Cultura Contemporânea e Políticas Culturais

Transcrição

Cultura Contemporânea e Políticas Culturais
Cultura
Contemporânea
e
Políticas
Culturais
Formação Avançada
3ª Edição
6 Novembro – 13 Dezembro 2012
Horário: terças e quintas-feiras, 18h00 – 20h30
Organização: Centro de Estudos Comparatistas
Local: Faculdade de Letras de Lisboa
Programa Curricular 2012/2013
Módulos
1) Tendências da Cultura e Arte Contemporâneas
Performance e cidade
Formador: Manuela Carvalho
A cidade é ao mesmo tempo lugar e inspiração de performance – como forma de aceitar, criticar ou rejeitar os valores e
os modos de vivência espácio-temporal na cidade contemporânea; assim como é ela própria performativa, ou seja, a
configuração da cidade e a forma como os seus habitantes a usam produz identificações culturais e sociais. Recorrendo
à performance nas suas diversas vertentes quer de prática artística, social, política, ou do quotidiano, este módulo
pretende analisar alguns fenómenos artísticos e culturais urbanos, com o objectivo de compreender a cidade
contemporânea e as suas potencialidades criativas e culturais.
Souvenir from…: “Crónicas-postais” na literatura contemporânea
Formador: Felipe Cammaert
O presente módulo constrói-se à volta de uma selecção de crónicas que se debruçam sobre a cidade, aproximando-se
nalguns aspectos de uma estética próxima da do cartão postal. Os textos, da autoria de reconhecidos escritores
contemporâneos, foram publicados na imprensa e desenvolvem uma reflexão crítica sobre o espaço, combinando
componentes próprias do diário (seja este íntimo ou de viagem) e da crónica jornalística. Estes textos apontam para um
retrato urbano íntimo, no sentido de apresentar considerações sobre as mudanças na cidade produzidas por fenómenos
tais como o turismo, a percepção do espaço urbano pelo cidadão, ou a relação do narrador-viajante com o espaço
circundante. Nesta perspectiva, a cidade de Lisboa ocupará um lugar central nas crónicas-postais estudadas.
The East, what else…
Formador: Everton V. Machado
Em finais dos anos setenta do século passado, o comparatista Edward W. Said, com o seu ainda polémico Orientalism
(1978), sugeriu que a construção do sujeito oriental e do próprio Oriente ao nível do discurso cientificista e pós-iluminista
tivera incidência directa na prática imperialista europeia, com a promoção de uma distinção ontológica e epistemológica
entre o Leste e o Oeste do planeta. Académicos, funcionários coloniais, escritores e artistas nada teriam produzido
sobre o Oriente e as suas populações que não estivesse suportado por uma atitude política e culturalmente interessada.
Tal atitude se reflectiria até aos dias de hoje nas mais diversas produções culturais que tem o Oriente por objecto. O
presente módulo pretende aferir a actualidade das questões levantadas por Said através de conhecidas obras da
literatura e das artes plásticas, mas também do cinema europeu e norte-americano como os filmes Passagem para a
Índia (1984) de David Lean e Madame Butterfly (1993) de David Cronenberg.
2) Actividades Educativas e Pedagógicas
A elaboração artística como processo cognitivo e meio de comunicação
Formadora: Francesca Negro
Apesar de ainda prevalecer a visão da arte como algo aleatório e às vezes inútil, não produtivo, a arte trabalha
constantemente sobre o nosso cérebro e o nosso cérebro produz arte, produz a cada instante a nossa visão do mundo.
Cada pensamento transforma-se em imagem e cada imagem é influenciada pelo nosso sistema de pensamento.
Galerias e galerias de imagens e espaços imaginários são a nossa realidade antes que esta saia de nós para tentar
realizar-se no mundo físico. Neste módulo a nossa finalidade é tentar descobrir como funciona o pensamento artístico, o
que é que a arte representa e como e porquê se pode tornar um meio de aprendizagem, divulgação do conhecimento,
um instrumento de formação e um veículo para a maior eficácia de uma mensagem. Assim, propõe-se analisar detalhes
de obras de arte figurativa, cinematográfica, arquitectónica, literária, e reflectir sobre as respostas emocionais e físicas
por elas produzidas. A nossa época trabalha com a arte de forma muito profunda, por isso temos de desenvolver uma
capacidade mais aprofundada de leitura dos produtos e das técnicas artísticas para poder usufruir, de forma consciente,
a criatividade do nosso cérebro e para nos relacionarmos com o mundo de forma menos passiva e mais consciente.
3) Gestão e Políticas Culturais
Programação de teatro contemporâneo
Formador: Francisco Frazão
Artes performativas contemporâneas: especificidade e relevância, formas de produção e circulação, o lugar do
programador.
O programador como intermediário: artistas/público; artistas/estrutura de produção; identificação e criação de contextos;
adequação das vontades às limitações. O programador como gatekeeper: linhas programáticas e critérios de inclusão e
exclusão; a questão do gosto. O programador como autor: assinatura; poéticas explícitas e implícitas; temas e fios
condutores. Algumas dicotomias: local/internacional, centro/periferia, festival/temporada, acolhimento/co-produção,
novidade/fidelidade.
Conferência
Marta Traquino - A Medida do Passo
13 de Dezembro 2012, 18h00, sala 5.2
Considerando que, na cidade de hoje, à arte para ser ‘pública’ não basta a condição de existir num local à partida
acessível à heterogeneidade de pessoas, e que ‘públicos’ não serão necessariamente os espaços ‘abertos à vista’,
pretende-se nesta conferência partilhar a convicção de que uma arte ‘efectivamente pública’ será aquela onde se
possibilita uma qualidade de experiência pela qual ‘qualquer pessoa’ encontrará lugar para se expressar. Neste sentido,
serão reflectidos exemplos de uma prática artística atenta às zonas de convergência entre as qualidades materiais dos
lugares e as imaterialidades das relações que as pessoas estabelecem com e através destes. Prática orientada pelo
entendimento da experiência da ‘alteridade’ como condição social que contém a potência da liberdade subjectiva, o
livre-arbítrio na construção identitária, ausente no regime de relações superficiais e descomprometidas com a cidade
que o actual capitalismo tende a criar.
Formadores
Everton V. Machado
Everton Machado é investigador de pós-doutoramento no Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa e colaborador-docente na mesma faculdade. Doutorou-se em Literatura Comparada pela Sorbonne
(Université de Paris IV) sob a orientação de Pierre Brunel e lecionou literatura e cultura brasileiras na Université Lumière Lyon
2. Autor de uma edição crítica em francês do primeiro romance goês de língua portuguesa, Os Brahamanes (1866) de
Francisco Luís Gomes (Paris, Classiques Garnier, 2012). Co-autor de Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara 1809-1879 (Lisboa,
Biblioteca Nacional de Portugal, 2009). Tem artigos e capítulos de livros publicados na Europa, Ásia e América Latina
(Routledge, Presses de l’Université de Paris-Sorbonne, USP etc.), sendo a sua mais recente publicação: “What happened to
Indian Literature in Portuguese?”, Seminar (New Delhi), 630, The Lusosphere, Fev. 2012, pp. 35-40.
Felipe Cammaert
Doutor em “Langues, littératures et civilisations romanes-Portugais et Littérature comparée” da Universidade Paris X-Nanterre.
Membro Pós-doutorando do Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa. Desenvolve o seu trabalho sobre
as representações da temporalidade na literatura contemporânea (Lobo Antunes, Simon, Faulkner, Carpentier). A sua Tese de
Doutoramento, sobre a escrita da memória em António Lobo Antunes e em Claude Simon, foi publicada em 2009 pelas
edições L’Harmattan (Paris). Tem participado nomeadamente, com apresentação de comunicações, nos colóquios
internacionais sobre António Lobo Antunes. Em 2009 organizou, com o apoio do Centro de Estudos Comparatistas, a Jornada
Comemorativa António Lobo Antunes: a arte do romance, cujas actas serão publicadas em breve nas Edições Dom Quixote.
Francesca Negro
Doutorada em Literatura Comparada e investigadora de pós-doutoramento em Literatura Comparada com projecto: A pele
doméstica: o espaço da intimidade na literatura contemporânea.
Participa no projecto Lisbon-Log e interessa-se pelos Estudos Comparados Inter-Artísticos ligados ao tema do espaço e da
cidade. Neste âmbito desenvolveu a sua pesquisa sobretudo no âmbito do cruzamento entre a literatura e as artes figurativas
e do espaço e a ciências cognitivas. Colabora com o Instituto de Urbanismo de Paris e é membro do Centro de Estudos
Comparatistas.
Francisco Frazão
Francisco Frazão é programador de teatro na Culturgest. Fez o curso de Línguas e Literaturas Modernas (Português/Inglês) e
está a preparar um doutoramento em Estudos Comparatistas na Faculdade de Letras de Lisboa. Integrou a comissão de
leitura dos Artistas Unidos. Traduziu textos de Beckett, Pinter, Tim Crouch, Howard Barker, Chris Thorpe e Ant Hampton/Tim
Etchells, entre outros. Tem publicado artigos e recensões sobre teatro, cinema e literatura.
Manuela Carvalho
Investigadora Auxiliar no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa. Coordena um projecto de investigação
na área da tradução e recepção teatral – TETRA (Teatro e Tradução): para uma história da tradução teatral em Portugal,
1800-2009 – , financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia). Desenvolve o seu trabalho na área dos estudos
inter-artes, estudos de teatro e performance.
Marta Traquino
Artista plástica e investigadora em Arte Contemporânea, licenciou-se em Artes Plásticas - Pintura pela FBAUL e realizou o
Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo Dep. de Sociologia do ISCTE, com dissertação no
âmbito da Arte Contemporânea. Actualmente, encontra-se a finalizar o Doutoramento em Arte Pública pela FBAUL.
Como artista, tem realizado instalações de carácter “site-specific" que catalisam a percepção do sujeito face ao contexto
arquitectónico no qual se encontra. Propostas de 'arquitecturas efémeras' que equacionam a nossa relação com 'arquitecturas
permanentes'. Realizadas em espaços interiores e por vezes até intimistas, propõem a tomada de consciência de uma
situação específica num 'micro-contexto' transferível à escala de um 'macro-contexto'. Nos projectos mais recentes estes
aspectos têm sido explorados com base em 'propostas para acção'. Destacam-se: “Para um estado de encontro”, Rua do
Século, 157, 1º (Lisboa, 2011); “Que cor tem agora o céu?”, SecondRoom (Bruxelas, 2010); “Travessia de Fronteira - Parte II”,
Sala do Veado / Museu Nacional de História Natural (Lisboa, 2007); “Entre”, 3rceiro Andar no Chiado (Lisboa, 2005); “Dentro
do Ar”, Sala do Veado / Museu Nacional de História Natural (Lisboa, 2004).
Enquanto investigadora, trabalha sobre a construção do Lugar pela arte contemporânea no contexto urbano, focando as
dimensões actuais da Experiência, da Memória e da Identidade, enquanto directrizes de investigação nos processos de tais
práticas artísticas. Desde 2009 é membro do grupo internacional de pesquisa On Walls e tem participado em conferências
nacionais e internacionais cujos temas relacionam a Arte Contemporânea com as Ciências Sociais e Humanas para o
pensamento crítico sobre as cidades actuais. Destas se destacam: First EastBordNet Conference | Remaking
Borders (Monastero dei Benedettini, Catania, Jan. 2011) e CRESC Annual Conference 2011 | Framing the City (Manchester
University, Set. 2011). Em Abril de 2010, o seu livro “A Construção do Lugar pela Arte Contemporânea” foi editado pela
Húmus.