V. 4, n. 1, Janeiro/Dezembro - 2004
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V. 4, n. 1, Janeiro/Dezembro - 2004
ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico Copyright © Associação Brasileira de Ensino Odontológico, 2004 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução no todo ou em parte, por qualquer meio, sem autorização da ABENO. Catalogação-na-publicação Serviço de Documentação Odontológica Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo Revista da ABENO/Associação Brasileira de Ensino Odontológico – vol. 1, n. 1, (2001). – São Paulo : ABENO, 2001Anual ISSN# 1679-5954 1. Odontologia – Periódicos I. Associação Brasileira de Ensino Superior (São Paulo) II. ABENO CDD 617.6 BLACK D05 Associação Brasileira de Ensino Odontológico Presidente Antonio Cesar Perri de Carvalho Universidade Católica de Brasília - Curso de Odontologia Nova Sede QS 07 Lote 01 - CEP 72030-170 Águas Claras - Brasília - DF Tel.: (61) 356-9611 E-mail: [email protected] Editor Científico José Luiz Lage-Marques Produção editorial Ricardo Borges Costa IMC - Image Maker Comunicações Rua Alice Macuco Alves, 148, cj. 2 - CEP 05453-010 São Paulo - SP Tel.: (11) 3021-0163 Fax: (11) 3023-3165 Apoio para esta edição: Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic Editorial A Revista da ABENO é uma publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Presidente de Honra: Edrízio Barbosa Pinto (PE) Presidente: Antonio Cesar Perri de Carvalho (DF) Indução para Aperfeiçoamentos H á quase uma década, a ABENO vem atuando de forma sistemática e continuada na indução de processos de aperfeiçoamento do ensino de Odontologia. Editor Científico: José Luiz Lage-Marques (FO-USP) ([email protected]) Nos últimos tempos, a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia tem dominado as preocupações da ABENO, dos cursos de Odontologia e de setores governamentais. Editores Adjuntos: Cléo Nunes de Souza (UFSC) Luísa Isabel Taveira Rocha (UFG) Nelson Rubens Mendes Loretto (UPE) Vera Lúcia Silva Resende (UFMG) Entre as estratégias da ABENO, as “Oficinas” sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais têm estimulado a reflexão e o debate institucionalmente. Vice-presidente: Eduardo Gomes Seabra (RN) Conselho Editorial: Álvaro Della Bona (UPFundo) Antonio Carlos Bombana (FO-USP) Carlos de Paula Eduardo (FO-USP) Carlos Eduardo Francischone (FOB-USP) Carlos Estrela (FO-UFG) Célia Marisa Rizzatti Barbosa (UNICAMP) Cinthia Pereira M. Tabchoury (UNICAMP) Cláudio Luiz Sendyk (FO-USP) Denise Tostes Oliveira (FOB-USP) Eduardo Batista Franco (FOB-USP) Esther Goldenberg Birman (FO-USP) Eduardo Dias de Andrade (FOP-UNICAMP) Eduardo Saba Chujfi (UNICASTELO) Elaine Bauer Veeck (PUC-RS) Élito Araújo (UFSC) Euloir Passanezi (FOB-USP) Fernando Ricardo Xavier da Silveira (FO-USP) Francisco José de Souza Filho (FOP-UNICAMP) Izabel Cristina Froner (FORP-USP) Jaime Aparecido Cury (FOP-UNICAMP) Jesus Djalma Pécora (FORP-USP) João Humberto Antoniazzi (FO-USP) Jorge Abrão (FO-USP) José Eduardo de Oliveira Lima (FOB-USP) José Ranali (FOP-UNICAMP) Liliane Soares Yurgel (PUC-RS) Luiz Carlos Pardini (FORP-USP) Luiz Clovis Cardoso Vieira (UFSC) Manuel Damião de Sousa Neto (UNAERP) Márcia Martins Marques (FO-USP) Marcio Fernando de Moraes Grisi (FORP-USP) Marco Antonio Bottino (FOSJC-UNESP) Marco Antonio Campagnoni (FOAR) Maria Aparecida de A. M. Machado (FOB-USP) Maria Celeste Morita (UEL) Maria da Graça Kfouri Lopes (UNICENP) Maria José de Carvalho Rocha (UFSC) Maria Regina Sposto (FOA-UNESP) Neusa de Lima Moro (UFPar) Nilza Pereira da Costa (PUC-RS) Roberto Brandão Garcia (FOB-USP) Roberto Miranda Esberard (FOAR-UNESP) Rodney Garcia Rocha (FO-USP) Rosemary Sadami Arai Shinkai Simone Tetu Moysés (UFPar) Sylvio Monteiro Júnior (UFSC) Vania Ditzel Westphallen (PUC-PR) Indexação A Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico está indexada nas seguintes bases de dados: BBO - Bibliografia Brasileira de Odontologia; LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde. Nesse ínterim, as discussões sobre as alterações do sistema de avaliação causaram momentos de incertezas. Todavia, a recente definição do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) e a nomeação da Comissão de Odontologia para o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) apontam que os rumos da avaliação do ensino superior, conforme se propalava, não serão radicalmente alterados. Há claros indícios de que o discurso radical contra o sistema de avaliação até então adotado não obteve sucesso. Essas definições robustecem os esforços para a continuidade da implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais. No entanto, há necessidade da retaguarda de ações que estão sendo planejadas pelo Ministério da Saúde, com vistas à real integração entre as propostas dos Projetos Pedagógicos, fundamentados nas Diretrizes Curriculares Nacionais, e a área dos serviços de saúde e do próprio Sistema Único de Saúde (SUS). Aos poucos, esse cenário de inquietações parece caminhar para horizontes de equacionamento. As Reuniões da ABENO têm sido excelente foro para essas discussões atuais e oportunas. Esta Revista também acompanha o mesmo delineamento, pois sua linha editorial reflete claramente o esforço para o processo de mudanças, induzindo à implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais. Antonio Cesar Perri de Carvalho Presidente da ABENO Revista da ABENO • 4(1):3 3 Associação Brasileira de Ensino Odontológico DIRETORIA (2002 a 2006) Presidente de Honra Edrízio Barbosa Pinto (PE) Presidente Antonio Cesar Perri de Carvalho (DF) Vice-Presidente Eduardo Gomes Seabra (UFRN) Secretária Geral Luciana de Moura Brito (UCB-DF) 1ª Secretária Ana Cristina Barreto Bezerra (DF) Tesoureiro Geral Sérgio de Freitas Pedrosa (UCB-DF) 1ª Tesoureira Cresus Vinicius Depes de Gouveia (UFF) Elaine Bauer Veeck (PUCRS) Elen Marise de Oliveira Oleto (UFMG) Maria Celeste Morita (UNOPAR) Miguel Carlos Madeira (UMESP) Omar Zina (UNIVAG) Comissão de Especialização Sigmar de Mello Rode (UNIB) Antonio Fernando Martorelli de Lima (UNICAMP) Célio Percinoto (FOA-UNESP) Hilda Maria Montes R. de Souza (UERJ) José Thadeu Pinheiro (UFPE) Kátia Regina Hostilho Cervantes Dias (UFRJ) Luís Fernando Pegoraro (FOB-USP) Comissão de Pós-Graduação Isabela Almeida Pordeus (UFMG) Adair Luiz Stefanello Busato (ULBRA) José Carlos Pereira (FOB-USP) Lino João da Costa (UFPB) Nicolau Tortamano (UNIP) Nilza Pereira da Costa (PUC-RS) Lílian Marly de Paula (DF) Conselho Fiscal José Galba de Meneses Gomes (UFCE) Geza Nemeth (DF) José Aparecido Jam de Melo (SP) Nelson José Fernandes Graça (UFRJ) Reinaldo Brito e Dias (SP) Assessores do Presidente Alfredo Júlio Fernandes Neto (UFU-MG) Bruno Frederico Muniz (Faculdade de Odontologia do Recife) Carlos Alberto Conrado (UEM) José Dilson Vasconcelos de Menezes (UFC) Orlando Airton de Toledo (UNB) Roberto Schimer Wilhelm (UNESA) Comissão de Ensino Léo Kriger (UTP e PUCPR) Comissão de Ensino de Nível Médio e de Formação de Pessoal Auxiliar Vanderlei Luiz Gomes (UFU) Ângelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira (UFRN) Luiza Nakama (UEL) Maria Beatriz Barreto de Souza Cabral (UFBA) Maria das Neves Correia (UPE) Sávio Marcelo Leite Moreira da Silva (UFPR) Vilma Azevedo da Silva Pereira (UFRJ) Comissão de Comunicação José Luiz Lage-Marques (USP) - Editor da Revista da ABENO Vera Lúcia Silva Resende (UFMG) - Responsável pela home page da ABENO Cléo Nunes de Souza (UFSC) Daniel Rey de Carvalho (UCB-DF) Luísa Isabel Taveira Rocha (UFG) Nelson Rubens Mendes Loretto (UPE) SUMÁRIO v. 4, n. 1, janeiro/dezembro - 2004 Associação Brasileira de Ensino Odontológico EDITORIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 ARTIGOS Planejamento do curso de graduação de Odontologia Antonio Cesar Perri de Carvalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Diretrizes Curriculares e projetos pedagógicos: é tempo de ação! Laura Feuerwerker, Márcio Almeida . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Mudanças nos cursos de Odontologia e a interação com o SUS Maria Celeste Morita, Léo Kriger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 A profissionalização docente e os desafios político-estruturais dos formadores em Odontologia Luciane Gabeira Secco, Maria Lúcia Toralles Pereira . . . . . . . . 22 Laboratório Pré-Clínico de Cirurgia Bucomaxilofacial Daniel Rey de Carvalho, Normeu Lima Júnior, Sérgio Bruzadelli Macedo, Antonio Cesar Perri de Carvalho . . . . . . . . . . . . . . 29 Políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia Samuel Jorge Moysés . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Odontologia do Trabalho e Sistema Único de Saúde – uma reflexão Arsenio Sales Peres, Kelly Polido Kaneshiro Olympio, Lucilene Sanches Cirilo da Cunha, Priscila Ariede Petinuci Bardal . . . . . . 38 Triagem periodontal através do PSR em estudantes de Odontologia da Universidade Federal da Bahia Viviane Coelho Dourado, Gisela Estela Rapp. . . . . . . . . . . . . 42 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia Marcos Tarciso Masetto, Andréa Sales do Prado . . . . . . . . . . . 48 Orientações terapêuticas utilizadas pelos cursos de especialização em Odontopediatria no Brasil para a cárie severa da infância Soraya Coelho Leal, Ana Cristina Barreto Bezerra, Orlando Ayrton de Toledo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 ANAIS DA XXXVIII REUNIÃO ANUAL - 2003 Diretoria e Coordenação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Programação e trabalhos apresentados . . . . . . . . . . . . . 65 ANAIS DA XXXIX REUNIÃO ANUAL - 2004 Diretoria e Coordenação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Programação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Trabalhos aceitos para apresentação Práticas e projetos de ensino de Odontologia nas faculdades brasileiras – buscando o aperfeiçoamento . . . . . . . . . . . . . . 75 APÊNDICES Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004 Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SINAES e dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Normas para apresentação de originais . . . . . . . . . . . . . 104 ERRATA N a edição de 2003 da Revista da ABENO (2003;3(1):7-14), a Tabela 3 do artigo “A estrutura curricular dos cursos de Odontologia no Brasil”, de Lílian Marly de Paula e Ana Cristina Barreto Bezerra, foi erroneamente publicada com duas linhas a menos. A Tabela 3 correta é a seguinte: Tabela 3 - Quantidade de cursos da amostra por estado. Estado Nº de cursos Estado Nº de cursos Alagoas 1 Pará 2 Amazonas 2 Paraíba 1 Ceará 2 Paraná 6 Bahia 2 Pernambuco 1 Distrito Federal 4 Piauí 1 Espírito Santo 1 Rio Grande do Norte 1 Goiás 2 Rio Grande do Sul 9 Maranhão 2 Rio de Janeiro 7 Mato Grosso 2 Santa Catarina 3 Mato Grosso do Sul 1 São Paulo Minas Gerais 5 Sergipe 32 2 Planejamento do curso de graduação de Odontologia É importante planejar os cursos de graduação considerando-se as Diretrizes Curriculares Nacionais. Antonio Cesar Perri de Carvalho* * Professor Titular pela Universidade Estadual Paulista. RESUMO Há importantes recomendações a serem trabalhadas na elaboração do Projeto Pedagógico, que é o planejamento do curso de graduação de Odontologia. Com o objetivo de adequação às Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia, este Projeto deve ser claro na definição do perfil do graduando e coerente no trabalho das competências, habilidades e conteúdo. Pesquisas sobre ensino são destacadas para a reflexão sobre o Curso. As Diretrizes Curriculares Nacionais induzem a uma mudança paradigmática na formação do cirurgião-dentista como profissional da Saúde e enfatizam estratégias para a integração no ensino de Odontologia. DESCRITORES Ensino. Educação em Odontologia. Pesquisa. Currículo. O planejamento do curso de graduação de Odontologia deve se fundamentar no Projeto Pedagógico, proposta de trabalho integrado que descreve um conjunto de capacidades a serem desenvolvidas com os alunos. Como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira de 1996 extingue os Currículos Mínimos, prevê as Diretrizes Curriculares e introduz a avaliação do ensino superior, o Grupo de Estudos sobre Ensino de Odontologia do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo (NUPES), com a participação da Comissão de Ensino da ABENO, discutiu subsídios para o Instrumento de Avaliação das Condições de Oferta dos Cursos de Odontologia e quase que simultaneamente o texto sobre Projeto Pedagógico23. Em passos seguintes estabeleceu-se a relação entre Projeto Pedagógico e um pro- jeto de Diretrizes Curriculares21, e foi elaborado o Manual do Projeto Pedagógico9, com o objetivo de orientar a operacionalização do Projeto Pedagógico. Nesse ínterim, o referido Grupo de Estudos também subsidiou a atuação da primeira Comissão do Exame Nacional de Cursos para Odontologia, em 1997, com vistas à elaboração da pioneira diretriz para o Provão de Odontologia18. Desde 2002, encontra-se em vigência as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia e estas devem fundamentar o planejamento do curso de graduação de Odontologia17. SÍNTESE DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS As Diretrizes Curriculares Nacionais definem o objetivo do curso de Odontologia e que o currículo tem base nacional comum, a ser complementado pelas instituições de ensino superior, com uma parte diversificada capaz de refletir a experiência de cada instituição e as imposições do quadro regional em que se situa. As Diretrizes Curriculares Nacionais sinalizam para uma mudança paradigmática na formação de profissional crítico, ser capaz de aprender a aprender, de trabalhar em equipe, e de levar em conta a realidade social. Com relação à instituição formadora, esta deve estar aberta às demandas sociais, capaz de produzir conhecimento relevante e útil. Como conseqüência deve ser priorizada a atenção à saúde universal e com qualidade, com ênfase na promoção da saúde e prevenção das doenças. As Diretrizes Curriculares Nacionais definem também seu objeto e propõem como perfil do profissional a ser formado: “profissional generalista, com sólida formação técnico-científica, humanística e ética, orientada para a promoção de saúde, com ênfase na Revista da ABENO • 4(1):7-13 7 Planejamento do curso de graduação de Odontologia • Carvalho ACP prevenção de doenças bucais prevalentes”17. Entendemos necessário o desdobramento desse conceito e adequá-lo, em seus detalhes, ao estudante que receberá a formação específica no curso, como preparação para a atuação profissional. Essa atuação, com produtividade e qualidade, não se restringirá aos grandes centros urbanos, mas também aos pequenos, seja como autônomo, como prestador de serviços em convênios, clínicas privadas, equipes multidisciplinares, saúde pública. Perfil, competências e habilidades Caracteriza as competências e habilidades gerais e específicas a serem desenvolvidas no curso, com base em sugestões da Organização Mundial de Saúde e do Grupo de Estudos sobre Ensino de Odontologia do NUPES18. Torna-se oportuna, a conceituação de competência, considerando-a como “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”16. Entre as competências e habilidades, o graduando de Odontologia, deve desenvolver: colher, observar e interpretar dados para a construção do diagnóstico; identificar as afecções buco-maxilo-faciais prevalentes; desenvolver raciocínio lógico e análise crítica na conduta clínica; propor e executar planos de tratamento adequados; realizar a promoção e manutenção da saúde; comunicar-se com pacientes, com profissionais da Saúde e com a comunidade em geral, dentro de preceitos ético-legais; trabalhar em equipes interdisciplinares e atuar como agente de promoção de saúde; planejar e administrar serviços de saúde coletiva; acompanhar e incorporar inovações tecnológicas (informática, novos materiais, biotecnologia) no exercício da profissão. Conteúdo Os conteúdos caracterizadores, à vista do desenvolvimento das competências e habilidades, deverão ter como objeto de trabalho as matérias de formação básica, profissionalizante e social. Estas matérias constituir-se-ão em um núcleo comum a todos os cursos de Odontologia. As matérias de formação básica incluirão as de formação geral e as Ciências Sociais. Aqui se incluem as chamadas linguagens básicas, como português, inglês instrumental, espanhol nas áreas de influência do Mercosul e informática. A formação social ou humanística e ética será 8 adquirida através do oferecimento de disciplinas de cunho social, mas também através de conteúdo programático das demais disciplinas, pois o corpo docente deve estar engajado no processo educacional. A formação profissionalizante deverá ser adequada às realidades em que atuará o profissional e com espírito crítico e aberto para eventual absorção de tecnologias, sem ênfase apenas para tecnologias sofisticadas. O ensino técnico objetivará competências e destrezas necessárias ao exercício profissional. A clínica por disciplinas poderá ter seu lugar, mas haverá ênfase de ensino em clínica integral, em clínica odontológica, clínica extramuros na região e fora da região, serviço de urgência e clínica de férias. Todavia, Paula13 (2003) e Paula, Bezerra14 (2003) em análise de 89 Projetos Pedagógicos de cursos de Odontologia disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas - Ministério da Educação (INEP/MEC) constataram um cenário de distribuição da carga horária em evidente discrepância com as Diretrizes Curriculares Nacionais (Quadro 1). Integração de matérias A integração de matérias, coluna mestra das Diretrizes Curriculares Nacionais em todo o processo ensino-aprendizagem, está claramente delineada no trecho: “aproximar o conhecimento básico da sua utilização clínica; viabilização pela integração curricular”; e no item “Estágio curricular: este estágio deverá ser desenvolvido de forma articulada e com complexidade crescente ao longo do processo de formação”. Torna-se oportuna a transcrição: “A multidisciplinaridade está conquistando um espaço cada vez maior em consultórios, clínicas e hospitais de ponta, independentemente da especialidade em questão. Com a abordagem interdisciplinar, quem lucra é o paciente”6. Quadro 1 - Carga horária. Carga horária Média Total 4.730 Básica 1.046 Profissionalizante 3.036 Saúde Coletiva 257 Ética e Cidadania 215 Formação Científica 107 Novas áreas 13 Fonte: Pala, Bezerra (2003). Revista da ABENO • 4(1):7-13 14 Planejamento do curso de graduação de Odontologia • Carvalho ACP Na tese de doutorado que gerou o artigo citado sobre carga horária Paula13 (2003) analisa também os avanços em Genética Molecular e impactos na prática profissional em Odontologia, verificando “maior ênfase na Odontologia Restauradora e uma menor atenção na abordagem biológica para diagnóstico, prevenção e terapêutica. O ideal esperado seria a plena integração entre a formação curricular e a atuação profissional, incorporando os avanços dos conhecimentos nas Ciências Biológicas e suas possíveis aplicações na manutenção da saúde da população”. Estágio supervisionado O conceito desse estágio para a Odontologia foi elaborado em reuniões da ABENO e a integração de matérias tem aí um momento significativo: ras e representantes do controle social. Pesquisa Para o curso de graduação, uma proposta que vise a compreensão e a atuação de alunos em processos investigativos já atende às Diretrizes Curriculares Nacionais. No entanto, idealmente, a instituição deve ter propostas de produção de conhecimento e manter relação, inclusive com o projeto de curso de pós-graduação. Sobre a produção de conhecimento nos cursos de pós-graduação Péret, Lima15 (2003) detectaram um modelo tradicional, com valorização do conhecimento tecnológico, mercantilização da pesquisa, desvalorização da pesquisa pedagógica, e dissociação do ensino e pesquisa. A nosso ver, deve existir uma constante retroalimentação entre ensino, serviços e pesquisa no projeto e na sua implementação no curso de graduação. “O estágio supervisionado é o instrumento de integração e conhecimento do aluno com a realidade social e econômica de sua região e do trabalho de sua área. Ele deve, também, ser entendido como o atendimento integral ao paciente que o aluno de Odontologia presta à comunidade, intra e extramuros. O aluno pode cumpri-lo em atendimentos multidisciplinares e em serviços assistenciais públicos e privados”2. Este tem o objetivo de fomentar a relação ensino e serviços, ampliar as relações da universidade com a sociedade e, colocar o futuro profissional em contato com as diversas realidades sociais. As Diretrizes Curriculares Nacionais estipulam que 20% da carga horária plena do curso devem se caracterizar como estágio supervisionado. Moysés et al.11 (2003) relatam a experiência desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, sobre as adequações do Projeto Pedagógico às Diretrizes Curriculares Nacionais, destacando: estratégia de diversificação de cenários de ensino-aprendizagem à realidade social, às políticas sociais e ao Sistema Único de Saúde (SUS) e, a contextualização da aprendizagem, problematização, habilidades de negociação, para decisões coletivas e para a participação. Na acepção de Feuerwerker7 (2003), as mudanças introduzidas pelos estágios supervisionados deverão representar transformações de concepções, de práticas e no trabalho das instituições formadoras, que são convidadas a integrar os Pólos de Educação Permanente em Saúde, núcleos de articulação entre gestores municipais e estaduais do SUS, instituições formado- ADEQUAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO O Projeto Pedagógico está previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais e está incluído como um dos itens principais no processo de avaliação das condições de ensino dos cursos, desde a proposta de criação até o reconhecimento dos mesmos. O Projeto Pedagógico é uma proposta conjunta de trabalho que visa o engajamento dos segmentos docente, discente e administrativo, a eficiência do processo e a qualidade da formação plena do aluno em termos científico-culturais, profissionais e de cidadania. A presente proposta de planejamento de curso de graduação de Odontologia representa uma releitura das linhas mestras do Projeto Pedagógico definido pela ABENO, a partir da vigência das Diretrizes Curriculares Nacionais. Etapas Torna-se interessante a elaboração do Projeto Pedagógico, respeitando-se alguns passos: A) Diagnóstico do perfil, das expectativas e necessidades dos alunos, das necessidades da população quanto à saúde bucal. B) Definição de metas e objetivos que se pretendem alcançar e estabelecimento de diretrizes gerais que nortearão os vários semestres e as várias disciplinas do curso. C) Planejar ações que permitam atingir as metas desejadas. Este planejamento terá como ponto de convergência os objetivos e metas concretas para Revista da ABENO • 4(1):7-13 9 Planejamento do curso de graduação de Odontologia • Carvalho ACP o curso como um todo, respeitando as especificidades das disciplinas e atividades a serem planejadas. D) Organizar o processo de acompanhamento e avaliação do projeto para seguir o desencadeamento das ações, perceber seus resultados e redirecionar os rumos do projeto em andamento, quando necessário. Ao término de cada ação do projeto, realiza-se a avaliação para se verificar até que ponto os objetivos foram atingidos. Ao longo do caminho, o emprego do tempo, o calendário, a divisão de tarefas ou as próprias ações e suas metas podem se mostrar inadequadas, exigindo redefinição, reorientações e replanejamento. A implantação do Projeto Pedagógico requer esforço conjunto e vontade política. Não se restringe à mera reprodução de práticas sedimentadas, que podem estar contaminadas por um corporativismo que bloqueia a percepção dos problemas e, assim fazendo, dificulta sua solução. Compete a cada instituição demonstrar que pode produzir ensino, serviços, pesquisa com otimização de recursos, eficiência e qualidade de resultados. Para tal, requer projetos de atuação constantes, abrangentes e legitimados pela comunidade acadêmica. A inadequação de projetos gera conflitos, baixos níveis de eficiência dos processos e resultados na formação do aluno incompatíveis com o papel que a universidade deve assumir perante a sociedade. Aspectos fundamentais para o Projeto Pedagógico Como esboço geral, as discussões devem estabelecer para cada curso: Planejamento Definição dos objetivos a serem atingidos, as diretrizes gerais para o Projeto, seu detalhamento e sua operacionalização. Delineamento geral Definição do delineamento a ser observado no processo de formação, como: participação, avaliação, qualidade, ética nas relações professor-aluno, atendimento ao aluno, autodisciplina, pontualidade, serviço à comunidade e outros itens julgados relevantes. Componentes curriculares Delimitação das diferentes áreas do conhecimento que integram o currículo, descrição do seu papel na formação do aluno e dos componentes curriculares relevantes para o perfil definido. Estrutura curricular Desdobramento das matérias previstas nas Diretrizes Curriculares Nacionais em disciplinas e atividades, com cargas horárias correspondentes, seriação e, eventualmente, pré-requisitos. Flexibilizar o currículo para possibilitar o aprofundamento da aprendizagem sobre assuntos específicos e a viabilização da introdução de disciplinas optativas. Entre estas, estimular o ensino das linguagens básicas (línguas, informática), de novas áreas e propiciar, se necessário, orientações sobre o aprender a aprender para os alunos ingressantes. Torna-se interessante a discussão de recomendações sobre o ensino de matérias, entre outras: Câncer Bucal10, Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial5, Dentística8. Elenco de disciplinas Relação de disciplinas obrigatórias e optativas e respectivos programas contendo: ementário (síntese de objetivos e conteúdo); objetivos específicos; conteúdo programático; metodologia do trabalho; forma de avaliação; bibliografia básica. Objetivos gerais Definição do objetivo geral do curso de graduação levando em conta a missão da instituição e coerente com o perfil do profissional a ser formado. Ensino-aprendizagem Definição clara sobre os processos de ensinoaprendizagem e como são aplicadas nos programas de disciplinas e atividades. Utilizar metodologias de ensino-aprendizagem, que permitam a participação ativa dos alunos neste processo e a integração dos conhecimentos das ciências básicas, sociais e clínicas. Estado inicial observado Conhecimento do perfil de entrada no sistema e das tendências observadas. Inclusive, conhecimento sobre o papel de cada referencial cultural na formação do sujeito. Prontuários O prontuário odontológico deve atender às exigências e orientações da Bioética e da legislação. Deve retratar a trajetória do paciente em todos os atendimentos prestados pelo curso, sendo considerado um 10 Revista da ABENO • 4(1):7-13 Planejamento do curso de graduação de Odontologia • Carvalho ACP ponto de integração de disciplinas e atividades, e um instrumento para acompanhamento do desenvolvimento do aluno e para avaliação do poder resolutivo das clínicas3. Trabalho de conclusão de curso As Diretrizes Curriculares Nacionais tornam obrigatória a apresentação do trabalho de conclusão de curso. Cabe à instituição a definição sobre o tipo de trabalho e a forma de apresentação do mesmo. Carga horária A título de recomendação, propomos que a carga horária minimo mimorum de 4.000 horas, defendida pela ABENO junto ao Conselho Nacional de Educação, seja considerada como patamar mínimo para as discussões de carga horária plena do curso. Periodicamente, deve-se analisar as cargas horárias do curso, mantendo-se condições de tempo para pesquisas bibliográficas e auto-aprendizagem. Avaliação O curso deve ser avaliado periodicamente, com consultas aos corpos docente e discente. Os resultados das avaliações contêm informações relevantes para tomada de decisões quanto ao Projeto Pedagógico. Estado final observado Ao final do curso e após este, torna-se importante o conhecimento do perfil de saída do sistema e, em seguida, sobre o desempenho dos egressos. Coordenação Definição de atribuições para o acompanhamento da execução do Projeto Pedagógico e outros agentes envolvidos no processo. PESQUISAS SOBRE ENSINO A instituição deverá considerar o resultado da auto-avaliação, prevista nas Diretrizes Curriculares Nacionais e os resultados de avaliações, conforme a dependência administrativa da instituição, a instâncias estaduais e federais, e eventualmente de outras avaliações externas. Ao conviver com as ações de avaliação em várias áreas, efetivadas pelo MEC entre 1997 e 2003, constatamos que a Odontologia teve uma trajetória diferenciada, sem traumas e com reflexos positivos para o aperfeiçoamento do ensino. Uma avaliação pioneira sobre o desempenho dos graduandos no Exame Nacional de Cursos (ENC) e a relação com a avaliação das condições de oferta dos cursos, relativos ao ano de 1998, permitiu reflexões sobre a pertinência e o valor destas avaliações17,19. Concluiu-se que os resultados do ENC, efetivamente têm relação com a avaliação das condições de ensino efetivada pelos docentes verificadores da Secretaria de Educação Superior (SESu). Há vários estudos com análise da opinião de alunos de cursos de Odontologia e que devem merecer reflexões nas discussões sobre Projeto Pedagógico, para se analisar eventual analogia às condições do próprio curso. Em pesquisas realizadas na Alta Noroeste e na capital do estado de São Paulo, profissionais e formandos deram grande importância ao bom entrosamento entre disciplinas e professores e, especificamente, à facilidade de contato e relacionamento com os professores. Entre os fatores que teriam prejudicado o andamento dos estudos, salientou-se a “má qualidade didática dos professores”4. Os alunos da Universidade Braz Cubas12 foram submetidos a uma pesquisa, realizando desenhos para representação da imagem do cirurgião-dentista. Esta auto-imagem revelou que o caráter humanístico carece maior desenvolvimento, os estudantes pensam em profissionais de consultórios bem-sucedidos e, raramente, o paciente aparece representado. Em termos nacionais, há vários estudos utilizando dados do Questionário-Pesquisa preenchido pelos graduandos no ENC, inclusive sobre o grau de insatisfação dos graduandos, sendo que os graduados de Odontologia se enquadram entre os menos insatisfeitos1. Este é um rico subsídio e há diversos trabalhos apresentados em Reuniões da ABENO. A imprensa divulgou com base no QuestionárioPesquisa do ENC aplicado em 2003, que 56% dos graduandos dos diversos cursos estão insatisfeitos com os mesmos. O curso de Odontologia está em 7º lugar entre os que apresentam menor grau de insatisfação (44,3%), ou seja, 55,7% de seus graduandos estão satisfeitos. Entretanto, há uma série de vertentes específicas que têm sido consideradas pelos graduandos sobre os cursos de Odontologia. Em estudos sobre os desempenhos extremos de cursos com conceitos “A” e “E” no ENC, de 1997 a 2001, com os resultados de algumas questões do Questionário-Pesquisa preenchido pelos graduandos, sobre condições de ensino e a quantidade de graduandos, concluiu-se que há relação entre desempenho no ENC e as condições de ensino. Os cursos com concei- Revista da ABENO • 4(1):7-13 11 Planejamento do curso de graduação de Odontologia • Carvalho ACP to “A” se diferenciam nas respostas das questões sobre equipamentos suficientes, apresentação de plano de ensino, disciplinas com conteúdo desequilibrado e atualização do docente20. A importância do processo de ensino-aprendizagem reside no fato que este se realiza através de um trabalho conjunto entre docentes e alunos, estimulando estes últimos a participar de tarefas e atividades que lhes permitam construir significados cada vez mais próximos à proposta do curso. As condições de ensino relacionadas com estágios supervisionados e atividades de extensão, valorizadas nas recém-aprovadas Diretrizes Curriculares Nacionais foram analisadas com os resultados de algumas questões, estabelecendo-se a relação entre o desempenho dos graduandos dos cursos de Odontologia no ENC, de 1997 a 2002, dos cursos com conceitos extremos “A” e “E”, comparando-se com a média do País22. Em geral, verificou-se que houve melhoria na qualidade de ensino, com mais oferta de atividades culturais. As palestras e conferências têm merecido maior atenção dos formandos durante o seu período de formação. O estágio supervisionado tem se constituído em importante ferramenta para o aperfeiçoamento científico e técnico. O aumento do interesse pela Saúde Coletiva aponta para tendência por novas frentes de trabalho para a prática profissional. COORDENAÇÃO DO CURSO O coordenador do curso, respaldado por comissão ou conselho, passa a ter importante papel e responsabilidade com vistas à viabilização da implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais. Entre estas funções, destacamos: promover implementação e a atualização do Projeto Pedagógico do curso; motivar a instituição para a permanente melhoria das condições de ensino; motivar os professores ao permanente aperfeiçoamento didático; motivar os alunos ao aprendizado durante todo o tempo da graduação; analisar a oportunidade da organização de um núcleo de apoio pedagógico ao docente. Em estudo recente, Secco24 (2003) analisou as concepções de qualidade junto a coordenadores de cursos de Odontologia do estado de São Paulo. Os resultados apontam para a crise que a Odontologia vivencia, isto é, crise de status da profissão e desafios em termos de universalização da saúde bucal à maioria da população e seu impacto social. No plano curricular apontam tendências para valorização das condições materiais, da titulação acadêmica e dos processos de avaliação docente, mostrando algumas contradições 12 em relação à proposta da formação generalista. Finalmente, destaca pontos com posturas mais contraditórias, no plano pedagógico (métodos de ensino-aprendizagem, participação do aluno, tutoria), com concepções que oscilam entre modelos de ensinoaprendizagem tradicionais e inovadores, apontando para a falta de teoria em relação aos aspectos da prática no plano pedagógico. Uriarte Neto25 (2003) salienta que a principal competência da coordenação é atuar como mediador entre as diferentes instâncias. O professor pode resistir a uma pedagogia diferenciada, mas não pode desconhecer os avanços da ciência da educação. Os professores estão implicados e são um dos atores no processo de formação profissional. No acompanhamento da implementação do Projeto Pedagógico é indispensável o adequado funcionamento do conselho de curso de graduação e a substituição das decisões pessoais pelas coletivas. INTER-RELAÇÕES PARA O PLANEJAMENTO Desde a definição do perfil do graduando até os resultados das avaliações sobre o curso, há algumas inter-relações importantes que devem ser constantemente consideradas no planejamento do curso. Com as Diretrizes Curriculares Nacionais deve haver mudança na prática de planejamento de curso e uma releitura para todo o processo. Agora não é mais cabível a tradicional visão conteudística com os desdobramentos da distribuição das “fatias” de carga horária. Propomos o planejamento do curso com base em algumas inter-relações, iniciando pela definição do perfil do profissional a ser formado (Figura 1). Em função disto, reflexões sobre as competências gerais, competências e habilidades específicas e os eixos norteadores que deverão ser desenvolvidos. A partir destas definições é que serão discutidos os conteúdos que serão pertinentes. Finalmente, numa futura avaliação, será analisada a coerência entre tais fatores. Competências gerais Perfil Competências e habilidades específicas Eixos norteadores Figura 1 - Esquema de inter-relações. Revista da ABENO • 4(1):7-13 Conteúdos Planejamento do curso de graduação de Odontologia • Carvalho ACP ABSTRACT Undergraduate dental course planning There are important recommendations that must be developed for the Pedagogical Project, which represents the undergraduate dental course planning for the National Curriculum Guidelines for the Undergraduate Dentistry Courses in Brazil. This Project must be clear in its definition of the undergraduate profile and consistent in its work with competencies, abilities and curriculum. Dental education research is emphasized for the consideration of the courses. The National Curriculum Guidelines drive a paradigmatic change in the education of dental surgeons as health professionals and emphasize strategies for integration in the teaching of dentistry. 12. Pacca S, Correa L, Motta M. Auto-imagem do cirurgião-dentis- DESCRIPTORS Teaching. Education, dental. Research. Curriculum. 18. Perri de Carvalho AC. Formação do cirurgião-dentista. Ensino ta: um estudo baseado em desenhos de alunos de graduação. Rev ABENO 2003;3(1):82-5. 13. Paula LM. A estrutura curricular dos cursos de Odontologia no Brasil e os avanços científicos na área [Tese de Doutorado]. Brasília: Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília; 2003. 14. Paula LM, Bezerra ACB. A estrutura curricular dos cursos de Odontologia no Brasil. Rev ABENO 2003;3(1):7-14. 15. Péret ACA, Lima LRL. A pesquisa e a formação do professor de Odontologia nas políticas internacionais e nacionais de educação. Rev ABENO 2003;3(1):65-9. 16. Perrenoud P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed; 1999. 90 p. 17. Perri de Carvalho AC. A Odontologia em tempos da LDB. Canoas: ULBRA; 2001. 95 p. e profissionalização. Série Documentos de Trabalho, 04/96. São Paulo: NUPES/Universidade de São Paulo; 1996. 19. Perri de Carvalho AC. Odontologia – avaliação dos cursos de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS graduação e conceitos obtidos no Exame Nacional de Cursos 1. Alunos insatisfeitos com cursos. Folha de São Paulo 2004 Jan 14; Seção C-4. de 1998. Série Documentos de Trabalho, 01/99. São Paulo: NUPES/Universidade de São Paulo; 1999. 2. Associação Brasileira de Ensino Odontológico - ABENO. Está- 20. Perri de Carvalho AC, Carvalho DR. Desempenho de graduan- gios supervisionados. Reunião Paralela da ABENO, 2003. Aces- dos de Odontologia no Exame Nacional de Cursos. Análise de so em 15 Mar 2004. Disponível em: http://www.abeno.org.br. grupos de cursos com resultados extremos (1997-2001). Rev 3. Associação Brasileira de Ensino Odontológico - ABENO. Proposta de modelo de prontuário odontológico. São Luiz. 36ª Reunião da ABENO, 2001. (mimeo) ABENO 2002;2(1):57-62. 21. Perri de Carvalho AC, Fernandes Neto AJ, Madeira MC. Diretrizes curriculares e projeto pedagógico para curso de Odon- 4. Carvalho D, Perri de Carvalho AC, Sampaio H. Motivações e expectativas para o curso e para o exercício da Odontologia. Rev Assoc Paul Cir Dent 1997;51(4):345-9. tologia. Série Documentos de Trabalho, 02/98. São Paulo: NUPES/Universidade de São Paulo; 1998. 22. Perri de Carvalho AC, Kriger L. Análise do Questionário-Pes- 5. Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo- quisa do Exame Nacional de Cursos, área de Odontologia. Facial. Relatório do Fórum de Ensino e Formação em Cirurgia Estudo sobre o desempenho de graduandos com conceitos “A” e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. Rev ABENO 2003; e “E” período de 1997 a 2002. 38ª Reunião da ABENO, Curiti- 3(1):86. ba; 2003 (Pôster). 6. Cukier C. Multidisciplinaridade. Instituto de Metabolismo e 23. Projeto Pedagógico para Curso de Odontologia: Anais da 33ª Nutrição. Acesso em 02 Set 2003. Disponível em: http://super- Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico. Uberlândia: ABENO; 1998. congresso.com.br. 7. Feuerwerker L. Educação dos profissionais de saúde hoje – pro- 24. Secco LG. O Ensino de Odontologia no Estado de São Paulo. blemas, desafios, perspectivas e as propostas do Ministério da As concepções de qualidade dos coordenadores de cursos de Saúde. Rev ABENO 2003;3(1):24-7. Odontologia [Tese de Mestrado]. Botucatu: Faculdade de Me- 8. Grupo Brasileiro de Professores de Dentística – GBPD. Ensino de Dentística diante das novas diretrizes curriculares. Rev ABENO 2003;3(1):87. dicina da Universidade Estadual Paulista; 2003. 25. Uriarte Neto M. Estágio supervisionado – papel da coordenação e do corpo docente na aplicação das Diretrizes Curriculares 9. Lombardo A, Ranali J. Projeto Pedagógico. Manual de Orien- Nacionais. Rev ABENO 2003;3(1):41-4. tação. Uberlândia: ABENO; 1999. 10. Matos IB, Araújo LA. Práticas acadêmicas, cirurgiões-dentistas, Aceito para publicação em 11/2003 população e câncer bucal. Rev ABENO 2003;3(1):76-81. 11. Moysés ST, Moysés SJ, Kriger L, Schmitt EJ. Humanizando a educação em Odontologia. Rev ABENO 2003;3(1):58-64. Revista da ABENO • 4(1):7-13 13 Diretrizes Curriculares e projetos pedagógicos: é tempo de ação!† A importância das Diretrizes Curriculares Nacionais na formação dos profissionais da Odontologia deve ser amplamente discutida. Laura Feuerwerker*, Márcio Almeida** * Médica, Coordenadora Geral de Ações Estratégicas de Educação na Saúde da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Ministério da Saúde. ** Médico, Professor da Universidade Estadual de Londrina, Coordenador da Secretaria Executiva da Rede UNIDA. RESUMO O texto aponta o teor analítico do artigo “Diretrizes Curriculares e projetos pedagógicos” que abre a seção de debates da REBEn (Revista Brasileira de Enfermagem). Faz crítica a sua temporalidade e ao fato de não ser propositivo. Comenta a opinião das autoras em relação à formulação das diretrizes e seu contexto opinando sobre o que expressam em relação à mudanças na formação dos profissionais de Saúde. Ao longo do texto os autores expõem sua opinião favorável ao modo como foram construídas as Diretrizes Curriculares Nacionais, destacando o contexto político em que devem ser interpretadas e que supõem que serão implementadas. gar, dizer que as Diretrizes Curriculares expressam uma orientação geral, algumas vezes genérica, justamente porque não pretendem ser a expressão de um Currículo Nacional. As orientações das Diretrizes estimulam as escolas a superar as concepções conservadoras, a rigidez, o conteudismo e as prescrições estritas existentes nos Currículos Mínimos, mas não definem um caminho único. Objetivamente, ao interior das formulações expressas nas Diretrizes, há espaço para que as escolas, como convidam as autoras “no exercício de sua autonomia”, formulem e organizem seus projetos pedagógicos, elejam estratégias e modos de fazer “articulados, ao mesmo tempo, às demandas políticas e DESCRITORES Diretrizes Curriculares Nacionais. Currículos de enfermagem. Educação em enfermagem. O sociais da sociedade brasileira mais ampla e às necessidades e interesses dos ‘locais’ onde se inserem de modo a reordenar a formação dos recursos humanos em saúde que contemple práticas sanitárias relacionadas a um conceito texto de Meyer, Kruse é analítico e crítico e aponta questões relevantes para o debate acerca da formação de Enfermagem (e dos profissionais da Saúde) em nosso País. Perde forças, no entanto, ao ser publicado um ano e meio após ser escrito e também ao não entrar no campo das proposições, num momento em que as escolas estão se mobilizando em torno da necessidade de mudanças. Vale a pena, muito brevemente, comentar alguns dos temas levantados pelas autoras. Em primeiro lu- ampliado de saúde e de justiça social”. Em segundo lugar, o contexto em que foram definidas as Diretrizes Curriculares no Brasil não pode ser omitido. Ou seja, se de maneira genérica a orientação das políticas educacionais no Brasil nos últimos anos esteve sintonizada com as definições dos organismos internacionais no caso das Diretrizes Curriculares houve uma efetiva modulação que as aproximassem das orientações do sistema público de saúde (público, † Artigo transcrito da Revista Brasileira de Enfermagem 2003;56(4):351-2. 14 Revista da ABENO • 4(1):14-6 Diretrizes Curriculares e projetos pedagógicos: é tempo de ação! • Feuerwerker L, Almeida M democrático, em busca da universalidade e da integralidade da atenção). Não seria o nosso o único caso em que no contexto da globalização, uma proposição de reforma universitária conseguiria escapar das tendências racionalizadoras orientadas ao mercado e à competição1. De um modo geral, as Diretrizes expressam o compromisso dos movimentos por mudanças na formação dos profissionais de Saúde com compreensão ampla do que significa currículo, considerando que ele deva expressar posicionamento da universidade diante de seu papel social dos conceitos de saúde e educação etc. Não por outra razão aparece explícita a necessidade de a formação estar claramente comprometida e direcionada à concentração dos princípios da Reforma Sanitária Brasileira e do Sistema Único de Saúde (SUS). É nesse contexto que muitas das formulações genéricas devem ser interpretadas. Certas imprecisões do texto das Diretrizes Curriculares no entanto refletem a existência de disputa em torno da orientação das futuras mudanças. Há um convite à formação por competência – o que, em si, tem um aspecto positivo ao indicar a necessidade de experiências e oportunidades de ensino-aprendizagem que possibilitem o desenvolvimento para além do campo cognitivo. No entanto, em torno da definição de competência e das maneiras de desenvolvê-las há um intenso debate em torno de orientações behavioristas e construtivas (para citar apenas algumas delas). As Diretrizes não explicam as diferenças, nem tampouco sugerem uma ou outra opção. Deixam a questão em aberto, mas indicam, sim, especialmente nas competências comuns a todos os profissionais de Saúde a necessidade de trabalhar em campos como a comunicação, o trabalho em equipe etc. O convite à interdisciplinaridade também não pode deixar de ser reconhecido como avanço e como passo indispensável à superação dos currículos organizados por disciplinas e centrados nos conteúdos. Em nenhum lugar as Diretrizes indicam ser simples essa superação. É fato que as Diretrizes não indicam com precisão se os conteúdos e experiências de aprendizagem devem ser orientados, por exemplo, pelas necessidades dos estudantes ou pelas necessidades de aprendizagem articuladas às necessidades sociais. Mencionam a necessidade da aprendizagem ativa e a necessidade de tratar dos problemas da realidade: ou seja, deixam em aberto o tipo de orientação a ser adotado em cada escola, mas sugerem a superação das abordagens tradicionais. Por fim, é verdade que as Diretrizes não indicam os caminhos que as escolas devem percorrer para chegar às transformações necessárias. Mas os movimentos de mudança na educação dos profissionais de Saúde vêm acumulando experiência e conhecimento a respeito. Sabemos que essas orientações podem propiciar processos de mudanças profundos, necessariamente baseados na constituição de sujeitos, na democratização das escolas e no crescimento de seu compromisso social. Mas, como as orientações são genéricas, também comportam mudanças mais tímidas, circunscritas. A avaliação, portanto, cumprirá papel fundamental no processo de orientação das mudanças. É verdade que o Ministério da Educação e Cultura (MEC), no governo anterior, não havia atualizado os mecanismos de avaliação (dos estudantes, das condições de ensino e do corpo docente) para que houvesse coerência entre Diretrizes Curriculares e avaliação. Ou para que a avaliação servisse como uma ferramenta para alimentar e orientar as mudanças em curso. Mas também é verdade que o movimento de mudanças estava aberto para estas contradições e buscava caminhos para produzir sua superação. É na falta de atualização na avaliação de contexto, entretanto, que o artigo perde força. Existe, atualmente, por parte do novo governo, uma política que explicitamente indica e estimula uma orientação clara para as necessárias mudanças na formação dos profissionais de Saúde. Estão sendo propostos, pelo Ministério da Saúde, fóruns que devem possibilitar o diálogo entre instituições formadoras, gestores do sistema de saúde e representantes do controle social para definir os caminhos que a formação deve percorrer para atender às necessidades do SUS. Está sendo oferecido apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento das mudanças na formação que adotem expressamente essa orientação. Por último, é importante ressaltar que durante o processo de construção das mudanças é necessário construir e preservar os espaços coletivos para debates e reflexões críticas2, sobretudo porque os desafios são muitos e as áreas de desconhecimento também são freqüentes. Desafios como a ampliação da clínica, a articulação entre indivíduos e coletivo, a construção da integralidade da atenção, do trabalho em equipes matriciais, por exemplo, estão postos simultaneamente para as escolas e para o sistema de saúde. E deverão ser enfrentados conjuntamente no processo de transformação do processo de formação e das práticas de saúde. Revista da ABENO • 4(1):14-6 15 Diretrizes Curriculares e projetos pedagógicos: é tempo de ação! • Feuerwerker L, Almeida M O momento atual exige convite e orientação à reflexão, mas, sobretudo, à ação! E esse convite não está claramente expresso no artigo. to interpret them within their political context and the manner in which they will supposedly be implemented. ABSTRACT Curricular Guidelines and pedagogical projects: it’s time to act! This text considers the analytical content of the article “Curricular Guidelines and pedagogical projects”, which opens the debate section at REBEn (Brazilian Review of Nursing). It criticizes its provisional character and the fact that it is not propositional. It provides comments from the authors regarding the design of guidelines and their content when it comes to the education of health professionals. Throughtout their text, the authors express their agreement with the manner in which the National Curricular Guidelines have been created in Brazil, stressing the need DESCRIPTORS National Curricular Guidelines. Nursing curricula. Education, nursing. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Afonso AJ. Avaliação educacional: regulação e emancipação: para uma sociologia das políticas avaliativas contemporâneas. São Paulo: Cortez; 2000 2. Feuerwerker L. Além do discurso de mudança na educação médica: processos e resultados. São Paulo: Hucitec; 2002. Aceito para publicação em 11/2003 Atenção, autores! 16 Revista da ABENO • 4(1):14-6 Mudanças nos cursos de Odontologia e a interação com o SUS O conceito de saúde explicitado na Constituição e os princípios que nortearam a criação e implantação do SUS são fundamentais na definição das Diretrizes Curriculares dos cursos da área de Saúde. Maria Celeste Morita*, Léo Kriger** * Professora Associada da Universidade Estadual de Londrina. ** Presidente da Comissão de Ensino da ABENO. A s Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) são orientações para elaboração dos currículos que devem ser necessariamente adotadas por todas as instituições de ensino superior. Na área da Saúde, entretanto, estas precisam ser entendidas dentro de um contexto maior, o da Reforma Sanitária Brasileira. A Reforma Sanitária Brasileira, movimento social amplo que traz entre seus pontos estratégicos a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), pretende garantir a saúde como um direito do cidadão. Embora tenham ocorrido movimentos significativos para uma reflexão crítica sobre os modelos tradicionais de formação profissional em várias áreas da Saúde, principalmente na Medicina e na Enfermagem, em relação à Odontologia, existe um atraso histórico destes movimentos de mudança, exigindo daqui para a frente um esforço redobrado para que possamos integrar a saúde bucal dentro do novo contexto de ação interdisciplinar e multiprofissional, formando um profissional com perfil adequado10. Advindo de um processo de construção coletiva, através das Conferências Nacionais de Saúde, o capítulo da Constituição Brasileira que define o SUS traz também um marco regulatório: “Compete à gestão do Sistema Único de Saúde o ordenamento da formação de recursos humanos da área da Saúde, bem como o incremento, na sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico” (Constituição Federal, Art. 200, incisos III e IV)3. Apesar deste preceito constitucional, ele não tem se constituído em prática institucional. Somente recentemente, o Ministério da Saúde tem se preocupado em orientar o processo de formação dos recursos humanos da área, estabelecendo para tanto parceria com o Ministério da Educação. A nova definição política do Ministério da Saúde, visando a diminuição do distanciamento entre a formação de recursos humanos e as necessidades do SUS, apontam para a necessidade da ABENO definir uma estratégia de trabalho, que vise principalmente a aproximação da Odontologia às demais áreas da Saúde. Todos os esforços prévios de integração do processo de ensino-aprendizagem à rede de serviços tiveram pouca sustentabilidade, pois sempre dependeram de uma adesão ideológica de docentes e estudantes. As atividades de ensino-aprendizagem, extramurais, sempre dependeram mais da voluntariedade dos professores que as coordenavam do que do apoio institucional e da participação do quadro docente como um todo. No estágio atual, embora o SUS constitua um significativo mercado de trabalho para os profissionais da Odontologia, principalmente com a inserção da saúde bucal na Estratégia de Saúde da Família, este fato ainda não tem sido suficiente para produzir o impacto esperado sobre o ensino de graduação. Para garantir uma efetiva integração, o conceito de saúde explicitado na Constituição e os princípios que nortearam a criação e implantação do SUS foram elementos fundamentais na definição das Diretrizes Curriculares dos cursos da área da Saúde. Do ponto de vista legal, o SUS precisa ser entendido como um Revista da ABENO • 4(1):17-21 17 Mudanças nos cursos de Odontologia e a interação com o SUS • Morita MC, Kriger L interlocutor essencial das escolas na formulação e implementação dos projetos pedagógicos de formação profissional e não mero campo de estágio ou aprendizagem prática. Esta articulação está claramente explicitada no objeto das Diretrizes: “Construir perfil acadêmico e profissional com competências, habilidades e conteúdos contemporâneos, bem como, para atuarem, com qualidade e resolutividade no Sistema Único de Saúde”4. Nas DCN de Odontologia de fevereiro de 2002, também se destaca: “A formação do cirurgião-dentista deverá contemplar o sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde no sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra-referência e o trabalho em equipe (Resolução CES/CNE nº 03 - DCN/Odontologia)”5. Em uma rede de inter-relações indissociáveis entre saúde e educação, as Diretrizes Curriculares assumem um papel estratégico no aperfeiçoamento do SUS. Ao mesmo tempo, a discussão sai dos limites acadêmicos a medida que a sociedade começa a exigir melhores serviços de saúde. Afinal, se pergunta: Quais as competências e habilidades necessárias para o trabalho no SUS? Para trabalhar no SUS com qualidade e atender as necessidades da população, é necessário ser um profissional generalista tecnicamente competente e com sensibilidade social. As Diretrizes, portanto, valorizam além da excelência técnica a relevância social das ações de saúde e do próprio ensino. Sem dúvida isso implica na formação de profissionais capazes de prestar atenção integral mais humanizada, trabalhar em equipe e compreender melhor a realidade em que vive a população. A inserção da saúde bucal na Estratégia de Saúde da Família, por exemplo, tem como uma de suas prioridades a atenção básica à saúde. Tal proposta, no entanto, defronta-se com a precária disponibilidade de profissionais de Saúde dotados de visão humanística e preparados para prestar cuidados contínuos e resolutivos à comunidade, funcionando como porta de entrada do sistema de saúde. Em síntese, todas as habilidades e competências gerais e específicas descritas nas DCN são necessárias para o SUS. Uma leitura menos atenta pode dar a impressão de que as Diretrizes são discursivas e que 18 apontam para atividades que já estão presentes nos projetos pedagógicos dos cursos de Odontologia. Esta porém, é uma visão equivocada sendo muito importante compreender que a implementação das Diretrizes Curriculares deve significar um avanço dos projetos pedagógicos e não uma acomodação de situações existentes. Destacamos para reflexão, algumas competências e habilidades que certamente necessitarão de uma nova abordagem das escolas de Odontologia. No artigo 4º, o cirurgião-dentista deve ser capaz de5: • pensar criticamente; • tomar decisões; • ser líder; • atuar em equipes multiprofissionais; • planejar estrategicamente para contínuas mudanças; • administrar e gerenciar serviços de saúde; • aprender permanentemente. Surge então, a seguinte questão: quais são as experiências educativas que os alunos de Odontologia vivenciam para tanto? Nossos projetos pedagógicos estão adequados para esta formação? Apenas para exemplo, a capacidade de liderança necessita de algumas habilidades que só podem ser desenvolvidas em oportunidades práticas. Não basta dizer que se espera que o profissional de Odontologia seja capaz de assumir a liderança na equipe de saúde. Ele tem que ter tido durante a sua formação oportunidades concretas para desenvolver esse papel. No artigo 5º, o cirurgião-dentista deve ser capaz de: “atuar multiprofissionalmente, interdisplinarmente e transdisciplinarmente com extrema produtividade na promoção da saúde baseado na convicção científica, de cidadania e de ética”5. O texto das DCN reforça nitidamente a importância do trabalho em equipes multiprofissionais, entendendo que “a equipe de saúde como um todo tem maior impacto do que a soma das contribuições dos membros de forma isolada”12. Atuar multiprofissionalmente significa romper o modelo centrado no trabalho individual capacitando para o trabalho em equipe onde se propõe compartilhar o planejamento, a divisão de tarefas, aprender a cooperar e colaborar. Parte-se da compreensão que os problemas de saúde são sempre interdisciplinares. Para entender melhor o alcance dessa interação, dois conceitos precisam ser aprofundados: a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade. Segundo Piaget, a interdisciplinaridade, é “o nível em que a interação entre várias disciplinas ou setores heterogêneos de uma mesma ciência conduz a inte- Revista da ABENO • 4(1):17-21 Mudanças nos cursos de Odontologia e a interação com o SUS • Morita MC, Kriger L rações reais, a uma certa reciprocidade no intercâmbio levando a um enriquecimento mútuo” . 9 Na transdisciplinaridade, o conceito envolve “não só as interações ou reciprocidade entre projetos especializados de pesquisa, mas a colocação dessas relações dentro de um sistema total, sem quaisquer limites rígidos entre as disciplinas”9. Portanto, é na compreensão do conceito de saúde, na possibilidade de se formar um profissional capaz de fazer uma contribuição permanente para a produção da saúde da sociedade em que vive que as Diretrizes se amplificam. Como se vê, uma leitura crítica das DCN nos leva à reflexão de que profundas mudanças são necessárias nos cursos de graduação em Odontologia para formar profissionais adequados às necessidades de saúde da população e do SUS. Para que esse processo avance é essencial que ocorra efetiva articulação entre as políticas de Educação e Saúde. A inadequação da formação dos profissionais de Saúde tem levado à necessidade de requalificação profissional que podem ser constatadas através dos recursos gastos pelo Ministério da Saúde em “capacitações”. A implantação das Diretrizes Curriculares assume, portanto, grande importância no aperfeiçoamento do SUS. Na agenda estratégica dos Ministérios da Saúde e de Educação destacam-se dois pontos fundamentais: o incentivo à implementação das Diretrizes Curriculares e o uso da avaliação como estratégia para fortalecer as mudanças. Estas prioridades estão ligadas à ineficiência do modelo formador vigente, como indica o documento que trata da Política de Educação e Desenvolvimento para o SUS: “A formação tradicional em saúde, baseada na organização disciplinar e nas especialidades, conduz ao estudo fragmentado dos problemas de saúde das pessoas e das sociedades, levando à formação de especialistas que não conseguem mais lidar com as totalidades ou com realidades complexas”7. Para formar profissionais com o perfil que atenda as necessidades do SUS os cursos de saúde precisam: 1. Adequar sua abordagem pedagógica. 2. Favorecer a articulação dos conhecimentos. 3. Trabalhar em equipes multiprofissionais. 4. Promover atividades práticas ao longo de todo o curso em todos os tipos de unidades de saúde. Para auxiliar neste processo, os cursos poderão estabelecer protocolos de cooperação sistemática com a ABENO, o Ministério da Saúde, o Ministério da Educação e os gestores estaduais e municipais do SUS: 1. Na abordagem pedagógica tradicional observa-se uma baixa eficácia, os conteúdos se apresentam distantes da realidade e das necessidades de aprendizagem o que leva ao desperdício de tempo, de esforços e à necessidade de requalificação7. A mudança didático-pedagógica que se almeja visa sair do ensino centrado no professor para atingir uma aprendizagem ativa desenvolvendo-se em múltiplos cenários (DCN, Art. 7º e 13, inciso III). O novo modelo pedagógico deve contemplar o equilíbrio entre a excelência técnica e a relevância social. Cabe ao professor o papel de facilitador do processo de construção do conhecimento, caracterizando-se o aluno como o sujeito da aprendizagem, com eficiente integração curricular. 2. Na articulação de conhecimentos, busca-se mudar a estrutura curricular de tal forma que se elimine os ciclos clínico e básico completamente separados e organizados em disciplinas fragmentadas, passando para um currículo majoritariamente integrado, sem disciplinas isoladas (DCN, Art. 13, incisos II e III). Este processo pretende a articulação e o diálogo entre atores e saberes da clínica, da saúde coletiva e da gestão a partir das necessidades locais. 3. O trabalho em equipes multiprofissionais deve se dar entre profissionais de uma mesma disciplina ou carreira (equipe de saúde bucal: THD, ACD, e CD) bem como com os demais profissionais da Saúde. 4. Um outro ponto fundamental, diz respeito aos cenários de aprendizagem. Na maior parte das instituições, as clínicas de ensino, principalmente as voltadas para as especialidades, continuam sendo o local privilegiado para o treinamento prático dos estudantes. No entanto, os movimentos atuais de reorganização da prática clínica odontológica indicam uma tendência progressiva à antecipação das clínicas integradas, com complexidade crescente, envolvendo o aluno desde os primeiros anos na visão integral do paciente. Práticas de ensino também podem ser desenvolvidas, com eficácia e eficiência, em Unidades Básicas de Saúde, na comunidade e nos domicílios, permitindo ao aluno um melhor conhecimento da população que será atendida. Os cenários de ensino, portanto, devem ser diversifi- Revista da ABENO • 4(1):17-21 19 Mudanças nos cursos de Odontologia e a interação com o SUS • Morita MC, Kriger L cados, agregando-se ao processo, além dos equipamentos de saúde, os equipamentos educacionais e comunitários. A interação ativa do aluno com a população e profissionais de Saúde deve ocorrer desde o início do processo de formação, trabalhando com problemas reais, assumindo responsabilidades crescentes. Para entender a rede de serviços como espaço privilegiado de ensino é preciso partir de um conceito ampliado de saúde onde todos os cenários em que se produz saúde são ambientes relevantes de aprendizagem1. Portanto, na diversificação dos cenários de ensino-aprendizagem é preciso sair das práticas profissionalizantes realizadas em clínicas de ensino de especialidades para as práticas profissionalizantes em clínicas integradas e atividades extramurais em unidades do SUS, com graus crescentes de complexidade. Bem como, substituir os serviços próprios isolados da rede SUS, por serviços próprios completamente integrados ao SUS, com desenvolvimento de mecanismos institucionais de referência e de contra-referência com a rede SUS. A evolução do SUS gerou uma gama de oportunidades de aprendizagem que levaram o Ministério da Saúde, a desenvolver um projeto de Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde do Brasil, o VER-SUS/Brasil6. No projeto, alunos de diferentes carreiras estagiam em setores como o de financiamento, estratégias de controle e auditoria, formulação de políticas técnicas, ordenamento do trabalho e da rede assistencial, interpretação demográfica e epidemiológica, descentralização da gestão (compreensão das diferentes esferas de gestão) e exercício do controle social sobre o setor saúde em municípios de gestão plena da saúde. As Diretrizes Curriculares fazem parte de um processo de superação de limites da formação e das práticas clínicas tradicionais. O longo percurso percorrido pela ABENO nos mostra que os pilares dessas mudanças têm sido discutidos nas reuniões anuais. Se analisarmos os textos já produzidos8, os temas de reuniões2, veremos que há grande congruência de objetivos. Queremos a melhoria da qualidade do ensino de Odontologia. A construção progressiva das Diretrizes pode também ser observada em outros documentos anteriores11. Não nos são estranhas nenhumas destas afirmações: a importância da inserção precoce do aluno em seu contexto profissional, o currículo integrado, as clínicas integradas de complexidade crescente, a melhoria da formação em Saúde Coletiva, ganhos do trabalho em equipe e diversificação dos cenários de aprendizagem3. Dois objetivos não pode20 rão ser perdidos de vista na implementação das DCN: a integração curricular e a integralidade da atenção. Em conclusão, as Diretrizes indicam a necessidade de transformar o modelo de atenção, fortalecendo a promoção e prevenção, oferecendo atenção integral e fortalecendo a autonomia dos sujeitos na produção da saúde. O grande desafio está em sair de um modelo de ensino centrado no diagnóstico, tratamento e recuperação de doenças para outro centrado na promoção de saúde, prevenção e cura de pessoas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABENO. Comissão de Ensino. Diretrizes da ABENO para a definição do Estágio Supervisionado nos cursos de Odontologia. 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Ministério da Saúde/Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Caminhos para as mudanças da formação e desenvolvimento dos profissionais de Saúde: diretrizes para a ação política para assegurar educação permanente no SUS. Brasília, maio 2003. (mimeografado) 8. Carvalho ACP, Fernandes Neto AJ. Recomendações sobre a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em Odontologia. ABENO: Uberlândia; 2001. (mimeografado) 9. Chaves M. Complexidade e transdiciplinariedade: uma abordagem multidimensional do Setor Saúde. [citado 2004 jun 13] Disponível em: http://psy.med.br/textos/complexidade/complexidade.pdf. 10. Paraná. Escola de Saúde Pública. Programa de Incentivo a Mudanças nos Cursos de Medicina, Odontologia, Enfermagem e Farmácia do Estado do Paraná. [citado 2004 abr 30] Disponível em: http://www.redeunida.org.br/prosaudepr.asp. Revista da ABENO • 4(1):17-21 Mudanças nos cursos de Odontologia e a interação com o SUS • Morita MC, Kriger L 11. Perri de Carvalho AC. Formação do cirurgião-dentista – ensino e profissionalização. Documento de trabalho 4/96. São Paulo: sional Education for Health Personnel: the team approach. Technical Report Series 769. WHO: Geneva; 1988. NUPES/USP; 1996. 12. World Health Organization. Learning together to work toge- Aceito para publicação em 11/2003 ther for health. Report of WHO Study Group on Multiprofes- Proponha, discuta, participe! A Associação Filie-se à Brasileira de Ensino Odontológico ABENO tem como OBJETIVOS: Congregar todas as instituições de ensino odontológico no Brasil Atuar objetivando a melhoria do ensino odontológico no País Adotar medidas que objetivem a formação e o aperfeiçoamento do pessoal docente e dos profissionais de Odontologia Estimular as atividades de pesquisa na ciência odontológica Incentivar as atividades de extensão e de educação em saúde junto às comunidades Defender os interesses das instituições de ensino que a integram Constituir-se fator de integração entre o ensino e a cultura nacional Manter relações com as entidades representativas da categoria odontológica Manter intercâmbio com entidades estrangeiras representativas da docência odontológica Filiação e mais informações no site: www.abeno.org.br/novo_socio.html Revista da ABENO • 4(1):17-21 21 A profissionalização docente e os desafios político-estruturais dos formadores em Odontologia† Um estudo com coordenadores de graduação. Luciane Gabeira Secco* Maria Lúcia Toralles Pereira** * Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Rubião Júnior. ** Departamento de Educação, Instituto de Biociências de Botucatu, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, UNESP. RESUMO A profissionalização da atividade docente é o foco de discussão deste artigo. A pesquisa investiga as concepções de qualidade de ensino de 13 coordenadores de curso de graduação das faculdades de Odontologia do estado de São Paulo que possuem pós-graduação stricto sensu, com a finalidade de apontar tendências e contradições relativas às dimensões político-estruturais, curriculares e pedagógicas da profissão. A análise desses dados busca identificar elementos que possam interferir na formação docente, tendo em vista os novos desafios da profissão. Os dados foram colhidos por questionário, contendo questões fechadas e abertas, e por entrevistas realizadas com alguns coordenadores de curso (entre setembro de 2001 e abril de 2003). Os resultados apontam, no plano político-estrutural, para a crise da Odontologia, seja pelo número de escolas no País, seja pela exaustão do modelo de atendimento, individual e elitista, seja pelo dilema ético dos profissionais que se colocam entre os convênios odontológicos e os custos dos consultórios; no plano curricular apontam para a valorização das condições materiais, da titulação acadêmica e dos processos de avaliação, com algumas contradições em relação à defesa da formação generalista; mostram contradições evidentes no plano pedagógico (em relação aos métodos de ensino-aprendizagem, participação do aluno). Conclui-se que a transformação da crise em um projeto político-pedagógico realizável cria espaço para mudanças nos currículos das faculdades de Odontologia e acentua os desafios em termos de orientações pedagógicas e competências da função docente. Pela análise dos resultados, cabe ainda lembrar que as diferentes etapas na carreira docente, em termos de tempo de trabalho, podem ser significativas para compreender posturas mais tradicionais ou inovadoras no plano pedagógico. DESCRITORES Docentes. Ensino superior. Educação em saúde. Odontologia. A formação do professor universitário tem sido discutida por vários pesquisadores1,5,7. Numa época de novas demandas sociais e amplos questionamentos em relação à qualidade das práticas pedagógicas que se desenvolvem no interior das Instituições de Ensino Superior (IES), observa-se, de um lado, a exigência de construir um projeto pedagógico pautado pelo princípio da qualidade, de outro, a necessidade de perceber que a qualidade desse projeto depende muito “de uma política de qualificação permanente do corpo docente como fundamento e garantia da qualidade do conjunto organizado de atividades acadêmico-científicas”7. A profissionalização docente passa a ser um desa- † Este ar - ma de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, UNESP. 22 Revista da ABENO • 4(1):22-8 A profissionalização docente e os desafios político-estruturais dos formadores em Odontologia • Secco LG, Pereira MLT fio, visando possibilitar que as práticas nas IES se reorganizem, sobretudo, para “dar conta de uma nova perspectiva epistemológica, onde as habilidades de intervenção no conhecimento sejam mais valorizadas do que a capacidade de armazená-lo”5. Perri de Carvalho12 (2001), ao analisar o perfil dos docentes dos cursos de Odontologia, diz que os professores, até recentemente, “eram os profissionais bem-sucedidos e disponíveis para ensinarem nas faculdades”. Considera que cursos de educação continuada, voltados para desenvolver processos pedagógicos, podem trazer efetiva colaboração para o docente das diferentes áreas. Diante da necessidade de pensar caminhos para a formação docente na área, cabe conhecer as concepções dos coordenadores de curso de graduação sobre as mudanças que desafiam a prática pedagógica em Odontologia, tendo em vista as novas demandas sociais. Para isso, investigam-se as concepções de qualidade do ensino daqueles que respondem, legalmente, pela elaboração dos currículos nas faculdades de Odontologia: os coordenadores de graduação. A EDUCAÇÃO ODONTOLÓGICA Embora o ensino de Odontologia se caracterize como educação vocacional, “diretiva”, que tenta levar o estudante à aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes concentradas em torno de sua prática, “a educação odontológica é um processo contínuo destinado a produzir profissionais capazes de manter ou restaurar o estado de saúde da cavidade bucal. O objetivo é produzir, eficientemente, um número suficiente de profissionais, com a qualidade adequada, capazes de produzir, entregar e distribuir serviços odontológicos da maneira mais econômica possível. As profissões existem para satisfazer uma necessidade social e a Odontologia não é exceção. Ela opera em um sistema social, dentro do qual a profissão e suas instituições estão continuamente se reajustando de acordo com a mudança na tecnologia, os pontos de vista profissionais e as necessidades ou demandas da educação odontológica”4. O mercado passou a influenciar a prática e a educação odontológica desde a metade do século 20, observa Narvai11 (1994). Ao analisar as propostas e ações relativas à prática odontológica no Brasil, no período entre 1952-1994, o autor afirma que “o movimento do capital (...) fez aparecer e consolidou no Brasil uma Odontologia de mercado, caracterizada pela produção-consumo privada de bens e serviços sob regulação do mercado”11. “Trata-se de Odontologia tecnicamente elogiável (pelo nível de qualidade e sofisticação inegavelmente alcançado nas diversas especialidades), cientificamente discutível (uma vez que não tem demonstrado competência para expandir esta qualidade para a maioria da população) e socialmente caótica (pela inexistência de impacto social ante as iniciativas e programas públicos e coletivos implementados)”8. No início dos anos 70, com a implementação dos cursos de pós-graduação e as exigências de titulação para a carreira universitária, obtidas em tais cursos e em concursos públicos, começa a se questionar a formação docente daqueles que “comumente não receberam o mínimo de uma formação pedagógica e, como decorrência, apresentam dificuldades no exercício desta atividade que requer uma abordagem múltipla e complexa do processo ensino-aprendizagem”12. Pressionados pelas Diretrizes Curriculares, desde o final de 2001, e pelo debate sobre qualidade e avaliação que se coloca em âmbito internacional, os cursos de Odontologia começam a buscar caminhos que respondam a esses desafios: construção do projeto pedagógico do curso, mudanças curriculares e profissionalização do trabalho docente. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de pesquisa de caráter exploratório, descritivo e analítico, apoiada em abordagem qualitativa. A partir de questionário (com questões abertas e fechadas) e entrevista, investigam-se concepções sobre qualidade de ensino de coordenadores de graduação de cursos de Odontologia do estado de São Paulo. As questões fechadas seguem o padrão da escala Likert e apresentam uma graduação quantificada das proposições de um a cinco, para possibilitar apreender a intensidade das respostas e atitudes dos respondentes. Há questões fechadas que perguntam sobre o grau de concordância ou discordância em relação a alguns aspectos relevantes para a qualidade do ensino superior, apresentando como opções: 1. discordo totalmente; 2. discordo; 3. concordo; 4. concordo totalmente; 5. não tenho opinião. Há, ainda, questões fechadas que buscam apreender graus de importância de determinados aspectos Revista da ABENO • 4(1):22-8 23 A profissionalização docente e os desafios político-estruturais dos formadores em Odontologia • Secco LG, Pereira MLT da dimensão pedagógica para a qualidade do ensino superior, com proposições do tipo: 1 - Nada importante para a qualidade; 2 - Pouco importante para a qualidade; 3 - Importante para a qualidade; 4 - Muito importante para a qualidade; 5 - Não tenho opinião. As questões abertas que integram o questionário são três. A primeira é sobre os fatores que os coordenadores de curso consideram primordiais para a identificação da qualidade de um curso universitário considerando os desafios da sociedade atual; a segunda pergunta é se o curso, coordenado por ele, está preparado para responder a esses desafios e por quê; e a última questão, dividida em parte A e parte B, foi acrescentada ao questionário original, para atender finalidades específicas desta pesquisa, considerando a área de Odontologia e as orientações das novas diretrizes curriculares sobre a formação profissional e os aspectos da promoção de saúde. Para isso, pergunta-se aos coordenadores quais os conteúdos que consideram relevantes para garantir uma formação com visão de promoção em saúde; e que exigências esse foco da formação coloca em termos de metodologia de ensino-aprendizagem. O grupo de coordenadores que integra a pesquisa foi organizado com base em dois critérios: atuar em cursos de graduação em Odontologia situados no estado de São Paulo que apresentam cursos de pós-graduação stricto sensu; e aceitar participar da pesquisa. O cenário do trabalho é o estado de São Paulo onde, até o momento de encerramento da fase de levantamento de dados da pesquisa, por meio de questionário (janeiro de 2002), havia 14 cursos com programas de pós-graduação stricto sensu: 14 escolas identificadas foram convidadas a participar da pesquisa e 13 coordenadores aceitaram. Ressalta-se que o critério – ter pós-graduação stricto sensu – foi utilizado porque essas instituições são formadoras da maior parte dos mestres e doutores do país e, por isso, consideradas parâmetros nacionais do ensino de Odontologia, além de serem modelos de referência para possíveis inovações de ensino. A opção por trabalhar com os coordenadores se deve à dimensão de poder político que eles podem ter sobre os padrões de qualidade universitária, por estarem diretamente envolvidos com a elaboração de currículos e representarem um colegiado, com responsabilidades definidas legalmente, sobre os assuntos ligados ao ensino. Pode-se dizer, portanto, que “a qualidade do profissional formado pela universidade é da competência direta das coordenações de cursos”13. Embora, na prática, este poder nem sempre se encontre em 24 suas mãos, os coordenadores são legalmente representantes da proposta de formação profissional em seus cursos e deveriam assumir papel decisivo num processo de mudança. Na primeira etapa de levantamento de dados foi aplicado o questionário a todos os coordenadores envolvidos com a pesquisa. O processo de análise exigiu uma forma de categorização a partir da agregação dos dados, realizada com base em três dimensões da formação profissional discutidas por Cunha6 (1995): questões político-estruturais (aspectos da estrutura de poder que interferem no ensino de Odontologia e no cenário profissional do cirurgião-dentista); questões curriculares (relativas ao projeto pedagógico do curso) e questões pedagógicas (relativas a métodos de ensino-aprendizagem). Após essa primeira análise dos dados levantados pelo questionário, foram realizadas entrevistas com três coordenadores (de escolas públicas e particulares). Os dados das entrevistas foram interpretados com base em estudos de Minayo 10 (1994), visando ao entendimento desses depoimentos, a partir de categorias que se mostraram significativas no contexto da formação profissional em Odontologia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Das 13 escolas que participaram da pesquisa, cinco são da rede privada e oito são públicas (uma municipal e sete estaduais). Considerando o critério de seleção das escolas, constata-se, no estado de São Paulo, uma predominância de cursos de pós-graduação em instituições públicas, o que não significa que o número de programas de pós-graduação seja uniforme entre as escolas selecionadas. Do total de escolas estudadas, nove localizam-se no interior do estado (duas escolas privadas e sete públicas, sendo uma municipal e seis estaduais); e quatro na cidade de São Paulo (três escolas privadas e uma pública estadual). Mais da metade delas têm tempo de funcionamento superior a quarenta anos. Três dessas escolas datam do começo do século 20, incorporando, em seus cursos, todo o peso do modelo tradicional de ensino. No conjunto das escolas analisadas, trabalham 1.254 professores, sendo 825 em escolas públicas e 429 em escolas privadas – dado que pode ser significativo no contexto de propostas de mudança educacional na área que visem uma política de formação docente. Sobre esse aspecto, foi apontado, por coordenadores que, ao se comparar os processos de mudança vivenciados nas escolas públicas e particulares, esses pro- Revista da ABENO • 4(1):22-8 A profissionalização docente e os desafios político-estruturais dos formadores em Odontologia • Secco LG, Pereira MLT cessos tendem a se manifestar de modo mais rápido nas escolas particulares o que, para os mesmos, não quer dizer que esse processo ocorra da forma mais adequada nessas escolas. “Na escola particular o processo de mudança é mais rápido, no sentido de que estas escolas tendem a se adequar às novas exigências. Nas escolas públicas, este processo está mais desarticulado, é mais lento, e, se as mudanças existem, na Odontologia elas podem ser observadas de forma mais alinhada em Bauru, por condições especiais; Ribeirão Preto também...” (relato de entrevista). Chama a atenção, no levantamento dos dados, que somente 61,12% das vagas oferecidas para o 1º ano dos cursos são preenchidas, indicando um momento de crise para as faculdades de Odontologia, com o mercado de trabalho saturado, mesmo nas cidades de pequeno porte. Do total de coordenadores de curso que participaram do estudo (13 sujeitos), 84,62% atuam em regime de trabalho de tempo integral, sendo 61,53% em instituições públicas, confirmando a tendência do tempo integral para grande parte dos professores dessas instituições. Nas escolas particulares, apenas uma pequena parcela de professores trabalha em tempo integral. Entre os coordenadores que participaram do estudo, 76,92% são do sexo masculino e, embora mais da metade deles atue na instituição há mais de doze anos, 61,54% exercem a função de coordenador há menos de cinco anos. Quase a totalidade (92,31%) dos coordenadores atua como docente há mais de 12 anos, o que permite inferir que há uma familiaridade desse grupo de participantes com as questões do ensino nas suas escolas, condição relevante para que as respostas obtidas possam ser consideradas representativas no universo selecionado. Trata-se, assim, de um grupo de professores com algum tempo de experiência na docência e na instituição, sendo que 76,92% desses coordenadores têm idades que variam entre 36 e 65 anos. Ao utilizarmos o estudo de Huberman9 (1992) para analisar as etapas da carreira docente, constatamos que 1/3 dos coordenadores que participaram da pesquisa encontra-se em período próximo à aposentadoria. Considerando que o estudo referido, sobre professores em diferentes momentos da carreira docente, mostra que esses momentos tendem a caracterizar-se por experiências e motivações também diferentes no que se refere ao enfrentamento das mu- danças, sejam elas curriculares ou da prática pedagógica, este é um dado importante a ser considerado na capacitação docente. Na fala de um coordenador aparece a questão das diferentes fases, apontando para o papel que os jovens docentes tendem a ocupar nos cursos. “Os professores mais jovens, os professores associados, estão trazendo uma oxigenação maior ao curso (...). Além disso, a pós-graduação está trazendo muita melhoria” (relato de entrevista). A titulação acadêmica foi apontada, com unanimidade, como um dos aspectos muito valorizados e visto, pela maioria dos coordenadores, como diferencial da qualidade docente. Na fala de um coordenador aparece, contudo, uma observação importante em relação a esse processo. “Hoje, os professores já estão sendo contratados como doutores nas escolas públicas. Isto é bom, mas também tem um lado negativo: este professor perde, muitas vezes, a possibilidade de viver parte de sua formação, ao mesmo tempo, como aluno e como professor – condição que favorece a atuação do professor com os alunos, em sala de aula” (relato de entrevista). No contexto das escolas estudadas foi possível constatar que os processos de avaliação implantados e as Diretrizes Curriculares têm gerado um movimento de mudanças e muitos desafios à comunidade acadêmica da área de Odontologia, tanto em termos curriculares como pedagógicos, apontando algumas contradições entre as concepções dos coordenadores. “Para conseguir melhorar o desempenho no Provão, várias escolas fizeram recuperação utilizando a Disciplina de Odontologia Preventiva como nome fantasia. Eu não concordo (...). O Provão não pode ser parâmetro para medir qualidade; é somente uma proposta para ajudar a recuperar as faculdades em dificuldades” (relato de entrevista). “Há escolas que estão transformando todas as clínicas em estágio supervisionado, o que também não concordo. Penso que as clínicas são destinadas ao desenvolvimento de habilidades (...). Discordo quando as diretrizes recomendam que o curso de Odontologia tenha 20% em estágio supervisionado. Mas (...) o fato de as diretrizes serem ‘mandatárias’...” (relato de entrevista). Analisando a formação odontológica a partir das três dimensões identificadas por Cunha6 (1995), ob- Revista da ABENO • 4(1):22-8 25 A profissionalização docente e os desafios político-estruturais dos formadores em Odontologia • Secco LG, Pereira MLT serva-se que, na dimensão político-estrutural, a Odontologia vivencia um momento de crise, seja pelo número de escolas no país, seja pela exaustão do modelo de atendimento, individual e elitista, predominante nos currículos das escolas brasileiras, ou, ainda, pela necessidade de se adaptar às exigências dos pacientes (determinadas e incentivadas pela grande mídia: jornais, revistas, programas de televisão). “A Odontologia está em crise; é necessário que ela se assuma como profissão das Ciências da Saúde. Houve um tempo em que o profissional era muito valorizado e muito bem remunerado. O profissional não se preocupava com o que estava fazendo porque chegava a trocar de carro todo o ano e não precisava refletir sobre a profissão. A profissão não é mais a mesma porque o profissional não tem força para negociar com os convênios, não tem como brigar (é briga de peixe grande!). São os convênios que estabelecem quanto vão pagar e como vão pagar (...) e se o cirurgião-dentista não estiver interessado, hoje existem milhares de profissionais querendo essa oportunidade de trabalho” (relato de entrevista). Estes aspectos, associados ao ensino da prática voltada para o coletivo, com maior impacto social no contexto das políticas públicas de saúde, se manifestam como desafios a serem enfrentados no âmbito político-estrutural da formação odontológica. Ainda que pouco discutidos no contexto dos cursos, talvez porque, como apontou um coordenador em seu relato, “o cirurgião-dentista é uma categoria profissional pouco politizada”, devemos identificar nas características levantadas, aspectos que deverão ser considerados em qualquer proposta de profissionalização docente. Como comenta um coordenador: “temos de ir pensando na formação dos alunos e na formação dos formadores, porque esses não dão a atenção devida a uma formação política dos profissionais.” CONCLUSÕES A Odontologia há muito tempo ultrapassou os laços artesanais e artísticos e se consolida em bases científicas, buscando uma atuação social na área da Saúde. A qualidade, em termos profissionais, depende de ações competentes, não somente para indicar e realizar habilidades e saberes que respondam a problemas específicos, mas para repensar o próprio papel do profissional diante dos problemas da realidade social, em um movimento de ação e reflexão. Nesse movimento dialético, em que novos valores são identificados na sociedade, a comunidade acadêmica busca 26 caminhos que respondam às demandas da formação profissional em suas diferentes dimensões da prática. Em pesquisa realizada na área14, as crises e utopias em relação à qualidade do ensino de Odontologia são mais explicitadas na dimensão pedagógica e mais encobertas na dimensão político-estrutural. Ainda que a clínica possa suprir as necessidades individuais e privadas com qualidade técnica reconhecida, deve-se reconhecer que existe um desafio em termos de abrangência: uma distância entre o ensino de Odontologia e a perspectiva de universalização da saúde bucal. Romper essa distância exige políticas de formação do profissional que valorizem a presença do atendimento público e coletivo – fato que gera novos desafios à dimensão curricular do curso e, também, à dimensão pedagógica (definição de estratégias de ensino-aprendizagem que poderão orientar um modo de ser e de agir enquanto profissional). Além disso, aparece a crise de prestígio da profissão – o status do cirurgião-dentista na organização social: “a Odontologia está em crise....” “a profissão não é mais a mesma...” “o profissional não tem força para negociar com os convênios...”, como se constatou em relatos de entrevista. Apesar dessa crise abalar o prestígio e o poder do profissional no mundo do trabalho, como observa Botazzo2 (2000), a formação odontológica, na tentativa de negar a crise, procura perpetuar o status já alcançado enfatizando a competência técnica altamente especializada. A crise vivida no espaço político-estrutural, explicitada por alguns coordenadores em relatos de entrevista, parece não ser tratada criticamente no contexto da formação odontológica: “o aspecto político da formação do cirurgião-dentista não está sendo trabalhado (...). O cirurgião-dentista não tem força para elaborar programas e não temos representantes que sejam aceitos e que tenham força”, comentou um coordenador. Essa lacuna na formação que poderia considerar os desafios da realidade brasileira tende a se reproduzir nos cursos de Odontologia, dificultando a participação nas políticas de atendimento público, em termos de saúde bucal coletiva. A discussão sobre as demandas da sociedade, na perspectiva de superação das diferenças sociais, traz, também, o desafio da eqüidade como um indicador ao conceito de qualidade nos cursos de Odontologia, podendo apontar caminhos na elaboração de um projeto social, educativo e comprometido com a cidadania. No Brasil, ainda se faz necessário que a educação Revista da ABENO • 4(1):22-8 A profissionalização docente e os desafios político-estruturais dos formadores em Odontologia • Secco LG, Pereira MLT aprimore seu trabalho, no sentido de superar o grave problema de exclusão social. O desafio de valorizar o público e o coletivo exige novos caminhos em termos da formação profissional em Odontologia. Talvez, tomando as palavras de Buarque3 (1994), o desafio da área, neste momento, seja o de formular novas perguntas. Em muitos casos, como diz o autor, a crise decorre da perda de capacidade para definir corretamente os problemas que precisam ser enfrentados pela formação, pela extensão e pelas pesquisas. Assim, no plano político-estrutural, pode-se dizer que um dos desafios ao ensino odontológico é discutir criticamente a crise, considerar a realidade brasileira e suas demandas, a especificidade do conhecimento técnico-científico na área de Odontologia e o projeto político-social que a profissão pode e quer assumir. A transformação dessa crise em um projeto de formação do profissional de Odontologia cria espaço para mudanças no imaginário da profissão (imagens criadas em torno do profissional da Odontologia), na perspectiva da qualidade técnica especializada e na perspectiva científica e social, investindo em expandir essa qualidade alcançada para a maioria da população, com maior impacto social em programas públicos e coletivos (a própria inserção da saúde bucal no Programa de Saúde da Família pode ser um exemplo dessa possibilidade). Cria, também, novos desafios em termos de estrutura curricular, orientações pedagógicas e competências da função docente, cujo enfrentamento não pode desconsiderar a especificidade do conhecimento na área e as características da profissão no mundo do trabalho. No universo estudado, foi na dimensão pedagógica dessa formação (na relação professor, aluno, conhecimento) que os conflitos afloraram com maior visibilidade, e foi, também, nesse espaço que concepções tradicionais de ensino e aprendizagem apareceram lado a lado com posturas aparentemente inovadoras. Houve uma tendência à busca de respostas inovadoras, orientadas pela participação docente e discente e pela integração teoria e prática, básico e aplicado, embora essas posturas nem sempre estivessem apoiadas em fundamentos teóricos e/ou metodológicos capazes de se transformar em práticas concretas. Ainda cabe destacar a quase unanimidade entre os coordenadores em considerar que os seus cursos se encontram preparados para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Parece que a crise, apreendida nas entrelinhas dos relatos de entrevista, não apareceu no questionamento mais objetivo, que se obteve com o uso do questionário (principal instrumento utilizado). E se é a crise que possibilita a mudança e a busca de respostas aos novos problemas, como lembra Buarque3 (1994), parece que o grande desafio seja transformar essa crise em problema a ser enfrentado pela comunidade acadêmica. ABSTRACT Professionalization of university teachers and the challenges of the political-structural dimension in the teaching of dentistry New social demands and the guidelines for the Brazilian curriculum of dentistry programs challenge the teaching practices of institutions of higher education. Within this context, we investigated the concept of quality in higher education, as seen by professors who work in the field of dentistry as coordinators of undergraduate studies. The universe of this study consists of 13 coordinators of the undergraduate programs of the schools of dentistry in the state of São Paulo that offer programs for full graduate degrees (Master’s and Doctorates). The tools employed for data collection were a questionnaire and an interview with coordinators. The purpose of our study is to discuss the challenges of training professors in the field of dentistry, and to suggest indicators capable of providing input for projects focusing on the professionalization of university teaching. The data collected were discussed based on the political-structural dimension of the profession and the results indicate a dentistry crisis, with the profession facing a status crisis, as well as challenges concerning the universalization of mouth healthcare for most of the population and its social impact. In conclusion, a political and pedagogical project could promote discussion on the crisis and changes in curricula, while still taking into consideration the social reality. DESCRIPTORS Faculty. Education, higher. Health education. Dentistry. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Balzan N. 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Implicações da estrutura político-estrutural das carreiras profissionais nos currículos da universidade. PUCCAMP 1995;(2):3-21. LDB. Canoas: Ulbra; 2001. 13. Sabadia JAB. O papel da coordenação de curso – a experiência no ensino de graduação em Geologia na Universidade Federal 7. Dias Sobrinho J. Universidade: projeto, qualidade, avaliação e autonomia. Pro-Posições 1992;3(7):7-17. do Ceará. Revista de Geologia 1998;11:23-9. 14. Secco LG. O ensino de Odontologia no estado de São Paulo: 8. Garrafa V. Saúde bucal e cidadania. Saúde em Debate (Cebes) 1993;41:50-7. as concepções de qualidade dos coordenadores de cursos de Odontologia, Botucatu [Dissertação de Mestrado]. Botucatu: 9. Huberman M. O ciclo de vida profissional dos professores. In: Faculdade de Medicina da UNESP; 2003. Nóvoa A (org.). Vidas de professores. Porto: Porto Editora; 1992. p. 31-62. Aceito para publicação em 11/2003 REUNIÃO DA SBPqO Você, professor/pesquisador, participe da apresentação da categoria PesquisaEnsino na 21ª Reunião da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica. Informações no site: www.sbpqo.org.br 28 Revista da ABENO • 4(1):22-8 Laboratório Pré-Clínico de Cirurgia Bucomaxilofacial Daniel Rey de Carvalho*, Normeu Lima Júnior*, Sérgio Bruzadelli Macedo**, Antonio Cesar Perri de Carvalho*** * Mestres da Faculdade de Odontologia da Universidade Católica de Brasília. ** Doutor da Faculdade de Odontologia da Universidade Católica de Brasília. *** Professor Titular da Faculdade de Odontologia do Planalto Central. D entro do conteúdo formativo da disciplina de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, ministrada no Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília, a temática central é a exodontia de dentes erupcionados. Os alunos de graduação informam que a insegurança é um dos maiores obstáculos a serem vencidos. Assim, com o propósito de facilitar o início da prática de exodontia, os autores utilizam um modelo de aula para treinamento dos princípios de técnica cirúrgica. lofacial envolvendo peças anatômicas de animais têm tido repercussão extremamente positiva no aprendizado dos alunos de graduação, propiciando maior segurança, habilidade manual e comparação entre os instrumentais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Bloom B. Caracterização das categorias do domínio cognitivo. In: Perri de Carvalho AC. Educação e saúde em Odontologia. Ensino da prática e prática do ensino. São Paulo: Santos; 1995. METODOLOGIA Os alunos recebem um roteiro, tipo instrução programada, e realizam treinamento de diérese, hemostasia (pinçamento e laqueamento) e síntese em língua bovina, e, treinam diérese de tecidos duros e etapas de exodontia, desde alveolectomia até a extração propriamente dita, em mandíbula de suíno. 2. Perri de Carvalho AC. Educação e saúde em Odontologia. Ensino da prática e prática do ensino. São Paulo: Santos; 1995. 3. Perri de Carvalho AC, Saad Neto M. Contribuição às atividades pré-clínicas no ensino de cirurgia bucal. Rev Bras Odontol 1977;34(1/2):49-53. 4. Roteiro de aulas. Unidade III - Princípios de Técnica Cirúrgica. Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial I, Araçatuba: UNESP; 1982. (mimeo) CONCLUSÃO Concluímos que a atividade pré-clínica efetuada na disciplina de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxi- Revista da ABENO • 4(1):29 Aceito para publicação em 11/2003 29 Políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia Os cursos de Odontologia devem avançar para um projeto pedagógico construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e no professor como mediador do processo ensino-aprendizagem. Samuel Jorge Moysés* * Professor Titular do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. P esquisa recente7, encomendada pelas principais entidades representativas da Odontologia no Brasil, revela aspectos relativos ao perfil atual do cirurgião-dentista brasileiro, bem como aponta tendências já exploradas em outras publicações que tratam do tema da inserção profissional do dentista no mercado de trabalho19. Por exemplo, torna-se clara a progressiva feminização do trabalho, com predomínio de profissionais jovens, até 30 anos, com altíssima concentração na região sudeste, especialmente no estado de São Paulo, atuando como clínicos gerais e/ou especialistas nos seus consultórios, sendo que a maioria tem a autopercepção de que ainda são profissionais liberais autônomos. Contudo, uma realidade mais típica das classes trabalhadoras assalariadas confronta esta autopercepção liberal dos dentistas. Mais de 40% deles declaram exercer uma jornada de trabalho igual ou maior de 44 horas semanais, 37% admitem duplo vínculo com emprego público ou privado, e mais de 48% deles admitem uma renda familiar máxima mensal de R$ 3.600,00. Um número bastante importante dos profissionais, exercendo a prática privada, também reconhece ser dependente dos convênios/credenciamentos, que poderiam ser percebidos como uma forma de “assalariamento indireto” exercido no próprio consultório privado, dada a grande dependência desta modalidade de vínculo na geração de “receita”. Mas não deveríamos nos iludir com estas elaborações simples e a natureza descritiva desta sondagem amostral do mercado de trabalho dos cirurgiões-dentistas brasileiros. Ela encerra amplas possibilidades de 30 interpretação, que nos remetem ao debate contemporâneo sobre as profissões superiores, tanto no que diz respeito ao processo de formação e desenvolvimento desta forma de organização da divisão social do trabalho, quanto aos enfoques sobre as profissões no mercado. CONJUNTURA CRÍTICA O Brasil saltou de 90 cursos de Odontologia ofertados em 1996 para 165 cursos em 2003. Neste período, enquanto a população brasileira cresceu a uma proporção aproximada de 1,8% ao ano, o crescimento do número de cirurgiões-dentistas foi de cerca de 2,5% ao ano3,7. A estimativa atual é de que cerca de 30% da população brasileira tem acesso regular, anual, a serviços odontológicos, públicos e privados, mas certamente este percentual reduz bastante quando se considera apenas a população que, de fato, pode pagar os custos da atenção privada com recursos próprios. O Quadro 1, construído com base nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD/1998, pode ajudar a esclarecer esta questão4. Com isto, sem contar os mais de 29 milhões de brasileiros que jamais obtiveram atenção odontológica, resta uma grande maioria, talvez na casa dos 100 milhões de cidadãos, que acessam de modo esporádico os serviços de Odontologia, considerando os dois cortes de faixa de renda exemplificados no Quadro 1. Predominam nesta situação aqueles de renda inferior a 10 salários mínimos. O grande desafio, então, é incluir este enorme contingente, que potencialmente estaria enquadrado na categoria de “população SUS- Revista da ABENO • 4(1):30-7 Políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia • Moysés SJ Quadro 1 - Relação entre população, renda e acesso a serviços odontológicos no Brasil (PNAD4, 1998). População Número (milhões) Total 158.232.252 100,0 29.626.264 18,7 Com acesso a dentista, em qualquer tempo 128.526.924 81,3 População com renda declarada < 10 salários mínimos 122.247.173 77,3 Populaçãocom renda declarada < 10 salários mínimos e com acesso a dentista no último ano 34.786.697 População com renda declarada > 10 salários mínimos 27.059.005 População com renda declarada > 10 salários mínimos e com acesso a dentista no último ano 14.909.675 Nunca consultou dentista dependente”, portanto condicionado à existência de políticas públicas de saúde dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Estimativamente, apenas o contingente de renda acima de 10 salários mínimos poderia sustentar o custo da atenção odontológica privada, de forma regular. Mas estes não passam de 9,4% da população pesquisada na PNAD/1998. Por outro lado, a população coberta por planos de saúde odontológicos, conforme recentes projeções, não passa de 1,5%2. Daqueles regularmente atendidos, na faixa abaixo de 10 salários mínimos, possivelmente a maioria foi atendida na rede pública. Como resolver este paradoxo, de cirurgiões-dentistas progressivamente sem “pacientes”, nos seus consultórios, e uma população sem (ou com acesso irregular) a dentistas? Para isto, profundas mudanças sociopolíticas, conceituais, pedagógicas e práticas tornam-se necessárias para a Odontologia brasileira. Novos papéis profissionais são exigidos do cirurgião-dentista. Para discutir tais questões com o mínimo de sustentação analítica, será preciso recorrer a alguns dos teóricos da Sociologia das Profissões, já que os fatores que influenciam a emergência de novas profissões, ou “inovações” por dentro das profissões tradicionais, podem ser: • • • • • • avanço do conhecimento; progresso tecnológico; mercado; estrutura de serviços; políticas públicas; agenda social e perfil de demandas. UMA BREVE INCURSÃO NA SOCIOLOGIA DAS PROFISSÕES Estudos sobre profissões constituem, nas Ciências Sociais, um alentado segmento. Já há importante aná- % relativa à faixa de renda 28,5 % do total 22,0 17,1 55,1 9,4 lise publicada, na Sociologia das Profissões, focando tanto as profissões no mercado e sua constituição em grupos sociais, quanto suas relações com o Estado e com a sociedade, nas perspectivas histórica, comparada ou contemporânea6. Diante da prevalência de estudos sobre ocupações pouco ou semiqualificadas na Sociologia do Trabalho brasileira, surge um novo campo temático dos estudos sobre profissões de nível superior, especialmente quanto a trajetórias de profissionalização. Alguns vêem, por exemplo, uma tentativa de legitimar a usurpação de posições privilegiadas neste mesmo mundo do trabalho, por meio de credenciais (credencialismo) e do corporativismo. O credencialismo é um conceito de inspiração weberiana desenvolvido para se referir à “utilização inflacionada dos certificados educacionais como meio de monitorizar a entrada para posições-chave na divisão do trabalho”20. Esta corrente teoriza sobre questões que teriam suas correspondentes expressões de senso comum, na linguagem popular, em frases como: “A corporação contra a sociedade”; ou ainda (e especialmente) no caso brasileiro: “Você sabe com quem está falando?”, típica dos que brandem diplomas e títulos no mundo das profissões superiores (ou, ainda, de modo mais tragicômico, na política). Na dimensão do mercado surgem estudos que refletem sobre o sucesso ou insucesso da profissionalização no Brasil, tais como as análises que identificam o poder dos profissionais, as que apontam as fraquezas para obter ou manter o monopólio do mercado de trabalho, as que analisam os processos de construção das profissões envolvendo o controle das credenciais, os abrigos de mercado, o encarceramento dos saberes, e as estratégias atuais que visam criar “blindagens” contra o risco de desprofissionalização. Na dimensão das relações entre profissões e Estado, há uma ênfase nos estudos que analisam as profis- Revista da ABENO • 4(1):30-7 31 Políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia • Moysés SJ sões na política, sua participação na esfera pública, a atuação de seus membros como profissionais no Estado ou como “experts” qualificados para assessorá-lo, as visões que concebem os profissionais como construtores do Estado, a perda da autonomia em decorrência da relação com o Estado e da profissionalização vinda de cima para baixo, bem como a cooptação dos profissionais. Há, também, análises que focalizam as profissões na sociedade, tanto aquelas que vinculam as profissões com a estrutura da sociedade quanto as que buscam compreender os projetos e as ideologias profissionais voltados para a sociedade civil e para a cidadania. E também os estudos sobre feminização de carreiras profissionais, sobre socialização e identidade profissionais, sobre “ethos” dos grupos profissionais no Brasil, sobre profissões e imigração e sobre profissões e mobilidade social. Seriam os profissionais os novos mandarins da sociedade contemporânea ou estariam se proletarizando? Esta questão, aparentemente simples de observar, traz consigo a necessidade de focalizar uma visão crítica sobre o conceito de profissão. Um dos aspectos mais característicos da expansão e diversificação da estrutura ocupacional no Brasil é o crescimento do número de ocupações que requerem o nível superior de educação: em 1950 seriam menos que uma dezena as profissões estabelecidas; em 1980 eram 114, das quais 76 estavam regulamentadas. Atualmente, no setor saúde, são 14 profissões superiores reconhecidas pelo Conselho Nacional de Saúde (Resolução nº 287 de 08 de outubro de 1998). Esta expansão quantitativa é mais impressionante quando vista sob o ângulo do contingente de profissionais no mercado de trabalho: em 1979, a força de trabalho com educação de nível superior constituía 3,5% da população economicamente ativa, contra 5,35 em 19859. Paralelamente ao surgimento de novas profissões, aquelas chamadas “tradicionais” – Medicina, Odontologia, Engenharia ou Direito – foram se fragmentando em inúmeras especialidades: o clínico geral e o engenheiro civil, os profissionais polivalentes foram suplantados por dezenas de especialistas. Por trás desta explosão está a expansão vertiginosa do sistema de ensino superior, principalmente a partir da Reforma Universitária de 1968. O afluxo de sucessivas ondas de jovens em busca do diploma universitário, talvez mais do que as exigências da divisão social do trabalho, forçou a ampliação do número de carreiras disponíveis. Ano após ano as universidades – e as faculdades isoladas que foram surgindo por todo o País – jogaram 32 no mercado de trabalho milhares de novos profissionais. Termos como “inflação de diplomas” começaram a circular como um alarme contra a desvalorização dos graus acadêmicos; outros, como “credencialismo”, para denunciar o ensino superior como mera fábrica de “sinalizadores” para um mercado de trabalho muito competitivo, independentemente do conteúdo da educação. Diniz9 (2001) analisa as questões acima sob três aspectos: a) Quais os modelos analíticos disponíveis para o estudo das profissões, e como encaminham a análise da constituição das categorias ocupacionais? b) Qual a consistência do argumento sobre “proletarização” e a “desprofissionalização”, como antecipações do destino das profissões nas sociedades capitalistas contemporâneas? c) Qual o papel das profissões nos processos de geração de desigualdades sociais? Segundo a autora, há que se olhar as profissões do ponto de vista de sua constituição, suas formas organizativas e suas estratégias de monopolização de mercado; e ressaltar a importância de se considerar a “cultura” das profissões no estudo do “lugar” das profissões na estratificação social. Nesta linha, as evidências de crescente assalariamento de algumas das chamadas “profissões liberais” não constituem suporte adequado para a tese da “proletarização” dos profissionais. Utilizada no seu sentido mais simples, a expressão apontava para o que parecia ser uma importante transformação na esfera ocupacional. Por detrás do assalariamento alguns percebiam a lógica inexorável do capital (ou do Estado sob a égide do capital) que, finalmente, começava a subordinar aquelas ocupações que há poucas décadas eram autônomas e operavam à margem do sistema produtivo. Principalmente os médicos passaram a recorrer à imagem de uma “época dourada”, lamentando a “mercantilização” da Medicina e a perda da antiga dignidade da profissão, ou para protestar contra a mediação de terceiros na relação “profissional-paciente”, ou sua crescente subordinação a hierarquias empresariais e/ou estatais heterônomas. Aparentemente, investir numa educação longa e dispendiosa já não rendia os dividendos que todos esperavam ver agregados ao diploma universitário. Estariam os profissionais descendo a ladeira que os levaria, mais cedo ou mais tarde, às mesmas condições daquela imensa parcela da força de trabalho que, além de assalariada, perdeu o controle sobre o processo do seu próprio trabalho? Muitos supõem que as ocupações que se tornaram “profissões” seguiram uma trajetória mais ou menos padronizada composta Revista da ABENO • 4(1):30-7 Políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia • Moysés SJ de sucessivas etapas de profissionalização. Em certo sentido, termos como “proletarização” e “desprofissionalização” – que não são exatamente equivalentes – apontam para um percurso invertido: ocupações profissionalizadas são impelidas, por diversos fatores, a se tornar “menos profissão”. As dificuldades de um esquema desta espécie ficaram evidentes com a multiplicação de pesquisas históricas que mostram que as profissões percorrem trajetórias muito diferenciadas de sociedade para sociedade, e que as descontinuidades nestas trajetórias não são incomuns. A Engenharia brasileira teve a mesma trajetória da Medicina, ou da Odontologia? Qual foi o papel do Estado brasileiro na organização das profissões? Outra questão diz respeito às classes sociais. Quando se discute a tese da “proletarização” e a inserção dos profissionais no sistema de estratificação social, as dificuldades tornam-se maiores. Serão as profissões meras ocupações? Grupos de status? Estratos dentro de classes? Uma classe social? Esta é uma questão difícil, e as respostas são as mais variadas mesmo dentro de uma única tradição analítica18. Neoweberianos não se entendem sobre o assunto, neomarxistas digladiamse em torno de diferentes mapas topográficos de estrutura de classe. As teorias das classes sociais compartilham de uma característica comum: uma classe é pensada como uma posição numa estrutura de diferenças, ou de posições. Seu sentido, seu poder descritivo, classificatório e analítico, constrói-se no cruzamento entre características intrínsecas e características diferenciais destas posições. Se, em Marx, o operário define-se pela liberdade em relação aos meios de produção, isto decorre de que outro, o capitalista, tem a propriedade destes. O operário define-se tanto por diferença (ele não é capitalista, não é servo, não é escravo) quanto por identidade (ele é livre, só tem sua força de trabalho para vender). As teorias de estratificação social de extração weberiana definem ainda mais fortemente a estrutura de classes como sendo de posições e diferenças, estas últimas quase sempre associadas a idéias de hierarquia e status social6. De maneira geral, estas questões básicas, mas já centenárias na tradição crítica, são refratárias a consenso. Mais consensual é a constatação de que as profissões contribuem decisivamente, e de maneira peculiar, para a estrutura de desigualdades sociais. Desvendar os mecanismos pelas quais elas se apropriam de vantagens materiais e simbólicas é mais importante do que “ficar revolvendo a desorganizada mapoteca da teoria de classes”9. Ao se olhar para o “lugar” ocupado pelos profissionais superiores na estratificação social, bem como sua respectiva cultura de atuação por dentro das instituições, percebe-se que eles ainda dispõem de recursos de poder, bem como uma ideologia corporativa difícil de colocá-los no mesmo patamar dos assalariados proletários, mesmo que a renda de certas profissões venha caindo na média. Isto parece ser verdadeiro, sobretudo na perspectiva da Sociologia crítica de conceitos como “trabalho” e “classe social”. Diniz9 (2001) também conclui que, embora as profissões possam ser veículo ou agência dos interesses de classes, esta função é mediada pelo interesse das profissões em manter seus monopólios no mercado de serviços e seu status na estrutura ocupacional. Mostra também que profissão e burocracia não são princípios conflitantes de organização do trabalho. Em várias sociedades a burocracia do Estado foi o modelo de organização das profissões. Qual a participação do Estado na viabilização do profissionalismo, freqüentemente pensado como um processo que só ocorre no mercado? A relação com o Estado pode impulsionar o profissionalismo ou inviabilizar a noção de profissão, segundo as características das profissões que as diferenciariam das demais ocupações no conceito construído por Freidson12,13 (1994, 2001). Para este autor – que estudou, particularmente, o profissionalismo médico –, nas sociedades industrializadas os profissionais são valorizados e diferenciados de outros trabalhadores ligados as burocracias estatais ou regidos puramente pelo mercado, porque possuem conhecimentos e habilidades especializados. Ele apresenta o profissionalismo como um tipo ideal, fundado na economia política de linha weberiana. Para ele, na regulação de certas atividades humanas, o profissionalismo é uma “terceira lógica”, uma opção mais viável do que o consumismo do mercado e a burocracia do Estado. Contudo, Freidson12,13 (1994, 2001) discute o propalado declínio do profissionalismo, nos dias atuais, predizendo um “renascimento” do mesmo. Mais que isto, o autor defende o profissionalismo como um método desejável de prover serviços complexos e discricionários para o público em geral, argumentando que métodos baseados puramente no mercado ou na burocracia de Estado empobreceriam a qualidade dos serviços aos consumidores. Nestes casos, estaria plenamente justificado o valor do “credencialismo” ou monopólio profissional, não obstante as críticas dos que ele qualifica como “economistas neoclássicos ou populistas”. Mas, segundo Campos5 (2001), o “crème de la crème” desta disputa deveria passar mesmo pela temática da inserção dos profissionais na estrutura de classe. Revista da ABENO • 4(1):30-7 33 Políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia • Moysés SJ Para ele, numa abordagem foucaultiana11, advogados, médicos, economistas, terapeutas, dentistas e tantos outros profissionais estão em tal extensão presentes em nossa vida cotidiana que não imaginamos que possam ser mais do que as aparências sugerem: não só os peritos a quem levamos os inevitáveis problemas que afligem todo cidadão, em troca de uma justa remuneração, mas também detentores de um poder sobre todos nós, os leigos, os não-iniciados nos insondáveis mistérios de corpos de conhecimento esotéricos. Para Campos5 (2001), os profissionais podem também operar no atacado; médicos freqüentemente assessoram os governos no âmbito da saúde pública, ou os economistas cuidam da boa saúde das finanças nacionais. Mas a diferença aqui parece ser apenas de escala, pois a natureza do serviço permanece a mesma e idêntica à conduta que se espera dos profissionais; isto é, a prestação competente de um serviço, numa perspectiva como a de Max Weber, que tanta fé professou na racionalidade formal da técnica e da ciência. O autor vai além e aponta criticamente a visão que tenta nos fazer crer que nosso clínico é um santo homem, imune aos apelos do vil metal, e que o nosso advogado é um ser absolutamente ético; e que à imagem deles, todas as demais espécies de profissionais interessam-se apenas pelo bem-estar dos clientes e da comunidade, em troca de justos e modestos honorários. Para ele, deveríamos prestar mais atenção na advertência de Bernard Shaw: “Toda profissão é uma conspiração contra o leigo” (All professions are conspiracies against the laity. The Doctor’s Dilemma (1911) act. 1. [citado em 2004 jun 08] Disponível em: http://www.quotationspage.com/quotes/George_Bernard_ Shaw/71). ODONTOLOGIA E REALIDADE BRASILEIRA NA PASSAGEM DO SÉCULO XX PARA O SÉCULO XXI As contradições da Odontologia brasileira, observadas sob a perspectiva analítica da Sociologia das Profissões, refletem e reproduzem os dilemas correntes de um modelo de formação e prática odontológica imerso em complexa transição. A passagem da Odontologia de mercado, de natureza liberal e privada, típica das últimas décadas do século XX, para uma Odontologia sujeita às oscilações da oferta de emprego e renda, num mercado extremamente competitivo, é a tônica moderna. Contribuem para esta paradoxal transição os descaminhos do sistema de educação superior no Brasil, particularmente na área da Saúde, bem como a inci34 piente participação da Odontologia no SUS no Brasil. Além disto, o País atravessa uma importante transição demográfica e epidemiológica em saúde bucal, com o envelhecimento da população e o declínio de cárie em população jovem, não obstante persista o fenômeno da “polarização”, com um percentual importante de crianças e adolescentes com alta experiência de cárie. Por outro lado, problemas ligados aos acidentes traumáticos em meios urbanos, que atingem as áreas de cabeça, face, boca e dentes, bem como a ocorrência do câncer bucal, tornam-se cada vez mais importantes. E, ainda mais, o adulto brasileiro continua portador de uma herança epidemiológica das mais graves, com grande estoque de doenças bucais acumuladas, refletidas no índice de edentulismo na terceira idade. A realidade de fatos, acima referidos, impõe uma agenda de mudanças na formação e no trabalho do dentista brasileiro, já que o trabalho é a categoria central onde se encontram diferentes atores, provenientes de distintos espaços. As necessárias mudanças devem começar na formação profissional e na visão de mundo reproduzida dentro das academias, pois certamente nestes espaços também começa a formação das possibilidades para a empregabilidade futura do cirurgião-dentista e de sua relevância social17. O grande dilema para tratar de assuntos sensíveis como este é que toda mudança traz “desconforto”. Os Relatórios Flexner e Relatório Gies, publicados nos Estados Unidos, respectivamente em 1910 e 1926, normatizaram o ensino médico-odontológico. Os (des)caminhos médico-odontológicos, desde então, foram diversos. A concepção mecanicista, com redução da doença à dimensão biológica, levou a maior ênfase no processo curativo-reparador, o que gerou uma prática de alto custo, baixa cobertura, com pouco impacto epidemiológico e desigualdades no acesso. Sobre a formação tradicional do dentista brasileiro, poderíamos começar falando de seu viés mais importante, implicado com o racionalismo dominante nas universidades brasileiras. Este viés poderia ser qualificado com o seguinte epíteto: o “erro” de Descartes. Ou seja, o paradigma cartesiano disjuntivo, aplicado ao pensamento e a ação, com a separação do todo em partes e as demais dissociações decorrentes: sujeito/objeto, alma/corpo, espírito/matéria, qualidade/ quantidade, sentimento/razão, existência/essência, liberdade/determinismo. Este paradigma, aplicado aos currículos e disciplinas do meio biomédico, após as sucessivas reformas de natureza flexneriana/giesia- Revista da ABENO • 4(1):30-7 Políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia • Moysés SJ na, levou à ênfase ao domínio cognitivo e instrumental, com algumas das seguintes conseqüências: mecanicismo, biologicismo, assistência individual, especialização precoce, tecnificação do ato médicoodontológico, ênfase em Medicina/Odontologia curativa. Um dos problemas mais visíveis do paradigma disjuntivo, quando aplicado ao mundo do trabalho e aos sistemas de saúde, aqui incluindo o sistema de formação de força de trabalho, é a separação, por oposição, das esferas público-estatal e privada como pólos que se repelem. Assim, geram uma ruptura, na organização objetiva do sistema e nas estruturas mais profundas onde as práticas sociais são representadas (intersubjetividade). O pensamento cartesiano típico tem como característica uma estrutura rígida de concepção do mundo, com a negação da diversidade, o uso de um repertório de certezas preestabelecidas e irrefletidas, produzindo, ao fim e ao cabo, uma postura intransitiva. Exemplos do pensamento intransitivo na Odontologia podem ser citados pela construção de “personagens” do SUS, segundo esta ótica caricata. Portanto, quem seriam os trabalhadores ou gestores em serviços de saúde coletiva, senão o “esquerdista”, o profissional “que não deu certo” no mercado, o “sacerdote”, o monge franciscano, o “rebelde” sem causa. E, assim, fechando o ciclo dos pré-conceitos, os usuários do SUS nada mais são senão “carentes”. Mas qual é o impacto do projeto pedagógico na profissão odontológica? E mais: vivemos, de fato uma crise da Odontologia, ou uma crise da Odontologia de mercado? Para começar a responder esta formulação, poderíamos propor em nossa arquitetura conceitual a noção de que é fundamental formar força de trabalho em Odontologia, com vistas ao SUS e, dentro da lógica de reestruturação da atenção no SUS, trabalhar a própria abordagem familiar em programas como o Programa Saúde da Família (PSF). Primeiro, porque parece estar caminhando para rápido esgotamento o modelo que alimentou o ensino e prática para gerações de dentistas/professores até meados dos anos 1990. São milhares de profissionais da nova geração vivendo o efeito arrasador da ocupação precária, que favorece uma crescente “canibalização” profissional, fora mesmo dos regramentos de mercado (por exemplo, com graves desvios de ética corporativa). Do ponto de vista da ética maior, de inclusão social e sanitária, são milhões de brasileiros sem respostas aos seus problemas de saúde bucal. A mutilação bucal ou a falta de acesso a serviços de qualidade é um sintoma da sociedade da exclusão e da barbárie. Segundo, porque o modelo ainda dominante, sob a lógica da competência técnica para o mercado privado e para a ação “curadora”, não produz sujeitos políticos capazes de protagonizar novas aberturas para a sociedade e para a profissão. Finalmente, o SUS tem pressa para mudar o modelo de atenção dominante, ou seja, um projeto que seja distinto do modelo biomédico hegemônico e não pode continuar consumindo recursos no esforço de “(des)construção” de perfis profissionais inadequados, por meio de cursos de capacitação que visam fornecer o que as graduações não ofereceram. Infelizmente, a universidade não faz “recall” dos “produtos” que lança no mercado de trabalho. As ideologias ocupacionais e o imaginário social do aluno/dentista, reforçados por uma concepção de ensino aprisionada em contextos de décadas passadas, criaram uma bomba-relógio de expectativas frustradas. Certamente, continua indispensável a competência no domínio de aspectos biológicos e clínicos envolvidos na prática profissional, mas também é cada vez mais premente o necessário desenvolvimento de competências quanto às dimensões ética, política, econômica, cultural e social do seu trabalho. O foco deve ser deslocado para a promoção de saúde, no seu sentido integral que inclui até mesmo a redução de danos, mas com aptidões para trabalhar na saúde coletiva, familiar e individual. Assim, o papel tradicionalmente atribuído pelo “mercado” ao dentista deve ser progressivamente substituído por novos papéis, com um retorno radical e historicamente contextualizado à agenda da Reforma Sanitária Brasileira. Esta é uma difícil empreitada, já que é uma mudança substantiva, que implica em profunda revisão de conceitos e condutas daqueles responsáveis por coordenar e ministrar o ensino superior. Este novo protagonismo gera desconforto, desconfiança, reação conservadora e posicionamentos pessoais insólitos. Mas é neste quadro de pluralidade que as inovações ocorrem, e há muito que se comemorar também, país afora, em termos de projetos pedagógicos conseqüentes e fortes alianças transformadoras. A questão colocada agora, no Brasil e no Ocidente, é ainda aquela já colocada anteriormente por pensadores como Paulo Freire ou Florestan Fernandes: a busca de uma educação libertadora, emancipatória, crítica e que nos leve a novos patamares de civilização. Estes pensadores advertiam que antes de decidirmos pelo tipo de universidade que queremos edificar é necessário refletir sobre o modelo de sociedade que desejamos desenvolver. E mais: Revista da ABENO • 4(1):30-7 35 Políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia • Moysés SJ “Não se pode esquecer que a história é cruel com aqueles que pensam que ela é eterna. Porque ela não é eterna. Ela muda as faces, muda as exigências. E pode se converter num abismo e afogar aqueles que não perceberem que é momento de mudar de rumo”10. Os grande pilares, ou fundamentos teóricos para mudança, estão sendo discutidos em grandes fóruns mundiais e já mostram suficiente clareza de orientação. Por exemplo, a Declaração de Paris22, que enfatiza a universidade como espaço que: • propicie o aprendizado permanente; • contribua para a consolidação da cidadania democrática; • reforce suas funções críticas e progressistas; • utilize sua capacidade intelectual e prestígio moral para defender e difundir ativamente valores humanistas; • aporte sua contribuição para o tratamento dos problemas que afetam o bem-estar das comunidades onde atua; • fomente a inovação e a transdisciplinaridade. A Conferência Mundial da UNESCO, de onde emergiu a Declaração de Paris em 1998, foi recentemente reeditada em 2003, com o nome de Paris + 5. Reuniu cerca de 400 especialistas de 120 países para avaliar as mudanças ocorridas no ensino superior e fazer um balanço dos resultados obtidos desde a primeira reunião, em 1998. Neste evento, na conferência de abertura, o Ministro da Educação do Brasil reafirmou a visão de que a Universidade é a instituição mais preparada para reorientar o futuro da humanidade. Mas, para tanto, há certamente um pressuposto crítico. Será preciso resgatar Paulo Freire e transformar o modelo “bancário”, onde o aluno é mero “depositário do processo ensino-aprendizagem, exigindo a problematização, a ação e a reflexão do aprendiz sobre a realidade, bem como a capacidade de solucionar problemas reais”14,21. Os desdobramentos para tal movimento de mudança são: • Superar as concepções antigas e herméticas das grades curriculares, muitas vezes, meros instrumentos de transmissão de conhecimento e informações, preparando o futuro graduado para enfrentar os desafios das rápidas transformações da sociedade, do mercado de trabalho e das condições de exercício profissional. Isto exige, não apenas alterar grades disciplinares em currículos estanques, mas uma profunda revisão de projetos pedagógicos que sejam mais dinâmicos, críticos, flexíveis, transdisciplinares. 36 • Promover no estudante a competência do desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente. Esta competência permite a continuidade do processo de formação acadêmica e/ou profissional, que não termina com a concessão do diploma de graduação, implicando em uma relação continuada com os centros formadores e uma educação permanente do sujeito que aprende. • Nas escolas técnicas, ou nos cursos de graduação e pós-graduação em saúde, articular a Educação e a Saúde, com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, em cenários pedagógicos diversificados, especialmente as próprias unidades públicas de saúde e seus respectivos territórios de cobertura. Desta forma, o conceito de saúde e os princípios e diretrizes do SUS são elementos fundamentais a serem enfatizados. Não é por ausência de arcabouço teórico-legal, que tais dispositivos de mudança na realidade educacional do País deixarão de ocorrer. Reza a Constituição Federal do Brasil, de 1988: • Título VIII - Da Ordem Social – Capítulo II - Da Seguridade Social – Seção II - Da Saúde – Art. 200. Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: III - ordenar a formação de recursos humanos na área de Saúde. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, também estabelece, em consonância com os dispositivos constitucionais: • Estímulo à formação profissional generalista, humanista, crítica e reflexiva, com base no rigor tecnocientífico, pautado em princípios éticos e compromisso social. • Perfil profissional com foco na promoção de saúde e apto a trabalhar na saúde coletiva. • Aluno que busca a aprendizagem ativa, que pode ser obtido por meio de atividades de extensão comunitária. CONCLUSÃO As profissões na pós-modernidade sofrem desgaste incontido, tanto mais quanto mais estiverem inseridas na dinâmica disruptiva do conhecimento. Do ponto de vista de mercado, a vantagem educacional comparativa é aquela que forma profissionais capazes de refazer constantemente a própria profissão. Do ponto de vista da vida, trata-se de gestar cidadãos capazes de mudar a sociedade em nome do bem co- Revista da ABENO • 4(1):30-7 Políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia • Moysés SJ mum8. Portanto, os cursos de Odontologia deverão, progressivamente, avançar para um projeto pedagógico construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem, em conformidade com as resoluções recentes do Conselho Nacional de Educação1. São aspectos cruciais para a educação superior, para a formação profissional e para uma cidadania contextualizada, particularmente quanto à Odontologia: • o perfil do formando (egresso/profissional); • as competências, aptidões e habilidades que lhe são necessárias; • os conteúdos curriculares; • os estágios e atividades complementares; • a organização do curso; • o acompanhamento e a avaliação. As mudanças epistemológicas e metodológicas que ocorrem no campo da avaliação curricular procuram esclarecer a influência da condição pós-moderna na emergência de um novo paradigma. O alargamento do conceito de racionalidade – racionalidade comunicativa – e a teoria dos interesses cognitivos, na linha habermasiana15, mais as contribuições teóricas na linha do humanismo dos novos paradigmas educacionais16, permitem pensar em uma avaliação curricular que deixará de ser um mecanismo de regulação externa para passar a ser um processo participativo de construção de significados, única forma de fundar uma verdadeira cultura colaborativa que vá ao encontro dos novos desafios da Odontologia brasileira e das demandas sociais por mais saúde bucal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia. Diário Oficial da União, Brasília, 4 mar 2002, seção 1, p. 10. 2. Brasil. ANSS - Agência Nacional de Saúde Suplementar. [citado 2002 dez 14] Disponível em: http://www.ans.gov.br/portal/site/ mapa_site/mapa_site.asp. 3. Brasil. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. [citado 2003 out 29] Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/populacao/censohistorico/default.shtm. 4. Brasil. PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1998. [citado 2003 out 29] Disponível em: http://www.ibge.gov. 5. 6. 7. 8. 9. 10. br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad98/saude/ sb11.shtm. Campos E. Prefácio. In: Diniz M (ed.). Os donos do saber: profissões e monopólios profissionais. Rio de Janeiro: Revan e IUPERJ/UCAN; 2001. p. v-viii. Cardoso AM. GT trabalho e sociedade. [citado em 2001 nov 23] Disponível em: http://www.iuperj.br/associacao/anpocs/. CFO - Conselho Federal de Odontologia. [citado 2003 out 30] Disponível em: http://www.cfo.org.br/. Demo P. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São Paulo: Atlas; 2002. 195 p. Diniz M. Os donos do saber: profissões e monopólios profissionais. Rio de Janeiro: Revan e IUPERJ/UCAN; 2001. 192 p. Fernandes F. Entrevista. Tempo Social. Rev Sociol USP 1995;7(1-2):187-95. 11. Foucault M. The birth of the clinic: an archaeology of medical perception. New York: Vintage Books; 1994. 240 p. 12. Freidson E. Professionalism reborn: theory, prophecy, and policy. Chicago: The University of Chicago Press; 1994. 238 p. 13. Freidson E. Professionalism, the third logic: on the practice of knowledge. Chicago: The University of Chicago Press; 2001. 240 p. 14. Freire P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1980. 220 p. 15. Habermas J. The theory of communicative action. v. 1 - Reason and the rationalization of society. Cambridge: Polity Press; 1995. 16. Morin E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, UNESCO; 2000. 118 p. 17. Moysés SJ. A humanização da educação em Odontologia. ProPosições/UNICAMP 2003;14(1):40-74. 18. Moysés SJ. Cooperativismo odontológico – uma face do mercado de trabalho do cirurgião-dentista. [Dissertação de Mestrado]. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte; 1989. 165 p. 19. Moysés SJ, Sheiham A. O papel dos profissionais de saúde bucal na promoção de saúde. In: Buischi YDP (Ed.). Promoção de saúde bucal na clínica odontológica. São Paulo: Artes Médicas/ APCD; 2000. p. 23-37. 20. Parkin F. Marxism and class theory: a bourgeois critique. Londres: Tavistock; 1979. 54 p. 21. Taylor PV. The texts of Paulo Freire. Buckingham and Philadelphia: Open University Press; 1993. 169 p. 22. Universidade Federal do Paraná. A UNESCO e o futuro do ensino superior. Documentos da Conferência Mundial sobre a Educação Superior. Curitiba: Imprensa Universitária da UFPR; 1998. 75 p. Revista da ABENO • 4(1):30-7 Aceito para publicação em 11/2003 37 Odontologia do Trabalho e Sistema Único de Saúde – uma reflexão O surgimento da Odontologia do Trabalho deve ser pensado como um reforço à promoção de saúde que o SUS pretende garantir à população. Arsenio Sales Peres*, Kelly Polido Kaneshiro Olympio**, Lucilene Sanches Cirilo da Cunha**, Priscila Ariede Petinuci Bardal** * Professor Responsável pela Disciplina de Bioética do Programa de Pós-Graduação em Ortodontia e Odontologia em Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo. ** Alunas do Programa de Pós-Graduação em Ortodontia e Odontologia em Saúde Coletiva, opção Odontologia em Saúde Coletiva, pela Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo. RESUMO Promover, proteger e recuperar a saúde do trabalhador são ações garantidas pela Lei 8.080, desde 1990. No entanto, o atendimento das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido negligenciado, principalmente quando se analisa a saúde bucal da população adulta. Este artigo faz uma reflexão sobre o papel da nova especialidade Odontologia do Trabalho e o contexto no qual deve se adaptar para uma maior contribuição social. Mediante suas funções, é feita uma análise de qual seria o seu papel, dentre as especialidades da Saúde, na consolidação do SUS, ainda em processo de construção. DESCRITORES Odontologia. Trabalho. Adulto. SUS (BR). A RELAÇÃO DO HOMEM COM O TRABALHO NA HISTÓRIA Historicamente, o trabalho sempre foi visto de maneira negativa. A origem da palavra trabalho vem de tripalium que era um instrumento de tortura de três paus aguçados, algumas vezes, munidos de pontas de ferro6. Em um primeiro estágio da economia, o homem viveu do extrativismo vegetal e animal, pois colhia frutos e vegetais da natureza, caçava e pescava os animais que cresciam e se reproduziam sem o seu auxílio. Quando os recursos daquela região se esgotavam, mi38 grava para outra, caracterizando o nômade – o trabalho servia apenas para sua subsistência. Em seguida, de acordo com Albornoz1 (1995), o homem passou a desenvolver atividades agrícolas por uma descoberta casual de que, após um incêndio, um grupo de pessoas teria observado que as plantas cresciam novamente, a partir das sementes. Continuando a evolução, o homem alcançou a fase do Artesanato. Na Antigüidade, já havia povos, como os fenícios, dedicados ao comércio e, na Idade Média, o homem procurou aplicar à produção os conhecimentos que já possuía sobre a natureza e os fenômenos físicos. Tais conhecimentos culminaram com a Era Industrial7. Na Era Industrial passa a se observar o oposto do que era visto na Era Artesanal. Nesta, o artesão podia parar para descansar quando sentisse necessidade. Com o advento da Indústria, a linha de montagem não pode parar por causa do ritmo de produção e da qualidade. Desde o início da Revolução Industrial, os trabalhadores eram menosprezados – o homem deveria adaptar-se à máquina ou à sua função sem que fossem considerados suas características individuais e fisiológicas, nem os problemas decorrentes do ambiente de trabalho. As jornadas de trabalho eram longas, não havia um limite de horas e o ritmo era acelerado. Máquinas sem proteção, pouca iluminação, má ventilação, precária higiene do local e ruídos altíssimos caracteriza- Revista da ABENO • 4(1):38-41 Odontologia do Trabalho e Sistema Único de Saúde – uma reflexão • Peres AS, Olympio KPK, Cunha LSC, Bardal PAP vam as péssimas condições de trabalho. Assim, em 1802, o Parlamento Britânico criou a Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno e tornava obrigatória a existência de ventilação nas fábricas e a lavagem de suas paredes duas vezes ao ano11. Em 1831, uma comissão de inquérito elaborou um relatório sobre a crueldade do homem para com o próprio homem nas indústrias que culminou com um documento chamado “Factory Act”. Este foi o primeiro instrumento legal eficiente no que concerne à saúde do trabalhador. Este documento proibia o trabalho noturno de menores de 18 anos, restringia a carga horária dos trabalhadores a 12 horas/dia, determinava a idade mínima de ingresso para o trabalho, obrigava as fábricas a terem escolas para os menores de 13 anos de idade e um médico para acompanhar o desenvolvimento físico dos pequenos trabalhadores. Foi um avanço para a época9. Com a globalização da economia, a administração que antes era baseada na valorização da estrutura, da tecnologia e do mercado passa a ser baseada no uso da informação e na flexibilização dos processos, levando a uma reorganização do mundo do trabalho. Este modelo permite uma maior participação do trabalhador no processo de produção, recuperando sua autonomia, iniciativa, criatividade e força de coesão social, valores estes fundamentais à dignidade do trabalho6. A SAÚDE DO TRABALHADOR E A LEI 8.080 No Brasil, a Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990 diz em suas disposições gerais que a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício, assegurando acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação. A saúde tem como fatores determinantes a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais, garantindo às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social3. A identificação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde, formulação de políticas de saúde, integração das ações assistenciais às atividades preventivas são objetivos do Sistema Único de Saúde. A saúde do trabalhador é entendida como o conjunto de ações responsáveis pela promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores, abrangendo: • assistência em caso de acidente de trabalho e doença profissional ou do trabalho; • participação em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos potenciais à saúde do trabalhador, e dos serviços de saúde a ele prestados; • avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; • revisão periódica da listagem oficial de doenças derivadas do processo de trabalho; • direito de interdição de máquinas, quando estas forem causa de risco para a vida ou saúde do trabalhador. Assim, quando aliamos a estes conhecimentos os princípios e diretrizes do SUS de universalidade, integralidade, autonomia, igualdade, e resolução dos serviços em todos os níveis, percebemos que há uma grande falha no que concerne à Odontologia em se fazer cumprir os princípios doutrinários do SUS. No cenário brasileiro, não é de hoje que o SUS vem sofrendo ataques no sentido de se mutilar suas características principais, particularmente a universalidade e a integralidade, bem como a garantia da saúde como direito de cidadania. O processo de consolidação do SUS vem se dando nas batalhas do dia-a-dia e principalmente dentro das municipalidades. É importante considerar que, manter os preceitos constitucionais é fundamental, entretanto, mais importante ainda é a consolidação do sistema com a implantação de modelos assistenciais mais eqüitativos, resolutivos e eficazes que reforcem o ideário do SUS na prática15. Para Cunha, Cunha4 (1998), o SUS significa transformação e, por isso, processo político e prático de fazer das idéias a realidade concreta. “Construção” é a idéia que melhor sintetiza o SUS. Uma das maneiras para integrar as ações de saúde ao trabalhador se dá através dos ambulatórios de saúde. Experiências pioneiras de criação de centros de referências para a saúde do trabalhador surgiram no final dos anos 80, nos municípios de Campinas, Salvador e São Paulo. A partir de então, foi ressaltada a importância da organização de centros de referência voltados para a vigilância e atenção em saúde do trabalhador2. O Ministério da Saúde, até setembro de 2003, implantou 80 Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST), o que vem garantindo, mesmo mediante várias dificuldades, uma maior atenção para a saúde do homem no trabalho. Até abril de 2004, deverão estar organizados 130 centros que atuarão em parceria com as equipes do Programa Saúde da Famí- Revista da ABENO • 4(1):38-41 39 Odontologia do Trabalho e Sistema Único de Saúde – uma reflexão • Peres AS, Olympio KPK, Cunha LSC, Bardal PAP lia (PSF), e considerando as atividades programadas, no ano de 2007, a meta é de já estarem implantados 300 CRSTs, com equipes multiprofissionais compostas por médicos, enfermeiros, psicólogos e terapeutas ocupacionais, profissionais estes que farão a triagem dos pacientes, e, nos casos de doenças provocadas pelo trabalho, deverão realizar o diagnóstico e encaminhar o paciente para as unidades de média ou alta complexidade. A Odontologia ainda não é citada como uma das profissões que devam integrar os CRSTs. Além da criação destas unidades, há de se considerar a formação de uma rede de centros colaboradores, composta por universidades e centros de pesquisa, para garantir o apoio técnico necessário. Faz-se necessário ainda que se invista firmemente na integração, em âmbito municipal, das ações de saúde integral ao trabalhador no SUS2. ODONTOLOGIA DO TRABALHO Neste contexto de valorização dos recursos humanos, a Odontologia do Trabalho, como nova especialidade odontológica, ganha destaque com o intuito de estudar, interpretar e solucionar os diferentes problemas bucais que atingem os trabalhadores. As doenças bucais não se desvinculam das condições gerais de saúde do corpo e não podem ser deixadas de lado quando se discutem as incapacidades que atingem os trabalhadores5. Qualquer problema de origem bucal pode provocar desconforto físico, emocional, prejuízos consideráveis a saúde geral, além de diminuir a produtividade de um empregado dentro de sua função. Em 1966, Medeiros8 conceitua Odontologia do Trabalho como sendo o setor da Odontologia que tem por finalidade a melhoria da saúde oral, seus efeitos e influência sobre a produtividade do trabalho e o diagnóstico precoce de manifestações orais de doenças ocupacionais. As áreas de competência do especialista em Odontologia do Trabalho, de acordo com a Resolução CFO25/200214, incluem: a) identificação, avaliação e vigilância dos fatores ambientais que possam constituir risco à saúde bucal no local de trabalho, em qualquer das fases do processo de produção; b) assessoramento técnico e atenção em matéria de saúde, de segurança, de ergonomia e de higiene no trabalho, assim como em matéria de equipamentos de proteção individual, entendendo-se inserido na equipe interdisciplinar de saúde do trabalho operante; 40 c) planejamento e implantação de campanhas e programas de duração permanente para educação dos trabalhadores quanto a acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e educação em saúde; d) organizar estatística de morbidade e mortalidade com causa bucal e investigar suas possíveis relações com as atividades laborais; e e) realização de exames odontológicos para fins trabalhistas14. Segundo Midorikawa10 (2000), vários são os benefícios que podem ser elencados a partir da inserção do cirurgião-dentista na equipe de saúde do trabalhador. Para o próprio trabalhador, pode-se citar desde o aprendizado dos cuidados com a higiene bucal, aumento da motivação e da imagem da empresa perante o trabalhador, até a facilidade de acesso aos cuidados odontológicos, tratamento das doenças bucais, eliminação dos focos de infecção e das dores de origem dentária. A própria empresa também se beneficiará com esta inclusão do cirurgião-dentista nos ambulatórios de saúde do trabalhador, pois os índices de absenteísmo serão diminuídos, a imagem da empresa no mercado será melhor, haverá maior produtividade individual, diminuição das possibilidades de acidentes de trabalho e doenças profissionais com manifestações bucais sem que, para isto, haja qualquer custo adicional. De forma mais abrangente, vê-se que a inclusão dos cirurgiões-dentistas nos ambulatórios de saúde do trabalhador favoreceriam o próprio Brasil com a diminuição da demanda e da procura pelos serviços odontológicos das unidades básicas de saúde, o que permite que outras categorias da população sejam melhor atendidas. A diminuição dos índices de absenteísmo, de acidentes do trabalho e de doenças profissionais, colaborará para um aumento de produção nacional e aumento da oferta de produto industrializado. Por fim, a Odontologia poderia, juntamente com outras profissões de Saúde, assumir e contribuir com a responsabilização social relacionada à saúde dos trabalhadores, bem como para o aumento da estabilidade do setor industrial e de serviços, da produtividade e segurança. Como nova especialidade que é, a Odontologia do Trabalho, também abre um novo mercado de trabalho para o cirurgião-dentista. CONCLUSÕES A recém-criada especialidade Odontologia do Trabalho deve encaixar-se neste cenário de maneira a Revista da ABENO • 4(1):38-41 Odontologia do Trabalho e Sistema Único de Saúde – uma reflexão • Peres AS, Olympio KPK, Cunha LSC, Bardal PAP elucidar a função do cirurgião-dentista na Saúde do Trabalhador, estabelecendo como atender o trabalhador de maneira que ele receba atenção específica para suas necessidades. A inserção do cirurgião-dentista nos ambulatórios de saúde do trabalhador torna-se uma alternativa de atendimento odontológico à população adulta, uma vez que, no que se refere à saúde bucal do adulto, há um hiato no cumprimento dos princípios doutrinários do SUS de universalidade, eqüidade e integralidade de atendimento a toda população. Enquanto o PLC 03/02, o qual institui a obrigatoriedade do atendimento odontológico pelo SUS12,13, não se torna lei, o ambulatório de saúde do trabalhador pode promover o preenchimento de parte deste hiato, ainda que a universalidade e integralidade de atendimento à saúde bucal do cidadão continuem sendo uma meta a ser alcançada durante a consolidação do SUS. 3. Bastos JR de M, Sales Peres A, Ramires I, Almeida BS. Manual de Odontologia em Saúde Coletiva – Legislação. Bauru: Faculdade de Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo; 2001. p. 30-52. 4. Cunha JPP, Cunha RE. Sistema Único de Saúde – princípios. In: Campos FE, Oliveira Jr M, Tonon LM (org.). Cadernos de Saúde I. Belo Horizonte: Coopmed; 1998. p. 11-26. 5. DIESAT - Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho. Pelo direito de mastigar. Trabalho e Saúde 1984;4:11. 6. Gonçalves EL. O serviço médico da empresa. São Paulo: Edusp; 1994. 367 p. 7. Huberman L. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar; 1984. 318 p. 8. Medeiros EPG. Conceito de Odontologia do Trabalho. O Incisivo 1966;5:22-4. 9. Mendes R. Medicina do Trabalho e doenças profissionais. São Paulo: Sarvier; 1980. 573 p. ABSTRACT Labor Dentistry and the Health Unified System – a reflection Actions to promote, to protect and to recover the health of workers have been ensured by Law 8.080 since 1990. However, the guidelines of the SUS (Sistema Único de Saúde – Unified Health System) have been neglected, mainly regarding oral health of adult population. This paper considers the role of a new dental speciality, labor dentistry, and the context to which it must adapt itself to make an important social contribution. An analysis of its functions was conducted about what would be the role of the new speciality among the health specialities in the Unified Health System, which is still ongoing. 10. Midorikawa ET. A Odontologia em Saúde do Trabalhador como uma nova especialidade profissional: definição do campo de atuação e funções do cirurgião-dentista na equipe de saúde do trabalhador [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2000. 11. Nogueira DP. Introdução à segurança, higiene e Medicina do Trabalho – histórico. In: Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. Curso de Medicina do Trabalho. São Paulo: Fundacentro; 1979;1:5-10. 12. Pautando a frente parlamentar de saúde. Jornal do Conselho Federal de Odontologia 2003 (Ano 11);55:10. 13. Projetos de Lei acompanhados pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO). Jornal do Conselho Federal de Odontologia 2003 (Ano 11);53:6. 14. Resolução do Conselho Federal de Odontologia (CFO) nº 14/2002 (acesso em dez 2003). Disponível em http://www.cfo. DESCRIPTORS Dentistry. Work. Adult. SUS (BR). org.br/2aneo_am/fala.htm. 15. Roncalli AG. 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RESUMO Objetivou-se verificar, através do índice clínico Periodontal Screening and Recording (PSR), a condição periodontal em jovens estudantes do curso de Odontologia da Universidade Federal da Bahia no 2º período do ano 2000. A amostra constituiu-se de 269 estudantes estratificados do 1º ao 10º semestre letivo representativos da população total de 626 acadêmicos regularmente matriculados durante o referido período, de ambos os sexos, com faixa etária variando de 18 a 31 anos. A amostra apresentou-se homogênea quanto à variável sexo (p > 0,05). Através da metodologia empregada considerou-se que o índice PSR foi de fácil execução e de elevada reprodutibilidade intraexaminador (correlação de Spearman, p < 0,0001; r = 1 para os sextantes S2, S4, S5 e S6 e r = 0,96 para os sextantes S1 e S3). Apenas 21,93% da população estudada apresentou PSR código 0 e o código 2 foi o mais prevalente, 60,22%. O código asterisco encontrado representou recessão gengival, sem contudo apresentar significância estatística (p > 0,05), assim como não houve diferença estatística entre os semestres letivos estudados (p > 0,05). O fato do meio universitário não ter exercido influência na condição periodontal é discutido. Sugerem-se novos estudos epidemiológicos acerca das condições periodontais e sua distribuição em jovens universitários. DESCRITORES Diagnóstico. Doenças periodontais. Epidemiologia. Estudantes de Odontologia. A epidemiologia requer a mensuração dos eventos relacionados à saúde e à doença, através do emprego de índices desenvolvidos especificamente para este fim. Em geral, o desenvolvimento e o uso de um índice derivam da necessidade de agregar várias observações, oriundas de parâmetros característicos da condição de interesse, de uma única expressão do fenômeno. O procedimento de agregação geralmente envolve o cálculo de valores médios de todos os escores derivados de observações únicas3,8,15-17. Tendo em vista a relevância no estabelecimento de um índice universal para o reconhecimento da doença periodontal e a estimação da necessidade de tratamento periodontal nas populações, alguns métodos de exame têm sido propostos, amplamente derivados do Índice Comunitário de Necessidade de Tratamento Periodontal, após o período considerado como era dos índices iniciada em 1956 até 1982. Por iniciativa da Academia Dentária Americana e da Academia Americana de Periodontologia, surge, em 1992, com o impulso das seguradoras de saúde americanas, o Periodontal Screening and Recording (PSR), que tem sido amplamente difundido nos Estados Unidos, † Resumo da Dissertação de Mestrado. 42 Revista da ABENO • 4(1):42-7 Triagem periodontal através do PSR em estudantes de Odontologia da Universidade Federal da Bahia • Dourado VC, Rapp GE Canadá e mais recentemente no Brasil1-3,5,19,20,23. A primeira iniciativa para avaliar a validade do método de diagnóstico simplificado PSR ocorreu em 1994, quando Piazzini18, avaliando crianças e adolescentes, concluiu não haver diferença entre o diagnóstico através do exame periodontal convencional e aquele através do sistema PSR, apontando para o fato de que o PSR foi melhor aceito pelas crianças devido à rapidez do exame. Segue-se o trabalho de Khocht et al.11 (1995) que mostrou uma correlação moderada, mas significativa entre PSR e o exame periodontal convencional que incluía sondagem. O mesmo grupo de pesquisadores, em 1996, mostrou uma associação significativa entre os códigos do PSR e ambos, medidas de profundidade de sondagem e do nível de inserção, enquanto o exame radiográfico não refletiu satisfatoriamente a condição periodontal relativa a esses parâmetros clínicos. Também comparando ao exame clínico convencional, desta vez sendo realizado com sonda manual de carga controlada e em indivíduos com idade entre 25 e 35 anos, Rocha et al.21 (2000) demonstram não haver diferença estatisticamente significante entre o diagnóstico estabelecido para ambos os métodos. Gjermo10 (2000) afirma que o grau de destruição periodontal aumenta da faixa etária de 30-35 anos para a de 55-60 anos, quando estabiliza. Aponta que a associação entre idade e doença periodontal pode se dar devido ao registro acumulativo da doença periodontal (perda de inserção e de tecido ósseo) ou a fatores biológicos ou ambientais. Considerando a importância dos estudos epidemiológicos periodontais no jovem para a prevenção, diagnóstico precoce e conseqüentemente tratamento precoce da doença periodontal; da escassez de trabalhos científicos relativos a este assunto em âmbito nacional e da possível influência do meio ambiente na expressão da mesma, delineou-se o presente estudo. MATERIAL E MÉTODOS População O total da população de estudantes, regularmente matriculada no curso de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no 2º período letivo do ano 2000, foi de 626, sendo, 63,56% do sexo feminino e 36,44% do masculino. Amostra Utilizou-se o método do cálculo amostral estratificado com proporção esperada de 50%, adotando-se como erro 5% e o nível de confiança de 95%, para representação da população de estudantes do curso de Odontologia da Universidade Federal da Bahia no 2º período letivo do ano 2000. Para tanto, um total de 269 estudantes, escolhidos aleatoriamente, constituíram a amostra. A faixa etária compreendeu os estudantes de 18 a 31 anos, e foi em média de 21,83 e mediana de 21,3. Método clínico O índice epidemiológico adotado foi o PSR de acordo com a descrição da American Dental Association e American Academy of Periodontology1 (1992). Para o exame através do PSR, utilizou-se de sonda periodontal preconizada pela Organização Mundial de Saúde – OMS-621, de fabricação nacional da marca Trinity, de titânio, que apresenta como característica a presença de uma esfera na extremidade, medindo 0,5 mm de diâmetro e uma faixa preta que inicia em 3,5 mm e termina em 5,5 mm da ponta da sonda. Todas as sondas foram pesadas em uma balança analítica da marca Mettler PC 400 - Zurich do laboratório de Imunologia do Instituto de Ciências e Saúde - ICS da UFBA e apresentaram uma média de peso de 3,93 g cada. O exame do PSR foi realizado por um único examinador e seguiu-se a técnica de sondagem preconizada por Wilson Jr, Magnusson25 (1996). Todos os dentes, exceto os terceiros molares e dentes em erupção, foram examinados em seis sítios, 3 por vestibular e 3 por lingual, registrando-se apenas o código mais grave referente ao sextante. A mobilidade dental foi mensurada com o auxílio dos cabos de um espelho bucal nº 5 e da própria sonda periodontal OMS-621, posicionando-os nas faces vestibular e lingual de cada dente examinado. O envolvimento de bifurcação e a presença de recessão gengival foram medidos com o auxílio da própria sonda periodontal OMS-621, enquanto que para as alterações mucogengivais, tais como inserção de freios e bridas foi utilizada a inspeção clínica visual. Os dados clínicos obtidos foram anotados pelo próprio examinador em uma ficha de registro especialmente desenvolvida, além dos dados de data, gênero, idade, semestre em curso do acadêmico e a condição de ter cursado ou não a disciplina de Periodontia. A calibração da examinadora com profissional experiente ocorreu mediante o exame em 20 pacientes adultos divididos em 2 grupos de 10, sendo os resultados comparados e discutidos a cada 3 pacientes. A mensuração da concordância interexaminador ocor- Revista da ABENO • 4(1):42-7 43 Triagem periodontal através do PSR em estudantes de Odontologia da Universidade Federal da Bahia • Dourado VC, Rapp GE reu através do exame em 10 pacientes, utilizando a correlação de Spearman, obtendo-se os seguintes resultados: 76,06% (p = 0,0106), 89,71% (p = 0,0010), 80,51% (p = 0,0088), 96,61% (p = 0,0000), 86,26% (p = 0,0013) e 75% (p = 0,0199) para os sextantes S1, S2, S3, S4, S5 e S6 respectivamente. A concordância interexaminador foi considerada elevada e apresentou significância estatística para todos os sextantes. Para mensuração do grau de reprodutibilidade intra-examinador, foi realizado um exame em duplicata, para o qual 10 indivíduos não participantes do estudo foram examinados de acordo com a metodologia utilizada na pesquisa e foram reexaminados no intervalo de cinco dias após a aplicação do PSR. Os resultados obtidos foram analisados através do teste de correlação de Spearman observando-se uma correlação r = 1 para os sextantes S2, S4, S5 e S6 e uma correlação r = 0,96 (p < 0,0001) para os sextantes S1 e S3. O grau de concordância intra-examinador foi considerado excelente e apresentou significância estatística para todos os sextantes estudados9,22. Todos os exames foram realizados em condições ambientais, em salas com boa iluminação, em cadeira odontológica e, quando necessário, em cadeira comum adaptada na Faculdade de Odontologia ou no Instituto de Ciências e Saúde da UFBA, de acordo com o semestre em curso do estudante. O projeto foi submetido à apreciação do comitê de ética da Faculdade de Odontologia da UFBA tendo sido aprovado. Todos os estudantes participaram livremente da pesquisa e assinaram um termo de consentimento permitindo a realização do exame periodontal e posterior divulgação dos seus resultados. Após participação na pesquisa, os estudantes receberam informação por escrito a respeito dos respectivos códigos do PSR, bem como da necessidade de tratamento periodontal para cada caso através da distribuição de apostila específica. Os estudantes que apresentaram necessidade de tratamento periodontal receberam o procedimento de tratamento específico na Faculdade de Odontologia da UFBA. Método estatístico Os dados da distribuição dos códigos do PSR na população de estudantes da Faculdade de Odontologia no 2º período letivo do ano 2000, foram expressos em médias percentuais. Para análise da distribuição dos códigos do PSR e da variável idade na população estudada, estratificada por semestre letivo, 1º ao 10º, utilizou-se o teste Kruskal-Wallis ao nível de significân44 cia de 95%. Para análise da distribuição da variável sexo na população estudada, estratificada por semestre letivo, utilizou-se o teste qui-quadrado ao nível de significância de 95%. RESULTADOS Os resultados percentuais relativos à distribuição dos códigos do PSR na população de estudantes da Faculdade de Odontologia no 2º período letivo do ano 2000 estão apresentados na Tabela 1. Os Gráficos 1 a 5 representam a distribuição dos códigos do PSR agrupados em código na população estudada de estudantes de Odontologia do 1º ao 10º semestre letivos. DISCUSSÃO O PSR é uma preciosa ferramenta de investigação para registrar o estado periodontal atual. É rápido, simples de ser executado, de baixo custo podendo equacionar questões jurídicas quanto à responsabilidade do tratamento periodontal de acordo com o Tabela 1 - Distribuição dos códigos do PSR na população de acadêmicos da Faculdade de Odontologia no 2º período do ano 2000. PSR n % 0 59 21,93 1 18 6,69 2 162 60,22 1+2 180 66,91 3 26 9,67 4 4 1,49 30 11,16 2 0,74 3+4 Código * Total 269 100 (%) 100 80 60 40 20 0 25 26,09 36 28 26,92 36,67 12 4 1 2 3 4 5 6 7 8 17,86 9 10,53 10 Semestre Gráfico 1 - Distribuição do código 0 do PSR na população de acadêmicos da Faculdade de Odontologia da UFBA por semestre do curso. Revista da ABENO • 4(1):42-7 Triagem periodontal através do PSR em estudantes de Odontologia da Universidade Federal da Bahia • Dourado VC, Rapp GE (%) 100 (%) 100 80 80 60 60 40 40 20 0 4 1 12,5 2 4,35 4 8 3 4 5 7,69 3,33 6 7 4 3,57 8 9 13,16 10 88 58,33 71,43 56,52 56 60 3 4 5 50 50 6 7 60 52,26 20 0 1 2 Semestre 8 9 10 Semestre Gráfico 2 - Distribuição do código 1 do PSR na popu- Gráfico 3 - Distribuição do código 2 do PSR na popu- lação de acadêmicos da Faculdade de Odontologia da UFBA por semestre do curso. lação de acadêmicos da Faculdade de Odontologia da UFBA por semestre do curso. (%) 100 (%) 100 80 80 60 60 40 40 20 0 0 1 4,17 2 13,04 3 4 4 4 5 15,38 6 10 7 16 8 7,14 9 18,42 10 20 0 4 1 0 0 0 0 0 0 2 3 4 5 6 7 8 8 0 2,63 9 10 Semestre Semestre Gráfico 4 - Distribuição do código 3 do PSR na popu- Gráfico 5 - Distribuição do código 4 do PSR na popu- lação de acadêmicos da Faculdade de Odontologia da UFBA por semestre do curso. lação de acadêmicos da Faculdade de Odontologia da UFBA por semestre do curso. código de necessidade de tratamento6,12,13,20,24. O exame por meio do PSR visa determinar se um exame periodontal detalhado com avaliação do nível de inserção e profundidade de sondagem será necessário, não tendo, portanto, a intenção de substituir o exame periodontal completo. Assim sendo, para o desenvolvimento deste estudo adotou-se o índice periodontal PSR como instrumento para avaliação da condição periodontal dos estudantes de Odontologia da UFBA. Interessante notar que apesar de existir uma distribuição desigual da variável sexo na população total de 626 estudantes do curso de Odontologia da UFBA com 63,56% do sexo feminino e apenas 36,44% do masculino, o presente estudo homogeneizou sua amostra estratificada em relação à distribuição da variável sexo apresentando 59,46% de estudantes do sexo feminino e 40,54% do sexo masculino, não havendo diferença estatisticamente significante (p = 0,145). Na análise da Tabela 1 observa-se que o código 0 (zero) foi encontrado em, apenas, 21,93% da amostra. Dados semelhantes foram encontrados no estudo de Brouwn et al.4 (1989) nos quais dos indivíduos entre 19-44 anos, apenas 17,3% apresentavam saúde periodontal. Avaliando o parâmetro sangramento à sonda- gem, através do código 1 do PSR, observou-se, neste estudo, um percentual baixo (6,69%). Matsson14 (1978) observou que estudantes jovens de Odontologia (23-25 anos) têm uma tendência a apresentar sangramento à sondagem maior do que as crianças. Dantas, Rêgo7 (1998) concluíram que estudantes de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) apresentavam alto índice de sangramento à sondagem. Verifica-se, neste estudo, uma maior prevalência do código 2 do PSR (60,22%) representativo da presença de cálculo e/ou fatores retentivos de placa bacteriana, comparado aos demais códigos. Avaliando o parâmetro profundidade de sondagem através dos códigos 3 e 4 do PSR, observou-se, na Tabela 1, que 11,16% dos estudantes de Odontologia já apresentavam bolsa periodontal, sendo que em 1,49% a bolsa periodontal já era superior a 5,5 mm. Analisando o Gráfico 5 observa-se a presença do código 4 apenas nos semestres 1 (4%), semestre 8 (8%) e 10º semestre (2,63%). O código especial asterisco (*) foi verificado em dois estudantes de Odontologia do 10º semestre letivo, sendo representativo de recessão gengival, mas não houve significância estatística (p > 0,05). Com a análise dos resultados na Tabela 1, em re- Revista da ABENO • 4(1):42-7 45 Triagem periodontal através do PSR em estudantes de Odontologia da Universidade Federal da Bahia • Dourado VC, Rapp GE lação à necessidade de tratamento periodontal, observa-se que a maioria da população estudada (66,91%) tem a necessidade de tratamento periodontal não-cirúrgico (código 1 e 2 do PSR). Não houve diferença estatisticamente significante em relação à distribuição do PSR entre os semestres (p > 0,05), constatando, assim, que em todos os semestres o código mais prevalente foi o 2. Diante desses achados observou-se que a presença do cálculo dental é forte e constante na população estudada, permanecendo o mesmo quadro de presença de cálculo durante os 5 anos de curso, desde o semestre de início (1º) até o último (10º). Através deste estudo pôde ser verificado que o fato do estudante de Odontologia ter ou não cursado a disciplina de Periodontia, bem como outras disciplinas que atuem diretamente com a prevenção e orientação de higiene oral, a exemplo de Odontologia Preventiva e Social, não influenciou na sua condição periodontal verificado através do PSR. Desta forma observa-se a necessidade de ações de maior integração entre o aluno e a própria universidade, que sejam capazes de torná-lo agente de seu próprio processo de saúde bucal. Tendo em vista a importância da busca de sinais clínicos precoces da doença periodontal em uma faixa etária jovem e a escassez dos dados relativos a esta população em âmbito nacional, sugerem-se novos estudos, com a utilização de um índice periodontal simplificado que permita a comparação de dados mundialmente existentes. Especificamente, estudos em população de jovens estudantes, das diferentes áreas de conhecimento, que proporcionariam maior evidência acerca da possível influência do meio universitário na prevalência da doença periodontal. ABSTRACT Periodontal screening survey in dental students of the Federal University of Bahia using PSR This study is a periodontal screening survey of dental students of the Federal University of Bahia. A total of 269 undergraduates, representing a population of 626 students regularly enrolled in the year 2000, aged between 18 and 31 years, 63.56% females and 36.44% males, were examined by a single trained professional using PSR system. The sample was homogeneous for the variable gender and was distributed according to the semesters in university program. The system showed a high intra-examiner reproducibility (Spearman’s correlation, p < 0.0001; r = 1 in sextants S2, S4, S5, S6 and r = 0.96 in S1, S3). PSR code 0 was found in 21.93% of the population, whereas the most prevalent one was found to be PSR code 2 (60.22%) followed by PSR code 3 (9.67%), PSR code 1 (6.69%) and PSR code 4 (1.49%). No significant differences were found between the semesters in university program for any PSR code (p > 0.05). The results suggest that the young population examined needs dental care mainly for oral hygiene and that the academic environment exerted no significant influence on their periodontal conditions evaluated by means of PSR. DESCRIPTORS Diagnosis. Periodontal diseases. Epidemiology. Students, dental. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. American Dental Association and American Academy of Periodontology introduce dentists to new time saving periodontal evaluation system. Va Dent J 1992;69(4):16-7. 2. Andrade IT. Estudo da prevalência da doença periodontal em crianças de 3 a 5 anos com a utilização do Periodontal Screening CONCLUSÕES De acordo com a metodologia empregada é lícito concluir: 1. Houve maior prevalência do PSR código 2 (60,22%) e baixa prevalência do PSR código 0 (21,93%), código 3 (9,67%) e código 4 (1,49%). 2. A presença do código especial asterisco (*) do PSR foi não significante (p > 0,05) e referiu-se à presença de recessão gengival. 3. Não houve diferença estatisticamente significante entre o 1º ao 10º semestre letivo para os códigos do PSR. 4. O exame periodontal através do PSR apresentou elevado grau de correlação intra-examinador e interexaminador. 46 and Recording (PSR). Distrito Sanitário Docente Assistencial Barra/Rio Vermelho, Salvador-BA [Dissertação de Mestrado]. Bahia - Faculdade de Odontologia da UFBA; 2000. 3. Baelum V. The epidemiology of destructive periodontal disease. Causes, paradigms, problems, methods and empirical evidence [Thesis]. Aarhus: Royal Dental College; 1998. 4. Brouwn LJ, Oliver RC, Löe H. Periodontal diseases in the U.S. in 1981: prevalence, severity, extent, and role in tooth mortality. J Periodontol 1989;60(7):363-70. 5. Charles CJ, Charles SAH. Periodontal screening and recording. J Calif Dent Assoc 1994;22(2):43-6. 6. Conde M. PSR: um método simplificado de diagnóstico periodontal. Rev Assoc Paul Cir Dent 1996;50(2):139-42. 7. Dantas EM, Rêgo DM. Aplicação do PSR em estudantes de Odontologia da UFRN. Rev Saúde 1998;12(2):13-9. Revista da ABENO • 4(1):42-7 Triagem periodontal através do PSR em estudantes de Odontologia da Universidade Federal da Bahia • Dourado VC, Rapp GE 8. Duemke L, Kahn S. Doença periodontal em uma população brasileira: prevalência e severidade. UFES Rev Odontol 1999;1(1):16-24. Koogan; 1999. p. 43-65. 18. Piazzini LF. Periodontal screening & recording (PSR) application in children and adolescent. J Clin Pediatr Dent 9. Fleiss JL. Statistical methods for rates and proportions. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons; 1981. 1994;18(3):165-71. 19. Position paper: epidemiology of periodontal diseases. Ameri- 10. Gjermo P. The impact of age. J Clin Periodontol 2000;27(Suppl):9-10. can Academy of Periodontology. J Periodontol 1996;67(9):93545. 11. Khocht A, Zohn H, Deasy M, Chang K. Assessment of periodon- 20. Rapp GE, Carvalho EMC, Tunes UR. O uso do PSR na avaliação tal status with PSR and traditional clinical periodontal examina- de pacientes periodontais. Rev Assoc Bras Odontol 1997;5(6): tion. J Am Dent Assoc 1995;126(12):1658-65. 325-8. 12. Khocht A, Zohn H, Deasy M, Chang K. Screening for periodon- 21. Rocha EF, Joaquim AMC, Crivelenti LAM, Martha DC, Moinhos tal disease: radiographs vs. PSR. J Am Dent Assoc 1996;127(6):749- D, Pereira CT, et al. 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Visa também produzir junto aos especialistas a reflexão e análise crítica dos assuntos da área em nível local, regional, nacional e internacional. Envie seu artigo! Veja as normas para a submissão de originais na página 104. Revista da ABENO • 4(1):42-7 47 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia É essencial que haja uma discussão acerca de como a aprendizagem deve ser avaliada nos cursos de graduação. Marcos Tarciso Masetto*, Andréa Sales do Prado** * Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ** Mestranda em Educação: Currículo - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O tema avaliação sempre é instigador quando dialogamos com professores por vários motivos: seja pela insatisfação que causa em alunos e professores; seja pelos sentimentos que produz (tensão, medo, pavor, insegurança, arbitrariedade, injustiça nos alunos; insegurança, certezas, poder, disciplina, indisciplina, controle, objetividade, subjetividade, justiça, injustiça nos professores); seja pelas conseqüências que a avaliação traz: aprovação ou reprovação, formação de profissionais competentes ou incompetentes, responsabilidade social pela colocação de profissionais que atendam às necessidades da sociedade, valorização ou não de disciplinas conforme o índice de reprovação (indicador da “seriedade e nível” da disciplina). Do ponto de vista teórico são outras questões complexas a serem consideradas: avaliação de produto e/ou de processo? Avaliação final classificatória? Avaliação contínua durante o processo de aprendizagem? Distinguir entre processo de avaliação e técnicas avaliativas, hetero e auto-avaliação. Todas estas provocações nos levam a refletir sobre o processo de avaliação em seu conceito e em sua história, para posteriormente analisarmos a possibilidade de se implantar um novo processo avaliativo em cursos de Odontologia. PROCESSO DE AVALIAÇÃO: CONCEITO E HISTÓRIA A avaliação pode ser considerada como um processo que faz parte da nossa vida cotidiana. Apesar de no dia-a-dia não serem necessários instrumentos formais, estamos constantemente atribuindo juízos de valor, a tudo o que nos rodeia. 48 Neste estudo, iremos focar a avaliação dentro do sistema educacional, especificamente na aprendizagem, pois é justamente nessa área que ela vem produzindo efeitos mais marcantes dentro e fora do contexto das instituições educacionais, com repercussões de caráter ético, político e pedagógico. No cenário educacional, historicamente, a palavra avaliação tem estado vinculada a uma dimensão classificatória de atribuir juízo de valor, de julgamento, de regulamentação, utilizada como um instrumento de poder e controle que aprova ou reprova. Transforma em valor absoluto o que pode ser relativo, é usado como um artifício de punição, ocorrendo a partir de um currículo pré-definido reduzindo-se a uma medida que por sua vez é traduzida através de provas ou verificação de resultados. Este artigo tem por objetivo mostrar um outro olhar sobre a avaliação educacional, numa perspectiva crítica que nos faça repensar a nossa práxis docente como ação-reflexão, em busca de uma transformação qualitativa de ensino-aprendizagem gerando um processo de emancipação mútua, daquele que ensina e daquele que aprende. Quando falamos em avaliação da aprendizagem, necessário se faz, em princípio, estabelecer uma relação de cumplicidade entre essas duas palavras, posto que nos referimos a avaliação enquanto processo de ensino-aprendizagem, onde o percurso percorrido por professor e aluno torna-se, a priori, nosso referencial. Ao recorrermos à literatura recente, algumas considerações já produzidas demonstram a preocupação em ampliar e demonstrar uma nova compreensão a respeito de avaliação da aprendizagem. Nossa inten- Revista da ABENO • 4(1):48-56 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia • Masetto MT, Prado AS ção é de pontuar alguns acontecimentos marcantes, bem como citar alguns nomes importantes nesse movimento. O conceito de avaliação é aqui constituído numa dimensão histórica, e como tal acompanha os movimentos e as transformações sociais, em cada época em diferentes espaços e contextos. Segundo Abramowicz1 (1996), “o estudo de avaliação da aprendizagem constitui-se no dos em fazer apreciações acerca do mérito dos empreendimentos educacionais”1. Esta definição de avaliação como medida de alcance dos objetivos educacionais passa a ter a inclusão de outros instrumentos tais como testes cientificamente construídos, objetivando a eficiência do processo de ensino-aprendizagem como determinantes do sucesso ou fracasso educativo. Cronbach na década de 60 ramo mais antigo da área de medida do rendimento e teve início em 1901 com Robert Thorndike, nos Estados Unidos, “propunha uma superação da idéia de que os objetivos são enfatizando a medida das mudanças comportamentais”. organizadores da avaliação. Para ele, a avaliação deve se orientar pela noção do tipo de decisão que se pretende que Durante muito tempo os estudos sobre avaliação foram centrados na proposta de medir o progresso dos alunos, baseando-se em testes que eram elaborados conforme objetivos pré-definidos ou com testes padronizados. Aos poucos esses testes começaram a ser revistos na medida em que o aluno também foi deixando de ser considerado como um depositário de informações, e os procedimentos avaliativos passaram a considerar questões como opiniões, atitudes, expectativas. É atribuído a Tyler o pioneirismo na avaliação educacional. Coube a ele inserir entre outros elementos, a definição de objetivos como comportamento manifesto do aluno no desenvolvimento curricular. Essas questões foram fundamentais na introdução de novos conceitos na avaliação da aprendizagem com ênfase na elaboração do currículo como um instrumento para regulação do conhecimento, para o controle do planejamento, para quantificar e classificar produtos e resultados. Isto tudo dentro de uma lógica tecnicista vinculada à dimensão de controle e medida. Esse modelo foi considerado na época um instrumento de possibilidade de aperfeiçoamento do ensino. Dentro dessa corrente tecnicista, encontramos Hilda Taba, Robert F. Mager, Robert Gagné, sendo este último um propositor de que a avaliação da aprendizagem significava verificar se o “aluno conseguiu ou não realizar cada um dos comportamentos subordinados à tarefa final e que deveriam estar contidos no programa de instrução”1. Em 1970, James Popham em colaboração com Eva Baker anunciam a idéia de que ela sirva. As decisões a serem tomadas constituem, pois, o centro da avaliação. Por isso avaliar as estruturas específicas de um programa é mais importante que fazer comparações com outras unidades externas; o processo interno é muito importante e as decisões de mudança podem ser tomadas durante o desenvolvimento, não necessariamente depois de terminado o programa de curso”8. Acrescentamos a esse contexto as idéias do grupo de estudos de Bloom (1970) que apontam para a definição da avaliação tal qual vem sendo utilizada como critério de atribuição de notas ao aluno, bem como uma forma de classificá-lo. Sob a supervisão de Bloom, um grupo de estudos da Universidade de Chicago, hierarquizou as tarefas de aprendizagem com aplicação de testes de curto diagnóstico e progresso do aluno, regulando a aprendizagem dos alunos e auxiliando sua motivação. Definiram assim a avaliação da aprendizagem: “é a coleta sistemática de dados a fim de verificar se, de fato, certas mudanças estão ocorrendo no aprendiz bem como verificar a quantidade de mudança ocorrida em cada aluno”1. Scriven (1967) foi o precursor da “clássica distinção entre avaliação formativa, que se realiza ao longo do processo com introdução de modificações, e avaliação somativa, realizada depois de terminado um processo para verificar os resultados”8. Dessa forma Bloom e colaboradores na década de 70, propõem a discussão de uma visão de avaliação mais abrangente que se consolida entre outros como “um método de coleta e processamento dos dados neces- “quando se avalia, faz-se sempre algum tipo de apreciação. sários à melhoria da aprendizagem e do ensino; inclui uma Faz-se uma estimativa ou um julgamento de valor, de algum grande variedade de dados superior ao rotineiro exame fenômeno e, na avaliação educacional, estamos interessa- escrito final; auxilia no esclarecimento das metas e objetivos Revista da ABENO • 4(1):48-56 49 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia • Masetto MT, Prado AS educacionais importantes e consiste num processo de determinação da medida em que o desenvolvimento do aluno está se processando de maneira desejada; é um sistema de controle de qualidade pelo qual se pode determinar, a cada passo do processo ensino-aprendizagem, se está sendo eficaz ou não; e, caso não o esteja, que mudanças devem ser feitas a fim de assegurar sua eficiência antes que seja tarde demais; é um instrumento na prática educacional, que permite verificar se os procedimentos alternativos são igualmente eficazes na consecução de uma série de objetivos educacionais”1. Fica evidente até aqui, uma forte marca da visão tecnicista que balizou todo o cenário educacional de uma época, a racionalidade técnica que enfatiza planejamento e controle do trabalho escolar gerando práticas encontradas inclusive nos dias atuais. Esse período já é marcado por uma transição de concepções, onde se nota um avanço na direção de uma concepção subjetivista voltada para a apreensão das habilidades já adquiridas (ou em desenvolvimento). Foi também no contexto dessa concepção que se iniciou a valorização da auto-avaliação, o estudo dos aspectos afetivos e a análise das condições emocionais que interferem na aprendizagem. Uma “avaliação centrada nas experiências e necessidades dos alunos” é o que surge no pensamento de Abramowicz quando afirma que há uma avaliação onde “o aluno cria e a constrói, em que pode gerar ou mudar significados sobre si mesmo, sobre os outros, sobre o seu radigmas, Paulo Freire representou e representa a busca por uma educação libertadora, que conduz à formação da consciência crítica, abordando a necessidade de estarem presentes no processo de aprendizagem questionamentos como: a quem se destina esse conhecimento? Quem são esses sujeitos? Em que realidade eles vivem? Paulo Freire aponta para a esperança, sendo essa esperança ativa, e não uma espera passiva, participação e construção coletiva numa postura democrática. Busca por uma transformação social, que só pode ter valor, se for emancipatória para uma sociedade mais justa e igualitária. Os ideais de Paulo Freire estão presentes no dia-a-dia de muitos educadores, e novos caminhos hoje valorizados e sua concepção de educação fazem parte de um universo por ele idealizado. Atualmente surgem inúmeros autores que tratam especificamente da avaliação educacional como processo formativo. Perrenoud relata que é necessário mudar o processo de avaliação atribuindo-lhe um significado formativo; isto é mudar a escola. Alteram-se as relações com as famílias, as relações pedagógicas, a didática, os métodos de ensino. Implicará por certo em algumas exigências para os professores tais como: considerar os conhecimentos como recursos a serem mobilizados; negociar e conduzir projetos com seus alunos; adotar um planejamento flexível e indicativo e improvisar; implementar e explicitar um novo contrato didático. A AVALIAÇÃO FORMATIVA Segundo Dias Sobrinho8 (2003), mundo, isto é, se produzindo através da auto-reflexão. A avaliação deve resultar de uma vivência, de uma prática de “a aprendizagem é uma das mais importantes dimensões vida, não pode ser doada, trazida de fora para dentro”1. da educação. Nos processos avaliativos, precisamos adotar uma perspectiva que dê conta de compreender vários as- Essas exposições demonstram uma forte crítica ao tecnicismo com sustentabilidade na lógica do subjetivismo e a incorporação de outros tantos fatores a uma nova dimensão de avaliação. Esse cenário internacional é fundamentalmente movimentado com Michael Apple e Henry Giroux, na década de 80, que muito contribuíram para a vertente da avaliação como forma de poder, colocando-a num contexto sociopolítico, histórico, como instrumento de controle social, com valores culturais, aliás, pluri, multiculturais, autoconstruída e transformadora. O educador colabora para a construção de outros caminhos com esperança e possibilidades. Como o grande nome precursor desses novos pa50 pectos da complexidade da totalidade desse fenômeno. Aprendizagem não se reduz a seus elementos visíveis, isto é, aquilo que pode ser demonstrado, e tampouco se limita aos objetivos práticos mais imediatos. Sua importância não corresponde necessariamente ao acúmulo de conteúdos e informações que possam ser postos à prova”. Dentro de um paradigma dialético crítico, em que o aluno é visto como um ser histórico, construtor do seu conhecimento, que tem voz e vez, a avaliação formativa num processo continuado de aprendizagem, surge como elemento formador de um espaço ideológico gerador de consciência clara do que se está e porque está se fazendo, é um intenso processo de ir e vir, onde há valores de concretude individual, respei- Revista da ABENO • 4(1):48-56 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia • Masetto MT, Prado AS tando a realidade de cada um em uma dimensão coletiva. As aulas constituem-se em momentos de diálogos participativos, com comprometimento e pertinência mútua, com respeito às diferenças e às opiniões dos participantes, à valorização do aluno, onde em todo o processo é possível ver-se e rever-se. Nela encontra-se flexibilidade – não está engessado em um programa pré-definido –; o processo é mais importante do que os produtos. A avaliação formativa aponta as causas das dificuldades e isso é possível em função das respostas contínuas às situações propostas. O erro é visto como um momento de aprendizagem, pois é importante para que a atividade atenda às necessidades do aluno. A auto-avaliação ganha importância enquanto processo de metacognição que abre espaço para a transformação emancipatória. A avaliação formativa é toda permeada pela açãoreflexão. Abrecht2 (1994) afirma que “a avaliação formativa não é uma verificação de conhecimentos. É antes o interrogar-se sobre um processo; é o Portanto, é preciso ficar claro que alterações na avaliação significam, necessariamente, modificações no projeto político pedagógico. Trabalho coletivo A avaliação formativa exige que seja implantada em todas as disciplinas, pois apresenta uma orientação coletiva diferenciada voltada para a valorização do processo de aprendizagem. Se esta orientação não for implementada coletivamente, corre-se o risco de a avaliação formativa ser esvaziada na comparação com a forma tradicional de se avaliar com provas e trabalhos em momentos específicos. Contrato didático Esse contrato aparece como um acordo estabelecido e negociado entre as partes (professor e alunos) que trabalharão juntas. Fará parte dele combinar todo o programa de trabalho para se aprender, assim como acertar o processo de avaliação, de como alunos e professor se conscientizarão sobre as aprendizagens adquiridas e os erros a serem corrigidos imediatamente. refazer do caminho percorrido, para refletir sobre o processo de aprendizagem em si mesmo, sendo útil, principalmente, para levar o aluno a considerar uma trajetória e não um estado (de conhecimentos), dando sentido à sua apren- Auto-avaliação Segundo Masetto13 (2003), esta pode ser entendida como dizagem e alertando-o, ao mesmo tempo, para eventuais lacunas ou falhas de percurso, levando-o a buscar – ou, nos “a capacidade das pessoas de se aperceberem de seu pro- casos de menor autonomia, a solicitar – os meios para ven- cesso de aprendizagem e serem capazes de oferecer a si cer as dificuldades”. mesmas as informações necessárias para desenvolver suas aprendizagens”. A avaliação formativa, assim posta, assume uma relação de ensino-aprendizagem, e não uma simples relação de controle como afirma Dias Sobrinho8 (2003). A IMPLEMENTAÇÃO DE UMA AVALIAÇÃO FORMATIVA A viabilidade de implementação de uma avaliação formativa está vinculada a outras mudanças, entre as quais iremos destacar: Articulação com o projeto político pedagógico Este deve ser integrador, participativo. Embora muitas vezes esse projeto seja bem feito do ponto de vista pedagógico, politicamente não é produto coletivo, gerando insatisfações. Sem a presença de um eixo organizador, ele pode se tornar fragmentado, implicando na sua não realização. Essa auto-avaliação não pode ignorar o erro, já que este é visto numa avaliação formativa como um momento de aprendizagem, onde se faz a retomada e sua recomposição. Os instrumentos Numa avaliação tradicional, o mais conhecido dos instrumentos é a prova e essa é utilizada como certificação ou verificação de resultados. Ela avalia, julga e classifica o que foi ensinado e não o que foi aprendido. A prova é um relato instantâneo de um determinado momento. Esse modelo é totalmente descartado numa posição de avaliação formativa. O que se busca neste paradigma é, entre outros objetivos, o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e valores, e estes se mostram durante o processo de aprendizagem. Donde a necessidade de lançarmos mão de diferentes instrumentos adequados àqueles objetivos que, junta- Revista da ABENO • 4(1):48-56 51 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia • Masetto MT, Prado AS mente com observação constante e comunicação permanente com os alunos nos permitam incentivar e motivar a aprendizagem esperada de forma contínua. O processo Como foi explicitado desde o início, a avaliação formativa ocorre num processo contínuo, onde essa travessia é o importante, todo o desenvolvimento está preocupado mais com o percurso do que com os resultados. O papel do educador Será o de intervir no processo de aprendizagem, com responsabilidade e comprometimento. Ajudar o aluno a apropriar-se do conhecimento construído, de lhe dar significado, de gerir diferenças, de problematizar, de motivar, de provocar; enfim, de dar condições ao indivíduo de desenvolver um pensamento e um discurso próprios. Acima de tudo a avaliação formativa é uma atitude com vista ao crescimento mútuo. As incertezas, as dúvidas e os medos deverão ser superados pelo desafio de um trabalho coletivo, de dimensão multilateral em busca de transformações da realidade. PROCESSO DE AVALIAÇÃO FORMATIVA EM AULA NOS CURSOS DE ODONTOLOGIA Cláudio de Moura Castro, em seu artigo “A cultura da repetência” (Revista Veja, 07/01/04, p. 22) tratando dos processos de avaliação no ensino fundamental e médio, nos traz à reflexão duas idéias que cabem perfeitamente ao ensino superior: “De tempos idos, glorificamos no Brasil a ‘cultura da repetência’ em que a marca do ensino sério era reprovar muitos alunos” e “Precisamos abandonar a discussão bolorenta da aprovação automática versus a reprovação em massa. O desafio é: melhorar a sala de aula (o grifo é nosso), de tal forma que os alunos sejam aprovados porque sabem o que precisam saber”. Concordamos plenamente com estas colocações aplicando-as aos cursos de graduação do ensino superior, nos quais o desafio é melhorar a sala de aula, transformando-a em ambiente de aprendizagem, de tal forma que os alunos venham a ser aprovados porque aprenderam o que precisavam aprender. Por outro lado, se criarmos ambientes de aprendizagem em nossas aulas, mas não alterarmos o pro52 cesso de avaliação, saindo de uma avaliação de provas e de notas para uma avaliação formativa, não conseguiremos que os alunos se encontrem com o professor e seus colegas nas aulas para aprenderem. Os dois movimentos precisam ser sincrônicos: inovação nos ambientes de aprendizagem e inovação no processo de avaliação. O curso de Odontologia apresenta vários aspectos fundamentais para inovação em seu ensino: 1. Possibilidade de integrar conhecimentos, habilidades e atitudes: na clínica integrada, as atividades propiciam tal fato e a própria ficha de avaliação contempla estes objetivos. No entanto, seu preenchimento mecânico ou sem lhe dar o devido significado, torna-a sem valor como instrumento facilitador de uma avaliação formativa. Provendo-a de um sentido de incentivo à aprendizagem, seu uso na clínica integrada poderia dar nova vida a este ambiente e porque não adaptá-la também a outras disciplinas? 2. Possibilidade de integrar teoria e prática: nas práticas laboratoriais, na clínica integrada, na situação de atividades com manequins, pode-se fazer um planejamento em que os conhecimentos teóricos sejam aprendidos de forma integrada às situações concretas e práticas, da mesma disciplina e até mesmo de disciplinas afins, permitindo-se que as informações dialoguem e conversem entre si, independentemente se são ou não da mesma disciplina, e com as habilidades que permitam desenvolver. Por vezes, a teoria se antecipará à prática, outras vezes o conhecimento adquirirá significado quando produzido a partir de situações e casos concretos que estimularão os alunos a pesquisar. As diferentes modalidades de integração de teoria com a prática inspirarão diferenças no processo avaliativo contínuo, na escolha das técnicas de avaliação mais pertinentes e no aproveitamento destas técnicas para comunicação com os alunos ajudando-os a se motivarem para a aprendizagem ou corrigirem possíveis erros. 3. Possibilidade de integrar disciplinas básicas e profissionalizantes: é do conhecimento e experiência de todos os professores de Odontologia que o modelo de Flexner para o ensino médico foi muito importante para sua época, mas que nos tempos atuais ele pode ser substituído com vantagens por outros paradigmas curriculares que favoreçam a integração das áreas do conhecimento entre si e com outros objetivos de aprendizagem voltados para o desenvolvimento de habilidades e atitudes (ou Revista da ABENO • 4(1):48-56 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia • Masetto MT, Prado AS valores). Então, por que não se alteram os currículos e as grades curriculares procurando fazer com que os dois anos de disciplinas básicas seguidos pelos demais com disciplinas profissionalizantes se transformassem em seis anos com as disciplinas integradas, de tal modo que as disciplinas básicas fossem estudadas enquanto são necessárias para as disciplinas profissionalizantes e integradamente a estas? Não se trata de afirmar a importância maior ou menor desta ou daquela disciplina, mas de se procurar a melhor maneira de os alunos aprenderem e fixarem o que for necessário. Os paradigmas de formação médica da Universidade de McMaster (Canadá) e do PBL (“problem based learning” aprendizagem baseada em problemas) aí estão há muitos anos tentando ousar modificações como estas que estamos sugerindo. E neste modelo curricular, o processo de avaliação formativa se torna necessário e mais fácil de ser implementado, pois, estaremos trabalhando com unidades de aprendizagem (incluindo conhecimentos, habilidades e atitudes) e o processo de avaliação ocorre durante as mesmas, permitindo aos alunos aprenderem ou corrigirem seus erros durante o tempo da unidade. A aprendizagem ocorre por unidades e não haverá necessidade de provas ou avaliações semestrais ou finais incluindo toda a matéria e decidindo, então, a aprovação ou não dos alunos. 4. Docentes com atividades profissionais concomitantes com a docência. Este fato que para muitos pode ser considerado como impeditivo para a docência, poderá ser visto sob outro ângulo: os docentes em atividades profissionais ampliam suas experiências que podem ser usadas para colaborar com sua docência e ampliam também as possibilidades de os alunos poderem explorar ambientes profissionais para sua aprendizagem. Aprender nestes ambientes, além de ser mais motivador para os alunos, ajuda a desenvolver sua responsabilidade profissional, observar e, em algumas situações, resolver casos concretos, interessar-se por pesquisar sobre estes casos; e a avaliação, através da observação, pode incidir sobre vários aspectos de aprendizagem oferecendo “feedback” imediato ao aluno: interesse, participação, curiosidade, pesquisa, habilidade de diagnóstico, de terapêutica, relacionamento com pacientes, encaminhamentos destes, e outros dependendo do ambiente profissional e da altura do curso em que o aluno se encontra. Partindo destas possibilidades de inovação no ensino de Odontologia e da compreensão do processo avaliativo como integrante e motivador do processo de aprendizagem, contínuo para acompanhar a aprendizagem em todos os momentos e expresso por “feedbacks” que ajudem o aluno a aprender, poderemos analisar mais detidamente o uso pedagógico de algumas técnicas avaliativas que auxiliem no desenvolvimento da aprendizagem: 1. Casos clínicos ou casos simulados: são duas técnicas bastante utilizadas. Elas permitem dar “feedback” ao aluno sobre uma série de aspectos: domínio de informações, conceitos e teorias corretas, argumentação e fundamentação da tomada de decisão, aplicação adequada da teoria ao caso real, busca de informações quando necessário, qualidade das fontes pesquisadas, valores assumidos quando da decisão tomada. Se o estudo do caso clínico ou simulado for em dupla ou trio, podemos avaliar a capacidade de diálogo, respeito às opiniões dos outros, abertura a outras soluções, capacidade de argumentar e tomar decisão. Trata-se de duas técnicas muito ricas, mas que precisam ser bem exploradas: o professor precisa conhecer suas possibilidades, o aluno precisa estar ciente de tudo o que se espera que ele aprenda ao usar esta técnica, e por isso não deve estranhar o fato de ser avaliado sobre todos os aspectos acima indicados. Mas, vale a pena observar em quanto o aluno pode crescer ao trabalhar com um caso clínico. Pode-se perceber também como fica pobre a avaliação de um caso clínico quando apenas se comenta se a solução dada está certa ou errada. 2. Nas atividades práticas com manequins e em laboratórios, a avaliação compreenderá principalmente duas técnicas: observação e entrevista oral. Tratase de uma atividade em que o mais importante é que o aluno demonstre habilidade para resolver situações patológicas no ambiente bucal. Observar como ele o faz, com que procedimentos e com que sucesso, qual sua habilidade motora, e questionamentos orais sobre a condução do processo e sua fundamentação. Quando as atividades realizadas nos manequins forem diferenciadas, ou mesmo quando forem as mesmas, após o exercício individual vale a pena uma comunicação, ainda no laboratório, entre todos os participantes daquela atividade naquele horário, o que permite uma aprendizagem mais completa e abrangente dos aspectos realizados, suas dificuldades e soluções encontradas. Acrescentando-se um debate coletivo pode-se oferecer maior número de “feedbacks” aos alunos sobre a aprendizagem esperada naquela Revista da ABENO • 4(1):48-56 53 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia • Masetto MT, Prado AS atividade em manequins. 3. As atividades na clínica integrada permitem o exercício de uma avaliação formativa com a observação de como acontece a relação com o paciente; de que conhecimentos o aluno dispõe quanto ao diagnóstico, aos procedimentos, ao uso de materiais, à terapêutica exigida; quanto à habilidade de utilizar as informações para aplicá-las ao caso; quanto à destreza no manuseio dos materiais, à habilidade motora para trabalhar no espaço bucal. Também permitem observação do atendimento ao paciente, e encaminhamentos necessários ao caso. Após toda esta observação, deve-se dialogar com o aluno sobre como ele foi visto nessa atividade já profissional e oferecer-lhe as informações necessárias tanto para confirmar o que fez acertadamente como para corrigir o que não foi feito com acerto. Se na clínica integrada houver outros alunos observando seu colega, no momento do “feedback” ouvir primeiro o que os colegas têm a colocar, para só depois o professor se expressar. Em todo este tempo estamos fazendo avaliação porque estamos dando oportunidade para o aluno perceber se aprendeu o que precisava ou ainda não, e agora é o tempo de resgatar essa aprendizagem. É muito pertinente que cada aluno tenha clareza de tudo o que se espera dele numa atividade de clínica integrada, para que ele mesmo possa fazer uma auto-avaliação sobre sua performance naquele atendimento e a expresse até mesmo antes de o professor comentar. Tal atitude em muito ajudaria o aluno a aprender a trabalhar como profissional, que sempre está se auto-avaliando em cada sessão de atendimento ao cliente. 4. O relatório é uma técnica avaliativa de grande importância quando se trata de atividades pedagógicas como estágios, visitas técnicas a consultórios, hospitais, pronto-socorros, postos de saúde, ambulatórios ou outros ambientes profissionais muito úteis à aprendizagem da Odontologia. O relatório permite avaliar a capacidade de observação do aluno, de retirar do ambiente o maior número de informações possível, de perceber a atuação dos cirurgiões-dentistas, enfermeiros e paramédicos presentes no ambiente, de acompanhar as intervenções nos seus mais diferentes aspectos (desde o domínio de informações até a compreensão dos procedimentos e terapêuticas empregadas), de como se faz a relação do profissional da Saúde com o paciente. A utilização do relatório como técnica avalia54 tiva depende fundamentalmente de dois aspectos a serem bem trabalhados: elaboração do roteiro de observações a serem realizadas nos ambientes, em conjunto com os alunos; e o registro dessas observações feitas in loco para conhecimento dos demais colegas e do professor e para o debate e discussão delas à luz do que se está estudando nas aulas. Com o roteiro bem organizado e os registros feitos poderemos ajudar aos alunos aprenderem tudo o que acima indicamos como próprio de se aprender com esta técnica. 5. Também trabalhamos com outras técnicas avaliativas como as provas dissertativas, a prova de múltipla escolha, a prova com consulta, com relatórios de pesquisa (ou trabalhos monográficos). Trata-se de técnicas em geral usadas para se avaliar conhecimentos. É um objetivo para cuja avaliação elas são adequadas. Só que elas podem ser usadas de uma forma parcial e como se uma substituísse a outra sem muita diferença entre elas. A percepção da diferença entre elas faz com que a riqueza de cada uma delas possa ser melhor explorada, permitindo ao aluno aprender muito mais e melhor em cada uma delas. Assim, vejamos: uma prova dissertativa pode ser corrigida apenas como certa ou errada quanto aos conceitos ali expressos (e isto é pouco para essa técnica), ou pode ser uma oportunidade para que o aluno aprenda a expressar seus conhecimentos certos ou incompletos ou errados, sua capacidade de síntese, seu pensamento lógico, sua clareza de redação, sua capacidade crítica (dependendo da formulação da pergunta), organização de pensamento e coerência na resposta. Tudo isto o aluno pode aprender numa prova dissertativa, desde que tenha sido colocado para ele de forma clara que todos estes aspectos são esperados dele nessas respostas e que depois, na correção, sobre todos estes aspectos ele receba “feedback” claro e explícito do professor, ou de si mesmo ou de seus colegas. As informações sobre o que o aluno aprendeu ou não nessas provas vai depender das formas com que se faça essa correção: claro está que se apenas for aposto à prova uma nota, praticamente nenhum “feedback” se ofereceu ao aluno; se o aluno tiver acesso às provas e puder corrigi-las juntamente com o professor e colegas avaliando todos os aspectos acima indicados, então, sem dúvida se terá construído excelente oportunidade de aprendizagem. Uma prova de múltipla escolha não tem o mesmo Revista da ABENO • 4(1):48-56 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia • Masetto MT, Prado AS objetivo de avaliação que uma prova dissertativa, pela razão fundamental que tal prova se destina a identificar os conhecimentos dos alunos quanto ao conjunto total das informações e conceitos de uma área. A prova de múltipla escolha faz uma varredura abrangendo todos os conceitos de uma disciplina. Isto nenhuma outra técnica tem condições de fazer. É próprio dela. Então os objetivos a serem avaliados são bem específicos: conhecimento de todos os conceitos, lógica de pensamento, raciocínio, fixação de conceitos. Trata-se de uma prova de difícil construção para que possa atender a todos estes requisitos, superando a característica de aleatoriedade que é própria dela e permitindo se avaliar todos os itens acima indicados. Para se preparar e aplicar tal prova buscando desenvolver a aprendizagem e se oferecer um “feedback” seguro há que se aprender tecnicamente como construí-la. A prova com consulta diferentemente de como é usada (dá-se uma prova dissertativa, facilitando ao aluno consultas durante a mesma) é uma técnica muito interessante para se avaliar atitude e comportamento profissionais. Simula a situação de um profissional que diante de um caso para o qual não tem resposta imediata, recorre à pesquisa e estudos individuais ou até mesmo à consulta de especialistas para encaminhar o caso. Trata-se de uma prova que deve ser feita fora de sala de aula, com tempo para pesquisa, envolvendo um caso para o qual o aluno não tenha resposta imediata. Quando terminada, o “feedback” deve levar em conta: a solução do problema, a justificativa e fundamentação teórica da solução encontrada, e, principalmente, a qualidade das fontes pesquisadas (se são adequadas ou inadequadas, ou se as mais importantes fontes foram consultadas ou não). Aprender a buscar a informação nova e necessária em fontes de primeira qualidade quanto à sua seriedade é um dos objetivos principais a serem aprendidos com esta técnica. Tal avaliação distingue esta técnica da prova dissertativa. O relatório de pesquisa ou trabalhos monográficos é um tipo de técnica avaliativa muito usado na graduação. Esta atividade exige fazer uma pesquisa, levantar informações, fazer fichamentos, compará-las com outras, analisá-las, criticá-las, e por fim fazer uma redação em estilo de relatório de pesquisa, com as características de um trabalho científico, inclusive quanto à sua organização, citações, etc. Estas atividades necessitam serem aprendidas pelos alunos, tendo o acompanhamento e orientação dos professores. De nada adiantará mandar-se os alu- nos fazerem pesquisa e apresentarem trabalho monográfico, sem orientação, pois na verdade nem sempre eles tiveram orientação para isso e, por vezes, nós professores nos entendemos desobrigados dessa orientação. Resultado: os alunos fazem trabalhos incorretos do ponto de vista de pesquisa, não têm “feedback” sobre isso e levam essa deficiência para sua vida profissional, dificultando posteriormente suas atividades de mestrado ou doutorado e sua participação em congressos e simpósios. Quanto à avaliação desta técnica, há necessidade que o aluno seja informado de sua aprendizagem em todos os aspectos que ela envolve. São estes alguns exemplos das técnicas que se pode usar para avaliação contínua e formativa nos cursos de graduação de Odontologia. Outras técnicas existem e merecem ser exploradas e utilizadas da mesma forma que estas que indicamos acima como exemplos. É muito interessante que se procure sempre variar as técnicas de acordo com nossos objetivos de aprendizagem e também para motivar os alunos. No entanto, há uma condição básica para que estas técnicas possam colaborar significativamente para a aprendizagem dos alunos: que tenhamos registrado e documentado as atividades, os “feedbacks” de tal forma que estes dados possibilitem uma diálogo objetivo e claro com os alunos sobre o que aprenderam ou não, e o que será necessário fazer daqui para frente. Para isto é fundamental que o professor tenha uma ficha de cada aluno que registre os dados de cada um e seria importante que cada aluno tivesse organizado seu portfólio. Em que consiste este portfólio? Em um arquivo, em estilo de pasta (hoje podendo ser criada em computador) onde o aluno vá arquivando todas as atividades que realiza com os respectivos “feedbacks” que permitam a ele ir construindo sua aprendizagem, aperfeiçoando suas atividades, tendo consciência de seu crescimento, dos erros cometidos e corrigidos e lhe permitindo uma auto-avaliação constante. Ao professor poderá servir para acompanhar o processo do aluno e não apenas os resultados finais. Para encerrarmos este artigo, voltamos algumas páginas atrás, reportando-nos a Cláudio de Moura Castro que nos dizia: o importante é melhorarmos nossas aulas para que os alunos sejam aprovados porque aprenderam o que deveriam aprender. Procuramos mostrar um pouco como se podem modificar alguns aspectos das aulas através de valorização de estratégias que trazem em seu bojo sugestões de uma avaliação formativa e contínua. Nossos leitores Revista da ABENO • 4(1):48-56 55 Processo de avaliação da aprendizagem em curso de Odontologia • Masetto MT, Prado AS perceberam que voltamos a algumas técnicas avaliativas que são comuns, mas nem sempre utilizadas de forma a ajudar significativamente nossos alunos a desenvolverem aprendizagens mais complexas incluindo informação, habilidades e atitudes. As sugestões que fizemos vão nesse sentido. Revistas e reelaboradas, tais técnicas permitem a implantação de um sistema de avaliação formativa e contínua em cursos de graduação, buscando um nível mais elevado de aprendizagem. Esperamos ter contribuído para reflexão sobre o processo de avaliação integrado ao processo de aprendizagem, uma das questões mais críticas de nosso sistema de ensino, e que o diálogo sobre este tema de relevância possa ter continuidade com a colaboração de nossos leitores. São Paulo: Articulação Universidade Escola; 2001. 7. Cappelletti IF. Avaliação formativa: uma prática possível? No prelo, 2003. 8. Dias Sobrinho J. Avaliação – políticas e reformas da educação superior. São Paulo: Cortez; 2003. 9. Freire P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra; 1996. 10. Freire P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra; 1970. 11. Giroux H. Escola crítica e política cultural. São Paulo: Cortez; 1987. 12. Hadji C. A avaliação, regras do jogo. Porto: Porto Editora; 1994. 13. Masetto MT. Competências pedagógicas do professor universitário. São Paulo: Summus Editorial; 2003. 14. Nóvoa A. Avaliação em educação. Porto: Porto Editora; 1993. 15. Nóvoa A. Profissão professor. Porto: Porto Editora; 1995. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 16. Perrenoud P. A profissionalização dos formadores de professo- 1. Abramowicz M. Avaliando a avaliação da aprendizagem: um novo olhar. São Paulo: Lumem; 1996. res. Porto Alegre: Artmed; 2003. 17. Perrenoud P. Construir competências desde a escola. Porto 2. Abrecht R. A avaliação formativa. Porto: Edições Asa; 1994. 3. Apple M. Educação e poder. Porto Alegre: Artes Médicas; 1989. Alegre: Artmed; 1999. 18. Saul AM. Avaliação emancipatória: desafio a teoria e a prática de avaliação e reformulação de currículo. São Paulo: Cortez; 4. Apple M. Ideologia e currículo. São Paulo: Brasiliense; 1982. 1991. 5. Cappelletti IF. Avaliação de políticas e práticas institucionais. São Paulo: Articulação Universidade Escola; 2002. Aceito para publicação em 11/2003 6. Cappelletti IF. Avaliação educacional: fundamentos e práticas. Envie seu artigo! Veja as normas para a submissão de originais na página 104. 56 -5954 ISSN 1679 ! A Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico - tem como missão primordial contribuir para a obtenção de indicadores de qualidade do ensino odontológico respeitando os desejos de formação discente e capacitação docente, com vistas a assegurar o contínuo progresso da formação profissional e DA REVISTA produzir benefícios O ABEN diretamente voltados para a coletividade. Visa também produzir junto aos especialistas a reflexão e análise crítica dos assuntos da área em O ABEN nível local, regional, nacional e internacional. 4 volume 1 número ezembro janeiro/d asileira ção Br Associa tológico o Odon de Ensin 2004 gico ontoló sino Od a de En asileir ação Br Associ Revista da ABENO • 4(1):48-56 Orientações terapêuticas utilizadas pelos cursos de especialização em Odontopediatria no Brasil para a cárie severa da infância É necessário avaliar as condutas clínicas preconizadas pelos cursos de especialização em Odontopediatria para se chegar a uma técnica altamente eficaz. Soraya Coelho Leal*, Ana Cristina Barreto Bezerra**, Orlando Ayrton de Toledo*** * Professora Doutora do Departamento de Odontologia da Universidade de Brasília. ** Professora Doutora de Odontopediatria do Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília. *** Professor Titular do Departamento de Odontologia da Universidade de Brasília. RESUMO Avaliaram-se as condutas clínicas freqüentemente preconizadas pelos cursos de especialização em Odontopediaria no Brasil frente à cárie severa da primeira infância (CS). Todos os cursos registrados no Conselho Federal de Odontologia (46) no início do ano de 2003 receberam um questionário contendo oito questões referentes à filosofia de tratamento da CS. Foram respondidos 24 questionários, perfazendo 52,17% do total enviado. Os dados foram avaliados e representados em gráficos. Os resultados mostraram que a contenção física é preconizada em 83,3% dos cursos, e que 58,3% dos cursos de especialização empregam o cariostático. A pulpotomia é indicada em 100% dos cursos, sendo o material mais utilizado o formocresol diluído (62,5%). A pulpectomia é preconizada por 92% dos cursos. A solução irrigadora mais utilizada é o hipoclorito de sódio a 0,05% (Dakin 62,5%) e uma pasta contendo corticosteróide, paramonoclorofenol canforado e iodofórmio, como material obturador (45,8%). A utilização de fluoretos é rotina em 91,6% dos cursos embora, a forma e o veículo para administração sejam variados. O controle da dieta é realizado com base no diário alimentar recordatório em 54,2%. Concluiu-se que as medidas terapêuticas da CS neces- sitam melhor discussão entre os responsáveis pelo ensino de especialização em Odontopediatria no Brasil, pois, embora as técnicas empregadas sejam similares, existe uma diversidade considerável quanto aos materiais utilizados. Seria interessante o estudo para elaboração de um protocolo único para facilitar o emprego de técnicas adequadas para a solução e prevenção da CS. DESCRITORES Odontopediatria. Cárie dentária. Condutas na prática dos dentistas. Materiais dentários. A cárie severa da primeira infância (CS) afeta a criança muito jovem, geralmente antes do final do primeiro ano de vida. Apresenta evolução muito rápida e envolve principalmente os incisivos superiores. Se esse processo não for interrompido, os primeiros molares, bem como outros dentes decíduos, podem ser envolvidos, levando a um quadro de infecção, dor, dificuldade de mastigação, trauma psicológico e perda prematura de alguns dentes. A dieta cariogênica associada à precária higienização, além do baixo fluxo salivar no período noturno constitui-se em importantes fatores etiológicos8. Revista da ABENO • 4(1):57-62 57 Orientações÷ Bezerra ACB, Toledo OA A CS acomete crianças de todas as raças e classes sociais, apresentando, entretanto, uma prevalência maior nas populações de baixa renda2. Confirmando esses dados, estudo realizado em Brasília, com crianças de baixa renda, verificou uma incidência de 36,04% da CS para a faixa etária de 36-71 meses1. O tratamento da CS deve ser realizado o mais precocemente possível, uma vez que a doença afeta tanto a saúde bucal quanto a saúde geral da criança6. Pode interferir no crescimento e desenvolvimento normais e estar associada à presença de lesões cariosas na dentição permanente10. Quando a doença é diagnosticada e estabelecido um processo educativo preventivo ainda na fase inicial (mancha branca), existe uma grande probabilidade de que essas áreas descalcificadas se remineralizem, não havendo formação de cavidade. Dessa forma, o tratamento proposto para a CS dependerá do grau de comprometimento da estrutura dentária, bem como da formação do profissional que atenderá a criança. Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar as condutas clínicas freqüentemente preconizadas pelos cursos de especialização em Odontopediatria no Brasil frente à CS, já que estas condutas influenciam tanto a abordagem inicial do problema quanto a escolha dos materiais a serem empregados pelo odontopediatra ao longo do tratamento. MATERIAL E MÉTODOS Um questionário contendo oito perguntas referentes às técnicas e aos materiais propostos para o tratamento da cárie severa foi enviado a todos os coordenadores dos cursos de especialização em Odontopediatria no Brasil, perfazendo um total de 46 cursos (dados fornecidos pelo Conselho Federal de Odontologia). Foi facultado aos cursos escolherem mais de uma opção como resposta em cada questão. Vinte e quatro (52,17%) desses questionários foram respondidos e avaliados. Os dados após analisados, foram representados em gráficos. RESULTADOS A livre escolha de mais de uma opção para cada questão resultou em uma somatória maior que 100% demonstrada nos gráficos. A primeira pergunta referiu-se à utilização e a maneira como a contenção física era realizada. Os dados mostraram que 83,3% dos cursos utilizam esse recurso e que, preferencialmente (41,6%), é realizado pelos pais e auxiliares (Gráficos 1 e 2). Em seguida foi questionado sobre o uso do cariostático. As respostas revelaram que 58,3% dos cursos indicam a utilização dessa substância, principalmente em crianças muito pequenas (16,7%) e com alta atividade de cárie (25%) (Gráficos 3 e 4). Em relação a adequação do meio bucal, observou-se consenso entre as diferentes escolas, já que 95,8% utilizam esse passo operacional. O material varia de acordo com o caso, sendo que os mais empregados são o IRM e o ionômero de vidro quimicamente ativado (Gráficos 5 e 6). A questão quatro tratou da utilização da técnica de restauração atraumática (ART), e foi constatado que metade das escolas, ou seja, 50% preconizam sua utilização, enquanto a outra metade não o faz (Gráfico 7). A pergunta 5 abordou a indicação da técnica de pulpotomia e os materiais empregados na sua realização. Observou-se que todos os cursos indicam a pulpotomia, entretanto houve grande divergência quanto ao material utilizado (Gráfico 8). Na avaliação seguinte, sobre pulpectomia, verificou-se que 8% das escolas contraindicam essa técnica. Nos cursos que a utilizam, a solução irrigadora e o material obturador mais empregados são o hipoclorito de sódio (62,5%) e a pasta à base de Rifocort, paramonoclorofenol canforado e 20,1 ITipos de contenção 16,7% 41,6 II 12,5 III 8,3 IV - 25 V8,3 VI - 83,3% Sim 5 15 I - Não responderam II - Pais e auxiliares III - Pacote pediátrico Não Gráfico 1 - Indicação de contenção física (%). 58 0 25 35 IV - Mão sobre a boca V - Cadeira Macri VI - Abridor de boca Gráfico 2 - Tipos de contenção física (%). Revista da ABENO • 4(1):57-62 45 (%) Orientações÷ Indicação de cariostático Bezerra ACB, Toledo OA 41,7% 4,1 II - 12,5 16,7 III - 25 IV 16,7 V0 58,3% Sim I- 5 I - Não responderam II - Pacientes especiais III - Crianças muito pequenas Não 30 (%) 25 IV - Alta atividade de cárie V - Adequação do meio bucal Materiais empregados utilizado (%). 4,2% 4,1 I- 70,8 II 75 III 50 IV V20 30 40 50 60 70 80 (%) IV - Ionômero fotoativado V - Cariostático Gráfico 6 - Materiais utilizados para adequação do meio bucal (%). Materiais empregados 50% 10 I - Resina II - IRM III - Ionômero quimicamente ativado Não Gráfico 5 - Indicação de adequação do meio bucal (%). 20,8 0 95,8% I- 4,1 II - 4,1 25 III 4,1 IV - 16,6 V- 62,5 VI 8,3 VII - 16,6 VIII 0 50% Sim 20 Gráfico 4 - Indicação de situações onde o cariostático foi Gráfico 3 - Utilização de cariostático (%). Sim 15 10 10 20 30 I - Vitapex II - Sulfato ferroso III - RIP IV - MTA Não 40 50 60 70 (%) V - Hidróxido de cálcio VI - Formocresol diluído VII - Formocresol VIII - CTZ RIP: ricofort/iodofórmio/paramonoclorofenol; MTA: mineral trióxido agregado; CTZ: cloranfenicol/tetraciclina/óxido de zinco. Gráfico 7 - Emprego da técnica de restauração atraumáti- ca (ART - %). Gráfico 8 - Materiais utilizados para pulpotomia (%). iodofórmio (45,8%) respectivamente (Gráficos 9, 10 e 11). As últimas questões referiam-se às medidas preventivas adotadas por cada escola. Nesse aspecto observou-se que 54,2% recorrem ao diário alimentar recordatório (Gráfico 12) e 91,6% ao uso de fluoretos de forma freqüente e adequada para cada faixa etária determinada (Gráfico 13). O Gráfico 14 demonstra grande variação nos tipos de fluoretos empregados. DISCUSSÃO A Odontopediatria é uma especialidade que requer uma enorme habilidade do cirurgião-dentista que a ela se dedica, não apenas considerando a parte técnica, mas principalmente a relação interpessoal com o paciente infantil. Nesse aspecto, quanto menor for a criança, maior será a dificuldade de se realizar qualquer tipo de procedimento invasivo. Dessa forma, Revista da ABENO • 4(1):57-62 59 Orientações÷ Soluções irrigadoras Bezerra ACB, Toledo OA 8% 33,3 III - 4,1 62,5 III IV - 4,1 V- 21 VI - 21 0 10 92% Sim 20 30 40 I - Soro fisiológico II - Soda clorada III - Hipoclorito de sódio Não 50 60 70 (%) IV - HCT 20 V - Tergentol furacin VI - Endo PTC HCT 20: hidróxido de cálcio/tergentol a 20%. Gráfico 10 - Soluções irrigadoras utilizadas em pulpec- Gráfico 9 - Indicação de pulpectomia (%). 4,1 IMaterial obturador tomia (%). 45,8 II - 45,8% 16,6 III 12,5 IV 4,1 V- 20,8 VI 12,5 VII 0 10 20 I - Vitapex II - RIP III - Óxido de Zn + iodofórmio IV - Óxido de Zn 30 50 (%) 40 54,2% V - Maisto VI - CaOH + óxido de Zn + propileno VII - CTZ RIP: ricofort/iodofórmio/paramonoclorofenol; CTZ: cloranfenicol/tetraciclina/óxido de zinco. Gráfico 11 - Material obturador utilizado em pulpecto- mia (%). Sim Não Gráfico 12 - Indicação de diário alimentar recordatório (%). 45,8 ITipos de fluoretos 8,4% 4,1 II - 50 III IV - 8,4 V- 8,4 VI - 4,1 8,4 VII 0 91,6% Sim Não 10 20 30 40 50 60 (%) I - Verniz de flúor V - Fluoreto de sódio a 0,02% II - Solução para bochecho a 0,05% VI - Diaminofluoreto de prata III - Fluorfosfato acidulado/neutro VII - Dentifrício fluoretado IV - Fluoreto de sódio a 2% Gráfico 13 - Indicação da utilização de fluoretos. Gráfico 14 - Tipos de fluoretos fluoretados (%). a orientação odontológica preventiva deveria ser estabelecida como rotina nos programas de pré-natal e no acompanhamento do recém-nascido, como sugerido por Rozier et al.11 (2003). Esta estratégia visa diminuir os índices de CS, visto que a incidência desse tipo de cárie é bastante elevada no Brasil1 e, na maioria das vezes, quando os responsáveis pela criança procuram atendimento, os dentes já estão comprome- tidos. De acordo com Johnsen et al.7 (1986), a CS requer uma intervenção profissional antes que a criança tenha idade suficiente para cooperar com um tratamento curativo, necessitando contenção física, sedação ou anestesia geral. A utilização da anestesia geral e da sedação são procedimentos pouco empregados no Brasil e, em função disso, a contenção física é utiliza- 60 Revista da ABENO • 4(1):57-62 Orientações÷ Bezerra ACB, Toledo OA da com bastante freqüência pelas diferentes escolas (83,3%) e, quase sempre, essa contenção é feita pelos pais e auxiliares. Outros métodos, como o uso do lençol e da cadeira Macri, também são empregados. A CS atinge crianças muito pequenas, em alguns casos menores que 12 meses, razão que justificaria o emprego do cariostático pelas escolas que fazem a sua indicação (58,3%). Entretanto, os demais cursos (41,7%) acreditam que outras abordagens apresentem resultados ainda melhores, uma vez que o cariostático pigmenta as estruturas desmineralizadas. Um dos recursos indicados por quase 100% das escolas foi a adequação do meio bucal, principalmente como parte inicial do tratamento da CS, apresentando alguma variação quanto à seleção do material. Quando o item que se referiu ao emprego da técnica do ART foi analisado, observou-se que muitos coordenadores de cursos consideram a adequação do meio, quando realizada com ionômero de vidro (independente do tipo), como sendo a técnica do ART. Deve-se ressaltar, entretanto, que a forma clássica do ART, inicialmente preconizada por Frencken, Sogpaisan5 (1994), difere bastante da adequação do meio. Mas, se considerarmos a técnica modificada (ARTm), ou seja, realizada em consultório odontológico e empregando-se instrumentos rotatórios ou mesmo instrumentos manuais, a adequação do meio feita com ionômero de vidro assemelha-se bastante à técnica do ART9. Deve-se salientar que, nessas condições, a principal diferença entre as duas técnicas é que as restaurações realizadas durante a adequação do meio bucal são consideradas provisórias e serão futuramente substituídas, o que não acontece com o ART. Acrescentese que o ART como adequação do meio, pode ser considerado também como uma forma de manejo inicial do comportamento e condicionamento do paciente3 auxiliando a reversão do processo da CS e possibilitando a recuperação do organismo9. Em alguns casos, a procura por tratamento ocorre quando já há uma grande destruição da estrutura dentária, muitas vezes, com envolvimento pulpar. Durante a avaliação do questionário observou-se que 100% das escolas indicam a técnica da pulpotomia, entretanto, houve grande divergência quanto aos materiais escolhidos, tanto as soluções irrigadoras quanto aqueles selecionados para o preenchimento da câmara pulpar. Considerando-se a possibilidade de estacionamento e recuperação do complexo dentino-pulpar utilizando-se a adequação do meio ou o ART como forma de abordagem inicial de tratamento da CS, pode-se esperar uma diminuição considerável do nú- mero de pulpotomias. Com relação à pulpectomia, 8% dos cursos, ou seja, 2 entre os 24 que responderam o questionário, contra-indicam a referida técnica. Nas demais escolas onde a utilização da pulpectomia é prescrita observouse novamente uma enorme variação quanto à escolha dos materiais. Mas pôde-se notar que, tanto para a técnica da pulpotomia quanto a da pulpectomia, a solução irrigadora mais recomendada foi o hipoclorito de sódio. Quando as perguntas referentes às medidas preventivas foram analisadas, verificou-se que todas as escolas consultadas utilizam a orientação de higiene bucal e dieta como recurso inicial de prevenção e controle da CS. Entretanto o uso do diário alimentar recordatório só é preconizado, de forma rotineira, por 54,2%. Em relação ao uso de fluoretos, averiguou-se que as escolas apresentam uma filosofia de ensino bastante semelhante quanto à sua indicação, entretanto, a forma de administração variou bastante. Talvez este fato possa ser explicado pela preocupação do profissional quanto ao risco da ocorrência da fluorose dentária. Sabe-se que nos primeiros anos de vida, idade em que criança é afetada pela CS, a ingestão excessiva do flúor é crítica para o surgimento da fluorose. De acordo com Evans, Stamm4 (1991), o período de desenvolvimento em que os dentes estão mais sujeitos à fluorose parece ser dos 22 aos 26 meses de idade. Dessa forma, a indicação do flúor só deve ser realizada após uma investigação criteriosa sobre os hábitos de cada criança. Deve-se considerar, portanto, a exposição prévia ao flúor (pasta de dente, suplemento, aplicações tópicas, fluoretação da água, etc.) no momento da escolha do tipo, concentração, freqüência e forma de utilização da droga. Fica evidente a necessidade de uma ampla discussão entre os professores de Odontopediatria sobre as propriedades dos materiais empregados, como tentativa de uniformizar as condutas clínicas dos especialistas com base em evidências científicas. CONCLUSÕES As medidas preventivas e as técnicas utilizadas para o tratamento da CS foram semelhantes, embora tenha havido divergência quanto à utilização do diário alimentar e do cariostático. Embora semelhantes, a prevenção e o tratamento, envolvem variada relação de materiais indicados. ABSTRACT Therapeutic guidance given at the Brazilian Revista da ABENO • 4(1):57-62 61 Orientações÷ Bezerra ACB, Toledo OA specialization courses on pedodontics for the severe early childhood caries This study aimed to assess the different protocols drawn up at Brazilian specialization courses on pedodontics to treat severe early childhood caries (S-ECC). All courses registered in the Federal Council of Dentistry (46) by January 2003 received an eight-question questionnaire to be answered. This questionnaire regarded the clinical decisions in the treatment of SECC. Twenty-four questionnaires (52.17%) were answered. The data were analyzed and displayed in graphs. The results showed that physical restraint is indicated by 83.3% of the courses, and that 58.3% of the courses indicate the use of silver diamine fluoride as a cariostatic solution. Pulpotomy is indicated by 100% of the courses and diluted formocresol (62.5%) is the indicated material. Pulpectomy is indicated by 92% of the courses. The most used irrigation solution is 0.05% sodium hypochlorite (Dakin 62.5%), and a paste with corticosteroid, camphorated parachlorophenol and iodoform is indicated for use as filling material (45.8%). Fluoride is commonly indicated for prevention by 91.6% of the courses, although there is great variation concerning the vehicle and concentrations. Dietary counseling is performed based on dietary habits in 54.2% of the courses. It was concluded that the therapeutic procedures for S-ECC need to be better discussed by the faculty of all specialization courses on pedodontics in Brazil. Although the techniques were similar, there was a considerable diversity concerning the choice of materials. The study and creation of a standardized protocol is suggested to facilitate the use of suitable techniques for the treatment and prevention of S-ECC. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Azevedo TDP. Prevalência da cárie severa em pré-escolares de 36 a 71 meses de idade. Considerações alimentares [Dissertação de Mestrado]. Brasília; Universidade de Brasília; 2001. 2. Berkowitz RJ. Causes, treatment and prevention of early childhood caries: a microbiologic perspective. J Can Dent Assoc 2003;69(5):304-7. 3. Bezerra ACB. A adaptação do paciente e o tratamento restaurador traumático. In: Klatchoian DAS. Psicologia aplicada à Odontopediatria. São Paulo: Santos; 2002. p. 339-50. 4. Evans RW, Stamm JW. An epidemiologic estimate of the critical period during which human maxillary central incisors are most susceptible to fluorosis. J Public Health Dent 1991;51(4):2519. 5. Frencken JE, Sogpaisan Y. An atraumatic restorative treatment (ART) technique: evaluation after one year. Int Dent J 1994;44(5):460-4. 6. Hale KJ. Oral health risk assessment timing and establishment of the dental home. Pediatrics 2003;111(5):1113-6. 7. Johnsen DC, Gerstenmaier JH, DiSantis TA, Berkowitz RJ. Susceptibility of nursing-caries children to future approximal molar decay. Pediatr Dent 1986;8(2):168-70. 8. Johnston T, Messer LB. Nursing caries: literature review and report of a case managed under local anesthesia. Aust Dent J 1994;39(6):373-81. 9. Massara MLA, Alves JB, Brandão PRG. Atraumatic restorative treatment: clinical, ultrastructural and chemical analysis. Caries Res 2002;36(6):430-6. 10. Peretz B, Ram D, Azo E, Efrat Y. Preeschool caries as an indicator of future caries: a longitudinal study. Pediatr Dent 2003;25(2):114-8. 11. Rozier RG, Sutton BK, Bawden JW, Haupt K, Slade GD, King RS. Prevention of early childhood caries in North Carolina medical practices: implications for research and practice. J Dent Educ 2003;67(8):876-85. DESCRIPTORS Pedodontics. Dental caries. Dentist’s pratice patterns. Dental materials. 62 Revista da ABENO • 4(1):57-62 Aceito para publicação em 11/2003 Anais da XXXVIII Reunião Anual da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Mudanças no ensino de Odontologia frente às novas Diretrizes Curriculares (tema central); SUS e PSF e a responsabilidade social da universidade; estágio supervisionado. Curitiba - PR - 5 a 9 de agosto de 2003 DIRETORIA ABENO (2002 a 2006) Presidente DIRETORIA ABENO – PR Presidente Antonio Cesar Perri de Carvalho (DF) Maria da Graça Kfouri Lopes Vice-presidente 1ª Vice-Presidente Eduardo Gomes Seabra (UFRN) Maria Celeste Morita Secretária Geral 2ª Vice-Presidente Luciana de Moura Brito (UCB-DF) Cassia Dezan Garbelini 1ª Secretária COORDENAÇÃO GERAL Ana Cristina Barreto Bezerra (DF) Maria da Graça Kfouri Lopes Tesoureiro Geral Pôsteres Coordenação Sérgio de Freitas Pedrosa (UCB-DF) Léo Kriger 1ª Tesoureira Comissão Lílian Marly de Paula (DF) Isabela Almeida Pordeus Presidente de Honra Edrízio Barbosa Pinto (PE) Vera Lúcia Silva Resende Assessores do Presidente V Seminário “Ensinando e Aprendendo em Odontologia” Coordenadora Alfredo Júlio Fernandes Neto (UFU-MG) Bruno Frederico Muniz (Faculdade de Odontologia do Recife) Carlos Alberto Conrado (UEM) José Dilson Vasconcelos de Menezes (UFC) Orlando Airton de Toledo (UNB) Roberto Schimer Wilhelm (UNESA) Elen Marise de Oliveira Oleto Revista da ABENO • 4(1):63 63 Programação da XXXVIII Reunião da ABENO e do XXIX Encontro Nacional dos Dirigentes de Faculdade de Odontologia, 2003, e trabalhos apresentados Síntese do Programa Cumprido A 38ª Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico e XXIX Encontro Nacional dos Dirigentes de Faculdades de Odontologia ocorreram de 5 a 9 de agosto de 2003, nas dependências do Hotel Bourbon, em Curitiba, em torno do tema central: “Mudanças no ensino de Odontologia frente às novas Diretrizes Curriculares - SUS e PSF e a responsabilidade social da universidade - estágio supervisionado”. Compareceram representantes dos Ministérios da Educação e da Saúde, diretores de faculdades, coordenadores de cursos e docentes das várias regiões do País, totalizando 319 inscritos. 06 de agosto - manhã A (nova) política de avaliação das instituições de ensino superior Coordenação da mesa: Prof. Dr. Alfredo Júlio Fernandes Neto A nova proposta de avaliação da educação superior Prof. Orlando Pilati • SESu/MEC representante da SESu/MEC situou a fase de mudanças em que se encontra o Ministério da Educação e especificamente a Secretaria da Educação Superior, nestes 7 meses de novo governo. Esclareceu sobre o andamento dos trabalhos da Comissão Especial nomeada pelo ministro da Educação, com prazo para até o final de agosto de 2003, apresentar uma proposta de avaliação da educação superior. Informou que se encerrou a fase de audiências públicas e que em poucos dias será conhecido o relatório da referida Comissão. A partir daí, será formulada uma política de educação superior e uma nova proposta de avaliação. O Panorama sobre o ensino de Odontologia no País Prof. Dr. Antonio Cesar Perri de Carvalho • Presidente da ABENO ensino de graduação de Odontologia no Brasil passa por um período de grandes mudanças. Estas são devidas à implementação da Lei que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Paralelamente à expansão da oferta de cursos, e dos contrastes entre os cursos, houve o início do processo de avaliação dos cursos de graduação pelo Ministério da Educação, a partir de 1997, e a definição das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia, em 2002. Os estudos realizados inclusive pela ABENO, com base nos dados fornecidos pelo Exame Nacional de Cursos e disponibilizados pelo INEP/Ministério da Educação, evidenciam vários sinais de melhoria na qualidade do ensino e, sem dúvida, também induzidos pelos processos de avaliação do Ministério da Educação. Face o cenário atual do ensino de Odontologia são postulações da ABENO: intensificação da implementação das Diretrizes Curriculares; definição de carga horária mínima para a graduação, face às novas Diretrizes Curriculares Nacionais; ampliação da equipe no Programa de Saúde da Família, com participação do cirurgião-dentista em todas equipes; implementação de um Pró-Saúde; definição de critérios para a criação de novos cursos para a área da Saúde. O Seminário sobre incentivos à mudança na graduação em Odontologia Coordenação da mesa: Prof. Dr. Munir Tacla Prof. Ricardo Burg Ceccin • Diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde á necessidade de uma política de educação para o SUS, com base nas vertentes: mudanças na for- H Revista da ABENO • 4(1):65-9 65 Programação da XXXVIII Reunião da ABENO - 5 a 9 de agosto de 2003 mação, mudanças na prática, produção de conhecimento e educação profissional. Num novo cenário é indispensável o estabelecimento de intersetorialidade da saúde com a educação. À vista disso, trabalha-se numa proposta de: instituição do trabalho intersetorial nos Ministérios da Saúde e da Educação para orientar um programa conjunto e decisões relacionados à formação dos profissionais de Saúde; as decisões relativas à formação dos profissionais de Saúde passarão a ser tomadas de maneira conjunta com os dois órgãos setoriais. cos de saúde bucal, tendo como exemplos os desvios da ética maior, de inclusão social e sanitária. A Rede de Saúde Bucal/SUS tem pressa para mudar o modelo de atenção dominante, ou seja, há um que seja distinto do modelo biomédico hegemônico. São condições iniciais para a educação superior e para formar profissionais para a cidadania contextualizada e coerentes com os itens das Diretrizes Curriculares Nacionais. Profa. Laura Macruz Feuerwerker • Diretora da Divisão de Ensino Superior do Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde ara as novas propostas do Ministério da Saúde há alguns problemas, desafios e perspectivas. No momento trabalha-se nas diretrizes de validação dos projetos do Pólo de Educação Permanente em Saúde, com o objetivo de se induzir processos de transformação das práticas de saúde e de ensino. Como estratégia nucleadora se destacam: Pólos de Educação Permanente em Saúde; trabalhar com a proposta de educação permanente das equipes de saúde, considerando a articulação e o diálogo entre atores e saberes da clínica, da saúde coletiva e da gestão a partir das necessidades locais. A P 06 de agosto - tarde Trabalho em grupo sobre o Seminário. 07 de agosto - manhã Painel: SUS e PSF - políticas de saúde e formação de recursos humanos em Odontologia Coordenação da mesa: Prof. Dr. Léo Kriger Painelista: Prof. Samuel Jorge Moysés • Pontifícia Universidade Católica do Paraná ma questão atual é por quê formar recursos humanos em Odontologia, com vistas ao SUS e ao PSF? Esgotou-se o modelo que alimentou o ensino e a prática para gerações de cirurgiões-dentistas e professores. Milhares de profissionais da nossa geração vivem o fato arrasador da ocupação precária e há uma crescente “canibalização” profissional, fora mesmo dos regramentos de mercado, haja vista os desvios de ética corporativa. Ao mesmo tempo, há milhões de brasileiros sem respostas aos seus problemas específi- U 66 Painelista: Prof. Dr. Paulo Capel Narvai • Faculdade de Saúde Pública de São Paulo s políticas de saúde apresentam três desafios: acesso, integralidade e conhecimento. A formação de recursos humanos em Odontologia também têm três desafios: a interação ensino-pesquisa-serviço; a superação do modelo biomecânico e a educação permanente. Painelista: Prof. Dr. Gilberto Pucca • Universidade Estadual de Maringá e Coordenador de Saúde Bucal do Ministério da Saúde saúde bucal apresenta os problemas: acesso, distribuição de renda e concentração de profissionais. Como principais pontos para uma nova política de saúde bucal: universalização, controle social, equidade e integralidade. Esta nova política deve promover a interação entre ensino e serviço. Nesta relação, o estágio supervisionado é muito importante, enquanto apropriado do conhecimento. Há projeto de ampliação dos Pólos, considerando que a atual distribuição geográfica dos Pólos de Educação Permanente, contando com 31 pólos existentes e 19 a serem criados. A 07 de agosto - tarde Trabalho em grupo sobre o tema do Painel. 08 de agosto - manhã Palestra: Avaliação discente Profa. Maria Mitsuko Okuda • Universidade Federal de Goiás avaliação deve ser entendida como um processo sistemático, contínuo e integral, destinado a determinar se os objetivos foram alcançados; identificar aspectos do objetivos de avaliação e do contexto a serem aprimorados; planejar e desenvolver correções de rumos. O ideal é a função formativa, com vistas ao aprimoramento do processo de ensino-aprendiza- A Revista da ABENO • 4(1):65-9 Programação da XXXVIII Reunião da ABENO - 5 a 9 de agosto de 2003 gem. A avaliação é uma atividade educativa e não pode ser pensada sem considerar as implicações éticas, epistemológicas, sociais e seus efeitos políticos. Os resultados da avaliação devem ser entendidos como parte e não como fim do processo de avaliação. 08 de agosto - tarde Oficina de trabalho sobre o tema para 40 inscritos. Painel: Estágio supervisionado – papel da coordenação e do corpo docente na aplicação das Diretrizes Curriculares Nacionais Coordenação: Profa. Dra. Maria da Graça Kfouri Lopes Estágio rural Prof. Dr. Roberto Beltrán • Universidad Peruana Cayetano Heredia, Lima (Peru) experiência da Universidad Peruana Cayetano Heredia, de Lima (Peru) tem sido rica, como atividade obrigatória, realizada no último ano do curso que conta com 5 anos. Adota-se uma supervisão indireta. Procura-se atender aos problemas: populações rurais sem atenção; universidades isoladas da realidade; escassa formação cidadã; pouca atenção às bases sociais do processo saúde-enfermidade; pouca referência para atenção do adulto. Como bases filosóficas e metodológicas: formação integral; aprender investigando; aprender fazendo; aprender debatendo; dedicação exclusiva. Objetivos do internado rural: levar atenção de saúde bucal às populações rurais; complementar a formação em saúde pública dos alunos de Odontologia. A Estágio na universidade federal Prof. Ângelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira • Universidade Federal do Rio Grande do Norte omo pontos fundamentais para o debate, são destacados: relação universidade/sociedade/ serviço de saúde; as Diretrizes Curriculares e seu impacto na educação odontológica; o estágio supervisionado no tocante a conceito e aplicação; a experiência de estágio supervisionado na UFRN e as mudanças propostas pelos novos Projetos Pedagógicos; a coordenação e o corpo docente – características fundamentais e poder decisório; estágio supervisionado e as proposições da ABENO. Na UFRN a experiência C de estágio supervisionado envolve: saúde e cidadania; estágios supervisionados em Clínica Integrada; Centro Rural de Treinamento e Ação Comunitária. Estágio na universidade privada Prof. Mário Uriarte Neto • Universidade do Vale do Itajaí o curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, no primeiro semestre de 2002, após uma interrupção de uma experiência anterior de estágio supervisionado, deflagrou-se uma série de reuniões envolvendo as disciplinas de Clínica Integrada e de Odontologia Preventiva e Social, centro acadêmico, líderes de turma e alunos(as) dos dois últimos semestres (8º e 9º), com o objetivo de se discutir um novo projeto de estágios supervisionados. O papel da coordenação, no processo constante de mudanças, acredita-se estar atento ao macro, às principais discussões e orientações apontadas freqüentemente por comissões, órgãos competentes e pelo mercado, por isso a importância da participação dos gestores em reuniões como esta. Também é sua função observar e ouvir o grupo donde, constantemente, emanam intenções, vontades, percepções, idéias e referências. No entanto, sua principal competência é a de atuar como mediador(a) entre as diferentes instâncias. N Estágio na universidade estadual Profa. Dra. Maria da Glória Chiarello de Mattos • Universidade de São Paulo onsidera-se o conceito de estágio de supervisionado da ABENO. Na USP: complementação do ensino e da aprendizagem a fim de constituírem instrumento de integração em termos de treinamento prático, aperfeiçoamento técnico, cultural, científico e de relacionamento humano. Na FORP/USP, é viabilizado junto ao Centro de Saúde Escola e Programa de Saúde da Família da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP; atividades de pronto-atendimento; clínica de urgência e emergência e clínica de atendimento. C Assembléia Geral (especial - art. 48 do Estatuto) e Assembléia Geral Ordinária da ABENO No final do evento, em Assembléia Geral especialmente convocada para tal fim, foi aprovado o novo Estatuto da ABENO, já adequando-o ao novo Código Civil. A Assembléia autorizou a Diretoria da ABENO a dar um prazo para a regularização das Seções Estaduais ao novo Estatuto, inclusive com o CNPJ, e pres- Revista da ABENO • 4(1):65-9 67 Programação da XXXVIII Reunião da ABENO - 5 a 9 de agosto de 2003 tarem informações e balancetes sobre os cursos ministrados. Análise de questões do questionáriopesquisa do Exame Nacional de Cursos de Odontologia (1997-2002) Antonio Cesar Perri de Carvalho•, Léo Kriger•• • Professor Titular da Faculdade de Odontologia do Planalto Central •• Mestre pela Universidade Tuiuti questionário-pesquisa do Exame Nacional de Cursos traz dados obtidos das opiniões dos graduandos sobre o curso de graduação e pode ser um importante subsídio para a obtenção de informações sobre a situação atual das citadas atividades. O objetivo desta análise é estabelecer relação entre o desempenho dos graduandos dos cursos de Odontologia no Exame Nacional de Cursos, de 1997 a 2002, dos cursos com conceitos extremos “A” e “E”, comparando-se com a média do País, com os resultados de algumas questões (números 42, 60 e 77) do questionário-pesquisa – preenchido pelos graduandos –, sobre interesse dos mesmos, condições de ensino relacionadas com estágios supervisionados e atividades de extensão, valorizadas nas recém-aprovadas “Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia”. Houve diferença nas respostas dos graduandos das instituições que tiveram conceitos “A” e “E”. Em geral, os resultados demonstram que, na percepção dos graduandos: a) na questão 42, do ano inicial em que foi introduzida (1999) até 2002, houve melhoria na qualidade de ensino, com mais oferta de atividades culturais; b) na questão 60, aumenta a opção de que a maior contribuição dos estágios supervisionados é o aperfeiçoamento técnico profissional; c) na questão 77, a soma de forte interesse e interesse mediano supera o não interesse manifesto em 1997 pela Odontologia em Saúde Coletiva. A análise destes resultados evidencia que as palestras e conferências têm merecido maior atenção dos graduandos durante o seu período de formação e que o estágio supervisionado tem se constituído em uma importante ferramenta para o aperfeiçoamento científico e técnico, ressaltando a importância do estudo contínuo para um eficiente exercício profissional. Em relação ao aumento do interesse pela Odontologia em Saúde Coletiva, os números apontam para uma tendência por novas frentes O 68 de trabalho para a prática profissional. V SEMINÁRIO “ENSINANDO E APRENDENDO EM ODONTOLOGIA” 8 de agosto de 2003 Oficina de trabalho sobre avaliação discente (40 vagas) Profa. Maria Mitsuko Okuda • UFG 1. Promoção de saúde: a percepção dos docentes de um curso de Odontologia Ayla Norma Ferreira Matos, Isabela Almeida Pordeus, Efigênia Ferreira e Ferreira. 2. Evasão do ensino superior: uma análise comparativa Simone Saldanha Ignácio de Oliveira, Cresus Vinícius Depes Gouvea, Tereza Cristina Almeida Graça, Livi Ribeiro de Almeida. 3. Laboratório pré-clínico de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial Daniel Rey de Carvalho, Normeu Lima Júnior, Sérgio Bruzadelli Macedo, Antonio Cesar Perri de Carvalho. 4. Investigação científica na formação do profissional: a trajetória do curso de Odontologia da UNIVALI Elisabete Rabaldo Bottan, Ricardo Nunes. 5. Estudo comparativo das avaliações das condições de ensino e Provão do curso de Odontologia da Fundação Educacional de Barretos em 1998 e 2002 Juliemy A. de Camargo Scuoteguazza, Patrícia Helena Rodrigues de Souza, Miriam Eiko Katuki Tanimoto, Carlos José dos Santos Pellegrino. 6. O ensino de Odontologia no estado de São Paulo: um estudo com coordenadores de curso Luciane Gabeira Secco, Maria Lúcia Toralles-Pereira. Revista da ABENO • 4(1):65-9 Programação da XXXVIII Reunião da ABENO - 5 a 9 de agosto de 2003 7. Disciplinas Adequação do Meio Bucal e Planejamento Clínico Integrado I a VII Maria da Glória Chiarello de Mattos, Marlívia Gonçalves Cristopher Watanabe, Mario Taba, Comissão de Graduação da FORP-USP. 8. Humanizando a educação em Odontologia Simone Tetu Moysés, Samuel Jorge Moysés, Léo Kriger, Ernesto Josué Schmitt. Proponha, discuta, participe! A Associação Filie-se à Brasileira de Ensino Odontológico ABENO tem como OBJETIVOS: Congregar todas as instituições de ensino odontológico no Brasil Atuar objetivando a melhoria do ensino odontológico no País Adotar medidas que objetivem a formação e o aperfeiçoamento do pessoal docente e dos profissionais de Odontologia Estimular as atividades de pesquisa na ciência odontológica Incentivar as atividades de extensão e de educação em saúde junto às comunidades Defender os interesses das instituições de ensino que a integram Constituir-se fator de integração entre o ensino e a cultura nacional Manter relações com as entidades representativas da categoria odontológica Manter intercâmbio com entidades estrangeiras representativas da docência odontológica Filiação e mais informações no site: www.abeno.org.br/novo_socio.html Revista da ABENO • 4(1):65-9 69 Anais da XXXIX Reunião Anual da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Ensino e saúde: a integração do ensino para a atenção integral em saúde (tema central). Belo Horizonte - MG - 29 a 31 de julho de 2004 DIRETORIA ABENO (2002 a 2006) Presidente DIRETORIA ABENO – MG Comissão Provisória Antonio Cesar Perri de Carvalho (DF) Isabela Almeida Pordeus Vera Lúcia Silva Resende Elen Marise de Oliveira Oleto Vice-presidente Eduardo Gomes Seabra (UFRN) Secretária Geral COORDENAÇÃO GERAL Luciana de Moura Brito (UCB-DF) Vera Lúcia Silva Resende Isabela Almeida Pordeus Elen Marise de Oliveira Oleto 1ª Secretária Ana Cristina Barreto Bezerra (DF) Tesoureiro Geral Sérgio de Freitas Pedrosa (UCB-DF) 1ª Tesoureira Lílian Marly de Paula (DF) Presidente de Honra Edrízio Barbosa Pinto (PE) Assessores do Presidente Alfredo Júlio Fernandes Neto (UFU-MG) Bruno Frederico Muniz (Faculdade de Odontologia do Recife) Carlos Alberto Conrado (UEM) José Dilson Vasconcelos de Menezes (UFC) Orlando Airton de Toledo (UNB) Roberto Schimer Wilhelm (UNESA) Pôsteres Comissão Julgadora Eduardo Gomes Seabra Kátia Regina H. Cervantes Lino João da Costa VI Seminário “Ensinando e Aprendendo em Odontologia” Coordenadora Isabela Almeida Pordeus Revista da ABENO • 4(1):71 71 Programação da XXXIX Reunião da Abeno e do XXX Encontro Nacional dos Dirigentes de Faculdades de Odontologia, 2004 30 de julho - manhã 28 de julho • Recepção e credenciamento 29 de julho - manhã • 8h30 - 12h00 Painel: Integralidade do ensino versus atenção integral à saúde – experiências com clínicas integradas antecipadas Coordenador: Prof. Dr. Carlos Alberto Conrado (PR), Secretária: Profa. Lílian Marly de Paula (DF). Apresentadores: • Experiência da Universidade Federal de Uberlândia - Prof. Dr. Alfredo Júlio Fernandes Neto (MG). • Experiência da Universidade Estadual de Campinas - Prof. Dr. Thales Rocha de Mattos Filho (SP). • Experiência do Centro Universitário de Várzea Grande - Prof. Dr. Omar Zina (MT). • 8h30 Início da Sessão de Pôsteres sobre Ensino (dia todo) - Comissão Julgadora: Prof. Dr. Eduardo Gomes Seabra (RN); Kátia Regina H. Cervantes Dias (RJ); Prof. Dr. Lino João da Costa (PB). 29 de julho - tarde • 14h30 - 16h30 Trabalho em grupo: tema do painel. Coordenador: Prof. Dr. Cresus Vinícius Depes de Gouveia (RJ), Secretária: Profa. Dra. Luiza Nakama (PR). • 17h00 - 18h30 Reunião de Diretores de Faculdades e Coordenadores de Cursos de Odontologia: Informações sobre Diretrizes Curriculares Nacionais e Avaliação. • 8h30 - 12h00 Painel: O ensino de Odontologia e sua relação com o SUS Coordenador: Prof. Dr. Léo Kriger (PR), Secretária: Profa. Dra. Elen Marise de Oliveira Oleto (MG). Apresentadores: • Desmistificando a Odontologia no SUS - Prof. Dr. Ricardo Burg Ceccin - Ministério da Saúde (DF). • Entendendo o financiamento das ações clínicas de educação permanente e de pesquisa - Dr. Djalmo Sanzi de Souza - Secretaria da Saúde (RS). • Atenção integral e a gestão da saúde - Profa. Dra. Efigênia Ferreira - UFMG. • A pesquisa e sua aplicação na saúde bucal individual e coletiva - Prof. Dr. Adair Luiz Stefanello Busato - ULBRA (RS). • 8h30 Início da Sessão de Pôsteres sobre Ensino (dia todo). 30 de julho - tarde • 14h30 - 16h30 Trabalho em grupo: tema do painel. Coordenador: Prof. Dr. José Galba de Menezes Gomes. (CE), Secretária: Profa. Dra. Maria Celeste Morita (PR). • 17h00 - 18h30 Reuniões das Comissões da ABENO. • 17h00 - 18h30 Reunião com Representantes de Grupos Nacionais sobre Ensino Especializado. • 17h00 - 18h30 Reunião com Seções Estaduais da ABENO. 30 de julho - noite • 20h30 Jantar de confraternização. 29 de julho - noite 31 de julho - manhã • 20h00 Abertura oficial da XXXIX Reunião e coquetel. • 8h30 - 9h30 Relatórios dos trabalhos dos grupos - Revista da ABENO • 4(1):73-4 73 Programação da XXXIX Reunião da ABENO - 29 a 31 de julho de 2004 Plenária para as apresentações. Coordenador: Prof. Dr. Orlando Airton de Toledo (DF), Secretária: Profa. Dra. Elaine Bauer Veeck (RS). • 9h30 Assembléia Geral da ABENO. 31 de julho - tarde • 14h30 - 17h30 VI Seminário “Ensinando e Aprendendo” - apresentação de seis trabalhos selecionados 74 entre os pôsteres que serão enviados para julgamento. Coordenação: Profa. Dra. Isabela Almeida Pordeus (MG), Secretários: Prof. Dr. Reinaldo Brito e Dias (SP) e Profa. Dra. Ana Cristina Barreto Bezerra (DF). • 14h30 - 17h30 Oficina de trabalho: montagem de módulos de ensino. Coordenação: Prof. Dr. Miguel Carlos Madeira (SP). Apresentação: Profa. Ivani Lombardo (SP). • 17h30 - 18h00 Encerramento da XXXIX Reunião da ABENO. Revista da ABENO • 4(1):73-4 Trabalhos aceitos para apresentação na XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 Práticas e projetos de ensino de Odontologia nas faculdades brasileiras – buscando o aperfeiçoamento. 1. A pesquisa nas diretrizes do Sistema Único de Saúde e a formação de recursos humanos em Odontologia Peret, A. C. A.*, Lima, M. L. R. O presente estudo tem como objetivo analisar na Lei Orgânica da Saúde as diretrizes referentes à pesquisa e sua influência na formação de recursos humanos em Odontologia, buscando identificar as possibilidades para o desenvolvimento de uma formação crítica e voltada para o social. Para o desenvolvimento desta investigação utilizamos como recurso metodológico o estudo das Leis 8.080/90 e 8.142/90 pela Análise de Conteúdo (Bardin, 1977). A análise da Lei Orgânica da Saúde revelou a existência de vários eixos que permitem direcionar a pesquisa para uma dimensão social, podendo destacar como atribuição do SUS a definição e o controle dos padrões éticos para as pesquisas, resguardando os princípios democráticos que os regem. Entretanto essa perspectiva pode estar ameaçada diante do cenário neoliberal que encontra-se inserida a sociedade brasileira, estando a pesquisa direcionada para a lógica do mercado. Essa tendência pode estar reforçando o perfil tecnicista, biologista e afastado das questões sociais, que, de uma maneira geral, vem marcando a pesquisa odontológica. Portanto, resgatar e fundamentar a formação dos futuros odontólogos a partir dos princípios do SUS poderá abrir caminhos para que essa formação seja mais crítica e próxima da realidade brasileira, preparando-os assim para desenvolver uma prática odontológica mais humanizada. 2. Metodologia de ensino sem a utilização de manequins previamente ao atendimento clínico de pacientes Segundo, A. S.*, Porto, A. N., A. J. G., Semenoff, T. A. D. V. O objetivo é mostrar uma metodologia de ensino na disciplina de Periodontia, sem a utilização de manequins previamente ao atendimento clínico de pacientes. No planejamento do semestre 2003/1, o questionamento que norteou o diálogo era se realmente existia a possibilidade do atendimento de pacientes direto sem aulas laboratoriais. Existiu então, a necessidade de reforçar aulas iniciais, priorizando o ensino dos índices periodontais, seguido de preenchimento de fichas, aulas de ergonomia e entendimento do perfil bioemocional dos indivíduos, além de uma demonstração pelos professores de atendimento dos pacientes. Uma idéia colocada no plano de ensino foi a realização do preenchimento das fichas nos próprios alunos, já que o exame clínico periodontal é indolor e um procedimento não invasivo. Após todo o preparo realizado pelo corpo docente e discente, se percebeu que praticamente todos os alunos estavam motivados pelo início antecipado da clínica. Esta metodologia já está indo para o terceiro semestre e o corpo docente percebe que a mudança da antiga metodologia possibilitou uma experiência maior dos estudantes. 3. Método alternativo de avaliação Segundo, A. S.*, Porto, A. N., A. J. G., Semenoff, T. A. D. V. O objetivo é dialogar sobre um método de avaliação empregado sem prova. Pensou-se em avaliações que privilegiassem o trabalho do aluno ao longo do semestre. O eixo central deve ser dado pelo docente, sendo papel do estudante buscar uma forma individual para o aprender, como parte colaborativa do Revista da ABENO • 4(1):75-98 75 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 seu currículo. Este método seguiu uma programação sistematizada de trabalhos manuscritos em cada aula. Após a aula teórica é colocado um tema, sendo o objetivo principal, a busca do conteúdo lecionado. A pesquisa, não deve estar somente centrada na proposta do professor, o estudante pode e deve buscar alternativas de conhecimento de um ponto de vista diferente. O que realmente se considera é o processo pelo qual o aluno está percorrendo, quando necessário, há o diálogo entre docente e discente aprendendo juntos. A nota é realizada através de porcentagens, onde se faz uma média geral das mesmas. Uma motivação, dos professores e alunos nos leva, a mudar as formas tradicionais de ensino. 4. Programa de Atenção a Saúde Bucal de Idosos da Universidade Estadual de Feira de Santana: a extensão como recurso de aprendizagem alicerçado na Pedogogia problematizadora Rios, A. C. F. C.*, Vieira, A. C., Rios, M. A., Sobrinho, P. C. M. D. S. E ste trabalho apresenta o Programa de Atenção a Saúde Bucal de Idosos (PASBI) - atividade de ensino-aprendizagem embasada na Pedagogia problematizadora, em que a ação extensionista foi usada como recurso para levantamento e resolução de problemas. O PASBI foi proposto, com a intenção de sensibilizar alunos de Odontologia para a atenção integral a saúde bucal de idosos, promover interdisciplinaridade e contextualizar a saúde bucal na terceira idade, através da análise de problemas levantados durante avaliação das condições de saúde bucal da clientela assistida. A primeira fase envolveu atividades de educação para saúde bucal e prevenção, juntamente com o rastreamento das condições de saúde bucal dos idosos matriculados na Universidade Aberta a Terceira Idade. Então, foram selecionados temas para estudos em grupo que culminaram com seminários e nortearam o atendimento clínico integral. A avaliação do programa demonstrou que a problematização dos conteúdos associados a atividade extensionista constituiu-se uma estratégia pedagógica eficiente na mudança de atitudes e comportamentos dos estudantes com relação a atenção odontológica integral ao idoso. 76 5. Do lúdico a realidade profissional – diversificando recursos e cenários de aprendizagem e propiciando aquisição de habilidades por alunos recémingressos no curso de Odontologia Rios, A. C. F. C.*, Santos, S. P. D. E ste trabalho relata a experiência de construção de práticas pedagógicas desenvolvidas no Plano de Ensino-Aprendizagem da disciplina Introdução às Ciências Odontológicas no curso de Odontologia da União Metropolitana de Educação e Cultura (UNIME), tendo como base as Diretrizes Curriculares Nacionais e o perfil traçado para o egresso do curso de Odontologia da UNIME. A diversificação de recursos e cenários de aprendizagem, tem sido utilizada como forma de favorecer a apreensão e desenvolvimento de competências e habilidades, em que cada espaço-tempo de aula é percebido como oficina para culminância das vivências desenvolvidas em grupo na forma de atividades extraclasse, onde o lúdico e o contato com a realidade profissional têm sido priorizados como forma de intermediar as ações pedagógicas. Esta prática tem possibilitado contextualizar o exercício profissional em Odontologia com uma abordagem compatível com o amadurecimento psicossocial do aluno recém-ingresso no curso, em sua maioria adolescentes, e tem tido uma boa aceitação pelos estudantes, demonstrada pela avaliação institucional da disciplina. 6. Ensinando Saúde Coletiva em Odontologia na Universidade de Santa Cruz do Sul Marques, B. B.*, Bender, C. R., Gonçalves, E. G. O ensino de Odontologia da UNISC, ao compreender o paradigma de promoção de saúde, valoriza a atenção para a saúde bucal na coletividade. Com essa visão desenvolve suas atividades teórico-práticas nas disciplinas de Saúde Coletiva em Odontologia. O objetivo do curso, entre outros, é proporcionar aos acadêmicos uma compreensão do processo saúde e doença, reflexão e interação da teoria e prática na construção do conhecimento para a administração de serviços de saúde, planejamento e desenvolvimento de ações coletivas. Os conhecimentos teóricos sobre epidemiologia, história e evolução da Odontologia, conceitos de cidadania, solidariedade, interdisciplinaridade e responsabilidade profissional são colocados em prática na educação em saúde e nos métodos de Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 prevenção dos principais agravos em saúde bucal nos diferentes campos de atuação, incluindo a organização e execução de Feiras de Saúde. No curso também se trabalha em parceria com as agentes comunitárias de saúde e demais profissionais que compõem o Programa de Saúde da Família nos territórios cobertos pelos mesmos. A população adulta desses territórios recebe atenção odontológica para adequação de meio bucal nas clínicas da UNISC e a infantil, nas escolas, por meio da técnica de restauração atraumática. O ensino da Saúde Coletiva em Odontologia na UNISC tem obtido bons resultados. O curso está entre os melhores do Brasil, em sétima posição no Provão do MEC e os egressos estão enfrentando o mercado de trabalho com segurança. Muitos têm alcançado ótima classificação em concursos públicos e outros estão participando de Equipes de Saúde Bucal no Programa de Saúde da Família. 7. O comportamento do professor como motivação em sala de aula Cruz, C. A. D. S.*, Cruz, S. A. B., Montandon, A. A. B. E ste trabalho objetiva conhecer o que dizem os alunos sobre as atitudes de seus professores quanto a explicação de conteúdos, reações frente a indisciplina/desatenção e elaboração de avaliações. Como instrumento de coleta (Selltiz et al., 1965; Triviños, 1992), um questionário foi aplicado a 40 alunos da 2ª série da Faculdade de Odontologia de Araraquara UNESP, relativo a professores da série anterior. Os resultados mostraram que a linguagem distante em sala de aula, praticada por 17,5% dos professores, incomoda 70% dos alunos, que comentam com os colegas mas não interrompem por medo ou vergonha do professor. Repreensões agressivas a toda a classe geram indiferença (60,5%) e sentimento de injustiça (31,6%); dirigidas apenas aos envolvidos geram vergonha pela exposição (52,6%). Repreensões construtivas indicam preocupação do professor com o aluno (52,7%). A exigência de respostas idênticas ao conteúdo ministrado provoca indignação (61,9%) e falta de estímulo (38,1%). Não ter acesso às provas gera raiva (21,1%) e frustração (65,8%). É consenso entre os alunos que o relacionamento cordial do professor estimula o interesse e a atenção em sala de aula, tornando prazerosa sua aprendizagem. 8. Clínica de Adequação do Meio Bucal: disciplina do 4º período do curso de Odontologia da Unimontes Pires, C. P. D. A. B.*, Caldeira, T. C. R., Coelho, M. Q., Maia, G. C. T. P. C línica de Adequação do Meio Bucal é uma disciplina do 4º período do curso de Odontologia que está centrada em um modelo de atendimento voltado para o controle e prevenção da cárie e doença periodontal. Tem como objetivo introduzir o aluno na prática clínica centrada na transformação do cliente, dentro dos princípios da promoção da saúde. O conteúdo programático aborda: identificação do indivíduo dentro de seu contexto biopsicossocial e cultural, inter-relação demanda clínica e origem contextual do cliente, cariologia e doença periodontal, instrução de higiene oral e avaliação de dieta; estratégias de intervenção preventiva, como: avaliação de índice de placa, raspagem e polimento coronário, escariação e selamento provisório de cavidades, repolimento de restaurações, remoção de excessos e irregularidades em restaurações, selamento de cicatrículas e fissuras e fluorterapia. Esses conteúdos são desenvolvidos integrando ensino/pesquisa, por meio de seminários, grupos de discussão, aulas expositivas dialogadas, aulas práticas em laboratórios e clínicas. A clientela atendida é composta de indivíduos cujos tratamentos reabilitadores serão realizados nas clínicas integradas e especializadas. Como resultado, esta disciplina, além de preparar o aluno para a adequação do cliente, leva-o a refletir criticamente sobre o planejamento clínico, entendendo o cliente como um ser social, procurando trabalhar de maneira humanística e ética. 9. Urgência odontológica como estágio supervisionado – relato de uma experiência de 5 anos Junqueira, C. R.*, Rode, S. M., Penna, L. A. P. A perda de poder aquisitivo da população fez com que a procura por atendimento odontológico em cursos de Odontologia aumentasse nos últimos anos. Nas clínicas dos cursos, as consultas são agendadas e, assim, a probabilidade de o paciente apresentar um quadro agudo é baixa. Em virtude disso, no curso de Odontologia da Universidade Ibirapuera, o atendimento das urgências odontológicas é realizado pelos alunos sob a supervisão de professores, constituindose em estágio supervisionado, por se pretender que o Revista da ABENO • 4(1):75-98 77 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 aluno aprenda a solucionar as crises de dor. O relato dessa experiência é apresentado pela análise dos relatórios da disciplina de Urgência desde o início de suas atividades em 1999 até 2003 para verificar qual o procedimento foi realizado para aliviar os quadros álgicos. Realizou-se uma análise descritiva que permitiu concluir que, dos 3.444 atendimentos realizados, a maioria foi executada para solucionar as urgências endodônticas (33,04%) seguida dos relacionados a Dentística (27,32%) e urgências relacionadas a Cirurgia (20,82%). Assim, os alunos deste curso têm a oportunidade de se deparar com pacientes em crise de dor e aprendem a solucionar tais situações de maneira adequada. 10. Projeto Educativo sobre Reimplante Dental – interação ensino/serviço/ pesquisa Carvalho, D. R.*, Carvalho, A. C. P. E ste Projeto se fundamenta na experiência da Campanha de Reimplante Dental, da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP, dirigida para esclarecimento do leigo, objetivando sua atuação na reimplantação imediata de dentes avulsionados, como manobra de urgência. Estudos desta IES indicam que campanhas educativas induzem a resultados significativos. Objetivamos divulgar o Projeto Educativo sobre Reimplante Dental, com o propósito de contribuir para ações de interação ensino/serviço/pesquisa, com participação de alunos da graduação e da pósgraduação e implementando as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia. O Projeto poderá ser dividido em quatro subprojetos: I - estudo regional, com questionários para avaliação do grau de conhecimento sobre reimplante dental imediato, dirigido a cirurgiões-dentistas; II - idem, com questionário dirigido a alunos do ensino básico, médio ou superior; III - avaliação em prontuários da IES sobre os atendimentos de reimplante dental, analisando-se: tempo de permanência extra-alveolar, meios de conservação do dente, faixa etária dos pacientes e os resultados obtidos; IV - campanha educativa sobre prevenção do trauma dentoalveolar, com orientações para a reimplantação imediata de dentes avulsionados. Cada subprojeto deverá gerar divulgação acadêmica. Estudos sobre a experiência de campanhas mostram que o trabalho de educação pode induzir a mudanças favoráveis na população. 78 11. Projeto Férias com Saúde: experiência dos alunos de Odontologia da FACS/UNIVALE Fernandes, E. T. P.*, Rodrigues, S. M. N a busca de transcender o trabalho intramuro e criar novos espaços de aprendizagem, o curso de Odontologia da FACS/UNIVALE em parceria com a Associação dos Municípios do Médio Rio Doce (ARDOCE) vem desenvolvendo desde 2001 o Projeto de Extensão Férias com Saúde; promovendo a saúde bucal dos indivíduos residentes nos municípios assistidos pela ARDOCE. Tem por objetivo possibilitar aos acadêmicos a aplicação de conhecimentos e habilidades adquiridos na universidade; interação com a organização, estrutura e recursos de saúde que dispõe os municípios. Participam deste projeto acadêmicos do 3° e 4° ano de Odontologia, que permanecem nos municípios selecionados, durante duas semanas do período de férias, com jornada diária de 8 horas. São realizadas atividades de educação para saúde, higiene bucal supervisionada, profilaxia, aplicação tópica de flúor, bem como procedimentos curativos/restauradores de atenção secundária. Estes procedimentos são executados nas unidades de saúde com supervisão direta do dentista do município e indireta de um professor. Dados obtidos mostram que até 2003 foram atendidos 1.319 indivíduos de ambos os sexos, com média de 22 anos de idade, sendo a maioria do gênero feminino (75%). Foram realizados 3.257 procedimentos, sendo os de maior freqüência palestras educativas (85%) e restauração de ionômero de vidro (69%). Conclui-se que o projeto proporcionou aos acadêmicos desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e psicomotoras; vivência no cotidiano das comunidades, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade e atuando como agente de promoção de saúde e qualidade de vida. 12. Novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC) no ensino odontológico – perspectivas e desafios Nogi, F. M.*, Matsuzaki, R., Melani, R. F. H. O avanço tecnológico proporcionado pelas novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC) tem ocasionado impactos profundos nas relações sociais, econômicas e políticas, engendrando o surgimento de novos paradigmas no campo da educação e da formação para o trabalho. Nesse contexto, a educação a distância (EAD) vem ocupando cada vez Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 mais espaço no cenário educacional, favorecida pela disseminação da Internet e das formas de aprendizagem on-line, determinando uma crescente demanda de pesquisas sobre essa modalidade de ensino. O escopo deste estudo foi avaliar o grau de fluência digital, de facilidade de acesso e familiaridade com a Internet dos graduandos de Odontologia da Universidade de São Paulo, verificando a viabilidade de utilização dessa mídia como instrumento de apoio a aulas presenciais e como um recurso para a educação continuada e para a auto-aprendizagem. Verificou-se amiúde que a familiaridade com a interface e os recursos proporcionados pela Internet aumenta em medida inversa ao ano letivo do aluno, sendo um indício da popularização crescente dessa mídia. Por outro lado, o seu emprego como instrumento de aprendizagem é precário e incipiente, existindo poucos sites e programas educacionais de referência em Odontologia. Ao considerarmos a expressiva quantidade de horas que os graduandos despendem nesse ambiente, e as possibilidades de interatividade e acesso assíncrono de informações proporcionadas pela Internet, fica patente a urgência em se instituir parâmetros e conceitos pedagógicos que permitam a aplicação racional dessa potente ferramenta de comunicação. 13. Aprendizagem baseada em problemas (ABP) como estratégia pedagógica na formação de recursos humanos em Odontologia Nogi, F. M.*, Melani, R. F. H., Araújo, M. E. O atual modelo de ensino odontológico, com sua ênfase no desenvolvimento individual e na visão tecnicista, não tem sido capaz de promover a formação de recursos humanos que respondam satisfatoriamente às demandas das comunidades em que estão inseridos. A aprendizagem baseada em problemas (ABP) é uma estratégia didática que oportuniza uma formação mais holística, desenvolvendo o pensamento crítico e estimulando a auto-aprendizagem. O objetivo deste trabalho foi avaliar o que a literatura dispõe sobre essa metodologia de ensino, analisando as suas características e inferindo quais são os pilares conceituais que a fundamentam. Concluímos que, de maneira consensual, a literatura propõe que a ABP se constitui em uma estratégia educacional que permite aos educandos construírem ativamente o seu conhecimento através do estudo autodirigido e do trabalho colaborativo. A partir do confronto com problemas, os alunos formulam seus próprios objetivos de apren- dizagem, internalizando os saberes de forma significativa e contextualizada. Embora alguns autores defendam que, em termos cognitivos, a apreensão de conteúdos através dessa estratégia de ensino não apresente diferenças expressivas com os métodos tradicionais, constata-se que o educando se sente mais motivado ao estudo e assume uma postura mais investigativa e analítica num currículo orientado pela ABP. 14. Conteúdo teórico na disciplina de Clínica Integrada Petroucic, F.*, Júnior, R. F. A. C om o objetivo de estimar qual o conteúdo programático teórico mais abordado pelas disciplinas de Clínica Integrada nas faculdades públicas de Odontologia do estado de São Paulo que possuem corpo docente próprio (100% = 5 faculdades), os autores examinaram os planos de ensino, que foram obtidos juntos com uma entrevista realizada nos meses de abril e maio de 2004 com os responsáveis pela disciplina de Clínica Integrada em estudo. Concluiu-se que os assuntos teóricos mais abordados foram cronologicamente: introdução à disciplina de Clínica Integrada: 100%; exame clínico integrado: 80%; planejamento de casos clínicos: 80%; inter-relação de procedimentos clínicos: 100%; seminários apresentados pelos alunos: 60%; princípios de ergonomia, implante ósseo integrado, urgências no consultório dentário, terapêutica medicamentosa, pequenos movimentos dentários, atualização em materiais restauradores e manutenção dos resultados após reabilitação oral: 40%; e finalmente as aulas de traumatismo dental, sucessos e fracassos em Endodontia, uso do flúor, técnicas e interpretação radiográfica e Odontogeriatria foram citados por 1 faculdade como matéria teórica abordada em uma aula específica. 15. O bom professor de Odontologia: olhares de pós-graduandos Batista, S. H. S.*, Gorini, F. V. O estudo tem como objetivo analisar atributos do bom professor de Odontologia na ótica de pósgraduandos de um programa de mestrado em Ortodontia. O processo de coleta de dados envolveu 36 mestrandos, no período de 2001-2003, tendo os resultados sido apreendidos a partir da resposta dos pósgraduandos à questão: quais os atributos de um bom professor de Odontologia? As respostas, registradas Revista da ABENO • 4(1):75-98 79 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 por escrito, foram analisadas, em uma primeira fase, por freqüência e na segunda etapa, os dados foram trabalhados a partir da apreensão dos significados. Indicaram um total de 42 atributos, sendo o mais citado ter conhecimento teórico e clínico, vindo em seguida: apresentar boa didática, ser amigo do aluno, paciência, ser humilde e ter clareza nas exposições, aperfeiçoar-se constantemente, desenvolver o raciocínio crítico no aluno e ser simpático e outros que serão demonstrados no quadro anexo ao trabalho. A análise dos significados das respostas permite identificar que os atributos abrangem diferentes dimensões do ser professor: conhecimento de uma área científica; ensinar e formar em Odontologia e atitudinal. Estes achados convergem com o que é destacado na literatura, sinalizando que projetar um ensino em Odontologia inovador implica investir em experiências formativas que privilegiem a troca, a reflexão, a crítica e o exercício da autoria, configurando a docência universitária como uma profissão que se constrói nas interações entre aluno, professor e conhecimento. 16. Ensinar e aprender em Odontologia: a ótica de docentes Gorini, F. V.*, Batista, S. H. S. E ste estudo tem como objetivo analisar concepções docentes sobre ensinar e aprender em Odontologia. Os dados coletados compõem a pesquisa Docência em Odontologia: contribuições ao seu estudo. Em uma fase preliminar, realizou-se entrevistas semi-estruturadas com quatro professores da área de Odontopediatria, os quais atuam em cursos de graduação na cidade de Londrina. Os resultados foram tratados por meio da análise temática, buscando-se apreender os núcleos de significados presentes nas respostas dos docentes entrevistados. As concepções de ensinar parecem apresentar uma centralidade, por um lado, na transmissão das informações, revelandose uma grande preocupação com os conteúdos e informações a serem passadas aos alunos. Por outro, assumem como eixo o processo de troca entre professor-aluno, valorizando os saberes prévios, a relação com a prática e a relevância para a futura vida profissional do aluno. As concepções de aprender revelam, também, diferentes ênfases; um primeiro foco parece residir na relação aprendizagem e saber fazer, destacando o lugar da prática em Odontologia. Um segundo foco permite visualizar uma preocupação com o processo de construção do conhecimento, onde a troca, o diálogo, as interações assumem um lugar dife80 renciado. Num primeiro contato percebemos o quanto se faz necessário apreender as concepções destes docentes frente a novas diretrizes curriculares e mudanças na educação do ensino superior. 17. Projeto de reformulação curricular – um processo de ação coletiva Bastos, F. A.*, Pinto, V. M. M. T endo como objetivo analisar o Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia da ULBRA - campus Cachoeira do Sul/RS, este projeto, inicialmente, deuse pela formação de grupos de estudos de docentes, para embasamento teórico e formulação de estratégias de ação que, após feita discussão no grande grupo, foram definidos dois focos: 1) análise dos conteúdos programáticos das disciplinas, à luz dos programas estabelecidos, para aprofundar relações de interdisciplinaridade e racionalização de abordagem teóricopráticas e 2) inserção dos alunos dos primeiros semestres do curso nas atividades práticas dos semestres finais. Os resultados percebidos referem-se a uma melhor distribuição dos conteúdos programáticos e aos seus enfoques, a interdisciplinaridade como elemento norteador de todas as ações pedagógicas, a efetivação da integração de mais de 10 disciplinas, permitindo que os acadêmicos tenham uma visão ampliada do curso já a partir dos primeiros semestres. Conclui-se que, muito mais que um projeto acabado, é uma proposta em busca de mudança, razão pela qual serão incorporadas, durante a sua execução, as sugestões e críticas acontecidas nos seus vários momentos. 18. Ciências Odontológicas Articuladas: uma abordagem global de clínicas integradas Pereira, G. M*., Brito Júnior, M., Abreu, M. H. N. G., Giovannini, J. F. B. G. O presente projeto é fruto de uma prática social coletiva, de debates centrados no aluno como sujeito da aprendizagem superando a ação individual em favor da ação coletiva para a formação profissional, buscando sua formação integral através da articulação dos diversos conteúdos programáticos. O eixo norteador desta proposta é a construção de uma nova mentalidade na área de atenção à saúde, quando se entende que o perfil do cirurgião-dentista generalista somente será alcançado através do trabalho em equipe multiprofissional e de um modelo de atendimento integral e articulado. É ofertado ao graduando um Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 corpo de conteúdos em que os conhecimentos adquiridos são aprimorados em um conhecimento único, responsável por permitir que o atendimento seja realizado de maneira global nas Ciências Odontológicas Articuladas. O conhecimento então diferir-se-á daquele tradicional, fragmentado e desintegrado. O plano de tratamento elaborado pela equipe de professores e alunos é compatível com a realidade cultural, social e econômica do paciente, respeitando seus anseios e seu estado geral de saúde. A estrutura do sistema compõe-se de clínicas articuladas de atenção primária, secundária e terciária, sendo denominadas de Ciências Odontológicas Articuladas II, III, IV, V, VI, VII e VIII. As clínicas de Ciência Odontológica Articulada VIII acolhem os pacientes em sua chegada ao sistema, elaboram as etapas de diagnóstico e planejamento, fazem a referência dos mesmos em função de suas necessidades, e recebem esses pacientes pelas demais clínicas com a missão de reavaliação e triagem, quando for necessário, realizando em seguida, os programas de manutenção preventiva. Nas Ciências Odontológicas Articuladas, ocorre um fluxo contínuo de pacientes, onde de acordo com o período, aumenta-se o grau de complexidade do atendimento, incorporando novos procedimentos sem deixar de executar os procedimentos anteriores. Com isso apura-se a visão crítico-reflexiva do acadêmico, pois o mesmo passa a conceber planos de tratamentos integrais e aumenta-se a resolutividade do serviço. As clínicas articuladas visam dar ao futuro profissional vivência clínica a fim de que possa elaborar, após o correto diagnóstico, planos de tratamento globais e o atendimento de emergências odontológicas visando um profissional diferenciado. Estes conteúdos, portanto, diferem das disciplinas curriculares tradicionais, em que o ensino é fragmentado, desintegrado, contrário às tendências especializantes das demais disciplinas clínicas. 19. Ensino de Materiais Dentários nos cursos de graduação: a experiência do Centro Universitário Newton Paiva Giovannini, J. F. B. G.*, Silveira, R. R., Abreu, M. H. N. G., Pereira, G. M. O alcance da excelência na execução de trabalhos restauradores diretos e indiretos depende, dentre outros aspectos, de um adequado diagnóstico, planejamento e seleção do material restaurador. Assim, o desempenho dos materiais empregados na Odontologia pode ser previsto a partir dos conheci- mentos de sua estrutura e das rotas de processamento. Idealmente, os graduandos deveriam ser estimulados a concluir que variações nos preparos cavitários são justificadas pelas diferenças nas propriedades dos materiais selecionados para confecção das restaurações. De acordo com o Projeto Pedagógico do curso de graduação em Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, o conteúdo de Materiais Dentários é ministrado aos alunos do terceiro ao sétimo períodos, através de uma abordagem transdisciplinar, permitindo que os mesmos possam relacionar, em diferentes níveis de complexidade, os procedimentos restauradores, a preservação da estrutura dentária e a promoção de saúde, com os materiais indicados na sua execução. A equipe é formada por docentes que, além de formação específica em Ciência de Materiais em nível de pós-graduação, apresentam experiência clínica comprovada, já que atuam como professores nas aulas práticas que envolvem atendimento a pacientes e em seus consultórios. Esta característica favorece a melhor assimilação do conteúdo teórico pelo aluno, através da construção de exemplos práticos a partir da experiência clínica diária dos professores. Inicialmente, é proposta uma introdução aos procedimentos odontológicos, em que são trabalhados conceitos sobre os diferentes tipos de restaurações e as principais categorias de materiais empregados em sua execução. Nos conteúdos de Odontologia Laboratorial, os alunos recebem treinamento para a execução dos diferentes preparos cavitários, desde as restaurações diretas em materiais plásticos (amálgama e resina) até os preparos para restaurações indiretas (metálicas e estéticas) e próteses fixas e parciais. Simultaneamente a cada preparo, são abordados os aspectos referentes às propriedades e manipulação dos diferentes materiais envolvidos em sua execução. 20. Implementação dos Conselhos de Classe no curso de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Amaral, J. H. L.*, Telles, D. C., Silva, G. A. B., Massara, M. L. A. O subprojeto de Conselhos de Classe do Programa Acadêmico Especial (PAE) do Colegiado de Graduação da Faculdade de Odontologia da UFMG, tem o objetivo de integrar alunos, professores e funcionários técnico-administrativos ao processo de avaliação do Projeto Pedagógico. Busca-se identificar o nível de expectativa e satisfação dos alunos da graduação em Revista da ABENO • 4(1):75-98 81 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 relação ao curso de Odontologia, fazer reflexões sobre a prática pedagógica, discutir aspectos relativos às disciplinas, à interação professor/aluno/funcionário/ planejamento de ensino, à relação do aluno com as atividades de ensino e ao processo de avaliação de aprendizagem, e identificar os pontos negativos de relevância vistos pelos alunos. Na reunião subseqüente são, verificados os encaminhamentos relativos à reunião anterior. São elaborados pelos bolsistas do PAE, em parceria com o Colegiado de Curso, um instrumento de avaliação e indicadores para o acompanhamento dos Conselhos de Classe, além de material necessário para apresentação e esclarecimento aos alunos sobre a dinâmica e objetivos do encontro. Os membros dos Conselhos são: coordenadores das disciplinas do período ou seus representantes, um representante do Colegiado de Graduação, um funcionário técnico-administrativo e um aluno do período por disciplina. O bolsista do PAE do próprio período participa das reuniões, sendo responsável pelo acompanhamento da escolha dos representantes dos alunos pela turma. O mesmo bolsista faz um relatório de avaliação da reunião do Conselho, que posteriormente é discutido pela equipe do PAE e enviado para apreciação do Colegiado do Curso. Cabe ao Colegiado encaminhar o relatório aos setores diretamente interessados. A proposta de Conselhos de Classe já foi implementada no 4º, 5º e 7º períodos, que fizeram a primeira reunião e têm a segunda prevista para o final do presente semestre. Para o próximo semestre, estão agendadas as duas reuniões para as demais turmas entre o 4º e o 9º períodos. Com essa iniciativa, pretende-se congregar diferentes pontos de vista na construção do conhecimento sobre o projeto de ensino do curso, objetivando o seu aprimoramento. 21. Introdução e aplicação precoce do conceito de promoção de saúde bucal no ensino odontológico Miasato, J. M.*, Sampaio-Filho, H., Freitas, F. C. N., Barceleiros, M. C onsiderando que atualmente, as Diretrizes Curriculares estabelecem a necessidade da formação de profissionais generalistas, é importante que sejam introduzidos conceitos de promoção de saúde bucal que abordem o paciente de forma holística. Uma das barreiras para esta abordagem, é a fragmentação que existe na maioria dos cursos de Odontologia, ao estabelecer o ensino em várias disciplinas, atribuindo na maioria dos casos, à Clínica Integrada a tarefa de con82 jugar as várias disciplinas, introduzindo, então ao final do curso, o conceito de promoção de saúde integral. Dentre as justificativas apontadas tem-se que os graduandos dos primeiros períodos não têm conhecimento teórico e experiência prática suficiente. Assim, foi idealizado um projeto de introdução precoce em clínica de graduandos do 3º período do curso de Odontologia da FESO - Teresópolis/RJ, com o objetivo de cumprir um programa de promoção de saúde bucal integral, com a supervisão de uma equipe interdisciplinar. A recente implantação deste projeto, permite uma análise qualitativa inicial favorável, por parte dos alunos, professores e pacientes dos conceitos de promoção de saúde e adequação do meio bucal. 22. Estágio supervisionado como veículo de uma educação humanizadora em Odontologia no curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva Zocratto, K. B. F.*, Abreu, M. H. N. G., Matta, M. L., Silveira, R. R. A prática de uma educação humanizadora posiciona o homem como sujeito do processo de construção da cidadania e, desta forma, tem sido considerada como um veículo propulsor para a transformação da realidade. Este estudo tem como objetivo apresentar a estrutura dos conteúdos de estágio supervisionado em Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, tendo como base as Diretrizes Curriculares Nacionais e o Projeto Pedagógico institucional, mostrando sua ação como um veículo de transformação social. Sabendo a importância da formação de um profissional que apresente, além de conhecimentos técnicocientíficos, atitudes e valores correspondentes aos princípios éticos e de cidadania, a prática de estágio inicia-se no primeiro período do curso com a atuação do aluno como agente de promoção de saúde. As atividades são desenvolvidas, segundo normas de biossegurança e de acordo com o conhecimento teórico científico adquirido pelo aluno, seguindo um fluxo crescente de complexidade nos procedimentos realizados. O elo de ligação existente entre as atividades desenvolvidas em cada período com as do semestre subseqüente e o acompanhamento da população permitem aflorar e consolidar o compromisso de transformação social assumido tanto pela comunidade quanto pelo aluno dentro de sua prática. Desta forma, pretende-se contextualizar a aprendizagem através do contato com a realidade social. Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 23. Tutoria acadêmica do curso de Odontologia da UNIPAR - Universidade Paranaense - campus Cascavel e Umuarama Hoeppner, M. G.*, Bremm, L. L., Miura, C. S. N., Araújo, C. S. A. O novo conceito de educar fez com que as instituições de ensino superior (IES) mudassem os seus planos de atuação e transformação para a formação do profissional capacitado e qualificado a atuar atendendo as reais necessidades do mercado de trabalho. Dentro desta nova postura de ensinar, a tutoria surge como uma alternativa no intuito de criar um espaço educativo no qual se aprende a conviver em sociedade. Assim, foi colocado em prática o Programa de Tutoria Acadêmica, onde os alunos são assistidos e orientados por professores com o propósito de atender as suas necessidades, não apenas quanto à área de atuação, mas também quanto a problemas sociais, emocionais e/ou de adaptação, que possam comprometer a sua formação. Dessa forma, através da educação participativa voltada as transformações sociais, objetivamos a formação de profissionais críticos, adaptados e flexíveis às mudanças circunstanciais. 24. Conselho de Professores de Turma dos Cursos de Graduação em Odontologia da UNIPAR - Universidade Paranaense - campus Cascavel e Umuarama Hoeppner, M. G.*, Araújo, C. S. A., Prandi, L. R., Takejima, S. Y. O. C onsiderando que os resultados do processo pedagógico do ensino-aprendizagem não devem ser abordados somente do ponto de vista da nota, buscou-se normatizar as atividades do Conselho de Professores de Turma dos Cursos de Graduação em Odontologia da UNIPAR, que tem por objetivos: 1. colaborar no processo educativo dos alunos, de forma dinâmica, contribuindo para o aproveitamento dos estudos e tomadas de decisões dos envolvidos; 2. analisar e interpretar os resultados quantitativos e qualitativos da aprendizagem, os problemas relacionados ao processo de avaliação e propor soluções; 3. estabelecer interlocução entre alunos e professores; 4. analisar os problemas de relacionamento interpessoal entre alunos e professores e procurar saná-los; 5. analisar e propor soluções para problemas relacionados à freqüência e postura acadêmica; 6. durante o pe- ríodo letivo, discutir e apresentar propostas de ensino e avaliação discente referente aos conteúdos ministrados. Compõem o Conselho de Professores de Turma o coordenador do curso de Odontologia e todos os professores que ministram aulas no curso, para juntos analisarem o aproveitamento dos alunos matriculados no curso em relação a nota, freqüência, relacionamento interpessoal e postura; as informações sobre os conteúdos programáticos e metodologias de avaliação que possam comprometer o desempenho dos acadêmicos, e propor medidas para melhorar o aproveitamento dos acadêmicos em níveis qualitativos e quantitativos e o relacionamento interpessoal. 25. Programa de recepção e orientação aos novos acadêmicos do curso de Odontologia da Universidade Paranaense - UNIPAR - campus Cascavel e Umuarama Miura, C. S. N.*, Gomes, V. E., Bombonatti, J. S. F., Ceranto, D. C. F. B. O s acadêmicos ingressantes, em sua maioria, não têm a certeza de terem escolhido o curso certo. Para a teoria motivacional de Vroom (1964), a expectativa é a percepção por parte da pessoa sobre a probabilidade de que seus esforços atingirão os objetivos desejados e quanto maior se considera a chance de atingi-los, maior a motivação. Desta forma, o programa tem como objetivos: a) delinear o perfil motivacional dos acadêmicos ingressantes, através do levantamento de fatores que influenciaram sua decisão pelo curso de Odontologia; b) orientar os acadêmicos quanto às melhores formas de alcançarem suas expectativas no curso; c) apresentar as diversas áreas de atuação do cirurgião-dentista como fator esclarecedor e motivador, já que os acadêmicos não têm contato direto com aquilo que têm em mente do que seja o cotidiano do cirurgião-dentista. Espera-se assim, reforçar o mais precocemente possível a sua decisão, facilitando o processo de ensino-aprendizagem. O levantamento é realizado através de questionários específicos sobre os principais motivos que o influenciaram na escolha do curso seguido da verbalização de suas expectativas, da apresentação das disciplinas e ambientes especiais do curso. Os resultados preliminares permitem observar uma maior participação nas aulas e atividades extracurriculares. As dinâmicas permitiram uma maior interação entre docentes e discentes, o estabelecimento de um vínculo de confiança através da exposição voluntária de suas histórias pes- Revista da ABENO • 4(1):75-98 83 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 soais, suas motivações e incertezas. Os resultados deste levantamento alimentam as ações de apoio aos acadêmicos com dificuldades, abordado em projeto de ensino. 26. Utilização da ferramenta “Planejamento Estratégico” na elaboração de diretrizes de ensino, pesquisa e extensão, nos cursos de graduação em Odontologia da UNIPAR Universidade Paranaense Bremm, L. L.*, Miura, M. N., Gomes, V. E., Araújo, C. S. A. O planejamento estratégico é uma ferramenta utilizada na evolução e inovação nas empresas. Mesmo que a Universidade seja um local de geração livre de idéias, pode-se incorrer no risco de que o corpo docente atenha-se somente em atividades rotineiras, e à resolução de problemas sem um objetivo final claro a perseguir envolvendo ensino, pesquisa e extensão. A elaboração de um planejamento estratégico permite o direcionamento dos esforços do corpo docente a uma direção comum, ajuda a assegurar que a equipe não exerça atividades conflitantes e serve de base lógica para o planejamento de projetos e atividades acadêmicas. Permite que os objetivos do Projeto Político Pedagógico sejam atingidos mais facilmente com os membros docentes e discentes do colegiado do curso que se reúnem periodicamente para a elaboração conjunta do Planejamento Estratégico do Curso de Odontologia -campus Cascavel e Umuarama. Seguiu-se a seguinte metodologia: A) análise do ambiente interno e externo; B) estabelecimento da missão do curso, que é a proposta para a qual o curso existe; C) estabelecimento da visão estratégica, que é o referencial de crescimento em médio prazo; D) estabelecimento de diretrizes, que serão norteadores do processo; E) estabelecimento de metas estratégicas; F) planejamento de projetos e atividades que permitirão que as metas sejam alcançadas. O planejamento é compartilhado com os demais docentes e discentes para o comprometimento e compreensão dos esforços realizados pela equipe. O planejamento permitiu estabelecer um planejamento dos projetos atendendo a visão estratégica utilizando racionalmente os recursos disponíveis. 84 27. Interdisciplinaridade do curso de Odontologia da UNIPAR - Universidade Paranaense - campus Cascavel e Umuarama: relato de experiências Miura, C. S. N.*, Ceranto, D. C. F. B., Bremm, L. L., Hoeppner, M. G. O projeto de ensino “Seminário de Integração” foi criado com o objetivo de promover a integração entre disciplinas, professores e alunos, sendo de caráter permanente e de periodicidade anual. O objetivo é manter um processo de integração interativo onde os professores, alunos, funcionários e a administração do curso podem participar através de dinâmicas de grupos e espaços para discussões orientadas, organizando cronogramas, elaborando diretrizes e estratégias que visam a melhoria das condições de aprendizado. A metodologia utilizada foi o Metaplan, estruturada na forma de “painéis gigantes” que permitem a visualização dos conteúdos programáticos de todas as disciplinas. O preparo do painel é seguido de uma apresentação de cada disciplina e discussão onde são sugeridas as soluções pelo grupo. A inclusão do corpo docente, discente e administrativo no processo, permitem os integrantes se sentirem realmente parte de um grupo, já que participaram do processo, propondo e fazendo parte da solução. Os resultados obtidos até o momento permitiram a revisão e adequação dos planos de ensino de forma coerente cronologicamente e interdisciplinar, sem sobreposições ou lacunas de conteúdos importantes para o desenvolvimento do curso. O processo permitiu ainda o aumento da motivação dos participantes, pela valorização das pessoas envolvidas, integração entre docentes e disciplinas e pelo sentimento evocado de que muitos se comprometeram com o processo de melhoria do curso. 28. Sistema de avaliação de Clínica Integrada - UNB Paula, L. M.*, Araújo, V. M., Melo, N. S., Guimarães, M. C. M. A avaliação discente de um sistema de Clínica Integrada apresenta dificuldades além daquelas inerentes ao processo de avaliar. É necessário estabelecer requisitos mínimos ao profissional egresso, garantir formação técnico-científica de qualidade e desenvolver habilidades exigidas do cirurgião-dentista com formação generalista. O sistema anteriormente utilizado baseava-se em metas de produção e gerava no Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 aluno preocupação com o cumprimento de cotas e nem sempre, atenção integral ao paciente. No atual sistema, a avaliação diária das atividades práticas consiste nas modalidades qualitativa e quantitativa. A qualitativa inclui nota pela qualidade do procedimento e nota de conduta. Na quantitativa, afere-se para cada etapa do procedimento, pontuação preestabelecida e ao final do semestre, pelos pontos obtidos tem-se a nota quantitativa. Tem-se ainda as avaliações teórica e conceitual. O sistema atual de avaliação da Clínica Integrada tem propiciado ao aluno a abordagem integral do paciente e sem a exigência de cotas mínimas por área, incentiva a produção qualitativa e conclusão do tratamento. Após 3 semestres de implantação, temse mostrado positivo na avaliação docente e discente. 29. A pesquisa no ensino da graduação em Odontologia – dimensionando novos desafios Maltagliati, L. Á.*, Goldenberg, P. C onsiderando os movimentos de mudança no ensino universitário em curso, em particular na estruturação curricular, propomos construir a trajetória da pesquisa no ensino da Odontologia, visando situar o alcance de seu significado sob as novas Diretrizes Curriculares. Procedemos à periodização levando em conta a emergência da formação acadêmica, a Reforma Universitária e a institucionalização das novas Diretrizes Curriculares. Considerando os contextos sociais subjacentes aos períodos, destacamos concepções e estratégias de inserção da pesquisa nas orientações curriculares vigentes. A evidência histórica da pesquisa se dá pela Reforma Universitária, que propiciou uma experiência significativa na pós-graduação. A preocupação com sua expansão no âmbito da graduação assume novos contornos sob a nova LDB, para além da instrução científica, é preconizada a centralidade da pesquisa na organização curricular. A proposta da construção curricular sob a lógica da pesquisa emerge ao lado da instrução científica e aponta para a necessidade de considerar cenários de mudança, tendo em vista situar desafios e estratégias associados às condições concretas de sua implantação no ensino odontológico. 30. Avaliação do método auto-instrutivo no estudo dos erros na confecção das radiografias odontológicas Deluiz, L. F.* À s novas concepções de ensino/aprendizagem e propostas de educação odontológica corresponde a necessidade de criação e disponibilização de materiais educativos inovadores em diferentes formatos que levem o aluno a refletir sobre a produção do conhecimento e experiências. Este trabalho foi desenvolvido no intuito de avaliar a importância de um método de ensino, onde o aluno de graduação tenha condições de acessar a qualquer momento, com rapidez e agilidade, um importante assunto da disciplina de Radiologia Oral: “erros na confecção das radiografias”. A investigação foi feita aplicando-se a mesma aula expositiva sobre erros para os alunos de graduação do curso de Odontologia de quatro faculdades do Rio de Janeiro. Para isso foi entregue o CD-ROM desenvolvido para o grupo de alunos que utilizariam o material multimídia. Posteriormente foi feita uma avaliação para mensurar o resultado obtido pelo grupo que utilizou o CD-ROM e pelo grupo que não utilizou o método auto-instrutivo. A análise dos resultados demonstrou que o uso deste método auto-instrutivo associado ao método tradicional demonstrou ser eficaz, melhorando o desempenho dos alunos na interpretação radiográfica. 31. A visão do aluno e do professor sobre o processo ensino-aprendizagem Noro, L. R. A.*, Ferreira, M. E. M., Albuquerque, D. F. O presente trabalho procurou conhecer e comparar a visão de professores e alunos do curso de Odontologia da UNIFOR sobre o papel do professor no aprendizado do aluno. Para tanto foram entrevistados alunos do 9º semestre e professores de todas as áreas de conhecimento. As respostas foram categorizadas de modo a poder expressar a visão mais comum entre os dois grupos. Para a maioria dos alunos, bom professor é aquele enquadrado nas categorias “relacional” (54,3%) e “cognitivo” (42,9%). Já para a maioria dos professores, o bom aluno é aquele que se enquadra na categoria “motivação” (57,8%), relacionando o aprendizado do aluno a quanto o mesmo está estimulado para aprender. O aspecto cognitivo, apesar de ser entendido como importante por ambos, não foi considerado o mais importante para o desenvolvi- Revista da ABENO • 4(1):75-98 85 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 mento do processo ensino-aprendizagem. Ao considerar a motivação como o item mais importante para identificar um bom aluno, o professor transfere a responsabilidade do aprendizado exclusivamente para o aluno. Tendo em vista o grande valor que o aluno imprime à relação interpessoal, é fundamental que tal questão esteja presente na formação do professor. 32. Bioética: experiência de ensino multiprofissional na Universidade Estadual de Londrina/PR Nakama, L.*, Rezende, L. R. O curso de Odontologia da UEL oferece a disciplina especial de Introdução à Bioética, ofertada para alunos de Odontologia, Comunicação Social/ Jornalismo, Serviço Social e Física. Tem como objetivos: 1) proporcionar iniciação a princípios de ética filosófica e bioética aplicada; 2) fomentar a reflexão crítica na construção de indivíduos e comunidades éticas; 3) oportunizar a reflexão crítica entre diferentes cursos. A ementa é a seguinte: Fundamentos de ética e bioética; Bioética e direitos humanos; Bioética e ciência; Bioética e comunicação. A metodologia incorpora os fundamentos éticos de uma relação professor-aluno mais simétrica, a atenção à situações de vulnerabilidade, o respeito à pluralidade de pensamento, a responsabilidade individual e grupal. A disciplina de Bioética oportuniza um espaço acadêmico para além das disciplinas técnicas, e a vivência entre diferentes cursos é enriquecedora para a formação profissional e para o crescimento dos alunos, como pessoas e cidadãos. Consideramos, portanto, que ela consegue atingir os seus objetivos, mostrando que a Bioética é mais que um mero exercício de especulação acadêmica. 33. Estratégias para o desenvolvimento da criatividade na apresentação de trabalhos escolares Abreu, M. V. A.*, Silva, M. E. S., Resende, V. L. S., Silva, V. L. V. N os cursos de formação profissional são utilizados recursos pedagógicos a fim de propiciar condições para que o discente desenvolva a criatividade na apresentação dos trabalhos exigidos pelas disciplinas. Os cursos de Odontologia são voltados para atividades que exigem profundo conhecimento científico e apresentam poucas oportunidades de despertar, através de experiências criativas, o enriquecimento da 86 formação humanística do aluno. A construção da cidadania exige que o indivíduo tenha várias leituras dos elementos que envolvem a formação profissional. Essa integração abre novas perspectivas de trabalho e facilita a interação profissional-paciente. A Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais além de se preocupar com a boa formação profissional dos seus alunos tem agregado valores filosóficos com fundamentação pedagógica nas suas disciplinas, mesmo as mais específicas. Esse trabalho tem como objetivo apresentar estratégias técnicas pedagógicas para estimular o desenvolvimento criativo dos discentes e apresentar uma experiência do estímulo da criatividade na apresentação de trabalhos na disciplina de Radiologia. Radiografias intrabucais foram utilizadas como material técnico-científico. Elas foram interpretadas por duplas de alunos quanto ao tipo, região radiografada e falhas técnicas. Os trabalhos foram apresentados de forma tradicional (5%) e criativa (95%) e os apresentadores concorreram a um certificado de melhor trabalho na categoria criatividade. A seleção das melhores apresentações foi realizada por alunos que já haviam cursado a disciplina, funcionários e professores da faculdade. A variedade de trabalhos apresentados e o entusiasmo dos alunos em sua realização mostraram a importância da motivação para motivar a liberdade de expressão, mesmo em um assunto muito técnico. Conclui-se que a utilização da criação para o enriquecimento da formação do aluno é um instrumento de alto valor e serve de suporte para o estabelecimento de profissionais integrados à modernidade. 34. A utilização do tratamento restaurador atraumático - ART no programa realizado por equipes de saúde bucal na estratégia do Programa de Saúde da Família - PSF da cidade de Governador Valadares, Minas Gerais Figueiredo, M. C.*, Badaró, D. A., Cruz, I. C., Machado-Neto, M. D. E nfatizando a saúde da família como estratégia que incorpora diversos sentidos da integralidade da atenção à saúde em suas diretrizes básicas como: humanização, vínculo, responsabilização e a integração do ensino para a atenção integral em saúde, o presente trabalho tem como objetivo mostrar resultados após 2 anos da implementação de um programa de bases educativa, preventiva e curativa elaborado através de uma instituição de ensino FOUFRGS e realizado por Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 3 equipes do PSF de Valadares, MG. Foi realizado um levantamento em 11.108 crianças encontrando 177 casos de urgência, 961 extrações indicadas, 692 cáries extensas, 3.579 pequenas cáries, 5.699 sem lesões de cárie aparente. Estes serviram como ponto estratégico para a implementação deste programa que centralizou-se no ART pela sua eficácia e resolutividade no controle de doenças bucais, decidiu-se pelo incentivo da preparação e distribuição do fio dental feito de ráfia desfiada e esterilizada sempre priorizando o atendimento de grupos terapêuticos. Após 2 anos de implementação deste programa e capacitação dos profissionais nele envolvidos, adquiriu-se uma integração com toda a equipe de saúde da família, visto que todos estavam voltados para a diagnóstico e prevenção das doenças sistêmicas e bucais. Realizou-se: 11.742 consultas, 3.237 visitas domiciliares, 2.182 palestras, 10.317 escovações supervisionadas, 5.694 fluorterapias e 2.253 ARTs. Mudanças de paradigma sobre saúde, integração do ensino para a atenção integral em saúde, acesso da população aos serviços de saúde e redução dos índices de doenças bucais são fatos. 35. Atendimento odontológico aos pacientes com necessidades especiais da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS Figueiredo, M. C.*, Ferrão, M. A., Lima, G., Rosa, A. E xistem muitas dificuldades no atendimento a pessoa com necessidades especiais e estas tornam-se ainda maiores, quando tratamos de um setor bem específico da saúde, como é o caso da saúde bucal. Desta forma, a relação entre o dentista e o paciente especial deve vir acompanhada de uma série de preparos prévios específicos diante de toda a problemática apresentada por ele. No entanto, o atendimento odontológico direcionado para os especiais deve ocorrer de maneira espontânea, lógica e transparente, e, para que isto ocorra, o CD deve aperfeiçoar-se na área. Isto dará subsídios para obtenção do êxito, contribuindo verdadeiramente para que o tratamento seja integral e sobretudo humano. Mas a falta de profissionais capacitados para atende-los é fato. Deste modo, justificando a integração do ensino para a atenção integral a saúde destes pacientes, instituiu-se desde 1998, o curso de extensão universitária: Atendimento Odontológico aos Pacientes Especiais na Faculdade de Odontologia da UFRGS, que objetiva: oportunizar ao CD, a planejar, normatizar e executar o atendimento odontológico à estes pacientes, tanto em nível ambulatorial como hospitalar sob anestesia geral; dar ao CD condições de executar uma prática da promoção de saúde direcionada para este tipo de paciente através de manobras clínicas de natureza educativa/preventiva e restauradora; qualificar o CD para que proporcione um atendimento odontológico individualizado e especializado, e, por conseguinte, seguro para os pacientes. No curso de extensão universitária: Odontologia para Pacientes Especiais da FOUFRGS, nosso objetivo maior, é buscar caminhos inovadores, que possam nos mostrar um futuro melhor e mais digno para um mundo mais justo e mais igualitário. 36. Homem virtual: modelo anatômico 3D dinâmico aplicado para educação em Odontologia Malmström, M. F. V.*, Marta, S. N., Böhm, G. M., Wen, C. L. B uscando modernas ferramentas iconográficas para uso em educação, o Projeto homem virtual da Disciplina de Telemedicina da FMUSP está sendo aplicado na Odontologia pela USC, nos tópicos de Articulação Temporomandibular e Dentística. O Homem Virtual representa um método de comunicação dinâmica e dirigida que reúne de forma gráfica, interativa e dinâmica, uma grande quantidade de informações. A possibilidade de visualização em 3 dimensões, de estabelecer correlações anatômicas, de aplicar recursos de transparências e subtração (exclusão) de estruturas anatômicas, e inclusão de dinâmica funcional, o tornam numa iconografia inédita para transmissão de grandes quantidades de informações em curto espaço de tempo, aumentando a eficiência educacional dos alunos. Associado a simulações de movimentos fisiológicos e patológicos, e recursos terapêuticos, este recurso educacional proporciona a integração dos conhecimentos, desperta curiosidade dos alunos e aumenta a velocidade do aprendizado. A construção destas iconografias é resultante de um trabalho conjunto entre especialistas da área odontológica, com médicos especialistas em mídia interativa da Telemedicina e equipe de artistas gráficos. A tecnologia do modelo anatômico em 3D é importante para ensino presencial ou à distância e os dois projetos são um passo inicial da modernização dos recursos iconográficos educacionais utilizados na Odontologia. Revista da ABENO • 4(1):75-98 87 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 37. Trabalhar Sorrindo: articulação entre universidade e empresas por uma lógica de vigilância à saúde Rendeiro, M. M. P.*, Bastos, L. F., Souza, R. A., Jorge, R. R. A s transformações ocorridas no setor saúde, em função do progressivo processo de implantação do SUS e a necessidade de uma prática odontológica que integre cuidados individuais e ações voltadas para o coletivo, à luz dos mais recentes avanços científicos, tem conduzido à busca de estratégias que possibilitem atuar sobre a formação profissional. O objetivo deste trabalho é apresentar o projeto Trabalhar Sorrindo, estágio de extensão que privilegia atividades coletivas e individuais de promoção de saúde, desenvolvidas em espaços sociais, na lógica da vigilância à saúde, que reforça o entendimento do processo saúde/doença vinculado à vida e trabalho, extrapolando o biológico e pesquisa em serviço. Desenvolve-se pelo estabelecimento de parceria entre a RESITEC e a UNIGRANRIO, seleção dos bolsistas, apresentação da proposta para os diretores e funcionários, levantamento dos problemas, TRA, educação em saúde, escovação supervisionada, procedimentos realizados no próprio espaço da fábrica e encaminhamento dos casos de maior complexidade para a universidade. O projeto encontra-se em fase inicial, constituindo-se em novo e importante espaço para a prática e desenvolvimento da Odontologia. 38. Organizando o serviço como unidade educacional: avaliação da integração docência-assistência 97/99 Reis, J. M.*, Rendeiro, M. M. P. A Saúde Bucal/Rio inovou ao estabelecer parceria com universidades para o desenvolvimento de gestão compartilhada e implementação, acompanhamento, supervisão e avaliação de estágio visando compatibilizar o modelo conceitual com as propostas de atuação prática. O objetivo deste trabalho foi avaliar, após 2 anos, a integração entre academia e serviços e o entendimento dos acadêmicos quanto à proposta. Utilizou-se um questionário, com perguntas abertas e fechadas, aplicado aos supervisores dos serviços (n = 80) e aos acadêmicos (n = 380), após consentimento livre e esclarecido. 51% dos acadêmicos afirmaram não ter recebido informações sobre o SUS. Apesar de 98% considerarem importante a atuação educativa em saúde, 88% prefeririam ter maior carga 88 horária para procedimentos cirúrgico-restauradores. 87% dos supervisores dos serviços consideraram não haver integração com as universidades e somente 30% participou do planejamento das atividades. Foi possível concluir que ainda convivemos com uma realidade incompatível com as propostas da ABENO e MEC quanto a ampliação do campo do conhecimento e práticas de RH e sugerimos a inclusão do estágio nos serviços como parte do desenho do currículo. 39. Cybertutor: educação mediada por tecnologia na Odontologia Veronezi, M. C.*, Sgavioli, C. A. P. P., Böhm, G. M., Wen, C. L. O Cybertutor (tutor eletrônico) é um sistema computacional em Web, desenvolvido em ASP e MSSQL, pela Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP (DTM-FMUSP) e, é uma ferramenta interativa que permite aos alunos aprenderem conceitos teóricos de forma mais efetiva. Integra uma sistemática de aprendizado linear e estruturado com modelo construtivista, e dispõe de ferramentas que estimulam desenvolvimento da cognição, capacidade de expressão e síntese e estudo colaborado dos alunos, representados pelos ambientes de fórum de debates e tutorização on-line. O curso de Odontologia da USC estruturou dois cursos (Disfunção da Articulação Temporomandibular e Dentística) em conjunto com a DTM-FMUSP para modernizar as ferramentas educacionais para a graduação e estruturação de programas de aprimoramento continuado à distância, e têm como características a implementação de conceitos focando o estímulo do raciocínio, a otimização das atividades presenciais em capacitação prática e desenvolvimento emocional dos alunos para lidar com situações críticas. Além dos recursos interativos, os cursos caracterizam-se por terem 3 níveis de avaliação de conhecimento (avaliação interativa de reforço, desafio e aplicação clínica) que permitem aferir as aptidões em diferentes níveis de conhecimento. Por se basearem na Internet, estes cursos podem ser acessados de qualquer local. 40. O processo de trabalho no projeto FORP-USP no Disei-Xingu Mattos, M. G. C.*, Oliveira, C., Pacagnella, R. C., Junior, W. M. A oferta pública dos serviços de saúde bucal no Brasil teve um crescimento significativo nas décadas Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 de 80 e 90 quando se iniciaram movimentos institucionais precursores da formação do SUS. Entretanto, paralelamente a esses avanços, o País viveu uma crise da assistência à saúde, decorrente do esgotamento do modelo biomédico tradicional, fazendo ressurgir programas desenvolvidos segundo a lógica da abordagem da promoção de saúde e mostrando a necessidade de mudanças no processo de formação do profissional de saúde. A FORP-USP em convênio com a UNIFESP e o Distrito Sanitário Especial Indígena do Xingu (FUNASA) incluiu no novo currículo o Estágio Optativo: Saúde Bucal no Parque do Xingu, aos alunos do 3º e 4º ano de Odontologia. Este trabalho objetiva descrever através do olhar qualitativo e quantitativo as atividades de treinamento dos agentes indígenas de saúde e professores, visando a capacitação para o desenvolvimento das ações de promoção e prevenção à saúde com atividades de orientação sobre saúde bucal, distribuição de escovas e pastas dentais, escovação supervisionada, aplicação tópica de flúor gel na escova, além da adequação do meio bucal para todos indivíduos presentes nas aldeias. 41. Estágio supervisionado do curso de Odontologia: avaliação pelos professores das escolas a respeito das atividades em promoção de saúde realizadas em seu ambiente de trabalho Matta, M. L.*, Abreu, M. H. N. G., Silveira, R. R., Zocrato, K. B. F. S abendo-se da importância dos educadores de ensino médio, fundamental e infantil para a vivência dos alunos em um meio favorável à saúde, este trabalho teve o objetivo de conhecer a opinião destes profissionais a respeito das atividades em saúde bucal desenvolvidas pelos estudantes de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva. Do total de 47 educadores, 42 participaram da pesquisa (89,3%). Foram aplicados questionários estruturados e pré-testados a todos os educadores das escolas onde se desenvolve a disciplina de Estágios Supervisionados I, II e III do curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva. Todos os participantes (100%) consideraram importantes os projetos desenvolvidos, ressaltando a oportunidade do aprendizado com a prática e percebendo mudanças positivas para a saúde bucal dentre as crianças e adolescentes das escolas. As atividades realizadas foram consideradas ótimas ou muito boas por 35 (83%) participantes. Lembrou-se que estas são instrutivas, divertidas e inteligentes, me- lhorando até a auto-estima e o relacionamento com os professores. Apenas dois professores (5%) disseram que as atividades em saúde conturbam as aulas e 5 (12%) deixaram de responder a este questionamento. Vinte e dois professores (52%) disseram receber dúvidas dos alunos a respeito de saúde bucal freqüentemente e 38% ocasionalmente. Assim a grande maioria (93%) trabalha o conteúdo de saúde bucal dando seqüência ao trabalho desenvolvido pelos estudantes de Odontologia. Dentre os recursos mais utilizados foram citados livros, folhetos e revistas por 60% dos educadores e a exposição oral, por 57%. A maioria destes multiplicadores (62%) recebeu informações a respeito da saúde bucal apenas no ensino médio. Entretanto os mesmos sentem-se seguros em abordar estes temas, pois consideram haver uma boa integração com os estudantes de Odontologia. A opinião dos educadores evidencia que as atividades de saúde bucal, realizadas pela disciplina de Estágio Supervisionado, são consideradas relevantes para sua prática pedagógica. 42. As Diretrizes Curriculares Nacionais e os cursos paranaenses de Odontologia: processo de construção e perspectivas de implementação Melo, M. M.*, Almeida, M. J., Ivama, A. A Constituição Federal impôs ao SUS a função de ordenar a formação de recursos humanos na saúde como estratégia de consolidação. Com a publicação da LDB, iniciaram as discussões a este respeito e o Edital 04/97 da SESU/MEC, convocou as IES a apresentarem propostas para a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais. Assim, surgiu a indagação de como ocorreu a construção das DCN e como se deu a implementação nos cursos de Odontologia do Paraná. Utilizou o método qualitativo e os dados foram coletados por entrevista semi-estruturada das quais foram extraídas categorias analíticas e submetidas à análise de conteúdo. Os atores da pesquisa foram os coordenadores de cursos do Paraná e entidades que participaram da construção das DCN. Foi possível identificar processos mais maduros e ousados que outros mais na dependência de “forças” individuais, comprometidas com o SUS, do que propriamente mudanças institucionalizadas. Aponta a necessidade de reformulação nas pós-graduações stricto sensu, subsidiando os docentes universitários às novas práticas de ensino que são requeridas pelas Diretrizes. Destaca Revista da ABENO • 4(1):75-98 89 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 que as dificuldades encontradas têm a ver com as relações de poder existentes nas IES. 43. A extensão universitária na formação e integração do aluno de Odontologia Peloggia, M. C.* O objetivo deste trabalho foi realizar uma avaliação dos Projetos Extensionistas de Educação em Saúde Bucal da Universidade de Taubaté, desenvolvidos pelos alunos das disciplinas de Odontologia Social e Orientação Profissional de 2002 à 2004. Foram distribuídos questionários aos alunos participantes do programa a cada atividade abordando os aspectos da contribuição destes trabalhos na formação do próprio aluno, enquanto pessoa em relação ao próximo e enquanto futuro profissional; a problemática social como parte integrante da sua formação profissional; a identificação das condições regionais e a definição de um profissional preparado para trabalhar dentro dos princípios éticos e legais. Os resultados mostraram um envolvimento multiprofissional entre alunos, professores e profissionais das instituições envolvidas, contribuindo para a formação de novos saberes e novas práticas em saúde. Conclui-se que os alunos mostraram uma formação preventiva e humanitária, aptos a trabalhar em saúde pública, beneficiando a comunidade com programas de alcance social e com planejamento adequados interferiram nos problemas de saúde bucal da comunidade, criando um perfil de liderança na comunidade. 44. Extensão universitária versus Odontologia: uma avaliação de dez anos Peloggia, M. C.* E ste trabalho realizou um levantamento quantitativo dos serviços oferecidos a comunidade pelo Programa de Educação em Saúde Bucal da Universidade de Taubaté entre 1994 e 2004. Verificou o número de participantes; o número de consultas educativas e preventivas; o número de parceiros e instituições conveniadas além dos dados relativos ao sexo, faixa etária e necessidade de tratamento. Foram realizadas 32.379 consultas, 346 palestras educativas e preventivas, teatro, vídeos, gincanas para participação coletiva e entrega de livros de pintura e atividades, “folders” educativos e 363 atendimentos em unidade móvel. O número de parceiros chegou a 11. Ocorreu equilíbrio entre o sexo masculino e feminino, 47% e 53% respectivamente para 4 a 14 anos, 78% dos participantes. 90 De 15 à 75 anos, 62% do sexo feminino e 38% masculino, correspondendo aos 22% restantes. Dos participantes, 92% apresentavam entre 1 a 8 procedimentos acumulados. Foram envolvidas no programa 76 escolas, 3 asilos de 9 prefeituras. Conclui-se que o Programa Educação em Saúde Bucal, presta valiosa contribuição à saúde bucal da população, tendo grande valor na formação do perfil profissional dos alunos de Odontologia. 45. Detecção do câncer bucal: a prevenção ao alcance da população Castillero, M. E. M.*, Macedo, M. C. S., Ferrari, G. A., Genta, M. E. A. S abe-se que a prevenção tem papel fundamental na detecção e tratamento precoce do câncer bucal. Porém, é necessário treinar o profissional para um correto diagnóstico das lesões bucais, bem como munir a população de dados para que possa compreender a importância da prevenção e proceder ao auto-exame bucal. Para tal, foi desenvolvido um site contendo informações relevantes ao paciente numa linguagem de fácil compreensão, além de um plano de auto-exame pari passu, proporcionando um meio eficaz de alerta e prevenção das lesões da cavidade bucal. O paciente encontra referência a todos os centros de tratamento e orientações quanto a seus direitos no território nacional. De forma interativa, são disponibilizados questionários de preenchimento fácil e rápido para checar a compreensão do leitor ao final dos textos explicativos. A constatação do aprendizado é fornecida ao paciente após a realização do teste de conhecimento. Valendo-se do ensino à distância e da integração das áreas de Saúde, a Odontologia conta com uma ferramenta de abrangência nacional e de grande valia na prevenção do câncer bucal, que vem sofrendo um crescimento assustador no número de casos/ano/ Brasil. 46. Ensino à distância: munindo profissionais na prevenção do câncer bucal Castillero, M. E. M.*, Macedo, M. C. S., Ferrari, G. A., Souza, M. B. O conhecimento na área de Saúde caminha a passos largos e muitos profissionais não conseguem acompanhar sua evolução. As patologias bucais apresentam número alarmante de casos no Brasil e exigem um profissional atualizado na prevenção e detecção. Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 Sabendo-se que é fundamental o conhecimento das lesões da cavidade bucal para que se previna o desenvolvimento de lesões malignas e se institua um tratamento precoce, foi desenvolvido um site com informações para o público leigo e uma área exclusiva para os profissionais de Saúde como parte de um projeto de prevenção e diagnóstico precoce do câncer oral. Através do EaD utilizando o ambiente TelEduc é disponibilizado um curso que torna possível atualizar-se de maneira rápida e interativa. O profissional com dúvidas pode utilizar a teletriagem enviando os dados de seus pacientes, para obter uma segunda opinião no diagnóstico. É apresentada uma vasta galeria de imagens com descrição de características clínicas e tratamento fornecendo-as graciosamente aos interessados em participar deste trabalho de conscientização e prevenção do câncer bucal. A atualização do conhecimento através do EaD se faz presente neste projeto de prevenção do câncer bucal. 47. Superando a fragmentação na construção do sujeito – a percepção de docentes com formação em Saúde e Sociedade/USS Gouvêa, M., Brum, S., Casoti, E., Strazeri, C. O s docentes do curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra estão vivenciando a transição de uma grade curricular tradicional para uma nova matriz curricular a partir da redefinição do Projeto Político-Pedagógico da instituição. Assim, desde o 1º semestre do ano de 2004, temos operacionalizado este projeto, com permanentes reflexões sobre o papel do docente na qualificação do ser humano, visando orientar a formação de profissionais de Saúde comprometidos com o contexto político, econômico e social de nosso País. A nova matriz curricular pressupõe o abandono da concepção de disciplinas sob responsabilidade de diferentes equipes de especialistas e independentes sob o ponto de vista teótico-prático-metodológico. No caso da Saúde Coletiva, as disciplinas afins no antigo modelo consistiam de: Psicologia (1º período), Antropologia (2º período), Odontologia Social e Preventiva I (4º período), Sociologia (5º período) e Odontologia Social e Preventiva II (6º período). Com a implantação das mudanças, os novos alunos já iniciam a trajetória acadêmica discutindo o campo Saúde e Sociedade que os acompanhará por todo o curso. O trabalho envolve a convivência de discentes de variados períodos e uma equipe de 6 docentes com formação em Psicologia, Filosofia e Odontologia. São formados grupos de trabalho que partilham saberes e propõem medidas que possam implementar a construção coletiva do conhecimento. O trabalho nos grupos é orientado pela opção pedagógica da problematização e são utilizados os mais diversos recursos metodológicos atrelados à experiência individual e coletiva dos participantes. A articulação com o serviço é referência fundamental que norteia esse processo de aprendizado. Nesse projeto compartilhado, ensino-serviço, esperamos encontrar espaço fecundo e reconhecer diferentes encaminhamentos no sentido da saúde de todos. 48. Por que realizar o portfólio como instrumento de organização e documentação na Clínica Integrada do UNIVAG-MT? Salles, M. A.*, E. M. S., Frare, V., Cruz, F. K. F. A aprendizagem só é plenamente eficaz, quando criam condições para uma contínua e progressiva assimilação dos conteúdos estudados. Esta assimilação precisa ser qualitativa e seletiva, dada à complexidade e a enorme diversidade do conhecimento. O portfólio é um recurso de ensino que propicia ao estudante o desenvolvimento de competências para avaliação do seu próprio trabalho, e auxilia na construção do conhecimento, por proporcionar dados atualizados. O portfólio de simples aspecto composicional conhecido como processofólio a procedimentos que incluem, principalmente reflexões do estudante acerca do seu crescimento intelectual. Na Clínica Integrada os professores foram introduzindo aos poucos este método e principalmente delegando ao discente, o máximo de flexibilidade possível no processo, para que este tivesse condições de aprimorar suas habilidades e facilitar uma elaboração ordenada de conceitos. O estudante atual deve-se convencer que sua aprendizagem é uma tarefa eminentemente pessoal. Conclui-se que esta instituição está compromissada em demonstrar ao corpo discente e docente a necessidade de uma transformação acadêmica no âmbito de uma educação qualificada. Revista da ABENO • 4(1):75-98 91 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 49. Perfil do planejamento do conteúdo da Prótese Parcial Removível, disciplina Clínica Odontológica II, facilitando a práxis do estudante em Clínica Integrada do UNIVAG-MT Salles, M. A.*, E. M. S., Frare, V., Cruz, F. K. F. P lanejar diz respeito ao trabalho cognitivo de programação para qualquer empreendimento desenvolvido como um roteiro de métodos preestabelecidos e fundamentados na indicação ou contra-indicação de técnicas já conhecidas, base para orientar a execução do evento proposto. Essa atividade, quando direcionada à recuperação de pacientes parcialmente dentados com próteses parciais removíveis, é ampla e fundamenta-se nos conhecimentos pelos próprios parâmetros da Odontologia. Nessa fase conduzirá o estudante na Clínica Integrada a aplicar a práxis, exercitar seu raciocínio, calcado nos dados diagnósticos previamente colhidos para fazer a seleção correta dos elementos da estrutura metálica da prótese parcial removível. Através do diagnóstico, recomenda-se que sejam tiradas fotocópias dos modelos de estudo, para confecção do desenho da armação metálica. O desenho é essencialmente um plano de tratamento e deve ser realizado pelo estudante. Este, e não o técnico em laboratório, conhece o diagnóstico e para este fim foi orientado nas ciências fundamentais. Conclui-se que o ensino-aprendizagem se torna em resignificar aos métodos de integração de teoria e prática. 50. Perfil do aluno ingressante na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo em 2003/2004 Junior, O. C.*, Araújo, M. E., Rodrigues, A. F. O perfil do aluno que ingressa no curso de Odontologia é uma informação valiosa para as instituições. Em uma escola pública em que a seleção de ingresso é criteriosa esta informação pode servir para diferentes outras análises. Avaliamos informações dos alunos ingressantes na Faculdade de Odontologia na Universidade de São Paulo (FOUSP) em 2003/04 solicitadas no momento da inscrição. Analisamos os dados: 1) inscrição em outros vestibulares, 2) origem da escola dos alunos, 3) tempo de preparo para ingresso, 4) grau de instrução dos pais, 5) estado civil, idade, sexo e etnia, 6) renda familiar mensal, 7) número de pessoas na casa sustentadas pela renda familiar. Os resultados mostram que o aluno foi candidato a outras 92 universidades públicas paulistas (67% e 78%), que a maioria ingressou após 1 a 2 anos de estudos em cursinho sendo que 7% e 15%, estudaram mais de dois anos nestes cursos; os alunos vieram predominantemente de escolas privadas (51% e 67%), a maioria dos pais possui nível superior completo (42,% e 56% para os pais e 36% e 53% para as mães); são solteiros (97% e 97%), brancos (78% e 78%), do sexo feminino (77% e 62%) entram com 18 ou 19 anos na faculdade; a maioria da renda familiar mensal se encontra entre R$ 500,00 a R$ 5.000,00 onde se sustenta de 4 a 5 pessoas na família (68% e 71%). Podemos concluir, segundo a análise dos resultados, que apesar da renda se situar em uma faixa privilegiada, economicamente falando, não se pode caracterizar, pelo alto número de dependentes na família e pelo custo do curso odontológico, que os alunos da FOUSP sejam financeiramente privilegiados e que um fator importante para a aprovação no curso de Odontologia da FOUSP é a escolaridade dos pais. 51. Dinâmica de avaliações de docentes e de disciplinas na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo Crivello-Junior, O.*, Faljoni-Alario, A., Araujo, M. E., Rodrigues, A. F. A USP instituiu em 1995 o processo de avaliação de disciplinas realizada pela Câmara de Avaliação da Pró-Reitoria de Graduação. Este processo é conhecido como avaliação central. Como os resultados não são imediatos, muitos alunos não sentem estímulos para participar do processo. A resposta dos questionários é efetuada pela Internet. A avaliação continuada é avaliação realizada pela Comissão de Graduação da FOUSP. Tem um objetivo que a diferencia da avaliação central: os alunos que avaliam recebem as conseqüências da avaliação. Esta avaliação é realizada em duas etapas: no meio da ministração da disciplina avaliada e ao final. A resposta da primeira avaliação é tabulada e devolvida aos docentes em poucos dias. Na avaliação central os questionários contemplam aspectos relativos ao professores e disciplinas: presença do professor em aula, disposição em tirar dúvidas, respeito ao horário, incentivo às atividades acadêmicas e estímulo para formação do espírito crítico. Em relação às disciplinas perguntou-se: objetivos, carga horária, importância, suas relações com as outras e sua avaliação global. Na avaliação continuada os alunos opinam sobre a disciplina: organização; didática; número de Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 professores e aproveitamento do horário de aula; respeito e disponibilidade dos professores. Nas disciplinas clínicas questionamos as posturas éticas dos professores, a biossegurança e o número de pacientes atendidos. As avaliações na USP se complementam. Não se conseguiu criar a cultura da avaliação entre os alunos. 52. Estudo das características organizacionais dos cursos de Odontologia do estado de São Paulo Rodrigues, R. P. C. B.*, A. A. P., Saliba, N. A., Moimaz, S. A. S. O objetivo deste estudo foi analisar dados relativos à organização dos cursos de Odontologia do estado de São Paulo. As informações foram obtidas no site do Ministério da Educação. Os dados coletados foram digitados e analisados por meio do programa Epi Info 6.04. Pode-se constatar que atualmente existem 172 cursos de Odontologia no Brasil, dos quais 94 na região Sudeste, 30 na Sul, 25 na Nordeste, 12 na Norte e 11 na Centro-Oeste. A análise dos dados demonstrou que no estado de São Paulo existem 53 cursos distribuídos em 29 cidades, sendo 11 destes na capital. Quanto à categoria administrativa, 79,2% dos cursos são em instituições privadas e 20,8% em públicas. A maioria dos cursos adota o regime letivo semestral (67,9%) e turno de oferta de aulas integral (56,6%). Com relação ao número de vagas, a maioria dos cursos diurnos oferece entre 50 e 100 vagas (67,9%). No estado de São Paulo, 66,0% dos cursos de Odontologia tem duração de 8 semestres e 49,0% possui carga horária entre 4.000 e 5.000 horas. Com referência à organização acadêmica, 75,5% dos cursos são em universidades, 13,2% em faculdades e 11,3% em centros universitários. Constatou-se ainda que 27 cursos foram criados a partir da década de 1990 sendo que 11 destes iniciaram após o ano 2000. Com base nos dados analisados, pode-se concluir que o estado de São Paulo concentra a maioria dos cursos de Odontologia do País, oferecidos principalmente por instituições privadas, com notável aumento da criação de novos cursos nos últimos quatro anos. 53. Vivenciando o SUS no PSF de Campina Grande: um olhar acadêmico Lucas, R. S. C. C.*, Cavalcanti, S. D. L. B., Colaço, T. M. J. M. O componente curricular Estágio Supervisionado II do curso de Odontologia da Universidade Estadual da Paraíba, propõe na formação do aluno do 2º ano, uma fundamentação teórica acerca da evolução das Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil, além de noções básicas de Organização, Administração e Avaliação dos Serviços de Saúde do SUS/PSF. Durante todo um semestre letivo, os alunos freqüentam, um turno por semana, as Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) com o objetivo de vivenciarem a rotina de trabalho das Equipes de Saúde da Família, no âmbito da unidade e sua área de abrangência, nas zonas urbana e rural. Este trabalho tem o propósito de relatar a vivência de alunos do curso de Odontologia da UEPB, em estágio nas UBSFs do município de Campina Grande com preceptoria docente e dos cirurgiões-dentistas das unidades conveniadas. 54. Avaliação quantitativa e qualitativa em cursos de Endodontia Zaragoza, R. A.*, Ferrari, P. H. P., Santos, M. E ste trabalho se propôs a criar um banco de dados eletrônico para armazenar informações de natureza quantitativa e qualitativa relacionadas à Clínica de Endodontia, em nível de graduação ou pós-graduação. Na plataforma Microsoft Visual Basic foram criadas fichas clínicas que satisfizessem as necessidades da clínica endodôntica: exame clínico, procedimentos diários e obturações, além do arquivo de imagens. O acesso do aluno ao aplicativo era feito por meio de senha. Assim, ele preenchia todas as fichas clínicas relacionadas ao caso clínico em tratamento num terminal de computador. Todas as imagens eram digitalizadas, o retorno do paciente para controle era agendado e o tratamento qualificado pelo professor. Com base nas informações, é possível filtrar, classificar e emitir relatórios clínicos, de imagens ou gráficos. Assim, o acompanhamento dos alunos de um curso de graduação ou mesmo em cursos de extensão em Endodontia pode ser mais facilmente realizado e a evolução do aluno avaliada. Os resultados obtidos com 52 alunos no atendimento de 587 pacientes nos permitiram concluir que o banco de dados eletrônico ampliou as possibilidades de avaliação do ensino de Endodontia. Revista da ABENO • 4(1):75-98 93 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 55. Extensão universitária: o passaporte de conexão à comunidade Miguens Jr., S. A. Q.*, Balaguez, C., Radtke, A. M uitas mudanças têm ocorrido nas universidades brasileiras, visando uma adequação para melhor formação de profissionais. Devido à sua capacidade articuladora entre o ensino e pesquisa, a extensão tem cada vez mais espaço no âmbito acadêmico e social. O trabalho objetiva saber qual tem sido o papel desempenhado pela extensão nos cursos de Odontologia do sul do Brasil. A metodologia constou de revista de literatura e envio de um instrumento de coleta de dados aos cursos de Odontologia dos estados do RS, PR e SC. Dentre os resultados, destacou-se a presença da extensão na missão institucional, adequação de 75% dos cursos ao Sistema RENEX, o que estabelece linhas programáticas e organização; realização de atividades de promoção de saúde por 100% dos cursos e participação da comunidade no planejamento e execução das estratégias elaboradas. Concluiu-se que atividades extensionistas passam a ser prática e não teoria nas instituições, havendo transformação das ações antes assistencialistas para ações de promoção de saúde e comprometimento social. Também foi observada a necessidade do despertar das instituições quanto à função da extensão como meio de conexão à sociedade. 56. Projeto Agentes de Saúde Mirins: experiência interdisciplinar na prática da extensão dos cursos de Odontologia e Fonoaudiologia da ULBRA - CANOAS/RS S. A. M.*, Celeste, R. K., Delgado, S., Macedo, R. P. U m dos princípios da atividade extensionista é a formação de parcerias. Nessa idéia, os cursos de Fonoaudiologia e Odontologia estabeleceram parceria com a ONG Instituto Solidariedade, que desenvolve um projeto de estímulo ao esporte em associações de bairros. O projeto propõem metodologia participativa, com a construção conjunta das atividades. Assim, uma equipe de acadêmicos capacitados desenvolvem numa primeira fase oficinas com crianças (12 a 14 anos), com objetivo de prepará-las através de atividades como teatro, construção de jogos e organização de campanhas preventivas na comunidade. Na segunda fase, os agentes mirins já estão nos bairros como multiplicadores. Isso se dá pelas visitas domiciliares juntamente com os acadêmicos, explicando aos seus familiares, vizinhos e outros moradores tudo o que 94 aprenderam, além de distribuírem “folders” e kits preventivos criados pelos mesmos. A idéia de capacitar crianças da comunidade é uma atividade valiosa, pois possibilita a perpetuação das ações e conhecimentos transmitidos. Como atividade de extensão, ela amplia o campo de ação dos projetos e dos seus resultados. Além disso, as crianças passam a ser referências locais e lideranças. 57. Interação do ensino da Bioética, Sociedade e Pesquisa Costa, S. M.*, Dias, O. V., Canela, J. R., Drumond, J. G. F. A disciplina Bioética ministrada na Unimontes propicia um espaço crítico e reflexivo para a formação do profissional de Saúde. O ensino extrapola os limites da sala de aula provocando o encontro dos estudantes com a sociedade, na busca da contextualização da teoria e compreensão dos fatos. O trabalho objetiva apresentar a metodologia didática da disciplina, que propõe a interação entre ensino, sociedade e pesquisa. Os docentes elaboraram um projeto de pesquisa repensando e recriando as concepções pedagógicas da metodologia de ensino da Bioética. Os discentes de Odontologia, Enfermagem e Medicina desenvolveram pesquisas de campo utilizando questionários com temas bioéticos. A amostra foi constituída por líderes religiosos, profissionais da Saúde e membros da sociedade de Montes Claros, sendo 100 pesquisados por tema. Os resultados foram apresentados em seminários da disciplina e em eventos científicos. A metodologia didática viabilizou: o trabalho em equipe multiprofissional; integração ensino/pesquisa/sociedade; contextualização científica; reflexão e discussão dos valores morais e éticos da sociedade; iniciação científica e fundamentação para formação ética e humanística. 58. Banco de Dentes Humanos Decíduos e Permanentes da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Costa, S. M.*, Mameluque, S., Melo, A. E. M. A., Pires, C. P. A. B. A utilização dos elementos dentários é de extrema importância para o processo ensino-aprendizagem. A exigência de dentes no ensino trouxe à tona questionamentos éticos em torno do comércio ilegal de dentes humanos (compras de dentes em cemitérios e em clínicas particulares). Para suprir as necessidades Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 acadêmicas e eliminar ou minimizar o comércio ilegal, têm sido criados bancos de dentes humanos, onde são armazenados elementos dentários. O objetivo deste é apresentar o projeto Banco de Dentes da Unimontes. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unimontes. Toda documentação foi elaborada a partir das demandas e do contexto. Tem como propostas conscientizar acadêmicos, docentes e pesquisadores sobre a importância do elemento dental como órgão; auxiliar em atividades clínicas, pré-clínicas e de pesquisa; garantir a biossegurança. A implantação do Banco de Dentes é de extrema importância pois possibilitará à Unimontes fornecer aos alunos e pesquisadores, dentes esterilizados e adquiridos de forma ética e legal, promovendo a conscientização de todos sobre o tratamento ético e biosseguro a ser dispensado ao órgão dental. 59. A experiência hospitalar e o graduando em Odontologia Katayama, S.*, Sarno, G., Araújo, M. H., Bombana, A. C. D urante o curso de graduação na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, alunos têm a possibilidade de participarem de estágio supervisionado por professores da FOUSP e preceptores médicos do Hospital do Servidor Público Municipal. Os 5 alunos estão participando de 1 módulo de Pesquisa e Ensino e 4 módulos de atendimento em Clínica Médica; Moléstias Infecciosas; Cardiologia; e, Oncologia. A avaliação do módulo de Clínica Médica e Moléstias Infecciosas revelou que os alunos compareceram em todas atividades teóricas, participaram das discussões de casos, acompanharam o atendimento ambulatorial, de enfermaria e de internação de 15 pacientes HIV+, 11 diabéticos, 13 hipertensos, 4 cardiopatas, 3 portadores de carcinomas, 2 portadores de pneumonia realizando tratamentos odontológicos em nível do leito ou em ambulatório em associação ao médico. A totalidade dos pacientes qualificou o atendimento como ótimo. Paralelamente 4 pesquisas estarão sendo desenvolvidas. Resultados indicaram que alunos podem mudar sua visão frente aos pacientes com alterações sistêmicas, diante da possibilidade de entenderem o doente em sua integralidade. 60. Estágio supervisionado em Odontogeriatria: experiência dos alunos DA FACS/UNIVALE Rodrigues, S. M.*, Fernandes, E. T. P. A implantação do estágio supervisionado em Odontogeriatria ocorreu em março de 2002. Tem por objetivo realizar atendimento odontológico em indivíduos com 60 anos ou mais, com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e manutenção da saúde bucal, criando condições para melhoria da sua qualidade de vida e proporcionar aos acadêmicos enfoque nos estudos do processo de envelhecimento, bem como conhecimento a respeito da organização do ambiente físico para atendimento a este público. Participam acadêmicos do 4º ano de Odontologia da FACS/NIVALE, com supervisão direta de 2 professoras. São realizadas palestras educativas, orientação quanto a higienização das próteses/cavidade bucal e para o auto-exame, bem como procedimentos de atenção secundária e terciária. Este estágio proporciona inter-relação entre ensino, pesquisa e extensão, com enfoque multiprofissional e interdisciplinar envolvendo os cursos de Enfermagem, Fisioterapia e Turismo. Dados obtidos mostram que até 2003 foram atendidos 133 indivíduos de ambos os sexos e realizados 1.048 procedimentos. Conclui-se que o estágio proporcionou aos acadêmicos conhecimentos sobre aspectos fisiológicos e patológicos do envelhecimento contribuindo para a formação de indivíduos capazes de manejar com sucesso as transformações da estrutura etária da população brasileira. À partir dos questionários aplicados aos idosos que receberam alta, percebeu-se que o atendimento contribuiu não só para melhoria da saúde bucal, bem como para aumento da auto-estima e qualidade de vida. 61. Aspectos pedagógicos do curso de Odontologia da UEPB na avaliação dos discentes e docentes Colaço, T. M. J. M.*, Lucas, R. S. C. C. A valiar é uma tarefa difícil mas imprescindível nos setores educacionais. A UEPB instituiu reforma pedagógica em 1999 com mudanças no regime acadêmico para seriado anual e no processo de avaliação pedagógica. Após 5 anos se fez necessário avaliar o impacto das mudanças inseridas. O estudo objetivou avaliar o regime acadêmico e sistema de avaliação no Departamento de Odontologia através de consulta a professores e alunos. Utilizou-se formulário com ques- Revista da ABENO • 4(1):75-98 95 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 tões abertas e fechadas. Participaram do estudo 68,5% dos discentes e 80% dos docentes. O estudo apontou necessidade de mudança do regime de seriado anual para semestral por 58,7% dos discentes e 84% dos docentes. Com relação ao coeficiente de rendimento escolar 62% dos alunos sugeriram elevar para ≥ 7 seguidos por 96% dos professores. Quanto à avaliação 84% dos alunos acordaram em manter contínua em acordo com 80% dos professores. O estudo concluiu concordância entre docentes e discentes na proposição da mudança do coeficiente de rendimento escolar e manutenção da avaliação contínua. Com relação ao regime acadêmico apesar de ambos apontarem necessidade de mudança para seriado semestral, a opinião dos docentes obteve freqüência mais evidente. 62. O estágio supervisionado da Faculdade de Odontologia da UFMG: visão dos graduandos Santa-Rosa, T. T. A.*, Vargas, A. M. D., Ferreira, E. F. O estágio supervisionado (ES) na FO-UFMG é uma disciplina ofertada no último período da graduação. Apresenta objetivos e metodologia coerentes com as diretrizes do CNE, CSE e ABENO e é realizada na forma de internato rural ou metropolitano. O objetivo desse trabalho (COEP UFMG: ETIC 022/04) foi conhecer a visão dos graduandos do último período do curso acerca dessa disciplina, visando contribuir para sua melhoria e para a discussão sobre a importância do ES nos currículos odontológicos. A coleta de dados baseou-se em metodologia qualitativa através de grupos focais. A amostra foi constituída por alunos do último período de Odontologia, os quais participaram dos grupos em 2 momentos distintos: antes e após a conclusão da disciplina. Pela análise das discussões pôde-se constatar que para os entrevistados o ES é importante por lhes permitir trabalhar com autonomia, praticar técnicas e conhecimentos aprendidos, conhecer o funcionamento do sistema público de saúde brasileiro, vivenciar outras realidades socioeconômicas e culturais e perceber seu impacto na vida da população. Concluiu-se que os entrevistados julgam a realização do ES como importante para a sua formação profissional. 96 63. Percepção dos alunos de graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (FO-UFMG) quanto a Bioética conceitual e aplicada Santa-Rosa, T. T. A.*, Coelho-de-Souza, T. A., Zarzar, P. M. P. A., Ferreira, E. F. A Bioética tem sido ministrada nos cursos de graduação em Odontologia com objetivo de formar uma consciência ética apreendida e estimulada. Faz-se necessário que as universidades conheçam melhor a visão e representações dos alunos acerca da Bioética. Objetivou-se com esse estudo avaliar a percepção dos alunos da graduação da FO-UFMG quanto aos aspectos conceituais e aplicados da Bioética. A metodologia constou da aplicação de questionário a 80 graduandos da FO-UFMG (39 do 4º período e 41 do 8º período). O questionário constou de questões abertas e fechadas relativas aos conceitos, consentimento informado e Bioética aplicada na clínica odontológica. De acordo com os dados coletados constatou-se que os alunos do 4º período apresentaram maior conhecimento no que se refere à ética na pesquisa e que os alunos do 8º período apresentaram maior ênfase na prática profissional (aspectos legais). A importância da relação profissional-paciente foi mais considerada pelos alunos do 4º período. Provavelmente a ênfase do conhecimento técnico no decorrer do curso de graduação em Odontologia tenha proporcionado um distanciamento entre o pensar e o agir bioético nos futuros profissionais de Saúde. 64. Importância do acompanhamento longitudinal de pacientes reabilitados com implantes: metodologia aplicada no curso de especialização em Implantodontia da ABENO - SP Vianna, T. T.*, Riesco, M. G., Sartori, I. A. M. O objetivo desse trabalho é apresentar a elaboração de uma ficha de acompanhamento para estudo clínico longitudinal, a ser aplicada no curso de especialização em Implantodontia da ABENO - SP. Seguindo os critérios de avaliação, os dados coletados e orientados pela ficha avaliam: as especificações dos implantes como marca, comprimento, diâmetro, desenho, tipo de superfície, tipo de próteses (unitárias, múltiplas, sobredentaduras e próteses fixas de arcos totalmente edêntulos), as especificações protéticas como material da estrutura protética, tipo de parafu- Revista da ABENO • 4(1):75-98 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 so e intermediário selecionado, além da qualidade do tecido mole através de um índice dicotômico. Mensura-se a necessidade de ajuste oclusal e de aperto de parafuso. A satisfação dos pacientes frente ao tratamento, pontos positivos e negativos por eles relatados também foram levados em consideração. Foi apresentado uma análise qualitativa dos resultados preliminares. Essa ficha possibilitou aos alunos seguir um roteiro, evitando-se análises clínicas empíricas, possibilitando um estudo clínico de grande validade. A metodologia sugerida ainda pode ser aplicada tanto em centros de pesquisa como em consultórios particulares. 65. Avaliação do ensino de Odontologia: atendimento odontológico e promoção de saúde bucal Molina, V. L. I.* A abordagem atual do tratamento odontológico orienta-se pelo modelo de promoção de saúde bucal, que busca o atendimento holístico do cidadão. Neste contexto, programas odontológicos direcionados à comunidade são fundamentais para que se possa esclarecer a importância da saúde bucal e concomitantemente auxiliar o desenvolvimento de competências essenciais ao estudante de Odontologia. Assim, a proposta deste estudo foi avaliar o atendimento odontológico dos estudantes do 4º ano da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos (FOSJC) - UNESP, na Clínica Integrada, considerando a promoção de saúde bucal. Utilizou-se de entrevista diretiva com 93 pacientes submetidos a tratamento durante o 1º semestre de 2001, investigando o perfil do paciente, o tratamento odontológico e expectativas frente ao atendimento. Quanto ao perfil do paciente, a maioria é do sexo feminino; 45,2% casados; 46,2% consideram-se brancos; 64,5% com renda até R$ 604,00; 29,0% e 27,0% com ensino fundamental e ensino médio completos, respectivamente, e 82,7% utilizam o transporte coletivo para garantir o tratamento odontológico. Tratamento odontológico: 92,5% recebeu orientações sobre saúde bucal e 90,4% um plano de ação para a saúde bucal. Expectativas: os pacientes ficaram satisfeitos plenamente e recomendam o tratamento recebido para seus familiares e conhecidos, sob alegação de terem conquistado a saúde bucal. Entre o que definem como positivo está o atendimento pessoal (respeito, atenção, responsabilidade). A demora do tratamento e a quantidade de dentistas disponíveis foram apontados como negativos. Concluiu-se que o atendimento odontológico prestado pelos alunos, foi satisfatório quanto à promoção de saúde bucal, na percepção dos pacientes. 66. Feminização no mundo do trabalho: uma análise em representações sociais dos acadêmicos de Odontologia Molina, V. L. I.* O foco de análise é a inserção da mulher no mercado de trabalho odontológico e suas implicações paradoxais, a partir das opiniões e percepções de um conjunto de alunos do curso de Odontologia, da FOSJC/UNESP, em 2002, por meio da entrevista. Esta inserção é vista primeiro como uma conquista do espaço público, por tendências naturais do mercado; e depois, como diminuição da renda dos trabalhadores da Odontologia e desvalorização da profissão. A literatura aponta que as novas possibilidades de emancipação feminina são colocadas pela reestruturação do processo produtivo. As novas tecnologias exigem um novo perfil da força de trabalho, e isto vem ocorrendo no trabalho odontológico. Os resultados apontam que as características como intuição, flexibilidade, habilidade e a emancipação feminina são como responsáveis pela inserção da mulher no mercado de trabalho e se aproximam dos demais estudos. Segundo os acadêmicos, feminização significa organização, conquista social, sensibilidade, diminuição da renda, flexibilidade, responsabilidade. Os informantes não demonstram preocupação com a feminilização do trabalho odontológico, e definem como expectativas futuras a realização pessoal-profissional com formação adequada e atualização contínua para fazer frente às urgências próprias da profissão. 67. Avaliação anual das ações educativas-preventivas de uma clínica de bebês, instituída como um projeto de extensão de ensino em uma faculdade de Odontologia Simm, W.*, Provenzano, M. G. A., Fracasso, M. L. C., Rios, D. E ste estudo tem como objetivo apresentar o resultado anual de um programa de capacitação e treinamento de alunos de Odontologia, para atendimento educativo e preventivo em bebês. Foram 501 atendimentos executados por 24 alunos do Cesumar, Maringá - PR. Iniciou-se a clínica com 73 bebês e, ao final de 1 ano, permaneceram 62, com idade entre 9 Revista da ABENO • 4(1):75-98 97 Trabalhos aceitos para apresentação • XXXIX Reunião Anual da ABENO, 2004 e 16 meses. Nesses atendimentos eram feitos exame clínico, orientações, evidenciação de biofilme dentário e profilaxia. Os pais que não realizavam a higiene bucal em seus bebês (54%) passaram a fazê-la após o 1º atendimento, mas decorrido um ano, 48% ainda apresentavam dificuldades devido à falta de cooperação da criança. Ainda assim, 40% apresentaram ausência de biofilme dentário, com uma redução de 37%. Foram identificadas 14 manchas brancas por cárie, em 6 bebês, no entanto, 98% apresentaram-se livres de cárie cavitada. Hábitos de chupeta e dedo, inicialmente observados em 34% dos bebês, permaneceram após 1 ano. O programa foi efetivo na manutenção da saúde bucal nos bebês, ampliando a atuação dos futuros profissionais para uma abordagem preventiva mais precoce, com destaque no controle mecânico do biofilme dentário em atendimentos freqüentes. , o ã ç n e t A autores! 98 Revista da ABENO • 4(1):75-98 Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004 Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SINAES e dá outras providências. Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos O PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Fica instituído o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES, com o objetivo de assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus estudantes, nos termos do art. 9º, VI, VIII e IX, da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. § 1º - O SINAES tem por finalidades a melhoria da qualidade da educação superior, a orientação da expansão da sua oferta, o aumento permanente da sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a promoção do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais das instituições de educação superior, por meio da valorização de sua missão pública, da promoção dos valores democráticos, do respeito à diferença e à diversidade, da afirmação da autonomia e da identidade institucional. § 2º - O SINAES será desenvolvido em cooperação com os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal. Art. 2º - O SINAES, ao promover a avaliação de instituições, de cursos e de desempenho dos estudantes, deverá assegurar: I - avaliação institucional, interna e externa, contemplando a análise global e integrada das dimensões, estruturas, relações, compromisso social, atividades, finalidades e responsabilidades sociais das instituições de educação superior e de seus cursos; II - o caráter público de todos os procedimentos, dados e resultados dos processos avaliativos; III - o respeito à identidade e à diversidade de instituições e de cursos; IV - a participação do corpo discente, docente e técnico-administrativo das instituições de educação superior, e da sociedade civil, por meio de suas representações. Parágrafo único - Os resultados da avaliação referida no caput deste artigo constituirão referencial básico dos processos de regulação e supervisão da educação superior, neles compreendidos o credenciamento e a renovação de credenciamento de instituições de educação superior, a autorização, o reconhecimento e a renovação de reconhecimento de cursos de graduação. Art. 3º - A avaliação das instituições de educação superior terá por objetivo identificar o seu perfil e o significado de sua atuação, por meio de suas atividades, cursos, programas, projetos e setores, considerando as diferentes dimensões institucionais, dentre elas obrigatoriamente as seguintes: I - a missão e o plano de desenvolvimento institucional; II - a política para o ensino, a pesquisa, a pós-graduação, a extensão e as respectivas formas de operacionalização, incluídos os procedimentos para estímulo à produção acadêmica, as bolsas de pesquisa, de monitoria e demais modalidades; III - a responsabilidade social da instituição, considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural; IV - a comunicação com a sociedade; V - as políticas de pessoal, as carreiras do corpo docente e do corpo técnico-administrativo, seu aperfeiçoamento, desenvolvimento profissional e suas condições de trabalho; Revista da ABENO • 4(1):99-103 99 Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004 VI - organização e gestão da instituição, especialmente o funcionamento e representatividade dos colegiados, sua independência e autonomia na relação com a mantenedora, e a participação dos segmentos da comunidade universitária nos processos decisórios; VII - infra-estrutura física, especialmente a de ensino e de pesquisa, biblioteca, recursos de informação e comunicação; VIII - planejamento e avaliação, especialmente os processos, resultados e eficácia da auto-avaliação institucional; IX - políticas de atendimento aos estudantes; X - sustentabilidade financeira, tendo em vista o significado social da continuidade dos compromissos na oferta da educação superior. § 1º - Na avaliação das instituições, as dimensões listadas no caput deste artigo serão consideradas de modo a respeitar a diversidade e as especificidades das diferentes organizações acadêmicas, devendo ser contemplada, no caso das universidades, de acordo com critérios estabelecidos em regulamento, pontuação específica pela existência de programas de pós-graduação e por seu desempenho, conforme a avaliação mantida pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. § 2º - A avaliação dos cursos de graduação resultará na atribuição de conceitos, ordenados em uma escala com 5 (cinco) níveis, a cada uma das dimensões e ao conjunto das dimensões avaliadas. Art. 5º - A avaliação do desempenho dos estudantes dos cursos de graduação será realizada mediante aplicação do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes - ENADE. § 1º - O ENADE aferirá o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas Diretrizes Curriculares do respectivo curso de graduação, suas habilidades para ajustamento às exigências decorrentes da evolução do conhecimento e suas competências para compreender temas exteriores ao âmbito específico de sua profissão, ligados à realidade brasileira e mundial e a outras áreas do conhecimento. § 2º - O ENADE será aplicado periodicamente, admitida a utilização de procedimentos amostrais, aos alunos de todos os cursos de graduação, ao final do primeiro e do último ano de curso. § 3º - A periodicidade máxima de aplicação do ENADE aos estudantes de cada curso de graduação será trienal. § 2º - Para a avaliação das instituições, serão utilizados procedimentos e instrumentos diversificados, dentre os quais a auto-avaliação e a avaliação externa in loco. § 4º - A aplicação do ENADE será acompanhada de instrumento destinado a levantar o perfil dos estudantes, relevante para a compreensão de seus resultados. § 3º - A avaliação das instituições de educação superior resultará na aplicação de conceitos, ordenados em uma escala com 5 (cinco) níveis, a cada uma das dimensões e ao conjunto das dimensões avaliadas. § 5º - O ENADE é componente curricular obrigatório dos cursos de graduação, sendo inscrita no histórico escolar do estudante somente a sua situação regular com relação a essa obrigação, atestada pela sua efetiva participação ou, quando for o caso, dispensa oficial pelo Ministério da Educação, na forma estabelecida em regulamento. Art. 4º - A avaliação dos cursos de graduação tem por objetivo identificar as condições de ensino oferecidas aos estudantes, em especial as relativas ao perfil do corpo docente, às instalações físicas e à organização didático-pedagógica. § 1º - A avaliação dos cursos de graduação utilizará procedimentos e instrumentos diversificados, dentre os quais obrigatoriamente as visitas por comissões de especialistas das respectivas áreas do conhecimento. 100 § 6º - Será responsabilidade do dirigente da instituição de educação superior a inscrição junto ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP de todos os alunos habilitados à participação no ENADE. § 7º - A não-inscrição de alunos habilitados para participação no ENADE, nos prazos estipulados pelo INEP, sujeitará a instituição à aplicação das san- Revista da ABENO • 4(1):99-103 Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004 ções previstas no § 2º do art. 10, sem prejuízo do disposto no art. 12 desta Lei. § 8º - A avaliação do desempenho dos alunos de cada curso no ENADE será expressa por meio de conceitos, ordenados em uma escala com 5 (cinco) níveis, tomando por base padrões mínimos estabelecidos por especialistas das diferentes áreas do conhecimento. § 9º - Na divulgação dos resultados da avaliação é vedada a identificação nominal do resultado individual obtido pelo aluno examinado, que será a ele exclusivamente fornecido em documento específico, emitido pelo INEP. § 10 - Aos estudantes de melhor desempenho no ENADE o Ministério da Educação concederá estímulo, na forma de bolsa de estudos, ou auxílio específico, ou ainda alguma outra forma de distinção com objetivo similar, destinado a favorecer a excelência e a continuidade dos estudos, em nível de graduação ou de pós-graduação, conforme estabelecido em regulamento. § 11 - A introdução do ENADE, como um dos procedimentos de avaliação do SINAES, será efetuada gradativamente, cabendo ao Ministro de Estado da Educação determinar anualmente os cursos de graduação a cujos estudantes será aplicado. Art. 6º - Fica instituída, no âmbito do Ministério da Educação e vinculada ao Gabinete do Ministro de Estado, a Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior - CONAES, órgão colegiado de coordenação e supervisão do SINAES, com as atribuições de: I - propor e avaliar as dinâmicas, procedimentos e mecanismos da avaliação institucional, de cursos e de desempenho dos estudantes; II - estabelecer diretrizes para organização e designação de comissões de avaliação, analisar relatórios, elaborar pareceres e encaminhar recomendações às instâncias competentes; III - formular propostas para o desenvolvimento das instituições de educação superior, com base nas análises e recomendações produzidas nos processos de avaliação; IV - articular-se com os sistemas estaduais de ensino, visando a estabelecer ações e critérios comuns de avaliação e supervisão da educa- ção superior; V - submeter anualmente à aprovação do Ministro de Estado da Educação a relação dos cursos a cujos estudantes será aplicado o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes ENADE; VI - elaborar o seu regimento, a ser aprovado em ato do Ministro de Estado da Educação; VII - realizar reuniões ordinárias mensais e extraordinárias, sempre que convocadas pelo Ministro de Estado da Educação. Art. 7º - A CONAES terá a seguinte composição: I - 1 (um) representante do INEP; II - 1 (um) representante da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES; III - 3 (três) representantes do Ministério da Educação, sendo 1 (um) obrigatoriamente do órgão responsável pela regulação e supervisão da educação superior; IV - 1 (um) representante do corpo discente das instituições de educação superior; V - 1 (um) representante do corpo docente das instituições de educação superior; VI - 1 (um) representante do corpo técnico-administrativo das instituições de educação superior; VII - 5 (cinco) membros, indicados pelo Ministro de Estado da Educação, escolhidos entre cidadãos com notório saber científico, filosófico e artístico, e reconhecida competência em avaliação ou gestão da educação superior. § 1º - Os membros referidos nos incisos I e II do caput deste artigo serão designados pelos titulares dos órgãos por eles representados e aqueles referidos no inciso III do caput deste artigo, pelo Ministro de Estado da Educação. § 2º - O membro referido no inciso IV do caput deste artigo será nomeado pelo Presidente da República para mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução. § 3º - Os membros referidos nos incisos V a VII do caput deste artigo serão nomeados pelo Presidente da República para mandato de 3 (três) anos, admitida 1 (uma) recondução, observado o disposto no parágrafo único do art. 13 desta Lei. Revista da ABENO • 4(1):99-103 101 Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004 § 4º - A CONAES será presidida por 1 (um) dos membros referidos no inciso VII do caput deste artigo, eleito pelo colegiado, para mandato de 1 (um) ano, permitida 1 (uma) recondução. § 5º - As instituições de educação superior deverão abonar as faltas do estudante que, em decorrência da designação de que trata o inciso IV do caput deste artigo, tenha participado de reuniões da CONAES em horário coincidente com as atividades acadêmicas. § 6º - Os membros da CONAES exercem função não remunerada de interesse público relevante, com precedência sobre quaisquer outros cargos públicos de que sejam titulares e, quando convocados, farão jus a transporte e diárias. Art. 8º - A realização da avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes será responsabilidade do INEP. Art. 9º - O Ministério da Educação tornará público e disponível o resultado da avaliação das instituições de ensino superior e de seus cursos. Art. 10 - Os resultados considerados insatisfatórios ensejarão a celebração de protocolo de compromisso, a ser firmado entre a instituição de educação superior e o Ministério da Educação, que deverá conter: I - o diagnóstico objetivo das condições da instituição; II - os encaminhamentos, processos e ações a serem adotados pela instituição de educação superior com vistas na superação das dificuldades detectadas; III - a indicação de prazos e metas para o cumprimento de ações, expressamente definidas, e a caracterização das respectivas responsabilidades dos dirigentes; IV - a criação, por parte da instituição de educação superior, de comissão de acompanhamento do protocolo de compromisso. cação das seguintes penalidades: I - suspensão temporária da abertura de processo seletivo de cursos de graduação; II - cassação da autorização de funcionamento da instituição de educação superior ou do reconhecimento de cursos por ela oferecidos; III - advertência, suspensão ou perda de mandato do dirigente responsável pela ação não executada, no caso de instituições públicas de ensino superior. § 3º - As penalidades previstas neste artigo serão aplicadas pelo órgão do Ministério da Educação responsável pela regulação e supervisão da educação superior, ouvida a Câmara de Educação Superior, do Conselho Nacional de Educação, em processo administrativo próprio, ficando assegurado o direito de ampla defesa e do contraditório. § 4º - Da decisão referida no § 2° deste artigo caberá recurso dirigido ao Ministro de Estado da Educação. § 5º - O prazo de suspensão da abertura de processo seletivo de cursos será definido em ato próprio do órgão do Ministério da Educação referido no § 3° deste artigo. § 1º - O protocolo a que se refere o caput deste artigo será público e estará disponível a todos os interessados. Art. 11 - Cada instituição de ensino superior, pública ou privada, constituirá Comissão Própria de Avaliação - CPA, no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da publicação desta Lei, com as atribuições de condução dos processos de avaliação internos da instituição, de sistematização e de prestação das informações solicitadas pelo INEP, obedecidas as seguintes diretrizes: I - constituição por ato do dirigente máximo da instituição de ensino superior, ou por previsão no seu próprio estatuto ou regimento, assegurada a participação de todos os segmentos da comunidade universitária e da sociedade civil organizada, e vedada a composição que privilegie a maioria absoluta de um dos segmentos; II - atuação autônoma em relação a conselhos e demais órgãos colegiados existentes na instituição de educação superior. § 2º - O descumprimento do protocolo de compromisso, no todo ou em parte, poderá ensejar a apli- Art. 12 - Os responsáveis pela prestação de informações falsas ou pelo preenchimento de formulários 102 Revista da ABENO • 4(1):99-103 Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004 e relatórios de avaliação que impliquem omissão ou distorção de dados a serem fornecidos ao SINAES responderão civil, penal e administrativamente por essas condutas. Art. 13 - A CONAES será instalada no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da publicação desta Lei. Art. 15 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 16 - Revogam-se a alínea a do § 2º do art. 9º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e os arts. 3º e 4º da Lei nº 9.131, de 24 de novembro de 1995. Parágrafo único - Quando da constituição da CONAES, 2 (dois) dos membros referidos no inciso VII do caput do art. 7º desta Lei serão nomeados para mandato de 2 (dois) anos. Art. 14 - O Ministro de Estado da Educação regulamentará os procedimentos de avaliação do SINAES. Revista da ABENO • 4(1):99-103 Brasília, 14 de abril de 2004; 183º da Independência e 116º da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Tarso Genro Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 15.4.2004 103 Normas para apresentação de originais I. Originais - Os originais deverão ser redigidos em português ou inglês e digitados na fonte Arial tamanho 12 em folhas de papel tamanho A4, com espaço 1,5 e margem de 3 cm de cada um dos lados, perfazendo o total de no máximo 17 páginas, incluindo as ilustrações (gráficos, tabelas, fotografias etc.) ou no máximo 25.000 caracteres contando os espaços. II. Ilustrações - As ilustrações (tabelas, quadros, gráficos, desenhos e fotos) deverão ser limitadas ao mínimo indispensável, apresentadas em folhas separadas (papel) e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. As fotografias deverão ser fornecidas em mídia digital em no mínimo 300 dpi. As respectivas legendas deverão ser concisas e localizadas abaixo e precedidas da numeração correspondente. Deverão ser indicados os locais no texto para inserção das imagens. Nas tabelas e quadros a legenda deverá ser colocada na parte superior. III. Encaminhamento - Encaminhar para o endereço apresentado no item VI três vias do original de no máximo 17 páginas no total (incluindo ilustrações) e CD-ROM com dois arquivos, um arquivo com texto completo e outro arquivo contendo as ilustrações. Essa tarefa é facilitada pela documentação padronizada disponível no endereço: www. abeno.org.br (formulários para os autores). IV. A estrutura do original 1. Cabeçalho: Quando os artigos forem em português, colocar título e subtítulo em português e inglês; quando os artigos forem em inglês, colocar título e subtítulo em inglês e português. O título deve ser breve e indicativo da exata finalidade do trabalho. 2. Autores: Indicação em nota de rodapé de apenas um título universitário ou cargo que indique a sua autoridade em relação ao assunto. 3. Resumo: Representa a condensação do conteúdo, expondo metodologia, resultados e conclusões, não excedendo 250 palavras e em um único parágrafo. O resumo em inglês, deve, dentro do possível, acompanhar a apresentação do resumo em português. Deve ser centralizado e não há necessidade de colocar o título “Resumo”. 4. Descritores: Palavras ou expressões que identifiquem o conteúdo do artigo. Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5). 5. Texto: Deverá seguir, dentro do possível, a seguinte estrutura: a) Introdução: deve apresentar com clareza o objetivo do trabalho e sua relação com os outros trabalhos na mesma linha ou área. Extensas revisões de literatura 104 devem ser evitadas e quando possível substituídas por referências aos trabalhos bibliográficos mais recentes, onde certos aspectos e revisões já tenham sido apresentados. Lembre-se que trabalhos e resumos de teses devem sofrer modificações de forma a se apresentarem adequadamente, não só na forma mas como no texto, alterado na nova formatação, no número de páginas e em outras exigências de uma revista, em relação ao número de tabelas, fotos etc. b) Material e métodos: a descrição dos métodos usados deve ser suficientemente clara para possibilitar a perfeita compreensão e repetição do trabalho, não sendo extensa. Técnicas já publicadas, a menos que tenham sido modificadas, devem ser apenas citadas (obrigatoriamente). c) Resultados: deverão ser apresentados com o mínimo possível de discussão ou interpretação pessoal, acompanhados de tabelas e/ou material ilustrativo adequado, quando necessário. Dados estatísticos devem ser submetidos a análises apropriadas. d) Discussão: deve estar (ser) restrita ao significado dos dados obtidos, resultados alcançados, relação do conhecimento já existente, sendo evitadas hipóteses não fundamentadas nos resultados. e) Conclusões: devem estar baseadas no próprio texto. f) Agradecimentos (quando houver). 6. Abstract: Resumo do texto em inglês. 7. Descriptors: Versão dos descritores para o inglês. 8. Referências bibliográficas: Devem ser ordenadas alfabeticamente, numeradas e normatizadas de acordo com o Estilo Vancouver, conforme orientações do “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals” (http://www.icmje.org). As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o “List of Journals Indexed in Index Medicus”. V. Endereço - E-mail, fone e fax de todos os autores. VI. Encaminhamento de originais: 1. Pelo site (em breve) 2. Pelo correio: REVISTA DA ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico Universidade Católica de Brasília Curso de Odontologia Nova Sede QS 07 Lote 01 - Bairro Águas Claras CEP: 72030-170 - Brasília - DF. Revista da ABENO • 4(1):104