Malas, mochilas, sonhos e expectativas... tudo foi pouco diante da
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Malas, mochilas, sonhos e expectativas... tudo foi pouco diante da
Malas, mochilas, sonhos e expectativas... tudo foi pouco diante da experiência que é viver uma aventura de questionar, escutar e de ser aprendiz. A missão “Aprender”, vivenciada no intercâmbio Brasil/Áustria, nos dias 21 de julho a 16 de agosto, foi na verdade a missão viver... viver intensamente, concretizar sonhos e descobrir que a vida no seu cotidiano é um desafio maior ainda... Na Áustria, conseguimos olhar para o Brasil, nos alegrar e ao mesmo tempo nos indignar pelos direitos que ainda nos faltam conquistar. Experienciamos preconceitos em nossos corpos e sobre nossos corpos negros e assim como identificamos as dificuldades em superá-los, unimos forças, sonhos, lutas ideais que marcam nossa trajetória no mundo e descobrimos que não estamos sós na luta em defesa da vida, essa causa que nos une ultrapassa continentes, e se une à luta das mulheres imigrantes, dos jovens refugiados, a luta contra a construção de barragens, a preservação da natureza, a responsabilidade mundial. Aprendemos com crianças a força que a educação tem em um país, e sonhamos que um dia cada cidadã/ão possa falar mais de uma língua, que o esporte e uma alimentação saudável não sejam privilégios de alguns, mas um direito de todos/as por uma qualidade de vida melhor, e que a arte não seja vista como uma oportunidade de pessoas com dons especiais, mas como um princípio humanizador nas relações. Sofremos, quando nossas consciências se abriram e identificamos que o poder unido à ganância provoca barbáries, como o Holocausto. Por outro lado, também percebemos que a educação e a arte produzem consciência ecológica, por exemplo, na visita à exposição do Museu da Água. Experimentar a vida nessas dimensões provoca movimentos que questionam nossos projetos de vida. Reconhecemos, como os discípulos de Emaús, o ardor no nosso coração ao falarmos pelos caminhos de tudo o que nossos olhos viram, tudo o que o coração provou, e do que a memória guardou. Os aprendizados geraram muitas perguntas: O que vou fazer com tudo isso? O que vou dizer aos meus? No fundo, que rumos, que decisões e como lidar com todas estas mudanças e para que esteja preparada para fazer? No caminho, uma quantidade de pessoas foi somando, com encontros inéditos, encantos e, ao mesmo tempo, familiares. Trouxemos várias dessas pessoas que agora fazem parte de nossa história. Foram muitas famílias que nos aconchegaram, nos deram do melhor, e nos adotaram como seus/suas. Isso cativou o coração, sarou até viroses passageiras e diminuiu a distância e a saudade dos familiares e amigos daqui. Trago muitos lugares lindos que visitamos, oportunidades únicas, espaços de lazer que para muitos de nós era impossível imaginar que existia. Porém, ali vivenciamos, assumimos tudo como aprendizado. Essa vivência chegou a nos tirar o sono e muitas vezes a única saída era sentar na cama e falar para acomodá-la no corpo. Assim, como vivemos momentos que este mesmo corpo estava desafiado nas suas forças físicas: por exemplo, para a montanha num dia chuvoso, medo de cair ao descer sabendo que era o único jeito para voltar. Enfrentar esses medos e outros, como o de conviver em grupo e encarar desafios de expressar sentimentos, de expor nossas fraquezas e limites, de se alegrar com a companhia da outra pessoa, de partilhar sonhos, por isto, sair da redoma para reconhecer a outra pessoa diferente, por isso, reconhecer sua autonomia e desejos. Conviver foi, na verdade, o ápice de toda experiência. Não foram oito pessoas, foram doze, quinze, dezoito. Estes que compuseram o grupo do dia a dia estiveram presentes e se tornaram presentes. A vida compartilhada nas fragilidades nos tornou semelhantes, assim como nos dons que pudemos contemplar e que agora trazemos na memória e que se eternizam na amizade cultivada. Casa da Juventude Pe. Burnier e DKA foram as instituições que provocaram esta oportunidade, a quem agradecemos estes aprendizados que maravilharam nossas vidas. Sabemos que estas palavras traduzem pouco do que foi vivido, porque ainda não inventaram palavras para traduzir a experiência humana que desinstala, que marca um novo rumo para nossas histórias de vida. Esperamos que estas aprendizagens nos preparem na direção de construir um mundo melhor para todos/as. Maria das Graças Figueiredo da Silva Mendes; Participante da Missão Aprender 2011