Comparação entre a modelagem numérica e - LMC
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Comparação entre a modelagem numérica e - LMC
CÁSSIO DIAS COUTO SAMPAIO COMPARAÇÃO ENTRE A MODELAGEM NUMÉRICA E EXPERIMENTAL DA DEFORMAÇÃO POR FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Engenharia São Paulo 2004 CÁSSIO DIAS COUTO SAMPAIO COMPARAÇÃO ENTRE A MODELAGEM NUMÉRICA E EXPERIMENTAL DA DEFORMAÇÃO POR FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Engenharia. Área de Concentração: Engenharia de Estruturas Orientador: Prof. Dr. Túlio Nogueira Bittencourt São Paulo 2004 FICHA CATALOGRÁFICA Sampaio, Cássio Dias Couto Comparação entre a modelagem numérica e experimental da deformação por fluência em vigas de concreto armado. São Paulo, 2004. 146p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações. 1.Fluência 2.Concreto 3. Método dos Elementos Finitos - modelagem I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações II.t. i Este trabalho é dedicado aos meus pais Castriciano e Josefa, e aos meus irmãos Priscilla, Castriciano e Fernando. ii “Umas das coisas mais importantes da vida não é ter tudo o que se quer e sim querer bem tudo o que se tem, pois mais importante que se ter, é saber manter”. (Autor desconhecido) iii AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por toda sua bondade manifestada ao longo desse caminho percorrido e por tudo que me deu nesta vida gloriosa; A todos os meus professores, especialmente ao amigo e professor Túlio Nogueira Bittencourt, pela orientação, dedicação e importante apoio à realização deste trabalho; Ao professor e amigo Antonio Domingues de Figueiredo pelo apoio e interesse demonstrado e pelas criticas e sugestões no sentido de enriquecer o presente trabalho; Aos amigos do Laboratório de Mecânica Computacional (LMC), especialmente ao Aderson, Adriane, André Brabo, André Gamino, André Müller, Carla Costa, Carlos Roberto, Christian, Edilon, Eduardo Campello, Eduardo Prado, Eri, Fernanda, Franz, Henrique, José Cristiano, Leandro, Lourival, Mauren, Ricardo, Telmo, Vicente, Wayne e Weber por toda ajuda, amizade e companheirismo; Aos funcionários PEF (Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações), especialmente as secretarias Marly e Márcia por toda amizade, dedicação e apoio proporcionado; A todos os funcionários da biblioteca da Engenharia Civil, especialmente a Vilma e a Fátima pela ajuda e pela boa vontade prestada no decorrer deste trabalho; Ao LMC, do PEF/EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), pelas instalações físicas e equipamentos fornecidos; À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio financeiro proporcionado por meio do programa de bolsas; iv Aos meus amados pais, Castriciano e Josefa, e irmãos, Priscilla, Castriciano e Fernando pelo apoio, amor, carinho e todo incentivo prestado neste e em todos os momentos da minha vida; A todos os meus familiares pelo incentivo e amor em todos os momentos da minha vida; A minha namorada Camila Santos pelo companheirismo, compreensão, amor e por todo apoio dedicado em todos os momentos; A todos os meus amigos de Belém e de São Paulo, especialmente ao meu cunhado Haroldo Amorim por todo incentivo prestado. v SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................................ VIII LISTA DE TABELAS .............................................................................................................................. XI RESUMO ............................................................................................................................................. XII ABSTRACT ......................................................................................................................................... XIII 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1 1.1. OBJETIVOS ................................................................................................................... 2 1.2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 3 1.3. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO ........................................................................................... 4 2. TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO ................................................. 6 2.1. DEFORMAÇÃO ELÁSTICA ............................................................................................. 8 2.2. DEFORMAÇÃO PLÁSTICA ............................................................................................. 8 2.3. DEFORMAÇÃO LENTA OU FLUÊNCIA ........................................................................... 9 2.3.1. Reversibilidade................................................................................................. 12 3. FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO .............................. 16 3.1. MATERIAIS E DOSAGEM............................................................................................. 16 3.2. UMIDADE DO AR E TEMPERATURA ............................................................................ 18 3.3. ADIÇÕES E ADITIVOS ................................................................................................. 20 3.4. GEOMETRIA DA PEÇA ................................................................................................ 21 3.5. INTENSIDADE DO CARREGAMENTO ........................................................................... 22 3.6. EFEITO DA FLUÊNCIA SOBRE AS ESTRUTURAS .......................................................... 22 4. MODELOS REOLÓGICOS ............................................................................ 24 4.1. VISCOELASTICIDADE ................................................................................................. 25 4.2. MODELOS REOLÓGICOS BÁSICOS .............................................................................. 26 4.2.1. Modelo Viscoelástico de Maxwell .................................................................. 28 4.2.2. Modelo Viscoelástico de Kelvin-Voigt............................................................ 29 4.2.3. Modelo Viscoelástico de Três Parâmetros ....................................................... 31 4.2.4. Modelo Viscoelástico de Burger ...................................................................... 32 vi 5. FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA ............................. 35 5.1. MÉTODOS PARA A ANÁLISE DA FLUÊNCIA ................................................................ 40 5.2. MÉTODOS ALGÉBRICOS.............................................................................................. 40 5.2.1. Método Incremental ......................................................................................... 41 5.2.2. Método do Módulo Efetivo .............................................................................. 41 5.2.3. Método de Trost-Bazãnt................................................................................... 42 5.3. MÉTODOS DAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ................................................................... 43 5.3.1. Método de Dischinger ou Método da Razão de Fluência ............................... 43 5.3.2. Método da Razão de Fluência Lenta Irreversível ............................................ 44 5.3.3. Método de Dischinger Melhorado.................................................................... 45 6. MODELO DE FLUÊNCIA - NBR 6118/2003............................................... 47 6.1. FORMULAÇÃO PROPOSTA PELA NBR 6118/2003...................................................... 47 6.2. EFEITO DO TEMPO NO CONCRETO ESTRUTURAL - NBR 6118/2003 ......................... 49 6.3. EFEITO DA PERDA DE RIGIDEZ DEVIDO A FISSURAÇÃO NO CONCRETO .................... 56 6.3.1. Elementos Lineares Sujeitos a Solicitações Normais – ELS............................ 56 6.3.2. Estado Limite de Deformação.......................................................................... 57 6.3.3. Avaliação Aproximada da Flecha em Vigas .................................................... 57 6.3.4. Flecha Imediata em Vigas de Concreto Armado.............................................. 58 6.3.5. Cálculo da Flecha Diferida no Tempo Para Vigas de Concreto Armado......... 59 6.4. ENSAIO PARA A DETERMINAÇÃO DA FLUÊNCIA EM CONCRETO ENDURECIDO - NBR 8224/1983................................................................................................................... 60 6.4.1. Formas e Dimensões dos Corpos-de-Prova ..................................................... 61 6.4.2. Preparação dos Corpos-de-Prova ..................................................................... 61 6.4.3. Cura dos Corpos-de-Prova .............................................................................. 63 6.4.4. Aparelhagem .................................................................................................... 63 6.4.5. Execução do Ensaio ......................................................................................... 64 7. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO ................................................................................................... 66 7.1. FLUÊNCIA NA TRAÇÃO .............................................................................................. 67 7.2. REALIZAÇÃO DO ENSAIO EXPERIMENTAL................................................................. 70 vii 7.3. LIMITAÇÕES DO MODELO EXPERIMENTAL ................................................................ 78 8. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA ........................................ 83 8.1. CONSIDERAÇÃO DA FLUÊNCIA SEGUNDO O MEF ..................................................... 84 8.1.1. Formulação do MEF Para Análise da Fluência em Estruturas......................... 84 8.1.2. Um Modelo Linear de Envelhecimento ........................................................... 87 8.2. MODELO DE FLUÊNCIA DO ADINA ........................................................................... 88 8.3. MODELO DE FLUÊNCIA DO DIANA ........................................................................... 91 8.3.1. Modelo de Fluência para o Concreto Segundo o CEB-FIB 1990 .................... 91 8.4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MODELAGEM DAS VIGAS NO ADINA ............................ 95 8.4.1. Modelagem da Estrutura .................................................................................. 95 8.5. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MODELAGEM DAS VIGAS NO DIANA ............................ 97 8.5.1. Modelagem da Estrutura .................................................................................. 98 8.6. CONSIDERAÇÃO DO FENÔMENO DA FLUÊNCIA PELO ADINA ................................ 100 8.7. CONSIDERAÇÃO DO FENÔMENO DA FLUÊNCIA PELO DIANA ................................ 103 9. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÉRICOS ............................................................................................ 109 9.1. COMPARAÇÃO ENTRE DESLOCAMENTOS ................................................................ 109 9.2. COMPARAÇÃO ENTRE DEFORMAÇÕES .................................................................... 121 10. CONCLUSÕES.......................................................................................... 126 10.1. PROPOSTAS PARA FUTUROS TRABALHOS ............................................................. 128 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 129 ANEXO 1 – TABELA DE RESULTADOS ............................................................ 133 ANEXO 2 – CÁLCULO DA FLUÊNCIA PELA NBR 6118/2003 ............................. 135 ANEXO 3 – CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS VIGAS .......................................... 142 viii LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 2 Figura 2.1 – Curvas tensão-deformação da pasta de cimento, do agregado e do concreto ........ 06 Figura 2.2 – Representação esquemática dos resultados de um ensaio de deformação lenta .... 10 Figura 2.3 – Deformação dependente do tempo em concreto submetido à carga mantida ........ 11 Figura 2.4 – Exemplo do princípio de McHenry da superposição de deformações................... 13 Figura 2.5 – Reversibilidade da retração por secagem .............................................................. 14 Figura 2.6 – Reversibilidade da fluência ................................................................................... 14 CAPÍTULO 3 Figura 3.1 – Fluência de concretos com diversos agregados com a mesma proporção carregados à idade de 28 dias. ............................................................................... 18 Figura 3.2 – Fluência em concretos carregados e mantidos em diferentes umidades relativas ................................................................................................................. 19 Figura 3.3 – Influência do tamanho da peça e da umidade relativa no coeficiente de fluência. ................................................................................................................. 21 CAPÍTULO 4 Figura 4.1(a) – Representação esquemática do elemento reológico mola...................................... 25 Figura 4.1(b) – Representação esquemática do elemento reológico amortecedor.......................... 25 Figura 4.2 – Curva de deformação-tempo no elemento de mola para fluência.......................... 27 Figura 4.3 – Curva de deformação-tempo no amortecedor para um ensaio de fluência ............ 28 Figura 4.4 – Representação do modelo viscoelástico de Maxwell............................................. 28 Figura 4.5 – Representação da curva deformação-tempo no modelo viscoelástico de Maxwell................................................................................................................. 29 Figura 4.6 – Representação do modelo viscoelástico de Kelvin-Voigt. .................................... 30 Figura 4.7 – Representação da curva deformação-tempo no modelo viscoelástico de Kelvin-Voigt........................................................................................................... 30 Figura 4.8 – Representação do modelo viscoelástico de Boltzmann .......................................... 32 Figura 4.9 – Representação da curva deformação-tempo no modelo viscoelástico de Três Parâmetros. .................................................................................................... 32 Figura 4.10 – Representação do modelo viscoelástico de Burger................................................. 33 Figura 4.11 – Representação da curva deformação-tempo no modelo viscoelástico de Burger ... 34 CAPÍTULO 5 Figura 5.1 – Representação da curva de função de fluência. ..................................................... 37 Figura 5.2 – Representação da curva de coeficiente de fluência................................................ 38 ix CAPÍTULO 6 Figura 6.1 – Variação εccf (t) .................................................................................................... 51 Figura 6.2 – Variação βf (t). ..................................................................................................... 53 Figura 6.3 – Aparelho para ensaio da fluência no concreto. ...................................................... 62 CAPÍTULO 7 Figura 7.1 – Fluência na tração e na compressão sob tensão de 9 Kg/cm2 ................................ 68 Figura 7.2 – Influência do tipo de cimento na fluência à tração para concretos ....................... 69 Figura 7.3 – Fluência na flexão ................................................................................................. 70 Figura 7.4 – Vista dos apoios das vigas experimentais............................................................... 71 Figura 7.5 – Vista da armadura posicionada na fôrma................................................................ 72 Figura 7.6 – Detalhamento das vigas estudadas ........................................................................ 72 Figura 7.7(a) – Apoio do relógio de medição sobre a chapa metálica para medida dos deslocamentos verticais .......................................................................................... 73 Figura 7.7(b) – Cavalete de suporte do relógio de medição ............................................................ 73 Figura 7.8 – Viga após aplicação do carregamento ................................................................... 74 Figura 7.9 – Local onde foram tomadas as medidas de deslocamento e de deformação ............ 75 Figura 7.10 – Diagrama Momento-Curvatura da seção ................................................................ 76 Figura 7.11(a) – Apoio do 1º gênero................................................................................................ 79 Figura 7.11(b) – Apoio do 2º gênero ................................................................................................ 79 Figura 7.12 – Ilustração da realização do ensaio ........................................................................ 79 Figura 7.13 – Ilustração da configuração deformada após o carregamento .................................. 80 CAPÍTULO 8 Figura 8.1 – Deformação considerada pelo ADINA em uma análise unidimensional............... 89 Figura 8.2 – Modelagem da viga feita no ADINA..................................................................... 97 Figura 8.3 – Elemento quadrático CHX 60................................................................................ 99 Figura 8.4 – Modelagem da viga feita no DIANA...................................................................... 99 Figura 8.5 – Comparação das curvas de fluência do ADINA em vermelho com a curva de fluência da NBR 6118 em azul ........................................................................ 100 Figura 8.6 – Exemplo de uma curva gerada pelo ADINA para a caracterização física do concreto ............................................................................................................... 101 Figura 8.7 – Aplicação para o modelo de material utilizado .................................................... 102 Figura 8.8 – Caixa de entrada de dados referente ao modelo TEPMC .................................... 102 Figura 8.9 – Isobanda de deformação no ADINA .................................................................... 103 Figura 8.10 – Isobanda de deslocamento no ADINA ................................................................ 103 Figura 8.11 – Curva Tensão-Deformação definida pelo DIANA para o concreto do tipo A...... 105 Figura 8.12 – Aplicação do modelo de fissuração para o concreto no DIANA.......................... 105 x Figura 8.13 – Aplicação do modelo de fluência do CEB pelo DIANA ..................................... 106 Figura 8.14 – Isobanda de deformação no DIANA ................................................................... 107 Figura 8.15 – Isobanda de deslocamento vertical no DIANA .................................................... 108 Figura 8.16 – Zona fissurada na viga D após 3500 dias mostrada no DIANA ........................... 108 CAPÍTULO 9 Figura 9.1 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 140 dias para viga A ............. 110 Figura 9.2 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 140 dias para viga B ............. 110 Figura 9.3 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 140 dias para viga C ............. 111 Figura 9.4 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 140 dias para viga D .............. 111 Figura 9.5 – Variação somente do módulo de elasticidade do concreto ................................... 114 Figura 9.6 – Variação somente da umidade relativa do ar ....................................................... 115 Figura 9.7 – Variação simultânea do módulo de elasticidade e da umidade do ar.................... 115 Figura 9.8 – Evolução da resistência a compressão de concretos produzidos a partir de cimentos novos e antigos..................................................................................... 117 Figura 9.9 – Pico de deslocamento excessivo em curto intervalo de tempo ............................. 118 Figura 9.10 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 3000 dias para viga A ........... 118 Figura 9.11 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 3000 dias para viga B ........... 119 Figura 9.12 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 3000 dias para viga C ............ 119 Figura 9.13 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 3000 dias para viga D ........... 120 Figura 9.14 – Gráfico de deslocamento-tempo para viga D com Curva Variável até 3000 dias ...................................................................................................................... 121 Figura 9.15 – Comparação entre as curvas de deformação até 3000 dias para viga A .............. 122 Figura 9.16 – Comparação entre as curvas de deformação até 3000 dias para viga B................ 122 Figura 9.17 – Comparação entre as curvas de deformação até 3000 dias para viga C............... 123 Figura 9.18 – Comparação entre as curvas de deformação até 3000 dias para viga D .............. 123 xi LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 6 Tabela 6.1 – Valores característicos superiores da deformação específica de retração εcs(t∞,t0) e do coeficiente de fluência ϕ(t∞, t 0) ...................................................... 48 Tabela 6.2 – Valores da fluência e da retração em função da velocidade de endurecimento do cimento .................................................................................... 54 Tabela 6.3 – Valores do coeficiente ξ em função do tempo ....................................................... 60 Tabela 6.4 – Limite para corpos-de-prova. ................................................................................ 61 CAPÍTULO 8 Tabela 8.1 – Coeficiente de fluência para o Modelo de Código do CEB-FIB ........................... 92 Tabela 8.2 – Dados de entrada baseados no CEB 1990 para o DIANA................................... 107 CAPÍTULO 9 Tabela 9.1 – Diferenças percentuais entre os resultados dos deslocamentos ........................... 124 xii RESUMO A fluência nas peças de concreto armado é apontada como uma das possíveis causas de casos relatados de destacamentos de argamassa de revestimento e esmagamento de fiadas em alvenaria de vedação vertical em edifícios. Os projetos estruturais têm sido elaborados com parâmetros majoradores de deformação por fluência, tentando minimizar a interação entre a estrutura e as alvenarias. Este trabalho comparou o comportamento de vigas biapoiadas de concreto armado submetidas ao fenômeno da fluência, modeladas pelo Método dos Elementos Finitos (MEF) e calculadas tendo como referência a NBR6118 com vigas ensaiadas experimentalmente. Foram analisados quatro grupos de vigas denominados A, B, C e D com características geométricas iguais, porém com propriedades físicas diferentes. As modelagens foram realizadas nos programas ADINA e DIANA, com modelos tridimensionais. Foram consideradas as tensões de compressão para o estudo do fenômeno. As vigas têm seção transversal retangular, têm comprimento longitudinal de 6m e apenas as armaduras longitudinais são consideradas. O carregamento foi considerado concentrado e aplicado no meio do vão com valor de 2 kN, sendo que nas análises também foi considerado o peso próprio das vigas. Os principais parâmetros considerados na modelagem das vigas foram: a) período para o estudo da fluência de 140 dias; b) consideração da parcela de não-linearidade física do material, caracterizando a perda de rigidez em sua seção transversal. A avaliação foi realizada comparando os resultados obtidos na modelagem numérica com dados obtidos a partir de ensaios experimentais disponíveis na literatura e, também, com resultados providos a partir de cálculos baseados na NBR 6118/2003. Pode-se concluir que comparadas, todas as curvas apresentaram um bom comportamento qualitativo, ou seja, todas caracterizaram de forma adequada o comportamento assintótico do fenômeno estudado. Entretanto, devido a possíveis problemas ocorridos no ensaio experimental e a validade parcial dos métodos de cálculo da fluência utilizados na análise numérica, não foi possível estabelecer, quantitativamente, a eficiência e a eficácia destes programas quando requeridos a calcular a deformação por fluência em vigas de concreto armado. xiii ABSTRACT Concrete creep is one of the probable causes of the occurrence of pathologies in reinforced concrete structures. The structural design has been made with overestimated parameters of creep strain, in an attempt to minimize the structuremasonry interaction. In this research an to analysis of the creep phenomenon in reinforced concrete simply supported beams under constant load is developed. Four beam groups, named A, B, C e D, have been analyzed. All the four groups have the same dimensions, but distinct physical properties. These simply supported beans have a 6m span and a prismatic cross section. All the numerical analyses have been done for 3-D beam models, through the ADINA and DIANA software. Only creep compression stresses and longitudinal reinforcement have been considered. A 2 kN load is applied in the mid-span each beam. In addition the weight of the beans have been considered. The main parameters considered in the creep simulation are: a) period of time of 140 days; b) consideration of the non-linear physical response of the material, characterizing a loss of stiffness and cracking. A comparison is made between the numerical analyses results and the experimental data. These results are then compared to the ones provided by the NBR 6118/2003. This comparisons have show a good qualitative agreement in terms of the asymptotic behavior of the creep phenomenon. However, due to possible problems in experimental tests and to the partial validity of the applied creep equation, it has not been possible to verify a good quantitative estimation and of the effectiveness of the software to accurately predict the creep deformation for the tested reinforced concrete beams. 1 INTRODUÇÃO 1 INTRODUÇÃO O concreto, como segundo material de maior consumo mundial depois da água, requer uma atenção importante. Bastante difundido e popularmente conhecido esse material exige uma série de cuidados (adensamento, cura, etc...) que precisam ser levados em consideração para que, no futuro, não venham ocorrer problemas patológicos (METHA & MONTEIRO [1994]). A durabilidade de estruturas em concreto armado e protendido vem despertando, nos últimos anos, bastante interesse no meio acadêmico e técnico. Conceber e construir estruturas em concreto que atendam à segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante o período correspondente à sua vida útil é um dos mais importantes objetivos a serem alcançados pelos engenheiros. Segundo a NBR 6118 [2003] entende-se por vida útil de projeto o período de tempo durante o qual se mantêm as características das estruturas de concreto desde que atendidos os requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projetista e pelo construtor, bem como de execução dos reparos necessários decorrentes de danos acidentais. O desenvolvimento de novas tecnologias e a necessidade de aperfeiçoamento de novas técnicas vem exigindo que os engenheiros civis busquem novos métodos para tornar cada vez mais seguros e economicamente viáveis os projetos de estruturas de concreto. INTRODUÇÃO 2 As aplicações do concreto em estruturas complexas e grandiosas no Brasil e no mundo são imensuráveis. A importância de um conhecimento mais aprofundado do comportamento de tais estruturas e, principalmente, seu comportamento futuro, aguçam a necessidade de um estudo mais aprofundado das mesmas (NEVILLE [1997]). Assim, o tema abordado neste estudo tem como um de seus objetivos aprimorar o conhecimento do comportamento de estruturas de concreto, no que diz respeito a suas deformações e deslocamentos com o passar do tempo. O comportamento do concreto é caracterizado por uma complexa relação entre tensão, deformação e tempo. Na aplicação de um carregamento em uma estrutura de concreto, ocorre em primeiro instante, uma deformação instantânea, a qual é seguida de um acréscimo de deformação ao longo do tempo. A deformação no concreto ao longo do tempo devido a uma tensão constante denomina-se fluência. O conhecimento de tal fenômeno foi citado pela primeira em 1907 por Hatt. Uma vez definido que existam tais deformações, é provável que se as mesmas não forem consideradas de forma correta, isto possa causar patologia a ponto de danificar de forma considerável estruturas em geral. 1.1. OBJETIVOS Esse trabalho tem como objetivo principal comparar os valores obtidos para o deslocamento (flecha) devido à fluência, em vigas biapoiadas de concreto armado, por meio da modelagem numérica de dois programas baseados no Método dos Elementos Finitos (MEF) e por meio de ensaios experimentais, citados em FIGUEIREDO [2003]. Esta comparação foi realizada com dados de deslocamentos obtidos pela simulação do fenômeno da fluência em vigas de concreto armado, modeladas nos programas, e com os resultados de deslocamentos obtidos por meio de ensaios experimentais. Os ensaios experimentais foram realizados no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Construção Civil (CPqDCC) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP). INTRODUÇÃO 3 O objetivo dessas comparações é tentar fornecer aos usuários de tais programas a idéia de quanto eficaz e eficiente os mesmos são quando requeridos a modelar o fenômeno da fluência em estruturas de concreto armado. Foi realizado também o procedimento de cálculo da fluência, nas vigas de concreto armado, tendo como referência a norma brasileira de concreto NBR 6118/2003. Os resultados de deformação e de deslocamento, encontrados pelo cálculo da NBR 6118, também serão comparados com os resultados provenientes das modelagens numéricas assim como dos ensaios experimentais. 1.2. JUSTIFICATIVA Patologias no comportamento das alvenarias de vedação têm sido, nos últimos anos, apontados como uma das principais ocorrências do pós-obra nos edifícios constituídos em estruturas de concreto armado. O volume de casos relatados de destacamentos de argamassa de revestimento, de esmagamento de fiadas de encunhamento e outros, têm sido a causa de sérios prejuízos ao setor da construção civil. Além disso, há muito desgaste na relação de confiança entre os construtores e seus clientes finais, que não conseguem conviver com tais fenômenos sem sentiremse inseguros e, até enganados. Este tema foi abordado em um ciclo de debates ocorrido no 46º IBRACON do ano de 2004 na cidade de Florianópolis. Neste ciclo discutiu-se à respeito de possíveis patologias ocorridas em estruturas de concreto devido ao fenômeno da fluência. A ocorrência da fluência nas peças de concreto é considerada como uma das principais causas do fenômeno. Por outro lado, o mecanismo de distribuição das deformações entre a estrutura de concreto, as vedações e a grandeza esperada para a intensidade das deformações tem apresentado resultados muito variáveis. Tendo em vista essas dificuldades, os projetos estruturais têm sido elaborados com parâmetros conservadores de deformação por fluência. Estes parâmetros visam minorar a interação entre a estrutura e as alvenarias, associado a um rigor muito grande quanto ao tempo de fixação e quantidades de re-escoramentos. Deste modo, aumenta-se o custo das estruturas de concreto armado reduzindo sua competitividade sem, no entanto, resolver de forma definitiva o problema. INTRODUÇÃO 4 1.3. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO No segundo capítulo são mostrados conceitualmente alguns tipos de deformação que ocorrem no concreto. Neste capítulo também é feita uma abordagem teórica sobre o comportamento da fluência em estruturas de concreto. O capítulo terceiro vem mostrar alguns dos principais fatores que afetam a fluência no concreto. Nele é mostrado como e o quanto cada um desses fatores influenciam de forma bastante significativa na deformação por fluência em estruturas de concreto armado. O quarto capítulo relata sobre os aspectos reológicos e como esses podem ser aplicados ao material concreto. Nele são mostrados quais os tipos de modelos reológicos básicos que podem ou não ser associados para tentar simular o real comportamento do mesmo. No capítulo cinco é discutido como se caracterizada uma função e um coeficiente de fluência, e qual a melhor forma de utilização dos mesmos. Serão também mostrados e discutidos alguns dos métodos para a análise da fluência citados na literatura e utilizados neste trabalho. No sexto capítulo é apresentada a formulação para o cálculo da deformação ao longo do tempo (fluência) segundo a norma brasileira NBR 6118/2003. Também e feita uma descrição da realização de ensaio para a determinação do fenômeno da fluência para concreto endurecido segundo a NBR 8224/1983. Além disso, é mostrado como deve-se efetuar o cálculo para a consideração da perda de rigidez devido à fissuração em estruturas lineares de concreto armado. O capítulo sete mostra a caracterização do material estudado, ou seja, o que foi levado em consideração para a análise das vigas neste trabalho. Além disso, esse capítulo também vem mostrar de forma sucinta como foi feita a realização do ensaio experimental bem como as irregularidades ocorridas no mesmo. No oitavo capítulo é apresentado, simplificadamente, o comportamento da deformação por fluência no Método dos Elementos Finitos (MEF). Também serão apresentadas as considerações utilizadas nos programas que foram usados para a determinação da fluência nas vigas em estudo. Será apresentada também a descrição INTRODUÇÃO 5 das modelagens geométricas e por fluência em ambos os programas e as considerações que foram utilizadas em cada software para a descrição do fenômeno. Os quatro últimos capítulos contêm as comparações dos resultados, a conclusão, a proposta para o próximo trabalho e as referências bibliográficas, respectivamente. TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO 2 6 TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO O comportamento de materiais como o concreto é medido a partir de uma curva denominada Tensão-Deformação, onde nela é apresentado o comportamento das tensões de um determinado material em função da variação das deformações (Figura 2.1). 50 Agregado Tensão (MPa) 40 30 Concreto Pasta de Cimento 20 10 0 1000 2000 3000 -6 Deformação (10 ) Figura 2.1 – Curvas tensão-deformação da pasta de cimento, do agregado e do concreto .MEHTA e MONTEIRO (1994) TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO 7 A princípio, devido à aplicação de um carregamento, ocorre uma deformação imediata, que é totalmente dependente da intensidade da tensão aplicada. Esta deformação se dá em regime elástico, proveniente de uma relação entre tensão e deformação definida pela Lei de Hook, formulada em 1678, na qual para toda tensão existe uma deformação que varia em regime linear. Contudo, o concreto não é um material verdadeiramente elástico e nem suas deformações são uniformes ao longo da peça, podendo assim haver uma variação de tensão de ponto a ponto. Em verdade, a hipótese de considerar o módulo de elasticidade constante para diversos materiais (princípio básico da Teoria da Elasticidade), o que inclui o concreto, só é considerada válida e de maneira aproximada, se levadas em conta regiões com baixas tensões e um período curto de carregamento. Além da deformação dita elástica, em quaisquer outras condições pode haver o aparecimento de deformações plásticas, onde sua importância, levando em conta a distribuição de tensões, não pode ser desprezada. NEVILLE [1997] classifica três tipos principais de deformações ao longo do tempo: deformação elástica instantânea ou imediata, deformação elástica retardada e deformação lenta ou por fluência. A deformação elástica instantânea ou imediata, é aquela que ocorre simultaneamente ou imediatamente após a introdução de um carregamento. Neste caso, é considerado que exista uma total reversibilidade da deformação, porém, isso só será válido se a aplicação de carga e descarga for feita em um curto intervalo de tempo. Ao aumentar o intervalo de tempo para um ciclo de carga e descarga, haverá um aumento considerável no módulo de elasticidade do material com o tempo, esse aumento acarretará em uma reversibilidade parcial da deformação, classificada como deformação parcial ou deformação elástica retardada. Essa deformação ocorre com uma velocidade muito menor do que a da deformação elástica imediata. No entanto, existe ainda uma outra parcela de deformação que se desenvolve com o tempo e que se processa muito mais lentamente. A chamada deformação lenta ou por fluência. TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO 8 2.1. DEFORMAÇÃO ELÁSTICA Entende-se por deformação elástica toda deformação instantânea, reversível e que cause variação de volume. Ela ocorre pela deformação dos átomos em resposta ao esforço aplicado. Quando é retirada a carga, os átomos retornam à sua posição de repouso. É importante ressaltar que toda deformação elástica é linear, isto é, a deformação é proporcional a tensão aplicada. Para o concreto é salientado que, após o descarregamento em estruturas usuais, parte desta deformação permanece, ou seja, não ocorrerá uma total reversibilidade da mesma. Como já citado, existe uma relação entre tensão e deformação (lei de Hook); dessa relação a deformação é obtida em função da tensão aplicada e do módulo de elasticidade do concreto no instante da aplicação do carregamento. É importante frisar que a deformação elástica dita imediata ocorre simultaneamente ou imediatamente após a aplicação da carga e depende fundamentalmente da intensidade da mesma. 2.2. DEFORMAÇÃO PLÁSTICA A deformação plástica é considerada instantânea, irreversível e sem variação de volume do material. Após o material apresentar deformação inicial ou instantânea, acima de um determinado valor de carregamento, começam a ocorrer escorregamentos relativos dos átomos e das moléculas do material. Estes escorregamentos dão origem à deformação plástica. Como não ocorre deformação na ligação dos átomos, isto é, não ocorre deformação das ligações interatômicas, não existe variação de volume e, como ocorre também uma mudança na posição relativa dos átomos da estrutura, as deformações são irreversíveis, ou seja, com a retirada do carregamento à parcela de deformação plástica não é mais recuperada. O material fica deformado permanentemente. TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO 9 2.3. DEFORMAÇÃO LENTA OU FLUÊNCIA Enquanto as deformações elástica e plástica ocorrem simultaneamente à aplicação da carga em todos os materiais, alguns materiais usados na engenharia civil podem sofrer uma deformação adicional se o carregamento for mantido por tempo suficientemente longo. Trata-se da deformação lenta ou fluência. Ela possui dois componentes: um componente elástico e outro viscoso. A velocidade dessa deformação varia de acordo com o tipo material. De fato, com o carregamento de um corpo de concreto, verifica-se uma deformação imediata ou instantânea que, com o passar do tempo, tende a aumentar assintoticamente para um valor final, alcançado na prática após dois ou três anos (RÜSCH [1981]). O concreto é considerado como um dos poucos materiais onde a influência da deformação lenta é significativa. No aço (utilizados para concreto armado) esta influência é geralmente desprezível. Segundo GRAVINA [1956], “a deformação final, soma das deformações imediatas e por fluência, pode, em condições desfavoráveis, atingir um valor de 4 a 5 vezes maior que a deformação instantânea”. É correto afirmar que são vários os fatores que influenciam na deformação lenta do concreto e, alguns desses, estão inteiramente ligados a propriedades deste material. Destas influências, pode ser levado em consideração que a fluência está ligada à secagem do concreto no tempo. RÜSCH [1981] cita que a fluência do concreto deve ser atribuída à migração de água, causada pela carga externa, para as camadas de água absorvida da estrutura do gel, bem como o efeito das tensões capilares, ou seja, ao se aplicar carga em um corpo de concreto, existe uma distribuição da mesma pelo esqueleto do sólido e pelas águas dos poros. GRAVINA [1956] afirma que devido às dimensões muito pequenas dos canais, a água não escoa imediatamente após a aplicação da carga. Sua distribuição sobre a camada líquida gera uma variação no estado de tensão da mesma e, portanto, perturba o equilíbrio higrométrico. As tensões de compressão exercidas na camada de água tendem a diminuir gradativamente, resultando no desaparecimento completo das mesmas, assim, as tensões que anteriormente eram resistidas pela camada de 10 TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO água, passam a ser agora resistidas gradativamente pelo esqueleto do sólido. Esta migração de esforços termina ao se alcançar novamente o equilíbrio higroscópico, quando a carga passa a ser resistida totalmente pelo esqueleto sólido e se restabelece na água o mesmo estado de tensão que existia antes de aplicar o esforço. RÜSH [1981] mostra as deformações medidas em um ensaio de fluência, em um concreto com aplicação de carga aos 28 dias de idade. O concreto foi descarregado após um ano e novamente carregado após dois anos, Figura 2.2. ε‰ Descarregamento 1,0 εφ2 εe1 0,8 Novo Carregamento εe2 0,6 εφ1 εe1 = Deformação elástica no instante 1 εφ1 = Deformação por fluência após o instante 1 εe2 = deformação elástica no instante 2 εφ2 = Deformação por fluência após o instante 2 0,4 0,2 εe1 Tempo 28 dias 1 ano 2 anos Figura 2.2 – Representação esquemática dos resultados de um ensaio de deformação lenta. RÜSCH (1981) No instante do carregamento ocorreu a deformação elástica εe1; após 1 ano, a deformação havia aumentado de um valor εφ1, sob o efeito contínuo da carga. No descarregamento, a deformação diminuiu imediatamente de aproximadamente εe1. No ano seguinte, ocorreu uma recuperação na deformação, que é explicada devido ao efeito da deformação lenta reversível. Com o novo carregamento aparece uma nova deformação elástica εe2 e uma outra deformação devido à fluência εφ2. Ο valor da deformação lenta é composto por uma parcela de elasticidade retardada e por uma outra parcela correspondente à fluência. METHA & MONTEIRO [1994] conceituam como fluência básica todo aumento de deformação ao longo do tempo com tensão constante e sob condições de umidade relativa de cem por cento (100%). Esta condição geralmente surge em estruturas de grande porte onde a retração por secagem pode ser desprezada. 11 TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO Quando o concreto está sob carga e simultaneamente exposto a condições de baixa umidade relativa, a deformação total é maior que a soma da deformação elástica, da deformação por retração livre e da deformação por fluência básica (sem secagem), a esta diferença de deformação é dado o nome de fluência por secagem. A fluência total é a soma das fluências básica e por secagem, entretanto, os autores citam que é comum ignorarmos essa distinção entre fluências básica e por secagem e conceituarmos como fluência à deformação sob carga constante, além da soma da Deformação deformação elástica e da deformação livre por secagem, Figura 2.3. ε1 Fluência por Secagem Fluência Básica ε0 Deformação Elástica Tempo Figura 2.3 – Deformação dependente do tempo em concreto submetido à carga mantida. METHA & MONTEIRO (1994) Em condições normais de carregamento, a deformação instantânea registrada depende da velocidade da aplicação da carga e inclui, portanto, não apenas a deformação elástica, mas também uma parte da fluência. Como o módulo de elasticidade do concreto aumenta com a idade, a deformação elástica diminui progressivamente e, a rigor, a fluência deveria ser tomada como a deformação que excede a deformação elástica no momento em que a mesma está sendo determinada. Em verdade, é difícil na maioria das vezes fazer a distinção entre a deformação elástica e a fluência inicial por fluência, porém, não existe muita importância em âmbitos práticos em tal distinção. Para fins práticos, se faz uma diferenciação arbitrária: a deformação que ocorre imediatamente ou simultaneamente à aplicação do carregamento é considerada elástica e o aumento subseqüente dessa deformação devido a carga constante é considerado como fluência. TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO 12 2.3.1. REVERSIBILIDADE O problema da natureza da fluência é bastante complexo. A principal causa do fenômeno é a pasta de cimento hidratado (C-S-H). A fluência está relacionada com a movimentação interna de água absorvida ou intercristalina como já mencionado, isto é, percolação interna. METHA & MONTEIRO [1994] cita que ensaios de Glucklich* mostraram que um concreto do qual foi removida toda água evaporável não apresentou praticamente nenhuma fluência. É possível que ocorra a percolação interna da água das camadas absorvidas para os vazios como os poros capilares. Uma evidência indireta do papel desses vazios é a relação entre a fluência e a resistência da pasta de cimento hidratado: aparentemente a fluência é uma função dos espaços não preenchidos e pode-se especular dizendo que são os vazios do gel que determinam tanto a resistência quanto a fluência. Neste último caso, os vazios podem ser relacionados com a percolação. O volume desses vazios é, naturalmente, uma função da relação água/cimento e é influenciado pelo grau de hidratação. RÜSH [1981]. É razoável imaginar que, depois de vários anos sob carregamento, a espessura das camadas de água absorvida possa ser reduzida a tal ponto que mais nenhuma redução seja possível sob a mesma tensão, e se registrou fluência mesmo após 30 anos. Portanto, é provável que a parte lenta da fluência, a longo prazo, seja devida a outras causas e não somente a percolação da água. Isso pode sugerir escoamento ou escorregamento viscoso entre as partículas de gel. Esses mecanismos são compatíveis com a influência da temperatura sobre a fluência e podem explicar também a parcela nitidamente irreversível da fluência em longo prazo. NEVILLE [1997]. NEVILLE [1997] também cita que foi desenvolvido por McHenry um tratamento possível da recuperação parcial da fluência a partir do princípio da superposição de deformações. Esse tratamento estabelece que as deformações produzidas no concreto a qualquer tempo t por um incremento de tensão aplicado em * J. Glucklich, Creep mechanism in cement mortar, J. Amer. Concr. Inst., 59, pp. 923-48 (July 1962). 13 TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO um momento qualquer t0, são independentes dos efeitos de qualquer tensão aplicada antes ou depois de t0. Segue então que, se a tensão é removida à idade t1, a recuperação resultante da fluência será igual à fluência de um elemento semelhante submetido a uma tensão igual de compressão à idade t1. A Figura 2.4 ilustra essa afirmativa, e pode ser visto que a recuperação é representada pela diferença entre a tensão real em qualquer momento e a tensão que existiria no mesmo momento se o elemento continuasse submetido à tensão de compressão inicial. Fluência Específica 10-6 MPa 40 30 20 10 0 40 120 80 150 200 Idade-dias Figura 2.4 – Exemplo do princípio de McHenry da superposição de deformações Um aspecto relevante citado por METHA & MONTEIRO [1994] é que o comportamento típico do concreto na molhagem e na secagem ou no carregamento e descarregamento é bastante semelhante, figuras 2.5 e 2.6. Tanto o fenômeno de retração por secagem quanto o de fluência no concreto apresentam um grau de irreversibilidade que possui importância prática. A Figura 2.5 mostra que após a primeira secagem, o concreto não retornou a sua dimensão original mesmo depois de molhado. A retração por secagem, portanto, foi classificada em retração reversível, que é a parte da retração total reproduzível em ciclos de molhagem-secagem; e retração irreversível, que é a parte da retração total na primeira secagem que não pode ser reproduzida em ciclos subseqüentes de molhagem-secagem. 14 Deformação Negativa (µm/m) TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO 1000 Molhagem Secagem 800 Retração Reversível 600 400 Retração Irreversível 200 0 10 20 30 40 50 60 Retração Total 70 80 Tempo (dias) Figura 2.5 – Reversibilidade da retração por secagem. METHA e MONTEIRO (1994) A curva de fluência para o concreto sujeito a uma compressão uniaxial constante durante 90 dias e, após, descarregado é mostrado na Figura 2.6. Micro deformação Descarregamento Carregamento 1000 800 Recuperação Elástica 600 Recuperação da Fluência Deformação por Fluência 400 Fluência Irreversível 200 Deformação Elástica 0 20 40 60 80 100 120 Tempo de Carregamento (dias) Figura 2.6 – Reversibilidade da fluência. METHA e MONTEIRO(1994). Quando a amostra é descarregada, a recuperação instantânea ou elástica é aproximadamente da mesma ordem da deformação elástica resultante da primeira aplicação da carga. A recuperação instantânea é seguida por uma redução gradual da deformação chamada recuperação da fluência. Embora a recuperação da fluência ocorra mais TIPOS DE DEFORMAÇÕES NO CONCRETO 15 rapidamente que a fluência, a reversão da deformação por fluência não é total. Analogamente a retração por secagem, Figura 2.5, esse fenômeno é definido pelos termos correspondentes, fluência reversível e irreversível. No próximo capítulo serão comentados alguns fatores que influenciam, de forma significativa, no desenvolvimento da deformação por fluência. Esses fatores são, por exemplo, a umidade, a temperatura, os materiais, a geometria da peça, os aditivos e adições, entre outros. A importância do conhecimento de como tais fatores influenciam na deformação por fluência do concreto é de vital importância, pois, serão estes mesmos fatores que irão ditar como irá se comportar a estrutura, em relação a sua deformação por fluência, ao longo do tempo. Tais fatores se encontram apresentados no próximo capítulo. FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO 3 16 FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO Verifica-se, na prática, que a fluência depende de vários fatores relacionados entre si. Essa interligação proporciona uma abordagem um pouco complexa. Sendo assim, este capítulo abordará de forma bastante simples e restrita alguns dos principais fatores que afetam a fluência no concreto. Algumas características da fluência decorrem das propriedades intrínsecas das misturas, outras das condições externas. As variações da umidade na pasta endurecida de cimento, que essencialmente é quem controla as deformações de retração por secagem e de fluência no concreto, são influenciadas por numerosos fatores simultâneos inter-relacionados (METHA & MONTEIRO [1994]). 3.1. MATERIAIS E DOSAGEM Segundo NEVILLE [1997], deve ser notado que realmente é a pasta de cimento hidratado que apresenta fluência, sendo o papel do agregado basicamente o de contenção; os agregados não são sujeitos à fluência quando submetidos às tensões usuais no concreto. Assim, o autor afirma que a fluência é uma função do teor, em volume, da pasta de cimento no concreto, mas a dependência não é linear. Existe FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO 17 uma relação entre a fluência do concreto, o teor em volume de agregados e o teor em volume de cimento não hidratado. Essa função é descrita da seguinte forma: ⎛ cp log⎜⎜ ⎝ c ⎞ ⎛ ⎞ 1 ⎟⎟ = α log⎜⎜ ⎟⎟ ⎝1− g − u ⎠ ⎠ (3.1) onde: • c é a fluência do concreto; • g é o teor em volume de agregados; • u é o teor em volume de cimento não hidratado; • cp é a fluência da pasta de cimento com as mesmas características da usada no concreto; α= 3(1 − µ ) 1 + µ + 2(1 − 2 µ a ) E Ea (3.2) Nessa expressão, que se aplica a concretos com agregados leves ou agregados normais, µa é o coeficiente de Poisson do agregado, µ é o coeficiente de Poisson do concreto, Ea é o modulo de elasticidade do agregado e E é o modulo de elasticidade do concreto. METHA & MONTEIRO [1994] relatam que a granulometria, dimensão máxima, forma e textura do agregado também são fatores bastante significativos para a fluência no concreto que geralmente é caracterizada pela influência direta do módulo de deformação do agregado. Existem alguns fatores físicos do agregado que exercem uma forte representatividade sobre a fluência, um dos mais importantes deles é o módulo de elasticidade, NEVILLE [1997]. NEVILLE [1997] mostra resultados muito importantes em concretos com idade após 20 anos de conservação, mantidos a 50% de umidade relativa e a 21ºC, Figura 3.1. 18 FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO A EQUIPE DE FURNAS [2000] afirma que na maioria de suas investigações a fluência foi estudada, experimentalmente, com o objetivo de se determinar uma dependência com as diversas propriedades do concreto. Desse modo foi constatado que a fluência diminui com o aumento do diâmetro máximo do agregado (Dmáx). A fluência varia com a forma do agregado e esta será maior para concretos com agregados britados. Foi constatado que a fluência do concreto aumentou 2,5 vezes quando um agregado com alto módulo de elasticidade foi substituído por um agregado com baixo módulo de elasticidade. 1600 Calcário Quartzo Granito Seixo Arenito Fluência - 10-6 1200 800 400 0 10 28 90 1 Dias 2 5 10 20 30 Ano Tempo a partir do carregamento (log) Figura 3.1 – Fluência de concretos com diversos agregados com a mesma proporção, carregados à idade de 28 dias. NEVILLE (1997) 3.2. UMIDADE DO AR E TEMPERATURA NEVILLE [1997] afirma que um dos fatores mais importantes que atuam sobre a fluência é a umidade relativa do ar que envolve o concreto, isso quer dizer que para se obter uma menor fluência, o concreto deve, teoricamente, ser exposto em ambientes com altos níveis de umidade. Isso é ilustrado na Figura 3.2 para peças curadas a umidade relativa de 100% e depois carregadas e expostas a diversas umidades. 19 FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO 1200 Umidade Relativa Fluência - 10-6 800 50% 70% 100% 400 0 10 28 Dias 90 1 2 5 10 20 30 Ano Tempo a partir do carregamento (log.) Figura 3.2 – Fluência em concretos carregados e mantidos em diferentes umidades relativas. NEVILLE (1997) Segundo METHA & MONTEIRO [1994] espera-se que um aumento na umidade atmosférica torne mais lenta a taxa relativa do fluxo de umidade do interior para as superfícies externas do concreto. À umidade relativa de 100%, admite-se que o coeficiente de fluência seja 1, aumentando para 2 à uma umidade relativa de 80% e 3 à umidade relativa de 45%. A influência da umidade relativa é muito menor, ou nenhuma, no caso de elementos que tenham atingido o equilíbrio higroscópico com o meio antes da aplicação da carga. Com relação à temperatura, a fluência será tanto maior quanto maior for a temperatura durante o carregamento. METHA & MONTEIRO [1994] relatam que se uma peça de concreto é exposta a uma temperatura maior que a ambiente como parte processo de cura, antes de ser carregada, a resistência aumentará e a deformação por fluência será um tanto menor do que de um concreto armazenado a uma temperatura mais baixa. Por outro lado, a exposição à alta temperatura, durante o período em que o concreto está sendo carregado, pode aumentar a fluência. Para temperaturas abaixo de 5ºC, a deformação lenta praticamente cessa. Por outro lado, para temperaturas acima de 20ºC a fluência aumenta. Este fato é notado FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO 20 principalmente em pontes, nas quais o concreto do tabuleiro, sobre o qual existe uma camada de asfalto, atinge temperaturas acima de 40ºC quando exposto à radiação solar durante um longo tempo, EQUIPE DE FURNAS [2000]. 3.3. ADIÇÕES E ADITIVOS Os aditivos e adições também influenciam o resultado final da deformação lenta. METHA & MONTEIRO [1994] comentam que tais aditivos ou adições como cloreto de cálcio, escória granulada e pozolanas tendem a aumentar o volume de poros finos no produto da hidratação do cimento. Uma vez que a fluência no concreto é associada diretamente à água contida em pequenos poros (de 3 a 20nm), concretos contendo adições capazes de refinar estes poros, normalmente apresentam retração por secagem e fluência maiores. Aditivos redutores de água e retardadores de pega, que são capazes de causar uma melhor dispersão de partículas de cimento anidro na água, também levam a um refinamento dos poros no produto de hidratação. Em geral, espera-se que aditivos que aumentem a retração por secagem aumentem a fluência, METHA & MONTEIRO [1994]. NEVILLE [1997] afirma que o efeito da resistência do concreto no momento de aplicação da carga sobre a fluência vale também quando se usam diferentes materiais cimentícios. De outro modo não seriam possíveis generalizações sobre a fluência de concretos com cinzas volantes ou escórias granuladas de alto forno, pois a literatura relata pesquisas feitas em diferentes condições de ensaio. Pode-se dizer com confiança que o modelo da evolução da fluência e da recuperação não é alterado pela presença de cinza volante classe C ou Classe F, escoria granulada de alto forno ou sílica ativa, ou mesmo uma combinação desses materiais. No entanto, pode haver algum efeito da pasta de cimento sobre a fluência resultante da inclusão de vários materiais cimentícios. O efeito sobre a fluência por secagem, onde são importantes a permeabilidade e a difusividade da pasta de cimento hidratado, pode ser diferente do efeito sobre a fluência básica. Por exemplo, 21 FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO o uso de escória de alto forno pode levar a uma fluência básica menor, porém com aumento da fluência por secagem. Deve ser lembrado que os diferentes materiais cimentícios têm diferentes velocidade de reação e, portanto, aumentos de resistências diferentes enquanto o concreto estiver sob carga. 3.4. GEOMETRIA DA PEÇA A espessura de uma peça de concreto tem grande influência no valor e na variação da fluência. As peças espessas apresentam um menor valor de fluência em comparação com as delgadas, isso se deve ao fato de que a secagem no interior é mais demorada do que na parte externa da peça. À uma umidade relativa mantida constante, tanto a forma quanto o tamanho da peça influenciam diretamente na magnitude da retração e da fluência, EQUIPE DE FURNAS [2000]. Coeficiente de Fluência (10-6 MPa) 2.2 50% 2.0 1.8 70% 1.6 1.4 1.2 0 90% 100 200 300 400 500 Espessura Teórica (mm) Figura 3.3 – Influência do tamanho da peça e da umidade relativa no coeficiente de fluência. CEB-FIB 1990. METHA & MONTEIRO [1994] classificam por espessura teórica ou efetiva os parâmetros de tamanho e forma da peça usados para expressar uma única quantidade, que é igual a área da seção dividida pelo semiperímetro em contato com FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO 22 a atmosfera. Essa relação entre espessura teórica e coeficiente de fluência é mostrada na Figura 3.3. 3.5. INTENSIDADE DO CARREGAMENTO Quanto maior for a intensidade da carga aplicada numa estrutura de concreto maior será sua deformação por fluência, ou seja, a fluência é proporcional à carga aplicada para tensões variando entre 40% e 50% da resistência a compressão do concreto. Deve-se também lever em consideração o tempo de sua aplicação. 3.6. EFEITOS DA FLUÊNCIA SOBRE AS ESTRUTURAS A deformação por fluência afeta de forma bastante significativa o deslocamento vertical (flecha) e, muitas vezes também, a distribuição de tensões em estruturas de concreto armado ou protendido. No caso de concreto simples a fluência não altera a resistência do material, embora sob tensões muito elevadas possa abreviar a aproximação de deformação limite na qual ocorre a ruptura. Isto pode ocorrer quando a carga aplicada for superior a um valor entre 85% e 90% da carga limite (resistência do material), NEVILLE [1970]. Para o concreto massa a fluência também é um parâmetro muito importante, pois o seu efeito resulta na relaxação das tensões de origem térmicas oriundas do resfriamento do concreto. O concreto, logo após lançado, sofre uma elevação de temperatura devido ao desenvolvimento do calor gerado pelas reações exotérmicas de hidratação do cimento, atinge a temperatura máxima e inicia o resfriamento para entrar em equilíbrio térmico com o ambiente. Na fase de aquecimento não existe a possibilidade de fissuração, pois as tensões iniciais são de compressão. Com o passar do tempo, devido ao resfriamento, estas tensões de compressão são aliviadas e instalam-se tensões de tração. Esse fenômeno pode provocar fissuras antes mesmo FATORES QUE AFETAM A FLUÊNCIA NO CONCRETO 23 que a temperatura tenha se equilibrado com o ambiente, EQUIPE DE FURNAS [2000]. A relevância em se fazer comentários sobre as propriedades que influenciam a deformação por fluência neste capítulo vem do fato de que, tanto a norma NBR 6118/2003 como o programa DIANA levam em consideração estas propriedades no desenvolvimento de seus cálculos para o estudo da fluência. Como ambos serão utilizados para a elaboração deste trabalho, achou-se de maneira fundamental o comentário destas propriedades. Nos próximos capítulos serão descritas algumas representações matemáticas que descrevem o fenômeno da fluência. MODELOS REOLÓGICOS 4 24 MODELOS REOLÓGICOS Entende-se por modelos reológicos todos aqueles que simulam o comportamento de um determinado material ao longo do tempo. A reologia constitui-se no estudo do comportamento dos materiais por meio de modelos de representação, onde são levados em conta fenômenos como elasticidade, viscosidade e plasticidade. A idéia de simular o comportamento das deformações do concreto ao longo do tempo já vem sendo estudada por vários anos. Diversas tentativas foram realizadas para simular essas deformações por vários modelos reológicos constituídos de elementos de mola ou amortecedor. Cada um desses elementos representa uma deformação característica específica de um dado componente ou de uma fase do concreto. Essa aproximação é, na maioria das vezes, empírica e seu sucesso depende da habilidade em atribuir a uma parte da deformação no concreto um dado elemento do modelo. Em outra tentativa, o número de elementos reológicos é combinado simplesmente para aproximar ensaios reais de deformação sem considerar o seu significado físico, NEVILLE [1983]. Outra aproximação considera um pouco mais que um ajuste de equações e sua utilidade encontra-se principalmente em facilitar 25 MODELOS REOLÓGICOS uma solução de equações diferenciais envolvendo tempo, tensão e deformação ou suas derivadas parciais. A solução dessas equações considera a deformação como uma função da tensão e do tempo (i.e., equação da fluência) ou a tensão como uma função da deformação e do tempo (i.e., equação de relaxação). 4.1. VISCOELASTICIDADE O estudo da viscosidade é bem difundido em mecanismos relacionados a líquidos, porém, existem estudos atuais onde estas considerações são aplicadas também em materiais sólidos. A viscosidade nos sólidos trata-se de um fenômeno caracterizado pelo aparecimento de deformações não imediatas, ou também chamadas de deformações dependentes do tempo. Tais deformações não aparecem simultaneamente com a aplicação de tensões, mas sim com o decorrer do tempo. O comportamento de um material viscoelástico sob carregamento uniaxial pode ser bem representado por meio de modelos compostos de elementos de mola e de um cilindro com êmbolo perfurado, imerso em um líquido viscoso chamado de amortecedor, conforme esquematizado na Figura 4.1. Esses modelos são particularmente úteis do ponto de vista didático. (a) (b) Figura 4.1 – Representação esquemática dos elementos reológicos: (a) mola; (b) amortecedor. METHA & MONTEIRO [1994] classificaram dois experimentos que podem ser estudados para o comportamento viscoelástico unidimensional do concreto: • o ensaio de fluência, no qual a tensão é mantida constante, e é registrado o aumento de deformação ao longo do tempo; • o ensaio de relaxação, no qual a deformação é mantida constante, e é registrada a diminuição da tensão ao longo do tempo. MODELOS REOLÓGICOS 26 4.2. MODELOS REOLÓGICOS BÁSICOS Para uma melhor obtenção de resultados, no que se refere à deformação de materiais sólidos como o concreto, é necessário que sejam caracterizados modelos mais refinados que, de forma mais realista, definam o comportamento de tais materiais. Os modelos reológicos básicos são definidos por relações matemáticas simples e suas combinações dão origem a modelos mais complexos, permitindo com isso a obtenção de modelos de representação para tais materiais. O comportamento viscoelástico dos materiais pode ser eficientemente estimado pela criação de modelos reológicos baseados em dois elementos fundamentais: • um segmento de mola definido na Figura 4.1 (a); • um segmento de pistão lubrificado definido na Figura 4.1 (b). As deformações obtidas no segmento de mola são classificadas como elásticas e as deformações definidas pelo segmento de pistão lubrificado são definidas como viscosas. Os corpos que apresentam essas propriedades são tratados na literatura como sólido Hookneano e Líquido Newtoneano, respectivamente. Para o segmento de mola, que representa um corpo elástico perfeito, uma vez que a deformação é totalmente reversível, a relação entre tensão e deformação é expressa pela lei de Hook: σ (t ) = E.ε (t ) (4.1) A resposta da mola à tensão é imediata e, durante o ensaio de fluência, quando a tensão σo é mantida constante a deformação será σo/E e constante ao longo do tempo como mostrado na Figura 4.2. 27 MODELOS REOLÓGICOS ε σο / E t Figura 4.2 – Curva de deformação tempo no elemento de mola para fluência. O pistão lubrificado, representado pelo elemento amortecedor, pode ser visualizado como um macaco que desloca um fluido viscoso em um cilindro com fundo vazado. Usando a lei de Newton para a viscosidade temos: σ (t ) = η.ε&(t ) (4.2) onde: η é o coeficiente de viscosidade do fluido; 1 η é a fluidez; ε&(t ) = dε = é a taxa de deformação. dt A lei de Newton estabelece que a taxa de deformação sobre a relaxação é proporcional à tensão; em conseqüência, para um experimento de fluência, o amortecedor irá deformar a uma taxa constante, como mostra a Figura 4.3. Entretanto, para um experimento de relaxação, com a aplicação de uma deformação instantânea constante, a tensão variará com o tempo. Elementos reológicos básicos acabam sendo utilizados de maneira que, por meio de suas combinações em série ou em paralelo possa retratar de forma mais realista mecanismos viscoelásticos. 28 MODELOS REOLÓGICOS ε t Figura 4.3 – Curva de Deformação-Tempo no amortecedor para um ensaio de fluência. 4.2.1. MODELO VISCOELÁSTICO DE MAXWELL Por meio de combinações dos modelos de mola e amortecedor descritos anteriormente, pode-se estabelecer formulações complexas para o comportamento de diversos materiais. η E σ σ εe εv Figura 4.4 – Representação do modelo viscoelástico de Maxwell. O modelo de Maxwell é representado por uma mola de um amortecedor, ambos conectados em série, Figura 4.4. A deformação do modelo é dada pela soma das deformações elástica e viscosa, sendo a tensão igual para os dois elementos. As seguintes equações se aplicam ao modelo: Equação de Equilíbrio σ (t ) = σ e (t ) = σ v (t ) (4.3) Equação de Compatibilidade ε (t ) = ε e (t ) + ε v (t ) (4.4) Equação Constitutiva – mola σ e (t ) = E.ε e (t ) (4.5) Equação Constitutiva – amortecedor σ v (t ) = η.ε& v (t ) (4.6) 29 MODELOS REOLÓGICOS Onde σ , σ e , σ v , ε , ε e , ε v são, respectivamente, as tensões total, elástica e viscosa e a deformação total, elástica e viscosa. O modelo prevê um aumento da deformação sem limites. Isto é uma característica de muitos fluidos e, por essa razão, o material descrito na equação é conhecido como fluido de Maxwell. Se após o experimento de fluência, o sistema é descarregado no tempo t1, a deformação elástica na mola recupera-se instantaneamente, enquanto que a deformação permanece no amortecedor. A Figura 4.5 apresenta a curva Deformação-Tempo. ε Carregamento Descarregamento ε0 t Figura 4.5 – Representação da curva deformação-tempo no modelo viscoelástico de Maxwell 4.2.2. MODELO VISCOELÁSTICO DE KELVIN-VOIGT O modelo de Kelvin-Voigt é representado por uma mola de um amortecedor, ambos conectados em paralelo (Figura 4.6). A deformação do modelo é igual para os dois elementos, sendo que a tensão total é dada pela soma das tensões elástica e viscosa. Assim, as seguintes equações se aplicam ao modelo: Equação de Equilíbrio σ (t ) = σ e (t ) + σ v (t ) (4.11) Equação de Compatibilidade ε (t ) = ε e (t ) = ε v (t ) (4.12) Equação Constitutiva – mola σ e (t ) = E.ε e (t ) (4.13) Equação Constitutiva – amortecedor σ v (t ) = η.ε& v (t ) (4.14) 30 MODELOS REOLÓGICOS Onde σ , σ e , σ v , ε , ε e , ε v são, respectivamente, as tensões total, elástica e viscosa e deformações total, elástica e viscosa. A Figura 4.7 apresenta a curva Deformação-Tempo para o modelo viscoelástico de Kelvin-Voigt. η σ σ E Figura 4.6 – Representação do modelo viscoelástico de Kelvin-Voigt. ε Carregamento Descarregamento σ0/E t Figura 4.7 – Representação da curva deformação-tempo no modelo viscoelástico de Kelvin-Voigt. Como foi discutido anteriormente, o modelo de Maxwell mostra uma taxa de deformação constante sob tensão constante, o que pode se adequar para fluidos, mas não para sólidos. Já o modelo de Kelvin-Voigt não mostra a deformação permanente após o descarregamento, caracterizando uma deformação elástica. Assim, a conclusão tirada é que ambos os modelos não representariam de forma correta a deformação por fluência no concreto. Deste modo, foi desenvolvido um modelo chamado de modelo de três parâmetros ou modelo de Boltzmann que será descrito a seguir. MODELOS REOLÓGICOS 31 4.2.3. MODELO VISCOELÁSTICO DE TRÊS PARÂMETROS Na tentativa de explicar o fenômeno da fluência no concreto, surgiram diferentes modelos viscoelásticos. Para uma melhor representação desse fenômeno no concreto, Boltzmann criou um modelo que leva em consideração a capacidade de simular deformações elásticas instantâneas, além de ficar caracterizado a igualdade das tensões nos trechos elásticos e viscoelástico. O modelo viscoelástico de Boltzmann é representado pelo arranjo em série do modelo de Kelvin-Voigt com uma mola como mostra a Figura 4.8. Sendo as deformações ε0 e ε1 a deformação da mola e do elemento de Kelvin-Voigt, respectivamente. Assim, as seguintes equações se aplicam ao modelo de Boltzmann: Equação de Equilíbrio σ (t ) = σ e (t ) = σ v (t ) (4.18) Equação de Compatibilidade ε (t ) = ε 0 (t ) + ε 1 (t ) (4.19) Equação Constitutiva – mola σ e (t ) = E 0 .ε 0 (t ) (4.20) Equação Constitutiva – Kelvin σ v (t ) = E1 .ε 1 + η.ε&1 (t ) (4.21) Onde σ , σ e , σ v são, respectivamente, as tensões total, elástica e viscosa, ε , ε 0 , ε 1 são, respectivamente as deformações total, da mola e do elemento de KelvinVoigt e E1 , E 2 ,η são, respectivamente, o módulo de deformação do modelo elástico e o módulo de deformação e a viscosidade do modelo de Kelvin-Voigt. Porém, esse modelo assim como os outros dois citados anteriormente, possui uma limitação: a representação do modelo de três parâmetros ou modelo de Boltzmann não caracteriza de forma adequada a deformação por fluência quando na estrutura ocorrer um descarregamento. 32 MODELOS REOLÓGICOS η E0 σ σ E1 ε0 ε1 Figura 4.8 – Representação do modelo viscoelástico de Boltzmann. A Figura 4.9 apresenta a curva de Deformação-Tempo que representa o fenômeno da fluência, porém, como já dito anteriormente, essa representação só é bem aceita para casos onde não haja descarregamento. ε σ0/E∞ σ0/E0 σ0/E0 t Figura 4.9 – Representação da curva deformação-tempo no modelo viscoelástico de Três Parâmetros. 4.2.4. MODELO VISCOELÁSTICO DE BURGER Este modelo foi criado para melhor caracterizar a irreversibilidade da deformação por fluência em modelos reológicos. O modelo viscoelástico de Burger é composto por um modelo de Maxwell em série com um modelo de Kelvin-Voigt. A Figura 4.10 mostra a representação do modelo por meio de segmentos de mola e amortecedor. 33 MODELOS REOLÓGICOS η2 σ E1 σ η1 E2 ε1 ε2 εM ε3 εK Figura 4.10 – Representação do modelo viscoelástico de Burger. A mola e o amortecedor do modelo de Maxwell são considerados como dois elementos individuais, sendo as deformações εM e εK a deformação do elemento de Maxwell e do elemento de Kelvin, respectivamente. Deste modo, as seguintes equações se aplicam ao modelo de Burger: Equação de Equilíbrio σ (t ) = σ M (t ) = σ K (t ) (4.18) Equação de Compatibilidade K ε(t ) = ε1M ( t ) + ε M 2 ( t ) + ε 3 (t ) (4.19) Equação Constitutiva – Mola σ1M (t ) = E 1 .ε1 (t ) (4.20) Equação Constitutiva – Amortecedor σM 2 (t ) = η1 .ε 2 (t ) Equação Constitutiva – Kelvin σ K (t ) = E 2 .ε 3 + η 2 .ε& 3 (t ) (4.21) Onde σ, σ M , σ K são, respectivamente, as tensões total, do elemento de Maxwell e do elemento de Kelvin e ε, ε1 , ε 2 e ε 3 são, respectivamente, as deformações total, deformação da mola do elemento de Maxwell, deformação do amortecedor do elemento de Maxwell e deformação do elemento de Kelvin e E 1 e E 2 são respectivamente, o módulo de deformação do modelo de Maxwell e o módulo de deformação do modelo de Kelvin e η1 e η 2 são as viscosidades do modelo de Maxwell e do modelo de Kelvin, respectivamente. 34 MODELOS REOLÓGICOS O modelo de Burger é um modelo que caracteriza tanto no carregamento quanto no descarregamento o comportamento correto da deformação no tempo para o concreto.A representação gráfica deste modelo é mostrada na Figura 4.11. Carregamento Descarregamento σ0/E∞ Recuperação Elástica Recuperação da Fluência σ0/E0 Fluência Irreversível t Figura 4.11 – Representação da curva deformação-tempo no modelo viscoelástico de Burger . A utilização desse modelo somente se faz necessária se na caracterização do ensaio for preciso medir a deformação devido ao descarregamento da estrutura, pois é um modelo especifico para caracterizar tal comportamento. Não havendo a necessidade de verificar as deformações devido ao descarregamento, o modelo de Boltzmann pode ser aplicado gerando bons resultados com o mínimo de complexidade no que diz respeito ao equacionamento matemático. As propriedades mecânicas do concreto mudam com o tempo devido à reação de hidratação. Entretanto, nos modelos apresentados aqui, tanto o módulo de elasticidade (E) como o coeficiente de viscosidade (η), se mantiveram constantes ao longo do tempo. Em conseqüência disso, as respostas obtidas pelos modelos apresentados anteriormente têm sucesso limitado. Nos próximos capítulos serão apresentados três tipos de representação do fenômeno da fluência por meio de modelos matemáticos, são eles: função de fluência e coeficiente de fluência, equações algébricas e diferenciais e a formulação e o ensaio proposto por normas, NBR 6118/2003 e NBR 8224/1983, respectivamente. FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA 5 35 FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA Neste capítulo será discutido como se caracteriza uma função de fluência e um coeficiente de fluência, e qual a melhor forma de utilização para os dois. Vários são os fatores que afetam a fluência no concreto, como mostrado no Capítulo 3. A representação de cada um desses fatores para uma formulação que possa reproduzir de forma precisa tal fenômeno, leva a uma significativa dificuldade. De forma mais prática, a utilização de métodos aproximados e simplificados para análise da fluência vem demonstrando valores bastante satisfatórios, NEVILLE [1983]. A importância em ressaltar as características de tal função, deve-se à utilização similar da mesma no equacionamento proposto pela NBR 6118 [2003], apresentado posteriormente no Capítulo 6. O objetivo da função de fluência é representar, de forma mais clara, o comportamento do concreto quando comparado a ensaios experimentais. Assim, a função de fluência pode ser descrita como uma função que relaciona a deformação total sofrida pelo concreto em uma determinada idade t, devido à aplicação de um carregamento constante no instante t0. METHA & MONTEIRO [1994] comentam que em algumas décadas atrás, o ajuste de curvas de fluência era feito manualmente, deste modo, os pesquisadores usavam a intuição e a experiência para selecionar 36 FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA funções simples. Hoje, com o avanço da tecnologia, qualquer computador pessoal pode fazer o ajuste dessas curvas. CREUS [1986] cita que as propriedades da fluência são usualmente determinadas pela medida ao longo do tempo da deformação de corpos-de-prova cilíndricos ou prismáticos sob carregamento à compressão constante. A função de fluência Φ∗ é determinada como a diferença por unidade de tensão entre a deformação no carregamento e no descarregamento, considerado como um único efeito de tensão. Para o estudo da variação no desenvolvimento da fluência, é necessário obter uma função que descreva tal deformação para um determinado tempo t, após aplicação de uma carga unitária e constante no instante t0, onde t > t0. Assim, de maneira genérica, a função de fluência é representada esquematicamente na equação 5.1a. Φ (t , t 0 ) = 1 [ε e ( t, t 0 ) + ε c ( t, t 0 )] σ0 (5.1a) Se relacionada à função de fluência com a deformação elástica e por fluência, temos: Φ (t , t 0 ) = 1 + C (t , t 0 ) E (t 0 ) (5.1b) onde: • Φ(t,t0) é a função de fluência; • C(t,t0) é a fluência específica no instante t quando o concreto é submetido a uma tensão no instante t0; • E(t0) é o módulo de elasticidade do concreto no instante t0; • εe é a deformação elástica no instante da aplicação do carregamento; • εc é a deformação por fluência; • σ0 é a tensão aplicada de forma constante. ∗ Na literatura, a função de fluência pode, freqüentemente, ser adotada como J(t,τ), ao invés de Φ(t,t0). 37 FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA A Figura 5.1 representa a curva da função de fluência, onde é mostrada a Função de Fluência evolução da mesma com o passar do tempo. Φ(t,t0) C(t,t0) 1/E(t0) t0 t tempo Figura 5.1 – Representação da curva de função de fluência. Entretanto, testes mostraram que a deformação por fluência (εc) pode ser, de maneira aproximada, proporcionalmente dependente da deformação elástica (εe). Esta relação linear tem se mostrado bastante satisfatória em elementos estruturais submetidos à compressão ou tração, e também para flexão, desde que sob tensões normais de serviço (0,4 a 0,5 do fck). Tensões para o concreto acima desse valor estarão associadas a um relativo aumento de fluência. A relação entre a deformação por fluência e a deformação elástica, é definida como coeficiente de fluência φ como segue abaixo: φ (t , t 0 ) = ε c (t , t 0 ) ε e (t 0 ) (5.2a) A equação 5.2a pode ser representada de outra forma, partindo da introdução do parâmetro de fluência específica, que representa a deformação por fluência devido a uma tensão constante. φ (t , t 0 ) = C (t , t 0 ).E (t 0 ) (5.2b) A Figura 5.2 apresenta a variação do coeficiente de fluência com o tempo. Coeficiente de Fluência FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA 38 φ(t,t0) C(t,t0).E(t,t0) t0 t tempo Figura 5.2 – Representação da curva de coeficiente de fluência. Relacionando as equações (5.1a) e (5.2a) podemos, deste modo, encontrar uma correlação entre a função de fluência e o coeficiente de fluência como: Φ (t , t 0 ) = 1 [1 + φ (t , t 0 )] E (t 0 ) (5.3) NEVILLE [1983] especifica que, quando o coeficiente de fluência é definido como a relação entre deformação por fluência observada em um tempo t e a deformação elástica aos 28 dias, usa-se a simbologia Φ28(t,t0) ao invés de Φ(t,t0) e a função de fluência é escrita da seguinte forma: Φ 28 (t , t 0 ) = φ (t , t ) 1 + 28 0 E (t 0 ) E 28 (5.4) Claramente a relação entre os dois coeficientes de fluência é: φ (t , t 0 ) = φ 28 (t , t 0 ) E (t 0 ) E 28 (5.5) Alguns dos métodos usados para a análise da fluência (como os métodos de “taxa de fluência” e “taxa do fluxo de fluência”) dependem completamente de uma formulação particular da função de fluência, considerando que outros métodos podem usar qualquer função de fluência ou até mesmo curvas de ensaios experimentais que não são prontamente expressas por uma única função de fluência. NEVILLE [1983] também explica que existem duas escolas de pensamento considerando a formulação de função de fluência. A primeira tenta representar FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA 39 curvas de fluência do concreto, obtidas experimentalmente, como produto de funções da idade da aplicação da carga e do tempo de duração do carregamento. Essa interpretação de cálculo da função de fluência é caracterizada como métodos produtórios. A representação deste método é dada pela equação 5.6. Φ (t , t 0 ) = 1 [1 + K 0. f (t , t 0 ).g (t − t 0 )] E (t 0 ) (5.6) onde: • E(t0) é o modulo de elasticidade do concreto na idade t0; • Κ0 é uma constante; • f(t,t0) é uma função que expressa o efeito da idade do concreto, sob a ação de um carregamento aplicado no instante t0; • g(t-t0) é uma função que expressa o desenvolvimento da fluência com o tempo sob ação de carregamento; NEVILLE [1983] cita que este tipo de função de fluência foi usada pelo CEB-FIB em 1964, 1970 e 1990, e também pelo ACI em 1971. A segunda escola leva em consideração que a fluência é a soma de duas parcelas (ou mais), isto é, uma parcela considerada lenta reversível e uma outra parcela considerada lenta irreversível. Uma característica especial desta formulação é a consideração de que a parcela lenta reversível é assumida como independente da idade de aplicação do carregamento e da idade do concreto e a parcela considerada lenta irreversível é representada por um conjunto de curvas paralelas, ou seja, para qualquer instante t a velocidade de desenvolvimento da fluência no concreto é independente da idade de aplicação do carregamento. Estas suposições são chamadas de métodos somatórios e correspondem a seguinte formulação de uma função de fluência: Φ (t , t 0 ) = 1 + K1. f (t − t 0 ) + K 2 .[ g (t ) − g (t 0 )] E (t 0 ) onde: • K1 e K2 são constantes; (5.7) FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA 40 • f(t-t0) é uma função que descreve o desenvolvimento da parcela elástica retardada; • g(t)-g(t0) são funções que descrevem o desenvolvimento da deformação lenta irreversível com o tempo; A norma brasileira de concreto NBR 6118/2003 também utiliza este tipo de formulação em seus cálculos para a determinação da fluência. Existem, entretanto, um número de características importantes que são comuns em todos os métodos de análise de fluência. Todos eles assumem que a fluência varia linearmente com a tensão e eles todos obedecem ao princípio da superposição aplicado para o concreto por McHenry e Maslov. 5.1. MÉTODOS PARA ANÁLISE DA FLUÊNCIA Tentar simular o comportamento do concreto é muito difícil, não somente pela complexidade de suas propriedades, como também porque o concreto é geralmente utilizado armado (armadura ativa ou passiva). Desta maneira aqui são apresentados alguns métodos diferenciados de cálculo de deformações devido à fluência, que vieram ao longo do ultimo século a serem desenvolvidos e aprimorados por pesquisadores, os quais serão devidamente descritos a seguir. Existem vários métodos de análise da fluência. Estes por sua vez podem ser divididos em Métodos Algébricos e Métodos das Equações Integrais. 5.2. MÉTODOS ALGÉBRICOS Estes métodos algébricos admitem apenas aproximações na fase da análise estrutural em uma função de fluência dada. FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA 41 5.2.1. MÉTODO INCREMENTAL Este método tem aplicação genérica e independe do tipo da função de fluência e da forma de evolução nas variações de tensão. É adequado para os casos em que ocorrem variações aleatórias das tensões e deformações, OYAMADA [1998]. Sua formulação consiste em subdividir o tempo total de análise em pequenos intervalos, que deverão ser crescentes com o tempo. O total de deformação no final de um intervalo será a soma das deformações devidas aos incrementos de tensão, que são aplicados durante os intervalos anteriores. Entretanto, se houver uma variação brusca de tensão aplicada, um intervalo de duração zero deverá ser introduzido de forma que a função de fluência seja o inverso do módulo de elasticidade. Para melhores resultados, em casos de variação contínua de tensão, um intervalo de tempo deve ser escolhido de forma que o seu comprimento seja aproximadamente igual ao da escala logarítmica de tempo. 5.2.2. MÉTODO DO MÓDULO EFETIVO Proposto por FABER em 1927, o método do módulo efetivo consiste em analisar a fluência por meio da redução do módulo de elasticidade do concreto a partir de um fator que relaciona o coeficiente de fluência em um tempo t para um concreto carregado em um tempo t0. O módulo de elasticidade fictício (Ee) de um concreto submetido à tensão constante é dado pela seguinte expressão (OYAMADA [1998]): Ee = E(t 0 ) 1+ φ(t, t 0 ) (5.8) Este módulo de elasticidade fictício é usado apenas nas análises elásticas. Deste modo, a deformação por fluência na idade t depende exclusivamente do valor da tensão naquele instante, não considerando, portanto, o histórico de tensões. Assim, é dedutível que o método do módulo efetivo dá bons resultados somente quando a tensão do concreto não varia significativamente durante o período de FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA 42 observação e quando a influência da idade do concreto não é expressiva, caso em que o concreto se apresenta em idades avançadas. Quando consideradas situações de tensões decrescentes, as deformações são subestimadas e, em situação inversa, as deformações são superestimadas. Havendo remoção de tensão aplicada, temos uma completa recuperação das deformações OYAMADA [1998]. 5.2.3. MÉTODO DE TROST-BAZANT Este é um método prático para a determinação das deformações devidas às variações nas tensões aplicadas, ou tensões devidas às variações nas deformações aplicadas, foi proposto por TROST em 1967 e posteriormente aperfeiçoado por BAZANT em 1980 com a introdução do coeficiente de envelhecimento, e denominouo de método do módulo efetivo ajustado pela idade do concreto (OYAMADA [1998]). Após a definição do método do módulo efetivo (Ee) ocorreu, por TROST, uma pequena modificação no mesmo, onde o módulo de elasticidade (Eea) seria equivalente ao módulo efetivo, porém com uma singela correção no coeficiente de fluência conforme mostrado na seguinte expressão: Eea (t, t 0 ) = Ec (t 0 ) 1 + χ.φ(t, t 0 ) (5.9) O coeficiente de envelhecimento χ leva em consideração a idade do concreto quando da aplicação dos incrementos ou decrementos de tensões, que podem ocorrer após a aplicação da carga inicial. Da observação de resultados experimentais e estudos de TROST e BAZANT, conclui-se que um valor médio do coeficiente de envelhecimento χ = 0,82, pode ser usado para resolver os problemas usuais de estruturas sujeitas à fluência (OYAMADA [1998]). OYAMADA [1998] também cita que em seu trabalho original, TROST determinou um valor numérico para o coeficiente de envelhecimento, com base na função de fluência do CEB 1964 e com duas hipóteses: que a variação da FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA 43 deformação em conseqüência da alteração nas tensões segue a função de fluência e a que o módulo de elasticidade é constante. Assim, TROST observou que o coeficiente de envelhecimento depende do coeficiente de fluência e da idade do concreto quando aplicado à carga. O tempo de duração do carregamento tem apenas uma pequena influência na determinação do χ, podendo ser até desprezado (OYAMADA [1998]). 5.3. MÉTODOS DAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS Ao contrário dos métodos algébricos, que apenas admitem aproximações na fase da análise estrutural em uma função de fluência dada, os métodos das equações diferenciais resolvem a estrutura com maior exatidão, porém simplificam a função de tal forma que admita uma solução estrutural exata sem grandes dificuldades. 5.3.1. MÉTODO DE DISCHINGER OU MÉTODO DA RAZÃO DE FLUÊNCIA O método da razão de fluência foi estabelecido por GLANVILLE em 1930. Ele concluiu que por meio de dados experimentais retirados de ensaios em concretos “novos”, que, em qualquer idade t, a razão de fluência independe da idade de aplicação da carga. Isto significa que as curvas de fluência são paralelas para todas as idades de aplicação de carga. Com isso, uma única curva do coeficiente de fluência, determinada para uma tensão aplicada no instante t é suficiente para definir as demais curvas para todas as idades subseqüentes de aplicação do carregamento (t > t0). Assim, a função de fluência assume a seguinte forma para a tensão inicial aplicada no instante t0: Φ(t, t 0 ) = 1 1 ⎡ + C(t, t 0 ) = 1 + φ(t, t 0 ) ⎤⎦ E(t 0 ) E(t 0 ) ⎣ (5.10) Para uma subseqüente carga aplicada no instante t1>t0, temos: Φ(t, t 0 ) = 1 1 ⎡ + φ(t, t 0 ) - φ(t, t1 ) ⎤⎦ E(t1 ) E(t 0 ) ⎣ (5.11) 44 FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA Aplicando-se estas equações para o cálculo da deformação total no instante t devida a uma tensão σ0 constante entre t0 e t1, tempo: ε(t) = σ0 ⎡⎣Φ(t, t 0 ) - Φ(t, t1 ) ⎤⎦ ⎡ 1 ⎤ 1 1 + φ(t1 ,t 0 ) ⎥ ⎢⎣ E(t 0 ) E(t1 ) E(t 0 ) ⎥⎦ ε(t) = σ0 ⎢ (5.12) (5.13) Como E(t1) = E(t0), a deformação no instante t > t1, será: ε(t) = σ0 φ(t1 , t 0 ) E(t 0 ) (5.14) Verifica-se neste método, que a deformação após a remoção da tensão, permanece constante, o que significa que a parcela da fluência reversível, não é bem representada neste método. Obtêm-se bons resultados com a utilização do método da razão de fluência para cargas aplicadas em concretos novos, em contraste com o método do módulo efetivo cuja aplicação é adequada para concretos de idades avançadas. A utilização deste método para o cálculo da fluência é bastante difundida em vários códigos e normas no mundo inteiro. Como exemplo temos a norma Americana ACI-209, a norma Européia o CEB-FIB 1990 e a norma Brasileira NBR 6118/2004. 5.3.2. MÉTODO DA RAZÃO DE FLUÊNCIA LENTA IRREVERSÍVEL ENGLAND e ILLSTON (apud NEVILLE [1983]) propuseram representar a fluência como a soma de três componentes: a deformação elástica, a deformação rápida e a deformação lenta irreversível com o intuito de minimizar as deficiências do método da razão de fluência. Baseados em suas experiências e também nas de outros pesquisadores, ENGLAND e ILLSTON concluíram que a deformação rápida não é função da idade de aplicação da carga, e atinge seu valor final muito antes do que a fluência lenta irreversível. Segundo os autores a fluência lenta irreversível representa o componente irreversível da fluência total, da mesma forma que, no método da razão de fluência. FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA 45 As curvas de fluência lenta irreversível, de um elemento de concreto carregado por tensões unitárias em diferentes idades, são admitidas paralelas, significando que a razão de fluência lenta irreversível é a mesma em qualquer idade. Este método apresenta melhores resultados do que o método da razão de fluência, porque a parcela da fluência reversível em concretos jovens, quando são descarregados, é mais bem determinada. Entretanto, a função de fluência não representa corretamente a fluência do concreto jovem, carregado em idade t > t0, e a fluência em concreto de idade avançada fica muito subestimada. 5.3.3. MÉTODO DE DISCHINGER MELHORADO Neste método, admite-se que a parcela da deformação rápida se desenvolva com maior velocidade que a parcela de deformação lenta irreversível. Para possibilitar um tratamento analítico mais simples, L.F. NIELSEN (apud NEVILLE [1983]) propôs adicionar a parcela de deformação rápida na parcela de deformação elástica, e tratar a parcela da deformação lenta irreversível da mesma maneira que no método da razão de fluência. Com estas considerações temos que, para a carga inicial aplicada na idade t0, a função de fluência será expressa da seguinte forma: Φ(t,t 0 ) = 1 φf (t) - φf (t 0 ) + Ed E(t 0 ) (5.15) Onde Ed é o módulo de elasticidade fictício e: φ 1 1 = + d E d E(t 0 ) E(t 0 ) (5.16) NIELSEN recomendou φd = 1/3 e posteriormente, RUSCH propôs o valor de φd = 0,4 para (t-t’) > 90 dias, valor este adotado pelo CEB-FIB 1978. Pode-se dizer que o método de DISCHINGER constitui um método composto pelo método do módulo efetivo (EM method) e pelo método da razão de fluência (RC method). A vantagem deste método esta na simplicidade do tratamento analítico e dos bons resultados obtidos para os casos práticos, onde o tempo de aplicação da carga excede três meses. FUNÇÃO DE FLUÊNCIA E COEFICIENTE DE FLUÊNCIA 46 Em estudos realizados, OYAMADA [1998] comparou os vários métodos de aplicação para o estudo da fluência citados anteriormente. Nesse estudo, o autor comprova que nenhum destes métodos para análise da fluência pode ser considerado como exato. O mesmo cita que este fato não é de vital importância, visto que, na prática, sempre são necessárias hipóteses simplificadoras para facilitar a solução dos problemas. OYAMADA [1998] descreve que para os exemplos numéricos apresentados em seu trabalho, pode-se observar que por meio de uma formulação matemática muito mais simples, chegou-se a resultados de deformações muito próximos ao apresentado pelo Método da Razão de Fluência Lenta Irreversível, o qual apresenta menos simplificações e, conseqüentemente, melhores resultados. Este capítulo apresentou uma classificação das funções de fluência e dos métodos diferenciados de cálculo de deformação devido à fluência. A importância em citar tais funções e métodos de cálculo da fluência está em classificar e compreender quais destas funções e métodos estão sendo utilizados pelos programas e pela norma brasileira NBR 6118/2003. Isto é necessário para que seja possível haver um melhor entendimento no comportamento da fluência nestas análises. No próximo capítulo será apresentada a formulação para o cálculo da deformação por fluência proposta pela NBR 6118/2003, assim como a metodologia de ensaio para a determinação da fluência para concreto endurecido segundo a NBR 8224/1983. MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 6 47 MODELO DE FLUÊNCIA NBR 6118/2003 Neste capítulo será apresentada uma formulação para o cálculo da deformação ao longo do tempo (fluência) segundo a norma brasileira NBR 6118/2003 como também a descrição da realização de ensaio para a determinação do fenômeno da fluência para concreto endurecido segundo a NBR 8224/1983. Estas normas propõem o cálculo e o ensaio em peças de concreto para a determinação da fluência. Serão baseados na NBR 6118/2003 os cálculos de deformação e deslocamento para a viga proposta no próximo capítulo. Estes resultados, como já mencionado anteriormente, serão comparados com os resultados obtidos em análises numéricas por meio do Método dos Elementos Finitos (MEF) e em resultados experimentais de vigas em concreto armado. 6.1. FORMULAÇÃO PROPOSTA PELA NBR 6118/2003 Segundo a norma brasileira NBR 6118, em casos onde não seja necessária grande precisão de resultados, os valores finais do coeficiente de fluência ϕ(t,t0) e da deformação específica de retração εcs(t∞,t0) do concreto, submetido a tensões 48 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 menores que 0,5.fck quando do primeiro carregamento, podem ser obtidos, por interpolação linear, a partir da Tabela 6.1. Nos casos em que a tensão σc(t0) não varia significativamente, permite-se que essas deformações sejam calculadas pela expressão: ⎡ 1 ϕ (t ∞ , t 0 ) ⎤ ε c (t ∞ , t 0 ) = σ c (t 0 ).⎢ + ⎥ ⎣ E ci (t 0 ) E ci (28) ⎦ (6.1) onde: - εc(t∞,t0) é a deformação específica total do concreto entre os instantes t0 e t∞; - σc(t0) é a tensão do concreto devido ao carregamento aplicado em t0 submetido a uma tensão unitária no instante t0; - ϕ(t∞,t0) é o limite para o qual tende o coeficiente de fluência provocado por carregamento aplicado em t0; O valor de ϕ(t∞,t0) pode ser calculado pela interpolação da Tabela 6.1. Essa tabela fornece o valor característico superior de ϕ(t∞,t0) em algumas situações usuais. O valor característico inferior de ϕ(t∞,t0) é considerado nulo. Tabela 6.1 – Valores característicos superiores da deformação específica de retração εcs(t∞,t0) e do coeficiente de fluência ϕ(t∞, t 0). Umidade Ambiente % 40 (valor médio) Espessura Fictícia 75 90 20 60 20 60 20 60 20 60 5 4,4 3,9 3,8 3,3 3,0 2,6 2,3 2,1 30 3,0 2,9 2,6 2,5 2,0 2,0 1,6 1,6 t0 60 3,0 2,6 2,2 2,2 1,7 1,8 1,4 1,4 (dias) 5 -0,44 -0,39 -0,37 -0,33 -0,23 -0,21 -0,10 -0,09 30 -0,37 -0,38 -0,31 -0,31 -0,20 -0,20 -0,09 -0,09 60 -0,32 -0,36 -0,27 -0,30 -0,17 -0,19 -0,08 -0,09 2Ac/u (cm) ϕ(t∞, t 0) εcs(t∞,t0) 55 49 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 A Tabela 6.1 fornece o valor do coeficiente de fluência ϕ(t∞,t0) e da deformação específica εcs(t∞,t0) em função de umidade ambiente e da espessura equivalente 2Ac/u , onde Ac é a área da seção transversal e u é o perímetro da seção em contato com a atmosfera. Os valores desta tabela são relativos à temperatura do concreto entre 10ºC e 20ºC, podendo, entretanto, admitir temperaturas entre 0ºC e 40ºC. Esses valores são válidos para concretos de cimento Portland comum. Deformações específicas devidas à fluência e à retração mais precisas podem ser calculadas segundo indicações do ANEXO A da NBR 6118/2003 ou como segue abaixo. 6.2. EFEITO DO TEMPO NO CONCRETO ESTRUTURAL – NBR 6118/2003 A norma brasileira estabelece que dados usados no seu Anexo A têm caráter informativo e podem, na falta de dados melhores, ser usados no projeto de estruturas de concreto. Quando não há impedimento à livre deformação do concreto e a ele é aplicado, no tempo t0, uma tensão constante no intervalo t-t0, sua deformação total no tempo t vale: ε c (t ) = ε c (t 0 ) + ε cc (t ) + ε cs (t ) ε c (t 0 ) = (6.2) σ c (t 0 ) (6.3) E ci (t 0 ) ⎡σ c (t 0 ) ⎤ ⎥ϕ (t , t 0 ) ⎣ E ci 28 ⎦ ε cc (t ) = ⎢ (6.4) onde: - εc(t0) é a deformação imediata, por ocasião do carregamento, com Eci(t0) calculado, para j = t0, pela expressão: E ci (t 0 ) = 5600. f ckj 0,5 ; - εcc(t0) é a deformação por fluência, no intervalo de tempo (t,t0), com Eci28 calculado pela mesma expressão para j = 28 dias; - εcs(t) é a deformação por retração, no intervalo de tempo (t,t0). 50 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 A norma afirma que a deformação do concreto por fluência (εcc), compõe-se de duas parcelas, uma rápida e outra lenta. A deformação rápida (εcca) é irreversível e ocorre durante as primeiras 24 horas após a aplicação da carga que a originou. A deformação lenta por sua vez é composta por duas parcelas: a deformação lenta irreversível (εccf) e a deformação lenta reversível (εccd). ε cc = ε cca + ε ccf + ε ccd (6.5) ε c,tot = ε c + ε cc = ε c (1 + ϕ ) (6.6) ϕ = ϕa + ϕf + ϕd (6.7) onde: - ϕa é o coeficiente de deformação rápida; - ϕf é o coeficiente de deformação lenta irreversível; - ϕd é o coeficiente de deformação lenta reversível; As hipóteses adotadas pela norma para o cálculo do efeito da fluência, quando as tensões no concreto são as de serviço, são as seguintes: a) a deformação por fluência εcc varia linearmente com a tensão aplicada; b) para acréscimos de tensões aplicados em instantes distintos, os respectivos efeitos de fluência se superpõem; c) a deformação rápida produz deformações constantes ao longo do tempo; os valores do coeficiente já são função da relação entre a resistência do concreto no momento da aplicação da carga; d) o coeficiente de deformação lenta reversível ϕd depende apenas da duração do carregamento; o seu valor final e o seu desenvolvimento ao longo do tempo são independentes da idade do concreto no momento de aplicação da carga; e) o coeficiente de deformação lenta irreversível ϕf depende de: − umidade relativa do ambiente (U); − consistência do concreto; 51 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 − espessura fictícia da peça hfic; − idade fictícia do concreto no instante da aplicação da carga; − idade fictícia do concreto no instante considerado; f) para o mesmo concreto, as curvas de deformação lenta irreversível em função do tempo, correspondentes a diferentes idades do concreto no momento do carregamento, são obtidas, umas em relação às outras, por deslocamento paralelo ao eixo das deformações conforme a Figura 6.1. Uma observação bem pertinente pode ser feita com relação à função estabelecida pela norma, para a obtenção da deformação lenta irreversível. Pela norma as curvas de deformação (Figura 6.1) são consideradas paralelas, ou seja, a cada intervalo de tempo tomado, o comportamento da curva é o mesmo e independente desse tempo. Deste modo, é evidenciada a não caracterização do comportamento do concreto, uma vez que, existindo o aumento da resistência do Deformação Lenta Irreversível material com o tempo, estas curvas não poderiam ser paralelas. εccf t1 t2 t3 tempo t Figura 6.1 – Variação εccf (t) Em um instante t, a deformação devida à fluência é dada por: ε cc (t, t 0 ) = ε cca + ε ccf + ε ccd = σc ϕ (t, t 0 ) E c28 (6.8) com Ec28 calculado, para j = 28 dias, pela expressão Ec28 = 5600fck0,5 e ϕ(t,t0) calculado por: 52 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 ϕ (t, t 0 ) = ϕ a + ϕ f∞ [β f (t) − β f (t 0 )] + ϕ d∞ .β d (6.9) com: ⎡ ϕ a = 0,8.⎢1 − ⎣ f c (t 0 ) ⎤ ⎥ f c (t ∞ ) ⎦ (6.10) onde: - t é a idade fictícia do concreto no instante considerado; - t0 é a idade fictícia do concreto ao ser introduzido o carregamento, em dias; - fc(t0)/fc(t∞) é a função de crescimento da resistência do concreto com a idade definida em 12.3 da respectiva norma; - βf(t) ou βf(t0) é o coeficiente relativo à deformação lenta irreversível, função da idade do concreto (Figura 6.2); - ϕd∞ é o valor final do coeficiente de deformação lenta reversível que é considerado igual a 0,4; - βd é o coeficiente relativo à deformação lenta reversível em função do tempo (t-t0) decorrido após o carregamento. ϕ f∞ = ϕ1c .ϕ 2c ϕ 2c = 42 + h fic 20 + h fic h fic = γ 2. Ac u ar (6.11) (6.12) (6.13) onde: - ϕ1c é a parcela do coeficiente de deformação lenta irreversível que depende da umidade relativa do ambiente (U%) e da consistência do concreto dado pela Tabela A.1 no Anexo A da respectiva norma; - Ac é a área da seção transversal da peça; - uar é à parte do perímetro externo da seção transversal da peça em contato com ar; 53 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 - γ é o coeficiente que depende da umidade relativa do ambiente U%, devendo ser calculado pela seguinte expressão: γ = 1 + exp(−7,8 + 0,1.U ) (6.14) Figura 6.2 – Variação βf (t) β f (t ) = t 2 + At + B t 2 + Ct + D 3 2 A = 42.h fic − 350.h fic + 588.h fic + 113 3 2 B = 768.h fic − 3060.h fic + 3234.h fic − 23 3 2 C = −200.h fic − 13.h fic + 1090.h fic + 183 3 2 D = 7579.h fic − 31916.h fic + 35343.h fic + 1931 (6.15) (6.16) (6.17) (6.18) (6.19) onde: - hfic é a espessura fictícia, dada em metros (0,05 ≤ hfic ≤ 1,6 sendo que para valores fora deste intervalo, deve-se adotar os extremos correspondentes); - t é o tempo em dias para (t ≥ 3); 54 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 βd = t − t 0 + 20 t − t 0 + 70 (6.20) Em relação a considerar a idade fictícia do concreto, a norma faz o seguinte comentário: “A idade a considerar é a idade fictícia (tef), em dias, quando o endurecimento se faz à temperatura ambiente de 20ºC e, nos demais casos, quando não houver cura a vapor, a idade a considerar é a idade fictícia dada por: t =α∑ i Ti + 10 ∆t ef ,i 30 (6.21) onde: - t é a idade fictícia, em dias; - α é o fator que depende da velocidade de endurecimento do cimento; na falta de dados experimentais permite-se o emprego dos valores constantes da Tabela 6.2; - Ti é a temperatura média diária do ambiente; - ∆tef,i é o período, em dias, durante o qual a temperatura média diária do ambiente, Ti, pode ser admitida constante. Tabela 6.2 – Valores da fluência e da retração em função da velocidade de endurecimento do cimento. α Cimento Portland (CP) Fluência Retração 1 De endurecimento lento (CP III e CP IV, todas as classes de resistência) 1 2 De endurecimento normal (CP I e CP II, todas as classes de resistência) 3 De endurecimento rápido (CP V-ARI) Onde: CP I e CP I-S – Cimento Portland comum CP II-E, CP II-F e CP II-Z – Cimento Portland composto CP III - Cimento Portland de alto-forno CP IV - Cimento Portland pozolânico CP V-ARI – Cimento Portland de alta resistência inicial RS – Cimento Portland resistente a sulfatos (propriedade de alguns dos tipos de cimento citados) Quando há variação de tensão ao longo do intervalo, induzida por ações externas ou agentes de diferentes propriedades reológicas (incluindo-se armadura, concretos de diferentes idades, etc), a deformação total no concreto pode ser calculada por: 55 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 ε c (t) = t ∂σ c ⎛ 1 αϕ (τ , t 0 ) ⎞ σ c (t 0 ) σ c (t 0 ) ⎟⎟dτ ⎜⎜ + ϕ (t, t 0 ) + ε cs (t, t 0 ) + ∫ + ∂ τ E E E c (t 0 ) E c 28 c28 ⎠ ⎝ cτ τ=t 0 (6.22) em que os três primeiros termos representam a deformação não impedida e a integral, os efeitos da variação de tensões ocorridas no intervalo. Permite-se substituir essa expressão por: ⎡ 1 ⎛ 1 ϕ (t, t 0 ) ⎤ ϕ (t, t 0 ) ⎞ ⎟ + + ε c (t) = σ c (t 0 ) ⎢ ⎥ + ε cs (t, t 0 ) + ∆σ c (t, t 0 )⎜⎜ E c 28 ⎦ E c28 ⎟⎠ ⎝ E c (t 0 ) ⎣ E c (t 0 ) (6.23) onde: - ∆σc (t,t0) é a variação total de tensão no concreto, no intervalo (t,t0); - α é o coeficiente característico que tem valor variável conforme o caso. No cálculo de perdas de protensão de casos usuais onde a peça pode ser considerada como concretada e a protensão aplicada de uma só vez, pode-se adotar α = 0,5 e admitir Ec(t0) = Ec28, como feito na seção 9.6.3.4.2. desta norma. Observarse que aquela subseção considera que o coeficiente de fluência do concreto ϕ = ϕa + ϕf + ϕd é um coeficiente de deformação lenta irreversível com as propriedades definidas para ϕf. Nos outros casos usuais pode-se considerar α = 0,8, mantendo Ec(t0) ≠ Ec28 sempre que significativo. Essa aproximação tem a vantagem de tratar ϕ como uma única função, sem separar ϕa, ϕf, e ϕd. É possível separar ϕa, ϕf, e ϕd, mas para isso é necessário aplicar a expressão integral ao problema em estudo. A expressão simplificada não se aplica nesse caso. Nos próximos capítulos será retratada a descrição e a modelagem numérica feita em vigas de concreto armado. Serão feitas considerações do material estudado bem como a forma que se procedeu à modelagem. É importante ressaltar que os cálculos provenientes das deformações e deslocamentos baseados na NBR 6118/2003 foram feitos em uma seqüência de cálculo no programa Mathcad disponíveis no ANEXO 2 deste trabalho. 56 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 Algumas observações, pertinentes, podem ser feitas com relação aos cálculos da deformação e da flecha em estruturas de concreto armado tendo como base a NBR 6118/2003. A consideração em algumas propriedades do concreto para a obtenção da deformação e flecha como, por exemplo, o abatimento do tronco de cone (slump) pode, atualmente, ser desconsiderada nos cálculos. Isso se deve ao fato de que o “slump” de uma amostra de concreto pode ser modificado, inserindo no material algum tipo de redutor de pega (aditivos ou adições), que permitirá uma boa ou má consistência no concreto com a mesma relação água-cimento (a/c). 6.3. EFEITO DA PERDA CONCRETO DE RIGIDEZ DEVIDO A FISSURAÇÃO NO Cuidados especiais devem ser tomados em relação à fissuração e verificação das flechas no ELS, principalmente quando se adota a relação entre momentos muito diferente da que resulta de uma análise elástica. 6.3.1. ELEMENTOS LINEARES SUJEITOS A SOLICITAÇÕES NORMAIS – ELS Nos estados limites de serviço as estruturas trabalham parcialmente no estádio I e parcialmente no estádio II. A separação entre essas duas partes é definida pelo momento de fissuração. Esse momento pode ser calculado pela seguinte expressão aproximada: MR = α.f ct .I c yt (6.24) onde: - α é o fator que correlaciona, aproximadamente, a resistência à tração na flexão com a resistência à tração direta (α = 1,2 para seções T ou duplo T ou α = 1,5 para seções retangulares); - yt é à distância do centro de gravidade da seção à fibra mais tracionada; - Ic é o momento de inércia da seção bruta de concreto; 57 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 - fct é a resistência à tração direta do concreto com o quantil apropriado a cada verificação particular. Para determinação do momento de fissuração deve ser usado o fctk, inf no estado limite de formação de fissura e o fct,m no estado limite de deformação excessiva (ver seção 8.2.5 da NBR 6118). No caso da utilização de armaduras ativas deve ser considerado o efeito da protensão no cálculo do momento de fissuração. 6.3.2. ESTADO LIMITE DE DEFORMAÇÃO EXCESSIVA A verificação dos valores limites estabelecidos para a deformação da estrutura (tabela 13.2 da NBR 6118/2003), mais propriamente rotações e deslocamentos em elementos estruturais lineares, analisados isoladamente e submetidos à combinação de ações, deve ser realizada por meio de modelos que considerem a rigidez efetiva das seções do elemento estrutural, ou seja, levem em consideração a presença da armadura, a existência de fissuras no concreto ao longo dessa armadura e as deformações diferidas no tempo. A deformação real da estrutura depende também do processo construtivo, assim como das propriedades dos materiais (principalmente do módulo de elasticidade e da resistência à tração) no momento de sua efetiva solicitação. Em face da grande variabilidade dos parâmetros citados, existe uma grande variabilidade das deformações reais. Não se pode esperar, portanto, grande precisão nas previsões de deslocamentos dadas pelos processos analíticos a seguir prescritos. 6.3.3. AVALIAÇÃO APROXIMADA DA FLECHA EM VIGAS O modelo de comportamento da estrutura pode admitir o concreto e o aço como materiais de comportamento elástico e linear, de modo que as seções ao longo do elemento estrutural possam ter as deformações específicas determinadas no estádio I, desde que os esforços não superem aqueles que dão início à fissuração, e no estádio II, em caso contrário. Deve ser utilizado no cálculo o valor do módulo de elasticidade secante Ecs, sendo obrigatória à consideração do efeito da fluência. 58 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 6.3.4. FLECHA IMEDIATA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO Para uma avaliação aproximada da flecha imediata em vigas, pode-se utilizar a expressão de rigidez equivalente dada a seguir e desenvolvida por Branson: EI eq ⎧⎪⎛ M = E cs ⎨⎜⎜ r ⎪⎩⎝ M a 3 ⎡ ⎛M ⎞ ⎟⎟ .I c + ⎢1 − ⎜⎜ r ⎢⎣ ⎝ M a ⎠ ⎞ ⎟⎟ ⎠ 3 ⎤ ⎫⎪ ⎥ I II ⎬ ≤ E cs .I c ⎥⎦ ⎪⎭ (6.25) onde : - Ic é o momento de inércia da seção bruta de concreto; - III é o momento de inércia da seção fissurada de concreto no estádio II; - Ma é o momento fletor na seção crítica do vão considerado, momento máximo no vão para vigas biapoiadas ou contínuas e momento no apoio para balanços, para a combinação de ações considerada nessa avaliação; - Mr é o momento de fissuração do elemento estrutural, cujo valor deve ser reduzido à metade no caso de utilização de barras lisas; - Ecs é o módulo de elasticidade secante do concreto. A determinação do momento de inércia (III) após a fissuração da estrutura (ESTÁDIO II) é dada pela seguinte expressão: b.x II3 2 I II = + α e . As .(d − x II ) 3 (6.26) b.x II2 − α e . As .(x II − d ') = 0 2 (6.27) onde: - b é a base da viga; - αe é a relação entre o módulo de elasticidade da armadura e do concreto; - As é a armadura de flexão positiva; - d é a distância entre a borda superior da viga e o eixo da armadura positiva; - xLN é o posicionamento da linha neutra após a fissuração do concreto; 59 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 - d’ é à distância entre o eixo da armadura positiva e a borda inferior da viga. Para o calculo do deslocamento vertical (flecha) de uma viga biapoiada com carregamento concentrado no meio do vão, usa-se a seguinte expressão: a= P.l 3 48.EI (6.28) onde: - a é o comprimento deslocado no centro do vão da viga em relação ao seu eixo vertical; - P é o carregamento aplicado; - l é o comprimento (vão) da viga; O valor de EI dependerá do valor do momento de fissuração da estrutura. Este será igual a EIeq se o valor do momento de fissuração da viga for maior que o valor do momento devido ao carregamento, ou seja, Mr > Ma. Isso implicará dizer que a estrutura está trabalhando em ESTÁDIO II. Caso contrário, quando Mr ≤ Ma, o valor de EI nada mais é que o produto do módulo de elasticidade secante do concreto pelo momento de inércia da estrutura em ESTÁDIO I. 6.3.5. CÁLCULO DA FLECHA DIFERIDA CONCRETO ARMADO NO TEMPO PARA VIGAS DE A flecha adicional diferida, decorrente das cargas de longa duração em função da fluência, pode ser calculada de maneira aproximada pela multiplicação da flecha imediata pelo fator αf dado pela expressão: αf = ∆ξ 1 + 50ρ ' (6.29) A s' b.d (6.30) onde: ρ' = 60 MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 − ∆ξ é um coeficiente função do tempo, que pode ser calculado pelas expressões seguintes: ∆ξ = ξ( t ) − ξ( t 0 ) (6.31) ξ( t ) = 0,68.(0,996 t ) t 0,32 (para t ≤ 70 meses) (6.32) ∆ξ = 2 para t > 70 meses (6.33) Tabela 6.3 – Valores do coeficiente ξ em função do tempo Tempo (t) meses Coeficiente ξ(t) 0 0,5 1 2 3 4 5 10 20 40 ≥ 70 0 0,54 0,68 0,84 0,95 1,04 1,12 1,36 1,64 1,89 2 onde: - t é o tempo, em meses, quando se deseja o valor da flecha diferida; - t0 é a idade, em meses, relativa à data de aplicação da carga de longa duração. O valor da flecha total incluindo a fluência deve ser obtido multiplicando a flecha imediata por (1 + αf). 6.4. ENSAIO PARA DETERMINAÇÃO DA FLUÊNCIA EM CONCRETO ENDURECIDO - NBR 8224/1983 A relevância deste item no trabalho é dada pela importância em se ter o devido conhecimento técnico no que diz respeito ao procedimento de ensaio para a determinação da fluência em concreto endurecido. Além disso, a aplicação deste procedimento de ensaio é que deveria ser fator basilar para a calibração dos modelos disponíveis nos programas estudados (ADINA e DIANA), uma vez que estes não conseguem reproduzir completamente algumas das intempéries (variação de umidade e temperatura) existentes na estrutura analisada. O objetivo desta norma é prescrever o método para a determinação da deformação do concreto, devido ao fenômeno da fluência. Segundo a mesma a deformação por fluência é determinada em uma certa idade, pela diferença entre a deformação total e a soma das deformações independentes da permanência do carregamento ao longo do tempo como: MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 61 a) deformação imediata que ocorre, no ato da aplicação do carregamento; b) deformação autógena que ocorre ao longo do tempo de duração de ensaio de fluência. A deformação imediata é medida no ato de aplicação da carga e a deformação autógena é determinada em corpos-de-prova similares àqueles utilizados para a determinação de fluência, sendo mantidos em condições ambientais idênticas, não sendo, contudo, submetidos a carregamento. 6.4.1. FORMA E DIMENSÕES DOS CORPOS-DE-PROVA Os corpos-de-prova devem ser cilíndricos, possuindo relação altura/diâmetro igual ou maior que 2. O diâmetro dos corpos-de-prova deverá respeitar os seguintes limites: Tabela 6.4 – Limite para corpos-de-prova. Diâmetro do Corpo-de-Prova Dimensão Máxima Característica do Agregado-graúdo 150 mm 19 mm 150 mm 38 mm 250 mm 76 mm 450 mm 152 mm Para que a interpretação dos resultados dos ensaios seja significativa, é essencial dispor dos resultados de ensaios de resistência à compressão, da deformação autógena, e do módulo de deformação, executados em corpos-de-prova complementares. A deformação autógena será a deformação observada ao longo do tempo nos corpos-de-prova complementares não submetidos a qualquer espécie de carregamento. As dimensões dos corpos-de-prova para a determinação da deformação autógena deverão ser as mesmas dos utilizados para o ensaio de fluência. Os corpos-de-prova complementares e aqueles destinados ao ensaio de fluência deverão ser moldados com o mesmo traço, e se possível da mesma amassada, e deverão ser submetidos às mesmas condições de cura. MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 62 6.4.2. PREPARAÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA Quando forem utilizados dispositivos para a medição de deformação, serão necessários discos metálicos pouco deformáveis sob tensão, para a fixação do medidor de deformações (extensômetro). O disco inferior deverá permitir a passagem do cabo do medidor, possuindo para isso uma ranhura que partirá do orifício central e terá comprimento do raio do disco. A largura da ranhura deverá ser suficiente para permitir a passagem do cabo do extensômetro. O cabo do extensômetro deverá estar protegido contra danos, enquanto corpo-de-prova estiver sob carga. A espessura do disco deverá ser de 20mm. O disco superior deverá ser colocado logo após o endurecimento do concreto devendo ser colocado com resina epóxi. Um cuidado especial deve ser tomado na colocação dos discos, de tal forma a manter a perpendicularidade do plano do mesmo em relação ao eixo longitudinal do corpo-de-prova. A Figura 6.3 ilustra o posicionamento dos discos e do extensômetro embutido. DISCO METÁLICO SUPERIOR JAQUETA DE VEDAÇÃO DISCO METÁLICO INFERIOR Figura 6.3 (a) – Posicionamento do extensômetro Figura 6.3 (b) – Posicionamento dos discos e da jaqueta Figura 6.3 – Aparelho para ensaio da fluência no concreto. Os corpos-de-prova deverão ser adensados, de acordo com os requisitos dos parágrafos 4 e 5 da NBR 5738, utilizando somente vibração mecânica. O diâmetro do vibrador deverá ser compatível com a dimensão máxima característica do agregado graúdo. Na modelagem dos corpos-de-prova providos de extensômetros embutidos, MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 63 deverão ser tomados cuidados especiais para que o mesmo não seja avariado ou deslocado de sua posição durante a operação de adensamento. Os extensômetros embutidos no concreto devem estar coincidentes com o eixo dos moldes, que deverão estar na posição vertical durante a moldagem. Deverão, portanto, ser previstos dispositivos de fixação que assegure o correto posicionamento dos extensômetros. A quantidade mínima de corpos-de-prova moldados para cada idade de carregamento deverá ser a seguinte: a) dois corpos-de-prova para os ensaios de resistência à compressão; b) dois corpos-de-prova para os ensaios de fluência. No ensaio de fluência, além de corpos-de-prova destinados ao ensaio propriamente dito, deverão ser moldados pelo menos dois corpos-de-prova munidos com dispositivos de medição de deformação, que permanecerão descarregados, durante todo período de ensaio. Tais corpos-de-prova denominados “de controle” indicarão as variações volumétricas devido a outras causas, diferentes do descarregamento. 6.4.3. CURA DOS CORPOS-DE-PROVA Para a cura padrão, antes da desforma, os corpos-de-prova deverão ser guardados em uma sala com temperatura de (23,0 ± 2,0)ºC e cobertos com material que evite a evaporação recomendando-se o uso de plástico ou filme plástico. Os corpos-de-prova deverão ser desformados após um período não inferior a 20 horas nem superior a 48 horas após a modelagem. Após a desforma, que deverá ser feita de preferência dentro da câmara úmida, os corpos-de-prova deverão ser mantidos na câmara úmida, à temperatura de (23,0 ± 2,0)ºC até a idade de ensaio. A umidade relativa na câmara úmida não deve ser menor que 95% sendo o seu valor indicado no relatório. MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 64 Poderão ser especificados outras condições de cura e estocagem, em função das necessidades do projeto e da obra. Essas condições deverão, entretanto, ser detalhadas de modo preciso no relatório. 6.4.4. APARELHAGEM A máquina de ensaio deverá ser capaz de aplicar e manter a carga especificada para o ensaio durante todo o período de realização do ensaio, não devendo ter erro de exatidão maior que 2%. Será composta dos seguintes elementos: a) célula hidráulica de carregamento; b) mola de reação; c) rótula de apoio. No dispositivo de carregamento que utiliza células hidráulicas existem várias estruturas que podem ser carregadas simultaneamente, por meio de uma unidade central de manutenção de carga. O ajuste desta carga é feito por meio de reguladores e de leitura em manômetros. Existe também a possibilidade de ajuste automático das variações de carga por meio de reguladores a uma fonte de pressão. Os aparelhos ou instrumentos destinados à medição das deformações deverão apresentar precisão de leitura de no mínimo 20 x 10-6m. 6.4.5. EXECUÇÃO DO ENSAIO Para a comparação da característica de diferentes misturas de concreto deverá ser definida para o ensaio somente uma idade de carregamento. Para casos específicos poderão ser definidas outras idades de carregamento, devendo as mesmas constar no relatório de ensaio. A temperatura ambiente durante o ensaio deverá ser a especificada pelo solicitante e deverá ser rigorosamente mantida no intervalo de variação de ± 2ºC. Qualquer variação de temperatura acima ou abaixo dos valores limites especificados, MODELO DE FLUÊNCIA – NBR 6118/2003 65 poderá provocar variações volumétricas significativas, que deverão ser corrigidas após serem calculadas e analisadas. A tensão a ser aplicada nos corpos-de-prova deverá ser de (40 ± 2)% da resistência à compressão do concreto na idade de carregamento. Para a determinação da tensão de carregamento, os corpos-de-prova complementares deverão ser ensaiados à resistência à compressão, imediatamente antes do ensaio. O carregamento deverá se feito a uma velocidade tal que a carga total seja aplicada no corpo-de-prova durante um período o mais próximo possível de 30 segundos. A carga deverá ser aplicada após o posicionamento correto dos corpos-deprova na máquina de ensaio. Os corpos-de-prova devem ser centrados na máquina de ensaio de modo que o eixo de aplicação da carga coincida com o eixo vertical dos corpos-de-prova. Antes do carregamento definitivo deverão ser realizados dois ciclos iniciais de carregamento e descarregamentos nos corpos-de-prova, até a carga estabelecida nos ensaio. Deve também ser feita uma leitura nos aparelhos medidores de deformação imediatamente antes do carregamento definitivo (leitura de referência). As leituras subseqüentes, tanto da carga aplicada como das deformações deverão ser feitas na seguinte seqüência: a) 30 segundos após o carregamento (deformação imediata); b) 5, 10 e 30 minutos após o carregamento; c) 1, 2 e 5 horas após o carregamento; d) diariamente por uma semana; e) duas vezes por semana até completar um mês; f) semanalmente até completar o ensaio. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 7 66 AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO Neste trabalho é estudado o comportamento do concreto sob o efeito da fluência. Para o estudo serão consideradas vigas biapoiadas de concreto armado submetidas a uma carga concentrada constante. As tensões consideradas para o estudo da fluência serão as de compressão, porém, neste capítulo será abordado de forma resumida o comportamento da fluência no concreto à tração. Também será mostrado neste capítulo, de forma bastante resumida, um ensaio experimental de fluência em vigas de concreto armado realizado no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Construção Civil (CPqDCC) do Departamento de Engenharia de Construção Civil (PCC) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP). Uma descrição completa deste experimento poderá ser encontrada em FIGUEIREDO [2003]. Este ensaio experimental servirá como referência para a comparação com a modelagem numérica apresentada no próximo capítulo. Quando caracterizamos que a fluência no concreto é a sua deformação ao longo do tempo sob tensão constante, quase nunca é explicitado sob que estado de tensão o material se encontra (compressão ou tração). AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 67 A grande maioria dos artigos e estudos encontrados, tanto em referência nacionais como internacionais, mostram dados de fluência relacionados a tensões de compressão. Isto se deve ao fato de quando o concreto é dosado e controlado, os dados convencionalmente utilizados são baseados em sua resistência à compressão (maior resistência) e não na sua resistência à tração e, também, porque existe uma maior facilidade em se ensaiar a fluência no concreto à compressão, quando comparado com o concreto submetido a outras tensões como tração ou cisalhamento. NEVILLE [1970]. 7.1. FLUÊNCIA NA TRAÇÃO O comportamento específico da fluência sobre tensões de tração e de cisalhamento é muito pouco pesquisado no Brasil e no mundo. Aqui será mostrado de forma resumida o comportamento da fluência no concreto sob tensões de tração. Alguns dos principais interesses em se conhecer o comportamento da fluência sob tensões de tração é baseado na possibilidade de se estimar fissuras no concreto devido à retração ou à variação de tensões térmicas, como também a possibilidade de estimar cálculos de resistência à tração em vigas de concreto protendido e em projetos de estruturas que retenham água (NEVILLE [1970]). A realização do ensaio de resistência à tração no concreto, que não leva em conta o efeito da fluência, apresenta uma certa dificuldade em sua concepção. Quando estes ensaios levam em consideração tal fenômeno, existe a aparição de problemas adicionais como: a aplicação da tensão deve ser baixa, pois a resistência do material à tração é pequena e, conseqüentemente, a deformação medida será baixa também, sendo deste modo muito difícil a medição de valores exatos de deformação. Se, além disso, o concreto secar sob carregamento constante, pode ocorrer simultaneamente deformação por retração, com valores diversas vezes maiores que a fluência, acarretando assim grandes erros nos valores medidos da deformação por fluência NEVILLE [1970]. GLANVILLE e THOMAS [1939] observaram que a fluência à compressão pode ser igual à fluência à tração para um nível igual de tensões. Um das razões para AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 68 que eles pudessem fazer esta afirmação é que em seus testes foi levado em consideração à variação de umidade quando o concreto estava sob carregamento. Esta igualdade na deformação por fluência foi também confirmada no U.S Bureau of Reclamation tests em concreto massa, para resistências de até um terço da resistência última à tração. NEVILLE [1970] comenta que a taxa de fluência na tração é inicialmente mais alta que na compressão sob mesma tensão. Após aproximadamente um mês de carregamento, a taxa de fluência na tração diminuiu consideravelmente verificandose que, em longo prazo, a fluência na tração é provavelmente menor que na compressão. Este comportamento foi encontrado tanto para concreto massa quanto para concretos curados a umidade relativa do ar de 50% e indicou também que a fluência da pasta de cimento pura, na umidade relativa de 50%, é aproximadamente cinco vezes mais alta na tração que na compressão. Segundo NEVILLE [1970], alguns testes sugerem que para concretos selados, a fluência na tração é 20% a 30% maior que na compressão. ILLSTON [1965] também confirma uma taxa inicial mais alta de fluência à tração. Isto é ilustrado na Figura 7.1. Segundo NEVILLE [1970], seus testes são provavelmente as mais extensivas avaliações disponíveis na investigação da influência da relação de tensão resistente, idade de carregamento, tempo de carregamento e umidade na fluência à tração. Entretanto, somente um traço foi Deformação por Fluência (10-6) utilizado em seus ensaios. 100 Tração 50 Compressão 0 100 200 300 400 500 600 Tempo sob Carga (dias) Figura 7.1 – Fluência na tração e na compressão sob tensão constante de 9 Kg/cm2.NEVILLE AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 69 NEVILLE [1970] comenta que ensaios mostraram que a fluência na tração é proporcional à tensão aplicada se a relação tensão-resistência à compressão não ultrapassar 0,5. A influência da idade do carregamento na taxa de fluência parece similar tanto para corpos comprimidos ou tracionados. Em NEVILLE [1970] pode ser encontrada a opinião de alguns autores sobre o comportamento da fluência no concreto em tensões de tração. RUETZ (apud NEVILLE [1970]) cita que observou tanto na tração como na compressão, simultâneos aumentos da fluência quando comparados com a fluência sob nenhuma condição de troca de umidade. Para GVOZDEV (apud NEVILLE [1970]) influências ambientais no concreto à tração e à compressão são similares qualitativamente, mas não quantitativamente, porém ele não apresentou nenhum resultado sobre isso. Houve pouco aumento na deformação por fluência com o aumento do tempo de carregamento. L’HERMITE (apud NEVILLE [1970]) relata uma fluência de 9.10-6 e 3.10-5 sob uma tensão de 16 Kgf/cm2 e 26 Kgf/cm2, respectivamente, após 3 dias de carregamento. A resistência à tração do concreto era de 35 Kgf/cm2; não existe nenhuma informação sobre a proporção da mistura (traço de concreto) avaliada. NEVILLE [1970] mostra na Figura 7.2 a influência do tipo de cimento na fluência à tração dando a indicação do efeito do cimento contido na mistura. Deformação por Fluência (10-6) 300 II I 200 III IV 100 Tipos de Cimento Portland 0 50 100 150 200 Tempo sob Carga (dias) Figura 7.2– Influência do tipo de cimento na fluência à tração para concretos. NEVILLE (1970). AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 70 Estes tipos de cimentos são classificados segundo o American Society for Testing and Materials (ASTM). A Figura 7.3 mostra o comportamento da fluência do concreto na flexão. Inicialmente, a fluência na compressão e na tração, não levando-se em conta a retração, é a mesma, mas depois de aproximadamente um mês sob carregamento, a taxa de fluência na tração cai a quase zero. Pressupõe-se que os resultados, como apresentados, são afetados pelo fato que a retração medida no lado tracionado foi maior que no lado comprimido; as razões para isto não são sabidas. Deformação por Fluência (10-6) 150 Fibra Comprimida 100 50 0 Fibra Tracionada 5 10 50 100 500 1000 Tempo sob Carga (escala logarítmica) - dias Figura 7.3 – Fluência na flexão.NEVILLE (1970) OBERTI’S (apud NEVILLE [1970]) testou concretos feitos com cimento pozolana e mostrou que a relação entre deformação total e a deformação inicial, diminuiu com o aumento na idade de carregamento. Valores de 5,6 para 7 dias, 4,7 para 28 dias e 4,0 para 4 meses foram encontrados após 4 anos sob carga. A baixa, porém constante taxa de deformação, foi medida nesse tempo. 7.2. REALIZAÇÃO DO ENSAIO EXPERIMENTAL Foram analisadas 14 vigas quanto à fluência, divididas em 7 grupos (A, B, C, D, E, F e G). Todas têm mesma característica quanto à geometria e armaduras, porém as propriedades físicas dos concretos são bastante diferentes. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 71 Essas vigas foram submetidas a idênticas condições de carregamento durante um período de 140 dias. As vigas foram produzidas com concretos de resistência à compressão variando entre 34 e 55 MPa, aproximadamente. Dentre todas as vigas ensaiadas, somente 4 grupos (A, B, C e D) foram comparados com a modelagem numérica computacional. Isto se deve ao fato que não seria necessário ser feita a comparação em todos os 7 grupos para se ter uma boa conclusão dos resultados das mesmas. Os requisitos para a concepção das vigas foram o atendimento às dimensões previstas para as mesmas 20x30x600 cm, e apoio nas duas extremidades sobre roletes distanciados de 580cm (vão livre de cada viga), que por sua vez estavam apoiados em pilaretes de concreto com as dimensões de 20x30x120cm como mostrado na Figura 7.4. Os pilaretes foram moldados com concreto de 25 MPa, fornecido com dois meses de antecedência em relação à moldagem das vigas, de modo a se garantir boa rigidez dos mesmos. PILARETES Figura 7.4 – Vista dos apoios das vigas experimentais. As armaduras foram compostas por duas barras superiores, duas barras centrais e duas barras inferiores com 12,5mm de diâmetro cada. O objetivo da adoção das armaduras centrais e superiores foi evitar o efeito de empenamento da AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 72 viga por retração devido à restrição diferenciada que ocorre quando, na estrutura, não existe armaduras simétricas. A armadura posicionada na fôrma antes da moldagem das vigas pode ser observada na Figura 7.5. Figura 7.5 – Vista da armadura posicionada na fôrma. A Figura 7.6 mostra um desenho esquemático das vigas que foram submetidas tanto ao ensaio experimental quanto à modelagem numérica. 580 cm 2 φ 12,5 2 φ 12,5 2 φ 12,5 26 cm 6,75 cm 3,25 cm 16 cm 20 cm 30 cm φ 6,3 c/ 10 Figura 7.6 – Detalhamento das vigas estudadas. O carregamento foi feito em três etapas principais. Na primeira, houve a preparação da superfície superior das vigas para receber a chapa metálica de onde se AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 73 apoiaria o cabo de aço da cuba de carregamento. Este preparação foi feita por meio de um lixamento de modo a se evitar concentração de esforços e pequenos esmagamentos, dado que a flecha da viga tomaria como referência a parte superior da chapa metálica. Uma vez posicionada a chapa no topo das vigas, foram posicionados os relógios de medição que realizaram a medida da flecha das vigas. O apoio dos relógios de medição foi realizado por cavaletes de suporte apoiados no chão, como pode ser observado na Figura 7.7. Relógio de Medição Chapa Metálica Figura 7.7 - (a) apoio do relógio de medição sobre a chapa metálica para medida dos deslocamentos verticais (b) cavalete de suporte do relógio de medição. Uma vez posicionados os relógios de medição, foi retirado o cimbramento das vigas, dos apoios no centro da viga, sendo monitorada simultaneamente a deformação obtida com o peso próprio. Logo após a retirada do cimbramento foi realizada a medida do deslocamento vertical imediato, por meio do relógio de medição. Optou-se, posteriormente, pelo posicionamento de um fio no topo da viga alinhado ao seu comprimento, que funcionava como um referencial para a medida da deflexão total no centro da viga. Após a retirada do cimbramento, passadas 24 horas, foram medidos novamente os deslocamentos verticais. Após essa leitura aplicou-se um carregamento concentrado no meio do vão das vigas, por meio de tambores preenchidos com limalha de aço totalizando um peso de 200 kg (Figura 7.8). É importante frisar que este carregamento permaneceu constante ao longo de todo o ensaio. Logo após a AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 74 aplicação do carregamento foi realizada uma segunda leitura do deslocamento vertical imediato. Finalizado a aplicação do carregamento das vigas, procedeu-se à leitura diária dos deslocamentos verticais medidos pelo relógio de medição. Figura 7.8 – Viga após aplicação do carregamento. Como dito anteriormente, após ser aplicado o carregamento a viga teve uma deformação e um deslocamento (flecha) imediato, com o passar do tempo, foram medidos seus deslocamentos no intervalo de 24 horas até completar o tempo de ensaio (140 dias). É importante ressaltar que as vigas foram desformadas 28 dias após a moldagem e carregadas 24 horas após a desforma. As características físicas dos concretos utilizados nas vigas do ensaio experimental estão mostradas no ANEXO 3 deste trabalho. Os resultados dos deslocamentos de todas as vigas serão mostrados no Capítulo 9 deste trabalho. Com o carregamento aplicado, ocorre na viga uma variação de tensão ao longo de todo seu comprimento, sendo que a máxima tensão (tração ou compressão) é encontrada no meio de seu vão. Porém, como neste caso as maiores deformações e, conseqüentemente, os maiores deslocamentos ocorrem no meio da viga, a medição dessas duas grandezas não foi feita para todo o comprimento da mesma, mas sim de forma puntual, no meio do vão. A figura 7.9 ilustra claramente onde foram tomadas as medidas de deslocamento na viga estudada. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO A X 75 Medidas de deslocamento e deformação A X CORTE A-A Figura 7.9 – Local onde foram tomadas as medidas de deslocamento e de deformação. Como a viga é considerada biapoiada a tensão normal é calculada como: σ= MR W (7.1) .onde: MR = P.L P.L2 + 4 8 e W= I y (7.2) • σ é a tensão normal de tração ou compressão; • MR é chamado de momento resistente; • W é o módulo de resistência à flexão; • L é o comprimento da viga; • I é o momento de inércia da seção transversal; • y é a distância da linha neutra até a fibra inferior. Dependendo do valor do carregamento aplicado na estrutura, a mesma poderá ou não vir a sofrer fissuração, ou seja, poderá estar tanto no ESTÁDIO I como no ESTÁDIO II (Figura 7.9). Para fins práticos a grande maioria das estruturas de concreto trabalham no ESTÁDIO II, assim, baseado na NBR 6118/2003 serão AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 76 calculados não só as deformações e deslocamentos como também o momento de fissuração dessas vigas. M Mun Muo Mrn Mro 1/r ESTÁDIO Ia ESTÁDIO Ib ESTÁDIO II ESTÁDIO III Figura 7.10 – Diagrama Momento-Curvatura da seção. Normalmente para cargas de serviço, a tensão de compressão é da ordem de 40% a 50% da resistência do concreto à compressão. Nessa condição a seção encontra-se seguramente no ESTÁDIO II de solicitação. Assim, os cálculos que envolvem a verificação dos estados limites de utilização devem ser efetuados no ESTÁDIO II. Para um melhor entendimento sobre o gráfico momento-curvatura da Figura 7.10, será dado uma sucinta explicação do mesmo. Para a aplicação de um pequeno carregamento, o comportamento do concreto e, também, da armadura pode ser definido como elástico-linear, na compressão e na tração. Tem-se assim, uma reta no diagrama momento-curvatura e diz-se que a seção se encontra no ESTÁDIO Ia de solicitação. Com o aumento do carregamento, começa a plastificação do concreto por tração na sua fibra mais tracionada (ESTÁDIO Ib); logo, uma seção qualquer da viga pode romper por tração para um momento fletor de valor Mro conhecido como momento de fissuração. Colocada uma quantidade de armadura necessária, a seção apresentará uma fissura, porém, sem perda da capacidade portante porque a armadura terá condições de substituir, do ponto de vista de equilíbrio, a resultante de tensões de tração que existia na seção tracionada da seção antes de ocorrer à fissuração. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 77 Continuando com o aumento progressivo do carregamento, tem-se uma fase de formação de novas fissuras, bem como, de aumento das aberturas das fissuras existentes, que tendem a se estabilizar numa configuração fissurada final para um momento Mrn. Entre Mro e Mrn o diagrama momento-curvatura é não linear por corresponder a uma fase de fissuração progressiva. Entre Mrn e Muo, já com a fissuração estabilizada, o comportamento é praticamente elástico-linear com aberturas crescentes das fissuras existentes; diz-se que a seção se encontra no ESTÁDIO II de solicitação. O momento Muo corresponde ao início da plastificação do concreto por compressão. Entre Muo e Mun, o andamento do diagrama volta a ser não linear devido à plastificação progressiva do concreto comprimido. Mun é o momento último da seção por compressão do concreto e corresponde ao cálculo no ESTÁDIO III de solicitação. Este trabalho será realizado considerando a não-linearidade física do concreto, ou seja, que a relação entre tensão e deformação no material não obedecem à lei de Hooke. Será então necessário definir uma curva tensão-deformação do material caracterizando o seu comportamento. Será considerada também a presença de fissuras na estrutura, ou seja, que o concreto esteja no ESTÁDIO II do gráfico da Figura 7.10. Estas considerações serão feitas para que se possa caracterizar de forma mais realista o comportamento do material estudado. Para o aço a consideração é diferente. Este material será considerado como homogêneo, isotrópico e elástico-linear. Deste modo, somente as armaduras obedeceram à definição baseada na lei de Hooke da Teoria da Elasticidade. É importante frisar que a consideração do fenômeno da fluência será feita somente no concreto, caracterizando desta forma que as armaduras não sofrerão tal fenômeno. As tabelas com as características mecânicas e físicas dos concretos usados nas vigas que foram ensaiadas experimentalmente estão mostradas no ANEXO 3. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 78 7.3. LIMITAÇÕES DO MODELO EXPERIMENTAL Na realização do ensaio experimental foi observado que alguns cuidados importantes não foram devidamente tomados. A não preocupação com tais cuidados poderá acarretar, após a realização dos ensaios, discrepâncias nos resultados obtidos. Foi observado no acompanhamento deste ensaio que não existia uma devida infraestrutura no laboratório para a realização do ensaio de deformação lenta, pois sua realização não ocorreu em câmera úmida, ou seja, não foi mantido o controle da temperatura e da umidade. Esta consideração é muito importante uma vez que estas duas propriedades são consideradas fundamentalmente importantes para a determinação da deformação por fluência no concreto, como descrito no Capítulo 3. Não existindo tal infraestrutura para que possa ser feita a realização de tal ensaio, deve-se ter o cuidado de ao menos registrar, no período em que este foi realizado, a variação de umidade e temperatura. Uma das deficiências observada neste ensaio está relacionada com o tipo de vinculação das vigas. Para a caracterização de apoios do 2º gênero foram colocados roletes nas duas extremidades da viga, porém não atentou-se para o fato que, para existir tal caracterização, a translação no eixo longitudinal de pelo menos um dos apoios da viga deveria ser fixada. Deste modo, após a aplicação do carregamento e devido a esse descuido, o sistema viga-pilarete ficou hipoestático, não ocorrendo assim um “equilíbrio” estimado (devido a imperfeições) no comportamento da viga. A Figura 7.11 (a) mostra um dos apoios das vigas que não encontrava-se devidamente vinculado. Após ser observado que a estrutura não estava devidamente vinculada como deveria, foram colocados calços de madeira nos apoios para impedir sua translação longitudinal como mostrado na Figura 7.11 (b). Está deficiência não acarretará maiores problemas nos resultados medidos uma vez que sua correção aconteceu antes mesmo da aplicação do carregamento. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 79 Calço de Madeira (a) (b) Figura 7.11 – (a) Apoio do 1º gênero; (b) Apoio do 2º gênero. Outro erro encontrado que poderia ter comprometido os resultados obtidos no ensaio experimental das vigas diz respeito à forma como foram medidos os deslocamentos. A Figura 7.12 é uma ilustração aproximada de como foi realizado o ensaio para a determinação das flechas diferidas no tempo. RELÓGIO CAVALETE VIGA PILARETE ROLETE TAMBOR Figura 7.12 – Ilustração da realização do ensaio. Como pode ser visto na Figura 7.12 o relogio de medição está posicionado na parte superior da viga tendo como apoio o cavalete, que por sua vez está fixado ao AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 80 chão. O erro está em não se ter tomado como referência, para as medidas de deslocamento, uma linha que passe pelo eixo longitudinal da viga na configuração indeformada, e sim o chão. Como o ponto de referência do relógio de medição é o chão, qualquer movimentação realizada entre o chão e o topo da viga, influenciará na contagem do relógio. Como os pilaretes que dão sustentação para a viga também são feitos de concreto, existirá nos mesmos deformações imediatas e por fluência que influenciaram na medida real dos deslocamentos. A Figura 7.13 ilustra a possível falha na medição dos deslocamentos da viga após ser aplicado o carregamento, ou seja, em sua configuração deformada. Deformação do pilarete Figura 7.13 – Ilustração da configuração deformada após o carregamento. Como afirmou-se aqui que a forma em que foram feitas as medições de deslocamentos nas vigas estudadas foram realizadas de maneira incorreta e, que devido a isto ocorreria, possivelmente, uma variação no que diz respeito aos deslocamentos medidos, foi efetuado o cálculo apenas do encurtamento imediato nos pilares para que pudesse ser analisada, de forma quantitativa, qual seria a significância deste erro. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 81 A equação utilizada para calcular a flecha imediata devido a compressão nos pilares de concreto foi a seguinte: ∆l = P.l E. A (7.3) onde: • ∆l é a flecha imediata; • P é o carregamento aplicado; • l é o comprimento da viga; • E é o módulo de elasticidade do concreto; • A é a área da seção transversal da peça; Após a excução dos cálculos verificou-se que o deslocamento vertical (encurtamento) dos pilaretes foi insignificante, não maior que 0,05 mm. Mesmo considerando o fenômeno da fluência para este caso, o resultado da flecha ainda sim permaneceria bastante irrelavante. Deste modo, é aceitavel que se desconsidere qualquer tipo de discrepância encontrada nos resultados dos deslocamentos imediatos e ao longo do tempo nos pilaretes. É impotante frisar que mesmo não considerando, especificamente neste caso, a influência dos deslocamentos verticais imediatos e por fluência, a ocorrência do erro na medição dos deslocamentos nas vigas não é justificavel. Isso se deve porque o carregamento que foi aplicado na viga foi relativamente pequeno, não proporcionando uma alta deformação e consequentemente um alto deslocamento vertical nos pilaretes. Além dessas deficiências ocorridas na realização do ensaio experimental, é possível observar que alguns outros erros podem também ter acontecido na caracterização do material, ou seja, na determinação de suas propriedades físicas, tais como módulo de elasticidade, resistência à compressão ou resistência à tração. Esta afirmativa é feita pois estima-se uma possível relação entre módulo de elasticidade e resistência a compressão diretamente proporcional. A tabela de resistência à compressão do ANEXO 3 mostra que o concreto A possui resistência AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA FLUÊNCIA EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO 82 aos 28 dias superior a do concreto C. Porém, na tabela referente ao módulo de elasticidade, observa-se que o módulo de elasticidade do concreto A é menor do que o módulo do concreto C, ao contrário do esperado. Isto também pode ser observado entre os concretos B e D. O que é importante ressaltar é que nem sempre a relação entre módulo e resistência têm que ser diretamente proporcinal, ou seja, existiram casos em que um concreto mesmo tendo resistência a compressão maior que outro, seu módulo de elasticidade poderá ser menor. Assim sendo, é possível que tenha ocorrido algum equívoco na determinação desta ou de outras propriedades. Com a descrição de tais deficiências ocorridas no ensaio experimental é esperado que os resultados dos delocamentos nas vigas possam apresentar disparidades quando comparados com os resultados provenientes de cálculos analíticos. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 8 83 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA Neste capítulo será apresentado de forma bastante simples o comportamento da deformação por fluência no Método dos Elementos Finitos (MEF). Também são apresentadas as considerações utilizadas no cálculo dos programas que foram usados para a determinação da fluência nas vigas em estudo. Alem disso, é apresentada tanto a descrição da modelagem da geometria da estrutura como a aplicação do fenômeno da fluência em ambos os programas. Simultaneamente ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de programas de engenharia e de computadores com memórias expandidas e com tempos de execução mais rápidos, ocorreu o desenvolvimento de métodos numéricos para solucionar problemas não-lineares em duas ou três dimensões. Na área de estruturas em geral, a análise de estruturas de concreto armado tem sido tratada com o uso de leis constitutivas (tais como elástico, perfeitamente plástico ou com comportamento viscoelástico) (BAZÄNT [1988]). A análise numérica computacional deste trabalho será baseada no Método dos Elementos Finitos (MEF) que é um método numérico bastante útil na solução de problemas de engenharia, particularmente na análise do comportamento estrutural. 84 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA O Método dos Elementos Finitos consiste fundamentalmente num processo de discretização de um meio contínuo, com infinitos graus de liberdade, num conjunto de elementos discretos, designados por elementos finitos, unidos entre si por pontos discretos conhecidos como nós (BATHE [1996]). Neste trabalho foram utilizados dois programas comerciais para a modelagem das vigas em concreto armado, o ADINA e o DIANA. 8.1. CONSIDERAÇÃO DA FLUÊNCIA SEGUNDO O MEF Segundo BAZÄNT [1988], procedimentos analíticos que são exatos para predizer campos de tensão e de deformação com linearidade e homogeneidade encontram numerosas dificuldades quando aplicados em estruturas de concreto. Entre essas dificuldades está a incorporação de um comportamento não-homogêneo causado pela presença do aço, das fissuras no concreto, da umidade, da temperatura, dos efeitos de tensões triaxiais e da heterogeneidade do material. Embora existam tentativas recentes para modelagem do comportamento de estruturas de concreto armado baseadas em uma análise elástica por elementos finitos, a preponderância da pesquisa neste campo nos últimos cinco anos tem sido com a modelagem do comportamento inelástico em estruturas de concreto armado pelo uso dos elementos finitos (BAZÄNT [1988]). 8.1.1. FORMULAÇÃO DO MEF PARA ANÁLISE DA FLUÊNCIA EM ESTRUTURAS Para estruturas de concreto armado, em geral, é assumida a aplicação teórica de pequenas deformações/pequenos deslocamentos e assim, não será distinguido o equilíbrio estrutural na configuração deformada ou indeformada (BAZÄNT [1988]). A idéia básica do MEF baseado em deslocamentos é de representar os deslocamentos (u, v, w) dentro do elemento por meio dos deslocamentos nodais e funções de interpolação, assim: L u ( x, y, z ) = ∑ N j ( x, y, z )u i j =1 (8.1) SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 85 onde Nj são as funções de interpolação associadas com os L nós do modelo e ui são os valore nodais do deslocamento u (x, y, z). Expressões similares são aplicadas para v(x, y, z) e w(x, y, z). A taxa de deformação dentro do elemento pode ser definida como: {ε&( x, y, z )} = [B( x, y, z )]{δ&} (8.2) onde {ε&} é um vetor das componentes das taxas de deformação, [B] é a matriz dos {} & gradientes das funções de interpolação Nj e δ é o vetor de velocidade nodais do elemento, ou seja, {δ&} T = (u&1 , v&1 , w& 1 , u& 2 , v& 2 , w& 2 ,..., u& L , v& L , w& L ) (8.2a) Uma vez obtida a matriz gradiente dos deslocamentos [B], o equilíbrio é estabelecido pelo princípio dos deslocamentos virtuais: {R& }a = ∑ ∫ e [ B]T {σ& }dV ne V (8.3) A somatória é feita sobre todos elementos que compõem a malha de & elementos finitos e {R} a é o vetor de taxa de forças externas nodais. O comportamento do material é descrito por um processo inelástico. Decompondo-se a taxa de deformação total (ε&) em uma taxa de deformação elástica (ε&) e , uma taxa de deformação por fluência (ε&) c , uma taxa de deformação devido a perda de umidade com o ambiente (retração) (ε&) s e uma taxa de deformação devido a variação térmica (ε&) T , tem-se: ε& = ε&e + ε&c + ε&s + ε&T (8.4) onde todas as variáveis são função do tempo t. Deste modo, a taxa de deformação elástica e a taxa de tensão podem ser relacionadas da seguinte forma: {σ& } = [ D]{ε&}e (8.5) onde [D] é a matriz de elasticidade e {σ& } é a taxa de tensão. Para materiais que obedecem a processos inelásticos, a taxa de tensão é dada por: SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA {σ& } = [ D]({ε&} − {η&}) 86 (8.6) onde {η&} são as taxas de deformações inelásticas (fluência, retração e deformação térmica). As taxas de deformações inelásticas são, usualmente, dadas por um vetor em função da tensão, da temperatura e de qualquer acúmulo de deformação inelástica. {η&} = { f (σ ), t , T } (8.7) Substituindo a equação (8.6) na equação (8.3) chega-se a um sistema de {} & equação para as velocidades nodais δ desconhecidas. [ K ]{δ&} = {R& }a + {R& }η (8.8) &η sendo [K] a matriz de rigidez e {R} o vetor de taxa inicial inelástica que são dados por: [ K ] = ∑ ∫ e [ B] [ D][ B]dV (8.9) {R& }η = ∑ ∫ e [ B] [ D]{η&}dV (8.10) T V e T e V A equação (8.8) também pode ser escrita de forma incremental sobre um intervalo de tempo para deslocamentos incrementais {∆δ}e tensões incrementais {∆σ}. [ K ]{∆δ } = {∆R}a + {∆R}η (8.11) Do mesmo modo a equação (8.10) fica da forma: {∆R}η = ∑ ∫ e [ B] [ D]{∆η}dV T e V (8.12) Pode-se considerar que [K] permanece constante quando utilizarmos materiais que não variam suas propriedades com o tempo e também quando não for considerado o efeito de 2ª ordem, ou seja, a não-linearidade geométrica na estrutura. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 87 8.1.2. UM MODELO LINEAR DE ENVELHECIMENTO Segundo BAZÄNT [1982] uma das características que distingue o concreto de outro material viscoelástico é o efeito do envelhecimento. Por sofrer envelhecimento, a lei constitutiva do material se modifica ao longo do tempo. Esta modificação se deve a ação da hidratação química do cimento e é extremamente importante para a resposta da fluência. BAZÄNT [1982] comenta que ensaios experimentais indicam que a deformação devido a um incremento na carga é independente de todos os incrementos passados da carga e com isso pode-se aplicar o princípio da superposição de McHenry. Assim, para pequenos incrementos no vetor das tensões {dσ} ocorrendo em t’ medido a partir do tempo de concretagem, temos: t {ε (t )} = ∫ [ J (t , t ' )]{dσ } (8.13) 0 Se o material é isótropo e elástico a matrix [J(t,t’)], para um estado de tensão tridimensional, pode ser escrita: [ J (t , t ' )] = J (t , t ' )[ D ] ⎡1 ⎢− ν ⎢ ⎢− ν ⎢ [D ] = ⎢ 0 ⎢ ⎢ 0 ⎢ ⎢ ⎢⎣ 0 (8.14) −ν 1 −ν −ν −ν 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 (1 + ν ) 2 0 0 0 0 1 (1 + ν ) 2 0 0 0 0 ⎤ ⎥ ⎥ ⎥ ⎥ 0 ⎥ ⎥ 0 ⎥ ⎥ 1 ⎥ (1 + ν )⎥ 2 ⎦ 0 0 0 (8.15) Análises numéricas de estruturas sujeitas à fluência, baseadas na lei TensãoDeformação da equação (8.13) podem ser realizadas subdividindo o intervalo de tempo total de interesse em incrementos de tempo ∆t e tempos discretos tr (r = 1, 2,...). A integral da equação (8.13) pode então ser aproximada por finitas somas, que envolvem mudanças da tensão ao longo do tempo. 88 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 8.2. MODELO DE FLUÊNCIA DO ADINA Para a modelagem das vigas foi usada a versão 8.1.2 do ADINA (Automatic Dynamic Incremental Nonlinear Analysis). A representação do fenômeno da fluência pelo ADINA pode ou não incluir os efeitos de deformação térmica e de deformações plásticas independentes do tempo. O comportamento à fluência para qualquer tipo de material pode ser escolhido pelas definições disponíveis no próprio software: Material Termo-Elástico com Fluência (TECM), Material Termo-Plástico com Fluência (TPCM) ou Material Termo-Elasto-Plástico-Multilinear com Fluência (TEPMC). O modelo utilizado para a modelagem da fluência nas vigas foi o Material Termo-Elasto-Plástico-Multilinear com Fluência (TEPMC), pois o mesmo caracteriza de forma mais adequada tanto o fenômeno da fluência quanto às propriedades físicas do material. Este modelo considera efeitos de deformações térmicas ( e ), t TH rs de deformações plásticas independentes do tempo deformações por fluência t (e ) t P rs e de ( e ) . A relação constitutiva usada para o calculo é: t C rs ( E t TH σ ij = t Cijrs ers − t ersP − t ersC − t ers ) (8.16) E onde t σ ij é o tensor das tensões no tempo t e t Cijrs é o tensor de elasticidade na E temperatura correspondente ao tempo t. O tensor t Cijrs é expresso pelo módulo de elasticidade t E e pelo coeficiente de Poisson tν , ambos dependentes do tempo. O material TEPMC pode ser usado somente para modelagem de elementos de treliça (truss), de duas ou três dimensões (2-D solid ou 3-D solid), para elementos de casca (shell) ou elementos tubulares (pipe). Estes modelos podem ser usados para formulações com pequenas deformações/pequenos deslocamentos, pequenas deformações/grandes deslocamentos ou grandes deformações/grandes deslocamentos, onde neste último apenas elementos de duas ou três dimensões podem ser aplicados na modelagem. A aplicação da relação constitutiva da equação 8.16 implica que as deformações térmicas, plásticas e por fluência são independentes uma das outras. 89 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA Assim, a única interação entre elas vem do fato de que todas as deformações afetam as tensões. A Figura 8.1 mostra a curva Deformação-Tempo para situação de um Deformação por Fluência campo de tensões unidimensional. Tempo t Figura 8.1– Deformação considerada pelo ADINA em uma análise unidimensional. Para a determinação das deformações ou deslocamentos provenientes do fenômeno da fluência no ADINA, se faz necessária a escolha de uma Equação de Fluência. Deste modo, após a consideração do comportamento elástico, plástico ou elastoplástico do material, a deformação por fluência pode ser definida por meio de três equações: equação de potência, equação exponencial e equação de oito parâmetros. As três Equações de fluência utilizadas pelo ADINA são mostradas a seguir. 1- Lei Potencial da Fluência e C = a 0 .σ a1 .t a2 (8.17) 2- Lei Exponencial da Fluência e C = F .(1 − e R.t ) + G.t (8.18) F = a 0 . exp a1 .σ (8.19) ⎛σ⎞ R = a 2 .⎜⎜ ⎟⎟ ⎝ a3 ⎠ a4 G = a5 . exp a6 .σ (8.20) (8.21) 90 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 3- Lei de Oito Parâmetros da Fluência e C = S .T . exp − H (8.22) S = a 0 .σ a1 (8.23) T = t a 2 + a 3 .t a 4 + a 5 .t a 6 (8.24) onde: H= a7 θ + 273,16 (8.25) Para a análise do comportamento da deformação por fluência em estruturas de concreto utilizando o ADINA, foi feita uma simulação das três funções acima citadas baseadas no comportamento da curva Deformação-Tempo. Os cálculos primeiramente foram efetuados tendo como base a NBR 6118/2003 (Capítulo 6) e, posteriormente, tentou-se igualar as curvas determinadas em função das equações do software com a determinada pela NBR 6118/2003. A calibração das curvas em função das equações do ADINA foi realizada manualmente. Foi feita uma calibragem nas constantes das equações (a1... a7) para que as deformações resultantes se aproximassem das obtidas pela norma brasileira, como mostrado na figura 8.5. Verificou-se que das três funções citadas anteriormente, a que melhor representou a curva Deformação-Tempo proposta pela NBR 6118/2003 foi a Lei Exponencial da fluência (equação 8.18). A comparação das curvas DeformaçãoTempo entre a função exponencial dada pelo ADINA e os cálculos provenientes da NBR 6118/2203 podem ser encontrados no ANEXO 2 deste trabalho. 8.3. MODELO DE FLUÊNCIA DO DIANA Para a modelagem das vigas foi usada a versão 8.1 do DIANA. O software possibilita que efeitos ao longo do tempo, como a fluência, possam ser modelados com base em modelos viscoelásticos em série de Kelvin e Maxwell. O programa também pode gerar parâmetros nos modelos em série de Maxwell ou Kelvin para a 91 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA fluência, onde os dados de entrada possam ser funções de fluência descritas (geradas pelo próprio usuário) ou por modelos baseados em normas internacionais. Atualmente, essas normas são a European CEB-FIP Model Code 1990, o American Concrete Institute code 209 e a Duch NEN 6720 code. O modelo utilizado neste trabalho para o cálculo da fluência no DIANA foi o da norma Européia, o CEB-FIB 1990. A descrição deste modelo será feita na seção 8.3.1. Se considerados os modelos viscoelásticos (séries de Kelvin e Maxwell) para a representação do fenômeno da fluência e baseando-se no princípio da superposição, a função de fluência pode ser usada para o cálculo da deformação em função de um histórico de tensões. O comportamento da fluência é descrito por uma função J(t0 ,t). Na função de fluência descrita pelo software, a relação entre tensão e deformação é dada por: t0 ε (t ) = ∫ J (t 0 , t ).C.σ& (t )dt −∞ (8.26) A matrix C é adimensional e descrita em função do coeficiente de Poisson ν: ⎡ 1 −ν −ν ⎢ −ν 1 −ν ⎢ ⎢ −ν −ν 1 C=⎢ ⎢0 0 0 ⎢0 0 0 ⎢ ⎣0 0 0 0 0 0 0 0 0 2(1+ν ) 0 0 0 2(1+ν ) 0 0 ⎤ 0 ⎥⎥ 0 ⎥ ⎥ 0 ⎥ 0 ⎥ ⎥ 2(1+ν ) ⎦ (8.27) 8.3.1. MODELO DE FLUÊNCIA PARA O CONCRETO SEGUNDO O CEB-FIB 1990 Nesse tópico será mostrado como o DIANA, baseado na norma européia CEB-FIB 1990, leva em consideração o efeito da fluência em estruturas de concreto armado. Serão descritas também quais as propriedades dos materiais que o software utiliza para o cálculo das deformações e dos deslocamentos na modelagem das vigas. 92 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA O modelo do CEB-FIB 1990 considera o desenvolvimento da resistência à compressão do concreto fcm com o tempo. Essa evolução de resistência é função do tipo de cimento, da temperatura e de condições de cura e pode ser estimada como sendo: f cm (t) = βcc (t).f cm28 (8.32) onde fcm28 é a resistência a compressão do concreto aos 28 dias e βcc é um coeficiente que depende do tempo segundo a expressão: ⎛ ⎛ 28 ⎞ ⎞ βcc (t) = exp ⎜ s ⎜1 − ⎟⎟ ⎟⎟ ⎜ ⎜ t eq ⎠ ⎝ ⎝ ⎠ (8.33) onde s é um coeficiente que depende do tipo de cimento (Tabela 8.1) e teq é a idade equivalente do concreto definida como: 0 ⎛ 1 1 ⎞ t eq = ∫ c A ⎜ − ⎟dt t ⎝ Tref T(τ) ⎠ (8.34) T(τ) é a temperatura do concreto na idade de τ dias, Tref é a temperatura de referência igual a 293 ºK e CA é a constante de Arrhenius igual a 4000 K-1. Tabela 8.1 – Coeficiente de fluência para o Modelo de Código do CEB-FIB. Tipo de Cimento s α Cimento de endurecimento rápido e alta resistência (RS) 0,20 1 Cimento de endurecimento normal e rápido (N & R) 0,25 0 Cimento de endurecimento demorado (SL) 0,38 -1 O valor característico da resistência a tração ftk na idade de t dias pode ser estimado por: 2 ⎛ f (t) ⎞ 3 f tk = f tk 0,m . ⎜ ck ⎟ ⎝ f c0k ⎠ (8.35) com fck0,m = 1,4 MPa, fck0 = 10 MPa e onde fck é a resistência característica à compressão do concreto definida como: SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA f ck (t) = f cm (t) − ∆f 93 (8.36) onde ∆f = 8 MPa e fcm é a resistência média à compressão do concreto dada pela equação 8.32. O software também considera a evolução do módulo de elasticidade Ec com o tempo pela seguinte expressão: E c (t) = βcc (t).E c28 (8.37) onde Ec28 é o módulo de Elasticidade do concreto aos vinte e oito dias de idade e βcc é o coeficiente que depende do tempo dado pela equação 8.34. Dentro de uma faixa de serviço onde ⎢σ ⎢< 0,4 fcm(t0), a fluência assume um comportamento linear em relação a tensão. A função de fluência J(t, t0) pode ser calculada como: J(t, t 0 ) = φ(t, t 0 ) 1 + E c (t 0 ) E c28 (8.38) onde E(t0) é o módulo de elasticidade do concreto na idade do carregamento t0, e φ(t,t0) é o coeficiente de fluência. O efeito do tipo de cimento, da cura e da temperatura pode ser considerado modificando a idade do carregamento de acordo com: t 0,mod α ⎛ ⎛ 9 ⎞ ⎞ = max ⎜ 0,5 ; t 0,T ⎜ + 1⎟ ⎟ ⎜ 2 + t1.2 ⎟ ⎟ ⎜ 0,T ⎝ ⎠ ⎠ ⎝ (8.39) onde α é o coeficiente que depende do tipo de cimento (Tabela 8.1) e t0,T é definido como: t0 ⎛ 1 1 ⎞ t 0,T = ∫ c A ⎜ − ⎟ dt 0 ⎝ Tref T(τ) ⎠ (8.40) Na função de fluência, a norma européia também considera um coeficiente de fluência calculado por: φ(t, t 0 ) = φ0 .βc (t − t 0 ) (8.41) SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 94 Sendo que φ0 é conhecido como coeficiente de fluência incremental e βc(t-t0) é o coeficiente que descreve o desenvolvimento da fluência com o tempo após o carregamento. Estes dois coeficientes são respectivamente definidos em (8.42) e (8.47). Assim o coeficiente de fluência incremental pode ser definido como: φ0 = φRH .β(f cm28 ).β(t 0 ) (8.42) onde: 1− φRH = 1 + h= (8.43) 1 ⎛ h ⎞3 0, 46 ⎜ ⎟ ⎝ h0 ⎠ β(f cm28 ) = β(t 0 ) = RH RH 0 5,3 ⎛ f cm28 ⎞ ⎜⎜ ⎟⎟ ⎝ f cm,0 ⎠ 1 2 (8.44) 1 0,1 + t10 5 (8.45) 2.A c u (8.46) sendo RH é a umidade relativa do ambiente em porcentagem (%), RH0 = 100%, h é a altura da peça de concreto em milímetros (mm) (com Ac sendo a área da seção transversal e u o perímetro em contato com o ar) e h0 = 100 mm. O desenvolvimento da fluência no tempo é dado por: ⎛ ( t − t0 ) ⎞ βc (t − t 0 ) = ⎜ ⎜ β + ( t − t ) ⎟⎟ 0 ⎠ ⎝ H 0,3 (8.47) onde: 18 ⎛ ⎞ ⎛ ⎛ RH ⎞ ⎞ h ⎜ ⎟ ⎟ 250 βH = min 1500 ;150 ⎜1 + ⎜1, 2 + ⎟ ⎜ ⎝ RH 0 ⎠ ⎟ h 0 ⎜ ⎟ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠ (8.48) SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 95 8.4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MODELAGEM DAS VIGAS NO ADINA A modelagem das vigas em concreto foi realizada utilizando elementos tridimensionais (3D-Solid). Para a modelagem do aço foi utilizado elemento de viga de Bernoulli e Euller (Beam). As vigas analisadas neste software foram modeladas com as mesmas características geométricas das vigas analisadas experimentalmente, porém suas propriedades físicas definidas particularmente. O período para a determinação dos deslocamentos verticais (flechas) foi baseado no ensaio experimental. Deste modo, os deslocamentos foram tomados nos mesmos intervalos de tempo previstos experimentalmente. Os efeitos das deformações térmicas não foram considerados durante a modelagem das vigas, pois os mesmos não foram medidos no ensaio experimental e a temperatura foi dada como constante durante todo período estudado. No ADINA as vigas foram modelas considerando-se a aderência perfeita entre os dois materiais (aço e concreto), porém a modelagem das armaduras, neste software, terá que ser realizada juntamente com a modelagem da estrutura, pois a definição de superfícies e volumes assim se faz necessária. Na modelagem numérica no ADINA foi considerado o efeito da nãolinearidade física somente para o concreto. A curva Tensão-Deformação, que caracteriza o comportamento do concreto, foi definida em função dos dados retirados do ensaio experimental. A tabela com os valores das propriedades físicas dos concretos estão mostradas no ANEXO 3. O aço foi considerado como um material elástico e isotrópico com relação Tensão-Deformação linear. Seu módulo de elasticidade foi estipulado em 210GPa com coeficiente de Poisson de 0,3. 8.4.1. MODELAGEM DA ESTRUTURA A modelagem geométrica da viga em concreto armado foi feita considerando a estrutura tridimensional e definindo-se pontos, linhas, superfícies e volumes, respectivamente. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 96 Simultaneamente a modelagem da geometria da viga, foi feita também a modelagem somente das armaduras longitudinais, pois foram as únicas a serem consideradas em estudo. Para o aço foi definida uma seção transversal na opção Cross-Sections como elemento Pipe com diâmetro de 17,67 mm. Após a definição da geometria da viga, foi aplicado o carregamento em uma linha da superfície superior da peça. Este carregamento foi definido como 6,67 kN/m e posicionado no centro da viga com relação a sua coordenada longitudinal e, distribuído em relação a sua base. Nas análises também foi considerado o peso próprio da viga com um peso específico de 25 kN/m3. Estes carregamentos se mantiveram constantes ao longo de todo o ensaio. Com o carregamento aplicado haverá na viga uma variação da tensão ao longo de todo seu comprimento longitudinal, sendo que a máxima tensão (tração ou compressão) sofrida pela estrutura será no centro do vão. Porém, como as maiores deformações e os maiores deslocamentos verticais ocorrerão no meio da viga, a medição dessas duas grandezas não será feita em todo o comprimento, mas de forma pontual, no centro do vão. Fixou-se nas duas extremidades inferiores da estrutura a translação na direção vertical. A movimentação na direção horizontal foi permitida apenas em um dos apoios, sendo que o outro permaneceu fixo. A próxima etapa foi fazer a divisão no número de segmentos usados para a geração da malha, tanto para o aço representado por linhas, como para o concreto representado por volumes. É importante ressaltar que a divisão destes segmentos deve ser igual tanto para as linhas que representa o aço, como para os volumes que representam o concreto para garantir a aderência total entre o aço e o concreto por meio de nós coincidentes. A divisão do número de segmentos foi realizada levando-se em consideração a convergência nos resultados obtidos tanto para deformação quanto para deslocamento. A variação desses resultados foi observada na ordem de 10 ‰ após uma certa distribuição desses segmentos. Após a divisão de segmentos das linhas e dos volumes foi realizada a geração da malha. Para as linhas que representam o aço foram definidos 2 nós por elemento SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 97 (elemento de barra) e para os volumes que representam o concreto foram definidos 20 nós por elemento (elemento quadrático). A Figura 8.2 mostra o modelo de elementos finitos feito no ADINA. Figura 8.2– Modelagem da viga feita no ADINA. 8.5. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MODELAGEM DAS VIGAS NO DIANA No DIANA, a modelagem das vigas em concreto armado foi realizada também utilizando elementos tridimensionais (Struct-3D). Na modelagem do aço para estruturas de concreto armado, o software utiliza um comando denominado reinforcement. Este comando caracteriza que a armadura poderá ser inserida no material como barras isoladas ou como armadura distribuída. O DIANA considera a aderência perfeita entre os dois materiais (aço e concreto), porém para modelagem das armaduras não se faz necessário à definição de superfícies ou de volumes. Isto se deve, ao fato que no DIANA quando aplicado o comando reinforcement, a geração da armadura para concreto armado é feita automaticamente, por meio de elementos de viga de Bernoulli-Euller de 2 nós. As vigas analisadas neste software também foram modeladas com as mesmas características geométricas das vigas analisadas experimentalmente e suas propriedades físicas definidas particularmente. O período para a determinação dos deslocamentos verticais (flechas) também foi baseado no ensaio experimental. Assim SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 98 como no ADINA, os efeitos das deformações térmicas também não foram considerados durante a modelagem das vigas. Na modelagem numérica no DIANA foi considerado o efeito da nãolinearidade física somente para o concreto. A curva Tensão-Deformação, que caracteriza o comportamento do concreto, foi definida em função dos dados retirados do ensaio experimental assim como para o ADINA. Estes dados podem ser encontrados nas tabelas com os valores das propriedades físicas dos concretos mostradas no ANEXO 3. O aço foi considerado como um material elástico e isotrópico com relação Tensão-Deformação linear. Seu módulo de elasticidade foi adotado em 210GPa. 8.5.1. MODELAGEM DA ESTRUTURA A modelagem da viga em concreto armado foi feita considerando a estrutura tridimensional e definindo-se pontos, linhas, superfícies e volumes, respectivamente. Porém, a interface gráfica do DIANA tanto para a solicitação de dados como para o desenho geométrico da estrutura é pouco desenvolvida quando comparada com a do ADINA, ou seja, existe uma maior dificuldade tanto na modelagem da geometria como na aplicação das propriedades e na visualização dos comandos. Para a modelagem das armaduras longitudinais foi necessária somente à modelagem de seis pontos. Após a aplicação dos pontos foi escolhida a opção reinforcement e com isso caracterizadas as armaduras na viga. Para o aço foi definida uma área de seção transversal de 122,72 mm2 (bitola de 12,5mm) na opção de caracterização das propriedades físicas dos materiais. Após a definição da geometria da viga, foi aplicado um carregamento em um ponto médio da superfície superior da peça. Este carregamento foi definido uma força de 2000 N e posicionado no centro da viga com relação a sua coordenada longitudinal. Nas análises também foi considerado o peso próprio da viga adotada uma densidade 2,5. 10-6 kg/mm3. Todos os carregamentos se mantiveram constantes ao longo de todo o ensaio e as medições das deformações e dos deslocamentos serão feitas de forma pontual, no centro do vão. Fixou-se nas duas extremidades inferiores SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 99 da viga a translação no eixo vertical. A movimentação no eixo horizontal foi adotada apenas para um dos apoios, sendo que o outro permaneceu fixo. Após a conclusão na modelagem da geometria, dos carregamentos e das condições de contorno, fez-se a divisão no número de segmentos usados para a geração da malha. A divisão do número de segmentos foi realizada levando-se em consideração a convergência nos resultados do ADINA. Após a divisão de segmentos das linhas e dos volumes foi realizada a geração da malha. Para o aço não se faz necessária a criação da malha, pois o programa já o faz quando definida a opção reinforcement. Para os volumes que representam o concreto, foram usados elementos quadráticos com 20 nós por elemento. Este elemento é denominado pelo software como CHX 60. As figuras 8.3 e 8.4 mostram o elemento CHX 60 e o modelo de elementos finitos feito no DIANA, respectivamente. Figura 8.3– Elemento quadrático CHX 60. Figura 8.4 – Modelagem da viga feita no DIANA. 100 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 8.6. CONSIDERAÇÃO DO FENÔMENO DA FLUÊNCIA PELO ADINA Como já citado, o ADINA possibilita o cálculo da fluência baseando-se em três equações: Lei da potência, Lei exponencial e Lei de oito parâmetros. A escolha de qual destas três equações representará melhor o comportamento da fluência pelo ADINA é feita por opção do usuário. A curva que serviu como base de comparação para mostrar qual das três equações melhor representaria nosso modelo, foi à curva Deformação-Tempo embasadas na norma brasileira de concreto NBR 6118/2003. Os cálculos provenientes da NBR 6118/2003 para a determinação da fluência em vigas de concreto armado podem ser encontrados no ANEXO 2 deste trabalho. A Figura 8.5 mostra a comparação das curvas Deformação-Tempo das três equações disponíveis no ADINA para o cálculo da fluência, com a curva Deformação-Tempo calculada pela NBR 6118/203. 0 0 500 1000 1500 2000 0 0 500 a) 1000 b) 1500 200 0 0 500 1000 1500 200 c) Figura 8.5– Comparação das curvas de fluência do ADINA em vermelho com a curva de fluência da NBR 6118 em azul: a) Equação da potência; b) Equação exponencial; c) Equação de oito parâmetros. Para a análise do comportamento da viga biapoiada sobre efeito da fluência, optou-se pela escolha da função exponencial de fluência (equação 8.19). É fácil observar que os resultados das deformações ao longo do tempo encontrados para esta equação foram os que mais se aproximaram, em idades iniciais, quando comparada com a curva da NBR 6118, além de apresentar um comportamento assintótico caracterizando o fenômeno da fluência. BAZÄNT [1982] comenta que quando a deformação ao longo do tempo (fluência) é caracterizada por meio de uma equação exponencial, os resultados obtidos por meio desta equação serão mais preciso em idades mais recentes, ou seja, 101 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA este tipo de função consegue caracterizar melhor o comportamento da fluência no concreto em suas idades iniciais. É importante frisar que todas as três equações citadas para o cálculo da fluência no ADINA estão em função de constantes (a1, a2,..., a7). Deste modo, a “montagem” das curvas baseadas nas três equações do ADINA foi realizada com a adoção de valores para suas respectivas constantes. Estes valores foram encontrados calibrando-se manualmente as equações até ser achada uma maior aproximação com a curva modelo (NBR 6118/2003). Após a adoção da equação de fluência 8.19 usada no ADINA (equação exponencial) e a definição das suas respectivas constantes, foi feita a escolha de qual modelo de fluência que será usado. Como já referido no item 8.2 deste capítulo o modelo escolhido foi o TEPMC. Este modelo possibilita a manipulação do comportamento da fluência com a caracterização do comportamento do material (concreto). Deste modo, foi caracterizada a curva Tensão-Deformação para cada tipo de concreto utilizado neste trabalho. A Figura 8.6 mostra um exemplo da curva Tensão-Deformação caracterizada pelo ADINA. O programa não admite o comportamento de softening (amolecimento) na curva Tensão-Deformação proporcionando desta maneira uma maior rigidez ao elemento estrutural. εcc σct σ Tração εct ε Compressão σcc Figura 8.6 – Exemplo de uma curva gerada pelo ADINA para a caracterização física do concreto. Os valores das tensões e das deformações referentes à montagem das curvas estão sendo mostrados no ANEXO 3 deste trabalho e foram retirados de FIGUEIREDO [2003]. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 102 As figuras 8.7 e 8.8 mostram as telas do ADINA para a aplicação do modelo do material e para a definição do modelo TEPMC, respectivamente. Figura 8.7– Aplicação para o modelo de material utilizado. Figura 8.8– Caixa de entrada de dados referente ao modelo TEPMC. O período estipulado para a obtenção dos dados referentes a deslocamentos e deformações foram de 1, 2, 3, ..., 10, 20,..., 100, 200,..., 500, 1000, 1500, 2000, 2500, 3000 e 3500 dias. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 103 Os resultados das deformações e dos deslocamentos estão sendo mostrados no Capítulo 9. As figuras 8.9 e 8.10 mostram as isobandas de deformação e de deslocamento vertical, respectivamente. Figura 8.9– Isobanda de deformação no ADINA. Figura 8.10– Isobanda de deslocamento vertical no ADINA. 8.7. CONSIDERAÇÃO DO FENÔMENO DA FLUÊNCIA PELO DIANA Como já mencionado, o modelo escolhido para o cálculo da fluência no DIANA foi o CEB-FIB 1990. A preferência pela escolha deste modelo foi feita pelo fato de que o CEB-FIB 1990 é considerado uma das normas mais usadas no Brasil e no mundo para projetos que envolvem estruturas de concreto, em geral. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 104 A aplicação de um modelo de cálculo para a fluência no DIANA, assim como as definições de parâmetros necessários para esse cálculo, podem ser consideradas mais simples quando comparadas com as do ADINA. Isto implica em dizer que o modelo de fluência adotado pelo DIANA possui uma maior facilidade de manipulação e na aplicação das propriedades. É importante lembrar que as características da função de fluência descrita pelo CEB-FIB 1990 foram mostradas no Capítulo 5. Este tipo de função de fluência é classificada por um método denominado método produtório. Outra classificação para este método também é feita neste mesmo capítulo, agora em função de métodos para análise da fluência. Segundo estes métodos, o modelo apresentado pelo CEB-FIB 1990 é classificado como método da razão de fluência que concluiu que, por meio de dados experimentais retirados de ensaios em concretos “novos” e em qualquer idade t, a razão de fluência independe da idade de aplicação da carga. A aplicação da deformação por fluência nas vigas modeladas no DIANA foi feita usando um dos modelos de fluência disponíveis no software (viscoelástico ou normas), e o aplicando ao respectivo material requerido. Isto foi feito utilizando o comando que gerencia as propriedades dos materiais (property manager) e definindo estas propriedades para cada material, respectivamente. As propriedades físicas de cada viga estão sendo mostradas no ANEXO 3 e foram retiradas do ensaio experimental descrito no Capítulo 7. O DIANA, diferente do ADINA, pode considerar para um mesmo material dois modelos de comportamento. Isto que dizer que para um mesmo material pode-se requerer tanto o comportamento à fluência quanto a fissuração. Além disso, o software também considera uma definição mais precisa no comportamento do concreto pela curva Tensão-Deformação. Nesta definição é possível caracterizar, além da perda de rigidez devido à fissuração, o efeito de softening (amolecimento) no comportamento do concreto. A Figura 8.11 mostra a definição da curva Tensão-Deformação para a viga produzida com o concreto do tipo A. A consideração da não-linearidade física do material pode ser observada juntamente com o efeito de amolecimento. 105 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA σ σct εcc Tração εct ε Compressão σcc Figura 8.11– Curva Tensão-Deformação definida pelo DIANA para o concreto do tipo A. As figuras 8.12 e 8.13 mostram a caixa de dados para a aplicação dos modelos de fissuração e de fluência, respectivamente. Figura 8.12– Aplicação do modelo de fissuração para o concreto no DIANA. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 106 Figura 8.13– Aplicação do modelo de fluência do CEB pelo DIANA. O modelo de fissuração utilizado nos exemplos das vigas foi o Multidirectional Fixed Crack que caracteriza um modelo de fissuração distribuída. Como o modelo utilizado para a caracterização da fluência foi o CEB-FIB 1990 e, como este modelo é baseado no principio da superposição de McHenry, é certo não considerar a plasticidade no concreto à compressão, pois este princípio é limitado a estados de tensão que variem entre 40% a 50% da resistência a compressão do concreto (fck). As propriedades definidas para o cálculo da fluência no DIANA estão sendo mostradas na Tabela 8.2. Estes dados foram todos retirados e baseados no ensaio experimental descrito no Capítulo 7 deste trabalho e que servirá de comparação com os resultados de deslocamentos obtidos pelo software. Como não foram revelados valores de temperatura e umidade na realização do ensaio, resolveu-se estimar os mesmo tendo como base valores obtidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia no mesmo período em que foram realizados os ensaios de fluência nas vigas de concreto armado. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 107 Tabela 8.2 – Dados de entrada baseados no CEB 1990 para o DIANA. Modulo de Elasticidade aos 28 dias = 23,8 GPa Resistência à Compressão aos 28 dias = 25 GPa Tipo de Cimento = Secagem normal Tipo de Cura = Úmida Coeficiente de Poisson = 0,15 Umidade Relativa do Ambiente = 50 % Altura Fictícia da Peça = 120 mm Temperatura = 25 ºC Dia de Carregamento = 29 O período para a obtenção dos dados referentes a deslocamentos e deformações foram os mesmo estipulados para o ADINA. Após a aplicação dos dados referentes ao material estudado, é feito o processamento dos mesmos pelo software. Os resultados de deformações e deslocamentos estão sendo mostrados no Capítulo 9. As figuras 8.14 e 8.15 mostram as isobandas de deformação e deslocamento vertical das vigas de concreto no DIANA, respectivamente. Figura 8.14– Isobanda de deformação no DIANA. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DA FLUÊNCIA 108 Figura 8.15– Isobanda de deslocamento vertical no DIANA. Além das isobandas de deformação e de deslocamento vertical pode ser visualizado no DIANA a fissuração da estrutura em vários níveis de carregamento em vários períodos de tempo. A Figura 8.16 mostra a fissuração da viga após 3500 dias. Figura 8.16– Zona fissurada na viga D após 3500 dias mostrada no DIANA. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 9 109 COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÉRICOS Neste capítulo, são feitas comparações entre os resultados dos deslocamentos do ensaio experimental (Cápitulo 7), os cálculos embasados na NBR 6118/2003 (Capítulo 6) e os resultados encontrados pela simulação da fluência nas vigas de concreto armado modeladas nos programas ADINA e DIANA (Capítulo 8). O objetivo destas comparações é de verificar se os modelos numéricos apresentam boa representatividade quando comparados com os modelos do ensaio experimental. 9.1. COMPARAÇÃO ENTRE DESLOCAMENTOS As comparações com os dados experimentais foram feitas considerando os primeiros 140 dias após a aplicação do carregamento, pois a medição destes dados só se fez até este período. Estas comparações são realizadas por meio de curvas de Deformação-Tempo e de Deslocamento-Tempo formadas com os respectivos resultados. Assim, os resultados de deslocamento para as vigas A, B, C e D estão sendo mostrados nas Figuras 9.1, 9.2, 9.3 e 9.4, respectivamente. A tabela contendo COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 110 os valores de deslocamentos e de deformações para os concretos A, B, C e D, está apresentada no ANEXO 1 deste trabalho. Deslocamento-Tempo (Viga A) 0,040 NBR 6118 ADINA Deslocamento (m) Experimental 0,030 DIANA 0,020 0,010 0,000 0 50 100 150 Tempo (dias) Figura 9.1 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 140 dias para viga A. Deslocamento-Tempo (Viga B) 0,040 NBR 6118 ADINA Deslocamento (m) Experimental 0,030 DIANA 0,020 0,010 0,000 0 50 Tempo (dias) 100 150 Figura 9.2 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 140 dias para viga B. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 111 Deslocamento-Tempo (Viga C) 0,040 NBR 6118 ADINA Experimental Deslocamento (m) 0,030 DIANA 0,020 0,010 0,000 0 50 100 150 Tempo (dias) Figura 9.3 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 140 dias para viga C. Deslocamento-Tempo (Viga D) 0,040 NBR 6118 ADINA Deslocamento (m) Experimental 0,030 DIANA 0,020 0,010 0,000 0 50 100 150 Tempo (dias) Figura 9.4 – Comparação entre as curvas de deslocamento até 140 dias para viga D. Todos os gráficos Deslocamento-Tempo, no período de 140 dias, apresentam características semelhantes com relação ao seu desenvolvimento ao longo do tempo, ou seja, cada curva (ADINA, DIANA, NBR 6118 ou Ensaio Experimental) apresenta, aproximadamente, o mesmo comportamento quanto à fluência, independente do tipo de concreto utilizado (A, B, C ou D). Observa-se nas Figuras 9.1, 9.2, 9.3 e 9.4 que as curvas de Deslocamento-Tempo do ADINA, DIANA e NBR 6118 mantêm uma mesma equivalência, tanto em termos qualitativos como COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 112 quantitativos. Esta equivalência é devido às propriedades das funções que caracterizam a fluência no concreto serem as mesmas, tanto no DIANA como na NBR 6118. No ADINA, a função utilizada para calcular a fluência é uma função exponencial, caracterizando um comportamento semelhante nos primeiros 140 dias de ensaio, quando comparada com as curvas citadas anteriormente. Nas mesmas figuras, observou-se que as curvas dos resultados obtidos com os ensaios experimentais caracterizaram o comportamento da fluência devido ao aumento assintótico do deslocamento ao longo do tempo. Verificou-se que esse aumento do deslocamento ao longo do tempo foi, em média, 2,5 vezes maior (em 140 dias) quando comparadas com as outras curvas. Em termos quantitativos, estes resultados estão bem acima do que normalmente era para ocorrer, uma vez que resultados de âmbito experimental tendem a mostrar menores valores quando comparados com resultados oriundos de cálculos analíticos (Normas ou Códigos). Esta afirmativa é feita partindo-se do pressuposto que nos cálculos analíticos estão sendo utilizados coeficientes que majoram o carregamento e minoram as propriedades dos materiais. A pergunta feita agora é “Qual o motivo para a grande diferença entre os resultados dos deslocamentos do ensaio experimental e das análises numéricas?” A explicação para tal diferença encontrada entre esses resultados pode ser dada levando-se em consideração quatro hipóteses. A primeira hipótese considera que a diferença entre os deslocamentos numéricos e experimentais foi atribuída somente aos erros ocorridos durante a realização dos ensaios experimentais, direta ou indiretamente. A segunda hipótese considera que a diferença entre os deslocamentos foi atribuída somente as equações dos modelos numéricos (Normas ou Códigos). Esta hipótese partiu do pressuposto que as equações dos modelos numéricos foram criadas a partir de resultados de ensaios experimentais executados com materiais diferentes dos encontradas na atualidade. A terceira hipótese considera que possa ter havido erros na medição inicial dos deslocamentos da viga, pois ocorreram grandes acréscimo nos deslocamentos COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 113 iniciais das vigas num curto intervalo de tempo (10 primeiros dias). Este tipo de comportamento não caracteriza o fenômeno da fluência. A quarta hipótese considera que a diferença entre ambos os resultados (numérico e experimental) foi atribuída, simultaneamente, as três hipóteses citadas anteriormente, ou seja, todas as hipóteses podem ter influenciado de maneira significativa na diferença dos resultados dos deslocamentos. Considerando-se somente a primeira hipótese, verificou-se que dois principais fatores podem ser atribuídos ao aumento excessivo no deslocamento dos ensaios experimentais. Estes fatores são descritos no Capítulo 7 como deficiências do ensaio experimental e são: controle de umidade/temperatura e erro na caracterização das propriedades físicas dos materiais. Foi verificado também neste mesmo capítulo, que as deficiências devido ao erro nas vinculações e os erros de medição dos deslocamentos pouco contribuíram para a diferença ocorrida entre as curvas experimentais e as demais. Como a umidade relativa do ar, a temperatura e as propriedades físicas do material estão correlacionadas entre si, resolveu-se manipula-las de modo a verificar a sensibilidade destes parâmetros na análise. Com isso, procurou-se chegar a uma possível explicação para a discrepância entre os resultados obtidos nas curvas. Como exemplo, foi escolhido o gráfico Deslocamento-Tempo obtido em função do concreto do tipo D. Observa-se na Figura 9.4 que as curvas da NBR 6118, do ADINA e do DIANA estão caracterizando um mesmo comportamento, quantitativo e qualitativo, até os 140 dias de ensaio. Desta maneira, optou-se por representar as três curvas de forma única, ou seja, por uma única curva chamada de curva variável, uma vez que seus comportamentos são praticamente equivalentes. A manipulação da curva variável será realizada por meio de mudanças no valor do módulo de elasticidade e no valor da umidade relativa do ar na função de fluência, disponível na NBR 6118. Estas mudanças foram realizadas com o intuito de obter uma maior sensibilidade no comportamento dos deslocamentos ao longo do tempo da viga no concreto do tipo D. Optou-se por escolher a função de fluência da NBR 6118 para representar o comportamento da curva variável, pois a mesma COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 114 apresenta maior praticidade quando comparada com a manipulação nos dois programas, ADINA e DIANA. Primeiramente, optou-se em mudar somente o valor do módulo de elasticidade do concreto na função de fluência. Com a diminuição do módulo de elasticidade em relação ao módulo inicial (Anexo 3), verificou-se que ocorreu, praticamente, o mesmo aumento no valor dos deslocamentos ao longo do tempo. Isso demonstra um crescimento proporcional entre si dos valores dos deslocamentos para todos os pontos (dias) da curva, comparada com a curva original (Figura 9.5). É importante ressaltar que feito o contrário, ou seja, o valor do módulo de elasticidade tivesse sido aumentado, ocorreria uma diminuição praticamente igual nos deslocamentos da curva original. Deslocamento-Tempo (Viga D) Deslocamento (m) 0,040 Curva Original (E = 35,6GPa) Curva Experimental Curva Variável (E = 11,3 GPa) 0,030 0,020 0,010 0,000 0 50 100 150 Tempo (dias) Figura 9.5– Variação somente do módulo de elasticidade do concreto. Destaca-se nesta primeira verificação que diminuindo somente o módulo de elasticidade do concreto, a curva variável equivale-se à curva original apenas entre 75 e 140 dias de ensaio como mostrado na Figura 9.5. Optou-se também por verificar o comportamento da curva original quando considerada somente a variação da umidade relativa do ar. A variação no valor da umidade foi feita inicialmente considerando um valor fictício igual a 0. Na Figura 9.6, está apresentada uma nova curva variável obtida com a diminuição da umidade relativa do ar. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 115 Diminuindo-se apenas o valor da umidade relativa do ar em relação ao seu valor inicial observa-se na Figura 9.6 que a curva variável tende a aumentar seus valores de deslocamento ao longo do tempo de maneira desproporcional. Deslocamento-Tempo (Viga D) Deslocamento (m) 0,040 Curva Original (U = 50%) Curva Experimental 0,030 Curva Variável (U = 0%) 0,020 0,010 0,000 0 50 100 150 Tempo (dias) Figura 9.6– Variação somente da umidade relativa do ar. Este crescimento desproporcional no deslocamento ao longo do tempo indica a influência da umidade relativa do ar no concreto, quando levado em consideração o fenômeno da fluência. Deslocamento-Tempo (Viga D) Deslocamento (m) 0,040 Curva Original (E=35,6GPa e U=50%) Curva Experimental Curva Variável (E= 20GPa e U= 15%) 0,030 0,020 0,010 0,000 0 50 100 150 Tempo (dias) Figura 9.7– Variação simultânea do módulo de elasticidade e da umidade relativa do ar. Por último, tentou-se aproximar a curva variável da curva experimental manipulando simultaneamente e aleatoriamente o valor do módulo de elasticidade e COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 116 da umidade relativa do ar. Na figura 9.7, está apresentada a curva variável encontrada considerando-se a umidade de 15% e do módulo de elasticidade de 20GPa. Verifica-se que as mudanças simultâneas ocorridas no módulo de elasticidade e na umidade relativa do ar caracterizaram um comportamento da curva variável semelhante ao da curva experimental. Levando-se em consideração a hipótese adotada, pode-se afirmar por meio desta análise que, as diferenças entre os resultados númericos e experimentais estejam vincunladas somente a possíveis erros no ensaio experimental. Assim é razoável considerar que ocorreram possíveis falhas na obtenção do módulo de elasticidade e na consideração do efeito real da umidade relativa do ar (in situ). Analisando agora a segunda hipótese, tentou-se explicar a discrepância entre os resultados experimentais e numéricos. Partiu-se do pressuposto que os modelos numéricos utilizados para a caracterização da fluência (NBR 6118 e CEB-FIB 1990) encontram-se desatualizados. Isto implica em dizer que estes modelos de cálculo não descrevem de forma totalmente adequada o comportamento da fluência no concreto. Uma explicação para isto pode ser dada verificando-se a evolução na composição do cimento atual quando comparado com cimentos produzidos em décadas anteriores. Atualmente, após 28 dias de cura, a evolução da resistência a compressão em concretos produzidos a partir de cimentos atuais é muito baixa, o que não acontecia com concretos produzidos com cimentos antigos. Isto se deve, pois atualmente os cimentos estão cada vez mais finos e tendem a ficar hidratados mais rápido (FIGUEIREDO [2004]). Considerou-se que as equações disponíveis em normas e códigos foram criadas a partir de vários ensaios experimentais. Estes ensaios foram executados com cimentos que possuem propriedades bastante diferentes comparados com os cimentos produzidos atualmente. Deste modo, pode-se considerar que estas equações não conseguem caracterizar um real comportamento da fluência em concretos produzidos com cimentos atuais. A Figura 9.8 ilustra a evolução da resistência a compressão para concretos produzidos a partir de cimentos novos e antigos. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 117 fck fck,28 Análise da Fluência Cimento Novo Cimento Antigo Tempo 28 dias Figura 9.8– Evolução da resistência a compressão de concretos produzidos a partir de cimentos novos e antigos (FIGUEIREDO [2004]). Como a evolução da resistência a compressão em concretos produzidos com cimentos atuais após 28 dias é baixa, é aceitável que as deformações e deslocamentos oriundos deste concreto sejam maiores do que em concretos que apresentam maiores evoluções em sua resistência a compressão após 28 dias (FIGUEIREDO [2004]). Na Figura 9.8 está apresentado que, após 28 dias, os concretos produzidos a partir de cimentos antigos possuem uma evolução na sua resistência a compressão. Devido a este considerável aumento em sua resistência após 28 dias, é previsível que ocorram menores deformações com o passar do tempo. A terceira hipótese considera que a diferença entre os resultados experimentais e numéricos pode ser, parcialmente explicada, devido a um erro ocorrido na medição dos deslocamentos em idade iniciais (10 primeiros dias). Podese afirmar tal hipótese, pois o comportamento inicial das curvas apresentadas nas Figuras 9.1, 9.2, 9.3 e 9.4 não caracteriza o fenômeno da fluência. A Figura 9.9 é o gráfico de Deslocamento-Tempo da viga produzida com concreto D e foi tomada como exemplo para mostrar tal comportamento. É importante ressaltar que este comportamento pode ser observado não só na curva de Deslocamento-Tempo da viga produzida com concreto do tipo D, como também em qualquer uma das outras curvas obtidas por meio dos ensaios experimentais mostradas nas Figuras 9.1, 9.2 e 9.3. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 118 Deslocamento-Tempo (Viga D) Deslocamento (m) 0,040 NBR 6118 ADINA Experimental DIANA 0,030 0,020 Pico de Deslocamento 0,010 0,000 0 50 100 150 Tempo (dias) Figura 9.9– Picos de deslocamento excessivo em um curto intervalo de tempo. A quarta hipótese é a mais provável, pois considera que a diferença entre os resultados de deslocamentos experimentais e numéricos é atribuída as três hipóteses citadas anteriormente, ou seja, cada uma das hipóteses podem ter influenciado de maneira significativa na diferença dos resultados dos deslocamentos. As Figuras 9.10, 9.11, 9.12 e 9.13 apresentam gráficos de DeslocamentoTempo obtidos pelas respostas das modelagens no ADINA e DIANA, juntamente com a formulação proposta pela NBR 6118, para um intervalo de tempo de 3000 dias. Deslocamento-Tempo (Viga A) 0,030 NBR 6118 Deslocamento (m) ADINA DIANA 0,020 0,010 0,000 0 700 1400 2100 2800 3500 Tempo (dias) Figura 9.10– Comparação entre as curvas de deslocamento até 3000 dias para viga A. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS Deslocamento-Tempo (Viga B) NBR 6118 0,030 Deslocamento (m) ADINA DIANA 0,020 0,010 0,000 0 700 1400 2100 Tempo (dias) 2800 3500 Figura 9.11– Comparação entre as curvas de deslocamento até 3000 dias para viga B. Deslocamento-Tempo (Viga C) 0,030 NBR 6118 Deslocamento (m) ADINA DIANA 0,020 0,010 0,000 0 700 1400 2100 2800 3500 Tempo (dias) Figura 9.12– Comparação entre as curvas de deslocamento até 3000 dias para viga C. 119 COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 120 Deslocamento-Tempo (Viga D) 0,030 NBR 6118 Deslocamento (m) ADINA DIANA 0,020 0,010 0,000 0 700 1400 2100 Tempo (dias) 2800 3500 Figura 9.13– Comparação entre as curvas de deslocamento até 3000 dias para viga D. Foi observado nas Figuras 9.10, 9.11, 9.12 e 9.13 que, após aproximadamente 150 dias, ocorre em todas as vigas uma divergência nos resultados dos deslocamentos. A diferença entre os resultados dos deslocamentos obtidos com os programas ADINA, DIANA e pela NBR 6118, já era esperada. Isto se deve, primordialmente, ao tipo de função utilizada pelo ADINA para o cálculo da fluência. Como já explicitado, quando utilizada uma função do tipo exponencial para calcular a fluência, os resultados de deslocamentos e deformações, em tempos mais afastados do inicial, não apresentam boa representatividade. A pergunta que pode ser feita agora é “Como pode existir uma diferença considerável nos resultados entre a NBR 6118 e o DIANA, se o tipo de método para o calculo da fluência (Método da Razão de Fluência) é o mesmo para os dois e as funções de fluência utilizadas pelos dois são muito parecidas?” Essa pergunta pode ser respondida baseando-se nas equações 8.44 e 8.49 do Capítulo 8 que representam, na formulação do DIANA (CEB-FIB 1990), a evolução da resistência a compressão e do módulo de elasticidade do concreto com o tempo. Assim, com a existência de tais evoluções, a estrutura (viga) tende a ficar mais rígida, ou seja, menos deformável. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 121 Deslocamento-Tempo (Viga D) Deslocamento (m) 0,040 0,030 NBR 6118 ADINA Curva Variavel (E=20GPa e U=15%) DIANA 0,020 0,010 0,000 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 Tempo (dias) Figura 9.14– Gráfico de Deslocamento-Tempo para viga D com Curva Variável até 3000 dias. O gráfico da Figura 9.14 apresenta a comparação entre as curvas de Deslocamento-Tempo do ADINA, do DIANA, da NBR 6118 e da Curva Variável até 3000 dias. Esta tenta representar, por meio da retroanalise feita anteriormente, o comportamento do concreto do tipo D. O comportamento da curva variável mostrado na Figura 9.14 foi obtido variando o módulo de elasticidade e a umidade relativa do ar do equacionamento proposto pela NBR 6118 até que fossem achados resultados de deslocamentos próximos dos resultados encontrados no ensaio experimental. 9.2. COMPARAÇÃO ENTRE DEFORMAÇÕES Na comparação entre os resultados das deformações, os dados do ensaio experimental também não foram levados em conta, pois não houve a coleta dos mesmos para esse tipo de estudo. Os gráficos comparativos entre as deformações estão sendo mostrados nas Figuras 9.14, 9.15, 9.16 e 9.17 para as vigas A, B, C e D, respectivamente. O intervalo de tempo tomado para a comparação dos dados também foi de 3000 dias. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS Deformação-Tempo (Viga A) 1,5E-03 Deformação (m/m) NBR 6118 ADINA 1,0E-03 DIANA 5,0E-04 0,0E+00 0 700 1400 2100 2800 3500 Tempo (dias) Figura 9.15– Comparação entre as curvas de deformação até 3000 dias para viga A. Deformação-Tempo (Viga B) 1,5E-03 Deformação (m/m) NBR 6118 ADINA 1,0E-03 DIANA 5,0E-04 0,0E+00 0 700 1400 2100 2800 3500 Tempo (dias) Figura 9.16– Comparação entre as curvas de deformação até 3000 dias para viga B. 122 COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 123 Deformação-Tempo (Viga C) 1,5E-03 Deformação (m/m) NBR 6118 ADINA 1,0E-03 DIANA 5,0E-04 0,0E+00 0 700 1400 2100 2800 3500 Tempo (dias) Figura 9.16– Comparação entre as curvas de deformação até 3000 dias para viga C. Deformação-Tempo (Viga D) 1,5E-03 Deformação (m/m) NBR 6118 ADINA 1,0E-03 DIANA 5,0E-04 0,0E+00 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 Tempo (dias) Figura 9.17– Comparação entre as curvas de deformação até 3000 dias para viga D. Os resultados obtidos para as deformações das quatro vigas representadas pelas Figuras 9.10, 9.11, 9.12 e 9.13 estão dentro do previsto. Esta afirmativa pode ser feita com base na descrição sobre a diferença nos resultados dos deslocamentos das três curvas, anteriormente apresentadas. Isto se deve ao fato de que, como a viga é considerada biapoiada, as maiores deformações, necessariamente, estão ocorrendo onde ocorrem nos pontos de maiores deslocamentos, e vice-versa. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 124 Na Tabela 9.1 estão apresentadas as diferenças percentuais entre os resultados dos deslocamentos por fluência nas quatro curvas montadas a partir das respostas fornecidas pelo ADINA (AD), DIANA (DI), NBR 6118 (NBR) e Ensaio Experimental (EE). Os valores percentuais foram obtidos dividindo-se a diferença entre os deslocamentos verticais (flecha) de duas curvas aleatórias pelo valor do menor deslocamento entre essas curvas. Pelos valores fornecidos na Tabela 9.1, observa-se que existe uma diferença bastante significativa nos valores dos deslocamentos do ensaio experimental quando comparados com qualquer uma das outras curvas (ADINA, DIANA ou NBR 6118). No caso da viga B, a diferença entre o EE e a NBR foi maior que o dobro do valor registrado pela norma. Tabela 9.1 – Diferenças percentuais entre os resultados dos deslocamentos. VIGA A B C D Tempo (dias) f EE − f NBR f NBR f NBR − f AD f AD f NBR − f DI f DI f DI − f AD f AD 100 147 % 6% 3% 3% 3000 -- 35 % 13 % 20 % 100 212 % 5% 0,8 % 5% 3000 -- 37 % 10 % 22 % 100 121 % 7% 3% 4% 3000 -- 38 % 20 % 12 % 100 156 % 6% 5% 1,2 % 3000 -- 34 % 15 % 16 % FLECHA FLECHA FLECHA FLECHA Como observado em todos os gráficos de deslocamento e também pela Tabela 9.1, quando comparados os valores dos deslocamentos entre a NBR 6118 e os dois programas, verificou-se que o DIANA foi o que obteve uma melhor aproximação de valores com a norma. Na comparação entre os dois programas, foi verificado que COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÚRICOS 125 devido às diferenças nas funções matemáticas expressas por ambos, existem diferenças de valores somente em idades mais avançadas, conforme comentado anteriormente. Na Tabela 9.1 não foram comparados os resultados dos deslocamentos por fluência do Ensaio Experimental com o ADINA e com o DIANA, pois as curvas determinadas com os resultados dos programas apresentaram resultados muito semelhantes aos obtidos pela NBR 6118, para o período de 100 dias, desta maneira optou-se por utilizar apenas a NBR 6118 na comparação com os resultados experimentais. CONCLUSÕES 10 126 CONCLUSÕES Conclui-se que as modelagens numéricas feitas nos programas ADINA e DIANA, e os cálculos embasados na NBR 6118/2003 para a caracterização do fenômeno da fluência em vigas de concreto armado não conseguiram representar, de forma quantitativa, o comportamento da fluência quando comparadas com os ensaios experimentais realizados em laboratório. Conclui-se que a diferença quantitativa entre os deslocamentos apresentados nas curvas experimentais e numéricas foi atribuída, simultaneamente, a três fatores: possíveis erros ocorridos durante a realização do ensaio experimental, direta ou indiretamente; possíveis erros na medição inicial dos deslocamentos no ensaio experimental e a desatualização dos modelos que calculam a fluência (NBR 6118/2003 e CEB-FIB 1990). Testando diferentes valores para o módulo de elasticidade do concreto do ensaio D e para a umidade relativa do ar, verificou-se que foi possível aproximar o comportamento entre a curva experimental e a numérica. Deste modo, pode-se concluir que estas duas propriedades influenciam de maneira significativa a deformação por fluência em estruturas de concreto e precisam ser adequadamente representadas. CONCLUSÕES 127 Concluiu-se também, que a desatualização dos modelos da NBR 6118/2003 e do CEB-FIB 1990 utilizados para a caracterização da fluência no concreto é atribuída à utilização de materiais com propriedades físicas diferentes dos materiais utilizados atualmente, ou seja, não foi levada em consideração, em suas elaborações, a evolução tecnológica no comportamento de tais materiais. Pode-se concluir que todas as curvas apresentaram um bom comportamento qualitativo, ou seja, todas caracterizaram de forma adequada o comportamento assintótico do fenômeno estudado. Devido às deficiências ocorridas no ensaio experimental, a possíveis erros na medição inicial dos deslocamentos e a validade parcial dos métodos de cálculo da fluência descritos na NBR 6118/2003 e no CEB-FIB 1990, é possível concluir que não pode ser feita nenhuma correlação entre os resultados de deslocamento dos cálculos analíticos e dos ensaios experimentais. Porém, é possível estabelecer, quantitativamente, a eficiência e a eficácia dos programas utilizados neste trabalho quando requeridos a calcular a deformação por fluência em vigas de concreto armado, uma vez que conseguiram reproduzir, aproximadamente, o comportamento do ensaio experimental quando alterados alguns dados de entrada (Umidade e Módulo de Elasticidade). Quando comparadas às curvas entre os programas (ADINA e DIANA) e a NBR 6118, constatou-se que, tanto em termos de deformações quanto em termos de deslocamentos, as curvas obtidas por meio do DIANA foram as que mais se aproximaram da NBR 6118. Fato que é justificado pela semelhança entre as suas funções de fluência. A disparidade dos resultados (deformações e deslocamentos) entre as curvas obtidas por meio do ADINA e da NBR 6118 é atribuída, principalmente, às características distintas entre suas respectivas funções de fluência. Assim, pode-se concluir que o DIANA representou melhor que o ADINA a deformação e o deslocamento por fluência quando tomada como base a NBR 6118/2003. Pode-se concluir ainda, com relação aos dois programas, que a simulação do fenômeno da fluência em estruturas de concreto é melhor representada pelo DIANA, pois este software permite a consideração simultânea de efeitos como perda da CONCLUSÕES 128 rigidez (hardening), amolecimento (softening) e retração. Soma-se a isto uma maior simplicidade quanto à caracterização da fluência. 10.1. PROPOSTAS PARA FUTUROS TRABALHOS Com base nas conclusões, uma proposta interessante para os próximos trabalhos será a realização de novos ensaios experimentais em vigas de concreto armado, porém deve-se tomar cuidado em sua execução para que não possa vir a ocorrer irregularidades que o comprometam, como as citadas ao longo deste trabalho. Estes ensaios poderão então ser comparados com sua modelagem numérica baseada no MEF ou em qualquer outro método de cálculo que considera o fenômeno da fluência. O objetivo destas comparações seria de verificar qual a real influência dos possíveis erros ocorridos no ensaio experimental descrito neste trabalho. Com os resultados de novos ensaios experimentais, propõe-se também um estudo para atualizar o modelo matemático da NBR 6118/2003 proposto a calcular a fluência em estruturas de concreto armado. Desta forma, será possível adequar um novo modelo de fluência para a NBR 6118/2003 e verificar qual sua diferença com o modelo elaborado a partir de materiais antigos se realmente for comprovada a ineficiência causada pela desatualização do modelo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 11 129 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ACI, Americam Concrete Institute: ACI 209-92. Prediction of Creep, Shrinkage, and Temperature Effects in Concrete Structures, 1992. 2. ADINA SYSTEM – Automatic Dynamic Incremental Nonlinear Analysis,Version 8.0, ADINA System Online Manuals, 71 Elton Ave, Watertown, USA, September 2003. 3. ARGYRIS, J.H.; WILLAM, K. J.; New developments in the inelastic analysis of quasistatic and dynamic problems – Int. J. Num. Meth. Eng., 14, No. 12, 1979. 4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado e Protendido – NBR 6118, São Paulo, 2003. 5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.Concreto Endurecido – Determinação da Fluência – NBR 8224, Rio de Janeiro, 1983. 6. BATHE, K.J.; KLAUS; Finite Element Procedures. Prentice Hall, Inc., New Jersey, 1996. 7. BATHE, K.J.; KOJIC, M.; The Effective-Stress-Function Algorithm for Thermo-Elasto-Plasticity and Creep – International Journal for Numerical Methods in Engineering, Vol. 24, No 8, pp 1509-1532, 1987. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 130 8. BAZÄNT, Z.P.; Creep and Shrinkage in Concrete Structures – John Wiley & Sons Ltda., 1982. 9. BAZÄNT, Z.P.; Mathematical Modeling of Creep and Shrinkage of Concrete – Northwestern University, Envanston, Illinois, USA, 1988. 10. BAZÄNT, Z.P.; WITTMANN, F.H.; Creep and Shrinkage in Concrete Structures – Lausenne, Switzerland, 1982. 11. CALLISTER Jr., W. D.; Ciência e engenharia de materiais :uma introdução Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 2002. 12. CREUS, G.J; Viscoelasticity – Basic Theory and Aplications to Concrete Structures – Springer-Verlag, 1975. 13. CEB, Manual: Evalution of the time dependent behavior of concrete, Bulletin d’Information nº 199, Comite Euro-Internacional du Beton, Paris, Septembre, 1990. 14. CEB, Model Code 1990, Bulletin d’Information nº 203, Comité Européen du Betón – Fédération International de la Précontrainte, Lausanne, Juin,1991. 15. COLLINS, M.P.; MITCHELL, D.; Prestressed Concrete Basics – Ottawa, Canadian Prestressed Concrete Institute, 1987. 16. EQUIPE DE FURNAS: Concreto – Ensaios e Propriedades – Ed. PINI Ltda. – São Paulo 1997. 17. FERRAZ, J.C.F.; A relação do Concreto e a Redistribuição das Tensões nas Peças de Concreto Armado – BT/PEF 8603,1986. 18. FERRAZ, J.C.F.; Evolução ao Longo do Tempo das Tensões de Cisalhamento nas Vigas de Concreto Protendido – BT/PEF 8606,1986. 19. FIGUEIREDO, A.D.; Estudo de Deformação por Carga Mantida em Vigas de Concreto Armado – RELATÓRIO, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. 20. FIGUEIREDO, A.D.; Evolução da resistência a compressão de concretos produzidos a partir de cimentos novos e antigos – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 16 Nov. 2004./Depoimento/. 21. FINDLEY, W. N.; LAI, J.; ONARAN, K.; Creep and relaxation of nonlinear viscoelástico materials – Dover Publications, Inc., New York, 1989. 22. FLEURY, L.F.S.; Estudo da Adaptação por Fluência em Obras Executadas em Fases - Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 131 23. FRANÇA, R.L.; ISHITANI, H; GRAZIANO, F.; PEF 317 – Concreto Protendido, Notas de Aula – Escola Politécnica da USP, 2003. 24. GAMBALE, E.A.; FONTOURA, J.T.F; Modelos Matemáticos para Representar a Fluência do Concreto – São Paulo, Revista IBRACON, Vol. 4 , nº 11, pág. 16-22, 1994. 25. GHALI, A.; FAVRE, R.; Concrete Structures – Stresses and Deformations. E&FN Spon, 2-6 Bondary Row, London , 1994. 26. GLANVILLE, W. H.; THOMAS, F. G.; Studies in reinforced concrete – IV. Further investigations on creep or flow of concrete under load. London, Building Research Technical Paper No. 21, 1939. 27. ILLSTON, J. M.; The creep of concrete under uniaxial tension. Magazine of Concrete Research 17, No. 51, 1965. 28. ISHITANI, H; MARTINS, F.; PELLEGRINO, J; BITTENCOURT, T.; DELLA BELLA, J; PEF 2303 – Estrutura de Concreto I, Notas de Aula – Escola Politécnica da USP, 2001. 29. KALINTZIS, C.A.A.; Estudo da Fluência do Concreto de Elevado Desempenho - Dissertação de Mestrado, EPUSP, São Paulo, 2000. 30. MADUREIRA, E.L.; ÁVILA, J. I.S.; Deformação Lenta na Flexão Simples V Simpósio EPUSP sobre ESTRUTURAS DE CONCRETO, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2003. 31. MANGINI, S.A.; Uma Metodologia Revolucionária para Calcular os Esforços do Tempo nas Estruturas de Concreto – 1ª Parte, Revista IBRACON, nº 13, Ano V, pág 19-30, São Paulo, 1996. 32. MANGINI, S.A.; Uma Metodologia Revolucionária para Calcular os Esforços do Tempo nas Estruturas de Concreto – 2ª Parte, Revista IBRACON, nº 14, Ano V, pág 31-37, São Paulo, 1996. 33. MCHENRY, D.A.; A New Aspect of Creep in Concrete an its Application to Design, ASTM PROC. – Vol. 43, 1943. 34. METHA, P.K.; MONTEIRO, P.J.M.; Concreto : Estrutura, Propriedades e Materiais. São Paulo: PINI, 1994. 35. NEVILLE, A.M.; Propriedades do Concreto–2ª Edição PINI; São Paulo ,1997. 36. NEVILLE, A.M.; DILGER, W.H; Creep of Concrete – Plain, Reinforced and Prestressed – North-Holland Publishing Company, Amsterdam, 1970. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 132 37. NEVILLE, A.M.; DILGER, W.H and BROOKS, J.J; Creep of Plain and Structural Concrete – Construction Press, Longman Group, London, 1983. 38. OYAMADA, R.N.; Análise Estrutural de Barras Sujeitas à Fluência Dissertação de Mestrado, EPUSP, São Paulo, 1998. 39. PIMENTA, P.M.; Fundamentos da Mecânica das Estruturas II – PEF 5742, Notas de Aula – EPUSP, São Paulo, 2002. 40. PIMENTA, P.M.; SANTOS, H.C; Análise e Retro-Análise de Estruturas de Concreto Sujeitas à Deformação Lenta – IV Simpósio EPUSP sobre ESTRUTURAS DE CONCRETO, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2000. 41. RÜSCH, E.H.H.; Concreto Armado e Protendido, Propriedades das Materiais e Dimensionamento – Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1981. 42. SANTOS, H.C.; Análise de Estruturas Aporticadas de Concreto Armado e Protendido com Consideração da Deformação Lenta – Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. 43. SANTOS, H.C.; PIMENTA, P.M.; Análise e Retro-Análise de Vigas de Concreto Sujeitas aos Fenômenos Viscoelásticos – XXX Jornadas SulAmericanas de Engenharia Estrutural, Universidade de Brasília – UnB, Brasília DF – Brasil, 2002. 44. SANTOS, H.C.; PIMENTA, P.M.; Um Modelo Consistente para Representação da Deformação Lenta do Concreto – V Congresso de Engenharia Civil, Juiz de Fora – MG, Belo Horizonte, 2002. 45. WILLAM, K. J.; Numerical solution of inelastic rate processes – Comput. Struct. 8, 511-31, 1978. ANEXO 1 – Tabela de Resultados ANEXO 1 133 134 ANEXO 1 – Tabela de Resultados Com exceção aos dados retirados do ensaio experimental que somente terão respostas para 100 e 140 dias, a tabela abaixo mostra os valores dos deslocamentos e das deformações para 100, 140 e 3000 dias dos programas ADINA e DIANA, e da NBR 6118/2003. VIGAS Deslocamento (m) A Deformação (m/m) Deslocamento (m) B Deformação (m/m) Deslocamento (m) C Deformação (m/m) Deslocamento (m) D Deformação (m/m) DIAS Experimental NBR 6118 100 0,02719 0,01084 140 0,02869 0,01144 3000 -0,01704 100 -3,90E-04 140 -4,25E-04 3000 -6,54E-04 100 0,02078 0,00658 140 0,02214 0,00694 3000 -0,01034 100 -3,32E-04 140 -3,63E-04 3000 -5,58E-04 100 0,02297 0,01066 140 0,02510 0,01125 3000 -0,01675 100 -3,69E-04 140 -4,02E-04 3000 -5,77E-04 100 0,02350 0,00934 140 0,02520 0,00986 3000 -0,01469 100 -3,80E-04 140 -4,12E-04 3000 -5,58E-04 ADINA 0,01069 0,01104 0,01241 3,23E-04 3,35E-04 3,92E-04 0,00638 0,00648 0,00754 2,34E-04 2,37E-04 2,74E-04 0,01027 0,01052 0,01214 2,98E-04 3,06E-04 3,60E-04 0,00901 0,00928 0,01082 3,18E-04 3,28E-04 3,95E-04 DIANA 0,01100 0,01165 0,01485 3,62E-04 3,77E-04 4,54E-04 0,00685 0,00715 0,00934 2,97E-04 3,07E-04 3,62E-04 0,01076 0,01128 0,01355 3,51E-04 3,74E-04 4,56E-04 0,00907 0,00969 0,01250 3,70E-04 3,82E-04 4,49E-04 ANEXO 2 – Cálculo da fluência pela NBR-6118/2003 ANEXO 2 135 ANEXO 2 – Cálculo da fluência pela NBR-6118/2003 Deformação Por Fluência Pela NBR 6118/2003 (VIGA D) * Dados Iniciais b := 0.3 U := 30 σ c := 3947 h := 0.2 t0 := 29 ζ d := 0.4 γ c := 1.4 fck := 39900 l := 5.8 s := 0.38 (Pela NBR 6118 considerando CP III e IV) s := 0.25 (Pela NBR 6118 considerando CP I e II) s := 0.2 (Pela NBR 6118 considerando CP V-ARI) ζ 1c := 4.45 − 0.035 ⋅ U (Considerando Umidade Relativa) Ec := 35600000 Ac := b⋅ h γ := 1 + exp ( −7.8 + 0.1 ⋅ U) uar := 2 ⋅ b⋅ h + 2 ⋅ b⋅ l + 2h⋅ l (Perímetro externo da seção transversal da peça em contato com o ar) Ac hfic := γ ⋅ 2 ⋅ uar ( ) 3 − 350 ⋅ ( hfic) 2 + 588 ⋅ ( hfic) + 113 A := 42 ⋅ hfic ( ) 3 − 3060 ⋅ ( hfic) 2 + 3234 ⋅ ( hfic) − 23 B := 768 ⋅ hfic ( ) 3 + 13 ⋅ ( hfic) 2 + 1090 ⋅ ( hfic) + 183 C := −200 ⋅ hfic ( ) 3 − 31916 ⋅ ( hfic) 2 + 35343 ⋅ ( hfic) + 1931 D := 7579 ⋅ hfic ( β d t , t0 ) ( t − t0 + 20) := t − t0 + 70 βf 2 ( t + A ⋅ t + B) ( t) := ⎡ ⎡ ⎛ 28 ⎞ 0.5 ⎤ ⎤ ⎥⎥ β 1 ( t) := exp ⎢ s ⋅ ⎢ 1 − ⎜ ⎣ ⎣ ⎝ t ⎠ ⎦⎦ 2 t + C⋅ t + D 136 137 ANEXO 2 – Cálculo da fluência pela NBR-6118/2003 ( fck ) fc t , t0 := if t0 ≥ 28 γc β 1 ( t) fck γc if t0 < 28 fc ( t , t0) ⎞ ⎛ ζ a ( t , t0) := 0.8 ⋅ ⎜ 1 − fck ⎠ ⎝ ζ 2c 42 + hfic⋅ 100) ( := 20 + hfic⋅ 100 onde: ζ f := ζ 1c ⋅ ζ 2c ( ) ( ( ) ( ) ) + ζ d⋅ β d( t , t0) ζ t , t0 := ζ a t , t0 + ζ f ⋅ β f ( t) − β f t0 ( ( σ c ⋅ 1.3 + ζ t , t0 ε cc t , t0 := Ec ( 7 . 10 4 5.25 . 10 4 ε cc t , t0 3.5 . 10 ) 4 1.75 . 10 4 ( 0 0 ) 875 1750 t )) 2625 3500 138 ANEXO 2 – Cálculo da fluência pela NBR-6118/2003 Determinação das Constantes Pelo ADINA para a Lei de Fluência 2 * Constantes a0 := 6.3 ⋅ 10 a5 := 1 ⋅ 10 −7 −8 a1 := 0.001675 a2 := 0.00035 a3 := 0.005 a4 := 0.268 a6 := 0 * Formulação ( ) G := a5 ⋅ exp a6 ⋅ σ c ⎛ σc⎞ R := a2 ⋅ ⎜ ⎜ a3 ⎝ ⎠ a4 ( ε ca ( t) := F⋅ ( 1 − exp ( −R ⋅ t) ) + G ⋅ t * Comparação dos Resultdos 6.5 . 10 4 4.875 . 10 4 3.25 . 10 4 1.625 . 10 4 ε ca ( t) ( ε cc t , t0 ) 0 0 500 1000 t 1500 ) F := a0 ⋅ exp a1 ⋅ σ c 2000 139 ANEXO 2 – Cálculo da fluência pela NBR-6118/2003 Elementos Lineares Sujeirtos a Solicitações Normais (Viga D) α := 1.2 para seções T ou duplo T b := 0.3 b f := 0 l := 5.8 α := 1.5 para seções retangulares h f := 0 h := 0.2 CA − 50 kN Es := 21000 b⋅ h Ic := 12 2 cm fck := 39.9 MPa y t := d := 0.1675 7 Ecs := 3.56⋅ 10 fctm := 0.3⋅ fck W := 2 3 pp := b ⋅ h ⋅ 25 b ⋅ h ⋅ 0.5⋅ h + b f − b ⋅ h f ⋅ 0.5⋅ h f ( ) b⋅ h + bf − b ⋅ hf fck fcd := 1.4⋅ 10 d linha := 0.0325 3 Ic kN fyk := 50 kN 2 cm A c := b ⋅ h pp = 1.5 t0 := 29 P := 2 kN 2 cm A s := 2.45 A ss := 2.45 A s2 := 2.45 yt Para o caso de estado limite de deformação excessiva fctsup := 1.3⋅ fctm fctinf := 0.7⋅ fctm ( fct := 0.9⋅ fctsup M r := Para o caso de estado limite de formação de fissuras ) Para o caso de tração direta α ⋅ fctinf ⋅ Ic⋅ 1000 2 M k1 := M k2 := Momento de Fissuração yt pp ⋅ l Momento máximo no vão p/ vigas biapoiadas (carga distribuida) 8 P⋅ l 4 Momento máximo no vão p/ vigas biapoiadas (carga concentrada no meio do vão) M k1 = 6.3075 KN .m M k2 = 2.9 KN .m ( ) M a := M k1 + M k2 M a = 9.2075 140 ANEXO 2 – Cálculo da fluência pela NBR-6118/2003 Flechas Imediatas em Vigas de Concreto Armado Análise no Estádio II α e := Es ⋅ 10000 Ecs Cálculo da Linha Neutra Given ⎡ ⎡b ⋅ ( 100) xln2⎤ ⎤ ⎦ + A ⋅α ⋅ x − d ⎡⎡ h ⋅ ( 100) ⎤ − x ⎤ ⎥ ⎢⎣ ⋅ ( 100 ) − A ⋅ α ⋅ d ⋅ ( 100 ) − x − A ⋅ α ⋅ ( ) ⎡ ⎤ ( ) ⎡ ⎤ ⎢ ⎢ ⎥ ⎥ s2 e ⎣ ln linha s e ⎣ ln⎦ ss e ln ⎦ 2 ⎣ ⎣⎣ 2 ⎦ ⎦⎦ ( ) Find xln → ( −7.01237559461396472504.1219261564117175340) xln := 4.12 Momento de Inércia III := Ic := ( )3 b ⋅ 100⋅ xln 3 ( )2 + α e⋅ As2⋅ (xln − dlinha⋅ 100)2 + Ass ⋅ α e⋅ ⎡⎢⎣⎡⎢⎣ + α e⋅ A s ⋅ d ⋅ 100 − xln b ⋅ 100⋅ ( h ⋅ 100) h ⋅ ( 100) ⎤ 2 Momento de Inércia da seção fissurada de concreto no estádio II para armadura tripla 3 12 III = 3515.3396 4 Ic = 2 × 10 cm4 cm4 −8 Icm := Ic⋅ 10 Transformação de cm4 para m4 −8 IIIm := III⋅ 10 ⎡⎢ ⎡⎢ ⎛ Mr ⎞ ⎡⎢ ⎛ Mr ⎞ ⎤⎥ ⎥⎤ ⎥⎤ ⋅ Icm + 1 − ⎜ ⋅ IIIm EIeq := Ecs ⋅ ⎜ ⎢ ⎢ M ⎢ ⎥ ⎥⎥ ⎣ ⎣⎝ a ⎠ ⎣ ⎝ Ma ⎠ ⎦ ⎦⎦ 3 EIeq = 4244.2234 EI := ⎤ ⎥ − xln⎥ ⎦ ⎦ Ecs ⋅ Icm if M r ≥ M a EIeq if M r < M a 3 Avaliação Aproximada da Flecha Imediata Ecs ⋅ Icm = 7120 2 0 ANEXO 2 – Cálculo da fluência pela NBR-6118/2003 4 f1 := 5⋅ pp ⋅ l Carga Distribuida 384⋅ EI f1 = 0.0052 3 f2 := P⋅ l Carga Concentrada 48⋅ EI f2 = 0.0019 f := f1 + f2 f = 0.0071 Flecha Imediata m Cálculo da Flecha Diferida no Tempo t0 := 0.96667 Tempo de aplicação do carregamento em meses t := 4 Tempo,em meses, quando se deseja o valor da flecha diferida ρ := A s2 ξ( t) := b ⋅ 100⋅ d ⋅ 100 ( ( ) t0 ) 0.32 ( fdt := f ⋅ 1 + α f α f = 0.2997 fdt = 0.0093 ) m ( ) ∆ξ := ξ( t) − ξ t0 ∆ξ 1 + 50⋅ ρ t ) 2 if t > 70 ξ t0 := 0.68⋅ 0.996 ⋅ t0 α f := ( 0.68⋅ 0.996 ⋅ t 0.32 if t ≤ 70 141 ANEXO 3 – Características Físicas das Vigas ANEXO 3 142 143 ANEXO 3 – Características Físicas das Vigas Informações básicas dos concretos A e B utilizadas no experimento. Concreto Informação Abatimento (mm) Marca e tipo do cimento Marca e tipo de aditivo Dosagem do aditivo Qualificação da areia Qualificação da brita Cimento (kg) Areia artificial (kg) Areia (kg) Areia de brita fina (kg) Areia de brita grossa (kg) Brita 0 (kg) Brita I (kg) Brita II (kg) Água (kg) Dosagem do aditivo Traço A B 85 100 Cimento CP III 40 Ribeirão Votoran CP III 40 - Grace RT 66 0,5% 4% Areia artificial oriunda de britagem fina e grossa Areia média quartzosa Concressand e areia artificial Britas 0 e I Britas I e II Guinaís 2191 313 1630 135,8 - - 4990 415,8 - - 7867,8 655,7 1729 247 - - 4032 576 - - 3610 9910 1152,2 300,8 825,8 96,0 65,2kg 5,4 kg/m3 1414 5663 1365 202 809 195 1,57 11 litros litros/m3 1:0,79:1,84:0,65:2,58:0,62 1:3,06:4,82:2,21:6,08:0,71 144 ANEXO 3 – Características Físicas das Vigas Informações básicas dos concretos C e D utilizadas no experimento. Concreto Informação Abatimento (mm) Marca e tipo do cimento Marca e tipo de aditivo Dosagem do aditivo Qualificação da areia Qualificação da brita Cimento (kg) Areia (kg) Misto (kg) Brita I (kg) Brita II (kg) Água (kg) Dosagem do aditivo Traço C D 87 57 Holcim CP III 40 Cauê CP II E 40 MBT 322 N Mastermix Sika Mix Plastmant 322N 0,04% 0,3% Areia Curi e areia artificial Cantargra Areia branca Terralheiro Britas I e II Cantareira Brita I Britta 1363 270 1675 396 1976 2687 4176 1036 736 366 527 833 207 145,6 3685 5400 630 729 1062 126 5,4litros 1,08l/m3 5litros 1l/m3 1:1,36:1,95:3,09:0,77:0,54 1:2,20:3,22:0,38 145 ANEXO 3 – Características Físicas das Vigas Valores obtidos para a resistência à compressão axial para todos os concretos. Resistência à compressão axial (MPa) Idade (dias) A 12,1 14 14 B 23,5 20,6 23,5 C 15,1 15,5 15,5 D 23,9 22,5 23,9 25,9 24,7 25,9 29,5 27,7 29,5 24 25,4 25,4 28,5 28,7 28,7 Valor assumido 37,1 33,7 37,5 37,5 45,3 44 44,8 45,3 34,3 33,6 32,8 34,3 39,6 39,4 39,9 39,9 fck (MPa) 30,9 38,7 27,7 33,3 106 40,6 36,5 40,6 45,8 46,8 46,8 37,7 35,9 37,7 41,2 46,8 46,8 3 Valor assumido 7 Valor assumido 28 Valor assumido Evolução de resistência à compressão para os concretos utilizados no experimento. Na tabela abaixo se encontram apresentados os valores obtidos para o módulo de elasticidade e para a resistência à tração por compressão diametral, tendo sido ambas as propriedades determinadas a vinte e oito dias de idade. ANEXO 3 – Características Físicas das Vigas Valores obtidos para o módulo de elasticidade e resistência à tração por compressão diametral. VIGA A Valor B Valor C Valor D Valor Módulo a 28 dias (GPa) 28,4 28 29 29 44,2 38,2 40,4 44,2 34,8 28,4 30 34,8 33,6 34,2 35,6 35,6 Resistência à Tração por Compressão Diametral (MPa) 2,9 3,6 3,6 4,0 4,1 4,1 2,9 3,1 3,1 3,7 3,7 3,7 146