O futuro do setor de autopeças no Brasil

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O futuro do setor de autopeças no Brasil
Technical Paper 973116
O Futuro da Indústria de Autopeças no Brasil
Martin Mitteldorf
White Mountain Ltda.
Copyright © 1997 Society of Automotive Engineers, Inc.
grande mercado através de associações e fusões com
uma das muitas empresas internacionais de olho no
país. Oportunidade esta que em um mercado como
está se delineando não é de todo desprezível.
RESUMO
Este estudo trata da análise da indústria brasileira de
autopeças respondendo às seguintes questões:

Quais são os grandes movimentos que resumem a
mudança no setor?

Como devem se posicionar as empresas atuantes no
país frente a estas mudanças?

As empresas brasileiras (de capital nacional) têm
condições de sobreviver nestas novas condições?
Com a capacidade de adaptação e mudança que os
empresários dizem (a maioria) e demonstram (em
alguns casos) ter, as empresas nacionais estão
buscando suas soluções e se adaptando aos novos
condicionantes.
1. MEGATENDÊNCIAS NA INDÚSTRIA
AUTOMOBILÍSTICA MUNDIAL E SEUS REFLEXOS
NO BRASIL
As megatendências na indústria: globalização,
fornecimento modular, concentração e redução do
número de fornecedores, novas regulamentações de
produtos e comércio, avanços tecnológicos e redução de
custos.
1.1. PRODUÇÃO MUNDIAL DE VEÍCULOS E
AUTOPEÇAS - A produção mundial de veículos
alcançou volumes anuais superiores a 50 milhões de
unidades no último biênio, e as projeções indicam um
crescimento de 3% ao ano até o ano 2002, podendo
alcançar a faixa de 58 milhões de veículos.
Os fatores críticos de sucesso para os fabricantes
atuantes na indústria:
capacidade de engenharia,
qualidade de produtos, competitividade de custos,
confiabilidade de entrega, capacidade gerencial,
proximidade à linha de montagem das montadoras e
baixo custo total e global.
A capacidade de produção instalada atual é de cerca de
70 milhões de veículos.
Participação Regional na Produção
Situação da indústria brasileira: pudemos constatar
através da pesquisa realizada com as 52 empresas que
o clima é, no ponto de vista dos empresários, mais
favorável e otimista do que imaginávamos inicialmente e
que embora ainda haja bastante trabalho por fazer,
alguns poucos fabricantes de capital nacional reúnem
condições suficientes para não se socorrer ao capital
estrangeiro. Estes reúnem ao mesmo tempo:
capacitação tecnológica suficiente para absorver os
desafios colocados pelas montadoras, qualidade dos
produtos e serviços reconhecida, pontualidade e
confiabilidade de entrega de produtos, capacidade de
integrar e gerenciar os fornecedores em projetos para as
montadoras, plantas localizadas próximas aos principais
clientes e, apesar dos itens anteriores, custos
competitivos internacionalmente. Estas empresas com
certeza não enxergam o futuro tão negro quanto é
diariamente noticiado pela mídia. Aos outros, a grande
maioria, resta a interessante opção de participar deste
(milhões de veículos)
EUROPA
AMÉRICA DO NORTE
20,0
15,7
20,0
15,6
16,3
15,3
ASIA
20,0
10,0
15,2
15,1
1994
1995
10,0
10,0
0,0
0,0
1994
1994
1995
1995
0,0
AMERICA DO SUL
OUTROS
20,0
20,0
10,0
10,0
2,0
1,9
1994
1995
0,0
Gráfico 1
1,5
1,6
1994
1995
0,0
Esta produção mundial está concentrada nos Estados
Unidos, Europa e Ásia, principalmente no Japão e
Coréia. Os volumes produzidos na América do Sul, onde
Brasil e Argentina são praticamente os únicos países
1
produtores, ainda representam uma parcela pouco
relevante, se comparados às demais regiões produtoras,
Gráfico 1.
Quantidade de Habitantes por Veículo
Existem atualmente cerca de 40 fabricantes de veículos,
com inúmeras plantas espalhadas pelo mundo. A
tendência é que este número diminua através de fusões
ou alianças nos próximos anos. Considerando a origem
do capital, as montadoras asiáticas têm um leve
predomínio de participação no total produzido no ano
passado.
Entretanto, um menor número de
participantes na América do Norte tem uma participação
relativa bastante representativa neste total.
20
1977
1993
15
10
5
Brasil
3%
Inglaterra
3%
Coréia
5%
Canadá
5%
Itália
3% China CEI
2%
2%
México
2%
50,2 Milhões de
Veículos
Alemanha
9%
E.U.A.
Alemanha
Japão
Se comparado com o restante do mundo, a produção
nacional de veículos tem muito para crescer. A
densidade de habitantes por veículo no Brasil é baixa.
Como se observa no Gráfico 3, a densidade de
habitantes por veículo, na América Latina é muito inferior
à dos países mais desenvolvidos. Estamos distantes,
porém, as expectativas de crescimento são positivas.
Considerando-se a evolução esperada, será muito
importante que a indústria de autopeças, tanto local
como regional, acompanhe o fenômeno das grandes
transformações que está mudando o perfil de
relacionamento entre os seus diferentes participantes.
Outros
8%
E.U.A
26%
Megatendências
Globalização
França
7%
Espanha
Gráfico 3
Brasil - 9O Maior Fabricante Mundial de Veículos
Espanha
4%
Argentina
Segundo podemos observar no Gráfico 2, o Brasil é o 9o
maior fabricante mundial de veículos, produzindo pouco
mais de 10% do que produzem os Estados Unidos e o
Japão individualmente. Em função dos prognósticos
resultantes das intenções de investimento dos atuais e
dos novos players entrando no nosso mercado, acreditase que o Brasil possa evoluir para o 7o ou até mesmo
6o lugar, no curto prazo.
México
Brasil
0
• Investimento internacional
• Importância decrescente dos
mercados locais
• Mercados emergentes na
fabricação de veículos e
demanda
Japão
21%
Fornecimento Modular
• Desverticalização das
Montadoras
• Redução de complexidade
operacional
• Definição de sistemas e
módulos
• Single sourcing
• Proximidade da linha de
montagem
Concentração
• Redução do número de
fornecedores
• Fortalecimento de grandes
grupos internacionais
• Consolidação de empresas
especializadas em nichos
Gráfico 2
Impacto das
Megatendências da
Indústria Automobilística
Mundial no Brasil
Atualmente, há aproximadamente 40 mil fabricantes de
autopeças atendendo o mercado mundial de veículos.
Grande parte deles, cerca de 80%, estão concentrados
em 5 países: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França
e Itália. Destes, cerca de 60 empresas têm porte maior
que US$ 1 bilhão de faturamento anual. Em conjunto,
estas 60 empresas faturaram um total de US$ 247
bilhões em 1995. Sua presença está distribuída quase
que igualmente em três regiões: Europa, 22 empresas;
Japão, 19 empresas; Estados Unidos e Canadá, 19
empresas.
Novas Regulamentações
• Normatização de emissões
• Segurança ativa e passiva
• Regulamentações de tráfego
e infra-estrutura
• Comércio regional
(Mercosul)
Tecnologia
• Meio ambiente
• Segurança
• Novos materiais
• Redução de peso
• Redução de Lead-time
Redução de Custos
• Plataformas/carros mundiais
• Terceirização de produção e
engenharia
• Reestruturações
– Vendas
– Distribuição
Figura 1
1.2. MEGATENDÊNCIAS - A indústria automobilística
mundial passa por um processo de mudança estrutural
que tem fortes reflexos também no Brasil. Estas
mudanças podem ser traduzidas por 6 megatendências,
que exercerão forte impacto
sobre o setor de
autopeças, conforme podemos observar na Figura 1:

2
A globalização, que dará uma importância
decrescente aos volumes demandados somente
pelos mercados locais e privilegiará cada vez mais a
escala necessária
geografias.


para
atender
as
diferentes
Investimentos Anunciados pelas Empresas Montadoras
no Brasil (1995-2000)
Montadora
Presentes
A recente terceirização do fornecimento de serviços e
autopeças, resultante do interesse das montadoras
em se desverticalizar e reduzir sua complexidade
operacional.
Fiat
A concentração e a redução do número de
fornecedores e o fortalecimento de grandes grupos
de atuação internacional.
VW
Ford



As novas regulamentações, tanto na área ambiental,
como também de comércio exterior.
GM
O incremento tecnológico cada vez maior, provocado
não só pela sofisticação do produto final, mas
também pela necessidade de se aumentar a
segurança e reduzir o peso dos veículos e, por
último,
‘000 veículos
10.000
Europa
Ocidental
Europa
Oriental
NAFTA
América
do Sul
Asia
Utilitários
US$ 1 bilhão
Mercedes
Benz
Classe A
US$ 500
milhões
Asia
Topic
US$ 500
milhões
Honda
Civic
US$ 600
milhões
Toyota
Corolla
US$ 400 -600
milhões
US$ 2,5 bilhões
US$ 2,6 bilhões
Peugeot
20-30 mil carros
US$ 200
milhões
Mitsubishi
Canter
US$ 150
milhões
Audi
A3
n.d.
Chrysler
Dakota
Neon
US$ 315
milhões
Total: ~ US$ 4,5 bilhões

A Delphi com seu novo complexo industrial em
Piracicaba para fabricação de componentes
eletrônicos.

A Magnetti Marelli com a nova fábrica em
Hortolândia, para atender aos novos veículos da Fiat.

A Johnson Controls com sua nova planta de
assentos no Brasil, complementando suas atividades
rumo à globalização com outras fábricas na
Alemanha, França, Áustria, República Checa e
Espanha.

A Dana, com a aquisição da Thomson Ramco na
Argentina e da divisão de eixos da Rockwell /
Braseixos no Brasil e em plena atividade de
expansão de seus negócios no país.

A Walbro, através de joint-venture com a Marwall no
Brasil, e outras no México, para ter acesso tanto ao
mercado do Nafta quanto ao do Mercosul.

A Lear Seating, também com uma joint-venture na
Argentina e no Brasil para fabricação de assentos.
+52%
+16%
Japão
Corsa
S10
US$ 1 bilhão
Hyundai
A British Tire and Rubber - BTR - aumentou sua
participação no mercado brasileiro de plásticos e
derivados de borracha, realizando a fusão da divisão
brasileira da Dunlop com a Getoflex, e adquirindo
outras empresas como a Plascar que, por sua vez,
já havia comprado a Plavigor, a Metalúrgica Carto e a
Mangotex.
1995
2000
+80%
Fiesta
Ranger
Ka
US$ 2,3 bilhões
Investimento
Megane

 Busca de Novos Mercados
 Produção em Países de Baixos Custos
+72%
Caminhões
Gol
Golf
Passat?
Carro
Renault
Como não poderia deixar de ser, os fabricantes
internacionais de autopeças estão acompanhando as
montadoras em busca deste mercado atrativo. Alguns
exemplos de empresas de autopeças estabelecendo
operações na América do Sul:
Globalização
+9%
US$ 1 bilhão
Montadoras
Entrantes
As principais montadoras mundiais estarão investindo no
Brasil aproximadamente US$ 13 bilhões em novas
fábricas ou na expansão das suas atuais linhas de
produção. Até o ano 2000 deverão entrar mais nove
participantes no setor, que até o momento está sendo
disputado por quatro participantes. (Tabela 1)
1.2.1. Globalização - A globalização da indústria
automotiva visará servir os atuais mercados e aqueles
que estão em emergência, e continuará a refocar seus
investimentos futuros para a produção em países de
custos competitivos e potencial de crescimento
expressivo, tornando os mercados com baixo consumo
per capita bastante atrativos nos próximos anos.
+11%
Tipo
Palio
Marea
Total: US$ 8,4 bilhões
Trataremos a seguir cada uma destas tendências
isoladamente.
+22%
Investimento
Tabela 1
A continuada procura
por redução de custos,
influenciando o relacionamento entre todos os
participantes da cadeia de produção.
20.000
Carro
Outros
Gráfico 4
Embora a base de produção seja ainda baixa na
América do Sul, a projeção de crescimento nesta região
é maior que na Ásia, incluindo-se aí a China, e que na
Europa Oriental, onde Rússia, Polônia e República
Checa estão também recebendo vários novos
investimentos. Conforme podemos observar no Gráfico
4, projeta-se para a região um crescimento na ordem de
80% até o ano 2000.
3

A Gamesa, com sua nova fábrica de componentes
de caixas de câmbio para atender a General Motors
em todo o Mercosul.
Somente para efeito de ilustração, citaremos sete
sistemas mais comuns entre as montadoras mundiais.
A utilização destes módulos está sendo testada e com
certeza sofrerá alterações mediante o aprendizado
realizado tanto por parte das montadoras como dos
fornecedores, que estão se posicionando e preparando
para sua utilização:
Os investimentos em aquisições e fusões indicam que o
capital aportado não é de curto prazo, e ressalta a
característica de que com o controle majoritário
pretende-se instalar definitivamente na região.
Ao mesmo tempo, algumas empresas nacionais de
autopeças
buscam
aproveitar
oportunidades,
alavancadas não só pelo Mercosul, mas também
visando o mercado global, através de aquisições e jointventures:
A Cofap, com a compra da divisão de amortecedores da
Indufren, líder do mercado argentino deste produto e
com a aquisição da Metal Leve, associada ao Bradesco
e à Mahle.
A Sabó, com a aquisição de duas empresas de
retentores na Argentina e de outra empresa na
Alemanha.
A Mangels, com a construção de um centro de
distribuição nos Estados Unidos, visando a aproximação
com o mercado americano de rodas de alumínio.

O conjunto de tração engloba o motor, sistema de
injeção, radiador e câmbio.

O chassis incorpora todos o componentes
estruturais, a direção e, eventualmente, a suspensão.

O interior contém o revestimento interno e lateral, os
assentos e cintos de segurança.

Os componentes eletrônicos interligam diversos
atuadores e sensores.

O sistema de eixo agrega o conjunto de eixos, rodas,
pneus e sistema de freios.

O painel de instrumentação concentra os medidores,
console, e sistema de airbag.

Por último, o exterior tem como referência a
carroceria, estampados, revestimento externo,
pintura e pára-choques.
1.2.3. Concentração - A diminuição do número de
fornecedores diretos, também denominados Tier 1, e a
sofisticação da logística de compras, através do uso
crescente do EDI (Electronic Data Interchange),
permitirá às montadoras grande agilidade e redução de
custos no processo de suprimentos.
Freios Varga, com a compra da divisão de freios da
Indufren.
A Iochpe-Maxion, com uma joint-venture, Easa, líder
argentina na fabricação de chassis e componentes
estruturais e com a aquisição da Midland Steel nos
Estados Unidos, além de uma joint-venture com o
Bradesco na área de sistemas para acionamento de
portas.
A sobrevivência à concentração será privilégio de
fornecedores de componentes e sistemas que
possuírem requisitos de excelência em:
1.2.2. Fornecimento Modular - O fornecimento modular,
outra das tendências assinaladas, está sendo cada vez
mais adotado, devido à implantação de novas bases
técnicas de montagem nas montadoras.
Em síntese tudo se deve à forte desverticalização da
produção de componentes e autopeças. As montadoras
estarão cada vez mais produzindo em plantas de alta
produtividade. O equipamento para a produção de
componentes e autopeças estará sendo repassado a
parceiros que se responsabilizarão por entregar módulos
diretamente no ponto de consumo; em outras palavras,
sistemas completos na linha de montagem. E tudo justin-time, e respeitando lead-times de produção cada vez
menores.

Capacidade gerencial, para o planejamento de
projetos e liderança na coordenação de vários
participantes, fornecedores de componentes e
matéria-prima.

Flexibilidade para adaptar-se e absorver a
engenharia de produto e processo, naquilo que hoje
se denomina co-design

Pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, própria
ou adquirida de terceiros.
Como exemplo duas montadoras já estão bem
adiantadas em seus planos de redução de fornecedores:
a Volkswagen, que dos seus 500 e poucos fornecedores
em 1994/1995, está trabalhando para ter menos de 400
em 1996/1997, para chegar com 70 a 80 no ano 2000 e
a Fiat, que pretende reduzir seus atuais 260
fornecedores para algo em torno de 50 a 60, também
até o ano 2000.
Além disso, cresce a tendência do uso de hardware
comum a vários veículos, havendo a diferenciação
somente no acabamento, o que favorece a redução de
custos pelo melhor aproveitamento da capacidade
produtiva e da concepção de utilização de sistemas
modulares mais baratos, leves e eficientes.
4
Fatalmente, a produção de autopeças estará sendo
direcionada para duas categorias de fornecedores, para
viabilizar ganhos de escala:


A normatização de emissões em vigor nos próximos
anos no Brasil, seguindo as normas Euro 3,4 e 5, irá
requerer sistemas mais modernos, com maior
quantidade de sensoreamento eletrônico e mecânico
para redução de emissão de partículas e gases.
O fornecedor global, que participa do co-design,
sendo líder na concepção de módulos e trabalhando
com uma ampla gama de produtos. Normalmente o
porte deste fornecedor é grande, e seu escopo de
fornecimento é global.
Será importante, também, desenvolver materiais
resistentes a alta temperatura e pressão, assim como
formular novos revestimentos acústicos para redução do
nível interno de ruídos.
O fabricante de peças para sistemas e participante
de nichos de mercado, que pode ser uma empresa
de porte intermediário, com alcance mais local ou
regional.
A legislação sobre segurança ativa e passiva, embora
ainda incipiente no país, também estimulará o
desenvolvimento de novos conceitos estruturais, com
veículos mais resistentes, que garantam a integridade
física em caso de acidentes, e com o uso de materiais
mais leves e recicláveis, que, adicionalmente, permitem
economia de combustível.
Em ambas as categorias podemos encontrar
empreendimentos bem sucedidos. Entretanto, muitas
empresas do setor ainda estão em situação indefinida e
ainda não sabem que rumo deverão tomar neste quadro
em que a poeira ainda não assentou.
1.2.5 Tecnologia
1.2.5.1 Tecnologia de Processos - O desenvolvimento
de tecnologia estará focalizado a processos mais
eficientes e na melhor administração do tempo de
fabricação.
De acordo com uma estimativa que rodeia o setor há
muito tempo, estima-se que das aproximadamente 1000
empresas que atualmente operam no Brasil, somente
300 a 350 estarão em atividade até o ano 2000, e as
que sobreviverem estarão enquadradas em uma dessas
duas categorias.
Embora seja um alvo móvel, a qualidade é cada vez
mais premissa básica. Zero defeitos é um futuro cada
vez mais próximo e real. Fornecedores serão, cada vez
mais, obrigados a fornecer com níveis de qualidade
internacional. O fornecedor deverá demonstrar que seus
processos administrativos e produtivos são confiáveis.
A QS e ISO 9000 e técnicas de qualidade total serão
imprescindíveis.
Dentre os vários modelos de alianças utilizados pelas
empresas de autopeças, as fusões, aquisições e jointventures estão ocorrendo com freqüência. Na Tabela 2
podemos avaliar a quantidade de ações recentes rumo à
concentração de empresas no setor. É possível que
empresas que trabalhem consorciadas em um sistema
modular possam perfeitamente fazer um trabalho
mercadológico ou de assistência técnica em comum.
Além disto os processos produtivos deverão ser geridos
conforme padrões internacionais de segurança, controle
e proteção ambiental como a ISO 14000.
Exemplos de Atividades de Concentração de
Empresas no Brasil (1995-1996)
Fusões/Aquisições (por
concorrentes e/ou grupos
financeiros)
Joint Ventures
(várias formas de
composição acionária)
Alianças Estratégicas
(produção, P&D,
distribuição, marketing)
• Cofap/Mahle - MetalLeve
• Brosol - Iochpe-Maxion
• Donaldson - Filtrobras
• Cofap - Kadron
• Arteb - Sico (Esp)
• Dana - Metal leve
• Mastra - De Maio Gallo
• Dana - Simesc
• Cummins - Fiat (motores)
• Robert Bosch - Bendix
(Allied Signal)
• Acil - Pianfei, Irausa e
Sommer
• Metal Leve - Krebsoge
(bielas)
• Dana - Albarus (divisão de
eixos) e Thomson Ramco
• Siebe - Tubotécnica
• BTR - Plascar, Carto e
Mangotex
• DHB - Maxdrive
• Manesmann - Sachs
• Acesita - Sifco
• Bradesco - Tupy/ Sofunge
Haverá pressões para se reduzir prazos de
desenvolvimento de produtos, que por sinal serão cada
vez mais complexos, e para assumir mais
responsabilidades no lugar das montadoras. Para se ter
idéias do impacto que isto pode representar para as
empresas, basta que usemos como referência o fato de
que, no início desta década de 90, o tempo médio de
desenvolvimento de um veículo, desde sua concepção
até a colocação no mercado era de 60 meses. Hoje, já
se faz o mesmo em 24 meses, ou menos.
Cooperações (produtos
e projetos)
• Iochpe-Maxion - Rover
(motores)
• Getoflex - Dunlop
• Sicos - Arteb
• Trambusti - Woodbridge
• Renner - Dupont (pintura)
• Usiminas - Brasinca
• Rassini (Mex) - Fabrini
Crescem as exigências para se entregar just-in-time na
linha de montagem. Brevemente será condição
necessária integrar-se na linha de produção,
respondendo até pelo controle de qualidade. A recente
inauguração da fábrica de caminhões da Volkswagen
em Resende o comprova.
• Delphi - Sielim
• Randon - Fras Le
• Eaton - Clark
Fonte: Entrevistas de campo, O Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil
Tabela 2
1.2.4.
Novas
Regulamentações
As
novas
regulamentações ambientais e de segurança imprimirão
um forte ritmo para o desenvolvimento tecnológico no
setor, gerando demanda adicional de investimentos.
Um exemplo vivido: em 1989, a Saab levava 102 horas
para montar um de seus modelos mais comuns, o 9000.
Hoje, a Mitsubishi leva não mais que 10 horas para
5
montar um carro em sua planta de Okasaki, no Japão.
80% dos fornecedores estão a menos de meia hora da
linha de montagem.
fabricantes nacionais métodos de produção e custos
altamente competitivos.
É preciso pensar em métodos de produção em que a
escala não seja o fator determinante, mas sim a
flexibilidade e a possibilidade de um fornecimento que
utilize
inteligentemente
as
barreiras
naturais
representadas por
fretes, custos de capital e da
segurança representada pelo fornecedor presente na
linha de montagem.
1.2.5.2 Tecnologia de Produtos - O desenvolvimento de
produto para atender à nova regulamentação referente a
segurança e meio ambiente, exigirá um forte fôlego
financeiro por parte dos fornecedores.
A idéia é fomentar uma maior segurança ativa e passiva
nos veículos, e isto demanda um nível alto de dispêndio.
Outro grande desafio será concentrar-se na produção
em larga escala de determinados produtos que serão
utilizados em algumas poucas plataformas de veículos,
porém em várias regiões do mundo. Nesta condição, o
fornecedor, com certeza, estará operando bem acima do
seu break-even, apresentando condições de gerar uma
margem operacional adequada.
A base tecnológica tenderá cada vez mais a reduzir o
volume de emissões tanto de partículas como de ruídos,
buscar maior economia de combustível não renovável, e
diminuir a deposição de materiais no solo, utilizando-se
de materiais recicláveis.
Outra grande preocupação é aumentar a eficiência no
consumo de combustíveis, através de melhorias em
curvas de torque, redução do atrito através de
desenvolvimento de pneus e de melhores coeficientes
aerodinâmicos.
Mas o maior desafio de todos, e é aí que residirá a
vantagem competitiva, será produzir o mesmo sistema
que antes era produzido pela montadora, com menores
custos, e ter lucro nesta operação.
Outro tema tecnológico refere-se à redução de peso do
veículo, com o desenvolvimento de novas matériasprimas, e com o maior emprego de plástico e alumínio.
Vários projetos prevêem uma redução do peso médio
dos veículos em 15 a 20% nos próximos 5 anos.
Em resumo, para se estar apto a estes desafios, há
necessidade de adaptar as estruturas e, principalmente,
ganhar agilidade. Preço, capacidade de engenharia e
qualidade de produto são os fatores críticos de sucesso
para um fabricante de autopeças a nível global.
Todos estes aspectos de segurança ativa e passiva,
proteção ao ambiente, aumento de eficiência e redução
de peso deverão ser levados em conta pelas empresas
de autopeças e sistemas, para que possam, sempre,
estar se antecipando em relação aos
Através de estudos realizados recentemente junto a
todas as montadoras européias, americanas e de
algumas de suas subsidiárias no Brasil, verificamos que,
principalmente as de origem, ou de forte estilo gerencial
europeu, estão em fase avançada na promoção do
desenvolvimento de seus fornecedores.
concorrentes no desenvolvimento de produtos e
conceitos e para seguir as principais tendências das
montadoras.
Quando nos perguntamos quem está se saindo bem
nesta corrida, nossa resposta é : são as empresas que
já se dedicam há alguns anos em desenvolver ou buscar
tecnologias com objetivo de diferenciação, e que sempre
estão adaptando suas estruturas organizacionais para
ganhar agilidade e capacidade de gerenciamento.
Deve-se ter capacidade de investimento, ou se associar
com parceiros para continuar investindo em pesquisa de
materiais, produtos, novos conceitos, na engenharia, e
em equipamentos e ativos.
Os resultados de uma pesquisa realizada recentemente
pela Arthur D. Little, com diversas montadoras mundiais,
confirmam vários destes pontos:
1.2.6 Redução de Custos - Em função da alta
competição no setor, o grande desafio será a redução
de custos na fabricação de sistemas.
Como podemos observar na tabela 3, foi detectado que
na hora da decisão de compra, estas irão optar por
quem tenha alta capacidade de engenharia, flexibilidade
para se adaptar rapidamente a novos condicionantes e
sobretudo alta qualidade de produto. Sempre que
possível, serão empresas que, adicionalmente, sejam
capazes de encontrar soluções logísticas e que estejam
cada vez mais próximas da linha de montagem.
Em um cenário de preços declinantes e reduções
fixadas pelas montadoras o famoso target price que
impõe
uma
redução
anual
de
preços
de
aproximadamente 3% ao ano aos supridores, a saída
será participar de projetos globais para aumentar escala
e diluir custos.
Além disto, a atual legislação sobre o regime automotivo
impõe, até o ano 2000, uma grande vantagem tarifária
na importação de componentes, exigindo dos
6
Critérios de
Compra
Montadoras *
Fabricantes europeus de
carros
1
2
3
Preço
Capacidade de engenharia
Qualidade do produto
Fabricantes europeus de
caminhões pesados
1
2
3
Capacidade de engenharia
Custo total
Qualidade do produto
Fabricantes americanos de
caminhões pesados
1
2
3
Preço
Qualidade do produto
Capacidade de engenharia
1
2
3
Preço
Capacidade de engenharia
Qualidade do produto
Fabricantes brasileiros de
caminhões
O quarto e último fator trata do desenvolvimento de um
processo de suprimento confiável junto ao líder do
consórcio modular e do cliente final, visando construir e
sustentar uma imagem de suprimento sólida e confiável.
Conclusões
• Montadoras européias (mais
desenvolvidas tecnológicamente e
com margens maiores que as
americanas) começam agora a
promover o desenvolvimento de
fornecedores
Já o quadro para as empresas que pretendem participar
do fornecimento de módulos às montadoras é de uma
complexidade maior. A capacitação organizacional será
fundamental e quanto mais difundido dentro da estrutura
for o comprometimento com a austeridade, qualidade,
progresso
em
termos
gerenciais
e
atenção
regionalizada, mais chance terá a empresa para se
sustentar competitivamente nesta posição.
• Fornecedores devem dedicar-se a
duas estratégias básicas para
redução de custos:
– Desenvolver ou buscar
tecnologias com objetivo de
diferenciação
– Adaptar suas estruturas para
ganhar agilidade e capacidade
de gerenciamento
(*) Fonte: Entrevistas com todas as montadoras européias de carros e caminhões pesados e todas as montadoras de caminhões
pesados americanas (1994/1995), e GM, Mercedes-Benz e VW Caminhões no Brasil
Os quatro fatores críticos mencionados para os
fornecedores de peças e componentes continuam
sendo indispensáveis para o fornecimento de sistemas,
acrescidos da necessidade de se desenvolver uma
organização que esteja apta a ser administrada em
toda a sua extensão, fazendo com que todos sejam
participantes de seus processos.
Tabela 3
Isto tudo sem contar outros fatores não menos
importantes e que já são hoje considerados como prérequisitos: suprir a baixo custo, ser confiável na entrega,
dar suporte comercial e de serviços e por aí afora.
1.3. CONCLUSÕES - O mercado automotivo brasileiro e
do Mercosul, estará em crescimento acelerado, e dentre
todos os países emergentes é o que aparentemente
estará recebendo grande parcela dos investimentos
planejados para indústria automotiva mundial. O
relacionamento entre as montadoras e seus
fornecedores tende a ser concentrado, mais sofisticado
e visando atendimento global.
No relacionamento com as montadoras, deve-se
explorar todas as oportunidades para ser bem sucedido
no desenvolvimento de produtos e de sub-fornecedores,
não se esquecendo de nenhuma etapa de cada novo
projeto, desde sua concepção, seu detalhamento e sua
gestão.
Deve-se pensar em produzir em escala global. A busca
de presença mundial através de fusões e associações
não deve ser vista como uma regressão. A busca e
aproveitamento total de sinergias competitivas com seus
parceiros é fundamental.
Como pontos principais que regerão o espírito deste
relacionamento destacamos a parceria com menos
fornecedores, porém mais confiáveis e comprometidos,
e a maior responsabilidade na definição até do produto
final.
E por último, deve-se considerar estar sempre perto do
seu cliente. Quanto mais próximo da linha de
montagem, melhor.
As empresas que pretendem ser bem sucedidas como
fornecedoras de peças e componentes deverão conciliar
os quatro fatores internos descritos a seguir.
A regionalização não induz necessariamente a que se
tenha várias plantas espalhadas pelo mundo afora. Há
soluções que permitem obter bons resultados, seja com
distribuição regionalizada, equipes de montagem final
do sistema próxima à linha de montagem do cliente ou,
até, uma mini-planta desenhada exclusivamente para
determinado cliente.
O primeiro fator é ter capacidade de engenharia. Para
isto, deve-se avaliar a capacidade e qualificação da
estrutura organizacional e os recursos financeiros para
investimentos próprios. Caso esta condição seja de
difícil equacionamento, talvez o melhor será empenharse em alianças estratégicas com parceiros que
disponham de tecnologia, e que compartilhem esforços
no desenvolvimento de produtos e de processos.
As empresas de autopeças brasileiras, hoje ainda
preponderantemente nas mãos do capital nacional,
deverão estar pensando em como melhor dispor de uma
atuação globalizada para sobreviverem com sucesso.
O segundo fator é desenvolver constantemente novas
soluções de materiais para se obter custos competitivos
na fabricação de componentes, sem se descuidar da
busca de reduções de custos de produção e lead-times
menores.
Muitas ainda têm chance de se associar, mantendo-se
competitivas sob os novos condicionantes da indústria
automotiva.
Vem a seguir o aspecto da qualidade do produto e a
necessidade de se incentivar a padronização de
processos em direção a zero defeitos.
Outras terão provavelmente que alienar parcial ou
integralmente suas participações para novos entrantes
neste cenário.
7
Várias não terão condição de sobrevivência, se não
conseguirem se posicionar a tempo de enfrentar este
novo contexto competitivo.
quanto ao capital, 37% das empresas participantes são
de origem familiar e 15% têm suas ações negociadas
em bolsa de valores.
Algumas poucas serão fabricantes de presença mundial,
participando decisivamente do desenvolvimento do
setor.
Participaram da pesquisa fabricantes de autopeças que,
se considerados como um conjunto, produzem
aproximadamente 95% de um veículo completo. As
empresas ouvidas fabricam, entre outros: motores,
caixas de cambio, elementos estruturais, eixos,
suspensões e transmissões, bancos e interiores, rodas e
pneus, cabos e conexões e demais componentes
menores de veículos de passageiros e comerciais.
2. COMO ESTÃO PREPARADOS OS FABRICANTES
NACIONAIS
2.1. INTRODUÇÃO - Seguem as conclusões da
pesquisa realizada com os principais executivos de uma
amostra de empresas de autopeças associadas ao
Sindipeças, de setembro a novembro de 1996.
A indústria de autopeças como um todo, representada
aqui pelas 52 empresas respondentes, apresentou um
crescimento em vendas apesar da pressão geral de
diminuição de preços e entrada crescente de produtos
importados.
Para uma melhor análise, procuramos sempre que
interessante separar extratos de empresas de capital
puramente nacional.
Vendas
É importante relembrar que esta avaliação teve como
foco o posicionamento e capacidade competitiva
intrínseca das empresas, não considerando fatores
externos às mesmas, como por exemplo o “Custo
Brasil”.
Exportação
Reposição 10%
17%
Autopeças
13%
2.2. PARTICIPAÇÃO
RESPONDENTES -
E
CARACTERIZAÇÃO
Montadoras
60%
DOS
Gráfico 6
Origem do Capital
O total das 52 empresas teve um aumento médio de
faturamento em 96 na ordem de 2,6% em relação a 95,
sendo que em 96, 60% das vendas foram destinadas às
montadoras nacionais, 13% aos fornecedores de
autopeças, 17% para a reposição e finalmente 10% para
a exportação, como pode ser visto nos Gráficos 6 e 7.
Brasileiro
48%
Outros
14%
Americano
19%
Alemão
19%
Evolução do Faturamento 1995-96
5%
Gráfico 5
3,90%
4%
No total foram respondidos 52 dos 198 questionários
enviados,
correspondendo a 26% de adesão à
pesquisa. Este número vem mais uma vez confirmar o
interesse e, sobretudo, a preocupação das empresas de
autopeças atuantes no mercado brasileiro de autopeças
quanto ao seu futuro próximo.
2,60%
3%
2%
1%
0,80%
0%
Nacional
Dos respondentes, 48% são de capital de origem
preponderantemente nacional, 19% de capital alemão,
19% de capital americano e os demais 14% de capital
de outros países ou misto, conforme Gráfico 5. Ainda
Estrangeiro
Capital
Gráfico 7
8
Total
Estes dados nos demonstram claramente a
preocupação e adaptação das empresas, principalmente
nacionais, em garantir sua posição no mercado com
produtos tecnologicamente atualizados, especialmente
nos últimos 2 anos. As constantes e, cada vez mais
frequentes inovações requeridas pelas montadoras
forçam o fabricante a ter uma estrutura de
desenvolvimento onerosa que só se torna sustentável a
partir de determinado volume de produção. Desta
maneira a solução das empresas brasileiras é na
maioria das vezes a busca de associações com grandes
fabricantes internacionais que têm como sustentar uma
estrutura de desenvolvimento bem sucedida.
Promovendo uma estratificação entre fornecedores de
capital nacional e estrangeiro observamos que as
empresas de capital nacional obtiveram um crescimento
médio no faturamento de 0,8% em 96, enquanto as
empresas de capital estrangeiro obtiveram um
crescimento, representativamente maior, de 3,9%.
As 52 empresas participantes empregam um
contingente de aproximadamente 55.000 empregados e
têm um faturamento médio por empregado de US$ 120
mil. Veja Gráfico 8. Elas empregam aproximadamente
27% da mão-de-obra da indústria brasileira de
autopeças.
É interessante observar que, mesmo sendo subsidiárias,
algumas empresas de capital preponderantemente
estrangeiro também não têm a capacidade de
sustentação tecnológica. Estas, bem como as empresas
brasileiras nesta condição, ou buscam uma associação
ou fatalmente estarão sendo rejeitadas pelo mercado
global no futuro.
Faturamento por Empregado
135
US$ 127Mil/
Empregado
130
125
120
US$ 120Mil/
Empregado
2.3.2. Competitividade de Custos
US$ 114Mil/
Empregado
115
110
Áreas de Potencial de Melhoria
105
100
70%
Total
Estrangeiro
69%
Nacional
60%
53%
50%
Capital
42%
Gráfico 8
40%
30%
13%
13%
Materiais
17%
20%
Projeto
O índice de faturamento médio por empregado cai para
US$ 114 mil/ empregado se considerarmos somente as
empresas de capital nacional que empregam
aproximadamente 23.000 empregados. Nesta análise
cabe ressaltar a divergência quanto ao processo
produtivo de cada participante, que pode ser mais ou
menos intensivo de mão de obra, afetando desta
maneira o índice.
10%
Administração
Obs.: Respostas Múltiplas
Fornecedores
Escala
Processo
0%
Gráfico 9
2.3. ANÁLISE DAS RESPOSTAS
Todas as 52 empresas respondentes afirmaram ter
programas internos de melhoria de produtividade e
acreditam ser possível em média 18% de redução
interna de custos através dos mesmos. Dentre a
amostra de empresas brasileiras o potencial de redução
de custos estimado é um pouco maior e equivale a 20%.
Esta cifra sem dúvida é significativa e propõe um grande
esforço por parte dos seus administradores para
alcançar o objetivo. Estes números confirmam também
e sobretudo, a grande pressão de preços à qual são
submetidos os fabricantes de autopeças pelo mercado e
o grande potencial ainda existente internamente às
empresas. Se o industrial nacional quiser competir
internacionalmente deverá no curto prazo buscar
cumprir com este objetivo de redução.
2.3.1. Capacidade de Engenharia - Todas as empresas
estrangeiras possuem acordos de transferência de
tecnologia, em sua grande maioria com as casas matriz,
enquanto que das empresas brasileiras somente 48%
possuem acordos tecnológicos com empresas no
exterior. Dos acordos realizados pelas empresas
nacionais 58% foram realizados nos últimos 2 anos.
Quanto à visão das empresas sobre sua competitividade
tecnológica, 13% dos entrevistados não se consideram
ainda preparados para competir tecnologicamente no
futuro delineado pela indústria. Se focarmos as
empresas de capital nacional este número aumenta para
20%.
9
Dentre as áreas de maior potencial de melhoria foram
citados (Gráfico 9): processo de produção (69%),
escala de produção (53%), preços dos fornecedores
(42%), administração (17%), projeto do produto (13%),
materiais aplicados (13%) e finalmente logística de
distribuição (10%).
2.3.3. Qualidade
Sistemas de Garantia da Qualidade
100%
100%
90%
80%
As melhorias possíveis e esperadas no processo de
produção certamente são decorrentes do baixo nível de
investimento realizado na indústria brasileira como um
todo nos últimos 10 anos. Incerteza política, altas taxas
de juros cobradas por governos com suas contas
deficitárias, proteção de mercado para produtos
nacionais e a falta de uma política industrial clara,
fomentaram a desatualização do parque industrial de
grande parte das empresas de autopeças brasileiras.
69%
70%
60%
50%
42%
40%
30%
20%
10%
0%
Implantação ISO 9000
Em condições de livre concorrência de mercado a
escala de produção torna-se um fator vital para redução
de custos dos produtos e ganho de competitividade. As
empresas brasileiras, que rapidamente foram expostas
ao mercado internacional somente agora estão
buscando alternativas para fornecerem globalmente.
Para tanto precisam de parcerias internacionais para ter
acesso à tecnologia avançada e penetração de
mercado.
ISO 9000 Implantada
Implantação QS 9000
Gráfico 10
Todas as 52 empresas participantes estão passando
pelo processo de implantação ou já tem implantado um
sistema de garantia da qualidade segundo as normas
ISO série 9000. (69% das empresas já têm o sistema
implantado). Quando tratamos da nova exigência das
montadoras para o final de 1997, a QS 9000, o
percentual de empresas que está atualmente tratando
de sua implantação cai para 42%. Nenhuma empresa
afirma ter a QS 9000 já totalmente implantada fato
justificado por sua recém criação. Se comparados
internacionalmente estes números são bastante
significativos e demonstram a preocupação dos
dirigentes brasileiros com este assunto. Nos Estados
Unidos, país de origem da QS 9000, por exemplo,
apenas 51% das empresas planejam ter implementada
a QS 9000 em todas suas unidades até o final de 1996
(Gráfico 10).
A constante pressão realizada pelas montadoras para a
redução de preços das autopeças deve ser desdobrada
para os fornecedores secundários, que também deverão
continuar seus esforços para eliminação de ineficiências
internas e consequente redução de preços. O baixo
índice de 10%, citado para o item logística de
distribuição é um indicativo de que apesar das grandes
reclamações sobre as condições de estradas e portos
brasileiros este deverá ser um item de preocupação
futura dos fabricantes de autopeças, após terem
resolvidos seus problemas internos. O preço que as
empresas atuantes no mercado nacional estão pagando
pelo longo período de proteção de mercado pode ser
avaliado pela quantidade de produtos deficitários dentro
da linha de produtos que comercializam. Atualmente as
empresas participantes têm em média 10% de seus
produtos deficitários, sendo que em algumas das
empresas este número chega a ser superior a 20%. A
média de produtos deficitários na amostra brasileira é
também de 10%. Uma pesquisa semelhante feita nos
Estados Unidos indica que lá 61% das empresas
entrevistadas têm produtos deficitários em sua linha e
que 34% das mesmas pretendem deixar o mercado
destes respectivos produtos, caso permaneçam no
vermelho.
Como resultante deste esforço e conscientização cada
vez maiores, o índice de reclamação pós-venda indicado
pelos participantes, tanto no total como também no
extrato brasileiro, é bastante baixo e corresponde a
1,4% do volume total de produtos vendidos, índice que
se comparado internacionalmente ainda pode ser
considerado elevado visto que nos Estados Unidos
falamos em números em torno de 0,5%.
A grande maioria das empresas, 90%, afirmam não ter
dificuldade em atender os requisitos de qualidade
estabelecidos pelas montadoras. Somente a título de
comparação, nos Estados Unidos este número é bem
menor: 27%.
Sem dúvida a situação descrita é passageira, fruto da
nova estrutura da indústria, e necessária, para manter
uma boa posição de mercado enquanto se reestruturam
internamente.
10
2.3.4. Confiabilidade de Entrega
Capacidade e Velocidade de Mudança e Adaptação
Confiabilidade de Entrega
70%
67%
62%
35%
35%
60%
33%
50%
30%
Capacidade
Velocidade
40%
25%
30%
20%
27%
20%
15%
12%
17%
12%
10%
10%
8%
8%
8%
2%
5%
4%
0%
4%
M. Alto
Alto
Regular
Baixo
0%
80%
85%
90%
95%
98%
Gráfico 12
100%
Gráfico 11
75% dos entrevistados afirmaram considerar sua
capacidade de mudança e adaptação frente aos novos
desafios apresentados pela indústria entre alta (67%) e
muito alta (8%). As demais empresas avaliaram sua
capacidade de mudança regular (17%) e baixa (8%).
Quando analisamos o aspecto da velocidade de
mudanças, 70% consideraram-na alta (62%) e muito alta
(8%). 32% das empresas consideraram sua velocidade
de mudanças e adaptações regular ( 27%) ou baixa
(2%).
Embora 73% dos participantes afirmem fazer entregas
just-in-time para pelo menos um de seus clientes, a
pontualidade de entrega do grupo participante é de 94%
sendo que algumas empresas (16%) mencionaram ter
este índice abaixo de 86%. Veja Gráfico 11. No extrato
de empresas brasileiras este valor cai para 93%.
Em um ambiente de pressão de custos, em que cada
centavo em estoque está sendo poupado, a
pontualidade de entrega torna-se um fator competitivo
fundamental,
uma
vez
que
corresponde
ao
balanceamento perfeito entre o serviço prestado ao
cliente mediante a entrega do produto no tempo certo e
o estoque de produtos mantido pela empresa para fazêlo. O índice apresentado na pesquisa é baixo se
considerado o grau crescente de dependência das
montadoras, que estão repassando gradativamente toda
a responsabilidade de gestão de estoque e entrega aos
seus fornecedores.
Estes números, em nosso ponto de vista bastante
otimistas,
demonstram a grande capacidade e
velocidade de mudanças das empresas brasileiras.
Relacionamento com Fornecedores
O fabricante de autopeças bem sucedido terá que
apresentar total confiabilidade, de modo que ainda há
algum trabalho a fazer neste sentido para o produtor
nacional.
Regular
25%
Muito Bom
13%
Bom
62%
2.3.5. Capacidade Gerencial - Segundo o Gráfico 12,
apenas 12% dos participantes afirmaram não ter uma
visão clara sobre o futuro de sua empresa dentro do
novo contexto da indústria.
Gráfico 13
Quanto ao relacionamento com fornecedores 13% dos
entrevistados afirmam ser muito bom o gerenciamento
de projetos com os mesmos, 62% dizem ser bom e os
restantes 25% o classificaram como apenas regular.
(Gráfico 13) 73% dos pesquisados afirmam fazer
11
engenharia simultânea, envolvendo os fornecedores
desde a concepção do produto.
O tipo de associação mais desejada pelos entrevistados
são joint-ventures e venda de participação acionária.
A integração e um bom relacionamento com os
fornecedores se tornará cada vez mais um fator
competitivo, uma vez que será exigido do autopartista
uma velocidade de resposta crescente.
Benefícios Esperados com Associações
40%
37%
35%
46%
das
empresas
afirmam
estar
pedindo
peças/componentes
mais
completos
a
seus
fornecedores, confirmando assim a tendência global de
modularização das autopeças.
25%
21%
20%
15%
2.3.6. Proximidade à Linha de Montagem dos Clientes 17%
dos respondentes da pesquisa afirmam ter
montado recentemente operações próximas à linha de
montagem dos seus principais clientes. Dos restantes,
31% têm suas operações localizadas no ABCD paulista
e estão portanto perto das montadoras lá localizadas e
52% das empresas não estão próximos às linhas de
montagem de seus clientes.
10%
5%
0%
Tecnologia
3.1. NOVOS ENTRANTES - Os efeitos da globalização
fortemente presentes na indústria automobilística
mundial, sem dúvida alguma trarão ao ambiente
competitivo brasileiro novos competidores em busca
deste atraente mercado.
Fornecedores com escala mundial, faturamentos
beirando a faixa de US$ 1 bilhão com certeza terão sua
fatia no mercado brasileiro. A questão a ser respondida
por fabricantes de capital nacional é se têm recursos
para combatê-los ou se é preferível se associar.
38%
35%
30%
3.2. AMEAÇAS DE SUBSTITUTOS - Devido às
características do mercado consumidor e do produto
final (automóvel), a presença local dos fornecedores de
autopeças será imprescindível. A necessidade de
assistência técnica especializada e a complexidade de
transporte de alguns dos componentes de veículos,
aliados ao forte crescimento do mercado farão com que
a base instalada deste segmento no Brasil cresça nos
próximos anos.
25%
20%
15%
15%
10%
10%
5%
0%
Follow Sourcing
Capital
3. CONCLUSÕES
Perdas em Cotações
Preço
Escala Internacional
Gráfico 15
2.3.7. Baixo Custo Total - As empresas pesquisadas
afirmam ter perdido em média 24% das cotações nos
últimos 12 meses para produtos concorrentes
importados. Esta cifra é de 25% para as empresas de
capital nacional. Os principais motivos mencionados
como causa foram: preço (38% ), follow sourcing (15%)
e escala (10%). (Gráfico 14)
40%
29%
30%
3.3. FORÇA DAS MONTADORAS - A pressão das
montadoras no sentido da diminuição de custos e de
prazos deverá ser uma constante nos próximos anos. É
assim, devido à necessidade que as mesmas têm de
atender um consumidor final cada vez mais exigente e
consciente e que, como se não fosse suficiente, tem
cada vez mais alternativas de produtos importados. A
adaptação das montadoras a um ambiente competitivo
franco e aberto é condição básica de sobrevivência e
sucesso. Não resta aos fornecedores de autopeças
outra alternativa senão seguir o mesmo caminho.
Escala
Gráfico 14
2.3.8. Questões Gerais - 85% dos fabricantes de capital
nacional e 56% dos entrevistados afirmaram já terem ou
estarem estudando algum tipo de associação com
empresa internacional. Segundo o Gráfico 15 os
benefícios buscados através destas associações são:
tecnologia de produto (37%), escala internacional e
follow sourcing (29%) e finalmente injeção de capital
(21%).
O follow sourcing deve orientar os fabricantes nacionais
de autopeças rumo a alianças com fornecedores
12
mundiais, a fim de garantirem novos contratos de
fornecimento. Num ambiente de redução de custos e
prazos de desenvolvimento e fornecimento, o follow
sourcing parece um remédio muito poderoso a ser
aplicado pelas montadoras.
qualidade dos produtos e serviços reconhecida,
pontualidade e confiabilidade de entrega de produtos,
capacidade de integrar e gerenciar os fornecedores em
projetos para as montadoras, plantas localizadas
próximas aos principais clientes e, apesar dos itens
anteriores, custos competitivos internacionalmente.
Estas empresas com certeza não enxergam o futuro tão
negro quanto é diariamente noticiado pela mídia. Aos
outros, a grande maioria, resta a interessante opção de
participar deste grande mercado através de associações
e fusões com uma das muitas empresas internacionais
de olho no país. Oportunidade esta que em um
mercado como está se delineando não é de todo
desprezível.
Quanto ao fornecimento modular e ao global sourcing, a
indústria como um todo está tateando e aprendendo.
Exemplos como o da Volkswagen em Resende e do
lançamento do Fiesta em 1996 com certeza são
extremos dos quais tanto montadoras como também
fabricantes de módulos e sistemas extrairão seus
aprendizados. Antes de tudo estas tendências devem
servir de orientação estratégica para empresas
nacionais, mas não podem nem devem ser encaradas
no momento como uma verdade ou solução absoluta.
Com a capacidade de adaptação e mudança que os
empresários dizem (a maioria) e demonstram (em
alguns casos) ter, as empresas nacionais estão
buscando suas soluções e se adaptando aos novos
condicionantes.
3.4. FORÇA DOS FORNECEDORES - Os fornecedores
de insumos básicos da indústria de autopeças, ou seja
os fabricantes de aço, plástico e demais produtos
químicos não apresentam em nossa análise grande
ameaça para o desenvolvimento da indústria no país.
Pelo contrário, a boa base instalada e a constante
renovação dos processos administrativos e produtivos
desta indústria permitem um fornecimento livre de
complicações no futuro.
Quanto a peças e componentes mais sofisticados, como
por exemplo produtos eletrônicos, acreditamos que
estes passarão em grande parte a ser importados de
países do leste asiático que com escala de produção
bem maior são mais competitivos.
3.5. SITUAÇÃO FUTURA DA INDÚSTRIA - Não há
dúvidas que a indústria nacional de autopeças
continuará se desenvolvendo com o grande crescimento
da produção local de veículos, proporcionado por
inúmeros investimentos em processo de concretização
no país. A produção local de autopeças (condicionada à
escala) e o atendimento local às montadoras é uma
tendência emergente e está se concretizando também
na indústria brasileira.
A pergunta que se coloca no momento é diferente:
Quem ficará com o bolo? Os fabricantes de capital
puramente nacional estão capacitados e qualificados
junto às montadoras para absorver cada vez mais
responsabilidades? Ou os grandes grupos estrangeiros
engolirão os fabricantes de capital nacional através de
joint ventures, fusões e aquisições?
Pudemos constatar através da pesquisa realizada com
as 52 empresas que o clima é, no ponto de vista dos
empresários, mais favorável e otimista do que
imaginávamos inicialmente e que embora ainda haja
bastante trabalho por fazer, alguns poucos fabricantes
de capital nacional reúnem condições suficientes para
não se socorrer ao capital estrangeiro. Estes reúnem ao
mesmo tempo: capacitação tecnológica suficiente para
absorver os desafios colocados pelas montadoras,
13