Audiência Meu Brother

Transcrição

Audiência Meu Brother
MEU GRANDE “BROTHER”
Novamente nesta grande cidade catarinense que outrora me referi – ah, como tem causos
por aqui! – um advogado recém formado chega em audiência trabalhista com duas
testemunhas. O autor da ação falecera e a viúva acompanhava o caso na condição que a lei
lhe designara.
As testemunhas tinham por escopo comprovar as horas extras laboradas após o horário de
trabalho. Coisa simples, por sinal.
Anterior à audiência, aquelas conversas entre advogado e testemunhas, que acabaram de
se conhecer, advertem pela impossibilidade de amizade, no sentido jurídico da questão.
Um deles, o mais chamativo e eloqüente, era a testemunha perfeita: trabalhava com o de
cujus, via-o saindo mais tarde, etc. Novamente advertido pelo jovem advogado acerca da
amizade, garantiu que apenas trabalhou com o mesmo durante vinte e tantos anos, nada
mais que isso. Nem sabia onde morava.
A outra testemunha não era de tanta certeza e seria ouvida por último, se necessário,
avaliou o advogado. A testemunha chave era, sem dúvida, o homem que trabalhou por vinte
anos ao lado do falecido.
Iniciando os atos instrutórios, o juiz pergunta acerca das testemunhas e o novato advogado
não teve dúvidas: chamou o dito homem.
O assistente do juiz registrou-o como de costume, ao que o juiz indaga:
- O senhor é amigo íntimo ou inimigo de uma das partes, ou tem interesse na causa?
A testemunha não titubeia:
- Amigo, doutor.
O advogado treme. O juiz replica rapidamente:
- Amigo? Como assim? Amigo íntimo?
A testemunha, então, bate duas vezes com o punho cerrado no peito, na altura do coração,
e sentencia:
- Ô doutor, meu “brother”. Amigão mesmo... do peito! Estávamos juntos todo final de
semana, fazendo festa!
O jovem advogado enrubesce e vê sua melhor testemunha ser classificada como
informante. Houve a oitiva da outra por mera consciência.
Na saída da audiência, o advogado comenta as chances – agora poucas – do caso com a
viúva, que avalia:
- Doutor, eu nunca vi esse homem lá em casa... quanto mais no final de semana!
Até hoje não sabe-se se o de cujus era tão “brother” assim da testemunha. Mas a viúva tem
quase certeza onde o falecido fazia suas “horas extras” no final de semana...
Dr. George Willian Postai de Souza
OAB/SC 23.789
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