down-revista - Revistas Científicas – Estacio-FIC
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down-revista - Revistas Científicas – Estacio-FIC
o REVISTA DOS CURSOS DE SAÚDE CORPVS/Rev. dos Cursos de saúde da Estácio|FIC ESTÁCIO | FIC Fortaleza v.1 n.19 p. 08-62 jul./set. 2011 DIREÇÃO GERAL Ana Flávia Alcântara Rocha Chaves DIREÇÃO ACADÊMICA Candice Costa Nobrega EDITOR-CHEFE CORPVS Dr. Vasco Pinheiro Diógenes Bastos - FIC Dra. Raimunda Hermelinda Maia Macena - UFC EDITORIA CIENTÍFICA Esp. Antônio Carlos da Silva - FIC [email protected] Ms. Letícia Adriana Pires Ferreira dos Santos FIC/ UECE [email protected] Dra. Rosiléa Alves de Sousa - FIC [email protected] CONSELHO EDITORIAL: Andréa Cristina Silva Benevides - FIC Angela Massayo Ginbo - FMJ Denise Maria de Sá Machado Diniz - FIC Eldair Melo Mesquita Filho - FIC Eniziê Paiva Weyne Rodrigues - FIC Estélio Henrique Martin Dantas - FIC Maria do Socorro Quintino Farias – FIC Nilce Almino de Freitas-IJF Evandro Martins - FIC Paulo Marconi Linhares Mendonça - FIC Sheilimar Regina Barragão de Sá Magalhães – FIC EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Antonio Carlos da Silva Humberto Alves de Araújo Gabriela Casimiro Linhares Mariana André Cavalcante REVISÃO DE TEXTOS Ms. Letícia Adriana Pires Ferreira dos Santos - UECE Ms.Rosana Cátia Barbosa Terceiro - FIC Ms. Raimunda Maria do Socorro Sanches de Brito - FIC Esp. Antônio Orion Paiva Ms. Mirna Gurgel Carlos da Silva – FIC NORMALIZAÇÃO Luiza Helena de Jesus Barbosa - CRB - 830 CORPVS/Revista dos Cursos de saúde da Estácio|FIC. – v.1, n.1, (jan./mar.2007). – Fortaleza: Faculdade Integrada do Ceará,2007. v.: il, 30 cm Trimestral ISSN 1980-9166 v.1, n.19, jul./set.2011 1.Saúde,Periódicos 2.Educação Física Hospitalar I. Título II. Faculdade Integrada do Ceará. 3.Fisioterapia 4.Gestão CDD 612 v.1 - n. 19 - jul./set. 2011 - ISSN 1980-9166 o REVISTA DOS CURSOS DE SAÚDE ESTÁCIO | FIC Editorial É com grande orgulho que apresentamos a 19a. edição da Revista Corpvs. Entendendo que a disseminação de conhecimentos contribui no incremento da qualidade das ações assistenciais em saúde, neste número são apresentados oito estudos sobre saúde do adulto. Dois trabalhos são relativos a saúde do trabalhador, o primeiro: Utilização do Estudo de Tempos para Determinação da Capacidade de um Posto de Trabalho de Operador de Fabricação de Fluidos para Poços de Petróleo de Aragão e Fontenelle e o segundo: Análise Ergonômica do Campo de Trabalho da Equipe de Limpeza da Faculdade Estácio do Ceará de Coelho et al. A área de saúde da mulher está contemplada no artigo sobre Aleitamento Materno: Percepções e Dificuldades da Mulher Durante o Puerperio Imediato de Pinheiro et al. A saúde do homem está representada no estudo sobre a Prevalência de Lesões Mioarticulares em Membros Inferiores de Praticantes de Futebolde Campo de Oliveira et al e no trabalho sobre a Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids: Uma Cartografia da Produção na Bireme de Martins et al. Temas teóricos estão presentes nos estudos de Sombra et al O Efeito de Palestras Educativas na Evolução da Dor e do Autocuidado na Coluna Vertebral , Queiroz et sobre o Uso da Pompage na Liberação de Fáscias e no trabalho sobre Alterações Pulmonares em Pacientes Portadores de Doença Cérebro Vascular de Freitas, Souza e Souza. Que todos tenham uma leitura proveitosa! Sumário ARTIGOS ORIGINAIS Aleitamento Materno: Percepções e Dificuldades da Mulher Durante o Puerperio Imediato . . 7 Antônia Alzeneide Pinheiro,Rosiléa Alves de Sousa,Laura de Oliveira Andrade, Antonia do Carmo Soares Campos,Maria Jocineide Rodrigues O Efeito de Palestras Educativas na Evolução da Dor e do Autocuidado na Coluna Vertebral . . 15 Ticiane Braga Sombra, Giselle Notini Arcanjo, Ismênia de Carvalho Brasileiro, Kalina Kelma Oliveira de Sousa Alterações Pulmonares em Pacientes Portadores de Doença Cérebro Vascular . . . . . . 21 Ivana Marinho Paiva Freitas, Greicy Coelho de Souza, Luiz Eduardo Lopes de Souza Utilização do Estudo de Tempos para Determinação da Capacidade de um Posto de Trabalho de Operador de Fabricação de Fluidos para Poços de Petróleo . . . . . . . . . . . . 26 Arbene de Oliveira Aragão, Maria Aridenise Macena Fontenelle Análise Ergonômica do Campo de Trabalho da Equipe de Limpeza da Faculdade Estácio do Ceará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Helaine Cristina Coelho, Caio Átila Prata Bezerra de Sousa, Thiago Brasileiro de Vasconcelos, Marineide Meireles Nogueira, Raimunda Hermelinda Maia Macena, Teresa Maria da Silva Câmara, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos ARTIGOS DE REVISÃO Uso da Pompage na Liberação de Fáscias . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Geovana Ximenes Aragão Queiroz, Ana Cristina Miranda Henriques, Maria Arivelise Macena Maia Prevalência de Lesões Mioarticulares em Membros Inferiores de Praticantes de Futebol de Campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Rodrigo Antonio da Cruz Oliveira, Geraldo Flamarion da Ponte Liberato Filho, Teresa Maria da Silva Câmara, Raimunda Magalhães da Silva, Cleoneide Paulo Oliveira Pinheiro A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids: Uma Cartografia da Produção na Bireme. . . . . . . . . . . 51 Samuel Portugal Prado Martins, Telma Alves Martins, Raimunda Hermelinda Maia Macena, Aldeisa Gadelha. Artigos Originais Artigos Originais Aleitamento Materno: Percepções e Dificuldades da Mulher Durante o Puerperio Imediato Antônia Alzeneide PinheiroI Rosiléa Alves de Sousa II Laura de Oliveira Andrade III Antonia do Carmo Soares Campos IV Maria Jocineide RodriguesV RESUMO Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, teve por objetivos conhecer e analisar as dificuldades, por parte das mulheres, na amamentação no puerpério imediato; identificar os fatores que mais interferem no aleitamento materno no período do puerpério imediato. Foi desenvolvido em uma Maternidade Pública em Fortaleza, Ceará, Brasil, com 12 puerperas. Os dados foram coletados no período de novembro a janeiro de 2010, por meio de entrevista semiestruturada. Na análise dos dados foram identificados os seguintes temas primeiro contato com seu filho e a amamentação: expectativas da puérpera; dificuldades encontradas pelas puérperas em iniciar a lactação; apoio para amamentar: as puérperas com a palavra; benefícios da amamentação para o binômio mãe-filho: percepção das puérperas e disposição da puérpera e do bebê. Conclui-se que compreender o significado do contato precoce mãe-filho implica em respeitar o desejo, a cultura e o suporte social de cada mulher. As principais dificuldades mais citadas foram: o relato do medo, muitas vezes trazidos culturalmente de geração a geração; a insegurança quanto à quantidade de leite o suficiente para saciar a criança; a falta de orientação sobre o aleitamento materno, relacionados a posicionamento e pega correta; como também apoio em casa, principalmente, por parte do companheiro. Palavras- chaves: Aleitamento Materno. Desmame Precoce. Período pós-parto. ABSTRACT Descriptive study with qualitative approach, aimed to understand and analyze the difficulties for women, breastfeeding postpartum, to identify the factors that interfere with breastfeeding in the postpartum period. It was developed in a public maternity in Fortaleza, Ceara, Brazil, with 12 mothers. Data were collected between November to January, 2010, through semi-structured interview. In the data analysis identified the following issues first contact with his son and breastfeeding, postpartum expectations, difficulties encountered by mothers to initiate breastfeeding, support for breastfeeding, the mothers with the word; benefits of breastfeeding for both mother and child: perception of mothers and provision of postpartum and baby. We conclude that understanding the significance of early mother-child contact involves the desire to respect the culture and social support for each woman. The main difficulties most often cited were: the story of fear, often brought culturally from generation to generation, the uncertainty about the amount of milk enough to feed the child, the lack of guidance on breastfeeding, related to positioning and latch properly , as well as support at home, especially the partner. Keywords: Breastfeeding. Early weaning. Postpartum period. I. Enfermeira graduada pela Universidade de Fortaleza II. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente e Coordenadora do curso de Enfermagem do Centro Universitário Estácio do Ceará. III. Enfermeira graduada pela Universidade de Fortaleza. IV. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Universidade de Fortaleza. V. Enfermeira graduada pela Universidade de Fortaleza. Atua no Hospital Geral de Fortaleza CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 8 Aleitamento Materno: Percepções e Dificuldades INTRODUÇÃO O leite humano é um líquido complexo e exclusivo desta espécie, destinado a preencher as necessidades do recém- nascido humano. É uma substância dinâmica, cuja composição muda para preencher as diferentes necessidades nutricionais e imunológicas do bebê. O leite humano contém fatores antimicrobianos (anticorpos) que protegem contra um amplo espectro de infecções bacterianas, virais e protozoárias1. O aleitamento materno é sinônimo de sobrevivência para o recém-nascido, sendo, portanto, um direito inato. É uma das maneiras mais eficientes de atender aos aspectos nutricionais, imunológicos e psicológicos da criança em seu primeiro ano de vida 2. Estima-se que o aleitamento natural esteja declinando, não obstante cerca de 2/3 das mães em todo o mundo ainda amamentam seus infantes, pelo menos, durante 3 meses. A incidência da amamentação varia desde taxas tão baixas quanto 25% nos Estados Unidos, para quase 100% nas áreas rurais dos países em desenvolvimento. As mulheres do campo, nessas regiões, frequentemente aleitam por 18 a 24 meses, enquanto as lactantes nos países desenvolvidos o fazem por apenas 2 ou 3 meses3. Em países subdesenvolvidos, o aleitamento materno é primordial para a sobrevivência de crianças cujas famílias são de baixa renda. Estas crianças se encontram vulneráveis às infecções frequentes, desnutrição e falta de saneamento básico3. Em razão disto, o aleitamento materno foi instituído e reafirmado ao longo dos tempos, como estratégia simplificada na atenção primária para a redução da morbidade e mortalidade infantil4. A política de saúde no Brasil tem priorizado, dentre outras, as ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, como estratégia fundamental para a redução da mortalidade infantil no país e para a melhoria da qualidade de saúde das crianças brasileiras5. O real impacto social do aleitamento materno pode ser quantificado através da diminuição de atendimento médico, hospitalizações e do uso de medicamentos, como também, menor absenteísmo dos pais ao trabalho, uma vez que as crianças que recebem leite materno adoecem menos6. O profissional de saúde deve identificar durante o pré-natal os conhecimentos, a experiência prática, as crenças e a vivência social e familiar da gestante a fim de promover educação em saúde para o aleitamento materno, assim como, garantir vigilância e efetividade durante a assistência à nutriz no pós-parto7. O conhecimento das mães sobre os benefícios de amamentação para ela e para a criança é fator determinante na prevalência e duração dessa prática8. Pinheiro et al O apoio constante a mãe favorece a sua autoconfiança e proporciona uma experiência de amamentação satisfatória e bem sucedida1. Os primeiros dias após o parto são cruciais para o aleitamento materno bem sucedido, pois é nesse período que a lactação se estabelece, além de ser um período de intenso aprendizado para a mãe e adaptação do recém-nascido. Daí a importância do acompanhamento intensivo no pós-parto e após a alta hospitalar, através de visitas domiciliares, pois várias dúvidas e problemas podem surgir e tornar a mulher vulnerável e insegura7. Nesse período, o enfermeiro pode intervir, reforçando as orientações, buscando solucionar os problemas, prevenindo e ajudando a superar as dificuldades da puérpera, evitando, assim, o uso de complementos e de seus possíveis efeitos deletérios. Para que todas as expectativas maternas e as necessidades do recém-nascido quanto ao aleitamento sejam atendidas, toda a equipe multiprofissional da instituição deve atuar junto às puérperas e aos familiares, informando as estratégias e vantagens de se iniciar e dar continuidade ao processo de aleitamento7. A presente pesquisa se justifica, devido à necessidade de conhecer as principais dificuldades vivenciadas pelas mães, no que diz respeito a amamentar seu filho no puerpério imediato, pois este é um período relevante para que o aleitamento materno se estabeleça e continue durante os seis meses necessários ao bebê. A partir daí como profissionais de enfermagem, pode-se intervir nos fatores que causam inseguranças, medos e angustias que venham prejudicar ou interferir na prática do aleitamento materno, prevenindo, assim, fatores que causam o desmame precoce. Nesse contexto, formam-se objetivos desse estudo: analisar as dificuldades, por parte das mulheres, na amamentação no puerpério imediato; identificar os fatores que mais interferem no aleitamento materno no período do puerpério imediato. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado em uma maternidade pública de referência localizada na cidade de Fortaleza-Ceará e caracterizada como uma instituição pública federal e um hospital-escola de grande porte. Foram sujeitos do estudo doze nutrizes, que estavam no puerpério imediato, período que vai desde o primeiro até o décimo dia após o parto10. Foi critério de inclusão: ter sido assistida na referida instituição, independente do tipo de parto e de terem ou não amamentado anteriormente. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 9 Aleitamento Materno: Percepções e Dificuldades Pinheiro et al A coleta de dados foi realizada no período de novembro de 2009 a janeiro de 2010, tendo como técnica a entrevista semiestruturada abordando dados de identificação e questionamentos com base nos objetivos propostos. Os dados foram analisados de acordo com a literatura pertinente ao tema e apresentados em quadros e discussões textuais. As falas dos participantes foram apoiadas na análise de conteúdo11. Os aspectos éticos e legais foram contemplados, de acordo com a Resolução 196/96 da Comissão Nacional de Saúde12. Todas assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram identificadas por um codinome composto da letra P (puérpera) acompanhada de número subscrito (posicionado levemente abaixo do texto), garantindo, assim, o seu anonimato. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Fortaleza-UNIFOR, de acordo com o protocolo 141/2007. ANÁLISE DOS RESULTADOS Para possibilitar melhor visualização, os dados foram organizados em quadros e expostos a seguir: Codinome Idade Estado civil Escolaridade Nº de Filhos Renda Familiar P1 21 Casada 2ºgrau 02 Mais de 1 salário P2 30 Solteira 2ºgrau 01 Até 1 salário P3 17 União estável 1ºgrau 01 Até 1 salário P4 21 União estável 1ºgrau 01 Até 1 salário P5 23 União estável 2ºgrau 02 Até 1 salário P6 20 Casada 1ºgrau 01 Até 1 salário P7 24 União estável 2ºgrau 02 Até 1 salário P8 25 União estável 1ºgrau 02 Mais de 1 salário P9 25 União estável 2ºgrau 03 Mais de 1 salário P10 35 União estável 1ºgrau 03 Até 1 salário P11 32 Casada 2ºgrau 02 Até 1 salário P12 19 Casada 2ºgrau 03 Mais de 1 salário Quadro 1 - Dados sócio demográficos das participantes da pesquisa, Maternidade pública de Fortaleza, 2010. Fonte: Dados da Pesquisa. De acordo com o Quadro 1, as puérperas entrevistadas encontravam-se na faixa etária entre 17 a 35 anos, sendo consideradas mulheres jovens e em idade apropriada para a função reprodutiva. Quanto ao estado civil, uma era solteira, quatro casadas e sete viviam em união estável. Todas eram alfabetizadas, sendo, que apenas sete possuíam segundo grau completo e cinco ensino fundamental. A respeito da renda familiar cerca de oito viviam com renda de até um salário mínimo e quatro com mais de um. Quanto ao número de gestações nove eram primíparas e três multíparas. Em um estudo longitudinal com 522 mulheres em 1999, realizado nos Estados Unidos, pesquisadores13, ao avaliarem fatores que contribuíram para o sucesso da amamentação no período pós-parto imediato, encontraram melhores resultados para mães mais velhas, casadas, com educação elevada, cujos companheiros tivessem participado da decisão de amamentar, assim como, ter planejado previamente o tempo que pretendiam amamentar. Quando perguntadas sobre ao acompanhamento pré-natal todas afirmaram tê-lo realizado. Porém, nove receberam orientação sobre aleitamento materno e as demais três não. Quanto ao preparo das mamas para a amamentação apenas seis informaram ter recebido este tipo de orientação. Os profissionais de saúde têm um papel importante no incentivo e no apoio das mulheres para o aleitamento materno. Primíparas e adolescentes merecem atenção especial, pela inexperiência e insegurança, e devem ter um acompanhamento pré-natal rico em informações para que sejam sanados seus medos, esclarecidas suas dúvidas, crenças e mitos sobre o aleitamento materno, como forma de prevenir quaisquer complicações que possam ocorrer durante o processo de amamentação14. Primeiro contato com seu filho e a amamentação: expectativas da puérpera A amamentação é um conjunto complexo de ações resultantes de um processo estimativo e avaliativo, vivenciado pela mulher que amamenta, no decorrer de sua experiência concreta de amamentar. Um processo cognitivo/emocional que abrange os conhecimentos e habilidades maternas sobre o ato de amamentar, mas que também envolve suas percepções acerca dos sentimentos provocados pela experiência da amamentação confrontados com suas expectativas, perspectivas de vida, contexto profissional, convivências familiares, ou seja, todo envolvimento da mulher com seu filho15. Observa-se com o relato das mães que as expectativas são, na sua maioria, negativas quanto ao ato de amamentar e que provavelmente estão relacionadas a experiências anteriores mal sucedidas ou aos mitos e tabus surgidos culturalmente. “[...] Pensei que fosse doer muito” (P1) “[...] Medo de não ter leite, ficava tensa, agora estou tranqüila” (P2) “[...] Ia doer, que eu ia chorar (P3) “[...] Medo de não sair leite (P12) CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 10 Aleitamento Materno: Percepções e Dificuldades O aleitamento materno não é uma prática somente biológica, mas social, cultural histórica e psicologicamente delineada14, por isso os mitos, as crenças e os tabus influenciam de forma crucial a sua prática. A adaptação à maternidade causa na mãe sentimentos de incapacidade e confusão frente às novas exigências, levando-a a buscar apoio para atingir novos níveis de conhecimento. É de fundamental importância que a mulher sinta-se adequadamente assistida nas suas dúvidas e dificuldades, para que as mesmas possam assumir com mais segurança o papel de mãe e provedora do aleitamento de seu filho16. “[...] Era como um sonho, não tinha entrado na minha cabeça que eu tinha tido ele e ia botar no peito”; (P11) A fala de P11 revela que a mulher, muitas vezes, não está preparada para a realidade que até então não conhecia. É a partir desse momento quando se estabelece o vínculo mãe-filho. Com relação aos laços afetivos deste binômio, a mulher que amamenta não está oferecendo somente leite materno, está vivenciando um momento no qual poderá fazer aflorar sensações prazerosas que irão influenciar sobremaneira na afetividade da mãe e do filho. Nas primeiras semanas após o parto, a mulher torna-se mais sensível e emotiva do que era antes. Este quadro aumenta sua capacidade de amar seu filho, mas também faz com que fique mais facilmente nervosa. Desse modo, o pós-parto mostra-se um período de vulnerabilidade emocional e física para as novas mães que podem estar psicologicamente sobrecarregadas com a responsabilidade17. Talvez daí se origine os relatos de várias puérperas relacionados ao medo: “[...] Medo de não ter leite, ficava tensa, agora estou tranqüila”; (P2) “[...] Medo de não sair leite”; (P12) O medo é inerente ao ser mãe. O medo e a preocupação que evidenciam estão fundados na observação da prática cotidiana, mas também advêm de experiências anteriores vivenciadas na família. Mantendo a mesma lógica que estrutura os significados da amamentação e do corpo materno, as mulheres assumem a responsabilidade e a culpa por não cuidar do filho de forma apropriada. Para assegurar que todas as expectativas maternas e necessidades do recém-nascido quanto ao aleitamento sejam atendidas, toda a equipe multiprofissional da instituição deve atuar junto às puérperas e aos familiares, informando as estratégias e vantagens de se iniciar e dar continuidade ao processo de aleitamento. Este tipo de tratamento Pinheiro et al revela-se como um atendimento de qualidade a essas mães, contribuindo para tornar a amamentação um ato de prazer e não uma obrigação16. Dificuldades encontradas pelas puerperas ao iniciar a lactação Pesquisadores18 apontam que as dificuldades encontradas pela mãe, no início da amamentação, constituem a principal causa para a ocorrência do desmame antes do sexto mês de vida da criança. Quando perguntadas se sentiam alguma dificuldade em amamentar a maioria relatou que não e apenas P3, P5 e P11 afirmaram que sim. “[...] Porque meus peitos estão inchando muito. Porque ele não mama direito” (P3) “[...] Não tinha jeito, não sei ainda bem” (P5) “[...] O leite não sai, meus seios são muito grandes ele fica sufocado” (P11) As falas das puérperas entrevistadas no estudo corroboram uma pesquisa epidemiológica realizada em Ribeirão Preto, em 1999, na qual, em um total de 1.499 mulheres entrevistadas, 646 (43%) referiram ter apresentado “problemas na amamentação”. Dentre os problemas identificados incluíam-se: 472 (73%) com as mamas, 60 (10,2%) com as mamas e o bebê, 58 (8,4%) com o bebê4. O aparecimento de fissura nos mamilos foi uma das dificuldades para amamentar, referidas com frequência pelas mães em estudo realizado por outro pesquisador19. A ocorrência desta complicação está associada, na maioria dos casos, a técnicas incorretas de pega do mamilo durante a sucção (a criança exerce preensão apenas sobre o mamilo, ao invés do mamilo e aréola), à forma inadequada de retirada da criança do peito e à falta de exposição das mamas ao sol. “Porque meus peitos estão inchando muito. Porque ele não mama direito” (P3) No período puerperal, o processo de lactação se torna concreto e a capacidade de amamentar da puérpera se torna alvo de críticas desencorajadoras e diante de dificuldades com o bebê é colocada a dúvida da quantidade e qualidade do leite materno. A mãe pode entender esta atitude como incapacidade de cuidar de seu filho e como consequência disso poderá inibir a lactação, devido à sua ansiedade20. “[...] Não tinha jeito, não sei ainda bem” (P5). CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 11 Aleitamento Materno: Percepções e Dificuldades Tem-se que apontar que esse não ter jeito para ela significa algo que temos que acompanhar, pois, o mau jeito é inerente à sua falta de experiência. As mulheres tomam para si a culpa pelo seu “mau jeito” para amamentar, o que lhes parece resultar em um “não querer da criança” e o fato de ela “não conseguir pegar”. Não ter “jeito” significa ser destituída de certas capacidades como conhecimento e prática, reforçando a ideia do aleitamento como prática aprendida e não instintiva. “[...] O leite não sai, meus seios são muito grandes, ele fica sufocado” (P11). A dificuldade de saída concreta do leite e a manifestação de insatisfação da criança (choro constante) geram dúvidas sobre a capacidade das mulheres de suprir adequadamente a necessidade da criança. A força da fragilidade da criança de ser “pequenininha” se impõe, expressando nessas mulheres seus sentimentos maternos, ao mesmo tempo em que percebem que sua capacidade para ser nutriz, a princípio “inata”, foge de seu controle. A maior preocupação é o fato de o bebê não conseguiu mamar. Nesse sentido, o objeto de seu desejo é corresponder às necessidades do filho, priorizando o seu bem-estar, em detrimento do próprio. O reconhecimento dos benefícios do leite materno para a criança parece sustentar as decisões dessas mulheres ante essas situações de incômodo e desconforto. As mulheres tomam decisões sobre a amamentação, assumindo os riscos e benefícios, e nessa situação os benefícios do ato de amamentar são superiores aos malefícios que porventura aconteçam à sua saúde15. Profissionais de saúde devem ser capacitados para estar ao lado da mãe, orientando-a no início do aleitamento materno e ajudando-a na busca de soluções para suas dúvidas quanto ao aleitamento materno20. Apoio para amamentar: as purperas com a palavra Quanto ao apoio para amamentar em sua casa apenas uma relatou que não tem este apoio. As demais onze afirmaram que recebiam apoio e dentre as pessoas que as apoiavam foram citadas: irmã, sogra, mãe, cunhada e esposo. O aleitamento materno, apesar de biologicamente determinado, é influenciado por fatores sociopsicoculturais. Entre esses fatores, encontram-se a opinião e o incentivo das pessoas que cercam a mãe, incluindo as avós maternas e/ou paternas da criança. Algumas mães recebem incentivos para amamentar exclusivamente, enquanto outras sofrem forte pressão Pinheiro et al para adotar práticas incorporadas por gerações anteriores, quando o desmame precoce era frequente. A mulher, durante o período da amamentação, apresenta-se vulnerável às opiniões e aos conselhos das pessoas com as quais interage em seu meio. Marido, avós e familiares são personagens que avaliam a situação apresentada no cotidiano compartilhado e observando a interação mãe e filho, emitem o seu julgamento. As opiniões e conselhos advindos de profissionais de saúde ou de pessoas mais próximas, também constituem elementos que têm forte significado na avaliação que a mãe faz do estado nutricional da criança e da sua capacidade em atender às necessidades do filho. No Canadá, pesquisadores21 identificaram que, as mulheres que receberam apoio de suas mães e do pai da criança, assim como, àquelas que previamente já haviam decidido amamentar antes da gravidez, amamentaram seus filhos por mais tempo. Estudo realizado em Lesoto, sul da África, registrou que as avós estimulam a amamentação exclusiva e consideram a suplementação com água, desnecessária e prejudicial à saúde da criança 22. A presença do companheiro é reconhecida como um auxílio valioso no processo da amamentação, especialmente, quando há uma participação mais efetiva nos cuidados diários com a companheira e o filho. O fato de as mães terem uma união estável parece exercer uma influência positiva na duração do aleitamento materno, tanto pelo apoio social e econômico, como pelo emocional e o educacional. A atitude positiva do pai provavelmente contribui na motivação e na capacidade da mãe para amamentar. Autores 23,24 relatam em trabalhos que em um grupo de crianças ,cujos pais eram bastante favoráveis ao aleitamento, verificou-se que 75% eram aleitadas exclusivamente e 98% delas pelo menos parcialmente. Comparando-as com crianças, cujos pais eram indiferentes ou desfavoráveis, a taxa de aleitamento materno exclusivo caiu para 7,7%. É importante, portanto, enfatizar que o papel desempenhado pelos pais e avós é central neste processo, sendo fundamental que os serviços de pré- natal e pós-parto envolva-os e valorize-os, incentivando sua participação e colaboração no apoio à mulher para o estabelecimento do aleitamento materno. Benefícios da amamentação para o binômio mãefilho: percepção das puerperas. “[...] Para ele porque ele cria peso. Para mim não sei responder” (P3). CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 12 Aleitamento Materno: Percepções e Dificuldades ”[...] É bom para a saúde dele, para o crescimento. Para mim é bom por que me sinto bem” (P10). “[...] Para ele dá mais nutrição. Para mim mais amor” (P1) “[...] Para ele é um leite forte, ele vai crescer mais saudável, vai ser fortezinho. Para mim não sei não” (P5). ...”Para ele é evitar doenças. Para mim me sinto bem amamentando” (P8). ...“Evita câncer de mama, volta rápido ao normal, cresce saudável, forte”; (P6) Observa-se nas falas das puérperas que elas sabem sobre os benefícios da amamentação para o bebê, porém, quando perguntadas sobre os benefícios para a mulher, elas não sabem dizer ou acreditam que o benefício é só em relação ao seu bem- estar afetivo e emocional e não relacionam ao aspecto fisiológico de seu corpo. Em pesquisa realizada4, foi identificada uma menor relevância atribuída pelas mulheres à amamentação como benefício à sua saúde, sendo a amamentação considerada, essencialmente, como alimento, afeto e proteção necessária à saúde do bebê. “[...] Para ele porque ele cria peso. [...] para mim não sei responder”; (P3). ”[...] É bom para a saúde dele, para o crescimento.[...] para mim é bom por que me sinto bem”; (M10). Estudos mostram que o leite materno é o único alimento que garante qualidade e quantidade adequada de nutrientes para o bebê, apresentando concentrações ideais de proteínas, açúcares, gorduras, sais minerais e vitaminas25. Daí a mulher relacioná-lo ao ganho de peso do recém nascido. As vantagens nutricionais, psicológicas e de proteção contra inúmeras doenças fazem do leite materno a melhor opção para que a criança alcance de forma plena todo o seu potencial de crescimento e desenvolvimento. O aleitamento materno sob livre demanda deve ser encorajado a fim de diminuir a perda de peso inicial do recém-nascido e promover o estímulo precoce da apojadura – descida do leite. O processo de amamentação garante a manutenção do vínculo entre mãe e filho que se inicia na gestação, cresce e se fortifica, devendo, portanto, ser incentivada a sua continuidade para garantir bem-estar, segurança e saúde da criança 26. “[...] Para ele dá mais nutrição. Para mim, mais amor” (P1) Pinheiro et al A prática da amamentação possui uma série de benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê, sendo essencial para o desenvolvimento afetivo mãe/filho, proporcionando uma ligação emocional muito forte que servirá como base para futuros relacionamentos de confiança com outras pessoas. ”[...] Para ele, é evitar doenças. Para mim, me sinto bem amamentando” (P8) O aleitamento materno favorece ao desenvolvimento do sistema imunológico do bebê, protegendo-o contra infecções e alergias não apenas na infância, mas também na idade adulta. Reduz a mortalidade infantil causada por diarréias e pneumonias como também a incidência de câncer, bronquite asmática e eczemas. O risco de óbito por diarréia para crianças desmamadas era 14,2 vezes maior do que o de crianças em aleitamento materno sem suplemento lácteo, enquanto que por doenças respiratórias era 3,6 vezes maior27. Conclui-se que a promoção do aleitamento materno poderia reduzir substancialmente a mortalidade infantil 22. Se as crianças forem amamentadas exclusivamente ao seio, as duas principais causas de óbito nesse período (pneumonia e diarréia) poderão ser significativamente reduzidas. As frações de mortalidade evitável por amamentação superam os 60% para infecção respiratória e os 80% para diarréia em todos os municípios estudados28. “[...] Evita câncer de mama, volta rápido ao normal, cresce saudável, forte” (P6 ). O leite materno ajuda a reduzir o sangramento após o parto, auxilia a mãe a voltar mais rapidamente ao peso normal e, em livre demanda, ajuda a evitar nova gestação. Até o presente, sabe-se que há uma relação positiva entre amamentar e menores índices de doenças como o câncer de mama, certos cânceres ovarianos e certas fraturas ósseas causadas pela osteoporose. Estima-se que a incidência de cânceres de mama nos países desenvolvidos seria reduzida a mais da metade (de 6,3 para 2,7%) se as mulheres amamentassem por mais tempo15. Disposição da puérpera e a do bebê “ [...] A minha, eu sempre quero dar o melhor de mim. Ela é muito faminta e gulosa” (P1) “[...] Eu fiquei tensa, nervosa. Acho que transmite isso para ele também” (P5) CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 13 Aleitamento Materno: Percepções e Dificuldades “[...] Eu sofri muito estava cansada, mas, mesmo consegui amamentar logo e ela pegou logo” (P9) “[...] Eu dei o peito a ele e ele aceitou bem, dói mais eu aceito” (P11 ) [...]“Eu estava disposta e ela também, só que ela estava estressada” (P12 ) [...]“Eu fiquei tensa, nervosa. Acho que transmite isso para ele também” (P5) O estresse constitui um estado fisiológico (dor, cansaço, exaustão) ou emocional (ansiedade, frustração, ambivalência) que interfere sobre a capacidade de adaptação a situações do dia a dia 29. Dois mecanismos podem explicar a relação entre estresse e lactação: em condições de estresse, o organismo da mãe aumenta a liberação de adrenalina, que provoca vasoconstricção generalizada. Quando a vasoconstricção é muito intensa, a prolactina e a ocitocina (hormônios envolvidos na produção do leite) não chegam às células lactóforas e mioepiteliais da mama, respectivamente, comprometendo a produção de leite 30. “[...] Ele é preguiçoso. Tenho que mexer nele para ele mamar” (P3) Bebês que vivenciaram situações de estresse durante o trabalho de parto podem se apresentar fracos ou muito sonolentos, dificultando a evocação dos reflexos de preensão e sucção eficiente da mama. A falta de sucção não gera estímulos neuroendócrinos responsáveis pela liberação dos hormônios envolvidos na produção do leite e comprometem a lactação29. Pinheiro et al CONSIDERAÇÕS FINAIS Compreender o significado do contato precoce entre mãe e filho e respeitar o desejo, a cultura e o suporte social de cada mulher contribuem de forma crucial no processo de amamentação no período do pós-parto imediato e favorece ao aleitamento materno exclusivo. Os resultados deste estudo confirmam que a prática da amamentação no período imediato após o parto é de fundamental importância para a saúde do binômio mãe-filho, assim como, para o crescimento e o desenvolvimento do neonato. O vínculo entre mãe e filho acontece gradativamente à medida que as incertezas, angústias e indagações vão se dissipando. Em vista disso, torna-se imprescindível que sejam repassadas às mães orientações corretas sobre a prática correta de amamentar, usando uma linguagem simples e direta. O estudo desvelou as principais dificuldades das mães entrevistadas na prática da amamentação. Dentre as mais citadas estão: o medo, muitas vezes transmitido culturalmente de geração a geração, a dificuldade de posicionamento e pega correta, a insegurança quanto à quantidade de leite suficiente para saciar a criança; como também a falta de apoio em casa, principalmente, o suporte do companheiro. Pode-se afirmar que o aleitamento materno envolve condições relacionadas a diversos aspectos da saúde, tais como: questões nutricionais do bebê, reações psicossociais da relação mãe-criança, indicadores de desenvolvimento infantil, saúde geral e saúde bucal da criança, assim como, um amplo espectro de fatores culturais e familiares predisponentes do aleitamento prolongado e do desmame precoce. REFERÊNCIAS 1. Lowdermilk DL et al. O cuidado em enfermagem materna. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2002. 2. Ichisato SMT, Shima AKK. Aleitamento materno e as crenças alimentares. 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Submissão: 12/08/2011 Aceite: 15/08/2011 CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 15 O Efeito de Palestras Educativas na Evolução da Dor e do Autocuidado na Coluna Vertebral Ticiane Braga Sombra I Giselle Notini Arcanjo II Ismênia de Carvalho BrasileiroII Kalina Kelma Oliveira de Sousa II RESUMO Introdução: A dor está entre os sintomas mais comuns apresentados nos distúrbios da coluna vertebral. Sabe-se que não adianta apenas solucioná-la de forma momentânea e retornar às atividades diárias, sendo necessário cuidados e disciplinamentos quanto à postura; conhecimento do corpo e da causa das dores na coluna a fim de controlar e melhorar a sintomatologia. Ações educativas podem propiciar maior conhecimento sobre o corpo e seu processo de desgaste, permitindo reflexão de atitudes e mudança de comportamento. Objetivo: Verificar a evolução da dor e do autocuidado na coluna vertebral de participantes de palestras educativas. Método: A pesquisa foi feita em 20 indivíduos com dores crônicas na coluna vertebral, na faixa etária variando entre 20 e 45 anos, que iniciariam a sua participação em uma Escola de Postura. Eles foram divididos em dois grupos: o grupo I, composto por 10 voluntários que participaram de palestras educativas e foram atendidos com técnicas de terapia manual e o grupo II contendo 10 pessoas atendidas somente com técnicas de terapia manual. A coleta de dados foi feita por meio de um questionário, aplicado antes e após as intervenções. Os dados obtidos foram inseridos numa planilha do Microsoft Excel para análise de dados. Resultados: Todos os voluntários do grupo I tiveram o grau de dor na coluna vertebral reduzidos após as intevenções, com uma melhora de 3,7 na média de dor; como também o aumento do autocuidado. No grupo 2, todos os indivíduos também tiveram alívio de dor, porém com uma redução na média de dor de apenas 1,9. O índice de autocuidado neste grupo permaneceu constante em 80% dos indivíduos, que difere do grupo I, visto que todos deste grupo evoluíram nesta variável. Conclusão: Nesse estudo foi possível concluir que dores na coluna vertebral são reduzidas a intensidades muito menores com o aumento da realização do autocuidado, promovidos pela intervenção educativa aliada a tratamento manipulativo. Palavras-chave: Dor. Autocuidado. Coluna vertebral. Educação em saúde. ABSTRACT Introduction: Pain is among the most common symptoms reported in disorders of the spine. It is known that no good just solve it for the moment and return to daily activities, requiring care and discipline in posture, body knowledge and the cause of back pain in order to monitor and improve symptoms. Educational activities can provide greater knowledge about the body and the wear process, allowing reflection of attitudes and behavior change. Objective: To investigate the evolution of pain and self-care in the spine of participants of educational lectures. Method: The survey was conducted in 20 individuals with chronic pain in the spine, aged between 20 and 45, were about to start their participation in a School Program. They were divided into two groups: group I consisted of 10 volunteers who participated in lectures and were treated with manual therapy techniques and group II containing 10 persons met only with manual therapy techniques. Data collection was done through a questionnaire administered before and after intervention. Data were entered in a Microsoft Excel spreadsheet for data analysis. Results: All subjects in Group I had the degree of pain in the lower spine after intevenções, with an improvement of 3.7 in mean pain, as well as increased self-care. In group II, all subjects also had relief of pain, but with a reduction in average pain of only 1.9. The rate of self-care in this group remained constant at 80% of individuals, which differs from group I, since all of this group evolved in this variable. Conclusion: In this study it was concluded that spinal pains are reduced to much lower intensities with increasing realization of self-care promoted by the educational intervention combined with manipulative treatment. Keywords: Pain, self-care, spine, health education. I. Acadêmica do curso de Fisioterapia da Estácio - Faculdade Integrada do Ceará (FIC), Fortaleza, Ceará, Brasil. II. Fisioterapeuta, Profa. Ms. do curso de Fisioterapia da Estácio - Faculdade Integrada do Ceará (FIC), Fortaleza, Ceará, Brasil. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 16 O Efeito de Palestras Educativas na Evolução da Dor e do Autocuidado na Coluna Vertebral INTRODUÇÃO A dor está entre os sintomas mais comuns apresentados nos distúrbios da coluna vertebral(1). Ela pode estar relacionada a problemas de ordem postural, em decorrência das atividades diárias; fatores ambientais inadequados sejam familiares, profissionais ou de estudo; mudanças da estrutura corporal, como o estado de gravidez e obesidade; permanência por prolongado tempo em incorreta posição sentado, em pé ou no ato de dirigir veículo automotor; tipo de trabalho e nível de atividade física e em razão de comportamentos sedentários2. Variáveis genéticas, psicossociais, econômicas, acesso às políticas sociais, educacionais e de saúde, precárias condições de vida e de saúde, também podem influenciar no agravamento desse sintoma 3,4. Aproximadamente 80% da população, em algum momento de sua vida, apresentaram queixas de dores na coluna 5. Esse incômodo atualmente tem seu início cada vez mais precoce6. A incidência e a prevalência de algias na coluna são tão frequentes que devem ser estudadas como uma desordem epidêmica, social e que causam grandes prejuízos econômicos, pois são as mais frequentes nos serviços de saúde, as principais causas de afastamento de trabalho e de benefícios requeridos à Previdência pela deficiência causada 5,7. Muitos estudos referem que não adianta apenas solucionar a dor momentânea e retornar às atividades diárias, sendo necessários cuidados e disciplinamentos quanto à postura; conhecimento do corpo e da causa das dores na coluna a fim de controlar e melhorar a sintomatologia8. O estudo de Oliveira9 refere que as palestras educativas podem propiciar maior conhecimento sobre o corpo e seu processo de desgaste, permitindo as pessoas uma reflexão de atitudes e mudança de comportamento. Este pode ser um bom princípio para despertar o interesse sobre o próprio corpo e responsabilidade individual para o autocuidado, ou seja, posicionamento adequado nas atividades de vida diária e no trabalho. Dessa forma, como referência de tratamento da dor na coluna, foi criada na Suécia, em 1969, pela fisioterapeuta Mariane Zachrisson-Forssell, a Escola de Postura9. Este método foi desenvolvido em diversos países com diversas adaptações e, introduzida no Brasil a partir de 1980, quando Knoplich trouxe-o para o Hospital do Servidor Público em São Paulo no Centro de Ensino da Fisioterapia11. A Escola de Postura gera e proporciona a comunidade um atendimento especializado em prevenção e tratamento precoce da coluna vertebral e, particularmente, auxilia no tratamento reabilitador da coluna e nos casos de dor crônica9. Sombra et al Assim, a autoeducação para uma mudança de atitudes posturais e o controle da dor são os objetivos propostos da Back School ou Escola de Posturas, um método de orientação postural composto por informações teóricas educativas, prática de exercícios terapêuticos e treino de relaxamento12. Porém, a maioria das pessoas procuram a Escola de Postura, Escola de Coluna ou Back School para tratarem dores crônicas na coluna vertebral e não para buscarem formas de prevenção13. Observando estes conceitos, desenvolveu-se este estudo com a finalidade de verificar o efeito de palestras educativas na evolução da dor e do autocuidado na coluna vertebral dos participantes de uma Escola de Postura, que acrescenta na sua abordagem de tratamento técnicas de terapia manual. Dessa forma, a integração das intervenções aplicadas na Escola de Postura foi avaliada, esclarecendo se elas têm sido adequadas ou se há necessidade de modificar as estratégias de intervenção, diminuindo os riscos da reincidiva da dor ou sua continuidade e, consequentemente, beneficiando o participante quanto a melhora do atendimento. Portanto, poderá fortalecer a ideia que a educação em saúde ao ser aplicada juntamente com a terapêutica, seja ela medicamentosa ou fisioterapêutica, poderá reduzir ou eliminar em um tempo menor as dores na coluna, melhorando a qualidade de vida dos indivíduos e, consequentemente, beneficiando a comunidade, como também promovendo a divulgação da atuação do projeto na saúde coletiva. MÉTODO O presente trabalho trata-se de um estudo de natureza quantitativa de caráter longitudinal, observacional e comparativo. Respeitando as normas que regulamentam pesquisa em seres humanos contidas na Resolução n.º196/96 do Conselho Nacional de Saúde, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Estácio – Faculdade Integrada do Ceará (Protocolo: 156/09). A amostra foi composta por 20 indivíduos selecionados aleatoriamente, com dores na coluna vertebral com duração no mínimo de seis meses, na faixa etária variando entre 20 e 45 anos, que iniciariam a sua participação no Projeto de Responsabilidade Social Escola de Postura e Terapia Manual da Estácio – Faculdade Integrada do Ceará no período de fevereiro a maio de 2010. Eles foram divididos em dois grupos: o grupo I, composto por 10 voluntários que participaram de palestras educativas e foram atendidos com técnicas de terapia CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 17 O Efeito de Palestras Educativas na Evolução da Dor e do Autocuidado na Coluna Vertebral manual e o grupo II contendo 10 pessoas atendidas somente com técnicas de terapia manual. Os sujeitos do grupo II foram orientados a não participar das palestras educativas durante a sua participação na pesquisa. Porém, após o término do estudo poderiam assistí-las caso interessarem. As pessoas que se recusaram a participar do estudo, não assinando o termo de consentimento livre e esclarecido e pós-esclarecimento, seriam automaticamente excluídas da pesquisa. Também foram excluídos os indivíduos que sentiam dores na coluna vertebral de forma crônica em estado agudizado e pessoas que já havia participado de qualquer Escola de Postura. Os indivíduos que entregarem o(os) questionário(os) incompletos e tiverem grau de dor menor de 2 foram automaticamente suspensos do estudo, além daqueles que não realizaram o mínimo de 5 atendimentos com técnicas de terapia manual em um período de 8 semanas e os que não participaram de pelo menos 2 dias de palestras educativas. Já no grupo II foram suspensos os indivíduos que se ausentaram em pelo menos 5 atendimentos com técnicas de terapia manual durante as 8 semanas. A coleta de dados foi feita por meio de um questionário com 13 questões sobre intensidade de dor na coluna vertebral, de acordo com Escala Analógica Visual da Dor quantificada de 1 a 10; as posturas e medidas que deveriam adotar ao caminhar, sentar, dormir, carregar peso, dirigir, realizar atividades manuais, se vestir e se calçar, atender telefone e utilizar o computador; a permanência em uma mesma posição por muito tempo; a prática de atividade física e realização do autocuidado na presença de dor na coluna vertebral Os objetivos foram explicados detalhadamente aos voluntários, os quais assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido e pós-esclarecimento. O preenchimento de tais termos garante sigilo das informações obtidas das participantes e preserva os aspectos éticos de pesquisa. Após terem aceito participar da pesquisa, os pesquisadores aplicaram o questionário de forma individual, antes da primeira palestra educativa (grupo I) e do primeiro atendimento com técnicas de terapia manual (grupo II), nas dependências dos laboratórios de saúde da Estácio/ FIC onde funciona o projeto. Após 8 semanas, o mesmo questionário foi aplicado pelos pesquisadores aos voluntários do grupo I, ou seja, após eles terem assistido pelo menos duas palestras educativas, além de serem submetidos no mínimo de 5 atendimentos com técnicas de terapia manual em um período de 8 semanas; e aos voluntários do grupo II que realizaram no mínimo de 5 atendimentos com técnicas de terapia manual em um período de 8 semanas. Sombra et al As técnicas manipulativas utilizadas no projeto foram massoterapia, mobilização articular, pompage, inibição muscular, alongamento e reeducação postural. As intervenções educativas e manipulativas foram feitas por acadêmicos de Fisioterapia, cursando a partir do 6° semestre, sob a supervisão da professora responsável. Eram eles que acompanhavam e recebiam os sujeitos encaminhados durante e após o estudo nesse projeto. A análise e interpretação dos dados estatísticos e os tratamentos das informações foram baseados e apurados por meio de planilha eletrônica, no Microsoft Excel, versão 2007. Ressalta-se que a evolução de dor na coluna vertebral foi analisada pela resposta da primeira questão. Em relação à avaliação do autocuidado utilizaram-se critérios em relação ao número de respostas afirmativas da questão 2 à 12 e ao número de respostas assinaladas da última, sendo classificado em nível ruim (0-3 acertos); regular (4-6 acertos); bom (7-9 acertos) e ótimo (10-11 acertos). Lembrando que o participante poderia desistir de sua participação a qualquer momento, sem penalidades, prejuízos ou perda de qualquer benefício. Eles também não sofreriam qualquer risco, uma vez que o questionário foi feito de forma verbal não promovendo nenhuma lesão física ao participante do estudo. Os participantes da pesquisa não tiveram despesas para sua participação neste estudo nem receberam ônus por parte do pesquisador. Os benefícios poderiam vir de forma indireta para os voluntários devido este estudo avaliar a importância da reinteração de palestras educativas associadas à terapia manual, esclarecendo se elas estão sendo adequadas ou se há necessidade de modificá-las para a melhora do atendimento para esses indivíduos e a comunidade. RESULTADOS A tabela 1 mostra o grau de dor e o nível de autocuidado dos voluntários do grupo I, ou seja, aqueles que participaram de palestras educativas e de técnicas manipulativas, antes e após a participação na Escola de Postura. Verificou-se que todos (n=10) tiveram o grau de dor na coluna vertebral reduzidos após terem sido tratados com técnicas de terapia manual e orientações educativas. A média inicial do grau de dor foi de 6,7, e, posteriormente, 3,0. Em relação ao autocuidado antes das atuações da Escola de Postura, 50% (n=5) tinham um nível regular, 30% (n=3) bom e 20% (n=2) ruim. Após as atuações, 60% (n=6) evoluíram para ótimo nível, 40% (n=4) para bom e nenhum participante se encontrava com nível ruim ou regular. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 18 O Efeito de Palestras Educativas na Evolução da Dor e do Autocuidado na Coluna Vertebral Grupo I Antes Após Grau de Dor Autocuidado Grau de Dor Autocuidado N1 5 Regular 2 Bom N2 4 Regular 2 Ótimo N3 5 Regular 2 Ótimo N4 5 Bom 2 Ótimo N5 9 Regular 5 Bom N6 8 Regular 6 Ótimo N7 8 Bom 6 Ótimo N8 9 Ruim 7 Bom N9 7 Ruim 2 Bom N10 7 Bom 3 Ótimo Média 6,7 3,0 Tabela1 - Comparação do grau de dor e do autocuidado antes e após atendimentos com terapia manual e palestras educativas Fonte: Dados da pesquisa (2010). Na tabela 2 observa-se o grau de dor e o nível de autocuidado dos indivíduos do grupo II, que participaram apenas de tratamento com técnicas de terapia manual, antes e após os atendimentos realizados na Escola de Postura. Grupo II Antes Após Grau de Dor Autocuidado Grau de Dor Autocuidado N1 5 Regular 3 Regular N2 6 Ruim 4 Regular N3 5 Bom 4 Bom N4 4 Ruim 2 Regular N5 9 Bom 5 Bom N6 6 Regular 4 Regular N7 6 Regular 5 Regular N8 9 Bom 8 Bom N9 7 Regular 5 Regular N10 7 Bom 5 Bom Média 6.4 4.5 Tabela 2 - Comparação do grau de dor e do autocuidado antes e após atendimentos com terapia manual Fonte: Dados da pesquisa (2010). Também foi verificado uma redução de dor na coluna vertebral em todos (n=10) os participantes do grupo II, mesmo atendidos somente com técnicas de terapia manipulativa. Sendo que, a média do grau de dor obtidas por eles reduziu de 6,4 para 4,5. Os índices de autocuidado antes dos atendimentos manipulativos foram 40% (n=4) para um nível bom, 40% (n=4) regular e 20% (n=2) ruim; e, após as intervenções, 60% (n=6) regular, 40% (n=4) bom e, em momento algum, foi avaliado um nível ótimo ou ruim. Verificou-se que o Sombra et al nível permaneceu constante em 80% (n=8) nesse grupo, ou seja, em relação ao autocuidado a maioria das pessoas desse grupo não evoluíram. DISCUSSÃO Alguns estudos apresentam a Escola de Postura como opção eficaz na abordagem de dores na coluna, enquanto outros não encontram dados satisfatórios que confirmem esses achados. No Brasil, há poucos estudos sobre a eficácia da Escola de Coluna em dores crônicas. Em 1995, um estudo mostrou que 93% dos pacientes relatavam ausência de dor lombar crônica, após oito meses de término de cinco sessões teórico-práticas, com duração de 50 minutos, sugerindo os autores que intervenções educacionais poderiam ser eficazes como parte do tratamento para dor lombar(14). De acordo com os resultados do presente estudo, pode-se afirmar que todos os participantes de uma Escola de Postura, seja ela com intervenções manipulativas ou somadas a ações educativas, em um período de 4 meses, tiveram grau de dor na coluna vertebral reduzidos. Porém, aqueles submetidos a técnicas manipulativas associadas a orientações educativas tiveram uma maior redução na média de dor que aqueles tratados somente com técnicas de terapia manual. Uma outra pesquisa, sem grupo controle, mostrou a vantagem de um modelo de Escola de Coluna, com 20 aulas teórico-práticas, com duração de uma hora, aos pacientes com lombalgia crônica inespecífica, por melhorar a intensidade da dor (mensurada pela escala visual analógica), por diminuir o número de consultas médicas e a utilização de medicamentos para dor(15). A conscientização e a mudança de hábito que se adquire nas palestras educativas foi expressiva na maioria dos participantes, visto que eles melhoraram o autocuidado em relação a proteção de dores e posturas corretas no dia a dia e, consequentemente, tiveram alívio de dores na coluna vertebral, como foi demonstrado nos resultados do presente estudo. Assim, essas pessoas podem diminuir a procura a assistência médica assim como a utilização desnessária de medicamentos. O presente estudo mostrou que todos (n=10) que participaram de palestras educativas associadas a técnicas manipulativas evoluíram em relação ao autocuidado. Acredita-se que a evolução do autocuidado em 20% (n=2) dos participantes apenas de tratamentos manipulativos é explicada ao fato de serem recém-formados na área de saúde, e portanto, já tiveram acesso a orientações quanto a postura no decorrer do curso. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 19 O Efeito de Palestras Educativas na Evolução da Dor e do Autocuidado na Coluna Vertebral Revisões sistemáticas têm sido realizadas com o objetivo de verificar a qualidade dos estudos e as evidências em relação à utilização da Escola de Coluna no tratamento das algias da coluna. Em 2001, em uma revisão sistemática, autores concluíram que há evidência moderada de que a Escola de Coluna tem melhor resultado sobre a dor e incapacidade a curto e médio prazos do que os outros tipos de tratamento para pacientes com dor lombar crônica recorrente, como também, de que esses programas para lombalgia no ambiente ocupacional são mais eficazes que outros tratamentos, placebo ou lista de espera, melhorando os parâmetros dor, status funcional e retorno ao trabalho, a curto e médio prazos. Concluíram ainda que, em geral, é baixa a qualidade metodológica desses estudos16. Um estudo que comparava a atuação de uma Escola de Postura, do tratamento medicamentoso e da fisioterapia convencional nas algias vertebrais, constatou que a Escola de Postura é o meio mais eficiente quanto ao tratamento preventivo e reeducação postural17. De acordo com Van Tuder18 é eficaz para tratamento de dor lombar crônica uma abordagem ativa com exercícios de terapia e programas multidisciplinares. Enquanto, outra pesquisa apresenta resultados consistentes que mostram que o repouso não é um tratamento eficaz para a lombalgia aguda, mas pode retardar a recuperação; visto que pacientes com lombalgia aguda tiveram pequenas melhorias no alívio da dor e na capacidade de realizar atividades cotidianas, quando receberam conselhos para permanecer ativo em relação ao conselho de repouso na cama19. Sombra et al Da mesma forma que no presente estudo, Moffet et al 20 encontraram melhora em relação à dor (escala visual analógica) e incapacidade funcional (Oswestry low back pain) nos indivíduos com lombalgia crônica que participavam de um programa teórico-prático de Escola de Coluna e faziam exercícios isoladamente e aqueles que só faziam os exercícios. Porém, os pacientes que fizeram somente exercícios retornaram a seus níveis originais de incapacidade, enquanto os pacientes frequentadores da Escola de Coluna continuaram a melhorar. Nesse estudo, os autores sugeriram que os pacientes com lombalgia crônica se beneficiariam com programas de educação postural, tal como é oferecido com a Escola de Coluna. CONCLUSÃO Nesse estudo observou-se que todos os domínios que relacionam o grau de dor e autocuidado na coluna vertebral às palestras educativas foram abordados, percebendo-se uma redução de dor a intensidades menores com o aumento da realização do autocuidado, promovidos pela intervenção educativa aliada a tratamento manipulativo. Neste sentido, reintegra a relevância da compreensão das pessoas quanto aos aspectos preventivos e do autocuidado, visto que as ações educativas possibilitam mudanças comportamentais e ajudam na mitigação da dor, proporcionando maior possibilidade para retorno às atividades diárias e manutenção da saúde em pessoas com queixas de dores crônicas na coluna. Por último, é importante ressaltar a necessidade de estudos metodologicamente adequados e que analisem também os resultados de métodos a longo prazo. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Apley AG, Solomon L. Ortopedia e fraturas em medicina e reabilitação. 6ª ed. São Paulo: Atheneu; 2002. Knoplich J. 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A controlled, prospective-study to evaluate the effectiveness of a back school in the relief of chronic low-Back-Pain. Spine 1986; 11(2): 120-2. Submissão: 03/07/2011 Aceite: 18/08/2011 CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 21 Alterações Pulmonares em Pacientes Portadores de Doença Cérebro Vascular Ivana Marinho Paiva Freitas I Greicy Coelho de Souza II Luiz Eduardo Lopes de Souza III RESUMO A Doença Cérebro-Vascular é considerada um problema de saúde pública e uma doença negligenciada por médicos e autoridades no mundo inteiro. Destaca-se entre as três doenças que mais matam no mundo e seus comprometimentos neurológicos consequentes são umas das principais causas de lesões permanentes adquiridas em adultos. A pesquisa foi desenvolvida em um hospital da rede pública de Fortaleza. Os sete participantes incluídos tinham diagnóstico médico de DCV e foram avaliados através de uma ficha de avaliação que continha critérios avaliativos da função pneumofuncional, perguntas sobre hábitos de vida e historia da doença, fita métricaparaa realização da cirtometria e estetoscópio para a ausculta pulmonar . Foram encontradas alterações pulmonares em todos participantes do estudo. Todos os pacientes apresentavam fatores de risco preditivos ao DCV, seis participantes (85,7%) evidenciaram três ou mais deles. Dentre os sete pesquisados, quatro (57,1%) apresentavam sequelas neurológicas motoras como hemiplegia e todos estes evoluíram com complicações pulmonares como atelectasia e pneumonia. Assim, as complicações pulmonares nestes pacientes tiveram relação com as sequelas motoras geradas pelo DCV e os fatores de riscos como hipertensão, histórico familiar, sedentarismo, idade e tempo de internação. Palavras-chave: Acidente Cerebrovascular. Assistência Hospitalar. Transtornos Neurológicos. Doenças Pulmonares. ABSTRACT The Stroke is considered a public health problem and a neglected disease by doctors and authorities worldwide. Notable among the three diseases that kill most in the world and their consequent neurological problems are a major cause of permanent acquired lesions in adults. The study was conducted in a public hospital in Fortaleza. The participants included seven had been diagnosed with DCV and were evaluated by an evaluation form which contained criteria of evaluation function Pneumofuncional, questions about lifestyle and history of the disease, a tape measure to the achievement of the circumference and stethoscope for auscultation. Pulmonary changes were found in all study participants. All patients had risk factors predictive of stroke, six participants (85.7%) showed three or more of them. Among the seven respondents, four (57.1%) had neurological sequelae such as hemiplegia and motor all these developed pulmonary complications such as atelectasis and pneumonia. We conclude that pulmonary complications in these patients had a relationship with the fallout generated by the motor and stroke risk factors such as hypertension, family history, sedentary lifestyle, age and length of hospital stay. Keyword: Hospital Care. Stroke. Neurological Disorders. Lung Disease. INTRODUÇÃO A Doença Cérebro-Vascular é considerada um problema de saúde pública e uma doença negligenciada por médicos e autoridades no mundo inteiro. Os recursos destinados para a saúde pública pelos países em desenvolvimento são sabidamente escassos e extremamente inferiores aos sugeridos pela Organização Mundial de Saúde1. A DCV se destaca entre as três doenças que mais matam no mundo, sendo precedidas somente pelas doenças cardiovasculares e pelo câncer2. Baseado nas estatísticas da organização mundial de saúde (OMS), os números mostram que 1% dos 6,5 bilhões de habitantes do planeta deve falecer até dezembro de 2009, o que corresponde aproximadamente 59 milhões de pessoas. O dado surpreende, porém, é que deste total de mortes previstas, 10%, ou seja, quase 6 milhões terão esta doença como causa 3. I. Fisioterapeuta. Docente do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza. II. Discente do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza. Bolsista do Programa de Iniciação Científica - (PROBIC/FEQ/UNIFOR). III. Discente do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 22 Alterações Pulmonares em Pacientes Portadores de Donça Cérebro Vascular Estatísticas recentes mostram que no Brasil, em particular, a sua incidência é fatal e segundo o Ministério da Saúde constitue a primeira causa de óbito. São responsáveis por mais de 90.000 óbitos/ano no país, a maior taxa da América latina, este quadro tende-se a agravar à medida que a população brasileira envelhece uma vez que o risco da doença aumenta, conforme o avanço da idade 3. Sabe-se que o controle dos casos de DCV poderia ser maior, se fossem mais amplos os serviços de atenção primaria e secundária, situação que foi comprovada nas regiões Sul e Sudeste onde ocorrem reduções significativas do índice de mortalidade. Portanto, as condições socioeconômicas são facilitadores de uma melhor resposta na redução da morbidade e mortalidade por doenças circulatórias1. A pressão arterial elevada é causa de 80% dos casos de acidentes vasculares cerebrais isquêmicos e em 100% dos hemorrágicos3. A DCV é definida como um déficit neurológico (sinal e/ou sintoma) causado por interrupção do fluxo sanguíneo a uma determinada região encefálica, com duração dos sintomas maior que 24 h e/ou presença de lesão cerebral pelos exames de imagem4. Pode ser dividida de acordo com sua fisiopatologia em isquêmico ou hemorrágico, do qual estima-se que cerca de 85% sejam de origem isquêmica e 15% hemorrágicos2. Os comprometimentos neurológicos consequentes são umas das principais causas de lesões permanentes adquiridas em adultos, sendo responsáveis por até 80% das incapacidades 5. Acarretando consequências como invalidez e altos custos sociais1. O resultado após a DCV é influenciado por um número de fatores, sendo mais importante a natureza e severidade do déficit neurológico resultante, A idade do paciente, a fisiopatologia da doença e as desordens clinicas coexistentes, também afetam o prognóstico. Quanto mais cedo começa a recuperação, melhor o prognóstico. Tipicamente, a melhora funcional é mais rápida durante os primeiros poucos meses depois do acidente vascular do que mais tarde. A velocidade da recuperação inicial esta relacionada à redução do edema cerebral, melhora do suprimento sanguíneo e remoção do tecido necrótico. Entretanto, com a terapia os ganhos funcionais podem perduram anos mais tarde. A plasticidade do sistema do sistema nervoso responde pelos ganhos tardios6. Pacientes com desordens neuromusculares, geralmente, apresentam alteração do padrão ventilatório, caracterizado por redução dos movimentos do tórax e abdome e da contribuição desse compartimento para volume corrente7. A DCV pode limitar de modo significativo o desempenho funcional, com consequências negativas nas relações Freitas et al pessoais, familiares, sociais e, sobretudo, na qualidadede vida8. Observou-se a necessidade de investigar a prevalência de complicações pulmonares existentes nestes pacientes, visando uma pronta assistência aos mesmos, a fim de evitar tais acometimentos. O conhecimento prévio dos profissionais direciona o tratamento de forma precisa aos cuidados da doença, atuando de forma secundaria na prevenção do surgimento de patologias associadas, refletindo, assim, em uma assistência qualificada dos pacientes, promovendo uma recuperação mais precoce de sua saúde. METODOLOGIA O estudo se caracteriza por uma pesquisa do tipo observacional, descritiva transversal, com abordagem quantitativa, foi desenvolvida em um hospital da rede pública de Fortaleza, no período de setembro a outubro de 2009. Foram realizadas 7 visitas ao hospital em dias alternados, entretanto, somente 7 pacientes enquadraram-se aos critérios de inclusão da pesquisa e puderam participar da mesma. Os participantes incluídos tinham diagnóstico médico de DCV e foram selecionados independentes do sexo, eram conscientes, sem suporte ventilatório e hemodinamicamente estáveis. A faixa etária foi de 40 a 80 anos de idade, sendo todos esclarecidos sobre a pesquisa e tendo de assinar o termo de consentimento livre esclarecido aprovado previamente pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IJF com o parecer de Nº 106.945/2009. Os dados foram coletados através de uma ficha de avaliação elaborada pelos pesquisadores, onde continham critérios avaliativos da função pneumofuncional como cirtometria, ausculta pulmonar e inspeção, alem de perguntas que abordavam o estilo de vida e a história da doença. Para realização da Cirtometria foi utilizado uma fita métrica graduada em centímetros de material não distensível, e considerados três pontos anatômicos de referência: prega axilar (A), apêndice xifóide (X) e basal (B). As medidas foram mensuradas em inspiração e expiração forçada, no qual a diferença entre os dois resultados nos forneceu o Coeficiente de Amplitude (CA). A fita métrica foi posicionada de forma que não causasse dobras nem distorções de medidas9. Para a ausculta pulmonar foi utilizado o estetoscópio da marca Rappaport® Premium, onde este, com o paciente sentado, foi acoplado nas regiões anterior, posterior e lateral do tórax de forma comparativa e bilateral. Solicitando sempre que o participante inspirasse pelo nariz e expirasse com a boca aberta. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 23 Alterações Pulmonares em Pacientes Portadores de Donça Cérebro Vascular No critério de inspeção foi observada a presença de simetria ou assimetria na expansibilidade torácica. Para análise e interpretação dos dados, foram organizados e agrupados de acordo com os objetivos do estudo e dispostos em gráficos e tabelas, elaborados nos programas Microsoft Excel e Microsoft, versão 2000 (Microsoft Co, USA). RESULTADOS O universo do estudo foi constituído por 7 pacientes internados nas enfermarias do hospital com diagnóstico de DCV, dos quais, 4 (57,1%) de origem isquêmica e 3 (42,8%) hemorrágicos. Com idades entre 42 e 77 anos (com média de 60,4 anos), dentre estes 5 (71,4%) eram do sexo masculino e 2 do sexo feminino. O tempo médio de internamento encontrado foi de 45,7 dias, até o momento da realização da pesquisa. Os principais fatores de risco encontrados foram: Hipertensão arterial em 5 pacientes (71.4%), Tabagismo em 3 pacientes (42,8%), uso de álcool em 4 (57,1%), sedentarismo em 4 (57,1%). Um paciente relatou estar fazendo uso de anticoagulantes para o tratamento de cardiopatia. Todos os pacientes relataram histórico familiar com doenças do aparelho circulatório como hipertensão, cardiopatias e o próprio DCV. Todos os pesquisados apresentaram um ou mais fatores de risco para o DCV. Quando confrontamos os fatores de risco com a evolução clínica para complicação pulmonar, Verifica-se que a maior influencia para o desenvolvimento desta, neste estudo, esta relacionada com as sequelas neurológicas geradas comprometendo a função motora, quando comparados aos fatores de risco encontrados. De acordo com a amostra estudada, observou-se que o desenvolvimento de complicações pulmonares se associaram com as sequelas ocasionada pelo DCV nos indivíduos. Os 7 pacientes pesquisados apresentaram alterações no aparelho respiratório, dentre os quais, 6 (85,7%) apresentaram ausculta pulmonar alterada, 4 (57,1%) manifestaram complicações pulmonares, sendo 2 (50%) com atelectasia e 2 (50%) com pneumonia e todos apresentaram alterações no coeficiente de amplitude torácica. De todos os participantes da pesquisa, 2 (28,5%) não desenvolveram sequelas neurológicas que comprometessem a função da motricidade e também não apresentaram complicações pulmonares. Dos 7 estudados 5 pacientes (71,4%) apresentaram hemiplegia como resultado do DCV, destes, 4 (80%) evoluíram com complicações pulmonares. Com relação aos fatores de risco encontrados nos 7 participantes estudados, 5 (71,4%) pacientes apresentaram Freitas et al hipertensão arterial, destes, 3 (60%) apresentaram complicação pulmonar, dos 7 pacientes estudados 3 (42,8%) eram tabagista, destes, 1 (33,3%) apresentou complicação pulmonar. Todos os pacientes apresentaram histórico familiar de doenças do aparelho circulatório, dos quais 4 (57,1%) apresentaram complicação pulmonar, que dos 7 pacientes estudados 4 (57,15) faziam uso de álcool, destes, 1 ( 25%) apresentou complicação pulmonar, de todos os 7 pacientes estudados, 4 (57,1%) relataram ser sedentários, dentre estes, 3 (75%) apresentaram complicação pulmonar. Os pacientes que apresentaram complicações pulmonares tiveram uma média de idade de 65,25 anos e um tempo de internação de 41,5 dias, enquanto que os pacientes que não apresentaram complicações pulmonares tiveram uma média de idade de 54,0 anos e um tempo médio de internação de 18,0 dias. DISCUSSÃO Nas últimas décadas com o crescente aumento nos casos de DCV, uma grande quantidade de recursos vem sendo investida em pesquisa, em todo mundo, na tentativa de reduzir a morbidade e mortalidade dos pacientes10. Esforços têm sido despendidos na tentativa de controlar os fatores de risco não Modificáveis, bem como, modificáveis para DCV isquêmico e hemorrágico. A identificação e controle de fatores de risco visam profilaxia primaria na população11. A hipertensão arterial é fator de risco preditivo para o DCV. Sua ocorrência está estimada em torno de 70% de todos os quadros vasculares cerebrais. O risco cresce continuamente com elevação da PA. No Brasil, a hipertensão arterial é o fator de risco mais importante para doença cerebrovascular, cuja estimativa de prevalência esta em torno de 11% a 20% acima dos 20 anos e 35% acima dos 50 anos. Em torno de 85% dos pacientes com DCV são hipertensos10. Estudos epidemiológicos têm estabelecido que o fumo fosse um fator de risco importante, sendo este por si só tendo um efeito casual direto nesta doença. O uso de cigarro é associado a níveis elevados de fibrinogênio plasmático e pode ativar a via intrínseca da coagulação, através do dano da parede vascular. Produtos encontrados no cigarro, como a nicotina, induzem estados protrombóticos, através da ativação plaquetária12. Os fumantes pesados mostram risco relativo de DCV 2 a 4 vezes maior que os não fumantes. A coexistência de fumo e hipertensão potencializa o risco de doença cerebrovascular11. Embora o histórico familiar de doenças por distúrbios do aparelho circulatório seja geralmente percebida como CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 24 Alterações Pulmonares em Pacientes Portadores de Donça Cérebro Vascular um marcador importante para o risco de DCV, existe grande variabilidade de achados e poucos estudos epidemiológicos que avaliaram essa hipótese11. Devido ao número da amostra do estudo ser baixo, não é possível estabelecer uma relação direta com a ingestão de álcool com o risco de DVC. Em relação ao uso de álcool existem controvérsias quanto aos seus efeitos no organismo e sua relação com a possibilidade de DCV. A hipótese de que o sedentarismo esteja associado ao risco aumentado de DCV foi sugestiva na pesquisa. Além das implicações conhecidas que a obesidade e sedentarismo trazem as funções normais do corpo, podem conferir um fator importante para o prognóstico do paciente. Entre elas encontra-se a doença cardíaca, considerada o segundo fator de risco mais importante para o AVC, com frequência de 41,9% para o AVC isquêmico13. As doenças cardíacas preexistentes constituem o segundo fator de risco mais importante para as DCV10. As cardiopatias consideradas importantes na gênese do DCV são as congênitas, valvulopatias, doenças coronarianas e as hipertensivas13. Pacientes com disfunção neuromuscular, como no caso de pacientes com sequela de DCV, apresentam disfunção ventilatória tipo restritiva, com redução dos volumes pulmonares de forma desproporcional em relação à disfunção dos músculos inspiratórios. O comprometimento pode resultar de micro atelectasias, alterações das propriedades mecânicas dos pulmões, alterações no surfactante, encurtamento e rigidez das fibras elásticas pulmonares e redução do recolhimento elástico (para fora) da parede torácica7. Este mesmo autor afirma também que a fraqueza dos músculos do tronco pode predispor a cifoescoliose e redução da complacência dos pulmões e da parede torácica, comprometendo a função diafragmática. O comprometimento da tosse, aspiração e a clearance mucociliar diminuído, podem predispor a infecção e piorar a disfunção do parênquima pulmonar. Vários fatores estão associados com o risco pneumonia aspirativa incluindo a posição supina, alteração da dinâmica da deglutição e incoordenação da respiração. A frequência de pneumonia aspirativa neste grupo de pacientes é alta, variando de 30% a 50% dos pacientes disfágicos. Sendo estas complicações comuns após um DCV14. A diminuição da movimentação da parede torácica e incursões diafragmáticas são previstas nos pacientes Freitas et al com hemiplegia 15. A disfunção do diafragma tem sido associada com distúrbios da relação ventilação/perfusão nas bases dos pulmões. O desequilíbrio entre o aumento da carga imposta aos músculos respiratórios e a redução da capacidade de gerar pressão predispõe a fadiga e falência respiratória7. Vale ressaltar que há declínio da atividade física quando um paciente permanece por um longo período hospitalizado o que gera um estresse ao corpo. O imobilismo, por si só, é uma causa de morbidade no idoso, sendo que completo imobilismo pode levar a perda de 5 a 6% de massa muscular e de força por dia 16. Pode-se propor que a restrição ao leito torna-se um fator de risco para complicações já que é sabido que a hipoatividade contribui para deprimir a função cardiorrespiratória e musculoesquelética. Padrão respiratório Paradoxal associado com pneumonia e disfágia, pode-se sugerir que o aparecimento do mesmo esteja ligado com a presença de co-morbidades que dificultam o processo ventilatório. Pacientes com sequelas neurológicas, geralmente, apresentam alteração do padrão ventilatória caracterizado por redução dos movimentos do tórax e abdome e da contribuição deste compartimento para volume corrente. Em presença de paralisia dos músculos intercostais a contração do diafragma aumenta a negatividade intrapleural e provoca movimentos paradoxais do tórax7. CONCLUSÃO Neste estudo, a Hipertensão Arterial, sedentarismo, histórico familiar, idade e tempo prolongado de internação, pela Síndrome do Imobilismo, prevaleceram com influencia sobre as complicações pulmonares encontradas nos pacientes. Sobretudo, a hemiplegia vista em mais da metade dos pacientes avaliados (71,4%), sugere ter papel decisivo para o surgimento de tais complicações, nos pacientes estudados, já que a mecânica pulmonar desses pacientes sofre prejuízo. Acredita-se que os cuidados com as manifestações dos fatores de risco para o DCV se delineiam como o melhor meio de prevenção contra a doença e que a atenção especializada às suas manifestações neurológicas constituem um importante fator para evolução da doença e um melhor prognóstico. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 25 Alterações Pulmonares em Pacientes Portadores de Donça Cérebro Vascular Freitas et al REFERÊNCIAS 1. Souza MFM et al. Análise de séries temporais da mortalidade por doenças isquêmicas do coração e cerebrovasculares, nas cinco regiões no Brasil, no período de 1981 a 2001. Arq Bras Cardiol. 2006 Dez; 87 (6): 735-740. 2. Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares. Primeiro Consenso Brasileiro do Tratamento da Fase Aguda do Acidente Vascular Cerebral. Arq. Neuro-Psiquiatr. 2001 Dez; 59 (4): 972-980. 3. Agmont G. Problema de saúde publica. Pesq. Médica. 2007 Dez: (4): 51-53. 4. Barros AF, Fábio SRC, FURKIM AM. 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O presente trabalho tem por objetivo estudar um posto de trabalho numa atividade de apoio à exploração de poços de petróleo, que é a fabricação de fluidos salinos para uso em intervenções e completação de poços terrestres. No desenvolvimento do trabalho foi feito um levantamento dos dados da empresa, das características do posto de trabalho. Foi realizada, ainda, a análise da atividade, sua cronometragem e manipulação analítica para determinar a capacidade produtiva atual e o ganho de produtividade possível de se obter com a implantação de algumas modificações ergonômicas propostas nas considerações finais. Palavras-chave: Estudo de Tempos. Tempo padrão. Capacidade Produtiva. Indústria do Petróleo. ABSTRACT The current scenario of organizations require maximum efficiency in their production processes or services. To achieve this end, companies are investing in different technologies, automation and innovation. However, many operations still have the human element deeply rooted, it is extremely necessary for the activity end. In this case, the way to achieve this gain in productivity and efficiency is the Study Times and movements in order to find a method to accomplish great tasks strictly manual. The present work aims to study a job in a support activity to the exploitation of oil wells, which is the manufacture of saline fluids for use in interventions and completion of onshore wells. In developing this work was a survey of enterprise data, the characteristics of the job. We performed also the analysis of the activity, its timing and analytical manipulation to determine the current production capacity and productivity gains can be achieved through the implementation of ergonomic modifications proposed in the final considerations. Keywords: Study Times. Standard time. Productive Capacity. Petroleum Industry. INTRODUÇÃO Nas organizações modernas têm-se observado uma busca incessante pela eficiência, produtividade e melhoria contínua. Para obter estas metas busca-se o apoio da tecnologia para novos produtos e equipamentos, a utilização de ferramentas de qualidade, redução de lead times e setups, bem como, o uso da automação para otimização de processos. Entretanto, alguns processos possuem um alto grau de participação humana, para os quais os projetos tecnológicos ou de automação têm pouca ou nenhuma influência. Para estes, a Engenharia de Produção oferece as ferramentas de Estudo de Tempos e Movimentos que oferecem meios de determinar o tempo padrão das operações, com o melhor método aplicável, de forma a determinar sua capacidade produtiva e alguns meios possíveis para a sua otimização. Com o objetivo de demonstrar os conceitos de Estudo de Tempos, aplicados a uma operação industrial, foi realizado um estudo de caso numa instalação de fabricação de fluidos (soluções salinas) para intervenções em poços de petróleo, que atende às operações de sondas terrestres no Estado do Rio Grande do Norte. Como forma de aplicação prática do estudo, foram feitas algumas considerações baseadas nas observações realizadas, que se propõem a aumentar a produtividade da I. Acadêmica do Bacharelado em Ciência e tecnologia da UFERSA – [email protected] II. Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade de Fortaleza (1991), mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (1994), Especialização em Educação Continuada à Distância pela Universidade de Brasília UNB (2000), e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). Atualmente é professora adjunto da Universidade Federal do Semi-Árido UFERSA – [email protected] CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 27 Estudo de Tempos para Determinação da Capacidade de um Posto de Trabalho operação e ainda proporcionar um ganho ergonômico para os colaboradores que realizam a atividade. O ESTUDO DE TEMPOS O estudo de tempos e movimentos, desenvolvidos por Taylor e pelo casal Gilberth respectivamente, pode ser utilizado para a determinação do número-padrão de minutos que uma pessoa qualificada, devidamente treinada, com experiência e trabalhando normalmente deveria gastar para executar uma operação específica 1 . O estudo de tempos pode ser usado, ainda, para a determinação da capacidade produtiva máxima de um processo, considerando o tempo útil disponível para as operações. Slack et al 2 o conceituam Capacidade produtiva como a máxima produção possível de ser obtida em condições normais de trabalho e em determinado período de tempo. Ou seja, através do número-padrão de minutos (tempo padrão), pode-se determinar a capacidade produtiva de uma determinada área. Para a determinação da capacidade, deve ser feita a determinação do fator de ritmo dos funcionários que executam a atividade estudada, já que cada trabalhador possui uma velocidade de execução diferente, dependente de vários fatores como idade, sexo, condicionamento físico, experiência na função etc. Para Barnes1, a determinação do fator de ritmo é a análise da velocidade do operador em relação a um padrão considerado mundial. Os funcionários padrões são aqueles que apresentam uma velocidade normal de operação próxima de 100%. Martins e Laugeni 3 definem que a avaliação da velocidade do operador ou ritmo é determinada de maneira subjetiva por um cronometrista através de métodos padronizados. Como a forma é subjetiva, caso não se observe diferença significativa entre os operadores, pode-se considerar todos os dados obtidos com o mesmo peso, sem necessidade de definir um único funcionário-padrão. Costa et al 4 em seu trabalho indicaram a forma usada para determinar o número de cronometragens (n), no qual deve-se efetuar um certo número de observações preliminares e aplicá-las à formula (1) abaixo, de forma a dar validade para os tempos encontrados. (1) Aragão et al Os autores definem que “z” é um coeficiente de distribuição normal dado em relação a uma determinada probabilidade, “R” é a amplitude da amostra, “Er” é o erro relativo, “d2” é um coeficiente dado em função do número de cronometragens preliminares e “X ” é a média da amostra. Outro método usado de determinar o número de amostras é o método estatístico, que também utiliza amostras preliminares (n’)e aplica a fórmula seguinte (1A) para um nível de confiança 95% e erro de 5%: (1A) 40 n= 2 n' ∑ x 2 − (∑ x ) ∑x 2 Onde n é o tamanho da amostra que se deseja determinar; n’é o número de observações do estudo preliminar e x é o valor das observações. Martins e Laugeni 3 definem que a expressão deve ser trabalhada com base em cronometragens preliminares que variam entre cinco a sete vezes, utilizando uma função de probabilidade (entre 90% e 95%) e um erro relativo (entre 5% e 10%), além de usar as outras variáveis relativas a estes valores anteriores, resultando no “n” mínimo a ser utilizado para obter dados confiáveis. Com a definição da quantidade de dados úteis e válidos, deve-se calcular o tempo médio dos tempos cronometrados, para então calcular o tempo normal (2) e o tempo padrão (3) que é baseado num fator de tolerância (4) dado pela relação do tempo útil total com a porcentagem de tempo que a empresa concede para necessidades pessoais e descanso diário. Estes valores são dados segundo as equações abaixo: (2) TEMPO NORMAL = MÉDIA TEMPOS CRONOMETRADOS x VELOCIDADE (3) TEMPO PADRÃO = TEMPO NORMAL x FATOR DE TOLERÂNCIA (4) FATOR DE TOLERÂNCIA = 1 / (1 – PORCENTAGEM TEMPO PESSOAL) (5) CAPACIDADE PRODUTIVA = TEMPO ÚTIL / TEMPO PADRÃO Finalmente, para o cálculo da capacidade produtiva (5) é realizada a divisão do tempo útil total pelo tempo padrão calculado (3) indicando quanto seria a possibilidade máxima de uso dos recursos estudados. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 28 Estudo de Tempos para Determinação da Capacidade de um Posto de Trabalho Aragão et al ESTUDO DE CASO Descrição da empresa A empresa estudada não é uma produtora de bens tangíveis, mas sim uma prestadora de serviços, com o fornecimento de mão de obra especializada; para realizar operações de apoio à maior empresa produtora de petróleo no país, ambas localizadas no Estado do Rio Grande do Norte. A empresa foi fundada em 1998 e possui capital social dividido em cotas de capital entre dois sócios. O número de empregados na administração são 04 e na produção são 147 funcionários, divididos segundo o organograma abaixo: Gráfico 1 - Faixas Etárias dos Funcionários Fonte: Elaboração das Autoras As equipes de trabalho são sempre formadas por um funcionário antigo como líder e os mais jovens como aprendizes destes. Percebe-se a tentativa da gerência de manter o equilíbrio entre conhecimento e vigor físico dos colaboradores, visto ser uma atividade de grande esforço corporal, mas que também exige um grau elevado de atenção. Descrição do Sistema Produtivo e Instalações Figura 1 - Organograma - Estrutura Funcional da Empresa Fonte: Elaboração das Autoras acompanhada do Técnico de Segurança da Empresa A empresa não possui uma estrutura funcional bem estabelecida, sendo tipicamente uma sociedade em que os sócios são responsáveis pela maioria das atividades administrativas da empresa, obtendo auxílio profissional apenas nas áreas mais específicas como gestão de RH, finanças e produção. O cargo a ser estudado está grifado acima no Organograma, e se refere à Unidade de Fabricação de Fluidos de Completação. Descrição do Sistema de Trabalho No posto de trabalho estudado o turno é de 12h de trabalho diárias, com regime de 7 dias de trabalho e 7 dias de folga, implicando num total de 168 horas mensais. O regime de trabalho é fixo, ou seja, todos os empregados estão regularizados com carteira assinada e todos os benefícios legais concedidos. Os turnos de trabalho são de 12 horas com pausa de cerca 30 minutos para almoço e 15 minutos para lanches, em que os empregados se revezam nas funções. Ou seja, não há período formalizado para refeições, pois os funcionários recebem um adicional financeiro que substitui o tempo de alimentação e repouso. As idades dos funcionários variam entre 20 e 49 anos, ou seja, há empregados mais experientes e outros mais novos. O gráfico 1 abaixo mostra a divisão etária dos empregados. As etapas envolvidas no processo de fabricação de fluidos de completação são a fabricação de salmouras saturadas à base de Cloreto de Sódio, Cloreto de Potássio ou Cloreto de Cálcio, sendo estes sais diluídos em água; em seguida há a decantação e filtração das salmouras concentradas para em seguida, armazená-las em tanques cilíndricos de 40 m³. A partir destas salmouras, são efetuadas as diluições com água até atingir a concentração desejada pelo cliente; adicionados os aditivos químicos específicos para cada poço a ser atendido e carregamento das carretas com o volume de fluido solicitado pelo cliente. O setor de completação, que pertence às instalações da Contratante, possui as seguintes seções e equipamentos: • Área de armazenamento de produtos químicos sólidos (embalados em sacos de 25 kg empilhados em paletes com 72 sacos) possui Empilhadeira manual ou “Transpalete” • Área para produtos químicos líquidos (embalados em bombonas de 20L e tambores de 200L) possui um sistema de elevação manual “Talha”; Baldes dosadores graduados; • Área de tanques de processos, nos quais são fabricados e decantados os fluidos, possuem 02 Funis de mistura, 02 Bombas Centrífugas Elétricas, Tanques nº 01 a 06. • Área de filtração dos fluidos possui 01 Filtro de Areia e 02 Filtros - Cartuchos de Resina CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 29 Estudo de Tempos para Determinação da Capacidade de um Posto de Trabalho Polifenólica para retirar impurezas das salmouras; Área de tanques de armazenamento das salmouras concentradas; Tanques nº 07 a 13. • Área de carregamento das carretas - 01 Bomba Centrífuga com Motor a Diesel. O gráfico de fluxo para as operações descritas tem o formato apresentado na Quadro1 abaixo: • Aragão et al Abaixo segue a figura do mapofluxograma atual, que foi elaborado utilizando o lay-out esquemático proposto na Figura 2 e a ordem numérica de operações proposta na quadro 1. Observa-se que algumas operações se repetem, já que são vários paletes de produtos químicos utilizados para fabricar uma única salmoura, mas ao final dessas repetições o fluxo normal das operações é estabelecido. Figura 3 - Mapofluxograma do Processo Produtivo Quadro 1 – Gráfico de Fluxo do Sistema Estudado Descrição do Posto de Trabalho Os processos percorrem uma distância relativamente pequena, pois a área de armazenagem se encontra ao lado da área de funis, numa distância mínima de 3 metros e máxima de 14 m. O tempo de espera de transporte dos paletes varia entre 15 e 30s. O tempo de espera de decantação da salmoura varia entre 2h e 5h. O corte do material de cada palete apresenta tempos vaiando de 6 a 10 minutos, em condições de operação normal. O edifício que contém a estrutura de armazenagem e tanques de processo é um galpão coberto com telhas e paredes laterais de amianto, possui sustentação por colunas e treliças de estrutura metálica. Os tanques de armazenagem e filtros situam-se em área sem cobertura, mas os mesmos são tampados hermeticamente, não estando sujeitos a intempéries. Os edifícios do galpão de completação estão dispostos segundo o desenho esquemático abaixo, indicando as vias de acesso (em azul), os tanques de fabricação (retangulares), os tanques de armazenamento (círculos), filtros, funis (triângulo invertido) e área de armazenagem de produtos químicos líquidos e sólidos (círculos e quadrados). Os postos de trabalho estudados envolvem dois operadores junto ao funil de mistura: um deles eleva o saco de sal até a mesa de suporte do funil (carregador) e o outro corta o saco de sal, despeja seu conteúdo dentro do funil e descarta o vazio (cortador). Ambos revezam nestas funções e juntos transportam o palete até as proximidades do funil, utilizando uma empilhadeira manual (transpalete). Os dois operadores trabalham em pé, sendo que o carregador executa um movimento de baixar-levantar para pôr o saco de sal em cima da mesa e o outro só faz movimentos com os braços para cortar o saco de sal cheio e descartá-lo vazio. Os dados cronometrados no estudo envolveram estes processos combinados de carregamento do saco de sal, mais a operação de corte do mesmo e em seguida o descarte do saco vazio. Figura 2 - Desenho Esquemático da Área de Produção de Fluidos METODOLOGIA Para análise do sistema foram feitas visitas à unidade de produção em vários dias e horários diferentes, realizando cronometragens e filmagens do processo de fabricação de salmouras. Foram obtidas leituras de diferentes operadores, observando seus métodos de trabalho e o tempo decorrido para executar as operações de corte dos sacos. Após a obtenção das primeiras leituras, observou-se que o tempo decorrido apenas para o corte de um saco era mínimo, da ordem de segundos e centésimos de segundos. Por conta disso, foram cronometadas as atividades de Carregamento + Corte do saco cheio + Descarte do saco vazio. Ainda assim, as leituras foram muito baixas, impróprias para análise. Optou-se por cronometrar o tempo das CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 30 Estudo de Tempos para Determinação da Capacidade de um Posto de Trabalho atividades para 10 unidades (sacos de 25 kg), o que promoveu amostras mais representativas. No corte do palete observou-se, ainda, que no início do palete os sacos estão a uma altura maior que a da mesa de suporte do funil, no meio do palete a altura igual à do funil e ao final que a altura dos sacos era inferior á do funil. Realizaram-se cronometragens nas três condições ALTA, MÉDIA e BAIXA respectivamente. Na manipulação dos dados, aplicou-se a equação (1) e determinou-se o número de dados necessários para obter o tempo médio (2), o tempo padrão (3), o fator de tolerância (4) e a capacidade produtiva (5) para os dados obtidos da média e também nos obtidos nas duas alturas em que se observaram resultados diferentes (ALTA e BAIXA). Finalizando o trabalho, procedeu-se a análise dos resultados que apontaram na direção de uma solução relativamente fácil para aumento na produtividade. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foram tomadas 06 leituras iniciais, de duas turmas diferentes, nos turnos diurno e noturno, para poder determinar o número de amostras necessárias para realizar o estudo de tempos utilizando dois métodos, o primeiro dado pela equação (1) e o segundo pelo método estatístico da equação (1A), resultando no seguinte: NOITE DIA TURMA 1 TURMA 2 TURMA 3 TURMA 4 MÉDIA (s) 55,67 56,00 61,83 61,67 DESVIO PADRÃO 4,92 6,56 6,20 6,60 AMPLITUDE 13 17 16 18 Z (90%) 1,96 1,96 1,96 1,96 D (N=6) 2,534 2,534 2,534 2,534 3,3 5,5 4,0 5,1 N (Nº CRONOM) Z (95%) 1,96 1,96 1,96 1,96 D (N=6) 2,534 2,534 2,534 2,534 N (Nº CRONOM) 13,1 22,1 16,0 20,4 SOMA X 334 336 371 370 (SOMA X)² 111556 112896 137641 136900 SOMA X² 18738 19074 23171 23078 12,5 21,9 16,1 18,3 N (ESTATÍSTICO) Tabela 1 - Número de Amostras Para o Estudo de Tempos Observou-se que pelo método da equação (1) com intervalo de confiança de 90% e usando número de amostras igual a 06, o resultado de leituras seria muito baixo, variando de 3,3 a 5,1 amostras, podendo ocasionar um erro muito grande. Entretanto, para os intervalos de confiança de 95% variaram entre 13,1 e 22,1 amostras, bem mais representativo. O que é confirmado pelo método estatístico Aragão et al da equação (1A) que forneceu resultados entre 12,5 e 21,9 amostras. Assim, para cálculo da Capacidade Produtiva utilizou-se todos os dados cronometrados (24 Amostras) com confiança de 95% e erro possível de 5%. As leituras do tempo apresentaram os resultados apresentados na tabela a seguir, que também indicam as médias e desvios padrão entre as turmas e entre as alturas dos paletes. Estes dados visam dar apoio à interpretação das variações entre as turmas e entre as alturas. ALTURA DO PALETE NOITE TURMA 1 DIA TURMA 2 TURMA 3 TURMA 4 MÉDIA (Alturas) DESVIO PADRÃO ALTA 50 52 56 54 53,0 2,58 ALTA 51 49 55 56 52,8 3,30 MÉDIA 52 51 58 57 54,5 3,51 MÉDIA 58 54 62 63 59,3 4,11 BAIXA 60 64 69 68 65,3 4,11 BAIXA 68,0 4,24 63 66 71 72 MÉDIA (Turmas) 55,7 56,0 61,8 61,7 DESVIO PADRÃO 4,92 6,56 6,20 6,60 Tabela 2 - Tempos Cronometrados, Médias e Desvios Padrão Fonte: Elaboração das Autoras Com base nos resultados verificou-se que as primeiras unidades de sacos de produto cortadas apresentaram menor tempo que os últimos cortados, provavelmente por conta do esforço extra que os operadores têm que fazer para erguer os sacos até a mesa do funil, visto que os últimos sacos ficam posicionados abaixo da mesa, obrigando a um agachamento. Entre as turmas não foram observados aumentos significativos para o sistema de trabalho, visto todos trabalharem de forma quase que padronizada. Apenas entre os turnos, diurno e noturno, verificou-se uma sutil diferença: percebeu-se que durante o dia os tempos foram maiores que durante a noite. Tal fato, que foi justificado pelos próprios operadores, deve-se ao desconforto gerado pelo calor, enfrentado pelos mesmos por conta do fardamento e EPI’s. Embora o galpão seja aberto e bastante arejado, no período noturno que é mais frio por natureza, observou-se maior rendimento das turmas. Entretanto, estas diferenças não foram significativas (ver desvios padrão), assim serão consideradas todas as turmas com velocidade (ou ritmo) igual a 100%. Verificou-se que as médias foram maiores nas alturas mais baixas dos paletes. Inclusive, os desvios também são mais significativos quando se observam as alturas: quando os sacos estão nas posições mais altas todas as turmas têm um rendimento satisfatório (desvios baixos), quando a altura diminui, envolvendo maior esforço no agachamento, os desvios aumentam. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 31 Estudo de Tempos para Determinação da Capacidade de um Posto de Trabalho Com o seguimento do estudo de tempos, foi feita a determinação do tempo padrão e da capacidade produtiva com relação a todos os tempos cronometrados. Em seguida fizeram-se os mesmos cálculos para as alturas maiores e para as alturas menores, de forma a obter uma comparação, culminando nos seguintes resultados: Tempos cronometrados Média tempos cronometrados Alturas alturas Média Maiores alturas Média Menores alturas Fator de tolerância Fator de tolerância Fator de tolerância P = 1h / 12h = 0,0833 P = 1h / 12h = 0,0833 P = 1h / 12h = 0,0833 Ft = 1/(1-p) Ft = 1/(1-p) Ft = 1/(1-p) 1,09 1,09 1,09 Média velocidades Média velocidades Média velocidades 58,8 1,00 Tempo normal (segundos) Tn = média * veloc. 58,8 Tempo padrão (segundos) Tp = tn * ft 64,10 52,9 1,00 Tempo normal (segundos) Tn = média * veloc. 52,9 Tempo padrão (segundos) Tp = tn * ft 57,66 66,6 1,00 Tempo normal (segundos) Tn = média * veloc. 66,6 Tempo padrão (segundos) Tp = tn * ft 72,59 Capacidade atual (nº de sacos cortados) Capacidade (nº de sacos cortados) Capacidade (nº de sacos cortados) 6178 6868 5455 Produtividade atual Produtividade Produtividade 100,0% 111,2% 88,3% Cap = tempo trb / tp Cap = tempo trb / tp Cap = tempo trb / tp Tabela 3 - Estudo de Tempos da Atividade Observa-se que caso a altura se mantivesse constante, poderia haver uma redução no tempo padrão de operação e um aumento na capacidade produtiva de cerca de 700 sacos de produtos cortados, o que resulta num ganho de produtividade de 11%. Sem mencionar um ganho de qualidade ergonômica no trabalho incalculável, principalmente considerando que o percentual de operadores com idade maior de 40 anos já chega a 25%. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nas restrições encontradas, verificou-se que a necessidade de elevação dos últimos sacos a ser cortados aumenta o tempo de corte. Para melhorar a produtividade do trabalho e reduzir o esforço físico, poderiam ser adotadas medidas para evitar esse movimento de agachamento dos operadores. Aragão et al A alternativa proposta para sanar esta variação na produtividade pela diferença de alturas dos sacos poderia ser a utilização de equipamentos elevadores de carga. Estas empilhadeiras, mesmo as mais simples, poderiam eliminar o esforço ergonômico dos operadores, prevenindo possíveis doenças ocupacionais. E haveria, ainda, a possibilidade de otimizar a área de armazenagem por permitir o empilhamento de maior quantidade de paletes, aproveitando, também, o espaço verticalmente, não só horizontalmente. Há no mercado diversos modelos e fabricantes que podem ser adequados segundo o grau de investimento que a empresa se propõe, bem como com os resultados que se pretende obter. Não haveria modificações no método, fluxo do processo, mapofluxograma ou no lay-out do trabalho, apenas haveria o ganho de produtividade pela aquisição do equipamento de elevação de carga. Para a implantação do novo método de trabalho seria necessário apenas o treinamento dos funcionários no uso do equipamento e um tempo de ajuste de possíveis falhas no processo e para adaptação de todos ao novo método de trabalho. Caso a empresa opte por uma reorganização do espaço de armazenagem, deveria ser planejado o espaço, convertendo ocupação horizontal em ocupação vertical com a criação de corredores para a passagem do equipamento escolhido. Como o equipamento possui um sistema de elevação, o material poderia ser mantido em suas embalagens de origem (big-bags com 40 sacos de 25kg, totalizando 1000kg) e não precisariam ser descarregados em paletes de 72 sacos como é feito atualmente. O próprio equipamento poderia substituir o caminhão munck que descarrega os bags das carretas e também substituiria o trabalho humano de retirar cada saco do bag e empilhar no palete, eliminando uma etapa demorada e dispendiosa para a empresa, e conseqüentemente, reduzindo os custos de equipamento (munck) e mão de obra (operadores da empresa de transporte e descarga). Para determinar claramente esses dados, um novo estudo de viabilidade econômica poderia ser proposto. Investimento esse que não será tão alto inicialmente e, melhor, que irá proporcionar uma grande economia em longo prazo. O uso do equipamento pode ainda reduzir o risco de acidentes, o absenteísmo, além de prevenir possíveis doenças ocupacionais dos colaboradores, o que se sabe trata-se uma despesa bastante alta para as empresas, governo e sociedade em geral. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 32 Estudo de Tempos para Determinação da Capacidade de um Posto de Trabalho Aragão et al REFERÊNCIAS 1 Barnes RM. Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do trabalho. 6ª Ed. São Paulo: Edgard Blücher; 1977. 2. SLACK, Nigel…[et al.]. Administração da Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 3. Martins PG, Laugeni FP. Administração da produção. São Paulo: Saraiva; 2001. 4. Costa FN, Pereira FLM, Alves IBS, Carvalho CAS, Nunes CECB. Determinação e análise da capacidade produtiva de uma empresa de cosméticos através do estudo de tempos e movimentos. Anais do ENEGEP; 2008; Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: ABEPRO; 2008. Submissão: 07/06/2011 Aceite: 05/08/2011 CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 33 Análise Ergonômica do Campo de Trabalho da Equipe de Limpeza da Faculdade Estácio do Ceará Helaine Cristina CoelhoI Caio Átila Prata Bezerra de Sousa I Thiago Brasileiro de Vasconcelos I Marineide Meireles Nogueira II Raimunda Hermelinda Maia Macena III Teresa Maria da Silva Câmara IV Vasco Pinheiro Diógenes BastosV RESUMO Os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho são lesões que atingem tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, de forma isolada ou associada, com ou sem degeneração dos tecidos, atingindo, principalmente, membros superiores, região escapular, pescoço e coluna vertebral. Analisar ergonomicamente o campo de trabalho da equipe de limpeza da Faculdade Estácio do Ceará. Este é um estudo descritivo, transversal e observacional de caráter quantitativo. A amostra foi constituída de dezesseis trabalhadores da equipe de limpeza de uma faculdade particular. Foi aplicado um questionário que avalia o local de trabalho, sócio-demográfico, riscos e dores dessa equipe. Esta pesquisa foi realizada no período de fevereiro a maio de 2010. Os resultados mostraram que 100% dos funcionários apresentaram DORT, pelo menos, em alguma parte do corpo, e que as mulheres são as mais afetadas por esses distúrbios devido à dupla jornada de trabalho. Os trabalhadores adotam posturas inadequadas à mecânica corporal, fazendo-se necessário que se consiga efetuar um trabalho de prevenção, evitando o surgimento dessas patologias, melhorando a qualidade de vida da equipe de limpeza. Palavras chaves: Ergonomia. Trabalho de limpeza. LER/DORT. ABSTRACT The Osteo muscles disorders related to work are lesions affecting tendons, synovias, muscles, nerves, band, and ligaments, alone the associated, with or without degeneration of tissues, primarily reaching upper limbs, scapular region, neck and column vertebral. Analyze ergonomically the field of work of the team of clean Faculty Estácio of Ceará. This is a descriptive, observational and transversal quantitative character. The sample was constituted of sixteen workers of the team of clean a faculty particular, was applied a questionnaire which assesses the workplace, socio-demographic, risks and pains this team, this research will be carried out in the period from February to May 2010. The results showed that 100% of staff showed DORT, at least in some part of the body, and that women are most affected by these troubles due double work time. Workers adopt postures inappropriate to mechanics corporal, making it necessary that we can effect a work of prevention, avoiding the emergence of duck-logias and improving the quality of life of the team of clean. Keywords: Ergonomics. cleaning Work. LER/DORT. INTRODUÇÃO As mudanças ocorridas no mundo do trabalho têm ocasionado alterações nas situações laborais com repercussões na saúde dos trabalhadores. Os processos de terceirizações, diminuição da mão de obra e as mudanças na forma de organização do trabalho, trouxeram um aumento da demanda e novas exigências aos trabalhadores1. O trabalho de limpeza é classificado como dinâmico e pesado, caracterizando-se, assim, por envolver uma grande demanda física. Logo, os profissionais de limpeza têm um demanda laboral intensiva. Além dessa carga, utilizam para realizar suas tarefas muitos utensílios manuais. I. Discentes do curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Ceará; II. Fisioterapeuta. Mestrado em Educação. Docente da Faculdade Estácio do Ceará. III. Enfermeira. Doutora em Ciências Médicas. Docente da Universidade Federal do Ceará. IV. Fisioterapeuta. Especialista em Cardio-Respiratória. Docente da Faculdade Estácio do Ceará V. Fisioterapeuta. Doutor em Farmacologia. Docente da Faculdade Estácio do Ceará. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 34 AAnálise Ergonômica do Campo de Trabalho Pode-se identificar, ainda, que o trabalho de limpeza exige movimentos repetitivos e força, o que implica em posturas desfavoráveis. Portanto, esses trabalhadores apresentam um alto risco para desenvolver problemas de saúde, principalmente, os relacionados às doenças ocupacionais2. O sociólogo Freire 3 afirma que o ser humano é um ser biológico, ecológico e socialmente determinado, e seu bem-estar, além de físico, psicossocial, está dependente e relacionado às situações que o envolvem. De acordo com Soethe4, contemporaneamente as acelerações tecnológicas, os processos de produção em massa, as mudanças de políticas sociais têm incentivado a busca da discussão deste tema. Ao longo dos anos elas vêm discutindo mais sobre a organização do trabalho. Para Abrahão e Torres5, o trabalho constitui um elemento fundamental da existência humana, podendo contribuir para o bem-estar ou para a manifestação de sintomas que afetam a saúde. A organização do trabalho é visualizada como fator mediador desse processo. Ela é compreendida como a divisão do trabalho, incluindo a divisão das tarefas, a repartição, a definição das cadências, o modo operatório prescrito e a divisão de homens, repartição de responsabilidades, hierarquia, comando e controle. O trabalho pode ser entendido como uma atividade social, resultante da energia física e mental, direta ou indireta, voltada para a produção de bem e serviços, contribuindo, dessa forma, para a reprodução da vida de forma coletiva ou mesmo individual6. A definição do estresse no trabalho corresponde ao desalinhamento entre as condições do trabalho e as individualidades dos trabalhadores. É visto por Baker e Karasek7 como as respostas físicas e emocionais prejudiciais que ocorrem quando as exigências do trabalho não estão em equilíbrio com as capacidades, recursos ou necessidades do trabalhador. Segundo Rios e Pires8, a resposta desses questionamentos deve ser feita a partir de análises dos seguintes aspectos: Ciclo (sequência de ações para a execução de uma atividade), Carga (mistura equilibradamente as exigências físicas e cognitivas e alterna tarefas fáceis e difíceis), Duração (tempo consumido pela atividade) e Autonomia (controle que o trabalhador pode ter sobre seu trabalho). As doenças ocupacionais têm sido preocupação de muitas empresas, bem como, um grande desafio para os trabalhadores, profissionais de saúde e de recursos humanos. Isso devido ao bem-estar físico e psicológico dos trabalhadores, refletindo, assim, no seu desempenho profissional e pessoal. Entre essas doenças, pode-se citar os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). A prevalência desses distúrbios vem crescendo de maneira significativa nos últimos anos, representando, Coelho et al assim, o principal fator de agravo à saúde entre as doenças ocupacionais, sendo considerada uma das causas de afastamento de trabalho no Brasil9. Os DORT’s são lesões que atingem tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, de forma isolada os associada, com ou sem degeneração dos tecidos, atingindo, principalmente, membros superiores, região escapular, pescoço e coluna vertebral10. Por esses motivos a promoção da saúde atua na informação e na ação comunitária, dando-lhe suporte para tentar cuidar de sua própria saúde, criando condições e estratégias de favorecer seu bem- estar, manter-se saudável e apto para o trabalho. Na prevenção dos DORT’s, o fisioterapeuta é responsável por implantar medidas preventivas com condutas de orientação, recomendação de atividades que visam um bom ambiente de trabalho, respeitando os fatores ergonômicos, antropométricos, os limites biomecânicos, os intervalos do trabalho e a duração das jornadas de trabalho11. A Lesão por Esforço Repetitivo (LER) representa uma síndrome de dor nos membros superiores, com queixa de grande incapacidade funcional, causada primariamente pelo próprio uso das extremidades superiores em tarefas que envolvem movimentos repetitivos ou posturas forçadas11. Dessa forma, este trabalho tem por objetivo analisar ergonomicamente o campo de trabalho da equipe de limpeza da Faculdade Estácio do Ceará, bem como, estudar os fatores de risco relacionados ao trabalho dos profissionais de limpeza, a partir de uma análise ergonômica, descrevendo as condições de trabalho, que podem estar relacionadas com a prevalência dos DORT. METODOLOGIA Tratou-se de um estudo descritivo, transversal, observacional de natureza quantitativo, que analisou os fatores de risco relacionados ao campo de trabalho da equipe de limpeza da Faculdade Estácio do Ceará. Participaram 16 trabalhadores da equipe de limpeza da instituição, no período de fevereiro a abril de 2010. Foram inclusos na amostra os funcionários da equipe de limpeza e higiene que referiram dor durante a época da coleta (pois assim os mesmos estavam mais susceptíveis às morbidades em questão) e que trabalharam na instituição em questão por mais de três meses. Foram excluídos trabalhadores com mais de 60 anos que trabalhavão a menos de três meses na instituição, e os que não referiram dores, não assinaram o termo de consentimento. A coleta de dados foi realizada através de questionário individual com perguntas objetivas e subjetivas, que abordou sete vertentes: informações sócio-econômicas, concepção CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 35 AAnálise Ergonômica do Campo de Trabalho Coelho et al do campo de trabalho, a repetitividade, a segurança, a carga física, a autonomia e a prevalência de áreas dolorosas pelo diagrama de Corlett e Manenica. Este questionário foi aplicado no local de descanso dos funcionários da instituição às 10 horas no turno da manhã, às 16 horas e 30 minutos no turno da tarde e 19 horas no turno da noite. As questões objetivas dadas depois de coletadas foram analisadas e apresentadas em gráficos e tabelas inseridos no Microsoft Office Excel 2002 Versão 7, e as questões subjetivas foram codificadas em categorias empíricas e analisadas de acordo com a frequência das respostas dos entrevistados. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Estácio do Ceará sobre o protocolo 142/09. RESULTADOS E DISCUSSÃO A amostra do estudo foi de 16 trabalhadores do setor de limpeza de uma instituição particular. As características sócio-demográficas do grupo foram: 56,25% eram predominantemente do sexo feminino, com idade de 28 à 42 anos em média de 35,2 (DP ± 4,48), e 50% casadas. Com relação, ao tempo de serviço dos mesmos, variou entre 3 e 7 meses, com média de 4,75 (DP ± 1,18). Todos os indivíduos têm carga horária de 44 horas e 100% não possuem outro emprego e todos da amostra possuem filhos (Tabela 1). VARIÁVEIS n % formada por funcionários com experiência no setor e que, desta forma, representam bem a influência e/ou efeito do trabalho sobre sua qualidade de vida12. As doenças ocupacionais não são recentes. Atualmente as empresas tercerizadas vêm assumindo novas caracteristicas relacionadas ao mercado de trabalho. Desta forma, buscam grande produtividade a menor custo, o que faz o trabalhador, muitas vezes, a ritmos de trabalho intenso, jornadas prolongadas, ambiente ergonomicamente inadequado, entre outros fatores. Já na segunda tabela suas características foram sobre seu campo de trabalho: 100% da amostra consideram seu local de trabalho agradável, embora aproximadamente 63% não gostam das acomodações para guardar objetos pessoais. 100% da amostra acham que é pouco o número de funcionários, existe uma total disponibilidade de material para as tarefas, assim como, equipamentos de proteção individual (EPI), embora somente 62,50% sempre usam, mesmo tendo treinamentos e orientações sobre a importância desses equipamentos, em relação às ferramentas de trabalho 93,75% acham adaptáveis de acordo com os serviços. 81,50% consideram seu trabalho pesado e 87,50% acham muito sobrecarregado. Com relação ao revezamento, 69% dizem que não podem fazer revezamento das tarefas e 75% acham normal o tempo para executar suas tarefas (Tabela 2). VARIÁVEIS n % Idade 28-35 8 50 36-42 8 50 Local de guardar objetos pessoais na instituição é bom Sexo Masculino 7 43,75 Feminino 9 56,25 Casado 8 50 Solteiro 8 50 Estado civil Sim 6 37,50 Não 10 62,50 As vezes 6 37,50 Sempre 10 62,50 13 81,50 3 18,75 1 6,25 15 93,75 Frequência de uso EPI Considera o trabalho Pesado Muito pesado TEMPO DE TRABALHO NA INSTITUIÇÃO (MESES) 0-4 6 37,50 5-7 10 62,50 Tabela 1- Distribuição dos dados de acordo com o perfil demográfico da equipe de linpeza; Fortaleza/CE, 2010. A predominância de mulheres jovens com dores osteomusculares relacionadas ao trabalho o que se pode constatar em outro estudo como de Rocha12, o que justifica o maior número de disfunções músculo esqueléticas nas mulheres devido ao fato delas possuírem uma dupla jornada de trabalho, pois ao chegarem a suas residências realizam tarefas domésticas. A faixa etária e o tempo de serviço de limpeza (62,50% dos funcionários trabalham a mais de 5 meses na instituição) indicam que a amostra é As ferramentas de trabalho Pouco adaptável Normal O número de tarefas Normal 2 12,50 14 87,50 Sim 5 31,25 Não 11 68,75 4 25 12 75 Muito Realiza revezamento com companheiros de trabalho Tempo para realizar as tarefas Pouco Normal Tabela 2- Distribuição dos dados de acordo com o local de trabalho da equipe de limpeza; Fortaleza/CE, 2010. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 36 AAnálise Ergonômica do Campo de Trabalho De acordo com a Tabela 2, todos da amostra consideram seu campo de trabalho agradável, em relação ao número de funcionários falaram que é insuficiente o que vai ao encontro com outros autores12-13, pois há poucos funcionários para muito serviço. Em relação aos equipamentos de proteção individual e suas orientações há uma grande disponibilidade desses equipamentos, mais nem todos os utilizam com frequência, dados esses corroborados por Vieira et al.14 que afirmam que muitos acidentes de trabalho, por exemplo, a intoxicação, ocorre por falta de compreensão dos próprios trabalhadores, mesmo tendo orientações com frequência desses riscos e da importância desses equipamentos de proteção. Com relação a riscos e dores a uma equiparação entre limpeza dos banheiros e limpeza das salas sendo 50% mais pesadas que outras tarefas, 100% concordam que há esforços repetitivos com as tarefas, tendo um equilíbrio muito grande entre varrer, abaixar, caminhar com 37,50% e empurrar carrinhos também com 37,50%. Aproximadamente 75% identificaram que a intoxicação por material de limpeza é o risco de maior gravidade ocorrido em seu campo de trabalho, embora 100% tenham orientações sobre o assunto e produtos utilizados. Com relação ao final do expediente, aproximadamente 69% consideram-se cansados, 82% relatam a existência de poucas pausas para descanso. 100% da amostra gostariam de ter e fazer ginástica laboral em seu setor, por achar importante para o desenvolvimento do seu trabalho, aproximadamente 82% concordam que além de importante, a ginástica laboral pode ajudar na relação das tarefas, diminuindo sua fadiga. Na amostra 100% referiram dor na lombar e 87,50% nos pés; 88% da amostra nunca se ausentaram do trabalho por essas dores e 87% dessa amostra nunca procuraram um médico por causa das dores (Tabela 3, ao lado). De acordo com a Tabela 3, os trabalhadores responsáveis pela limpeza mostraram-se mais susceptíveis às alterações posturais. Tal achado pode ser entendido através da observação da sua atividade laboral, uma vez que este grupo realiza posições críticas de maneira mantida e repetida mais do que os outros estudos15-18. Para a realização de suas atividades eles realizam movimentos de flexão, rotação e inclinação de tronco; braços elevados acima do nível dos ombros por tempo prolongado; pescoço excessivamente fletido ou estendido; flexão, extensão e desvios ulnar de punho exagerados, bem como, o agachamento. Os trabalhadores com mais de trinta e cinco anos apresentaram maior número de alterações na postura, sendo esse achado sustentado por outras pesquisas19-21 que Coelho et al VARIÁVEIS n % Limpeza dos banheiros 7 43,75 Limpeza das salas de aula 8 50 Limpeza do espaço das cantinas 1 6,25 A tarefa mais pesada Trabalho exige muitos movimentos repetitivos Sim 16 Não 0 100 Se sim, qual Varrer, abaixar e caminhar 4 25 Varrer e empurrar carrinho 6 37,50 Varrer e se abaixar 6 37,50 Os riscos mais identificados no trabalho Intoxicação 12 75 Quedas em geral 4 25 Considera esses riscos Pouca gravidade 0 Normal 4 25 Muita gravidade 12 75 Durante o trabalho, a maior parte está em posição Caminhando 13 81 Em pé 3 18,75 A postura mais incômoda Em pé 9 56,25 Curvado 7 43,75 Tem que fazer esforço de empurrar, levantar e puxar Pouca frequência 5 31,25 Muita frequência 11 68,75 Cansado 11 68,75 Muito cansado 5 31,25 Pouco 13 81,25 Normal 3 18,75 Sim 16 100 Não 0 Como se sente no final do expediente Em relação as pausas durante a jornada de trabalho Deveria ter ginástica laboral no seu setor Se sim por quê Importante 2 13 Muito importante 5 31,25 Ajuda no trabalho 9 53,25 Aumento de funcionários 8 50,00 Horário 5 31,25 não tenho nada a declarar 3 18,75 Sim 13 81,25 Não 3 18,75 Sim 14 87,50 Não 2 12,50 Recomendações de melhoria para o trabalho Dor no ombro Dor nas pernas Já se ausentou do trabalho devido essas dores Sim 2 13 Não 14 87,50 Consultou algum médico devido essas dores Sim Não 2 14 12,50 87,50 Tabela 3 - Distribuição dos dados de acordo com os riscos e dores da equipe de limpeza; Fortaleza/CE, 2010. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 37 AAnálise Ergonômica do Campo de Trabalho sugerem a associação entre o desenvolvimento de disfunção do sistema músculo esquelético com o aumentar da idade. Este fato pode deve-se aos processos degenerativos, de um modo geral, que quando presentes trazem como consequência o desgaste das estruturas osteomioarticulares e orgânicas. CONCLUSÃO A pesquisa ora exposta insere-se no âmbito das relações entre saúde e trabalho, tendo como uma de suas vertentes o desgaste e os Disturbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho de limpeza de uma faculdade particular. Os trabalhadores responsáveis pela limpeza mostraram-se mais susceptíveis às alterações posturais. Tal achado pode ser entendido através da observação da sua Coelho et al atividade laboral, uma vez que este grupo realiza posições críticas de maneira mantida e repetida. Os principais resultados deste estudo sugerem que a atividade profissional, quando supostamente executada em posturas inadequadas, aliadas a movimentos repetitivos, durante um período de tempo prolongado, favoreceu o surgimento de DORT’s. No estudo, os trabalhadores de limpeza relataram uma alta demanda de trabalho, e um pequeno número de funcionários. Tal situação não chega a ser a ideal, com efeito, a demanda excessiva tem relação direta com a presença de e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. Com isso, não se descarta a possibilidade de se desenvolverem trabalhos de conscientização e projetos sociais que abranjam esses trabalhadores que por muitos são esquecidos, é necessário o aumentando do número de funcionários e diminuição da carga de trabalho. REFERÊNCIAS 1. Assunção AA, Almeida IM. Lesões por esforço repetitivo (LER). In: Mendes R (Org.). Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu; 2002. 2. Louhevara V. Job Demand and Physical Fitnees. In: Karwowski W, Marras WS (Ed). The occupational Ergonomics Handbook. London: CRC; 2000. 3. Freire G. Médicos, doentes e contextos sociais: uma abordagem sociológica. Rio de Janeiro: Globo; 1983. 4. Soethe JR. Elementos de refundação do trabalho humano. Estudos Leopoldenses. 2000; 35(156): 100-30 5. Abrahão J, Torres C. Entre a organização do trabalho e o sofrimento: o papel de mediação da atividade. Revista Produção. 2004; 14(3): 60-20 6. Barbiani R, Fritsch R. Modo de produção capitalista e processo de trabalho. Estudos Leopoldenses, Série Ciências Humanas. 2001;35(156): 99-137: 160-43 7. Baker D, Karasek RA. Occupational health: recognize and preventing work-related disease and injury. 4 Ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wwilkins; 2000. 8. Rios RP, Pires L. Ergonomia: fundamentos da prática ergonômica. São Paulo: LTR; 2001. 9. Brasil, Minísterio da Saúde. Protocolo de investigação, diagnóstico, tratamento e prevenção de Lesão por Esforço Repetitivo/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. Secretaria de Política de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2000. 10. Cattelan A, Severo C, Pezzini G. Lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT): a mais nova epidemia na saúde pública brasileira.[Acesso em 2010 Fev 25]. 2006. Disponível em: http://www.wgate. com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/traumato/ler_dort_anderson.htm. 11. Brasil, Ministério da Saúde. Protocolo de investigação diagnostica tratamento e prevenção da Lesão por Esforços Repetitivos. Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. Secretaria de Política de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. 12. Rocha CS. Análise ergonômica do trabalho da equipe de limpeza de uma Universidade particular. [dissertação]. Porto Alegre: Mestrado profissionalizante em Engenharia. Escola de Engenharia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestrado profissionalizante em Engenharia; 2003. 14. Delwing ED. Análise das condições de trabalho em uma empresa do setor frigorífico a partir de um enfoque macroergonômico. [dissertação]. Porto Alegre: Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestrado em Engenharia de Produção Porto Alegre; 2007. 15. Vieira FO, Mó JRR, Santos VM, Miranda RCA, Borduan PO. Segurança do trabalho: a persistência de acidentes diante das políticas de prevenção. Anais do V Congresso Nacional de Excelência em Gestão: Gestão do Conhecimento para a Sustentabilidade, Rio de Janeiro; 2009. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 38 AAnálise Ergonômica do Campo de Trabalho Coelho et al 16. Messing K, Chatigny C, Courville J. “Linght” and “Heavy” work in the housekeeping service of a hospital. Applied Ergonomics, 2000; 29(3):451-9. 17. Silverstein B, Fini LJ, Armstrong TJ. Occupational factores and carpal tunnel syndrome. American Journal of Industrial Medicine, 2000; 11: 343-58. 18. Barbosa LG. Fisioterapia preventiva nos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho – DORTs: a fisioterapia do trabalho aplicada. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2009. 19. Silva AS, Sousa MSC, Gomes ERM, Silva JMFL, Canuto PS, Neto RAA, Pontes LM. Prevalência de alterações posturais para prescrição do programa de exercícios em academias de ginástica — PB. Rev Saude Com. 2005;1(2):124-33. 20. Knoplich J. Enfermidades da coluna vertebral. 3ª Ed. São Paulo: Robe Editorial; 2003. 21. Knoplich J. Viva bem com a coluna que você tem. 19ª Edição. São Paulo: Ibrasa; 2001. Submissão: 08/05/2011 Aceite: 05/06/2011 CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 39 Artigos de revisão Artigos de revisão Uso da Pompage na Liberação de Fáscias Geovana Ximenes Aragão Queiroz I Ana Cristina Miranda Henriques II Maria Arivelise Macena Maia III Resumo Esta revisão narrativa consiste em estudo seccional, documental e observacional, com caráter descritivo, transversal e de natureza qualitativa ocorreu no mês de março de 2011. As bases utilizadas neste estudo foram LILACS e MEDLINE. Os critérios para a seleção das dissertações, teses e artigos foram: apresentar em seus resumos os termos pompage e fáscia muscular, utilizando como estratégia de busca os limites humanos e língua portuguesa. Os achados revelam que a pompage destaca-se como recurso manual importante na reversão de compressões articulares, na promoção de reeducação funcional devido a sua ação sobre a circulação, ação sobre a musculatura, ação articular e ação calmante. Ao final do estudo, pode-se considerar que para o trabalho interdisciplinar obter êxito, é necessário que os profissionais das diversas áreas se inter-relacionem conhecendo a importância de uma para a outra, pois cada um terá o seu papel a desempenhar. Cada profissional tem a sua parcela de participação, identidade e importância indiscutível no atendimento, cujo sentimento único é o tratamento global. Palavras chaves: Fisioterapia. Pompage. Dor. SUMMARY This narrative review is to study sectional, observational documentary, with a descriptive, cross-sectional and qualitative occurred in March 2011. The bases used in this study were LILACS and MEDLINE. The criteria for selection of dissertations, theses and articles were presented in their resumes terms pompage and fascia, using as search strategy human limits and Portuguese. The findings reveal that pompage stands out as a resource manual important in reversing joint compressions, the promotion of functional rehabilitation due to its action on the circulation, acting on muscles, joint action and soothing action. At the end of the study, we can consider that for interdisciplinary work to succeed, it is necessary that professionals from different areas are inter-related the importance of knowing each other, because each one will have its role to play. Each professional has his share of participation, identity and unquestionable importance in attendance, whose only feeling is the overall treatment. Keywords: Physiotherapy. Pompage. Pain. INTRODUÇÃO A fáscia muscular é o elo entre as estruturas musculares superficiais e profundas, entre os músculos contidos em suas aponeuroses, entre os músculos e o esqueleto, entre os músculos e as vísceras e entre estas e o esqueleto. Com exceção das contraturas, que são estados passageiros que desaparecem com suas causas, a patologia da musculatura e de sua fáscia é a fraqueza, que se denomina fadiga, atrofia, paresia ou paralisia. É do conhecimento geral que quando ocorre sobrecarga muscular, a fáscia é exposta a um esforço contínuo e excessivo, tornando-se mais densa, mais curta e perdendo elasticidade e plasticidade 1. Assim, surgem as alterações fasciais que podem afetar os fusos musculares, dando origem aos distúrbios neuromusculares, ocasionando dor crónica, dor fascial ou dor miofascial2. Pompage é um termo francês que consiste em executar manobras capazes de tensionar lenta, regular e progressivamente um segmento corporal, colocando sobtensão todo e qualquer tecido elástico envolvido. Considerada como introdutória de um tratamento mais completo é uma técnica de terapia manual, sobrevinda da osteopatia 3, 4. O tecido conjuntivo de revestimento é o elemento elástico por excelência 5. A pompage atua diretamente no tecido conjuntivo (fáscia) restabelecendo seu tamanho ideal, instigando a circulação de líquidos nelas contidos, acendendo as interlinhas articulares ao longo do segmento, facilitando a nutrição da cartilagem articular com isto produz benefícios à circulação, musculatura e articulação, além, do efeito calmante1. I. Fisioterapeuta, professora do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Ceará. II. Fisioterapeuta, especialista em fisioterpai dermato-funcional, professora do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Ceará. III. Enfermeira, especialista em educação em saúde pela UNIFOR. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 41 Uso da Pompage na Liberação de Fáscias Assim, este estudo visa descrever a técnica de pompage, bem como relatar a anátomo-fisiologia da fáscia muscular, descrever a pompage e seus efeitos, relatar as indicações da pompage e discorrer sobre a técnica da pompage. METODOLOGIA Este estudo seccional, documental e observacional, com caráter descritivo, transversal e de natureza qualitativa ocorreu no mês de março de 2011. Foram feitos levantamentos das informações sobre o tema através de consulta as bases virtuais de saúde, a BIREME. A escolha por tal base deve-se ao fato de ser um centro especializado da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que objetiva contribuir para o desenvolvimento da saúde, fortalecendo e ampliando o f luxo de informação em ciências da saúde atendendo á 31 países. A biblioteca supracitada alberga 17 bases de dados no total, dentre elas (5) de Saúde em Geral (LILACS, IBECS, MEDLINE, Biblioteca Cochrane, SciELO; 10 em áreas especializadas (ADOLEC, BBO, BDENF, CidSaúde, DESASTRES, HISA, HOMEOINDEX, LEYES, MEDCARIB, REPIDISCA) e 2 Organismos Internacionais WHOLIS e PAHO. As bases utilizadas neste estudo foram LILACS – (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e MEDLINE – (Literatura Internacional em Ciências da Saúde). A WHOLIS é o Sistema de Informação da Biblioteca da OMS, os quais abrangem publicações vinculadas à BIREME em periódicos, documentos oficiais, alguns livros e teses acadêmicas. Os critérios para a seleção das dissertações, teses e artigos foram: apresentar em seus resumos os termos pompage e fáscia muscular, utilizando como estratégia de busca os limites humanos e língua portuguesa. 1 CONCEITOS BÁSICOS: FÁSCIA MUSCULAR, DEFINIÇÃO E EFEITOS FISIOLÓGICOS DA POMPAGE. Queiroz et al 1.1 Fáscia muscular Denomina-se compartimento fáscia a um contíguo de músculos envolvido por um tecido fibroso - o invólucro fascial - distinto do epimísio que cobre cada músculo individual 5. Via de regra, cada compartimento é alimentado por um nervo e vasos sanguíneos específicos (FIGURA 1). Figura 1 - Fáscia tóraco-lombar. Para os anatomistas a fáscia é uma massa de tecido conjuntivo fibroelástica. Para os osteopatas é um tecido conjuntivo do corpo que tem uma função de apoio, incluindo os ligamentos, tendões, membrana dural e os revestimentos das cavidades do corpo1. A fáscia de cada músculo o envolve e o separa em compartimentos diferentes, mas na verdade é o mesmo tecido, que realiza um processo de divisão e união contínua 1. Além de ser um tecido mecânico de união que permite a mobilidade sobre os tecidos vizinhos e um motor para a circulação lacunar (auxiliando o retorno venoso), a fáscia, é um incomensurável receptor sensitivo (composto inúmeros tenso-receptores como órgão de Golgi e fibras Ib que reagem à mínima tensão e permitem a propriocepção 5, 6, 7. A Pompage é uma das mais simples técnicas de terapia manual que produz efeitos imediatos. Desenvolvida por Cathie (osteopata Norte-Americano) e Marcel Bienfait (francês) consiste em três etapas: tensionamento, manutenção e retorno3, 4. A seguir discorre-se sobre a anátomo-fisiologia da fáscia muscular os detalhes em relação à técnica de pompage. Figura 2 – Fáscia plantar CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 42 Uso da Pompage na Liberação de Fáscias Por assim o ser, a fáscia sofre modificações de acordo com o sistema nervoso e emocional1,2. De modo semelhante, traumas físicos, infecções e situações clinicas são capazes de modificar a estrutura fáscia, causando retração e o encurtamento7. E com isso surgem as algias, que podem ser crónicas, dores faciais, dores miofasciais, fibromialgias e outras condições. 1.2 Pompage: definições e efeitos A pompage pode ser associada a um gesto de “bombeamento”, um puxar-relaxar sucessivos. Consiste em uma tração de um segmento corporal, esse gesto deve ser realizado em três tempos: tensionamento do segmento; manutenção do tensionamento e retorno a posição inicial 3, 4. (FIGURA 3). Queiroz et al gerando retração. Nos casos de retração leve, o alongamento por tensionamento pode tornar-se definitivo, se a causa da retração desaparecer. Deste modo, a pompage muscular age como antidoto 2. No encurtamento muscular há um número insuficiente de sarcômeros em série. Com isto, a pompage permite que a fibra muscular volte a encurtar-se. A importância desse encurtamento, isto é, a possibilidade de cobrir uma maior ou menor amplitude de movimento depende do número de sarcômeros instalados em série, cada um deles tem uma pequena possibilidade invariável de encurtamento3,4. 1.2.3 Ação articular A rigidez tem multicausalidade, contudo todas comprometem a frouxidão indispensável aos micromovimentos. As pompages articulares no sentido da descompressão têm como objetivo principal a recuperação dessa frouxidão fisiológica, permitindo o perfeito funcionamento ligamentar. Figura 3 – Técnica de pompage no cíngulo superior. A pompage deve ser realizada com pequenas trações, levemente com as mãos cruzadas no sentido das fibras musculares. Além de permitir a mobilização em descompressão, as pompages podem ser realizadas em todos os planos de movimento: flexão, extensão, abdução, adução, rotação, de acordo com a rigidez a ser combatida02. 1.2.1 Ação sobre a circulação Grande parte do tecido conjuntivo fibroso, a fáscia, é periférica. São duas grandes “combinações” conjuntivas que envolvem todo o corpo: a fáscia superficial, que forra a pele, a aponeurose superficial, que recobre e divide a musculatura e dá ao corpo sua morfologia. É acima de tudo sobre esse conjunto de tecidos que as pompages circulatórias agem, sobre seus movimentos de deslizamentos que aceleram a circulação lacunar6, 7. Figura 4 – Pompage no cíngulo superior. 1.2.4 Ação calmante Não são utilizadas em dores muito intensas que têm uma origem precisa, decorrentes, por exemplo, de uma perturbação orgânica. Ela é importante, essencialmente, para as dores de tensão que surgem constantemente todos os dias que, se raramente são agudas, rapidamente tornam-se lancinantes e mesmo insuportáveis. O conjunto do tecido conjuntivo fibroso – aponeuroses, septos intermusculares, tendões, cápsulas articulares, ligamentos, tratos fibroso etc., independentemente de sua função mecânica e é também um imenso receptor dessa grande função sensitiva que é a propriocepção 6, 7. 1.2.2 Ação sobre a musculatura 2 INDICAÇÕES Um tensionamento passivo do músculo provoca um deslizamento dos miofilamentos de actina para fora A pompage é preconizada em situações clinicas que diminuem a mobilidade entre as fáscias musculares e CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 43 Uso da Pompage na Liberação de Fáscias a circulação de água livre entre elas. Utilizada como terapêutica nas contraturas, estases líquidas, encurtamentos, retrações e para alívio de dores musculares e articulares2, 3, 4. Embora seja incapaz de recuperar os desgastes articulares, é útil na regeneração articular. Sua eficácia repousa no fato que ao tensionar as duas superfícies articulares, descomprime a articulação, consentindo à entrada de líquido sinovial e assim, melhora a nutrição para o tecido cartilaginoso. Seu efeito relaxante reduz sinais como cansaço físico e mental, ansiedade, stress e insônia posto que beneficie a flexibilidade, o ganho de amplitude e aumenta a circulação local, ao mesmo tempo, que proporciona sensação de bem-estar. 3 TÉCNICA A pompage consiste em manobras realizadas de forma precisa buscando o relaxamento da musculatura estática através de tensionamento leve em três etapas: tensionamento, manutenção e retorno. A duração de cada etapa deve variar entre 30 a 40 segundos na posição e devem ser realizada sequência de, no mínimo, 10 repetições em cada movimento3, 4. O terapeuta deverá observar alguns aspectos como elementares na execução desta técnica. São eles: manter o contato com a pele, respeitar os limites fisiológicos do tecido e realizar toda a manobra lenta e progressivamente, simultaneamente devera estimular um bom padrão da respiração2. Inicialmente, o paciente deverá ser colocado no decúbito adequado, de acordo com a área a ser trabalhada. A seguir, o profissional deverá estar em posição bípede, com as mãos estendidas e espalmadas no segmento a ser trabalhado, respeitando o sentido das fibras musculares. De acordo com Bienfait 3, a pompage exige que para iniciar o tensionamento, as mãos devem ficar invertidas, formando um X, sem retirar o contato com a pele - tracionando ao mesmo tempo, cada mão para um lado. O tensionamento deve respeitar a primeira resistência do tecido, já que a pompage é uma técnica de movimentos suaves e gradativos. Esta etapa visa o alongamento lento, regular e progressivo da fáscia até o limite da elasticidade fisiológica. Para ele, na segunda etapa, chamada manutenção, consiste em manter o segmento corporal do paciente na posição final da tensão exercida anteriormente. Objetiva reter a fáscia no limite do seu alongamento fisiológico. O tempo de manutenção varia de acordo com o objetivo desejado no tratamento, devendo variar entre 15 a 20 segundos. Queiroz et al Por fim, na etapa de retorno, o segmento corporal deve ser trazido de volta à posição inicial, a fim de permitir que a fáscia deslize lentamente em direção ao seu ponto de origem. O tempo de retorno se faz com apenas 2/3 do tempo de tensionamento. Este movimento deverá ser cuidadoso a fim de gerar um ref lexo contrátil muscular nem tirar o paciente do estado de relaxamento 3,4. A pompage poderá ser executada em qualquer articulação cartilaginosa ou sinovial. A titulo de exemplificação, descreve-se a técnica de pompage em alguns segmentos específicos. 3.1Pompage do músculo trapézio O terapeuta prende a base do crânio com a mão do lado do músculo a ser tratado. Com a outra mão, apoia o ombro2, 3, 4. • • • Tensionamento é obtido afastando-se as duas mãos lenta, regular e progressivamente até o limite permitido pelo músculo. Manutenção da tensão pode ser breve. Retorno deve ser lento e o mais longo possível. 3.2 Pompage do músculo psoas Paciente em decúbito dorsal, membro superior oposto ao músculo a ser tratado, acima da cabeça, no prolongamento do corpo. Membro inferior do músculo a ser tratado fletido, em rotação externa e a planta do pé apoiada sobre a panturrilha oposta. O terapeuta passa o braço sob a coxa, apoiando-a contra seu quadril. O tensionamento é obtido com uma leve inclinação do corpo do terapeuta para trás3,4. • • • Tensionamento lenta, regular e progressivamente. Manutenção - é o tempo principal deste tipo de pompage. O tensionamento deve ser mantido longamente, para que o aporte de líquido sinovial ocorra durante um longo período e a nutrição do tecido articular seja o mais eficiente possível. Retorno lento, o suficiente para que não haja sensação de desconforto. 3.3 Pompage do quadril Paciente em decúbito lateral sobre o lado oposto do quadril a ser tratado. Uma almofada firme é colocada entre as coxas3,4 CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 44 Uso da Pompage na Liberação de Fáscias Queiroz et al • Retorno lento, o suficiente para que não haja sensação de desconforto. CONSIDERAÇÕES FINAIS Figura 5 – Pompage do quadril. O terapeuta apoia uma das mãos sobre o ilíaco e a outra sobre a região externa do joelho. • • Tensionamento é obtido empurrando-se o joelho para baixo. Manutenção do segundo tempo, o da descompressão, é a fase mais importante e a que deve ser mais longamente mantida. Para o trabalho interdisciplinar obter êxito, é necessário que os profissionais das diversas áreas se inter-relacionem conhecendo a importância de uma para a outra, pois cada um terá o seu papel a desempenhar. Cada profissional tem a sua parcela de participação, identidade e importância indiscutível no atendimento, cujo sentimento único é o tratamento global. A fisioterapia desenvolve um papel de grande importância na prevenção de agravos e no tratamento de distúrbios cinético-funcionais, através de uma avaliação meticulosa do paciente, englobando todos os elementos da história clínica, exames físicos e complementares. Os diversos métodos de tratamento utilizados visam restabelecer a função normal e do comportamento postural do paciente. A pompage destaca-se como recurso manual importante na reversão de compressões articulares, na promoção de reeducação funcional devido a sua ação sobre a circulação, ação sobre a musculatura, ação articular e ação calmante. REFERÊNCIAS 1. Almeida CCV, Barbosa CGD, Araújo AR, Braga NHM. Relação da fáscia tóraco lombar com o mecanismo ativo de estabilização lombar. Rev. bras. ciênc. Mov. 2006; 14(3): 105-12, 2006. 2. Sanches ML, Luz R, Oliveira J, Biasotto-Gonzalez DA, Mesquita-Ferrari RA. Pompage no tratamento da síndrome de fibromialgia: estudo piloto. Ter. man. 2008 Nov - Dez; 6(28): 347-52. 3. Bienfait M. Fáscias e pompages: estudo e tratamento do Esqueleto Fibroso. São Paulo: Summus; 1999. 4. Clay JH. Massoterapia Clínica: Integrando anatomia e tratamento. São Paulo: Manole; 2003. 5. Dangelo JG, Fattini CA. Anatomia humana sistêmica e segmentar. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2002. 6. Tortora GJ. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 7. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 11ª ed. Rio de Janeiro, Elsevier; 2006. Submissão: 13/08/2011 Aceite: 05/09/2011 CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 45 Prevalência de Lesões Mioarticulares em Membros Inferiores de Praticantes de Futebol de Campo Rodrigo Antonio da Cruz Oliveira I Geraldo Flamarion da Ponte Liberato FilhoII Teresa Maria da Silva Câmara III Raimunda Magalhães da Silva IV Cleoneide Paulo Oliveira PinheiroV RESUMO Introdução: O futebol é um dos esportes mais praticados no mundo por pessoas em diferentes faixas etárias e etnias, este esporte está ligado ao bem-estar, manutenção da forma física ou até uma forma lúdica de confraternização, mas com o aumento no número de praticantes os índices de lesões traumáticas graves também aumentaram proporcionalmente. Objetivo investigar na literatura a prevalência de lesões mioarticulares nos membros inferiores (MMII) nestes praticantes. Metodologia: Foi realizado um estudo de tipo literário no período de Agosto de 2010 a Junho de 2011, cujos os dados foram obtidos a partir das bases de dados disponíveis no meio digital, via internet publicados nos anos de 2000 a 2010 , com a utilização das palavras chaves: futebol, lesão desportiva e lesões membros inferiores, direcionadas ao Bireme, Google Acadêmico, revistas virtuais na área da saúde, artigos, livros e monografias disponíveis na Biblioteca da Faculdade Estácio- FIC. Resultados e Discussões: Foi constatado que este esporte lesiona com grande frequência seus praticantes tendo uma superioridade de traumas nos MMII por conta do esforço físico extremo gerado pela utilização dos fundamentos deste esporte, destacando-se aqueles que ocorre de forma indireta (75%), o segmento mais acometido foi a coxa obtendo o percentual de 50% do total e as distensões com cerca de 70% foram as lesões com maior prevalência entre os jogadores. Conclusão: Conclui-se igualmente que a prevalência de lesões mioarticulares em membros inferiores de jogadores de futebol de campo é elevada como constatada na literatura e as referências enfocando a temática é vasta, no entanto, sugeriu-se que mais pesquisas sejam desenvolvidas no sentido de possibilitar a prevenção e tratamento, beneficiando assim os praticantes deste esporte. Palavras-chaves: Lesões esportivas; Futebol; Traumatismo em atletas. ABSTRACT Introduction: Football is one of the most popular sports in the world by people of different ages and ethnicities, this sport is on welfare, maintenance of physical form or even a playful way of celebration but with the increase in the number of practitioners rates of serious traumatic injury also increased proporcionalmente. Objective in the literature investigating the prevalence of injuries mioarticulares lower limbs (LL) in these praticantes. Methods: We conducted a study of literary type in the period August 2010 to June 2011, whose data were obtained from the databases available in the digital environment via the Internet published in the years 2000 to 2010, using the keywords: football, sports injury and lower limb injuries, directed the Bireme, Google Scholar, virtual journals in the area health, articles, monographs and books in the Library of the Faculty-FIC. Results and Discussion: It was found that this sport injures its practitioners very often have a superiority of trauma in the lower limbs due to the extreme physical effort generated by the use of basics of this sport, and highlighted those that occurs indirectly (75%), the segment most affected leg was getting the percentage of 50% of the strains and about 70% lesions were more prevalent among the players. Conclusion: We conclude also that the prevalence of lower limb injuries mioarticulares of soccer players in the field is high as evidenced in the literature and references focusing on the theme is wide, however it was suggested that further research be undertaken to enable prevention and treatment, thus benefiting the practitioners of this sport. Keywords: Sports Injuries; football; Athletic Injuries; Trauma in Athletas Acadêmico do curso de Fisioterapia na Faculdade Estácio Ceará/FIC Acadêmico do curso de Fisioterapia na Faculdade Estácio Ceará/FIC III Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Ceará/FIC IV Enfermeira, Docente da Universidade de Fortaleza/UNIFOR V Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Ceará/FIC I II CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 46 Prevalêmcia de Lesões Mioarticulares em Membros Inferiores INTRODUÇÃO No Brasil o futebol é um dos esportes mais praticados por pessoas em diferentes faixas etárias, sendo entendido pela maioria desses desportistas como uma prática sem qualquer restrição1.. A prática deste esporte está ligada ao bem-estar, manutenção da forma física ou até uma forma lúdica de confraternização entre colegas e amigos que é o chamado futebol recreativo2. No mundo, é conhecido como o desporto coletivo mais praticado em diferentes etnias, com base em estudos epidemiológicos, atenta para a ocorrência entre 10 a 35 lesões traumáticas agudas por 1000 horas de jogo, com maior incidência nos tornozelos e joelhos3. Com a população cada vez maior da atividade futebolística, o número de lesões traumáticas graves também aumentou, uma vez que o futebol caracteriza-se pelo intenso contato físico, movimentos curtos, rápidos não continuo, tais como aceleração, desaceleração e mudanças abruptas de direção4. No ambiente competitivo, os homens esforçam-se em transfigurar a realidade, ao ponto de esquecer todos os limites impostos pelo corpo, esse que é a máquina mais perfeita do mundo, composta de emoções que suplantam a ética e chegam a uma visão apolínea, e, às vezes, imperfeita 5. As lesões esportivas podem acontecer por diversos fatores, mas, muitas vezes, podem ser evitadas pelo nível de conhecimento dos profissionais envolvidos na preparação física e na recuperação do aluno/atleta quando lesionados5. Logo, por ser um esporte muito praticado tanto de forma competitiva como recreacional, parti-se do pressuposto que esta prática esportiva tende a gerar traumas diretos e indiretos deixando os praticantes predisposto a lesões mioarticulares. Com base nesta indagação, resolveu-se investigar na literatura a prevalência de lesões mioarticulares em membros inferiores de praticantes de futebol. Oliveira et al A compilação de informação de meios eletrônicos é de grande avanço para os pesquisadores, possibilitando o acesso à informação e proporcionando a atualização frequentemente. O propósito de uma pesquisa de revisão de literatura é reunir conhecimento sobre um tópico, ajudando nas fundações e fundamentação de um estudo significativo em uma área específica o que é uma tarefa crucial para os pesquisadores. O seguinte estudo utilizou a forma de revisão de literatura seguindo o foco para obter informações e atualizações sobre o tema atual além de enriquecer o conhecimento sobre publicações existentes sobre o tema. Foi abordada a vertente de revisão teórica e por meio da análise da literatura publicada foi estruturado o conceito, estabelecendo o desenvolvimento da pesquisa com base no tema escolhido. RESULTADOS E DISCUSSÕES A amostra final desta revisão foi constituída por 44 referenciais teóricos, que foram utilizados para formulação dos resultados deste artigo, ou seja, 32 publicações que apresentam a porcentagem de 73% do total de referenciais contidos neste trabalho, selecionados pelos critérios de inclusão previamente estabelecidos. O restante cerca de aproximadamente 27 % compreenderam livros e monografias que foram utilizadas para discussão dos dados obtidos. Destas 32 publicações, 20 artigos, cerca de 63%, foram encontrados na base de dados virtuais Google Acadêmico e 12 artigos pertenciam a Bireme, apresentando um percentual de 37% ,conforme o gráfico 1. METODOLOGIA Foi realizado um estudo de tipo literário no período de Agosto de 2010 a Junho de 2011, cujos dados foram obtidos a partir das bases de dados disponíveis no meio digital, via internet obedecendo aos critérios de inclusão deste trabalho, artigos, livros, monografias e periódicos publicados no período de 2000 a 2010, nas línguas portuguesa e inglesa com a utilização das palavras chaves: futebol, lesão desportiva e lesões membros inferiores, direcionadas ao Bireme, Google Acadêmico, Revistas virtuais na área da saúde, artigos, livros e monografias disponíveis na Biblioteca da Faculdade Estácio- FIC. Gráfico 1 - Percentual da amostra final desta revisão literária com distribuição quanto as base de dados virtuais No Quadro abaixo representa as especificações de artigos encontrados nas bases de dados. Dessa forma, pode-se perceber a incidência de artigos científicos publicados sobre a temática, objeto de estudo desta pesquisa. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 47 Prevalêmcia de Lesões Mioarticulares em Membros Inferiores PROCEDÊNCIA TÍTULO AUTORES REVISTA BIREME Incidência de lesões nos jogadores de futebol masculino sub- 21 durante jogos regionais de Sertãozinho- SP de 2006. Selistre LFA et.al Revista Brasileira de Medicina do Esporte. SCIELLO Lesões nos jogadores de futebol profissional do Marília Atlético Clube: estudo de coorte histórico do campeonato brasileiro de 2003 a 2005. Evandro PP, Bruno MC, Aline AL. Revista Brasileira de Medicina do Esporte GOOGLE ACADÊMICO Prevalência de lesões ocorridas com atletas de piracicaba: 51º jogos na cidade de São Manuel. Sanches J. Oliveira et al Gráfico 2 - Percentual de lesões quanto a característica do traumatismo 5º Simpósio de ensino de graduação. Quadro 1- representa as especificações de alguns artigos encontrados nas bases de dados. O futebol “arte” (grifo próprio) de dribles desconcertantes e um nível de propriocepção excepcional deram lugar ao enfoque no preparo físico do atleta e melhorias nas táticas aplicadas ao time, gerando jogos mais retrancados, estudados e mais meticulosos. Como consequência houve um aumento nas lesões por conta da exigência muscular e traumas indiretos e diretos onde quem não tem um bom preparo físico acaba sendo susceptível a estas lesões presentes nessa prática desportiva. Dos estudos encontrados identifica-se uma semelhança entre os resultados que demonstram que o futebol é um esporte que lesiona com grande frequência seus praticantes, por conta que hoje este esporte é um dos mais populares e tem adeptos a suas práticas pelo mundo. Os outros argumentam que por apresentar uma forma de disputa atraente, cujos dribles e arranques levam a multidão ao delírio, geram por um lado, um esforço físico extremo aos membros inferiores (MMII) por conta da solicitação aos movimentos como corridas, sprints, saltos, chutes e desarmes que dão a alma a este esporte6,7. Os artigos demonstraram que a prática futebolística exige um esforço intenso dos MMII, sendo que as lesões mioarticulares estiveram presentes com maior frequência na faixa etária de 18 a 39 anos de idade, tempo de prática de 5 a 25 anos, sendo que uma parte lesionada durante a pré- temporada (treinos) e a outra durante os jogos e torneio5,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19,20,20. Foi constatado que há uma prevalência de traumas diretos 25% (vinte e cinco por cento), sendo que os fatores extrínsecos são uma variante nos trauma indiretos tendo uma grande prevalência de 75% (setenta e cinco por cento) no meio futebolístico (gráfico 2)5,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19,20. Ao debater sobre a casuística e fatores que predispõem o lesionamento do praticante, as referências evidenciam quanto a sua origem e classificação: fatores intrínsecos (avaliação da condição física do atleta, idade, além dos aspectos psicológicos) que podem ser divididas em lesões sem roturas de fibras musculares (câimbras, contratura muscular e o estiramento) e as lesões com roturas de fibras musculares, podendo ser parcial ou roturas totais. Já os fatores extrínsecos são o tipo de superfície do solo, os erros de treinamento, as condições ambientais e a não utilização de equipamentos adequados podem favorecer e violações as regras dos jogos (faltas excessivas, jogadas violentas), surgindo, assim, o aparecimento de lesões por sobrecarga e contusões13,21,22,23,24,25. Ao analisar com base nos tipos de lesões (gráfico 3), destacam-se as distensões com cerca de 70% (setenta por cento) que acometiam os praticantes deste esporte, envolvendo uma lesão do complexo músculo tendinoso onde são pré-dispostas por uma distonia muscular aguda, um aumento repentino, imprevisto e brutal da tensão no músculo ou parte dele, durante o esforço, e superior à capacidade de resistência. É classificada como uma lesão indireta porque resulta das cargas excessivas e não de um traumatismo direto estão ligadas aos movimentos de rotação1,12,24,25,26. Gráfico 3 - Porcentagem da analise quanto ao tipo de lesão ocorrida CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 48 Prevalêmcia de Lesões Mioarticulares em Membros Inferiores Outra afecção de alta prevalência foi a contusão com percentual de 20% (vinte por cento), sendo definida como sendo a ação de um agente mecânico atuando de maneira inesperada sobre os tecidos do segmento corporal de forma direta ou tangencial vencendo sua resistência1,11. Tendinopatia é outro tipo de lesão que está presente nas referências consultadas, mas não sendo identificada com uma alta incidência como as lesões acima citadas. Consiste em uma inflamação do tendão com sinais clínicos ou histopatológicos de processo inflamatório, que se dá por esforço repetitivo com sobrecarga durante atividades de corridas e saltos sendo um importante fator etiológico para a tendinopatia patelar, comum em atletas de basquete, vôlei, futebol, atletismo e tênis 1,5,10,11,18. Indubitavelmente, pode-se determinar a partir destes estudos que os choques são frequentes, ao mesmo tempo em que o excesso de treino, jogos e movimentos bruscos em curto intervalo de tempo exigem dos praticantes dessa modalidade futebolística um melhor desempenho físico e um exato controle mioarticular onde o despreparo físico pode ser um fator determinante para uma lesão desportiva. Considerando as lesões por segmento corporal, as referências abordaram que o segmento mais acometido pelas lesões musculares é a região da coxa, obtendo o percentual de 50% (cinquenta por cento) do total de lesões 21,28,29,2,30,12,13,15,31, seu acometimento está diretamente relacionada a inserções dos grupos musculares que coordenam a dinâmica da marcha (gráfico 4). Gráfico 4 - Porcentagem de lesões classificadas quanto os segmentos corporais mais acometidos Por ser um esporte que exige uma aceleração (contrações isotônicas concêntricas variando agonistas e antagonistas) e desaceleração (contrações isotônicas excêntricas, variando entre agonista e antagonista) brusca em curtos espaços de tempo. Exige aos músculos um alto rendimento e uma plasticidade excepcional. Esta região se estende entre as articulações do quadril e do joelho e consiste no fêmur Oliveira et al alinhado longitudinalmente, circundado por três compartimentos musculares (anterior, médio e posterior), que são definidos por sua localização e ações musculares (7,11,12,32,33,34). Outro tipo de enfermidades desportiva, citados com cerca de 25% (vinte e cinco por cento) são as que acometem complexo do joelho, onde são de caráter incapacitantes e de prognóstico variável. Por ser uma articulação em dobradiça (charneira) que possui potencial de movimento tanto em flexo-extensão quanto em rotação se torna uma articulação extremamente segura em extensão mais em flexão a maior fragilidade da mesma 36,39,37. Os mecanismos de lesão nesta articulação estão ligados a rotações associados com desvios em varo ou valgo e uma hiperextensão ou uma flexão incompleta, atuação de forças no sentido ântero – posterior e posteroanterior ou desaceleração brusca, mudanças de direção e os traumas rotacionais que acabam gerando uma instabilidade na mecânica articular 2,6,28,38,11,37,40. Também ocorre sobrecarga mecânica de outras estruturas internas do joelho que funcionam como estabilizadores secundários, a exemplo do corno posterior do menisco medial. Em geral, seu mecanismo de lesão consiste na compressão e rotação da articulação tibiofemoral, enquanto o pé mantém-se fixo sobre uma superfície28,34,39. Os estudos publicados na Revista Brasileira de Ortopedia e Traumatologia demonstram que o trauma no esporte foi responsável por 48% das lesões isoladas do LCP e que os acidentes de trânsito corresponderam a 28% do total. Na série brasileira, o futebol foi o esporte mais frequente como causa da lesão (30%). Nos trabalhos americanos, o esporte mais frequentemente envolvido é o futebol americano41. As entorses do tornozelo são citadas nas referências como sendo as lesões mais comuns no universo da patologia musculoesquelética. Na literatura consultada identifica-se uma estimativa de 20% (vinte por cento) de todas as lesões, na sua esmagadora maioria são entorses externas42.. Portanto, as lesões sem contato, em geral, são decorrentes de eventos como mudar bruscamente de direção, pisar em buraco do campo ou rodar o corpo com o pé fixo. Outras são produzidas por contato com atletas, que podem ocorrer de diversas formas e pressupõem maior potencial de dano articular, em comparação àquelas sem contatos. Seus mecanismos acima relatados tornam muito comum sua incidência, definindo-se em episódios agudos produzidos por traumas rotacionais que podem estar associados ou não com a participação de forças angulares2,29,35. Em complementação, as entorses do complexo do tornozelo aparecem como grande frequência relacionada ao esporte e à dança. Visto que a cápsula articular e os ligamentos são mais fortes na face medial do tornozelo, as CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 49 Prevalêmcia de Lesões Mioarticulares em Membros Inferiores entorses por inversão envolvendo o estiramento ou a ruptura dos ligamentos laterais são muito mais comuns que as entorses por eversão dos ligamentos mediais37,40,42. Por outro lado, as lesões no quadril são raras nas literaturas referênciadas encontradas, pois a articulação do quadril é composta pelas superfícies articuladas da cabeça do fêmur e do acetábulo aonde o encaixe é aprimorado pelo lábio (labrum) acetabular, um coxim fibrocartilagem afixado a reborda óssea do acetábulo por conta de sua anatomia. Esta articulação tem uma pequena incidência deste tipo de lesão mais estão intimamente ligadas ao estresse mecânico sobre a coxofemoral. Por ela ser um sistema de alavanca de primeiro grau, torna-se mais propensa a microtraumatismos, atritos de estruturas, inflamações nas partes moles, gerando patologias como a bursite trocantérica, luxações traumáticas do quadril e fraturas de esforço do colo femoral. Estes tipos de lesões estão ligadas a estresse crônico ou overouse da articulação e do complexo osteomuscular3,25,37,39,43. Oliveira et al CONCLUSÃO Os dados do presente estudo permitiram concluir que na prática do futebol os choques são frequentes e inevitáveis e que o excesso de treino, jogos e movimentos bruscos em curto intervalo de tempo exigem dos membros inferiores do praticante desta modalidade um melhor desempenho físico e um exato controle mio articular para melhor prevenção dessas lesões. Conclui-se igualmente que a prevalência de lesões mioarticulares em membros inferiores (MMII) de jogadores de futebol de campo é elevada como constatada na literatura. As referências que enfocam a temática são vastas, no entanto, por ser um esporte em ascensão, cuja população de adeptos a está prática cresce a cada ano, sugeriu-se que mais pesquisas sejam desenvolvidas no sentido de possibilitar a prevenção e tratamento, beneficiando, assim, os praticantes deste esporte. REFERÊNCIAS 1 Fernandes JL. 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Análise Epidemiológica de Lesões e Perfil Físico de Atletas do Futebol Amador na Região do Oeste Paulista. Rev Bras Med Esporte – Vol. 16, No 2 – Mar/Abr, 2010. 21 Barbosa BTC, Carvalho AM. Incidência de lesões traumato-ortopédicas na equipe do Ipatinga Futebol Clube-MG. Movimentum - Revista Digital de Educação Física [periódico na Internet] 2008 Fev – Jul [acesso em 10 09 16]; 3(1):[aproximadamente 1-18p]. Disponível em: http://www.unilestemg.br/movimentum/Artigos_V3N1_em_pdf/movimentum_v3_n1_barbosa_ bruno_teixeira_casoti_2_2007.pdf 22 Cohen M, Ferretti M, Marcondes FB, Amaro JT, Ejnisman B. Tendinopatia patelar. Rev Bras Ortop. 2008; 43(8): 309-18. 23 Ferretti M, Jorge PB, Kaleka CC, Cohen M. Tendinopatia patelar. Revista Brasileira de Medicina.- Vol.66,p.62-68,2009. 24 Lopes AS, Kattan R, Costa SC, Moura CEM. Estudo clínico e classificação das lesões musculares. Rev Bras Ortop – Vol. 28, Nº 10 – Outubro, 1993. 25 Whiting WC, Zernicke RF.Biomecânica da Lesão Musculoesquelética. 1 edição, Guanabara Koogan, 2001, Rio de Janeiro. 26 Andrews JR, Harrelson GL, Wilk KE. Reabilitação física das lesões desportivas. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 27 Jardim M. Tendinopatia Patelar. EssFisioOnline. 2005 Set;1(4):33-47. 28 Carrano PCR. Futebol: paixão e política. 1ª Ed. Rio de Janeiro: DP&A; 2000. 29 Cohen M, Abdalla RJ. Lesões nos esportes. Rio de Janeiro: Reviner; 2003. 30 Lopes AS et al. Diagnóstico e tratamento das lesões musculares. Rev Bras Ortop, Rio de Janeiro, v. 29, n. 10, out. 1994. 31 Silva AA. Fisioterapia Esportiva: Prevenção e Reabilitação de Lesões esportivas em atletas do America Futebol Clube. Anais do 8 encontro de extensão da UFMG, Belo Horizonte – 03 a 08 de Outubro de 2005. 32 Whiting WC, Zernicke RF. Biomecânica da Lesão Musculoesquelética.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A., 2001. 33 Safran MR, Mckeag DB, Camp SPV. Manual de Medicina Esportiva. 1ª edição. São Paulo: Manole, 2002. 34 Peterson L, Renstrom P. Lesões do Esporte. Baruerí: Manole, 2002. 35 Konin JG. Cinesiologia prática para fisioterapeutas. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006 36 Rezende UM, Camanho GL, Hernadez AJ. Alteração da atividade esportiva nas instabilidades crônicas do joelho. Rev.Bras.Ortop.Trauma. Outubro – 1993. 37 Siegel IM. Articulações: tudo o que você precisa saber: como prevenir e recuperar-se de lesões comuns. Rio de Janeiro: Revinter, 2006. 38 Crisono V. Lesões no esporte. 2ª. Ed. São Paulo: Martins Fontes; 2000. 39 Konin JG. Cinesiologia prática para fisioterapeutas. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006 40 Susan HJ. Biomecânica Básica. 4ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 41 Norkin, C. C.; Levangie, PK. Articulações- Estrutura e função. 2 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. 42 Moreira V, Antunes F. Entorses do tornozelo Do Diagnóstico ao Tratamento Perspectiva Fisiátrica. Acta Med Port 2008; 21: 285-292 43 Safran MR, Mckeag DB, Camp SPV. Manual de Medicina Esportiva. 1ª edição. São Paulo: Manole, 2002. Submissão: 22/04/2011 Aceite: 09/06/2011 CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 51 A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids: Uma Cartografia da Produção na Bireme. Samuel Portugal Prado Martins I Telma Alves Martins II Raimunda Hermelinda Maia Macena III Aldeisa Gadelha IV Resumo A síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) provoca inúmeras alterações anatômicas e metabólicas nos indivíduos. A lipodistrofia e a síndrome metabólica, efeitos adversos da terapia HAART, constituem-se fatores para baixa adesão ao tratamento, colocando em risco a saúde e a qualidade de vida destes indivíduos. Este estudo identificou e descreveu a produção científica, sobre a atividade física para portadores do HIV/AIDS disponível na BIREME, com foco na contribuição da educação física. Pesquisa bibliográfica exploratória-descritiva, orientada na abordagem quantitativa documental e de base terciária contemplou como descritores: atividade física, exercício físico, esforço físico, condicionamento físico, educação física, HIV, AIDS, Infecção pelo HIV, Doente de AIDS e Pessoas com HIV/AIDS. As variáveis analisadas foram: idioma; tipo de estudo, país e ano de publicação; área de conhecimento; tipo e sujeitos do estudo. Foram abordados 16 estudos em língua portuguesa dentre os 227.572 estudos multilingue produzidos entre 1996 a 2010. Os resultados indicaram inúmeros benefícios da atividade ou exercício físico tanto nos aspectos biológicos (melhora da capacidade cardiorrespiratória, força muscular, controle metabólico, aprimoramento da massa óssea, diminuição da gordura corporal) quanto nos aspectos psicossociais (redução do stress e depressão, com conseqüente melhora da percepção do corpo, da autoestima e sexualidade), o que impacta de forma positiva na qualidade de vida dos portadores do HIVAIDS. Evidencia-se a necessidade de estudos futuros que aprofundem questões ainda pouco esclarecidas, principalmente, sobre os benefícios sobre o sistema imunológico, assim como, o aprofundamento da discussão nas universidades e faculdades, principalmente nos cursos de Educação física. Palavras chaves: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Atividade física. Lipodistrofia. Terapia antiretroviral de alta atividade. ABSTRACT The acquired immunodeficiency syndrome (AIDS) causes numerous anatomic and metabolic changes in individuals. Lipodystrophy and metabolic syndrome, adverse effects of HAART, constitute factors for poor adherence to treatment, endangering the health and quality of life of these individuals. This study identified and described the scientific literature on physical activity for HIV / AIDS available in BIREME, focusing on the contribution of physical education. Bibliographical research exploratory, descriptive quantitative approach focused on documentary and tertiary base included as descriptors: physical activity, physical exercise, physical exertion, physical fitness, physical education, HIV, AIDS, HIV infection, AIDS and Sick Persons with HIV / AIDS. The variables analyzed were: language, study type, country and year of publication; area of expertise; kind and study subjects. 16 studies were addressed in Portuguese among 227 572 multilingual studies produced between 1996-2010. The results indicated numerous benefits of physical activity or exercise in both the biological aspects (improvement of cardiorespiratory fitness, muscle strength, metabolic control, and improved bone mass, decreased body fat) and on psychosocial (stress reduction and depression, with consequent improvement of body awareness, self-esteem and sexuality), which impacts positively on the quality of life of patients of HIVAIDS. Highlights the need for future studies to further investigate issues still unclear, mainly about the benefits on the immune system, as well as further discussion in universities and colleges, especially in physical education courses. Key words: Acquired Immune Deficiency Syndrome. Physical activity. Lipodystrophy. Highly active antiretroviral therapy. I. Graduando em Educação Física da Faculdade Integrada do Ceará (FIC) II. Enfermeira sanitarista. Mestre em Saúde Pública pelo Departamento de Saúde Comunitária. Universidade Federal do Ceará III. Enfermeira, doutora em ciências médicas, Professora Adjunta do curso de Fisioterapia da FIC IV. Educadora física, Professora do Curso de Educação Física da Faculdade Integrada do Ceará ( FIC) CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Estácio|FIC, Fortaleza, 1(19) jul/set. 2011. 52 A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids INTRODUÇÃO A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) constitui- se atualmente um dos maiores problemas de saúde pública, em particular, nos países em desenvolvimento. Estima-se que em todo o mundo 33,4 milhões de pessoas vivendo com o HIV e AIDS1. Até meados da década de 90, a maioria das pessoas que adoecia de AIDS morria nos seis primeiros meses após o diagnóstico. A partir de 1996, a medicação antiretroviral potente ou HARRT, passou a garantir uma vida plena e substancialmente mais longa para as pessoas acometidas pela AIDS, nos países onde o acesso universal é garantido, sendo esta uma das mais fortes estratégias da política de saúde no Brasil. No Brasil, o Ministério da Saúde adotou desde 1997 em sua Política o acesso universal ao tratamento gratuito as pessoas com HIV/AIDS, e disponibiliza 19 medicamentos antiretrovirais que são distribuídos gratuitamente nos serviços ambulatoriais especializados (SAE) e/ou em 638 unidades dispensadoras de medicamentos (UDM) no Brasil 2. Se a AIDS não tem ainda uma cura cientificamente comprovada, tem tratamento eficaz que garante uma boa qualidade de vida para as pessoas acometidas pela doença. Os medicamentos ora disponíveis no SUS possibilitam redução da carga viral, e conseqüentemente uma melhoria do sistema imunológico, redução no número de infecções oportunistas e nos óbitos. Apesar do inquestionável efeito benéfico na melhoria da qualidade de vida das pessoas vivendo com AIDS, o uso prolongado destes medicamentos produzem alterações corpóreas significativas e indesejáveis nos pacientes nos pacientes em uso de Antirretrovirais 3. Hoje, em três décadas de epidemia, sabe-se que é possível controlar a AIDS, mais tendo que vencer grandes desafios, alguns deles decorrentes do sucesso da terapia antiretroviral, pois uma vez que as pessoas infectadas vivem mais aumentam as suas chances do aparecimento de algumas condições associadas à maior risco de eventos vasculares. Os efeitos adversos da terapia HAART, como a lipodistrofia (caracterizada pelo aumento de gordura no abdome, mamas e região cervical, e ao mesmo tempo a perda de gordura nas pernas, braços, glúteos, face) e a síndrome metabólica correlata (caracterizada por elevação dos níveis de triglicérides, colesterol total, colesterol - LDL e redução de colesterol - HDL), produzem muitos danos à saúde dos pacientes 4. Mesmo reconhecendo a importância atividade física, para a melhoria da qualidade de vida dos portadores do Martins et al HIV/AIDS, poucos são os estados brasileiros que têm incluído nas políticas públicas a discussão sobre o tema. No entanto, já se observa que há reconhecimento internacional da importância da comunidade esportiva na luta contra a AIDS. Por esta razão o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Programa Conjunto das Nações Unidades sobre o HIV/AIDS (UNAIDS) decidiram unir forças na resposta global à epidemia e lançaram um manual prático para a comunidade esportiva, entendendo que o esporte derruba barreiras, aumenta a autoestima e pode ensinar princípios de vida e comportamentos saudáveis. Além disso, um terço dos 39,4 milhões de pessoas vivendo com HIV/AIDS aos de HIV /AIDS têm menos de 25 anos de idade, e muitas estão envolvidas em esportes, como espectadores ou participantes 5, o que justifica a importância da atividade física como estratégia na Política de AIDS no Brasil. A atividade física e o exercício físico podem proporcionar diminuição da gordura estresse, da tensão muscular, da ansiedade, da insônia e da pressão arterial; incremento da força, da massa muscular, da flexibilidade e da densidade óssea; melhora do perfil lipídico e da sensibilidade corpórea e, das funções cognitivas e da socialização; aumento do volume sistólico, da ventilação pulmonar e da autoestima. Estes efeitos trazem benefícios na prevenção e tratamento das doenças como diabetes, hipertensão, doenças respiratórias, artrose, dor crônica e desordens mentais e psicológicas, entre muitos outros 6. Desta forma, é de extrema importância o desenvolvimento de uma política para pessoas vivendo com HIV/AIDS, que contemple um Plano voltado para Prevenção PositiHIVa, cuja prática da atividade física é um dos eixos fundamentais. Por outro lado, apesar do grande esforço do governo brasileiro de democratizar o acesso à internet, disponibilizando para as pessoas das camadas sociais menos favorecidas nas escolas públicas, o acesso à internet de forma ilimitada ainda é algo restrito às camadas sociais das classes médias e altas 7. Até uma década atrás não era possível fazer uma previsão do impacto da interconectividade global que modificaria o gerenciamento das bibliotecas, que enfrentam pela atualmente, em quase um século o grande e difícil desafio de rever e redesenhar “seus serviços”. Hoje a cada dia mais documentos estão sendo publicado nos formatos eletrônicos, o que passa a exigir redimensionamentos de espaço e mecanismo de busca e disseminação desses materiais, em especial, através das bibliotecas virtuais 8,39. A biblioteca virtual é definida com a que não existe fisicamente, se constituindo numa aplicação universal de avançada tecnologia através de um software próprio CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 53 A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids acoplado a computadores de alta velocidade, simulando o ambiente de uma biblioteca em duas ou três dimensões. Deste modo, é possível pesquisar em uma biblioteca virtual, circular entre salas, selecionar, abrir e ler. Mesmo disponível este meio não ainda muito utilizado, por ser dispendioso e grande consumidor de memória 8, 9. Para que a biblioteca virtual funcione de forma efetiva é necessário que três elementos funcionem a contento, a saber: a virtual funcione de forma efetiva: o usuário, a informação em formato digital e as redes computadorizadas. A BVS é o produto da evolução de três décadas do programa de cooperação técnica em informação científica na America Latina e Caribe, sob a liderança da OPAS/ PMS – Organização Panamericana de Saúde/ Organização Mundial de Saúde, coordenado e implantado pela BIREME – Biblioteca Virtual em Medicina 10. Diante deste contexto, este estudo buscou identificar e descrever a produção científica, sobre a atividade física para portadores do HIV/AIDS disponível na principal base virtual de saúde, a BIREME, com foco na contribuição da educação física para a melhoria da qualidade de vida destes indivíduos. METODOLOGIA Este estudo bibliográfico exploratório-descritivo, orientado na abordagem quantitativa documental e de base terciária descreve a produção científica publicada em língua portuguesa, relacionada à prática da atividade física para os portadores de HIV/AIDS. Foram selecionados inicialmente artigos e teses entre as publicações científicas nacionais e internacionais, no período entre 1996 a 2010, contidas na principal biblioteca virtual em saúde, na seguinte base de dados: site do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde11. A BIREME foi selecionada considerando sua importante contribuição o desenvolvimento da saúde, através do fortalecimento do fluxo de informação em ciências da saúde, com alcance em 31 países 11. A BIREME coordena a Biblioteca Virtual em Saúde – BVS – desde criação em 1967. Nesta encontram-se informações e publicações científicas de todos os países do mundo 12. A partir de 1982 a BIREME passou a se denominar Centro Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, persistindo até os dias atuais a sigla BIREME 13,40. Esta biblioteca possui 17 bases de dados, das quais 5 são de Saúde em Geral (LILACS, IBECS, MEDLINE, Biblioteca Cochrane, SciELO; 10 em áreas especializadas (ADOLEC, BBO, BDENF, CidSaúde, DESASTRES, HISA, HOMEOINDEX, LEYES, MEDCARIB, Martins et al REPIDISCA) e 2 Organismos Internacionais WHOLIS e PAHO. As bases utilizadas neste estudo foram LILACS – (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e MEDLINE – (Literatura Internacional em Ciências da Saúde). A WHOLIS é o Sistema de Informação da Biblioteca da OMS, os quais abrangem publicações vinculadas á BIREME em periódicos, documentos oficiais, alguns livros e teses acadêmicas. A coleta dos dados foi realizada no período de julho a setembro de 2010. Na pesquisa foi identificada a base de dados disponível; o idioma; o tipo, país e ano de publicação; a área de conhecimento; os objetos, tipo e sujeitos do estudo. Foram identificados trabalhos escritos no idioma inglês, espanhol e português, sendo que a maioria dos trabalhos do MEDLINE é publicada no idioma inglês. Desta forma, optou-se por trabalhar com artigos do LILACS, considerando que nestes estavam os artigos no idioma português, e que alcançavam o objetivo do estudo. Foram realizadas leituras flutuantes, para identificar textos sobre a prática de atividade física portadores de HIV/AIDS. Os critérios para a seleção dos artigos foram: apresentar em seus resumos os termos atividade física para portadores do HIV/AIDS utilizando como estratégia de busca os descritores: “Atividade física” (como sinônimo de atividade locomotora e atividade motora) “Exercício físico” (como sinônimo de exercício aeróbio e exercício isométrico); “Esforço físico”; ”Condicionamento físico” (como sinônimo de aptidão física e condicionamento físico humano); “Educação física” (como sinônimo de educação e treinamento físico);” HIV (como sinônimo de vírus da AIDS, vírus da imunodeficiência humana, vírus linfotrópico para células T Humanas Tipo III e vírus associado à linfoadenopatia); “AIDS” (como sinônimo de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, SIDA, Síndrome de Deficiência Imunológica Adquirida); “Infecção pelo HIV”; “Doente de AIDS” e” Pessoas com HIV/AIDS” encontradas no idioma português. Os dados foram analisados considerando as variáveis: palavras-chave; base disponível; ano de publicação; tipo de publicação; área de conhecimento; objeto, tipo e sujeitos do estudo. Os dados quantitativos obtidos foram processados e analisados eletronicamente utilizando-se a Microsoft Office Excel (versão 2003 for Windows), através de estatística descritiva apresentada sob a forma de gráficos e tabelas. Foi considerada a Resolução CSN n° 196/96, o regimento interno do Comitê de Ética em Pesquisa da FIC no desenvolvimento do artigo e respeitadas às normas do Código de Ética da Educação Física – Resolução CONFEF/056/2003 (Conselho Federal de Educação Física). CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 54 A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids Martins et al RESULTADOS Na pesquisa realizada foram encontradas 227.572 publicações científicas internacionais e nacionais sobre HIV e suas variantes (portador de HIV, infecção pelo HIV e portador do vírus HIV). Quando estes descritores foram relacionados com os descritores referentes à atividade física, esforço físico, condicionamento físico, educação física e exercício físico, este número somou 675 trabalhos. (QUADRO 1). O descritor “HIV” quando relacionado com os demais descritores ligados à atividade física apresentou o maior percentual (99%) do total dos trabalhos publicados. Setenta e seis trabalhos foram publicados com texto no LILACS, em português. Quadro 2 – Produção sobre Aids e atividade física. Fortaleza, Ce, 2010. Após analise dos 141 trabalhos (relacionados ao HIV e a AIDS) escritos em língua portuguesa, foram selecionados 16 destes que caracterizavam o objeto do estudo. Os estudos selecionados Os estudos sobre o tema iniciaram no ano de 1998 até o ano de 2010, tendo o maior volume de produção no período de 2003 á 2007 (56,3%). Com relação aos sujeitos estudados, 25% eram crianças e/ou adolescentes e 37,5% adultos. A área de pesquisa de maior interesse no assunto foi à Educação física (75%), seguida da Fisiologia (18,8%). Quanto ao objeto estudado, o mesmo percentual 31,3% foi encontrado para a atividade física e treinamento físico. (TABELA 1). Variáveis Quadro 1 – Produção sobre pessoas com hiv e atividade física. Fortaleza, Ce, 2010. Embora o Ministério da Saúde proponha que as diretrizes utilizadas para o tratamento da dislipidemia para os portadores do HIV/AIDS sejam o mesmo empregado para a população em geral, iniciando com medidas não farmacológicas e somente com a persistência do quadro, optando-se pelo manejo farmacológico. Dente as medidas não farmacológicas estão incluídos mudanças nos hábitos de vida, incluindo dieta, prevenção do tabagismo, e atividade física 2,14. Os achados teóricos não são compatíveis com este indicativo. Ao se analisar a produção sobre AIDS e atividade física e descritores correlatos exercício, (condicionamento físico, esforço físico, educação física) apresentou 210.621 publicações. O relacionamento do descritor AIDS com as variantes ligadas atividade física gerou 878 trabalhos. Com o descritor AIDS e atividade física foram apresentados o maior número (311) de trabalhos. Com os descritores “exercício físico’ e “educação física “obteve-se (230 e 170) publicações respectivamente. (QUADRO 2). De 878 trabalhos escritos nas diversas línguas, principalmente a inglesa, 65 foram escritos por autores brasileiros, em língua portuguesa. Fa F% TIPO DE ESTUDO Caso controle 0 0 Descritivo 10 62,5 Bibliográfico 6 37,5 Ensaio controle 0 0 ANO 1998-2002 3 18,7 2003-2007 9 56,3 2008-2010 4 25,0 Criança/Adolescente 4 25,0 Adulto 6 37,5 Revisão sistemática 6 37,5 Educação Física 12 75,0 Fisiologia 3 18,8 Psicologia 1 6,2 Atividade física 5 31,3 Treinamento físico 5 31,3 Variáveis fisiológicas 2 12,5 SUJEITO ÁREA OBJETO Aspectos psicológicos 1 6,2 Avaliação física 3 18,7 Tabela 1 – Descrição dos estudos sobre Atividade física e AIDS registrados na base LILACS (BIREME)) no período de 1998 à 2020. Fortaleza, Ce, 2010. Fonte: Pesquisa direta CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 55 A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids Reconhecendo que os exercícios físicos, aliados a uma alimentação saudável e balanceada, podem contribuir na prevenção e remissão dos sintomas consequentes aos efeitos adversos para portadores do HIV/AIDS. Serão apresentadas a seguir as publicações no idioma português, compatíveis com o objeto do estudo, que se encontram disponíveis na BIREME na base de dados LILACS. Os profissionais de saúde têm procurado avaliar a qualidade de vida de seus pacientes, propondo a práticas de Martins et al atividades corporais e/ou exercício físico. Os exercícios físicos atuam no aumento da capacidade respiratória, da força e da resistência muscular, diminuição da gordura localizada, bom funcionamento dos intestinos, aumento da massa muscular, melhora da disposição, fortalecimento do sistema imunológico, auxílio para manter os níveis adequados de colesterol e triglicerídeos e proporciona benefícios psicológicos, como a melhora da autoestima, da ansiedade e do convívio social 3,37. Título Autores A influência da atividade física para portadores do vírus HIV Fechio, Juliane Jellmayer; Corona, Emerson Fechio, Cristiane Jellmayer; Brandão, Maria Regina Ferreira; Alves, Luciola Assuncão Atividade física e a infecção pelo HIV: uma análise crítica Lira, Vitor Agnew Análise descritiva de aspectos relacionados à ‘atividade física habitual, saúde e qualidade de vida em Santos, Elisabete Cristina Morandi dos; Florindo, adultos portadores do vírus da imunodeficiência Alex Antônio humana Ano Periódico 1998 Rev.bras.ativ. fís. saúde 1999 2002 Rev. bras. med. esporte Rev.bras.ativ.fís. saúde Atividade física habitual e sua relação com a composição corporal em adultos portadores do HIV/AIDS Florindo, Alex Antonio em uso de terapia antiretroviral de alta atividade 2003 Tese apresentada a USP para obtenção do grau de doutor Alterações metabólicas e de distribuição de gordura corporal em crianças e adolescentes infectados pelo HIV/AIDS em uso de drogas antiretrovirais de alta potência 2005 Tese apresentada ao Instituto Fernandes Figueira para obtenção do grau de mestre 2005. Rev. bras. ciênc. mov A concepção da atividade física dos pacientes soropositivos e doentes de AIDS do serviço de assistência especializada do Centro Municipal de Atendimento Lazzarotto,Alexandre Ramos em doenças sexualmente transmissíveis e AIDS de Porto Alegre/ 2006 Tese apresentada a Univers Rio Grande do Sul para obtenção do grau de mestre Estilo de vida de pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e sua associação com a contagem de linfócitos T CD4+ Eidam, Cristiane de Lima; Lopes, Adair da Silva; Guimarães, Mark Drew Crosland; Oliveira, Osvaldo Vitorino 2006 Rev.bras. cineantropom. sempenho hum Avaliação das variáveis de força muscular, agilidade e composição corporal em crianças vivendo com HIV/ AIDS/ Barros, Cláudia; Araújo, Timóteo; Andrade, Erinal2006 do; Cruciani, Fernanda; Matsudo, Victor Rev. bras. ciênc. mov Uma breve revisão sobre exercício físico e HIV/ AIDS Casseb, Jorge Simão do Rosário; Duarte, Alberto José da Silva; Greve, Júlia Maria D’Andrea. 2007 Rev. bras. ciênc. mov Força Muscular em crianças órfãs por AIDS Barros, Claúdia Renata dos Santos. 2007 Tese apresentada a USP para obtenção do grau de mestre Prescrição de exercícios físicos para portadores do vírus HIV Werner, Maria Luiza Falci Eidam, Cristiane de Lima; Lopes, Adair da Silva; Oliveira, Osvaldo Vitorino Deresz, Luís Fernando; Lazzarotto, Alexandre RaO estresse oxidativo e o exercício físico em indivídu- mos; Manfroi, Waldomiro Carlos; Gaya, Adroaldo; 2007 os HIV positivo Sprinz, Eduardo; Oliveira, Álvaro Reischak de; Dall’Ago, Pedro Rev.bras.med. esporte Bem-estar psicológico, enfrentamento e lipodistro- Seidl, Eliane Maria Fleury; Machado, Ana Cláudia fia em pessoas vivendo com HIV/AIDS Almeida. 2008 Psicologia em estudo Benefícios do treinamento aeróbio e/ou resistido em indivíduos HIV+: uma revisão sistemática 2009 Rev.bras.med. esporte HIV/AIDS e treinamento concorrente: a revisão sis- Lazzarotto, Alexandre Ramos; Deresz, Luís Fernan2010 temática/ HIV/Aids do; Sprinz, Eduardo Rev.bras.med. esporte Nível de atividade física de crianças e adolescentes órfãos da AIDS Rev Bras epidemiol Souza, Hugo Fábio. Barros, Cláudia Renata; Zucchi Eliana Miura; Júnior Ivan França 2010 de- Quadro 3 – Distribuição dos estudos publicados na Bireme (LILACS) no período de 1998 á 2010. CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 56 A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids Os achados sobre criança, terapia antiretroviral e atividade física Os medicamentos da Terapia antiretroviral de alta atividade (HAART) apresentam muitos efeitos adversos, dentre estes as dislipidemias (aumento de triglicerídeos do colesterol total, de colesterol - LDL plasmáticos- mau colesterol e redução de colesterol- HDL- bom colesterol), lipodistrofia ou síndrome lipodistrófica. A mudança no perfil metabólico determina o desenvolvimento de resistência à insulina, e às vezes diabetes, podendo esta condição levar a elevação da pressão arterial sistêmica. Este conjunto de situação está associado ao quadro clínico caracterizado com síndrome metabólica. Os problemas relacionados ao uso da terapia antiretroviral iniciam logo na infância. Ao avaliar a força muscular de crianças órfãs de AIDS pesquisadores observaram que a força dos membros inferiores estava reduzida quando comparada com outras crianças brasileiras. Além disso, as que apresentam maior força muscular eram mais velhas, de maior escolaridade, peso corporal, massa muscular e menor índice de gordura corporal. Os autores alertam para as consequências do déficit muscular em médio e longo prazo, e sugeriram estímulo a atividades físicas para prevenção de doenças crônicas degenerativas, e o desenvolvimento de aptidão física das crianças36. Inquérito populacional realizado pela mesma autora em anos posteriores, com 235 crianças e adolescentes órfãs por AIDS, para estimar o nível de atividade física, identificou uma prevalência de 42% de sedentarismo, sendo os meninos mais ativos que as meninas (p< 0,001) 15. Wener16, ao estudar crianças e adolescentes em terapia HAART investigando as dosagens de colesterol total, HDL (lipoproteína de alta densidade), lipoproteína de baixa densidade (LDL), triglicerídeos (TG) e teste de tolerância a glicose (TTOG), avaliando, também, a distribuição de gordura corporal e estado nutricional, bem como, consumo alimentar, história familiar de risco cardiovascular e prática de exercício físico, encontrou que a prática de exercício físico foi estatisticamente significante quando associada ao nível de HDL, sendo este mais alto para os mais sedentários. Avaliando a força muscular, agilidade e composição corporal, de crianças infectadas por transmissão vertical e em tratamento regular com antiretrovirais desde o nascimento, os autores constataram que houve comprometimento da força muscular dos membros inferiores, da circunferência de perna e forte alteração negativa na agilidade destas crianças, tomando como base os valores de aptidão física de crianças soronegativas. Em virtude dos achados, os autores acreditam que a educação física escolar Martins et al não parece ser suficiente para a melhora física, e que são necessárias avaliações mais completas referentes à aptidão física 17. Os achados sobre adulto, terapia antiretroviral, lipodistrofia e atividade física A síndrome lipodistrófica é caracterizada pelo conjunto: dislipidemia, resistência insulínica, anormalidade na distribuição de gordura corporal e hipertensão arterial sistêmica, e está associada com risco cardiovascular elevado. As alterações corpóreas nos pacientes em uso de terapia antiretroviral (TARV), causadas pelos inibidores de protease e inibidores da transcriptase reversa, caracterizam-se principalmente por uma redistribuição dos depósitos de gorduras associados à infecção pelo HIV, incluindo; acúmulo de gordura no abdome, subcutânea, nas mamas, lipoatrofia, e perda de gordura nas pernas, braços, região glútea, face, além de evidenciação das veias em membros inferiores e superiores 3. A lipodistrofia tem caráter progressivo e variada apresentação clínica e se constitui um importante fator de baixa adesão ao tratamento para pessoas vivendo com HIV e AIDS sendo também uma preocupação crescente incluindo o risco aumentado de doenças cardiovasculares. Os sinais metabólicos da lipodistrofia foram descritos aproximadamente dois anos após a introdução dos inibidores de protease (Ips) e foi inicialmente associada a sua toxidade. Atualmente a lipodistrofia também esta relacionada a outros fatores como a ação de proteínas do próprio HIV, hábitos de vida e características genéticas 18. Considerando que as alterações corporais trazem um novo estima em relação à AIDS, pois impactam na autoimagem, além de favorecer a descoberta da condição de soropositividade por terceiros, a lipodistrofia pode ser muito prejudicial para a vida social dos indivíduos afetados. Ao se avaliar portadores do HIV atendidos em um centro de referência no para tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, constatou-se que apenas 23% relataram à prática de exercício físico nos últimos 12 meses anteriores à entrevista, o que foi considerado pelo autor, uma baixa prevalência de prática de exercícios físicos. O indivíduos se perceberem como pessoas com boa saúde geral, apesar de quase um quarto apresentarem doenças oportunistas nos últimos 3 meses 19. Percebe-se por esta afirmação, que os indivíduos entrevistados não percebem as práticas de exercício físico como importante para o fortalecimento da saúde, sendo esta falta de informação muito danosa para a qualidade de vida dos mesmos. Em relação aos adultos Fechio 20, concluíram que a atividade física para portadores do HIV têm muitos CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 57 A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids efeitos benéficos, no sistema imunológico, no retardo da progressão da doença, na força e massa muscular, no ganho corporal, na melhora dos sistemas cárdio- pulmonar e músculo- esquelético, além da melhora na resistência e vigor físico. Raso et al 21, discordam da afirmativa do autor quanto às evidências de que um programa de exercícios, independente da modalidade, possa induzir alteração em parâmetros de contagem de TCD4+, TCD8+ e carga viral, relacionados ao processo de infecção pelo HIV. No entanto, afirmam, que um programa de exercício incrementa o VO2 máx, os níveis de hemoglobina, melhorando os domínios relacionados à qualidade de vida de indivíduos HIV+ ou com AIDS. Considerando que há um desequilíbrio oxidativo precoce nos indivíduos com HIV, Deresz et al 22, pesquisaram sobre o assunto, concluindo que o treinamento físico (TF) é grande benefício, porque pode gerar adaptações que minimizam os efeitos deletérios provocados pelo estresse oxidativo (EO), melhorando os níveis de defesas antioxidantes enzimáticas e não enzimáticas. Segundo os autores, quando ocorre a depleção dos antioxidantes, há diminuição da resposta imunológica e aumento da replicação viral do HIV, o que colabora para a progressão da infecção. Ressalta que o treinamento físico é uma estratégia auxiliar para os portadores com ou sem uso da TARV, visto que melhoram os sistemas cardiorrespiratórios, muscular, os aspectos antropométricos e psicológicos sem induzir a imunossupressão. Lazzaroto et al 23, afirmam que existem evidências que o treinamento concorrente (associação dos componentes aeróbicos e força em uma mesma sessão de treinamento) pode melhorar os parâmetros musculares e cardiorrespiratórios, entretanto, reafirmam o que é pontuado por outros atores: os resultados sobre a melhora do sistema imunológico e na redução da carga viral dos portadores de HIV ainda não estão completamente esclarecidos. Florindo 24, analisaram variáveis relacionadas à gordura corporal, consumo energético (Kcal), estado imunológico (T-CD4+), tempo de utilização da terapia HAART, tabagismo, além do exercício físico. Encontrou que a falta de atividade física foi associada negativamente com a gordura central nos homens e com a gordura total nas mulheres, e propôs a prática de exercício físico para melhorar este quadro. Os achados sobre benefícios da atividade física Eidam et al 25, buscaram na literatura respostas para questionamentos referentes ao benefício do exercício físico para portadores do HIV. A contribuição do exercício fisco para portadores do HIV não se dá somente no aspecto Martins et al físico, melhorando a imagem corporal, mas traz resultados benéficos nos aspectos psicológico e social afetando a saúde mental destes indivíduos. Seidl 26 percebeu em seu estudo, que portadores de lipodistrofia têm problemas na vivência da sexualidade, apresentando níveis importantes de depressão e estresse, e sofrem estigmatização social. Estes fatores ocasionam redução da autoestima, evitação de contatos sociais, podendo levar prejuízo na adesão aos antiretrovirais. Os indivíduos participantes do estudo sugerem a prática de atividade física e realização de procedimentos estéticos para reduzir os efeitos da lipodistrofia. Pesquisando o estilo de vida de indivíduos infectados pelo HIV, Eidam et al 27, não encontraram uma associação positiva entre hábitos alimentares, atividade física habitual, comportamento preventivo e contagem de linfócito TCD4++. Encontraram hábitos alimentares e nível de atividade física habitual insatisfatória entre a população pesquisada, concluindo que os profissionais de saúde tem o dever de estimular atividades físicas, uma vez que interferem sobremaneira na qualidade de vida destes indivíduos. Souza e Marques 28 defenderam a necessidade de uma prescrição de atividade física adequada, que englobe componentes de força e exercícios aeróbios, e que respeite as subjetividades das pessoas e a especificidade de cada treinamento, para que se alcance maiores benefícios à saúde dos indivíduos com HIV. DISCUSSÃO Devido ao seu caráter pandêmico e gravidade a AIDS representa hoje um dos maiores problemas de saúde no país. Desde o primeiro caso de AIDS, em 1980, (até junho de 2009) já foram registrados ao Ministério da Saúde 462237 (85%) casos ocorridos no Brasil, sendo 356427 no sexo masculino, e 188396 no sexo feminino, com diminuição da razão de sexo (M: F) de 15,1: 1 em 1986 para 1,5:1 em 2005, quando a partir desta data vem se mantendo estabilizada. O maior percentual de casos (78% em homens e 71% em mulheres) está registrado entre indivíduos na faixa etária de 25 a 49 anos, sendo que em ambos os sexos as mais altas taxas de incidência estão situados na faixa etária de 30 a 49 anos. Até os últimos anos da década de 80, a AIDS atingia principalmente os usuários de drogas injetáveis, os homens que fazem sexo com homens e gays, assim como, indivíduos que receberam transfusão e hemoderivados. A partir deste período (início dos anos 90), o perfil da epidemia vem apresentando mudanças, pois a transmissão heterossexual passou a ser a principal via de transmissão, com CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 58 A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids uma maior tendência de crescimento, acompanhada de uma significativa participação das mulheres na dinâmica da epidemia, tendência esta conhecida como feminização. Também a pauperização é caracterizada pelo deslocamento dos casos dos extratos sociais de maior escolaridade para os de menor escolaridade. O país acumulou aproximadamente 22 mil óbitos até junho de 2009 29, 30. Os resultados mostram que é muito extensa a literatura internacional e nacional sobre HIV e AIDS na BIREME, fato comprovado pelo quase meio milhão de trabalhos publicados. No entanto, este número caiu para apenas 16 trabalhos, quando se relacionam estes descritores a outros relativos à atividade física, exercício, condicionamento, para portadores do HIV ou doentes de AIDS. Apesar da implantação da Política de Acesso Universal ao Tratamento Antiretroviral iniciar em 1996, sendo evidentes os efeitos adversos dos Antirretrovirais, logo no início da década seguinte, os trabalhos realizados na área, e publicados na BIREME, sobre o tema objeto da nossa revisão (atividade física e HIV/AIDS) ainda são muito escassos. Isto provavelmente se deve ao fato de que, a rede de referencia de Serviços especializados para AIDS no Brasil, ainda não está totalmente preparada para inserir em suas ações a Prevenção PositHIVa. Este conceito é composto três eixos, sendo um deles o aprimoramento da qualidade da atenção nos serviços de saúde. Isto significa a promoção de atividades relacionadas às necessidades de exercícios físicos, de mudanças de alimentação, de atenção psicológica e/ou psiquiátrica, de promoção da autoestima, entre tantas outras necessidades 31. Por outro lado, as Universidades e Faculdades brasileiras, muito pouco têm inserido nas grades curriculares, a temática HIV e AIDS, o que pode ser explicado pela inabilidade do corpo docente e discente em lidar com este tema, que por desconhecimento, ainda é tão carregado de estigma e preconceito na nossa sociedade. Na maioria das vezes os profissionais da área de saúde preferem iniciar qualquer tipo de abordagem pelo diagnóstico das necessidades dos indivíduos. Florindo at AL, 2006, utilizaram o questionário Baecke (questionário de atividade física habitual) para avaliar portadores do HIV, mostrando que esta ferramenta mostrou-se bastante válida para este objetivo, encontrando um alto grau de sedentarismo entre estes indivíduos. Deste modo, se faz imperioso o estabelecimento de uma equipe multidisciplinar no atendimento a esta clientela. Também Rodrigues 32, defende que a complexidade do tratamento do paciente HIV requer uma equipe multidisciplinar, nesta incluída o educador físico, o nutricionista, o, pedagogo e o assistente social, para compor uma rede de atenção, que trabalhe a adesão aos antiretrovirais de forma harmônica. Palermo e Feijó 33, concluíram em sua revisão Martins et al que o exercício físico para pessoas com HIV, desde que adequadamente prescrito, é seguro, possibilitando melhorar ou manter, ou até mesmo retardar o aparecimento da AIDS, e que por esta razão quanto mais cedo se ingressar em um programa de exercício, mais os benefícios podem ser percebidos, e há maior possibilidade do indivíduo adquirir hábitos saudáveis. Embora seja evidente que a prática da atividade física regular proporcione uma melhora nos aspectos psicológicos como o stress, à ansiedade e os quadros de depressão, com consequente fortalecimento da autoestima e da sexualidade, muito há que se pesquisar quanto a este efeito para os portadores do HIV/AIDS. Para Lira 34, os estudos cujo objeto relacionava atividade física e HIV/AIDS mostraram uma grande fragilidade quanto ao nível de evidência científica e propostas de programas de exercício físico para portadores do HIV, pois segundo o autor, a maioria dos estudos pouco avaliou as variáveis relacionadas ao sistema imunológico, ou condicionamento respiratório, assim como, não incluíram indivíduos em estados mais avançados da infecção. A literatura falando sobre os benefícios da atividade física tem subsidiado o desenvolvimento de uma Política de Saúde para os portadores de HIV/AIDS, visto que esta questão está indiscutivelmente inserida na prevenção PositiHIVa 3. Em 2004, Leite e Gori 6 investigaram a percepção de indivíduos portadores do HIV sobre o exercício físico, observando que embora estes não tenham a prática de se exercitar, percebem os benefícios para suas vidas, manutenção da saúde e da integridade física. Embora, encontrando controvérsias quanto os resultados para a saúde destes indivíduos, a maioria dos autores é unânime em afirmar a atuação do exercício físico sobre a melhoria da composição corporal, da aptidão física, diminuição dos níveis de estresse, ansiedade e depressão e preservação do sistema imunológico. Quanto à intensidade dos exercícios, não existe consenso com relação à carga máxima de esforço para indivíduos com HIV, tendo em vista que estudos com protocolos de treinamento de alta intensidade encontraram resultados favoráveis e seguros, o que contradiz a ideia que coloca em risco a saúde destes indivíduos. No entanto, destaca-se a importância do conhecimento da condição clínica do indivíduo, a atestada pelo médico acompanhante, assim como, a prescrição e monitoramento de um programa de exercício por um educador físico, a fim de que não venha a causar dano à saúde do indivíduo, bem como, o limite de esforço não seja superestimado e nem tampouco subestimado. Uma prescrição adequada deve levar em consideração a idade, sexo, história pregressa de atividade física, condicionamento físico, comprometimento orgânico e o CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Estácio|FIC, 1(19) jul/set. 2011. 59 A Atividade Física como Estratégia de Enfrentamento dos Efeitos Adversos da Terapia Haart para Portadores do Hiv/Aids objetivo do indivíduo, assim como, englobar os componentes de força e aeróbico. A proposta na maioria dos estudos é que as atividades aeróbicas (caminhada, corrida, natação, ginástica aeróbica, hidroginástica, bicicleta, etc) sejam diárias, iniciando com períodos de 20 minutos de treinamento realizado três vezes por semana, podendo chegar a 60 minutos. A intensidade deve evoluir à medida que se eleva a capacidade aeróbica do indivíduo. O treinamento de força que tem importante papel na manutenção estética e funcional pode também ser diário, com diferentes grupamentos musculares trabalhados a cada dia para recuperação estrutural necessária, e dando-se prioridade para os maiores grupamentos muscular, não havendo limitações quanto ao tempo de realização. Destaque-se que a repetição de estudos em diferentes bases, bem como, a predominância de determinados autores da produção nacional deve-se provavelmente ao fato de que, a rede de referência de Serviços especializados para AIDS no Brasil, ainda não está totalmente preparada para inserir em suas ações a Prevenção PositHIVva. O conceito de Prevenção PositHIVva é composto três eixos, sendo um deles o aprimoramento da qualidade da atenção nos serviços de saúde. Isto significa a promoção de atividades relacionadas às necessidades de exercícios físicos, de mudanças de alimentação, de atenção psicológica e/ou psiquiátrica, de promoção da autoestima, entre tantas outras necessidades 35. Por outro lado, no Brasil, embora exista um número considerável de Universidades e Faculdades já instaladas, onde se formam profissionais na área de Educação Física, pouco tem sido inserido nos programas curriculares a temática HIV e AIDS, o que parece demonstrar a inabilidade e/ou desconhecimento do corpo docente e discente no lidar com o tema da AIDS, que mesmo após três décadas, ainda se configura como uma doença carregada de estigma e preconceito. Martins et al CONCLUSÃO A infecção pelo HIV implica em várias alterações físicas, psicológicas e sociais, nos indivíduos afetados. Muitas evidências indicam que o uso da terapia HART, indicado para melhorar a saúde e qualidade de vida, podem provocar alterações, como a dislipidemia, e lipodistrofia, que colocam em risco a saúde e a vida das pessoas vivendo com HIV/AIDS. Embora haja controvérsias, de um modo geral, os estudos publicados na BIREME apontam os inúmeros benefícios das atividades físicas para tratar estas alterações. Embora não existam evidências suficientes para sugerir um programa de exercícios físico, independente da modalidade possam induzir mudanças em parâmetros celulares relacionados à infecção pelo HIV, como a contagem de TCD4+, TCD4+ e carga viral, é inquestionável que a adesão a um programa de exercícios de intensidade alta, moderada ou leve, a ser prescrito conforme a condição clínica de cada indivíduo é totalmente seguro para indivíduos imunocomprometidos por não afetar estes padrões. A produção científica na BIREME, na base LILACS, pelos pesquisadores brasileiros, sobre o tema proposto, ainda é muito pequena, e sendo este tema de grande relevância para a saúde pública e para a qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/AIDS, ficando demonstrada a necessidade de um maior investimento em pesquisas nessa área. Assim, se faz necessário o desenvolvimento de estudos futuros para maximizar o poder das evidências e investigar os efeitos imunológicos da atividade física para os portadores do HIV/AIDS. Do mesmo modo, é imperativa a inclusão da temática AIDS na formação dos educadores físicos, de forma a fortalecer a participação destes profissionais na assistência, no ensino e na pesquisa. Referências 1. UNAIDS. Global Report.UNAIDS Report on the global AIDS Epidemic/2010. [acesso em 2011/ 05/10]. Disponível em: HTTP://,org/epidemic_ upadate/report-dec01/index.html. 2. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância à Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Recomendações para o tratamento anti-retroviral em adultos infectados pelo HIV: Guia de tratamento. Brasília-DF: MS; 2008, pg113.. 3. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância à Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Manual de adesão ao tratamento. Brasília- DF:MS; 2008, pg 75-76. 4. Bastos FI. AIDS na terceira década. 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