a gaivota solitária

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a gaivota solitária
Um olhar sobre o Mundo
UM OLHAR SOBRE O MUNDO
EXPLORANDO O UNIVERSO ASIÁTICO.
O homem mais primitivo, isto é, um mamífero da família
Hominidae, parece ter vivido no fim da época Pliocênica (Periódo
Terciário da Era Cenozóica). Nessa época que corresponde de 5,2 a 8
milhões de anos, surgem os primeiros ancestrais da espécie humana,
como os hominídeos do gênero Australopithecus (há dois milhões de
anos). A partir dessa forma primitiva, o homem evoluiu, através da
época Plistocênica até atingir a forma atual, conhecida cientifica-mente
como Homo sapiens sapiens.
Em 1982, K.N.Prasad, cientista indiano registrou a descoberta
de uma tosca ferramenta de pedra do tipo machadinha, na formação
Nagri, do Mioceno, nos contrafortes do Himalaia no norte da Índia. A
ferramenta foi datada em 1,8 a 2,5 milhões de anos. A ocorrência dessa
ferramenta de pedra em sedimentos tão antigos indica que hominídeos
primitivos como o Ramapithecus fabricavam ferramen-tas que
utilizavam para caçar.
Fósseis foram encontrados em diversos sítios arqueológicos na
África que demonstram a existência de primatas antropóides naquela
época.Os estudos científicos parecem indicar que todos esses fósseis
pertencem ao
mesmo
gênero
de
primatas
hominídeos
(Australopithecus).Os membros posteriores desses primatas sugerem
que eles possuíam a postura ereta e caminhavam com as duas pernas.
Provavelmente era um distante ancestral do homem moderno. Estavam
restritos à África tropical, onde podiam sobreviver, sem abrigo,
vestuário ou fogo.
O Homem de Java, assim denominado porque seus restos
fósseis foram encontrados na ilha de Java, na Indonésia, é um tipo
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primitivo (Pithecanthropus erectus), viveu há cerca de 500 mil anos
atrás, era caçador, utilizava o fogo e era capaz de fazer ferramentas
simples, de pedra e ossos.No Período Quaternário, em plena época
glacial do Paleolítico Inferior, há 460 mil anos viveu nos arredores de
Pequim, o “Sinanthropus pekinensis”,chamado de “Homem de
Pequim“, o fóssil desse Homo sapiens foi descoberto pelo cientista
chinês Weng Chungpei, em 1929.
A modificação na inclinação da Terra e da sua rotação, em
milhares de anos, alterou o clima dos continentes. A seca que se
prolongou por dois mil anos extinguiu as florestas e a vida animal da
África. Em virtude dessas mudanças o Homo Sapiens logo começou a
se espalhar além do seu lugar de origem, a procura de territórios mais
hospitaleiros na Europa e Ásia. Cerca de 400 mil anos atrás grupos de
seres humanos se estabeleciam na Ásia, até o Norte da China e se
estenderam em direção ao sul, na Ásia Central, Sibéria, Índia e Sudeste
Asiático.
O Homo Sapiens Neanderthalensis é o mais bem conhecido
homem pré-histórico, apareceu na Europa e Ásia há aproxima-damente
250 mil anos.Desde 1848, muitos fósseis foram encontrados em
diversas partes da Europa e do Oriente Médio. Vivia em cavernas,
onde também sepultava seus mortos. Para caçar empregava armadilhas,
armas de pedra e osso, e utilizava o fogo.Durante a Idade do Gelo,
grupos de caçadores seguiram para o norte, a fim de explorar a rica
vida animal das regiões das estepes da Ásia Central, alcançando a taiga
e tundra da Sibéria e o Novo Mundo.
O Homem de Cro-Magnon (Homo sapiens) apareceu na
Europa, no último Período Glacial, há mais de 40 mil anos.É um
ancestral do homem de hoje.Desenvolvido depois da última era glacial
da época Plistocênica, o homem atual é o resultado de um processo de
evolução realizado durante milhões e milhões de anos. Somente há
cerca de um milhão de anos, nesse curso prolongado da evolução,
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apareceu o primeiro ancestral no qual se podem identificar caracteres
humanos.
O Homo sapiens sapiens, o humano moderno apareceu no
final do Período Quaternário, inicio do Pleistoceno, surgiu no
continente africano entre 1,8-2 milhões de anos atrás.Todos os homens
e mulheres pertencem ao gênero Homo, à espécie Homo sapiens e
subespécie Homo sapiens sapiens. Eventuais variações genéticas são
mínimas e insuficientes para configurar diferenciações raciais. A
espécie humana pode ser dividida em raças, distinguidas umas das
outras por certas particularidades físicas. As raças são o conjunto de
indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, a
conformação do crânio e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são
semelhantes e se transmitem por hereditariedade.Todas as raças atuais
descendem de ancestrais comuns.
A população humana divide-se em três grupos raciais: o
Negróide (raça negra), o Caucasóide (raça branca) e o Mongolóide
(raça amarela). Num sentido geral, o continente africano é a região dos
Negróides; a Ásia, dos Mongolóides; a Europa dos Caucasóides. O
centro-leste da Ásia e particularmente a Região Chinesa é consi-derada
o torrão natal da raça Mongolóide. A variedade racial é enorme.Os
mongolóides, ou amarelos são os mais numerosos, abran-gendo
chineses, japoneses, mongóis, indonésios, siberianos, malaios.
Os caucasóides ou brancos ocupam a Europa, a Ásia Menor, parte da
Ásia Central, o Irã, o Afeganistão, o norte da Índia,o Turcomenistão.
A difícil adaptação ao clima hostil da época, levou a uma
evolução que fez com que o Homo sapiens chinês, adquirisse as
características que possui hoje: a cor amarela da pele, cabelos pretos,
grossos e lisos e olhos oblíquos. Em certa extensão a miscigenação de
povos tem ocorrido em todas as partes do mundo. As diferenças
biológicas entre as raças atuais são insignificantes
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Há a teoria que considera que as características culturais
humanas são determinadas por hereditariedade, pressupondo que há
algum tipo de correlação entre as características ditas “raciais” e
culturais dos indivíduos, grupos sociais, ou populações. Devido ás
contínuas migrações e conseqüente miscigenação com outros povos
tornam-se difícil definir antropologicamente as diversas raças.
REPÚBLICA POPULAR DA MONGÓLIA
Após as fortes emoções vividas na longa e proveitosa viagem
ao Arquipélago Malaio e países do Sudeste Asiático, os pesquisadores
Rodrigo, biólogo, e seu primo Álvaro, jornalista e cientista social,
voltaram para a casa dos pais, onde gozaram de um prolongado tempo
para descansar e curtir a vida. Apesar das contínuas cobranças e
rigorosos conselhos dos pais, nenhum dos dois se adaptou à monotonia
da vida no campo. Pois o seu espírito inquieto e aventureiro não lhes
permitiu que ficassem parados. Certa noite, Rodrigo sonhou que se
encontrava no Deserto de Gobi. Uma tempestade de areia vinha ao seu
encontro; logo a primeira nuvem de poeira começou a envolvê-lo.
Acordou assustado, e uma forte impressão ficou gravada na sua
memória. Quis transmitir esta emoção ao seu primo Álvaro. Resolveu
telefonar-lhe:
- Alô! Álvaro, meu amigo. O espírito da aventura voltou a
tomar conta de mim novamente. Esta noite, em sonho, estive na
Mongólia. Isto despertou em mim aquela vontade louca de viajar, de
estar de frente com o desconhecido. Vamos embrenhar-nos outra vez
neste mundo maravilhoso, cheio de enigmas, de mistérios! Você está a
fim de continuarmos na busca do nosso objetivo?
- Alô! Rodrigo! O convite é convincente, não tem como não
aceitar. Agora, depende da permissão dos nossos pais, se eles
autorizarem e liberarem a verba auxiliar, isto é, os cartões de crédito,
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voaremos para a Mongólia, para continuar as nossas andanças e
pesquisas – respondeu Álvaro, exultante.
Os dias foram passando; chegaram os festejos de Natal e Ano
Novo, veio a Páscoa e a resposta positiva dos pais para viajarem não
vinha. Eles estavam em dúvida. Rodrigo e Álvaro pediam, insistiam,
até que os pais Giovani e Conrado decidiram a favor.
- Podem viajar, se as pesquisas que vão realizar forem úteis
para enriquecer e ampliar os conhecimentos nas suas carreiras profissionais – deliberou Giovani.
Rodrigo sendo uma pessoa prevenida, fez os cálculos do
disponível para a viagem. Somou os proventos que recebia como
pesquisador na área de Ciências Biológicas da Universidade Federal do
Paraná, mais a Bolsa de Estudos com que fora contemplado pelo
governo chinês, no intercâmbio científico - cultural, com a finalidade
de estudar a biodiversidade da Região Chinesa e principalmente o
impacto ambiental causado pela atividade humana, no processo da
desertificação progressiva da região, tendo como referência os Pam-pas
Gaúchos e o Nordeste brasileiro.Para impedir este fenômeno o governo
Chinês, elaborou um plano conhecido pela designação de
”Grande
Muralha Verde”, um enorme anel de florestas plantadas, como uma
barreira para impedir a expansão da desertificação e tam-bém barrar as
tempestades de areia que ocorrem no norte da China.
Álvaro contava com a renda dos documentários e reporta-gens
enviadas a BBC. Tendo verificado e conferido os saldos de suas contas
bancárias, calcularam o valor suficiente para custear a viagem
projetada, e principalmente, contando com o apoio financeiro incondicional oferecido pelos pais de ambos,deram continuidade ao plano.
Era o início de abril de 2012.
Numa tarde amena de outono, os dois pesquisadores brasileiros munidos dos passaportes e demais documentos, de mochilas nas
costas,despediram-se dos familiares e amigos, e eufóricos embarcaram
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no avião da Tam em Foz do Iguaçu, via São Paulo, Los Angeles, rumo
à Beijin (Pequim) na China. Álvaro levava um Tablet presente do pai, e
Rodrigo um Smartphone, mesmo com essa nova tecnologia, não
deixaram de levar os notebooks,onde gravavam tudo.
Naquele dia memorável, Rodrigo aos 29 anos e Álvaro com
30 anos completos, lançavam-se em uma nova e emocionante aventura. A viagem de São Paulo à Beijin levou 28 horas de vôo. O avião
pousou no Aeroporto Internacional de Beijin ás 6 horas da manhã; os
dois viajantes estavam muito cansados, sonolentos, mas felizes.
O maior empecilho para eles era o da língua, pois eles não
entendiam o mongol nem o mandarim e dificilmente encontrariam
alguém que falasse inglês ou francês, apenas quem dominava as línguas
era o pessoal das áreas de turismo, dos departamentos públicos e hotéis.
No guichê de informações turísticas do aeroporto consultaram o agente
a respeito da viagem para Mongólia.
- As vias de comunicação na Mongólia são escassas. As
estradas pelo interior do país são em maioria de terra, só algumas são
asfaltadas.A capital Ulaan Baator está conectada à Estrada de Ferro
Transiberiana por um ramal da Transmongolian Railway que parte de
Ulan-Ude na Sibéria, cruzando a Mongólia passa pela região autônoma
mongólico-chinesa, segue até Beijin (Pequim).O aeroporto de Ulaan
Baator está unido com Beijin e Moscou, por serviço aéreo regular; bem
como algumas das mais importantes cidades da Mongólia tem a
comunicação aérea entre si pelas linhas domésticas. O transporte
tradicional por caravanas de camelos continua através dos caminhos
pedregosos do deserto de Gobi, mas aos poucos está sendo substituído
por Jeeps e caminhões.
- Vocês podem escolher o transporte que preferirem – disse.
Mas ainda por sugestão do agente, resolveram viajar de trem.
Após um breve descanso num pequeno hotel em Beijin (Pequim)
dirigiram-se para a Estação Ferroviária onde, com a ajuda do agente de
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turismo, adquiriram as duas passagens de primeira classe, e
embarcaram às 18 horas para a capital Ulaan Baator.
Escolheram a melhor opção que foi a de viajar de trem, pois
assim teriam oportunidade de conhecer, no percurso, o país que iam
visitar.O trajeto levou 32 horas, rodando pela Estrada de Ferro
Transmongoliana, parando nas pequenas estações onde centenas de
pessoas se acotovelavam para conseguir embarcar nas classes
populares.O povo levava de tudo, desde mudanças inteiras com
galinhas, cachorros,cabras, móveis e panelas. Era uma balburdia só.
Após uma noite inteira de trem atravessando o norte da China
chegaram à fronteira com a Mongólia, lá o trem ficou parado durante 5
horas para trocar as rodas do trem, pois o padrão chinês é diferente do
padrão
mongol.Na
fronteira
foi
necessário
apresentar
documentos.Resolvidos os trâmites burocráticos, enfrentaram mais 12
horas de viagem pelo deserto de Gobi.O trem chegou ao destino, Ulaan
Baator, por volta do meio-dia.Os nossos dois aventureiros estavam
sonolentos,exaustos mais cheios de expectativa e ansiedade. . Apesar
de cansativa, a longa viagem valeu a pena, pois a vista da janela do
trem lhes apresentou um mundo de cenários assom-brosos de
montanhas e desertos, de costumes exóticos do povo, observado nas
paradas das estações da estrada de ferro.O povo da Mongólia é muito
pobre. Eram modos de vida e usos que fugiam totalmente dos nossos
padrões. Desceram do trem carregando suas bagagens. Passaram pelo
Departamento de Imigração para controle de passaportes e vistos de
entrada, e liberados seguiram em táxi para o Hotel Genghis Khan
Holiday Inn, que já tinha sido reservado pela agência de viagens em
Foz do Iguaçu.
Feito o chek-in e já instalados em um bom apartamento no
hotel, tomaram um banho morno relaxante e pediram o almoço.
Alimentados, caíram na cama e dormiram até tarde. No momento
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oportuno Álvaro entrou em contato com a agência da BBC, para
confirmar o envio das gravações com às reportagens para o jornal.
Após o descanso, Rodrigo e Álvaro procuraram a recepção do
hotel para se informar da possibilidade de contratar um guia turístico
que falasse inglês para acompanhá-los na excursão pelo país. O gerente
do hotel, senhor Chin Lin, aconselhou-os para que procurassem na sede
da Universidade Nacional da Mongólia, uma pessoa capacitada para
essa missão.Ele mandaria um recepcionista acompanhá-los e apresentálos ao diretor da Faculdade de Geografia e História de Ulaan-Baator.
O diretor Batbold Elbeghor analisou atentamente o pedido e
indicou o professor licenciado Gaudhan Khulan para guia. Ele dispunha
de tempo e era conhecedor profundo do país. Por acaso, o professor
Gaudhan se encontrava na Secretaria da Faculdade, e não foi difícil
acertarem com ele as condições do trabalho, pois ele adorava viajar e
ficava feliz em poder transmitir à outros o seu conhecimento.
Acompanhados por ele, começaram no outro dia de manhã visitando a
capital Ulaan Baator (Herói Vermelho). O professor foi lhes explicando
as singularidades da cidade.
- Em Ulaan Baator, as tradições ancestrais e o culto budista
contrastam com a arquitetura stalinista herdada do período de influência soviética e com os traços de modernidade que hoje invadem esta
cidade isolada no coração da Ásia Central. Pode parecer exótico, mas
podemos encontrar habitantes locais vestidos com trajes tradicionais
nos dias comuns.
- Situada a 1.350 metros de altitude Ulaan Baator fica no
centro-norte do país. A cidade foi fundada em 1639, às margens do rio
Tuul.Com uma população de 1.240,048 (2011) è uma cidade moderna,
com hotéis, pousadas com internet, cafés, restaurantes, shopping
centers, lan-houses, bares, salões de beleza, comércio movimentado,
largas avenidas e grandes praças arborizadas. Caminhando pela calçada
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observaram a enorme estátua do herói nacional Genghis Khan situada
na Praça Central, e acolá a Estatua Pedestre de Buda.
Adiante se vislumbrava o Monastério de Gandantegchinlin e
o imponente Palácio de Inverno de Bogd Khan, e mais ao longe se
localizava o Memorial Natsagdori, a Academia de Ciência e Biblioteca,
o Templo Choyjin Lama, o Wedding Palace, o Banco Central, o
Parlamento, a Bolsa de Valores e as embaixadas: Britânica, dos EUA,
da Alemanha, da Polônia, da China, da Rússia. Distante 20 quilômetros
da cidade se encontra o Aeroporto Internacional Genghis Khan.
Visitaram o interessante Museu de História Natural, com
valiosa exposição de pedras preciosas e cristais de rocha coloridos,
como também fósseis de dinossauros e de outros animais do deserto e
das estepes. Próximo à Praça Sukhbaatar localiza-se o Museu Nacional
de História da Mongólia o qual visitaram, à tarde. Expõe armas e outros
utensílios de guerra da época de Genghis Khan. A visita foi elucidativa
a respeito da formação e unificação do país.
Por coincidência, naquela noite estava sendo apresentada uma
peça importante no Teatro Nacional Acadêmico, baseada na época da
ocupação chinesa; as entradas eram gratuitas, e os dois brasileiros
aceitaram o convite do guia para assistir ao espetáculo, que foi lhes
sendo traduzido ao desenrolar do drama.O clima estava ameno, pois
entrava o verão, que vai de maio a setembro, o clima nessa época é
muito quente, até abrasador.O inverno começa em setembro e vai até
mês de abril, época não propícia para excursões, a temperatura cai
muito, faz um frio intenso e tudo se cobre de neve.
No outro dia de manhã, sentados à mesa do desjejum, no
refeitório do hotel, o professor Gaudhan começou fazer a descrição da
Mongólia, delineando o território no mapa estendido diante deles.
- A Mongólia ocupa uma superfície de 1.566.500 km², possui
3.133,318 (2011) milhões de habitantes, com uma taxa de crescimento
populacional de 1,489 %, ao ano.Composição étnica de origem
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khalkha-mongol (90%) e diversas minorias entre cazaques, chineses,
usbeques e russos. Nos recentes testes de DNA dos mongóis,os
cromossomos Y provam de que 1% da população mas-culina é
descendente de Genghis Khan.A língua oficial é khalkha-mongol, mas
também se fala o cazaque, o chinês e o russo. A capital do país é a
cidade Ulaan Baator (1.240.048) habitantes (2011),outras cidades
importantes são: Ulaangom, Khovd, Olgii, Darhan, Erdenet, Baganuur,
Bayankhongor, Bulgan, Uliastai, Choybalsan, (44.367), Orkhon,
Mörön(114.000), Dalandzadgad, Sainshand, Baruun Urt.
- Em 1924,a Mongólia Exterior,se declara independente da
China e proclama-se como República Popular da Mongólia, torna-se a
segunda nação comunista do mundo. Em 1988, a China e a República
da Mongólia, firmaram o primeiro tratado para delimitar sua fronteira
comum, que se estende ao longo de 4.655 quilômetros. A Mongólia era
um país de economia socialista centralizada até o inicio da década de
1990.A constituição de 1992,aboliu os últimos vestígios do marxismoleninismo ao implantar um regime democrá-tico, parlamentarista,quando então se realizaram as primeiras elei-ções livres, a cada 4
anos.Reformas democráticas foram iniciadas, com a difícil conversão
para uma economia de mercado.Em 2009, foi eleito para presidente do
país Tsakhiagiyn Elbegdorj e para primeiro-ministro Bathold
Sukhbaatar.
Com uma altitude média de 1600 m acima do nível do mar, a
Mongólia é formada, na maior parte por vastos planaltos elevados,
situa-se no Centro-leste da Ásia, num território árido e distante do
mar,entre a República Popular da China ao Sul,e a Rússia (Sibéria) ao
Norte.No noroeste da Cordilheira Altai, a fronteira da Mongólia com a
Rússia e o Cazaquistão, as estepes áridas e cinzentas que cobrem quase
todo país se transformam em vastas planícies verdes dominadas pelos
nômades cazaques. Acima deles, eleva-se o Maciço Altai, um dos
grupos de montanhas mais inacessíveis do mundo, com o elevado e
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nevado Pico Belukha de 4506 metros de altitude. Entre as nuvens
aparecem os cinco cumes brancos, tendo o ponto culminante no pico
Nayramadlim que supera os 4.374 metros. Os cumes foram batizados
de Tavan Bogd Uul (Os Cinco Deuses).
- As Montanhas Altai, é uma cordilheira da Ásia Central que
ocupa territórios da Rússia, Mongólia, Cazaquistão e da China. Nos
altiplanos do Altai nascem os grandes rios da Sibéria, o Irtysh, Obi e o
Yenissei. A Cordilheira do Altai começa com as elevações em GornoAllaysk, na República Autônoma do Altai (Sibéria) a 52° graus Norte,
e entre 84° e 90° graus Leste funde-se com as Monta-nhas Sayan que se
estendem no sentido sudeste seguindo a fronteira China-Mongólia,
quando tomam o nome de Sayan Oriental, desde esse ponto começam a
perder a altitude gradualmente, terminando no Deserto de Gobi. A
Cordilheira Altai Mongólica forma a fronteira Noroeste da
Mongólia.Pinturas rupestres encontradas em algumas grutas do Altai
remontam a três mil anos atrás. Aqui as montanhas se alternam com os
vales fluviais e lagos, com estreitas passagens entre os maciços que no
passado eram utilizadas pelas caravanas da Grande Rota da Seda.
Outras cadeias importantes são o maciço de Khangai que se
estende desde a fronteira norte, ocupa o território do centro-oeste e se
ramifica alcançando o deserto de Gobi onde se confunde com as
montanhas do Gobi-Altai.Na Cordilheira Khangai nascem diversos rios
como o Orkhon e o Ider afluentes do Selenga, o Khanuy e è onde
também se iniciam os lagos Orog Nuur, Boontsagaan e outros.
O Maciço Khentii é uma cadeia de montanhas nas províncias
de Töv e Khentii no norte-nordeste da Mongólia. A cadeia estende-se
por 1,2 (um milhão e duzentos mil hectares), contorna a área protegida
Khan Khentii e inclui a mais sagrada montanha da Mongólia, a
Burkhan Khaldun.A montanha Burkhan é considerada sagrada, pois
segundo a tradição mongol, Genghis Khan teria nascido à sombra dos
seus picos gelados.Esta montanha é rica em vestígios arqueológicos
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históricos.São respeitadas como sagradas as montanhas Bogd Khan,
Burkhan Khaldun, Otgon Tenger, esta última estende-se por 95.500
hectares.As três montanhas repre-sentam valores sagrados e respeitados
desde os tempos remotos. Genghis Khan,no século XIII,considerou
serem as mais importantes das 16 montanhas da Mongólia, veneradas e
protegidas pela tradição.
- O país possui rios perenes e intermitentes, dos quais os mais
importantes são: o Selenga, rio que se origina da confluência dos rios
Ider e Delgermönön, á noroeste de Uliassutai, deságua no lago Baikal
na Sibéria, sua extensão é de 992 km, e sua bacia hidrográfica cobre
447.000 km². Seus afluentes da margem esquerda são os rios Egiin,
Dzhida, os da margem direita, o Orkhon, Khanui, Chikoy, Khilok,Uda
-.O rio Orkhon nasce na cadeia Suvarga Khairkhan nos
Montes Khangai, província de Övörkhanghay, a cerca de 650 km a
sudoeste da capital Ulaan Baator, no deserto de Gobi, e flui na dire-ção
norte por 1.124 km antes de se juntar ao Selenga. Os principais
afluentes do Orkhon são os rios Tuul, Tamir e Kharaa.Sua bacia
hidrográfica e de 132.835 km². A cerca de 350 km a sudoeste de Ulaan
Baator, na região onde corre o rio Orkhon, encontra-se o vulcão hoje
extinto, Bus-Obo com 1.944 m de altitude. É um cone vulcânico de
basalto e cinzas.Tem sua origem no final do Pleistoce-no há dois
milhões de anos.
- O rio Onon, nasce nos contrafortes leste das Montanhas
Khentii. Tem 818 km de extensão e bacia hidrográfica de 94.010 km².
Por 298 km corre em território mongol. Atravessa a fronteira com a
Sibéria, sua confluência com o rio Ingoda forma o rio Shilka.
- O rio Kerulen tem sua origem na cadeia Khentii, nos
contrafortes sul da montanha Burkhan Khaldun, a uns 180 km a nordeste de Ulaan Baator e com grandes voltas, corre na direção leste
atravessando a Província de Khentii, cruza a região oriental da estepe
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da Mongólia passando pelas cidades de Ulaan Ereg e Choybalsan
(80.150 habitantes em 2008).
Entra no seu curso final na China e deságua no lago Hulun
Nuur.Tem 1.254 km de extensão e uma bacia hidrográfica de 116.400
km².Em épocas de cheia o lago Hulun transborda e suas águas fluem
para o rio Argun. O rio Kerulen que normalmente deságua no lago
Hulun se converte então num afluente do Argun e passa a fazer parte
de um dos rios mais extensos do mundo, o sistema Kerulen-ArgunAmur que tem a extensão de 5.054 km e deságua no Mar de Okhotsk.
- A Mongólia, pode ser dividida em duas regiões. Ao longo da
fronteira noroeste se estendem as Montanhas Altai Mongólicas, que se
alternam com os vales fluviais e lagos.A maior parte dos 3.000 lagos
está reunida na extremidade ocidental encravada entre as montanhas
Altai e Khangai na zona dos lagos. Mongólia é um vasto planalto
girando entre 900 e 1650 m de altitude, acidentado por desfiladeiros e
paredões da Cordilheira Altai, que delimita o país, e que constitui
verdadeira barreira ao Nordeste. Entretanto, à Oeste é facilitada a
comunicação com paises da região como Cazaquistão, Turcomênistão e
a China, em particular, pelas estreitas passagens entre montanhas,pela
depressão de Dzungaria e o vale do rio Tarim.
- O país tem o clima desértico, continental, árido no Sul e
árido frio no Norte. O clima possui acentuada variação térmica anual.
A umidade é geralmente muito baixa e o sol é intenso Os invernos são
muito frios com temperaturas médias que variam entre -40° e -10° C. A
primavera e fria e seca e o verão muito quente, com temperaturas de até
45° C.em julho. No noroeste, nas encostas e níveis mais altos das
montanhas, crescem florestas boreais de coníferas, como pinheiros,
bétulas, abetos e lariços.
- As estepes da Mongólia são juncadas de tamaricáceas, de
gramíneas rasteiras, touceiras de grama dura e pequenos arbustos
espinhosos de galhos retorcidos, flora típica das estepes e desertos.
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Predomina uma vegetação pobre em variedade, são plantas que
conseguem se adaptar e sobreviver nos terrenos salinos em torno dos
pequenos pântanos.Logo eram raras as vezes em que pessoas coletavam
alguma fruta, como bagas e avelã. As pertinentes secas, as mudanças
bruscas de temperatura, as violentas tempestades atmos-féricas e a
grande salinidade do solo explicam a pobreza vegetal. Nos planaltos
mais elevados, a vegetação é escassa, sobrevivem apenas ervas e
arbustos resistentes à hostilidade do clima. No inverno, as estepes
ficam cobertas de neve, e a água dos rios congela.
- A pouca fauna mongólica resume-se em alguns marsu-piais,
raposas, martas e a doninha. Ursos pardos, tigres, leopardos da neve e
grandes matilhas de lobos, que estendem seu domínio até o vale do rio
Amur.A marmota, o esquilo e a lebre montês se sobres-saem entre os
roedores. Nas estepes vivem cabras, carneiro argali, antílopes, gazelas,
o camelo-bactriano (de duas corcovas), manadas de cavalos, asnos e
gado vacum.As pastagens estão sendo degrada-das pelas cabras, criadas
pelos nômades como fonte de lã cashmere.
- Os répteis e anfíbios são pouco numerosos e algumas
espécies como cobras e os escorpiões são muito venenosos. Os
abundantes lagartos do deserto rastejam do abrigo da sombra de uma
pedra para outra, nesse abrasante e petrificado mundo de rochas e areia.
No calor do verão surgem nuvens de moscas sugadoras de sangue, que
atormentam os animais e pessoas. As margens dos rios, lagos e
pântanos salinos aparecem enxames de insetos, libélulas, moscas,
pernilongos e milhares de borboletas coloridas.
- A estepe acolhe um número considerável de pássaros
adaptados ao clima rigoroso, tais como a coruja da neve, grous, pegas,
falcões, cotovia, o pardal, o faisão, o avestruz, abutre monge, o pato
cinzento silvestre e águias. Algumas águias e falcões são treinados
pelos nômades para caçar com seus olhos aguçados na vastidão dos
campos.Voando à frente do vento, no céu pálido e frio de outono,
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vêem-se longas filas de gansos selvagens que emigram para climas
quentes.O cavalo é um animal precioso e essencial para a vida nas
estepes, é usado como meio de locomoção em todas as ocasiões e
principalmente na guerra, são resistentes, ágeis e rapi-dos.Encontramse grandes manadas de cavalos selvagens pastando a erva dos
campos.O esterco seco dos animais domésticos, como cavalos, vacas,
camelos, serve como combustível aos nômades.
- A segunda região compreende a metade sul do país. Trata-se
de uma estepe semidesértica, com depressões pouco profundas, e a
imensidão árida e pedregosa do grande deserto de Gobi, com 1.295.000
km², que se estende por 1610 km de leste a oeste e 965 km de sul a
norte, através do sul da Mongólia e norte da China. Toda a região
meridional corresponde ao Gobi, enorme superfície arenosa, situada
entre 800 a 1.500 m de altitude.A vasta depressão está rodeada pelas
Montanhas Altai-Gobi à oeste, e no território norte da China, se
estendem as cadeias de Aerhchin Shan-mo, Pei Shan-mo e Yin-Shanmo e a cadeia de montanhas Qilian.
- O deserto de Gobi possui um clima extremo, marcado por
mudanças rápidas de temperatura, no inverno oscila entre -40° a-20º
Celsius e no verão entre 17° a 45° C As chuvas são escassas no oeste
do deserto e pouco mais freqüentes no nordeste.É constituído de
montanhas rochosas e por grandes extensões de dunas móveis de areia,
algumas chegam a 800 m de altura. O vasto planalto apresenta zonas
rochosas, enquanto que a porção oeste é completamente coberta por
areia., onde não faltam areias movediças e tempestades de areia,
comuns na região do Gobi chinês.Ventos intermitentes, de inusitada
violência, açoitam todo o espaço do deserto.No verão, ocorrem fortes
temporais.No Gobi não crescem árvores ou arbustos, no solo arenoso
medram apenas plantas cactáceas, ervas rasteiras e a vegetação halófila
(adaptada a terrenos salinos),que ocupa os pequenos pântanos salgados.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- O rio Kerulen é o maior rio permanente de Gobi. Os rios
intermitentes da região deságuam em pequenos lagos salgados ou
desaparecem na areia.No idioma mongol, “Gobi” significa “lugar sem
água”.A água é um recurso limitado e caro, para consegui-la cavam-se
poços profundos na areia, em sua volta formam-se os oásis, onde se
instalam os ghers.O deserto de Gobi limita-se ao norte e ao sul por
regiões de estepes onde pequenas tribos nômades que habitam a região,
praticam a criação de rebanhos de bovinos, caprinos, ovinos, cavalos,
camelos e yaques que são à base da economia tradicional. O clima
árido e a fragilidade do solo são fatores preponderantes para o processo
de desertificação em curso.
- Os desertos são áreas nas qual a evaporação da água excede
a precipitação de chuvas. As plantas dos desertos adaptam-se de vários
modos para sobreviver à seca. Depois de uma chuva, um deserto estéril
pode florescer repentinamente, cobrindo-se com milhares de variedades
de flores multicoloridas, que desaparecem
rapidamente após
produzirem sementes, hibernam até a primavera e a próxima chuva.
Entre elas são encontradas centenas de valiosas plantas medicinais. No
noroeste, nas encostas e níveis mais altos das montanhas, crescem
florestas boreais de coníferas, como pinheiros, abetos e lariços.
- O deserto de Gobi é conhecido no mundo da Paleontologia
pela riqueza e qualidade das suas jazidas fósseis, onde foram descritas
muitas espécies de dinossauros, lagartos, mamíferos e aves préhistóricas.Foram achados fósseis petrificados expostos na areia,a céu
aberto.O deserto de Gobi é considerado um dos maiores sítios
arqueológicos do mundo.O sudeste do Gobi e o norte do deserto de
Ordos fazem parte da grande bacia arenosa e de argila dura, coalhada
de pequenos lagos de sal, que ocupam a grande depressão que,
possivelmente, no passado, fazia o leito dum extenso lago salino ou de
um vasto mar interior.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Os pesquisadores Rodrigo e Álvaro decidiram explorar o
deserto de Gobi e suas zonas periféricas, seu sonho acalentado durante
muito tempo e uma das razões das suas pesquisas.Foram até a estação
Rodoviária em Ulaan Baator, felizmente era o dia em que o ônibus iria
fazer o trajeto até a cidade de Dalandzadgad,destino pretendido por
eles.Embarcaram no veículo lotado, que rodou por uma bem
conservada estrada asfaltada.A cidade se situa a 560 km da capital
Ulaan Baator. Foram 8 horas de viagem, pelo meio da estepe. Situada
na boca do deserto a cidade é chamada de “portal do Gobi”.
A antiga cidade de Dalandzadgad, com 18.740 habitantes
(2011) é a capital da Província Omnogovi que abriga 61.314 habitantes dispersos por 165.377 km² de deserto.É uma pequena cidade,
ventosa e isolada, mas proporciona ao viajante alguns confortos que
estão ausentes em outros lugarejos, como água quente, eletricidade e
algumas lojas para se abastecerem de alimentos frescos para a
viagem.Apesar da região ser pouco habitada, com o povo muito pobre,
o governo investiu na cidade em infra-estrutura moderna, com ruas
pavimentadas, água, eletricidade, comercio, pequeno aeroporto, hotéis,
restaurantes, lan-houses e estruturas destinadas à educação e a
tecnologia. Possui torres com sinal para telefones fixos e celulares e
conexão para Internet.
Os dois brasileiros estavam acompanhados pelo professor
Gaudhan Khulan.Logo após a chegada na cidade dirigiram-se ao setor
de informações turísticas.Procuravam um guia, homem respon-sável e
experiente em viagens pelo deserto.Foi-lhes apresentado Khentai
Kuriltuk,que correspondia às exigências.Combinado o valor da
remuneração,passaram a tratar da compra da provisão de alimentos e
água necessários para vários dias; alugaram 5 cavalos fortes e ágeis,
que montaram um tanto ressabiados.
Um cavalo levava a carga com provisões e a barraca de lona,
própria para camping.Pela manhã, despediram-se dos últimos confortos
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
da civilização e deixaram Dalandzadgad, acompanhados pelo guia.
Lançavam-se numa aventura de prazo indeterminado, à exploração de
lugares inóspitos por um dos territórios de menor densidade
populacional do mundo 1,7 habitantes por km², que continuam a viver
segundo a tradição nômade.
O grupo seguiu rumo sul para o interior do deserto de Gobi,
que a cada passo tornava-se mais árido, mais pedregoso. Na região
encontraram muitos fósseis marinhos, testemunho de épocas remotas
em que ali se situava um mar interior.Depararam-se com grupos de
camelos e rebanhos de cabras e ovelhas a procura do pasto ralo ou
alguma vegetação, espalhados pelo deserto.Cavalgando pela região,
encontraram um cenário geológico impressionante,“a Tsagaan
Suvarga”. Espalhados pelo território encontram-se centenas de cones
vulcânicos com cinzas basálticas de 300 a 1120 m de altura, datados
do Pleistoceno Superior e Holoceno.
Nos campos vulcânicos Gurvan Sayan Uul (Médio Gobi),
cerca de 900 km de Ulaan Baator, a sudoeste do Gobi, na Província de
Omnogovi, estão localizados sete picos com crateras vulcânicas,
algumas se elevando até 2.768 m acima.As formações rochosas
esparsas pelo deserto exibem crateras como bocarras escancaradas de
feras raivosas; são resquícios de vulcões extintos há centenas de
milhões de anos. Os vulcões possuem significado místico para os
mongóis, relacionado ao xamanismo e seus mistérios.
O grupo aproximou-se para apreciar melhor o fenômeno.
Rodrigo e Álvaro, com grande esforço, devido ao calor intenso, subiram ao topo da mais alta cratera;a vista daquela altura era impressionante, viam-se formações rochosas, dunas e mais dunas de areia.
- Oho!Oho! - ouviu-se o som do grito exultante da dupla,
tendo o eco repetido centenas de vezes na imensidão do deserto.
No horizonte distante observaram um acampamento de nômades. As tendas brancas revestidas de couro de boi, plantadas aqui e
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
ali na estepe, são elementos indissociáveis da paisagem.Por tradição, a
porta da habitação itinerante, que se monta e desmonta em menos de
duas horas, abre-se para todos: vizinhos, outros nômades, turistas,
viajantes,condutores.Um pequeno fogão portátil, aceso no centro, com
a chaminé saindo para fora da tenda, duas ou três camas, um ou outro
móvel, estas são as casas da metade da população mongol.Galoparam
ao encontro deles. Foram recebidos por um mongol sorridente que,
seguindo a tradicional hospitalidade dos nômades os convidou para
pernoitar no gher (tenda).Para o jantar foi lhes servida sopa de carne de
carneiro com macarrão.
Logo de manhã,os quatro cavaleiros agradeceram a cortesia e
seguiram adiante, pelo caminho que os conduzia pelo deserto.
Quando subiam por um terreno raso, depararam-se com uma
cena fantástica a sua frente. Viram um grande lago nevoento, azul e
violeta sombrio, num vale fundo, com as margens indistintas juncadas
de aglomeração de pedras, cor de púrpura escura.Ali estava ele,
flutuante, frio e perdido, com seus contornos nebulosos e pálidos, suas
águas tão paradas como a lâmina de um vidro.Havia algo de terrível no
aspecto daquela água remota e imóvel, que tinha a aparência de um
sonho no crepúsculo ardente. Imóvel mas fluida, parecia quase ao
alcance da mão, e logo de novo uma centena de quilômetros distante,
aprofundando-se e empalidecendo nos seus tons obscuros de turquesa e
ametista.
Suas margens confundiam-se e apagavam-se no terreno
arenoso e vermelho, sem vegetação. O lago não passava de uma
miragem do deserto, uma ilusão de ótica. Mas aparece em cada poente,
neste mesmo lugar, frio, imutável, os habitantes o chamaram de “Lago
Encantado”,e muitos tem perdido a vida tentando aproxi-mar-se
dele.Em pleno dia, com o sol a pino no céu, não há nada ali, a não ser a
planície de areia branca juncada de pedras esverdeadas.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Os rapazes caíram num silêncio pesado enquanto contemplavam o lago, cujo aspecto de um sonho fantástico se intensificava a
cada momento.Uma sensação confusa de horror se apoderou deles.
Rodrigo sentiu uma vontade irresistível de descer até o vale e chegar
perto do lago. Ele fixava as formações cônicas de pedra purpúrea
espalhadas pelas margens. Supersticioso, como todos os mongóis, o
guia Khentai advertiu-o do perigo que corria.
- Vamos embora – gritou o guia, - e sem esperar resposta,
esporeou o cavalo que galopou veloz pelo caminho.O céu flamejante
rapidamente empalideceu e apagou-se, e quase num piscar de olhos a
noite desceu sobre o deserto.Eles armaram o acampamento logo que os
últimos raios do sol se foram.Para o jantar o guia Khentai preparou um
cozido mongol, de carne de carneiro (ou de cavalo), macarrão e
verduras.Exaustos e sonolentos deitaram no chão da tenda, forrado com
tapete de couro de cavalo.
Mas no dia seguinte o lago misterioso foi esquecido, pois o
solo do deserto parecia um lençol enrugado de ouro puro ao sol
nascente e as colinas irregulares, tremeluziam contra o céu brilhante. O
vento incessante, ondulante e forte, soprava formando ondas sobre a
areia.O grupo cavalgava pela trilha entre os paredões de penhascos,
quando avistaram um oásis, verde, amplo e cheio de arbustos, onde
estava situada uma aldeia de muitos ghers. Khentai conduziu-os até a
gher do seu amigo Darham, o chefe da aldeia. Caminharam entre uma
multidão de mulheres curiosas, crianças seminus, cães ladran-do e gado
espantado, mugindo.
Na vastidão das estepes e dos desertos a hospitalidade dos
mongóis é marcante. Os quatro visitantes foram recebidos com grande
cordialidade pelo chefe Darham e pelas pessoas da comu-nidade. Foi
lhes oferecida água em bacias de alumínio para lavarem as mãos e os
rostos ardentes de poeira do caminho.A esposa do chefe Darham
serviu-lhes cúmis, e um cozido tártaro com pedaços de carne de
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
carneiro e cereais, e de sobremesa tâmaras turcas Durante a refeição o
anfitrião ofereceu vinho de leite, artesanal, a mais alta cortesia
mongol.A tradição das estepes não lhes permitia recusar essa gentileza
.À tarde houve uma grande festa, com jogos, competi-ções de arco e
flecha, lutas de bhok,e corridas de camelo e cavalo. Desse evento só os
homens participaram.
Quando a noite caiu e as fogueiras crepitavam, Darham
convidou os visitantes a conhecer a sua família, levou-os até a tenda
onde vivia com a esposa e a jovem filha Yessi. Ele chamou pelas
mulheres e elas apareceram na porta da tenda, tímidas e descon-fiadas.
Vestiam longas túnicas azuis da cor do céu; em volta da cintura de
Yessi havia uma serpente retorcida de prata, com olhos de topázio
vermelho. Sobre os ombros ela trazia um magnífico manto de pele de
marta. Seus cabelos pretos desciam-lhe até a cintura. Ela olhou para as
visitas com seus olhos pardos, oblíquos e seu olhar pousou no olhar
extasiado de Rodrigo.Um arrepio ardente percor-reu-lhe o corpo, e a
chama de fogo consumia-lhe o sangue jovem.
Rodrigo sorriu para ela, e nesse sorriso transpareceu todo o
ardor da juventude, então teve consciência do próprio desejo.Ele não
via nada exceto a beleza dela, seus lábios vermelhos entreabertos, como
que pedindo beijo.O encantamento dos dois não passou des-percebido
pelo pai Darham. A filha Yessi era sua jóia preciosa. Seria conveniente
casa-la com estrangeiro, talvez lucrasse muito na transa-ção. Nesse
caso, falou o instinto interesseiro do nômade mongol.
Examinou a filha com olhar crítico, avaliando-a, como se ela
fosse uma potranca que tencionava vender, e então se voltou para o
amigo Khentai, (o guia e interprete mongol), levou-o para o lado e fez a
proposta. Daria a filha em casamento ao estrangeiro e como dote queria
o notebook do Rodrigo, pois estava encantado com o poder da
máquina.Tinha visto o moço utilizar o notebook para gravar a pesquisa
feita no local. Sem suspeitar do que se passava na cabeça do inculto
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
chefe mongol, Rodrigo mostrou ao curioso homem e a seus amigos, o
alcance da Internet e as demais propriedades dessa maravilhosa
maquina. Khentai, passou a proposta do chefe Darham ao biológo
Rodrigo, que surpreso e indignado, respondeu:
- Mas que proposta maluca é essa.Eu não tenciono me desfazer do notebook que é minha ferramenta de trabalho e também não
posso me casar, pois sou noivo na minha terra.Sinto muito decepcioná-lo chefe Darham, mas eu não posso aceitar a sua proposta. A sua
filha merece muito mais, é uma jovem e bela moça, merece um
casamento de sua escolha e um noivo que a ame.
Depois desse desfecho imprevisto, o chefe Darham tornou-se
grosseiro, mostrou má vontade em relação aos visitantes e ao seu
amigo Khentai.O grupo resolveu despedir-se e seguir o seu caminho.
Como já era noite avançada, aceitaram a oferta de um dos moradores
da aldeia.Alugaram dele um gher,que era destinado para turistas. Tinha
tapete de couro no chão servindo de cama, a comida estava pronta, era
o que precisavam.Assim que o dia clareou foram embora.
Com a morosidade de viajar a cavalo e as dificuldades que
surgiam a cada passo os pesquisadores brasileiros não desistiam de
explorar o Gobi. Os cavalos trotando pelos caminhos pedregosos outras
vezes afundando na areia, chegaram às gigantescas dunas de areia de
Khongoryn Els, que se estendem por mais de 100 km, com altura de
até 800 m, impressionam qualquer pessoa.Uma família de nômades
instalada no sopé das dunas recebeu-os alegremente.Havia camelos
para quem quisesse conhecer as dunas no dorso dos resistentes
criaturas.Mas Rodrigo e o guia Khentai atreveram-se a escalar o topo
num quadriciclo Yamaha, emprestado no camping próximo; a vista de
cima era espetacular. É um lugar ermo, afastado de qualquer povoação,
só apareciam de quando em quando pequenos ghers de pastores
nômades, isolados, no meio do nada.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Por sorte, mesmo um tanto distante, encontraram um acampamento turístico, (camping) com vários ghers, com banheiro, um
bem-vindo chuveiro e um restaurante; passaram a noite num desses
gher-camp.Com o calor de 40° C. ao entardecer era impossível pensar
em acampar na tenda de lona que levavam. Assim, já desperto ao raiar
do dia, Rodrigo chamou Álvaro para trocar uma idéia.
- Que tal se voltássemos à Dalandzadgad, onde poderemos
trocar o meio de transporte, no lugar de cavalos vamos alugar uma
dessas caminhonetes japonesas 4x4, modelo militar, adequadas para
terrenos difíceis, com motorista experiente em viagens pelo deserto?sugeriu Rodrigo.
- Ora! Isto seria a melhor solução para as dificuldades que
temos, reconheço que viajar a cavalo nestes ermos,enfrentando o ca-lor
sufocante o dia todo, está sendo impraticável – observou Álvaro.
Resolveram voltar. Chegando à cidade dispensaram o guia
Khentai Kuriltuk e seus cavalos, pagaram-lhe o valor combinado. Na
cidade foram a procura do veículo e do motorista. No setor de
informações do hotel onde se hospedaram, foi lhes indicado o senhor
Sanchir Yijn, motorista qualificado e responsável, que possuía uma
caminhonete de aluguel, conveniente, e estava disposto acompanhá-los
na excursão pelo deserto. Após alguns ajustes da remuneração Sanchir
foi contratado. Abasteceram-se dos itens necessários para a longa e
difícil viagem, de alimento que acondicionaram num isopor com gelo,
noutro colocaram várias garrafas de água, encheram os dois tanques de
gasolina e no dia seguinte enfrentaram a estrada poeirenta, esburacada
e pedregosa.
Mudaram de direção, seguiram para o sudoeste conhecer o
Parque Nacional de Gurvansaikhan, que se situava perto da fronteira
chinesa, a 340 km da cidade de Dalandzadgad, capital da Província de
Omnogovi; é um dos poucos parques importantes no deserto de Gobi,
com infra-estrutura adequada com iluminação solar,internet e televisão,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
boa habitação e estradas de acesso. Criado em 1993, possui uma
superfície de 26.947,37 km².O percurso revela um cenário fantástico,
repleto de pequenos roedores, pássaros e aves de rapina que sobrevoam
os céus. A vegetação esparsa sustenta os antílopes pretos, os ibex
(cabrito montês) manadas de belos carneiros Argali, camelos de duas
corcovas, asnos e cavalos selvagens. Também é o território do leopardo
das neves. O Parque contém mais de 200 espécies de aves.
Os dois brasileiros aproveitaram das comodidades oferecidas
no Parque. Hospedaram-se num gher espaçoso, onde pás-saram dois
dias descansando. Deliciaram-se com banhos quentes e comida
saborosa.Fazia já uma semana que seus corpos não sentiam o prazer do
banho. Todas as tardes visitavam um local interessante, como as
imensas dunas de areia, os campos salpicados de crateras de vulcões
extintos, os cânion de gelo, as vistas deslumbrantes sobre as montanhas
povoadas pela floresta de bétulas e pinheiros; sempre na companhia
dos guardas do Parque.Fazia muito calor, mais ou menos 40° C. e
apesar disso as pessoas aqui vivem com pouquíssima água,
praticamente vêem somente areia e pedras, com o clima mais
inclemente do planeta, mudando de calor extremo à frio congelante.
Tendo explorado parte dos lugares importantes, o grupo
seguiu viagem para Bayankhongor, onde no século XX, foram
encontrados ovos e muitos fósseis de dinossauros. As areias do deserto
contêm ricas jazidas de fósseis, de diversas espécies de dinossauros,
lagartos e de mamíferos pré-históricos Talvez por sorte, podiam
encontrar algum fóssil enterrado na areia. O deserto de Gobi abrange
uma série de picos de montanhas extraordinários, colossais dunas de
areia que contrastam com formações rochosas que elevam montes e
desenham gargantas abruptas a rasgar a paisagem. A 600 km de Ulaan
Baator se estende a cadeia Khangai, onde se situa o pico Ulaan Uuul,
com 3449 m de altura, localizado na Província de Bayankhongor.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Os viajantes pernoitaram num gher de nômades do deserto. A
família forneceu-lhes comida que consistia de cozido de carne de
carneiro; a cama era um tapete de couro de boi, mas faltou a
indispensável água para o banho que seria bem-vindo, nesse extremo
calor da tarde, fazia 40° C. e isso impedia que entrassem na barraca
antes das 8 horas da noite quando começava a refrescar, apesar de só
escurecer as 10 da noite.No outro dia viajaram logo de manhã, para
aproveitar o clima mais ameno. Após algumas horas a comitiva parou
em Yolym Am, cujo nome significa “a boca do abutre”, um incrível e
verdejante vale que, no fundo mantém gelo durante o ano
todo.Viajando sem pressa, observando as espetaculares paisagens do
deserto, anotando tudo nos seus notebooks, eles seguiram para o leste
do país, ao encontro do ramal da Estrada de Ferro Transmongoliana em
Saynshand.
. Saynshand é a capital da Província de Dornogovi, situada no
coração do deserto, centro da cultura budista. A cidade de Saynshand
abriga 20.515 habitantes (2011),está distante da capital Ulaan Baator
472 km. Dotada de infra-estrutura moderna; possui eletricidade, água,
esgoto, ruas pavimentadas, telefone, lan-houses, restaurantes, bares,
comércio ativo,escolas e clubes,uma vida social organizada em torno
do funcionalismo da Estrada de Ferro. Saynshand é uma das diversas
estações da Mongolian Railway, a Estrada de Ferro que sai de Beijing
(Pequim) atravessa a região norte chinesa e o deserto de Gobi segue até
Ulaan Baator, se conecta à Transiberiana em Ulan Ude, margem direita
do lago Baikal, na Sibéria, sudeste da Rússia.
Encontra-se,próximo à cidade de Saynshand uma das ruínas
históricas importantes, o Monastério Budista Khamarinn.Na época do
stalinismo, o exercito soviético saqueava as relíquias sagradas do povo
mongol. Antes de o templo ser destruído, os monges budistas
esconderam nas areias do deserto de Gobi, as 64 Arcas Sagradas com
os tesouros do monastério.Parte desses tesouros já foi desenterrada
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
pelos monges e está exposta no museu de Saynshand e uma parte está
perdida na areia do deserto.
A Província de Sükhbaatar, capital Baruun-Urt, localiza-se na
parte sul das Grandes Planícies Orientais da Mongólia, a 220 km a leste
de Saynshand e estende-se até a fronteira chinesa. O campo vulcânico
Dariganga, localizado no sudeste da Mongólia, perto da fronteira da
China, pertence à região que inclui a vasta estepe de Dariganga, que é
salpicada de crateras de lava vulcânica e cones de cinzas, de mais de
220 vulcões extintos. Vulcões ativos na época do Pleistoceno e
Holoceno, por volta de dois milhões de anos atrás. Os cones variam de
25 a 300m de altura. Ergue-se ali o vulcão sagrado Altan Ovoo de
1.354 m de altitude, vulcão extinto. É adorado por povos Dariganga
que habitam as regiões da Província de Sukhbaatar e todo território a
nordeste da Província de Dornod até à fronteira leste chinesa e as
margens do rio Onon.
Grande parte da população Dariganga (40.800 em 2010), está
localizada na parte sul da Província de Sukhbaatar (antiga Dariganga
Khoshun, que tomou o nome da montanha Dari Uul e do lago Ganga),
em um planalto vulcânico nas proximidades do deserto de Gobi.Os
Dariganga pertencem a um grupo oriental de mongóis, que incluem os
khalkha, os buriatas e a maior parte de chineses.Na grande maioria são
pastores nômades, mas há uma parte da popu-lação Dariganga que
trabalha nas fazendas agrícolas e nas indústrias.
Com a facilidade de viajar em veículo 4x4, foi lhes possível
ter acesso à áreas mais remotas, onde a magia do lugar selvagem se
revela em cada canto.Ao pôr do sol que lançava raios dourados e
carmesim sobre os paredões de pedra com profundas cavernas, viram
do topo de uma cratera vulcânica uma paisagem exótica,como se
tivessem ido à lua.A maior parte do território é elevado de 1.000 a 1200
m acima do nível do mar.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Possui dunas de areia, pequenos lagos, nascentes e
córregos.Animais de estepe habitam a área: antilopes, marmotas, lobos,
raposas, texugos, gambás, coelhos, porcos-espinho, veados, cabras,
ovelhas argali. Sobre o céu azul voam aves como a pomba, águia,
abutre, cotovia, andorinha, corvo, papagaio, falcão, gavião coruja,
pega, poupa; também vivem perdizes na área, o cisne selvagem habita
os lagos de Dariganga. Fósseis de animais pré-históricos e de plantas
são encontrados nas areias do deserto.
Os pesquisadores Rodrigo e Álvaro junto com o professor e
intérprete Gaudhan Khulan decidiram mudar a direção da viagem,
seguiram para o norte. Deixaram a Dariganga,o deserto de Gobi e suas
areias para conhecer a estepe.Em Saynshand encheram os dois tanques
de gasolina e seguiram por uma estrada de terra que os levou pelas
montanhas Arts Bogdyn.A medida que deixavam o Gobi, a paisagem
torna-se menos austera dando lugar a pequenos arbustos e a pastos
verdejantes.Das encostas pedregosas surgem nascentes de água,
formam-se riachos e rios.Nas estradas não há setas ou tabuletas com
indicação de distâncias ou direções.Viajar pelo interior da Mon-gólia é
seguir os rastos dos pneus anteriores e confiar nos conselhos de gente
local, se as conseguir encontrar, o que é uma tarefa difícil. Também
não e fácil localizar esses caminhos indicados por eles.
De Saynshand dirigiram-se para Arvaikheer, onde passaram a
noite,desta vez com mais conforto, num hotel local, com banho quente
e alimentação adequada, quando puderam recuperar as forças para os
dias que se seguem. Arvaikheer é uma cidade pequena do interior, mas
tem um mercado bom, onde nossos exploradores puderam se
reabastecer de alimentos frescos para o resto da viagem. .Estavam de
novo no centro geográfico da Mongólia, a curta distância do verdejante
Vale de Orkhon.
Deixaram Arvaikheer e seguiram para a região montanhosa de
Orkhon, via Bat-Olziy e a sua nascente de água quente. Exaustos,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
dormiram em gher dos nômades, ao lado da cascateante queda de água
do Orkhon, um lugar espetacular, próprio para entregar-se a
devaneios.A mudança do panorama era total. Os verdes tomaram conta
da paisagem.As árvores substituíram as dunas de areia, o som da
cascata tomou o lugar do uivo continuo do vento do deserto. Passaram
aqui dois dias e duas noites apreciando a beleza do lugar, o deslizar
manso das águas, as manadas de cavalos e yaques pastando nos
campos,os rebanhos de ovelhas e cabras.Nas águas do Orkhon
encontram-se peixes, como o lúcio, a carpa,a perca,o bagre e taimen.
O Vale do Orkhon, declarado Patrimônio Mundial pela
UNESCO, é considerado berço da civilização nômade mongol no
decorrer de mais de dois mil anos. O Vale possui muitos outros sítios
arqueológicos como: Memoriais Turcos do princípio do século VIII,
dedicados à Bilge Kagan e seu irmão Kultegin, onde foram encontradas
as inscrições de Orkhon e os monumentos dos nômades Göktürk. As
ruínas da antiga cidade de Khar Balgas, fundada em 751 a.C.capital do
Império dos Turcos Uygures, que cobre 50m² e que contem ruínas do
palácio, de lojas, templos, mosteiros, etc. O Eremitério de Tovkhon
localizado no topo de uma montanha. As ruínas do palácio mongol do
século XIII, na colina Doit, que se presume ter sido residência de
Ögedei Khan.
Depois de deixarem o Vale de Orkhon a primeira paragem
após 373 km rodados (50 km por hora) e dois pneus furados chega-ram
em Kharkhorin, cidade que existe hoje junto as ruínas de Karakorum,
antiga capital da Império Mongol de Genghis Khan, do século XIII. O
grupo ficou alojado em ghers de famílias mongóis,na redondeza de
Kharkhorin, com vista esplêndida para o Mosteiro Erdene Zuu Khüd,o
primeiro mosteiro budista estabelecido na Mon-gólia; destruído durante
os expurgos stalinistas da década de 1930. Foi reconstruído em parte,
após o colapso do comunismo em 1990.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Depois da visita ao mosteiro e de uma passagem pelo mercado
da cidade, os pesquisadores continuaram a viagem para Tsetserleg,
onde chegaram à tarde.Tsetserleg é a capital da Província de
Arkhangay, é uma bela cidade, rodeada por montanhas, com ruas
arborizadas.Tem um agradável mercado, pequeno, mas bastante
sortido, com muito artesanato e verduras frescas. Na praça visitaram
um belo templo e o museu da Província de Arkhangay.Esta noite
dormiram num hotel que lhes lembrou o conforto do mundo ocidental,
banho quente, boa cama e comida a gosto.
Deixaram Tsetserleg pela manhã, a estrada de terra seguia por
uma região montanhosa.Á esquerda estendia-se a cordilheira Khangay
Nuruu,a segunda maior da Mongólia, onde nascem alguns dos seus
mais importantes rios.
Após muitos quilômetros de solavancos e poeira chegaram
finalmente à afamada garganta do rio Chuluut, que foi devidamente
apreciada em sua beleza. Seguindo pela estrada estreita entraram na
perigosa passagem do desfiladeiro de Chuluut. A área vulcânica de
Turyatu-Chulutu está localizada no norte da Mongólia, cerca de 700
km a oeste de Ulaan Baator e a 170 km de Tsetserleg É uma extensa
região, caracterizada por várias crateras de vulcões extintos e o Grande
Lago Branco. Antes de chegarem ao Lago passaram pelo vulcão
Khorgo.Localizado na Província Arkhangai.O Khorgo, agora extinto,
entrou em erupção ao longo de quatro períodos,a partir do Mioceno ao
Holoceno
A última erupção ocorreu em 2.930 a.C. quando a lava
vulcânica bloqueou o leito do rio Chulutu, dando origem ao lago
Terkhin-Tsagaan Nuur o (Grande Lago Branco) de águas cristalinas.
Uma exaustiva caminhada levou os dois exploradores, Rodrigo e
Álvaro, ao topo do vulcão que se eleva a 2400m de altura. Chegaram
perto da cratera de cerca de 180m de largura 100 m de profundidade
que conserva gelo durante o ano todo.A vista que se descortina do alto
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
sobre o lago, as montanhas e os bosques de coníferas é algo
espetacular.O clima e a água cristalina ofereceu a oportunidade para
nadarem nas águas tépidas do lago, pescar e passear a cavalo pelas
margens, e descontrair com o vento fresco que vem das montanhas que
circundam o lago. O lago faz parte do Parque Nacional KhorgoTerkhiin Tsagaan Nuur.
Na manhã seguinte partiram para o norte. Os caminhos da
fronteira norte da Mongólia seguem todos ao Parque Nacional do
Hövsgol Nuur de 2.760 km², de lago alpino e de dezenas de montanhas, sendo a mais alta a Sardyk Burenkhaan Munku de 3.492 m altura,
povoadas de densas florestas de pinheiros, lariços e bétulas e prados a
perder de vista. O maior e o mais profundo lago glacial de água doce, o
Hövsgöl Nuur, conhecido como a Pérola Azul, ocupa uma depressão
estrutural na parte mais setentrional da Mongólia, próximo à fronteira
da Sibéria (Rússia).Situado a 1.645 m acima do nível do mar, está
cercado pelas encostas das Montanhas Sayan Orientais, tem entre 138 e
267 m de profundidade.
- A superfície do lago congela completamente durante o
inverno. Hövsgöl é um dos mais antigos lagos do mundo com mais de
2 milhões de anos. A área do lago é um Parque Nacional prote-gido
criado em 1997, é tradicionalmente considerado sagrado.O Parque é o
lar de uma variedade de animais selvagens, como cabras, argali
(carneiro selvagem), lobos, cervos, ursos pardos, alces sibe-rianos.
Durante o verão aves migratórias visitam os lagos do norte.As águas
geladas do lago Hövsgöl são pobres em espécie de peixes, no entanto,
encontra-se a perca, o lenok, burbot e o esturjão.
Depois de estudarem as peculiaridades do Parque e do Lago
Hövsgöl os dois pesquisadores dirigiram-se para a Reserva Khustain
Nuruu National Park para ver os cavalos selvagens da Mongólia.A
reserva está situada a 160 km a leste da capital Ulaan Baator.Na área
de conservação da natureza, a preservação do cavalo selvagem ou
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
cavalo Przewalski, é o objetivo principal.Considerado extinto em
1969, verificou-se que alguns cavalos selvagens ainda viviam em
zoológicos europeus. Os animais foram trazidos de volta à Mongólia e
re-introduzidos ao seu ambiente natural, onde se multiplicaram com
grande sucesso, hoje existem mais de 200 cavalos selvagens, é uma
raça famosa por seu vigor e resistência. Fotografaram alguns
espécimes, junto com as crias, pastando no meio do campo.
Durante os três meses de peregrinação pela Mongólia, os
pesquisadores brasileiros Álvaro e Rodrigo, enfrentaram o intenso
calor, insetos, poeira e solavancos; dormindo em ghers, comendo
carne de carneiro, cabra ou camelo em todas as refeições, estavam
saturados desse tipo de alimento, precisavam de alguma verdura e fruta
fresca. A viagem de cerca de 2 mil quilômetros, pelo sul,centro e norte
da Mongólia saldou-se em7 pneus furados,uma avaria na em-breagem
do veículo e um acidente que resultou num eixo quebrado.
Resolveram voltar à Ulaan Baator, procurar um bom hotel
para descansar e repor as energias, também para analisar o resultado
das pesquisas, inclusive fazer um balanço da situação financeira. Após
minuciosa análise do custo-beneficio do empreendimento deci-diram
encerrar as viagens pelo país. Acertaram as contas e dispensa-ram
Sanchir Yijn com a sua caminhonete. Faltava ainda inteirarem-se da
História da Mongólia, matéria que seria explanada pelo professor
Gaudhan Khulan, que era mestre emérito no assunto.
Dois dias depois, já refeitos, convidaram o professor para a
reunião; com essa finalidade foi lhes cedida uma sala privativa.
- Bom dia! – cumprimentou o professor ao entrar - si
estiverem prontos podemos começar a viajar pela História.
- Como vai professor, será um prazer ouvi-lo – responderam
Rodrigo e Álvaro, simultaneamente. Já com o gravador ligado.
- A Mongólia,é berço de um povo tradicionalmente nômade
que em ondas sucessivas, chegou a invadir as regiões civilizadas da
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Um olhar sobre o Mundo
China, Índia, Anatólia (atual Turquia) e da Europa Oriental. Região
pouco povoada, tem uma reputação de isolamento. Os seus desertos, o
seu clima severo e uma população largamente dispersa de pastores
nômades tenderam a mantê-la isolada da vida moderna. A maior parte
do território da Mongólia é formada por planaltos e estepes.
- Os mongóis antes do século XIII habitavam a região ao sul
do rio Kurelen e o Vale do rio Orkhon. Constituem uma das princi-pais
etnias do norte e do leste da Ásia, formada por um conjunto de povos
que possuem laços culturais e uma língua comum. Física-mente os
mongóis diferem de outras raças. São de estatura geral-mente mediana,
têm a pele entre amarela e castanho-escura, cabelo preto, liso e grosso,
o nariz achatado e curto e olhos pequenos oblí-quos. Eles têm as maçãs
do rosto sensivelmente mais salientes que o queixo. Poucos deles têm
barba, e quando a possuem é bastante rala.
- A vida era dura para os mongóis, habitantes das estepes
nevadas, estéreis e poderosas, das terríveis planícies vazias,das montanhas vermelhas e escarpadas, dos desertos secos e arenosos. Ven-tos
e poeira, relâmpagos e granizo, trovões e raios, gelo e tempes-tades,
eram seus companheiros do dia-a-dia.Não conheciam um lar
duradouro, esses nômades, sim, precisavam viajar com as estações,
fugindo das tempestades de neve dos mais aterradores invernos, e
fugindo no verão, do calor escaldante, da seca e das tempestades de
areia do deserto.A fome era o espectro que se sentava com eles em cada
refeição, mesmo que aquela fosse abundante.
- Basicamente, os nômades viviam da carne de carneiro e de
cavalo, do cúmis, que é o leite fermentado de égua, do queijo e de
milhete. Algumas tribos cultivavam cereais nos vales de terras mais
férteis.A alimentação nas estepes era carnívora, pelo fato de as terras
serem estéreis, portanto, escassas em vegetação para o consumo
humano.Um cavaleiro mongol colocava uma porção de carne em baixo
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
da sela de sua montaria e quando tinha fome era só tirar e comer, pois
estava salgada com o suor e assada com calor do cavalo.
- Mesmo produzindo algum tipo de cultivo agrícola, os
mongóis eram em grande maioria nômades. A vida era difícil, primeiro pelo perigo de conflitos e ataques de inimigos. Segundo, o clima
que variava sempre, de dia era o sol escaldante e a noite o vento forte
de frio cortante. Ocorriam constantes mudanças de lugar devido a
ameaças de inimigos ou em busca de pastos para seus reba-nhos.Nessas
ocasiões todo o ordu (aldeia) punha-se em movimento.
- Deslocavam-se com suas tendas (yurte,gher),feitas em
estruturas de forma afunilada, sustentadas por estacas de madeira, as
paredes e o teto forrados com couro de boi,de lobo ou de cervo, o chão
da yurte era forrado de peles de animais ou de ricos tapetes roubados
nas incursões às tribos inimigas.Na entrada da yurte eram colocadas
plataformas de madeira e a porta era protegida por abas de couro de
boi, bordadas finamente. O teto possuía uma abertura que permitia a
entrada de luz e a saída da fumaça do braseiro alimentado por estrume
de gado ou de cavalo,que ardia no meio da yurte.
- Quando começava o inverno e fazia muito frio, estava na
época de deslocar-se a procura de novos pastos. Gado, ovelhas,
camelos e cavalos, inquietos, eram ouvidos na sua agitação.Com as
primeiras nevascas punham-se a caminho, movendo-se com rapidez,
pois a cada hora o clima mudava, o vento ficava mais áspero e
cortante.Areia misturada com neve fustigava-lhes o rosto.As mulhe-res
e crianças encolhiam-se dentro das suas yurtes (gher) agasa-lhando-se
contra o frio.As tendas estavam todas ligadas umas às outras movendose como uma unidade fluida, cada varal preso ao eixo do veículo
seguinte.
- Eram colméias de feltro negro arredondadas rolando sobre
plataformas de madeira, puxadas por bois arquejantes, que roncava,
gemia e balançava.Rodavam vagarosamente; estranhos panoramas se
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
apresentavam diante dos olhos; cadeias de montanhas negras e
recortadas com picos afiados como navalhas erguiam-se contra os
horizontes das estepes cobertas de neve e de gelo lívido, salpicadas de
crateras alcantiladas de vulcões extintos.Desciam por vales amp-los e
extensos cortados por cursos de água congelados, juncados de
tamaricáceas e capins altos, ásperos, cinzentos, murchos ou secos.
- O ordu era a única coisa que se movia no deserto colossal.
Assemelhava-se a uma vagarosa fila de formigas, arrastando-se através
dos desfiladeiros, das montanhas, lutando para subir os íngremes
planaltos, dirigindo-se para o norte, procurando pastos verdes para seus
rebanhos.Passavam por florestas cinzentas, cujas árvores desfolhadas e
retorcidas,contorciam-se com o vento forte, como que torturadas, e
pareciam inclinar-se na direção do ordu como fileiras de monstros
ameaçadores. Muitas vezes, à medida que as estações se sucediam, os
mongóis nômades, fizeram essa viagem através de montanhas e do
deserto, de planaltos e despenhadeiros, leitos de rios secos e planícies
pedregosas, fugindo do inverno.
- No seu caminho de volta para os pastos de verão eles encontravam a relva exuberante, as árvores e tamaricáceas com folhagens verdes e brilhantes e léguas de deserto cobertas de flores multicoloridas. O inverno de violentos crepúsculos vermelhos, brilhando
sobre lagos congelados e tundra branca tinha terminado. Às vezes
quilômetros e quilômetros de flores brancas inclinavam-se ao vento
suave e fresco, e pétalas azuis, rosas, douradas e escarlates derramavam-se pelos vales, planícies, planaltos, barrancos de rios, como um
imenso tapete persa.
- Os pássaros cortavam os céus azuis e ardentes e seus cantos
melodiosos enchiam o deserto de sons emocionantes. A vegetação,
desde as árvores tortas e raquíticas do Gobi à relva espessa e as flores,
desabrochavam durante a noite numa orgia de vida, e o ar inteiro se
enchia de sons do crescimento febril.Os ventos vinham carregados dos
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
odores da fecundidade, e quando as chuvas torren-ciais desabavam os
aromas tornavam se por vezes sufocantes.
- Passado o inverno os pastores e guardadores de gado tangiam de volta seus rebanhos. Nuvens de poeira cinzenta e dourada
dançavam em volta deles e a atmosfera do deserto ardente e sufo-cante,
estava cheia de seus berros roucos e gritos estridentes dos pas-tores. O
gado mugia, andando através dos caminhos tortuosos por entre os vales
e montanhas escarpadas.A aldeia de tendas dos mon-góis Yasoun ou
Sakhas assentava-se no vale do rio Orkhon, e era na direção desse rio
amarelo-pardo que os guardas dos rebanhos conduziam os animais para
beberem água.Podia-se contar centenas de cabeças e feixes de chifres,
um mar de caudas e de ancas peludas, uma floresta de pernas e cascos
que passavam em torvelinho de poeira que tudo envolvia. Dezenas de
crianças nuas, de olhinhos oblíquos e cabelo preto brincavam no
cascalho cinzento do rio.
- Nesse momento, outros pastores se aproximavam conduzindo garanhões selvagens e irrequietos, éguas e suas crias. Seus olhos
selvagens brilhavam através da poeira. Seus corpos eram recobertos por
um pelo espesso, cinzento, e com as longas caudas espantavam os
enxames de insetos que os ferroavam. Os guarda-dores, a cavalo,
gritavam, tangendo os animais com varas compridas. Esses domadores
eram mais selvagens do que os garanhões, e mais ferozes, seus olhos
pardos cintilavam furiosos. Os rostos escuros brilhavam de suor e os
lábios estavam rachados pelo calor e poeira.A gritaria era
ensurdecedora e o fedor insuportável.
- Os caçadores seguiam-nos montados em pequenos e ágeis
cavalos árabes carregando os frutos da caça, presos com cordas em
frente deles: antílopes e lebres, porcos-espinho, aves e raposas, mar-tas
e faisões.Grandes fogueiras escarlates começavam a arder entre as
fileiras de yurtes e tochas crepitantes começavam a dançar por entre as
fileiras, e o céu tomava rapidamente a cor de púrpura da noite do
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Um olhar sobre o Mundo
deserto. Sob os pés das pessoas, a terra ainda estava quente do calor
escaldante do dia. O sol estava se pondo e o céu escurecia.
- O poente, para os lados do rio Orkhon de águas amarelocinzentas, demarcados pela vegetação baixa e irregular cinza-esverdeada, constituía um espetáculo uniforme.O horizonte era de um
vermelho palpitante marcado por milhares de pequenos penhascos
negros aguçados como dentes. Para o leste, o céu sem fim era dum
róseo mesclado, resplandecente. A abóbada do céu perdia-se em
imenso nevoeiro fulvo, as colinas entalhadas e torreadas, projetando-se
íngremes, eram baluartes inexoráveis esculpidos em pedra vulcâ-nica
pelos ventos do deserto.
- O imenso e desolado silêncio do Gobi parecia ter caído do
infinito sobre a terra, e até mesmo o sussurro do rio Orkhon, ama-relocinza perdia-se naquele silêncio.E de novo os ventos carregados de
gelo, ululantes, repletos de ecos misteriosos, soprando, chegando dos
céus com asas de horror, assaltavam a terra arenosa do Gobi e enchiamna com os sons dos assobios e uivos tremendos,levantando em
redemoinhos a areia do deserto.As vezes o terrível silêncio era abalado
por trovões e raios,os nômades supersticiosos ficavam aterrorizados,detinham-se e murmuravam preces à “Khokh Tengger, o
Senhor do Céu Azul”.O zênite estava semeado pelas cintilações das
milhares de estrelas, aterradoras, gélidas, distantes.
- De repente, a imensa noite do Gobi era cortada pelos sons
angustiosos e doces, selvagens e solitários de uma flauta, que inundavam a alma de uma melancolia dorida. A voz da flauta gemia,
soluçava, suave e frágil, mas, no instante como por encanto, seu som
tornou-se triunfante, sua nota intensa cortou o céu sem iluminá-lo,
invadindo-o completamente.Ampliava-se no caos da eternidade e ardia
ali, bela, pungente e provocante. Era a alma do homem, sitiada e alheia,
perdida, pequena, brilhante, atacada por todos os ventos do céu e do
inferno, buscando plenitude e vida. Sua voz trêmula falava de amor, de
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Um olhar sobre o Mundo
Deus, de dor, mas sempre de esperança e de fé, mesmo em meio a seu
desamparo na imensidão do deserto. Na alma dos nômades havia um
sentimento irresistível de liberdade, como a ânsia dos pássaros
migratórios, que voam pelo instinto alheio a razão.
- As antigas lendas dos mongóis falavam, que milhares de
anos atrás, um poderoso império se situava ali onde hoje fica o deserto
de Gobi, com cidades fulgurantes de vida, comércio e agitação. Ali
tinham existido templos e mercados, academias e esco-las, parques
com fontes de água e ruas apinhadas de gente, palácios e inumeráveis
casas, jardins, lagos, piscinas públicas e terraços. Ali tinham se erguido
muralhas e portões de bronze; havia o burburinho das caravanas
chegando e outras partindo, entre o resmungo dos camelos, o relinchar
dos cavalos e ladridos de cães, os mercadores regateavam nos ricos
bazares de centenas de cidades prósperas.
- Para onde tinha ido tudo isso? Por que desaparecera? Esse
mundo de fartura e riquezas se desfizera em areia. Imperadores tinham
cavalgado por ruas agora enterradas na areia, o vento rodopiava a
poeira onde outrora exércitos montados em seus ágeis cavalos
desfilavam em meio a uma floresta de lanças Agora, o opressor e o
oprimido jaziam lado a lado, insignificantes, esquecidos na tumba do
nada.Multidões tinham chorado ali,e se alegrado, e delas não restara
nenhum vestígio além do vento vergastando feroz e irresistível,
varrendo o deserto, com o som de tambores ressoando em surdina e o
silêncio da morte, refletidos no céu azul pálido e frio.
- Segundo essa antiga tradição o atual deserto de Gobi, já foi
uma região fértil, com uma grande planície cultivada e com milhares de
habitantes. Até o século VII, as tribos uygures possuíam um extenso
Império na Mongólia Central, com a capital Karakota. Esse Império já
existia há 18.000 mil anos a.C. se estendia por toda a Ásia, desde o
Pacífico, através da China, Mongólia, Ásia Central até o Mar Cáspio.
Seu apogeu foi até 15.000 a.C.o declínio aconteceu no fim da Era do
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Um olhar sobre o Mundo
Gelo. Os uygures herdeiros do poder turco do Vale do Orkhon
formaram povoados ao redor dos oásis. Outra cidade que foi habitada
pelos uygures, Onjin, estava situada nas areias do Deserto de Gobi.A
região do Gobi foi se transformando, paulatinamente, de uma região
fértil em deserto árido,o que não favorecia a agricultura e a fome
assolou o país,levando ao declínio da civilização uygure.
- O povo uygur não é de origem mongólica, mas da família
caucasiana, aparentados com os turcos-orientais, embora havia séculos
habitassem a Mongólia.O uygure é uma língua do ramo turco-oriental.
Formavam um Estado muito poderoso e florescente, com uma cultura
que lhes vinha da Pérsia, da Índia e da China,.tinham alcançado um alto
nível de civilização, conheciam a arquitetura, a medicina, matemática,
astrologia, mineração, produção têxtil e agricultura e as praticavam
com grande habilidade e conhecimento.
- A sua hegemonia desapareceu no século IX (ano 847), sob
os ataques dos quirguizes nômades; conservaram, contudo, o seu
particularismo, até sob o domínio mongol, russo e chinês. Foram os
educadores dos povos turco-mongóis. Os uighures migraram para o
oeste, os seus descendentes encontram-se entre os turcomenos,
usbeques e na província chinesa de Xinjiang Uygur Zizhiqu.
- Os mongóis, não foram os primeiros povos das estepes a
fundarem poderosos impérios, antes deles, o mundo já havia conhecido o império dos uygures, dos citas, dos hunos, dos persas, dos turcos
seljucidas, dos chineses. Os mongóis já existiam há vários séculos, mas
suas origens ainda são desconhecidas. Os relatos mais antigos datam do
século VII, especialmente das descrições chinesas; contudo o tronco da
família mongólica é bem mais antigo remon-tando há vários milhares
de anos atrás, quando migraram do leste, talvez da Região Chinesa, a
procura de pastos para seus rebanhos.
- Dividiram-se em tribos e clãs que, ora se aliavam e ora
guerreavam entre si. Deste tronco familiar, surgiram os povos que
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Um olhar sobre o Mundo
deram origem aos hunos, citas, mongóis, chineses, siberianos e a
centenas de povos indígenas das Américas, reafirmando a teoria da
migração através do Estreito de Behring. Dai o fato de que todos esses
povos possuírem semelhanças físicas.Embora falassem a lín-gua
mongol, cultuassem os mesmos deuses, eles se referiam um aos outros
pelos nomes dos clãs.Como merkits que eram habitantes das florestas
ao sul do Vale de Orkhon, eram hábeis mercadores e artesãos
competentes.Outros de turcos-uygures, keraits, yasoun ou sakhas,
taijuts, tangutes, tártaros, naimans, e outras denominações.
- A primeira menção que se pode identificar com a Mongó-lia
nas crônicas chinesas remonta há 2.000 anos a. C. Contudo, os
primeiros mongóis de cuja origem se tem certeza são os xiong-nu, do
século IV a.C. Os xiong-nu ou talvez fossem os mesmos povos hunos
de origem indo-iraniana, os primeiros habitantes do Vale do rio
Selenga, que une a Sibéria ao coração da Ásia. Calcula-se que os hunos
chegaram á região quatro séculos a.C. Eles criaram um grande Império
tribal na Mongólia, quando da unificação da China, sob as dinastias
Chin e Han em 221a.C. a 220 d.C.
- O Império Huno lutou contra a China durante séculos, se
desintegrando no século IV da nossa era, devido às lutas internas.
Durante o século V, os hunos de Átila subjugaram quase toda a Europa
e atacaram o Império Romano.Foram substituídos por povos turcoorientais,originários das estepes da Ásia Central que se estabe-leceram
em toda a região.
- Os mongóis conheciam a metalurgia, confeccionavam suas
roupas, calçados, acessórios, utensílios, arcos e flechas, laços e outras
armas. Sua produção artesanal era na base de madeira, ferro, cascos,
chifres, lã, couro e pele de animais. Praticavam o comercio com
caravanas da Rota da Seda, como os turcos de Samarcanda e Bukhara e
cidades da China, quando não as assaltavam para saquear. Nas
comemorações de casamentos, nascimentos ou de vitórias sobre os
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
inimigos festejavam com música, jogos e corridas, fartavam-se de
carne de carneiro ou de cavalo, cozidos em caldeirões, pelas mulhe-res
do ordu. Nessas ocasiões embebedavam-se com vinho de arroz.
- Os clãs mais poderosos controlavam a atividade da tribo. As
famílias de menor destaque pagavam tributos ao clã dominante; se
deslocando com suas tendas a procura de novos pastos, acam-pando e
guerreando sob as suas ordens. Os animais eram de proprie-dade
individual, já sobre a terra existia o direito coletivo da tribo.Os
mongóis eram caçadores e criadores de rebanhos de gado e cavalos.
Passavam a maior parte da sua vida na sela de seus cavalos das estepes.
Aprendiam a cavalgar e usar armas ainda crianças.
- Os costumes mongóis praticamente não mudaram desde os
tempos remotos, boa parte da sua cultura se conservou ao longo dos
séculos até os dias de hoje, como a música e a dança, a vestimenta
tradicional, o estilo de vida nômade, o esporte, incluindo as corridas de
cavalos e de camelos, lutas de vale-tudo, tiro ao alvo, e a tradi-cional
luta de Bokh, praticada há vários séculos, que surpreende-mente não
sofreu nenhuma mudança nas regras neste tempo.
- Todo homem capaz, em condições de manejar uma arma era
guerreiro e caçador. Lutavam sobre um código restrito de disci-plina e
lealdade.Quando uma tribo era muito poderosa, organizavam-se em
exércitos, muitas vezes de centenas de milhares de homens.Os
assaltos,os saques dos acampamentos rivais eram feitos em conjunto,
com a captura de gado, cavalos, mulheres e crianças, prisioneiros inimigos e as suas yurtes e todos os demais bens que possuíam,esse era
um método de enriquecimento.A história dos mongóis oscila entre
estes períodos de concentração ou de dispersão das tribos nômades.
- No decorrer do século XI, as tribos turcas a oeste e khitans a
leste se confundiam com os mongóis pela similaridade da língua e
modo de vida. Os khitans estabeleceram a dinastia chinesa de Liao
(907-1125) e passaram a reinar na Manchúria e Norte da China
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Um olhar sobre o Mundo
controlando quase todo o território da Mongólia atual. Os povos
nômades da Mongólia formaram um dos maiores impérios a partir de
uma série de conquistas militares continuadas por algumas gerações.
Entre os séculos XI e XII, um líder tribal chamado Kabul Khan
comandava um ordu de 30 mil tendas, ele reuniu as tribos mongóis
numa guerra contra a China controlada pela Dinastia Jin, mas foi
derrotado, e a unidade mongol foi desfeita.
- No sudoeste da Mongólia, à margem das nascentes do rio
Orkhon, região que até o começo do século XII, estava sob o domí-nio
dos turcos-uigures, Yesukai, filho de Kabul Khan e líder do clã dos
mongóis yasoun, da tribo dos Queraitas, raptou Houlun, uma menina
pertencente ao clã dos merkits, no dia do seu casamento, e trouxe-a
para seu ordu (aldeia de tendas) para que mais tarde se tornasse sua
esposa.Ambos os clãs eram inimigos. Houlun teve um filho de
Yesukai. A criança nasceu no ano de 1.167, na yurte de seu pai,
próximo ao rio Tungel, à sombra das montanhas Burkhan Khaldun O
primogênito recebeu o nome de Temudjin.
- As antigas lendas xamânicas mongólicas pressagiavam que,
Khokh Tengger, Senhor do Eterno Céu Azul, enviaria do céu um lobo
cinzento que devoraria o mundo.Para muitos este lobo cinzento fora
Temudjin que afirmava ser de ascendência divina.Conta, ainda, a
tradição popular que Temudjin, ao nascer trazia preso no pequenino
punho um coágulo de sangue, augúrio da sua ferocidade e sede de
sangue quando adulto.
- Ele teve mais 6 irmãos: o mais velho Bektor, ao qual
Temudjin matou ainda criança, num acesso de fúria por julgá-lo um
traidor, Belguthei, Khasar, Subodhai, Ogodhei, Jussi e Jamuga, de
origem naiman, irmão de sangue, que já adulto foi morto por Temudjin
por suspeita de deslealdade para com ele; teve ainda deze-nas de outros
meio-irmãos, pois na cultura mongol a poligamia era permitida, um
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
homem poderia ter tantas esposas quantas conseguisse manter de forma
digna.
- Temudjin era descendente de Bodeontchar “o Homem de
Olhos Pardos”,ancestral do antigo povo da linhagem do lobo cin-zento
que, conforme a lenda, concebera os mongóis yasoun (sakhas), uma
tribo com tradição de poder; neto de Kabul Khan, maior líder dos
mongóis yasoun até então. Quando completou nove anos de idade seu
pai Yesukai, decidiu que era hora de arrumar uma esposa para seu
filho. Foram até outro clã e lá ele se tornou noivo de Börte, uma
menina da tribo Olhod, “os Olhos Pardos”, gente da sua mãe, com qual
se casou mais tarde. Enquanto Yesukai voltava para casa, ao anoitecer,
ele avistou um acampamento de nômades tártaros, ali ele pediu
hospedagem por uma noite, embora fossem inimigos, era costume entre
as tribos de não negar hospitalidade a ninguém. Comida e bebida foram
servidas á ele em abundância e Yesukai fora envenenado pelos tártaros;
dias depois veio a falecer no seu ordu.
- Com a morte do pai, Temudjin aos 9 anos de idade,como
primogênito,era o sucessor direto e agora líder do clã dos yasoun.
Contudo os aliados do seu pai se recusaram a aceitar a liderança de um
menino, abandonaram-no nas estepes, junto com a mãe e seus seis
irmãos, a pura sorte. Ele fora traído pelos antigos aliados do seu pai.
Embora fosse ainda uma criança Temudjin não desistiu, mesmo quando
os merkits, inimigos do seu clã, lhe roubaram Börte, a sua meninaesposa, a qual recapturou meses depois, pedindo ajuda a alguns clãs
amigos. Atacou e derrotou a tribo inimiga, matando e escravizando os
adversários.
- Esse ato de bravura angariou-lhe a simpatia dos outros clãs
mais poderosos. Desse tempo em diante Temudjin passou a ser
identificado como um valente e corajoso guerreiro. Já não era apenas
um baghatur das estepes, mas reconhecido chefe duma tribo forte, e
como tal começou a usar, preso ao cinturão, um punhal chinês craveMonika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
jado de pedras preciosas, roubado por seu pai no assalto à uma caravana de um mandarim chinês.
- Temudjin, desde menino foi destemido, de caráter arrogante, ágil e veloz como uma raposa, tinha o olfato de um animal
acostumado ao perigo, percebia tudo; seu olhar de águia era rápido e
penetrante, o gesto curto e decidido Quando adulto, a combinação
violenta de brilho selvagem e sombra no rosto, dava à expressão da
face ao mesmo tempo bárbara, feroz e fria. Era dado a paixões e
acessos de cólera, mas havia nele algo superior aos outros homens.
- Era um homem sombrio, violento e implacável, inflexível e
inexorável. E, contudo existia nele o melhor da generosidade e da
audácia mongóis, e a sua palavra, uma vez dada a um amigo, nunca
seria quebrada. Ele era honesto, com aquela honestidade mongol,
simples e primitiva. Muito inteligente e ambicioso, não se limitava a
ser apenas líder do clã dos yasoun (sakhas), ambicionava mais, muito
mais,ele queria o mundo, então partiu para sua conquista.
- Primeiramente convocou Koschu, o xamã da tribo sakha.
Sabia que os xamãs e os sacerdotes são elementos indispensáveis e
necessários, de outra maneira não haveria baghaturs, poderosos khans
ou outros opressores do povo mantendo-o na sujeição.Eles escravizam
os homens com palavras, para que eles continuem a obe-decer-lhes e
servir-lhes.Ele conhecia bem a utilidade do terror. Por sua ordem o
xamã invocava os espíritos e anunciava ao povo que tivera uma visão
profética, falava com voz premonitória às multidões de nômades:
- “Temudjin nasceu para ser o Senhor do Gobi e aquele que o
seguir, seguirá a glória, a vitória e terá muitas riquezas. E aquele que
não o seguir, os espíritos do Céu Azul o amaldiçoarão para sempre e
terá uma morte horrível, cheia de sofrimento”.
- A religião dos mongóis naquele tempo e ainda continua
sendo para 32% da população, é o xamanismo. Xamanismo é um termo
genérico para se referir a praticas de curandeirismo, feitiçaria, mágicas,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
fetichismo, animismo, entre outras crenças místicas. O xamanismo era
cultuado e praticado por diversos povos nativos da Ásia, Europa,
África, Oceania e das Américas.
- O xamã era uma mistura de adivinho,feiticeiro e sacerdote,
logo, em algumas culturas ele é visto como o intermediário entre os
homens e os deuses, possuindo poderes mágicos e até proféticos,
portanto, era respeitado e temido pela maioria da população.Os
mongóis acreditavam em vários deuses, mas especialmente vene-ravam
e temiam um deus, Khokh Tengger, o Senhor do Céu Azul, deus dos
trovões e tempestades.
- Por volta do ano 1.180, aproximadamente 850 anos atrás,
esse povo de pastores nômades das estepes asiáticas, donos de grandes
manadas de cavalos e camelos, uniu-se sob a liderança de Temudjin de
13 anos de idade, um adolescente valente e astucioso. Convocado a
comparecer ao
Quriltay (junta deliberativa), lá os che-fes
mongóis,decidiram conceder a Temudjin o titulo de Genghis Khan (o
poderoso governante).Armados com arcos e flechas, montados nos seus
cavalos velozes, iniciaram uma campanha de conquistas territoriais,
que mudaria a face do mundo conhecido até então.Os guerreiros
mongóis se tornaram o exercito mais temido e poderoso em seu tempo,
tão implacável na crueldade, que lhe renderam a fama de bárbaros
sanguinários.
- O jovem Temudjin, nomeado como Genghis Khan, tinha a
pele morena e bronzeada da cor das colinas do deserto. Seus olhos
verdes e oblíquos coruscavam chispas de fogo, o cabelo vermelhodourado solto ao vento, relampejava contra o sol poente. Naquele dia
ele voltava com seus guerreiros para o ordu, montado no seu garanhão
branco com uma cimitarra turca atravessada no cinturão. No caminho
pela estepe encontraram uma caravana tártara que era uma escolta para
mercadores karaits e naimans que se dirigiam de Catai (China) para a
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
cidade turca de Karait. Muitos mercadores lhe pagavam tributos para
proteger-lhes as caravanas, mas esta não contava com esse privilégio.
- A caravana era integrada por cavalos e camelos, levava
carregamentos de chá, especiarias, pratarias, sedas, tapetes, manuscritos, instrumentos musicais, roupas bordadas, jóias, turquesas, ar-mas
incrustadas de pedrarias e outros artigos de luxo.Os guerreiros
mongóis atacaram, saquearam e mataram os tártaros e mercadores
karaits. Depois do assalto, carregaram sobre os ombros e as costas os
seus quinhões levando-o para suas yurtes.A pilhagem tinha sido
excelente.Temudjin escolhera uma belíssima jovem karait para ser sua
segunda esposa, trazendo-a para seu ordu junto com o resto do saque
sobre o lombo de um camelo. As outras jovens e bonitas mulheres
levou-as para seu harém.Durante a vida toda ele teve um apetite sexual
insaciável.Foi pai de uma multidão de filhos bastardos.
- Em curto espaço de tempo, Temudjin tinha atacado, conquistado e absorvido clãs pertencentes aos merkits, aos naimans, aos
uygures, aos tungutes, aos karaits, à confederação tártara e as tribos
taijuts.Pelo caminho juntavam-se ao estandarte dos “nove rabos de
boi”, centenas de outros homens, com suas famílias, clãs errantes que
antes eram inimigos e que agora estavam cheios de temor, revê-rência e
admiração por esse yasoun, o Temudjin. Os povos nômades o
idolatravam. Chamavam-no de “Falcão do Eterno Céu Azul”.Ele
anunciava às multidões de nômades, com voz de um predestinado:
- “Foi profetizado em meu nascimento que eu seria imperador de todos os povos das estepes e dos desertos. Seria o mais poderoso de todos os homens, “o Imperador do Mundo”.Pois eu farei do
Gobi um Império, e então, o resto do mundo que me aguarde”.
- Genghis unificou as tribos mongóis, lhes deu leis e um
Império, e tornou os simples arqueiros, cavaleiros nômades, numa
máquina de guerra que abalou o Mundo Antigo que, aterrorizado via as
hordas de cavaleiros bárbaros, que pareciam invencíveis, mar-charem
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
em sua direção. Em toda a parte desencadeava-se o Apo-calipse sob
sua passagem. Em toda parte,as campanhas relâmpagos traziam vitórias
aos guerreiros vindos das estepes.Os Impérios mais poderosos e
protegidos pelas muralhas, os reinos prósperos, todos os Estados
conquistados não escapavam à carnificina, incêndios e des-truição.As
mulheres e homens jovens, eram levados como escravos.
- Temudjin, o Genghis Khan, carismático e autoconfiante,
começou com um exército de 25.000 guerreiros. Antes de Genghis,
outros khans tentaram unificar as tribos mongóis mas falharam muitas
vezes. No ano de 1206, já aos 49 anos de idade, após 30 anos de
ataques a clãs inimigos em guerras de conquista, Genghis, conseguiu
unificar todas as tribos mongóis em torno da confederação do Gobi,
graças a sua capacidade política e militar.Foi adicionando forças
unindo e subjugando tribos nômades, tais como os tártaros que
mantinham guerra com as outras tribos. Os homens dos povos
dominados eram anexados ao exército, eram divididos em várias
divisões, para que não pudessem conspirar contra os líderes.
- O soldado mongol não recebia soldo nem outro pagamento
além dos saques efetuados nos ataques aos inimigos. A habilidade de
mover-se rapidamente e uma reputação de crueldade os precedia. Os
mongóis lutavam como arqueiros leves da cavalaria, usando o arco e a
flecha compostos; com alto poder de penetração e alcance. Eram
excelentes em planejarem emboscadas e ataques surpresa. Temudjin
era um homem sábio e feroz. Distribuía os despojos das incursões a
tribos inimigas ou das caças, de modo igualitário, com eqüidade.
- Na qualidade de líder dos guerreiros mongóis, Temudjin
conhecia a paralisante força psicológica do terror e da superstição. Os
lideres do exército mongol faziam uso pleno do pavor; massacravam a
população de uma cidade inteira, invadida, para com facilidade
conquistar a cidade seguinte que, aterrorizada, desistia de lutar.No final
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
não eram só as hordas que derrotavam o inimigo, era o nome terrível de
Temudjin, místico e invencível.
- Seu primeiro alvo era os velhos inimigos dos mongóis, os
chineses da Dinastia Jin, formada por tunguses vindos da Sibéria.
Primeiro atacou a parte norte da China. Nessa época, o Império Chinês
estava dividido sob o poder de três grandes dinastias, no norte a
Dinastia Jin, a noroeste a Dinastia Tangut, ou Si Hia e ao sul, a
Dinastia Song. Em 1215, Pequim, a capital do Império Chinês fora
conquistada, pilhada e incendiada. Terminada a guerra da China,
Genghis Khan vai se voltar para oeste, em direção da Ásia Central,
dominada nessa época pelo Canato Kara Kithai e pelos turcos-uygures.
Subjugou os dois Canatos e anexou-os ao Império Mongol.
- Depois do massacre de Pequim, muitos habitantes da cidade
foram mortos e milhares foram escravizados. Dentre os que foram
feitos escravos estava Ye Liu Chutsai, príncipe e general de Catai,um
sábio chinês.De imediato, pela sua grande sabedoria Chutsai
impressionou Genghis Khan que lhe concedeu a liberdade e deu-lhe o
importante lugar de Conselheiro. Chutsai com seus sábios conselhos
teve uma participação fundamental no governo de Genghis Khan, foi o
responsável por uma mudança radical na política do conquistador: a
destruição foi substituída pela utilização.
- Ye Liu Chutsai mostrou a Genghis Khan o quanto poderia
ser lucrativo apenas conquistar a China, sem destruí-la. O sábio fez o
imperador perceber as imensas vantagens que a avançada civilização
chinesa poderia oferecer aos incultos mongóis. Foi graças à Chutsai
que o objetivo das campanhas de Genghis contra cidades mudou de
destruição para conquista.Com os conselhos de Chutsai, de que sempre haveria algo a ser aprendido com os povos conquistados; os
melhores guerreiros podiam ser incorporados aos exércitos mongóis.
Assim ele procedeu quando da conquista das tribos tártaras. Os
guerreiros prisioneiros, suas esposas e filhos, seus cavalos, seus reMonika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
banhos e yurtes, incorporou ao seu Império.Os soldados tártaros férozes e selvagens,combatiam com o simples terror de meros animais.
Ye Liu Chutsai, o grande sábio chinês, prognosticava que,
- “Apesar das guerras e da destruição, o espírito de esperança, paz e amor, não morrerá. Mesmo que advenham a escuridão e a
fúria, ele viverá! É da natureza do próprio mundo que embora desabe a
tempestade e a floresta seja despedaçada, embora o vulcão derrame sua
lava sobre as plantações, embora o inverno queime os pastos,haja uma
primavera da terra e da alma e tudo cresça e flores-ça de novo”.- Esta é
a lei da Natureza.
- A Mongólia é herdeira do Império Mongol, que no ano de
1215, se estendia da China através das estepes da Ásia Central, até as
margens do Mar Cáspio,incluída toda a área dos atuais Cazaquistão,
Usbequistão,Turcomenistão,Tadjiquistão,Pérsia (Irã), Armênia,Georgia, partes do Afeganistão, do Iraque, da Índia e da Rússia, domina-va
parte da Ásia e da Europa, sob o comando de Genghis Khan.Seus
descendentes avançaram sobre toda a Rússia européia, parte da
Polônia, Bulgária e Hungria, além de fazer dos turcos seljúcidas, dos
reinos de Burma, Anan e Champa, seus vassalos.
- Antes de sua morte, Genghis Khan dividiu o Império em 4
setores, a serem governados por seus descendentes, mas subor-dinados
ao Grande Khan. Djothci, era o 1° filho de Börte, a menina-esposa de
Temudjin, que criou Djothci como seu primogênito. Porém, persistia a
dúvida sobre a verdadeira paternidade do menino, se o pai era Chilger
Boke, da tribo merkit,que havia raptado Börte, logo depois do
casamento com Temudjin, e a aprisionado durante alguns meses, ou
Temudjin que a resgatou num assalto à aldeia dos merkits.Esta
incerteza levou Genghis a nomear o 3° filho, Ogodei Khan,como seu
sucessor.
- Djothci tinha morrido em batalha, na China em fevereiro de
1227, e seus domínios ficaram para seu filho Batu Khan. O 2º filho de
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Genghis, Djaghatai Khan ficou responsável pelo governo da Ásia
Central, com o Canato de Kara Khitai e parte do Sultanato de
Khwarzm. Ogodei Khan, o 3º filho, ficou com o Canato dos Uygures e
o antigo país dos Naimans. Finalmente o caçula, Tolui Khan, ficou
responsável pelo restante do Império e administração da casa pátria.
- Quando Genghis Khan morreu em 18 de agosto de 1227,
aos 60 anos, foi sepultado aos pés da Montanha Burkhan Khaldun, no
maciço Khentii. Para sucedê-lo foi eleito pelo Quriltay, em 1229,
Ogodei Khan como 2º Imperador Mongol.Em1236,Ogodei Khan,
ocupado com a guerra na China,ordenou a Batu Khan, filho de Djothci
e ao general chefe dos tártaros Subotai, para que seguissem para Oeste
conquistar a Rússia e a Europa. Em 1237, liderando um exercito de 150
mil ferozes cavaleiros das estepes, atacaram, destruíram e saquearam a
cidade de Kiew, (Ucrânia) e ocuparam a cidade de Moscou, num
assalto relâmpago, em pleno inverno russo.
- Entre os anos de 1239 a 1241, os mongóis continuam se
deslocando para Oeste e se atiram sobre a Polônia, sua capital
Krakowia é incendiada e a população massacrada. O exercito tártaromongol avança para Hungria e chega perto de Viena na Áustria.Os reis
europeus temendo que a terrível horda de bárbaros chegasse às suas
terras, foram socorrer Viena. Nessa época, os exércitos mongóis de
centenas de milhares de guerreiros eram vistos como uma praga que
assolava a Europa.
- Os selvagens nômades mongóis, montados nos seus
pequenos e ágeis cavalos das estepes, rápidos e precisos no manejo do
arco e flecha, traziam a morte e destruição por onde passavam. Algo
que a Europa já havia vivenciado oito séculos antes com os hunos,
povo de origem mongol, os quais liderados pelo seu maior líder, Átila,
intitulado “O Flagelo de Deus”, aterrorizou o Império Romano no ano
de 434. Para sorte da Europa, Ogodei Khan morreu em campanha em
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
1241.Dessa forma Subotai e Batu Khan suspen-deram as operações
militares na Europa e retornaram para Mongólia.
- Ogodei Khan estava morto, seu irmão Djaghatai havia
morrido no mesmo ano e Tolui, o caçula, havia falecido nove anos
antes, portanto, os três filhos legítimos de Genghis Khan, candidatos ao
trono estavam mortos, os descendentes de Djothci, considerados
bastardos não tinham direito, a solução foi eleger um dos seus netos,
assim, o herdeiro de Ogodei Khan, seu filho Guyuk, foi eleito o terceiro
Imperador Mongol no ano de 1.242, morreu em 1.248.
- Em 1251, o Quriltay elegeu Mongka Khan, filho de Tolui, e
neto de Genghis Khan, o quarto Imperador Mongol de 1.251 a 1.259.
Após a morte do Imperador, Hulagu e Kublai, irmãos de Mongka e
também netos de Genghis Khan, voltaram sua atenção para o sudoeste,
em direção ao Califado de Bagdá o qual pertencia a poderosa Dinastia
dos Abássidas. Em 1259, as tropas de Hulagu Khan sitiaram Bagdá, a
cidade foi invadida, saqueada e destruída, 90 mil pessoas foram mortas
na batalha que durou três dias.Kublai Khan estava em campanha no sul
da China, quando foi convocado pelo Quriltay para retornar á capital
mongol Karakorum. Ele fora eleito o 5º Imperador Mongol em 1.260,
governou até 1.294.
- Em 1279, Kublai Khan, filho de Tolui, conquistou toda a
China e fundou a dinastia Yuan que controlava a China e Mongólia sua
terra natal. Uma vez estabelecido o Império veio a grande paz. Por um
período, os mongóis floresceram na região das estepes e do norte da
China. Em 1294, Kublai morreu na China, e o poderio mongol
começou a declinar na Ásia e outras regiões de ocupação. Os 4 Canatos
tiveram curta existência, a exceção do Canato da Horda Dourada, na
Rússia, onde o domínio mongol durou por 250 anos. Em 1368, o trono
da China caiu nas mãos da dinastia Ming. A China invadiu a Mongólia
incendiou Karakorum antiga capital do Império, e seu território
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
permaneceu sob autoridade chinesa até a queda do poder imperial da
Dinastia Qing.
- Entre 1370 e 1404, Timur Leng (Tamerlão), um guerreiro
turco-mongol, descendente de Genghis Khan, fundou o segundo
Império Mongol, com as conquistas do Turcomenistão, da Pérsia (Irã),
da Siria e da Anatólia (Turquia). Em 1398 saqueou Dheli na Índia,
matando 100.000 de seus habitantes. Morreu em 1404, na China.O
grande império herdado por seus filhos ruiu após sua morte.
- Com o fim do Império, no inicio do século XV, os mongóis
voltam a se dividir em tribos hostis. Os manchus aprovei-tam-se da
disputa tribal e conquistam o território, dividindo-o em duas unidades
políticas.A Mongólia caiu sob o domínio manchu, quando os nobres
mongóis khalkha prestaram um juramento de aliança com o imperador
manchú. Os manchús, um grupo tribal que conquistara a China em
1644, fundou a Dinastia Qing,que perma-neceu no poder até sua queda
em 1911.
- Em 1691, o território ao sul e leste torna-se a Região
Autônoma de Mongólia Interior e faz parte do território chinês. A
região norte e oeste são reunidos em 1759, como Mongólia Exterior.
Em 1727, a Rússia e a China manchú concluíram o tratado de Khyakta
delimitando as fronteiras entre a China e a Mongólia que ainda
permanece até hoje.
- A Mongólia ainda é um país economicamente pobre, sendo
as atividades primarias a base da economia nacional, enfrenta grandes
dificuldades econômicas.Cerca de um milhão de mongóis, ou um terço
da população vive no campo,seguindo seu modo de vida nômade,1/3
vive na capital Ulaan Baator, e 1/3 vive espalhada pelas pequenas
cidades do interior do país. Desde a queda do comunismo, Mongólia
fez quase tudo ao seu alcance para se abrir ao mundo. Porém as antigas
tradições sobrevivem e a natureza selvagem é ainda quase intacta.Os
problemas socioeconômicos se intensificaram após a transição do
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
comunismo para uma economia de mercado. Mesmo no século XXI,
mais da metade da população da Mongólia vive abaixo da linha de
pobreza.
- O território mongol é rico em recursos minerais. As
entranhas das Montanhas Altai, possuem ricas jazidas minerais.
Existem grandes depósitos de petróleo, de carvão, ferro, estanho, cobre,
ouro e prata. A Mongólia precisa gerar dinheiro, maquinaria e mão-deobra especializada para explorar tais recursos, sobretudo, depois da
retirada dos subsídios e dos 50 mil técnicos e assessores
governamentais soviéticos. O elemento russo existente, calculado em
aproximadamente 560.000 indivíduos, exerce grande influência no país
Estradas em construção é um sinal de forte investimento chinês.
- Apesar destes sinais de mudança, encontram-se grupos de
nômades, nas estepes, que ainda fazem a mudança de acampamento
recorrendo a yaques e a carroças feitas de madeira, levando os haveres
das famílias que mudam de lugar várias vezes ao ano. Algo a despertar
a atenção são as antenas parabólicas e os painéis solares associados aos
ghers. Nas estepes, alguns ghers são transformados em pequenos
restaurantes ou até albergues para turistas.Cerca de setenta por cento da
terra é utilizada para pastagens onde se criam grandes manadas de
gado, cavalos, cabras, ovelhas, yaques e camelos.Cultivam-se cereais,
em especial o trigo e milhete nas terras agricultáveis do país, que
representam menos de um por cento de todo território.
- Não há religião oficial A constituição de 1992 garante a
liberdade religiosa.As práticas religiosas tradicionais, entre as diver-sas
tribos mongóis nômades é o xamanismo ancestral. (32%), que consiste
especialmente em crenças supersticiosas, curandeirismo, sonhos,
fantasmas, em práticas de feitiçaria e a adoração ao deus Khokh
Tenger, o Senhor do Céu Azul. Entretanto, 28 % da população mongol
professa o lamaísmo budista, uma pequena parte pratica o islamismo,
existe também o agnosticismo e o ateísmo.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- Os muitos descendentes das tribos que outrora habitavam a
extensa região mongol, como os uyghures, turcos, mongóis, caza-ques,
usbeques, merkits, keraits, quirguizes, buriatas, tunguses, tártaros,
tangutes, chineses, russos, atualmente habitam a região da República
Popular da Mongólia, a Mongólia Interior, a China, Manchúria, Sibéria
e outras regiões da Ásia Central.
- A Mongólia possui patrimônios culturais e naturais da
humanidade listados pela Unesco, como: o deserto de Gobi, Khuvs-gui,
Gorkhi-Terelj, o vulcão Khorgo, Khan Khentii, o Mosteiro de
Manzushiri criado em 1750, abrigava mais de 350 monges e 20
templos, inclusive escolas de medicina, astrologia e filosofia, foi
destruído em 1930 pelo governo comunista russo, está sendo
reconstruído. A capital Ulaan Baator; a paisagem cultural do Vale do
Orkhon, que possui dois conjuntos de ruínas antigas ao longo do vale
do rio Khar Balgas, a antiga capital do Canato de Uyghur, e a antiga
capital do Império Mongol, Karakorum. Complexos petró-glifos das
Montanhas Altai, a bacia do lago Salgado e os campos salpicados de
cones de cinzas vulcânicas. A sudoeste, perto da fronteira chinesa, a
560 km da capital, se situa o parque nacional Gurvansaikhan National
Park, é um dos poucos parques importantes no deserto de Gobi.
- Em 1992, foi criado o Parque Nacional de Hövsgól Nuur,
sendo o maior parque constituído por florestas na região. O norte é
caracterizado por bosques de coníferas e bétulas. Vivem ali carneiros
argali, cabras-monteses, ursos pardos, martas zibelinas, alces e mais de
200 espécies de pássaros, Ainda mais extraordinária é a riqueza da
fauna.Existe grande quantidade de animais e um mundo impressionante de pássaros e peixes. A Mongólia é um país de extremos, é
incrível como as pessoas, as plantas e os animais sobrevivem a
temperaturas extremas de verão e do inverno.As alternativas de
temperatura e paisagens, durante todo o tempo são enormes. O frio é
algo inimaginável, só o suportam as pessoas já ambientadas.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Um fato intrigante e curioso é a construção de cidades
fantasma no norte da China, região de Ordos, parte do deserto de Gobi
que pertence à China, na fronteira com a República da Mongólia. São
vinte cidades projetadas e seis já concluídas: Erenhot, Ordos,
Bayannoo-Er, Zengzhou, Dantu e Xinyang. O projeto bilionário é
financiado pelo governo chinês. São cidades construídas com uma
infra-estrutura planejada, moderna, para acolher 65 milhões de pessoas.
Avenidas largas, praças arborizadas, inúmeros prédios de apartamentos
destinados certamente para albergar membros do governo e seus
familiares e também cidadãos comuns. O curioso e que mesmo depois
de concluídas as cidades ainda estão vazias, não há habitantes. As
construções localizam-se no interior, longe da costa marítima A cidade
de Ordos vai hospedar os partici-pantes da eleição da Miss Universo
de 2012. Rodrigo e Álvaro estavam fascinados pela idéia de ir conhecer
as cidades fantasma chinesas. Estavam tão próximos... Mas o fator
que os impedia de ir, era que não possuíam a licença necessária para
visitá-las.
***
Apesar dos transtornos o balanço da viagem pela Mongólia foi
super-positivo. Então se voltaram para execução do projeto original,
viajar para a Misteriosa Sibéria.O último dia em Ulaan Baator, foi para
pegar os passaportes com o visto para o Cazaquistão, e outros países da
Ásia Central, região que pretendiam conhecer antes de se aventurar
pelo místico território da Sibéria.
Para isso, acertaram os honorários e despediram-se do
professor Gaudhan. Khulan, que os acompanhou e orientou durante
toda a excursão pelo país.Encerraram a conta do Hotel, e se dirigiram à
Estação Ferroviária da Transmongoliana.Adquiriram duas passagens de
primeira classe, com direito á cabine de duas camas e banheiro. O
destino seria a cidade de Novosibirsk, no entroncamento da Estrada de
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Ferro Transiberiana com a Turksib, caminho de ferro que os levaria às
cidades e estepes da Ásia Central.
Saíram de Ulaan-Baator de manhã, o trem fez a primeira
parada de 20 minutos em Darhan, depois em Suhbaatar, em Naushki a
primeira cidade russa, depois Sliudianka e Ulan-Ude, capital da
República da Buriátia.Teriam como primeiro destino a cidade de
Irkutsk, na Sibéria, para quem visita o famoso lago Baikal o maior lago
do mundo.Eram aproximadamente 666 km, ou 32 horas de viagem de
trem, das quais 8 horas iam passar na parada das fronteiras, da
Mongólia (2 horas) e da Rússia (6 horas), para troca das rodas do trem
para continuar a viagem,o padrão dos trilhos da Transiberiana é de
bitola larga. No ínterim teriam que resolver os trâmites burocráticos de
fronteira. Oficiais russos entram no trem para verificar os documentos,
carimbam os passaportes, verificam o visto e os cartões de entrada no
país, pedem a declaração da receita federal e dos valores que os
viajantes levam consigo.
Na China e Mongólia as estações costumam ter pessoal
fluente em inglês, mas os funcionários das ferrovias russas,
principalmente nas cidades da Sibéria, falam apenas a língua
russa.Outra atenção especial teriam que dispensar ao passaporte. É
necessário o visto para entrar na Rússia, na Mongólia e na China e não
esquecer de registrar o visto junto ao Departamento de Vistos e
Registros, que deve ser feito pela agencia de turismo, ao desem-barcar
no país.
Ainda na Mongólia os dois viajantes não podiam esquecer de
comprar o kit de sobrevivência: sopa pronta, miojo, chá, café solúvel,
leite em pó, pão e queijo e duas canecas. Podiam preparar a sua
refeição com a água quente do samovar que tem em cada vagão.
Também não deixaram de comprar duas garrafas de vodka e rolos de
papel higiênico. Os trens russos têm vagões restaurantes, com comida
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
razoável, mas são muito caros, no entanto, os atendentes do vagão são
bastante atenciosos.
Após as longas horas de viajem exaustiva de trem, os nossos
excursionistas chegaram à cidade de Irkutsk às 16 horas. Cansados e
sonolentos, foram informar-se sobre um hotel para se hospedar.Foi-lhes
indicada a pousada Baikaler, de localização cen-tral, com todas
comodidades, rápido e livre acesso à internet e Wi-Fi, e de preço
conveniente.Dirigiram-se para lá.De fato era uma boa hospedaria, então
fizeram o check-in e receberam as chaves do quarto.Havia duas camas,
banheiro privativo e um bom chuveiro,o que era ótimo, pois
necessitavam de um bom banho, isto, depois de dois dias de
viajem.Passaram a tarde dormindo.Terminado o jantar foram se
informar sobre a contratação de um guia, que falasse inglês.
Foi lhes apresentado o senhor Sergei Andreievitch Imanoff,
pessoa culta e bem informada. Depois de regatear o preço (costume
russo), foi contratado para guiá-los na cidade e na visita ao lago Baikal.
Não esperou muito para começar a desdobrar-se em elogios à fantástica
beleza, amplidão e riqueza dessa Região e do lago Baikal. Logo de
manhã saíram para visitar o Irkutsk Regional Art Museum, fundado
pelo prefeito da cidade V.P. Sukachyov, esse Museu é considerado o
terceiro maior dos Urais ao Oceano Pacífico, em pri-meiro lugar está o
famoso Museu Hermitage de São Petersburgo e em segundo lugar a
célebre galeria Tretyakov de Moscou.
- A cidade de Irkutsk, capital da Província de Irkutsk,possui
uma população de 593.604 pessoas.Os primeiros russos chegaram na
área em 1580, buscavam coletar impostos do povo local, os Buriatas,
por ordem do príncipe de Moscovo Ivan IV,“O Terrível” que
conquistou a Sibéria, durante seu reinado (1533-1584).Foi enviado
para explorar a região, o ataman (líder) cossaco Yermak Timoveief,
que, com seus intrépidos e sanguinários guerreiros das estepes,
percorreu o território siberiano e aventurou-se pelos mares glaciais do
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Ártico O ataman Yermak acampou na aldeia de Verkhoyansk,
atualmente cidade à beira do rio Yana, no extremo nordeste da Sibéria,
é um dos pontos mais frios do globo, chega a 60º graus negativos no
inverno e 40º graus positivos no verão.Com suas tropas atravessou o
Maciço de Verkhoyansk, que se iguala nos extremos de temperatura.O
comer-cio lucrativo de peles valiosas, incentivou os russos a ocupar a
Sibéria, que é uma vasta região da Ásia Oriental, outrora ocupada por
diversas tribos aborígines e povos de origem turca e mongol.
- Diversos fortes foram construídos, como Tobolsk em 1587,
Eniseisk, Yakutsk. Em Irkutsk a fixação permanente começou com a
construção de uma fortaleza em 1636. A cidade tornou-se um
entreposto importante no intercâmbio comercial entre a China e a
Europa, no rentável negócio de peles valiosas de animais selvagens,
seda, chá e pedras preciosas. De inicio servia como moradia de inverno
dos cobradores de impostos, mais tarde residência do governador geral
da Sibéria Oriental, Fedor Yelezkoi nomeado em 1595, tendo como
sucessor Ivan Mosalskoi, designado em 1598.
- A legendária cidade de Irkutsk, centro da região do Angara é
a capital da Sibéria Oriental, fundada em 1636, na margem elevada do
lado direito do rio Angara, na confluência do rio Irkut. Possui um
kremlin, belas e grandes casas de madeira ornadas de esculturas
barrocas. É uma cidade admirável, meio bizantina meio chinesa, volta a
ser européia pelas suas largas avenidas ladeadas de passeios,
atravessada por canais de margens arborizadas.Desde o inicio, a cidade
era multicultural e multinacional.
- Por três séculos e meio Irkutsk viveu uma vida sofrida,
passando por muitas dificuldades, parcialmente ignorada pela capi-tal,
Moscou. O pior delas foi o incêndio devastador que durou três dias e
noites. A cidade construída de madeira era um inferno ardente, foram
necessários dez anos para reconstruí-la. Os pioneiros, cossa-cos,
missionários, deportados, comerciantes ricos, intelectuais, gran-des
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
patriotas e filantropos, pessoas de toda Sibéria e da Rússia, cada uma
delas adicionou esforços para reconstruir das cinzas a sua cidade,
Irkutsk.Eles construíram hospitais, orfanatos, escolas, biblio-tecas e
igrejas. Atualmente é uma grande cidade, próspera e moder-na, cheia
de jovens e estudantes.
- Irkutsk começou destacar-se no século XIX. Milhares de
militares e oficiais superiores envolvidos na revolta dezembrista do
ano de 1826, contra o czar Nicolau I, foram exilados para a Sibéria
Oriental.Irkutsk se converteu no principal centro da vida intelectual e
social de artistas russos, oficiais e exilados políticos, a grande parte do
patrimônio cultural da cidade vem deles. Arquitetos talentosos
construíram muitas casas de madeira, cheias de cores pastel, ador-nadas
com decorações talhadas a mão e as belas mansões de ladrilhos.As
áreas da cidade onde os edifícios de madeira dominam são igualmente
admiráveis.A cidade se orgulha de sua arquitetura, podem-se apreciar
os artísticos elementos de madeira trabalhada em rendilhado.
- Platibandas barrocas enfeitadas de espirais graciosos, decoradas com buquês esplêndidos. Ramos de tulipas entalhados sobre as
portas e janelas, ventiladores e raios de sol adornando platibandas, as
cores de íris finos cobrem as paredes das casas, tábuas rendilhadas
dispostas ao longo das bordas de telhados. Isso é um pouco do mistério
do trabalho dos artífices carpinteiros peritos na arte barroca. Passear
pelas ruas antigas de Irkutsk, faz com que as pessoas possam conhecer
melhor a cultura dos antigos eslavos.Hoje, a cidade de Irkutsk, é um
dos maiores centros econômicos e culturais na parte oriental do país informou, orgulhoso, o guia Sergei.
- Visitaram a histórica Catedral da Transfiguração de Cristo,
igreja católica romana, construída em estilo gótico, pelos patriotas
poloneses deportados para a Sibéria, em razão do envolvimento no
Movimento de Libertação da Polônia do jugo russo, em 1830. Entraram
na bela Mesquita Tatar de paredes em azulejos decorados em
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
arabescos, a grande Sinagoga judaica e a imponente Catedral Ortodoxa
Russa de São Nicolas, com ícones e altares dourados e zimbórios
bojudos como cebolas. O Patriarca Fiodor Rasgildeev, encontrava-se
no interior do Templo, veio receber os peregrinos dirigindo-lhes
palavras de boas vindas e benção sacerdotal, em russo.
- Á noite luzes brilhantes são ligadas nas entradas das salas
de cinemas e dos teatros, fato que os incentivou a assistir no Irkutsk
Academic Drama Theater a um documentário sobre a Sibéria. No outro
iam visitar o Geological Museum Rossyskaya e o Sidorov State
Mineralogical Museum at Irkutsk. Existem ainda dúzias de opções, de
restaurantes, shoping centers e o passeio ao lago Baikal.
- A cidade de Irkutsk, capital da Província de Irkutsk,possui
uma população de 575,9 mil pessoas.A Região de Irkutsk, abrange uma
área total de 774,8 mil km², que representa 4,6% do território da
Rússia, com uma população de 2.505.577 pessoas (2009). A maioria da
população da Região de Irkutsk (79%) vive em áreas urbanas Outras
maiores cidades da Região de Irkutsk são:Bratsk, Angarsk, Ust-Ilimsk,
Usolie-Sibirskoye, Cheremhovo, Shelekhov.A compo-sição étnica da
Região de Irkutsk é de russos 89%, de tártaros 4%, buriatas 3%,
ucranianos 2%, bielo-russos 1%, chuvaches 1%.
- A distância de Moscou para a cidade de Irkutsk é de 5.042
km. Partem rotas diretas conectando a cidade com outras regiões da
Rússia até Vladivostok no Mar do Japão, com á Mongólia e à China
pela Estrada de Ferro Transiberiana e seus ramais dentro e fora do pais.
A economia da cidade assenta na industria da madeira, do alumínio e
dos minerais, a produção do chá, na agricultura e no turismo. É uma
das maiores e importantes cidades da Sibéria, com várias
universidades, igrejas, e museus históricos, alem do lago Baikal, a uma
hora de trem de Irkutsk. Possui um clima subártico, caracterizado por
grandes variações de temperatura entre as estações do ano.Os invernos
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
são muito frios - 17° C a - 43° C, o verão é quente e seco de + 17° C a
+ 40° C
- A flora da Região inclui 1733 espécies de plantas, sendo
605 de plantas medicinais e 224 espécies de plantas comestíveis.A
fauna é rica e variada, sendo 68 espécies de mamíferos regionalmente
raras, como alce, veado, corço, javali, esquilo, raposa, urso, tigre. 322
espécies de aves, 6 espécies de répteis e 5 de anfíbios.Existe uma
imensidade de peixes nos rios e lagos.A Região é rica em minerais.Os
principais recursos minerais são hidrocar-bonetos, gás, ouro, mica,
ferro, carvão e sal. Existem depósitos de manganês, diamantes, estanho,
enxofre.Os recursos de carvão estão concentrados na bacia de Irkutsk
(96%) e na parte sul da bacia do Tunguska.As principais indústrias da
Região
de
Irkutsk
são:
cons-trução
de
maquinas,siderurgia,mineração,industria química, refino de petróleo e
industria de madeira.
- A Região de Irkutsk possui uma extensa e bem desenvolvida
infra-estrutura de transporte. A principal via de transporte é a Ferrovia
Transiberiana e seus ramais, inclusive a Transmongoliana. Da cidade
de Taishet para leste, estende-se o trecho leste da Ferrovia de BaikalAmur.Na Região de Irkutsk originam-se os maiores rios navegáveis - o
Angara, o Lena, o Baixo Tunguska, que facilitam o transporte por água
de um grande volume de cargas.O rio Yenissei nasce na Mongólia
setentrional, recebe as águas do Tunguska e do Angara que nasce no
Lago Baikal, tem um curso de 5200 km e deságua no Oceano Glacial
Ártico.Os rios da Sibéria são preciosas vias de comunicação; a pesca
fluvial constitui, por outro lado, um importante recurso para o
camponês siberiano.O transporte aéreo, incluindo o internacional é
realizado pelos aeroportos situados nas cidades de Irkutsk e Bratsk.
- O lago Baikal era conhecido como o Mar do Norte na China
Antiga. O explorador russo que veio pela primeira vez ao Bai-kal foi
Kurbat Ivanov, em 1643.O Lago fica a 7 horas de carro de Irkutsk,
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Um olhar sobre o Mundo
situado a 455,5 m acima do nível do mar, têm cerca de 636 km de
comprimento e 79 km de largura e 1.750 m de profundidade máxima,
ocupa uma área de 31.722 km², e uma bacia hidrográfica de 560.000
km².é o maior lago de água doce da Ásia é o mais antigo (25 a 30
milhões de anos).Seus afluentes são os rios Selenga, Chikoy, Khilok,
Turka, Sarma, Uda, Barguzin, Snezhnaya, o Alto Angara.
- Além desses rios, esse imenso reservatório de água doce é
alimentado por mais de trezentos trinta e seis rios menores e pela água
do degelo das montanhas. Seu escoadouro é o rio Angara Inferior, que
depois de passar por Irkutsk vai lançar-se no Yenissei, um pouco acima
da cidade de Yenisseik.A cidade que fica mais perto para ver o Lago
Baikal é Listvyanka, é mais turística e tem mais infra-estrutura que
Olkhon Island.
Acompanhados do guia os nossos pesquisadores saíram de
Irkutsk cedinho, chegaram em Olkhon á tarde e hospedaram-se num
resort.No outro dia bem cedinho embarcaram na Ferrovia Circum
Baikal que contorna o Lago, faz paradas de alguns minutos em lugares
muito pitorescos. O lago contém 27 ilhas sendo a maior a Ilha
Olkhon.O trem que passa no lado leste do lago, fica circundando essa
magnífica paisagem por mais ou menos 3 horas, então há tempo
suficiente para admirá-lo.A visão que se tem do lago, especialmente
com as montanhas cobertas de neve é simplesmente deslumbrante.
Passearam o dia inteiro se deslocando em torno do lago
admirando a fantástica paisagem. Depois seguiram para a aldeia
Listvyanka com uma parada próximo da Rocha Xamã.Visitaram o
Museu de Arquitetura de Madeira com exibição de casas históricas e
habitações de povos indígenas, em seguida fizeram uma visita ao
parque zoológico com animais nativos.
Estava ficando tarde e os nossos exploradores sentiam fome,
precisavam jantar. Foi-lhes indicado o restaurante Sibirskaya Zaimka
onde saborearam pratos tradicionais da cozinha siberiana. Em seguida
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Um olhar sobre o Mundo
visitaram o povoado de Buryat (povo indígena da Sibéria), que fica a
70 km de Irkutsk, na remota planície siberiana. Pernoitaram num
autêntico yurt buriata. O programa do dia seguinte incluía o Museu de
Folclore com exposição de artesanato e música com danças típicas, o
encontro com o Xamã, espécie de sacerdote, médico e feiticeiro que
atua como curandeiro e adivinho entre os povos asiáticos. A convite do
mesmo, visitaram seu yurt para sabo-rear a comida e o chá.
- O lago Baikal é enquadrado por um magnífico circulo de
montanhas vulcânicas. Os Montes que o circundam são uma ramificação da cadeia Sayan, parte do vasto sistema da formação da
Cordilheira Altai, da Ásia Central. As Montanhas Baikal, na costa norte
e a taiga são protegidas como Parque Nacional. O Lago é um habitat
rico em biodiversidade, com cerca de 1085 espécies de plantas e 1550
espécies e variedades de animais e 52 espécies de peixes,
catalogados.O lago Baikal é um grande Rift (fenda) entre duas falhas
geológicas, onde a crosta está se separando dois centímetros por ano.A
área da falha é sismicamente ativa, havendo fontes termais e freqüentes
terremotos.Pela sua profundidade é possível existirem espécies de
peixes abissais.
- Em 1862, foi registrado um terremoto que atingiu a
desembocadura do rio Selenga, o tremor gerou uma separação de 175
km² de terra da margem e um aumento de 50% de água no lago. A
água lançada no interior do Lago Baikal formou uma nova baía.
Sismólogos perceberam que o solo submerso do lago mantém um
movimento constante de deslizamento, atividade responsável pela
abertura de um abismo que, em alguns milhões de anos, aumentaria a
fenda que possivelmente irá dividir a Ásia em duas porções e unir o
Lago Baikal ao Oceano Ártico.
Tendo visitado os lugares importantes da cidade de Irkutsk e
principalmente o Lago Baikal, os pesquisadores Rodrigo e Álvaro,
decidiram continuar a viagem pela Transiberiana que, partindo de
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Irkutsk passa por Novosibirsk e Omsk, adentra o Cazaquistão até o
entroncamento da Transiberiana em Petropavlotsk. Desta cidade devem
seguir pelo ramal da estrada de ferro para Astana, a nova capital da
República do Cazaquistão.A via ferroviária Turquestão-Sibéria, ou
“Turksib”, e uma linha férrea ligando a Ásia Central à Sibéria, com um
total de 2.375 km. Atravessa hoje quatro países: o
Usbequistão,Quirguistão, Turcomenistão e o Cazaquistão à Sibéria.
Acertaram a conta do hotel, pagaram o guia Sergei, que
agradecido pela recompensa, levou-os até a estação da Transiberiana
recomendando-os às provodnitsas, a dupla de funcionárias de bordo
que cuida do vagão e controla os bilhetes das passagens. Viajaram em
cabines de primeira classe, para duas pessoas, com duas camas e
W.C.Os vagões oferecem relativo conforto, o único e considerável
desconforto é a falta de uma ducha para tomar banho O percurso de
trem de 1.490 km até Novosibirsk levou um dia e meio.
- Se precisarem de um guia em Astana, recomendo-lhes o
senhor Alexei Vestchikyn, pessoa honesta e bem informada, capaz de
orientá-los durante a visita ao país.Vão encontrá-lo no Oásis Inn Hotel,
cuja estadia já foi reservada para vocês, pela agencia de turismo de
Irkutsk, que também fora encarregada das suas passagens para Astana
via Petropavlosk, na junção da Transiberiana – Caza-quistão e ferrovias
do sul – informou o guia Sergei A.Imanoff.
Os trens da Transiberiana levam a bordo todo tipo de gente,
de turistas a contrabandistas, soldados, migrantes e aventureiros, e
sempre há a presença garantida dos mochileiros.Passageiros vindos dos
subúrbios vizinhos, introduzem-se no trem não se sabe como,
amontoando-se nos vagões.Antes enchiam as plataformas entre os
carros, alguns andavam para lá e para cá em cima dos trilhos, ao longo
do trem, outros permanecem na plataforma diante das portas dos
vagões, esperando abrirem-se. Seus hábitos, sua maneira de vestir-se,
de falar, eram totalmente diferentes dos nossos.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
As razões disso são as grandes distâncias, o tráfego deficiente, as péssimas condições das estradas e o preço alto dos bilhetes
aéreos. No inverno quando a temperatura pode chegar a 40º graus
abaixo de zero, o ambiente é climatizado e um vagão restaurante
oferece vodka e fartos pratos quentes da cozinha russa.Os dois
brasileiros já estavam habituados a carregar consigo um dicionário do
idioma dos países por onde planejavam viajar, isto ajudava muito,pelo
menos na comunicação básica, pois os funcionários das estações russas
não falam outras línguas, apenas o idioma natal.
O trem parou por 20 minutos em Novosibirsk,já passando da
meia-noite.Os dois desceram para comprar alguns alimentos frescos e
água na estação.Precisaram andar depressa, pois o maquinista já
avisava a partida com um apito estrondoso. O trem continuou passando
por Omsk, rumo Petropavlosk, parou na frontei-ra entre os dois países,
durante uma hora, para que os passageiros que iam ficar no
Cazaquistão apresentassem os documentos e vistos de entrada no
país.As pessoas deviam mudar de trem na junção férrea que leva para
Astana e ao interior do país. A distância de 2500 km entre Irkutsk e
Petropavlosk demorou 48 horas de viagem, isto é, dois dias e duas
noites.
CAZAQUISTÃO
Petropavlosk è uma cidade situada na margem do rio Ishim no
norte do Cazaquistão a 135 km da fronteira da Rússia, ao longo do
Transiberiano. É a capital da província do Norte do Cazaquistão.
População 203.523 (2009).Petropavlosk foi fundada em 1752 como
uma fortaleza,com a finalidade de estender a influência russa nos
territórios nômades cazaques para o sul.O forte foi batizado com o
nome de dois santos cristãos, apóstolos Pedro e Paulo.Recebeu o
estatuto de cidade em 1807.Foi um importante centro comercial de seda
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Um olhar sobre o Mundo
chinesa e tapetes de procedência usbeque e turca, até a Revo-lução
Russa de 1917. Atualmente possui fábricas de conservas, curtumes,
máquinas, comércio de gado e couros.
De manhã cedo ao descerem do trem da Transiberiana na
estação em Petropavlosk no Cazaquistão, foi difícil para Rodrigo e
Álvaro localizar o guichê de informações turísticas, para orientar-se na
escolha do trem certo que se dirigisse para Astana.Os bilhetes eles os
tinham em mãos, mas não entendiam nada em russo.Depois de
perambularem pela estação durante meia hora encontraram o
funcionário do guichê, ele falava a língua inglesa e gentilmente encaminhou-os ao comboio que partia para Astana dentro de uma hora;
recomendou-os às funcionárias do vagão e acomodou-os na cabine.
Nessa altura o dicionário de línguas pouco os ajudou.
A viagem levava aproximadamente oito horas, portanto, iam
chegar à capital Astana por volta das quatro horas da tarde.O trem
entrou na estação da cidade avisando com um silvo agudo. Houve
reboliço de gente na plataforma, pessoas que desciam dos vagões e
outros que se acotovelavam para entrar, carregando pilhas de bagagens
e crianças se lamuriando.
Os dois brasileiros desceram do vagão meio zonzos.
Conferiram os pertences e se dirigiram ao ponto de táxis.Para facilitar o
entendimento Rodrigo mostrou o endereço escrito no papel, Oásis Inn
Hotel, reservado com antecedência pela agencia de turismo de
Irkutsk.O motorista entendeu e levou-os até hotel. Fizeram o chek-in e
receberam as chaves do apartamento. Tomaram um bom banho e
caíram na cama exaustos. Dormiram a noite toda, acordaram
traspassados de fome.Pediram o desjejum duplo no apartamento, o qual
comeram com grande apetite.Depois de saciada a fome, desceram até o
saguão do hotel procurar pelo guia Alexei Westchikin, recomendado
por Sergei Andreyevich.Imanoff. Lá estava ele esperando sentado à
mesinha, lendo o jornal do dia.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- Senhor Alexei Westchikin? - Somos pesquisadores brasileiros, Rodrigo e Álvaro.Seu amigo e colega de Irkutsk, Sergei
A.Imanoff o recomendou. Precisamos de um guia que fale inglês e seja
motorista, para nós conduzir durante estadia no Cazaquistão e talvez
nos países vizinhos, portanto vamos falar em sua dispo-nibilidade e
remuneração pelo seu trabalho - explicou Rodrigo.
- Eu sou guia turístico, possuo uma camionete Toyota 4x4, a
qual dirijo, conheço a fundo o meu país e na ocasião disponho de
tempo, será um prazer conduzi-los e orientá-los; quanto ao preço
vamos chegar a um acordo, com certeza - respondeu Alexei.
Alexei era um homem jovem, de meia estatura, troncudo, de
pele morena e olhos castanhos, um fiel representante do tipo russo.
Simpático e comunicativo, era bem humorado e gostava do seu
trabalho.Falava a língua cazaque, russo, turco, inglês e alemão,
entendia também o chinês.Vestia com simplicidade, uma calça jeans,
camisa esportiva e jaqueta de couro.Portanto, seria ideal conviver com
ele durante as nossas andanças - raciocinou Álvaro.
Acertados todos os detalhes, começaram à tarde visitando a
cidade de Astana. Alexei os conduzindo e explicando-lhes a história.
- Astana está situada no centro-norte do Cazaquistão,
construída na margem do Ishim (Esil), rio que nasce nas estepes entre
Astana e Karaganda, banha Astana e Petropavlosk antes de atravessar a
fronteira e entrar na Federação Russa. Deságua no rio Irtysh, tem 2.450
km de extensão. As suas águas procedem, sobre-tudo da fusão das
neves, fica congelado durante seis meses no ano.
- Durante muito tempo não passou de um ponto de parada de
nômades. A cidade foi fundada como uma fortaleza em 1824 e posto
militar russo, por uma unidade de cossacos siberiana de Omsk, tornouse centro administrativo em 1868. Sua importância cresceu no fim do
século XIX, quando se tornou um entroncamento de importantes linhas
ferroviárias. Encontra-se na junção da Trans-Siberian-Cazaquistão com
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Um olhar sobre o Mundo
as ferrovias do sul.Na cidade foram feitas muitas novas construções e
escritórios destinados aos funcionários do governo russo.Fundações
para pesquisas e Instituições de ensino superior e profissionalizante.
Houve um notável desenvolvimento da cidade.Grande parte da
população está empregada pelas ferrovias. Existem bairros tártaros,
russos, quirguizes.
- Durante o domínio da União Soviética, sob o governo de
Josef Stalin (1924-1953), Astana foi transformada num campo de
prisioneiros de guerra com trabalhos forçados, para centenas de
milhares de internados e suas famílias, um dos mais notórios campos
no Arquipélago Gulag. Chamada de Akmolinsk, foi a capital da região
até 1961, quando foi rebatizada de Tselinograd. Assim que o
Cazaquistão tornou-se independente da União Soviética em 1991, a
cidade foi renomeada para Aqmola. Em 1997, depois do terremoto que
destruiu a antiga capital Almaty, o governo transferiu a capital do país
para Aqmola e a cidade foi rebatizada para Astana. As razões para
tornar Astana a capital do país não se limitam aos terremotos em
Almaty, mas existe o grande interesse do governo cazaque de poder
controlar as zonas do nordeste, onde existe grande influência russa e
fala-se russo.
- O presidente Nursultan Nazarbayev decidiu construir uma
nova capital porque a capital anterior, Almaty, era muito perto da
fronteira da China, muito congestionada e propensa a seguidos abalos
sísmicos Foi contratado o famoso arquiteto japonês Kischo Kurokava
para planejar a nova capital, Astana. O que o presidente queria ele
conseguiu, graças às receitas do petróleo do Mar Cáspio. O poço de
Kashagan é considerado um dos maiores poços de petróleo do mundo.
Como as cidades do Golfo Pérsico, Astana flutua sobre os petrodólares
do Cáspio, e assim como as cidades do Golfo e as novas cidades
chinesas, Astana inspira a admiração em todos que a visitam.
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Um olhar sobre o Mundo
- O projeto da cidade foi baseado no entrelaçamento com a
natureza, com espaços verdes entre os prédios. Já havia quatro
shopings-center, construídos dentro de um quilômetro quadrado de
área, e no projeto constava mais um, o imenso e extravagante Khan
Shatyr, ostentando um globo de ouro na torre de aço branca; seria um
complexo comercial e de entretenimento, com lojas e parques
temáticos.Astana possui 802.980 habitantes (2010). O atual prefeito
da cidade é Imangali Tasmagambetov.
- Para os críticos cazaques, o local escolhido para a capital do
país é inadequado. É muito isolado, situado no centro de uma região de
planícies de estepe do Cazaquistão, no semi-árido, com o clima
extremamente rigoroso no inverno e verões quentes. A eleva-ção de
Astana está em 347 m acima do nível do mar, é a segunda capital mais
fria do mundo com - 40º C. no inverno, a primeira é Ulan Bator na
Mongólia, terceira é Ottawa no Canadá.Não conta-bilizando os imensos
recursos financeiros gastos na construção dos complexos do governo,
oriundos dos petrodólares do Mar Cáspio.
Durante os séculos XII-IX a.C. na Era do Bronze, as tribos
sakha e uisun os primeiros agricultores e criadores de gado fundaram
os assentamentos Terenkary e Butakty no território da cidade de
Almaty.Nas escavações arqueológicas dos antigos assentamentos foi
encontrada cerâmica, instrumentos e artefatos feitos de osso, pedra e
metal Existem inúmeros túmulos funerários nos assentamentos antigos
espalhados pela estepe.Chamam atenção os túmulos gigantes dedicados
aos líderes Sakha.O achado mais famoso e o Homem de Ouro do
túmulo Issyk, o tesouro Zhalaulinsky, o diadema Kargaky, e as peças
de arte em bronze.
Durante a Idade Média (entre séculos VIII-X) a evolução de
Almaty é caracterizada pelo desenvolvimento da cultura, pela mudança
de estilo de vida nômade para sedentária, na prática da agricultura e
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Um olhar sobre o Mundo
artesanato, em conseqüência surgiram vilas e cidades no território de
Semirechie.Assentamentos situados no Alto Almaty tornaram-se
pontos comerciais da Grande Rota da Seda.
- A antiga capital Almaty, é a maior cidade do Cazaquistão,
com uma população de 1.383.158 em 2010.Fundada por cossacos da
região de Omsk como um forte de nome Zailiysky em 1854, aos pés da
cadeia montanhosa de Tian Shan, mais tarde renomeada como Verny,
depois para Alma-Ata. Os devastadores terremotos de 1.887 e
1911,destruíram quase toda a cidade de Verny, cujas casas eram
construídas em tijolos.Em 1918 foi imposto oficialmente o regime
soviético no país. Em 1927, foi transferida a capital da República do
Cazaquistão Soviético, de Kyzyl-Orda para Alma-Ata. Na década de
30, depois do fim da construção da Ferrovia Turquestão-Sibéria, AlmaAta, como era então conhecida, tornou-se o mais importante ponto
intermediário do trajeto da Estrada de Ferro Turksib, inaugurada em
maio de 1929.
- As atrações turísticas de Almaty são, a Catedral Zenkov, o
Memorial à Guerra, Museu Estatal da Arte, a Catedral de São Nicolás,
a Mesquita Muçulmana e os bairros antigos.O Cazaquistão possui
maravilhas como Lago Bolshoe Amatinkoe, situado a 2.500 metros de
altitude.Os Lagos köl-Say estendem-se aos pés das monta-nhas
Küngery Altau, a 110 km de Almaty.O rio Charyn escavou uma
profunda garganta e formou composições rochosas de inumeráveis
formas, cores e de uma espetacular beleza, o Canyon Charin. A
paisagem arqueológica de Tamgaly, é um sitio de petróglifos, localizase a 170 km a nordeste de Almaty.A maior parte dos petró-glifos estão
no Canyon principal, são da Idade do Bronze (4.000-1.200
a.C.),incluído como Patrimônio Mundial pela UNESCO em
2004.A“Saryarqa”designa a amplidão das estepes e lagos cristalinos do
Norte do Cazaquistão inclusive os Planaltos cazaques, foram
designados como Patrimônio pela UNESCO em 2008.
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Um olhar sobre o Mundo
- A extensão da “Saryarqa” inclui a Reserva Natural de
Naurzum (Kostanay) e a Reserva Natural Korgalzhyn (Aqmola). A
reserva contém duas áreas pantanosas que servem de parada para aves
migratórias provenientes da África, Europa e Ásia Meridional. Os
flamingos cor de rosa são uma grande atração na Reserva
Korgalzhyn.A Reserva Natural de Aqsu-Zhabaghly é um parque de 750
km² repleto de bosques e o pico nevado na cordilheira Talssky Altau.A
Reserva abriga impressionante flora e fauna (ursos, leo-pardos,aves de
rapina) O local também acolhe a fauna de estepe como marmotas,lobos
e a saiga (espécie de antílope). As cordilhei-ras do sul com seus
cumes perenemente nevados que ultrapassam os 4.000 metros, seus rios
rápidos que descem em cascatas e os vales povoados com bosques de
coníferas, como lariços, abetos e cedro.
ÁSIA CENTRAL OU TURQUESTÃO OCIDENTAL.
Desde os tempos pré-históricos, tribos nômades nativas das
estepes e das montanhas da Ásia Central habitavam o extenso território
que abrangia o Turquestão situado entre a Sibéria e Afeganistão, o Mar
Cáspio e o Mar de Aral. Em 1925, por decisão do dirigente russo Josef
Stálin, a região que constituía o Turquestão Russo foi repartida entre o
Cazaquistão, Qirguistão, Usbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e o
Sinquião chinês (Xinjiang).
A Ásia Central é uma região que compreende as estepes,
montanhas e desertos entre o leste do Mar Cáspio e o centro-oeste da
China, entre o norte do Irã e Afeganistão e o sul da Sibéria. As
mudanças constantes de clima na região forçaram grandes movimentos migratórios de seus habitantes, o que trouxe tribos indoeuropéias e hunas para oeste, arianas e turcas para o norte, entre
outros.A história da Ásia Central tem sido determinada pelo clima e
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
geografia da região.A aridez da região fez com que a prática da agricultura torne-se deficitária.Portanto, se formaram apenas algumas
grandes cidades, resultadas do comércio da Grande Rota da Seda.
As Estepes são formações de planície, tipo de paisagem
dominada por vegetação baixa, sobretudo herbácea, gramínea e arbustos,
sem árvores, constituída por tufos ou moitas de plantas afastadas umas
das outras, deixando o solo parcialmente descoberto, esparsa e
ressecada. Surge em climas semi-áridos, na faixa de transição entre
climas úmidos para os desertos. Estende-se por toda a Eurásia desde o
Oriente da Europa, segue cobrindo as planícies do Mar Negro e do
Cáspio, difundindo-se por todo o extremo sul da Rússia, pela Ásia
Central, pela Sibéria, Mongólia e norte da China.
A área foi dominada durante milênios pelos povos nômades das
estepes. O estilo de vida nômade era bem adequado para a prática da
criação de gado e cavalos, mas também da guerra e os cavaleiros das
estepes estavam entre os maiores guerreiros do mundo. Quando centenas
de tribos estavam sob o comando de grandes líderes, formaram-se
exércitos quase invencíveis, aterrorizando nações, como a invasão da
Europa realizada pelos hunos, os ataques de Wu Hu à China, a
conquista de grande parte da Eurásia pelos mongóis. A Ásia Central só
esteve unificada sob um governo central durante o período de dominação
mongol no século XIII.
O domínio dos nômades terminou no século XVI, quando
surgiram as armas de fogo que permitiram aos povos sedentários
controlar as defesas. Desde então, a China, que inventou a pólvora no
século IX, desenvolveu uma arma rudimentar aperfeiçoando-a aos
poucos, utilizada nas guerras de conquista e defesa dos seus territórios.
Em 1867, o czar Alexandre II, do Império Russo, ocupou o Turquestão
Ocidental; assim como, outras potências expandiram-se pela região e
dominaram a maior parte da Ásia Central.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
O Turquestão Russo era um imenso território de 3.076.628 km².
Incluído na área de oásis localizada ao sul da estepe cazaque, mas não os
protetorados do Emirado de Bukhara e o Canato de Khiva.O Governo
Geral do Turquestão Russo foi formado em 1868, com a capital em
Tashkent. Cinco anos depois da Revolução Bolchevique de 1917, formase a União das Republicas Socialistas Soviéticas e os países do
Turquestão Ocidental passam a fazer parte da União Soviética. Após o
colapso da URSS 1991, os cinco países do Turquestão Russo,
sucessivamente, declaram a sua Independência da Rússia, retomam seus
territórios e organizam seus governos.
Atualmente o Cazaquistão possui uma área de 2.729.900 km², o
Quirguistão uma área de 199.945 km², o Tajiquistão uma área de
143.100 km², o Turkmenistão uma área de 488.100 km² e o Usbequistão
uma área de 447.400 km². A outra região da Ásia Central o atual
Xinjiang, pertence à República Popular da China, embora sua população
constitua-se majoritariamente de Uygures.
República do Cazaquistão
Cazaquistão é um país localizado na Ásia Central, é o nono
país em área territorial com 2.724.900 km², um dos maiores países do
mundo.Cazaquistão obteve a sua independência com a dissolução da
União Soviética, em 1991.Possui uma população de 18,7 milhões
(2012).Seu território se estende de oeste para leste desde o Mar Cáspio
até as montanhas Altai na divisa da Mongólia, e do norte para o sul
abrange desde as planícies da Sibéria Ocidental aos oásis e desertos da
Ásia Central.Limita-se ao norte e oeste com a Rússia por 6.846 km de
fronteira; a leste por 1.533 km com a China, ao sul por 1051 km com o
Quirguistão, por 2203 km com o Usbequistão e por 379 km com o
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Turcomenistão e a oeste com o mar Cáspio.Entre as principais cidades
estão Astana, Almaty, Karagandy, Shymkent, Atyrau e Oskemen.
O Mar Cáspio, com a área de cerca de 400.000 km² é um mar
fechado, sem efluentes, de água salgada (0,05%). Tendo mais de 1.200
km de comprimento e um máximo de 450 km de largura, sua extensão
costeira se estende por 5.894 km (6.500 km com as ilhas), com uma
profundidade média de 180 metros, mas que pode atingir até 1.025
metros em alguns pontos. Vários rios deságuam no Cáspio, como
Terek, Ural, Emba, Kura, Samur, Atrek, entre os 130 rios principais,
mas o mais importante deles é o Volga, rio que nasce nas colinas
Valdai a noroeste de Moscou, na Rússia. Tem 3.688 km de
comprimento e sua bacia se estende por 1.380.000 km².Tudo que
acontece ao longo do vale do Volga, tem amplas repercussões sobre o
Mar Cáspio.
Durante grande parte do século XX, a soberania sobre o
Cáspio foi compartilhada entre a União Soviética 87% e o Irã 13%, os
dois países banhados pelas águas do mar. Com a desintegração da
União Soviética em 1991,o Cáspio passou a banhar o litoral de cinco
países independentes.Nesse contexto a Rússia foi obrigada a dividir os
87 % do acesso ao litoral do Mar Cáspio com os novos países. Ao
Cazaquistão coube 29% ou 2.320 km; a Rússia ficou com 19 %,
correspondendo a 695 km; o Azerbaijão com 21%, ou 955 km, o
Turcomenistão 18 % ou 1.200 km; Irã 13 % ou 724 km. A região do
Cáspio é considerada a terceira zona com maiores reservas em
hidrocarbonetos o mundo, depois do Golfo Pérsico e da Sibéria.
A paisagem do oeste do Cazaquistão consiste de extensos
desertos com alguns lagos salgados no meio. É aqui, no deserto, que se
concentram as grandes reservas de gás natural e de petróleo, cujos
projetos de extração estão a cargo da companhia americana Chevron.
Situada às margens do Cáspio a cidade de Atyrau está sendo ocupada
por trabalhadores da Companhia petrolífera.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Há muitos rios e grandes reservatórios no Cazaquistão. No
oeste e sudeste é banhado pelo Mar Cáspio numa distância de 2.320
km. O rio Ural e seus afluentes fluem para o Mar Cáspio,a leste do
Cáspio surge nas areias o grande Lago ou Mar de Aral, que recebe as
águas dos rios Amudarya e Syrdaria.Há cerca de 7.000 lagos, entre eles
estão: o Lago Balkhash nas areias do Cazaquistão Central, Lago
Zaysan no leste, Lago Alakol no sudeste e Lago Tengiz no sul.Os
maiores rios do país são: o Irtysh, Ishim, Ural, Syrdaria, Amudaria, Ili,
Charyn, Tobol e Nura.Os principais rios que nascem nas Montanhas
Tien Shan são o Syrdarya, o rio Ili e o rio Tarim. O rio Irtysh nasce nas
montanhas Altay.
A grande parte do território de Cazaquistão resume-se a
planaltos. Os planaltos erodidos do leste com colinas rasas, depres-sões
e lagos de águas salinas. Há também várias cadeias monta-nhosas,
inclusive ao longo das fronteiras leste e sudeste (com a Rús-sia, a
China e o Quirguistão) e na Cordilheira Karatau ao sul, inclu-indo
vastas áreas baixas como a depressão Kaundy, que chega a 132 m
abaixo do nível do mar.
O sul e leste tem grandes extensões de montanhas selvagens e
intocadas como Tien Shan e Altay, que podem atingir até 7.010 m de
altitude no pico Khan Tengri e 7.439 m no pico Pobeda, os pontos mais
elevados do país.A Cadeia de Montanhas Altay estende-se por cerca de
2.100 km, ramifica-se nos Montes Sayan Oriental e Tannu-ola, na
Republica de Tuva, na fronteira com a Rússia, Cazaquistão, e
Mongólia, ponto onde se destaca a máxima elevação de Altay, o Monte
Belukha,com 4506 m.
A Cordilheira Tien Shan começa na China, no norte da cidade
de Kumul (Hami) a leste de Urumqi.As montanhas Tien Shan se
estendem por 3.000 km, com 600 km de largura, ficam ao norte e ao
oeste do deserto de Taklamakan e diretamente ao norte da bacia do
Tarim, na região fronteiriça sul e sudeste do Cazaquistão, Quir-guistão
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
e a Região Autônoma Uygur de Xinjiang da China Ocidental. As
montanhas da formação são Barlyk, Dzhungar Alatau, Zailii Alatau,
Talas Alatau e Kengey Alatau. O lado sul, destas montanhas se fundem
às Montanhas Pamir no Tadjiquistão e para o norte e leste, ligam-se às
Montanhas Altay da Mongólia, e no norte do Paquistão se juntam às
montanhas do Hindu Kush.
Estendendo-se de norte ao sul a superfície do Cazaquistão é
coberta por 26% de deserto, 44% de semideserto e 24% pela estepe
que ocupa 804.500 km², embora ao norte atinja 6% na zona da taiga. A
área de florestas ocupa 105.000 km².Esquemas de irrigação do
governo socialista russo, tornaram produtivas enormes áreas da estepe,
entre o Mar de Aral e o lago Balkhach. Grande parte da zona de
floresta-estepe é composta por solo negro, fértil, o “Chernoziom”,
próprio para agricultura, explorado intensamente pelo governo russo.
O deserto do Cazaquistão é uma região árida, com chuvas
raras e temperatura alta no verão, tempo severo e intenso frio no
inverno. Fortes ventos trazem tempestades de areia. O clima do país é
continental, com verões quentes e invernos frios.Espalhados sobre a
estepe cazaque encontram-se montes com túmulos de nobres
guerreiros, de dimensões impressionantes, entre eles a necrópole
Bergazy e Dandybai no Sary-Arca, Tegisken e áreas Priaralie. Eles
contêm as armas dos guerreiros mortos, como machados, punhais de
bronze, lanças, facas, jóias de bronze e carroças com seus cavalos.
A história do Cazaquistão descreve o passado humano na
maior superfície da Eurásia.O cinturão de estepes foi o habitat de
numerosos grupos humanos que começam com o Pithecanthropus e
Sinanthropus, extintos, viveram há 800.000 anos nas Montanhas
Karatau, nas áreas do mar Cáspio e lago Balkhash; os Neaderthais
entre 140.000 a 40 mil anos a.C., nas encostas da Cordilheira Karatau,
próximo ao rio Syrdaria (Yaxartes).As montanhas Karatau estão
localizadas no sul do Cazaquistão, ao norte do rio Syrdaria. As
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
montanhas,contêm sítios arqueológicos da Idade da Pedra, que
representam vários estágios de evolução cultural desde o inicio da
Idade do Paleolítico (4.500.000) para o Neolítico (8.000-4.000)a.C.
A chegada do moderno Homo Sapiens há 60.000-12.000 anos
atrás, espalhou-se pela imensidão das estepes do Cazaquistão após o
fim do último Período Glacial. O território tem sido habitado desde a
Idade da Pedra, 8.000 anos a.C. pelas culturas Atbasar, Kelteminar,
Botai, Mokanjar, Ust-Narym e outras culturas arqueo-lógicas. Á cultura
Botai (4.000- 3.600 a.C.) é creditada a primeira domesticação do
cavalo.As tribos praticavam a pecuária nômade favorecidos pelo clima
e pastos abundantes.Nas estepes, vales de rios e montanhas do
Cazaquistão foram encontradas cerâmica e ferramentas de pedra polida
da época Neolítica.
A mudança das condições climáticas forçou o deslocamento
maciço de populações para fora do cinturão das estepes.O período de
aridez que durou um milênio a partir do 2° milênio a.C.foi a causa do
despovoamento da região,sua população se deslocou para o norte para a
zona de florestas da Sibéria e norte da China.Com o fim do período
árido, 1.200 a.C. no inicio da Idade do Ferro, novas popu-lações, de
sakhas-citas que segundo estudos arqueológicos conhe-ciam a escrita,
vindas do leste da Mongólia, formaram alianças com as tribos de usuns
e alanos que viviam próximos e povoaram as áreas
abandonadas.Criaram-se novos agrupamentos a partir do século VII
a.C.e no século III a.C. surgiu o Império Huno que abran-geu todo
Cazaquistão e absorveu mais 26 povos independentes unin-do as tribos
das estepes e os povos das florestas em um único estado.
O clima e as extensas estepes são apropriados para o pastoreio de animais. Os cazaques nativos eram um povo nômade,que amava
a liberdade das estepes, de origem turca pertenciam a várias tribos,
agrupadas em aldeias, viviam em tendas feitas de couro de boi (yurtes)
colocadas sobre rodas de madeira e puxadas por bois, o que facilitava o
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
deslocamento de um lugar para outro, a procura de pastagens verdes
para seus rebanhos.
- As montanhas do Cazaquistão abrigam pastos verdes de uma
profusão admirável, que no verão se cobrem de flores silvestres numa
explosão de cores. Nos rios abundam as marmotas, trutas, e lúcios,
peixes que servem de alimento para as águias. Existe em abundância a
fauna selvagem, como o lobo cinzento, o lince e o javali.Nas
montanhas do sul encontram-se alguns exemplares de leopardo das
neves. A população concentra-se no norte e no sul, onde ficam as terras
mais férteis e as cidades industrializadas. Na agricultura, cultivam-se
cereais em grande escala, frutas, batata, legumes e algodão. Produz lã
de alta qualidade. Há imensas reservas de petróleo e gás, carvão,
minerais, ferro, cobre,níquel, prata e ouro.
POVOS ASIÁTICOS DA ANTIGUIDADE
- A Cultura Botai, como é conhecido o grupo pré-histórico
cazaque, pode estar entre os mais antigos ancestrais dos indo-europeus,
etnia cujos dialetos deram origem a quase todas as línguas faladas na
Europa, do português ao russo, bem como aos idiomas do Irã e da
Índia. Os primeiros indo-europeus eram da cultura Botai, surgiram nas
estepes do Cazaquistão. Achados arqueológicos de fósseis de cavalos,
nos assentamentos da cultura Botai sugerem a criação e domesticação
de eqüinos selvagens, por volta de 3.600 a.C. Os cavalos serviam como
montaria, na caçada e na guerra, também como fonte de leite, carne e
couro.
As escavações arqueológicas indicam que o sul do Cazaquistão foi habitado pelo homem desde o Paleolítico (4.500 a.C.)
Tribos de pastores nômades Citas (Sakhas) criavam gado, também se
dedicavam à metalurgia do bronze (1500 a.C.), fabricavam punhais,
facas, jóias e utensílios domésticos de cerâmica. Até o inicio do
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
primeiro milênio a.C. a tribo Cita ocupou o território das estepes, a
tribo Savromat o norte e oeste, os Kangues a região do Syrdaria e os
Usuns (cuja escrita, armas e jóias foram preservados), o sul. Até o
século IV d.C., a maioria dos Sakhas e Usuns de língua turca se mudou
para oeste e fundaram novos estados, como o Canato Turco Ocidental,
cujas tribos se estabeleceram na Rota da Seda.
A origem e a localização exata da antiga Citia consta como
sendo a região das encostas dos Montes Altai, onde atualmente situa-se
a República de Tuva com a capital Kyzyl, no sul da Sibéria, fronteira
com a Mongólia. Os povos do tronco Cito-Sármata são herdeiros de
uma história de guerras por sobrevivência e criação de múltiplos reinos
e impérios de curta duração ao longo de vastas extensões de terras em
contínuas alterações de fronteiras.
Em 1914, perto da aldeia de Andronovo, no sitio arqueoló-gico
situado no vale do Yenissei, rio que nasce nas montanhas Tannu-Ola,
na República de Tuva, sul da Sibéria, corre por 4.129 km pela taiga
siberiana e deságua no Mar de Kara.Nas baixadas e vales foram
descobertos vários cemitérios com esqueletos humanos e cerâmica
elaborada com rica decoração. Os arqueólogos deram o nome de
Andronovo à cultura da Idade do Bronze do II milênio a.C.. A Cultura
Andronovo cobre uma vasta porção da Ásia Ocidental, encontra-se com
a Cultura Srubnaya entre os rios Volga e Ural e estende-se para o leste
para a Depressão Minusinsk, entre o Alatau Kuznetsk e as montanhas
Sayan. Sítios são encontrados ao sul até o sopé das montanhas Dag
Kopett, do Pamir e Tien Shan. Além disso, há uma extensa cadeia de
Cultura Andronovo na zona de floresta-estepe, na Sibéria.
A Cultura Andronovo é de grande importância para a
compreensão da história inicial dos povos de língua indo-iraniana. A
idéia é que os complexos arqueológicos de Andronovo e Srubnaya
tivessem sido povoados por indo-iranianos, que se estabeleceram na
região no final do 3º milênio a.C.O sitio arqueológico mais antigo da
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
cultura Andronovo se encontra a sudeste dos Montes Urais,datando de
2.300 a.C.( Idade do Bronze).Restos arqueológicos de citas incluem
elaboradas tumbas contendo ouro, seda, cavalos e sacrifícios humanos.
Técnicas de mumificação e terra congelada têm ajudado na relativa
preservação de alguns restos.
A cultura Andronovo estendeu-se por toda a área do
Cazaquistão até a Sibéria durante o 2º milênio a.C.É representada por
uma grande variedade de assentamentos e sítios com cemitérios. Os
assentamentos Andronovo são geralmente situados nas margens de
pequenos rios ou várzeas baixas.Eles podem ser de dois tipos:
pequenos,com várias casas de troncos de madeira,ou de grande por-te,
com 10 a 100 casas, espaçosas, de até 100 m², semi-subterrâneas
aprofundadas no solo, com corredores em forma de saída.A economia
da Cultura Andronovo na Europa Oriental foi baseada em pecuária,
complementada por alguma agricultura, caça, pesca e coleta.Por este
tempo foi avançada em metalurgia e concentrada em centros na Ásia
ocidental: nos Urais, Cazaquistão, Sibéria ocidental e no Altai. A
produção de metal foi uniforme em toda a região.
A Citia foi uma extensa região na Eurásia habitada desde os
séculos XVII a.C. até o inicio da Idade Média, por um grupo de povos
indo-europeus falantes de línguas iranianas conhecidos como Citas. O
território da Citia incluía as planícies da estepe pôntica (Pontus
Euxinus) da costa ao norte do Mar Negro, o Cazaquistão, o sul da
Rússia e a Ucrânia, a região norte do Cáucaso, incluindo Azerbaijão,
Sarmátia, Bielorússia e Polônia até o Mar Báltico (antigo Oceano
Sarmático) o baixo Danúbio e o Sakastan, situado no leste do Irã e o
Baluchistão, região habitada por Indo-Sakhas (Citas).
A mais importante tribo Cita mencionada nas fontes gregas
residia nas estepes entre os rios Dnieper e Don.A língua dos Citas e dos
Sármatas tinha forte similaridade com dialetos iranianos orien-tais,
como o sogdiano, entretanto,ainda que houvesse semelhanças
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
culturais,eram desde o principio possuidores de idiomas e morais
diferentes.Os Sakhas eram citas asiáticos, são referidos pela pri-meira
vez nos anais assírios como Ishkuzai por volta de 700 a.C.Os Citas são
mencionados na Bíblia no capítulo 38 do livro de Ezequiel Nesta
passagem da Bíblia o profeta usa o nome hebraico Magogue. O
historiador judeu Flávio Josefo diz que os magoguitas eram chamados
de Citas pelos gregos.
Os Citas eram pastores nômades eqüestres e invasores. Ao
lutar, montavam cavalos velozes e eram ferozes combatentes. Fundaram o primeiro grande império nômade de toda Eurásia Central, e
que no seu apogeu habitavam uma área imensa que ia desde as estepes
da Ucrânia até o noroeste da China e do Estreito de Bhering na Sibéria
Meridional até o Norte da Índia. Dominavam vastas terras, recortadas
por possessões de outros povos das estepes, das tundras e taigas, ou
atravessadas por povos totalmente nômades. Organizados em
confederações de clãs, reuniam grandes exércitos quando necessário.
Praticavam a metalurgia e ourivesaria muito avançada, usavam cavalos
para combate na guerra, criavam gado, carneiros e camelos.
Sob a proteção do ambiente hostil e dinâmico das estepes os
povos citas eram considerados como um dos povos mais ferozes em
combates. Invadiram a Mesopotâmia no ano 530 a.C. lutaram e
venceram Ciro o Grande, Imperador da Pérsia, combateram contra
Filipe da Macedônia e contra seu filho Alexandre o Grande, no ano 333
a.C. lutaram e venceram muitas vezes contra os Romanos e os
Hunos.Durante a Idade Média, os Citas e os Sármatas se dispersaram
pela Europa e miscigenados teriam formado a maioria dos povos do
leste europeu.
Sepultavam seus reis em grandes túmulos de pedra. Um túmulo
cita, foi encontrado na região de Issyk Köl perto da cidade de Almaty.
Restos arqueológicos de Citas incluem elaboradas tumbas contendo
jóias de ouro, seda, cavalos e sacrifícios humanos. Eles usavam
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
sofisticadas técnicas de mumificação. Os Citas ainda existentes, já
foram na Antiguidade um dos povos mais violentos, mais temidos e
que mais terras dominavam. Considerados como sanguinários,
possuíam um xamanismo guerreiro assentado sobre as virtudes da
guerra, mas também eram artífices, lavradores e comerciantes.
Os reis Citas não eram apenas guerreiros, mas também
sacerdotes supremos.Os costumes dos Citas foram descritos pelo historiador grego Heródoto de Halicarnasso, em seu livro “História”.A
arte Cita era animalista, muitas vezes parecendo reproduzir a idéia de
metamorfose, nos detalhes de suas pinturas e ourivesaria elaborada com
figuras de peixes e animais, artefatos encontrados em seus túmulos, nos
diversos sítios arqueológicos no sopé dos Montes Altai na
Mongólia.Também foram encontrados restos de uma civilização cita de
2.500 a.C. na região do Lago Issyk Köl no Quirguistão.O Alatau
Kyungey da cordilheira Tien Shan corre paralelo a costa norte do lago
Issyk Köl, daqui se vêem seus picos nevados.(Alatau, nome genérico
para série de cadeias de montanhas, caracterizado por intercalação de
áreas de vegetação, pedras espalhadas e neve).
Nos séculos IV-III a.C.os Citas, estabeleceram seu primeiro
estado no território do Cazaquistão, com a capital em Zhetusy.Os Citas
assim como seus parentes Sármatas englobam nações dife-rentes entre
si, os Sármatas possuem muito mais etnias do que os Citas sendo
difícil classificá-los,mesmo porque, alguns são miscige-nações.Em seu
tempo os Sármatas ocuparam o norte e oeste do Mar Negro, geraram
mais Estados, alguns dos quais ainda são Sarmátias, existem como
diversas Repúblicas Federadas Russas na região Caucásica. Algumas
comunidades Sármatas habitam nas regiões do Vale do Tarim e do
Taclamakan na província de Xinjiang na China.
Entre os anos 209 a.C.a 216 d.C.as tribos Xiong-nu, ou hunos
asiáticos que viviam na Mongólia, emigraram da região de Ordos, no
ano 85 a.C.para se estabelecer em Soghdiana e Transoxiana, próximo
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
ao rio Talas, onde criaram um novo Império.Os Xiong-nu eram um
povo antigo, nômade, da Ásia Central, talvez descendente de várias
tribos turcas, uma fusão com elementos turcomanos, mongol e tocario
iraniano. Na realidade os hunos não eram um povo etnicamente
homogêneo, mas provinham de diferentes grupos étnicos das estepes e
florestas, de origem turca, yenisseica, tungusa, yacuta, irãnica,
mongólica.
No inicio da Era Cristã essas tribos organizadas em exércitos,
montados em cavalos velozes criados nas estepes, foram se deslocando
rumo à oeste invadindo a Europa. Eram hordas de guerreiros hunos,
ávaros, visigodos, alanos, vândalos, godos, esla-vos. Por volta do
primeiro século d.C.,as incursões ao norte da China, deram inicio a
uma série de invasões que, nos quatro séculos seguintes, ameaçaram as
civilizações estabelecidas na Europa, norte da China, Pérsia e
Índia.Tais invasões foram causadas pelos avanços dos nômades da Ásia
Central e resultaram no retrocesso das civili-zações.
Os invasores não eram somente povos de origem indoeuropeia, eram povos do nordeste da Ásia, ligados por parentesco e
tradições comuns, e tinham se espalhado a partir de uma única
região.Tinham tipo físico variado, mas em geral com características
mongólicas. A maioria falava idiomas de grupos altaicos do nor-deste
da Ásia, como dialetos turcos.Eram povos de pastores nômades.Estabeleceram alianças com diversas tribos de cavalarias móveis
que incluíam nômades iranianos e tribos mongólicas das florestas da
Sibéria,mongóis,tártaros,turcos,ávaros,visigodos,hunos,alanos,sakha.
A maioria das grandes confederações de guerreiros não era
inteiramente da mesma etnia, mas uma mistura entre clãs euroasiáticos. Pesquisas modernas mostram que cada uma das grandes
confederações dos guerreiros das estepes tais como: sakhas ou citas,
xiong-nu, hunos, ávaros, khazares, mongóis, etc. não eram iguais, mas
uniões de múltiplas etnias como a dos turcos, tártaros, ienisseianos,
Monika Gryczynska
82
Um olhar sobre o Mundo
tungusicos, úgricos, irãnicos, eslavos, mongólicos e muitos outros
povos. Foram descobertas múmias no vale do Tarim, no deserto de
Taklamakan, no Xinjiang (China),que datam de 1800 a.C.a 200 d.C.A
característica notável dessas múmias é o seu tipo fí-sico
caucasóide,também aparecem muitas outras de tipo mongólico.
O berço dos povos turcos da Antiguidade é a taiga siberiana,
região junto à fronteira norte da China. Por volta do século XIX a.C.,
das montanhas da Transbaikalia, do vale do Orkhon e das margens do
rio Selenga,os primeiros turcos começaram a se deslocar para o sul.
Nas suas lentas migrações trocaram as florestas siberianas pelas estepes
da Mongólia.Tornaram-se pastores nômades criavam cavalos, gado,
camelos e ovelhas.Esses povos mantiveram sua reli-gião original
xamânica, o tengriismo.Com o passar dos séculos dis-seminaram-se
pelo mundo, diferenciando-se entre si. São de origem turca povos tão
diferentes como os hunos, os ávaros, os seljúcidas, os búlgaros, os
húngaros, os finlandeses, os estónios e os azeris.
Os cultos tradicionais da Ásia Central, geralmente referidos
como xamanismo, sobrevivem em muitos lugares, muitas vezes
disfarçados com sincretismo. Na Sibéria, pós-soviética, 300 anos após
sua conversão forçada, os iacutos e demais povos siberianos rejeitaram
o cristianismo ortodoxo em favor do xamanismo.Muitos voltaram a
cultuar Tengri “ Deus do Céu Azul ” dos mongóis e dos povos
habitantes das estepes.Veneravam o sol, a lua, o fogo, a água e a terramãe, enfim, cultuavam a natureza e lhe ofereciam sacrifícios.
Entre os anos 500 a.C. e 500 d.C.o território do atual
Cazaquistão abrigou diversas culturas nômades guerreiras como a dos
Citas (Sakhas), sármatas, hunos, alanos, turcos, uygures, entre outras
tantas.Os idiomas das primeiras sociedades tribais evoluíram
distanciando-se.As línguas turcas constituem uma família lingüística de
cerca de trinta línguas, falada através de uma vasta área desde a Europa
Oriental e Mediterrâneo à Sibéria e oeste da China.Hoje diferentes
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
povos falam línguas turcas como os usbeques, os caza-ques,os
quirguizes, os turcomenos, os iacutos e os turcos da Turquia.
Os Uygures é um povo de origem turco-ariana, com uma
cultura que data de 20.000 anos.Diz a lenda que são remanescentes do
continente desaparecido de Lemúria. Com um passado brilhante, a
história dos Uygures se confunde com a da raça ariana.O primórdio do
Império Uygur na Mongólia consta desde ano 742 até sua queda em
848 d.C.Viveram na Mongólia onde floresceu seu Grande
Império.Possuíam um elevado grau de civilização e bom tino comercial.Estavam numa posição estratégica da Rota Oriental da Seda.
Depois da destruição do Império por um cataclismo climático
migraram para várias partes, incluindo a Europa, dando inicio às
civilizações eslavas, celtas, irlandesas, bretões e bascos. O povo uygur
de hoje é uma mescla de povos turcos da Ásia Central, hunos e outras
etnias.Os remanescentes residem numa província autônoma da
China,chamada Turquestão Oriental ou Xinjiang, foram anexados pela
China na dinastia Manchu, em 1876.
Os hunos eram povos bárbaros da Ásia Central, de origem
turca (ou proto-turco-mongol), identificados com os Xiong-nu e com os
Uygure, povos aparentados, de língua turcomana que habitou a
Mongólia. Os hunos eram guerreiros nômades, extremamente violentos e sanguinários, sua fixação na Ásia Central remonta ao século XII
a.C. fundaram vários impérios.Os hunos do Extremo Oriente eram
descendentes dos Xiong-nu..Os nômades do Grande Império Xiong-nu
já eram bem conhecidos no século IV a.C. pelas violentas incursões
que faziam ao Norte da China, que para proteger-se contra os invasores
construiu a Grande Muralha, em 304 a.C.Emigraram da Mongólia no
primeiro século d.C.
Acredita-se que os hunos era um povo formado por várias
tribos nômades, com uma mescla genética e cultural, foram um grupo
etnicamente diversificado. Ocuparam a Mongólia por muitos séculos e
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Um olhar sobre o Mundo
deram origem a duas linhagens de hunos, os hunos brancos e os hunos
negros. Nos séculos IV e V.d.C. houve novas invasões dos nômades
hunos negros na Europa.Os hunos brancos ocuparam o Império Persa
no século V d.C.
Movendo-se com suas yurtes (casas sobre rodas de madeira),
com as famílias e grandes rebanhos de animais e cavalos domesticados, eles migraram em busca de novos pastos para se estabelecerem.Dirigiram-se em direção sul da Rússia no século IV, e
ocuparam a bacia fértil do Baixo Danúbio, se fixaram nas planícies
húngaras, no leste europeu. Dessas áreas de pastagens férteis, os hunos
controlavam um império que se estendia dos Montes Urais (na
Rússia)ao rio Reno (na França) e do Báltico ao Danúbio.Quando
chegavam numa região, espalhavam o terror, pois eram extrema-mente
violentos e cruéis com os inimigos.
O surgimento do Império Huno de Kushan que se estabe-leceu
nas terras baixas da Província Turan de Atyrau, nos territórios da antiga
Báctria, ao redor do rio Amudarya (antigo Oxus), no final do século I
a.C,.No inicio do século IV d.C.,tinham como líder um nobre chamado
Kushan Malkar de Khi, época que marca o inicio das grandes
migrações utilizando cavalos como cavalgadura e transporte de cargas.
Os hunos eram ótimos e velozes cavaleiros, treinados desde a infância a
montar em cavalos selvagens domados por eles. Foram os inventores
dos estribos de pé em que se apoiavam quando galopando em seus
cavalos velozes, atiravam habilmente para todos os lados com seus
arcos compostos, recurvados, técnica desconhe-cida no ocidente.
Malkar reuniu dez tribos das estepes na Primeira Confede-ração
tribal turca.O Império proto-turco do clã Dulo espalhou sua influência
até a Europa Central.Invadiram a Europa sob a chefia de Dulo Átila nos
anos 370 a 408.Por volta de 452, Átila não chegou a atacar Roma por
estar doente e seu exercito extenuado pelas campanhas,ele desistiu e
retornou ás estepes asiáticas.O Império desintegrou-se após sua morte
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
em 453, com nenhum líder forte para mantê-los unidos. Átila, o
Huno,era descendente do clã Dulo,dinastia governante dos alanos do
Delta do Volga.
Os Kushans foram um dos cinco ramos da Confederação Yuezhi (tocarios, indo-europeus), povo nômade que havia migrado da bacia
do Tarim obrigados a abandonar suas terras em Gansu, no noroeste da
China, estabelecendo-se na antiga Bactria.A ascensão do Império
Kushan, da Horda Yuez-hi, parentes dos hunos e dos Xiong-nu que se
fixaram no vale do rio (Oxus) Amudarya, região do Mar Cáspio, desde
165 a.C. a 225 d.C. e aos poucos estendem seus domínios até Mathura
na Índia no século I d.C.Grandes áreas de Afeganistão e Khotan foram
anexadas ao Império Kushan.No inicio do século IV, o ultimo dos
reinos Kushan, na Índia, foi conquistado pelos hunos brancos ou
eftalitas,outro povo indo-europeu.
Os alanos eram povos de diversas origens asiáticas, que
falavam uma língua iraniana e compartilhavam da mesma cultura. Era
um grupo de pastores e guerreiros nômades iranianos entre os povos
Sármatas, se estabeleceram na Sarmácia entre o Mar de Azov e o
Cáucaso, no século V d.C. invadiu e dominou a Gália e a Península
Ibérica.Os arianos se estabeleceram na Pérsia desde o final do 3º
milênio a.C. sua pátria era Ariana atual território do Afeganistão. Seu
Império foi destruído pelos hunos asiáticos
Os hunos de Átila também devastaram o Império Sassânida do
Irã, fundando uma dinastia no norte da Índia, os Xiong-nu.
Quatrocentos anos depois do colapso do poder Xiong-nu no norte da
Ásia Central, a liderança dos povos turcos passou a ser dos Göktürk,
seus descendentes, eles herdaram suas tradições e experiência
administrativa. Os sucessores dos Xiong-nu na Ásia Oriental, os
Göktürk (turcos azuis) eram povos originários do norte da China,
descendentes dos grupos étnicos altaicos.A primeira menção conhecida
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
do termo turk aplicado a um grupo turco foi em referência aos göktürks
no século VI, conforme consta de um registro chinês.
A principal onda de migração dos turcos, que estavam entre os
mais antigos habitantes do Turquestão, ocorreu na Idade Média,
quando eles se espalharam através da maior parte da Ásia, chegando à
Europa e ao Oriente Médio. Os turcos azuis governaram desde os anos
552 a 745, um Império que ia da Manchúria, no norte da China,
abrangia a Mongólia, as regiões dos Montes Altay e do lago Baykal,
estendia-se às estepes áridas a oeste do rio Syrdarya (Yaxartes), até o
Mar de Aral e rio Amudarya (Oxus). Os turcos seljúcidas eram
aparentados com os hunos e os Xiong-nu.Os hunos eventualmente
desapareceram da história após uma leva de novos invasores, como os
Ávaros.No final do século VI,o clã Dulo das Dez Tribos se sepa-rou
dos Göktürks para se tornar o Império Khazar da Província de Atyrau,
nas estepes do Mar Cáspio.
As investigações arqueológicas de memoriais turcos lhes
permitiram relacionar com os turcos específicos grupos tribais. Escavações nas proximidades da Cordilheira Sayan-Altai mostrou que
havia culturas que poderiam estar relacionadas com os Quirguizes,
Kypchaks, e Oguzes.A lingua turca era falada por diversos povos cujo
centro estava em Altai.
As guerras tribais, a luta pelo poder e pastagens das estepes,
montanhas e vales do Cazaquistão obrigou algumas tribos turcas a
mover-se para o sul e se estabelecer na Ásia Central ( Turghuses,
Karluks, Uzbeques, Oguzes e Seljúcidas), no Sul da Ásia e do Cáucaso
(Turcomenistão e Seljúcidas) e na Europa (Kangars-pechenegues,
Kypchaks,Turcos Oguzes e Karakalpaks). As cidades de Taraz, Otrar,
Ispidzhab e Talkhir estavam na Grande Rota da Seda que ligava o
Oriente ao Ocidente.Diversas mercadorias eram transportadas em
grandes caravanas de camelos: como seda, tecidos, pedras preciosas,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
ouro e prata, medicamentos, corantes, cavalos, elefantes, leopardos,
avestruzes e escravos para venda.
Os Ávaros são considerados um grupo túrquico proto-mongol
procedente da Mongólia, aparentado com os hunos. Origi-nalmente
eram da Sibéria Ocidental, viviam nas encostas dos Montes
Urais.Conservaram-se sempre como pastores e guerreiros nômades,
nunca se adaptaram a agricultura.Invadiram e se estabeleceram no sul
da Ucrânia as margens do Mar Negro.Por volta do ano 560 os domínios
ávaros iam do Volga até a foz do Danúbio. Um outro ramo Ávaro ou
hunos brancos eram povos de origem uralo-altaica, pasto-res nômades
das estepes da Ásia Central, foram conduzidos para oeste, pelos turcos
azuis seus parentes, assolaram a Europa durante três séculos(558 a
823), foram derrotados por Carlos Magno,e a partir de 822 esse povo
desapareceu da história, talvez assimilado por outras etnias.
Em 766,os Karluqs, Naimans e Tangutes, organizados numa
confederação de tribos turcas, estabeleceram um Estado no que é hoje o
Cazaquistão Oriental.Nos séculos VIII e IX, porções do sul do
Cazaquistão foram conquistados pelos árabes, que introduziram o Islã.
Durante os séculos VIII até XI,os turcos Oghuz controlaram o oeste do
território e os turcos Kimek e Kipchak ocuparam o leste em 7431220.O grande deserto central do Cazaquistão ainda é chamado de
estepe Kipchak.Cidades antigas como Taraz, Hazrat e Turkestan foram
fundadas, serviam como importante parada ao longo da Rota da Seda,
que ligava o Ocidente ao Oriente.
Uma consolidação política do território só foi iniciada com a
invasão mongol do inicio do século XIII.Em 1.124-1.218, Genghis
Khan conquistou o Canato Kara-Khitan e Cazaquistão caiu sobre o
controle da Horda de Ouro do Império Mongol até 1446.O Canato
Cazaque foi fundado em 1456, na parte oriental do sul da atual
República do Cazaquistão.O Canato nem sempre teve um governo
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Um olhar sobre o Mundo
unificado, afim de ter um khan comum, e em 1867 foi incorporado ao
Império russo até 1918, como Turquestão Russo.
A colonização do Cazaquistão pela Rússia foi retardada por
várias insurreições e guerras das populações autóctones, contra a
ocupação russa, no século 19. A construção de fortes e acampa-mentos
militares começaram a ter efeito destrutivo sobre a economia cazaque
tradicional, limitando o território outrora vasto sobre o qual as tribos
nômades podiam pastorear os seus rebanhos.O fim do nomadismo
começou em 1890, quando grande quantidade de colonos russos foram
assentados nas terras férteis do norte e do leste do Cazaquistão. Entre
1906 e 1912, mais de meio milhão de fazen-das russas foram
implantadas.
A construção de Estrada de Ferro Trans-Aral, entre Oremburgo e Tashkent facilitou ainda mais a colonização russa. O gover-no
de Moscou fez uma enorme pressão sobre o modo de vida tradi-cional
cazaque ocupando pastagens e uso de recursos hídricos escassos. A
fome e o deslocamento das suas terras, fez muitos cazaques juntar-se à
Revolta Geral da Ásia Central, contra o recru-tamento de homens para
o exercito imperial russo na Primeira Guerra Mundial.
Em 1916, as forças russas reprimiram com violência a
resistência à tomada da terra e recrutamento, milhares de cazaques
foram mortos e milhares fugiram para a China e Mongólia.Durante a
grande fome de 1921, milhões de cazaques morreram de inanição.A
repressão soviética da elite tradicional, somada à coletivização forçada
das décadas de 1920 e 1930, trouxe fome e instabilidade. Entre 1926
1939 a população do país diminuiu em cerca de 22%, devido à fome,
violência e migração em massa.
A República Autônoma Socialista Soviética do Quirguistão
foi criada em 1920, e foi rebatizada para República Autônoma
Socialista Soviética do Cazaquistão em 1925, e Alma-Ata tornou-se
sua nova capital. Em 1936, o território foi incluído como república
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
soviética, ocasião em que experimentou um influxo populacional de
milhões de exilados de outras partes da União Soviética, no decorrer
das décadas de 1930 e 1940. Muitas das vítimas das deportações foram
mandadas para Sibéria ou ao Cazaquistão meramente por sua herança
étnica ou seus credos políticos e foram internados nos gigantescos
campos de trabalhos forçados.
Com o golpe da linha dura de Moscou contra o governo de
Michail Gorbatchev, em agosto de 1991, seu governo desmoronou e 11
das 15 repúblicas soviéticas assinaram a Declaração da Dissolu-ção da
U.R.S.S. No dia 16 de dezembro de 1991 surgia um novo país.A
República do Cazaquistão apareceu no mapa geopolítico do
mundo.Desde o fim da União Soviética o país é governado pelo
presidente Nursultan Nazarbayev, que se elege sucessivas vezes e
promove o crescimento da economia com investimentos externos na
extração crescente de petróleo e gás.
Ele reestruturou e consolidou muitas operações do governo
em 1997, eliminando um terço dos ministérios e agencias da época
russa. Lutou duro para garantir á República recém-independente a
enorme riqueza mineral e potencial industrial, quando o presidente
russo Michail Gorbachev, negociava um acordo com a Chevron,
empresa petrolífera americana, para a exploração dos campos de
petróleo de Tengiz, no Mar Cáspio. Em 1997, a capital do país foi
mudada de Almaty (antiga Alma-Ata) para Astana, (antiga Aqmola).
Numa região semidesértica, a 250 km a noroeste de
Qyzylorda encontra-se o Cosmódromo Baykonur, de onde a União
Soviética lançou os seus vôos tripulados. A cidade de Bayconur possui
um status especial por estar sendo arrendada para a Rússia, junto com o
Cosmódromo, até o ano de 2050. Em 1947, dois anos após o fim da
Segunda Guerra Mundial, foi fundada, próxima à cidade de Semey, a
Área de Testes de Semipalatinsk, principal área de testes de bombas
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
nucleares da União Soviética. O território cazaque converteu-se em
campo para provas e armazenamento de armas nucleares soviéticas.
A economia do Cazaquistão baseia-se essencialmente nas
exportações de petróleo, que representam 56% do valor das
exportações. O país dispõe de reservas importantes de urânio, produz
13% da produção total de urânio no mundo.A via ferroviária TransAral atravessa o país passando por cidades como Aral, Qyzyrolda,
Turkistan e Shymkent. Também liga o país ao Usbequistão e a Rússia
chegando até as cidades de Tashkent e Oremburgo. Da mês-ma forma a
via ferroviária Turquestão-Sibéria (Turksib) liga o país ao Usbequistão
e a Rússia, mas também ao Quirguistão e as cidades de Tashkent e
Novossibirsk. O país possui dois Aeroportos Interna-cionais, ode
Astana e de Almaty.
Embora o Islamismo tenha sido introduzido no século XV, a
religião só foi assimilada tempos depois, ela passou a co-existir com o
Tengrismo, 51,6 % dos cazaques são muçulmanos.A crença tradicional
cazaque acreditava que diversos espíritos habitavam a terra, o céu, a
água e o fogo, assim como as florestas e animais domésticos.Como o
gado ocupa espaço central no estilo de vida tradicional, a maioria das
suas práticas e costumes nômades estão relacionados a ele. Também
estão ligados historicamente à cavalos e equitação.
QUIRGUISTÃO.
O Quirguistão é uma República da Ásia Central, ex-integrante
da antiga União Soviética, é o país mais pobre da região. Tem
fronteiras, ao norte com o Cazaquistão, a oeste com o Usbequistão, ao
sul com o Tadjiquistão e a sudeste com a China. Tem uma população
de 5,4 milhões. Sua capital e Bishkek, maior cidade do país com
865.527 habitantes. Possui uma área de 199.945 km² com mais de 90%
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
do território ocupado pela cordilheira Tian Shan. O país fica na junção
de dois grandes sistemas montanhosos da Ásia Central, o Tien Shan e o
Pamir, que compreendem uma série de cadeias de montanhas, que vão
do leste para o oeste, sujeitas a graves terremotos.Geleiras e neve
perpétuas abrangem mais de 3% do total do território. O vale de
Fergana, no sul, é uma grande área fértil onde se concentra a
agricultura. O país é banhado pelo rio Naryn e outros afluentes do
Syrdaria.O Lago Issyk se situa a 1.600 m acima do nível do mar.
Na Idade do Bronze (2° milênio a.C.) o território do
Quirguistão era habitado por tribos de pastores e agricultores. Entre os
séculos VII e III a.C. foi ocupado pelas tribos sakhas e usunes. Do
século I a.C. ao IV d.C.o território do Quirguistão fez parte do Império
Kushan.Desde o século X, o território é habitado por povos nômades
que emigraram da Mongólia. A região cai sob o controle dos turcos no
século XIV e, em 1685, é dominado pelos mongóis.Em 1758,
Quirguistão passa a fazer parte do Império Chinês. Em 1864, a região é
incorporada ao Império Russo, dentro da região de Semirechensk.
Após a Revolução Bolchevique em 1917 o poder soviético se
impõe e em 1936 o país se torna uma das Repúblicas Soviéticas. A
independência é declarada em 1991, e instala-se uma república
parlamentarista. Em 2011, é eleito como presidente Almazbek
Atambayev com 63% de votos.A língua oficial è o quirguize, mas
também fala-se russo, usbeque, turco.A religião professada é muçulmana sunita 52%, cristã ortodoxa 30%, outras 18%.Grupos étnicos:
quirguizes 52%, russos 22%, usbeques 13%, 13 % outros. O clima é
subtropical, frio nas montanhas. O ponto mais alto do país e o pico
Pobeda com 7439 m, na Cordilheira Tien Shan, fronteira chinesa.
As terras baixas do país são pastagens para ovelhas, vacas,
cabras, cavalos, yaques e porcos.O solo irrigado é utilizado para
plantações de beterraba de açúcar, legumes, arroz, algodão, tabaco,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
parreiras, e amoreiras para criação do bicho-da-seda.Algodão, lã e
carne são os principais produtos de exportação.
REPÚBLICA DO UZBEQUISTÃO
Uzbequistão ex-república soviética, país do centro-oeste da
Ásia, com uma área de 447,400 km²,e população 28,078 milhões
(2012), majoritariamente muçulmana 82%, o Uzbequistão tem grande
parte do território ocupado por desertos e estepes secas.Os uzbeques
possuem longa tradição sedentária, ligada ao comercio da Rota da
Seda.e à agricultura.A irrigação transforma o país em um dos maiores
produtores mundiais de algodão e, ao mesmo tempo,provoca uma
catástrofe ambiental no Mar de Aral.
Vários antigos centros agrícolas importantes se desenvolveram no que é hoje o Uzbequistão, como a Coresmia, no baixo
Amudarya, Maveranajar, entre o curso médio do Amudarya e Syrdaria
e o vale de Fergana.A população e a língua dos primeiros Estados
surgidos no século X a.C. eram indo-europeias. Esses Estados fizeram
parte do Império Persa (século VI a.C.) do Império de Alexandre
Magno (século IV a.C.) dos reinos greco-bactrianos, de Kushan e do
Estado dos hunos brancos eftalitas (século VI d.C.). Desenvolve-se aí
uma cultura original, mistura de elementos índia-nos, persas e gregos.O
povo usbeque é de origem turca.
Os turcos nômades derrotaram os hunos e incorporaram a
maior parte da Ásia Central ao seu Império.O Canato Turco do século
IX a XIII, formou-se uma civilização muçulmana baseada numa
agricultura de irrigação e no artesanato.O conquistador mongol
Tamerlão invade o território no século XIV.A grande cidade de
Bukhara (centro religioso e de ciência muçulmana) Samarcanda e
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Urgenca se tornam prósperos centros de comercio das caravanas que
atravessam a Grande Rota da Seda, entre a China e Bizâncio.
No século XVIII e XIX, o Canato Turco fica dividido entre os
Canatos de Bukhara, Khiva e Kokanda. O Canato de Bukhara
protegido pelas montanhas, isolado pelas suas estepes, é um Estado
forte e perigoso. Os emires de Khiva e Bukhara só exerciam uma
soberania nominal sobre as tribos turcas do deserto de Karakum, que se
dedicavam ao comércio de escravos no território do Irã.Os três
Canatos, na Ásia Central, entraram em choque com os interesses
coloniais da Rússia e da Grã-Bretanha relacionados com o mercado do
algodão.A Rússia seria obrigada a opor-lhe forças importantes, e em
1875 domina o país.Em 1867, o czar Alexandre II,cria a Província de
Turquistão, com centro em Taskhent, anexada à Rússia.
O governo soviético reorganizou as fronteiras da Ásia Central
a partir de um critério de limites étnicos. Em 1924, é criada a República
Socialista Soviética do Uzbequistão com a divisão do Turquestão
Russo,incorporado à União Soviética (URSS). Com a dissolução da
URSS, o Soviete Supremo do Uzbequistão proclama a independência
em 1991.Nas eleições presidenciais elege-se presidente Islam
A.Karimov, reeleito em 2007 ,por mais sete anos.
República da Yakútia
Os primeiros habitantes do atual Cazaquistão eram o povo
Sakha, também chamados de Citas asiáticos, uma tribo nômade que
veio das montanhas da Ucrânia no século V a.C. ocupou as estepes do
Cazaquistão, desapareceu da região no século II a.C.migrando para a
Sibéria Oriental, hoje República de Yakútia (Sakha) perten-cente à
Federação Russa, possui uma área de 3.103.200 km², esten-dendo-se
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
até o Oceano Ártico.A região é escassamente habitada, tal como o resto
da Sibéria. Sua capital é Yakutsk.
Nos extremos das regiões polares da Yakútia ocorrem às
maravilhosas auroras boreais que são fenômenos visuais. O fato ocorre
devido ao contato dos ventos solares com o campo magnético do nosso
planeta, daí se gera o espetáculo de luzes coloridas e brilhantes pelos
céus. Acontecem no período noturno ou no final da tarde do curto
verão. Esse fenômeno pode acontecer tanto no pólo norte (aurora
boreal) como no pólo sul (aurora austral).
A língua yacuta é uma das línguas da família norteturcomana parte dos idiomas altaicos, mas a língua oficial usada é o
russo. Na região foi fundado um Parque tipo Pleistoceno que recria a
tundra com sua vegetação típica. É o bioma mais frio da terra. Cerca de
40% da Yacútia fica ao norte do Circulo Polar Ártico, banhada pelo
Mar de Leptev e pelo Mar Siberiano Oriental, as águas mais geladas
dos mares do Hemisfério Norte.As fronteias terrestres são: Chukotka
ou terra dos povos chukchis à leste, Magadan e Khabarovsk à sudeste,
Amur e Chita ao sul, Irkutsk à sudoeste e Krasnoyarsk à oeste,
seguindo o curso do rio Yenissey que deságua no Mar de Kara.
Dessa região siberiana de Yacútia que emigrou a maior parte
das tribos nômades povoadores das Américas. O Istmo de Behring,
entre o Alaska e a Sibéria (Rússia), foi sem dúvida alguma a principal
rota de migração dos povos asiáticos, o corredor de entrada, uma vez
que tempos houve em que a América estava ligada à Ásia e onde é hoje
o Estreito de Behring era um Istmo que podia ser atravessado a pé
sobre as geleiras então ali existentes.O contingente racial que emigrou
para a América, através de milênios que se sucederam, são elementos
raciais mais importantes na forma-ção dos povos indígenas das
Américas.
Foi o mongol-asiático, o malaio, polinésio e australiano, cada
grupo por seus próprios caminhos, por mar ou por terra. Durante
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
milênios essas tribos invasoras, caçadores nômades, princi-palmente
citas-mongois, seguindo a costa siberiana atingiram o Alaska, as
planícies do Canadá, e espalharam-se por toda a região americana,
seguindo as grandes manadas de búfalos ou outra espécie de caça.E
assim, por sucessivos milênios, talvez após a penúltima ou última das
muitas Eras Glaciais, cerca de 40-60 mil anos atrás estes povos
atingiram a América e aqui se estabeleceram. Esses povos emigrantes,
nômades da Ásia, habitavam as estepes e a taiga siberiana, outros
vinham das estepes e desertos da China, Mongólia ou Turquestão.
Muitos siberianos viviam de criação de renas na Tundra, onde
cresce um tipo de vegetação rasteira típica de regiões polares.O solo
ártico permanece congelado, coberto de neve por 10 meses no ano;
apresenta um aspecto úmido e encharcado, em virtude da evaporação
ser muito lenta e da fraca drenagem do solo causada pelo permafrost
,solo impermeável, permanentemente congelado.Perma-frost começa
congelar com alguns centímetros de profundidade e se prolonga até
1.000 metros, nas áreas do Ártico, da Antártida, da Sibéria e
Alaska.Leva centenas de anos para congelar.
Como as temperaturas são muito baixas a matéria orgânica
decompõe-se muito lentamente, o crescimento da vegetação é lento.
Uma adaptação que as plantas destas regiões desenvolveram é o
crescimento em maciços o que as ajuda a evitar o ar frio. Cresce junto
ao solo o que as protege dos ventos fortes e as folhas são pequenas para
reter a umidade.
Apesar das condições inóspitas, existe uma grande varie-dade
de plantas que vivem na tundra. A tundra ártica e subártica define a
região intermediária, mais ao sul, cobertas com tapetes de relva verde,
de liquens e musgos, são pastagens favoritas das renas. Na época do
verão, com a duração de cerca de 2 meses, quando o dia dura 24 horas
e a temperatura não excede os 6° C-10° C. a camada superficial do solo
descongela,a tundra desabrocha, então ocorre uma explosão de vida
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Um olhar sobre o Mundo
vegetal, surgem liquens, musgos, ervas e arbustos baixos, o que
permite que os animais herbívoros sobrevivam, como lebres árticas,
renas e lêmingues.Estes constituem a cadeia alimentar de outros
carnívoros, como os arminhos, raposas árticas, lobos e ursos polares.
Existem também algumas aves como a perdiz-das-neves e a coruja-dasneves.
A maioria dos animais, sobretudo aves e mamíferos, apenas
utilizam a tundra no curto verão, migrando no inverno para lugares
mais quentes.Assim que a temperatura começa a baixar, as renas
migram em grandes manadas, atravessando rios, charcos e pântanos,
estes, criadouros de miríades de insetos e moscas que, em grandes
enxames acompanham os animais, importunando-os, sugando-lhes o
sangue.Em algumas regiões,como forma de adaptação às baixas temperaturas de inverno, alguns animais migram enquanto outros hibernam, como o urso branco.
A Taiga ou floresta boreal de coníferas, localiza-se exclusivamente no Hemisfério Norte, ao sul da tundra. Constitui-se de
pinheiro siberiano e de coníferas Larix, de abetos, também aparecem
faias pretas e bétulas. A taiga cobre 47% da Yacútia, sendo 90% com
lariços. Encontra-se em regiões de clima frio e com pouca umidade. O
clima é subártico, com ventos frios e gelados durante o ano todo. As
estações do ano são duas, inverno e verão. O inverno é muito frio,
longo e seco, a chuva cai em forma de neve, os dias são curtos.O verão
é muito curto e úmido e os dias são longos.A temperatura oscila entre 54º e 21º C.O solo é fino, pobre em nutrientes,coberto de folhas e
agulhas caídas das árvores tornando-o ácido e impedindo o
desenvolvimento de outras plantas.As florestas boreais demoram
muito tempo para crescer e há pouca vegetação rasteira.A forma cônica
das árvores da taiga contribui para evitar acumulação da neve.
A fauna é mais variada e podem encontrar-se alces, renas,
coelhos, morcegos, gatos selvagens, linces, tigres siberianos, lobos,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
arminhos, raposas, esquilos, ursos, martas e miríades de insetos nos
criadouros dos pântanos formados pelo degelo.Há grande variedade de
peixes nos rios e aves diversas, algumas de grande porte, como falcões,
a águia real e a águia de aza redonda.Tal como na tundra, não aparecem
répteis devido ao clima gelado da taiga.
Monika Gryczynska
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