rua 25 de março terá sua história resgatada
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rua 25 de março terá sua história resgatada
MERCADO RUA 25 DE MARÇO TERÁ SUA HISTÓRIA RESGATADA Empresária de origem síria prepara livro sobre a rua de comércio mais famosa do Brasil R ose Koraicho, empresária do setor imobiliário – ela é presidente da Koema Empreendimentos e Participações –, dedica-se a múltiplas atividades culturais e de beneficência: criou há dois anos o portal Cineclick, investiu nas casas de espetáculos Credicard Hall e Directv Music Hall, que foram absorvidas pela empresa mexicana CIE, é uma das patrocinadoras do filme Carandiru, de Hector Babenco, auxilia as Rose Koraicho, 3ª geração da família no Brasil, e seu pai Fuad 16 MARKETING CULTURAL - JUNHO 2002 Koraicho & Cia.: no início, uma lojinha; depois, uma grande empresa crianças no Hospital do Câncer e, agora, executa um projeto que lhe é afetivamente muito caro: resgatar a história dos árabes em São Paulo e da mais famosa rua de comércio do Brasil, a 25 de Março, em um livro a ser lançado no primeiro semestre de 2003. “É um livro de relatos de família. Um diário de muitas famílias. Começa com a fundação da 25 de Março, em 1849, e vem até os idos de 1970, que é quando o comércio na região atingiu o ápice. Uma trajetória do zero até a grande realização da 25 de Março como rua do comércio.” Rose é da terceira geração da família Koraicho no Brasil. O avô, Farjalla, veio em 1919 da região de Alepo, na Síria, e conseguiu autorização para trabalhar como mascate nas ruas de São MARKETING CULTURAL - JUNHO 2002 Paulo. Morava com a família em uma sobreloja alugada na 25 de Março. À noite, todos ajudavam a fabricar suspensórios, que ele vendia durante o dia (o alicate que usava para fazer as peças está em um quadro na parede do escritório da empresária, na região da Faria Lima). Depois, a oficina evoluiu para o status de fábrica. “Eles foram crescendo, se desenvolvendo e montaram uma lojinha na região da 25 de Março, que depois virou a Koraicho & Cia., onde meu pai e meu tio fizeram toda a sua carreira. Hoje, como empresária, consigo enxergar o que meu pai fez de uma maneira completamente diferente do que como filha.” Rose Koraicho com o cineasta Hector Babenco e o ator Drago 17 A família Koraicho em São Paulo. O avô, Farjalla (centro), veio de Alepo, Síria O pai, Fuad Koraicho, foi fundador da União dos Lojistas da 25 de Março e Adjacências – Univinco. Na casa dele, Rose encontrou caixas com muitos registros de época: a autorização original ao avô para ser mascate, a pasta da fábrica de suspensórios, com fotos, tudo registrado. Aí nasceu a idéia do livro sobre a 25 de Março. “Fiquei olhando, separando todo o material, as fotos, os jornais que meu pai fez na época, sobre técnicas de venda, com muita coisa que era inovação. É um acervo da história da região da 25 de Março, que tanto meu pai como meu avô e outros fizeram. É uma grande família aquilo lá, todo mundo se conhece, todo mundo se gosta, mesmo trabalhando na mesma área e sendo concorrentes. Eu falei: como ele, muitas outras famílias tiveram a mesma trajetória.” 18 Rose decidiu recuperar a história da região. Fez uma lista inicial de 20, 30 pessoas que criaram o comércio na região da 25 de Março – que inclui a rua Basílio Jafet, as ladeiras General Carneiro e Porto Geral, e muitas outras, e já está com mais de 100 pessoas na relação. “A segunda geração, a do meu pai, hoje são pessoas de mais idade, alguns em torno de 70 anos, alguns perto dos 90 anos. Daqui a pouco não estarão mais aqui. E quem vai contar a história desses pioneiros, desses desbravadores?” . Para ajudá-la no livro, Rose convidou a historiadora Soraya Moura. “Disse a ela que não queria um relato histórico, só de pesquisas. Quero depoimentos. E fico surpresa a cada entrevista;ºº é muito bonita a trajetória das famílias, a vinda de todos eles para cá.” A receptividade – assegura – “está sendo maravilhosa. Todos conheciam papai e também me conhecem, e abrem tudo”. Com o apoio das famílias, Rose e Soraya já acumularam grande quantidade de documentos, fotos e depoimentos. “É tanto material que não estamos conseguindo concluir no prazo que tínhamos fixado inicialmente. O livro era para ser lançado este ano e ficou para o primeiro semestre do ano que vem. Tem muita história boa. É um povo muito caloroso, amigo, receptivo. O livro se baseia nisso.” A renda do livro será, em parte, destinada a um orfanato mantido pelo Hospital Sírio Libanês. “O livro não é para obter lucro pessoal, afirma Rose Koraicho. É para registrar a história de imigrantes que vieram e fizeram de uma rua a principal rua de comércio do Brasil” MARKETING CULTURAL - JUNHO 2002 NO HOSPITAL DO CÂNCER, FILMES DO CINECLICK PARA AS CRIANÇAS O interesse de Rose Koraicho pelo cinema, que a levou a ser uma das investidoras na produção do filme Carandiru, de Hector Babenco, é antigo e resultou, em agosto de 2000, na criação do portal Cineclick, que reúne um banco de dados com mais de 20 mil sinopses de filmes, além de entrevistas, fotos e clips. O projeto do Cineclick foi apresentado a Rose por Fábio Reis e Sabrina Flechtman, que se tornaram seus sócios e dirigem o portal. Aprovado pelas leis Rouanet e Mendonça (os recursos fiscais não foram captados; todo o investimento, perto de R$ 4 milhões, foi direto), ele já conta com 15 mil usuários cadastrados. “Nós procuramos fazer do acervo a essência do Cineclick. É um portal com um conteúdo fantástico”, diz Rose, que utiliza o empreendimento em outra de suas iniciativas, o apoio ao Hospital do Câncer, onde, com sua ajuda, foi criado um Centro de Convivência, inaugurado em dezembro de 2001. Nesse espaço são projetados filmes para as crianças em tratamento e seus acompanhantes. “O Centro de Convivência é uma sala de cinema, onde as crianças recebem o apoio de pedagogas que, antes de cada sessão, explicam o filme. E voltam a conversar com as crianças depois que se encerra a projeção.” Na verdade, 2% do faturamento anual da Koema são repassados para ações sociais. E o apoio ao Hospital do Câncer é mais amplo: em dezembro passado, Rose resolveu não enviar os tradicionais presentes de fim de ano aos clientes, colaboradores e amigos MARKETING CULTURAL - JUNHO 2002 OLHO NA TELA: AÍ VÊM DIVERSÃO E ENSINAMENTOS “Através do cinema você diverte e ensina arte, ensina higiene, ensina educação, ensina prevenção contra as drogas”. Com essa convicção, Rose Koraicho passou à prática: as sessões de cinema no Centro de Convivência do Hospital do Câncer são exclusivas para os pequenos pacientes e seus acompanhantes, mas o projeto Olho na Tela estende a ação a crianças carentes de toda a cidade. Utilizando a Casa dos Sonhos da Estrela, no Ibirapuera (fotos), o Cineclick, em parceria com a ONG (organização não-governamental) Ação Comunitária do Brasil, lançou o Olho na Tela com uma festa para cerca de 300 crianças de bairros da zona sul de São Paulo (Campo Limpo, Capão Redondo, Parelheiros e outros). A maioria delas pôde, pela primeira vez, assistir a uma sessão de cinema. Agora, o objetivo é expandir o Olho na Tela e chegar a um número cada vez maior de crianças de comunidades carentes. Outro projeto permanece embrionário: Rose Koraicho quer criar o Cine Mambembe. A idéia: em terrenos públicos, instalar um telão e projetar filmes para a população (de todas as idades) de São Paulo. Mas isso fica para depois do lançamento do livro sobre a rua 25 de Março, em 2003. 19 jovens portadores de câncer e leucemia: 70%. Agora, ela está patrocinando uma cartilha de orientação aos pais, para o Centro de Pediatria. “Com a cartilha, os pais vão saber pelo menos o básico do que acontece com uma criança que recebe o tratamento contra o câncer. O filho saiu da quimioterapia, ele pode jogar futebol? Se vomitar, o que faço? Ele pode tomar sol? É uma cartilha bem didática.” ◆ S k e r v i ç o : o de sua empresa, e substituí-los por uma doação ao Centro de Pediatria do hospital. “Foi um gesto com uma conotação simbólica, uma maneira de sensibilizar as pessoas para uma ação, porque não foi com a economia nos presentes que eu repassei o valor. A doação foi maior.” Anualmente, cerca de 15 mil pacientes são atendidos no Centro de Pediatria. A doação feita no final de 2001 permitirá a compra de novos equipamentos e esse número poderá crescer para 18 mil. Rose enfatiza a importância do trabalho desenvolvido no Hospital do Câncer, que registra o maior índice na América Latina de cura de crianças e No Hospital do Câncer, o índice de recuperação dos pequenos pacientes é o mais alto da América Latina 20 MARKETING CULTURAL - JUNHO 2002