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SEGUNDA SEMANA
C – ELEIÇÃO
Para Inácio, a realização do homem se dá no exercício da liberdade. Porém, para ser
livre, o homem deve vencer a si mesmo e ordenar sua vida de acordo com a vontade de Deus,
de modo que seja essa vontade divina a que lhe guie em suas decisões e não a própria afeição
desordenada (EE 1).
O servir a Deus não é alienação, mas gesto de liberdade, e o exercício da liberdade é
realizar retamente a função mais essencial do homem: a Eleição. Por isso o centro dos
Exercícios está na “Eleição”, isto é, no ato pelo qual Deus elege e dispõe do exercitante nas
circunstâncias concretas de sua vida; trata-se de um reconhecimento e de uma livre aceitação
no presente da escolha-chamado que Deus Pai, por iniciativa e graça sua, dirige a cada um de
nós; é responder a uma Aliança salvífica oferecida por Deus a todos os homens.
Como Santo Inácio prepara o exercitante para a Eleição?
O empenho pela Eleição começa, de fato, no “quinto dia” da Segunda Semana, mas, na
realidade, ela vem sendo preparada por tudo quanto precede e é confirmada por tudo quanto
segue.
Nos Exercícios, tudo está ordenado a “buscar e encontrar a vontade divina”; neles flui
uma dinâmica de Eleição: as contemplações da vida de Cristo desembocam na eleição. As
regras de discernimento dos espíritos são o meio dinâmico cuja função consiste em realizar o
processo eletivo, o exame de cada exercício significa uma atitude vigilante com a finalidade de
descobrir o que Deus quer de cada um, a abertura de consciência àquele que “dá os
Exercícios” ajuda no discernimento das moções do Espírito em ordem a ver mais claramente o
caminho de Deus. Portanto, a dinâmica da eleição é a dinâmica do conjunto dos Exercícios;
estes não têm sentido senão em função de uma escolha (EE 135). Os Exercícios são Eleição e a
Eleição aclara o significado de todos os Exercícios, considerados em seus múltiplos aspectos e
elementos. Santo Inácio vai assim preparando minuciosamente o exercitante para este
momento decisivo, com todos os recursos espirituais e humanos que encontra: meditações,
contemplações, notas, adições, advertências e regras que se multiplicam ao longo do livro dos
Exercícios etc. Nesse sentido, cada exercício, cada pormenor, deve estar em função da Eleição,
preparando-a, completando-a e aprofundando-a cada vez mais.
Também ao longo de todo o percurso dos Exercícios, a Eleição é igualmente preparada
por uma série de microdecisões: os atos pessoais de entrega, doação, oblação, as decisões que
vão sendo tomadas como fruto das diversas meditações e contemplações são ensaios de uma
eleição que vai habituando a pessoa a situar-se devidamente para o momento da Eleição
decisiva.
Preparação próxima à Eleição
Desafiado por Cristo (nas contemplações), o exercitante deu sua resposta generosa.
Mas não basta a generosidade: esta deve ser provada, iluminada, pois há o risco de ser
falsificada; aqui pode acontecer um sutil ataque do espírito contrário, enganando o
exercitante e conduzindo-o a si mesmo. Para isso, é necessário tomar todas as precauções, até
no nível mais profundo (purificação do intelecto, vontade e afetividade). Daí a necessidade das
três meditações: duas bandeiras, três classes de homens, três maneiras de humildade. Essas
três meditações (juntamente com o exercício do Reino) são o fio condutor que permite
articular a contemplação dos “mistérios” de Jesus e a evolução da caminhada do exercitante;
são três níveis existenciais de purificação indispensáveis para que o exercitante possa
interpretar com lucidez as etapas de seu próprio processo e, na liberdade, fazer a Eleição.
Com isso, a Eleição vai amadurecendo numa atmosfera de relação pessoal com Cristo
pobre e humilhado, relação fomentada pelas contemplações evangélicas e pelas meditações
tipicamente inacianas. Sem esta relação pessoal, sem conhecimento-amor-seguimento, sem
familiaridade e intimidade com Cristo, não é possível uma Eleição inaciana.
A graça que se pede neste tempo prévio à Eleição é “a graça para o imitar” (EE
139); “para mais o imitar” (EE 147); “para mais o imitar e servir” (EE 168).
Seguir é mais do que “imitar”; é deixar-se configurar totalmente pelo movimento da
vida de Jesus. Seu itinerário – vida, morte e ressurreição – não é simplesmente um modelo que
deve ser “imitado”, mas é o centro, o conteúdo do nosso projeto de vida; é o único caminho
que devemos seguir, pois Cristo é o único que nos leva ao Pai.
a.
Duas Bandeiras (EE 136-148)
Endereçada à inteligência, a meditação das Duas Bandeiras tem a finalidade
de dar um critério claro, objetivo e universal para saber distinguir o que é
verdadeiramente de Cristo ou do inimigo. Nessa altura dos Exercícios, não se trata
de renovar ou confirmar uma escolha já feita, ou seja, a opção por Jesus Cristo, mas
verificar a autenticidade de nossa fé. O Cristo que queremos seguir deve ser o Cristo
do Evangelho (pobre, humilde, humilhado) e não o Cristo modelado segundo nossos
critérios.
Qual é o sentido profundo apresentado por Inácio nesta meditação?
Para ele, o coração do homem é um campo de batalha; somos submetidos a
contínuas pressões, lutas... a graça de Deus e as paixões atuam nas profundezas de
nosso ser; o bem e o mal estão sempre misturados, como o trigo e o joio. É preciso
discerni-los continuamente e saber distinguir os espíritos que lutam dentro de nós,
saber discernir as motivações profundas de nosso agir, libertando-nos dos valores e
critérios do mundo (riqueza, honra vã, soberba) e deixando-nos atrair pelo Cristo do
Evangelho.
A meditação termina com um tríplice colóquio em que se pede “ser recebido
sob a Bandeira de Cristo” (EE 147). É uma graça. Vimos que, na oblação do Reino,
prevalecia a iniciativa do exercitante: “quero, desejo, é minha determinação
deliberada” (EE 98). Aqui, a própria linguagem se torna “passiva”: “ser recebido”.
b.
“Três classes de homens” (EE 149-157)
Esta meditação é a prova da “sinceridade” do querer profundo do exercitante;
é necessário purificar a vontade e verificar as motivações sutis.
Sabemos que toda opção implica uma renúncia e por isso “toca” sempre em
algo que nos afeta. E ao nos sentirmos “afetados”, desencadeiam-se os mecanismos
de defesa. Entre a vontade (“todos querem salvar-se”) e o fim (“encontrar em paz a
Deus”) se interpõem os meios que “afetam” a vontade e desiquilibram a liberdade da
pessoa.
Na realidade, a meditação dos “três binários” é uma meditação sobre o
segundo grupo de homens, ou seja, a infinita capacidade que o homem tem de se
enganar, e a incrível astúcia para encobrir os enganos através de elaboradas teorias,
falsas razões, justificações etc. Manipula Deus com a aparência de servi-lo, mas na
realidade está servindo a si mesmo. O meio é tão importante a ponto de fazer a
vontade de Deus de acomodar à sua vontade; quer seguir o Cristo, mas à sua maneira,
segundo os seus critérios, impondo condições etc. O discernimento se converte em
buscar razões para justificar sua posição; ou, no máximo, faz pequenas reformas de
vida, mas sem deixar o meio.
Esta meditação pretende tornar lúcido aquele que caminha para uma situação
de eleição e fazê-lo atento aos contínuos bloqueios que atuam nele. Só é possível uma
autêntica opção quando a pessoa é capaz de desmascarar e superar os obstáculos que
a impedem de “ver” o que Deus quer. O critério decisivo deve ser a certeza de buscar
unicamente o que for melhor para o serviço divino. Esta é a situação do terceiro grupo:
sente-se interiormente livre para que Deus disponha dele como quiser; é afetivamente
desapegado das coisas; acomoda-se aos critérios de Deus; está disposto a seguir o
Cristo que passa pela Cruz. Enfim, o discernimento e a opção desse terceiro grupo são
feitos sobre a vontade de Deus e não sobre a “coisa adquirida”.
c.
“Três maneiras de humildade” (EE 164-168)
O exercitante já chegou a ponto de decidir; neste momento dos Exercícios,
ele deve verificar até que ponto aceita visceralmente que a eleição possa conduzi-lo
a ser configurado a Jesus Cristo. Pois entrar em Eleição é consentir ser introduzido no
movimento de desapropriação e despojamento do próprio Jesus, deixando na pessoa
as marcas de Sua aniquilação (pobreza, opróbrios, humildade). É a paixão paulina pelo
Crucificado (1Cor 2,2). O exercitante descobrirá que, no processo do seguimento de
Jesus Cristo, a sua vida também poderá ser crucificada. Mas esta “cristificação” do
querer humano é essencial nos Exercícios.
Este exercício não é meditação, nem contemplação, mas algo que é proposto
à “consideração” do exercitante para ser “pensado” insistentemente ao longo do dia. É
a atmosfera que deve envolver a pessoa “antes de entrar nas eleições” (EE 164), e que
contribuirá muito para o amadurecimento da decisão final.
Esta consideração se dirige diretamente ao coração, pois se trata de “ser
afetado”, isto é, de ser “tocado” no mais íntimo, de ser irresistivelmente atraído e
contagiado pelo estilo de vida de Jesus Cristo; é participar da sorte de Cristo, se essa é
a vontade divina; é eleger o caminho da Cruz, para identificar-se mais com Ele.
As três maneiras de humildade são um processo de esvaziamento de si
mesmo para encher o coração de capacidade de amar e chegar a uma entrega total.
Somente a partir do amor é que a nossa vontade poderá se manter no seu propósito.
Sem o amor, o puro voluntarismo cai. É necessário ter um profundo amor a Jesus
Cristo para aceitar seu caminho, mesmo que este caminho implique a Cruz. Esta é a
lógica do Amor, incompreensível aos olhos dos homens. Mas isto é uma graça a obter
do Senhor, mediante a petição, pois é a disposição mais conveniente para aquele que
se prepara para fazer uma boa eleição.
Eleição e discernimento
Não se pode chegar à Eleição sem o discernimento.
Tal experiência de discernimento só se verifica através da experiência prolongada de
oração, onde se podem perceber os elementos constantes da presença e da ação de Deus.
Para Inácio, a importância da oração está no despertar as “afeições”, em mover o coração; a
oração é o “meio” espiritual no qual se julga o valor sobrenatural dos desejos e se confirma a
realidade dos apelos de Deus. Para isso, Inácio usa de todos os métodos para a eclosão em nós
dos frutos do Espírito: alegria, paz, consolação, desejo de imitação e de união etc...
Como vimos anteriormente, Santo Inácio se move no plano prático da espiritualidade;
interessa-se pela experiência histórica do exercitante. A experiência é a mestra da vida e por
isso mesmo ela é a razão última de todas as regras de discernimento.
No processo da oração, ou seja, no confronto com a Palavra de Deus, despertam-se,
no interior do exercitante, luzes, inspirações, medos, tribulações, resistências...; nele se dá
uma grande luta interior, entre a liberdade de Deus que o liberta e a pseudoliberdade do mal
que o escraviza; sente-se atraído pelos dois polos. Isto é o que Santo Inácio chama
de “moções” ou movimentos dos espíritos, nucleadas em “consolação ou desolação”.
Esses “movimentos espirituais” são coisa normal durante o percurso dos Exercícios, a tal ponto
que, se o “exercitante não experimenta moções, nem é agitado por vários espíritos”, ele deve
ser interrogado “sobre os exercícios, se os faz, nas horas determinadas, e de que maneira...”
(EE 6).
Portanto, discernir significa dar-se conta, refletir, distinguir os diversos impulsos,
chamamentos, apelos, atrações etc. É um processo que abarca três momentos:
a. Sentir: tomar consciência das moções que se produzem no interior; atitude de atenção
e vigilância; sensibilidade particular às diversas moções internas;
b. Conhecer e distinguir a variedade de moções, penetrando-as e reconhecendo-as em
sua significação como boas (se conduzem pelo caminho que Deus quer) ou más (se
afastam desse caminho);
c. Agir, seja acolhendo as boas inspirações ou moções, seja repelindo, purificando e
prevenindo as más. Portanto, aquele que discerne não é um mero espectador daquilo
que acontece no seu interior, mas um protagonista. As moções devem ser de tal
maneira sentidas e conhecidas que provoquem uma resposta livre da pessoa (acolher
as boas, repelir as más). Se não há essa tomada de posição, não se chega a fazer um
verdadeiro ato de discernimento inaciano.
Santo Inácio deixou uma série de regras, fruto de sua experiência pessoal, para ajudar
o exercitante a “acolher” ou “repelir”, para dispô-lo a uma maneira justa de atuação diante
das “moções”. No uso de tais regras de discernimento, há uma graduação: aquelas da primeira
série (EE 313-327) “são mais próprias para a Primeira Semana”; aquelas da segunda série (EE
328-336) “condizem mais com a Segunda Semana”.
Inácio prevê, pois, um progresso no discernimento durante o retiro. O discernimento
avança à medida que o exercitante evolui. As contemplações dos mistérios da vida de Cristo
provocam um afinamento do discernimento espiritual. Quanto mais se contemplam as cenas
evangélicas, maior atenção se requer à ação do Espírito; ao mesmo tempo, mais agudo
deve ser o discernimento, pois a astúcia do inimigo aumenta à medida que se entra mais
profundamente na realidade última de Cristo.
Embora Santo Inácio não tenha dado regras de discernimento para a Terceira e
Quarta Semanas, as moções espirituais ali são certamente mais fortes e mais íntimas que nas
semanas precedentes; e o discernimento deve crescer em proporção. Não são necessárias
outras regras, pois, a essa altura dos Exercícios, o retirante já está suficiente instruído sobre as
moções espirituais.
Assim, o discernimento dos espíritos não tem outra finalidade que nos ajudar a
reconhecer a vontade de Deus ao tomarmos uma decisão e acolhermos essa vontade,
executando a decisão tomada. Sabemos que existem outros sinais que manifestam a vontade
divina, especialmente sinais exteriores, desde os mandamentos até as circunstâncias
históricas, acontecimentos... Mas a tarefa própria do discernimento inaciano é a de
reconhecer os sinais interiores da vontade de Deus, quando ainda não é clara nos sinais
exteriores, porque neles não quis Deus esgotar todos os matizes ou exigências de sua vontade
sobre o homem concreto.
Os efeitos da graça se fazem sentir em nós. Inácio era convicto de que a vontade divina
é uma realidade que se possa sentir. Quase todas as suas cartas eram concluídas com essas
palavras: “rogo a Deus Nosso Senhor dê a todos a sua graça cumprida, para que sintamos
sempre sua santíssima vontade e inteiramente a cumpramos”.
As regras do discernimento querem somente dar as indicações para guiar esta
experiência. Porém, elas não se restringem unicamente ao tempo de retiro; antes, servem
para reconhecer e acolher os apelos constantes da graça, na vida corrente; é deixando-nos
guiar habitualmente pelos movimentos interiores do Espírito que nos tornamos capazes de
discernir, nos casos mais graves, os apelos de Deus. Por isso mesmo, o discernimento dos
espíritos não é um puro esforço de introspecção, mas uma atenção contínua a Deus, que
trabalha em nós e em toda a humanidade para terminar a obra da Redenção. Para uma pessoa
empenhada na ação, é a melhor maneira de encontrar Deus em tudo e em todos.
Tempo próprio da Eleição
Vimos que, nos Exercícios, tudo é endereçado a criar a maturidade necessária para
realizar devidamente a Eleição; através de todo um processo de meditações, contemplações,
orientações, exames, discernimento dos espíritos, que tem por objetivo ir percebendo o modo
de agir de Deus e dar-nos conta das suas exigências, Santo Inácio vai desenvolvendo um plano
de “ordenação da própria vida”. Tal processo de “ordenação” faz com que a pessoa se
encontre num constante crescimento, numa dinâmica que lhe exige uma intensidade cada vez
maior de “afeto” em relação ao Senhor e que orienta a sua disposição interna de buscar e
encontrar a vontade de Deus para sua vida. Quem está em estado de crescimento espiritual
está continuamente em estado de eleição; a resposta do homem à vontade de Deus nunca é
dada de uma só vez e de modo pleno; Deus vai exigindo progressivamente à medida da
resposta e da generosidade do homem, pois não podemos fixar nenhuma meta para o
crescimento espiritual, a não ser Deus no seu ser transcendente.
Por isso, a Eleição termina por abrir-se a novas eleições. Os Exercícios, e
concretamente a Eleição, não pretendem fazer do exercitante alguém que já alcançou a meta
e que não há mais nada a fazer, a não ser aplicar as opções feitas durante o retiro. A Eleição,
porém, faz do exercitante um peregrino, um homem sempre em mudança, um homem para o
qual a vida é um caminho aberto em contínua busca, humilde e paciente, da vontade divina.
Este é o aspecto mais peculiar do dinamismo da Eleição.
A Eleição propriamente dita é um processo: “entrar em eleições” (EE 164); durante os
oito dias seguintes (do quinto ao décimo segundo dia da Segunda Semana, ou os dias que
sejam necessários), o exercitante estará em situação de eleição (EE 163), avançando
lentamente à procura da vontade divina no confronto constante com a vida de Jesus. As
contemplações são o lugar por excelência deste confronto: eis por que, a partir do quinto dia,
o ritmo delas é intensificado (passa-se a considerar somente um mistério por dia). A “vida de
Jesus” põe em questão e ilumina ao mesmo tempo a vida do exercitante. Tal é o conteúdo
interno da Eleição: a conformação mais íntima com o Cristo vivo; é a interiorização do “eu” do
exercitante na pessoa de Jesus; é a transfiguração, o tonar-se transparente-em-Cristo, na total
submissão ao amo do Pai.
Por isso, para acompanhar o exercitante no seu trabalho de Eleição, fazendo-o
participar da vida e do espírito de Cristo pobre, humilde, perseguido, incompreendido... são
propostas as seguintes contemplações:
- 5º dia (EE 158): término da vida oculta e entrada de Jesus na vida pública: anúncio
do Reino e formação na fé daqueles que serão seus apóstolos;
- 6º dia (EE 161): a eleição é uma luta espiritual;
- 7º dia: a eleição deve ser resposta e seguimento ao chamado de Cristo;
- 8º dia: a eleição deve ser totalmente inspirada pelo espírito de Cristo;
- 9º dia: as dificuldades da eleição e as tempestades que podem surgir no interior do
exercitante devem ser ocasião para uma descoberta mais profunda de Jesus Cristo;
- 10º dia: sentido missionário da eleição;
- 11º dia: na eleição deve se manifestar o mistério pascal, ou seja, o mistério da morte
e da vida;
- 12º dia: a eleição deve ser sinal, ainda não plenamente, da vitória de Cristo pela fé.
A duração dessa busca é imprevisível; por isso as contemplações deverão se adaptar
ao ritmo e à necessidade do exercitante (EE 162). Quando este consegue “ver” o que Deus
quer, deverá tomar uma decisão. Optar é pôr um ponto final nessa busca.
Porém, nos Exercícios não se trata de tomar pequenas decisões, ou de uma
simples “resolução”... Todo o trabalho realizado durante o rico tempo do retiro não pode
terminar em “pouca coisa”. Para Santo Inácio, a Eleição é “buscar e encontrar a vontade divina
na disposição da própria vida” (EE 1); implica uma organização vital que oriente toda a
atividade e evolução posterior da pessoa; trata-se da própria vocação pessoal, da orientação
pessoal irrepetível. As “resoluções” têm seu sentido desde que sejam uma derivação,
concreção ou uma expressão da orientação de vida; elas devem estar em coligamento com a
opção fundamental.
“Eleger”, de acordo com o atuar do Senhor, é conhecer o que Ele nos pede, nos
assinala e, conhecido, aceita-lo; eleger é aceitar livremente ser escolhido por Deus; é Deus o
que nos elege e a Ele devemos pedir “queira mover a minha vontade de pôr em minha alma o
que devo fazer, no tocante à coisa proposta, que seja mais para seu louvor e glória” (EE 180). A
eleição inaciana consiste no tomar consciência, numa crescente liberdade interior, da vontade
pessoal-atual de Deus para mim, a fim de que possa aceitá-la profundamente para vivê-la na
prática generosamente.
Portanto, a Eleição é um trabalho que tem por principal função dispor o exercitante a
reconhecer e acolher o que Deus inspira, dá, confirma. O verdadeiro autor da eleição é Deus.
Atingido o objetivo procurado (“encontrar o que busca” EE 4), o exercitante pode
continuar os Exercícios. A liberdade recuperada na eleição: este é o critério decisivo para pôr
término à Segunda Semana.
Pe. Adroaldo Palaoro, sj
Veja também Segunda Semana – Regras de discernimento