Visibilidade da Família Beckhäuser

Transcrição

Visibilidade da Família Beckhäuser
Toni Jochem
Organizador
Co-autores:
Adauto Beckhäuser “ Clay Juliano Schulze “ Frei Alberto Beckhäuser
Inês Back Fiorio “ Juliana Beckhausen “ Keler Luciane Beckhäuser
Laércio Beckhäuser “ Rudi Beckhauser
Edição da AFABE
Florianópolis – SC
2006
Copyright © 2006, by AFABE
Capa: Clay Juliano Schulze
Editoração Eletrônica: Marcelo Pescador dos Santos
Revisão Gramatical: Marcio da Conceição Garcia
Orientação Histórica: Toni Jochem
Revisão de Conteúdo: Respectivos Autores
Coordenação Editorial: Toni Jochem
(48) 3242-0826 – E-mail: [email protected]
www.tonijochem.com.br
FICHA CATALOGRÁFICA
Bibliotecária responsável: Cleuza Regina Costa Martins – CRB 14/500
H673
História da Família Beckhäuser no Brasil / Toni
Jochem... [et al.]. — Florianópolis : Ed. do Autor,
2006.
320 p. : il.; color.
Organização de: Toni Jochem
ISBN 85-903946-8-9
1. Genealogia – família – Beckhäuser. 2. História – família – Beckhäuser. 3. Imigração – alemã – Brasil. I. Beckhäuser, Adauto. II.
Schulze, Clay Juliano. III. Beckhäuser, Alberto (frei). IV. Fiorio, Inês
Back. V. Beckhäuser, Juliana. VI. Beckhäuser, Keler Luciane. VII. Beckhäuser, Laércio. VIII. Beckhäuser, Rudi.
CDU 929.2:325.14(430)(81)(816.4)
Reservados à AFABE todos os direitos de reprodução, total ou parcial.
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Associação da Família Beckhäuser no Brasil – AFABE
E-mail: [email protected]
Website: www.familiabeckhauser.com.br
Presidente: Adauto Beckhäuser
OAB/SC 2231
Rua Tenente Silveira, 200, Sala 405 – Ed. Atlas – Centro
Cep: 88010-300 – Florianópolis – SC
Fone: (48) 3224-5505 / 3222-7781
Fax: (48) 3222-8436
E-mail: [email protected]
Abreviações
AAB = Acervo Arlindo Beckhäuser.
ADAB = Acervo Dr. Adauto Beckhäuser.
AAFABE = Acervo da Associação da
Família Beckhäuser.
ACJS = Acervo Clay Juliano Schulze.
AFAB = Acervo Frei Alberto Beckhäuser.
AFABE = Associação da Família Beckhäuser.
AIBF = Acervo Inês Back Fiorio.
AJB = Juliana Beckhausen.
AJMB = Acervo Juliana Marques Beckhausen.
AKLB = Acervo Keler Luciane Beckhäuser.
ALB = Acervo Laércio Beckhäuser.
APB = Arquivo da Paróquia de Birkenfeld, Alemanha.
APEM = Acervo Pe. Evair Michels.
APESC = Arquivo Público do Estado de
Santa Catarina.
APLSI = Arquivo da Paróquia Luterana
de Santa Isabel.
ARB = Acervo Rudi Beckhauser.
ASLI = Associação dos Liturgistas do
Brasil.
ATJ = Acervo Toni Jochem.
BPESC = Biblioteca Pública do Estado
de Santa Catarina.
CBLB = Confederação Brasileira de Luta
de Braço.
CEFEPAL = Centro de Estudos da Família Franciscana do Brasil.
CNBB = Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
DCE = Diretório Central dos Estudantes.
DEINFRA = Departamento Estadual de
Infra-estrutura, Órgão do Governo do
Estado de Santa Catarina.
DF = Distrito Federal.
GE = Google Earth.
GNU = Grêmio Náutico União, de Porto
Alegre.
OAB/SC = Ordem dos Advogados do
Brasil. Secção Santa Catarina.
OFM = Ordem dos Frades Menores.
OFS = Ordem Franciscana Secular.
PDC = Partido Democrata Cristão.
Pe. = Padre.
PL = Partido Libertador.
PPB = Partido Progressista Brasileiro.
PPR = Partido Progressista Reformador.
PR = Paraná.
PRN = Partido da Reconstrução Nacional.
PUC = Pontifícia Universidade Católica.
REB = Revista Eclesiástica Brasileira.
RJ = Rio de Janeiro.
SC = Santa Catarina.
SITRUPEGE = Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Presidente Getúlio.
UDN = União Democrática Nacional.
UFSC = Universidade Federal de Santa
Catarina.
ULBRA = Universidade Luterana do
Brasil.
UNISUL = Universidade do Sul do Estado de Santa Catarina.
UNIVALI = Universidade do Vale do
Itajaí.
Nossos Colaboradores
Agradecemos às pessoas aqui mencionadas pela colaboração no processo de
elaboração desse livro. Consignamos nosso especial agradecimento a:
Adauto Beckhäuser;
Alexandre Back;
Aparecida Beckhauser Dias;
Arlete Diomário da Rosa Cherubin;
Carlota Wandressen da Rocha;
Carol Beckhauser;
César Derner Beckhäuser;
Clarkson Sell;
Clay Juliano Schulze;
Clenio Jair Schulze;
Daniele Beckhäuser de Andrade;
Dilma Waltrich;
Dulcianne Beckhauer;
Dulcineia Francisca Beckhauser;
Edson Beckhäuser;
Evandro Thiesen;
Gabrielle Beckhauser Gonçalves;
Hazael Batista;
Inês Back Fiorio;
José Beckhäuser;
José Franscico Hoepers;
Josef Herholz - in memoriam;
Juliana Beckhausen;
Keler Luciane Beckhäuser;
Laércio Fagundes Fogaça Beckhäuser;
Leonardo Beckhäuser;
Luiz Beckhauser;
Luiz Flávio Fiorio;
Manoel Scheimann da Silva;
Marcelo Beckhäuser;
Maria Liliam Beckhauser;
Maria Madalena Back Vandresen;
Maria Telma Beckhauser;
Melânia Back da Rosa;
Miriam Beckhauser;
Osni Antônio Machado;
Pastor Walter Weber;
Pe. Evair Michels;
Pe. Frei Alberto Beckhäuser;
Rafaela Silvestre;
Rosângela Beckhauser;
Rudi Backes;
Rudi Oscar Beckhäuser;
Sônia Cibeli da Silva;
Sueli Maria Beckhäuser;
Valney Beckhauser;
Vanilde Beckhauser;
Diretoria da Associação da
Família Beckhäuser no Brasil – AFABE
Presidente
ADAUTO BECKHÄUSER
Vice-Presidente
LAÉRCIO FAGUNDES FOGAÇA BECKHÄUSER
Conselho Fiscal Titular
Pe. FREI ALBERTO BECKHÄUSER
Primeira Secretária
SUELI MARIA BECKHÄUSER
Conselho Fiscal Titular
GABRIELLE BECKHÄUSER GONÇALVES
Segunda Secretária
ARLETE DA ROSA CHEROBIN
Conselho Fiscal Suplente
DANIELE BECKHÄUSER DE ANDRADE
Primeiro Tesoureiro
VALNEI JOSÉ BECKHÄUSER
Conselho Fiscal Suplente
LEONARDO BECKHÄUSER
Segundo Tesoureiro
JOSÉ BECKHÄUSER
Conselho Fiscal Suplente
CESAR DERNER BECKHÄUSER
Conselho Fiscal Titular
RUDI OSCAR BECKHÄUSER
Conselho Fiscal Suplente
EDSON BECKHÄUSER
Dedicamos este livro à memória do
casal Johann Karl Bechkäuser e
Maria Elisabeth Kropp e de Johann
Karl Bechkäuser e Margaretha
Schug, a esposa do segundo casamento e a todos os seus descendentes.
Sumário
Apresentação..........................................................................11
Toni Jochem
Introdução..............................................................................15
Frei Alberto Beckhäuser
Primeira Parte
Aspectos da História da Família Beckhäuser
Capítulo I - Em Busca das Origens.........................................19
Frei Alberto Beckhäuser
Capítulo II - A Saga do Imigrante Johann Karl Beckhäuser..41
Adauto Beckhäuser
Capítulo III - Maria Elisabeth Kropp Beckhäuser .................61
Adauto Beckhäuser
Capítulo IV - Margaretha Schug Beckhäuser.........................67
Frei Alberto Beckhäuser
Capítulo V - A Família Beckhausen no Rio Grande do Sul....75
Juliana Beckhausen e Adauto Beckhäuser
Capítulo VI - Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld e Descendentes......................................................................................79
Frei Alberto Beckhäuser
Capítulo VII - A Família Beckhäuser em Urubici-SC ............93
Keler Luciane Beckhäuser
Capítulo VIII - Histórico de Irma e Antônio Beckhauser.....105
Clay Juliano Schulze
Capítulo IX - Gabriel Carlos Beckhäuser e Corina Mendonça.117
Adauto Beckhäuser
Capítulo X - Bernardo Carlos Beckhäuser: A Vida de um Teutobrasileiro................................................................................139
Laércio Beckhäuser
Capítulo XI - Biografia de Maria Beckhäuser.......................145
Inês Back Fiorio
Notas de Fim da Primeira Parte...........................................150
Segunda Parte
Visibilidade da Família Beckhäuser
Capítulo XII - Crônicas de Viagens............................................157
Frei Alberto Beckhäuser e Adauto Beckhäuser
Capítulo XIII - Trajetória de Uma Vida.....................................167
Frei Alberto Beckhäuser
Capítulo XIV - Academia de Acordeon Rudi Beckhauser........175
Rudi Beckhauser
Capítulo XV - Fatos Pitorescos da Família Beckhäuser.............181
Laércio Beckhäuser e Adauto Beckhäuser
Capítulo XVI - Entrevista com Marion Beckhäuser..................187
Adauto Beckhäuser
Capítulo XVII - Associação da Família Beckhäuser no Brasil
AFABE.........................................................................................191
Toni Jochem
Capítulo XVIII - Brasão de Armas da Família Beckhäuser.......199
Laércio Beckhäuser
Capítulo XIX - Memorial da Família Beckhäuser......................207
Frei Alberto Beckhäuser e Adauto Beckhäuser
Capítulo XX - Genealogia da Família Beckhäuser.....................213
Frei Alberto Beckhäuser e Adauto Beckhäuser
Notas de Fim da Segunda Parte.................................................269
Anexos.........................................................................................272
Fontes e Bibliografia....................................................................316
Apresentação
“Felizes, (...), as famílias que têm história,
porque lhes é dado o júbilo de a recordar, porque ela
constitui a fonte fecunda, inesgotável e profunda de
suas energias morais; porque, a cada passo que dão,
sentem atrás de si o rastro de sua própria imortalidade. Que é a vida, senão a história que começa?
Que é a história, senão a vida que continua? A história de nossa família, de nossa gente, de nossa casa
está conosco. Respira perto de nós. A sua presença
todos adivinham. Ora bela, ora triste, é uma grande
história”.
Júlio Dantas
da Academia de Ciências de Lisboa,
in “Outros Tempos”
Diante das incertezas do futuro, o passado se apresenta
como uma âncora. E a busca deste aporte dá sustentabilidade
nas inconstâncias da existência. Ela justifica, legitima, dá sentido, ordena e, de certa forma, nos revigora para enfrentarmos
os desafios do cotidiano.
Na tentativa de elucidar esses desafios, viabilizada pela
âncora da história, tomamos conhecimento do interesse de alguns membros da Família Beckhäuser pela história da imigração alemã em Santa Catarina e especialmente da do IMIGRANTE JOHANN KARL BECKHÄUSER e seus descendentes.
Este tema despertou-lhes grande interesse pelo estudo e
difusão da história regional, em cujo contexto estavam inseridos seus ascendentes, originários de Hambach, que se instalaram, em 1862, na Colônia Alemã Santa Isabel1 , em Santa Cata1
As notas correspondentes a apresentação constam a partir da página 150.
11
rina. Desta forma, Adauto Beckhäuser, Laércio Fagundes
Fogaça
Beckhäuser e Pe.
Frei Alberto Beckhäuser residentes, respectivamente, em
FlorianópolisSC, Joinville-SC
e Petrópolis-RJ,
iniciaram ou retomaram esse
árduo trabalho
de reconstituição histórica.
Tomaram para
si,
durante
anos, a responsabilidade de
Mapa da América do Sul, com destaque para o Estado de Santa
reunir e sisteCatarina e nele a Colônia Santa Isabel.
matizar as fontes de dados e a bibliografia pertinentes a seu objeto de pesquisa: Família Beckhäuser – Genealogia e História.
Durante esse tempo, não raras vezes os encontramos em
meio a inúmeras anotações, entusiasmados e com farto sorriso,
motivados pelo resultado das buscas. Vibravam intensamente
com a descoberta de novas informações.
Para dar maior consistência ao conteúdo do trabalho, Pe.
Frei Alberto viajou para a Alemanha em busca de fontes históricas enquanto Adauto e Laércio auxiliados por dezenas de colaboradores se dedicaram avidamente na composição da árvore
genealógica e na reconstituição dos passos da família no Brasil.
A constante motivação por seu objeto de pesquisa foi mantida e renovada até que durante a realização do IV Encontro
Nacional da Família Beckhäuser, em 10 de julho de 2004, em
12
Vargem do Cedro, município de São Martinho-SC, em assembléia geral, foi fundada a AFABE – ASSOCIAÇÃO DA FAMÍLIA BECKHÄUSER NO BRASIL. Entre as finalidades da AFABE, contida em seus Estatutos2 se faz constar: dar seqüência na
elaboração da GENEALOGIA E HISTÓRIA DA FAMÍLIA BECKHÄUSER NO BRASIL – AFABE, com o objetivo de publicála, em forma de livro.
Com a intenção de cumprir esse objetivo, no segundo semestre de 2006, fui contatado pelo presidente da AFABE, Adauto Beckhäuser, para estabelecer critérios e coordenar o processo de elaboração de diversos artigos históricos, reunidos nesta
publicação.
Ao assumir a responsabilidade da coordenação dos trabalhos, procuramos organizar o assunto em blocos temáticos.
O próximo passo seria encorajar algumas pessoas a se lançarem no desafio de elucidar o tema proposto. Os resultados alcançados foram fascinantes, de uma pesquisa ao mesmo tempo
difícil, mas também muito prazerosa. A partir de então, percorremos os caminhos já trilhados por cada um dos autores cujos
artigos aqui estão sendo publicados; tentamos buscar as necessárias fontes bibliográficas dos textos selecionados, constantes
nos originais que nos foi entregue. Uma meticulosa revisão teve
de ser feita, documento por documento. Para isso, a comunicação entre os autores e o coordenador da publicação foi fundamental. O fluxo de informações era intenso e incansáveis os
envolvidos no trabalho, para que se alcançasse o máximo de
objetividade possível e se evitasse a dispersão dos temas e a repetição de determinados assuntos.
Nosso trabalho baseou-se, também, em fontes oficiais, encontradas, em grande parte, no Arquivo Público do Estado de
Santa Catarina, na Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina e no Centro da Memória da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis. Relatórios dos Presidentes da Província, Relatórios do Ministério do Império, Ofícios de Engenheiros para Presidentes da Província, Requerimentos, Leis, Decretos e Jornais da época foram as principais fontes
primárias por nós revisadas.
Para solidificar sobremaneira essa publicação, que repu13
tamos como grande documentário, tal como foi concebida e
executada, incluímos os anexos.
Esta publicação tem mais um caráter de demonstração da
presença histórica da FAMÍLIA BECKHÄUSER NO BRASIL do
que de análise. Como grande documentário, não tem a pretensão de um texto acadêmico. Com sua leitura, evidenciar-se-á,
de uma forma direta e objetiva, aspectos da imigração alemã
em Santa Catarina, com destaque para a atuação do imigrante
Johann Karl Beckhäuser e seus descendentes. E aqui está parte
substancial da GENEALOGIA e da HISTÓRIA da FAMÍLIA
BECKHÄUSER que poderá servir de âncora diante dos desafios que o futuro nos reserva.
Boa leitura!
Toni JOCHEM
Organizador do Livro,
Mestre em História pela Universidade Federal de Santa Catarina,
Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e
Diretor Cultural do Instituto de Genealogia do Estado de Santa Catarina.
Palhoça-SC, Novembro de 2006
14
Introdução
Frei Tomás de Celano, o primeiro biógrafo de São Francisco de Assis, escreve:
“Conservar os insignes feitos dos pais que
nos precederam para a memória dos filhos é
sinal de honra para com aqueles e de amor
para com estes”.
Inspirados nesta célebre máxima de Frei Tomás, os colaboradores do livro “História da Família Beckhäuser no Brasil”, que
tenho a honra e o grande prazer de apresentar, percorrem um
caminho de reconstrução e resgate da saga do casal Johann Karl
Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp, que emigrou da Alemanha para o Brasil no ano de 1862, junto com as levas de famílias alemãs, acolhidas nas Colônias São Pedro de Alcântara3 , Vargem Grande4 , Santa Isabel e Teresópolis5 , no entorno da cidade
de Desterro, hoje,
Florianópolis, em
Santa Catarina.
Este trabalho
nasce de um esforço conjunto – liderado por Laércio
Beckhäuser, pioneiro em pesquisa histórica, Adauto Beckhäuser e Frei Alberto Beckhäuser,
que foi em busca
Localização de Colônias Alemãs em Santa Catarina.
das raízes da famí3
As notas correspondentes a introdução constam a partir da página 150.
15
lia Beckhäuser na Alemanha –, que pretende, ainda, remontar
às raízes da Família Beckhäuser no Brasil. A pesquisa desenvolvida para se chegar a esse produto teve seu início desde 1964,
desenrolou-se no decurso dos Encontros Nacionais da Família
Beckhäuser e tem sua primeira etapa completada agora.
A composição do livro, idealizada por Adauto Beckhäuser, teve ainda a colaboração de muitas outras pessoas, entre as
quais destaca-se o conhecido historiador catarinense Toni Jochem.
Com a presente obra, o leitor certamente poderá reviver a
história de Johann e Maria Elisabeth Beckhäuser, suas vicissitudes, sofrimentos, lutas e vitórias; como, em meio a tantas dificuldades, superaram as adversidades da vida, em suas buscas
por melhor qualidade de vida para seus filhos e descendentes.
Acompanhará, também, o desenvolvimento e a expansão da
família pelo Estado de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro e talvez por outros Estados.
Finalmente, eis um livro que trata da história da grande
família Beckhäuser no Brasil. A todos os descendentes e afins
do casal Johann Karl e Maria Elisabeth Kropp e de Johann Karl
e Margaretha Schug, a esposa do segundo casamento, inclusive
aos Beckhäuser da Alemanha, são dedicados todo o labor e a
afeição aqui empenhados. Uma oferta que se estende a todas as
famílias imigrantes do Brasil, não só às de origem alemã, mas a
todas as famílias que passaram pelas dificuldades de deixarem
suas pátrias para serem acolhidas no Brasil, onde encontraram
uma nova pátria, por um novo povo, ao qual se integraram,
dando sua contribuição para construir uma pátria humanamente sempre mais habitável, mais justa e fraterna.
Manifesta-se aqui, ainda, o reconhecimento, por parte dos
autores, àqueles que dispuseram de seu tempo e saber para que
se tivesse essa obra em mãos.
Em tudo Deus seja louvado!
Frei Alberto Beckhäuser, OFM
Petrópolis, 26 de julho de 2006.
Dia dos avós
Aspectos da História da
Família Beckhäuser
18
Capítulo I
Em Busca das Origens
Por Frei Alberto Beckhäuser, OFM
Apresento nesta crônica os dados de minha nova pesquisa sobre os Beckhäuser na Alemanha, realizada no mês de
junho de 2006 depois de retomar os dados colhidos em 1964.
1. Primeiros dados sobre os Beckhäuser na Alemanha
No livro “Ernesto Beckhäuser: A Vida de um Homem Honrado” 6 , contei como tomei contato com as
origens de Johann Karl Beckhäuser e sua
esposa Maria Elisabeth Kropp, na cidade de Birkenfeld na Alemanha. De fato,
eles são de Hambach, uma vila a cerca
de 9 km de Birkenfeld.
Quando estudava Liturgia em
Roma, de 1963 a 1967, costumava passar as férias de verão na Alemanha como
capelão do Hospital São Vicente, na cidade de Coesfeld, na Westfália. Foi aí
que comecei a me interessar por meus
antepassados: os Hoepers, de minha
parte materna, e os Beckhäuser, da parCasal Roberto Beckhäuser e
Hilde, na Alemanha. Fotogra- te de meu pai.
fia de 1964. AFAB.
6
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 150.
19
Quanto aos Beckhäuser, iniciei a busca usando como instrumento algumas listas telefônicas existentes na Alemanha. A
partir de um primeiro Beckhäuser, Leonardo, em Handorf, perto de Münster, fui
informado de que a família
era natural de Saarbrücken,
no Saarland, Sul da Alemanha.
No fim das férias de
1964, mês de agosto, fui para
Saarbrücken e realmente enFamília de Carlos Beckhäuser, na Alemanha,
com Berta, Irma, Ursel, Wargit, em 1964.
contrei um casal Beckhäuser;
AFAB.
trata-se da família Karl Beckhäuser e Berta, moradores na Sittersweg, 32. Irma, filha desse casal, era casada com um Jung, já falecido, e tinha duas filhas: Ursel e Margit. Moravam na Rua Wolfshumes, 18. Depois
da visita, por alguns anos mantive correspondência com eles e,
depois, perdemos contato. Ainda para essa pesquisa, não mais
consegui localizá-los. As duas filhas de Irma devem ter casado
com homens com outro sobrenome; assim, não consegui localizá-las pela lista telefônica. Não obstante, consegui valiosas informações do contato que mantive como a família, como a procedência da família Beckhäuser
de Birkenfeld.
Em Birkenfeld, dirigi-me
à Casa Paroquial, onde me acolheram muito bem. Pesquisei
nos Livros de Registros de Batizados e de Casamentos. Foi ali
encontrei informações preciosas sobre os Beckhäuser.
À página 100, do I Volu- Família de Carlos Beckhäuser, na AlemaIrma, Ursel, Frei Alberto,
me dos Livros das Famílias (Fa- nha, com Berta,
em 1964. AFAB.
milienbuch) da Paróquia que
traz anotações sobre nascimentos, batizados, casamentos e morte
das famílias católicas de Birkenfeld que coincide com o Kreis
Birkenfeld. Nele encontrei: Heinrich Peter Beckhäuser. Aliás,
20
escrito em francês: Henri Pierre. Ele casou aos 20 de janeiro de
1813 em Schwollen e faleceu a 29 de julho de 1866, em Hambach, com 82 anos. Durante sua vida, trabalhou como pedreiro;
era filho de Franz Nikolaus Beckhäuser, Feldhüter (guarda florestal), e de Elisabeth Werres, de Hambach. Sua esposa era
Dorothea Elisabeth Marx, evangélica, filha de Joh. Ni. (tudo
indica tratar-se de Johann Kokolaus) Marx e de C. (tudo indica
tratar-se de Catherina) Brauer, de Schwollen.
Heinrich Peter Beckhäuser e Dorothea Elisabeth Marx tiveram os seguintes filhos:
– Johann Carl – nascido aos 12 de maio de 1813;
– Peter – nascido aos 23 de dezembro de 1819;
– Franz Nicolaus – nascido aos 25 de dezembro de 1822;
– Johann Karl – nascido aos 09 de setembro de 1826;
– Johann Jakob – nascido aos 07 de maio de 1830;
– Maria Carolina – nascida aos 07 de agosto de 1833;
– Philippina – nascida aos 11 de junho de 1835.
Ao que tudo indica, o segundo Johann Karl foi o que emigrara para o Brasil, pois o primeiro deve ter falecido quando
ainda criança. Hipótese corroborada pelo próprio Livro das
Famílias 7 : Johann Karl, nascido aos 09 de setembro de 1826,
casado aos 31 de maio de 1855, em Birkenfeld, com Maria Elisabeth Kropp, nascida aos 22 de setembro de 1934, filha de Johann Karl Kropp e de Catherina Schwickert, de Gollenberg.
O casal Johann Karl e Maria Elisabeth Kropp teve, em solo
alemão, os seguintes filhos:
– Karl – nascido aos 16 de abril de 1856 e falecido aos 16
de abril de 1856;
– Philippine – nascida aos 09 de maio de 1857, em Hambach;
– Elisabeth – nascida aos 27 de setembro de 1859, em Hambach.
Segundo meu pai, a família imigrante chegou ao Brasil
em 1862 e um filho de Johann Karl havia nascido no navio em
que fizeram a travessia do Atlântico. Gabriel Beckhäuser, des21
cendente da família residente na cidade de Armazém-SC, possuía uma cópia da respectiva Certidão de Nascimento. Ao voltar ao Brasil em 1967, fui em busca dessa Certidão de Nascimento. Felizmente, todas as informações foram confirmadas
pelo Registro de Nascimento de Johann Eduard César.
Dessa forma, teve início a história dos Beckhäuser no Brasil.
Tradução portuguesa do original francês:
CONSULADO
GERAL DA BÉLGICA
NO RIO DE JANEIRO
Registro de Nascimento de Karl Eduard Caesar Beckhäuser
No ano mil oitocentos e sessenta e dois,
aos oito dias do mês de
julho, ao meio dia, diante do Sr. Edouard Pecher, Oficial da Ordem
de Leopal, Cônsul Geral
da Bélgica no Rio de Janeiro, agindo na qualidade de oficial do estado civil, compareceu o
indivíduo chamado Johann Karl Beckhäuser,
o qual em presença do
senhor Jos. Condéré,
Capitão do 3 mastros
navio belga “Cesar” e de
Gérard Seykens, Vice-comandante a bordo da
mesma embarcação,
nos apresentou uma criança, do sexo masculiFac-símile da Certidão de nascimento de Karl Eduard no, filho dele Johann
Caesar Beckhäuser. AAFABE.
22
Karl Beckhäuser, de 36 anos, nascido em Hambach (grão-ducado de Oldenburg) e de Maria Elisabeth Krepp 8 , de 28 anos,
igualmente nascida em Hambach. O Capitão Condéré atestou
que a criança nasceu naquele dia a bordo do navio belga “César”, três mastros, atualmente neste porto e recebeu os prenomes de Karl Eduard Caesar.
Disto dando fé, redigimos a presente Ata, assinada por
nós, o declarante e as testemunhas, depois que dela se lhes fez a
leitura.
O Cônsul Geral da Bélgica
(Assinado) Edouard Pecher
(Assinado) Joh. Karl Beckhäuser
(Assinado) Maria Elisabeth Krepp
Testemunhas:
(Assinado) J. Condéré
(Assinado) G. Seykens
Certificado por Cópia Conforme do registro nas Atas do
Estado-Civil n. 10.
Rio de Janeiro, 11 de julho de 1862.
O Cônsul Geral da Bélgica
Edouard Pecher
Carimbo do Consulado Geral da Bélgica no Rio de Janeiro.
O filho de Johann Karl Beckhäuser e de Maria Elisabeth
Kropp (o registro de nascimento traz Krepp, erro evidente de
grafia) recebeu o tríplice nome em homenagem ao pai Johann
23
Karl, ao Cônsul Geral da Bélgica no Rio de Janeiro, Edouard, e
ao navio onde nasceu, Cesar: Karl Eduard Caesar.
Isso posto, pode-se reconstituir a genealogia dos Beckhäuser no Brasil com os seguintes ascendentes:
– Franz Nikolaus Beckhäuser e Maria Elisabeth Werres;
– Heinrich Peter Beckhäuser e Dorothea Elisabeth Marx;
– Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp e, em
segundas núpcias, já no Brasil, com Margaretha Schug.
O casal Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp
veio ao Brasil com as filhas Philippine e Elisabeth, sendo que o primeiro filho Karl, nascido
aos 16 de abril de 1856, morrera no mesmo dia
do nascimento.
Filhos de Johann Karl: Philippine (do primeiro casamento) e Johann (do segundo casamento)
2. Roteiro da segunda pesquisa na Alemanha em junho de 2006
Com a evolução da pesquisa sobre a família Beckhäuser no
Brasil, tornou-se
cada vez maior a
necessidade de se
aprofundarem as
pesquisas sobre a
Karl Eduard Caeser
origem e a história Beckhäuser. Fotografia de 1949.
dos Beckhäuser tamAFAB.
Bernardo
Kühlkamp e
Maria Beckhäuser.
Fotografia
de 1910.
APEM.
Philippine Beckäuser May, esposa de
João Evangelista May. Fotografia de
1900. AFAB.
24
bém na Alemanha. A ocasião mais propícia para esse empreendimento ocorreu durante meu semestre sabático no ano de 2006.
Para tanto, tracei o seguinte itinerário: quatro meses em Assis
na Itália, um mês na Alemanha e um mês na Suécia, na Letônia, de onde vem minha avó Auguste Grünfeld Sakalovki, e na
Lituânia, terra de origem de Frei Ludovico Garmus – Guardião
do Convento onde moro.
Depois de quatro meses na Itália, no Eremitério dos Cárceres (Eremo delle Carceri) de Assis, lugar consagrado por São
Francisco, no dia 02 de junho, parti para Frankfurt, na Alemanha, e, em seguida, até Bad-Godesberg, município de Bonn, às
margens do Rio Reno. Ao chegar fui acolhido pelo Ex-Ministro
Provincial 9 Frei Estêvão Ottenbreit na Missionszentrale der Franziskaner. Este convento seria para mim o ponto de apoio para a
pesquisa sobre os Beckhäuser na Região do Hunsrück, que fica
na Rheinland-Pfalz, diocese de Trier ou Tréveris.
Sem a companhia de Adauto Beckhäuser, Presidente da
AFABE, que planejou ir comigo, senti-me um pouco desestimulado a viajar, a visitar as pessoas. Os dias em Bad-Godesberg,
Vista aéra de Birkenfeld. GE.
25
passei-os consultando listas telefônicas na Internet e inteirando-me da história de Birkenfeld.
Muitos dados relevantes foram
encontrados.
Birkenfeld significa campo
ou terra de bétulas, árvore típica do Norte da Europa. A árvore também se chama vido ou
Frei Alberto na Alemanha. Fotografia de
vidoeiro. Possui casca branca e
junho de 2006. AFAB.
folhagem delicada, semelhante
ao salgueiro brasileiro. Birkenfeld é hoje a cidade principal de
uma pequena região no Rheinland-Pfalz, entre o Hunsrück do
Norte e a parte central da região montanhosa do Saar-Nahe.
Está a 397 metros do nível do mar e possuía 6.400 habitantes
em 1969. É terra rica em minérios de ferro e pedras preciosas.
Caracteriza-se como a cidade do funcionalismo público.
Birkenfeld fica no vale do Rio Nahe, onde nascem diversos de seus afluentes. Por isso, os muitos nomes de vilas com o
radical Bach, que significa: riacho, ribeirão, sanga.
No dia 14 de junho, parti com Frei Estêvão Ottenbreit para
a cidade de Johannisberg, que fica do lado oriental do Rio Reno,
defronte à cidade de Bingen, onde desemboca o Rio Nahe. Ali,
celebramos a Solenidade de Corpus Christi com um confrade.
Dia 16 de junho, tendo atravessado o Rio Reno de balsa,
tomei o trem em Bingen rumo a Birkenfeld às 09h56min, seguindo sempre o curso do Rio Nahe. Cheguei a Birkenfeld às
11h45min. Na Casa Paroquial, encontrei o Pastor (Pároco)
Walter Weber, que me acolheu com grande cordialidade. Dias
antes, em um telefonema, manifestei-lhe o desejo de fotocopiar
os documentos das famílias Beckhäuser e Kropp, no que ele foi
muito gentil em consentir. Depois de tudo fotocopiado, ofereceu-me um livro sobre Birkenfeld10 .
Em seguida, levou-me de carro para visitar os arredores
de Birkenfeld, ou seja, as vilas dos nossos antepassados: Brombach, Hambach, Schwollen e Gollenberg.
Na Internet, eu tinha recolhido diversos telefones de pes26
soas com o sobrenome Beckhäuser. No entanto, consegui apenas um apenas perto de Birkenfeld, em Niederbrombach, a uns
12 km de Birkenfeld. Lá, encontramos Rolf Beckhäuser, proprietário de uma Concessionária de Automóveis, conhecida na
Região. O encontro foi rápido, no pátio da Concessionária. Rolf
se interessou, mas andava muito ocupado, atendendo seus clientes. Tiramos uma fotografia dele diante da Concessionária.
Daí, rumamos para Niederhambach, passando, em seguida, por Oberhambach, duas vilas praticamente ligadas entre si.
Hoje, há a Oberhambach e a Niederhambach, a Hambach de
cima e a Hambach de baixo, duas vilas praticamente ligadas.
No tempo da imigração da família Beckhäuser para o Brasil,
ambas as vilas se chamavam Hambach, ou seja, eram uma só.
Tiramos várias fotografias das paisagens, visitamos o cemitério, onde nada encontramos sobre os Beckhäuser.
Em seguida, fomos a Schwollen, terra de Dorothea Elisabeth Marx, esposa de Heinrich Peter Beckhäuser. De lá fomos a
Gollenberg, a aproximados 02 km de distância de Birkenfeld,
donde provêm os Kropp.
Os arredores de Birkenfeld são uma terra com belas colinas, bosques, plantações e criação de gado. Zona rural, portanto. A região não é propriamente montanhosa. Ao voltar a Birkenfeld, visitamos ainda o Burgbirkenfeld, um pequeno castelo no alto
de uma colina junto à cidade, fortifi-
Bosque de Birken: bosque de
bétulas ou de vidoeiros.
Fotografia de junho de 2006.
AFAB.
Bétulas ou vidoeiros. Fotografia de junho de 2006.
AFAB.
27
cação sede dos senhores feudais, primeiro do Arcebispo de Trier, depois de outros senhores feudais da região. Foi sede da ocupação de Napoleão Bonaparte e, depois, do Grão-duque
de Oldenburg.
Ainda no dia 16 de junho, às 18h30min, concelebrei com o Pároco Walter
Weber que me apresentou à
comunidade de Birkenfeld.
Nesse dia, fui declarado integrante do grupo dos padres
e religiosos originários da paRio Nahe. Fotografia de junho de 2006.
AFAB.
Igreja católica de Birkenfeld. Fotografia de junho de 2006. AFAB.
róquia de Birkenfeld. Após a missa, num longo dia de verão da
Alemanha, o Pastor Walter Weber levou-me de carro à cidade
de Hermeskeil, a meio caminho entre Birkenfeld e Trier, onde
28
pernoitei num convento dos franciscanos.
Dia 17 de junho, sábado, passei-o em Hermeskeil. O confrade Frei Johannes Küpper conseguiu para mim o levantamento
mais completo dos Beckhäuser pela lista telefônica disponível
na Internet. Constatei que a maioria dos Beckhäuser se encontra na Região de Trier, desde o vale do Rio Mosela até Saarbrücken. Existem alguns no Norte da Alemanha, em Munique e
Dresden. Pelo telefone, contatei com Claus-Peter Beckhäuser,
de Trier, com o qual me encontraria no dia seguinte.
Dia 18, domingo, na companhia de Frei João Küpper, fui
até Trier. Encontrei-me com Claus-Peter. Um arquiteto de renome, com obras na França e na Bélgica. Mostrou bastante interesse pela causa da Família Beckhäuser. Claus-Peter disse-me
que possui um carro de corrida e promove festas em prol de
crianças com doenças graves. É um homem de posses. Não conversamos sobre religião, mas ele
demonstrou interesse por questões da Igreja católica. Assim
como se interessou grandemente pela página da Família Beckhäuser no Brasil disponível na
Internet. Já esteve como turista
no Rio de Janeiro.
Assistimos juntos, no mesEm Niederhambach (Hambach). Fotogra- mo dia, ao jogo do Brasil contra
fia de junho de 2006. AFAB.
a Austrália pela copa do mundo. Falei sobre o Encontro In-
Niederhambach (Hambach). Fotografia
de junho de 2006. AFAB.
Panorama de Hambach. Fotografia de
junho de 2006. AFAB.
29
Vista de Hambach (Oberhambach).
Fotografia de junho de 2006.
AFAB.
Cemitério de Hambach.
Fotografia de junho de
2006. AFAB.
Panorama de Hambach.
Fotografia de junho de
2006. AFAB.
Vista de Hambach. Fotografia de
junho de 2006. AFAB.
30
ternacional da Família Beckhäuser a ser realizado em
novembro de 2006. Tirei fotografia do seu escritório e
ele me deu cópia de uma fotografia de seu pai, Gotthard Beckhäuser, nascido
aos 11 de setembro de 1909.
Voltei a Hermeskeil, onde à
Vista de Schwollen. Fotografia de junho de
2006. AFAB.
Vista de Schwollen. Fotografia de junho de
2006. AFAB.
Vista de Schwollen. Fotografia de junho de
noite tentei contato com outro
2006. AFAB.
Beckhäuser, agora em Neunkirchen, entre Birkenfeld e Saarbrücken. Seu nome era Ralf.
Nosso encontro, no entanto, só foi marcado no outro dia, para
20 de junho, durante a pausa em seu trabalho.
Assim, no dia 20 de junho parti às 10h54min de Hermeskeil
para Sanct Wendel. Esperei por Ralf Beckhäuser diante da estação como combinado. Eram 12h20min quando ele apareceu.
Disse que havia rodeado várias vezes a estação sem me reconhecer. Sentamo-nos num bar junto à estação. Infelizmente ele
dispunha de pouco tempo. É funcionário do Bank I-Saar. Entabulamos uma boa conversa. Dei informações sobre a Família
Beckhäuser no Brasil e na Alemanha. Ralf mostrou-se muito interessado e admirado diante do nosso trabalho de resgate das
raízes dos Beckhäuser. Muitos Beckhäuser da Alemanha não
têm noção da origem da família. Como Ralf estava com novo
compromisso agendado, às 13h, já havíamos terminado a con31
versa. Ao final,
ele já estava deslumbrado com
tudo o que conversamos. Tirei
uma fotografia
dele e Ralf me retribuiu com seu
cartão de visita.
Às 13h21min,
tomei o trem de
volta para Bonn
e
Bad-Godesberg, percorrendo novamente
do Burgbirkenfeld. Fotografia de
quase todo o vale Panorama de Birkenfeld,
junho de 2006. AFAB.
do Rio Nahe,
passando por Ingelheim e Mainz, assim, rumava ao Norte da
Alemanha, pelo vale do Rio Reno até Bonn.
3. Birkenfeld e Arredores
Para compreendermos os motivos da emigração de nossos antepassados da Alemanha para o Brasil, convém apreciar
a história da terra de suas origens. No nosso caso, a região de
Birkenfeld no Hunsrück, na Alemanha.
Birkenfeld é uma cidade situada à margem sul do
Hunsrück, no vale do Rio
Nahe, rio que desemboca no
Reno, em Bingen, ao sul de Koblenz. Hoje, faz parte da Região Rheinland-Pfalz, tendo
como capital a cidade de Mainz (Mogúncia). Kreisbirkenfeld (Município de Birkenfeld)
possuía, em 1975, 90.200 ha- Ralf Beckhäuser, de Neunkirchen, em St.
bitantes, em sua grande maio- Wendel. Fotografia de junho de 2006. AFAB.
32
Claus-Peter Beckhäuser, de Trier. Fotografia de
junho de 2006. AFAB.
er.
ria protestantes. A história civil e religiosa de Birkenfeld foi profundamente tumultuada, sofrendo influências em
ambas as dimensões de diversos fatores.
Das origens
até os fins da Idade Média – Birkenfeld aparece
como uma das primeiras
paróquias da região, pertencente à Diocese de Tri-
No ano 700, havia uma igreja em Birkenfeld. Era posse
de um nobre chamado Liudwin. Este, antes de se tornar Arcebispo de Trier, teria doado a igreja e a terra à Diocese de Trier.
As primeiras notícias de sua história civil datam de 981. Birkenfeld alcançou a categoria de cidade em 1332. Até 1560, o território de Birkenfeld com a igreja era negociado com príncipes da
região, que também possuíam o direito sobre o dízimo, ou seja,
sobre os impostos. Em 1486, o então arcebispo de Trier readquire o direito sobre os impostos. Havia imposto para tudo, inclusive para a manutenção do pároco.
A Paróquia de Birkenfeld nos anos da Reforma Protestante – A paróquia de Birkenfeld possuía apenas um sacerdote, apesar das muitas pequenas comunidades que lhe pertenciam. O Duque (Graf) Johann IV, de Sponheim, pouco antes do
ano de 1400, deu ordem de construção de uma capela no Castelo Burgbirkenfeld em honra a todos os santos. Os duques arranjavam capelães para o castelo, mas o povo continuava com
um único sacerdote e uma única igreja.
No século XVI, a comunidade paroquial fundou uma escola. O professor era ao mesmo tempo o responsável pelo toque
do sino. Para tanto, ele recebia de cada família um tributo em
produtos. Em 1554, a igreja de Birkenfeld pegou fogo. Contudo, logo foi reconstruída por ordem do arcebispo de Trier (Trier
33
é a mais antiga diocese da Alemanha).
A Reforma Protestante partia dos príncipes. No início, o
príncipe que dominava sobre Birkenfeld ainda foi católico 11 .
Dias antes do Natal de 1557, o último pároco católico deixou a
cidade de Birkenfeld.
Em 1559, Frederico III tornou-se o Kurfürst (isto é, o príncipe, bispo ou não) que devia providenciar o culto no seu Principado. Na visita à região feita pela Arquidiocese de Trier, apenas se constataram os fatos da implantação da Reforma Luterana; da Igreja católica, os tabernáculos foram murados e retirados os móveis como quadros e imagens. Assim, toda a região
foi dominada por uma única confissão religiosa, a luterana. Aos
poucos, os católicos procuraram o culto em lugares
vizinhos,
como
Nonnweiler. As pessoas
que trabalhavam nas minas de carvão e de ferro
podiam permanecer católicas.
A Resistência da
Paróquia Católica de Birkenfeld – Com a protesRio Nahe. Fotografia de junho de 2006. AFAB.
tantização, muitos católicos saíram de Birkenfeld. De 1620 a 1632, a Região foi dominada pelos espanhóis. Ao que tudo indica, a reação tardia do arcebispo de Trier de recatolicizar a região do seu domínio não
atingiu a região de Birkenfeld, onde residia um forte príncipe
protestante. Aconteceu que após 1652 a região, dizimada pela
fuga dos católicos, precisava de gente nova. Para repovoar a
região, foram esquecidas as diferenças confessionais. Tanto protestantes como católicos podiam, agora, conviver no mesmo território. Em 1688, entre as 321 famílias da região da futura Paróquia de Birkenfeld, já constavam 27 famílias católicas. Os católicos procuravam participar do Culto em Oberstein, onde havia sacerdotes; depois de 1680, procuravam orientação religiosa com os jesuítas de Trier ou os franciscanos de Merl ou em
outras cidades vizinhas onde continuava a haver comunidades
34
da Igreja católica.
Sob o reinado do Pfalzgraf Christian II de BirkenfeldBischweiler (1669-1717), a situação para os católicos fica mais
favorável. No início do seu reinado, adotou a linha de Baden e,
com o apoio de Luís XIV da França, garantiu a liberdade de
religião aos católicos de Birkenfeld.
Portanto, também, neste tempo, Birkenfeld esteve sob o
domínio da França. Quando foi baixado um decreto pelo qual
se determinava que nas cidades com duas igrejas, uma fosse
entregue aos católicos para o culto. E onde houvesse uma só
igreja, o coro fosse adaptado para o culto católico. A ocupação
de Birkenfeld e da região por Luís XIV, da França, levou ao
estabelecimento no Burgbirkenfeld de uma forte guarnição militar. Isso fez com que houvesse um sacerdote que atendesse,
além do pessoal da fortificação, também aos de confissão católica. Sucederam-se assim em Birkenfeld vários capelães, inclusive, franceses.
Por volta de 1700, termina a ocupação francesa, mas esse
regime deixou a garantia da liberdade religiosa e do culto. O
pastor (pároco), porém, não tinha subvenção. Foi assim sustentado pelo bispo de Metz, na França. Contribuía também o príncipe de Baden que exercia domínio sobre Birkenfeld. A comunidade católica de Birkenfeld crescia graças à chegada de católicos de fora. Se em 1725, contava com apenas 150 fiéis, 30 anos
depois já eram 550. Não obstante, não havia nenhum funcionário público entre os católicos.
Entre as famílias católicas estava, já em 1678, Hans Jacob Kropp. Ela era natural de Gollenberg, mas habitava em Birkenfeld, inclusive fazendo parte do Conselho paroquial.
A presença dos franceses na cidade até 1714 garantiu o
“uso simultâneo” da igreja e a paz religiosa na região. Mas, por
causa de uma travessura de um garoto católico contra os protestantes, seguiram-se sérias restrições ao culto católico. Não
era tolerada qualquer discussão sobre religião; o padre católico
foi confinado a sua comunidade em Birkenfeld. Não podia atender às comunidades vizinhas. Teve que fazer batizados e casamentos em casas particulares. Foram proibidas as procissões. A
35
solução encontrada em 1699 quanto ao uso simultâneo da igreja perdurou praticamente 200 anos. Foi, no entanto, motivo de
muito desentendimento e de brigas entre católicos e protestantes. Só em 1892 os católicos conseguiram terminar sua própria
igreja, bem ao lado da protestante.
Durante vinte anos, de 1771 a 1791, com a extinção da
família dos príncipes católicos de Baden-Baden, o feudo de Birkenfeld foi herdado pelo príncipe de linha protestante de Baden-Durlach. Em 1776, havia no território de Birkenfeld 5.061
protestantes e 548 católicos (9,7% da população). Na cidade,
eram 744 protestantes e 157 católicos (17,4%). Esses últimos
estavam entre a população considerada pobre. Os desentendimentos entre os fiéis das duas igrejas continuavam, inclusive
por causa do uso do sino da igreja comum.
O tempo da dominação francesa sob Napoleão – Esse
período de dominação estende-se de 1790 a 1815. Com a Revolução Francesa, o pároco de Birkenfeld perdeu a subvenção que
vinha da França (Diocese de Metz). A situação tornou-se tão
precária que em 1794 o Pastor Mathias Schmidt abandonou
Birkenfeld, passando para o outro lado do Rio Reno.
Em 1802, os bens da Igreja foram confiscados pelo governo francês, mas devolvidos em 1806. Na Concordata entre o
Regime de Napoleão e o papa em 1801, houve completa reorganização da vida da Igreja: novo sistema de escolas, de governo
e de circunscrição eclesiástica. Birkenfeld, agora nova e diretamente sujeita à Diocese de Trier, torna-se uma Prefeitura de
Governo, em que, aos poucos, os católicos se tornam a maioria
dos funcionários. Isso dura até a queda de Napoleão em 1814.
Segundo levantamento realizado em 2001 por Reiner Schmitt,
em 1812, havia na paróquia de Birkenfeld 188 famílias católicas 12 .
Birkenfeld sob o Grão Ducado de Oldenburgo (18151937) – A queda de Napoleão Bonaparte e a reconquista do território à margem esquerda do Rio Reno pelos alemães, colocou
Birkenfeld sob várias administrações. Primeiro, sob a administração do Reino da Prússia. Em 1816, a Prússia concedeu a Região de Birkenfeld ao grão-duque Peter Friedrich Ludwig, de
Oldenburg. Este, por sua vez, tomou posse de Birkenfeld em
36
1817. Apesar da orientação protestante do regime de Oldenburg e da Prússia, o relacionamento entre a Igreja e o Estado
garantiu os direitos adquiridos pela primeira na Concordata de
Napoleão. Problemas continuaram a existir, sobretudo entre a
circunscrição eclesiástica de Birkenfeld e o bispo de Trier. O
mesmo ocorria entre o governo da Circunscrição de Birkenfeld
e o bispado de Trier, por conta das nomeações de párocos, que
precisavam do aval do grão-duque de Oldenburg. A paróquia
de Birkenfeld, em 1825, contava com 35 comunidades e 757 fiéis.
A revolução de 1848-1849 trouxe garantias de liberdade
de culto para os católicos. Entre elas:
– Todo cidadão tem liberdade de religião e de consciência;
– Os pais determinam a “confissão religiosa” dos filhos;
– Cada comunidade religiosa organiza e administra seus
bens com autonomia;
– Proíbe-se a ação do Estado na eleição, nomeação e instalação de ministros da Igreja;
– Não existe uma religião do Estado.
A relação entre a Igreja e o Estado permaneceu relativamente estável até o final do Ducado de Oldenburg em 1937,
apesar de terem permanecido resquícios da dominação protestante, como a proibição de qualquer procissão por parte dos
católicos.
A estatística de 1958 apresenta 21 comunidades com 660
membros. Houve, portanto, uma grande estagnação tanto em
relação ao número de habitantes quanto em relação ao número
de católicos. Em 1992, por ocasião do centenário da igreja paroquial de Sanct Jakobus (São Tiago) havia na paróquia de Birkenfeld 3.490 católicos. Hoje a comunidade católica é bem atuante, dinâmica e profundamente engajada. Ainda continua o
problema de se ter aí uma única igreja paroquial para todas as
comunidades. Como vimos, Birkenfeld teve uma história muito
conturbada 13 .
4. Algumas observações
Entre 1850 e 1900, todos os Beckhäuser sumiram de Bi37
rkenfeld, de Hambach e arredores. A causa principal deve ter
sido a situação de pobreza dos católicos, com dificuldades de
sobrevivência; eles eram relegados a trabalhos subalternos como
guardas, pastores, pedreiros e diaristas. As terras agricultáveis
continuavam nas mãos dos protestantes. Há notícias de que algum Beckhäuser migrou para os Estados Unidos da América
do Norte.
Como vimos, a situação da Igreja foi sempre muito complicada em Birkenfeld. Pertencia inicialmente ao Principado do
Arcebispo de Trier. Com a Reforma de Lutero, toda a comunidade teve que se tornar protestante, pois Birkenfeld passou a
um condado de príncipe protestante. Os católicos eram absoluta minoria. Não tinham mais igreja, lugar de culto. Usavam por
vários séculos o espaço físico da igreja, que passou para os luteranos. Em 1812, havia na Paróquia de Sanct Jakobus, em Birkenfeld, 188 famílias de confissão católica. Só no fim do século
XIX a comunidade católica construiu uma igreja própria bem
ao lado da protestante, pois não se entendia com os protestantes. A Birkenfeld pertencem aproximadamente 30 comunidades. Até hoje nenhuma delas possui igreja própria ou capela.
Todos tinham, e ainda têm, que se dirigir a Birkenfeld para participar dos atos litúrgicos.
A família Beckhäuser apareceu em Birkenfeld (em Brombach e Hambach) no último quarto do século XVIII. Prova disso
é o fato de, em 1800, já haver registros de casamento e óbito na
cidade. Antes, em 09 de agosto de 1778, nasce na ali Johann
Laurentius Jakob, em Hambach. Há várias hipóteses sobre sua
procedência.
Primeira hipótese: que os Beckhäuser tenham estado entre os trabalhadores chamados de fora após a dominação espanhola para suprir a mão de obra em falta. Poderiam ter vindo
da própria região, da França ou mesmo do Norte da Alemanha
à procura de trabalho. Isso bem antes de Birkenfeld tornar-se
parte do grão-ducado de Oldenburg. É pouco provável que tenham chegado na ocupação de Birkenfeld pela Revolução Francesa e o domínio de Napoleão, pois em 1778 já há Beckhäuser
nascendo em Hambach.
Segunda hipótese: que a chegada se tenha dado no tempo
38
do domínio francês sob Luís XIV da França entre 1669 e 1770.
A hipótese da procedência francesa dos Beckhäuser não
pode ser excluída. Mas os católicos pobres também poderiam
ter vindo do Norte da Alemanha ou da própria região próxima
de Birkenfeld. Por outro lado, a história dos barões que teriam
ido da Itália e da França para Munique data de período posterior. Muito bem poderiam ter migrado de Birkenfeld durante o
êxodo desencadeado a partir de 1860 para a França e a Itália e,
mais tarde, em meados do século XIX, para a Baviera no Sul da
Alemanha.
Beckhäuser é um nome típico do Norte da Alemanha, por
isso também não se exclui a possibilidade de terem vindo de
Niederrheinland, da região de Oldenburg. Um sintoma disso é
que até hoje há vários Beckhäuser naquela região. Já antes de
Napoleão (1800-1815) e do domínio sobre a região por parte de
Luís XIV, por falta de mão de obra para o trabalho simples,
visto que os donos das terras eram todos protestantes, chegaram trabalhadores de fora, inclusive da França.
Para descobrir a procedência dos Beckhäuser de Birkenfeld, seria necessário empreender uma pesquisa sobre os antepassados dos Beckhäuser no Norte da Alemanha, na região de
Oldenburg, Hamburgo e Bremen.
A pesquisa realizada em torno dos Beckhäuser da Alemanha está longe de se concluir. Com os dados de endereços e
telefones levantados neste país, talvez alguns historiadores e
outros interessados na questão, como Adauto Beckhäuser – Presidente da Associação da Família Beckhäuser no Brasil – se
motivem a prosseguir no desenvolvimento dessa investigação.
Estes dados estão disponíveis a todos estes na sede da Associação da Família Beckhäuser no Brasil, em Florianópolis.
Sou muito grato a Adauto Beckhäuser pelo incentivo e o
apoio sempre demonstrado ao nosso trabalho de pesquisa e a
Laércio Beckhäuser por seu entusiasmo no levantamento da
genealogia dos Beckhäuser.
39
40
Capítulo II
Saga do Imigrante
Johann Karl Beckhäuser
Por Adauto Beckhäuser
Planta topográgica da cidade do Desterro, datada de 1876. AAB.
41
Em 1862,
Johann Karl
Beckhäuser,
com 36 anos
de idade nascido em 09 de
setembro de
1826, juntamente com sua
esposa Maria
Elisabeth Kropp nascida em
20 de setembro de 1834,
com 28 anos
de idade e grávida de oito
meses, emigraram para o
Brasil, na esperança
de
dias melhores
para sua família, que já era composta por duas filhas: Philippine, com quatro anos de idade, e Elizabeth, com nove meses. No
entanto, já haviam perdido o primeiro filho de nome Johann
Karl, ainda, na Alemanha, em 16 de abril 1856, mesmo dia de
seu nascimento.
O casal Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp
saiu de Bierkenfed na Alemanha e seguiu para a Antuérpia na
Bélgica. Lá, no dia 20 de junho de 1862, a bordo do Navio César, de bandeira belga, os dois iniciaram a viagem rumo ao Brasil, onde desembarcaram no porto do Rio de Janeiro, em 08 de
julho de 1862 14 . Posteriormente, em 19 de julho de 1862 15 , a
bordo de uma embarcação de nome desconhecido, seguiram viagem rumo ao Sul do país, com destino a Desterro (hoje Florianópolis), no Estado de Santa Catarina, junto a mais 128 colonos.
Ao chegar em Desterro, o casal foi destinado à Colônia
Santa Isabel, onde, assim que chegou, Johann Karl Beckhäuser
comprou terras ao lado das de Miguel Kropp. Miguel Kropp
era irmão de Maria Elisabeth Kropp. Mas, por que os dois irmãos compraram terras contíguas? Há algumas hipóteses: Uma
delas aponta para a possibilidade de Miguel Kropp ter vindo
anteriormente para o Brasil e escrito para sua irmã, Maria Elisabeth Kropp, falando das vantagens da emigração. Outra hipótese é a de que vieram juntos para o Brasil devido à propaganda feita pelo governo brasileiro, de que aqui encontrariam
terras férteis. A primeira hipótese é a mais plausível porque na
lista dos imigrantes 16 , em que consta Johann Karl Beckhäuser,
não está inserido o nome de Miguel Kropp, dos Schuchs. Mas é
preciso empreender novas pesquisas.
Sobre a família Kropp, sabe-se que o pai de Maria Elisabeth, João Karl Kropp, casado com Anna Katharina Schwickert,
em 05 de fevereiro de 1829 17 , teve cinco filhos:
1 – Anna Maria Dorothea Kropp – nascida a 15 de novembro de 1829, faleceu em 10 de janeiro de 184618 ;
2 – Maria Elisabeth Kropp – nascida a 20 de setembro de
1834, casou-se em 31 de maio de 1855 com Johann Karl Be14
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 151.
42
ckhäuser – nascido a 09 de setembro de 1826 19 ;
3 – Johann Michael Kropp – nascido a 24 de fevereiro de
1838 e migrou para o Brasil 20 ;
4 – Maria Philippina Kropp – nascida a 15 de agosto de
1841 21 ;
5 – Katharina Kropp – nascida a 05 de maio de 1846,
casada com Joseph Franz, nascido em 05 de maio de 184622 .
Tudo indica que as vantagens alegadas para emigrar foram de tamanha força que superaram as vantagens de permanecer em solo alemão.
O casal de imigrantes Johann Karl e Maria Elisabeth teve
um filho durante a viagem para o Brasil, a bordo do navio Cesar. Trata-se de Karl Eduard Caesar Beckhäuser, nascido no
dia 08 de julho de 1862; seu nascimento foi registrado no Consulado Belga, Rio de Janeiro, no dia 11 de julho de 1862 23 . Tudo
indica que ele foi ali registrado, por ter nascido a bordo de um
navio de bandeira daquele país.
Chegados ao Rio de Janeiro, foram encaminhados pela
Diretoria das Terras Públicas e Colonização, do Ministério das
Navegações, da Agricultura, Comércio e Obras públicas para
cidade de Desterro 24 .
Quando do envio dos imigrantes, foi encaminhado um
comunicado ao Presidente da Província de Santa Catarina; no
qual se fez constar:
“Nesta data seguem para essa Província cento e vinte e
oito colonos, constantes da relação inclusa, os quais Vossa
Excelência fará estabelecer nas Colônias do Governo, a que
derem preferência, e concedendo-lhes os mesmos favores a
que outros se têm feito em casos semelhantes. Deus Guarde
a Vossa Excelência, João Luiz Vieira, 19 de julho de
1862” 25 .
A Colônia Santa Isabel foi fundada em 1847 por imigrantes oriundos, em sua maioria, da região do Hunsrück e estava
localizada a aproximadamente 50 quilômetros de Desterro, às
margens do Caminho das Tropas, que ligava o Litoral ao Planalto Serrano catarinense. Na época, a produção agrícola da
colônia era bastante diversificada: mandioca, milho, feijão, ba43
tata, algodão, café e cana.
Após 1850, com a Lei das Terras, não mais eram concedidos gratuitamente os lotes de terras aos imigrantes. Eles tinham
que adquiri-los por compra, com seus próprios recursos. Johann
Karl Beckhäuser adquiriu suas terras na região de Taquaras,
uma das linhas da Colônia Santa Isabel. Ali, teve que abrir clareira na mata virgem para construir sua casa, onde passou a
abrigar a sua esposa, suas duas filhas e o filho nascido a bordo
do navio. Por sorte, as terras da colônia não apresentavam baixa fertilidade. Todavia, nem por isso as coisas foram fáceis para
a família Beckhäuser. Tudo dependia do trabalho, da fé e da
esperança de Johan e Maria Elisabeth, qualidades que não os
deixavam esmorecer diante das dificuldades.
Não se sabe a razão, mas provavelmente no final da década de 1860, Johann Karl migrou de Taquaras para o Vale do
Capivari, exatamente, para o Rio Sete.
Aos poucos, a família foi crescendo. Em 08 de julho de
1865, nasce Anna Maria e, em 1867, Guilhermina 26 . Ao todo,
agora eram cinco os filhos da família Beckhäuser, que, a considerar o natimorto, compôs-se da seguinte maneira:
1 – Karl
Beckhäuser
(este já havia
falecido);
2 – Philippine Beckhäuser;
3 – Elizabeth Beckhäuser;
4
–
Eduard Caesar
Beckhäuser;
5 – Anna
Maria Beckhäuser;
Aspectos da Planta da Colônia Santa Isabel, em 1863.
44
6 – Guilhermina Beckhäuser.
Após o nascimento de Guilhermina, morre a mãe Maria
Elisabeth, aos 34 anos de vida, vítima de complicações no parto. Ela faleceu em data ignorada e o mesmo se verifica com relação ao cemitério onde foi sepultada.
Tudo indica que Maria Elisabeth era uma mulher de muita coragem, espírito de luta e abnegação. Somente seis anos foram suficientes para comunicar o seu projeto de vida nova aos
seus diletos filhos, o qual foi legado posteriormente aos netos,
bisnetos, trinetos e tataranetos.
Viúvo, novamente a fé de Johann Karl levou-o a não esmorecer com a perda da mão amiga de sua esposa Maria Elisabeth, sua grande incentivadora e companheira. Ele agora se via
sozinho nos cuidados com sua família. Nem com os filhos poderia dividir essa responsabilidade, visto que a filha mais velha
tinha apenas 11 anos de idade 27 .
Johann Karl morava a doze lotes das terras da família
Schug, cujo patriarca era Peter Schug. Este também havia emigrado da Alemanha, juntamente com sua filha Margareth Schug
e mais outros familiares. Com a morte de Maria Elisabeth, Johann Karl veio a se casar com Margareth Schug, com quem
teve outros cinco filhos:
1 – Bernard Peter Beckhäuser;
2 – Johann Peter Beckhäuser;
3 – Peter Beckhäuser;
4 – Johann Beckhäuser;
5 – Heirinch Beckhäuser.
O casamento foi oficiado em local ignorado, assim como a
data de sua realização.
Nada fácil para a jovem Margareth Schug, na época com
20 anos de idade; ela, de imediato passou a cuidar das cinco
crianças deixadas por Maria Elisabeth. Esse número aumentava ao longo dos anos, à medida que nasciam os seus filhos com
Johann Karl Beckhäuser. O primeiro filho desse novo casamento, Bernard Peter, nasceu em 08 de abril de 1870, o que reforça
a suspeita de o casamento de Johann Karl e Margareth ter acon45
tecido entre 1868 e 1869.
Uma década e meia depois, em 1885, falece o imigrante
Johann Karl, aos 59 anos de idade 28 , deixando todas as tarefas
para Margareth. Desconhece-se o local de seu sepultamento,
mas, provavelmente, tenha sido em Rio Sete, em São BonifácioSC, onde residiam. Com muita fé e amor a sua família, Margareth teve força para enfrentar as duras penas da época e a tarefa de dar seguimento ao caminho traçado por Johann Karl para
seus filhos.
Pouco tempo depois do falecimento de Johann Karl, Margareth veio a se casar com João Heikes, casamento que gerou a
filha de nome Antônia Heikes, nascida no ano de 188629 , que,
por sua vez, casou-se com Pedro Scheidt.
Margareth, a segunda esposa de Johann, nasceu na Alemanha em 1848 e veio a falecer no dia 02 de julho de 1913, aos
65 anos de idade 30 . Está sepultada no cemitério luterano da
comunidade do Alto Rio Sete, Município de São Bonifácio-SC.
Os filhos da primeira esposa de Johann, agora também
sem o pai, contavam apenas com a dedicação de Margareth, a
madrasta, que procurava suprir a ausência de Maria Elizabeth.
Verifica-se, no entanto, que houve um grande afastamento dos
filhos da primeira esposa dos da segunda, bem como o afastamento de todos os filhos do primeiro e do segundo casamento
de Johann Karl, por discordarem do casamento de Margareth
com João Heikes. Em conseqüência do afastamento físico, passaram não mais a manter contatos e a família literalmente se
dispersou.
Em certa ocasião, numa festa em São Martinho, Karl
Eduard Caesar Beckhäuser, um dos filhos do imigrante Johann
Karl, encontra uma pessoa de idade respeitável que teria vindo
de Urubici, na serra catarinense. Após conversarem, indagou
aquele senhor: “sabes que tu és meu irmão?” Fato este relatado
por muitos da família.
Com o passar do tempo, os filhos de Johann constituíram
suas próprias famílias:
Filhos da primeira esposa:
46
1 – Philippine Beckhäuser – nascida a 09 de maio de 1957,
em Hambach, casada com João Batista May;
2 – Elizabeth Beckhäuser – nascida a 27 de setembro de
1859, casada com Christoph Schmoeller, seu segundo casamento foi com Bernard Schmoeller, o terceiro, em 25 de
fevereiro de 1908, com Pedro Meurer na Igreja Matriz de
São Ludgero-SC;
3 – Karl Eduard Caesar Beckhäuser – nascido a 08 de
julho de 1862, em navio de bandeira Belga, casado com
Anna Aurora Arns;
4 – Anna Maria – nascida em 08 de julho de 1865, casada
com Bernardo Kühlkamp, foi para a região de São Martinho, Armazém e São Ludgero 31 ;
5- Guilhermina Beckhäuser 32 ;
Filhos da segunda esposa:
1 – Bernard Peter Beckhäuser; (nascido em 08 de abril de
1870) casado com Bernardina Eyng permaneceu em São
Martinho 33 ;
2 – Johann Peter Beckhäuser; (nasceu em 16 de agosto
de 1871) residiu em Águas Mormas e não temos mais
informações 34 .
3 – Peter Beckhäuser; (nascido em 16 de agosto de 1871)
casado com Joanna Schmoeller subiu a serra e foi residir
em Urubici-SC 35 ;
4 – Johann Beckhäuser; (nascido em 18 de março de1873)
casado com Auguste Grunfeld seguiram o Rio HipólitoOrleans e depois para Forquilhinha-SC 36 ;
5 – Heinrich Beckhäusen – (nascido 09 de abril de 1875)
seguiu para Porto Alegre, passando a se assinar Beckhausen 37 .
A FAMÍLIA BECKHÄUSER ainda hoje está muito dispersa. Com a fé e a esperança de Johann Karl, levar-se-á a bom
termo a união de todos.
Johann Karl não teria suportado a perda de sua amada
Maria Elisabeth, se não tivesse o apoio de seu cunhado Miguel
Kropp e da família Schug, que, num gesto de amor e carinho,
47
abençoou o casamento de Margareth.
Quando Margareth faleceu, em 05 de junho de 191338 , já
casada com João Heikes, deixou uma filha, de nome Antônia
Heikes, nascida no ano de 1886, com 27 anos de idade.
Há, no entanto, um fato a questionar: teria mesmo alguém
testemunhado a morte de Johann Karl Beckhäuser? Há informações de que o mesmo havia desaparecido por muitos anos
juntamente com uns escravos. Ele carregaria consigo muitas
moedas de ouro. Após muito tempo do seu desaparecimento,
foi considerado morto e Margareth Schug resolveu se casar novamente em 1885.
São questões nunca antes cogitadas. Será que Johann Karl
Beckhäuser separou-se de Margareth Schug ou ele veio a falecer antes do segundo casamento de Margareth Schug? A busca
de informações continua. Embora, Mas acreditamos que os dados da certidão de óbito de Margareth sejam verdadeiros.
Por ironia do destino, com a morte de Margareth Schug, o
ponto de apoio da família Beckhäuser passou a ser João Heikes,
o segundo esposo de Margareth, motivando a dispersão dos filhos Beckhäuser. Foi ele mesmo quem efetuou o registro de óbito, em cujo documento fez constar que a residência do casal era
em Rio Sete, em São Bonifácio, alegando também que Margareth deixou bens a partilhar.
Em Taquaras, na Colônia Santa Isabel
Não é fácil explicar por que algumas pessoas abandonaram o seu lar, a sua pátria, para emigrar. Uma razão comum e,
talvez até simples demais, é a busca por uma vida melhor. Já no
Brasil, cada imigrante de posse de sua terra, tratava de fazê-la
produzir para não ter que sofrer mais tarde com as privações
deste novo mundo. E o árduo início na mata virgem pode ser
descrito assim:
“Enquanto as mulheres e as crianças ficavam no acampamento, os homens com os filhos e as filhas mais crescidos
iam para as suas propriedades a fim de torná-las habitáveis. Providos de machado, foice e facão, cada qual com sua
carga de mantimentos às costas, marchavam mato adentro
48
Planta da Colônia Santa Isabel em 1863, com destaque para linha
colonial Taquaras e imediações.
até os seus terrenos. Lá, construíam, primeiramente, um
pequeno rancho para o qual o mato fornecia tudo. Depois,
ocupavam-se de preparar um pequeno pedaço de terra para
a plantação.
Enquanto os filhos menores derrubavam os arbustos e pequenas árvores, os pais punham a baixo, a machadadas, os
gigantes da floresta e as filhas cuidavam da cozinha.
Nesse trabalho, gastavam semanas até que um bom pedaço
de mato estivesse derrubado. A espingarda nunca ficava
longe da mão.
Tão logo o mato derrubado estivesse seco e o tempo fosse
favorável, queimava-se a roça. Era uma beleza ver como o
fogo levantava labaredas até a copa das mais altas árvores
que haviam ficado de pé. Depois, escolhia-se um lugar próximo a uma fonte d’água, o qual era limpo e preparado para
se construir ali uma casinha, para toda a família.
Buscavam-se moirões que eram enterrados e, depois, folhas
apropriadas de uma espécie de palmeira, para cobertura.
Logo após, faziam-se paredes com ripas amarradas com cipó,
49
as quais eram, então, cobertas com barro amassado. Em
pouco tempo, a casinha estava pronta.
O transporte, depois, dos móveis para a Colônia não era
tarefa fácil. Como o caminho do acampamento para a Colônia ainda não havia sido construído, não passando de uma
picada muito primitiva, não se podia pensar em transportar os nossos trastes em carroças ou em lombo de burro.
Tudo tinha que ser conduzido nas costas por várias horas.
Enquanto a mãe levava os filhinhos no colo, ou uma cesta
com roupa de uso, as filhas carregavam as roupas maiores
ou alguns baldes e panelas enfiados no braço, o pai e o filho
mais velho seguiam atrás carregando um pesado caixão
amarrado a um pau que levavam nos ombros. Como tudo
tinha que ser transportado dessa maneira para a Colônia
(lote), passava-se muito tempo até que o último objeto estivesse em casa.
E a família começava, então, a semear e a plantar verduras,
cereais, preparando-se para enfrentar o futuro.
Nos primeiros anos, certamente, as coisas não iam às mil
maravilhas; passava-se muita necessidade, mas depois de
algumas colheitas, tudo melhorava. Dia após dia a clareira
na mata virgem ia se alargando e tomando forma; cada vez
se plantava mais e a fartura ia se acentuando entre os moradores” 39 .
Em nova terra – Rio Sete
Na Colônia Santa Isabel, nas imediações da localidade de
Taquaras, instalados em terras em que os acidentes geográficos
abundavam e a fertilidade do solo era aquém do esperado, alguns colonos ficaram completamente desencorajados, fator que
os levou a migrar para outras terras dentro do Estado de Santa
Catarina.
Johann Karl não pensou duas vezes e saiu em busca de
novas terras, porém, de melhor qualidade, onde pudesse assentar definitivamente a sua família. Em comum acordo com sua
esposa, passou a planejar a migração da Colônia Santa Isabel,
para Vale do Capivari, exatamente no Alto-Rio Sete, hoje município de São Bonifácio-SC. Lá, o casal encontrou terras consideradas mais férteis e de melhores condições em relação às da
região de Taquaras.
50
Mas, o destino lhe pregou mais uma peça: a perda de sua
amada Maria Elisabeth. Isso dificultou a migração da Região
de Taquaras para o Vale do Capivari. Se era algo difícil de se
realizar com a ajuda de sua amada, agora, sem ela um turbilhão de problemas se projetava diante da família Beckhäuser,
quase sem solução.
Contudo, a garra do alemão Johann Karl e a ajuda da família de Miguel Kropp, seu vizinho de lote na colônia, lhe deram o apoio necessário para que um novo rumo fosse dado em
sua vida.
Muitos eram os questionamentos que o afligiam: “o que
fazer com cinco crianças menores, uma recém-nascida, sem sua
amada que o alentava nos momentos mais difíceis?” Johann Karl
Beckhäuser, sentindo a solidão e a responsabilidade de criar
estes cinco filhos menores em terras brasileiras, resolveu se casar novamente.
A solução estava a 12 lotes de distância; lá, morava a Família de Peter Schug, com uma numerosa prole. Sua preferida,
sua eleita foi outra imigrante alemã, Margareth Schug, com 20
anos de idade. Embora considerada nova ainda para receber
tamanha responsabilidade de cuidar dos cinco filhos do viúvo
Johann Karl.
Após o casamento, ele iniciou outra migração, agora para
o Vale do Capivari. Com todas as dificuldades o novo casal começou tudo de novo. Em 1868, munido de espingarda, munição, facão e da determinação que herdara de seus ascendentes
alemães, meteu-se mata-virgem a dentro, abriu picada, atravessou o morro e, depois de alguns dias, encontrou entre as
nascentes do Rio Cubatão e do rio Capivari um lugar que lhe
lembrava Birkenfeld.
Lá, construiu uma pequena cabana coberta de palha. Era
o Capivari do Meio, à margem direita. No entanto, não se estabeleceu por ali imediatamente, teve que voltar para buscar algumas ferramentas, como foice e machado, para derrubar um
pedaço daquela mata. Com sua coragem e fé em Deus, mais
uma vez, enfrentou sozinho aquela mata. Depois de queimar a
roça, iniciou sua viagem de volta para a nova casa, a pé, pela
51
segunda vez. Num cargueiro de burro, trouxe sementes de milho, batata inglesa, feijão, mudas de aipim, sementes de laranja, de bergamota, de pêssego e mudas de grama para a pastagem dos animais.
Depois de tudo plantado, construiu uma cabana maior,
fabricou uma mesa, bancos e camas de madeira bruta e os cobriu com palmito rachado. Tudo estava pronto para a recepção
da família.
Duas cestas de taquara, jacás, eram suficientes para transportar os pertences da família de Johann Karl: por baixo, a louça e panelas; por cima, os cobertores, travesseiros e lençóis; e
finalmente, por cima de tudo isso, Karl Eduard Caesar, Ana
Maria e Guilhermina, todos pequenos. E seguiam, a pé com a
nova mãe Margareth, e as duas outras filhas, Philippine e Elisabeth. Colocados os jacás no lombo de um burro, lá se foram o
pai, Johann Karl e a mãe Margareth com os filhos, a pé, mata
adentro, pela picada aberta pelo facão do pioneiro de garra.
Sem medo dos bugres e animais selvagens, dormiram duas
noites em plena mata virgem, a céu aberto.
Na época, a mata-virgem era rica em caça: pacas, tatus,
veados, jacupembas, jacus, macucos; em pesca e, também, frutos do mato: o coração do palmito substituía as verduras. A
carne fresca excedente era transformada em carne seca, o charque selvagem. Tudo isso era saboreado com o feijão, a batatinha e o aipim plantados pelo precavido pai Johann Karl.
Não estava ainda completa a mudança. Desta vez, carregou o burro com dois porquinhos, galinhas, mudas de café e de
uvas e conduziu uma vaquinha.
Nada mais faltava agora à família unida no Vale do Capivari, rodeada de bugres, animais selvagens, mas de outro lado,
da bela natureza. Tudo isso debaixo do céu azul, à noite, iluminado pelas estrelas cintilantes do Cruzeiro do Sul.
Como vimos, no Vale do Capivari, o novo casal Johann
Karl e Margareth teve cinco filhos, a saber: 1 – Bernard Peter; 2
– Johann Peter; 3 Peter; 4 – Johann; e 5– Henry.
Esta foi a saga de Johann Karl Beckhäuser.
52
Ícones da Família Beckhäuser
Adauto mostra o recipiente onde estava
e está guardada a histórica certidão de
nascimento de Karl Eduard. Fotografia
de 2006. ADAB.
Fac-símile da Certidão de nascimento
de Karl Eduard Caesar Beckhäuser.
AAFABE.
Adauto mostra o livro de orações e
o relógio de parede que herdou de
seus antepassados. Fotografia de
2006. ADAB.
53
Caminho percorrido por
Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp
Vista aéra de Hambach - Alemanha. GE.
Vista aéra de Birkenfeld - Alemanha. GE.
54
Vista aéra de Antuérpia - Bélgica. GE.
Vista aéra do Rio de Janeiro - RJ. GE.
55
Vista aéra de Florianópolis - SC. GE.
Vista aéra da localidade de Santa Isabel, em Águas Mornas - SC. GE.
56
Vista aéra do Rio Sete - São Bonifácio - SC. GE.
Vista aéra da cidade de São Martinho - SC. GE.
57
Vista aéra de Vargem do Cedro, em São Martinho - SC. GE.
Vista aéra da localidade de Vargem do Cedro, em São Martinho, onde será construído
Memorial da Família Beckhäuser. GE.
58
Vista aéra de região da Grande Florianópolis. GE.
59
Vista aéra da cidade de Armazém - SC. GE.
60
Capítulo III
Maria Elisabeth Kropp Beckhäuser
Por Adauto Beckhäuser
Os Beckhäuser no Brasil, descendentes do mesmo Johann
Karl Beckhäuser, procedem, no entanto, de duas ramificações
diferentes, ou seja, ou descendem do primeiro casamento de
Johann com Maria Elisabeth, ou do segundo daquele com Margareth Schug. E é sobre a história da esposa do primeiro casamento de Johann Beckhäuser que nos deteremos neste capítulo.
Afinal, quem eram os Kropp’s? O que se sabe sobre a família de
Maria Elisabeth?
Sobre a família Kropp, não se conhece mais do que sua
origem alemã. A Alemanha foi também o berço de Maria Elisabeth, filha de Johann Karl Kropp e de Anna Katharina Schwickert – nascida a 05 de novembro de 1815 –, de um casamento
que se concretizou em 05 de fevereiro de 1829 40 .
Os avós paternos de Maria Elisabeth chamavam-se Johann
Jakob Kropp e Susana Gündler, de Hambach; e os maternos,
Johann Nikolaus Schwichert e Elisabeth Daniel Gollenberg.
Johann Karl Kropp era o segundo filho do casal Johann
Kropp e Susanna Gündler, e teve, ao todo, seis irmãos, a saber:
1 – Maria Elisabeth Kropp – nascida a 14 de setembro de
1798, em Hambach, faleceu em 05 de novembro de 181541 ;
2 – Johann Jakob Kropp – nascido a 13 de fevereiro de
1803, em Hambach, casou-se em 01 de novembro de 1827,
40
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 151.
61
com Maria Carolina Burge 42 ;
3 – Heinrich Kropp – nascido a 02 de novembro de 1805,
em Hambach, casou-se em 02 de fevereiro de 1827, com
Elisabeth Katharina Biegel 43 ;
4 – Franz Karl Kropp – nascido a 08 de janeiro de 1810,
em Hambach, casou-se em 11 de setembro de 1831, com
Maria Katharina Elisabeth Schmidt 44 ;
5 – Johann Peter Kropp – nascido a 01 de março de 1814,
em Hambach, faleceu em 07 de maio de 1837 em Brombach 4 5 ;
6 – Maria Katharina Kropp – nascida a 11 de maio de
1816, em Hambach, casou em 04 de julho de 1837, com J.
Giebel 46 ;
Johann Karl Kropp tinha 25 anos de idade quando de seu
casamento, ao passo que sua noiva ainda estava para completar os seus 15 anos. Desta união, nasceram os seguintes filhos:
1 – Anna Maria Dorothea Kropp – nascida a 15 de novembro de 1829 e falecida em 10 de janeiro de 184647 ;
2 – Maria Elisabeth Kropp – nascida a 20 de setembro de
1834, casou-se com Johann Karl Beckhäuser no dia 31 de
maio de 1855 48 ;
3 – Johann Michael Kropp – nascido a 24 de agosto de
1838 49 ;
4 – Maria Philippina Katharina Kropp – nascida a 15 de
agosto de 1841, casou-se em 05 de maio de 1846, com Joseph Franz 50 .
Johann Karl Kropp, em homenagem a sua irmã Maria Elizabeth Kropp, nascida a 14 de setembro de 1798, em Hambach,
e falecida em 05 de novembro de 1815, deu o seu nome a sua
segunda filha.
Fato semelhante já havia acontecido anteriormente na família Beckhäuser. Com o falecimento de seu filho Johann Karl –
nascido a 12 de maio de 1813 – em 25 de abril de 1816, Heinrich
Peter Beckhäuser e Dorothea Elisabeth deram, em homenagem
ao filho falecido, o seu nome Johann Karl Beckhäuser ao quarto
filho que nascera nessa família. Este, posteriormente, se casou
62
com Maria Elisabeth Kropp em 31 de maio de 1855 e, junto com
sua incipiente família, emigrou para o Brasil.
Assim, a segunda dos quatro filhos do casal Johann Karl
Kropp e Anna Katharina Schwickert deixou sua pátria rumo a
um novo mundo.
Da Partida para o Brasil
Ao partir para o Brasil, Maria Elisabeth Kropp, deixou os
pais Johann Karl Kropp e Anna Katharina Schwickert e sua
irmã Maria Philippina Katharina Kropp. Seu irmão Johann
Michael Kropp veio para o Brasil e a outra irmã Anna Maria
Dorothea Kropp já era falecida.
Certamente, ver dois de seus filhos partirem não foi tudo
o que Johann Karl Kropp e Anna Katharina Schwickert almejaram para sua família. Sem contar que com a partida de seus
filhos, deixaram-nos também suas duas netas Philippine e Elisabeth. A tristeza não devia ser menor em relação a sua filha
Anna Maria Dorothea, que já havia falecido. Apesar disso, continuaram seus dias apenas com sua filha caçula, Maria Philippina Katharina Kropp, que não menos que seus pais sentia a
falta de tantos entes queridos lhes deixando.
Como se isso já não bastasse, ainda havia a preocupação
com Maria Elisabeth, que partiu grávida de 08 meses. Mas, ao
chegar no Brasil, ela enviou a seus pais uma cópia da certidão
do filho Carlos Eduard Caesar Beckhäuser, que nasceu a bordo
do navio de bandeira Belga de nome Caesar51 .
Ela, uma jovem com 28 anos de idade, deixa seu país em
busca de um futuro melhor para seus filhos. Empolgada pelas
propagandas do governo brasileiro e pelas facilidades que aqui
encontrariam se emigrassem, não pensou duas vezes, e concordou com seu esposo em juntar recursos necessários para emigrar para o Brasil.
O Brasil era a esperança do casal. Não esperava a jovem
esposa que sua garra deveria ser redobrada. As dificuldades
seriam muitas.
63
O primeiro passo foi o embarque mesmo, para iniciar a
travessia do oceano. Tudo indica que isso ocorreu no porto de
Antuérpia, na Bélgica. Ao embalo das ondas, em pleno Atlântico, a bordo do Cesar, nasce o terceiro filho de Maria Elisabeth e
Johann Beckhäuser: Carlos Eduard Caeser Beckhäuser. Um filho cujos pais receberam-no com muita alegria, tanto que lhe
deram o nome do primeiro filho que não passara do primeiro
dia de vida: Johann Karl. Por outro lado, agora, com um recémnascido, o cuidado era redobrado.
Após terem passado vários dias no Rio de Janeiro, deslocaram-se para Desterro-SC onde chegaram em final de julho
de 1862.
Mas não ficaram em Desterro. O casal continuou a viagem rumo à Colônia Santa Isabel, onde, na localidade de Taquaras, adquiriram um lote de terras. A família teve que lançar
mão de seus parcos recursos para a compra do lote.
A garra do casal jamais se exauriu. Com mãos sempre ao
trabalho, ergueram uma casa e organizaram as primeiras plantações. Assim que terminaram esse primeiro estágio, Maria Elisabeth ficou grávida, de cuja gestação nasceu Ana e, de outra,
no ano seguinte, Guilhermina.
Essa última gravidez significou, de um lado, a alegria de
uma nova filha e, de outro, o inesperado e triste padecimento
de Maria Elisabeth. Vítima de complicações no parto, falece aos
34 anos de idade, depois de seis anos no Brasil, deixando esposo e seis filhos, legando-lhes, antes, as sementes de seus valores
e a inevitável saudade. Seu corpo foi sepultado em local ignorado.
Mas, a vida tinha que continuar em meio a tantas adversidades. Mais do que nunca, a fé e a perseverança do imigrante
Johann foram suas aliadas para que não desanimasse em face
dessa nova dificuldade: a perda da mão amiga de Maria Elisabeth, sua grande incentivadora e companheira de todas as horas. Agora, viúvo, estava sozinho para cuidar de uma família
de seis filhos, com a filha mais nova com apenas alguns dias de
vida e a mais velha, com 11 anos de idade.
Maria Elisabeth Kropp deu o nome de Philippina a sua
primeira filha em homenagem a sua irmã mais nova que per64
maneceu na Alemanha; e, à quarta filha, deu o nome de Anna
Maria 52 , em homenagem a sua outra irmã Anna Maria Dorothea.
As sementes plantadas por Maria Elisabeth deram flores e
frutos. O pouco tempo de vida no Brasil foi suficiente para legar a todos os seus filhos a garra e os valores de uma mulher
forte e batalhadora. Uma mulher que não hesitou em renunciar
o seu próprio bem-estar para deixar uma vida melhor a seus
filhos. Mesmo que, para isso, tivesse que deixar sua pátria-mãe
e rumar a um novo mundo. Escolheu o Brasil como destino,
deixando para trás toda a sua família, a qual nunca mais tornaria a vê-la.
Mais do que um gesto, um sentimento de gratidão, orgulho e satisfação, de dimensão incomensurável, é comum entre
os descendentes de Maria Elisabeth Kropp, por ela ter escolhido o Brasil e com bravura, coragem e dedicação ter construído
neste país o berço de sua família.
De uma família de sete irmãos, Johann Karl Beckhäuser
foi o único a ter coragem de começar uma vida nova em terras
distantes, juntamente com sua esposa Maria Elisabeth Kropp e
suas duas filhas.
Johann é filho de Heinrich Beckhäuser, nascido em Hambach em 09 de julho de 1866, e de Dorothea Elisabeth Marx, de
um casamento realizado em 20 de janeiro de 1813. Os avós paternos de Johann são Franz Nikolaus Beckhäuser e Elisabeth
Werres Beckhäuser; e os maternos, Johann Nikolaus Max e Katharina Brauer.
Os filhos de Heinrich P. Beckhäuser e Dorothea Elisabeth
Marx foram os seguintes:
1 – Johann Karl Beckhäuser – nascido a 12 de maio
de 1813, faleceu no dia 25 de abril de 1816, em Hambach 53 ;
2 – Peter Beckhäuser – nascido a 23 de dezembro
de 1813, casado com Anna Marg. Ludwig 54 ;
3 – Franz Nikolaus Beckhäuser – nascido a 06 de
dezembro de 1822 55 ;
4 – Johann Karl Beckhäuser – nascido a 09 de se65
tembro de 1826 em Hambach, casou em 31 de maio
de 1855, com Maria Elisabeth Kropp 56 ;
5 – Johann Jakob Beckhäuser – nascido em Hambach, a 07 de maio de 1830, casou-se em 20 de outubro
de 1859, com Anna Maria Züscher 57 ;
6 – Maria Carolina Beckhäuser – nascida em Hambach, a 07 de agosto de 1833, faleceu em 19 de julho
de 1834 58 ;
7 – Philipp Beckhäuser – nascido em Hambach, a 11
de junho de 1855, faleceu no dia 22 de fevereiro de
1837.
Como se pode constatar através destes dados extraídos do
Documento n. 96 da Paróquia de Bierkenfeld, ao partir para o
Brasil, Johann Karl Beckhäuser deixou os pais e mais os três irmãos: Peter, Franz Nikolaus e Johann Jakob, pois os outros irmãos tinham falecido. Assim como a família Kropp, a família
Beckhäuser perdia mais um filho que partia para o Brasil, com
duas de suas netas, sem expectativa alguma de voltar a vê-los
novamente. Os abraços e acenos daquela despedida seriam únicos, jamais voltariam se repetir. Todavia, justificar-se-iam pela fé
e pela esperança de dias melhores para seu filho e netas. As dificuldades encontradas no Brasil eram pequenas em comparação
com as existentes em Bierkenfeld. No Brasil, teriam terras e bastava trabalhar, enquanto na Europa não havia esta possibilidade: a miséria e a pobreza se expandiam.
Toda essa trajetória histórica, traçada e percorrida com
confiança e coragem por Johann e Maria Elisabeth, enche de orgulho e de admiração, encoraja e anima a todos aqueles que dela
tomam parte. São sentimentos, valores, aspectos caracteriológicos que perduram por gerações, comunicadas a cada membro
que dessa família fez e faz parte. O projeto inicial de construir
uma vida com qualidade triunfou. A Família Beckhäuser se enche de orgulho quando fala de seus antepassados e de suas glórias e virtudes, que servem de exemplo e motivação. As sementes,
que Johann e Maria Elisabeth plantaram, germinaram e deram
frutos dignos de admiração.
66
Capítulo IV
Margaretha Schug Beckhäuser
Por Frei Alberto Beckhäuser, OFM
Na Família Beckhäuser no Brasil encontramos duas figuras femininas, duas mulheres que merecem a nossa atenção e a
nossa homenagem: Maria Elisabeth Kropp e Margaretha Schug.
Maria Elisabeth Kropp vem contemplada em outro capítulo nete livro.
Fui convidado a traçar o perfil de Margarida, Margareth
ou Margaretha Schug, a segunda esposa de Johann Karl Beckhäuser.
Não temos muitos dados sobre sua vida, mas o suficiente
para abordar alguns aspectos de sua vida. Para muitos descendentes de Johann Karl ela é a mãe, a avó, a bisavó, a trisavó, a
tataravó e mais ainda, ou seja, a grande mãe no sentido restrito
de genitora. Para os filhos, netos, bisnetos, trinetos, tataranetos
e mais ainda, de Maria Elisabeth Kropp ela é também, ainda
que por adoção, mas verdadeiramente mãe, avó e assim por
diante. Já diremos o porquê.
Em Margaretha Schug eu gostaria de trazer à memória
figuras femininas, sejam da Família Beckhäuser, seja de tantas
outras famílias de imigrantes alemães, italianos, poloneses e
outros que no século XIX se estabeleceram no sul do Brasil, mais
especificamente em Santa Catarina.
Diante dos sobrenomes transmitidos pelos homens, as
mulheres desaparecem em geral nas brumas da história. Importa resgatar essas figuras femininas e prestar-lhes a devida
homenagem. É uma justa homenagem àquelas que foram as
67
depositárias da vida, àquelas que sustentaram a vida de tantos
filhos, como companheiras fiéis e amorosas dos seus maridos.
Sim, as mulheres imigrantes, esposas e mães! Enfrentaram com coragem e galhardia toda espécie de obstáculos, lutaram com valentia. Participaram, ombro a ombro com seus maridos, da conquista do novo chão que foi designado para as famílias imigrantes.
Desbravaram as terras tão inóspitas das montanhas e dos
vales do Rio Cubatão, do Rio Capivari e do Rio Tubarão com
seus afluentes. Tiveram que enfrentar serpentes venenosas, feras e outras hostilidades em defesa própria e dos filhos.
Tinham que gerar um filho atrás do outro, para que a família tivesse mão-de-obra para a sobrevivência e o cultivo da
terra no meio da mata virgem. Labutavam de sol a sol em casa,
com todo o serviço do lar e na lavoura. Era cuidar das crianças,
alimentá-las, vesti-las. Cuidavam dos animais domésticos. Nesta tarefa prolongavam-se os serões e antecipavam-se ao nascer
do sol.
Quantas, assim que as condições físicas o permitiam após
mais um parto, levavam o filhinho, a filhinha, para a roça num
jacá ou em qualquer balaio e lá colocavam o bebê à sombra de
uma árvore, com perigo de ataques de insetos, répteis e animais
selvagens. Com o coração e a mente sempre atentos à criança,
dedicavam-se ao cultivo da terra. As pausas serviam não apenas para respirar e refazer as forças físicas, mas eram usadas
também para oferecer o leite aquecido ao calor do sol.
Ouvi dizer que certos colonos levavam um garrafão de
pinga para a roça para estimular e manter o ânimo do empenho no trabalho. Mesmo as mulheres participavam da bebida
estimulante, tornando-se por vezes, até dependentes da bebida. Que luta, quanto sofrimento! Contudo, não perdiam a paz,
a serenidade, a capacidade de doação e a esperança de dias
melhores. No meio de tudo isso, ainda encontravam tempo,
energia e disposição para colocar-se junto aos fogões nas cozinhas da comunidade ou de uma família para preparar a comida nas festas de casamento e em outras festas da Comunidade
para alegria de todos.
68
A mulher sempre no batente, acolhendo a vida, cuidando
da vida, sustentando a vida, tantas vezes, ameaçada pelas intempéries e por tantos outros fatores. Quantas mulheres deram
a vida na hora de dar à luz mais um filho, naquelas situações
precárias de falta de assistência à maternidade. Daí se compreendem os vários casamentos dos homens e o fato de tantas
mulheres se casarem com viúvos para acolherem e cuidarem de
seus filhos órfãos de mãe e ainda gerar outros tantos filhos, acrescidos aos filhos do primeiro ou do segundo casamento do esposo.
De onde estas mulheres tiraram tal energia, tanta força e
disposição de ânimo? Certamente na fé em Deus, na prática da
religião, na oração fervorosa e num imenso amor.
Os lugares de destaque na Comunidade eram geralmente
ocupados pelos homens: professores, dirigentes das Comunidades, negociantes. Eram eles os dirigentes do culto. Alguém saberia informar, por exemplo, quem foi a primeira mulher descendente de imigrantes ou da família Beckhäuser que foi professora?
Graças à labuta, à coragem e à dedicação total dessas heroínas em prol da vida, hoje, a situação é bem diversa e mais
favorável. Hoje, a mulher tem voz e vez na sociedade, nas diversas profissões, e mesmo na política partidária.
Infelizmente, o registro da história dos imigrantes é por
demais masculina. Creio que é tempo de resgatar a história feminina da imigração. Quem sabe, um livro traçando o perfil de
uma figura feminina em cada família de imigrantes! Quem se
habilita?
A todas essas mulheres queremos homenagear e manifestar nossa eterna gratidão pelo que foram e fizeram.
Esta homenagem desejo traduzi-la na apresentação de
uma dessas mulheres: Margaretha Schug. Que todos possam
espelhar nela tantas outras figuras femininas das diversas famílias de imigrantes.
Mas, quem foi Margaretha Schug?
Sabemos alguma coisa e, até bastante, sobre ela.
Meu pai Ernesto nos falava que sua avó era Schug. Tínha69
mos também um tio Schuch, o tio Augusto Schuch, casado com
nossa tia Joaninha, mãe da Clara, neta de Johann Beckhäuser.
Justamente, por ocasião da morte de Clara, casada com Dionísio Viero Possato, no Rio Hipólito, a figura de Margaretha apareceu mais clara.
No Registro de Casamento do meu avô datado de 1942,
Johann com Auguste Grünfeld, consta:
“Ele com 23 anos, profissão lavrador, natural deste Estado, domiciliado em Rio Novo, d/Distrito e residente no
mesmo lugar, filho de Carlos Beckhäuser, nascido em ...
domiciliado em Terezópolis e residente no mesmo lugar e
Margarida Schug, nascida em ... domiciliada em Terezópolis e residente no mesmo lugar”59 .
Portanto, minha bisavó era Margarida Schug, escrito com
“g” (Schug). Em outros documentos se escreve com “ch” (Schuch)60 . Como vimos, o Registro de Casamento não indica o lugar
de nascimento de Carlos Beckhäuser nem o de Margarida Schug.
Diante das informações acima fiquei intrigado, pois, sabia que constava na Certidão de Nascimento de Karl Eduard
Caesar que a esposa de Johann Karl era Maria Elisabeth Kropp.
Foi atrás para esclarecer a questão. Com dados fornecidos
pelos livros do historiador Toni Jochem e por Adauto Beckhäuser, pude reconstituir melhor a família do imigrante Johann Karl
Beckhäuser; ele casou por duas vezes. A primeira com Maria
Elisabeth Kropp e a segunda com Margaretha (Margarida, Margareth, Greth) Schug.
Filhos do primeiro casamento:
1 – Karl Beckhäuser (esse já havia falecido);
2 – Philippine Beckhäuser;
3 – Elisabeth Beckhäuser;
4 – Eduard Caesar Beckhäuser;
5 – Anna Maria Beckhäuser;
6 – Guilhermina Beckhäuser.
Com a morte de Maria Elisabeth Kropp, Johann Karl Beckhäuser veio a se casar com Margareth Schug, com quem teve
59
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 152.
70
05 filhos:
1 – Bernard Peter Beckhäuser;
2 – Johann Peter Beckhäuser;
3 – Peter Beckhäuser;
4 – Johann Beckhäuser;
5 – Heirinch Beckhäuser.
A partir desses dados acima expostos recentemente escrevi:
“No mesmo dia 08 de junho de 1870, era batizado Bernard
Peter Beckhäuser, nascido aos 16 de abril de 1870, sendo
os pais Carl Beckhäuser e Margaretha Schuch, no Capivari.
Portanto, em 1870, Margarida ou Margaretha já é casada
com Karl Beckhäuser. Deve, pois, ter casado em 1868 ou
1869.
Aos 08 de agosto de 1871, é batizado Johann Peter Beckhäuser, nascido aos 16 de agosto de 1871, em São BonifácioCapivari, sendo avós maternos Peter Schuch e Elisabeth
Hehn. Na Certidão de Casamento de Johann Peter Beckhäuser, consta que ele nasceu e foi batizado em Rio Sete. Estes
dados mostram novamente que Johann Karl deve ter ficado
viúvo entre 1866 e 1868.
Aos 04 de julho de 1872, vemos mais uma vez Carl Beckhäuser e Christina Speck sendo padrinhos em Capivari,
de Christina Steiner, nascida aos 10 de setembro de 1871.
Aos 18 de março de 1873 (as anotações pessoais de Johann
dão o dia 19 de março; o que pode ser um lapso de memória), nasce Johann Beckhäuser, filho de Carl Beckhäuser e
Margaretha Schuch, e é batizado no Capivari pelo Pe. (Guilherme) Roer61 , aos 31 de agosto de 1873.
Aos 14 de outubro de 1874, Carl Beckhäuser e Margaretha
Beckhäuser são padrinhos de Carl Buchner, em São Martinho do Capivari.
Aos 09 de abril e 1875, nasce Heinrich Beckhäuser, filho de
Carl Beckhäuser e Margaretha Schuch, sendo batizado aos
04 de maio de 1875, em São Bonifácio-Capivari pelo Pe.
Roer.
É praticamente provado que, em 1868, Johann Karl se deslocou para o Rio Sete, Alto Capivari, São Bonifácio, onde
nasceram os filhos do casamento com Margaretha Schug”62 .
Como vimos, Margareth Schug deve ter-se casado com
Johann Karl em 1868 ou 1869. Jovem ainda assumiu os quatro
71
ou cinco filhos de Johann Karl (a questão da Guilhermina, não
está totalmente esclarecida 63 ) e os quatro filhos dela com Johann Karl: Bernard, Peter, Johann e Heinrich. Meu pai dizia
que a família do meu avô eram em oito irmãos. Estaria novamente excluída a tal Guilhermina.
No meio da luta pela criação dos filhos, parece que bastante cedo faleceu seu marido Johann Karl Beckhäuser. A Certidão de Óbito de Margarida Schug, porém, traz algumas luzes
sobre o assunto.
Eis o teor da referida Certidão:
“Aos cinco dias do
mês de julho de mil
e novecentos e treze nesta Freguezia
de Theresoplis,
Comarca de Palhoça, Estado de Santa Catharina, em
meu cartório compareceo o cidadão
João Heikes e em
presença das testemunhas Augusto
Schauffler e José
Sobatta declarou
que no Rio Sete, no
dia dois do corrente mez, as cinco
horas da tarde falleceo MARGARIDA SCHUG, viúva de João Carlos
Beckhauser e casada em segundas
núpcias com João
Heikes, com sessenta e cinco annos
de idade, natural
da Allemanha, deixando os seguintes
herdeiros: Bernardo Beckhauser com
Certidão de óbito de Margarida Schug.
72
quarenta e três annos de idade; Pedro Beckhauser com quarenta e um annos de idade; João Beckhauser com quarenta
annos de idade; e Antonia Heikes com vinte e sete annos de
idade, casada com Pedro Scheidt. A finada deixou bens para
arrolamento. A doença foi hydropesia e finalmente o cadáver foi sepultado no Cemitério Protestante de Rio Sete. Do
que para constar, lavro este termo, que assigno com todos.
Eu, Carlos Schmidt, Official interino o escrevi. (Assinados)
o Oficial Carlos Schmidt, João Heikes, Augusto Schauffler
e José Sobatta. O referido é verdade e dou fé. Águas Mornas, 29 de maio de 2006. Claudinei Lehmkuhl. Oficial do
Registro Civil”64 .
Algumas constatações e/ou observações extraídas ca certidão acima:
Se Margaretha faleceu em 1913, aos 65 anos de idade,
então ela nasceu em 1948. Consta que nasceu na Alemanha,
sem se mencionar a cidade. Seus pais eram Peter Schug e Elisabeth Hehn. Terá casado com Johann Karl com em torno dos 20
anos, como já disse entre 1866 e 1968. Os filhos nasceram a
partir de 1870. Mas, quando é que ela terá enviuvado e casado
com João Heikes? Antônia Heikes consta entre os herdeiros?
Teria sido sua filha do casamento com João Heikes? Tudo indica que sim. Percebe´se também que Heinrich não consta entre
os herdeiros. Por que será? João Heikes seria luterano para que
Margaretha fosse sepultada no Cemitério dos protestantes? As
pesquisas de Adauto Beckhäuser na Paróquia Luterana de Santa Isabel, em Águas Mornas-SC, resultou na localização da certidão de casamento de Margaretha Beckhäuser 65 com Johann
Heikes no dia 07 de agosto de 1877, na comunidade evangélica
do Rio Sete do Capivari, em São Bonifácio-SC. Portanto, Johann
Karl Beckhäuser terá falecido em 1876, ou até um pouco antes,
lembrando que seu filho Heinrich nasceu em 1875.
Continua misterioso o final da vida de Johann Karl: Quando mesmo terá falecido, onde foi sepultado? A data mais provável do seu falecimento é o ano de 1876. Portanto, a trajetória
de Johann Karl no Brasil durou apenas 14 ou 15 anos no Brasil.
Tenho a impressão de que a partir do fato de que Margaretha tenha enviuvado e casado novamente, criaram-se dificuldades na nova família. Imaginem esta jovem mãe com todos os
filhos do primeiro casamento de Johann Karl com Maria Elisa73
beth Kropp e mais quatro filhos homens, sendo que o mais novo,
o Heinrich, talvez recém-nascido! Não estaria aí o motivo da
dispersão dos filhos? Sabe-se que os filhos e filhas de Johann
Karl com Maria Elisabeth Kropp se estabeleceram em regiões
vizinhas, ao passo que os filhos do segundo casamento de Johann Karl com Margaretha Schug muito cedo se dispersaram.
Este foi o caso do meu avô Johann que partiu para Rio Novo, no
então distrito de Orleans, e depois se estabeleceu em Rio Hipólito, no mesmo distrito; o Heinrich, filho mais novo, terá “fugido” para o Rio Grande do Sul, não dando mais notícias de si e
sendo assim excluído dos herdeiros? Seria essa a razão por que
Peter migrou para Urubici? São conjeturas, mas creio que fundadas.
74
Capítulo V
A Família Beckhausen
no Rio Grande do Sul
Por Juliana Beckhausen e
Adauto Beckhauser
São poucos os Beckhausen no Rio
Grande do Sul. A maioria reside na região
de Porto Alegre. Não se sabe o porquê da
alternância entre a grafia do sobrenome,
com “n” ou com “r”. Esse aspecto, para
ser desvelado, deve ser estudado mais a
fundo, com uma pesquisa histórica mais
ampla. Sabe-se que uma família de imigrantes alemães com o sobrenome Beckhäuser, com “r”, se estabeleceu no séJuliana Marques
Beckhäusen.Fotografia de
culo XIX, no Estado de Santa Catarina.
2006. AJMB.
Tudo indica que as duas famílias descendem do mesmo ramo. No entanto, não se dispõe de informações históricas confiáveis capazes de confirmar nossa suposição.
A família Beckhausen se estabeleceu no Rio Grande do Sul
há aproximados cem anos, pelo menos. O primeiro nome que se
tem conhecimento é o de Júlio José Beckhausen que, juntamente
com Eduwirge Zeimann, teve um filho, Júlio Beckhausen. Júlio
nasceu no dia 15 de abril de 1912, em Porto Alegre-RS. Era casado com Iara Gelain Beckhausen e ocupou o posto de coronel
da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Ele faleceu no dia 26 de
setembro de 1982, com 72 anos de idade, vítima de parada cardí75
aca 66 . Seu corpo foi sepultado no
cemitério São Miguel e Almas, sepultura n. 935, em Porto Alegre-RS.
Iara nasceu em 02 de abril de
1923; era filha de Egildo Gelain e
de Doralina Zeimann. Durante
muitos anos trabalhou como professora de piano. Faleceu no dia 07
Iara Gelain Beckhäusen e o neto Bernardo Marques Beckhäusen. Fotografia de outubro de 2006, vítima de
de 30 de setembro de 2006. AJMB.
pneumonia 67 . Seu corpo foi sepultado no mesmo cemitério e na
mesma sepultura de Júlio Beckhausen.
O casal Júlio e Iara teve dois filhos: Júlio César Gelain Beckhausen (¤08/09/1944) e Maria Augusta Beckhausen (¤01/
03/1963). O primeiro casou-se com Denise Grace Beckhausen;
ele era viajante, trabalhava com vendas; hoje está aposentado.
A segunda filha, Maria Augusta
Gelain Beckhausen, era nutricionista e solteira.
Júlio Gelain Beckhausen casou-se duas vezes. No primeiro casamento com Denise Grace Beckhausen, teve seu primeiro filho,
Júlio César Gelain Beckhausen Júnior, criado por sua avó, Iara, des- Júlio César Gelaim Beckhäusen Jr.,
de garoto, hoje é formado em Rela- Júlio César Beckhäusen e um amigo .
Fotografia de 2006. AJMB.
ções Públicas. Em segundas núpcias, contraiu matrimônio com Ana
Maria Marques, do qual nasceram
três filhos, a saber:
1. Leonardo Marques Beckhausen (¤12/01/1982);
2. Juliana Marques Beckhausen (¤22/09/1983);
3. Bernardo Marques Be- Juliana Marques Beckhäusen e o filho
Lucas. Fotografia de 2006. AJMB.
ckhausen (¤07/03/1987).
66
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 152.
76
Após alguns anos do nascimento do último filho, Júlio e
Ana Maria se separam.
Leonardo tornou-se atleta de ginástica olímpica no GNU
em Porto Alegre. Bernardo tonou-se atleta de ginástica de trampolim da ULBRA,
em Canoas. Hoje, Leonardo trabalha no Circo
Vargas, fazendo faixa e
Bernardo, no Circo do
Beto Carrero World,
como trapezista. Leonardo e Bernardo são
solteiros. J u l i a n a , p o r
sua vez, teve um filho
Juliana Marques Beckhäusen e
com Rogério Innocen- o noivo Alexander Dubreucq.
Juliana Marques
t i P e r e i r a , c h a m a d o Fotografia de 2006. AJMB.
Beckhausen.
Fotografia de 2006. Lucas Beckhausen InAJMB.
nocenti (¤30/01/2004).
Juliana, ao visitar um de seus irmãos no circo, conheceu
Alexander Dubreucq (argentino, com residência em Buenos
Aires). Hoje, estão noivos, motivo que a levou a decidir-se por
mudar para a Argentina.
No dia 30 de setembro de 2006, pela manhã, Adauto ligou para Júlio César Gelain Beckhausen, em Porto Alegre, para
conseguir informações que detalhassem melhor a história de seus
familiares. Quando atendeu, Júlio César se encontrava no hospital com sua mãe Iara Gelain Beckhausen. Passou o
telefone para ela que, numa conversa muito animada, disse que
deixaria o hospital na segunda-feira, motivo pelo qual não poderia participar do encontro da família em Florianópolis. Apesar disso, desejou sucesso e mandou um grande abraço a todos
da familia. Dispôs-se, ainda, a participar do próximo encontro.
No sábado seguinte, no entanto, o seu quadro se agravou e ela
veio a falecer.
Além desta família de Beckhausen, temos Jonas
Beckhausen, primo de Júlio César Gelain Beckhausen.
Dr. Marcelo Viega Beckhausen, procurador da República
77
no Rio Grande do Sul, prontificou-se a fornecer mais
dados históricos da família, mais dos quais busca conseguir junto
à Cúria Metropolitana em Porto Alegre.
Júlio José Beckhausen e Eduwirge Zeimann tiveram outro
filho de nome José Beckhausen. Este, por sua vez, teve um filho
chamado Jonas Beckhausen, que se casou com Lia Veiga Beckhausen, nascida em 13 de setembro de 1930, e com ela teve
dois filhos: Márcio e Marcelo.
1. Márcio Viega Beckhausen – nascido a 24 de dezembro
1967, casado com Sandra Mara Raupp Beckhausen, nascida
a 31 de março de 1972. O casal Márcio e Sandra tem um filho:
Matheus Raupp Beckhausen, nascido em 29 de março de 2002.
2. Marcelo Viega Beckhausen – nascido em 27 de julho de
1969, casado com Caroline Härter Beckhausen, nascida em 07
de março de 1981.
Na busca de mais informações sobre a Família Beckhausen no Rio Grande do Sul, Laércio consultou José Jones Beckhausen, segundo o qual, havia um tio, José Antunes da Silva, que
também foi militar da Brigada Gaúcha. Ele reside em Porto Alegre-RS e tem 85 anos de idade. Havia ainda mais um Beckhausen denominado Gottlieb Beckhausen, que
era coronel da Brigada Gaúcha.
Na época, José Antunes era
soldado e não tinha muito contato
com seus oficiais superiores. O regime militar não permitia “muita
aproximação” e, por isso, não sabia
de dados mais exatos. Mas foi colega de farda do filho de Júlio e se colocou à disposição para que possamos tomar todas as informações nos Leonardo Marques Beckhausen. Fotografia de 2005. AJMB.
arquivos daquela corporação militar. Todavia, um incêndio no prédio onde funcionava a Polícia Militar talvez tenha queimado
estes arquivos.
78
Capítulo VI
Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld
e Descendentes
Por Frei Alberto Beckhäuser, OFM
Johann Beckhäuser ou, simplesmente, João Beckhäuser é
o terceiro filho nascido do segundo casamento de Johann Karl
com Margareth Schug, sendo os dois primeiros Bernard e Peter,
e Heinrich, o último.
Meu avô Johann nasceu aos 18 de março de 1873, ao que
tudo indica, em Rio Sete, sendo batizado em Capivari por Pe.
Guilherme Röer, aos 31 de agosto de 1873 68 . Pe. Röer trabalhava na Paróquia Santa Teresa d’Ávila, de Teresópolis.
João Beckhäuser nasceu em Rio Sete do Alto Capivari,
para onde, de Taquaras, havia se transferido seu pai Johann
Karl com a família.
Agricultor de profissão, encontra-se muito cedo em Rio
Novo, naquele tempo, distrito de Orleans, onde, com 23 anos
de idade, se casou com Auguste Grünfeld, ela com apenas 17
anos. Rio Novo era uma colônia de letos ou letões, emigrantes
da Letônia.
A certidão de casamento civil de João Beckhäuser fornece
dados interessantes sobre o:
“assento do matrimônio de Johann Beckhäuser e Augusta
Grünfeld, contraído perante o Juiz de Paz Galdino Fernandes Guedes e as testemunhas Frederico Guckest e João
Schug.
68
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 152.
79
Ele com 23 anos, profissão lavrador, natural deste Estado,
domiciliado em Rio Novo, d/Distrito e residente no mesmo lugar, filho de Carlos Beckhäuser, nascido em... domiciliado em
Teresópolis e residente no mesmo lugar e Margarida Schug,
nascida em... domiciliada em Teresópolis e residente no mesmo
lugar.
Ela com 17 anos, natural da Rússia, profissão... domiciliada em Rio Novo, d/Distrito, filha de Hans Grünfeld, nascido em... domiciliado em Rio Novo, deste Distrito e residente no mesmo lugar, e Augusta Grünfeld, nascida em... domiciliada em Rio Novo, deste Distrito e residente no mesmo lugar, a qual passa a assinar-se... Foram apresentados
os documentos a que se refere o art. 180 ns... do Código
Civil. Observação: O Casamento foi realizado em 5 de Dezembro de 1896. O referido é verdade e dou fé. Orleans, 24
de agosto de 1942. Emone Mattei. Oficial de Registro Civil” 69 .
Era jovem independente e de vida um tanto boêmia. Fator
contribuinte para esse tipo de conduta, muito provavelmente,
tenha sido a falta prematura do pai, de forma que sua mãe,
viúva, teve de incumbir-se do cuidado dos seis filhos do casamento de Johann Karl com Maria Elisabeth Kropp e dos quatro
meninos de seu casamento com Johann Karl. As pesquisas de
Adauto Beckhäuser em Santa Isabel apresentam a certidão de
casamento de Margareth Beckhäuser, viúva de Johann Karl
Beckhäuser, com Johann Heikes no dia 07 de agosto de 1877,
na comunidade evangélica de Rio Sete do Capivari, São Bonifácio-SC. Portanto, Johann Karl Beckhäuser teria falecido em 1876,
ou até um pouco antes, lembrando que o filho Heinrich nasceu
em 1875. O novo casamento de Margareth Schug com Johann
Heikes na comunidade evangélica de Rio Sete do Capivari, faz
supor que Johann Heikes era evangélico, e por isso, Margareth
Schug teria sido sepultada também no cemitério evangélico de
Rio Sete, conforme sua Certidão de Óbito70 . Nesse momento, os
filhos de Joahnn Karl do primeiro casamento já passavam por
uma segunda reconstrução dos papéis dentro da família. Com
tantas variações, também em âmbito religioso, a dispersão dos
filhos de Joahnn Karl Beckhäuser foi inevitável.
Johann Beckhäuser era um homem inquieto e um tanto
aventureiro. Muito cedo se encontra em Rio Novo. Também ele
80
se casou com uma pessoa de outra denominação religiosa, o
que não era muito comum na época, isto é, com uma batista
leta, de Rio Novo, o que parece tê-lo afastado ainda mais da
família. Em 1903, já o vemos em Gravatal, onde nasceu o nosso
pai Ernesto. Por causa da diferença de religião dos pais, os filhos não eram batizados enquanto crianças, deviam escolher
sua religião quando chegassem à idade adulta.
A vida de Johann Beckhäuser, durante a infância e a adolescência dos filhos, se movimenta pelo Vale dos rios Capivari e
Tubarão, pelas localidades de Rio Novo, Rio Sete, Gravatal,
Guarda, Orleans, Guatá, Grão-Pará e Rio Hipólito. Não sabemos como, mas João Beckhäuser tornou-se agrimensor e fez parte
da Equipe de Agrimensura das Companhias de Colonização do
Sul de Santa Catarina. Há grande probabilidade de ter trabalhado na Companhia Colonizadora Grão-Pará, pois a região de
Orleans, entre as Termas do Gravatal e a Serra do Rio do Rastro, era um lote de terras com o que o então imperador Dom
Pedro II decidiu presentear o marido de sua filha, a princesa
Isabel, o Conde D’Eu. Ali, em 1884, foi fundada a colônia que
recebeu o nome de Orleans, com o nome da cidade francesa,
berço natal do conde D’Eu.
Depois de morar em vários lugares, João estabeleceu-se
em Rio Hipólito, próximo a Orleans, nos costões da Serra do
Mar. Com seu grupo de trabalho, João Beckhäuser realizava
verdadeiras expedições para abrir picadas e estabelecer extremas em densas florestas, enfrentando as intempéries, além dos
índios e das feras.
Numa dessas expedições, por volta dos anos 1920, quando participava de um trabalho de delimitação de terras perto
de Araranguá, foi atingido na perna por um galho de árvore.
Fraturou-a gravemente. Imediatamente, levaram-no de maca
até Forquilhinha, à casa de Augusto Arns, cuja esposa Anna
May era sua sobrinha, filha de Philippine Beckhäuser May. A
família em Rio Hipólito foi avisada. A convalescença demorou.
Para pagar os gastos com o tratamento e estadia de Johann em
Forquilhinha, Ernesto Luiz, como fora registrado ao nascer, foi
para lá.
81
Curada a fratura, aliás, duas na mesma tíbia, João Beckhäuser voltou para Rio Hipólito, enquanto Ernesto permaneceu em Forquilhinha, afastando-se também ele da família, procurando novos caminhos em sua vida.
Nós, netos, tivemos pouco contato com nosso avô João
Beckhäuser. Papai o visitava com certa freqüência, fazendo o
trajeto de 80 km a cavalo ou de aranha. Aos 09 de outubro de
1945, falecia nossa avó Augusta Grünfeld Beckhäuser, em Rio
Hipólito.
Em 1946, meu avô Beckhäuser manifestou o desejo de
passar seus últimos dias com o filho Ernesto, em Sanga do Coqueiro Baixo, Capela de Santa Teresinha, na Paróquia de Forquilhinha, distrito, então, pertencente ao município de Criciúma. Participando de uma missão pregada por Frei João Bosco
Erdrich em 1947, na Capela Santa Teresinha, aproximou-se
novamente da prática da religião católica. Ele veio a falecer aos
29 de janeiro de 1952, e foi sepultado no Cemitério da Comunidade de Santa Teresinha, em Sanga do Coqueiro Baixo. Seus
restos mortais foram transladados para Forquilhinha, onde jaz
na mesma sepultura de nossos pais.
Auguste Grünfeld
Não a conheci pessoalmente. Não se sabe muito sobre os
Grünfeld. Conforme a Certidão de Casamento, a noiva de Johann era nascida na Rússia. De fato, trata-se da Letônia, na
época sob o regime do Império Russo.
Auguste nasceu na Letônia aos 15 de junho de 1879, e
faleceu em Rio Hipólito (Orleans), aos 09 de outubro de 1945.
Seu pai Hans Grünfeld, casado com Auguste Sakalovski, era
natural de Champeter, um lugarejo perto de Riga, hoje, um
bairro de Riga, capital da Letônia. Veio para o Brasil em 1891.
Parece que, após breve estadia em Rio do Sul-SC, a família se
estabeleceu na colônia leta de Rio Novo, perto de Orleans. Hans
Grünfeld e Auguste Sakalovski vieram com três filhos: Auguste, com 12 anos; Adolf, com 09 anos; e Marta, com 07 anos.
Auguste Sakalovski, nascida em 22 de abril de 1855, morreu aos
82
09 de junho de 1941. Lembro-me de que meu pai recebeu um
telegrama com a notícia da morte de nossa bisavó Auguste. Hans
Grünfeld morrera dois anos depois de ter chegado a Rio Novo.
Não é se sabe ao certo se a família Sakalovski era de origem polonesa ou de origem russa. A maior probabilidade é de
que fosse de origem russa. Sabemos que a Letônia através da
história esteve sob vários domínios: da Rússia, da Polônia e da
Alemanha. Meu pai contou-nos que os Sakalovski tinham um
título de nobreza: Von Sakalovski. Família com propriedades,
certamente aos poucos foi empobrecendo. O mais provável é
que os Grünfeld e os Sakalovski tivessem relação com os alemães. Pois, Grünfeld é nome que se deriva do alemão. Há algum tempo eu nutria o desejo de visitar a Letônia. Tive esse
prazer agora em minha estadia na Europa de fevereiro a julho
de 2006. Visitei Riga, a belíssima capital da Letônia, agora novamente país independente. Fiz a agradável experiência de sentir os ares de Champeter, um vilarejo perto de Riga, que, hoje, é
um bairro industrial perto do aeroporto da cidade de Riga.
Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld tiveram os seguintes filhos:
1. Fernando – nascido a 12 de janeiro de 1898, casado com Maria Nazário;
2. Alvina – nascida a 22 de agosto de 1899, casada
com Paul Hibert;
3. Clara Joanna – nascida a 17 de maio de 1901, casada com Augusto Schuch;
4. Ernesto – nascido a 16 de outubro de 1903, casado com Helena Hoepers;
5. Adolfo – nascido a 20 de setembro de 1905, casado com Hulda Dorfmüller;
6. Härta – nascida a 26 de julho de 1907, casada com
Rudolfo Felsberg;
7. Verônica – nascida a 19 de junho de 1908 e falecida aos 19 de fevereiro de 1909;
8. Reinoldo – nascido a 04 de fevereiro de 1911, casado com Lídia Cleta Bainha.
83
Ernesto Beckhäuser
Ernesto foi o quarto filho de Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld. Nasceu aos 16 de outubro de 1903, em Gravatal,
(então, Gravatá) no vale do Baixo-Capivari, uma Freguesia de
origem luso-açoriana. Recebeu o nome Ernesto Luiz. Pelo fato
de sua mãe ser de religião batista leta, Ernesto, como seus irmãos e irmãs, não foi batizado quando criança.
Passou a infância, a adolescência e parte da juventude entre
as localidades de Gravatal, Rio Sete, São Martinho do Capivari,
Guarda, Guatá, Grão-Pará, Orleans, Rio Hipólito e Praia Redonda, hoje, São Martinho. Ele conhecia aquelas redondezas
como a palma da mão.
Freqüentou a Escola Primária de São Martinho do Capivari. Teve aulas com o professor João Hoepers, tio de sua futura
esposa Helena Hoepers. Mais tarde, ele freqüentou a escola de
Rio Sete.
Diz-se que Ernesto levava uma vida alegre e cheia de inocentes travessuras, além, é claro, de se dedicar ao trabalho.
Enquanto parava em Rio Sete, ajudava uma família que lá possuía uma “venda”, a entregar produtos diversos, em geral, a
cavalo. Gostava de festas, de montar cavalos não muito mansos
e com eles atravessar rios cheios a nado.
Por volta de seus 15 anos, fixou-se com a família em Rio
Hipólito, perto de Orleans. Nesta idade trabalhava com a família na agricultura. Por este tempo, quando na derrubada da mata,
isto é, preparando uma coivara, caiu-lhe uma resina venenosa
no olho direito, o que fez com que perdesse parcialmente a vista.
Com quase 18 anos, em 1921, foi enviado a Forquilhinha,
Criciúma, para trabalhar para Augusto Arns. Ernesto gostou
de Forquilhinha e de sua gente, de modo a não retornar para
entre os seus familiares. A família Johann Beckhäuser, e depois,
a de Ernesto, tomaram um rumo próprio no conjunto dos descendentes de Johann Karl.
Ernesto, porém, não podia permanecer de braços cruza84
dos. Morando em casa de Augusto Arns, começou a trabalhar
no negócio de Gabriel Arns, puxando frete entre Forquilhinha e
Criciúma, a aproximados 15 km de Forquilhinha. Eram latas de
banha e outros produtos que ele levava de carro de boi até Criciúma. Devido ao péssimo estado das estradas, muitas vezes
ficava atolado. Após dois anos, transferiu-se para a casa de
Carlos Kühlkamp, seu primo – filho de Maria Beckhäuser
Kühlkamp – a quem ele considerava como segundo pai e a quem
se referia sempre com profunda reverência e gratidão, o que
exigia também de nós, seus filhos.
Já na casa de Carlos Kühlkamp, iniciou-se o namoro com
Helena Hoepers, nossa mãe. No convívio com as famílias de
profunda prática cristã católica de Forquilhinha, Ernesto preparou-se para o batismo, que lhe foi ministrado naquela cidade. Seu batismo, muito consciente, foi no dia 10 de agosto de
1924. A partir daí adotou simplesmente o nome de Ernesto, sem
o segundo nome Luiz. Seus padrinhos foram Augusto Arns e
Anna May, que o tinham acolhido juntamente com seu pai em
Forquilhinha.
Em 1926, Ernesto foi convocado para o serviço militar. É
um capítulo extraordinário e glorioso em sua vida, que lhe valeu muitas lutas, sofrimentos e vantagens no transcurso de sua
vida após o serviço militar. Não foi um simples soldado, que
tenha prestado serviço militar normal para os jovens de seu tempo. Oito dos 14 meses de serviço esteve em campanha militar,
nos difíceis anos da afirmação da democracia da República Brasileira. O Brasil se confrontava com levantes contra o Poder
Central dominado pelas oligarquias. A revolta do General Isidoro em São Paulo recebeu o apoio da Coluna Prestes do Rio
Grande do Sul. Foi neste contexto que Ernesto teve de servir o
Exército.
Serviu no quartel de Joinville, incorporado no dia 12 de
maio de 1926, e despedindo-se dele em 14 de julho de 1927.
Não foram tempos fáceis. Em sua Caderneta Militar, transcrita
no livro Ernesto Beckhäuser, a Vida de um Homem Honrado,
temos como que o diário de campanha. Em resumo, eis alguns
tópicos:
85
A 03 de julho de 1926, seguiu com a Companhia e acampou no Quilômetro 04, da estrada Dona Francisca, onde a Companhia realizou diversos exercícios de campanha. De Joinville
partiam as tropas transportadas em caminhões, de trem ou
muitas vezes em marcha. Consta da Caderneta: de Joinville para
São Francisco do Sul. Daí para Curitiba, Porto União e Palmas.
De volta para Porto União e Herval. De Herval para Jaraguá.
De Jaraguá para Altona e subida até Rio do Sul, onde tomaram
posição. De Rio do Sul, marcharam de regresso a Joinville. A 28
de março de 1927, parte com o efetivo rumo a Guaíra. Nesta
campanha, passou novamente por Curitiba, Sorocaba, Bauru,
até Porto Epitácio e Guaíra, onde a 15 de julho de 1927 foi excluído do estado efetivo do Batalhão e da Companhia por conclusão de tempo. Todo esse tempo e a forma como se dedicou
ao serviço militar fizeram-no merecer o reconhecimento de reservista de 1ª categoria.
Ernesto foi, sem dúvida, um grande soldado. Contou-nos
que, no esporte, foi campeão em lançamento de disco. Aprendeu muitas coisas que lhe foram de grande utilidade ao longo
dos anos. Aprendeu desde a cozinhar até as técnicas de primeiros socorros. Foram longas marchas, noites ao relento, viagens
de trem e com caminhões por péssimas estradas. Chegou a contrair malária, doença que deixou reflexos em sua saúde.
Tendo, finalmente, recebido alta em Porto Guaíra, Ernesto voltou para Forquilhinha. É recebido e admirado por todos
como herói. Era visto como um ser superior, um ídolo da juventude, como diriam hoje. Em Forquilhinha, reencontrou sua
amada Helena com quem continuou o namoro.
Era tempo de se preparar para o casamento. Aí, estabeleceu-se novamente na casa de Carlos Kühlkamp, passava a maior parte do tempo na Sanga do Coqueiro Baixo, onde adquirira
um terreno, levantando a casa e preparando a terra para a lavoura. Quase tudo era floresta em sua propriedade. Dela, derrubou algumas árvores e as toras eram arrastadas em carretão
puxado por bois. Com a ajuda dos vizinhos, as tábuas para a
casa foram sendo cerradas. Levantou um estaleiro. Erguia-se a
tora sobre ele e começava o trabalho. Um homem em cima e
outro embaixo, puxando a cerra, transformavam toras em tá86
buas. Gastava-se muito tempo, suor e energia eram despendidos até que surgisse uma tábua. E não eram poucas as necessárias para a construção da casa. Finalmente a casa ficou pronta
e as roças preparadas. Realizou-se então o casamento em Forquilhinha, aos 19 de setembro de 1928.
Helena Hoepers
Aqui vem, a propósito, uma informação sobre a Família
Hoepers e, particularmente, sobre Helena, nossa mãe. Não seria difícil apresentar uma grande árvore genealógica da Família Hoepers, natural de Oeding, na Westfália, cidadezinha próxima da fronteira da Alemanha com a Holanda. Em 1966, copiei uma apostila sobre a “Família Hoepers em Oeding”. A primeira referência é de Johann Hoepers, casado aos 30 de junho
de 1681, com Gertrud Flaskamp.
Mais adiante, para encurtar o caminho, temos:
Gerhard Heinrich Hoepers (Weber = tecelão), nascido aos
13 de fevereiro de 1820 e casado aos 09 de junho de 1846, com
Anna Catharina Speckinn.
Filhos:
1. Johann Wilhelm – nascido a 10 de janeiro de 1848;
2. Bernard Heinrich – nascido a 07 de outubro de 1849;
3. Franz Ferdinand – nascido a 12 de setembro de 1851;
4. Catharina Elisabeth Ges – nascida a 17 de maio de
1853;
5. Johann Heinrich – nascido a 16 de dezembro de 1855;
6. Anna Christina – nascida a 03 de abril de 1858.
E consta a observação: Toda a família, em 1862, foi para o
Brasil.
Nosso bisavô Johann Heinrich Hoepers tinha a idade de
07 anos quando naquele ano chegou ao Brasil com sua família.
Johann Heinrich Hoepers casou-se com Catarina Arns:
87
Filhos:
1. João – casado com Helena Westrup;
2. Maria – casada com João Preis;
3. Evaldo – casado com Elisabeth Sehnem;
4. Carolina – casada com José Sehnem;
5. Edmundo – casado com Gertrudes Eyng;
6. Ana – casada com Antônio Eyng;
7. Clara – casada com Antônio Herdt;
8. Juliana – casada com José Eyng, e, em segundo casamento, com Henrique Back;
9. Francisco – casado com Maria Back;
10. Leonardo – após os votos passou a se chamar Frei
Mateus.
Evaldo Hoepers, casado com Elisabeth Sehnem, teve os
seguintes filhos:
1. Maria – casada com Augusto Loch;
2. Helena – casada com Ernesto Beckhäuser;
3. Lúcia – casada com Augusto Ricken;
4. Sebastião – casado com Emília Fritzen e, em segundo
casamento, com Lúcia Kalfers;
5. Ágata – falecida quando criança;
6. Otto – falecido quando criança;
7. Apolônia – casada com Adílio Miranda.
Helena Hoepers Beckhäuser nasceu aos 02 de novembro de 1907 em São Martinho do Capivari ou Alto São Martinho. Em 2007, a família de Ernesto Beckhäuser vai celebrar o
centenário de nascimento de nossa falecida mãe e está preparando um livro sobre Helena Hoepers Beckhäuser, Nossa Mãe,
onde sua vida será relatada com maiores detalhes.
Resumidamente, Helena freqüentou a escola de São Martinho do Capivari e, em 1917, portanto, com dez anos, seguiu
com a família para Forquilhinha. A família de Evaldo Hoepers
estabeleceu-se perto da casa de Gabriel Arns, que depois foi de
Augusto Arns. Em Forquilhinha, ela continuou a freqüentar a
88
escola paroquial e ajudou a carregar tijolos para a construção
da Capela Sagrado Coração de Jesus. Participou também do
coral da comunidade. Foi lá também que ela conheceu Ernesto,
do qual tornou-se esposa e companheira dedicada e fiel por toda
a vida.
Ernesto e Helena
Depois do casamento, Ernesto e Helena foram morar na
pequena Freguesia da Sanga do Coqueiro Baixo, que, naquele
tempo, ainda pertencente ao Município de Araranguá, a 10 km
de Forquilhinha. Freqüentavam, entretanto, a comunidade de
Forquilhinha, uma colônia alemã, onde nosso avô Evaldo Hoepers foi um dos pioneiros.
A Sanga do Coqueiro Baixo também organizou uma comunidade religiosa e civil. Construiu uma escola-capela, onde
Ernesto se tornou um dos líderes, sobretudo no campo da saúde e do ensino. Em 1935, foi inaugurada a Escola Mista Municipal de Sanga do Coqueiro Baixo, servindo ao mesmo tempo de
capela, tendo como padroeira Santa Teresinha. Por isso, o lugar hoje é mais conhecido como Santa Teresinha. Ernesto foi
nomeado Delegado Escolar pelo então Prefeito de Criciúma,
Elias Angeloni. A Escola teve como primeiro presidente, Ernesto Beckhäuser, que exerceu a função de Delegado Escolar, eleito pela Comunidade até 1943.
Ernesto e Helena moraram na primeira propriedade de
1928 a 1940, com exceção de dois anos em que voltaram a morar com os pais de Helena em Forquilhinha. Pois, devido a um
sério problema de saúde de Helena, que exigiu volumosos gastos com saúde, Ernesto teve que se desfazer da propriedade e
adquirir outra bem menor ao norte da localidade, onde passava uma picada para Morretes, hoje, Maracajá e Araranguá.
Na nova propriedade e na nova casa, Ernesto e Helena
viveram anos de pobreza, de lutas, mas também de recuperação e de progresso. Ele, com muita fé, continuou muito presente na vida da comunidade, respeitado e estimado por todos. As
89
dificuldades aumentaram com os terríveis anos de seca dos inícios dos anos de 1940. Ernesto, porém, não perdeu o ânimo. As
roças não produziam o necessário nem para o sustento dos filhos, que, graças a Deus e à dedicação dos pais, nunca passaram fome. Além dos trabalhos da lavoura, abriu outras frentes
de trabalho: queima de carvão de lenha, nos anos de seca mais
agudos, “puxar leite” para a Queijaria existente em Forquilhinha, engorda de porcos. Depois, montou um engenho de farinha de mandioca em parceria com um vizinho.
Aos poucos, a vida foi melhorando. Adquiriu mais um terreno anexo ao dele e a agricultura voltou a florescer. Preparou
os próprios tijolos para construir uma casa melhor para a família. Instalou outro engenho de farinha mais moderno junto à
própria casa. Os filhos foram se encaminhando na vida. Permaneceu na roça até o fim dos anos de 1960.
Helena sempre manifestou o desejo de morar mais perto
da igreja. Assim, com apenas um filho solteiro em casa, Ernesto
se desfez da propriedade da Sanga do Coqueiro Baixo e foi
morar em Forquilhinha, onde faleceu aos 22 de julho de 1975.
Sua esposa, Helena, viveu por mais oito anos, vindo a falecer
em Criciúma, aos 21 de julho de 1983. Ambos estão sepultados
no Cemitério Paroquial de Forquilhinha.
Ernesto e Helena tiveram 12 filhos:
1. Paulina (falecida) – casada com Antônio Kammer, reside em Forquilhinha;
2. Petronila (Nila) – casada com Domingos Antônio da
Silva (falecido), reside em Balneário do Rincão, Içara;
3. Alfredo – casado com Gertrudes Giovanella, reside em
Timbó;
4. Augusto (falecido) – casado com Maria Buss, reside em
Forquilhinha;
5. Alberto – Sacerdote franciscano (OFM), reside em Petrópolis-RJ;
6. Arnoldo – falecido ainda criança;
7. Maria – casada com Ricardo Kammer, em Forquilhinha;
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8. José – casado com Cecília Zanette e, em segundo casamento, com Maria Janice Fernandes, reside em Criciúma;
9. Marta – casada com Augusto Lingnau, reside em Blumenau;
10. Irma – reside em Florianópolis;
11. Leonardo – casado com Margarida Vitório, reside em
Nova Veneza;
12. Teresinha – falecida aos 09 anos de idade.
Os descendentes de Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld encontram-se espalhados pelo Estado de Santa Catarina e
alguns estão no Paraná. Em Santa Catarina, estão em Forquilhinha, Criciúma, Içara, Rio Hipólito, Rio do Sul e redondezas,
Blumenau, Timbó, Florianópolis, Herval d’Oeste, Rio do Rastro, Joinville, Taió e outras regiões. No Paraná, encontram-se
em Dois Vizinhos.
Uma característica dos descendentes de João Beckhäuser
é o ecumenismo. Seus filhos seguiram confissões religiosas diferentes: católicos, luteranos, batistas e evangélicos. Todos, porém, estimam-se mutuamente, independentemente de suas denominações, mas unidos no mesmo Cristo Senhor. A Ele todos
rendem honra e glória, fazem de seu trabalho e conquistas uma
oferta de louvor.
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92
Capítulo VII
A Família Beckhäuser em Urubici
Por Keler Luciane Beckhäuser
A família Beckhäuser tem presença marcante na cidade
de Urubici, Estado de Santa Catarina. Hoje, os membros dessa
numerosa família vivem nos bairros e nas comunidades localizadas no interior do município de Urubici-SC, onde se dedicam
principalmente a atividades agrícolas e pecuárias. No presente
capítulo, observar-se-ão os motivos que levaram a família de
Pedro Beckhäuser a migrar da cidade de São Martinho-SC para
o referido município. Tenciona-se, ainda, mostrar como vivem
os descendentes de Johann Karl Beckhäuser no município do
Planalto Serrano catarinense.
Os antepassados da família viveram, no entanto, em diversos outros locais anteriormente, até mudar-se para lá. Desde
a chegada do imigrante Johann Karl ao Brasil, até Pedro Beckhäuser, que foi quem se estabeleceu em Urubici, muitas migrações aconteceram pelo interior do país em busca de um sonho, de qualidade de vida e de “terras mais férteis” para cultivar.
Meu nome é Keler Luciane Beckhäuser e sou tataraneta
de Johann Karl, bisneta de Pedro, neta de Matheus e filha de
Evaldo Beckhäuser. O que lhes contarei a seguir foram relatos
de meu vovô Matheus em vários momentos; também me valerei
de uma ocasião especial em que sentamos para documentar,
por escrito, diversos fatos. Esses relatos se restringem às gerações de Pedro e Matheus. O relato sobre as gerações presentes e
sobre as famílias dos demais filhos de Pedro, será feito em opor93
tunidade futura.
Pedro Beckhäuser nasceu no município de São Martinho
e viveu lá até casar-se com Joana Schmöller. Depois de casado,
estabeleceu residência em Rio Fortuna; teve sete filhos (04 filhas e 03 filhos); morou também em Rio Café. Ficou viúvo de
Joana Schmöller; e, posteriormente, casou-se com Edwirges
Hoepers. Desse segundo casamento, teve mais sete filhos (04
filhos e 03 filhas). Foi quando, enfim, Pedro mudou-se para
Urubici.
Segundo meu avô Matheus, uma das filhas do primeiro
casamento de Pedro, ainda criança, morreu acidentalmente
caindo dentro de um tacho fervendo, no qual estavam fazendo
sabão.
Pedro, meu bisavô, era um homem pacato e trabalhador.
Plantava milho, batata-doce, mandioca, feijão e arroz. Engordava porcos para o consumo e venda da carne e da banha. Criava galinhas, e também possuía algumas vacas como fonte de
carne e leite para a família. Sua subsistência era baseada, portanto, no cultivo da própria alimentação e na venda da banha
dos porcos.
Uma vez ao ano, fazia-se o grande plantio de mandioca e
milho para se obter provisões que durassem o ano todo. Conta
meu avô que, em um ano, chegaram a plantar 50 mil ramas de
mandioca e dois sacos com milho.
Quando se tratava de realizar esse trabalho, homens e
mulheres trabalhavam juntos. No período da manhã, os homens
iam à roça e as mulheres ficavam em casa para fazer a limpeza
e preparar o almoço; mas, no período da tarde, todos iam juntos ao trabalho da roça.
As refeições de família eram sempre realizadas numa mesa
grande, a que todos se sentavam. De manhã, muito cedo, os
homens tomavam um café leve, ou seja, comiam pão e tomavam café. Às nove horas, era servido o café na roça a base de
alimentos salgados, tendo em vista o trabalho duro que teriam
pela frente: pirão de farinha de mandioca com salame, ovo cozido, ovo estralado e bolo frito.
No almoço, faziam uso do fruto da plantação: arroz, fei94
jão, batata, mandioca, carne de porco, de gado e de galinha.
Os filhos de Joana Beckhäuser (primeira esposa de Pedro)
e de Edwirges Beckhäuser (segunda esposa de Pedro) dividiam
todas as tarefas, pois não tinham empregados para ajudá-los.
Ainda assim, quem estivesse em idade escolar não podia faltar
às aulas por causa do trabalho.
Guilherme Koepp foi um dos professores na época. Ele
alfabetizou a família na língua alemã. O alemão era o único
idioma falado em casa, na escola, na igreja e por toda a vizinhança. Pedro tinha por vizinhos as seguintes famílias: Wiggers,
Ricken, Hert, Schulte e Pereira.
Alguns dos seus irmãos moravam na região Sul de Santa
Catarina. Carlos morava em Armazém, Bernardo, em Rio Carolina e João, em Orleans (comunidade de Mundo Novo). Assim, os irmãos mantinham contato entre si e, inclusive, se ajudavam. Carlos, por exemplo, fez as aberturas de madeira utilizadas na casa que seu irmão Pedro construiu em Rio Café, no
ano de 1919.
No ano de 1922, Pedro ampliou a casa com tijolo, barro e
areia, pois queria proporcionar mais conforto à família. Eram
quatro quartos, um corredor, uma sala, uma cozinha e uma
varanda. Na parte posterior da casa ficava o tanque, em que se
tomava banho e também o paiol. Em outro tanque lavavam-se
as roupas e as louças eram lavadas numa gamela de madeira
no interior da casa. Utilizavam-se, também, de sarrafos fixados
nos cantos dos quartos para pendurar as roupas.
Trabalhavam até sábado à tardinha. No domingo de manhã, cavalgavam por uma hora para chegar até a igreja onde
participavam da missa. Na volta, o almoço já estava pronto,
preparado pela filha escolhida para desempenhar a tarefa naquele fim de semana. Cardápio: sopa geralmente de frango,
gemüse, macarrão, arroz e carne. Não se comiam saladas, uma
vez que não eram cultivadas.
Nos domingos, as famílias costumavam visitar-se para
conversar, tomar o café da tarde e jogar baralho (só os homens
jogavam). Enquanto os adultos passavam a tarde dessa forma,
as crianças encontravam outras maneiras de se divertirem, como
95
caçar passarinhos com bodoque, subir em árvores, conversar e
comer bergamotas e laranjas.
Conta também meu avô que alguns conhecidos seus comentavam que Pedro e Edwirges eram bons dançarinos nas
domingueiras. Ele tocava uma gaitinha de dois baixos para se
entreter.
Para a comemoração de Natal, Pedro e Edwirges presenteavam os filhos com doces, bolachas, algum chapéu e pequenos brinquedos, como a gaita de boca que meu avô Matheus
ganhou.
A família de Pedro foi a Urubici algumas vezes antes de
migrar para lá. A razão da visita consiste no fato de terem amigos ali, além das filhas Philipina (Mina) e Vilimina (Bina), já
casadas, morando no local.
Certa vez, os filhos Pedro e Matheus foram, a cavalo, para
Urubici, a fim de colherem o trigo que haviam plantado anteriormente em terras que meu avô, Matheus, desconhece o dono.
No caminho, depararam-se com um leão que cruzou a trilha e
os ficou observando entre dois despenhadeiros enquanto passavam. A sensação de alívio foi muito grande quando perceberam que o bicho havia desaparecido.
Apesar da relutância de Edwirges em morar em Urubici,
por se tratar de um lugar isolado, a família migrou para a cidade em 1936. Pedro queria morar em Urubici para ficar mais
próximo das filhas já casadas e amigos, bem como para tentar
amenizar problemas de saúde.
O terreno, a casa e alguns animais que Pedro e a família
possuíam foram trocados pela terra, a casa e alguns animais de
Fernando Warmling, que morava em Urubici. Ao invés de vender o terreno para outra pessoa, os dois simplesmente acordaram em trocá-los. Nesse local, moram hoje a viúva e alguns filhos de Baldoino (já falecido), filho de Pedro.
A partida para Urubici aconteceu no dia 02 de setembro
de 1936, pela manhã, e a chegada só se deu no dia 04 de setembro de 1936, por volta das três da tarde.
O transporte dos bens foi feito em 22 cargueiros. Levaram
96
roupas pessoais, roupas de cama (trem de cama como eram
denominados) e também as louças da casa. As crianças dividiam um cavalo e os adultos vieram em um cavalo cada. Havia
vários cavalos, pois a família era grande. A alimentação para
durante a viagem foi preparada antes da partida.
Trouxeram também uma junta de bois e uma vaca de leite. O restante dos animais, como as demais vacas, galinhas e
porcos, ficou para o uso de Fernando Warmling, pois também
foi trocado pelos animais dele, da mesma forma que o imóvel.
Na viagem, pousaram (dormiram) em Forcadinha, hoje
Aiurê, na casa de um conhecido alemão chamado Etler.
A casa para a qual se mudaram era de madeira e a cobertura, de tabuinha e também tinha quatro quartos, uma sala,
uma cozinha e um paiol.
Logo que chegou a Urubici, meu avô Matheus se tornou
capelão da igreja da comunidade de Santa Teresinha. Lá, moravam as famílias Schmitz, Kuhnen, Warmling, Stange, Faust,
Figueiredo, Flores, Silvano, Soete e Henrique de Oliveira.
Em Santa Teresinha, Pedro media terras para os vizinhos
e para os conhecidos da região. Trabalhava com a família plantando milho, trigo, batata, feijão e criando porcos para vender
a banha na “fábrica de banha” localizada no atual bairro Esquina. Esta fábrica era de propriedade de Adolfo Niehues e de
João Locks.
Assim, a vida seguia bem naquele ano de chegada, até
que a febre tifo assolou a família e outras pessoas da comunidade. Somente Marcos e Matheus não adoeceram e puderam, dessa
forma, cuidar dos acamados. A febre tifo não tinha cura em
Urubici, mas conta meu avô que uma das pessoas da comunidade com mais recursos financeiros foi levada para outra cidade fora da Serra, onde se curou da doença.
Pedro Beckhäuser faleceu no dia 11 de abril de 1937, vítima de febre tifo, na companhia de seu filho Matheus. Foi sepultado no dia seguinte, no cemitério de Santa Teresinha, em que
ainda hoje estão seus restos mortais.
Por um ano, a família guardou luto pela morte de seu pa97
triarca, usando roupas pretas e não dançando. Apesar da tristeza, a viúva Edwirges continuou a vida de forma firme, pois
tinha os filhos para criar. Contava minha avó Lídia, esposa de
Matheus e nora de Edwirges, que a viúva era uma pessoa determinada e forte. Edwirges foi, a exemplo de Pedro, uma mulher para ser lembrada.
Depois daquele ano de luto, os filhos voltaram a freqüentar as domingueiras. Na opinião de meu avô, as melhores eram
as da comunidade vizinha de São José, pois possuíam os melhores gaiteiros. As danças iniciavam por volta das duas horas
da tarde e se estendiam no máximo até as dez da noite. Essas
festas aconteciam nos paióis e casas dos amigos.
Eram nessas domingueiras que se iniciavam os namoros,
que, depois, se perenizavam em casamentos nas casas dos noivos. Nessa época, os filhos de Pedro e Edwirges já conheciam
suas futuras esposas e, também, já foram se casando.
Meu avô Mateus iniciou o namoro com Lídia Luchtemberg no ano de 1939. Eles eram vizinhos e, numa noite, depois
de haverem conversado numa domingueira, Matheus foi até a
casa de Lídia. Não houve um pedido oficial de namoro, pois
Lídia já havia conversado com sua mãe Maria, que recebeu o
futuro genro muito bem.
Assim, seguiram-se os dias até que Matheus achou que
deveria estudar mais um pouco e contou a Lídia sobre sua vontade. Ela concordou com sua ida para Blumenau, onde estudaria no Colégio Santo Antônio, apesar de saber da saudade que
sentiria do namorado.
Era o ano de 1940. Segunda Guerra Mundial. Matheus
ouvia freqüentemente as notícias sobre a guerra quando iam
todos os alunos do Colégio Santo Antônio para a sala em que
ficava o rádio. O medo e a insegurança sobre o futuro eram
sentidos por todos naquela época.
O contato de Matheus com a família e a namorada se dava
através das poucas cartas que podia enviar para a mãe Edwirges, a qual transmitia recados a Lídia.
Passado um ano, Matheus volta para Urubici. A viagem
foi feita de carona com um caminhão, que veio de Blumenau
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para Desterro (Florianópolis) e, depois, com outro caminhão que
ia até Urubici.
Acontece, então, no dia 06 de setembro de 1941, o casamento de Matheus e Lídia. Na ocasião, ele tinha 22 anos de
idade e ela, 23. Foram morar ao lado da igreja da Comunidade
Santa Teresinha, com a sogra: a viúva Maria Schmitz Luchtemberg. Esse local ficava ao lado do que é hoje o cemitério da comunidade.
Tempos depois, Edwirges faleceu, aos 76 anos de idade. O
mesmo luto que havia sido respeitado na morte de Pedro foi
guardado também quando Edwirges veio a falecer.
Desde o casamento, Matheus trabalhava de empregado
na casa de comércio de Ricardo Küntz, localizada em Santa
Terezinha. Alguns anos depois, Ricardo resolveu morar no Estado do Paraná e convenceu meu avô a ficar com o estoque e
prosseguir com o negócio: “– Matheus, você está com a faca e o
queijo na mão... é só continuar!” – disse Ricardo.
Matheus gostou da idéia e continuou a fazer comércio com
os que moravam na comunidade e com moradores das comunidades vizinhas de São José, São Pedro e Canudo.
Vendia-se de tudo na casa de comércio: tecidos diversos,
açúcar, café, ferramentas, bebidas, chapéus, sapatos e produtos homeopáticos. Por vender bebida alcoólica, várias vezes teve
que levantar de madrugada para servir cachaça a certos clientes que batiam a sua porta, com a desculpa de estarem com dor
de dente ou dor de cabeça; na verdade, queriam mesmo era
apenas embriagar-se.
Para repor o estoque, Matheus precisava ir até Florianópolis. Freqüentava muito o Mercado Público, na rua Conselheiro Mafra e o Comercial Hoepcke. Dormia em Campinas, num
dormitório localizado na atual Avenida Presidente Kennedy.
Ia e voltava de caminhão com os colegas. Já era conhecido no
local desde quando Ricardo o levou para apresentá-lo aos comerciantes como o novo dono do negócio.
Nesse meio tempo, nasceram seus cinco filhos: Evaldina,
Oraldina, Adelícia, Evaldo e Valdeci. Os filhos compreendiam
a língua alemã que era falada em casa. Na escola, no entanto,
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aprendiam o Português devido à repressão do governo para que
não se falasse mais a língua alemã no Brasil.
Com medo dos efeitos ruins que a repressão pudesse ter
na família, Matheus e seus irmãos decidiram não mais falar o
alemão.
Comprou vários terrenos contíguos, nos quais, ainda hoje,
parte de sua família trabalha e reside. O primeiro terreno que
adquiriu era de propriedade da família Henrique de Oliveira.
Mais tarde comprou terras de Lucas Kuhnen.
Em 1973, Matheus se aposentou da profissão de comerciante e se tornou agricultor. O cenário da agricultura era diferente de 1939. Além de feijão, batata e milho, plantavam-se também milho de pipoca, amendoim e vassoura, para o consumo
doméstico, e tomate, cenoura e beterraba para serem vendidos.
As vargens produziam hortaliças de boa qualidade. Na entressafra, plantava-se feijão lupim para dar força a terra para a
próxima safra.
A família Beckhäuser, em Urubici, continuava sua rotina
de trabalhos e também tinha seus finais de semana como os de
Rio Café. A ida à missa aos domingos, o cardápio de gemüse, os
encontros nas tardes para conversar e as comuns domingueiras.
Os vizinhos e a família rezavam e cantavam juntos com o
acompanhamento do violino de meu avô. Todo domingo ele
pegava o seu violino e, como bom capelão que havia sido desde
1936, ia até a igreja tocar o sino e animar as orações.
Assim, o coral de Santa Terezinha foi formado com seus
irmãos, vizinhos e amigos e ainda existe até hoje na comunidade. Os membros são ainda a família, amigos e vizinhos. Matheus não é mais o maestro, mas tem posição de honra por ter
ocupado a função por 54 anos.
Matheus e Lídia deram prosseguimento a suas vidas e a
de seus filhos. Todos se casaram e mudaram para alguma parte
do terreno de Matheus. Somente a filha mais nova, de nome
Valdeci, foi morar no terreno de seu sogro, que era vizinho de
Matheus.
100
Aos domingos, em Santa Teresinha, era ainda costume a
família toda se reunir para conversar e tomar o café da tarde
na casa dos avós. Esse costume não era e não é exclusividade
da família de Matheus. As famílias de Baldoino e de Marcos
também partilham dessa cultura de encontro familiar dominical, além de partilharem muitos outros costumes e valores.
As famílias de Marcos e Baldoino continuam morando na
cidade; a de Júlio foi para Florianópolis e nenhum de seus filhos
mora mais ali. Baldoino faleceu há poucos anos atrás e a maior
parte de sua família mora em Urubici. Marcos ainda vive em
Urubici com sua filha Isalina e a maior parte de seus filhos mora
lá também.
Com o passar do tempo, as pessoas começaram a dizer a
meu avô Matheus que estava na hora de parar de trabalhar.
Ele, porém, insistia em cuidar de suas vacas, de dar trato aos
peixes de seu açude e de fazer pequenos trabalhos ao redor de
casa. Ele e sua companheira eram incansáveis batalhadores.
No ano 2000, recebeu da Câmara Municipal de Urubici o
titulo de Cidadão Urubiciense pelos trabalhos prestados à sociedade. Em 13 de fevereiro de 2005, depois de 64 anos de casamento, ficou viúvo. Lídia, minha avó, faleceu aos 87 anos, deixando grande saudade. Seu corpo foi sepultado no cemitério
de Santa Terezinha, no dia 14 de fevereiro de 2005.
Matheus, agora viúvo, com muito orgulho, alegria, satisfação e saudade, faz cada um que o escuta reviver as histórias
de seus antepassados. Homem de muita coragem, bravura, honra e altivez.
O curso da vida é contínuo, umas gerações terminam,
outras vêm. Pais, irmãos, tios, primos, os filhos dos primos, os
sobrinhos. Muitos continuam morando na cidade de Urubici
com o avô Matheus. Outros, como eu mesma, que moro hoje
em São José-SC, mudaram-se para cidades próximas.
Em Urubici ou fora do município, os descendentes de Pedro Beckhäuser trazem sempre na lembrança os grandes homens e mulheres de quem são filhos, netos, bisnetos. Os Beckhäuser descendentes de Johann Karl, de Pedro e de Matheus carregam a garra característica dos imigrantes alemães em busca de
101
vida, muita vida.
Ao longo dos anos, os Beckhäuser têm cultivado, e isso se
desenvolve cada vez mais, o sentimento de orgulho de seus antepassados, a alegria em encontrar outros Beckhäuser. Com isso,
valorizam-se os princípios herdados ao longo de tantas gerações, fazendo com que os pertencentes a esta família procure
sempre o caminho do bem e do respeito; viver muita esperança
e força; acreditando no futuro.
Casa de Pedro Beckhäuser, em Urubici. AKLB.
Santinho que Matheus
recebeu de seu professor quando estava na
escola em Rio Café.
AKLB.
Jogo de futebol entre amigos em Santa Teresinha. Na fileira da frente, o último da direita é
Baldoino Beckhäuser, filho de Pedro Beckhauser.
AKLB.
Matheus Beckhäuser e sua esposa LidiaLuchtemberg. AKLB.
102
Wilson, Lindaura, Eládio, Ivone, Adenir e Geraldo na fileira de trás. AKLB.
Edwirges (esposa de Pedro Beckhäuser), sua irmã, Marcos,
primo Ventura, Amiga de ventura,
Júlio, Baldoino e Eugênia.
Família de Pedro depois de sua
morte. AKLB.
Apresentação do coral
Santa Teresinha sendo
regidos pelo maestro
Matheus e com os
cantores da familia,
incluindo
Baldoino,também
filho de Pedro (segundo homem da esquerda para a direita).
AKLB.
103
Casamento
de Antônia
Stange e e
Júlio Beckhäuser.
AKLB.
Matheus Beckhäuser e sua esposa
ao lado de sua casa, em Urubici.
AKLB.
Oraldina, Adelicia, Valdeci,
Evaldo e Evaldina. Sentados
estão Matheus e Lídia Beckhäuser. AKLB.
Evaldo, Oraldina, Matheus, Lídia, Laércio e Marcos. AKLB.
104
Capítulo VIII
Histórico de Irma e Antônio Beckhauser
‘Quod scripsi, scriptum est’
Por Clay Juliano Schulze
As primeiras lembranças que me vêm
à memória quando me refiro a meus avós,
Irma Back e Antônio Beckhauser, relacionam-se ao modo como nós, netos, os identificávamos. Eles eram carinhosamente chamados de Opa de óculos e de Oma de óculos,
obviamente porque ambos usavam o acessório. Éramos muito pequenos e nos prendíamos a estes detalhes para identificá-los, já
que o sobrenome Beckhauser ainda era complicado de pronunciar. Vale ressaltar que o
Opa também recebeu um segundo apelido,
Clay Schulze neto de
Antônio Beckauser. Foto- Opa Fuqui, devido às cobiçadas voltas que o
grafia de setembro de
Opa, em seu Fusca branco, ano 1975, dava
2006. ACS.
com seu netos. Este apelido foi dado originalmente pelos netos
Neimar e Nestor, filhos de Osvaldo Beckhauser.
Devo confessar que tenho flashes de memória dos tempos
em que o Opa e a Oma moravam na Serra dos Índios, município
de Presidente Getúlio, Estado de Santa Catarina. Contudo, eu
tinha somente 04 anos de idade e a história de Antônio Beckhauser, filho de João Carlos Beckhauser e de Maria Selhorst e Irma
Gertrudes Back, filha de Antônio Back e de Ana Steiner iniciouse havia muito tempo.
105
Ambos nasceram em Praia Redonda, município de Imaruí, hoje São Martinho 71 , Sul do Estado de Santa Catarina.
Antônio e Irma eram vizinhos, mas os terrenos de suas famílias
eram divididos pelo Rio Capivari.
Na certidão de nascimento de Antônio Beckhauser, constam as seguintes informações:
“Assentamento do nascimento de Antônio Beckhauser, do sexo masculino, de cor branca, nascido em domicílio em 17 de
Agosto de 1924, às 18
horas, filho legítimo de
João Carlos Beckhauser e
de sua esposa Dona Maria Selhorst, naturais deste Estado, casados no Juízo deste distrito, residentes neste distrito, neto paFamília de João Carlos Beckhauser (Antônio sentado à terno de Carlos Beckhauesquerda), em Praia Redonda. ACS.
ser e de Dona Ana Arns e
materno de Huberto Selhorst e de Dona Helena Michels.
Foram testemunhas da declaração João Sehnem Jnr. e Antonio May e o declarante o pai”72 .
Tal qual a maioria das famílias da época, a prole de João
Carlos Beckhauser passou por dificuldades. Referindo-se às famílias de ambos, a Oma Irma conta que “meu pai ‘tava’ sempre
um colono forte, já o Opa não era aquela coisa” 73 . Podia-se perceber resquícios deste passado na repulsa que o Opa tinha quando observava desperdícios.
Em 1940, o Opa Antônio foi estudar na conceituada “Escola Apostólica Sagrado Coração de Jesus” da Vila Hansa Humboldt 74 , hoje Seminário Sagrado Coração de Jesus de Corupá,
Norte do Estado de Santa Catarina. Lá, cursou e concluiu os
quatro anos das séries Ginasiais e os três anos do Curso Colegial, na época também chamados de 1º e 2º Ciclos. Durante estes
anos no Seminário o Opa teve aulas de álgebra, francês, alemão, inglês, grego, latim e canto gregoriano, entre outras disciplinas escolares. Sua formatura no Curso Ginasial foi em 28 de
71
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 153.
106
outubro de 1946, ocasião a que compareceram seus irmãos Aloísio, Pedro João
e Ana.
Apesar dos anos de estudo no seminário objetivarem a formação sacerdotal, o Opa optou por não seguir este caminho, como lembra Osmar Beckhauser,
filho mais velho de Antônio Beckhauser:
“o Opa chegou a ser clérigo, até
usava batina, mas quando chegou
a hora de fazer os votos, ele desistiu da carreira. A partir desta
decisão, ele que estava livre até
aquele momento do serviço miliFormatura de Antônio Betar obrigatório, teve que se apre- ckhauser
no Seminário, em
sentar no 62º Batalhão de InfanCorupá - SC. ACS.
taria em Joinville. Nesta época, o
Opa nos contava que viveu como um príncipe. Não precisava fazer exercícios, ganhava cigarro, salário e quarto diferenciado para que ele desse aulas de francês e inglês, pois
vivíamos ainda tempos turbulentos do pós-guerra”75 .
Quando o Opa Antônio retornou à sua cidade natal, São
Martinho, a Oma conta que “o Opa trabalhou com o cunhado,
Eriberto Back, em uma serraria e também como secretário na
madeireira de João Effting, em Braço do Norte”76 .
Outro emprego que teve depois de sua vinda do seminário, foi de auxiliar de pintor. Em 1949, a Igreja Matriz Cristo
Rei de São Martinho estava sendo reformada; para tal serviço
foi contratado um pintor profissional, Alfonso Weihersmann,
de São Bento do Sul. Este, após constatar o empenho que o jovem Antônio dedicava ao trabalho, convidou-o para voltar com
ele e auxiliá-lo em outras obras e atividades. A resposta coube a
sua mãe, Maria, que não aceitou, pois ficaria longe do filho e
teria muitas saudades.
Antônio e Irma namoraram durante um ano. Segundo
Osmar, relatando sobre esse período:
“para chegar à casa do sogro Antônio Back, o Opa deveria
andar um trecho significativo e, para evitar este longo trajeto, cortava caminho atravessando o Rio Capivari a nado,
nu com a roupa numa das mãos, chegando do outro lado
107
colocava as roupas e ia namorar”77 .
Opa e Oma casarem-se em 12 de janeiro de 1952, numa
sexta-feira, na cidade de São Martinho. A cerimônia religiosa
teve a bênção de Pe. Vendelino Vimmes. O casamento civil, por
sua vez, foi efetuado um dia antes, em 11 de janeiro de 1952,
registrado no Cartório de Registro Civil de São Martinho. Na
ocasião, o Opa tinha 28 anos de idade
e a Oma, 27.
No sábado, dia seguinte ao casamento de Irma e Antônio Beckhauser,
seus compadres Norma e Alfredo Sehnen, primos de Irma, também casaramse.
O primeiro passo para construir
o seu futuro foi dado já no domingo,
quando os dois casais partiram para a
Serra dos Índios, comunidade isolada
do município de Presidente Getúlio.
Foi no caminhão de Jacó Berkenbrock
Casamento de Irma e Antônio
que os dois casais viajaram de mudanBeckhauser em 1952. ACS.
ça, partindo ainda pela madrugada.
Após 380 km de viagem de São Martinho até a Serra dos Índios, chegaram ao novo lar na tarde do mesmo domingo, dia 13
de janeiro de 1952.
Antes da mudança para a Serra dos Índios o Opa já estava trabalhando no município, pois conforme relatos da Oma,
“o Opa já lecionava em Presidente Getúlio, no Alto Vale do Itajaí, um ano antes de nos casarmos” 78 , deduz-se que ele tenha
sido transferido para a Escola Mista Municipal Isolada de Alto
Rio dos Índios. Sabe-se que:
“no dia 02 de junho de 1952, Antônio Beckhauser assumiu
a regência da escola. Em 1954, o governo estadual construiu um novo prédio escolar de alvenaria e a escola foi transferida para o Estado. De acordo com o aumento da matrícula, a escola passou a ser desdobrada, ‘tridesdobrada’ e
‘quadridesdobrada’. O aumento da matrícula foi conseqüência do crescimento da serraria da Cia. Sallinger S.A. que
atraiu para a região grande número de famílias provenientes dos mais diversos lugares”79 .
108
Para começar a vida, a Oma conta: “nós compramos um
terreno que pertencia a João Selhorst, primo do Opa, bem ao
lado da escolinha. Ali já existia uma casinha de madeira, coberta de tábuas” 80 . Foi neste terreno que iniciaram a vida conjugal e construíram a casa que, posteriormente, foi herdada por
Otávio Beckhauser, um dos filhos do casal. Atualmente, a casa
não pertence mais à família.
Com o passar do tempo, Antônio e Irma construíram no
mesmo terreno uma casa maior para abrigar os vários filhos
que tiveram, oito ao todo. Primeiro, vieram os gêmeos Oscar
Antônio Beckhauser e Osmar Antônio Beckhauser, nascidos em
28 de outubro de 1952, seguidos por Odete Beckhauser de 16
de novembro de 1954, Osvaldo Antônio Beckhauser de 08 de
janeiro de 1957, os gêmeos, mas agora um casal, Otávio José
Beckhauser e Otília Maria Beckhauser nascidos em 20 de outubro de 1958, depois Orival Antônio Beckhauser de 13 de dezembro de 1961 e o caçula Odair Antônio Beckhauser, nascido
em 19 de julho de 1964.
Ainda na Serra dos Índios, seu Antônio também adquiriu
um terreno de Zeninho Schothen (que hoje não pertence mais à
família), e outro do seu compadre Bertolino Steiner. Estes terrenos eram utilizados para plantação e pastagem de animais e,
posteriormente, ficaram com seu filho Osvaldo Beckhauser.
A família plantava mandioca, arroz, feijão, batata, milho,
cará, taiá (uma batata similar ao cará) e, por último, iniciaram
o cultivo do fumo. Além da plantação, criavam animais tais
como patos, marrecos, perus, porcos, galinhas e gado leiteiro,
mas também possuíam um cavalo utilizado na tração de uma
charrete.
Com o esposo dedicando-se integralmente ao trabalho na
escola, a vida não era fácil para a Oma Irma, além das atividades do lar e de mãe de oito filhos, sobrava-lhe o cuidado com a
lavoura e os animais, principais fontes de alimento e renda das
famílias de interior.
Sabe-se que o trabalho com a agricultura é tarefa difícil e
pesada até mesmo para os homens, mas a determinação e a
força de vontade sempre foram presentes na Oma. Dia após dia,
109
sol a sol, ela dirigia-se à lavoura levando consigo sete de seus
oito filhos. Odete, filha mais velha do casal, incumbia-se de alguns afazeres do lar, como a preparação do almoço, enquanto
os mais velhos auxiliavam a mãe na lavoura e também na vigia
dos mais novos que brincavam por perto. “A Oma até confeccionava as nossas roupas” 81 , conta Odete, lembrando da dedicação de sua mãe. Odete também acrescenta que sua mãe “ensinou muitas mulheres da comunidade a fazer trabalhos manuais, tanto que teve uma época em que ainda foi dar aulas de
crochê na escola” 82 .
Com estes relatos, fica muito claro que educar não era só
uma tarefa do Opa como professor, mas era um dever também
dos demais membros da família participar e ser exemplo, fosse
dentro ou fora da sala de aula. Aqui, cabe a observação da visão de responsabilidade social do Opa, especialmente com relação à educação, muito antes do tema ser discutido academicamente, ele já era colocado em prática pela família Beckhauser.
Sobre o período de construção da nova Escola Mista Municipal Isolada de Alto Rio dos Índios, Osmar Beckhauser lembra de um acidente que envolveu a família:
“quando trouxeram os tijolos para
a construção, Odete foi colocada em
cima do caminhão, mas as laterais
do veículo se abriram acidentalmente e ela caiu no chão, quebrando o braço em dois lugares. Foi uma
correria na família, com a menina
desesperada, aos prantos, o Opa a
pegou e foi de charrete procurar auxílio” 83 .
Ao contrário do relatado
no livro de Harry Wiese, “De
Neu-Zürich a Presidente GetúPrimeira Comunhão de Osvaldo, Odete
lio: Uma história de sucesso”,
e Osvaldo. ACS.
Osmar e Odete afirmam que a
construção da escola aconteceu em 1960, pois Odete já tinha
seus seis anos de idade neste episódio.
Em 1963, ao vender um terreno no Bairro Jacu, Presidente
Getúlio, o Opa comprou seu primeiro automóvel, um Jeep, que
110
foi um dos primeiros carros da região. As aventuras no Jeep do
Seu Antônio são lembradas até hoje pelos populares, pois muitas vezes serviu de ambulância para os moradores da Serra dos
Índios. Sempre que alguém precisasse de transporte até o hospital, era o Seu Antônio que descia a Serra para levar o aflito
até o Hospital e Maternidade Maria Auxiliadora em Presidente
Getúlio.
Conta Osvaldo Beckhauser “que a situação se tornou tão
rotineira que o Dr. Waldomiro Colautti 84 , então médico no
município, sempre dizia que o Seu Antônio ‘trazia o doente e o
remédio’, pois possuía sangue O positivo, doador universal” 85 .
Osmar lembra de um caso que chegou a extremos:
“o Opa socorreu moradores durante três noites seguidas,
levando os doentes para o hospital e ainda tendo que dar
aulas durante o dia. Era um inverno frio e chuvoso e o Jeep
atolava, dificultando ainda mais a viagem, na maioria das
vezes, tinha que andar até achar uma casa para pedir auxílio, o que demorava mais que todo o trajeto até o hospital.
Na terceira noite, o Opa salvou a vida de Maria Garcia
Sehnen. Durante a descida da serra, ele teve que parar três
vezes para velar a mulher, devido à grave situação em que
esta se encontrava. Quando chegaram ao hospital, ele entrou gritando pedindo para que alguém viesse acudir a doente. Nesta noite, o Opa foi novamente doar sangue para
ajudar a paciente, mas no outro dia, de tão fraco que estava, ele não teve mais condições de voltar e muito menos de
dar aula. Tempos mais tarde, conversando com Chico Sehnen, marido da doente, o Opa descobriu que o hospital cobrou o sangue por ele doado para a paciente, o que o levou
a questionar os valores éticos da responsável pelo hospital” 86 .
Revivendo os passos do pai, os filhos mais velhos Oscar e
Osmar foram estudar em seminário, inicialmente em Taió-SC,
no Seminário Nossa Senhora de Fátima (1965-1966), depois se
transferindo para o Seminário de São Francisco Xavier em Rio
do Oeste-SC. Detalhe interessante é que o percurso de 23 km da
Serra dos Índios até Rio do Oeste era feito de bicicleta, sendo
que chegaram a fazer uma viagem em impressionantes 35 minutos, apesar do relevo acidentado das estradas. Este trajeto
também era feito por outros filhos de moradores da Serra dos
Índios, mas somente Oscar e Osmar possuíam bicicletas, um ar111
tigo de luxo para a época.
Ao contrário da fartura e facilidades das atuais gerações,
naquela época presentes e doces eram itens raros e muito valorizados pelos filhos. Odete lembra, “sempre que o Opa voltava
do centro de Presidente Getúlio, trazia balas para nós, principalmente na época em que ele foi candidato a prefeito”87 .
Mesmo residindo na Serra dos Índios, uma localidade bem
isolada do centro do município, Antônio Beckhauser foi candidato a prefeito de Presidente Getúlio nas eleições de 3 de outubro de 1965 contra Francisco Ax. Infelizmente, a totalidade dos
votos recebidos não foi suficiente para que atingisse o objetivo.
Com o Lema “Trabalho, Honestidade, Desenvolvimento e
Justiça Social”, a coligação feita pelos partidos UDN/PDC/PL88
perdeu as eleições, como também perdeu o candidato da coligação ao governo do Estado, Antônio Carlos Konder Reis.
Odete conta que Alfredo
Schlindwein era cabo eleitoral
do Opa durante a campanha.
“Onde o Opa ia, o Seu Alfredo
ia junto. O Opa reclamava que
eles passavam fome durante os
dias de visita às famílias e comiam só ‘ameixinha’ e tangerina,
frutas da época que apanhavam
na estrada” 89 .
Em 1971, o Opa foi transferido da escola na Serra dos Índe Antônio Beckhauser, na Serra
dios para trabalhar como secre- Famíliados
Índios em 1972. ACS.
tário no Colégio Estadual Deputado Orlando Bértoli, no centro de Presidente Getúlio, indo com
ele também Odete e Otília para completar seus estudos. Em 1979,
a Oma junto com os filhos mais novos, Orival e Odair, mudouse para Presidente Getúlio. A família residiu inicialmente na
casa que pertencia a sua filha Odete, na época já casada com
Artur Guilherme Schulze e morando em Jaraguá do Sul. Excluindo-se Odair e Orival, que estavam com os pais, todos os outros filhos também já estavam casados.
112
Em 1983, o Opa comprou uma casa na Rua Paulo Müller,
centro de Presidente Getúlio. Durante a década de 90, adquiriu
uma casa vizinha, na Rua Getúlio Vargas, mudando-se pouco
tempo depois. Ambas as casas ainda são de propriedade da família.
No mesmo período em que se mudou para Presidente Getúlio, o Opa foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, em 08 de fevereiro de 1971. Antônio Beckhauser
fez parte da primeira diretoria. Por diversos anos, o Opa manteve-se ainda como presidente ou membro da diretoria.
A união e a luta pelos interesses dos agricultores foi motivo de sua grande dedicação ao Sindicato e a esta classe, como
se pode perceber no seu editorial para o informativo do Sindicato em 1995: “Agricultor, nós somos uma grande corrente.
Cada um é um elo dessa corrente, quanto maior e mais forte,
maior valor tem” 90 .
O filho Orival Beckhauser seguiu os caminhos traçados
pelo pai, dedicando vários anos de trabalho como secretário no
mesmo Sindicato.
Como o seu avô, “Vater” Carlos Beckhauser, Antônio também era católico apostólico romano, praticante desde pequeno,
tanto ele como Dona Irma mantinham uma vida dedicada à
religião e às atividades da Igreja.
O Opa foi Ministro da Eucaristia e presidia a celebração
de casamentos, enterros ou auxiliava nas missas com grande
freqüência, especialmente nos últimos anos de sua vida. A Oma
estava sempre pronta para auxiliar na cozinha quando eram
realizadas as festas da comunidade católica de Presidente Getúlio. As festas eram realizadas no salão da Igreja Matriz Nossa
Senhora do Rosário. Nestes dias, a coruja/rosca preparada pela
Oma fazia grande sucesso.
Aliás, sucesso na cozinha a dedicada Oma já fazia em casa,
principalmente com os Weihnachtskuchen (bolachas de Natal),
toucinho do céu e o famoso Spritz-dochen, que até hoje são literalmente devorados pelos netos. “O kochkäse, os pães trançados, a batata tostada e o pão de milho da Oma eram disputados
desde os tempos da Serra dos Índios”91 , relembra Odete.
113
O casal também participou do Coral Misto da Igreja Matriz, onde a Oma era segunda voz e o Opa era tenor. O Coral
fazia suas apresentações nas datas especiais do calendário cristão.
O conhecimento religioso do Opa foi transmitido em sala
de aula quando lecionou Ensino Religioso no Colégio Estadual
Deputado Orlando Bértoli, de Presidente Getúlio, onde trabalhou até se aposentar em 1986.
Antônio Beckhauser “foi um dos grandes líderes da educação e da política da Serra dos Índios e de Presidente Getúlio” 92 . Participou ativamente de inúmeras atividades no município, como Conselheiro do Departamento de Saúde e da Ação
Social e fundador de partidos políticos (PRN93 , PPR94 , PPB95 ).
É verdade e fato notado que em vários momentos o Opa
Antônio tirou o tempo que dedicaria à família para se entregar
ao bem estar social de sua comunidade.
Em 1999, tarde anterior ao baile de minha formatura de
graduação, estávamos o Opa, meu irmão Clenio Jair Schulze e
eu, sentados na biblioteca de nossa casa em Blumenau-SC, entretidos com as histórias que o Opa contava. Nesta ocasião, pedimos novamente a ele para que as passasse por escrito, para
que as mesmas não se perdessem com
o tempo. No entanto, nosso pedido
não pôde ser realizado. Em 26 de fevereiro de 2000, passado meio ano de
nosso pedido, o Opa veio a falecer, levando consigo muitas de suas histórias.
Antônio Beckhauser foi sepultado no cemitério da comunidade católica de Presidente Getúlio, deixando
com saudades sua esposa Irma, seus
filhos, netos e bisnetos.
As férias escolares, hoje, são
lembradas por meu irmão Clenio e
por mim, como a nossa fuga para a Formatura de Clay Schulze com
Oma e Opa em 1999. ACS.
casa do Opa e da Oma em Presidente
114
Getúlio. Com nossos avós, ficávamos praticamente todo o período de férias, para deleite deles, e certamente para nós.
Numa dessas tardes, durante o tradicional jogo de cartas,
o Opa citou uma frase em latim, fato que chamou a nossa atenção, pois era uma frase desconhecida. Esta frase se enquadra
muito bem neste momento, quando através da reunião destes
fatos e causos tentamos preservar sua história.
Opa falou:
– “Quod scripsi, scriptum est”. (O que está escrito, ficará
escrito.)
Família reunida para comemorar o aniversário da Oma, em 17 de Agosto de 2005. ACS.
115
116
Capítulo IX
Gabriel Carlos Beckhäuser
e Corina Mendonça
Por Adauto Bechkäuser
Falar dos próprios pais não
é tarefa fácil, levando em consideração a existência dos lanços
de família. Mas, quem foi Gabriel
Carlos Beckhäuser? Quem teria
sido Maria Vieira Beckhäuser?
Gabriel nasceu em 23 de setembro de 1901, em
Armazém-SC. Era
de
Karl
Adauto Beckhäuser e Dulcinéia Francis- filho
ca Beckhäuser. Fotografia de 2005.
Eduard Caeser BeADAB.
ckhäuser e de Anna
Aurora Arns; e neto paterno de Johann Karl Beckhäuser e de Maria Elisabeth Kropp. Tinha mais
sete irmãos: Rodolfo, João, Bernardo, Jacó, Max,
Maria e Júlia. Em setembro de 1918, casou-se com
Corina Mendonça, na Igreja Matriz São Pedro
Apóstolo, em Armazém. Desse casamento nasceram: José Gabriel Beckhäuser, Carlos Beckhäuser,
Adélia Beckhäuser, Laura Beckhäuser da Rosa, DáKarl Eduard
rio Gabriel Beckhäuser, Valdomiro Beckhäuser e os Caeser Beckhäuser. Fotografia
gêmeos Estélio Beckhäuser e Ester e Beckhäuser.
de 1949. AFAB.
117
Com quase 24 anos de matrimônio, Corina veio a falecer.
Era 06 de agosto de 1942, e Gabriel fica viúvo. Não demorou
muito tempo, casou-se com Maria Vieira em 04 de agosto de 1945,
na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo96, em Armazém. Desse casamento, nasceram: César Beckhäuser, os gêmeos Adauto Beckhäuser e Anita Beckhäuser, Valquíria Beckhäuser, as gêmeas
Gabriel Carlos e Maria Vieira Beckhäuser e seus
8 filhos. Fotografia de 1954. ADAB.
Estér, Estélio, no colo Nair e Nadir e
na frente Adauto e Anita Beckhäuser. Fotografia de 1949. ADAB.
Maria Vieira e seus filhos Beckhäuser’s.
Fotografia de 1949. ADAB.
Nadir Beckhäuser e Nair Beckhäuser e os gêmeos Dilmar Beckhäuser
e Dimas Beckhäuser97 .
Na década de 1950, em Armazém, Gabriel exerceu o cargo de In96
Gabriel e seus filhos Beckhäuser’s.
Fotografia de 1949. ADAB.
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 153.
118
tendente Distrital. Tinha grandes conhecimentos de matemática, o que o auxiliou grandemente no exercício da profissão.
Gabriel teve quatro vezes gêmeos: uma vez no primeiro
casamento; e três outras no segundo. São eles: Estélio e Ester,
Adauto e Anita, Nair e Nadir e Dimas e Dilmar. E do segundo
casamento teve ainda César e Valquíria.
Na região, as pessoas o indagavam constantemente sobre
como ele pôde ter quatro duplas de filhos gêmeos. Queriam saber se havia alguma fórmula para conseguir semelhante feito.
A tantas indagações dos curiosos, Gabriel sempre respondia com
muito bom humor: - Traga a tua mulher que eu ensino.
Gabriel veio a falecer em 23 de março de 1987, aos 87 anos
de vida. Sua segunda esposa, Maria Vieira, faleceu em 03 de
maio em 2003.
Início do namoro de Gabriel Carlos
e Corina Mendonça
Segundo Laura Beckhäuser da Rosa:
”O papai era um menino magro e alto que veio para a praça em Armazém, para começar uma profissão. Escolheu a
de sapateiro. Ao lado desta sapataria, morava Corina Mendonça. (Gabriel) sempre passava em frente à casa de Corina, até que, um certo dia, tomou coragem e foi falar com o
velho Mendonça, pai de Corina: ‘Olha, quero casar com
tua filha!’, ao que o senhor
Mendonça disse: ‘o que sabes
fazer para ganhar dinheiro
para sustentar uma mulher e
filhos?’ - ‘Já tenho uma profissão, a de sapateiro e é um bom
início de vida’ - respondeu ele.
Senhor Mendonça retrucou
mais uma vez: ‘vejo em ti muita coragem e confio em tua determinação, por isso concedote a mão de minha filha em casamento’” 98.
O casamento, de fato,
Corina Mendonça e Gabriel Beckhäuser . Fotografia de 1930. ADAB.
119
veio a se concretizar e o novo casal foi morar à margem esquerda do rio Capivari, Praia Redonda, hoje pertencente ao município de São Martinho-SC, em terras que herdou de seu pai Karl
Eduard Caeser Beckhäuser, após o falecimento de sua mãe Ana
Arns. Gabriel contava que Corina tinha muito medo de escuro
e, por isso, ficava em cima duma pedra localizada ao lado da
casa até ele chegar.
Deste casamento, nasceram oito filhos, sendo que os dois
primeiros faleceram quando crianças.
A Educação e o estudo em primeiro lugar
Dário Beckhäuser, no Colégio de Vargem do Cedro. Fotografia de 1935. ADAB.
de São Martinho, pois era onde se
tinha o ensino considerado de melhor qualidade de toda a região. Lá
passaram José, Laura, Dário, Valdomiro e Estélio e Ester. Até pouco
tempo, existia uma porta na escola
com o nome de Dário. Sempre que
passo por lá, o pessoal mais antigo
lembra com saudades dos filhos de
Gabriel.
Terminados os estudos em São
Martinho, Vargem do Cedro, Ester
foi estudar no convento das Irmãs
120
Gabriel sempre procurou dar o
melhor para seus filhos. Assim, o estudo foi a forma privilegiada de proporcionar isso. Todos tiveram a oportunidade de estudar. No
início, os filhos mais
velhos estudaram
em Vargem do Cedro, no município
Valdomiro, Dário e Gabriel Beckhäuser. Fotografia de 1950 no Rio de
Janeiro - RJ. ADAB.
Dário, Gabriel, Valdomiro e um amigo. Fotografia de 1950 no Rio de Janeiro - RJ. ADAB.
Franciscanas de São José, em
Angelina-SC. Com o tempo,
viu que não tinha vocação
para a vida religiosa, deixou
o convento e veio a se radicar em Armazém, onde
atuou como professora primária. Casou-se com José
João Berto. Foi considerada a
melhor professora em alfabetização pela comunidade.
Atualmente, mora em Armazém.
Dário, com o término dos estudos em Vargem do Cedro,
partiu para a cidade de São Paulo onde residiu por muitos anos.
Nessa cidade, várias vezes recebeu a visita de seu pai, donde
iam ver seu irmão Valdomiro no Rio de Janeiro, cidade em que
servia o exército.
Um amigo de Dário por várias vezes esteve na casa de
Gabriel em Armazém onde tirou fotos registrando a sua estadia. Dário, por sua vez, quando visitava seus pais, sempre procurou tirar fotos da família. Por isso, temos muitos registros fotográficos hoje disponíveis.
De volta a Armazém, juntamente com seu irmão Estélio,
Dário comprou uma padaria e um bar. Os pães lá produzidos
eram vendidos em toda região. Dário veio a se casar com Zulma Mendonça e deste casamento tiveram duas filhas: Vera Corina e Sandra. Dário faleceu no dia 04 de junho de 2001. Estélio
veio a se casar com Maria Batista e deste casamento teve três
filhos: Hilton, Clóvis e Edson. Posteriormente, venderam a padaria e o bar e Estélio partiu para a cidade de Braço do Norte.
Ali, comprou um Hotel e um restaurante, que vendeu mais tarde. Daí, passou a investir no ramo têxtil. Hoje, reside em Tubarão onde produz e vende os tecidos Beckhäuser e o jeans com a
marca Beck’s Jeans para todo o Brasil.
Dário também foi residir em Tubarão, onde comprou uma
loja de tecidos e os vende em atacado.
Valdomiro, como já citamos, serviu o exército e quando
do seu término prestou concurso e foi aprovado para coletor da
121
Fazenda Estadual. Veio se casar com Edy Araújo e teve 05 filhos: Leiege, Miriam, Lúcia, Lenita, Flávio e Ivan. Flávio faleceu
em 09 de fevereiro de 1993. Atuando por muitos anos em Armazém e, depois de algum tempo, transferido para a cidade de
Tubarão.
José, casado com Bernadete Luz Beckhäuser, após estudos realizados em Vargem do Cedro, comprou uma loja de relógios e jóias em Tubarão. Não continua nesta atividade pois,
foi acometido da febre espanhola e veio a falecer em 08 de janeiro de 1947, deixando três filhas: Sueli Terezinha Beckhäuser, Sônia Corina Beckhäuser e Sirene Beckhäuser.
Laura, após os estudos em Vargem do Cedro, fixou residência em Armazém. Contraiu matrimônio com José Diomário
da Rosa. Atua como comerciante de tecidos.
Inventário
Com a morte de Corina no dia 06 de agosto de 1942, vítima de hemorragia durante uma gravidez devido a esforço demasiado (ao deslocar um guarda-roupa) no Hospital da Divina
Providência, em Tubarão, no dia 13 de agosto de 1942, se iniciou o processo de abertura do inventário na Comarca de Tubarão, sendo Juiz da Comarca o Dr. Adalberto Belisário Ramos.
Ela partilhou os seus bens com seis filhos: José Gabriel Beckhäuser, 22 anos, casado; Laura Beckhäuser, com 14 anos;
Dário Gabriel Beckhäuser, 11 anos; Waldomiro Beckhäuser, com
09 anos de idade; Estélio Beckhäuser e Ester Beckhäuser com 07
anos de idade99 .
Extrai-se do inventário que Gabriel Carlos e Corina Mendonça adquiriram um bom patrimônio, a saber:
1. Terreno com 242.000 m2 situado à margem esquerda
do Rio Capivari em Armazém, com moradia tipo Chalet.
2. Terreno adquirido em 21 de janeiro de1927 de Pedro
Inocêncio Teixeira.
3. Terreno adquirido de Pedro Isidoro medindo 96.800 m2,
em 06 de abril de 1928. Margem esquerda do Rio Capiva122
ri, em Armazém-SC.
4. Terreno adquirido de João Pedro Michels, em 28 de abril
de 1942, medindo 23.232 m2. Margem esquerda do Rio
Capivari, em Armazém-SC.
5. Terreno na margem direita do Rio Capivari, em Armazém-SC, com 27.984m2.
6. Uma pequena casa de madeira num terreno com área
de 27.984m2 adquirido em 03 de julho de 1942.
7. Terreno adquirido de Júlio Antônio Correia, em 04 de
julho de 1942, área de 48.400m2.
8. Terreno adquirido de Sotério Manoel Demetrio, com área
de 121.000m2, em 07 de março de 1930.
Com a partilha dos bens, cada um dos seis filhos recebeu
o seu quinhão hereditário que serviu para dar início aos seus
negócios.
Visão de Negócios
Gabriel, seguindo o exemplo de seu
avô Johann Karl Beckhäuser, não se contentava com pouco,
sempre queria mais
para os seus filhos.
Com talento para os
negócios, viu que na
Gabriel Beckhäuser e os tropeiros. Fotografia de 1949.
região de Armazém
ADAB.
quase não tinha animais de raça e bons cavalos; por isso, procurou uns empregados, juntou um pouco de dinheiro e saiu em viagem para o Rio
Grande do Sul. De lá, trouxe em várias viagens grande quantidade de animais, que foram vendidos na região.
Gabriel contava que, apesar dos riscos, nunca foi roubado, nas casas dos tropeiros onde se hospedavam. Guardava seu
dinheiro dentro de uma toalha e envolvia no bacheiro100 e colocava tudo dentro do lixeiro. Este segredo só revelou aos filhos
123
bem mais tarde.
Em viagem por Urubici, vendeu duas potrancas ao seu tio
Peter Beckhäuser, pai de Mateus Beckhäuser, dizendo que elas
eram já domadas. Para dar provas do que disseram, mandou
um de seus empregados montar nos dois animais, ao que Peter
pôde comprovar a doma. Num outro dia, um domingo, Peter
pediu a seu filho Mateus que montasse num dos animais para ir
a missa, na Capela Santa Teresinha, em Urubici. Teve uma grande surpresa ao ver seu filho caído e bastante condoído, ao lado
do cavalo. Das duas hipóteses uma: ou Mateus não sabia montar direito, ou Gabriel enganou o seu tio Peter.
Com esta atividade de compra e venda de animais adquiriu grande fortuna. Passando a ser o banco financeiro da região. Era difícil encontrar alguém que não havia tomado emprestado algum dinheiro dele.
Segundo José Diomário da Rosa, genro de Gabriel, ele
nunca havia perdido nenhum dinheiro com o pessoal. E ele afirmava: “Meu sogro era um homem muito sério e honesto”101 .
Em suas terras trabalhavam muitos agregados e sempre
se deu bem com todos eles. Criava muito gado. E com esse manejo aprendeu a cuidar de doenças. Por isso, era considerado o
veterinário da região. Gado em sua mão não morria de doença.
Sempre tinha uma solução para a doença.
Num determinado dia, apareceram alguns veterinários
em sua casa, alegando que não poderia mais medicar os animais, pois não tinha formação para isso. Nisto, apareceu um
colono em desespero na casa de Gabriel, pedindo que ele medicasse sua vaca de estimação. Gabriel recusou-se a atender o
pedido, visto que estava sendo proibido por dois jovens veterinários, aos quais enviou o colono. Os veterinários, no entanto,
não conseguiram resolver o problema daquele homem. Como a
saúde do animal piorava cada vez mais, os próprios veterinários recorreram a Gabriel, solicitando uma solução, pois temiam
perder o crédito diante dos colonos.
Gabriel, sempre com bom coração, pediu para que trouxessem o colono em sua casa, pois lhe daria o medicamento
necessário. Assim fizeram os veterinários, conduziram o colo124
no à casa de Gabriel, que, prontamente, passou o medicamento
e disse que no outro dia a vaca já estaria de pé e se alimentando. E foi o que aconteceu.
A partir deste dia, os jovens veterinários passaram a respeitar o seu Gabriel. Ele não cobrava nada pela medicação; era
um gesto de amizade para com os colonos que sempre acreditavam em seu conhecimento.
Certa vez, Gabriel comprou um automóvel Ford 1946 e,
ao colocá-lo na garagem, atravessou-a, totalmente desgovernado. Só parou graças a uma árvore, acima de um barranco que
dava para o Rio Capivari. Este fato tornou-se objeto de gozação
para os amigos.
Religioso
Gabriel era muito religioso; lia a bíblia em alemão gótico
com perfeição e falava muito bem o alemão. Afirmava que só
foi aprender o português aos 16 anos de idade.
Sempre ia à missa das 10h, todos os domingos, na Igreja
Matriz de São Pedro, em Armazém. E tanto no almoço como na
janta rezava agradecendo a Deus por ter o pão de cada dia.
Seu lugar na igreja era tão cativo que, num segundo domingo
do mês de maio, nem percebeu que se sentara em lugar reservado para as mães. Uma irmã religiosa, que havia organizado a
homenagem, delicadamente solicitou-lhe que deixasse aquele
lugar. Ao que ele retrucou: “então, estou no meu lugar”.
A Irmã, um pouco triste, a pensar que ele não tinha entendido o seu pedido, insistiu: “Senhor Gabriel, este lugar hoje
é só para as mães”. E ele prontamente respondeu: “Então, Irmã,
estou no meu lugar”. “Como assim senhor Gabriel?” - “Olha de
tão bom que sou, meus filhos me chamam de mãe. Logo, não
vou sair, porque este é o meu lugar”. Depois desta ousada resposta, a Irmã se rendeu: “Tudo bem, só que o Senhor vai ficar
rodeado de mulheres”. Nem mesmo essa última observação o
intimidou, continuou no mesmo lugar. Entre as mulheres e todo
feliz, acabou por se tornar o foco das atenções da missa.
125
Supersticioso
Gabriel acreditava em benzedeiras.
Quando um animal ficava um pouco doente, recorria a uma benzedeira para tirar o quebranto. Quando alguém visitava o seu gado leiteiro e tecia muitos comentários, ele já se precavia; chamava a
benzedeira para tirar o mal-olhado.
Quanto vendia alguma vaca leiteira, chamava o pretenso comprador e mandava o empregado ordenhar o animal
Gabriel Carlos Beckhäuser.
Fotografia de 1985. ADAB. com as duas mãos pois, assim, parecia que
a vaca dava o dobro de leite. O comprador não pensava duas vezes e comprava a vaca, que, quando
em casa de seu comprador, não produzia metade do leite que
ele viu dar no dia anterior. De volta a casa de Gabriel, reclamava por causa da baixa produção do animal, ao que retrucava
Gabriel: “podes me trazer que eu te garanto que a vaca irá dar
o mesmo leite de quando te vendi”. E o mesmo procedimento
era feito: o mesmo empregado tirava o leite com as duas mãos,
fazendo muita espuma; após alguns minutos, voltava a vaca a
dar a mesma quantidade de leite do dia de sua compra. O colono
ficava admirado pela honestidade de Gabriel e, mais um vez, levava a vaca leiteira para sua casa, com a recomendação de Gabriel: “antes passe numa benzedeira para tirar o quebranto”.
Espirituoso e Brincalhão
Gabriel reclamava constantemente para seus amigos de
Armazém, que não gostava que as moças usavam roupas xadrez e listradas, porque embaralhava a visão. Isso o empedia de
ver com mais clareza o corpo delas.
Toda sexta-feira às 05 h da manhã, Gabriel ia ao açougue
de seu compadre Hercílio da Rosa para comprar carne (filé mignon). Lá chegando, batia na janela e, muito cedo, acordava seu
compadre, o açougueiro.
126
Certa vez, em período de férias, suas filhas Anita e Valquíria passaram juntamente com dona Ana Salvador a fazer
bolos e bolachas e outras iguarias para a longa viagem de Armazém até Urubici, onde passariam os outros dias na casa do
Compadre Nicolau Correia. Antes, enquanto preparavam as
bolachas, um cheiro muito apetitoso dali exalava, o que deixou
Adauto e Gabriel com vontade de comer algumas. Seus pedidos, no entanto, foram incansavelmente negados, sob a justificativa de que eram para se comer durante a viagem. Os dois,
descontentes com a situação, planejaram uma forma de comer
aquelas bolachas. Gabriel deu dinheiro para Adauto ir ao correio loca da cidade de Armazém, e passar um telegrama para
ele mesmo, com o seguinte texto:
“Senhor Gabriel
Impossibilitado de buscar as meninas, viagem urgente a
Porto Alegre-RS.
Do compadre Nicolau”.
Era por volta de 15 h, quando o carteiro chegou à casa de
Gabriel com o telegrama. Tendo assinado a confirmação de recebimento, passou a lê-lo. Nisto, as duas filhas não tiveram dúvidas: colocaram todas as bolachas na mesa e disseram: “podem comer tudo”. E foi o que eles fizeram.
No outro dia, novamente batem palmas em frente a sua
casa, as duas filhas de Gabriel foram atender e qual foi a sua
surpresa: era Nicolau, pronto para levá-las para Urubici, de Jipe.
Imediatamente foram à procura de Gabriel e Adauto, pedindo
justificativas. Ao que Gabriel disse: “nunca negues uma bolacha ao seu pai e irmão, pois não queríamos todas as bolachas,
só umas. E vocês nos deram todas. Por isso, ficamos muito gratos”.
Há um fato que gostaria de registrar, ocorrido quando fui
lhe apresentar minha noiva, Dulcinéia Francisca Martins, e sua
família em Armazém, saímos de Florianópolis, os pais de Dulcinéia, Manoel Inocêncio Martins e Albertina Martins, e sua irmã
Sueli e seu esposo Valdir Fidelis. Em Armazém, Manoel começou a reclamar que sua esposa Albertina e a empregada que lá
vivia há mais de 30 anos, de nome Gertrudes, viviam reclaman127
do de doenças e de outras coisas mais. Gabriel, sempre espirituoso, respondeu:
“Olha, Manoel! Tenho a solução para o teu caso.” - Manoel não teve dúvida, queria saber qual era: “Então, Gabriel,
qual a solução para as duas velhas?” - “Manoel, existe em São
Paulo uma fábrica que coloca duas velhas e sai uma novinha
em folha”.
Obviamente, Dona Albertina não manifestou apreço por
aquela observação. Gabriel diz a Manoel que seria bom ele ficar
com a Dona Albertina por que um amigo trocou a velha por
duas de 18 e na semana seguinte foi lá para pegar de volta.
A Batalha dos Maragatos
Gabriel Carlos Beckhäuser muitas vezes se referia à Batalha dos Maragatos ocorrida na região, em novembro de 1893.
Desde sua infância, ouvia falar do episódio sangrento no qual
se constituiu. Dele participaram muitos habitantes da região em
defesa de suas propriedades.
Considerado relevante para a história local, transcrevemos abaixo um trecho do livro “Max: História e genealogia da
família Steiner, do Westerwald ao Capivari”, de autoria de
Carlos Eduardo Steiner, que situa o referido evento no contexto
regional, brindando-nos com interessantes detalhes:
“A época é o final do século XIX. (...). A República ainda
estava dando seus primeiros passos quando Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, renunciou.
Seu sucessor, o também Marechal Floriano Peixoto, assumiu a presidência na vigência de instabilidade política, caracterizada por revoltas do norte ao sul do país.
Em novembro de 1893, durante a Revolução Federalista102
iniciada no Rio Grande do Sul, um grupo de soldados federalistas liderados por Gumercindo Saraiva marchou rumo
à capital de Santa Catarina, Desterro. Parte desses revolucionários, também chamados maragatos103, perdeu os ideais da causa revolucionária e, ao passarem por Tubarão,
vinham tomando de assalto as fazendas da região, saqueando as plantações, matando o gado para se alimentarem
dos melhores pedaços e roubando as famílias. Não se tratava de soldados treinados, mas sim um bando de guerrilhei128
ros maltrapilhos, entre os quais havia mulheres e crianças.
Esse grupo passou pelo Capivari, deixando em polvorosa a
população local. (...).
Incomodados com essa quadrilha, os moradores da região
resolveram se vingar. Sabiam que os bandidos, 13 em seu
total, entre homens e mulheres, haviam capturado um rapaz e faziam-no cavalgar vários metros à frente do grupo,
a fim de usá-lo como escudo ou alerta.
(...) um grupo de cerca de 100 homens de São Martinho
preparou uma emboscada, se escondendo no mato às margens da trilha por onde eles passariam, perto do morro chamado Pelzberge. Esperaram o rapaz inocente passar, sem
atirar como haviam previamente combinado. Ao se aproximarem, um dos bandidos parece ter percebido a tensão no
ar e advertiu o chefe do bando sobre a possibilidade dos
moradores quererem vingança, ao que recebeu como resposta: “Tolice! Eu não temo nem cinqüenta alemães!”. Terminando de pronunciar essas palavras, recebeu um tiro que
o derrubou do cavalo. Estava iniciado o tiroteio. O rapaz
que servia de escudo, ao perceber a situação, fugiu a galope
e nunca mais se soube nada dele.
(...) Os bandidos foram sendo mortos e o último chegou a
se esconder embaixo da saia de uma das mulheres mortas,
suplicando por clemência, mas nem ele foi poupado. Os colonos recuperaram seus animais e bens que haviam sido
roubados e retornaram no dia seguinte, para enterrar os
bandidos ali mesmo.
Existe o folclore de que uma das mulheres, vendo que a batalha estava perdida, jogou rapidamente as jóias saqueadas
no rio, antes de ser morta. Isso deu origem à lenda de um
tesouro submerso, mito que alimentou os sonhos de muita
gente na região nesses mais de cem anos...
Três dos maragatos, feridos, conseguiram fugir até Teresópolis, onde foram mais tarde presos e mandados para a capital. Lá chegando, relataram sua versão dos acontecimentos e pediram providências. Uma expedição punidora composta por 40 soldados foi enviada, tendo como guia o inspetor de quarteirão de Teresópolis. Ao chegarem no morro
onde se iniciava os domínios do Capivari, o guia alertou
que não mais os acompanharia. Se eles quisessem ir, era
certo de que nenhum retornaria. E assim a expedição foi
interrompida antes mesmo de alcançar o vale do Capivari.
Esse episódio transformou simples agricultores em soldados confiantes em si e em seus camaradas. (...).
129
O combate aconteceu em novembro de 1893. Alguns meses
depois, no começo de março de 1894, começou a haver carestia de alimentos, principalmente de carne, pois nas regiões próximas a Tubarão as reses disponíveis haviam sido
em parte consumidas e em parte levadas pelos moradores,
por motivo de segurança, para os matagais da redondeza.
O General Guerreiro, um dos comandantes dos revolucionários, resolveu empreender uma expedição de apresamento à colônia do Braço do Norte com o objetivo de aproveitar
a abundância de gado dos alemães ali estabelecidos. Os colonos westfalianos, declararam-se dispostos a fornecer um
tributo livre em reses na condição de que este imposto suplementar fosse repartido eqüitativamente entre todos. Se o
General tivesse acatado essa ajuizada sugestão, as tropas,
depois de dois ou três dias de andanças, poderiam ter voltado para Tubarão com, no mínimo, 300 reses. Os maragatos infelizmente preferiram roubar todo o gado existente
nas três propriedades mais próximas por ser mais cômodo
e porque receavam demorar-se um ou dois dias entre os
‘alemães’. Mas quando quiseram retirar-se com seu despojo, apresentaram-se uns 80 colonos alemães, na maioria moços. O tiroteio que então se seguiu, resultou em algumas
mortes. Dois dos alemães ficaram feridos e tudo o que foi
roubado foi novamente retomado dos soldados.
Foram entre uns 20 moços, todos filhos de colonos que haviam participado do combate, a um bar para festejar a vitória com cerveja ou alguma outra bebida. Subitamente o bar
foi cercado pelos maragatos e, antes que os jovens colonos
pudessem se dar conta daquilo, encontraram-se algemados
com violência pelos exasperados soldados. Sem gado, mas
em compensação com 20 prisioneiros, voltaram a Tubarão.
Lá chegando, foram ridicularizados por não terem trazido
os animais prometidos. Bem que gostariam de ter soltado
sua raiva sobre os prisioneiros, mas não se arriscaram a
praticar maus tratos sem a autorização do general. Os jovens alemães foram temporariamente metidos na prisão local.
Ainda naquele mesmo dia, perto da noite, um sujeito brincalhão espalhou o boato de que à distância de um dia de
viagem, acima de Tubarão, no Capivari, havia 2.000 alemães armados para libertar imediatamente os prisioneiros
em Tubarão. Algo de verdade havia nessa história, porém o
número dos que estavam vindo não passava de 150, (...), e
estavam a três dias de viagem.
Mas o General Guerreiro acreditou no boato e ficou muito
alvoroçado com a notícia. Dirigiu-se imediatamente à resi130
dência do pároco, Pe. Francisco Topp, a quem pediu que
cavalgasse o mais rápido possível ao encontro desta expedição de colonos e que empregasse toda a sua influência (religiosa) junto aos mesmos para impedir o assalto a Tubarão. ‘Caso contrário’, dizia ele, ‘todos nós levaremos a pior,
primeiramente nós soldados, mas também vocês civis da
cidade porque meus homens tomarão medidas de represália
contra vocês’. Depois disso, ordenou para o Coronel que
viera com ele transportasse imediatamente os canhões para
a margem do rio e, em caso de agressão, autorizasse atirar
pesadamente com balas. Entre os presentes, alguns mal
podiam conter seus risos porque os maragatos, na verdade,
tinham seis velhos canhões, mas sem mais nenhuma bala e,
além disso, o General não conseguia ocultar sua grande
preocupação.
Neste mesmo tempo, chegou a Tubarão o pároco de Braço
do Norte, Pe. Francisco Auling, também de origem alemã,
para intermediar a liberação dos prisioneiros, seus paroquianos. Este senhor, para quem o medo era desconhecido,
aproveitou a ocasião para dizer as verdades ao General,
denominando o ato de banditismo, crueldade e barbaridade. O General teve que engolir em seco estas e outras verdades e também foi obrigado a revelar seus planos aos párocos. O vigário de Tubarão, Pe. Topp, sugeriu ser a oportunidade favorável para liberar os prisioneiros. Declarouse disposto a conversar com os colonos alemães de São
Martinho e convencê-los a não marcharem sobre Tubarão,
em troca da certeza da imediata libertação dos prisioneiros.
O General, receoso que seus soldados pudessem ser hostilizados durante a libertação a caminho do Capivari, declarou que os prisioneiros seriam libertados em Laguna.
No dia seguinte, o Pe. Topp, em companhia de um comerciante alemão residente em Tubarão, foi a cavalo até o Capivari e de fato encontrou aproximadamente 150 homens prontos para marchar sobre Tubarão. Solicitou que o grupo não
fosse adiante enquanto o grupo não tivesse notícias seguras
a respeito dos prisioneiros.
Após regressar a Tubarão, Pe. Topp recebeu a notícia de
que os jovens haviam sido de fato libertados. Alguns dias
depois, soube-se que os mesmos haviam alcançado sua terra natal, o Braço do Norte. Enviou o mais depressa possível a notícia até (São Martinho) (...).
Logo veio a notícia de que a Revolução havia terminado.
Os maragatos voltaram a seus pontos de origem, deixando
Desterro, Tubarão e os vales do Braço do Norte e do Capi131
vari em paz.
Uma conseqüência dessa revolução foi a mudança do nome
da capital, Desterro, para Florianópolis, em ‘homenagem’
ao Marechal Floriano Peixoto”104 .
A Morte de Corina Mendonça
Corina faleceu em 06 de junho de 1942, quando estava
em Tubarão ajudando sua sobrinha Jurema Tononn Ximenez
nos preparativos para o seu casamento. Mesmo grávida, Corina dispusera-se a auxiliar no trabalho doméstico, ao deslocar
um guarda-roupa de grande peso, provocou a ruptura de um
vaso sanguíneo. Foi socorrida no hospital de Tubarão. Segundo
o diagnóstico médico, o que houve não passara de uma indisposição pelo grande esforço dos preparativos da festa do casamento de sua sobrinha e pelo fato de ter movimentado o guarda-roupa. E a recomendação não foi nada além de um repoucos em casa. Não demorou muito, ela começou a passar mal.
Veio a falecer logo em seguida. No outro dia, acontecia o enterro de Corina e o casamento de sua sobrinha.
Casamento com Maria Vieira
A saga de Johann Karl Beckhäuser se repete com Gabriel
Carlos. Agora, só, com a perda de sua grande companheira e
amiga, com a qual construiu um grande patrimônio. Viu-se com seis filhos pequenos,
sendo a mais velha de 13 anos de idade. A
essa altura, era difícil casar de novo, com
tantos filhos pequenos para cuidar. Não
obstante, encontrou a mão amiga de Maria
Vieira, professora. Ela morava com sua cunhada em Armazém. O pai de Gabriel, Carlos Eduard Caeser Beckhäuser, logo aprovou a escolha de Gabriel, pois Maria Vieira
era professora e poderia dar continuidade Maria Vieira Beckhäuser.
Fotografia de 2000.
à educação de seus netos.
ADAB.
132
Para Karl Eduard Caeser Beckhäuser, o ideal era
seus filhos se casarem com
uma pessoa de origem alemã, que soubesse falar a
língua alemã. Mas, como se
tratava de uma professora,
foi o primeiro a dar a aprovação. O casamento foi re-
Mariquinha Beckhäuser, Adauto e Laércio Beckhäuser. Fotografia de 2003. ADAB.
alizado em 04 de julho de
1945, na Igreja Matriz São
Pedro, em Armazém. Depois
de casados, o casal passou a
morar em Praia Redonda,
São Martinho, margem esquerda do Rio Capivari. Carlos tanto aprovou o novo casamento que foi viver junto
Mariquinha, Laércio, Adauto Beckhäuser e
familiares. Fotografia de 2003. ADAB.
com Gabriel e Maria Vieira,
ajudando na criação dos seus netos. Depois de seis anos vivendo com seu filho, foi morar com sua neta Mariquinha Beckhäuser - filha de João Beckhäuser -, casada com Adolfo Steiner, em São
Martinho, até sua morte em 1949.
Do segundo casamento com Maria Vieira Beckhäuser, teve
oito filhos, e, do primeiro, seis, e dois faleceram em quanto pequenos. Todos os 14 filhos, Maria Vieira educou com muito carinho, sempre respeitando a memória de Corina. Os filhos de
Corina, por sua vez, tinham grande respeito por Maria Vieira,
tanto que a chamavam de mãe. Esta educação Maria também
levou aos netos e bisnetos. Sempre com afeto tratava a todos.
César, o filho mais velho do segundo casamento, após os
estudos no Colégio Deon em Tubarão, retornou para Armazém,
onde passou a trabalhar com seu pai Gabriel na loja de tecidos
e atacados. Posteriormente, fixou residência em Tubarão, abrindo uma loja de tecidos, com atacado. Atualmente, é bacharel
em Direito e trabalha em Florianópolis. E foi casado com Alacir
133
Derner e pai de quatro filhos: Soraya, Simone e César (teve também Sávio Beckhäuser em segundo relacionamento).
Anita estudou no Colégio da Divina Providencia em Tubarão, e com o término dos estudos passou a exercer o magistério em Armazém. Veio a se casar com Cláudio Crippa. Hoje,
viúva, reside em Nova Veneza-SC. Deste casamento, teve um
filho e três filhas: Siglea, Sinara, Claudianita e Emerson.
Quando Adauto saiu do seminário em dezembro de 1962 em Tubarão, aos 17 anos de idade, Maria,
sua mãe, ficou triste e Gabriel, seu pai,
ficou contente e as moças da região
ficaram faceiras. Alegria de que compartilhavam as jovens da região.
Adauto casou-se em 24 de julho de 1968, com Dulcinéia Francisca Beckhäuser. Deste casamento, tiveram quatro filhas: Annelize Beckhäuser, Lizeanne Beckhäuser, Gabrielle Beckhäuser e Dulcianne Beckhäuser.
Adauto (gêmeo de Anita) in- Adauto Beckhäuser, aos 17 anos de
idade. ADAB.
gressou com 09 anos no Seminário
105
Nossa Senhora de Fátima , em Tubarão-SC e o deixou após o
término dos estudos no Segundo Grau. Depois, fixou residência
em Florianópolis-SC, onde não conhecia ninguém. Para se sustentar, iniciou sua atividade como organista nas igrejas, tocando em casamentos. Posteriormente, num cursinho pré-vestibular, lecionou literatura, gramática e um pouco de latim para os
interessados em candidatar-se ao curso de Direito.
Ingressou no curso de Filosofia e Direito e, posteriormente, estudou Pedagogia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Na mesma instituição, fez seu mestrado em Direito. O doutorado, porém, fez em terras belgas, na Université de
Louvain la Nueve; o segundo doutorado foi pela Universidade
do Museo de Buenos Aires, em convênio com a Universidade
do Sul Catarinense (UNISUL). Hoje, é Professor Adjunto aposentado pela UFSC e exerce a profissão de Advogado em Flori134
anópolis-SC. Suas quatro filhas também fizeram o curso de Direito. Annelize Beckhäuser Mallon casou-se com Fernando
Mallon, atual prefeito municipal de São Bento do Sul-SC, e atua
como Técnica Judiciária do Tribunal Regional do Trabalho. Lizeanne Beckhäuser casou-se com Antônio Augusto Baggio e
Ubaldo, atual Juiz de Direito da Vara Criminal de ChapecóSC. Ela exerce advocacia na mesma cidade. Gabrielle Beckhäuser Gonçalves casou-se com Carlos Alberto Luz Gonçalves; ele
é advogado e professor do curso de Direito da Universidade do
Vale do Itajaí (UNIVALI) – São José-SC. Ela é advogada no escritório de seu pai Adauto; presidente da comissão do jovem
advogado OAB/SC; e secretária da comissão do jovem advogado do Conselho Federal da OAB. Dulcianne Beckhäuser cursa
a sexta fase do curso de Direito da UNISUL – Campus da Grande Florianópolis-SC, onde é presidente do Diretório Central de
Estudantes (DCE).
Nair Beckhäuser, com o término dos estudos, passou a lecionar e abriu um comércio de roupas em Tubarão. Casou-se
com Heitor Wensing e deste casamento teve três filhos: Heitor,
Fabricia e Guilherme. Após o nascimento do quarto filho, veio a
falecer em 06 de agosto de 1985.
Nadir, com o término dos estudos, passou a lecionar em
Lebon Régis-SC. Após, assumiu a direção de Escola Estadual
Frei Caneca até 1985 quando foi transferida para o Colégio Irineu Bornhausen, localizado em Coqueiros, em Florianópolis.
Casada com Alceu Ribeiro de Andrade, mãe de dois filhos:
Daniele Beckhäuser de Andrade, advogada; e Adriano Beckhäuser de Andrade, comerciário em São Paulo.
Dimas entrou para o Seminário Nossa Senhora de Fátima,
em Tubarão-SC, de onde saiu quando concluiu o Segundo Grau.
Hoje, é bacharel em Direito exercendo atividades no DEINFRA 106 . Casado com Gislaine Mendonça, pai de duas filhas:
Mayara e Isis Mendonça Beckhäuser.
Dilmar Beckhäuser concluiu o Segundo Grau e passou a
exercer as atividades de corretor de imóveis na cidade de Tubarão e, hoje, em Balneário Camboriu. Casado com Tânia Beckhäuser, pai de dois filhos: Petize Beckhäuser e Dilmar Beckhäuser
Júnior. No segundo casamento, teve mais uma filha, Amábile
135
Beckhäuser. No terceiro casamento, Nésia Colonetti foi a esposa com quem teve a filha Gabriela Beckhäuser. Foi casado com
Soraya Fernandes.
A Morte De Gabriel Carlos
Gabriel veio a falecer em 23 de março de 1987, aos 87 anos
de vida, deixando muitas saudades e uma grande lição de vida
para todos, inclusive para a comunidade de Armazém. Deixa
Maria Vieira, viúva, seus diletos filhos, netos e binestos, que,
hoje, somam aproximadamente 140 descendentes.
Na lista de seus pertences, constavam um relógio de parede, um livro de oração escrito em alemão gótico e a certidão de
nascimento original de Karl Eduard Caesar. O relógio funciona
até hoje, marca JUNGHANS, é datado de 1862. Tudo indica
que o imigrante Johann Kar o trouxe da Alemanha quando imigrou. O livro de oração data de 1875. Por sua vez, a certidão de
nascimento original de Karl Eduard Caeser Beckhäuser, expedida pelo consulado da Bélgica no Rio de Janeiro, em 11 de julho de 1862 certidão estava acondicionada num porta-documentos (provavelmente de zinco). Todos esses pertences foram herdados por Adauto e com ele permanecem.
A Morte de Maria Vieira
Maria Vieira faleceu em 03 de maio em 2002, vítima de
parada cardíaca. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Municipal em Armazém-SC. No dia do enterro de seu enterro, aconteceu um fato inusitado. Abriu-se o túmulo de Gabriel Carlos Beckhäuser, onde também estavam sepultados sua primeira esposa Corina Mendonça e seus dois filhos: Carlos e Adélia. Quando da abertura do caixão de Corina, constatou-se que seu corpo estava quase intacto. Na ocasião, todos os filhos dela puderam matar as saudades da mãe.
Outra urna funerária teve que ser comprada, para que,
nela, se recolhessem os restos mortais de Gabriel e de seus dois
filhos, que foram colocados no mesmo túmulo.
136
Várias pessoas, na ocasião, se questionavam sobre o porque da existência de dois caixões se a única pessoa que estava
sendo enterrada era Maria Vieira Beckhäuser. Adauto foi quem
dirimiu os questionamentos. O corpo de Corina Mendonça, enterrada em 1942, ainda em 03 de maio 2003 estava quase intacto, como se estivesse aguardando Maria Vieira Beckhäuser, a
segunda esposa de Gabriel, para agradecer pela acolhida de seus
filhos menores, os quais ela não teve a oportunidade de criálos. Função que tão bem Maria desempenhou. E concluiu dizendo: “Corina, descanse em paz, pois Maria também chegou
para completar o trio amoroso de Gabriel Carlos”.
Também deixa muitas saudades. Pois, os filhos da primeira esposa de Gabriel sempre diziam que ela também era mãe
deles, quem, com muito amor e carinho, soube dar educação e
uma excelente formação a todos.
A família Beckhäuser certamente tem muito orgulho e gratidão a manifestar a essas três pessoas fundamentais na educação e desenvolvimento de todos os seus descendentes.
Os dois amores de Gabriel
Gabriel Beckhäuser. Fotografia de 1986. ADAB.
Maria Vieira Beckhäuser.
Fotografia de 1986. ADAB.
Corina Mendonça. Fotografia
de 1930. ADAB.
137
138
Capítulo X
Bernardo Carlos Beckhäuser –
A Vida de um Teuto-brasileiro
Por Laércio Fagundes Fogaça Beckhäuser
Bernardo Carlos Beckhäuser
nasceu em Armazém107, Sul do Estado de Santa Catarina, no dia 02
de outubro de 1889. Era irmão gêmeo de Jacó e o segundo entre os
oito filhos do casal Karl Eduard
Caesar Beckhäuser e Anna Aurora Arns. O irmão primogênito de
Bernardo Carlos foi denominado,
por Anna e Karl, como Rodolfo. Os
Laércio e Mirian Beckhäuser, bisneto de
Bernardo. Fotografia de 2005. ALB.
outros irmãos, na seqüência de
nascimento, foram: João Carlos,
seu irmão gêmeo Jacob, Gabriel, Maria, Max e Júlia.
Bernardo Carlos Beckhäuser era neto do alemão Johann
Karl Beckhäuser (natural de Birkenfeld – Hunsrück, Alemanha),
que imigrou para o Brasil em 1862 e se estabeleceu inicialmente
na Colônia Santa Isabel. Bernardo Carlos Beckhäuser, por sua
vez, nasceu, casou e morreu em Armazém.
Seus avós paternos foram Johann Karl Beckhäuser (¤09/
09/1826) e Maria Elizabeth Kropp (¤22/09/1834), filha de Johann Karl Kropp e Catherina Schwickert. Seus avós maternos
foram Philipp Joseph Arns (¤26/02/1833†27/07/1914) e Ma107
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 154.
139
ria Michels (¤1872†1907). Entre seus bisavós maternos estão:
Nikolaus Arns (¤05/01/1792) e Ana Margareth Simonis (¤23/
12/1832†02/03/1835). E entre seus bisavós paternos constam:
Heinrich Peter Beckhäuser (¤1794† .......) e Dorothea Elizabeth
Marx.
A irmã mais nova de Bernardo Carlos, Júlia Beckhäuser,
se casou com Anton Hoepers e a outra irmã, Maria Beckhäuser,
se casou com Gregório Back.
Bernardo Carlos era católico e se casou na Igreja São Pedro, em Armazém, com Leonarda Fagundes (¤20/02/1894†17/
09/1951), com quem teve nove filhos; após o falecimento de
Leonarda, Bernardo contraiu matrimônio com Justa Bittencourt
em 17 de setembro de 1951. Leonarda Fagundes era filha de
Joaquim Fagundes e de Maria Fagundes e Justa Bittencourt era
filha de ... e de ...; Justa faleceu em 2003 e seu corpo foi sepultado no cemitério municipal, em Armazém.
Bernardo Carlos Beckhäuser era agricultor e possuía engenho de farinha
e
cana-deaçúcar. Em
sua propriedade plantava milho,
hortaliças,
árvores frutíferas, acácias, feijão,
aipim (mandioca)
e
cana-deFamília de Bernardo Carlos Beckhäuser e Leonarda
açúcar. O
Fagundes. Fotografia da década de 1920. ALB.
Rio Capivari, afluente do Rio Tubarão que desemboca na cidade de Laguna, fazia divisa com sua propriedade imobiliária.
Possuía também gado vacum, cavalos e muitas aves domésticas. Sua família o auxiliava em suas tarefas da agricultura
e na fabricação de farinha e açúcar. Os produtos finais deste
140
trabalho eram vendidos na região e, em especial, remetidos às
cidades de Laguna e Tubarão, centros econômicos maiores.
Seus filhos, do primeiro casamento com Leonarda Fagundes foram:
1. Antônio Beckhäuser;
2. Agostinho Beckhäuser;
3. Oscar Beckhäuser;
4. Osvaldo Beckhäuser;
5. Paulo Beckhäuser;
6. Hilda Beckhäuser;
7. Saul Beckhäuser;
8. Ana Maria Beckhäuser;
9. Ema Beckhäuser;
10. Carlos Bernardo Beckhäuser.
No segundo casamento, com Justa Bittencourt, teve um
filho: Nicolau Beckhäuser.
Excetuando Osvaldo Beckhäuser, que morreu em Florianópolis, solteiro, todos os seus filhos deixaram muitos netos, bisnetos, trinetos e tetranetos.
Consoante a certidão de óbito número 48, do dia 13 de
outubro de 1977, do Registro Civil de Santa Catarina, Comarca
de Tubarão, Município de Armazém, o Oficial de Registro Civil, Antônio David Fileti, certificou no livro C-6 de Registro de
Óbitos, na folha 105, em 11 de outubro de 1977, às 13h30min,
faleceu, em Armazém, Bernardo Carlos Beckhäuser, aposentado, viúvo, por “acidente Vascular Cerebral Isquêmico – Arteriosclerose”, sendo o sepultamento feito na cidade de Armazém.
Foi declarante Nicolau Bernardo Beckhäuser e não deixou bens
a inventariar.
Segundo Dulce Beckhäuser Rodrigues, filha de Max Beckhäuser e de Joana Fagundes, sobrinha de Bernardo Carlos Beckhäuser, seus irmãos Rodolfo e Max Beckhäuser também se
casaram com as irmãs Elvira e Joana Fagundes pela proximidade física da residência destas famílias, em Armazém.
Com o falecimento de Maria Fagundes, mãe de Leonarda,
141
suas netas Joana e Elvira, ainda menores de idade, que residiam com a avó, foram morar na casa de Bernardo e Leonarda,
que era a filha mais velha de Maria Fagundes e de Joaquim Fagundes.
Este fato favoreceu o casamento de Max Beckhäuser com
Joana Fagundes e Rodolfo Beckhäuser com Elvira Fagundes. Este
foi o motivo do casamento entre três irmãos Beckhäuser com
três irmãs Fagundes, proporcionando uma consangüinidade
muito forte entre todos estes descendentes, pois estes três casais
tiveram muitos filhos, netos e bisnetos. Alguns de seus descendentes se casaram e tiveram também descendentes com uma
consangüinidade ainda bem mais forte.
Dulce Beckhäuser Fagundes relembra que Karl Eduard
Caesar Beckhäuser, pai de Bernardo Carlos, que tinha ficado
viúvo em ... de ... de 1919, também estava interessado em namorar e casar com “Elvira Fagundes”, que veio a se tornar sua
“nora”, mulher de Rodolfo Beckhäuser, e não sua segunda esposa.
Karl Eduard Caesar Beckhäuser, pai de Bernardo Carlos
Beckhäuser, viúvo por quase três décadas, morreu em 18 de outubro de 1949, vítima de insuficiência respiratória e parada cardíaca. Seu corpo foi sepultado no cemitério municipal de São
Martinho.
Bernardo Carlos Beckhäuser possuía muita “força física” e se orgulhava de
seu “braço-de-ferro”. Levantava com facilidade sacos de
feijão e açúcar com 60 kg. Há
muitas histórias sobre a sua
força física nos anais da família Beckhäuser. Deixou
seus genes (fortes... fortíssimos...) em diversos descenLaércio junto ao túmulo de Bernardo Beckhäudentes que se orgulham da ser, no Cemitério Municipal de Armazém. Fotografia de 2003. ALB.
“queda de braço” ou “luta de
braço”. Além da força, o gosto por esse tipo de atividade se
estendeu a outros descendentes. Laércio Beckhäuser, neto de
142
Bernardo Carlos, se sagrou campeão sênior catarinense de Luta
de Braço em 2001, em uma competição esportiva realizada em
Joinville-SC, patrocinada pela CBLB - Confederação Brasileira
de Luta de Braço, denominado Campeonato Sul Brasileiro de
Luta de braço. Luís André Beckhäuser, filho de Laércio, neto de
Agostinho e bisneto de Bernardo Carlos, foi campeão catarinense de Luta de Braço em 1998.
Carlos Bernardo Beckhäuser, filho de Bernardo Carlos e
de Leonarda Fagundes, mudou sua residência de São Paulo para
Blumenau em 1955. Ali, tornou-se empresário: atuava na extração de areia. Também era um grande campeão na queda de
braço, quase que imbatível, embora em competições extra-oficiais. Neste esporte, era respeitado e temido.
E assim Carlos Bernardo Beckhäuser foi levando sua vida...
tinha vigorasa saúde até os seus últimos dias de vida. Ele nasceu em 1889 e faleceu em 1978, com 89 anos de idade. Portanto, viveu Bernardo Carlos, 78 anos no século retrasado e 11 anos
no século anterior.
Em outubro de 1976, dois anos antes de seu falecimento,
Laércio Beckhäuser, quando morava em Blumenau, fez uma
visita a seu avô, Bernardo Carlos, que residia em Armazém, e
levou junto consigo seu filho Luís André e seu pai Agostinho.
Na ocasião, foi feito o registro fotográfico destas quatro gerações masculinas da família Beckhäuser. Laércio ainda “jogou”
uma luta de braço com seu avô, Bernardo Carlos, na varanda
de sua casa. Tinha, Bernardo Carlos, mesmo com a idade avançada de 87 anos, muita força. Segundo o próprio Bernardo, ele
havia sido abençoado por um frade capuchinho, há muitos anos
atrás, nas “Santas Missões” realizadas na Igreja São Pedro, em
Armazém. Afirmou ainda que, por volta de 1930, levantou uma
grande e pesada cruz, sozinho, e o frade e todos os presentes a
este evento ficaram “maravilhados” pela sua força física.
Bernardo Carlos não sentia o peso real da cruz e disse ao
frade que a cruz era leve. O frade respondeu-lhe que não gostava de “gente mentirosa”. Bernardo Carlos, “nervoso, meio bravo”, pediu para que quatro homens, seus amigos, sentassem um
em cada ponta da cruz e, indo ao meio, pegou a cruz e ergueu
143
a todos de uma só vez.
O frei, admirado e estupefato, lhe disse: “Ajoelha-te, Bernardo Beckhäuser, vou te dar uma especial bênção e terás esta
‘força prodigiosa de Sansão’, até os teus últimos dias de vida.
Nunca precisarás da ajuda de teus semelhantes para andar e se
locomover”. Bernardo Carlos, católico praticante, se ajoelhou e
foi abençoado na presença de muitas pessoas por este missionário pregador das Santas Missões, na década de 1930. Viveu
forte e sadio, até seu último suspiro.
Sobre sua residência, em 2005 havia somente o terreno e
as salientes pedras no local onde tinha sido construída, em Armazém. Naquele local bucólico e rural, viveu Bernardo Carlos
Beckhäuser, criou seus filhos, amou duas mulheres e perpetuou
sua geração com inúmeros filhos, netos, bisnetos e trinetos.
Lia, escrevia, alemão e português, as duas línguas usadas
na comunidade de Armazém. De seus ancestrais, aprendeu com
sua mãe, Ana Arns e seu pai Karl Eduard Caesar Beckhäuser, a
falar e escrever a língua alemã. Freqüentou a escola primária
em Armazém; assinava e lia jornais alemães publicados na cidade de São Leopoldo-RS.
Casou com a primeira esposa Fagundes e com a segunda,
Bittencourt, e ambas não dominavam a língua alemã; consequentemente, seus filhos não perpetuaram a língua de seus ancestrais e atualmente raros são os netos e bisnetos que entendem e falam a língua germânica. Daí se justifica que até do sobrenome de seus ancestrais tenha sido omitido, excluído o trema do a (ä) na palavra Beckhäuser (Umlauf em alemão).
Como vimos, Bernardo Carlos Beckhäuser teve dez filhos
em seus dois casamentos. Além do sobrenome Beckhäuser, deixado por seus descendentes masculinos, suas filhas Hilda, Ana
Maria e Ema deixaram muitos descendentes com os sobrenomes Aguiar, Mattos e Flor. Suas netas e bisnetas também se casaram e, hoje, há muitos de seus descendentes afins e consangüíneos com diversos sobrenomes nesta genealogia que teve
como origem o teuto-brasileiro Carlos Bernardo Beckhäuser.
144
Capítulo XI
Biografia de Maria Beckhäuser
Por Inês Back Fiorio 108
Maria Beckhäuser é filha de Karl
Eduard Caeser Beckhäuser (¤11/07/
1862†18/10/1949) e
de Anna Aurora Arns
(¤16/03/1896†16/
08/1951). Nascida em
16 de março de 1896,
em Praia Redonda
(São Martinho-SC),
Luiz Flávio Fiorio, Inês Back Fiorio e Wagner Alexey Back
Fiorio (neta e bisneto de Maria Beckhäuser). Fotografia recebeu educação em
de 2002. AIBF.
colégio de freiras, em
Braço do Norte-SC. Aos 20 anos de idade, em 05 de maio de
1912, na Igreja São Pedro, em Armazém, casou-se com Gregório Back (¤03/11/1879†04/06/1960). Gregório era filho de Johann Jakob Back (¤03/11/1879†1909) e de Catarina Heinzen
(¤29/09/1837†1894).
Maria Beckhäuser e Gregório, assim que se uniram oficialmente em matrimônio, passaram a residir em São Martinho.
Na época, não havia eletricidade, nem água encanada naquela
cidade. A água era transportada do Rio São João Capivari para
uso doméstico.
Com o passar do tempo, nasciam os filhos desse casal, ao
108
As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 154.
145
todo foram 16,
entre eles: Boaventura, Afonso,
Silvestre, João e
diversas filhas
cujos nomes desconhecemos;
dois não sobreviveram: natimorto, em 1913, e
outro por volta
de 1933, vítima
Gregório Back, marido de
Maria Beckhäuser. AIBF.
de desidratação.
Maria Beckhäuser. AIBF.
A educação dos filhos de Maria Beckhäuser foi rígida. Quando algo acontecia de errado, eram repreendidos apenas com um olhar. Todos trabalhavam
na lavoura. Criavam aves e mamíferos e plantavam frutas, verduras e legumes
para a subsistência da família.
Em 1945, a
família mudouse para o Norte
do Paraná. Mudaram por deciCecília, Ana, Afonso, Aloísio, Madalena, Apolônia e Teresa.
são dos filhos
Abaixo: João Gregório, Otília, Melânia no colo de Maria Bemais velhos, que ckhäuser, Felicita, Irene, Gregório Back e Silvestre Back. Fotografia de 1935. AIBF.
julgavam ter um
futuro promissor
naquelas terras, apesar de terem que desbravá-las. Contavam
que para ir ao armazém fazer as compras da casa, saíam armados, pois havia onças na mata, andavam 17 quilômetros, corriam enorme perigo. O local onde foram viver era chamado de
Distrito de Catarinenses devido à migração de catarinenses para
146
Filhas de Maria Beckhäuser Cecília, Ana, Apolonia, Madalena, Teresa, Felicita, Otília,
Irene e os filhos João e Silvestre. Fotografia de 1936. AIBF.
o Paraná, depois Graciosa
dos Catarinenses, que se chama, hoje, simplesmente Graciosa 2 . É um
Distrito de Paranavaí 3 .
Mas,
Maria não gostava de lá. Saiu
de São Martinho para desbravar o sertão
do Norte do Paraná, porém,
Vista aérea de Graciosa - PR. GE.
não se adaptou.
No Paraná, aproveitavam as plumas de ganso, que eram
usadas para confecção de travesseiros. Esses travesseiros eram
enviados para São Paulo, onde Maria tinha um filho, Aloísio,
casado com Ione.
A família de Maria Beckhäuser era bastante religiosa.
Havia, em sua casa, quadros com estampas de Nossa Senhora e
147
Jesus, diante dos quais a família se reunia à noite, após os afazeres, para rezar.
Para comemorar o Natal,
Maria Beckhäuser enfeitava uma
árvore e montava um presépio, costume que alguns de seus descendentes herdaram. Sempre deixava árvores plantadas para serem usadas
nos anos seguintes. Tudo que fazia
era feito com muito capricho, inclusive bolos e bolachas. A casa sempre se mantinha com zelo e asseio.
Suas filhas eram consideradas moças muito bonitas e alegres. Seus filhos tinham habilidades com instru- Melânia e Silvestre Back. Fotografia
de 1940. AIBF.
mentos musicais e no canto; hábito
ainda mantido pela família.
Seu pai, Karl Eduard Caeser Beckhäuser morava com
Adolfo Steiner e a neta Mariquinha Beckhäuser, filha de João
Beckhäuser. Karl Eduard não deixava ninguém entrar nos seus
aposentos, nem mexer nos seus pertences particulares. Cuidava ele próprio de todas as suas coisas, inclusive do conserto de
suas roupas.
O esposo de Maria Beckhäuser, Gregório Back, era um homem
bem humorado e alegre. Gostava de
festas, de dançar e, às vezes, jogava
baralho. Faleceu no dia 04 de junho
de 1960 em São Martinho-SC, vítima
de falência múltipla dos órgãos. Seu
corpo foi transladado para GraciosaPR e está sepultado no cemitério local.
Disciplinada, rígida e racional:
assim é definida a personalidade de
Maria Beckhäuser. Falava muito bem
alemão e lia jornais nesta língua, enInês Back, neta de Maria Bechkäuser. Fotografia de 1966. AIBF.
viados por seu filho, que morava na
148
cidade grande (São Paulo). Ficou diabética, sofreu um acidente
vascular cerebral; usava insulina, enviada por seu filho Aloísio.
Maria Beckhäuser faleceu em 16 de agosto de 1951, vítima de coma diabético, em Graciosa-PR, onde seu corpo foi sepultado no cemitério municipal.
Da esquerda para direita: Francisco, Salésio, Augustinho, Zezinho, Boaventura (pai de
Inês), Sebastião, Gabriel e Toninho. AIBF.
Bisnetos de Maria Beckhäuser. Da esquerda para a direita: César, Mauro, Márcia, Kelly,
Paula, Marta, Flávio, Andresa, Moiséis, Ana Carolina, Felipe, Gustavo, Bruno, Carla,
Bárbara e Lucas. Fotografia de 1990. AIBF.
149
Notas de Fim da
Primeira Parte
Apresentação
1 A Colônia Santa Isabel foi fundada em 1847 por imigrantes recém-chegados da Alemanha. Foi
composta, em sua maioria, por agricultores provenientes da região do Hunsrück, no atual Estado
da Renânia-Palatinado. Professavam a religião católica e a luterana sendo que, nesta última, Santa
Isabel tem a primazia cronológica sobre todas as colônias fundadas no Estado de Santa Catarina.
Instalada às margens do caminho litoral-planalto, que ligava o Litoral catarinense ao Planalto
Serrano via vale do Cubatão, sua denominação é uma homenagem prestada pelo Governo constituído à então Princesa Isabel.
2 Estatutos registrados no Cartório de Registro de Títulos, Documentos e Pessoas Jurídicas de
Florianópolis sob o n. 010901, f. 117 do Livro A-49, em 14 de janeiro de 2005.
Introdução
3 A Colônia São Pedro de Alcântara foi fundada em março de 1829 por 635 imigrantes alemães,
constituindo-se na mais antiga colônia alemã fundada em Santa Catarina. Foi elevada à Freguesia
em 1844 através da Lei N. 194, sendo emancipada político-administrativamente do Município de
São José mediante Lei N. 9.534 datada de 16 de abril de 1994.
4 Vargem Grande foi fundada às margens do Rio Cubatão, acima de Caldas do Norte (Águas Mornas),
em 1836, por 11 famílias germânicas, num total de 44 pessoas, dissidentes da Colônia São Pedro
de Alcântara. PAIVA, Joaquim Gomes de Oliveira. “Memória Histórica sobre a Colônia São Pedro de
Alcântara”. In: Os Alemães no Estado de Paraná e Santa Catarina, p. 197ss. Veja também
SCHADEN, Francisco. “Notas sobre a Colônia Vargem Grande”. In: Revista Atualidades, Florianópolis, números 6, 7, 8, 9, 10/11 e 12 de 1947.
5 Baseada na política da pequena propriedade familiar, o Governo Imperial determinou, a fundação
de um núcleo colonial nas imediações da colônia Santa Isabel. A determinação para sua fundação
data de 18 de novembro de 1859, tendo sido destinada ao então Presidente da Província de Santa
Catarina, Francisco Carlos de Araújo Brusque, que deveria abrigar inicialmente 40 famílias de
imigrantes alemães. A fundação da colônia efetivou-se em 03 de junho de 1860, com 91 imigrantes
chegados dois dias antes a Desterro, provenientes do porto de Antuérpia, a bordo do patacho belga
“Meuse”. Eram católicos e luteranos provenientes, em sua maioria, da região da Renânia e Vestfália, enclaves prussianos, transportados pela empresa de navegação Daniel Steinmann & Companhia, de Antuérpia. Neste mesmo ano, o núcleo colonial recebeu várias famílias de imigrantes
procedentes das fazendas do Rio de Janeiro, onde trabalhavam desde 1849 no cultivo de café
através do sistema de parceria. Essas famílias seriam em número de quarenta e eram originárias
de Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha. Mais informações cf. JOCHEM, Toni. A Formação
da Colônia Alemã Teresópolis e a atuação da Igreja Católica (1860-1910). Palhoça: Ed. do
Autor, 2002, pp. 39ss.
Capítulo I
6 BECKHÄUSER, Frei Alberto. Ernesto Beckhäuser: A Vida de um Homem Honrado. Petrópolis:
Ed. do Autor, 2003.
7 Livro das Famílias. Vol. II. p. 45. APB.
8 Observe que aqui o sobrenome de Maria Elisabeth aparece grafado Krepp e não Kropp.
9 Trata-se da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.
10 Trata-se do livro Kath. Pfarrkirche St. Jakobus – Birkenfeld: 100 Jahre 1892 – 1992. Birkenfeld:
Kath. Pfarregemeinde, 1992.
11 Johann II, de Sponheim, mas agia já em favor da Reforma Protestante. Sem filho para sucedê-lo,
Frederico III mandou o seu Magistrado Chefe de Trarbach, Friedrich von Schönburg, implantar a
Reforma. Em lugar da Missa foi introduzido o Culto da Palavra e todas as propriedades da Igreja
foram inventariadas para um eventual uso do pároco (na linguagem da Igreja na Alemanha, usa-se
até hoje o termo pastor para o sacerdote católico e Pfarrer ‘pároco’ para o pastor protestante).
12 Trata-se de um levantamento feito por Reiner Schmitt em 2001: Die Angehörigen der Katholischen Pfarrei St. Jakobus, Birkenfeld/Nahe am 1. April 1812. Birkenfeld: Kath. Pfarregemeinde,
1992.
150
13 Os dados a respeito de Birkenfeld e seus arredores podem ser encontrados no livro: Kath.
Pfarrkirche St. Jakobus – Birkenfeld: 100 Jahre 1892-1992. Birkenfeld: Kath. Pfarregemeinde,
1992. Um exemplar pode ser encontrado no acervo da Associação da Família Beckhäuser, em
Florianópolis.
Capítulo II
14 Segundo Certidão de Nascimento de Karl Eduard. Certificado por Cópia Conforme do registro nas
Atas do Estado-Civil n. 10. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1862 do Cônsul Geral da Bélgica, Edouard
Pecher.
15 Transcrição Peleográfica das Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidente da
província, do ano de 1861/1862, n. 50. APESC.
16 Transcrição Paleográfica das Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidente da
Província, do ano de 1861/1862, n. 50. APESC.
17 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
18 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
19 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
20 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
21 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
22 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
23 Conforme consta na respectiva Certidão de Nascimento. Certificado por Cópia Conforme do
registro nas Atas do Estado-Civil n. 10. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1862, do Cônsul Geral da
Bélgica, Edouard Pecher.
24 Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidência da Província, do ano de 1861/1862.
APESC.
25 Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidência da Província, do ano de 1861/1862.
26 Guilhermina posteriormente teve o filho chamado Guilherme, nascido em 13 de dezembro de 1893.
Livro de Registro de Batismo da Paróquia de Teresópolis, n. 4, folha 64, Livro de 1888 a 1895.
AHESC.
27 Esta situação veio a se reperir com Gabriel Carlos Beckhäuser, filho de Karl Eduard Caeser, neto de
Johann Karl. Com o falecimento de Corina Mendonça, Gabriel se viu diante de seis filhos menores,
sendo que a mais velha possuía 13 anos de idade. E com a coragem e a fibra Beckhäuser,
enfrentou a morte de sua amada Corina. E logo veio a se casar com Maria Vieira Beckhäuser, que
com muito amor e carinho passou a cuidar dos filhos do primeiro casamento e a criar seus oito
filhos.
28 Certidão de óbito de Margareth Schug: n. 46, f. 18, Livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de
Águas Mornas-SC.
29 Certidão de óbito de Margareth Schug: n. 46, f. 18, Livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de
Águas Mornas-SC.
30 Após busca no cartório de Águas Mornas, descobrimos que Margareth Schug faleceu no dia 02 de julho
de 1913, foi enterrada no Cemitério Protestante em Auto Rio Sete, Município de São Bonifácio-SC.
31 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis encontrei no livro 1862-1876 fls. 29 n. 298. AHESC.
32 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888-1895, fls. 64, n. 4. AHESC. Assento de
Guilherme, nasceu dia 13 de dezembro 1893; Pai: João Baptista May e mãe Guilhermina Beckhäuser; sendo avós maternos Carlos Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp.
33 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888-1898, fls. 114, n. 118. AHESC.
34 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1876 fls. 81, n. 60, n. 4. AHESC.
35 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888-1898, fls. 117, n. 151. AHESC.
36 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862-1876, fls. 99, n. 69. AHESC.
37 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862-1876, fls. 116, n. 17. AHESC.
38 Registro de Óbito n. 46, f. 18, do livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de Águas Mornas-SC.
39 SCHAUFFLER H. (org.). “Da vida de um alemão no Brasil. Crônica de Mathias Schmitz”. In:
Blumenau em Cadernos. Blumenau, Tomo VII. N. 12, pp. 248-249.
Capítulo III
40
41
42
43
44
Livro
Livro
Livro
Livro
Livro
das
das
das
das
das
Famílias
Famílias
Famílias
Famílias
Famílias
da
da
da
da
da
Paróquia
Paróquia
Paróquia
Paróquia
Paróquia
Sanct
Sanct
Sanct
Sanct
Sanct
Jakobus,
Jakobus,
Jakobus,
Jakobus,
Jakobus,
de
de
de
de
de
151
Bierkenfeld.
Bierkenfeld.
Bierkenfeld.
Bierkenfeld.
Bierkenfeld.
Registro
Registro
Registro
Registro
Registro
n.
n.
n.
n.
n.
940,
933,
938,
939,
941,
p.
p.
p.
p.
p.
194.
191.
192.
193.
194.
APB.
APB.
APB.
APB.
APB.
45 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 933, p. 191. APB.
46 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 933, p. 191. APB.
47 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
48 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
49 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
50 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB.
51 Na certidão de nascimento de Carlos Eduard Caeser Beckhäuser enviada para Johann Karl Kropp e
Anna Katharina Schwickert, consta o seguinte endereço: Anna Maria Vitau Kropp – In Guttemberg,
Grossherzag, tum Hambach Oldenburg, Fürstan Tum Birkenfeld.
52 Anna Maria posteriormente casou-se com Bernard Kuhlkamp.
53 SCHMITT, Reiner. Die Angehörigen der Katholischen Pfarrei St. Jakobus, Birkenfeld/Nahe am
1. April 1812. Birkenfeld: Kath. Pfarregemeinde, 1992, p. 21, n. 96.
54 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 101, p. 23. APB.
55 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 96, p. 21. APB.
56 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 102, p. 23. APB.
57 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 103, p. 23. APB.
58 SCHMITT, Reiner. Die Angehörigen der Katholischen Pfarrei St. Jakobus, Birkenfeld/Nahe am
1. April 1812. Birkenfeld: Kath. Pfarregemeinde, 1992, p. 21, n. 96.
Capítulo IV
59 Registro de Casamento, f. 33, livro n. 1, datado de 24 de agosto de 1942, no Cartório de Registro
Civil de Orleans.
60 Informamos que também imigraram para as Colônias Alemãs da Grande Florianópolis duas famílias
com o sobrenome Schuch. Trata-se dos casais João Schuch e Catharina Simonis e Guilherme
Schuch e Catharina May. Não se sabe a relação existente entre as respectivas famílias Schuch e
Schug.
61 Pe. Guilherme (Wilhelm Friedrich Clemens) Roer é natural de Münster, Alemanha, onde foi ordenado
sacerdote diocesano em 19 de agosto de 1848. Chegou ao Brasil em 1860 e à Colônia Teresópolis
em 1862 à qual dedicou 27 anos de seu apostolado. Cansado e doente (Gehirnerweichung) doou,
aos 69 anos de idade, a Santa Casa de Porto Alegre, 1:800$000 bem como todos os bens que
estivesse com ele depois de sua morte: juros, livros, roupas, etc. e nela internou-se para passar
seus últimos dias. Faleceu aos 8 de outubro de 1891 em Porto Alegre. JOCHEM, Toni Vidal.
Pouso..., p. 255 e DIRKSEN, Valberto. “Padre Roer – Um Santo Sem Milagres”. Revista Encontros Teológicos, Florianópolis, n. 24, 1998, pp. 85-9. Cf. também LEIDINGER, Paul. “Warendorf
und Santa Catarina – Münsterländische Kolonisten und Missionare in Südbrasilien”. Warendorf
Schriften. Warendorf: Schnell Busch & Druck, 1993, pp. 151-3.
62 BECKHÄUSER, Frei Alberto. Ernesto Beckhäuser: A Vida de um Homem Honrado. Petrópolis:
Ed. do Autor, 2003, pp. 22-24.
63 Mas informamos que existe o assento do registro de batismo de um filho de Guilhermina, ao qual foi
dado o nome de Guilherme. Também consta como neto paterno de Carlos Beckhäuser e Maria
Elisabeth Kropp. Cf. Livro de Registros de Batismos da Paróquia Santa Teresa d’Ávila, de Teresópolis, de 1888-1895, f. 64, n. 4. AHESC.
64 Certidão de Óbito n. 46, folha 18, do livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de Águas MornasSC.
65 Livro de Registros de Casamentos da Paróquia Luterana de Santa Isabel de 1877-18......, p. ...
assento n. 05. APLSI.
Capítulo V
66 Certidão n. 3.627, f. 027, livro C-19 de Registro de Óbitos, Cartório de Oficio do Registro Civil das
Pessoas Naturais – 5ª Zona, da Comarca de Porto Alegre-RS.
67 Certidão n. 36.075, f. 120V, Livro C-91 de Registro de Óbitos, do Cartório do Registro Civil das
Pessoas Naturais – 1ª Zona, de Porto Alegre-RS.
Capítulo VI
68 JOCHEM Toni. A Formação da Colônia Alemã Teresópolis e a atuação da Igreja Católica (18601910). Palhoça: Ed. do Autor, 2002, p. 176, registro n. 991.
69 Registro de Casamento, f. 33, livro n. 1 do Cartório do Registro Civil de Orleans-SC.
70 Certidão de Óbito n. 46, folha 18, do livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de Águas Mornas-SC.
152
Capítulo VIII
71 Município de São Martinho foi fundado em 14 de novembro de 1962.
72 Cartório de Registro Civil de São Martinho. Livro 6, Registro 657, Folha 192v.
73 Entrevista oral concedida por Irma Back Bechkauser ao autor em 08/09/2006.
74 A 01 de janeiro de 1944, o nome de Hansa Humboldt foi mudado para Corupá devido à nacionalização imposta pelo governo, reflexo da Segunda Guerra Mundial.
75 Entrevista oral concedida por Osmar Beckhauser ao autor em 16/09/2006.
76 Entrevista oral concedida por Irma Back Bechkauser ao autor em 08/09/2006.
77 Entrevista oral concedida por Osmar Beckhauser ao autor em 16/09/2006.
78 Entrevista oral concedida por Irma Back Bechkauser ao autor em 08/09/2006.
79 WIESE, Harry. De Neu-Zürich a Presidente Getúlio: Uma História de Sucesso. Presidente
Getúlio: Editora Nova Era, 2000, p. 221.
80 Entrevista oral concedida por Irma Back Bechkauser ao autor em 08/09/2006.
81 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006.
82 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006.
83 Entrevista oral concedida por Osmar Beckhauser ao autor em 16/09/2006.
84 Que depois se tornaria Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, mandato
1977/78.
85 Entrevista oral concedida por Osvaldo Beckhauser ao autor em 10/09/2006.
86 Entrevista oral concedida por Osmar Beckhauser ao autor em 16/09/2006.
87 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006.
88 UDN/PDC/PL = União Democrática Nacional (UDN), Partido Democrata Cristão (PDC), Partido
Libertador (PL). Foram extintos logo após as eleições, em 27 de outubro de 1965, pelo Regime
Militar.
89 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006.
90 Boletim Informativo Sitrupege. Presidente Getúlio-SC, Ano 1, Número 1, de Janeiro/Fevereiro 1995, p. 2.
91 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006. Eis algumas destas
receitas da Oma: Kochkäse – Para o kochkäse, você vai precisar de queijo envelhecido (também
conhecido como qualhada). Primeiro, tem que espremer o queijo para tirar o soro. Deixe o queijo
num refratário tampado por 03 a 05 dias (precisa começar a derreter e até cheirar mal – depende da
estação climática). Estando derretido e com poucos grumos, coloque-o numa panela com 01 colher
(sopa) de manteiga de boa qualidade, um pouco de sal e um pouco de leite. Deixe ferver até que os
grumos se dissolvam. Está pronto o kochkäse. Sirva com rodelas de pão ou torradas (o queijo
morno é o mais gostoso).
Spritz-dochen – A massa desta bolacha é composta pelos seguintes ingredientes: 01 xícara de
manteiga, 01 xícara de banha, 02 xícaras de açúcar, 03 ovos, 04 colheres de leite, 01 pacote de
açúcar baunilha, 01 colher de fermento e casca de limão ralado (a gosto). Passar a massa na
máquina de moer carne, utilizando na saída da máquina tampas próprias para este fim. Levar ao
forno.
Weihnachtskuchen (bolachas de Natal) – Ingrediente da massa da bolacha: 12 ovos, 1 kg de açúcar,
½ kg de margarina, 01 colher de sal amoníaco, 01 colher de fermento e 01 xícara de leite. Depois
de feita a massa e assada no forno, fazer a cobertura com os seguintes ingredientes: 02 claras de
ovos, 01 xícara de açúcar e 01 gota de limão ou vinagre. Pronta a cobertura, passar sobre a bolacha
e adicionar açúcar confeiteiro para decorar. Levar as bolachas ao forno para secar a cobertura.
Esta receita veio com os imigrantes germânicos, que davam esta bolacha como presente de Natal
para as crianças, vindo daí a origem do nome Weihnachtskuchen.
92 WIESE, Harry. De Neu-Zürich a Presidente Getulio: Uma História de Sucesso. Presidente
Getúlio: Editora Nova Era, 2000, p. 221.
93 PRN = Partido da Reconstrução Nacional.
94 PPR = Partido Progressista Reformador.
95 PPB = Partido Progressista Brasileiro.
Capítulo IX
96 Certidão de Casamento, livro B-3, p. 264, registro n. 450, no Cartório de Registro Civil de Gravatal-SC.
97 No total, Gabriel teve quatro vezes gêmeos, nos dois casamentos.
98 Depoimento oral (gravado) prestado por Laura Beckhäuser da Rosa ao autor, em 05 de abril de 2003.
99 Dados do jomal de partilha registrado sob n. 11.440, p. 594 e transcrito para o registro n. 11.206, fls.
280, do Registro de Imóveis da Comarca de Tubarão.
153
100 Bacheiro geralmente é de lã de um pouco grossa e serve para proteger o pelo do animal da cela.
101 Depoimento oral prestado por José Diomário da Rosa ao autor, em 05 de abril de 2003.
102 A Revolução Federalista teve início no Rio Grande do Sul, em 1893, e envolveu as principais
facções políticas gaúchas. Foi liderada pelo fazendeiro Gaspar da Silveira Martins, exigia o afastamento de Júlio de Castilhos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e a instituição de uma
república liberal. Ancorados em bases eleitorais nas cidades do litoral e da serra, os republicanos
queriam, a todo custo, manter o poder. Os federalistas, que representavam os interesses dos
grandes estancieiros da campanha, lutaram contra o que chamavam de “tirania castilhista” e
exigiam a reforma da Constituição do Estado, com vistas a impedir a perpetuação dos rivais no
poder. Também chamada de Revolta da Degola, a Revolução Federalista contou com a participação dos revoltosos da 2ª Revolta da Armada, que se aliaram aos maragatos de Silveira Martins.
Floriano Peixoto, então Presidente da República, não se intimida e manda tropas para a Região Sul,
em apoio às tropas de Júlio de Castilhos. A Revolução transformou-se numa longa e sangrenta luta
e provocou a morte de aproximadamente dez mil pessoas (mil pessoas foram degoladas) e só
terminou em 1895, no governo de Prudente Moraes, sucessor de Floriano. A vitória coube às tropas
de Júlio de Castilhos.
103 O termo “maragato” é de origem pejorativa, identifica, no Uruguai, matadores de aluguel. Os
republicanos passaram a chamar os federalistas de “maragatos” pelo fato de o movimento insurgente ter partido do Uruguai. Já os federalistas chamavam os republicanos de pica-paus devido à
farda vermelha. No Rio Grande do Sul, os maragatos eram identificados pelo lenço vermelho atado
ao pescoço, os republicanos usavam lenço branco. Em Santa Catarina os republicanos usavam a
cor vermelha e os federalistas, o branco. MACHADO, Paulo Pinheiro. Um estudo sobre as
origens sociais e a formação política das lideranças sertanejas do Contestado, 1912-1916.
Campinas – São Paulo: Tese de Doutorado, 2001, p. 81.
104 STEINER, Carlos Eduardo. Max. História e genealogia da família Steiner, do Westerwald ao
Capivari. Porto Alegre: Sociedade Vicente Pallotti, 2003, pp. 75-78.
105 Sobre a história do Seminário Nossa Senhora de Fátima, de Tubarão, recomendamos a leitura de
HERDT, Sebastião; DAMIANI, Fiorindo; CARVALHO, Eduardo Búrigo de. Elfos Seculares: Histórias dos Tempos de Seminário. Tubarão: Ed. Unisul, 2002.
106 Departamento Estadual de Infra-estrutura – DEINFRA é um Órgão do Governo do Estado de Santa
Catarina.
Capítulo X
107 Armazém pertencia, na época, à cidade de Laguna, posteriormente Imaruhy e, por último, à cidade
de Tubarão, localizada no Sul do Estado de Santa Catarina. Fica ao lado da cidade de Gravatal e
São Martinho-SC.
Capítulo XI
108 Informações fornecidas, em 15 de Outubro de 2006, por Melânia Back da Rosa, Maria Madalena
Back Vandresen e Carlota Vandresen da Rocha, respectivamente, filhas e neta de Maria Beckhäuser.
109 Histórico de Graciosa - Como a maioria dos pioneiros da época, as famílias eram devotas de
Nossa Senhora das Graças, em homenagem à qual foi denominado o distrito de Graciosa. Este
distrito situa-se a 17 km da cidade de Paranavaí. A região é basicamente agrícola, cujos principais
produtos são: mandioca, milho, feijão e cítricos. Os primeiros colonizadores chegaram em 1944,
onde construíram, suas primeiras casas. O distrito foi fundado em 1951. Fonte: http://72.14.209.104/
s e a r c h ? q = c a c h e : q F O 1 a I C d a l 0 J : w w w . p a r a n a v a i . c o m . b r /
%3Fcont%3Dhistorico+graciosa+paranava%C3%AD&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=2 - Consulta realizada dia 22 de outubro de 2006.
110 Criado pela Lei Estadual N. 790, de 14 de dezembro de 1951, desmembrado do município de
Mandaguari. Foi solenemente instalado em 14 de dezembro de 1952. Pela Lei N. 1542, de 14 de
dezembro de 1953, o município foi elevado à categoria de comarca. Fonte: http://72.14.209.104/
s e a r c h ? q = c a c h e : q F O 1 a I C d a l 0 J : w w w . p a r a n a v a i . c o m . b r /
%3Fcont%3Dhistorico+graciosa+paranava%C3%AD&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=2 - Consulta realizada dia 22 de outubro de 2006.
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