Entre velas e varinhas: uma viagem com Camões e JK Rowling.
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Entre velas e varinhas: uma viagem com Camões e JK Rowling.
Entre velas e varinhas: uma viagem com Camões e J.K. Rowling. Débora VERWIEBE Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil Júlia RINALDI Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil e Alexandre GUIMARÃES Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil RESUMO O presente trabalho pretende discutir e apresentar uma proposta de trabalho que tem como público-alvo alunos do primeiro ano do Ensino Médio da rede particular de ensino da cidade de São Paulo. A proposta didático-pedagógica pretende estabelecer relações entre a obra clássica da Literatura Portuguesa, Os Lusíadas de Luiz de Camões, e a série clássica da literatura juvenil contemporânea, Harry Potter de J. K. Rowling, por meio de conceitos presentes nas epopeias como o herói, a viagem e o nacionalismo. Para tanto, far-se-á uma breve apresentação da escola em que se pretende aplicar o projeto; a área em que as aulas serão ministradas; a identificação e a justificativa do tema; a descrição das atividades realizadas em ambientes escolar e, por fim, o embasamento teórico que concede o suporte para a idealização da proposta. Palavras-Chave: Os Lusíadas; Harry Potter; aprendizagem; Proposta pedagógica; Intermidialidade. 1. Ensino- INTRODUÇÃO A escola escolhida para a aplicação deste trabalho é um colégio particular, localizado no bairro do Mandaqui, na Zona Norte de São Paulo. Os alunos que frequentam o mesmo pertencem, de modo geral, à classe média, possuindo assim maior acesso a diferentes formas de entretenimento, inclusive as que serão expostas neste trabalho: cinema e literatura. A escola possui uma biblioteca através da qual disponibiliza diferentes títulos aos alunos, entre eles os principais livros da série literária que será estudada neste trabalho: Harry Potter, de J. K. Rowling e a obra escolhida para trabalhar o Classicismo, Os Lusíadas, de Luís de Camões. O colégio disponibiliza aparelhos de multimídia e Data Show em algumas de suas salas de aula, também possuindo um espaço destinado ao uso desses aparelhos fora dessas salas específicas. Para a realização de nossa proposta, estes recursos serão necessários para a apresentação dos vídeos e trechos das adaptações cinematográficas da obra de referência. Os alunos-alvo deste trabalho estariam cursando a 1ª série do Ensino Médio, e considera-se que alguns deles já possuam conhecimento prévio sobre a série Harry Potter. Espera-se que estes alunos já tenham assistido aos filmes, ou que ao menos conheçam o enredo da saga - seriam alunos com maior acesso a cinemas e vídeo locadoras que disponibilizam títulos, e também à televisão, que transmite filmes. Caso nunca tenham tido contato com a série, esta será introduzida juntamente ao trabalho proposto. Entre estes alunos-alvo, acredita-se que existirão alguns que já cultivam o interesse por leitura, mas que a maioria tratar-se-á de alunos que possuem oportunidades de acesso a esse tipo de entretenimento, não possuindo, entretanto, o hábito de acessá-lo. 2. ÁREA E DISCIPLINA EM QUE A AULA SERÁ MINISTRADA Nosso projeto será desenvolvido nas aulas de Língua Portuguesa do colégio e manter-se-á principalmente em torno da área de Literatura Portuguesa, sendo que as aulas de português voltadas para literatura ocorrem uma vez por semana, conforme consta no currículo obrigatório da escola. 3. IDENTIFICAÇÃO E JUSTIFICATIVA DO TEMA O tema escolhido é "O ensino de Os Lusíadas, de Camões, a partir de um estudo da série Harry Potter". Nossa escolha foi baseada A escolha de Os Lusíadas deu-se devido à grande relevância dada ao tema em sala de aula: há grande foco no ensino do período clássico para os alunos do Ensino Médio no Brasil. O problema é que, na maior parte das vezes, eles não têm interesse e encontram grande dificuldade em entender os assuntos sobre os quais falam os textos, e a maneira em que são escritos em si, nesse período literário. Deslocar-se para uma realidade distante a fim de compreender melhor os temas utilizados pode ser complicado para adolescentes que não costumam ter muito interesse em ir além. Justificamos nossa escolha de tema pela nossa tentativa de despertar nos alunos outra visão do Clássico: mostrar que ser Clássico não quer dizer ser velho, que naquilo que para ele é atual também podemos encontrar essas mesmas características e é essa reincidência que, inclusive, justifica o nome do período em si. Ao mostrarmos esse outro modo de ver para os alunos, esperamos que o aprendizado seja menos complicado e mais significativo. Os temas relacionados a Os Lusíadas e ao período clássico, por consequência, que receberão maior enfoque durante nossas análises foram definidos levando em consideração, aquilo que consideramos mais importante para a compreensão geral do aluno sobre essa obra e momento literário. Embora pretendamos apontar diversas características, não há tempo hábil para desenvolver todos os temas envolvidos e, por isso, pretendemos dar enfoque às características épicas presentes no livro de Camões e de J.K. Rowling.. Acreditamos que a saga Harry Potter seja um bom modo de estabelecer as relações necessárias entre a literatura básica que os alunos realmente precisam conhecer e aquilo que gostam e que neles desperta interesse. A partir daí, esperamos que trabalhar o conteúdo torne-se uma tarefa muito mais simples e prazerosa. 4. ATIVIDADES DE AULA As aulas serão organizadas de modo a permitir a compreensão dos alunos de modo mais natural. Primeiramente será apresentado o conteúdo através dos vídeos da série Harry Potter, de J.K. Rowling, buscando estabelecer relações com a história de Portugal, sua identidade e sua sociedade. Uma análise geral de Os Lusíadas, de Luís de Camões, será feita a partir disso, sendo que apresentaremos aos alunos a estilística usada na construção da obra e os elementos básicos da sua história. Com essa relação intertextual estabelecida entre as obras, pretende-se que o conteúdo seja compreendido a partir das diferenças e das semelhanças entre as mesmas, bem como que os alunos percebam a importância de Os Lusíadas como grande representante e reflexo do período. A relação entre as duas obras será mostrada através de diversas mídias, sendo a principal delas a exibição de vídeos elaborados com trechos dos filmes da saga Harry Potter, os quais resumirão os conteúdos que serão trabalhados para e com os alunos. Com eles serão introduzidas características épicas e clássicas para os alunos. Os livros também serão utilizados nesse processo, considerando-se importante estabelecer contato dos estudantes com a literatura em sua forma mais original. Após as comparações apresentadas (por meio das diversas mídias), haverá sempre uma conversa com a turma sobre as mesmas (mesmo que o tempo restante após exibir os vídeos, por exemplo, seja curto, essas discussões deverão existir para que os alunos não deixem de ser estimulados quanto aos temas trabalhados). O professor deverá tomar o cuidado, logo na primeira aula, de perceber se há algum tipo de preconceito dos alunos com a obra de J.K. Rowling - caso esse seja o caso, o docente poderá explicar que, mais adiante, cada aluno trabalhará com os temas que mais lhe parecerem adequados e interessantes. Os principais temas abordados serão o herói, a viagem, o destino, o nacionalismo e o amor. Essas relações serão apresentadas para os alunos da seguinte forma: O conceito de herói, a viagem e o nacionalismo Esse será um importante ponto a ser discutido com os alunos. Na saga Harry Potter, por exemplo, há vários heróis, mas focaremos no personagem principal para explicar o conceito mais claramente. O Dicionário Houaiss da língua portuguesa apresenta algumas definições para o termo herói, dentre as quais: herói: 3. p. ext. indivíduo notabilizado por suas realizações, seus feitos guerreiros, coragem, abnegação, magnanimidade etc. 4. p. ext. indivíduo capaz de suportar exemplarmente uma sorte incomum (p. ex., infortúnios, sofrimentos) ou que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem [...] 7. p. ext. principal personagem de uma obra de literatura, dramaturgia, cinema, etc. [1] Hilário Franco Júnior apresenta o herói clássico de forma similar à terceira definição, dizendo que este seria "um ser glorioso, lembrado pelas gerações futuras devido a seus feitos e sobretudo à maneira pela qual os realizou." [2] A definição número sete traz a ideia mais comum que se tem sobre o que é um herói. Será importante mostrar para os alunos algumas das características próprias do herói clássico: são personagens altruístas capazes de se doar e agir em prol de sua pátria ou de um bem maior. O herói é, também, capaz de lidar com diversas situações consideradas, muitas vezes, inviáveis – como nos confirma a quarta definição do dicionário Houaiss. Finalmente, é importante que se mostre aos alunos que o herói, como afirmado por Franco Júnior e descrito na terceira definição do dicionário, difere-se dos demais indivíduos de uma história – em geral devido a realizações grandiosas – e, por isso, apesar de representar um indivíduo humano comum, acaba por sobrepor-se e destacar-se dos demais personagens envolvidos na trama. O herói clássico representa, de modo geral, um símbolo para determinadas nações – e é aí que se encaixa o nacionalismo já citado como característica heroica: esse indivíduo lutará não só por aquilo que acredita mas por aqueles que deve proteger. Em Harry Potter, o personagem principal luta por aqueles que ama e chega a sacrificar sua própria vida em nome da nação bruxa durante a batalha final, quando rende-se ao Lorde Voldemort. Em Os Lusíadas, embora não vejamos uma batalha tão claramente, as viagens de Vasco da Gama destinam-se à conquista de territórios para sua pátria, Portugal. Em ambos os casos, as aventuras que se desenrolam, derivam de certa devoção às origens e às crenças de cada personagem. O ensino da visão de o que é um herói deve mostrar, também, a presença de um caminho que será percorrido pelo mesmo: sempre haverá uma trajetória repleta de obstáculos que deverão ser superados pelo personagem heroico. No vídeo que será apresentado aos alunos como introdução ao tema, estará resumida a história de Harry Potter e, consequentemente, a viagem por ele percorrida e os obstáculos por ele enfrentados. Comparar-se-á essa situação à viagem marítima de Vasco da Gama, repleta de empecilhos que acabam por ser, também, superados. Espera-se estabelecer uma relação direta, portanto, entre Harry Potter e Vasco da Gama, expondo as semelhanças entre ambos os heróis e facilitando o processo de aprendizagem dos alunos. O destino Embora o destino possa parecer um tema bastante relacionado à viagem em si, seu conceito precisará ser explicado de forma diferenciada. Para o herói clássico, o destino desenvolve papel fundamental na trama ocorrida. Embora possa-se argumentar que uma pessoa poderia simplesmente fazer algo diferente daquilo que supostamente estaria previsto, os personagens clássicos vivem aventuras repletas de detalhes que se interligam a ponto de não gerar outros finais plausíveis – pelo menos não à primeira vista. Como explicitado por Jeremy Pierce em seu artigo O destino no mundo dos Bruxos, presente no livro A versão definitiva de Harry Potter e a Filosofia: Hogwarts para os trouxas: Essas circunstâncias advindas da sorte parecem por demais fáceis se não há alguém guiando os acontecimentos na direção de certos resultados. Essa visão pode não se encaixar no que Rowling pretendeu dizer quando negou o destino e o que Dumbledore diz quando insiste que Harry ou Voldemort poderiam ter feito algo contrário à profecia. [...] a história faz mais sentido se houver uma explicação mais profunda, providencial das ocorrências fortuitas. Do contrário, Harry e seus amigos têm apenas uma sorte incrível! [3] Ou seja, ainda que a existência do destino na trajetória dos heróis possa ser discutida, de modo geral ele acaba sendo a única explicação para a ligação presente entre os acontecimentos de uma trama - e isso aplica-se tanto à série Harry Potter quanto a Os Lusíadas. No caso da primeira série, comentaremos a existência das profecias, que guardam visões daquilo que estaria predestinado a acontecer; já no caso da obra de Camões, mostraremos aos alunos o episódio do velho do Restelo, e as advertências por ele feitas - advertências essas que também pressupõe a existência de um destino pré-definido. não poder ser utilizado. Após esse auxílio inicial, o professor deverá predispor-se a ajudar os alunos sempre que necessário no final/começo de suas aulas antes da data de entrega dos trabalhos, caso surjam novas dúvidas. Os estudantes terão duas semanas para finalizarem suas ideias, durante as quais o professor começará o conteúdo seguinte presente em seu planejamento, já que provavelmente haverá outros conteúdos a serem ministrados no mesmo bimestre. 5. REFERENCIAL TEÓRICO Professores em sala de aula devem se preocupar em transmitir conhecimento sem valorizar apenas a memorização mas, também, a aplicabilidade daquilo que está sendo lecionado. A aplicação do conteúdo a ser trabalhado em sala de aula deve ser feita de modo a despertar o interesse dos alunos, pois é a partir disso que o mesmo conseguirá, de fato, compreender para que serve aquele conhecimento e, só então, será capaz de aprendê-lo de fato de forma mais efetiva. Um conteúdo bem trabalhado pelo professor pode ampliar a visão de mundo dos alunos, podendo tornar-se um assunto prazeroso a estes de modo, até, a cultivar seu interesse por diferentes áreas relacionadas ao assunto em questão. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, ressalta-se: A compreensão da arbitrariedade da linguagem pode permitir aos alunos a problematização dos modos de ‘ver a si mesmo e ao mundo’, das categorias de pensamento, das classificações que são assimiladas como dados indiscutíveis. [4] Ou seja, um assunto pode ser capaz de ampliar a visão do aluno com relação a si mesmo e, por consequência, com relação ao mundo. Mas para que isso seja possível, é fundamental que a escola auxilie seus alunos na compreensão de temas, a fim de permitir que cresçam se desenvolvendo também intelectualmente. O amor O amor quase sempre manifesta-se de forma bem intensa durante o período clássico, mesmo que brevemente - e em Harry Potter isso também ocorre. Podemos observar na série diversas manifestações do amor: o amor de casal (Harry Potter e Gina Wesley; Severo Snape e Lílian Potter etc.) e o próprio amor nacionalista, por exemplo. Em comparação a esses exemplos, contaremos a história de Inês de Castro aos alunos: a dama fora coroada depois de morta e, embora apareça de modo bem distinto, ainda podemos mostrar para os alunos a relevância desse tema em obras clássicas. Como atividade avaliativa, será pedido aos alunos uma comparação de algum conteúdo (de livre escolha) com a obra de Camões. Para realizá-las, os mesmos poderão fazer colagens, gráficos, esquemas visuais ou vídeos, por exemplo. A realização desse trabalho poderá ser em trios ou em um número próximo, de acordo com a quantidade exata de alunos por sala (totalizando um total de cerca de dez grupos) e, inicialmente, os mesmos deverão apenas organizar os grupos e definir uma comparação que agrade à todos os seus membros. O professor deverá escutar as ideias propostas para definir se as comparações feitas realmente relacionam-se ao Classicismo e, caso isso não aconteça, para auxiliar os alunos a encontrar outra comparação, explicando-lhes o porquê do tema que escolheram O professor deve ser capaz de mostrar possíveis usos para os conteúdos determinados pela escola, pois isso contribuirá para que o aluno perceba a utilidade do que está aprendendo, evitando com isso que entenda a aula apenas como o ensino de conteúdo obrigatório que não terá utilidade em sua vida. Para que isso ocorra de maneira satisfatória, o profissional da educação precisa conhecer e compreender o universo em que seus alunos estão inseridos e utilizar-se daqueles elementos presentes no dia a dia dos mesmos que venham a ter relação com o conteúdo que se deseja ensinar. Se o professor tiver essa visão, poderá fazer uso de diferentes linguagens e mídias para transmitir esse conteúdo aos seus alunos. Algumas mídias podem ser trabalhadas em sala de aula, como o videoclipe, o cinema e a televisão. Sua utilização pode ser bastante satisfatória, uma vez que são capazes de entretê-los durante um maior período de tempo, já que nelas emprega-se uma linguagem constante na vida dos estudantes. Os autores Alexandre Huady Torres Guimarães, José Maurício Conrado Moreira Silva e Marcos Nepomuceno Duarte trazem a questão no livro Linguagens na sala de aula do ensino superior, organizado por Helena Bonito Couto Pereira e Maria Lucia Carvalho Marcondes Vasconcelos: A educação brasileira passou, nas ultimas décadas, em todos os seus níveis, por uma série de transformações. Saímos, depois da década de 70, de uma visão de ensino tecnicista e fechada, entre as paredes das diretrizes ditatoriais, para uma educação que convive [...] com um mundo habitado por tecnologias que já tomaram o gosto dos educandos. [5] É muito importante que o professor preocupe-se com o modo de ser dos alunos, pois os mesmos trazem essa maneira de agir e de pensar para a sala de aula, e essas características devem ser respeitadas, como defende Paulo Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia: Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os da classes populares, chegam a ela - saberes socialmente construídos na prática comunitária - mas também, como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. [6] O ensino deve voltar-se à agregação de novos conteúdos ao conhecimento já existente em cada um deles; desse modo, o aluno seguirá aprendendo sem precisar abrir mão daquilo que já conhece e gosta (ou não). A adaptação aos novos gostos dos alunos dependeu e ainda depende dos métodos de ensino utilizados pelos professores, que precisaram ser alterados para que acompanhassem o ritmo dos educandos e dos tempos. Com o avanço da tecnologia cada vez mais presente na vida cotidiana, o professor teve que encontrar um modo de despertar a atenção dos jovens, que perdem o foco constantemente devido ao maior interesse em usufruir destas tecnologias o tempo todo. Uma das alternativas para isso foi a inserção das mídias em sala de aula. Diante desta busca por ferramentas que inovem a educação, os autores do livro Linguagens na sala de aula do ensino superior dizem que “a questão metodológica, [...] esbarra, entre outras questões, nas próprias diretrizes da escola, na parca formação de alguns profissionais [...], dentre outros haveres” [7]. Há de se ressaltar que alguns professores não estão preparados para sair do método tradicional de ensino e adaptar-se a esta nova realidade dos alunos, cercada de tecnologia. Além da falta de preparo de alguns professores, muitos docentes que, por sua vez, estão abertos a estas transformações na educação, enfrentam as vertentes das escolas, tanto do corpo administrativo quanto do corpo docente e discente, que ainda são centradas na educação tradicional. O professor que acredita nestas inovações deve mostrar os benefícios destas diferentes mídias, já tão presentes no cotidiano dos alunos. Deve-se ressaltar que utilizar material distinto e mais interativo permite que o aluno aprenda de uma maneira diferente, não focada apenas no material escolar, mas sim naquilo que está presente na vida dele fora da escola. Os autores afirmam que, “O videoclipe é apenas mais uma ferramenta, próxima da realidade do discente da educação básica, que pode tornar o cotidiano escolar mais prazeroso, menos repetitivo, mais questionável” [8]. Esta afirmação reforça a ideia de trazer para a sala de aula elementos presentes no dia a dia dos alunos que contribuirão para que estes consigam identificar-se com o conteúdo e encontrem prazer naquilo que estão aprendendo na escola. Segundo os mesmos pesquisadores, “A partir deste ponto de vista, uma análise cultural do videoclipe pode ser considerá-lo como parte de uma cultura, sendo impossível de ser desconectado de outros contextos” [9]. Esta afirmação pode ser trazida como argumento para a inserção desta e de diferentes mídias no ambiente escolar, ou seja, apontar estes meios de comunicação como pertencentes à cultura, pois refletem o meio social em que o aluno está inserido, além da sala de aula, através de um código visual e por meio de sons que permitem diferentes sensações e emoções de acordo com aquilo que está sendo mostrado e, também, sentido pelos próprios espectadores. Para aplicar essa teoria nas aulas sobre Classicismo, decidimos elaborar um videoclipe que resumisse a série Harry Potter, tema principal que será utilizado para a explicação do conteúdo desejado. A motivação para organizar o vídeo com esse tema foi o fato de que não seria possível passar os oito filmes da série para os alunos, mas consideramos importante introduzir o tema de forma rápida e ao mesmo tempo abrangente, para que os alunos que não conhecem a história possam perceber o contexto em que se passa e, os que já conhecem, possam relembrá-la de um modo não cansativo. Essa introdução é importante para que seja possível para eles compreender o Classicismo a partir de Harry Potter. Outra ferramenta que pode ser uma alternativa na busca de inovação à educação é o cinema, linguagem que, bem como o videoclipe, envolve o texto imagético, o texto sonoro, o texto verbal e que é capaz de transmitir diferentes realidades por meio de sua narrativa. Para estender um pouco mais o trabalho com os alunos para os quais aplicaremos nosso projeto, escolhemos mostrar as características clássicas a partir de trechos da saga que acreditamos se relacionar melhor com o Classicismo. Desse modo, antes de apresentar o texto clássico escrito, esperamos que os alunos já tenham compreendido de que se trata determinada característica, para que possam identificá-la na escrita. A professora Helena Bonito Couto Pereira, na mesma obra citada anteriormente, traz, em seu capítulo Em confluência: literatura, cinema e ensino, a ideia da inclusão desta linguagem como ferramenta para o ensino nas aulas de literatura na educação básica: [...] as aproximações entre linguagens literária e linguagem cinematográfica, possibilitaram a expansão dessa herança a conceitos críticos como o de “texto”, realçado pela força com que o dialogismo e a intertextualidade impregna atualmente [10] A utilização de diferentes mídias e artes como instrumento didático-metodológico pode possibilitar questionamentos formulados pelos educandos, participação essa que contribui para a formação de um cidadão crítico, que não aceita um conceito somente porque este foi dito a ele, mas porque foi trabalhado por meio de diferentes pontos de vista para que a opinião dele pudesse ser construída. Napolitano descreve a importância deste meio artístico para a cultura e para a educação: Trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte. [11] Retomando o pensamento da professora Helena Bonito que descreve acerca da formação de cidadãos críticos, capazes de fazer diferentes leituras, Napolitano diz: A diferença é que a escola, tendo o professor como mediador, deve propor leituras mais ambiciosas além do puro lazer, fazendo a ponte entre emoção e razão de forma mais direcionada, incentivando o aluno a se tornar um espectador mais exigente e crítico. [12] Ou seja, além de aplicar um recurso agradável ao olhar dos alunos, a utilização de mídias pode e deve estimular a leitura intertextual de diferentes apresentações dos conteúdos que serão aprendidos na escola. 6. CONCLUSÃO A inserção de mídias na sala de aula não é importante só para que o aluno assimile melhor o conteúdo. Como dito por Louis Porcher, e transcrito no livro Educar com a mídia: novos diálogos sobre a educação, de Paulo Freire e Sérgio Guimarães: [...] É que as pessoas, permanentemente, isto é, desde que acordam até a hora de dormir, enviam mensagens curtas umas às outras para dizer qualquer coisa: que o tempo está lindo, que eu te amo, que Balzac é um grande homem, o que for; e, ao mesmo tempo, fazem outra coisa. Afinal, isso é surpreendente, não? É uma espécie de dominação. [13] Os alunos fazem parte dessa nova geração em que se manda mensagem ao mesmo tempo que se faz outra coisa, e é preciso que o docente conviva e aprenda a lidar com isso. Um dos maiores desafios é tornar a aula interessante para eles, que costumam se distrair muito facilmente, e trabalhar com a mídia é uma forma bastante interessante de manter a atenção do aluno naquilo que está sendo explicado. A aplicação do conteúdo por meio de relações entre diferentes meios também é importante para que o estudante consiga lembrar desse conteúdo posteriormente. Por isso optou-se por utilizar os vídeos da saga Harry Potter, e não apenas os livros, pois as imagens e o som colaboram para a manutenção da mínima atenção do estudante aos acontecimentos, atenção essa fundamental para a compreensão do conteúdo escolar ministrado - além de tornar a aula mais agradável e interativa. A proposta aqui apresentada, parte da importância em se desenvolver relações intertextuais e midiáticas durante as aulas, com o fim de ampliar o conhecimento e a visão do aluno. É a partir da imersão do aluno no conteúdo aplicado que planejamos ministrar o conteúdo relacionado ao Classicismo durante esse projeto. As teorias de utilização da mídia em sala de aula em conjunto com os conceitos teóricos relacionados às obras clássicas deverão ser utilizadas em conjunto para que os alunos compreendam o tema de maneira indutiva e, também, descontraída. Referências [1] A. Houaiss e M. de S. Villar. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 231. [2] H. Franco Júnior. A Eva Barbada. São Paulo: EDUSP, 1996. p. 159. [3] W. Irwin e G. Bassham. A versão definitiva de Harry Potter e a filosofia: Hogwarts para os Trouxas. São Paulo: Madras, 2011. p. 56. [4] Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. 2. ed. Rio de Janeiro: DP & A Editora, 2000. p. 5. [5] A. H. T. Guimarães, J. M. C. M da Silva e M. N. Duarte. O videoclipe na sala de aula. In H. B. C. Pereira e M. L. M. C. Vasconcelos. Linguagens na sala de aula do ensino superior. 2. ed. Niterói: São Paulo: Intertexto; Xamã, 2010. p. 126. [6] P. Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 41. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 16. [7] A. H. T. Guimarães, J. M. C. M da Silva e M. N. Duarte. O videoclipe na sala de aula. In H. B. C. Pereira e M. L. M. C. Vasconcelos. Linguagens na sala de aula do ensino superior. 2. ed. Niterói: São Paulo: Intertexto; Xamã, 2010. p. 126. [8] A. H. T. Guimarães, J. M. C. M da Silva e M. N. Duarte. O videoclipe na sala de aula. In H. B. C. Pereira e M. L. M. C. Vasconcelos. Linguagens na sala de aula do ensino superior. 2. ed. Niterói: São Paulo: Intertexto; Xamã, 2010. p. 134. [9] A. H. T. Guimarães, J. M. C. M da Silva e M. N. Duarte. O videoclipe na sala de aula. In H. B. C. Pereira e M. L. M. C. Vasconcelos. Linguagens na sala de aula do ensino superior. 2. ed. Niterói: São Paulo: Intertexto; Xamã, 2010. p. 129. [10] H. B. C. Pereira. Em confluência: literatura, cinema e televisão. In H. B. C. Pereira e M. L. M. C. Vasconcelos. Linguagens na sala de aula do ensino superior. 2. ed. Niterói: São Paulo: Intertexto; Xamã, 2010. p. 71. [11] M. Napolitano. Como Usar o Cinema em Sala de Aula. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 11. [12] M. Napolitano. Como Usar o Cinema em Sala de Aula. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 15. [13] P. Freire e S. Guimarães. Educar com a mídia: novos diálogos sobre a educação. São Paulo: Paz e Terra, 2011. P. 194.