ILHA DO - Revista Náutica

Transcrição

ILHA DO - Revista Náutica
paraná
santa catarina
rio gr. do sul
barco feito em casa
Como um curitibano construiu
um
veleiro catarinense
no quintal de sua casa
oeste
edição nº 52 | janeiro – fevereiro 2014/2015 | R$ 8,90
Ilha do
Mel
a doce joia do litoral do paraná
bê-á-bá da boa
ancoragem
O que você precisa
saber sobre âncoras,
cabos e amarras
os macetes
do corrico
Como se dar bem
com os peixes mesmo
durante os passeios?
Mar de
bilhetinhos
O curioso bar com
milhares de mensagens,
em Florianópolis
momentos que nos levam na direção certa.
A Volvo Penta sempre teve como objetivo melhorar cada vez mais suas
experiências em alto-mar. Por isso, busca sempre se superar em cada
detalhe, produto ou serviço. E em 2015 não será diferente. Afinal, ainda
temos um longo caminho a percorrer juntos.
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pronto
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morar nele?
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Forte como a família
Índice
pág. 18
NESTA EDIÇÃO...
POR JORGE DE SOUZA
pág. 54
POR JORGE DIAS
EU QUE FIZ
Um dia, o curitibano Jorge Dias
resolveu ter um barco, para
curtir com a família. Mas, sem
dinheiro para comprar um, a única
saída foi construí-lo, mesmo sem ter
experiência alguma nisso. Cinco anos
depois, o veleiro Furioso ficou pronto,
no quintal de sua casa, em Curitiba.
Acompanhe aqui esta aventura
sul da América do Sul, que eu e minha
mulher, a Leandra, resolvemos fazer
algo diferente na volta — como se
ir de moto até o fim do mundo fosse algo banal demais... Que tal morar num barco e sair navegando pelo
mundo? — sugeri. E ela topou. Só
havia um problema: nós não tínha-
mos um barco! Pior: eu não tinha dinheiro suficiente para comprar um,
como descobri quando comecei a pesquisar o assunto. A única saída foi a que
parecia mais absurda possível: construir
um! E no quintal de casa, entre os muros
apertados de um condomínio, em Curitiba, mesmo sem eu nada saber sobre barcos
JORGE DE SOUZA
54
putadores, não com estaleiros. E assim nasceu o
Furioso, um veleiro Samoa, de 28 pés de comprimento, feito em strip planking (ripas de madeira
revestidas de fibra de vidro), que levou cinco anos
para ficar pronto, mas, agora, nos fins de semana
nos leva para passear na baía de Paranaguá. E, em
breve, a muitos outros lugares, mundo afora.
NÁUTICA SUL
NÁUTICA SUL
Você e seu barco
O BÊ-Á-BÁ
DA BOA
ANCORAGEM
freio de mão, o jeito é ter
O que é o quê numa boa âncora
uma boa âncora e saber
direitinho o que fazer com
Anete
ela, em qualquer situação
55
É fácil saber por que todo mundo gosta da maior e mais famosa ilha do litoral do Paraná. É só ir até lá e descobrir com os seus próprios olhos
18
NÁUTICA SUL
NÁUTICA SUL
UM MAR DE MENSAGENS
RAIO-X DO FERRO
Como barcos não têm
ILH A DO MEL
É o início da Fase 2 do nosso projeto de vida: primeiro, construir um barco; depois, ir morar nele, com
o nosso filho, o Marco Antonio, que hoje tem exatamente a mesma idade do Furioso, cinco anos. Dizem
que coincidências não existem e deve ser verdade, porque ele nasceu exatamente na noite do dia em que comecei a construir o picadeiro sobre o qual nasceria
também o nosso barco. Este aqui, cujo relato sobre a
aventura (bem-sucedida, apesar do esforço, do cansaço e de algumas mancadas) de construir um barco em
casa você verá nas páginas seguintes. Leia e não desanime. Construir um barco é perfeitamente possível. Se
eu consegui, por que você não conseguiria?
e construção naval, já que trabalho com com-
JORGE DE SOUZA
oi durante uma viagem
de moto até Ushuaia, no extremo
BARCO
EM FAMÍLIA
Jorge Dias, a
mulher Leandra,
o filho Marco
Antonio e o
Furioso, já na
água: o objetivo,
agora, é morar
no barco e viajar
pelo mundo,
quem sabe?
A
DOCE
BELEZA DA
ARQUIVO DE FAMÍLIA
F
BARCOS DE PAI
PARA FILHO
Mestre Zé
(ao centro) e seu
filho Hildebrando,
que deram
origem a uma
linhagem de
construtores
de barcos de
madeira em
Itajaí, que já
dura quase um
século e meio
19
POR RAQUEL CRUZ
É a manilha ou o anel
que é ligado ao furo da haste, no qual se
prende a amarra. No caso de corrente,
é aconselhável usar também um
J
70
ILUSTRAÇÃO PIERRE ROUSSELET
deram lugar ao ferro — daí
um dos nomes pelos quais
as âncoras são conhecidas.
Depois, elas passaram a
ser feitas de aço e, mais
recentemente, de alumínio,
este um material bem mais
leve e apropriado para
se transportar a bordo,
já que a função do
peso numa âncora
é apenas levá-la
até o fundo —
o que segura uma
embarcação
de fato
são as
“patas”, ou
garras da âncora,
como se verá
nas páginas a seguir.
Haste
ARQUIVO DE FAMÍLIA
destorcedor, para evitar nós na amarra.
Além de unir a amarra
às patas, que é a parte que prende a
âncora ao fundo, é uma das peças mais
pesadas do ferro e ajuda na sua fixação.
Quanto mais próxima do solo ela ficar,
melhor a eficiência do fundeio.
Unhas
FOTOS DIVULGAÇÃO
á passou pela sua cabeça
que, para permanecerem
parados na água, mesmo
os barcos mais modernos
dependem de um primitivo
peso preso a eles? É que
ninguém jamais conseguiu
desenvolver algo mais eficiente
para impedir que um barco se
mova ao sabor dos ventos e das
correntezas do que as âncoras,
equipamentos tão antigos
quanto a própria história da
navegação. A única diferença
é que, ao longo dos tempos,
elas sofreram mudanças
na forma e na concepção,
tornando-se bem mais
eficientes e confiáveis.
Primeiro, as pedras usadas
nas embarcações do passado,
São as pontas das
patas e as partes que de fato “espetam”
o solo. Numa boa ancoragem, elas
desaparecem no fundo e não ficam
No curioso Bar do Arante, na praia de Pântano do Sul, em Floripa, as milhares de mens agens deixadas pelos clientes nas paredes são tão prazerosas quanto a própria comida
visíveis.
Patas
São as partes que
POR JORGE DE SOUZA
enterram e fixam a âncora no solo.
Cepo
ais vale um peixe no Arante do que milhões no
mar”, avisa um dos bilhetinhos, em meio a milhares deles grudados nas paredes, nas mesas, nas cadeiras, nas portas dos banheiros, em todos os cantos deste curioso — e pra lá de tradicional — bar
na praia de Pântano do Sul, na parte menos frequentada da Ilha
de Santa Catarina, a mesma onde fica Floripa, para os não muito ligados em geografia. Mas há mais. Muito mais. Cada um mais
poético e divertido que o outro.
Deixar uma mensagem — qualquer mensagem - grudada
nas paredes do Arante (que a maioria dos clientes transmutou em
“Arantes” e assim também ficou para sempre) é a maneira mais
original de registrar uma passagem por Florianópolis. No mínimo, uma herança de viagem bem menos óbvia do que tirar uma
foto com a ponte Hercílio Luz ao fundo. Funciona assim: todo
mundo que vai ao Arante escreve um bilhetinho sobre qualquer
tema e cola onde quiser ou der, nos raros espaços ainda livres deste misto de bar, restaurante e ponto de encontro. E ele fica lá,
pendurado feito uma flâmula, para que outros clientes o leiam e
escrevam também. Não seria nada excepcional, não fosse a quantidade deles. Não resta mais um centímetro sem algum papelzinho.
De tempos em tempos, os donos (hoje filhos do velho Arante José
Monteiro, que criou o boteco nos anos 50) são obrigados a jogar
patas penetrem bem no fundo.
Cruz
Junção entre a haste e
o cepo. Pode ser usada para soltar a
âncora, quando não se consegue
içá-la pela haste.
NÁUTICA SUDESTE
NÁUTICA SUDESTE
M
“
Parte perpendicular
à haste, que serve para derrubar e
posicionar a âncora, de forma que as
71
pág. 72
pág.46
58
VERSÃO ELETRÔNICA
GRÁTIS!
alguns fora, seja para consertar o cano da pia do balcão ou reformar o fundo de alguma mesa, porque até neles há mensagens deixadas pelos clientes. Muitos bilhetes também caem com o tempo
(ou voam com o vento da praia, que invade o lugar sem a menor
cerimônia, já que ele fica praticamente dentro da areia) e, quando dá, são recolhidos e guardados em sacos, porque seria uma heresia jogar no lixo conteúdo tão criativo. “Através dos bilhetes, as
paredes do Arante falam e têm ouvidos, porque registram o que os
clientes pensam”, diz Arante Monteiro, o “Arantinho”, um dos filhos do Arante original e que hoje toca o negócio da família junto
com mais três irmãos (Amarildo, Amarante e Alan) e suas respectivas famílias, muitas vezes na própria cozinha — o outro irmão,
Armando, é pescador e cuida de fornecer os peixes que serão servidos nas mesas. “Muitos restaurantes têm um livro de sugestões e
reclamações. Nós temos as paredes”, diz Arantinho. “É nelas que
somos avaliados pelos clientes.”
Bem avaliados, diga-se de passagem, porque o que não faltam
nos bilhetinhos do Arante são elogios à comida e ao atendimento da casa. Mas tem de tudo nas paredes. De poesias a divagações
sobre a vida. De frases espirituosas a mensagens de amor não correspondido. Especialmente comentários divertidos. Ficar lendo as
mensagens enquanto se espera os pratos saírem da cozinha é divertidíssimo. Qualquer um é capaz de passar horas bisbilhotan-
Quase 150 anos
atrás, José Inácio
da Silva começou
a construir barcos
de madeira em
Itajaí. Hoje, quatro
gerações depois,
seus tataranetos
continuam fazendo
a mesma coisa,
mantendo viva
a memória do
lendário Mestre Zé
PAREDES
QUE FALAM
Mais de
70 000 bilhetes
revestem as
paredes, o
teto e todos os
cantos do Bar
do Arante, bem
diante da praia
de Pântano do
Sul. Visitá-lo
e deixar uma
mensagem
onde ainda
houver espaço
faz parte da
tradição do bar
e restaurante
mais folclórico
de Floripa
SANTA CATARINA
NÁUTICA SUL
PARANÁ
SANTA CATARINA
CANOAGEM
EXTREMA!
RIO GR. DO SUL
PARANÁ
EDIÇÃO Nº 49 | JULHO – AGOSTO 2014 | R$ 8,90
SANTA CATARINA
PARANÁ
RIO GR. DO SUL
SANTA CATARINA
SÃO PAULO BOAT SHOW
Os barcos daqui que brilharam
no maior salão
náutico do país
OESTE
CATARINENSE
EDIÇÃO Nº 51 | NOVEMBRO – DEZEMBRO 2014 | R$ 8,90
As
Para
comemorar
nossas
50 edições,
elegemos e
listamos...
50
A NATUREZA
COLORIDA DA
Rosa
melhores coisas
do litoral sul
do país
COMO FISGAR
UM DESSES
Ilha do
15 dicas de um
especialista em pescarias
de robalos-flecha
Mel
BÊ-Á-BÁ DA BOA
ANCORAGEM
OS MACETES
DO CORRICO
Como se dar bem
com os peixes mesmo
durante os passeios?
MAR DE
BILHETINHOS
Vice-Presidente
Denise Godoy
DIRETOR DE REDAÇÃO
Jorge de Souza [email protected]
Colaboraram nesta edição: Haroldo J. Rodrigues (arte),
Aldo Macedo (imagens), Maitê Ribeiro (revisão)
SERÁ QUE
PRECISA?
As tralhas inúteis
que os barcos
carregam
Edição 49
Edição 48
O curioso bar com
milhares de mensagens,
em Florianópolis
RIO GR. DO SUL
As surpreendentes águas do
OESTE CATARINENSE
EDIÇÃO Nº 50 | SETEMBRO – OUTUBRO 2014 | R$ 8,90
O MaiOr TesOurO da baía de ParanaGuá
EDIÇÃO Nº 52 | JANEIRO – FEVEREIRO 2014/2015 | R$ 8,90
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paraná – Santa Catarina | GERENTE REGIONAL
Gustavo Ortiz
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PRaia do
O CHEF
PESCADOR
XI, NÃO PEGA
Tudo o que você
precisa saber
sobre baterias
a bordo
guaraqueçaba
E + Canoagem
Extrema, Xi a bateria
não pega
A baía do
Caixa d´Aço
E + Museu
Oceanográfico
PRESIDENTE E EDITOR
Ernani Paciornik
Náutica Sul
59
Guaraqueçaba
Como um curitibano construiu
um veleiro CATARINENSE
no quintal de sua casa
OESTE
a doce joia do litoral do paraná
61
BAIXE TAMBÉM AS EDIÇÕES ANTERIORES de graça
RIO GR. DO SUL
O que você precisa
saber sobre âncoras,
cabos e amarras
10
ede, serra, lixa, cola. O ritual era sempre o mesmo,
quando uma nova encomenda era feita. E elas não
paravam de chegar, atraídas por uma fama que logo
se alastrou por toda a região sul e sudeste do Brasil.
Quando a missão era construir um bom barco de pesca, aquele homem humilde, que mal sabia ler e escrever, se transformava num gênio da raça. E quanto maior o barco fosse, mais a sua genialidade aparecia, traduzida nas linhas e formas perfeitas de um bom
pesqueiro. José Inácio da Silva, o Mestre Zé, apelido com o qual entrou para a história de Itajaí e que carrega toda a simplicidade de um
legítimo peixeiro, como orgulhosamente se auto-entitulam os habitantes da cidade, foi o patriarca de uma família de artesões navais, que,
até hoje, há quase 150 anos, produz alguns dos melhores, maiores e
mais famosos barcos pesqueiros de Itajaí - cidade que, não por acaso, é
hoje o principal polo pesqueiro do país. E muito disso se deve ao legado que o simplório (até no nome) Mestre Zé deixou na cidade. A começar pelos seus herdeiros no ofício, que já estão na quarta geração de
construtores navais e mantém viva a tradição da família.
NÁUTICA SUL
NÁUTICA SUL
BARCO FEITO EM CASA
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nauticasul
e baixe, de
graça, esta
edição de
NÁUTICA SUL
M
pág. 65
Quem é o catarinense que adora
despencar de cachoeiras desse jeito...
PARANÁ
FAMÍLIA DE MESTRES
O curioso bistrô que
serve os peixes que o
próprio chef pescou
Edição 50
As 50 melhores
coisas
E + Oeste Catarinense
A praia mais romântica e charmosa
de Santa Catarina é, acima de tudo,
linda. E a melhor época para ir para lá
é agora, porque o calor já chegou e as
baleias ainda não foram embora
UMA LANCHA,
TRÊS MOTORES
O que muda numa lancha
quando só o que muda
é a potência do motor?
LITORAL A PÉ
Dois gaúchos caminharam
por todas as praias do Rio
Grande do Sul e Rio Grande
do Norte só para compará-las
Edição 51
Praia do Rosa
E + Uma lancha, três
motores,
O Chef pescador
redação e administração
Av. Brigadeiro Faria Lima, 1306, 5o andar, CEP 01451-001,
São Paulo, SP. Tel. 11/2186-1005 (adm.), fax 11/2186-1080
e tel. 11/2186-1006 (redação), fax 11/2186-1050
NÁUTICA SUL é uma publicação da G.R. Um Editora Ltda. –
ISSN 1413-1412. Dezembro de 2014. Jornalista responsável:
Denise Godoy (MTB 14037). Os artigos assinados não
representam necessariamente a opinião da revista.
Todos os direitos reservados.
FOTOS DE CAPA: Cyrus Daldin/IAP
CTP, Impressão e Acabamento – IBEP Gráfica
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twitter.com/nauticaonline
instagram.com/revistanautica
Aconteceu...
INAUGURAÇÃO
SIMPLE BY THE POOL
O famoso restaurante da praia de Jurerê Internacional
ganhou uma filial dentro do Il Campanario Villaggio Resort
na piscina
A piscina do Il
Campanario,
onde fica o novo
restaurante, e,
no alto, Andrea
Druck e Carlos
Leite. Ao lado, a
empresária Sara
Philippi. Abaixo,
a sommelier Nea
Silveira, com
Maurício Rosa, e
a ex-miss Santa
Catarina, Manoella
Deschamps, com
João Reis
A proposta do
Simple by the Pool
é que os clientes
comam muito
bem sem sair do
ambiente alegre da
piscina do resort
fotos divulgação
Neste verão, Jurerê Internacional promete ficar
ainda mais agitada, dentro e fora da areia da praia
muita gente
À esquerda, Elis
Scaburi, Danielle
Reis e uma das
delícias servidas no
evento. À direita,
Ronaldo Ávila,
Paula Ramalho,
Regina Essenburg
e Igor Maia
Náutica Sul
13
Aconteceu...
FOTOS DIVULGAÇÃO
Brand Stars
Yacht Day
29 donos
de barcos
participaram
do encontro,
que teve,
também,
test drive de
quadriciclos
A mais recente loja náutica de Porto
Alegre reuniu clientes e amigos para
um dia diferente, na Barra do Ribeiro
lanchas
e quadris
Além do encontro
e de um almoço,
os convidados
puderam
experimentar
os divertidos
veículos da Polaris,
que a Brand
Stars também
representa
A Brand Star é representante das lanchas
Solara e Ventura, além dos motores Mercury
por jorge de souza
a
doce
beleza da
CYRUS DALDIN /IAP
ilh a do m el
É fácil saber por que todo mundo gosta da maior e mais famosa ilha do litoral do Paraná. É só ir até lá e descobrir com os seus próprios olhos
18
Náutica Sul
Náutica Sul
19
ilha do mel
A
O farol é o
símbolo da
ilha. Mas tem,
também,
a gruta,
a fortaleza,
as praias,
o verde da
natureza...
Ilha do Mel tem um
nome que combina bem
com a principal atração do
litoral do Paraná. É um nome
doce, poético, simpático e agradável —
como a própria ilha. Também serve para definir o prazer de curtir um lugar tranquilo e muito bonito, onde o chamado “progresso” não che-
uma gruta fabulosa, um farol que hipnotiza todo mundo e duas vilas com jeito de comunidades alternativas:
Nova Brasília e Encantadas — este, outro nome encantador.
A ilha é rústica, mas muito agradável. Desde que não se faça questão de luxos como hotéis cinco estrelas e táxis com ar-refrigerado porque isso lá não há. Nem ruas ela tem! Só estreitos caminhos de areia debaixo das árvores, que formam lindos túneis verdes, por onde circulam os
únicos veículos do lugar: as bicicletas e uma espécie de carroça puxada por
homens, já que nem cavalos são permitidos na ilha, porque ela é uma reserva natural e equinos não fazem parte de sua fauna nativa. Motos também não
há. E automóveis, nem pensar! A Ilha do Mel é, acima de tudo, bem especial.
20
Náutica Sul
CYRUS DALDIN /IAP
gou — e, se depender apenas dos seus igualmente doces habitantes, jamais chegará. Tem
uma dúzia de praias, uma fortaleza histórica,
no topo
da ilha
O Farol das
Conchas e,
ao fundo, a
pequena faixa
de areia que
separa as
duas partes da
ilha. O visual
lá de cima é
magnífico
Náutica Sul
21
CYRUS DALDIN /IAP
ilha do mel
A ilha não tem ruas
nem automóveis.
Todos os caminhos são
feitos a pé ou de barco
24
Náutica Sul
jorge de souza
T
odos os percursos na Ilha do Mel
são feitos a pé (caminha-se um bocado por lá) ou de barco, já que não existem ruas, muito
menos automóveis. Mas a sequência
de praias ajuda nos deslocamentos, já
que as trilhas são limitadas a algumas
rotas, para evitar a destruição da mata
Por essas e outras, convém não alimentar es— como você já deve ter notado, a ilha
peranças de fazer vários passeios em apenas um
é 100% ecológica ou, pelo menos, tenta
dia ou deslocamentos rápidos de um ponto a ouser um bom exemplo nesse sentido.
tro da ilha, mesmo que chegue lá com seu próO principal caminho na vila de Nova
prio barco — que, inevitavelmente, terá de fiBrasília, por exemplo, onde fica a maioria
car ancorado, enquanto você explora a ilha
das melhores pousadas, não passa de uma pipor seus próprios meios. Na Ilha do Mel, o
cada de dois metros de largura na areia fofa,
principal meio de locomoção sempre serão
por entre simpáticas casinhas e uma igrejinha,
os seus pés. Mas com o benefício da linda
todas de madeira, porque, também em nome da
paisagem diante dos olhos.
ecologia, a ilha evita o cimento. Já em EncanA Ilha do Mel tem um formato
tadas, os caminhos são ainda mais estreitos (não
curioso, com duas partes bem distintas,
mais do que trilhas) e o mais usado deles acaba
unidas apenas por uma estreitíssima faisendo mesmo a areia da praia — que, como a granxa de areia — um istmo, para quem
de maioria das praias da ilha, é bem extensa.
não se lembra mais das aulas de geografia. Nas marés excepcionalmente altas, o mar chega a encobrir essa
fina camada de areia, dividindo a
ilha em duas, o que, no entanto,
é raro de acontecer. Já o deslumbramento dos turistas com a ilha
ocorre todos os dias.
A parte mais larga, dona
de mais de 8O% da área da
ilha, não tem nenhum gran-
Àgua e areia
A Fortaleza de
Nossa Senhora
dos Prazeres
é de 1767, mas
está muito bem
preservada,
mesmo na beira
da praia e sujeita
aos humores
das marés. Que,
ali, quando
secam, secam
mesmo
Náutica Sul
25
ilha do mel
de atrativo, é verdade, a não ser o verde da mata e dos
manguezais, nem pode ser visitada, porque faz parte de
uma reserva ambiental. Já a parte mais estreita, onde
ficam as duas vilas, Nova Brasília, na área do istmo,
e Encantadas, no extremo sul da ilha, congrega tanto as praias quanto as melhores paisagens. É ali que
todo o movimento acontece, embora ocupe apenas
a mínima parte da Ilha do Mel.
M
/iap
Bem diante da Ilha
do Mel, fica outra ilha: a
graciosa Ilha das Palmas
cyrus
daldin
esmo assim, é área pra chuchu,
porque a ilha é grande. Bem grande. No mínimo, muito maior do
que quem não a conhece costuma imaginar. De uma ponta a
outra (caminho que ninguém faz, por conta
da tal área ambiental) são mais de 15 quilômetros de distância. E, de uma vila a outra,
cerca de uma hora e meia de caminhada —
ou o dobro disso, se for parando nas praias
do caminho, o que, por sinal, é altamente
recomendável que todos façam.
na ilha
ao lado
Na prainha da
vizinha Ilha
das Palmas, as
marolas chegam
pelos dois lados
da areia. Quem
ficar no meio
delas, ganha uma
hidromassagem.
Já na Praia do
Istmo, na ilha do
Mel (abaixo), a
maré alta forma
piscininhas
na areia
Por que Mel?
Ninguém sabe. Mas o mais
provável é que o nome da Ilha do Mel
não tenha nada a ver com abelhas
foto
sj
org
e de
s ou
za
A
26
Náutica Sul
té o final do século 19, a Ilha do Mel era chamada de Ilha da
Baleia, por causa de um de seus morros, que leva este nome
até hoje. Mas, a partir daí, ninguém sabe explicar o motivo da troca de nomes, muito menos de onde ele veio. É certo que, na década de 1960, alguns nativos montaram pequenos apiários na ilha. Mas
esta não pode ser a origem do nome, porque, antes disso, a ilha já era
conhecida como Ilha do Mel. Tampouco faz muito sentido a hipótese
de que ele venha da coloração amarelada da água, que seria “semelhante à dos favos”. O mais provável é que o nome “Mel” seja decorrência de
um simples erro de grafia ou de uma típica adaptação brasileira de um
nome estrangeiro: “Mehl”, “farinha” em alemão, do trigo que famílias de origem germânicas radicadas em Curitiba tanto plantaram na ilha no passado,
e, também, nome de um almirante que frequentou muito a ilha antes da Segunda Guerra Mundial — o que a deixou conhecida como “Ilha do Almirante
Mehl”. Faz bem mais sentido. Mas não é tão doce quanto o mel das abelhas.
Náutica Sul
27
ilha do mel
jorge de souza
água por
todos os
lados
A Gruta das
Encantadas é
uma estupenda
fenda na rocha,
na areia da
praia. As praias
também são
os principais
caminhos nesta
ilha, onde não
existem carros.
Só barcos
22
Náutica Sul
guilherme tizzot
fotos jorge de souza
A Gruta das
Encantadas
fica na beira
da praia.
Quando a
maré sobe,
dá até para
tomar banho
dentro dela
Náutica Sul
23
ilha do mel
Na ilha, o
principal meio de
locomoção são os
seus próprios pés
Os dois lados
da mesma ilha
Nova Brasília replicam que, em Encantadas, as casas (bem como as
pousadas) ficam grudadas umas
nas outras, que, como o espaço é pequeno, sempre parece ter muita gente
As vilas Encantadas e Nova
na
vila e que todas essas coisas juntas
Brasília disputam os turistas
(muitas casas e muita gente em um esatirando farpas nos vizinhos
paço pequeno) geram a sensação de um
cortiço, que não combina nadinha com a
natureza e a tranquilidade da ilha.
Ilha do Mel tem apenas dois pequenos núAlém disso, os donos de pousadas de
cleos povoados e não mais do que 2 000
Nova Brasília argumentam que quem quiser
moradores fixos, quase todos vindos de
conhecer tanto o farol quanto o forte pode fafora, em busca de sossego e tranquilizer isso caminhando bem pouco e não encadade. Mas costuma receber mais que o
rando trilhas por horas a fio, como acontece
dobro disso de visitantes nos fins de semana, o que,
com quem vem de Encantadas. Por sua vez, os
quase sempre, acaba com toda essa paz. E como vimoradores de Encantadas contra-atacam dizendo
zinhos nem sempre se entendem lá muito bem, os
que a verdadeira atração natural da ilha é a gruta
moradores de Nova Brasília e Encantadas vivem
que batizou a própria vila e que fica praticamente
alimentando rusgas e atirando farpas para o oudentro dela, a míseros metros das pousadas.
tro lado, em parte, justamente por causa da disQuem está com a razão? Difícil dizer, porque os
puta pelos turistas que visitam a ilha.
dois povoados tem prós e contras — como, de fato, as
Como os dois povoados ficam distantes
distâncias algo cansativas nas areias fofas de Nova Braentre si, quem se hospeda num deles geralsília e a farofada que assola Encantadas nos fins de semente nem visita o outro, daí o confronto,
mana mais movimentados. Por isso, o ideal é não dar
sempre repleto de comentários azedos de
muita bola para os comentários e conhecer as duas parambas as partes. Em linhas gerais, os hates da ilha, ficando um pouco em cada vila. Ou, então, se
bitantes de Encantadas dizem que em
hospedar numa, mas também visitar a outra. Qual vila teNova Brasília tudo fica longe e espalharia a primazia? Depende para quem da ilha você perguntar.
do, que lá os turistas têm que caminhar
um bocado, e garantem que estão na
melhor parte da ilha, com praias por
todos os lados. Já os moradores de
A
fotos jorge de souza
tudo a pé
A “avenida”
principal de
Nova Brasília
(ao lado) é uma
trilha de areia,
como são todos
os caminhos
na ilha. Já
Encantadas
fica do outro
lado da ilha,
caminhando
pelas praias
28
Náutica Sudeste
Sul
Náutica Sul
29
ilha do mel
N
uma ponta da ilha fica a impressionante
Gruta das Encantadas, que também tem
um nome bem adequado, já que encanta e
impressiona todo mundo com o seu tamanho (embora a origem do nome tenha a
ver com as lendas que habitam a ilha, não com o que
os turistas sentem quando entram nesta grande fenda
na rocha esculpida pelo mar, bem na beira da praia).
Do outro, separado dela por cerca de três horas de caminhada (ou bem menos, se atravessar de barco de
uma vila para a outra), a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, construída pelos portugueses em
1767, para proteger a entrada da baía de Paranaguá e muitíssimo bem preservada até hoje. E, no
meio, perto do tal istmo, fica o símbolo maior
da ilha: o Farol das Conchas, no alto de um
fotogênico morro e quase em frente a pequena e graciosa Ilha das Palmas, que tem
uma prainha em forma de bico, onde as
ondas chegam pelos dois lados, garantindo empolgantes banhos de mar. O farol
também tem história. Foi mandado erguer ainda por Dom Pedro II, em 1872
(como contam as letras algo carcomidas pela ferrugem na porta), para aju-
30
Náutica Sul
BARCOS E
MAIS BARCOS
Os barcos da
bem organizada
associação de
barqueiros da
ilha fazem a
travessia para
Pontal do Sul e
Paranaguá com
muitas ofertas
de horários.
Mesmo quem
não tem barco,
chega na ilha
com facilidade
CYRUS DALDIN/IAP
FOTOS jorge de souza
A ilha tem dois trapiches. Mas
é preciso ficar de olho nos canais
Uma saída para
os sem barco
A associação de barqueiros
da ilha garante confiáveis
travessias e bem mais
do que isso, se o cliente pedir
Q
uem não tiver barco próprio para ir até a Ilha
do Mel (que, por sinal, é um tradicional ponto
de parada para quem navega entre São Paulo e Santa
Catarina), pode contar com o eficiente serviço de travessia da Associação dos Barqueiros das Baías do Litoral Norte do Estado do (ufa!), Paraná, justificavelmente bem mais conhecida pela sigla Abaline. Organizados e
solícitos com os turistas, os barqueiros da entidade, todos
sempre uniformizados e com barcos confiáveis e confortáveis, cruzam de Pontal do Paraná e Paranaguá para a ilha
várias vezes por dia — e o dobro disso nos finais de semana.
Também fazem regularmente a travessia entre as duas vilas
da ilha, para quem não quiser ir a pé, e oferecem passeios privados, que podem não só contornar a ilha como ir além dela,
até a graciosa Ilha das Palmas — onde, se o mar permitir, acontece um desembarque, para um banho de mar na prainha da ilha.
É um ótimo passeio para quem quiser conhecer a ilha, digamos,
“por inteira” e até ir onde poucos vão. Resumindo: um programão.
Náutica Sul
31
ilha do mel
dar a sinalizar a entrada do canal da Galheta, que conduz ao porto de Paranaguá e à
própria ilha — que não pode ser acessada pelos barcos pelo lado do mar aberto.
A razão disso está na própria geografia da
ilha, que só oferece baías abrigadas para ancoragem na parte de trás, e, ainda assim, com extrema
atenção nas marés (que, quando secam, ali secam
mesmo) e nos dois canais de acesso aos trapiches das
vilas. Fora deles, na maré baixa, é encalhe na certa.
P
or isso, quem chega de barco, vindo do mar,
precisa, primeiro, vencer as costumeiras ondas do canal da Galheta, e, depois, se aproximar da ilha de olho no ecobatímetro. Especialmente os veleiros, que sempre dependem
de maior profundidade. Mas todo esforço vale a pena quando se trata de visitar a Ilha do Mel e sua paisagem privilegiada.
A começar pelas praias. São cerca de uma dúzia delas, a maioria com generosíssimas faixas de areia batida e
mar nem sempre calmo, o que faz a alegria dos surfistas —
para quem a Ilha do Mel é uma espécie de surf-camp permanente, com ondas, pranchas e bermudões por todos os cantos.
Mas os surfistas não são os únicos fãs de carteirinha desta ilha,
que sempre cultivou uma legião de fervorosos admiradores —
A ilha é bem
rústica, mas bastante
agradável, desde que
você priorize a
beleza, não o luxo
32
Náutica Sul
cyrus daldin/iap
jorg
e de
s ou
za
ilha alto
astral
Os barquinhos
coloridos dão
ainda mais
alegria a uma
ilha que tem
muita beleza e
um tremendo
alto astral
fotos jorge de souza
São uma dúzia de praias, todas
com generosas faixas de areia
5 conselhos para quando você for
1
Fuja das datas festivas (carnaval,
réveillon, etc.) e dos feriados
prolongados, quando a ilha entope
de gente e vira um quase colapso, apesar
do suposto limite máximo de 5 000
visitantes por dia — que nem sempre é
respeitado. Evite também os meses do
inverno, quando o frequente mau tempo,
o mar gelado e o vento frio a tornam bem
mais apta a pinguins do que a turistas.
E, agora, no verão, prefira ir de segunda
a sexta, quando a ilha fica bem menos
cheia e muito mais tranquila e autêntica.
2
Faça reserva de hospedagem,
porque, embora a ilha tenha
muitas pousadas, todas são pequenas
e, por isso, lotam rapidamente. Além
disso, como a ilha é grande e tem dois
“centros urbanos” bem distantes entre
si, não é boa ideia deixar para “procurar
um lugar quando chegar lá”, porque isso
pode representar longas caminhadas de
uma pousada até a outra e o que é pior,
com a bagagem nas costas.
3
Leve lanterna e repelente de
insetos, porque, embora a ilha
tenha luz elétrica, seus caminhos não são
iluminados à noite, o que pode tornar
uma simples saída para jantar numa
grande aventura no escuro. Já o repelente
é gênero de primeira necessidade na ilha,
porque os mosquitinhos (e as temidas
mutucas, felizmente só nos primeiros dias
de novembro) não dão trégua. Mas faça
como os nativos: não reclame. Pense: se
há mosquitos é porque ainda
resta natureza virgem na ilha.
4
Limite ao máximo a
bagagem, porque, como não
há veículos na ilha (salvo curiosas
carroças puxadas por homens em
vez de cavalos e que cobram caro
por qualquer viagem), você terá que
transportar suas próprias coisas. E, de
preferência, nas costas, numa mochila,
porque os caminhos de areia são
proibitivos para as malas de rodinhas.
Em compensação, a ilha não exige
nenhum tipo de luxo. Deixe o guardaroupa em casa. Roupa de banho
e um par de Havaianas já bastam.
5
Deixe a preguiça em casa,
porque, na ilha, caminha-se
bastante e nenhuma pousada, por
melhor que seja, será mais atraente do
que a natureza ao redor. Vá, portanto,
preparado para camelar um bocado
nas areias da ilha, mas sabendo que a
recompensa será de pura beleza.
Náutica Sul
33
ilha do mel
ed
jorg
e so
uz a
A ilha é grande. Mas, em nome
da preservação da natureza, só uma
parte dela pode ser frequentada
34
Náutica Sul
Náutica Sul
cyrus daldin/iap
sentinela
da linda ilha
A Ilha do Mel
fica bem na
entrada da baía
de Paranaguá e
o seu centenário
farol, mandado
erguer por Dom
Pedro II, guia
os barcos no
nem sempre
tranquilo canal
da Galheta, que
dá acesso à
ilha e a um dos
maiores portos
do país
35
ilha do mel
Cada vez mais transada
Com pousadas confortáveis, passeios diferenciados e
restaurantes que vão além do tradicional peixe frito, a Ilha do
Mel começa a se sofisticar, sem perder o estilo pé na areia
E
36
Náutica Sul
Voar de parapente e pousar na
praia é a mais nova atração da ilha
bons
exemplos
O restaurante
Fim da Trilha
(acima) tem
até uma cama
ao ar livre para
espera (ao lado),
a pousada Astral
da Ilha (na parte
de baixo) oferece
suítes mais que
completas, e o
instrutor Herbert
oferece voos
sobre as praias:
a ilha começa a
agradar também
aos mais
exigentes
fotos divulgação
m nome da ecologia, todas as construções da Ilha do Mel só podem usar
cimento nas cozinhas e banheiros. Isso faz com que todas as casas —
e as pousadas — sejam de madeira, o que, para muita gente, é quase
sinônimo de pobreza. E, no passado, era mesmo. Pelo menos no caso
das pousadas, que no começo do movimento turístico na ilha não
passavam de casas de ilhéus mal adaptadas. Mas, agora, a história é outra.
Embaladas pela onda do turismo cada vez mais seletivo, algumas pousadas
da Ilha do Mel já se adaptaram (ou estão se adaptando) ao padrão de exigência
dos clientes com bolsos mais polpudos, que não se importam em pagar mais
caro desde que tenham algum conforto em troca (leia-se quartos mais amplos,
camas espaçosas, café da manhã variado, mas sem perder o estilo “pé na
areia”, que predomina em toda a ilha). “A suíte que os nossos hóspedes mais
procuram é a mais cara que temos, custa R$ 700, mas oferece coisas que
as outras não têm”, diz o dono da Astral da Ilha, uma das pousadas que
já embarcaram no movimento de melhorar a qualidade da hospedagem
na Ilha do Mel. Outras pousadas, como a Treze Luas, a própria Fim da
Trilha e a Caraguatá e a Estrela da Lua (estas duas em Encantadas),
também caminham no mesmo sentido, já trilhado, tempos atrás, pela
Grajagan, que se autodenomina o primeiro surf-resort do Brasil, e pela
simples, mas charmosa, Pousada das Meninas, pioneira na oferta de
algo diferenciado para os hóspedes na ilha.
Também na comida, as coisas estão melhorando na
ilha. Restaurantes tradicionais (mas ultraconvencionais no
cardápio) estão ganhando a companhia de cafés e pequenos
estabelecimentos, que capricham bem mais na gastronomia.
Como o sempre elogiado Fim da Trilha, em Encantadas, que
oferece, além de pratos criativos (embora nada baratos, como,
por sinal, quase tudo na ilha), até uma cama ao ar livre, num
quiosque no jardim, para quem quiser relaxar enquanto
espera a mesa — ou comer deitado, se assim preferir.
Até nos passeios, a oferta está ficando mais variada,
diferenciada e qualificada para as belezas da ilha. Além
de cruzeiros, que podem durar um dia inteiro, em barcos
particulares alugados, já é possível voar e ver duas
das mais lindas praias da ilha do alto. Por R$ 250, o
instrutor profissional Herbert Cassoli (tel. 41/84291098) oferece voos duplos em parapente, que duram
apenas 15 minutos, mas deixam a bela imagem da
Ilha do Mel para sempre na mente.
Náutica Sul
37
ilha do mel
Quem quiser, pode dar a volta
na ilha, de barco. Dentro dela, só
uma parte é liberada aos turistas
A cerveja que nasceu na ilha
cyrus daldin/iap
A Astral da Ilha foi premiada com uma
das melhores cervejas artesanais do país
fotos jorge de souza
pela água
ou pela praia
As bicicletas
são o único
tipo de veículo
permitido na
ilha, que, no
entanto, oferece
um eficiente
serviço de
transporte com
barcos
38
Náutica Sul
C
omeçou como um passatempo, mas já virou negócio. O curitibano Guilherme Tizzot, dono da pousada Astral da Ilha, sempre
gostou de fabricar cervejas caseiras. Um dia, durante uma temporada na ilha, resolveu se distrair testando novas receitas. Ferve aqui,
fermenta ali, desenvolveu cinco fórmulas, de diferentes tipos, da
bebida preferida dos brasileiros. Para testá-las, passou a oferecêlas aos hóspedes. Um deles era um mestre cervejeiro, que deu
algumas dicas para aprimorar o sabor da bebida e... bingo! A
Astral da Ilha, uma weizen de alta qualidade, levou a medalha de ouro na South Beer Cup deste ano, em Belo Horizonte.
“Fiquei muito orgulhoso, até porque esta cerveja é o único
produto nascido na Ilha do Mel, com qualidade industrial”,
diz Guilherme, criador da fórmula original. “No começo, ela
era feita aqui mesmo. Mas, com o aumento da procura, a
produção teve que migrar para Curitiba”, explica. A mudança, no entanto, não alterou a origem nem a certidão de nascimento da bebida. “O desenho da ilha está
no rótulo das garrafas”, diz Guilherme, que, no entanto, só vende a cerveja premiada na sua própria pousada, com o estímulo de que ela pode ser apreciada sem nenhuma moderação, “porque na ilha
ninguém dirige”. E, na saída, todos os hóspedes
ganham algumas garrafas, para continuarem
lembrando da ilha, quando estiverem em casa.
Náutica Sul
39
fotos jorge de souza
ilha do mel
prontos
para se
divertir
Mochila e muita
disposição para
caminhar são
pré-requisitos
para curtir a Ilha
do Mel, onde
até as praias são
bem extensas.
Mas caminhar é
a melhor forma
de apreciar
em detalhes a
paisagem
As melhores
coisas da ilha
Ou o que torna a Ilha
do Mel ainda mais doce
O pé na areia o tempo
todo, ou, no máximo, de
sandálias havaianas
O tamanho pra lá de
generoso das praias, ainda
mais nas marés baixas
A cordialidade com os
turistas, que sempre
encontram atenção e ajuda
A ausência de carros e de
todo tipo de veículo que faça
fumaça e barulho
A proximidade com o
continente, que fica apenas a
meia hora de distância
O permanente astral de surf
camp que impera na ilha inteira
A ilha cultiva uma
legião de fervorosos fãs.
Mas tem um limite máximo
de visitantes por dia
40
Náutica Sul
A magia do farol e da gruta
das Encantadas, que atrai todo
mundo
A deliciosa — e cada vez
mais rara — combinação de
natureza com beleza
A simpatia dos nativos, que
comprova que quem nasce na
Ilha do Mel é um doce de pessoa
Náutica Sul
41
jorg
e de
s ou
za
cyrus daldin/iap
ilha do mel
Os nativos gostam de dizer que
quem nasce na Ilha do Mel é “um
doce de pessoa”. E eles são mesmo
uma gente atraída pela combinação de astral
meio hippie com a natureza virgem de um lugar que não tem nada a ver com o restante já
bastante urbanizado do litoral paranaense.
42
Náutica Sul
P
ninguém
se perde
O farol é uma
referência para
quase todos os
caminhos na Ilha
do Mel, mas há
placas em todas
as trilhas
ara atravessar para a
ilha (tanto para a vila de
Encantadas quanto Nova Brasília)
há barcos de linha que partem
tanto de Paranaguá quanto do
município vizinho de Pontal
do Paraná, de onde a travessia
é bem mais frequente e curta
(leva cerca de 30 minutos). Já
quem for com o próprio barco
deve ficar atento à baixíssima
profundidade na parte interna da
ilha nas marés baixas, quando a
água praticamente some debaixo
dos cascos. A única maneira de
não encalhar na chegada à ilha
é seguir a sinalização dos canais
que levam aos trapiches. E a
maneira mais fácil de localizar
os canais é seguir os barcos de
transporte da ilha, que passam
por ali a todo instante. Faça isso.
mapa manuel alaponte
P
or essas e outras, a quantidade de visitantes na ilha é cada vez maior. Tão
intensa que levou a administração da
ilha a limitar em 5 000 visitantes por
dia, já que a área onde a visitação é permitida faz parte de um parque estadual do meio ambiente. Quem chegar depois disso não entra. Mesmo assim, ninguém desiste de tentar chegar à ilha
para relaxar num lugar onde o máximo de luxo que
alguém pode se permitir é vestir um par de Havaianas
novas e passar a tarde lagarteando na praia ou balançando na rede de uma pousadinha simpática.
Até os donos de barcos precisam se adaptar às restrições da ilha e ter em mente que, antes de seguir
para lá, é preciso suprir todas as necessidades de bordo.
Como, por exemplo, encher o tanque. Afinal, se a Ilha
do Mel não tem nem automóveis, por que razão haveria
de ter combustível para barcos?
Como chegar
Náutica Sul
43
fotos divulgação
Um mar de mensagens
No curioso Bar do Arante, na praia de Pântano do Sul, em Floripa, as milhares de mens agens deixadas pelos clientes nas paredes são tão prazerosas quanto a própria comida
POR jorge de souza
M
“
ais vale um peixe no Arante do que milhões no
mar”, avisa um dos bilhetinhos, em meio a milhares deles grudados nas paredes, nas mesas, nas cadeiras, nas portas dos banheiros, em todos os cantos deste curioso — e pra lá de tradicional — bar
na praia de Pântano do Sul, na parte menos frequentada da Ilha
de Santa Catarina, a mesma onde fica Floripa, para os não muito ligados em geografia. Mas há mais. Muito mais. Cada um mais
poético e divertido que o outro.
Deixar uma mensagem — qualquer mensagem - grudada
nas paredes do Arante (que a maioria dos clientes transmutou em
“Arantes” e assim também ficou para sempre) é a maneira mais
original de registrar uma passagem por Florianópolis. No mínimo, uma herança de viagem bem menos óbvia do que tirar uma
foto com a ponte Hercílio Luz ao fundo. Funciona assim: todo
mundo que vai ao Arante escreve um bilhetinho sobre qualquer
tema e cola onde quiser ou der, nos raros espaços ainda livres deste misto de bar, restaurante e ponto de encontro. E ele fica lá,
pendurado feito uma flâmula, para que outros clientes o leiam e
escrevam também. Não seria nada excepcional, não fosse a quantidade deles. Não resta mais um centímetro sem algum papelzinho.
De tempos em tempos, os donos (hoje filhos do velho Arante José
Monteiro, que criou o boteco nos anos 50) são obrigados a jogar
46
Náutica Sul
alguns fora, seja para consertar o cano da pia do balcão ou reformar o fundo de alguma mesa, porque até neles há mensagens deixadas pelos clientes. Muitos bilhetes também caem com o tempo
(ou voam com o vento da praia, que invade o lugar sem a menor
cerimônia, já que ele fica praticamente dentro da areia) e, quando dá, são recolhidos e guardados em sacos, porque seria uma heresia jogar no lixo conteúdo tão criativo. “Através dos bilhetes, as
paredes do Arante falam e têm ouvidos, porque registram o que os
clientes pensam”, diz Arante Monteiro, o “Arantinho”, um dos filhos do Arante original e que hoje toca o negócio da família junto
com mais três irmãos (Amarildo, Amarante e Alan) e suas respectivas famílias, muitas vezes na própria cozinha — o outro irmão,
Armando, é pescador e cuida de fornecer os peixes que serão servidos nas mesas. “Muitos restaurantes têm um livro de sugestões e
reclamações. Nós temos as paredes”, diz Arantinho. “É nelas que
somos avaliados pelos clientes.”
Bem avaliados, diga-se de passagem, porque o que não faltam
nos bilhetinhos do Arante são elogios à comida e ao atendimento da casa. Mas tem de tudo nas paredes. De poesias a divagações
sobre a vida. De frases espirituosas a mensagens de amor não correspondido. Especialmente comentários divertidos. Ficar lendo as
mensagens enquanto se espera os pratos saírem da cozinha é divertidíssimo. Qualquer um é capaz de passar horas bisbilhotan-
paredes
que falam
Mais de
70 000 bilhetes
revestem as
paredes, o
teto e todos os
cantos do Bar
do Arante, bem
diante da praia
de Pântano do
Sul. Visitá-lo
e deixar uma
mensagem
onde ainda
houver espaço
faz parte da
tradição do bar
e restaurante
mais folclórico
de Floripa
Náutica Sul
47
bar do arante
Um legítimo
manezinho
do os bilhetes alheios, imaginando quem os escreveu e se
admirando com até onde a imaginação humana é capaz
de chegar, quando o objetivo é chamar a atenção dos outros. Até porque a concorrência pela audiência ali é brutal, tanto na qualidade quanto, principalmente, na quantidade de mensagens deixadas, na simples esperança de
que, um dia, alguém as leia. E, se possível, aprenda, se
emocione ou apenas dê risada.
O velho Arante morreu
há dois anos. Mas seu bar
ainda tem a cara do dono
Q
uando morreu, dois anos atrás, o velho
Arante José Monteiro, então com 77 anos
e criador do bar que até hoje leva o seu nome,
foi saudado como um dos mais legítimos manezinhos da ilha e virou notícia em toda Floripa.
Nada mais justo, embora ele fosse avesso à notoriedade e, apesar da fama cada vez maior do
seu folclórico bar (tido também como um dos
mais autênticos da culinária da ilha), jamais tenha deixado de lado a mais completa simplicidade. Gostava de papear com todo mundo e adorava uma boa cachacinha, prazer que estendia a
todos que chegassem ao seu bar. Certa vez, junto com sua eterna companheira Osmarina, viu
entrar uma noiva de véu e grinalda, acompanhada do noivo, para o derradeiro peixinho com pirão, a caminho da igreja, porque ali eles haviam
se conhecido. Esta e outras histórias acabaram
virando livro, o poético Bilhetes do Mundo nas
Paredes do Arante, de Paulo Alves, que homenageia o bar mais original da Ilha de Santa Catarina
e o carismático homem que o criou.
48
Náutica Sul
C
a cara
do bar
Os peixes,
claro, são a
especialidade
da casa, que
começou como
um simples
botequinho,
tocado pelo
folclórico Arante
e sua mulher,
Osmarina,
sempre na
cozinha
omo se trata de um bar, o bom humor permeia tudo no Arante. A começar pelo cardápio, que é um show de irreverência. Logo de
cara, ele alerta: “Aqui nós cobramos a comida
e você paga a bebida”. Depois, vem o aviso de
que ali é servido “o segundo melhor
peixe frito com pirão do mundo, já
que o primeiro só pode ser encontrado num certo bar do interior da Groenlândia”. E completa: “Mas você
não vai até a Groenlândia só para comer um peixe frito com pirão, vai?”.
Sentiu o clima do lugar?
Pois é daí para mais. Os garçons
vestem aventais que reproduzem alguns bilhetinhos deixados nas paredes por anos a fio, e, logo na entrada, os
clientes são convidados a tomar “uma cachacinha” de
graça. Ela é feita no último alambique artesanal da ilha
e serve tanto para abrir o apetite quanto para despertar
a inspiração para os bilhetinhos. “Depois de algumas cachacinhas, todo mundo vira poeta”, garante “Arantinho”.
Hoje, ele divide com os irmãos o comando do bar, porque, pelo acordo que fizeram após a morte do pai, cada
um cuida do negócio durante alguns dias do mês. Depois,
outro assume e a vida do bar do Arante continua, como
vem acontecendo há quase 60 anos.
fotos divulgação
Tem de tudo nas
paredes do Arante.
Bisbilhotar os bilhetes é
irresistível e delicioso
O que dizem as paredes do Arante
Alguns divertidos bilhetinhos deste mar de papeizinhos
“Conversa de
velho é compe
ti
para ver quem ção
mais doente” fica
Oswaldo,
agosto 2003
Sexta feira é dia de
tomar uma gelada.
Acabei de levar uma, da
garota aqui ao lado”
Paulo, dezembro 2005
“É impossível ser
feliz para sempre.
Uma hora, a
cachaça acaba”
Hilton,
fevereiro 2013
“Enquanto houver
o peixe do Arante,
há esperança”
Lucélia,
data incerta
“Quand
provamoos
do Aran o peixe
problemaste, os
distantes” ficam
Lucia, janei
ro
1998
o
“ É co m o d iz , tá
u
o
d it a d o : fa lh
fa lh a d o ! ”
P ip o ca ,
se m da ta
“Infância é como
porre. Todo mundo
se lembra o que você
fez, menos você”
Amadeu,
sem data
“Tudo passa.
Menos a minha
fome pela comida
do Arante”
Olívia, março 2013
.
“Seja superioro é
oc
tr
dá
m
ue
Q
comerciante”
Alceu,
7
setembro 200
“Se o mu
ndo
continua
r assim,
meus filh
os vão
transar a
ntes do
que eu”
Margarid
a,
julho 201
2
“Se a vida te der
um limão, faça uma
caipirinha com a
cachacinha do Arantes”
João Vicente,
janeiro 2011
do
“Todo mun
ém
gu
al
e
conhec
cê não
vo
e
S
o.
at
ch
chato é
conhece, o
você!”
Amanda,
sem data
“Quer saber o
segredo para fi
ca
rico? Eu tamb r
ém”
Miguel,
outubro 2010
“Já que a aca,
carne é fr um
peça logo iro”
peixe inte
Gusmão, ta
sem da
“Eu já tiv
e um lad
o
doce. M
as comi”
Valéria,
maio 20
12
traga
“Garçom, e um
ch
a
,
ta
a con
io e a
z
a
v
r
a
g
lu
!”
re
u
pend
vereiro
Rodrigo, fe
2000
Onde fica?
E
ndereço, o bar do Arante
até tem. Mas não precisa.
É só chegar pela entrada
principal da praia de Pântano
do Sul (que obviamente
fica no lado sul da ilha de
Florianópolis) e avançar até
a areia da praia. Pronto! O
bar surgirá na esquina, meio
na rua, meio já na areia. Mas,
se quiser saber mais (ou
reservar uma mesa para o
almoço de fim de semana,
quando o restaurante
bomba), ligue 48/3237-7268.
“Se dormir
graça, por é de
acordar cu que
st
tanto?” a
Anônimo
“Das janelas
do Arante até
os urubus ficam
bonitos”
Magnus, julho 1999
Náutica Sul
49
bar do arante
Tudo começou
como um meio de
deixar mensagens
para os mochileiros
50
Náutica Sul
divulgação
T
udo começou em 1958, quando o velho Arante
resolveu abrir um botequim na quase inacessível praia de Pântano do Sul, então só frequentada por pescadores e para onde só ia um ou outro andarilho que errou o caminho. Como não
havia mais nada naquela longínqua praia, o “bar do Arante”
(daí o nome, que ficou para sempre) logo virou ponto de encontro de quem passava e um bom lugar para deixar mensagens para quem viesse depois. Começou assim a tradição
dos bilhetinhos. No começo, eles eram guardados na gaveta.
Mas logo faltou gaveta para tantas mensagens e elas migraram para as paredes, onde foram se alastrando. Com a chegada dos mochileiros, nos anos 80, e dos turistas em geral, a
partir disso, o bar do Arante se consagrou de vez como uma
espécie de correio informal do Pântano do Sul, além de um
excelente lugar para comer um bom peixe, desde sempre
preparado pela mulher de Arante, a Dona Osmarina. No começo, como não havia nem geladeira no bar, a cerveja era
colocada para gelar dentro de sacos no mar. Nada mais original para um bar que até hoje nada tem de convencional.
Desde então, com o seu mar de papeizinhos nas paredes, o Bar do Arante passou a ser o melhor lugar para saber o
que pensam os visitantes da ilha e o que lhes passa pela cabeça enquanto saboreiam um peixe com pirão, a especialidade
da casa. Está tudo escrito lá e nem sempre por turistas anônimos. Até o ator Tony Ramos já deixou sua mensagem na parede, depois de um almoço que, como sempre acontece, terminou com a oferta de um pedacinho de papel, uma caneta e
um naco de fita crepe, para escrever algo e deixar para a posteridade. Difícil é encontrar um espaço ainda vago. Por isso, não
estranhe se o seu vizinho de mesa resolver grudar o bilhetinho bem no encosto da sua cadeira ou se alguém pedir licença
para ler o que está escrito debaixo da sua mesa. No curioso Bar
do Arante, este troca-troca de lugares para ler as mensagens faz
parte. E anima ainda mais o astral de um bar que já nasceu sob
o símbolo da informalidade. Está tudo lá. Nas paredes.
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1
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mensagem ser lida
Tente ser o mais original possível no conteúdo da
mensagem, porque a concorrência é monstruosa e as
chances de alguém perder tempo lendo algo banal
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Desenhos ajudam a chamar a atenção dos olhos dos
eventuais leitores, mas se você não for nenhum Rembrandt,
é melhor ficar só nas letrinhas, porque de pseudoartistas o
mundo já está cheio. E as paredes do Arante, também.
Já chegue sabendo o que irá escrever. Vale até levar
o bilhete pronto de casa ou — vá lá... — copiar uma frase
espirituosa que você leu em algum livro de autoajuda.
Mas papéis grandes não são permitidos. Só mesmo
bilhetinhos. Portanto, seja conciso.
Os temas são livres, mas os bilhetes mais comentados
são os divertidos. Frases engraçadas e trocadilhos são
especialmente lidos e compartidos. Afinal, o Arante é um bar,
não a Academia Catarinense de Letras. Embora seu acervo
de letras e temas seja maior do que o de muita biblioteca.
Intermarine 60
Volvo Penta modelo D12 de 900hp
ESTOQUE INTERYACHTS
55 Offshore
3 Mercedes 447 720hp
ESTOQUE INTERYACHTS
Yacxo 337
2 Mercriser 200hp Diesel
ESTOQUE INTERYACHTS
Representante Oficial
A escolha de um bom local de “exibição” do bilhete
é fundamental para que ele seja lido. Quanto mais à
vista ele estiver, melhor. Mas, atenção: o código de ética
do Arante proíbe desgrudar um bilhete para colar
outro no lugar, nem assoprar para ver se ele cai.
E há quem defenda que quanto menos óbvio for
o lugar (debaixo do prato, por exemplo), mas
atenção ele atrairá. Vale experimentar.
www.interyachts.com.br
São Paulo: 11 4116-7007 | Guarujá: 13 3354-5861 | Curitiba: 41 9973-5462
Rio de Janeiro: 21 3439-5225 | Angra dos Reis: 24 3377-4785 | Angola: 244 92354-2984
por jorge DIAS
F
ARQUIVO DE FAMÍLIA
Eu que fiz
oi durante uma viagem
de moto até Ushuaia, no extremo
sul da América do Sul, que eu e minha
mulher, a Leandra, resolvemos fazer
algo diferente na volta — como se
ir de moto até o fim do mundo fosse algo banal demais... Que tal morar num barco e sair navegando pelo
mundo? — sugeri. E ela topou. Só
havia um problema: nós não tínha-
mos um barco! Pior: eu não tinha dinheiro suficiente para comprar um,
como descobri quando comecei a pesquisar o assunto. A única saída foi a que
parecia mais absurda possível: construir
um! E no quintal de casa, entre os muros
apertados de um condomínio, em Curitiba, mesmo sem eu nada saber sobre barcos
barco
em família
Jorge Dias, a
mulher Leandra,
o filho Marco
Antonio e o
Furioso, já na
água: o objetivo,
agora, é morar
no barco e viajar
pelo mundo,
quem sabe?
jorge de souza
e construção naval, já que trabalho com com-
54
Náutica Sul
putadores, não com estaleiros. E assim nasceu o
Furioso, um veleiro Samoa, de 28 pés de comprimento, feito em strip planking (ripas de madeira
revestidas de fibra de vidro), que levou cinco anos
para ficar pronto, mas, agora, nos fins de semana
nos leva para passear na baía de Paranaguá. E, em
breve, a muitos outros lugares, mundo afora.
Um dia, o curitibano Jorge Dias
resolveu ter um barco, para
curtir com a família. Mas, sem
dinheiro para comprar um, a única
saída foi construí-lo, mesmo sem ter
experiência alguma nisso. Cinco anos
depois, o veleiro Furioso ficou pronto,
no quintal de sua casa, em Curitiba.
Acompanhe aqui esta aventura
É o início da Fase 2 do nosso projeto de vida: primeiro, construir um barco; depois, ir morar nele, com
o nosso filho, o Marco Antonio, que hoje tem exatamente a mesma idade do Furioso, cinco anos. Dizem
que coincidências não existem e deve ser verdade, porque ele nasceu exatamente na noite do dia em que comecei a construir o picadeiro sobre o qual nasceria
também o nosso barco. Este aqui, cujo relato sobre a
aventura (bem-sucedida, apesar do esforço, do cansaço e de algumas mancadas) de construir um barco em
casa você verá nas páginas seguintes. Leia e não desanime. Construir um barco é perfeitamente possível. Se
eu consegui, por que você não conseguiria?
Náutica Sul
55
Do começo ao fim
furioso
A aventura de construir um barco em casa
Sobre a primeira rotina
“O projeto do Samoa 28 usa o sistema strip
planking, ou seja estrutura de madeira com ripas revestidas de fibra de vidro. Ou seja, a primeira coisa é
fazer a marcenaria. Comprei madeira e uma bancadinha. Agora, é começar a cortá-la e gerar as balizas e
as ripas. Muuuuitas ripinhas, as tais ‘strips’”.
Sobre a estrutura do casco
“Adivinha o que fiz hoje? Mais strips... Dessa vez, bati o recorde: coloquei um strip no sábado e três no domingo — além de fazer mais três tirinhas de madeira, de 9 m de comprimento cada.
É um tal de corta, lixa, cola, lixa de novo, faz mais
cola, põe mais o strip no lugar, fura, prega, faz o
furo do parafuso, põe o parafuso, aperta o parafuso
e começa tudo de novo no outro strip.”
56
Náutica Sul
Sobre a laminação
da fibra de vidro
“A resina que eu comprei
cura muuuuito rápido. Nem
dá tempo de conversar com
os amigos que vieram ajudar
no trabalho. Quando o dia terminou, eu tinha resina até na
orelha. Dias depois, quando a
laminação terminou fiz as contas: foram 50 horas/homem de
trabalho. Mas ficou lindão.”
mar demais. Mas, meu Deus,
nada se compara a lixar o casco com um tacão. É o fim do
mundo, do fôlego, dos braços,
de tudo. Mas, a bombordo já
está tudo lixado. Agora, só falta — sempre falta! — a laminação dos fuzis dos brandais,
já que ali precisa de um pouco
mais de resina, para não entrar
água. Mas isso vai ficar pra semana que vem. Eu acho...”
Sobre lixar o casco
“Eu já disse que não tenho
a intenção de criar um manual da construção naval amadora, mas apenas mostrar as aventuras — e desventuras — da
construção de um barco em
casa. Por isso, tento não recla-
Sobre o avanço
dos trabalhos
“Exatamente dois anos atrás,
nascia o meu filho, justamente
no mesmo dia em que fiz a marcação do picadeiro para começar a construir o Furioso. Hoje
vai ter festa dupla lá em casa.”
Sobre o “estaleiro”
“Tenho um problema de altura para o toldo
de cobertura do meu ‘estaleiro’. Como nunca quis
que ele ficasse mais alto do que o muro, para não
criar problemas no condomínio, sempre trabalhei agachado no convés e com o toldo colado nas
costas, o que gera um calor dos infernos. Mesmo
depois de trocá-lo por um plástico branco e com
forro térmico, não resolveu a questão do calor. Então, se pra cima ele não pode ir, o negócio é descer o barco! Mas, como? Depois de muitas noites
sem sono, tive uma ideia: encher de areia debaixo dele e retirar o cavalete. Ou seja, literalmente
vou ‘encalhar’ o Furioso. Só espero que ele não se
acostume a fazer isso.”
Sobre o corte da popa
“Foi hoje o dia D! Dia “DE” cortar a popa do
barco. Ah, se eu errasse na hora da serra...”
Sobre a preparação
para a pintura
“Hoje faz exatamente um
mês que comecei a preparar o
barco para a pintura. E só agora ele ficou pronto. Eu passava massa, lixava, limpava e voltava a fazer tudo de novo. Coisa
de doido. Um dia, lavei o casco e
passei um pano para secá-lo. Ficou bom. Mas, aí, olhando de
perto, surgiram coisas que estavam camufladas pela poeira. E
comecei tudo de novo. É como
correr atrás do próprio rabo. Mas,
agora, só faltam mais alguns retoques em pontos específicos e parto pra tinta. O problema é que,
quando você jura de pé junto
que terminou e diz ‘agora eu vou
pintar!’, aparece mais um buraquinho. Aí, você faz mais massa
para tapar só aquele buraquinho
e descobre um moooonte de outros buraquinhos. É como correr
atrás do próprio rabo.”
Sobre a pintura do casco
“Finalmente terminei a pintura. De cima... Agora, só falta o
casco inteiro... A pior parte é dar
o acabamento. Pro meu gosto,
tem que ficar, pelo menos, aceitável. Mas o que eu consegui fazer está feito — e já virei a página do convés. Agora, no casco,
vou lixando pedaço por pedaço, de 50 cm cada, depois passo
massa, a politriz e... um dia acabo. Começo com a lixadeira roto
orbital e depois passo para as esponjas abrasivas grossas, média e
fina, que deixam a pintura fosca. Daí, vou polindo com a massa número 2, até que fique, digamos, bom. Mas tenho certeza de
que na próxima pintura vai ficar
show. Até porque não serei eu
que irei fazê-la.”
Sobre o compressor
“O compressor que eu vinha
usando era bem silencioso, mas
“
A decisão de
construir em casa foi pela
praticidade. E o barco
nasceria no ritmo que
o dinheiro permitisse
FOTOS ARQUIVO DE FAMÍLIA
Sobre a ideia de construir em casa
“Depois de muito ler a respeito e descobrir
que não teria dinheiro para comprar um barco
pronto, decidi construir o meu veleiro em casa
mesmo — até porque alugar um galpão para isso
ficaria caro e pouco prático. Construindo em
casa, eu o farei no meu tempo, de acordo com o
ritmo das minhas condições financeiras e ainda
ficarei perto da família, do bebê que acabou de
nascer e também da geladeira, do fogão e da cerveja. Comecei a construção em julho de 2009,
no exato dia em que o Marco Antonio nasceu —
comecei a construir a base do picadeiro de dia e
ele nasceu naquela noite mesmo. Agora, os dois
vão crescer juntos e na mesma casa.”
Sobre a construção do barco
“A construção do Furioso é beeeeem amadora, mas posso garantir que ele está beeeem
construído. Porque, se não gosto da peça ou se
ela não ficou como está no projeto, arranco e
faço tudo de novo.”
Náutica Sul
57
furioso
pequeno e emprestado do consultório odontológico do meu
vizinho. Fiquei com medo de
quebrá-lo e devolvi. Comprei,
então, um compressor maior,
que faz um barulhão que dá
para escutar a duas quadras de
casa, mas, pelo menos, enche
rápido o reservatório. E o saco...
Mas é bem melhor do que o
meu antigo compressor, que esquentava tanto, que eu ligava o
ventilador de casa para resfriálo. Coisa de amador...”
Sobre a virada do casco
“Para a virada do casco, contratei uma empresa de guindastes, mas eles não tinham experiência com barcos, só mesmo boa
vontade. A operação levou cinco (cinco!) horas e meu coração
deu vários piripaques. Mas sobrevivi e, no final, deu tudo certo.”
Sobre a pintura interna
“Decidi dar por terminada
a pintura da cabine. Já sei tudo
sobre pintura. Só não sei pintar.
Não que ela esteja cem por cento finalizada, mas digamos que
58
Náutica Sul
‘está pronta’. Pela primeira vez
desde que comecei a construir
o Furioso, eu disse: ‘Ah, vai ficar
assim mesmo!’ Tudo bem, tem
um escorridinho aqui, outro ali,
mas ficou bem branquinho, do
jeito que eu queria. Sei que ‘o
ótimo é inimigo do bom’, mas
também não vou ficar lambendo o barco, senão, nunca acaba.
Se ficar ‘bonitinho’, já tá valendo. E ele tá ficando assim.”
Sobre os acessórios
“Dos acessórios descritos
no projeto original do Samoa
28 coloquei apenas chartplotter, painéis solares, motor de
21hp (embora o projeto indique um de 14 hp), tanque de
esgoto de 100 litros, geladeira,
dog house (‘para-brisa’ para os
leigos, como eu também era),
Bimini (aquela ‘tendinha’ sobre o cockpit), guincho de
1000 w, inversor de 700 w,
vaso sanitário elétrico (porque
ninguém merece ficar dando
bombadas na hora de mandar a porcariada embora) e,
por livre e espontânea pressão
hospital. Pra terminar, quando
fui esvaziar os sacos de areia
para assentar o barco em cima
deles, deu um ‘cleck’ nas costas e só consegui dormir à base
de anti-inflamatório”.
da minha mulher, boiler para água quente no
chuveiro. Pelo menos, confortável para tomar
banho ele vai ser.”
Sobre as dificuldades do “estaleiro”
“Daí veio o problema; como o barco estava apoiado sobre um monte de areia em cima
da grama do quintal, o eixo do leme não chegava até o batente. A solução foi cavar um buraco no chão, de meio metro de profundidade,
para ter espaço para encaixar as peças. Já que
não tem como o barco subir para poder trabalhar melhor, o negócio é fazer o chão descer
um pouco mais... Outra encrenca foi na hora
de instalar o púlpito de proa e as ferragens da
âncora. Como o barco estava com a proa encostada no muro, foi preciso arrastá-lo alguns
centímetros para trás. Hora de pedir a ajuda do
super-vizinho Maurício, que está sempre à disposição. Meu ‘estaleiro’ é tão pequeno, que,
para mudar de ideia, eu tenho que sair dele e
ir para outro lugar...”
Sobre o preço
dos materiais
“O encaixe da portinha da
pia que eu comprei custou R$
1,69. Quando perguntei o preço
de um igual, só que de aço inoxidável, o preço pulou para R$
32,00. Se o que eu comprei durar
apenas um ano, ainda assim serão preciso 19 deles para pagar o
preço de um de inox e por aí vão
as coisas nesse meio náutico.”
Sobre as prioridades
num barco
“Já aprendi que, primeiro,
qualquer coisa num barco tem
que funcionar direito. Depois,
ser prática. E, por fim, só se for
possível, ficar bonita”.
Sobre o ritmo dos trabalhos
“Para este ano, se Deus quiser, a programação será: lixar o casco, instalar as ferragens do
convés (exceto o mastro), dar os primeiros passos na parte hidráulica, instalar toda a parte elétrica (para já ter cerveja gelada a bordo) e comprar o motor. Só isso durante um ano inteiro?
Olha, se eu conseguir, vou beber todas as cervejas da geladeira em 31 de dezembro.”
Sobre pequenos incidentes do trabalho
“Primeiro, eu usei tiner para limpar a tinta e ele ressecou os dedos e rachou o canto das
unhas, que começaram a doer um bocado. Depois, fui cortar um pedaço da prancha e voou
um cavaco bem no meu olho e lá fui eu pro
Sobre o forro do
teto da cabine
“Para fazer o forro do camarote de proa, imagine o seguinte: primeiro, fique de quatro, vire o tronco e tente olhar
para cima; em seguida, olhe
ainda mais para cima, até que o
pescoço faça um ‘cleck’ e você
ganhe um torcicolo. Pronto! É
hora de desistir por hoje e tentar de novo amanhã.”
Sobre a escolha do motor
“Após muito pensar, somar,
dividir, noves fora e a escolha
do ‘minha mãe mandou escolher esse daqui’, optei por comprar um motor com rabeta, de
21 hp. Por quê? Porque, se com
rabeta fosse ruim, não haveria tantos desses motores por aí
— embora o sistema de pé-degalinha também não seja tão
ruim, tanto que tem muito barco desse jeito assim. O que seria do amarelo se todos prefe-
rissem o azul? Comprei, então, o com rabeta,
baseado em critérios técnicos e nem tanto.”
Sobre a instalação dos cunhos
“Oh, servicinho triste! Você fura, resina, instala, marca posição, retira, corta parafuso, tira
a rebarba, passa Sikaflex (“Sika”, porque já sou
íntimo do produto), aperta, checa, reaperta e
por aí afora. Fiquei com a mão que é só Sika. E
sem as impressões digitais.”
Sobre a braçola dos bancos
“Putz, é sempre assim: quanto menor for a
peça, mais complicado e demorado será o trabalho. Após um longo e tenebroso inverno, finalmente terminei as braçolas dos bancos do
cockpit, que, para mim, deveriam se chamar ‘rimzolas’, porque pegam bem no rim da pessoa
e dói pacas depois de um tempo. Mas, como
eu gosto de um bom encosto, bolei uma lateral mais alta e removível. Ficou show de bola!”
Sobre como fazer o leme
“Para fazer o leme, vou usar uma prancha
de cedro rosa, de 7 cm de espessura por 43 cm
de largura. Dentro dela, tenho que encaixar, escavando o bloco maciço de madeira, o eixo do
FOTOS ARQUIVO DE FAMÍLIA
“
O ótimo é
inimigo do bom. Mas,
às vezes, você diz:
vai ficar assim mesmo
Náutica Sul
59
furioso
leme. Ainda não sei bem como
farei isso, mas só quando chegar a hora me preocupo. Uma
coisa por vez, senão eu piro.”
Sobre a reta final
dos trabalhos
“Nos últimos dias, o que
mais tenho feito são furos e
mais furos, para instalar registros. Também refiz a escadinha sobre o motor, que estava
horrível, coloquei a geladeira,
pintei o paiol, terminei o tanque de cocô (vulgo “holding
tank”) e outras coisinhas mais,
que nem me lembro. Agora, é colocar o acrílico, começar a providenciar a documentação na Marinha, terminar a
quilha, registrar o rádio VHF,
contratar a grua, o transporte
e a marina e começar a preparar a farra de despedida. Mas,
calma, porque tudo isso são intenções... Porque, se o governo
teve sete anos para preparar as
obras da Copa e não entregou
tudo a tempo, imagine o meu
planejamento... Agora vou dormir, porque estou mais quebrado que arroz de segunda.”
Sobre as peças de acrílico
“Tem coisas que a gente
fica remoendo durante muito
tempo, achando que é difícil e
complicado de fazer num barco, até que se enche de coragem e vai à luta. Tipo, instalar
as janelas de acrílico num barco. No meu caso,
eram duas peças, com 2,36 m de comprimento
por 32 cm de altura e 10 mm de espessura, que
deveriam pesar uns trocentos quilos cada (não
pesei, mas deu quase isso, pode acreditar). Não
era nada fácil segurar. Que dirá apertar os 110
parafusos de cada peça, segurando elas no braço. Foi um sufoco. Mas consegui colocar uma
por dia, morrendo de medo de que a Sikaflex
curasse ou fizesse bolhas. Problemas? Só um
arranhãozinho no acrílico, porque resolvi limpar o selante com estopa. Mas já aprendi e, pelo
menos isso, não faço mais.”
não possa ser feito quando da
“reforma”... Agora, começa a
Fase 2 do meu projeto de vida:
usar o barco!”
Sobre o transporte
do barco
“Para transportar um barco é preciso ter um berço de
apoio para ele, feito de madeira, em cima do caminhão.
Claro que eu devia ter moldado isso antes de virar o casco,
lá atrás. Mas, sabe como é marinheiro de primeira viagem.
Acabei construindo a obra de
arte quando o barco já estava
pronto, prestes a atravessar o
muro de casa e ir para o caminhão. Mesmo assim, levei
cinco (cinco!) dias construindo o tal berço, fora as noites
sem dormir por causa de dor
nas costas e nos braços, porque a madeira tinha que ser
grossa e pesava pacas. E o que
é pior: para usá-lo apenas uma
vez, só de casa até a marina.
Sobre o fim da obra
“Após exatos cinco anos e 19 dias, dei por
encerrada a construção do barco. Não finalizei
tudo, claro. Faltam alguns acabamentos, mas
que não influenciam nada — ele só ficaria mais
bonito. A lista é grande, mas não tem nada que
Uma dúzia de dicas para quem for fazer o mesmo
1
5
9
Envolva a família no projeto, para
que eles (também) se entusiasmem.
Do contrário, nem tente.
Visite outros construtores, mesmo que
amadores, e faça muitas perguntas.
Sempre se aprende algo novo.
Sempre antecipe as compras (um
ano antes não é nenhum exagero) e
compre, primeiro, os itens mais caros.
2
6
10
3
7
Não mude o projeto de um barco
já testado e consagrado, mesmo que
nem tudo nele lhe agrade.
11
4
Não economize em equipamentos e
materiais. A segurança pode
depender daquela peca que era para ser de
inox e você comprou de plástico.
Leia muito sobre a construção
amadora de barcos. A internet está
repleta de blogs e sites do gênero.
Tenha aconselhamento periódico
de um profissional do assunto e
sempre faça o que ele sugerir.
60
Náutica Sul
Faça um orçamento de todo o material
e equipamentos que irá precisar e, por
precaução, multiplique por dois.
8
Sobre o lançamento
na água
“O dia do lançamento do
barco na água foi um misto de
ansiedade, preocupação e um
monte de outras emoções, todas ao mesmo tempo. Mas
tudo deu certo. Quer dizer,
quase tudo... Era tanta coisa
que passava na minha cabeça,
que esqueci de pintar o nome
do barco no casco! O Furioso,
que já nasceu com um nome,
foi pra água sem ele...”
Sobre os planos futuros
“Hoje eu sei bem mais do
que ontem sobre veleiros e navegação a vela. Então, um dia,
trocaremos nossa casa pelo
barco, soltaremos as amarras
e partiremos. Para onde? Ainda não sabemos. Mas, que vamos, ah, isso vamos!”
“
Comecei a
construir o Furioso
no dia em que meu
filho nasceu. Eles
cresceram juntos
Tá tudo aqui!
O
relato completo, passo a
passo e fartamente ilustrado, da construção do veleiro do
curitibano Jorge Dias pode ser conferido no blog
veleirofurioso.blogspot.com.br, que segue sendo
atualizado, já com as primeiras velejadas do barco.
Confira, acompanhe e use como estímulo. Como
o próprio autor diz logo no início, seu blog “não é
um manual de construção naval, mas apenas um
relato da aventura, perfeitamente possível, que é
construir um barco em casa”.
Para não desperdiçar material,
corte sempre as peças
maiores primeiro. Se você errar, poderá
usar nas menores.
Nada de pressa. O objetivo sempre
deve ser terminar uma fase e
passar para outra, não ver o barco já pronto.
12
Estabeleça uma data para
a finalização do barco, mas tenha
em mente que sempre atrasa.
FOTOS ARQUIVO DE FAMÍLIA
Faça em sua própria casa ou
bem pertinho dela. Se precisar
se deslocar demais, vai cansar e
desanimar.
Aliás, agora, o tal berço, novinho, novinho, está à venda.
Alguém se interessa?”
Náutica Sul
61
ENCONTRE O BARCO
QUE VOCÊ PROCURA!
POR Raquel Cruz
arquivo de família
As melhores ofertas de lanchas,
veleiros, jets, infláveis e até
iates à venda no Brasil
barcos de pai
para filho
Mestre Zé
(ao centro) e seu
filho Hildebrando,
que deram
origem a uma
linhagem de
construtores
de barcos de
madeira em
Itajaí, que já
dura quase um
século e meio
FAMÍLIA DE MESTRES
CLASSIFICADOS
Compre ou venda seu barco
Cadastre-se e anuncie: www.nautica.com.br/classificados
Quase 150 anos
atrás, José Inácio
da Silva começou
a construir barcos
de madeira em
Itajaí. Hoje, quatro
gerações depois,
seus tataranetos
continuam fazendo
a mesma coisa,
mantendo viva
a memória do
lendário Mestre Zé
M
ede, serra, lixa, cola. O ritual era sempre o mesmo,
quando uma nova encomenda era feita. E elas não
paravam de chegar, atraídas por uma fama que logo
se alastrou por toda a região sul e sudeste do Brasil.
Quando a missão era construir um bom barco de pesca, aquele homem humilde, que mal sabia ler e escrever, se transformava num gênio da raça. E quanto maior o barco fosse, mais a sua genialidade aparecia, traduzida nas linhas e formas perfeitas de um bom
pesqueiro. José Inácio da Silva, o Mestre Zé, apelido com o qual entrou para a história de Itajaí e que carrega toda a simplicidade de um
legítimo peixeiro, como orgulhosamente se autointitulam os habitantes da cidade, foi o patriarca de uma família de artesões navais, que,
até hoje, há quase 150 anos, produz alguns dos melhores, maiores e
mais famosos barcos pesqueiros de Itajaí — cidade que, não por acaso, é hoje o principal polo pesqueiro do país. E muito disso se deve ao
legado que o simplório (até no nome) Mestre Zé deixou na cidade. A
começar pelos seus herdeiros no ofício, que já estão na quarta geração
de construtores navais e mantêm viva a tradição da família.
Náutica sul
65
família que
fez história
No alto, o famoso
barco de madeira
de 100 metros
de comprimento,
que assombrou
Itajaí no início
do século
passado e, ao
lado, o estaleiro
Brandino nos
dias de hoje, ao
lado do estaleiro
Seu Felipe, que
também é dos
herdeiros de
Mestre Zé
raquel cruz
Com o que aprendeu
com o pai, o filho de Mestre
Zé construiu o maior barco
artesanal de madeira do país até então.
Tinha 100 metros de comprimento
arquivo de família
família de mestres
N
o final do século 19, a incrível habilidade de
época, estivadores de todo o litoral entre São Paulo e Rio
Mestre Zé na arte de modelar extensas táGrande do Sul batiam à sua porta, em Itajaí, atrás dos
buas de madeira e transformá-las em barseus serviços. E até hoje isso continua acontecendo, agocos perfeitos ganhou fama, virou referênra com seus herdeiros — os tataranetos do Mestre Zé.
cia nacional e ajudou a transformar Itajaí
no gigantesco polo pesqueiro que é atualmente. Foram
estre Zé nasceu em Cananéia,
das mãos daquele homem extremamente simples, quano litoral sul de São Paulo, na
se um mito entre os construtores navais contemporâmetade do século 19, mas foi só
neos (bem como seu filho, Hildebrando José da Silquando se casou e mudou para
va, o Mestre Brandino, que seguiu o mesmo ofício
a vila de Itajaí que começou a
e se transformou num construtor tão conceituatrabalhar
como
carpinteiro naval, dando iníQuatro
do e respeitado quanto seu pai), que nasceram
cio
a
uma
tradição
familiar que se estende
gerações no
as primeiras grandes embarcações pesqueiaté hoje na cidade. Sua “técnica”, se é que
mesmo ofício
ras do sul do país. Algumas de tão grande
dá para chamá-la assim, consistia em,
porte que ficava difícil imaginar como
primeiro, construir uma miniatura do
poderiam ter sido feitas numa simbarco pretendido (miniatura mesmo, às vezes não maior do que
ples vila pesqueira, como era Itaa palma de sua mão) e, depois,
jaí um século e meio atrás. “Faampliá-la aritmeticamente
zer eu sei, explicar é que não”,
José Inácio da Silva (Mestre Zé)
Nasceu em 21 de abril de 1851, em Cananéia, mas logo se mudou
para o tamanho real, até
dizia, humildemente, Mespara Santa Catarina, onde cresceu e se casou três vezes. Mal sabia
surgir um barco inteitre Zé, quando lhe perler e escrever, mas tinha um talento extraordinário para construir
barcos de madeira, a partir de pequenas maquetes, que, depois, ele apenas
guntavam como consero. Dito assim, parece
multiplicava os tamanhos. Teve dez filhos, mas só um (Hildebrando da Silva
algo óbvio e banal.
guia construir barcos
Júnior) herdou sua profissão — e acabou se tornando tão famoso quanto o pai.
Mas experimendaquele porte sem
te transportar
nenhum conhecimento técuma simples
ni c o . N a
m a qu e t e
M
Hildebrando José da Silva (Mestre Brandino)
Filho do primeiro casamento de Mestre Zé, foi o único a seguir o talento do pai e também
se tornou um notável cons trutor naval. Entre outros feitos , fez o maior barco de madeira
construído no Brasil de forma artesanal até então, com 100 metros de comprimento e 500 toneladas.
Hildebrando da Silva
Dário Geraldo da Silva
Filho de Hildebrando e neto de Mestre
Zé, foi o primeiro da família a usar o metal
como matéria-prima para a construção de
barcos. Foi um dos responsáveis pelo projeto
dos primeiros ferries-boats para travessia
do rio Itajaí-açu, entre Itajaí e Navegantes.
Também filho de Hildebrando, dedicou-se
à construção de barcos de cabotagem para
o transporte de madeira. Para isso, fundou o
estaleiro Seu Felipe, que hoje funciona ao lado
do estaleiro criado pelo seu pai, o Brandino.
Hildebrando Jorge da Silva
e Ilza Maria da Silva
Dário Felipe da Silva
Filho de Dário e bisneto de Mestre Zé, deu
continuidade ao trabalho do pai e hoje é
o re s p o n s áve l p e l o e s t a l e i ro S e u Fe l i p e ,
o n d e t a m b é m c o n s t ró i b a rc o s d e p e s c a .
Filhos de Hildebrando da Silva,
assumiram o estaleiro Brandino e o
mantiveram construindo pesqueiros.
Luciana e Juliana Heusi Silva
Filhas do último Hildebrando da família, assumiram recentemente
a administração do estaleiro Seu Brandino, que até hoje está
em funcionamento, em Itajaí. São tataranetas de Mestre Zé.
66
Náutica Sul
Náutica sul
67
família de mestres
da madeira
para o aço
Hildebrando da
Silva, neto de
Mestre Zé, foi
o primeiro da
família a trocar a
madeira pelo aço,
na metade do
século passado.
Hoje, os dois
estaleiros da
família produzem
barcos tanto
com um material
quanto o outro
68
Náutica Sul
para o tamanho de um barco com dezenas de metros de
comprimento. Pois Mestre Zé fazia isso com maestria e
perfeição. Nunca errou uma medida. Seus barcos jamais
apresentaram problemas de navegação. E todos foram
feitos com base apenas na sua intuição.
Parte disso ele deixou de legado para a família, ao
introduzir um dos seus dez filhos (e o único que se interessou pelo assunto, Hildebrando José da Silva, o Brandino), no mesmo ofício. E logo Brandino se mostrou tão
competente quanto o pai, construindo barcos de madeira ainda maiores. Só a ele foram atribuídas mais de
75 embarcações, todas de muitas toneladas, incluindo
um famoso pesqueiro, batizado com o seu apelido, que
fez história na região: o Brandino. Outra cria sua, cujo
nome se perdeu na história, até porque foi logo vendido
para a família mais rica da época, os Matarazzo, tinha
um porte ainda mais impressionante: incríveis 100 metros de comprimento – um casco de madeira com mais
de 300 pés! Reza a lenda que, boquiabertos com as dimensões e qualidades da embarcação, os ricos compradores teriam ido a Itajaí conhecer o criador e construtor
de tão grandioso barco. E ficaram ainda mais impressionados quando deram de cara com um sujeito de tamancos, que, tal qual seu pai, se confundia com os operários
do estaleiro — que, por sinal, até hoje ocupa o mesmo
endereço, na rua Francisco Czarneski, em Itajaí, hoje
principal polo da indústria naval da região.
A
tualmente, ao lado do Estaleiro Brandino,
que sempre manteve o mesmo nome e hoje
é administrado por uma bisneta de Hildebrando, Luciana Silva, fica outro legado
deixado lá atrás por Mestre Zé: o “Estaleiro
Seu Felipe”, criado por um filho de Brandino (portanto,
neto de Mestre Zé), que preferiu se dedicar aos barcos
de aço. Juntos, os dois braços da família originada por
Mestre Zé no passado (e depois ramificada pelos filhos
de Brandino, Hildebrando e Dário, que se mantiveram
no ofício — veja árvore genealógica da família ao lado)
já somam quatro gerações e perto de 150 anos construindo barcos pesqueiros em Itajaí. É, de longe, a família
com a maior tradição no setor na região. E, muito provavelmente, em todo o país. Mestre Zé, como se vê, fez
história. E nem precisou de um grande nome para isso.
Dom de pai
para filho
U
ma das histórias mais lembradas por quem é do ramo naval
em Itajaí resume bem a maestria
com que Hildebrando José da Silva,
o Brandino, filho de Mestre Zé, dominou a arte da construção naval
herdada de seu pai. Certa vez, Brandino foi procurado pelo aflito dono
de um grande e novo barco, que,
sabe-se lá por que, teimava em não
navegar direito. Avançava tombado para um dos lados, tornando impossível tanto a navegação quanto
o transporte de cargas. Parecia simplesmente torto e não havia reparação que desse jeito. Pois Brandino
nem subiu a bordo para examinar
o barco. Só de olhar a embarcação
chegando ao estaleiro, navegando daquele jeito, já sabia qual era
o defeito. Mandou tirar o barco da
água e ordenou duas ou três alterações em uma específica caverna da
sua estrutura. Em seguida, foi embora para casa. Dias depois, o barco voltou à água. Em perfeito estado. Para o herdeiro de Mestre Zé,
também bastavam os olhos para
identificar (e criar) um bom barco.
mestre
brandino
O único filho de
Mestre Zé que
herdou o ofício
aperfeiçoou ainda
mais a arte de
construir grandes
barcos de madeira.
Como os lendários
pesqueiros Ramos
I (abaixo) e II (ao
lado), Triunfo (no
canto à dir.) e
Brandino (à esq.)
arquivo de família
Antes de começar
a construir os barcos,
Mestre Zé esculpia
uma pequena
maquete de madeira.
Depois, ia apenas
multiplicando
as medidas
Você e seu barco
O bÊ-Á-bá
da boa
ancoragem
Como barcos não têm
freio de mão, o jeito é ter
uma boa âncora e saber
Raio-X do ferro
O que é o quê numa boa âncora
direitinho o que fazer com
ela, em qualquer situação
Anete
É a manilha ou o anel
que é ligado ao furo da haste, no qual se
prende a amarra. No caso de corrente,
é aconselhável usar também um
J
72
Náutica Sul
destorcedor, para evitar nós na amarra.
Ilustração Pierre Rousselet
á passou pela sua cabeça
que, para permanecerem
parados na água, mesmo
os barcos mais modernos
dependem de um primitivo
peso preso a eles? É que
ninguém jamais conseguiu
desenvolver algo mais eficiente
para impedir que um barco se
mova ao sabor dos ventos e das
correntezas do que as âncoras,
equipamentos tão antigos
quanto a própria história da
navegação. A única diferença
é que, ao longo dos tempos,
elas sofreram mudanças
na forma e na concepção,
tornando-se bem mais
eficientes e confiáveis.
Primeiro, as pedras usadas
nas embarcações do passado,
deram lugar ao ferro — daí
um dos nomes pelos quais
as âncoras são conhecidas.
Depois, elas passaram a
ser feitas de aço e, mais
recentemente, de alumínio,
este um material bem mais
leve e apropriado para
se transportar a bordo,
já que a função do
peso numa âncora
é apenas levá-la
até o fundo —
o que segura uma
embarcação
de fato
são as
“patas”, ou
garras da âncora,
como se verá
nas páginas a seguir.
Haste
Além de unir a amarra
às patas, que é a parte que prende a
âncora ao fundo, é uma das peças mais
pesadas do ferro e ajuda na sua fixação.
Quanto mais próxima do solo ela ficar,
melhor a eficiência do fundeio.
Unhas
São as pontas das
patas e as partes que de fato “espetam”
o solo. Numa boa ancoragem, elas
desaparecem no fundo e não ficam
visíveis.
Patas
São as partes que
enterram e fixam a âncora no solo.
Cepo
Parte perpendicular
à haste, que serve para derrubar e
posicionar a âncora, de forma que as
patas penetrem bem no fundo.
Cruz
Junção entre a haste e
o cepo. Pode ser usada para soltar a
âncora, quando não se consegue
içá-la pela haste.
Náutica Sul
73
Você e seu barco
Será que unhou?
Como saber se o barco está bem preso ao fundo
Não basta apenas
A âncora ser boa
O cabo (ou “amarra”) também tem que ser de qualidade
A
o jeito certo
Para saber se
a âncora está
bem presa ao
fundo, dê ré no
barco e segure
o cabo com as
mãos. Quando
não conseguir
mais segurá-lo,
é porque o ferro
unhou
maioria dos problemas no fundeio acontece não
pelo rompimento da âncora ou da amarra, mas sim
porque o ferro “garra” no fundo — o que, no entanto, no
jargão náutico, significa exatamente o contrário do que
parece, ou seja, que a âncora está sendo “arrastada” e não
“agarrou” o fundo coisa alguma. Por isso, além de não
confundir os termos, é preciso, depois de jogar a âncora,
verificar se ela unhou o fundo — este sim o termo correto.
Para tanto, enquanto o barco estiver dando ré, segure
bem a amarra. Quando não mais aguentar segurá-la, é
porque o ferro “unhou”. Mas, se ainda conseguir segurá-la,
é sinal de que a âncora está “garrando” — ou seja, sendo
arrastada no fundo. Nesse caso, solte mais cabo. Mas, se
mesmo assim o ferro continuar sendo puxado pelo barco,
recolha e recomece a manobra inteira. Não adianta ter
pressa. Na hora de ancorar, é sempre bom duvidar.
Danforth ou Bruce?
Qual, afinal, é a melhor âncora? A resposta é: depende...
A
s âncoras do tipo danforth e,
principalmente, bruce, são as mais
usadas pelos donos de barcos no Brasil.
Mas elas são bem diferentes entre si, tanto no
formato quanto no desempenho. As danforth
se caracterizam por terem duas patas paralelas e
pontiagudas, que, não importa o lado que caiam na
água, conseguem unhar o fundo, porque a haste se
move e sempre permite o contato com o solo. Mas, por
possuírem haste e cepo longos, ocupam mais espaço
no paiol e exigem cuidado no manuseio, já que a
haste se move e pode machucar as mãos.
Já as âncoras bruce têm três
patas e haste fixa e curta, o que
as tornam mais compactas e
seguras. Também em fundo
de pedras são mais resistentes
e unham rapidamente na lama, o
que nem sempre acontece com as
74
Náutica Sul
danforth, que, no entanto, são imbatíveis em fundos
de areia. Também na relação peso X eficiência, as
danforth, especialmente as de alumínio, dão um banho
nas bruce. Mas sua desvantagem é o preço, bem mais
alto, especialmente as importadas, como a da marca
americana Fortress, considerada uma das melhores do
mundo e razoavelmente vendida no Brasil.
O índice de resistência de uma danforth da marca
Fortress (ou seja, a força que ela aguenta para cada
quilo que pesa), chega a ser sete vezes superior ao
das melhores bruces nacionais — que, no entanto,
costumam ser as mais vendidas por aqui, justamente
porque custam menos do que as danforth.
Qual é a melhor? Bem, como se vê, depende
do tamanho do compartimento da âncora no barco
e do tipo de fundo que há no local onde ela for ser
usada com mais frequência. Mas, uma coisa é certa:
economizar na âncora é colocar em risco a sua
própria segurança.
P
ara ser eficiente e segura, qualquer âncora
depende muito do tipo de cabo preso a ela: a
“amarra”. Uma boa amarra precisa ser resistente,
mas também ter certa elasticidade, a fim de
absorver o movimento da água na superfície.
Precisa, ainda, ter algum peso, para não flutuar e
acabar “puxando” a âncora para cima. As amarras
de cabo de náilon de três cordões são as mais
usadas, mas as melhores são as de corrente de aço,
porque resistem ao atrito com eventuais pedras no fundo.
Também por serem mais pesadas, elas formam uma curvatura
dentro d’água que suaviza os trancos e forçam a haste da âncora a
ficar na posição horizontal, unhando melhor o fundo. No entanto, além de
difíceis de manusear (cada metro de corrente de oito milímetros pesa cerca
de um quilo e meio!), as amarras de metal só podem ser empregadas em barcos que
tenham guincho e lançador de âncora para guiá-las, porque, do contrário, serão muito
pesadas para puxar na mão e o ferro, ao subir, ainda baterá no casco.
Por isso, são inviáveis na maioria dos pequenos barcos.
Há, no entanto, uma solução intermediária, que consiste
em ter apenas um pedaço de corrente na parte que une a
âncora à amarra de náilon. É a melhor solução para barcos de até
médio porte. Além disso, há também a manilha, uma espécie
de anel de metal que fixa a ponta da amarra à âncora
e que deve sempre ser a maior possível.
Quanto ao diâmetro da amarra, depende
do tamanho do barco e do material do
qual ela é feita. Se for um cabo de náilon de
três fios, ele deve ter, no mínimo, 12 mm de
espessura, para barquinhos de 20 pés de
comprimento, ou 16 mm, para embarcações de
30 a 40 pés. Lembre-se: pouco adianta ter uma
boa âncora se a amarra e a manilha não tiverem
a mesma qualidade e resistência.
Quantos metros de amarra precisa?
A regra básica da ancoragem segura
é soltar na água entre cinco e dez vezes
a distância até o fundo; quanto maior for
a amarra, mais eficiente será o fundeio.
Já barcos que usam um pedaço de
corrente junto ao ferro, devem usar, pelo
menos, dois metros e meio de amarra
de aço na ponta do náilon.
5
passos
da boa
ancoragem
1
Escolha um local bem
abrigado e com espaço livre
o bastante para o seu barco
girar totalmente sem tocar em
nada — especialmente em outros
barcos. E prefira
os fundos de
areia, cascalho
ou lama, nesta
ordem.
2
Ancore sempre contra o
vento e a correnteza, para
o barco não ser empurrado
sobre a amarra — que assim pode
se enroscar no leme, no hélice, ou,
se for um veleiro, na quilha.
3
Depois de jogar a âncora,
dê ré, em baixíssima
velocidade, para a âncora
unhar bem o fundo. Quando não
conseguir mais segurar a amarra
com as mãos, é porque o ferro
unhou bem.
4
Solte uma quantidade
de amarra na água
equivalente à profundidade
do local, na proporção de,
no mínimo,
cinco vezes mais
cabo do que a
distância até
o fundo.
5
Ao içar a âncora, posicione
o barco exatamente sobre
ela, para facilitar a operação,
mas nunca passe
com o barco
sobre a âncora,
para não forçar
sua haste.
Náutica Sul
75
Fotos Guilherme Kodja
Você e seu barco
Os macetes do corrico
Que tal, durante o passeio pelo mar, tentar pegar um peixe para o almoço?
A maneira mais fácil é corricando. Veja aqui como
A
ntes de mais nada, é bom saber que a pesca de
corrico — ou seja, aquela feita com uma linha a
reboque no barco em movimento, que os cariocas
também chamam de “pesca de arrasto” — difere em
tudo das pescarias tradicionais. Não tem, por exemplo,
nada a ver com a paz contemplativa das pescarias de
beira de rio ou costeiras. Ao contrário, o que não falta
Carretilha é
melhor do que molinete
As carretilhas são mais eficazes na pesca
de corrico. E devem estar carregadas
com bastante linha. O ideal é, pelo
menos, 400 metros. As carretilhas de
perfil redondo e numerações medianas
(para linhas de 20, 30 ou 50 libras) são
ainda mais indicadas. Mas a fricção deve
permitir ao peixe descarregar linha sem
grande dificuldade, para evitar pancadas
que rompam sua mandíbula. Peixes como
sororocas, cavalas e
bicudas possuem
mandíbula frágil,
que se rompe
com facilidade
quando
submetida a uma
súbita pressão.
Prenda a vara
em vez de segurá-la
Durante o corrico, deixe a vara firme
no porta-varas do barco ou presa
76
Náutica Sul
na pesca de corrico é muita ação — a começar pelo
próprio barco, que precisa estar em movimento. Mas
não basta amarrar uma linha com anzol na popa do
barco e sair rebocando a isca. Para experimentar a
deliciosa sensação de ser brindado com uma fisgada
enquanto passeia com sua lancha ou veleiro é preciso
outros cuidados. Como estes aqui.
firmemente a algo a bordo. Manter a vara
nas mãos gera movimentos involuntários
que podem afugentar os peixes. E se,
depois de sentir a fisgada, a linha afrouxar,
recolha um pouco, para ver se ela volta
a ficar tensionada. É que, muitas vezes,
os peixes fisgados nadam em direção ao
barco, para tentar se livrar do anzol.
Perto de barcos
ancorados é melhor ainda
Corricar perto de navios e barcos ancorados
pode trazer bons resultados, porque as
cracas dos cascos acabam atraindo peixes.
Correntes de âncoras são melhores ainda,
porque descem até o fundo, atraindo ainda
mais espécies. Mas tome cuidado
redobrado com a navegação.
Não se deixe levar
pelos cardumes
Os corricos são a maneira mais eficiente de
cobrir grandes áreas numa pescaria. Mas
não se deixe levar pela eventual visualização
de cardumes na superfície, porque eles
são muito dinâmicos e desaparecem tão
rapidamente quanto surgem. Se vir algum
cardume, circule ao redor dele e não
apenas passe sobre os peixes, para que o
motor não os afugente.
Nem fundo, nem raso demais
A profundidade ideal da isca deve ser a meia
água, mas a mesma isca pode atingir diferentes
profundidades, dependendo da velocidade
do barco. Quanto mais rápido ele navegar,
maior será a pressão da água na barbela,
fazendo com que ela desça mais. Portanto,
fique atento à velocidade de navegação.
Muito cuidado
na hora de embarcar
Muito cuidado na hora de embarcar o
peixe, para não perdê-lo na hora agá.
O ideal é cansá-lo um pouco e ir
puxando gradativamente para a borda
do barco. Depois, sem dar trancos,
segure firme e traga para bordo, com
um movimento contínuo.
Isca artificial é a mais indicada
pegar e do tipo de isca usada. Mas
e as bicudas. Mas não se espante se
a mesma espécie pode atacar em
for surpreendido no corrico por um
diferentes velocidades, de acordo com
belo badejo ou vermelho, que, apesar
o dia, pressão atmosférica, temperatura
de serem peixes de fundo, podem
da água, transparência, etc. Por isso,
desferir ataques-relâmpago
variar a velocidade periodicamente é
surpreendentes na meia água.
recomendável. Mas, em dias nublados
ou com água turva, a velocidade do
barco deve ser menor, para facilitar a
Iscas vivas ou naturais dão muito
trabalho e não combinam com um simples
passeio de barco. Para corricar, as melhores
iscas são as artificiais de barbela, de tamanho
pequeno (entre 6 e 10 cm) e bem coloridas,
em forma de manjubas. Se, no entanto,
preferir usar isca natural, use anzóis do
tipo garateia, com várias pontas, que dão
melhores resultados do que os convencionais.
visualização da isca pelos peixes.
Vara é mais eficiente
do que linhada
Varas rígidas e curtas
(entre seis e sete pés de
Use linha resistente e líder
A resistência da linha de náilon deve
variar entre 20 e 50 libras. Já o “líder” (ou
seja, a parte reforçada da linha, que fica
próxima à isca) deve ser mais grosso, com
quatro a seis metros de comprimento.
comprimento), que têm
fácil manejo dentro do
barco e não incomodam
as outras pessoas, são bem mais
indicadas do que as linhadas. Um
conjunto de varas com ação de
resistência entre 20 e 25 libras
Alguns peixes são mais fáceis
dá conta do recado. Mas, se for
Dependendo da época do ano,
corricar com plugs de barbela
A velocidade do barco no corrico
os peixes mais frequentes no litoral
comprida, que atingem
costeiro deve variar entre 3 e 6 nós,
entre São Paulo e Rio de Janeiro são as
profundidades maiores, use
dependendo do peixe que se queira
sororocas, as enchovas, as cavalas
varas entre 30 e 40 libras.
Navegue a baixa velocidade
Marinas e Iates Clubes
PARANÁ
AN­TO­NI­NA
www.icpgua.com.br
• Marina Velho Marujo
• Clu­be Náu­ti­co de An­to­ni­na
Tel. 41/3432-1331
www.nautico-online.com.br
Tel. 41/3424-4672
[email protected]
• Marina Quebra-Mar
Tel. 41/3455-1222
•
• Marina Arvoredo
Tel. 47/3393 4653
e­des­co Ma­ri­na
T
Tel. 47/3361-1420
www.te­des­co­ma­ri­na.com.br
• Ma­ri­na Gua­rá
Tel. 48/3232-9614
•
arina São Sebastião
M
Tel. 48/3262-7414
www.marinasaosebastiao.com.br
•
ANI
Tel. 47/9146-2020
www.culturanautica.org.br
•
arina do Galego
M
Tel. 47/3368-3474
• Marlim Azul Marina Clube
Tel. 41/3422-7238
• Marina Sete Mares
Tel. 41/3455-2177
• Vi­la Ma­ria Ma­ri­na Clu­be
• Porto Marina Oceania
Tel. 41/3423-1831
portomarinaoceania­
@yahoo.com.br
I lha do Mel
Tel. 41/3455-1580
• Cond. Náutico
• Ponta do Poço
Tel. 41/3455-1450
• Iate Clube de Guaratuba
• Porto Marina
• Iate Clube
Pontal do Sul
Tel. 41/3455-1145/3264-1153
• Marina Guarapesca
• Marina Aragão
Biguaçu
Tel. 41/3455-1392
•
Tel. 41/3442-1909
• Iate Clube de Paranaguá
Tel. 41/3422-5622
www.icpgua.com.br
78
Náutica Sul
arina da Âncora
M
Tel. 48/3269-6356
•
arina Barra da Lagoa
M
Tel. 48/3232-4657
•
Tel. 41/3455-2187
marinalagamar.com.br
• Marina Las Palmas
Tel. 41/3256-1709
• Ma­ri­na Ma­rina
• Marina Pier 33
Tel. 48/3285-3333
Tel. 47/3366-8564
www.marinaoceano.com.br
• Marina Terra Firme
Tel. 48/3285-1524
www.marinaterrafirme.com.br
• Marina 3 Mares
Tel. 48/3243-1199
www.marina3mares.com.br
• Ma­ri­na Off Sho­re
Tel. 47/3361-0765
• Ma­ri­na Vip
Tel. 47/3361-9393
ma­ri­na@so­nau­ti­ca.com.br
a­ri­na da Croa
M
Tel. 48/3266-1980
www.marinadacroa.com.br
•
a­ri­na Club
M
Tel. 48/3284-5080
•
a­ri­na do Costão
M
Tel. 48/9972-2143
www.costaogolf.com.br
•
a­ri­na Fortaleza
M
Tel. 48/3232-3296
N Porto do Sol
C
Tel. 47/3427-2143
www.centronauticoportodosol.com.br
•
I a­te Clu­be Boa Vista
Tel. 47/3433-4429
•
•
a­ri­na Pon­ta da Areia
M
(Fe­do­ca)
Tel. 48/3232-0759
www.chef­fe­do­ca.com
•
a­ri­na Ponta Norte
M
Tel. 48/3284-1558
I C de Por­to Be­lo
Tel. 47/3369-4333
•
Ma­ri­na Atlân­ti­da
Tel. 47/3369-5665
•
Ma­ri­na Cos­ta Man­sa
Tel. 47/3369-4760
ma­ri­na­cos­ta­man­[email protected]
•
a­ri­na Por­to Be­lo
M
Tel. 47/3369-4570
•
a­ri­na Porto do Rio
M
Tel. 47/3369-4000
www.marinaportodorio.com.br
•
a­ri­na Ribeirão da Ilha
M
Tel. 48/9925-9188
•
arina Santo Antônio
M
Tel. 48/3233-0009
www.marinasantoantonio.com.br
•
•
arina Sea Escape
M
Tel. 48/3248-3596
www.seaescape.com.br
arina Verde Mar
M
Tel. 48/3232-7323
www.marinaverdemar.com.br
oinville Iate Clube
J
Tel. 47/3434-1744
www.joinvilleiateclube.com.br
SÃO FrancisCO DO SUL
• Marina das Garças
Tel. 47/3467-3801
www.marinadasgarcas.com.br
a­ri­na Recanto da Lagoa
M
Tel. 48/3232-2260
a­ri­na da Con­cei­ção
M
Tel. 48/3232-1297
• Ma­ri­na Oce­a­no
•
Tel. 48/3235-2418
www.ma­ri­na­marina.com.br
•
•
• Marina Lagamar
a­ri­na Blue Fox
M
Tel. 48/3369-0185
• Ma­ri­na Cam­bo­riú
• Porto Estaleiro
PARANAGUÁ
•
•
• Marina Central Náutica
a­goa Ia­te Clu­be
L
Tel. 48/3232-0088
www.lic.org.br
Tel. 47/3367-3699
Tel. 41/3455-1528
Tel. 41/3472-2609
www.portoestaleiro.com.br
•
I a­te Clu­be de
Santa Catarina
Tel. 48/3225-7799
www.icsc.com.br
Tel. 47/3366-3114
www.byden­te.com.br
Tel. 41/3472-3791
www.marinaguarapesca.com.br
• Marina Vela Mar
Pro Náu­ti­ca
Tel. 48/3232-8457
[email protected]
• Ma­ri­na By Den­te (só jets)
SAN­TA
CA­TA­RI­NA
• Marina do Sol
Tel. 41/3442-1178
[email protected]
• Jet Point (só jets)
Tel. 47/3361-0294
www.jet­point.com.br
Mares do Sul
Tel. 41/3455-1447
www.marinamaresdosul.com.br
Itapema
• Ia­te Clu­be de Cam­bo­riú
Tel. 47/3367-0452
Ilhas do Sul
Tel. 41/3455-1380
Tel. 41/3442-1535/3222-6813
www.iateguaratuba.com.br
•
JOINVILLE
• Cond. Náutico
Tel. 41/3472-1624
N Por­to Be­lo
C
Tel. 47/3369-4361
[email protected].
br
• Ma­ri­na da La­goa/
PONTAL DO SUL
• Porto Marina Guaratuba
Tel. 48/3348-7084
FLORIANÓPOLIS
• Marina Vale do Sol
Tel. 41/3455-2282
[email protected]
• Ma­ri­na Itaguaçu
Tel. 47/3361-4721
lo­bo­do­marsc@ter­ra.com.br
CAMBORIÚ
Tel. 41/3452-1545
www.icc.org.br
GUARATUBA
• Marina Canto Grande
Tel. 47/3393-3227
• Ia­te Clu­be de Cai­o­bá
Tel. 41/3473-5174/99742209
•
Itajaí
CAIOBÁ
• Marina Bali
POR­TO BE­LO
Gov. Celso Ramos
BOMBINHAS
•
ass Mariner
N
Tel. 47/3427-4915
•
ociedade
S
Recreativa Marbi
Tel. 47/3437-4124
Laguna
•
I .C. Laguna
Tel. 48/3644-0551
•
Capri Iate Clube
Tel. 47/3444-7247
www.capriiateclube.com.br
•
Clube Náutico
Cruzeiro do Sul
Tel. 47/3444-2493
•
I peroba
Hangaragem Náutica
Tel. 47/9922-0070
•
arina Nautilus
M
Tel. 47/3444-7172
www.marinanautilus.com.br
PIÇARRAS
•
arina Park
M
Tel. 47/3345-0338
www.marinaparksc.com.br
Náutica Sul
79
cruzadas Náuticas
Marinas
• Marina Ilha Bela
Tel. 51/3022-3217
Tel. 51/3268-0397
www.ia­te­clu­be­guai­ba.com.br
• Marina Sul
Tel. 51/3203-1944
www.marinasul.com.br
• Marina Vitória Régia
Tel. 51/3211-7938
Tel. 51/3203-2177
www.nautiescola.com
HORIZONTAIS
• Rio Gran­de Yacht Club
Iate Clube
Tel. 51/3628-8080
www.pin­gue­lai­a­te­clu­be.com.br
Tel. 53/3232-7196
www.rgyc.com.br
• Píer 340
• Marina da Conga
Tel. 51/3264-6800
www.pier340.com.br
SÃO LOURENÇO
Tel. 51/9899-2894
www.marinadaconga.com.br
• Porto Alegre Boat Club
• Veleiros Saldanha da
Gama
Tel. 53/3225-5399
www.veleirossaldanhadagama.
com.br
• Marina das Flores
Tel. 51/3203-2002
www.marinadasflores.com.br
Tel. 51/9956-1033
www.portoalegreboatclub.
com.br
Tel. 51/9967-3036
São Lourenço do Sul
Tel. 53/3251-3606
www.icsls.com.br
• Sava Clube
Tel. 51/3269-1984
www.savaclube.com.br
• Veleiros do Sul
• Clube Náutico Itapuã
Tel. 51/3494-1355
www.clubenauticoitapua.com.br
Tel. 51/3265-1733
www.vds.com.br
Nome popular desta arraia
Daniel Botelho
Resposta das
• Marina do Lessa
profundidade, geralmente próxima à costa • 20 Lançar borrifos de água • 22 A época dos peixes porem ovos • 23 Iguaria feita com ovas salgadas de alguns peixes
• 25 A capital do menor estado brasileiro • 26 Que dura pouco, mas vai e volta • 27 Termo que significa reduzir a área vélica • 28 Medida correspondente a 0,22 m.
• Iate Clube
Cruzadas
Tel. 51/3268-0080
www.jan­ga­dei­ros.com.br
Xingu • 13 Peixe semelhante à garoupa, vive geralmente sobre fundos rochosos ou arenosos • 18 Formação rochosa, à flor da água ou submersa, em áreas de pouca
Nome desta raia
• Clu­be dos Jan­ga­dei­ros
Tel. 51/3243-4703
4 O nome do famoso navio do explorador francês Jacques-Yves Cousteau • 6 Barco típico dos povos primitivos • 7 Fricção entre dois corpos que
tocam um no outro • 8 Banco de areia oculto sob a água e perigoso à navegação • 9 Um dos mais difíceis estilos de natação • 10 O estado com as nascentes do rio
Viamão
PORTO ALEGRE
• Marina Refúgio
Você entende de mar?
RIO GRAN­DE
• Nautiescola
• La­goa da Pin­gue­la
PELOTAS
Tel. 51/3672-1209
www.nauticotapense.com.br
V
E
R
T
I
C
A
I
S
1 Formação localizada no rio Araguaia, a maior do mundo no seu gênero • 2 Circulação de ar • 3 Armazém junto a litoral marítimo, lacustre ou
fluvial para depósito de mercadorias em trânsito • 4 Aluno de Academia Militar • 5 Sair com o destino a • 8 Uma das capitais sul-americanas
banhadas pelo rio da Prata • 11 O segundo maior curso d’água da América do Sul • 12 Raia encontrada em águas tropicais, com até 6,5 m de
comprimento, também conhecida como morcego-do-mar ou peixe-diabo • 13 Relativo ao sul • 14 Patrulha de acompanhamento para proteção • 15
A capacidade de carga de um navio • 16 Pequeno barco de formato variado usado em águas calmas, próprio para o lazer • 17 Mestre de qualquer
tipo de embarcação • 18 Revezamento alternativo em certas atividades • 19 Região costeira a prumo que facilita a aproximação de navio • 21
Um dispositivo de segurança para residências, carros, lojas etc. • 24 Barco movido pela energia gerada pelas partículas gasosas emanadas da água.
Respostas na página 80
Náutica Sul
81
Elaboradas por A Recreativa — palavras cruzadas e passatempos — www.recreativa.com.br
• Ia­te Clu­be Guaí­ba
Tel. 51/9971-1793
www.fa­zen­da­pon­tal.com.br
• Clu­be Náu­ti­co Ta­pen­se
• Marina Porto 30
OSÓRIO
• Fa­zen­da Pon­tal
TAPES
Tel. 51/3211-7551
daniel botelho
RIO GRANDE
DO SUL
arquivo pessoal
3 perguntas
“PESCAR também é coisa de mulher”
Uma das pioneiras da pesca esportiva do gênero feminino, Maraisa Ribeiro
garante que as mulheres que não pescam é porque ainda não experimentaram isso direito
E
m 1997, a então repórter de TV Maraisa Ribeiro foi
escalada para fazer uma reportagem sobre um pescador esportivo. Gostou tanto do assunto que virou
uma especialista, tanto no âmbito profissional quanto pessoal. Hoje, aos 52 anos, casada e com um marido que gosta
de pescarias bem menos do que ela, é, seguramente, uma
1
Os homens não
estranham ter uma
mulher na pescaria?
“Quando eu comecei a pescar,
quase 20 anos atrás, sim. E muito. Ainda
mais porque eu fazia reportagens sobre
pescarias para a televisão e choviam
cartas dos telespectadores, todos homens,
naturalmente, com piadas e comentários
nada elogiosos a respeito. O mínimo que
eles diziam é que o lugar de mulher na
pescaria era no fogão, preparando os peixes
pro almoço — sem falar nos comentários de
duplo sentido, envolvendo varas e coisas do
tipo. Mas, naquela época, mulher pescadora,
ainda mais na pesca esportiva, que tem por
objetivo apenas a diversão, já que os peixes
são devolvidos à água, era quase um ET. Não
havia pousadas de pesca preparadas para
receber mulheres, nem roupas femininas
específicas. Eu era obrigada a me vestir
como um homem e, por isso, várias vezes fui
confundida com um sapatão. Mas hoje não.
Canso de ver casais pescando e acho que,
de certa forma, contribuí para isso.”
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Náutica Sul
2
das mulheres que mais pescam no Brasil — tanto que virou
colunista da revista Pesca Esportiva, além de ter um marlin
tatuado nas costas, lembrança do maior peixe que pescou
até hoje. “Como sempre, eu era a única mulher no meio
de um monte de homens, e fui a única que pegou um daqueles peixões”, brinca, como conta nesta rápida entrevista.
As mulheres levam
alguma vantagem
nas pescarias?
“Sim (rindo): os homens não deixam
que eu carregue peso nem arraste o barco.
Sempre tem um cavalheiro que se oferece
para fazer o serviço mais pesado e eu, por
educação (rindo ainda mais), aceito. Ou seja,
fico só com o melhor da pescaria, que é o
prazer de sentir as fisgadas e trazer o peixe.
Mas é claro que nem todo grupo gosta
de ter uma mulher por perto, porque isso
tira um pouco da liberdade deles de falar
bobagens e fazer besteiras. Eu tento deixar o
pessoal à vontade e aviso logo que, quando
eles quiserem fazer xixi, por exemplo, é só
me avisar que fico olhando a paisagem.
Mas, no fundo, sempre fui bem tratada,
justamente porque era a única mulher no
grupo. Mas acho que as mulheres têm mais
sensibilidade e paciência, o que combina
com pescarias. Sem contar que mulher não
tem vergonha de perguntar e mostrar que
não sabe, aprendendo assim mais rápido,
coisa que os homens não fazem.”
3
Por que as
mulheres em geral
não gostam de pescar?
“Tenho certeza de que é apenas
porque ainda não experimentaram. Veja
as orientais, por exemplo. Pescar sempre
fez parte da cultura delas, porque, no
passado, era uma forma de buscar alimento
e cabia à mulher cuidar da alimentação
da família. Hoje elas continuam pescando,
apenas porque gostam de fazer isso. Mas
é certo que as mulheres em geral prezam
o conforto mais do que os homens e isso
nem sempre combina com certos locais
de pescarias. Além disso, muitos maridos
desencorajam propositalmente suas
mulheres, dizendo que tem cobra, mosquito
e outros bichos, porque querem ficar
sozinhos e se divertirem também depois
das pescarias. Para estes, pescar virou
desculpa. Isso já foi bem mais comum do
que é hoje, mas deixou a tradição de que
pescaria é coisa de homem. Mas eu posso
garantir — e da maneira mais inequívoca
possível — que também é coisa de mulher.”

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