A crença em Jinns na comunidade muçulmana sunita do

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A crença em Jinns na comunidade muçulmana sunita do
A crença em Jinns na comunidade muçulmana sunita do Rio de Janeiro
Bruno Ferraz Bartel
Núcleo de Estudos sobre o Oriente Médio (NEOM)
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA)
Universidade Federal Fluminense (UFF)
[email protected]
Resumen
O artigo tem como objetivo analisar o sistema de crença acerca dos Jinns, a partir de
interpretações simbólicas, entre os muçulmanos sunitas da Sociedade Beneficente
Muçulmana do Rio de Janeiro (SBMRJ).
Os Jinns são seres invisíveis criados do fogo e dotados de livre arbítrio por Deus (Allah), e
que vivem na Terra em um mundo paralelo ao dos homens. Suas possíveis formas de
manifestação entre os homens, durante a vida religiosa muçulmana, fazem parte de um
sistema de classificação cosmológico, onde se prescrevem determinados valores e ações
acerca destes seres nas suas possíveis interações com os indivíduos.
O trabalho etnográfico realizado na Mesquita da Luz (Masjid Al Nur) localizada no bairro da
Tijuca (RJ), nos meses de Março de 2010 a Julho de 2011, parte das representações
coletivas dos Jinns e procura destacar o sistema de classificação enunciado nos discursos
dos muçulmanos da SBMRJ.
A metodologia usada foi à observação participante das atividades religiosas realizadas nos
espaços da mesquita incluindo entrevistas abertas com alguns de seus freqüentadores,
além da leitura de doutrinas normativas como o alcorão e o haddith (prescrições do
profeta Muhammad) utilizados entre os fiéis.
A pesquisa etnográfica vincula-se ao projeto “Fluxos Transnacionais e Construção de
Identidades em Comunidades Diaspóricas entre a América do Sul e o Oriente Médio”,
coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto e possui o auxílio financeiro
do CNPq.
Introdução
O presente trabalho se propõe a analisar a construção das relações simbólicas de
afastamento com os Gênios (Jinns1) inseridos no universo mítico islâmico, a partir do
sistema de crenças compartilhadas entre os muçulmanos sunitas2 que se congregam na
Mesquita da Luz (Masjid Al Nur), no bairro da Tijuca, localizada na Zona Norte da Cidade
do Rio de Janeiro. Os Jinns são seres invisíveis criados a partir do fogo por Allah3 e que
coabitam a realidade social conjunta com os humanos. O reconhecimento da existência de
tais seres implica em questões acerca do sistema classificatório utilizado pelos indivíduos,
ou seja, que permitem por em termos inteligíveis a intervenção de tais entidades no plano
físico da realidade humana a partir de suas agências, assim como as interpretações de
ordem moral que são criadas para definir e limitar o grau de proximidade com os Jinns,
visto que estes podem situar os muçulmanos numa posição de perigo4, a partir de seu
contato.
Analisar um sistema de classificação religioso permite expor as crenças dos
indivíduos e sua relação com os valores sociais de um grupo. A classificação se faz
presente, pois seu objetivo consiste em ordenar as categorias de entendimento, usados por
uma coletividade, em grupos distintos entre si, separados por linhas de demarcação
nitidamente determinadas. De outro lado, classificar, não seria apenas constituir grupos.
Isso significaria dispor estes grupos hierarquicamente, segundo relações muito especiais,
onde “toda classificação implica uma ordem hierárquica da qual nem o mundo sensível
nem nossa consciência nos oferecem o modelo” (Durkheim & Mauss, 2005: 403).
A perspectiva de uma realidade compartilhada junto aos humanos foi registrada por
Westermarck (1899) em sua viagem no Marrocos onde o autor relata que os Jinns formam
uma raça especial de seres humanos, criados antes de Adão. Em vários aspectos, no
entanto, eles seriam como os homens. Eles comem, bebem e procriam a sua espécie na
Terra, inclusive através de conexões sexuais com os homens. Eles estão sujeitos à morte, e
1
Colocarei os termos em árabe utilizados entre parênteses pelos muçulmanos.
Com a morte do Profeta Muhammad a questão da sua sucessão na liderança da
comunidade muçulmana se colocou de maneira premente. A ausência de um herdeiro
masculino inviabilizava o uso da tradição pré-islâmica de sucessão patrilinear e obrigou a
comunidade muçulmana a decidir quais seriam os critérios de definição, atribuição e
manutenção de poder que criariam lideranças legítimas. O termo sunita refere-se aos
muçulmanos que evocam apenas as tradições deixadas pelo Profeta após a sua morte
(Pinto, 2010b).
3
O termo Allah expressa a noção de Deus entre os muçulmanos.
4
Penso em termos equivalentes ao trabalho de Mary Douglas intitulado “Pureza e perigo”,
onde se destaca o papel da separação dos universos simbólicos (sagrado e profano),
objetivando-se assim, a estruturação de uma idéia de ordem a partir da análise dos casos
contemplados pela autora.
2
2
alguns deles, como os Jinns do Profeta Muhammad irão para o paraíso após a sua morte.
Além disso, não teria formas fixas, mas podem assumir qualquer forma que eles possam
apreciar. Sua capacidade de transformação em outros seres os habilitam em aparecer
como homens, cabras, gatos, cães, burros, tartarugas, serpentes, ou outros animais,
inclusive monstros de sete cabeças.
Mediante a tais classificações, as crenças na tradição islâmica sobre os Jinns
poderiam servir para a constituição de uma base comum, dentro do imaginário religioso
muçulmano, através das representações destes seres, visto a força social que os grupos,
sunitas ou demais representantes5, constroem a partir de suas perspectivas. Os termos das
representações coletivas designam a força do pensamento social sobre o pensamento
individual, determinando ações e comportamentos dos indivíduos. As representações
coletivas não se resumiria apenas às somas das representações dos indivíduos que
constituem a sociedade (Durkheim, 1970), mas sim, seria uma realidade que se impõe aos
indivíduos, pois quando estes interagem no mundo já encontram essa realidade formada
anteriormente.
Os Jinns não seriam almas de pessoas vivas ou mortas, nem seriam totalmente
demoníacos. De acordo com o Alcorão6 (surata7 15: aya8 27; 55:15), o Jinns seriam uma
outra raça (não-humanos), criado por Allah à humanidade e, ao contrário da humanidade,
não de barro de fundo sólido, mas do fogo sem fumaça (Spadola, 2004). Segundo o autor,
histórias pessoais em seu trabalho de campo no Marroocos descrevem disputas a partir de
detalhes sobre se os Jinns podem assumir formas visíveis, e se podem ou não, possuírem os
seres humanos.
Ser possuído ou não por esses seres, dependendo de seu contexto etnográfico
proporciona estabelecer noções diferenciadas da experiência religiosa entre a relação
existente dos Humanos com os Jinns, o que coloca uma problemática entorno da noção de
sagrado. Durkheim (2008) já havia explicitado que o sagrado e o profano foram concebidos
pelo espírito humano como gêneros separados, através do processo de uma idealização
sobre o mundo, ou seja, a partir da capacidade dos homens de conceber um ideal e de
acrescentá-lo ao real, operado no pensamento humano, responsável pela separação do
sagrado em relação ao profano. Entretanto, o aspecto característico do fenômeno religioso
é o fato de que ele pressupõe uma divisão do universo conhecido e conhecível em dois
gêneros que compreendem tudo o que existe, mas que se excluem radicalmente. As coisas
5
Refiro-me ao xiismo e ao sufismo.
“O Alcorão é o resultado textual da recitação da palavra divina por Muhammad entre 610
e 632 a.d.” Pinto (2010b: 45). Ele constitui um texto normativo utilizado pela comunidade
muçulmana em destaque no trabalho etnográfico.
7
Equivalente aos capítulos do livro sagrado dos muçulmanos.
8
Equivalente aos versículos do livro sagrado dos muçulmanos.
6
3
sagradas são aquelas onde os interditos protegem e as isolam; as coisas profanas, aquelas
às quais esses interditos se aplicam e que devem permanecer à distância das primeiras.
Entretanto, para os trabalhos que se debruçaram sobre o caso específico existente
no Marrocos, a noção de sagrado envolvida numa experiência religiosa pode ser exibida a
partir da intervenção desses seres na produção do fenômeno da glossolalia (Spadola, 2004)
ou a partir da previsão de eventos futuros (Westermarck, 1899). Em ambos, o corpo seria o
instrumento de mediação e o responsável pela classificação dessas experiências religiosas
como reveladoras de uma experiência mística ou de magia por parte desses indivíduos que
estabeleceriam contatos com os Jinns. Seja como for, a idéia de um agenciamento por
parte dos Jinns, atuante na realidade humana, seria um elemento a ser valorizada para
complexificar a experiência religiosa.
Leach (1968), admite que a noção de sagrado em Durkheim apresenta uma
dicotomia entre mito e rito, porque dentro da perspectiva do autor francês o rito seria
definido como apenas um conjunto de regras de conduta que prescrevem as maneiras dos
homens de se comportarem na presença de objetos sagrados. Segundo sua interpretação,
esta problemática não permite avançar em questões tanto do papel das representações nos
indivíduos quanto na força coletiva das ações em conjunto organizada de maneira
simbólica por uma comunidade religiosa. Um mito não é necessariamente uma explicação
no sentido de tornar mais claro algo que não é entendido, antes, é uma interpretação, uma
maneira particular de perceber a o mundo (Chipaman, 2002).
A existência de ações responsáveis por manter uma posição de afastamento em
relação aos Jinns, dentro de cada contexto cultural específico, poderia fornecer um
modelo de símbolos (Leach, 1996), ou seja, fazer referência às categorias de entendimento
utilizado por algum grupo, não permitindo assim, uma divisão nítida entre mito e ritual
que pode ser visto como um sistema comunicativo de discursos (Idem, 1966). Além de
representar uma seqüência ordenada de fatos metafóricos dentro de um espaço territorial
em que o símbolo foi organizado para fornecer um contexto metafórico (Idem, 1976a,
1976b), ele permite a criação de processos de classificação e de repetição a partir dos
quais um conhecimento é incorporado e reproduzido pelos indivíduos através de suas
performances (Idem, 1966).
Para compreender determinados aspectos do islã, com as relações simbólicas com
os Jinns, torna-se necessário analisar como as referências religiosas estão articuladas em
um modelo normativo inscrito na história, ou seja em uma tradição. Para Asad (1986, p.14)
existem:
4
discursos que visam instruir os praticantes a respeito do propósito e
da forma correta de uma determinada prática que, precisamente
porque foi estabelecida, tem uma história. Esses discursos se
relacionam conceitualmente com um passado (quando a prática foi
estabelecida e a partir da qual o conhecimento sobre o seu
propósito e performance correta foi transmitido) e um futuro
(como o propósito daquela prática pode ser mais bem assegurado
no curto e no longo prazo ou porque ela deveria ser modificada ou
abandonada) através de um presente (como ela é ligada a outras
práticas, instituições e condições sociais).
Uma tradição não se refere a uma simples transmissão de construções culturais de
uma geração a outra. Tradições religiosas, como no caso do islã, estão em um constante
processo de atualização e recriação de seus modelos normativos, cujos elementos
constituídos podem ser ressignificados e modificados em cada momento histórico e
contexto cultual (Pinto, 2010b).
Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro9: caracterização e metodologia
O contexto religioso da SBMRJ se diferencia das demais comunidades muçulmanas
no Brasil porque em tal instituição o quadro majoritário não é constituído por membros de
origem árabe (Pinto, 2005). Ela possui um caráter multicultural e multiétnico, onde existe
uma presença significativa de membros dos mais diversos países e, sobretudo, de
brasileiros convertidos10, o que a caracteriza como uma comunidade de caráter missionária
(Junior, 2008). Os árabes e seus descendentes constituem cerca de 40% dos membros da
comunidade, sendo a maioria constitutiva de demais brasileiros de diversas origens, além
de africanos e seus descendentes (Montenegro, 2002). O perfil social dos membros da
comunidade muçulmana do Rio de Janeiro é diversificado incluindo profissionais liberais,
comerciantes, estudantes universitários etc. Alguns comerciantes que freqüentam a
instituição também possuem uma formação universitária (Chagas 2006, 2009; Pinto, 2005).
Para demonstrar meus argumentos acerca das concepções acerca dos Jinns,
utilizarei os resultados de um trabalho etnográfico realizado de Março de 2010 a Junho de
9
A partir daqui, usarei essa sigla para me referir a essa instituição.
Existe um debate sobre qual categoria deve-se utilizar quando uma pessoa torna-se
muçulmana no Brasil. Refiro-me aos termos conversão ou reversão. Como não desejo
desenvolver as problemáticas em torno desta oposição entre os autores que trabalham com
comunidade muçulmanas no Brasil, opto pelo termo conversão.
10
5
2011 entre os muçulmanos sunitas da SBMRJ. Minha inserção na vida cotidiana deste grupo
se deu através da presença em cursos de Introdução ao Islã e à Língua Árabe, ministrados
por diferentes professores e dirigentes desta mesma instituição11.
A metodologia usada na pesquisa foi a observação participante, ou seja, o contato
direto e prolongado com os atores sociais envolvidos e em seus contextos específicos, a
partir do acompanhamento dos sermões (khutba) e das reuniões dos grupos de estudos
denominados de “família espiritual12” realizadas no espaço da mesquita13. Eu também
realizei entrevistas abertas e tive conversas informais com alguns membros do grupo
dirigente da instituição, assim como com alguns de seus freqüentadores. O caráter
antropológico desta pesquisa sobre a SBMRJ significa dizer que o universo empírico
contemplado procura levar em consideração a análise dos discursos e das práticas rituais
inseridas no contexto desta comunidade em sua interpretação do Islã no Brasil. Embora
exista uma tradição textual que garante um discurso oficial na construção e legitimização
de práticas e discursos entre os membros da SBMRJ, isso nunca se encontra sistematizado
constituindo um corpo canônico definido. Uma das razões disso é que não existe uma
autoridade central por parte de uma instituição islâmica capaz de impor o uso dos mesmos
textos para todas as comunidades muçulmanas no Brasil.
A seleção de textos usados como referências canônicas varia de acordo com os
múltiplos contextos sociais e religiosos disponíveis em cada comunidade. A análise da
tradição textual existente na SBMRJ revela o grau de complexidade utilizada pelos seus
membros que procuram formular um quadro teórico de conhecimento do Islã ao invés de
receberem uma imposição de um corpo canônico criado pela academia ou por escolas
religiosas. Minha análise a partir do material etnográfico exposto, utiliza textos apenas
para indicar o universo de referências utilizados pelos agentes durante minha visitas. Uma
análise sistemática dos textos utilizados pela SBMRJ constitui uma parte relevante do
11
Esta pesquisa faz parte da construção de meu projeto de mestrado no Programa de PósGraduação em Antropologia (PPGA) pela Universidade Federal Fluminense e encontra-se
inserida no projeto “Fluxos Transnacionais e Construção de Identidades em Comunidades
Diaspóricas entre a América do Sul e o Oriente Médio” coordenado pelo Prof. Dr. Paulo
Gabriel Hilu da Rocha Pinto da Universidade Federal Fluminense (UFF), com suporte
financeiro do CNPq.
12
Esses encontros são realizados por algumas pessoas que têm como interesse discutir
assuntos como a postura dos muçulmanos no dia-a-dia, (seja no ambiente do trabalho ou
doméstico, explicações teóricas sobre as crenças do islã como, por exemplo, o dia do juízo
final e a importância dos anjos) o papel da mulher na educação das crianças, os modos de
se realizar um sepultamento muçulmano, etc.
13
A Mesquita da Luz (Masjid Al Nur) segue uma tendência, iniciada na década de 1960 no
Rio de Janeiro, de se concentrar nesse bairro por causa das diversas instituições ligadas aos
diferentes grupos que compõem a comunidade árabe carioca. Sobre o assunto ver: Pinto
(2010a).
6
material a ser problematizado, porém responde a propósitos diferentes da qual este artigo
se propõe investigar.
Em todos os contextos da elaboração da pesquisa, apenas os muçulmanos de sexo
masculino14 e descendentes de árabes15 participaram da composição do material
etnográfico que ilustra o conteúdo do presente texto.
O universo simbólico entre os muçulmanos da SBMRJ
As crenças em Jinns, entre os muçulmanos da SBMRJ, são expostas, entre outros
contextos, durante as aulas de Introdução ao Islã, a partir das explicações destes pelos
professores da instituição com o auxílio, de alguns livros escritos por muçulmanos que
compõem a Diretoria Educacional da SBMRJ. Admite-se que, numa seqüência de criação do
mundo inscrita no Alcorão, Allah teria criado primeiro os Anjos, cuja matéria primordial foi
a luz, e que depois disso, a partir do fogo existente, estabeleceu-se a existência dos Jinns.
Num momento posterior dessas criações, os Homens teriam sido organizados a partir do
barro, sendo a figura de Adão a responsável pela proliferação dos humanos na Terra. Um
elemento que se destaca entre esses três seres criados refere-se à questão do livre
arbítrio. Os anjos por serem criaturas devotadas às ordens divinas, não possuiriam a
capacidade de realizar escolhas, ou seja, as regências das leis de Allah estariam em
primeiro lugar, o que no caso, não ocorreria entre os Jinns e nem com os humanos.
Os professores (Comerciante, 43 anos, descendente de sírios e Universitário, 28
anos, natural de Burkina-Farso) narram que dentre os Jinns há os que são muçulmanos,
voltados para a vida religiosa islâmica, e Jinns de outras religiões como cristãos, judeus,
budistas e os que seguem outras denominações monoteístas. Os Jinns, para eles, possuíram
vida social; teriam a habilidade de casar, procriar, comer e beber. Eles viveriam no
planeta Terra num mundo paralelo ao nosso. Além disso, teriam a capacidade de nos ver,
porém nós não os veríamos no seu estado natural, ou seja, no plano invisível. Os
professores afirmam que eles podem assumir tais formas animais quanto humanas, sendo
que os homens não teriam, em seu campo visual, como distingui-los. Durante uma
14
A inserção no universo feminino não somente nesta instituição, mas de um modo geral ao
Islã, coloca limites para um pesquisador homem. As mulheres casadas sempre estão ao
lado de seus respectivos maridos e as solteiras sempre andam juntas na Mesquita da Luz.
Uma aproximação no universo das mulheres solteiras pode simbolizar uma tentativa de
estabelecer um interesse particular (relações amorosas), neste caso, para a minha pessoa
pelo fato de não ser muçulmano. Por isso, optei por me concentrar nos discursos e nas
práticas dos homens da SBMRJ.
15
Mesmo reconhecendo a diversidade existente entre os membros da SBMRJ (brasileiros e
africanos), optei por me concentrar em um grupo.
7
conversa, em cadeiras próximas a cupins, um dos muçulmanos propôs uma metáfora para
explicar a existência desses seres:
Você está vendo aquele inseto no chão? Bom, nós seríamos aquele
inseto que vaga pela Terra totalmente despreocupado da existência
de seres paralelos a nós, tentando apenas viver nossas vidas. Os
Jinns seríamos nós, que estamos olhando para o inseto, porque eles
estariam conscientes de sua existência e reconheceriam a
existência de outros diferentes deles. Eles podem nos ver,
caminhar junto de nós... Nós apenas saberíamos reconhecer alguns
sinais das presenças deles. (Comerciante, 43 anos, descendente de
sírios).
Mesmo admitindo a incapacidade de ver os Jinns no plano físico, um dos professores
de árabe da SBMRJ (Universitário, 28 anos, natural de Burkina-Farso) explicita a idéia de
que quando nasce uma criança, alguns Jinns podem segui-la até o final de sua vida, caso
seus pais não evidenciem para esses seres, que se trata de um muçulmano, ou seja, de um
ser humano que se deseja que siga o caminho rumo à devoção a Allah.
Por isso, fazemos o quê? Pronunciamos a shahada16 (testemunho de
fé) no ouvido do bebê para que ele seja muçulmano logo e procure
achar um caminho longe do contato com esses seres. Os ditos no
ouvido das crianças nada mais são do que súplicas para afastar o
mal das influências externas.
Enquanto conversava com as pessoas da SBMRJ, percebi que este tema gerava uma
reação diferenciada por parte de alguns muçulmanos. É preciso relatar que alguns deles
não me olhavam nos olhos para responder às perguntas sobre os aspectos da intervenção
no plano físico realizados pelos Jinns, enquanto que, acerca de outras questões,
16
A profissão de fé muçulmana “Não existe deus além de Deus e Muhammad é o profeta de
Deus” (La ilah ila Allah wa Muhammad rasul Allah) é o único elemento doutrinal entre os
cinco pilares. Ela constitui o mínimo consenso doutrinal exigido aos muçulmanos,
afirmando a crença no monoteísmo e na profecia de Muhammad. A aceitação das duas
proposições coloca automaticamente a pessoa dentro da comunidade religiosa do islã e, da
mesma forma, a sua recusa implica na exclusão da mesma (Pinto, 2010b). A shahada é
usada como demarcador do rito de passagem (Van Gennep, 1978) que visa à incorporação
de um indivíduo no universo religioso do islã.
8
envolvendo as suas ações e qualidades intrínsecas, as respostas eram geradas sem reações
deste tipo.
Eu - Os Jinns causam algum tipo de receio para os muçulmanos?
Muçulmano - Não, nem um pouco (com os olhos voltados para
baixo, desviando-se de qualquer compromisso com sua resposta
para comigo).
EU - Então, como é?
Muçulmano - Como é o que? (com os olhos voltados para mim)
EU - Como se sabe que estamos diante de um jinn?
Muçulmano - Isso pode ser mais difícil que se pensa (novamente
com os olhos voltados para baixo)
Segundo outro professor de língua árabe (Universitário, 27 anos, descendente de
libaneses e colaborador do Jornal Interno da SBMRJ), cada Jinn viveria mais ou menos 1000
anos. Eles ficariam tristes quando a pessoa que eles seguem não vai para o inferno (geena),
o que supõe-se ter ocorrido devido à falha ou pouca penetração de suas sugestões nos
pensamentos dos homens. Cada um dos Jinns que optam por não seguir um caminho rumo a
Allah teria como propósito de vida conduzir os homens na Terra rumo ao “mal”, a partir da
produção de ações más praticadas pelos humanos devido à capacidade de sugestão desses
seres nos pensamentos dos humanos. Caso falhem neste propósito, os Jinns eles seriam
punidos por Iblis17, uma vez que não teriam concluído sua missão em desviar os caminhos
dos homens.
Além disso, os professores costumam comentar que as pessoas que se ligam a
espíritos, lidariam diretamente com Jinns. Uma discussão sobre este assunto me foi
proporcionado quando assisti uma reunião da “família espiritual”, para discutir algumas
dúvidas entre os muçulmanos. Uma senhora muçulmana havia relatado durante esta
reunião que sua vizinha, ligada à religião espírita, recebeu a visita de uma pessoa que
havia morrido dizendo que onde ela estava era “péssimo” e que ela, a pessoa que recebeu
a visita, estaria em sérios apuros por sua conduta na Terra. A dúvida da senhora
muçulmana se centrava na capacidade de interpretar esse evento, uma vez que para os
muçulmanos a alma não voltaria depois da morte. Como então, o espírito de alguém
poderia saber tanto sobre a vida de um outro? Esta entidade foi interpretada como um Jinn
por um dos professores de árabe segundo sua compreensão de que esse ser teria
17
O Jinn que se recusou a se curvar diante de Adão, pela ordem de Allah, é denominado
Iblis. Ele é reconhecido no Alcorão como o “rei dos Jinns”. Iblis pode ser encontrado sobre
a denominação de Shaytan. Ver: Bartel (2011).
9
acompanhado a pessoa que morreu por toda a sua vida. Por isso, o Jinn saberia de tudo o
que aconteceu com esta senhora que já faleceu. Como conseqüência desse contato direto
com esse ser, o professor comentou que a pessoa que incorporou o Jinn deveria ter
cuidado, pois o “mal” já teria atuado junto a ela.
As religiões afro-brasileiras seriam, na visão dos interlocutores do campo,
conhecidas por tal comunicação com os espíritos, e conseqüentemente, com os Jinns.
Os Jinns fazem acordo entre si. Por exemplo, caso haja alguém
incorporado por um Jinn, a pessoa que vai tentar tirá-lo também
faz contatos com Jinns. Este Jinn que é o seu contato tenta
negociar com o outro para que o mesmo desocupe aquele corpo,
tendo assim uma troca de interesses ou favores.
Os orixás do Camdoblé e os Espíritos da Umbanda são considerados
por nós como manifestações de Jinns. A questão do médium no
Espiritismo também se encaixa aqui. É preciso ter um certo receio
com tais contatos. Os Jinns estão aí para “ver”. (Comerciante, 43
anos, descendente de sírios).
Mesmo reconhecendo a existência de Jinns muçulmanos na Terra, o seu contato é
vedado aos praticantes do islamismo, constituindo-se em aproximações de formas de tabu
em termos religiosos, pois segundo um dos entrevistados, quem se relaciona com os Jinns
tornaria um descrente para o islã, já que eles não ensinariam nada aos humanos, nem
colaborariam com a pessoa antes que a mesma se tornasse um descrente. Logo, seria
proibido para qualquer muçulmano o contato com eles.
Sabemos que os Jinns possuem contato com os Anjos, pois eles
possuem a capacidade de viajar até o céu, onde estabelecem uma
relação harmoniosa com estes. Apesar dos Jinns descendentes do
próprio demônio que são contrários a essa harmonia onde sempre
visam um estado de conflito. Além disso, os Jinns têm a
possibilidade de entrar em contato com os humanos na Terra.
Entretanto, os Jinns muçulmanos estão proibidos por determinação
de Allah a jamais entrarem em contatos com os homens. Por isso,
sabemos que quando alguém é afetado por um Jinn, estamos
lidando com os Jinns não-muçulmanos ou com o próprio demônio.
(Comerciante, 43 anos, descendente de sírios).
10
O demônio, representado aqui pelo próprio Iblis, pode seduzir o homem em
qualquer momento de sua vida diária, o que coloca a responsabilidade dos homens para
com suas ações a ser uma meta alcançada por meio do reconhecimento dos caminhos
desviantes supostamente planejados pelo agente do mal ou pelas suas formas de
manifestações que corrompem os homens. Assim, intencionado a espalhar “o mal” na
Terra, Iblis assume uma posição de destruição, atuando através de suas provações para
com o caminho dos homens, procurando desestabilizar as relações destes com Allah.
Chipman (2004) argumenta que a enfâse na arrogânica de Iblis se expressa precisamente
neste momento e que Allah era ciente do seu orgulho, mas optou por não puni-lo por seus
pensamentos, mas só quando ele tentou realizar seu orgulho. Um dos professores narrou
que Iblis seria o “rei dos Jinns”, ou seja, existiria algo além dele que influencia as pessoas.
Iblis comandaria todos os Jinns e não teria tanta força como existe no mundo cristão de
um ser tão poderoso e maligno.
Sugerir que Iblis e os Jinns são os únicos culpados pelo mal no mundo seria
diferente que considerar o papel da ação humana. Para o professor, os que forem para o
inferno, podem culpar os outros homens por suas ações e até seria possível que a coloquem
em Iblis, entretanto o valor das ações deve, em sua visão, pesar sobre os indivíduos que as
praticam.
EU - Como sabemos que estamos diante de alguma manifestação
desse ser?
ELE – As pessoas que fazem macumba...(foi quando, subitamente,
ao nosso lado, cai uma pilha de cadeira de plástico – ao total
deviam ser oito – no chão provocando um estrondo no salão da
mesquita). Depois de olhar para mim, ele comenta: É só falar em
macumba que essas coisas acontecem... (risos dele). Enquanto ele
ajeitava as cadeiras na pilha original, perguntei:
EU - Isso não seria força de Iblis?
ELE - É só falar em macumba que essas coisas acontecem... (risos
dele e já mudando de assunto)
A forma de manifestação tanto de Iblis quanto dos Jinns, se realiza através do
sussurro nos ouvidos que representa a tentação, pela forma de pensamento para com os
homens, porque segundo o professor de árabe, alimentaria o lado bestial do humano, para
praticar ações que não condizem com os preceitos de Allah. “O esforço é nosso (do
11
homem), mas o resultado é de Allah”. A intenção segundo este muçulmanos seria tudo,
inclusive a de afastar o mal para si, pois:
...se eu fizer algo de bom na vida de alguém eu serei
recompensado lá na frente...e se eu agir de má fé e mesmo assim
resultar numa boa ação? Bom ai, meu valor é menor, pois não
estava intencionado...vale menos, mas vale.
O imam (líder religioso) da mesquita (Comerciante, 39 anos, descendente de sírios)
insiste que o sussurro pode se manifestar de várias formas. Poderia ser distraindo a pessoa
para que ela esqueça de cumprir suas obrigações, como acontece quando a pessoa está
orando e começa a viajar com seu pensamento; em outros, pode ser levantando dúvidas
dentro dela; e até pode se manifestar através das lembranças das atitudes ilícitas e as
enfeitando para que a pessoa vá ao encontro dela, entre outras. Como ele mesmo
salientou: “O sussurro seria a origem de toda a desobediência a Allah” (Isbelle, 2003).
Fomos à última criatura que habitou a Terra por Allah. Ele havia
criado tudo antes, inclusive os Jinns. Depois que Iblis que negou a
se prostrar perante a Adão, ele decidiu olhar para os humanos na
Terra, mesmo depois da queda. O ciúme dele para com Adão o
expulsou do Paraíso. Precisamos nos manter firme em nossa
conduta rumo ao Paraíso.
O uso do corpo pode fornecer um exemplo ligado à figura de Iblis e
conseqüentemente aos Jinns. Durante as reuniões onde os muçulmanos da SBMRJ procuram
tirar suas dúvidas junto aos professores, o tema da importância de se saudar as pessoas e
de realizar qualquer ato de comer com a mão direita foi suscitado. No início, foi dada uma
explicação neurológica18 pela suposta atuação do lado direito do cérebro criando o
movimento oposto no corpo das pessoas, porém, uma das alunas presente levantou uma
questão acerca do uso dos talhares na mesa durante as refeições. “Eu devo cortar os
pedaços de comida presentes no prato, não se importando com a posição das minhas mãos,
para comer a comida com o garfo através de minha mão direita?” Um dos professores
18
Os professores da SBMRJ utilizam termos e explicações científicas em suas falas e textos
divulgados entre os muçulmanos e aos de fora da comunidade. A relação entre islã e
ciência tem provocado trabalhos sobre a temática. Ver: Leif Stenberg The Islamization of
Science: Four Muslim Positions. (Lund Studies in History of Religions, No. 6) Coronet Books:
New York, 1996.
12
confirmou a possibilidade de realizar tal seqüência, entretanto destacou que isso
representaria realizar esses atos em outros termos. Segundo ele, Shaytan faz tudo com a
mão esquerda em oposição a Adão, dando mais um exemplo de sua arrogância perante a
criação de Allah. Sendo assim, caberia aos muçulmanos a recusa de não imitar Shaytan em
seus atos. “Adão comia com a mão direita para adorar a Allah”.
Hertz (1980) reconhece a presença de interdições estabelecidas pela sociedade,
que repercutem na predominância do uso da mão direita em detrimento da esquerda. Além
disso, ele parte do pressuposto que a explicação fisiológica sobre a predominância do uso
da mão direta é incompleta, demonstrando que a relação entre sagrado e profano é que
determina o uso preferencial de uma das mãos. Seja como for, a dimensão educacional de
uma corporalidade deve ser pensada para além da dimensão biológica, e neste caso, em
termos simbólicos. Enquanto ordem simbólica, o corpo é uma representação dos modelos
impostos por diferentes maneiras de se viver (Mauss, 2006), de estabelecer regra e
condutas representadas pelo corpo com um objetivo que simboliza as possibilidades de um
grupo.
Uma outra maneira de se reconhecer a presença dos Jinns no plano físico seria a
sua capacidade de incorporação nos seres humanos, privando-os de sua habilidade de
raciocínio ou impondo-lhes uma conduta moral que seria considerada como uma forma de
loucura temporária. A possessão de pessoas via palavras ou ações seria um traço
característico dos Jinns. Ademais, a idéia de pessoas que podem realizar “magia” ou tem
“olho-grande”, corrente na sociedade brasileira, também seria considerada por alguns
muçulmanos da SBMRJ como ações envolvendo Jinns, uma vez que a força de tais ações
não poderia ser produzida por humanos, mas tão somente por criaturas que se ligam as
forças ocultas. Neste caso, presumi-se na ação advinda da personificação do mal tendo
referência a Iblis.
Considerações Finais
As concepções do Jinns, através dos muçulmanos da SBMRJ, permite colocar o
sistema de crença local em relação a um universo cosmológico presente na tradição
islâmica como forma a repensar as “agências do mal” seja em situações ativas
(intencionais) ou passivas (acidentais) consideradas pelos interlocutores do campo ao longo
do trabalho etnográfico.
A corporalidade adquire um aspecto relevante durante a construção das questões
que nortearam este ensaio. Entretanto, não posso concluir de maneira formal que esta
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noção estaria no centro da concepção cosmológica do Islã, tampouco na constituição da
concepção de pessoa entre os muçulmanos da SBMRJ.
Fora das responsabilidades individuais, atuaria o plano das forças externas,
representadas aqui pelos Jinns, que desafiariam as relações dos indivíduos consigo mesmo
e com seus pares. As tensões envolvendo a nomeação do que venha a ser “o mal” entre os
mulçumanos da SBMRJ, seguindo suas diferentes tradições, são problemas pertinentes que
precisariam ser reavaliados. Seria preciso estar atento para os objetos invisíveis, para além
dos próprios Jinns enquanto seres invisíveis, onde uma “noção aproximada” das coisas
torna-se fundamental, desejoso por trilhar um rumo para novas descobertas.
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