O futuro do setor de autopeças no Brasil
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O futuro do setor de autopeças no Brasil
Technical Paper 973116 O Futuro da Indústria de Autopeças no Brasil Martin Mitteldorf White Mountain Ltda. Copyright © 1997 Society of Automotive Engineers, Inc. grande mercado através de associações e fusões com uma das muitas empresas internacionais de olho no país. Oportunidade esta que em um mercado como está se delineando não é de todo desprezível. RESUMO Este estudo trata da análise da indústria brasileira de autopeças respondendo às seguintes questões: Quais são os grandes movimentos que resumem a mudança no setor? Como devem se posicionar as empresas atuantes no país frente a estas mudanças? As empresas brasileiras (de capital nacional) têm condições de sobreviver nestas novas condições? Com a capacidade de adaptação e mudança que os empresários dizem (a maioria) e demonstram (em alguns casos) ter, as empresas nacionais estão buscando suas soluções e se adaptando aos novos condicionantes. 1. MEGATENDÊNCIAS NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA MUNDIAL E SEUS REFLEXOS NO BRASIL As megatendências na indústria: globalização, fornecimento modular, concentração e redução do número de fornecedores, novas regulamentações de produtos e comércio, avanços tecnológicos e redução de custos. 1.1. PRODUÇÃO MUNDIAL DE VEÍCULOS E AUTOPEÇAS - A produção mundial de veículos alcançou volumes anuais superiores a 50 milhões de unidades no último biênio, e as projeções indicam um crescimento de 3% ao ano até o ano 2002, podendo alcançar a faixa de 58 milhões de veículos. Os fatores críticos de sucesso para os fabricantes atuantes na indústria: capacidade de engenharia, qualidade de produtos, competitividade de custos, confiabilidade de entrega, capacidade gerencial, proximidade à linha de montagem das montadoras e baixo custo total e global. A capacidade de produção instalada atual é de cerca de 70 milhões de veículos. Participação Regional na Produção Situação da indústria brasileira: pudemos constatar através da pesquisa realizada com as 52 empresas que o clima é, no ponto de vista dos empresários, mais favorável e otimista do que imaginávamos inicialmente e que embora ainda haja bastante trabalho por fazer, alguns poucos fabricantes de capital nacional reúnem condições suficientes para não se socorrer ao capital estrangeiro. Estes reúnem ao mesmo tempo: capacitação tecnológica suficiente para absorver os desafios colocados pelas montadoras, qualidade dos produtos e serviços reconhecida, pontualidade e confiabilidade de entrega de produtos, capacidade de integrar e gerenciar os fornecedores em projetos para as montadoras, plantas localizadas próximas aos principais clientes e, apesar dos itens anteriores, custos competitivos internacionalmente. Estas empresas com certeza não enxergam o futuro tão negro quanto é diariamente noticiado pela mídia. Aos outros, a grande maioria, resta a interessante opção de participar deste (milhões de veículos) EUROPA AMÉRICA DO NORTE 20,0 15,7 20,0 15,6 16,3 15,3 ASIA 20,0 10,0 15,2 15,1 1994 1995 10,0 10,0 0,0 0,0 1994 1994 1995 1995 0,0 AMERICA DO SUL OUTROS 20,0 20,0 10,0 10,0 2,0 1,9 1994 1995 0,0 Gráfico 1 1,5 1,6 1994 1995 0,0 Esta produção mundial está concentrada nos Estados Unidos, Europa e Ásia, principalmente no Japão e Coréia. Os volumes produzidos na América do Sul, onde Brasil e Argentina são praticamente os únicos países 1 produtores, ainda representam uma parcela pouco relevante, se comparados às demais regiões produtoras, Gráfico 1. Quantidade de Habitantes por Veículo Existem atualmente cerca de 40 fabricantes de veículos, com inúmeras plantas espalhadas pelo mundo. A tendência é que este número diminua através de fusões ou alianças nos próximos anos. Considerando a origem do capital, as montadoras asiáticas têm um leve predomínio de participação no total produzido no ano passado. Entretanto, um menor número de participantes na América do Norte tem uma participação relativa bastante representativa neste total. 20 1977 1993 15 10 5 Brasil 3% Inglaterra 3% Coréia 5% Canadá 5% Itália 3% China CEI 2% 2% México 2% 50,2 Milhões de Veículos Alemanha 9% E.U.A. Alemanha Japão Se comparado com o restante do mundo, a produção nacional de veículos tem muito para crescer. A densidade de habitantes por veículo no Brasil é baixa. Como se observa no Gráfico 3, a densidade de habitantes por veículo, na América Latina é muito inferior à dos países mais desenvolvidos. Estamos distantes, porém, as expectativas de crescimento são positivas. Considerando-se a evolução esperada, será muito importante que a indústria de autopeças, tanto local como regional, acompanhe o fenômeno das grandes transformações que está mudando o perfil de relacionamento entre os seus diferentes participantes. Outros 8% E.U.A 26% Megatendências Globalização França 7% Espanha Gráfico 3 Brasil - 9O Maior Fabricante Mundial de Veículos Espanha 4% Argentina Segundo podemos observar no Gráfico 2, o Brasil é o 9o maior fabricante mundial de veículos, produzindo pouco mais de 10% do que produzem os Estados Unidos e o Japão individualmente. Em função dos prognósticos resultantes das intenções de investimento dos atuais e dos novos players entrando no nosso mercado, acreditase que o Brasil possa evoluir para o 7o ou até mesmo 6o lugar, no curto prazo. México Brasil 0 • Investimento internacional • Importância decrescente dos mercados locais • Mercados emergentes na fabricação de veículos e demanda Japão 21% Fornecimento Modular • Desverticalização das Montadoras • Redução de complexidade operacional • Definição de sistemas e módulos • Single sourcing • Proximidade da linha de montagem Concentração • Redução do número de fornecedores • Fortalecimento de grandes grupos internacionais • Consolidação de empresas especializadas em nichos Gráfico 2 Impacto das Megatendências da Indústria Automobilística Mundial no Brasil Atualmente, há aproximadamente 40 mil fabricantes de autopeças atendendo o mercado mundial de veículos. Grande parte deles, cerca de 80%, estão concentrados em 5 países: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Itália. Destes, cerca de 60 empresas têm porte maior que US$ 1 bilhão de faturamento anual. Em conjunto, estas 60 empresas faturaram um total de US$ 247 bilhões em 1995. Sua presença está distribuída quase que igualmente em três regiões: Europa, 22 empresas; Japão, 19 empresas; Estados Unidos e Canadá, 19 empresas. Novas Regulamentações • Normatização de emissões • Segurança ativa e passiva • Regulamentações de tráfego e infra-estrutura • Comércio regional (Mercosul) Tecnologia • Meio ambiente • Segurança • Novos materiais • Redução de peso • Redução de Lead-time Redução de Custos • Plataformas/carros mundiais • Terceirização de produção e engenharia • Reestruturações – Vendas – Distribuição Figura 1 1.2. MEGATENDÊNCIAS - A indústria automobilística mundial passa por um processo de mudança estrutural que tem fortes reflexos também no Brasil. Estas mudanças podem ser traduzidas por 6 megatendências, que exercerão forte impacto sobre o setor de autopeças, conforme podemos observar na Figura 1: 2 A globalização, que dará uma importância decrescente aos volumes demandados somente pelos mercados locais e privilegiará cada vez mais a escala necessária geografias. para atender as diferentes Investimentos Anunciados pelas Empresas Montadoras no Brasil (1995-2000) Montadora Presentes A recente terceirização do fornecimento de serviços e autopeças, resultante do interesse das montadoras em se desverticalizar e reduzir sua complexidade operacional. Fiat A concentração e a redução do número de fornecedores e o fortalecimento de grandes grupos de atuação internacional. VW Ford As novas regulamentações, tanto na área ambiental, como também de comércio exterior. GM O incremento tecnológico cada vez maior, provocado não só pela sofisticação do produto final, mas também pela necessidade de se aumentar a segurança e reduzir o peso dos veículos e, por último, ‘000 veículos 10.000 Europa Ocidental Europa Oriental NAFTA América do Sul Asia Utilitários US$ 1 bilhão Mercedes Benz Classe A US$ 500 milhões Asia Topic US$ 500 milhões Honda Civic US$ 600 milhões Toyota Corolla US$ 400 -600 milhões US$ 2,5 bilhões US$ 2,6 bilhões Peugeot 20-30 mil carros US$ 200 milhões Mitsubishi Canter US$ 150 milhões Audi A3 n.d. Chrysler Dakota Neon US$ 315 milhões Total: ~ US$ 4,5 bilhões A Delphi com seu novo complexo industrial em Piracicaba para fabricação de componentes eletrônicos. A Magnetti Marelli com a nova fábrica em Hortolândia, para atender aos novos veículos da Fiat. A Johnson Controls com sua nova planta de assentos no Brasil, complementando suas atividades rumo à globalização com outras fábricas na Alemanha, França, Áustria, República Checa e Espanha. A Dana, com a aquisição da Thomson Ramco na Argentina e da divisão de eixos da Rockwell / Braseixos no Brasil e em plena atividade de expansão de seus negócios no país. A Walbro, através de joint-venture com a Marwall no Brasil, e outras no México, para ter acesso tanto ao mercado do Nafta quanto ao do Mercosul. A Lear Seating, também com uma joint-venture na Argentina e no Brasil para fabricação de assentos. +52% +16% Japão Corsa S10 US$ 1 bilhão Hyundai A British Tire and Rubber - BTR - aumentou sua participação no mercado brasileiro de plásticos e derivados de borracha, realizando a fusão da divisão brasileira da Dunlop com a Getoflex, e adquirindo outras empresas como a Plascar que, por sua vez, já havia comprado a Plavigor, a Metalúrgica Carto e a Mangotex. 1995 2000 +80% Fiesta Ranger Ka US$ 2,3 bilhões Investimento Megane Busca de Novos Mercados Produção em Países de Baixos Custos +72% Caminhões Gol Golf Passat? Carro Renault Como não poderia deixar de ser, os fabricantes internacionais de autopeças estão acompanhando as montadoras em busca deste mercado atrativo. Alguns exemplos de empresas de autopeças estabelecendo operações na América do Sul: Globalização +9% US$ 1 bilhão Montadoras Entrantes As principais montadoras mundiais estarão investindo no Brasil aproximadamente US$ 13 bilhões em novas fábricas ou na expansão das suas atuais linhas de produção. Até o ano 2000 deverão entrar mais nove participantes no setor, que até o momento está sendo disputado por quatro participantes. (Tabela 1) 1.2.1. Globalização - A globalização da indústria automotiva visará servir os atuais mercados e aqueles que estão em emergência, e continuará a refocar seus investimentos futuros para a produção em países de custos competitivos e potencial de crescimento expressivo, tornando os mercados com baixo consumo per capita bastante atrativos nos próximos anos. +11% Tipo Palio Marea Total: US$ 8,4 bilhões Trataremos a seguir cada uma destas tendências isoladamente. +22% Investimento Tabela 1 A continuada procura por redução de custos, influenciando o relacionamento entre todos os participantes da cadeia de produção. 20.000 Carro Outros Gráfico 4 Embora a base de produção seja ainda baixa na América do Sul, a projeção de crescimento nesta região é maior que na Ásia, incluindo-se aí a China, e que na Europa Oriental, onde Rússia, Polônia e República Checa estão também recebendo vários novos investimentos. Conforme podemos observar no Gráfico 4, projeta-se para a região um crescimento na ordem de 80% até o ano 2000. 3 A Gamesa, com sua nova fábrica de componentes de caixas de câmbio para atender a General Motors em todo o Mercosul. Somente para efeito de ilustração, citaremos sete sistemas mais comuns entre as montadoras mundiais. A utilização destes módulos está sendo testada e com certeza sofrerá alterações mediante o aprendizado realizado tanto por parte das montadoras como dos fornecedores, que estão se posicionando e preparando para sua utilização: Os investimentos em aquisições e fusões indicam que o capital aportado não é de curto prazo, e ressalta a característica de que com o controle majoritário pretende-se instalar definitivamente na região. Ao mesmo tempo, algumas empresas nacionais de autopeças buscam aproveitar oportunidades, alavancadas não só pelo Mercosul, mas também visando o mercado global, através de aquisições e jointventures: A Cofap, com a compra da divisão de amortecedores da Indufren, líder do mercado argentino deste produto e com a aquisição da Metal Leve, associada ao Bradesco e à Mahle. A Sabó, com a aquisição de duas empresas de retentores na Argentina e de outra empresa na Alemanha. A Mangels, com a construção de um centro de distribuição nos Estados Unidos, visando a aproximação com o mercado americano de rodas de alumínio. O conjunto de tração engloba o motor, sistema de injeção, radiador e câmbio. O chassis incorpora todos o componentes estruturais, a direção e, eventualmente, a suspensão. O interior contém o revestimento interno e lateral, os assentos e cintos de segurança. Os componentes eletrônicos interligam diversos atuadores e sensores. O sistema de eixo agrega o conjunto de eixos, rodas, pneus e sistema de freios. O painel de instrumentação concentra os medidores, console, e sistema de airbag. Por último, o exterior tem como referência a carroceria, estampados, revestimento externo, pintura e pára-choques. 1.2.3. Concentração - A diminuição do número de fornecedores diretos, também denominados Tier 1, e a sofisticação da logística de compras, através do uso crescente do EDI (Electronic Data Interchange), permitirá às montadoras grande agilidade e redução de custos no processo de suprimentos. Freios Varga, com a compra da divisão de freios da Indufren. A Iochpe-Maxion, com uma joint-venture, Easa, líder argentina na fabricação de chassis e componentes estruturais e com a aquisição da Midland Steel nos Estados Unidos, além de uma joint-venture com o Bradesco na área de sistemas para acionamento de portas. A sobrevivência à concentração será privilégio de fornecedores de componentes e sistemas que possuírem requisitos de excelência em: 1.2.2. Fornecimento Modular - O fornecimento modular, outra das tendências assinaladas, está sendo cada vez mais adotado, devido à implantação de novas bases técnicas de montagem nas montadoras. Em síntese tudo se deve à forte desverticalização da produção de componentes e autopeças. As montadoras estarão cada vez mais produzindo em plantas de alta produtividade. O equipamento para a produção de componentes e autopeças estará sendo repassado a parceiros que se responsabilizarão por entregar módulos diretamente no ponto de consumo; em outras palavras, sistemas completos na linha de montagem. E tudo justin-time, e respeitando lead-times de produção cada vez menores. Capacidade gerencial, para o planejamento de projetos e liderança na coordenação de vários participantes, fornecedores de componentes e matéria-prima. Flexibilidade para adaptar-se e absorver a engenharia de produto e processo, naquilo que hoje se denomina co-design Pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, própria ou adquirida de terceiros. Como exemplo duas montadoras já estão bem adiantadas em seus planos de redução de fornecedores: a Volkswagen, que dos seus 500 e poucos fornecedores em 1994/1995, está trabalhando para ter menos de 400 em 1996/1997, para chegar com 70 a 80 no ano 2000 e a Fiat, que pretende reduzir seus atuais 260 fornecedores para algo em torno de 50 a 60, também até o ano 2000. Além disso, cresce a tendência do uso de hardware comum a vários veículos, havendo a diferenciação somente no acabamento, o que favorece a redução de custos pelo melhor aproveitamento da capacidade produtiva e da concepção de utilização de sistemas modulares mais baratos, leves e eficientes. 4 Fatalmente, a produção de autopeças estará sendo direcionada para duas categorias de fornecedores, para viabilizar ganhos de escala: A normatização de emissões em vigor nos próximos anos no Brasil, seguindo as normas Euro 3,4 e 5, irá requerer sistemas mais modernos, com maior quantidade de sensoreamento eletrônico e mecânico para redução de emissão de partículas e gases. O fornecedor global, que participa do co-design, sendo líder na concepção de módulos e trabalhando com uma ampla gama de produtos. Normalmente o porte deste fornecedor é grande, e seu escopo de fornecimento é global. Será importante, também, desenvolver materiais resistentes a alta temperatura e pressão, assim como formular novos revestimentos acústicos para redução do nível interno de ruídos. O fabricante de peças para sistemas e participante de nichos de mercado, que pode ser uma empresa de porte intermediário, com alcance mais local ou regional. A legislação sobre segurança ativa e passiva, embora ainda incipiente no país, também estimulará o desenvolvimento de novos conceitos estruturais, com veículos mais resistentes, que garantam a integridade física em caso de acidentes, e com o uso de materiais mais leves e recicláveis, que, adicionalmente, permitem economia de combustível. Em ambas as categorias podemos encontrar empreendimentos bem sucedidos. Entretanto, muitas empresas do setor ainda estão em situação indefinida e ainda não sabem que rumo deverão tomar neste quadro em que a poeira ainda não assentou. 1.2.5 Tecnologia 1.2.5.1 Tecnologia de Processos - O desenvolvimento de tecnologia estará focalizado a processos mais eficientes e na melhor administração do tempo de fabricação. De acordo com uma estimativa que rodeia o setor há muito tempo, estima-se que das aproximadamente 1000 empresas que atualmente operam no Brasil, somente 300 a 350 estarão em atividade até o ano 2000, e as que sobreviverem estarão enquadradas em uma dessas duas categorias. Embora seja um alvo móvel, a qualidade é cada vez mais premissa básica. Zero defeitos é um futuro cada vez mais próximo e real. Fornecedores serão, cada vez mais, obrigados a fornecer com níveis de qualidade internacional. O fornecedor deverá demonstrar que seus processos administrativos e produtivos são confiáveis. A QS e ISO 9000 e técnicas de qualidade total serão imprescindíveis. Dentre os vários modelos de alianças utilizados pelas empresas de autopeças, as fusões, aquisições e jointventures estão ocorrendo com freqüência. Na Tabela 2 podemos avaliar a quantidade de ações recentes rumo à concentração de empresas no setor. É possível que empresas que trabalhem consorciadas em um sistema modular possam perfeitamente fazer um trabalho mercadológico ou de assistência técnica em comum. Além disto os processos produtivos deverão ser geridos conforme padrões internacionais de segurança, controle e proteção ambiental como a ISO 14000. Exemplos de Atividades de Concentração de Empresas no Brasil (1995-1996) Fusões/Aquisições (por concorrentes e/ou grupos financeiros) Joint Ventures (várias formas de composição acionária) Alianças Estratégicas (produção, P&D, distribuição, marketing) • Cofap/Mahle - MetalLeve • Brosol - Iochpe-Maxion • Donaldson - Filtrobras • Cofap - Kadron • Arteb - Sico (Esp) • Dana - Metal leve • Mastra - De Maio Gallo • Dana - Simesc • Cummins - Fiat (motores) • Robert Bosch - Bendix (Allied Signal) • Acil - Pianfei, Irausa e Sommer • Metal Leve - Krebsoge (bielas) • Dana - Albarus (divisão de eixos) e Thomson Ramco • Siebe - Tubotécnica • BTR - Plascar, Carto e Mangotex • DHB - Maxdrive • Manesmann - Sachs • Acesita - Sifco • Bradesco - Tupy/ Sofunge Haverá pressões para se reduzir prazos de desenvolvimento de produtos, que por sinal serão cada vez mais complexos, e para assumir mais responsabilidades no lugar das montadoras. Para se ter idéias do impacto que isto pode representar para as empresas, basta que usemos como referência o fato de que, no início desta década de 90, o tempo médio de desenvolvimento de um veículo, desde sua concepção até a colocação no mercado era de 60 meses. Hoje, já se faz o mesmo em 24 meses, ou menos. Cooperações (produtos e projetos) • Iochpe-Maxion - Rover (motores) • Getoflex - Dunlop • Sicos - Arteb • Trambusti - Woodbridge • Renner - Dupont (pintura) • Usiminas - Brasinca • Rassini (Mex) - Fabrini Crescem as exigências para se entregar just-in-time na linha de montagem. Brevemente será condição necessária integrar-se na linha de produção, respondendo até pelo controle de qualidade. A recente inauguração da fábrica de caminhões da Volkswagen em Resende o comprova. • Delphi - Sielim • Randon - Fras Le • Eaton - Clark Fonte: Entrevistas de campo, O Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil Tabela 2 1.2.4. Novas Regulamentações As novas regulamentações ambientais e de segurança imprimirão um forte ritmo para o desenvolvimento tecnológico no setor, gerando demanda adicional de investimentos. Um exemplo vivido: em 1989, a Saab levava 102 horas para montar um de seus modelos mais comuns, o 9000. Hoje, a Mitsubishi leva não mais que 10 horas para 5 montar um carro em sua planta de Okasaki, no Japão. 80% dos fornecedores estão a menos de meia hora da linha de montagem. fabricantes nacionais métodos de produção e custos altamente competitivos. É preciso pensar em métodos de produção em que a escala não seja o fator determinante, mas sim a flexibilidade e a possibilidade de um fornecimento que utilize inteligentemente as barreiras naturais representadas por fretes, custos de capital e da segurança representada pelo fornecedor presente na linha de montagem. 1.2.5.2 Tecnologia de Produtos - O desenvolvimento de produto para atender à nova regulamentação referente a segurança e meio ambiente, exigirá um forte fôlego financeiro por parte dos fornecedores. A idéia é fomentar uma maior segurança ativa e passiva nos veículos, e isto demanda um nível alto de dispêndio. Outro grande desafio será concentrar-se na produção em larga escala de determinados produtos que serão utilizados em algumas poucas plataformas de veículos, porém em várias regiões do mundo. Nesta condição, o fornecedor, com certeza, estará operando bem acima do seu break-even, apresentando condições de gerar uma margem operacional adequada. A base tecnológica tenderá cada vez mais a reduzir o volume de emissões tanto de partículas como de ruídos, buscar maior economia de combustível não renovável, e diminuir a deposição de materiais no solo, utilizando-se de materiais recicláveis. Outra grande preocupação é aumentar a eficiência no consumo de combustíveis, através de melhorias em curvas de torque, redução do atrito através de desenvolvimento de pneus e de melhores coeficientes aerodinâmicos. Mas o maior desafio de todos, e é aí que residirá a vantagem competitiva, será produzir o mesmo sistema que antes era produzido pela montadora, com menores custos, e ter lucro nesta operação. Outro tema tecnológico refere-se à redução de peso do veículo, com o desenvolvimento de novas matériasprimas, e com o maior emprego de plástico e alumínio. Vários projetos prevêem uma redução do peso médio dos veículos em 15 a 20% nos próximos 5 anos. Em resumo, para se estar apto a estes desafios, há necessidade de adaptar as estruturas e, principalmente, ganhar agilidade. Preço, capacidade de engenharia e qualidade de produto são os fatores críticos de sucesso para um fabricante de autopeças a nível global. Todos estes aspectos de segurança ativa e passiva, proteção ao ambiente, aumento de eficiência e redução de peso deverão ser levados em conta pelas empresas de autopeças e sistemas, para que possam, sempre, estar se antecipando em relação aos Através de estudos realizados recentemente junto a todas as montadoras européias, americanas e de algumas de suas subsidiárias no Brasil, verificamos que, principalmente as de origem, ou de forte estilo gerencial europeu, estão em fase avançada na promoção do desenvolvimento de seus fornecedores. concorrentes no desenvolvimento de produtos e conceitos e para seguir as principais tendências das montadoras. Quando nos perguntamos quem está se saindo bem nesta corrida, nossa resposta é : são as empresas que já se dedicam há alguns anos em desenvolver ou buscar tecnologias com objetivo de diferenciação, e que sempre estão adaptando suas estruturas organizacionais para ganhar agilidade e capacidade de gerenciamento. Deve-se ter capacidade de investimento, ou se associar com parceiros para continuar investindo em pesquisa de materiais, produtos, novos conceitos, na engenharia, e em equipamentos e ativos. Os resultados de uma pesquisa realizada recentemente pela Arthur D. Little, com diversas montadoras mundiais, confirmam vários destes pontos: 1.2.6 Redução de Custos - Em função da alta competição no setor, o grande desafio será a redução de custos na fabricação de sistemas. Como podemos observar na tabela 3, foi detectado que na hora da decisão de compra, estas irão optar por quem tenha alta capacidade de engenharia, flexibilidade para se adaptar rapidamente a novos condicionantes e sobretudo alta qualidade de produto. Sempre que possível, serão empresas que, adicionalmente, sejam capazes de encontrar soluções logísticas e que estejam cada vez mais próximas da linha de montagem. Em um cenário de preços declinantes e reduções fixadas pelas montadoras o famoso target price que impõe uma redução anual de preços de aproximadamente 3% ao ano aos supridores, a saída será participar de projetos globais para aumentar escala e diluir custos. Além disto, a atual legislação sobre o regime automotivo impõe, até o ano 2000, uma grande vantagem tarifária na importação de componentes, exigindo dos 6 Critérios de Compra Montadoras * Fabricantes europeus de carros 1 2 3 Preço Capacidade de engenharia Qualidade do produto Fabricantes europeus de caminhões pesados 1 2 3 Capacidade de engenharia Custo total Qualidade do produto Fabricantes americanos de caminhões pesados 1 2 3 Preço Qualidade do produto Capacidade de engenharia 1 2 3 Preço Capacidade de engenharia Qualidade do produto Fabricantes brasileiros de caminhões O quarto e último fator trata do desenvolvimento de um processo de suprimento confiável junto ao líder do consórcio modular e do cliente final, visando construir e sustentar uma imagem de suprimento sólida e confiável. Conclusões • Montadoras européias (mais desenvolvidas tecnológicamente e com margens maiores que as americanas) começam agora a promover o desenvolvimento de fornecedores Já o quadro para as empresas que pretendem participar do fornecimento de módulos às montadoras é de uma complexidade maior. A capacitação organizacional será fundamental e quanto mais difundido dentro da estrutura for o comprometimento com a austeridade, qualidade, progresso em termos gerenciais e atenção regionalizada, mais chance terá a empresa para se sustentar competitivamente nesta posição. • Fornecedores devem dedicar-se a duas estratégias básicas para redução de custos: – Desenvolver ou buscar tecnologias com objetivo de diferenciação – Adaptar suas estruturas para ganhar agilidade e capacidade de gerenciamento (*) Fonte: Entrevistas com todas as montadoras européias de carros e caminhões pesados e todas as montadoras de caminhões pesados americanas (1994/1995), e GM, Mercedes-Benz e VW Caminhões no Brasil Os quatro fatores críticos mencionados para os fornecedores de peças e componentes continuam sendo indispensáveis para o fornecimento de sistemas, acrescidos da necessidade de se desenvolver uma organização que esteja apta a ser administrada em toda a sua extensão, fazendo com que todos sejam participantes de seus processos. Tabela 3 Isto tudo sem contar outros fatores não menos importantes e que já são hoje considerados como prérequisitos: suprir a baixo custo, ser confiável na entrega, dar suporte comercial e de serviços e por aí afora. 1.3. CONCLUSÕES - O mercado automotivo brasileiro e do Mercosul, estará em crescimento acelerado, e dentre todos os países emergentes é o que aparentemente estará recebendo grande parcela dos investimentos planejados para indústria automotiva mundial. O relacionamento entre as montadoras e seus fornecedores tende a ser concentrado, mais sofisticado e visando atendimento global. No relacionamento com as montadoras, deve-se explorar todas as oportunidades para ser bem sucedido no desenvolvimento de produtos e de sub-fornecedores, não se esquecendo de nenhuma etapa de cada novo projeto, desde sua concepção, seu detalhamento e sua gestão. Deve-se pensar em produzir em escala global. A busca de presença mundial através de fusões e associações não deve ser vista como uma regressão. A busca e aproveitamento total de sinergias competitivas com seus parceiros é fundamental. Como pontos principais que regerão o espírito deste relacionamento destacamos a parceria com menos fornecedores, porém mais confiáveis e comprometidos, e a maior responsabilidade na definição até do produto final. E por último, deve-se considerar estar sempre perto do seu cliente. Quanto mais próximo da linha de montagem, melhor. As empresas que pretendem ser bem sucedidas como fornecedoras de peças e componentes deverão conciliar os quatro fatores internos descritos a seguir. A regionalização não induz necessariamente a que se tenha várias plantas espalhadas pelo mundo afora. Há soluções que permitem obter bons resultados, seja com distribuição regionalizada, equipes de montagem final do sistema próxima à linha de montagem do cliente ou, até, uma mini-planta desenhada exclusivamente para determinado cliente. O primeiro fator é ter capacidade de engenharia. Para isto, deve-se avaliar a capacidade e qualificação da estrutura organizacional e os recursos financeiros para investimentos próprios. Caso esta condição seja de difícil equacionamento, talvez o melhor será empenharse em alianças estratégicas com parceiros que disponham de tecnologia, e que compartilhem esforços no desenvolvimento de produtos e de processos. As empresas de autopeças brasileiras, hoje ainda preponderantemente nas mãos do capital nacional, deverão estar pensando em como melhor dispor de uma atuação globalizada para sobreviverem com sucesso. O segundo fator é desenvolver constantemente novas soluções de materiais para se obter custos competitivos na fabricação de componentes, sem se descuidar da busca de reduções de custos de produção e lead-times menores. Muitas ainda têm chance de se associar, mantendo-se competitivas sob os novos condicionantes da indústria automotiva. Vem a seguir o aspecto da qualidade do produto e a necessidade de se incentivar a padronização de processos em direção a zero defeitos. Outras terão provavelmente que alienar parcial ou integralmente suas participações para novos entrantes neste cenário. 7 Várias não terão condição de sobrevivência, se não conseguirem se posicionar a tempo de enfrentar este novo contexto competitivo. quanto ao capital, 37% das empresas participantes são de origem familiar e 15% têm suas ações negociadas em bolsa de valores. Algumas poucas serão fabricantes de presença mundial, participando decisivamente do desenvolvimento do setor. Participaram da pesquisa fabricantes de autopeças que, se considerados como um conjunto, produzem aproximadamente 95% de um veículo completo. As empresas ouvidas fabricam, entre outros: motores, caixas de cambio, elementos estruturais, eixos, suspensões e transmissões, bancos e interiores, rodas e pneus, cabos e conexões e demais componentes menores de veículos de passageiros e comerciais. 2. COMO ESTÃO PREPARADOS OS FABRICANTES NACIONAIS 2.1. INTRODUÇÃO - Seguem as conclusões da pesquisa realizada com os principais executivos de uma amostra de empresas de autopeças associadas ao Sindipeças, de setembro a novembro de 1996. A indústria de autopeças como um todo, representada aqui pelas 52 empresas respondentes, apresentou um crescimento em vendas apesar da pressão geral de diminuição de preços e entrada crescente de produtos importados. Para uma melhor análise, procuramos sempre que interessante separar extratos de empresas de capital puramente nacional. Vendas É importante relembrar que esta avaliação teve como foco o posicionamento e capacidade competitiva intrínseca das empresas, não considerando fatores externos às mesmas, como por exemplo o “Custo Brasil”. Exportação Reposição 10% 17% Autopeças 13% 2.2. PARTICIPAÇÃO RESPONDENTES - E CARACTERIZAÇÃO Montadoras 60% DOS Gráfico 6 Origem do Capital O total das 52 empresas teve um aumento médio de faturamento em 96 na ordem de 2,6% em relação a 95, sendo que em 96, 60% das vendas foram destinadas às montadoras nacionais, 13% aos fornecedores de autopeças, 17% para a reposição e finalmente 10% para a exportação, como pode ser visto nos Gráficos 6 e 7. Brasileiro 48% Outros 14% Americano 19% Alemão 19% Evolução do Faturamento 1995-96 5% Gráfico 5 3,90% 4% No total foram respondidos 52 dos 198 questionários enviados, correspondendo a 26% de adesão à pesquisa. Este número vem mais uma vez confirmar o interesse e, sobretudo, a preocupação das empresas de autopeças atuantes no mercado brasileiro de autopeças quanto ao seu futuro próximo. 2,60% 3% 2% 1% 0,80% 0% Nacional Dos respondentes, 48% são de capital de origem preponderantemente nacional, 19% de capital alemão, 19% de capital americano e os demais 14% de capital de outros países ou misto, conforme Gráfico 5. Ainda Estrangeiro Capital Gráfico 7 8 Total Estes dados nos demonstram claramente a preocupação e adaptação das empresas, principalmente nacionais, em garantir sua posição no mercado com produtos tecnologicamente atualizados, especialmente nos últimos 2 anos. As constantes e, cada vez mais frequentes inovações requeridas pelas montadoras forçam o fabricante a ter uma estrutura de desenvolvimento onerosa que só se torna sustentável a partir de determinado volume de produção. Desta maneira a solução das empresas brasileiras é na maioria das vezes a busca de associações com grandes fabricantes internacionais que têm como sustentar uma estrutura de desenvolvimento bem sucedida. Promovendo uma estratificação entre fornecedores de capital nacional e estrangeiro observamos que as empresas de capital nacional obtiveram um crescimento médio no faturamento de 0,8% em 96, enquanto as empresas de capital estrangeiro obtiveram um crescimento, representativamente maior, de 3,9%. As 52 empresas participantes empregam um contingente de aproximadamente 55.000 empregados e têm um faturamento médio por empregado de US$ 120 mil. Veja Gráfico 8. Elas empregam aproximadamente 27% da mão-de-obra da indústria brasileira de autopeças. É interessante observar que, mesmo sendo subsidiárias, algumas empresas de capital preponderantemente estrangeiro também não têm a capacidade de sustentação tecnológica. Estas, bem como as empresas brasileiras nesta condição, ou buscam uma associação ou fatalmente estarão sendo rejeitadas pelo mercado global no futuro. Faturamento por Empregado 135 US$ 127Mil/ Empregado 130 125 120 US$ 120Mil/ Empregado 2.3.2. Competitividade de Custos US$ 114Mil/ Empregado 115 110 Áreas de Potencial de Melhoria 105 100 70% Total Estrangeiro 69% Nacional 60% 53% 50% Capital 42% Gráfico 8 40% 30% 13% 13% Materiais 17% 20% Projeto O índice de faturamento médio por empregado cai para US$ 114 mil/ empregado se considerarmos somente as empresas de capital nacional que empregam aproximadamente 23.000 empregados. Nesta análise cabe ressaltar a divergência quanto ao processo produtivo de cada participante, que pode ser mais ou menos intensivo de mão de obra, afetando desta maneira o índice. 10% Administração Obs.: Respostas Múltiplas Fornecedores Escala Processo 0% Gráfico 9 2.3. ANÁLISE DAS RESPOSTAS Todas as 52 empresas respondentes afirmaram ter programas internos de melhoria de produtividade e acreditam ser possível em média 18% de redução interna de custos através dos mesmos. Dentre a amostra de empresas brasileiras o potencial de redução de custos estimado é um pouco maior e equivale a 20%. Esta cifra sem dúvida é significativa e propõe um grande esforço por parte dos seus administradores para alcançar o objetivo. Estes números confirmam também e sobretudo, a grande pressão de preços à qual são submetidos os fabricantes de autopeças pelo mercado e o grande potencial ainda existente internamente às empresas. Se o industrial nacional quiser competir internacionalmente deverá no curto prazo buscar cumprir com este objetivo de redução. 2.3.1. Capacidade de Engenharia - Todas as empresas estrangeiras possuem acordos de transferência de tecnologia, em sua grande maioria com as casas matriz, enquanto que das empresas brasileiras somente 48% possuem acordos tecnológicos com empresas no exterior. Dos acordos realizados pelas empresas nacionais 58% foram realizados nos últimos 2 anos. Quanto à visão das empresas sobre sua competitividade tecnológica, 13% dos entrevistados não se consideram ainda preparados para competir tecnologicamente no futuro delineado pela indústria. Se focarmos as empresas de capital nacional este número aumenta para 20%. 9 Dentre as áreas de maior potencial de melhoria foram citados (Gráfico 9): processo de produção (69%), escala de produção (53%), preços dos fornecedores (42%), administração (17%), projeto do produto (13%), materiais aplicados (13%) e finalmente logística de distribuição (10%). 2.3.3. Qualidade Sistemas de Garantia da Qualidade 100% 100% 90% 80% As melhorias possíveis e esperadas no processo de produção certamente são decorrentes do baixo nível de investimento realizado na indústria brasileira como um todo nos últimos 10 anos. Incerteza política, altas taxas de juros cobradas por governos com suas contas deficitárias, proteção de mercado para produtos nacionais e a falta de uma política industrial clara, fomentaram a desatualização do parque industrial de grande parte das empresas de autopeças brasileiras. 69% 70% 60% 50% 42% 40% 30% 20% 10% 0% Implantação ISO 9000 Em condições de livre concorrência de mercado a escala de produção torna-se um fator vital para redução de custos dos produtos e ganho de competitividade. As empresas brasileiras, que rapidamente foram expostas ao mercado internacional somente agora estão buscando alternativas para fornecerem globalmente. Para tanto precisam de parcerias internacionais para ter acesso à tecnologia avançada e penetração de mercado. ISO 9000 Implantada Implantação QS 9000 Gráfico 10 Todas as 52 empresas participantes estão passando pelo processo de implantação ou já tem implantado um sistema de garantia da qualidade segundo as normas ISO série 9000. (69% das empresas já têm o sistema implantado). Quando tratamos da nova exigência das montadoras para o final de 1997, a QS 9000, o percentual de empresas que está atualmente tratando de sua implantação cai para 42%. Nenhuma empresa afirma ter a QS 9000 já totalmente implantada fato justificado por sua recém criação. Se comparados internacionalmente estes números são bastante significativos e demonstram a preocupação dos dirigentes brasileiros com este assunto. Nos Estados Unidos, país de origem da QS 9000, por exemplo, apenas 51% das empresas planejam ter implementada a QS 9000 em todas suas unidades até o final de 1996 (Gráfico 10). A constante pressão realizada pelas montadoras para a redução de preços das autopeças deve ser desdobrada para os fornecedores secundários, que também deverão continuar seus esforços para eliminação de ineficiências internas e consequente redução de preços. O baixo índice de 10%, citado para o item logística de distribuição é um indicativo de que apesar das grandes reclamações sobre as condições de estradas e portos brasileiros este deverá ser um item de preocupação futura dos fabricantes de autopeças, após terem resolvidos seus problemas internos. O preço que as empresas atuantes no mercado nacional estão pagando pelo longo período de proteção de mercado pode ser avaliado pela quantidade de produtos deficitários dentro da linha de produtos que comercializam. Atualmente as empresas participantes têm em média 10% de seus produtos deficitários, sendo que em algumas das empresas este número chega a ser superior a 20%. A média de produtos deficitários na amostra brasileira é também de 10%. Uma pesquisa semelhante feita nos Estados Unidos indica que lá 61% das empresas entrevistadas têm produtos deficitários em sua linha e que 34% das mesmas pretendem deixar o mercado destes respectivos produtos, caso permaneçam no vermelho. Como resultante deste esforço e conscientização cada vez maiores, o índice de reclamação pós-venda indicado pelos participantes, tanto no total como também no extrato brasileiro, é bastante baixo e corresponde a 1,4% do volume total de produtos vendidos, índice que se comparado internacionalmente ainda pode ser considerado elevado visto que nos Estados Unidos falamos em números em torno de 0,5%. A grande maioria das empresas, 90%, afirmam não ter dificuldade em atender os requisitos de qualidade estabelecidos pelas montadoras. Somente a título de comparação, nos Estados Unidos este número é bem menor: 27%. Sem dúvida a situação descrita é passageira, fruto da nova estrutura da indústria, e necessária, para manter uma boa posição de mercado enquanto se reestruturam internamente. 10 2.3.4. Confiabilidade de Entrega Capacidade e Velocidade de Mudança e Adaptação Confiabilidade de Entrega 70% 67% 62% 35% 35% 60% 33% 50% 30% Capacidade Velocidade 40% 25% 30% 20% 27% 20% 15% 12% 17% 12% 10% 10% 8% 8% 8% 2% 5% 4% 0% 4% M. Alto Alto Regular Baixo 0% 80% 85% 90% 95% 98% Gráfico 12 100% Gráfico 11 75% dos entrevistados afirmaram considerar sua capacidade de mudança e adaptação frente aos novos desafios apresentados pela indústria entre alta (67%) e muito alta (8%). As demais empresas avaliaram sua capacidade de mudança regular (17%) e baixa (8%). Quando analisamos o aspecto da velocidade de mudanças, 70% consideraram-na alta (62%) e muito alta (8%). 32% das empresas consideraram sua velocidade de mudanças e adaptações regular ( 27%) ou baixa (2%). Embora 73% dos participantes afirmem fazer entregas just-in-time para pelo menos um de seus clientes, a pontualidade de entrega do grupo participante é de 94% sendo que algumas empresas (16%) mencionaram ter este índice abaixo de 86%. Veja Gráfico 11. No extrato de empresas brasileiras este valor cai para 93%. Em um ambiente de pressão de custos, em que cada centavo em estoque está sendo poupado, a pontualidade de entrega torna-se um fator competitivo fundamental, uma vez que corresponde ao balanceamento perfeito entre o serviço prestado ao cliente mediante a entrega do produto no tempo certo e o estoque de produtos mantido pela empresa para fazêlo. O índice apresentado na pesquisa é baixo se considerado o grau crescente de dependência das montadoras, que estão repassando gradativamente toda a responsabilidade de gestão de estoque e entrega aos seus fornecedores. Estes números, em nosso ponto de vista bastante otimistas, demonstram a grande capacidade e velocidade de mudanças das empresas brasileiras. Relacionamento com Fornecedores O fabricante de autopeças bem sucedido terá que apresentar total confiabilidade, de modo que ainda há algum trabalho a fazer neste sentido para o produtor nacional. Regular 25% Muito Bom 13% Bom 62% 2.3.5. Capacidade Gerencial - Segundo o Gráfico 12, apenas 12% dos participantes afirmaram não ter uma visão clara sobre o futuro de sua empresa dentro do novo contexto da indústria. Gráfico 13 Quanto ao relacionamento com fornecedores 13% dos entrevistados afirmam ser muito bom o gerenciamento de projetos com os mesmos, 62% dizem ser bom e os restantes 25% o classificaram como apenas regular. (Gráfico 13) 73% dos pesquisados afirmam fazer 11 engenharia simultânea, envolvendo os fornecedores desde a concepção do produto. O tipo de associação mais desejada pelos entrevistados são joint-ventures e venda de participação acionária. A integração e um bom relacionamento com os fornecedores se tornará cada vez mais um fator competitivo, uma vez que será exigido do autopartista uma velocidade de resposta crescente. Benefícios Esperados com Associações 40% 37% 35% 46% das empresas afirmam estar pedindo peças/componentes mais completos a seus fornecedores, confirmando assim a tendência global de modularização das autopeças. 25% 21% 20% 15% 2.3.6. Proximidade à Linha de Montagem dos Clientes 17% dos respondentes da pesquisa afirmam ter montado recentemente operações próximas à linha de montagem dos seus principais clientes. Dos restantes, 31% têm suas operações localizadas no ABCD paulista e estão portanto perto das montadoras lá localizadas e 52% das empresas não estão próximos às linhas de montagem de seus clientes. 10% 5% 0% Tecnologia 3.1. NOVOS ENTRANTES - Os efeitos da globalização fortemente presentes na indústria automobilística mundial, sem dúvida alguma trarão ao ambiente competitivo brasileiro novos competidores em busca deste atraente mercado. Fornecedores com escala mundial, faturamentos beirando a faixa de US$ 1 bilhão com certeza terão sua fatia no mercado brasileiro. A questão a ser respondida por fabricantes de capital nacional é se têm recursos para combatê-los ou se é preferível se associar. 38% 35% 30% 3.2. AMEAÇAS DE SUBSTITUTOS - Devido às características do mercado consumidor e do produto final (automóvel), a presença local dos fornecedores de autopeças será imprescindível. A necessidade de assistência técnica especializada e a complexidade de transporte de alguns dos componentes de veículos, aliados ao forte crescimento do mercado farão com que a base instalada deste segmento no Brasil cresça nos próximos anos. 25% 20% 15% 15% 10% 10% 5% 0% Follow Sourcing Capital 3. CONCLUSÕES Perdas em Cotações Preço Escala Internacional Gráfico 15 2.3.7. Baixo Custo Total - As empresas pesquisadas afirmam ter perdido em média 24% das cotações nos últimos 12 meses para produtos concorrentes importados. Esta cifra é de 25% para as empresas de capital nacional. Os principais motivos mencionados como causa foram: preço (38% ), follow sourcing (15%) e escala (10%). (Gráfico 14) 40% 29% 30% 3.3. FORÇA DAS MONTADORAS - A pressão das montadoras no sentido da diminuição de custos e de prazos deverá ser uma constante nos próximos anos. É assim, devido à necessidade que as mesmas têm de atender um consumidor final cada vez mais exigente e consciente e que, como se não fosse suficiente, tem cada vez mais alternativas de produtos importados. A adaptação das montadoras a um ambiente competitivo franco e aberto é condição básica de sobrevivência e sucesso. Não resta aos fornecedores de autopeças outra alternativa senão seguir o mesmo caminho. Escala Gráfico 14 2.3.8. Questões Gerais - 85% dos fabricantes de capital nacional e 56% dos entrevistados afirmaram já terem ou estarem estudando algum tipo de associação com empresa internacional. Segundo o Gráfico 15 os benefícios buscados através destas associações são: tecnologia de produto (37%), escala internacional e follow sourcing (29%) e finalmente injeção de capital (21%). O follow sourcing deve orientar os fabricantes nacionais de autopeças rumo a alianças com fornecedores 12 mundiais, a fim de garantirem novos contratos de fornecimento. Num ambiente de redução de custos e prazos de desenvolvimento e fornecimento, o follow sourcing parece um remédio muito poderoso a ser aplicado pelas montadoras. qualidade dos produtos e serviços reconhecida, pontualidade e confiabilidade de entrega de produtos, capacidade de integrar e gerenciar os fornecedores em projetos para as montadoras, plantas localizadas próximas aos principais clientes e, apesar dos itens anteriores, custos competitivos internacionalmente. Estas empresas com certeza não enxergam o futuro tão negro quanto é diariamente noticiado pela mídia. Aos outros, a grande maioria, resta a interessante opção de participar deste grande mercado através de associações e fusões com uma das muitas empresas internacionais de olho no país. Oportunidade esta que em um mercado como está se delineando não é de todo desprezível. Quanto ao fornecimento modular e ao global sourcing, a indústria como um todo está tateando e aprendendo. Exemplos como o da Volkswagen em Resende e do lançamento do Fiesta em 1996 com certeza são extremos dos quais tanto montadoras como também fabricantes de módulos e sistemas extrairão seus aprendizados. Antes de tudo estas tendências devem servir de orientação estratégica para empresas nacionais, mas não podem nem devem ser encaradas no momento como uma verdade ou solução absoluta. Com a capacidade de adaptação e mudança que os empresários dizem (a maioria) e demonstram (em alguns casos) ter, as empresas nacionais estão buscando suas soluções e se adaptando aos novos condicionantes. 3.4. FORÇA DOS FORNECEDORES - Os fornecedores de insumos básicos da indústria de autopeças, ou seja os fabricantes de aço, plástico e demais produtos químicos não apresentam em nossa análise grande ameaça para o desenvolvimento da indústria no país. Pelo contrário, a boa base instalada e a constante renovação dos processos administrativos e produtivos desta indústria permitem um fornecimento livre de complicações no futuro. Quanto a peças e componentes mais sofisticados, como por exemplo produtos eletrônicos, acreditamos que estes passarão em grande parte a ser importados de países do leste asiático que com escala de produção bem maior são mais competitivos. 3.5. SITUAÇÃO FUTURA DA INDÚSTRIA - Não há dúvidas que a indústria nacional de autopeças continuará se desenvolvendo com o grande crescimento da produção local de veículos, proporcionado por inúmeros investimentos em processo de concretização no país. A produção local de autopeças (condicionada à escala) e o atendimento local às montadoras é uma tendência emergente e está se concretizando também na indústria brasileira. A pergunta que se coloca no momento é diferente: Quem ficará com o bolo? Os fabricantes de capital puramente nacional estão capacitados e qualificados junto às montadoras para absorver cada vez mais responsabilidades? Ou os grandes grupos estrangeiros engolirão os fabricantes de capital nacional através de joint ventures, fusões e aquisições? Pudemos constatar através da pesquisa realizada com as 52 empresas que o clima é, no ponto de vista dos empresários, mais favorável e otimista do que imaginávamos inicialmente e que embora ainda haja bastante trabalho por fazer, alguns poucos fabricantes de capital nacional reúnem condições suficientes para não se socorrer ao capital estrangeiro. Estes reúnem ao mesmo tempo: capacitação tecnológica suficiente para absorver os desafios colocados pelas montadoras, 13
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