Pentecostes: mistério do batismo da Igreja

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Pentecostes: mistério do batismo da Igreja
Pentecostes: mistério do batismo da Igreja
Seg, 28 de Maio de 2012 12:22
Na manhã do domingo de Pentecostes, durante a celebração da Santa Missa da Festa de
Pentecostes, o papa Bento XVI realizou sua homilia. Confira o texto:
Queridos irmãos e irmãs!
Este mistério é o batismo da Igreja, é um evento que lhe tem dado, por assim dizer, a forma
inicial e o impulso para a sua missão. E essa "forma" e este "empurrão" são sempre válidos,
sempre atuais, e se renovam de uma maneira especial através das ações litúrgicas.
Quero destacar um aspecto essencial do mistério de Pentecostes, que nos nossos dias
mantém toda a sua importância. Pentecostes é a festa da unidade, da compreensão e da
comunhão humana. Todos podemos constatar como no nosso mundo, ainda que estejamos
sempre mais próximos uns dos outros com o desenvolvimento dos meios de comunicação, e
as distâncias geográficas parecerem desaparecer, a compreensão e a comunhão entre as
pessoas seja muitas vezes superficial e difícil. Permanecem desequilíbrios que muitas vezes
levam a conflitos; o diálogo entre as gerações torna-se difícil e às vezes prevalece a
contraposição; assistimos a fatos cotidianos que nos fazem pensar que os homens estão se
tornando mais agressivos e mais conflituosos; entender-se parece algo muito trabalhoso e
prefere-se permanecer no próprio ego, nos próprios interesses. Nesta situação, podemos
encontrar realmente e viver aquela unidade da qual temos necessidade?
A narração de Pentecostes nos Atos dos Apóstolos, que ouvimos na primeira leitura (At
2,1-11), contém no fundo de um dos últimos grandes afrescos que encontramos no início do
Antigo Testamento: a antiga história da construção da Torre de Babel (cf. Gn 11, 1-9). Mas o
que é Babel? É a descrição de um reino em que os homens acumularam tanto poder a ponto
de não fazerem mais referência a um Deus distante e de serem tão fortes ao ponto de
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construírem sozinhos uma estrada que levasse até o céu para abrir as portas e colocar-se no
lugar de Deus. Mas justo nesta situação ocorre algo estranho e especial. Enquanto os homens
estavam trabalhando juntos para construir a torre, de repente, perceberam que estavam
construindo um contra o outro. Enquanto tentavam ser como Deus, corriam o perigo de não
serem nem sequer homens, porque tinham perdido um elemento fundamental do ser pessoa
humana: a capacidade de entender-se, de compreender-se, e de trabalhar juntos.
Esta história bíblica tem a sua verdade perene; podemos vê-la ao longo da história, mas
também em nosso mundo. Com o avanço da ciência e da tecnologia temos chegado ao poder
de dominar as forças da natureza, de manipular os elementos, de fabricar seres vivos,
chegando até mesmo quase ao ser humano. Nesta situação, orar a Deus parece algo
ultrapassado, inútil, porque nós mesmos podemos construir e realizar tudo o que quisermos.
Mas não nos damos conta de que estamos revivendo a mesma experiência de Babel. É
verdade, multiplicamos as nossas possibilidades de comunicação, de ter informações, de
transmitir notícias, mas podemos dizer que cresceu a capacidade de compreender-nos ou
talvez, paradoxalmente, nos compreendemos cada vez menos? Entre os homens não parece
serpentear talvez um sentimento de desconfiança, de suspeita, de medo um do outro, até se
tornar até mesmo perigoso um para o outro? Retornemos agora à pergunta inicial: pode existir
realmente unidade, concórdia? E como?
Encontramos a resposta na Sagrada Escritura: a unidade só pode existir com o dom do Espírito
de Deus, que nos dará um coração novo e uma língua nova, uma nova capacidade de
comunicar. E é isso o que ocorreu no dia de Pentecostes. Naquela manhã, cinquenta dias
depois da Páscoa, um forte vento soprou sobre Jerusalém e a chama do Espírito Santo desceu
sobre os discípulos reunidos, pousou sobre cada um deles e acendeu neles o fogo divino, um
fogo de amor capaz de transformar. O medo desapareceu, o coração sentiu uma nova força, as
línguas se soltaram e começaram a falar com franqueza, de modo que todos pudessem
entender o anúncio de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Em Pentecostes, onde havia divisão
e desconfiança, nasceram a unidade e o entendimento.
Mas olhemos para o Evangelho de hoje, no qual Jesus afirma: "Quando vier o Paráclito, o
Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16, 13). Aqui, Jesus, falando do Espírito
Santo, nos explica o que é a Igreja e como essa deva viver para ser ela mesma, para ser o
lugar da unidade e da comunhão na Verdade; nos diz que agir como cristãos significa não estar
fechados no próprio “eu”, mas orientar-se para o todo; significa acolher em si mesmo a toda a
Igreja ou, ainda melhor, deixar interiormente que ela nos acolha. Então, quando eu falo, penso,
ajo como cristão, não o faço fechando-me no meu eu, mas o faço sempre no todo e a partir do
todo: assim o Espírito Santo, Espírito de unidade e de verdade, pode continuar a ressoar nos
nossos corações e nas mentes dos homens e empurrá-los a encontrar-se e acolher-se
mutuamente. O Espírito, justamente porque age assim, nos introduz em toda a verdade, que é
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Jesus, nos orienta no aprofundá-la, no compreendê-la: nós não crescemos no conhecimento
fechando-nos no nosso eu, mas somente tornando-nos capazes de escutar e de compartilhar,
somente no “nós” da Igreja, com uma atitude de profunda humildade interior. E assim torna-se
mais claro porque Babel é Babel e Pentecostes é Pentecostes. Onde os homens querem
fazer-se Deus, só podem chegar fazer-se um contra o outro. Onde se colocam na verdade do
Senhor, abrem-se à ação do seu Espírito que lhes sustenta e lhes une.
O contraste entre Babel e Pentecostes ecoa também na segunda leitura, onde o Apóstolo diz:
"Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne.” (Gl 5,16).
São Paulo nos explica que a nossa vida pessoal está marcada por um conflito interior, por uma
divisão, entre os impulsos que provém da carne e aqueles que provém do Espírito; e não
podemos seguir a todos. Não podemos, de fato, ser ao mesmo tempo egoístas e generosos,
seguir a tendência a dominar os outros e provar a alegria do serviço desinteressado. Devemos
sempre escolher qual impulso seguir e o possamos fazer de modo autêntico somente com a
ajuda do Espírito de Cristo. São Paulo elenca – como escutamos – as obras da carne, são os
pecados de egoísmo e de violência, como inimizade, discórdia, inveja, discórdias; são
pensamentos e ações que não fazem viver de modo verdadeiramente humano e cristão, no
amor. É uma direção que leva a perder a própria vida. Em vez disso, o Espírito Santo nos guia
para as alturas de Deus, porque podemos viver já nesta terra o germe de vida divina que está
em nós. Afirma, de fato, São Paulo: "O fruto do Espírito é amor, alegria, paz" (Gal 5,22). E
percebe-se que o Apóstolo usa o plural para descrever as obras da carne, que provocam a
dispersão do ser humano, enquanto usa o singular para definir a ação do Espírito, fala de
“fruto”, como na dispersão de Babel opõe-se à unidade de Pentecostes.
Caros amigos, devemos viver segundo o Espírito de unidade e de verdade, e por isso devemos
orar para que o Espírito nos ilumine e nos guie para vencer o encanto de seguir nossas
verdades, e a acolher a verdade de Cristo transmitida na Igreja. A narração lucana de
Pentecostes nos diz que Jesus antes de subir ao céu pediu aos Apóstolos para permanecerem
juntos e se preparassem para receber o dom do Espírito Santo. E eles se uniram em oração
com Maria no Cenáculo à espera do evento prometido (cf. At 1,14). Recolhida com Maria,
como no seu nascimento, a Igreja também hoje reza: "Veni Sancte Spiritus! Vinde, Espírito
Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor". Amém.
Fonte: ZENIT
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