ITTO Estudo de viabilidade técnica e econômica da industrialização

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ITTO Estudo de viabilidade técnica e econômica da industrialização
ITTO Organização Internacional de Madeiras Tropicais Universidade de Brasília ‐ UnB Instituto de Química  Laboratório de Tecnologia Química – LATEQ Fundação de Estudos e Pesquisas em Administração e Desenvolvimento – FEPAD, uma fundação de apoio da UnB Projeto ITTO PD 31/99 Rev.3 (I) “Produção não‐madeireira e desenvolvimento Sustentável na Amazônia” Objetivo Específico No. 3, Resultado 3.3 Estudo de viabilidade técnica e econômica da industrialização da borracha TECBOR em Manaus, AM. ‐ Preliminar – Autores: Floriano Pastore Jr. e Nilso José Pierozan Conteúdo: 1.
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Introdução, pág. 2 Informações básicas, pág. 3 Estudo preliminar de viabilidade econômica, pág. 4 Conclusões, pág. 6 Tabela geral de custos de produção, pág. 7 Brasília, junho, 2007 1. Introdução 1 A borracha natural e a Amazônia sempre tiveram suas histórias entrelaçadas, e sempre o que aconteceu à borracha extrativa interferiu na historia da própria região, num período que já se estende por mais de 200 anos. Desta forma, o processo do extrativismo da borracha nativa na Amazônia influenciou fortemente a formação econômica, social, política e cultural da região. Grandes contingentes de migrantes, fugindo de prolongados e intensos períodos de seca na região Nordeste do Brasil, vieram a se instalar na região, atraídos pelo paraíso verde, com muita abundância de água, fartura de frutos e pelos ganhos com a extração da borracha. Ao final do processo desta formação da Amazônia, ficou‐se com um grande contingente de seringueiros que ascendia a mais de 100 mil famílias, espalhadas pelos estados do Pará, Amazonas, Acre, Rondônia e Amapá. De forma geral, acompanhavam a ocorrência da Hevea brasiliensis na floresta, em geral, à margem direita do Rio Amazonas. Em função da ocorrência dispersa da seringueira na mata, caracterizou‐se a sua forma de exploração. Assim, cada “colocação” de seringueiro, ou seja, a sua área de exploração no seringal, ficou composta de 2 a 3 estradas de seringa cada uma contendo de 80 a 120 árvores, que eram sangradas em dias alternados para permitir o descanso entre 2 dias de extração. A área total de coleta em uma colocação sempre se estendia a centenas de hectares, normalmente próximo a 500 ha. Este arranjo produtivo obrigava o seringueiro a longas caminhadas na mata, o que fez com que ele desenvolvesse algumas características, tais como: 
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Conhecia muito bem a área de sua colocação  era um guardião nato daquela parte da floresta; Conhecia, por necessidade de sobrevivência, o emprego dos produtos da floresta  era um guardião do próprio tesouro cultural; Experimentava os produtos que encontrava nas suas caminhadas solitárias na mata  contribuía na seleção de itens da etnobotânica, expandindo o conhecimento da flora. Os seringueiros mantiveram estas características, conservando‐as até os dias atuais, desde que estejam em equilíbrio com o seu ecossistema, especialmente que tenham renda e trabalho na floresta. Do contrário, quando perdem a condição de trabalho e renda da floresta, podem passar a predadores do ambiente natural, de várias maneiras, entre elas, o garimpo, a extração ilegal de madeiras, a expansão da agricultura. Desta forma, se formou uma consciência ecológica geral nas décadas de 90 e seguinte, de que a conservação da floresta passa pela manutenção das comunidades ribeirinhas com renda e trabalho a partir da floresta. O projeto TECBOR parte desta premissa e desenvolve tecnologia adequada e simples para produção de borracha natural com qualidade, especialmente desenvolvido para a região Amazônica. Iniciou‐se em 1995, como parte do primeiro projeto ITTO “Produtos florestais não‐
madeireiros: coleta, produção e comércio na Amazônia” (PD 142/91, Non‐Wood I), executado pela Universidade de Brasília. A técnica produtiva é bastante simples, parte do látex in natura é coagulado com ácido pirolenhoso transformando‐se em uma lâmina através de algumas passagens em uma calandra, e que se seca ao ar livre, à temperatura ambiente. Este produto recebeu o nome de FDL – Folha de Defumação Líquida. Mais de 400 famílias já foram treinadas com a nova técnica em vários Estados da Amazônia, que já passa a ser adotado como parte de programas governamentais, como no Estado do Acre. Dezenas de toneladas de borracha já foram produzidas segundo esta tecnologia que, no entanto, tem que ser industrializada fora da região, percorrendo por transporte de barco e 2 rodoviário milhares de quilômetros. De onde se derivou a idéia de se industrializar na própria região amazônica, para se ter melhor competitividade. O Estado do Amazonas já foi, na época áurea da borracha, um grande produtor, a partir das calhas dos rios afluentes do Amazonas na margem direita, Juruá, Jutaí, Tefé, Purus e Madeira. Uma solução seria a produção industrial de artefatos de borracha a partir da FDL na cidade de Manaus, centro industrial de importância na Região Norte, dotado de zona franca e de fácil acesso fluvial de todos os rios mencionados. O Resultado 3.3 do Objetivo Específico No. 3 deste projeto ITTO consistiu em fazer um estudo de viabilidade técnica e econômica da industrialização da borracha do tipo FDL na cidade de Manaus. Devido a mudanças ocorridas no decorrer do projeto, não foi possível fazer o estudo na intensidade que se intencionava inicialmente, com várias entrevistas locais e com levantamento de campo mais aprofundado. No entanto, uma visita conjunta dos autores à cidade e ao seu parque industrial permitiu fazer um levantamento preliminar da viabilidade da proposta. 2. Informações básicas A cidade de Manaus tornou‐se o “centro de duas rodas” do País, onde se produz a imensa maioria de motocicletas e bicicletas, para o mercado interno e para exportação. Assim, o ideal era encontrar um artefato de borracha natural de emprego em um destes dois veículos. Os autores visitaram a linha de produção das motocicletas Honda e encontraram um coxim de amortecimento usado sob o selim que, na verdade cerca de 5 peças por motocicleta, por não entrar em contato com combustível e por requerer elevada elasticidade e longa vida útil, pode e deve ser feito de borracha natural. Assim, este estudo de viabilidade foi focado neste produto para fabricação na cidade de Manaus, AM, em condições de uma pequena empresa, com baixo investimento inicial e em condições de melhor competitividade por estar sediada em Manaus e consumir o principal insumo, a borracha natural, produzida na região. Há um considerável interesse do Governo Estadual do Amazonas em que um empreendimento nestes moldes venha a se concretizar por várias razões, dentre elas, o resgate da produção de borracha na região, o processo de sua industrialização na região, o processo de substituição de um insumo importado e na fabricação de um bem fabricado na Zona Franca de Manaus. Seguem as informações básicas para este estudo de viabilidade técnica e econômica: ‐ produto: Coxim de amortecimento do selim ‐ dimensões aproximadas (mm): 60 (comprimento) x 25 (largura) x 15 (espessura) ‐ número de peças por moto: 5 unidades ‐ peso estimado médio: 10 gramas ‐ cidade: Manaus, AM ‐ galpão industrial: cerca de 400 m2 ‐ aluguel mensal: R$ 2.000 ‐ número de funcionários: 11 3 ‐ esquema produtivo: moldes com 30 cavidades, sendo 01 para cada tipo de peça; 05 prensas de vulcanização, 01 misturador de borracha com capacidade de até 20 kg; ‐ produção mensal: 05 moldes x 12 prensadas por hora x 8 horas por dia x 20 dias por mês, resultando 288 mil peças por mês ‐ suprimento para: 56.000 motos mensais Há necessidade de contratação de um profissional experiente e/ou treinamento de pessoal para garantir a produção de artefatos com a qualidade exigida. Suporte técnico adicional, a empresa pode obtê‐lo junto a Centros Tecnológicos, Universidades, etc. 3. Estudo preliminar de viabilidade econômica 
Investimento O investimento em equipamento para este tipo de indústria pode ter uma variação considerável em função da opção estratégica por máquinas novas, por um lado, ou máquinas usadas de boa qualidade, por outro. A indústria borracheira, assim como outras, tem elevada taxa de renovação de equipamentos ou mesmo de desmonte de fábricas por várias razões. Desta forma, não é uma decisão temerária optar‐se por equipamentos de segunda‐mão. Nos parques industriais de São Paulo e do Rio Grande do Sul, pode‐se adquirir toda uma linha produtiva para artefatos de borracha, assim como para outros produtos, praticando‐se preços a menos da metade dos equipamentos novos, desde que se conte com assessoramento técnico experiente. Tomando‐se como opção estratégica a compra de equipamentos usados para minimização de investimentos físicos, especialmente para transporte para uma região de difícil acesso, pode‐se afirmar que a aquisição de uma linha de produção do artefato e nas condições produtivas de que trata o presente estudo de viabilidade, a estimativa geral é de um investimento da ordem de R$ 300 mil (trezentos mil reais), já incluído o transporte para Manaus. 
Processo produtivo Trata‐se de artefato comum na indústria de borracha, com extensão média, de forma a fornecer uma adequada relação entre resistência à compressão e resiliência. O processo produtivo inclui as etapas normais de fabricação de artefatos de borracha natural: pesagem dos componentes, processamento da borracha em Banbury ou cilindro para a mistura dos ingredientes, corte das placas de alimentação da prensa, carregamento da prensa, prensagem por moldagem em equipamento de dois vãos, aquecimento a vapor, desmoldagem, resfriamento, inspeção, armazenamento, embalagem e expedição. 
Formulação A página 7 deste Estudo de Viabilidade trás uma Tabela, cuja primeira parte trás uma formulação básica mais nobre, para produção de artefatos de melhor qualidade, como se propõe para o coxin de amortecimento do selim da motocicleta. As colunas da Tabela são as seguintes: ‐ na primeira coluna: os ingredientes da formulação; FDL é a borracha natural do projeto TECBOR; os outros ingredientes são bastante conhecidos da indústria de artefatos de borracha natural; ‐ na segunda, tem‐se a condição de concentração dos ingredientes; 4 ‐ na terceira, o percentual por cem partes de borracha (phr = per hundred rubber); neste caso se tem em kg, portanto, o peso final desta batelada é de 161,5 kg; ‐ na quarta, o custo por quilo do material puro; ‐ na quinta, o custo do material, ponderado para sua composição na fórmula; por exemplo, entram 100 kg de borracha a um custo de R$ 7,65/kg, portanto o custo da borracha para esta batelada é de R$ 765; o custo total desta batelada de 161,5 kg é de R$ 1.095,79; portanto o kg do composto é R$ 6,785 e o custo dos ingredientes para uma peça de 10 gramas é de R$ 0,068. Na segunda parte da Tabela, estão indicados, em separado, os outros custos para a produção de artefatos, como salários e encargos, energia, aluguel, água, impostos, entre outros. 4. Conclusões O estudo de viabilidade pode ser considerado conservador, no sentido de prever um preço de venda com base no preço de produção acrescido de um porcentual de lucro bruto, neste caso, de 15%. No entanto, o preço pago pela montadora e por outros fabricantes deve ser consideravelmente maior, tendo em vista que normalmente os produtos trazidos para Manaus têm um custo extra pelo transporte bimodal, neste caso rodo‐fluvial. A peça é fabricada em São Paulo, via de regra, e transportada para Manaus, com previsíveis aumentos sobre o preço final. Tendo em vista questões de sigilo empresarial, não foi possível obter o preço pago pela montadora, motivo pelo qual se optou pelo preço derivado a partir do custo de produção. Mesmo assim, o valor apurado como lucro de aproximadamente, R$ 14.300, pode ser considerada uma boa base de partida, mas que deverá ser ampliada com outras empresas fabricantes de motocicletas para consumo do mesmo produto ou de outros produtos similares, dentre os muitos artefatos de borracha que são empregados em veículos de duas rodas. As 280 mil peças permitem um consumo de cerca de 1800 kg de FDL por mês, que é uma quantidade modesta frente à capacidade de produção existente. Por outro lado, a demanda de artefatos no mercado local é bem maior do que a base de cálculo utilizada, que considerou uma produção típica de uma empresa nova pequena. Deve‐se ressaltar que este é um estudo preliminar de viabilidade técnica e econômica, que deve servir de base para uma investigação mais aprofundada, com mais pesquisas de campo e, especialmente, levantar junto aos órgãos locais de fomento industrial, quais vantagens poderiam ser absorvidas por uma empresa com estas características e com inserção social e ecológica. 5 Tabela geral de custos de produção do coxin de amortecimento
Ingredientes da formulação
FDL (Folha de Defumaç. Líquida
Óxido de Zinco -ZnO
Estearina
Antioxidante do tipo TMQ
Negro de fumo tipo N 550
Óleo mineral
Auxiliar de Processo
Enxofre
Doador de enxofre – DTDM
R$/kg
1. Material
Peça de 10G
2. Pessoal
Gerente
Operadores
Custo de pessoal
custo pessoal/peça
3. Energia
custo/peça
4. Aluguel
custo/peça
5. Material de consumo
custo/peça
6. Água/Fone
custo/peça
7. Frete
Conc
100
100
100
100
100
100
100
100
100
phr
100
3
1,5
1
40
10
3
1
1
159,7
R$/kg
7,65
10,35
4,10
8,45
4,75
4,25
5,03
4,15
21,00
R$
765,00
31,05
6,15
8,45
190,00
42,50
15,09
4,15
21,00
1.095,79
Peso, g
10
R$
R$ 0,068
Quantidade
280.000
R$/mês
18.998,00
Nº
Salário
com 13º
1
10
2000
500
166,7
41,7
R$
6,785
Total, com
encargos
3250,00
8125,00
280.000 peças
0,04
6000,00
0,02
2000,00
0,01
2000,00
0,01
800,00
0,003
1000,00
6 0,004
1000,00
0,004
350,00
0,001
3000,00
0,011
1000,00
0,004
0,10
8. Depreciação
9. Contabilidade
10. Manutenção
11. Despesas bancárias
Subtotal
Custo Total, sem impostos
Peça10g
Preço de venda
Peça 10g
Resultado mês
R$
30,00% (imp
+ lucro)
R$
0,257
0,170
c/ 6% perda
R$
0,180
Impostos a pagar
0,026
Resultado
R$
0,051
14.293,413
7