos afectivos y se vivan intercambios de saberes. Que
germinen semillas, se reproduzcan brotes, que se convierta
en Gran Madre de los Guardianes del Patrimonio de Pium,
Paranamirim, Alcaçuz, Natal, de nuestra Tierra Patria. Y como
el proceso de aprendizaje requiere un grado de repetición (de
ahí la eficacia de contar historias), transcribo un trecho del
diálogo entre el Pequeño Príncipe y la raposa: Nosotros sólo
conocemos bien las cosas que capturamos, dijo la raposa. Los
hombres no tienen ya tiempo para nada. Compran todo listo
en las tiendas. Pero como no existen tiendas de amigos, los
hombres no tienen amigos. Si quieres un amigo, ¡captúrame!
O dicho de otra forma también por Exupéry: En toda la vida,
la perfección es finalmente lograda, no cuando no existe nada
más para agregar, sino cuando no hay nada más que retirar. Esa
debería ser también una lección para ser aprendida y enseñada
en las escuelas en la vida y de la vida.
Wani Pereira
Memórias de um Pequeno Parente do Mar
Quando do alto vi pulsar o mar em mim, o sol
amanheceu cantando tons de amarelo sabiá. E a imagem
oceânica dourada pelo sol fertilizou um caminho muito mais
longo e enraizado do que eu poderia imaginar. Revelada, a
imagem se fixou silenciosamente esperando ser contada como
um conto que espera seu contador.
No ano de 1997 aterrissei no litoral de Parnamirim
para aqui viver e deixar sementes. A comunidade de Pium me
acolheu como um filho. E a comunidade de Pirangi do Norte é e
para sempre será a terra onde minha filha nasceu. Renasci aqui
eu, nasceu minha filha neste litoral. E este é um fato que enche
meu coração de ternura e agradecimento por esta terra e por
aqueles que já antes aqui viviam.
Em 2003 começo a tocar, a ouvir e a registrar a
ancestralidade da comunidade de Pium. Em 2004 Pirangi do
Norte me chama para que eu ouvisse também suas histórias.
Conhecida mundialmente por sua Grande Árvore, esta
comunidade foi revelando-me pouco a pouco algumas de
suas Muitas Histórias. No ano de 2005 estas tomaram formas
atuais, audiovisuais, e criaram asas para que pudessem voar
para lugares longínquos. E o documentário Memórias de um
Pequeno Parente do Mar começou a ser projetado em outras
terras. Em 2006 elas quiseram ser impressas em papel, mas as
folhas de uma árvore trocam seus cabelos somente quando a
primavera se anuncia. Primavera que enfim chegou; treze anos
após minha chegada ao litoral, sete anos que se cumprem que
minha filha em Pirangi aterrissou.
Apresenta-se então o dia em que algumas das
histórias vividas, ouvidas e imaginadas já não podem ser só
nossas, nunca só nossas, e então pedem permissão para que
cumpram sua missão: serem compartilhadas. As histórias que
me chegaram sobre Pirangi do Norte já não poderiam ficar
somente em mim. Tudo a seu tempo chega e seu tempo leva.
Dentro do tempo tudo se abre, se desvenda e revela. E ocorre
assim o oferecimento de um alimento que só esperava o tempo
preciso de seu cozimento.
Grande Árvore, Muitas Histórias é um livro de
histórias. Nele há escritos e dados pesquisados por grandes
pensadores da história norteriograndense; nele há histórias
contadas pelos habitantes de Pirangi do Norte. Grande Árvore,
Muitas Histórias é um livro imagético. É composto por algumas
imagens fotográficas e vídeográficas que compõe o acervo do
Memorial do Litoral. Grande Árvore, Muitas Histórias é um
livro-roteiro, sua narrativa é o corpo textual do documentário
Memórias de um Pequeno Parente do Mar. Isso lhe dá um
espectro de filme. Grande Árvore, Muitas Histórias é um livrotecido, pois é feito de distintos fios que compõe uma só peça.
Grande Árvore, Muitas Histórias é um livro-árvore, pois dentro
dele habitam raízes, troncos, ramos, folhas, flores e frutos
distintos.

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